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1 Digitalis purpurea Ana Tereza Miranda Potiguara Vasconcelos,médica. INTRODUÇÃO Digitalis purpurea ou dedaleira deve seu nome a forma e a cores das flores. Também conhecida por, foxglove (luva de rapousa), dead man’s thimbles (dedais do morto), albeloura, digital, digitalina, erva-abiloura, erva-dedal, dedal vermelho, luva da virgem, campainhas [1-2] (figuras 1-2). É uma planta herbácea bienal ou bianual, ou seja, demora 24 meses a completar o seu ciclo biológico, crescendo no primeiro ano e florescendo e dando sementes no segundo. É da família das escrofulariacea (figura 3), é uma planta de aspecto felpudo na sua totalidade, de caule cilíndrico e oco que pode ir dos 1,70 aos 2,50 metros de altura. As suas folhas lanceoladas e basais podem alcançar os 40 centímetros de longitude, tem um odor desagradável e um sabor amargo. As suas flores campaniformes assemelham-se a dedais de cores púrpuras intensas, dispõem-se formando uma haste de flores pendentes, atingindo até os 5 centímetros de largura, estando em grupo. Durante o primeiro ano de crescimento, o seu aspeto é de um plantel em forma de roseta de folhas verdosas, basais, ovais e dentadas. Durante o segundo ano gera-se a floração, durante a qual um grande caule coroado por flores emerge de entre as folhas verdosas terrestres [2]. O Foxglove é uma flor favorita das abelhas, e é inteiramente desenvolvido pelas visitas deste inseto. Por essa razão, seus picos altos e imponentes de flores estão no seu melhor naqueles dias ensolarados, quando as abelhas estão mais presentes. O lábio inferior projetado da corola forma uma plataforma de desembarque para a abelha. Ela, indo de flor em flor até o pico, esfrega o pólen e, assim, a flor é fertilizada e as sementes são capazes de serem produzidas. A vida de cada flor, a partir do momento em que o botão abre até o tempo que escorrega da sua corola, é cerca de seis dias. A flor também é muito visitada por outros insetos menores, que podem ser vistos refugiando-se do frio e da umidade em suas flores caídas, porém nenhum animal caminha em cima da planta, possivelmente reconhecendo seu caráter venenoso. Um número incrível de sementes é produzido, uma única planta Foxglove proporciona de 1 a 2.000.000 de sementes para assegurar a sua propagação [2]. Originária do norte da Europa e parte do noroeste de África e Ásia central, pode ser também encontrada, devido à sua introdução desde o continente europeu até em países sul-americanos, como Argentina ou Chile [3] . Esta

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1

Digitalis purpurea

Ana Tereza Miranda Potiguara Vasconcelos,médica.

INTRODUÇÃO

Digitalis purpurea ou dedaleira deve seu nome a forma e a cores das flores. Também

conhecida por, foxglove (luva de rapousa), dead man’s thimbles (dedais do morto), albeloura,

digital, digitalina, erva-abiloura, erva-dedal, dedal vermelho, luva da virgem, campainhas [1-2]

(figuras 1-2). É uma planta herbácea bienal ou bianual, ou seja, demora 24 meses a completar o

seu ciclo biológico, crescendo no primeiro ano e florescendo e dando sementes no segundo.

É da família das escrofulariacea (figura 3), é uma planta de aspecto felpudo na sua totalidade,

de caule cilíndrico e oco que pode ir dos 1,70 aos 2,50 metros de altura. As suas folhas

lanceoladas e basais podem alcançar os 40 centímetros de longitude, tem um odor desagradável e

um sabor amargo. As suas flores campaniformes assemelham-se a dedais de cores púrpuras

intensas, dispõem-se formando uma haste de flores pendentes, atingindo até os 5 centímetros de

largura, estando em grupo. Durante o primeiro ano de crescimento, o seu aspeto é de um plantel

em forma de roseta de folhas verdosas, basais, ovais e dentadas. Durante o segundo ano gera-se a

floração, durante a qual um grande caule coroado por flores emerge de entre as folhas verdosas

