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Docente do Ensino Superior: Formação e Identidade Universidade Cruzeiro do Sul | www.cruzeirodosul.edu.br

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Docente do Ensino Superior:

Formação e Identidade

Universidade Cruzeiro do Sul | www.cruzeirodosul.edu.br

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Docente do Ensino Superior: Formação e Identidade

Docente do Ensino Superior: Formação e Identidade

MATERIAL TEÓRICO

Responsável pelo Conteúdo:

Profa. Dra. Rita Maria Lino Tarcia

Profa. Ms. Jane Garcia de Carvalho

Profa. Ms. Júlia de Cássia Pereira do Nascimento

Revisão Textual:

Profª Esp. Márcia Ota.

Campus Virtual Universidade Cruzeiro do Sul | www.cruzeirodovirtual.com.br

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Docente do Ensino Superior: Formação e Identidade

Quem atua como docente no Ensino Superior?

O perfil do docente no Ensino Superior difere daquele encontrado entre

professores que atuam Na Educação Básica. A formação acadêmica de parte

considerável dos professores do Ensino Superior não levou em consideração a

possibilidade da docência, ao não discutir aspectos didático-pedagógicos

importantes. Encontramos médicos, advogados, dentistas, engenheiros e

outros profissionais que começam na docência superior após o preenchimento

de uma ficha de identificação, passando assim a atuar simultaneamente no

Ensino Superior e como profissional das áreas específicas. Segundo Pimenta e

Anastasiou (2005), o título de professor Universitário acompanhado da

profissão que exerce, traz a este profissional certo status social, o que não

acontece quando o título “professor” aparece sozinho.

Pimenta e Anastasiou (2005) relatam pesquisas que envolvem a

profissionalização dos professores Universitários. O processo de socialização

acontece de diversas formas, a indutiva é uma delas, ou seguindo a rotina de

outros, ou mesmo a autodidata, o que apesar de positiva é insuficiente. Ao

tratar de modelo de Ensino Universitário, é comum professores repetirem

experiências vivenciadas em sua própria formação.

Podemos afirmar pela nossa experiência docente, tanto no ensino

fundamental quanto no ensino superior, que a formação inicial e a continuada

do professor são fatores importantes na definição da sua didática e prática

pedagógica.

Pesquisas internacionais como a da UNESCO, apontam que a maioria

dos professores que atuam na Educação Superior, não estão preparados

pedagogicamente. Procurando acompanhar esses profissionais em suas

trajetórias, muitas Universidades investem na capacitação de seus docentes

para atuação pedagógica, um exemplo são as capacitações oferecidas pelos

professores da Universidade Cruzeiro do Sul, aos próprios colegas de trabalho,

no início do ano letivo, que visam à reflexão sobre a prática docente.

A didática e a prática de ensino construíram uma trajetória histórica,

iremos brevemente recordar alguns conceitos importantes desse processo.

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Docente do Ensino Superior: Formação e Identidade

Conceito e evolução histórica da Didática

O que é “DIDÁTICA”?

O vocábulo “didática” deriva da expressão grega Τεχνή διδακτική

(techné didaktiké), que se traduz por arte ou técnica de ensinar.

A Didática é entendida como a arte ou técnica de ensinar. Difundiu-se

com o aparecimento da obra de Jean Amos Comenius ( 1592 – 1670 ),

“Didactica Magna”, ou “Tratado da Arte Universal de Ensinar Tudo a Todos”,

publicada em 1657.

Todo docente precisa conhecer esta ciência, cujo objetivo fundamental é

a reflexão sistemática do processo ensino-aprendizagem, as estratégias de

ensino, as questões práticas relativas à metodologia e as estratégias de

aprendizagem.

Portanto, desenvolver a arte de ensinar é muito mais do que puramente

treinar o educando no desempenho de destrezas ou habilidades. (Paulo Freire)

Podemos encontrar diferentes definições para Didática

“A didática daquele

professor é ótima”

“Esse professor não

tem didática”. http://files.nireblog.com/blogs/gcarsan

tos/files/professora-diferente.jpg

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Docente do Ensino Superior: Formação e Identidade

Fonte: TARCIA, Rita, 2009.

