a expansÃo do calvinis - ri/ufs

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA A IGREJA DE GENEBRA NO BRASIL: A EXPANSÃO DO CALVINISMO NO CAMPO EVANGÉLICO CONTEMPORÂNEO Pedro André de Sousa Peixoto São Cristóvão Sergipe - Brasil 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA

A IGREJA DE GENEBRA NO BRASIL: A EXPANSÃO DO CALVINISMO

NO CAMPO EVANGÉLICO CONTEMPORÂNEO

Pedro André de Sousa Peixoto

São Cristóvão

Sergipe - Brasil

2021

2

PEDRO ANDRÉ DE SOUSA PEIXOTO

A IGREJA DE GENEBRA NO BRASIL: A EXPANSÃO DO CALVINISMO

NO CAMPO EVANGÉLICO CONTEMPORÂNEO.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação

em História da Universidade Federal de Sergipe – UFS,

como requisito obrigatório para obtenção do título de

mestre em História, na Área de Concentração Cultura e

Sociedade.

Orientador: Prof. Dr. Péricles Morais de Andrade Júnior.

SÃO CRISTOVÃO

SERGIPE - BRASIL

2021

3

PEDRO ANDRÉ DE SOUSA PEIXOTO

A IGREJA DE GENEBRA NO BRASIL: A EXPANSÃO DO CALVINISMO

NO CAMPO EVANGÉLICO CONTEMPORÂNEO.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação

em História da Universidade Federal de Sergipe – UFS,

como requisito obrigatório para obtenção do título de

mestre em História, na Área de Concentração Cultura e

Sociedade.

Orientador: Prof. Dr. Péricles Morais de Andrade Júnior.

Defendido em 28 de outubro de 2021.

Prof. Dr. Péricles Morais de Andrade Júnior

Universidade Federal de Sergipe

Prof. Dr. Claudefranklin Monteiro Santos

Universidade Federal de Sergipe

Profa. Dra. Marina Aparecida Oliveira dos Santos Correa

Universidade Metodista de São Paulo

SÃO CRISTOVÃO

SERGIPE - BRASIL

2021

4

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por ter providenciado, junto às dificuldades, auxílio de tantas formas e

por parte de tantas pessoas que um sonho, talvez um pouco mais distante que os trezentos

quilômetros que separam Paulo Afonso na Bahia da UFS, enfim se tornou uma realização, um

objetivo cumprido. Agradeço à minha esposa e minhas crianças, minha mãe, pai e irmãos, meus

familiares, amigos, irmãos, companheiros de mestrado e colegas de trabalho por toda forma de

ajuda e torcida. Aos meus professores e orientador meus sinceros sentimentos de respeito e

gratidão. À Universidade Federal de Sergipe meu sorriso de satisfação por tê-la em minha

formação e em minhas boas memórias. Soli Deo Gloria.

5

A Igreja de Genebra funcionava como o quartel-general desse

movimento missionário, um tipo de Vaticano protestante. Debates

teológicos e questões teológicas do exterior eram enviadas a Genebra

para resolução e esclarecimento. Igrejas missionárias também eram

servidas por uma atuante agência de notícias e por uma rede de

comunicação baseada em Genebra (LINDBERG, 2017, p. 307).

6

RESUMO

Analisamos a expansão do Calvinismo sobre o campo evangélico brasileiro, fenômeno

sentido ao longo das décadas de 2000 e 2010 com o objetivo principal de averiguar sua

realidade, além de produzir uma escrita de sua história. Para tanto, nos embasamos no

princípio fundamental da História Social de conceber o objeto a partir da perspectiva da

coletividade e, utilizamos adaptadamente a estrutura analítica da História Cultural concebida

por Chartier, em especial seu conceito de “representação”, que é manuseado junto a outros

conceitos como “identificação”. Elaboramos um acervo composto por uma variedade de

fontes, majoritariamente disponíveis na Internet. Desse modo, procedemos uma análise

indutiva da expansão calvinista, considerando as fontes como indícios que apontam e

descrevem o fenômeno. Assim, no primeiro capítulo produzimos um conceito histórico

doutrinário para o Calvinismo. No segundo, demonstramos a diminuta influência de doutrinas

distintamente calvinistas no desenvolvimento do Evangelicalismo brasileiro ao longo de sua

história. No terceiro, procedemos com uma escrita da história da expansão calvinista no Brasil

ao longo das décadas de 2000 e 2010, por meio da produção de uma trilha de indícios disposta

cronologicamente. Já o apêndice elenca alguns atributos que caracterizam os calvinistas

brasileiros cuja fé está em expansão.

Palavras-chave: expansão do Calvinismo; campo evangélico brasileiro; representação; identificação.

7

ABSTRACT

We analyze the expansion of Calvinism in reference the Brazilian evangelical field, a

phenomenon felt throughout the 2000s and 2010s with the main objective of ascertaining its

reality, also to producing a writing of its history. For that, we base ourselves on the

fundamental principle of Social History of conceiving the object from the perspective of the

collectivity and, we adaptively use the analytical structure of Cultural History conceived by

Chartier, in particular, its concept of “representation”, which is handled together with other

concepts such as “identification”. We create a collection composed of a variety of sources,

mostly available on the Internet. Thus, we proceeded with an inductive analysis of the

Calvinist expansion, considering the sources as clues that point and describe the phenomenon.

Thus, in the first chapter we produce a doctrinal historical concept for Calvinism. In the

second, we demonstrate the tiny influence of distinctly Calvinist doctrines on the development

of Brazilian Evangelicalism throughout its history. In the third, we proceed with a writing of

the history of Calvinist expansion in Brazil throughout the 2000s and 2010s, through the

production of a trail of clues arranged chronologically. The appendix lists some attributes that

characterize Brazilian Calvinists whose faith is expanding.

Keywords: expansion of Calvinism; brazilian evangelical field; representation; identification.

8

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 10

CAPÍTULO I – CALVINISMO E CALVINISTAS (REPRESENTAÇÃO E

IDENTIFICAÇÃO) ............................................................................................................... 17

1.1 ANTES DE CALVINISTA, PROTESTANTE ................................................................ 17

1.2 DOUTRINA CALVINIANA, A GÊNESE DA IDENTIFICAÇÃO CALVINISTA ...... 23

1.3 A SOBERANIA DE DEUS NA SALVAÇÃO NOS CINCO PONTOS DO

CALVINISMO (TULIP) .................................................................................................. 28

1.4 PURITANISMO E CALVINISMO ................................................................................. 35

1.5 NEOCALVINISMO. UMA COSMOVISÃO CRISTÃ ................................................... 45

1.6 CONCLUSÃO .................................................................................................................. 53

CAPÍTULO II – CAMPO EVANGÉLICO BRASILEIRO: A ESCASSA

PARTICIPAÇÃO DO CALVINISMO NO DESENVOLVIMENTO DE SUA

REPRESENTAÇÃO ............................................................................................................. 55

2.1 CENÁRIO INTERNACIONAL DE DECADÊNCIA ..................................................... 57

2.2 CENÁRIO NACIONAL DE INSERÇÃO (1850-1900) .................................................. 68

2.3 CENÁRIO NACIONAL DE EXPANSÃO NO SÉCULO XX ........................................ 75

2.3.1 O caso da Congregação Cristã no Brasil ................................................................... 83

2.4 CONCLUSÃO .................................................................................................................. 85

CAPÍTULO III – A EXPANSÃO DO CALVINISMO NO CAMPO EVANGÉLICO

BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO ................................................................................. 87

3.1 RESSURGIMENTO CALVINISTA NOS ESTADOS UNIDOS ................................... 88

3.1.1 Possíveis expansões calvinistas em diferentes países ................................................ 95

3.2 A EXPANSÃO DO CALVINISMO NO CAMPO EVANGÉLICO BRASILEIRO NAS

DÉCADAS DE 2000 E 2010 ........................................................................................... 96

3.2.1 Conclusão .................................................................................................................... 118

CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 120

REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 122

FONTES GERAIS ............................................................................................................... 122

FONTES ESPECÍFICAS DO RESSURGIMENTO CALVINISTA NOS EUA E DAS

POSSÍVEIS EXPANSÕES EM OUTROS PAÍSES ......................................................... 124

9

FONTES ESPECÍFICAS DA EXPANSÃO CALVINISTA NO BRASIL ..................... 127

BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................. 140

APÊNDICE A - QUEM ELES PENSAM QUE SÃO? IDENTIDADE CALVINISTA NO

BRASIL CONTEMPORÂNEO ......................................................................................... 147

10

INTRODUÇÃO

Em 2015 a editora Casa Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD) administrada

pela Convenção Geral do Ministros das Igrejas Evangélicas Assembleias de Deus do Brasil

(CGADB), maior denominação protestante do país1 iniciada em 1910, publicou As Obras de

Armínio, uma compilação de vários textos em três volumes do teólogo neerlandes do século

XVI. A produção de Jacob Armínio se fez importante especialmente na área da Soteriologia,

ramo da Teologia que aborda as questões pertinentes à salvação do homem por parte de Deus.

A qual se opõe à perspectiva calvinista sobre o tema.

Como veremos, a perspectiva teológica acerca da salvação desenvolvida ao longo

dos séculos por Armínio, por outras figuras notáveis como John Wesley (1703-91) e pelo

público em geral, a qual ficou popularmente conhecida como Arminianismo, se tornou

hegemônica entre os evangélicos no mundo a partir da segunda metade do século XVIII. O

que relegou ao ostracismo a fé calvinista, outrora protagonista da Reforma Protestante.

Apesar do histórico predomínio da perspectiva arminiana sobre salvação entre os evangélicos

no Brasil, Armínio e sua obra nunca foram popularmente conhecidos deste público. Isso, pois

a fé arminiana alcançou tamanho grau de influência sobre o Protestantismo que sua

perspectiva soteriológica acabou se popularizando como se fosse a própria doutrina

evangélica sobre salvação, alienando-se das demais, principalmente da destoante calvinista.

Diante disso, é significativa a publicação das Obras de Armínio por parte da CPAD,

especialmente devido ao motivo inédito trazido pela própria editora no site de divulgação dos

livros, em que consta um texto escrito pelo teólogo e pastor assembleiano Silas Daniel,

entitulado: EM DEFESA DO ARMINIANISMO: Uma análise sobre a recente ascensão do

Calvinismo no Brasil e uma exposição do que ensina, de fato, o Arminianismo (2015).

No ano seguinte o teólogo e pastor Augustus Nicodemus Lopes (1954), vice-

presidente do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB), chanceler da

Universidade Presbiteriana Mackenzie entre 2003 e 2013 e um dos calvinistas mais influentes

do país, vivenciou uma polêmica situação. Sua palestra que deveria ocorrer na livraria CPAD

Megastore acabou sendo cancelada. Isso, pois algumas lideranças das Igrejas Assembleias de

Deus, como o pastor Altair Germano protestaram contra a presença do pastor presbiteriano,

alarmando sobre o perigo da penetração de doutrinas calvinistas no meio assembleiano

(CHAGAS, 2016).

1 Doze milhões e trezentos mil membros em 2010 de acordo com o censo do IBGE. Para se ter uma ideia da

dimensão das ADs (Assembleias de Deus) no Brasil, as várias denominações batistas juntas estão em segundo

lugar com três milhões e setecentos mil (CORREA, s/d a, sl. 19).

11

Eis o objeto sobre o qual nos debruçaremos: a existência de uma inédita expansão do

Calvinismo, ou fé reformada, não somente em meio assembleiano, mas no campo evangélico

brasileiro como um todo, e isto ao longo das décadas de 2000 e 2010. Trata-se de um

fenômeno que embora relativamente recente e aparentemente ainda não findado, já teria

adentrado duas décadas do novo século, além de se fazer cada vez mais percebido no meio

evangélico. Apesar disso, a estrutura acadêmica de pesquisa e produção de conhecimento no

Brasil, em especial que se dedica ao campo religioso e mais especificamente ao campo

evangélico ainda não se despertou para seu estudo. As pesquisas acadêmicas sobre o

fenômeno ainda são escassas. Diante disso, este trabalho possui um caráter inédito e pode

fomentar uma ampliação dos estudos sobre o Calvinismo e sua expansão no país, bem como

contribuir com o desenvolvimento da produção de conhecimento sobre o campo religioso.

Diante da existência de uma série de indícios que apontam o fenômeno e da ainda

insipiência tanto de dados quantitativos organizados como de análises acadêmicas sobre o

tema, nossa pesquisa trata as fontes como sinais reveladores de uma possível realidade ainda

não descrita metodologicamente, nos moldes da ciência histórica. Desse modo, segue-se o

modelo indutivo de pesquisa, mais adequado à relação do nosso objeto com suas fontes,

semelhantemente ao apresentado por Ginzburg (1989, p. 143-180) e Prost (2008, p. 64-73) em

tais casos. As particularidades do pressuposto fenômeno e das fontes sobre este, percebidas ao

longo de sua investigação nos conduzem no concomitante processo de seleção do

instrumental teórico metodológico que bem se relacione aos temas componentes e interligados

à expansão da fé reformada, sinônimo de Calvinismo. Ciente que o corpo teórico

metodológico requerido também exerce influência sobre a análise dos temas e a prórpia

seleção destes, conforme pontua Prost (2008, p. 66-94).

Nossa pesquisa faz uso de um princípio essencial da História social, a perspectiva da

coletividade enquanto principal dimensão do objeto historicizado. Os eventos se relacionam à

grupos sociais (como os evangélicos), uma “entidade coletiva” até certo ponto personificada

quanto ao elenco de atributos formadores de representação e suas respectivas nomenclaturas.

Os eventos não são tratados pela repercussão sobre um indivíduo somente, como no máximo

do recorte temático, tampouco são tão abrangentes a ponto de se conectarem a qualquer grupo

social (PROST, 2008, p. 189-209). Antes, nossa análise se concentra no campo evangélico

brasileiro, considerando tanto a perspectiva da diferença, por conta de sua variedade interna

de grupos (como presbiterianos e pentecostais), como da semelhança, o que os caracterizam

como integrantes do mesmo campo ou grupo social (CASTRO, 1997, p. 81).

Amparado pela noção de Bourdieu sobre o conceito de campo (1989, p. 59-74; 2007,

12

p. 27-78) e de acordo com as especificidades da pesquisa, consideramos o termo campo como

um espaço sócio histórico delineado por uma unidade temática, que põe em relevo sua relativa

autonomia diante de outros campos sociais. Isso nos permite analisar suas relações internas

em termos de formação identitária dos seus integrantes e de desenvolvimento de uma

representação do campo, de acordo com seu tema unificador. O termo evangélico, homólogo

à protestante, é o tema unificador que especifica o campo tratado. Assim, são arregimentados

indivíduos e grupos denominados por esse termo, cujas crenças e doutrinas que os identificam

são direta ou indiretamente enraizadas na Reforma Protestante do século XVI. O que os fazem

participantes do processo histórico de contínua formação do Protestantismo.

Por fim, o termo brasileiro especifica o ambiente em que ocorreria a expansão

calvinista. Apesar de tratarmos brevemente de situações semelhantes, como ocorrido nos

Estados Unidos, estas servem de reforço à compreensão do ocorrido no Brasil. Manuseamos

desse modo o conceito de campo evangélico brasileiro, que abarca cerca de quarenta e dois

milhões e trezentas mil pessoas (22,2% da população), assim classificadas no censo de 2010

(IBGE, 2012). Sendo que os evangélicos ou protestantes são encontrados no país,

ininterruptamente, porém de modo insipiente, a partir de meados do século XIX

(MENDONÇA, VELASQUES FILHO, 1990; MENDONÇA, 2005). Para tanto, nos

aproveitamos de algumas concepções, encontradas especialmente no repertório bourdieusiano

sobre campo e campo religioso (1989, p. 59-74; 2007, p. 27-78). Todavia de modo elementar,

sem adentrar em suas mais complexas especificidades conceituais, devido a nossos objetivos

mais restritos, a saber, construir uma sintética representação histórico doutrinária do campo

evangélico nacional e do Calvinismo. O que colabora com o objetivo principal de investigar a

realidade da expansão da fé calvinista ou reformada sobre tal campo. Sendo assim, outras

expressões aparecem no decorrer do texto trazendo o mesmo sentido do referido campo, tais

como cenário, meio evangélico e Evangelicalismo.

Nosso texto se utiliza em maior grau da estrutura epistêmica da História Cultural. Em

especial, do procedimento de Chartier para produção do que ele denomina de “Uma

sociologia histórica das práticas culturais” (2002, p. 13) por meio do manuseio dos termos

representação, prática e apropriação que dão suporte ao desenvolvimento de nosso

empreendimento. Os três termos são aproveitados tanto direta quanto analogamente de acordo

com as especificidades do nosso objeto, possibilidades dadas pelas fontes e interesses da

pesquisa. Considerando-se o conceito de representação como instrumento principal diante dos

outros dois, os quais dão suporte a este.

Aqui, representação possui um caráter mais assumidamente objetivo que na utilizada

13

obra de Chartier. Ele, em busca etimológica do termo, expõe uma tensão, pois tanto trata de

“representação como dando a ver uma coisa ausente, o que supõe uma distinção radical entre

aquilo que representa e aquilo que é representado” (2002, p. 20), como também

“representação como exibição de uma presença, como apresentação pública de algo ou de

alguém.” (2002, p. 20). Nosso manuseio do termo melhor se coaduna com o segundo sentido

trazido pelo historiador francês. Assim, consideramos representação como um conjunto de

atributos que caracterizam um grupo.

O conceito de apropriação inspira e completa o de popularização, sendo este último

mais utilizado no trabalho. Popularização que trata da apropriação sintetizante e generalizada

dos atributos do grupo por parte dos seus integrantes, do reconhecimento generalizado que

tais características são representativas do grupo, tanto por seus participantes como por

integrantes de outros grupos. O termo prática e seu sentido são menos explorados em nosso

texto. Em seu lugar trabalhamos com as ideias de construção, produção e, principalmente, de

desenvolvimento. Essas pressupõem uma prática, contudo, nesse caso remetem ao constante

processo de construção coletiva, especificamente das crenças ou doutrinas2 que representam o

grupo.

O processo de desenvolvimento doutrinário se dá, especialmente, em duas vias

distintas, porém de modo relacional. A 1ª é a produção doutrinária executada por teólogos, os

especialistas; a 2ª é a posterior apropriação das doutrinas por parte dos leigos, ou não

especialistas. Eles também são componentes do grupo, porém não possuem o capital teológico

dos primeiros, não ocupam cargos eclesiásticos institucionais, nem gozam do poder

proveniente desta posse. Pela divulgação das doutrinas dos especialistas para os leigos e

destes para os demais, há, nas palavras de Bourdieu, uma “vulgarização” (2007, p. 51) destas.

Pelo que costuma haver uma simplificação das doutrinas, por exemplo sob a forma de

2 No texto, a incidência do termo doutrina é maior que a do termo dogma, pela possível conotação de ideia

invariável que o último pode causar, em desacordo com sua historicidade a ser apresentada. Apesar disso, na

realidade é difícil estabelecer alguma distinção entre os termos, podendo-se utilizá-los como sinônimos, o que

ocorrerá em alguns momentos. Além disso, o sentido invariável do termo dogma religioso é contrariado pela

literatura específica. Quanto à similitude dos conceitos, vemos que Louis Berkhof (1873-1957) mudou o título de

sua Dogmática Reformada (1937) para A História das Doutrinas Cristãs em 1949, mantendo porém, o uso do

termo dogma ao longo do livro e, que Adolf von Harnack (1851-1930) em sua History of Dogma - Vol. 1

afirmou “A história do dogma deve dar conta apenas daquelas doutrinas de escritores cristãos que eram

autorizadas em grandes círculos, ou que promoveu o avanço” (s/d) Tradução nossa de “The history of dogma has

to give na account only of those doctrines of Christian writers which were authoritative in wide circles, or which

furthered the advance” (s/d). Balizado com a tensão sincronia/diacronia concebida em nosso texto, Berkhof

afirma: “Um dogma pode ser definido como uma doutrina, derivada da Bíblia, oficialmente definida pela Igreja e

declarada firmada sobre aautoridade divina. (...). Seu assunto se deriva da Palavra de Deus, pelo que é

autoritário. Não é mera repetição do que se encontra nas Escrituras, mas é fruto da reflexão dogmática. E é

oficialmente definido por um corpo eclesiástico competente, sendo declarado ter base na autoridade divina. Tem

significação social por ser a expressão de uma comunidade, e não de um só indivíduo. E reveste-se de valor

tradicional, pois transmite as preciosas possessões da Igreja para gerações futuras.” (1992, p. 20).

14

apresentação direta das conclusões, sem adentrar no âmbito mais profundo de suas

elaborações, que requerem o manuseio especializado de instrumentos teológicos complexos.

Eis o conceito de popularização por nós trabalhado, em que as doutrinas se expandem quanto

aos adeptos e, costumeiramente, se simplificam quanto ao conteúdo. Ideia próxima à de

Bourdieu de que a circulação da mensagem religiosa implica uma reinterpretação, ou como

dito, uma vulgarização por parte dos leigos, chamados por ele de receptores (2007, p. 51).

Destarte, as duas vias acima compõem em conjunto o processo de representação do grupo.

Conectada à História Cultural como nos moldes de Chartier, a questão da identidade

é basilar em nosso trabalho. Concomitantemente à representação do campo evangélico e do

Calvinismo, empreendemos uma análise identitária, elencando atributos componentes da

identificação dos evangélicos e dos calvinistas. Sendo assim, damos preferência à

operacionalidade do termo identificação conforme esboçado pelo historiador René Gillassot

(1987, p. 12-27) e defendido pelo cientista social Denis Cuche (1999, p. 183) por conceber a

identidade em sua historicidade, não de modo estático, mas enquanto processo contínuo de

formação3. Nosso trato com o conceito de identificação também concorda com o pensamento

do antropólogo social norueguês Fredrik Barth (2005, p. 15-30) de revelar o caráter relacional

da construção identitária. Ou seja, que atributos identificadores são selecionados de acordo

com as necessidades e interesses que surgem nos relacionamentos entre os indivíduos e os

grupos.

Os atributos identificadores são afirmados para destacar as diferenças entre os grupos

e afinidades entre seus integrantes, o que determina o uso dos pronomes “nós” e “eles” ou os

“outros”. Por exemplo, mediante uma seleção de atributos identitários em comum, calvinistas

e não calvinistas são acomodados no mesmo grupo social, identificando-se pela nomenclatura

evangélicos, sendo conduzidos ao uso do pronome “nós”. Por sua vez, a seleção de outros

atributos identitários pode destacar as distinções entre evangélicos e os enquadrar em grupos

diferentes como calvinistas, arminianos, pentecostais e cessacionistas, conduzindo-os ao

emprego do “eles” ou “outros” 4 (BARTH, 2005, p. 15-30; CUCHE, 1999, p. 181-187).

3 Tal entendimento sobre construção identitária coaduna-se à tensão sincronia/diacronia característica do

processo histórico de desenvolvimento da representação dos grupos sociais. Em que diacronia remete à mutação

na representação dos grupos, por exemplo pela inserção de novos atributos, desuso de velhos ou mesmo pela

mudança de sentido que estes podem sofrer de acordo com a passagem do tempo. Enquanto sincronia refere-se

ao caráter de continuidade dos atributos, os sacralizados e cristalizados ao longo da história de determinado

grupo, essenciais para que estes continuem existindo enquanto tal, sendo protagonistas no desenvolvimento de

sua representação. 4 Sabemos da presença de reflexões críticas sobre a obra de Norbert Elias, na História Cultural de Chartier (2002,

p. 79, 91-119). Notamos também que o conceito de figuration e o uso de pronomes como modelos figuracionais

em Elias (2008, p. 133-145), possuem semelhanças com a perspectiva relacional de construção identitária de

15

Apesar do conceito de representação de Chartier também caracterizar cargos sociais

“ocupados individualmente” como as figuras de rei, padre, mãe, focamos em seu caráter

coletivo. Por sua vez, embora a construção identitária também seja utilizada na caracterização

da coletividade, abordamo-la com foco nos indivíduos integrantes dos grupos. Assim é feito

por dois motivos: 1º para aproveitarmos as possibilidades metodológicas dos dois termos, de

acordo com as fontes indicadoras do fenômeno de expansão do Calvinismo e sua

representação, bem como da identificação dos reformados; 2º não para anular o âmbito

coercitivo dos processos formadores de identidade, mas para evidenciar o âmbito da ação dos

indivíduos enquanto participantes da construção de si e de seu grupo5, de acordo com as

possibilidades e direcionamentos das fontes disponíveis.

Quanto às fontes empregadas na pesquisa, especialmente nos dois primeiros

capítulos, analisamos documentos importantes das histórias do Protestantismo, Calvinismo e

Protestantismo no Brasil, junto à uma bibliografia específica sobre estes. Em relação à

expansão calvinista tratada no terceiro capítulo, utilizamos uma variedade de fontes, a

exemplo de textos impressos, digitais disponíveis na Internet, em linguagem escrita e

audiovisual, documentos eclesiásticos, tratados teológicos, livros, artigos jornalísticos,

crônicas, imagens, pregações, debates, aulas, conversas e comentários. Tal diversidade

permitiu a complilação de um acervo de fontes organizado, dividido em categorias como

blogs e sites, YouTube, redes sociais, mercado editorial, adesão de igrejas à fé reformada,

repercussões e notícias sobre a expansão, entre outras. Essas fontes são entendidas como

indícios do fenômeno. Além disso, ao serem dispostas cronologicamente, produzem uma

trilha histórica indiciária da expansão reformada, procedendo-se assim a escrita de seu fato

histórico (PROST, 2008, p. 53-74).

O primeiro capítulo Calvinismo e Calvinistas (Representação e Identificação) produz

uma representação do Calvinismo, por meio da seleção de atributos doutrinários dos mais

relevantes desenvolvidos ao longo da história reformada, a exemplo da crença fundamental na

soberania de Deus sobre todas as coisas, em especial na salvação. Junto a isso, identifica os

calvinistas como aqueles que creem nessas doutrinas e se declaram como tal. O segundo

Barth (2005), empregado em nosso trabalho. Sendo assim, estamos cientes que nossa pesquisa sobre Calvinismo

e calvinistas também deve possuir aproximações com o conceito e o modelo de Elias acima citados. 5 Conforme a básica e clássica diferença de perspectiva entre Émile Durkheim e Max Weber sobre o objeto

social: do fato social e da ação social (DURKHEIM, 2007; COHN, 2003, p. 27-30; QUITANEIRO, 2003;

SCHEEFER, 2009; PEIXOTO, CABRAL, 2019, p. 10-30). Tal ação dos indivíduos integrantes de um grupo

social, protagonista do processo de construção deste ao longo do tempo, também se aproxima da abordagem

thompsoniana expressa em A Formação da Classe Operária Inglesa (2004), em cujo título original encontra-se o

termo Making (fazer-se), no intuito de expressar “um processo ativo, que se deve tanto à ação humana como aos

condicionamentos” (2004, p. 9).

16

capítulo Campo Evangélico Brasileiro: A Escassa Participação do Calvinismo no

Desenvolvimento de sua Representação demonstra que houve uma diminuta contribuição de

doutrinas distintamente calvinistas na construção de uma representação do Protestantismo

brasileiro ao longo de sua história, que se dá continuamente desde meados do 1800. Pelo

contrário, o desenvolvimento do Protestantismo nacional foi influenciado primordialmente

por doutrinas adversas às calvinistas.

O terceiro capítulo A Expansão do Calvinismo no Campo Evangélico Brasileiro

Contemporâneo apresenta o fenômeno em questão por meio da produção de uma trilha

histórica indiciária, que tanto aponta sua realidade como também a descreve. O que é feito

elencando acontecimentos que compõem sua história, os quais são encontrados ao longo das

décadas de 2000 e 2010. Como apêndice, foi incluso um artigo em que elaboramos um

conjunto de características que constituem uma identificação dos calvinistas brasileiros que

vivenciam o fenômeno de expansão de seu grupo e fé no país. Pondo em relevo aspectos que

os reformados atribuem a si, especialmente por meio da distinção diante dos outros

evangélicos, encontramos alguns de seus elementos identificadores, a exemplo da crença

basilar na soberania de Deus sobre todas as coisas, em especial na salvação e, na maturidade

de sua fé em comparação a uma genérica fé nutrida pelos demais evangélicos.

17

CAPÍTULO 1

CALVINISMO E CALVINISTAS (REPRESENTAÇÃO E IDENTIFICAÇÃO)

1.1 ANTES DE CALVINISTA, PROTESTANTE.

Junto com o Luteranismo, o Calvinismo ou fé reformada foi um dos principais

braços da Reforma protestante do século XVI. Enquanto o primeiro se iniciou na Saxônia e

espalhou-se principalmente por outras regiões da atual Alemanha e pela Escandinávia

(GONZÁLEZ, 1994, p. 97-98), a fé reformada emergiu em terras suíças e se expandiu em

regiões da Alemanha, França, Países Baixos, Reino Unido e suas colônias até o século XVII.

Sendo assim, os atributos representativos do Protestantismo foram desenvolvidos com a

relevante contribuição do Calvinismo.

Como indica o nome, a Reforma Protestante tratou-se de uma série de protestos que

se desenrolaram num processo revolucionário de ruptura dentro da fé cristã no mundo

ocidental. Ruptura no poder da Igreja Católica, instituição símbolo da luta por estabilidade

cultural e política do mundo medieval. Consequentemente, ocasionou também uma ruptura no

establishment da organização política dos domínios europeus, marcado pela forte ligação

institucional entre Igreja Católica e Estados desenvolvida desde fins do Império Romano,

fortalecida em eventos como a coroação do rei dos francos Clóvis pelo bispo São Remígio em

496 e a coroação de Carlo Magno como Imperador do recém fundado Sacro Império Romano

pelo papa Leão III em 800. Rupturas políticas sob formas de guerras e tratados diplomáticos

varreram a Europa ao longo dos séculos XVI e XVII e foram sentidas por exemplo, pelo

Sacro Império Romano Germânico, que católico, sofreu com guerras por independência de

seus reinos subordinados convertidos ao Protestantismo, ampliando o processo de formação

dos Estados nacionais modernos para além da Inglaterra, França e reinos ibéricos. Esses e

outros reinos também sofreram com insurreições protestantes, cada um respondendo ao seu

modo, seja pela adesão à nova fé como nos reinos escandinavos da Suécia, Noruega e

Dinamarca; pela supressão violenta como em território francês; ou por um relativo e precoce

consentimento como na Inglaterra (GONZÁLEZ, 1994, p. 265-274; DELUMEAU, 1989, p.

175-234; BERTHOUD, 2016, p. 1-4; RUSHDOONY, 2016, p. 105-146).

A Reforma Protestante foi um movimento inicialmente religioso, nascido no seio da

Igreja Católica, no início do século XVI6 e abrangeu as várias áreas da vida social, como

6 O evento escolhido como marco do início da Reforma Protestante foi o apregoamento das 95 teses na porta da

capela do castelo de Wittenberg por parte do monge agostiniano Martinho Lutero em 1517. Existe uma incerteza

se as teses foram realmente pregadas na porta, ou se por exemplo, o historiador francês Jean Delumeau afirma:

“Elas não foram provavelmente afixadas em 31 de outubro de 1517, mas sim enviadas secretamente nessa data a

18

cultura, política e economia. A participação do fenômeno na formação do mundo moderno é

alvo de inúmeros estudos das ciências sociais. As reflexões mais destacadas versam sobre a

influência do Protestantismo, especificamente do Calvinismo e seu subgrupo, o Puritanismo.

Tratam do desenvolvimento de alguns atributos representativos da sociedade moderna sob a

égide da evolução do Capitalismo; como uma mentalidade racionalista, individualista,

acumuladora de capital, portadora de um ascetismo cotidiano transmutado para uma

diligência ética no trabalho. Sendo assim, enquanto gênese e diluidamente, a ética protestante

teria contribuído para o sucesso da emersão de uma mentalidade social capitalista na

Modernidade cujos atributos seriam encontrados mais patentemente a partir da era industrial

nas nações onde o Protestantismo obteve maior sucesso. (WEBER, 2003, p. 142-159; 2013;

GOMES, 2003, p. 106-108).

O movimento revolucionário feito com palavras e ações, mentes e mãos de parte dos

membros da igreja católica, inicialmente seu clero, seguido pelos leigos (magistrados e

comuns)7 foi contra sua própria instituição. Esses católicos, cujo mais famoso é, sem dúvida,

o monge alemão da ordem dos agostinianos Martinho Lutero (1483-1546), se levantaram em

protesto contra o que eles consideraram graves erros em se tratando de doutrina e prática. Ou

a doutrina defendida era herética, ou a correta doutrina era proclamada, mas não praticada. No

início, os protestos contra a Igreja pretendiam somente reformá-la, no sentido de retirar

impurezas mantendo a unidade institucional, porém diante da impossibilidade dessa reforma

clarificada a cada evento, encaminharam-se separações litigiosas entre seus integrantes

(DELUMEAU, 1989, p. 59-84).

Os principais itens reclamados pelos reformadores se referiam à soteriologia ou

doutrina da salvação. A grande questão a dar início à Reforma foi: como o homem pode ser

salvo? As doutrinas católicas defendiam a necessidade da mediação da igreja no

relacionamento entre o homem e Deus; a necessidade de boas obras para tornar o homem

justo diante de seu Criador e; que as fontes da verdade, donde essas afirmações procediam

vinham da Bíblia, da tradição e da igreja, as três legitimadas em pé de igualdade pela

autoridade do Espírito Santo. Dessa forma, a Igreja monopolizava a oferta da maior demanda

religiosa do homem, a esperança da salvação (HEYSE, 2008, p. 129-154; GONZÁLEZ, 1994,

determinadas autoridades eclesiásticas e notadamente ao arcebispo Alberto de Brandeburgo, comissário da

pregação da indulgência8. Foi por não ter recebido resposta enquanto os bispos haviam comunicado suas teses a

Tetzel, que Lutero se decidiu – entre 11 de novembro e 20 de dezembro de 1517 – a enviar a alguns amigos o

texto delas.” (1989, p. 89). 7 Os leigos não possuem cargos na Igreja católica. Entre esses, os magistrados possuem cargos governamentais e

os comuns não possuem. Tal distinção é útil, pois avisa da diferença de poder entre indivíduos, especialmente

num cenário em que há forte ligação entre Igreja e Estado.

19

p. 34-50; DELUMEAU, 1989, p. 59-84).

Contrariando as respostas da Igreja romana às questões da salvação e do

relacionamento com Deus, os católicos protestantes desenvolveram uma diversidade de

doutrinas, por exemplo: da real quantidade de sacramentos, dois para os reformados (batismo

e ceia), contrariando os sete sacramentos católicos necessários à salvação; até críticas à

pomposidade da missa pela defesa da simplicidade litúrgica. Ao longo do tempo as doutrinas

da Reforma foram aglutinadas em alguns temas principais: os solas. De início três solas eram

mais recorrentemente encontrados nos trabalhos de representação da Reforma, os sola gratia

(somente a graça), sola fide (somente a fé) e sola scriptura (somente a Escritura).

Posteriormente, outros dois solas que já eram mencionados antes, solus Christus (somente

Cristo) e soli Deo gloria (glória somente a Deus), são encontrados repetidamente junto aos

três primeiros, formando os cinco solas da Reforma. Portanto, diante de outros temas e itens

referentes ao Protestantismo, selecionamos os cinco solas por serem o principal conjunto de

atributos doutrinários de representação e identificação do ser protestante construídos por meio

da diferenciação diante do Catolicismo, em especial sobre a questão áurea da salvação

(CARVALHO, 2018; DECLARAÇÃO DE CAMBRIDGE, 1996; FERREIRA, MYATT,

2007, p. 39, 191; PEIXOTO, 2021, p. 200; VARGENS, 2013). Os “somentes” são justamente

os termos que representam a distinção do Protestantismo diante da “outra”, a fé católica. Essa

última representada pelos reformadores como a que se interpõe entre Deus e homem, sempre

angariando o papel de mediadora, ocupado de modo legítimo, somente pelo Deus Filho.

O sola scriptura (somente a Escritura) afirma que somente a Bíblia, antigo e novo

testamentos (AT e NT) são plenamente a Palavra de Deus aos homens. Sua escrita, ao longo

de quinze séculos e por duas dezenas de autores, reconhecidas suas particularidades, estrutura,

diversidadee unidade temática, foi por Deus inspirada a tal ponto que a própria afirma ser sua

Palavra revelada8, tendo sua pureza essencial sido providencialmente preservada por Ele ao

longo dos tempos. Dessa forma, crê-se no auxílio e iluminação do Espírito à Igreja na reunião

dos concílios e criação de doutrinas, mas de modo algum a autoridade de suas decisões devem

estar pé de igualdade com a Bíblia, antes são a esta subordinadas. A validade de uma doutrina

é então julgada pela conformidade com a Escritura, o árbitro de toda contenda. Percebemos

que identificação dos protestantes pela obediência primaz à Bíblia se dá em distinção e

prejuízo do Catolicismo, que exige de seus fiéis a mesma fé submissa também na instituição e

seus dogmas (GONZÁLEZ, 1994, p. 46-47; DELUMEAU, 1989, p. 76-78; HEYSE, 2008, p.

8 Em 2 Timóteo 3: 16 se lê: “Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir,

para corrigir, para instruir em justiça.” (BÍBLIA SAGRADA, 2008, p. 1576).

20

136-145; FERREIRA, MYATT, 2007, p. 39, 47).

Quanto ao solus Christus (somente Cristo), Franklin Ferreira e Alan Myatt citando o

reformador pioneiro Ulrich Zwínglio (1484-1531) trazem:

O resumo do Evangelho é que nosso Senhor Cristo, overdadeiro Filho de

Deus, tornou conhecida a nós a vontade de seu Pai celestial, redimiu-nos da

morte e reconciliou-nos com Deus por sua inocência. Portanto, Cristo é o

únicocaminho para a salvação de todos os que existiram, existem ou

existirão (2007, p. 183).

Esse sola contém a ideia que somente a obra redentora de Cristo é capaz de salvar, de

justificar o homem diante de Deus, tornando-o apto para comparecer diante dEle em seu

tribunal, não por mérito encontrado no homem, mas nos méritos do Salvador. Aí também se

encontram doutrinas como a da obra substitutiva e da imputabilidade. Essas afirmam que a

condenação merecida pelo homem foi aplicada à Cristo em sua vida de sofrimento e morte de

cruz. Já quanto à conquista do céu, coisa que somente Cristo alcançou por sua justiça, tal

merecimento foi imputado, ou aplicado ao homem. Essas doutrinas foram produzidas em

contrariedade às doutrinas católicas como a necessidade das boas obras para a justificação do

pecador. A plenitude da função mediadora de Cristo na salvação, quebra o monopólio da

Igreja quanto ao direito de oferecê-la, pelo domínio da posição de mediadora conforme ela se

identificava9 (PEIXOTO, 2021, p. 202-203; VARGENS, 2013, p. 73-86).

Quanto ao sola gratia (somente a graça) este afirma:

que toda dádiva ou benesse direcionada aos homens, em especial a

salvação, mas também qualquer outro benefício a qualquer pessoa (...) é

dado gratuitamente por Deus, sem este ter sido motivado por nada de bom

que o homem tenha feito anteriormente. Sendo assim, essencialmente, não

existe nenhuma recompensa vinda da Divindade por uma boa ação feita por

alguém. Nesse sola, as bênçãos não são consequência das boas ações

humanas, antes são a causa das boas ações (PEIXOTO, 2021, p. 201, grifo

nosso).

Esse sola reafirma que somente Cristo trabalha na obra de salvação do pecador,

completando que a redenção deste não foi conquistada por algum mérito seu, algo de bom que

tenha feito ou que possua e, que jamais poderá ser posteriormente paga de modo eficiente em

gratidão (HEYSE, 2008, p. 138; VARGENS, 2013, p. 49-62).

O sola fide (somente a fé) apresenta o elemento comprovante de que o homem foi

alcançado pela graça divina. É a única forma eficiente de o homem responder ao presente

imerecido da salvação dado pelo Criador: tendo fé que o recebeu. “O elemento fé se põe como

negação da eficiência das obras. Assim, a fé é o elemento que representa a confiança somente

9 A ideia da exclusividade da salvação interna à Igreja Romana ainda faz parte de sua doutrina oficial.

21

na ação de Deus em contraste com as boas obras que pretensiosamente esperam uma

recompensa de Deus.” (PEIXOTO, 2021, p. 199)10. (FERRERA, MYATT, 2007, p. 256;

HEYSE, 2008, p. 138).

Os dois solas acima são um brado de que as boas obras do homem são ineficazes à

salvação, pois somente Cristo pode realmente praticá-las. Resta ao homem então ter fé nas

obras de Cristo, e nenhuma confiança em suas próprias. Assim é, pois uma das principais

ideias da Reforma, basilar na estrutura dos solas é a grande dimensão da pecaminosidade

humana consequente do pecado original de Adão, o representante da humanidade. Os

principais reformadores e seus influenciados consideravam o pecado em dimensão tal que

abriu um abismo infinito entre Deus e os homens. Não sendo possível a nenhuma criatura

despertar outro sentimento no Criador a não ser ira e, nada obter dEle, a não ser condenação

(FERREIRA, MYATT, 2007, p. 23-27). Uma obra mui estimada pelo próprio Lutero é a

Escravidão da Vontade11 (1525), fruto de um vigoroso debate com o humanista Erasmo de

Roterdã (1466-1536) cuja temática central é justamente a pecaminosidade humana e suas

consequências como a não existência do livre-arbítrio.

O soli Deo gloria (glória somente a Deus) é tanto causa como consequência dos

outros quatro. É a ideia da finalidade da criação do homem e do mundo: glorificar a Deus, seu

criador (HEYSE, 2008, p. 142; VARGENS, 2013, p. 87; FERREIRA, MYATT, 2007, p. 101-

103). Portanto, o homem não possui propósito em si mesmo, nem em nada que não seja

glorificar a Deus. A razão de sua existência é sujeita a outrem. O pensamento protestante

sobre a salvação se dá sob esse parâmetro, e mesmo o expressa, de modo que neste processo,

o homem não possui méritos, mas somente o Salvador. Isso porque, como os outros solas

também informam, existe uma distância infinita entre Deus e homem, desde a queda de Adão

e Eva, pelo pecado que destrói seu merecimento de redenção, tornando-a antes necessária. Até

a Igreja, a comunidade dos redimidos, apesar de tida como o corpo de Cristo12, é despida de

eficácia e glória, pelo que é posto em relevo sua dimensão finita e humana. Sua glória é

apresentar a glória de Cristo.

10 Foi justamente a leitura feita por Lutero de Romanos 1: 16-17: “Pois não me envergonho do evangelho, pois é

o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego; visto que a

justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: o justo viverá por fé.” (BÍBLIA

SAGRADA, 2008, p. 1478) o momento icônico de “conversão” do reformador e que marcou o novo começo da

doutrina da justificação pela fé, inserida na chamada redescoberta das doutrinas da graça. A justificação pela fé

era encontrada em menor escala desde seu antigo e proeminente defensor, o bispo de Hipona Santo Agostinho

(354-430). 11 Em português tem-se acesso à versão resumida intitulada Nascido Escravo (2012) publicada pela editora Fiel. 12 Em 1 Coríntios 12: 27 se lê: “Ora, vós sois corpo de Cristo, e individualmente seus membros.” (BÍBLIA

SAGRADA, 2008, p. 1514).

22

Os 5 solas sintetizam as doutrinas desenvolvidas ao longo da Reforma e representam

o Protestantismo como o “outro” diante do Catolicismo, do qual estava se distinguindo.

Portanto, a identificação do protestante refere-se especialmente ao crivo de se as doutrinas

cridas convergem ou não nos solas. De modo que quanto mais convergir, mais forte é sua

identidade protestante, como é o caso do calvinista em relação ao luterano, por exemplo.

Encontramos fortemente na teologia de Lutero os 5 solas, a pecaminosidade humana e suas

consequência consideradas na mais alta medida. Para ele

Não somente são todos os homens, sem qualquer exceção, considerados

culpados a vista de Deus, como também são escravos desse mesmo pecado

que os torna culpados. (...) visto que nem judeus nem gentios tem se

mostrado capazes de desvencilharem-se dessa servidão, torna-se evidente

que no homem não há poder que o capacite para praticar o bem (LUTERO,

2012, p. 21).

Para o reformador mor, uma das principais consequência da pecaminosidade é a

impossibilidade do livre-arbítrio:

Paulo ensina que todos os homens, sem qualquer exceção, merecem ser

castigados por Deus. (...). Se todos os homens possuem “livre-arbítrio”, ao

mesmo tempo em que todos, sem qualquer exceção, estão debaixo da ira de

Deus, segue-se daí que o “livre-arbítrio” os está ajudando a fazer o que é

certo? Se existe realmente o “livre-arbítrio”, ele não parece ser capaz de

ajudar os homens a atingirem a salvação, porquanto os deixa sob a ira de

Deus (2012, p. 19).

Logo no início do livro, Lutero afirma: que “As Escrituras são como diversos

exércitos que se opõem à idéia de que o homem tem um “livre-arbítrio” para escolher e

receber a salvação. Porém, basta-me trazer à frente de batalha dois generais – Paulo e João,

com algumas de suas forças.” (2012, p. 18). Entre os argumentos estão: “O “livre-arbítrio”

não tem utilidade, pois a salvação vem somente por meio de Cristo”, “A salvação para o

mundo pecaminoso é pela graça de Cristo, exclusivamente mediante a fé” e “Paulo atribuía a

salvação do homem exclusivamente à Deus” (2012, p. 18, 67).

Isso posto, é importante saber que após a morte de Lutero, seu amigo Filipe

Melâncton (1497-1560) tornou-se o maior líder da reforma luterana. Seu pensamento e

postura divergiam de Lutero em questões importantes e ajudaram a conduzir a formação da

Igreja Luterana numa ruptura e diferenciação menos radical que o braço reformado diante da

fé católica. Quanto a postura houve uma abertura ao diálogo com Roma, apesar de não haver

reconciliação. Doutrinariamente, ele redigiu a Confissão de Augsburgo (1530), declarando

formalmente a fé luterana, esta “não mencionava a negação do purgatório; as doutrinas de

Lutero sobre o servo-arbítrio e o sacerdócio universal” (DELUMEAU, 1989, p. 112). É ainda,

23

atribuída a Melâncton a frase: “O Espírito Santo e a Palavra agem primeiro na conversão, mas

a vontade do homem não é completamente inativa; Deus atrai, mas atrai aquele que está

disposto, porque o homem não é uma estátua.” (apud HEYSE, 2008, p. 139, grifo nosso)

proferida nove anos após a morte do escritor de A Escravidão da Vontade.

Concomitante aos eventos na Saxônia, a Reforma Protestante se expandia para o

oeste europeu desde a Suíça, por meio de reformadores como Ulrich Zwínglio o reformador

de Zurique, grande líder do braço reformado antes do francês João Calvino (1509-1564);

Henrique Bullinger (1505-1575) sucessor do primeiro em Zurique; Ecolampado em Basileia;

Martin Bucer (1491-1551) em Strasburgo e; Teodoro Beza (1519-1605) sucessor de Calvino.

Com a adesão de Calvino, conhecido como reformador de Genebra, a produção

doutrinária da Reforma protestante distinguia-se cada vez mais do Catolicismo, mais do que

ocorria com o Luteranismo após a morte do monge saxão. A construção e defesa mais

sofisticada, especializada de doutrinas sobre a autoridade da Bíblia, a natureza do pecado,

predestinação, justificação pela fé somente e sacerdócio universal ajudaram a construir o que

ficou conhecido como os 5 solas, a representar a Reforma. Enquanto esses protestantes

recebiam o nome de reformados, a produção doutrinária de Calvino despontou como a maior

influenciadora do Protestantismo não luterano e não anabatista13. Junto ao processo de

popularização das doutrinas de Calvino, com o tempo, identificar-se reformado significava

cada vez mais estar de acordo com ele, pelo que se denominou calvinista, sinônimo de

reformado (DELUMEAU, 1989, p. 137-160; GONZÁLEZ, 1994, p. 79; FERREIRA,

MYATT, 2007, p. 93).

