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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANSETOR DE CINCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM MSICAMESTRADO EM MSICA
EL DECAMERON NEGRO DE LEO BROUWER: EPOPIAS DO HIPER-ROMANTISMO
FELIPE AUGUSTO VIEIRA DA SILVA
CURITIBA2010
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FELIPE AUGUSTO VIEIRA DA SILVA
EL DECAMERON NEGRO DE LEO BROUWER: EPOPIAS DO HIPER-ROMANTISMO
Dissertao apresentada ao Curso de Ps-Graduao em Msica, rea de Concentraoem Leitura, Escuta e Interpretao,Departamento de Artes, Setor de CinciasHumanas, Letras e Artes, UniversidadeFederal do Paran, como parte das exignciaspara obteno do ttulo de Mestre em Msica.
Orientadora: Prof. Dr. Zlia Marques Chueke
CURITIBA2010
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Catalogao na publicaoSirlei do Rocio Gdulla CRB 9/985
Biblioteca de Cincias Humanas e Educao - UFPR
Silva, Felipe Augusto Vieira daEl Decameron Negro de Leo Brouwer: epopias do hiper-
romantismo / Felipe Augusto Vieira da. Curitiba, 2010.
124 f.
Orientadora: Prof Dr. Zlia Marques ChuekeDissertao (Mestrado em Msica) - Setor de Cincias
Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paran.
1. Msica anlise, apreciao. 2. Msica e literatura.3. Brouwer, Leo. El Decameron Negro.I. 4. Composio (msica).I.Titulo.
CDD 781.17
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AGRADECIMENTOS
A Deus, pela, vida, beno e proteo. Aos meus pais, Joo Mrio e Neuci
por apoiarem e confiarem em minhas escolhas. Aos meus irmos, Digo e Nicolle que
sempre trouxeram alegria nos momentos mais difceis. professora Dr. Zlia Chueke
que sempre apoiou e incentivou este trabalho. Ao professor Dr. Orlando Fraga pelas
enumeras vezes em que me ajudou nesta difcil empreitada. Aos amigos Emdio Bueno,
Fabola Macedo e Elisa Castro que tiveram envolvimento direto neste trabalho. Capes
pelo auxlio financeiro.
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As tuas palavras so em tudo verdade desde o princpio, e cada um dos teus
justos juzos dura para sempre.
O Salmista
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RESUMO
As prticas interpretativas e as prticas analticas fazem cada vez mais parte do
ambiente acadmico musical. Como resultado do dilogo entre essas duas correntes este
trabalho visa concretizar uma profunda reflexo sobre a obra denominada El
Decameron Negro do compositor cubano Leo Brouwer. Dividido em dois grandes
captulos, a pesquisa buscou primeiramente contextualiz-la dentro da vida
composicional de Brouwer, e consequentemente fazer um estudo extensivo da obra.
Para fundamentar as questes estabelecidas ao longo do trabalho, foram utilizadas
ferramentas analticas pertinentes a obra. A pesquisa revelou uma grande influncia da
teoria da Razo urea, relaes entre poesia e msica e sobre tudo da composio
modular de Bla Bartk.
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ABSTRACT
Interpretative practices and analytical practices are increasingly part of the academic
musical. As a result of dialogue between these two schools this work aims to achieve a
profound reflection on the work called El Decameron Negro by the Cuban composer
Leo Brouwer. Divided into two main chapters, the first study aimed to contextualize it
within the lifetime of compositional Brouwer, and therefore make an extensive study of
the work. To substantiate the matters set forth throughout the work, we used analytical
tools relevant to the work. The research revealed a strong influence of the theory of the
Golden Section, relations between poetry and music and the modular composition of
Bla Bartk.
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SUMRIO
INTRODUO.................................................................................................................1CAPTULO 1 AS TRS FASES COMPOSICIONAIS DE LEO BROUWER
1.1. Aspectos composicionais................................................................................41.1.1. Composies da Primeira Fase........................................................61.1.2. Composies da Segunda Fase........................................................71.1.3. Composies da Terceira Fase.........................................................9
1.2. Aspectos da terceira fase que influenciaram oEl Decameron Negro..........111.2.1. Leo Brouwer e a Nova Simplicidade.............................................111.2.2. Composio Modular.....................................................................121.2.3. Razo urea...............................................................................131.2.4. Razo urea na Arquitetura e nas Artes........................................141.2.5. Razo urea na Msica.................................................................14
1.2.6. Construo Modular de Bla Bartk..............................................151.2.6.1. Princpios Tonais: Sistema de Eixos...............................161.2.6.2. Princpios Formais: Seo urea....................................191.2.6.3. O Uso dos Acordes e Intervalos: Sistema Cromtico e
Sistema Diatnico...........................................................20
CAPTULO 2 EL DECAMERON NEGRO: COMPOSIO MODULAR E ANARRATIVA DE BROUWER
2.1. Construo da Imagem Atravs da Sntese...................................................25
2.2. A Literatura doEl Decameron Negro...........................................................262.2.1. Os Griots e a Kora.........................................................................282.2.2. A Obra de Brouwer........................................................................28
2.3.El Arpa del Gerrero: Modalismo e Razo urea.........................................292.3.1. Forma, Simetria e Razo urea.....................................................302.3.2. Sistema de eixos e as funes tonais..............................................452.3.3. Construo da Imagem...................................................................55
2.4.La Huida de los Amantes por El Valle de los Ecos: Uma construo
potica..................................................................................................................582.4.1. Poesia e a obra................................................................................592.4.2. Forma Potica-Musical..................................................................712.4.3. Construo da Imagem...................................................................72
2.5.La Balada de Donzella Enamorada: A Dana Ritual..................................742.5.1. A Influncia dos Ritmos Afro-cubanos.........................................752.5.2. Son: uma evocao ao rito Afro-cubano........................................812.5.3. Construo da Imagem...................................................................86
CONCLUSO.................................................................................................................82
REFERNCIAS..............................................................................................................92
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ANEXOSI.Primeiro grfico detalhado da estrutura completa (primeiro movimento)....................94II. Segundo grfico detalhado da estrutura completa (primeiro movimento)..................95III. PartituraEl Decameron Negro (Edio Francesa)....................................................96IV. PartituraEl Decameron Negro (Edio Cubana)....................................................108
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INTRODUO
O interesse pela obra de Leo Brouwer quase unnime entre os violonistas da
atualidade, influenciando consideravelmente toda uma gerao de novos concertistas. H pelo
menos trs aspectos do perfil de Brouwer que podem ser pesquisados : o de intrprete, o decompositor e o de pedagogo. Primeiramente, seus feitos como intrprete podem ser
comparados aos de grandes violonistas, sendo um dos primeiros a pensar uma interpretao
historicamente informada.1 Como compositor foi responsvel por uma expanso bastante
significativa do repertrio violonstico, e como pedagogo, sua idias podem ser acessadas
atravs das colees de estudos para violo, introduzindo aos violonistas uma esttica
contempornea, de execuo e composio, sem precedentes. Suas atuaes frente aos
institutos de cultura cubana proporcionaram-lhe status de pioneiro da nova cultura cubana, aexemplo de sua influncia no movimento da Nova Trova.2 Poder-se-ia adicionar um quarto
aspecto, a ser na verdade, aplicado aos trs outros: a tica marxista. Seu engajamento foi
intenso ao ponto de ser considerado um carto postal da nova Cuba, e divulgador da esttica
de esquerda. Para esse trabalho, sero abordados principalmente aspectos composicionais e,
na medida do necessrio, alguns aspectos histricos e biogrficos, sempre em funo da pea
selecionada e sob a perspectiva do intrprete.
A idia de trabalhar com o El Decameron Negro surgiu aps o concerto de
formatura realizado pelo autor no ano de 2006,3 no qual foi executado o terceiro movimento
da obra. J em fase de estudo com a partitura em mos, buscou-se obter algumas informaes
sobre a obra, por ser muito diferente de suas outras peas mais conhecidas no meio
violonstico como Canticum -obra que esbanja procedimentos vanguardistas - mas pouco
foi encontrado alm de informaes bsicas. OEl Decameron Negro pode ser considerado em
primeira instncia um retorno do compositor s formas criativas mais simples, aps ter
passado por uma fase vanguardista. Isto despertou a curiosidade com relao aos motivos que
1 Interpretao Historicamente Informada ou Performance Historicamente Informada (PHI), o processo darecriao da msica antiga (renascentista, barroca, clssica, romntica) procurando trazer para sua interpretaoaspectos estilsticos de cada poca. O intrprete neste campo atua como um arquelogo, procurando em fontesmusicais e extra-musicais, como relatrio e iconografias da poca, obter informaes necessrias para sua leiturada pea. Atualmente a performance histrica, na teoria e na prtica, uma das principais correntes no cenriomusical. Instrumentos de poca so facilmente encontrados nas salas de concertos e so praticamenteobrigatrios nas substanciais reas do repertrio, principalmente na msica anterior a 1750. (LAWSON etSTOWELL, 1999, p.2)2Nueva Trova comea como uma forma opositora e expresso em termos estticos [dentro da msica popularcubana]. Nos primeiros anos do movimento baseou-se em canes de protesto e promoveu uma nicaperspectiva sobre revoluo para aqueles que estavam dispostos a escutar. Como resultado de sua no
conformidade, jovens trovadores muitas vezes entraram em conflito com a polcia e organizaes culturais nosanos 70. (MOORE, 2006, p.135)3 Concerto realizado no dia 8 de dezembro de 2006, na Primeira Igreja Presbiteriana de Curitiba, fazendo partedo calendrio de recitais de formatura da Escola de Msica e Belas Artes do Paran.
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levaram Brouwer a trilhar este caminho de aparente retorno ao nacionalismo. Sendo assim, a
obra proposta para a anlise, pode ser considerada a primeira pea para violo solo
pertencente a esta nova fase e encarada como uma sntese desta mudana denominada por ele
mesmo como Hiper-Romantismo ou Nova Simplicidade4.
Na busca por anlises desta obra foram encontrados apenas alguns artigos como ode Roberto Pincirolli, para a revista Guitar Review5, o qual abordava aspectos generalizados
da concepo da pea, tcnicas de composio e pouco sobre sua influncia extra-musical,
sendo esta ltima de grande importncia. Sabendo que a obra foi originada a partir do livroEl
Decameron Negro,6 buscou-se fontes que pudessem apresentar um panorama comparativo
entre o material musical e a obra literria para que pudesse enriquecer a performance, sem
muitos resultados. A partir disso decidiu-se por uma abordagem analtica do primeiro
movimento,
7
posteriormente estendida obra toda.Com base em materiais publicados, masterclass com o compositor e recursos
analticos, o presente trabalho tem como objetivo expor ao leitor uma pesquisa sobre esta
composio especifica, com o propsito de esclarecer, primordialmente, questes de ordem
musical e extra-musical que dizem respeito a decises de interpretao, aproximando o
instrumentista do estilo de composio de Leo Brouwer.