Para Comênio:

Fonte: TARCIA, Rita, 2009.

Didática

Arte de ensinar e de fazer aprender.

Conjunto de preceitos que tem por fim

tornar o ensino prático e eficiente.

Ciência auxiliar da pedagogia que

promove os métodos mais adequados

para a aprendizagem.

Didática é uma reflexão sistemática

sobre o processo de ensino-

aprendizagem que acontece na

escola e na aula, buscando

alternativas para os problemas da

prática pedagógica.

http://www.priberam.pt/dlpo/definir

_resultados.aspx. Acesso em julho

2009.

http://michaelis.uol.com.br/moderno/

portugues/index.php?lingua=portugu

esportugues&palavra=didática .

Acesso em julho de 2009.

MASETTO, Marcos Tarciso.

Didática: a aula como

centro. 4. ed. São Paulo:

FTD, 1997. p.13

Didática é o estudo da

situação instrucional, isto é,

do processo de ensino e

aprendizagem, e nesse

sentido ela enfatiza a relação

professor-aluno.

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Docente do Ensino Superior: Formação e Identidade

Sintetizando, poderíamos dizer que ela funciona como o elemento

transformador da teoria na prática.

Comênio (1592) dedicou, inteiramente, sua vida acadêmica à promoção

da paz e à igualdade de direitos de aprendizagem a todos, tornando-se o

precursor do pensamento moderno sobre a Pedagogia. (final do século

XVII).Buscou um método para ensinar de forma mais rápida e segura, pois

pretendia tornar a aprendizagem eficaz e atraente, mediante cuidadosa

organização, em que ele próprio se empenhava na elaboração de manuais

didáticos que iria uniformizar o conhecimento a ser transmitido, como também

a língua em que esse fosse veiculado, o que é uma novidade na época.

A ideia defendida é que o ponto de partida da aprendizagem deve ser o

conhecido, do simples para o complexo, do concreto para o abstrato, em que o

verdadeiro estudo parte do “livro da natureza”.

Processo seguro e excelente de instruir, em todas as comunidades de

qualquer reino Cristão, cidades, aldeias, escolas tais que toda juventude de um

ou outro sexo, sem excetuar ninguém em parte alguma, possa ser formada nos

estudos, educada nos bons costumes, impregnada de piedade, e desta

maneira, possa ser, nos anos da puberdade, instruída em tudo que diz respeito

à vida presente e futura, com economia de tempo e de fadiga, com agrado e

com solidez. (Comênio, 1997, p.43)

Obs.: Com relação ao quadro acima, não nos responsabilizamos por erros gramaticais/

ortográficos. A escrita é de responsabilidade da autora do material.

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Docente do Ensino Superior: Formação e Identidade

Fonte: TARCIA, Rita, 2009.

A necessidade de estabelecimento de caminhos constrói as bases para

Herbart no século XIX, criar a Pedagogia Científica, designando passos formais

para o ensino. Segundo Pimenta (2005), Herbart dando ênfase ao método,

distancia-se de Rousseau que dá ênfase ao sujeito que aprende.

Jean-Jacques Rousseau (1712)

Propõe uma nova concepção, baseada nas necessidades e interesses dos

alunos, o que modifica o pensamento sobre a didática.

Com o desenvolvimento da sociedade, surge a necessidade do

ensino, planejado e elaborado.

Surge a instituição escolar

Necessidade de pensar sobre o ensino

As ideias de Comênio ajudam outros a pensar sobre novas

alternativas.

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Docente do Ensino Superior: Formação e Identidade

Herbart (1776) – Pedagogia Científica

Fonte: TARCIA, Rita. 2009.

