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UNIVERSIDADE PAULISTA PROGRAMA DE DOUTORADO EM PATOLOGIA AMBIENTAL E EXPERIMENTAL EFEITOS DE MEDICAMENTOS HOMEOPÁTICOS NO TUMOR DE EHRLICH EM CAMUNDONGOS: Uma abordagem experimental Tese apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Patologia Ambiental e Experimental da Universidade Paulista UNIP, para obtenção do título de Doutor em Patologia Ambiental e Experimental. JULIANA GIMENEZ AMARAL SÃO PAULO 2015

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UNIVERSIDADE PAULISTA

PROGRAMA DE DOUTORADO EM PATOLOGIA AMBIENTAL E EXPERIMENTAL

EFEITOS DE MEDICAMENTOS HOMEOPÁTICOS

NO TUMOR DE EHRLICH EM CAMUNDONGOS:

Uma abordagem experimental

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Patologia Ambiental e Experimental da Universidade Paulista – UNIP, para obtenção do título de Doutor em Patologia Ambiental e Experimental.

JULIANA GIMENEZ AMARAL

SÃO PAULO

2015

UNIVERSIDADE PAULISTA

PROGRAMA DE DOUTORADO EM PATOLOGIA AMBIENTAL E EXPERIMENTAL

EFEITOS DE MEDICAMENTOS HOMEOPÁTICOS

NO TUMOR DE EHRLICH EM CAMUNDONGOS:

Uma abordagem experimental

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Patologia Ambiental e Experimental da Universidade Paulista – UNIP, para obtenção do título de Doutor em Patologia Ambiental e Experimental, sob orientação da Profa. Dra. Leoni Villano Bonamin.

JULIANA GIMENEZ AMARAL

SÃO PAULO

2015

Amaral, Juliana Gimenez. Efeitos de medicamentos homeopáticos no tumor de Ehrlich em camundongos : uma abordagem experimental / Juliana Gimenez Amaral. - 2015. 66 f. : il. color.

Tese de Doutorado Apresentada ao Programa de Pós Graduação em Patologia Ambiental e Experimental da Universidade Paulista, São Paulo, 2015.

Área de Concentração: Patologia Experimental.

Orientador: Prof. Dr. Leoni Villano Bonamin.

1. Homeopatia. 2. Tumor de Ehrlich. 3. Imunologia. I. Bonamin, Leoni Villano (orientador). II. Título.

JULIANA GIMENEZ AMARAL

EFEITOS DE MEDICAMENTOS HOMEOPÁTICOS

NO TUMOR DE EHRLICH EM CAMUNDONGOS:

Uma abordagem experimental

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Patologia Ambiental e Experimental da Universidade Paulista – UNIP, para obtenção do título de Doutor em Patologia Ambiental e Experimental.

Aprovado em:

BANCA EXAMINADORA

_______________________/__/___

Prof. Nome do Professor Universidade Paulista – UNIP

_______________________/__/___

Prof. Nome do Professor Universidade Paulista – UNIP

_______________________/__/___

Prof. Nome do Professor Universidade Paulista UNIP

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Prof. Nome do Professor Universidade Paulista – UNIP

_______________________/__/___

Prof. Nome do Professor Universidade Paulista UNIP

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a meus filhos, João Gabriel e Luiz Guilherme, que, por

algum tempo, foram compreensíveis frente à necessidade da minha ausência e me

sustentaram nesse período com muito amor e carinho.

A meus pais e irmãos, por sempre me apoiarem e não me deixarem desistir

frente às dificuldades.

A minhas sobrinhas, Manuella e Isabella, princesas da minha vida.

À coordenadora geral do curso de Enfermagem da Unip, professora Raquel

Cavalca Machado Coutinho, pelo incentivo contínuo à pesquisa e pelo apoio quando

foi preciso.

Ao grupo de pesquisa a que este trabalho pertence, equipe unida e parceira

para todas as horas.

AGRADECIMENTOS

Agradeço à Unip, pela oportunidade de pesquisa e aprendizado

A Thiago Alóia, amigo e companheiro de trabalho que nos ajudou em

resultados importantes para esta pesquisa.

Aos funcionários do Laboratório de Pesquisa da Unip, Fabiana Toshie de

Camargo Konno, Suzana Maria Bezerra, Cleide Marques da Silva Santana, Wilton

Pereira do Santos e Paulo Ailton Vedovato, pela parceria durante toda a pesquisa

(aguardo nomes completos).

Aos meus amigos e companheiros de trabalho que sempre estiveram

presentes e me encorajando durante esta pesquisa.

SUMÁRIO

ARTIGO 1 ................................................................................................................... 6

ARTIGO 2 ................................................................................................................. 39

ANEXO 1................................................................................................................... 65

APÊNDICE 1 ............................................................................................................. 66

6

ARTIGO 1

Efeitos de medicamentos homeopáticos no tumor de Ehrlich em

camundongos: uma abordagem experimental

Effects of homeopathic medicines on Ehrlich tumor in mice: an experimental

approach

Running head: Homeopathy in experimental oncology and tumor immunity

Juliana Gimenez Amaral, Thayná Neves Cardoso, Aloísio Cunha de Carvalho,

Luciane Costa Dalboni, Luana Ramos, Silvio Leite Monteiro da Silva, Fabiana

Rodrigues Santana, Cideli de Paula Coelho, Louise Teixeira, Elizabeth Cristina

Perez Hurtado, Leoni Villano Bonamin

Abstract

The objective of this study was to describe different aspects related to the biology of

the Ehrlich tumor in mice, such as growth rate, histological organization and immune

response after treatment of Carcinosinum and other homeopathic medicines.

Carcinosinum was chosen after an initial pilot experiment, comparing the action of

different drugs used in the "Banerji Protocol" on the development of ascites tumor

and survival. In a second phase, different potencies of Carcinosinum, 6CH, 200cH

and a chord of 6cH + 200cH (called “MIX”) or vehicle (control) were analyzed by

macro and microscopic investigation of the solid form of this tumor, in which

apoptosis (Caspase 3), proliferation (Ki 67) and angiogenesis (VEGF) markers were

analyzed by immunohistochemistry. The spleen cell populations were studied by flow

cytometry. Mice treated with Carcinosinum MIX presented a mild reduction of tumor

necrosis and tissue invasion, more caspase 3 positive cells and significant increase

in the CD4+/CD8+ cell ratio associated to increase of CD25+ T cells in relation to

total T cells in spleen (p=0,0001), which can be related to modulatory rules. In

contrast, the group treated with Carcinosinum 6CH presented more edema in the

tumor inoculation site (p=0,01), increase in the number of Ki67 positive tumor cells

(p=0,01) and poor clinical outcome. Carcinosinum 200cH induced the best scores of

animal welfare improvement, but without changes in the tumor growth. The results

reveal the importance of homeopathic potency in the treatment outcome. Further

analyzes are needed to elucidate the mechanism of action involved and the

usefulness of homeopathy in oncology practice.

Keywords: Ehrlich ascites tumor. High dilutions. Homeopathy. Carcinosinum. Tumor

immunology. Experimental oncology.

7

ARTIGO 1

Efeitos de medicamentos homeopáticos no tumor de Ehrlich em

camundongos: uma abordagem experimental

Área de pesquisa: Homeopatia em oncologia experimental e imunidade

tumoral

Juliana Gimenez Amaral, Thayná Neves Cardoso, Aloísio Cunha de Carvalho,

Luciane Costa Dalboni, Luana Ramos, Silvio Leite Monteiro da Silva, Fabiana

Rodrigues Santana, Cideli de Paula Coelho, Louise Teixeira, Elizabeth Cristina

Perez Hurtado, Leoni Villano Bonamin

Resumo

O objetivo deste estudo foi descrever os diferentes aspectos relacionados com a

biologia do tumor de Ehrlich em camundongos, tais como taxa de crescimento,

organização histológica e resposta imune após o tratamento de Carcinosinum e

outros medicamentos homeopáticos. Carcinosinum foi escolhido após uma

experiência piloto inicial, comparando a ação de diferentes fármacos utilizados no

"Protocolo Banerji" sobre o desenvolvimento da ascite tumoral e sobrevida. Em uma

segunda fase, diferentes potências de Carcinosinum, 6CH, 200cH e um acorde de

6cH + 200cH (chamado "MIX") ou veículo (controle) foram analisados por meio de

investigação macro e microscópico na forma sólida desse tumor, em que

marcadores para apoptose (caspase 3), proliferação celular (Ki 67) e angiogênese

(VEGF) foram analisados por imunohistoquímica. As populações de células do baço

foram estudadas por citometria de fluxo. Os ratinhos tratados com Carcinosinum MIX

apresentaram uma redução ligeira de necrose tumoral e invasão de tecidos, mais

células positivas para Caspase 3 e um aumento significativo na proporção de células

CD4 + / CD8 + associado ao aumento de células CD25 + em relação às células T

totais no baço (p = 0,0001), o que pode estar relacionado a uma ação modulatória.

Em contraste, o grupo tratado com Carcinosinum 6CH apresentou mais edema no

local de inoculação do tumor (p = 0,01), aumento do número de células tumorais

positivas para Ki67 (p = 0,01) e o resultado clínico pobre. Carcinosinum 200cH

induziu as melhores pontuações de melhoria do bem-estar animal, mas sem

alterações no crescimento do tumor. Os resultados revelam a importância da

potência homeopática no resultado do tratamento. Análises adicionais são

necessárias para elucidar o mecanismo de ação envolvido e a utilidade da

homeopatia na prática oncologia.

Palavras-chave: Tumor ascite Ehrlich. Altas diluições. Homeopatia. Carcinosinum.

Imunologia de tumores. Oncologia experimental.

8

INTRODUÇÃO

O câncer é um problema de saúde pública. De acordo com a Organização Mundial

de saúde (OMS), em 2012 houve 14,1 milhões de casos novos de câncer em todo o

mundo e 8,2 milhões de mortes por câncer (INCA, 2014). Junto com a busca de

soluções convencionais, a identificação de tratamentos oferecidos por diversos

sistemas de medicina alternativa e complementar, incluindo a homeopatia, também

é foco de pesquisas recentes (ROSSI et al., 2014). A pesquisa básica sobre

homeopatia tem avançado muito nos últimos anos, com a evolução de modelos

experimentais in vivo e in vitro (BONAMIN, ENDLER, 2010; 2015; BELLAVITE et al.,

2014; BONAMIN et al., 2015). Embora existam poucos estudos clínicos sobre a

eficácia da homeopatia no tratamento do câncer (FRENKEL, 2015), atualmente

observa-se um importante crescimento de pesquisas realizadas in vitro sobre os

mecanismos epigenéticos envolvidos no modo de ação de tais medicamentos

(KHUDA-BUKHSH et al., 2015;).

Na Alemanha, uma pesquisa mostrou que pacientes submetidos à quimioterapia

convencional associada ao uso de medicamentos homeopáticos prescritos

individualmente apresentaram menos fadiga e maior qualidade de vida (ROSTOK, et

al, 2011). Um estudo observacional prospectivo recente, conduzido durante um ano

com pacientes com câncer, comparou a evolução na qualidade de vida de pacientes

tratados com homeopatia associada ou não com tratamento convencional e mostrou

haver melhoria significativa no grupo homeopatia, observada até 12 meses após a

administração, com melhoria contínua dos parâmetros avaliados (BANERJI, 2008).

Nos últimos anos, o “Protocolo Banerji” tem ganhado um papel importante nesse

universo da pesquisa, motivando pesquisadores de diferentes partes do mundo a

estudar e entender os mecanismos dos medicamentos homeopáticos nesses casos

(BANERJI, 2012; FRENKEL, 2015). Os medicamentos mais utilizados para obtenção

desses resultados foram o Carcinosinum 30c, Conium maculatum 3c, Pyholacca

decandra 200c e Thuya occidentalis 30c. Por esse motivo, tais medicamentos têm

sido alvo de pesquisa básica nos últimos anos, incluindo o presente trabalho. No

protocolo Banerji, o Carcinosinum é utilizado em associação a outros medicamentos

para tratar os tumores de mama, próstata e osso (BANERJI, 2012).