Esta pesquisa est estruturada em duas grandes partes: contextualizao e estudo
extensivo da obra. A primeira parte do trabalho consiste em uma contextualizao para
apresentar ao leitor o ambiente que originou os alicerces desta composio. Sem a pretenso
de ser um tratado biogrfico ou uma pesquisa profunda dos fatores histrico-sociais, o
captulo far uma leitura sincrnica de certos fatos da carreira de Brouwer considerados
importantes para o entendimento de sua obra. Fatores de ordem social, como a Revoluo
Cubana, mostraram-se determinantes para suas concepes estticas. Sero igualmente
especificadas, em suas caractersticas mais importantes, as trs fases composicionais
vivenciadas pelo compositor.
Aps uma breve insero ao ambiente poltico-social segue-se um panorama sobre
as composies de Leo Brouwer, a partir da viso do prprio compositor sobre sua obra8. A
4 MKCENNA, Constance.An Interview with Leo Brouwer. Guitar Review. Fall, 1988 p.10.5 PINCIROLI, Roberto.Leo Brouwers Works for Guitar. Guitar Review, Spring,1989 pp. 4-11, Summer, 1989pp. 20-26, Fall, 1989 pp.23-31.6FROBENIUS, Leo.El Decamern Negro, Buenos Aires: Losada Editorial, 1938.7 O trabalho foi apresentado em forma de artigo em 2008 no Segundo Simpsio de Violo da EMBAP disponvel
em: http://www.embap.pr.gov.br/arquivos/File/simposio/violao2008/pdf/05-felipe_vieira.pdf.8 Nos ltimos anos foram publicados um grande nmero de materiais sobre Brouwer, isso se deve ao trabalhodos musiclogos cubanos a exemplo de: Radams Giro e Izabele Hernandez. Em 2009, Radams Giro reuniu emum livro mais de 20 artigos, contendo depoimentos de musiclogos, interpretes ligado ao compositor cubano e
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vida composicional de Brouwer est divida em trs fases, como ele mesmo sugere:
Nacionalista, Vanguardista e Hiper-romntica. A partir dessa classificao, procurou-se
relacionar os comentrios feitos pelo compositor, com uma obra para cada fase, por meio de
exemplos musicais. Para finalizar so expostas tcnicas composicionais utilizadas por
Brouwer em sua terceira fase de composio, denominada Composio Modular.9
As fontespara esse discurso foram retiradas de um artigo feito pelo prprio compositor, com a
finalidade de ministrar uma master class sobre composio no Mxico na dcada de 70. O
artigo contm basicamente anlises da obra de Bel Bartk, compositor que sistematizou os
conceitos modulares aplicados msica.
A segunda parte da pesquisa consiste no estudo detalhado do El Decameron Negro.
Iniciando com consideraes sobre msica e literatura, pretendeu-se trazer tona informaes
sobre o contedo programtico, ou seja, fazer um levantamento sobre o livro homnimo deLeo Frobenius relacionando o texto com a narrativa musical de Brouwer. Visando explorar o
material sonoro em questo da melhor maneira possvel, foram utilizadas tcnicas analticas
com enfoques diferentes para cada movimento da obra. EmEl Arpa del Gerrero foi priorizada
a elucidao das tcnicas composicionais, tendo como delimitao temtica o modalismo e
simetria advinda da Composio Modular. Para o segundo movimento, Huida de los amantes
por el Valle de Los Ecos, a proposta de uma aproximao da msica com a poesia.
Utilizando primordialmente recursos analticos musicais, este movimento tambm foi
estudado a partir da anlise potica, justificada pela grande influncia desse gnero nos
subttulos do movimento e na forma musical. Por ltimo aBalada de La Donzella Enamorada
onde foram enfocados processos motvico-escalares influenciados pelo Afrocubanismo,
traando-se tambm um panorama do contedo dramtico do texto musical. Vale dizer que as
divises de enfoque para cada movimento foram pensadas para fins metodolgicos e no
eliminam de forma alguma outras propostas .
A anlise consiste no objetivo maior desta dissertao. Muitos dos trechos
analisados foram inspirados pela prtica instrumental, colocando-se ento disposio do
leitor musical (performer) algumas possibilidades de maior relacionamento com a obra, por
meio de uma anlise voltada para o intrprete e advinda de um intrprete. As razes para a
escolha de tal contedo para esta dissertao so oriundas da constatao, ao menos no que
concerne o meio acadmico brasileiro, de uma escassez de trabalhos analticos voltados para a
prtica violonstica.
uma srie de entrevistas feitas com o compositor entre 1960 1990 encontrado em : GIRO, Radams. LeoBrouwer: Del rito al mito. Cuba:Ediciones Museo de La Msica, 2009.9 Composio baseada em um equilbrio proporcional entre as partes e obtida pelos mdulos matemticos, sendoo mdulo mais conhecido e utilizado a seqncia Fibonacci. Existem muitos compositores que se valeram destepensamento, dentre eles J.S. Bach e Bel Brtok. Ver, cap. 1.2.5. Razo urea na Msica.
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1.AS TRS FASES COMPOSICIONAIS DE LEO BROUWER.
1.1. Aspectos Composicionais.
Juan Leovigildo Brouwer Mezquida, nasceu em primeiro de maro de 1939 emHavana. Comeou a tocar violo aos 12 anos atrado pelo flamenco e por influncia de seu
pai, que era mdico e violonista amador aficionado. Aps seis meses foi estudar com Isaac
Nicola e por meio de de sua orientao Brouwer conheceu o repertrio tradicional
violonstico.
Comecei um pouco tarde, aos doze anos. Eu primeiro aprendi com meu pai, um msicoamador que nunca havia estudado. No comeo, fiz tal progresso que eu poderia tocaralgumas peas, dentro de trs ou quatro meses, mas s de ouvido.[...] Eu eracompletamente aficionado por flamenco, mas Nicola abriu meus olhos para a Renascenae a msica Barroca, bem como para a msica do sculo XIX. (PRADA. 2008. p. 142)
O ambiente em que Brouwer cresceu, at sua adolescncia, era de muita agitao
poltica, e este perodo foi denominado pelos cubanos como pseudo-repblica, que se
estendeu desde a independncia cubana em 1902 at a revoluo de 1959. Em 1940, quando
Brouwer ainda tinha apenas um ano de idade, o General Fulgncia Batista10 foi eleito como
presidente para um mandato de quatro anos, mas sua administrao foi marcada por grandes
corrupes, extorses, racismo e diviso de classes.
Em 1952, Batista volta ao poder como ditador aps um golpe contra o ento
presidente Carlos Prio. Esta ofensiva aconteceu pelo fato de Batista ser um dos candidatos
presidncia, mas tinha como certa sua derrota. Logo aps sua tomada de poder, foram
suspensas as garantias da constituio de 1940 assim como o direito greve, fomentando a ira
dos partidrios da esquerda.
Nessa poca Fidel Castro era apenas um jovem militante do partido ortodoxo que
concorria a outro cargo na mesma eleio. No ano seguinte ao golpe ele organiza um ataque
ao quartel de moncada apoiado por estudantes e operrios; fato este considerado por muitos
como o germe da revoluo que aconteceria anos mais tarde.
Durante esse perodo, Brouwer ainda adolescente, j era comprometido com as
questes econmicas e sociais de seu pas, sendo influenciado por ideologias marxistas
amplamente difundidas em sua poca.
10 Rubn Fulgncio Batista y Zaldvar, (Banes, 16 de janeiro de 1901 Marbella, 6 de agosto de 1973) foiquem ostentou o poder em Cuba de 1933 a 1940, foi presidente oficial do pas de 1940 a 1944 e novamente de1952 a 1959 como ditador. Foi deposto por Fidel Castro em 1959 e obteve exlio permanente na Ilha da Madeirae no Estoril em Portugal e depois na Espanha aonde morreu. (WOLFF, 2006, p.178)
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O Jovem Leo Brouwer, vivendo debaixo deste regime, muito provavelmente estava a pardas arbitrariedades ocorridas. O prprio afirma que: antes da revoluo me via em umasituao angustiosa, no s no papel econmico, mas tambm no papel social que tinha.Este perodo, corresponde, socialmente, a uma etapa feroz da ditadura batistiana, no qualera preciso reafirmar a nacionalidade por medo de perd-la, dentro do caos poltico domomento (PRADA, 2008, p. 28.)
Musicalmente Cuba tinha um grande nmero de conservatrios e academias e
possua tambm uma das melhores orquestras da Amrica Latina. Este cenrio orquestral
recebia muitas crticas de msicos locais por tocar na maioria de seus concertos peas do
repertrio tradicional, no abrindo espao para msica do sculo XX e muito menos para
composies de msicos cubanos. Em uma entrevista Brouwer diz: Em minha opinio este
[perodo] realmente foi um vcuo apesar de tudo o que foi feito. O que aconteceu durante
esses anos foi que havia um interesse muito maior na cultura universal, e as questes culturais
locais foram amplamente ignoradas. (KIRK, 2001, p. 96)
Antes da revoluo grupos de artistas e intelectuais j se movimentavam em
direo ao nacionalismo, e esses movimentos ganharam foras com os estudos de Fernando
Ortiz (1881-1969), um etnlogo e um dos maiores defensores da reinterpretao do conceito
de cubaneidade e as influncias do legado africano nesta cultura. Havia pelo menos dois
grupos que foram criados a partir destes conceitos: O Grupo Minorista formado em Havana
em 1923, por uma nova gerao de pensadores progressistas, jornalistas e artistas, cujo
objetivo foi explorar as razes da cubaneidade para forjar uma incluso da identidade cultural
com um sentimento de modernidade, e o Grupo de Renovacion Musical, formado em 1942,
por Jos Ardevl que continuou a procura por uma genuna msica cubana, mas tinha como
objetivo alcanar uma maior universalidade desta msica sem perder suas inatas
caractersticas. A Renovacin buscou criar um cubanismo que fosse menos pitoresco e
localizado. (MCKENNA, 1988, p. 15)
A questo nacional e a busca pela identidade artstica cubana so amplamente
abordadas por Brouwer. Isto o levou a participar ativamente de grupos artsticos quepromoviam cultura com idias revolucionrias, como a Sociedad Cultural Nuestro Tiempo em
Havana, e o Cine Clube Vision, ambas ligadas ao Partido Socialista Popular, fazendo assim
sua ascendente carreira dentro do movimento poltico-artstico. Seu reconhecimento como
revolucionrio lhe rendeu mais tarde cargos no novo governo e consequentemente a bolsa de
estudos para o exterior.
