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Aletheia ISSN: 1413-0394 [email protected] Universidade Luterana do Brasil Brasil Grégio d'Arce Mota, Daniela Cristina; Benevides-Pereira, Ana Maria T.; Gomes, Mônica Lúcia; Marques de Araújo, Silvana Estresse e resiliência em doença de Chagas Aletheia, núm. 24, julio-diciembre, 2006, pp. 57-68 Universidade Luterana do Brasil Canoas, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=115013462006 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

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Aletheia

ISSN: 1413-0394

[email protected]

Universidade Luterana do Brasil

Brasil

Grégio d'Arce Mota, Daniela Cristina; Benevides-Pereira, Ana Maria T.; Gomes, Mônica Lúcia;

Marques de Araújo, Silvana

Estresse e resiliência em doença de Chagas

Aletheia, núm. 24, julio-diciembre, 2006, pp. 57-68

Universidade Luterana do Brasil

Canoas, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=115013462006

Como citar este artigo

Número completo

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Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal

Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

Aletheia 24, jul./dez. 2006 57

Aletheia, n.24, p.57-68, jul./dez. 2006

Estresse e resiliência em doença de Chagas

Daniela Cristina Grégio d’Arce MotaAna Maria T. Benevides-Pereira

Mônica Lúcia GomesSilvana Marques de Araújo

Resumo. Estudos indicam que o estresse altera o sistema imune e pode influir na etiolo-gia, progressão e severidade de doenças. A resiliência pode ser definida como a capacida-de que algumas pessoas desenvolvem e as ajudam a passar por situações adversas na vida,a superá-las, e ainda a saírem fortalecidas ou mesmo transformadas. Este estudo teve ointuito de verificar o nível de sintomatologia de estresse e aspectos relacionados à resiliên-cia em portadores de doença de Chagas crônica (DC). Foram avaliadas cem pessoas infec-tadas, 50% apresentando sintomatologia da DC. Utilizou-se de entrevista sócio-demográ-fica, Inventário de Sintomas de Estresse (ISE) e Inventário de Resiliência (IR). Os queapresentavam sintomas da DC obtiveram níveis mais elevados de sintomas psicológicos efísicos de estresse e menores de resiliência, principalmente no que se refere aos fatoresdesesperança e dificuldades emocionais.Palavras-chave: doença de Chagas crônica, estresse, resiliência, psicologia da saúde.

Stress and Resilience in Chagas’ Disease

Abstract. Several studies show that stress changes the immunity system and may affect thedisease’s etiology, progression and severity. Resilience may be defined as the ability thatsome people have to overcome the dire straights of life and come out of the difficultiesmore fortified or even transformed. Current research verifies the symptomatology of stressand other aspects related to resilience in people suffering from chronic Chagas’ Disease(CD). One hundred infected people were evaluated, of whom 50% were CD positive. Socialand demographic interviews, Stress Symptoms Inventory (SSI) and Resilience Inventory(RI) were employed. CD positive people had higher levels of psychological and physicalsymptoms of stress and lower resilience ones, mainly with regard to factors involvinghopelessness and emotional difficulties.Key words: Chronic Chagas’ Disease, stress, Resilience, Health Psychology.

Introdução

A doença de Chagas (DC), causadapelo protozoário Trypanosoma cruzi (T. cru-zi) é uma doença crônica que até o momen-to não conta com tratamento etiológicocompletamente eficaz e sem efeitos colate-rais. É considerada uma das enfermidadeshumanas mais relacionadas com o subde-senvolvimento e a pobreza, o que torna crí-tica a situação de milhões de pacientes cha-

gásicos. Estima-se que aproximadamente 15milhões de pessoas estejam infectadas naAmérica Latina (WHO, 2002), 1,9 milhãodelas no Brasil (OPS, 2004). Ou seja, ape-sar do controle da transmissão, existe ain-da um contingente de pessoas infectadas,cientes ou não, que precisam de atendimen-to nos serviços de saúde (Araújo & colabo-radores, 2000; Araújo & colaboradores,2002).

Segundo Ribeiro e Rocha (1998), mui-

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ta controvérsia existe sobre os fatores quepoderiam influenciar o surgimento de sin-tomatologia na doença de Chagas, já quealguns pacientes evoluem para as formasclínicas mais graves, enquanto outros per-manecem assintomáticos por toda vida.

Brener, Andrade e Barral-Netto (2000)relatam que a relação parasita-hospedeiropode influenciar no surgimento dos sinto-mas em pessoas infectadas pelo T. cruzi.Hueb e Loureiro (2005) observam prejuí-zos cognitivos e psicossociais associados àDC, os quais chamam a atenção para o im-pacto da doença sobre o portador e as con-dições contextuais perpetuadoras de misé-ria e de vergonhas. Quanto ao comprome-timento de aspectos psicossociais relacio-nados à enfermidade, Araújo e colabora-dores (2000), apontam para a presença deindicadores de medo, de redução da auto-estima, de estigma frente à doença, alémde prejuízos na qualidade de vida e na con-vivência com a família e o grupo social.