Resultados positivos também foram obtidos no tratamento de pacientes portadores

de glioma com Ruta graveolens. De 9 pacientes, 8 (88,9%) apresentaram regressão

9

completa do tumor e um paciente apresentou regressão parcial. Resultados

similares foram obtidos em pacientes portadores de meningioma. Tais achados

encontram suporte científico em estudos in vitro que apontam a fragmentação do

DNA e o bloqueio do ciclo celular, com indução de apoptose, como prováveis

mecanismos (PATHAK et al, 2003; PREETHI et al, 2012; ARORA et al., 2013;

FREYER et al., 2014; ARORA, TANDON, 2015). Mecanismos similares também são

observados nos estudos sobre Carcinosinum, Phytolacca decandra, Thuya

occidentalis, Conium maculatum, Sabal serrulata e Condurango (FRENKEL, 2010;

2015; MUKHERJEE, 2013; KHUDA-BUKSHS et al., 2015; THANGAPAZHAM et al,

2006), sugerindo a ativação de vias intracelulares comuns a diferentes tratamentos,

os quais seguem o princípio de similitude. Os efeitos antiproliferativos de Phytolacca

em diversas potências (tintura mãe, 30C, 200C, 1M e 10M) sobre células de câncer

de mama e cólon in vitro também foram demonstrados por ARORA et al., 2013.

Por outro lado, ainda há poucos dados na literatura sobre a participação do

microambiente tumoral e mecanismos fisiopatológicos sistêmicos na atividade de

tais medicamentos homeopáticos. Tendo em vista que o estudo do microambiente

tumoral tem sido foco prioritário nas pesquisas sobre o câncer (HANAHAN;

WEINBERG, 2011), alguns aspectos sobre essa abordagem e sobre a participação

da resposta imune foram incluídos neste trabalho. O emprego de marcadores

tumorais biológicos é importante instrumento na avaliação do comportamento clínico

das neoplasias, que envolvem eventos celulares que ocorrem em âmbito tanto

genético como bioquímico (ARISAWA, et al. 1999). Os marcadores tumorais são

macromoléculas presentes no tumor ou no sangue, cuja presença ou cujas

alterações estão diretamente ligadas à gênese e ao crescimento de células

neoplásicas. Esses marcadores atuam como indicadores de presença de neoplasia

e podem ser produzidas pelo próprio tumor, auxiliando no manejo clínico do paciente

com câncer, no processo diagnóstico, estadiamento, resposta terapêutica,

prognóstico e investigação de recidivas. (ALMEIDA et al, 2007). Assim, uma das

técnicas empregadas para a caracterização do tumor nos animais tratados foi a

imunohistoquímica.

O tumor de Ehrlich é uma neoplasia maligna, experimental e transplantável,

descoberta em 1886 e descrita em 1905 por Paul Ehrlich como um carcinoma

mamário de camundongos fêmeas. Esse tumor desenvolve forma ascética, quando

10

inoculado no peritônio, e forma sólida, quando inoculado no tecido subcutâneo

(EHRLICH, 1906). Nesse caso, vários são os fatores do microambiente que

influenciam o crescimento tumoral. Por exemplo, a quantidade de capilares no tumor

de Ehrlich na forma sólida é regulada pela glutamina e pela secreção do fator de

crescimento endotelial vascular (VEGF) pelas próprias células tumorais, o que

influencia o crescimento do tumor (SILVA, 2006; GHOSH et al, 2004). O tumor de

Ehrlich também tem sido utilizado como modelo para a elucidação dos mecanismos

dos medicamentos homeopáticos nos tumores (SHAH et al., 2013).

Objetivo

Objetivo geral

O objetivo deste trabalho é descrever diferentes aspectos relacionados à biologia do

tumor de Ehrlich frente ao tratamento com medicamentos homeopáticos utilizados

no “protocolo Banerji”.

Objetivos específicos

Fase 1 (Estudo piloto): avaliação clínica e de sobrevida de camundongos portadores

de tumor ascítico tratados com diferentes medicamentos e escolha de um

medicamento para ser estudado amiúde na segunda fase.

Fase 2: estudo macro e microscópico do tumor na forma sólida em camundongos

tratados com Carcinosinum (medicamento escolhido) em diferentes potências

homeopáticas, considerando-se o crescimento, a organização histológica do

microambiente tumoral e a resposta imune sistêmica.

Métodos

Animais

Foram utilizados 46 camundongos da linhagem BALB/c, machos e adultos, mantidos

em microisoladores (Techniplast®) no biotério de Experimentação animal – SPF do

Centro de Pesquisa da UNIP (Campus Indianópolis), com água e ração ad libitum,

controle de temperatura (22±2oC), umidade (55-65%), trocas de ar (75/hora) e ciclos

claro e escuro 12/12horas.

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Ética

Esta pesquisa foi aprovada e certificada pelo Comitê de Ética e Pesquisa da

Universidade Paulista em 17/04/2013, sob o protocolo n. 158/2013 – CEP/ICS/UNIP

(anexo 1).

O desenho experimental foi planejado para atender aos requisitos de bem-estar

animal e ao conceito dos 3 Rs (reduction, replacement, refinement), obtendo o

máximo de informação com o mínimo de intervenções e número mínimo de animais

para validação estatística. Assim, o estudo piloto possibilitou identificar os aspectos

clínicos mais relevantes dos diferentes medicamentos, incluindo sobrevida e, em

seguida, eleger aquele que fosse realmente útil para a sequência da pesquisa,

utilizando o menor número de animais possível e evitando múltiplas repetições de

um mesmo experimento com os diferentes medicamentos.

Outros estudos que foram executados em paralelo no laboratório pelo mesmo

período (todos aprovados pelo Comitê de Ética em protocolos específicos)

partilharam o mesmo grupo controle, o que atende às diretrizes brasileiras de ética

em experimentação animal.

O experimento final foi realizado com tumor na forma sólida para possibilitar ampla

avaliação de parâmetros complementares a partir do mesmo material tumoral

preparado histologicamente, evitando repetições e eutanásias desnecessárias.

Modelo experimental

Preparo das células tumorais para inoculação

O tumor de Ehrlich é mantido no laboratório por meio de repiques semanais em

camundongos, por via intraperitoneal. Para a inoculação do tumor, foi feita a punção

abdominal de um camundongo portador com 7 a 10 dias de inoculação, e 2 a 3 mL

de fluído ascítico foram retirados e transferidos para um tubo Falcon. O líquido foi

centrifugado a 1500rpm por 5 minutos e as células depositadas (pellet) foram

ressuspensas em 2 mL de PBS e homogenizadas para nova centrifugação. Esse

processo foi repetido por 3 vezes para a completa lavagem das células. A

suspensão final foi mantida em gelo durante a contagem, feita pelo método Azul de

Tripam 0,1% (GIBCO). Assim, as células foram diluídas na proporção 1:100 para

12

observação e contagem em câmara de Neubauer (HAUSSER SCIENTIFIC),

utilizando os quadrantes laterais de leucócitos.

Inoculação do tumor de Ehrlich

Na fase 1, estudo piloto, foi inoculado em cada camundongo, por via intraperitoneal,

0,1 mL de suspensão celular do tumor de Ehrlich contendo 106 células, para

obtenção do tumor na forma ascítica. Na segunda fase, 0,05 mL da suspensão

celular foram inoculados no tecido subcutâneo do coxim plantar esquerdo, contendo

105 células, para obtenção do tumor na forma sólida. Esse volume permitiu observar

e medir o crescimento tumoral lentamente, dia a dia, sem a necessidade de mais

eutanásias e sem causar desconforto excessivo para o animal. O prazo de 10 dias

foi escolhido como “end-point” para que os resultados fossem analisados antes da

piora clínica.

Preparação dos medicamentos

As matrizes dos medicamentos foram obtidas de farmácia credenciada pela ANVISA

com uma potência abaixo da que foi utilizada (5CH e 199CH). A diluição final (6CH e

200CH) foi feita no próprio laboratório, semanalmente. Assim, 10mL de água ultra-

pura (MilliQ) foram usados para diluir 100µL de cada medicamento, em frasco

âmbar. A sucussão dos frascos foi feita de forma automatizada em braço mecânico

Autic®, seguindo as normativas descritas na Farmacopéia Homeopática Brasileira,

3ª edição (ANVISA, 2011). Entende-se como CH a diluição centesimal da substância

original em solução hidro-alcóolica 70%. O número de passagens corresponde às

“potências homeopáticas”, conforme nomenclatura específica da área.

“Acordes de potências” homeopáticas são preparações que contêm diferentes

diluições de medicamentos homeopáticos misturadas em partes iguais, preparados

a partir de uma mesma tintura. Essa proposta foi introduzida por Cahis e Kats no

início do século 20, sugerindo que a mistura de potências poderia ser mais eficaz

que uma única potência (CAHIS, 1913; KATZ, 1913). Pedalino e colaboradores

(2004) mostraram que a mistura de potências de Belladonna potencializa os efeitos

protetores desse medicamento sobre a peritonite experimental em camundongos.

Baseando-nos nesses dados, incluímos a proposta da mistura de Carcinosinum 6CH

e 200CH nesta pesquisa, com o objetivo de avaliar possíveis mudanças qualitativas

ou quantitativas de seus efeitos em relação às potências simples.

13

Os medicamentos foram codificados por um funcionário não envolvido com a

execução dos experimentos para que se pudesse trabalhar em dupla ocultação (“em

cego”) ao longo de todo o estudo. Os códigos foram abertos apenas após a análise

estatística.

Delineamento experimental

Fase 1 - Estudo piloto: Screening de medicamentos, avaliação semiquantitativa

de parâmetros clínicos e sobrevida.

Os animais foram divididos randomicamente em 4 grupos contendo 5 animais em

cada um deles. Um grupo foi caracterizado como o controle e os outros 4 grupos

foram caracterizados conforme a medicação que receberam, sendo as medicações

escolhidas: Carcinosinum 200CH, Conium maculatum 200CH e Thuya occidentalis

200CH. A partir de 24h da inoculação do tumor, os camundongos receberam, por via

oral, uma dose de 10 μL de medicamento / 10g de peso vivo/animal/dia até o último

dia de vida.

Durante o ensaio de sobrevida, também foi avaliada a condição clínica de cada

animal, conforme a incidência de sinais clínicos relevantes. Os itens avaliados

foram: pele, pelos, comportamento, peso, olhos, sistema respiratório, sistema

locomotor, sistema nervoso, genitália, quantidade de água e ração ingeridas e

temperatura do corpo. As fichas estão mostradas no apêndice 1. A avaliação do

crescimento do tumor ascítico foi feita pelo ganho de peso.

A análise do quadro clínico nos diferentes grupos serviu de critério para a escolha do

medicamento a ser utilizado na fase 2.

Experimento 2 – Avaliação clínica, resposta imune e expressão de marcadores

tumorais do tumor de Ehrlich na forma sólida após tratamento com

Carcinosinum.

Quatro grupos de 5 animais e um grupo de 6 animais foram organizados de forma

randômica. Os grupos foram nomeados como: Veículo (controle), Carcinosinum

200CH, Carcinosinum 6CH e Carcinosinum MIX (mistura ou “acorde” de potências 6

e 200CH na proporção 1:1) e Sem tumor (controle branco).

14

Após 24h de inoculação do tumor, os camundongos receberam, por via oral, doses

de 10μL de medicamento / 10g de peso vivo/animal/dia, ao longo de 10 dias.

Também se observaram diariamente as condições clínicas de cada animal, seguindo

os mesmos critérios descritos na fase 1. Os animais que receberam o tumor na

forma sólida tiveram seus coxins plantares medidos antes da inoculação do tumor e

todos os dias, durante 10 dias, utilizando um micrômetro (Mitutoyo ® IP65, Japan).

