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Diversidade Étnico Cultural

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Diversidade Étnico Cultural

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Material Teórico

Responsável pelo Conteúdo:Prof. Dr. Ricardo Medina Zagni

Revisão TécnicaProfa. Ms. Vivian Fiori

Revisão Textual:Prof. Ms. Luciano Vieira Francisco

Condição Humana e Diversidade das Culturasem Tempos de Globalização

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• Individualismo e globalização;

• Globalização tecnológica;

• Globalização e política;

• Globalização e diversidade cultural;

• Dimensão econômica da globalização;

• Globalização e sociedade;

• A mais dura crítica à globalização;

• Intolerância em sociedades globais.

· Evidenciar as formas de globalização no mundo atual.

· Destacar as influências na cultura a partir da globalização.

OBJETIVO DE APRENDIZADO

Condição Humana e Diversidade das Culturasem Tempos De Globalização

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Orientações de estudoPara que o conteúdo desta Disciplina seja bem

aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas:

Assim:Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como o seu “momento do estudo”.

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo.

No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.

Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte

Mantenha o foco! Evite se distrair com

as redes sociais.

Mantenha o foco! Evite se distrair com

as redes sociais.

Determine um horário fixo

para estudar.

Aproveite as indicações

de Material Complementar.

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma

Não se esqueça de se alimentar e se manter hidratado.

Aproveite as

Conserve seu material e local de estudos sempre organizados.

Procure manter contato com seus colegas e tutores

para trocar ideias! Isso amplia a

aprendizagem.

Seja original! Nunca plagie

trabalhos.

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UNIDADE Condição Humana e Diversidade das Culturas

Condição Humana e Diversidade das Culturas em Tempos de Globalização

Nesta Unidade trataremos das influências do processo de globalização na cul-tura, nas sociedades, na economia que, de maneira integrada, interferem nas condições humanas.

Individualismo e Globalização

Figura 1 – Eric HobsbawmFonte: BBC.co.uk

O historiador inglês Eric Hobsbawm (1917-2012) afirmava que, com a globalização, surgiu uma espécie de dissolidarização de classes, constituída pelo que classificou como “valores de um individualismo associal absoluto”. Com isso, Hobsbawm (1995) problematizou um novo ciclo sistêmico do capitalismo, caracterizado pelo fenômeno da circulação global de capital, de modo a lançar luzes em seus sintomas sociais, na forma de indivíduos egocentrados.

As novas necessidades de manutenção do frágil e já consolidado modo de produção moldaram inéditas relações sociais, em uma espécie de isolamento em que os indivíduos se alienam da condição de classe, ou seja, de pertencerem a grupos de interesses comuns.

O movimento trabalhista teve força quando havia condições de desenvolvimento, quando sindicatos e partidos podiam levar suas reivindicações a Estados capazes de fazer concessões. Tudo isso terminou por conta da transformação nos modelos de produção. Como foram reduzidos em número, também passou a ser menor a sua ação política. Há uma diferença também no tipo da população trabalhadora, por causa, especialmente, dos progressos da educação em massa. Uma das coisas que eram características do movimento operário no passado era a boa qualidade de seus líderes, que eram cultivados e mantidos pelos sindicatos. Hoje, os mais inteligentes vão para a universidade sem compromisso de voltar, e viram outras coisas. Podem continuar a ser de esquerda, mas já não são mais operários. Isso faz diferença (HOBSBAWM, 1995).

Como, então, poderíamos definir globalização sem nos prendermos somente aos aspectos econômicos superestruturais e à frágil ideia de “aldeia global”, buscando como paradigma o exercício de Hobsbawm em aproximar a distante

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retórica sobre globalização do cotidiano de uma sociedade que privilegia o consumo de massa de tudo o que é amoedável pelo capital, incluindo desejos, pessoas, ideias e sentimentos?

Figura 2 - Fredric JamesonFonte: Wikimedia Commons

Definiremos globalização a partir dos estudos do crítico literário e político marxista Fredric Jameson (1934-), tratando dos cinco níveis que a caracterizariam para demonstrar a coesão e articular políticas de resistência à globalização e seus efeitos negativos. São os níveis tecnológico, político, cultural, econômico e social.

Globalização TecnológicaSintetizando a metodologia de Fredric Jameson no estudo Globalização e

estratégia política, o autor elege, como dissemos, cinco níveis a partir dos quais discorre sobre os resultados de sua análise.