terrestres [2]. O Foxglove é uma flor favorita das abelhas, e é inteiramente desenvolvido pelas

visitas deste inseto. Por essa razão, seus picos altos e imponentes de flores estão no seu melhor

naqueles dias ensolarados, quando as abelhas estão mais presentes. O lábio inferior projetado da

corola forma uma plataforma de desembarque para a abelha. Ela, indo de flor em flor até o pico,

esfrega o pólen e, assim, a flor é fertilizada e as sementes são capazes de serem produzidas. A

vida de cada flor, a partir do momento em que o botão abre até o tempo que escorrega da sua

corola, é cerca de seis dias. A flor também é muito visitada por outros insetos menores, que

podem ser vistos refugiando-se do frio e da umidade em suas flores caídas, porém nenhum

animal caminha em cima da planta, possivelmente reconhecendo seu caráter venenoso. Um

número incrível de sementes é produzido, uma única planta Foxglove proporciona de 1 a

2.000.000 de sementes para assegurar a sua propagação [2]. Originária do norte da Europa e

parte do noroeste de África e Ásia central, pode ser também encontrada, devido à sua introdução

desde o continente europeu até em países sul-americanos, como Argentina ou Chile [3] . Esta

2

espécie prospera em solos ácidos em uma variedade de habitat, incluindo florestas abertas,

clareiras da floresta, em charnecas, penhascos para o mar, terrenos baldios, cercas e encostas

rochosas das montanhas. É comum em locais perturbados ou em terreno queimado [4],

precisando de pouco solo [5]. É uma planta fácil de cultivar, ornamental, de valor medicinal e

muito apreciado [3].

.

Figura 01 – Digitalis purpurea.

Disponível em: < http://commons.wikimedia.org/wiki/File:245_Digitalis_purpurea_L.jpg >.

Acesso em: 07 de novembro 2014.

3

Figura 02 – Digitalis purpurea.

Disponível em: < http://www.plantillustration.com/portfolio68-Foxglove-Digitalis-

purpurea.html>.

Acesso em: 07 de novembro 2014

NOME CIENTÍFICO Digitalis purpurea

NOME POPULAR Dedaleira, digital ,digitalina, fox glove, etc

FAMÍLIA Plantaginaceae

CATEGORIA Flores anuais,medicinal

CLIMA Mediterrâneo, subtropical, temperado

ORIGEM Europa

LUMINOSIDADE Meia sombra,sol pleno

CICLO DE VIDA Bienal

Tabela 01: Características da Digitalis purpúrea.

Disponível em: <http://www.jardineiro.net/plantas/dedaleira-digitalis-purpurea.html >.

Acesso em: 08 de novembro 2014.

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Figura 03 - Digitalis purpurea.

Disponível em: < http://mundoverde.forum-livre.com/t251-plantas>

Acesso em: 08 de novembro 2014

LENDAS DA DIGITALIS PURPUREA

Durante a idade media e até ao século XVII na Europa, era considerada como um

amuleto para proteção contra maus espíritos e bruxarias e era habitual colocar alguns ramos no

lintel das portas e janelas das casas, sobretudo na noite do solstício de verão, no são João.

Existem numerosas lendas que lhe atribuem diversas propriedades mágicas. No Reino Unido é

conhecida como foxglove (luva da raposa), pois a sua lenda diz que as fadas más as punham nas

patas destes animais para que pudessem entrar nos galinheiros dos campestres sem fazer barulho.

Na Irlanda é conhecida como dead man’s thimbles (dedal do morto), pelas suas propriedades

tóxicas. Na península Ibérica a dedaleira é associada ao mundo das fadas, provavelmente porque

a curiosa forma das suas flores é conhecida como chapéu dos duendes ou das fadas. Existe a

crença de que essas criaturas habitam onde cresce a dedaleira e que dançam no meio delas nas

noites de lua cheia. Na Galiza associa-se principalmente às meigas e à noite de são João, onde

5

existe a lenda “Onde crescem as dedaleiras crê-se que é onde dançam as meigas nas noites de lua

cheia”. A tradição popular diz que trazer um saquinho de veludo vermelho cheio de pó de

dedaleira não só protegerá dos maus espíritos, como também despertará o seu atrativo sexual e o

tornará mais sedutor [6].

