a experiÊncia de videorreportagem no portal de notÍcias notapajos.com
TRANSCRIPT
INSTITUTO ESPERANÇA DE ENSINO SUPERIOR
COMUNICAÇÃO SOCIAL – HABILITAÇÃO EM JORNALISMO
ANNA KARLA DE SOUSA LIMA
A EXPERIÊNCIA DE VIDEORREPORTAGEM NO PORTAL DE NOTÍ CIAS NOTAPAJOS.COM
SANTARÉM – PARÁ Novembro/2012
ANNA KARLA DE SOUSA LIMA
A EXPERIÊNCIA DE VIDEORREPORTAGEM NO PORTAL DE NOTÍ CIAS
NOTAPAJOS.COM
Trabalho Acadêmico Orientado apresentado ao Instituto Esperança de Ensino Superior – IESPES, como requisito para obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social – Jornalismo.
Orientador (a): __________________________
SANTARÉM – PARÁ Novembro/2012
ANNA KARLA DE SOUSA LIMA
A EXPERIÊNCIA DE VIDEORREPORTAGEM NO PORTAL DE NOTÍ CIAS
NOTAPAJOS.COM
Trabalho Acadêmico Orientado apresentado ao Instituto Esperança de Ensino Superior – IESPES, como requisito para obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social – Jornalismo.
Orientador (a): __________________________
Aprovado em: ___de___ de ______
Comissão Examinadora
____________________________________ IESPES – Presidente/Orientador
____________________________________
IESPES – 2° Membro
____________________________________
IESPES – 3° Membro
Primeiramente a Deus por me proporcionar sabedoria nos momentos de escolha.
Aos meus pais Wanderlúcia e Milton que são a minha fortaleza, e desde o início me deram apoio para seguir firme, assim como minhas irmãs.
Aos meus amigos, pela força nos momentos mais difíceis desta etapa de minha vida, especialmente a minha amiga Giullia Malcher que devido surpresas do destino não pôde seguir comigo nesta conquista, mas que fez consideráveis contribuições iniciais.
AGRADECIMENTOS
Meus agradecimentos vão para o meu orientador Paulo Lima, pela paciência
e precisas intervenções em minha pesquisa.
À diretora executiva do Sistema Tapajós de Comunicação, Vânia Pereira Maia
por permitir que o Portal notapajos.com seja o objeto de estudo.
Ao gerente de Tecnologia de Informação do STC, Grazziano Guarany por
disponibilizar e prestar as informações essenciais para a elaboração deste trabalho.
À professora Iracy Leane pelas dicas de metodologias.
Ao coordenador do curso, professor Milton Mauer.
Agradeço a videorrepórter Carol Thomé pela atenção e agilidade na entrega
de seu livro, que se tornou a principal referência da pesquisa.
Ao pesquisador Francisco Machado Filho por também ter disponibilizado
material.
Balela! Houve um tempo em que para se editar um jornal muitas pessoas trabalhavam nele. Era o jornalista, o revisor, o linotipista, o gráfico, etc. Sabemos que com a convergência das mídias, a era da informática e do digital, um periódico pode ser editado e finalizado por uma única pessoa. Nem por isso, a tecnologia imposta nos grandes jornais promoveu demissões em massa. O que aconteceu (vivemos tempos de globalização) é que profissionais experientes e veteranos tiveram que se reciclar para prosseguirem com seu trabalho.
Marcelo Guedes
RESUMO
A videorreportagem é um formato de produção de matérias que permite ao jornalista mais autonomia em campo, pois ele pode sozinho produzir, filmar, entrevistar e editar uma reportagem e por isso é considerado um profissional multifuncional. O novo formato começou a ser explorado recentemente no jornalismo. A pesquisa propõe um estudo das experiências de videorreportagens elaboradas pelo portal de notícias notapajos.com. Para identificar as características do formato buscou-se entender o como funciona o site, apresentado suas equipes de trabalho, formas de alimentação de conteúdo, medição de audiência, além de contar a sua trajetória. O estudo se baseou em uma abordagem qualitativa com utilização de técnicas de observação participante e entrevista em profundidade. Os dados foram coletados primeiramente por meio de uma pesquisa bibliográfica e em seguida foi realizada pesquisa de campo. Por fim, de forma descritiva apresentou-se a análise de resultados. A partir desta análise, pode-se confirmar que os vídeos veiculados no portal notapajos.com no período de novembro de 2011 a julho de 2012 se adéquam com as características de videorreportagem.
Palavras chave: videorreportagem, internet, convergência
ABSTRACT
The format is a video reportage producing materials that allows the journalist more autonomy in the field, for he alone can produce filming, interviewing and editing a story and is therefore considered a professional multifunctional. The new format began to be explored in journalism. The research proposes a study of the experiences of videorreportagens news portal developed by notapajos.com. To identify the characteristics of the format we sought to understand how the site works, presented their work teams ways to feed content, audience measurement, in addition to its trajectory. The study was based on a qualitative approach with techniques of participant observation and in-depth interview. Data were collected primarily through a literature search was then conducted field research. Finally, descriptively presented analysis results. From this analysis, we can confirm that the videos run on portal notapajos.com from November 2011 to July 2012 are suited to the characteristics of reportage.
Keywords: video reportage, internet, convergence
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.................................................................................. 9 1 VIDEORREPORTAGEM: UMA CÂMERA NA MÃO E UMA IDEIA NA CABEÇA.......................................... .........................................
11
1.1 O conceito..................................... ............................................. 11 1.2 Como surgiu?................................... ......................................... 13 1.3 Prática de videorreportagem no Brasil.......... ......................... 14 1.4 Características e linguagem.................... ................................. 1.4.1 O videorrepórter............................. .......................................................... 1.4.2 Plano sequência.............................. .........................................................
17 17 19
2 CONVERGÊNCIA DE MÍDIAS........................... ............................ 21 2.1 Videorreportagem na televisão.................. .............................. 25 2.2 Videorreportagem na web........................ ................................. 27 3 METODOLOGIA...................................... ....................................... 3.1 Tipo de Estudo................................. .......................................... 3.2 Local de estudo................................ .......................................... 3.3 Fontes de informação........................... ..................................... 3.4Técnicas e coletas de análise dos dados......... ........................ 3.4.1 Etapa 1...................................... ................................................................. 3.4.2 Etapa 2...................................... ................................................................. 3.4.3 Etapa 3...................................... ................................................................. 3.5 Aspectos Éticos................................ .........................................
29 29 30 31 31 31 31 32 33
4 O PORTAL NOTAPAJOS.COM........................... .......................... 4.1 Equipes de Trabalho............................ ......................................
34 34
4.2 Página Inicial .............................................................................. 4.3 Conteúdo....................................... ............................................. 4.4 Audiência...................................... .............................................. 4.4.1 Visitas e Page views......................... ....................................................... 4.5 Vídeos no portal............................... ..........................................
35 37 38 40 40
5.APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS............ ...... 5.1 A experiência de videorreportagem no portal notapajos.com...................................... ........................................... 5.1.1 O relato da primeira experiência............. ............................................... 5.1.2 Cobertura do plebiscito...................... .................................................... 5.1.3 Cobertura do acidente na Rui Barbosa........ ........................................ 5.2 As resistências................................ ..........................................
42 42 42 45 46 48
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................... ............................... 50 REFERÊNCIA................................................................................... APÊNDICES.....................................................................................
52 54
9
INTRODUÇÃO
O avanço das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) tem
possibilitado cada vez mais a utilização de novas ferramentas na produção de
conteúdos jornalísticos. Com esta evolução de equipamentos e a convergência de
mídias, novos formatos começam a ser explorados no jornalismo. Entre as novas
possibilidades, surge a videorreportagem, um formato de produção de matérias que
permite ao jornalista mais autonomia em campo, pois ele pode produzir sozinho uma
reportagem. Diferente da equipe tradicional observada em telejornalismo, onde a
equipe é formado por repórter, cinegrafista e produtor, em videorreportagem um
único profissional produz, filma, faz entrevistas e edita o material.
Cada vez mais as tecnologias avançam e permitem ao profissional do
jornalismo novas experiências. De acordo Mariguela (2011, p. 13), o ciberespaço,
um conjunto de redes de computadores por onde as informações circulam, é um
ambiente importante para a experimentação de novas técnicas, linguagem e
formatos.
Esse esforço de análise e pesquisa aborda o tema videorreportagem com
enfoque nas experiências de vídeos produzidos no portal de notícias da cidade de
Santarém - Pará, notapajos.com, afiliado ao portal globo.com. O interesse na
pesquisa surgiu após se verificar que o notapajos.com é o primeiro portal em
Santarém a trabalhar com produções de vídeos na web, com a utilização de
smartphones.
O objetivo geral da pesquisa foi aferir se os trabalhos audiovisuais que vem
sendo desenvolvidos no portal podem ser definidos como videorreportagens. Os
objetivos específicos da pesquisa foram: apresentar a trajetória do portal de notícias
notapajos.com, como são formadas as equipes de trabalho, alimentação de
conteúdo, medição de audiência e início das publicações de vídeos gerados pela TV
Tapajós; observar se as produções possuem características que se adéquam a
videorreportagem; identificar se há limitações na atuação do videorrepórter e
desafios encontrados durante a elaboração dos trabalhos.
10
Antes de estudar o caso notapajos.com são apresentados, de acordo com
diferentes pesquisadores, o conceito, surgimento e características da do novo
formato. A convergência de mídias recebe a devida atenção como ferramenta
impulsionadora da videorreportagem.
A metodologia utilizada para a elaboração da pesquisa foi inicialmente
baseada no estudo bibliográfico, em seguida foi realizada pesquisa de campo que
auxiliou na identificação do processo de produção das videorreportagens no portal
notapajos.com. A coleta de informações foi realizada por meio da técnica de
observação participante, que segundo Marconi e Lakatos (2006, p. 196) “consiste na
participação real do pesquisador com a comunidade ou grupo”. Outra técnica foi a
de entrevista em profundidade, que conforme Duarte (2005, p. 62) busca “[...]
recolher respostas a partir da experiência subjetiva de uma fonte, selecionada por
deter informações que se deseja conhecer”. Nesta segunda técnica, a pesquisadora
utilizou como instrumento um gravador de áudio e teve como fonte o gerente de
Tecnologia da Informação (TI) do STC. O local escolhido para o estudo do tema foi a
redação do notapajos.com um dos veículos da empresa Sistema Tapajós de
Comunicação (STC).
O trabalho foi estruturado em quatro momentos. Primeiro a pesquisa
bibliográfica, no qual foram feitas leituras de livros e artigos. Em seguida a visita em
campo, momento em que a observação foi realizada e entrevistas foram aplicadas.
Depois o material coletado em áudio foi transcrito e analisado de forma descritiva.
Por fim, são apresentadas as considerações finais da pesquisa baseadas na
interpretação da experiência de videorreportagem no portal. A pesquisadora ressalta
as tendências nos grandes portais e as prinicpais limitações do formato para o
veículo.
