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Arquitetura nova e tradição local

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Arquitetura nova e tradição local

O início

Por volta de 1944 – 1945 não ocorreu qualquer ruptura na evolução da arquitetura brasileira;

As figuras destaques permaneceram as mesmas, os jovens arquitetos dos anos anteriores;

Influenciando consequentemente recém egressos cujo talento com o tempo se impôs.

Neste período ainda, a separação adotada ressalta apenas diferença de ritmo;

Havendo assim um desenvolvimento e não ruptura, podendo identificar continuidade no processo.

Tornou-se assim arquitetura global que tornou possível falar de um indiscutível estilo brasileiro;

Mas não pode atribuir a ele caráter monolítico, nem perfeitamente definido.

Pelo contrário, ocorreu uma diversificação na medida em que se formavam novos arquitetos com mesmo principio comum, porém, ambições diferentes.

A conciliação entre os princípios da arquitetura moderna e a tradição local, representadas pela arquitetura implantada pelos colonizadores portugueses nos séculos XVI e XVII.

Aspecto esse que marcou profundamente a nova arquitetura brasileira, realçando sua originalidade.

Dentre as várias correntes da arquitetura contemporânea do Brasil, há uma que é específica do país dificilmente podendo ter surgido em outro local; São elas:

O homem que indiscutivelmente liderou, de forma consciente ou não, essa síntese, continua revelando-se o grande teórico do movimento moderno no Brasil.

Seria difícil compreender o integralmente o fenômeno sem proceder-se ao exame do pensamento daquele que, desde o inicio, impôs-se como uma personalidade de primeiro plano, estamos falando evidentemente de Lúcio Costa.

A OBRA DE LÚCIO COSTA A atividade do arquiteto consiste em elaborar

projetos e construir edifícios; a grande maioria dos que a ela se dedicam, não extravasam esses limites.

Suas obras situam-se dentre as mais significativas da arquitetura brasileira.

De fato, o significativo prestígio de Lúcio Costa dentre seus colegas explica-se por uma série de razões relacionadas às atitudes corajosas e decididas que assumiu em certas ocasiões, especialmente quando nomeado diretor da Escola de Belas Artes em 1930.

É fácil compreender a atração que seus escritos exercem sobre outros arquitetos;

Estes eram, acima de tudo, homens de prática, pouco efeitos a meditações profundas;

A cultura de Lúcio Costa que o permitia abordar em conjunto os problemas do passado e do futuro.

Lúcio Costa não abandonou o exercício de arquiteto, embora tenha declarado que a arquitetura para ele foi apenas um “passa tempo”, brincadeira que não deve ser levada muito a sério.

Depois do seu ingresso no Serviço encarregado da preservação dos monumentos históricos brasileiros (SPHAN.) em 1937-1938, projetou e construiu relativamente pouco.

Usufruiu assim, da estima e respeito de seus colegas que não vacilaram em reconhece-lo como líder intelectual da nova arquitetura brasileira.

Lúcio Costa não inovou fundamentalmente, não criou uma ova profissão de fé; aceitou a que havia sido proposta pelos pioneiros do racionalismo.

Portanto, sua contribuição teórica situou-se em dois planos distintos:

De um lado o pensamento europeu e do sistema que originou e, do outro, a reflexão pessoal.

A contribuição teórica de Lucio Costa deu-se quase que exclusivamente no plano da estética;

Não significa ser essa a única ocupação do arquiteto.

Ressaltou ele várias vezes, que na arquitetura existem três problemas fundamentais, intimamente relacionados:

O TÉCNICO, O SOCIAL E O PLÁSTICO.

Para Lúcio Costa, o estilo neocolonial não fora questão de moda, mas sim um esforço consciente de regeneração de uma arquitetura decadente;

Apoiava a legitimidade da intenção plástica da arquitetura.

É, portanto, perfeitamente natural que Lúcio Costa tenha se preocupado particularmente com os problemas de ordem estética.

O arquiteto tenta elaborar uma verdadeira teoria sobre a evolução das artes;

Desenvolvida com espírito semelhante ao das brilhantes construções intelectuais de Wolfflin, Eugenio d’Ors e Henri Focillon.

