disciplina de fundamentos de geotecnia · valorização de rcd em agregados quantidades crescentes...
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Faculdade de Ciências e Tecnologia Departamento de Engenharia Civil
DISCIPLINA DE FUNDAMENTOS DE GEOTECNIA
CAPITULO 7
RESÍDUOS E ATERROS DE RESÍDUOS
Prof. Carlos Nunes da Costa
2006/2007
i
ÍNDICE I - Resíduos 1 II - Aterros de Resíduos 12 Bibliografia essencial 24
ÍNDICE DE FIGURAS Figura I.1 Composição dos RSU (1995) 3 Figura I.2 Composição dos RSU (2005) 5 Figura I.3 Esquematização de um CIRVER 5 Figura I.4 Implosão das torres de Tróia 6 Figura I.5 RCD triados na demolição da fábrica Portucel Recicla em Mourão 7 Figura I.6 Equipamentos utilizados na demolição selectiva 10 Figura I.7 Demolição secundária 10 Figura I.8 Unidade móvel de britagem 11 Figura I.9 Resíduos da demolição da fábrica Portucel Recicla em Mourão 11 Figura II.1 Esquema de produção de lixiviados 13 Figura II.2 Sistemas de protecção em aterros: experiências americana e europeia 15 Figura II.3 Sistema de cobertura de um aterro de resíduos 16 Figura II.4 Aterro utilizando o princípio da diluição-dispersão 18 Figura II.5 Esquema dos sistemas compósitos simples e duplo 19 Figura II.6 Esquemas de sistemas compósitos múltiplos 20
Figura II.7 Esquema da fundação do Aterro para Resíduos Perigosos do CIRVER da ECODEAL (Chamusca) 22
Figura II.8 Esquema da fundação do Aterro para Resíduos Perigosos de Barricalla (Turim) 22
Figura II.9
Célula destinada a RSU do Aterro da Valorsul de Mato da Cruz. Sistema de impermeabilização: barreira passiva com microtela bentonítica (geotêxtil em PP de 300 g/m2, com camada de bentonite 4700g/m2) protegida por geogrelha na zona dos taludes e por barreira activa com geomembrana de PEAD 2mm sobre a tela bentonítca
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Figura II.10
Célula destinada a cinzas inertizadas do Aterro da Valorsul de Mato da Cruz. Impermeabilização de fundo na base e taludes: barreira activa dupla formada por 2 geomembranas PEAD 2mm, separadas por camada de areia com 10cm espessura, com sensores sobreposta a microtela bentonítica protegida por geogrelha na zona dos taludes
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1
I - RESÍDUOS
Definição. Enquadramento legal
Segundo o Decreto-Lei nº 152/2002 de 23 de Maio: “Quaisquer substâncias ou
objectos de que o detentor se desfaz ou tem intenção ou obrigação de se desfazer,
nos termos previstos no Decreto-Lei nº 239/97, de 9 de Setembro e em
conformidade com a Lista de Resíduos da UE.” Mais recentemente, o Decreto-Lei nº
178/2006 – aprova o regime geral de gestão de resíduos. Transpõe para a ordem
jurídica interna a Directiva 2006/12/CE do Parlamento Europeu e a Directiva
91/689/CEE do Conselho.
Classificação de resíduos
- Quanto à proveniência: urbanos (RSU), industriais, hospitalares e outros.