11
1 VIDEORREPORTAGEM: UMA CÂMERA NA MÃO E UMA IDEIA N A CABEÇA
A enunciação “Uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”, do diretor de
cinema Glauber Rocha1, define de forma sintetizada, qual a conceito principal de
videorreportagem. Conforme Thomé (2011) essa citação se tornou referência nos
estudos sobre videorreportagem, pois era tida como princípio para Glauber. Sobre a
ideia a autora explica que o videorrepórter Paulo Castilho acredita no cinema como
uma das fontes de inspiração para o surgimento da videorreportagem e confirma
essa ligação ao destacar os filmes: Max Headrom, de 1987 e Kika de 1993. As duas
produções revelam em sua trama, personagens com características que se
adéquam ao conceito de videorrepórter:
Com o filme de ficção científica Max Headrom, de 1987, dirigido por Rock Morton e Annabel Jankel, em que o repórter Edson Carter opera a própria câmera. Kika, de 1993 de Pedro Almodóvar, tem como protagonista a videorrepórter Andréa Caracortada. Ela apresenta um programa de notícias no qual também faz a edição e o texto de suas matérias (CASTILHO, 2011 apud THOMÉ, 2011, p.9)
Ao estudar o tema, percebem-se diversas afirmações acerca do surgimento
de videorreportagem. Mariguella (2011) relata duas ideias, uma como alternativa de
redução de custos, outra reforça o que disse Thomé (2011), que o novo formato
pode ter origens no cinema e documentário:
Para alguns ela nasceu como uma alternativa de produção independente de custo mais baixo. Outros encontram no cinema e no documentário o caminho mais natural para a chegada desse formato já que os avanços técnicos permitiram que muitos cineastas e documentaristas experimentassem essa forma mais individual de criação (MARIGUELLA, 2011, p. 9).
1.1 O conceito
De início aponta-se o artigo de um dos primeiros profissionais a pesquisar
sobre o tema no Brasil, o jornalista Paulo Castilho. Em 2004, ele escreveu um artigo
1Glauber de Andrade Rocha foi um dos integrantes mais importantes do cinema novo, movimento iniciado no começo dos anos 1960. Com o princípio de "uma câmera na mão e uma idéia na cabeça", deu uma identidade nova ao cinema brasileiro.
12
para participar do Congresso Ibereoamericano de Jornalistas na Internet, realizado
em Salvador na Bahia. Castilho (2004) define videorreportagem como um produto
jornalístico criado por um único repórter, no qual ele mesmo atua como operador da
câmera.
Os autores Barbeiro e Lima (2005) também tratam do assunto, porém com
foco maior para o telejornalismo e sustentam que o conceito pode ser mais
detalhado. Além de captar as imagens, o videorrepórter ou videojornalista, assim
chamado o profissional que produz videorreportagens, realiza entrevistas, faz a
edição e ao final pode até apresentar o trabalho. Para Mariguella (2011), a exibição
do trabalho depende muito da plataforma de divulgação, no caso específico da web,
o próprio autor pode fazer a publicação do material em site, portal ou blog.
Thomaz (2006) considera que o videorrepórter é um novo profissional,
considerado multifuncional, pois além das produções possuírem uma linguagem
inovadora e alternativa, o material elaborado tem mais possibilidades de obter
resultados diferentes do convencional, como por exemplo, inserções de comentários
espontâneos no conteúdo da matéria.
Barbeiro e Lima (2005, p.75) reforçam essa ideia, ao abordarem que o
conceito de videorreportagem se contrapõe à equipe tradicional, formada por
repórter, produtor, cinegrafista, iluminador, responsável pelo áudio e motorista.
Desta forma, enfatiza: “O conceito estabelece que a câmera deva ser uma extensão
do próprio corpo, e por isso ele pode produzir reportagens num formato diferente do
tradicional off-passagem-sonora, consagrado nos telejornais das emissoras de TV
do Brasil”.
Em contrapartida, Machado Filho e Thomaz (2008, p. 14) afirmam que
“atualmente, nem sempre uma videorreportagem foge do formato tradicional,
existem peças audiovisuais que se aproximam ao máximo da reportagem”. E
identificam que apesar do novo modo de produção admitir mais autonomia, é
necessário levar em consideração a qualidade das informações e não deixar que a
facilidade e mobilidade permitam um empobrecimento de conteúdo.
A despeito disso, Thomé (2011, p. 12) afirma que a videorreportagem utiliza
alguns conceitos de telejornalismo, porém quando é relacionado a aspectos
13
funcionais, constata-se que a diferença está no acúmulo de responsabilidades. “A
rotina de produção dos videorrepórteres se diferencia radicalmente da rotina
tradicional do telejornalismo”.
Para Barbeiro e Lima (2005, p. 75) fazer uma videorreportagem vai além da
realização de uma produção livre, é uma relação direta do autor da matéria com o
entrevistado e ambiente, “uma vez que dispensa o olhar intermediário do
cinegrafista”, podendo resultar em enfoques jornalísticos inusitados.
A nova linguagem permite que o repórter se envolva na história que acompanha. Ele se torna uma testemunha dos acontecimentos, que grava em câmeras digitais, leves, mas com qualidade para ser reproduzidas nas TVs. O repórter acaba virando personagem, na medida em que contextualiza as imagens gravadas. A videorreportagem permite que o telespectador perceba o formato de ação na qual se destaca a personalidade do repórter. A cumplicidade se completa quando a lente da câmera, ou olho do repórter, se converte no olho do telespectador (BARBEIRO; LIMA, 2005, p. 76).
Conforme Machado Filho e Thomaz (2008, p. 12) a videorreportagem é uma
espécie de “produção solitária” que surge baseada na experiência prática e seu
formato possibilita diversas tipos de linguagens. Eles apontam também a ideia de
que o videorrepórter necessita dominar diversas funções e principalmente saber
perceber, ter sensibilidade e investigar. “Os profissionais estão descobrindo as
potencialidades desta nova forma de produção, ao buscar novos ângulos, inovações
na narrativa e o resgate do trabalho individual e autoral, ou seja, não mais
industrializado”.
1.2 Como surgiu?
Há um consenso entre os estudiosos ao abordar as primeiras experiências de
videorreportagem no mundo. O novo formato de produção surgiu na década de 70
nos Estados Unidos e tem como precursor o norte-americano Jon Alpert. Ele
possuía uma produtora de documentários e foi o primeiro a realizar produções
independentes e vendê-las para diversas redes de TVs americanas. Desta forma, se
tornou conhecido no meio jornalístico pela maneira diferente de fazer coberturas.
(THOMAZ, 2006; CASTILHO, 2004; THOMÉ 2011).
14
Sobre as conquistas de Alpert, Thomaz (2006, p. 93) destaca:
Alpert ganhou reconhecimento ao conseguir entrevistas exclusivas com autoridades e fazer coberturas jornalísticas inéditas. Entrevistou Fidel Castro depois da Revolução de Cuba, foi o primeiro jornalista americano a entrar no Camboja após a guerra do Vietnã e um dos responsáveis pela cobertura jornalística da guerra do Irã e Iraque.
Existem registros de experiências também no Canadá, sob o comando do
empresário Moses Znaimer, proprietário da emissora CityTV. Conforme Mariguella
(2011), Znaimer quis inovar e ousar. Ao invés da equipe tradicional geralmente
composta por quatro membros, apenas um jornalista com todos os equipamentos
necessários para produção de uma reportagem era escalado para as gravações de
externa. Aos poucos os profissionais foram descobrindo novas maneiras de elaborar
as matérias. “o videojornalista desenvolvia um material diferente do convencional,
sem a narração posterior em off, com momentos espontâneos, gravados no local da
matéria.”, (THOMAZ, 2006, p. 93).
1.3 Prática de videorreportagem no Brasil
Segundo Thomé (2011, p. 9), a videorreportagem surgiu no Brasil em 1987,
no programa TV Mix da TV Gazeta de São Paulo e tem como um dos precursores o
diretor do programa na época, Fernando Meirelles. A emissora foi a primeira a abrir
espaço para a experimentação do novo formato jornalístico. Naquele período, os
videorrepórteres eram conhecidos como “abelhas” ou “repórter-abelha”, devido à
agilidade que tinham no momento das produções. “A definição ‘abelha’ surgiu por
conta da dinâmica, agilidade e facilidade que estes profissionais tinham de entrar em
lugares e se locomover com os equipamentos sempre em estado de prontidão”.
Além da busca na redução dos custos, como menciona Barbeiro e Lima
(2005, p. 75) “[...] os abelhas são comuns em televisões locais e de pequenos
recursos [...]”, observa-se na definição supracitada que o interesse das emissoras
estava ligado fortemente a possibilidade de elaborar uma reportagem com mais
rapidez.
15
Por seu lado, a videorrepórter Renata Falzoni, conceitua o “abelha” como “o
profissional que produz e capta sua própria matéria, com uma linguagem típica,
intimista, que varia de pessoa a pessoa, mas que tem em comum a sutileza da
câmera subjetiva. Sendo que nada disso é regra” (FALZONI, 2011 apud THOMÉ,
2011, p. 11)
Thomaz (2006) esclarece que no início as videorreportagens eram feitas por
estudantes e profissionais de outras áreas, mas a preocupação com o formato e
conteúdo, exigiu que os videorrepórteres, fossem especificamente jornalistas. Como
ressalta Castilho (2004, p. 4) “[...] Esses videomakers foram substituídos por
jornalistas, com o objetivo de possibilitar um caráter mais informativo aos vídeos”.
Ao referir-se ao assunto, Thomé (2011) diz que além de surgir como uma
nova linguagem, o formato também foi experimentado como uma opção de
economia, pois os custos das produções eram mais baixos se comparados as
produções tradicionais de reportagem para telejornalismo. Como faz notar Thomaz
(2006, p. 93) “Sem recursos para contratar várias equipes, a solução encontrada
pelo diretor da TV MIX, Fernando Meirelles, foi criar o videorrepórter”.
Segundo Castilho (2004), com o fim do programa TV Mix em 1990, a
experiência foi interrompida, retornando somente em 1993 na TV Cultura. Thomé
(2011) relata que a iniciativa de seguir o estilo de Jon Alpert na emissora foi do
diretor de telejornalismo Marco Nascimento e do produtor Júlio Wainer, mas Júlio
após receber uma bolsa de estudos para o Canadá deixou Marco sozinho com a
proposta do projeto. Devido às dificuldades de encontrar parceiros interessados no
tema, Marco ficou impossibilitado de levar a ideia adiante.
A finalidade da TV Cultura não era tornar a videorreportagem substituta de
outros formatos já existentes, considera Mariguella (2011). O autor observa que o
produtor Júlio Wainer via a videorreportagem como um rascunho na programação da
emissora. “Uma outra pegada no meio da programação tradicional, com a câmera
mais ágil, mais intimista, mais pessoal.” (WAINER, 2011, apud MARIGUELA, 2011,
p. 11).
16
Na década de 1990 a videorreportagem começou a ser mais explorada na
programação televisiva. O Grupo Bandeirantes de Rádio e Televisão foi a primeira
emissora brasileira a dedicar em sua programação espaço para um programa
composto exclusivamente de videorreportagens, exibido no Canal 21. A fotógrafa e
jornalista Renata Falzoni foi a responsável pela elaboração do programa,
denominado Melhores Aventuras do 21, desenvolvido em 1998. Porém, mais uma
vez o formato não conseguiu se fixar, durando somente até o ano de 2001.
(MARGUELLA, 2011; THOMÉ, 2011).
Vale notar a contribuição de Thomaz (2006) quanto aos impasses que
impediram consolidação do formato. A autora acredita que esteja ligado a fase em
que os investimentos na comercialização da TV cresceram.
O passo decisivo foi a multiplicação dos canais de TV, o que levou à sua crescente diversificação. O desenvolvimento das tecnologias de televisão a cabo – a ser promovido na década de 1990 pela fibra ótica e pela digitalização – e o progresso da difusão direta por satélite expandiram drasticamente o espectro da transmissão [...] A televisão tornou-se mais comercializada do que nunca e cada vez mais oligopolista no âmbito global. (CASTELLS, 2003 apud THOMAZ, 2006, p. 94 ).