O primeiro nível é o tecnológico e, logo de início, o termo já evidencia um dos principais antagonismos do conceito de globalização, que supõe a totalidade de algo.

A Revolução da Informática e as novas tecnologias de informação, apesar de terem se constituído de forma irreversível na produção e organização industriais e comercialização de produtos, não atingem a totalidade da população mundial, em sua grande maioria excluída não apenas do dialeto digital, mas do próprio mercado de consumo para esses produtos.

A exclusão digital produzida no bojo de um sistema que se pretende totalizante, assiste ainda à formação de um exército de analfabetos digitais, cada vez mais excluídos das relações de produção mecanizadas e de acesso restrito à mão de obra extremamente especializada.

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Globalização e PolíticaDa tecnologia para a política, Jameson dedica parte de seu estudo ao papel

desempenhado pelo Estado-nação que, segundo alguns teóricos, teria dado lugar às corporações transnacionais – conhecidas na década de 1970 apenas como multinacionais.

O neoliberalismo – ou a doutrina de livre mercado – defendido para que referidas corporações pudessem operar circulando capitais em âmbito global, ilusoriamente faz pensar em um distanciamento do Estado nas medidas econômicas para a autorregulação do mercado.

Por outro lado, o Estado passou a ser um agente fundamental nesse sistema, a partir da instituição de mecanismos legais e medidas intervencionistas que contraditoriamente garantem a “autogestão” das economias, requerendo, para tanto, uma efetiva intervenção governamental e um Estado centralizador.

Outro antagonismo é o papel nacionalista visivelmente exercido pelos povos e governos europeus e o estadunidense. Ao passo do frágil discurso de “aldeia global”, temos a ascensão de partidos políticos de extrema direita, ligados muitas vezes a grupos religiosos intolerantes, políticas racistas e xenófobas, na maior parte da Europa e também no Novo Mundo.

Figura 3 – Durante discurso pronunciado no campo histórico do Rütli, durante feriado nacional, Samuel Schmid, atual presidente da Confederação Helvética

e ministro da Defesa, é vaiado e insultado por setecentos neonazistas.Fonte: Acervo do Conteudista

Há um evidente descompasso entre o discurso de aceitação da diversidade cultural em um mundo “cada vez menor” e o comportamento de povos europeus, notadamente cultos, tais como franceses, ingleses e alemães, repudiando publicamente africanos, hindus e latino-americanos; ou estadunidenses, que levantam barreiras físicas e legais para impedir a imigração de mexicanos, os quais comumente morrem nas fronteiras.

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Na Alemanha, os neonazistas do Nationaldemokratische Partei Deutschlands (NPD), liderados por Peter Marx – jurista e secretário geral do grupo parlamentar do NPD –, conquistaram doze cadeiras no Parlamento Regional do Estado da Saxônia, o Landtag, em Dresden, denunciando a assustadora aceitação de 9,2% dos eleitores, ou seja, 19.087 almas, aos preceitos da causa nazista que se pensava adormecidos.

No discurso político do partido inclui-se a atribuição do desemprego que atinge boa parte dos jovens alemães aos imigrantes, ao contrário do que qualquer estatística racional possa concluir em relação à proporção entre a força de trabalho estrangeira e a alemã naquele Estado.

Figura 4 – Jean Marie Le PenFonte: BBC.co.uk

Em 2002, quando foram divulgados os resultados do primeiro turno da eleição presidencial francesa, o mundo “prendeu a respiração” com o sucesso de Jean-Marie Le Pen, da Frente Nacional francesa, grupo político de extrema direita com intrínsecas relações com a NPD. O mesmo ocorreu na Áustria, com a eleição de um primeiro-ministro neonazista.

Na Inglaterra, basta que jogadores latino-americanos ou africanos toquem na bola, em partidas de futebol, para que hooligans imitem grunhidos aludidos a macacos – o mesmo fenômeno ocorre na Espanha.

Globalização e Diversidade CulturalO discurso pró-globalização nos Estados Unidos constitui-se cuidadosamente

sobre uma base “politicamente correta”, fundamentalmente em relação às diferenças étnicas, pregando uma aceitação que, de início, sabe-se frágil em um país que tem profundas tradições racistas.

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Outro ponto central no discurso pró-globalização é o papel das unidades caracterizadas como Estados-nações e seu ficcional desaparecimento.