Colheita de material para histopatologia e citometria de fluxo

No experimento 2, após 10 dias de inoculação do tumor sólido no coxim plantar,

todos os animais foram eutanasiados. Para a eutanásia, os animais foram sedados

profundamente com 0,1 mL de mistura ketamina - xilazina na proporção 2:1 para

cada 10g de peso vivo (equivalente às doses de 20 mg/10g peso vivo de Xilazina e

10 mg/10g de peso vivo de Ketamina), até a interrupção dos sinais vitais. Em

seguida, foi realizado o deslocamento cervical para garantir a morte dos mesmos

antes de realizar qualquer procedimento de necropsia.

Para o exame histopatológico, foram colhidos fragmentos histológicos da lesão

tumoral, do linfonodo poplíteo isolateral e do baço, sendo fixados em

paraformaldeído 8% (ideal para preservação antigênica). Em seguida, foram

encaminhados para a inclusão em parafina, microtomia e montagem dos cortes em

lâminas silanizadas (para a imunohistoquímica) ou lâminas convencionais (para

coloração por hematoxilina-eosina - HE).

Para a citometria de fluxo, um fragmento central do baço foi colocado numa placa de

Petri plástica com uma gota de PBS-SFB 1%. As células foram ressuspensas com o

auxílio do êmbolo de uma seringa e transferidas para um tubo Falcon, sendo

mantidas em gelo até o processamento final. Para que a quantidade de células fosse

suficiente para garantir uma leitura representativa ao citômetro, cada tubo continha

um pool de suspensão celular obtidas de dois camundongos do mesmo grupo.

Citometria de fluxo

A citometria de fluxo das células do baço foi utilizada para a quantificação de

linfócitos T (CD4+, CD8+ e CD25+), linfócitos B1, linfócitos B2, linfócitos B da Zona

Marginal (BZM) e macrófagos, conforme descrito no Quadro 1.

15

Quadro 1 – Células quantificadas por citometria de fluxo

CÉLULAS MARCADORES

Linfócitos B1 CD19+ CD23- CD11b+

Linfócitos B2 CD19+ CD23+ CD11b-

Macrófago CD19- CD23- CD11b+

Linfócitos T CD19- CD4+ ou CD19- CD8+

Linfócitos Treg ou T ativados CD19- CD25+

Linfócitos B de zona marginal CD19+ CD23- CD11b-

Os tubos foram centrifugados em centrífuga refrigerada a 2000rpm / 5 minutos,

sendo o sobrenadante descartado. Assim, 2mL de tampão hemolítico foram usados

para lavagem das células, sendo as mesmas incubadas por 2 minutos antes de

serem submetidas a nova centrifugação. Em seguida, as células foram contadas em

câmara de Neubauer (HAUSSER SCIENTIFIC) pelo método do azul de Tripam 0,1%

(GIBCO), sendo utilizados os quadrantes laterais de leucócitos.

Em seguida, 10 µl de anti-CD16/32 foram adicionados a 990 µl de PBS-BSA 1%

para preparo da solução bloqueadora, sendo que 10 µl da mesma foram acrescidos

a cada amostra, incubada a 4oC por 30 minutos. Após nova lavagem em PBS, o

conteúdo de cada tubo foi transferido para 3 microtubos contendo 106 células por

microtubo. Um microtubo foi designado como sem marcar, um microtubo como

combo 1 (linfócitos B) e o terceiro microtubo foi designado como combo 2 (linfócitos

T). Uma sequência adicional de amostras foi separada para a marcação simples,

com cada um dos marcadores utilizados, para a compensação da positividade das

amostras no citômetro. Para cada 106 células, foram adicionados 20 microlitros de

anticorpo específico em concentração de 1%, seguido de incubação a 4oC por 40

minutos, conforme Quadro 2.

Quadro 2 – Marcadores utilizados para análise de células do baço de camundongos portadores de tumor de Ehrlich na forma sólida por citometria

de fluxo

Combo 1 CD 23 FITC Combo 2 CD25 AF488

CD 5 PE CD 4 PE

CD 19 PE Cy 5:5 CD 19 PE Cy 5:5

CD 11b PB CD8 AF 405

Após a incubação, as células foram lavadas em PBS, centrifugadas, ressuspensas

em 100 µl de PBS-BSA 1% com 400 µl de paraformaldeído 1%, para fixação. As

16

amostras foram mantidas a 4oC e embaladas em papel alumínio por até 48 horas

antes da contagem no citômetro CANTO® (BD, USA). Os dados foram processados

no software Flow Jo 7.6.5 para identificação dos “gates”, desenhados conforme

Figuras 1 e 2.

Figura 1 – Imagem gráfica obtida pelo software flow-jo 7.6.5 demonstrando os “gates” e as populações de leucócitos B do baço analisadas pela citometria de fluxo. (A) População total de leucócitos; (B) População de Linfócitos B1, B2 e fagócitos; (C) População de Linfócitos BZM e Linfócitos B2; (D) População de

células B1a e B1b. Dados obtidos da análise do animal 10, tratado com Carcinosinum 6CH

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Figura 2 – Imagem gráfica obtida pelo software flow-jo 7.6.5 demonstrando os “gates” e as populações de Linfócitos T do baço analisadas pela citometria de

fluxo. (A) População total de leucócitos; (B) População de células CD19- (Linfócitos T, fagócitos e células NK) e células CD19+ (linfócitos B); (C)

População de Linfócitos T (CD4+ e CD8+); (D) População de células CD25+ (Linfócitos Treg ou Linfócitos T ativados); (E) População de Linfócitos T

CD4+CD25+ e CD8+CD25+. Dados obtidos da análise do animal 10, tratado com Carcinosinum 6CH

18

Imunohistoquímica e histometria

Imunohistoquímica indireta

Após 12 horas de fixação em paraformaldeído 8%, o material tumoral colhido na

necrópsia foi processado e incluído em parafina. Cortes de 5 μm foram montados

em lâminas silanizadas. Os cortes foram desparafinizados, reidratados e submetidos

ao desmascaramento antigênico em tampão citrato (DAKO®, USA) durante 20

minutos, em panela elétrica (PANASONIC®, Japan). Após o resfriamento, os cortes

foram submetidos ao bloqueio da peroxidase endógena em solução de 5% H2O2 em

metanol, durante 5 minutos. Os cortes foram lavados por três vezes e os sítios de

adsorção inespecíficos bloqueados com soro normal de equino 2,5% (VECTOR®,

USA), durante 30 minutos. Posteriormente, os cortes foram incubados com

anticorpos monoclonais em diferentes diluições, overnight e a 4oC, em câmera

úmida (Quadro 3). Em seguida, as lâminas foram incubadas com anticorpo

secundário ligado a polímero e peroxidase (Kit Impress Universal VECTOR®, USA)

durante 30 minutos, em temperatura ambiente. As células positivas foram

evidenciadas após a coloração com DAB (VECTOR®, USA). Controles negativos de

todas as reações foram feitos utilizando apenas o diluente dos anticorpos no lugar

do anticorpo primário (DAKO®, USA).

Avaliação semiquantitativa

As lâminas contendo cortes de coxim plantar foram observadas em microscópio

NIKON Eclipse 200® (Japan) e avaliadas quanto ao tamanho do tumor. Para cada

lâmina, todo o corte foi rastreado e avaliado, utilizando objetivas de 4x e 10x. Um

sistema de escores foi aplicado, conforme Quadro 4, Figura 3.

19

Quadro 3 – Anticorpos utilizados na imunohistoquímica indireta

Anticorpo Finalidade Alvo

Molecular

Espécie

doadora Clone Diluição Marca

VEGF Angiogênese Fator de

crescimento Rato

VG-1

monoclonal 1:200 abcam®

Ki 67 Proliferação

celular

Proteína

nuclear e

citoplasmática

Rato Policlonal 1:1000 abcam®

Caspase

3 Apoptose

Proteína

citoplasmática Coelho Policlonal 40µg/mL abcam®

Cito K

Marcador de

células

epiteliais

Proteína

citoplasmática Rato Krt1-19 1:50 Serotec®

Quadro 4 – Escore de quantificação de tumor no coxim plantar

Escore 0 Sem tumor

escore 1 1 a 20% da área do corte do coxim com tumor

escore 2 20 a 50% de área do corte do coxim com tumor

escore 3 mais que 50% de área do corte do coxim com tumor

20

Figura 3 – Fotomicrografias de coxim plantar corado com HE apresentando tumor sólido de Ehrlich na derme. A quantificação foi feita segundo escores

predeterminados. Objetiva: 4x

Avaliação quantitativa

Incidência de parâmetros histopatológicos

A avaliação quantitativa foi realizada em microscópio Nikon Eclipse 200® (Japan),

utilizando as objetivas de 40x e 100x (imersão), considerando a presença ou não de

necrose, invasão tumoral e microembolia, para cada corte de coxim plantar corado

com HE.

Histometria

Entre 4 e 10 fotomicrografias da área correspondente ao tecido tumoral, no coxim,

foram feitas aleatoriamente, utilizando a objetiva de 40x em microscópio Nikon

Eclipse 200® (Japan) acoplado a uma câmera digital Coolpix com um monitor LCD®

21

(Japan). A positividade das células tumorais (marcadas em castanho pelo DAB) para

Citoqueratina e Caspase 3 e de vasos para VEGF (Figura 4) foi calculada

automaticamente, em pixels, usando o software Metamorph®. O software foi

calibrado com filtros de cor digitais, com regulação de bits vermelho, verde e azul, de

tal maneira que só foram incluídas células positivas, sendo a coloração de fundo

excluída. Nesse caso, levou-se em consideração a intensidade média da coloração

marrom presente em cada campo analisado. O número de células positivas por

campo para Ki 67 foi calculado pela contagem visual das mesmas, levando-se em

conta apenas as células que apresentaram positividade nuclear (Figura 4).

O edema do coxim plantar foi quantificado a partir dos cortes corados em HE. A

área clara de tecido dissociado (edema) foi calculada automaticamente, em pixels,

pelo software Metamorph® (Figura 5).

Figura 4 – Fotomicrografias de coxim plantar com tumor sólido de Ehrlich, utilizadas para avaliação de positividade de VEGF, Caspase 3, CitoK e KI67.

Objetiva de 40x

22

Figura 5- Fotomicrografias de coxim plantar com tumor sólido de Ehrlich, coradas por HE e utilizadas para avaliar a área de edema. Objetivas: 4x e 40x

Análise Estatística

A determinação da homocedasticidade das variáveis foi feita pelo teste de Bartlett

(INSTAT 3.0). O teste ANOVA e o Tuckey-Krammer foram utilizados para

comparação de dados paramétricos. Kuskal-Wallis e Dunn foram usados para dados

não paramétricos. Para análise dos dados da citometria de fluxo, o teste do X2 foi

usado em adição, a fim de comparar as proporções entre as diferentes populações

celulares do baço. Para todos os casos, os valores de p≤0.05 foram considerados

estatisticamente significantes.

Resultados

Fase 1 – Estudo piloto: Screening de medicamentos, avaliação

semiquantitativa de parâmetros clínicos e sobrevida.

Com base nos resultados da avaliação clínica, demonstrou-se que os animais

tratados com Carcinosinum 200CH apresentaram menor incidência de sintomas por

23

menos tempo, além de apresentarem maior sobrevida e redução de ganho de peso

associado à ascite. Esse resultado motivou a escolha do referido medicamento para

a segunda fase da pesquisa.

Para todos os grupos, o pico de aparecimento dos sintomas foi no D18, com

exceção de Carcinosinum 200CH, que apresentou atraso significativo no

aparecimento dos sintomas D29. Todavia, o grupo de animais tratados com Conium

maculatum foi o que apresentou a maior incidência de sintomas.

Todos os grupos apresentaram queda na temperatura corporal um dia antes da

morte, em função de choque endotóxico.

Esses resultados são demonstrados na Tabela 1.