Mariguella (2011) aponta que de forma não assumida e não contínua, a
videorreportagem já esteve presente na maioria das emissoras de televisão
brasileira. Além da TV Bandeirantes e da TV Cultura, citadas acima, o SBT já contou
com o trabalho de alguns videorrepórteres, assim como a ESPN Brasil deixa claro o
interesse pela proposta da videorreportagem. Outra emissora é a Rede TV que em
2009 decidiu tentar o formato, porém com a finalidade de explorá-lo também para
internet. “A emissora criou o projeto Web Repórter, em que jornalistas munidos com
equipamentos leves e práticos ficam à disposição da emissora para a produção de
conteúdo para os programas do canal e também para o portal na internet”
(MARIGUELLA, 2011, p. 12).
Ainda nesta mesma linha de considerações Thomé (2011, p. 39) comenta que
a Rede Globo de Televisão não assume o formato, mas existem trabalhos dentro da
programação da emissora que podem ser associados a videorreportagem. Um dos
exemplos citados é o programa Profissão Repórter, comandado pelo jornalista Caco
Barcellos. As produções fogem da estrutura convencional de telejornalismo quando
17
os profissionais recém-formados cumprem a mesma pauta, com diferentes
abordagens. “[...] Barcellos promove uma espécie de intercâmbio das funções entre
os integrantes e acha importante o domínio do processo desde a pauta até a
edição”.
1.4 Características e linguagens
Para Thomé (2011, p. 16) a videorreportagem tem estilo próprio. “O formato
carrega um ‘espírito próprio’ que transmite credibilidade, humanismo, interatividade”.
Diferente do que é visto nas matérias para telejornalismo, a linguagem da
videorreportagem por ser intimista, aproxima o profissional cada vez mais do público.
O videojornalista é o autor das produções e pode transmitir a peculiaridade de seu
olhar, “o que caracteriza a videorreportagem como formato informativo e enriquece o
material enquanto linguagem” (THOMÉ, 2011, p. 12).
1.4.1 O videorrepórter
Ao referir-se a definição do formato, Castilho (2004) identifica a
videorreportagem como uma produção, essencialmente elaborada por um jornalista,
o videorrepórter.
Considerando a atuação de um único profissional, Thomaz (2006, p. 95)
sustenta que o videorrepórter é exclusivamente o responsável pela composição dos
conteúdos verbais, imagéticos e sonoros. “O videorrepórter terá que se atentar aos
elementos expressivos que compõem a imagem e, portanto, também fazem parte da
linguagem visual como o som, a iluminação e os cenários”.
Falzoni (2006, apud THOMÉ, 2011) também comenta a atuação do
profissional ao destacar que geralmente ele é o produtor e autor da matéria e utiliza
uma linguagem intimista e subjetiva, porém enfatiza que a definição não é regra.
Thomé (2011) discorda em partes de Falzoni ao destacar que em alguns casos o
videorrepórter recebe auxílio prévio de outros profissionais como diretor e pauteiro,
18
profissional que sugere a pauta, mas a execução é exclusiva do videorrepórter, pois
para produzir a matéria é necessário possuir domínio de linguagem.
Para reafirmar a característica intimista do videorrepórter, Barbeiro e Lima
(2005, p. 76) relatam:
O repórter conversa com o telespectador procurando estabelecer uma cumplicidade com ele, o que aproxima mais os dois. O telespectador acompanha junto com o repórter o desenrolar da história sem que ninguém apareça na frente da câmera para contar uma parte, como nas reportagens tradicionais. A passagem geralmente é uma das formas de reafirmar onde a história transcorre. Na videorreportagem a história transcorre toda, ou quase toda, no cenário em que aconteceu.
Diferente do que defendem os autores supracitados, Thomaz (2006, p. 96) diz
que a passagem é utilizada na videorreportagem, e afirma que pode ser considerado
um diferencial, uma vez que a mesma é realizada sem microfone e com a câmera
segura pelo próprio videorrepórter e direcionada para seu rosto. Segundo a autora,
com esta ação é possível perceber a aproximação com o receptor, mas esclarece
que as aparições do videorrepórter ocorrem de maneira inusitada, fugindo da
maneira tradicional vista em telejornalismo: “a imagem do profissional refletida no
espelho ou no vidro do carro, opções para reforçar o envolvimento do profissional na
produção”.
Barbeiro e Lima (2005, p. 75) veem na videorreportagem uma linguagem que
permite um maior envolvimento do profissional na história, pois ele está ali no
cenário dos fatos e com a câmera na mão descreve o que vê: “O repórter acaba
virando personagem, na medida em que contextualiza as imagens gravadas”.
Squirra (1990, apud THOMAZ 2006) reforça que quando se trata de vídeos,
as imagens não existem isoladas, os sons acompanham os fatos capturados e
quando a câmera acompanha o movimento dos objetos ou pessoas em cena, há
necessidade de citá-los. Esse aspecto também é comentado por Barbeiro e Lima
(2005, p. 75) que definem essa citação, como narração dos fatos, realizada pelo
videorrepórter, sendo uma característica específica da videorreportagem e que
19
substitui o tradicional off2 em telejornalismo.“Na videorreportagem, como o repórter
narra em cima dos fatos que estão acontecendo, há maior transmissão de emoções
[...] o que dá um ganho de credibilidade.” Desta forma, os autores notam que a
videorreportagem não segue o padrão tradicional das matérias produzidas para o
Telejornalismo, pois não são utilizadas passagens e nem sonoras.
1.4.2 Plano sequência
A fuga da linguagem tradicional (off, passagem, sonora), é mencionada por
Thomaz (2006) como plano sequência ou Câmera corrida, quando a gravação é
realizada sem cortes:
O movimento ocorre quando a gravação da imagem e a narração acontecem ao mesmo tempo, exigindo, dessa maneira, mais reflexo, planejamento e preparo do jornalista, pois ele precisa se preocupar com o texto, as imagens e o entrosamento de ambos sem cortes de edição (THOMAZ, 2006, p. 95).
A utilização do plano sequência também é tratada por Thomé (2011). Para a
autora esta prática de produção permite mais liberdade ao profissional, dinamismo e
um melhor aproveitamento do som ambiente. “Uma porção de intuição do
videorrepórter é o que dá o sabor da videorreportagem, um formato que permite, e
até estimula, mais participação, interferência e interatividade do que uma
reportagem usual” (CAVALIEIRI 200,7 apud THOMÉ, 2011, p. 13).
Ao fazer o Plano sequência em campo, Squirra (1990, apud THOMAZ, 2006)
observa que o videorrepórter deve estar em alerta para os acontecimentos ao seu
redor, uma vez que uma movimentação diferenciada com a câmera poderá revelar
fatos novos.
Ainda nesta mesma linha de considerações, Barbeiro e Lima (2005. p. 75)
salientam que a finalidade do plano sequência é que a videorreportagem chegue da
rua e “esteja pronta para ir ao ar depois de passar por uma rápida revisão feita pelo
próprio videorrepórter”.
2Off-Texto feito pelo repórter com base nas imagens oferecidas pela equipe de reportagem
20
Outra postura sustentada por Thomé (2011) está relacionada a escolha em
não utilizar a estrutura convencional de telejornalismo, pois segundo a autora, a
decisão vai de acordo com a linha editorial de cada programa. Castilho (2006, apud
THOMÉ 2011, p. 11) enfatiza a ideia ao relatar que as estruturas narrativas podem
variar: “depende muito do estilo do veículo ou do profissional. Ela pode se estruturar
com off, sonora, plano sequência, narrador-personagem, com ou sem passagem do
repórter”.
Barbeiro e Lima (2005) também entendem que a gravação em plano
sequência pode gerar imagens tremidas e os rostos dos entrevistados podem
aparecer desfocados inicialmente, mas acreditam que essas intervenções não tiram
a credibilidade da reportagem, pelo contrário, demonstram que não é somente
reportagens bem enquadradas que prendem atenção do público.
Nota-se a necessidade do profissional dominar a linguagem jornalística, a
improvisação e principalmente saber manusear os equipamentos. “Assim, o
profissional torna-se multimídia, capaz de operar qualquer instrumento audiovisual,
como por exemplo, um celular com câmera e inseri-lo no contexto de sua matéria”
(Thomé, 2011, p. 13).
21
2 CONVERGÊNCIA DE MÍDIAS
Conforme Jenkins (2009, p. 37) o primeiro estudioso a abordar o assunto
Cultura da Convergência foi o cientista político Ithiel de Sola Pool, considerado o
profeta da convergência dos meios de comunicação. O autor destaca que Pool
chamava a convergência de mídias de “convergência de modos” e a definiu como:
“[...] um único meio físico – sejam fios, cabos ou ondas – pode transportar serviços
que no passado eram oferecidos separadamente [...]” Pool (1983, apud JENKINS
2009, p. 37).
Na abordagem de CORRÊA, Saad e CORRÊA, Luís (2007, p. 3) o termo
convergência, associado às mídias digitais, são levados em consideração diversos
pontos de vista:
[...] pode ser associada a equipamentos e sistemas de acesso às redes digitais, a estruturas organizacionais, a diferentes níveis de processos de produção do conteúdo midiático, às políticas publicas de uso e acesso às TIC’s, aos modelos de negócio, em oposição a visões fragmentadas, entre muitas possibilidades.
Antes de expor suas impressões sobre cultura da convergência, Jenkins
(2009, p. 37) explica que de acordo com Pool, as empresas publicavam somente em
jornais, revistas e livros e que os outros meios de comunicação eram insignificantes.
O autor enfatiza que antes da transformação tecnológica, cada meio de
comunicação possuía suas próprias funções no mercado, independente do perfil:
“[...] centralizado ou descentralizado, marcado por escassez ou abundância,
dominado pela notícia ou pelo entretenimento, de propriedade ou de iniciativa
privada [...]”.
Ao tratar o tema, Jenkins (2009) aborda as transformações que ocorrem
atualmente nos setores tecnológicos, mercadológicos, culturais e sociais. Observa-
se no enunciado acima que havia uma separação de funções, diferente do que o
autor propõe adiante, ao relatar convergência como a união de características de
diferentes meios. Por outro lado, o autor salienta a participação do público como
consumidor em busca de novas experiências tecnológicas e a procura de
entretenimento em diferentes e novos canais. Desta forma, argumenta que a
22
proposta de convergência não está ligada somente a tecnologia, mas a mente do
consumidor individual e sua forma de se relacionar com as mídias.
A cultura da convergência envolve os interesses dos consumidores. É uma
espécie de processo, em qual vivemos, destaca o autor:
A convergência das mídias é mais do que apenas uma mudança tecnológica. A convergência altera a relação entre tecnologias existentes, indústrias, mercados, gêneros políticos. A convergência altera a lógica pela qual a indústria midiática opera e pela qual os consumidores processam a notícia e o entretenimento. Lembre-se disto: A convergência refere-se a um processo e, não a um ponto final. Não haverá uma caixa preta que controlará o fluxo midiático para dentro de nossas casas. Graças a proliferação de canais e à portabilidade das novas tecnologias de informática e telecomunicações, estamos entrando numa era que haverá mídias em todos os lugares. A convergência não é algo que vai acontecer um dia, quando tivermos banda larga suficiente ou quando descobrirmos a configuração correta dos aparelhos. Prontos ou não, já estamos vivendo numa cultura da convergência (JENKINS, 2009, p. 43).