É claro que não queria rivalizar com eles e sua análise, permanecendo menos profunda do que a de seus predecessores.

Inicialmente, Lucio Costa aborda a concepção arquitetônica, distinguindo dois conceitos que a presidem:

O conceito orgânico-funcional, onde parte do necessidade de ordem funcional e a obra como um organismo vivo.

O conceito de plástico-ideal, onde se toma como ponto de partida a intenção preconcebida de ordenar racionalmente as necessidades de natureza funcional, isto é, plasticamente puras.

Na arquitetura a técnica tem papel preponderante, é assim que a fusão dos dois conceitos, orgânico-funcional e plástico-ideal, “considerados nos passado, com razão, contraditórios” tornou-se possível com a invenção melhoria de novos métodos de construção: a estrutura independente, que assegura a independência da planta e da fachada;

Dá ao arquiteto a liberdade para ver a obra como um organismo vivo, visando sempre obter formas geométricas definidas ou livres, ideais, isto é, plasticamente puras.

A arquitetura moderna apresenta-se como um resultado, como superação das limitações anteriores e como um novo ponto de partida, que goza das de condições excepcionalmente favoráveis, em termos estéticos.

Por isso, os conceitos orgânico-funcional e plástico-ideal, para Lúcio Costa são a chave que explicita a arquitetura do passado.

Lúcio Costa não se deixou apanhar na armadilha de aplicar o sistema proposto com rigor excessivo.

Sua análise retrospectiva esta cheia de sutilezas e nuanças que corrigem o lado excessivamente restrito da tese fundamental: o juízo emitido sobre a França.

Parece que Lucio Costa evitou colocar tais questões e proceder a uma análise da arquitetura contemporânea numa escala mundial como fizera para a arquitetura do passado e não apenas em escala brasileira.

A arquitetura de Lúcio Costa

Lúcio desde o início se dedicou a tentar uma síntese entre a arquitetura contemporânea e a arquitetura colonial;

A sensibilidade do arquiteto sempre lhe permitiu encontrar a solução correta, permanecendo fiel a si mesmo sem jamais cair em excessos dogmáticos.

Casas e mansões

A liberdade do arquiteto era maior nesse gênero, do que num programa de finalidades coletiva;

Existia também uma clientela sensibilizada pelo movimento neocolonial, capaz de aceitar facilmente uma arquitetura discretamente moderna, que não rompesse totalmente com a tradição formal.

Foi realmente em 1942 – 1943 que o estilo de Lúcio Costa afirmou-se plenamente;

Nesta época, projetou em um curto espaço de tempo, três belas residências:

A casa de Argemiro Hungria Machado, no Rio de Janeiro.

As casas de campo do Barão de Saavedra e da Sra. Roberto Marinho em Petrópolis;

Lúcio Costa é admirado pela organização das plantas das casas;

Sua preocupação principal era a criação de continuidade entre exterior e interior;

Aliás, uma das conquistas mais características de nosso século;

Reforçando a intimidade das construções;

Suas casas foram concebidas em função do jardim, com paredes inteiramente envidraçadas.

Exceção é a casa de Paulo Candiota, onde os regulamentos municipais exigiam um grande recuo da parte construída em relação aos limites do terreno, obrigando a implantação no centro do terreno.

Em Petrópolis esse problema não existia, pois o terreno era amplo;

Assim as casas foram colocadas propositalmente no centro do terreno.

Os projetos em questão utilizavam materiais modernos como o concreto armado.

Planta baixa : Casa de Argemiro Hungria Machado

Sua arquitetura é simples, em linhas retas, que não procura o virtuosismo, mas utiliza discretamente suas possibilidades numa distribuição muito segura e racional.

Decididamente modernas em sua concepção geral, as casas de Lúcio Costa também estavam estreitamente ligadas à tradição luso-brasileira.

Lúcio Costa não foi guiada unicamente por razões materiais, mas também por ordem estética.

