dissertação --- thomas reid e o problema da indução
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PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DO RIO GRANDE DO SULFACULDADE DE FILOSOFIA E CINCIAS HUMANAS
CURSO DE PS-GRADUAO EM FILOSOFIA
PABLO FERNANDO CAMPOS PIMENTEL
THOMAS REID: O PROBLEMA DA INDUO
Porto Alegre2015
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PABLO FERNANDO CAMPOS PIMENTEL
THOMAS REID: O PROBLEMA DA INDUO.
Dissertao apresentada como requisitopara a obteno do grau de Mestre peloPrograma de Ps-Graduao daFaculdade de Filosofia da PontifciaUniversidade Catlica do Rio Grande doSul.
Orientador: Prof. Dr. Roberto Hofmeister Pich
Porto Alegre2015
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PABLO FERNANDO CAMPOS PIMENTEL
THOMAS REID: O PROBLEMA DA INDUO
Dissertao apresentada como requisitopara a obteno do grau de Mestre peloPrograma de Ps- Graduao daFaculdade de Administrao da PontifciaUniversidade Catlica do Rio Grande do
Sul.
Aprovada em _____ de _______________ de 2015.
BANCA EXAMINADORA:
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Porto Alegre2015
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Dedico esse trabalho minha amada
esposa, aquela que priorizou minha vida e
estudos e compartilha a vida comigo.
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AGRADECIMENTOS
Deus pela Graa derramada em minha vida, pela fora e nimo dados
mim, to pequena criatura, mas valoroso aos Seus olhos.
Ao Prof. Dr. Roberto Hofmeister Pich, pela amizade, pacincia e zeloso
conhecimento partilhado comigo. Por sempre acreditar em minha capacidade e
potencial.
minha esposa Francielli Comiran Pimentel, pelo dedicado amor,
compreenso e ostensivo apoio nas longas horas de estudo e escrita.
queles que jamais duvidaram de minha capacidade em fazer tal tarefa.
Aos amigos e irmos em Cristo pelo constante estmulo, carinho e oraes.
Aos amados pais que nunca deixaram de incentivar-me e animar-me no
necessrio.
banca que me fez valiosos comentrios e sugestes.
PUCRS que proporcionou uma bolsa de iseno, possibilitando meu
ingresso no mestrado.
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No sendo a filosofia seno o estudo da sabedoria e da
verdade, poder-se-ia com razo esperar que aqueles que lhe
dedicaram mais tempo e esforos desfrutassem de maiortranquilidade e serenidade mental, de maior clareza e
evidncia no conhecimento, e fossem menos perturbados com
dvidas e dificuldades do que os demais homens. Contudo,
vemos a massa inculta dos homens que seguem o caminho do
simples senso comum e so governados pelos ditames da
Natureza, em geral, tranquila e livre de preocupaes. Para
eles, nada do que familiar parece inexplicvel ou difcil decompreender. No se queixam de nenhuma falta de evidncia
em seus sentidos e esto fora de qualquer perigo de se tornar
cticos. Mas quando nos afastamos dos sentidos e do instinto
para seguir a luz de um principio superior com o intuito de
raciocinar, meditar e refletir sobre a natureza das coisas, mil
escrpulos surgem em nossa mente a respeito do que antes
acreditvamos compreender perfeitamente.
George Berkeley
(2010, p.33)
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RESUMO
O objetivo do presente trabalho apresentar uma possvel teoria reidiana para uma
justificao ao problema da induo a partir de seus dois grandes escritos, a saber,
o An Inquiry into the Human Mind on the Principles of Common Sensede 1764 e o
Essays on the Intellectual Powers of Mende 1785. Desse modo, surgir de forma
bastante sutil a concepo de Thomas Reid acerca do Problema da Induo, o
qual discutido primeiramente no Inquiry, no entanto, aparecem abordagens
bastante importantes e cruciais tambm no Essays. No deve ser esquecido que ao
passo que a teoria reidiana da induo vai emergindo, um debate e uma anlise vo
sendo feitos por Reid em seu grande contemporneo Hume. A importncia da
insero de Hume indiscutvel pelo fato de este ter sido do tempo de Reid, e,
tambm, pelos contornos de seu pensamento acerca do raciocnio indutivo e como
Reid o interpreta e, de certo modo, vai alm. Deste modo, alguns captulos
trabalharo com o problema da induo nas duas respectivas obras de Reid, IHM e
EIP. Tambm ser feita uma anlise do que foi escrito acerca da induo e outros
assuntos perifricos em Reid, da parte de outros pesquisadores. A que conclusesReid chega numa e noutra obra, e perceber o que os crticos sintetizaram de seu
pensamento nesse aspecto, a saber, no que tange induo.
Palavras-chave: Thomas Reid; Hume; Induo; Inquiry; Essays.
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ABSTRACT
The purpose of this paper is to present a possible reidian theory for a justification to
the problem of induction from its two major writings, namely, "An Inquiry into the
Human Mind on the Principles of Common Sense" 1764 and "Essays on the
Intellectual Powers of Men" of 1785. Thus, appear quite subtle conception of Thomas
Reid about "Problem of Induction", which is primarily discussed in the Inquiry,
however, they appear quite important approaches and crucial also in Essays. It
should not be forgotten that while the reidiana theory of induction is emerging, a
debate and an analysis will be made by Reid in his great contemporary Hume. The
importance of Hume's inclusion is indisputable because it has been Reid's time, and
also by the contours of his thought about inductive reasoning and how Reid
understands and, in a way, goes further. Therefore, some chapters will work with the
problem of induction in the two respective works of Reid, HMI and EIP. It will also be
an analysis of what was written about the induction and other peripheral issues in
Reid, the other researchers. What conclusions Reid comes in and another work, and
realize what critics synthesized his thinking in this respect, namely with regard toinduction.
Keywords: Thomas Reid; Hume; Induction; Inquiry; Essays.
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LISTA DE ABREVIATURAS
EIP - Essays on the Intellectual Powers of Man
IHM -An Inquiry into the Human Mind on the Principles of Common Sense
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SUMRIO
1 INTRODUO ....................................................................................................... 11
2 O PROBLEMA DA INDUO EM DAVID HUME.............................................. 15
3 PERCEPO, CRENA, EVIDNCIA E PRIMEIROS PRINCPIOS. ................... 21
4 THOMAS REID: AN INQUIRY INTO THEHUMAN MIND ON THE PRINCIPLESOF COMMON SENSE. UMA PRIMEIRA INCURSO NA OBRA. ......................... 30
4.1THOMASREIDEOSPRIMEIROSPRINCPIOSAUTOEVIDENTES.................. 344.2THOMASREID:ANINQUIRYINTOTHEHUMANMINDONTHEPRINCIPLESOFCOMMONSENSE:UMAEPISTEMOLOGIADOTESTEMUNHOEALGUMASCONSIDERAESEMDAVIDHUME. ..................................................................... 394.3THOMASREID:CONSIDERAESFINAISSOBREOINQUIRY(IHM). ......... 51
5 THOMAS REID: ESSAYS ON THE INTELLECTUAL POWERS OF MAN ENSAIO IPRELIMINAR: CONSIDERAES INICIAIS........................................ 55
5.1THOMASREID:ESSAYSONTHEINTELLECTUALPOWERSOFMANCONSIDERAESSOBREOJUIZO..................................................................... 585.1.1THOMAS REID:EIPCONSIDERAES SOBRE OJUZO:OS PRIMEIROS PRINCPIOSDAS VERDADES CONTINGENTES. ........................................................................................... 60
6 THOMAS REID: ESSAYS ON THE INTELLECTUAL POWERS OF MEN
CONSIDERAES SOBRE O RACIOCNIO. .......................................................... 69
6.1THOMASREID:EIPSOBRERACIOCNIOPROVVEL............................. 706.2THOMASREID:EIPSOBREASEVIDNCIASPROVVEIS? ...................... 72
7 THOMAS REID: EIPCONSIDERAES DO CAPTULO IV SOBRE OCETICISMO DO SR. HUME COM RESPEITO RAZO. ..................................... 76
8 CONCLUSO ........................................................................................................ 80
REFERNCIAS ......................................................................................................... 87
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1 INTRODUO
Esta investigao tem como cerne Oproblema da induo emThomas Reid
(1710 1796) nascido em Strachan, Aberdeen, fundador da escola escocesa da
filosofia do senso comum. Educado no Marischal College, em Aberdeen, lecionou na
Kings College tambm em Aberdeen. Depois foi nomeado professor de filosofia
moral em Glasgow1.
Pode ser feita uma breve exposio do que o senso comum (common
sense), por meio de dois recortes no prprio texto de Reid, a saber, conforme o
entendimento de Reid, (2002, p. 424): Senso comum aquele grau de julgamento
que comum aos homens com os quais conversamos e realizamos negcios. E,
tambm de acordo com Reid (2002, p. 426):
O mesmo grau de entendimento que torna um homem capaz de agir comprudncia na conduo da vida, o torna capaz de descobrir o que verdadeiro e o que falso em questes que so autoevidentes, e que elenitidamente apreende.
Temos, portanto, duas definies muito claras do que para Reid senso
comum, a saber, que (I) um grau de julgamento comum aos homens e (II) que um grau de entendimento que torna o homem capaz de descobrir o que verdadeiro
ou falso no que se refere a questes ou assuntos que envolvem autoevidncia.
Conforme escreve Guerreiro (1999, p. 167168):
Contudo, h algumas diferenas relevantes entre as posies defendidaspor Reid no sculo XVIII e por Moore no nosso sculo. Apesar de ambosconceberem a noo de common sense como um discurso ou uma viso demundo baseado na experincia comum a todos os homens se expressandomediante proposies auto-evidentes, Reid sustentou decididamente uma
teoria direta da percepo. Contrariamente a uma orientao dentro domovimento empirista moderno provavelmente iniciada por Locke eendossada tanto por Berkeley como por Hume de acordo com a qual oque conhecemos imediatamente so ideias Reid no hesitou emproclamar que temos um conhecimento imediato das prprias coisas.
Nesse trecho temos definies e afirmaes bastante incisivas acerca de
senso comum com respeito Reid e outro pensador que adotou a mesma viso e
com relao diferena entre as teses fundamentais de como ocorre nossa
percepo do mundo exterior num primeiro momento. Logo, (I) senso comum nesse
1 Cf. GALLIE, Roger. REID, THOMAS. In: CRAIG, Edward (Ed.). The Shorter RoutledgeEncyclopedia of Philosophy.London-New York: Routledge, 2005. p. 893.
