diga sim para mudar

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Luís Palau Editora \BETÂNIA Digitalizado : KARMITTA

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Page 1: Diga sim para mudar

Luís Palau

Editora \BETÂNIA

Digitalizado : KARMITTA

Page 2: Diga sim para mudar

Lançamento Exclusivo :

WWW.semeador.forumeiros.com

Page 3: Diga sim para mudar

índice

Agradecimentos .............................................................. 9

Introdução .................................................................... 11

Parte I

1. Todo Mundo Está Feliz? ........................................... 19

2. Por que Quase Desisti de Tudo ................................. 31

Parte 2

3. Um Enorme Potencial .............................................. 49

4. Por que Estamos Falhando? ...................................... 65 5. A Vida Purificada ....................................................... 87 6. Uma Vida Consagrada ............................................ 107 7. A Vida Centralizada em Cristo ................................. 121 8. Paixão Pelos Perdidos .............................................. 141 9. O Desafio que Temos Diante de Nós ....................... 157 Bibliografia Recomendada ........................................... 169

O Autor ...................................................................... 171

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Agradecimentos

Quero agradecer a Ray Stedman, George Kehoe, Ian Thomas, Fred Renich, Albert Wollen, John Hunter, Ed Murphy, Eugenia Price e a todos quantos Deus usou para me ensinar e fixar em meu coração os princípios de um radical renovamento interior.

Desejo manifestar minha profunda gratidão a minha esposa, Patricia, que com amor e sinceridade tem-me incentivado a bus-car uma comunhão cada vez mais profunda com Deus.

Agradeço também a David Sanford, que fez a editoração deste livro. Tenho sentido grande gozo ao ensinar os princípios de uma renovação radical, mas David, com sua persistência, muito co-laborou para que o ensino se transformasse em livro. Ele é um querido amigo de nossa família. Dou graças a Deus por sua dis-posição de servir à Igreja de Cristo e sua preocupação com aque-les que ainda não crêem no Senhor.

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Quero agradecer ainda a Al Janssen, editor de produção da publicadora Multinomah Press, que contribuiu com sugestões e conselhos para a forma final do livro.

E agradeço também a você, leitor, por iniciar essa leitura. Es-pero que vá até o fim e leia suas 172 páginas. Meu desejo é que Deus aplique os princípios aqui expostos para redirecionar e re-vitalizar os rumos de sua vida espiritual.

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Introdução

Não é todo dia que Natasha, uma jornalista soviética, entre-vista um estrangeiro, e muito menos um crente. Foi com muito esforço que chegara à elevada posição que ocupava no movimento jovem comunista, da União Soviética. Agora orgulha-se muito de seu trabalho de jornalista. Mas a missão que lhe fora atribuída naquele dia fugia totalmente à regra das tarefas costumeiras.

A jovem não se mostrava nada entusiasmada — para não di-zer que estava contrariada — comigo ou com a mensagem que eu estava pregando numa turnê de cinco dias por sua terra. E ao final da entrevista, resolvi usar de franqueza e fiz o seguinte comentário:

— Você não me parece muito feliz. — Claro que não, replicou. Nós, ateus, nunca nos sentimos

felizes. Essa afirmação direta feita por Natasha expressa de forma su-

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cinta a falência das teses de negação da existência de Deus e da revelação bíblica. O ateísmo sufoca a alma do homem e mata seu espírito. Então chega o momento em que o indivíduo se dá conta de que todas as suas esperanças se concentram em sua própria pessoa, e de que depois do presente não há futuro. Mas o fato é que nós, seres humanos, fomos criados à imagem de Deus. E mesmo que o neguemos, intelectual e emocionalmente, nossa alma anela pela realidade espiritual.

Sem Deus, a vida não tem sentido. Não há propósito em educar-se. A economia fica caótica. E a atual geração já devia estar convencida disso, depois de ver frustradas as tentativas de se institucionalizar o ateísmo na Europa Oriental. A alma hu-mana tem anseio por Deus. Não admira que países como a Ro-mênia e a União Soviética estejam experimentando poderosos avivamentos.

Um exemplo dessa fome espiritual é o relato que ouvi de um pastor batista de São Petersburgo. Disse-me que depois que Mikhail Gorbachev assumiu o poder, as autoridades locais reabriram uma velha igreja ortodoxa russa que estivera fechada, e a entregaram a esse pastor e seu grupo. O templo me fez lembrar retratos de prédios bombardeados pelos nazistas na Segunda Grande Guerra. Os belos ornamentos da igreja já não existiam mais; restavam apenas as paredes externas.

E o pastor me contou que certo dia, quando estava no templo trabalhando na reconstrução com uma turma de siberianos, ouviu um homem chamá-lo da rua.

—O sacerdote está aí? —Estou, respondeu meu amigo. Eu sou o sacerdote. Em russo não existe um termo que corresponda à palavra "pas-

tor". —Aqui fora tem quatro moças que estão querendo conversar

com o senhor, continuou o homem. —Diga-lhes para entrarem aqui, replicou o pastor. —Ah, não. Elas não querem entrar aí; não querem entrar de

jeito nenhum. —Está bem. Então vou aí. E o pastor saiu à rua, onde as quatro jovens o aguardavam.

Aproximou-se delas e estendeu a mão para cumprimentá-las, mas elas se recusaram a apertar-lhe a mão.

—Por que não querem apertar minha mão? indagou ele. —O senhor é sacerdote? inquiriu uma delas.

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INTRODUÇÃO 13

— Sou. — Então não somos dignas de apertar sua mão, explicou. — Por que não? — Todas nós somos prostitutas, e queremos conversar com

o senhor para saber se Deus ainda nos perdoa pelo que fizemos. — Claro que perdoa, replicou o pastor. Em seguida abriu a Bíblia e lhes falou sobre a morte de Jesus

Cristo e seu sangue que nos purifica de todo pecado. — Mas será que Deus nos perdoa mesmo pelos pecados que

praticamos? — Se vocês receberem a Cristo e o convidarem a entrar em

sua vida, ele as perdoará. — Será que ele perdoa agora? — Claro! Neste momento. Então ali mesmo na calçada, elas se ajoelharam e oraram re-

cebendo a Jesus Cristo. Assim que terminaram uma delas per-guntou:

— Ele nos perdoou neste momento?

— Perdoou. A Bíblia diz o seguinte: "Dos seus pecados ja-mais me lembrarei". "O sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado." Então ele as perdoou.

Antes aquelas mulheres não queriam nem apertar a mão do pastor. Mas depois disso elas o abraçaram, e uma indagou:

— Podemos entrar na igreja?

A igreja ainda não estava acabada, mas o pastor deu a cada uma delas uma Bíblia e explicou um pouco mais sobre a expe-riência do perdão divino e da nova vida em Cristo.

Quando o pastor terminou de contar-me essa história, mais uma vez me dei conta de quantos recebem o evangelho de Cristo com alegria assim que ouvem a mensagem. A maioria das pes-soas tem plena consciência de sua pecaminosidade, e anseia desesperadamente sentir o amor de Deus e receber seu perdão. E quando tais indivíduos ouvem a pregação do evangelho e recebem a Cristo, opera-se na vida deles uma notável transformação.

Contudo, quando vemos certos crentes, começamos até a ter dúvidas. Será que esses realmente receberam a nova vida em Jesus Cristo? Pensemos nisso um pouquinho. Você conhece al-gum crente assim, frustrado, levando uma vida infrutífera, que parece não ter a alegria da salvação? Eu conheço.

Será você um desses que se perguntam se a vida espiritual é só isso que vive no momento ou se há mais o que desfrutar?

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Já desejou ter uma vida de poder, frutífera, toda centralizada em Deus?

Talvez já tenha sentido que existe, sim, a possibilidade de vi-ver essa experiência e é isso que deseja, que está buscando. Pode ser até que haja estabelecido metas específicas com o objetivo de obtê-la. Agora falta apenas descobrir o segredo que lhe abrirá as portas das bênçãos de Deus para sua vida.

Mas é possível também que já o tenha tentado e esteja quase perdendo as esperanças. Acha que a mensagem cristã é boa de-mais para ser verdade; nunca conseguirá "chegar lá". Não desista! Neste livro encontrará orientação, incentivo e esperança.

Estou firmemente convencido de que quem aplicar em sua vida os princípios bíblicos aqui apresentados, verá o Senhor Je-sus Cristo renová-lo espiritualmente antes de chegar à última pá-gina. Deus deseja transformar radicalmente todas as facetas de sua vida. E se você permitir que ele o faça, verá que ele o trans-formará.

Os princípios de renovamento radical que exponho neste li-vro revolucionaram minha vida. Mas houve momentos, antes que toda a peça do quebra-cabeça se encaixasse, em que quase entreguei os pontos. Aprendi um desses princípios aos dezes-sete anos; outro, aos vinte. Aos vinte e cinco me apercebi de mais um deles.

É claro que, pela graça de Deus, experimentei certo cresci-mento espiritual durante todos esses anos; ele abençoou gran-demente minha vida e ministério. Mas para chegar a cada uma dessas bênçãos precisei dar determinados passos. São esses pas-sos que quero apresentar ao leitor, na esperança de que não pre-cise sofrer as frustrações que experimentei.

Este livro contém muitos ensinos da Palavra de Deus. Leia-o com a Bíblia ao lado, como se nós, eu e você, estivéssemos con-versando sobre esses assuntos. Estude-o atentamente para po-der assimilar essas maravilhosas realidades, aprender a aplicá-las em sua vida e transmiti-las a outros.

O que apresento aqui não é mera teoria. São instruções prá-ticas e específicas que realmente dão certo; passos que levarão o leitor a experimentar as melhores bênçãos de Deus. Enquanto lê este livro, você poderá passar a gozar de uma nova comunhão com o Pai celeste. Poderá parar de pensar ou dizer coisas que o deixam deprimido, derrotado, imobilizado, infrutífero, frustrado, coisas que produzem sensação de culpa e de inutilidade. E então

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INTROOUÇÃO 15

se tornará vibrante, vitorioso, alegre e dinâmico, glorificando e exaltando a Deus em pensamento, palavras e atos.

Depois que conheci a Cristo, ainda vivi muitos anos sendo acometido por preocupações, temores, ansiedades, e instabilidade emocional. Num dia sentia-me irritadiço, e gritava e brigava; em outro me sentia abatido, desalentado. Parecia estar-me esforçando muito, mas pouco adiantava.

Afinal, quando dei os passos necessários para uma radical renovação interior, o Senhor me transformou em um servo feliz, com uma vida bastante produtiva. Não quero dizer, porém, que vez por outra não entristeça o Espírito Santo e deixe de produzir seu fruto. Mas a mudança que se operou em minha vida foi pro-funda. E hoje, nem sei expressar o quanto amo a Deus por isso.

Sabemos de milhares de fiéis no decorrer da história da igreja que levaram uma vida santa, vitoriosa, livre de opressões, que foram cheios do Espírito e glorificaram a Deus com seu viver. Todos eles, cada um à sua maneira, percorreram o mesmo ca-minho que apresentamos aqui. E, pela graça de Deus, nós tam-bém podemos experimentar esse renovamento radical.

Sugestões Para a Leitura Deste Livro

Mas antes de começar, vamos parar uns instantes e ver como tirar melhor proveito deste livro. Sugiro ao leitor que primeira-mente faça uma leitura direta, do começo ao fim. Verá que o con-teúdo da primeira parte constitui-se principalmente de exposição, e que a segunda parte é mais prática. Mas nessa primeira leitura, não pare para aplicar em sua vida os passos recomendados.

Encerrada a primeira leitura, volte ao início e leia-o novamente, agora, porém, mais devagar. Dessa vez, pegue a Bíblia, uma ca-neta e um caderno. Faça as anotações sugeridas, e vá dando os passos à medida que os ler, na ordem apresentada. Sublinhe as frases que considerar mais importantes.

Algumas semanas depois, releia-o pela terceira vez. Observe bem as frases que sublinhou na segunda leitura, e faça outras anotações, agora com uma caneta de cor diferente. Peça a Deus que aplique em sua vida os princípios aqui apresentados, para levá-lo a uma profunda renovação pessoal.

E se Diga Sim! foi uma bênção para você recomende-o a al-guém. Pode sugerir também ao seu grupo de estudo bíblico ou de oração, ou à sua classe de escola dominical que faça um es-tudo dele.

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Por último, peço que me escreva. Gostaria muito de saber como Deus está usando os princípios aqui apresentados para transfor-mar a vida de cada leitor. Meu endereço é:

Luis Palau P.O. Box 1173 Portland, Oregon, 97207 Estados Unidos

Está pronto para começar? Pronto para viver uma experiência marcante? para experimentar as bênçãos de Deus em sua vida? Esse é o maravilhoso plano que ele tem para você.

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Parte I

"A felicidade não está apenas

em nosso interior, nem nas coisas exteriores;

está em nossa comunhão com Deus."

Pascal

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Capítulo 1

Todo Mundo Esta Feliz?

E você, é feliz por ser crente?

Deve ser, já que "disse sim" à salvação oferecida por Jesus Cristo. Mas será que continua apropriando-se de todas as bênçãos que ele quer conceder-lhe? Ou quem sabe já tentou e acabou-se sen-tindo mais frustrado e insatisfeito?

É impressionante o número de crentes insatisfeitos que há em nossas igrejas hoje. É verdade que não parecem infelizes quando estão ali, no domingo de manhã. Aliás, em muitos casos, são pes-soas ativas, que ocupam cargos na igreja, lecionam na escola do-minical, etc. Mas se formos examinar o que há por trás das belas roupas novas e dos sorrisos bonitos veremos que eles não gozam alegria em sua experiência cristã.

Vejamos um exemplo. A Igreja de Crest View, uma cidade do meio-oeste dos Estados Unidos, é uma igreja antiga, fundamentalista, freqüentada pelas melhores e mais tradicionais famílias do lugar, bem como por famílias novas e jovens solteiros que se con-

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verteram através das agradáveis programações promovidas para os jovens.

Nos últimos dez anos, a igreja vem experimentando profundas mudanças, como, aliás, está acontecendo à sociedade em que se acha inserida. Tem havido, por exemplo, maior comunhão entre os crentes. O trabalho evangelístico está mais ativo, inclusive com pontos de pregação na área mais pobre da cidade onde já foi fun-dada outra igreja. Além disso, ela participa de uma associação, juntamente com outras igrejas da região, cujo objetivo é oferecer assistência aos necessitados.

Ademais essa igreja tem um grande interesse em missões. Sus-tentam missionários em quatro continentes. E é aqui que entro na história. Foram eles que sustentaram a mim e minha esposa, no final dos anos sessenta, quando trabalhávamos como missionários na Cidade do México. E embora eu a tivesse visitado pouco, eles continuaram a sustentar-nos quando resolvemos expandir nosso ministério evangelístico a outros países da América Latina, da Eu-ropa e a outras partes do mundo. Foi por isso, então, que, quando o novo pastor de Crest View me convidou para ser o orador da abertura de sua conferência missionária anual, senti-me na obri-gação de aceitai; apesar de ter muitos outros compromissos.

Na última vez em que estivera em Crest View, eles tinham uma assistência de cerca de 350 pessoas, e seu novo templo ficava pra-ticamente lotado todos os domingos. Agora eles tinham uma as-sistência que chegava a 800 pessoas, realizando dois cultos no do-mingo pela manhã e um à noite. Parecia uma igreja ativa, vigorosa, uma igreja em crescimento, desejosa de expandir-se mais.

Então eu aguardava com certa expectativa a oportunidade de reavivar os laços de amizade com aqueles irmãos, de ter comunhão com o novo pastor, de falar no seminário local e, se possível, dar uma entrevista num jornal da cidade.

Não pensava encontrar ali pastores estressados, membros bri-gando entre si e famílias tradicionais se separando.

Cheguei à cidade no sábado à tarde. No domingo pela manhã, fui para a igreja vinte minutos antes do início do primeiro culto. Fiquei impressionado ao ver como tudo era bem organizado. O regente do coro estava na plataforma arrumando as partituras. Os introdutores já se encontravam a postos para receber os que che-gavam mais cedo. Exatamente às 8:45, eu e os pastores estávamos numa saleta que havia atrás do púlpito para orar antes do culto. E às 9:00 em ponto nós quatro subimos à plataforma.

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Como de hábito, durante os primeiros momentos do período de louvor e adoração, pus-me a examinar o semblante dos presen-tes. Bill Donaldson, que havia ido receber-me no aeroporto, estava sentado no banco da frente, juntamente com a esposa. Alguns jo-vens achavam-se na ala da esquerda; um grupo de adolescentes, na galeria, ria e cochichava. Reconheci diversas famílias que co-nhecera por ocasião de minha última visita à igreja, mas não con-seguia recordar seus nomes. Preciso dar um jeito de vir aqui com mais freqüência, pensei.

Aqueles irmãos pareciam tão cheios de vida! Achavam-se tão bem vestidos! Se a aparência fosse a expressão fiel do coração, essa congregação era vibrante e vigorosa. Por alguns momentos, senti não ter preparado uma mensagem de cunho mais missionário. Mas imediatamente voltei atrás. Muitas vezes as aparências enganam. Exteriormente parece que tudo está ótimo, mas o que será que Deus está vendo no interior de cada um?

Depois que o Pastor Michaelson me apresentou, encaminhei-me para o púlpito e preguei com grande entusiasmo. O texto da mensagem era João 13, e tinha muito pouca relação com o tema de missões. Normalmente eu teria escolhido uma passagem como João 14.12-15, onde Jesus diz que faremos maiores obras que o Filho, e falaria sobre a necessidade de termos ardor pela evangelização do mundo. Mas parecia que Deus estava-me dizendo: "De que adianta falar sobre as "obras maiores" que Jesus Cristo quer realizar por nosso intermédio se estamos resistindo à operarão dele em nosso coração?" Por isso decidira pregar sobre confissão de pecados e purificação; a mensagem que Jesus nos dera ao lavar os pés dos discípulos. Pretendia introduzir o assunto de missões narrando algumas de minhas experiências no exterior, e convidando os presentes para voltarem à noite, e ouvirem a outra mensagem.