O desenvolvimento da sintomatologiapara a DC pode, portanto, estar relaciona-do a processos psicológicos, como o estres-se e a resiliência. De acordo com Borràs(1995), a exposição a acontecimentos oucircunstâncias vitais estressoras podem in-terferir no funcionamento do sistema imu-ne, aumentando a vulnerabilidade do or-ganismo à enfermidade, o que poderia ex-plicar a relação entre a ocorrência de acon-tecimentos estressores psicossociais e o sur-gimento de sintomas em diversas doenças.

Segundo Belloch, Sandín e Ramos(1995), a concepção teórica mais aceita pe-los estudiosos é a que o estresse é visto comoum processo interativo entre o indivíduo ea situação em que ele se encontra, envol-vendo, portanto, as relações particulares quea pessoa estabelece na vida. Benevides-Pe-reira (2002), afirma que estresse e agenteestressor são dois elementos distintos do pro-cesso de estresse, pois, enquanto o agenteestressor pode ter um caráter físico, cogni-tivo ou emocional, que venha a interferirno equilíbrio homeostático do organismo,o estresse é a resposta a este estímulo e tema função de ajustar a homeostase e de me-lhorar a capacidade do indivíduo, garan-

tindo-lhe a sobrevivência ou a sobrevida.Ainda de acordo com esta autora, o agenteestressor nem precisa estar presente paradesencadear uma reação de estresse em se-res humanos, visto que o simples fato dapessoa imaginar ou antecipar sua ocorrên-cia, a leva a vivenciar ou sofrer antecipada-mente, entrando em processo de estresse.

Pinheiro (2004) relata que pessoas comtrajetórias semelhantes diferenciam-se pelofato de algumas conseguirem superar as cri-ses enquanto outras não conseguem. Grot-berg (2005), afirma que pessoas resilientessão capazes de enfrentar adversidades e quea resiliência reduz a intensidade do estres-se e de sinais emocionais negativos, como aansiedade, depressão ou raiva, ao mesmotempo em que aumenta a curiosidade e asaúde mental.

A resiliência pode ser definida comouma capacidade universal que possibilita apessoa, grupo ou comunidade prevenir, mi-nimizar ou superar os efeitos nocivos dasadversidades, inclusive saindo dessas situa-ções fortalecida ou até mesmo transforma-da, porém não ilesa (Grotberg, 1995). É ca-racterizada como um conjunto de proces-sos sociais e intrapsíquicos que possibilitamter uma vida saudável vivendo em um am-biente insano, se tratando então de um pro-cesso interativo entre o indivíduo e o meioem que este vive, integrando ingredientespsicológicos, sociais, emocionais, cognitivos,culturais, éticos, entre outros (Rutter, 1993).

A resiliência envolve fatores de risco ede proteção. Para Rutter (1985), os fatoresde risco são os acontecimentos estressan-tes da vida, tais como a pobreza, as perdasafetivas, as enfermidades, o desemprego, asguerras, as calamidades, entre outros. Se-gundo o autor, os fatores de proteção sãoas influências que modificam, melhoram oualteram a resposta de uma pessoa a algumperigo que predispõe a um resultado nãoadaptativo. Estes fatores referem-se a carac-terísticas que parecem mudar ou revertercircunstâncias potencialmente negativas.Entre os principais fatores de proteção es-tão: relações parentais satisfatórias, dispo-nibilidade de fontes de apoio social, auto-imagem positiva, crença ou religião, favo-

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recimento da comunicação e colaboraçãona resolução de problemas (Pinheiro, 2004).

Rutter (1987) acrescenta que os mesmosestressores podem ser experienciados de ma-neira diferentes por diferentes pessoas. Ouseja, fator de risco para alguns pode não serpara outros, assim como acontece com os fa-tores de proteção. Kotliarenco, Cáceres e Fon-tecilla (1997), observam que os fatores de pro-teção não são necessariamente experiênciaspositivas ou benéficas, visto que em certas cir-cunstâncias, os eventos potencialmente es-tressantes e perigosos podem fortalecer os in-divíduos frente a situações similares.

Conforme afirma Stoudemire (2000),embora seja complexa a verificação de as-sociações precisas, fatores psicológicos afe-tam o início, a evolução e o tratamento damaioria das condições médicas.

A DC, enfermidade crônica capaz dedesenvolver diversas lesões graves em dife-rentes órgãos, com conseqüências impor-tantes para a sobrevida de seus portadores,não dispõem de tratamento completamen-te eficaz e o controle de cura não está esta-belecido (Brener & colaboradores, 2000).Além disto, de acordo com Hueb e Lourei-ro (2005), em quase três décadas apenas dezartigos relativos à associação da doença como funcionamento psicossocial dos portado-res foram identificados na literatura inde-xada, o que poderia estar refletindo, segun-do os autores, o pouco interesse no estudodestes aspectos associados à DC.

