“discÍpulos e servidores da palavra de deus na missÃo da igreja” cnbb doc. 97
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“DISCÍPULOS E SERVIDORESDA PALAVRA DE DEUS NA MISSÃO DA IGREJA”
CNBB Doc. 97
CAPÍTULO II NOSSA RESPOSTA À
PALAVRA
O que se espera, como resposta do ser humano diante da Palavra de Deus?
A abertura e adesão!
“Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir minha voz e
abrir a porta eu entrarei em sua casa e tomaremos a refeição, eu com ele e ele comigo” (Ap 3,20). A iniciativa é do Senhor que quer
revelar-se. Ele, Deus, no entanto, aguarda a abertura e a adesão do ser humano, do qual se requer a “obediência da fé”
(cf. Rm 1,5; 16,26). Isto é, “submeter-se livremente à
palavra escutada”. (CIC n. 144).
A Busca e o Encontro.
“Se Ele mesmo não tivesse já vindo ao nosso encontro” (Porta
Fidei, n.10) nós não seríamos capazes de busca-l’O. O Deus busca o ser humano através do seu Filho.
Deus se comunica para ser escutado e busca para ser encontrado. A ponte que
permite o encontro é a FÉ. Fé é uma adesão, não uma
ideia. Fé é um encontro com uma Pessoa à qual se confia
a própria vida.
“Ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo”. (Deus caritas est, n. 01).
A dimensão do encontro é sintetizada perfeitamente na revelação do “Deus que fala” e “do ser humano que responde”. O Cristo é o perfeito “Sacramento do Encontro” entre Deus e o ser humano. Na Pessoa de Jesus Cristo, Deus, para revelar ao homem seu rosto do Pai, assume o rosto do homem. Encarna-se não somente para revelar-se, mas também para “revelar o homem ao homem”. (Gaudium et Spes, n. 22).
As chamadas dos primeiros discípulos, relatados nos
Evangelhos, são exemplos significativos.
Não existe discípulo sem que o Senhor lhe tenha dirigido a
palavra e ela tenha encontrado resposta.
Também hoje, a iniciativa é do próprio Senhor que nos busca esperando a nossa
resposta. A palavra de Jesus, que é convite a estar
com Ele, tem um alcance permanente e atual e ressoa
no “hoje” da vida e da missão a Igreja.
Por isso “a relação entre Cristo, Palavra do Pai e a
Igreja não pode ser compreendido como
acontecimento simplesmente do passado,
trata se de uma relação vital, na qual cada fiel é
convidado a entrar”. (Verbum Domini, n. 51).
O serviço apostólico chamado: Animação Bíblica
da Pastoral nasce da compreensão deste
encontro do Deus que fala e do ser humano que escuta,
por intermédio de Jesus Cristo, Sacramento desse
encontro no hoje da história.
A Animação Bíblica
da Pastoral, o que é?
- antes do Concílio Vaticano II, centralidade da Eucaristia; (protestantes, centralidade da Sagrada Escritura);
- no Concílio Vaticano II, pastoral bíblica justaposta a outras pastorais;
- documento de Aparecida, animação bíblica da pastoral;
- a animação bíblica deve se compreender como a alma de qualquer serviço pastoral que busca da forma consciente e contínua de ter a Sagrada Escritura no centro da missão evangelizadora da Igreja;
- a animação bíblica é como a seiva que do tronco chega aos ramos e vivifica toda a árvore;
A Animação Bíblica da Pastoral, como ocorre?
Sugestão da mensagem final do Sínodo dos Bispos sobre a Palavra na Vida e na Missão da Igreja: Caminho de conhecimento e interpretação da Palavra – eixo da formação.Caminho de comunhão e oração com a Palavra – eixo da oração.Caminho de evangelização e proclamação da Palavra – eixo do anúncio.
Para compreender melhor os eixos da animação bíblica vamos usar o texto:
At 8,26-40
1. “Compreendes o que estás lendo?” (At 8,30)
Conhecimento e interpretação da Palavra (eixo da formação).
O contato com a Palavra e a interpretação de seu
significado não somente nos levam ao conhecimento do que o texto sagrado quer
nos revelar, mas conhecimento de nós
mesmos, de nossa existência e da realidade em
que vivemos.
É necessário criar ambientes que proporcionem uma experiência autêntica, definitiva e marcante de encontro com Aquele que dá sentido real à existência. Além disso, é preciso dar uma atenção especial ao estudo bíblico.
“A ignorância das Escrituras é ignorância de Cristo”.
(São Jerônimo).
A Sagrada Escritura precisa ser interpretada.
O fundamentalista lê a Escritura ao pé da letra. Ele
identifica a letra com a Palavra, marginalizando a
letra e aprisionando a Palavra que como ensina
São Paulo “não está acorrentada”. (2Tm 2,9).
O São Paulo ainda adverte: “a letra mata, o Espírito é que dá a Vida”. (2Cor 3,6).
O ideológico impõe ao texto, a partir de um contexto estranho
ao seu mundo, uma compreensão que ele não
possui, a não ser de um ponto de vista eminentemente
subjetivista ou corporativista. A leitura ideológica não entende
o conceito de atualização.