• Resíduos urbanos: • resíduos provenientes das habitações e outros resíduos equiparáveis
(comércio/serviços);
• Portugal 2006 - estimados em 1,2 kg/hab. = 4,32 milhões ton/ano
• em 1997 – elaboração do PERSU – Plano Estratégico de Resíduos
Sólidos Urbanos: 1 kg/hab. = 3,6 milhões ton/ano
PERSU define 5 fileiras (materiais constituintes) • materiais fermentáveis
• vidro
• papel e cartão
• plásticos
• metais
e 9 fluxos (produtos) • embalagens
• pilhas, acumuladores e baterias
• óleos usados
• veículos em fim de vida (VFV)
• resíduos construção e demolição (RCD)
• resíduos equipamento eléctrico e electrónico (EEE)
• lamas de ETAR’s
2
• pequenas quantidades de resíduos perigosos (PQRP)
• Resíduos industriais:
• resíduos provenientes das actividades industriais incluindo produção
e distribuição de electricidade, gás e água;
• estimados em Portugal em cerca de 20 milhões ton/ano;
• pouco mais de 1% é classificado de perigoso
• PESGRI – Plano Estratégico de Gestão de Resíduos Industriais
(1999)
• Resíduos hospitalares:
4 grupos (dois classificados de perigosos*)
• Grupo I: equiparados a urbanos
• Grupo II: hospitalares não perigosos
• Grupo III*: hospitalares de risco biológico; contaminados ou suspeitos
de contaminação, passíveis de incineração
• Grupo IV*: hospitalares específicos cuja incineração é obrigatória
- Quanto à perigosidade: em urbanos, perigosos, não perigosos e inertes.
• resíduos perigosos: que apresentem características de perigosidade para a
saúde ou para o ambiente, nomeadamente os assim classificados pela lista
de resíduos da UE.
• resíduos não perigosos: definem-se por oposição aos perigosos
• resíduos inertes: não sofrem transformações físicas, químicas ou biológicas
importantes; não são solúveis, inflamáveis ou biodegradáveis
Características de perigosidade
H1 Explosivos H2 Combustíveis H3 Inflamáveis H4 Irritantes H5 Nocivos H6 Tóxicos H7 Cancerígenos
H8 Corrosivos H9 Infecciosos H10 Teratogénicos (tóxicos para a reprodução) H11 Mutagénicos H12 Libertam gases tóxicos/muito tóxicos H13 Após eliminação dão origem a qq.<H1-H12> H14 Ecotóxicos
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Gestão de resíduos
Resíduos Sólidos Urbanos (RSU)
Em 1995, antes do Plano de erradicação das lixeiras para uma estimativa de
produção de 3,3 milhões t/ano, 98% da população era servida com sistemas
municipais de recolha, 46% era servida por “aterros controlados” e os restantes por 328 lixeiras/vazadouros não controlados. A composição média dos RSU era a que
se apresenta na figura I.1.
Figura I.1 – Composição dos RSU (1995)
Os impactes ambientais das lixeiras são conhecidos, designadamente:
• Impacte visual e olfactivo dos RSU depositados em condições deficientes;
• Contaminação das linhas de água e dos aquíferos pelas águas lixiviantes
resultantes da degradação dos RSU;
• Contaminação dos solos por acumulação de RSU contendo substâncias
perigosas.
Destes, muitos constituiam-se como impactes na saúde pública provocados por:
• gases provenientes da queima de resíduos em lixeiras;
• ingestão de águas e alimentos contaminados pelas águas lixiviantes
provenientes de lixeiras ou de aterros mal geridos;
4
• aumento de vectores de propagação de doenças (ratos, moscas,
mosquitos...).
Em 1997, data da aprovação do PERSU, foi estimado taxa de crescimento dos RSU
de 3% ano até 2000 (= 3,87 milhões t/ano), a qual foi superada. Os objectivos para
2000 (não alcançados) eram:
• 2,5% redução dos RSU
• 15% reciclagem
• 15% compostagem
• 26% incineração
• 41,5% aterro: >1,5 milhões t/ano
Em 2003 as lixeiras encontravam-se finalmente seladas e substituídas por aterros
sanitários operados por sistemas multimunicipais, constituidos por:.
• 39 aterros (período de vida útil: 10-15 anos)
• 6 estações de compostagem
• 2 incineradoras (Ermesinde e S. João da Talha)
O diagrama seguinte reproduz esquematicamente um tecnossistema de gestão de
RSU: operações e processos.
A figura I.2 apresenta a composição média dos RSU em 2005.
5
Figura I.2 – Composição dos RSU (2005)
O Decreto-Lei nº 178/2006 consagra a prevalência da valorização sobre a
eliminação e, na valorização: da recuperação sobre a reciclagem; da reciclagem
sobre a recuperação energética.
