citas e o oriente mÉdio nos sÉculos viii À vi a.c

70
LEIALDO PULZ A PASSAGEM DOS CITAS PELO ORIENTE MÉDIO NOS SÉCULOS VIII À VI a.C. E SUA INTERPRETAÇÃO TEOLOGICA NA BÍBLIA Monografia apresentada em cumprimento às Exigências do Programa de Mestrado em Teologia da Faculdade Teológica Latino-Americana Aliança Krasnodar/Rússia 2008

Upload: independent

Post on 13-May-2023

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

LEIALDO PULZ

A PASSAGEM DOS CITAS PELO ORIENTE MÉDIO NOS SÉCULOS

VIII À VI a.C. E SUA INTERPRETAÇÃO TEOLOGICA NA BÍBLIA

Monografia apresentada em cumprimento às

Exigências do Programa de Mestrado em Teologia da

Faculdade Teológica Latino-Americana Aliança

Krasnodar/Rússia – 2008

INTRODUÇÃO

Em maio de 2002, minha esposa e eu visitamos a região sul da Rússia no de-

senvolvimento de um projeto.

Andamos de carro e trem pelas vastas estepes daquela terra. Vimos peque-

nas vilas perdidas no meio da imensidão, e alguns pensamentos surgiram em minha

mente.

Muitos séculos antes, e até milênios, povos peregrinos haviam passado por

aquelas terras. Eles se assenhorearam e dominaram além de toda a extensão que

os olhos podiam ver.

Nesta mesma visita, conhecemos o Cáucaso, uma cadeia montanhosa ao sul

da Rússia que divide a Europa da Ásia. Fascinou-me o fato de imaginar estes povos

atravessando as montanhas e se embrenhando em direção ao desconhecido. É im-

possível não imaginar exércitos inteiros com seus armamentos e cavalos, passando

por aquelas regiões indo ao sul. Lembrei-me do livro da embaixatriz brasileira Tite de

Lamare , Os caminhos da Eterna Rússia, e como ela relaciona a pré-história desta

nação com os povos daquele lugar.

A região ainda guarda muitos artefatos e covas que testemunham esta pre-

sença, como que fantasmas a testemunhar a exaltação de um povo. Eles são verda-

deiros elos com o passado distante. E são estes mesmos que podem ser testemu-

nhas da atuação do divino no mundo.

Durante a época do exílio de Israel na Assíria, uma colossal horda de povos

vinda da região ao norte do Cáucaso, penetra a Região do Oriente Médio. Esta hor-

da traz consigo uma série de implicações para os povos do Crescente Fértil.

Distúrbios, saques, guerras, convulsões sociais, tudo se precipitando sobre a

região. Mas que tipo de povo era este? Qual seu nome, suas origens?

A História Universal irá conhecer estes povos pelo nome de Citas. A partir

deste instante não mais passariam em branco pelas páginas da humanidade. Eles

não seriam mais simples pastores errantes das estepes euro-asiáticas. Eles emergi-

riam como o terror dos povos, ante quem os homens ficariam horrorizados.

Os Citas eram um povo de traços pastoris, mas ao mesmo tempo um povo

guerreiro. Mas podemos achar conexões que nos levem a ligar os momentos dos

cativeiros de Israel e Judá, com esta nação vinda do norte?

Nosso estudo irá se delimitar a época dos Exílios tanto de Israel como de Ju-

dá. Nossa proposta é estudar este momento histórico do tempo bíblico.

As questões a serem respondidas são:

1. Quem foram os “Citas” e quais suas origens?

2. Deus teria usado este povo para cumprir sua soberana vontade em relação

a Israel e posteriormente à Judá? E qual seria o papel destas tribos nômades dentro

do plano de Deus?

3. O que aconteceu com estas tribos posteriormente à ação nos relatos bíbli-

cos? Como eles desapareceram na História?

Ao final deste trabalho poderemos perceber que Deus usa circunstâncias polí-

ticas, especialmente militares, para cumprir seus propósitos. Nosso objetivo é poder

demonstrar a soberania de Deus na vida de todos os povos. Veremos que fatos o-

corridos numa época tão distantes têm, e ainda terão conseqüências no futuro da

humanidade.

ÍNDICE

Introdução........................................................................................................3

Capítulo 1:

Quem foram os Citas?.....................................................................................7

1.1. Origens............................................................................................7

1.2. Povos............................................................................................25

1.3. Cultura...........................................................................................33

Capítulo 2:

Preparando o Cenário...................................................................................61

2.1. Um Grande Império se levanta......................................................61

2.2. Ameaça e a Deportação de Israel.................................................62

2.3. Movimentação no norte.................................................................64

Capítulo 3:

Destruidor vindo do norte............................................................................67

3.1. Os Citas avançam.........................................................................67

3.2. Entrada dos Citas na Ásia.............................................................70

3.3. Libertação das Tribos de Israel.....................................................77

3.4. O terror pelo mundo......................................................................80

3.5. Um novo Império: Babilônia..........................................................82

3.6. A Ameaça e a Deportação de Judá..............................................84

Capítulo 4:

Profetas e os povos Citas.............................................................................88

4.1. Profetas Menores..........................................................................90

4.2. As Visões de Jeremias..................................................................95

4.3. As visões de Ezequiel.................................................................116

Capítulo 5:

O Retorno para casa...................................................................................127

5.1. Voltando para a Europa..............................................................127

5.2. Um Império em desenvolvimento...............................................128

5.3. Campanhas desastradas...........................................................129

5.4. O desaparecimento repentino da História..................................134

Conclusão...................................................................................................138

Bibliografia.................................................................................................141

Capítulo 1

Quem foram os Citas?

De uma forma geral, quando se fala de “Citas”, as pessoas sempre pergun-

tam: quem eles são? Assim, para que apreciemos o trabalho com os resultados al-

mejados, precisamos em primeiro lugar situar-nos em relação à questão básica so-

bre as origens deste povo. Neste primeiro capítulo, traremos informações que pro-

porcionarão maior conhecimento sobre a gênesis, os povos constituintes e a cultura

dos Citas.

1.1. Origens1

Sempre que buscamos saber mais sobre um povo, devemos estudar em pri-

meiro lugar sua história, pois ali estão contidas muitas das chaves que abrirão os

seus segredos. Desta forma, iniciamos com um estudo sobre as origens dos Citas.

Antes precisamos de um pequeno pano de fundo para entendermos como chega-

mos ao conhecimento destes povos que desapareceram da História há mais de um

milênio.

Foi a partir do séc. XVIII que começamos a ter um clima cultural na Europa

que possibilitou a alguns missionários, que estavam em contato com o sânscrito na

Índia, a perceberem algumas desconcertantes semelhanças entre esta língua e suas

línguas-mãe. A partir da segunda metade daquele século, o assunto se propagou

por muitos países e estudos nesta área começaram a ser desenvolvidos. A grande

conclusão a que se chegou era de que realmente havia grandes semelhanças do

sânscrito com o latim e o grego. No ano de 1786, Sir William Jones (1746-1794),

demonstrou a existência de um ancestral comum entre estas línguas. Esta data é

considerada a marca inicial da lingüística indo-européia.

1 A parte do Histórico da teoria dos “indo-européia e os kurganes” é amplamente discutida no livro de

João Evangelista Martins TERRA. Tomamos este como referência para uma rápida introdução ao assunto.

Para espanto de estudiosos, mais informações chegavam dando conta de si-

milaridades entre línguas tão distantes geograficamente entre si como o celta e o

persa. O indo-europerismo havia nascido.

Com o passar dos anos, foi se notando cada vez mais que línguas pela ex-

tensão da Eurásia estavam conectadas de alguma maneira. Grandes quantidades

de gramáticas, de léxicos comparativos e de livros em geral foram escritos sobre

este assunto, buscando explicar, sistematizar e ordenar a avalanche de dados que

iam se acumulando frente a todos. Uma certeza já se tinha: um povo (proto-indo-

europeu), havia sido a base cultural, lingüística, religiosa, etc, de grandes nações

que se estendiam da Islândia até a Índia.

Porém, uma grande dúvida assaltou os estudiosos: qual seria a terra natal

(homeland ou Urheimat) deste povo que deu origem aos indo-europeus? Em que

tempo eles lá habitaram e quando começou sua dispersão?

Muitas hipóteses, desde então, começaram a ser formuladas. A esta tarefa de

acharem a região original, se dedicaram inúmeros especialistas de várias áreas co-

mo arqueólogos, geógrafos, antropólogos, sociólogos e, naturalmente, lingüistas.

Alguns estudiosos identificaram a Europa Central como o habitat inicial. Outros o

localizaram no distante Pamir (Ásia Central). Na realidade, várias localizações foram

sugeridas ao longo de toda a Eurásia. Todas estas teorias se baseavam em algumas

evidências, mas que aos poucos se mostraram insustentáveis.

Figura 1 Propostas para uma localização da Urheimat dos povos indo-europeus

Uma outra teoria formulada mais recentemente nos leva a uma outra região.

A explicação dada pela arqueóloga lituano-americana Marija Gimbutas é hoje prati-

camente aceita como definitiva. Ela considerou a região setentrional do Mar Negro,

no sul da Rússia, como o foco da primitiva cultura indo-européia.

“Considerando a ampla receptividade à explicação

de Manja Gimbutas, pode-se admitir que o primeiro ímpe-

to migratório indo-europeu partiu da região do Cáucaso,

nas imediações do mar Negro, onde se localizava a "cul-

tura kurgan" em meados do III milênio a.C. Em um segun-

do momento, após a fixação dos luvitas, antecessores i-

mediatos dos hititas na Anatólia, ter-se-ia produzido nova

expansão rumo à Europa, penetrando na Grécia a cerâ-

mica mínia, cujos primeiros exemplares foram encontra-

dos em Beicesultan e Tróia — V (c. 1900 a.C.).”2

Escavações soviéticas deram à geóloga o material que precisava para identi-

ficar este local como o habitat original. Ela demonstrou que a “cultura kurgan” apre-

senta todos os requisitos para identificação positiva

“A “cultura kurgan” (em inglês “barrow culture”)

deriva seu nome da palavra russa kurgan que significa

“túmulo”, de onde também a designação russa yamna

(cultura das fossas). A denominação “cultura kurgan” não

é nova, já tinha sido usada para designar as numerosas

e riquíssimas descobertas feitas desde o começo do

século XVIII nos outeiros funerários na Sibéria Ocidental

e nas estepes do sul da Rússia. Esses túmulos

(kurganes), notáveis pelos riquíssimos objetos de ouro e

2 TERRA, p. 101.

prata, pertenciam quase todos ao período Cita, situado

entre os séculos VI e II a. C., ...”3

Estes túmulos são de importância impar para a identificação dos indo-

europeus4. Os indícios ali contidos levam os cientistas a crerem que, após uma aná-

lise profunda, é possível identificar o local como sendo o lar inicial da cultura indo-

européia. A cultura kurgan do tempo Cita já aparecia no IV milênio a. C., e se esten-

dia pela estepe do sul da Rússia, a leste do rio Dniepre, ao norte do Mar Negro, do

Mar de Azov, do Cáucaso, do Cáspio e a oeste dos Urais. Segundo TERRA, “por

volta de 4000-3500 a “cultura kurgan” começou a se expandir para o ocidente, intro-

duzindo na Europa muitos elementos típicos dessa cultura”. 5

RICE também afirma que “no Cáucaso se desenvolvera uma arte animal de

estilo próprio muito antes de os Citas terem aparecido na região. Os túmulos reais

de Maikop datam do III milênio...“. 6

Entre os anos 3600-2800 a. C., já temos a domestificação do cavalo e vestí-

gios de uma cerâmica específica. Ao que sabemos, estes povos indo-europeus em

primeira instância seriam sedentários e por algum tempo se fixaram na região ao

norte do Cáucaso. Porém, com a invenção de alguns artefatos e a domestificação

dos cavalos se possibilitou uma vida mais nômade. Por volta de 2500 a.C., começa

uma migração que de um lado vai em direção à Grécia, norte da Hungria e Iugoslá-

via, e de outro através da Anatólia até o Irã.

Uma vasta região então estava coberta pela cultura kurgan. Ela se estende da

bacia do Dniepre (Ucrânia), até as estepes do Cazaquistão. Antes do ano 2000 a.C.

haviam chegado às ilhas Britânicas, ao sul da Escandinávia e à Finlândia. Afirma-se

ainda que muitas dessas penetrações foram feitas em meio a lutas com outros po-

3 TERRA, p. 98.

4 Um rico material sobre os kurganes Citas pode ser encontrado em RICE (p. 144-192). Além deste,

existe ainda um amplo e completo material na internet sobre a Cultura Kurgan contendo ligações com

os outeiros Citas no endereço: http://www.iras.ucalgary.ca/~volk/sylvia/Kurgans.htm (University of

Calgary. Kurgan Culture.)

5 TERRA, p. 98.

6 RICE, p.149.

vos minoritários que se encontravam no caminho. Este espírito bélico, conquistador

e desbravador dos indo-europeus seria uma de suas características fundamentais.

Para tais feitos de guerra, tinham a disposição importantes tropas de cavalos,

e que (a partir do III Milênio a. C.) contavam com carros com rodas. As armas para

as batalhas também eram muito desenvolvidas para a época. Isto garantiu a rápida

expansão por todos os lugares.

Figura 2. Rota da migração dos povos indo-europeus

Como vimos, a leva de conquistadores indo-europeus hoje é atestada como

proveniente da região norte do Cáucaso, das estepes russas. A forma de conquista

deste povo se enquadra perfeitamente nos padrões posteriores de conquistas de

povos como os gregos, itálicos, celtas, baltos, eslavos e anatólicos. Todos os ele-

mentos aqui descritos se encaixam com o que sabemos também hoje sobre o povo

Cita, como veremos mais adiante.

Desta forma, os eruditos têm estabelecido uma conexão entre as origens dos

Citas (alvo de nossos estudos) e os indo-europeus. Os Citas eram um povo indo-

europeu, mas que de uma forma mais ou menos homogênea, permaneceu em seu

habitat original, o Cáucaso Norte. Todos os aspectos da vida cotidiana dos citas que

conhecemos atualmente se coadunam com a dos indo-europeus. E, neste ponto, o

indo-europeísmo tem colaborado muito para que possamos entender melhor os Ci-

tas, que também estavam sendo descobertos pela arqueologia russa neste mesmo

tempo.

Agora nos cabe identificar então os primórdios desta civilização segundo o

conceito bíblico. Para isto, partiremos da premissa que a Bíblia seja a revelação de

Deus aos homens. Nela estão contidas as verdades a respeito de assuntos que di-

zem respeito a este trabalho na busca da gênesis dos povos.