Atualizar não significa manipular os textos, pois “não se trata de projetar sobre os escritos bíblicos
opiniões ou ideologias novas, mas de procurar
sinceramente a luz que elas contêm para o tempo
presente”. (Pontifícia Comissão Bíblica).
Sem o silêncio não é possível a verdadeira escuta, entendida aqui, não somente como acolhida da Palavra, mas, sobretudo, enquanto comunhão com Aquele que é a Palavra. “Se Deus fala ao homem mesmo no silêncio, também o homem descobre no silêncio a possibilidade de falar com Deus e de Deus”. (Bento XVI).
2. “Que impede que eu seja batizado? (At 8,36)
Comunhão e oração com a Palavra. (eixo da oração).
A compreensão do sentido do texto em sua totalidade, sem
fundamentalismos ou ideologias, fruto do encontro com a Palavra, marcado pela escuta e pelo silêncio, gera naturalmente o desejo de oração e uma profunda
mudança de vida. “O contato orante e vivencial com a
Palavra de Deus não forma, necessariamente doutores, forma santos”. (Bento XVI).
Precisa dar adequado lugar para a Palavra de Deus nos encontros das pastorais.
Atenção especial para a Palavra na Liturgia, aqui especialmente no Dia do Senhor, o povo é convocado para ser alimentado pela mesa da Palavra e da Eucaristia.
Precisamos entender a importância do silêncio e da escuta. Quando em nossas celebrações falta o silêncio, falta também a comunhão
relacional: a Palavra representa o “dar-se”, a
escuta silenciosa representa o “acolher”.
É urgente a recuperar a “espiritualidade da escuta”. Escuta-se não simplesmente
com os ouvidos, mas, sobretudo, com o coração.
Por sua vez, o coração necessita do silêncio para
acolher somente o que merece ser conservado.
“Shemá Israel. Escuta Israel” (Dt 6,4).
No dizer de Santo Agostinho, é preciso abrir os ouvidos e
oferecer o coração, pois nada adianta abrir os ouvidos da
carne e ter fechado o coração. Na Liturgia da Palavra
precisamos dar mais atenção a audição de que a visão.
Também recuperar o verdadeiro silêncio. Desse silêncio nascem
a acolhida, o respeito, a gratuidade, o desejo de diálogo
fraterno e solidário.
A primazia da Palavra, na celebração litúrgica, encontra um momento singular na homilia. Ela tem o papel de “favorecer uma compreensão e eficácia mais ampla da Palavra de Deus na vida dos fieis”. (Verbum Domini).
O pregador deve deixar-se interpelar primeiro pala Palavra de Deus que anuncia como diz o Santo Agostinho: “seguramente fica sem fruto aquele que prega exteriormente a Palavra de Deus sem a escutar no seu íntimo”.
É importante lembrar a prática do Culto da Palavra de Deus nas comunidades
onde raramente é celebrada a Eucaristia; peregrinações,
as festas das igrejas e capelas, os retiros
espirituais, as missões populares, são grandes
oportunidades para celebrar a Palavra de Deus.
O serviço da Animação Bíblica da Pastoral, inspirada pala Exortação Apostólica “Verbum Domini”, vivamente insiste na prática da Leitura Orante da Bíblia em todos os encontros das pastorais, comunitários ou na vida individual.
3. “E prosseguiu sua viagem, cheio de alegria” (At 8,39).
Evangelização e Proclamação da Palavra (eixo do anúncio).
Depois do batismo o etíope continuou a viajem cheio de alegria. Podem-se organizar as festas, mas não a alegria.
Segundo a Escritura a alegria é o fruto do Espírito
Santo, que nos permite entrar na Palavra e fazer com que a Palavra divina entre em nós e frutifique
para a vida eterna.
Quando a Palavra de Deus entra na vida das pessoas,
iniciam-se processos de conversão pessoal,
comunitária e pastoral, que as levam a serem
testemunhas corajosas que anunciam o que o Senhor realizou em suas vidas. A
vida destas pessoas transforma-se em
mensagem.
O BOM CRISTÃOÉ O BOM CIDADÃO.
(comparar o nº 61)
O BOM CRISTÃO É O BOM CIDADÃO. Comparar nº61
A Evangelização e Proclamação da Palavra
deve ter o aspecto querigmático, isto é, com
alegria e verdadeira alegria, anunciar a Palavra tanto
para os crentes, para revitalizar a fé, como
também para os não crentes para quais o Cristo ainda é
desconhecido.
A Evangelização e Proclamação da Palavra deve também assumir o
aspecto ecuménico. Se os cristãos se dividiram pela
interpretação da Escritura, ao redor dela poderão se
reencontrar.
A Animação Bíblica tem um caráter essencialmente
missionário. Esta é a ordem que os primeiros discípulos
receberam na hora de Ascenção: “Recebereis o
poder do Espírito Santo que virá sobre vós e sereis
minhas testemunhas...”. (At 1,8).
A Animação Bíblica está estreitamente ligada a caridade, pois a maior caridade que devemos praticar é anunciar a Palavra de Deus.