Os CIRVER - Centros Integrados de Recuperação, Valorização e Eliminação de
Resíduos Perigosos, criados pelo Dec-Lei nº 3/2004, têm por objectivo intervir na
maioria das tipologias dos resíduos industriais perigosos através da utilização de
processos físico-químicos e biológicos, conduzindo à sua redução, valorização e
posterior reutilização.
Figura I.3 – Esquematização de um CIRVER
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Os resíduos que não possam ser sujeitos a processos físico-químicos e biológicos
serão submetidos a operações de estabilização ou inertização antes de serem
depositados em aterro. Deste modo reduz-se significativamente a quantidade e a
perigosidade dos resíduos a depositar em aterro.
Resíduos de construção e demolição (RCD): um fluxo dentro dos RSU
O movimento de renovação urbana ditado por:
• necessidade de melhor aproveitamento do solo em zonas de elevada
densidade populacional - reorganização do centro das cidades,
• mudanças tecnológicas rápidas na construção (edifícios inteligentes)
implicando frequentes demolições,
• deterioração dos edifícios ou presença de materiais perigosos (ex: amianto) a
requerer modificações ou mesmo demolição,
determina o inevitável aumento de produção de resíduos da construção e demolição
(RCD).
Portugal não foge à regra: a demolição das 2 torres de Tróia é apenas o episódio
recente mais visível, em particular devido ao emprego da técnica de demolição por
implosão.
Figura I.4 – Implosão das torres de Tróia
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Em Portugal o panorama agravado pelas condições precárias de alguns sectores da
habitação. Nas áreas urbanas, o processo acelerado de degradação do património
edificado em vastas zonas do “casco antigo”, nas periferias e nos bairros sociais,
somado à quase inexistência de estímulos à reabilitação urbana, e a necessidade de
correcção de erros urbanísticos, como o “prédio Coutinho” em Viana ou as torres de
Ofir, está a obrigar à demolição de edifícios e infra-estruturas obsoletas ou lesivas
da qualidade ambiental.
Por sua vez, em áreas industriais degradadas, a reconversão, em paralelo com a
melhoria do desempenho ambiental de unidades industriais a conservar, obriga a
importantes intervenções no domínio da demolição e da descontaminação dos
terrenos, de que é paradigma nacional o Barreiro (em particular os terrenos da
antiga CUF).
Os RCD são, na sua grande maioria, considerados inertes, no entanto, podem
conter substâncias perigosas, é por isso importante realizar triagem eficiente nas
obras de demolição para separar os elementos que possam conter substâncias
perigosas.
Exemplos comuns de substâncias perigosas em RCD são: pilhas, acumuladores e
baterias, telhas de fibrocimento, óleos usados, material eléctrico e electrónico, etc…
Figura I.5 – RCD triados na demolição da fábrica Portucel Recicla em Mourão
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Na Lista de Resíduos da EU os RCD correspondem ao capítulo 17:
17 01 betão, tijolos, ladrilhos, telhas e materiais cerâmicos
17 01 01 betão 17 01 02 tijolos 17 01 03 ladrilhos, telhas e materiais cerâmicos 17 01 06* misturas ou fracções separadas de betão, tijolos, ladrilhos, telhas e materiais cerâmicos c/ substâncias perigosas 17 01 07 Idem, não abrangidas em 17 01 06
17 02 madeira, vidro e plástico 17 02 01 madeira 17 02 02 vidro 17 02 03 plástico 17 02 04* madeira, vidro e plástico c/ substâncias perigosas
17 03 misturas betuminosas, alcatrão e prod. de alcatrão
17 03 01* misturas betuminosas contendo alcatrão 17 03 02 misturas betuminosas não abrangidos em17 03 01*17 03 03* alcatrão e produtos de alcatrão
17 04 metais (incluindo ligas) 17 04 01 cobre, bronze e latão 17 04 02 alumínio 17 04 03 chumbo 17 04 04 zinco 17 04 05 ferro e aço 17 04 06 estanho 17 04 07 mistura de metais 17 04 09* resíduos metálicos contaminados c/substâncias perigosas 17 04 10* cabos c/ hidrocarbonetos, alcatrão e substâncias perigosas 17 04 11 cabos não abrangidos em17 04 10*