Brouwer comeou a compor por volta dos 15 anos de idade e sua vida
composicional, at o presente momento, pode ser divida em trs fases: a primeira que vai de
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1955 at 1961, a segunda a partir de 1962 at 1977 e a atual que se iniciou em 1978. 11 Apesar
de Brouwer ser um dos grandes compositores para violo do sculo XX, no podemos dizer
que suas composies trouxeram novas linguagens; talvez ele mesmo no tenha tido esta
inteno. Brouwer (DAUSEND, 1990, p.11) comenta que comeou a compor para preencher
e fechar uma lacuna, j que o repertrio violonstico da poca era quase insignificante pertodo vasto repertrio para outros instrumentos solistas, a exemplo do piano.
No cometeramos nenhum exagero ao dizer que Brouwer no inventou nenhumalinguagem nova com sua msica para violo, como fez Villa-Lobos. Apesar disso, notvel sua capacidade de aglutinar tendncias ou tcnicas e transladar para a linguagemviolonstica de forma idiomtica. Tambm no seria exagero estabelecer trs grandesmarcos na histria recente do violo: Primeiro perodo com Trrega por ter estabelecidouma escola guitarrstica, o segundo com Villa-Lobos que foi responsvel por um grandedesenvolvimento quanto a solues composicionais e o terceiro com Brouwer por teralargado as fronteiras da msica para violo. (FRAGA, 2005, P. 1)
Os elementos que contriburam para tal ampliao dos recursos violonsticos
segundo Terezinha Prada (2008, p.117) foram:
1. novos efeitos tcnicos (pizzicati all Bartk, percusso com ambas as mos nascordas do instrumento);
2. fatores extra-violonsticos (tocar com arco, bater no tampo do violo, apoiar oinstrumento sobre as pernas e utilizar artefatos metlicos e de cristal);
3. mudanas morfolgicas (utilizar procedimentos de outros estilos e traz-lossimultaneamente para o violo clssico, como rasgueados do flamenco, glissandido blues, e usar afinaes no-tradicionais ao instrumento).
1.1.1 Composies da Primeira Fase.
A pesquisa feita por Isabelle Hernandez mostra que at o ano de 2000 Brouwer
comps 38 peas para violo solo, sendo a primeira datada em 1954, mas segundo a entrevista
feita por Rodolfo Betancourt existe uma diferena de apenas um ano, datando o incio das
atividades de Brouwer12 como compositor em 1955. Essas desinformaes acontecem porque
muitas partituras no incio no foram datadas ou foram perdidas, salvo algumas que foram
guardadas por amigos.
11
MKCENNA, Constance.An Interview with Leo Brouwer. Guitar Review. Fall, 1988 pp. 10-1612 BETANCOURT, Rodolfo. A Close Encounter With Leo Brouwer.http://www.musicweb.uk.net/brouwer/rodolfo.htm. Acesso em 20/03/2005
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Comecei compondo em 1955. Tive um contato muito forte neste primeiro perodo com acultura popular (verncula), a cultura com razes nos rituais africanos que tem umatradio de quase 500 anos em Cuba. Esse foi o pilar para os materiais temticos da minhamsica, uma fonte de razes Afro-Cubana, naturalmente com uma harmonia sofisticada.(BETANCOURT, 1997, p. 2).13
A primeira fase de criao pode ser chamada de Nacionalista, que vai de 1954 at
1961. Fortemente influenciada pelo afro-cubanismo. Suas primeiras peas foram arranjos
sobre temas populares cubanos como Drume Negrita, Guajira Criolla e Zapateo. Dentre as
composies originais podemos destacar aDanza Caracterstica ,escrita em 1957 e dedicada
a seu professor Issac Nicola. A obra baseia-se em ritmos afrocubanos como o tresillo e a clave
cubana.
Exemplo 1- Incio daDanza Caracterstica.14
1.1.2 Composies da Segunda Fase
Trs anos aps a revoluo e um ano depois dos bloqueios econmicos
comandados pelos E.U.A. ilha cubana, Fidel Castro comeou a definir sua poltica aliando-
se ao bloco socialista. Por conseqncia desses fatores Brouwer comea a ter mais contato
com compositores do bloco comunista e do circulo vanguardista do leste europeu. Essa foi a
fase mais ativista do ponto de vista ideolgico que podemos ver na sua carreira. Brouwer diz:
13 I had very strong contact in this first period with popular [vernacular] culture, a culture with roots in Africanrituals that have a tradition of almost 500 years in Cuba. It was the pillar for the thematic materials of my music,the source of its Afro-Cuban taste, of course with um sophisticated harmony.14 BROUWER, Leo. Danza Caracterstica: Ed. Schott, 19?.
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O motivo principal para a mudana na maneira de compor foi a revoluo cubana, queviveu um momento de catarse, nascimento da vanguarda e a liberdade criadora; e essesmsicos europeus, preocupados com o desenvolvimento cultural e social, encontraramLeo Brouwer em Cuba e levaram sua msica Europa.(BETANCOURT, 1997, p. 2.)
A segunda fase pode ser denominada como Experimentalista ou como o prprio
compositor prefere chamar, Vanguarda, que tem como ponto inicial o festival de outono em
Varsvia na Polnia em 1961. Nesta ocasio Brouwer escutou performances de Lutoslawski,
Stockhausen e Penderecki reforando seu contato com a vanguarda europia, um ano depois
foi publicada sua primeira obra aleatria, o Sonograma Ipara piano preparado.
No ano de 1962 comea uma nova etapa intermediria. So as primeiras msicas, as quaisno gosto de chamar experimentais, mas que se consideram dentro do tipo de vanguardadesta dcada. Comea com o Sonograma para pianos e as Variantes de Percusin de1961/62. (BETANCOURT, 1997, p. 2.)
Terezinha Prada (2008, p.142) descreve alguns aspectos que se tornaram
marcantes neste perodo: formas abertas de composio; aleatorismo parcialmente controlado
(improvisao aleatria); uso constante de cromatismo, politonalidade, polirritmia, variaes
timbrsticas e clulas meldicas (temas) curtas e similares entre si.
A obra para violo solo Canticum composta em 1968, dedicada ao violonista
cubano Carlos Molina, uma sntese da linha vanguardista adotada nesta fase. O prprio
Brouwer disse que esta uma obra didtica, na qual pretendeu mostrar resumidamente uma
srie de procedimentos da vanguarda. (PRADA, 2008, p.143)
Exemplo 2 Incio do Canticum para violo solo.15
15 BROUWER, Leo. Canticum: Ed. Recordi, 19?.
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A visita dos compositores Luigi Nono16 e Hans Werner Henze17 a Cuba em 1967 e
1969, contriburam definitivamente para a produo da msica vanguardista de Brouwer18.
Uma das obras marcantes deste perodo a adaptao para violo solo de Memrias del
Cimarrn (1970) do Hans Henze.
1.1.3. Composies da Terceira Fase.
Mais ou menos duas dcadas depois da revoluo que trouxe consigo uma
liberdade criadora, muitos compositores cubanos aderiram ao movimento vanguardista. Aps
este eufrico perodo experimentalista, houve ento necessidades de mudana nas bases
composicionais de Brouwer, para que a liberdade de criao continuasse, j que esta
linguagem estava saturada.
Chegou um momento em que me saturei da linguagem agora chamada velha vanguarda,esta msica contempornea que todos temos feito e que no entanto se segue fazendo pormuitos compositores. O que aconteceu foi que a linguagem atomizada, crispada etensional deste tipo de msica adoeceu, e segue adoecendo at hoje, de um defeitorelacionado com a essncia do equilbrio composicional em todas as etapas da histria, omovimento da tenso com seu conseqente repouso, o relaxamento. Esta lei doscontrrios, dia e noite, homem mulher, ying-yang e tempo de amar e tempo de odiarexistem em todas as circunstncias do homem. A vanguarda carecia de repouso.(BETANCOURT, 1997, p. 1)
A terceira fase inicia-se por volta de 1978 com a pea Acerca del sol y l'aire y la
Sonrisa, escrita para orquestra de violes. Podemos ver claramente nas obras desse perodo
elementos j antes utilizados, como ritmos da msica popular e procedimentos da vanguarda,
alm de outros elementos novos como o minimalismo19.
A volta s razes nacionalistas neste perodo explcita, mas podemos ressaltar
outros pontos que fazem um grande contraste com a fase precedente a esta nova simplicidade,
dentre os quais observamos: a utilizao de formas tradicionais como a Sonata e o Rond, e o
16 Compositor italiano (1924-1990). Foi personagem central, com Boulez e Stockhausen, da vanguarda europiada dcada de 50, combinando radicalismo musical com um apaixonado engajamento na poltica de esquerda, daqual sua msica extraiu fora, urgncia e uma beleza feroz. (GRIFFTHS, 1995, p. 155)17 Compositor alemo (1926-). Criou bem depressa uma hbil sntese de neoclassismo stravisnkiano comserialismo bergiano, algumas vezes com colorido jazzstico. Aps a obra the bassarids, entrou num perodo deauto-questionamento, registrado em seu Segundo Concerto para Piano e que redundou num compromisso com osocialismo revolucionrio. (GRIFFTHS, 1995, p. 99)18 Porm Brouwer deixa claro que nunca foi influenciado pela msica de ambos. (BETANCOURT, 1997, P.2)19O minimalismo um gnero originado nos Estados Unidos por volta dcada de 60, baseada na harmonia
consonante, em pulsaes constantes, na esttica e lentas transformaes, muitas vezes na reiterao das frasesmusicais em pequenas unidades como figuras, motivos e clulas. Mas o minimalismo que Brouwer est se
referindo tambm diz respeito aos que antes j existia nos povos primitivos, como o Gamelo Balines e osRitmos Africanos, sendo que esses tambm serviram de inspirao para os primeiros minimalistas como PhilipGlass e Steve Reich. (SADIE, Stanley; TYRRELL, John, 2001, p.?).
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retorno s veias meldicas, construdas muitas vezes a partir de escalas pentatnicas
acompanhadas de harmonias modais. O nome dado a este perodo classificado por ele como
Hiper-Romantismo e em alguns casos o prprio Brouwer chama deNueva Simplicidad.