TOXICOLOGIA

Toda a planta é tóxica [7]. Muitos dos seus nomes comuns pertencem à sua natureza

tóxica (luva das Bruxas, dedais do homem Morto, dedos sangrentos). Ela contém vários

glicosídeos cardíacos, digoxina e digitoxina, conhecidos coletivamente como digitálicos [8]. Os

glicosídeos cardíacos são produtos químicos que ocorrem naturalmente em certas plantas e pode

ser fatal se ingerido em grandes quantidades. Eles têm sido utilizados desde 1500 AC., quando

guerreiros adicionavam os extratos da planta que contêm glicosídeos cardíacos nas suas flechas

para alvos de veneno [9]. Os sintomas da intoxicação pela ingestão ou contato com a digitalis

purpúrea é semelhante à intoxicação pelos digitálicos [14]. Para sublinhar o poder mortal que os

digitálicos podem exercer, entre 1993 e 1995, quatro homens previamente saudáveis, incluindo

um de vinte e três e outro de vinte e seis anos de idade, morreram depois de tomar um

afrodisíaco que deixou quantidades anormalmente elevadas de digoxina [8].

MOLÉCULA DA DIGOXINA E DIGITOXINA

A digitoxina difere da digoxina apenas pela ausência de um grupo hidroxila na posição

C12, o que resulta num composto menos hidrofílico. A digitoxina possui uma meia-vida

maior do que a digoxina [10].

Figura 04 – Digoxina e digitoxina [10].

6

INTOXICAÇÃO DIGITÁLICA

Podemos agrupar os sintomas e sinais de intoxicação digitálica em quatro áreas:

digestiva, neurológica, visual e cardíaca [13].

Digestiva: dor, queimação, sialorréia, náuseas, vômitos, anorexia, cólicas

abdominais e diarréia.

Neurológica: cefaleias, desorientação, delírio, coma, tremores, convulsões,

entorpecimento dos braços.

Visual: alteração da percepção das cores, halo verde-amarelado à volta das

imagens e das luzes, fotofobia, visão esfumada, visão de corpos escuros, diplopia e

midríase.

Cardíaca: arritmias, bradicardia, hipotensão [14].

É clássico dizer-se que todo o tipo de arritmias pode ocorrer na intoxicação digitálica. Na

intoxicação digitálica aguda os sintomas e os sinais electrocardiográficos podem ser bastante

exuberantes, mas na intoxicação crônica podem ocorrer de forma insidiosa e mais atenuada. [13]

USO NA MEDICINA

O Foxglove foi utilizado pelos antigos herbalistas para várias finalidades na medicina, a

maioria deles totalmente sem referência a essas propriedades valiosas que a tornam útil como um

remédio nas mãos de médicos modernos. As primeiras descrições conhecidas foram nos meados

do século XVI por Fuchs e Tragus em seus herbários. De acordo com um velho manuscrito, os

médicos galeses do século XIII parecem ter feito uso frequente da digitalis na preparação de

medicamentos externos. Ela foi introduzida na farmacopeia de Londres em 1650, apesar de não

entrar em uso frequente até um século mais tarde, com o médico Dr. William Withering, em seu

Acount do Foxglove, 1785. Gerard recomendava para aqueles "que caíram de lugares altos", e

Parkinson falava muito da erva para machucado ou de seu suco expresso para inchaços , quando

aplicados externamente sob a forma de uma pomada, e as folhas machucadas para a limpeza de

feridas antigas e úlceras. Dodoens (1554) prescrevia cozido em vinho como um expectorante, e

parece ter sido seu uso frequente nos casos em que os praticantes dos dias de hoje consideraria

altamente perigoso [2].