17 05 solos (incl. escavados de locais contaminados), rochas e lamas de dragagem
17 05 03* solos e rochas contendo substâncias perigosas 17 05 04 solos e rochas não abrangidos em17 05 03* 17 05 05* lamas de dragagem com substâncias perigosas 17 05 06 lamas de dragagem não abrangidos em17 05 05* 17 05 07* balastros de caminhos-de-ferro c/ substâncias perigosas 17 05 08 balastros de caminhos-de-ferro não abrangidos em17 05 07*
17 06 materiais de isolamento e construção c/amianto
17 06 01*materiais de isolamento, contendo amianto 17 06 03*outros materiais de isolamento contendo ou constituídos por substâncias perigosas 17 06 04 materiais de isolamento n/ abrang. em 17 06 01* e17 06 03* 17 06 05 materiais de construção, contendo amianto
17 08 materiais de construção à base de gesso
17 08 01* materiais de construção à base de gesso contaminados por substâncias perigosas 17 08 02 materiais de construção à base de gesso não abrangidos em17 08 01*
17 09 outros resíduos da construção e demolição
17 09 01* resíduos de construção e demolição contendo mercúrio 17 09 02* resíduos de construção e demolição contendo PCB17 09 03* outros resíduos de construção e demolição contendo substâncias perigosas 17 09 04 misturas de resíduos de construção e demolição não abrangidos em17 09 01*,17 09 02* e 17 09 03*
(*) - resíduos considerados perigosos
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Valorização de RCD em agregados
Quantidades crescentes de materiais reciclados são usadas na construção em todo
o mundo como suplemento dos agregados naturais (britas, areias e cascalhos):
• Alemanha: 50 milhões de toneladas/ano de agregados reciclados num total de 650 milhões de toneladas,
• Reino Unido: 55 milhões de toneladas/ano dum total de 200 milhões de toneladas de agregados,
• EUA: 250 a 300 milhões de toneladas/ano - corresponde a uma taxa de valorização de 20 a 30%,
• Dinamarca e Holanda: taxas de valorização atingem 90-95%.
São gerados muitos milhões de toneladas de RCD em Portugal todos os anos e
embora exista grande potencial para a reutilização e reciclagem de RCD (p. ex.
como agregados para a construção) a esmagadora maioria é deixada in situ, sem
tratamento ou levada a depósito clandestino, contribuindo para a degradação da
qualidade do ambiente.
A qualidade dos reciclados está dependente dos métodos utilizados no
desmantelamento/demolição das infraestruturas. A “demolição selectiva” consiste
em:
• separar os materiais de acordo com as suas características • acção segura e eficiente • redução ao mínimo de poeiras, ruído e vibrações • implementar in loco sistemas de recolha selectiva de resíduos (metais,
madeiras, coberturas) com vista a sua máxima valorização
A reciclagem dos materiais inertes (betão, alvenarias) através de britagem tem duplo
objectivo:
• redução do volume de resíduos a levar a aterro • produção de “agregados reciclados”
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Figura I.6 – Equipamentos utilizados na demolição selectiva
Os detritos resultantes da demolição primária têm que ser reduzidos no seu
tamanho de modo a facilitar o transporte para a reciclagem. Para o efeito usam-se
pulverizadores de betão hidráulicos e mecânicos para separar o betão das
armaduras. Por outro lado, ao ser executada no local da demolição, esta operação
reduz custos de transporte e contaminação.
Figura I.7 – Demolição secundária
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Após a triagem os materiais podem, inclusive, ser britados in situ.
Uma unidade móvel de britagem pode produzir 60-70 toneladas/hora de agregados
a partir de RC&D – tipicamente betão armado – com granulometria extensa 0/56
mm, após separação de metais.