Para Herbart, o professor deveria percorrer passos formais como:

clareza na exposição, associação dos conhecimentos novos com os anteriores,

sistema e método. Herbart retoma as ideias de Comênio do método único. As

ideias de Rousseau, questionada por Herbart e seus seguidores, é a base da

“Escola Nova”, que questiona o método único de acordo com Pimenta e

Anastasiou:

Amplamente desenvolvido na primeira metade do século XX, o

movimento escolanovismo enfatizava o aprendiz como agente ativo da

aprendizagem e a valorização dos métodos que respeitassem a natureza da

criança, que a motivassem, que a estimulassem a aprender. (Pimenta e

Anastasiou, 2005, p. 45)

Inspirador da Pedagogia

Conservadora.

Aquisição do conhecimento pela

direção do professor;

A escola precisa introduzir ideias

corretas na mente dos

alunos;

A moralidade é atingida por meio

da educação;

Aponta o caminho didático

a ser seguido.

Os interesses dos alunos são

determinados por professores e

instituição;

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Docente do Ensino Superior: Formação e Identidade

Algumas vertentes apontavam para as diferenças individuais, tendo

como referência a psicologia. Uma das explicações para o fracasso escolar

eram as diferenças individuais, ou seja, a criança não tinha sucesso em sua

aprendizagem por sua própria natureza. Assim, a responsabilidade sobre a

aprendizagem não recaia sobre a didática, os métodos, ou o relacionamento

entre professores e alunos; podemos dizer que nesta perspectiva o professor

cumpre seu papel e, se os alunos não aprendem é uma questão de natureza

individual.

Segundo Libâneo (1990), a escolanovista está centrada na psicologia e

nas leis do desenvolvimento biológico. A Pedagogia é tratada enquanto teoria

da educação e a Didática refere-se à teoria do ensino, ligada a Pedagogia,

ambas restritas a métodos e procedimentos.

O desenvolvimento tecnológico dos anos 60 traz uma nova dimensão à

Didática, que se resumiria em “formas de ensinar”.

De acordo com Pimenta (2005), não cabe à Didática questionar os fins

do ensino; trata-se de um instrumental impregnado nos cursos de licenciaturas,

criando alguns mitos como: os alunos vêem a Didática como uma forma de

adquirir técnicas para ensinar bem seus alunos; muitos docentes concebem a

Didática como a teoria do ensino, aquela que instrumentaliza para profissão;

considerar a Pedagogia e a Didática como campos restritos a questões de

aprendizagem de crianças e adolescentes. Pimenta e Anastasiou atribuem

outras perspectivas à Didática.

Nessa perspectiva de ensino como fenômeno complexo e do

ensinar como prática social, a tarefa da didática é a de

compreender o funcionamento do ensino em situação, suas

funções sociais, suas implicações estruturais... ajudar a criar

respostas novas [...] (Pimenta & Anastasiou, 2005, p. 49).

Ao analisarmos a evolução da Didática podemos notar que de acordo

com o contexto, a sociedade e as ideias defendidas a cada época, muda-se o

conceito de educação e, portanto também o de didática.

Em 1930, vivia-se o conservadorismo, a didática utilizada focava a

educação no professor e na aula, direcionando a exigência da aprendizagem

apenas no aluno. Utilizavam-se conteúdos tradicionais, com memorização e

aplicação de provas para atribuição de notas.

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Docente do Ensino Superior: Formação e Identidade

Em 1970, utiliza-se a didática para garantir a aprendizagem, com ênfase

na elaboração dos planos de ensino e seleção de conteúdos.

Hoje, nosso compromisso educacional é com a qualidade cognitiva das

aprendizagens. O professor deixa de ser transmissor de conhecimento para

tornar-se mediador da preparação dos alunos para o pensar.

Vamos discutir e analisar a importância da Didática na formação e na

atuação como professor universitário.

Segundo Pimenta (2005), pesquisadores de vários campos do

conhecimento acabam por adentrar no campo da docência no ensino

superior. Como decorrência natural de suas atividades, traz consigo enorme

experiência e conhecimentos em suas áreas de atuaçâo, porém não há

reflexão sobre o que vem a ser professor. Por outro lado, as instituições não se

responsabilizam por esta adequação profissional, sendo assim, ela ocorre

"naturalmente" de acordo com experiências vivenciadas por estes

professores, enquanto alunos ou mesmo pela influência de outros

professores que já atuam neste nível de ensino.