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contexto uma viso de mundo baseada na experincia compartilhada entre todos
os homens que se expressam por meio de afirmaes irrecusveis, por assim dizer,
e (II) de acordo com as teses bsicas de como podemos perceber o mundo
extramental, Reid vai contra o que muitos de seus contemporneos britnicos
pensavam, ou seja, que s temos conhecimento imediato de ideias e no do mundo
em si, ao passo que Reid defende um realismo direto, a saber, que temos
conhecimento ou acesso direto ao mundo e s coisas, sem necessitar da mediao
de ideias para isso.
Portanto, senso comum parece ser aquele conjunto de proposies ou
crenas que os homens compartilham entre si, e, esse conjunto de proposies ou
crenas so tomados como verdades autoevidentes servindo de base para a
aceitao de outras proposies.
Para LEHRER (2002, p. 144):
Senso Comum a habilidade para julgar sobre o que verdadeiro e falsocom respeito a questes que so evidentes sem o uso da razo.Julgamentos de senso comum, bem como sua evidncia so o resultado deprimeiros princpios inatos da mente e constituem as bases da investigaocientfica e da vida prtica.
Essa definio de senso comum j carrega em si questes que aparecero nodecorrer deste trabalho, ou seja, os termos julgamento ou juzo, evidncia e
primeiros princpios. No entanto, precisamos ressaltar algo importante posto aqui,
que julgar acerca do que verdadeiro ou falso em relao quilo que evidente
sem o apelo razo. Essa uma afirmao bastante interessante no que diz
respeito ao senso comum, visto que afirmado pelo autor acima referido que, tanto
julgamento quanto evidncia so fruto de primeiros princpios constituintes de nossa
natureza.Esse estudo tem a inteno de apresentar comunidade de investigao uma
justificao da induo, ou, a forma como Thomas Reid busca justificar a inferncia
ou raciocnio indutivo como fonte de conhecimento confivel.
O problema da induo est em que, segundo Hume (2009, p. 121):
A razo jamais pode nos mostrar a conexo entre dois objetos, mesmo coma ajuda da experincia e da observao de sua conjuno constante emtodos os casos passados. Portanto, quando a mente passa da ideia ouimpresso de um objeto ideia de outro objeto, ou seja, crena neste, ela
no est sendo determinada pela razo, mas por certos princpios queassociam as ideias desses objetos, produzindo sua unio na imaginao.
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Parece redundante reafirmar, no entanto, a principal crtica feita por Hume
quanto ao problema da induo, parece ser que, racionalmente, no podemos
justificar uma inferncia que parte do observado ao inobservado. Veremos adiante
que, o ser humano chega a estas concluses, de acordo com Hume, porque est
habituado ou acostumado a faz-lo.
Conforme a Routledge encyclopedia (2005, p. 442):
[...] uma inferncia indutiva uma inferncia a partir de uma premissa daforma Todo A observado B a uma concluso da forma Todo A B. Taisinferncias no so dedutivamente validas, isto , mesmo se a premissa forverdadeira possvel que a concluso seja falsa, uma vez que os As noobservados podem diferir dos observados. No entanto, foi decidido que apremissa pode tornar razovel crer na concluso, muito embora isso nogaranta que a concluso seja verdadeira.
Essa definio evidencia o motivo pelo qual a discusso em torno de uma
justificao da induo tem sido desde Hume, um assunto to problemtico e
discutido. O problema que aparece nessa definio como justificar o raciocnio
indutivo, a saber, um raciocnio daquilo que foi observado ao que no o foi. Como o
exemplo padro dos corvos, o qual passa-se de uma observao a uma
constatao, por exemplo, de que todos os corvos observados so pretos todos
os corvos so pretos2. Pois, passar da etapa da constatao observacional para aconcluso de que o caso que todo A B, implica que seja possvel explicao, ou
melhor, justificao epistmica para que tal concluso seja o caso.
Conforme o Dicionrio Oxford de Filosofia (1997, p. 202): Os argumentos
indutivos so, assim, um gnero de argumento ampliativo, onde algo que est alm
do contedo das premissas apoiado por elas ou inferido como provvel.
Quanto ao raciocnio indutivo ou inferncia indutiva, aparece aqui a palavra
ampliativo, sendo que, por ampliativo significa justamente que h um salto noinstante da concluso do argumento, e, justamente essa ampliao na concluso
do argumento que acaba se tornando o ponto nevrlgico do raciocnio indutivo. O
problema est em que essa ampliao sempre implica um salto do observado ao
no observado e, esse salto ou ampliao feito na concluso do argumento
indutivo, que requerem uma justificao adequada.
Assim, o problema da induo importante pelo fato de que na
epistemologia contempornea ainda se mantm firme a discusso de como se pode2 Cf. MAHER, Patrick. Inductive Inference. In: CRAIG, Edward (Ed.). The Shorter RoutledgeEncyclopedia of Philosophy.London-New York: Routledge, 2005. p. 442445.
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justificar o modo de pensar por analogia, ou, como se pode justificar um raciocnio
no qual se conclui o inobservado.
Se supusermos que a concluso de uma induo justificada, ento deve ser
explicado como essa inferncia indutiva justificada, pois boa parte dos
epistemlogos desde o sculo passado tem questionado a falibilidade dos
argumentos indutivos e de sua validade como fonte de conhecimento, como
exemplo disso aparece o nome de David Hume, anteriormente mencionado.
Segundo Popper (2007, p. 28): [...] independente de quantos casos de cisnes
brancos possamos observar, isso no justifica a concluso de que todos os cisnes
so brancos.
Pode-se definir o Problema da induo conforme o fez o prprio Popper
(2007, p. 28):
A questo de saber se as inferncias indutivas se justificam e em quecondies conhecida como oproblema da induo.O problema da induo tambm pode ser apresentado como a indagaoacerca da validade ou verdade de enunciados universais que encontrembase na experincia, tais como as hipteses e os sistemas tericos dascincias empricas.
O problema da induo , de acordo com Van Cleve (1984, p. 555):[...] o problema de demonstrar que algumas inferncias indutivas sojustificadas, pois ningum, presumo, manteria que todas as infernciasindutivas so justificadas, pelo menos no se indutivo for usadoamplamente para cobrir todas as coisas que no so dedutivas. Devo mepreocupar aqui apenas com inferncias indutivas, pelo menos, de formaaproximada, conforme estreita regra padro,x% dos As que tenho examinado foram Bs.Consequentemente,x% de todos As so Bs.
Portanto, tem-se o problema delimitado, a sua relevncia para o contexto
sobre o qual est sendo discutido e o que afirmaram alguns importantes pensadores
acerca dessas questes.
Agora se faz necessrio trazer o contexto no qual o problema da induo
surge nas obras de Reid e de que forma isso tratado, que estratgias so
pensadas por este para resolver essa questo e com quem Reid est debatendo
nesse nterim.
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No prximo captulo apresentaremos de forma preliminar o contexto em que o
problema da induo aparece na epistemologia de Hume e a que concluses este
chega no que concerne a uma soluo ou no para essa questo.
2 O PROBLEMA DA INDUO EM DAVID HUME.
De fato, a discusso acerca do problema da induo s ganha contornos
importantes e decisivos na histria do pensamento, a partir do que Hume vai
problematizar primeiramente em seu Tratado da natureza humanae posteriormente
em sua Investigao acerca do entendimento humano.
H, no entanto, um ponto a ser ressaltado, a saber, Hume nunca utiliza em
nenhuma de suas obras o termo raciocnio, inferncia ou argumento indutivo. Os
termos utilizados por este para designar raciocnio indutivo so relao de causa e
efeito, conexo necessria e conjuno constante quando se refere s questes
de fato. Nesse contextode causa e efeito, Hume vai indagar a respeito de, como
podemos raciocinar aos moldes de causa e efeito, sendo que, logicamente pensar o
oposto no implica contradio alguma.
Temos, no entanto, de situar o leitor em relao ordem em que aparecem
os argumentos de Hume com respeito ao tpico da induo, ou seja,
apresentaremos primeiro algumas breves passagens expostas por este em seu
Tratadoe depois outras passagens feitas em sua Investigao.
A dvida de Hume em relao racionalidade da induo parece repousar
sobre a questo de, como podemos justificar de maneira racional uma inferncia
acerca de uma existncia observada pela experincia a algo que escapa ao alcanceda observao, ou seja, algo que escapa ao testemunho dos sentidos ou da
linguagem.
Conforme Hume (2009, p. 116118):
apenas pela EXPERINCIA, portanto, que podemos inferir a existncia deum objeto da existncia de outro. [...] Tendo j visto que a transio quefazemos de uma impresso, presente memria ou aos sentidos, para aideia de um objeto que denominamos causa ou efeito est fundada naexperinciapassada e em nossa lembrana de sua conjuno constante, a
prxima questo : a experincia produz a ideia por meio do entendimentoou da imaginao? a razo que nos determina a fazer a inferncia, ouuma certa associao e relao de percepes? Se fosse a razo, ela ofaria com base no princpio de que os casos de que no tivemos experincia
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devem se assemelhar aos casos de que tivemos experincia, e de que ocurso da natureza continua sempre uniformemente o mesmo.
Desse modo, podemos compreender com a ilustrao acima referida que, a
experincia a grande guia para todo o nosso conhecimento inferencial acerca do
mundo, experincia essa que nos faz lembrar uma conjuno constante de uma
relao em que um objeto causa e o outro, o efeito. No entanto, a pergunta que
Hume levanta, e que, podemos entender como a mais importante para este, se
essa ideia de conjuno constante contida na relao de causa e efeito fruto da
razo/entendimento ou da imaginao?
A prova de que os casos dos quais no tivemos experincia se assemelharo
aos do passado, segundo Hume, no de mbito demonstrativo, mas provvel. De
acordo com Hume (2009, p. 118): [...] necessrio que, em todos os raciocnios
provveis, haja alguma coisa presente mente, quer seja vista ou lembrada, e que
dessa coisa infiramos algo a ela conectado, que no nem visto nem lembrado.
Para Hume (2009, p. 118): A nica conexo ou relao de objetos capaz de
nos levar para alm das impresses imediatas de nossa memria e sentidos a de
causa e efeito.
Temos, posta tambm, a seguinte pergunta, de acordo com Hume (2009, p.