7

Para problemas cardíacos a Digitalis purpurea tem sido usada desde sua descoberta,

creditada ao médico William Withering em 1775. Um de seus pacientes chegou com um

problema muito grave de coração e já que Withering não tinha nenhum tratamento efetivo para

aplicar, pensou que ele morreria. O paciente foi até uma cigana, tomou uma preparação contendo

diversas ervas e rapidamente recuperou-se. Quando Withering ficou sabendo do fato, ficou muito

empolgado e procurou pela cigana. Depois de muita conversa, conseguiu que a cigana contasse o

segredo de sua formulação. Após muitos esforços, Withering chegou ao ingrediente ativo da

formulação,que era a dedaleira Digitalis purpurea.

Withering tentou diferentes formulações com extrato da digitalis em 163 pacientes e descobriu

que se usasse as folhas secas e moídas, conseguiria resultados mais satisfatórios. Ele introduziu o

uso oficial da planta em 1785, após a publicação da obra "An Account of the Foxglove and some

of its Medical Uses", que continha relatos sobre os ensaios clínicos e notas sobre os efeitos e a

toxidez da digitalis. Devido ao fato de as dedaleiras apresentarem variação na dose terapêutica de

acordo com a região de coleta e estação do ano, era muito fácil ultrapassar a dosagem segura.

Logo, Withering recomendava sua diluição e administração em pequenas doses por repetidas

vezes até que o efeito terapêutico se tornasse evidente. Esse procedimento era muito eficiente se

administrado por pessoas experientes, mas também era muito demorado [10]. Naquela época,

Withering observou que os digitálicos não atuariam diretamente no coração, mas, em

consequência do seu efeito diurético, o órgão-alvo deveria ser o rim. A atuação dos digitálicos

sobre o coração foi sugeria em 1799, por John Ferrier, sendo comprovada apenas em 1910, por

Wenckebach [11].

Na medicina os digitálicos constituem um grupo de fármacos usados no tratamento de doenças

do coração, arritmias e insuficiência cardiacas [12]. A dose terapeutica é muito proxima da dose

tóxica [8]. Os digitálicos inibem a bomba de sódio (ou Na+/K+ ATPase), que existe nas

membranas das células, nomeadamente nos miócitos cardíacos. Apesar dessa proteína existir em

todas as células, nas concentrações usadas terapêuticamente, só as células musculares e

os neurónios são afectados significativamente. A maior quantidade de ion sódio intracelular e

menor concentração de ion potássio, alteram a excitabilidade de neurónios no cérebro e dos

miócitos do coração. Os efeitos são prolongamento ligeiro do potencial de ação e plateau,

redução do ritmo cardíaco, devido à activação dos nucleos do sistema parassimpático do nervo

vago no cérebro e força de contracção ventricular aumentada. Os digitálicos também alteram a

8

excitabilidade de vários núcleos neuronais e do sistema nervoso intestinal, a que se deve os seus

efeitos secundários: naúseas, vômitos, diarréia, confusão mental, alterações visuais e

alucinações. Doses elevadas de digitálicos causam também arritmias por fibrilação ventricular.

Os digitálicos mais conhecidos são a digoxina, a digitoxina, a ouabaína e a metildigoxina [12].

Digitalis é um excelente antídoto para o envenenamento com o acônito, dada como uma

injeção hipodérmica. [2]

O CULTIVO DA DIGITALIS PURPUREA

A fim de proporcionar uma droga de atividade uniforme de um verdadeiro tipo de

Digitalis purpurea, é necessário ter as verdadeiras sementes medicinais para abastecer o mercado

de drogas. As culturas devem ser obtidas a partir de sementes selvagens cuidadosamente

selecionadas e todas suas variações, inutilizadas. A planta irá prosperar melhor em solo solto e

bem drenado, preferencialmente de origem siliciosa, e com uma leve sombra. Atualmente só as

folhas são usadas para a extração da droga, embora anteriormente as sementes também fossem

utilizadas [2].

A PLANTA E OS SINTOMAS HOMEOPÁTICOS SOB UMA NOVA RELEITURA

O paciente apresentará os mesmos sinais e sintomas cardíacos, neurológicos, digestivos e

visuais, como se tivesse sob o efeito da toxina da planta.