Considerando que a convergência envolve mudanças na forma de produzir e
consumir os meios de comunicação, Jenkins (2009, p. 44) afirma: “a convergência
está ocorrendo dentro dos mesmos aparelhos, dentro das mesmas franquias, dentro
das mesmas empresas, dentro do cérebro do consumidor e dentro dos mesmos
grupos e fãs”.
Vale notar a contribuição de Mello (2007, p. 2) que trata a convergência de
mídias como um processo de cruzamento entre os diferentes meios de
comunicação. Esses procedimentos além de possibilitarem a conversão analógico-
digital, permitem também o processo de digitalização. Este aspecto também é
comentado por Jenkins (2009, p.38), ao relatar que a digitalização era chamada por
Nicholas Negroponte de “átomos em bytes”.
Acerca do assunto, expressa:
Ao mesmo tempo novos padrões de propriedade cruzada de meios de comunicação, que surgiram em meados da década de 1980, durante o que agora podemos enxergar como a primeira fase de um longo processo de concentração desses meios, estavam tornando mais desejável às empresas distribuir conteúdos através de vários canais, em vez de uma única plataforma de mídia. A digitalização estabeleceu as condições para a convergência; os conglomerados corporativos criaram seu imperativo (JENKINS, 2009, p. 38, grifo nosso).
23
Sobre a digitalização, Jenkins (2009) cita como exemplo a BBC – British
Broadcasting Company3 que em 2005 passou a disponibilizar o seu acervo de
conteúdos na web, além de incentivar experiências alternativas quanto às formas de
catalogar os materiais. Segundo o autor a emissora ao agir desta maneira estava
promovendo a chamada cultura da convergência:
A convergência não depende de qualquer mecanismo de distribuição específico. Em vez disso, a convergência representa uma mudança de paradigma – um deslocamento de conteúdo de mídias específico em direção a um conteúdo que flui por diversos canais, em direção a uma elevada interdependência de sistemas de comunicação, em relação a múltiplos modos de acesso a conteúdos de mídia e em direção a relações cada vez mais complexas entre a mídia corporativa, de cima para baixo, e a cultura participativa, de baixo para cima (Jenkins, 2009, p. 325).
Ao comentar a utilização das videorreportagens em emissoras de TV, Thomé
(2011, p. 35) também cita as experiências da BBC: “na inglesa BBC, o emprego dos
videorrepórteres já é uma prática comum e legalizada. Também é curioso observar a
predominância das mulheres que integram a equipe de dos videojournalist”.
Nota-se que o autor não vê a cultura da convergência como um sistema
completamente integrado de meios em apenas uma plataforma, mas acredita que o
que migra são os conteúdos, para diferentes tipos de mídias, cada vez mais
próximas ao público, lhes proporcionando mais possibilidades de participação.
Para representar este período, o autor cita os telefones celulares como
exemplo e argumenta:
Nossos telefones celulares não são apenas aparelhos de telecomunicações; eles também nos permitem jogar, baixar informações da internet, tirar e enviar fotografias ou mensagens de texto. Cada vez mais, estão nos permitindo assistir a trailers de filmes, baixar capítulos de romances serializados ou comparecer a concertos e shows musicais em lugares remotos (JENKINS, 2009, p. 43).
Ao avaliar o tema convergência digital Barbosa (2009, apud AGNEZ, 2011, p.
9) apresenta seis áreas de abrangência:
3 BBC -British Broadcasting Company - é uma emissora pública de rádio e televisão do Reino Unido
fundada em 1922.Durante muitos anos foi o único fornecedor de rádio e depois de televisão do Reino Unido.’
24
Tecnologias (infraestrutura técnica); Empresarial (grupos nacionais e internacionais em seus processos de alianças e fusões); Profissionais (redações unificadas ou independentes que trabalham em cooperação para a produção de conteúdos para distintas plataformas); Editorial/Conteúdos (mistura de gêneros jornalísticos e a linguagem multimídia para a elaboração de novos formatos de notícia); Meios (com suas linguagens e características específicas); e Audiência (participação do público via canais de interatividade).
O autor Agnez (2011, p. 9) analisa a convergência na esfera profissional, de
acordo com as definições de Barbosa (2009), e sustenta que os profissionais do
jornalismo poderão produzir conteúdo para os diferentes meios de comunicação: “os
jornalistas passam a ser exigidos, em suas atividades diárias, a produzir conteúdos
para diferentes plataformas e formatos”.
Leitão (2006, apud THOMÉ, 2011) ao analisar o desempenho do profissional
também comenta: “é preciso utilizar as ferramentas a favor da imprensa. E quando
eu digo imprensa, incluo rádio, TV e Internet. Utilizamos uma mídia digital e a
possibilidade de conversar com outras mídias e tecnologias, torna tudo mais fácil”.
Percebe-se que Leitão (2006) defende a ideia de que o profissional da
comunicação para realizar um trabalho eficaz, precisará lidar com diferentes mídias.
Apesar de Agnez (2011, p. 11) também afirmar a necessidade do profissional ser
multifuncional ele enfatiza: “[...] na avaliação de diversos autores, pode comprometer
a qualidade do material informativo”.
Acerca dos pontos positivos e negativos para as empresas de mídia na era da
convergência Jenkins (2009) aponta que representa uma oportunidade de expansão,
pois o conteúdo poderá ser divulgado por outras plataformas, mas por outro lado, o
autor diz que a cada momento que um espectador migra, por exemplo, da televisão
para a internet, há o risco dele não retornar.
Para Mariguella (2011, p. 13), quando se fala em novas formas de
comunicação é necessário mencionar a plataforma mais atual: a internet. E para
tratar de internet é fundamental entender o ciberespaço: “composto por um conjunto
de redes de computadores por onde as informações circulam”. O autor observa no
ciberespaço um ambiente importante para o reconhecimento da videorreportagem,
25
pois é um lugar propício para a experimentação de novos formatos, linguagens e
técnicas.
Lévy (1999, p. 84) define ciberespaço como:
O espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e das memórias dos computadores. Essa definição inclui o conjunto dos sistemas de comunicação eletrônicos (aí incluídos os conjuntos de redes hertzianas e telefônicas clássicas), na medida em que transmitem informações provenientes de fontes digitais ou destinadas a digitalização.
Thomé (2011) aponta que o desenvolvimento da videorreportagem pode ser
bastante promissor na internet, uma vez que o veículo é democrático e os conteúdos
audiovisuais são cada vez mais acessados.
Esta ideia é reforçada por CORRÊA, Saad e CORRÊA Luis (2007, p. 4), ao
afirmarem: “computadores e internet são os elementos determinantes, ou o espaço
de configuração da convergência”.
2.1 A videorreportagem na Televisão
No capítulo 1 desta pesquisa pode-se observar que de acordo com os
estudiosos da área, as primeiras videorreportagens no mundo foram produzidas
para serem utilizadas em programas de televisão.
De acordo com Paternostro (1999), a televisão entrou na vida de praticamente
todos os países no final dos anos 40 e começo dos 50. No Brasil, foi introduzida por
Assis Chateaubriand, na década de 50. Ele quem fundou o primeiro canal de
televisão no país, a TV Tupi.
Segundo Thomé (2011, p. 37) desde o surgimento da televisão, os programas
sempre trabalharam com o formato tradicional (off, passagem, sonora), evitando ao
máximo novas experimentações. Somente após 37 anos desde o surgimento, que
uma emissora de televisão, a TV Gazeta, decidiu abrir espaço para a
experimentação das videorreportagens.
26
Os estudos sobre a videorreportagem na televisão brasileira mostram que o
aparecimento do novo formato nos programas televisivos acontece devido à falta de
estrutura das empresas.
A ideia é reforçada por Thomaz (2006, p. 94) ao relatar que a
videorreportagem surge inicialmente em empresas com poucos recursos:
No Brasil, a nova forma de produção de reportagem para televisão se desenvolveu em emissoras com poucos recursos técnicos e tecnológicos, com dois grandes objetivos distintos: ora como uma proposta de redução de custos e, assim, tornar o telejornalismo mais viável economicamente, ora como uma opção para oferecer uma linguagem diferenciada, contribuindo para a crescente diversificação da TV e de seus modos de produção.
Ao referir-se a trajetória da videorreportagem no Brasil, Thomé (2011, p. 37) a
define como lenta, devido o formato ser novo, desta forma ela aponta: “[...] há muito
o que conquistar no mercado audiovisual brasileiro”.
Seguindo ainda essa ideia a autora afirma que a pouca propagação da
linguagem pode ser uma espécie de engessamento aos padrões das emissoras de
TV, ou seja, nem sempre os profissionais sabem ou podem trabalhar com
videorreportagem. A autora também entende que há uma camuflagem por parte das
emissoras de televisão por não quererem dar crédito a linguagem, isso se deve a
falta de informação sobre o tema:
É possível que haja preconceito porque a profissão não é regulamentada por lei e por disseminarem questões negativas quanto à utilização da linguagem, como por exemplo, dizerem que o videorrepórter ‘rouba’ o cargo de um profissional especializado (THOMÉ, 2011, p. 17).
Thomé (2011) sustenta ainda, que a videorreportagem tem seu ponto de
partida baseada na conceituação de telejornalismo, mas faz uma diferença ao
considerar que o videorrepórter tem um maior acúmulo de funções, por ser
responsável, sozinho, pela produção do material.
Por outro lado, a autora salienta: “Castilho, Leitão e Guedes enfatizam que o
formato surgiu como uma nova possibilidade de comunicação na mídia, que não
pretende substituir a linguagem tradicional do jornalismo” (THOMÉ, 2011, p. 16).
Silva (2008) acredita que as experiências de videorreportagens em TVs não
tenham dado certo, por causa do medo de demissões nas emissoras, uma vez que
27
um único profissional poderia executar o trabalho feito por vários, ou seja, repórter,
produtor, cinegrafista, iluminador e editor.
Por seu lado, Thomaz (2006) sustenta que a não popularização do formato
ocorreu devido à atividade estar em fase de testes e também pela profissão de
videorrepórter não existir legalmente.
Mesmo com muitos obstáculos, e desafios enfrentados desde o início das
experimentações de videorreportagens, Thomé (2011, p. 13) nota que a cada ano, o
formato amadurece e ganha espaço em todo o mundo, uma vez que é um formato
atual, que se apropria de diversas tecnologias como: sons, vídeos, fotografia e
principalmente a internet. “Em Nova York, por exemplo, existem emissoras que
funcionam com videorrepórteres. A BBC adotou a videorreportagem e na Europa
inteira a linguagem é difundida”.
2.2 A videorreportagem na web
Pinho (2003) conta que o Brasil passou a se conectar com a rede mundial de
computadores em 1990, juntamente com outros países. O autor explica que internet
é um conjunto de computadores conectados em diversos países pelos quais são
compartilhadas informações. Ele esclarece que web é apenas uma parte da internet,
mas na maioria das vezes, as pessoas usam o termo web como sinônimo de
internet.
Outra ideia levantada por Pinho (2003) sobre a internet é que ela pode
transmitir mensagem, e possibilita publicação de informações quase que
instantaneamente: “Muito rápida e abrangente, a rede mundial permite transferir a
mensagem, com som, cor e movimento, para qualquer parte do mundo”, (PINHO,
2003, p. 51).
O mesmo autor considera que as tecnologias de comunicação resultam
periodicamente em mudanças na sociedade e afirma que a internet passou a
oferecer “amplos recursos técnicos e um novo suporte para as mais diversas
atividades” (PINHO, 2003, p. 57).
28
Com o desenvolvimento da internet juntamente com os avanços tecnológicos,
Castilho (2004) argumenta que mesmo a videorreportagem tendo surgido
inicialmente na televisão, a ampliação de recursos criaram um cenário favorável
para a consolidação do videorrepórter como produtor de conteúdo multimídia para
ser veiculado na web.