120): [...] por que, partindo dessa experincia, formamos uma concluso que
ultrapassa os casos passados de que tivemos experincia. Podemos, afirmar ainda
que, conforme Hume (2009, p. 120): [...] mesmo aps a experincia ter nos
informado de sua conjuno constante, impossvel nos convencermos, pela razo,
de que deveramos estender essa experincia para alm dos casos particulares que
pudemos observar.
E aqui posto o problema da induo, de que, conforme Hume (2009, p.
121): A razo jamais pode mostrar a conexo entre dois objetos, mesmo com a
ajuda da experincia e da observao de sua conjuno constante em todos os
casos passados. Aqui Hume afirma categoricamente que aquilo que nos faz inferir
um objeto a partir de outro, no a razo, mas outra coisa, e essa outra coisa
chamada de princpio de causalidade, ou, relao de causa e efeito.
No entanto, no que se refere causalidade, conforme Hume (2009, p. 122):
[...] embora a causalidade seja uma relao filosfica, [...] apenas enquanto ela
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uma relao natural, produzindo uma unio entre nossas ideias, que somos capazes
de raciocinar ou fazer qualquer inferncia a partir dela.
A partir da Investigao, uma pergunta muito importante que pode ser feita
aqui a seguinte: Qual a dificuldade enfrentada por Hume no que tange a
induo? Essa pergunta tem a ver com os segundos objetos da razo humana, ou
seja, as questes de fato, das quais temos tratado e pode ser respondida
primariamente com a seguinte afirmao de acordo com Hume (1999, p. 48):
Os fatos... no so determinados da mesma maneira, nem nossa evidnciade sua verdade por maior que seja, de natureza igual precedente. Ocontrrio de um fato qualquer sempre possvel, pois, alm de jamaisimplicar uma contradio, o esprito o concebe com a mesma facilidade edistino como se ele estivesse em completo acordo com a realidade. Que
o sol no nascer amanh to inteligvel e no implica mais contradiodo que a afirmao que ele nascer. [...] Portanto, deve ser assunto dignode nossa ateno investigar qual a natureza desta evidncia que nos dsegurana acerca da realidade de uma existncia e de um fato que noesto ao alcance do testemunho atual de nossos sentidos ou do registro denossa memria.
Essa passagem escrita por Hume nas suas Investigaes, explica que no
basta simplesmente, quando tratamos de questes de fato o fato de determinado
acontecimento sempre ter sido o mesmo at ento, que ele continuar
repetidamente seu ciclo. Que o sol nasceu hoje, como desde que se tem lembrana
desse fato, evidncia indubitvel, no entanto, que amanh ou depois, ele pode em
detrimento de algum evento da natureza ou de ordem Divina, no nascer,
completamente coerente nossa razo ou entendimento assim o conceber. Nesse
contexto, podemos perceber num primeiro momento o princpio da uniformidade da
natureza se apresentando em Hume, embora este v negar a justificao desse
princpio.
De acordo com Salmon (2010, p. 176): A profunda crtica da induo, feita
por Hume, comea com uma questo simples e aparentemente inocente: como
adquirimos conhecimento do inobservado?. Portanto, aqui delineada a primeira
crtica de Hume ao problema da induo, ou seja, como podemos adquirir
conhecimento a partir daquilo que ainda no experimentamos?
No entanto, a esse respeito, de acordo com o prprio Hume (1999, p. 60
61): [...] nem razovel concluir, apenas porque um evento em determinado caso
precede outro, que um a causa e o outro, o efeito. [...] No h base racional parainferir a existncia de um pelo aparecimento do outro. Temos aqui a crtica quanto
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no justificao epistmica para uma crena aos moldes do raciocnio indutivo. E,
tambm, a recusa por parte de Hume ao Princpio da Uniformidade da Natureza, o
qual diz que o futuro se assemelhar ao passado.
De acordo com NOONAN (1999, p. 133):
um fato, pensou Hume, que fazemos inferncias a partir do observado aoinobservado. E tambm um fato, que fazemos tais inferncias somentedepois de termos observado uma constante conjuno de dois tipos decoisas e so apresentadas com uma coisa de um destes tipos. Fazemos taltransio em tais circunstncias porque h na mente humana um princpiode unio de ideias operativo ao efeito [...].
Aqui, Noonan aborda tal princpio operativo na mente humana, como aquele
que nos faz, a partir de uma unio de ideias, inferir uma causa. E, obviamente, quenossas inferncias indutivas so do observado ao inobservado.
H uma crtica forte exposta por parte de Hume que repousa sobre a
irracionalidade, por assim dizer, de raciocinarmos aos moldes de inferncias
indutivas, inferncias essas que, segundo Hume, no possuem amparo ou base
racional para justific-las.
Segundo NEIVA (2013, p. 62):
Embora se possa afirmar provvel que A e B sejam o caso no futuro, no logicamente necessrio que essa conjuno constante observada naexperincia continuar a ter vigncia no futuro. Ou melhor, no h relaode implicao lgica necessria dos observados no passado para osinobservados no futuro. Mesmo que a premissa de um argumento indutivofornea um amplo conjunto de evidncias favorveis a uma determinadaconjuno constante, de repeties agrupadas sob a forma todos os Asobservados at agora so Bs, no se segue necessariamente que talpadro ser o caso no futuro. No importa se h uma amostra numerosa.Ela no garante que a proposio conclusiva todos os As sero Bs nofuturo seja verdadeira.
Acima se afirma a no necessidade lgica de que seja o caso em que no
passado tenha se constatado que um dado fato foi o caso que ele necessariamente
tenha de ser no futuro. A crtica acima exposta a de que, no h em lugar algum, a
implicao disso, ou seja, de que o futuro se assemelhar ao passado, mesmo em
se dando que hajam mltiplos casos de evidncia a favor de, no h necessidade
lgica ou garantia de que no futuro isso ser verdadeiro.
Segundo Hume, h um princpio que faz com o que o homem extraia uma
concluso com base na experincia, quando do aparecimento de um objeto se d o
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surgimento de seu correlato, que afirmou Hume (1999, p. 61): Este princpio o
costumeou o hbito.
Pois, de acordo com Hume (1999, p. 61):
Visto que todas as vezes que a repetio de um ato ou de uma determinadaoperao produz uma propenso a renovar o mesmo ato ou a mesmaoperao, sem ser impelida por nenhum raciocnio ou processo doentendimento, dizemos sempre que esta propenso o efeito do costume.[...] Talvez no possamos levar nossas investigaes mais longe e nemaspiramos dar a causa desta causa; porm, devemos contentar-nos comque o costume o ltimo princpio que podemos assinalar em todas asnossas concluses derivadas da experincia.
Portanto, esse princpio por trs da experincia conforme Hume o costume,
a saber, todas as concluses que podemos extrair a partir da experincia do
observado ao no observado sero por fora do hbito ou do costume, dos quais
no se pode prescindir. Hume ainda afirma que todas as inferncias extradas da
experincia sero efeito do costume e no da razo.
Quanto a esse respeito, de acordo com Hume (1999, p. 63): Sem a influncia
do costume, ignoraramos completamente toda questo de fato que est fora do
alcance dos dados imediatos da memria e dos sentidos.
De acordo com POPPER (1975, p. 1516):
Hume interessava-se pela situao do conhecimento humano ou, comopoderia ter dito, por indagar se alguma de nossas crenas e qual delaspoderia ser justificada por razes suficientes.Levantou ele dois problemas: um problema lgico (Hl) e um problemapsicolgico (Hps).[...] O problema lgico de Hume :Hlsomos justificados em raciocinar partindo de exemplos (repetidos), dosquais temos experincia, para outros exemplos (concluses), dos quais notemos experincia?A resposta de Hume a Hl : No, por maior que seja o nmero derepeties.[...] O problema psicolgico de Hume :HpsPor que, no obstante, todas as pessoas sensatas esperam, e creemque exemplos de que no tem experincias conformar-se-o com aquelesde que tm experincia? Isto : Por que temos expectativas em quedepositamos grande confiana?A resposta de Hume : Por causa do costume ou hbito; isto porquesomos condicionados pelas repeties e pelo mecanismo da associao deideias, mecanismo sem o qual, diz Hume, dificilmente poderamossobreviver.
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A ltima das afirmaes feitas por Popper pode ser contemplada j no trecho
adiante. Pois fortssima a nfase dada por Hume ao que denominou de costume,
o qual caracteriza como um princpio. E isso podemos ver claramente ao final da
seo V, intitulada de Soluo ctica destas dvidas, conforme Hume (1999, p.
70):
O costume o princpio que tem realizado esta correspondncia, tonecessria para a conservao de nossa espcie e para o regulamento denossa conduta em todas as circunstncias e situaes da vida humana. Sea presena de um objeto no despertasse instantaneamente a ideia dosobjetos que comumente esto unidos a ele, todo nosso conhecimentodeveria limitar-se estreita esfera de nossa memria e de nossos sentidos,e jamais seramos capazes de adaptar os meios em vista dos fins ou deempregar nossos poderes naturais para produzir o bem ou evitar o mal.
O costume a pea chave na explicao humeana acerca da crena na
continuidade das relaes de causa e efeito percebidas no curso da natureza, que,
de acordo com NEIVA (2013, p. 72):
Podemos supor que a experincia nos proporcionou um nmero abundantede repeties entre dois eventos A e B. Basta que um deles seja objeto denossa experincia em mais uma instncia individual para que a infernciaseja engendrada pelo recurso psicolgico do costume ou hbito: este setorna efetivamente um procedimento condicionado do pensamento,
sobretudo em relao aos padres que se repetem com maior frequncia emenor nmero de contraexemplos.
H, pois, a afirmao de que chegamos inferncia indutiva de que os casos
repetidos dos quais tivemos conhecimento que no passado foram de determinado
modo se assemelharo no futuro, seja um recurso segundo alguns e conforme
acima citado, o recurso psicolgico do hbito ou costume abordado por Hume.
A concluso a que Hume chega a de que o ser humano pensa aos moldesde causa e efeito no por algum tipo de prova ou evidncia irresistvel, mas sim, por
aquilo que disse ser um hbito ou costume da mente, e logicamente no h nmero
suficiente de amostras que confira certeza a uma concluso relacionada a questes
de fato na relao causa e efeito.