A congregação parecia bastante atenta. Percebi que vários dos presentes, vez por outra, moviam a cabeça positivamente, concor-dando com o que eu dizia. Mas senti também que havia outros que se mostravam incomodados com a pregação. Parecia que eu estava tocando em algumas "feridas".

Após o primeiro culto, uma moça de nome Susan aproximou-se e me agradeceu pela mensagem.

— Faço parte da união de jovens desta igreja, explicou. E fez uma pausa. Senti que estava procurando as palavras cer-

tas para dizer. Mas logo em seguida continuou.

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— Gostei mesmo de sua mensagem. Acho que me sinto um pouco sem jeito de ir com o grupo ao barzinho da turma.

Não entendi bem, e perguntei: —Quer dizer que seu grupo de jovens realiza trabalhos em

barzinhos, que vão lá para pregar o evangelho? —Não, não. Vamos lá para conhecer outros jovens, disse ela

procurando conter as lágrimas. Nessa sexta-feira, comecei a pen-sar que não devo mais fazer isso. Não é esse tipo de vida que quero. Mas meus amigos ficam dizendo que só assim vou conhecer ra-pazes com quem casar. Agora, ouvindo sua pregação, resolvi a questão. Não me importo mais com o que eles vão dizer. Quero fazer a vontade de Deus em tudo na minha vida, mesmo que isso signifique que não vá conhecer nenhum rapaz.

O segundo culto deveria começar dentro de quinze minutos, então tivemos de interromper a conversa, pois o pastor Michael-son veio buscar-me para irmos à sala de oração. E enquanto me encaminhava para lá e me reunia aos outros pastores pus-me a orar silenciosamente em favor de Susan, antes de pedir a bênção de Deus para a reunião.

Nesse culto também vi pessoas que conhecera antes, inclusive um homem chamado Paul Nichols, um importante empresário lo-cal. Na última vez em que estivera na cidade, sua firma estava em processo de falência. Ele havia sofrido reveses econômicos que oca-sionaram a quebra de suas financeiras. Mas ouvira dizer que ele estava saldando seus débitos, e montara um pequeno negócio qual empregara diversos dos membros da igreja. Eu estava curioso para saber mais notícias a seu respeito.

No final do segundo culto, já me sentia em casa naquela igreja, e estava ansioso para pregar outra vez, à noite. Nos dois cultos da manhã, a congregação tinha-se mostrado receptiva e calorosa. Comecei a achar que o que Susan me dissera era um caso isolado.

Quando me encaminhava para a saída, um dos introdutores entregou-me um bilhete. Li-o rapidamente. Dizia o seguinte:

"Pastor Luis, O senhor pregou sobre uma vida santa e feliz. Con-cordo com tudo que o senhor disse sobre sentimento de culpa e purificação. Já fiz tudo que ensinou, mas ainda não me sinto feliz." Estava assinado: "Um professor de escola dominical".

Guardei o bilhete no bolso e resolvi que iria responder essa per-gunta durante a pregação da noite.

A saída, Paul Nichols veio cumprimentar-me e convidou-me a jantar em sua casa antes do culto noturno.

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TODO MUNDO ESTÁ FELIZ? 23

Passei a tarde em casa do Pastor Michaelson. O almoço estava ótimo e seus filhos foram muito agradáveis. Mas achei sua esposa um pouco tensa. E o pastor também parecia preocupado com al-guma coisa. Após a refeição fomos nos sentar no gramado lá fora, e resolvi tentar descobrir o problema.

—Há quanto tempo o irmão está em Crest View? —Há quase um ano e meio, replicou. É, no domingo que vem

completa-se um ano e meio. —O que está achando daqui? Ele me explicou como Deus o orientara para que aceitasse esse

pastorado, e comentou: — Ele tem nos abençoado bastante neste lugar. E para exemplificar, falou de como a igreja estava crescendo e

ampliando as dependências do templo. — E o que sua esposa acha daqui?

Ele desviou os olhos por um momento, e depois desabafou: — Luis, todos os pastores que conheço estão-se sentindo

frustrados, insatisfeitos, querendo ir para outro lugar. Só existe uma pessoa mais frustrada do que o pastor: a esposa dele. É o que está acontecendo comigo e com Joanie também.

Em seguida disse-me que a média dos pastores de sua deno-minação, naquele Estado, mudava de igreja a cada dois anos ou menos. E concluiu:

— A pergunta que me faço é: ficar pra quê?

A tardinha, o pastor me levou para a casa de Paul Nichols. No caminho conversamos um pouco mais sobre suas frustrações e so-bre a insistência de sua esposa para que mudassem para algo "que valesse mais a pena". Ouvi mais do que falei, mas lembrei também que a maioria dos pastores considerava Crest View uma igreja grande e excelente. Será que isso significava, então, que esse pas-tor chegara ao fim da linha? Será que ele estava pensando em se dedicar a outra atividade?

— Joanie está desesperada, Luis. Não agüenta mais este lugar. Minha mulher nunca se mostrou tão desinteressada, tão ansiosa para sair e fazer o que deseja. E quem sou eu para impedi-la? Tam bém já estou saturado. De que adianta levar uma vida de frustração e fazer um sacrifício inútil?

Pensei em dizer-lhe muitas coisas, mostrar-lhe alguns princí-pios da Palavra de Deus que haviam revolucionado minha vida, mas para explicá-los bem precisaria de umas duas horas, e já es-távamos chegando ao nosso destino.

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24 DIGA "SIM" PARA MUDAR

A casa de Paul Nichols era mais simples do que eu esperava. Anteriormente eles moravam numa extensa propriedade. Durante a conversa, fiquei sabendo que antes de irem à falência, possuíam diversas casas caras e uma casa de praia.

Paul fora diretor de um banco, possuíra grande parte das ações de uma financeira, e tinha muitos investimentos em companhias petrolíferas e em imóveis. Na esfera social, o casal Nichols era con-vidado para todos os eventos importantes, políticos e sociais. Mas a economia do Estado sofrerá um forte declínio, e as empresas de seu império financeiro começaram a falir, uma atrás da outra, lem-brando uma queda de dominós enfileirados.

E num período de dois anos, eles perderam tudo, sem que ti-vessem cometido nenhuma imprudência. Venderam o jato, os car-ros, e puseram as casas à vencia, com o objetivo de saldar os dé-bitos. E nesse tempo tanto sua fé como seu relacionamento matrimonial foram submetidos a duras provas. O que antes, para eles, fora apenas teoria, tornara-se realidade. Mas eles confiaram no Senhor crendo que, de algum modo, embora não compreen-dessem bem a situação, Deus ainda estava no comando de suas vidas.

Vendo o casal Nichols hoje ninguém imaginaria que eles pas-saram por um problema tão sério que poucos casais suportariam. O casamento deles parece cada vez mais feliz. E sua perspectiva de vida é voltada para outros, e não para si mesmos. Paul acha-se muito bem espiritualmente, mas está preocupado com um irmão da igreja chamado Tony, que trabalha em sua empresa.

Ao que parece, Tony, que aliás era um dos seus gerentes de con-fiança, utilizara, indevidamente, funcionários e dependências da empresa, durante o horário de trabalho, para montar um pequeno negócio paralelo. Achava que poderia manter em segredo essa pe-quena investida no mundo dos negócios. Mas Paul veio a saber do que se passava e teve uma confrontação com Tony. A princípio ele negou tudo. Entretanto, alguns empregados confessaram que haviam de fato trabalhado para ele paralelamente, durante o ho-rário de serviço. Finalmente Tony admitiu que cometera um "erro". Mas Paul ficou com a impressão de que ele não havia de fato se arrependido. E perguntou-me:

— Como devo resolver uma situação como essa?

Com base em Mateus 18 e outros textos, conversamos sobre o procedimento para se confrontar um irmão que pecou. Se a pri-meira tentativa não der certo, temos de levar testemunhas que con-

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TODO MUNDO ESTA FELIZ? 25

firmem a acusação, e, finalmente, se for necessário, levar o caso à igreja. Paul concordou em que precisava resolver o problema com base nos princípios bíblicos, e disse:

— Minha maior preocupação é com o fato de que Tony se diz crente, mas não está permitindo que Deus modifique algumas questões básicas de sua vida

No culto da noite, apresentei um desafio aos ouvintes no sentido de que se dedicassem totalmente a Deus.

"O que desejo considerar hoje", disse, "não é se Deus está cha-mando alguém para a obra missionária ou não. Vou deixar isso para os outros pregadores que falarão no restante da semana. A questão que examinaremos agora é: você já submeteu seus direi-tos a Deus? Já entregou a ele o "registro de posse" da sua vida? Está disposto a aceitar a vontade dele, seja ela qual for?"

Após o culto vi-me cercado por diversas pessoas. Em dado mo-mento, Marlene se aproximou. Não a tinha avistado do púlpito, mas assim que a vi reconheci-a. Eu e minha esposa conhecêramos a ela e seu marido Nate havia dezesseis anos, antes mesmo de eles se casarem. Na última vez em que os vira, pareciam um casal ma-ravilhoso, com um futuro feliz e brilhante pela frente. Nate era de-senhista publicitário. Marlene atuava ativamente na igreja, sendo uma das dirigentes do grupo de estudo bíblico das senhoras. Ti-nham três filhos e uma união aparentemente sólida. Mas um dia Nate entrara para um conhecido grupo musical da cidade. Nesse grupo havia uma mulher muito bonita, também casada, que apre-ciava festas e diversões. Pouco depois, Nate disse a Marlene que estava achando aquela vida muito monótona, e abandonou-a sem mais nem menos.

Nessa ocasião, Marlene começara a corresponder-se com Pat, minha esposa, e esta a ajudara a suportar o difícil trauma do di-vórcio, e a resolver as diversas indagações que surgem numa si-tuação dessas. Então, quando ela falou: "Obrigada", compreendi o que queria dizer. Fez uma pequena pausa para limpar uma lá-grima, e continuou:

— Agora está tudo bem. Diga a Pat que Deus está-me dando forças, e que sei que ele não vai me abandonar.

Chorei interiormente, com pena de Marlene. Todos achamos que Nate era um crente verdadeiro. O que fora que dera errado? Mas eu sabia também que sua decisão de dar as costas para Deus e abandonar a esposa não-era um caso isolado naquela igreja. Aliás, numa igreja grande como aquela, fatalmente tinha de haver outros.

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26 DIGA "SIM" PARA MUDAR

Mas não poderia ficar pensando só no caso de Marlene, pois outros crentes queriam falar comigo também. Um homem de nome Rick se apresentou. Disse que fazia parte de um grupo de ajuda aos viciados em drogas que se reunia em outra igreja todas as segundas-feiras. Perguntei-lhe como era o trabalho, e respondeu que era o grupo que estava-lhe dando forças para viver sem co-caína. Antes de começar a participar dele, quatro anos antes, fora viciado. Mas, afinal, Rick chegou aonde queria.

— Tanto no culto da manhã como no de agora a noite, o senhor falou sobre o poder de Jesus para transformar vidas. Falou sobre a necessidade de lermos e estudarmos a Palavra de Deus. Depois falou sobre o que Deus pode realizar por nosso intermédio na vida de outros após operar em nós uma transformação de dentro para fora. Mas o senhor dá a impressão de que isso acontece da noite para o dia.

E a voz dele estava tensa quando concluiu: — Não é bem assim, não. E logo em seguida, Rick virou-se e saiu abruptamente antes que

eu pudesse replicar. Imediatamente um outro jovem aproximou-se e perguntou se

poderia conversar comigo particularmente. Então, depois que cum-primentei mais algumas pessoas, dirigimo-nos para um canto iso-lado do salão.

— Meu nome é Tony, disse ele. Logo me indaguei se seria o mesmo homem de quem Paul

Nichols havia falado após o jantar. Era. Ele me deu sua versão dos fatos.

— Andei quebrando um pouco as regras do jogo e o patrão não está aceitando bem a coisa.

Fiz-lhe algumas perguntas e depois cheguei ao ponto crucial da questão.

— Todos nós, um dia, passamos por uma experiência, muitas vezes em momentos críticos, na qual temos de tomar uma decisão consciente se vamos ou não fazer a vontade de Deus contrariando a nossa; se vamos reconhecer sua soberania em todos os aspectos de nossa vida; se vamos oferecer-lhe todo o nosso ser — corpo, alma e espírito — sem reter nada. Pode sei "que Deus esteja jus tamente utilizando essa situação para levá-lo a tomar essa decisão.

Conversamos durante muito tempo, até que começaram a apa-gar as luzes do templo. Parecia que ele principiava a convencer-se de que fora desonesto e de que precisava fazer uma dedicação total a Deus. Convidei-o para continuarmos a conversa num restaurante

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-rnnOMUNDO ESTÁ FELIZ? 27

situado do outro lado da rua, ao lado do hotel onde me encontrava hospedado. Permanecemos lá mais ou menos uma hora e meia. Afinal Tony se quebrantou, e pôs-se a chorar, sentido pela deso-nestidade que cometera no emprego. Mas, alguns minutos depois, endureceu o semblante e, friamente, rejeitou a sugestão para fazer uma dedicação plena a Deus. Chegara tão perto. Mas avaliara os custos e achara que teria de abrir mão de muitos dos seus desejos a fim de seguir a Cristo. Fiquei arrasado pela decisão dele. Ao nos despedirmos, prometeu-me, meio relutante, manter contato co-migo.

Na segunda-feira pela manhã, preguei no culto devocional do seminário. Sabendo que aquela seria minha única oportunidade de falar aos seminaristas, pensei: Como posso dizer tudo que quero em apenas quarenta e cinco minutos? Não teria tempo para fazer a exe-gese de algumas passagens do Novo Testamento. Então resolvi su-gerir que eles o fizessem.

"Se lerem atentamente o Novo Testamento verão que um dos principais ensinamentos que encontramos ali é o de que Deus de seja habitar em nós e encher-nos com seu Espírito, para então, após essa plenitude, operar boas obras por nosso intermédio. Lucas men ciona várias vezes essa experiência de estar cheio do Espírito. Paulo também fala sobre isso: "Cristo vive em mim" ou "Cristo em vós". Estudem essas passagens e pensem nas implicações delas. Quando transferimos esse ensino da cabeça para o coração, ele revoluciona nossa vida."

Após a reunião, diversos seminaristas me rodearam, querendo conversar comigo. Um deles falou que tinha o sonho de tornar-se evangelista. Pedi-lhe seu endereço para manter contato com ele. Sempre que um jovem expressa um desejo desses gosto de incen-tivar, de manter a chama acesa.

Outro revelou seu sentimento de frustração por não experi-mentar um grande entusiasmo e ardor evangelístico. Disse ele:

— O senhor falou sobre cultivar paixão pelos perdidos, mas eu tenho algumas dúvidas nessa questão. Primeiro, não consigo ficar preocupado com os perdidos. Como podemos ter certeza de que no fim não vai acabar tudo bem para eles? E, depois, quem sou eu para tentar mostrar aos outros a transformação que Deus pode operar na vida deles quando eu próprio não vejo muita mudança em mim?

Quando ouvi isso, compreendi que aquele moço estava expres-sando o pensamento de muita gente. E no entanto poderia até vir

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a ser pastor de uma igreja como Crest View. Será que terminaria amargurado e frustrado como o Pastor Michaelson?

Havia outros no seminário que estavam dizendo a mesma coisa ainda que com outras palavras. Provavelmente queriam que Deus os usasse, mas sabiam que eram hipócritas. Vendo-se como que presos em suas próprias falhas, não podiam sentir gozo na fé e muito menos falar dela a outros.

Ao voltar ao hotel, encontrei à minha espera um repórter do jornal local, encarregado da seção religiosa do diário, um jovem de nome Mark Jensen. Tinha uma atitude positiva para com meu trabalho, e foi com certo conhecimento do assunto que fez pergun-tas sobre as últimas campanhas evangelísticas que minha equipe realizara nos Estados Unidos, Europa Oriental e Ásia.

E naqueles momentos, enquanto ele me entrevistava, também eu o entrevistei. Descobri que fora pastor. Com certo tato, perguntei-lhe por que deixara o ministério para dedicar-se a uma atividade secular. Ao contrário do que se poderia pensar, ele saíra não porque tivesse cometido algum pecado terrível, mas porque não suportava mais as frustrações do pastorado.

— Para ser sincero, Luis, explicou, estava sentindo que a maior parte do que fazia como pastor, não tinha sentido. Ainda sou crente convicto, e tenciono ser fiel até o fim. Mas o ministério pastoral não era o que eu esperava que fosse. O jornalismo é bem mais gra- tificante. Faço a cobertura de fatos da vida real e quase diariamente estou vendo os resultados de meu trabalho.

Lembrei-me da conversa que tivera com o Pastor Michaelson, e fiquei a pensar se não acabaria acontecendo o mesmo com ele.

Antes de pegar o avião para regressar, jantei em casa de Bill e Joyce Donaldson. A sala de jantar deles era tão espaçosa e tão bem decorada que, com a iluminação um pouco reduzida, quase se tinha a impressão de estar num restaurante. Bill me fez muitas perguntas sobre meu ministério, e indagou o que eu achava dos diversos eventos mundiais atuais em relação à obra missionária.

Aos poucos fiquei conhecendo detalhes da vida deles. Soube, por exemplo, que tanto Bill como Joyce haviam-se formado numa das principais faculdades particulares do país. Bill recebera uma boa herança e ganhava muito bem em sua profissão. Ambos tra-balhavam ativamente na Igreja de Crest View, atuando na comis-são de missões.