Com isto em mente, poderemos chegar aos textos de Gênesis 8 a 10 e ter a

confiança de que o relato aqui contido revela os fatos ocorridos na Terra há alguns

milênios, que alguns eruditos colocam como acontecidos entre o III e o IV milênio

a.C. Estamos nos deparando aqui com o relato do Dilúvio.

Figura 3 Penetração da Cultura Kurgan na Europa

Atualmente praticamente todos os estudiosos bíblicos são unânimes na identi-

ficação dos indo-europeus com os descendentes de Jafé. Como exemplo, citamos o

que foi escrito por BEACON:

“Eles (os descendentes de Jafé), ocuparam as re-

giões ao norte estendendo-se através da Turquia, as ilhas

do mediterrâneo e ao sul da Europa. As línguas destes

povos têm sido identificadas com o indo-europeu”.7

O ponto que nos interessa em Gênesis é que, segundo este texto, toda a raça

humana pode ser dividida em três grandes clãs: Jafitas, Camitas e Semitas .

Segundo o relato de Gênesis, Noé sai da Arca juntamente com sua família,

após o dilúvio, e se envolve num episódio de embriagues. Depois deste incidente

(sua embriagues e a atitude dos três filhos), ele pronuncia sua benção-maldição aos

três filhos (Ge 9.20-29). No que se refere a Jafé, Noé parece dar a ele o ímpeto de

dominador, aquele que iria expandir, dominar, quando diz: “Engrandeça Deus a Jafé,

e habite ele nas tendas de Sem; e Canaã lhe seja servo.” (Ge 9.27). Esta benção

seria levada realmente a efeito e a História veio a comprovar a veracidade destas

palavras através dos feitos dos indo-europeus ou jafitas.

A partir deste ponto se inicia o capítulo 10, a chamada “Tábua das Nações”.

Segundo cálculos judaicos, estamos no ano de 2348 a. C.8. Dos versos 2 a 5, é ex-

posta para nós a descendência de Jafé, filho de Noé: “Os filhos de Jafé são: Go-

mer, Magogue, Madai, Javã, Tubal, Meseque e Tiras.”

O Manual Bíblico (pg. 80) diz parecer que, após ter desembarcado da arca no

Monte Ararat (atualmente na divisa entre a Turquia e a Armênia), a família de Noé

migrou 804 km. de volta para o sudeste, estabelecendo-se na Babilônia, seu local de

origem. Em 2234 a.C., de acordo com estimativas que levam em conta as genealo-

7 BEACON, p. 63.

8 Existe muita controvérsia a respeito desta data. Alguns estudiosos, como MERRILL (p.13-15), afir-

mam que não podemos tomar as genealogias como sendo completas. Se considerarmos estas gene-alogias incompletas, teremos datas mais recuadas na linha de tempo.

gias do livro de Gênesis, os povos são dispersos devido ao ocorrido na Torre de Ba-

bel.

Conforme o mesmo Manual Bíblico, “os jafetitas rumaram para o norte e fixa-

ram-se em regiões à volta dos Mares Negro e Cáspio; tornaram-se progenitores das

grandes raças caucasianas da Europa e Ásia”. Estas observações concordam com

as últimas descobertas arqueológicas vistas anteriormente.

Os descendentes de Jafé (seus filhos, mencionados em Ge 10.2-5) procura-

ram lugares para se estabelecerem e multiplicarem. Eles tomaram basicamente a

direção norte e noroeste, segundo Josefo9. Ocuparam regiões como a Turquia, Gré-

cia e principalmente a região do Cáucaso e Armênia, e posteriormente muitos avan-

çaram pelo resto da Europa, chegando à Grã-Bretanha e Ibéria.

É notável que Josefo, historiador judeu do primeiro século, em sua obra10 i-

dentifica cada nome dado neste texto bíblico, e os relaciona com seus descenden-

tes, ou seja, povos que se originaram destes, segundo os nomes gregos da época

deste escritor.

O nome que nos interessa é o de Magogue. Segundo Josefo: ”Magogue fun-

dou a (colônia) dos magogianos a quem eles (os gregos) chamam de Citas”11.

Portanto, segundo Josefo, os Citas procedem de Magogue, filho de Jafé, filho

de Noé. Os Citas são conhecidos na História Universal por inscrições antigas ape-

nas a partir do séc. VII a. C. Porém os historiadores são unânimes em datar o apa-

recimento deste povo para 2000-2500 a.C. Esta ligação nos é de suprema valia, pois

como vimos, suas origens remontam aos tempos diluvianos e podem ser datadas

desde a Antiguidade. Os ancestrais dos Citas (Magogue), segundo pode-se obser-

var, teriam se fixado no norte do Cáucaso. Com o tempo se deslocaram para o leste,

deixando comunidades ao longo desta vasta extensão até a região do Altay (perto

da atual Mongólia). Posteriormente, levas teriam migrado novamente para o oeste, a

sua terra natal.

Mas e o que os próprios Citas diziam sobre suas origens?

9 A Historia dos Hebreus, VI

10 A Historia dos Hebreus, VI

11 A Historia dos Hebreus, VI

Uma lenda Cita sobre suas origens, narrada por Heródoto, que tirada as dis-

torções provocadas pelo tempo, pode lançar uma conexão com o texto bíblico.

“Os Citas tinham uma lenda para explicar suas o-

rigens. Eles surgiram dos três filhos de um tal de Targi-

taus, uma pessoa que teve um nascimento sobrenatural

e morou nos domínios do Mar Negro. Juntos, os três ir-

mãos governaram a terra até que quatro utensílios de

ouro – um arado, uma junta de bois, um machado de

Guerra e um copo de beber - caíram do céu e subita-

mente começaram a pegar fogo. Colaxais, o mais novo,

mostrou-se ser o único capaz de pegar os objetos em

fogo, e acabou por se tornar o rei de um povo que iria

dominar os outros. Colaxais é tido então como o rei do

reino Cita”.12

Gyula Mészáros13 diz que os Citas tinham um sistema triplo de reinado, que

seria simbolizado por sua lenda sobre a origem do povo. Isto fica exemplificado

quando em certo tempo o povo estava sendo atacado, três reis mobilizaram suas

tribos para a defesa.

Cada um deles tinha o governo sobre uma área especial da sociedade. Lei-

poxis era o rei teocrático, ou o rei da casa real, mas sem influência fora de seus do-

mínios. Existia também o rei dos exércitos, o Cita Arpoxais, o qual exercia conside-

rável poder sobre os homens livres, nobres e militares. Por último, havia o rei Kolaxis

que governava os homens comuns.

Este tipo de história-lenda encontra muitos paralelos dentro das mitologias in-

do-européias como é atestado por TERRA na apresentação do capítulo sobre a

“Cultura Espiritual e Cosmovisão” ao discutir a ideologia tripartida dos indo-

europeus:

12

HAMORI, Fred. The Royal Scythians of Messopotamia (baseado no trabalho de Gyula Mészá-ros). http://www2.4dcomm.com/millenia/scytha.html 13

HAMORI, Fred. The Royal Scythians of Messopotamia (baseado no trabalho de Gyula Mészá-ros). http://www2.4dcomm.com/millenia/scytha.html

“Mediante um estudo acuradíssimo e prolongado

por mais de meio século, G. Dumézil logrou recuperar a

ideologia tripartida que regia a estrutura funcional da soci-

edade e da religião do indo-europeu.

A religião teve função capital nas formas arcaicas

das civilizações. Foi a religião que determinou a estrutura

trifuncional da sociedade hierárquica indo-européia.

Divisão trifuncional da sociedade indo-européia:

a) função de soberania religiosa e jurídica

b) função de força física aplicada à guerra

c) função de fecundidade e produtividade

Essas três funções correspondem às três classes

de homens: sacerdotes (e reis), guerreiros, e produtores.

A primeira função, a do sagrado, podia entender-se no

sentido vertical no culto prestado a Deus e correspondia

aos sacerdotes; ou então, horizontalmente, na relação

dos homens entre si e competia ao rei.

Essa mesma estrutura trifuncional da sociedade in-

do-européia se aplicava também ao Divino, o qual se hie-

rarquizava também em três funções: a) função de sobera-

nia (por ex.: Mitra-Varuna); b) função da força (por ex.: In-

dra-guerra); c) função de fecundidade (por ex.: Nasat-

ya).”14

Isto vem intensificar a ligação entre Citas e os povos indo-europeus. Todos

estes povos tinham em suas cosmovisões um relato bem fixado sobre uma origem

comum, que impressiona pela semelhança com os fatos narrados em Gênesis.

Podemos notar similaridades ainda com as histórias de Noé, que teve três fi-

lhos. Entre estes três filhos, nas suas bênçãos e maldições em Gênesis 9.20-29,

14

TERRA, p. 31.

percebemos que Sem (Leipoxis?) levaria a incumbência de ser o propagador do co-

nhecimento religioso, Jafé (Arpoxais?) se sobressairia e dominaria os outros dois, e

Canaã ,filho de Cão, (Kolaxis?) serviria aos seus irmãos15. Talvez ainda poderíamos

dizer que este nascimento sobrenatural de Targitaus (Noé), simbolizaria a saída da

arca e o salvamento do dilúvio.

Esta interpretação das lendas e mitologias dos antigos povos indo-europeus

(e no caso específico aqui, o Cita), pode encontrar base para uma identificação dos

relatos do dilúvio como sendo uma catástrofe que ficou marcada no consciente e

subconsciente coletivo dos povos.

O certo é que os Citas identificaram como seu ascendente a figura do domi-

nador Arpoxais (Jafé?) e vieram a viver sua vida como o ancestral, dominando ou-

tros povos.

Justinius II escreveu que os Citas são a raça mais antiga do mundo, mais an-

tigos que os próprios egípcios16. Certamente quando escreveu isto, não se referia

aos Citas como povo, mas com o ascendente que representavam e tinham ligação

direta, Jafé, progenitor dos indo-europeus.

Esta certeza ainda pode ser verificada ao se tomar as artes Citas primitivas,

que em muito se assemelha com as artes da região da Mesopotâmia (em especial

com os arianos ou iranianos), mostrando o início comum que tiveram, a cultura kur-

gan. Uma comparação mais acurada dos antigos costumes, da religião, e até de su-

as primeiras citações por outros povos (como os Assírios), nos mostram que os Ci-

tas estão de uma forma muito intensa conectados a povos que residiam na Anatólia

(Turquia) e norte da Mesopotâmia, região onde outros descendentes de Jafé se es-

tabeleceram.

Os antigos escritores gregos confirmam esta ligação. Plinius escreve sobre as

origens dos Citas assim: "Ultra sunt Scytharum populi, Persae illos Sacas in univer-

sum appellavere a proxima gente, antiqui Arameos." Segundo ele, este povo veio de

15

Manual Bíblico, pg. 74 16

HAMORI, Fred. The Royal Scythians of Messopotamia (baseado no trabalho de Gyula Mészá-ros). http://www2.4dcomm.com/millenia/scytha.html

uma área ao norte da Mesopotâmia a qual era chamada Arameos, que é o mesmo

nome para Urartu, atual Armênia, sul do Cáucaso, região do Ararat17.

Até aqui conseguimos demonstrar que o ancestral primeiro dos Citas pode ser

identificado como sendo Jafé, e em segundo plano, Magogue. Além disto, ligamos

os Citas aos indo-europeus e a “cultura Kurgan”.

No campo da identificação da procedência posterior dos Citas (entre o tempo

das tribos indo-européias e as tribos propriamente Citas), grandes controvérsias en-

tre os especialistas em arqueologia têm sido levada a efeito. Um grupo defende que

este povo teve sua origem nas regiões siberianas numa região perto da Mongólia e

que com o passar dos séculos (devido ao estilo nômade e mudanças climáticas) vie-

ram se deslocando em direção à região do Cáucaso.

“Pelo que se refere aos Citas, Talvez possamos es-

tabelecer o ponto inicial da sua história por volta de 1700

a. C., quando as primeiras tribos indo-européias chega-

ram ao Jenissei. Estes emigrantes podem ter se separado

do grupo indo-europeu que havia penetrado na Grécia e

Ásia Menor uns três séculos mais cedo. Do Jenissei a-

vançaram a oeste do Altay para o Cáucaso, onde Kiselev3

acredita que tenham adaptado uma economia mista, es-

tabelecendo-se parte da tribo como agricultores nos vales

férteis, enquanto o resto corria pela planície como pasto-

res e caçadores nômades. Por essa altura, os lavradores

dominavam a arte de fundir e forjar o cobre, tendo-se

descoberto algumas das suas fundições enterradas no

chão e junto delas os moldes que usavam para fazer ma-

chados. Faziam uma cerâmica acastanhada em que ris-

cavam desenhos geométricos e serviam-se de machados

antigos de bronze para cortar árvores. A princípio enterra-

vam os mortos em sepulturas um tanto espalmadas, assi-

17

Crê-se que os ossétios, povo caucasiano, sejam descendentes de tribos Citas que ali se fixaram.

naladas por um círculo de pedras, mas em 1200 a.C. co-

meçaram a construir grandes túmulos.”18

Outro grupo defende a tese de que eles fizeram o caminho contrário, tendo

suas origens no Cáucaso e se espalhando em muitas direções, em especial para o

leste, rumo à Sibéria, aproveitando seu estilo aventureiro e as vastas planícies que

se apresentavam à frente19.

Indícios arqueológicos podem sustentar ambas as teorias, não tendo portanto

em princípio uma posição definitiva. A falta de documentos escritos por parte dos

Citas nos é muito prejudicial, pois através de relatos documentados poderíamos de-

finir a direção da onda migratória.

Sítios arqueológicos já foram encontrados na região do Altay, perto da Mon-

gólia, principalmente túmulos reais, onde estão ocorrendo várias escavações por

especialistas russos, ucranianos e de outras nacionalidades. Um exemplo disto pode

ser visto em Pazyryk, Altay Ocidental, onde o Professor S. I. Rudenko descobriu em

1929 uma grande tumba real Cita20.

Alguns estudos mostram que possivelmente os Magogianos (denominados de

skythai pelos gregos), ou Citas, se espalharam rapidamente pelas estepes da região

acima do Cáucaso, indo em direção à Ucrânia e Criméia, e na outra direção avan-

çando em direção às planícies dos atuais Cazaquistão, Uzbequistão, Turcomenistão,

Afeganistão, até chegar bem ao leste na região do Altay e Mongólia21.

18

RICE, p. 39-40.