Hotel do Parque em Nova Friburgo

Propriedade da familia Guinle; Contruida em 1945 no Parque Sao Clemente; Projetado por Lucio Costa; Voltado para alta sociedade passar férias; Materiais do projeto todos de fabricação natural,

estrutura de madeira, com colunas, vigas e pisos constituídos por troncos pouco debastados, uso de telhas cerâmicas;

Planta livre, andar térreo sobre pilotis, parte dele fechado com estrutura envidraçada;

Andar superior em balanço;

Varanda dando para um terraco coberto;

Local de contemplacao a paisagem;

Comparado ao projeto de Niemeyer, o Grande Hotel em Ouro Preto com caracteristicas arquitetonicas semelhantes;

Obra com caráter rústico simples e econômico;

Obra perfeitamente hábil, um perfeito exemplo das teorias de Lucio Costa.

Parque Eduardo Guinle

1 – Hotel do Parque São Clemente – Convite da familia Guinle.

Depois – Lucio Costa recebe convite para nova obra - um conjunto de 6 prédios.

Propriedade de Eduardo Guinle.

Lucio projetou apenas 3 desses 6 edifícios, pois os resultados financeiros não agradaram os proprietários.

Orientação favorada e com vista voltada para o parque;

Arquitetura modesta voltada ao passado; Brise de soleil; Elementos vazados que se equilibravam com

extrema simetria na cor vermelho-tijolo, bem delicados e contemporaneos;

Dormitorios voltados para essa face; Escadas de caracois, esbanjando a atencão.

Edificio Nova Cintra

Elementos vazados , com dois modelos diferentes e não único, responsáveis pelo elemento principal da Belíssima fachada;

Brise discreto permitindo vista para o parque;

Cores suaves como um estilo colonial.

Edificio Bristol e Caledonia

Um dos mais importantes edifícios do acervo da arquitetura contemporânea no Brasil.

Lucio Costa gostava de juntar os dois generos:

arquitetura moderna e a arquitetura tradicional (antiga).

UNESCO

Lucio Costa - papel importantíssimo na elaboração do edifício UNESCO em Paris.

Atuação decisiva - rejeitou a proposta de Beaudoim, ligado ao classisismo francês, substituindo a planta rígida por curvas uniformes para a fachada principal.

Um equilíbrio entre o moderno e o antigo, parte da solução foi inspirada em Perret.

Buscou soluções formais.

Demonstrou a coerencia de suas idéias e amplição de seu conhecimento arquitetônico.

Igreja do Forte de Copacabana - RJ

Projeto não executado.

Projeto com grande abôbada em balanço que se apoiava somente na cabeceira da obra, dando liberdade para o arquiteto escolhesse o fecho para os outros 3 lados. A parede erguida para essa finalidade se encontrava apenas a meia altura, o lado superior todo aberto ao norte e a fachada ao sul por paineis de vidro para bloquear os ventos fortes vindo do atlantico.Valorizando a flexibilidade do concreto armado e suas audacias.Carasteristicas que lembram Oscar Niemeyer, diferenciando o cuidado da simetria, outra característica de Lucio era a clareza e a simplicidade. Uma arquitetura Racionalista e clássica.

Era considerado o arquiteto do sec XX com caráter internacional com síntese a tradição atual.

Alvo de grande influência para outros arquitetos, como o arquiteto Francisco Bolonha.

Lucio Costa

Se formou na escola de Belas Artes – RJ. Teve sucesso rapidamente, 4 anos após sua formação. Teve a missao de elaborar a casa de campo em Petrópolis

do Embaixador Hildebrando Accioly. Embora se inspirava bastante em Lucio, Bolonha dava sua

expressao pessoal exclusiva. A casa de campo de Hildebrando lembrava-se o Hotel do

Parque em Nova Friburgo. Contraste de paredes de pedras bruta e as cores lisas do

revestimento das paredes comuns de alvenaria, telhados de uma agua.

A marca de Bolonha esta tambem no jogo de cores e ricamente decorado seu projeto e ativo desenvolvimento na nova arquitetura brasileira.

Francisco Bolonha

A exploração da forma livre

Niemeyer: retomou a forma livre com frequência, mas raramente utilizava como elemento central.

Motivo secundário: diversidades em grandes conjuntos contornados por espaços livres ou jardins.