Thomé (2011) confirma o que Castilho (2004) anunciou ao enfatizar que as
experiências de videorreportagem na web podem ser observadas em alguns portais
de São Paulo:
Os portais mais influentes no Brasil já utilizaram o formato em seus noticiários on-line. É o caso do UOL (Universo OnLine) no canal jornalístico UOL NEWS. Em 2004, o programa era comandado por Paulo Henrique Amorim e tinha na sua grade de funcionários dois videorrepórteres que produziam matérias diárias, fiz parte deste time. O IG também adotou a linguagem em 2004 com matérias jornalísticas e coberturas de eventos culturais, e o repórter Bruno Ondei, na época funcionário do portal, foi escalado para fazer um curso intensivo de videorreportagem como forma de incentivo. Isso indica o interesse da instituição em investir no formato e nos profissionais da imprensa. O portal Terra também utilizou a videorreportagem em sua programação audiovisual e trabalhou com profissionais freelancers4. [...] A AOL durante muitos anos foi tida como referência de um dos maiores portais brasileiros (THOMÉ, 2011, p. 40-41).
Para Mariguella (2011, p. 25) atualmente vivemos num momento de
convergência. Ele destaca a participação da web nesta mudança e afirma que o
consumidor de conteúdos audiovisuais já está em contato com estas
transformações:
As principais plataformas estão entrando em fusão, televisão, rádio, veículos impressos e a própria web estão cada vez mais próximas e o caminho natural é que todas elas estejam disponíveis em plataformas conjuntas e integradas (MARIGUELLA, 2011, p. 25)
Para o autor, a convergência exige cada vez mais profissionais multimídias,
que além de apurar os fatos dominem as diversas formas de captura de
informações: “no ciberespaço esse profissional é ainda mais completo porque ele
não está apenas envolvido com a reportagem em vídeo, mas também faz o texto,
infográficos, fotos e ainda pode ser o responsável por publicar o
conteúdo”(Mariguela, 2011, p. 27). 4Freelancer – o profissional autônomo, que se autoemprega em diferentes empresas ou, ainda, guia seus trabalhos por projetos, captando e atendendo seus clientes de forma independente.
29
3 METODOLOGIA
A pesquisa foi sustentada por técnicas metodológicas como, observação
participante e entrevista em profundidade, ambas aplicadas no ambiente proposto
pelo estudo. A seguir, são apresentadas as etapas pelo qual o trabalho passou,
desde o tipo de pesquisa escolhido até os aspectos éticos adotados.
3.1 Tipo de estudo
Inicialmente foi realizada uma pesquisa bibliográfica para identificar as
principais obras que discorrem sobre o tema. Com base nas referências, o conceito,
surgimento e características da videorreportagem receberam destaque, segundo a
visão de diversos autores. A pesquisa buscou também esclarecer a ideia de
convergência de mídias descrevendo as experiências de videorreportagem na
televisão e na web. Esse tipo de estudo tem como finalidade colocar o pesquisador
em contato com publicações sobre determinado tema. Marconi e Lakatos (2006, p.
166) explicam: “a pesquisa bibliográfica não é mera citação do que já foi dito ou
escrito sobre certo assunto, mas propicia o exame de um tema sob novo enfoque ou
abordagem, chegando a conclusões inovadoras”. Em seguida foi feita uma pesquisa
de campo na qual são observados fatos e fenômenos com o objetivo de conseguir
informações sobre um problema.
Para a melhor compreensão do objeto de estudo, a pesquisa foi elaborada
numa abordagem qualitativa. De acordo com Oliveira (2008) esse processo implica
em realizar observações, aplicar questionários ou realizar entrevistas e em seguida
apresentar os resultados de forma descritiva, sem a utilização de dados estatísticos.
A pesquisa qualitativa pode ser caracterizada como sendo uma tentativa de se explicar em profundidade o significado e as características do resultado das informações obtidas através de entrevistas ou questões abertas, sem a mensuração quantitativa das características ou comportamentos (OLIVEIRA, 2008, p. 59)
30
A escolha deste tipo de estudo serviu para identificar a funcionalidade do
portal de notícias notapajos.com e conhecer o trabalho que é desenvolvido pelo
veículo. Oliveira (2008) considera ainda que este procedimento tem como finalidade
a busca detalhada de significados e características necessárias para entender o
objeto da pesquisa.
3.2 Local de estudo
Para realizar uma pesquisa dentro de uma abordagem qualitativa é
importante delimitar espaço e tempo. Uma das características deste procedimento é
estar no ambiente natural do estudo, que nesse caso, foi o setor de informática da
emissora Sistema Tapajós de Comunicação (STC), onde funciona o portal de
notícias notapajos.com, afiliado a globo.com. Para compreender o objeto de estudo,
a pesquisadora realizou a observação participante no período de dois meses,
novembro a dezembro de 2011. Para complementar as informações coletadas, uma
entrevista em profundidade foi aplicada em outubro de 2012.
3.3 Fontes de Informação
Para auxiliar o entendimento do problema proposto por uma pesquisa são
exigidas fontes que possuam domínio de assunto, e principalmente estejam
envolvidas no processo para que os objetivos da pesquisa possam ser alcançados.
A pessoa entrevistada foi o gerente de Tecnologia de Informação do Sistema
Tapajós de Comunicação Grazziano Guarany, responsável pela coordenação do
portal notapajos.com e idealizador do projeto que deu início as práticas de
videorreportagem no portal notapajos.com. Grazziano trabalha há 26 anos com
tecnologias da informação, é desenvolvedor de sistemas e há cerca de 12 anos é
gerente de TI no STC e coordenador da equipe de trabalho do portal desde a
fundação, em 2001. De acordo com Oliveira (2008, p. 68) é recomendável dar
preferência para poucas fontes, porém de qualidades. “Desse modo e no limite, uma
única entrevista pode ser mais adequada”.
31
3.4 Técnicas de coletas e análise dos dados
Buscando resultados qualitativos, esta pesquisa se baseou em observação
participante e entrevistas em profundidade. Para melhor compreensão do estudo, a
pesquisa seguiu uma série de etapas, descritas abaixo.
3.4.1 Etapa 1
Para coletar os dados, inicialmente foi realizada a técnica de observação
participante, na qual foi necessária a inserção da pesquisadora no local de estudo,
sistematizando as práticas jornalísticas, neste caso, no setor de informática do
Sistema Tapajós de Comunicação, onde funciona o portal de notícias
notapajos.com.
Segundo Marconi e Lakatos (2006, p. 196) esse tipo de técnica acontece
quando o pesquisador “se incorpora ao grupo, confunde-se com ele. Fica tão
próximo quanto um membro do grupo porque está estudando e participa das
atividades normais deste”.
Durante dois meses, no período de novembro a dezembro de 2011 a
pesquisadora acompanhou três coberturas jornalísticas na quais editores de web
tinham como tarefa produzir videorreportagens com a utilização de um smartphone.
Duarte (2008) afirma que o pesquisador não deve se inserir de maneira
ingênua no grupo estudado, deve observar e saber que está sendo observado.
3.4.2 Etapa 2
A ação seguinte foi a aplicação da entrevista em profundidade. A entrevista foi
composta por questões abertas dando cobertura ao interesse da pesquisa,
necessário para direcionar a entrevista com o informante. Segundo Duarte (2008),
as questões abertas são caracterizadas pela flexibilidade e por explorar ao máximo
o tema.
32
Duarte (2005, p. 62) define entrevista em profundidade como:
A entrevista em profundidade é um recurso metodológico que busca, com base em teorias e pressupostos definidos pelo investigador, recolher respostas a partir da experiência subjetiva de uma fonte, selecionada por deter informações que se deseja conhecer.
O instrumento utilizado para coleta foi um gravador de áudio, uma vez que a
gravação permite que se tenha na íntegra as informações repassadas pelo
entrevistado. Após a gravação o áudio foi transcrito pela pesquisadora: “ouvir a
transcrição ajuda o entrevistador a perceber nuances, detalhes [...], até mesmo na
correção de seus próprios erros de condução” (DUARTE, 2005, p. 77). O informante
estava ciente que a entrevista estava sendo registrada.
O autor ressalta ainda que a entrevista possibilita formas diferentes de
perceber e descrever os fenômenos e que ela é conjugada com outras técnicas
como a observação.
3.4.3 Etapa 3
Esta etapa consistiu na apresentação dos resultados de forma descritiva. Os
conteúdos coletados por meio das técnicas foram analisados. As principais
informações foram selecionadas, resultados foram avaliados e usados para a
confirmação das hipóteses da pesquisa. Para Marconi e Lakatos (2010, p. 151) “a
importância dos dados está não em si mesmos, mas em proporcionarem respostas
as investigações”.
3.5 Aspectos éticos
A pesquisa foi realizada assegurando os aspectos éticos necessários para a
elaboração de uma investigação científica. O entrevistado autorizou a utilização das
informações e divulgação de seu nome somente para fins acadêmicos. A diretoria
da empresa foi consultada e autorizou a participação do portal como objeto de
estudo.
33
4 O PORTAL NOTAPAJÓS.COM
O portal de notícias notapajos.com está no ar desde o dia 27 de dezembro do
ano de 2001. O site possui uma média de 10 a 12 mil acessos diários, destes cerca
de 8 mil são visitantes únicos (ver tab. 1), um número expressivo se comparado aos
demais veículos de web da região. A empresa gestora do portal notapajos.com é o
Sistema Tapajós de Comunicação (STC). O site funciona no setor de informática do
STC, no município de Santarém na região oeste do Pará, mas devido ser um
veículo, que usa como plataforma a internet, seu alcance vai além da região.
Tabela 1 QUANTIDADE DE VISITAS E VISITANTES ÚNICOS POR DIA NO
PERÍODO DE 1 A 10 DE OUTUBRO DE 2012
VISITAS E VISITANTE ÚNICOS POR DIA
Datas Visitas Visitantes únicos
01-10-2012 12.054 9.723
02-10-2012 10.725 8.513
03-10-2012 10.535 8.471
04-10-2012 10.339 8.183
05-10-2012 10.140 8.043
06-10-2012 7.795 6.794
07-10-2012 11.793 9.651
08-10-2012 14.150 10.734
09-10-2012 13.492 10.188
10-10-2012 11.624 9.029
Fonte: Google Analytics 4.1 Equipes de trabalho
Segundo informações fornecidas pelo entrevistado Grazziano Guarany, a
equipe do portal é formada por quatro pessoas, divididas em subsetores: duas
pessoas, identificadas como editores de web são responsáveis pela alimentação de
34
conteúdo no site; e mais duas cuidam da parte de comercialização dos espaços para
publicidade, sendo que uma realiza as vendas e a outra cria os banners para os
clientes. Sobre o perfil do redator e do editor de websites, Pinho (2003, p. 194)
salienta: “o redator desenvolve ideias a serem transformadas em histórias, consulta
fontes e coleta informações que são necessárias para o desenvolvimento da
matéria, redige notícias e reportagens e, muitas vezes, atua também como seu
próprio editor”.
O portal notapajos.com é atualizado diariamente. Os editores de web
cumprem escalas de seis horas de trabalho de segunda a sexta, sendo o primeiro
das 7 horas às 13 hortas e segundo das 13 horas às 19 horas. Aos sábados e
domingos os editores intercalam plantões. As funções específicas destes
profissionais é a captação de notícias geradas pela TV Tapajós, sites de referência
da globo.com e em alguns casos, os editores são escalados para fazerem externas
e posterior publicação, geralmente as matérias são compostas somente por texto e
imagem. Ministério do Planejamento (2010, p. 27) lembra que a imagem deve
complementar a informação textual e nunca repetir o que já foi dito.