Tabela 1 – Frequência (%) de sinais clínicos e ganho de peso (g) ao longo do período de sobrevida de camundongos inoculados com tumor de Ehrlich na forma ascítica e tratados diariamente, por via oral, com Conium maculatum

200CH, Thuya occidentalis 200CH, Carcinosinum 200CH e veículo (controle). ANOVA

Característica Conium Carcinosinum Thuya Controle

Tempo de vida (número de dias necessários para 100% das mortes)

21 32 28 30

Delta peso (g) 13,3 ± 3,51 14,8 ± 3,27 15,0 ± 3,76 15,5 ± 3,30

Letargia 80% 20% 60% 60%

Cianose 80% 40% 80% 60%

Eritema/edema do trato genital

40% - 20% 20%

Secreção purulenta genital

- 20% -

Taquidispnéia 60% 20% 20% 60%

Locomoção: dificuldade

80% 40% 80% 60%

Diarréia - - - 20%

Piloereção 80% 40% 80% 60%

Tremor - 20% - -

24

Fase 2 – Avaliação clínica, resposta imune e expressão de marcadores

tumorais do tumor de Ehrlich na forma sólida após tratamento com

Carcinosinum.

Na avaliação clínica dessa fase, os animais tratados com Carcinosinum 200CH

apresentaram menor incidência de sintomatologia que os outros grupos,

confirmando os dados clínicos obtidos no experimento 1 (tumor ascítico). Os

sintomas prevalentes entre os grupos foram edema, hiperemia do coxim e

piloereção (Tabela 2).

Tabela 2 – Frequência (%) de sinais clínicos ao longo do período de 10 dias de camundongos inoculados com tumor de Ehrlich no coxim (forma sólida) e

tratados diariamente, por via oral, com Carcinosinum 200CH, Carcinosinum 6CH, Carcinosinum MIX e veículo (controle)

Incidência de sintomas (%)

CARC 200CH

CARC 6CH

MIX CONTROLE

Edema de pata 33,3 (2/6) 100(6/6) 85,7(5/6) 57,1(3/6)

Hiperemia de pata 0 66,6 (4/6) 42,8 (3/6) 57,1(3/6)

Piloereção 0 16,6 (1/6) 0 0

Consumo de ração 4,1±9,72 6,2±0 4,1±9,59 4,2±0

Consumo de água 5,2±0 6,4±9,72 5,1±9,59 4,8±0

Os animais tratados com Carcinosinum 6CH foram os que apresentaram maior

percentual de sintomas e a maior diversidade de sintomas, comparado com os

outros grupos. Diferenças no consumo da água e comida entre os grupos não

apresentaram significância estatística durante o experimento (Tabela 1).

A avaliação macroscópica do tumor mostrou aumento progressivo e significativo da

espessura do coxim ao longo de 10 dias no grupo tratado com Carcinosinum 6CH,

25

em relação ao grupo controle sem tumor. O aumento mais significativo se deu após

o 6º dia de inoculação (Figuras 6 e 7).

Figura 6 – Aumento da espessura do coxim (delta), em mm, entre os dias zero e dez após a inoculação do tumor de Ehrlich nos diferentes grupos. *p=0,01

Kruskal-Wallis/Dunn, em relação ao grupo controle sem tumor

Figura 7 – Evolução do aumento da espessura do coxim plantar inoculado com tumor de Ehrlich, ao longo de 10 dias, nos diferentes grupos. *p= 0,01 Kruskal-

Wallis/Dunn, em relação ao grupo controle sem tumor

*

* * *

26

Citometria de fluxo

Na citometria de fluxo, foram analisadas as células do baço em suspensão, para a

quantificação das células positivas para CD4, CD8 e CD25 (linfócitos T), linfócitos

B1, B2, BZM (linfócito B da Zona Marginal), macrófagos e total de células T e B e

nas respectivas proporções.

Não houve diferença estatisticamente significativa entre os grupos para nenhum dos

subtipos celulares, considerando-se o número de diferentes células esplênicas para

cada 10000 eventos registrados no citômetro. Contudo, a análise das proporções

entre as diferentes populações celulares, utilizando o teste do X2, revelou

significância nos grupos tratados com Carcinosinum 6CH e 200CH em relação ao

controle (p=0,0001), sendo maior razão de células CD19- em relação às células

CD19+, o que sugere desvio para linfócitos T, NK e/ou NKT. Também a proporção

CD8+ / CD4+ foi menor, sendo o CD4+ predominante em todos os grupos tratados,

em relação ao controle (p=0,0001). A proporção CD25+/T total foi maior no grupo

tratado com MIX de potências em relação ao controle (Tabela 2).

27

Tabela 2 – Número de células positivas para cada marcador específico nos “gates” selecionados a partir da citometria de fluxo do baço de camundongos

portadores de tumor de Ehrlich na forma sólida por 10 dias. Os valores representam média ± desvio padrão. A razão entre subtipos celulares está

representada em porcentagem. *X2, p=0,0001 em relação ao controle. ANOVA, sem significância estatística

Cell sub-type

Control Carcinosinum 6CH

Carcinosinum 200CH

Carcinosinum MIX

Linfócitos B totais (CD19+)

26624,33± 61,07 24610± 2074,32

26115,67 ± 5340,89

29334 ± 61,07

Linfócitos T totais (CD19-)

10599,33 ±2057,11 11070 ± 1625,11 10638 ± 1113,29 8427±6353,10

B-2 (CD19+ CD23+)

6616,33 ±1684,84 5281,66 ±650,28 5638,66 ±1840,71 6779,66 ±1292,45

B-1 (C19+ CD23- CD11b+)

712,66 ±251,20 580,33 ±70,50 848,33 ±617,56 865 ±171,67

BZM (CD19+ CD23-)

5830,66 ±944,93 4962,66 ±770,14 4858 ±444,41 5941,66 ±1542,86

Macrófago (CD19- CD11b+)

11796,67 ±1503,71 11650 ±710,51 10910,33 ±5738,67 13506,67 ±2151,01

CD4+ 6272,66 ± 1742,93 66991 ±736,08 6553 ±613,22 7829 ±962,16

CD8+ 2525,33 ±480,81 2339 ±587,59 2295,66 ±938,76 2093,33 ±265,93

CD25+ 574,66 ±135,81 435 ±133,83 435,66 ±166,62 576,66 ±165,65

Razão CD 25+/CD19- (T reg/Ttotal)

5,5% 3,9% 4% 6,8% *

Razão B1 / B2

11% 13% 15% 13%

Razão CD8+/CD4+

40% 35% * 35% * 27% *

Phagocytes

11796,67± 1503,71

11650± 710,51 10910,33± 5738,67 13506,67± 2151,01

28

Histologia, imunohistoquímica e histometria

O tecido conjuntivo subcutâneo dos coxins plantares dos camundongos no grupo

tratado com Carcinosinum 6CH inoculados com o tumor de Ehrlich apresentaram

maior área de edema no corte histológico em relação ao grupo controle e ao grupo

sem tumor (Figura 8). Esse mesmo grupo apresentou maior incidência de necrose,

porém sem significância estatística.

A Tabela 3 mostra que o grupo tratado com MIX (Carcinosinum 6CH + 200CH)

apresentou o melhor resultado geral em relação ao controle, no que diz respeito à

interação do tumor com o tecido hospedeiro, sendo a menor incidência de necrose

(14%), embolia (43%) e invasão tumoral (56%), embora sem significância estatística.

Também não houve diferença estatisticamente significativa em relação à

positividade para citoqueratina e VEGF, porém animais tratados com Carcinosinum

6cH e 200cH apresentaram aumento no número de células positivas para Ki67 por

campo.

Figura 8 – Área de edema no coxim plantar de camundongos portadores de tumor de Ehrlich na forma sólida inoculado há 10 dias, frente a diferentes tipos

de tratamento. Os valores representam a média da área clara, calculada automaticamente em pixels x 104, pelo software Metamorph®. As barras de

erro representam o desvio padrão. *p= 0,01 Kruskal-Wallis/Dunn, em relação ao grupo controle sem tumor

edema

are

a -

pix

els

x 1

04

no tum

or

contr

ol

carc

inosi

num 6

cH

carc

inosi

num 2

00cH

carc

inosi

num M

IX

0

10

20

30

40

50no tumor

control

carcinosinum 6cH

carcinosinum 200cH

carcinosinum MIX

*

29

Tabela 3 – Avaliação da positividade para marcadores tumorais identificados por imunohistoquímica no tumor de Ehrlich, forma sólida, quantificada pela intensidade média de pixels de cor marrom pelo software Metamorph®. Os

valores representam média ± desvio padrão e porcentagem. *p≤0,05; **p≤ 0,01 Kruskal-Wallis/Dunn, em relação ao grupo controle e MIX. CitoK =

citoqueratina

Controle Carcinosinum 6CH

Carcinosinum 200CH

Carcinosinum MIX

Escore de proporção

tumoral (HE)

1,43±0,79 2,33±0,82 1,50±0,55 2,72±0,95

Necrose – incidência

(HE) 3/6 (50%) 5/6 (83%) 3/6 (50%) 1/7 (14%)

Embolia – incidência

(HE) 3/6 (50%) 5/6 (83%) 4/6 (66%) 3/7 (43%)

Invasão tumoral –

incidência (HE) 6/6 (100%) 6/6 (100%) 6/6 (100%) 4/7 (57%)

CASPASE 3 –

Intensidade em pixels 96,25±15,69 103,38±9,61 103,83±10,28 109,20±14,66

Edema – área em

pixels

26,5±12,4 42,7±3,3** 31,4±8,3 30,8±5,5

CitoK – intensidade

em pixels 120,6±9,1 114,8±13,8 114,8±3,3 114,8±7,8

Ki67 – positivas por

campo 0,56±0,727 2,91±1,66* 2,86±1,72* 1,33±1,65

VEGF – intensidade

em pixels 115,6±8,0 106,7±6,8 130,2±13,5 113,5±8,2

A incidência de necrose foi proporcional ao tamanho do tumor presente no corte

histológico, exceto para o grupo MIX, que também apresentou relação inversa entre

a incidência de invasão tumoral nos tecidos adjacentes e o aumento no escore de

massa tumoral local (Tabela 3), indicando mudança no padrão de distribuição das

células tumorais.

30

Discussão

A homeopatia no tratamento de câncer tem seu papel e eficácia ainda pouco

estudados, embora a literatura sobre o assunto tenha crescido exponencialmente

nos últimos anos. Muitas vezes, a homeopatia é uma opção como adjuvante, no

intuito de melhorar a qualidade de vida, outras vezes, como tratamento único, como

se vê em algumas regiões da Índia (ROSTOK et al., 2011; BANERJI, BANERJI,

2012; ROSSI et al., 2014).

Existem diversos estudos in vivo e in vitro sobre a ação dos medicamentos

homeopáticos como agentes antitumorais (BISWAS, et al. 2005; SATO et al., 2005;

SUNILA et al a,b., 2007 a,b; FRENKEL et al., 2010; SAHA et al., 2014; MONDA,

PANIGRAHI, 2014, ARORA. TANDON, 2015; KHUDA-BUKHSH et al., 2015), mas

poucos focam a avaliação clínica dos animais associada a aspectos histológicos e

fisiopatológicos, o que evidencia um aspecto importante do presente trabalho. Um

dos poucos estudos que relatam a avaliação clínica utilizando o tumor de Ehrlich

como modelo mostra a ação da tintura de Boswellia serrata como medicamento,

considerando diferentes propriedades antitumorais, como redução da ascite em

89,89% dos animais no D14 de tratamento e redução do tumor sólido em 46,03%

dos animais também no D14, em comparação ao grupo controle (AGRAWAL, 2011),

além de outros efeitos sistêmicos, como atividade e clínica mais saudável, que

podem impactar na qualidade de vida.

Neste trabalho, a comparação entre Thuya, Conium e Carcinosinum permtiu

escolher qual dos três medicamentos seria o mais interessante para aprofundar o

estudo com tumor de Ehrlich, uma vez que parâmetros clínicos de alta prioridade

foram avaliados, dentre eles a sobrevida. Assim, o Carcinosinum foi o medicamento

escolhido, por apresentar melhor conjunto de benefícios clinicamente observáveis,

além de prolongar a sobrevida.

