dissertação de mestrado controle de qualidade de uma

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Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA BARRAGEM DE ENROCAMENTO COM NÚCLEO ASFALTICO CASO UHE JIRAU AUTOR: ADRIANO GEAN MICHELUZZI ORIENTADOR: Prof. Dr. Romero Cesar Gomes (UFOP) PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOTECNIA DA UFOP OURO PRETO - JANEIRO DE 2016

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Page 1: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

Dissertação de Mestrado

CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA BARRAGEM DE ENROCAMENTO COM NÚCLEO ASFALTICO CASO UHE JIRAU

AUTOR: ADRIANO GEAN MICHELUZZI

ORIENTADOR: Prof. Dr. Romero Cesar Gomes (UFOP)

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOTECNIA DA UFOP

OURO PRETO - JANEIRO DE 2016

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iv

DEDICATÓRIA

Para Valeria Micheluzzi

Page 5: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

v

AGRADECIMENTOS

Quero agradecer aos meus pais pela educação e amor recebido, pela vivência e por tudo

que sou hoje.

À minha esposa Valéria, pela paciência e dedicação ao meu lado, nas muitas e muitas

horas gastas no estudo.

Ao meu orientador Professor Romero, pela paciência e apoio na elaboração deste

trabalho de mestrado.

Aos meus colegas de mestrado que me apoiaram muito para conseguir completar esta

nova fase da vida: Fernando Gomes, José Carlos Filho, Paulo Cesar Silva e Maurício de

Souza Carneiro.

Aos meus amigos e colegas da LEME Engenharia (Rondônia - Porto Velho),

principalmente ao professor Henrique Djiskstra e ao amigo Cliceu Martins pelos

ensinamentos e apoio nos 4 anos em que vivi em Rondônia.

Ao meu Gerente José Pamplona, pela paciência de ensinar e pelo conhecimento sobre

gerenciamento e obra neste período de Jirau.

Ao Nelson Porto e Ana Yoda, pelo apoio e as aulas de Geotecnia.

Ao meu grande amigo Daniel Seabra e sua família pela acolhida em sua casa que recebi

em Belo Horizonte, para conseguir me dedicar ao estudo e concluir este trabalho.

Ao diretor Técnico da ESBR Maciel Paiva, por confiar e autorizar o estudo sobre o

Barramento de núcleo asfáltico.

Aos meus novos colegas da Neoenergia pelo apoio no dia a dia para a conclusão deste

trabalho.

Page 6: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

���

RESUMO

Barragens de enrocamento com núcleos de concreto asfáltico constituem alternativas

muito interessantes para a implantação de empreendimentos hidrelétricos de grande

porte na região Norte do Brasil, pois possibilitam as atividades construtivas mesmo nos

períodos chuvosos e, uma vez que incorporam núcleos bastante esbeltos, permitem a

adoção de barragens com taludes íngremes, com grande redução e economia dos

materiais utilizados. O comportamento geotécnico do núcleo asfáltico constitui a

premissa básica de projeto de barragens de enrocamento que utilizam esta tecnologia

como elemento de vedação. Neste contexto, impõe-se estabelecer procedimentos

rigorosos de controle em relação às propriedades tecnológicas do CAP (cimento

asfáltico de petróleo), dos agregados presentes na mistura asfáltica, da transição fina,

dos enrocamentos e de suas correspondentes misturas, bem como das metodologias

construtivas associadas ao lançamento e compactação destas misturas em campo. O

objetivo principal deste estudo é apresentar, de forma sistêmica e estruturada, os

principais condicionantes geotécnicos que influenciam a construção de núcleos

asfálticos em barragens de enrocamento, considerando-se a experiência e o

envolvimento profissional do autor como responsável pela engenharia do proprietário,

no setor de geotecnia e na fiscalização da construção da barragem de enrocamento,

utilizando materiais betuminosos como núcleos de vedação, no caso da obra da UHE

Jirau. Complementarmente, propõe-se abordar a sistemática do controle tecnológico e

das metodologias construtivas destes maciços, conforme adotadas no âmbito do

empreendimento estudado, bem como discutir os critérios, normas e procedimentos que

regulam em campo a implantação de núcleos asfálticos como elementos de vedação de

barragens de grande porte, com ênfase especial no controle das temperaturas de campo

dos materiais betuminosos, que constitui um fator de extrema relevância sobre a

trabalhabilidade e o desempenho final das misturas e na resposta do núcleo como

elemento estrutural e de estanqueidade da barragem.

Page 7: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

����

SUMMARY

Rockfill dams with asphalt concrete center core are very attractive design alternatives

for implementation of large hydroelectric power plants in the northern Brazil since this

type of dam can make it possible to keep the construction activities even during raining

seasons; As the asphalt cores are thin, it is always possible to adopt in the design steep

embankments slopes that lead to economies in the rock material for the dams. The

geotechnical performance of the asphalt core is a basic characteristic in the design of

rockfill dams where this sealing technology is applied. So, strict control procedures are

necessary as long as the technologic properties of the asphalt cement derived from oil,

the properties of the aggregates, the properties of the thin transition and even the rockfill

properties are concerned. The control of the construction methods such as the placing

and the compaction is also important. The aim of this paper is to show in a logic form,

the main geotechnical aspects that are important in the construction of asphalt cores in

rockfill dams. This is based in the experience of the author who was the owner engineer

responsible for the geotechnical aspects of the construction of the rockfill dam with

impervious asphalt core of the Jirau hydroelectric power plant. It is also mentioned how

the construction control shall be done in dams with asphalt core such as the Jirau

embankment dam, as well as the general criteria and standards to be applied in the

design and construction of asphalt center cores as impervious elements of large rockfill

dams. One of the main aspects is the temperature control of the bituminous materials in

the field since it is extremely important as long as the workability and the performance

of the core in its effectiveness as a sealing element of the dam is concerned.

Page 8: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

viii

Lista de Figuras

Figura 2.1 - Barragens com interface asfáltica de vedação na face de montante.

Figura 2.2 – Face asfáltica como vedação de montante de barragem de enrocamento

Figura 2.3 - Barragem de enrocamento com núcleo de concreto asfáltico (UHE Foz do

Chapecó);

Figura 2.4 – Execução do núcleo asfáltico e das transições (UHE Foz do Chapecó)

Figura 2.5 – Grandezas volumétricas de misturas asfálticas (ANTT, 2000)

Figura 2.6 – Permeabilidades x volumes de vazios de concretos asfálticos (Falcão,

2007)

Figura 2.7 – Variações volumétricas de concretos asfálticos para diferentes teores de

CAP (CAP B80) e tensões confinantes (Brenth e Arslan, 1990 apud Guimarães, 2012)

Figura 3.1 – Localização da UHE Jirau

Figura 3.2 – Arranjo geral das estruturas da UHE Jirau (Braga, 2013)

Figura 3.3 – Vista da UHE Jirau: Ilha do Padre/barragem principal (Braga, 2013)

Figura 3.4 – Vista da UHE Jirau: barragem principal/barragem da MD (Braga, 2013)

Figura 3.5 – Mapa geológico da área do empreendimento

Figura 3.6 – Feições típicas da Formação Palmeiral: (a) cascalho em conglomerados

cimentados; (b) cascalho com matriz argilosa superficial

Figura 3.7 – Afloramentos graníticos com petrogravuras (Silva et al., 2010)

Figura 3.8 – Distribuição regional das precipitações (PCE, 2006)

Figura 3.9 – Cotagrama das vazões do Rio Madeira, entre 2008 a 2013 (LEME, 2013)

Figura 3.10 – Vista da Barragem de Enrocamento com nucleo argiloso

Figura 3.11 – Planta e seção transversal típica da Barragem Principal da UHE Jirau

(Themag, 2012)

Figura 3.12 – Detalhe da base de fundação do núcleo asfáltico (Themag, 2012)

Figura 3.13 – Materiais de construção utilizados na barragem (Themag, 2012)

Figura 3.14 – Medidores de recalques instalados na barragem (Themag, 2012)

Figura 3.15 – Marcos superficiais instalados na barragem principal (Themag, 2012)

Figura 4.1 – Produção de agregados e controle granulométrico em obra

Figura 4.2 – Curva granulométrica média do CBUQ em obra

Page 9: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

ix

Figura 4.3 – Amostra indeformada obtida do aterro experimental

Figura 4.4 – Resultados dos ensaios triaxiais com amostras do aterro experimental

Figura 4.5 – Equipamento rotativo para extração (a) e amostra coletada do núcleo (b).

Figura 4.6 – Preparação dos corpos de prova a partir da amostra coletada do núcleo

Figura 4.7 – Ensaio de membrana plástica: gabarito de madeira (a) e enchimento (b)

Figura 5.1 - Usina de Concreto Asfáltico da UHE Jirau (Ramalho et al., 2013)

Figura 5.2 – Etapas de construção da metodologia DACC (Ramalho et al., 2013)

Figura 5.3 – Preparação das fundações para a construção da Barragem Principal

Figura 5.4 – Fundação local em solo residual de granito (ombreira direita)

Figura 5.5 – Tratamento das fundações locais por cortinas de injeções

Figura 5.6 – Preparação da superfície da laje de concreto (plinto)

Figura 5.7 – (a) Mastique asfáltico; (b) lançamento do mastique sobre a laje de concreto

Figura 5.8 – (a) posicionamento das formas metálicas; (b) lançamento da massa

asfáltica

Figura 5.9 – Distribuição conjunta do concreto asfáltico e transição fina

Figura 5.10 – Controle de alinhamento do eixo do núcleo asfáltico

Figura 5.11 – Compactação integrada do núcleo asfáltico e das transições finas

Figura 5.12 – Estreitamento do núcleo: (a) campo (autor); (b) esquema (Guimarães,

2012)

Figura 5.13 – Controle de temperaturas no campo (antes da compactação)

Figura 5.14 – Camada com desvio do eixo e limpeza da transição

Figura 5.15 – Complementação da camada apresentando desvio do eixo

Figura 5.16 – Remoção de camada com teores inadequados de CAP

Figura 5.17 – Surgências de água na superfície do núcleo asfáltico

Figura 5.18 – Detalhe da pressão na junta de dilatação com a expulsão do mastique

Figura 5.19 – (a) calda sem consolidação de furo de injeção; (b) contato entre material

consolidado e não consolidado de furo de injeção

Figura 5.20 – (a) furo inicial sem consolidação da injeção; (b) reconstrução do furo

Figura 5.21 – Ensaio de perda d’água para aferição do novo tratamento de fundação

Figura 5.22 – Limpeza e preparação do núcleo escavado

Figura 5.23 – Limpeza da transição fixada ao núcleo antigo

Figura 5.24 – Reconstrução do núcleo: (a) fôrma colocada; (b) aplicação do mastique

Figura 6.1 – Camada compactada e não compactada do aterro (temperatura de 110 °C)

Figura 6.2 – Extração (a) e obtenção (b) de amostras indeformadas dos aterros

Page 10: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

x

Figura 6.3 – Corpos de prova para ensaios de controle de qualidade dos aterros

Figura 6.4 – Resultados dos ensaios de controle - Variações da temperatura das misturas

Figura 6.5 – Perda da estabilidade estrutural da mistura asfáltica

Figura 6.6 – Resultados dos ensaios de caracterização do material da última camada do

núcleo asfáltico da barragem

Figura 6.7 – Curvas tensão - deformação para amostras sob temperaturas de 30ºC

Figura 6.8 – Curvas tensão - deformação para amostras sob temperaturas de 50ºC

Figura 6.9 – Curvas tensão - deformação para amostras sob temperaturas de 70ºC

Figura 6.10 – Curvas tensão - deformação para amostras sob temperaturas de 90ºC

Figura 6.11 – Curvas tensão - deformação médias das amostras ensaiadas

Figura 6.12 – Resultados em termos das resistências à compressão não confinada

Page 11: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

xi

Lista de Tabelas

Tabela 2.1 - Barragens com núcleo de concreto asfáltico (Höeg, 1993; Veidekke, 2011)

Tabela 4.1 – Propriedades Básicas do CAP 85 - 100

Tabela 4.2 – Resultados do ensaio de índice de forma dos agregados

Tabela 4.3 – Traço final da argamassa asfáltica (% em peso)

Tabela 4.4 – Ensaios de recebimento do CAP na obra

Tabela 4.5 – Valores médios dos parâmetros de controle de campo

Tabela 4.6 – Parâmetros de controle para os testemunhos coletados do núcleo

Tabela 4.7 – Valores médios das densidades dos enrocamentos e transições

Page 12: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

xii

Lista de Símbolos, Nomenclatura e Abreviações

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas

ANEEL – Agencia Nacional de Energia Elétrica.

ANP – Agencia Nacional de Petróleo.

BENA – Barragem de Enrocamento com o Núcleo Asfaltico.

CAP – Concreto Asfáltico de Petróleo.

CBUQ – Concreto Betuminoso Usinado a Quente

CCCC – Construtora e Comercio Camargo Correia

CCR – Concreto Compactado a Rolo

CD - Ensaio Triaxial consolidado drenado

cm – centímetros

CPRM – Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais

CU – Ensaio Triaxial consolidado não drenado;

d - densidade aparente do corpo de prova compactado

DACC - Dense Asphaltic Concrete Core

DMT - densidade máxima teórica da mistura

DNIT – Departamento Nacional de Infraestruturas e Transporte.

ESBR – Energia Sustentável do Brasil

FACC - Flowable Asphaltic Concrete Core.

g/cm³ - Grama por centímetro cubico.

Gb – densidade do asfalto.

Page 13: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

xiii

Gmb - densidade relativa aparente do corpo de prova compactado

Gmm - densidade máxima da mistura solta

Gse - densidade efetiva da mistura

H – Horizontal

ICOLD – International Commission on Large Dams

km² - Quilometro Quadrado

kN – Quilo Nilton

m – Metros

m/s – Metros por segundo

m³/s. – Metro cubico por Segundo.

mm – milimetros

MPa – Mega Pascal

MW – MegaWatts

NBR – Norma Brasileira

NGI - Norwegian Geotechnical Institute

NM – Norma Mercosul

Pb – porcentagem de asfalto em relação à massa total da mistura

Ps – porcentagem do agregado em relação à massa total da mistura

RBV - relação betume-vazios

t/h – Toneladas por hora

TR – Tempo de Recorrência.

UC – Ensaio Triaxial de compressão não confinada

UHE – Usina Hidroelétrica

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xiv

UU – Ensaio Triaxial não consolidado não drenado;

VAM - volume de vazios no agregado mineral

Vv – Volume de vazio de ar

Wd – peso seco

Wssd – peso saturado em superfície seca

Wsub – peso submerso do material.

� − constante

% - Percentual

%/h – Percentual por hora

°C – Graus Centrigrados

Page 15: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

xiv

SUMÁRIO

CCAAPPÍÍTTUULLOO 11 −− IINNTTRROODDUUÇÇÃÃOO

1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ................................................................................. 1

1.2 OBJETIVOS DA DISSERTAÇÃO .......................................................................... 3

1.3 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO ........................................................................ 4

CCAAPPÍÍTTUULLOO 22 −− BBAARRRRAAGGEENNSS DDEE CCOONNCCRREETTOO CCOOMM NNUUCCLLEEOO AASSFFAALLTTIICCOO

2.1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 5

2.2 BARRAGENS COM VEDAÇÃO ASFÁLTICA ..................................................... 6

2.3 MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO ......................................................................... 11

2.3.1 Agregados ....................................................................................................... 11

2.3.2 CAP: Cimento Asfáltico de Petróleo .............................................................. 13

2.3.3 Enrocamentos e Transições ............................................................................ 15

2.4 CONCRETO ASFÁLTICO ..................................................................................... 16

2.4 USINAS ASFÁLTICAS ......................................................................................... 22

CCAAPPÍÍTTUULLOO 33 −− CCAARRAACCTTEERRIISSTTIICCAASS DDOO EEMMPPRREEEENNDDIIMMEENNTTOO

3.1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 24

3.2 GEOLOGIA REGIONAL E LOCAL ..................................................................... 27

3.3 OUTROS ASPECTOS DO MEIO FÍSICO LOCAL .............................................. 29

3.4 BARRAGEM PRINCIPAL COM NÚCLEO DE CONCRETO ASFÁLTICO ...... 31

3.4.1 Natureza do Barramento ................................................................................. 31

3.4.2 Arranjo Geral e Geometria do Barramento .................................................... 32

3.4.3 Instrumentação da Barragem Principal........................................................... 35

CCAAPPÍÍTTUULLOO 44 −− CCOONNTTRROOLLEE TTEECCNNOOLLOOGGIICCOOSS DDOOSS MMAATTEERRIIAAIISS EEMM

LLAABBOORRAATTOORRIIOO EE DDAASS MMIISSTTUURRAASS EEMM CCAAMMPPOO

4.1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 37

Page 16: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

xv

4.2 CARACTERIZAÇÃO TECNOLÓGICA EM LABORATÓRIO ........................... 38

4.2.1 Cimento Asfáltico de Petróleo (CAP) ............................................................ 38

4.2.2 Agregados do Concreto Asfáltico .................................................................. 39

4.3 SELEÇÃO DO TRAÇO E EXECUÇÃO DE ATERRO EXPERIMENTAL ......... 41

4.4 ENSAIOS DE CONTROLE DE QUALIDADE EM CAMPO .............................. 44

4.4.1 Ensaios de Controle de Qualidade do CAP .................................................... 44

4.4.2 Ensaios de Controle de Qualidade em Campo o ............................................ 45

CCAAPPÍÍTTUULLOO 55 −− CCOONNCCEEPPÇÇÃÃOO GGEERRAALL,, MMEETTOODDOOLLOOGGIIAASS CCOONNSSTTRRUUTTIIVVAASS

EE SSOOLLUUÇÇÕÕEESS DDEE PPRROOBBLLEEMMAASS EEMM CCAAMMPPOO

5.1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 51

5.2 METODOLOGIA CONSTRUTIVA TIPO DACC ................................................ 53

5.2.1 Escavação e Regularização das Fundações .................................................... 53

5.2.2 Preparação da Superfície do Plinto e Lançamento de Mastique .................... 55

5.2.3 Construção do Núcleo de Concreto Asfáltico ................................................ 56

5.3 PROBLEMAS DETECTADOS E SOLUÇÕES PROPOSTAS ............................. 61

5.3.1 Desalinhamentos do Núcleo Asfáltico ........................................................... 61

5.3.2 Variações dos Teores de Concreto Asfáltico na Mistura ............................... 62

5.3.3 Lançamento de Camadas com Temperaturas Fora das Especificações .......... 63

5.3.4 Infiltrações de Água no Núcleo Asfáltico ...................................................... 64

5.3.5 Reconstrução do Núcleo Escavado................................................................. 67

CCAAPPÍÍTTUULLOO 66 −− IINNFFLLUUÊÊNNCCIIAA DDAA TTEEMMPPEERRAATTUURRAA NNAA EEXXEECCUUÇÇÃÃOO DDOO

NNÚÚCCLLEEOO AASSFFÁÁLLTTIICCOO

6.1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 69

6.2 CONSTRUÇÃO DOS ATERROS EXPERIMENTAIS ......................................... 70

6.3 TRABALHABILIDADE E COMPACTAÇÃO DOS MATERIAIS EM CAMPO 71

6.4 RESULTADOS DOS ENSAIOS DE CONTROLE DOS ATERROS ................... 73

6.5 RESULTADOS DOS ENSAIOS DE CONTROLE DO NÚCLEO ASFÁLTICO . 75

CCAAPPÍÍTTUULLOO 77 −− CCOONNCCLLUUSSÕÕEESS EE SSUUGGEESSTTÕÕEESS PPAARRAA OOUUTTRROOSS EESSTTUUDDOOSS

7.1 CONCLUSÕES PRINCIPAIS ................................................................................ 81

Page 17: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

xvi

7.2 SUGESTÕES PARA TRABALHOS COMPLEMENTARES ............................... 84

RREEFFEERRÊÊNNCCIIAASS BBIIBBLLIIOOGGRRÁÁFFIICCAASS .................................................................................................................................................... 8866

Page 18: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

1 1

CCAAPPIITTUULLOO 11

INTRODUÇÃO

1.1– CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O Brasil é um país cuja matriz energética é baseada, em larga escala na hidroenergia, por

possuir um território de dimensões continentais com grande potencial para a exploração de

energias renováveis, visando o atendimento de uma demanda sempre crescente de energia

de um mercado em franca expansão. A necessidade de novas e crescentes demandas de

energia na Região Norte e Centro Oeste do Brasil motivaram, amparada pelas novas

regulações de parcerias com o setor privado, a construção e a implantação de grandes usinas

hidrelétricas como fomento ao desenvolvimento regional em grande escala.