1.2 DOUTRINA CALVINIANA. A GÊNESE DA IDENTIFICAÇÃO CALVINISTA.

O Calvinismo é um corpo doutrinário desenvolvido a partir da teologia calviniana

(escrita por Calvino) e continuado por outros reformadores contemporâneos e posteriores a

este que produziram doutrinas embasadas nas do reformador de Genebra. A partir da segunda

década de expansão da fé reformada em regiões da Suíça, França, Alemanha e Reino Unido as

doutrinas de Calvino passaram a exercer cada vez mais influência sobre o pensamento dos

reformados. González afirma que “o mais importante sistematizador da teologia protestante

no século XVI foi João Calvino”14 (1994, p. 71). Isso é expresso pelo recebimento de pastores

formados no seminário teológico de Genebra sob a tutela de Calvino, pelas igrejas fundadas

13 O Anabatismo foi um movimento radical dentro da Reforma, considerado herético por reformados e luteranos. 14 Tradução nossa de “Sin lugar a dudas, el más importante sistematizador de la teología protestante en el siglo

XVI fue Juan Calvino” (1994, p. 71).

24

por estes, pela organização do culto de acordo com Genebra, pela escrita e subscrição de

documentos concordantes com muito da teologia calviniana15. Até as controvérsias de fé se

davam diante da aceitação ou não de algum ponto de Calvino. Suas doutrinas foram se

tornando determinantes na representação da fé reformada a ponto de o termo calvinista

(concordante e desenvolvedor de suas ideias) identificar o fiel reformado e Calvinismo tornar-

se o próprio braço do Protestantismo (GONZÁLEZ, 1994, p. 74-79; DELUMEAU, 1989, p.

149-152).

O Calvinismo, sendo portanto, muito mais que a teologia de um homem, continuou

se desenvolvendo em diferentes contextos, por meio de diversos atores, até hoje. Desse modo,

temos um grupo social aglutinado pela mesma fé dotado do caráter histórico em que há

elementos sincrônicos e diacrônicos ao longo de sua existência ou formação constante. Pelo

que continuaremos a trazer algumas características componentes de sua representação no

entremeio da tensão sincronia/diacronia, sejam atributos novos embasados em anteriores, os

que sofreram mutação e, a repetição dos mais antigos.

Iniciando pelo pensamento de Calvino, analisamos sua principal obra, as Institutas

da Religião Cristã publicada primeiramente em 1536, recebendo grandes ampliações e

alterações até 1559. Trata-se de uma obra que apresentam os principais temas da fé cristã

sistematicamente, sendo a maior contribuinte da formação da fé reformada, tratando de

praticamente todos os temas religiosos relevantes da época e, mesmo os instigando,

determinando sua importância pela forma como eram apresentados na obra (MENDES, 2009,

p. 76-78). González explica que

são quatro livros num total de oitenta capítulos. O primeiro livro trata de

Deus e sua Revelação, assim como da criação e da natureza do ser

humano, incluindo-se queda e salvação. O segundo livro trata de Deus

como redentor, o modo como se dá a conhecer primeiro no Antigo

Testamento, depois em Jesus Cristo. O terceiro trata de como, pelo

Espírito, podemos participar da graça de Jesus Cristo e dos frutos por ele

produzidos. Por último, o quarto trata dos “meios externos” para essa

participação, a saber, a igreja e os sacramentos16 (1994, p. 75, tradução

nossa).

Destarte, o mesmo autor afirma que “esta foi a obra máxima da teologia sistemática

15 Apesar de algumas diferenças, a Confissão francesa desenvolvida por um sínodo reformado francês em 1559

“Confirmou, afinal de contas, o Protestantismo francês no rumo do Calvinismo” (DEMULEAU, 1989, p. 151). 16 Tradução nossa de “se han vuelto cuatro libros con un total de ochenta capítulos. El primer libro trata acerca

de Dios y su revelación, así como de la creación y de la naturaleza del ser humano, pero sin incluir la caída y la

salvación. El segundo libro trata acerca de Dios como redentor, y del modo en que se nos da a conocer, primero

en el Antiguo Testamento, y después en Jesucristo. El tercero trata acerca de como, por el Espíritu, podemos

participar de la gracia de Jesucristo, y de los frutos que ello produce. Por último, el cuarto trata de “los medios

externos” para esa participación, es decir, de la iglesia y los sacramentos” (1994, p. 75).

25

protestante em todo o século”17 (GONZÁLEZ, 1994, 75). A princípio, a escrita do tratado

decorreu da percepção da necessidade de explicar aos magistrados e ao povo o que era o

movimento que punha a Europa em alvoroço e, instruir os fiéis, especialmente os de língua

francesa18 a nutrirem uma fé ortodoxa (considerada verdadeira, ensino correto) diante do mar

revolto das várias doutrinas heréticas (consideradas falsas, enganosas) e contrastantes que se

apresentavam como protestantes no século XVI (CALVINO, 2003a, p. 23).

Antes de iniciar o tratado, Calvino redigiu uma carta pública ao primeiro destinatário

da obra “Ao Mui Poderoso e Ilustre Monarca, FRANCISCO, Cristianíssimo Rei dos

Franceses” (CALVINO, 2003a, p. 23). Nela encontramos, em escrita mais pessoal, uma

sintética exposição e defesa do movimento protestante e de seus partícipes, diante dos

ataques, que haviam produzido uma imagem perturbadora e negativa destes19 (CALVINO,

2003a, p. 38). Ao produzir uma descrição mais simples da fé protestante no intuito de

defender sua legitimidade, ele precisou selecionar alguns dos itens considerados mais

relevantes a representarem o movimento. Por conseguinte, imprevistamente ele acabou

expondo elementos representativos do Calvinismo no início, que embasaram os posteriores.

Como de costume, a fé protestante foi apresentada por meio da diferenciação diante

do Catolicismo, seguindo o curso de responder aos ataques católicos e, quando propício,

apontar as heresias romanas. Em menor grau, também foram apontados alguns erros

doutrinários de indivíduos que se propunham protestantes, reputando-os por hereges e

relegando-os à marginalidade do movimento. Isso contribuiu tanto com a estruturação do

Protestantismo quanto com à distinção da fé calvinista. Concordando com o processo de

identificação, expresso pelo uso dos pronomes “nós” em detrimento dos “outros” e

participando da formação dos grupos diante da mutação efervescente pela qual passava o

campo religioso no período.

A fim de comprovar a legitimidade do Protestantismo, o primeiro atributo levantado

é que este buscava a glória de Deus e não dos homens:

Sim, diante de Deus, míseros pecadores; à vista dos homens, absolutamente

desprezíveis, escória e lixo do mundo; se o queres, ou qualquer outra coisa

que de mais vil se possa, porventura, referir. De sorte que nada resta de que

nos possamos gloriar diante de Deus, senão tão-somente de sua misericórdia

[2Co10.17, 18], mercê da qual, à parte de qualquer mérito nosso [Tt 3.5],

fomos admitidos à esperança da eterna salvação, (...).

17 Tradução nossa de “Sin lugar a dudas, ésta fue la obra cumbre de la teología sistemática protestante en todo

ese siglo” (1994, p. 75). 18 As Institutas foram escritas em latim e francês, primeiramente para o povo francês. 19 Entre os primeiros tópicos da carta se encontra: “2. Defesa dos fiéis perseguidos. 3. Apelo em favor dos fiéis

oprimidos.” (CALVINO, 2003a, p. 23-27).

26

Nossa doutrina, porém, sublime acima de toda glória do mundo, invicta

acima de todo poder, importa que seja enaltecida, pois não é nossa, mas do

Deus vivo e de seu Cristo (CALVINO, 2003a, p. 26).

A preocupação com a proeminência da glória de Deus é encontrada em todo o texto.

É repetidamente apresentada diante da humilhação do homem fruto de sua natureza

pecaminosa, não merecendo portanto, glória e mérito nenhum, sendo este mais um atributo

doutrinário relevante trazido.

Outro elemento representativo da fé protestante encontrado na carta de Calvino ao rei

da França é a defesa da Bíblia como sendo o instrumento legitimador do movimento, esta

seria o autêntico árbitro das querelas doutrinárias. A proeminência da Palavra de Deus se une

aos outros atributos, dando-se em detrimento da pecaminosidade dos homens e de acordo com

a finalidade de elevar a glória de Deus. Consequentemente, advoga-se a submissão de

qualquer dogma ao crivo das Escrituras, sendo esta a decidir sua veracidade, conforme afirma

Calvino: “Quando Paulo quis que toda profecia fosse conformada à analogia da fé (Rm 12.6),

estabeleceu uma regra extremamente segura, pela qual deva ser testada a interpretação da

Escritura. Portanto, se a doutrina nos é esquadrinhada à base desta regra de fé, nas mãos nos

está a vitória” (2003a, p. 26).

Na sequência, o reformador francês atrela a superioridade da Bíblia aos outros itens:

Pois, que melhor se coaduna com a fé e mais convenientemente do que

reconhecer que somos despidos de toda virtude, para que sejamos

vestidos por Deus; vazios de todo bem, para que sejamos por ele

plenificados; escravos do pecado, para que sejamos por ele libertados; cegos,

para que sejamos por ele iluminados; coxos, para que sejamos por ele

restaurados; fracos, para que sejamos por ele sustentados; despojando-nos

de todo motivo de glória pessoal, para que somente ele seja glorioso e

nós nele nos gloriemos? [1Co 1.31; 2Co 10.17].

Quando dizemos estas e outras coisas desta espécie, interrompem-nos eles e

protestam com veemência, dizendo que, desse modo, se subvertem não sei

que cega luz da natureza, pretensas preparações, além do livre-arbítrio e das

obras meritórias da salvação eterna, com suas supererrogações. É que não

podem suportar que em Deus residam o pleno louvor e a glória de todo

bem, virtude, justiça e sabedoria (2003a, p. 26-27, grifo nosso).

Entre as acusações católicas contra os protestantes citadas por Calvino estão o

desrespeito à autoridade da Igreja; a alguns de seus dogmas e tradições; de não se submeterem

aos pais da Igreja ou patrísticos20; de trazerem doutrinas novas à fé; da exigência de milagres

para comprovar tais doutrinas e; de trazerem tumultos e confusões. Os argumentos de Calvino

20 Os líderes da Igreja nos primeiros séculos após o período dos apóstolos. Eles organizaram o cânon

(selecionaram os livros do Novo Testamento), principiaram a formulação das doutrinas cristãs e reuniram os

primeiros concílios.

27

diante das acusações, em forma de defesa e contra-ataque, recorrentemente se embasam nos

três princípios trazidos acima. Por exemplo: Sobre a acusações de não prestarem a devida

obediência à santa Igreja e a certos dogmas, ele diz:

Nem se preocupam muito se ocorre que se conspurque a glória de Deus com

vociferantes blasfêmias, contanto que ninguém levante um dedo contra o

primado da sé apostólica e a autoridade da Santa Madre Igreja.

Por que, afinal, lutam com tão acirrada virulência e ferocidade em favor da

missa, do purgatório, das peregrinações e baboseiras tais, a ponto de

negarem que tem de haver sã piedade, sem, por assim dizer, fé mais explícita

nestas coisas, quando, entretanto, nada dessas coisas provam eles ser da

Palavra de Deus? (2003a, p. 28).

E ainda:

Nós afirmamos, em contrário, não só que a Igreja pode subsistir sem

nenhuma expressão visível, nem que ela contém a forma nesse esplendor

externo que estultamente admiram, mas, em marca bem diferente, a saber, na

pregação pura da Palavra de Deus e na legítima administração dos

sacramentos (2003a, p. 35, grifo nosso).

Sobre a acusação de não se submeterem aos pais da Igreja, Calvino fala da

importância destes, considerando suas limitações e erros, bem como seus acertos. Por

conseguinte, somente se poderia submeter-se a suas doutrinas caso estas estivessem

submetidas a algo que lhes fosse superior, a Palavra. Ironicamente é dito “Aquilo, entretanto,

que com acerto disseram, ou não o observam, ou o dissimulam, ou o deturpam, de sorte de

possas dizer que sua única preocupação tem sido catar esterco em meio ao ouro.” (2003a, p.

31). Na sequência, o reformador expõe quatorze contradições entre os patrísticos e a Igreja

Romana. Dentre essas temos:

Patrístico era o que, se tratando de matéria obscura, asseverou ser temeridade

decidir por uma ou outra das partes sem testemunhos claros e evidentes da

Escritura. Eles se esqueceram deste limite quando, à parte de qualquer

palavra de Deus, promulgam tantas constituições, tantos cânones, tantas

determinações magisteriais. (...).

Os patrísticos todos, em unânime consenso, abominaram e a uma voz

apostrofaram o contaminar-se a santa Palavra de Deus com as sutilezas dos

sofistas e o enredilhar-se nas disputas dos dialéticos. Porventura eles se

contêm dentro destes limites, quando, em toda a vida, não engendram outra

coisa senão toldar e prejudicar a simplicidade da Escritura com infindas

discussões e querelas mais do que sofísticas...? (2003a, p. 33).

Diante das acusações de serem novas as doutrinas protestantes e não haverem

milagres que as comprovassem, Calvino as identifica diretamente com a Bíblia: “Em primeiro

lugar, que a tacham de nova, fazem sério agravo a Deus, cuja Sagrada Palavra não merecia

28

ser rotulada de novidade.” (2003a, p. 29). E que a verdade do movimento não deve ser

provada por milagres, mas pelo julgamento das Escrituras (2003a, p. 29-31). Contra a

acusação de ilegitimidade do movimento por trazer tumulto à sociedade, é dito:

Ora, injustamente deriva-se contra ela a culpa desses males, culpa que se

deveria lançar à perfídia de Satanás. Esta é como que uma admissível

propriedade da divina Palavra: que ela jamais vem à tona sem que Satanás se

desperte e se assanhe. Eis aqui a mais segura marca, e particularmente fiel,

em virtude da qual se distingue das falsas doutrinas, que se divulgam com

facilidade, enquanto recebem de todos ouvidos atenciosos e são ouvidas por

um mundo que as aplaude (2003a, p. 38).

A proeminência da glória de Deus, o destaque à pecaminosidade da natureza humana

e a primazia da autoridade das Escrituras são atributos encontrados na teologia calviniana, ao

longo das Institutas, até mesmo numa carta ao rei. Dois desses itens figuram nos 5 solas (sola

scriptura e soli Deo glória). Os três atributos serão importantes nos períodos posteriores de

desenvolvimento da representação do Calvinismo, sendo apropriados por indivíduos em

nações diferentes, que se identificarão como calvinistas, reproduzindo tais crenças e

descrevendo outras embasadas nestas21 (SANTOS, 2006, p. 131-147).

1.3 A SOBERANIA DE DEUS NA SALVAÇÃO NOS CINCO PONTOS DO

CALVINISMO (TULIP).

Mesmo após a morte de Calvino, a expansão da fé reformada se processou em

diferentes lugares. Foi, contudo, nos Países Baixos no século XVII22 que os reformados

produziram o conjunto de atributos mais significativo do Calvinismo: a crença na soberania

de Deus na salvação expressada pelos cinco pontos do Calvinismo. Trata-se de cinco

doutrinas que apresentam e explicam que as etapas do processo de salvação ocorrem de modo

monergista, ou seja, que há somente um agente trabalhando eficazmente na obra de salvar o

homem: Deus, sendo ele, portanto, soberano na salvação. Essa perspectiva é divergente do

modo sinergista, em que é necessário o trabalho eficaz de Deus e do homem na obra de

salvação. Como encontrado no Catolicismo, em Melâncton (líder do Luteranismo após

21 Concordando com nossa leitura, o teólogo Valdeci Santos no artigo Quem é realmente reformado:

Relembrando conceitos básicos da fé reformada, lista seis itens teológicos identificadores da fé reformada, em

que os três primeiros são: “1. A majestade de Deus; 2. A autoridade das Escrituras; 3. A condição espiritual do

ser humano” (2006, p. 132-137). 22 Nos Países Baixos o Calvinismo obteve um significativo florescimento a partir da segunda metade do século

XVI e primeira metade do século XVII. Dentre vários reformadores, Guy de Brès é considerado

“verdadeiramente o fundador das Igrejas calvinistas nos Países-Baixos. Após sua permanência em Genebra, para

onde fugira das perseguições” (DELUMEAU, 1989, p. 154). Isso, devido ao sucesso e continuidade de sua

missão em cidades como Lille (atual França), Tornai e principalmente em Antuérpia (atual Bélgica). Por lá se

“teria contado 16 000 reformados (em 100 000 habitantes)” (DELUMEAU, 1989, p. 154).

29

Lutero) e no Arminianismo, apresentado mais à frente. Os cinco pontos do Calvinismo, que

monergistas, são simbolizados pelo acróstico inglês TULIP, em homenagem a mais famosa

flor neerlandesa, são respectivamente: T (Total depravity) depravação total, U (Unconditional

election) eleição incondicional, L (Limited atonement) expiação limitada, I (Irresistible grace)

graça irresistível e, P (Perseverance of the saints) perseverança dos santos (MENDES, 2009,

p. 68).

Entre 1568 e 1648 os Países Baixos lutaram por independência contra o domínio

espanhol (Guerra dos Oitenta Anos). Nesse período, a fé reformada se difundiu na região,

mesmo a contragosto do reino católico da Espanha, sendo esse mais um importante elemento

de identificação dos neerlandeses em distinção aos espanhóis, no processo de formação e

consolidação nacional. Cada vez mais integrantes de variados grupos sociais aderiam a

mesma fé protestante, burgueses, trabalhadores, magistrados, nobres e clérigos. A adesão ao

Calvinismo foi vista com bons olhos por muitos, por possibilitar o fortalecimento da unidade

de crença em torno de uma doutrina organizada contrária ao Catolicismo. No início do século

XVII, muitas igrejas dos Países Baixos já subscreviam a Confissão belga (1561) e o

Catecismo de Heidelberg (1563), ambos de tendência calvinista (DELUMEAU, 1989, p. 152-

155).

Nesse contexto, ocorre a controvérsia entre calvinistas e arminianos acerca da

salvação, culminando com a convocação de um sínodo na cidade de Dordrecht (1618-19) para

resolver a situação. O sínodo de Dort foi composto por clérigos reformados dos Países Baixos

e de outras nações e julgou as ideias sinergistas dos arminianos, rejeitando-as e condenando-

as. Os Cânones de Dort (1619), documento elaborado pelo sínodo se tornou um dos principais

desenvolvedores do Calvinismo, saindo daí seus cinco pontos23.

Apesar do sucesso, a fé reformada jamais conseguiu unanimidade nessas regiões.

Assim como em Genebra, haviam oficiais da igreja que discordavam de Calvino em alguns

pontos de sua doutrina, “Bolsec e Trolliet (...) não admitia de maneira nenhuma a

predestinação calviniana.” (DELUMEAU, 1989, p. 223). Na França, entre os huguenotes

havia quem não quisesse subscrever por completo as confissões calvinistas. Nos Países

Baixos, desde o início da expansão reformada haviam clérigos que discordavam de algumas

doutrinas como as referentes ao governo da Igreja e principalmente as doutrinas da salvação,

em especial a que se mostrou mais polêmica: a predestinação. A doutrina de que Deus, antes

23 “Calvino sem dívida não atribuía à doutrina da predestinação toda importância que os Reformados lhe deram

no século XVII, mas o sínodo de Dordrecht fez aparecer o Calvinismo antes de mais como uma doutrina da

predestinação.” (DELUMEAU, 1989, p. 226).

30

da fundação do mundo, somente pelo seu mui sábio, santo e insondável desígnio, predestinou

uns para a salvação eterna e outros para a condenação eterna. Aos primeiros resgatou da

merecida condenação, fruto do pecado em que nasceram e viviam, sem que tivessem feito

nada para merecer tal graça, pelo contrário. Aos últimos, não lhes deu essa graça, antes os

deixou permanecerem em seu estado degenerado, ocasionando sua condenação por conta de

seus próprios pecados (CALVINO, 2003b, p. 382-445; 2012).

Em terras neerlandesas, vários ministros como Caspar Coolhaes (1536-1615) se

levantaram contra pontos da soteriologia calvinista defendidos nas igrejas reformadas.

Contudo, foram as ideias do clérigo Jacob Armínio (1560-1609) sobre o tema que se

popularizaram, primeiramente entre os protestantes neerlandeses, depois em todo o mundo.

Sua doutrina foi se tornando conhecida a partir dos debates com Francisco Gomarus (1563-

1641), seu colega de docência na Universidade de Leiden. Armínio discordava drasticamente

de Calvino, por exemplo, quanto ao livre-arbítrio, predestinação e natureza da santificação,

questões relacionadas aos temas áureos da Reforma. Posteriormente, sua produção

doutrinária, continuada por teólogos seguidores ficou conhecida como Arminianismo.

Identificação de um grupo protestante, contrário à doutrina do grupo mais representativo do

Protestantismo (DELUMEU, 1989, p. 152-155; HEYSE, 2008, p. 167).

Após a morte de Armínio, alguns seguidores escreveram a Remonstrância (1610),

um sucinto documento contendo cinco artigos demonstrando como criam na salvação, pelo

que ficaram conhecidos como remonstrantes, ou reclamadores. Foram selecionados pontos da

teologia calviniana eivados de monergismo, agora repensados e descritos inclinados ao

sinergismo. Com o tempo, os que creram nas doutrinas sinergistas da Remonstrância ou

destas derivadas foram chamados de arminianos (DANIEL, 2015).

O primeiro artigo remonstrante trata a predestinação como presciência, o

conhecimento prévio de Deus sobre quem irá crer, de modo a retirar o termo determinante da

escolha de Deus e colocá-lo na atitude de crer do homem. É afirmado que Deus “determinou

salvar... aqueles que, pela graça do Santo Espírito, crerem neste seu Filho e que, pela mesma

graça, perseverarem na mesma fé e obediência de fé até o fim” (REMONSTRÂNCIA, 2009).

O segundo artigo continua a minimização da escolha de Deus quanto a quem será salvo,

apresentando um Cristo que executou a obra de salvação para todas as pessoas. É afirmado

que Jesus Cristo “morreu por todos e cada um dos homens, de modo que obteve para todos,

por sua morte na cruz, reconciliação e remissão dos pecados” (REMONSTRÂNCIA, 2009).

Após isso é papel de cada um aceitar ou não, conforme será explicado.

O terceiro artigo, a princípio assevera a noção calvinista da natureza pecaminosa do

31

homem e a consequente necessidade da graça de Deus. Sobre o homem é dito que “não possui

por si mesmo graça salvadora, nem as obras de sua própria vontade, de modo que, em seu

estado de apostasia e pecado (...) não pode pensar nada que seja bom – nada, a saber, que seja

verdadeiramente bom, tal como a fé que salva antes de qualquer outra coisa.”

(REMONSTRÂNCIA, 2009, grifo nosso). Sobre a necessidade da graça:

Mas que é necessário que, por Deus em Cristo e através de seu Santo

Espírito, seja gerado de novo e renovado em entendimento, afeições e

vontade e em todas as suas faculdades, para que seja capacitado a entender,

pensar, querer e praticar o que é verdadeiramente bom, segundo a Palavra de

Deus [Jo 15.5] (REMONSTRÂNCIA, 2009).

É, porém, na pequena frase grifada acima, contida no meio do artigo “tal como a fé

que salva antes de qualquer outra coisa.” (REMONSTRÂNCIA, 2009) que se encontra

sutilmente o tensionamento ao sinergismo e encaminha o quarto artigo. Isso, pois na

interpretação calvinista das Escrituras, a fé é decorrente do novo nascimento ou regeneração,

em que Deus capacita o homem a crer nele. É, portanto, o novo nascimento aquilo que salva

antes de qualquer coisa. Outrossim, o quarto artigo traz a novidade doutrinária da graça

preveniente, uma reinterpretação da regeneração. Essa não é a graça do novo nascimento que

capacita a crer e ser salvo sem margem de erro. Antes, é o restabelecimento da capacidade de

escolher livremente, do livre-arbítrio para aceitar ou rejeitar a Deus e sua oferta de salvação.

Liberdade que não havia antes da regeneração em decorrência do pecado.

nem mesmo o homem regenerado pode pensar, querer ou praticar qualquer

bem, nem resistir a qualquer tentação para o mal sem a graça precedente

(ou preveniente) que desperta, assiste e coopera. De modo que todas as

obras boas e todos os movimentos para o bem, que podem ser concebidos em

pensamento, devem ser atribuídos à graça de Deus em Cristo. Mas, quanto

ao modo de operação, a graça não é irresistível, porque está escrito de

muitos que eles resistiram ao Espírito Santo (REMONSTRÂNCIA, 2009,

grifo nosso).

Assim, a salvação é um empreendimento sinergista em que as participações de Deus

e do homem são necessárias, de modo que é possível que Cristo e o Espírito façam sua parte e

o homem não seja salvo por escolher não fazer a sua. No quinto e último artigo, os

remonstrantes afirmam que, embora Deus conceda meios para o regenerado permanecer na fé,

não se sabe se a permanência até o fim é garantida por Deus ou se seria possível ao homem

perder a graça da salvação.

Que aqueles que são enxertados em Cristo por uma verdadeira fé, e que

assim foram feitos participantes de seu vivificante Espírito, são

abundantemente dotados de poder para lutar contra Satã, o pecado, o mundo

e sua própria carne, e de ganhar a vitória; (...) Mas quanto à questão se eles

32

não são capazes de, por preguiça e negligência, esquecer o início de sua vida

em Cristo e de novamente abraçar o presente mundo, de modo a se afastarem

da santa doutrina que uma vez lhes foi entregue, de perder a sua boa

consciência e de negligenciar a graça – isto deve ser assunto de uma

pesquisa mais acurada nas Santas Escrituras antes que possamos ensiná-lo

com inteira segurança (REMONSTRÂNCIA, 2009).

Nas próximas gerações, para muitos arminianos a dúvida tornou-se certeza da perda

da salvação caso não perseverem na santificação, como será visto mais adiante (DANIEL,

2015).

Após oito anos de espalhamento dos cinco artigos da Remonstrância, foi convocado

o sínodo de Dordrecht (1618-19) para julgar essas doutrinas e seus propagadores. Os

arminianos haviam construído sua identificação por meio da distinção doutrinária quanto à

questão da salvação. Foi nesse cenário que os calvinistas, por meio do sínodo, confirmaram

crenças monergistas encontradas em Calvino. Tais doutrinas foram reforçadas, sendo

repetidas e tornadas mais claras pela escrita sintética dos Cânones de Dort em formato de

afirmações pontais. Destarte, foram postas ainda mais em relevo as doutrinas monergistas da

salvação em detrimento de outros temas teológicos, por serem o elemento doutrinário de

representação do Calvinismo empregado para distingui-lo do outro grupo protestante, o

Arminianismo. A partir da controversa remonstrante foi desenvolvida uma identificação dos

calvinistas, com atributos que os distinguiam não somente dos católicos, mas também de

outros protestantes como arminianos e luteranos.

Os Cânones de Dort possuem cinco capítulos, iniciados com afirmações tidas por

ortodoxas, seguidas dos erros remonstrantes e suas respectivas refutações. O primeiro capítulo

“A divina eleição e reprovação” trata da doutrina que ficou conhecido como eleição

incondicional, o U da TULIP, esta afirma que Deus, antes da fundação do mundo, já escolheu

aqueles a quem iria salvar, não sendo motivado pela presciência de que estes um dia teriam fé,

conforme criam os remonstrantes, nem por coisa alguma encontrada no homem, mas somente

de acordo com sua insondável e justa vontade (DORT, 1999, p. 5). No capítulo também é dito

“Esta eleição é o imutável propósito de Deus, pelo qual ele, antes da fundação do mundo,

escolheu um número grande e definido de pessoas para a salvação, por graça pura” (DORT,

1999, p. 4).

O segundo capítulo “A morte de Cristo e a redenção do homem por meio Dela” trata

da doutrina que se chamou expiação limitada, o L da TULIP. Ao longo deste é explicado

primeiro o sentido da abrangência da morte vicária (sacrificial) de Cristo, depois o sentido de

sua limitação. Quanto ao sentido abrangente é afirmado que “Esta morte do Filho de Deus é o

33

único e perfeito sacrifício pelos pecados, de valor e dignidade infinitos, abundantemente

suficiente para expiar os pecados do mundo inteiro.” (DORT, 1999, p. 14). A notícia de sua

morte para salvação “de todo aquele que crê no Cristo crucificado (...) deve ser anunciada e

proclamada sem discriminação a todos os povos e a todos os homens, aos quais Deus, em seu

bom propósito, envia o Evangelho com a ordem de que se arrependam e creiam.” (DORT,

1999, p. 14).

Quanto ao segundo de limitação, é afirmada a eficácia do sacrifício somente aos

eleitos. Sobre os reprovados é dito: “Muitos que têm sido chamados pelo Evangelho não se

arrependem nem creem em Cristo, mas perecem na incredulidade. Isto não acontece por causa

de algum defeito ou insuficiência no sacrifício de Cristo na cruz, mas por culpa deles

próprios.” (DORT, 1999, p. 14). Sobre os aprovados: “Mas aqueles que verdadeiramente

creem e pela morte de Cristo são libertos e salvos dos seus pecados e da perdição, recebem tal

benefício apenas por causa da graça de Deus, que lhes é dada, em Cristo, desde a eternidade.

Deus não deve a ninguém tal graça.” (DORT, 1999, p. 14). A doutrina da expiação limitada

afirma que o sacrifício de Cristo seria suficiente para pagar pelos pecados de toda a

humanidade, mas seus benefícios são eficientemente aplicados somente aos eleitos, pois Deus

os dotou de fé para crerem neste sacrifício.

O terceiro capítulo “A corrupção do homem” trata da doutrina da depravação total, o

T da TULIP. Essa afirma que o homem foi criado a imagem e semelhança de Deus, ele era

bom, “adornado em seu entendimento com o verdadeiro e salutar conhecimento de Deus e de

todas as coisas espirituais. Sua vontade e seu coração eram retos, todos os seus afetos, puros;

portanto, era o homem completamente santo.” (DORT, 1999, p. 19). Porém “desviando-se de

Deus sob instigação do diabo e pela sua livre vontade, ele se privou desses dons excelentes.”

(DORT, 1999, p. 19), este foi o pecado original, a queda de Adão e Eva. Consequentemente

“Em lugar disso trouxe sobre si cegueira, trevas terríveis, leviano e perverso juízo em seu

entendimento; malícia, rebeldia e dureza em sua vontade e em seu coração; e ainda impureza

em todos os seus afetos.” (DORT, 1999, p. 19). Isso, para todos os seres humanos,

descendentes de Adão “Depois da queda, o homem corrompido gerou filhos corrompidos.

Então a corrupção, de acordo com o justo julgamento de Deus, passou de Adão até todos os

seus descendentes” (DORT, 1999, p. 19).

Em suma, a depravação total assevera a inexistência da liberdade do homem para se

dirigir a Deus após a queda e, sua inclinação ao mal, afirmando que

todos os homens são concebidos em pecado e nascem como filhos da ira, incapazes

de qualquer ação que o salve, inclinados para o mal, mortos no pecado e escravos do

34

pecado. Sem a graça do Espírito Santo regenerador não desejam nem tampouco

podem retornar a Deus, corrigir sua natureza corrompida ou ao menos estar

dispostos a essa correção. (DORT, 1999, p. 19).

É dito que a obediência às leis de Deus não torna o homem apto à salvação. Pelo

contrário, a lei serve para mostrar quão pecador ele é, esta indica o problema, “mas não

aponta o remédio nem dá a força para sair dessa miséria.”(DORT, 1999, p. 20). A solução é o

Evangelho (boa nova), uma ação monergista de Deus “Aquilo que nem a luz natural nem a lei

podem fazer, Deus o faz pelo poder do Espírito Santo e pela pregação ou ministério da

reconciliação, que é o Evangelho do Messias” (DORT, 1999, p. 20).

O quarto capítulo “A sua conversão a Deus e como ela ocorre” desenvolve a doutrina

do chamado eficaz ou graça irresistível, o I da TULIP. Essa afirma que apesar do chamado à

conversão ser proclamado a todos, este só é verdadeiramente atendido por aqueles a quem o

Espírito Santo dá capacidade de crer nesta graça para a vida eterna. Esta operação do Espírito

é tão perfeita que não há possibilidade de o indivíduo rejeitar tal graça. Até mesmo sua

própria vontade, junto com outras capacidades, é restaurada de modo a reconhecer e querer o

bem e não o mal no tocante à conversão. Em suma, a ação do Espírito para salvar o eleito é

algo que ele não pode resistir, tal graça é irresistível. A crença calvinista no chamado eficaz

nos mostra sua diferença diante dos arminianos quanto à regeneração ou novo nascimento

(DORT, 1999, p. 21-28). Para os últimos, essa é a graça preveniente que restaura o livre-

arbítrio do homem para que este possa escolher (como Adão) Deus ou o mal. O documento

calvinista concebe a liberdade junto à inclinação irresistível a escolher o bem, sua vontade não

é somente livre, mas essencialmente boa

introduz novas qualidades na vontade. Esta vontade estava morta, mas ele a faz

reviver; era má, mas ele a torna boa; estava indisposta, mas ele a torna disposta; era

rebelde, mas ele a faz obediente, ele move e fortalece esta vontade de tal forma que,

como uma boa árvore, seja capaz de produzir frutos de boas obras (I Cor 2.14)

(DORT, 1999, p. 22).

O quinto e último capítulo “A perseverança dos santos” aborda a doutrina de mesmo

nome, o P da TULIP. Diferentemente da dúvida remonstrante, essa afirma a garantia que

Deus manterá a fé salvadora dos seus eleitos até o fim de suas vidas. Ainda que caiam em

pecados e tormentos, sua confiança e alegria da salvação se enfraqueçam e pareçam apagadas

por um tempo, o Senhor os fará retornar aos caminhos graciosos para eles preparados e, por

fim serão salvos (DORT, 1999, p. 33). Assim é, pois “seu decreto não pode ser mudado, sua

promessa não pode ser quebrada, seu chamado em acordo com seu propósito não pode ser

revogado. Nem o mérito, a intercessão ou a preservação de Cristo podem ser invalidados, e a

selagem do Espírito tampouco pode ser frustrada ou destruída.” (DORT, 1999, p. 31).

35

O formato sintético, o caráter legislador e o pano de fundo polêmico dos Cânones de

Dort, ajudaram a fazer deste um dos documentos mais significativos da produção da

representação da fé reformada. Com tais características, o foco temático e as doutrinas dele

extraídas foram mais fortemente apropriadas não somente nos Países Baixos, mas também em

outros lugares onde havia a presença reformada. Após Dort, tornou-se mais fácil encontrar a

identificação com o Calvinismo, não pela leitura da mui especializada Institutas, nem mesmo

pelos primeiros catecismos inspirados na teologia de Zwínglio e calviniana, mas pela

concordância com os Cânones. Mais simples ainda, pela concordância com os cinco pontos

do Calvinismo daí extraídos.

Esses fatores (características do documento e cenário de sua produção e recepção)

nos permitem compreender o fenômeno de popularização dos cinco pontos como

identificadores de o que era o Calvinismo, pois se apresentam como possibilitadores de tal

processo enquanto este ocorre. Por serem dos temas mais populares do corpo teológico

reformado, não somente os cinco pontos se identificaram com o Calvinismo, mas o próprio se

identificou com seus pontos, de modo que a partir de então e cada vez mais o Calvinismo será

tido, principalmente pela crença na soberania de Deus na salvação24 em vários momentos de

sua história, como se verá ao longo de todo o texto.

O soli Deo gloria da Reforma, descrito de modo abrangente por Calvino e usado em

defesa do movimento, pois este seria legítimo na medida em que buscava a glória de Deus em

detrimento do homem. Em Dort, concentrou-se na questão da soberania de Deus em

detrimento do homem em sua salvação. Não se tratou de um abandono, por parte dos teólogos

neerlandeses, do calviniano sentido abrangente da glória de Deus enquanto finalidade

universal, mas do seu uso num tema específico. Pelo que posto em relevo a temática da

salvação, as outras não foram extintas, mas postas em segundo plano, podendo vir à luz de

acordo com as necessidades ou possibilidades de cada cenário.

1.4 PURITANISMO E CALVINISMO.

Os puritanos contribuíram com a representação do Calvinismo, incorporando-lhe

atributos desenvolvidos e popularizados a partir do Reino Unido nos séculos XVI e XVII.

24 No período do sínodo, veio à tona uma divergência entre calvinistas, a questão da ordem dos decretos de Deus,

dividindo supralapsarianos e infralapsarianos. “A posição infralapsariana, associada a François Turrettini que

afirmou que a Eleição pressupõe a queda da humanidade. Dessa forma, os decretos da Eleição voltaram-se para

toda a humanidade como uma massa de pecados. Neste sentido, a decisão de Deus de predestinar alguns para a

Eleição e outros para a condenação é uma reação à queda. A posição supralapsariana, associada a Theodoro

Beza, considerou a Eleição anterior à queda. Ou seja, Deus decretou a Eleição antes de decretar a queda. A

queda foi vista como um meio de levar a cabo o decreto de Eleição.” (MENDES, 2009, p. 69).

36

Mais uma vez, não se trata necessariamente da invenção de novas doutrinas, mas de uma

etapa de seu desenvolvimento, de acordo com as necessidades e interesses próprios do

contexto inglês. Assim, alguns temas outrora secundários foram postos em relevo no processo

de identificação dos puritanos em distinção aos católicos anglicanos25 e outros protestantes

(BARTH, 2005, p. 15-30; CUCHE, 1999, p. 175-202; GALLISSOT, 1987, p. 12-27).

Consequentemente, doutrinas referentes a tais temas receberam mais atenção, sendo

desenvolvidas por meio da produção especializada (calvinistas eruditos) e sintetização para e

pelos leigos em sua popularização.

Selecionamos quatro atributos desenvolvidos no Puritanismo ou como consequência

deste, que marcaram a história de representação da fé reformada. Considerando a soberania de

Deus como axioma da fé cristã: 1) o Puritanismo fortaleceu o sentido abrangente do

Calvinismo, considerando que cada área da vida do indivíduo deveria estar sob o senhorio de

Deus. Haveria portanto, doutrinas tratantes de todas as áreas, como trabalho, sexo e

casamento, dinheiro, família, educação (RYKEN, 1992, p. 3). 2) O Puritanismo fortaleceu o

caráter confessional do Calvinismo. A despeito de outras confissões de fé e catecismos, a

puritana Confissão de Fé de Westminster (CFW) (1649),junto aos Cânones de Dort, tornou-se

documento dos mais populares e representativos do Calvinismo. A CFW sintetizou não só as

doutrinas sobre a salvação, mas várias outras, consideradas necessárias à vivência cristã. Até

mesmo importantes documentos de diferentes grupos reformados como a Declaração de

Savoy (1658) e a Confissão de Fé Batista de Londres (CFBL) de 1689 são influenciados pela

CFW, com distinções menores. Por serem eficientes sínteses da ortodoxia reformada, o selo

de identificação calvinista, cada vez mais passa a se dar pelo grau de concordância com a

CFW ou alguma derivada sua (GONZÁLES, 1994, p. 291). 3) A leitura da produção e

vivência puritanas pelos reformados das gerações seguintes, julgou o Puritanismo como

dotado de uma maturidade cristã, principalmente se comparadoaos protestantes dos períodos

subsequentes. 4) O requerimento, por parte das próximas gerações de calvinistas, de serem

herdeiros dos puritanos, identificando-se com suas doutrinas26 (PACKER, 1996, p. 18-19;

SPURGEON, s/d, p. 14).

25 Membros da Igreja Anglicana e seguidores da fé católica romana. 26 Outro atributo passível de verificação e reflexão quanto a sua contribuição à representação da fé reformada,

seria a crença na Teologia do Pacto (TP). Seu desenvolvimento culmina no período puritano, além estar presente

na CFW. Todavia, procedendo investigação, as conclusões sobre tal contribuição não seriam tão seguras como as

dos atributos já elencados, suficientes ao nosso trabalho. Sobre a produção da Teologia do Pacto (TP) em

perspectivas teológica e histórica, ver Uma breve introdução ao estudo do pacto (1998) de Mauro Meister e

Uma breve introdução ao estudo do pacto (II) (1999) do mesmo autor. Sobre o Dispensacionalismo, perspectiva

que no século XX se tornou mais popular entre os evangélicos, em lugar da TP, sob olhar teológico e histórico,

ver Uma história do Dispensacionalismo de Thomas Ice (1951).

37

O Puritanismo foi um movimento religioso com desdobramentos em diversas áreas

sociais como política, economia e outros âmbitos culturais. Ocorreu no Reino Unido,

incluindo sua colônia americana, mais clara e intensamente entre os séculos XVI e XVII

(GONZÁLES, 1994, p. 281-295; RYKEN, 1992, p. 23-25). Decorrente e componente da

Reforma, pode-se dizer que o Puritanismo foi a principal expressão de como se desdobrou o

Protestantismo na Inglaterra, considerando que a região foi alcançada por seu braço

reformado (DELUMEAU, 1989, p. 304-307).

O Movimento já foi analisado a partir de diferentes perspectivas. Considerando-o

uma expressão do Calvinismo, ele geralmente é relacionando ao desenvolvimento de uma

mentalidade capitalista (HERMANN, 2011, p. 70; WEBER, 2003, p. 142-159; 2013).

Movimento heterogêneo, participou de um momento ímpar de convulsões religiosas e sociais

na Inglaterra, em que variados grupos pleiteavam direitos e espaços de poder embasados na

defesa da legitimidade de suas doutrinas. Christopher Hill (1912-2003) prefere analisar os

grupos marginalizados do período, as exceções, à exemplo dos levellers (niveladores,

pretendiam nivelar as diferenças sociais), diggers (cavadores, se estabeleceram num terreno

não aproveitado em 1648, pelo que Hill enxergará nisto um símbolo e protótipo da reforma

agrária), quakers (tremedores, os que tremem perante Deus), ranters (faladores abusados),

seekers (buscadores). Ele foca nas divergências entre grupos, promotoras das distinções

identitárias (1987, p. 30-31).

Na obra de Hill, a unidade entre os diferentes grupos do período, não estava em

pontos comuns quanto à doutrina, mas no sentimento revolucionário disposto a romper a

ordem social vigente, expresso em linguagem religiosa devido às possibilidades do contexto

inglês seissentista. Tal impulso culminou na Revolução Puritana de 1649 que deu início à

República sob o governo de Oliver Cromwell (1599-1658) junto ao parlamento até 1659

quando a monarquia é restaurada com Carlos II (HILL, 1987, 1983).

Também buscando a perspectiva da coletividade, princípio máximo da História

Social (PROST, 2008, p. 189-209), todavia não nas entrelinhas, antes com intentos mais

simples, consideramos a legitimidade da realidade do âmbito religioso, sua relativa

independência, bem como sua conexão com outros âmbitos da realidade social. Buscamos

atributos comuns aos indivíduos que os identifiquem enquanto componentes de um mesmo

grupo, no caso os puritanos, e os distingam dos demais, pela consideração das questões

doutrinárias, pois foram estas as usadas pelos próprios, na prática de identificação de si. Essa

abordagem se aproxima do campo temático da História das doutrinas, conforte apresentado

por Jacqueline Hermann (1997, p. 70-82).

38

No fervilhar de disputar religiosas, especialmente entre católicos e reformados, o

acordo elizabetano de 1558, produziu uma “meia reforma” na Igreja Anglicana (Igreja oficial

da Inglaterra), objetivando apaziguar e manter os grupos sob a tutela religiosa do Estado. As

doutrinas gerais passavam a ser reformadas enquanto a organização eclesiástica e a liturgia da

missa permaneceriam católicas (RYKEN, 1992, p. 24). Os reformados não se conformaram

com uma reforma incompleta, muitos desejavam o modelo presbiteriano de governo da Igreja,

em que os pastores devem ser indicados por seus pares e aclamados pela comunidade dos

fiéis, conforme defendido por Calvino. Para ele, esse modelo seria mais fiel as Escrituras e

condizente com os primeiros pais da Igreja (CALVINO, 2003c, p. 78-90). A Igreja Anglicana

permaneceria sob o molde do Episcopalismo católico, em que os bispos são escolhidos pelo

papa ou rei e impostos à comunidade. Também a missa deveria ser simplificada, contendo

somente os elementos diretamente expressos na Bíblia27 (CFW, 2014, p. 168).

As lutas por ampliação da Reforma não se enclausuraram no âmbito eclesiástico. Os

reformados (como se nomeavam) ampliaram a Reforma para todas as áreas da vida do

indivíduo, de acordo com a doutrina protestante do sacerdócio universal. Segundo tal, não

somente os clérigos tinham o dever de glorificar a Deus em seu ofício privilegiado, nem Deus

deveria ser adorado somente no culto público solene aos domingos. Antes, todo cristão

deveria atender seu chamado específico para glorificar o Senhor naquilo para o qual foi

designado. “O Chamado geral era a ser um cristão redimido e santo em todas as áreas da vida.

O chamado particular era Deus dirigindo uma pessoa a um trabalho ou carreira específicos na

vida” (RYKEN, 1992, p. 31).

Destarte, o trabalho deveria ser executado diligentemente com o intuito de glorificar

a Deus, fosse a pregação da Palavra, a carpintaria, o comércio, o serviço militar ou a limpeza

da casa. Temos mais, o mesmo trabalhador por exemplo, ainda era pai e esposo, logo, também

nestes chamados ele deveria glorificar a Deus. Fosse no ensino maternal dos filhos, no

sustento paternal, no sexo marital, também ali Deus deveria ser soberano. O indivíduo era

ainda um ser que se diverte, logo, também neste âmbito Deus era senhor, devendo o indivíduo

conformar até seu entretenimento e diversão à busca por glorificar a Deus, pois esta seria a

finalidade última do homem28 (WHITEFIELD, s/d; RYKEN, 1992, p. 37-70; 87-102,

FERREIRA, MYATT, 2007, p. 48; CMW, s/d, p. 1).

27 Calvino construiu uma teologia da missa e apontou erros católicos, especialmente no capítulo dezoito “Da

missa papal, por cujo sacrilégio não só foi profanada a ceia de Cristo, mas inclusive reduzida a nada” do quarto

livro das Institutas (2003c, p. 401-417). 28 No Calvinismo, mais que no Luteranismo e mais claramente no Puritanismo, é percebido o enfraquecimento

da dicotomia sagrado/profano, presente na mentalidade católica e encontrada mais facilmente em nações

historicamente católicas até hoje (KUYPER, 2003, p. 45).

39

Tal abrangência do Calvinismo, gerou uma rigidez religiosa em várias áreas do

cotidiano, ocasionando constantes repreensões por parte dos reformados aos considerados

maus hábitos dos ingleses. Por exemplo, o frequentar tabernas, bebedeiras, adultérios,

castigos físicos às esposas (permitido por direito consuetudinário) e jogos de azar. Pelo que os

reformados receberam o apelido jocoso de puritanos por seus contrários, por severamente

tentarem“purificar” a vida e a sociedade, ou como os próprios diziam, reformá-la (RYKEN,

1992, p. 15-36; PACKER, 1996, p. 122). O puritano Richard Baxter (1615-91) relatou

“éramos alvos das zombarias de todos, sendo apelidados de puritanos, rigoristas ou hipócritas,

porque preferíamos ler as Escrituras do que fazer o que eles faziam...” (BAXTER apud

PACKER, 1996, p. 256).

Após o declínio do Puritanismo, a sociedade inglesa permaneceu desenvolvendo

costumes rigorosos em variados âmbitos da vida, que a partir do século XIX seriam reputados

como a moral vitoriana. Podendo ser encontradas reminiscências da diligência puritana na

austeridade dos costumes, por exemplo na família, trabalho, educação, trato com o dinheiro,

porém não motivados pela noção da soberania de Deus em todas as áreas da vida, nem

objetivando sua glória, conforme a mentalidade puritana. Isso, devido à supressão do caráter

religioso, antes abrangente e que estava presente na gênese dessa diligência racionalista29

(DELUMEAU, 1987, p. 305-306; GOMES, 2003, p. 106-108; MENDES, 2009, p. 57;

WEBER, 2003, p. 142-159).

Documentos como credos, catecismos, declarações e confissões de fé são comuns na

história da Igreja cristã e do Protestantismo30. No caso do braço reformado, vários

documentos do tipo foram produzidos desde o início da Reforma, com os intuitos de

estabelecer a ortodoxia das doutrinas relevantes aos respectivos períodos de escrita e, de

passar ao povo tais crenças. Assim, foram feitas, por exemplo: os Sessenta e Sete Artigos de

Zwínglio (1523), Confissão de Fé Escocesa (1560), Confissão Belga (1561), Catecismo de

Heidelberg (1563), Primeira e Segunda Confissões Helvéticas (1536 e 1566 respectivamente)

e Os Cânones de Dort (1618).