Deste modo, fica evidente a necessida-de de estudos que avaliem os prejuízos psi-cossociais associados à DC assim como pen-sar outras alternativas de abordagem de pa-cientes acometidos pela infecção chagásica.

O objetivo deste estudo foi compararo nível de sintomas físicos e psicológicosde estresse e de fatores relacionados a resi-liência em portadores da doença de Cha-gas crônicos, sintomáticos e assintomáticos.

Método

SujeitosA amostra foi constituída por 100 pes-

soas portadoras da doença de Chagas crô-

nica, cadastradas no Laboratório de Doen-ça de Chagas da Universidade Estadual deMaringá (LDC/UEM) no período de 12/1997 a 09/2004. A população total de indi-víduos cadastrados no LDC/UEM, da quala mostra foi obtida, era de 373 portadoresde DC crônica.

InstrumentosUm Questionário Sócio-Demográfico

elaborado pelas autoras para obtenção dosdados e questões pessoais (sexo, idade, rela-cionamento afetivo estável ou não, filhos), pro-fissionais (categoria profissional, situação detrabalho) e referentes à doença de Chagas(reação ao saber do diagnóstico, se a doença in-terfere na vida cotidiana, sintomas sim ou não).

O Inventário de Sintomas de Estresse(ISE), de Benevides-Pereira e Moreno-Jimé-nez (2002), apresenta afirmações relativas aossintomas referenciados na literatura comofreqüentes ou característicos de estresse navida diária. O instrumento compreende 27itens, sendo 07 referentes ao Fator sintomasfísicos de estresse (SF) e os demais ao Fatorsintomas psicológicos de estresse (SP). Emuma amostra de 1114 pessoas, tendo40,487% da variância acumulada explicada,sendo que os itens da escala de sintomaspsicológicos apresentaram saturações entre0,754 e 0,390 e a física de 0,725 a 0,330 comalfas de Cronbach de á=0,9236 e á=0,7697respectivamente, revelando adequada con-sistência interna bem como validade de cons-tructo. Os valores médios da padronizaçãobrasileira são estimadas entre: SF de 4 a 8 eSP de 16 a 27.

O Inventário de Resiliência (IR) se-gundo Benevides-Pereira1 , é composto por25 afirmações divididas em cinco fatores:Fator 1 (F1), referente à desesperança e difi-culdades emocionais; Fator 2 (F2): assertivi-dade; Fator 3 (F3): tenacidade e inovação;Fator 4 (F4): empátia e Fator 5 (F5): sensibili-dade emocional. Este instrumento apresen-tou 46,444% de variância acumulada ex-plicada com saturações e alfas de Cronba-

___________1 Benevides-Pereira AMT, Inventário de Resiliência.Maringá, 2004. Dados inéditos não publicados.

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ch de: F1: -0,711 a -0,461, constando de 7itens (á=0,7309); F2: 0,790 a 0,6297 cons-tando de 4 itens (á=0,6946); F3: 0,664 a0,330, constando de 9 itens (á=,7327); F4:0,739 a 0,479, constando de 3 itens(á=,5939) e F5: -0,761 a -0,742, constan-do de 2 itens (á=0,6086), indicando satis-fatória qualidade psicométrica. Na popu-lação brasileira os valores médios para cadafator foram estimados em: F1 de 13 a 18,F2 de 12 a 14, F3 de 33 a 37, F4 de 9 a 11 eF5 de 6 a 8,.

ProcedimentosPara a composição da amostra foi re-

alizada busca ativa, no período de junhoa setembro de 2004, por meio de cartas,telefonemas, visitas domiciliares e às Uni-dades Básicas de Saúde (UBS). Após osparticipantes serem esclarecidos a respeitodos objetivos da pesquisa, assinaram otermo de consentimento aprovado peloComitê de Ética em Pesquisas Envolven-do Seres Humanos da Universidade Es-tadual de Maringá. A presença de sinto-matologia para DC foi averiguada pelaconsulta aos prontuários médicos dosportadores de DC participantes. Foramconsiderados assintomáticos ou na formacrônica indeterminada da doença de Cha-gas, de acordo com os critérios estabele-cidos para a sua caracterização (Ribeiro& Rocha, 1998; Neves, 2000), os indiví-duos infectados que apresentavam posi-tividade sorológica e/ou parasitológicapara doença de Chagas, ausência de sin-tomas e/ou sinais da moléstia, eletrocar-diograma convencional normal e estudosradiológicos do coração, esôfago e cólonnormais. Foram considerados na fase crô-nica sintomática da DC os entrevistadosque apresentaram sintomatologia relaci-onadas com o sistema cardiovascular (for-ma cardíaca), digestivo (forma digestiva)ou ambos (forma cardiodigestiva ou mis-ta), segundo os critérios estabelecidos eapresentados por Neves (2000) e Ribeiroe Rocha (1998). A recusa em participardo estudo foi o único critério de exclusãoconsiderado. As entrevistas individuais

foram agendadas previamente em dia ehora marcados em local combinado como participante e tiveram duração médiade vinte minutos. Todos os instrumentosforam aplicados somente por uma dasautoras, o que garantiu a uniformidadeno contato e na coleta de dados.