Esta fase do estudo foi particularmente elucidativa, pois revelou parâmetros ainda

não disponíveis na literatura. Pesquisas recentes in vitro demonstram o mecanismo

anti-neoplásico da Thuya occidentalis nas potências 6CH, 30c, 30CH e 200CH,

reportando a indução de apoptose por meio de mecanismos epigenéticos, com

maior expressão de p53 e diminuição de BCL-2. O tratamento de linhagens celulares

31

tumorais com Thuya occidentalis 30CH induziu aproximadamente 50% a mais de

morte celular em relação ao controle (MUKHERJEE et al, 2013). Contudo, não se

encontram menções sobre avaliações clínicas e/ou fisiopatológicas e sua correlação

com a sobrevida dos animais tratados. Também não encontramos na literatura

resultados que demonstrem aspectos clínicos e sistêmicos de animais tratados com

Conium maculatum 200CH, porém um estudo recente in vitro demonstra a ação

antitumoral do extrato (tintura mãe) de Conium, reduzindo a proliferação e

viabilidade celular e exercendo atividade bloqueadora do ciclo celular (fase G1) entre

24 e 48h de tratamento (MONDA et al, 2014; ARORA, et al, 2013). Em contrapartida,

nossos resultados apontam que camundongos tratados com Conium maculatum

200CH apresentam maior incidência de sintomas e piora da sobrevida. As

discrepâncias entre os resultados obtidos in vitro e in vivo reforçam a importância de

se estudar o impacto da resposta imune e do microambiente tumoral na atividade

dos medicamentos homeopáticos sobre tumores, conforme observado por SAHA et

al. (2013).

Há poucas pesquisas publicadas que tratam especificamente do uso exclusivo do

Carcinosinum em diversas potências, como fizemos aqui, o que mostra outro

aspecto inédito deste estudo. PREETHI et al.,2014, demonstraram que células

tratadas com Carcinosinum 200C aumentam a expressão do gene p53, um

importante gene que induz a apoptose em células que não são capazes de reparar

danos ao DNA, mas pouco se sabe sobre os efeitos do Carcinosinum in vivo.

Resultados similares já haviam sido descritos por SUNILA, et al., 2007.

Na primeira fase da pesquisa (screening), o grupo tratado com Carcinosinum 200CH

apresentou melhor resultado clínico e melhor sobrevida; por esse motivo, tal

medicamento foi escolhido como objeto de estudo na segunda fase. Nos animais

portadores de tumor ascítico, o tratamento com Carcinosinum 200cH levou ao

menor ganho de peso em relação aos demais grupos tratados. Embora sem

significância estatística, tal efeito pode estar relacionado ao desenvolvimento menos

intenso da ascite. Os efeitos do Carcinosinum 200CH sobre o tumor sólido não

foram tão expressivos, embora, também nesse caso, tenha havido melhora clínica.

Talvez o uso do Carcinosinum 200CH como terapia adjuvante à terapia

convencional, com o propósito de melhorar a qualidade de vida do paciente seja

uma alternativa interessante.

32

MACLAUGHLIN et al., 2006, observaram, em modelos in vivo e in vitro de câncer de

próstata, que diferentes resultados foram obtidos com Carcinosinum 1000cK, Thuya

occidentalis 1000cK, Conium maculatum 1000cK e Sabal serrulata 200CH. Nenhum

dos tratamentos afetou o peso dos animais, mas os melhores efeitos antitumorais

foram obtidos com Sabal serrulata 200CH, com redução de 38% do volume do tumor

(JONAS et al., 2006). FRENKEL et al., 2010, demonstraram que os efeitos

citotóxicos de Carcinosinum 30C e Phytolacca 200C em células de câncer de mama

foram semelhantes à atividade de 0,12µM de paclitaxel (Taxol), a droga mais

comumente usada como quimioterápico para câncer de mama.

Tais dados, tomados em conjunto, apontam para a importância da escolha das

potências e das associações medicamentosas para o sucesso da terapêutica

homeopática oncológica. Os resultados apresentados aqui corroboram essa

observação, tendo em vista a constatação de efeitos indesejáveis após o tratamento

com Carcinosinum 6cH, como o edema no local da inoculação do tumor, maior

incidência de piloereção e hipertermia. Além disso, observou-se aumento do número

de células tumorais positivas para Ki67 no tumor sólido.

O aumento no volume da pata inoculada após o 6º dia de inoculação pode ser

considerado reflexo, em nível macroscópico, do edema observado histologicamente,

uma vez que a área de tumor ocupada na derme não foi maior do que nos demais

grupos experimentais. Algumas causas fisiopatológicas do edema estão diretamente

ligadas ao câncer, como obstrução linfática neoplásica, inflamação e angiogênese

(HANAHAN; WEINBERG, 2011). De fato, o grupo tratado com Carcinosinum 6CH

também apresentou maior quantidade de tumor infiltrado na musculatura do coxim,

conforme observação histológica semiquantitativa. Esse resultado está diretamente

proporcional à positividade da citoqueratina, um marcador sensível à detecção de

células malignas de origem epitelial. A observação de efeitos adversos do

Carcinosinum em baixas potências (6CH) também é inédita, pois não se observam

relatos similares nos demais trabalhos da literatura sobre homeopatia e câncer.

Contudo, a análise semiquantitativa do tumor sólido em camundongos tratados com

a mistura do Carcinosinum 6CH e 200CH (MIX) revelou um perfil histológico

peculiar. Embora sem significância estatística, observou-se maior positividade para

Caspase 3 e menor incidência de necrose, embolia e invasão muscular. Houve,

33

ainda, também aumento da área tumoral na derme, o que pode sinalizar mudanças

na distribuição das células tumorais no tecido hospedeiro. Estudos futuros sobre a

expressão de receptores de proteínas de matriz e produção de metaloproteinases

pelas células tumorais em animais tratados com Carcinosinum em “acorde” de

potências podem dar luz aos possíveis mecanismos envolvidos. De qualquer forma,

esse dado indica a necessidade de se conhecer mais sobre a utilidade ou não do

uso de tais misturas (“acordes”) de potências homeopáticas em oncologia, bem

como de se determinar a combinação ideal entre elas. Dados anteriores obtidos pelo

nosso grupo apontam efeitos interessantes dessas preparações (acordes de

potências) na modulação do processo inflamatório peritoneal (PEDALINO et al.,

2004).

Paralelamente, os animais tratados com Carcinosinum MIX apresentaram mudanças

significativas nas populações de células esplênicas, com aumento da proporção de

células CD4+/CD8+ e aumento na população de células T CD25+ em relação ao

total de células T, as quais têm papel regulador ou expressam estado de ativação.

Sabe-se que Linfócitos CD8+ reconhecem moléculas de MHC classe I na superfície

das células tumorais e desenvolvem resposta citotóxica contra essas células, a partir

do estímulo modulatório de citocinas liberadas pelos linfócitos CD4+, como a IL-2.

Tais interações estabelecem uma relação estreita entre a resposta imune inata e

adaptativa, o que é fundamental para uma resposta antitumoral eficiente

(RODRIGUES, 2013).

O conjunto desses resultados mostra que, embora o tratamento homeopático com

carcinosinum não tenha sido capaz de promover mudanças robustas na quantidade

de células T no baço, há a indução de um desvio sutil, porém significante, no

fenótipo de tais células, com aumento na proporção de linfócitos T helper em relação

aos demais subtipos celulares. O aumento da população de CD25+ no grupo tratado

com carcinosinum MIX apresentou maior proporção de células em relação ao total

de células T, o que corrobora a ideia de regulação imunológica. Alterações no

balanço entre diferentes subtipos celulares em órgãos linfoides induzidas por

tratamento homeopático já foram demonstradas anteriormente pelo nosso grupo

(BONAMIN et al. 2013; SANTANA et al, 2014).

34

Não foram observadas alterações na positividade das células tumorais ao VEGF, em

nenhum dos tratamentos testados. O VEGF é expresso em uma variedade de

tumores humanos e animais e demonstra indução à angiogênese. Está diretamente

relacionado a características fundamentais dos tumores, tais como taxa de

crescimento, densidade de microvasos, arquitetura vascular e desenvolvimento

metastático de tumores (GOSH, et al. 2004). Um estudo que avaliou a ação anti-

angiogênica de curcumina e carboplatina no tumor de Ehrlich, sólido e ascítico,

demonstrou que todos os medicamentos reduziram significativamente a quantidade

de microvasos e os níveis de VEGF (EL-AZAB, et al. 2011). Não foram encontradas

na literatura pesquisas que demonstrassem resultados de avaliação de VEGF em

tumores utilizando os medicamentos desta pesquisa.

Em suma, o modelo experimental proposto mostra diferentes ferramentas

metodológicas úteis para o estudo e desenvolvimento da homeopatia oncológica e

também aponta para a importância da escolha das potências nos diferentes

tratamentos.

Conclusão

Dentre os medicamentos estudados, o Carcinosinum apresentou melhor resposta

clínica e imunológica, associada a mudanças qualitativas no microambiente tumoral,

sem, contudo, modificar o crescimento das células neoplásicas. Um aspecto

importante que emerge dos dados obtidos é a importância das potências

homeopáticas na evolução da relação tumor-hospedeiro, uma vez que se observam

claras mudanças qualitativas entre elas: a potência 6CH apresentou piora em todos

os parâmetros observados; a potência 200CH, por sua vez, mostrou benefícios

consistentes em relação à qualidade de vida do hospedeiro, e a mistura de ambas

as potências mostrou mudanças na relação das células tumorais com seu

microambiente e no balanço de subtipos de linfócitos T esplênicos. Tais resultados

abrem um vasto campo de investigações sobre os prováveis mecanismos envolvidos

e sobre a otimização do uso de tais medicamentos na oncologia prática como

terapia complementar aos agentes anti-neoplásicos clássicos.

35

Conflito de interesse

Não há conflitos de interesse para este estudo.

36

Referências bibliográficas

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39

ARTIGO 2

Efeitos do uso da Timulina 5cH no tumor de Ehrlich em camundongos: uma

abordagem experimental

Effects of Thymuliln 5cH on Ehrlich tumor in mice: an experimental approach

Running head: Homeopathic Thymulin in experimental oncology and tumor

immunity

Juliana Gimenez Amaral, Thayná Neves Cardoso, Aloísio Cunha de Carvalho, Luciane

Costa Dalboni, Luana Ramos, Silvio Leite Monteiro da Silva, Fabiana Rodrigues

Santana, Cideli de Paula Coelho, Louise Teixeira, Elizabeth Cristina Perez Hurtado,

Leoni Villano Bonamin

Abstract

The objective of this study was to describe different aspects related to the biology of

the Ehrlich tumor in mice, such as growth rate, histological organization and immune

response after treatment with Thymulin 5CH. Clinical aspects, macro and

microscopic investigation of the solid form of this tumor were made, in which

necrosis, emboli, tumor development were assessed together with quantitative

evaluation of apoptosis (Caspase 3), proliferation (Ki 67) and angiogenesis (VEGF),

using specific markers reveled by immunohistochemistry. The spleen cell populations

were studied by flow cytometry. Mice treated with Thymulin 5CH presented

modification in tumor micro-environment, such as reduction in the incidence of micro-

emboli and increase in Caspase 3 positivity, showing bigger apoptotic activity of the

tumor cells, even though no reduction of tumor mass was observed. No changes in

systemic immune response were seen, since the balance of spleen cells populations

was unchanged. Further analyzes are needed to elucidate the mechanism of action

involved and the usefulness of homeopathy in oncology practice.

Keywords: Tumor Ehrlich ascites, high dilutions, homeopathy, Thymulin, tumor

immunology, experimental oncology.

40

ARTIGO 2

Efeitos do uso da Timulina 5cH no tumor de Ehrlich em camundongos: uma

abordagem experimental

Juliana Gimenez Amaral, Thayná Neves Cardoso, Aloísio Cunha de Carvalho, Luciane

Costa Dalboni, Luana Ramos, Silvio Leite Monteiro da Silva, Fabiana Rodrigues

Santana, Cideli de Paula Coelho, Louise Teixeira, Elizabeth Cristina Perez Hurtado,

Leoni Villano Bonamin

O objetivo deste estudo foi descrever os diferentes aspectos relacionados com a

biologia do tumor de Ehrlich em camundongos, tais como taxa de crescimento,

organização histológica e resposta imune após o tratamento com timulina 5CH.