Esses documentos participaram do desenvolvimento do Calvinismo. Estavam

relacionados, seus escritores tinham acesso e consideravam as confissões anteriores. Logo,

29 Autores como Christopher Hill, Leland Ryken, Jean Delumeau e Eber Mendes nos lembram que é comum se

construir uma imagem deturpada do Puritanismo a partir das impressões deixadas pelas experiências posteriores

da sociedade inglesa pós-restauração (desde fins do século XVII), principalmente da era vitoriana (século XIX)

(HILL apud RYKEN; RYKEN, 1992, p. 15-16; DELUMEAU, 1987, p. 305-306; MENDES, 2009, p. 57). 30 Exemplos: Credo Apostólico (s/d); Credo Niceno (325 e 451); Credo Atanasiano (século V); Confissões de Fé

Waldenses (1120 e 1544); Noventa e Cinco Teses de Lutero (1517); Catecismo Menor de Lutero (1529);

Confissão de Augsburgo (1530).

40

eles podiam rejeitar, confirmar e melhor ainda: aprimorar doutrinas. As doutrinas que se

repetiam nos diferentes documentos e que frequentemente ganhavam lugar destacado, foram

sendo cristalizadas junto aos princípios interpretativos que as consideravam em alta estima,

mesmo em diferentes momentos. Tal repetição e consolidação demostram o caráter sincrônico

da fé reformada. Nesses documentos, as doutrinas que figuram constantemente entre as

principais tratam de Deus, do homem e da salvação, indiciando o interesse social por tais

temas e seus desdobramentos. No caso de Deus: a Trindade, seus atributos, sua soberania e

providência, as duas naturezas de Jesus (divina e humana). Do homem: criação, estado de

pecado, seus atributos, semelhanças e diferenças ante Deus. Da salvação: queda, obra

substitutiva de Cristo, regeneração, fé, santificação, vida eterna, condenação e inferno (CFW,

2014).

Considerando que as confissões tinham o intuito de passar a ortodoxia das doutrinas,

estas foram essenciais à popularização do Calvinismo. Diferente de tratados teológicos que se

delongam em reflexões quanto às diferentes visões acerca de cada tema, a forma de escrita

sintética que já trazia as conclusões dos tratados, facilitava o entendimento e decoração ao

público leigo31. Temos ainda que os documentos que mais fizeram sucesso possuíam algum

poder de divulgação, seja por serem legitimados pelo Estado e/ou produzidos por indivíduos

ou grupos proeminentes de especialistas, cujas vozes podiam se fazer mais respeitadas de

acordo com apresentação da posse de capital religioso, conforme tratamento dado ao termo

por Bourdieu (2007, p. 39). Como visto antes, foi justamente assim que o Calvinismo ficou

conhecido como a religião da soberania de Deus na salvação, pelo desenvolvimento de tais

doutrinas nos Cânones de Dort (1619), legitimados pela Igreja e Estado neerlandeses e a

subsequente popularização dos cinco pontos do Calvinismo, de lá extraídos.

Cento e vinte e seis anos após a provável primeira confissão reformada (os Sessenta e

Sete Artigos de Zwínglio) e, oitenta e nove anos após a Confissão Escocesa, liderada por John

Knox (1514-72), considerado um dos primeiros puritanos, foi produzida entre 1643 e 1649 a

Confissão de Fé de Westminster (CFW)32, por cento e cinquenta e um puritanos, sendo cento e

vinte e um clérigos ingleses e trinta escoceses. Eles foram amparados pelo parlamento inglês,

cujos exércitos estavam em guerra contra os do rei Carlos I durante a chamada Revolução

Puritana até a vitória e ascensão de Oliver Cromwell ao poder em 1649. No governo,

Cromwell buscou impor alguns ideais puritanos à Igreja (Presbiterianismo) e Estado, até a

31 Esses catecismos consistem em perguntas e respostas a serem decoradas. 32 Junto à CFW foram elaborados o Diretório de Culto, o Catecismo Maior de Westminster (CMW) e o Breve

Catecismo de Westminster (BCW).

41

restauração monárquica em 1660 com Carlos II que restaurou o Episcopalismo (DELUMEU,

1987, p. 232-234; HYKEN, 1992, p. 23-25).

A CFW possui participação significativa no desenvolvimento do Calvinismo, sendo o

texto mais conhecido escrito pelos puritanos (GONZÁLES, 1994, p. 291). Ao longo de trinta

e três capítulos, procedendo de modo semelhante a outros documentos, ela contribuiu com a

sacralização dos três temas acima citados e, com qual deveria ser a interpretação calvinista

sobre esses33. Inicia tratando da Bíblia e de Deus; em seguida trata dos decretos divinos; sua

providência; criação e queda; a doutrina do pacto de Deus com o homem; fala do livre-

arbítrio; das doutrinas da graça, que são as sobre a salvação do homem de acordo com a

TULIP; sobre a lei de Deus. Na sequência aparecem questões secundárias diante das

anteriores: a liberdade cristã; o princípio regulador do culto e o domingo (dia do Senhor); o

magistrado civil; questões de organização e procedimento da igreja; os dois sacramentos

(batismo e ceia); o limite da autoridade de concílios e sínodos e; a ressurreição e juízo final

(CFW, 2014).

A CFW usufruiu do momento propício de divulgação do texto entre 1646 (primeira

versão) e 1660, pelo fortalecimento político dos protestantes no governo. Também se

aproveitou de mais de cem anos de produção teológica reformada. Assim, suas sínteses

doutrinárias elaboradas em formato de afirmações, obtiveram sucesso em influenciar o

público reformado inglês do período. Mais que isso, por ser um símbolo de fé de igrejas

presbiterianas em todo o mundo (junto aos Catecismos Maior e Breve de Westminster) desde

o século XVII até hoje, a CFW continuou influenciando gerações de calvinistas, mesmo com

o declínio da fé reformada, a partir do século XVIII34.

Os Cânones de Dort não permaneceram tão visitados como no período em que foram

produzidos, antes os cinco pontos do Calvinismo dele extraídos se popularizaram, sendo tema

de diversos livros como Cinco Pontos: Em direção a uma experiência mais profunda da

graça de Deus (2014) escrito pelo pastor calvinista John Piper (1946). Já a CFW não somente

contribuiu com o desenvolvimento da fé reformada, como também a própria se popularizou

por ser calvinista. O documento tornou-se um item capaz de aferir o grau de adequação às

doutrinas reformadas, aceitas consensualmente entre os grupos calvinistas.

Após a CFW, os puritanos produziram ao menos outras duas sínteses relevantes: a

33 Merece menção, o romance O Peregrino publicado originalmente em 1684. Por ser um dos livros mais lidos

da literatura cristã, ajudou a disseminar a visão reformada de seu tempo aceca de como seria “viver a vida” para

um cristão. 34 No Brasil por exemplo, subscrevem os três símbolos de fé de Westminster como expressões de sua crença, a

Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB), maior denominação calvinista do país; a Igreja Presbiteriana Conservadora

do Brasil (IPCB) e a Igreja Presbiteriana Fundamentalista do Brasil.

42

Declaração de Savoy (1658) e a Confissão de Fé Batista de Londres de 1689, distinguindo

respectivamente os congregacionais e batistas entre os reformados. Ambas se assemelham e

foram influenciadas pela CFW em doutrina e estrutura. As distinções se dão em temas

secundários como a forma de governo da Igreja e os sacramentos do batismo e ceia35.

Podemos notar que esses documentos oficiais, principalmente a CFW, produzidos

por especialistas e que sintetizavam as doutrinas reformadas, foram importantes para o

desenvolvimento do Calvinismo, pois facilitaram a apropriação de suas doutrinas por parte do

público. Desse modo, mais facilmente os indivíduos podiam se identificar como calvinistas

mediante a concordância total ou parcial, de seus temas mais importantes. Mesmo as

discordâncias, ao invés de promoverema heterogeneidade de fés particularizadas, acabaram

por produzir outras confissões, elaboradas e acatadas coletivamente, semelhantes quanto aos

temas áureos Deus, homem e salvação e, mais distintas em questões secundárias. Isso nos

indica que a unidade do Calvinismo é perpassada por seu caráter confessional.

Apesar de comporem um movimento religioso minoritário desde início do 1500, os

puritanos foram engajados no pôr em prática sua teologia abrangente da vida, a ponto de

terem notável participação no cotidiano e nos grandes eventos do Reino Unido até fins do

1600. A partir desse período, quando da restauração monárquica com Carlos II (1660) em que

muitos puritanos foram perseguidos36 e, da instauração da monarquia parlamentarista

(1689)37, houve um declínio do Puritanismo e do maior vigor da participação da esfera

religiosa sobre o cotidiano inglês (DELUMEAU, 1987, p. 232-234; HILL, 1987, 332-343;

RYKEN, 1992, p. 25; IBRVN, 2010, p. 32-34).

Outrossim, em meados do século XVIII, Inglaterra e Nova Inglaterra

experimentaram os chamados reavivamentos: movimentos que criticavam a apatia religiosa

do período, incluindo o enfraquecimento da influência do Cristianismo sobre as várias áreas

da vida e, clamavam pelo revigoramento da fé exposto por um forte senso da necessidade de

santificação (PACKER, 1996, p. 33-35). Apesar da participação relevante de calvinistas como

George Whitefield (1714-70) na metrópole e Jonathan Edwards (1703-58) na América, as

35 Diferentemente da maioria dos protestantes até então, os batistas eram contrários ao pedobatismo (batismo de

criança). Eles eram credobatistas, ou seja, permitiam o sacramento do batismo somente aos que criam, aos

capazes de publicar conscientemente sua conversão. Hoje, entre os evangélicos o credobatismo é majoritário e o

pedobatismo (praticado por presbiterianos) exceção. 36 O rei Carlos II vinga a morte do pai, humilhando o cadáver de Cromwell e executando alguns participantes da

Revolução Puritana. Ele restaura o Episcopalismo, obrigando os pastores puritanos a submeterem-se ao sistema.

Cerca de mil setecentos e sessenta pastores puritanos deixam suas Igrejas e, quem não é anglicano não pode

colar grau em Oxford e Cambridge (DELUMEAU, 1987, p. 232-234; IBRVN, 2010, p. 33, RYKEN, 1992, p.

25). 37 Assegurando a liberdade religiosa para vários grupos como presbiterianos, batistas, congregacionais e quakers

(DELUMEAU, 1987, p. 232-234; IBRVN, 2010, p. 38).

43

ideias mais marcantes foram as do ministro metodista John Wesley (1703-91) (GONZÁLES,

1994, p. 351-355).

Assim como os calvinistas, Wesley enfatizava a necessidade de santificação, porém

sua visão sinergista, dava-lhe um sentido arminiano, da possibilidade de perda da salvação,

caso a santificação fosse negligenciada. Destarte, junto à pregação de Wesley e seus

aprendizes, tal sentido foi sendo popularizado no meio reformado paralelamente aos

reavivamentos e, as doutrinas arminianas da salvação foram tomando o lugar do monergismo

calvinista, cada vez mais deixado de lado pelas novas gerações reformadas (DANIEL, 2015;

MATOS, 2006, p. 27-28).

Simultaneamente, Puritanismo e Calvinismo estavam em declínio. O Puritanismo,

enquanto movimento mais específico e nacional chegava ao fim. Já o Calvinismo não atingiu

os protestantes do século XVIII como antes. Tornou-se ainda mais minoritário e sua produção

doutrinária não mais atingia o grande público, antes cada vez mais se restringia à círculos

acadêmicos. Semelhantemente, Delumeau aponta o enfraquecimento do Calvinismo e mesmo

do vigor da religiosidade nos Países Baixos a parir de fins do século XVII (1987, p. 225-226).

Ainda no mundo anglófono, até mesmo o uso do termo reformado entra em declínio e, inicia-

se a popularização do termo evangélico, usado pelos protestantes para identificar a si

(MATOS, 2006, p. 27-28; SPURGEON, s/d; p. 14-15; DELUMEAU, 1987, p. 232-234;

PACKER, 1996, p. 1765-176).

Considerando a contribuição do Puritanismo à identificação calvinista, encontramos

um atributo aplicado aos puritanos, não pelos próprios, mas pelas próximas gerações de

calvinistas. Não necessariamente em distinção aos grupos contemporâneos dos puritanos, mas

em oposição aos evangélicos contemporâneos dos próximos reformados. Em Uma defesa do

Calvinismo, no século XIX, o pregador inglês Charles Handdon Spurgeon (1834-92) afirmou

“ou oque dirá ele dos puritanos, cujas obras estão repletas desta doutrina? Se naqueles dias

um homem fosse um arminiano, ele seria considerado o mais vil herético vivente, mas agora,

nós é que somos considerados heréticos e eles os ortodoxos” (s/d, p. 14). Além de ligar os

puritanos ao Calvinismo, de lembrar do ostracismo da fé reformada em detrimento do

Arminianismo e do fim do Puritanismo, Spurgeon asseverou a gravidade com que os

puritanos tratavam as doutrinas da graça, relacionadas à salvação, diante do cenário religioso

do mil e oitocentos.

A gravidade dada ao âmbito religioso era exposta justamente pela noção de

abrangência da influência do Cristianismo sobre as várias facetas da vida. Para os puritanos,

não havia a ideia de separação entre coisas sagradas e profanas como no Catolicismo. Esse

44

seria o sentido puritano de santidade, “perdido” em seu declínio, retomado nos reavivamentos,

revestido do Arminianismo e, novamente isolado ao âmbito religioso nas sociedades

historicamente reformadas38. O pensador calvinista neerlandês Abraham Kuyper (1837-1920),

considerava o Puritanismo uma expressão do Calvinismo, que se desenrolou no Reino Unido

(KUYPER, 2003, p. 23). Em discurso apologético, ele afirmou: “No sentido filosófico,

entendemos por Calvinismo aquele sistema de concepções que, sob a influência da mente

mestre de Calvino, levantou-se para dominar nas diversas esferas da vida” (2003, p. 22,

grifo nosso). Paralelo à abrangência, Kuyper considerava o Calvinismo como a melhor

expressão do Cristianismo na história, sendo superior ao Luteranismo, ao Anabatismo e ao

Socinianismo. Ele argumentou em favor da superioridade do Calvinismo diante de outros

sistemas como Catolicismo, Islamismo e Modernismo, por trazer melhores respostas às

questões religiosas, sociais e naturais, conforme será tratado adiante (KUYPER, 2003).

Mais recentemente, já no fim do século XX, seguindo a linha de Leland Ryken

(1942) em Santo no Mundo39 (1992), o teólogo calvinista James Packer (1926) afirma a

maturidade do movimento puritano em oposição ao evangelicalismo anglófono atual

Pergunta-se: O que estes zelotes nos poderiam dar do que precisamos? A

resposta é, em uma palavra, maturidade. A maturidade é uma composição de

sabedoria, boa vontade, maleabilidade e criatividade. Os Puritanos

exemplificavam a maturidade; nós não. Um líder bem viajado, um americano

nativo, declarou que o protestantismo norte-americano centrado no homem,

manipulativo, orientado pelo sucesso, auto-indulgente e sentimental como é,

patentemente — mede cinco mil quilômetros de largura e um centímetro de

profundidade. Somos anões espirituais. Os Puritanos, em contraste, como um

corpo eram gigantes. Eram grandes almas servindo a um grande Deus. Neles,

a paixão sóbria e a terna compaixão combinavam. Visionários e práticos,

idealistas e também realistas, dirigidos por objetivos e metódicos, eram

grandes crentes, grandes esperançosos, grandes realizadores e grandes

sofredores40 (PACKER, 1996, p. 18).

É possível perceber que a construção identitária dos puritanos desenvolvida pelos

reformados posteriores, repetidamente recorre à atributos como severidade, superioridade,

profundidade e maturidade. Também notamos que tal construção identitária heroizante é posta

em contraste aos “outros” evangélicos, contemporâneos dos produtores desse tipo de

representação. Os evangélicos de hoje, seriam marcados pela falta de tais atributos puritanos,

38 Dois dos principais teólogos puritanos a tratarem da santidade foram John Owen (1616-83) em livros como

Mortificação do Pecado (2005), publicado originalmente em 1656, mesmo livros sobre outras temáticas como A

Glória de Cristo (2008), publicado originalmente em 1684, tinham a santificação como um objetivo. Também

Richard Baxter (1615-91), demonstra preocupação com a santificação, especificamente para o ofício eclesiástico,

mas presente em cada parte da vida em The Reformed Pastor (1655), publicado no Brasil como Manual Pastoral

de Discipulado (2008). 39 Publicado originalmente em 1989. 40 Publicado originalmente em 1991.

45

havendo portanto, a necessidade de receberem sua influência41.

Ao considerarem o Puritanismo como componente da fé reformada e contribuinte à

sua representação, as gerações seguintes de calvinistas se põem como herdeiros dos puritanos.

Portanto, como aqueles que guardam suas doutrinas, sendo estas potencialmente capazes de

resolver os assim julgados, problemas do Evangelicalismo de seu tempo, enxergados por

esses calvinistas. Dentre os quais estariam justamente a falta de maturidade e profundidade

doutrinária (PAKER, 1996, p. 17-32; IBRVN, 2010; p. 15). Tal caracterização demostra o

caráter relacional do processo de identificação, por meio da menção de atributos puritanos,

selecionados enquanto contraste diante dos posteriores evangélicos. Ao passo em que

recorrem ao Puritanismo na prática de identificação de si, eles também produzem uma

identificação dos grupos não calvinistas, mediante a diferenciação do “nós” e “outros”

(BARTH, 2005, p. 15-30; CUCHE, 1999, p. 181-187). A reivindicação de uma herança

puritana por parte dos calvinistas, junto à distinção diante dos outros evangélicos, será mais

trabalhada no terceiro e quarto capítulos.

1.5 NEOCALVINISMO. UMA COSMOVISÃO CRISTÃ.

Antes de iniciar, saibamos que no chamado Neocalvinismo, o Calvinismo é tratado

como sinônimo do Cristianismo, ou melhor, como sua expressão mais bem sistematizada ao

longo da história da Igreja. O Neocalvinismo concebe o Calvinismo como uma

weltanschauung42, que seria um sistema de vida, ou uma cosmovisão. Enquanto tal, a partir

das doutrinas reformadas, fornece subsídios para compreender a realidade como um todo e em

cada parte. Desse modo, todo e qualquer aspecto da experiência humana, seja política, cultura,

religião, arte ou ciência, é passível de reflexões sob a ótica calvinista, bem como de correlatas

propostas de intervenção (KUYPER, 2003; RAMLOW, 2012, p. 11-15; OLIVEIRA, 2006, p.

74-78). Todos esses aspectos devem estar integrados ao princípio calvinista da soberania de

Deus sobre todas as coisas, assim exprimido pelo neocalvinista Abraham Kuyper: “Não há

nem um centímetro em toda a área da existência humana da qual Cristo, o soberano de tudo,

não proclame: ‘Isso é meu’” (KUYPER apud RAMLOW, 2012, p. 13).

Dentre os movimentos mais significativos da fé reformada, o Neocalvinismo foi o

41 Outras exemplos de obras recentes sobre o Puritanismo, produzidas por calvinistas são: Paixão pela Pureza

(publicado originalmente em 2006 com o título de Meet the Puritans: Whith a Guide to Modern Reprints) de

Joel Beeke e Randall Pederson; Os Puritanos: suas origens e seus sucessores (publicado originalmente em 1987)

de Martin Lloyd-Jones; Teologia Puritana: Doutrina para a Vida (publicado originalmente em 2012) compilada

por Joel Beeke e Mark Jones; As firmes resoluções de Jonathan Edwards (2008) e A Difícil Missão de William

Tyndale (2014) de Steven Lawson e; A Devoção Trinitariana de John Owen (2014) de Sinclair Ferguson. 42 Termo alemão que significa algo como conceito do mundo ou concepção de vida e do mundo (KUYPER,

2003, p. 19).

46

que menos se popularizou. Apesar disso, é possível destacar ao menos três elementos próprios

do movimento, contribuintes à composição histórica de representação do Calvinismo. Além

de reforçar a cristalização de atributos da fé reformada, como a soberania de Deus sobre todas

as coisas e a finalidade última de glorificá-lo; o sentido abrangente da fé e; o senso de

superioridade do Calvinismo diante das outras fés.

O Neocalvinismo: 1) Deu uma nova conotação ao caráter de abrangência da fé

trazido pelos puritanos, transmutando-o de todas as áreas da vida do indivíduo para todas as

áreas que compõem a realidade social. As reflexões doutrinárias são menos sobre como um

cristão deve proceder, na família, no trabalho e na política. Antes, são sobre como devem ser

concebidas ortodoxamente noções universais de política, Estado, Ciência, religião, arte,

cultura (BIÉLER, 2012; RAMLOW, 2012b; OLIVEIRA, 2006). 2) Agrega ao conceito de

redenção, antes focado na salvação individual da alma, um sentido abrangente de redenção da

sociedade pelo avanço da influência do Cristianismo sobre esta, o que para alguns faria parte

do processo de realização do Reino do Messias (BIÉLER, 2012, p. 311-333; KUYPER, 2003,

p. 126). 3) O desenvolvimento da doutrina da Graça comum. Essa compreende que apesar de

o mundo ter sido corrompido pelo pecado, este não foi criado mal, nem o é essencialmente.

Que Deus, providencialmente, limita o mal no mundo para que este não se destrua por

completo e, que tudo que há de bom em qualquer área da vida e em qualquer cultura, vem

desta graça comum, dada por Deus a todos (RAMLOW, 2012, p. 25-27; KUYPER, 2003, p.

130-131).

Certamente, o traçado de um panorama histórico abrangendo a Modernidade

europeia como pano de fundo da emersão do Neocalvinismo é uma atividade inadequada e

frustrante neste espaço. Todavia é necessário que se traga alguns lapsos gerais que apontam

porções do contexto em que o movimento se inseriu. O Neocalvinismo surge após dois

séculos (XVIII e XIX) em que são encontradas fortemente as ideias de progresso e/ou

redenção da civilização, capitaneadas seja pela razão, Ciência, economia, Estado, revolução.

Em sua maioria, encontramos recorrentemente o enfraquecimento da influência da religião

sobre a sociedade ocidental, por meio do processo de conquista da autonomia do homem

através de sua razão (PEIXOTO, CABRAL, 2019, p. 13-18; DOOYEWEERD, 2018;

CLARK, 2013, p. 48-60).

Após longo caminho da Filosofia Moderna de onde sai o método científico, uma

culminância da separação e autonomia da razão humana frente ao conhecimento do divino e à

fé é vista em Immanuel Kant (1724-1804), expoente do Iluminismo no mil e setecentos. No

século seguinte, o Positivismo colocou o senso transcendente do divino nas etapas menos

47

evoluídas do progresso da humanidade (KRAEMER, STAMM, 2009, p. 71-96; PEIXOTO,

CABRAL, 2019, p. 13-18). Do Liberalismo ao Socialismo científico fruto do Materialismo

histórico, esses séculos viram a emersão de metanarrativas éticas que explicavam a realidade

por meio de processos materiais, sem o protagonismo de um Deus providente, além de

propostas de intervenção capitaneadas pelo homem. Sendo que para tal, a conquista de sua

liberdade eram fatores necessários ao sucesso da história. Liberdade até diante da religião, ou

de Deus. Tais ideias de liberdade após o Iluminismo, tomaram forma prática e se

popularizaram em grandes eventos a partir da Revolução Francesa de 1789 (MARX, 2015;

DOOYEWEERD, 2018; KUYPER, 2003, p. 18-19; CLARK, 2013, p. 48-60).

Finalmente, a emersão da Teologia Liberal a partir do alemão Friedrich

Schleiermacher (1768-1834). Segundo Antônio Mendonça, o teólogo alemão contrariou as

aproximações da Teologia cristã com o Racionalismo iluminista, pois esta buscava manter sua

legitimidade, paradoxalmente, em ser aprovada após submissão à crítica racionalista

iluminista (2007, p. 162-163).

Conforme explica Mendonça:

Baseando-se na psicologia, Schleiermacher afirma que o sentimento

constitui a faculdade peculiar da vida religiosa. Religião não é

conhecimento, assim como não o é a atividade que condiciona a vida moral,

mas é sentimento. Presença do infinito no finito. (...) Ainda, religião seria

“sentimento de dependência incondicional”. A teologia seria então, em

Schleiermacher, uma descrição metódica da experiência religiosa, ato

segundo em relação a esta. A fé antecede a teologia, o sentimento, a

racionalização (2007, p. 162-163).

Desde então, a Teologia Liberal se espalhou e se desenvolveu em seminários

teológicos antes confessionais na Europa e EUA. Chegando às Igrejas, a popularização do

termo sentimento para compreensão da religião em prejuízo do caráter racional da fé cristã,

requerido ao longo de sua história, foi o inimigo posto na primeira linha de batalha

neocalvinista (GONZÁLES, 1994, p. 425; OLIVEIRA, 2006, p. 75; RAMLOW, 2012a, p. 17;

BERKHOF, 1992, p. 21-22).

O Neocalvinismo surge em fins do século XIX nos Países Baixos tendo como marco

a obra de Kuyper43. Teólogo, pensador, político, pastoreou igrejas, fundou um jornal, fundou

a Universidade Livre de Amsterdã (1880), o partido Antirrevolucionário, foi membro do

parlamento e primeiro ministro dos Países Baixos entre 1901 e 1905. Entre suas influências

destacamos o teólogo calvinista escocês James Orr (1844-1913), pioneiro no uso de

43 Segundo Oliveira, o primeiro documento em que se vê o termo Neocalvinismo foi num impresso de 1897. O

termo foi usado por críticos e simpatizantes do movimento para identificá-lo, embora Kuyper se declarasse

simplesmente um calvinista histórico (2006, p. 76).

48

weltanschauung para caracterizar o Cristianismo (RAMLOW, 2012, p. 14). Autor de Visão

Cristã de Deus e do Mundo44 de 1896, escreveu um artigo que compôs a publicação de Os

Fundamentos: Um Testemunho da Verdade45 (1910-1915), marco da primeira fase do

movimento fundamentalista estadunidense. Esse artigo, Ciência e a Fé Cristã46, participou da

produção do arcabouço teórico discursivo de alinhamento entre Ciência e Cristianismo, em

que cada um reforçava sua legitimidade em se adequando ao outro. Isso, após meio século de

expansão das ideias darwinistas sobre evolução biológica e as campanhas de separação e

autonomia da produção científica diante da fé cristã (CALDEIRA, 2016, p. 353). Outro

destaque é o político calvinista Guillaume Groen van Prinsterer (1801-76), que liderou o

Afscheiding47, movimento que promoveu uma cisão na Igreja Reformada da Holanda (Igreja

do Estado) e criou a Igreja Cristã Reformada da Holanda. Movimento de protesto, motivado

pela entrada de concepções teológicas liberais e pelo enfraquecimento das doutrinas

calvinistas clássicas. Prinsterer também ajudou a liderar o Partido Antirrevolucionário

(OLIVEIRA, 2006, p. 75-76; RAMLOW, 2012, p. 17-18).

Se em Calvino encontramos que a legitimidade de qualquer área ou instituição social

com família, Igreja e Estado está em ser originada em Deus. Também que sua legitimidade é

auferida pela medida com que glorifica a Deus, pelo reconhecimento de sua majestade e

procedendo conforme sua lei (CALVINO, 2003a, p. 23-42; 2003c, p. 451-481), conforme foi

expresso posteriormente pelo Soli Deo Glória. Se em Dort, Deus foi oficialmente proclamado

soberano sobre todas as “etapas” do processo de salvação, esta monergista, em detrimento de

qualquer eficácia vinda do homem (DORT, 1999, p. 23). Se os puritanos desenvolveram

doutrinas sobre cada área de suas vidas (RYKEN, 1992). O Neocalvinismo continuará tal

processo declarando a soberania de Deus sobre os diferentes âmbitos sociais da experiencia

humana (RAMLOW, 2012).

Em Calvinismo, obra magna do movimento, fruto de seis palestras no evento

(Palestras Stone) na Universidade e Seminário de Princeton em 1898, Kuyper escreveu uma

apologia do Calvinismo na sequência: 1ª O Calvinismo como Sistema de Vida; 2ª Calvinismo

e Religião; 3ª Calvinismo e Política; 4ª Calvinismo e Ciência; 5ª Calvinismo e Arte; 6ª

Calvinismo e o Futuro. Kuyper usa critérios definidores de um sistema de vida, que seriam

como estes procedem em três níveis de relação: nossa relação com Deus; nosso

relacionamento com o homem; nosso relacionamento com o mundo (2003, p. 28-39). Defende

44 Tradução nossa do título original Christian View of God and World. 45 Tradução nossa do título original The Fundamentals: A Testimuony to the Truth. 46 Tradução nossa do título original Science and the Christian Faith. 47 Separação em holandês.

49

a existência de três esferas de soberania: soberania na Igreja, no Estado e na sociedade. A

ideia central é que essas esferas são autônomas em relação as outras, não devendo serem

ilegitimamente subordinadas por suas vizinhas. Todavia, Deus é soberano sobre cada uma,

pois tudo é sua criação. Sendo que a obediência a ele significa a liberdade diante das outras

(2003, p. 86-108).

Em Cristianismo e Estado de 1986, o estadunidense Rousas Rushdoony (1916-2001)

aborda a política numa perspectiva neocalvinista. Dentre outras, traça um histórico de como o

Estado nacional moderno foi gradualmente exercendo domínio sobre os diferentes âmbitos da

esfera social, ilegitimamente extrapolando os limites de sua função dada por Deus. Como o

Estado monopolizou os domínios da esfera social como saúde, educação, economia, moral e

religião, colocando-se como o alvo primeiro da esperança do povo quanto ao progresso nestas

áreas. Isso, em oposição ao primado do cuidado soberano de Deus por meio da

responsabilidade e ação da própria sociedade em tais domínios de sua esfera de soberania

(RUSHDOONY, 2016).

Isso posto, claramente o pensamento de Rushdoony possui aproximações com a

assim chamada “direita liberal conservadora americana”, abraçada seja por calvinistas, outros

grupos cristãos evangélicos e católicos e mesmo não cristãos. Essa corrente exponencialmente

mais popular e relevante, mesmo não tendo a soberania de Deus como axioma, costuma

colocá-lo entre suas ideias. Sobre isso o autor afirma:

Consequentemente, no Estado moderno, a opção habitual de um eleitor

cristão é entre o menor de dois males estadistas. Tanto a antropologia da

esquerda quanto da direita é anticristã. Os conservadores, sendo menos

impulsivos e menos sistematizados, representa o mal estatal na sua forma

mais branda: sua posição continua não sendo teologicamente fundada, com

exceção de uns raros casos (2016, p. 38).

e noutro lugar:

Nos dias atuais, a questão essencial com a qual os eleitores cristãos se

confrontam não é de uma filosofia essencial, mas de graus de aderência a

essa filosofia. Todo partido político se assenta sobre princípios não cristãos,

e a única questão real é: qual partido é menos sistematizado em sua filosofia

anticristã? (2016, p. 39).

No campo propriamente filosófico, se destaca o trabalho do neocalvinista neerlandês

Herman Dooyeweerd (1894-1977) que desenvolveu sua Filosofia da Ideia Cosmonômica. Em

obras como No Crepúsculo do Pensamento Ocidental: estudo sobre a pretensa autonomia do

pensamento filosófico de 1960, buscou a quebra de um paradigma de construção do

pensamento ocidental: o dualismo natureza x graça, embasado na dicotomia do pensamento

50

de Platão e Aristóteles, trazido à tona por Aquino (1225-74). A maneira particular com que

este separou o conhecimento natural (razão) do espiritual (revelação) quanto aos efeitos da

queda, abriu espaço para o desenvolvimento de uma razão autônoma e sua possibilidade de se

chagar a verdade sem a necessidade da revelação especial de Deus, o que influenciou todo o

desenvolvimento da Ciência Moderna. Em sua filosofia, também chamada de reformacional,

Dooyeweerd não concebe a basilar dicotomia pecado/graça, que separou Deus da produção

científica de conhecimento na Modernidade. Antes, concebe o conhecimento de modo

integral, por meio do desenvolvimento bíblico da revelação expresso em criação-queda-

redenção. Redenção em que o desenvolvimento do conhecimento está subordinado ao

reconhecimento da soberania de Deus sobre o domínio da Ciência, sendo este autônoma

frente aos demais, por sua sujeição somente à Deus (DOOYEWEERD, 2016; OLIVEIRA,

2006).

Apesar de não ser identificado neocalvinista como seus irmãos neerlandeses e seus

seguidores, a obra do teólogo e economista suíço André Biéler (1914-2006) foi conhecida no

meio calvinista. Em O Pensamento Econômico e Social de Calvino de 1959, ele trata do braço

calvinista da Reforma como “uma reforma integral da sociedade” (2012, p. 37), “força

permanente de transformação política e social” (2012, p. 111), como quem “estimula e limita

a atividade financeira” (2012, p. 224-228). Fala “de uma Antropologia e de uma Sociologia

teológica” (2012, p. 243); do significado e necessidade da separação institucional entre Igreja

e Estado (2012, p. 178-185, 363-378); da Igreja como elemento da restauração parcial da

sociedade (2012, p. 323); trata de dinheiro, distribuição de renda, propriedade, trabalho como

vocação, salário justo (2012, p. 379-512), arte, Ciência e tecnologia (2012, p. 529-542).

Biéler analisa a relação Calvinismo e Capitalismo, principalmente as óticas de Max

Weber, Ernest Troeltsch, R. H. Tawney e H. Hauser (2012, p. 579-616). Mais moderado que

Rushdoony, embora menos popular, ele defende que “A deterioração das relações econômicas

e sociais em consequência do pecado requer que o Estado intervenha” (2012, p. 462). Em A

Força Oculta dos Protestantes de 1995, defende um “liberalismo social, ou um socialismo

liberal inteligentes” (1999, p. 221-226). Biéler também participou da criação de projetos

sociais e de propostas colaborativas para o “terceiro mundo”.

No século XX, nos Estados Unidos, também se destacou entre calvinistas a obra de

Gordon Clark (1902-85), que concebia o Cristianismo como uma cosmovisão. Ele versou

sobre uma gama de temas em obras como Uma Visão Cristã dos Homens e do Mundo de

1952, Uma Introdução à Filosofia Cristã de 1968, a compilação póstuma Ensaios sobre Ética

e Política de 1992. Tratou de Teologia, Filosofia, Política, Educação e Lógica, além de temas

51

mais específicos como aborto, pena de morte e ativismo submetendo-os à uma abordagem

bíblica de tradição calvinista que foi chamada de Escrituralismo (CLARK, 2018;

CRAMPTON, 2011). O pensamento de Clark influenciou a epistemologia e a apologética

prossuposicionalista48 de nomes como o radical Vincent Cheung, autor de Questões Últimas

(2004) e Apologética na Conversação (2004), em que defende a irracionalidade de qualquer

visão não cristã e, o Cristianismo “bíblico e monergista” como única possibilidade de

pensamento racional correto (CHEUNG, 2004).

Sobre Arte, destacamos o historiador neerlandês Henderik “Hans” Rookmaaker

(1922-77), fundador do departamento de História da Universidade Livre de Amsterdã, ele

escreveu obras como A Arte Moderna e a Morte de uma Cultura de 1970 e A Arte Não

Precisa de Justificativa de 1978. Finalmente, o estadunidense Francis Schaeffer (1912-84),

autor de obras como O Deus que Intervém de 1968 e A Morte da Razão também de 1968.

Como muitos, Schaeffer criticou a civilização ocidental do século XX, apontando as

consequências do abandono do Cristianismo como a loucura, desespero e irracionalidade

(SCHAEFFER, 1974).

Assim como a ocorreu a transmutação da abrangência das áreas da vida do indivíduo

para as áreas componentes da sociedade. Semelhantemente, a ideia individualizada de

redenção, dada por Deus a cada um que crê, se expandiu à sociedade. É justamente o sentido

abrangente do Cristianismo, sob ótica calvinista, que lança luz sobre o propósito de redenção

parcial da sociedade, de Calvino a Biéler (KUYPER, 2003, p. 126; BIÉLER, 2012, p. 323).

Em cada área trabalhada sob a ótica calvinista, vemos alguma avaliação ética, apontamento de

problemas e propostas de solução. Assim ocorre, pois é aplicando o padrão de criação-queda-

redenção à sociedade (DOOYEWEERD, 2016). Seu problema é o mesmo que o encontrado

em cada indivíduo: o pecado. O problema ontológico de “não ser aquilo que deveria”, como

consequência da queda.

Assim como cada pecador, a sociedade necessita que seu Criador a redima,

executando esta redenção ao longo da história, por meio da adequação social à sua Palavra

revelada, conduzida pela divina providência. Na medida em que a sociedade, nas instituições,

domínios e esferas de soberania, cumpre sua finalidade de glorificar seu Criador, sua

legitimidade, verdade e bem aumentariam. Ela desfrutaria, em alguns momentos e aspectos,

48 O pressuposicionalismo não constrói uma argumentação visando a comprovação da existência de Deus como

conclusão. Antes, sua existência e a validade da Bíblia são o ponto de partida. Procura os pressupostos das visões

não cristãs e descobre suas possíveis falhas, ou incoerências entre estes e suas conclusões. Compara a visão

cristã à não cristã em questão, intentando expor a superioridade da primeira pela confiança no aparecimento de

contradições internas e/ou aceitação de absurdos da última quando avaliada logicamente, diferentemente do

sucesso do Cristianismo diante de tal avaliação (CHEUNG, 2004).

52

vislumbres de sua redenção, “do paraíso”. Por isso as críticas neocalvinistas aos âmbitos

sociais, instituições e esferas que não estão funcionando de acordo com seu propósito

primordial de glorificar a Deus (RUSHDOONY, 2016; BIÉLER, 1999).

Apesar do otimismo impregnado nesta visão, em espaço menor é lembrado que tal

redenção social é sempre parcial, limitada, pois “nessa vida” o pecado sempre se fará

presente. A redenção cabal da sociedade somente ocorrerá quando cada indivíduo for

plenamente restaurado, e isto somente quando aquele a quem os cristãos chamam de Rei das

Nações, vier e criar novos céus e nova Terra, para uma sociedade perfeita, ou seja, sem o

pecado e suas consequências (BERKHOF, 1990, p. 701-713, 742-744; BIÉLER, 2012, p.

323).

Foram os neocalvinistas que desenvolveram a doutrina da graça comum, até então

não muito trabalhada por seus antecessores. A doutrina fala de benefícios, presentes que Deus

dá à toda sua criação, o mundo e os homens, independentemente de crerem nele ou não. Isso,

pois tamanha seria a corrupção entranhada no mundo e na humanidade que esta, sem

embargo, poderia destruir totalmente a si e ao resto de criação. Outrossim, Deus em sua graça

comum, refreia e limita o impulso destrutivo da humanidade conforme seu propósito, bem

como concede capacidades, das mais simples às mais complexas, às pessoas. Múltiplas

inteligências, criatividade, força, nobreza, bondades, tudo isto, paradoxalmente, presente no

homem “totalmente depravado”. Desse modo, qualquer coisa que alguém possa ter de bom,

isto é uma graça vinda de Deus (KUYPER, 2003, p. 128). Assim:

Compreendendo a graça comum, os seguidores de Kuyper mostraram-se

mais entusiásticos em encorajar a participação dos cristãos nas instituições e

doutrinas modernas seculares. A graça comum contribuiu, assim, para

fomentar uma teologia da responsabilidade pública, da humanidade cristã

compartilhada com o resto do mundo (RAMLOW, 2012, p. 1707).

Veremos no quarto capítulo que a doutrina da graça comum, posteriormente, se

popularizou entre reformados, não somente em sua finalidade de ação social redentora. Antes,

ganhou também um sentido mais simples e menos ambicioso, entretanto significativo em

distinção a outros grupos evangélicos. Ela permitiu uma maior inteiração com a cultura,

especialmente quanto à legitimidade do consumo de bens culturais externos ao campo

evangélico, como música, cinema, esportes e literatura, pois esses lugares também podiam se

mostrarem alvos da graça comum.

Apesar de menos popular que os outros, ao manter o princípio da soberania divina, o

Neocalvinismo deu à abrangência da santidade puritana em todas as áreas da vida, um sentido

propriamente social e, que necessitava de uma cosmovisão para expressá-la. Enfraquecendo o

53

vigor da depravação total, pôs em relevo a doutrina da graça comum, o que permitiu a

elaboração da ideia de uma verdadeira redenção social a partir do Cristianismo calvinista,

ainda que parcial.

1.6 CONCLUSÃO.

Se para o Calvinismo, suas doutrinas versam sobre verdades eternas e imutáveis, um

estudo sobre este, revela sua historicidade. Um olhar histórico sobre suas doutrinas, mostram

que são fruto de um processo não cessado de desenvolvimento, envolvendo produção elitizada

e popularização leiga em mútua influência, ao longo de diferentes períodos e contextos. Isso

também evidencia o Calvinismo, não somente como corpo teológico, mas também como

fenômeno humano, movimento social, por ser realizado relacionalmente, por indivíduos que,

utilizando critérios doutrinários, se identificam calvinistas em distinção aos demais,

procedendo assim a representação da fé reformada.

Por meio de uma sintética análise histórica, encontramos uma série de atributos

doutrinários em momentos vultosos da história calvinista. Elencamos aqueles atributos que se

estabeleceram como os mais significativos, sendo reforçados, sintetizados e popularizados ao

longo do tempo. Destarte, podemos dizer que: O Calvinismo, ao longo do tempo, continuou

possuindo uma forte identificação com os princípios da Reforma Protestante. Suas ênfases

originais estão na necessidade da glória de Deus, na consideração em alta medida da

pecaminosidade humana e, na autoridade máxima da Bíblia, por conta de sua autoria divina.

Tem em Calvino a principal figura e intérprete mais respeitado e, no estilo lógico e

sistemático a principal forma de expressar sua fé. Por sua tendência à sistematização, é

majoritariamente confessional. Mais popularmente e tematicamente em escala reduzida,

Calvinismo é sinônimo de monergismo, é a crença na soberania de Deus na salvação,

exprimida pela TULIP, que são as doutrinas da graça, chamadas de cinco pontos do

Calvinismo.

A fé reformada também é abrangente. Enfraquecida a dicotomia católica

sagrado/profano, requisita santificar e submeter todos os âmbitos da vida do cristão ao

senhorio divino. Esse caráter abrangente extrapola os limites eclesiástico e pessoal, pois seu

senso religioso de redenção se expande a todo o mundo, natureza e sociedade, e isto

sistematicamente. Também se encontra na mentalidade calvinista, o paradoxo de considerar a

pecaminosidade humana em todos os âmbitos de sua existência, ao passo em que se tem

alguma noção sobre suas qualidades éticas e potenciais benéficos. Finalmente, os calvinistas

recorrentemente, qualificam a fé reformada como superior ou mais madura que suas vizinhas,

54

geralmente quanto à ortodoxia e a capacidade de adequá-la às questões práticas da vida.

No decorrer do trabalho, o conjunto de atributos histórico doutrinários acima é

utilizado para embasar nossa compreensão do termo Calvinismo, identificar grupos calvinistas

e, como critério de investigação sobre o nível de presença da fé reformada no campo

evangélico brasileiro. Isso, buscando indícios da participação calvinista em seu

desenvolvimento, tendo como ponto de ruptura os anos 2000, quando aparecem sinais de

singular florescimento calvinista nesse campo.

55

CAPÍTULO 2

CAMPO EVANGÉLICO BRASILEIRO: A ESCASSA PARTICIPAÇÃO DO

CALVINISMO NO DESENVOLVIMENTO DE SUA REPRESENTAÇÃO

Para o sociólogo Antônio Mendonça, o Protestantismo desenvolvido no Brasil, desde

sua bem sucedida implantação em meados do século XIX, é caracteristicamente arminiano,

em especial no que se refere a sua teologia da salvação (2008; 1990). Quatro denominações

encabeçaram as várias iniciativas missionárias no país durante a segunda metade do XIX, são

elas congregacional, presbiteriana, metodista e batista. Segundo Mendonça, “as características

comuns da teologia arminiana e pietista perpassam essas quatro denominações.” (2008, p.

296). Ele afirma que, de acordo com as necessidades do cenário de evangelização no Brasil,

congregacionais, presbiterianos e batistas, originalmente calvinistas, tiveram de abrir mão de

algumas doutrinas distintivas da fé reformada, como a predestinação e a perseverança dos

santos em favor de ideias inclinadas ao sinergismo (2008, p. 292).

O referido estudioso do campo evangélico chega a dizer que “mesmo as Igrejas

presbiterianas brasileiras são arminianas” (1990, p. 21). Fala polêmica, visto que a maior

denominação adepta do sistema presbiteriano no país, a Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB),

desde sua implantação na década de 1860, se declara oficialmente calvinista, subscrevendo

símbolos de fé caracteristicamente calvinistas, como forma de expressar as doutrinas que

crê49. A ideia de uma influência arminiana perpassando todo campo evangélico brasileiro

desde sua origem é desenvolvida no capítulo sexto do livro O Celeste Porvir: A inserção do

protestantismo no Brasil (2008), adaptação de sua tese de doutorado em Sociologia de 1982,

que se tornou referência acadêmica sobre o campo.

No entanto, outros trabalhos acadêmicos apontam a presença da ortodoxia reformada

na IPB, a exemplo dos textos de Lima (2009), Gomes (2003) e Carmo (2010; 2012), estando

posicionados em lado contrário à conclusão do sociólogo. Quanto a Lima e Gomes,

percebemos que eles simplesmente desenvolvem seus trabalhos já pressupondo a fidelidade

doutrinária da IPB ao Calvinismo. Não há uma problematização referente à questão levantada

por Mendonça. Carmo, por outro lado, considera a questão posta por Mendonça e, analisando

sua tese, critica seus argumentos sobre a presença de elementos arminianos no

Presbiterianismo missionário brasileiro, afirmando serem estes “circunstanciais e superficiais”

(2010, p. 169).

49 A Confissão de Fé de Westminster (CFW), o Breve Catecismo de Westminster (BCW) e o Catecismo Maior de

Westminster (CMW).

56

É digno de nota que os trabalhos acima citados que afirmam a presença da ortodoxia

calvinista e criticam a ideia de Mendonça fazem parte de programas de pós-graduação da

Universidade Presbiteriana Mackenzie e do Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew

Jumper, estando institucionalmente ligados à IPB50. Igualmente digno de nota é que

Mendonça, que aos oitenta anos iniciou trabalho docente na própria Mackenzie em 200251,

mesmo sem formação teológica, foi pastor da Igreja Presbiteriana Independente (IPI),

denominação dissidente da IPB e que não possui o mesmo apego à ortodoxia calvinista, assim

como esta. Também que o autor se declarava um militante do ecumenismo, o que lhe causou

problemas com o meio presbiteriano (2008, p. 227-230).

Neste capítulo investigamos o campo evangélico, em busca de elementos formadores

de sua identificação e representação doutrinárias. Num primeiro momento, traçamos um

cenário doutrinário geral do Protestantismo que vem ao Brasil, principalmente dos Estados

Unidos e Reino Unido, por meio das missões evangelísticas a partir da década de 1850. No

segundo momento é analisado o cenário teológico de inserção e estabelecimento do

Protestantismo no país até o fim do século XIX. O último período analisado é o de expansão

da fé evangélica ao longo do século XX, encabeçado pelo movimento pentecostal. Desse

modo, traçamos um percurso histórico, no plano doutrinário, do desenvolvimento das

representações e identificações do Evangelicalismo brasileiro. Junto a isso, incluímos análise

das nomenclaturas usadas na identificação de si e dos outros, por parte dos agentes

evangélicos.

Esta pesquisa, ao identificar alguns atributos doutrinários representativos do

Protestantismo no Brasil, nos permite compará-los com os do Calvinismo apontados no

primeiro capítulo. Finalmente, adentrando no cerne da divergência entre Mendonça e esses

acadêmicos presbiterianos, tal comparação torna possível uma análise sobre a existência e

grau de influência e participação das doutrinas reformadas no desenvolvimento da fé

evangélica nacional. Um exame sobre suas proximidades e distanciamentos que aponta haver

uma presença deveras escassa do Calvinismo na formação do Evangelicalismo brasileiro ao

longo de sua história.