Arquiteto com senso plástico – retomou liberdade com vigor.

Processo frequentemente imitado, porém com resultados não satisfatórios;

Parede de tijolos de vidro

ondulando entre os pilotis da fachada lateral

1946 – Niemeyer: Banco Boavista, Rio de Janeiro

Reidy: Primeiro a aplicar planta serpenteante a toda obra no Brasil

- Conjunto de Pedregulho

Niemeyer retomou: Edifício Copan, SP e Itatiaia, Campinas

Porém, eram formas muito regulares

Posição Privilegiada - ponto alto da cidade

Terreno triangular e muito inclinado – tratava-se de um espaço livre entre três vias publicas.Niemeyer concebeu uma planta em trevo – curvas convexas e côncavas equilibrando-se harmoniosamente

Diferente do Edifício Niemeyer, Belo Horizonte

-Mies: transparência absoluta – evidencia a rigidez dos materiais propostos. -Niemeyer: extremamente dinâmico, “flexível’’ – mais longe das tentativas de liberdade formal;

Inspirado no arranha céu de aço de Mies van der Rohe?

-Semelhanças notáveis, porém

-‘’Espirítos’’ diferentes

Parque do Ibirapuera: realização com o tema de forma livre; Traço de união entre edifícios, calculados de

modo a obter equilíbrio – nenhum se sobressair; Traço sinuoso;

Marcou mais o fim de um estilo de Niemeyer, do que uma nova orientação - Síntese de três componentes do estilo antes de 1955: 1. Pesquisas estruturais dinâmicas; 2. Forma livre; 3. Jogo de volumes puros equilibrando-se

mutuamente.

Princípios da composição arquitetônica:

Neutralização dos lados negativos do relevo e utilização de suas vantagens;

Manutenção máxima da vista para o mar; e Respeito integral ao local

Coerência entre o tratamento externo e o interno – arquitetura e paisagem.

Obra-prima de Niemeyer na aplicação da forma livre: Casa das Canoas, 1953

Ordem de dois níveis - Invertida; Quartos no subsolo: desfrutar vista da

baía; Parte alta: cômodos de estar – mesmo

nível do jardim e do terraço acima dos quartos;

Críticas de Max Bill – Forma livre só se justificava se fosse funcional.

Críticas de Ernesto Rogers – embora reconhecesse o êxito da fusão dessa arquitetura com uma paisagem com as formas que tomava, viu tudo como uma confusão;

Questão de ponto de vista;

Porém, a ‘’forma livre’’ não abria perspectiva para o futuro;

Niemeyer eliminou o tema a partir de 1955.

O tratamento dos volumes

Importante para Niemeyer – jogos de volumes, simples ou complexos;

Quase sempre procurou uma forma de conjunto tão regular quanto possível – para conservar a pureza das formas.

Hospital Sul- América, RJ Jogos de massas Impressão final de

simplicidade de composição.

Ministério da Educação e Saúde, RJ

Volume único de absoluta pureza;

Destaca-se pelas proporções, segurança na escolha dos

materiais.

Residencial Governador JK, BH

Principio: volumes simples bem definidos, para obter uma coerência.

PORÉM, escapou a toda escala humana – gigantismo, sensação de peso e esmagamento.

Tendência para a simplificação cada vez mais evidente;

Porém, não houve abandono dos efeitos espaciais, internos ou externos (distribuição de cheios e vazios, jogos de sombra e luz, alternância de paredes de vidro, transparentes ou semitransparentes), somente se tornaram mais claras.

Conclusão

1955 – nova fase de reflexão e maturidade - Preocupação com a originalidade plástica

Entusiasmo e liberdade de composição o levaram a multiplicar tentativas de novas formas;

Contribuição de Niemeyer – plano nacional e internacional.

Cenário brasileiro: influência também para arquitetos sem talento = resultados insatisfatórios;

Provocou para a arquitetura brasileira uma evolução para revelação ou afirmação dos melhores elementos.

Cenário internacional: influência mais fraca;

Porém, ampla divulgação à audácia de Niemeyer;

Liberdade de concepção – causou forte impressão no panorama europeu monótono.