Que tipo de ensino desenvolvemos como docentes universitários?

Devemos sempre nos lembrar das quatro perguntas básicas em relação ao

ensino que vamos desenvolver e que nos permitem aplicar uma prática

docente contextualizada e eficiente.

http://www.dennisholmesdesign

s.com/siteimages/albert_einstei

n_professor.png

O QUE ENSINAR?

COMO ENSINAR?

PARA QUE ENSINAR?

PARA QUEM ENSINAR?

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Docente do Ensino Superior: Formação e Identidade

O QUE ENSINAR? Refere-se aos conteúdos selecionados e que

pretendemos que o aluno aprenda.

COMO ENSINAR? Diz respeito às estratégias, técnicas e recursos utilizados

para o ensino.

PARA QUE ENSINAR? Contextualizar o conteúdo para que o aluno possa

desenvolver uma aprendizagem significativa.

PARA QUEM ENSINAR? Quem são os sujeitos deste processo? Nossos

alunos. Para eles desenvolvemos todos os passos do processo de ensino-

aprendizagem.

Dependendo da postura e da visão que o professor tem de educação, de

ensino e de seus alunos, ele desenvolverá uma didática diferenciada.

Por este motivo, é muito importante que você construa uma identidade

docente que permitirá complementar sua formação, para além de conteúdos e

técnicas. Esta postura fará de você um professor diferenciado.

A mudança de paradigma do professor, de transmissor para mediador

do conhecimento, nos pede um trabalho mais elaborado, crítico e voltado para

uma prática docente que se relacione com a prática social e promova a

aprendizagem dos alunos em forma de descoberta, apreensão, modificação de

comportamentos e aquisição de conhecimentos.

Segundo Zaballa (1998), ensinar envolve estabelecer uma série de

relações, que devem levar o aluno à própria elaboração de representações

pessoais sobre o objeto de aprendizagem. Para o autor, a aprendizagem é

pessoal; mesmo possuindo elementos compartilhados, ela não acontece de

forma uniforme, por este motivo a atuaçâo do professor deve ser diversificada.

Para o autor, a atividade ou exercício "solto", por melhor elaborado que

seja não tem propósito se não houver conexão com o que o aluno já sabe e o

novo conteúdo. Atividades devem envolver um processo mental interno com o

conhecimento já existente e o novo conteúdo.

A atividade que gera um processo mental e que dá origem à

aprendizagem com significado é aquela que mobiliza os alunos à necessidade

de fazer perguntas. Assim, o conhecimento deixa de ser o principal elemento

dentro da sala de aula, como acontece no ensino tradicional. A

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Docente do Ensino Superior: Formação e Identidade

aprendizagem significativa do aluno passa a ser a principal tarefa a ser

desempenhada pelo professor.

Na análise social, muitas vezes as aulas não passam de "palestras".

O professor dirigindo a aula e os alunos ouvindo e procurando entender os

elementos essenciais. Ao olharmos nesta perspectiva, devemos ter a

consciência de que as aulas ministradas por professores na universidade, não

podem ocorrer sem interação do estudante.

A forma expositiva de "ensinar", leva o professor a ter sua tarefa

cumprida após a exposição do conteúdo e fixação do mesmo. Ensinando desta

maneira não está conectada a ação de aprender. Na citação de Reboud,

podemos confirmar esta prática.