50 É possível encontrar mais críticas a outras ideias de Mendonça em trabalhos ligados à IPB, como em Price

(1997), que se vale de obras que possuem conclusões divergentes das de Mendonça, como a tese de Jhon

Burdick: Looking for God in Brazil: The Progressive Catholic Church in Urban’s Brazil Religious Arena

(1993), a qual “concluiu que os que ofereciam maiores chances para efetuar mudanças estruturais na sociedade

brasileira eram os crentes da Assembleia de Deus!”. O que, segundo Price, diverge da ideia de um diminuto

potencial de mudança social por parte dos evangélicos, o que seria defendido por Mendonça e Velasques Filho. 51 Ele ajudou a iniciar justamente o programa de prós-graduação em Ciências da Religião, onde foram

produzidos os textos de Lima, Gomes e Carmo.

57

2.1 CENÁRIO INTERNACIONAL DE DECADÊNCIA.

Quando se iniciou a presença permanente do Protestantismo no Brasil no século XIX

(LEONARD, 2014), a fé reformada já a muito estava em declínio nos meios protestantes de

nações onde antes fora bastante influente como Estados Unidos, Reino Unido e Países Baixos.

Destes países vieram contingentes de imigrantes, principalmente dos dois primeiros, dentre os

quais protestantes, seja com a finalidade de iniciar uma nova vida no país ou a missionária de

propagar sua fé. Fé essa cujo Calvinismo já havia sido protagonista no cenário religioso e

social, todavia perdeu espaço para doutrinas sinergistas e práticas pietistas52 que se

aproximavam mais do Arminianismo (MENDONÇA, 2008; MATOS, 2006; s/d). Além disso,

também temos a vinda de imigrantes de nações em que uma fé não calvinista era

historicamente majoritária, como nos países escandinavos e principalmente na Alemanha,

onde o Luteranismo imperava.

Conforme visto no 1º capítulo, junto à emersão do Protestantismo nos Países Baixos,

o Calvinismo experimentou notável crescimento entre a segunda metade do 1500 e primeira

metade do 1600, tornando-se o braço protagonista da Reforma por lá. Nesse período, o

contexto das lutas por independência dos Países Baixos diante da Espanha católica, favoreceu

o apoio de variados segmentos sociais neerlandeses à expansão da fé reformada. Essa pôde ser

vista como um potencial elemento de identificação nacional em distinção ao Catolicismo

espanhol. Assim, a reunião do sínodo de Dort (1618-19), de onde se produziu os cinco pontos

do Calvinismo (TULIP), um dos mais significativos atributos representativos da fé reformada,

foi um exemplo das iniciativas de parte da Igreja neerlandesa, junto a alguns magistrados, de

converter suas doutrinas em ortodoxia oficial nacional e torná-la a fé hegemônica do povo

holandês (DELUMEAU, 1987, p. 224; DORT, 1999).

O Calvinismo obteve sucesso em ser estabelecido como ortodoxia da Igreja. No

entanto, tal domínio passou a ser mais moderado em relação às divergências entre protestantes

já a partir de 1625, sob o governo de Frederico Henrique, sucessor de Maurício de Nassau,

com o retorno da ocupação de cargos eclesiásticos e docentes por parte dos arminianos e da

tolerância oficial em 1631, quando puderam organizar suas próprias congregações

(GONZÁLES, 1994, p. 319). Delumeau assinala que já na segunda metade do século XVII, a

sociedade neerlandesa vivenciou um ambiente precocemente livre, fruto, dentre outras coisas,

52 Pietismo é tanto um termo genérico que identifica alguns movimentos caracterizados pela ênfase numa

piedade cristã prática e crítica a um academicismo estéreo em relação à ortopraxia, como também identifica

especificamente o movimento alemão dos séculos XVII e XVIII, vivenciado principalmente por luteranos,

influenciados pelo Puritanismo inglês (WOODBRIDGE; JAMES III, 2017, p. 351-352; GONZÁLES, 1994, p.

342).

58

da conquista da liberdade frente à Espanha e de uma esplêndida prosperidade comercial.

Nesse novo cenário, Delumeau aponta uma notável falta de vigor religioso por parte da

sociedade holandesa como um todo, apesar da continuidade da presença calvinista nesta,

percebida mais escassamente em alguns momentos de sua história (1987, p. 225). Por

exemplo, com o movimento neocalvinista emergido somente na virada do século XIX para o

XX, conforme abordado no 1º capítulo (p. 45-53).

No Reino Unido, o braço reformado foi protagonista na emersão e crescimento do

Protestantismo nos séculos XVI e XVII. Nesse período perdurou-se o Puritanismo,

movimento religioso e social permeado por doutrinas calvinistas e que teve papel fundamental

na construção da representação teológica do Calvinismo e da identificação dos reformados. O

movimento foi relevantemente ativo na sociedade britânica e durou ao longo do período

revolucionário que reorganizou a estrutura de governo do Reino Unido, estabelecendo uma

monarquia constitucional em 1689. Após isso, a conquista de maior liberdade religiosa

arrefeceu os embates doutrinários em defesa da fé calvinista dentro da Igreja Anglicana. O

que, por um lado, facilitou a reunião de calvinistas em outras denominações e, por outro

minimizou o vigor da defesa das doutrinas calvinistas na Igreja oficial e, consequentemente, a

amplitude de sua visibilidade no debate público (PACKER, 1996; RYKEN, 1992). Sendo

assim, semelhante ao que ocorreu nos Países Baixos, após a resolução do quadro de

instabilidade política e social com o estabelecimento de uma nova ordem política e ou de

governo, ocorreu juntamente uma desvigorização religiosa de parte da sociedade. O que foi

tratado pelos próprios protestantes do 1700 como um esfriamento religioso entre os britânicos

(SCHALKWIJK, 1997).

No caso dos Estados Unidos, uma narrativa inclinada a enaltecer o papel dos

puritanos “pais peregrinos” enquanto origem da nação faz parte de sua própria história.

Assim, uma imagem genérica do Puritanismo, este calvinista, expressa dramaticamente

características como diligência e seriedade na vivência da fé, no anseio de construir uma

nação verdadeira e exemplarmente cristã, uma “cidade edificada sobre uma colina”53

conforme proclamada pelo puritano John Winthrop em 1630 em referência à um trecho do

sermão do monte. Apesar disso, também se sabe que o processo de criação e desenvolvimento

das treze colônias inglesas, a partir do século XVI, e sua transmutação de Nova Inglaterra

(quando colônia) para Estados Unidos da América (quando independente), assinalada em

1776, foi longo e marcado pela heterogeneidade, como até hoje. Já no início da colonização

53 Tradução nossa de “we shall be as a city upon a hill”, trecho do texto A Model of Christian Charity (1630).

Disponível em: <https://winthropsociety.com/doc_charity.php>. Publicado em 2015. Acessado em 06, dez. 2020.

59

inglesa, mais efetiva no 1600, o cenário religioso era constituído por católicos espanhóis,

franceses, anglicanos britânicos, por protestantes de variados segmentos como quakers,

menonitas, batistas, puritanos de diferentes denominações como congregacionais e

presbiterianos (MATOS, s/d; SCHALKWIJK, 1997; KARNAL, 2007).

Assim como na velha metrópole, na Nova Inglaterra o século XVIII foi marcado por

críticas à apatia religiosa da sociedade como um todo, por meio dos despertamentos ou

avivamentos, também pela expansão de novas denominações e ideias religiosas no campo

protestante. A apatia denunciada nos avivamentos marcaria um recuo da fé cujo Puritanismo

calvinista era protagonista, ou melhor, o enfraquecimento da participação e influência da

esfera religiosa sobre as questões públicas, experimentada mais intensamente no século

anterior (KARNAL, 2007). Enquanto isso, a promoção da crítica se deu junto à emersão de

elementos novos à fé, muitos dos quais tencionavam ao sinergismo, contrário ao monergismo

reformado. Desse modo, apesar da permanência do Calvinismo no campo religioso e social da

Nova Inglaterra, por exemplo com a criação do influente College of New Jersey pelos

presbiterianos em 1746, hoje Princeton University, findou-se o período áureo da fé reformada

num processo de declínio ao longo do 1700 (MATOS, 2006; s/d; SCHALKWIJK, 1997).

O chamado Grande Despertamento foi um dos mais significativos entre os vários

movimentos de avivamento religioso, ocorridos em diferentes períodos e lugares ao longo da

história do Protestantismo. Esse, especificamente, se deu no Reino Unido, incluindo suas

colônias, principalmente a Nova Inglaterra, ao longo do século XVIII. Entre suas

características principais se encontram a defesa veemente de uma piedade prática e uma forte

crítica à indolência na vivência religiosa. Também se encontram uma maior abertura à

expressão de emoções e uma relativa maior simplicidade e menor solenidade nos sermões. Os

quais eram pregados não somente dentro das Igrejas, mas também ao ar livre, como em praças

para um público crente e não crente. Para os não crentes as pregações eram evangelísticas,

com intuito conversionista. Aos crentes, as mensagens avivalistas podiam se amoldar em

críticas ao formalismo e à disparidade entre conhecimento das doutrinas (ortodoxia) e a

prática destas (ortopraxia) (MATOS, 2006; s/d; SCHALKWIJK, 1997; KARNAL, 2007).

O movimento foi doutrinária e institucionalmente heterogêneo, encabeçado por

diversos pastores, missionários e outros líderes eclesiásticos. Foi marcado por divergências

entre críticos e defensores de muitos de seus aspectos, experimentando tensões e ocasionando

cismas em denominações. Foi abrangente, vivenciou o processo de popularização marcado

pelo excelso crescimento quantitativo dos fiéis e pela “vulgarização” ou apropriação

generalizada e simplificadora de seus aspectos (BOURDIEU, 2007, p. 51). Tal popularização,

60

também atributo recorrente dos avivamentos, maximizou-se bastante ao longo do 1800 com o

advento do Segundo Grande Despertamento (FERNANDES; MORAIS, 2007; MATOS, s/d).

Igrejas reformadas sofreram com as críticas de avivalistas, muitos dos quais

calvinistas. Segundo algumas críticas a exacerbada organização, formalidade, burocracia e

hierarquia dessas igrejas, especialmente as presbiterianas, poderiam assegurar uma confissão

pública ortodoxa, mas não a prática da verdadeira santificação, a saber, a luta constante contra

o pecado e uma vida diligente e sincera diante de Deus, que se adequasse cada vez mais à lei

do evangelho, como prova da conversão. Poderia até fomentar algumas práticas socialmente

respeitadas num ambiente de vigilância social, todavia somente isto ainda não seria prova do

verdadeiro Cristianismo. O qual seria superior à meras práticas morais socialmente

convencionadas, antes seria gerado no indivíduo sobrenaturalmente pelo Espírito de Deus

(MENDONÇA, 2008; EDWARDS, 2015, p. 24-25).

As críticas dos avivalistas, junto à sua postura menos ortodoxa quanto às

formalidades na liturgia e nas pregações evangelísticas, ajudaram sob algum aspecto a

enfraquecer algumas dessas igrejas. Assim, cada vez mais haviam divisões que punham em

lados opostos favoráveis e contrários ao avivamento, como no caso do cisma presbiteriano

entre 1741 e 1758 (SCHALKWIJK, 1997, p. 3). Destarte, parte dos membros das igrejas

reformadas foram contrários aos avivamentos ou a alguns de seus aspectos, pondo-se de fora

deste fenômeno de expansão protestante. Por sua vez, os favoráveis abraçaram alguns traços

avivalistas, acabando por tornar possível alguma mudança nos costumes de tais igrejas.

Dois calvinistas se destacaram entre os principais nomes do Grande Despertamento e

mesmo na história do próprio Calvinismo: o congregacional Jonathan Edwards (1703-58) na

colônia e o anglicano George Whitefield (1714-70) na Inglaterra e colônia. Ambos

defenderam as doutrinas da ortodoxia reformada numa época em que ideias, doutrinas e

igrejas se expandiam à revelia das igrejas calvinistas. Muito da obra de Edwards se debruça

sobre a santificação, como nos textos A Verdadeira Obra do Espírito: sinais de autenticidade

de 1741; Afeições Religiosas de 1746; Caridade e Seus Frutos de 1749 (2015) e; setenta

breves resoluções escritas pra si em 1723, a serem lidas semanalmente, em que na primeira se

diz:

Resolvi que farei tudo que eu pensar que seja para a maior glória de Deus, e

para o meu próprio bem, proveito e prazer (...). Resolvi fazer o que eu penso

ser meu dever e o que é mais proveitoso para o bem e vantagem da

humanidade em geral. Resolvi fazer isso, sem me importar com quaisquer

que sejam as dificuldades que eu encontre, quantas ou quão grandes sejam

(EDWARDS, 2018).

61

Whitefield foi um pregador itinerante de sermões informais, geralmente não escritos

previamente, diferente do costumeiro, muitos proferidos ao ar livre sobre temas de conversão

e santificação. Ele chegou a romper relações com companheiros como John Wesley (1703-91)

devido ao Arminianismo deles. Apesar dessa discordância doutrinária, a vida e obra de ambos

também foram afamadas pela prática e defesa de marcas do avivamento, a saber, o foco na

conversão e santificação, e a crítica à negligência religiosa dos ingleses (WOODBRIDGE;

JAMES III, 2017, p. 522-225).

Porém, entre os protagonistas do Grande Despertamento se destaca John Wesley na

Inglaterra. O Metodismo liderado por ele, de onde surgiu igreja homônima, foi o movimento

mais influente do avivamento anglófono no 1700, espalhando-se posteriormente na colônia e

em várias partes do mundo até o século seguinte (WOODBRIDGE; JAMES III, 2017, p. 511-

21; MATOS, 2006, p. 28-29). Ajudando a caracterizar o avivamento, a proeminente

preocupação com a santidade por meio de práticas metódicas de santificação foi um atributo

representativo do Metodismo e da obra de Wesley, como em seus textos Explicação Clara da

Perfeição Cristã de 1766, On Sin in Beliavers de 1838 e The Character of a Methodist de

1747.

Finalmente, Wesley não somente era arminiano como também foi um dos principais

representantes do Arminianismo, tanto no sentido de participar de seu desenvolvimento

doutrinário, posteriormente sendo cunhando o termo arminiano-wesleyano, como no de

conduzi-lo a um nível inédito de popularidade. Por meio do movimento metodista, processou-

se uma expansão das doutrinas sinergistas sobre salvação, especialmente sobre santificação,

conjuntamente à expansão do próprio Despertamento. Desse modo, a participação metodista

se fez preponderante tanto para os despertamentos anglófonos, como para o Arminianismo

(DANIEL, 2015).

Sendo assim, percebemos as situações concomitantes de que: 1) o Despertamento foi

significativo na construção histórica do Protestantismo, principalmente o inglês, perdurando

sua influência por gerações sobre doutrinas como conversão e santificação, as quais

influenciam outras doutrinas e práticas. 2) O Metodismo expandiu doutrinas arminianas ao

longo dos despertamentos. Essas foram apropriadas pelos avivados e convertidos, e

reproduzidas “vulgarizadamente” ao longo das gerações evangélicas, muitas vezes do modo

mais bem sucedido quanto possível. Ou seja, conceituando doutrinas áureas do Protestantismo

a partir do princípio sinergista, próprio do Arminianismo, naturalizando seu uso como um

princípio unívoco (WOODBRIDGE; JAMES III, 2017, p. 521; MATOS, 2006, p. 28-29; s/d).

O longo processo de “virada teológica” no campo protestante anglófono, a saber o

62

declínio do monergismo calvinista e ascensão do sinergismo arminiano até tornar-se princípio

majoritário na construção doutrinária da fé evangélica, foi um processo consolidado ao longo

do 1800, no século do chamado Segundo Grande Despertamento. Sendo que a predominância

sinergista na representação doutrinária evangélica perdura até hoje. Múltiplos fatores

contribuíram para o que Matos chamou de “arminianização da teologia americana, com a

resultante rejeição da teologia calvinista” (2006, 28-29). No entanto, além da expansão

metodista e, da influência das ideias sobre liberdade e capacidades humanas na sociedade

anglófona durante o século das luzes, trazemos mais um relevante fator a propiciar tal

mudança. O qual, se deu com a significativa participação dos calvinistas, ainda que,

obviamente, sem tal intenção.

Ao longo dos despertamentos, percebemos um deslocamento do sentido de

santidade, uma mudança de foco sobre a doutrina da santificação. No sentido de se pôr em

relevo determinado aspecto, de acordo com as demandas religiosas, que não fora priorizado

em momentos anteriores. Saibamos que ao longo do desenvolvimento doutrinário da fé

reformada, estabeleceram-se como ortodoxas duas assertivas sobre santificação. 1) De ser

obrigatório o esforço do cristão no processo de santificação, que dura enquanto este viver.

Pois, tal santificação é absolutamente necessária à salvação, de modo que negligenciá-lo

poderia demonstrar a inexistência da salvação no indivíduo (CALVINO, 2003b, p. 155). 2)

De que o poder para realização de tal processo, bem como a garantia unívoca de seu sucesso

são concedidos e assegurados pelo próprio Deus. Sendo assim, todo o mérito na árdua tarefa

de santificação pertence ao Senhor, conforme o Soli Deo Glória (CALVINO, 2003a, p. 143;

DORT, 1999, p. 29-37). As duas afirmações são tidas como complementares, não

contraditórias (EDWARDS, 2018). Uma exorta o apático, a outra conforta o abatido.

Assim, ao longo da história protestante, percebemos momentos em que diferentes

aspectos da doutrina da santificação são postos em relevo, de acordo com as demandas

relacionais de identificação dos indivíduos e representação dos grupos em diferenciação aos

“outros”. Os quais são identificados pelas oposições quanto aos aspectos doutrinários

destacados (BARTH, 2005, p. 15-30; CUCHE, 1999, p. 181-87). Por exemplo, durante a

Reforma do 1500 e na controvérsia remonstrante culminada no Sínodo de Dort de 1618-19 é

comum encontrarmos textos protestantes que punham em relevo o aspecto da soberania de

Deus em detrimento da eficácia da participação humana quanto à salvação e doutrinas a esta

relacionadas. Isso foi feito em oposição, respectivamente, aos dogmas sinergistas da Igreja

Católica que afirmam sua necessária participação na santificação e salvação final do homem

e; às ideias do sinergismo arminiano, como as de que Deus não elegeria incondicionalmente

63

os que iriam ser salvos, que o homem teria capacidade de aceitar ou rejeitar a Deus e, da

incerteza sobre se a perseverança na santificação seria ou não garantida por Deus

(ZWÍNGLIO, 2019; LUTERO, 2012; CALVINO, 2003a; 2003d; DORT, 1999).

No entanto, o cenário religioso anglófono do 1700, descrito como sendo de apatia

religiosa, demandou uma repetida seleção e ênfase do aspecto da doutrina da santificação que

versa sobre o obrigatório esforço de santificação por parte do cristão, conforme exemplificado

nos títulos das obras de Whitefield, Edwards e Wesley. Outrossim, apesar de discordarem

quanto à natureza da salvação e santificação, se monergista ou sinergista, calvinistas e

arminianos direcionaram partes consideráveis de suas preocupações e pregações ao mesmo

sentido: a necessidade da santificação “sem a qual ninguém verá o Senhor”54 (BÍBLIA

SAGRADA, 2008, p. 1595).

Destarte, se por um lado, para a teologia arminiana a soberania de Deus na

santificação seguindo o molde calvinista não deve estar meramente em segundo plano, mas

descartada como falsa, e se a ênfase na verdade deve estar na necessidade de santificação do

homem, a qual conta com a imprescindível ajuda divina, ainda que tal ajuda não seja

unicamente determinante. Por outro, na teologia reformada a necessidade de santificação não

contradiz a soberania divina, antes estas seriam verdades complementares. Que essa

necessidade pode e é tratada dentro do espectro da ortodoxia calvinista, na ressalva de se fazer

menção à soberania divina. No entanto, tal soberania, axioma do Calvinismo e crida pelos

avivalistas reformados, cada vez mais passou a segundo plano nas pregações quanto à

frequência e destaque. Sendo, portanto, menos apreendida pelo público receptor da

mensagem. A questão é que, por tratar da obrigação do homem, pondo em relevo sua

participação, a ênfase na necessidade de santificação, a priori, parece estar mais próxima do

princípio sinergista do Arminianismo que do monergismo.

Ainda que ortodoxos, foram milhares de sermões reformados que colocaram à lume a

necessidade de santidade na vida cristã numa época de expansão do Metodismo55. Assim, por

meio de uma nova seleção de aspecto a enfatizar, o qual parecia se aproximar mais do

princípio sinergista, os reformados podem ter minimizado um atributo representativo da fé

calvinista, alicerçado na soberania divina e, diminuído diferenças diante de pregações mais

arminianas. Dessa forma, os reformados acabaram participando de um processo de retração da

presença de atributos representativos do Calvinismo no campo protestante e, corroborando

54 Hebreus 12:14. 55 Segundo Woodbridge e James III, somente numa de suas viagens à Nova Inglaterra em 1740, Whitefield

pregou ao ar livre cento e setenta e cinco sermões em quarenta e cinco dias (2017, p. 523).

64

com a expansão e popularização de um distintivo arminiano neste. Distintivo que, enquanto

aspecto agora repetidamente enfatizado na produção doutrinária do tema áureo, passa a ser

tido generalizadamente como um atributo representativo da própria fé protestante.

Finalmente, um deslocamento do sentido de santificação, uma mudança de foco na exposição

de sua doutrina, selecionando-se repetidamente a exortação de sua necessidade, participou do

processo de virada teológica de enfraquecimento das doutrinas calvinistas e expansão das

arminianas no campo religioso anglófono ao longo dos despertamentos.

O princípio sinergista foi se consolidando na mentalidade teológica anglófona ao

longo do século XIX, quando os Estados Unidos viviam grande expansão territorial,

ocorrendo interações entre protestantes e variados “outros” povos não protestantes. Nesse

período de impulso expansionista e de acordo com o crescente número de indivíduos a serem

evangelizados, necessitados de salvação, fruto da incorporação e aumento da população,

estratégias de conversão em massa eram aprimoradas em relação ao século anterior. Pelo que

se destacaram as do avivalista Charles Finney (1792-1875), o qual, segundo Matos,

“acreditava que o avivamento podia ser produzido através do uso de técnicas, denominadas

"novas medidas", que incluíam apelos insistentes e carregados de emoção, aconselhamento

pessoal dos decididos e séries prolongadas de reuniões evangelísticas” e que, embasadas em

princípios sinergistas, influenciam técnicas e costumes de apelo conversionista, como o

chamado para “aceitar Jesus”, até os dias atuais (MATOS, s/db).

Também no 1800 continuou-se um processo peculiar de mudança no uso de termo

identificador de si, expandindo-se o termo evangelicals (evangélicos), literalmente aqueles

que seguem o Evangelho. Diminuindo-se o uso do termo protestante, que os identificam como

herdeiros da Reforma Protestante e que, no caso inglês, foi liderada pelo braço reformado

(WOODBRIDGE; JAMES III, 2017, p. 510, 743-45). Tal mudança de termo ocorre num

cenário de multiplicação de diferentes denominações e seitas56 protestantes, como também de

aumento da população católica e pagã nos EUA, seja pela imigração ou expansão do território

(FERNANDES; MORAIS, 2007, p. 88-91; MATOS, s/d). Pelo que havia uma necessidade

identitária de aglutinar os diferentes protestantes em distinção ao crescente número de

“outros” não protestantes.

Paulatinamente, calvinistas e arminianos foram se agrupando em torno do “nós”

56 Por seita, se costuma referir-se a um grupo sectário encontrado dentro de um campo, porém que possui

divergências significativas em relação a este. No campo protestante, geralmente seita é um grupo nascido em seu

seio, mas que possui graves discordâncias em relação à algumas das doutrinas fundamentais do Cristianismo.

Heresias relevantes a ponto de impedirem a comunhão entre os adeptos das seitas e os demais evangélicos,

geralmente sendo reputados pelos últimos como “outros” não evangélicos (FERREIRA, MYATT, 2007, p. 28-

31).

65

evangélico, silenciando-se a abordagem de suas distinções, de acordo com as necessidades

relacionais de identificação diante da emergência de outras fés, dos católicos, ortodoxos e

adeptos de crenças não cristãs. Nesse cenário, ocorreram produções de sínteses teológicas, por

meio de declarações de fé e outros documentos, contendo doutrinas básicas que podiam ser

cridas por todos os que se reputavam por evangélicos. Chamamos de sínteses, pois

diferentemente do característico de textos mais antigos como a CFW e a Confissão de Fé

Batista de Londres (CFBL) de 1689, esses documentos mais resumidos, ora ocultaram temas,

ora construíram afirmações de modo a suavizar os distintivos calvinistas encontrados em

doutrinas referentes à salvação, como a eleição e santificação. Ao passo em que se conduzia a

inédita penetração de princípios sinergistas nessas produções, buscando-se silenciar

divergências e gerar uniformidade.

Entre os batistas, que no fim do século XIX passaram a compor a maior

denominação evangélica dos EUA, produziu-se a Confissão de Fé Batista de New Hampshire

(CFBNH) em 1833, largamente aceita entre eles. Em Monergismo57, quanto à CFBNH se diz:

“Trata-se de uma declaração clara e concisa da fé denominada Batista, em harmonia com as

doutrinas de confissões mais antigas, porém expressa em forma mais moderada. (...). De um

modo geral, sua tendência é calvinista moderada...” (s/d). A CFBNH concorda com a

depravação total, afirma duas vezes ser Cristo um salvador “todo-suficiente” e, a ação

primária do Espírito Santo na regeneração do pecador para que este passe a ter verdadeira fé

(CFBNH, s/d).

A CFBNH, no entanto, não aborda o caráter limitado da expiação, como sua mais

famosa antecessora CFBL de 1689 o faz no capítulo O Chamado Eficaz. Antes, foca no

aspecto doutrinário de que “as bênçãos da salvação são colocadas à disposição de todos pelo

Evangelho; que é o dever imediato de todos aceitá-las” (CFBNH, s/d). Não trata da questão

do livre-arbítrio como sua antecessora, que afirma categoricamente sua inexistência após a

queda, em capítulo específico para tal. Ao tratar da eleição, intitula o capítulo de “Do

propósito da graça de Deus” (CFBNH, s/d), nada fala sobre a eterna rejeição dos reprovados e

afirma que a eleição é “perfeitamente consistente com a livre agência do homem, abrange

todos os meios em conexão com o fim” (CFBNH, s/d). Tratando da perseverança dos santos,

afirma que “seus perseverantes vínculos com Cristo é o grande marco que os distingue dos

professos superficiais” (CFBNH, s/d), salientando o sentido de exortação à diligência e

minimizando o de consolo. Foca-se no aspecto da necessidade da santificação para

57 Monergismo. Site calvinista, a ser tratado nos próximos capítulos. Disponível em:

<https//:www.monergismo.com/textos/credos/new.htm>. Acessado em: 18, jan. 2021.

66

comprovação da salvação, enquanto esquece-se de tratar do aspecto calvinista de ser a

santificação uma certeza garantida por Deus ao salvo. Apesar de manter atributos calvinistas,

a produção da CFBNH diluiu nas entrelinhas e enfraqueceu o atributo mais conhecido e

característico do Calvinismo: seus cinco pontos, a TULIP, que expressam justamente a

soberania de Deus na salvação e são a própria expressão do monergismo na Soteriologia.

A organização de várias entidades eclesiásticas, paraeclesiásticas, missionárias

denominacionais e interdenominacionais são outro indício da promoção de sínteses

doutrinárias e fortalecimento de uma unidade identitária evangélica diante dos outros cristãos

e pagãos58. Havendo-se assim em detrimento das diferenças entre calvinistas e arminianos,

através do silenciamento dos distintivos reformados e consideração e penetração moderada

dos princípios sinergistas. Além de outros empreendimentos exemplificados mais a diante,

temos que na Inglaterra, batistas particulares, calvinistas que criam que o chamado era

particularmente eficaz somente aos eleitos, e batistas gerais, arminianos que criam no

chamado à conversão sob molde sinergista, se uniram denominacionalmente em 1891,

fundando a União Batista da Grã-Bretanha e da Irlanda (PEREIRA, 1979, p. 78). Antes disso,

já em 1846, iniciou-se a formação da Aliança Evangélica, a qual propôs uma união ecumênica

do Protestantismo mundial, incentivada pelo crescente movimento anglo-católico no período.

Na Aliança, haviam doutrinas básicas a serem cridas por todos, enquanto que nas questões

secundárias havia liberdade de se manterem pontos de vista distintos (WOODBRIDGE;

JAMES III, 2017, p. 744-745).

Finalmente, no século XIX o meio protestante, principalmente anglófono, viveu um

fervilhar da promoção das missões evangelísticas transculturais. A saber, iniciativas

conversionistas de levar o evangelho aos povos não alcançados, ou seja, que ainda não

tiveram a oportunidade de conhecer ou de se converter à verdadeira fé evangélica. O contexto

material do 1800 foi propiciador da expansão do empreendimento missionário, especialmente

a partir do Reino Unido e Estados Unidos. As expansões territoriais e imperialistas na

América do norte e central, África e Ásia, o exponencial desenvolvimento dos meios de

transporte, diminuindo-se a duração e facilitando as viagens, as migrações, o acúmulo de

capital, são exemplos de fatores a possibilitar o desenvolvimento do empreendimento

missionário (FERNANDES; MORAIS, 2007, p. 131-148; HOBSBAWM, 2016a; 2016b).

Destarte, o impulso missionário do século XIX ocorre conjuntamente ao dramático

encontro dos evangélicos com uma abundância cada vez maior de outras identidades

58 Termo comumente utilizado por cristãos para designar os não cristãos.

67

religiosas. Ocorre também simultaneamente ao desenrolar do Segundo Despertamento. Mais

que isso, doutrinariamente tal empreendimento missionário é consequência dos avivamentos,

e mesmo elemento constitutivo de sua representação. Diante da emergência do encontro com

outros povos, as mensagens avivalistas passavam a ser cada vez mais direcionadas à

conversão dos perdidos. Minimizava-se assim, de certa forma, a proeminência da crítica à fé

indolente e exortação à santificação direcionadas às suas próprias populações, já

genericamente conhecedoras do Cristianismo protestante, como fora mais característico nos

avivamentos do 1700.

Diante de uma maior estruturação do evangelismo conversionista, o século XIX,

além de ser marcado pelo Segundo Despertamento, também é conhecido no campo

protestante como o século das missões. São exemplos de instituições missionárias nos EUA, a

Junta de Missões Estrangeiras da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos, Junta Americana

para Missões Estrangeiras (1810), Convenção Missionária Geral (1814), Movimento

Voluntário Estudantil (1876), Missão do Interior da África, Instituto de Treinamento

Missionário de Boston, Igreja Aliança Cristã e Missionária e, no Reino Unido a Sociedade

Batista Particular para Propagar o Evangelho entre os Pagãos (1792), fundada por Guilherme

Carey, considerado o pioneiro das missões modernas, depois renomeada para Sociedade

Missionária Batista, a Sociedade Missionária de Londres (1795) e a Sociedade Missionária da

Igreja (MATOS, s/d; p. 12, 2003; GONZÁLES, 1994, p. 443-444; WOODBRIDGE; JAMES

III, 2017, p. 760-761). Tal estruturação do empreendimento missionário, especialmente

anglófono, robusteceu o desenvolvimento de sínteses teológicas construtoras da representação

do Evangelicalismo, popularizada junto às missões. Nesse processo, os distintivos reformados

foram fragilizados, sendo ora ocultados, ora diluídos, enquanto os sinergistas foram cada vez

mais introduzidos, desde o início de suas incursões popularizantes com o Metodismo.

Ainda podemos notar a presença de elementos reformados nas missões em geral,

como o projeto civilizador expresso principalmente pelo fomento à educação e criação de

escolas nos campos missionários. Apesar disso, a fé evangélica que se espalhou pelo mundo a

partir do 1800, fora mais simples e sintética em relação às divergências doutrinárias internas

do meio protestante (MENDONÇA, 2003, p. 54). O desenvolvimento de sua representação

processou-se, cada vez mais, em distinção às outras religiões, especialmente dos pagãos e

católicos. Diante de tal demanda relacional de identificação, o debate

monergismo/sinergismo, já a muito desgastado e que parecia ser um empecilho ao avanço da

fé evangélica, foi “resolvido” para aquele momento histórico.

Além do indiciado pela CFBNH, temos também que o caráter interdenominacional

68

de algumas sociedades missionárias demonstravam o arrefecimento da defesa de atributos

distintivos da fé reformada, em detrimento da cooperação entre sinergistas e monergistas.

Como exemplo, temos a Sociedade Missionária de Londres, uma entidade

interdenominacional gerida por metodistas, presbiterianos e congregacionais (GONZÁLES,

1994, p. 443). Esses, ao considerarem a emergência da necessidade da conversão dos povos

“perdidos” e os desafios logísticos para tal (a seara é grande59) acabaram reputando por

legítima a pregação conversionista do outro espectro. O que é feito, ao se pôr em relevo os

elementos doutrinários em comum e silenciando os divergentes.

Finalmente, concordamos em parte com a afirmação de Mendonça (2008) de que o

Evangelho que chegou ao Brasil por meio das missões era arminiano, porém abrandamo-la.

Reconhecemos a presença calvinista, seja na ainda fidelidade institucional presbiteriana, por

meio de seus seminários de formação eclesiástica, com o de Princeton, seja nos resíduos

reformados tateados nas sínteses teológicas. Contudo, percebemos que o corpo doutrinário

propalado pelas missões mundiais foi a teologia dos avivamentos, especialmente do chamado

Segundo Despertamento, o qual estava sendo marcado em grande parte pelo caráter sinergista,

pelo sucesso da mensagem arminiana do Metodismo, e pela articulação de estratégias de

conversão em massa. Também pelo desenvolvimento de uma fé mais básica, sintética, diante

da demanda de inserção em contextos em que a fé protestante ainda não era conhecida

(MENDONÇA, 2008, p. 74-106; MATOS, s/d).

Outrossim, temos que a fé que vem ao Brasil por meio das missões do 1800, não

aponta para uma presença relevante do Calvinismo em sua constituição, sendo mais

facilmente encontrados elementos sinergistas originários do Arminianismo. No entanto, a

observação das demandas contextuais e das ações protestantes para resolve-las, resumidas na

produção de sínteses, uniformidade e silenciamento de atributos distintos, indiciam não uma

inexistência, mas uma diminuta (pois diminuída) participação do Calvinismo na construção da

representação doutrinária da fé evangélica aportada no Brasil.

2.2 CENÁRIO NACIONAL DE INSERÇÃO (1850-1900).

Encontramos vestígios da presença ininterrupta da fé protestante no Brasil desde o

início do século XIX, já no período joanino, fortalecendo-se e perdurando-se ao longo do

período imperial, em tempos de necessário cultivo de um relacionamento político e

59 Em Mateus 9: 35-37 se diz: “Vendo ele as multidões, compadeceu-se delas porque estavam aflitas e exaustas

como ovelhas que não tem pastor. E, então, se dirigiu aos seus discípulos: A seara, na verdade, é grande, mas os

trabalhadores são poucos. Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara” (BÍBLIA

SAGRADA, 2008, p. 1258).

69

econômico mais próximo com a Inglaterra. Dessa forma, cada vez mais cidadãos ingleses

passaram a circular nas cidades brasileiras, entre os quais haviam protestantes60. A abertura

política do Brasil também permitiu um maior fluxo de estadunidenses no país, com intuitos

voltados especialmente ao mundo do trabalho. Mais ainda, desde o início do império (1822)

até o início do século XX, indivíduos e grupos de várias partes do mundo, especialmente

europeus como alemães, italianos, holandeses, húngaros, franceses e suíços migraram para o

Brasil, havendo protestantes entre eles. De acordo com a já estabelecida classificação de

Cândido Camargo, estes compuseram o chamado Protestantismo de imigração, diferenciando-

se do Protestantismo de missão/conversão (MENDONÇA, 2007, p. 171).

O início da presença da fé protestante no Brasil por meio das migrações não foi um

objetivo primário, antes uma consequência trazida junto daqueles que vinham

temporariamente ou permanentemente criar nova vida na então terra do futuro e da

esperança61. Esses imigrantes em geral, ora constituíam grupos mais isolados, criando cidades

e vilas, especialmente em regiões de climas mais próximos aos de sua terra natal, ora se

misturavam mais fortemente entre as massas brasileiras, todavia sem intentos evangelísticos.

Possivelmente ocorreria o contrário, pois no intento de conseguir trabalho e acolhimento seria

mais comum e seguro socialmente silenciar a fé, mantendo-a no âmbito privado, literalmente,

num império oficialmente católico e, posteriormente numa república majoritariamente

romanista62. Assim, apesar de sua contribuição, o Protestantismo de imigração foi bem menos

expressivo para a inserção da fé evangélica no Brasil (MENDONÇA, 2007, p. 171).

Por sua vez, o chamado Protestantismo de missão não deixou a fé evangélica reclusa

aos imigrantes estrangeiros, mas a disseminou entre os brasileiros. Ainda que o público alvo

inicial de alguns missionários tenha sido seus congêneres, imigrantes que falavam o mesmo

idioma, a continuidade dos trabalhos costumava se dar com o aprendizado do português para a

evangelização dos nativos. Assim, os primeiros segmentos protestantes a se estabelecerem no

Brasil com intuitos missionários, na figura de seus representantes, foram: o

Congregacionalismo, por meio do médico escocês Robert Kalley (1808-88) em 1855, já

conhecedor do português pelos anos de missão na Ilha da Madeira, quando ainda estava

ligado ao Presbiterianismo; o Presbiterianismo pelo jovem pastor Ashbel Simonton (1833-67)

60 Além da potencial presença de protestantes de diferentes denominações, já em 1822 anglicanos podiam

realizar missas em suas capelas no Brasil. Por conta de seus elementos híbridos, existem dificuldades em

classificá-los, bem como a posterior Igreja Episcopal Anglicana do Brasil nos espectros protestante ou católico.

Também por seu relativamente diminuto desenvolvimento no país, não trataremos desses (CALVANI, 2005). 61 Ao longo do século XIX milhares de imigrantes aportaram todos os anos na América em países como EUA e

Brasil (CALBENTE, 2019; IBGE, 2000). Disponível em: <https//:brasil500anos.ibge.gov.br/estatisticas-do-

povoamento/imigracao-total-periodos-anuais.html>. Acessado em 25, fev. 2021. 62 Termo comumente utilizado por protestantes para nomear o Catolicismo.

70

em 1859; o Metodismo com Junius Newman em 1867, após a iniciativa de 1835

descontinuiada em 1841 e; a Batista, primeiro com a passagem temporária de Thomas

Jefferson Bowen em 1860, o qual, após missão pela região da Nigéria, veio ao Brasil por

conhecer a língua iorubá planejando evangelizar os negros, depois com William Bagby em

1881 e Zacary Taylor em 1882 (MATOS, 2003; PAIXÃO, 2018).

Os quatro segmentos acima são comumente chamados no Brasil de igrejas históricas,

sendo as denominações pioneiras das missões em nosso território. Essas, vieram ao longo do

1800 no ímpeto missionário característico da mentalidade teológica do Segundo

Despertamento, da qual faziam parte a emergência da conversão dos pagãos e o silenciamento

de divergências internas por meio de sínteses doutrinárias. Sendo isso, em grande medida, em

prol da uniformidade e simplicidade que deveriam contribuir para o sucesso da pregação

evangélica (MENDONÇA, 2007, p. 163; 2005).

Note-se que das quatro denominações pioneiras, três são de origem calvinista, as

igrejas Congregacional, Presbiteriana e Batista. Somente a Metodista é de origem

primordialmente arminiana-wesleyana. Diante disso, poderia ser razoável pensar numa

presença mais significativa dos atributos calvinistas já na origem da composição do campo

evangélico nacional. No entanto, conforme mencionamos, mesmo as denominações

reformadas seguiam a tônica teológica do período. Dessas três, somente a IPB continuou

utilizando oficialmente sua Confissão de Fé de Westminster (CFW), que trazia expressamente

distintivos doutrinários reformados63. Já os batistas, não utilizaram a calvinista CFBL de

1689, mas desde o início utilizaram a moderada CFBNH, que foi chamada de Declaração de

Fé das Igrejas Batistas do Brasil (DFIBB)64, modelo exemplar de síntese teológica e

silenciamento dos aspectos calvinistas mais polêmicos. Os congregacionais, por sua vez, não

utilizaram sua clássica e calvinista Declaração de Savoy de 1658, produzida por puritanos

ingleses críticos do Anglicanismo de então. Antes, o reverendo Kalley produziu no Brasil uma

declaração de fé em língua portuguesa, a Breve Exposição das Doutrinas Fundamentais do

Cristianismo em 1876. Essa, semelhantemente à CFBNH, não abordava diretamente alguns

aspectos doutrinários mais específicos e polêmicos caracterizadores do Calvinismo. Era,

contudo, resumida e direta, contendo o que deveria ser essencial quanto à crença para a

63 Ainda assim, Léonard faz uma distinção entre a subscrição oficial da CFW e a recorrência de seu uso de fato

no meio presbiteriano, no que ele chama de ortodoxia de conserva, dando o seguinte exemplo: “Em sua polêmica

contra os modernistas, Bento Ferraz destaca, não sem escândalo justificado, a declaração de um presbítero

confessando que não tinha lido a Confissão de Fé de Westminster completamente, à qual havia prometido

permanecer fiel, e afirmava que esse comportamento era muito comum” (LÉONARD, 2014, p. 190). 64 Como informado em Monergismo. Disponível em: <http//:www.monergismo.com/textos/credos/new.htm>.

Acessado em 21, fev. 2021.

71

outorga da fé evangélica, sendo possível sua aceitação por monergistas e sinergistas

(MATOS, 2003).

Outro fator que contribuiu com o desenvolvimento de síntese doutrinária no nascente

meio protestante foi o cenário religioso brasileiro, hegemonicamente católico. As vivências

protestantes entre as massas brasileiras promoveram o desenvolvimento da identificação dos

evangélicos especialmente em distinção aos católicos. Seguindo as demandas relacionais de

identificação, os critérios para seleção dos atributos representativos a serem postos em relevo

não estariam relacionados às diferenças doutrinárias entre protestantes, as quais passaram a

segundo plano. Antes, as cruciais divergências frente ao Catolicismo, em termos de doutrina,

passavam a constituir os mais notáveis atributos representativos do Protestantismo e

identificadores dos evangélicos no Brasil (MENDONÇA, 2008, p. 121-140).

Continue-se levando em conta os objetivos missionários de conversão dos perdidos e

santificação dos alcançados. Assim, os atributos mais requisitados pelos evangélicos em

distinção ao Catolicismo foram justamente princípios doutrinários que caracterizaram a

Reforma do século XVI, a qual emergiu pelo desacordo com a fé romana, o que se

assemelhava mais ao cenário de alteridade nacional que se desenhava. Destarte, foram

defendidas doutrinas enquadradas nos solas da Reforma, como os sola scriptura, sola fide,

sola gratia e solus Christus. Isso, em contraposição à teologia católica e suas apreensões

popularizadas pelas massas, principalmente sobre a questão capital da salvação do homem,

bem como de outras a esta relacionadas, a exemplo da natureza e autoridade da Igreja, a

intercessão dos santos e a questão de Maria. Tal representação da fé protestante era

abrangente, abarcava diferentes grupos como reformados e luteranos, e contribuía com a

promoção de uma fé sintética (PEIXOTO, 2021, p. 196-197; VARGENS, 2013).

Outro fator indiciário da produção de síntese foi a preferência geral pelo uso do

termo evangélico como identificador de si desde o início da inserção. Isso exprimiu a

tendência ao senso de pertencimento a um grupo maior que suas respectivas denominações, a

construção identitária do “nós” evangélicos, mais uma vez diante dos “outros” católicos

(BARTH, 2005; CUCHE, 1999, p. 181-187). Para demonstrar tal preferência, Mendonça

aponta que o primeiro jornal protestante a circular no Brasil, gerenciado por presbiterianos,

foi o Imprensa Evangélica entre 1864 e 1892, ele também cita a Confederação Evangélica do

Brasil que durou entre 1934 e a década de 1960 (MENDONÇA, 2005, p. 50). Outras

publicações produzidas por membros da Igreja Presbiteriana, afamada pelo maior zelo na

manutenção das tradições doutrinárias, foram O Púlpito Evangélico de 1874, O Evangelista

de 1889, Norte Evangélico de 1909, a instituição da Sociedade Brasileira de Tratados

72

Evangélicos em 1884, as listas de cântico litúrgicos Nova coleção de hinos e cânticos

sagrados para uso da igreja evangélica de 1881 e Hinos evangélicos e cânticos sagrados de

1888 (MATOS, 2007; LÉONARD, 2014, p. 86-87). Por sua vez, a primeira igreja protestante

no Brasil, fundada pelo congregacional Robert Kalley em 1863 chamou-se Igreja Evangélica

Fluminense (MATOS, 2003, p. 19).

Lembrando que seguindo os indícios das fontes e de acordo com a perspectiva do

presente corpo teórico-metodológico em examiná-las, tratamos de uma preferência quanto ao

uso do termo auto identificador evangélico. O que não significa necessariamente sua

unicidade, nem a ausência absoluta da nomenclatura protestante e outras semelhantes. Antes,

referimo-nos ao nível de incidência do uso dos nomes, em maior grau para um, em menor

para outros. Assim, nos deparamos com o Colégio Protestante de 1870, precursor da

Universidade Presbiteriana Mackenzie e com o periódico O Puritano, fundado em 1899 e que

dourou até 1958 (MENDONÇA, 2008, p. 145-146; MATOS, 2007, p. 48-49). Esse último,

pode indicar um senso de filiação e identificação, ao menos no caso presbiteriano, com um

grupo característico do Calvinismo anglófono. Apesar disso, o termo parece solitário frente a

outros nomes recorrentes, diante das demandas relacionais de identificação trazidas mais

acima.

Outro fator que indicia a força do caráter sintético no desenvolvimento da

representação doutrinária da fé evangélica no período de sua inserção foi a propensão às

práticas colaborativas entre os agentes das diferentes denominações. Nessa linha, Mendonça

trata dos Salmos e Hinos, um compêndio de traduções de hinos estrangeiros e composições

em português, cuja produção continuada e uso se deu nas diferentes denominações no Brasil.

Nesse, encontram-se composições de Kalley e sua esposa Sarah (1825-1907), do presbiteriano

José Manoel da Conceição (1822-73), ex-padre, considerado o primeiro pastor brasileiro,

quatorze hinos de autores batistas e nove de metodistas (MENDONÇA, 2008, p. 267-291).

Também significativa é a criação de instituições interdenominacionais no Brasil com intentos

de propagação da fé, a exemplo da já mencionada Sociedade Brasileira de Tratados

Evangélicos, que se propunha publicar obras de autores nacionais representantes de diferentes

igrejas (LÉONARD, 2014, p. 86-87).

Ainda quanto às práticas colaboracionistas das igrejas, demonstrando empatia e

identificação entre os diversos agentes evangélicos, encontramos apoio logístico,

fornecimento de abrigo, divisão estratégica de territórios a serem evangelizados e intercâmbio

de membros e ministros entre as denominações. Simonton, presbiteriano, recebeu conselhos e

ajuda de Kalley e, por diversas vezes pregou na Igreja Evangélica Fluminense. Em dado

73

momento, quando as instalações da Igreja Presbiteriana estavam em obras, as reuniões

ocorriam na igreja Evangélica. Mesmo a eleição do reverendo presbiteriano Álvaro Reis foi

realizada na igreja de Kalley. Um exemplo de boa mobilidade interdenominacional foi a

participação do missionário batista William Bagby como membro visitante do Sínodo

Presbiteriano de 1884 (MATOS, 2003, p. 21-24; MENDONÇA, 2008, p. 293).

Tais situações são mais frágeis quanto ao cerne da questão: a escassez dos distintivos

calvinistas na construção da fé evangélica, por meio da tendência doutrinária sintetizante.

Isso, por serem as três denominações acima citadas originalmente reformadas. Todavia, as

mesmas práticas colaborativas são encontradas nas relações entre presbiterianos e metodistas,

mesmo sendo os últimos caracteristicamente sinergistas. No mesmo Sínodo Presbiteriano de

1884, participou o pastor metodista J. W. Tarboux como representante de uma agência

missionária. No início da obra metodista no país, seus agentes contaram como o apoio de

ministros presbiterianos de variadas formas, no ensino do português, na ministração de aulas

no Colégio Piracicabano (metodista), em pregações cúlticas e evangelismos (MENDONÇA,

2008, p. 293-295).