Para Eric Hobsbawm (1995) as economias nacionais seriam “unidades mais velhas”, definidas por políticas territoriais de Estado, que estariam reduzidas às complicações decorrentes de atividades transnacionais. Nos argumentos de Fredric Jameson (2001) percebemos que essas unidades políticas são desestruturadas pela ideia e políticas neoliberais em virtude das necessidades do grande capital para a promoção de um estágio de comercialização mundial, com a formação de gigantescos blocos econômicos.

Na prática, o que vemos é o enfraquecimento desses governos, alimentando a hegemonia de Estados centrais nessa nova ordem econômica, estabelecida por meio de comércios agressivos. Ao invés de desaparecerem os limites nacionais, os Estados-nações são paulatinamente subordinados a Estados centrais.

Como explicar o desaparecimento da ideia de nação com o ressurgimento do nacionalismo politicamente à direita dos movimentos sociais? Como coexistir a concepção de aceitação das diversidades étnicas e culturais com as graves condutas de intolerância religiosa, perseguição a homossexuais, negros e latino-americanos em diversas realidades nacionais.

Enquanto o discurso neoliberal, na periferia do sistema capitalista, defende a abertura de suas fronteiras fiscais e de seus mercados para a penetração de seus produtos e tecnologias, no centro do sistema vigora o nacionalismo econômico.

A hegemonia política de Estados centrais no sistema capitalista caminha ao passo do chamado imperialismo cultural, ascendente principalmente após o término da Segunda Guerra Mundial, com os tratados de concessão para emissoras televisivas norte-americanas e de garantia de mercado para produções cinematográficas hollywoodianas, em acordos firmados com diversos países.

As indústrias culturais locais de entretenimento dificilmente irão suplantar Hollywood com uma forma global bem-sucedida no mundo inteiro, em especial devido ao fato de que o próprio sistema americano sempre incorpora elementos exóticos do estrangeiro, um pouco de cultura samurai, outro de música sul-africana, o cinema de John Woo, comida tailandesa, e assim por diante (JAMESON, 2001).

A globalização cultural, lê-se no discurso de Jameson (2001), atua como tentativa de uniformizar o mundo a um modelo de cultura de massa, no campo televisivo, musical, comportamental, gastronômico, da indumentária e em todos os outros.

Não se trataria de uma tentativa ingênua de tomada de mercados, evidenciando que a cultura, na Era do capital, constitui produto, é amoedável e, portanto, caminha ao passo da economia; mas a destruição de culturas locais onde se estabelece. Implica no desaparecimento de restaurantes típicos onde se fixam os fast foods; no desestímulo à produção cinematográfica de países antes tradicionais nesse ramo.

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Dimensão Econômica da GlobalizaçãoPara tratarmos da dimensão econômica da globalização, segundo Fredric

Jameson (2001), temos que retomar o princípio de que não houve o desapa-recimento dos Estados-nações diante das corporações transnacionais, afinal: o autor nos mostra que há uma notória cumplicidade entre ambos e os discursos em torno de sua inexistência mascaram seus interesses individuais, com o uso da fantasia criada pela ideia da globalização que, grosso modo, pode ser de-finida como um novo ciclo sistêmico no modo de produção vigente, no qual há necessidades de circulação global de capital, cuja acumulação primitiva tem novo lugar nas megacorporações.

O Estado tem o papel de garantir a quebra de barreiras para seu livre fluxo. Não se trata de um movimento natural: há um grande interesse das corporações em se estabelecer em países pobres, alimentando-se de miseráveis e desesperados como mão de obra barata e semiescrava, de isenções fiscais e concessões de governos corruptos e de multidões de desempregados nos locais de onde migraram. O mesmo ciclo se desencadearia novamente quando as mesmas corporações abandonassem esses novos locais, já não mais tão pobres com a criação de um mercado consumidor a partir da instituição de mão de obra assalariada, seguindo em busca de novos miseráveis que aceitassem uma espécie de “escravidão voluntária”.

Para Fredric Jameson (2001), da mesma forma que, em nível cultural, o estabelecimento econômico em áreas de exploração e a transferência de operações para locais mais baratos minariam as economias e destruiriam os mercados nacionais, evidenciando um dos vários aspectos perigosos da globalização, como a especulação destrutiva de moedas estrangeiras e a dependência econômica de países subdesenvolvidos, submissos às políticas econômicas dos países do Primeiro Mundo, em troca de empréstimos e investimentos. No mundo economicamente globalizado, nesses termos, transferências instantâneas de capital poderiam empobrecer, da noite para o dia, regiões inteiras.