Figura I.8 – Unidade móvel de britagem
Em Portugal estas técnicas foram utilizadas com sucesso em grandes obras de
demolição como sejam: Expo 98, Fábrica de adubos (Barreiro), Fábrica da Portucel-
Recicla (Mourão) e Estádio da Luz.
Figura I.9 –Resíduos da demolição da fábrica Portucel Recicla em Mourão
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II. ATERROS DE RESÍDUOS
Definição e enquadramento legal
Segundo a Directiva 1999/31/CE do Conselho, de 26 de Abril transposta para o
direito interno pelo Decreto-Lei nº 152/2002 de 23 de Maio, “aterros são instalações
de eliminação utilizadas para a deposição controlada de resíduos acima ou abaixo
da superfície natural onde:
• Os resíduos são lançados ordenadamente e cobertos com terra ou material similar;
• Existe controlo sistemático das águas lixiviantes e dos gases produzidos; • Há monitorização do impacte ambiental durante a operação e após o seu
encerramento.”
Classes de aterros
Os aterros classificam-se em 3 categorias:
• aterros para resíduos perigosos • aterros para resíduos não perigosos • aterros para resíduos inertes
Funções dos aterros
Os aterros devem efectuar o controlo sistemático das águas da chuva, águas
superficiais e subterrâneas e lixiviados, isto é, devem poder:
• controlar a infiltração no aterro das águas de precipitação, • evitar a infiltração de águas superficiais e/ou subterrâneas nos resíduos
depositados, • captar águas contaminadas e lixiviados, • tratar as águas contaminadas e lixiviados captados do aterro segundo as
normas exigidas para a sua descarga.
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Lixiviados
Lixiviado é o líquido contaminado por substâncias nele contidas em solução ou em
suspensão que é produzido quando a água entra em contacto com os resíduos.
O lixiviado é gerado pela percolação da água nos resíduos e pela expulsão da que
neles está contida por acção do peso próprio.
Na figura II.1 representa-se esquematicamente a produção de lixiviados num aterro
de resíduos.
Figura II.1 – Esquema de produção de lixiviados
Factores que influenciam a qualidade do lixiviado:
• Composição dos resíduos • Tempo decorrido • Temperatura ambiente • Teor em água dos resíduos • Oxigénio presente
Factores que influenciam a quantidade do lixiviado:
• Precipitação • Afluxo de águas subterrâneas • Teor em água dos resíduos • Cobertura diária de terras e sua composição
? ? ?
PERCOLAÇÃO NOS RESÍDUOS
LIXIVIADOS
PRECIPITAÇÃO EVAPOTRANSPIRAÇÃO
ESCORRÊNCIA
LIXIVIADO = ÁGUA + ?
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O volume do lixiviado produzido num aterro de resíduos pode ser calculado de forma
expedita através da expressão:
Em que:
LV – Volume do lixiviado P – Precipitação E – Evaporação S – Volume do líquido contido nos poros dos resíduos A – Volume do líquido absorvido pelos resíduos
Barreira à contaminação
A camada de solo subjacente ao aterro deve constituir uma barreira de segurança
passiva para prevenir a poluição dos solos e águas subterrâneas.
Sempre que a barreira geológica não ofereça de modo natural as condições acima
descritas, poderá ser complementada e reforçada artificialmente por outros meios
dos quais resulte uma protecção equivalente. As barreiras geológicas artificialmente
criadas não poderão ser de espessura inferior a 0,5 m.
A base e os taludes do aterro devem consistir numa camada mineral que satisfaça
as seguintes condições de permeabilidade e espessura:
• aterros para resíduos perigosos:
• K<= 1,0*10-9 m/s; espessura >= 5 m
• aterros para resíduos não perigosos:
• K<= 1,0*10-9m/s; espessura >= 1 m
• aterros para resíduos inertes:
• K<= 1,0*10-7 m/s; espessura >= 1 m
Os materiais utilizados nos sistemas de impermeabilização e drenafgem podem ser:
Impermeabilizantes
• Geomembranas – material polímero projectado para ser impermeável:
HDPE, LDPE, PVC, Neoprene
LV = P + S – E – A
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• Argilas compactadas
• Geossintéticos Clay Liners (GCL) – combinação de geossintéticos com
bentonite 4 a 5 mm de espessura e um K da ordem 10-9 cm/s
Drenantes
• Geotextil – geosintético projectado para filtrar ou drenar
Os sistemas de impermeabilização e drenagem podem ter configurações variadas.