As análises foram realizadas de acordocom a padronização e validação de cadainstrumento. Em relação aos fatores do ISEe do IR, foram considerados como de altadimensão valores acima da média superior.Valores dentro do intervalo da média foramconsiderados de dimensão moderada e osvalores abaixo da média inferior foram con-siderados de dimensão reduzida.

Para análise dos dados foram utiliza-dos os testes t de Student para comparaçãode variáveis com dois grupos, ANOVA paracomparação de variáveis que continhammais de dois grupos, regressão linear atra-vés de passos sucessivos para observar va-riáveis preditoras de sintomatologia de es-tresse ou resiliência e teste Qui-quadrado(Coeficiente de Pearson) para estudar a re-lação entre variáveis qualitativas. Foramdestacadas preferencialmente as compara-ções entre portadores sintomáticos e assin-tomáticos, em nível de 5% de significância.

Resultados

Os resultados referentes às variáveis só-cio-demográficas distribuídas em três ca-tegorias, “Pessoal”, “Profissional” e “Sobrea Doença de Chagas”, são apresentados aseguir. Quanto à categoria “Pessoal”, dos100 participantes, 53 eram do sexo femini-no (53%). A idade variou entre 20 e 86 anos,(x=55,19 anos). Dos entrevistados, 73%possuíam um relacionamento afetivo estável,91% tinham filhos. Em relação ao nível edu-cacional, 56% das pessoas não possuíam es-colaridade e apenas 2% realizaram estudosuniversitários.

Considerando a categoria “Profissio-nal”, quanto à situação de trabalho, 29%eram aposentados, 17% estavam na infor-malidade (artesãos, “do lar”, voluntários

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em igrejas e comunidades, trabalhadoresdo campo) e 25% eram contratados legal-mente, sendo que, destes, 7% eram funci-onários da construção civil e 8% emprega-dos domésticos. Reclassificando o grupoquanto a escolaridade necessária para aexecução da atividade laboral, foi observa-do que 61% dos entrevistados exerciamatividades que não exigiam muitos anosde estudo.

Na categoria “Sobre a Doença de Cha-gas”, a informação a respeito da reação aosaber do diagnóstico da DC mostrou que ochoque e/ou medo de morrer foi a reação re-ferida para 48% dos entrevistados. Respon-deram que a doença de Chagas interferia navida atual 38% dos casos. Metade dos par-ticipantes (50%) apresentou sintomatologiarelacionada à doença de Chagas.

Com relação aos instrumentos utiliza-dos para a coleta de dados, as médias depontos obtidas para o grupo em estudo fo-ram: SP/ISE x=25,31; SF/ISE x=7,88; F1/

IR x=20,42; F2/IR x=11,90; F3/IRx=33,93; F4/IR x=8,86; F5/IR x=6,76.

Portadores de DC sintomáticos e as-sintomáticos não apresentaram diferençassignificativas quanto aos valores médiospara os fatores do ISE quando considera-das as variáveis sócio-demográficas das ca-tegorias “Pessoal” e “Profissional”. Para oIR não foram significativas as diferençasentre os grupos acima referidos para as va-riáveis sócio-demográficas: sexo, relaciona-mento afetivo e filhos.

A distribuição das dimensões para osfatores de estresse (ISE) e de resiliência(IR) podem ser observadas na Tabela 1.Notou-se que das pessoas entrevistadas,44% apresentavam alta dimensão para sin-tomas psicológicos de estresse, 39% paraos sintomas físicos de estresse e 69% apre-sentavam dimensão alta para F1, fator in-dicativo de sentimentos de desesperança e di-ficuldades emocionais.

Tabela 1 – Distribuição das dimensões do ISE e IR por fator em portadores de doença de Chagas crônica de Maringáe Região Noroeste do Paraná.

Legenda: ISE= Inventário de Sintomatologia de Estresse; SP= Sintomas psicológicos, SF= Sintomas físicos, ISE=Inventário de Sintomas de Estresse, F1= Referente à desesperança e dificuldades emocionais, F2= Capacidade deassertividade, F3= Capacidade de tenacidade e inovação, F4= Capacidade empática, F5= Capacidade extremada dereação emocional, IR= Inventário de Resiliência

A Tabela 2 mostra a distribuição e cru-zamento entre as variáveis sócio-demográ-ficas Doença interfere na vida atual ou Sinto-mas da DC e os fatores dos instrumentosISE e IR considerando as dimensões des-tes, analisadas pelo teste do Qui-quadrado(Coeficiente de Pearson). Dos entrevistados,60% (30) daqueles que apresentavam sinto-

mas para DC, mostravam alta dimensão desintomas psicológicos de estresse. Da mes-ma forma, 52% (26) dos sintomáticos para aDC apresentavam alta dimensão de sinto-mas físicos de estresse. Estas diferenças fo-ram estatisticamente significativas entre osgrupos de sintomáticos e assintomáticospara DC.