No prximo captulo trabalharemos conceitos como, por exemplo, percepo,
crena, evidncia e primeiros princpios, que permeiam os escritos de Reid,
principalmente em se tratando de uma possvel justificao para o problema da
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induo, trazendo ao final do captulo uma breve do mtodo de obteno ou
aquisio de conhecimentos sobre o mundo, aludido por Reid.
3 PERCEPO, CRENA, EVIDNCIA E PRIMEIROS PRINCPIOS.
Podemos perceber que toda discusso em torno da justificao da induo
em Reid passa pelo escrutnio das operaes mentais to aprofundadas por este.
Neste processo de anatomia da mente humana, podemos perceber o modo pelo
qual a mente opera frente interpretao do mundo externo.
Embora nosso intento seja o de apresentar uma justificao ao problema da
induo, existente nas duas primeiras grandes obras de Reid, faremos, no entanto,
primeiramente uma breve exposio dos conceitos reidianos de percepo, crena,
evidncia e primeiros princpios, os quais sero de excelente auxlio na
compreenso de nossa discusso.
Primeiramente, podemos dizer que percepo em Reid no um ato mental
isolado, mas envolve alguns elementos, pois, de acordo com Reid (2000, p. 168):
Percepo, como aqui a entendemos, tem sempre um objeto distinto do ato pelo
qual percebido. Podemos compreender isso como a percepo sendo um ato
mental, que diferente do objeto percebido. O ato mental de perceber , segundo
Reid, um ato em que estamos conscientes e podemos refletir sobre o mesmo.
H na percepo outras questes em voga, pois, conforme Reid (2000, p.
168): [...] a percepo de um objeto implica tanto uma concepo de sua forma e
uma crena de sua existncia presente. Eu sei, alm disso, que esta crena no o
efeito de argumentao e raciocnio; o efeito imediato de minha constituio.Portanto, esta passagem nos faz saber que (I) percepo envolve concepo da
forma do objeto percebido, (II) percepo envolve a crena da existncia presente
de tal objeto e (III) esta crena no o resultado de argumentao ou da razo, mas
o efeito imediato de nossa constituio. Ainda, de acordo com PICH (2010, p. 8):
Na definio mesma, no h meno da sensao. A sensao serve como sinal
e mesmo item que aciona a concepo e a crena de existncia envolvidas na
percepo, mas ela mesma no um ingrediente constitutivo da percepo.
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Tambm, podemos dizer que, em relao s percepes, conforme PICH
(2010, p. 9): [...] no envolvem raciocnios ou inferncias, tampouco uma percepo
precisa envolver algum pensamento sobre as sensaes concomitantes relevantes.
[...] Percepes, como outras operaes da mente, so falveis. Aqui aparece algo
que evidencia o fato de que Reid no cr cegamente que as faculdades cognitivas
humanas sejam perfeitas, e assim, imunes a falhas, muito pelo contrrio, mesmo
sendo falveis, nossas faculdades cognitivas, como por exemplo, a percepo,
conducente verdade.
Quanto aos passos, semelhantemente dito nos EIP, segundo Reid (2002, p.
96): Primeiro, alguma concepo ou noo do objeto percebido. Segundo, uma
forte e irresistvel convico e crena de sua existncia presente. E, em terceiro
lugar, que esta convico e crena so imediatas e no o efeito do raciocnio.
Pode ser afirmado sem prejuzo algum, acredita-se que ningum dir o
contrrio, pois, que percepo envolve concepo ou noo do objeto, crena e
convico irrestrita em sua existncia e que essa convico e crena no so
mediadas por nada. Com relao concepo ou noo do objeto e com respeito
crena de sua existncia presente, Reid afirma serem ambas inexplicveis.
Temos, no entanto, outra breve considerao a ser feita, a saber, queconforme Reid (2002, p. 227): Temos uma concepo imediata das operaes de
nossas prprias mentes, unidas com a crena de sua existncia presente; a isto
chamamos conscincia. Aqui nosso autor apresenta de forma bastante sinttica seu
entendimento sobre conscincia.
importante que faamos uma breve ressalva em relao ao ato mental de
conceber, envolvido e coparticipante ao ato de perceber. De acordo com PICH
(2010, p. 153):Assim, pois, h um sentido em que o contato com o mundo exterior, napercepo, nada mais que a concepo pela mente de um objetoexistente, em regra acompanhada de sensao, respectiva ao uso dosrgos sensriosque sofrem a impresso dos objetos do mundo exterior -, e com a realizao de um juzo perceptual de existncia. Essa crena,alm disso, bsica ou imediata: ela no se deve a nenhum tipo deraciocnio ou argumentao, e a sua verdade evidente no devidainferencialmente a nenhuma outra proposio e a nenhum outro princpio.
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Desse modo, notamos a capital importncia do ato mental de conceber
implicado na percepo, ato esse que no obtido por raciocnio ou argumento de
nenhum tipo, mas uma crena direta ou imediata, por assim dizer.
Quanto ao entendimento sobre crena, pode ser dito que, para Reid (2000, p.
58): [...] por um princpio original de nossa constituio, uma certa sensao de
toque igualmente sugere mente a concepo de dureza e cria a crena dela [...].
Desse modo, pode ser entendido que a crena fruto de um princpio original de
nossa constituio. Pois, conforme a viso de Reid (2000, p. 72):
Que nossos pensamentos e sensaes devem ter um sujeito, quechamamos de ns mesmos, no , portanto, uma opinio obtida porraciocnio, mas por um princpio natural. Que nossas sensaes de toque
indicam alguma coisa externa, estendida, figurada, dura ou suave, no uma deduo da razo, mas um princpio natural. A crena disso, e aprpria concepo disso, so igualmente partes de nossa constituio.
Portanto, parece clara a definio reidiana de que crena e, principalmente a
crena que temos de nossa prpria conscincia, uma crena que faz parte de
nossa constituio. Quanto crena que temos em relao ao mundo material, dir
Reid (2000, p. 76): [...] uma crena que no obtida nem pelo raciocnio nem pe la
educao, e uma crena que no podemos nos livrar, mesmo quando parecemos ter
argumentos fortes contra isso [...].
Outra afirmao feita a respeito da natureza da crena , segundo Reid
(2000, p. 31): [...] que a crena que acompanha a sensao e a memria, um ato
simples da mente, que no pode ser definido.
Conforme Reid (2002, p. 228): Crena sempre expressa na linguagem por
uma proposio, em que algo afirmado ou negado. Todas essas afirmaes
trazidas luz da parte de Reid so de suma importncia para que entendamos oselementos constitutivos das operaes mentais que, em ltima instncia,
desembocaro em nossa justificao da induo segundo o pensamento deste.
Vejamos, no entanto, algumas palavras finais acerca de crena, de acordo
com Reid (2002, p. 228):
[...] que existem muitas operaes da mente em que, quando as analisamosna medida em que somos capazes, achamos a crena ser um ingredienteessencial. Um homem no pode estar consciente de seus prpriospensamentos, sem acreditar que ele pensa. Ele no pode perceber umobjeto dos sentidos, sem crer que o objeto existe. Ele no podedistintamente lembrar-se de um evento passado sem acreditar que ele
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existiu. Crena, portanto, um ingrediente na conscincia, na percepo ena memria.
Evidentemente, posto por nosso autor a primordialidade desse ingrediente
chamado crena. Pois Reid nos dir que a crena acompanha essas trs operaes
mentais fundamentais denominadas conscincia, percepo e memria.
Quanto ao conceito de evidncia em Reid, encontramo-lo diretamente ligado
ao conceito anteriormente trabalhado, ou seja, ao conceito de crena, pois este dir
em relao a acreditar na existncia presente s nossas sensaes e a acreditar na
existncia presente do que lembramos que, temos o mesmo peso de uma crena de
dois vezes dois igual a quatro, ou seja, a evidncia que temos para crer no que os
sentidos e no que a memria nos informa a mesma evidncia que temos para crer
numa afirmao matemtica.
De acordo com Reid (2000, p. 32):
A evidncia dos sentidos, a evidncia da memria, e a evidncia dasrelaes necessrias de coisas, so todos tipos de evidncia distintos eoriginais, igualmente fundadas em nossa constituio: nenhuma delasdepende de, ou pode ser resolvida em outra. Argumentar contra qualquerdestes tipos de evidncia absurdo; ou melhor, argumento para eles
absurdo. Elas so primeiros princpios; e tais no caem na provncia daRazo, mas do Senso Comum.
Essas so algumas consideraes feitas por Reid no IHM, que se podem
distinguir as evidncias em trs tipos, a saber, a evidncia dos sentidos, da memria
e das relaes necessrias de coisas. Esses diferentes tipos de evidncia so, para
este, primeiros princpios, fundados em nossa constituio.
Por outro lado, temos em EIP, poderia ser dito, uma afirmao um tantoquanto melhorada ou aprimorada, pois, conforme Reid (2002, p. 228): Damos o
nome de evidncia para o que quer que seja uma base de crena. Reid, inclusive
afirma que crer sem evidncia uma fraqueza e algo que todos se preocupam e
mesmo desejam evitar. Segundo Reid (2002, p. 228229): O que esta evidncia ,
mais facilmente sentido do que descrito. Aqueles que nunca refletiram sobre sua
natureza, sentem sua influncia no governo de suas crenas.
Desse modo, podemos conceber evidncia como sendo algo que serve de
base para uma crena e melhor sentido que descrito ou definido. No entanto, h um
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aprimoramento quanto ao que fora dito no IHM em EIP, a saber, conforme Reid
(2002, p. 229):
As ocasies comuns da vida nos levam a distinguir evidncia em diferentes
tipos, aos quais damos nomes que so bem compreendidos; tais como aevidncia dos sentidos, a evidncia da memria, a evidncia daconscincia, a evidncia do testemunho, a evidncia dos axiomas, aevidncia do raciocnio: Todo homem de entendimento comum concorda,que cada um destes tipos de evidncia pode proporcionar base justa decrena, e eles concordam geralmente nas circunstncias que as fortalecemou as enfraquecem.
Temos aqui um aperfeioamento claro em relao a exposio feita em IHM,
pois aqui so acrescentados trs tipos de evidncias, e uma diferenciao em
relao a um dos tipos de evidncia j mencionadas anteriormente, a saber, aquilo
que em IHM foi afirmado como tipo de evidncia das relaes necessrias de
coisas, pode ser entendida em EIP como a evidncia dos axiomas. Outra questo
acrescida aqui a afirmao de que todo homem, poderamos dizer, de senso
comum, concorda que estes tipos de evidncia so bases justas de crena. Outro
aspecto, em relao evidncia como base segura para crena, que poderia ser
ressaltado que, de acordo com Reid (2002, p. 229): Elas me parecem concordar
apenas nisto, que so todas equipadas pela Natureza a produzir crenas na mente
humana, algumas delas no mais alto grau, que podemos chamar de certeza, outras
em vrios graus de acordo com as circunstncias.