Na figura II.2 apresentam-se esquematicamante sistemas representativos da
experiência americana e europeia
Figura II.2 – Sistemas de protecção em aterros: experiências americana e europeia
Os sistemas de cobertura devem:
• Controlar o fluxo de água dentro do aterro, diminuindo a geração de lixiviados
• Impedir o contacto directo com os resíduos
Experiência americana
Experiência europeia
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• Controlar o fluxo de gás gerado no aterro (qualidade do ar,material
inflamável)
• Controlar as águas de escorrência e o seu potencial erosivo
O coberto vegetal deve ser capaz de reduzir a erosão, reduzir a infiltração e
melhorar a evapotranspiração
Figura II.3 – Sistema de cobertura de um aterro de resíduos
Para que um aterro seja explorado correctamente é ainda necessário:
• rede de drenagem de águas pluviais: dado que o volume das águas
lixiviantes que se acumula no interior dum aterro depende em grande medida
da infiltração das águas pluviais;
• rede de drenagem de águas lixiviantes e encaminhamento para tratamento
em ETAR, devido à sua elevada carga poluente;
• rede de drenagem de biogás, para que haja uma minimização dos riscos
provocados pela emissão de gases.
• monitorização da qualidade das águas subterrâneas.
Estes são os requisitos mínimos a que os aterros devem obedecer de acordo com o
Decreto-Lei nº 152/2002 de 23 de Maio:
17
Projecto de aterros de resíduos
Na concepção dos aterros de resíduos são os seguintes os princípios orientadores:
• Princípio de “diluição-dispersão” ou “diluição-atenuação”, que está na base
dos aterros ditos de atenuação natural, correspondente a práticas do
passado.
• Principio do confinamento: que preside à concepção dos aterros actuais
• Princípio do encapsulamento: Aterros do futuro?
Princípio de “diluição-dispersão” ou “diluição-atenuação”
Fundamenta a concepção dos antigos aterros sanitários e baseia-se na noção de
atenuação dos lixiviados pela acção conjunta da zona não saturada e do aquífero.
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Figura II.4 – Aterro utilizando o princípio da diluição-dispersão
Os principais mecanismos de atenuação que concorrem para esta concepção são os
seguintes:
• Adsorção: As moléculas aderem à superfície das partículas de argila. Leva a um
decréscimo de SST.
• Captura Biológica: microorganismos procedem à absorção das substâncias.
• Troca Iónica/Catiónica: Efectiva em argilas.
• Precipitação Química: Implica mudança de fase quando a concentração total
excede o limite de solubilidade - espécies químicas dissolvidas cristalizam e
depositam-se.
• Filtração: Captura física dos constituintes do lixiviado. Eficiência depende do
gradiente hidráulico e da dimensão dos poros.
• Diluição: Reduz a concentração dos constituintes do lixiviado. Factores que
influenciam a diluição:
• diferenças de densidade lixiviado/água subterrânea • velocidade de percolação da água subterrânea • coeficientes de difusão-dispersão dos constituintes na água
subterrânea • estratigrafia do substrato • área do aterro
• Difusão: Fenómeno físico-químico importante para NR<10-3
LIXIVIADOS
RESÍDUOS
PERCOLAÇÃO
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• Dispersão: longitudinal e transversal; fenómeno mecânico.
Princípio do confinamento
Fundamenta a concepção dos aterros actuais e visa impedir a infiltração dos
lixiviados através de impermeabilização de fundo e captação dos lixiviados.