São eles:

Cardíacos ICC, com taquicardia, bradicardia, hipotensão, desmaios, fadiga e choque

cardiogênico [14].

Neurológico

Cefaléias, desorientação, delírio, coma, tremores, convulsões, entorpecimento dos

braços [14].

Digestivo

Dor, queimação, sialorréia, náuseas, vômitos, anorexia, cólicas abdominais,

diarréia [14].

Visão

Alteração da percepção das cores, halo verde-amarelado em volta das imagens e

das luzes, fotofobia, visão esfumaçada, visão de corpos escuros, diplopia e

midríase [14].

9

Outros sintomas apresentados pelo paciente são semelhantes ao gestual da planta, ou seja,

como ela se apresenta em relação ao meio em que vive.

Alguns exemplos:

PACIENTE PLANTA

Cefaléia, com sensação de peso

[15].

Suas flores formam cachos na parte superior da planta, que é

de cor púrpura, assemelhando-se a uma cabeça congesta,

pendente com o peso, o que lembra uma pessoa com

cefaleia e com uma postura encurvada.

Cabeça pende para trás [15].

O cacho de flores da Digitalis purpurea se localiza na parte

superior da planta e pendendo para um dos lados. O paciente

digitalis também tem uma cabeça que pende para trás como

se a musculatura fosse incapaz de segurar a cabeça,

assemelhando-se ao caule da planta. Esse tem característica

delgada e longa, sendo incapaz de segurar o peso do cacho

de flores.

Assobio nos ouvido [15].

As flores da digitalis tem um formato que lembra o canal

auditivo e também uma campânula. O paciente digitalis tem

assobio nos ouvidos.

Fraqueza no braço. Fraqueza geral

, como se todas as partes do corpo

estivessem exaustas [15].

O caule da planta tem uma estrutura delgada, frágil,

comprida, podendo chegar a 2,5 metros e é oco por dentro.

Tendo que sustentar o peso dos cachos de flores, se encurva.

É como se a planta se fatigasse fácil pela estrutura delgada

do caule. Essa fraqueza também é justificada pela toxina da

planta.

Sintomas cardíacos [15].

Toda a planta lembra o aparelho circulatório: suas folhas são

bastante vascularizadas e a estrutura interior das flores visto

em um corte longitudinal assemelha-se às câmeras

cardíacas. Tais fatores e a própria ação da toxina

10

demonstram o porquê de tantos sintomas cardíacos nos

pacientes digitálicos.

Desperta como se caísse de uma

altura. À noite desperta

frequentemente num susto, como

se ele caisse de uma altura dentro

d’agua [15].

Os cachos de flores localizam-se na parte superior da planta,

as flores são voltadas para baixo, o caule fino é bastante

alto. A impressão que se tem é que as flores estão olhando o

tempo todo para baixo como se estivessem com medo e

fossem cair a qualquer momento daquela altura. Além da

própria altura da planta, ela também cresce em encostas de

penhascos próximos a rios, lagos e mares, justificando o

medo de cair de uma altura dentro d’água.

Escoriações, boca, esôfago,

estômago [15].

As flores da digitális têm um formato que lembra o tubo

digestivo e são marcadas por manchas escuras e brancas

como se fossem úlceras ou aftas. O paciente apresenta

escoriações na boca, esôfago e estômago. O contato da

toxina com a mucosa também leva a escoriações.

Corpos escuros pairam diante de

seus olhos como moscas.

Sensação de poeira nos olhos

[15].

As sementes da digitális são muito pequenas e estouram e se

dissipam como poeira. O paciente homeopático tem

sensação de poeira nos olhos. As manchas escuras nas flores

também lembram objetos escuros, ou moscas.

Ansiedade como se tivesse feito

algo ruim [15].

A digitális é uma planta que atrai pela beleza. As abelhas

adoram-na apesar de ser uma planta tóxica, repelindo outros

animais pelo seu odor desagradável. É daí que se origina o

sentimento de culpa no paciente, que acredita ter feito algo

ruim. Seria como uma dor na consciência, eu atraio, porém

cuidado comigo, ”eu curo, mas mato”.