Por outro lado, a Região Norte do Brasil é tipificada por períodos bem definidos das

estações chuvosas, fato que tem uma repercussão direta na construção dos grandes maciços

compactados das barragens de terra de grande porte. Neste sentido, torna-se imperativo

estabelecer procedimentos alternativos nas metodologias construtivas dos barramentos que

incorporem esta realidade da condição natural da região, viabilizando empreendimentos de

geração de energia a curto prazo e em condições econômicas satisfatórias.

Barragens de enrocamento com núcleos de vedação asfáltica (BENA) representam uma

solução concreta para empreendimentos hidrelétricos de grande porte, na contextualização

climática da região Norte do Brasil. Embora ainda incipiente no país (apenas duas

barragens deste tipo foram implantadas entre nós – a barragem da UHE Foz do Chapecó,

localizada no estado de Santa Catarina e, mais recentemente, a barragem da UHE Jirau, no

estado de Rondônia), esta tecnologia construtiva tem ampla aplicação em todo o mundo,

constituindo alternativas efetivas em relação às barragens de enrocamento com face de

concreto, mais utilizadas no Brasil. Estes estudos, portanto, incluem premissas de inovação

e de fomento da difusão de novas tecnologias no âmbito do papel relevante da

hidroeletricidade na matriz de energia renovável no país, associadas às boas práticas da

sustentabilidade.

Page 19: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

2 2

1.2 – OBJETIVOS DA DISSERTAÇÃO

O comportamento geotécnico do núcleo asfáltico constitui a premissa básica de projeto de

barragens de enrocamento que utilizam esta tecnologia como elemento de vedação. Neste

contexto, impõe-se estabelecer procedimentos rigorosos de controle em relação às

propriedades tecnológicas do CAP (cimento asfáltico de petróleo), dos agregados presentes

na mistura asfáltica, da transição fina, dos enrocamentos e de suas correspondentes

misturas, bem como das metodologias construtivas associadas ao lançamento e

compactação destas misturas em campo.

O objetivo principal deste trabalho é apresentar, de forma sistêmica e estruturada, os

principais condicionantes geotécnicos que influenciam a construção de núcleos asfálticos

em barragens de enrocamento, considerando-se a experiência e o envolvimento profissional

do autor como responsável pela engenharia do proprietário, no setor de geotecnia e na

fiscalização da construção da barragem de enrocamento, utilizando materiais betuminosos

como núcleos de vedação, da obra da UHE Jirau.

Como objetivos específicos, propõe-se abordar a sistemática do controle tecnológico e das

metodologias construtivas destas estruturas, conforme adotadas no âmbito do

empreendimento estudado, bem como discutir os critérios, normas e procedimentos que

regulam em campo a implantação de núcleos asfálticos como elementos de vedação de

barragens de grande porte.

Uma vez que as temperaturas das misturas asfálticas constituem fator determinante no

comportamento geotécnico do núcleo da barragem, durante o lançamento e durante toda a

vida útil do empreendimento, estudos específicos foram implementados de forma a se

avaliar diretamente a influência da temperatura sobre a trabalhabilidade e o desempenho

final das misturas e na resposta do núcleo como elemento estrutural e de estanqueidade da

barragem. Neste propósito, ênfase maior foi dada em tentativas de campo visando

estabelecer correlações entre a temperatura de lançamento do material do núcleo asfáltico e

a eficiência do processo de compactação dos materiais, bem como da viabilidade

operacional dos procedimentos propostos, por meio da construção e ensaios feitos em

amostras indeformadas extraídas de aterros experimentais.

Page 20: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

3 3

1.3 – ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

Este trabalho é dividido em sete capítulos, de acordo com a seguinte estruturação dos temas

analisados:

• Capítulo 1: Neste capítulo apresenta-se a proposta de trabalho, destacando-se as

considerações e implicações preliminares do estudo, os objetivos previstos e a própria

estrutura da dissertação;

• Capítulo 2: apresenta uma revisão bibliográfica abrangente sobre as metodologias

construtivas das chamadas barragens de enrocamento com núcleo asfáltico (BENA), com

ênfase nos estudos geotécnicos das zonas de vedação das estruturas e no comportamento

tecnológico dos materiais betuminosos utilizados;

• Capítulo 3: apresenta as características gerais do estudo de caso analisado, ou seja, o

empreendimento da UHE Jirau, tais como localização, características hidrológicas locais,

geologia regional, concepção da barragem principal e a instrumentação geotécnica instalada

para fins de monitoramento contínuo da estrutura;

• Capítulo 4: apresenta os estudos relativos à avaliação das propriedades tecnológicas do

CAP (cimento asfáltico de petróleo), dos agregados presentes na mistura asfáltica, da

transição fina e dos enrocamentos e de suas correspondentes misturas;

• Capítulo 5: apresenta detalhadamente a concepção, as fases principais da metodologia

construtiva propriamente dita do núcleo asfáltico e os procedimentos de controle

tecnológico adotados, abordando também as interferências e os problemas decorrentes

destas atividades, bem como das soluções corretivas implementadas em campo;

• Capítulo 6: apresenta a síntese dos estudos realizados, com amostras extraídas de aterros

experimentais e da última camada lançada do núcleo asfáltico da barragem da UHE Jirau,

para se avaliar, especificamente, a influência da temperatura sobre a trabalhabilidade e o

desempenho final das misturas asfálticas, bem como sobre a estabilidade estrutural do

núcleo da barragem;

• Capítulo 7: apresenta a sistematização das principais conclusões da dissertação e a

proposição de alguns temas para estudos complementares.

Page 21: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

4

CAPÍTULO 2

BARRAGENS DE CONCRETO COM NÚCLEO ASFÁLTICO

2.1 – INTRODUÇÃO

A primeira aplicação conhecida de concreto asfáltico em núcleos de barragens foi feita em

Portugal, na construção da barragem Vale do Gaio em 1949. Nessa barragem, aplicou-se

uma camada de mastique na forma de uma cortina, com espessura variando entre 0,10 e

0,20 m e com inclinação de 1,0V:0,8H. A cortina de material betuminoso não constituía o

único elemento de vedação, visto que o paramento de montante era constituído de solo

compactado (ICOLD,1992).

Em 1962, na Alemanha, na construção da barragem Duhn Outer, utilizou-se, pela primeira

vez no mundo, um núcleo central de concreto asfáltico como elemento único de vedação

impermeabilizante. Na construção dessa barragem, empregou-se a metodologia conhecida

como Dense Asphaltic Concrete Core (DACC), na qual o concreto asfáltico é aplicado por

meio de um equipamento mecânico. Após a construção pioneira desta barragem, outras 89

estruturas similares foram executadas nesta mesma concepção construtiva (Guimarães,

2012).

Na Noruega, esta alternativa de estruturas de barragens alcançou patamar de referência na

atualidade. Com efeito, até 1970, o país adotava somente estruturas do tipo barragens de

enrocamento com núcleo argiloso; entretanto, devido à escassez de solos locais levou à

necessidade de se adotar procedimentos alternativos, que culminaram na aplicação da

tecnologia dos núcleos asfálticos em barragens nos anos seguintes. A maior barragem deste

tipo construída na Noruega é a barragem Storglomvatn, que possui um núcleo de 125 m de

altura, o núcleo de concreto asfáltico de maior altura já construído no mundo (até 2011).

A barragem Fiesternal na Austrália é a barragem mais alta já construída utilizando a

tecnologia de concreto de núcleo asfáltico, apresentando altura máxima de 150 m; porém, o

núcleo de concreto asfáltico a barragem possui altura menor, a ordem de 98 m de altura

(Falcão, 2003).

Page 22: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

5

Desde 1960, a metodologia DACC permite o lançamento simultâneo do concreto asfáltico e

da transição fina com a utilização de equipamentos específicos para isso, sendo, assim, a

mais empregada para a construção de barragens de enrocamento com núcleo asfaltico.

(ICOLD, 1992). Por outro lado, entretanto, foram construídas em 1988, na antiga União

Soviética, três barragens, utilizando-se núcleo de concreto asfáltico fluído (FACC -

Flowable Asphaltic Concrete Core), técnica envolvendo o lançamento do concreto asfáltico

manualmente sem vibração, conhecido como ‘método russo’.

No Brasil, barragens de enrocamento com núcleo asfáltico ainda constituem uma novidade,

tendo a primeira barragem sido construída apenas no ano de 2010. Trata-se da UHE Foz do

Chapecó localizada no Rio Uruguai, na fronteira entre os Estados de Santa Catarina e o Rio

Grande do Sul. A UHE Foz do Chapecó possui potência instalada de 855 MW e altura

média de 48,0 m.

A segunda barragem deste tipo construída no Brasil foi a UHE Jirau, localizada no Rio

Madeira, no Estado de Rondônia, escopo deste trabalho e cuja construção será abordada

com detalhes no texto desta dissertação.

2.2 – BARRAGENS COM VEDAÇÃO ASFÁLTICA

Barragens de núcleo asfáltico exigem um estudo inicial de estabilidade dos traços e dos

CAP’s que deverão ser utilizados, pois estes devem atender aos esforços solicitantes da

estrutura, além dos efeitos devidos às intempéries e às reações químicas que podem ser

induzidas no contato com a água. Após escolhido o traço, são realizados ensaios triaxiais

para se avaliar o comportamento tensão-deformação do material.

O asfalto consiste em um material viscoelástico-plástico, impermeável e de fácil

trabalhabilidade, desde que seja atendida a prescrição relativas às temperaturas mínimas

para fluidez do material. Apresenta também capacidade de autocicatrização e aceita melhor

a ocorrência de recalques diferenciais, aspecto bastante comum no caso de fundações

compressíveis quando em comparação com as barragens de concreto (arco ou gravidade) e

as de enrocamento com face de concreto.

Page 23: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

6

Estas barragens podem ser basicamente de dois tipos: as que possuem face asfáltica como

elemento de vedação no talude de montante da barragem (Figura 2.1) ou aquelas que um

núcleo asfáltico, esbelto e praticamente impermeável, inserido na porção central da

estrutura. Em ambos os casos, o concreto asfáltico deve atender aos princípios de

segurança requeridos, em termos de sua flexibilidade, resistência à erosão e estanqueidade

(Höeg, 1993).

Figura 2.1 - Barragens com interface asfáltica de vedação na face de montante.

Um dos princípios para a execução de uma barragem com face asfáltica é que a mesma

deva ser constituída por material francamente permeável (barragens de enrocamento) para

que que sejam controlados e minimizados os efeitos das subpressões geradas ao longo do

corpo do barramento (Figura 2.2)

Figura 2.2 – Face asfáltica como vedação de montante de barragem de enrocamento

Page 24: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

7

Nas barragens com núcleos de concreto asfáltico, o núcleo fica posicionado na porção

central da barragem (Figura 2.3), como elemento vertical ou inclinado (sendo esta

opção menos utilizada pois dificulta os procedimentos construtivos, diminuindo a

produtividade). Esta estrutura de vedação caracteriza-se por ser esbelta e flexível

permitindo, assim, deformações das fundações, bem como dos espaldares, sem

comprometimento da estrutura vedante.

Figura 2.3 - Barragem de enrocamento com núcleo de concreto asfáltico (UHE Foz do Chapecó)

O barramento mais usual é construído por meio de sequências de materiais com adequadas

granulometrias, das bordas para o centro da estrutura. Assim, os espaldares são executados

com enrocamento e rip rap, seguidos por transições grossas e finas, ao longo do eixo ou

deslocadas para montante/jusante em relação ao núcleo central de vedação asfáltica (Figura

2.4). Este arranjo favorece a diluição das deformações e permite o maciço absorver com

maior eficiência as elevadas tensões atuantes.

Figura 2.4 – Execução do núcleo asfáltico e das transições (UHE Foz do Chapecó)

Page 25: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

8

A espessura do núcleo de concreto asfáltico deve ser tal de forma a manter inalterada a

integridade original do mesmo em face às deformações do enrocamento e aos recalques

diferenciais induzidos na fundação da barragem. O núcleo deve ser ainda capaz de suportar

possíveis erros construtivos do núcleo (por exemplo, desalinhamento vertical), efeitos do

enchimento do reservatório e possíveis ações dinâmicas e deslocamentos das fundações

(Höeg, 1993).

O critério normalmente adotado para o dimensionamento do núcleo é adotar uma espessura

função da altura da barragem; um valor de referência é adotar uma espessura do núcleo da

ordem de 1% da altura máxima da barragem, mas este valor pode variar em função das

especificidades do projeto. O ICOLD (1992) recomenda que, em barragens com mais de 30

m de altura, a espessura do núcleo deve estar entre 0,60m a 1,00m; não recomendando a sua

redução gradual, devido aos múltiplos esforços aos quais o elemento impermeabilizante

está submetido.

Höeg (1993) preconiza que, de acordo com a experiência norueguesa, e levando-se em

conta o desenvolvimento de novos processos construtivos e os rigorosos controles de

qualidade atualmente disponíveis, pode-se adotar espessuras menores para o núcleo, até

cerca de 0,5 m.

O núcleo normalmente é projetado para estar inserido na porção central do barramento

devido ao melhor comportamento dessa zona em relação às deformações. O núcleo na

maioria das barragens é construído segundo um alinhamento vertical e geometricamente

regular, pois o custo adicional de construção e de materiais para núcleos inclinados não se

mostra vantajoso tanto do ponto de vista econômico, quanto em termos dos procedimentos

construtivos.

Dentro da barragem, o asfalto se mantém sob condições quase ideais, sob temperaturas

constantes e sem interferências solares. O material preserva a característica por ser muito

denso dificultando a oxidação ou endurecimento, ao contrário do que ocorre quando

exposto em rodovias, de forma que as suas propriedades tecnológicas permanecem

inalteradas ao longo da vida útil da barragem.

Page 26: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

9

O núcleo fino e flexível tende a se ajustar às deformações e aos recalques que ocorrem

durante a construção, devido ao enchimento, recalques diferenciais e à presença de

fundações compressíveis. A aplicação do núcleo de asfalto é feita, em geral,

independentemente das condições climáticas. Em regiões com chuvas intensas, a

construção é simplificada e reduzida no prazo quando comparada com as obras que utilizam

núcleos em solo compactado. Embora o trabalho com o asfalto necessite ser interrompido

durante as chuvas intensas, ele pode ser retomado assim que a chuva cessa ou passa a ser de

leve intensidade.

O núcleo e a transição fina são lançados simultaneamente por meio de equipamentos

específicos a estas finalidades, embora o lançamento possa ser feito manualmente ou por

meio de equipamentos tradicionais como aratacas ou escavadeiras/carregadeiras com a

utilização de fôrmas. No chamado ‘método russo’, a metodologia construtiva consiste em

arranjos prévios de pedras de mão, formando uma espécie de caixa, na qual é lançado

posteriormente o CAP preenchendo todos os vazios. As limitações decorrem da obtenção

de núcleos não tão esbeltos como no caso anterior e as elevadas demandas de CAP

exigidas no processo. A Tabela 2.1 apresenta uma síntese das principais barragens de

núcleo asfáltico construídas no mundo.

Tabela 2.1 - Barragens com núcleo de concreto asfáltico (Höeg, 1993; Veidekke, 2011)

Nome do Barramento

país altura (m) crista (m)espessura (m)

(fundação/corpo)ano da

construção

Kleine Dhuenn Alemanha 35 265 0,7/0,6/0,5 1962 Eberlaste Áustria 28 475 0,6/0,4 1968 Legadadi Etiópia 26 35 0,6 1969

Wiehl Alemanha 53 360 0,6/0,6/0,4 1971 Jiulikeng China 44 107 0,5/0,3 1977

High Island West Hong Kong

95 720 1,2/0,8 1977 High Island East Hong

Kong105 420 1,2/0,8 1978

Finstertal Austria 100 652 0,7/0,6/0,5 1980 Vestredal Noruega 32 500 0,5 1980

Kleine Kinzig Alemanha 70 345 0,7/0,5 1982 Shichigashuko Japão 37 300 0,5 1985

Storvatn Noruega 100 1472 0,8/0,5 1987 Feistritzbach Austria 88 380 0,7/0,6/0,5 1990 Storglomvatn Noruega 128 830 0,95/0,5 1997

UHE Jirau Brasil 60 1000 1,20/ 0,60 2011

Page 27: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

10

2.3 – MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO

Para a execução de um barramento com núcleo asfáltico, tanto pelo método convencional

como pelo método russo, o material básico de construção é o cimento asfáltico de petróleo

(CAP); entre os métodos, distinguem-se a natureza e dimensões dos agregados e a

porcentagem de CAP em relação à mistura.

Dois tipos de misturas são usados comumente na composição do concreto asfáltico. O

primeiro utiliza concreto ciclópico, no qual agregados de grandes dimensões são imersos

em uma mistura rica em CAP (30 a 40% em peso da mistura), no chamado ‘método

russo’. Um segundo tipo utiliza concreto betuminoso usinado a quente (CBUQ), composto

por CAP (normalmente variando entre 5,0 e 7,0% em peso), fíler (parcela do material onde

pelo menos 65% das partículas é passante na peneira 200 e 100% é maior que 0,42 mm,

abertura correspondente à peneira 40) e agregado com dimensão máxima da ordem de 16

mm, obedecendo os critérios da chamada ‘curva de Füller’. Os materiais comumente

utilizados como fíler são a cal, o cimento Portland, o pó calcário e a dolomita.

O método russo (concreto ciclópico) é menos utilizado atualmente em função do alto teor

de ligante da mistura CAP (matéria nobre) e é pouco recomendado para barragens de

grande altura por apresentar possíveis caminhos preferenciais de percolação (ICOLD,

1992). O CBUQ é o mais utilizado na construção das barragens com núcleo de concreto

asfáltico/ face asfáltica e que fazem uso da metodologia DACC por via mecanizada.