Sistemas de revestimento:
a) Simples - Uma só linha de revestimento
Elemento impermeabilizante: sintético – geomembrana e/ou natural - argilas
• Único - preferível o uso de argilas (dado o risco de ruptura da geomembrana)
• Compósito - argilas sob geomembrana com camada protectora drenante no
topo
b) Duplo/múltiplo - Mais de 1 linha de revestimento
Constituição dos sistemas compósitos de impermeabilização e drenagem:
Figura II.6 – Esquema dos sistemas compósitos simples e duplo
LIXIVIADOS
RESÍDUOS
SISTEMA DE IMPERMEABILIZAÇÃO E DRENAGEM
SISTEMA COMPÓSITO DUPLO SISTEMA COMPÓSITO SIMPLES
Argila k<10-9m/s HPDE 2mmGeotextil
DrenoCamada drenante
Terra vegetal
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Sistema duplos/múltiplos. Exemplos:
Figura II.7 – Esquemas de sistemas compósitos múltiplos
Camada drenante
HPDE 2mm
Drenos
Argila k<10-9m/s Subase compactada
Camada drenante
Drenos Subase compactada
A
B
Camada drenante
Bentonite Drenos
Argila k<10-9m/s
Camadas drenantes Drenos
C
D
HDPE
Subase compactada
Subase compactada
Camadas drenantes
HDPE Drenos
Argila k<10-9m/s
Subase compactada
Subase substituida por bentonite compactada
Camadas drenantes
Drenos
E
F
GCL
Argila k<10-9m/s
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Alguns critérios a ter em conta no projecto de sistemas múltiplos:
• Não é aconselhável a utilização de geomembrana sem estar associada a
outra barreira colocada inferiormente (argilas, bentonite, solo melhorado…)
• A camada drenante sobre o primeiro sistema deve ser suficientemente
espessa para conduzir o caudal gerado (não aconselhável
geotextil/geogrelha)
• Argilas/bentonite sob segunda camada drenante pode ter tendência a
degradar-se.
Critérios de selecção do revestimento:
• Compatibilidade entre revestimento e lixiviado (em particular no sistema
superior)
• Compatibilidade entre o revestimento e o equipamento de compactação
(com geomembrana deve haver camada protectora)
• Resistência da geomembrana: à degradação pelos ultravioletas, ao
punçoamento (HPDE de 1,5 a 2mm)
• Espessura da camada de argila regula a condutividade hidráulica do
revestimento (10-9m/s implica 90 cm de espessura, mesmo com baixo
controlo de qualidade)
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EXEMPLOS
Figura II.8 – Esquema da fundação do Aterro para Resíduos Perigosos do CIRVER da
ECODEAL (Chamusca)
Figura II.9 – Esquema da fundação do Aterro para Resíduos Perigosos de Barricalla (Turim)
23
Figura II.10 – Célula destinada a RSU do Aterro da Valorsul de Mato da Cruz. Sistema de impermeabilização: barreira passiva com microtela bentonítica (geotêxtil em PP de 300 g/m2, com camada de bentonite 4700g/m2) protegida por geogrelha na zona dos taludes e por barreira activa com geomembrana de PEAD 2mm sobre a tela bentonítca.
Figura II.11 – Célula destinada a cinzas inertizadas do Aterro da Valorsul de Mato da Cruz. Impermeabilização de fundo na base e taludes: barreira activa dupla formada por 2 geomembranas PEAD 2mm, separadas por camada de areia com 10cm espessura, com sensores sobreposta a microtela bentonítica protegida por geogrelha na zona dos taludes.
24
BIBLIOGRAFIA ESSENCIAL
MARTINHO, M. G. M. & GONÇALVES, M.G.P. (1999) – Gestão de resíduos.
Univ. Aberta, 281p.
SHARMA, H. D. & REDDY, K. R. (2004) - Geoenvironmental Engineering:
Site Remediation, Waste Containment, and Emerging Waste Management
Technologies, 992 p.
TCHOBANOGLOUS, G.; THEISEN, H. & VIGIL, S. (1993) – Integrated Solid
Waste Management. McGraw-Hill International Editions. 978p.