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Em relação aos fatores do IR, 76%(38) dos entrevistados sintomáticos paraDC apresentavam dimensão elevada de F1

(p=0,210). Da mesma forma, 78,9% (30)dos que afirmavam que a doença interferiana vida atual apresentavam dimensão ele-vada de F1 (p=0,116), bem como médiasmais elevadas em sintomas psicológicosde estresse (t=3,482, p=0,001). Dos en-trevistados, 40% (20) revelavam sintomasda DC e F3 em dimensão reduzida(p=0,122) e 52,6% (20) dos que afirma-vam que a doença interferia na vida atualdenotavam também F3 em dimensão re-duzida (p=0,001). Em todas estas com-parações o grupo de portadores sintomá-ticos apresentava maior percentagem paraF1 e menor para F3 que o grupo de assin-tomáticos. No entanto as diferenças não

foram estatisticamente significativas, comexceção da última comparação.

Considerando o cruzamento entre asvariáveis: doença interfere na vida atual e sin-tomas da DC, dos 38 portadores que afir-mavam que a doença interferia na vida atu-al, 32 (84,2%) apresentavam sintomas daDC. Na Tabela 3 pode ser observado quedos 30 entrevistados sintomáticos que re-velavam dimensão elevada de estresse psi-cológico, 20 (66,7%) asseveravam que adoença interferia na vida atual. Das 26pessoas sintomáticas para DC que deno-tavam alta dimensão de sintomas físicosde estresse, 17 (65,4%) relatavam que adoença interferia em sua vida atual. A di-ferença entre grupo que apresentava sin-tomas da DC e o que não apresentava foisignificativa em nível de 5%.

Tabela 2 – Distribuição e cruzamento entre as variáveis sócio-demográficas Sintomas da DC e Doença interfere na vidaatual e os instrumentos ISE e IR em portadores de DC de Maringá e Região do Paraná.

Legenda: SP= Sintomas Psicológicos e SF= Sintomas Físicos; IR= Inventário de Resiliência; F1= Referente a desespe-rança e dificuldades emocionais e F3= capacidade de tenacidade e inovação.

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No Gráfico l, é apresentada a compa-ração de médias dos fatores do ISE e IRem portadores da doença de Chagas emrelação à variável sócio-demográfica Sinto-mas da DC. Portadores sintomáticos da DCapresentavam médias (SP/ISE x=31,04;t=3,769; p=0,000 e SF/ISE x=9,38;t=2,742; p=0,007) significativamente maiselevadas de sintomas psicológicos e físicosde estresse que os assintomáticos (SP/ISEx=19,58 e SF/ISE x=6,38). Quanto à resili-ência, os indivíduos com sintomas da DCapresentavam média mais elevada para ofator F1, referente à desesperança e dificulda-des emocionais e média mais baixa para F3

que se refere à capacidade de tenacidade einovação (F1/IR x=21,50; t=2,806; p=0,006

e F3/IR x=33,12; t=-2,041; p=0,044) emrelação às médias dos assintomáticos (F1/IR x=19,34 e F3/IR x=34,74).

A análise de regressão linear, por meiode passos sucessivos, não detectou qualquervariável sócio-demográfica predisponentepara estresse psicológico e físico quando con-sideradas as categorias “Pessoal” e “Profissi-onal”. Com relação à categoria “Sobre a Do-ença de Chagas”, as variáveis sintomas da DCe a reação ao saber do diagnóstico foram pre-disponentes ao desenvolvimento de sinto-mas psicológicos de estresse (R2=0,114;

38,87; t=4,579; p=0,000 e R2=0,91;42,04; t=7,978; p=0,000 respectivamen-

te). O mesmo não ocorreu para os sinto-mas físicos de estresse.

Instrumento – ISE Nº de respostas afirmativas para

variável Doença interfere na vida atual

Variável Sintomas da DC

Portadores Nível de significância

Fator Dimensão Total N no Fator /Instrumento Grupo Total N % p sim 30 20 66,7

SP alta 38 24 não 14 04 30,8

0,033

sim 26 17 65,4

SF alta 38 22 não 13 03 23,1

0,015

Tabela 3 – Distribuição e cruzamento entre as variáveis sócio-demográficas Doença interfere na vida atual e Sintomas daDC e o instrumento ISE em portadores de DC de Maringá e Região do Paraná.