2.3.1 – Agregados

Os agregados podem ser naturais ou artificiais. Os naturais são os que se encontram de

forma particulada na natureza (areia, cascalho ou pedregulho) e os artificiais são aqueles

produzidos por algum processo industrial, como as pedras britadas, areias artificiais,

escórias de alto-forno e argilas expandidas, entre outros. O desempenho dos agregados

utilizados na fabricação de concreto asfáltico depende da sua forma e granulometria e das

propriedades geológicas encontradas na rocha matriz, particularmente composição

mineralógica, composição química, grau de alteração, tendência à degradação, abrasão e

potencial de adesão superficial do ligante asfáltico.

Page 28: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

11

O critério de aceitação dos agregados para uso em concretos asfálticos é o mesmo adotado

para os agregados para pavimentação, prescritos pelas normas ABNT e DNIT. Höeg

(1993) afirma que os critérios da NBR são muito rigorosos no caso do núcleo de concreto

asfáltico, pois o mesmo não está sujeito a esforços de abrasão e a variações significativas

de temperatura, desgastes por fadiga ou mesmo trincas. Por outro lado, o núcleo de

concreto asfáltico, no caso de barragens de grande altura, pode estar sujeito a elevadas

tensões estáticas.

Os agregados representam cerca de 94% em peso da composição do concreto asfáltico e,

sendo assim, suas propriedades têm grande influência no comportamento da mistura para

fabricação do CAP. As propriedades mais relevantes dos agregados em concretos asfálticos

de núcleos de barragens são: granulometria, forma, resistência, adesividade, abrasão e

porosidade.

A granulometria dos agregados influencia as características de rigidez, estabilidade,

durabilidade, trabalhabilidade e permeabilidade do concreto asfáltico, além de poder induzir

efeitos de segregação, no caso de agregados com tamanhos máximos excessivamente

elevados para uma dada condição de utilização. A norma NBR 7211 da Associação

Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 2009) fixa as características impostas quanto à

recepção e produção de agregados, miúdos e graúdos, de origem natural, encontrados

fragmentados ou resultantes da britagem de rochas.

A norma define areia ou agregado miúdo como areia de origem natural ou resultante da

britagem de rochas estáveis, ou a mistura de ambas, cujos grãos passam pela peneira ABNT

de 4,8 mm e ficam retidos na peneira ABNT de 0,075 mm. Define adicionalmente

agregado graúdo como pedregulho ou brita proveniente de rochas estáveis, ou a mistura de

ambos, cujos grãos passam por uma peneira de malha quadrada com abertura nominal de

152 mm e ficam retidos na peneira ABNT de 4,8 mm. O rachão beneficiado é definido

como o material obtido diretamente do britador primário e que é retido na peneira de 76

mm. A areia de brita ou areia artificial, segundo Cuchierato (2000), é o material passível de

ser obtido em pedreiras a partir de instalações de beneficiamento a úmido, apresentando

uma granulometria entre 4,8 mm e 0,074 mm (DNPM, 2009).

Page 29: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

12

Na construção de barragens com núcleo de concreto asfáltico, a composição de agregados

deve seguir a chamada curva de graduação de Füller, com diâmetro máximo variando entre

16 e 18 mm, expressa pela seguinte relação:

.100D

dP

max

ii = (2.1)

sendo: Pi − porcentagem em peso das partículas menores que o tamanho equivalente dos

grãos de dimensão di e Dmax − tamanho nominal máximo dos grãos.

Os agregados devem possuir um índice de forma menor que 1,45, tal como aplicado

também para o concreto convencional, indicando grãos de agregados com forma menos

alongada e mais próxima de um cubo. De acordo com norma específica DNER ME035

(DNIT, 1998), o índice de forma é calculado dividindo o comprimento pela largura, sendo

que valores próximos de 1 tornam a mistura mais resistente (formatos mais cúbicos).

Rochas básicas tendem a ser melhores que as rochas ácidas em termos de uma melhor

adesividade ao ligante; assim, agregados alcalinos como o calcário são geralmente

requeridos (Wang e Höeg, 2009). A maioria dos agregados silicosos tende a mobilizar

cargas elétricas superficiais negativas em presença de água, enquanto materiais calcários

tendem a mobilizar cargas positivas (a dolomita é um exemplo de caso extremo de

agregado eletropositivo). De forma geral, agregados carregados com cargas negativas

(ácidos) apresentam baixa adesividade e, em muitos casos, requerem o uso de aditivos

para serem utilizados em obras de pavimentação rodoviária.

2.3.2 – CAP: Cimento Asfáltico de Petróleo

A obtenção de asfalto é realizada por meio da destilação de tipos específicos de petróleo,

na qual as frações leves (gasolina, diesel e querosene) são retiradas no refino. O produto

resultante deste processo passa a ser chamado de Cimento Asfáltico de Petróleo (CAP),

sendo composto por cerca de 90 a 95% de hidrocarbonetos e de 5 a 10% de heteroátomos

(oxigênio, enxofre, nitrogênio e os metais vanádio, níquel, ferro, magnésio e cálcio),

derivados da destilação do petróleo (Souza Neto, 2013). O CAP é um líquido viscoso,

semi-sólido ou sólido à temperatura ambiente, que possui comportamento termoplástico,

tornando-se líquido quando aquecido suficientemente.

Page 30: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

13

Trata-se de material de largo emprego em trabalhos de pavimentação, pois, além de suas

propriedades potencialmente aglutinantes e impermeabilizantes, possui características de

flexibilidade e alta resistência à ação da maioria dos ácidos inorgânicos, sais e álcalis.

Essas características permitem que esse material seja utilizado também como produto da

mistura asfáltica, aplicada ao núcleo de barragens.

A natureza e as propriedades físicas do CAP dependem da fonte e dos processos de refino

do petróleo de origem. Em geral, não é comum a produção de ligantes a partir de um único

tipo de petróleo, e sim, a partir de uma variedade de tipos de óleos crus, resultando em

CAP com considerável variabilidade de compostos orgânicos (Guimarães, 2012). Nas

aplicações, é de fundamental importância que o CAP seja homogêneo e esteja livre de

água. Além do concreto asfáltico, o CAP é aplicado em outras misturas a quente, tais

como pré-misturados e areia-asfalto, com teores de asfalto variando de acordo com a

aplicação prevista.

Os cimentos asfálticos de petróleo são classificados pelo seu ‘grau de dureza’ expresso no

chamado ensaio de penetração ou pela sua viscosidade, determinada a partir do ensaio de

viscosidade Saybolt-Furol. A propriedade de penetração é definida como a distância, em

décimos de milímetros, que uma agulha padronizada penetra verticalmente em uma

amostra de cimento asfáltico, sob condições especificadas de carga, tempo e temperatura.

Quanto menor a penetração, ‘mais duro’ é o cimento asfáltico. Em função da penetração, a

Agência Nacional de Petróleo (ANP) especifica quatro tipos de CAP: CAP 30 - 45, CAP

50 -70, CAP 85 -100 e CAP 150 - 200, com temperaturas de amolecimento iguais a 52°C,

46°C, 43°C e 37°C, respectivamente.

A viscosidade e a penetração do CAP influenciam no comportamento das misturas

utilizadas nos núcleos de barragens do tipo DACC. Os CAP’s utilizados no concreto

asfáltico para núcleo de barragens são os mesmos utilizados na pavimentação,

e geralmente possuem penetração de 80 a 100 décimos de milímetros, sendo que a fluidez

é de grande importância para a trabalhabilidade do material. Por outro lado, o uso de CAP

menos viscoso aumenta a capacidade de autocicatrização do núcleo e permite uma adoção

de menores temperaturas durante a compactação (Höeg, 2009).

Page 31: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

14

2.3.3 – Enrocamentos e Transições

As zonas de enrocamento de barragens de núcleo asfáltico são constituídas comumente por

materiais oriundos das escavações obrigatórias para a implantação do empreendimento ou

de pedreiras próximas. Os taludes de enrocamento condicionarão, em larga escala, as

deformações e as distorções que serão impostas ao núcleo asfáltico. Em barragens bem

compactadas e fundação em rocha de boa capacidade de suporte, os taludes de enrocamento

de montante e jusante podem ser relativamente íngremes, com inclinações da ordem de

1,4H:1,0V a 1,5H:1,0V (Cruz et al., 2009) e, ainda assim, as tensões tendem a ser baixas e

os recalques pouco expressivos, da ordem de 50 cm (Höeg, 1993).

As condições de estabilidade dos espaldares de enrocamento são garantidas pela inserção de

zonas de transição a montante e a jusante do núcleo. As zonas de transição permitem

melhor distribuição das tensões causadas pelo enrocamento, e com isso as deformações

impostas ao núcleo ocorrem de forma mais uniforme, reduzindo o efeito de deformações

diferenciais. Neste sentido, impõe-se que as zonas de enrocamento, próximas às zonas de

transição, sejam especialmente bem compactadas.

As camadas de transição adjacentes ao núcleo devem ser constituídas de rocha britada com

tamanho máximo dos grãos de 60 mm e atender ao seguinte critério de granulometria em

projeto:

d100 (núcleo) > d10 (transição); d100 (transição) > 1/4d100 (maciço) (2.2)

Por outro lado, a chamada transição fina, parte da transição imediatamente em contato com

o núcleo de concreto asfáltico, deve ser bem graduada e atender ao seguinte critério de

granulometria em projeto (Höeg, 1993):

d50 (transição) >10 mm ; d15 (transição) < 10 mm (2.3)

A transição age não somente como elemento de suporte e uniformização de tensões, mas

também como elemento auxiliar no processo de autocicatrização, no caso de abertura de

trincas no núcleo asfáltico.

Page 32: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

15

2.4 – CONCRETO ASFÁLTICO

Conforme exposto previamente, o concreto asfáltico comumente utilizado em barragens de

enrocamento com núcleo asfáltico é o concreto betuminoso usinado a quente (CBUQ),

composto por CAP (normalmente entre 5,0 e 7,0% em peso na mistura), fíler (parcela do

material onde pelo menos 65% das partículas é menor que 0,075 mm correspondente a

peneira nº 200 e 100% é maior que 0,42 mm correspondente a peneira nº 40) e agregado

obedecendo aos critérios da ‘curva de Füller’.

As propriedades do concreto asfáltico variam de acordo com o tipo e teor de CAP, tipo de

agregado, temperatura e energia de compactação (Brenth e Arslan 1990; Höeg, 1993;

Roberts et al., 2002; Falcão, 2007; Ramos, 2009; Guimarães, 2012). A característica

essencial do núcleo de concreto asfáltico é garantir a estanqueidade da barragem e,

portanto, a permeabilidade é a propriedade mais relevante a ser estabelecida para o

concreto asfáltico, a qual, por sua vez, é função direta dos parâmetros volumétricos das

misturas compactadas.

Estes parâmetros podem ser expressos em temos do volume de vazios de ar (Vv), do

volume de vazios no agregado mineral (VAM) ou do volume de vazios preenchidos com

ligante ou relação betume-vazios (RBV). Em projetos de barragens com núcleos asfálticos,

as especificações técnicas têm sido norteadas com base no conceito do volume de vazios de

ar (Vv), definido de formas distintas, pela norma americana D2041 (ASTM, 2000a) e pelas

normas brasileiras NBR 12891 (ABNT, 1993) e ME 117 (DNER, 1994), respectivamente,

com base nas seguintes relações:

.100G

GGV

mm

mbmmv

−= (2.4)

.100DMT

d- DMTVv = (2.5)

sendo: Gmm − densidade máxima da mistura solta; Gmb − densidade relativa aparente do

corpo de prova compactado; DMT − densidade máxima teórica da mistura (ponderação da

densidade dos constituintes); d − densidade aparente do corpo de prova compactado.

Page 33: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

16

Assim, as normas distinguem-se em relação aos procedimentos para a determinação dos

parâmetros de densidades utilizados. O parâmetro Gmm expressa o valor da densidade

efetiva da mistura, ou seja, considera a parcela de asfalto que é absorvida efetivamente pelo

agregado durante a mistura entre os dois.

Neste contexto, Gmm é função da densidade efetiva da mistura (Gse), definida como a

relação entre o peso seco da amostra solta e seu volume efetivo constituído pelo volume de

agregado sólido e dos poros permeáveis à água que não foram preenchidos com asfalto

(Figura 2.5), sendo dado pela seguinte relação:

b

b

se

Smm

G

P

G

P100

G+

= (2.6)

sendo Ps – porcentagem do agregado em relação à massa total da mistura; Gse – densidade

efetiva da mistura asfáltica; Pb – porcentagem de asfalto em relação à massa total da

mistura; Gb – densidade do asfalto.

Figura 2.5 – Grandezas volumétricas de misturas asfálticas (ANTT, 2000)

Assim, a densidade efetiva da mistura asfáltica (Gse) depende da medida prévia do volume

efetivo, que é determinado pelo chamado ‘método Rice’ (ASTM D 2041). Por outro lado, a

densidade máxima teórica (DMT) é numericamente igual à razão entre a massa do agregado

mais ligante e a soma dos volumes dos agregados, vazios impermeáveis, vazios permeáveis

não preenchidos com asfalto e total de asfalto (Bernucci et al., 2008), sendo expressa em

termos da ponderação das densidades reais dos materiais componentes da mistura:

Page 34: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

17

n

n

2

2

1

1

cap

cap

21cap

G

P...

G

P

G

P

G

P

...PDMT

++++

++++=

nPPP (2.7)

A sistemática de determinação do parâmetro DMT considera os componentes da mistura

asfáltica na proporção que eles ocupam dentro da mistura, sem levar em conta a absorção

de parte do ligante pelos agregados. Assim, teoricamente, o ligante apenas envolveria os

agregados e não penetraria nos poros dos agregados (Marques, 2004). A distinção

fundamental entre as relações 2.6 e 2.7 refere-se à consideração das densidades do

agregado. A primeira considera a densidade real dos constituintes e a segunda considera a

densidade efetiva e, desse modo, os valores de DMT tendem a ser superiores aos do

parâmetro Gmm (Vasconcelos et al., 2005).

A determinação distinta das densidades aparentes pelas normas se deve aos procedimentos

para a estimativa dos volumes aparentes. Na norma americana D 2726 (ASTM, 2000b), os

vazios superficiais são considerados através da utilização do peso úmido após a imersão em

água, ao passo que, nas normas brasileiras (mencionadas anteriormente), o volume é obtido

sem considerar os vazios superficiais. As relações 2.8 e 2.9 permitem a determinação das

densidades aparentes pelas normas americana e brasileiras, respectivamente:

subssd

dmb WW

WG

−= (2.8)

subd

d

WW

Wd

−= (2.9)

sendo: Wd – peso seco; Wssd – peso saturado em superfície seca; Wsub – peso submerso do

material.

Em núcleos asfálticos de barragens, comumente as especificações técnicas de projeto

estabelecem valores-índices dos volumes de vazios inferiores a 3%. Em função das

diferenças de energia aplicada no laboratório e no campo, os volumes de vazios obtidos em

ensaios em laboratório para as misturas especificadas para o núcleo devem ser inferiores a

2% (Höeg, 1993).

Page 35: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

18

A Figura 2.6 apresenta uma correlação entre permeabilidades e volumes de vazios de

concretos asfálticos (Falcão, 2007), com comportamento de variação tipicamente

exponencial. Para volumes de vazios de 3%, as permeabilidades do concreto asfáltico

tendem a ser essencialmente inferiores a 10-8 cm/s.

Figura 2.6 – Permeabilidades x volumes de vazios de concretos asfálticos (Falcão, 2007)

Um segundo parâmetro volumétrico utilizado em projetos de misturas asfálticas é o VAM,

que expressa, em porcentagem, o volume não ocupado pelos agregados na mistura, ou seja,

(vazios de ar + vazios cheios de CAP), e é dado pela seguinte relação:

.100G

.

DMT

d- DMTVCBVVAM

bv ��

����

�+=+=

dPb (2. 10)

Este parâmetro é distinto do seu similar VMA (voids in the mineral aggregate) pela norma

americana D2041 (ASTM, 2000a), que considera, na mistura compactada, o volume de

vazios com ar e o teor de asfalto efetivo.

Um terceiro parâmetro volumétrico de misturas asfálticas de referência é a chamada

‘Relação Betume –Vazios’ (RBV), definida como:

.100VAM

VVAMRBV v �

���

� −= (2.11)

Page 36: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

19

Nas aplicações em núcleos de barragens, o teor de ligante no concreto asfáltico é utilizado

comumente com teor um pouco superior ao necessário para preencher quase totalmente os

vazios entre os agregados, tipicamente em torno de 5,5 a 6% em peso, para atender a

prescrição de volumes de vazios inferiores a 3%. Nestas condições, a densidade obtida

durante a compactação é quase da ordem da densidade máxima da mistura.

A Figura 2.7 (Brenth e Arslan, 1990 apud Guimarães, 2012) apresenta resultados típicos de

ensaios triaxiais relativos ao comportamento à ductilidade do concreto asfáltico em função

dos teores de CAP presentes (no caso CAP B80), para diferentes tensões confinantes (0,25

e 0,75 MPa). Os resultados indicam incremento das deformações axiais e uma significativa

redução das deformações volumétricas com o aumento do teor de ligante da mistura.

Figura 2.7 – Variações volumétricas de concretos asfálticos para diferentes teores de CAP (CAP B80) e tensões confinantes (Brenth e Arslan, 1990 apud Guimarães, 2012)

Baixos teores de ligante e finos resultam em misturas com menor trabalhabilidade,

compactação mais difícil e permeabilidade mais elevada. Valores elevados de ligante e

finos implicam materiais mais viscosos, apresentando também menor rigidez e menor

resistência, embora com menor permeabilidade.

O teor ótimo do ligante presente em uma dada mistura asfáltica depende essencialmente da

técnica de dosagem empregada relativamente à distribuição granulométrica dos agregados

presentes. O processo comumente utilizado em aplicações práticas é a chamada Dosagem

Marshall, desenvolvida nos Estados Unidos no início da década de 30 do século passado e

posteriormente difundida em todo o mundo.

Page 37: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

20

O método é caracterizado pela seleção do ligante asfáltico e do agregado de modo a atender

determinadas especificações de projeto. A compactação é realizada por impacto de um

soquete padrão para obtenção de corpos de prova cilíndricos e que devem atender a certos

limites quanto aos valores dos parâmetros Va e VMA e, em alguns casos, também aos

valores dos volumes de vazios preenchidos com ligante VFA (ALS, 2014). Além disso,

algumas agências estabelecem limites também quanto aos valores de estabilidade e de

fluência do material (NCHRP, 2011).

Os procedimentos de dosagem são feitos com base nas normas ME 43 (DNIT, 1994) e ES-

031 (DNIT, 2006). Com base na definição da faixa granulométrica, são moldados cinco

grupos de três corpos de prova com diferentes teores de asfalto mediante aplicação de 75

golpes por face, obtendo-se amostras com 100 mm de diâmetro e 63,5 mm de altura. Após a

moldagem, determinam-se os seguintes parâmetros volumétricos: (i) densidade aparente

(Gmb); (ii) volume de vazios (Vv); (iii) vazios no agregado mineral (VAM); (iv) vazios

preenchidos com ligante (RBV). A partir destas moldagens traçam-se relações dos teores de

ligante com volumes de vazios ou relações betume-vazios por exemplo, para se obter os

teores de ligante que satisfazem as especificações técnicas de projeto (Bernucci et al., 2008;

Souza Neto, 2013; ALS, 2014).