19 Existe ainda a posição assumida por Gyula Mészáros. Ele afirma que os “Citas reais” (uma das

tribos predominantes na Cítia européia) viviam na Anatólia (Turquia) antes do VII século a. C.. Deste tempo então, moveram-se em grande escala para a Região do Kuban, no VI século a. C.. Deste local dirigiram-se para a Criméia e na direção do Turquistão. Mészáros, que é húngaro, defende uma ori-gem turca dos Citas, ao contrário do que a maioria defende, que é uma origem indo-européia. Por isto, uma datação como a proposta por ele é na realidade uma conveniência para a defesa de sua teoria. Podemos assumir que a migração Cita da Anatólia para a Criméia tenha sido um acontecimento ante-rior, remontando a época em que os descendentes de Jafé buscam o norte da Mesopotâmia, que é o sul do Cáucaso. 20 BENNET, Chris. The Scythians: High Plains Drifters.

http://cannabisculture.com/magazine/jul95/scythians.html

21 Desta forma, eles antecederam os passos de um dos seus descendentes, os russos, que iniciaram

dois milênios depois a formação do Império Russo se arrojando para o leste, em direção a terras “de-sabitadas” e “inexploradas” da Sibéria.

O achado em Pazyryk de homens mortos (e congelados pelo frio da região)22,

mostra pessoas com um forte semblante mongol, e outros com cabelos loiros e com

feições totalmente européias. Isto, segundo historiadores e arqueólogos vem de-

monstrar o elo de ligação entre os povos altaycos e caucasianos.

Com o passar do tempo, devido ao grande território ocupado pelos Citas (sky-

thai), começaram a haver pequenas divisões de grupos e formação de dialetos. Po-

rém estes dialetos apresentavam um grande grau de proximidade entre si, como é

visto pelo estudo de Gyula Meszaros em Scythian Vocabulary and Names 23.

Figura 4 - A figura mostra como seria um rei e uma rainha Cita, segundo os materiais achados

em um kurgan na Sibéria

Porém se partirmos do pressuposto que os Citas são indo-europeus,

como está sendo sustentado pela comunidade científica internacional, e que

os indo-europeus são os descendentes de Jafé, a questão está resolvida, e

22

Para maiores detalhes dos túmulos congelados ver RICE, p. 29-31. 23

MESZAROS, Gyula. Scythian Vocabulary and Names. http://www2.4dcomm.com/millenia/scythwrd.html

podemos assumir que eles migraram do Cáucaso para a Sibéria e uma onda

migratória posterior os leva de volta à região inicial.

Sabemos ainda que grupos indo-europeus vindos do norte do Cáucaso migra-

ram no início do segundo milênio a.C. para o sudoeste, entrando na Ásia e se diri-

gindo para o atual Afeganistão. De lá dois ramos se dividem, um fixando-se na Ária

e outro atingindo o Punjab, entre 1500-1000 a.C.

Estes dois grupos são importantes na formação dos Citas. Eles foram a base

dos hindus no Punjab e dos arianos na Ária. Dos arianos descenderam os persas

que por conseqüência terão muita influência nas narrativas bíblicas24.

Figura 5 - cabeça Cita talhada na pedra encontrada na Índia

Neste tempo três ramos lingüísticos se destacavam (relacionados, mas não

mais dependentes): o indo-europeu, o Indiano (Sânscrito, Veda,...) e o Cita. Isto de-

monstra toda uma interligação racial entre os povos asiáticos e europeus. Podemos

então assumir que com o passar do tempo e do avanço da migração pela Eurásia,

os Citas foram se separando dos arianos e tornando-se um povo etnicamente mais

definido. As descobertas de feições européias atuais nos arianos e Citas demons-

tram um grau de parentesco muito grande.

Além do elemento cultural e semelhanças físicas, a proximidade entre estas e

outras culturas é comprovada pelos estudiosos através da comparação lingüística

entre alguns idiomas da Anatólia, Criméia e outras regiões acima Citadas.

24

DOUGLAS, p. 1275.

Desta forma, sempre veremos entre os povos arianos, hindus e Citas uma

grande inter-relação, o que é sustentada pelo pilar principal da cultura kurgan, e co-

mo conseqüência o estilo de vida e língua proto-indo-européia.

Figura 6 - Região do Altay, perto da tripla fronteira Rússia-Mongólia-China

Durante muitos períodos da História (que vão de 2500 a.C. até 400 DC) exis-

tem guerras, pilhagens e vassalagem, tendo como protagonistas muitas vezes os

Citas e seus descendentes por toda a região Eurásica. Eles eram povos nômades, e

portanto conquistadores por natureza. Existem relatos de invasões Citas da Índia,

instalando o caos na região, e sempre uma constante tensão nas fronteiras com os

arianos. Soma-se a isto incursões de pilhagens na Anatólia, Oriente Médio e Europa.

Este estilo de vida irá fazer com que eles entrem no Crescente Fértil exatamente no

período dos Impérios da Assíria, Babilônia e Persa.

Cabe ainda uma rápida palavra sobre a identificação de alguns outros des-

cendentes de Jafé que terão papel importante em nosso estudo. Em relação aos

seus descendentes, temos nomes como Gomer, Tubal, Asquenaz e Meseque. Estes

aparecem relacionados nos relatos de Josefo. Porém os termos usados pelo histori-

ador não são muito claros, pois certos nomes de povos listados não nos são conhe-

cidos atualmente.

Contudo existem hoje em dia algumas linhas que tentam identificar estes no-

mes com povos conhecidos. Gomer é amplamente identificado com os cimerianos,

que terão importante papel dentro de nosso trabalho, como veremos posteriormente

e que foram base para os celtas e outros grupos germânicos. .

Segundo Beacon25, Magogue “provavelmente é um termo para todos os habi-

tantes do norte, mas em especial para aqueles que se encontram no oeste da Tur-

quia” (Anatólia).

Num contra ponto, a identificação de Asquenaz arremete-nos para o nome

mesopotâmico Asguza, que era como os Citas eram conhecidos na região. Temos

aqui uma dúvida a ser resolvida: quem deu origem aos Citas, Magogue ou Gomer

(através de seu filho Asquenaz)? Ao que nos é transmitido pelos nossos conheci-

mentos da cultura kurgan, estes povos indo-europeus estavam intimamente interli-

gados. Uma grande miscigenação ocorreu a ponto de não termos condições, hoje,

de identificar nos povos caucásicos, um ramo específico de outro. Por exemplo, os

cimérios descendentes de Gomer, são aparentados aos Citas, com costumes e cul-

tura idêntica. Desta forma, podemos perceber que uma identificação racial específica

e delimitada é muito complicada, pois não existem fronteiras definidas entre os po-

vos indo-europeus, em especial nesta fase do proto-indo-europeu que marca as pri-

meiras gerações pós-dilúvio.

Assim sendo, teríamos que Jafé seria o patriarca de todas as tribos que ocu-

pavam o norte da Mesopotâmia. Esta declaração está de acordo com os achados

arqueológicos e os relatos bíblicos. Isto satisfaria teorias recentes dos arqueólogos

que aparentam os povos Citas, cimerianos, e os residentes na região caucásica. Eis

então uma explicação sobre as semelhanças tão grandes que todos estes povos

apresentam de uma forma tão homogênea.

Quanto a Meseque e Tubal, eles seguem a mesma linha de identificação de

Gomer, ou seja, são aparentados intimamente de Magogue, ainda que mantendo

diferenças que a esta distância no tempo não nos são perceptíveis. Meseque é am-

plamente identificado com os Moshkhi dos relatos assírios, e que os gregos os co-

nheciam como Massagetas, povo relacionado com os Citas na fronteira da Média26.

Tubal teria se fixado na Anatólia e vivido na cercania do Império Hitita. Devido a al-

guns fatores ainda obscuros, eles teriam tomado duas direções principais: 1) para o

Cáucaso e depois oeste; 2) indo pelo mar na direção oeste da Anatólia. Alguns a-

25

BEACON , p. 63.

creditam que podem ser relacionados com os etruscos que ocuparam a Península

Itálica. Outros ainda teriam chegado à atual Península Ibérica, dando o seu nome a

este lugar e sendo a base étnica para os países ibéricos (Portugal e Espanha), que

depois iriam se latinizar com a conquista romana.27

Todos estes relatos antigos, as descobertas arqueológicas e os estudos nas

áreas da lingüística, nos levam a crer que uma onda migratória originária da região

norte da Mesopotâmia (Aratat) se moveu em direção oeste (Grécia), ao leste (Irã,

Índia, Ásia) e norte (Cáucaso, Europa), ultrapassando os limites dos continentes. A

possível migração em sentido contrário (como proposto por alguns – leste-oeste)

seria, na melhor hipótese, acontecimentos posteriores.

Sinopse:

Estudos recentes comprovam que existe uma unidade cultural e lingüística

entre povos que habitaram as terras que se estendem das ilhas Britânicas à Mongó-

lia (chamada Eurásia). Estes povos foram chamados indo-europeus. Os indo-

europeus estão relacionados com o tronco Jafítico (Jafé, filho de Noé). Os Citas são

um povo indo-europeu, e por conseqüência jafita. Parte dos indo-europeus se dirigi-

ram para o norte da Mesopotâmia (Cáucaso). De lá, após algum tempo, tomam a

direção sudoeste (voltando para a Mesopotâmia, mas tomando a direção do atual

Afeganistão, ou Ária). Outro grupo se arroja em direção mais ao norte, ultrapassando

o Cáucaso e rumando para as estepes siberianas, tomando duas direções, uma pa-

ra a Mongólia, outra para o sul do Mar Aral, e se estendendo até a Índia28. Assim,

essas tribos Citas estão nos limites dos futuros grandes impérios. Ao analisarmos

um mapa perceberemos que eles como que “abraçam” e delimitam todos os territó-

rios destes impérios (Ariano, Assírio, Babilônico, Persa, Meda, Grego e Romano).

E são exatamente estas tribos que são o alvo de nosso trabalho.

26

Veja a seção 1.2. Povos abaixo. 27

Um estudo muito interessante sobre o assunto das origens dos povos Jafitas se encontra no site: http://www.imninalu.net/2history03.htm. (NIN”ALU, Im. The Peoples of the North). 28

Propõe-se que Buda tenha vindo de uma tribo Cita, devido à sua localização geográfica.

1.2. Povos29

Os antigos gregos tinham um interesse muito grande em conhecer os seus vi-

zinhos bárbaros. Esta curiosidade se deve ao fato dos gregos terem estabelecido

colônias ao longo de todo o Mar Negro.

Os milesios e os megarianos construíram Tomi ou Kustenje, perto do Danú-

bio, Istros na sua foz, Tyras no Dniester, Odessos no Bug, Olbia no Dnieper, Cher-

sonesos ou Cherson perto de Sebastopol, Palakion que posteriormente tornou-se

Balaclava, Theodosia que veio a ser Kaffa, Panticapea (Kertch), e Phanagoria nas

duas costas do estreito de lenikale, Tanais na foz do Don, Apatouros no Kuban,

Phasis, Dioscurias, Pityus aos pés dos Cáucaso, na costa da antiga Colchis. Panti-

capea, Phanagoria e Theodosia formaram, no século IV a.C.uma confederação com

um cargo de chefe hereditário chamado Archon do Bosphorus, o qual era reconheci-

do por algumas tribos bárbaras.

Vários arqueólogos russos, e mais recentemente M. Ouvarof, têm trazido a

luz muitos monumentos da civilização grega. Mas atrás desta linha de colônias havia

um mundo de tribos comumente chamadas, pelos cidadãos destas cidades colônias,

pelo nome de Citas, com os quais eles mantinham períodos de guerras e períodos

de paz e farto comércio. Estes Citas também serviam para os gregos como interme-

diadores no comércio com os povos que habitavam as regiões mais setentrionais.

“Na realidade os Citas desempenharam parte tão

activa no comércio e na guerra e constituíram elemento

tão importante da vida da sua época que Heródoto consi-

derou necessário dedicar-lhes um livro inteiro da sua

grande História. Para obter o máximo de informações

possíveis, partiu em enfadonha viagem para Ólbia, a ci-

29

Material extraído e adaptado do site de LENDERING, Jona. Scythians/Sacae. http://www.livius.org/sao-sd/scythians/scythians.html

dade posto avançado grego fundada em 645 a.C. na foz

conjunta dos rios Bug e Dniestre.”30

Figura 7 Heródoto, o pai da História

As primeiras menções que temos a respeito do modo de vida destes povos

das estepes nos chegam do escritor grego Heródoto. Ele viveu no séc. V a.C.e fez

uma descrição pormenorizada dos povos Citas.

De uma maneira especial, o escritor descreve os povos que residiam na atual

Ucrânia e sul da Rússia, mas que com o que sabemos hoje, estas descrições podem

ser aplicadas aos povos que habitavam o Cazaquistão, Turcomenistão, Uzbequistão,

Tadjiquistão, Kirguistão e Mongólia.

Heródoto chama os povos europeus de “Skythai” e os asiáticos de “Sacae”.

Estes povos se autodenominavam em sua língua (possivelmente indo-européia) co-

mo Skudat (arqueiros?). Por outro lado, os chineses os conheciam pelo nome de

Sai.

As grandes extensões territoriais do domínio Cita geraram um grande número

de tribos independentes, mas que mantinham um modo muito homogêneo de cos-

tumes e cultura. Por isto veremos muitos povos que são colocados de baixo do no-

me “Cita”. Uma série de povos aparentada também é catalogada como Cita. Alguns

estudiosos (Rice, por exemplo) preferem se referir aos Citas como o grupo europeu

e “Citas aparentados” como os asiáticos.

30

RICE, p.25.

Pelos escritos de Heródoto podemos conhecer algumas tribos Citas e suas

possíveis localizações. Algumas destas tribos foram decisivas em alguns aconteci-

mentos na era dos grandes impérios no Crescente Fértil, como veremos mais adian-

te.

Sakâ tigrakhaudâ Sakâ haumavargâ

ambas figuras encontradas em Persepolis (Chicago Oriental Institute)

Os Sakâ haumavargâ (“Sacae” que bebem “haoma”) foram subjugados

por Ciro o grande. Heródoto os chama Citas Amyrgian. Haoma era uma bebida que

levava a um transe. Era feita com um cogumelo que não era encontrado além do rio

Amudarya (Oxus). Podemos dizer que esta tribo vivia no Uzbequistão. Heródoto nos

informa que eles usavam calças e chapéus pontiagudos. Eles lutavam como arquei-

ros. Também é mencionado que usavam machados em suas guerras, os quais eram

chamados de sagaris.