—O que foi que despertou seu interesse por missões? indaguei. —Bom, tanto eu como Joyce conhecemos a Cristo quando es-

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TODO MUNDO ESTÁ FELIZ? ___________________________________ 29

távamos na faculdade. Participamos ativamente de um grupo de estudantes crentes que havia na escola, e houve uma certa época em que chegamos a pensar em ir para o campo missionário.

—E por que mudaram de idéia? —Pensando bem, respondeu Joyce, não aconteceu nada de sé-

rio. Estávamos ansiosos para nos casar, e Bill logo arranjou um bom emprego. Desde então temos sido membros ativos de Crest View. Deus tem-nos abençoado muito aqui. Agora com os filhos e tudo o mais é muito difícil pensar em ir para o campo.

—Além disso, acrescentou Bill, a obra missionária perdeu aquele atrativo. É muito duro ser missionário. Faz-se muito sacrifício com pouco reconhecimento. Se não fosse pelo trabalho que realizamos na comissão de missões, duvido que muita gente em nossa igreja conhecesse a metade de nossos missionários. É dificílimo conse-guir que as pessoas orem por eles vez por outra. E quando eles vêm para cá de férias, não recebem nenhuma atenção. Tentamos fazer com que se sintam em casa, mas alguns não vêem a hora de voltar para o campo. Então, quando se aposentam, a maioria não tem um centavo no banco.

Naquela noite, quando viajava de volta para Portland, senti um tremendo peso. A não ser pelo casal Nichols e talvez Bill e Joyce Donaldson, parecia que a maioria dos crentes que conhecera nos dois últimos dias não estava sabendo viver a vida cristã como devia.

Era possível que Susan estivesse seguindo na direção certa. Mas eu tinha dúvidas sobre o que iria acontecer ao casal Michaelson, a Marlene e Nate, a Rick, Tony, Mark e aos seminaristas com quem conversara. Eu entendia bem muitas das coisas que eles tinham falado. É claro que os detalhes variavam de uma pessoa para ou-tra, mas os aspectos básicos eram semelhantes: o desejo de servir a Deus, os fatores negativos, as frustrações e a forte tentação de largar tudo para lá. Eu tivera a mesma experiência.

E possível que você também, leitor, se identifique com alguns desses fatos. Já se sentiu improdutivo? Frustrado? Insatisfeito? Quase a ponto de desistir de tudo?

Este livro é dirigido àqueles que crêem que a vida cristã não pode ser só o que estão vivendo no presente. E não é mesmo! Há muito mais a se experimentar. Mas como veremos no próximo ca-pitulo, eu também estive a ponto de largar tudo, antes de descobrir essa verdade.

Supervisor
Highlight
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Capitulo 2

Por que

Quase Desisti

de Tudo

Quer um exemplo de um crente total-mente consagrado a Deus? O melhor exemplo que conheço sou eu mesmo, quando era jovem. Mas não me entendam mal; não estou querendo exaltar-me; não. Estava tentando ser um bom crente, mas não do modo como Deus quer. Pelo contrário. Era a própria síntese do esforço humano, tentando fazer o que é im-possível conseguir-se na carne: ter a vida que agrada a Deus. Eu fazia tudo direitinho, exteriormente, mas estava fadado ao fra-casso como o Pastor Michaelson, Tony, ou como o professor de escola dominical que me mandou o bilhete anônimo.

Tudo começou numa noite fria, na região montanhosa do sul da Argentina. Uma chuva fina começara a cair, as gotas batendo na lona da barraca do exército onde me encontrava alojado com mais nove rapazes. Éramos um grupo de cinqüenta ou sessenta jovens, passando duas semanas acampados ali, um passeio or-

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ganizado por Charles Cohen, um dos professores do colégio in-terno onde eu estudava. Achávamo-nos totalmente desligados do mundo. Não tínhamos rádio, nem jornais, e não havia como saber o resultado dos jogos de nossos times de futebol. Então estávamos por conta de estudar a Bíblia e cantar hinos.

Todas as noites, o conselheiro de cada barraca ia fazer uma caminhada com um dos rapazes, para lhe dar a oportunidade de dizer "Sim" ou "Não" à mensagem de Jesus Cristo. Sabia que todos os outros garotos já tinham tido sua oportunidade, então agora era minha vez. Meu desejo era fugir e me esconder, pois sentia-me envergonhado de ainda não ter recebido a Cristo.

Meu conselheiro, Frank Chandler, veio me acordar. Na ver-dade, eu estava fingindo que dormia.

— Vamos lá, Luis, levante-se! disse ele. Continuei quieto, com os olhos fechados. Ele me sacudiu e

depois colocou a luz da lanterna em meus olhos. Sabia que eu não podia estar num sono tão profundo, então virou a cama e caí no chão.

Calcei os tênis e vesti o blusão. Ouvimos o ribombar de um trovão à distância, e percebemos que ia chover grosso. Frank de-monstrou pressa. Eu não. Mal sabia que aquela iria ser a melhor noite do acampamento. Saímos. Frank me conduziu para um tronco caído onde nos sentamos. Ele foi direto ao assunto.

—Luis, indagou, você é crente ou não? —Acho que não, respondi. —Isso não é uma questão de achar ou não achar. É ou não é? —Não; respondi. Não sou, não. Como muitos outros jovens que participavam daquele acam-

pamento, eu fora criado na igreja — freqüentava a escola domi-nical e assistia aos cultos. Sabia muitos hinos, corinhos e histó-rias. Se me pedissem para recitar versículos, eu poderia ficar de pé e dizer alguns. Sabia até orar. Mas abrigava um forte senti-mento de culpa. Tinha medo do castigo divino por causa dos palavrões que dizia e de pensamentos sexuais impuros.

Frank pegou a lanterna de mão e abriu o Novo Testamento. — Se você morresse hoje, perguntou, iria para o céu ou

para o inferno?

Aquilo me pegou de surpresa, e permaneci uns momentos em silêncio. Depois disse:

—Iria para o inferno. —E é para lá que você quer ir?

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QUE QUASE OESISTI OE TUDO 33

— Não. — Então por que vai para lá? — Sei lá, respondi dando de ombros. Então ele leu Romanos 10.9,10: _ "Se com a tua boca confessares a Jesus como Senhor, Luis,

e em teu coração creres, Luis, que Deus o ressuscitou dentre os mortos, Luis, serás salvo. Porque com o coração se crê para jus-tiça, e com a boca se confessa a respeito da salvação."

Ém seguida olhou para mim. —Luis, você crê em seu coração que Deus ressuscitou Jesus

dentre os mortos? —Creio, respondi. — Então o que você tem de fazer agora para ser salvo? Hesitei. A chuva começou a engrossar. Chandler mandou que

eu mesmo lesse Romanos 10.9. "Se com a tua boca confessares a Jesus como Senhor... serás salvo."

— Você está disposto a confessar que ele é Senhor agora? — Estou. — Está bem. Então vamos orar. Chandler passou o braço pelo meu ombro, e ali mesmo, de-

baixo de chuva, fiz minha decisão. — Senhor Jesus, orei, creio que tu ressuscitaste dentre os

mor tos. Confesso-te com minha boca. Dá-me a vida eterna. Quero ser teu. Salva-me do inferno. Amém.

Quando terminamos de orar, eu estava chorando. Dei um forte abraço em Chandler, e voltei correndo para a barraca. Entrei de-baixo das cobertas e usando a lanterna de mão escrevi em minha Bíblia: "No dia 12 de fevereiro de 1947, recebi Jesus Cristo como meu Salvador".

Tinha apenas doze anos, mas sabia que havia nascido de novo, que era salvo. Agora era membro da família de Deus. Tinha a vida eterna, pois Cristo disse: "Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, eternamente, e ninguém as arrebatará da minha mão" (Jo 10.28). Estava-me sentindo tão feliz que quase não dormi. Afi-nal, essa é a decisão mais importante que se pode tomar na vida.

Essa alegria inicial durou alguns meses. Contei a todos os meus amigos a experiência que tivera, e passei a andar com a Bíblia na mão. Participei mais ativamente do clube bíblico do colégio. E até os cultos da igreja anglicana a que éramos obrigados a as-sistir na escola, ganharam um novo sentido para mim. Fui ba-tizado e confirmado na igreja. Entrei para o coro, mas minha voz

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era só para agradar minha avó. Entrava no templo depois de a reunião já haver iniciado, e saía antes de ela terminar, procurando mostrar-me completamente desinteressado, o que não era difícil.

Entrei para o clube da universidade local e comprei um ca-chimbo. Li o livro de Dale Carnegie, Como Fazer Amigos e Influen-ciar Pessoas, e tentei fingir interesse nos pequenos detalhes da vida dos que me cercavam. Mantinha uma fachada social falsa, sabendo levar os outros na conversa. Interiormente eu me detes-tava. Meus amigos, embora incrédulos, eram rapazes muito bons. Comparados com outros, eram até muito direitos. Além disso, o temor de Deus impediu-me de me envolver a fundo em certos pecados grosseiros.

O momento decisivo veio alguns dias antes do carnaval, em fevereiro. Naquela época, em minha terra, todas as lojas — com exceção das que tinham alguma relação com essa festa — fica-vam fechadas durante o período carnavalesco. Eu estava cansado dos jogos e festinhas sofisticadas promovidas pelo clube da uni-versidade. E a única alternativa interessante seria fazer algo ex-travagante. Então eu e meus amigos começamos a tecer planos de nos divertirmos a valer no carvanal.

Mas quanto mais eu pensava no caso, mais sentia o perigo iminente. Intuitivamente sabia que, se fosse brincar o carnaval, ia-me deixar vencer pela tentação e acabaria enredado pelo pe-cado. Tinha conhecimento de que minha mãe e outros parentes oravam por mim diariamente, para que eu permanecesse fiel a Deus. E quanto mais pensava na questão, mais aumentava meu pânico. Acreditava que se fosse brincar o carnaval, romperia de vez meu relacionamento com Deus. Embora intelectualmente sou-besse que nada poderia separar-me do amor de Cristo, no co-ração temia que Deus nunca me perdoasse por participar nessa festa que contrariava abertamente os bons ensinamentos que eu recebera em casa.

Hoje tenho certeza de que era o Espírito Santo falando ao meu coração. Dar umas voltinhas pelo mundo era uma coisa. Mas perder todo o respeito próprio e afrontar a lei de Deus era outra muito diferente. Minha vida estava muito sem propósito. Não tinha nenhuma perspectiva para o futuro a não ser procurar mais da "alegria" vazia que o mundo oferece. Estava convencido de que se fosse brincar o carnaval daria um passo irreversível. Pre-cisava arranjar um jeito de "sair fora".

Meus avós viajaram no final de semana, e a casa estava vazia.

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QUEQUASE DESISTI DE TUDO 37

No dia seguinte, meus amigos viriam buscar-me para a festa. Eu não tinha coragem de simplesmente dizer que não iria mais. Te-ria de arranjar um bom motivo. Ajoelhei-me ao lado da cama

e orei:

"Senhor, livra-me disso, e abandonarei tudo que é do mundo.

Consagrarei minha vida a ti e irei servir-te. Mas ajuda-me a sair

dessa". Não tinha a menor idéia de como Deus iria solucionar o pro-

blema, sem que eu tivesse de mentir, o que eu não desejava fazer. Para provar que fazia uma decisão séria, peguei a Bíblia de minha avó que estava na gaveta e coloquei-a na mesinha de cabeceira. No dia seguinte, acordei, sentei-me na cama, pus os pés no chão e dei um bocejo. Senti a boca estranha. Levei a mão à boca. Não doía, mas estava inchada. Fui olhar-me no espelho. Estava bem inflamada. Parecia que eu havia ficado várias horas na cadeira do dentista. Fitando meu rosto refletido no espelho, dei um sorriso que saiu meio torto e disse: — Deus atendeu minha oração.

Telefonei para um de meus amigos. — Não vou poder ir ao baile hoje à noite, não, disse-lhe. E

não vou a nenhuma festa de carnaval. — Ah, Luis, deixe disso. Já está tudo arrumado! — Não vou, não. E tenho um ótimo motivo. — Ah, você deve estar doido. Eu vou aí. Instantes depois ele chegava com mais três ou quatro colegas.

Insistiram em que eu fosse, afirmando que o inchaço iria desa-parecer e que eu deveria mudar de idéia. Mas, a essa altura, eu já estava firmemente decidido, e não cedi à insistência deles. Afi-nal foram embora.

Reconheço que devia ter explicado aos meus amigos que, por causa de minha fé em Jesus Cristo, estava com medo de pecar, se fosse ao baile de carnaval. Isso era o que eu lhes diria hoje. Mas achava-me tão mal espiritualmente, que foi preciso que mi-nha boca inchasse para que eu tivesse uma boa desculpa.

Sabendo o quanto é glorioso o evangelho, tenho vergonha de lembrar como fui covarde. Mas pelo menos havia feito uma de-cisão, tomado uma posição certa e rompido com o mundo. En-trei em casa e, como prova de que estava mesmo resolvido a mu-dar, quebrei o cachimbo, rasguei meu cartão de sócio do clube universitário e joguei fora todas as minhas revistas sobre futebol e corrida de carro, bem como muitos discos.

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No dia seguinte, domingo, fui aos cultos de manhã e à noite. Parecia que o resto da cidade estava-se esbaldando no pecado. Mas eu conseguira safar-me. Tinha a impressão de que tudo es-tava diferente. Minha vida se reerguera e voltara a ter sentido. Até comprei outra Bíblia como prova de minha rededicação a Deus.

Relembrando essas coisas, dou muitas graças a Deus pela promessa de Filipenses 1.6: "E eu tenho certeza de que Deus, que começou a boa obra em vocês, continuará ajudando-os a crescer em sua graça até quando sua tarefa em vocês estiver finalmente terminada naquele dia quanto Jesus Cristo voltar". (B.V.) Pouco a pouco começava a entender que, embora eu pu-desse vir a falhar para com Deus muitas vezes, ele nunca me deixaria na mão. Aos poucos, aprendia também o que é ter uma vida santa, feliz e produtiva. Entretanto, ainda teria de dar o passo crucial de minha existência. Para ser exato, isso ocorreria oito anos depois.

Tentando Viver Pelo Esforço Pessoal

Depois de dedicar a vida a Cristo, eu e alguns amigos co-meçamos a realizar vigílias de oração todas as sextas-feiras. Que-ríamos mostrar que estávamos levando a vida cristã muito a sé-rio. Tomávamos café com biscoitos para ficarmos acordados até de madrugada. Naquelas reuniões confessávamos pecados, impunhamos as mãos uns sobre os outros, líamos as promessas bíblicas, orávamos pelos perdidos e pela igreja. Mas orávamos acima de tudo sobre as tentações que não conseguíamos superar.

Sempre que um grande pregador ia à nossa cidade, dávamos um jeito de ter uma conversa com ele. E fazíamos sempre as mes-mas perguntas:

— Como podemos vencer as tentações? Como podemos ter uma vida santa? O que temos de fazer?

Geralmente o pregador indagava: —Vocês estão lendo a Bíblia? —Estamos, respondíamos. Levantamo-nos às 5:00 horas e le-

mos a Bíblia antes de ir para a escola ou para o trabalho. Lemos vários capítulos por dia.

—Ótimo! Mas estão pregando o evangelho? —Estamos. Nós distribuímos folhetos, contamos histórias para

crianças e fazemos pregação ao ar livre. —Excelente! Mas estão orando? indagaria o pregador.

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QUE QUASE DESISTI DE TUDO 39

E nós lhe falávamos sobre as vigílias que realizávamos. Nosso sentimento de frustração era claro.

— O que mais precisamos fazer? perguntávamos. — Orem mais, preguem mais e leiam mais a Bíblia. E foi o que fizemos. E quase nos matamos, tão desejosos es-

távamos de levar uma vida santa. Procurávamos ouvir outros pregadores e todos diziam a mesma

coisa: que rededicássemos a vida a Jesus Cristo. Então íamos à frente rededicar-nos. Apesar disso continuávamos a ter as mesmas sensações de frustração e de fraqueza. E eu pensava: "Talvez haja alguma parte de meu ser que ainda não dediquei ao Senhor". E ia novamente à frente, fazendo nova rededicação de vida. Um ano depois fiz uma super-reconsagração pessoal. Mas alguma coisa continuava errada.

Alguns amigos começaram a abandonar as vigílias de oração. Outros pararam de ir à igreja. Uns o fizeram quase sem ser per-cebidos; outros acabaram cometendo pecados gritantes. Mas to-dos demonstravam o mesmo desespero. Diziam:

— Nós lemos a Bíblia feito loucos. Oramos a noite inteira. Pre gamos o evangelho. E depois de tudo isso não conseguimos ainda resistir a certas tentações. Ou o evangelho não liberta ninguém, ou então somos pecadores tão ímpios que nem Deus pode livrar- nos dos pensamentos impuros que temos.

Certa vez um amigo meu ironizou alguns textos que falam sobre a vitória do crente. E todas as vezes que lhe falava de um bom livro sobre o assunto, replicava:

— Queria ver se esse homem tem vitória até mesmo quando o carro dele enguiça, e ele tem de entrar debaixo dele e ficar todo sujo de óleo e graxa.

Não soube o que responder. E dentro em pouco comecei a experimentar igual ceticismo, principalmente porque também não estava obtendo vitória. No fim achei que ele devia estar com a razão: realmente era impossível vencer o pecado.

Mas consegui me segurar, quase caindo, mas consegui. Amava a Palavra de Deus e a estudava com dedicação. Mas nunca aprendi como se poderia andar no Espírito a não ser pelo legalismo. Estava ansioso por me ver livre daquele esforço da carne. O estudo da Bíblia, a oração, bem como meu trabalho na igreja, não passavam de um estrênuo esforço para permanecer firme com Deus. Sabia que o poder vinha do Espirito, mas por alguma razão não experimentava esse poder.

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Continuei em minha busca desesperada, embora, na verdade, já devesse ter encontrado a solução.