As principais limitações desta metodologia referem-se ao fato de que os mecanismos de

compactação não simulam efetivamente as condições de campo e que os ensaios para a

determinação dos parâmetros não são representativos das solicitações reais. Como técnica

alternativa, a chamada metodologia Superpave inclui um novo sistema para seleção de

ligantes asfálticos, baseada em condicionantes de desempenho em termos das condições de

carregamento, climáticas e de compactação em campo.

A maior diferença da dosagem Superpave para a Marshall encontra-se na nova forma de

compactação da mistura asfáltica. Enquanto na dosagem Marshall a compactação é feita por

impacto (golpes), na dosagem Superpave a compactação é feita através de amassamento

(giros) em um compactador giratório especial, produzindo amostras com 150 mm de

diâmetro (Asphalt Institute, 2001). Esta tecnologia, porém, ainda não é empregada na

prática de projetos de concreto asfáltico para implantação de núcleos de barragens.

Page 38: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

21

2.5 – USINAS ASFÁLTICAS

Para se estabelecer uma adequada mistura de agregados e CAP, dosagem da massa asfáltica

e aquecimento do produto para posterior aplicação, nas grandes demandas exigidas por uma

barragem com núcleo asfáltico, são utilizadas as chamadas usinas asfálticas de CBUQ, que

podem ser centrais gravimétricas ou centrais volumétricas, dependendo da grandeza de

controle adotada para a aferição das respectivas dosagens da mistura, sendo as primeiras de

aplicação mais generalizada.

As centrais gravimétricas são compostas por silos de alimentação, que armazenam e fazem

a dosagem adequada dos agregados, de forma contínua e automática na proporção indicada

no sistema de controle. Os agregados são introduzidos em um secador, tipo de cilindro

rotativo dotado de um queimador, pela extremidade oposta ao queimador, onde passam por

um processo de secagem e aquecimento até ser atingida a temperatura prevista para a

mistura. O processo é denominado de contra-fluxo de mistura externa, pois o fluxo de

agregados ocorre em sentido contrário ao fluxo de gases quentes oriundos da chama do

queimador. Uma vez secos e devidamente aquecidos, os agregados são levados a um

misturador externo.

Por outro lado, a fração de finos oriundos do processo de secagem é retida inicialmente por

um separador estático (que retém os finos de maior granulometria) e depois por um filtro de

mangas, que atua como elemento de retenção dos finos de menor granulometria, ambas as

parcelas sendo posteriormente encaminhadas ao misturador.

Um sistema independente faz a injeção do CAP diretamente no misturador sobre os

agregados secos e quentes, sendo a mistura revolvida com grande energia pelos braços do

misturador. A mistura asfáltica a quente é então, direcionada por um elevador para um silo

de armazenamento, do qual é descarregada em estágios em caminhões de transporte até o

local da obra. Cada mistura correspondente a um ciclo completo destas operações é

chamada de ‘batelada’, fixada para garantir uma determinada capacidade de estocagem do

produto, por exemplo, um volume capaz de atender pelo menos 30 minutos de produção da

máquina pavimentadora. Estas centrais garantem a boa qualidade do produto, pois todos os

materiais são pesados separadamente garantindo uma melhor precisão da mistura.

Page 39: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

22

CAPÍTULO 3CARACTERISTICAS DO EMPREENDIMENTO

3.1 – INTRODUÇÃO

A Usina Hidrelétrica Jirau (UHE Jirau) está localizada no Rio Madeira, afluente da margem

direita do rio Amazonas, no Estado de Rondônia, cerca de 120 km da capital Porto Velho e

em plena selva amazônica e forma, com a UHE Santo Antônio, localizada mais próxima à

capital, um empreendimento hidrelétrico chamado Complexo do Madeira (Figura 3.1). O

consórcio Energia Sustentável do Brasil, formado pelas empresas GDF Suez, Eletrosul,

Chesf e Camargo Corrêa, coordenou e viabilizou a implantação do empreendimento.

Figura 3.1 – Localização da UHE Jirau

O limite a montante da área do empreendimento está situado cerca de 15 km da foz do rio

Abunã e da fronteira Brasil-Bolívia, próximo à localidade de Abunã. O limite a jusante

localiza-se no conjunto de ilhas formadas pela Ilha do Padre, Ilha da Formiga, Cachoeira do

Inferno e a Ilha Pequena, entre as localidades de Jirau e Jaci Paraná, sendo que, neste

trecho, o rio foi desviado para a construção da usina, deixando exposto o fundo do leito

(Silva et al., 2010).

Page 40: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

23

A usina de Jirau é do tipo fio-d’água – sistema em que não há um reservatório propriamente

dito e a geração de energia está baseada nos ciclos de cheias do rio, modelo que tem como

vantagens a redução das áreas inundadas e um menor impacto ambiental. No caso da UHE

Jirau, o projeto tirou partido da existência de duas ilhas localizadas em meio ao trecho do

rio onde a usina seria implantada para atuaram como bases naturais para a locação do eixo

geral do empreendimento (Figura 3.2).

Figura 3.2 – Arranjo geral das estruturas da UHE Jirau (Braga, 2013)

Em função destas ilhas, o projeto contemplou duas casas de força distintas, ambas com

unidades geradoras do tipo bulbo, com potência instalada de 3.750 MW. Na margem

esquerda, localizam-se as 22 unidades geradoras, tendo como vértice a extremidade sul da

Ilha do Padre (Figura 3.3). O vertedouro de superfície, com 18 vãos, está localizado ao lado

da casa de força da margem direita, que conta, por sua vez, com 28 unidades geradoras que

se encontram acopladas à região da tomada d’água (Figura 3.4).

O barramento propriamente dito contempla uma barragem principal – localizada na região

do leito do rio, construída com enrocamento com núcleo em concreto asfáltico e disposta

segundo um eixo retilíneo ligando a extremidade sul da ilha do Padre à parede direita da

Casa de Força da margem esquerda e duas barragens laterais – localizadas nas margens e

construídas em enrocamento com núcleos argilosos (Figuras 3.3 e 3.4).

Page 41: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

24

Figura 3.3 – Vista da UHE Jirau: Ilha do Padre/barragem principal (Braga, 2013)

Figura 3.4 – Vista da UHE Jirau: barragem principal/barragem da MD (Braga, 2013)

A área do reservatório é variável, tendo 302,6 km² em seu nível d’água máximo normal,

com área inundada variando entre 31 km² e 108 km². Para a implantação do barramento,

foram construídas duas ensecadeiras, primeiro na margem direita da barragem, permitindo a

operação do vertedouro inicial, e depois na margem esquerda. Estas ensecadeiras foram

posteriormente incorporadas à barragem principal.

Page 42: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

25

3.2 – GEOLOGIA REGIONAL E LOCAL

Geologicamente, a bacia do rio Madeira possui diversas unidades litológicas, sendo que seis

foram mapeadas na área da UHE Jirau e entorno (Silva et al., 2010): Formação Jaci-Paraná,

Formação Palmeiral, Formação Rio Madeira, cobertura detrito-laterítica, granitoides

anorogênicos e sedimentos aluvionares (Figura 3.5).

Figura 3.5 – Mapa geológico da área do empreendimento

A Formação Jaci-Paraná é a de ocorrência mais expressiva na área, sendo caracterizada pela

presença de depósitos pouco espessos de sedimentos síltico-argilosos a argilosos, de

coloração acinzentada a amarelada, com lentes de areias ferruginosas e friáveis e

conglomerados com rara estratificação plano-paralela.

A Formação Palmeiral foi caracterizada também como uma unidade sedimentar indicadora

de depósitos fluviais, com estratificação cruzada, sendo constituída por ortoconglomerados,

com clastos (seixos) arredondados de quartzo e de quartzo- arenito, além de arenitos

maciços. Os seixos, de tamanhos variados, de origem fluvial, encontram-se dispersos em

uma matriz arenosa fina, com cimento ferruginoso e sem frações de areia média e grossa

(Figura 3.6).

Page 43: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

26

(a) (b) Figura 3.6 – Feições típicas da Formação Palmeiral: (a) cascalho em conglomerados

cimentados; (b) cascalho com matriz argilosa superficial

A Formação Rio Madeira, ocupando uma área menor no entorno da UHE Jirau, é composta

por argilas maciças de coloração acinzentada na camada inferior; cascalhos angulosos de

quartzo-arenito, quartzito e quartzo disseminados em matriz arenosa na camada interna e

areias grossas inconsolidadas com estratificação cruzada na camada superior.

Os granitóides anorogênicos, pertencentes à Suíte Intrusiva São Lourenço-Caripunas, são

constituídos basicamente por granitos equigranulares a porfiríticos, representados na área

por matacões rochosos situados principalmente em trechos encachoeirados do Rio Madeira,

marcados com petrogravuras (Figura 3.7). As coberturas detrito-lateríticas caracterizam-se

por depósitos argilo-arenosos ou síltico-arenosos, ricos em concreções ferruginosas, com

idade estimada entre o Terciário e o Quaternário, enquanto os sedimentos aluvionares

constituem depósitos de areias inconsolidadas, de idade holocênica.

Figura 3.7 – Afloramentos graníticos com petrogravuras (Silva et al., 2010)

Page 44: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

27

3.3 – OUTROS ASPECTOS DO MEIO FÍSICO LOCAL

A bacia hidrográfica contribuinte ao Rio Madeira no trecho da UHE Jirau é relativamente

pouco extensa quando comparada aos outros trechos do mesmo rio ou de outros rios da

Bacia do Amazonas. Em termos geomorfológicos, o vale local do rio Madeira possui

características de uma superfície de aplainamento bem desenvolvida, produto de uma longa

atividade tectônica de baixa magnitude e progressiva fase erosiva ao longo do Terciário e

do Quaternário. Predominam as extensas superfícies planas a levemente onduladas, de

baixa a média dissecação e com espesso manto de intemperismo, com ocorrências

localizadas de superfícies tabulares e morrotes sustentados por arenitos ou coberturas

lateríticas. A vegetação nativa presente na região consiste em uma densa floresta de clima

tropical, com características moderadamente sazonais e ao longo de elevações que variam

entre 100 a 600 m.

O clima da região é considerado como tropical úmido (Ferraz et al., 2005). As precipitações

anuais na bacia do rio Madeira, a montante de Porto Velho, mostram uma grande

variabilidade espacial, variando desde 500 a 5.000 mm, com o período chuvoso (novembro-

abril) apresentando totais mensais acima de 200 mm/mês. A Figura 3.8 apresenta a

distribuição anual média das precipitações na região entre os municípios de Abunã e Porto

Velho, evidenciando um grande padrão de similaridade regional.

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Figura 3.8 – Distribuição regional das precipitações (PCE, 2006)

Page 45: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

28

A estação menos chuvosa estende-se de maio a agosto, com um pequeno período de chuvas

entre junho-julho. A temperatura do ar, para o mesmo período, mostra também uma

variação similar de sazonalidade, sendo outubro o mês mais quente, com temperatura média

de 25,6 °C, e julho, o mês mais frio, com temperatura média próxima a 22,7°C (Culf et al.,

1996).

A UHE Jirau foi implantada em uma região com boa cobertura de dados fluviométricos e

hidrológicos, permitindo, assim, a obtenção de uma longa série histórica de dados e

registros. O regime fluvial do rio Madeira caracteriza-se por apresentar períodos de cheia e

de recessão muito bem definidos. De maneira geral, o início da subida do hidrograma

ocorre durante os meses de outubro e novembro, atingindo seu pico durante os meses de

março e abril, quando tem início a fase de recessão, que se estende até setembro e outubro

(PCE, 2006).

O período de menores vazões ocorre nos meses de agosto a outubro, com as mínimas

vazões ocorrendo predominantemente no mês de setembro. A vazão média no período

histórico (1967 a 2001) foi cerca de 19.000 m³/s, enquanto que a vazão máxima diária

registrada atingiu 48.570 m³/s em 14 de abril de 1984. A vazão mínima registrada ocorreu

em setembro de 1995, atingindo cerca de 3.145m³/s.

A Figura 3.9 apresenta o cotagrama de vazões do Rio Madeira, no período de 2008 a

2013, medidas durante a execução da obra da UHE Jirau, por meio de registros diários

efetuados em vários postos instalados ao longo do rio.

Figura 3.9 – Cotagrama das vazões do Rio Madeira, entre 2008 a 2013 (LEME, 2013)

Page 46: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

29

3.4 – BARRAGEM PRINCIPAL COM NÚCLEO DE CONCRETO ASFÁLTICO

3.4.1 – Natureza do Barramento

A obra foi planejada para ser executada, em um período de 5 anos (contrato de concessão

junto a ANEEL), como uma barragem de solo compactado. Com as demandas crescentes

por energia, o cronograma de sua implantação foi reduzido para apenas 3 anos, o que

implicou movimentações e trabalhos de compactação de solos mesmo durante os períodos

chuvosos, o que foi determinante para inviabilizar o empreendimento na sua concepção

original.

As alternativas estudadas foram três: barragem de CCR (Concreto Compactado a Rolo),

barragem de enrocamento com face de concreto e barragem de enrocamento com núcleo

asfáltico (BENA). Estas diferentes concepções foram consideradas e correlacionadas em

termos de vantagens e desvantagens. Foram várias as razões que levaram a escolha desta

última alternativa como projeto definitivo.

Em primeiro lugar, a barragem de enrocamento com núcleo asfáltico possibilitava a sua

construção mesmo durante o período chuvoso, além de garantir o aproveitamento das

ensecadeiras, fato que reduzia significativamente o volume de enrocamento compactado do

corpo da barragem. Outro fator fundamental para esta opção foi de ordem econômica: a

execução de uma barragem de núcleo asfáltico, comparada a de uma barragem de terra

compactada, onerava a empresa proprietária em 30%, valor este bem inferior ao custo de

uma barragem equivalente de Concreto Compactado a Rolo(CCR).

Por outro lado, a velocidade de execução também foi primordial para a escolha deste tipo

de barramento, uma vez que sua velocidade de alteamento era expressiva em comparação

aos prazos de lançamento e compactação de uma barragem de terra. Outro fator

comparativo que deve ser observado é a agilidade da limpeza de fundação quando se trata

da fundação para aterro em enrocamento, comparada à limpeza desta para aterro em solo.

Enquanto que para uma barragem em solo compactado, os procedimentos de tratamento da

fundação são muito mais elaborados e específicos, no caso de barragens de enrocamento, o

tratamento da fundação tende a ser mais simplificado.

Page 47: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

30

Em relação a núcleos de argila compactada, os núcleos asfálticos oferecem ainda as

seguintes vantagens: os sistemas de filtro e de transição a jusante são simplificados, o que

significa uma redução na quantidade dos materiais utilizados; núcleos de concreto asfáltico

são muito mais resistentes à erosão e, sendo mais dúctil, reduz-se o risco de fissuração.

Como desvantagens potenciais, barragens de enrocamento com núcleos asfálticos exigem a

implantação na obra de uma usina própria de CBUQ e a adoção de equipamentos

especializados e específicos no lançamento da mistura que não são usuais nem têm outra

finalidade após esta utilização, o que pode impactar os custos do empreendimento.

3.4.2 – Arranjo Geral e Geometria do Barramento

A barragem principal da UHE Jirau está localizada na zona do leito do Rio Madeira (Figura

3.10) e é constituída por um maciço de enrocamento compactado com núcleo de concreto

asfáltico, possuindo um comprimento de crista de 1.050 m e altura máxima de 60,0 m. A

implantação do barramento foi viabilizado mediante a execução prévia de ensecadeiras

laterais, posteriormente incorporadas à barragem principal.

Figura 3.10 – Vista da Barragem de Enrocamento com nucleo argiloso

Observa-se que a barragem apresenta uma seção bastante esbelta com taludes íngremes,

com inclinação 1,4H:1V, tanto a montante como a jusante, que são proporcionados pelo

fato do núcleo asfáltico possuir uma espessura de apenas 0,60 cm. A planta baixa e a seção

transversal típica da barragem com núcleo em concreto asfáltico da UHE Jirau, incluindo as

ensecadeiras laterais, estão apresentadas na Figura 3.11.

Page 48: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

31

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Page 49: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

32

A base do núcleo de concreto asfáltico é alargada, apresentando uma largura igual a duas

vezes a largura adotada para o corpo da barragem, de forma a restringir severamente os

elevados gradientes hidráulicos atuantes nessa região. O núcleo está apoiado sobre uma laje

de concreto (plinto), com uma camada superior de mastique asfáltico e outra camada,

inferior, de concreto de regularização, que atua como uma base nivelada de apoio (Figura

3.12). Chumbadores promovem a ancoragem do plinto com a fundação rochosa, que foi

tratada por meio de injeções de calda de cimento sobre pressão (o tratamento das fundações

da barragem é mais detalhado no Capítulo 5 desta dissertação).

Figura 3.12 – Detalhe da base de fundação do núcleo asfáltico (Themag, 2012)

O núcleo asfáltico é confinado por transições finas a montante e a jusante. A faixa de

transição fina, com largura de 1,45m, possui diâmetro máximo de 75mm. Além da transição

fina, foi executada também uma faixa de transição grossa, com 3,0 m de largura e diâmetro

máximo de 200 mm, compactada em camadas com o dobro da espessura da transição fina.

O enrocamento utilizado foi subdividido em duas zonas: uma zona de enrocamento fino,

com diâmetro máximo de 0,40m, compactada em camadas de 0,40 m em torno das faixas

de transição e outra zona, mais externa, de enrocamento convencional, com diâmetro

máximo de 0,8 m, compactado em camadas de 0,80 m de espessura, e ainda em blocos de

maiores dimensões para proteção (rip-rap) das zonas do maciço afetas às flutuações do NA

(Figura 3.13).

Page 50: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

33

Figura 3.13 – Materiais de construção utilizados na barragem (Themag, 2012)

O material utilizado no corpo da barragem foi oriundo das escavações obrigatórias para a

implantação das estruturas do barramento. O material foi compactado utilizando-se rolos

compactadores de grande impacto. Os volumes dos materiais empregados na construção da

barragem foram os seguintes (Souza Neto, 2013):

• enrocamento compactado= 2.013.006 m³; transições processadas = 335.994m³; concreto

asfáltico do núcleo = 22.815m³.

3.4.3 – Instrumentação da Barragem Principal

Para se proceder a um adequado controle e monitoramento da barragem com núcleo em

concreto asfáltico da UHE Jirau, vários instrumentos foram instalados no maciço da

barragem, incluindo piezômetros elétricos, piezômetros abertos (tipo Casagrande

modificado), medidores magnéticos de recalques, células de tensões totais, marcos

superficiais, medidores de vazões. Dispositivos similares, tais como piezômetros,

extensômetros de hastes e medidores triortogonais de junta foram também instalados nas

estruturas de concreto do barramento.