Ento eu voltei gradualmente s razes nacionais atravs do sofisticado sentimento
romntico. Vamos chamar isso de Hiper-Romantismo, visto que eu estou usando o que um obvio clich. Ele (hiper-romantismo) no tem o sentimento do romantismo tardiocomo Barrios Mangor ou um puro Romntico como Mahler. Isso no apenas umacitao do estilo, mas uma necessidade, uma redescoberta de estilo, do mesmo jeito quealguns compositores esto usando elementos como o gamelo da Indonsia, ritmos dafrica, e convertento-os para uma nova coisa que se chama msica minimalista. Eu estoufalando nesse estilo Neo-Romntico, no como Neo mas Hyper. (MCKENNA, 1988,p. 15) 20
Fiz uma espcie de regresso que fazia simplificar os materiais compositivos em minhaltima etapa que chama de Nueva Simplicidad. Esta nova simplicidade engloba oselementos essenciais da msica popular, msica acadmica e da mesma vanguarda que meserviu para dar contraste a grandes tenses. (BETANCOURT, 1997, p. 1.)
Dentro desta nova etapa podemos destacar obras como os Preldios Epigramticos
(1971), o Concerto de Toronto (1987) e o El Decameron Negro (1981) que ser analisado em
seguida.
Exemplo 3 Preldios epigramticos (n. 1) de Leo Brouwer
20 And, then I came back gradually to national roots through a sophisticated romantic feeling. Let`s call it hyper-
romantic, because what I`m using is an obvious clich. It doesn`t have the feeling of a late Romantic like BarriosMangor or pure Romantic like Mahler. This is not only a quotation of style, in the same way that somecomposers are using elements like the gamelan from Indonesia, and rhythms from Africa, and converting theminto a new thing called minimal music. I am talking this Neo-romantic style which is not neo but hyper.
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1.2. Aspectos da terceira fase que influenciaram oEl Decameron Negro.
1.2.1 Leo Brouwer e a Nova Simplicidade.
A Nova Simplicidade (em alemo, die neue Einfachheit) foi uma tendncia
estilstica entre compositores alemes entre 1970 e incio dos anos 1980, reagindo no scontra a vanguarda europia dos anos de 1950 e 1960, mas tambm contra a mais ampla
tendncia objetividade encontrada desde o incio do sculo XX. Termo alternativo, por
vezes utilizado para este movimento o Novo Romantismo.21
Em geral, esses compositores atentaram para um imediatismo entre o impulso
criativo e o resultado musical (em contraste com o planejamento elaborado pr-
composicional, caracterstica dos vanguardistas), com a inteno tambm de se comunicar
mais facilmente com o pblico. Em alguns casos, isso significou um retorno linguagemtonal do sculo 19, bem como s formas tradicionais (sinfonia, sonata) e combinaes
instrumentais (quarteto de cordas, trio de piano), que tinham sido evitadas, na maior parte da
Vanguarda. Para outros, significou trabalhar com texturas mais simples ou o emprego de
harmonias tridicas em contextos no-tonais.
Brouwer no constitui um fenmeno isolado quando se trata de um retorno ao
tonalismo. Seu questionamento vanguarda se traduz no que ele chama de reflexo sobre este
mundo de abstrao. Os anseios que a revoluo cubana traria para a inovao da arte, ou
seja, a vanguarda, agora militam contra os seus princpios bsicos. A msica j deixou de se
comunicar com o pblico e com o povo, portanto, h a necessidade de regredir. Mas
entenda-se a regresso no como involuo, retrocesso ou estancamento, ao contrrio, sua
msica tem se enchido de energia especial e mais orgnica (HERNANDEZ, 2000, p.209).
Para muitos compositores da nova simplicidade, o minimalismo a base esttica e
obras como El Decameron Negro so reflexos desse movimento. H muitos compositores
que compartilham este compromisso geral da nova simplicidade, como Philip Glass, Steve
Reich, Goreck, Jo Kondo, Yoji Jvasa y Toshi Ichiyanagi. (HERNANDEZ, 2000, p.210). Ao
citar compositores minimalistas, Brouwer se preocupa em classificar este movimento. De
qualquer forma penso que o conceito de msica minimalista demasiadamente estreito para
descrever este movimento (HERNANDEZ, 2000, p. 210)
Ao constatar que Brouwer est inserido no contexto, que primariamente pode
ser chamado de minimalista, vemos em suas prprias palavras que sua terceira fase de criao
est baseada na redescoberta do Romanticismo. Como poderemos classificar ou ao menos
21 SADIE, Stanley; TYRRELL, John. The New Grove Dictionary of Music and Musicians. England. OxfordUniversity, 2001.
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situar Brouwer em meio a tantos rtulos? H um termo que vem sendo discutido para
compositores como ele, que possui atributos do minimalismo, porm aflora em sua esttica a
mistura de elementos de outros perodos. Dimitri Cervo (2005, p.1) prope o termo ps-
minimalismo para tais compositores:
Por isso se ps-minimalismo uma terminologia, isso tem sido utilizado para referir umagama de obrar produzidas por diferentes compositores de diversos pases, iniciado nofinal dos anos 70. Os fatores estticos comuns a essas obras que eles partem dominimalismo em alguns aspectos (tecnicamente, estilisticamente ou todos os aspectos),mas ecleticamente misturam com outras tcnicas, ou outros elementos, obtendoresultados artsticos originais, mas o minimalismo ainda sentido.22
A constatao de que a partir da obraAcerca del cielo y el aire y la sonrisa (1978)
h uma mudana esttica em direo ao minimalismo-romntico, nos permitindo dizer que
Brouwer est inserido neste movimento podendo ser considerado, a princpio, como ps-minimalista. Leo Brouwer pode ser considerado um dos primeiros representantes do ps-
minimalismo Latino Americano.
1.2.2. Composio Modular.
Sero apresentados a seguir alguns aspectos da tcnica composicional a que
Brouwer aderiu em sua terceira fase de criao. A partir de um pequeno artigo23
escrito porele para uma palestra sobre composio no final dos anos 70 no Centro de Investigaes
musicais do Mxico, investigaremos os ecos desta tcnica aplicada obra El Decameron
Negro.
O termo modular, do latim Modulum, a proporo que existe entre as
dimenses dos elementos de um corpo ou obra que se considera perfeita ou unidade que se
toma para estabelecer esta proporo (BROUWER, 2004, p.71). Esta definio nos d a
direo de relacionamento entre matemtica e msica, trazendo tona a aritmtica modular,sendo o mdulo mais comum a seqncia Fibonacci. A concepo modular foi amplamente
utilizada na renascena por pintores como Leonardo da Vinci, no Barroco, tendo como
exemplo a oferenda musical de Bach, e recuperada na arquitetura do sc. XX pela escola de
22 Therefore if Post-Minimalism is a valid terminology, it has to be used to refer to a body of works produced bydifferent composers from different countries, 22 starting in the late 70s. The common aesthetical feature of these
works is that they depart from Minimalism in some aspects (technical, stylistic, aesthetical, or altogether), buteclectically mix it with other techniques, other stylistic elements, reaching original artistic results, but in whichMinimalism is still felt.23 BROUWER, Leo. Gajes Del oficio. Cuba: Letras Cubana, 2004
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Bauhaus24. Consequentemente vrios artistas plsticos e compositores do sculo XX foram
influenciados por essa teoria matemtica, entre eles Paul Klee, Kandinsky e o compositor
hngaro Bel Bartk.
1.2.3. Razo urea.
A seqncia Fibonacci aparece pela primeira vez em 1202 no livro de clculo
Liber Abaci, escrita por Leonardo de Pisa, com o intuito de explicar o crescimento dos
nmeros de coelhos em uma regio. O nome Fibonacci a contrao em Latim de Filius
Bonacci, que vem do nome Guglielmo Bonaccio, pai de Leonardo de Pisa. Fibonacci
(Leonardo de Pisa) viajava junto com seu pai, comerciante importante da poca e teve seus
primeiros contatos com a matemtica na costa norte da frica, mais especificadamente nacidade de Bulgia (Arglia). Viajou por vrios pases aprendendo e discutindo com vrios
matemticos. Atribui-se a ele a responsabilidade pela introduo dos nmeros Hindu-
Arbicos no ocidente, antes dominado pela numerao romana.
A seqncia Fibonacci resume-se em uma constante numrica em que o prximo
nmero a soma dos dois nmeros anteriores, originando a constante 1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21,
34, 55, 89, 144 ... Esta seqncia tende Razo urea. Segundo a teoria, esta Razo
encontrada na sociedade e na natureza. Na natureza ela responsvel por explicar as mais
belas formas, como por exemplo: a folha de uma planta, formas espirais (fig.1) e outras
formas consideradas perfeitas.
Figura 1 Estrutura em apiral contituida pela Razo urea.
24 Escola de design, arquitetura e artes aplicadas que existia na Alemanha 1919-1933. Sua sede era em Weimarat 1925, depois em Dessau 1932, em seus ltimos meses em Berlim. A Bauhaus foi fundada pelo arquitetoWalter Gropius, que combinou duas escolas, a Academia de Artes de Weimar e a Escola de Artes e Ofcios de
Weimar. Essa escola foi chamada de Bauhaus, nome derivado da palavra alem Hausbaus, Construo de umacasa. (WOLFF, 2006, p.180)
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1.2.4. Razo urea na Ar
A utilizao da
como pirmides egpcias
construdo pelo arquiteto2). Outros grandes exem
medievais. Na escultura,
foi amplamente utilizada p
Fig
No Sculo X
Podemos destacar Paul Kl
XX (BROUWER, 2004,
(rvore-raiz-folha) que refl
versa (fig21, p.30), refletin
1.2.5. Razo urea na M
Assim com n
modular. Os conceitos deforma: 1) o uso de uma u
atravs do desenho uma re
ou formas estruturais musi
obra que foi escrita e ofere
rei, sobre o qual Bach imp
composto de cinco notas
mltiplos de cinco, incluinmais cinco Cnones e Ric
quitetura e nas Artes.
razo urea est presente nas formas em co
e a Arca de No conforme descrito na
idias no sec. V, um dos exemplos da utililo so: a construo Notredame de Paris
ichelangelo utilizou a razo ao esculpir Dav
r Leonardo da Vinci, incluindo em Monalis
ra 2 - Exemplo da utilizao da Razo urea no Part
existem vrios autores que se valeram
e, que o prprio Brouwer cita como gigant
p.74). Em seu artigo o compositor cita o
ete o axioma: o que comum ao todo co
o o pensamento da busca por um equilbrio
sica
s outras artes, os compositores se apropr
teoria aplicada msica so definidos pornidade de medida como base para um desen
lao de propores.(BROUWER, 2004, p.
ais citadas por ele encontrado na oferend
ida a Frederico II da Prssia a partir de um t
rovisou variaes e mandou-lhe como prese
e interessante verificar que Bach orga
do Ricercare inicial, seguido de cinco Cnrcare final, formou um desenho de arco (fi
14
strues mais antigas
Bblia O Parthenon
ao desta razo (fig.e cpulas de igrejas
i. Na pintura, a Razo
.
e .
deste conhecimento
e da pintura do sculo
exemplo do digrama
mum as partes e vice-
atravs da simetria.
aram do pens
Brouwer da seguiho estrutural; 2) adota
2). Um dos desenhos
musical de J.S.Bach,
ma dad
te. O tema sugerido
iz sempre por
nes, um Trio Sonata,g.3 A partir do tema
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que lhe foi dado, Bach o
mostrando que a teoria me
se desenvolve at sua pl
(BROUWER, 2004, p.72).