Os Sakâ tigrakhaudâ (“Sacae” com chapéus pontiagudos) foram derro-

tados em 520/519 a.C.pelo rei persa Dario I, o Grande, que deu a esta tribo um novo

líder. Um dos líderes antigos havia sido morto e outro, chamado Skunkha, foi feito

prisioneiro e pode ser visto no relevo de Behistun. Heródoto chama os Sakâ tigra-

khaudâ de “os Orthocorybantians” (“homens de chapéus pontiagudos”), e nos infor-

ma que viviam no mesmo distrito dos medos. Isto nos dá a idéia de que habitavam

na antiga extensão do rio Amudar”ya, o qual tinha uma foz no mar Cáspio, ao sul de

Krasnovodsk. A principal característica deste povo, os chapéus pontiagudos, era

uma espécie de turbante.

Figura 8 – Skunkha

Os Apâ Sakâ (“Sacae das águas”) também são conhecidos como os

Pausikoi, como Heródoto os prefere chamar. Autores posteriores, como Arrian de

Nicomedia (em sua Anabasis) e Ammianus Marcellinus (em sua Hístória Romana)

os chama de Citas Abian; ainda mais tarde, nós os encontramos como os Apasiaki,

primeiro a leste e depois no sudoeste do lago Aral.

Sakâ tigrakhaudâ

(relevo de Persepolis)

A tribo que Heródoto chama “Massagetas” pode ter sido chamada al-

gumas vezes de Mâh-Sakâ em persa, que significa “Sacae da Lua”, mas isto é algo

incerto, pois é sabido que os Massagetes veneravam apenas a um deus, o Sol. Os

Massagetes foram os responsáveis pela morte de Ciro (em Dezembro de 530 a. C.).

Pelos escritos de Heródoto é sabido que viviam ao longo do rio Syrdar”ya (Jaxartes).

A tribo nômade conhecida como Dahâ, que significa ”salteadores”, é

mencionada pela primeira vez na inscrição de Daiva, do rei persa Xerxes , que os

teria subjugado. Heródoto os denomina “Dai”, uma tribo persa nômade. Porém eles

não devem ter vivido na Pérsia propriamente, pois são mencionados na Anabasis

de Arrian como vivendo na extensão do rio Syrdar”ya. Nos dias de Alexandre, o

grande, eles eram famosos por serem excelentes cavaleiros-arqueiros. É possível

que esta tribo tenha se extinguido após a queda do Império Persa. Uma outra tribo

chamada Parni, que veio do sul no séc. III a. C., fundou nesta região o Império da

Partia, que veio a se tornar muito importante posteriormente (At 2.9).

Os Sakâ paradrayâ (“Sacae através do mar”) viviam na Ucrânia. Estes

eram os nômades aos quais os gregos chamavam de Citas. No ano de 512 a.C. o-

corre a campanha do rei Dario na Cítia contra este povo, campanha esta narrada

com riqueza por Heródoto que, ao mesmo tempo, descreve o estilo de vida deste

povo e de seus vizinhos. Eles eram subdivididos em:

Os Citas reais viviam no sul da Ucrânia, imediatamente ao norte

das cidades gregas.

Os Citas fazendeiros parecem ser o mesmo povo que é conhe-

cido entre os arqueólogos como Chernoles, os quais podem ser

identificados com a era do ferro dos eslavos.

Provavelmente devemos identificar os Neuri com a chamada

cultura de Milograd. Objetos arqueológicos foram encontrados

na confluência dos rios Dnepr e Pripyat, norte da moderna Kiev.

Eles podem ser os ancestrais dos Baltas (Bálticos).

A história de Heródoto sobre os comedores de homens tem sido

parcialmente confirmada com a escavação de sedimentos hu-

manos roídos por mandíbulas também humanas. Estas escava-

ções foram feitas ao longo do rio Sula, ao sudoeste de Kiev.

Os Argippaeans são identificados algumas vezes com os ances-

trais dos Calmuques.

Os Issedones podem ser os Wu-sun que (de acordo com textos

Chineses) viviam na margem do lago Balchash.

Os Sauromatae (ou sarmatas) são mencionados por Heródoto como

descendentes de pais Citas e mães amazonas. Evidentemente isto é uma lenda,

mas a tribo de fato existiu, e locomoveu-se para oeste antes do ano 130 a. C.. Neste

processo, assimilaram os Citas reais. No séc. I a. C., a coalizão dos Sarmatas con-

sistia de quatro tribos:

o Os Iazyges, que tinham, certa vez, vivido nas margens do Mar de A-

zov, e que agora viviam no lado norte do Danúbio. Eles então se moveram para o

que é hoje a Hungria, onde se fixaram por volta do ano 50 dC. Foram derrotados

pelo imperador romano Marcus Aurelius (em 175).

o Os Urgi vivam ao longo do rio Dnepr, sul de Kiev (Ucrânia).

o Os Citas reais ainda viviam no sul da Ucrânia e se tornaram a mais im-

portante tribo da Sarmatia. Eles e os Urgi ficaram conhecidos como Sarmati. Os ro-

manos parecem ter aceitado o estabelecimento deles na Hungria, mas às vezes a

situação parecia ficar tensa. Os Sarmati foram , por exemplo, responsáveis pela des-

truição de 22 legiões Rapax romanas em 92 dC.

o Os roxolani viviam inicialmente entre o Don e o Dnepr, mas localizados

no baixo braço do Danúbio, exatamente onde os Iazyges tinham vivido antes de irem

para a Hungria.

Estas descrições podem ser visualizadas melhor no mapa abaixo:

Figura 9 - As tribos Citas e seus vizinhos

Muito se tem discutido sobre quais seriam os povos que descenderam destas

tribos citas. Os desdobramentos posteriores destes povos têm sido estudados nos

três séculos. Segundo Zakiev, em seu trabalho sobre as raízes étnicas do povo Tár-

taro:

“No fim do século XVIII, N. M. Karamzin, começa

a se interessar pela história dos Citas, e expressou uma

idéia de que nos tempos de Heródoto todos os povos

da Eurásia eram referidos debaixo do nome coletivo de

“Citas” e “Sarmatas” [Karamzin N.M., 1818, 5-12].

No século XIX , escavações arqueológicas dão

para os cientistas uma oportunidade para provar que

Heródoto e outros historiadores gregos antigos refleti-

ram adequadamente a história dos povos da Eurásia.

Foram traduzidos para a língua russa os trabalhos de

outros historiadores gregos. Estavam criadas as condi-

ções para um amplo estudo da história antiga daquela

região.

Em 1838 o acadêmico E.I.Eichwald que anteri-

ormente havia trabalhado nas universidades de Kazan

e Vilnius, fez uma pesquisa da “História” de Heródoto e,

baseado nisto, ele tentou reconstruir a história dos es-

lavos, Finlandeses, Turcos e Mongóis. Ele chegou à

conclusão de que os Citas não eram um povo homogê-

neo [Eichwald E.I., 1838, Vol. 27].

Na primeira metade do século XIX, o historiador

alemão B.G.Niebuhr via os Citas como os Mongóis que

também incluiria então os Turcos [Niebuhr B.G., 1847].

O historiador russo do século XVIII, V. N. Tatis-

chev considerava a palavra “Citas” como um nome co-

letivo. Ele escreve: “... O nome “Citas” cobria muitos

povos diferentes, como os eslavos, os Sarmatas e Tur-

cos, os Mongóis, ou toda a extremidade Norte-oriental

da Ásia e Europa, incluindo-se aqui os povos alemão,

persa e chinês. Este nome, evidentemente, se extinguiu

aproximadamente no décimo século depois do Cristo,

quando o conhecimento sobre estes povos começou a

ser mais distinto. Entretanto, esses povos citas não de-

sapareceram, mas permaneceram em algum lugar de-

baixo de outros nomes até hoje... por volta do décimo

século depois do Cristo para os europeus o nome “Tár-

taros” ficou famoso, e este começou a ser usado em

vez de Citas” [Tatischev V.N., 1962, 232-233].

M.V.Lomonosov cria que dos Citas foram forma-

dos os Finlandeses, e dos Sarmatas vikravtz eram os

eslavos [Neukhardt A.A., 1982, 17-18].” 31

Enfim, as antigas tribos Citas e Sarmatas listadas por Heródoto estão ligadas

etnicamente aos povos mongol, eslavo, persa, turco, finlandês, celta, alemão, entre

outros. As extensões da atual Eurásia estão povoadas por povos descendentes dos

antigos Citas e Sarmatas.

1.3. Cultura

Como descrito anteriormente, a cultura Cita (cultura kurgan), em suas várias

expressões, apresentam uma conexão com culturas como as da região da Anatólia

(Turquia) e Mesopotâmia. Grande controvérsia existe em relação a alguns aspectos

acerca da cultura Cita. O que nos ajuda muito neste caso são as recentes descober-

tas feitas nos kurgans (outeiros) do período Cita e o que foi dito pelos escritores da

antiguidade.

Antigos autores gregos e romanos são a principal fonte de evidências da exis-

tência dos Citas e seus sub-grupos. Entre eles podemos enumerar: Heródoto, Hipo-

crates, Strabo, Ptolomaios, entre outros. Os Citas são um dos primeiros povos a se-

rem mencionados nos textos clássicos dos autores gregos. Todos eles, começando

por Hesiodos e Esquiles, chamam os Citas de "tomadores de leite de éguas", "co-

medores de carne de cavalos" , e assim por diante. Eles contam que este povo vivia

31

ZAKIEV, Mirfatykh Z. ETHNIC ROOTS of the TATAR PEOPLE, in: TATARS: PROBLEMS of the HISTORY and LANGUAGE. http://tatar.yuldash.com/eng_173.html

uma vida nômade, morando em tendas (yurts) em suas carroças, com suas crianças

e famílias.

Os Citas desapareceram há muitos séculos como unidade étnica. Mas a sua

civilização não se perdeu de todo. Eles tiveram uma enorme influência sobre os po-

vos que surgiram, mais tarde, em toda aquela vasta região. Todos os povos nôma-

des da Eurásia, tanto os antigos como os atuais, foram os herdeiros de diferentes

elementos da cultura Cita. Através das eras, as gerações mantiveram os métodos

Citas de pecuária, construção de moradias móveis (yurts), diferentes objetos de uso

doméstico, receitas culinárias e alguns tipos de vestimentas.

Para entendermos melhor qual foi a influência e a relevância deste povo para

os propósitos de nosso estudo, precisamos dar uma olhada em suas várias formas

de manifestações culturais.

Figura 10 - Localização dos principais kurgans na Europa

Religião:

Os Citas não tinham templos. Talvez a vida particularmente nômade impedia-

os de se dedicarem a construções como estas. Mesmo nas cidades no posterior rei-

no Cita dos séculos IV-I a.C não temos este tipo de construção. Ao que se sabe até

o momento, eles não possuíam altares dedicados aos deuses,32 nem imagens ou

estátuas dos mesmos, ainda que fossem exímios e notados artesões. Isto, segundo

algumas interpretações, pode implicar também na inexistência de uma organização

sacerdotal, ou seja, uma classe religiosa como em outras culturas, como por exem-

plo, a judaica, a egípcia e a babilônica.

32

exceção feita a Ares, descrito a seguir.

Kurgans

cidades

Porém alguns indícios podem nos auxiliar na composição do quadro religioso.

Podemos, desta forma, saber que tribos Citas, mais ao norte, praticavam uma espé-

cie de xamanismo. Amuletos eram usados em feitiçarias e bruxarias. De igual forma

serviam para adivinhação, muito usados por reis, em questões militares.

Para manterem o contato com o mundo espiritual, usavam xamans, ou esses

amuletos, que proporcionavam esta mediação. Esta “religião” pode, ainda hoje, ser

vista em larga escala nas regiões siberianas entre povos das mais diversas etnias e

linhagens. Este xamanismo se estendeu até os esquimós, penetrando no norte da

América do norte e possivelmente se estendendo por todo o continente americano33.

Também é destacável que no Japão é possível perceber traços de xamanis-

mo, justamente pelo contato muito antigo entre esta ilha e o continente asiático on-

de, em muitos casos, os Citas eram soberanos (em muitos episódios por povos deri-

vados, sub-grupos).

As descobertas dos túmulos (kurgans) pela região euro-asiática, nos trazem

algumas revelações ao conceito sobre a divindade.

“Os kurgans do primeiro milênio eram de príncipes

Citas, povo indo-europeu que designava a Deus com o

nome indo-europeu ZIS, derivado do proto-indo-europeu

DEIWOS, e invocava o Deus-Supremo com a expressão

ZIS-PAPPAIOS (-como em sânscrito DIAUS-PITAH). A

identificação de kurgan tem grande importância para o es-

tudo da religião indo-européia porque qualquer indício re-

ligioso que a arqueologia conseguir descobrir a respeito

desses primitivos habitantes da ”cultura kurgan" servirá de

termo de comparação para as demais religiões dos povos

indo-europeus.”34

33

Não estamos afirmando que estes povos americanos pré-colombianos tenham suas origens atrela-das às estepes euro-asiáticas, mas que o xamanismo praticado nesta região tão vasta pelos Citas se assemelha muito com religiões usadas pelos índios do continente americano, inclusive os brasileiros. Outro fator semelhante era o fato dos Citas após matarem seus inimigos tiravam o escalpo deles, assim como algumas tribos norte-americanas. 34

TERRA, p.111.

A expressão ZIS-PAPPAIOS será apreciada quando falarmos sobre Papai,

mais adiante, mas basicamente seu significado seria “Deus-Pai” . Mas, segundo

TERRA defende em seu livro “O Deus dos Indo-europeus”, os povos indo-europeus

(e os Citas) tinham noção de uma divindade suprema

Aparentemente, ainda que não houvesse uma casta religiosa definida como

dito anteriormente, o mais elevado e honrado posto do xamanismo provinha, quase

sempre. de uma família específica (uma espécie de sumo-sacerdote). Convém lem-

brar que os Citas eram um povo muito heterogêneo e que muitas práticas comuns a

um grupo não necessariamente encontravam eco em outros grupos.

Tais “sumo-sacerdotes” eram homens

afeminados e eram chamados de “enarees”

– que significa “homem-mulher” ou “meio-

homem”. Eles falavam com um tom de voz

muito alto e vestiam roupas femininas.

Segundo podemos ler nos escritos de

Heródoto (iv. 59), existia um panteão de

deuses Citas. Heródoto os descreve junta-

mente com os deuses gregos corresponden-

tes. O escritor grego os menciona na seguinte ordem: Tabiti (Hestia), Papai e sua

esposa Apia (Zeus e Ge), então Oitosyros (Apolo) e Argimpasa (Afrodite Urania).