A Figura 3.14 apresenta a seção instrumentada da barragem principal com 9 medidores

magnéticos de recalques, instalados ao longo do maciço da barragem, nas cotas 45,0m,

53,0m, 61,0m, 69,0m, 77,0m e 85,00m. As leituras destes instrumentos são feitas por meio

de procedimentos similares aos utilizados nos registros piezométricos.

Page 51: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

34

Figura 3.13 – Medidores de recalques instalados na BENA (Themag, 2012)

Outra instrumentação geotécnica profusamente utilizada no maciço da barragem foram os

marcos superficiais (Figura 3.14). Foram instalados um total de 55 marcos nos espaldares

de enrocamento e outros três especificamente na região do núcleo asfáltico, cujas leituras

são feitas periodicamente por meio de levantamentos topográficos por estação total, a partir

de marcos referenciais georeferenciados.

Figura 3.14 – Marcos superficiais instalados na BENA (Themag, 2012)

Page 52: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

35

CAPÍTULO 4CCOONNTTRROOLLEE TTEECCNNOOLLÓÓGGIICCOO DDOOSS MMAATTEERRIIAAIISS EEMMLLAABBOORRAATTÓÓRRIIOO EE DDAASS MMIISSTTUURRAASS EEMM CCAAMMPPOO

4.1 – INTRODUÇÃO

O controle tecnológico rigoroso dos materiais utilizados e das metodologias construtivas

constitui premissa básica de projeto de grandes estruturas geotécnicas, particularmente no

caso de barragens de grande porte, pelos gravíssimos impactos decorrentes de uma eventual

ruptura destas obras.

Estes procedimentos implicam basicamente avaliações criteriosas das propriedades

geotécnicas dos materiais de construção utilizados no maciço da barragem e a aferição de

suas condições tecnológicas in situ, de forma a atender, de forma criteriosa e sistemática,

todos os esforços e deformações atuantes para as diversas condições de carregamento

impostas à estrutura e ao longo de toda a vida útil do empreendimento.

Estas avaliações então, correlacionadas com os chamados valores de controle dos

parâmetros analisados e constantes das especificações técnicas pré-estabelecidas em projeto

e explicitados levando-se em consideração a obtenção e um padrão construtivo homogêneo

e uniforme, em condições de produção em escala industrial e atendendo os grandes volumes

e taxas de produção.

Em relação às barragens de enrocamento com núcleo de concreto asfáltico (BENA), este

controle de qualidade deve merecer especial consideração em relação à construção e ao

comportamento geotécnico do núcleo asfáltico, pois o mesmo constitui essencialmente o

elemento de estanqueidade da barragem. Neste contexto, os estudos concentram-se na

avaliação das propriedades tecnológicas do CAP (cimento asfáltico de petróleo), dos

agregados presentes na mistura asfáltica, da transição fina e dos enrocamentos e de suas

correspondentes misturas. No caso da UHE Jirau, estes estudos incluíram procedimentos

experimentais de laboratório e de campo que serão descrito a seguir.

Page 53: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

36

4.2 – CARACTERIZAÇÃO TECNOLÓGICA EM LABORATÓRIO

4.2.1 – Cimento Asfáltico de Petróleo (CAP)

As propriedades físicas e reológicas e a composição química do CAP dependem da fonte e

dos processos de refino do petróleo de sua origem. No Brasil e em diversos outros países,

não é comum a produção de ligantes a partir de um único tipo de petróleo, e sim, a partir de

uma variedade de óleos crus, resultando em CAP’s contendo uma considerável variedade

de compostos orgânicos e elevada complexidade química (Guimarães, 2012). Os CAP’s

utilizados no concreto asfáltico para núcleos de barragens são os mesmos utilizados em vias

de pavimentação, e geralmente possuem valores de penetração de 80 a 100.

O CAP utilizado para a construção do núcleo de concreto asfáltico da barragem de Jirau foi

do tipo 85-100, comercialmente disponível pela distribuidora Betunel - Tecnologia em

Asfaltos. Para uma aferição e comprovação de suas características tecnológicas, foram

realizados ensaios de penetração pela norma NBR 6576 (ABNT, 2007), viscosidade Saybolt

Furol pela norma NBR 14950 (ABNT, 2003), densidade pela norma NBR 6296 (ABNT,

2004) e ponto de fulgor pela norma NBR 11341(ABNT, 2008), durante o período de

construção do núcleo, pela empresa TechDam (2013), contratada pelo consórcio da UHE

Jirau, com acompanhamento direto dos resultados pelo autor deste trabalho.

A Tabela 4.1 apresenta a síntese destes resultados, obtidos a partir de amostras de CAP

coletadas diretamente dos tanques de armazenamento da usina da obra, confrontados aos

valores de referência do fabricante. Os resultados foram equivalentes, com exceção aos

valores obtidos para a viscosidade do produto.

Tabela 4.1 – Propriedades Básicas do CAP 85 - 100

Page 54: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

37

4.2.2 – Agregados do Concreto Asfáltico

Um segundo componente da mistura de concreto asfáltico são os agregados que compõem a

maior porcentagem da massa utilizada na mistura, variando comumente entre 90 a 95% do

CAP. Os agregados foram caracterizados com base nos resultados de sua resistência ao

desgaste por meio de ensaios de abrasão Los Angeles, prescritos pelas normas NBR NM 51

(ABNT, 2001) e ME 035 (DNER, 1998), dos ensaios de índices de forma ME 086 (DNIT,

1994), usados para estimar a segregação da mistura e dos ensaios para a determinação do

grau de adesividade (norma ME 078 do DNIT, 1994), que expressa a aderência do agregado

ao betume.

A Tabela 4.2 apresenta os resultados obtidos em termos da aferição dos índices de forma

dos agregados. O valor de referência – índice de forma igual a 0,76 – implica um agregado

de forma mais próxima ao arranjo cúbico (valor ideal igual a 1,0), o que foi compatibilizado

com a natureza do processo de britagem implantado na central de processamento (escolha e

seleção do britador).

Tabela 4.2 – Resultados do ensaio de índice de forma dos agregados

Em relação à adesividade agregado - betume, os resultados dos ensaios indicaram uma boa

adesividade entre os dois produtos, sem quaisquer deslocamentos de película betuminosa

entre eles num período de 72h, sob uma temperatura de ensaio de 40°C (conforme

procedimentos da norma ME 078 do DNIT, 1994).

Page 55: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

38

Para atender à granulometria do traço inicial, tornou-se necessária a implantação de um

novo britador separado do britador principal destinado à produção de agregados para

transições e concreto. Para este novo britador, foram definidas faixas de produção de

agregados de forma a se obter a densidade máxima da mistura conhecida como ‘curva de

Fuller’. Assim, para se estabelecer os padrões granulométricos exigidos, foram produzidos

cinco tipos de agregados, divididos em diferentes faixas, definidas pelos seguintes

intervalos de tamanhos: 0-4mm, 4-8mm, 8-11mm e 11-16mm e pó dolomítico (‘filler

dolomítico’), definidos pelas linhas tracejadas indicadas na Figura 4.1. As linhas contínuas

representam os resultados das curvas granulométricas médias, relativos a todo o período de

produção, para os cinco diferentes agregados testados.

Figura 4.1 – Produção de agregados e controle granulométrico em obra

Uma vez que todos os agregados apresentaram distribuições granulométricas compatíveis

com as faixas-padrões, eles puderam ser associados diretamente para a obtenção do traço

final do CBUQ (argamassa asfáltica). A rigor, o primeiro agregado (na faixa de 0 a 4 mm)

não atendeu exatamente estas prescrições (Figura 4.1) mas, quando em associação com os

demais faixas de agregados, inseriu-se normalmente na faixa admissível para o traço final

do CBUQ (Figura 4.2). A faixa contínua representa a distribuição granulométrica média do

produto em obra e as linhas tracejadas definem as faixas limítrofes de aceitação da

distribuição granulométrica do mesmo. Em situações particulares, em que estes limites

foram ultrapassados, eram feitos ensaios para a determinação da densidade máxima e dos

índices de vazios limites dados nas especificações de obra, sendo descartadas as bateladas

no caso de obtenção de valores não admissíveis destes parâmetros.

Page 56: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

39

Figura 4.2 – Curva granulométrica média do CBUQ em obra

4.3 – SELEÇÃO DO TRAÇO E EXECUÇÃO DE ATERRO EXPERIMENTAL

Para as atividades de campo, impõe-se a determinação do traço inicial da argamassa

asfáltica, compatibilizando as propriedades aferidas para os dois componentes do produto, o

que permitirá a adoção de melhorias em sua composição e características finais. Incluem-se

potencialmente nestas melhorias a trabalhabilidade, a compactação, a impermeabilidade e a

diminuição de custos, entre outros.

A composição inicial foi testada com 11% de material tipo fíler (passante na peneira 200)

com três diferentes teores de betume, quais sejam, 6,5%, 7% e 7,5%. Entretanto, os testes

não foram satisfatórios pois não atenderam as especificações técnicas pré-estabelecidas de

um índice de vazios mínimo de 3%.

Assim sucessivamente foram realizados novos testes com novas concentrações de fíler e

CAP. Quando foi feita a mistura de 13% de fíler, com teores de 7,2%, 7,5% e 7,8% de

CAP, foram obtidos valores de índices de vazios, respectivamente, de 1,2%%, 1,0% e

0,8%, todos atendendo ao limite inferior previsto. Assim, adotou-se para a composição do

traço inicial uma mistura de agregados, com 13% de fíler e 7,2% de CAP, pois isto

implicava também em uma significativa redução dos custos envolvidos. Utilizando o traço

base, foram realizados inúmeros ensaios para tentar viabilizar o mesmo com índices

menores de CAP, sem comprometimento da trabalhabilidade do material e sem garantia de

um recobrimento integral dos agregados pelo material betuminoso.

Page 57: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

40

Os resultados destes experimentos resultaram na obtenção de um traço melhorado, com a

composição final indicada na Tabela 4.3 (porcentagens em peso).

Tabela 4.3 – Traço final da argamassa asfáltica (% em peso)

MATERIAL REVISÃO 19CAP 6,8

BRITA 16 mm 16

BRITA 11 mm 13

BRITA 8 mm 23

AREIA 3 mm 28

FILLER DOS AGREGADOS 2

FILLER DOLOMITA 11,2

SOMA DAS % 100

Após definidas as faixas granulométricas, o teor de CAP e as demais características da

mistura asfáltica, buscou-se prever as características do processo executivo por meio de um

aterro experimental, incluindo o lançamento das transições e a construção de uma laje de

concreto para simular o plinto. O processo teve início com a limpeza da laje para aplicação

do mastique asfáltico, que foi, então recoberto com quatro camadas da argamassa, com

espessuras de 0,25m, devidamente confinadas por transições fina e grossa. O objetivo deste

aterro foi observar o comportamento da mistura (em termos de estabilidade e fluidez) para

utilização dos rolos compactadores e a uniformidade da compactação com camadas

superiores a 0,20 m, além de visualizar a aderência entre o plinto, o mastique e a mistura

CBUQ, bem como o comportamento da interface camada/camada e a temperatura de

trabalho da mistura.

Por meio de sondagens rotativas, foram obtidas amostras indeformadas do aterro

experimental (Figura 4.3). É possível visualizar claramente os contatos que caracterizam a

boa aderência entre o núcleo e o concreto do plinto, não apresentando zonas com vazios ou

fissuras e o horizonte de mastique intermediário. O conjunto mostra também uma excelente

homogeneização da mistura, uma vez que não foi possível a identificação entre as fronteiras

de início e de final das diferentes camadas que, foram, entretanto, demarcadas previamente

por meio da inserção de fios galvanizados ao longo dos contatos.

Page 58: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

41

Figura 4.3 – Amostra indeformada obtida do aterro experimental

Uma das amostras indeformadas, retiradas do aterro experimental, foi submetida a um

ensaio triaxial CD. Corpos de prova cilíndricos, com 100mm de diâmetro e 200 mm de

altura, foram preparados e carregados (com carga axial aplicada uniformemente na taxa de

1,8%/h, sob temperatura constante em 20ºC) igualmente sob uma tensão confinante de 500

kPa. Estes resultados estão apresentados, para duas das amostras ensaiadas, na Figura 4.4.

Figura 4.4 – Resultados dos ensaios triaxiais com amostras do aterro experimental

Page 59: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

42

As curvas tensão-deformação obtidas para ambos os corpos de prova indicam uma boa

concordância entre os resultados. A tensão desviadora média foi da ordem de 1,57 MPa,

correspondente a uma tensão axial de ruptura de 2,07 MPa. O módulo secante da mistura

correspondente à deformação de 1% foi de 25 MPa. Os dois corpos de prova mostram

ductilidade significativa sem nenhuma tensão-amolecimento até 20% de deformação, com

pequena variação de volume (expansão) durante o carregamento. Para uma deformação

axial de 20%, a expansão foi da ordem de apenas 0,8%.

Estes resultados foram correlacionados com outros obtidos a partir de ensaios triaxiais

similares realizados sobre uma amostra moldada no traço originalmente estabelecido. Os

resultados da amostra do aterro foram ligeiramente inferiores aos da amostra original

(tensão desviadora reduziu de 2,20 MPa para 2,07 MPa, o módulo secante a 1% reduziu de

30 MPa para 25 MPa e a expansão a 20% caiu de 1,3% para 0,8%). Com base nestas

avaliações, o traço final da argamassa asfáltica foi validado para se constituir o material de

construção do núcleo asfáltico da UHE Jirau.

4.4 – ENSAIOS DE CONTROLE DE QUALIDADE EM CAMPO

4.4.1 – Ensaios de Controle de Qualidade do CAP

Ensaios de controle de qualidade no recebimento do CAP eram realizados em relação a

todos os carregamentos de material betuminoso entregues na obra. Estes ensaios devem ser

realizados de imediato, antes que sejam estocados nos tanques de armazenamento da usina

central, para quem uma vez que não atendam os pré-requisitos formais, não contaminem os

materiais previamente estocados.

Os materiais passam por um controle para conferência das características descritas na nota

fiscal, pois uma variação nos parâmetros pode prejudicar a fabricação do CBUQ, podendo

mudar as características do material e causar problemas na sua aplicação. Após esta

certificação preliminar, eram realizados comumente ensaios de penetração (normas NBR

6576 – ABNT, 2007 e ME 155 – DNIT, 2010), viscosidade (norma NBR 14950 – ABNT,

2003) e ponto de fulgor (norma NBR 13.341 – ABNT, 1990).

Page 60: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

43

A Tabela 4.4 apresenta as médias obtidas para estes parâmetros (incluindo densidades) para

todos os ensaios de recepção de materiais betuminosos realizados na obra, correlacionados

aos valores de referência prescritos. Uma vez atendidas as características especificadas, o

betume era liberado para armazenamento nos silos, para posterior utilização na usina como

material ligante.

Tabela 4.4 – Ensaios de recebimento do CAP na obra

Nº de Amostras 165 59 156 156Média 89 134 1,004 281Desvio Padrão 2,27 11,2 0 57,71Especificação 85 a 100 Mínimo 110 - Mín. 235°C

Ensaio Penetração (0,1 mm) Viscosidade (135ºC) - sSFDensidade

(g/cm³)Ponto de fulgor

4.4.2 – Ensaios de Controle de Qualidade em Campo

Os ensaios de controle tecnológico são atividades para verificar o processo executivo, tanto

em termos dos serviços de campo propriamente ditos como em relação ao produto final

(camada lançada do núcleo). Esses ensaios são ferramentas primordiais de controle

tecnológico para detecção de qualquer erro ou falha no processo executivo e servem

também como ferramenta de liberação entre um lançamento e outro, tornando não subjetivo

a liberação de camadas, tomando-se como parâmetros básicos como trabalhabilidade do

material e temperatura de lançamento como aspectos passíveis de inspeções visuais da

mistura como efeitos de exsudação ou segregação, por exemplo.

Assim, em cada etapa do processo executivo, são feitas avaliações para adequação e

caracterização dos materiais de construção, começando pelo transporte e lançamento da

argamassa que deve chegar em campo com temperatura igual ou superior a 135°C, de forma

a garantir uma boa trabalhabilidade do material, sua característica auto-adensável, bem

como garantir uma adequada compactação e interação com a camada anterior, sem a

presença de quaisquer feições deletérias ou atípicas de lançamento. Nessa fase, pelo fato do

CBUQ estar ainda quente, ele é de fácil remoção, caso seja necessário para correção.

Page 61: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

44

Após o lançamento de uma dada camada, uma amostra deformada do material era coletada

ainda quente e levada, então, ao laboratório para a execução dos ensaios de controle de

qualidade. Os procedimentos utilizados para a moldagem dos corpos de prova seguiram as

recomendações da NBR 12891 (ABNT, 1993) para moldagem Marshall (compactação por

impacto), mas com aplicação de 30 golpes em vez dos 50 ou 75 especificados pela norma

brasileira, redução adotada no sentido de melhor reproduzir a energia efetivamente aplicada

na compactação do núcleo de barragens (que utilizam rolos de 7 a 10 kN).

Em seguida, procedia-se à determinação da massa seca e submersa, de acordo com os

procedimentos da norma NBR 8352 (ABNT, 1984) para o cálculo da massa específica

aparente de cada corpo de prova. Para o cálculo dos respectivos volumes de vazios, era

também calculada a massa específica máxima (ou massa específica real) pelo chamado

‘método Rice’ (ASTM, 2000). O método consiste na aplicação de vácuo para a

determinação da massa específica da mistura de agregados e ligante, levando-se em conta a

quantidade de ligante que é absorvida pelo agregado e a diferença entre as viscosidades da

água e do betume. Cuidado especial neste ensaio consiste exatamente na aplicação de uma

pressão de vácuo à amostra ensaiada capaz de expulsar completamente o ar remanescente

entre os agregados recobertos pelo filme de ligante.

A Tabela 4.5 apresenta os valores médios obtidos para os teores de ligante, volumes de

vazios, densidade aparente e densidade real das amostras coletadas do núcleo asfáltico da

barragem principal da UHE Jirau. O valor médio dos volumes de vazios foi da ordem de

0,96% e constatou-se uma quase equivalência entre os valores médios das densidades real e

aparente das amostras ensaiadas.

Tabela 4.5 – Valores médios dos parâmetros de controle de campo

Média 6,66 0,96 2,35 2,38Nº de Amostras deformadas. 1135 1070 1070 1070Desvio Padrão 0,3 0,26 0,01 0,01Coef Variação (%) 4,54 27,3 0,35 0,37

Teor de CAP (% ) Volume vazios %Densidade aparente (g/cm³)

Densidade real (g/cm³)

Page 62: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

45

Após o lançamento de quatro camadas de 0,20m de espessura, a atividade era paralisada até

o completo resfriamento do núcleo, quando, então, era retomado o lançamento de outras

quatro camadas. Com o resfriamento da camada, o CBUQ ganha consistência adequada

para se proceder à extração de testemunhos (amostras indeformadas), utilizando-se um

equipamento extrator rotativo (Figura 4.5a), o que era feito após a execução de 25 a 30

camadas do núcleo asfáltico. As amostras coletadas têm cerca de 30 cm de comprimento

por 10cm de diâmetro (Figura 4.5b).