Figura 3
1.2.6. Construo modula
Ns seguimos
1971, p.29). A paixo pela
um ser orgnico presentinfluencia seu pensamento
Brouwer, no ar
Bartokianas exercem sobre
pela questo da esttica m
com a dualidade folclore v
70. A utilizao desse sist
contm elementos comuns
uma inteno folclrica po
A seguir sero
Negro. Para os fundamen
Lendvai intitulado Bel B
Brouwer em seu artigo sob
25 We follow nature in compositi26LENDVAI, Ern.Bla Bart
tm a proporo entre suas clulas temtic
ieval de melodia perfeita igual ao home
nitude e desce at morrer (ou repousar)
Organizao da Oferenda musical de Bach.
r de Bla Bartk
a natureza na composio 25 afirma Bar
cincias naturais faz com que Bartk pense
na natureza e sua crena em uma proesttico
tigo sobre composio modular, explicita a i
sua msica. A admirao pela composio
sical, mas tambm pela maneira como o co
rsus universalidade, questo emblemtica p
ma (modular) provm de um conhecimento
msica mais primitiva da sociedade, ao
refletir a natureza.
abordadas as idias de Bartk que influenci
os tericos, ser utilizado o livro do mus
An Analysis of his Music,26 que a
e composio modular.
on.: An analysis of his Music. Grain Bretain: Halstan
15
as e a forma musical,
, nasce do p, cresce,
do p aonde veio.
k (apud LENDVAI,
sua composio como
porcionalidade divina
fluncia que as idia
e Bartk no passa s
positor h
ara o c nos anos
musical universal que
mesmo tempo reflete
aram o El Decameron
clogo hngaro Erno
rincipal re de
Co. Ltda., 1971.
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1.2.6.1. Princpios Tonais: O Sistema de Eixos (Axis System).
O sistema criado por Bla Bartk, no tinha a inteno de dissolver o sistema
tonal, como fez Schoenberg, mas sim explor-lo de forma diferenciada. Atravs da anlise
de suas composies, o sistema de eixos pode indicar primeiramente, possuir essnciasprprias da harmonia clssica27 (LENDVAI, 1971, p.1). Os princpios tonais presentes na
msica de Bartk so: a) as afinidades funcionais dos quartos e quintos graus; b) o
relacionamento da relativa maior e tonalidades menores; c) os relacionamentos harmnicos
(overtones); d) o papel da conduo das vozes; e) as tenses opostas, dominante e
subdominante; f) a dualidade tonal e princpio das distncias.
a) As afinidades funcionais, trazidas do sistema Tonal, so abordadas por Bartk
da seguinte maneira: tomando a nota D como Tnica, temos F como Subdominante e SolDominante; se levarmos em considerao a relativa de cada uma dessas notas obteremos: L
como Tnica, R como subdominante e Mi como Dominante. Organizando essas notas em
intervalos de quintas mostrar-se- que as funes se repetem em uma seqncia S-T-D (fig.4).
Bartk amplia as possibilidades tonais at completar o circulo de quintas, obtendo assim a
repetio da seqncia funcional S-T-D (fig.5).
Figura 4 - Funes da Tonica, Subdominante, Dominante e suas relativas, distribudas em
intervalos de quintas.
Figura 5 - Ciclo das quintas e suas funes.
27 By an analysis of his compositions, this axis system can primarily be shown to possess the essential propertiesof classical harmony.
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Dentro do ciclo das quintas as notas so separadas por meio de eixos, conforme
suas afinidades funcionais, gerando respectivamente os eixos de Tnica, Subdominante e
Dominante (fig.6). Lendvai (1971, p.3) afirma que todo acorde baseado nestas fundamentais
indicadas pelos eixos adquirem respectivamente suas funes, como exemplo: D, Mib (R#),
F# (Solb) e L tem funo Tnica ou Mi, Sol e os seus complementares no eixo sodominantes.
Figura 6 Sistema de Eixos.
O relacionamento dos opostos, como dominante/tnica presentes na msica tonal,aparece em Bartk como Plo/Contra-plo, propondo um relacionamento opositor Vertical
entre D e F# e opositor horizontal entre L e Mib . Esses eixos so hierarquizados como
Ramo Principal (Principal Branch) e Ramo Secundrio (Secundary Branch).
Figura 8 Hierarquizao dos Ramos (Branch).
Um exemplo para o uso do Sistema de Eixos o movimento lento da Sonata para
Dois Pianos e Percusso (fig.9). Esta obra foi baseada sobre o Eixo Subdominante, Si-R-F-
Lb, conforme as tradies da composio clssica. (LENDVAI, 1971, p.5)
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Figura
b) O sistema
natural da harmonia funci
chamadas relativas. A parti
fundamento o processo his
9 Sonata para dois pianos e percusso.
e eixos considerado pelo compositor h
nal europia, a qual propunha co
r do acorde
rico do surgimento do sistema de eixos (fig
Figura 10 Acorde maior-menor
18
ngaro uma evoluo
entos funcionais das
aior
.11).
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Figur
1.2.6.2. Princpios Forma
As anlises de
sees submetida mtri
para Cordas, Percusso e
compassadas pela numera
Partindo de umretrocede outradivididos em sevista da cor e arque leva ao clm13+21.28(LEND
Figura 12 DiviMsica para Cordas, Percusso
O mesmo oc
Fibonacci reflete, de fat
reflexo se d literalment
forma de espelho (fig.13).
28 Starting pianissimo it graduallof the movement are divided intpoint of view of color and dynaup to the climax onwards, 13 +
a 11 A utilizao do acorde maior-menor como piv
s: Seo urea.
Lendvai (1971) mostram que a constru
ca urea. As propores do primeiro movim
elesta mostra a direcionalidade dinmica
o Fibonacci (fig. 12).
pianssimo ele cresce gradualmente para umvez para um piano Os 89 compae movimentuitetura dinmica a forma subdivide-se em outr
ax (comp.55) mostra a diviso de 34 + 21, e porAI, 1971, p.27)
so das sees (atravs da seqncia Fibonacci) ne Celesta.
rre com o terceiro movimento desta ob
, a lei do crescimento natural (LENDV
quando a reexposio do primeiro e segu
y rises to fortesection of 55 and 34 bars by the peak of this pyramiic architecture the form sub divides into further units1.
19
das relativas.
o dos temas, frases e
ento (fuga) da Musica
a divis das sees,
forte entosos do movimento sopiramidal. Do ponto de
s unidadessua vez tem seu clmax,
primeiro movimento da
a, onde a seqncia
I, 1971, p. Essa
ndo tema aparece em
-
: []The section leading
-
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Figura 13 Esque
1.2.6.3. O Uso de Acordes
No sculo XX
sistemas musicais iniciad
particular de organizao
conjuntamente formam o
Acstico, segundo Lendva
segundo pela criao de te
O Sistema Cr
seguinte forma. A srie
relao 1= unssono, 1= se
8 = sexta menor e etc. (
em relao primeira c
organizao dos sons com
Figura 14 - Orga
urea).
ma formal do terceiro movimento da Msica para Cor
e Intervalos: Sistema Cromtico e Sistem
com o surgimento da atonalidade e a
por Schoenberg, muitos compositores
sonora. Bartk cria dois pensamentos di
mago de sua composio So eles: Sistem
i (1971 p.89) o primeiro responsvel pela
so.
mtico desenvolvido por Bartk utiliza a s
[Fibonacci] lev a intervalos musicais
unda menor , 2 = segunda maior, 3 = tera
ROUWER, 2004, 78). Evidentemente esta
mo mostrado nas setas. Brouwer denomi
Escala urea (fig.14).
izao escalar utilizada por Bartk baseada na se
20
das, Percusso e Celesta.
Diatnico.
rganizao de novos
busc sua maneira
tintos, que utilizados
Cromtico e Sistema
rganizao sonora e o
qncia Fibonacci da
semi-tons nos d a
enor, 5 = quarta justa
relao estabelecida
na a resultante dessa
ncia Fibonacci (Escala
-
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21
Os motivos, as frases ou temas so moldados pelos intervalos ureos, como vemos
na Sonata para dois Pianos e Percusso de Bartk (fig.15).
O tema principal compreende 13 semi-tons divididos pela nota fundamental C formando5 + 3. A primeira frase do segundo tema estende-se em 13 semitons, de G descendo para
F#; enquanto a segunda frase, 21 semitons, de Si descendo para R.29 (LENDVAI, 1971,p.37)
Leitmotif 3+5 = 8
Tema Principal 5+8 = 13
Tema Secundrio 13 e 21
Figura 15 Motivos e Temas da Sonata para Dois Pianos e Percusso.
Os princpios harmnicos que regem a Sonata para Dois Pianos e Percusso de
Bartok tambm tm seu embasamento na Razo urea.
O tema principal logra sua mgica cor-tonal de uma harmonia pentatnica (fig.16a) , aqual a formula 2 + 3 + 2. No meio do tema principal surge um ostinato contruido em 3+ 5 + 3, Lb maior-menor (fig.16b): D-Mib-Lb-Si, a quarta (Mib-Lb), ainda divididapor um F# obtendo 3+2.Quarta paralelas (5) e sextas menores (8) articulam o segundotema (fig.16c). Isso visto claramente na recaptulao a partir do compasso 292.Finalmente (fig. 16d) o tema de fechamento acompanhado por sextas menores (8)paralelas.30 (LENDVAI, 1971, p.38)
29 The principal theme comprises 13 semi-tones divided by the fundamental note C into 5+8. The first phrase of
the secondary theme extends 13 semi-tones, from G down to F#; while the second phrase 21 semi-tones from Bdown to D.30 The principal theme gets its magical tone-colour from a pentatonic harmony (see Fig 29a), the formula ofwhich is 2+3+2. In the middle of the principal theme there comes an ostinato built 3+5+3, Ab major-minor (see
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Tema Principal 2+3+2
Parte intermediaria 3+5+3
Tema Secundrio 5+8
Tema de Fechamento 8
Figura 16 Procedimentos Harmonicos na Sonata para Dois Pianos e Percuso.
Ainda analisando os aspectos harmnicos, Bartk constri em suas composiesas chamadas Harmonias Alfas. A partir do acorde formado pelos intervalos de quarta (5) e
sexta (8) contando da fundamental D (fig.17), ele obtm o recurso necessrio para esta
harmonia, no entanto, o sistema de eixos possibilita a adio das notas Sib e D#, sendo eles
contra-plos das notas Mi e Sol.