Depois de mencionados todos estes tipos de evidncia, devemos,
brevemente, apontar para aqueles que nos captulos seguintes sero os tipos de
evidncia que daro suporte justificao da induo problematizada por Reid. O
que veremos nos captulos vindouros, sero provavelmente, os tipos de evidncia
dos sentidos, da memria e do testemunho.
Ser coerente que brevemente explicitemos o tipo de evidncia dos sentidos,
o qual dito segundo Reid (2002, p. 229): [...] tomo por garantido, que a evidncia
dos sentidos, quando as circunstncias apropriadas concorrem, boa evidncia, e
uma justa base de crena.Outra afirmao feita quanto natureza da evidncia
dos sentidos que, para Reid (2002, p. 231): As verdades atestadas pelos nossos
sentidos no so deste tipo; elas so contingentes, e limitadas ao tempo e lugar. As
verdades das quais no so do tipo atestadas pelos sentidos so as verdades dos
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axiomas, ou seja, as verdades autoevidentes que so necessrias, no limitadas a
tempo e lugar, e verdadeiras em todos os tempos e lugares.
feita no EIP uma feliz comparao entre dois tipos de evidncia, evidncias
essas que aparecero de modo semelhantemente conectado mais adiante, a saber,
no que tange a evidncia dos sentidos e do testemunho. Para Reid (2002, p. 231):
No h dvida na analogia entre a evidncia dos sentidos e a evidncia do
testemunho. Assim, temos em todas as lnguas as expresses analgicas sobre
testemunho dos sentidos, e sobre dar crditoa nossos sentidos, e assim por diante.
Embora, ainda sejam feitas algumas pequenas comparaes, tanto quanto a
semelhanas quanto a diferenas em relao evidncia dos sentidos e da
memria, e evidncia dos sentidos e da conscincia, pensamos que aquilo que
fora exposto at o momento seja de grande valia para entendermos o que Reid
concebe por evidncia.
importante que faamos uma nota respectiva distino entre julgamento e
crena, que, segundo LEHRER (2002, p. 146): No claro, entretanto, se
julgamento um ingrediente ou concomitante a crena. [...] Evidncia e julgamento
so, portanto, relacionados da mesma maneira como evidncia e crena.
No que se refere aos primeiros princpios, podemos dizer que so feitas
algumas consideraes bem importantes, pois, em IHM, conforme Reid (2000, p. 71
72):
Todo raciocnio deve ser a partir de primeiros princpios; e por primeirosprincpios nenhuma outra razo pode ser dada alm desta, que, pelaconstituio de nossa natureza, estamos sob uma necessidade deconcordar com eles. Tais primeiros princpios so partes de nossaconstituio, no menos que o poder de pensar [...] Como ou quando tenhoesses primeiros princpios, sobre os quais construo todo meu raciocnio, euno sei; pois eu os tenho antes do que eu possa lembrar: mas eu estou
certo que eles so parte de minha constituio, e que no posso jog-losfora.
Logo, devemos concluir que nossa natureza nos fez de tal maneira que
devemos necessariamente concordar com tais primeiros princpios, sendo que,
estes primeiros princpios so partes de nossa constituio. Esses primeiros
princpios so a base para a construo de nossa razo. Pois, segundo Reid (2000,
p. 172):
Todo raciocnio a partir de princpios. [...] e os primeiros princpios de todonosso raciocnio sobre existncias, so nossas percepes. Os primeirosprincpios de todo tipo de raciocnio nos so dados pela Natureza, e so deigual autoridade com a faculdade da prpria razo, que tambm um
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presente da Natureza. As concluses da razo so todas construdas sobreprimeiros princpios, e podem no ter outra fundao.
Portanto, toda nossa razo ou raciocnio, poderamos dizer, construdo
segundo Reid sobre os primeiros princpios. Quando nosso raciocnio empregado
em relao s existncias ele se refere s nossas percepes que so consideradas
primeiros princpios. Desse modo, nossas percepes so primeiros princpios que
nos falam daquilo que existe.
Quanto aos primeiros princpios em EIP, de acordo com Reid (2002, p. 452
453): [...] tem a luz da verdade em si mesmos [...] suficiente distinguir primeiros
princpios, ou juzos intuitivos, daqueles que podem ser atribudos ao poder do
raciocnio.
Uma primeira nota que podemos fazer aqui que carregam a verdade em si
mesmos e, em segundo lugar, so equiparados a juzos intuitivos, ou seja, que no
dependem do raciocnio. Embora o raciocnio seja construdo sobre os primeiros
princpios no podemos dizer que o resultado do raciocnio seja ou sejam primeiros
princpios.
Para LEHRER (2002, p. 153): Julgamentos de proposies resultantes dosprimeiros princpios so intuitivos e irresistveis.
Os primeiros princpios de forma geral contm algumas caractersticas,
conforme Reid (2002, p. 454455):
Primeiro, mantenho ser certo, e mesmo demonstrvel, que todoconhecimento obtido por raciocnio deve ser construdo sobre primeirosprincpios. [...] Uma segundaproposio , que alguns primeiros princpiosproduzem concluses que so certas, outros tais como so provveis, emvrios graus, da mais alta probabilidade menor.
Assim, todo raciocnio fundado sobre primeiros princpios, alguns primeiros
princpios produzem concluses certas, outros, concluses provveis, do mais alto
ao menor grau de probabilidade. Outro aspecto importante afirmado, em relao
aos primeiros princpios, pois, que de acordo com o pensamento de Reid (2002, p.
463): [...] realmente so ditames do senso comum, e diretamente opostos a
absurdidades na opinio, sero sempre, a partir da constituio da natureza humana
[...].
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Em relao aos primeiros princpios, vale ressaltar que, segundo PICH (2010,
p. 12): Parece correto dizer, porm, estando o autoevidente na categoria de
primeiros princpios, verdades autoevidentes ou princpios do senso comum,
que ele equivale a princpios irredutveis do uso da razo tal como ela se apresenta.
Portanto, as palavras de Thomas Reid com respeito aos Primeiros Princpios
so claras, ao referir-se aos mesmos como sendo ditames do senso comum,
equivale a dizer que a humanidade opera, desde os mais finos intelectuais, at o ser
humano mais vulgar e rude, com a pressuposio de primeiros princpios como base
de todo conhecimento.
H, no entanto, uma nota importante a ser feita no que tange aos primeiros
princpios como sinnimo de autoevidncia e autoevidncia como sinnimo de
primeiros princpios, a saber, conforme PICH (2010, p. 12):
Assim, pode-se concordar com Roger Gallie que marcas do autoevidente,na filosofia do senso comum de Thomas Reid, so: (i) ser um princpioexpresso em uma proposio que entendida e ao mesmo tempo crida(mesmo que no por motivos lgico-formais); (ii) surgir to cedo na menteque ele no pode ser efeito de educao ou raciocnio; (iii) ser universal (ena prtica unnime), tal como aspectos da conduta humana o revelam; (iv)ser indispensvel conduta diria; (v) deixar em posio ridcula(absurda) aquele que insiste no contrrio de um primeiro princpio; (vi) serrespectivo s obtenes doxsticas comuns dos seres humanos, assim
como as crenas perceptuais e de memria, embora as faculdadescorrespondentes sejam falveis.
fato que devemos aqui fazer uma breve concesso das concluses de Reid
Hume, a saber, que os primeiros princpios, ou, o autoevidente no so fruto ou
efeito de educao ou raciocnio. Portanto, j que nossa inteno tem sido
demonstrar uma justificao ao problema da induo por parte de Reid, apelando
aos primeiros princpios, aqui, mais uma vez fica clara uma concordncia deste com
aquele, a saber, se a concluso de que o futuro se assemelhar ao passado
possvel, essa s possvel recorrendo-se aos primeiros princpios, que por si
mesmos so autoevidentes.
Aps serem feitas essas consideraes com respeito percepo, crena,
evidncia e primeiros princpios, se faz importante tambm que apresentemos o
modo como estruturada a aquisio de conhecimentos para Reid, a saber,
conforme PICH (2010, p. 248249):
[...] (i) pela observao e pelo experimento, o que indica a confianaassumida, no mtodo, no prprio poder de observar e, nesse passo, a
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adoo presumida de um empirismo, (ii) pela induo enumerativa oujusta, com o que Reid tem em vista a generalizao a partir de amostrassuficientes, repetidas e em tese inequvocas, e finalmente (iii) a aplicaodessa mesma generalizao, como lei, aos casos particulares, explicando-os.
[...] esse procedimento [...] obedienteao mecanismo cognitivo natural ouaos princpios constitutivos (sempre pressupostos) de como sereshumanos obtm crenas sobre o mundo; na esteira disso, esseprocedimento descreve a maneira como, segundo e sobre a natureza, e danica formajustificada,crenas so adquiridas.[...] Pode ser afirmado, assim, que aquele que investiga o mundo consegueobter evidncia sobre lei[s] da natureza a partir de induo, umaevidncia que no de tipo demonstrativo, mas antes um tipo de evidnciasobre a qual as mais importantes questes da vida humana devemrepousar.
O excerto supracitado apresenta de forma muito clara os passos pelos quais
Reid compreende a aquisio de conhecimento, e, alm disso, revela de maneira
metdica como obtemos crenas acerca do mundo. E, assim, desenrola-se um
procedimento bastante simples e fortemente eficiente como modelo ou mtodo
cientfico e observacional sobre o mundo exterior. Ainda de acordo com PICH (2010,
p. 254):
Um dos mais famosos desempenhos desse mtodo de observao eraciocnio aplicado em que, especulativamente, poder-se-ia dizer que aateno est para a observao ou o experimento do evidente, ou seja, doclaramente existente, e a reflexo est para o raciocnio que permitirgeneralizao necessria e adequada ou uma justa induo [...].