Aspectos clínicos e investigação macro e microscópico da forma sólida desse tumor

foram feitos. Necrose, êmbolos e desenvolvimento do tumor foram avaliados em

conjunto com a avaliação quantitativa da apoptose (Caspase 3), proliferação (Ki 67)

e angiogênese (VEGF), utilizando marcadores específicos por imunohistoquímica.

As populações de células do baço foram estudadas por citometria de fluxo. Os

camundongos tratados com timulina 5CH apresentaram modificação no

microambiente do tumor, tais como redução da incidência de microêmbolos e

aumento da caspase 3, mostrando maior atividade apoptótica das células tumorais,

embora não se tenha observado qualquer redução da massa do tumor. Não

ocorreram alterações na resposta imune sistêmica, uma vez que o equilíbrio da

população de células do baço não foi alterada. Análises adicionais são necessárias

para elucidar o mecanismo de ação envolvendo a utilidade da homeopatia na prática

oncológica.

Palavras-chave: Tumor ascite Ehrlich, altas diluições, homeopatia, timulina,

imunologia tumor, oncologia experimental.

41

Introdução

O perfil epidemiológico do câncer tem caracterizado essa doença como um

problema de saúde pública no Brasil, o que exige das instituições em geral e de

todas as esferas de governo a criação de novas estratégias de prevenção e controle

de tal patologia . A mudança rápida e crescente do perfil sociodemográfico da

população em geral tem colaborado para o aumento considerável do câncer, visto

que fatores de risco como o envelhecimento e os maus hábitos de vida em geral

estão cada vez mais presentes no nosso dia a dia. (INCA, 2014)

A Organização Mundial de saúde (OMS) relatou que, em 2012, houve 14,1 milhões

de casos novos de câncer em todo o mundo, levando a óbito 8,2 milhões de

pessoas (INCA, 2014). O câncer vem associado a outras problemáticas, como custo

do tratamento, mutilações, terapias que impactam diretamente na qualidade de vida

do paciente e família, além de desesperança.

Os tratamentos atuais no combate ao câncer causam efeitos adversos e sequelas

que impactam negativamente na vida do indivíduo doente. Os pacientes têm

buscado cada vez mais outras alternativas de tratamento, como a homeopatia.

Ervas, minerais, vitaminas e medicações homeopáticas, consideradas terapias

complementares, tem sido cada vez mais usadas no regime terapêutico contra o

câncer. (FRENKEL, 2010)

Teixeira (2008) relata que há a possibilidade de adaptação dos protocolos de

pesquisa clínica convencional ao modelo homeopático. Assim, modelos

experimentais in vivo e in vitro têm sido realizados na pesquisa básica sobre

homeopatia nos últimos anos. Poucos estudos estão relacionados à ação dos

medicamentos homeopáticos e câncer, porém observa-se o crescimento de

pesquisas na busca de respostas sobre a ação de tais medicamentos (BONAMIN,

ENDLER, 2010; BELLAVITE et al., 2014; BONAMIN et al., 2015; SAHA et al., 2014;

SAHA et al. 2015a; SAHA et al., 2015b; ARORA et al., 2013; ARORA; TANDON,

2015), o que incita ainda mais a discussão para o papel da homeopatia na prática

oncológica (FRENKEL, 2015).

A timulina é um peptídeo endócrino, diretamente ligada da diferenciação de células

T. Foi descoberta em 1970, como um nonapeptídeo zinco-dependente produzido

42

pelas células epiteliais do timo e de importante papel na maturação de células T

(DARDENNE, 2009). É obtida a partir de lisado ácido do timo de vitelo e atua sobre

as células T, B e NK, modulando a proliferação e diferenciação das células

progenitoras da medula óssea (GARRITANO, 2007). O extrato tímico é capaz de

modular a produção, maturação e ativação de linfócitos T e macrófagos, agentes

importantes nas respostas imunes. (LENGYEL G, FEHER J. 1994.)

Nas células maduras, o extrato tímico aumenta o número e a função dos linfócitos

T4, a produção de anticorpos, a reatividade aos mitógenos, a competência de

linfócitos T para participar de culturas mistas, o efeito “killer” contra as células

tumorais, a secreção de interleucinas pelos linfócitos T e o desenvolvimento da

imunidade celular (GARRITANO, 2007). Porém, há poucos estudos sobre a ação

imunomoduladora da timulina preparada homeopaticamente em tumores (TOLEDO,

2005).

O tumor de Ehrlich utilizado nesta pesquisa é uma neoplasia maligna, experimental

e transplantável, descoberta em 1886 e descrita em 1905 por Paul Ehrlich como um

carcinoma mamário de camundongos fêmeas. Esse tumor desenvolve forma

ascética, quando inoculado no peritônio, e forma sólida, quando inoculado no tecido

subcutâneo (EHRLICH, 1906). Nesse caso, vários são os fatores que influenciam o

crescimento tumoral. Por exemplo, a quantidade de capilares no tumor de Ehrlich na

forma sólida é regulada pela glutamina e pela secreção do fator de crescimento

endotelial vascular (VEGF) pelas próprias células tumorais, o que influencia o

crescimento do tumor sólido (SILVA, 2006; GHOSH et al, 2004). O tumor de Ehrlich

também tem sido utilizado como modelo para a elucidação dos mecanismos dos

medicamentos homeopáticos nos tumores (SAHA et al., 2013).

43

Objetivo

Objetivo geral

O objetivo deste trabalho, portanto, é descrever diferentes aspectos relacionados à

biologia do tumor de Ehrlich frente ao tratamento com Timulina 5CH (preparada

homeopaticamente).

Objetivo específico

Estudo macro e microscópico do tumor na forma sólida em camundongos tratados

com Timulina 5CH, considerando-se o crescimento, a organização histológica e a

resposta imune sistêmica.

Métodos

Animais

Foram utilizados 18 camundongos da linhagem BALB/c, machos, adultos, mantidos

em microisoladores (Techniplast®) no biotério de Experimentação animal – SPF do

Centro de Pesquisa da UNIP (Campus Indianópolis), com água e ração ad libitum,

controle de temperatura (22±2oC), umidade (55-65%), trocas de ar (75/hora) e ciclos

claro e escuro 12/12horas.

Ética

Esta pesquisa foi aprovada e certificada pelo Comitê de Ética e Pesquisa da

Universidade Paulista em 17/04/2013 sob o protocolo n. 158/2013 – CEP/ICS/UNIP

(Anexo 1).

O desenho experimental foi planejado para atender aos requisitos de bem-estar

animal e ao conceito dos 3 Rs (reduction, replacement, refinament). Assim, outros

estudos foram executados em paralelo pelo mesmo período (aprovados pelo Comitê

de Ética em protocolos específicos) e utilizaram o mesmo grupo controle, atendendo

às diretrizes brasileiras de ética em experimentação animal. O experimento foi

realizado com tumor na forma sólida para possibilitar ampla avaliação de parâmetros

44

complementares a partir do mesmo material tumoral, preparado histologicamente,

evitando repetições e eutanásias desnecessárias.

Modelo experimental

Preparo das células tumorais para inoculação

O tumor de Ehrlich é mantido no laboratório por meio de repiques semanais em

camundongos, por via intraperitoneal.

Para a inoculação do tumor, foi feita a punção abdominal de um camundongo

portador com 7 a 10 dias de inoculação, e 2 a 3 mL de fluído ascítico foram retirados

e transferidos para um tubo Falcon. O líquido foi centrifugado a 1500rpm por 5

minutos e as células depositadas (pellet) foram ressuspensas em 2 mL de PBS e

homogenizadas para nova centrifugação. Esse processo foi repetido por 3 vezes

para a completa lavagem das células. A suspensão final foi mantida em gelo durante

a contagem, feita pelo método Azul de Tripam 0,1% (GIBCO). Assim, as células

foram diluídas na proporção 1:100 para observação em câmara de Neubauer

(HAUSSER SCIENTIFIC) e contagem subsequente, utilizando os quadrantes laterais

de leucócitos.

Inoculação do tumor de Ehrlich

Foi inoculado 0,05 mL da suspensão no tecido subcutâneo do coxim plantar

esquerdo, contendo 105 células, para obtenção do tumor na forma sólida. A partir

desse volume, foi possível observar o crescimento tumoral dia a dia, sem a

necessidade de eutanásia e sem causar desconforto excessivo para o animal. O

prazo de 10 dias foi escolhido como “end-point” para que os resultados fossem

analisados antes da piora clínica.

Preparação dos medicamentos

A Timulina 5CH foi preparada a partir da solução em estoque (4CH), cedida pelo

laboratório Boiron Brasil®. De acordo com o fabricante, essa solução foi preparada a

partir do peptídeo sintético, livre de zinco (fator tímico soro, peso molecular =

858,85), com pureza declarada de 98,66%.

45

A última diluição (5CH) foi feita no próprio laboratório, semanalmente. Assim, 10mL

de água ultra-pura (MilliQ) foram usados para diluir 100µL de timulina 4CH, em

frasco âmbar. A sucussão dos frascos foi feita de forma automatizada em braço

mecânico Autic®, seguindo as normativas descritas na Farmacopeia Homeopática

Brasileira, 3ª edição (ANVISA, 2011). Entende-se como CH a diluição centesimal da

substância original em solução hidroalcóolica 70%. O número de passagens

corresponde às “potências homeopáticas”, conforme nomenclatura específica da

área.

O medicamento e os controles foram codificados por um funcionário não envolvido

com a execução dos experimentos, para que se pudesse trabalhar em dupla

ocultação ao longo de todo o estudo, e abertos após a análise estatística.

Delineamento experimental

Avaliação clínica, resposta imune e expressão de marcadores tumorais do

tumor de Ehrlich na forma sólida após tratamento com Timulina 5CH

Utilizamos três grupos, sendo um grupo com 5 animais (sem tumor), um com 6

animais (Timulina 5CH) e um com 7 animais (controle tratado com veículo). Os

animais sem tumor serviram de base para as avaliações clínicas. Os outros dois

grupos foram usados para as avaliações imunológicas e anatomopatológicas. Os

animais eram provenientes do biotério da FMVZ-USP (Universidade de São Paulo),

assim divididos em gaiolas. Optamos por mantê-los nos mesmos grupos, evitando o

estresse por competição dos animais.

Após 24h de inoculação do tumor, os camundongos receberam doses de 10μL de

medicamento / 10g de peso vivo/animal/dia, ao longo de 10 dias. As características

clínicas de cada animal também foram observadas, conforme critérios do Apêndice

1. Os animais tiveram seus coxins plantares medidos antes da inoculação do tumor

na forma sólida e todos os dias, durante 10 dias, utilizando um micrômetro (Mitutoyo

® IP65, Japan).

Colheita de material para histopatologia e citometria de fluxo

Após 10 dias de inoculação do tumor sólido no coxim plantar, todos os animais

foram eutanasiados. Para a eutanásia, os animais foram sedados profundamente

46

com 0,1 mL de mistura ketamina - xilazina na proporção 2:1 para cada 10g de peso

vivo (equivalente às doses de 20 mg/10g peso vivo de Xilazina e 10 mg/10g de peso

vivo de Ketamina), até a interrupção dos sinais vitais. Em seguida, foi realizado o

deslocamento cervical para garantir a morte dos mesmos antes de se realizar

qualquer procedimento de necropsia.

Foram colhidos fragmentos histológicos da lesão tumoral para o exame

histopatológico, sendo fixados em paraformaldeído 8%, para preservação

antigênica. Em seguida, foram encaminhados para a inclusão em parafina,

microtomia e montagem dos cortes em lâminas silanizadas (para a

imunohistoquímica) ou lâminas convencionais (para coloração por hematoxilina-

eosina - HE).

Para a citometria de fluxo, um fragmento central do baço foi colocado numa placa de

Petri plástica com uma gota de PBS-SFB 1%. As células foram ressuspensas com o

auxílio do êmbolo de uma seringa e transferidas para um tubo Falcon, sendo

mantidas em gelo até o processamento final. Para que a quantidade de células fosse

suficiente para garantir uma leitura representativa ao citômetro, cada tubo continha

um pool de suspensão celular obtidas de dois camundongos do mesmo grupo.