Medo da morte [15].

As flores da digitális perecem rapidamente quando retiradas

da planta. A presença da toxina também justifica esse

sintoma.

Humor rabugento, repulsivo e

melancólico [15].

Todo o gestual da planta é de quem prefere estar isolado. As

folhas lanceoladas, a toxina presente na planta e o odor

desagradável demonstram essa vontade de isolamento. Seu

11

caule oco demonstra a incapacidade de oferecer afeto, pois é

vazio por dentro. Apesar disso, a planta é bela e tem pêlos

em toda sua extensão para aumentar a área de contato com o

meio (procurando afeto), mas por ser incapaz de oferecer

algo, gera-se um descompasso, resultando em um humor

repulsivo e melancólico. A cor de suas flores é púrpura

evocando, também, a melancolia.

POLARIDADES DA DIGITALIS PURPUREA

A polaridade dos sintomas lembra-nos que não devemos fixar apenas nos sintomas mais

característicos da matéria médica. Portanto o paciente digitalis também poderá apresentar-se em

polaridade menos frequente e característica da planta.

MATÉRIA MÉDICA PURA

DE HAHNEMANN

POLARIDADES

PARÁGRAFO PÁGINA

45 548 Pupilas contraídas Pupilas dilatadas

95 550 Coleção de saliva com gosto

doce

Coleção de saliva com gosto

salgado

190 553 Diarréia Constipação

215 554 Diurese Retenção de urina

360 560 Sono profundo Sono leve

385-390 561 Pulso lento Pulso rápido

405 561 Sensação de frio Sensação de calor

415 562 Desejo de trabalhar indisposto

Tabela 01: POLARIDADES [15].

12

INTERCONEXÕES ENTRE OS SINTOMAS HOMEOPÁTICOS E A SUBSTÂNCIA

SINTOMA HOMEOPÁTICO A DIGITALIS PURPÚREA

O paciente apresenta desmaios, com

bradicardia, suores frios e aspecto de morto

[17].

A toxina da digitális tem uma ação

cardiovascular importante, causa bradicardia

com diminuição da oxigenação do sistema

nervoso central e periférico, provocando

desmaios, sudorese e aspecto de morto.

O paciente tem medo de morrer e sufocar-se a

noite [16-17].

A toxina tem ação rápida e provoca sintomas

pulmonares pela congestão,como tosse e

sufocação.

O paciente tem um humor rabugento, repulsivo

e melancólico [17].

A toxina repele os animais. Além disso, a

planta tem um caule oco. Aquele que é vazio

por dentro não tem nada a oferecer, ou seja,

existe uma dificuldade de oferecer afeto.

Ansiedade com sentimento de culpa [17].

A toxina da planta é capaz de matar ou curar,

daí o sentimento de culpa.

TEMA: DESCOMPASSO - SOLIDÃO

O descompasso e a solidão resumem a essência desse medicamento homeopático. Essas

características são observadas desde o gestual da planta, até os seus sintomas físicos e mentais no

paciente digitálico.

Fazendo uma análise do ponto de vista mais profundo e emocional, observamos o

descompasso dessa planta nos seguintes aspectos. No seu crescimento, em um ano ela cresce e

apenas no segundo floresce. No aspecto físico, é felpuda em sua totalidade e os pêlos

demonstram a necessidade de um maior contato com o meio em que vive, ou seja, a planta busca

13

”afeto”. Além disso, seu caule é oco por dentro, demonstrando que ela não tem nada a oferecer.

Ela tem uma beleza que chama atenção e atrai as abelhas, mas, ao mesmo tempo, tem uma

postura agressiva. Tal postura é observada no formato denteado e lanceolado das suas folhas, no

odor desagradável e na presença da toxina, deixando claro que ela prefere ficar sozinha,

reflexiva, melancólica, triste e com sentimento de culpa por querer algo que não pode oferecer. A

própria cor purpúrea das suas flores e o aspecto das mesmas, que são voltadas para baixo,

também evoca reflexão, melancolia e tristeza.