Aqui se afirmam dois aspectos coparticipantes do processo ou mtodo seguro
para se conhecer sobre o mundo e penetrar no entendimento humano, podendo
assim, observarmos ou experimentarmos aquilo que evidente, a saber, aquilo que
de modo muito explicito existe e por meio da reflexo, poder esquadrinhar o
raciocnio, o qual permitir que possamos ou no produzir generalizaes ou uma
justa induo, que se d atravs da observao de um nmero de amostras
suficientes, repetidas e sem equivoco algum e por uma reflexo atenta das prprias
operaes mentais.
Passaremos no prximo captulo a analisar a justificao crena da
continuidade e uniformidade das leis da natureza, dada por Reid em oposio a
Hume e de algumas consideraes iniciais quanto ao tpico da induo que j
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aparecem em captulos anteriores ao qual Reid ir tratar aprofundadamente o
assunto.
4 THOMAS REID: AN INQUIRY INTO THE HUMAN MIND ON THE PRINCIPLESOF COMMON SENSE. UMA PRIMEIRA INCURSO NA OBRA.
Em sua primeira obra, An inquiry into the human mind on the principles of
common sense de 1764 (a partir de agora mencionada apenas por IHM), Reid
adentrar o tpico da induo no captulo VI, seo XXIV, onde trata dapercepoe
do testemunho. Desse modo, ao passo que forem sendo feitas constataes na obrade Reid, tambm sero feitas, sempre que possvel e necessrio, anlises paralelas
das concluses tiradas por alguns crticos acerca do que este, de fato, argumenta e
se as consideraes aqui expostas so condizentes com a opinio de Reid sobre o
assunto em questo.
Vale ressaltar a pergunta feita na introduction da edio crtica do IHM,
escrita por Derek R. Brookes, a saber, se temos qualquer boa evidncia para
suportar crenas na existncia do mundo exterior? Pois, em ltima anlise, oprocesso inferencial pelo qual se concebe a crena no mundo exterior se assemelha
ao processo inferencial indutivo, no qual se passa dos casos observados a
concluses no observadas.
Devemos nesse momento tornar claro o modo pelo qual Reid concebe o
modo de construo argumentativa em torno da problemtica da induo, a saber,
como o processo de construo de argumentos indutivos de acordo com a viso
de Reid?Essa pergunta comear a ser respondida no desenvolvimento desse
trabalho, onde, a teoria reidiana ir se desenrolando. No entanto, a grande questo
levantada no IHM, no que tange ao problema da induo , como justificar o
raciocnio indutivo recorrendo aos chamados princpios gerais da mente humana?
Os quais se poderiam denominar como o titulo da obra sugere, ou seja, os
princpios do senso comum.
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Ser importante apresentar algumas passagens nas quais o termo induo
aparece na obra desde o incio, a saber, como veremos exemplos dessas aparies
na sequncia.
Portanto, analisemos passo a passo o que foi dito por Reid, desde o inicio de
seu Inquiry, a saber, que Reid (2000) afirma que deve haver um caminho ao
conhecimento das obras da natureza e esse caminho a observao e o
experimento.
Conforme Reid (2000, p. 1112):
Pela nossa constituio, temos uma forte propenso a rastrear fatos eobservaes particulares a regras gerais, e aplicar tais regras gerais paraconsiderar outros efeitos, ou nos orientar na produo deles.
[] O homem que primeiro descobriu que o frio congela a gua, e que ocalor a transforma em vapor, procedeu sobre os mesmos princpios gerais,e no mesmo mtodo, pelo qual Newton descobriu a lei da gravitao e aspropriedades da luz. Suas regulae philosophandi so mximas do sensocomum, e so praticadas todos os dias na vida comum.
Tem-se de inicio uma afirmao bastante forte, a saber, que da nossa
constituio traar fatos particulares e observaes para formular regras gerais e
aplicar essas regras gerais a outros efeitos. Reid prossegue dizendo que o primeiro
homem a ter descoberto que a gua congela no frio e vira vapor com o calorprocede a partir dos mesmos princpios gerais, e segundo Reid, com o mesmo
mtodo pelo qual Newton descobriu a lei da gravitao e as propriedades da luz, ou
seja, esse mtodo ou mtodos para Newton so suas regras do filosofar.
A afirmao de Reid diz que essas regulae philosophandi (regras do
filosofar) so mximas do senso comum. Uma mxima do senso comum pode ser
encarada ou entendida por ns como princpios do senso comum. Logo essa
afirmao de Reid parece ser clara quanto questo de que constitutivamente
somos impelidos a, a partir de fatos e observaes singulares ou particulares,
chegarmos a regras e concluses gerais, ou, universais, para assim podermos nos
guiar em futuros procedimentos ou casos similares.
Ser importante notarmos o peso dado experincia, pois, para Reid (2000,
p. 12): Todas as nossas curiosas teorias sobre a formao da terra, sobre a
gerao dos animais, sobre a origem do mal natural e moral, na medida em que vo
alm de uma justa induo a partir de fatos, so vaidade e loucura [...].Portanto,
em tudo quanto teorizarmos, nossas concluses acerca do mundo no devem
ultrapassar, segundo Reid, uma justa induo. Interessante perceber o aparente
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status de conhecimento concedido por Reid ao que ele denomina de justa induoa
partir de fatos, pois, aqui parece que nosso autor reconhece alm dessa ser uma
regra do filosofar, um bom mtodo para se chegar a concluses acerca do mundo.
Reid faz uma interessante analogia acerca de como podemos conhecer os
poderes e princpios da mente, ou seja, assim como conhecemos acerca do corpo
atravs da anatomia e da observao, dever ser por meio de uma anatomia da
mente que descobriremos seus poderes e princpios. E, de fato, sua primeira obra, o
IHM, pode ser considerada por qualquer estudioso atento, um escrito com a inteno
principal de descrever minuciosa e demoradamente os processos mentais, ou como
o prprio Reid fala, as operaes da mente, e o modo pelo qual as operaes
mentais se do mediante a informao recebida por cada um dos cinco sentidos.
Nesse sentido, cr-se que essa anatomia foi bem sucedida, pela extensa e
aprofundada anlise feita pelo mesmo.
No captulo II, intitulado Of SMELLING, ou seja, Sobre o OLFATO, na
seo IX, temos a seguinte definio de Thomas Reid acerca das conexes de
ideias que fazemos, de acordo com Reid (2000, p. 41):
[...] um ansioso desejo em descobrir conexes nas coisas, e uma natural,original, e inexplicvel propenso a acreditar, que as conexes que temosobservado no tempo passado, continuaro no futuro. Pressgios, boa e msorte, quiromancia, astrologia, todas as numerosas artes de adivinhao, ede interpretar sonhos, falsas hipteses e sistemas e princpios verdadeirosna filosofia da natureza, so todos construdos sobre a mesma fundao naconstituio humana; e so distinguidas somente de acordo comoconclumos precipitadamente a partir de poucos casos, ou cautelosamentea partir de uma induo suficiente.
Poderamos dizer que aqui nessa passagem comea a se desenhar o
princpio da uniformidade da natureza, o qual afirma que, as conexes que temosobservado no passado, continuaro do mesmo modo no futuro. Outro aspecto
importante contido nessas linhas que, de todas as artes no cientficas, como por
exemplo, a interpretao de sonhos, pressgios, astrologia, a arte da adivinhao,
falsas hipteses e sistemas s se diferenciam dos princpios verdadeiros na filosofia
da natureza, embora construdos sobre a mesma fundao na constituio humana,
os primeiros pela concluso precipitada de poucos casos, e o segundo por uma
cautelosa induo suficiente, a saber, pela justa induo, ou analise a partir de um
nmero de casos suficientes.
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Thomas Reid, no Inquiry, de fato, faz uma anatomia, como afirma, sobre o
modo de funcionamento dos cinco sentidos e como estes comunicam sensaes
mente. Atravs dessa anatomia do entendimento humano, analisando passo-a-
passo os cinco sentidos externos, Reid tenta demonstrar o modo como procede a
confiabilidade nas faculdades sensoriais e a analogia existente entre o testemunho
da natureza dado pelos sentidos e o testemunho humano dado pela linguagem.
Tanto em um, quanto no outro tipo de testemunho, princpios originais constitutivos
da mente esto operando.
Pode-se concluir aps leitura atenta do IHM que Reid apresenta uma
justificao ao modo de raciocnio indutivo recorrendo aos princpios do senso
comum, os quais se podem entender como princpios epistmicos, justificadores da
maneira de raciocinar indutivamente.
Como Reid constri sua argumentao acerca do problema da induo?
Embora o problema no aparea com esse nome, o que recorrentemente ser visto
na leitura, principalmente do IHM, ser o questionamento acerca de: Como
possvel passarmos do sinal coisa significada? Ser em torno dessa pergunta que
a resposta de Reid girar, ou em outras palavras , como podemos passar
inferencialmente da observao de um fato (experincia) sua concluso(generalizao).
No captulo V, Sobre o toque, Reid faz uma breve exposio e comparao
entre alguns tratamentos dados lei de causa e efeito por parte de Hume, quando,
na seo III, sobre sinais naturais, faz uma reflexo acerca de que modo pode-se
entender essa relao causa e efeito.
De acordo com Reid (2000, p. 5859):
A palavra ouro no tem semelhana substncia significada por ela, nem em sua prpria natureza mais apta a significar isto que qualquer outrasubstncia: ainda, pelo habito e costume, ela sugere isto e no outra coisa.De modo semelhante, uma sensao de toque sugere dureza, embora nemtenha semelhana com dureza, nem, tambm como podemos perceber,qualquer conexo necessria com ela. A diferena entre estes dois sinaisreside apenas nisto, que, no primeiro, a sugesto o efeito de hbito ecostume, no segundo, no efeito de hbito, mas da constituio originalde nossas mentes.
De fato, parece que o problema e a justificativa sempre giram em torno decomo possvel se fazer inferncias, onde se passa da apario do sinal crena
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na coisa significada. Ou seja, como possvel o processo de se passar de um
julgamento contingente a outro de maneira justificadamente correta e verdadeira.
Um pouco adiante, Reid far uma replica ao argumento de Hume, a saber, de
que s conhecemos a conexo entre nossas sensaes e o mundo exterior pelo
hbito ou costume. Pois, conforme Reid (2000, p. 61):
Afigura-se como evidente, que esta conexo entre nossas sensaes e aconcepo e crena de existncias externas no pode ser produzida pelohbito, experincia, educao ou qualquer outro princpio da naturezahumana que tem sido admitido pelos filsofos. Ao mesmo tempo, um fato,que tais sensaes esto invariavelmente conectadas com a concepo ecrena de existncias externas. Assim, por todas as regras do justoraciocnio, devemos concluir que esta conexo o efeito de nossaconstituio, e deve ser considerado como um princpio original da naturezahumana, at encontrarmos algum princpio mais geral em que possa serresolvido.