Figura 17 Formao do acorde principal das Harmonias Alfa.
Bartk tambm utilizava inverses deste acorde que proporcionavam uma
variedade de cores na harmonia. Erno Lendvai (1971, p.43) cita pelo menos trs inverses
presentes em sua obra, classificando-as da seguinte maneira: Beta (), Gamma (), Delta () e
Epsilon ().
Fig. 29b): C-Eb-Ab-B, the fourth, Eb-Ab, is further divided by an F# into 3+2. Parallel fourths (5) and minorsixths (8) join the secondary theme (see Fig. 29c). This is seen clearly also in the recapitulation from b. 292. Ffinally (see Fig. 29d) the closing theme is accompanied throughout by parallel minor sixths (8).
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Figura 18 Inverses e variaes da harmonia Alfa.
Umas das grandes caractersticas do nacionalismo de Bartk a utilizao da
escala pentatnica. Segundo Lendvai (1971, p.48), a escala pentatnica demonstra a mais
intrnseca lei da seo urea aplicada msica, talvez [seja] o sistema sonoro humano mais
antigo que pode ser considerado como a mais pura expresso musical dos principios da
seo urea.(LENDVAI, 1971, p.48). A pentatnica justificada pela razo urea, contendo
as medidas intervalares 1, 3, 5 e 8.
Figura 19- Escala pentatnica.
O Sistema diatnico proposto por Bartk uma exata e sistemtica inverso das
leis de suas tcnicas cromticas, as regras da razo urea(LENDVAI, 1971, p.67). Portanto
desse pensamento que afloram em suas msicas as trades maiores (contrariando a teramenor proposta pela escala urea) e toda a gama de escalas modais presente em sua obra. O
sistema cromtico formado a partir da chamada escala acstica, como mostra Lendvai:
A forma mais caracterstica do sistema diatnico de Bartk a escala acstica, d-r-mi-fa#-sol-la-sib-d, e o acorde acstico (trade maior com stima menor e quartaaumentada, d maior com sib e f#). chamada de acstica porque suas notas derivamdos harmnicos naturais da srie. (LENDVAI, 1971, p.67).
Figura 20 Formao da escala acstica.
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A escala acstica a geradora dos dois modos gregos mais utilizados, tanto para
Bartk quanto para Brouwer: o modo ldio formando pelo dcimo primeiro harmnico, ou
seja, uma escala maior com a quarta aumentada; e o modo mixoldio formado pelo stimo
harmnico consistindo de uma escala maior com a stima menor. Brouwer ao citar Lendvai
(2004, p.82) lembra que: Bartk parece combinar a seo urea em formas dramticas,noturnas, circulares enquanto que conclui em seus finais com a luminosidade das estruturas
retas, escalsticas e modais, resultado da escala acstica. (BROUWER, 2004, p.82)
Para finalizar esse captulo, em suas observaes sobre a obra de Bartk, Brouwer
cita caractersticas que podem ser encontradas posteriormente noEl Decameron Negro:
Os materiais temticos de Bartk so gerados a partir dessas polarizaes: temascirculares VS temas lineares; temas dramticos VS temas luminosos, concluindo, temas
derivados da seo urea os primeiros e temas derivados da escala acstica oubimodal os ltimos (BROUWER, 2004, p.82).
Esta polarizao fortemente encontrada em toda a obra de Brouwer, como
exemplo: o tema circular e dramtico da repetio do lirico em oposio ao tema linear e
luminoso do tema ureo. Nos prximos captulos esse tema ser abordado novamente.
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2. EL DECAMERON NEGRO: COMPOSIO MODULAR E A NARRATIVA DE
BROUWER.
2.1. Construo da imagem atravs da sntese.
A anlise musical, que um dos objetivos desse trabalho, tem sido alvo de grande
discusso no meio acadmico. Aqueles que defendem o estudo rigoroso da partitura afirmam
que sem ela no poderemos entender os vrios nveis de comunicao da obra, enquanto os
que no vem uma grande validade na anlise argumentam: por que desmembrar ao invs de
unir? John Rink, um dos grandes nomes da anlise para intrpretes, comenta sobre essas duas
principais correntes:
Alguns autores consideram que anlise est implcita no trabalho do intrprete, por maisintuitivo e no sistemtico que possa parecer ( Meyer, 1973, p.29), enquanto que paraoutros, a performance requer obrigatoriamente uma anlise, rigorosa e teoricamenteinformado, de seus elementos paramtricos, caso se pretenda fazer emergir suaprofundidade esttica. (RINK, 2007, p.25)
Levando em considerao que para a construo de uma interpretao sero
necessrias escolhas, a necessidade de uma relao mais prxima com a partitura atravs da
anlise contribui para a afirmao das escolhas interpretativas. As questes analticas
abordadas no El Decameron Negro so fruto de reflexo, que podem ou no influenciar a
construo ou re-construo da pea, provendo um bom exemplo sobre outro assunto que tem
gerado consideraes, a saber, os caminhos da anlise no sculo XXI e qual sua validade para
a interpretao.
Na opinio do autor, a anlise abstrai pontos relevantes para o intrprete,
direcionando primeiramente a uma concepo total da obra seguida pelas partes, na
perspectiva da construo do que chamamos imagem sonora da obra. Essa imagem
construda atravs da escuta; para este processo, Zlia Chueke prope trs estgios bsicos: o
primeiro estgio envolve basicamente a audio interna, ou o ouvir da partitura (CHUEKE,
2000, p.7); o segundo envolve a prtica guiada pela escuta prvia; e a terceira a performance
propriamente dita, onde a experincia como re-criador e ouvinte mostram o resultado final do
processo. A anlise estar presente nos trs processos, no entanto o primeiro estgio pode ser
definido como alicerce desta construo, ao passo que os outros sero frutos desse primeiro
pensamento. Schoenberg prope a construo desta imagem como primeiro relacionamento
com a obra.
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Eu costumava pedir aos meus pupilos que quando comeassem a estudar uma nova obrano tocassem seus instrumentos antes de ter estudado a pea atravs da leitura emsilncio, construindo em suas mentes uma imagem da pea. Essa imagem servir entocomo modelo as quais o som ao vivo deve ser realizado. (SCHOENBERG, 1984, p.388)
Crendo que a obra musical El Decameron Negro resultado da criao de uma
imagem sonora por parte do compositor, a abordagem deste trabalho leva em conta fatores
musicais e extra-musicais. Um dos fatores positivos desta anlise saber que a imagem
sonora concebida pelo compositor Leo Brouwer provm de seu mais profundo relacionamento
com o violo, certificando a relao entre material sonora e caractersticas destes
instrumentos.
A sntese do discurso musical servir para que possamos entender primeiramente
os fatos que permeiam toda a obra (incluindo fatores extra-musicais e influncias
composicionais), seguida da anlise de cada movimento. Partimos do princpio de que
precisamos entender o todo para depois entender as partes menores, para estabelecer relaes
entre a unidade e o todo. Chueke (2000, p.88) cita a analogia feita por Rudolf Buchbinder
sobre a questo, dizendo que forma e unidades so como o muro e os tijolos respectivamente.
Nesses termos podemos considerar que precisamos saber o tamanho, a forma e a direo deste
muro (a obra como um todo) que ser construdo para decidirmos a quantidade e qualidade
dos tijolos que iro ser colocados.
2.2. A Literatura doEl Decameron Negro.
O livro El Decameron Negro foi escrito por Leo Frobenius (1873 1938),
antroplogo, etnlogo e explorador alemo nascido em Berlim, considerado uma autoridade
mundial em arte pr-histrica. Filho de um oficial do exrcito da Prssia, desde jovem
impressionou-se com o trabalho dos grandes exploradores germnicos que atuavam na frica.Pesquisou especialmente as lendas, os mitos e as pinturas rupestres dos cabilas, povo
estabelecido ao norte da frica, dos soninqus e dos fulas do Sael ocidental, dos nupes e
haus do Sudo central e dos urrongas da Rodsia do Sul, hoje Zimbabue. O El Decameron
Negro aparece na 12 coleo Sammlung Atlantis como uma pequena antologia, juntando
contos e lendas africanas coletadas por ele no comeo do sculo. Dividido em duas sees, o
livro traz como primeira parte o ttulo Libro de caballeria y de Amor, narrando seis contos
sobre os feitos de grandes guerreiros que quando atingem certa idade devem procurar desafios
ao redor do mundo para que seu nome seja conhecido entre as comunidades africanas e suas
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histrias sejam contadas por vrias geraes. Como recompensa de seus feitos recebe afagos
de donzelas apaixonadas.
O povo de Shael, que habita nas estepes entre a borda do Sahara e a grande selva doNiguer, foi uma raa aristocrtica de usos e tica feudal. Uma lei antiqssima dispunha
que a sucesso dos senhorios castillo, aldea, pueblo, terra recasse no sobre o filhodo senhor, mas sobre o filho do irmo da me. Assim a linha feminina mantinha suapreponderncia. Os filhos das famlias nobres viam-se pois, obrigados, uma vez terminadasua educao principesca e guerreira, a abandonar a corte de seus pais e a buscar longe asaventuras, a glria, o amor e a fortuna.O cavalheiro andante sai ao campo. Vai armadocom todas suas armas. E seguindo-o seuDiali, bardo o cantor que conhece a fundo o Pui,a epopia das grandes faanhas realizadas por seus antepassados. O Diali leva, colocadono ombro, sua rabeca, com a qual acompanha a recitao pica. El Diali ambicionapresenciar os feitos hericos de seu jovem senhor e adicionar um novo canto aos famososcantares de Pui. Na expedio figura as vezes tambm um servo, o Sufa, moo de cavalosa servio do jovem senhor. Caminhando pelas estepes, chega o cavalheiro acaso diantedos altos muros de uma corte principesca. Diante da porta tem um poo. Junto ao poo,umas velhas rvores. Os caminhantes detm o passo e descem de seus cavalos. O cantorestende sobre o solo uma esteira sobre a qual descansa o cavalheiro sombra. O moocuida dos animais e prepara a comida. O bardo toca sua viola e comea a cantar [...] Nasseguintes pginas encontrar o leitor alguns dos mais belos gestos africanos de amor e decavalheirismo. 31(FROBENIUS. 1938. p. 7)
A segunda parte do livro Cuentos y fabulas populares, exalta as qualidades dos
negros para coloc-los em p de igualdade com a sociedade branca, mostrando a astcia e a
esperteza do povo. Essas histrias fazem parte dos contos das classes menos favorecidas ao
contrrio das anteriores que eram das classes aristocrticas feudais. Para descrever esta
realidade o escritor utiliza fbulas populares onde muitas vezes as personagens so
representadas atravs de animais.