Foram deliberados planos de cooperação entre as instituições, influenciados por uma

Comissão Interdenominacional Presbiteriana e Metodista. Destaca-se o estabelecimento de

que “nenhuma cidade com menos de 25 mil habitantes seria ocupada por mais de uma

denominação, e que seria considerado território ocupado aquele que “o serviço divino venha

sendo observado com regularidade”” (MENDONÇA, 2008, p. 294). Também houveram

deliberações sobre a transferência de membros entre as duas igrejas, o que “deveria merecer

cautelas” (MENDONÇA, 2008, p. 294).

A tendência às práticas colaboracionistas no período de inserção expõe o

reconhecimento da legitimidade da fé pregada por parte das diferentes denominações

evangélicas, independentemente de serem de orientação calvinista ou arminiana. Tal situação

é deveras significativa, visto se tratar da desconsideração ou silenciamento de uma

proeminente divergência doutrinária protestante, no que tange aos fundamentos de uma das

mais cruciais questões de sua fé, a soteriologia. Lembrando ainda ser a salvação um dos focos

do Protestantismo de missão, ou como também chamado, de conversão.

Com isso, não afirmamos que tais distinções doutrinárias fossem absolutamente

desconhecidas, antes percebemos que estas foram sendo silenciadas e ostracizadas ao longo

do desenvolvimento da representação doutrinária do Evangelicalismo no Brasil. Os estatutos

da Sociedade Brasileira de Tratados por exemplo, “proibiam toda publicação de temas

controversos discutidos entre as igrejas protestantes.” (LÉONARD, 2014, p. 87). Tal

74

fenômeno ocorreu especialmente no âmbito dos processos de popularização das doutrinas

sobre salvação. De modo a envolver as práticas de exposição sintetizada de conteúdos

selecionados por parte dos especialistas e, a recepção e interpretação do conteúdo doutrinário

por parte das massas compostas majoritariamente por não especialistas, os leigos. Envolve

ainda a reprodução da mensagem por parte de quaisquer crentes, sejam eles novos

especialistas, em diferentes e mesmo discrepantes graus, de uma teologia já sintetizada, ou

leigos, dispostos em maior quantidade.

Tal situação se assemelha ao que Bourdieu chamou de “vulgarização” (2007, p. 51),

devido ao processo de simplificação da mensagem, a qual já fora apresentada sintetizada.

Assim, é potencializado o caráter sintético da fé nutrida pelas massas constituintes do meio

evangélico. Por sua vez, o caráter sintético do corpo doutrinário expõe a diminuta presença

dos atributos distintivamente calvinistas, diluídos na síntese, na constituição do campo

evangélico, especialmente no que se refere à popularização, no âmbito dos leigos, esfera

majoritária do campo.

Diante disso, em que âmbito estaria então a construção das diferenças identitárias

internas do campo evangélico em inserção? Questão próxima à levantada por Watanabe

(2007). Mais uma vez, as preferências por termos identificadores de si junto às práticas

colaboracionistas e legitimadoras, podem lançar luzes sobre o caminho. Sobre a Sociedade

Brasileira de Tratados Evangélicos, o pastor presbiteriano Eduardo Carlos Pereira afirmou

que seu intuito era de “ajudar os nobres esforços dos metodistas, dos batistas, dos luteranos,

dos episcopais, dos congregacionais e presbiterianos dando a todos um beijo fraternal na

liberdade sublime do Evangelho” (PEREIRA apud LÉONARD, 2014, p. 87). Nesse exemplo,

percebemos que os termos identificadores a distinguir os crentes entre si se referem às igrejas

as quais estes são membros. Que a divisão do campo em grupos, a construção das diferenças

identitárias internas são produzidas por meio do critério denominacional. Ou seja, que este é

reputado como relevante, a ponto de ser o mais popularmente utilizado para identificar os

diferentes tipos de crentes e representar suas especificidades. As quais são os atributos

caracterizadores de cada igreja, podendo incluir doutrinas e hábitos próprios, todavia

expressos genericamente pelo nome da denominação.

Some-se isso à mui notável escassez de ocorrência do uso de termos identificadores

de si a distinguir os evangélicos que remetam a questões doutrinárias, especialmente

soteriológicas. Não havendo o uso generalizado de nomes como reformado, calvinista ou

arminiano entre eles. Destarte, justamente a carência de vestígios se faz contribuinte em

apontar que os critérios recorridos para representação dos diferentes grupos protestantes em

75

inserção no Brasil, não foram doutrinários, tampouco soteriológicos, antes foram

denominacionais, especialmente no âmbito de popularização. O que demonstra que o critério

doutrinário sobre salvação não fora considerado relevante a ponto de tornar-se parâmetro de

divisão do campo em grupos e da caracterização destes. Diferentemente do ocorrido em

outros contextos protestantes.

Sendo assim, o cenário relacional de formação do Evangelicalismo brasileiro

demandou a seleção de critérios, atributos representativos e práticas que o diferenciassem do

Catolicismo, fé antagônica e hegemônica no país. Diante disso, a produção de um corpo

doutrinário sintetizado, junto ao ímpeto conversionista, as práticas colaboracionistas que

exprimem a legitimação da fé dos pares, se desenvolveram em prejuízo da incidência de

considerações sobre as diferenças doutrinárias internas do meio protestante, principalmente

em questões fundamentais como a soteriologia (MENDONÇA, 2008, p. 121-140).

Outrossim, tal cenário não propiciou a apresentação das perspectivas calvinistas

sobre salvação no âmbito popular, constituintes de seus principais distintivos doutrinários. A

saber, seu caráter monergista, embasado no princípio da soberania de Deus sobre todas as

coisas e, expressado nos cinco pontos do Calvinismo, a TULIP. Ao mesmo tempo, não

proporcionou a formação de grupos protestantes divididos de acordo com tais critérios mais

basilares. O que geraria entre os evangélicos, termos identificadores como reformados,

calvinistas e arminianos, como será encontrado mais frequentemente a partir dos anos 2000.

Invés disso, o uso de termos denominacionais para identificar e formar os grupos protestantes,

aponta a consideração de doutrinas secundárias que distinguem as diferentes igrejas. Por

exemplo: a forma de governo, se presbiteriana ou congregacional; a forma de batismo, se por

aspersão ou imersão, ou ainda se as crianças devem ser batizadas ou não.

2.3 CENÁRIO NACIONAL DE EXPANSÃO NO SÉCULO XX.

Infinidade é um termo apropriado para adjetivar os fenômenos vistos pelo mundo no

século XX. Tratando-se somente do campo religioso, o termo continua adequado. Mesmo se

observando apenas o Brasil, o termo permanece útil. Relembramos portanto, o caráter

temático deveras recortado deste capítulo de acordo com o intento de investigação sobre a

presença da fé reformada no desenvolvimento doutrinário do campo evangélico nacional.

Sendo assim, observamos o desenvolvimento do segmento protestante que nitidamente se fez

protagonista quantitativa e qualitativamente da fé evangélica no mundo e no Brasil ao longo

do século XX: o Pentecostalismo. Sua expansão em um século em cerca de quinhentos

milhões de fiéis pelo mundo, se constituiu num dos maiores fenômenos religiosos na história

76

(CAMPOS, 2005, p. 102; MATOS, 2006, p. 23). Vindo deste em grande parte, o vultoso

crescimento protestante no período. O que também fomentou que a fé pentecostal exercesse

significativa influência na formação do corpo doutrinário evangélico (MARIANO, 1999).

Sendo assim, na tarefa de analisar o grau de influência e presença dos atributos

reformados no Evangelicalismo nacional, observarmos os elementos doutrinários

constitutivos da representação do campo ao longo do 1900. Para tal, é inevitável que se trate

da relação entre Pentecostalismo e campo evangélico. O que, como será visto, já se faz indício

da fragilidade da presença calvinista. Destarte, seguiremos um percurso de acordo com alguns

pontos dessa relação.

No âmbito doutrinário, pode-se representar o Pentecostalismo como um segmento do

Protestantismo cujos elementos mais característicos se referem à ação do Espírito Santo na

vida da Igreja, o que diz respeito à Pneumatologia65 e Eclesiologia66. Assim, se encontram

entre seus principais atributos doutrinários a crença numa segunda benção espiritual após a

conversão, provedora de poder espiritual ao crente. Seu recebimento é manifestado

principalmente pela prática da glossolalia, ou seja, o dom de falar em outras línguas existentes

e em línguas estranhas à compreensão humana, língua dos anjos... Também a crença em

outros poderes dados aos crentes pelo Espírito, como os dons de cura sobre doenças e

enfermidades; de revelação, visões e sonhos sobre o futuro, sobre acontecimentos ocultos da

vida dos crentes; de exorcismo; de unção capacitadora para se pregar, entre outras

(FERREIRA, MYATT, 2007, p. 212-214; CORREA, 2012, p. 27-28; MATOS, 2006). O

termo Pentecostalismo alude à descida e derramamento do Espírito Santo sobre os integrantes

da Igreja no dia de Pentecostes, relatado no livro de Atos dos Apóstolos, capítulo segundo

(BÍBLIA SAGRADA, 2008, p. 1427-1429).

Paul Freston divide a história de penetração e desenvolvimento do Pentecostalismo

no Brasil em três períodos principais, ou ondas, cada uma contendo seus traços marcantes. As

duas ondas iniciais podem compor o chamado Pentecostalismo clássico, enquanto a última o

Neopentecostalismo, havendo proximidades e distanciamentos entre os movimentos quanto

aos seus atributos constituintes. Em especial, semelhanças entre as primeiras e distinções em

relação à última onda (PEIXOTO, 2021).

O atributo mais marcante da primeira onda pentecostal que aporta no Brasil nas

décadas de 1900 e 1910 é a prática da glossolalia, como expressão do recebimento da segunda

bênção do Espírito. As principais denominações pentecostais brasileiras do período foram a

65 Na Teologia, disciplina que trata do Espírito Santo, sua natureza e obra. 66 Ramo da Teologia que estuda a Igreja e as coisas referentes a esta.

77

Congregação Cristã no Brasil (CCB) de 1910, liderada pelo italiano Louis Francescon, cuja

parcela de seus primeiros membros saíram do Presbiterianismo, assim como seu fundador,

questão que será vista mais à frente. E, a Assembleia de Deus (AD) de 1911, cuja fundação

fora liderada pelos missionários suecos Gunnar Vingren e Daniel Berg, tendo como primeiros

membros alguns crentes saídos de uma Igreja Batista de Belém, no Pará. Certo crescimento

pentecostal diante dos demais evangélicos é percebido no Brasil já na década de 1930

(CORREA, 2012, p. 39-42; s/da, sl. 11-20; PEIXOTO, 2021, p. 195; MATOS, 2006, p. 32).

O elemento doutrinário mais característico da segunda onda no Brasil é o dom de

cura sobre enfermidades. O movimento se deu a partir da década de 1950, principalmente

através da Cruzada Nacional de Evangelização, uma série de eventos evangelísticos

itinerantes conduzidos pela Igreja do Evangelho Quadrangular (IEQ), oriunda dos EUA e

estabelecida no país em 1951, sendo a principal denominação representante da segunda onda.

Nesse período, a fé pentecostal se expandiu em várias partes do globo, sobretudo no chamado

terceiro mundo (ERICKSON, 1997, p. 359-360). No Brasil, ampliou-se ainda mais seu

crescimento, especialmente entre as camadas mais pobres. O que ocorreu concomitantemente

a um processo de virada demográfica de aumento exponencial da população urbana e

diminuição da rural, envolvendo fluxos migratórios contínuos (PEIXOTO, 2021, p. 195;

CORREA, s/db, sl. 1; PASSOS, 2000).

O período também foi marcado pela emergência de movimentos de renovação

carismática, tanto nas igrejas protestantes quanto na Igreja Católica. A crença e ênfase na

atual vigência dos dons do Espírito causaram polêmicas entre os crentes, culminando com

diversas divisões institucionais como o movimento de Renovação Espiritual que acabou

criando a Convenção Batista Nacional (CBN) em 1967, separando-se da pioneira Convenção

Batista Brasileira (CBB) e, a criação da Igreja Presbiteriana Independente Renovada (IPIR)

em 1972 (MATOS, 2006; GINI, 2010).

Quanto ao Neopentecostalismo, a terceira onda, Matos aponta o trinômio “cura-

exorcismo-prosperidade” (2006, p. 45) como sua representação doutrinária elementar.

Destarte, a ênfase na prosperidade em variadas esferas da vida, sobretudo a financeira, se faz

elemento distintivo do movimento. Sua emersão é marcada pela fundação da Igreja Universal

do Reino de Deus (IURD) em 1977 por Edir Macedo (PEIXOTO, 2021, p. 198).

No campo pentecostal, a ocupação das posições de produtores e reprodutores de

conteúdos, recorrentemente encontradas em cenários religiosos, pode se dar menos em função

da posse de capital cultural, no caso sob forma de conhecimento teológico, como presente nos

cenários protestantes, e mais em função da posse, por recebimento, de virtudes, poderes

78

sobrenaturais. Seguindo tal critério, há, potencialmente, uma maior facilidade de transição da

posição de leigo para a de produtor especialista. Sendo possível o recebimento imediato de

dons que legitimam a ocupação de posições superiores, como produtores de doutrina, líderes

de grupos e influenciadores. Isso, em detrimento da mais lenta e laboriosa apropriação de

conhecimentos teológicos, necessária à ocupação de tais posições, em ambientes como o

reformado por exemplo, facilitada pelo gozo prévio de melhores condições sociais

(FERREIRA, MYATT, 2007, p. 214).

Sendo assim, o fenômeno de popularização é ainda mais fortemente intrínseco ao

processo de desenvolvimento doutrinário no Pentecostalismo. Pois, seu caráter popular não se

fortalece somente no ambiente leigo de recepção, apropriação sintetizante e divulgação da

mensagem. Antes, tal caráter já se apresenta acentuadamente no âmbito da produção

especializada da representação doutrinária pentecostal, devido à maior participação leiga neste

e a como esta se dá. É, justamente, seu caráter popular que se entrelaça à expansão numérica e

ao maior potencial de influência sobre as massas, sendo estes fenômenos homólogos.

O Pentecostalismo obteve êxito na formação de grupo e aglutinação de crentes para

além dos critérios meramente denominacionais, como mais comum no Evangelicalismo

brasileiro até então. O movimento se fez um segmento protestante cuja representação e

identificação dos participantes se dão, a priori, por meio de critérios doutrinários, em

distinção aos “outros” que não professam as crenças pentecostais. O que, por meio de

processos relacionais de identificação, desenvolve a formação de grupos cujos atributos

representativos são selecionados pelos mesmos critérios doutrinários, em distinção ao

Pentecostalismo. Assim, formam-se grupos de não pentecostais, concomitantemente à

formação de grupos pentecostais (BARTH, 2005; CUCHE, 1999, p. 175 – 202; GALLISSOT,

1987, p. 12 - 27).

Destarte, também apontando a força do Pentecostalismo, encontramos ao longo de

sua expansão um movimento oposto ao do período de inserção do Protestantismo, cujas

diferenças por conta de critérios de doutrina foram silenciadas, sendo o denominacionalismo o

elemento mais recorrente na representação de suas diferenças internas. Com o advento

pentecostal, a divergência a partir de critérios doutrinários popularizou-se e se tornou

relevante a ponto de embasar a formação e representação de grupos, constituídos por

integrantes de diferentes denominações, identificados pelos distintivos pentecostais. Como já

dito, tais questões doutrinárias atinavam sobre a ação do Espírito Santo na Igreja e em cada

crente, na atualidade de milagres e dons sobrenaturais. Quesitos pertinentes à Pneumatologia

e Eclesiologia, especialmente o procedimento nos cultos: a liturgia (PEIXOTO, 2021, p. 195-

79

196).

Também assim, notamos a diminuta presença dos mais característicos elementos

doutrinários reformados, pertinentes à Soteriologia e fundamentados na soberania divina. Em

não serem relevantemente requisitados durante a mais notável formação de grupos no campo

nacional, cujas representações se deram justamente por critérios doutrinários67. Antes, a falta

de debates, por exemplo acerca de como se processa a salvação, demonstra que a crença geral

sobre o tema permaneceu ponto comum entre pentecostais e não pentecostais (MENDONÇA,

1990; 2008, p. 292).

Vejamos os batistas que desde o século XVII na Inglaterra dividiam-se

predominantemente entre particulares (calvinistas) e gerais (arminianos). No Brasil, tal

identificação nunca se difundiu, devido ao caráter sintético e genérico da soteriologia

popularizada. A grande distinção identitária entre os batistas no país, formalizada na década

de 1960, se deu justamente por influência do movimento pentecostal. Eles se dividiram em

batistas tradicionais e renovados, em que os tradicionais são como não pentecostais, não

crendo ordinariamente na atualidade e ênfase dos dons sobrenaturais. Enquanto os renovados

foram os influenciados pela segunda onda do movimento pentecostal. O aumento vertiginoso

dos renovados no meio batista, a princípio não pentecostal, contribuiu para uma série de

querelas entre seus membros e culminou com a criação da Convenção Batista Nacional

(CBN) em 1965, formada pelos dissidentes da Convenção Batista Brasileira (CBB) que até

então aglutinava os batistas no país. Quanto à uma Teologia da salvação, não se difundiram

querelas, antes permaneceu-se o consenso entre os agora distintos batistas (PEREIRA, 1979;

PAIXÃO, 2018).

O Pentecostalismo também adentrou em outras denominações pioneiras, como o

Presbiterianismo. O acolhimento, por membros das igrejas presbiterianas, de doutrinas e

práticas dos movimentos de renovação espiritual ou carismático, característicos da segunda

onda pentecostal, também causou querelas e divisões, culminando com a saída de magistrados

e membros para outras igrejas ou com a criação de novas denominações. Da IPB, separaram-

se e se formaram algumas igrejas autônomas como a denominação Igreja Cristã Presbiteriana

(ICP), no Paraná em 1968. Da Igreja Presbiteriana Independente (IPI), fundada em 1903 fruto

de uma divisão na IPB, não por questões que envolvessem os referidos distintivos reformados,

saíram membros que fundaram a Igreja Presbiteriana Independente Renovada (IPIR) em 1972

(GINI, 2010).

67 Com isso, não afirmamos o desuso do critério denominacional na identificação dos diversos evangélicos, antes

que um outro critério também passa a protagonizar a formação das divisões dos grupos do campo.

80

No caso presbiteriano, percebemos que as mais marcantes divisões e querelas no

Brasil, como as questões maçônica, nacionalista de independência da Igreja brasileira diante

da fundadora estadunidense, e de renovação carismática, não envolviam a invocação dos mais

significativos atributos representativos do Calvinismo e identificadores dos reformados.

Sendo assim, considerando que em relação às doutrinas da salvação, o campo evangélico

nacional, ao longo de sua história, foi marcado pelo desenvolvimento de síntese teológica,

silenciamento das divergências e ostracismo dos distintivos monergistas. E, que as igrejas

presbiterianas calvinistas estiveram entre as principais formadoras do campo. É significativo

que as maiores querelas presbiterianas, inclusive causadoras de cismas, eventos marcantes que

fizeram parte do desenvolvimento do Presbiterianismo no Brasil, não tenham envolvido os

principais atributos calvinistas em oposição aos elementos sinergistas presentes na fé

evangélica (LÉONARD, 2012).

Como temos visto, tratar do Pentecostalismo é inevitável ao se observar o

Evangelicalismo no século XX, devido à sua dimensão de penetração e influência sobre o

campo em seus variados aspectos, especialmente o doutrinário, foco da pesquisa. No entanto,

a questão que surge é: como o conhecimento da influência da fé pentecostal sobre o campo,

pode ser útil em nossa investigação sobre a existência e grau de participação das doutrinas

calvinistas no desenvolvimento da fé evangélica nacional? O que será mais bem percebido

adiante, além de se fazer um indício de sua fragilidade. O estudo do surgimento do

Pentecostalismo que se deu primordialmente nos Estados Unidos em fins do século XIX e

primeira década do XX, mostra que este emergiu num ambiente de expansão doutrinária da

perspectiva sinergista, já após o Segundo Grande Despertamento, como desdobramento

histórico doutrinário de variadas iniciativas de responder aos clamores por santificação

característicos dos avivamentos, mormente consequentes do Metodismo (MATOS, 2006;

DANIEL, 2015; DIAS, 2018, p. 78).

O Segundo Despertamento trouxe à tona o protagonismo do Metodismo arminiano-

wesleyano cuja teologia já se arquitetava desde o grande avivamento anterior. Juntamente,

trouxe a difusão de suas perspectivas doutrinárias frente a questão da santificação. Questão

primordial ao avivamento e também ao Metodismo que, pelo wesleyanismo, tem a

santificação como necessária à salvação. Contudo, sem haver a garantia divina da

perseverança do crente até o fim, logrando ao processo de santificação contornos mais

dramáticos em relação à maior segurança do Calvinismo. Podendo também demandar a

criação de instrumentos doutrinários aferidores da santificação como elemento a trazer algum

grau de segurança ao crente durante o processo.

81

A ideia de uma “inteira santificação” ou “perfeição cristã” já havia se difundido no

meio avivalista a partir da interpretação de John Wesley sobre o tema. Por sua vez, o

metodista John Fletcher (1729-1815), designado por Wesley para ser seu sucessor,

acrescentou o papel do batismo com o poder pentecostal do Espírito Santo à conquista da

perfeição cristã em matéria de santificação, aludindo ao episódio do derramamento do

Espírito descrito no livro de Atos dos Apóstolos (BÍBLIA SAGRADA, 2008, p. 1429-143).

Ele também trouxe um destaque à terceira pessoa da Trindade, diferentemente da ênfase no

Filho, comum à ortodoxia cristã até então (MATOS, 2006, p. 28).

Algumas perspectivas teológicas e práticas pentecostais e carismáticas68

embrionárias e difusas já circulavam a muito no meio protestante americano e europeu, como

no 1700 (MATOS, 1996; 2006), intensificando a presença e desenvolvendo escopo no século

seguinte. O caráter vanguardista do Metodismo em relação às ideias carismáticas que

floresciam em diversas denominações no 1800 se deu, dentre outras, pela ligação de tais

ideias com o desenvolvimento metodista arminiano-wesleyano de doutrinas como a inteira

santificação. Também a como tais ideias estavam mais próximas à ortodoxia da denominação

afirmada por seus líderes, sendo algumas destas tratadas como perspectivas doutrinárias

legítimas e mesmo necessárias. Como no caso da defesa de Fletcher do revestimento de poder

pentecostal enquanto requisito para uma superior santificação. Mesmo havendo polêmicas e

querelas na Igreja Metodista fruto da eclosão de movimentos pentecostais, assim como

ocorrido em outras denominações, o Pentecostalismo conecta suas raízes mais fortemente ao

Metodismo devido ao seu desenvolvimento doutrinário referente à santificação, exposto logo

acima (CAMPOS, 2005; MATOS, 2006; DIAS, 2018, p. 78-81).

Influenciado pelos avivamentos e por suas iniciativas de busca por santificação, em

especial a doutrina da perfeição cristã desenvolvida pela fé arminiana-wesleyana, surge nos

EUA na década de 1830 o movimento de santidade, holiness em inglês. Destacando-se entre

seus líderes Phoebe Palmer (1807-74), divulgadora do movimento. O qual adentrou em

diferentes igrejas e seminários, influenciou a criação de novas denominações, além de outros

movimentos e instituições nos EUA, a exemplo da Associação Nacional Holiness de 1867,

Associação Holiness de Iowa de 1879, Igreja de Deus em Cristo de 1897 e a Igreja

Pentecostal Holiness de 1898, sendo um movimento relevante no meio evangélico anglófono

do 1800. Segundo Matos, no movimento holiness, o batismo com o Espírito Santo, além de

associado à plena santificação, cada vez mais passou a ser tido como uma experiência distinta

68 Referente à poder espiritual, poder do Espírito e suas manifestações, semelhante ao termo pentecostal.

82

da vida cristã, aumentando-se seu destaque ao longo do desenvolvimento doutrinário do

movimento (2006, p. 29-30).

Entre os pioneiros do Pentecostalismo, a literatura destaca recorrentemente as figuras

de Charles Fox Parham (1873-1929) e William Joseph Seymour (1870-1922) e seus

respectivos movimentos entre os mais significativos da emersão e representação mais

específica do movimento pentecostal (CORREA, 2006, p. 37-39; CAMPOS, 2005, p. 104;

PASSOS, 2001, p. 118; FERREIRA, MYATT, 2007, p. 212-213). Parham que já fora um

pregador metodista, foi influenciado pelo holiness e defendia a prática da glossolalia como

evidência primeira do batismo do Espírito Santo, o que se tornou a principal marca do

Pentecostalismo.

Parham criou um instituto bíblico no estado do Kansas em 1900, mais um lugar onde

se ensinava sobre o batismo no Espírito Santo. Foi lá onde Agnes Ozman, uma evangelista,

teria sido batizada no Espírito, recebendo dom de falar em línguas a fim de evangelizar outras

partes do mundo, o que teria ocorrido na vigília da virada do ano 1900 para o 1901.

Fenômeno que teria se repetido com outros participantes do instituto, entre eles o próprio

Parham. Em 1905 ele fundou outro instituto no Texas, na sequência “deu continuidade ao seu

trabalho em várias partes dos Estados Unidos e no Canadá, atraindo milhares de seguidores”

(MATOS, 2006, p. 30). É de se notar que a emergência da busca pelo dom de falar em outras

línguas despontou como mais um desdobramento dos anseios de evangelização do mundo,

outro elemento característico do Segundo Despertamento. O Movimento liderado por Parham

ficou conhecido por nomes como chuva tardia e missão da fé apostólica (MATOS, 2006;

2011, p. 1-2).

A outra figura citada foi a de Seymour, um pregador de pouco estudo influenciado

pelo holiness e que frequentou o instituto de Parham, sentando-se do lado de fora da sala por

ser negro. Indo para Los Angeles e levando as doutrinas pentecostais, ele ajudou a liderar o

movimento que oficializou o início do Pentecostalismo em 1906. Uma série de experiências

declaradas como um mover especial da terceira pessoa da Trindade, o batismo com o Espírito

Santo experimentado por milhares de pessoas69, manifestado especialmente pela glossolalia.

Devido ao crescimento do movimento, Seymour e os outros crentes se mudaram para um

edifício na Rua Azusa. Por isso, além do termo missão da fé apostólica, o movimento que

marcou o início do Pentecostalismo também ficou conhecido como avivamento da Rua Azusa

69 Segundo Matos: “Até setembro, 13.000 pessoas passaram pelo local e ouviram a nova mensagem pentecostal.

Um bom número de pastores respeitáveis foi investigar o que estava ocorrendo e muitos deles acabaram se

rendendo ao que presenciaram” (2006, p. 32).

83

(CAMPOS, 2005, p. 104; DIAS, 2018, p. 78).

Apesar do protagonismo norte-americano, concomitantemente à emersão do

Pentecostalismo nos Estados Unidos, surgiram movimentos pentecostais nos meios

protestantes de outros países como Canadá, Suécia e País de Gales (DeMoss, 2012; MATOS,

2006, p. 30). Além disso, conforme já citado, o contexto material, a promoção das migrações

e o impulso evangelístico característicos do período propiciaram a expansão do movimento

pentecostal para vários países. O qual desembarcou também no Brasil a partir da década de

1900 e, ao longo dos anos conquistou lugar de destaque no campo evangélico nacional,

quantitativa e qualitativamente, participando expressivamente de seu desenvolvimento

doutrinário, assim como de outros aspectos.

Finalmente, temos que doutrinas pentecostais participaram significativamente do

processo de desenvolvimento da representação do Evangelicalismo e identificação dos

evangélicos ao longo do século XX. E, que tais doutrinas foram desdobradas

preponderantemente de um escopo teológico sinergista, encabeçado pelo Metodismo de raízes

arminianas. Especialmente por meio da ideia da perfeição cristã e pelo batismo pentecostal

com o Espírito Santo, como elementos conferidores de segurança ao dramático processo de

santificação, homólogo à própria vida do crente. Diante disso, pode-se depreender que a

dimensão da influência do Pentecostalismo sobre o campo evangélico brasileiro se faz mais

um indício da diminuta contribuição distintivamente calvinista sobre tal campo.

2.3.1 O caso da Congregação Cristã no Brasil.

A excepcionalidade desse processo histórico é a Igreja Congregação Crista no Brasil

(CCB), considerada a primeira Igreja pentecostal formada no país, em 1910. Apesar de,

diferentemente de seu início, a CCB não se considerar pentecostal e afirmar não ter afinidade

com qualquer outro segmento evangélico, conforme declarado em assembleia em 198870.

Uma conexão entre a CCB e o Calvinismo é recorrentemente traçada pela literatura

especializada, por conta por exemplo, de alguns costumes considerados racionalistas, mas

principalmente devido à crença da denominação numa forma de predestinação (FOERSTER,

2009, p. 24-26; DIAS, 2018, p. 86; MENDONÇA, VELASQUES FILHO, 1990, p. 21).

Mendonça chega a afirmar que “todas as Igrejas pentecostais são arminianas sob o prisma

teológico, com exceção da Congregação Cristã no Brasil” (MENDONÇA, VELASQUES

70 Trecho das decisões da 53ª Assembleia de 29 a 31 de março de 1988. Disponível em:

<https//:www.ccbhinos.com.br/topicos-de-ensinamentos-congregacao-ccb/Topicos-1980-a-1989---Principais-3>.

Acessado em: 21, jun. 2021.

84

FILHO, 1990, p. 21) e, que a CCB “guarda traços significativos da teologia calvinista e,

principalmente, o mais controvertido deles: a predestinação” (MENDONÇA, VELASQUES

FILHO, 1990, p. 21).

Tal crença se dá pela relação do principal fundador da CCB, o italiano Louis

Francescon (1866-1964), com o Presbiterianismo. Ainda jovem, Francescon migrou para os

Estados Unidos, Chicago, em 1890. Logo se converteu à fé protestante e se tornou membro de

uma Igreja Presbiteriana italiana. Após cerca de nove anos, junto a alguns insatisfeitos, saiu

da Igreja, dentre outros motivos, por discordâncias doutrinárias, como em relação a questão

da forma de batismo. Francescon ajudou a liderar essa comunidade de dissidentes por anos e

em 1907 foi fortemente influenciado por William Durham (1873-1912), pastor holiness e um

dos principais expoentes do Pentecostalismo (FOERSTER, 2009, p. 20-21).

Após sua experiência pentecostal é fundada a Igreja Pentecostal Italiana. Francescon

empreende viagens missionárias à América Latina, chegando ao Brasil em 1910. Dentre

outros lugares visitados, ele prega numa Igreja Presbiteriana em São Paulo, no Brás, da qual

foi expulso em seguida, “mas um grupo de vinte, consistindo de presbiterianos, metodistas e

alguns católicos, sai com ele: é o início da Congregação Cristã do Brasil” (FOERSTER, 2009,

p. 20-21).

Conforme dito acima, na CCB é encontrada uma crença na predestinação, doutrina a

afirmar grosso modo que o indivíduo eleito por Deus para ser salvo, em algum momento de

sua vida certamente o será. Bem como, caso o indivíduo não seja eleito, este absolutamente

não será salvo em nenhum momento. De fato, tal doutrina é elemento distintivo da fé

reformada, até mesmo um fruto de seu atributo representativo axiomático: a soberania de

Deus sobre todas as coisas, em especial sobre a salvação. No entanto, além da predestinação,

não encontramos na CCB outros dos mais representativos atributos doutrinários constitutivos

do Calvinismo conforme trabalhados no primeiro capítulo.

Assim, não são notórios na CCB um senso de filiação à Reforma, representada

elementarmente pelos cinco solas; um apreço pela figura de Calvino e de outros líderes

reformadores; o requerimento de uma herança puritana; uma ênfase na busca pela glória de

Deus; o entendimento do caráter abrangente da fé a influenciar todas as áreas da vida, não

pela dicotomia sagrado/profano, antes pela santificação destas áreas; especialmente a

subscrição dos cinco pontos do Calvinismo TULIP, sua principal síntese doutrinária

popularizada, sem a qual a própria predestinação pode ficar solta e isolada. Todos esses são

atributos doutrinários constitutivos da fé reformada e elementos identificadores dos

reformados, os quais não são patentes entre as crenças da CCB. Sendo assim, sob o aspecto

85

doutrinário, tal situação de ausência de atributos semelhantes e, consequentemente

constituindo-se disparidades representativas, aponta o distanciamento e a fragilidade de uma

conexão entre a CCB e o Calvinismo. Portanto, o que poderia ser percebida em relação á

crença da CCB na predestinação é uma reminiscência doutrinária consequente de um

fundamento calvinista: a soberania de Deus sobre todas as coisas, em especial na salvação.

2.4 CONCLUSÃO

Procedemos uma análise sintética do percurso histórico doutrinário de formação do

campo evangélico brasileiro, dividindo-o em três períodos áureos: o cenário internacional até

meados do século XIX que trouxe definitivamente a fé protestante ao país; o cenário de

inserção da fé durante a segunda metade do 1800 e; o cenário de expansão do Protestantismo

no Brasil ao longo do século XX. Afim de que, observando alguns de seus elementos

doutrinários mais representativos, se averiguasse a presença e nível de participação de

atributos distintivamente calvinistas no campo. Pelo que nos três períodos encontramos

cenários que expõem uma maior escassez da presença e fragilidade da participação dos mais

significativos distintivos reformados na formação doutrinária do campo. Sobretudo em

comparação à mais notável presença e influência de princípios sinergistas, bem como o

fortalecimento de ideias arminianas sobre seu desenvolvimento doutrinário, os quais se

opõem à teologia calvinista.

O cenário internacional demonstrou o declínio reformado em ambientes protestantes

onde este antes fora protagonista, como o neerlandês já desde fins do 1600 e, especialmente o

anglófono desde meados do 1700, principal responsável por trazer a fé ao Brasil. Uma

tendencia do período missionário à produção de sínteses teológicas entre conjuntos

doutrinários conflitantes, abrandou e ocultou distintivos calvinistas, enquanto doutrinas

arminianas, antes subjugadas, conquistaram maior presença e legitimidade. Isso, tanto em

formulações teológicas especializadas, como na popularização das crenças. Assim, o

Evangelicalismo que chegou ao Brasil já contava com uma participação diminuída do

Calvinismo e fortalecida do sinergismo.

O cenário de inserção protestante no Brasil prosseguiu e fortaleceu o

desenvolvimento de síntese teológica a representar a fé evangélica devido à primordial

demanda relacional de representação do grupo e identificação dos crentes em distinção ao

Catolicismo, fé hegemônica no país. E, às necessidades logísticas que fomentaram posturas

colaboracionistas entre diferentes protestantes. Tal cenário não apresenta somente um

enfraquecimento da contribuição calvinista na formação doutrinária, mas que esta já se inicia

86

quebrantada, não consegue se desenclausurar de círculos específicos e vivenciar algum

florescimento que a faça um pouco mais conhecida.

Por fim, o cenário de expansão apresentou o protagonismo do Pentecostalismo, um

segmento protestante desdobrado principalmente de raízes teológicas arminianas, no

desenvolvimento doutrinário das representações do campo, formação de grupos e

identificação de indivíduos. Tal fator se soma à continuidade da impopularidade calvinista ao

longo do século pentecostal, já demonstrada nos períodos anteriores. Portanto, corroborando

com a conclusão de haver uma escassa presença e participação, e diminuto grau de influência

dos atributos caracteristicamente calvinistas sobre o processo de desenvolvimento da

representação doutrinária do campo evangélico brasileiro. Todo esse histórico exclama o

caráter notável do fenômeno de expansão do Calvinismo sobre tal campo a partir do alvorecer

do século XXI, o qual será trabalhado no próximo capítulo.

87

CAPÍTULO 3

A EXPANSÃO DO CALVINISMO NO CAMPO EVANGÉLICO BRASILEIRO

CONTEMPORÂNEO

A expansão do Calvinismo no campo evangélico brasileiro é um fenômeno que

possui especificidades, assim como as fontes que o desvelam. Dessa maneira, seu estudo

demanda que sejam percebidas algumas dessas especificidades e, igualmente, que os

objetivos, princípios e procedimentos metodológicos sejam adaptados a estas. Destarte,

verificamos que nosso fenômeno é recente, podendo ser percebido ao longo das décadas de

2000 e 2010. Estando, no início e ainda majoritariamente, circunscrito ao campo evangélico.

Ainda não se encontram historiografia ou abordagens acadêmicas sobre o fenômeno, no

máximo uma parca literatura próxima a este. Mesmo no ambiente evangélico não acadêmico,

as várias repercussões existentes costumam ser sintéticas e pouco aprofundadas. Ainda não se

encontram dados seriados, quantificados ou pesquisa documental organizada sobre o tema.

Percebemos que a expansão do Calvinismo acontece através de diferentes meios

simultaneamente, entre os quais muitos estão entrelaçados e se influenciam. Tratam-se de

ambientes e situações em que o conteúdo calvinista é propagado, os quais possuem

instrumental e operacionalidade próprios. Esses meios suscitam a produção de diversos tipos

de fontes que apontam o fenômeno, ou mesmo em alguns casos são os próprios indícios da

expansão. Em nossa pesquisa encontramos, exploramos e ordenamos alguns meios de

propagação calvinista, a saber: meios pertencentes ao universo da Internet como 1) blogs e

sites; 2) a plataforma de vídeos YouTube; 3) as redes sociais Facebook e Instagram71. E,

meios que podem ser investigados através da Internet, mas que não estão limitados a esta: 4)

Mercado editorial; 5) produção e propagação musical ligada à fé calvinista; 6) criação de

igrejas calvinistas; 7) adesão de igrejas e líderes eclesiásticos ao Calvinismo; 8) Convenções

calvinistas; 9) instituições e organizações paraeclesiásticas de linha reformada; 10)

repercussões sobre a expansão; 11) repercussões sobre a expansão na Assembleia de Deus e;

12) expansão e desenvolvimento do Arminianismo em seu aspecto soteriológico no meio

evangélico nacional. Finalmente, convertemos os meios e as inúmeras fontes produzidas

nestes em um conjunto de indícios dispostos cronologicamente. Dessa maneira, produzimos

uma trilha histórica indiciária que aponta o fenômeno analisado e colabora com a escrita de

sua História (GINZBURG, 1989, p. 143-180).

71 O Instagram (sendo mais recente) foi menos explorado que o Facebook nesta pesquisa.

88

3.1 RESSURGIMENTO CALVINISTA NOS ESTADOS UNIDOS

Antes de construir o fato histórico (PROST, 2008, p. 53-74) da expansão do

Calvinismo no campo evangélico brasileiro nas décadas de 2000 e 2010, apresentamos mui

brevemente o fenômeno descrito como ressurgimento da fé reformada nos EUA. O qual se

relaciona mais diretamente com o caso brasileiro, sendo estes acontecimentos

contemporâneos e possuindo semelhanças contextuais e doutrinárias. Isso, pois o

ressurgimento estadunidense exerce patente influência sobre a expansão brasileira, conforme

continuaremos a ver, apesar de esta constituir-se um fenômeno próprio. Em seguida,

informamos ainda mais brevemente sobre prováveis crescimentos da fé reformada em outros

países, especialmente nos séculos XX e XXI. Os quais podem possuir ligações em diferentes

graus com o ressurgimento yankee ou mesmo não possuírem.

Nesse caso utilizamos como fontes variadas formas textuais presentes nos ambientes

religioso e secular, como crônicas, matérias jornalísticas, livros e até trabalhos acadêmicos

que repercutiram o ressurgimento calvinista nos EUA e os possíveis crescimentos em outros

países. Apesar de tratarmos este ponto de modo mais sintético, explorando menos meios e

fontes, seguimos o procedimento de as considerarmos um conjunto de indícios que podem ser

encadeados cronologicamente e, semelhantemente, constituírem uma trilha histórica indiciária

que evidencia o fenômeno e contribui com a produção do fato histórico (GINZBURG, 1989,

p. 143-180). Assim, vejamos...

Temos que em 2006 a proeminente revista do campo evangélico estadunidense

Christianity Today publica a matéria Jovem, Inquieto, Reformado. O Calvinismo está

voltando e sacudindo a igreja72, assinada por Collins Hansen. Dentre outras coisas, são

comentadas a crescente notoriedade do pastor batista reformado John Piper (1946) entre os

jovens evangélicos de diferentes denominações, mesmo não calvinistas. O qual, participando

de conferências como a Passion, pregou para cerca de quarenta mil pessoas nos arredores de

Memphis em 2000 e para dezoito mil em Nashville em 2006. Também que na Trinity

Evangelical Divinity School se percebe um aumento significativo da fé reformada entre os

alunos nos últimos vinte anos. E, que o Southern Baptist Theological Seminary, um dos

maiores seminários da Convenção Batista do Sul (maior convenção dos EUA com cerca de

quatorze milhões de membros), tem-se feito uma espécie de celeiro reformado (HANSEN,

2006).

72 Nossa tradução de “Young, Restless, Reformed. Calvinism is making a comeback-and shaking up the church”.

89

No embalo da matéria, Hansen continua e aprofunda a observação do crescimento da

fé reformada no meio evangélico e em 2008 lança o livro Jovem, Inquieto, Reformado. A

Jornada de um jornalista com os novos calvinistas73. Ainda em 2008 é publicado no The

Gospel Coalition o texto Dois Vivas pelo Ressurgimento do Calvinismo no Evangelicalismo:

Uma Perspectiva Wesleyana-Arminiana74 assinado por Justin Taylor. Sendo mais um

exemplo de que o campo evangélico estava sentindo o crescimento da fé reformada em seu

meio, o que Taylor chamou de ressurgimento75 (2008).

A partir de 2009 encontramos o assunto sendo tratado em grandes veículos da mídia

secular (não religiosa). Em janeiro o The New York Times (TNWT) publicou a matéria Em

Quem Jesus daria uma queda?76, assinada por Molly Worthen. Trata-se de uma entrevista a

Mark Driscoll, pastor da Igreja Mars Hill em Seattle, junto à repercussão sobre seu até então

curioso caso de sucesso evangelístico numa das cidades menos religiosas do país. Além de

comentar sobre seu estilo despojado, o gosto por indie rock, sua coragem em tratar de tabus

na igreja, o uso de uma linguagem as vezes até mesmo agressiva, características não

convencionais, mas que não são necessariamente novidade no meio, é frisado o seguinte:

“Mas o que há de novo em Driscoll é que ele ressuscitou uma espécie de “fogo e enxofre” que

a maioria dos americanos presume que morreu com os puritanos: o Calvinismo, uma teologia

que faz Pat Roberton parecer tímido e carinhoso77” (WORTHEN, 2009). Driscoll e seus pares

foram chamados de novos calvinistas78 e sua fé de Novo Calvinismo79 (WORTHEN, 2009).

Em março, a TIME MAGAZINE publicou a série 10 Ideias que Estão Mudando o

Mundo Neste Momento80, dedicando uma matéria para cada ideia. A terceira matéria foi O

Novo Calvinismo, assinada por David Van Biema. Nesta é dito: “O Calvinismo está de volta,

e não apenas musicalmente. A resposta de João Calvino no século XVI aos excessos do

catolicismo medieval em coisas como a venda de indulgências para do purgatório, é o mais

novo caso de sucesso do Evangelicalismo81” (BIEMA, 2009). O autor lembra que

73 Nossa tradução de “Young, Restless, Reformed. A journalist’s Journey with the new calvinists”. 74 Nossa tradução de “Two Cheers for the Resurgence of Calvinism in Evangelicalism: A Wesleyan-Arminian

Perspective”. 75 “resurgence”. 76 Nossa tradução de “Who Would Jesus Smack Down?”. 77 Nossa tradução de “But whatis new about Driscoll is that he has recurrected a particular strain of fire and

brimstone, one that most Americans assume died out with the Puritans: Calvinism, a theology that makes Pat

Robertson seem warm and fuzzy”. 78 Nossa tradução de “New Calvinists”. 79 Nossa tradução de “New Calvinism”. 80 Nossa Tradução de “10 Ideas Changing the World Rigth Now”. 81 Nossa tradução de “Calvinism is back, and not just musically. John Calvin's 16th century reply to medieval

Catholicism's buy-your-way-out-of-purgatory excesses is Evangelicalism's latest success story”.

90

No 1700, o pregador puritano Jonathan Edwards conferiu ao calvinismo um

misticismo quase que arrebatador. Contudo, o movimento logo foi

ultrapassado nos EUA por outros como o Metodismo que destacavam a

vontade humana. Instituições descendentes dos calvinistas como a Igreja

Presbiteriana (EUA) passaram a se preocupar com outras questões, enquanto

ocorreu um enfraquecimento da preocupação com a rigidez doutrinária – e o

sucesso de um Jesus amigão e meio bobo – parecia relegar a pregação

reformada (sinônimo de calvinista) à algumas velhas igrejas sulistas82

(BIEMA, 2009).

Respondendo à questão anterior e trazendo uma reviravolta à história, Biema afirma:

“Não mais”83 (2009), e continua, trazendo que a energia e a paixão do mundo evangélico se

encontram com novos calvinistas como John Piper, o irreverente Mark Driscoll e Albert

Mohler, chefe do Southern Baptist Theological Seminary, maior seminário da gigante

Convenção Batista do Sul. Continua o desenho do cenário falando do esgotamento da Bíblia

de estudo ESV de orientação calvinista e que “blogs reformados como Between Two Worlds

estão entre os links mais badalados da cibercristandade84” (BIEMA, 2009).

Em julho de 2009 o inglês THE TIMES publicou a matéria Calvino: Ainda relevante

500 anos depois. Conheça os novos calvinistas, uma geração de jovens evangélicos sedentos

em voltar aos princípios básicos da Bíblia85. A repercussão do fenômeno prossegue,

especialmente no meio evangélico. Por exemplo, em setembro a Christianity Today retorna ao

tema com o texto João Calvino jovem de novo: Por que o reformador continua cativando

seguidores mesmo 500 anos depois?86 (GEORGE, 2009). Em dezembro The Christian

Century publicou Calvino está de volta? O reformador irresistível: O reformador

irresistível87 (BILLINGS, 2009). Em 2010 The Christian Science Monitor publicou o texto Fé

Cristã: O Calvinismo está de volta88 (BUREK).

Passados já cinco anos da entrevista com Driscoll, o The New York Times retorna ao

tema em 2014 com a matéria Evangélicos se encontram no meio de um avivamento

calvinista89, assinada por Mark Oppenheimer. O autor inicia o texto apresentando o

82 Nossa tradução de “In the 1700s, Puritan preacher Jonathan Edwards invested Calvinism with a rapturous near

mysticism. Yet it was soon overtaken in the U.S. by movements like Methodism that were more impressed with

human will. Calvinist-descended liberal bodies like the Presbyterian Church (U.S.A.) discovered other

emphases, while Evangelicalism's loss of appetite for rigid doctrine — and the triumph of that friendly, fuzzy

Jesus — seemed to relegate hard-core Reformed preaching (Reformed operates as a loose synonym for

Calvinist) to a few crotchety Southern churches”. 83 “No more”. 84 Nossa tradução de “Reformed blogs like Between Two Worlds are among cyber-Christendom's hottest links”. 85 Nossa tradução de “Calvin: Still hot at 500. Meet the New Calvinists, a generation of young Evangelicals

thirsting for back-to-Bible basics”. 86 Nossa tradução de “John Calvin Comeback Kid: Why the 500-years-old Reformer retains na enthusiastic

following today”. 87 Nossa tradução de “Calvin’s comeback? The irressisible Reformer: The iresistible Reformer”. 88 Nossa tradução de “Christian Faith: Calvinism is back”. 89 Nossa tradução de “Evangelicals Find Themselves in the Midist of a Calvinist Revival”.

91

Calvinismo como a “teologia das tulipas” (OPPENHEIMER, 2014). É dito que pregadores de

mega igrejas como John Piper, Tim Keller e Mark Driscoll são calvinistas; que se percebe

uma maior participação de cristãos entre vinte e trinta anos em conferências e igrejas

reformadas; que numa pesquisa realizada em 2012 com mil e sessenta e seis pastores da

Convenção Batista do Sul, obteve-se que trinta porcento consideravam suas igrejas calvinistas

enquanto cerca de sessenta porcento estavam preocupados com o impacto do Calvinismo. É

lembrado que a Igreja Presbiteriana (EUA) é assumidamente calvinista, mas que “nos últimos

30 anos ou mais, os calvinistas ganharam destaque em outros ramos do protestantismo e em

igrejas que costumavam se preocupar pouco com a teologia90” (OPPENHEIMER, 2014).