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Globalização e Sociedade

Figura 5Fonte: iStock/Getty Images

O último nível caracterizado por Fredric Jameson em sua análise sobre a globalização é o social e, neste aspecto, a destruição do que se convencionou como tecido cotidiano faz-se evidente com o distanciamento do indivíduo do conceito de grupo e classe. Os padrões de unidades nucleares de família e clã cederam à sociedade moderna impessoal de consumo que, em seus próprios dizeres, “individualiza e atomiza”, negando o zõom politikòs de Aristóteles.

Para Fredric Jameson trata-se do elemento-chave que desencadearia toda a configuração de nossa sociedade, explicando-a melhor do que os conceitos de base moralista de “individualismo corrosivo” ou “materialismo consumista”.

A Mais Dura Crítica à GlobalizaçãoJohn Peter Berger (1926-), crítico de arte, romancista, pintor e escritor inglês,

prefaciando a obra Fahrenheit 11 de setembro, do cineasta estadunidense Michael Francis Moore (1954-), caracterizou o papel dos Estados Unidos sob o governo George W. Bush (1946-), em relação à globalização e às megacorporações, como uma “quadrilha” que teria tomado de assalto – pela fraude eleitoral denunciada no filme – a Casa Branca e o Pentágono “[...] para que o poder dos Estados Unidos dali em diante estivesse a serviço, prioritariamente, dos interesses globais das grandes empresas” (MOORE, 2004).

A afirmação parece dura pelas adjetivações que traz; porém, sintetiza os inte-resses que levaram à formação de um grupo político a serviço das megacorpora-ções, que teria conduzido o poder da nação economicamente mais desenvolvida

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e que se pretenderia a “polícia do mundo”, nos dizeres de Jameson, dando o tom de uma globalização extremadamente violenta, na defesa de um modelo de mundo, o que possibilitaria dizer de uma espécie de “globalitarismo”.

Sua percepção é a de que a globalização se caracterizaria como um embuste que mascararia uma nova fase do capital, no interesse das megacorporações aliadas aos Estados-nações mais ricos e industrializados do sistema capitalista, subordinados aos Estados Unidos que, de forma predatória, alimentar-se-ia das economias dos países pobres, da mão de obra semiescrava, aculturando povos inteiros no escopo de aliciar o consentimento unânime a todo e qualquer intervencionismo para o estabelecimento e manutenção de um modelo de hegemonia político-econômica, que prescindiria da dominação cultural.

Intolerância em Sociedades GlobaisComo vimos até aqui, o que nos constitui essencialmente são as diferenças. O

imperativo, para a construção de uma sociedade tolerante é, portanto, a aceitação do outro, do diverso.

É impensável, nesses termos, que sociedades plurais, como a brasileira, convivam com graves problemas de intolerância exatamente ao diverso. Nos grandes centros urbanos, em cidades consideradas como globais, grupos religiosos profanam imagens e símbolos rituais de outras religiões, o racismo velado ou desvelado circulando como “enlatados culturais”, condutas de violência contra homossexuais – dos espancamentos ao assassínio –, o trato dos estrangeiros como inferiores e uma série de outros exemplos revelam que as sociedades que se dizem planetárias convivem mal com a diversidade.

Figura 6 – Erich Fromm (1900-1980) foi um Psicólogo AlemãoFonte: erichfromm.net

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Podemos afirmar, sob vários aspectos, que ao invés de valores de tolerância à diversidade, estamos na vigência de uma cultura de ódio expresso, vazado nos mais variados âmbitos da vida social, o que nos impõe uma imensa e urgente tarefa a fazer: construir uma contracultura da tolerância para reafirmar o homem, os próprios valores humanísticos, no seio de uma sociedade planetária que desumaniza, valorando o “ser” pelo “ter”, como nos disse o psicanalista e escritor alemão Erich Fromm.

Nos casos de guerras ideológicas, religiosas e étnicas, a intolerância chega a ultrapassar os limites da irracionalidade com relação a indivíduos ou grupos específicos.