Cheguei a ponto de quase desistir, não porque achasse que Deus havia falhado, não, mas porque estava cansado de lutar e lutar, e buscar, e perseverar simplesmente na base da força de vontade. Estava exausto, e esse cansaço nos leva ao ceticismo. Pensava:

Quando será que vou aprender isso? Será que devo desistir agora, depois de tudo que já passei? Sabia que a outra forma de viver era desesperadora. Mas também, quando sabemos que estamos pro-curando a solução no lugar certo, e não a encontramos, o senso de frustração é ainda maior. Eu queria amar a Deus, queria agradá-lo e servi-lo. Queria ver pessoas salvas. Muitas vezes cantei aquele hino: 'Jesus, eu te prometo servir-te até o fim", e depois pensava: Mesmo que tenha de morrer!

Certo dia convidaram-me para ouvir Jim Savage, que iria falar sobre a possibilidade de Billy Graham ir à Argentina. E o que mais me impressionou na reunião (depois do número de pes-soas presentes — mais de mil — o maior que eu já vira em uma reunião de evangélicos na nossa cidade) foi um pequeno fume que mostrava o Dr. Graham falando a líderes evangélicos da índia.

A platéia era constituída de dezenas de milhares de pessoas, mas a câmara focalizava mais o orador, de sorte que eu tinha a impressão de que ele falava comigo. Ali na tela, ele parecia fitar-me diretamente nos olhos. Estava pregando sobre Efésios 5.18: "E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito". Era como se aquele povo da índia nem estivesse ali. Ele olhava para mim, bradando:

"Você está cheio do Espírito? Você está cheio do Espírito? Você está cheio do Espírito?"

Compreendi que era aquele o meu problema. Eu não estava cheio do Espírito. Essa era a razão de minha vida ter tantos altos e baixos. Era por isso que, apesar de todo o meu fervor e de-dicação, tinha poucos frutos e não vencia as tentações. Quando tudo isso terminaria? Quando eu teria a solução para fudo?

Encontrei-a nos Estados Unidos, após os primeiros meses de estudos na escola bíblica, durante os quais ainda me senti bas-tante frustrado.

Fui para os Estados Unidos por sugestão de Ray Stedman, pastor da Igreja Bíblica da Península, de Paio Alto, Califórnia. E nos primeiros dois meses fiquei hospedado em sua casa. Eu

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gostava muito de discutir. Meu prazer era ficar discutindo teologia e doutrina durante horas e horas. Já descobrira que não tinha resposta para tudo, mas ainda não estava disposto a admiti-lo. Mas Ray, sua esposa Elaine e as quatro filhas foram muito pacientes e compreensivos comigo. A harmonia da família permeava o ambiente, apesar da presença daquele barulhento latino que invadira a casa. Ray, com seu bom humor, mantinha todo mundo alegre, e me tornei amigo de todos.

Os dois meses que passei com a família de Ray Stedman não foram suficientes para eu assimilar a cultura americana — como se conversa, como se come e como se comporta do mesmo jeito que o povo da terra — mas não tinha mais tempo, e em seguida fui para a Escola Bíblica Multnomah, em Portland, Oregon. O ensino da escola é bastante "puxado", e o primeiro semestre, para mim, foi bem difícil.

Uma das coisas que me deixavam com um forte sentimento de frustração era o fato de o professor da disciplina Vida Espiritual, o Dr. George Kehoe, começar todas as suas aulas citando Gaiatas 2.19,20: "Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que agora tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim".

Ainda continuava me esforçando para dar mais fruto. Sentia-me frustrado por não conseguir viver como Ray Stedman e vários outros irmãos da Igreja Bíblica da Península. Eles gozavam de uma liberdade e felicidade invejáveis. Mas quanto mais a bus-cava, mais ela parecia escapar-me.

Minha vida espiritual assemelhava-se a uma tentativa de es-calar um pico. Eu ia subindo palmo a palmo montanha acima, agarrando-me como podia, mas daí a pouco escorregava de volta para baixo. É verdade que já tinha experimentado algumas bênçãos e vitórias espirituais, mas era uma luta por demais penosa. Não poderia continuar vivendo daquele jeito, principalmente escon-dendo tudo dos outros. Esse problema era uma agonia, uma morte para mim. Eu já me indagava por quanto tempo ainda iria agüentar segurar-me naquele pico. Se alguém não me ajudasse, muito em breve iria largar tudo.

Eu me via como um hipócrita sincero. Alguns riem quando digo isso, mas é verdade. E não era engraçado, não. Existem crentes hipócritas, que sabem que o são e querem continuar sendo. Querem ter uma vida dupla: uma para exibir na igreja e outra

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para viver em particular. Mas eu não; queria ser exatamente como as pessoas pensavam que eu era.

Se eu fosse descrever minha atitude naqueles dias, diria que tinha inveja dos outros, era egocêntrico, excessivamente preo-cupado e tinha um doentio anseio de realização. Achava que era melhor do que outros pregadores, e ficava comparando minhas ilustrações e forma de pregar com as deles. Mas depois sentia-me horrível, mesquinho, vil. E por mais que lutasse não conseguia livrar-me desses pecados. Mas eu tentava. Considerava-me desprezível. Detestava o fato de ser hipócrita.

Talvez fosse por isso que não gostava daquela constante re-petição de Gaiatas 2.19, 20. Ficava tão irritado de ouvir o Dr. Kehoe citar aquele texto que um dia tive de me indagar por que tinha tal reação. Não é possível que um verso bíblico esteja-me deixando tão incomodado, pensei comigo. Só pode ser eu mesmo. Mas em vez de deixar aquela passagem quebrantar meu orgulho, preferi achar que ela era contraditória, confusa e incompreensível, principal-mente em inglês.

Um pouco antes do Natal, o Major Ian Thomas pregou no culto devocional dos alunos. Eu criara o hábito de me sentar bem atrás no salão. As mensagens eram sempre exposições bíblicas ou testemunhos de missionários. E geralmente não me empe-nhava muito para prestar atenção. O pregador que atraísse mi-nha atenção se o desejasse. Se ele fosse bom, eu lhe daria a honra de ouvi-lo. Mas, se não, ficaria a devanear ou a ler as anotações das aulas.

O Major Thomas é o fundador e diretor de um grupo de-nominado Torchbearers (Condutores da Tocha), que dirige a Es-cola Bíblica de Capernwray Hall, na Inglaterra. Achei muito interessante seu sotaque britânico e sua maneira peculiar de falar. Mas o que realmente me intrigou foi seu jeito de pregar apontando o dedo para a gente, principalmente porque a ponta do dedo fora amputada. Se com sua maneira de falar ele pren-deu minha atenção, sua breve mensagem me envolveu com-pletamente.

Thomas falou sobre Moisés e de como fora preciso que aquele grande homem passasse quarenta anos no deserto para desco-brir que não era nada. E um dia ele se viu diante de uma sarça em chamas. Segundo Thomas, provavelmente aquela sarça ar-dente do deserto nada mais era que uma arvorezinha feia e pe-quena. Mas Moisés teve de tirar os sapatos. Por quê? Porque o

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lugar onde estava era terra santa. E por que era santa? Porque Deus estava na sarça!

E esse era o ponto central da mensagem. Deus estava dizendo

a Moisés: "Eu não preciso de uma bela árvore, culta e eloqüente. Qual-

quer planta serve, desde que eu esteja nela. Se eu quiser usar você, usarei. E não será você trabalhando para mim, mas, sim, eu ope-rando por seu intermédio".

Então de repente compreendi que eu era uma árvore assim — indigna e inútil, uma planta feia e pequena. Não podia fazer nada para Deus. Todo o meu esforço — meus estudos e leituras, minha constante inquirição, meu desejo de ser igual a outros — não tinha nenhum valor. Se Deus não estivesse na sarça, meu ministério seria inútil. Só ele poderia realizar alguma coisa, só ele poderia operar de fato.

E Thomas ralou sobre muitos obreiros crentes que inicialmente fracassaram no ministério porque achavam que tinham alguma coisa a oferecer a Deus. Ele próprio pensara que Deus o usaria poderosamente, pois era um pregador ardoroso e eloqüente. Mas Deus só o usara depois que ele reconhecera que não tinha nada para oferecer-lhe. £ isso que está acontecendo comigo, pensei. Não tenho nada em mim mesmo.

E concluiu a mensagem lendo Gaiatas 2.19, 20. E foi aí que tudo fez sentido para mim. "Estou crucificado com Cristo; logo já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim." Finalmente mi-nha longa luta espiritual terminara. Daí por diante, iria deixar Deus ser Deus, e Luis Palau iria depender totalmente dele.

É difícil para outros imaginarem a sensação de libertação que senti depois de ouvir aquela breve mensagem no culto dos alu-nos. Corri para meu quarto, ajoelhei-me ao lado da cama e orei em minha própria língua, castelhano.

"Senhor, agora estou compreendendo. "Não mais eu, mas Cristo em mim" é a base de tudo. Não se trata do que eu vou fazer para ti, mas do que tu irás realizar por meu intermédio."

Fiquei de joelhos, em comunhão com o Senhor, durante uma hora e meia, até a hora do almoço. Compreendi que o motivo por que interiormente me detestava era que amava a mim mesmo de forma errada. Pedi perdão a Deus por meu orgulho. Ah, eu pensara que era tão importante, mas Deus não estava operando nesta árvore, pois eu não lhe dera oportunidade para isso.

Deus ainda teria de queimar muita coisa, mas finalmente ele

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se achava no comando desta planta aqui. Ele queria que eu lhe desse graças pelos pequenos talentos que me concedera, mas não confiasse neles para me tornar um bom pregador ou pastor. Queria que não confiasse em mim mesmo, nem em golpes de sorte, mas somente em Cristo — no poderoso Senhor Jesus vivo, que habitava em mim.

Fiquei felicíssimo ao compreender finalmente que temos tudo de que precisamos quando Jesus Cristo vive em nós. Pela nossa união com Cristo, Deus se torna a fonte de onde emanam todos os nossos recursos. (Ver Colossenses 2.9-15.) É o poder divino que controla nossa disposição, que nos capacita para servi-lo, que nos corrige e dirige. (Ver Filipenses 2.13.) Entendendo isso, ob-temos um correto senso de valor próprio.

Aquele dia constituiu um marco na minha vida espiritual. A aplicação prática da verdade que eu aprendera iria ser longa e dolorosa, mas pelo menos eu a aprendera. E minha alegria era inexprimível. Agora podia descansar em Jesus. Ele iria operar por meu intermédio. Que paz maravilhosa saber que podia parar de esforçar-me!

Pouco depois descobri que eu não era o único a ter aquele tipo de luta. Muitos crentes, cada um à sua maneira, vivem do mesmo jeito que eu vivi todos aqueles anos. Não há dúvida de que entregaram o coração a Jesus Cristo. Receberam a Cristo como Salvador e Senhor. Amam a Jesus. Mas não conseguem levar a vida cristã como acham que devem viver.

É verdade que permanecem firmes em Cristo e freqüentam uma igreja. Estão entre os 20% dos crentes que fazem 80% do trabalho. Ou então acham-se entre os 60% que eram ativos mas que agora apenas se limitam a assistir aos cultos. Experimentam certo gozo; foram libertos até certo ponto, e chegam a dar algum fruto. Mas, se forem sinceros, terão de confessar que não se sen-tem felizes.

A todo lugar aonde vamos, encontramos crentes infelizes, de-salentados e derrotados. Pelo menos eu encontro. A Igreja de Crest View é um exemplo típico da maioria das igrejas. Então eu pergunto: será que era isso que Jesus queria quando veio ao mundo, morreu na cruz por nossos pecados, ressurgiu dentre os mortos, e disse: "Recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas"? Era isso que ele esperava quando afirmou que do nosso interior fluiriam "rios de água viva"?

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POR QL1E QL1ASE DESISTI DE TL1DO 45

Ou será que não estamos entendendo nada?

Relembrando minha jornada espiritual, fiz alusão a quatro ver-dades espirituais. Essas verdades operaram em mim um renovamento espiritual. Em todos esses anos de ministério, tenho percorrido vários países do mundo, e pregando-as tenho visto milhares de crentes experimentarem o poder libertador desta ver-dade: "Cristo vive em mim".

E são essas quatro verdades que desejo discutir no restante deste livro. Gostaria que o leitor abrisse sua Bíblia e fosse fazendo essa caminhada comigo. E espero que, no decorrer dela, você também encontre, como eu encontrei, um renovado fervor es-piritual.

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"A obra que Cristo realizou na cruz

por mim me traz salvação. A obra que ele realiza em mim

me torna feliz.

— John G. Mitchell

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Capítulo 3

Um Enorme Potencial

Ao iniciar-se, aquele evento ficou in-ternacionalmente conhecido como a viagem inaugural do maior e mais luxuoso navio do mundo, o Titanic. Mas terminou sendo uma das maiores tragédias da navegação marítima. Sabe-se que só a passagem de ida num dos camarotes de luxo daquele transatlântico custava o equivalente a $50.000 dólares, em valores atuais. Com quase trezentos metros de comprimento e um des-locamento de 66.000 toneladas, ele era o que o próprio nome di-zia, titânico, colossal.

Se o navio não tivesse afundado a 14 de abril de 1912, além de ser gigantesco, o Titanic poderia ter também a fama de "in-submergível", pois era o que se dizia dele. Mas o fato é que hoje muita gente, ao ouvir esse nome, logo pensa na fabulosa embarcação cujo casco está enferrujando no fundo do Oceano Atlântico a seiscentas milhas da costa do Canadá.

Por ironia da sorte, foram as tentativas da tripulação de desviar-

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se do famoso iceberg que provocaram o desastre. Se ele tivesse permanecido na rota, apenas dois ou três de seus compartimentos teriam feito água e ele poderia perfeitamente ter continuado a navegar. Mas não permaneceu, e o resultado foi que mais de mil e quinhentas pessoas perderam a vida.

Um começo tão promissor! Uma tragédia tão desnecessária! Sempre que penso nas centenas de milhares de pessoas que se dizem crentes mas não experimentam gozo espiritual, lembro-me do Titanic. Elas dizem que vão para o céu, mas parecem muito infelizes aqui na terra.

A nova vida que temos em Jesus Cristo é muito melhor que a vida antiga que deixamos para trás, não é? Pense nisso. Se alguém é crente mesmo, seu futuro está garantido, certo? Seus pecados estão perdoados, não estão? Claro que sim! Deus está vivendo nele? Está.

Mas será que estamos obtendo vitória contra o pecado? Temos uma conduta santa? Os outros sentem a presença de Deus em nossa vida? Se a resposta for negativa, não é de admirar que nos falte intrepidez para falarmos das boas-novas de Deus àqueles que estão sem Cristo. Não é à-toa que por vezes nos sentimos frustrados e desiludidos com a mensagem do evangelho.

O Senhor disse que nos deu sua paz, mas ainda temos pre-ocupações e inquietações. Deus manda que nos regozijemos, mas nos sentimos deprimidos e dominados pelo desânimo. Ele ordena que amemos uns aos outros, mas muitas vezes nos sentimos amargurados, irritados, propensos a criticar. A Bíblia ordena que glorifiquemos a Deus, mas nos momentos de tensão acabamos sempre desonrando-o, e depois ficamos com sentimentos de culpa.

A Bíblia diz que se Deus é por nós, quem será contra nós? Mas ainda assim aqueles que são chamados pelo seu nome passam por duras lutas e tragédias. Ela revela também que Deus dá boas dádivas a seus filhos, mas às vezes temos a impressão de que ele se esqueceu de nós. A Palavra fala de "rios de água viva" (Jo 7.38) que fluirão do nosso interior, mas é muito raro sentirmos o gozo do Espírito Santo fluindo profusamente.

Meu irmão, seu cálice está transbordando esta semana? Sente as bênçãos de Deus com tal abundância que tem a impressão de que não agüenta mais? Não; se você é como a maioria dos crentes que conheço é pouco provável que esteja dizendo: "Chega, Senhor. Pare de abençoar-me!" Pelo contrário. Acha-se profun-

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damente desejoso de receber um toque divino. Sente que a vida cristã não pode ser só isso que você conhece; tem de haver mais.

Lembra-se de como se sentia nos primeiros dias após sua con-versão? Eu quase não consegui dormir na noite em que entreguei o coração a Jesus Cristo, tão comovido me sentia. Sabia que fizera a decisão mais importante de minha vida. Naqueles primeiros dias, meu coração era como uma imensa fogueira, as altas chamas subindo para o céu. Entretanto, aquele fogo da alma foi morrendo pouco a pouco até apagar-se. Por baixo das cinzas ainda restavam algumas brasas, mas por fora estava completamente apagado. Anos depois passei por uma profunda experiência espiritual, e comecei a vivenciar uma restauração gradual em minha vida. Deus foi como que colocando novas achas de lenha, e reacendendo as chamas, abanando o fogo, até que ele se reavivou. Mas como eu gostaria que isso tivesse acontecido mais cedo!

Neste livro, falamos de um renovamento — de como podemos reavivar o fogo de Deus em nossa vida. E é de um renovamento que a igreja mais precisa hoje. E o que vem a ser esse renovamento? É uma obra que Deus realiza em nós ou em outros por nosso intermédio. Quando nos renovamos espiritualmente, nosso amor por Deus se reacende. Passamos a amar o seu povo. Sua Palavra volta a tornar-se viva para nós. Temos maior interesse pelo evangelismo, preocupação com os perdidos. E a tentação perde o domínio que exercia sobre nossas emoções.

Essa renovação interior atinge todos os aspectos de nosso ser. Depois que a experimentamos não precisamos mais de cir-cunstâncias especiais nem de conferências de avivamento para termos gloriosas experiências espirituais. Estou sempre me lem-brando de Paul e Nancy Nichols, da Igreja de Crest View. Apesar de terem sofrido tão grande perda — as empresas, as casas, seus bens — eles passaram a gozar de uma comunhão mais profunda com Deus. Não é exatamente essa a reação de um crente inte-riormente renovado?