At o momento, o esforo de Reid tem sido o de demonstrar que o motivo
pelo qual passamos de uma sensao crena de que uma existncia externa tal
como se apresenta nossa percepo, diferentemente de Hume que afirmava ser
pelo hbito ou costume, Reid cr ser pelos primeiros princpios, os quais afirmava
serem constituintes de nossa natureza.
Segundo Reid (2000, p. 71):
Todo o raciocnio deve ser a partir de primeiros princpios; e, para primeirosprincpios nenhuma outra razo pode ser dada alm desta, que, pelaconstituio de nossa natureza, estamos sob a necessidade de assentir aeles. Tais princpios so partes de nossa constituio, no menos que opoder do pensamento [...].
Portanto, todo nosso raciocnio segundo cr Reid, construdo sobre
primeiros princpios, os quais este acredita serem parte de nossa constituio,princpios esses que so, segundo Reid, autoevidentes.
4.1 THOMAS REID E OS PRIMEIROS PRINCPIOS AUTOEVIDENTES.
Podemos fazer, mesmo que brevemente, uma anlise do que so Primeiros
princpios autoevidentes, para Reid. Como j dissemos anteriormente, os primeiros
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princpiosassim denominados por Reid nos Essayscorrespondem aosprincpios do
senso comumtrabalhados por este no Inquiry.
Tomaremos aqui, os Essays, obra na qual Reid d um tratamento mais bem
acabado por assim dizer, e sobre a qual a maioria dos crticos teceu comentrios
contundentes. Conforme Reid (2002, p. 452):
Uma das mais importantes distines de nossos juzos , que alguns sointuitivos e outros fundados no argumento.[...] Mas h outras proposies que no so compreendidas to logo socridas. O juzo segue a apreenso delas necessariamente, e ambas soigualmente o trabalho da natureza, e o resultado de nossos poderesoriginais. No h busca por evidncia, nem peso de argumentos, aproposio no deduzida ou inferida a partir de outra, tem a luz daverdade em si mesma, e no tem ocasio para emprestar de outra.
Proposies do ltimo tipo [a saber, intuitivo], quando usadas nos assuntosda cincia, tem sido comumente chamadas de axiomas; e sobre qualquerque seja a ocasio que sejam usadas, so chamadas de primeirosprincpios, princpios do senso comum, noes comuns, verdadesautoevidentes.
Assim, vimos que, os primeiros princpios surgem de uma distino que Reid
faz acerca dos juzos, sendo que este utiliza duas expresses, a saber, primeiros
princpios ou juzos intuitivos.
afirmado que, conforme Reid (2002, p. 453): [...] o poder de julgar em
proposies autoevidentes, que so claramente compreendidas, pode ser
comparado ao poder de engolir nossa comida. Segundo Reid (2002, p. 453) : Tomo
por garantido, que existem princpios que so autoevidentes. Recordando
novamente algumas palavras ditas na introduo desse trabalho, quando
apresentamos algumas ideias do que o common sense, podemos recolocar aqui o
seguinte, de acordo com Guerreiro (1999, p. 167 168): [...] um discurso ou uma
viso de mundo baseado na experincia comum a todos os homens se expressando
mediante proposies auto-evidentes [...]. Portanto, poderamos dizer que os
primeiros princpios so como que proposies autoevidentes.
De acordo com ALSTON (1985, p. 435): Vamos deixar de lado o uso de
princpio como uma faculdade ou disposio psicolgica, e nos limitar a princpios
como certos tipos de proposies. Outra vez temos a importante nota acerca do
significado possvel dado aos primeiros princpios de Reid como proposies, a
saber, proposies acerca do mundo.
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Pode-se claro, levar em considerao, que conforme LEHRER (2013, p.
156): Os primeiros princpios so confirmados pela verdade dos juzos particulares
de experincia sob esses princpios. A evidncia dos primeiros princpios e a
evidncia dos juzos particulares so ambas imediatas e no dependem do
raciocnio. Ainda, conforme LEHRER (2013, p. 156) : A justificao e evidncia de
ambos o resultado de nossas faculdades, que so poderes naturais e originais de
nossa constituio manifestados nos primeiros princpios.
H uma importante passagem que diz, conforme Reid (2002, p. 455):
[...] alguns primeiros princpios produzem concluses que so certas, outrasso provveis, em vrios graus, da mais alta probabilidade a mais baixa.No justo raciocnio, a fora ou fraqueza das concluses ser sempre
correspondente queles princpios sobre os quais est fundamentada.Em questo de testemunho, autoevidente, que o testemunho de dois melhor que o de um, supondo-os em igual carter e em seus meios deconhecimento [...].
Aparece aqui, a questo dos primeiros princpios como possivelmente
produzindo concluses provveis.
De acordo com LEHRER (2013, p. 158):
essencial que o Primeiro Primeiro Princpio seja verdade, pois, casocontrrio, teramos falta de evidncia da verdade e fidelidade de nossasfaculdades, mas no requerido como uma premissa no raciocnio parasuprir a evidncia dos primeiros princpios. Eles tm evidncia nelesmesmos como os axiomas os tem.
De acordo com LEHRER (2002, p. 162): O mais importante primeiro princpio
um metaprincpio com respeito a todas as faculdades. Esse metaprincpio se
traduz pelo seguinte primeiro princpio, conforme Reid (2002, p. 480): [...] Que as
faculdades naturais, pelas quais distinguimos verdade de erro, no so falaciosas.
Esse metaprincpio segundo LEHRER aparecer na ordem dos doze primeiros
princpios das verdades contingentes, enumerados por Reid como primeiro princpio
de nmero sete.
A partir disso, para Lehrer, a evidncia para os Primeiros Primeiros Princpios
emprica e no a priori. Quanto a isso este apresenta duas razes empricas
conforme o pensamento de Reid, segundo LEHRER (2013, p. 158159):
A primeira [razo] que primeiros princpios esto conectados a cada umdos outros como elos numa cadeia.
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[...] O modo em que um primeiro princpio extrai outros equivale reivindicao emprica que princpios confirmam uns aos outros.A segunda razo para a reivindicao de que um Primeiro Primeiro Princpioseja emprico baseada nas caractersticas da prpria evidncia. Reidinsiste que evidncia algo que sentimos; sentimos a evidncia sobre uma
base de crena.[...] Podemos sentir a influncia da evidncia, que um sinal emprico dela,e, portanto, estamos conscientes sobre a evidncia da crena, comoestamos conscientes do que sentimos. Evidncia algo que sentimos,mesmo a evidncia de uma verdade necessria.
Entendidas as razes empricas para a evidncia dos Primeiros Princpios,
conforme LEHRER (2013, p. 159 160): Podemos vir a saber que a evidncia
confivel a partir de observao e induo, e alguma forma de confiabilidade parece
ser evidente em si mesma a partir do Primeiro Primeiro Princpio. A afirmao
seguinte deste, em analisando o entendimento de Reid acerca disto que, a
evidncia imediata e intuitiva de modo que uma relao externa no .
De acordo com LEHRER (2013, p, 160):
A evidncia de primeiros princpios intuitiva e imediata, e no dependemdo raciocnio a partir de quaisquer outros princpios, nem mesmo doPrimeiro Primeiro Princpio. Conscincia, memria e percepo testificampara a verdade de convices e julgamentos envolvidos de um modo que
intuitivo, imediato e sentido.[...] uma questo emprica e no algo conhecido a priori que nossasfaculdades, as bases da evidncia, no so falaciosas.
Desse modo, podemos dizer sem prejuzo algum que primeiros princpios so
evidentes por si ss, e que nossa conscincia, memria e percepo nos do
testemunho verdadeiro acerca das caractersticas intuitivas, imediatas e sentidas
desses primeiros princpios por ns.
Em outra parte, segundo nos informa LEHRER (2002, p. 153): Os juzos deproposies surgindo diretamente de primeiros princpios so intuitivos e
irresistveis.
Desse modo, podemos definir assim os primeiros princpios autoevidentes, a
saber, proposies intuitivas, imediatas e sentidas acerca, primeiramente, de que
nossas faculdades naturais no so falaciosas, e nos informam a verdade.
Embora Reid procure refutar a teoria de Hume de que a nossa falibilidade
reduz a certeza acerca das coisas, h concesses dadas por Reid a Hume,mencionadas pelo prprio Lehrer, a saber, (I) que somos falveis em todos os
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nossos juzos e raciocnios e (II) que a verdade e fidelidade de nossas faculdades
pode nunca ser provada por raciocnio, logo nossa crena nisso pode nunca ser
fundada sobre o raciocnio.
Portanto, mesmo Reid admitindo a falibilidade de nossas faculdades e juzos,
Reid cr, segundo LEHRER (2013, p. 161): [...] que compatvel com a crena de
que somos falveis que deveramos estar certos de algumas verdades. Desse
modo, podemos recordar daquilo que Lehrer denominou de Primeiro Primeiro
Princpio (First First Principle), ou seja, que conforme LEHRER (2013, p. 161): O
Primeiro Primeiro Princpio nos fala que nossas faculdades esto sintonizadas
verdade.
H uma afirmao bastante interessante, de acordo com LEHRER (2013, p.
165):
[...] a teoria da verdade, evidncia e concepo de Reid baseada noargumento emprico para nossas faculdades naturais e originais. Sem essasfaculdades, concepo e juzo seriam impossveis. [...] Nossas concepesno so inatas, mas surgem do desenvolvimento de nossos poderes naexperincia. Nosso conhecimento dos primeiros princpios autoevidentesno a priori mas emerge da perfeio do uso de nossas faculdades naexperincia. A teoria de Reid da verdade, evidncia e concepo umsistema de princpios. Eles esto conectados como elos em cadeia. amaneira como eles se encaixam, a coerncia do sistema de regras que
interpretam a observao, que nos do a epistemologia de Thomas Reid.Isto encapsulado no Primeiro Primeiro Princpio como um princpio sobrea confiana de nossos poderes de julgar, incluindo, claro, o uso daquelespoderes para chegar aos princpios do sistema empirista de Reid acerca damente humana.