(a) (b) Figura 4.5 – Equipamento rotativo para extração (a) e amostra coletada do núcleo (b).

Após extração, as amostras eram levadas ao laboratório para preparação de corpos de prova

com 5 cm de espessuras (Figura 4.6, assim designadas: amostra A (0 A 5cm a partir do

topo); amostra B (5cm a 10cm), amostra ‘C’ (de 10cm a 15cm), amostra ‘D’ (de 15cm a

20cm) e amostra ‘E’ (de 20cm a 25cm da extensão da amostra coletada, correspondente ao

trecho de 0 a 5cm do topo da camada anterior).

Figura 4.6 – Preparação dos corpos de prova a partir da amostra coletada do núcleo

Page 63: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

46

O objetivo do seccionamento dos corpos e prova é verificar a efetividade da compactação

ao longo de uma mesma camada, bem como as condições do contato entre uma camada e

outra, além de aferir os resultados dos ensaios realizados nas amostras deformadas retiradas

previamente, ratificando ou não os volumes de vazios pré-determinados. Os resultados

demonstram, mais uma vez, a eficiência e a adequabilidade da metodologia construtiva do

núcleo asfáltico, uma vez que todas as subcamadas avaliadas apresentaram volumes de

vazios inferiores a 3% (variação entre 0,89% na camada ‘E’ a 1,16% na camada ‘B’).

Tabela 4.6 – Parâmetros de controle para os testemunhos coletados do núcleo

A B C D ENº de Amostras 57 57 57 57 47Média 1,06 1,16 1,03 1,12 0,89Volume médio de vazios (%) 0,38 0,48 0,47 0,49 0,31Coef. de Variação (%) 36,3 41,87 45,15 43,48 34,28Volume médio total (%) 1,05

CP’s Indeformados

Observa-se, assim, um ganho significativo da eficiência da compactação quando se obtém o

volume de vazios da porção superior da camada de base, após o lançamento do bloco

seguinte (quatro camadas de 0,20m de espessura cada uma). Conclui-se, portanto que,

muito provavelmente, esse ganho seria estendido também para as camadas mais

subjacentes, contribuindo para o enrijecimento global da estrutura do núcleo e,

consequentemente, para uma redução da condutividade e hidráulica do maciço.

Com efeito, considerando a relação tipicamente logarítmica entre índices de vazios e

permeabilidades de núcleos asfálticos (como mostrado previamente no Capítulo 2 da

dissertação), constata-se que, para um volume de vazios de referência de 3%, a

permeabilidade do núcleo seria inferior a 10-10 m/s (ver Figura 2.6), o que caracterizaria um

maciço praticamente impermeável.

Por outro lado, é importante ressaltar que o valor médio do volume de vazios obtido para o

núcleo asfáltico da barragem principal da UHE Jirau foi de apenas 1,05%, o que resultaria

em uma permeabilidade ainda menor, consolidando as análises precedentes e a grande

característica de estanqueidade desta solução de vedação para barragens.

Page 64: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

47

Além do controle de qualidade da execução do núcleo, eram realizados também ensaios de

controle dos enrocamentos e transições, demais materiais de construção de uma barragem

de enrocamento com núcleo asfáltico (BENA). Em ambos os casos, o parâmetro principal

de controle de qualidade em campo é a densidade, uma vez que a granulometria dos

materiais já havia sido submetida a rígidos controles na central de britagem.

O ensaio básico de campo era o chamado ‘ensaio de membrana plástica’. Esse ensaio

consiste em se utilizar três tipos de gabarito que dependiam do material a ser ensaiado: um

gabarito de 4m x 4m para o enrocamento, um gabarito cilíndrico, de 1,5m de diâmetro, para

a transição grossa e enrocamentos finos e um gabarito cilíndrico, de 0,60m de diâmetro,

para as transições finas. O processo consistia em escavar uma vez e meia a altura da camada

lançada e compactada, que era de 0,80m para o enrocamento, 0,40m para o enrocamento

fino e transição grossa e de 0,20m para transição fina (a transição fina tinha esta altura de

lançamento final pois a mesma era lançada conjuntamente com o núcleo asfáltico pela

mesma acabadora, sendo, então, limitada a sua altura pela altura da camada do núcleo.

Inicialmente, a partir da instalação prévia do gabarito de madeira (Figura 4.7a), o espaço

interno era escavado e o peso do material removido era lançado em um caminhão

previamente pesado. Em seguida, a escavação era modelada por uma membrana plástica

que era conformada ao máximo às paredes e ao fundo da escavação, e preenchida

completamente com água (Figura 4.7b), sendo o volume aferido por um hidrômetro.

(a) (b)

Figura 4.7 – Ensaio de membrana plástica: gabarito de madeira (a) e enchimento (b)

Page 65: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

48

O ensaio era realizado periodicamente, em função dos volumes pré-estabelecidos do

lançamento de cada material. A densidade era obtida diretamente pela relação entre a massa

e a volume do material escavado (Tabela 4.7).

Tabela 4.7 – Valores médios das densidades dos enrocamentos e transições

Material Quantidade de ensaios Densidade Media(g/cm3)

Transição fina 108 2,143Transição grossa 23 2,135Enrocamento Fino Dmax 0.40m 9 2,122Enrocamento Dmax 0,80m 7 2,064

O controle de campo assim feito confirmou integralmente as especificações técnicas e os

parâmetros de projeto adotados para a avaliação da estabilidade estrutural da barragem. Por

outro lado, o controle de compactação era feito mediante a adoção de um número mínimo

de seis passadas do rolo liso vibratório, parâmetro este obtido com base nas avaliações do

comportamento geotécnico das primeiras camadas lançadas em campo.

Page 66: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

49

CAPÍTULO 5CCOONNCCEEPPÇÇÃÃOO GGEERRAALL,, MMEETTOODDOOLLOOGGIIAASS CCOONNSSTTRRUUTTIIVVAASSEE SSOOLLUUÇÇÕÕEESS DDEE PPRROOBBLLEEMMAASS EEMM CCAAMMPPOO

5.1 – INTRODUÇÃO

Barragens de enrocamento com núcleo asfáltico incluem, além de novas concepções de

engenharia, a interação contínua de metodologias construtivas com procedimentos de

controle tecnológico, o que implica, em muitos casos, a ocorrência de problemas e de

interferências diversas na sequência das operações de campo. Em obras desta natureza, boas

concepções de planejamento tornam-se fundamentais para a minimização destes problemas,

visando compatibilizar a participação integrada das diferentes empresas e ações envolvidas

na viabilização do empreendimento.

No caso da UHE Jirau, as obras civis ficaram a cargo da empresa Construções e Comércio

Camargo Corrêa S.A. (designada no texto a seguir pela sigla CCCC), com a construção da

barragem principal (Leito do Rio) prevista para ser realizada entre abril a novembro de

2012. Em fevereiro de 2012, a empresa norueguesa VEIDEKKE (terceira contratada),

parceira no projeto como responsável pela execução do núcleo asfáltico da barragem, deu

início aos trabalhos de mobilização e de implantação da usina de concreto asfáltico na obra,

exigência básica frente aos grandes volumes demandados.

A usina de concreto asfáltico deve incluir preferencialmente balanças automáticas e

controle impresso de quantidades e temperaturas de cada batelada, possuindo três, ou

preferencialmente quatro, silos aquecedores para armazenamento dos agregados, sendo um

destes silos destinado à mistura pronta, com capacidade de estocagem correspondente a

pelo menos 30 minutos de produção da máquina pavimentadora. A capacidade de produção

da central deve ser, no mínimo de 50 – 60 t/h, para que se tenha uma produção contínua na

construção da barragem. A Figura 5.1 apresenta uma vista geral da usina de asfalto

implantada na obra, do tipo gravimétrica, atendendo estas premissas operacionais.

Page 67: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

50

Figura 5.1 - Usina de Concreto Asfáltico da UHE Jirau (Ramalho et al., 2013)

Conforme exposto previamente, as condições de estabilidade da barragem com núcleo

asfáltico impõem a necessidade de utilização de zonas de transição a montante e a jusante

do núcleo, permitindo uma melhor redistribuição das tensões impostas pelo enrocamento.

Em termos da concepção construtiva envolvendo estes materiais, embora possam ser

adotadas técnicas distintas, a sistemática comum consiste na implantação mecânica e

conjunta de ambos (técnica construtiva chamada DACC ou Dense Asphaltic Concrete

Core), o que otimiza bastante os prazos operacionais (ICOLD, 1992).

A máquina pavimentadora (core paving machine) a ser utilizada na execução do núcleo

asfáltico deve possuir características que permitam o suporte imediato do núcleo e garantam

um comportamento integrado do conjunto núcleo - transições finas. Para isso, a máquina

possui caçambas que promovem o lançamento simultâneo dos materiais do núcleo e das

transições finas de montante e de jusante, que são alimentadas por carregadeiras

independentes e dispostas de ambos os lados do núcleo. Este equipamento é comumente

referido como sendo de terceira geração, por constituir uma evolução dos equipamentos

pioneiros, possibilitando a construção de núcleos de 0,40 m a 1,5 m de largura e ajustes de

geometria ao longo da construção.

Três critérios de referência devem ser adotados na metodologia construtiva de núcleos

asfálticos em barragens de enrocamento (ICOLD, 1992):

Page 68: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

51

(i) a implantação do concreto asfáltico e dos materiais das transições deve ser feita

de forma acurada e contínua, seguindo-se as determinações de projeto relativas a

cada camada;

(ii) os diferentes materiais utilizados devem ficar nivelados nas etapas de

lançamento e de compactação;

(iii) as taxas de disposição dos materiais do núcleo e das zonas de transição devem

ser compatíveis com a sequência construtiva da barragem como um todo.

5.2 – METODOLOGIA CONSTRUTIVA TIPO DACC

A metodologia DACC foi aplicada à construção da barragem principal da UHE Jirau,

conforme os princípios detalhados a seguir. Pela complexidade do sítio local, conformado

por um relevo assimétrico e irregular, o processo geral foi realizado por meio de diferentes

estágios ou etapas construtivas, envolvendo soluções específicas no leito do rio, nas

ombreiras ou no contexto global do barramento (Figura 5.2).

Figura 5.2 – Etapas de construção da metodologia DACC (Ramalho et al., 2013)

5.2.1 – Escavação e Regularização das Fundações

Após a conclusão da fase do desvio do rio através do vertedouro com soleiras rebaixadas e

a conclusão das ensecadeiras limítrofes à barragem principal, procedeu-se ao esgotamento

das águas acumuladas no recinto central, seguido pelos trabalhos de escavação até à cota

final de projeto e regularização final das fundações (Figura 5.3).

Page 69: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

52

Figura 5.3 – Preparação das fundações para a construção da Barragem Principal

Os trabalhos de regularização final do sítio do barramento envolveram procedimentos como

remoção de blocos rochosos, desmontes localizados, nivelamento da superfície rochosa,

infiltração de fissuras com nata de cimento e limpezas manuais da área. Na região da

ombreira direita, parte da fundação do espaldar de jusante ficou apoiado em solo residual de

granito (Figura 5.4).

Figura 5.4 – Fundação local em solo residual de granito (ombreira direita)

Após a preparação da fundação, executou-se a laje de concreto convencional, chamada

plinto, que constitui a base regularizada do núcleo asfáltico da barragem, que foi

implantada de acordo com os mesmos procedimentos que são comumente adotados na

construção destas estruturas em barragens de enrocamento com face de concreto.

Page 70: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

53

A partir do plinto, procedeu-se ao tratamento geral da fundação, por meio de três linhas de

injeções de calda de cimento sobre pressão, visando reduzir a permeabilidade e o fluxo de

água pela fundação da barragem. As linhas de furos de injeção foram executadas segundo o

eixo da linha de centro e paralelas a esta, adotando-se espaçamentos de 1,50 m entre elas

(Figura 5.5).

Figura 5.5 – Tratamento das fundações locais por cortinas de injeções

5.2.2 – Preparação da Superfície do Plinto e Lançamento de Mastique Asfáltico

Após a construção do plinto, projetado com uma largura mínima igual ao dobro da largura

do núcleo, teve início uma fase de preparação extremamente detalhada da superfície da

laje de concreto para a obtenção de condições ótimas de aderência da mesma com o

concreto asfáltico (Figura 4.6).

Figura 5.6 – Preparação da superfície da laje de concreto (plinto)

Page 71: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

54

O procedimento é iniciado com jatos de ar e água desferidos sobre a superfície do concreto

para remoção da película de argamassa aderida à mesma, de forma a deixar os agregados

expostos e isentos de poeiras e partículas soltas. Em seguida, um maçarico é utilizado para

aquecimento do concreto e para a eliminação de toda a umidade residual, tornando a

superfície rugosa e seca adequadamente preparada para receber a aplicação de uma camada

de base de mastique asfáltico.

O mastique asfáltico é constituído por 32% de areia artificial produzida por britagem, 33%

de areia natural, 20% de pó de pedra e 15% de betume. Para a sua aplicação, o CAP

(cimento asfáltico de petróleo) é aquecido na usina e colocado em um misturador portátil,

onde são acrescentados areia e fíler para a obtenção de uma consistência mais pastosa

(Figura 5.7a). A temperatura deve ser da ordem de 150ºC, para garantir a fluidez da

mistura. A aplicação é feita manualmente e de forma homogênea, com a ajuda de balde

metálico e rodo de madeira (Figura 5.7b), de forma a se obter uma camada de cerca de 2,0

mm de espessura, que é, então, deixada resfriar por 24h.

(a) (b)

Figura 5.7 – (a) Mastique asfáltico; (b) lançamento do mastique sobre a laje de concreto

5.2.3 – Construção do Núcleo de Concreto Asfáltico

Antes do início do lançamento da primeira camada de núcleo asfáltico, a camada de

mastique tem que ser novamente aquecida, para propiciar melhor integração com a primeira

camada de concreto asfáltico (CAP mais agregados). As duas primeiras camadas foram

Page 72: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

55

lançadas manualmente, em função da geometria da base e pela impossibilidade, nestas

condições iniciais, de posicionamento da máquina pavimentadora na praça de trabalho, em

função do desnível da laje de concreto conformada ao relevo da fundação. Este processo

também foi adotado nas zonas de mudança de direção da laje de concreto.

O lançamento do concreto asfáltico foi feito no espaço confinado por formas metálicas,

travadas por barras transversais (Figura 5.8a), de forma a se garantir uma largura mínima

para o núcleo (da ordem de 1,20 m nestas primeiras camadas). As formas foram

preenchidas por meio de uma carregadeira adaptada, com silo frontal e abertura de fundo

(Figura 5.8b). O lançamento da transição fina foi feito por retroescavadeira, em larguras de

1,45 m em ambos os lados da forma. Todos os trabalhos previstos (posicionamento das

formas, lançamento das transições, nivelamento, remoção das formas e compactação) foram

monitorados para execução com rapidez e sequência uniforme, de modo a garantir a

homogeneidade das características técnicas dos materiais dispostos in situ.

Neste sentido, foram utilizadas ainda bombas de sucção (chupão) para esgotamento de

possíveis acumulações de água em depressões, que poderiam limitar as condições de

uniformidade do lançamento do material, seja pela ação de resfriamento acelerado da

massa, seja pelo comprometimento do adensamento e da compactação da mistura. Todas as

etapas do processo de lançamento de cada camada, antes e após a conformação da mesma,

eram aferidas pela equipe técnica de topografia de campo.

(a) (b)

Figura 5.8 – (a) posicionamento das formas metálicas; (b) lançamento da massa asfáltica

Page 73: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

56

Superadas as limitações práticas que impõem o lançamento manual (o que significa

estabelecer uma extensão mínima de cerca de 30m de base nivelada), o concreto asfáltico

passou a ser lançado por processos mecânicos, utilizando-se uma máquina vibro-acabadora

de terceira geração. O núcleo asfáltico e as transições finas foram lançadas simultaneamente

no campo. Neste processo, a disposição dos materiais é feita pelo sistema de aratacas,

formas móveis que confinam e lançam, por silos separados, os materiais em campo. O

abastecimento dos silos de transição fina e de concreto asfáltico foi realizado

conjuntamente, utilizando-se, respectivamente, uma retroescavadeira e uma carregadeira

adaptada (Figura 5.9).

Figura 5.9 – Distribuição conjunta do concreto asfáltico e transição fina

Previamente ao lançamento do concreto asfáltico, as transições são molhadas até à condição

de umidade ótima e de forma a se evitar a utilização de água após o lançamento do material

do núcleo, uma vez que isto poderia comprometer a sua eficiência. Logo após o lançamento

da camada, a equipe de topografia conferia a locação do eixo do barramento e procedia à

marcação do alinhamento com um arame - guia, para controle do operador da

pavimentadora (Figura 5.10). O processo de compactação era iniciado imediatamente a

seguir. As camadas lançadas possuíam espessuras da ordem de 20 a 30 cm e eram

compactadas simultaneamente, de forma a se garantir a sustentação lateral para o núcleo e

uma aderência completa entre os diferentes materiais de construção. Na compactação, são

utilizados rolos compactadores, que operam na sequência da máquina pavimentadora. Os

rolos compactadores devem operar de forma coordenada para não induzir deslocamentos

laterais do núcleo.

Page 74: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

57

Figura 5.10 – Controle de alinhamento do eixo do núcleo asfáltico

Após o lançamento de uma camada, a compactação era realizada por três rolos vibratórios,

da seguinte forma: dois rolos, com capacidade de 27 kN, compactavam paralelamente as

transições; e um rolo, com capacidade de 7 kN e posicionado alguns metros mais atrás,

promovia a compactação do núcleo (Figura 5.11). Os parâmetros de compactação adotados

em campo foram estabelecidos a partir de estudos prévios executados por meio de aterros

experimentais realizados no local, para as condições reais dos equipamentos disponíveis na

própria obra.

Figura 5.11 – Compactação integrada do núcleo asfáltico e das transições finas

Em função dos efeitos distintos da compressibilidade dos dois materiais envolvidos, o

núcleo asfáltico tende a apresentar um estreitamento sistemático, do topo para a base, ao

longo de cada camada (Figura 5.12).

Page 75: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

58

(a) (b)

Figura 5.12 – Estreitamento do núcleo: (a) campo; (b) esquema (Guimarães, 2012)

O controle de temperaturas era feito durante todo o processo de lançamento, incluindo

também leituras da temperatura da mistura colocada na carregadeira e antes do lançamento,

para garantir que as especificações de projeto fossem cumpridas integralmente. Após a

conferência da temperatura, o silo era aberto sobre a máquina pavimentadora (ou sobre as

formas de confinamento, quando o lançamento era do tipo manual), sendo conferida

novamente, antes do processo de compactação (Figura 5.13).

Figura 5.13 – Controle de temperaturas no campo (antes da compactação)

Na UHE Jirau, a construção do núcleo comportou inicialmente o lançamento de 4

camadas diárias com 20cm de espessura passando, no decorrer da obra, para 5 camadas

diárias, com 23cm de espessura, com base em resultados de aterros experimentais.