Apesar dos povos Citas serem compostos de várias tribos e muitas subdivi-

sões, especialmente por causa de seus vastos domínios, podemos dizer que estes

deuses eram comuns a todos os Citas. Existe um deus, Thamimasadas (Poseidon),

que é peculiar aos “Citas Reais”, uma tribo européia dominante. O panteão Cita po-

de ainda ter paralelos entre os tártaros e os iranianos.

Uma rápida descrição pode nos dar uma idéia destes deu-

ses:

Tabiti: era uma das principais deusas do panteão Cita. Ela

era a governadora e madrinha do fogo, um dos mais poderosos

elementos da natureza. Tabiti era a dona de todo o lar, que signi-

ficava que todo o fogo no lar Cita era sagrado, pois lá habitava Tabiti. Toda festa dos

Citas começava com uma oferta a ela. Para isto, antes de beberem o primeiro copo

de vinho, sempre era jogado um gole no fogo em honra a Tabiti a fim de que ela

também participasse da festa. Caso contrário, a poderosa deusa poderia cruelmente

vingar-se. Os reis eram os principais devotos desta deusa. Eles dedicavam todas as

festas e oferendas a ela. Se um Cita queria jurar por algo, sempre o fazia um nome

de Tabiti, e caso quebrasse o juramento, podia ser queimado vivo. Ela era concebi-

da como uma jovem moça em longas vestes. Ela sempre tinha consigo um espelho

mágico, no qual ela observava o mundo, de onde influenciava nos destinos dos ho-

mens.

Papai e Api

O ameaçador deus Papai era a personificação do céu a-

zul. Ele fez a terra e as primeiras pessoas, dando-lhes os pri-

meiros instrumentos de trabalho e os ensinou a trabalhar. Os

Citas o adoravam como um “antepassado progenitor santo”.

Papai era casado com Api. Deste casamento saíram muitos ou-

tros deuses e heróis. Api era a deusa das águas e da terra. Ela

era também a senhora das regiões interiores da terra, onde iam

parar todas as pessoas. Em algumas figuras ela é representada

segurando uma cabeça humana.

Arguimpassa

A deusa alada Arguimpassa era a protetora das serpentes

e pássaros, e a deusa dos caçadores e dos criadores de gado.

Ela era a portadora da vida e da morte. Todo ser vivo nascia e

morria apenas com o consentimento da Arguimpassa.

Goitocir

Goitocir – o cavaleiro do sol, grande arqueiro, aquele que

vencia os monstros mágicos. Era o deus dos ventos, tempesta-

des e tormentas. Os Citas criam que seus rebanhos eram guar-

dados por ele das enfermidades e da morte.

Ares

O mais ameaçador e o mais adorado pela maioria dos Ci-

tas. Era o deus da guerra. Protetor dos guerreiros. Em cada a-

campamento Cita era erigido um altar ao deus da guerra. Para isto

construíam uma colina de terra. No alto desta colina colocavam

uma velha espada de ferro. Este deus aceitava sacrifícios de san-

gue. Diante de seu altar eram sacrificados animais domésticos, e

às vezes os inimigos capturados. O sangue era derramado pela

espada, que era a personificação de Ares.

Sepultamentos:

Outra característica dos Citas era a forma como sepultavam e lamentavam

seus mortos.

"Os Citas eram obcecados por rituais. Quando

um rei morria, seu corpo era levado numa carroça en-

tre o povo. Heródoto relata que as lamentações eram

sangrentas. Os enlutados cortavam partes de suas

orelhas, açoitavam seus braços e furavam suas mãos

direitas com flechas. Um ano depois do sepultamen-

to, 50 escravos e 50 cavalos eram mortos e empa-

lhados em postes ao redor do kurgan real, os cavalos

postos eretos, os homens montados sobre eles como

se fossem cavaleiros."35

35

EDWARDS, p. 74.

Criam piamente na vida após a morte, havendo semelhanças que nos fazem

lembrar a forma egípcia de crer no mundo além morte. Objetos pessoais também

eram deixados junto ao corpo para serem usados no mundo além.

Figura 11 - Representação de como seria um Kurgan após o sepultamento de um rei Cita se-gundo descrito por Heródoto (IV. 71-73)

Nomadismo

Certamente uma das maiores características deste povo era a sua vida nô-

made. Este estilo de vida trouxe grandes influências sobre a cosmovisão de todas

aquelas tribos do norte.

Os Citas, como todos os povos jafitas, eram

um povo que gostava de desafios. Parte destes

desafios se davam na área de exploração de novas

terras, novos horizontes. As vastas regiões ocupa-

das por estas tribos dão a dimensão do seu ímpeto

aventureiro. O mundo precisava ser descoberto, e

o território que se expandia da Europa ao Pacífico era a extensão de terra que cou-

be a eles.

A cultura kurgan que baseia a teoria proto-indo-européia nos leva a crer que

no estágio pré-expancionista destas tribos, eles viveram um tempo de sedentarismo

ao norte do Cáucaso. Porém alguns fatores as levaram a uma mudança no seu esti-

lo de vida, partindo do sedentário ao nômade.

“Ao longo do III e II milênios, algumas sociedades

das estepes foram progressivamente dedicando-se à cria-

ção de rebanhos, mas, em vez de adotarem o nomadismo

como gênero de vida, conservaram a vida sedentária.

No entanto, os aperfeiçoamentos da roda e dos

carros introduzidos pêlos hititas da Anatólia e pêlos mita-

nianos da região entre Mesopotâmia e a Armênia viriam

criar novas condições. O crescente interesse militar pela

cavalaria, combinado com a expansão da criação como

atividade econômica dominante nas estepes euro-

asianas, determinou o nomadismo eqüestre.

Enquanto o nomadismo se estabelece durante o II

milênio, outras culturas perseveram em um gênero de vi-

da mais tradicional; é o caso da civilização de ananino,

instalada no limite da estepe com a floresta, na região do

Volga. As escavações aí feitas revelaram aglomerações

fortificadas, casas de madeira, uma população vivendo da

agricultura, da pesca e da caça, e possuindo bom conhe-

cimento da metalurgia do bronze. Os contatos comerciais

dos ananinos com os Citas mais ao sul são evidentes em

meados do I milênio.

A convivência de populações sedentárias com so-

ciedades nômades e guerreiras daria ensejo a perigosas

rivalidades.”36

A escritora RICE vem a acrescentar quando afirma:

36

TERRA, p.119-120.

“Por toda a área de que nos ocupamos, as tribos

Citas e «Citas aparentadas» eram fundamentalmente nô-

mades, mas a sua maneira de viver pastoril dependia, até

certo ponto, da existência de comunidades agrícolas,

sendo possível que, pelo menos no século V a.C., cada

tribo vivesse em acampamentos permanentes ou semi-

permanentes, que serviam de apoio a nômades. O da co-

lina fortificada de Nemirova, a uns 250 km para sudoeste

de Kiev, data já do século VII a.C.”.37

O espírito aventureiro arrojava estes homens com suas famílias cada vez

mais longe. Não existiam barreiras para o avanço. As planícies facilitavam o avanço

sem fim. As vastidões devem ter entrado no imaginário Cita de tal forma que desem-

penharam um papel de idéia de liberdade infinita, como eram infinitas as estepes.

Se a isto aliarmos o ímpeto guerreiro, o resultado não poderia ser outro. Eles

se tornariam conquistadores. Aonde iam, por onde passavam, sempre viam oportu-

nidades de tirarem proveito desta vantagem bélica, a ousadia.

O nomadismo contribuiu para que os inimigos tivessem dificuldades de os

conquistarem. Eram inimigos móveis. Todas suas posses iam com eles. Não haviam

cidades para saquear, nem colheitas para tomar. Um inimigo que tem este tipo de

mobilidade é praticamente invulnerável. Os persas, com Dario I, tiveram uma expe-

riência neste campo como veremos mais adiante. Na realidade, o Império Cita co-

meça a sofrer sua queda quando o sedentarismo toma conta da sociedade, o que

ocorre do séc. III a.C. em diante.

Isto na realidade não descarta a possibilidade de algumas tribos serem mais

sedentárias que outras. Ao que nos parece, algumas tribos tinham ramos sedentá-

rios, tomando a forma de agricultores e pastores. Porém, nada os impedia de saírem

de um lugar quando as circunstâncias assim o exigiam (ameaças, fomes, pestes,

etc.).

37

RICE, p. 23.

Estes movimentos migratórios sempre fizeram parte da vida da estepe. Na

realidade a Europa constantemente sofreu duramente com estas ondas nômades.

Elas iam e vinham livremente pelas planícies euro-asiáticas.

“Até os primeiros séculos da era cristã, o grande

movimento da migração indo-européia se desenrola do

ocidente para o oriente. A partir desse momento, a corren-

te parece inverter-se. Já no século III a.C., os sarmatas,

povos indo-europeus, pastores nômades, deixando a Ásia

Central, tinham invadido a região das estepes russas ha-

bitadas pelos Citas. Os sarmatas estavam divididos em

várias tribos formadas pelos rosalanos, os iaziges e os a-

lanos que, no século I a.C. ocupam, respectivamente, a

região danubiana, o território compreendido entre o Da-

núbio, o Tisza e o Cáucaso.”38

Ainda hoje temos vários povos da região que mantêm esta característica nô-

made e pastoril.

Língua:

O assunto de grande controvérsia em relação aos Citas é a questão da língua

que falavam. Exatamente por não termos nenhum documento em nossas mãos com

escritos Citas, pois não eram ao que se sabe povos alfabetizados, dificulta a identifi-

cação do seu idioma.

As poucas palavras que temos são dos escritores gregos antigos, como He-

ródoto. Ele nos fornece topônimos, como nome de acidentes geográficos (rios, mon-

tanhas, etc.) e alguns nomes de reis Citas.

Ao todo podemos alistar cerca de duzentas palavras do vocabulário Cita, se-

gundo os estudiosos. Este número logicamente não é suficiente para termos uma

exata noção da língua e suas estruturas gramaticais. Mas podemos fazer algumas

considerações práticas.

Existe muita similaridade entre esta lista e uma língua falada ainda no Cáuca-

so, o ossétio39. O moderno ossétio representa um subgrupo oriental das línguas

iranianas, um grupo da família indo-européia. Este subgrupo é sucessor de muitas

línguas e dialetos antigos do iraniano do leste. Foi no I milênio a.C. que elas pene-

traram na região que agora ocupam. Hoje a maioria destas línguas está localizada

na região da Ásia central. O ossétio é a única localizada na parte européia do Cáu-

caso. Analisando o ossétio, podemos chegar a compreensão do significado de mui-

tas palavras. Desta comparação podemos, por exemplo, saber o significado do no-

me do Rio Don, importante rio da região Cita. A palavra Don vem do Cita, e encontra

paralelo no ossétio. Din, que significa “água”, “curso de água”, “rio“.40

Corroborando com esta explicação, o artigo de Edwards nos declara:

"Os escolares dizem que ainda um remanescente

dos Citas perduram nos 700 mil ossétios, cuja terra natal

hoje é um enclave que está dividido em duas partes na

região montanhosa do Cáucaso. A Ossétia do Norte, a

parte maior, está dentro da Rússia, enquanto a Ossétia do

Sul está na Geórgia. Os ossétios declaram que seus an-

tepassados eram os alans, uma tribo na qual sobreviveu

os genes tanto dos Citas quanto dos sarmatas, que vie-

ram depois deles da região da estepe asiática." 41

Edwards salienta claramente que são "[...] a língua e as tradições que suge-

rem estes vínculos entre a Ossétia e a Cítia" 42. Isto é exemplificado no fato de que

38

TERRA, p. 115. 39

Talvez não por coincidência, as províncias da Ossétia do norte (Rússia) e Ossétia do Sul (Geórgia) sejam interligadas pelo estreito “Passo de Dariel”, a principal passagem pelo Cáucaso, dominado por Citas por muito tempo, como veremos mais adiante. 40

Para um estudo mais detalhado do Ossétio e sua ligação com a língua dos povos Citas ver a pági-na de DODYKHUDOEVA, Leila R. The socio-linguistic situation and state of research of the Os-setic language. http://www.aber.ac.uk/~merwww/general/papers/mercSym_03-04-08/dodykh.doc 41

EDWARDS, p.78. 42

ibid.

"como os Citas, os ossétios reverenciam os cavalos".43 Além disto, as "tradições

também fazem o fogo ser considerado sagrado".44 E outro ponto que chama a aten-

ção é o fato de após o funeral de um ossétio, os homens se sentam numa festa, tal

qual seus antepassados faziam e os próprios Citas a milhares de anos.

Mas existe ainda uma grande luta entre os estudiosos sobre qual é a real i-

dentificação do tronco lingüístico a que pertence o idioma Cita. Existem duas hipóte-

ses básicas. A primeira, e amplamente aceita, é que os Citas falavam uma língua

ariana (indo-européia), como descrito acima. A segunda, defendida por alguns, é

que seria um idioma do tronco lingüístico relacionado com o turco (uma língua uralo-

Altayca). Segundo Zakiev:

“Em um trabalho publicado em 1837 em Munich,

K.Zeiss começou uma fase nova no estudo de história

dos Citas. Pela primeira vez ele começa a identificar os

Citas com tribos que falavam um idioma Iraniano. [DO-

VATUR A.I., 1982, 47]”.

“Em 1855, outro cientista alemão K.Neumann,

partindo das mesmas argumentações que Zeiss, afirma

que os Citas se tornaram os Turcos, e os Sarmatas os

povos eslavos [ibid, p.50].”45

Devemos notar que, devido à grande extensão territorial, certamente existiam

muitos dialetos. Eles porém mantinham uma relativa coesão, como por exemplo,

podemos também observar no latim anos mais tarde. Outro fator que complica esta

questão é a influência que outras línguas exerciam sobre o idioma Cita. O contato

com grupos arianos e uralo-Altaycos, teve papel importante na formação do idioma,

o que explicaria a possibilidade de encaixarmos a língua Cita tanto num ramo como

noutro.