No paciente, tal descompasso também é observado. Ele busca afeto, porém é incapaz de

oferecê-lo, prefere viver na solidão e na melancolia, com o seu humor rabugento e repulsivo.

Outro descompasso é a bradicardia e a taquicardia que os pacientes digitálicos podem apresentar,

lembrando a ação da toxina no organismo.

O seu tema é bem traduzido pela música do cantor pernambucano Alceu Valença,na

música solidão [18].

14

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] Digitalis Purpurea. Disponível em:< http://www.jardineiro.net/plantas/dedaleira-digitalis-

purpurea.html >. Acesso em: 08 de novembro 2014.

[2] Digitalis Purpurea. Disponível

em:<http://www.botanical.com/botanical/mgmh/f/foxglo30.html >. Acesso em: 08 de novembro

2014.

[3] Digitalis Purpurea. Disponível em:< http://mundoverde.forum-livre.com/t251-plantas>

Acesso em: 07 de novembro 2014.

[4] Digitalis Purpurea. Disponível em: < http://www.arkive.org/foxglove/digitalis-purpurea >

Acesso em: 09 de novembro 2014.

[5] Digitalis Purpurea. Disponível em:

<http://www.botanical.com/botanical/mgmh/f/foxglo30.html > Acesso em: 09 de novembro

2014.

[6] Digitalis Purpurea. Disponível em: <http://mundoverde.forum-livre.com/t251-plantas>

Acesso em: 07 de novembro 2014.

[7] Digitalis Purpurea. GLICOSÍDEOS CARDÍACOS. Disponível em:

<http://www.ansci.cornell.edu/plants/digitalis.html> Acesso em: 08 de novembro 2014.

[8] Digitalis Purpurea. DESCOBERTA DO DIGITALIS POR WILLIAN. Disponível em:<

http://www.motherearthliving.com/plant-profile/origins-of-medicine-

foxglove.aspx#axzz3IVdo8zOP > Acesso em: 08 de novembro 2014.

[9] Digitalis Purpurea. Disponível em: <http://pt.winesino.com/conditions-treatments/heart-

attack/1009039063.html#.VF5AkfnF-T8> Acesso em: 08 de fevereiro de 2015.

[10] Digitalis Purpurea Disponível em:

15

< http://qnint.sbq.org.br/qni/popup_visualizarMolecula.php?id=Ni89OPVCNKm6uMgSbbD-

_6LVhqD0uzVdr0mVRNwJhz4HquMlMp0UL9dTUaMXBhVk9jYGd0Egjxk5uvPRyFF7LA==

> Acesso em: 07 de novembro 2014.

[11] Digitalis Purpurea. Disponível em:

<http://www.infoescola.com/farmacologia/digitalicos/> Acesso em: 09 de novembro 2014.

[12] Digitalis Purpurea. Disponível em

<https://pt.wikipedia.org/wiki/Cardioglicos%C3%ADdeo> Acesso em: 09 de novembro 2014.

[13] Digitalis Purpurea.TOXICIDADE DA DIGOXINA.

Disponível em:<http://www.spc.pt/DL/RFR/artigos/466.pdf>Acesso em: 08 de fevereiro de

2015.

[14] Digitalis Purpurea. INTOXICAÇAO PELA DIGITALIS.Disponível em

:<http://plantastoxicas-venenosas.blogspot.com.br/2009/06/dedaleira-digitalis-purpurea-l-

plantas.html#.VNgIMfnF-T8> Acesso em: 08 de fevereiro de 2015.

[15] HAHNEMANN S. MATÉRIA MÉDICA, vol. I,p.545-562.

[16] GILBERT CHARRETE,MATÉRIA MÉDICA HOMEOPÁTICA EXPLICADA,PDF,p.42-43.

[17] VIJNOVSKY B. TRATATO DE MATÉRIA HOMEOPÁTICA. PDF,p.242-244.

[18] Música Solidão. Disponível em :< http://www.vagalume.com.br/alceu-

valenca/solidao.html> Acesso em: 08 de fevereiro de 2015.