Entrevistado por Oppenheimer, o pastor calvinista Mark Dever, autor do best-seller 9

Marcas de uma Igreja Saldável (2007), publicado originalmente em 1997, lembra que em sua

admissão para pastorear a Igreja Batista Capitol Hill em 1994, avisara aos contratantes sobre

sua fé calvinista, precisando explicar o que isso significava em seguida. O pastor ainda

lembrou que no início “cerca de 130 membros compareciam aos domingos, e sua média de

idade era de 70 anos. Hoje, a igreja recebe cerca de 1.000 fiéis, com uma idade média de 30

anos91” (OPPENHEIMER, 2014).

Repercussões, muitas vezes controvertidas, prosseguem entre os evangélicos

calvinistas e não calvinistas seja em pequenos textos ou mesmo em livros. Por exemplo: Em

2013 o pastor britânico Jeremy Walker lança o livro Considerações sobre o Novo Calvinismo:

Uma avaliação pessoal e pastoral92. Já T. Moore, em crítica à Piper e ao chamado novo

Calvinismo, escreve o breve texto John Piper sobre o câncer: Como o Novo Calvinismo

transforma Deus em seu próprio inimigo93 (2014). Ainda em 2014 o arminiano Austin Fisher

publica o livro Jovem, inquieto, mas não reformado: Buracos Negros, Amor e uma Jornada

para Dentro e para Fora do Calvinismo94. Neste ano o próprio Piper escreve o breve texto O

Novo Calvinismo e a Nova Comunidade95, publicado no site de seu Ministério DesiringGod.

Já em 2017 é publicado o livro Novo Calvinismo: Uma Nova Reforma ou Modismo

Teológico?96 (BUICE, et al.), uma compilação de cinco textos, sendo um deles escrito pelo

90 Nossa tradução de “in the last 30 years or so, Calvinists have gained prominence in other branches of

Protestantism, and at churches that used to worry little about theology”. 91 Nossa tradução de “about 130 members attended on Sundays, and their average age was 70. Today, the church

gets about 1,000 worshipers, with an average age of 30”. 92 Nossa tradução de “The New Calvinism Considered: A Personal and Pastoral Assessment”. 93 Nossa tradução de “John Piper on Cancer: A Case-study in How New Calvinism Makes God into God’s Own

Enemy”. 94 Nossa tradução de “Young, Restless, No Longer Reformed: Black Holes, Love, and a Journey In and Out of

Calvinism”. 95 Nossa tradução de “The New Calvinism and the New Comunity”. 96 Nossa tradução de “New Calvinism: New Reformation or Theological Fad?”.

92

evangelista e pregador Paul Washer (1961) um dos principais nomes do ressurgimento

calvinista nos Estados Unidos e de sua divulgação em outras partes do mundo.

Mesmo no ambiente acadêmico, seja protestante ou não, encontramos produções

sobre o crescimento da fé reformada, as quais se somam ao conjunto de fontes que indiciam o

fenômeno. Já em 2008, no periódico acadêmico Presbyterion, ligado à Presbyterian Church

in America (PCA) é publicado um texto escrito pelo teólogo Kenneth Stewart

problematizando alguns pontos dos livros Jovem, Inquieto, Reformado (HANSEN, 2008) e

Pegue a Visão: Raízes do Renascimento Reformado97 (MURRAY, 2007). Stewart aponta que

o livro de Hansen traça um crescimento do Calvinismo nos Estados Unidos a partir da década

de 1990, enquanto que Pegue a Visão apresenta uma espécie de renascimento da fé reformada

no Reino Unido que remontaria a década de 1970, especialmente com a notoriedade do pastor

anglicano Dr. Martin Lloyd-Jones (1899-1981). O autor critica os dois livros por não tratarem

de uma possível participação do Presbiterianismo norte americano nos referidos fenômenos

(STEWART, 2008). Seis anos depois, no mesmo periódico o autor comenta o livro

Considerações sobre o Novo Calvinismo, escrito pelo pastor Jeremy Walker em 2013

(STEWART, 2014).

A expansão do Calvinismo no Evangelicalismo estadunidense é abordada também no

Brasil. Em 2009 o teólogo e pastor presbiteriano Leandro Lima apresentou a dissertação de

mestrado em Ciências da Religião pela Universidade Presbiteriana Mackenzie sob o título

Uma Análise do chamado “Novo Calvinismo”, de seu Relacionamento com o Calvinismo e de

seu Potencial para o Diálogo com a Contemporaneidade, tratando somente do caso

estadunidense. Ainda em ambiente acadêmico encontramos o trabalho de George Gunn

apresentado em 2015 para obtenção do título de Ph.D. em Teologia pelo Tyndale Theological

Seminary intitulado Novo Calvinismo: Uma avaliação Teológica98. Por fim, datada de 2016,

trazemos a tese de Brad Vermurlen para obtenção do título de Ph.D. em Sociologia pela

University of Notre Dame (universidade católica estadunidense) sob o título Ressurgimento

Reformado: Uma Análise Teórica da Força (e Fraqueza) do Campo Religioso na

Modernidade Avançada99, trazendo novamente o termo ressurgimento.

De textos jornalísticos à trabalhos acadêmicos, recorrentemente encontramos a fé

calvinista em ascensão sendo representada sobretudo como uma antiga teologia sobre

salvação e relacionamento com Deus, embasada na pecaminosidade humana, na soberania

97 Nossa tradução de “Catch the Vision: Roots of Reformed Recovery”. 98 Nossa tradução de “New Calvinism: A Theological Evaluation”. 99 Nossa tradução de “Reformed Resurgence: A Field-Theoretic Analysis of Religious Strength (and Weakness)

in Advanced Modernity”.

93

divina e na proeminência de sua glória. A qual se apresenta como crítica ao Evangelicalismo

contemporâneo, especialmente nos aspectos em que este diverge dos fundamentos

reformados, e como dotada de uma maior robustez doutrinária, distinguindo-se assim de seus

pares protestantes (HANSEN, 2006, 2008; TAYLOR, 2008; WORTHEN, 2009; BIEMA,

2009; GEORGE, 2009; LIMA, 2009; BILLINGS, 2009; BUREK, 2010; WALKER, 2013;

OPPENHEIMER, 2014; MOORE, 2014; FISHER, 2014; GUNN, 2015; VERLURMEN,

2016; BUICE, et al., 2017).

Quanto a seu caráter soteriológico tomemos alguns exemplos, como o texto da TIME

que abordou as crenças num Deus soberano, na pecaminosidade humana e destacou a

predestinação (BIEMA, 2009). Como a reportagem do TNYT de 2009 que trouxe a

depravação total, a eleição incondicional e a ideia de que a salvação não está nas mãos do

homem (WORTHEN). E, a matéria de 2014 do mesmo jornal que chamou o Calvinismo de

teologia das tulipas (OPPENHEIMER). Análises acadêmicas também destacaram o foco na

soteriologia como elemento protagonista do Calvinismo emergente. Para Lima é a firme

defesa dos cinco pontos que liga o novo ao que ele chama de Calvinismo clássico (2009, p.

36). Gunn incluiu os termos “dortiano100”, em alusão ao Sínodo de Dort, e “foco

soteriocrêntrico101” para compor uma representação do chamado Novo Calvinismo (GUNN,

2015, p. 8-9).

Sobre o caráter de crítica e distinção da fé calvinista em expansão diante do

Evangelicalismo, o mesmo texto da TIME fala de uma busca por solução à deriva espiritual

do meio evangélico e que este vive tempo difíceis (BIEMA, 2009). Enquanto a reportagem do

TNYT afirma que

Esse foco na pecaminosidade difere muito do evangelicalismo popular nos

últimos anos. Isso vai contra os pregadores do “evangelho da prosperidade”,

que insinuam que a fé pode tornar alguém rico. Não se parece em nada com

as afirmações alegres de pregadores e autores como Joel Osteen, que tratam

a Bíblia como um livro de autoajuda ou um guia para melhores negócios102

(OPPENHEIMER, 2014).

Quanto à confiança reformada em sua maior robustez teológica e concordância com a

Bíblia em relação ao Evangelicalismo, utilizemos como exemplo a afirmação do proeminente

calvinista Albert Mohler em entrevista à TIME, de que “No momento em que alguém começa

100 Nossa tradução de “dortian”. 101 Nossa tradução de “soteriocentric focus”. 102 Nossa tradução de “That focus on sinfulness differs from a lot of popular evangelicalism in recent years. It

runs contrary to the “prosperity gospel” preachers, who imply that faith can make one rich. It sounds nothing like

the feel-good affirmations of preachers and authors like Joel Osteen, who treat the Bible like a self-help book, or

a guide to better business”.

94

a definir o [ser ou ações] de Deus biblicamente, essa pessoa é atraída para conclusões que são

tradicionalmente classificadas como calvinistas103” (MOHLER apud BIEMA, 2009). E, que

na revista Christianity Today se encontra que o ressurgimento reformado supriu a procura dos

jovens cristãos conservadores “por uma doutrina pesada enfatizando a soberania de Deus e a

depravação humana, e poderosas pregações de pessoas como John Piper, CJ Mahaney e Tim

Keller104” (s/d)105.

Em sua dissertação, Lima alega que o meio protestante estadunidense tem sido muito

influenciado por doutrinas como a teologia da prosperidade, que contribuiria para a formação

de um ideal evangélico mais voltado à oferta e procura por sucesso e satisfação pessoal nesta

vida terrena. E, pelo teísmo aberto, defensor que Deus se autolimita para não saber nem

determinar o futuro, prezando pela liberdade do homem. O que colaboraria com a noção de

uma divindade mais frágil. Lima apresenta o denominado Novo Calvinismo como distinto e

crítico dos rumos do Protestantismo estadunidense influenciado por tais ideias, justamente por

possuir princípios doutrinários contrários às teologias supracitadas, e que são propostos como

mais consistentes e fiéis à Bíblia pelos calvinistas (LIMA, 2009, p. 73-78).

Em relação ao conteúdo doutrinário, não há algo de substancialmente novo no

Calvinismo em expansão. De conteúdos mais simples como encontrado nas mensagens do

então famoso Driscoll aos mais profundos como a ideia do hedonismo cristão desenvolvida

por Piper, resumida na assertiva “Deus é mais glorificado em nós quando estamos mais

satisfeitos nele”. Do ímpeto evangelista de Paul Washer, missionário por cerca de dez anos no

Peru, à fecunda produção de R. C. Sproul (1939-2017), se encontram os mesmos fundamentos

doutrinários da fé reformada elencados mais acima.

O que há de novo é justamente o recente sucesso de expansão do Calvinismo após

cerca de duzentos e cinquenta anos de ostracismo no campo. Um peculiar êxito na recepção e

reprodução da mensagem calvinista entre jovens evangélicos, fazendo-a alcançar algum nível

de relevância no meio novamente. Isso ocorre junto à utilização massiva da Internet como

meio divulgador e multiplicador da boa nova reformada, ambiente mui habitado por jovens e,

em muitos casos valendo-se de um estilo visual e/ou linguístico mais adequadamente

contemporâneo, seja pela clareza de Tim Keller (1950), pela firmeza de Washer ou a poesia

de Piper. Destarte, tal fenômeno é chamado de “ressurgimento reformado” por Vermurlen em

103 Nossa tradução de “The moment someone begins to define God's [being or actions] biblically, that person is

drawn to conclusions that are traditionally classified as Calvinist”. 104 Tradução nossa de “for heavy doctrine emphasizing God’s sovereignty and human depravity, and powerful

preaching from the likes of John Piper, C. J. Mahaney, and Tim Keller”. 105 Calvinism. In: Christianity Today. s/d. Disponível em:

<https://www.christianitytoday.com/ct/topics/c/calvinism/>. Acessado em 12, set. 2021.

95

sua tese (2016). O qual parece remontar à no máximo a década de 1990, sendo percebido com

mais segurança a partir dos anos 2000.

3.1.1 Possíveis expansões calvinistas em diferentes países.

Ao passo em que se fala de um ressurgimento reformado nos Estados Unidos,

também encontramos repercussões que apontam para possíveis diferentes expansões do

Calvinismo ao longo dos séculos XX e XXI, em países como Inglaterra, Canadá, Coreia do

Sul, China e Brasil. Sendo que cada possível expansão possuiria suas particularidades, como

período, dimensão, contextos social e religioso. Por exemplo, no caso da Inglaterra, o já

citado livro Pegue a Visão106 de 2007, busca apontar uma espécie de redescoberta da fé

reformada a partir da década de 1970 (MURRAY).

No Canadá, por meio do periódico Direction, os irmãos menonitas (grupo

protestante, descendente dos anabatistas) analisam e alertam sobre o crescimento da fé

calvinista entre seus integrantes em textos como “A ascensão do Novo Calvinismo entre os

Irmãos Menonitas Canadenses107” (PENNER, 2013), “Uma aliança para a pequenez?

Anabatismo e o Evangelho do Novo Calvinismo108” (SIEGRIST; WIEBE, 2013) e “Novo

Calvinismo: Uma bibliografia selecionada109” (FROESE, 2013). Já na Coreia do Sul,

considerando católicos e protestantes, o percentual de cristãos passou de 1% da população em

1900 para cerca de 30% em 2010. Apesar do protagonismo pentecostal, o Presbiterianismo

originariamente calvinista é um segmento significativo entre seus evangélicos, contabilizando

cerca de quatro milhões de membros entre as seis wmaiores denominações presbiterianas da

Coreia capitalista (BURNAND, 2009; UNISINOS, 2014; CPAJ, s/d).

Quanto à China, encontramos textos jornalísticos e acadêmicos que tratam de um

crescimento do Calvinismo por lá, geralmente associado a ambientes em ascensão como o

urbano, o universitário e a classe média com maior poder aquisitivo. O inglês The Guardian

publicou em 2009 a matéria “O Calvinismo chinês floresce110” afirmando que as igrejas

calvinistas “esperam se tornar a religião da elite”111 (BROWN, 2009). No site do

departamento sobre religião da University of Edimburgh (Escócia) publicou-se em 2014 o

texto “Novo Calvinismo na China?112” assinado por Alexander Chow, em que se argumenta

106 Nossa tradução de “Catch the Vision”. 107 Nossa tradução de The Rise of New Calvinism Among Canadian Mennonite Brethren. 108 Nossa tradução de A Coalition to Small? Anabaptism and the New Calvinism Gospel. 109 Nossa tradução de New Calvinism: A Selected Bibliography. 110 Nossa tradução de “Chinese Calvinism Flourishes”. 111 Nossa tradução de “they hope to become the religion of the elite”. 112 Nossa tradução de “New Calvinism um China?”.

96

contrariamente à suposição de haver uma relação entre o ressurgimento vivenciado nos

Estados Unidos e o Calvinismo chinês. Em 2016, o mesmo autor publicou em seu site o texto

“A Ascensão do Calvinismo na China de Hoje: Cinco Razões113”. Já em 2019, foi publicado o

artigo “A Ascensão do Cristianismo Calvinista Durante a Urbanização da China114” no

periódico acadêmico Religions, assinado por Jie Kang. No caso do Brasil, diferentemente do

propalado fenômeno chinês e semelhante ao provável caso canadense, a expansão do

Calvinismo em nosso campo evangélico é um fenômeno deveras conectado com o

ressurgimento reformado nos Estados Unidos, conforme veremos a seguir.

3.2 A EXPANSÃO DO CALVINISMO NO CAMPO EVANGÉLICO BRASILEIRO NAS

DÉCADAS DE 2000 E 2010.

Como vimos, a presença histórica de uma teologia propriamente calvinista no campo

evangélico brasileiro, especialmente no aspecto soteriológico, embora escassa é real.

Semelhantemente, sua influência no desenvolvimento de uma representação doutrinária

genérica do Protestantismo nacional foi diminuta (p. 55-86). Assim, é possível encontrar

ambientes de circulação e divulgação de conteúdos distintamente reformados, apesar de

relativamente minoritários e espaçados ao longo dos cerca de cento e setenta anos de

Evangelicalismo contínuo no Brasil.

No ambiente presbiteriano, encontramos uma presença real de distintivos

doutrinários calvinistas, especialmente nos seminários e púlpitos, embora esta seja de mais

difícil mensuração entre a membresia geral. A dimensão de tal presença parece ser alvo de

disputa, podendo ser superestimada por alguns presbiterianos como Carmo (2010) que

levariam mais em consideração o caráter confessional da IPB que impõe aos membros a

subscrição de seus símbolos de fé, considerando que isto de fato representaria as crenças de

seus membros. Enquanto isso, tal presença é criticada e minimizada por outros pesquisadores

como Leonard (2014) e até mesmo subestimada por Mendonça (1990; 2008), os quais

enxergam uma assimetria entre a oficialidade da fé subscrita e a realidade das fés cridas e

praticadas.

Ao longo do 1900, a imprensa e as editoras por meio de jornais, revistas e livros

estiveram (e ainda estão) entre os principais meios e instrumentos divulgadores da fé

evangélica no Brasil. Entre as principais editoras de orientação calvinista no período, cuja

quantidade, tamanho e volume de publicações também sinalizam sua presença minoritária e

113 Nossa tradução de “The Rise of Calvinism in China Today: Five Reasons”. 114 Nossa tradução de “The Rise of Calvinist Christianity in Urbanising China”.

97

espaçada, temos alguns exemplos, como a Casa Publicadora Presbiteriana inaugurada em

1948, depois Casa Editora Presbiteriana, hoje conhecida como Editora Cultura Cristã

(MARRA, s/d).

Em 1962, o teólogo e missionário Russell Shedd (1929-2016) iniciou no Brasil as

Edições Vida Nova, pouco após tê-la fundado em Portugal. Ainda na década de 1960 é criada

a Editora Fiel pelo casal de missionários estadunidenses Richard (1927-2013) e Pearl Deham

(1927-2016). Segundo Shedd, somente na década seguinte em 1976 a Vida Nova publica a

primeira Bíblia evangélica de estudos em português. Já em 1977 o missionário irlandês

William “Bill” Barkley, após ter fundado a Biblioteca Evangélica do Brasil, a primeira aberta

ao público, fundou a editora Publicações Evangélicas Selecionadas (PES), disponibilizando

livros de autores como Lloyd-Jones, Spurgeon, John Owen e Richard Baxter. Tais

empreendimentos frequentemente justificaram suas existências pela necessidade de boa

literatura evangélica em português e sua carência no campo brasileiro (SHEDD, s/d;

DENHAM III, s/d; FERREIRA, 2020).

Já na dá década de 1980 encontramos empreendimentos como a Editora Clássicos

Evangélicos que publicou sete livros em sua existência e, em seguida o Projeto Os Puritanos

que, entre outras coisas, publica livros calvinistas (KNOX PUBLICAÇÕES, 2006; OS-

PURITANOS, 2014). Somente em 1999 a editora presbiteriana Cultura Cristã publicou a

Bíblia de Estudo de Genebra (BEG), sua versão em português do clássico reformado

conhecido como Bíblia de Genebra, publicada por completo pela primeira vez em 1560.

A essa altura, a literatura acadêmica sobre o campo religioso brasileiro

adequadamente apresentara um cenário marcado, por exemplo pelo protagonismo da fé

pentecostal no meio evangélico durante o 1900 e início do 2000. Um cenário aparentemente

adverso à expansão da fé calvinista, cuja presença fora cada vez menos notada com o passar

do tempo. O que pode ser visto em obras como Introdução ao Protestantismo no Brasil de

1990 (MENDONÇA; VELASQUES FILHO), Teogonias Urbanas: O re-nascimento dos

velhos deuses. Uma abordagem sobre a representação religiosa pentecostal de 2001

(PASSOS, Décio) e Protestantismo Tupiniquim: Hipóteses sobre a (não) contribuição

evangélica à cultura brasileira de 2005 (ALENCAR, Gedeon).

Seguindo essa linha e reforçando-a, é icônico o título do artigo O Futuro Não Será

Protestante de Ricardo Mariano, publicado em 1999. O texto não intenta produzir de fato uma

análise prognóstica do campo. No entanto, este, junto à força de seu título pode inspirar o

entendimento de que tal fenômeno, como uma expansão calvinista no Brasil fosse algo

praticamente impensável. No entanto, mais uma vez os ventos da história nos trouxeram

98

surpresas. Seja pela penetração de novos elementos no cenário sociorreligioso como o

crescente uso da Internet e das tecnologias da informação e comunicação (TICs) enquanto

meios e instrumentos propagadores da mensagem religiosa. Seja em também valer-se dos

mesmos e antigos elementos já amiúde esquadrinhados e que conduziam a conclusões como a

de Mariano (1999), para construir novos, diferentes e até inesperados desdobramentos, como

a referida expansão calvinista.

“Às portas” da virada do milênio em 31 de outubro do ano 2000, data em que se

comemora o aniversário da Reforma Protestante, foi fundada a Faculdade Internacional de

Teologia Reformada (FITRef), de início sediada em Belém, por nomes como os

presbiterianos Paulo Anglada, importante também na fundação do Projeto Os Puritanos, e

Solano Portela, autor do livro O que estão ensinando aos nossos filhos? Uma avaliação

crítica da pedagogia contemporânea apresentando a resposta da educação escolar cristã

(2018). Com o propósito de ter seu alcance ampliado, desde o início a faculdade aplicou o

modelo de educação a distância que já se utilizava da Internet (FITREF, s/d).

Em 2001 temos a criação de um pequeno blog (plantena.terra.com.br/arte/Spurgeon/)

de divulgação da fé por parte de Felipe Sabino, de Brasília, cujo título era Jesus Cristo é o

Caminho, a Verdade e a Vida! em alusão ao trecho bíblico de João 14:6115. Sabino já era

evangélico quando aproximadamente em fins da década de 1990 conheceu a fé calvinista por

meio de livros como os de Spurgeon publicados pela PES. Após conhecer parte da literatura

disponível a ele em português, que ainda era diminuta, Sabino aprendeu inglês e iniciou o

trabalho de tradução e divulgação de uma série de obras reformadas para o público brasileiro

(SABINO, s/d; 2017).

Nesse ano, foi formado um pequeno grupo de estudos em Belo Horizonte

encabeçado por nomes como Guilherme de Carvalho, com o intuito de refletir sobre o

progresso científico e a cosmovisão cristã. Mais tarde, em 2006 o grupo se tornaria a

Associação Kuyper para Estudos Transdisciplinares (AKET), deixando patente sua influência

neocalvinista (AKET, 2017).

Em 2002, na Conferência de Evangelismo Jovem116 em Mongomery/Alabama, Paul

Washer proferiu o sermão que ficaria conhecido como Mensagem ou Pregação Chocante. A

pregação tornou-se mais conhecida nos EUA a partir de 2006, ano em que foi publicada no

YouTube, sendo em seguida traduzida para outros idiomas como o português em 2009. A

mensagem de Washer se tornou influente e significativa, mesmo um marco da propagação do

115 “Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim”. 116 Nossa tradução de 2002 Youth Evangelism Conference.

99

evangelho sob o prisma calvinista nos Estados Unidos e em outras partes do mundo, como o

Brasil (WASHER, 2006; 2009; 2010; JUNIOR, 2019). Sua publicação mais antiga no

YouTube: Paul Washer – Shocking Message (full length)117, datada de 26 de novembro de

2006, possui hoje118 (sempre até outubro de 2021) mais de três milhões quinhentas e vinte e

quatro mil visualizações.

De volta ao Brasil, ainda em 2002 fundou-se o Centro de Literatura Reformada

(CLIRE). Como deixado claro no nome, trata-se de uma editora reformada confessional que

se orienta por “As Três Formas de Unidade Das Igrejas Reformadas (A Confissão Belga

1561, o Catecismo de Heidelberg 1563 e Os Cânones de Dort 1619)” (CLIRE, s/d) e que

publica obras de nomes como Douglas Wilson, Thomas Goodwin e Calvino.

Em 2003 Sabino criou o site Monergismo119, organizando e facilitando o acesso a um

notável acervo de material reformado, hoje com mais de quatro mil publicações sobre

variados temas, em diferentes formatos, como escritos, áudios e vídeos. O acervo é composto

especialmente por textos traduzidos do inglês para o português, além de sermões e outros

trabalhos de brasileiros como Augustus Nicodemus Lopes (1954) e Wandislau Gomes. Além

de ser um dos primeiros projetos de divulgação da fé reformada a utilizar-se da Internet, o

Monergismo se tornou um dos mais conhecidos e influentes sites calvinistas do país. As

publicações mais antigas do site encontradas em 2021 datam de outubro de 2004 (SABINO,

s/d).

Em junho de 2004 foi criada a Comunhão Reformada Batista no Brasil (CRBB) em

Petrolândia, no interior de Pernambuco, integrando crentes de diferentes igrejas batistas, os

quais subscrevem a Confissão de Fé Batista de Londres (CFBL) de 1689. Nos anos

posteriores ocorreram congressos da CRBB em Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo

(CRBB, s/d). Já em 2005 foi fundada a Igreja Anglicana Reformada do Brasil (IARB) em

Bragança Paulista, sob liderança do bispo Francisco Buzzo, por achar-se contrária aos rumos

doutrinários adversos à fé reformada que o Anglicanismo brasileiro trilhava junto ao inglês,

especialmente por parte da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB) (IARB, 2021).

Ainda em 2005 foi criada a Faculdade Teológica Reformada de Brasília (FTRB),

reinaugurada em 2012 com a ajuda do Dr. Russell Shedd, e que em 2017 conseguiu ser

117 WASHER, Paul. Paul Washer – Shocking Message (full length). In: Repent and Trust. 26, nov. 2006.

Disponível em: <https://www.youtube.com/results?search_query=shocking+message+paul+Washer>. Acessado

em 21, set. 2021. 118 Os números expostos neste trabalho, como quantidades de inscritos e visualizações se referem às contagens

até outubro de 2021. 119 SABINO, Felipe. Monergismo. Publicado desde 2003. Disponível em: <www.monergismo.net.br>.

Acessado em 14, set. 2021.

100

credenciada e ter seu curso presencial de Teologia autorizado pelo MEC. Já na modalidade

EAD, a FTRB também oferece o curso de Teologia Livre, além de cursos de pós-graduação e

extensão majoritariamente relacionados à teologia por meio da Internet (FTRB, s/d). Ainda

em 2005, foi criada por Paulo Anglada a editora Knox Publicações de linha reformada, cujo

nome alude ao mais famoso reformador da Escócia (KNOX PUBLICAÇÕES, 2006). Em

março desse ano, Sabino criou o Blog Monergismo120 cujo objetivo era “dar informações

adicionais sobre as atualizações do site Monergismo.com e outros assuntos relacionados ao

site” (SABINO, 2005).

Também desse ano datam as criações de sites calvinistas feitos tanto por

proeminentes líderes eclesiásticos, a exemplo de Tempora! Mores!121 de Nicodemus, Portela e

Mauro Meister, como por pastores locais sem fama, além dos criados por crentes comuns que

não possuem cargos em suas igrejas, a exemplo de Cristãos Online posteriormente

modificado para Internautas Cristãos122.

Em 2006 foi criado o blog Bereianos123 por dois membros da IPB, o qual trata de

variados assuntos sob o prisma reformado. O blog disponibiliza uma lista de links reformados

ou que corroboram com o Calvinismo, a qual não pretendia esgotar os projetos calvinistas e

que, segundo os autores, fora feita com criteriosidade e relevância. Assim, são listados: cento

e trinta e três blogs, vinte e cinco sites, quatro sites sobre criacionismo, onze links de editoras,

cinquenta e três de estudos bíblicos e documentos históricos, dezenove de instituições de

ensino teológico, dezoito de mídia incluindo vlogs e podcasts, sete de missões, onze de

músicas, seis de revistas e jornais, oito sites apologéticos, somando duzentos e noventa e

cinco links. A quantidade de links junto à descoberta do período em que os projetos listados

foram criados, encontrando-se majoritariamente nas décadas de 2000 e 2010, sinalizam de

modo mais claro o crescimento da produção e divulgação de conteúdo calvinista por meio da

Internet neste decurso (MARINHO; MONTEIRO, s/d).

Entre os blogs e sites calvinistas surgidos nos primeiros vinte anos do século XXI, os

quais não conseguimos especificar o ano de criação, temos por exemplo: Reforma21124 (antes

iPródigo); Ortodoxia Reformada125; Blogs dos Eleitos126; Reforma Radical127; Revista

120 SABINO, Felipe. Blog Monergismo. 05, mar. 2005. Disponível em:

<monergismo.blogspot.com/2005/03/criao-do-blog-monergismo.html>. Acessado em 15, ago. 121 NICODEMUS, Augustus, PORTELA, Solano, MEISTER, Mauro. Tempora! Mores! Publicado desde 2005.

Disponível em: <http://tempora-mores.blogspot.com/>. Acessado em 05, jul. 2019. 122 Internautas Cristãos. Publicado desde 2005. Disponível em:

<https://www.internautascristaos.com/sobre/quem-somos>. Acessado em 05, jul. 2019. 123 Bereianos. Publicado desde 2006. Disponível em: <bereianos.blogspot.com>. Acessado em 15, set. 2021. 124 Reforma21. s/d. Disponível em: <https://reforma21.org>. Acessado em 20, set. 2021. 125 Ortodoxia Reformada. Disponível em: <http://ortodoxiareformada.com/>. Acessado em 05, jul. 2019.

101

Monergista128; Bispo Ryle129; Rádio Dort130; Martin Lloyd-Jones131; Igreja Batista Reformada

Vida Nova (IBRVN)132; a versão em português do site do Desiring God133, ministério de John

Piper; a versão em português do site 9Marks134, ministério de Marc Dever e Matt Schmucker

e; Guilherme de Carvalho135. O criador do último site, homônimo seu, tem sua produção

influenciada por nomes como Kuyper e Francis Schaeffer, e em 2006 encabeçou a

organização jurídica da Associação Kuyper para Estudos Transdisciplinares (AKET).

Em 2007, enquanto sites e blogs continuam nascendo, a exemplo do Defesa do

Evangelho. Blog do Teófilo Adiel136, o Ministério Fiel, de orientação batista reformada e cuja

editora nasceu na década de 1960, inscreveu seu canal no YouTube, possuindo hoje cerca de

trezentos e trinta e sete mil inscritos e seus vídeos mais de trinta e um milhões cento e

sessenta e oito mil visualizações137. Seu vídeo mais acessado é Sexo oral é pecado? // John

Piper responde (PORTUGUÊS)138. Mui curto e recente, data de 30 de janeiro de 2019 e

possui mais de dois milhões trezentas e cinquenta mil visualizações.

No movimentado ano de 2008 Sabino criou a Editora Monergismo, ampliando a

divulgação da literatura reformada por meio de livros para o público brasileiro. Hoje, a editora

conta com mais de cem títulos em seu catálogo, possuindo uma média de dez lançamentos

anuais (SABINO, s/d). Nesse ano foi criado o blog Voltemos ao Evangelho139 (VE) pelo

jovem Vinícius Musselman Pimentel, de Americana/São Paulo, que conhecera a fé reformada

a partir da Pregação Chocante de Paul Washer, através do YouTube. Divulgando conteúdo

reformado, a exemplo de produções de Piper, Washer e R. C. Sproul com uma aparência

visual jovem e dinâmica, o blog VE de orientação batista calvinista, em pouco tempo se

126 Blog dos eleitos. Disponível em: <http://blogdoseleitos.blogspot.com/>. Acessado em 05, jul. 2019. 127 Reforma Radical. Disponível em: <http://www.reformaradical.hol.es/>. Acessado em 05, jul. 2019. 128 Revista Monergista. Disponível em: <http://revistamonergista.com>. Acessado em 05, jul. 2019. 129 Bispo Ryle. Disponível em: <http://bisporyle.blogspot.com.br/>. Acessado em 05, jul. 2019. 130 Rádio Dort. Disponível em: <http://radiodort.sergiorodrigues.art.br/>. Acessado em 05, jul. 2019. 131 Martyn Lloyd-Jones. Disponível em: <http://www.martynlloyd-jones.com/>. Acessado em 05, jul. 2019. 132 Igreja Batista Reformada Vida Nova IBRNV. Disponível em: <https://ibrvn.com.br>. Acessado em 24,

ago. 2021. 133 Desiring God. PIPER, John. Desiring God. Disponível em: <http://pt.desiringgod.org/>. Acessado em 05,

jul. 2019. 134 9 Marks. DEVER, Mark, SCHMUCKER, Matt. 9Marks. Disponível em: <http://pt.9marks.org/>. Acessado

em 05, jul. 2019. 135 Guilherme de Carvalho. CARVALHO, Guilherme. SOBRE MIM. Disponível em:

<https://guilhermedecarvalho.com.br/sobre/>. Acessado em 05, jul. 2019. 136 Defesa do Evangelho. Blog do Teófilo Adiel. Publicado desde 2007. Disponível em:

<http://adielteofilo.blogspot.com/>. Acessado em 05, jul. 2019. 137 Sobre. In: Ministério Fiel. Disponível em: <https://www.youtube.com/c/MinistérioFiel/about>. Acessado em

16, set. 2021. 138 PIPER, John. Sexo oral é pecado? // John Piper responde (PORTUGUÊS). In: Ministério Fiel. 30, jan. 2019.

Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=KD6I5xmrJKs>. Acessado em 19, ago. 2021. 139 Disponível em: <https://voltemosaoevangelho.com/blog/>. Acessado em 17, set. 2021.

102

tornou o link mais popular do gênero no Brasil. A partir do VE, jovens evangélicos com

crescente acesso à Internet foram apresentados ao evangelho sob o prisma do Calvinismo

(PIMENTEL, 2018).

Ainda em 2008, a Igreja Batista Vida Nova iniciada em 1986 em Florianópolis,

mudou seu nome para Igreja Batista Reformada Vida Nova (IBRVN), afim de melhor

expressar sua orientação doutrinária (IBRVN, 2019). Seu site140 divulga material reformado

como os estudos História da Igreja de 2008, Os Puritanos de 2010 e Doutrina do Chamado de

2011, ministrados em seu Centro de Treinamento Bíblico (CTB) (IBRVN, s/d). Já a Igreja

Pentecostal de Nova Vida (IPNV), sediada no Rio de Janeiro e fundada na década de 1960 por

Roberto McAlister, autoproclamada pioneira do Neopentecostalismo no Brasil e de onde saiu

o jovem evangélico Edir Macedo, mudou seu nome para Igreja Cristã Nova Vida (ICNV). A

denominação também produziu uma Declaração de Fé e Prática de inclinação calvinista,

especialmente quanto à Soteriologia, expressando sua mudança e aproximação teológica com

o Calvinismo. Assim foi em decorrência de seu líder, o bispo primaz Walter McAlister ter

abraçado as doutrinas da graça calvinistas (ICNV, s/d).

No mesmo ano temos o início da Igreja Esperança141 em Belo Horizonte, a qual se

identifica como uma igreja cristã evangélica, de fé reformada e carismática (ESPERANÇA,

s/d), sendo pastoreada pelo já citado Guilherme de Carvalho. Ainda em 2008, o mesmo

encabeçou a criação do L’Abri Brasil, versão do L’Abri (O Abrigo em francês) fundado na

Suíça em 1955 por Francis Schaeffer. O L’Abri é designado como “um centro de estudos que

combina vida em comunidade, hospitalidade e reflexão cristã” (L’ABRI, s/d).

Em 2009, ano da publicação da dissertação de Leandro Lima sobre o Novo

Calvinismo nos Estados Unidos, temos o estabelecimento de novas congregações da Igreja

Anglicana Reformada do Brasil (IARB), num processo de nacionalização da denominação,

além da realização de seu primeiro sínodo (IARB, s/d). Enquanto isso, continuaram surgindo

projetos calvinistas no Brasil a utilizar a Internet para propagação de seus conteúdos, como os

sites 2Timóteo 3.16142, 5 Calvinistas143 e Sim-cessou144. Destacamos a criação do Projeto

140 Igreja Batista Reformada Vida Nova IBRNV. Disponível em: <https://ibrvn.com.br>. Acessado em 24,

ago. 2021. 141 Sua página: Igreja Esperança. Disponível em: <https://www.igrejaesperanca.org.br>. Acessado em 17, set.

2021. 142 2Timóteo 3.16. Publicado desde 2009. Disponível em: <http://2timoteo316.blogspot.com/>. Acessado em 05,

jul. 2019. 143 PORTO, Allen, et al. 5 Calvinistas. Publicado em 31, out. 2009. Disponível em:

<http://5calvinistas.blogspot.com/2009/10/apresentacao.html>. Acessado em 05, jul. 2019. 144 LIRA, Marcel. Sim-cessou. Publicado desde 2009. Disponível em: <http://sim-cessou.blogspot.com/>.

Acessado em 05, jul. 2019.

103

Spurgeon145 que disponibiliza parte da vasta obra do pregador batista do 1800 em português,

nos formatos de texto online e livro, além de informar sobre sermões dublados do pregador

disponíves no YouTube. Encontramos ainda a criação do perfil pessoal no Facebook do

teólogo e filósofo calvinista Jonas Madureira, pastor da Igreja Batista da Palavra em São

Paulo. Seu perfil na rede social possui mais de sessenta mil seguidores146.

Nesse ano foi publicada no YouTube a Pregação Chocante de Paul Washer

legendada para o português por Vinícius Musselman e amigos, a qual atingiu mais de dois

milhões de visualizações até 2017. No entanto, essa primeira publicação não está mais

disponível e seu status consta como privado147 (WASHER, 2006). Em meio a outras, a

publicação mais antiga e acessada da mensagem de Washer disponível hoje em português é a

versão dublada Paul Washer – Pregação Chocante (Dublado) COMPLETO I Inscreva-se no

Canal de 2012, contando com mais de três milhões trezentos e cinquenta mil visualizações,

número próximo aos acessos do primeiro vídeo em inglês de 2006.

Seguindo 2009, temos o início do canal do VE no YouTube148, que possui mais de

cento e oitenta e um mil inscritos e seus vídeos mais de dezesseis milhões quinhentos e

sessenta e três mil visualizações. Seu vídeo mais acessado é John Piper – Faça Guerra149 de

2010, que possui hoje mais de seiscentos e trinta e oito mil visualizações. Os vídeos mais

acessados do canal foram publicados majoritariamente entre 2009 e 2013, entre estes

encontramos a presença maciça de Piper e Washer, além de dois vídeos de Nicodemus

posicionados na segunda e terceira posição entre os mais vistos.

Inicia-se também o canal Josemar Bessa no YouTube, homônimo de seu criador.

Apesar de Bessa postar suas pregações na Igreja Evangélica Congregacional em Jardim da

Luz no Rio de Janeiro onde pastoreia, os vídeos mais acessados do canal são versões dubladas

de textos e sermões de vultosos pregadores do passado importantes à fé reformada, como John

Bunyan, Richard Baxter e John Owen do século XVII; Jonathan Edwards e Georg Whitefield

do século XVIII; Spurgeon e J. C. Ryle do XIX, A. W. Pink e Lloyd-Jones do XX. O canal

possui mais de oitenta e três mil inscritos e nove milhões quinhentas e setenta mil

145 MARCOS, Armando. Projeto Spurgeon. Publicado desde 2009. Disponível em:

<http://www.projetospurgeon.com.br/>. Acessado em 05, jul. 2019. 146 Jonas Madureira. Publicado desde 2009. Disponível em: <https://www.facebook.com/jonasmadureira>.

Acessado em 17, set. 2021. 147 WASHER, Paul. Pregação Chocante (Paul Washer). Traduzido por Vinícius Musselman. Disponível em:

<https://www.youtube.com/watch?v=N5lw809gB94> Publicado em 2009. Acessado em 18, set. 2019. 148 Voltemos ao Evangelho. Publicado desde 2009. Disponível em:

<https://www.youtube.com/user/VoltemosAoEvangelho/featured>. Acessado em 17, set. 2021. 149 PIPER, John. In: Voltemos ao Evangelho. 01, set. 2010. Disponível em:

<https://www.youtube.com/watch?v=BOjTyhGsiUI>. Acessado em 19, ago. 2021

104

visualizações150. O vídeo mais acessado do canal é Pecadores nas Mãos de um Deus Irado! I

Jonathan Edwards (Nova versão)151, sermão clássico do pastor congregacional do 1700 com

mais de quatrocentas e trinta e sete mil visualizações, publicado em 2017.

Foi criado no YouTube o canal Igreja Presbiteriana de Santo Amaro152 que possui

cerca de duzentos e dez mil inscritos e mais de vinte e três milhões de visualizações. Entre

seus trinta vídeos mais acessados, vinte e cinco são do reverendo Augustus Nicodemus,

publicados entre 2013 e 2015. Seu vídeo mais popular é Como Interpretar a Bíblia –

Augustus Nicodemus153 de 2013 com um milhão quatrocentas e três mil visualizações.

Ainda no YouTube foi criado o canal Defesa do Evangelho Oficial154, do pastor

batista Paulo Júnior, líder da Igreja Aliança do Calvário em São Paulo e de notável apresso

pelo ministério de Paul Washer. O canal se tornou o mais popular do Brasil entre os de

inclinação calvinista, hoje com cerca de um milhão seiscentos e setenta mil inscritos e mais de

duzentos milhões de visualizações. Possui dezessete vídeos com mais de um milhão de

acessos, lançados principalmente entre 2009 e 2016155.

Em 2010 realizou-se o censo demográfico pelo IBGE que informaria sobre o

crescimento do Evangelicalismo no Brasil encabeçado pela fé pentecostal, chegando à

quarenta e dois milhões e trezentos mil evangélicos, equivalente à 22,2% da população

(IBGE, 2012). Enquanto isso, mais sites calvinistas continuam surgindo como o Verdade do

Cristianismo156; o VE posta John Piper – Faça Guerra157 (como já visto, seu vídeo mais

popular); e Josemar Bessa cria o canal Spurgeontv158, disponibilizando sermões dublados do

pastor do Tabernáculo Metropolitano da Londres oitocentista, além de mensagens de outros

150 Sobre. In: Josemar Bessa. Disponível em: <https://www.youtube.com/user/JosemarBessa/about>. Acessado

em 18, set. 2021. 151 EDWARDS, Jonathan. Pecadores nas Mãos de um Deus Irado! I Jonathan Edwards (Nova versão). In:

Josemar Bessa. 22, mar. 2017. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=vOrC-8K0RF0>. Acessado

em 18, set. 2021. 152 Igreja Presbiteriana Santo de Santo Amaro. Publicado desde 2009. Disponível em:

<https://www.youtube.com/c/IgrejaPresbiterianadeSantoAmaro/featured>. Acessado em 18, set. 2021. 153 NICODEMUS, Augustus. Como Interpretar a Bíblia – Augustus Nicodemus. In: Igreja Presbiteriana Santo

Amaro. 25, dez. 2013. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=jJ9UUi_36Dc>. Acessado em 18,

set. 2021. 154 Defesa do Evangelho Oficial. Publicado desde 2009. Disponível em:

<https://www.youtube.com/c/defesadoevangelho/about>. Acessado em 19, set. 2021. 155 Sobre. In: Defesa do Evangelho Oficial. Publicado desde 2009. Disponível em:

<https://www.youtube.com/c/defesadoevangelho/about>. Acessado em 19, set. 2021. 156 Verdade do Cristianismo. Publicado desde 2010. Disponível em:

<http://verdadedocristianismo.blogspot.com/>. Publicado desde aproximadamente 2010. Acessado em 05, jul.

2019. 157 PIPER, John. John Piper – Faça Guerra. In: Voltemos ao Evangelho. 01, set. 2010. Disponível em:

<https://www.youtube.com/watch?v=BOjTyhGsiUI>. Acessado em 19, ago. 2021. 158 Spurgeontv. Publicado desde 2010. Disponível em: <https://www.youtube.com/c/Spurgeontv/featured>.

Acessado em 18, set. 2021.

105

pregadores calvinistas importantes, assim como postado em seu canal acima citado.

Spurgeontv possui cerca de cento e cinquenta sete mil inscritos e seus vídeos mais de seis

milhões e duzentas mil visualizações.

Aproximadamente entre 2010 e 2011 o jovem evangélico Yago Martins com cerca de

vinte anos de idade adere a fé reformada, especialmente após conhecer o VE, e tão logo inicia

trabalhos de produção, tradução e divulgação de conteúdo calvinista, principalmente por meio

da Internet, de início participando da equipe do Voltemos ao Evangelho. Em 2012 ele ingressa

no seminário de Teologia, formando-se em 2016 (MARTINS, 2012; 2017a; 2017b). Ainda em

2011 é criada a página do VE no Facebook possuindo mais de setecentos e vinte e oito mil

seguidores159. Também Nicodemus cria seu perfil no Facebook que hoje possui cerca de

quinhentos e trinta e nove mil seguidores160.

Nesse ano, inicia-se o canal no YouTube Igreja Presbiteriana de Pinheiros, com

oitocentos e vinte e oito mil inscritos e mais de cem milhões quatrocentos e oitenta e sete mil

visualizações161. À exceção de duas pregações de Paulo Junior, os sessenta vídeos mais

assistidos do canal são do reverendo presbiteriano Hernandes Dias Lopes, pastor da Primeira

Igreja Presbiteriana de Vitória e apresentador do programa televisivo da IPB Verdade e

Vida162, transmitido em rede nacional pela Band (LOPES, s/da; s/db). O perfil no Instagram

do pastor Hernandes possui mais de um milhão de seguidores163. Entre presbiterianos e

calvinistas, suas mensagens possivelmente são as que alcançam uma melhor receptividade no

meio pentecostal, sinalizando ser ele menos polêmico e mais moderado. Diferentemente de

outros líderes reformados, o destaque aos distintivos doutrinários relacionais do Calvinismo

não parecem ser o cerce das preocupações teológicas de seu ministério. O reverendo

reformado é facilmente identificado com a IPB pelos “outros”, embora não seja identificado

na mesma medida com o Calvinismo que se expandi.

Em 2012 encontramos a criação de sites como Tu porém164; das páginas no Facebook

159 Voltemos ao Evangelho. Publicado desde 2011. Disponível em: <h

ttps://www.facebook.com/VoltemosAoEvangelho>. Acessado em 18, set. 2021. 160 Augustus Nicodemus. Publicado desde 2011. Disponível em:

<https://www.facebook.com/AugustusNicodemusLopes/about_profile_transparency>. Acessado em 18, set.

2021. 161 Igreja Presbiteriana de Pinheiros. Publicado desde 2011. Disponível em:

<https://www.youtube.com/c/IgrejaPresbiterianadePinheiros/videos?view=0&sort=p&flow=grid>. Acessado em

18, set. 2021. 162 Verdade e Vida. Disponível em: <https://verdadeevida.org.br>. Acessado em 18, set. 2021. 163 Hernandes Dias Lopes. hernandesdiaslopes. In: Instagram. Disponível em:

<https://www.instagram.com/hernandesdiaslopes/>. Acessado em 12, out. 2021. 164 Tu porém. Publicado desde 2012. Disponível em: <https://tuporem.org.br/>. Acessado em 05, jul. 2019.

106

Calvino da Depressão165, hoje com mais de setenta e nove mil seguidores; Hernandes Dias

Lopes, perfil do popular reverendo com cerca de oitocentos e quarenta e cinco mil

seguidores166 e; Luiz Sayão167, perfil do pastor batista com vinte e dois mil seguidores. O

perfil no Instagram do pastor Jonas Madureira, criado neste ano, possui mais de cento e trinta

e dois mil seguidores; já o perfil do citado Luiz Sayão na mesma rede social, cujo início não

foi precisado, possui mais de setenta mil seguidores168. Para além da Internet, nesse ano

igrejas de variados tamanhos continuaram surgindo, tais como a Igreja Batista Bom

Samaritano em Teresina Piauí, que subscreve a CFBL de 1689 (SBCB, s/d), e a Igreja Batista

Reformada de São Paulo também subscritora da CFBL de 1689, a qual explica sua origem em

um grupo de sessenta pessoas ter começado “a estudar as antigas e esquecidas "doutrinas da

graça"” (IBRSP). Inicia-se também o efetivo trabalho de “plantação” da Igreja Batista

Reformada da Palavra na cidade de São Paulo, a princípio como um ponto de pregação e

organizada como igreja em 2015. O trabalho foi fomentado pelo Tabernáculo Metropolitano

de Londres, igreja outrora pastoreada por Spurgeon. Segundo afirma: “A Igreja Batista

Reformada da Palavra é o primeiro trabalho Batista distintamente Reformado plantado na

cidade de São Paulo em toda sua história” (IBRP).

Em 2013 temos a criação de sites como Inconformados169, da página Reforma que

Passa!170 no Facebook, outrora mais popular, hoje um grupo privado com cerca de dezessete

mil e duzentos membros. Também a criação do ministério O Estandarte de Cristo (EC)171

que, por meio da Editora O Estandarte de Cristo e de seu site, disponibiliza conteúdo

calvinista, especialmente de orientação batista reformada, por exemplo publicando desde

2014 A Confissão de Fé Batista de 1689 E Um Catecismo Puritano Compilado Por C. H.

Spurgeon (CFBL, 2016). Nesse ano o VE passou a fazer parte do Ministério Fiel e desde 2019

está sob a liderança de Filipe Castelo Branco (VE, s/d).