O aluno registra palavras ou fórmulas sem compreendê-las,

repete-as simplesmente para conseguir boas classificações ou

para agradar ao professor (...) habitua-se a crer que existe

uma "língua do professor", que tem de aceitar sem a

compreender, um pouco como a missa em latim (...) O

verbalismo estende-se até às matemáticas; pode-se passar a

vida inteira sem saber por que é que se faz um transporte em

uma operação; aprendeu-se, mas não se compreendeu;

contenta-se em saber aplicar uma fórmula Mágica. (Reboul,

1992 apud Pimenta, 2005, p. 208)

Segundo Pimenta (2005) a ação de ensinar é definida na relação com a

ação de aprender. Assim, a intencionalidade do ensino desencadeia

necessariamente a ação de aprender. Para Libâneo (1990), na relação entre o

ensinar do professor e o apreender do aluno, o autor aponta como ação

docente:

Clareza dos objetivos a serem alcançados;

Seleção e organização dos conteúdos;

Definição do nível de aprendizagem que seu aluno possui;

Definições metodológicas, que seriam os caminhos para chegar a

determinado fim.

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Docente do Ensino Superior: Formação e Identidade

Não podemos ter como parâmetro a nossa formação ou a formação

que desejamos que o aluno tivesse, e sim a formação do aluno real. Se

pensarmos nas aulas, podemos afirmar, que segundo Pimenta (2005) o

aprender significa "tomar conhecimento de, reter na memória mediante o

estudo, a observação ou a experiência", em direção do aprender do latim

apprehendere, que significa: "segurar, agarrar, prender, pegar, assimilar

mentalmente, entender, compreender". A autora afirma: "É necessário rever

o conceito de "assistir às aulas", pois a ação de aprender não é passiva. Exige

informar-se, exercitar-se, instruir-se".

A Didática é uma das áreas da pedagogia, que investiga os

fundamentos, as condições e os modos de realizar a educação por meio do

ensino. Não podemos esquecer que o ensino sempre está historicamente

situado.

Hoje não procura criar métodos e técnicas válidos para qualquer tempo

e lugar. Ela nos ajuda a entender as novas demandas que a atividade de

ensinar produz, e assim aprender com elas, encontrar respostas, criar novos

modos de atuar nos âmbitos escolares, auxiliando assim o trabalho dos

professores. A Didática aponta para várias finalidades de Ensinar de diversos

pontos de vista.

Para ensinar, basta só saber?

Você já ouviu falar de transposição didática?

A transposição didática é entendida como um processo, no

qual, "Um conteúdo do saber que foi designado como saber a

ensinar sofre a partir daí, um conjunto de transformações

adaptativas que vão torná-lo apto para ocupar um lugar entre

os objetos de ensino. O trabalho que transforma um objeto do

saber a ensinar em um objeto de ensino é denominado de

Transposição Didática". (Chevallard, 1991 apud Pinho, 2001, p.

174)

É preciso que o docente do ensino superior pense no ensino que vai

desenvolver, com perguntas básicas como “Que matéria devo dar?”, “Qual

programa devo seguir?” ou ainda “Quais critérios deverei utilizar para aprovar

ou reprovar os alunos?”.

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Docente do Ensino Superior: Formação e Identidade

Mas, muito importante é sua preocupação com a aprendizagem dos

alunos, direcionando suas perguntas para outro foco: “Quais são as

expectativas dos alunos?”; “Em que medida determinado aprendizado será

significativo para os alunos?” ou “Que estratégias serão mais adequadas para

facilitar o aprendizado desses alunos?”.

Percebam que quando pensamos na aprendizagem, nossos

questionamentos são diferentes e nossas ações serão diferentes.

Verificamos que no “Processo de Ensino”, as ações estão centradas

na figura do professor. Ele promove todas as ações para que o processo se

complete e cabe ao aluno receber, absorver (ou não) e reproduzir. A não

reprodução significaria que não houve aprendizagem.

No “Processo de Aprendizagem”, o aluno é o sujeito do processo e o

professor auxilia. O sujeito é, na verdade, o aprendiz, que pode ser tanto o

aluno quanto o professor.

Por isso, ensino é diferente de aprendizagem, porque as perspectivas e

as ações são diferentes nos dois processos.

No ensino superior, além de focarmos na aprendizagem, devemos ter

uma atenção especial ao “para quem”. Quem é este aluno?