Tanto nossas concepes, quanto nosso conhecimento dos primeiros
princpios autoevidentes no so inatos, nem a priori, mas ambos, surgem a partir
da experincia. Portanto, segundo interpretou Lehrer, h um primeiro princpio que
primeiro a todos os outros, e este o chamou de Primeiro Primeiro Princpio, que
discorre sobre a verdade e fidelidade das nossas faculdades, primeiro princpio esse
tomado por garantido.
At o presente momento parece ser satisfatrio o que fora dito acerca dos
primeiros princpios autoevidentes. Mais adiante sero trabalhados e de certo modo,
esmiuados, os doze primeiros princpios das verdades contingentes, princpios
esses relativos aos raciocnios provveis.
Podemos dizer que esses primeiros princpios autoevidentes aparecero a
seguir na forma de trs primeiros princpios muito singulares, princpios tais que,
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conforme Reid justificam o homem em crer naquilo que percebe e crer no que lhe
testemunhado por outrem. Tambm podemos afirmar, pensa-se, com certa
tranquilidade que, esses primeiros princpios com os quais todos operam, podem ser
expressos mediante proposies autoevidentes.
4.2 THOMAS REID: AN INQUIRY INTO THE HUMAN MIND ON THE PRINCIPLESOF COMMON SENSE:UMA EPISTEMOLOGIA DO TESTEMUNHO E ALGUMASCONSIDERAES EM DAVID HUME.
Na seo XXIV, do captulo VI, Sobre a viso, na qual Reid fala Da analogia
entre percepo e o que crdito que damos ao testemunho humano, trata mais
especificamente sobre os canais pelos quais os objetos do conhecimento humano
so conduzidos mente, e nesse nterim, destaca dois meios como sendo muito
importantes, a saber, a percepo de coisas externas pelos nossos sentidos, e as
informaes que recebemos pelo testemunho humano por meio da linguagem.
Quanto a essa analogia dito o seguinte, conforme Reid (2000, p.190):
No testemunho da natureza dado pelos sentidos, bem como no testemunhohumano dado pela linguagem, as coisas so significadas a ns por sinais: eem um bem como no outro a mente, seja pelos princpios originais, ou pelocostume, passa do sinal concepo e crena da coisa significada.
Portanto, a analogia perfeitamente aceitvel pelo fato de que tanto em um
caso quanto no outro, a coerncia existente entre os dois e a semelhana so fortes,
a saber, seja pelos princpios originais da mente, que cr que um evento passado se
repetir no futuro, seja no caso do testemunho humano, o qual tendemos a darcrdito pelo fato do costume arraigado em nossa essncia.
De acordo com Lehrer (2002) embora haja proximidade na analogia entre o
testemunho humano e o testemunho dos sentidos, h uma importante diferena a
ser feita, a saber, que num primeiro momento o credito dado a ambos efeito do
instinto apenas, ao passo que, quando crescemos o credito dado ao testemunho
humano restrito e fraco em detrimento da experincia que temos com o engano,
sendo que, o crdito dado ao testemunho dos nossos sentidos estabelecido e
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confirmado pela uniformidade e constncia das leis da natureza, sendo assim, mais
forte e confivel que o primeiro.
H ainda uma distino feita acerca das percepes e da linguagem. As
percepes dividem-se em originais e adquiridas, e a linguagem em natural e
artificial. Reid afirma que h uma boa analogia entre percepo adquirida e
linguagem artificial, no entanto, h uma analogia muito mais forte entre percepo
original e linguagem natural.
Conforme Reid tanto os sinais nas percepes originais que so as
sensaes, quanto os sinais na linguagem natural que so os traos da face, gestos
do corpo e modulao da voz, tem, estabelecidas, atravs da natureza, conexes
reais entre esses sinais e as coisas significadas, por exemplo, quanto s percepes
originais h uma conexo real entre os sinais e as coisas significadas, quanto
linguagem natural h uma conexo real entre os sinais e os pensamentos e
disposies da mente que so significados por eles.
Temos ainda nesse contexto introdutrio de captulo algumas afirmaes
interessantes com respeito linguagem natural e s percepes originais, conforme
Reid (2000, p. 191):
Os sinais na linguagem natural do rosto e do comportamento humano, bemcomo os sinais em nossas percepes originais, tem o mesmo significadoem todos os climas e em todas as naes; e a habilidade de interpret-losno adquirida, mas inata.
Logo, segundo Reid, a habilidade de interpretao dos sinais na linguagem
natural, bem como a interpretao dos sinais naturais nas percepes originais,
alm de terem o mesmo significado em todas as naes e climas, no adquirida,
mas inerente ao ser humano.
Aparece algo aqui nesse contexto, com relao s palavras e o seu
aprendizado, de acordo com Reid (2000, p. 192):
Agora, se compararmos os princpios gerais de nossa constituio, que noscapacitam para receber informao de nossos semelhantes pela linguagem,com os princpios gerais que nos capacitam para adquirir a percepo decoisas pelos nossos sentidos, devemos encontr-los sendo muito similaresem sua natureza e modo de operao.[]Mas aqui ocorre uma dificuldade que merece nossa ateno, porque asoluo disso conduz a alguns princpios originais da mente humana, que
so de grande importncia, e de extensa influncia. Sabemos pelaexperincia, que os homens tm usado essas palavras para expressaressas coisas. Mas toda experincia do passado, e no pode, por simesma, dar nenhuma noo ou crena do que futuro.
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Primeiramente, feita uma comparao da parte de Reid quanto aos
princpios gerais de nossa constituio que nos so propcios a receber informao
dos nossos semelhantes por meio da linguagem com os princpios gerais que nos
so adequados para adquirir a percepo de coisas atravs dos nossos sentidos.
Para Reid eles so muito semelhantes em sua natureza e modo de operao.
No entanto, Reid categrico quanto s palavras e experincia, a saber, a
experincia nos faz saber que os homens utilizaram palavras para expressar coisas,
e tambm, que toda experincia acerca do passado e pode no dar nenhuma
noo ou crena daquilo que futuro. A que surge a seguinte pergunta posta por
Reid (2000, p. 192): Como chegamos ento a acreditar, e crer nisso com confiana,
que o homem que tem em seu poder fazer o contrrio, continuar a usar as mesmas
palavras quando eles pensam as mesmas coisas?. O que no deixa de ser em
nenhum aspecto, o problema da justificao do raciocnio indutivo, ou seja, como a
experincia do que passado (casos observados), pode dar qualquer noo ou
crena do que o futuro (casos inobservados)?
Reid responde a essa pergunta assim: De onde viria esse conhecimento e
crena ou previso? Da crena que colocamos de que os homens pem o mesmo
significado naqueles sinais e palavras como costumavam fazer. Tomamos averacidade das palavras e sinais expressos pelos homens como garantida, a saber,
nossa mente no tem motivos, naturais, para colocar em cheque a crena de que o
significado implicado nas palavras e sinais utilizados pelos homens no continuaro
sendo os mesmos que o foram no passado. Desse modo, afirmativamente
respondido, conforme Reid (2000, p. 193):
H, portanto, na mente humana uma antecipao prvia, nem derivada daexperincia, nem da razo, nem a partir de qualquer pacto ou promessa de
que nossos semelhantes usaro os mesmos sinais na linguagem, quandoeles tm os mesmos sentimentos.Isto , na realidade, um tipo de prescincia das aes humanas, e meparece ser um princpio original da constituio humana, sem o qualdeveramos ser incapazes de linguagem, e consequentemente incapazesde instruo.
O primeiro aspecto que nos salta aos olhos que Reid afirma que h na
mente humana como que uma antecipao prvia (early antecipation), de que os
nossos semelhantes usaro os mesmos sinais na linguagem. E, em segundo lugar,que este seria um tipo de prescincia das aes humanas, e categoricamente afirma
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que este parece ser um princpio original da constituio humana, sem o qual
seramos incapazes de linguagem e qualquer instruo. Nesse aspecto LEHRER
afirmar que esse princpio geral que nos permite antecipar que as pessoas usaro
as mesmas palavras para expressar os mesmos sentimentos no futuro como fizeram
no passado nos permite aprender indutivamente o significado das palavras3.
Segundo LEHRER (2002, p. 7475):
Percepes originais e linguagem natural devem ser resolvidas emprincpios particulares da constituio humana. [...] Percepes adquiridase linguagem artificial devem ser resolvidas em princpios gerais daconstituio humana. Os princpios particulares conectam um tipo particularde sinal com um tipo particular de coisa significada. Por exemplo, certasensao significa movimento, ou determinado semblante significa fome.Estes sinais so originais e significam o que eles fazem como resultado
imediato de um princpio inato. Eles no dependem da formao de umhbito de resposta resultante a partir da experincia de uma conjunoconstante do sinal e da coisa significada. Princpios gerais, pelo contrrio,permitem diferentes tipos de sinais para significar a mesma coisa, porexemplo, um determinado aspecto visual ou certo sabor igualmentesignificam uma ma. Alm disso, eles permitem os mesmos sinaissignificar coisas diferentes, dando assim origem ambiguidade. Porexemplo, um determinado aspecto visual pode igualmente significar umaesfera ou a pintura de uma esfera.
Desse modo, LEHRER faz uma importante anlise quanto s percepes
originais e linguagem natural e em relao a percepes adquiridas e linguagemartificial, a saber, que os primeiros se relacionam a princpios particulares da
constituio humana e os segundos a princpios gerais da constituio humana.
H algo de suma importncia, e isso no que diz respeito ao testemunho
humano, nesse contexto, Reid afirma que Deus, Nosso Autor, por ter nos feito
criaturas sociais, devendo desse modo, recebermos a maior e mais importante
parcela de nosso conhecimento por intermdio da informao de outros, como que
implantou em nossa natureza humana, dois princpios, o primeiro princpio, oprincpio a uma propenso a falar a verdadee fazer uso da linguagem4, de modo a
transmitir os nossos reais sentimentos, e, o segundo princpio, o princpio da
disposio de confiar na veracidade de outros, e de crer no que nos dizem. Segundo
Reid um princpio complementa o outro e podem ser chamados respectivamente de
3 Cf. LEHRER, Keith. Thomas Reid: The Arguments of the Philosophers. London: Routledge,
2002. p. 75.4Cf. REID, Thomas. An Inquiry into the Human Mind on the Principles of Common Sense(1764).In: BROOKES, D. R. (Ed.). Thomas Reid An Inquiry into the Human Mind on the Principles ofCommon Sense. A critical edition. Edinburgh: Edinburgh University Press, 2000 (paperback).