Page 76: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

59

5.3 – PROBLEMAS DETECTADOS E SOLUÇÕES PROPOSTAS

5.3.1 – Desalinhamentos do Núcleo Asfáltico

Este tipo de problema somente é detectado quando da marcação do eixo correspondente ao

lançamento da próxima camada. Muitas vezes esta variação é pequena, mas pode causar

excentricidades do núcleo. Durante o lançamento da camada anterior, o operador pode ter

se desviado da marcação do fio – guia; em geral, estes desvios tendem a ser pequenos e de

ocorrência em trechos localizados. Outra causa pode ser devido a erros oriundos de uma

marcação topográfica equivocada.

A correção de campo é realizada com base em procedimentos bastante simples e rápidos.

Preliminarmente, remove-se o material de transição que confina a camada e o excesso

lateral de material do núcleo, produzido durante a compactação, até se atingir o nível

correspondente à camada inferior (Figura 5.14).

Figura 5.14 – Camada com desvio do eixo e limpeza da transição

Após os trabalhos de limpeza, o complemento da camada é refeito, mediante o lançamento

do material por carregadeira, o qual é, então, espalhado manualmente (Figura 5.15). Em

seguida, procede-se ao confinamento da camada lançada e dá-se início ao processo padrão

de compactação da camada.

Page 77: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

60

Figura 5.15 – Complementação da camada apresentando desvio do eixo

5.3.2 – Variações dos Teores de Concreto Asfáltico na Mistura

Em determinadas camadas, foram constatados excessos de concreto asfáltico (CAP) na

mistura e, inclusive em alguns pontos, até mesmo a mobilização de uma interface

caracteristicamente rugosa na superfície, indicando, assim, teores de CAP fora das

especificações técnicas de projeto. Tais observações são geralmente visuais, e corroboradas

pelos ensaios de aferição tecnológica do concreto asfáltico.

Várias podem ser as causas da variação dos teores de CAP, sendo que as principais são:

• Permanência por tempo excessivo no silo térmico, segregando o material;

• Problema na balança de pesagem do CAP;

• Contaminação por óleo de aquecimento dos reservatórios de CAP.

Depois de verificado e constatado visualmente o problema na camada, são realizados

ensaios para determinar a região onde se encontra o material com desvio. Assim, são

realizados ensaios com amostras tomadas à direita e à esquerda dos pontos com problemas,

até a completa delimitação do trecho crítico. O processo de remoção do trecho crítico tem

início com a demarcação da área, sendo o processo iniciado com a remoção das transições

laterais. Em seguida, a remoção cuidadosa do concreto asfáltico é feita mecanicamente e

com o material ainda quente, utilizando-se uma escavadeira adaptada com chapa frontal

(Figura 5.16), até se atingir totalmente o fio metálico que demarca o eixo da camada. Após

a remoção completa, é lançada nova camada manual, nas especificações de projeto.

Page 78: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

61

Figura 5.16 – Remoção de camada com teores inadequados de CAP

5.3.3 – Lançamento de Camadas com Temperaturas Fora das Especificações

A situação é constatada na prática de campo de duas formas: a primeira pela medição direta

da temperatura, com valor abaixo de 150ºC, do material encaminhado ás frentes de serviço;

a segunda, pela constatação e temperaturas inadequadas pela medição da temperatura da

camada lançada e antes da compactação. Em ambos os casos, esta detecção é rápida

mediante o uso de termômetros digitais.

As causas possíveis dos problemas residem ou na demora no lançamento e compactação do

material ou no próprio encaminhamento do material pela central de usinagem (basicamente,

neste caso, porque as temperaturas do CAP ou dos agregados estão abaixo dos valores das

especificações técnicas de projeto).

A posição adotada em campo, neste caso, assume um componente de avaliação algo

subjetivo pois, dependendo da visualização do material lançado, a camada pode ser aceita

ou não. Em quaisquer casos de dúvida, a camada deve ser prontamente removida. Na

aceitação da camada pelas equipes de fiscalização, mesmo nos casos de confronto com os

valores prescritos nas especificações, mas baseados nas aferições dos aspectos gerais de

conformidade e uniformidade da massa, era realizado, então, além do ensaio normal de

controle executivo, um ensaio complementar para ratificação do resultado anterior.

Page 79: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

62

4.3.4 – Infiltrações de Água no Núcleo Asfáltico

Em certas situações de campo, particularmente na região das cotas mais baixas da fundação

da barragem, foram observadas surgências de água na superfície da camada lançada e

compactada de núcleo asfáltico (Figura 5.17). Este problema é bastante atípico e expressa

uma situação incomum, pois o núcleo deveria ser impermeável e, nesta região, a fundação

consistia num dique de diabásio, que tinha sido objeto de um rigoroso tratamento por

injeções.

Figura 5.17 – Surgências de água na superfície do núcleo asfáltico

A orientação preliminarmente adotada foi a de prover novas camadas de superposição de

concreto asfáltico nas áreas das surgências, visando ‘abafar’ os fluxos internos, o que se

mostrou inconsistente, pois as infiltrações continuaram a avançar para as camadas

superiores. Efetuou-se, então, o lançamento de uma camada especial de mastique asfáltico

nesta zona da fundação, que foi recoberta por camadas convencionais de concreto asfáltico.

Constatada a manutenção das surgências de água mesmo nestas condições, as obras foram

prontamente paralisadas para se investigar rigorosamente as causas dos problemas e a sua

superação em campo.

A intervenção tomada, então, consistiu na remoção completa do núcleo lançado nesta

região, até o plinto, para observações da fundação e das potenciais causas das infiltrações.

Todas as surgências detectadas foram demarcadas e monitoradas, com medidas de pressões

e vazões. Estas investigações demonstraram a ocorrência de algumas infiltrações internas

pelo plinto, nas injeções profundas e ao longo da junta de dilatação.

Page 80: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

63

A junta de dilatação consistia em um furo circular de 4 polegadas de diâmetro, preenchido

com mastique asfáltico. Embora as vazões fossem mínimas e sem possibilidades práticas de

quantificação, as pressões locais eram elevadas. Ao longo da junta de dilatação, o mastique

asfáltico estava sendo localmente expulso a uma velocidade da ordem de 10 cm por dia

(Figura 5.18).

Figura 5.18 – Detalhe da pressão na junta de dilatação com a expulsão do mastique

Por caracterizar um ambiente de contatos geológicos (granitos e diques diabásicos), todo o

programa local das injeções foi aferido com rigor. Os estudos permitiram verificar, então,

que, embora o material injetado nos furos apresentasse boa consistência nos centímetros

finais, mostrava baixa consolidação em baixa profundidade, liberando um material em

forma de polpa que verificou-se, mais tarde, tratar-se de pozolana da própria injeção.

Novos ensaios de infiltração foram, então, realizados com espaçamentos de 3 m. Os

resultados destes ensaios possibilitaram detectar a presença de uma extensa zona de grande

absorção de injeções e não consolidada, entre as profundidades de 3 a 6 m (Figura 5.19).

Para profundidades maiores, e até 30 m, o tratamento tinha sido efetivo e não foram

constatados problemas de consolidação das injeções. Simulações do problema foram feitas

em ensaios em outro local, constatando-se que a pozolana presente no cimento Portland em

ambientes sob fluxo constante, tendia a apresentar a segregação do clínquer, não permitindo

a hidratação da região superior e nem garantindo a consistência total da calda.

Page 81: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

64

(a) (b)

Figura 5.19 – (a) calda sem consolidação de furo de injeção; (b) contato entre material

consolidado e não consolidado de furo de injeção

Estes fenômenos na fundação propiciaram pressões suficientes para forçar as infiltrações

até o domínio do núcleo asfáltico. Assim, nas zonas de ocorrência de fluxos contínuos sob

pressões elevadas, foram realizadas novas injeções (Figura 5.20), utilizando-se caldas de

cimento aditivadas e pressões mantidas constantes, obturando-se o furo por um período

mínimo de duas horas, para garantir efetivamente a pega e o início da hidratação do

cimento.

(a) (b)

Figura 5.20 – (a) furo inicial sem consolidação da injeção; (b) reconstrução do furo

Após este novo tratamento, não foram registradas quaisquer outras infiltrações ao longo do

plinto e na região do núcleo, condição favorável que foi ratificada por meio dos resultados

de ensaios de perda d’água executados no local (Figura 5.21).

Page 82: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

65

Figura 5.21 – Ensaio de perda d’água para aferição do novo tratamento de fundação

5.3.5 – Reconstrução do Núcleo Escavado

Após a remoção do núcleo original de concreto asfáltico na região das infiltrações e das

intervenções corretivas adotadas (Figura 5.22), tornou-se necessária a aplicação de um

tratamento específico da área para a recomposição do novo núcleo. O processo incluiu um

programa de limpeza detalhada e manual do espaço escavado, devido às condições de

acesso difícil (Figura 5.22). A limpeza das transições no contato do maciço antigo e da

fundação envolveu toda a região do núcleo antigo, com transpasse de 1,20m e largura, em

cada lateral, de no mínimo 0,60m para cada lado (Figura 5.23).

Figura 5.22 – Limpeza e preparação do núcleo escavado

Page 83: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

66

Figura 5.23 – Limpeza da transição fixada ao núcleo antigo

Uma fôrma foi colocada para garantir a largura mínima de projeto (Figura 5.24a) e a

escavação da transição foi feita de modo a permitir uma área efetiva de trabalho para o rolo

compactador. Visando proporcionar uma boa aderência do contato entre o concreto novo e

o antigo do núcleo, o material já lançado e o próprio mastique do plinto foram reaquecidos

para uma remoção complementar das impurezas e da água residual presentes no mesmo

(Figura 5.24b).

(a) (b)

Figura 5.24 – Reconstrução do núcleo: (a) fôrma colocada; (b) aplicação do mastique

Concluída esta fase da reconstrução do núcleo antigo, procedeu-se à execução completa do

núcleo remanescente de concreto asfáltico, de acordo com os procedimentos convencionais

adotados analogamente no âmbito de todo o barramento.

Page 84: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

67

CAPÍTULO 6

IINNFFLLUUÊÊNNCCIIAA DDAA TTEEMMPPEERRAATTUURRAA NNAA EEXXEECCUUÇÇÃÃOO DDOO

NNÚÚCCLLEEOO AASSFFÁÁLLTTIICCOO

6.1 – INTRODUÇÃO

A temperatura é o fator chave na trabalhabilidade do material do núcleo asfáltico,

constituindo um dos poucos parâmetros que podem ser medidos e verificados na própria

operação de campo. Sua influência é decisiva em relação às características de fluidez do

material e no processo de autoadensamento do material, evitando possíveis segregações e a

criação de vazios dentro da mistura.

Por esses motivos as temperaturas de fabricação e de lançamento são importantes tanto para

aumentar a produtividade como para garantir um núcleo com maior homogeneidade e

estabilidade estrutural, além de influenciar diretamente no custo do material betuminoso,

uma vez que, quanto maior a temperatura de trabalho, maior é o gasto com combustível

para se obter o aquecimento da mistura.

Por entender que a influência da temperatura é determinante no comportamento geotécnico

do núcleo asfáltico da barragem durante o lançamento e durante toda a vida útil do

empreendimento e por se constatar que tais estudos específicos são praticamente

inexistentes na prática da engenharia convencional, adotou-se, no canteiro de obras da

construção da barragem principal da UHE Jirau, a prerrogativa de se estudar esta influência

em caráter específico e inerente à obra em implantação.

Neste propósito, foram construídos diferentes aterros experimentais, utilizando diferentes

temperaturas de lançamento da mistura (variantes em relação à temperatura padrão de

1400C, constante das especificações técnicas do projeto), de forma a se avaliar diretamente

a influência da temperatura sobre a trabalhabilidade e o desempenho final da mistura.

Page 85: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

68

6.2 – CONSTRUÇÃO DOS ATERROS EXPERIMENTAIS

Foram construídos quatro aterros experimentais no canteiro de obras da barragem principal,

todos com dimensões de 3,0m x 0,60m x 0,60m, considerando ainda todos os demais

aspectos e especificações prescritos na metodologia construtiva do próprio núcleo asfáltico,

utilizando-se os mesmos equipamentos e a logística operacional adotada em campo.

Na construção dos aterros, utilizou-se uma carregadeira acoplada com uma caixa de

distribuição de CAP, uma escavadeira de 30t para distribuição da mistura, formas para

lançamento manual, além de um rolo compactador de 7 KN para compactação das camadas

lançadas. Três camadas, de 1,50m de extensão e 0,20m de espessura (análogas às adotadas

na construção do núcleo asfáltico) foram lançadas para compor o trecho inicial das camadas

do aterro experimental, que foram submetidas à compactação padrão de campo (quatro

passadas de rolo Modelo CC800), imediatamente após o lançamento para não se ter perdas

de temperatura no processo.

Num segundo trecho (também de 1,50m de extensão), o material foi apenas lançado sem

compactação (também em camadas de 0,20m de espessura). Em cada um dos aterros,

adotou-se uma temperatura final para o lançamento das camadas, que variaram entre 140ºC

(temperatura de referência na obra), 130ºC, 110ºC e 100ºC. A figura 6.1 apresenta as

diferenças de consistência dos materiais compactado e não compactado sob uma

temperatura de 110ºC.

Figura 6.1 – Camada compactada e não compactada do aterro (temperatura de 110 °C)

Page 86: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

69

O processo de lançamento obedeceu a seguinte sistemática de campo: atingida a

temperatura final de lançamento do material betuminoso (controlada por meio de um

termômetro digital), a carregadeira lançava o material na forma com a transição fina já

confinada e o espalhamento era feito por meio de equipamentos manuais, como enxadas e

pás.

Na porção compactada do aterro, de forma a não ocorrer perdas significativas de

temperaturas, a compactação era feita de imediato, seguindo os procedimentos padrões de

campo. Todos os aterros foram executados a partir da mesma batelada de material

betuminoso de forma a garantir a homogeneidade física a longo de todas as camadas do

aterro.

Nos itens seguintes, são apresentados e discutidos os aspectos relativos à trabalhabilidade

dos materiais lançados e a aferição do comportamento geotécnico da mistura relativas às

zonas compactada e não compactada dos aterros experimentais.

6.3 – TRABALHABILIDADE E COMPACTAÇÃO DOS MATERIAIS EM CAMPO

O primeiro aterro experimental seguiu estritamente as prescrições da execução do núcleo

asfáltico, adotando-se a temperatura padrão de 1400C, de forma a constituir a referência

para os demais lançamentos. A trabalhabilidade e a compactação do material, portanto,

foram essencialmente os mesmos observados nas práticas costumeiras de campo.

No segundo caso, adotou-se uma redução de 100C na temperatura padrão de trabalho, de

forma a se avaliar uma condição que, embora distinta, fosse sensivelmente próxima à

referência operacional. Nas fases tanto de lançamento, como de espalhamento do material,

não foram constatadas diferenças sensíveis em relação ao procedimento convencional, ou

seja, a trabalhabilidade do material mostrou-se essencialmente similar ao anterior, sem

reflexos em termos da redução limitada de temperatura da massa. O material conservou as

suas características autoadensáveis e não apresentou dificuldades operacionais pelos

equipamentos usados. A compactação, por sua vez, ratificou amplamente as mesmas

condicionantes do processo anterior.

Page 87: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

70

No terceiro aterro, buscou-se adotar uma variação bastante significativa da temperatura da

massa, impondo-se uma redução da temperatura de referência de 30ºC. Nestas condições de

maior fluidez, observou-se que o material asfáltico começou a aderir fortemente nas

paredes do compartimento de carga doo silo-carregadeira, dificultando sobremaneira a

disposição do material, o que exigiu a atuação dos operários no sentido de promover a

liberação das porções remanescentes no equipamento de lançamento.

As operações de espalhamento tornaram-se neste caso bem mais difíceis, conformando um

trabalho pesado e exaustivo, com atuação desgastante dos operários envolvidos. Certamente

esta condição de campo seria inviável, para ser realizado manualmente em áreas de grandes

extensões. Ainda assim, o material continuou a manifestar características autoadensáveis,

embora de forma lenta, mas eficiente. As atividades de compactação das camadas seguintes

mostraram-se muito difíceis e operacionalmente complicadas e a sua conclusão foi feita

com certa precariedade, em função das dificuldades inerentes à própria compactação e à

excessiva aderência da mistura final ao rolo compactador.

Um quarto e último aterro experimental foi executado sob temperaturas de 100ºC, para

simular uma condição limite de operação de campo. Neste caso, mesmo com a utilização de

substâncias desmoldantes nas paredes do silo-carregadeira, as dificuldades de lançamento e,

principalmente, de espalhamento do material foram impeditivas, pois a mistura não

apresentou trabalhabilidade suficiente para garantir um mínimo de consistência em relação

a uma intervenção estritamente manual para estas operações. Assim, tornou-se necessária a

utilização de uma escavadeira/retroescavadeira de porte médio para se fazer o espalhamento

da camada antes da compactação, sendo que o material já não apresentava as características

de autoadensamento e apresentava-se visivelmente poroso.

Na campanha experimental, constatou-se que temperaturas próximas à 120ºC constituem o

limiar que implica o surgimento de efeitos de aderência da mistura betuminosa aos

equipamentos de carga e de espalhamento, comprometendo a fluência e a trabalhabilidade

do material. Estas restrições são muito importantes em termos práticos porque implicam

atrasos e prazos adicionais para o lançamento e espalhamento da massa, com perda

substancial do material produzido e redução significativa dos ritmos de produção.

Page 88: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

71

Após execução, os aterros permaneceram intactos por um período de 10 dias, até o

completo resfriamento da mistura. Após este período, foram extraídas amostras utilizando

um equipamento rotativo (Figura 6.2a), das zonas compactada e não compactada de cada

aterro experimental. As amostras coletadas (Figura 6.2b), com cerca de 0,40m de altura

(correspondentes, portanto, às duas camadas superiores do aterro), foram encaminhadas ao

laboratório para a execução dos correspondentes ensaios de controle de qualidade das

misturas provenientes dos aterros experimentais.

(a) (b)

Figura 6.2 – Extração (a) e obtenção (b) de amostras indeformadas dos aterros

6.4 – RESULTADOS DOS ENSAIOS DE CONTROLE DOS ATERROS

Durante o lançamento do material dos aterros em campo, para cada uma das condições

mencionadas, uma amostra deformada foi coletada e encaminhada ao laboratório. Os

procedimentos utilizados para a moldagem dos respectivos corpos de prova seguiram as

recomendações da NBR 12891 (ABNT, 1993) para moldagem Marshall, com aplicação de

30 golpes em vez dos 50 ou 75 especificados pela norma brasileira, no sentido de melhor

reproduzir a energia transferida pelo rolo de 7kN. Para a estimativa dos volumes de vazios

da mistura, foi determinada a sua massa específica máxima (ou massa específica real) pelo

‘método Rice’ (ASTM, 2000). O valor máximo deste parâmetro, obtido para todas as

amostras coletadas dos quatro aterros experimentais, foi da ordem de 0,89%, ligeiramente

inferior à média obtida para o núcleo da barragem (0,96%).

Page 89: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

72

Similarmente aos ensaios de controle de qualidade relativos às misturas do núcleo asfáltico

da barragem, as amostras foram seccionadas em corpos de prova com 5 cm de espessura

(Figura 6.3), para a realização dos ensaios para a determinação dos volumes de vazios e

análises da eficiência dos processos de compactação em campo.