Apesar de as guerras serem extremamente racionalizadas, de os morticínios na modernidade serem perpetrados com o recurso fundamental da técnica e de a intolerância ter se desenvolvido, como nos disse o escritor, filósofo, semiólogo, linguista e bibliófilo italiano Humberto Eco (1932-), de tipo selvagem para categórico, não podemos deixar de verificar que os argumentos sobre os quais tentam se ancorar condutas de intolerância em alguma base de cientificidade, fazem-no construindo ou se reapropriando de pseudociências, criadas em essência para legitimar seculares preconceitos ou ideias de superioridade civilizacional.

Infelizmente, os exemplos de intolerância concreta em sociedades que se apresentam como globais são vários. A modernidade pode ser caracterizada, primordialmente, por essas ocorrências.

Figura 7Fonte: Wikimedia Commons

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Os nazistas, durante a Segunda Guerra Mundial, ao perpetrarem o abominável: o Holocausto; os conflitos étnico-nacionalistas na África; as sistemáticas tentativas de “limpeza étnica” nos Bálcãs; e o “barril de pólvora” que se tornou o Oriente Médio, entre tantos outros exemplos.

Temos graves questões humanitárias em jogo, que não devem ser preteridas em relação às ideologias, convicções religiosas ou pertenças étnicas. O homem universal e seus direitos inalienáveis devem ser o cerne das reflexões sobre a política, não apenas um dos elementos componentes de um sistema mecânico-funcionalista.

Nesse contexto conturbado por ocorrências de ódio expresso em uma sociedade que propagandeia valores universais e totalizantes, seria possível estabelecer uma cultura de paz em favor da tolerância? Sociedades fragmentadas por diferentes grupos sociais, como é o caso, por exemplo, dos países que constituem a América Latina, experimentariam qual tipo de globalização?

O modelo de desenvolvimento, ou de progresso que adotou a civilização ocidental, entende tal progresso como puramente técnico, como o meio capaz de promover o progresso humano.

Em verdade, a própria ideia de progresso deve ser repensada para incorporar uma gama muito mais variada de relações, para além dos processos produtivos. É preciso, então, pensar o progresso em termos totalizantes e meios para sua consecução, que abarque o homem e suas aspirações, não meras modernizações abstratas: é preciso repensar o homem para repensar a própria ideia de civilização, tendo como horizonte o mundo que queremos.

Figura 8Fonte: freepalestinemovement.org

Atualmente, os exemplos mais latentes de intolerância no mundo globalizado são as constantes epidemias de fome em países periféricos do sistema capitalista; o reinventado imperialismo e o velho discurso civilizador dos países ricos; a ascensão de uma direita ultrarreacionária como força política na Europa; o conflito israelense-

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palestino; a retórica de negação iraniana em relação ao Holocausto judeu durante a Segunda Guerra Mundial; a ascensão do terrorismo como ameaça global; os novos/velhos terrorismos de Estado; os conflitos étnico-nacionalistas na África; golpes militares; a hiperexploração de trabalhadores pobres em vários lugares do mundo; o trabalho infantil e a pedofilia; a pena de morte nos Estados Unidos e em tantos outros países; o estupro legalizado no matrimônio afegão; o fundamentalismo em qualquer religião; a ideia de que matar pode ter um propósito divino, entre tantos outros exemplos possíveis.

Figura 9Fonte: memoriasdaditadura.org.br

Obviamente, pensar a tolerância em sociedades duais, em formações sociais eivadas de contradições e com gravíssimos problemas de subdesenvolvimento e dependência, é uma tarefa muito mais difícil, mas que faz muito mais sentido. Isso porque temos, na América Latina, uma das mais violentas histórias de conflitos civilizacionais, desde a colonização; a hecatombe que vitimou civilizações antiquíssimas; a escravidão; as guerras de independência – excluindo-se daí a experiência lusófona –; o ciclo de civilização e barbárie; o caudilhismo; o populismo; as ditaduras; as revoluções sociais; a organização dos setores subalternos, oprimidos, como forças políticas etc.

A América Latina é complexa, apaixonante e pode ter ainda muito que ensinar aos povos da Terra em termos de multiculturalismo, hibridismo, aceitação das diferenças e consecutivas superações operadas pelos “de baixo” que tantas vezes “assaltaram o céu”, termo muito adequado, embora originalmente utilizado em outro contexto, do filósofo alemão Karl Marx (1818-1883), referindo-se ao efêmero – mas significativo – sucesso da Comuna de Paris, em 1871.