Legenda: ISE= Inventário de Sintomatologia de Estresse; SP= Sintomas Psicológicos e SF= Sintomas Físicos

Gráfico 1 – Comparação de médias dos fatores do ISE e IR em portadores de doença de Chagas crônica de Maringáe Região Noroeste do Paraná em relação à variável sócio-demográfica Sintoma da DC.

0

5

10

15

20

25

30

35

40

SP/ISE SF/ISE F1/IER F3/IER

SintomáticosAssintomáticos

Méd

ia d

e Po

ntos

Alc

ança

dos n

os

Inst

rum

ento

s

Fator/Instrumento

*

*

*

*

Legenda: ISE = Inventário de Sintomas de Estresse, SP = Sintomas psicológicos, SF = Sintomas físicos, IR = Inventáriode Resiliência, F1 = Referente à desesperança e dificuldades emocionais, F3 = Capacidade de tenacidade e inovação.* = diferença significativa (p < 0,05).

Quanto aos fatores de resiliência, asvariáveis sócio-demográficas nível educacio-nal (R2=0,21; 23,13; t=-3,057; p=0,004),

doença interfere na vida atual (R2=0,19;31,07; t=-2,623; p=0,000) e situação de

trabalho (R2=0,31; =26,37; t=-2,210;

*

*

*

*

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p=0,034) mostravam-se predisponentes aodesenvolvimento de sentimentos de deses-perança e dificuldades emocionais (F1) em por-tadores de DC. A variável sócio-demográfi-ca reação ao saber do diagnóstico (R2=0,16;

7,80; t=2,380; p=0,024) denotava serpredisponente para o desenvolvimento dacapacidade de assertividade (F2). A variávelsócio-demográfica situação de trabalho(R2=0,11; =32,27; t=2,162; p=0,038) erapredisponente ao desenvolvimento da ca-pacidade de tenacidade e inovação (F3).

A análise por meio da ANOVA nãodenotou diferença significativa para os fa-tores do ISE em relação as variáveis sócio-demográficas pesquisadas. Quanto aos fa-tores do IR, foi verificado que a variávelsócio-demográfica nível educacional foi sig-nificativa para F1 (F=5,609; p=0,000), mos-trando médias mais elevadas entre os semescolaridade (x=21,25) e entre os que cur-saram o ensino fundamental (x=20,87), di-minuindo sensivelmente entre os que con-cluíram cursos universitários (x=14,00).

Discussão

Este trabalho mediu, ao mesmo tem-po, os sintomas psicológicos e físicos deestresse e fatores relativos a resiliência emportadores de DC divididos em dois gru-pos, sintomáticos (50%) e assintomáticos(50%) em relação a enfermidade, compa-rando-os entre si.

Em relação à amostra, das 373 pessoasportadoras de DC cadastradas no LDC/UEM, 100 (26,8%) foram entrevistadas, sen-do que destas, 50 (50%) apresentaram sin-tomas para DC. Este percentual está de acor-do com dados da literatura, visto que diver-sos autores (Brener & colaboradores, 2000;Gontijo, Rocha & Oliveira, 1996; Ribeiro &Rocha, 1998) citam que 50% a 69% dos in-divíduos infectados pelo T. cruzi apresentamsintomas relacionados à doença, enquantoo restante permanece assintomático (formaindeterminada) indefinidamente.

A média de idade dos participantesobservada neste estudo era de 55,19 anos.

Esta média foi superior a 37,78 anos obser-vada por Gontijo e colaboradores (1996),para chagásicos atendidos em ambulatóriode referência para DC de Belo Horizonte/MG. Este fato pode ser explicado conside-rando os locais em que foi realizada a bus-ca ativa para a composição da presenteamostra. A DC nem sempre é a primeiracausa de cadastramento nos serviços desaúde, pois nesta faixa etária as pessoasprocuram estes serviços para prevenção outratamento de outras doenças (hipertensão,diabetes, doenças reumáticas) que podemsurgir com o envelhecimento (Cianciarullo,Gualda, Cunha & Silva, 2002).

Com relação ao nível educacional, 56%dos entrevistados não possuíam escolarida-de e apenas 2% cursaram a universidade.Este dado está de acordo com Gontijo ecolaboradores (1996), que afirmam ser ochagásico indivíduo com baixo nível de es-colaridade.

Quanto à situação de trabalho, 29% es-tavam aposentados e antes da aposentado-ria desenvolviam atividades braçais ou quenão necessitavam de alto nível de instru-ção formal. Este dado vem ao encontro dosestudos realizados por outros autores quedescrevem esta doença como limitante eque, portanto, pode ser a causa de aposen-tadorias precoces de seus portadores sinto-máticos (Araújo & colaboradores, 2000;Araújo & colaboradores, 2002; Neves, 2000).Além disso, 61% dos entrevistados desen-volviam trabalhos que não exigiam muitosanos de estudo. Este dado está relacionadoao fato da DC ser característica de popula-ções de baixa renda e com baixo nível deescolaridade (Gontijo & colaboradores,1996; Neves, 2000; Ribeiro & Rocha, 1998).