O aluno do Ensino Superior é um adulto. As características gerais de

uma pessoa adulta são: o espírito independente e a capacidade de autogestão

da aprendizagem; a necessidade de ver sentido prático naquele conteúdo a ser

abordado e uma rica bagagem de experiências. Portanto, as estratégias

didáticas ao se lidar com adultos, devem ser elaboradas a partir da análise

destas características.

O docente do Ensino Superior deve desenvolver em sua formação

competências que o permitam entender as especificidades do trabalho

desenvolvido com adultos, sem esquecer a importância de sua postura e da

didática por ele desenvolvida.

Para os adultos, o motor da aprendizagem é a superação de desafios, a

resolução de problemas e a construção do conhecimento novo, que se dá

tomando por base todos os conhecimentos e experiências prévias dos

indivíduos.

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Docente do Ensino Superior: Formação e Identidade

Sendo assim, o processo de educação de adultos, visando sua

aprendizagem, pressupõe a utilização de metodologias ativas de ensino-

aprendizagem que proponham concretamente desafios a serem superados,

que lhes possibilitem ocupar o lugar de sujeitos na construção dos

conhecimentos e que coloquem o professor como facilitador e orientador desse

processo. Ou seja, a educação de adultos exige uma pedagogia basicamente

interativa.

Adultos se sentem motivados a aprender quando entendem as

vantagens e benefícios de um aprendizado, bem como as consequências

negativas de seu desconhecimento. Devido a toda uma cultura de ensino onde

o professor é o centro do processo de ensino-aprendizagem, muitos adultos

ainda precisam de um professor para lhes dizer o que fazer, mas a maioria

deles prefere participar do planejamento e execução das atividades

educacionais. As motivações mais fortes nos adultos são internas, relacionadas

com a satisfação pelo trabalho realizado, melhora da qualidade de vida,

elevação da auto-estima. Um programa educacional, portanto, terá maiores

chances de bons resultados se estiver voltado para estas motivações pessoais

e for capaz de realmente atender aos anseios íntimos dos estudantes.

Para Freire (1999), o homem e a mulher são os únicos seres capazes de

aprender com alegria e esperança, na convicção de que a mudança é possível.

Aprender é uma descoberta criadora, com abertura ao risco e a aventura do

ser, pois ensinando se aprende e aprendendo se ensina.

A aprendizagem se processa nos adultos a partir de conexões com a

realidade, suas necessidades e seus anseios e aplicabilidade do conteúdo

aprendido.

A partir das relações do homem com a realidade, resultantes

de estar com ela e de estar nela, pelos atos de criação,

recriação e decisão, vai ele dinamizando o seu mundo. Vai

dominando a realidade. Vai humanizando-a. Vai acrescentando

a ela algo de que ele mesmo é o fazedor. Vai temporalizando

os espaços geográficos. Faz cultura. (Freire, 1987, pg.43)

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Docente do Ensino Superior: Formação e Identidade

Segundo Oliveira (1999), uma das características do adulto é uma maior

capacidade de reflexão sobre o mundo externo, sobre as outras pessoas, sobre

si mesmo, sobre seu conhecimento e seu processo de aprendizagem. O adulto

também tende a transferir mentalmente o conhecimento para a prática,

conseguindo pensar onde poderá aplicar o que está aprendendo, ou seja,

como utilizará o que foi aprendido no seu dia a dia, em sua realidade.

Nos Cursos Universitários, geralmente recebemos

adolescentes como calouros e liberamos adultos como

bacharelandos. Estamos, portanto trabalhando no terreno

limítrofe entre a pedagogia e andragogia. Não podemos

abandonar os métodos clássicos, de currículos parcialmente

estabelecidos e professores que orientem e guiem seus alunos,

nem podemos, por outro lado, tolher o amadurecimento de

nossos estudantes através da imposição de um currículo rígido,

que não valorize suas iniciativas, suas individualidades, seus

ritmos particulares de aprendizado. Precisamos encontrar um

meio termo, onde as características positivas da Pedagogia

sejam preservadas e as inovações eficientes da Andragogia

sejam introduzidas para melhorar o resultado do Processo

Educacional. (Cavalcanti, 1999)

O adulto é sujeito da educação e não o objeto da mesma e o que faz

com que ele aprenda é a motivação pessoal e a relação verificada entre os

conteúdos aprendidos e sua vida pessoal e profissional. Aprende também

quando se percebe participante principal do processo de aprendizagem,

formulador de suas hipóteses, questionador e pesquisador, construtor do

próprio conhecimento.