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Seria preciso, portanto, para os novos tempos de circulação mundializada do capital, ou como queira, de globalização, repensar o homem na adversidade e frente os desafios a serem superados pelas novas/velhas sociedades.

Entendendo a intolerância como um dos maiores desafios a serem superados em um contexto de multiculturalismo, devemos observar sua ocorrência também no plano político, como o recurso a meios excessivamente coercitivos para a garantia, pela força ou ameaça do uso da força, de apenas uma interpretação de mundo, o que leva à ideia de civilidade ou cidadania como a adoção de comportamentos de obediência plena e irreflexiva.

Seria preciso repensar o indivíduo de forma plena, exatamente como aquele que deve tomar as rédeas do destino em suas mãos, o agente de sua própria história – e não aquele que anula a si, as suas particularidades, aquilo que o constitui como único, em nome de uma ideologia que uniformize corações e mentes e que o torne estupidamente obediente, como gado.

Figura 10Fonte: memoriasdaditadura.org.br

Essa obediência não se manifesta apenas em relação aos Estados; mas à própria sociedade de consumo de massa na difusão de seus valores. Podemos utilizar, para a análise desse aspecto, o conceito de globalitarismo, cunhado pelo geógrafo brasileiro Milton Santos (1926-2001), quem entendia o consumo de massa como o “fundamentalismo” dos novos tempos. Não seriam as ideologias políticas os controladores desse “não admirável mundo novo”: o que nos uniformiza, padroniza e nos torna subservientes seriam os valores partilhados por essa sociedade materialista, difundidos pelas megacorporações, que nos submeteriam à ditadura da aparência, que entenderiam indivíduos, valorizando-os e lhes atribuindo a própria existência social em relação ao repertório de bens tridimensionais que conseguissem concentrar no tempo efêmero de sua existência.

A ideologia vigente não seria política, totalitarista; mas do consumo acrítico, sem sentido e nocivo ao próprio Planeta, igualmente fundamentalista.

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Material ComplementarIndicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

LivrosMundialização e CulturaORTIZ, Renato. Mundialização e cultura. São Paulo: Brasiliense, 1996.

Por uma outra Globalização: Do Pensamento Único à Consciência UniversalSANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. São Paulo: Record, 2005.

Filmes

Encontro com Milton SantosEncontro com Milton Santos, ou o mundo global visto do lado de cá (89 min., 2007). Documen-tário feito a partir da entrevista de Milton Santos sobre a globalização.

Entre os Muros da EscolaEntre os muros da escola. François Marin (François Bégaudeau) trabalha como professor de Língua Francesa em uma escola de Ensino Médio, localizada na periferia de Paris, onde há um choque de culturas, já que há franceses e outros imigrantes provenientes de diferentes países.

Hotel Ruanda (2004)Hotel Ruanda (2004). Em 1994, um conflito político em Ruanda levou à morte de quase um milhão de pessoas em apenas cem dias. Sem apoio dos demais países, os ruandenses tiveram de buscar saídas em seu próprio cotidiano para sobreviver. Uma das quais foi oferecida por Paul Rusesabagina (Don Cheadle), que era gerente do hotel Milles Collines, localizado na capital do País. Paul abrigou no hotel mais de 1.200 pessoas durante o conflito.

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ReferênciasARRIGHI, G.; SILVER, B. J. Caos e governabilidade no moderno sistema mundial. Rio de Janeiro: Contraponto; UFRJ, [20--?].

HOBSBAWM, E. Era dos extremos: o breve século XX, 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

JAMESON, F. A cultura do dinheiro. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.

MOORE, M. O livro oficial do filme Fahrenheit 11 de setembro. São Paulo: Francis, 2004.

MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez, 2000.

SANTOS, M. Técnica, espaço, tempo: globalização e meio técnico-científico informacional. São Paulo: Hucitec, 1994.

SEGATO, R. L. Formações de diversidade: nação e opções religiosas no contexto da globalização. In: JORNADA SOBRE ALTERNATIVAS RELIGIOSAS NA AMÉRICA LATINA, 6., 6-8 nov. 1996, Porto Alegre, RS.

VOLTAIRE. Cartas filosóficas. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

WERNECK, J. Da diáspora globalizada: notas sobre os afrodescendentes no Brasil e o início do século XXI. 2003. Paper (Curso A Teoria Crítica da Cultura Hoje: Alguns Caminhos Possíveis) - Escola de Comunicação da Universidade Fed-eral do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2003.

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