Não existe uma equipe específica para a produção de videorreportagens. Os
dois editores de web que trabalham no portal não realizam coberturas com a
utilização de videorreportagens desde julho de 2012.
4.2 Página Inicial
A página inicial do portal, a home page é dividida em três editorias principais
de notícias que ficam localizadas no topo. Elas são identificadas com os seguintes
nomes: regionais, nacionais e entretenimento, com prioridade para as regionais e
destaque para as nacionais que possuem interesse regional.
Pinho (2003, p. 146-147) considera a home o elemento mais importante da
estrutura de um site: “A primeira coisa a ser vista pelo usuário que acessa um
endereço web é o topo home page, que deve permitir a rápida identificação do site,
por meio do título ou logotipo do webjornal.”
35
Ainda fazendo parte dos elementos do topo, a página conta também com um
link para a página da Rádio 94 FM e outro link encaminha a um formulário para
clientes interessados em anunciar publicidade no portal.
De acordo com Ministério do Planejamjento (2010, p. 38) esta forma de
estruturação de um site, é identificada como arquitetura da informação, que consiste
em: “distribuir as seções principais e secundárias de um sítio, tornando suas
informações facilmente identificáveis, sua organização bem definida e a navegação
intuitiva”.
Essa distribuição em editorias funciona como mecanismo de busca para o
internauta encontrar o que procura com mais facilidade. Ministério do Planejamjento
(2010, p. 38) sugere que agrupar as informações em itens que sejam representados
por palavras, é uma maneira de sinalizar com precisão o que vem adiante. No caso
do portal, as editorias são identificadas por palavras e cores, regionais (verdes),
nacionais (vermelhas) e entretenimento (amarelas), facilitando a procura das
informações, de acordo com o interesse do internauta.
Ainda na camada de apresentação do site, existe uma divisão vertical, na qual
é levada em consideração a relevância das notícias. Quanto a este critério Ministério
do Planejamjento (2010, p. 12) afirma que a informação inserida na primeira página
deve ser recuperada periodicamente evitando que a informação corra o risco de não
atrair o leitor. O primeiro scroll5, primeira parte vista pelo internauta quando o site é
acessado, antes dele rolar a página para baixo, é composto pela manchete, notícia
principal destacada com uma imagem com lugar para legenda; e pelo plantão,
espaço para as cinco notícias mais urgentes do dia.
Segundo o que relatou o entrevistado, os locais citados acima exigem uma
atenção maior no momento de selecionar as notícias. Sobre a apresentação das
informações neste espaço, Ministério do Planejamjento (2010, p. 15) alerta: “perceba
a camada de apresentação como uma vitrine, onde são oferecidos os conteúdos
mais interessantes e úteis de um sítio”.
5 Scroll – Rolagem feita com os botões do mouse que ajudam a percorrer documentos e páginas da web com mais facilidade.
36
O segundo scroll, quando a página é rolada para visualizar o que vem abaixo,
ainda está localizado na camada de apresentação do site. Seu espaço é reservado
para as notícias chamadas de destaque, neste caso a maioria delas já passou pelo
primeiro scroll.
Ao clicar em uma notícia, o leitor é levado a segunda camada do site, onde as
são vistas as informações geralmente compostas por texto. Ela é identificada por
Ministério do Planejamjento (2010, p. 15) como genérica, pois “[...] apresenta ao
visitante do sítio os aspectos principais do assunto abordado”. A segunda camada
tem como finalidade contextualizar o cidadão sobre o tema escolhido e estimular que
ele busque mais sobre o assunto.
4.3 Conteúdo
O portal notapajos.com prioriza o material gerado pela TV Tapajós e pela
Rádio 94 FM, veículos também do STC. A captação das notícias que tem como
fonte a TV e a Rádio acontece da seguinte forma: o editor tem acesso as matérias
da televisão por meio TV News (programa de automação do telejornalismo) copiam
os offs6 dos repórteres e assistem aos vídeos das matérias já editadas para
transcrever as sonoras consideradas necessárias para completar as informações. A
partir do momento em que o editor possui todas as informações, ele realiza a
conversão para linguagem do jornalismo online. Geralmente, as imagens que
acompanham as matérias são reproduções da TV Tapajós. Esse processo de
captação, não impede que os editores de texto façam externas e produzam matérias
próprias para o portal notapajos.com.
Esta forma de captar as notícias se deve ao intenso fluxo de produções por
parte das oito equipes que trabalham no jornalismo da TV Tapajós, e uma equipe da
Rádio 94 FM, uma vez os editores do portal notapajos.com precisam ficar na
redação realizando a constante atualização do site, pois segundo Pinho (2003) na
mídia online a notícia não para e sua possibilidade de transmitir informação em
tempo real deve ser utilizada.
6 Off-Texto feito pelo repórter com base nas imagens oferecidas pela equipe de reportagem
37
Os critérios para seleção das notícias a serem veiculadas são: interesse
público, valor-notícia e possibilidade de conversão para a web, como afirma o
entrevistado Grazziano Guarany: "Nem todas as notícias que vão para a televisão
são interessantes para a web e uma série de notícias que não vão para a web não
são interessantes para a televisão".
As notícias são publicadas por meio da retaguarda, nome dado ao sistema
interno do site. É na retaguarda que os editores de web adicionam e editam as
notícias, inserem imagens e realizam a moderação dos comentários.
4.4 Audiência
Para medir a audiência no site é utilizado o Google analytics, um serviço
gratuito disponibilizado pelo Google, para medição das estatísticas de visitação. Pelo
Google analytics é possível identificar a quantidade de acessos diários, número de
visualizações de páginas (Page views), visitantes únicos, tempo de visita,
internautas online, há também estatística de audiência por horário do dia, além da
possibilidade de realizar comparações entre períodos escolhidos pelo gerenciador
da conta.
Ao referir ao assunto Pinho (2003, p. 152) comenta:
Os responsáveis pelo site devem explorar ao máximo as possibilidades que a internet oferece, em tempo real, para o levantamento, a análise e o controle de dados relacionados com o acesso do leitor e o seu comportamento enquanto navega pelas páginas do webjornal.
A quantidade de acessos diários, como citado acima, chega a alcançar até 12
mil visitas e cerca de 30 mil page views (ver fig. 1), porém o crescimento ou queda
varia de acordo com a época. Normalmente há uma queda de audiência nos finais
de semana, devido ao número de usuários online serem menor.
A figura abaixo apresenta a quantidade de visualizações de páginas por dia
no período de 1 a 10 de outubro de 2012.
38
Figura 1 – VISITAS E VISUALIZAÇÕES POR DATA Fonte: Google Analytics
As estatísticas mostram que há um crescimento constante de novos leitores
do portal notapajos.com. Segundo o entrevistado, em porcentagem, os números
alcançam de 10% a 20% ao ano. Ele afirma que essa evolução está ligada ao
aumento no número de usuários de internet. Quanto mais usuários, se houver
conteúdo sendo publicado com frequência, automaticamente maior será o número
de leitores no site. (ver fig. 2).
A figura abaixo apresenta o cronograma no crescimento da quantidade de
novas visitas desde que o site começou a utilizar a ferramenta para medição de
audiência.
Figura 2 – NOVAS VISITAS Fonte: Google Analytics O pico de audiência visualizado em 2012 no cronograma mostra uma
quantidade recorde de 19.762 visitas registradas até hoje no portal. O portal atingiu
39
esta marca no dia 24 de outubro. Conforme o entrevistado, o crescimento é
resultado da cobertura da notícia do assassinato de um casal na vila de Alter do
Chão, em Santarém: “As pessoas queriam saber informações, nós fizemos uma
cobertura especial junto com a equipe de jornalismo da TV Tapajós e isso retornou
em audiência. Um pico inesperado”.
4.4.1 Visitas e Page views
Existe uma diferença entre visitas e páginas visualizadas. As visitas
representam o número de sessões individuais iniciadas por todos os visitantes no
site. Se um usuário estiver inativo no site por um tempo de 30 minutos ou mais,
qualquer atividade futura será atribuída como uma nova visita. Os usuários que
saírem do site e retornarem dentro do tempo de 30 minutos serão considerados
parte da sessão original.
Uma page view é definida como a visualização de uma página no site. Se um
visitante clicar em atualizar depois de acessar a página, outra page view será
registrada. Se o usuário navegar para uma página diferente e, em seguida, retornar
para a página original, uma segunda page view também será registrada. Ou seja,
cada pessoa que acessa o site deve ser considerada uma visita, mas se uma
pessoa acessa o portal e visualiza mais de uma página, começam a ser contadas as
page views, desta forma entende-se que o número de páginas visualizadas será
sempre maior que a quantidade de visitas, como exemplifica o entrevistado: “Você
imagina, uma pessoa pega uma revista, se ela ler uma página é uma visita com uma
leitura de página, mas se ela leu dez páginas, continua sendo uma visita, mas com
dez page views”.
4.5 Vídeos no portal notapajos.com
Esta seção tem como finalidade expor que antes das experiências de
videorreportagens, o portal veiculava as matérias telejornalísticas elaboradas pela
equipe de jornalismo da TV Tapajós, emissora do Sistema Tapajós de
Comunicação. O site possuia um espaço específico para vídeos, porém a ideia não
40
se fixou, o que levou a busca por novas experiências. A partir daí passaram a ser
realizados testes com o novo formato de produção audiovisual, as
videorreportagens, tema abordado por esta pesquisa no capítulo seguinte.
As reportagens audiovisuais da TV foram as primeiras publicações de vídeos
feitas pelo portal. Conforme o entrevistado Grazziano Guarany, essas experiências
foram realizadas em 2007, mas é importante frizar que não eram produções do
próprio portal.
As reportagens eram produzidas e editadas pelas equipes de jornalismo da
TV, compostas por produtores, repórteres, cinegrafistas, editores e apresentadores,
ou seja, envolvia toda uma equipe. As produções foram durante um curto período de
tempo disponibilizadas no site, a exemplo de outras emissoras afiliadas a Rede
Globo, que publicam grande parte do material de seus telejornais na web.
Após a preparação do material: compactação, seleção de imagem de
destaque para a matéria, definição de título e chamada da notícia, as reportagens
audiovisuais da televisão eram subidas até a página do portal no notapajos.com por
meio de um servidor de vídeo localizado dentro da globo.com.
A disposição de vídeos no portal não deu certo, pois necessitava de tempo
por parte dos profissionais, a empresa não obtinha retorno econômico e a audiência
não era satisfatória, uma vez que os vídeos não eram visualizados, devido a região
possuir pouca adesão ao serviço de banda larga.
41
5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
Os dados apresentados a seguir foram coletados a partir da técnica de
observação participante e aplicação de uma entrevista em profundidade com o
coordenador do portal notapajos.com e gerente de TI, Grazziano Guarany. A
importância dos dados é proporcionar respostas as investigações da pesquisa.
5.1 A experiência de videorreportagem no portal notapaj os.com
O portal notapajos.com tem poucas publicações que possuem
videorreportagens. Pelo que se tem registrado em arquivos do próprio site, ao todo,
no período de novembro/2011 a julho/2012 foram feitas 14 coberturas jornalísticas
de diversos temas (Círio 2011, Dia de votação do Plebiscito no Pará, Acidente na av.