Segundo Zacharias (2002)

A importância do papel dos professores, enquanto agentes de

mudança, é fundamental nesse processo. Eles têm um papel

determinante na formação de atitudes, positivas e negativas,

face ao processo de ensino – aprendizagem e a criação das

condições necessárias para o sucesso da educação formal e

da educação permanente, pois já não basta que se limitem a

transmitir conhecimentos aos alunos, têm também que ensiná-

los a pesquisar e a relacionar entre si diversas informações,

revelando espírito critico. Devem despertar a curiosidade,

desenvolver a autonomia, estimular o rigor intelectual, pois, só

assim, estarão criando condições para o “saber aprender a

aprender”, pilar fundamental para uma educação ao longo da

vida.

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Docente do Ensino Superior: Formação e Identidade

O que se espera então do docente do ensino superior? Em sua

formação é importante que você perceba o tipo de docente os alunos esperam

encontrar no ES. Diferentemente da Educação Básica, o aluno espera

participar ativamente de sua aprendizagem, com a mediação de professores

participativos, que lhes proporcione uma aprendizagem significativa e os ajude

a preparar-se para desenvolver o papel que lhes cabe na sociedade e no

mercado de trabalho. Podemos analisar três focos de professores

universitários:

Os Professores que temos: Hoje temos muitos professores que não

dispõem de preparação pedagógica. Cultivam ainda a educação tradicional,

incentivando os alunos a desenvolverem habilidades de memorização e

avaliando sua aprendizagem através da aplicação das provas e atribuição de

notas. São especialistas na disciplina que ministram, centralizam o processo

em si mesmos e em suas qualidades. Sua arte é a exposição e suas ações

podem ser expressas pelos verbos: instruir, orientar, apontar, guiar, dirigir,

treinar, amoldar, preparar, doutrinar.

Os professores que desejamos: Os alunos desejam professores lhes

permita desenvolver a aquisição de mentalidade científica, o desenvolvimento

das capacidades de análise, síntese e avaliação, bem como o aprimoramento

da imaginação criadora. Estes são professores facilitadores de aprendizagem,

que constroem e auxiliam na construção de conhecimentos, pois adotam

estratégias de ensino diversificadas que permitem mobilizar menos a memória

e mais o raciocínio. Os alunos desejam professores criativos, inventivos,

curiosos, que utilizem um conteúdo contextualizado, estabelecendo ligações

entre a vida social, pessoal, cotidiana e universitária de seus alunos,

Os professores que precisamos: Para atender a estes desejos,

precisamos de professores que planejem estudos e trabalhos visando à

formação do aluno; que orientem os alunos para verem e sentirem a realidade;

que controlem os resultados dos estudos; que graduem dificuldades; que

conheçam os alunos para estimulá-los para sua formação integral; que

fomentem ideais e atitudes positivas diante da vida, da profissão e da

sociedade e por fim que favoreçam a construção da autonomia intelectual.

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Docente do Ensino Superior: Formação e Identidade

Exercício da Docência no Ensino Superior

Uma das tarefas do professor é transformar os conteúdos científicos em

conteúdos que o aluno consiga aprender. Não podemos confundir essa

modificação do saber original em saber didático, como uma forma de

simplificação.

É importante que o professor conheça o que Chevallard chama de saber

sábio, para que possa contextualizar uma situação parecida com a original para

transformá-lo em saber didático. O objetivo do ensino é sistematizar o saber

científico, tomando-o ensinável, possibilitando a sua aprendizagem pelo aluno.