Os cantares hericos de nobres damas e charmosos cavalheiros pertencem a uma espcieartstica culta. So obras de narradores profissionais, no perodo elevado da cultura.Referem se a uma classe aristocrtica e senhorial. Junto a estas produes superioresexiste na frica uma arte popular da narrao, dos contos e de fbula. [...] So fbulas deanimais, cheia de astcia, de fineza e de humor. Em suas epopias de animais, podem
31 El pueblo de los Sahel, que habita en las estepes, entre el borde del Sahara y la gran selva del Niger, h sidouma raza aristocrtica, de usos y de tica feudales. Uma ley antiqssima dispona que La sucessin de losseoros castillo, alde, pueblo, tierra pueblo, tierra re-cayse, no em hijo Del seor, sino em el vstago DelHermano de La madre. As La lnea femenina mantena su preponderncia. Los hijos de ls famlias noblesveanse principesca y guerrera, a abandonar La corte de SUS padres y a buscar lejos ls aventuras, la gloria, elamor y la fortuna.
El Caballero andante sale al campo.Va armado com todas sus armas. Le sigue su diali, bardo o cantor queconoce a fondo el Pui, la epopeya de las grandes hazaas realizadas por los antepasados. El diali lleva colgadodel hombro su rabel, com el que acompaa la recitacin pica. El diali ambiciona presenciar los hechos hericosde su joven seor y aadir um cantar nuevo a los famosos cantares Del Pui. En la expedicin figura a vecestambien un siervo, el sufa, mozo de caballos al servicio del joven seor.
Caminando por la estepa, llega el Caballero acaso ante los altos muros de una corte principesca. Delante
de la puerta hay um pozo. Junto al pozo, unos viejos rboles. Los caminantes detieren el paso y descienden desus caballos. El cantor extiende sobre el suelo uma estera, em la que descansa el caballero a la sombra. El mozocuida las bestias y prepara la comida. El bardo templa su vihuela y comienza a cantar. [...] En ls siguientespginas encontrar el lector algunas de las ms bellas gestas africanas de amor y de caballera.
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destacar os europeus de preferncia a raposa e o lobo, tipos de astcia e da tolice [...] Nasnarraes seguintes achar o leitor algumas fbulas e contos dos mais caractersticos ebelos.32(FROBENIUS, 1938, p. 95)
2.2.1. Os Griots e aKora.
Frobenius no o autor das histrias como afirma Terezinha Prada Ele coletou de
profissionais extremamente especializados que passavam a vida se dedicando ao
arquivamento da histria tradicional africana, os chamados Griots.(PRADA, 2008, p. 164)
Na construo do livro ele troca o nome Griots porDiali, desempenhando dentro da histria a
mesma funo, e pelo que se entende esta personagem quem est narrando os contos. A
idia de Brouwer assumir a postura de um Diali e acrescentar novas histrias dentro da
narrativa j existente no livro, fazendo o executante interpretar alm da obra, a figura de um
Griotafricano.
A Kora o instrumento tradicional que acompanha os griots, trovadores
errantes, mistura de poetas e cronistas. A preparao de um griot inicia-se muito cedo, em
casa. O pai conta-lhe a Histria da(s) tribo(s) como exemplos de fora e grandeza. A kora
uma espcie de harpa africana, que os msicos tocavam para as famlias nobres do Imprio
Mandinga, antes dos colonizadores europeus criarem os estados e as fronteiras.
2.2.2. A obra de Brouwer.
Escrita em 198133, dedicada violonista Sharon Isbin34,El Decameron Negro uma
obra programtica baseado no livro homnimo. A obra dividida em trs movimentos, El
Harpa del guerrero, La Huida De Los Amantes por el Valle de los Ecos e Balada de la
Doncella Enamorada. A ordem impressa das partes no necessariamente deve ser seguida naexecuo. Intrpretes como a prpria Sharon Isbin executam El harpa del guerrero por
ltimo com base na edio cubana35 da obra, que trs uma nota na pgina final dizendo: As
32 Los cantares hericos de nobles damas y hermosos caballeros pertenecen a una espcie artstica culta. Son laobra de narradores profesionales, em perodos elevados de la cultura. Rifirense a uma clase aristocrtica yseorial. Junto a estas producciones superiores hay em Africa un arte popular de la narracin, del cuentecillo yde la fbula. [...] Son fbulas de animales, llenas de astucia, de fineza y de humor. Em sus epopeyas de animales,suelen destacar los europeos de preferncia el zorro y lobo, tipos de la astucia y de la totera. En las narracionesseguientes hallar el lector algunas fbulas y cuentos de los ms caractersticos y bellos.33 Pertence terceira fase do compositor chamado nueva simplicidadou hiper-romantismo.34 Violonista norte Americana, nascida no dia 7 de agosto de 1956, intrprete e professora de violo possuindomais de 25 Cds em seu catlogo. Isbin tambm foi uma das fundadoras do departamento de violo na JulliardSchool.35 BROUWER, Leo. El Decameron Negro.Havana: Editora musical de Cuba, 1981. 1 partitura (15 p.). Violo.
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baladas podem ser tocadas em qualquer ordem indicando as intenes do compositor.
Existem duas verses sobre a influncia do livro na histria do ElDecameron Negro: uma
seria a de que o compositor criou os trs movimentos a partir de um conto do Livro; a outra
seria a de que se baseou no conceito geral do livro, compondo no s a msica, mas tambm
uma histria narrada por meio da composio. Ambas as afirmaes tornam a obra maisintrigante para os intrpretes, ao passo que preciso entender o contedo do livro, recriar a
histria atravs dos movimentos e narrar na ordem que melhor satisfizer a imaginao.
Brouwer em uma de suas biografias comenta sobre aspectos gerais do El
Decameron Negro.
Aqui trabalhei s uma histria que dividi em trs partes. A primeira de um guerreiro quequeria ser msico e tocar uma harpa. A situao da linhagem era muito difcil, e
primeiramente estavam os guerreiros, logo os sacerdotes, os cultivadores, e no final dessaescada esto os msicos. Como foi possvel ento que um grandioso guerreiro do cl quiseraser um msico? Este guerreiro ao deixar de ser, foi desprezado pelo cl e expulso de suatribo. Ento foi para as montanhas, mas aconteceu que a tribo comeou a perder todas suasbatalhas, e quando vo busc-lo. Pedem quase de joelhos que os ajude, a esse que j noera mais guerreiro se no um msico. Descendo das montanhas ele ganha todas as guerras eregressa s montanhas para se tornar em msico mais uma vez. Aqui tambm h umahistria de Amor. Depois de ser expulso, j no podia ver sua mulher, logo ao vencer asbatalhas levou-a com ele. Essa a histria simplificada do El Decameron Negro.(HERNANDEZ, 2000, p.216)
2.3.El Arpa del Guerro: Modalismo e Razo urea.
Como j antes citado, a histria que Brouwer narra neste movimento sobre um
guerreiro que expulso de sua tribo e vai embora carregando sua harpa e quando sua tribo
est perdendo uma importante batalha, retorna para ajud-los, mas logo se retira novamente.
Veremos a viso da violonista Sharon Isbin, a quem a obra foi dedicada.
Na primeira balada, um guerreiro (descrito pela seo rtmica viva) banido de sua triboporque amava tocar sua harpa (interldios lentos). Quando convocado para lutar contraum exrcito invasor, ele retorna e salva seu povo. Aps sua vitria, o guerreiro condenado outra vez ao exlio, indicado pelo pressentimento da abertura na prximabalada.36 (ISBIN, 1990, pag.7).
36 In the first ballad, a warrior (depicted by lively rhythmic sections) is banished from his tribe because he lovesto play the harp (slow interludes). When summoned to defeat an invading army, he returns to save his people.After his victory, the warrior is condemned once again to exile, as indicated by the foreboding opening of thenext ballad.
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Mediante proc
composicional, e quando n
de Brouwer dentro da obra.
2.3.1. Forma, Simetria e
O pensamento
do crescimento natural37.
simetria composicional,
expressividade dentro dos
ler uma composio deno
examinaremos os conceitosUtilizando um
crescimento natural e sua
presente entre as artes.
No sem antes
sustentada por udiagrama da rvcomum ao todode uma totalidadas que a anteced
37 O crescimento natural diz rescoelhos de uma certa regio se
crescimento de galhos em umapossuindo dois; depois este gera38 importante ressaltar queaplicao do conceito.
dimentos analticos, seguir o trabalho co
ecessrio ser utilizado o texto acima para
azo urea
f neste primeiro movimento parte de
Essa te permitiu que o compositor obti
ando ao intrprete o dever de alcan
adres da Razo urea.38 Mas o que o intr
inada Modular? Antes de abordarmos a r
de composio modular de Brouwer.exemplo de Paul Kl (fig.21), o composit
forma resultante, mostrando que esse pens
Figura 21 Diagrama da rvore.
recordar tambm que a unidade entre o todo
dos gigantes da pintura do sculo XX Paulre (rvore secomum as partes [...] A seo urea consiste n
e, de tal maneira que cada proporo inclui a im. (BROUWER, 2004, P.74)
eito seqncia Fibonacci , a qual surgiu para expliproduziam. Porm isso parece ser uma lei comum
rvore, a forma de uma concha martima etc. Ex.mais um obtendo um total de trs. Etc.azo urea a fundamentao terica do pensa
30
m o inicio da anlise
ocalizao da histria
ma analogia da teoria
vesse uma esplndida
r um alto grau de
prete deve observar ao
lao intrprete
r faz uma analogia ao
mento sempre esteve
e as partes uma lei
lee - e que se d em seueflete o axioa diviso em proporesediata anterior e a todas
ar a velocidade em que osa toda a natureza, como o
o tronco gera um galho,
ento, e Seo urea a
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Assim como
(explicada anteriormente n
destes princpios comeare
forma completa. A anlise
grandes estruturas finalizanConstrudo atr
estende do compasso 3 at
confirmando o pensamento
O processo adi
sequencia Fibonacci. Se c
uma reiterao modular (
motvicas, a segunda com
ltima com oito clulas (ex
39 Ver captulo 1.2.3. Razo ur40 A tcnica de Processo Aditivadio de figuras a partir de um41 Os compassos 22 e 23 no apdisso, serve para o equilbrio da
a msica de Bartk, Brouwer utiliza a
este trabalho39), para obter suas formas tem
mos delinear as pequenas partes do movim
encontrar quatro nveis estruturais: peque
do com a forma da obra inteira.vs de Processo Aditivo Linear,40 o tema
o 23, possui um total de 21 compassos,
modular Fibonacci (ex.4).