43

EDWARDS, p.79. 44

ibid. 45

ZAKIEV, Mirfatykh Z. ETHNIC ROOTS of the TATAR PEOPLE, in: TATARS: PROBLEMS of the HISTORY and LANGUAGE. http://tatar.yuldash.com/eng_173.html

A grande maioria dos estudiosos concorda com a afirmação de que o idioma

Cita é “de fato, uma língua que pertence ao grupo iraniano do norte”.46

“Os Citas, uma das tribos de cavaleiros ligadas à

Ásia Central e à Europa Oriental, viriam finalmente a mos-

trar-se os mais importantes, tanto nos seus próprios dias

como na alta Idade Média, em que a sua influência se fez

sentir na arte européia do norte e do Ocidente. Todavia, a

esta distância no tempo, é impossível determinar o grupo

racial exato a que os Citas pertenciam. O problema tem

dado lugar a muitas controvérsias, afirmando certas auto-

ridades na matéria que eram hunos, outras que eram tur-

cos ou mongóis. De uma maneira geral, porém, a maioria

dos historiadores concorda que seria um povo do grupo

indo-europeu, possivelmente do ramo iraniano, ou, como

propõem Géza Nagy e outros, ugro-Altaycos. O único fato

indubitável que se apura, no fim de contas, é que todas as

tribos da planície falavam a mesma língua, coisa muito

semelhante ao que hoje se passa com miríades de nôma-

des por toda a Ásia, que falam o turki, dialeto do turco. A

língua falada pêlos nômades era fundamentalmente a ira-

niana, mas devia estar mais estreitamente ligada ao avés-

tico do que ao persa antigo”.47

“Os Citas eram iletrados, eles não deixaram escri-

tos gravados. Porém algumas poucas palavras Citas so-

breviveram por meio de Heródoto. De acordo com ele as

palavra “pata” significa “matar”; “spou” significa “olho”, “a-

rima” significa “um”, “oior” significa “homem”. Destas pala-

46

PRADIIPAKA, Gabriel; MUNI, Andrés. Origin. http://www.sanskrit-sanscrito.com.ar/english/linguistics/origin4.html 47

RICE, p. 41.

vras, os filologistas definem que a língua Cita era uma

pré-histórica língua indo-européia.”48

"A crença popular dos historiadores é que antes da

grande re-povoação dos povos, as tribos que falavam

uma língua iraniana basicamente se estabeleceram na

Europa Oriental, Sibéria Ocidental, Cazaquistão, Oriente

Médio, parte da Ásia Central e o Oriente Próximo. Tal o-

pinião está baseada na premissa descrita pelos historia-

dores gregos sobre os Citas, que viveram nestas regiões

por volta dos séculos IX à III a.C., e sobre os sarmatas,

que viveram nesta região do século III a.C. ao século III

d.C., quando removeram os Citas. Supõem os historiado-

res que eram estes povos falantes de uma língua irania-

na.

Os lingüistas Indo-Europeus chegam a esta conclu-

são baseados na etimologia de palavras Citas e sarmatas

conhecidas…". 49

Exemplo de teoria uralo-Altayca é defendida como a seguir:

"Os Citas falavam uma língua uralo-Altayca que

nunca foi escrita. Alguns que afirmam que os Citas fala-

vam uma língua indo-européia ainda não provaram qual-

quer fato.

Baseados em algumas palavras compiladas por

Heródoto a palavra "Pasa" significa chefe/Deus (Pasa no

48

MARX, Irma. The Scythians. http://www.silk-road.com/artl/scythian.shtml 49

ZAKIEV, Mirfatykh Z. ETHNIC ROOTS of the TATAR PEOPLE. Um artigo do seu livro: TATARS: PROBLEMS of the HISTORY and LANGUAGE, Collection of articles on problems of lingohistory; re-vival and development of the Tatar nation. Kazan, 1995. p.12-37.

turco moderno significa príncipe), "Artim-Pasa" significa a

Afrodite celestial, "Syr" significa rei, "Apia" significa Mãe

Terra. Muitas palavras encontradas na língua Cita têm

conexão a outras línguas uralo-Altaycas, assim como o i-

dioma da Suméria e ao atual húngaro e mongol.

Existem, porém, muitas palavras em Cita que não

parecem com o atual uralo-Altayco, e que também não

tem paralelos em qualquer outra língua conhecida, inclu-

indo as indo-européias e semitas.

Os vários dialetos Citas (Saka) não são muito bem

conhecidos, entretanto, nosso conhecimento desta língua

vêm muito de palavras como nomes próprios citados, al-

gumas poucas inscrições (como a inscrição de Issyk do

séc. V a.C., escrita num copo de prata encontrado em

1970 numa tumba real localizado em Esik, uma pequena

cidade no Cazaquistão) e nomes de acidentes geográfi-

cos.

Muitos historiadores [...] definem a origem dos Citas

como sendo Iranianos... Tais teorias têm emergido como

resultado de adulterações da História para um favoreci-

mento de nacionalismos.

Conclusões baseadas num pano de fundo "Ariano"

dos Citas adulteraram por algum tempo a verdadeira iden-

tidade de quem eles de fato eram, pois vemos que eram

os antepassados dos turcos em sua cultura, tradições e

costumes, e que vieram a se propagar até o período dos

hunos que conduziram até os turcos ". 50

O que podemos salientar é que nesta discussão entre um idioma ariano ou

turco dos estudiosos, existem elementos puramente ideológicos e nacionalistas co-

mo visto acima. Os defensores da “teoria turca”, por exemplo, são da linha de unifi-

cação da região Caucásica, um sentimento regionalista contra a ocupação russa,

que seria ariana por natureza.

Por outro lado, os “arianos” defendem uma ligação destes povos com laços

de irmandade relacionados com os arianos e, portanto, mais europeu, ou seja, vincu-

lação histórica com a Rússia. Lembremos que esta região do Cáucaso sempre pas-

sou, e ainda passa, por momentos políticos instáveis. O domínio cultural é peça cha-

ve num complicado quebra-cabeça político, étnico e religioso.

Por isto, temos que tomar muito cuidado ao analisarmos tais propostas de i-

dentificação lingüística. De qualquer maneira, parece que os Citas tinham mesmo

ligações fortes com os dois grupos, pois grupos arianos faziam fronteira com a Cítia

por toda a extensão da fronteira ao longo da Pérsia. Outros grupos na região do

Altay , de onde provieram os hunos e seus descendentes turcos, eram co-existentes

com tribos Citas. Mais uma vez dizemos que, a esta distância temporal, não é possí-

vel identificar quem deu origem a quem nesta região tão remota. Por esses motivos

não tomaremos qualquer posição, que é por demais complexa para uma análise

neste trabalho.

Belicosidade

Os Citas são conhecidos na comunidade arqueológica como um povo guerrei-

ro. Suas façanhas até hoje assombram a muitos estudiosos da área.

Neste segmento da vida humana, o Cita teve grande contribuição. As proezas

Citas não advinham do acaso e da sorte. Um Cita parece ter nascido para a arte da

guerra. Pouco sabemos sobre suas atividades econômicas. Pouco podemos falar de

suas contribuições em outras áreas da vida. Mas muito pode ser dito sobre a vida

guerreira. Certamente a arte da guerra deve muito ao povo Cita.

“Os Citas formavam comunidades bem organiza-

das, que obedeciam disciplinarmente aos seus chefes.

50

Information Blast. Scythia. http://www.informationblast.com/Scythians.html

Mas não deixavam de ser uma horda turbulenta, que se

deleitava na guerra, em incursões de pilhagem e no es-

calpe dos inimigos. Em mais de uma ocasião as suas

proezas bélicas chegaram a causar verdadeira preocupa-

ção aos reinos infinitamente mais fortes da Assíria, Média

Partia e Grécia. No século VII a. C. eram os Citas temidos

em toda a Ásia Menor, mas ao mesmo tempo a sua rique-

za e amor das coisas belas ganharam para eles a boa

vontade dos grandes mercadores helênicos estabelecidos

ao longo das costas do mar Negro”. 51

Devido à sua posição geográfica e outros fatores, este povo logo

aprendeu a usar táticas e armas para defender-se e conquistar outros. A

principal destas armas desenvolvidas foi o arco Cita.

Na realidade o arco sempre esteve relacionado com este povo.

Uma lenda da origem deles é narrada em forma de mitologia grega por

Heródoto.

Segundo ele, existia a crença de que Hércules, ao regressar de um de seus

”trabalhos”, se viu "obrigado" a "deitar-se" com uma mulher-serpente que dominava

a região. Este monstro concebeu três filhos, e quando perguntou ao pai qual deles

herdaria suas posses, este disse a ela que seria o que poderia arcar seu arco. O que

fizesse isto, daria origem e nome a este povo (IV.8-9).

O arco típico Cita era de difícil montagem, sendo

necessário mais jeito que força, como se pode observar

em um vaso de ouro encontrado em um kurgan, que mos-

tra um Cita montando um arco com a ajuda de suas per-

nas.

Este arco Cita, ou "Arco Curto", inventado pelos Citas ucranianos, foi projeta-

do especialmente para ser usado encima do cavalo, ou em plena cavalgada. Um

Cita poderia, ao mesmo tempo, galopar seu cavalo e disparar uma dúzia de flechas

51

RICE, (p.24).

por minuto enquanto perseguia um inimigo fugitivo, o que seria impossível com um

arco convencional. O arco dos Citas tinha as extremidades curtas e uma ondulação

na parte central. Nós o conhecemos como o "Arco do Cupido" que o usa para dispa-

rar suas flechas do amor. Esta agilidade com que os Citas usavam seu arco rendeu-

lhes muitas vitórias, o que resultou em sua fama de “pastores guerreiros a cavalo”.

Mas o arco não teria seu valor sem uma outra arma de guerra valiosa: o cava-

lo. Os Citas foram um dos primeiros, senão os primeiros, a usarem o cavalo como

montaria. Não poderíamos pensar nos Citas sem o cavalo. O cavalo era algo essen-

cial na vida cotidiana deste povo. Justamente por serem povos nômades e que ne-

cessitavam constantemente locomover-se, o cavalo

se torna um membro da família. Muitos historiadores

dizem até que o cavalo era a casa de um homem Ci-

ta. Era quase que um animal sagrado, inclusive fa-

zendo parte dos rituais de sepultamento, onde o ani-

mal era enterrado juntamente com o seu dono.

“Se não foram os Citas os primeiros a domesticar o

cavalo, foram, depois dos Hititas, dos primeiros, quiçá o

primeiro povo da Ásia que o montou. Tanto na China co-

mo na Índia, e possívelmente também no Egipto, se havi-

am usado cavalos no II milênio a.C. como bestas de car-

ga, para transportar cargas pesadas ou puxar carroças

montadas sobre rodas maciças, talhadas de pedra ou

troncos de árvores; mas também se treinavam corcéis de

batalha para puxar carros ligeiros em combate e na caça.

Mas o êxito dos Citas na guerra provinha em larga medida

da vantagem de que gozavam os seus soldados monta-

dos sobre os peões inimigos, superioridade que os últi-

mos não tardaram a apreciar. Assim, mal se deu a pene-

tração Cita na Ásia, logo a técnica de equitação foi de um

momento para o outro dominada em toda a área do Médio

Oriente. Na verdade, foi tão rápida e universal a passa-

gem de infantaria a cavalaria que é bastante possível que

os cavaleiros que apareceram por essa altura na Europa

Central tivessem aprendido a montar com os seus vizi-

nhos orientais. E aqueles, por sua vez, transmitiram os

conhecimentos aos que viriam mais para oeste. Os Citas

serviam-se dos cavalos apenas para montar, quer na

guerra quer na caça, vendo neles um meio rápido de

transporte, continuando a utilizar bois para fins domésti-

cos e trabalhos pesados.” 52

Esta união se passa também na guerra. O cavalo faz parte indispensável dos

exércitos deste povo. A cavalaria era invencível. O terror que veremos adiante que

eles provocaram em todo o mundo civilizado da época se deve à agilidade com que

interagiam com o animal. Ainda hoje, na região do norte do Cáucaso, a cavalaria de

guerra é respeitada por sua destreza53.

Um notável e excepcional avanço se deu com a domesticação dos cavalos.

Segundo se crê, os primeiros povos a dominar os cavalos e os utilizarem em vários

ramos da vida cotidiana foram os cimérios/Citas. Descobertas na Ucrânia atestam

que foi nesta região, em tempos muito remotos, que o homem se utilizou deste im-

portante animal para suas tarefas. Segundo Andrew Gregorovich:

“O primeiro cavaleiro montou em um cavalo na U-

crânia há aproximadamente 6.000 anos atrás. James e

Thorpe explicam-nos desta maneira: "... a evidência mais

remota da domesticação do cavalo data de 4000 a.C. --

dentes de cavalo da Idade do Cobre encontrados em De-

reivka, sudeste da Ucrânia , examinados ao microscópio

mostram desgaste causado por alguma coisa colocada em

suas bocas. Estes provavelmente eram feitos de corda, já

52

RICE, p.70. 53

Nos referimos aqui especialmente aos cossacos, povo conhecido na História como cavaleiros temi-dos que dominaram e que ainda dominam a região sul da Rússia.

que os bits (freios de cavalo) conhecidos mais recentemente

datam de aproximadamente 1500 a.C.” (p.51).”54

A rápida adaptação para o mundo da guerra foi certamente uma questão de

sobrevivência. Os Citas eram conhecidos como ágeis cavaleiros. Tal agilidade os

colocava em vantagem contra seus adversários. Este fator foi decisivo, por exemplo,

na guerra que tiveram com os cimérios, que não possuíam unidades de cavalaria,

mas apenas soldados que lutavam a pé. O vigor com que batalhavam impressionou

a mente dos gregos, e alguns vêm na lenda do Minotauro, suas origem nestes guer-

reiros que se confundiam com o animal.

O deslocamento e o poderio de uma ação militar se multiplicavam em muito

quando as hordas eram compostas por esta cavalaria quase indestrutível.

Um comentário valioso e que pode nos dar a noção exata da força destes ca-

valeiros das estepes é visto em LA CONQUISTA DEL FIN DEL MUNDO por Joaquín

Acosta:

“Foi este modelo bélico que permitiu a Átila, Gêngis

Kan e Tamerlán suas formidáveis conquistas na Idade

Média. De nada serve possuir a melhor armadura ou a

mais numerosa tropa, ao enfrentar-se um inimigo que é

capaz de dizimar o adversário à distância, enquanto retro-

cede. Foi desta maneira como os ginetes partos derrota-

ram as legiões de Craso, ou como os persas derrotaram

as legiões comandadas por Gordiano, Filipe o Árabe, Va-

leriano e Juliano o Apóstata. A história da Ásia verifica a

superioridade bélica dos povos das estepes sobre os e-

xércitos civilizados, até o advento da arma de fogo. Até

que os ocidentais colocassem o canhão contra o arqueiro

a cavalo, foi este quem impôs sua lei no campo de bata-

54

Para uma maior lista de invenções, ver: GREGOROVITCH, Andrew. Invenções Antigas

da Ucrânia. http://www.ucrania1.hpg.ig.com.br/invento.htm

lha asiático. A única forma de evitar que o nômade aniqui-

lasse ao sedentário foi mediante a construção de cidades

fortificadas. (Daí que na China se construiu, posteriormen-

te a Grande Muralha)”. 55

Esta fama da cavalaria Cita que corre o mundo vem

adicionada de um elemento ainda mais intrigante:

Não apenas os homens tinham esta capacidade de

montaria e agilidade. As mulheres Citas (ou sarmatas)

compartilhavam da mesma destreza. A lenda das amazo-

nas segundo nos é relatada por Heródoto está relacionada

com o fato de que muitas vezes os gregos viram mulheres guerreiras montadas em

cavalos nos campos de batalha. No quadro acima vemos um vaso no qual é retrata-

do um soldado (grego?) caindo ferido diante de uma mulher que empunha um arco

Cita.