Citometria de fluxo

A citometria de fluxo das células do baço foi utilizada para a quantificação de

linfócitos T (CD4+, CD8+ e CD25+), linfócitos B1, linfócitos B2, linfócitos B da Zona

Marginal (BZM) e macrófagos, conforme descrito no Quadro 1.

Quadro 1 – Células quantificadas por citometria de fluxo

CÉLULAS MARCADORES

Linfócitos B1 CD19+ CD23- CD11b+

Linfócitos B2 CD19+ CD23+ CD11b-

Macrófago CD19- CD23- CD11b+

Linfócitos T CD19- CD4+ ou CD19- CD8+

Linfócitos Treg ou T ativados CD19- CD25+

Linfócitos B de zona marginal CD19+ CD23- CD11b-

47

Os tubos foram centrifugados em centrífuga refrigerada a 2000rpm / 5 minutos,

sendo o sobrenadante descartado. Assim, 2mL de tampão hemolítico foram usados

para lavagem das células, sendo as mesmas incubadas por 2 minutos antes de

serem submetidas a nova centrifugação. Em seguida, as células foram contadas em

câmara de Neubauer (HAUSSER SCIENTIFIC) pelo método do azul de Tripam 0,1%

(GIBCO), sendo utilizados os quadrantes laterais de leucócitos.

Posteriormente, 10 µl de anti-CD16/32 foram adicionados a 990 µl de PBS-BSA 1%

para preparo da solução bloqueadora, sendo que 10 µl da mesma foram acrescidos

à amostra, incubada a 4oC por 30 minutos. Após nova lavagem em PBS, o conteúdo

de cada tubo foi transferido para 3 microtubos em um volume contendo 106 células

por microtubo. Um microtubo foi designado como sem marcar, um microtubo como

combo 1 (linfócitos B) e o terceiro microtubo foi designado como combo 2 (linfócitos

T). Uma sequência adicional de amostras foi separada para a marcação simples,

com cada um dos marcadores, para a compensação da positividade das amostras

no citômetro. Para cada 106 células, foram adicionados 20 microlitros de anticorpo

específico em concentração de 1%, seguido de incubação a 4oC por 40 minutos,

conforme Quadro 2.

Quadro 2 – Marcadores utilizados para análise de células do baço de camundongos portadores de tumor de Ehrlich na forma sólida por citometria

de fluxo

Combo 1 CD 23 FITC Combo 2 CD25 AF488

CD 5 PE CD 4 PE

CD 19 PE Cy 5:5 CD 19 PE Cy 5:5

CD 11b PB CD8 AF 405

Após a incubação, as células foram lavadas em PBS, centrifugadas, ressuspensas

em 100 µl de PBS-BSA 1% com 400 µl de paraformaldeído 1%, para fixação. As

amostras foram mantidas a 4oC e embaladas em papel alumínio por até 48 horas

antes da contagem no citômetro CANTO (BD). Os dados foram processados no

software Flow Jo 7.6.5 para identificação dos “gates” para linfócitos T, B e seus

subtipos, conforme mencionado em Amaral et al. (2015), neste volume.

48

Imunohistoquímica e histometria

Imunohistoquímica indireta

Cortes de 5 μm de coxim plantar incluídos em parafina foram montados em lâminas

silanizadas. Os cortes foram desparafinizados, reidratados e submetidos ao

desmascaramento antigênico em tampão citrato durante 20 minutos, em panela

elétrica (PANASONIC). Após o resfriamento, os cortes foram submetidos ao

bloqueio da peroxidase endógena em solução de H2O2 3 a 5% em metanol, durante

5 minutos. Os cortes foram lavados por três vezes e os sítios de adsorção

inespecíficos, bloqueados com soro normal de equino 2,5% (VECTOR®), durante 30

minutos. Posteriormente, os cortes foram incubados com anticorpos monoclonais em

diferentes diluições, overnight e a 4oC em câmera úmida (Quadro 3). Em seguida,

as lâminas foram incubadas com anticorpo secundário ligado a polímero e

peroxidase (Kit Impress Universal VECTOR®) durante 30 minutos, em temperatura

ambiente. As células positivas foram evidenciadas após a coloração com DAB.

Realizamos controles negativos de todas as reações, utilizando o diluente dos

anticorpos (DAKO).

Quadro 3 – Anticorpos utilizados na imunohistoquímica indireta

Anticorpo Finalidade Alvo

Molecular Espécie doadora

Clone Diluição Marca

VEGF Angiogênese Fator de

crescimento Rato

VG-1 monoclonal

1:200 abcam®

Ki 67 Proliferação

celular

Proteína nuclear e

citoplasmática Rato Policlonal 1:1000 abcam®

Caspase 3

Apoptose Proteína

citoplasmática Coelho Policlonal 40µg/mL abcam®

Cito K Marcador de

células epiteliais

Proteína citoplasmática

Rato Krt1-19 1:50 Serotec®

Avaliação semiquantitativa

As lâminas coradas em HE contendo cortes de coxim plantar foram observadas em

microscópio NIKON Eclipse 200 e avaliadas quanto ao tamanho do tumor (Figura

1). Para cada lâmina, todo o corte foi rastreado e avaliado, utilizando objetiva de 4x.

Um sistema de escores foi aplicado, conforme Quadro 4.

49

Quadro 4 – Escore de quantificação de tumor no coxim plantar

Figura 1 – Fotomicrografias de tecidos de coxim plantar com tumor sólido de Ehrlich, corados pelo método hematoxilina-eosina (HE), utilizadas para quantificar o turmor seguindo escores pré determinados. Objetiva: 4x

Avaliação quantitativa

Incidências de parâmetros histopatológicos

Foi realizada a avaliação quantitativa da incidência de diferentes parâmetros

tumorais por contagem macroscópica visual, em microscópio Nikon Eclipse 200,

utilizando as objetivas de 40x e 100x (imersão). Considerou-se a presença ou não

de necrose, invasão tumoral e microembolia para cada corte de coxim plantar

corado por HE.

Escore 0 Sem tumor

escore 1 1 a 20% da área do corte do coxim com tumor

escore 2 20 a 50% de área do corte do coxim com tumor

escore 3 mais que 50% de área do corte do coxim com tumor

50

Histometria

Foram feitas entre 4 e 10 fotomicrografias da área correspondente ao tecido tumoral,

no coxim, de forma a cobrir todos os campos microscópicos relativos ao tumor,

utilizando a objetiva de 40x em microscópio Nikon Eclipse 200 acoplado a uma

câmera digital Coolpix com um monitor LCD. A positividade para Citoqueratina,

Caspase 3 e VEGF (Figura 2), marcada em castanho pelo DAB, foi calculada

automaticamente, em pixels, usando o software Metamorph®. O software foi

calibrado com filtros de cor digitais, com regulação de bits vermelhos, verdes e

azuis, de tal maneira que só foram incluídas células positivas, sendo a coloração de

fundo excluída. Nesse caso, levou-se em consideração a intensidade média da

coloração marrom presente em cada campo analisado. O número de células

positivas por campo para Ki 67 foi calculado pela contagem visual das mesmas,

levando-se em conta apenas as células que apresentaram positividade nuclear

(Figura 2).

O edema do coxim plantar foi quantificado a partir dos cortes corados em HE. A

área de tecido dissociado (edema) foi calculada automaticamente, em pixels,

analisando a área clara pelo software Metamorph® (Figura 3).

Análise Estatística

O Teste “t” de Student e Mann-Whitney foram utilizados para a avaliação de

parâmetros histológicos (em pixels ou escores), segundo a homocedasticidade das

variáveis, definida pelo teste de Bartlett. Os dados da citometria de fluxo foram

avaliados pelo teste de Mann-Whitney. Para a análise dos dados semiquantitativos

(incidências), foi usado o teste exato de Fisher. A ANOVA de 2 vias foi usada para

avaliação de parâmetros evolutivos em função do tempo. Para todos os casos, os

valores de p≤0.05 foram considerados estatisticamente significantes.

51

Figura 2 – Fotomicrografia de tecidos de pata e linfonodo com tumor sólido de Ehrlich, utilizadas para avaliação de positividade de VEGF, Caspase 3, CitoK e

Ki67, usando o software Metamorph®. Objetiva de 40x (Imagens compartilhadas em AMARAL et al., 2015, neste volume)

Figura 3 – Fotomicrografias de coxim plantar com tumor sólido de Ehrlich corado por HE, utilizadas para avaliar a área de edema no software

Metamorph®. Objetivas: 4x e 40x

52

Resultados

Parâmetros clínicos

O consumo de água e comida, a evolução da temperatura da pele e o ganho de

peso corporal não apresentaram significância estatística ao longo do período de

observação, tampouco o crescimento tumoral, avaliado macro e microscopicamente

(Tabela 1, Figuras 4, 5, 6, 7,8).

Tabela 1 – Escore de avaliação de crescimento tumoral no tecido subcutâneo do coxim plantar ao final do período de 10 dias. Dados expressos em média e

desvio padrão. Teste “t” de Student, sem significância estatística

CONTROLE TIMULINA 5cH

1,43 ± 0,786 0,83 ± 0,983

Figura 4 – Evolução macroscópica do crescimento tumoral em função do tempo, representado pela espessura da pata inoculada com tumor de Ehrlich (em mm). Valores representam média e desvio padrão. ANOVA de 2 vias, sem

significância estatística e sem interação tratamento x tempo

crescimento tumoral - macroscopico

Dias

mm

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

1.6

1.8

2.0

2.2controle sem tumor

controle - veículo

timulina 5CH

53

Figura 5 – Evolução do peso corpóreo, em função do tempo (em gramas), de animais inoculados com tumor de Ehrlich (em mm) no coxim plantar. Valores

representam média e desvio padrão. ANOVA de 2 vias, sem significância estatística e sem interação tratamento x tempo

Figura 6 – Evolução da temperatura corpórea, em função do tempo (em gramas), de animais inoculados com tumor de Ehrlich (em mm) no coxim

plantar. Valores representam média e desvio padrão. ANOVA de 2 vias, sem significância estatística e sem interação tratamento x tempo

Evolução da temperatura

Days

Cels

ius

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

34

36

38

40

42controle sem tumor

controle - veículo

timulina 5CH

54

Figura 7 – Evolução do consumo de ração por gaiola (grupo), em função do tempo (em gramas), de animais inoculados com tumor de Ehrlich (em mm) no

coxim plantar. Valores representam a média

consumo ração

Dias

Gra

mas (

g)

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

0

2

4

6

8controle sem tumor

controle - veículo

timulina 5CH

Figura 8 – Evolução do consumo de água por gaiola (grupo), em função do tempo (em mL), de animais inoculados com tumor de Ehrlich (em mm) no

coxim plantar. Valores representam a média

consumo agua

Dias

mL

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

0

2

4

6

8

10controle sem tumor

controle - veículo

timulina 5CH

55

Citometria de fluxo

Na citometria de fluxo, foram analisadas as células do baço em suspensão, para a

quantificação das células positivas para CD4, CD8 e CD25 (linfócitos T), linfócitos

B1, B2, BZM (linfócito B da Zona Marginal), macrófagos, total de células T e B e

respectivas proporções, calculado pela razão entre as médias dos diferentes tipos

celulares (Figura 5).

Não houve diferença estatisticamente significativa entre os grupos para nenhum dos

subtipos celulares, considerando-se a concentração de células esplênicas em

suspensão, em percentual e a razão entre eles (Tabela 2).

Histologia, imunohistoquímica e histometria

O grupo tratado com Timulina 5CH apresentou menor incidência de embolia

(p=0,01) e maior índice de positividade (intensidade em pixels) para Caspase 3

(p=0,05), de forma estatisticamente significante. A expressão de citoqueratina

também foi reduzida (p=0,03), embora a redução do escore tumoral não tenha

apresentado significância estatística (Tabela 1). Os demais parâmetros também não

apresentaram diferença estatisticamente significante entre os grupos (Tabela 3).