Foi observado que no total, 62% dosentrevistados afirmavam que o diagnósticoera motivo de preocupação sendo o choquee/ou medo de morrer referido para 47% dosentrevistados. Este dado está de acordo comoutros autores (Araújo & colaboradores,2000; Uchoa, Firmo, Dias, Pereira & Gonti-jo, 2002) que citam que de maneira geral anotícia da soro-positividade é recebida comsurpresa, medo, apreensão ou desespero. A

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falta de informação sobre a DC e o estigmada doença colaboraram para a ocorrênciadesta resposta no presente estudo. Muitosparticipantes responderam que o choque e/ou o medo de morrer foram tão grandes nomomento após o diagnóstico que até a datada entrevista os familiares não sabiam que oentrevistado era portador da DC.

Com relação aos instrumentos utiliza-dos para a coleta de dados, ISE e IR, asmédias de pontos obtidas para o grupo emestudo estão de acordo com as médias dosestudos brasileiros referidos.

As variáreis sócio-demográficas dascategorias “pessoal” e “profissional” nãoapresentavam diferenças significativas en-tre os portadores sintomáticos e assintomá-ticos em relação ao estresse. Para as pessoasque denotavam sintomatologia da DC foiobservado que estas refletiam índices maiselevados de sintomas psicológicos de estres-se, maior inclusive do que a presença desintomas físicos, revelando a importânciadeste fator para o agravamento do quadroexistente. Rutter (1985) aponta que estres-sores adicionais aumentam o impacto deoutros estressores presentes.

Este resultado vem confirmar o que foidescrito em outros trabalhos sobre a rela-ção entre desenvolvimento de sintomas deestresse e agravamento de enfermidadescrônicas (Belloch & colaboradores, 1995;Borràs, 1995; Cantero & Brisach, 1998). Foiainda observado que portadores sintomáti-cos para DC, além de apresentarem alta di-mensão de SP e SF, asseveravam com mai-or freqüência que a DC interferia na vidaatual. Este resultado concorda com os acha-dos de Uchôa e colaboradores (2002) queafirmam que o conhecimento do diagnós-tico desencadeia muita apreensão em fun-ção de uma concepção de doença associa-da a limitações progressivas, à inexistênciade tratamento eficaz e a idéia de que a mor-te pode ocorrer a qualquer momento. Alémdisto, segundo estes autores, o fato da DCcomprometer órgãos como coração e derepercutir negativamente sobre a vida pro-fissional dos indivíduos infectados é consi-derado como o principal agravante da DC.

Em relação à resiliência, é importantesalientar que não houve nenhum caso naamostra que apresentasse o fator F1 em di-mensão reduzida. Este resultado sugere queo fato de ser portador da DC, independentede apresentar ou não sintomas da infecçãono momento, fez com que todos os entre-vistados manifestassem sentimentos de de-sesperança e dificuldades emocionais emdimensão alta ou moderada. Deve ser aindadestacado que os portadores sintomáticos daDC apresentavam mais constantemente di-mensão elevada de F1 e reduzida de F3 ale-gando com maior freqüência que a doençainterferia na vida atual. Embora a diferençanão tenha sido significativa, estes achadossão importantes uma vez que portadores sin-tomáticos para DC apresentavam médiasmais elevadas que os assintomáticos para F1

e mais baixas para F3. Estes resultados estãoem concordância com Uchôa e colaborado-res (2002) que afirmam que a insegurança ea depressão surgem em conseqüência do queé vivido como imutável.

Vários autores (Araújo & colaborado-res, 2000; Araújo & colaboradores, 2002;Uchôa & colaboradores, 2002) relatam queser chagásico implica em conviver com umadoença crônica que traz consigo o medoda morte, inclusive a morte súbita, além dosofrimento antecipado em relação ao sur-gimento de sintomas. Este fato pode levara mudanças no cotidiano e no estilo de vidade seus portadores.

A presença de sintomas da DC foi fatorde risco para o desenvolvimento de senti-mentos de desesperança e dificuldades emo-cionais, diminuição da capacidade de tena-cidade e inovação. Os indivíduos infectadospelo T. cruzi estão expostos a uma situaçãode risco, já que a doença de Chagas é relaci-onada à pobreza e estigmatizada socialmen-te. Segundo Kotliarenco e colaboradores(1997), a pobreza e/ou o fato de pertencer agrupos minoritários significa estar expostoa situações de risco que, dependendo dosfatores de proteção disponíveis e dos recur-sos de enfrentamento, podem contribuirpara a baixa capacidade de resiliência.

A reação ao saber do diagnóstico para DC

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e a presença de sintomas da DC mostraramser variáveis sócio-demográficas predispo-nentes para o aparecimento dos sintomas psi-cológicos de estresse e/ou da capacidade deassertividade. Este dado vem confirmar queem seres humanos o agente estressor nãoprecisa estar presente para que o estresse sedesenvolva (Belloch & colaboradores, 1995;Benevides-Pereira, 2002; Uchôa & colabo-radores, 2002). O sofrimento antecipatórioapresenta-se como um componente impor-tante, podendo desencadear o processo deestresse, com pensamentos negativos sobrea própria vida e conseqüentemente agravaro quadro existente.