Rui barbosa, JN no Arv em Santarém, Lançamento local do episódio A Selvagem de
Santarém da Série As Brasileiras, Lançamento Local da novela Amor Eterno Amor,
Acidente entre motocicletas, Apresentação de projeto do Shopping Rio Tapajós,
Aniversário da escola Carequinha, lançamento do filme de Camila Pitanga, Show da
banda Roupa Nova, Etapa do Projeto Amigos da Escola e Dia da Esperança em
Santarém ), nas quais se identificou a a utilização do formato, porém optamos por
analisar somente as três primeiras coberturas.
Conforme Mariguella (2011, p. 14) a quantidade de vídeos disponibilizados na
internet cresce, entre essas produções está inlcusa a videorreportagem. Segundo o
autor, o ciberespaço é um ambiente ideal para a experimentação de novos formatos:
“a tendência é que cada vez mais a utilização de vídeos no jornalismo online
aconteça”.
5.1.1 O relato da primeira experiência
De acordo com as informações coletadas a partir da técnica de observação
participante, a primeira experiência ocorreu no dia 27 novembro de 2011, quando os
dois editores de web que trabalhavam no portal na época realizaram a cobertura do
Círio de Nossa Senhora da Conceição, festividade religiosa da região. Como o portal
42
ainda não possuia seus próprios equipamentos foi utilizado o smartphone do
coordenador do site.
Mariguella (2011, p. 26) enfatiza que a equipação de videorrepórteres com
smartphones no Brasil ainda é tímida, mas jornalistas de emissoras internacionais
como a BBC utilizam Iphone 4 para a produção de áudio, vídeo e foto de mais
qualidade e rapidez: “segundo Fran Unswort, chefe de apuração da emissora, os
smartphones têm um papel importante nas coberturas jornalísticas hoje em dia. [...]
Com a tecnologia fica também muito mais ágil o envio de material para a emissora”.
Tratava-se do início de uma experiência no portal, tanto no formato, como no
uso da tecnologia. Foi a primeira tentativa de utilização de smartphone para a
produção de videorreportagens.
A equipe de cobertura, formada pelos dois editores de web e pelo
coordenador do portal delegaram funções. Os editores foram encarregados de
acompanhar os acontecimenos da procissão no local, enquanto que o coordenador
ficou na redação do portal recebendo informações e atualizando uma matéria com
texto previamente preparado, notícia essa, que em seguida, teve a inserção das
videorreportagens e que tinha como título Círio 2011: acompanhe os principais
momentos em vídeo. Os editores sairam para externas com um smartphone,
acompanhado de um fone de ouvido que possui um pequeno microfone, além de
uma câmera fotográfica profissional, mas sem nenhuma pauta na mão, apenas com
a ideia de produzir matérias em vídeos sobre o círio.
Segundo Mariguella (2011) foi desta forma que aconteceram as primeiras
experiências do formato no Brasil, na década de 80, na TV Gazeta. Lima (2011,
apud MARIGUELLA, 2011, p. 10) explica que não possuir uma pauta definida, é uma
das características da videorreportagem:
[...] ele tinha uma pauta genérica, uma intelectualização da pauta na cabeça. Ele precisava ser inteligente, ter uma cabeça de editor porque muitas vezes a matéria ia para o ar sem edição.
43
A maioria dos estudiosos seguem a mesma linha de pensamento do autor
supracitado, que a videorreportagem envolve uma equipe mínima, mas há autores,
como Thomé (2011. p.16) que discondam em parte, ao ressaltar que “pode haver
outros profissionais relacionados como, por exemplo, pauteiro e diretor”.
Na experiência do portal, as pautas foram identificadas no local. Foram
levados em consideração fatos de interesse público, sem fugir do tema central, o
Círio de Nossa Senhora da Conceição. Para Castilho (2004, p. 3), o videorrepórter é
essencialmente aquele jornalista que trabalha sozinho em campo, utilizando uma
câmera de vídeo para produzir suas reportagens. Tal característica é comprovada
quando os editores, apesar de estarem fazendo a cobertura juntos, produziram as
videorreportagens individualmente, revesando o aparelho. A partir daqui, os editores
passam a ser identificados como videorrepórteres.
A primeira produção audiovisual teve como tema os cordeiros, fiéis que
seguram a corda localizada em volta da imagem da Santa. O foco da
videorreportagem foi mostrar aquelas pessoas que acordam de madrugada para
conseguir um lugar na corda. A ideia da videorreportagem surgiu de maneira
espôntanea.
A videorreportagem iniciou com uma breve narração do que era visto no local
naquele momento, em seguida a câmera do smartphone foi direcionada para um dos
cordeiros, a partir daí, o videorrepórter realizou uma entrevista. Neste caso, o
videorrepórter aplicou o que Thomaz (2006, p. 95) definiu como plano sequência ou
câmea corrida:
O movimento ocorre quando a gravação da imagem e a narração acontecem ao mesmo tempo, exigindo, dessa maneira, mais reflexo, planejamento e preparo do jornalista, pois ele precisa se preocupar com o texto, as imagens e o entrosamento de ambos sem cortes de edição.
Thomé (2011) também defende a utilização do plano sequência nas
produções. Segundo ela, desta forma é possível aproveitar o som ambiente, além de
possibilitar um dinamismo para a matéria.
44
Após finalizado, o material foi enviado imediatamente para o canal do portal
notapajos.com no site de compatilhamento youtube. Da rua, os videorrepórteres
informaram o coordenador que o vídeo já estava publicado. O trabalho seguinte foi a
análise do material e posterior incorporação da videorreportagem na íntegra dentro
da notícia na página do portal notapajos.com. Sem qualquer tipo de edição, a notícia
foi publicada urgentemente. “Na videorreportagem, a dinâmica do trabalho
jornalístico e as rotinas impostas permitem que ela seja veiculada com um certo
imediatismo” (GUIRADO, 2008, p.141).
Neste mesmo dia, ao longo da procissão foram produzidas mais 14
videorreportagens, todas com a utilização apenas de um smartphone. Ficou evidente
em todas as matérias a utilização da linguagem da videorreportagem, uma vez que
foram feitas por uma pessoa, em plano sequência com narração dos fatos e
publicadas sem edições.
Na matéria Círio 2011: acompanhe os principais momentos em vídeo, onde
as videorreportagens foram inseridas, constatou-se que 1.673 pessoas leram a
notícia e 16 fizeram comentários.
5.1.2 Cobertura do Plebiscito
A segunda experiência de videorreportagem foi realizada no dia 11 de
dezembro de 2011, dia em que houve o plebiscito sobre a divisão do estado do
Pará. A matéria publicada no portal teve como título: Acompanhe em vídeo a
votação do plebiscito.
Faziam aproximadamente 15 dias que os primeiros testes tinham sido feitos.
A equipe decidiu mais uma vez apostar na uilização do formato em grandes
coberturas, neste caso, um fato político de grande importância para a região. O
plebiscito que consultou a população paraense sobre o desmembramento de
território para a formação de três estados: Pará, Carajás e Tapajós.
Seguindo o mesmo esquema da cobertura do Círio: uma pessoa atualizava as
notícias da redação, enquanto os videorrepórteres enviavam o material da externa.
45
Na rua, apenas com o smartphone, os videorrepórteres saiam em busca de
matérias. Uma delas foi feita na escola Plácido de Castro, um dos locais de votação
mais movimentados da cidade. Nota-se que a linguagem das produções se
adequavam a definição de videorreportagem, por seguirem o plano sequência, com
narração de cenas vistas e envolvimento com o ambiente.
Barbeiro e Lima (2005, p. 76) identificam que o novo formato permite que o
repórter se envolva na história que acompanha. Isso pôde ser observado quando o
videorrepórter foi acompanhar a votação na escola Álvaro Adolfo e se deparou com
uma idosa, que mesmo recebendo o auxílio da filha, tinha dificuldades de subir as
escadas para chegar a sua sala de votação. A cena chamou atenção e o
videorrepórter imediatamente ligou a câmera, se aproximou da senhora, conversou
com ela sobre as dificuldades em subir os degraus e falou com a filha sobre
questões de acessibilidade nos locais de votação. Quando a idosa não respondia as
perguntas, devido os obstáculos, o videorrepórter narrava e mostrava os degraus da
escada e também o percurso que seria seguido.
Thomé (2011) considera que essa particularidade do olhar de cada
videorrepórter, como relatado acima, caracteriza a videorreportagem como gênero
informativo e valoriza mais o material enquanto linguagem. “Ao trabalhar o vídeo e o
áudio ao mesmo tempo, o videorrepórter consegue ambientar e dar um colorido de
muito mais proximidade à realidade vivida” Falzoni (2006, apud THOMÉ, 2011, p.
12).
Na matéria Acompanhe em vídeo a votação do plebiscito, na qual mais seis
videorreortagens foram inseridas, registrou-se 1.834 leituras e um comentário.
5.1.3 Cobertura do Acidente na Rui Barbosa
A terceira cobertura avaliada por esta pesquisa é referente ao acidente de
trânsito que aconteceu na avenida Rui Barbosa, no centro da cidade de Santarém,
no dia 13 de dezembro de 2011, na qual duas pessoas foram mortas atropeladas e
três ficaram feridas.
46
Por volta das 9 horas da manhã, um dos editores de web recebeu
informações sobre o grave acidente. No jornalismo, as notícias factuais (conhecidas
como pautas quentes, há a necessidade de serem noticiadas com urgência para não
perderem o valor) tem prioridade. Ao identificar o fato, a equipe se mobilizou e
definiu um editor para fazer as apurações no local.
Sobre esses acontecimentos inesperados para um videorrepórter, Thomé
(2011, p. 23) afirma que “o trabalho com o acaso torna o material mais singular,
impossível de ser copiado ou reproduzido pelo outro profissional”, mas salienta que
as pautas frias, podem ser melhor elaboradas pelo videorrepórter, uma vez que o
tempo de produção é maior, permitindo que o profissional explore a criatividade.
Ainda nesta mesma linha de considerações, Thomaz (2006, p. 95) diz que “o
videorrepórter assume o papel de autor exclusivo”, pois no momento de ir a campo
ele precisa dominar as técnicas de produção de pauta, para investigar a situação de
interesse público, os possíveis entrevistados e imagens que serão registradas. Isso
foi observado quando o editor, já com equipamento (smartphone) em mãos,
percebeu a proporção do ocorrido, prontamente começou a gravação fazendo um
relato das cenas que via, em seguida entrevistou o comandante do Corpo de
Bombeiros e um perito do Instituto Médico Legal (IML), praticando a agilidade
sugerida pela autora.
De acordo com informações do coordenador do portal, essa foi a cobertura
com videorreportagens em que o portal mais obteve retorno em audiência. Foram
registadas 13.769 leituras e 67 comentários na notícia que tinha como título: Ônibus
perde o controle avança sobre pedestres.
Segundo Ministério do Planejamjento (2010, p. 31) quando as informações
possuem impactos emocionais e são difundidas em imagem em movimento conta-se
com a ajuda dos sentidos: audição e visão, o que garante mais atenção do cidadão.
Nota-se que mesmo as duas primeiras coberturas: círio e plebiscito, tendo em seus
títulos a palavra vídeo, não chamaram tanto a atenção dos leitores quanto a do
acidente.
47
Apesar disso, o entrevistado não atribuiu a quantidade de acessos ao fato da
notícia possuir videorreportagens, mas sim ao caso de ser uma tragédia, e que
grande parte da população estava em busca de informações: “[...] nós estávamos
alimentando a notícia, foi uma tragédia e chamou atenção. Aquilo ali se fosse
colocado com fotos, daria o mesmo resultado”.
Neste dia, foram inseridas nove videorreportagens na notícia.