Conta-se que uma mulher só estaria apta para o casamento quando matasse

um inimigo em combate. Por isto não é de se estranhar que a lenda das amazonas

tenha se espalhado assim como a notícia das mulheres guerreiras Citas.

Enfim, toda a nova invenção bélica era rapidamente compartilhada pelas es-

tepes de toda a Eurásia. O domínio da técnica de trabalhar com o ferro, antes mes-

mo de qualquer outro povo, deu aos Citas a vantagem de fabricação de armas muito

aterrorizantes, e conseqüentemente, maior força nos combates. Eles eram “bárba-

ros” magníficos na arte da guerra.

Os Citas demonstravam pouco, ou nenhum, interesse na obtenção de terras e

cidades. Os despojos que um determinado reino poderiam oferecer eram sua princi-

pal motivação numa guerra. Eles, praticamente, não dominavam territorialmente,

mas por pagamentos de taxas dos vencidos e domínio através do sistema de reinos

vassalos. Desta forma, muitas vezes lutavam como “mercenários” em outros exérci-

tos. Existem relatos de que assírios, babilônios, persas, romanos e até mesmo egíp-

cios se valeram de tão valorosos guerreiros.

Por esta razão tinham poucas cidades sob seus domínios. A tática era a de

deixarem os povos “livres” para poderem se re-agrupar e se fortalecerem, e posteri-

ormente serem alvos de novos ataques. Entretanto devemos considerar que os “li-

vres” eram aqueles que não eram feitos escravos e vendidos aos gregos, que eram

seus principais parceiros comerciais neste negócio.

Assimilação

Uma característica deste povo era a facilidade com que assimilavam outros

povos e suas culturas, ao mesmo tempo em que deixavam marcas profundas em

outras nações.

As guerras e conquistas militares deles sempre proporcionavam interação

com culturas próximas e distantes. A própria lenda contada por Heródoto sobre as

origens deste povo contém elementos de mitologia grega56. O panteão, também a-

presentado com os relativos equivalentes deuses gregos, mostra o quanto os gregos

influenciavam estas tribos.

Os gregos exerciam uma forte influência na vida da época. O comércio Cita

se dava particularmente com cidades gregas ao longo do Mar Negro. Vemos muitos

elementos da vida cotidiana serem encontrados em kurgans57 com característica

específica grega.

Esta influência não aparece apenas no oeste da Cítia. Nas regiões orientais

vemos elementos persas de igual forma penetrarem na cultura Cita, como a grega

no ocidente. De igual forma os chineses no Oriente lançam uma contribuição cultural

sobre os povos situados na região Altayca.

Porém devemos registrar que os Citas também ditavam muito da arte do

mundo antigo. Os gregos eram amantes das peças e utensílios feitos de ouro pelos

“bárbaros das estepes”. Hoje os Citas são reconhecidos como exímios ourives, sen-

55

ACOSTA, Joaquín. La Conquista del Fin del Mundo. http://www.historialago.com/leg_alejandromagno.htm 56

Entretanto, Heródoto nos diz que os Citas eram avessos às influências que distorcessem seus cos-tumes (IV. 76-77), principalmente vindo dos helenos. Ele narra dois casos específicos para ilustrar este ponto de vista. Porém em outros casos ele demonstra que eles tinham pontos em comum com a religião dos gregos (IV. 59), por exemplo. 57

Kurgan: sepultura, outeiro

do cada vez mais conhecida a arte e a refinada técnica com as escavações dos kur-

gans reais, tanto na Ucrânia e sul da Rússia, como nas sepulturas reais na região do

Altay. Esta arte viria a influenciar toda a Europa nos séculos seguintes, sentindo

sua força até os dias atuais.

Geografia

A geografia sempre é um elemento importante no estudo a respeito de um

povo. Sua habitação, seus domínios, seus limites podem nos revelar muito de sua

existência.

Figura 12 - Cítia

Edwards destaca em seu artigo sobre a Cítia ocidental:

"Migrando da Ásia no sétimo século antes de

Cristo, os Citas por cerca de 400 anos foram os do-

nos de uma grande extensão das estepes européias.

No seu auge, o seu reino ia do Danúbio oriental atra-

vessando a Ucrânia, Criméia e Rússia, chegando ao

rio Don e às montanhas do Cáucaso." 58

58

EDWARDS, p. 56.

Domínio dos

Citas

Mas a antiga Cítia abrangia um território muito maior. Seu enorme território

não ficava restrito as margens do Mar Negro. No oeste, suas fronteiras atingem o

Rio Danúbio, que neste tempo era conhecido como Istr. Em sua expansão máxima

os Citas penetraram a Europa até a Hungria e a Prússia Oriental. Uma sepultura de

um Cita e de sua possível família foi encontrada em Hallstatt, na Áustria, em 1995.

Cerâmicas Citas também foram achadas em outra parte da Áustria.

No outro lado, ao Oriente, o território se estendia até as regiões da atual

Mongólia.

Ao sul sua extensão chega às localidades do mar Negro e Mar Cáspio. Em

determinados tempos, a extensão mais meridional do domínio Cita vai até às regiões

da atual Índia, onde exerceram enorme influência entre o século I a.C.e século I DC.

Ao norte, temos dificuldades de defini-las, pois as tribos que lá habitavam es-

tavam sempre debaixo do domínio dos Citas. Este território, entretanto, nem sempre

era fixo. Com as guerras com os vizinhos, seus limites não constituem uma unidade,

mas sempre apresentam variações.

O que nos interessa é demonstrar aqui a influência desta posição em relação

aos planos estratégicos divinos.

Ao observarmos em um mapa, podemos reparar que o acesso às regiões do

Crescente Fértil Asiático era muito fácil. Estrategicamente posicionado, a região da

Cítia fazia a ponte entre o mundo das grandes civilizações da humanidade e as ex-

tensas áreas semi-ocupadas da Europa e estepes euro-asiáticas. Durante séculos,

esta posição foi cobiçada pelos impérios antigos. Dominar o principal acidente geo-

gráfico da localidade, o Cáucaso, era uma questão de sobrevivência.

Este local de passagem estratégico, o Portal ou Passo de Dariel, foi logo con-

trolado pelos Citas. A incrível velocidade com que os exércitos passavam por este

acidente geográfico era realmente impressionante. Os Citas podiam rapidamente

organizar os exércitos e lançarem-nos através desta passagem, sem que o inimigo

desce conta de onde viam as hordas. Este ponto foi fundamental para as invasões

Citas do Oriente Médio59.

59

Este local é mencionado pelos anais georgianos com o nome de Darialani; os persas e os árabes o conheciam como Portal dos Alans (uma tribo descendente dos citas na época neo-testamentária); o geógrafo grego a chamava Porta Caucásica; Ptolomeu a conhecia como Fortes Sarmatica (fortaleza dos Sarmatas, tribo relacionada aos citas também). Por ser o único local viável para se passar o Cáu-

Além disto, ao olharmos o mapa, veremos que a proximidade geográfica com

as regiões em questão dava uma ótima vantagem aos Citas, pois podiam recuar e

se re-alocarem em seu território protegido atrás do Cáucaso. Realmente, nenhum

exército se atreveu a enfrenta-los nesta região de passagem. Todos que tentaram

conquistar a Cítia, o fizeram por outras regiões, em campo aberto.

As estepes proporcionaram uma excelente oportunidade de união e interação

dos povos que as ocupavam. Sempre precisamos lembrar que os Citas não neces-

sariamente constituíam uma unidade étnica. Na realidade, parecem ser povos com

algumas características diferenciadas, mas que tinham muitos traços em comum e

até mesmo laços de parentesco muito fortes, como podemos perceber pelos relatos

bíblicos, onde Magogue, Tubal, Meseque, etc, aparecem relacionados juntos prati-

camente sempre.

Eram povos que não tinham barreiras naturais que os separavam. Costumes,

cosmovisões, estilo de vida, língua, entre outros, acabam se tornando comuns, pois

todos vivem vizinhos uns aos outros. Isto é evidente por toda a extensão das este-

pes.

Lutas e conquistas inter-raciais integraram os povos da região. Um povo mais

fraco assimilava a cultura do conquistador. Isto, com o passar dos séculos, acaba

unificando o continente.

Inovações tecnológicas eram rapidamente copiadas e assimiladas. Isto se

manifesta mais evidentemente nos artefatos bélicos. As táticas eram compartilhadas

por todos. Como exemplo, destacamos que estes povos ao norte do Cáucaso eram

ótimos cavaleiros e excelentes arqueiros.

O Clima e a natureza também historicamente são fatores que influenciam

num povo. Entre o segundo e o primeiro milênio antes de Cristo, o clima no planeta

começou a mudar. Neste tempo, o clima começou a ficar mais quente e havia uma

menor precipitação de chuvas nas regiões ao norte do Mar Negro.

Como resultado desta colossal mudança, nas regiões surgiram então as este-

pes. A exuberante vegetação das florestas da faixa central da Eurásia perdeu a ne-

caso, tem sido fortificada desde tempos remotos. Atualmente nesta passagem existe um forte russo que controla toda a região.

cessária quantidade de umidade e gradualmente desapareceu. Em seu lugar surgiu

uma estepe seca com sua peculiar vida de flora e fauna.

Figura 13 - o Passo de Dariel fica na atual República da Ossétia do norte, Rússia, a cerca de 35

quilômetros ao sul de Vladikavkav. Deste ponto partiu parte das tropas que invadiram todo o

Crescente Fértil.

Até o séc. VIII a. C., no coração da Eurásia formou-se uma completa faixa de

estepe, com sua vegetação rala e praticamente sem árvores de copas grandes. No

sul desta extensa região surgiram semidesertos e desertos. Este fenômeno provo-

cou o deslocamento de grandes massas humanas. Por se tratar de uma vasta ex-

tensão, que abrange as áreas dos montes Cárpados na Europa até o Oceano Pacífi-

co, um sem número de tribos são afetadas.

A mudança climática se dá exatamente no período histórico das grandes le-

vas de tribos que se deslocaram em direção ao continente europeu. Esta mobiliza-

ção é sentida principalmente na parte sul da atual Rússia e na Ucrânia. A atividade

pastoril destas tribos foi fortemente afetada pelo fenômeno climático. Em busca de

novas pastagens para seus rebanhos, estes povos entram em choque e em contato

com outros povos vizinhos.

Possivelmente, este deslocamento foi que provocou o avanço dos massage-

tas (uma tribo Cita, conhecida também como os Godos Orientais) em direção ao o-

este do Don, o que força os Citas em fuga a entrar em guerra com os cimérios (outra

tribo Cita), o que acarretará na fuga ciméria, na perseguição dos Citas e na entrada

no Oriente Médio.

Política

Segundo RICE:

“... os Citas constituíram, no seu tempo, uma força

política vital, e, embora a sua história ocupe hoje apenas

algumas linhas em certos livros de consulta mais comple-

tos, mantêm-se para nós magnificamente vivos como ori-

gem de algumas das nossas lendas favoritas”.60

Os Citas eram povos amantes da guerra. Tudo que sabemos até hoje sobre

estas tribos do norte, é que eram exímios guerreiros, e bravos nos combates. Mes-

mo suas mulheres eram famosas por esta característica.

Como a História humana é feita de guerras e conflitos, os Citas sempre tive-

ram lugar nela. E este estilo de vida foi muito bem aproveitado por eles.

Apesar de serem considerados “bárbaros” e “selvagens” pelos povos vizinhos

como os gregos, os Citas tinham uma cultura muito forte e grandes habilidades artís-

ticas. Eram dedicados às questões políticas, no que diz respeito à suas atuações no

campo internacional do poder.

O poderio e a fama sempre proporcionavam aos Citas um lugar nos conse-

lhos de guerra. Um conflito em suas áreas de influência não poderia se iniciar sem

60

RICE, p. 21.

que eles fossem consultados. Por que? Pelo simples fato de que uma aliança pró ou

contra os Citas poderia, e geralmente acontecia, acarretar numa derrota no campo

de batalha. Veremos mais adiante como os impérios faziam esforços para tê-los co-

mo aliados.

Em muitas de suas guerras, os Citas faziam alianças com o objetivo de tira-

rem proveito da situação, geralmente despojos dos povos perdedores. De um certo

ponto de vista, podemos dizer que em muitas guerras eles eram guerreiros merce-

nários, lutando ao lado de um rei por questões econômicas. A lealdade era muitas

vezes circunstancial.

Mas, suas alianças eram extremamente pensadas e arquitetadas. Tiravam

proveito, mas mediam sempre as conseqüências de suas batalhas. Isto pode ser

visto na tomada de Nínive. Um belo exemplo foi a batalha pela cidade de Nínive.

Antes eles se apresentavam como aliados dos assírios, mas ao notarem a situação,

a complexidade política e as vantagens proporcionadas pelos adversários, se unem

aos agressores para marcharem contra os assírios.

Neste ponto vemos que os Citas não eram ideologicamente amarrados. Eles

buscavam o que era melhor para a sobrevivência. Podiam mudar rapidamente de

posição ao se sentirem ameaçados. Esta mobilidade política fez com que tivessem

maior poder de barganha nas negociações, pois precisavam ser convencidos de que

entrariam na guerra do lado certo.

Conclusão

Deus é o criador de tudo o que existe. Sua atuação na História humana é um

ato de soberania sobre a criação.

Num momento tão importante como nos séculos VIII à IV a.C., tempos de

grandes impérios e de deportações e cativeiros, em meio ao pecado de Seu povo,

Deus regeu os acontecimentos. Impérios levantaram-se e caíram, povos se tornaram

fortes e depois fraquejaram, reis se ostentaram e caíram em desgraça.

Por volta de uns 300 anos antes de toda a atividade do século VIII a.C., se i-

nicia uma movimentação no Extremo Oriente que irá trazer povos importantes para o

cenário do Oriente Médio. Estes povos são “convocados” por meio de problemas

climáticos e de distúrbios bélicos na fronteira com a distante China. Grandes massas

humanas atravessam milhares de quilômetros para chegarem no tempo certo e no

local certo para cumprirem sua tarefa na História.