(a) (b)

Figura 6.3 – Corpos de prova para ensaios de controle de qualidade dos aterros

Os resultados obtidos estão apresentados na Figura 6.4, correlacionados com a linha de

referência correspondente ao volume de vazios máximo de 0,89%. Observa-se uma

tendência clara de aumento da porosidade da mistura com a redução das temperaturas de

lançamento, mais pronunciada no caso das misturas não compactadas. A inflexão da curva

das misturas compactadas entre 100°C e 110°C é simplesmente reflexo da sensível perda da

capacidade de compactação da mistura nesta última temperatura.

90

100

110

120

130

140

0 0,5 1 1,5 2 2,5 3

Tem

pera

tura

(˚C

)

Índice de Vazios (e)

Indice de Vazios x Temperatura

Densidade Máxima Provável - e=0,89

Camada Compactada

Camada não Compactada

Figura 6.4 – Resultados dos ensaios de controle - Variações da temperatura das misturas

Page 90: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

73

A principal conclusão dos resultados, porém, é que, mesmo sob baixas temperaturas,

significativamente menores que a especificada em projeto, os volumes de vazios das

misturas mantiveram-se sempre acima do limite inferior prescrito de 3%, ou seja, baixas

temperaturas (até 100ºC) não comprometem e não constituem parâmetros inibidores para o

bom desempenho do núcleo asfáltico vedante da barragem principal da UHE Jirau.

Por outro lado, o material lançado em temperaturas elevadas (até 130ºC) mantém as suas

características de autoadensamento e, com a diminuição da temperatura, sua porosidade

aumenta e sua trabalhabilidade diminui. Porém, não é imperativa a remoção de camadas

com temperaturas inferiores à especificada, pois o processo de compactação ajuda a

melhorar suas propriedades e rearranjos dos materiais, diminuindo a quantidade de vazios

do núcleo.

Outro fator que influencia sobremaneira a trabalhabilidade das misturas são os elevados

volumes de vazios que são preenchidos pelo material betuminoso, por se tratar de uma

mistura rica em teor de CAP (em torno de 6,5%). Adicionalmente, há que se considerar a

melhoria do comportamento geotécnico de uma camada lançada eventualmente com uma

temperatura inferior à de referência: o lançamento de uma nova camada da mistura, com

temperatura elevada e elevado teor de CAP, perpassa para a camada inferior, reduzindo o

volume de vazios da mesma e melhorando a sua estabilidade estrutural.

6.5 – RESULTADOS DOS ENSAIOS DE CONTROLE DO NÚCLEO ASFÁLTICO

Além da questão relativa à imposição de uma temperatura fixada em 140ºC para a mistura

asfáltica como referência de projeto, as especificações técnicas das obras da barragem

principal da UHE Jirau determinavam um limite diário de lançamento de 4 camadas de

0,20m de espessura (80cm diários na construção do núcleo) e a necessidade de um período

de repouso subsequente de 24h para a plena consolidação da mistura. Tal premissa visa

garantir a estabilidade estrutural do aterro, uma vez que, no caso de uma altura excessiva do

material betuminoso ‘plástico’, podem ocorrer problemas como o afundamento do rolo por

perda de capacidade de suporte da mistura (Figura 6.5) ou a indução de excentricidades do

núcleo, em função de deslocamentos de material e distorções do conjunto final.

Page 91: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

74

Figura 6.5 – Perda da estabilidade estrutural da mistura asfáltica

De uma maneira geral, a estabilidade estrutural da mistura depende da sua própria

composição granulométrica (afetada por fatores tais como tipo e fabricação dos agregados;

peneiramento da central de mistura; modificação do traço no decorrer da execução, etc); da

temperatura de lançamento (muito influenciada pelo tipo e pelo teor de CAP presente) e da

metodologia construtiva do núcleo asfáltico (número de camadas lançadas, velocidade de

execução; condições de confinamento das camadas, etc).

Assim, torna-se relevante estudar o comportamento tensão-deformação destas misturas

asfálticas, sob diferentes temperaturas de preparação, tanto para as condições construtivas,

como para as condições operacionais da barragem. No presente estudo, optou-se pela

segunda hipótese, ou seja, analisar a influência da temperatura sobre o comportamento

tensão-deformação da massa asfáltica efetivamente lançada e compactada no núcleo da

barragem.

Neste propósito, foram extraídas 30 amostras indeformadas da última camada lançada do

núcleo asfáltico da barragem, moldadas com 10cm de diâmetro e 12,5 cm de altura. A

Figura 6.6 apresenta a análise granulométrica, teor de CAP e outras características do

material constituinte da última camada lançada do núcleo da barragem principal da UHE

Jirau. As amostras foram, então, submetidas a imersão em água (processo de banho-maria)

aquecida em estufa, por aproximadamente 30 minutos, até ser atingida a temperatura

prevista do ensaio.

Page 92: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

75

Figura 6.6 – Resultados dos ensaios de caracterização do material da última camada do núcleo asfáltico da barragem

Foram adotadas as temperaturas de ensaio de 30ºC, 500C, 700C e 900C, inferiores à

temperatura de ebulição da água em condições normais de pressão. Para garantir a

homogeneidade da distribuição das temperaturas, as amostras foram mantidas por um prazo

adicional de 1h na estufa. Em seguida, as amostras foram submetidas a ensaios de

compressão simples em uma prensa tipo Marshall, pois as grandes deformações sofridas

pelas amostras de material betuminoso não são compatíveis com a utilização de prensas

convencionais.

Resultados típicos destes ensaios são mostrados nas Figuras 6.7 a 6.10, para amostras

ensaiadas sob temperaturas de ensaio de 30ºC, 500C, 700C e 900C, respectivamente.

Page 93: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

76

0,0

100,0

200,0

300,0

400,0

500,0

600,0

700,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,1

3,6

4,1

5,1

6,1

7,1

8,2

9,2

10,2

Ten

são

(KPa

)

Deformação (%)

Tensão x Deformação - 30�C

AM01 30�C

AM02 30�C

AM03 30�C

Figura 6.7 – Curvas tensão - deformação para amostras sob temperaturas de 30ºC

0,0

50,0

100,0

150,0

200,0

250,0

300,0

350,0

400,0

450,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,1

3,6

4,1

5,1

6,1

7,1

8,2

9,2

10,2

Ten

são

(KPa

)

Deformação (%)

Tensão x Deformação - 50��

AM01 50�C

AM02 50�C

AM03 50�C

Figura 6.8 – Curvas tensão - deformação para amostras sob temperaturas de 50ºC

0,0

50,0

100,0

150,0

200,0

250,0

300,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

3,5

4,0

5,0

6,0

7,0

8,0

9,0

10,0

Ten

são

(KPa

)

Deformação (%)

Tensão x Deformação - 70�C

AM01 70�C

AM02 70�C

AM03 70�C

Figura 6.9 – Curvas tensão - deformação para amostras sob temperaturas de 70ºC

Page 94: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

77

0,0

20,0

40,0

60,0

80,0

100,0

120,0

140,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

3,5

4,0

5,1

6,1

7,1

8,1

9,1

10,1

Ten

são

(KPa

)

Deformação (%)

Tensão x Deformação - 90�C

AM01 90�C

AM02 90�C

AM03 90�C

Figura 6.10 – Curvas tensão - deformação para amostras sob temperaturas de 90ºC

A Figura 6.11 apresenta os resultados comparativos do comportamento tensão-deformação

das amostras ensaiadas sob diferentes temperaturas, em termos das curvas médias obtidas.

Nota-se claramente a dificuldade de definição da tensão máxima de ensaio para as amostras

sob temperaturas de 90ºC (fixada arbitrariamente após cerca de 10 min de ensaio devido às

enormes dificuldades de trabalhabilidade com estas amostras).

0

100

200

300

400

500

600

700

0,0 2,5 5,0 7,5 10,0 12,5

Ten

são

(KPa

)

Deformação (%)

Tensão x Deformação (Fluência)

Temperatura 90�C

Temperatura 70�C

Temperatura 50�C

Temperatura 30�C

Figura 6.11 – Curvas tensão - deformação médias das amostras ensaiadas

Há uma perda substancial do comportamento tensão - deformação com o incremento das

temperaturas, o que se evidencia sobremaneira com a correlação entre os valores das

resistências não confinadas obtidas para os diferentes ensaios (Figura 6.12).

Page 95: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

78

0

100

200

300

400

500

600

700

1 2 3

Res

istê

ncia

à C

ompr

essã

o (K

Pa)

Amostra

Resistencia à Compressão Não Confinada (qu)

Temperatura 90�C

Temperatura 70�C

Temperatura 50�C

Temperatura 30�C

Figura 6.12 – Resultados em termos das resistências à compressão não confinada

Os resultados demonstram a grande influência dos efeitos das variações de temperatura na

estabilidade estrutural de núcleos asfálticos de barragens do tipo BENA. Assim, há que se

ter muito cuidado em relação à metodologia construtiva deste núcleo em estágios, de forma

a garantir realmente uma efetiva dissipação de temperaturas no processo de consolidação

das camadas lançadas. No caso da barragem da UHE Jirau, a limitação do lançamento em

quatro camadas diárias, de 20cm de espessura, foi adotada com base exclusivamente na

experiência da equipe de campo, associada basicamente ao comportamento do rolo

compactador.

Sob temperaturas de referência de 140ºC e considerando o efeito de confinamento imposto

pelas camadas superiores que tendem a reduzir as taxas de dissipação das temperaturas das

camadas previamente lançadas, estas influências devem ser estudadas com bastante critério

e precaução. Assim, recomenda-se expressamente uma avaliação destas influências no

escopo específico de cada projeto, para definição do limite diário de construção do núcleo,

pelos enormes impactos decorrentes sobre a produtividade dos trabalhos.

Page 96: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

79

CAPÍTULO 7CCOONNCCLLUUSSÕÕEESS EE SSUUGGEESSTTÕÕEESS DDEE OOUUTTRROOSS EESSTTUUDDOOSS

7.1 – CONCLUSÕES PRINCIPAIS

O comportamento geotécnico do núcleo asfáltico constitui a premissa básica de projeto

de barragens de enrocamento que utilizam esta tecnologia como elemento de vedação

(BENA). Neste contexto, impõe-se estabelecer procedimentos rigorosos de controle em

relação às propriedades tecnológicas do CAP (cimento asfáltico de petróleo), dos

agregados presentes na mistura asfáltica, da transição fina, dos enrocamentos e de suas

correspondentes misturas, bem como das metodologias construtivas associadas ao

lançamento e compactação destas misturas em campo. Entre outros fatores, o controle

da temperatura de disposição da mistura tem impacto direto na eficiência do processo e

na resposta do núcleo como elemento estrutural e de estanqueidade da barragem.

No âmbito da barragem principal da UHE Jirau, estes controles foram aplicados com

bastante critério, e nortearam a adoção de estudos específicos por meio de ensaios e da

implantação de aterros experimentais, particularmente em relação às temperaturas de

lançamento e compactação da mistura asfáltica. Com base numa aferição prévia das

propriedades tecnológicas dos componentes da mistura (CAP e agregados), procedeu-se

à determinação do traço inicial da argamassa asfáltica, compatibilizando aspectos tais

como trabalhabilidade, compactação, impermeabilidade e redução de custos.

Os resultados destes experimentos resultaram na obtenção de um traço com composição

final constituída por quatro diferentes tipos de agregados (brita de 16mm, brita de

11mm e brita de 8mm e areia de 3mm), fíler dolomítico e dos agregados e 6,8%

(porcentagem em peso) de CAP. Este traço foi validado posteriormente para constituir o

material de construção do núcleo asfáltico da UHE Jirau por meio da execução de um

aterro experimental, que incluiu a simulação do processo de lançamento das transições e

a construção de uma laje de concreto para simular o plinto.

Page 97: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

80

Diversos procedimentos foram adotados para avaliar a consistência das especificações

técnicas e dos parâmetros de projeto adotados para a avaliação da estabilidade estrutural

da barragem, que incluíram o controle de qualidade da execução do núcleo asfáltico,

dos enrocamentos e das transições.

Esta sistemática de controle era praticada desde as aferições prévias da adequação e

caracterização dos materiais de construção, o que incluía particularmente a garantia de

misturas asfálticas com temperaturas mínimas de 135°C para disposição no núcleo.

Após o lançamento de uma dada camada, uma amostra deformada do material era

coletada ainda quente e levada, então, ao laboratório para a execução dos ensaios para a

determinação da massa seca e submersa e da massa específica máxima (ou massa

específica real) da mistura e estimativa dos respectivos volumes de vazios. O valor

médio dos volumes de vazios foi da ordem de 0,96% e constatou-se uma quase

equivalência entre os valores médios das densidades real e aparente das amostras

ensaiadas, num universo de 1070 amostras ensaiadas.

Após a consolidação, amostras indeformadas da mistura foram retiradas, seccionadas e

ensaiadas para aferir os resultados dos ensaios realizados nas amostras deformadas, de

forma a ratificar ou não os volumes de vazios pré-determinados e para avaliação direta

das condições das interfaces entre diferentes camadas. Os resultados mostraram a

efetividade da metodologia construtiva aplicada ao núcleo asfáltico, uma vez que todas

as subcamadas avaliadas apresentaram volumes de vazios inferiores a 3% (variações

limites entre 0,89% e 1,16%).

Analogamente, parâmetros de controle baseados em parâmetros da granulometria e

densidade dos materiais foram aplicados aos enrocamentos e transições utilizadas na

construção da barragem. Por outro lado, o controle de compactação foi feito mediante a

adoção de um número mínimo de seis passadas do rolo liso vibratório, parâmetro este

obtido com base nas avaliações do comportamento geotécnico das primeiras camadas

lançadas em campo. Constatou-se ainda um ganho significativo da eficiência da

compactação na redução da porosidade da porção superior da camada de base, após o

lançamento das camadas seguintes, o que permitiu inferir a extrapolação destes efeitos

às camadas subjacentes e um efeito cumulativo de enrijecimento global da estrutura.

Page 98: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

81

Pela sua influência decisiva em relação às características de fluidez e no processo de

autoadensamento da mistura, a temperatura foi analisada no âmbito da construção do

núcleo asfáltico da barragem da UHE Jirau sob dois diferentes enfoques. No primeiro

caso, buscou-se avaliar a influência da temperatura sobre a trabalhabilidade e densidade

final da mistura por meio da construção de quatro aterros experimentais, utilizando

diferentes temperaturas de lançamento da mistura (140ºC, 130ºC, 110ºC e 100ºC),

considerando ou não a compactação das camadas lançadas.

Na campanha experimental, constatou-se que temperaturas próximas à 120ºC

constituem o limiar que implica o surgimento de efeitos de aderência da mistura

betuminosa aos equipamentos de carga e de espalhamento, comprometendo a fluência e

a trabalhabilidade do material. Entretanto, mesmo sob baixas temperaturas, o material

preservou as suas características autoadensáveis, embora de forma mais lenta que nas

condições especificadas de campo (140ºC).

O máximo valor obtido para o volume de vazios, para todas as amostras coletadas dos

quatro aterros experimentais, foi da ordem de 0,89%, ligeiramente inferior à média

obtida para o núcleo da barragem (0,96%), constatando-se uma tendência geral de

elevação da porosidade da mistura com a redução das temperaturas de lançamento, mais

pronunciada no caso das misturas não compactadas.

A principal conclusão destes resultados, porém, é que, nesta mistura mesmo sob baixas

temperaturas, menores que a especificada em projeto, os volumes de vazios das

misturas mantiveram-se sempre acima do limite inferior prescrito de 3%, ou seja, baixas

temperaturas (até 100ºC) não comprometeram e não constituíram parâmetros inibidores

para o bom desempenho do núcleo asfáltico vedante da barragem principal da UHE

Jirau.

Em abordagem distinta, 30 amostras indeformadas foram extraídas da última camada

lançada do núcleo asfáltico da barragem e aquecidas em banho-maria sob temperaturas

de 30ºC, 500C, 700C e 900C até homogeneização e estabilização das temperaturas

quando, então, foram submetidas a ensaios de compressão simples em uma prensa tipo

Marshall, compatíveis com as grandes deformações previstas.

Page 99: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

82

Os resultados demonstraram uma forte influência das variações de temperatura na

estabilidade estrutural de núcleos asfálticos de barragens do tipo BENA, uma vez que

foram verificadas perdas substanciais do comportamento tensão - deformação das

misturas com o incremento das temperaturas. Assim, há que se ter muito cuidado em

relação à metodologia construtiva deste núcleo em estágios, de forma a garantir

realmente uma efetiva dissipação de temperaturas no processo de consolidação das

camadas lançadas.

Em relação à metodologia construtiva propriamente dita do núcleo asfáltico, foram

considerados criteriosamente os principais aspectos e procedimentos de campo, com a

adoção de um rigoroso programa de controle e monitoramento da obra, em suas

diferentes fases de implantação. Ainda assim, problemas diversos impactaram o curso

normal das atividades de campo, particularmente em termos de desalinhamentos do

núcleo, variações dos teores do concreto asfáltico na mistura e lançamento de camadas

com variações de temperatura em relação à prescrita nas especificações técnicas de

projeto. Em todos estes casos, foram adotadas medidas corretivas, destacadas no texto

da dissertação, que se mostraram bastante consistentes.

Problemas mais graves foram detectados na região das cotas mais baixas da fundação da

barragem, devido a surgências de água na superfície da camada lançada e compactada

de núcleo asfáltico. A intervenção adotada consistiu na remoção completa do núcleo

lançado nesta área, até a locação do plinto, complementada por um amplo programa de

injeções profundas (inclusive aditivadas) em toda a extensão do trecho, complementada

por vistorias detalhadas e aplicação de tratamentos específicos locais para a completa

recomposição do novo núcleo nesta região.

7.2 – SUGESTÕES PARA TRABALHOS COMPLEMENTARES

Como temas de pesquisa complementares, no sentido de melhorar ou enfatizar aspectos

específicos das premissas e dos procedimentos construtivos de núcleos asfálticos como

elementos de vedação de barragens de grande porte, com base na experiência do autor

com a implantação de uma estrutura deste tipo na barragem principal da UHE Jirau, são

feitas as seguintes recomendações gerais:

Page 100: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

83

• estudo de traços da mistura asfáltica e da utilização de baixas temperaturas na

implantação de núcleos asfálticos, com ênfase nas características de

autoadensamento para misturas ricas em CAP e na eficiência da compactação

das misturas em campo;

• estudos específicos e mais detalhados sobre a influência das taxas de dissipação

das temperaturas entre as diferentes camadas do bloco induzidas e limitadas pelo

confinamento da camada superior recém-lançada;

• estudos específicos para análise das potenciais características de autocicatrização

de núcleos asfálticos;

• estudos específicos para análise dos efeitos de fadiga de núcleos asfálticos

decorrentes das variações das cargas hidráulicas montante / jusante da barragem;

• Estudo da oxidação do CAP no interior do maciço, com o passar do tempo, e sua

influencia na permeabilidade e vida útil da estrutura.

Page 101: Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA

86

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