5.2 As Resistências
Após as três primeiras experiências, o coordenador do portal conseguiu que a
diretoria do STC investisse em equipamentos para os videorrepórteres. Cada um
recebeu um iphone 4S para realizar as produções.
O trabalho com videorreportagem continuou nos meses seguintes, porém de
forma esporádica, fazendo somente a cobertura de fatos mais notáveis na
sociedade, uma vez que a equipe, formada apenas por dois videorrepórteres não
era suficiente para que as criações acontecessem frequentemente, pois a prioridade
era ficar na redação fazendo alimentação de conteúdo no site, esta dinâmica de
trabalho não possibilitava a realização de externas.
Além de a equipe ser pequena, outro obstáculo destacado pelo entrevistado
foi questões econômicas, pois fazer vídeos para a web requer custos, como afirma
Guarany: “o vídeo para nossa região ainda é uma incógnita porque a produção de
vídeo tem um custo, esse custo precisa ser pago”.
Para Mariguella (2011, p. 14) “a banda larga vem crescendo a cada dia, mas
até pouco tempo ainda não atingia muitos locais e tinha o valor bem elevado. Isso
era uma barreira tanto para quem produzia o conteúdo quanto para quem iria assisti-
lo.” O coordenador considera que na cidade de Santarém, onde o portal funciona,
essa barreira, citada pelo autor, ainda existe. Quem produz conteúdo audiovisual na
internet na região ainda esbarra com a falta de adesão da internet banda larga. A
maioria da população não possui o serviço no qual a capacidade de transmissão de
dados é superior a utilização de redes de telefonia convencional.
48
Mesmo conhecendo os possíveis obstáculos, o coordenador do portal
explicou que a princípio a equipe apostou no novo formato. A expectativa era que as
notícias que continham videorreportagens trouxessem como saldo, maior audiência
para o portal, mas os testes não alcançaram o resultado esperado. “[...] nós
começamos a utilizar vídeos e o processo, custo de produção em vídeo era muito
alto e o resultado em audiência não era satisfatório”, enfatiza o entrevistado.
A pesquisa mostra que o portal notapajos em Santarém, assim como outros
portais do Brasil foi um dos poucos veículos que experimentou a nova linguagem.
Mariguella (2011, p. 14) apresenta alguns portais brasileiros que investiram no
formato:
O Universo On Line (UOL), por exemplo, contava com dois videorrepórteres na equipe do UOL News, que era comandado pelo jornalista Paulo Henrique Amorim em 2004. Já a América On Line (AOL) apostou no formato desde o início de suas operações no Brasil. Antes de2004 existiram experiências em portais e sites, mas neste ano precisamente a videorreportagem foi encarada de maneira mais clara como um formato de produção interessante para a web.
Conforme Mariguella (2011) a iniciativa dos portais ligados a empresas de
comunicação foram essenciais para se conhecer as potencialidades das plataformas
online para o webjornalismo.
Diante das várias limitações para a criação dos vídeos, o entrevistado ressalta
que o portal preferiu concentrar a criação de conteúdo em texto e imagem, pois o
retorno em audiência é maior do que manter as matérias contendo as
videorreportagens. “Uma boa matéria de texto a gente chega a ter 15 mil leituras os
vídeos com mais visualizações nós chegamos a ter mil visualizações, sendo que a
produção de uma matéria com vídeo custa 10, 15 vezes mais do que a matéria de
texto”. Em julho de 2012 o portal deixou de trabalhar com videorreportagens.
Atualmente não é regra a utilização de vídeos no portal, mas a equipe
continua apostando no valor das produções e tem planos futuros, a principal entrave
é que no momento não é prioritário para o veículo. É viável do ponto de vista
técnico, mas não dá retorno econômico. É uma experiência, aparentemente, adiante
do seu tempo.
49
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo do estudo foi identificar se as experiências de publicações em
vídeo do portal de notícias notapajos.com se encaixam nas características que
definem o formato como videorreportagem. Após a análise foi possível entender de
forma precisa a nova linguagem que surge em jornalismo.
Diante do material coletado e interpretado confirmou-se que a proposta de
inserção de vídeos nas matérias veiculadas no portal se adequam aos conceitos de
videorreportagem.
A videorreportagem sempre passou por diversos obstáculos, e por ser um
formato novo poucos profissionais apostavam em seu desenvolvimento. Nota-se que
motivo principal de surgimento do formato está ligado a economia, pois as empresas
de comunicação viam na videorreportagem uma forma de redução de custos. Ao
invés de contratar uma equipe com até cinco profissionais, optou-se por um único
profissional, considerado multifuncional por produzir, filmar, entrevistar, editar e em
alguns casos até publicar o material elaborado.
Produzir videorreportagens utilizando smartphones foi uma alternativa que o
portal notapajos encontrou para disponibilizar as notícias com mais rapidez para seu
público, utilizando de forma eficiente a característica de instantaneidade da internet.
Inicialmente, as três primeiras experiências demonstraram que a equipe apostava na
nova linguagem, a expectativa era que o formato se consolidasse e pudesse mais
tarde, fornecer retorno em maior audiência para o veículo.
Atualmente o formato está ganhando espaço, especificamente na internet,
isso devido os avanços tecnológicos que possibilitaram maior quantidade de
produções audiovisuais e ao momeno de convergência dos meios em qual se vive.
O formato passou a ser tendência em grande portais nacionais e
internacionais e aparenta está cada vez mais se firmando como nova linguagem no
50
mercado da internet: “85% dos sites de mídia norte-americanos usaram vídeos para
ilustrar notícias em 2010, um aumento de 33% em relação a 2009. Esse aumento
também é visível aqui no Brasil” (Mariguella, 2011, p. 32).
Percebe-se que no portal notapajos.com, caso a criação de videorreportagens
volte a ser utilizada, essa consolidação deva ocorrer a longo prazo, devido as
dificuldades enfrentadas na região. As condições não se mostram favoráveis para a
veiculação de videorreportagens na internet na cidade de Santarém. Não há um
retorno benéfico em audiência para o veículo, uma vez que o público alvo é a
população santarena - a maioria das notícias possuem informações regionais - esse
público não tem o costume de consumir vídeos, o que resulta em uma baixa
audiência.
A falta de interesse em assistir vídeos pode estar ligada a velocidade de
banda larga disponibilizada na região. O serviço que possibilita mais velocidade para
a internet tem poucos adeptos. Como a maioria das notícias não são de interesse
nacional, de onde poderiam surgir mais acessos, o gerente de TI avalia que não vale
a pena para o portal investir nas produções, porque não tem público suficiente para
viabilizar economicamente o investimento neste formato.
Outro motivo que inviabilizou a proposta de utilização do formato foi a questão
de tempo da equipe de trabalho, que em muitos casos deixava de atualizar o site
para fazer ir a campo fazer as produções audiovisuais. Um portal de notícias sem
informações atualizadas perde a credibilidade e isso reflete diretamente na
quantidade de visitas. Observa-se que o trabalho dos videorrepórtres rendia, porém
não se convertiam em audiência.
O custo nas produções também foi uma das causas para o encerramento com
os trabalhos em videorreportagem. O investimentos em equipamentos já tinham sido
feitos, mas era necessária manutenção e internet de qualidade para os profissionais,
ainda da rua, enviarem os vídeos para o canal do youtube. Além de recusos
finaceiros para os videorrepórteres se transportarem até os locais de externa, pois o
portal não possui transporte próprio.
51
REFERENCIAS
AGNEZ, Luciane Fassarella. A Convergência Digital na Produção da Notícia: Reconfigurações na rotina produtiva dos jornais Tribuna do Norte e Extra. 2011. 166f. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. BARBEIRO, Heródoto; LIMA, Rodolfo de. Manual do telejornalismo: os segredos da notícia na TV. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. BRASIL. Ministério do Planejamento Orçamento e Gestão. Secretaria de Logísitica e Tecnologia da Informação. Padrões Brasil e-Gov: Cartilha de Redação Web. Brasília: color, 2010. CASTILHO, Paulo. A videorreportagem como forma de popularizar a prod ução e o consumo de conteúdo multimídia na internet. V Congresso Iberoamericano de Jornalismo na Internet. Salvador, 2004. CORRÊA, Elizabeth Saad; CORRÊA, Hamilton Luís. Convergência de mídias: primeiras contribuições para um modelo epistemológi co e definição de metodologias de pesquisa. 5º ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISADORES EM JORNALISMO. Sergipe, 2007. DUARTE, Jorge; BARROS, Antonio. Métodos e Técnicas de Pesquisa em Comunicação. São Paulo: Atlas, 2005. GUIRADO, Maria Cecília (org.). Processos midiáticos em construção: Brasil 200 anos. São Paulo: Arte e Ciência, 2008. JENKINS, Henry. Cultura da convergência. São Paulo: Aleph, 2009. LÉVY, Pierre. Cibercultura. Tradução de Carlos Irineu da Costa. São Paulo: Editora 34, 1999. MACHADO, Filho Francisco; THOMAZ, Patrícia. A videorreportagem como tendência na convergência digital. Intercom - Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. XIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste. São Paulo, 2008.
52
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de Metodologia Científica. São Paulo: Atlas, 2010. MARIGUELA. A videorreportagem no ciberespaço. 2011, 72, Pós Graduação, especialização em comunicação jornalística – Faculdade Cásper Líbero. MELLO, Christine. Convergência das mídias. XXX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Santos, 2007. OLIVEIRA, Maria Marlu de. Como fazer pesquisa qualitativa. ed. Petrópolis, Rio de Janeiro: vozes, 2008. PATERNOSTRO, Vera íris. O texto na TV: Manual de telejornalismo. Rio de Janeiro: Elsevier, 1999. PINHO, J.P. Jornalismo na Internet: planejamento e produção da informação on-line. São Paulo: Summus, 2003. SILVA, Karina de Araújo. A videorreportagem no telejornalismo: modo de endereçamento do programa Passagem Para. Bahia, 2008. THOMAZ, Patrícia. A linguagem experimental da videorreportagem. INOVCOM, Vol. 1, No 2, p. 92-99 – 2006. THOMÉ, Carol. VIDEORREPORTAGEM: A arte de produzir além do telejornalismo. São Paulo: All Print, 2011.
53
APÊNDICE A
ENTREVISTA GERENTE DE INFORMÁTICA DO STC
A entrevista a seguir é parte de pesquisa que está sendo desenvolvida pela aluna
Anna Karla de Sousa Lima, intitulada “A experiência de videorreportagem no
portal de notícias notapajos.com” , orientada pela Prof. Paulo Lima. O objetivo
principal é identificar se as produções audiovisuais do veículo se encaixam no
conceito e características de videorreportagem. O resultado servirá de base para a
elaboração do Trabalho Acadêmico Orientado, requisito para a conclusão do Curso
de Bacharel em Comunicação Social/ Jornalismo do Instituto Esperança de Ensino
Superior – Iespes. A sua participação na pesquisa não incorrerá em riscos ou
prejuízos de qualquer natureza.
Sua colaboração é importante e, desde já, meus sinceros agradecimentos.
1. Há quanto tempo o portal notapajos existe?
2. Como é formada a equipe de trabalho e suas respectivas funções?
3. Como são cumpridas as escalas de trabalho?
4. Qual o processo de produção de notícias?
5. Quais os critérios de seleção das matérias publicadas?
6. Qual o sistema utilizado na administração interna do site?
7. Como está dividida página do site?
8. Como é medida a audiência?
9. Qual a quantidade de acessos diários e qual o crescimento desde a fundação?
10. Quando começou a utilização de vídeos? De onde surgiu a ideia?