Ainda em 2013, o tema do ConfraJovem, evento realizado pela Igreja Batista da

165 Calvino da Depressão. Publicado desde 2012. Disponível em:

<https://www.facebook.com/calvinodadepressao/about/?ref=page_internal>. Acessado em 22, ago. 2021. 166 Hernandes Dias Lopes. Publicado desde 2012. Disponível em:

<https://www.facebook.com/hernandesdiaslopes>. Acessado em 18, set. 2021. 167 Luiz Sayão. Publicado desde 2012. Disponível em: <https://www.facebook.com/luizsayao>. Acessado em

18, set. 2021. 168 Luiz Sayão. luizsayao. In: Instagram. Disponível em: <https://www.instagram.com/luizsayao/>. Acessado

em 12, out. 2021. 169 Inconformados. Publicado desde 2013. Disponível em: <http://www.inconformados.blog.br/>. Acessado em

05, jul. 2019. 170 Reforma Que Passa! Publicado desde 2013. Disponível em:

<https://www.facebook.com/groups/Reformaquepassa/about>. Acessado em 22, ago. 2021. 171 Quem somos. In: O Estandarte de Cristo. Disponível em: <https://oestandartedecristo.com/quem-somos/>.

Acessado em 23, ago. 2021.

107

Lagoinha, foi “Faça Guerra”, em alusão ao título do curto e mui acessado vídeo de Piper,

legendado, editado e publicado pelo VE em 2010 (CHAGAS, 2013). Sediada em Belo

Horizonte, a Igreja Batista da Lagoinha é uma denominação carismática não calvinista com

cerca de duzentos projetos, seiscentas unidades e mais de noventa e dois mil membros no

Brasil. Embora sua teologia destoe da fé reformada, a denominação apropriou-se da

mensagem que potencialmente se expandia entre parte importante de seu público: os jovens. E

mesmo pode ter ajudado a divulgá-la (IBL, s/d).

Em 2014 foram criados sites como Electus172, Cessacionismo em Foco173 e os-

puritanos174 do Projeto Os Puritanos. No Instagram foram criados perfis como o de Augustus

Nicodemus com mais de setecentos mil seguidores175, de Yago Martins com mais de cento e

noventa e oito mil seguidores176, de Guilherme de Carvalho com mais de vinte mil

seguidores177, e do Ministério Fiel com mais de cento e vinte e dois mil seguidores178. No

Facebook foi criada a página Arminianismo da zueira179, hoje com mais de trinta e seis mil

seguidores. A qual começa a sinalizar o aumento de divulgação da fé arminiana entre os

evangélicos como consequência da propagação calvinista. Nesse sentido também podem ser

encontrados perfis no Instagram como Arminio Cincero (sic) com mais de trinta e um mil

seguidores180, cujo início não foi precisado. No mesmo ano Yago Martins iniciou seu canal

Dois Dedos de Teologia no YouTube, apresentando conteúdos calvinistas e tratando de

variados temas sob sua ótica, de dom de línguas à Marxismo cultural, da TULIP ao

bolsonarismo, frequentemente mostrando a literatura que embasa suas falas. O canal possui

cerca de seiscentos e sessenta e nove mil inscritos e mais de cinquenta e três milhões de

172 Electus. Publicado desde 2014. Disponível em: <http://blogelectus.blogspot.com/>. Publicado desde 2014.

Acessado em 05, jul. 2019. 173 ROSSINI, Ruth. Cessacionismo em Foco. Publicado desde 2014. Cessacionismo em Foco. Disponível em:

<https://cessacionismoemfoco.blogspot.com/>. Publicado desde aproximadamente 2014. Acessado em 05, jul.

2019. 174 Os Puritanos. Publicado desde 2014. Disponível em: <https://www.os-puritanos.com/>. Publicado desde

aproximadamente 2014. Acessado em 05, jul. 2019. 175 Augustus Nicodemus. augustusnicodemus. In: Instagram. Publicado desde 2014. Disponível em:

<https://www.instagram.com/p/jsoYZ7O2To/>. Acessado em 11, out. 2021. 176 Yago Martins. doisdedosdeteologia. Publicado desde 16, dez. 2014. In: Instagram. Disponível em:

<https://www.instagram.com/doisdedosdeteologia/>. Acessado em 12, out. 2021. 177 Guilherme de Carvalho. guivrc. In: Instagram. Publicado desde 2014. Disponível em:

<https://www.instagram.com/guivrc/>. Acessado em: 11, out. 2021. 178 Ministério Fiel. ministeriofiel. In: Instagram. Publicado desde 13, fev. 2014. Disponível em:

<https://www.instagram.com/ministeriofiel/>. Acessado em 12, out. 2021. 179 Arminianismo da zueira. Publicado desde 2014. Disponível em:

<https://www.facebook.com/arminianismodazueira/?ref=page_internal>. Acessado em 26, ago. 2021. 180 Arminio Cincero. arminiocincero. In: Instagram. Disponível em:

<https://www.instagram.com/arminiocincero/>. Acessado em 12, out. 2021.

108

visualizações181.

Temos ainda a divulgação de músicas do projeto Cantando o Evangelho do

ministério de louvor da Igreja Aliança do Calvário de Paulo Junior, em seu canal no YouTube

Defesa do Evangelho Oficial. Conforme indicado pelo nome, encontramos trechos bíblicos

transformados em canções, como Romanos 8:35, cujo vídeo possui mais de trezentos e

sessenta e sete mil visualizações182; Salmo 118, publicação com mais de duzentos e setenta

mil acessos183; Romanos 5:1-5184; Judas 24-25185; Jeremias 10:6-10186 e Hebreus 4: 14-17187

em que cada um destes vídeos possuem mais de cem mil acessos. Além dessas, outras

músicas que não trechos da Bíblia também foram divulgadas sob a marca Cantando o

Evangelho, apresentadas como fiéis à Sagrada Escritura, como Jesus Minha Paz188 e Diante

do Trono do Alto Deus189.

O movimentado ano de 2015 viu a criação do site Reformai190, das páginas no

Facebook: Dollynho Puritano 3.0191, vindo após umas e antes de outras com o mesmo nome;

Brother Bíblia de um “cristão presbiteriano” com cerca de duzentos e setenta e oito mil

seguidores192; Calvinistas193, com mais de cento e quarenta mil seguidores; Calvinismo da

Zueira194 que chegou a ter duzentos mil seguidores, apesar de a página não existir mais como

181 Sobre. In: Dois Dedos de Teologia. Publicado desde 28, jan. 2014. Disponível em

<https://www.youtube.com/c/doisdedosdeteologia/about>. Acessado em 19, set. 2021. 182 Cantando o Evangelho – Romanos 8:35. In: Defesa do Evangelho Oficial. 28, fev. 2014. Disponível em:

<https://www.youtube.com/watch?v=5mD4hkgbVDU>. Acessado em 26, ago. 2021. 183 Cantando o Evangelho – SALMO 118. In: Defesa do Evangelho Oficial. 17, mar. 2014. Disponível em:

<https://www.youtube.com/watch?v=SZUCy9kOpDw>. Acessado em 19, set. 2021. 184 Cantando o Evangelho – Romanos 5:1-5. In: Defesa do Evangelho Oficial. 26, fev. 2014. Disponível em:

<https://www.youtube.com/watch?v=9rLe6SblaeU>. Acessado em 19, set. 2021. 185 Cantando o Evangelho – JUDAS 24-25. In: Defesa do Evangelho Oficial. 17, mar. 2014. Disponível em:

<https://www.youtube.com/watch?v=iOcpt8kMWjw>. Acessado em 19, set. 2021. 186 Cantando o Evangelho – Jeremias 10:6-10. In: Defesa do Evangelho Oficial. 29, jan. 2014. Disponível em:

<https://www.youtube.com/watch?v=ig1OmEreLgc>. Acessado em 19, set. 2021. 187 Cantando o Evangelho – Hebreus 4: 14-17. In: Defesa do Evangelho Oficial. 28, jan. 2014. Disponível em:

<https://www.youtube.com/watch?v=ocrkdsJHx_I>. Acessado em 26, ago. 2021. 188 Cantando o Evangelho – Jesus Minha Paz. In: Defesa do Evangelho Oficial. 29, jan. 2014. Disponível em:

<https://www.youtube.com/watch?v=97IwCbw3Ors>. Acessado em 26, ago. 2021. 189 Cantando o Evangelho – Diante do Trono do Alto Deus. In: Defesa do Evangelho Oficial. 06, jan. 2014.

Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=jN5GdXPtBeE>. Acessado em 26, ago. 2021. 190 RODRIGUES, Elnatan, MARTINS, Amanda. Reformai. Publicado desde 2015. Disponível em:

<https://reformai.com/>. Acessado em 05, jul. 2019. 191 Dollynho Puritano 3.0. Publicado desde 2015. Disponível em:

<https://www.facebook.com/groups/848947071828089/>. Acessado em 26, go. 2021. 192 Brother Bíblia. Publicado desde 2015. Disponível em: <https://www.facebook.com/brotherbibliaarte>.

Acessado em 19, set. 2021. 193 Calvinistas. Publicado desde 2015. Disponível em: <https://www.facebook.com/groups/CalvinistasOficial/>.

Acessado em 26, ago. 2021. 194 Calvinismo da Zueira. Publicado desde 2015. Disponível em:

<https://www.facebook.com/Calvinismodazueira/>. Acessado em 26, ago. 2021.

109

antes, pois foi transformada em outra; Arminianismo Clássico195 com mais de cinco mil e

duzentos seguidores; o perfil pessoal do reverendo presbiteriano Ageu Magalhães, com vinte

e nove mil seguidores 196; do pastor batista Walter Reggiani com mais de trinta mil

seguidores197 e; do teólogo batista Franklin Ferreira com mais de cento e quarenta e cinco mil

seguidores198. Já o proeminente reverendo presbiteriano Augustus Nicodemus criou seu canal

homônimo no YouTube, hoje com cerca de setecentos e setenta e dois mil inscritos e seus

vídeos mais de cinquenta e dois milhões duzentas e sessenta e cinco mil visualizações199.

Outros empreendimentos musicais de orientação calvinista foram lançados no

YouTube, como o canal da Banda Dort que possui cerca de onze mil inscritos e mais de um

milhão de visualizações200. Por sua vez, o canal do Projeto Sola possui cerca de cento e

setenta e três mil inscritos e mais de vinte e cinco milhões trezentas e sessenta mil

visualizações201. O canal tem ao menos cinco publicações com mais de um milhão de acessos,

com destaque para o vídeo da música Colossenses 1 lançado em 2017 com mais de três

milhões duzentas e cinquenta mil visualizações202.

Percebendo o que vinha ocorrendo no meio evangélico nacional, Jonathas Diniz

publicou no site da Editora Ultimato o texto Os pentecostais estão descobrindo o calvinismo,

repercutindo o crescente e inédito consumo de conteúdo calvinista por parte dos pentecostais

(DINIZ, 2015). O que pode ser colocado como um processo de penetração de elementos da

teologia calvinista em meios pentecostais, promotora de divisões e conflituosas acomodações

entre corpos doutrinários díspares. No início do ano, em entrevista ao blog Teologia

Pentecostal, Geremias de Couto, proeminente pastor assembleiano já havia confirmado ser

calvinista. Dessa forma, possuindo por exemplo, uma Soteriologia diferente da crença original

e majoritária de sua denominação (COUTO, 2015; LOPES, 2019).

Nesse ano, a Casa Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD) lançou uma

195 Arminianismo Clássico. Publicado desde 2015. Disponível em:

<https://www.facebook.com/arminianismoclassico/>. Acessado em 26, ago. 2021. 196 Ageu Magalhães. Publicado desde 07, abr. 2015. Disponível em:

<https://www.facebook.com/RevAgeuMagalhaes/>. Acessado em 17, set. 2021. 197 Walter Reggiani. Publicado desde 07, set. 2015. Disponível em:

<https://www.facebook.com/reggiani.valter>. Acessado em 30, set. 2021. 198 Franklin Ferreira. Publicado desde 23, fev. 2015. Disponível em:

<https://www.facebook.com/ProfFranklinFerreira/about/?ref=page_internal>. Acessado em 23, ago. 2021. 199 Augustus Nicodemus. Publicado desde 2015. Disponível em:

<https://www.youtube.com/c/AugustusNicodemusLopesOficial/about>. Acessado em 19, set. 2021. 200 Biografia. In: Banda Dort. Publicado desde 2015. Disponível em:

<https://www.youtube.com/channel/UCFUmnSMDAJ_284sbYbiC3Ew/about>. Acessado em 26, ago. 2021. 201 Projeto Sola. Publicado desde 2015. Disponível em: <https://www.youtube.com/c/ProjetoSola/about>.

Acessado em 19, set. 2021. 202 PROJETO SOLA, Colossenses 1 – Single I Projeto Sola. In: Projeto Sola. 14, ago. 2017. Disponível em:

<https://www.youtube.com/watch?v=gk7XWCMwO94&list=OLAK5uy_nDjPeCmy7I67sKeWx8XaqCBUviW

XhR8ks&index=8>. Acessado em 26, ago. 2021.

110

compilação de textos de Armínio traduzidos para o português, disposta em três volumes.

Trata-se de uma publicação de caráter inédito para o público evangélico brasileiro, que pela

primeira vez teve acesso à parte da obra do teólogo neerlandês tão influente quanto outrora

desconhecido. O que motivou sua publicação após setenta e cinco anos de existência da

CPAD, conforme dito no site de divulgação da obra foi “a recente ascensão do Calvinismo no

Brasil”. O que é tratado no artigo EM DEFESA DO ARMINIANISMO: Uma análise sobre a

recente ascensão do Calvinismo no Brasil e uma exposição do que ensina, de fato, o

Arminianismo do pastor assembleiano Silas Daniel, lançado na Revista Obreiro da AD e

destacado no site de apresentação das obras de Armínio203 (DANIEL, 2015). Desse artigo

inclusive, originou-se um longo e eloquente debate público de caráter histórico e teológico

entre Silas Daniel e o calvinista Franklin Ferreira pelo Facebook (DANIEL, 2015;

FERREIRA, 2015).

Seguindo os caminhos do mercado editorial, encontramos mais indícios da expansão

calvinista no campo evangélico brasileiro nas décadas de 2000 e 2010. Na segunda edição das

Institutas de Calvino publicada ainda em 2015 pela editora presbiteriana Cultura Cristã, o

texto de apresentação do editor Cláudio Marra afirma:

Não há modo melhor de apresentar a Teologia Reformada, tendo sido esse,

aliás, o próprio objetivo do autor. Havendo a editora Cultura Cristã, nos

últimos dez anos lançado mais livros no Brasil do que o fizera anteriormente

em quase cinco décadas, a Teologia Reformada ganhou espaço e notoriedade

no mercado brasileiro como nunca se vira. Outras editoras acordaram para

esse segmento e passaram também a lançar livros que apresentam e

defendem a Teologia Reformada, infelizmente, porém, ao lado de outros sem

o mesmo compromisso com as Escrituras (MARRA, 2015).

Apontando assim o aumento do público consumidor de conteúdo reformado no país, e

consequentemente da oferta deste conteúdo.

O ano de 2016 também se mostrou movimentado. No Instagram foram criados os

perfis de Tiago Santos, possuindo mais de quinze mil seguidores204, de John Piper com mais

mais de oitenta e três mil seguidores205, e do ministério Defesa do Evangelho Oficial com

mais de duzentos e sessenta e nove mil seguidores206. No YouTube foram postados os

203 Jacó Armínio. Publicado desde 201. Disponível em:

<http://www.editoracpad.com.br/hotsites/obrasdearminio/>. Acessado em 20, jun. 2020. 204 Tiago Santos. prof_tiagosantos. In: Instagram. Publicado desde 2, nov. 2016. Disponível em:

<https://www.instagram.com/prof_tiagosantos/>. Acessado em 12, out. 2021. 205 John Piper. johnstephenpiper. In: Instagram. Publicado desde 14, mai. 2016. Disponível em:

<https://www.instagram.com/johnstephenpiper/>. Acessado em 12, out. 2021. 206 Defesa do Evangelho Oficial. defesadoevangelho.oficial. In: Instagram. Publicado desde 12, jul. 2016.

Disponível em: <https://www.instagram.com/defesadoevangelho.oficial/>. Acessado em 12, out. 2021.

111

primeiros vídeos do Ministério Cantando as Escrituras, depois Cante as Escrituras207 no canal

Dois Dedos de Teologia. Sua primeira música publicada foi Deus em nós208. Também foi

criado o canal Teologueiros, hoje com cerca de duzentos e trinta e sete mil inscritos e mais de

dez milhões e setecentas mil visualizações209. No site da Ultimato, Diniz publicou a segunda

parte de seu texto Os pentecostais estão descobrindo o calvinismo (parte 2) (DINIZ, 2016).

Logo em janeiro foi publicada a Nota Pública Sobre Debates Teológicos Entre

Calvinistas e Arminianos, como uma exortação ao respeito e moderação diante do

acirramento das disputas e debates entre os crentes monergistas e sinergistas vistos na

Internet. A nota foi assinada por trinta e três líderes dos dois espectros doutrinários, entre eles

os calvinistas Augustus Nicodemus, Mauro Meister, Norma Braga e Franklin Ferreira, e os

arminianos Altair Germano, Ciro Ziborbi, José Gonçalves e Paulo Romeiro. A mesma

também foi anuída e publicada por páginas como VE210, Teologia Brasileira211 e Bibotalk212

(LOPES, et al.; 2016). No mês seguinte, foi realizada em Campina Grande/Paraíba, mais uma

edição do Encontro para a Consciência Cristã, evento evangélico interdenominacional que

estimou reunir cerca de noventa mil participantes. O mesmo contou com o painel “Quem

disse que calvinistas e arminianos não se entendem?” para debater o tema citado (G1, 2016;

EISMEAQUI, 2016).

Apesar da demonstração de concórdia entre as diferentes lideranças evangélicas

acerca das tensões entre arminianos e calvinistas e da crítica à postura belicosa nutrida por

crentes leigos encontrada na nota pública. Cinco meses após sua publicação, ocorreu o

polêmico cancelamento da palestra de Nicodemus na CPAD Mega Store, livraria

assembleiana, por conta de protestos de líderes da AD, entre eles Altair Germano, contrários à

presença de um representante do Calvinismo em reduto assembleiano, ou seja, ambiente

pentecostal e arminiano (FOLHA GOSPEL, 2016; O VERBO NEWS, 2016).

Chegado o fim do ano, a maior denominação pentecostal e evangélica do país

207 Cante as Escrituras. Disponível em: <https://canteasescrituras.com.br>. Acessado em 26, ago. 2021. 208 DEUS EM NÓS (God With Us – All Sons & Daughters). In: DDT. 12, jun. 2016. Disponível em:

<https://www.youtube.com/watch?v=u9DH72Atmdw>. Acessado em 26, ago. 2021. Cante as Escrituras.

Disponível em: <https://canteasescrituras.com.br>. Acessado em 26, ago. 2021. 209 Descrição. In: Teologueiros. Publicado desde 2016. Disponível em:

<https://www.youtube.com/c/Teologueiros/about>. Acessado em 20, set. 2021. 210 Nota Pública Sobre Debates Teológicos Entre Calvinistas e Arminianos. In: Voltemos ao Evangelho. 19, jan.

2016. Disponível em: <https://voltemosaoevangelho.com/blog/2016/01/nota-publica-sobre-debates-teologicos-

entre-calvinistas-e-arminianos/>. Acessado em 19, ago. 2021. 211 Nota Pública Sobre Debates Teológicos Entre Calvinistas e Arminianos. In: Bibotalk. 19, jan. 2016.

Disponível em: <https://bibotalk.com/textos/nota-publica-sobre-debates-teologicos-entre-calvinistas-e-

arminianos/>. Acessado em 19, ago. 2021. 212 Nota Pública Sobre Debates Teológicos Entre Calvinistas e Arminianos. In: Teologia Brasileira. 07, ago.

2018. Disponível em: <https://teologiabrasileira.com.br/nota-publica-sobre-debates-teologicos-entre-calvinistas-

e-arminianos/>. Acessado em 19, ago. 2021.

112

publicou a Declaração de Fé das Assembleias de Deus do Brasil, produzida pela CGADB213

em que, dentre outras coisas, se reafirma em tom oficial o caráter arminiano das ADs quanto à

soteriologia. Tal empreendimento, de tornar mais clara e precisa sua identidade doutrinária é

fruto de demandas histórico relacionais de identificação, como a necessidade de distinção

frente às doutrinas reformadas a penetrar em seu meio no presente século (CGADB, 2016).

Enquanto isso, foi criada a Associação Brasileira de Cristãos na Ciência (ABC²) por parte da

AKET, de orientação neocalvinista, apoiada pela Templeton World Charity Fundation

(TWCF) (ABC², s/d).

Temos ainda que foram divulgados pela secretaria executiva do supremo concílio da

IPB uma projeção estatística cobrindo os anos de 2004 à 2016. A mesma mostrou o

considerável aumento de 40% no número de seus membros comungantes entre esses anos,

passando de 360.261 em 2004 para 507.933 em 2016. Lembrando que não é objetivo deste

trabalho empreender análises mais apuradas, criar e pôr à prova hipóteses sobre

acontecimentos específicos como o crescimento da IPB, para melhor compreendê-los. Um

estudo posterior específico sobre isso, careceria por exemplo, da informação quantificada em

âmbito nacional acerca de quantos membros se converteram na IPB e quantos vieram de

outras igrejas por terem se reformado, invés de permanecerem em suas denominações, como

também acontece. Infelizmente, esses dados não foram divulgados e, na verdade, não devem

existir. De qualquer forma é patente que tal crescimento ocorreu concomitantemente ao

período de expansão do Calvinismo e suas “doutrinas da graça” no meio evangélico

brasileiro, destarte participando do conjunto indiciário do fenômeno e da constituição de seu

fato histórico (IPB, 2016).

Em 2017 foram criadas no Facebook as páginas Debate Calvinismo X Arminianismo

(pioneiro)214, com mais de quatorze mil e oitocentos membros, e Pregações Pr. Paulo

Junior215, avulsa ao referido pastor, com mais de cento e setenta mil membros. No Instagram

foram criados os perfis do pastor Franklin Ferreira possuindo mais de cento e vinte e dois mil

seguidores216, da Editora Monergismo com mais de cinquenta mil seguidores217 e do

213 Convenção Geral dos Ministros das Igrejas Evangélicas Assembleias de Deus do Brasil. 214 Debate Calvinismo X Arminianismo (pioneiro). In: Facebook. Publicado desde 2017. Disponível em:

<https://www.facebook.com/groups/104993223606723/about>. Acessado em 26, ago. 2021. 215 Pregações Pr. Paulo Junior. In: Facebook. Publicado desde 2017. Disponível em:

<https://www.facebook.com/groups/1366380560114900>. Acessado em 23, set. 2021. 216 Franklin Ferreira. proffranklinferreira. In: Instagram. Publicado desde 2017. Disponível em:

<https://www.instagram.com/p/BXTTN8fgaqX/>. Acessado em 11, out. 2021. 217 Editora Monergismo. editoramonergismo. In: Instagram. Publicado desde 2017. Disponível:

<https://www.instagram.com/editoramonergismo/>. Acessado em 11, out. 2021.

113

Voltemos ao Evangelho com mais de cento e seis mil seguidores218. Em fevereiro Diniz volta

a repercutir a questão da problemática relação entre calvinistas e pentecostais por meio do

texto Sobre a mania de fazer críticas ao Pentecostalismo. Como sinalizado pelo título, Diniz

é mais um a repreender a postura exacerbadamente crítica nutrida por alguns evangélicos

contra o Pentecostalismo, logo após terem acesso aos primeiros conteúdos calvinistas (DINIZ,

2017).

Em 31 de outubro, no quingentésimo aniversário da Reforma Protestante foi fundada

a Convenção Batista Reformada do Brasil (CBRB). A instituição subscritora da CFBL de

1689 permitiu a união das igrejas que confessam as doutrinas batistas reformadas descritas na

referida confissão, em torno de uma representação e identificação calvinistas (GOMES,

2017). Nesse ano a Editora Monergismo passou por uma reestruturação, tornando-se mais

profissionalizada (SABINO, s/d). Ainda em 2017 Ezequiel Silva apresentou o TCC da

graduação em Teologia pela Faculdade Teológica Batista Equatorial em Belém, intitulado O

Calvinismo em Igrejas Pentecostais: Um estudo sobre o impacto da visão reformada da

soberania de Deus na Igreja Evangélica Assembleia de Deus Ministério Águas Purificadoras

(IEADMAP). Tratando de um caso específico, o trabalho se uni ao conjunto de indícios que

sinalizam o fenômeno. Nesse caso, compondo o caminho das repercussões, especificamente

no campo acadêmico (SILVA, 2017).

Em 2018 foi criada no Facebook a página Calvinista Sincero, hoje com mais de vinte

mil membros219, e o perfil pessoal do teólogo presbiteriano Mauro Meister com mais de

quinze mil membros220. No Instagram o perfil de Calvinista Sincero possui mais de três mil

seguidores221, além disso foi criado o perfil do pastor Paulo Junior com mais de trezentos e

sete mil seguidores222. O teólogo Marcus Paixão criou o Curso de História e Teologia Batista

(CHTB) de caráter reformado, ministrado pela Internet (SBCB, s/db). Na Conferencia Fiel

2018, evento do ministério Fiel, foi lançada a organização cristã Coalizão pelo Evangelho de

orientação reformada, versão brasileira do The Gospel Coalition (TGC), fundada nos Estados

Unidos por Tim Keller e Don Carson em 2005. Seu intento é, de acordo com seus princípios,

218 Voltemos ao Evangelho. vevangelho. In: Instagram. Publicado desde 6, fev. 2017. Disponível:

<https://www.instagram.com/vevangelho/>. Acessado em 11, out. 2021. 219 Calvinista Sincero. In: Facebook. Publicado desde 2018. Disponível em:

<https://www.facebook.com/groups/332046587314821/>. Acessado em 26, ago. 2021. 220 Mauro Meister. In: Facebook. Publicado desde 28, set. 2018. Disponível em:

<https://www.facebook.com/MauroMeister>. Acessado em 17, set. 2021. 221 Calvinista Sincero. calvinistasincero. In: Instagram. Publicado desde 6, jun. 2018. Disponível em:

<https://www.instagram.com/calvinistasincero/>. Acessado em 12, out. 2021. 222 Paulo Junior. pr.paulojunioroficial. In: Instagram. Publicado desde 16, fev. 2018. Disponível em:

<https://www.instagram.com/pr.paulojunioroficial/>. Acessado em 11, out. 2021.

114

influenciar o desenvolvimento de uma cultura ortodoxa no campo evangélico (TGC, s/d;

FIEL, 2018). Em setembro, Diniz publicou no site da Ultimato o texto Reformados ou

Deformados: Deus nos livre da arrogância calvinista, mais uma crítica à postura dos

calvinistas diante de seus irmãos evangélicos (DINIZ, 2018).

Nesse ano o reverendo Augustus Nicodemus, apelidado por jovens calvinistas de

“Tio Nico”, pregou na Igreja Batista da Lagoinha, uma importante representante do meio

evangélico carismático e não reformado. A presença de “Tio Nico” na Lagoinha pode apontar

para sua entrada e recepção em algum nível nesse meio (Igreja da Lagoinha, 2018). Já em

dezembro Nicodemus afirmou em sua conta no Twitter:

Os reformados precisam se preparar para receber as centenas e centenas de

irmãos pentecostais e neopentecostais que descobriram a fé reformada pela

internet e estão vindo cheios de expectativa e esperança para as suas igrejas.

Senão a desilusão deles será grande (NICODEMUS, 2018)

fala que gerou certa polêmica no meio evangélico (SCHWARTZ, 2018).

O bispo Walter McAlister, líder da Igreja Cristã Nova Vida, lançou o livro O

Pentecostal Reformado, no intuito de expressar sua fé à princípio pentecostal, mas que foi se

conformando à alguns princípios doutrinários calvinistas, e de defender a viabilidade de sua

síntese teológica. O livro foi publicado pela editora Vida Nova, criada por Russell Shedd

(2018). Enquanto isso foi estabelecida a Igreja Batista Reformada de Belém sob liderança de

Fernando Angelim. Este conheceu mais a fundo a teologia reformada a partir de 2012, por

meio de uma Conferência Fiel para pastores e líderes, da Escola Teológica Charles Spurgeon

e com um missionário da Heart Cry Society, liderada por Paul Washer (SBCB, s/dc).

Contando com a ajuda da já mencionada Igreja Batista Reformada de São Paulo, liderada por

Valter Reggiani, também foi criada a Igreja Batista Reformada de Francisco Morato em São

Paulo, cujos líderes Josué e Jessé Meninel passaram a aderir ao Calvinismo em 2012 (SBCB,

s/dd).

Ainda em 2018 no Centro Cultural e Histórico do Mackenzie, foi fundado o Instituto

Brasileiro de Direito e Religião (IBDR) com participação de calvinistas como Davi Charles

Gomes entre as lideranças, além da adesão de outros como Franklin Ferreira e Renato

Vargens, cujo perfil no Instagram possui mais de noventa e sete mil seguidores223 (IBDR,

s/d). Em setembro desse movimentado ano, Yago Martins do Dois Dedos de Teologia,

afamado por ser “treteiro”, protagonizou um acalorado debate com o líder conservador Olavo

de Carvalho e seu seguidor Bernardo Küster sobre religião e suas adjacências, no mote das

223 Renato Vargens. renatovargens. In: Instagram. Disponível em:

<https://www.instagram.com/renatovargens/>. Acessado em 12, out. 2021.

115

clássicas diferenças entre Protestantismo e Catolicismo. De qualquer forma, o debate

proporcionou a propagação de algumas visões calvinistas sobre os temas abordados, por meio

dos vídeos: Por Que Não Sou Olavete (Resposta ao Por Que Não Sou “Evangélico”), com

mais de quinhentas e oitenta mil visualizações224, e Pior a Emenda que o Soneto

(Respondendo ao Olavo de Carvalho e ao Bernardo Küster), com mais de trezentas e vinte e

quatro mil visualizações225.

Em 2019, por ocasião de mais um Encontro para Consciência Cristã, Tiago Santos,

editor-chefe da Editora Fiel, concedeu entrevista ao canal Dois Dedos de Teologia,

respondendo à perguntas sobre o mercado editorial evangélico e a presença reformada

neste226. Entre as respostas de Tiago Santos, encontramos algumas falas que se fazem

indiciárias sobre a expansão calvinista no campo evangélico nacional. Ele afirmou por

exemplo: que nos últimos quinze anos viu o nascimento de várias editoras de orientação

reformada; que grandes editoras evangélicas também passaram a publicar obras reformadas e;

que quando ele começou a trabalhar na Fiel (o que parece ter ocorrido em algum momento da

década de 2000) a editora publicava entre quatro e cinco títulos por ano, lançando hoje uma

média de vinte e cinco títulos anuais. Tais falas reforçaram sua afirmação e a de Cláudio

Marra, editor da Cultura Cristã, de haver um notável aumento na publicação de livros

reformados nos últimos anos no país. Ainda, expressando o caráter iniciante do fenômeno,

Tiago lembrou que a maioria desses livros são traduções de obras estrangeiras, e que estas

corresponderiam à cerca de 70% das publicações da Editora Fiel. Contudo, que naturalmente

mais autores brasileiros tem surgido nos últimos anos (SANTOS, 2019).

Nesse ano, navegando pelo site brasileiro da Amazon, uma das maiores varejistas do

mundo, encontramos com certa facilidade a presença da literatura reformada neste. Por

exemplo, em 12 de novembro os livros Lendo a Bíblia de Modo Sobrenatural e Deus deseja

que todos sejam salvos, ambos de John Piper, ocupavam respectivamente as duas primeiras

posições na lista Mais Vendidos em Cristandade Religião e Espiritualidade do site. Nesse dia

também encontramos o livro Ego Transformado do calvinista Tim Keller ocupando a 7ª

posição em Mais Vendidos em Religião e Espiritualidade, lista que abarca variadas

224 MARTINS, Yago. Por Que Não Sou Olavete (Resposta ao Por Que Não Sou “Evangélico). In: Dois Dedos de

Teologia. 10, set. 2018. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=ZVj6efeGYKA>. Acessado em

23, ago. 2021. 225 MARTINS, Yago. Pior a Emenda que o Soneto (Respondendo ao Olavo de Carvalho e ao Bernardo Küster).

In: Dois Dedos de Teologia. 20, set. 2018. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=KXJIfnTJXvI>.

Acessado em 23, ago. 2021. 226 MERCADO EDITORIAL CRISTÃO (com Tiago Santos da Editora Fiel). In: Dois Dedos de Teologia. 15,

abr. 2019. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=22X6g6w9LOQ>. Acessado em 22, ago. 2021.

116

perspectivas e religiões227. Também percebemos que já havia disponível o tópico Calvinismo

dentro da categoria Cristandade no menu do referido site.

Ainda em 2019, o midiático pastor assembleiano Silas Malafaia publicou em seu

canal no YouTube o vídeo Pr Silas Malafaia comenta: Alerta importantíssimo ao povo

pentecostal! sobre a propagação de ideias calvinistas em seu meio, entendida como perigosa

(MALAFAIA, 2019). Enquanto isso, uma matéria do site Gospel mais trouxe que Ciro

Zimbordi, outro pastor da AD, criticou a crescente presença de pregações triunfalistas e

antropocêntricas no meio assembleiano. Ciro também tratou de um possível fluxo de

migração de pentecostais rumo às igrejas reformadas, conforme dito anteriormente por

Nicodemus via Twitter (ZIMBORDI apud CHARGAS, 2019), e finalizou com o seguinte

conselho:

A bem da verdade, estudiosos da Bíblia têm grande dificuldade de

permanecer em igrejas que não pregam a sã doutrina, independentemente do

meio utilizado para isso. Fica aqui um alerta para os líderes pentecostais: se

querem que seus membros permaneçam, devem ter uma Escola Bíblica

Dominical forte, cultos de doutrina em que se apresente, verdadeiramente, a

exposição da doutrina etc. Caso contrário, não poderão se indignar contra a

migração — ainda que em pequena escala — para igrejas reformadas

(ZIMBORDI apud CHARGAS, 2019).

Nesse ano foi publicado pela Revista de Cultura Teológica da PUC-SP o artigo Na

corda bamba: notas introdutórias sobre a adesão ao calvinismo nas Assembleias de Deus no

Brasil, sob autoria de Marcelo Lopes, doutor em Ciências da Religião pela UFJF. O artigo

demostra um início de percepção e repercussão no campo acadêmico sobre o crescimento das

doutrinas calvinistas no meio assembleiano, situação ainda exordial, porém já perceptível

(LOPES, 2019). Enquanto isso, temos que uma igreja batista de Recife iniciada em 2013,

após aproximações com o Calvinismo, passou a subscrever a CFBL de 1689. Mais tarde, em

2021 seu nome passou a ser Igreja Batista Reformada do Recife (SBCB, s/de). Ainda em 2019

e já fora do cenário propriamente religioso, no Instituto Mises Brasil, organização defensora

do liberalismo econômico, Yago Martins ministrou a palestra intitulada Como Vencer o

Olavismo Cultural228, tratando por exemplo, do cenário de polarização política no Brasil.

Em 2020, o último ano da década, temos o início do canal Pastor Rodrigo Mocellin

no YouTube, declaradamente calvinista e contando com cerca de cento e vinte e quatro mil

227 Não que se tratasse de um dia especial. Na realidade este foi o único dia do ano em que resolvi fazer tal

pesquisa. 228 MARTINS, Yago. Como Vencer o Olavismo Cultural. In: Dois Dedos de Teologia. 26, set. 2019. Disponível

em: <https://www.youtube.com/watch?v=SPW2_GRmUvA>. Acessado em 23, ago. 2021.

117

inscritos e mais de seis milhões de visualizações229. O pastor se dispõe a tratar de variados

temas a partir de uma visão que busca se alinhar ao conservadorismo de direita, geralmente de

modo sintético e conclusivo. O pastor calvinista Jonas Madureira foi entrevistado por Luiz

Felipe Pondé em seu canal Democracia na Teia no YouTube. Madureira tratou do tema de seu

livro Inteligência Humilhada na entrevista que hoje possui mais de oitenta e cinco mil

visualizações230.

Enquanto isso, por meio do vídeo PR. SILAS MALAFAIA – UMA RESPOSTA ÀS

ASNEIRAS DO FARISEU PAULO JUNIOR publicado em seu canal no YouTube, Malafaia se

dispôs a responder as críticas do pastor Paulo Júnior aos teólogos da cura e da prosperidade,

por ocasião da pandemia de COVID-19231. Numa pregação transmitida ao vivo pelo YouTube,

Junior havia desafiado os líderes adeptos dessas crenças a se exporem e saírem a curar os

enfermos, e argumentou que a tragédia da pandemia, junto à omissão de tais líderes serviram

para comprovar o engano da teologia da prosperidade e das promessas de cura232.

Nesse ano, Ronilso Pacheco, adepto da teologia negra233, publicou no The Intercept

Brasil a polêmica matéria: Quem são os evangélicos calvinistas que avançam silenciosamente

no governo Bolsonaro: Eles não são barulhentos como os neopentecostais, mas dominam

postos-chave do segundo escalão, como a Capes e a secretaria de direitos humanos.

Enquanto defensor de pautas alinhadas ao espectro político e sociocultural da esquerda,

Pacheco, em tom de denúncia falou de um “avanço reacionário muito mais organizado do que

pensávamos” e citou nomes como por exemplo Benedito Guimarães Aguiar Neto, Franklin

Ferreira e Guilherme de Carvalho (PACHECO, 2020). O texto de Pacheco ainda foi postado

pela página do Núcleo de Estudos Sociopolíticos (NESP) da PUC Minas234. Em resposta,

Guilherme de Carvalho via Twitter apontou uma série de imprecisões no texto de Ronilso,

ironizou: “Tem uma coisa que é verdadeira no artigo: é que um fantasma ronda a esquerda. O

fantasma do Neocalvinismo. Bu pra vocês” (CARVALHO, 2020) e finalizou “Ouçam minhas

229 MOCELLIN, Rodrigo. Pastor Rodrigo Mocellin. Publicado desde 16, abr. 2020. Disponível em:

<https://www.youtube.com/c/PastorRodrigoMocellin/about>. Acessado em 10, out. 2021. 230 O que seria uma inteligência infeliz? I Jonas Madureira. In: Democracia na Teia. 9, ago. 2020. Disponível

em: <https://www.youtube.com/watch?v=TPt55ZGCm10>. Acessado em 23, ago. 2021. 231 MALAFAIA, Silas. PR. SILAS MALAFAIA – UMA RESPOSTA ÀS ASNEIRAS DO FARISEU PAULO

JUNIOR. In: Silas Malafaia Oficial. Publicado em 20, mar. 2020. Disponível em:

<https://www.youtube.com/watch?v=Z09cRpqDv0g>. Acessado em 31, mai. 2020. 232 JUNIOR, Paulo. COVID-19 O Dia da Provação – Pr. Paulo Junior. In: Defesa do Evangelho Oficial. 28,

mar. 2020. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=L7FvBeCNHfE>. Acessado em 10, out. 2021. 233 Teologia construída tendo como ponto de partida ideias como antirracismo e libertação do povo negro. 234 PACHECO, Ronilso. Quem são os evangélicos calvinistas que avançam silenciosamente no governo

Bolsonaro: Eles não são barulhentos como os neopentecostais, mas dominam postos-chave do segundo escalão,

como a Capes e a secretaria de direitos humanos. Publicado em 6, fev. 2020. Disponível em:

<https://nesp.pucminas.br/index.php/2020/02/06/tib-quem-sao-os-evangelicos-calvinistas-que-avancam-

silenciosamente-no-governo-bolsonaro/>. Acessado em 21, ago. 2021.

118

palestras no YouTube. Não se contentem com boatos!” (CARVALHO, 2020). No último ano

da década, temos ainda a inauguração de mais uma editora de orientação calvinista batista: a

ProNobis Editora.

Finalizando nossa trilha histórica indiciária que explorou múltiplos caminhos e

fontes, precisamos lembrar que os indícios aqui registrados não expõem somente a si mesmos,

mas também apontam para a existência de inúmeros outros que não foram documentados.

3.2.1 Conclusão

O Calvinismo vivenciou nas décadas de 2000 e 2010 mais um momento de sua

história, a saber um peculiar florescimento em alguns países do mundo, em especial nos

Estados Unidos e no Brasil. No país anglófono onde outrora foi relevante, porém a muito

vivia à margem da popularidade evangélica, a novidade do crescimento junto às suas

particularidades histórico contextuais, foi enxergada como um ressurgimento calvinista.

No Brasil, a propagação de doutrinas distintivamente calvinistas e sua adesão entre

integrantes do campo evangélico, percebida nas décadas de 2000 e 2010, fez-se um

acontecimento de proporções inéditas nos cerca de cento e setenta anos de Evangelicalismo

no país. O fenômeno ocorreu por diferentes meios, principalmente pela Internet, a qual

propiciou a difusão da mensagem evangélica sob o prisma calvinista através de blogs, sites,

redes sociais e YouTube, numa pluralidade de formatos como em escritos, imagens, áudios e

vídeos.

Tal acontecimento dispôs-se ao longo dos anos, fez perceptível e deixou uma série de

vestígios de sua realidade, transformando-se assim num objeto de estudo possível da ciência

histórica. Entretanto, o caráter quase inexplorado da temática e suas adjacências, e a natureza

pioneira deste trabalho, demandaram que nosso grande objetivo fosse o de averiguar e

comprovar a realidade do fenômeno, conforme requer o processo científico de produção do

conhecimento, geralmente mais demorado. Dessa forma, foi produzida uma base documental

que fornece subsídios e “abre portas” para pesquisas posteriores de diferentes tipos, tanto

acerca do fenômeno em questão, quanto sobre quaisquer outros a este relacionados.

Sua dimensão quantitativa e grau de influência ainda precisam serem mais bem

analisados. Se ainda acontece, está sessando ou continuará a ocorrer, somente o tempo,

adequadamente distanciado, nos mostrará. Entretanto, o que sabemos e podemos mais uma

vez afirmar é: o campo evangélico brasileiro vivenciou uma inédita e mesmo surpreendente

expansão do Calvinismo nas duas primeiras décadas de nosso século. Ainda assim, incluimos

um apêndice que traz um breve exemplo de análise possível acerca de alguns aspectos da

119

representação do Calvinismo crescente no país e da identificação dos calvinistas.

120

CONCLUSÃO

Ainda pouco conhecido no Brasil e geralmente identificado com o Capitalismo ou

com a doutrina da predestinação, o Calvinismo na realidade é um corpo teológico

desenvolvido desde o 1500 pelos integrantes do braço reformado do Protestantismo, cuja

produção de Calvino se fez mestra. O termo Calvinismo pode possuir um sentido um pouco

mais restrito que o de fé reformada, no entanto tais termos se sobrepõem e se confundem ao

longo da história, sendo frequentemente tratados como sinônimos, assim como também aqui o

fizemos.

É uma fé fundamentada por exemplo, na soberania de Deus sobre todas as coisas,

especialmente quanto à salvação do homem, nesse caso expressa pela TULIP; ou em outros

termos, na consciência do domínio divino sobre todos os aspectos da realidade como as

facetas privada e pública da vida humana; também em coisas como a consideração em alta

medida da pecaminosidade humana; a busca pela glória de Deus em detrimento do orgulho do

homem; e um forte senso de identificação com os princípios originais da Reforma

representados pelos cinco solas. Esses fundamentos nortearam o desenvolvimento da

representação doutrinária do braço reformado durante aproximadamente os primeiros

duzentos anos do Protestantismo, especilmente no mundo anglófono.

Quando, porém, a fé protestante aportou definitivamente no Brasil em meados do

1800, vindo principalmente por meio das missões anglófonas, esses fundametos

característicos já não eram protagonistas do corpo teológico genérico e popular do

Evangelicalismo. Pelo contrário, princípios sinergistas desdobrados do Arminianismo e do

Metodismo wesleyano, destoantes do fundamento calvinista da soberania de Deus, sobretudo

na questão soteriológica, haviam se tornado basilares à fé evangélica, enquanto o Calvinismo

encontrava-se à margem do campo protestante, relativamente pouco influente e restrito à

círculos específicos.

Dessa forma, o Protestantismo inserido no Brasil no século XIX já contava com a

diminuta influência dos distintivos doutrinários calvinistas sobre sua representação. Tal

situção continuou durante a expansão evangélica ao longo do século XX, na maior parte do

tempo capitaneada pelo Pentecostalismo, movimento emerso num conjunto doutrinário

sinergista de raízes metodistas pós-wesleyanas.

Apesar do precedente histórico adverso, nos primeiros anos da década de 2000,

iniciou-se um período de notável crescimento da propagação da mensagem evangélica sob a

ótica calvinista no Brasil. O que passou a ocorrer através de diferentes meios, principalmente

121

os disponibilizados pela Internet como blogs, sites, redes sociais e YouTube. A propagação se

ampliou e perdurou ao longo das décadas de 2000 e 2010, produzindo uma infinidade de

vestígios da sua existência. Uma parte desses indícios foi registrada e organizada

cronologicamente, permitindo assim a escrita de algumas das primeiras letras de sua história,

a história da expansão do Calvinismo no campo evangélico brasileiro ao longo das décadas de

2000 e 2010.

Após a comprovação e apresentação do fenômeno, além do fornecimento de alguns

subsídios para eventuais estudos futuros, incluimos ainda como apêndice um breve exemplo

de análise sobre alguns aspectos da representação do Calvinismo que cresce no país e da

identificação dos calvinistas.

122

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147

APÊNDICE A -

QUEM ELES PENSAM QUE SÃO? IDENTIDADE CALVINISTA NO BRASIL

CONTEMPORÂNEO235

Em 2003, no centro-oeste brasileiro, Felipe Sabino cria o site Monergismo236, com o

intuito de divulgar conteúdo calvinista em português, principalmente fruto de traduções de

textos em inglês de proeminentes pregadores reformados237. O criador do Monergismo já era

um cristão evangélico quando descobriu sermões do pregador calvinista inglês Charles

Spurgeon (1834-92). Desde então sua vida cristã mudou, Sabino buscou mais conteúdos

reformados e iniciou um trabalho de tradução e divulgação desses textos pela, ainda não tão

popular, Internet. Além do site, o ministério de Sabino possui a editora Monergismo238 que

publica livros de autores como o filósofo estadunidense Gordon Clark (1902-85).

Aproximadamente em 2006, no sul do país, Vinícius Musselman assiste pela Internet

o vídeo Paul Washer – Shocking Message239, uma pregação do pastor calvinista estadunidense

Paul Washer (1961)240. Junto com outros, Musselman traduz a icônica pregação,

disponibilizando-a no YouTube com legenda em português241. Hoje, tanto a versão original

em inglês como a legendada, possuem mais de dois milhões e meio de views. Em 2008, ele

cria o blog Voltemos ao Evangelho242, também com o intuito de divulgar conteúdo calvinista

pela Internet, instrumento de comunicação cada vez mais popular. Inicialmente, traduzindo

textos de pregadores e teólogos estrangeiros, principalmente estadunidenses, o Voltemos hoje

é tido como o mais popular e influente site calvinista do Brasil. Musselman, também já era

235 O presente texto é um artigo feito para uma disciplina do mestrado em 2019, uma versão um pouco maior foi

publicada no periódico acadêmico Temporalidades. Quem eles pensam que são? Identidade calvinista no Brasil

contemporâneo. In: Temporalidades – Revista de História, Edição 32, v. 12, n. 1, jan./abr. 2020. Disponível em:

<https://periodicos.ufmg.br/index.php/temporalidades/article/view/19223 236 Monergismo. Publicado desde 2003. Disponível em: <http://www.monergismo.net.br/>. Acessado em 18,

set. 2019. 237 A Reforma protestante foi um movimento heterogêneo composto por grupos diferentes, por exemplo, os

luteranos na Alemanha, os anglicanos na Inglaterra e os reformados ou calvinistas na Suíça, Inglaterra e

Holanda. Na França, os huguenotes geralmente eram reformados. Fé reformada é essencialmente sinônimo de

calvinismo, podendo ser usado os dois termos, salvo exceções específicas a partir do século XVII em que

arminianos autoproclamados reformados começam a discordar especialmente de dois dos cinco pontos do

calvinismo referentes a Soteriologia. 238 Editora Monergismo. Publicado desde 2008. Disponível em: <https://www.editoramonergismo.com.br/>.