Estes nômades se posicionaram estrategicamente numa região fronteiriça en-

tre a Europa e o Oriente Médio. Por toda a extensão dos seus domínios tangem os

grandes impérios da época. São respeitados e temidos por todos os reis e imperado-

res. Vieram para ficar pelo tempo que lhes fora determinado. Ao cumprirem seu pa-

pel, seriam convocados a se retirarem. E assim foi!

Os Citas aparecem repentinamente nas fronteiras norte dos impérios de Urar-

tu, Pérsia e Assíria. Pelos próximos séculos que ali ficariam, tornar-se-iam uma es-

pécie de "chicote de Deus". Ora atacando um império, ora atacando outro. Em al-

guns momentos dominando vastas regiões do Crescente Fértil, noutros momentos,

se retirando para suas terras além do Cáucaso.

Eles auxiliam os assírios derrubando os persas enquanto o povo de Israel es-

tava oprimido. Os citas, contudo, se voltam contra os assírios, quando Deus havia

decretado o fim deste império (por meio dos profetas), ajudando na tomada de cida-

des importantes. Auxiliam Babilônia nos momentos de sua ascensão, mas também

ajudam a desestabilizá-la posteriormente.

Enfim, tantos acontecimentos poderiam ser apenas coincidências? Ou pode-

ríamos cogitar aqui a mão soberana de um Deus que zela por sua soberania sobre o

que chamamos de História?.

Tratar de um assunto tão distante de nós na dimensão temporal é realmente

um desafio muito grande.

Reconhecemos que muito do explanado aqui se embasou em suposições,

como por exemplo, a passagem Cita por Israel, e a queda de Babilônia com auxílio

Cita. Mas também podemos perceber que estas hipóteses são amplamente aceitas

dentro da comunidade que estuda estes casos. Muitas destas teorias estão se fir-

mando com recentes descobertas. Além disto, usufruímos dos relatos da época, co-

mo Heródoto e Jeremias.

Em relação aos objetivos propostos inicialmente, os resultados que obtivemos

claramente são:

1. A identificação deste povo e de seu estilo de vida e cultura;

2. A possibilidade de notar que a raça Cita tomou destaque e predominância

numa vasta região (Eurásia). E esta predominância territorial e militar, polí-

tica, é projetada para dentro da História. O fato de serem contemporâneos

a um momento importante da história judaica nos faz levar em conta estas

relações.

3. Conseguimos identificar estes povos vindos do norte, conforme menciona-

dos especialmente por Jeremias e Ezequiel, como as levas de guerreiros

Citas advindas da região caucásica.

4. Identificamos também uma relação entre os Exílios de Israel e Judá, e a

forma como o povo Cita se encaixou neste contexto.

Assim, esta investigação proporcionou uma maior compreensão da atuação

de Deus em relação ao seu agir referente a questões internacionais dentro de um

contexto político e militar. Colaborou este trabalho de igual forma para um enrique-

cimento dos acontecimentos desta época conturbada.

Podemos concluir que os Citas desempenharam um papel importante dentro

das relações econômicas, sociais, culturais, artísticas e principalmente bélicas do

mundo antigo, atuando ativamente num período conturbado referente também à his-

tória bíblica.

Esta forte atuação no mundo de então chamaram a atenção de historiadores

como Heródoto, Strabo, Plínio e Josefo. Por última análise, podemos dizer que

mesmo dentro dos relatos Bíblicos, este povo mereceu seu lugar de destaque. Pro-

fecias como as de Ezequiel e Jeremias se voltam para o norte, relatando sobre e-

ventos futuros, ou seja, o movimento das nações para cumprir os propósitos divinos.

Esta percepção dos autores veterotestamentários é tão forte, que entrou no imaginá-

rio coletivo do povo judeu nos séculos posteriores, e já na época do Novo Testamen-

to encontra seu eco nos escritos do Apocalípse de João, capitulo 20.

Recomendações

Certamente um estudo mais aprimorado mostrará maiores detalhes a serem

descobertos sobre a relação entre os fatos “Bíblicos” e “Arqueológicos”. Tais estudos

poderão abordar a influência dos povos jafitas, na mesma linha deste trabalho. Outra

possibilidade será a de desenvolver estudos a fim de obter maiores compreensões

sobre o destino das dez tribos de Israel.

Devemos mencionar ainda a possibilidade de se desenvolver um estudo dia-

crônico da influência dos povos da região ao norte do Cáucaso (atual Rússia) ao

longo da História do povo Judeu

Enfim, muitos temas poderão ser alvos de estudo e investigação para uma

maior compreensão deste período histórico tão rico e importante.

Bibliografia

ACOSTA, Joaquín. La Conquista del Fin del Mundo.

http://www.historialago.com/leg_alejandromagno.htm Acesso em 10 de setembro de

2004.

AHARONI, Y. ; AVI-YONAH, M. Atlas Bíblico. Rio de Janeiro: Casa

Publicadora das Assembléias de Deus, 1999.

Ancient Near East Electronic Compendium. Ancient Scythians.

http://ancientneareast.tripod.com/Scythians.html. Acesso em 05 de fevereiro de

2005.

APTER, Charlie. Chariots and chariotry. http://www2.truman.edu/

~capter/jins343/char.htm. Acesso em 09 de setembro de 2004.

Assembly of Yahweh. The Real Diaspora.

http://assemblyoftrueisrael.com/TruthPage/TheRealDiaspora.html. Acesso em 10 de

setembro de 2004.

BEACON, H. Beacon Bible Commentary: Genesis through Deute-

ronomy. Kansas City, USA: Beacon Hill Press, 1964.

BENNET, Chris. The Scythians: High Plains Drifters.

http://cannabisculture.com/magazine/jul95/scythians.html. Acesso em 10 de fevereiro

de 2005.

Bíblia Vida Nova. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1991.

CALVIN, John. Commentary on Habakkuk, Zephaniah, Haggai, in:

Haggai 1:1. http://www.ccel.org/c/calvin/comment3/comm_vol29/htm/v.ii.htm. Aces-

so em 09 de setembro de 2004.

CAVALLI-SFORZA, Luigi Luca. Genes, Peoples, and Languages, tr.

Mark Seielstad, Penguin NY 2000.

CHAMBERLIN, Chris. Celtic Origins. http://ms.dixienet.org/ featu-

res/history/celtic_origins.htm. Acesso em 23 de dezembro de 2003.

COOPER, Bill. The Early History Of Man: Part 1. The Table Of Nati-

ons. http://www.biblebelievers.org.au/nation01.htm. Acesso em 09 de setembro de

2004.

DODYKHUDOEVA, Leila R. The socio-linguistic situation and state

of research of the Ossetic language. http://www.aber.ac.uk/~merwww/ general/

papers/mercSym_03-04-08/dodykh.doc. Acesso em 10 de setembro de 2004.

DOUGLAS, J. D. O Novo Dicionário da Bíblia. São Paulo: Editora Vi-

da Nova,1995.

EDWARDS, Mike. Searching for the Scythians. National Geographic,

EUA, v. 190, n. 3, p. 54-79, set. 1996.

EFIRD, James M. Jeremiah: Prophet Jeremiah: Prophet under Sie-

ge. Valley Forge, PA (EUA): Judson Press, 1979.

EMETS, Dmitri A. Zastupniki Zemly Russkoy. http://www.literatura1.

narod.ru/texts/GOSPODISPASIISOHRANIROSSIU.htm. Acesso em 18 de outubro

de 2003.

Encyclopædia Britannica Online. Cyaxares. http://www.britannica.com/

eb/article?tocId=9028364. Acesso em 05 de fevereiro de 2005.

Encyclopedya.com. Scythia. http://www.encyclopedia.com/html/s/ scy-

thia.asp . Acesso em 07 de setembro de 2004.

FARACO, Sérgio. Urartu. Porto Alegre: Ed. Da UFRGS; Instituto Es-

tadual do Livro, 1978.

GAWLER, Colonel J.C. Our Scythian Ancestors Identified With Isra-

el. http://www.ensignmessage.com/archives/scythian.html. Acesso em 13 de setem-

bro de 2004.

God Rules. Jeremiah 51. http://www.godrules.net/library/ trea-

sury/treasuryjer51.htm. Acesso em 08 de setembro de 2004.

GREGOROVITCH, Andrew. Invenções Antigas da Ucrânia.

http://www.ucrania1.hpg.ig.com.br/invento.htm . Acesso em 21 de abril de 2003.

HALLEY, H. H. Novo Dicionário da Bíblia. São Paulo: Sociedade Re-

ligiosa Edições Vida Nova, 1983.

HAMORI, Fred. The Royal Scythians of Messopotamia (baseado no

trabalho de Gyula Mészáros). http://www2.4dcomm.com/millenia/scytha.html. A-

cesso em 23 de agosto de 2003.

HERÓDOTO. História. Rio de Janeiro: Ediouro, s/d.

HOFF, Paul. Os Livros Históricos. São Paulo: Editora Vida, 2003.

HUDSON, Albert O. BEAUTIES OF THE TRUTH. A Forum for the

Publication of Scriptural Viewpoints Thought to be Harmonious with God's

Plan of the Age. Volume 12, Número 4, Novembro 2001.

Information Blast. Scythia, http://www.informationblast.com/ Scythi-

ans.html. Acesso em 13 de setembro de 2004.

KIDNER, Derek. Esdras e Neemias, introdução e Comentários. São

Paulo: Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1985.

KIDNER, Derek. Gênesis. São Paulo: Sociedade Religiosa Edições

Vida Nova, 1985.

LAMARE, Tite de. Caminhos da Eterna Rússia. Rio de Janeiro: Ex-

pressão e Cultura, 1997.

LARUE, Gerald A. Old Testament Life and Literature: Chapter 19 —

From Manasseh to the Deuteronomic Reform. http://www.infidels.org/ li-

brary/modern/gerald_larue/otll/chap19.html. Acesso em 04 de fevereiro de 2005.

LENDERING, Jona. Cyrus takes Babylon. http://www.livius.org/ct-

cz/cyrus_I/babylon01.html . Acesso em 12 de agosto de 2003.

LENDERING, Jona. Scythians/Sacae. http://www.livius.org/sao-

sd/scythians/scythians.html. Acesso em 07 de setembro de 2004.

MARX, Irma. The Scythians. http://www.silk-road.com/artl/ scythi-

an.shtml. Acesso em 10 de setembro de 2004.

MERRIL, Eugene H. História de Israel no Antigo Testamento. Rio

de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 2001.

MESZAROS, Gyula. Scythian Vocabulary and Names. http://www2.

4dcomm.com/millenia/scythwrd.html. Acesso em 23 de agosto de 2003.

MONLOUBOU, L.; BUIT, F. M. du. Dicionário Bíblico Universal. In:

Gogue. Editora Santuário: Aparecida/SP.1997.

NIN”ALU, Im. The Peoples of the North. http://www.imninalu.net/

2history03.htm. Acesso em 03 fevereiro de 2005.

ORELLI, C. von, JEREMIAH 2, in: The International Standard Bible

Encyclopedia. http://www.searchgodsword.org/enc/isb/view.cgi?number=T4967.

Acesso em 09 de setembro de 2004.

PAMPLIN, Richard. Jeremias, seu ministério, sua mensagem. São

Paulo: JUERP, 1987.

PAYNE, J. Barton. Encyclopedia of Biblical Prophecy. Grand Rea-

pids., MI (EUA): Baker Books, 1997.

Philologos Bible Prophecy Research. Gog: Gorbachev--Spokesman

for New World Order, in: Christian newsletter "Prophecy In The News", November,

1989. http://philologos.org/bpr/files/g001.htm. Acesso em 10 de setembro de 2004.

PRADIIPAKA, Gabriel; MUNI, Andrés. Origin. http://www.sanskrit-

sanscrito.com.ar/english/linguistics/origin4.html. Acesso em 07 de setembro de 2004.

PRITCHARD, James (ed.) The Ancient Near East – Volume II. Prin-

ceton University Press: New Jersey (EUA), 1975.

RIDDERBOS, R. Isaías. São Paulo: Sociedade Religiosa Edições Vida

Nova, 1985.

RICE, Tâmara T. Os Citas. Lisboa: Editorial Verbo, 1974.

RJABCHIKOV, Sergei V. ON THE SEMANTICS OF SOME SARMATI-

AN AND SCYTHIAN ARTIFACTS. http://public.kubsu.ru/~usr02898/sl24.htm. Aces-

so em 21 de abril de 2003.

SCARUFFI, Piero. A time-line of the Ancient Middle-East.

http://www.scaruffi.com/politics/neareast.html. Acesso em 07 de setembro de 2004.

SERDYUK, Vasiliy. A Resemblance In Sounding And Semantics Of

A Number Of Linguistic Units In The Japanese And Indo-European Languages.

http://www.icfcst.kiev.ua/forform/Table1.doc. Acesso em 14 de setembro de 2004.

School of Russian and Asian Studies. Scythians. http://www.sras.org/

popup.phtml?m=69, Acesso em 09 de setembro de 2004.

SCHULTZ, Samuel. História de Israel. São Paulo: Sociedade Religio-

sa Edições Vida Nova, 1990.

SILVA, Airton José da. Boletim da história. http://www.airtonjo.com/

boletimdehistoria06a.htm. Acesso em 10 de fevereiro de 2005.

SKINNER, John. Jeremias, Profeta e Religião. São Paulo: Associa-

ção de Seminários Teológicos Evangélicos, 1966.

SOUZA ,Jadai Silva de. Antigo Testamento IV. http://jadai.sites. u-

ol.com.br/teologiaeclesiologiaat4.htm. Acesso em 10 de setembro de 2004.

SOUZA ,Jadai Silva de. Antigo Testamento V. http://sites.uol.com.br/

jadai/teologiaeclesiologiaat5.htm. Acesso em 10 de setembro de 2004.

STEDMAN, Ray. Jeramiah, in: Adventuring Through the Bible .

http://www.gcfweb.org/institute/prophet/jeremiah.html. Acesso em 09 de setembro de

2004.

TERRA, João Evangelista Martins. O Deus dos Indo-Europeus: Zeus

e a proto-religião dos indo-europeus. São Paulo: Edições Loyola, 2001.

University of Calgary. Kurgan Culture. http://www.iras.ucalgary.ca/

~volk/ sylvia/Kurgans.htm. Acesso em 10 de setembro de 2004.

ZAKIEV, Mirfatykh Z. ETHNIC ROOTS of the TATAR PEOPLE, in:

TATARS: PROBLEMS of the HISTORY and LANGUAGE.

http://tatar.yuldash.com/eng_173.html. Acesso em 10 de julho de 2004.