Os dados tomados em conjunto mostram que o tratamento com timulina 5CH não foi

capaz de reverter vários parâmetros importantes relacionados à resposta imune

sistêmica e aos aspectos clínicos. Contudo, a avaliação histopatológica do

microambiente tumoral revelou diminuição da incidência de microembolias e da

positividade para citoqueratina (expressa por células tumorais), acompanhada de

aumento no índice de positividade para Caspase 3.

56

Tabela 2 – Porcentagem de células positivas para cada marcador específico nos “gates” selecionados a partir da citometria de fluxo do baço de

camundongos portadores de tumor de Ehrlich na forma sólida durante 10 dias. Os valores representam média ± desvio padrão. A razão foi calculada pela divisão simples das médias. Mann-Whitney e Fisher. BZM = linfócitos B de

Zona Marginal

Subtipos celulares

Controle Timulina 5CH

Leucócitos Btotais

53,43 ± 5,59 50,00 ± 5,93

Linfócitos T totais (CD19-)

46,46 ± 5,598 54,40 ± 0,424

Linfócitos B2 (CD19+ CD23+)

50,50 ± 7,98 56,95 ± 14,35

Linfócitos B1 (C19+ CD23-)

6,01 ± 2,12 5,39 ± 0,12

Linfócitos BZM 51,43± 2,30 41,70 ± 13,71

Macrófagos 43,10 ± 5,48 44,45 ± 6,43

CD4+ 63,93 ± 4,74 60,05 ± 3,04

CD8+ 18,66 ± 2,65 21,40 ± 0,14

CD25+ 8,93 ± 0,84 6,89 ± 0,66

Razão CD 25+/CD19- (T reg/Ttotal)

0,19 0,12

Razão B1 / B2

0,12 0,09

Razão CD8+/CD4+

0,19 0,35

Phagocytes/ Leucócitos

totais

0,57 0,66

57

Figura 5 – Histograma e dot plot das populações de subtipos linfocitários esplênicos nos diferentes grupos, quantificadas por citometria de fluxo

58

Tabela 3 – Avaliação de parâmetros morfológicos evidenciados em cortes corados por HE e da positividade para marcadores tumorais identificados por

imunohistoquímica no tumor de Ehrlich, forma sólida, quantificada pela intensidade média de pixels de cor marrom pelo software Metamorph®. Os

valores representam média ± desvio padrão ou porcentagem. * p= 0,01 teste exato de Fisher. ** p=0,05 teste “t” de Student. # p=0,03, Mann-Whitney,

U=6.000, em relação ao controle. CitoK= citoqueratina

Parâmetros

Controle Timulina

Necrose – incidência

(HE) 3/6 (50%) 1/6 (16%)

Embolia – incidência

(HE) 5/6 (83%) 0/6 (0%) *

Invasão tumoral–

incidência (HE) 6/6 (100%) 5/6 (83%)

Edema –

área em pixels x 104

25,31 ± 12,76 23,43 ± 11,04

CASPASE 3 – intensidade

em pixels 96,58 ± 2,91 108,78 ± 4,83 **

CitoK – intensidade em

pixels 113,08 ± 18,07 95,60 ± 9,02 #

VEGF – intensidade em

pixels 117,97 ± 3,10 111,19 ± 25,29

Ki67 – positivas por campo 09/16 13/14

59

Discussão

A funcionalidade do sistema imune está diretamente ligada aos sistemas nervoso e

endócrino, constituindo um network homeostático integrado. O sistema imunológico

percebe, através de reconhecimento antigênico, uma imagem interna dos

componentes macromoleculares e celulares do corpo e reage a alterações dessa

imagem, efetivamente participando da homeostase do organismo (DARDENNE,

2009). Os linfócitos T são os responsáveis pela resposta celular, que envolve o

contato célula a célula com os diversos patógenos. Nesse caso, entram em ação os

linfócitos “helper” (CD4), supressores (CD8), citotóxicos (CD8), células T “killers”

(NKT) e células “natural killers” (NK), além de macrófagos e monócitos. Todo esse

processo de maturação é controlado pelos hormônios tímicos e seus produtos

celulares, como interleucinas e interferons (OHARA, 1996). A primeira referência da

importância do timo na resposta imune foi feita por White em 1949, sendo que

somente na década de 60 a timosina foi isolada (GARRITANO, 2007).

A timulina tem um papel fisiológico abrangente, que envolve mecanismos endócrinos

e parácrinos, como a maturação de células T, que pode ser realizada intra e

extratímica. Atividade de células NK, PMN, monócitos e a produção de interleucinas,

como IL 1, IL 6, TNF e PGE2, são moduladas pela timulina (MAZZOLI, 1974; LIN,

1989; BENEDIKT, 2000). O aumento da timulina sérica determina desvio da

resposta imune para o padrão celular Th1, em detrimento ao padrão celular Th2. Da

mesma forma, a falta de zinco determina desvio para resposta humoral, uma vez

que esse metal é um importante cofator da timulina. O controle da secreção de

timulina envolve a participação de fatores imunitários e extraimunitários, como

hormônios tireoidianos, de crescimento, prolactina, melatonina, zinco e outros

(NETO, 2007). Uma das primeiras pesquisas relacionadas à timulina foi realizada

por KALLEN (1986), em que ratos tratados com ciclofosfamida tiveram a função

linfocitária T reestabelecida após tratamento com timulina.

A recuperação do balanço entre células T em pacientes portadores de câncer e

tratados com timulina foi descrita por GARRITANO, 2007. Nesse caso, o uso da

timulina foi capaz de restaurar os níveis das células T, equilibrar a relação entre as

subpopulações dos linfócitos CD4 e CD8, promovendo, assim, a recuperação da

competência imunológica. Dessa forma, os danos imunossupressores e colaterais

60

induzidos pela terapia antineoplásica foram reduzidos, não havendo necessidade de

interromper os ciclos desses tratamentos. A timulina não exibiu qualquer efeito

mutagênico e não mostrou qualquer toxicidade, mesmo quando usada em altas

concentrações.

Os dados da literatura sobre a timulina preparada homeopaticamente em modelos

murinos são escassos. SANTANA et al (2014), pesquisaram a modulação da

resposta inflamatória à leishmaniose cutânea murina pela timulina 5CH. Depois de

um aumento transitório das células T reg peritoneais, os camundongos tratados

apresentaram, cronicamente, aumento na percentagem de células B1 peritoniais no

baço e peritônio. BONAMIN et al. (2013) avaliaram a ação da timulina 5CH no

desenvolvimento do granuloma induzido por BCG, relatando o aumento de fagócitos

peritoneais derivados de células B1, sugerindo a ação da mesma na regulação dos

processos de diferenciação e migração das células progenitoras B1 para o sítio

inflamatório, facilitando a remissão infecção.

Ao contrário dos resultados obtidos anteriormente sobre a timulina 5cH em relação à

modulação da resposta imune sistêmica em processos infecciosos, mensurada por

citometria de fluxo (BONAMIN et al., 2013; SANTANA et al., 2014), o tratamento de

camundongos com tumor de Ehrlich na forma sólida com timulina 5cH não

apresentou diferenças significativas em relação ao controle. Tais discrepâncias

podem estar associadas à atividade imunossupressora de tumores malignos

(MANDAL et al., 2005; MANDAL; PODDAR, 2007), as quais poderiam anular

eventuais efeitos imunomoduladores da timulina homeopática.

Todavia, o tratamento com timulina 5CH pareceu exercer mudanças importantes no

microambiente tumoral, tais como redução na incidência de microembolias e

aumento na positividade à Caspase 3, denotando haver aumento na atividade pró-

apoptótica tumoral. Em estudos anteriores, o uso da timulina homeopática 5CH em

associação à ciclofosfamida em animais portadores de tumor de Ehrlich na forma

sólida induziu metaplasia óssea na área ocupada pelo tumor, paralelamente à

regressão da massa tumoral (TOLEDO, 2005). Tais variações do microambiente

tumoral decorrentes do tratamento com timulina 5cH ainda são pouco esclarecidas e

merecem estudos futuros.

61

Os dados obtidos neste trabalho colaboram com a literatura recente sobre a ação de

medicamentos homeopáticos na biologia tumoral, em que modelos in vitro e in vivo

mostram diferentes aspectos do microambiente tumoral e do potencial indutor de

apoptose de tais preparações (SAHA et al. 2015a; SAHA et al., 2015b; ARORA et

al., 2013; ARORA; TANDON, 2015). A aplicação desses medicamentos na prática

oncológica, contudo, ainda está em discussão e incita mais estudos a respeito

(FRENKEL, 2015).

Conclusão

O tratamento de camundongos portadores de tumor de Ehrlich na forma sólida com

timulina 5CH induziu modificações importantes no microambiente tumoral, como

redução na incidência de microembolias e aumento na positividade das células

tumorais à Caspase 3, denotando incremento na atividade pró-apoptótica do tumor.

Contudo, tal tratamento não parece modificar parâmetros de imunidade sistêmica,

nem tampouco evolução clínica. A aplicabilidade da timulina 5CH na prática

oncológica ainda está sob discussão.

Conflito de interesse

Não há conflitos de interesse para este estudo.

62

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14 GARRITANO CRO. Avaliação do uso de extrato de timo (timulina) em pacientes com neoplasia maligna submetidos ao tratamento cirúrgico. Rev. Col. Bras. Cir. v.34, n.4, p. 225-231. July/ Aug. 2007.

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16 KALLEN B. Effect of cyclophosphamide pretreatment on autoimmune encephalomyelitis in rats. Acta Neural Scand. v.73, p.338-44.1986.

63

17 LENGYEL G, FEHER J. Thymostimulin in clinical practices. Orv. Hetil. v.135, n.52, p. 2871-5.1994

18 LIN CY, LOW TL. A comparative study on the immunological effect of bovine and porcine thymic extracts: induction of lymphoproliferative response and enhacement of interleukin-2, gamma-interferon and tumor necrotic factor production in vitro on cord blood lymphocytes. Immunopharmacology. v.18. p.1-10. 1989.

19 MANDAL D, et al. Failure in peripheral immuno-surveillance due to thymic atrophy: importance of thymocyte maturation and apoptosis in adult tumor-bearer. Life Sci. v.77, n.21, p.2703-16. 2005.

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22 MINISTÉRIO DA SAÚDE. Estimativa 2014: Incidência de Câncer no Brasil / Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva, Coordenação de Prevenção e Vigilância. Rio de Janeiro: INCA, 2014. 124p.

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25 SAHA, S. et al. Contribuition of the ROS-p53 feedback loop in thuja-induced apoptosis of mammary ephithelial carcinoma cells. Oncology reports, v.31, n.4, p. 1589-98, Apr. 2014.

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28 SANTANA, F.R. et al. Modulation of inflammation response tom urine cutaneous Leishmaniosis by homeopathy medicines: Thymulin 5cH. Homeopathy, v.103, p. 275-284. 2014.

29 SILVA, A.E.; SANTOS, F.G.A.; CASSALI, G.D. Marcadores de proliferação celular na avaliação do crescimento do tumor sólido e ascítico de Ehrlich. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., v.58, n. 4, p. 658-661. 2006.

64

30 TOLEDO RL. Associação timulina – isoterápico de ciclofosfamida no tratamento de camundongos portadores de tumor de Ehrlich. Dissertação de mestrado apresentada à Universidade Paulista – UNIP. São Paulo. 2005. Disponível em: http://www3.unip.br/ensino/pos_graduacao/strictosensu/med_veterinaria/ss_med_veterinaria_t2005.aspx

31 ZALA NETO R, BONAMIN LV. Efeitos da timulina ultra-diluída na resposta linfoide e evolução granulomatosa induzida por BCG. Dissertação de mestrado apresentada à Universidade Paulista – UNIP. São Paulo. 2005. Disponível em: http://www3.unip.br/ensino/pos_graduacao/strictosensu/med_veterinaria/download/medvet_ruggerozallaneto.swf

65

ANEXO 1

66

APÊNDICE 1

Modelo da ficha de avaliação clínica