Algumas pessoas dizem: — Eu poderia ter sido feliz, se o destino me tivesse sido mais

favorável. Mas o fato é que a vida não é justa com ninguém. Todos nós

passamos por situações difíceis, algumas até trágicas. Entretanto existem inúmeras evidências de que podemos experimentar o gozo do Senhor o tempo todo.

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Estou convencido de que o maior problema dos crentes hoje é que não crêem no imenso potencial de uma renovação total de seu ser operada por Deus. E ela tem de ser total mesmo — quero dizer, fundamental e plena — se comparada com o que se vê no resto do mundo. E por isso que digo que a temática deste livro é um "renovamento radical". Vamos descobrir o que significa ter prazer na vida cristã, e apreciá-la até mesmo quando passamos pelas piores situações que a vida pode apresentar-nos.

Então qual é o resultado de um renovamento radical? Uma vida triunfante e vitoriosa, um viver santo, transparente* uma existência totalmente dirigida pelo próprio Deus. Vamos então examinar essas três fabulosas possibilidades.

O Renovamento é Uma Vida Triunfante e Vitoriosa

Todos nós temos temperamentos diferentes uns dos outros. Nossa maneira de encarar a vida é diferente. Alguns são otimis-tas, outros um pouco mais pessimistas. Alguns são extroverti-dos, outros, introvertidos. Alguns são despreocupados, outros tendem a levar a vida mais a sério. Essas diferenças são parte de nossa constituição natural de seres humanos.

Mas a Bíblia ensina que todo crente, seja qual for seu tem-peramento, pode ter uma vida feliz, vitoriosa e cheia do Espírito de Deus. É assim que deve ser a vida cristã normal. Gosto muito do modo como Paulo coloca isso: "Graças, porém, a Deus que em Cristo sempre nos conduz em triunfo, e, por meio de nós, manifesta em todo lugar a fragrância do seu conhecimento". (2 Co 2.14.)

Observe que Paulo diz: "Deus ...nos conduz em triunfo". E qual é o resultado? Os outros sentem a fragrância de Cristo em nossa vida. Esse perfume como que permeia toda a atmosfera ao redor do crente que já experimentou uma radical renovação interior e que tem um amor intenso pelas coisas de Deus.

A palavra "triunfo" sugere a idéia de luta, e nós estamos de fato envolvidos numa batalha espiritual. E um lado irá vencer essa guerra enquanto o outro irá perdê-la. O fato de que é Deus quem conduz o crente à vitória não significa que a luta será fácil para nós. É uma guerra mesmo, e uma guerra nunca é agradável.

* Quando o autor fala em transparência ou transparente, refere-se ao fato de que vivendo santamente não temos o que esconder; nossa vida pode ser vista por todos. (N. da T.)

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Para ser sincero, acho que é essa luta constante que torna a vida cristã tão interessante, assim como um jogo difícil é empolgante para os atletas que dele participam. Qual é nossa atitude diante de um adversário? Não é agradar-lhe nem apaziguá-lo. E nem quando a luta se torna mais ferrenha pensamos em desistir. Além disso, nessa guerra nunca aceitamos a derrota. Tal idéia nos é inaceitável, e rejeitamos totalmente essa possibilidade. Pelo contrário, queremos derrotar nossos inimigos por intermédio do Senhor Jesus Cristo e da vitória que ele conquistou na cruz.

Vitória Contra o Mundo

As Escrituras falam de três inimigos do crente. O primeiro deles é o "mundo". Na igreja onde fui criado, todo mundo atacava o mundo. Achavam a monotonia uma beleza e acreditavam que ir a festas e jogos esportivos era pura perda de tempo. Rejeitavam tudo que parecesse mundano. E eu pensava que esse era o ensino bíblico.

Mas, afinal, o que a Bíblia quer dizer quando fala de mundo? Lendo a Palavra de Deus, principalmente o Novo Testamento, ficamos admirados de ver como ela parece estar falando de uma pessoa, sempre que menciona esse nosso inimigo. Quando as Escrituras falam de mundo, não estão-se referindo a este planeta, mas às pessoas que vivem na terra e não conhecem a Deus. E, de forma mais ampla, referem-se à sua filosofia, ao seu modo de encarar a vida.

Entretanto, apesar de vivermos cercados pelo sistema do pre-sente século, nunca foi intenção de Deus que empregássemos todas as nossas energias apenas contra esse inimigo. Isso foi um dos erros que vi na igreja quando era jovem. Estavam constan-temente nos advertindo a respeito de certas músicas, certas pes-soas e atividades. O que aconteceu foi que fiquei tão preocupado em lutar contra o mundo que terminei derrotado pela carne e pelo diabo.

E claro que, por outro lado, não podemos simplesmente ficar parados e deixar que o mundo molde nossa vida e pensamento. Muitos crentes se deixam levar por ele porque se esquecem de que estão em guerra com ele. Não quero dizer com isso que estamos em guerra com as pessoas deste mundo, não. Na verdade temos de amá-las. Mas precisamos rejeitar esse sistema odioso, arrogante, egocêntrico, que quer alimentar nosso ego e nosso orgulho, e deseja destruir a vida daqueles que nos cercam.

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O mundo está constantemente nos atacando, mesmo quando não estamos conscientes disso. Possuo um aparelho de televisão com controle remoto. Sempre que passo pela sala dou uma olhada em todos os canais. Às vezes parece que, até mesmo nos esportes e no noticiário, o que eles têm para mostrar é só sofrimento e problemas. O mundo está proclamando sua mensagem, vinte e quatro horas por dia, usando todos os veículos possíveis. Será que estamos exercitando nosso senso crítico diante dele, ou aceitando passivamente tudo que os meios de comunicação nos atiram?

A Bíblia diz o seguinte em 1 João 2.15-17: "Não ameis o mundo nem as cousas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele; porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai, mas procede do mundo. Ora, o mundo passa, bem como a sua concupiscência; aquele, porém, que faz a vontade de Deus permanece eternamente".

Felizmente nossa vitória sobre o mundo é certa. Por quê? Por-que "maior é aquele que está em vós do que aquele que está no mundo" (1 Jo 4.4). O Senhor Jesus também disse aos discípulos: "No mundo passais por aflições; mas tende bom ânimo, eu venci o mundo" (Jo 16.33). Então existe mesmo uma guerra ferrenha entre os desejos do mundo e a vontade de Deus. Todos nós percebemos isso claramente. Mas sabemos também que podemos sair vitoriosos desse combate.

Nessa batalha, temos à nossa disposição todo o poder do Se-nhor Jesus ressuscitado, o que não significa, porém, que os atra-tivos do mundo se dissiparão sem mais nem menos. Lembremo-nos sempre de que enquanto não chegar a hora de nos encontrarmos com o Senhor, estaremos vivendo em território inimigo. Mas "embora andando na carne, não militamos segundo a carne. Porque as armas da nossa milícia não são carnais, e, sim, poderosas em Deus para destruir fortalezas" (2 Co 10.3,4).

E quais são as fortalezas do mundo? Paulo responde: "Anu-lando sofismas e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus, levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo" (2 Co 10.5).

Então fortaleza é tudo que rejeita o governo e a autoridade de Deus. Assim podemos identificar algumas delas: indiferença, materialismo, orgulho e adoração do eu. Além disso temos ainda filosofias tais como humanismo, secularismo e racionalismo. E

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há também as falsas religiões, ou "ensinos de demônios", como Paulo diz em 1 Timóteo 4.1, e que são tão populares hoje em dia. Essas fortalezas do mundo exercem um domínio muito forte sobre nossa sociedade, como se pode perceber pelos meios de comunicação. Contudo o poder de Deus que em nós opera é bem

maior que ele. . . . . . .

Mas temos ainda um outro inimigo muito sutil.

Vitória Contra a Carne

O segundo inimigo que temos de combater é a "carne". O termo "carne" não designa apenas nosso corpo, embora, na maioria das vezes, ele seja o campo de batalha. Alguns definem carne como "natureza pecaminosa"; outros falam em "velha natureza". Mas seja qual for o termo empregado, uma coisa é clara: nós, os cren-tes, possuímos um forte inimigo alojado em nós.

A carne luta contra nossa alma, fazendo oposição ao Espírito Santo que em nós habita. E a Bíblia nos exorta: "Andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne. Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito contra a carne" (Gl 5.16,17a).

Nos versículos seguintes, Paulo fala claramente que as obras da carne não têm lugar na vida do crente. E a lista é impressionante: prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissenções, facções, invejas, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes. E a Bíblia diz que "não herdarão o reino de Deus os que tais cousas praticam" (Gl 5.21).

O problema é que muitos de nós, crentes, podemos ser ilu-didos por esse inimigo. Deixamo-nos impressionar por uma bela aparência, por apresentações bem elaboradas, com excesso de envolvimento emocional. Quantas vezes pessoas se apresentam na carne, agem de maneira vil e üusória, fingindo-se muito religiosas, e nós caímos no seu engodo.

Por outro lado, "o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, do-mínio próprio. Contra estas cousas não há lei" (Gl 5.22,23). O que quer dizer ele ao afirmar que não existe lei contra o fruto do Espírito? Quer dizer que não há limites para o amor, nem para o gozo e a paz que podemos experimentar. Mas as obras da carne são limitadas por leis. Até mesmo o mundo corrupto e pecaminoso estabelece limites para elas.

E há de fato uma guerra em nosso interior. Quando damos

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lugar à concupiscência da carne, imediatamente entristecemos o Espírito Santo e inibimos sua atuação em nosso coração. Mas isso não precisa acontecer. Podemos ser vitoriosos também nesse campo de batalha. Paulo nos lembra que "somos devedores, não à carne como se constrangidos a viver segundo a carne" (Rm 8.12).

Mas é possível que um jovem diga: — É Luis, você já está velho. É lógico que pode falar sobre

vitória nesse aspecto. Na sua idade, já dá para ter vitória. Mas eu não; tenho sangue nas veias. Sofro muitas tentações. E a carne me arrasta para elas.

Não pense que apenas os jovens solteiros sofrem tentações com relação às concupiscências da carne, não. As tentações duram toda a vida, posso garantir isso. Tenho de lutar com minha natureza pecaminosa todos os dias. Todos estamos em guerra contra esse inimigo. E muitos crentes são derrotados por ele. Mas não é preciso que tal aconteça. Você está derrotando a carne? Todos nós, pelo poder do Espírito Santo, podemos responder: Sim!

Vitória Contra o Diabo

Mas temos ainda um terceiro inimigo, o diabo. A Bíblia o chama também de Satanás, Lúcifer, o adversário e o enganador. Existem muitas pessoas, inclusive nos círculos cristãos, que apresentam o diabo de uma forma caricaturada, pensando nele como um personagem cômico. A verdade é que o diabo é um inimigo perigosíssimo, e, mais cedo ou mais tarde, todos nós descobrimos isso.

Jesus fala do diabo em termos incisivos: "Ele (o diabo) foi ho-micida desde o princípio e jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele profere a mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira" (Jo 8.44).

Cristo, por seu lado, é totalmente diferente dele. "O ladrão (referência ao diabo) vem somente para roubar, matar, e destruir; eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância." 0o 10.10.)

E o apóstolo Pedro nos adverte nos seguintes termos: "O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge pro-curando alguém para devorar; resisti-lhe firmes na fé, certos de que sofrimentos iguais aos vossos estão-se cumprindo na vossa irmandade espalhada pelo mundo" (1 Pe 5.8,9).

E Tiago ensina: "Resisti ao diabo, e ele fugirá de vós. Chegai-vos a Deus e ele se chegará a vós outros. Purificai as mãos, pe-

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cadores; e vós que sois de ânimo dobre, limpai o coração".

(Tg 4.7,8.) Paulo nos orienta a que nos revistamos da armadura espiritual

para nos protegermos desse inimigo. "Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e na força do seu poder. Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo; porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e, sim, contra os principados e potestades, contra os do-minadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes. Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau, e, depois de terdes vencido tudo, permanecer inabaláveis." (Ef 6.10-13.)

E nesse campo de batalha, não existe território desmilitarizado. Ou estamos resistindo pela força do poder de Deus, ou então estamos caídos, derrotados. Nessa guerra não há lugar para o orgulho que nos faz crer que temos a capacidade de caminhar na linha limítrofe entre o reino das trevas e o reino da luz.

Você está obtendo vitórias contra o inimigo? Será que pode afirmar: "Graças, porém, a Deus que em Cristo sempre nos con-duz em triunfo"? Ou sua experiência é de constante fracasso e derrota? É verdade que, enquanto não chegarmos ao céu, será impossível atingirmos a perfeição. Mas podemos vencer o mundo, a carne e o diabo. Essa é a primeira das grandes possibilidades que o crente tem diante de si.

O Renovamento é Uma Vida Santa, Transparente

As Escrituras ensinam também que a vida cristã deve ser santa, sem nada a ocultar. A Bíblia diz: "Como filhos da obediência, não vos amoldeis às paixões que tínheis anteriormente na vossa ignorância; pelo contrário, segundo é santo aquele vos chamou, tornai-vos santos também vós mesmos em todo o vosso proce-dimento, porque escrito está: Sede santos, porque eu sou santo" (1 Pe 1.14-16).

E diz ainda: "Segui a paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor" (Hb 12.14). E o apóstolo João nos lembra de que "se, porém, andarmos na luz, como ele está na luz, mantemos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado" (1 Jo 1.7).

O que significa ter uma vida santa, transparente? Ter santidade significa viver na luz, com Deus. Significa também viver de acordo com a Palavra de Deus, à medida que o Espírito vai-

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nos ensinando suas verdades. Em outras palavras, é fazer um compromisso com a pureza.

Ter uma vida transparente, na forma como eu entendo, sig-nifica não esconder nada do Pai celeste. Significa ainda tentar resolver todos os problemas que possa haver entre mim e outras pessoas, mesmo que o outro não queira solucionar a questão.

A santidade não é um movimento religioso, nem uma atitude dominical. Mas pode ser nossa experiência de vida diária. Ser transparente não implica em ser perfeito, embora seja esse o nosso objetivo supremo. O importante é que nunca abaixemos o padrão estabelecido por Jesus, quando disse aos discípulos: "Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste". (Mt 5.48.) Embora por vezes venhamos a falhar nunca devemos ficar acomodados no pecado. Todavia, o fato de termos plena cons-ciência de nossa imperfeição, não precisa levar-nos ao desespero.

Os mais santos e admirados servos de Deus, à medida que sua comunhão com o Senhor ia-se tornando mais íntima, tornavam-se mais conscientes de suas imperfeições. Eles lamentavam sua pecaminosidade embora não estivessem cometendo nenhuma das terríveis obras da carne. Quando o Espírito Santo lhes sondava o coração, eles encaravam todos os seus erros, até as menores falhas, como pecados horrendos. Então ansiavam pelo dia de Cristo, quando a boa obra que Deus realizava neles estaria completa (Fp 1.6), e eles seriam santos como Jesus (1 Jo 3.2).

Vemos isso quando Paulo fala de si mesmo. Já no final de sua vida, ele disse que era o principal dos pecadores (1 Tm 1.15). E não estava exagerando; referia-se a fatos concretos. Antes de se converter, o apóstolo havia assolado a igreja e cometera os crimes mais violentos possíveis.

Mas apesar de tudo ele se regozijava por ter recebido o perdão completo de Deus, e buscava a santificação. Assim sendo podia afirmar: "Não que eu... tenha já obtido a perfeição; mas pros-sigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus" (Fp 3.12). A consciência de imperfeição não impedia que Paulo tivesse uma vida tão transparente. Por quê? Porque estava consciente do temor de Deus, e ansiava pelo dia em que veria o Senhor pessoalmente.

Você é santo? Será que eu sou santo? Será que estamos go-zando a bênção de uma consciência transparente? Será que po-demos dizer o seguinte, a Deus com toda sinceridade?

"Senhor, dou-te graças porque sei que não tenho nada para

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esconder de ti. Não estou encobrindo nada. Estou andando na luz. Minha alma está limpa. Minha consciência está exposta diante de ti. Então, até onde eu sei, não tenho nada a acertar com ninguém. Senhor, eu te amo e quero agradecer-te porque não há nada a separar-me de ti."

Só o crente tem o privilégio de fazer uma afirmação dessas. É a grande bênção do evangelho para nós. A mensagem central do cristianismo pode ser resumida no fato de que Deus nos ama e quer que conheçamos a liberdade de nos relacionar com ele em santidade e com transparência. O prazer dele é que andemos na luz, que tenhamos uma vida santa e feliz nele. É assim que você está vivendo, ou existe alguma barreira entre você e ele?

Hoje em dia estamos sendo fortemente influenciados pelo mundo e por suas filosofias. Somos constantemente tentados a ceder e a dar lugar à carne, a passar para o lado do diabo. E muitas vezes nem nos apercebemos disso.

O mundo sabe como ninguém promover suas próprias idéias e planos. Há indivíduos que ganham a vida dando aconselhamento a quem os procura para contar-lhe seus problemas. Outros têm colunas em jornais ou aparecem em programas de entrevista na televisão. E muito do que dizem parece até bem razoável.

Mas os conselhos humanos, mesmo os bons conselhos, não bastam para a alma humana. Ela precisa da boa-nova de Deus, do poder radical do Senhor Jesus Cristo. Jesus não se limita a dar-nos conselhos. Oferece-nos poder para vivermos uma vida santa e transparente, em meio a uma sociedade corrupta e falsa.

Sei que algumas pessoas irão logo reagir, dizendo: — Ah, deixa disso, pastor! Estou cansado de ouvir essas coisas.

Vida cristã vitoriosa? Um mero jargão evangélico! Andar na luz, com uma consciência limpa? Pura piada! O senhor pode tentar convencer-me de que é tudo verdade, mas para mim não dá certo.