Acessado em 18, set. 2019. 239 WASHER, Paul. Paul Washer – Shocking Message (full length). In: Repent and Trust. Disponível em:

<https://www.youtube.com/watch?v=uuabITeO4l8>. Publicado em 26, nov. 2006. Acessado em 18, set. 2019. 240 Mensagem pregada em 2002 durante a Conferência Jovem de Evangelismo em Mongomery, Alabama. 241 WASHER, Paul. Pregação Chocante (Paul Washer). Por Paul Washer. Traduzido por Vinícius Musselman.

In: LaneCh. Publicado em 2009. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=N5lw809gB94>.

Acessado em 18, set. 2019. 242 Voltemos ao Evangelho. Publicado desde 2008. Disponível em:<https://voltemosaoevangelho.com/blog>

Acessado em 18, set. 2019.

148

cristão quando aderiu à fé reformada.

Aproximadamente em 2011, no Nordeste, Yago Martins, ainda adolescente, conhece

a fé reformada por meio do blog Voltemos ao Evangelho. Nesse ano ele começa a contribuir

com o blog, fazendo traduções e publicando seus primeiros textos. Assim como os outros,

Yago já era evangélico. Num vídeo de 2017, ele afirma que o Voltemos “foi o instrumento

que Deus usou para tirá-lo do neopentecostalismo, de crenças e posturas erradas acerca do

cristianismo”243. Hoje Yago Martins é pastor, professor e digital influencer, seu canal

reformado no YouTube Dois Dedos de Teologia244, possui mais de quatrocentos mil inscritos.

Esses calvinistas no Brasil contemporâneo não o são por descenderem de outros

calvinistas conterrâneos ou por serem membros de igrejas de tradição reformada no país,

como a IPB. Eles se tornam, se convertem ao Calvinismo, quando já cristãos e vivem uma

espécie de reconversão. Se ocorre uma mudança significativa em como esses evangélicos

veem a fé cristã, isto se dá por eles terem conhecido algo significativamente diferente sobre o

Cristianismo. Esse algo diferente é o Calvinismo e marca uma ruptura mais abrupta no

processo de formação da identidade desses cristãos, que cada vez mais diferenciam-se dos

demais evangélicos com quem antes pareciam ao se identificarem como calvinistas “nós”, em

detrimento dos “outros” não calvinistas, produzindo uma representação do Calvinismo e do

que é um calvinista e, consequentemente, do que não é um calvinista.

Esses projetos de divulgação calvinistas ganham eco, influenciam e se somam a um

número cada vez maior de produtores e consumidores de discursos reformados. Todavia, este

capítulo não tem como foco dimensionar a expansão e participação calvinista no campo

evangélico brasileiro ou de buscar um marco de origem para este. O interesse é conhecer algo

sobre o que é o Calvinismo no Brasil na Contemporaneidade, ou melhor os calvinistas, ou

seja, produzir conhecimento sobre sua identidade. Assim, se fazem presentes equipamentos

teóricos e metodológicos úteis de acordo com os interesses da pesquisa. Tratam-se de

princípios e conceitos que, unidos, contribuem a uma produção adequada de conhecimentos

sobre a identidade calvinista, interesse desta breve empreitada. Uma compreensão da

identidade do grupo que considere sua dinâmica de mudanças e continuidades, de acordo com

as necessidades sociais que se apresentem, ou seja, um conceito de identidade que leve em

conta seu caráter essencialmente histórico, é encontrado na obra do antropólogo social Fredrik

Barth (1928-2016), o que será tratado mais a frente. Tal necessidade em assim tratar o estudo

243 MARTINS, Yago. NÓS NÃO VAMOS PARA! In: Dois Dedos de Teologia. Publicado em 09, ago. 2017.

Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=ydxAim_7OXM>. Acessado em 18, set. 2019. 244 MARTINS, Yago. Dois Dedos de Teologia. Publicado desde 28, jan. 2014. Disponível em:

<https://www.youtube.com/user/doisdedosdeteologia>. Acessado em 18, set. 2019.

149

sobre identidade é defendida pelo cientista social Denys Cuche (1947), o que também

contribui metodologicamente com a pesquisa. Fortalecendo a consciência da historicidade da

identidade, ou melhor, da contínua formação da identidade ou identidade em formação, bem

como de uma leitura de como se dá tal processo, é utilizado o conceito de representação do

historiador Roger Chartier (1945), acompanhado pelos de prática e apropriação, o que

também será tratado adiante.

Esse capítulo apresenta uma faceta da identidade dos calvinistas brasileiros na

contemporaneidade: o que eles dizem sobre si, ou “quem eles pensam que são”. A

investigação sobre esses calvinistas conduz à Internet, como “lugar mais quente”, na busca de

indícios que os apontem. Se descrever plenamente a identidade de um grupo é algo inviável, a

descoberta de algumas características a partir de certos aspectos é um desafio estimulante e

recompensador ao investigador. Nesse caso, os atributos que os próprios calvinistas informam

afirmativamente sobre eles mesmos, sob o prisma de seu próprio julgamento, tem muito a

dizer em relação a esse aspecto de sua identidade. Desse modo, a investigação sobre “quem

eles pensam que são” ocorre em sites e blogs criados e alimentados por calvinistas

preocupados em apresentar sua fé, sua doutrina, sua cosmovisão: o Calvinismo. Diante das

características das fontes disponíveis é analisada a viabilidade quanto à quais conhecimentos

buscar sobre o objeto, nesse caso, uma análise voltada a constituição identitária de grupo.

Essas fontes também são determinantes na seleção do instrumental teórico metodológico que

seja mais adequado ao seu manuseio, como bem pontua Chartier (2002, p. 27). Por isso, o uso

adaptado de seu conceito de representação (CHARTIER, 2002, p. 13-28; 2005) para as fontes

que apresentam atributos dos grupos reformados, seja direta ou indiretamente. Isso é feito,

consciente da influência, não somente, do tipo de fonte sobre a escolha do método, mas que

este, igualmente, passa a conduzir o modo com que as fontes são lidas, havendo uma relação

de influência mútua.

Quem eles pensam que são, ou o que eles dizem sobre si? A pergunta é o pontapé

inicial da pesquisa. Primariamente, a resposta tem de ser dada justamente por aqueles que se

declaram calvinistas. Ela é encontrada, significativamente, em blogs e sites criados por eles.

Focamos nos títulos e na seção “Quem somos” ou “Sobre nós”, encontradas com frequência

nos menus desses blogs e sites. Trabalhar com a perspectiva de como eles se veem, como se

nomeiam, foge de um problema já desgastado, especialmente pelo desenvolvimento da

semiótica, da análise de discurso. Foge da aparente contradição entre o que um grupo ou

indivíduo diz ser e o que ele realmente é, questão bastante atual por sinal. Visto que a maneira

com que um grupo ou indivíduo se vê, se declara, faz parte da complexa realidade de o que

150

ele é, sua auto declaração é ao menos uma das várias faces que compõem sua identidade, sua

existência. Investigar “quem eles pensam que são” é somente por em relevo um aspecto de

sua identidade, buscando ampliar a compreensão sobre esta. Por fim, os resultados parciais da

pesquisa podem contribuir com conhecimentos acerca do Calvinismo no Brasil

contemporâneo.

1 UM LUGAR PARA ENCONTRAR “QUEM SOMOS”.

Blogs e sites autoproclamados reformados ou calvinistas tem se proliferado no Brasil

pela Internet principalmente a partir de meados dos anos 2000. Com uma busca simples é

possível ter acesso a um sem número de links de conteúdo calvinista em português brasileiro.

O blog calvinista Bereianos245 possui uma barra no menu intitulada “outros bereianos” que

lista alguns links nacionais de conteúdo compatível com sua fé. São listados cento e trinta e

três blogs, vinte e cinco sites, quatro sites sobre criacionismo, onze de editoras, cinquenta e

três de estudos bíblicos e documentos históricos, dezenove de instituições de ensino teológico,

dezoito de mídia incluindo vlogs e podcasts, sete de missões, onze de músicas, seis de revistas

e jornais, oito sites apologéticos, somando duzentos e noventa e cinco links246. Esses números

apenas indicam uma realidade naturalmente maior, visto que o blog citado não conhece todos

os demais e que a fácil produção de páginas na web ocorre constantemente. É interessante

notar que esses sites e blogs, geralmente são criados por crentes “leigos” que não possuem

cargo em suas igrejas, como os de pastor, presbítero ou diácono.

Se o interesse é produzir conhecimento acerca da identidade em construção dos

calvinistas brasileiros, esses sites fornecem um conjunto precioso de indícios que apontam

para tal. Além de postagens que expressam posicionamentos sobre os mais variados temas de

religião, política, sociedade, economia, relacionamentos etc. a partir da perspectiva calvinista,

os blogs possuem nomes próprios que os identificam, além de costumarem possuir no menu, a

barra “sobre nós” ou “quem somos”. São nesses dois lugares (título do site e barra “quem

somos”) que a prática da representação de si se mostra mais claramente. Nesses lugares

podem ser notados atributos próprios do Calvinismo, por exemplo, a submissão a escritos

teológicos do século XVII, apropriados pelas fés de brasileiros do século XXI.

Complementando a barra “quem somos”, costuma haver “em que cremos”, lá é expressado

mais claramente a apropriação de credos calvinistas antigos como os Cânones de Dort (1619)

245 MARINHO, Ruy, MONTEIRO, Dênis. Bereianos. Publicado desde 2006. Disponível em:

<https://bereianos.blogspot.com/>. Acessado em 05, jun. 2019. 246 Outros Bereianos. In: Bereianos. Disponível em:<http://bereianos.blogspot.com/p/outros-bereianos.html>.

Acessado em 05, jun. 2019.

151

e a Confissão de fé de Westminster (1643-49), como também de credos contemporâneos247.

2 BÍBLIA E ORTODOXIA CALVINISTA OU “NÓS ESTAMOS MAIS PERTO DA

PALAVRA”.

O blog Voltemos ao Evangelho248 faz uma crítica ao evangelho mal praticado, pois

mal-entendido. Voltar ao evangelho não se trata de um chamado feito a quem não o conhece,

para que se converta e passe a conhecê-lo, mas a quem já o conhece, contudo ainda está

distante dele, da “verdadeira” fé, ou melhor, o conhece de modo considerado errado de acordo

com os princípios calvinistas. Logo, é necessário que a igreja volte ao evangelho, largando o

falso, que nada mais é do que distanciar-se da doutrina superior, verdadeira, exposta

justamente pelo Calvinismo. Voltar é um chamado aos cristãos não calvinistas, para que

retornem à tradição calvinista dos reformadores, dos puritanos, é um chamado ao caminho do

amadurecimento. Já no nome escolhido para designar a si, é possível notar o estabelecimento

de fronteira identitária a delimitar o lugar do grupo diante dos demais. Isso é feito a partir de

uma constatação exposta no nome escolhido para o blog que traz, ao mesmo tempo, um

atributo direto de si (proximidade do evangelho) e indireto do outro (distanciamento do

evangelho), em mútua dependência. Tal constatação que direciona a identificação relacional,

ou seja, por meio da alteridade, leva em conta o cenário evangélico brasileiro, ou seja,

também é situacional. Tal processo de identificação pode ser percebido em todos os demais

exemplos apresentados adiante (BARTH, 2005, p. 15-30; CUCHE, 1999, p. 175-202).

O Ministério Fiel249, expressa a necessidade de fidelidade, especificamente às

Sagradas Escrituras, fator caríssimo à ortodoxia calvinista. Essa concorda com o pensamento

majoritário de outros grupos evangélicos que veem a Bíblia como palavra relevada por Deus,

que creem em sua inerrância e infalibilidade. Todavia, o ponto de diferenciação é a defesa da

suficiência, a ideia que a Bíblia, Antigo e Novo Testamentos, possui tudo quanto necessário

para reger a vida do homem em todos os seus âmbitos. O blog 2Timoteo316250 é literalmente a

localização do versículo: “Toda escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a

repreensão, para a correção, para a educação na justiça...” (BÍBLIA SAGRADA, 2008, p.

1576). A defesa da suficiência e a acusação de sua perda será mais bem percebida em “quem

247 Quem somos. In: Voltemos ao Evangelho. Disponível em: <https://voltemosaoevangelho.com/blog/quem-

somos/>. Acessado em 05, jun. 2019. 248 Quem somos. In: Voltemos ao Evangelho. Disponível em: <https://voltemosaoevangelho.com/blog/quem-

somos/>. Acessado em 05, jul. 2019. 249 Ministério Fiel. Disponível em: <https://ministeriofiel.com.br/>. Acessado em 05, jul. 2019. Fundado na

década de 1960, incorporou o Voltemos ao Evangelho em 2013. 250 2Timóteo 3.16. Publicado desde 2009. Disponível em: <http://2timoteo316.blogspot.com/>. Acessado em 05,

jul. 2019.

152

somos”.

Cristianismo Verdadeiro251, Defesa do Evangelho252, Inconformados253, Ortodoxia

Reformada254, Reforma Radical255, Reformai256, Tuporém257 e o já citado Bereianos. Todos

esses sinalizam o primado da Bíblia e a defesa da doutrina que expõe seu conteúdo mais

fielmente, o Calvinismo, o que também será asseverado em “quem somos”. O identificar-se

com a Bíblia e com a correta doutrina, não se dá em diferenciação a quem não tem doutrina

nem Bíblia, mas a quem as tem, os “outros” e suas doutrinas menos fieis, inferiores. Não se

trata de não convertidos ou católicos como comumente esperado, mas os evangélicos não

calvinistas, geralmente jogados à alcunha de arminianos258. É diante desses “outros” que se

constroem atributos calvinistas, como a defesa da suficiência da Bíblia e a representação do

Calvinismo como sua interpretação correta, o que deve resultar no amadurecimento da fé

evangélica, que “nós” temos e os “outros” não tem, por isso precisam.

Inconformados, fazendo um jogo de palavras com a Reforma Protestante e a

identidade reformada, em tom de acusação expressa a indignação do grupo diante dos

problemas da fé evangélica vivenciados pelos “outros”. Na mesma linha, Reformai conclama

a igreja à mudança, pois enxerga desvios doutrinários, em alusão ao período crítico do século

XVI que culminou no movimento protestante. Tuporém remete à defesa da fidelidade à Bíblia

em meio a um cenário de infidelidade259. Bereianos faz referência a um grupo de judeus

citados no livro de Atos dos Apóstolos, no capítulo 17, que examinavam nas Escrituras tudo o

que os pregadores diziam para confirmar sua veracidade (BÍBLIA SAGRADA, 2008, p.

1456). Novamente se vê a defesa do papel proeminente da Bíblia e em seguida do pensamento

reformado como seu interprete fiel. Essa defesa calvinista, representa a si como dotada dos

atributos necessários ao amadurecimento evangélico, ao passo em que aponta a “nudez” dos

“outros”, por não possuírem os necessários elementos identitários calvinistas, delimitando

uma fronteira identitária pelo estabelecimento de atributos distintos entre “nós” e os “outros”.

251 Verdade do Cristianismo. Publicado desde aproximadamente 2010. Disponível em:

<http://verdadedocristianismo.blogspot.com/>. Acessado em 05, jul. 2019. 252 TEÓFILO, Adiel. Defesa do Evangelho. Blog do Adiel Teófilo. Publicado desde 2007. Disponível em:

<http://adielteofilo.blogspot.com/>. Acessado em 05, jul. 2019. 253 Inconformados. Publicado desde 2013. Disponível em: <http://www.inconformados.blog.br/>. Acessado em

05, jul. 2019. 254 Ortodoxia Reformada. Disponível em: <http://ortodoxiareformada.com/>. Acessado em 05, jul. 2019. 255 Reforma Radical. Disponível em: <http://www.reformaradical.hol.es/>. Acessado em 05, jul. 2019. 256 RODRIGUES, Elnatan, MARTINS, Amanda. Reformai. Publicado desde 2015. Disponível em:

<https://reformai.com/>. Acessado em 05, jul. 2019. 257 Tu porém. Publicado desde 2012. Disponível em: <https://tuporem.org.br/>. Acessado em 05, jul. 2019. 258 Este termo será explicado mais à frente. 259 2Tm 3.13-14. “Mas os homens maus e enganadores irão de mal a pior, enganando e sendo enganados. Tú

porém, permanece naquilo que aprendeste, e que foste inteirado sabendo de quem o tem aprendido.” (BÍBLIA

SAGRADA, 2008, p. 1574).

153

Nessa representação que se dá de modo relacional, a presença de tal atributo para o calvinista

é tão significativa quanto sua ausência para o não calvinista, no tocante a construção das

identidades pelos reformados (BARTH, 2005, p. 16; CHARTIER, 2002, p. 13-28; CUCHE,

1999, p. 175-202).

Vejamos: Na barra do menu “quem somos” o Voltemos ao Evangelho destaca

“fornecendo conteúdo fiel à Palavra de Deus”260. O Ministério Fiel traz “Almejando a

maturidade espiritual que a Palavra de Deus nos exorta a alcançar”261. O Monergismo: “para

que cada vez mais honre a Deus e seja consistente com a Palavra de Deus”262. Bereianos: “na

total suficiência das Sagradas Escrituras”263 e “referentes à defesa da Fé Cristã, bem como

refutações de práticas antibíblicas”264. Internautas Cristãos: “Nosso trabalho busca fornecer

conteúdo fiel à Escritura”265 e apresenta “5 atributos da Bíblia: inspiração, inerrância,

infalibilidade, autoridade, suficiência”266. Mais uma vez, colocar-se como preocupado em

estar “do lado” da Bíblia, é elemento essencial da identificação calvinista, ao passo de

representar o outro como não dotado de tal preocupação. Colocar-se “ao lado” da Bíblia é um

processo relacional que, ao mesmo tempo, apresenta o “outro” como mais distante dela.

Em Bereianos encontramos: “bem como auxiliar a pregação do evangelho através de

um correto preparo teológico e apologético, sob o ponto de vista reformado...”267, “Defendo a

teologia calvinista e reformada. Reconheço, adoto e confesso os símbolos de Fé de

Westminster, bem como creio que estes documentos expressam com precisão o ensino da

Palavra de Deus.”268. Internautas Cristãos fala de “vinte pontos doutrinários indispensáveis e

vitais para o cristianismo, sem os quais não é possível existir a verdadeira religião.”269 pelo

que dentre estes, estão os 5 pontos do Calvinismo elaborados no Sínodo de Dort “Depravação

260 Quem somos. In: Voltemos ao Evangelho. Disponível em: <https://voltemosaoevangelho.com/blog/quem-

somos/>. Acessado em 05, jul. 2019. 261 DEHAM III, James. Quem somos. In: Ministério Fiel. Disponível em:

<https://ministeriofiel.com.br/quem_somos/>. Acessado em 05, jul. 2019. 262 SABINO, Felipe. Sobre. In: Monergismo. Disponível em: <http://monergismo.com/novo/about/>. Acessado

em 05, jul. 2019. 263 MARINHO, Ruy, MONTEIRO, Dênis. Quem somos. In: Bereianos. Disponível em:

<http://bereianos.blogspot.com/p/quem-somos.html>. Acessado em 05, jul. 2019. 264 MARINHO, Ruy, MONTEIRO, Dênis. Quem somos. In: Bereianos. Disponível em:

<http://bereianos.blogspot.com/p/quem-somos.html>. Acessado em 05, jul. 2019. 265 Quem somos. In: Internautas Cristãos. Publicado desde 2005. Disponível em:

<https://www.internautascristaos.com/sobre/quem-somos>. Acessado em 05, jul. 2019. 266 Nisto cremos. In: Internautas Cristãos. Disponível em: <https://www.internautascristaos.com/sobre/nisto-

cremos>. Acessado em 05, jul. 2019. 267 MARINHO, Ruy, MONTEIRO, Dênis. Quem somos. In: Bereianos. Disponível em:

<http://bereianos.blogspot.com/p/quem-somos.html>. Acessado em 05, jul. 2019. 268 MARINHO, Ruy, MONTEIRO, Dênis. Quem somos. In: Bereianos. Disponível em:

<http://bereianos.blogspot.com/p/quem-somos.html>. Acessado em 05, jul. 2019. 269 Nisto Cremos. In: Internautas Cristãos. Disponível em: <https://www.internautascristaos.com/sobre/nisto-

cremos>. Acessado em 05, jul. 2019.

154

Total, Eleição Incondicional, Expiação Definida, Graça Eficaz, Preservação dos Santos”270.

Advogar a posse da doutrina que interpreta a Bíblia fielmente, de modo superior, em

diferenciação às práticas hermenêuticas evangélicas contemporâneas, ou interpretações não

calvinistas, dos “outros” se une a ideia de o Calvinismo ser o caminho natural do

amadurecimento da Igreja evangélica brasileira. Em Monergismo se lê:

Equipar os cristãos na verdade, disponibilizando os melhores artigos

clássicos e as fontes da ortodoxia histórica. Isto é feito na esperança de que a

Igreja abraçará, e redescobrirá as verdadeiras doutrinas bíblicas da fé

histórica. (...) Enfatizar doutrinas importantes que foram perdidas ou postas

de lado, crendo que isto nos ajudará numa das tarefas mais urgentes que os

evangélicos enfrentam hoje — a redescoberta do evangelho.271

3 SOBERANIA E MONERGISMO OU “NÃO À NÓS NEM POR NÓS, MAS POR ELE E

PARA ELE”.

Atributo basilar do Calvinismo é a fé pautada na soberania divina. Ideia de que Deus

é soberano sobre cada aspecto da vida do homem, de todos os seres e do mundo ao longo de

toda a história da existência, sendo que nada acontece sem a sua vontade soberana, das

melhores às piores coisas. Consequentemente, todas as coisas, incluindo o homem, devem

existir não para si, mas para Deus. Por isso a doutrina calvinista da finalidade do homem e de

todas as coisas: glorificar a Deus. As demais doutrinas calvinistas que se seguem, como a

salvação por exemplo, são perpassadas pelas ideias de soberania divina e a finalidade de

glorificar a Deus (KUYPER, 2003, p. 17-50). Diante disso, as diferenças entre “nós” e os

“outros” devem decorrer de divergências no entendimento dessas ideias basilares.

Nos próximos pontos do texto poderá ser melhor percebido que as diferenças entre

calvinistas e não calvinistas expressadas pelos primeiros, na prática de identificação de si e de

representação de o que é o Calvinismo, são derivadas das divergências acerca dos dois itens

basilares acima. Em Monergismo se diz: “Trazer glória e honra a Deus, enfatizando que as

Escrituras são uma auto-revelação de Deus, onde Deus é o centro, e não o homem”272 e “para

a glória de Deus somente.”273. 5 Calvinistas: “Para a glória do Senhor!”274. Internautas

270 Nisto cremos. In: Internautas Cristãos. Disponível em: <https://www.internautascristaos.com/sobre/nisto-

cremos>. Acessado em 05, jul. 2019. 271 SABINO, Felipe. Sobre. In: Monergismo. Disponível em: <http://monergismo.com/novo/about/>. Acessado

em 05, jul. 2019. 272 SABINO, Felipe. Sobre. In: Monergismo. Disponível em: <http://monergismo.com/novo/about/>. Acessado

em 05, jul. 2019. 273 SABINO, Felipe. Sobre. In: Monergismo. Disponível em: <http://monergismo.com/novo/about/>. Acessado

em 05, jul. 2019. 274 PORTO, Allen, et al. 5 Calvinistas. Publicado em 31, out. 2009. Disponível em:

<http://5calvinistas.blogspot.com/2009/10/apresentacao.html>. Acessado em 05, jul. 2019.

155

Cristãos lembra que nas cinco bases da Reforma há “Somente a Deus a Glória”275. Por sinal, é

comum textos calvinistas encerrarem-se com o último dos 5 Solas da Reforma: Soli Deo

Gloria, como sinal de que aquilo que foi feito, não o foi para si, mas para Deus.

Decorrente da soberania divina, o atributo calvinista mais famoso e polêmico é

certamente a crença na doutrina da predestinação, na livre escolha prévia feita por Deus em

salvar uns e outros não, não sendo, para isto, influenciado por nenhuma ação humana.

Afirmando essa crença “já de cara” temos: Blog dos Eleitos276, Electus277, Monergismo278 e

Revista Monergista279. Eleito é sinônimo de predestinado, escolhido por Deus para a salvação.

A palavra monergismo trata de quantos agem na salvação do homem. É o entendimento de

que todas as “etapas” da salvação são operadas e garantidas somente por Deus, não restando

ao homem nenhuma ação eficiente, a não ser responder positivamente à condução de Deus,

coisa que o próprio Deus o capacita e o direciona a fazer. Em Monergismo tem-se: “que a

obra da salvação é uma obra monergística da graça”280 e “A decisão foi baseada na eternidade

de acordo com o soberano beneplácito de Deus somente...”281. Bereianos traz: “Creio na

predestinação, na reprovação, na soberania divina, na total suficiência das Sagradas

Escrituras, nos cinco pontos do calvinismo, creio na eleição...”282.

O monergismo é contrário à visão sinergista da salvação, atualmente majoritária no

campo protestante em países como EUA e Brasil (MENDONÇA; VELASQUES FILHO,

1990), especialmente a partir da obra do holandês Jacob Armínius (1559-1609), que

discordou da então visão oficial da Igreja holandesa e hegemônica nos países influenciados

pelo braço reformado do protestantismo283. A mecânica sinergista da salvação, ou

popularmente Arminianismo, em homenagem a seu precursor na Modernidade, crê que Deus

275 Nisto cremos. In: Internautas Cristãos. Disponível em: <https://www.internautascristaos.com/sobre/nisto-

cremos>. Acessado em 05, jul. 2019. 276 Blog dos eleitos. Disponível em: <http://blogdoseleitos.blogspot.com/>. Acessado em 05, jul. 2019. 277 Electus. Publicado desde 2014. Disponível em: <http://blogelectus.blogspot.com/>. Acessado em 05, jul.

2019. 278 Monergismo. Disponível em: <http://monergismo.com/novo/>. Acessado em 05, jul. 2019. 279 Revista Monergista. Disponível em: <http://revistamonergista.com>. Acessado em 05, jul. 2019. 280 SABINO, Felipe. Sobre. In: Monergismo. Disponível em: <http://monergismo.com/novo/about/>. Acessado

em 05, jul. 2019. 281 SABINO, Felipe. Sobre. In: Monergismo. Disponível em: <http://monergismo.com/novo/about/>. Acessado

em 05, jul. 2019. 282 MARINHO, Ruy, MONTEIRO, Dênis. Quem somos. In: Bereianos. Disponível em:

<http://bereianos.blogspot.com/p/quem-somos.html>. Acessado em 05, jul. 2019. 283 A partir de Armínio a fé monergista foi sendo substituída gradativamente pela sinergista em todo o mundo.

Desde o século XVIII, dos Grandes Avivamentos anglófonos e das Missões transculturais do século XIX, apesar

de calvinistas proeminentes como Jonathan Edwards (1703-58), Hudson Taylor (1832-1905) e William Cowper

(1731-1800) terem participado efetivamente dos movimentos, o arminianismo se torna a doutrina hegemônica do

protestantismo. Ele toma o poder de explicar como o homem é salvo, especialmente no século em que explodia

na Europa o culto a deusa Liberdade sobre todos os âmbitos da vida humana. O arminianismo se populariza por

meio da expansão do Metodismo de John Wesley (1703-91) e pelos movimentos holiness do século XIX.

156

escolhe quem será salvo, com base na presciência, o conhecimento prévio de Deus sobre qual

pessoa irá crer nele ou não, quem irá por sua livre vontade, responder positivamente ou

negativamente ao chamado de conversão. Essa visão restaura a liberdade do homem de

escolher aceitar ou rejeitar a Deus, após ter sua liberdade e capacidade de escolha restauradas

pela graça preveniente (DANIEL, 2015). Dessa maneira, o homem participa ativa e

relevantemente em sua própria salvação, e todo o sentido da predestinação calvinista se esvai.

Logo, identificar-se, sem embaraço, como eleito ou monergista é a prática de identificar-se

calvinista, de defender a polêmica ortodoxia e polemicamente acusar de heresia a crença

majoritária do campo evangélico brasileiro (MENDONÇA; VELASQUES FILHO, 1990).

Assim, constantemente é delimitada a fronteira identitária entre o “nós” e os “outros” ao

representar os espaços de cada um por meio de uma diferenciação relacional (BARTH, 2005,

p. 15-30; CHARTIER, 2002, p. 13-28; CUCHE, 1999, p. 175-202). Nesse caso, a crença na

soberania divina e, consequentemente, na doutrina da predestinação.

4 PENTECOSTALISMO E CULTURA GOSPEL OU “APAGANDO O FOGO E

ASCENDENDO A LUZ”284.

As críticas calvinistas se dão sobre crenças e costumes do campo evangélico, este

tem no Pentecostalismo o segmento doutrinário que mais o influencia. Desse modo, o

Pentecostalismo se torna o alvo principal das críticas reformadas a uma genérica cultura

evangélica. Matos (2006) o vê como um desdobramento histórico do arminianismo (séc.

XVII), Metodismo (séc. XVIII) e dos movimentos holiness do século XIX. O sinergismo é,

portanto, elemento basilar da estrutura de crença pentecostal.

No Brasil, uma grande representante do Pentecostalismo é a Igreja Assembleia de

Deus, maior denominação evangélica do país. Ela recentemente declarou-se oficialmente

arminiana, postura tomada, segundo a Igreja, pela atual expansão do Calvinismo no Brasil

(DANIEL, 2015). Diante da disputa histórica sobre o poder de posse da verdade acerca da

salvação do homem, é evidente a importância de como o indivíduo crê na doutrina da

predestinação, pois isto o coloca em um ou em outro grupo, “nós” ou os “outros”. Numa visão

calvinista, entre aquele que redimi o pensamento evangélico ou aquele que precisa ser

redimido. No ambiente evangélico brasileiro, a alcunha de arminiano não foi popularmente

usada nem conhecida, apesar da crença majoritária se enquadrar nesta linha teológica

(MENDONÇA; VELASQUES FILHO, 1990). Somente com a ascensão do “outro”, o

284 O fogo é um símbolo da presença do Espírito Santo no meio pentecostal. A luz é um símbolo da Bíblia.

157

calvinista, é que recorreu-se à apropriação de uma identidade teológica mais específica

(arminiano). Cada vez mais, se desenvolve a produção de uma identidade religiosa para os

não calvinistas, de maneira relacional, pela alteridade, especialmente devido aos ataques

empreendidos pelos reformados (BARTH, 2005, p. 15-30; CHARTIER, 2002, p. 13-28;

CUCHE, 1999, p. 175-202).

Entre as crenças básicas do pentecostalismo está a necessidade do batismo com o

Espírito Santo após a conversão para o fortalecimento da fé do crente e a contemporaneidade

de dons “extraordinários” do Espírito, como o falar em línguas estranhas e ter revelações,

úteis para consolar e conduzir a vida do cristão (PEIXOTO, 2021). Diante disso, encontramos

sites reformados como: Sim, Cessou285 e Cessacionismo em Foco286, em referência ao clássico

entendimento calvinista de que esses dons do Espírito Santo vindos no dia de Pentecostes

foram encerrados após o período apostólico, não existindo mais hoje. Assim, esses blogs

apontam a postura de calvinistas em se posicionarem diretamente contrários a um dos

elementos mais caros à fé do maior segmento evangélico do país, e que influencia o

relacionamento de seus adeptos com Deus: a contemporaneidade dos dons do Espírito. Mais

uma vez, ao apresentarem-se como os defensores da ortodoxia e das Sagradas Escrituras, em

tom de acusação ao erro do “outro”, os calvinistas delimitam, na fronteira da divergência

doutrinária, os lugares identitários do “nós” e dos “outros” (BARTH, 2005, p. 15-30).

Representando o campo evangélico, muitas vezes caricaturalmente, por conta da

eclosão das igrejas neopentecostais287 como a Universal do Reino de Deus (IURD), do bispo

Edir Macedo e Mundial do Poder de Deus do apóstolo Valdomiro Santiago, os calvinistas,

generalizadamente, produzem uma representação do Evangelicalismo brasileiro, acusando as

igrejas evangélicas, inclusive as oficialmente reformadas, de coisas como a teatralização dos

cultos, o uso de estratégias mercadológicas para captação/conversão de indivíduos para o

crescimento das igrejas, a falta de conhecimento por parte dos membros e líderes, o trato

espetaculoso com o Espírito Santo, a ênfase na prosperidade material, na necessidade de

vitórias e satisfações nesta vida para o cristão etc.

O Voltemos ao Evangelho afirma: “Também negamos que a igreja possa estabelecer

seu ministério por meio do pragmatismo, de técnicas de marketing atuais ou das modas

285 LIRA, Marcel. In: Sim-cessou. Publicado desde 2009. Disponível em: <http://sim-cessou.blogspot.com/>.

Acessado em 05, jul. 2019. 286 ROSSINI, Ruth. Cessacionismo em Foco. Publicado desde aproximadamente 2014. Disponível em:

<https://cessacionismoemfoco.blogspot.com/>. Acessado em 05, jul. 2019. 287 O sociólogo Paul Freston coloca o Neopentecostalismo como terceira onda, ou momento da história do

Pentecostalismo.

158

culturais contemporâneas.”288; “Afirmamos a (...) restauração da exposição bíblica e da leitura

pública da Escritura no culto”289; “negamos que qualquer ensino que ofereça saúde e riqueza

nesta vida, como promessas garantidas por Deus, possa ser considerado um evangelho

verdadeiro.”290. Em Monergismo se vê: “Ensinar todo o conselho de Deus, e não apenas

aspectos com os quais nos sentimos confortáveis...”291. Em Bereianos: “Não creio no livre-

arbítrio, na salvação pelas obras, nos apóstolos contemporâneos, nas extra-revelações bíblicas

e nem na continuidade dos dons "extraordinários" do Espírito.”292.

Dois aspectos são demonstrados acima: Primeiro, a patente influência de doutrinas

pentecostais e sinergistas nas crenças e costumes do campo evangélico apresentado pelos

calvinistas. Segundo, a falta de conhecimento da Bíblia e de doutrina que a interprete

adequadamente. Novamente os calvinistas representam os “outros” como um aglomerado de

erros. Também representam o calvinismo como o possuidor dos elementos necessários para

superar os dois aspectos geradores dos erros subsequentes. Primeiro, o Calvinismo é, de modo

geral, cessacionista em detrimento do pentecostalismo, e sempre monergista. Segundo, o

Calvinismo prioriza o entendimento da Bíblia por meio da interpretação reformada em

detrimento da atual ignorância a que acusa os “outros”. Assim, se prossegue na prática

discursiva de representar o Calvinismo como a maturidade da fé que o campo evangélico

precisa enquanto este ainda estiver do “outro lado da fronteira identitária” (BARTH, 2005, p.

15-30; CHARTIER, 2002, p. 13-28; CUCHE, 1999, p. 175-202).

5 GENEALOGIA ESTRANGEIRA E PIONEIRISMO NACIONAL OU “NOSSOS PAIS

NÃO SÃO DAQUI”.

Outro importante atributo, informado direta ou indiretamente, é a reivindicação e

apropriação de uma herança histórica. Ao representarem-se como seus herdeiros e guardiões,

os calvinistas empreendem uma costura histórica que liga brasileiros do século XXI à

personagens e grupos calvinistas proeminentes de séculos passados, em lugares e contextos

distantes e diferentes do seu, como a Europa moderna e a Inglaterra vitoriana, por exemplo.

288 Quem somos. In: Voltemos ao Evangelho. Disponível em: <https://voltemosaoevangelho.com/blog/quem-

somos/>. Acessado em 05, jul. 2019. 289 Quem somos. In: Voltemos ao Evangelho. Disponível em: <https://voltemosaoevangelho.com/blog/quem-

somos/>. Acessado em 05, jul. 2019. 290 Quem somos. In: Voltemos ao Evangelho. Disponível em: <https://voltemosaoevangelho.com/blog/quem-

somos/>. Acessado em 05, jul. 2019. 291 SABINO, Felipe. Sobre. In: Monergismo. Disponível em: <http://monergismo.com/novo/about/>. Acessado

em 05, jul. 2019. 292 MARINHO, Ruy, MONTEIRO, Dênis. Quem somos. In: Bereianos. Disponível em:

<http://bereianos.blogspot.com/p/quem-somos.html>. Acessado em 05, jul. 2019.

159

Sites e blogs como Os Puritanos293, Projeto Spurgeon294, Projeto J. C. Ryle295, Rádio Dort296

sinalizam a construção de pontes sobre “quem são nossos pais”, o que também é uma maneira

de construir representação identitária de si297.

É notória a ausência de termos que remetam a um passado calvinista no Brasil, ainda

que a IPB, instituição oficialmente calvinista tenha chegado por aqui em meados do século

XIX. Nos sites pesquisados, não se vê, por exemplo, referência a José Manoel da Conceição

(1822-73), ex-padre que se converteu na Igreja Presbiteriana e se tornou o primeiro pastor

brasileiro, a algum proeminente calvinista tupiniquim, a alguma declaração de fé, a um grupo,

nada. Como exceção temos por exemplo, a memória do estadunidense Ashbel G. Simonton

(1833-67), primeiro missionário presbiteriano a vir ao país, todavia mais lembrado pela

instituição de modo comemorativo, sendo mais um símbolo do início da denominação no país,

do que elemento evocativo da identificação reformada. Na prática, não se fala, não se sabe,

não se busca. Essa postura lembra a prática de silenciamento na formação relacional da

identidade descrita por Barth (2005, p. 15). Entretanto, diferentemente do exemplo trazido

pelo antropólogo, em nosso caso, o silenciamento não é proposital nem ativo, com intenção de

ocultar algo que se saiba, mas indireto e passivo. É mais relacionado a falta de conhecimento

e de interesse em buscar um passado calvinista nacional e mesmo pela imagem da insipiência

reformada no Brasil antes do emergir calvinista no século XXI.

A questão não é a inexistência de calvinistas brasileiros antes dos anos 2000, mas sua

ausência na memória, história e identidade em construção dos novos calvinistas. Esses se

colocam, portanto, praticamente como pioneiros do Calvinismo no país. Desse modo, as

origens dos “novos calvinistas” também remontam, prioritariamente, ao estrangeiro, seja do

passado como visto acima, ou do período contemporâneo, o que é visto em sites como: Blog

Martyn Lloyd-Jones298, referência ao pregador inglês que trabalhou até 1980; o site

DesiringGod299 em português, parte online do ministério de John Piper, pastor batista

estadunidense e um dos calvinistas mais influentes do mundo hoje; o site Ministério 9

Marcas300 liderado pelo pastor batista estadunidense Mark Dever, autor do livro best-seller 9

293 Os Puritanos. Publicado desde aproximadamente 2014. Disponível em: <https://www.os-puritanos.com/>.

Acessado em 05, jul. 2019. 294 MARCOS, Armando. Projeto Spurgeon. Publicado desde 2009. Disponível em:

<http://www.projetospurgeon.com.br/>. Acessado em 05, jul. 2019. 295 Bispo Ryle. Disponível em: <http://bisporyle.blogspot.com.br/>. Acessado em 05, jul. 2019. 296 Rádio Dort. Disponível em: <http://radiodort.sergiorodrigues.art.br/>. Acessado em 05, jul. 2019. 297 J. C. Ryle foi um teólogo inglês do século XIX. Dort alude ao importante sínodo da fé reformada. 298 Martyn Lloyd-Jones. Disponível em: <http://www.martynlloyd-jones.com/>. Acessado em 05, jul. 2019. 299 PIPER, John. Desiring God. Disponível em: <http://pt.desiringgod.org/>. Acessado em 05, jul. 2019. 300 DEVER, Mark, SCHMUCKER, Matt. 9Marks. Disponível em: <http://pt.9marks.org/>. Acessado em 05, jul.

2019.

160

Marcas de uma Igreja Saudável (1997). Esses títulos apontam a força da referência

estrangeira sobre os calvinistas brasileiros, mesmo de líderes contemporâneos.

Os calvinistas tendem a se posicionar externamente à história evangélica nacional,

apresentando-se como quem chega a pouco e de fora, não contaminado com o histórico

brasileiro, antes tendo “pais ainda mais velhos”, portanto mais legítimos. Eles se apresentam

como dignos de conduzir a purificação ou o amadurecimento da igreja, alarmado como

necessário. Novamente, é notado uma identificação de si e uma representação do Calvinismo

produzida em contrariedade ao “outro”, apresentado pela tensão da diferença entre ambos

(BARTH, 2005, p. 15-30; CHARTIER, 2002, p. 13-28; CUCHE, 1999, p. 175-202).

6 COSMOVISÃO CALVINITA OU “NÓS VAMOS CONVERTER O MUNDO EM REINO

DE DEUS”.

Por fim, os calvinistas tendem a ver o Cristianismo como cosmovisão e o Calvinismo

como sua melhor expressão, o ápice de sua sistematização. Eles caminham a uma visão de

religião que abrange toda a realidade. Crendo que Deus é o senhor de todas as áreas da

existência, inclusive dos âmbitos sociais, em que se dão as relações entre indivíduos e grupos,

as relações de poder. Noções sobre política, gênero, educação, cultura e artes são vistas a

partir da perspectiva cristã calvinista de que o Cristianismo deve relacionar-se ativamente

sobre as várias esferas sociais redimindo a realidade (KUYPER, 2003), na realização

progressiva do reino do Messias “O reino de Deus, já presente, mas ainda não plenamente

realizado”301.

O Tempora! O Mores! apresenta seu objetivo: “Reflexões fortuitas de alguns

calvinistas sobre praticamente tudo, com destaque a temas de religião, cultura e valores

morais.”302. 5 Calvinistas apresenta “o calvinismo como visão de mundo”303. Internautas

Cristãos propõem: “publicamos materiais (...) sob a perspectiva cristã bíblica e reformada,

incluindo especialmente as áreas de teologia, devoção, apologética, política, filosofia, música,

artes, sexualidade, ciência e internet.”304. O teólogo Guilherme de Carvalho, fala da

“integralidade da missão Cristã; (...) e que uma fé holística não pode perder o sentido da

301 Quem somos. In: Voltemos ao Evangelho. Disponível em: <https://voltemosaoevangelho.com/blog/quem-

somos/>. Acessado em 05, jul. 2019. 302 NICODEMUS, Augustus, PORTELA, Solano, MEISTER, Mauro. Tempora! Mores! Publicado desde 2005.

Disponível em: <http://tempora-mores.blogspot.com/>. Acessado em 05, jul. 2019. 303 Sobre. In: 5 Calvinistas. Disponível em: <http://5calvinistas.blogspot.com/p/sobre.html>. Acessado em 05,

jul. 2019. 304 Nisto cremos. In: Internautas Cristãos. Disponível em: <https://www.internautascristaos.com/sobre/nisto-

cremos>. Acessado em 05, jul. 2019.

161

sublimidade e superioridade da devoção religiosa sobre a responsabilidade histórica.”305. Ele

continua: “tenho me debruçado sobre os problemas do diálogo histórico entre a religião e a

ciência, e sobre questões de ética, justiça complexa e direitos humanos”306. Assim como seus

reivindicados “pais”, esses calvinistas tendem a considerar a fé para além da prática religiosa

desvinculada da cultura e da realidade sócio histórica. Postagens sobre laicidade, ideologia de

gênero, tamanho do Estado, gramscianismo, Black Mirror, Stranger Things, Vingadores etc.

apontam para essa realidade.

Os calvinistas assistem a crescente participação dos “outros” evangélicos na política

brasileira, sua conquista de novos espaços de poder307. Com isso, eles devem nutrir certa

aflição e inquietude, ao verem crentes que enxergam o mundo por óticas cristãs não

reformadas, portanto vistas como cheias de erro, inferiores, ocuparem tais espaços de poder.

Inicia-se um processo de reivindicação do direito de conduzir a redenção política e social ao

representarem-se como os possuidores dos instrumentos superiores para a práxis redentora da

sociedade (CHARTIER, 2002, p. 13-28). Como exposto nos exemplos anteriores, já pode ser

percebido, ao menos embrionariamente, seu anseio em influenciar a sociedade em detrimento

dos “outros”, sejam crentes ou até mesmo incrédulos, e isto para a glória de Deus (KUYPER,

2003).

Os calvinistas brasileiros na contemporaneidade protagonizam o fenômeno de

emersão da fé reformada no país a partir dos anos 2000. Para conhecer mais sobre esses

calvinistas e o Calvinismo no Brasil, buscar uma identidade reformada em construção é

fundamental. Contribuindo com esse objetivo os conceitos empregados se concentram nas

formações identitárias, pensando a identidade, não a partir de sua sincronia, estabilidade, mas

enquanto constante processo de formação, pela alteridade e relacionando-se com o cenário

sócio histórico em que o grupo está inserido. Conceitos como identidade relacional e

situacional defendidos por Barth (2005, p. 15-30) e Cuche (1999, p. 175-202) e, representação

(CHARTIER, 2002, p. 13-28; 2005), são úteis nesse empreendimento e permeiam a

construção da pesquisa.

Um meio de se apreender essa identidade é analisar as práticas discursivas do grupo.

Por meio dos discursos, os reformados constroem identificação de si, apontam como se veem,

305 CARVALHO, Guilherme. SOBRE MIM. In: Guilherme de Carvalho. Disponível em:

<https://guilhermedecarvalho.com.br/sobre/>. Acessado em 05, jul. 2019. 306 CARVALHO, Guilherme. SOBRE MIM. In: Guilherme de Carvalho. Disponível em:

<https://guilhermedecarvalho.com.br/sobre/>. Acessado em 05, jul. 2019. 307 Exemplos: A emersão da bancada evangélica; a necessidade de políticos subirem em púlpitos de grandes

igrejas; de se aliarem com líderes evangélicos e; a participação evangélica na eleição presidencial de 2018,

contribuindo com a vitória do então candidato do PSL Jair Messias Bolsonaro.

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como se apresentam, aspecto relevante na composição da identidade. Tal prática produz

representação do Calvinismo, como este é enxergado e idealizado. Também temos que a

identificação de si, o “nós” é produzida por meio da diferenciação diante dos “outros”, os não

calvinistas. Isso também produz representação do não Calvinismo, (Arminianismo,

Neopentecostalismo etc.) generalizando o campo evangélico nacional (BARTH, 2005, p. 15-

30; CHARTIER, 2002, p. 13-28; CUCHE, 1999, p. 175-202).

Os calvinistas brasileiros da Contemporaneidade se identificam como o grupo cristão

mais fiel às Escrituras por possuírem uma doutrina superior, que melhor a expõe: o

Calvinismo. Isto é feito concomitantemente à acusação de distanciamento dos “outros” da

Bíblia que deve reger a práxis cristã, justamente devido à não possuírem essa doutrina

superior. Os reformados defendem o princípio da soberania divina como basilar ao

pensamento cristão, dele decorrendo outros como a visão monergista da salvação. Isso é feito

relacionalmente, pela distinção diante dos “outros”, os não calvinistas, apresentados como

como defensores de uma elevada relevância ontológica do homem e do sinergismo.

O Pentecostalismo é traçado como o segmento de maior influência sobre o campo

evangélico, suas crenças e costumes. A esses, são apontados inúmeros problemas, fruto do já

acusado distanciamento da Bíblia. As práticas extravagantes de igrejas neopentecostais são

comumente vilipendiadas nos sites calvinistas e associadas generalizadamente a todos os

“outros”. Desse modo, o Calvinismo é apresentado como portador do antídoto para a

resolução dos tais problemas. Esses calvinistas se apresentam como pioneiros no Brasil, como

herdeiros de estrangeiros, seja de séculos passados ou contemporâneos, não traçando

nenhuma continuidade com a história protestante no país, que se inicia continuamente desde

meados do século XIX. Tal apresentação também reforça a diferenciação identitária de caráter

relacional entre “nós” e os “outros”. Por fim, o Calvinismo tende a ser tratado como doutrina

holística, como cosmovisão. Logo, principia-se a advogá-lo como o melhor instrumento do

campo evangélico para a cristianização da cultura e demais esferas da realidade social

brasileira.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Rocha Pinto, In: Antropolítica, Niterói, p. 15-30, 2005.

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do Novo Calvinismo entre evangélicos brasileiros por meio da Internet (2008-2017). 2018.