Segundo Menezes (2006), os saberes podem ter origem:

Epistemológica

Porque diz respeito, essencialmente, a um saber produzido na

comunidade científica, que deverá ser comunicado e socializado. O que o

caracteriza, como ele se estrutura, de que forma ele foi desenvolvido; enfim,

qual a sua epistemologia, quais são as questões centrais quando olhamos

para o saber.

Sociológica

Porque é necessário considerar como o saber se constitui

historicamente, qual a sua relevância em um determinado tempo e contexto

históricos, quais os "desgastes" por ele sofrido, dentre outros aspectos

relevantes. Há uma pressão social para a comunicação dos saberes e para uma

utilidade social do mesmo.

Psicológica

Porque no universo da sala de aula o aluno deverá se apropriar desse

saber, reconstruí-lo a partir das situações de ensino por ele vivenciadas. O

saber a ensinar entrará em cena no jogo didâtico que envolve professor-aluno-

saber e sofrerá, então, novas adaptações e deformações, passando a ser

objeto de negociação dos parceiros da relação didática.

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Docente do Ensino Superior: Formação e Identidade

Saberes Necessários aos Professores

Aos professores não basta somente saber o conteúdo a ser ensinado. É

preciso desenvolver outros saberes, tão importantes quanto o conhecimento

específico.

Saberes na área do conhecimento - São os saberes específicos da

área de atuação. Ninguém ensina o que não sabe.

Saberes Pedagógicos - ensinar é uma prática educativa

historicamente construída, que tem diferentes e diversas direções de

sentido na formação humana.

Saberes Didáticos - Articulação da teoria com a prática social, ensinar

em situações contextualizadas.

Saberes da Experiência - Em sua prática educativa o professor terá

condições de aprimorar-se a cada dia.

Porém é preciso nos dar conta de que ser professor vai além de dominar

conhecimentos, saberes ou fazeres de determinado campo.

Com isso, envolve atitudes e valores que têm por meta o

desenvolvimento do aluno como pessoa e profissional, tais como:

Sensibilidade frente ao aluno

Valorização dos saberes da experiência

Ênfase nas relações interpessoais

Aprendizagem compartilhada

Ensinar e aprender com os alunos

É preciso nos conscientizarmos de que a dimensão pedagógica envolve

um processo interpessoal que nos permite como grupo, construir conhecimento

pedagógico compartilhado, envolvendo relações entre professores-professores,

professores-alunos, instituição-comunidade.

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Docente do Ensino Superior: Formação e Identidade

Além disso, é preciso entender a especificidade da Educação Superior.

Nosso trabalho pressupõe fazermos a transposição didática, envolvendo a

passagem do conhecimento científico para o acadêmico e deste para o

profissional.

Construirmos o mapa conceitual do conhecimento relativo a nossas

disciplinas, aliado a sua aplicabilidade prática, a fim de que não seja trabalhado

de forma fragmentada e mecânica, mas sim que possibilite aos alunos aplicá-lo

em situações novas e imprevisíveis.

Exercer a docência não é tarefa fácil. Daí a necessidade de formação e

construção de uma identidade que nos dê bases cognitivas, ideológicas e

sócio-culturais para exercê-la.

A identidade é aquilo que nos diferencia das outras pessoas. É a nossa

marca. Por isso, todo professor coloca em seu trabalho uma marca do que ele

é, do que ele construiu ao longo de sua formação. Coloca um pouco daquilo

que acredita, de suas concepções, ideologias, crenças, valores, atitudes. Não

há como ser imparcial na educação. Defendemos aquilo que acreditamos.

Atenção, portanto, no exercício da docência. Atenção para o valor dado

à sua formação, conhecimento e construção de sua identidade docente.

É ela que vai marcar seu trabalho e permitir que você faça a diferença

em sua vida e na vida e formação de seus alunos.

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Docente do Ensino Superior: Formação e Identidade

Anotações

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Referências

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