Quem pensa assim revela dois fatos. Primeiro, não está com a consciência limpa. Segundo, essa pessoa tornou-se cética. O cetico fala a língua do diabo, e termina em depressão.

Não nos admiraremos quando virmos crentes céticos depri-midos. Eles não possuem a fragrância de Cristo. Perderam o pri-meiro amor por Deus, bem como o gozo e a paz que Cristo nos da. Tornaram-se críticos, ou pelo menos céticos, em relação à igreja e as coisas de Deus, quando deviam era ter paixão pelas almas.

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Mas graças a Deus que nos oferece uma fórmula de perdão para as consciências que se contaminaram. Mais adiante anali-saremos essa questão em detalhes. Antes vamos considerar mais uma das enormes potencialidades da vida cristã.

O Renovamento é Todo um Estilo de Vida

A Bíblia ensina que a vida cristã é um estilo de vida em que o indivíduo é totalmente dirigido por Deus. Em minha opinião, essa é a mais maravilhosa possibilidade que existe. Não admira que Paulo tivesse orado fervorosamente para que Deus "segun-do a riqueza de sua glória, vos conceda que sejais fortalecidos com poder, mediante o seu Espírito no homem interior; e assim habite Cristo nos vossos corações, pela fé" (Ef 3.16,17).

E no restante da oração ele diz o seguinte: "Estando vós ar-raigados e alicerçados em amor, a fim de poderdes comprender, com todos os santos, qual é a largura, e o comprimento, e a al-tura, e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo que excede todo entendimento, para que sejais tomados de toda a plenitude de Deus." (Ef 3.17-19.)

Prestou atenção nessa última frase? "Para que sejais tomados de toda a plenitude de Deus." Imagine o quanto nossa vida seria diferente se fôssemos totalmente cheios do próprio Deus. Ele transformaria todas as facetas de nosso ser. Amaríamos a Deus mais profundamente. Teríamos muito mais amor por nossos irmãos em Cristo. E também conheceríamos a paixão pelos per-didos.

A razão de ser da vida cristã é que Deus ocupe cada vez mais os espaços de nossa vida, que ele molde nosso caráter para que se torne igual ao dele, e nos tornemos semelhantes a seu Filho, Jesus Cristo. A renovação radical é isso. Mas a maioria dos cren-tes não tem essa vida. Não é isso que o mundo vê na maioria dos membros de nossas igrejas.

O que os outros vêem em nós? Será que vêem Deus? A idéia que mais me inquieta é a possibilidade de um dia um jornalista entrevistar minha esposa ou os amigos mais chegados, e eles di-zerem que sou hipócrita.

— Como o Luís Palau é realmente? indagaria o repórter. — É um hipócrita, responderiam. Fala muito sobre o poder

de Deus, mas a vida dele não é nada disso. Nada me incomodaria mais. Acho que morreria se isso viesse

a acontecer.

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O que mais nos importa saber é o seguinte: Deus está no co-mando de minha vida? Está controlando tudo? Ou sou eu quem está comandando a festa?

Meu irmão, será que os outros estão vendo Deus em sua vida? Será que todos os aspectos de seu ser se acham sob o controle dele, estão cheios do próprio Deus? Infelizmente, muitas vezes a resposta é não. No próximo capítulo vamos analisar as razões disso.

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Para Meditar

1. No início deste capítulo, falei que "não é à-toa que por vezes nos sentimos frustrados e desiludidos com a mensagem do evangelho". Quais eram suas expectativas em relação à vida cristã quando você se converteu? Ficou decepcionado? Que expectativas você tem agora?

2. "Neste livro, falamos de um renovamento, de como podemos reavivar o fogo de Deus em nossa vida. E o que vem a ser esse renovamento? É uma obra que Deus realiza em nós ou em outros por nosso intermédio." Você já experimentou essa renovação interior? O que a ocasionou? Como foi a experiência?

3. "Enquanto não chegar a hora de nos encontrarmos com o Senhor, estaremos vivendo em território inimigo." De que ma-neiras o mundo tenta moldar seu pensamento e sua conduta? Qual é a melhor forma de você se defender contra ele?

4. "A carne luta contra nossa alma, fazendo oposição ao Es-pírito Santo que em nós habita." Você enfrenta mais lutas contra a concupiscência da carne agora ou na ocasião em que se converteu? Na sua opinião, qual a razão disso?

5. "A verdade é que o diabo é um inimigo perigosíssimo, e, mais cedo ou mais tarde, todos nós descobrimos isso." É possível escapar ao ataque dele? Como? Qual é a sua experiência nessa questão?

6. "A mensagem central do cristianismo pode ser resumida no fato de que Deus nos ama e quer que conheçamos a liberdade de nos relacionar com ele em santidade e com transparência." Você concorda ou não? Justifique sua resposta.

7. "Imagine o quanto nossa vida seria diferente se fôssemos totalmente cheios do próprio Deus." O que seria diferente no seu relacionamento com Deus? No seu relacionamento com outros? Na sua atitude para com aqueles que estão sem Cristo?

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ENORME POTENCIAL 63

Para Fazer

Como mencionei na secção "Sugestões Para a Leitura Deste Livro", não faça os exercícios na primeira leitura dele. Mas, de-pois, faça-os na ordem sugerida.

Neste capítulo, limitei-me a tentar aguçar o seu apetite espi-ritual e fazer com que começasse a pensar na possibilidade de desfrutar a vida cristã em todo o seu potencial. Mas ainda não sugeri nenhuma ação prática. Então vamos analisar esta impor-tante questão: o que significa ser crente.

1. Você já creu em Jesus Cristo, como seu Salvador? Se assim for, pegue o caderno e uma caneta. Coloque no alto da primeira página: "O que Cristo realizou em minha vida". Em seguida, relate o que aconteceu e quais foram as mudanças ocorridas, men-cionando situações específicas.

2. Se não conseguir lembrar muitas coisas que Cristo mudou em sua vida, escreva como você agiria hoje se ele não o tivesse salvado.

3. Se você ainda não creu em Jesus Cristo como seu Salvador, ou não tem certeza disso, sugiro que leia o livrete Seguindo a Jesus Cristo, do Pr. George Foster.

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Capítulo 4

Por que

Estamos

Falhando?

Alguns anos atrás, a companhia aérea Air Canada comprou quatro aparelhos Boeing 767, que logo se tornaram o orgulho da frota. Mas isso só até uma certa segunda-feira, por ocasião do vôo 143, de Montreal para Edmonton.

Após o curto vôo de Montreal a Ottawa, o capitão Robert Pearson e o co-piloto Mareei Quintal recolocaram a aeronave no ar, para o restante da viagem até Edmonton, a mais de 2500 qui-lômetros dali. Os passageiros estavam assistindo a um filme, quando de repente os potentes motores do avião pararam de fun-cionar.

A princípio, somente os que estavam sem os fones de ouvido notaram o problema. Mas pouco depois o filme foi interrompido, e o capitão Pearson anunciou que o vôo 143 iria fazer uma ater-rissagem de emergência. E foi assim que sessenta e nove pessoas se viram presas numa lenta e agonizante descida para a terra, da qual não havia como escapar.

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66 DIGA "SIM" PARA MUDAR

Durante os primeiros minutos, reinou na cabine um profundo silêncio. Mas em seguida o pânico tomou conta dos passageiros e muitos começaram a gritar, ao sentirem que se aproximava o instante da aterrissagem. Ao chegar esse momento, nem mesmo a mais avançada tecnologia poderia segurar aquele jumbo no ar.

O que acontecera? O vôo 143 ficara sem combustível quando ainda faltavam 1200 quilômetros para chegar ao seu destino.

Qualquer um poderia ter cometido aquele erro. O mostrador digital do aparelho estava estragado. Então o capitão Robert e o co-piloto Mareei, com base no regulamento, tinham levantado vôo confiando apenas no relatório do pessoal encarregado do reabas-tecimento em terra.

Mas alguém confundira libras com quilos. E assim, quando so-brevoavam Winnipeg, descobriu-se o engano. O jumbo, que de-veria ter ainda 26.760 libras de combustível, não tinha nada.

Pela graça de Deus, o capitão e o co-piloto conseguiram levar o aparelho a uma pista militar que ficava a cerca de 160 quilômetros dali, e que Mareei conhecera quando servia na força aérea. Com a manobra de aterrissagem forçada, o trem de aterrissagem ficou seriamente danificado, mas ninguém se feriu.

Infelizmente, nem todas as histórias têm um final feliz. Há mi-lhares de crentes agora que se encontram na mesma situação de-sesperadora do vôo 143. Sabem que poderiam ter uma vida vi-toriosa e santa, cheios do próprio Deus. Mas não estão tendo. Na verdade estão experimentando uma queda lenta, levados pelo peso da insatisfação, do desânimo e da derrota. Todos os seus esforços de recuperar o vigor espiritual deram em nada, e agora acham-se apreensivos com o que os aguarda em seguida — uma aterrissa-gem forçada.

Por que será que vemos tantos desastres espirituais? Por que tantas pessoas estão sofrendo derrotas desnecessárias? Por que existe tanta depressão e tanta carnalidade?

Já ouvi todos os tipos de explicação. Quem é conselheiro, pas-tor, diácono, ou dirige um grupo de estudo bíblico também deve ouvir.

—A situação econômica está muito difícil. —É muito difícil ser honesto no mundo dos negócios. —Hoje em dia as tentações sexuais são feitas abertamente.

Como é que posso resistir? —Não amo mais minha esposa; como vou continuar com ela? —Sei que preciso ler mais a Bíblia, mas não tenho tempo, de-

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DIIE ESTAMOS FALHANDO? 67

vido ao meu trabalho e outros compromissos. Afinal de contas,

preciso descansar também. Todo mundo parece dar a impressão de que hoje não é possível

andar na luz da Palavra de Deus, pelo seu Espírito. Dizem: — Quero ter uma vida santa, mas por causa dos meios de co

municação isso está muito difícil. A sociedade atual é tão sensual. Como é que uma pessoa pode se manter pura nessas condições?

Reconhecemos que o mundo é cheio de impiedade. Malcolm Muggeridge afirmou que a crise que vivemos hoje não é política, nem econômica, nem ecológica, é a da "perda do senso de ordem moral". Richard Halverson disse que nossa sociedade está sendo devastada por uma "anarquia moral e ética". O relativismo está dominando tudo.

Mas mesmo que vivêssemos numa sociedade santa, arranja-riam outras desculpas.

— Se você conhecesse meu marido (ou minha esposa), não falaria sobre vida cristã vitoriosa. Venha passar uma semana em minha casa, Luis, para ver se consegue viver em santidade.

— Minha sogra está passando uns dias conosco, e enquanto ela não for embora, não vai dar para ter santidade em casa.

— Você não sabe como a situação no meu trabalho é difícil. Se eu quiser ser honesto, morro de fome.

Os crentes podem arranjar as desculpas que quiserem, mas quero dizer uma coisa aqui, com a autoridade da Palavra de Deus. Ninguém pode tirar-nos a unção do Espírito Santo. Ninguém pode impedir que nosso cálice transborde. Ninguém pode impedir que sejamos santos. Ninguém pode tirar de nós a alegria de Deus — nem nossos parentes, nem o cônjuge, nem o patrão, nem mesmo Satanás. Ninguém! Por piores que as pessoas sejam, por mais que nos causem sofrimento — e algumas causam, sim — não têm po-der para isso.

Existe apenas um fator que pode impedir-nos de gozar ple-namente a experiência cristã: o pecado. Não podemos culpar a mais nada e a mais ninguém.

Esse é um lado do renovamento radical. Precisamos ter uma nova visão do pecado. Precisamos reconhecer que ele funciona como um letal câncer espiritual que corrói nossa alma.

Se quisermos experimentar a vida cristã em todo o seu poten-cial, podemos perfeitamente. A única coisa que nos deixa frus-trados, amargurados, derrotados, ou que nos torna desprezíveis, sombrios, e nos leva a causar sofrimento a outros é o pecado.

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68 DIGA "SIM" PARA MUDAR

É horrível lidar com o pecado. Mas enquanto não tivermos acer-tado tudo com Deus, e não restar mais nada para confessar, pre-cisamos encarar a questão de frente. Precisamos expor tudo diante do Senhor, com a máxima seriedade.

A Necessidade de Uma Cirurgia Divina

Se um ente querido estivesse com um nódulo suspeito em al-guma parte do corpo iríamos levá-lo a um médico para ver do que se tratava. E o que esperaríamos que o médico dissesse?

— Tome um ou dois comprimidos para dor de cabeça, e me telefone amanhã cedo para dizer como vão indo as coisas.

De modo nenhum! Se um médico me dissesse isso sairia do consultório dele bem depressa e nunca mais voltaria. Quando a situação é séria, queremos que ele nos diga toda a verdade. Que tipo de caroço é esse? Precisamos saber. Se for maligno, quere-mos que seja removido.

Eu e Pat, minha esposa, passamos por isso alguns anos atrás. Ela descobriu um nódulo, e imediatamente a levamos ao médico. Ele fez alguns exames e concluiu que era canceroso. E marcou uma cirurgia radical para a semana seguinte. O período de restabele-cimento levou vários meses, mais de um ano. Mas o que teria acon-tecido se tivéssemos ignorado o resultado dos exames e cancelado a cirurgia? Tenho quase certeza de que as conseqüências teriam sido desastrosas. Reconheço que a cirurgia e o tratamento foram penosos, mas antes isso que minha esposa perder a vida. -

Nenhum médico tem prazer em operar um paciente para re-mover tecidos cancerosos. Mas é obrigado a fazê-lo. O mesmo se dá comigo quando tenho de falar de um assunto como o pe-cado. Se algum de nós estiver abrigando pecado no coração, es-tará cometendo um erro fatal. Se não nos submetermos à cirurgia divina, o pecado irá tornar-se cada vez mais maligno em nós. As-sim inibiremos a atuação de Deus em nossa vida. Então não po-demos continuar dessa maneira, como se tudo estivesse muito bem.

Temos de começar pedindo a Deus que sonde o nosso coração. Façamos nossa a oração do salmista: "Sonda-me, ó Deus, e co-nhece o meu coração: prova-me e conhece os meus pensamen-tos; vê se há em mim algum caminho mau..." (SI 139.23,24.)

De nada nos adianta fingir que estamos andando com o Se-nhor, quando não estamos. Qual é nosso grau de sensibilidade para com o pecado? Será que permitimos em nosso viver conver-

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ESTAMOS FALHANDO? 69

e práticas que maculam nossa alma? Se o fizermos, estaremos entristecendo o Espírito Santo, ainda que não tenhamos consci-ência disso. Às vezes demoramos algum tempo para perceber o fato. E então dizemos:

— Perdi a alegria que gozava. Antes eu era tão feliz com Deus.

O que será que aconteceu?

Precisamos pedir a Deus que nos torne cada vez mais sensíveis ao pecado. Tal medida é muito importante nos dias em que vivemos, quando os padrões morais foram derrubados e postos de lado. O conceito do que é certo ou errado está sendo definido por preferências pessoais e pela opinião pública.

Numa época como esta, é muito importante que façamos a se-guinte oração de compromisso pessoal com Deus: "Portas a den-tro, em minha casa, terei coração sincero. Não porei cousa injusta diante dos meus olhos; aborreço o proceder dos que se desviam; nada disto se me pegará. Longe de mim o coração perverso; não quero conhecer o mal" (SI 101.2b-4).

A Bíblia ensina que não podemos permitir em nosso coração a menor sombra de imoralidade ou impureza. Não podemos ser participantes das práticas do pecador, nem cúmplices nas obras infrutíferas das trevas (Ef 5.3-11.)

Quais as sombras de pecado e que obras das trevas se acham alojadas em nosso coração? Estremeço só de pensar em tocar nesse assunto. É claro que não posso acusar ninguém de nada, pois eu próprio sou pecador como todo mundo. Mas já me submeti à di-vina cirurgia de Deus e sei o quanto é necessário que o crente passe por esse processo.

Identificar Pecados Não Confessados

O segredo de uma vida de constante renovamento espiritual é o quebrantamento e o arrependimento. Precisamos ter sempre a hu-mildade de pedir ao Espírito Santo que sonde nosso coração. Devemo-nos indagar constantemente: minha consciência está limpa ou não? Tenho alguma fraqueza ou falha que preciso confessar?

Esse processo de auto-exame exige tempo, mas pode ter início a qualquer instante. Pode ocorrer enquanto ouvimos um sermão, quando estamos lendo a Bíblia em nosso momento devocional. Ele pode começar até mesmo durante a leitura deste capítulo. Eu sei que Deus quer falar ao meu coração agora, enquanto escrevo acerca desse assunto. Peça-lhe que fale ao seu coração também, a medida que vai lendo.

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70 DIGA "SIM" PARA MUDAR

Muitas vezes, quando Deus começa a falar conosco, somos ten-tados a pensar em outra pessoa. Quando ouvimos um sermão que nos mostra nosso pecado, logo pensamos: "Tomara que a Fulana de Tal esteja ouvindo com atenção."

Ou mesmo quando lemos um livro ou artigo que nos impres-siona imediatamente o damos para outrem, para removermos aquela pressão espiritual. Mas tomemos uma atitude diferente agora. Caro leitor, em vez de pensar nos amigos ou conhecidos que talvez precisem desta mensagem, peça a Deus que fale ao seu coração durante a leitura das páginas que se seguem.

Indiferença Para com os Padrões Morais

O crente nunca comete um pecado terrível da noite para o dia. Geralmente o pecado vai tomando conta de sua alma pouco a pouco. Começa com um pequeno ato de desobediência, que em geral decorre do fato de ele não haver-se consagrado ou se rendido totalmente a Deus. E essa desobediência o leva a outros erros. C. S. Lewis afirmou que a decisão de praticarmos ou um grande bem ou um grande mal assenta-se sobre uma série de "pequenas decisões pessoais", tomadas anteriormente, que foram nos condicionando para aquela decisão maior.