Exemplo 4 Primeiro tema constitudo de 21 comp
tivo linear utilizado na pea baseia no c
onsiderarmos isoladamente cada frase dest
do motivo principal, sendo a pri
a adio de mais duas clulas, formando
.5 41
a. Pag.13
o L [linear additive process]articula processosadro base.(CERVO, 2005, p.52).
arecem na contagem porque so apenas a reafirmaforma ao completar os 21 compassos da seqncia Fi
31
seqncia Fibonacci
ticas A partir, ento,
nto at chegar sua
nas (temas), mdias e
do guerreiro, que se
divido em trs frases,
assos.
rescimento natural da
tema, vemos que h
eira com trs clulas
m total de cinco e a
de repetio baseados em
do motivo anterior, almonacci.
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Exemplo 5 Frases construdas pela numerao Fibonacci.42
O retorno de Brouwer ao tonalismo, no diz respeito s ao uso de trades
consonantes ou dissonantes, mas tambm ao conceito dialtico antecedente-consequente.
Como visto acima, as frases so construdas por meios da seqncia Fibonacci, no entanto,
sua diviso em semi-frases (antecedente-consequente) baseada na seo urea. A primeira
frase com trs clulas pode ser subdividida em 2+1, de acordo com o a seo urea,
mostrando a direcionalidade da frase dentro da estrutura. Consequentemente encontramos
tambm 5=3+2 e 8=5+3 (ex.5).
Quando pensamos no primeiro tema completo, encontramos a seo urea na
dcima terceira clula (comp.17) destacada pela dinmica Forte, atingindo o pice deste tema.
No grfico abaixo (fig.22) so mostrados os picos dinmicos das frases e da seo completa,
cabe ao intrprete reproduzir sonoramente o crescimento gradativo das frases e sua respectiva
seo urea, at a chegada no pice do tema. Se procurarmos a seo urea dos 21 compassos
obteremos o pice no compasso 15 onde o compositor marca um crescendo. De qualquer
maneira o pico do tema est na dinmica forte da terceira frase.
Figura 22 Dinmica do primeiro tema.
42 A ltima clula da terceira frase constituda pelos compassos 20 e 21, j que o este ltimo apenas aconfirmao da nota Mi
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O prximo tem
para o lirico que vir a
transitrio tambm foi m
entanto texturalmente difer
A construo d
21 = 2 + 4 (2+2) + 5 (2+3)
a pode ser encarado co
seguir. Concordando com a idia matem
ldado pela seqncia Fibonacci tendo 21
ncia tema por ser uma melo
Exemplo 6 Tema transitrio.
as frases d da medida modular 21 foi
+ 4 (2+2) + 6 (2+2+2).
33
ica principal, o tema
compassos (ex.6), no
ia acompanhada.
divida e agrupada em
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Exemplo 7 Fras
A construo
sendo sua gama entre mez
onde o compositor nos pe
seo urea negativa, por a
ologia do tema transitrio
inmica do segundo tema segue em dire
oforte epianssimo. A seo urea, encontr
de um pianssimo (fig.23), formando o qu
tingir o pice com uma dinmica decrescente
Figura 23 Grfico Dinmico do tema transitrio
34
o oposta ao primeiro,
da no compasso 36,
podemos chamar de
.
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A construo d
tendo um total de 13 com
urea. Essa diviso refor
O lirico o
dinmicas diferenciadas p
quanto dinmica: Na edi
para as duas repeties (ex
na segunda Forte (ex. 8, ac
Exe
Sharon Isbin43,
verso cubana, executan
mantm Forte nas duas v
deixando o tema mais su
43 ISBIN, Sharon. Road to the S44 CLERCH, Joaqun. La Obra2000. v. 5. 1 CD.
tema lirico tambm feita dentro da nume
assos pode ser subdivida em 13 = 8 + 5 d
ada por um tenuto marcato na nota Si da me
Exemplo 8 Tema lrico.
nico po de um ritornello, sendo
ra cada repeti Vale dizer que as edie
o francesa no ocorre variaes no rito
.9 abaixo), j na edio cubana a primeira
ima
mplo 9 Dinmica do tema lirico (edio francesa).
a quem a obra foi dedicada, interpreta este t
o Forte e Piano. Joaquin Clerch44, um do
ezes, porm faz uma leve mudana timbr
ve. A viso de Isbin corrobora com a idi
un. London.:Virgin Classics, 1990. 1 CD (59 min.)uitarrstica de Leo Brouwer: Brouwer por los Mae
35
ao Fibonacci (ex.8),
e acordo com a seo
lodia (comp. 53)
assim, ocorrem duas
s trazem divergncias
ne mantendo Forte
ez se executa Piano e
recho de forma aposta
s pupilos de Brouwer,
na segunda vez
a de plos dinmicos
stros. Cuba: EGREM,
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opostos, sendo o primeiro tema forte, a transio mezzo piano e o lrico forte seguido de
piano, porm o grfico construdo apresenta a dinmica da verso cubana (fig.24).
Figura 24 Dinmica do tema lrico.
O grfico apresenta a variao dinmica entre as duas execues, a primeira tange
a linha do piano fazendo um crescendo at atingir a seo urea no compasso 53, logo aps
desce novamente para o mezzo piano para delinear a frase e iniciar um grande crescendo. A
repetio, apesar de pedirforte, pode-se come-la tangendo o mezzo forte para ento atingir
comforte o pice na seo urea.
Com a repetio do tema lirico indo para segunda casa, o tema inicial
novamente apresentado, sendo assim, podemos delimitar o fechamento de uma mdia
estrutura da obra. Se contarmos o nmero de compassos desde a barra dupla inicial (comp.3)
at o final da re-exposio do primeiro tema (comp.78) ter um total de 76 compassos, o que
no estaria dentro da numerao Fibonacci. Ao contarmos o nmero de compassos somando-
os repetio do lirico obteremos o nmero Fibonacci 89, o que afirma o fechamento de uma
grande seo (fig.25). Vale dizer que os dois compassos iniciais, que apresentam uma espcie
de abertura do movimento, so respondidos e finalizados nos compassos 79 e 80.
Figura 25 Esquema Formal da primeira estrutura mdia.
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Voltando ao questionamento sobre a escolha que poderamos fazer entre as
diferentes dinmicas apresentadas pelas edies, poderemos agora encontrar uma resposta. Se
procurarmos a seo urea dos 89 compassos encontraremos 89 = 55+34, ao compararmos
com a composio veremos que coincidir com o final da primeira execuo do lirico(comp.57) e comeo da segunda (comp.58 contando a repetio literal). A concluso qual
poderemos chegar que a repetio do lirico o pice da estrutura (fig.26). A dinmicaforte
na segunda execuo pode ser o mais coerente, visto que refora o pico da estrutura.
Figura 26 Grfico dinmico da primeira estrutura mdia
Aps o fechamento da primeira mdia estrutura iniciado o tema tranquilo, que
constitudo de 27 compassos saindo do padro Fibonacci (ex.10). Recorrendo a aspectos
harmnicos, e que sero vistos mais adiante, observa-se que h uma unidade entre os
compassos 81 a 100 e consequentemente do 101 ao 107. O que ocorreu nesse trecho no o
abandono do sistema Fibonacci, mas sim a sobreposio de suas estruturas utilizando
compassos de eliso.
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Fi
Segundo o grf
estruturas sobrepostas. O g
do compasso 101, que sematerial at aqui apresenta
Exemplo 10 Tema tranquilo.
ura 27 Estrutura formal e dinmica do tema traquil
ico acima (fig.27) os compassos 100 e 101 s
rfico mostra tambm uma estabilidade na at
ve como fechamento e preparao para ao.
38
.
rvem como eliso das
itude dinmica a partir
re-exposio de todo
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A reapresenta
diferentes possibilidades d
em 8= 4+4, segundo a edi
cubana pede um crescend
mencionado possui a intencom o grande crescendo d
distanciamento das regies
edio cubana pode ser m
primeiro porque tecnicame
de intensidade dinmica; e
poder ser feito um decresc
Edio Francesa
Edio Cubana
O lrico inici
exposio, porm adicion
Brouwer tenha feito isso p
continua presente. O gr
compassos 124 e 125, fdeslocamento da seo ur
o do motivo de abertura, que d incio
inmicas entre as edies. O trecho de oito
o francesa requer um crescendo na segun
seguido de uma decrescendo (fig.11). Ob
o de uma dominante para chegar ao lirico,edio francesa, mas, por outro lado as pos
de execuo no permitem o ataque imediat
is coerente ao apresentar o decrescendo fin
nte facilita o translado da posio I para a p
o segundo porque o lirico ser iniciado c
endo at chegar dinmica deste tema.
exemplo 11 Comparao da dinmica entre e
ado transposto uma quarta acima tendo sua
ado um compasso, tendo um total de 14 com
ara balancear a forma como um todo, porta
ico abaixo (fig.28) mostra a seo urea
ato ocorrido pela forma de 14 compassa.
39
recapitulao, traz
compassos, divididos
a metade, j a edio
ervando que o trecho
poderamos concordarsibilidades tcnicas de
o do prximo tema. A
al por do motivos: o
osio IX sem o corte
m um piano, ou seja,
ies.
forma parecida ao da
passos (ex.12). Talvez
do, a proporo urea
se estendendo pelos
s o que ocasiona o
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F
A partir do co
(ex.13). Construdo a prin
ltimo compasso do lrico
compassos. A seo urea
(fig.29), sendo assim, a fra
Exemplo 12 Re-exposio do lirico.
igura 28 Grfico dinmico da re-exposio do lirico
mpasso 134 iniciada uma nova parte de
ipio por 12 compassos o tema serve para
(comp.133) faz eliso com este novo tem
encontrada no compasso 140 onde se ini
e dividida em 13 = 8+5.
40
nominada tema ureo
balancear o lrico. O
deixando-o com 13
cia um forte marcado
-
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O retorno do
estrutura mdia (comp. 1
entrada do lirico destaca
exposio. Essa forma es
Cordas, Percusso e Cele
demonstrado na figura 13,
45 A Forma Espelhada foi detecttemtica na re-exposio da forlrico re-exposto antes do prim
Exemplo 13 tema ureo
Figura 29 Dinmica do tema ureo
rimeiro tema (comp. 146) aparece como fe
8 ao 165 como mostra o grfico estrutur
a opo que Brouwer fez de inverter a or
elhada45 tambm encontrada em Bartk
ta onde a ordem dos temas invertida n
ag. 20
da por Lendvai (1971, p.29) quando percebeu que Baa sonata, colocando o segundo tema antes do primeir
eiro tema (tema do guerreiro).
41
chamento d segunda
al abaixo (fig.30) . A
em dos temas na re
na obra Msica para
a re (como
rtk invertia a ordem. No caso de Brouwer, o