As variáveis nível educacional, situação detrabalho e doença interfere na vida atual forampredisponentes ao desenvolvimento de sen-timentos de desesperanças e dificuldadesemocionais bem como diminuição da capa-cidade de tenacidade e inovação. Como onível educacional elevado é considerado fa-tor de proteção envolvido no processo de re-siliência (Kotliarenco & colaboradores, 1997;Melillo & Ojeda, 2005; Pinheiro, 2004), a bai-xa escolaridade observada no grupo estuda-do contribuiu para que os chagásicos sinto-máticos apresentassem esses sentimentos edificuldades. Nos indivíduos com melhorescolaridade este fator estava diminuído.

Considerando os resultados, os sinto-máticos para a DC relatavam ser a situaçãode trabalho muito difícil, visto que além deexercerem atividades que proporcionam bai-xa remuneração, muitos ainda tinham quese deparar com aposentadoria precoce porinvalidez (Araújo & colaboradores, 2000;Araújo & colaboradores, 2002; Ribeiro &Rocha, 1998; Uchôa & colaboradores, 2002).A situação de trabalho, junto com a baixaescolaridade, neste caso, deve ser conside-rada como um fator de risco ao desenvolvi-mento de sintomas de estresse e da baixacapacidade de resiliência, dado este tambémrelatado por Yunes (2003) e Pinheiro (2004).

A variável doença interfere na vida atualfoi predisponente à baixa capacidade deresiliência. Este resultado confirma o querelatam Uchôa e colaboradores (2002). Es-tes autores afirmam que o conhecimentodo diagnóstico positivo para doença de

Chagas acaba transformando toda a vidado indivíduo, pois leva à mudança negati-va de atitude frente à vida. Estes autoresacrescentam que a consciência da vulnera-bilidade imposta pela DC transforma a re-lação do indivíduo com sua própria vida eabala a percepção que ele tem de si mesmo,de seus recursos e de suas capacidades.

Conclusão

Os portadores sintomáticos para a do-ença de Chagas crônica apresentam maissintomas psicológicos e físicos de estresse emenor capacidade de resiliência que os in-divíduos assintomáticos infectados pelo T.cruzi. A baixa resiliência foi expressa porsentimentos de desesperança e dificulda-des emocionais e menor capacidade de te-nacidade e inovação.

Este estudo aponta para o fato de quea baixa resiliência predispõe conseqüente-mente à ocorrência do desenvolvimentodos sintomas de estresse, principalmenteos de cunho psicológico, levando, portan-to, à predisposição do surgimento de sin-tomas de DC, os quais estão diretamenterelacionados a uma maior morbidade.

As intervenções preventivas, psicoló-gicas ou psicossociais, que se ocupem dadetecção precoce e oportuna de sintomasemocionais bem como de recuperação psi-cológica de doenças físicas, podem vir a serimportantes fontes de ajuda, na medida emque podem fornecer estratégias de enfren-tamento diante do processo da doença, as-sim como ao estresse associado a esta.

A compreensão do paciente chagásicocom relação à própria doença deve ser vistadentro de uma realidade que vai além dacompreensão do fisiológico. As questões decuidados preventivos que poderiam retardar,amenizar ou mesmo evitar o surgimento dossintomas em DC, provavelmente demandamconhecimentos e atitudes que extrapolam osrecursos e oportunidades que caracterizama vida de seus portadores, já que é conside-rada uma enfermidade associada à pobrezae ao subdesenvolvimento.

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Fazem-se necessárias medidas queinstrumentem as práticas educativas de saú-de, assim como os serviços e os profissio-nais da área, visando maior acesso as infor-mações e ao tratamento da DC, propician-do a diminuição do estigma da doença edo estresse associado a ela.

De outra parte, é preciso repensar aspolíticas públicas, visando proporcionarsentimento de esperança de um futuromelhor, com melhoria na qualidade de vidae trabalho para os brasileiros de todas asraças e classes.

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Recebido em março de 2006Aceito em agosto de 2006

AutoresDaniela Cristina Grégio d’Arce Mota: Psicóloga,Mestre em Ciências da Saúde. Professora Departa-mento de Psicologia – UEM.Ana Maria T. Benevides-Pereira: Doutora em Psicolo-gia. Professora – Universidade Estadual de Maringá-UEM.Mônica Lúcia Gomes: Doutora em Parasitologia. Pro-fessora do Departamento de Análises Clínicas – UEM.Silvana Marques de Araújo: Doutora em Parasitologia.Professora do Departamento de Análises Clínicas –UEM.

Endereço para correspondência:[email protected]