E são essas pequenas decisões que acabam redirecionando o rumo de nossa caminhada. Muitas das pessoas que por um motivo ou outro acabaram destruindo sua vida não tinham a menor intenção de fazê-lo. Mas foram abrigando uma pequena mentira aqui, um engano ali, coisinhas que embotaram sua sensibilidade moral e espiritual, e afinal terminaram ocasionando uma catástrofe.

Vamos pensar agora nas decisões menores que temos tomado. Será que, sem o perceber, você já começou a resvalar para a in-diferença em relação aos padrões morais? Por favor, não ceda à tentação de fazer uma leitura superficial no restante do capítulo. Mas peça a Deus que fale ao seu coração enquanto lê os parágrafos que se seguem, onde analisamos alguns dos pecados mais comuns entre nós.

Egocentrismo

Hoje em dia todo mundo está falando em auto-aceitação, autoconhecimento, autopromoção, auto-afirmação, auto-estima, auto-realização, auto-satisfação, auto-imagem, autovalorização, auto-aprimoramento, auto-suficiência, etc. Obviamente não é difícil re-

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PPorque estamos falhando71

onhecer o denominador comum em todas essas atitudes ou prá-ticas — o ego. E qual é o maior obstáculo para termos uma vida controlada pelo Espírito? O ego.

Nossa sociedade adotou o culto do eu. Estamos constantemente sendo bombardeados com a defesa de tais idéias através dos jor-nais revistas, dos programas de rádio e televisão, e de propagan-das comerciais. O mundo está continuamente falando sobre o ego, e é muito fácil começarmos nós também a fazer esse mesmo tipo de discurso.

Não faz muito tempo, ouvi contar de uma esposa de pastor que resolveu entrar para uma aula de dança aeróbica, com o ob-jetivo de emagrecer um pouco. Uma das razões que ela apresen-tou para justificar sua decisão foi que queria ser ela mesma. Mui-tas das mulheres que freqüentavam a academia eram divorciadas, e ficavam a dizer que os homens eram uns "egoístas, insensíveis, incapazes de dar felicidade à esposa". E aquela mulher, esposa de pastor, acabou absorvendo todo esse palavrório, e algum tempo depois abandonou o marido. Por quê? Basicamente porque se tor-nara obcecada em satisfazer a seus desejos pessoais.

Qualquer um de nós pode cair no mesmo erro. E podemos até justificar nosso egocentrismo, arranjar explicações, apresentar os argumentos que quisermos. Mas o fato é que ele está destruindo lares, desfazendo casamentos. O egocentrismo afasta o homem do verdadeiro sentido da vida, do propósito certo para a existência.

Mexericos

É possível que alguém diga: — Ah, que é isso, Luis? Fale dos pecados maiores. Esse é um dos pecados maiores. A maioria dos crentes não

está aí muito disposta a cometer adultério, pelo menos por temor a Deus. Mas quem é que prejudica mais a Igreja e o povo de Cristo? Aqueles que espalham mexericos, que passam adiante notícias que não deveriam ser repetidas.

Espalhar mexerico não é inventar uma mentira a respeito de outrem. Isso é difamar. Contar mexerico é passar a outrem um fato que ouvimos a respeito de alguém, e que, apesar de ser ver-dade, não deveria ser divulgado. Todos nós temos essa tendên-cia. Queremos que os outros nos contem as novidades, e adora-mos também relatar-lhes aquilo que sabemos.

Parece que algumas pessoas são verdadeiros ímãs para mexe-ricos. Elas sabem coisas que nem o FBI sabe. Talvez você tenha

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um amigo ou conhecido assim. Todas as vezes que conversa com ele acaba-se sentindo sujo.

Mas é muito difícil impedir que alguém derrame em nós todo o seu "lixo", não é? E mais difícil ainda é conter-nos para não o passar a outros. Contudo a Bíblia diz que temos de nos livrar desse pecado. Abandone-o! Não o aceite; não arranje desculpas para praticá-lo. Também esse precisamos confessar.

Incredulidade

Esse talvez seja o pecado mais grave e mais destrutivo que existe. O cético talvez não tenha coragem de admitir sua incredulidade diante do cônjuge, ou de seus pais, ou filhos. Mas consigo mesmo ele questiona alguns ensinamentos claros da Palavra de Deus. E isso desonra o nome de Deus.

Vejamos, por exemplo, a ordenança de buscar, "em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça" juntamente com a promessa de que "todas estas cousas (necessidades materiais) vos serão acres-centadas" (Mt 6.33). Esse é um dos versos de que mais gosto. E creio nele. Creio que é verdade. Deus vem provando isso para mim há mais de quarenta anos. E, no entanto, quantas vezes tenho ficado preocupado com problemas financeiros e outros tipos de dificuldades. Deus nunca falhou, mas por vezes entro em pânico, e chego a duvidar dele. Isso é incredulidade.

Ou pensemos na promessa de que "o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e, sim, da graça" (Rm 6.14). Alguns dizem que esse texto não é de fato uma promessa, ou que somente os pietistas ou os pregadores de santidade crêem nisso. Os que assim pensam estão insultando a Deus. É como se um amigo nos dissesse que iria dar-nos um presente maravilhoso, e logo em seguida respondêssemos:

— Ah, que nada! Isso é bobagem! Não acredito nem um pouco em você. Você não tem a menor intenção de me dar tal presente.

É, diante de uma reação dessas é possível que não desse mesmo. Nosso amigo ficaria muito magoado e chateado, e com toda razão. Será que vamos insultar a Deus da mesma forma, recusando-nos a crer em suas promessas?

Meu irmão, será que você está abrigando incredulidade no co-ração? Está menosprezando as promessas tão claras e explícitas da Palavra de Deus? E você é daqueles que, ao ouvir falar de todo o potencial do crente na vida cristã, têm uma reação negativa do tipo:

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POR QUE _ESTAMOS FALHANDO? 73

— Ah! Pode falar o quanto quiser, mas eu já sei que não é assim! Entregue essa incredulidade a Cristo hoje mesmo.

Ingratidão

Embora muitos de nós possuam bens materiais, achamos mais fácil reclamar daquilo que ainda não temos do que dar graças a Deus por tudo de bom que ele já nos concedeu.

Na época em que eu e minha esposa estávamo-nos preparando para ser missionários, recebíamos menos de quinhentos dólares por mês. Obviamente era muito pouco para uma família de qua-tro pessoas. Mas sentíamo-nos felizes, pois o Senhor estava su-prindo todas as nossas necessidades. Um outro missionário ouviu-me louvando a Deus por isso, e comentou:

— Ah, Luis, vamos lá! Pra você que é da América do Sul, qual quer dinheiro é uma fortuna. Mas eu nasci aqui, nos Estados Uni dos. Esse dinheiro não dá para ninguém sobreviver.

Não respondi nada, mas nunca me esqueci do que ele falou. Hoje aquele homem não está mais servindo a Deus. Divorciou-se e está tentando realizar seus próprios desejos. Era um crente in-grato. Em vez de dar graças a Deus — "Senhor, eu te agradeço pela saúde, pelo alimento, pelas roupas que tenho" — ele recla-mava do que não possuía.

Estou convencido de que a ingratidão é um dos maiores pe-cados que podemos cometer contra Deus. É possível que alguém não enriqueça como desejava ao iniciar a vida. Pode ser até que esteja passando dificuldades em casa. Mas se ele se esquecer de agradecer a Deus por suas bênçãos, mesmo em meio aos proble-mas, está entristecendo o coração do Senhor. Quem assim age extingue a operação do Espírito Santo nele e impede o derramar de novas bênçãos.

Sentimentos de Revolta

Hoje em dia o materialismo é quase uma religião, e por isso é muito fácil uma pessoa ficar revoltada quando passa dificuldades.

Eu fui criado na Argentina, mas meus avós eram europeus. Minha família era razoavelmente abastada, pois meu pai trabalhava muito, era criterioso no emprego do dinheiro e tinha a bênção de Deus em sua vida. Mas ele morreu subitamente aos trinta e cinco anos de idade. Três anos depois estávamos completamente sem recursos, a ponto de ficar devendo o aluguel durante oito meses. Só não fomos despejados por bondade de nosso senhorio.

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Mas, apesar da pobreza, minha mãe nunca ficou revoltada. Sempre que ouvia dizer que alguém comprara alguma coisa cara ou ia fazer um passeio de férias, ela fazia questão de dizer:

— Que coisa boa! E nunca reclamava. Poderia ter dito: — Puxa, eu fiquei viúva, com seis filhos. Eles deviam saber

que estou passando dificuldades. Por que não me dão esse di nheiro?

Mas não dizia. Ela nos ensinou a não ter ressentimentos contra outros. Havia ocasiões em que tínhamos para jantar apenas uma bisnaga de pão. Mas ela estava sempre se regozijando e se alegrando com a felicidade dos outros. Sua atitude foi um exemplo extraordinário para mim.

As Escrituras dizem: "Chorai com os que choram", mas dizem também 'Alegrai-vos com os que se alegram" (Rm 12.15). O sen-timento de revolta é um pecado terrível. É sempre melhor rego-zijar, mesmo achando que temos o direito de nos revoltar. O res-sentimento torna-nos desagradáveis para os outros. Então vamos alegrar-nos com aqueles que se alegram. Façamos isso porque Deus assim o ordena e porque é a atitude certa. Cultivemos o hábito de expressar nossa alegria pelos outros, principalmente quando percebermos em nós um princípio de ressentimento.

Preocupação com Ninharias

Nos meus vinte e cinco anos de ministério tenho testemunhado muitos avivamentos. O primeiro foi numa igreja da Colômbia, onde eu trabalhava como missionário evangelista. Mas aquela bênção quase foi destruída devido a uma questão insignificante.

Duas semanas depois de iniciado o avivamento, um dos diá-conos da igreja levantou-se durante o culto para fazer uma reclamação. Ao que parecia, tinha havido uma confusão. Ele havia comprado as flores para ornamentar o salão — tendo gastado o equivalente a dez dólares — e o responsável pela ornamentação não havia usado as flores; usara outras.

— Isso não está certo, disse ele. Era minha vez de comprar as flores. E esse dinheiro todo que gastei?

E ele disse isso para toda a congregação, onde estavam pre-sentes também dezenas de novos convertidos. A mágoa dele por causa de tal ninharia causou um problema desnecessário e quase atrapalhou o culto.

E muitas vezes são essas pequeninas coisas que destroem a

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POR QUE ESTAMOS FALHANDO? 75

alegria do Senhor em nós, não é verdade? E se não confessarmos tais sentimentos, permitindo que eles vão tomando conta de nosso coração, eles podem destruir a nós e aos que nos cercam.

Antes de minha esposa e eu iniciarmos o trabalho missionário nossa junta enviou-nos aos Estados Unidos, onde visitamos unia igreja na Califórnia. Naquele domingo à noite, eles estavam realizando uma reunião de negócios. Estávamos sentados numa das laterais da igreja. O pastor e sua esposa — esta bastante ner-vosa — achavam-se numa das primeiras fileiras. Dava para per-ceber que havia problema no ar.

Assim que a sessão teve início, uma senhora se levantou e disse: — Acho que nosso pastor..., e expôs sua queixa. Outro homem se levantou e disse: — Concordo com a irmã Fulana. O pastor realmente fez isso

e isso. Tudo que disseram eram ninharias. O pastor não havia co-

metido nenhum pecado. Eles reclamavam de coisinhas, dando-lhes excessiva importância.

De repente, uma jovem que se achava sentada atrás, levantou-se e começou a gritar:

— O que vocês estão fazendo? Por que estão magoando meu pai assim? Ele é um homem maravilhoso. Ama a todos vocês. Ora por vocês todos os dias pela manhã. Eu já o ouvi chorar por vocês no seu gabinete. Por que estão falando tudo isso dele?

Puxa! pensei. Como os crentes sabem ser cruéis! Que coisas ter-

ríveis falamos uns dos outros! É claro que todos cometemos erros. Todos nós erramos. Por que será que somos tão ímpios?

Negligência na Contribuição

Calcula-se que apenas uma pequena porcentagem dos crentes deste país* contribui para a obra de evangelismo de sua igreja ou para o trabalho missionário no exterior. Cerca de 85% deles são indiferentes para com a Grande Comissão. Isso parece incrível, quando pensamos no quanto Deus nos tem abençoado material-mente.

Quando não contribuímos para o trabalho de evangelismo, para a obra de missões e para o ministério de nossa igreja, impedimos que Deus derrame maiores bênçãos sobre nós. Jesus disse: "Dai, e ser-vos-á dado; boa medida, recalcada, sacudida, transbordante,

autor refere-se aos crentes dos Estados Unidos, onde reside. (N. da T.)

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generosamente vos darão; porque com a medida com que tiverdes medido vos medirão também" (Lc 6.38). Temos de entregar a Deus todo o nosso ser, e depois contribuir alegre e liberalmente para o seu reino, a partir daquilo que temos.

Quando eu e minha esposa estávamos trabalhando na América Latina, eu não contribuía de forma sistemática, e portanto o fazia mais esporadicamente. Só dava quando sabia de alguma necessidade na obra de Deus, "da forma como o Senhor orien-tava". Mas depois Deus me revelou a alegria de contribuir sacrificialmente e com regularidade.

Hoje sinto-me muito feliz pelo privilégio de contribuir para minha igreja e de enviar ofertas para irmãos que estão servindo a Deus em várias partes do mundo. É um gozo extraordinário. Você também tem essa experiência? Ou quem sabe isso é um ponto que precisa confessar a Deus?

Pecados Habituais

Alguns crentes não têm a menor dificuldade em resistir à ten-tação de mentir ou irritar-se. O problema deles é a lascívia. Ela se tornou seu pecado habitual. Outros já têm mais dificuldade em resistir à cobiça, à inveja, ao ciúme, ou a outras questões de sua personalidade.

Todos nós temos pelo menos um pecado que tenazmente nos assedia, que sempre nos derruba (Hb 12.1). E podemos acabar quase nos sentindo obcecados por ele. E indagamos:

— Por que será que não consigo vencer essa tentação? Por que esse pecado está sempre me atormentando?

É claro que Satanás nos ataca em outros aspectos de nossa per-sonalidade também, mas não nos surpreendamos se ele concentrar seus ataques no ponto em que somos mais fracos.

É importante para nossa vida espiritual que identifiquemos nominalmente esse pecado habitual. Obviamente não devemos estar sempre falando dele, nem pensando nele, pois isso reforçaria o poder que ele exerce sobre nós. Mas enquanto não o citarmos pelo nome e dermos os passos necessários para superá-lo (dos quais falarei mais adiante), continuaremos cedendo à tentação e nos sentindo sempre frustrados e derrotados.

Qual é o pecado que se tornou habitual em sua vida? Você já o confessou ao Senhor? Fez uma lista de medidas a ser tomadas para evitá-lo no futuro? Pediu a um crente mais experiente e maduro para auxiliá-lo, para que você lhe preste contas de seus atos?

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POR QUE ESTAMOS FALHANDO? ______________________________________77_

Está conscientemente evitando os lugares onde a tentação é mais forte? Está-se lembrando de evitar o sentimento de orgulho es-piritual após cada vitória? Tome cuidado para não vir a pensar:

"Ah, para mim não tem mais jeito. Estou preso a esse pecado. Nunca terei vitória nessa tentação."

Como iremos ver no capítulo sete, o poder de Deus que opera em nosso interior pode libertar-nos completamente de toda e qual-quer forma de pecado.

Já vi Deus, pelo poder do "Cristo vive em mim", libertar alcoó-latras, prostitutas, assassinos impiedosos, e mesmo senhoras ido-sas sob o domínio de atitudes negativas, impuras e desprezíveis. E ele pode fazer o mesmo em sua vida.

Ausência da Verdadeira Alegria

Você reconhece que não experimenta um genuíno gozo espi-ritual? Isso também é pecado. Deus nos dá o seguinte manda-mento: "Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez digo, alegrai-vos" (Fp 4.4). E no entanto a vida de muitos crentes é caracterizada pela falta de alegria. Alguns anos atrás, tive de admitir esse problema em mim, mas afinal reconheci que a ausência de gozo espiritual tornara-se um dos meus pecados habituais.

É claro que Deus não quer quer que ajamos como palhaços, ostentando uma alegria falsa, superficial e um sorriso idiota de-lineado no rosto. Lugar de palhaço é no circo. Quanto a nós, Deus quer que sejamos sinceramente felizes, todos os dias. Isso não significa, porém, que não venhamos a passar por provações e di-ficuldades. Entretando podemos regozijar-nos mesmo em meio aos problemas. Afinal, quando o apóstolo Paulo escreveu este man-damento "alegrai-vos" ele estava numa prisão romana.

Já ouvi pessoas dizerem: — Posso não parecer feliz exteriormente, mas bem lá no fundo

sinto uma grande alegria. E meio difícil acreditar nisso. O gozo interior sempre se evi-

dencia no exterior. Embora o leitor possa discordar de mim, eu creio que não existe muita diferença entre o gozo espiritual e a verdadeira felicidade.

impureza Sexual

Essa questão é bastante delicada, mas se não resolvermos esse problema ele pode.levar-nos à destruição. O rei Davi aprendeu essa lição com muito sofrimento, quando cometeu adultério com

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a esposa de um dos seus soldados e depois mandou que o homem fosse morto. Sofreu as conseqüências desse ato pelo resto da vida. Mas estou convencido de que o problema iniciou-se quando ele ainda era jovem, bem antes de ele cometer adultério.

Davi nunca resolvera essa questão com Deus. Ele conversava com Deus a respeito das guerras, se sairia a guerrear com os fi-listeus, ou não. Clamou ao Senhor nos momentos de aflição, e louvou-o por sua bondade. Pelo que posso perceber, ele orou por quase todos os aspectos de sua vida, menos o sensual, que parecia ser um pecado que ele estava sempre cometendo. E no fim da vida, já idoso, quando poderia ter sido um homem vitorioso, acabou sendo humilhado.

Conheço o evangelho há muito tempo, e acho que já vi de tudo. Mas hoje em dia existe uma duplicidade com relação ao sexo. Em vez de os crentes adotarem os padrões de pureza estabelecidos por Deus, estão praticando o adultério, a prostituição e até o homossexualismo. Já é uma lástima que tal esteja acontecendo, mas o que é pior é que alguns ainda tentam justificar tal conduta pecaminosa.

Alguns crentes estão falando dessas práticas que Deus proíbe e detesta como se elas não tivessem nada de mal. O mundo fica chocado com isso, e as gerações mais jovens de nossas igrejas estão sendo abaladas. E depois ainda não entendemos por que não re-cebemos mais bênçãos. Por que não temos poder? Por que não temos gozo? Por que não temos vitória? Por que não vemos o avi-vamento e o renovamento espiritual que desejamos? É porque não há santidade. Detesto ter de falar sobre isso, mas não podemos esconder a realidade.

Acho que para os homens a tentação sexual é um pouco mais forte do que para as mulheres. Você se sente tentado a folhear revistas com fotografias pornográficas e maliciosas? É tentado a assistir filmes imorais na televisão? Se estiver cedendo a essas ten-tações, confesse seu pecado ao Senhor agora.

Já vi amigos, inclusive colegas de ministério, destruírem a pró-pria vida por causa de impureza sexual. Já prestei assistência e aconselhamento a muitos outros que sofreram profundamente devido à imoralidade e infidelidade conjugai.

A Bíblia diz que aqueles que são de Cristo crucificaram a carne com suas paixões e desejos (Gl 5.24). Deus quer remover o pecado de forma drástica e radical. Não podemos de maneira alguma contemporizar nem brincar com o pecado.

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POR QUE ESTAMOS FALHANDO? 79

Amargura

Um amigo meu sofreu um sério esgotamento nervoso. Certo dia depois que ele se recuperou, fomos fazer uma caminhada juntos, e ele me disse:

— Luís, nunca guarde raiva de outros no coração. Meu pro blema todo começou quando fiquei chateado com o construtor que fez minha casa, pois nem o porão nem a rampa de entrada ficaram do jeito que combinamos. E como ele era meu vizinho do lado, via-o quase diariamente. E cada vez que o via, minha raiva e amargura aumentavam. Por fim tive um esgotamento.

Não admira que a Palavra de Deus tenha uma ordenança tão séria com relação a isso. "Longe de vós toda a amargura." (Ef 4.31.) Por quê? Porque se deixarmos brotar em nós "alguma raiz de amar-gura" ela nos perturbará e fará com que "muitos sejam conta-minados" (Hb 12.15).

Nem todo mundo sofre esgotamento nervoso por ter raiva de outrem, mas sei de inúmeras pessoas que ficaram interiormente envenenadas por esse sentimento.

Certa vez, na Escócia, preguei sobre o relacionamento de pais com filhos. Após o culto, uma jovem aproximou-se de mim e disse:

— Não posso obedecer a meu pai. Ele foi para a Arábia Sau dita, onde deve ficar três anos. E nunca vem em casa. Não vou obedecer-lhe nem honrá-lo.

Notava-se claramente que estava revoltada e amargurada. Con-versei um pouco com ela, e depois concluí:

— Olhe aqui, a Bíblia diz que o filho tem de obedecer e honrar ao pai, queira ou não.

Em seguida aconselhei-a a escrever a ele, falando do quanto estava sentida por ele não vir em casa, não escrever, nem telefo-nar. Recomendei também que lhe confessasse a amargura que sen-tia, dizendo que iria obedecer-lhe e honrá-lo daí por diante, em obediência à Palavra de Deus.

Vários meses depois, recebi uma cartinha daquela moça. Dizia: Segui seu conselho e escrevi a meu pai. Agora estou sentindo

uma libertação que nunca tinha sentido antes. Aliás, quando meu

pai recebeu a carta, voltou para casa. Pediu perdão a minha mãe

e a mim, e nossa família se reconciliou."

O que acontece quando não removemos a amargura de nossa alma? Com o passar do tempo, acabamos dirigindo nossa amar-gura contra Deus, um dos pecados mais terríveis que alguém pode

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80 DIGA "SIM" PARA MUDAR

cometer. Há gente que fica revoltada contra Deus, e chega a encolerizar-se contra ele, e indagar:

— Deus, por que o Senhor deixou que isso acontecesse? Quando minha esposa teve câncer, dissemos aos irmãos que

existem duas maneiras de se perguntar a Deus a razão das coisas. Primeiro há o porquê? dito em tom de atrevimento, inspirado por amargura. E depois há o porquê? expresso com inteligência e com-preensão. O primeiro é uma blasfêmia; o segundo é a maneira correta de o crente agir diante das aflições da vida.

Na época em que minha esposa foi operada e teve de passar pelas agonias da quimioterapia, perguntei muitas vezes a Deus a razão de tudo aquilo.

"Senhor, por que isso está acontecendo? O que queres que eu aprenda nessa situação, Senhor? Existe uma causa para essa doença? Será que nós, como família, estamos precisando aprender alguma lição? Eu preciso aprender alguma coisa para auxiliar melhor os outros?"

Essa atitude é completamente diferente desta outra. — Deus, estou muito revoltado contigo. Afinal de contas, por

que deixaste minha esposa ter câncer? Nós temos quatro filhos... Um desabafo assim revela um coração cheio de amargura. Pre-

cisámos rejeitar firmemente toda atitude de revolta. Alguns psicólogos e conselheiros cristãos estão sugerindo a

seus clientes que expressem abertamente sua revolta contra Deus. Desde quando a culpa é de Deus? Isso é blasfêmia. E embora muitos estejam defendendo essa prática em livros e artigos, nem por isso ela deixa de ser pecado.

É muito fácil culpar a Deus pela impiedade que outros cometem contra nós. Nesses anos todos, tenho sido alvo de duras críticas, pe-sados ataques e acusações injustas por parte de inimigos do evan-gelho. Alguns têm tentado destruir a mim e a meu ministério em certos países. Tais agressões me magoam muito. Minha vontade, ob-viamente, é revidar. Afinal, isso não é justo! Mas assim que fico com raiva ou amargurado, entristeço o Espírito Santo.

Meu irmão, se você está guardando raiva de alguém, ou se sente revoltado contra Deus, não fique a fazer rodeios. Peca-lhe que efetue em sua alma uma divina cirurgia. Ajoelhe-se ao lado da cama, ou num lugar onde possa ficar a sós, e confesse sua amargura, identificando-a por esse nome. Diga tudo a Deus. É verdade que ele já conhece todos os detalhes, mas conte-os a ele assim mesmo. Confesse-lhe seus pecados.

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POR QUE_ESTAMOS FALHANDO^ 81

Apagando a Lousa

Está na hora de acertar as coisas com Deus. Peça ao Senhor que faça uma sondagem de seu coração neste momento. Pegue uma caneta e uma folha de caderno e trace uma linha no meio dela de alto a baixo. Escreva na primeira linha da coluna da esquerda: "Coisas que preciso acertar com Deus". E do lado direito escreva o seguinte: "Coisas que preciso acertar com outros".

Anote, na coluna da esquerda, todos os pecados que Deus lhe apontar. Citamos alguns deles neste capítulo. Mas poderíamos men-cionar muitos outros de que a Bíblia fala: impaciência, preocupação, orgulho, vangloria, espírito de independência, preguiça, cobiça, mal uso do dinheiro, indiferença pelas coisas espirituais, espírito faccioso, infidelidade, espírito de cobrança, negligência da oração e da ceia do Senhor, desinteresse pela igreja, e muitos outros.

Peça a Deus que faça uma sondagem profunda de sua alma. Anote todos os pecados que comete, não importa o número de páginas que tenha de utilizar. Mas faça isso sem pressa. E não presuma que não abriga nenhum pecado não confessado. Também não deixe que eles se acumulem, alegando falta de tempo. Disponha-se a passar um bom período na presença de Deus, afas-tado de qualquer coisa que possa distraí-lo. Exponha diante dele todos os aspectos de sua vida. Se o fizer com sinceridade, ele irá revelar-lhe pecados específicos.

A medida que vai anotando seus pecados, escreva na coluna da direita o nome daqueles que você magoou, enganou, ou de quem roubou, ou contra quem abriga amargura, ou a quem difamou, ou para quem não teve amor e compaixão, ou contra quem cometeu qualquer outra ofensa.

Quem é jovem pode ter rompido uma amizade ou um namoro de forma errada. Pode ter magoado essa outra pessoa e nunca ter pedido perdão. É possível também que seu relacionamento com os pais, ou com um irmão, ou com o cônjuge esteja estremecido. Você já reconheceu seu erro? Está tomando providências para reconciliar-se com o outro? Talvez ele não deseje a reconciliação. Perdoe-o assim mesmo.

Cometeu algum erro que precisa ser reparado? Talvez alguém tenha sido desonesto num negócio, ou nunca tenha saldado uma divida. Pode ser que, como Zaqueu, o publicano, você tenha frau-dado pessoas. Está disposto a pôr fim a essa vida de pecados? ^uer acertar tudo?

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82 DIGA "SIM" PARA MUDAR

Certa vez um estudante universitário me procurou e disse: — Luis, se eu fosse escrever tudo que fiz, acho que teria de

citar umas quinhentas coisas. Então lhe perguntei: — Qual o pior ato que praticou?

Respondeu que, quando era adolescente, certa noite, após um jogo de futebol americano, ele e mais três amigos haviam incen-diado um posto de gasolina, destruindo três carros.

Disse-lhe que ele precisava confessar o erro a Deus e depois pagar os prejuízos. Mas ele objetou:

— Nunca vou conseguir pagar aquilo tudo. Na verdade, interiormente já o estava pagando. Tinha tendên-

cias suicidas. O pecado estava corroendo sua alma. Não podemos deixar passar mais tempo. Vamos

submeter-nos à cirurgia divina. Embora o processo possa ser doloroso, recusá-la é pior; o câncer do pecado nunca pára de expandir-se. Então, meu irmão, passe algum tempo agora na presença de Deus e permita que ele fale ao seu coração. Anote os pecados de que tem conhecimento e peça a Deus que lhe revele os que estão ocultos. Escreva todos eles. Mas tenha cuidado. Não coloque seu nome na folha, nem a largue jogada por aí, correndo o risco de que outros a vejam.

É possível que, ao fazer a lista de pecados que temos de acer-tar com Deus ou com outros, nos vejamos pressionados por um vago sentimento de culpa. Não precisamos aceitar tal condenação. O Espírito Santo que em nós habita aponta com clareza os peca-dos que cometemos.

"Satanás nos acusa, mas o Espírito nos convence de pecado." Se alguém se sentir dominado por uma indefinida sensação de culpa, mas sem a consciência de um pecado específico, saiba que tal sensação provavelmente não vem de Deus. Nesse caso, é bom perguntar-lhe:

"Senhor, esse sentimento de culpa vem de ti? Se for, mostra-me claramente o que fiz de errado."

O Espírito Santo não nos acusa, nem condena, nem nos en-volve numa nuvem de depressão ou de sentimento de culpa. Se nos dispusermos a buscar o Senhor e permanecer algum tempo na sua presença, ele nos revelará os pecados específicos que co-metemos.

A decisão de passar algum tempo na presença do Senhor ou-vindo o que ele tem a nos dizer e de anotar os pecados praticados

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POR QUE ESTAMOS FA LHANDO? 83

primeiro passo a ser dado para experimentarmos um reno- rnpnto radical. Estamos em uma encruzilhada. Temos de tomar

Ti deliberação. Lemos em Provérbios 28.13 que "O que encobre

Suas transgressões, jamais prosperará; mas o que as confessa

E AS deixa alcançará misericórdia". Alguém pode

preferir encobrir pecados. Depois, porém, terá de arcar com as conseqüên-

cias. Mas pode também confessá-los e deixar que Deus realize uma boa obra em sua alma.

Meu irmão, acerte tudo com Deus sem mais demora. Ponha-se na presença dele e confesse todos os pecados que o Espírito Santo lhe trouxer à lembrança. É claro que não precisa rebuscar velhos pecados que já confessou e foram perdoados. Mas peça a Deus: "Absolve-me das (faltas) que me são ocultas" (SI 19.12).

Quer fazer isso? Está disposto a confessar? Espero que sim. E mesmo que já tenha pedido a Deus anteriormente para sondar seu coração, peça-lhe de novo. Faça sua lista, e no próximo ca-pítulo vamos ver qual a providência que vem a seguir.

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84 DIGA "SIM" PARA MUDAR

Para Meditar

1. "Existe apenas um fator que pode impedir-nos de gozar ple-namente a experiência cristã." Que fator é esse? Já experimentou os efeitos dele em sua vida?

2. "Se não nos submetermos à cirurgia divina, o pecado irá tornar-se cada vez mais maligno em nós." Quais são algumas das possíveis conseqüências que podemos colher se não tomarmos uma atitude em relação aos pecados não confessados? Como po-demos tornar-nos mais sensíveis ao pecado?

3. "O segredo de uma vida de constante renovamento espiri-tual é o quebrantamento e o arrependimento." Que providências você precisa tomar para que isso seja uma realidade em sua vida?

4. "A incredulidade talvez seja o pecado mais grave e mais des-trutivo que existe." O que é que favorece a incredulidade? Como podemos proteger-nos contra ela?

5. "Hoje em dia o materialismo é quase uma religião, e por isso é muito fácil uma pessoa ficar revoltada quando passa difi-culdades." Como devemos agir se percebermos que começamos a alimentar sentimentos de revolta em relação àqueles que pos-suem coisas que não possuímos? E se percebermos que outros estão revoltados conosco?

6. "Todos nós temos pelo menos um pecado que tenazmente nos assedia, que sempre nos derruba." Que pecado tornou-se ha-bitual em sua vida? Há quanto tempo ele vem constituindo um problema para você? Como você tem agido em relação a ele?

7. "Deus quer remover o pecado de forma drástica e radical." Por que ele se preocupa tanto com nossos pecados? Quais são as conseqüências de abrigarmos pecado no coração?

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POR QUE ESTAMOS FALHANDO? 85

Para Fazer

1 Neste capítulo, mencionamos mais de quarenta pecados que podem ser obstáculos a que gozemos plenamente as bênçãos da vida cristã. É claro que não se trata de uma lista exaustiva, mas leia-a atentamente procurando estar atento ao toque do Espírito Santo em sua consciência com relação a um ou alguns deles.

Adultério

Amargura

Ausência da verdadeira alegria

Avareza Ciúme Cobiça Desinteresse pela igreja Destruição de propriedade alheia Dívidas não saldadas Egocentrismo Espírito de cobrança Espírito de independência Espírito faccioso Fraude Homossexualismo Impaciência Impureza Sexual Incredulidade Indiferença para com os padrões

morais Indiferença pelas coisas

espirituais Infidelidade

Ingratidão Inveja Lascívia Mal uso do dinheiro Mau gênio Mentira Mexericos Negligência da ceia do Senhor Negligência da oração Negligência na contribuição Orgulho Pecados habituais Pornografia Preguiça Preocupação Preocupação com ninharias Raiva Relação familiar estremecida Rompimento de amizade Roubo Sentimento de revolta Vangloria

2. Abra a Bíblia em Salmo 19.12 e 139.23,24. Medite sobre esses versículos e depois, com base neles, peça ao Espírito Santo que sonde seu coração e lhe aponte pecados específicos.

3. Depois de fazer essa oração, pegue um caderno e uma ca-neta. No lado esquerdo da primeira linha da página, escreva o seguinte: "Coisas que preciso acertar com Deus". Em seguida anote os pecados de que tem consciência e que precisa confessar a Deus. errrúta que ele examine cada aspecto de sua vida.

4. No lado direito da primeira linha da página escreva: "Pes soas com quem tenho alguma coisa para acertar". E em seguida

Page 74: Diga sim para mudar

escreva o nome das pessoas a

quem você ofendeu ou contra as quais cometeu algum erro e em

seguida coloque de forma sucinta o que deve fazer para

consertar o erro.

86 DIGA "SIM" PARA MUDAR

Page 75: Diga sim para mudar

Capítulo 5

A Vida Purificada

Como tem acontecido com muitas das grandes cidades, o perfil do centro comercial de Portland, cidade onde resido, modificou-se bastante nas últimas décadas com a construção de novos prédios. Um dos principais edifícios recen-temente erguidos aqui é o Centro de Convenções de Oregon, com duas torres de mais de 85 metros de altura, além da imensa es-trutura de base.

Algumas semanas antes da inauguração do centro, um projeto

ae noventa milhões de dólares, de repente, levantou-se uma

questão com relação a essas majestosas torres que ameaçou atrasar a aberttura ao público:

: como iria ser feita a limpeza da fachada Ao que parece, durante a fase de elaboração do projeto,

ninguem pensara nisso. O sistema convencional de lavagem de vidraças era impraticável. Então contrataram uma firma de enge-

nharia de Los Angeles para estudar um método especial de limpeza para as duas torres, de modo que não fossem

condenadas a ficar permanentemente sujas e descoloridas.

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88 DIGA "SIM" PARA MUDAR

Graças a Deus isso não aconteceu ao nosso coração. Deus ela-borou um plano para a purificação de nosso coração bem antes de criar Adão e Eva. Antes mesmo de criar o homem, ele já tinha em mente o que iria fazer para purificar-nos completamente, embora o drama da redenção só viesse a desenrolar-se na esfera humana milhares de anos mais tarde.

Aconteceu na noite anterior à crucificação de Jesus. Ele sabia que Judas já o traíra. Sabia a agonia que estava para enfrentar dentro de mais algumas horas. E, no entanto, durante aquela ceia, fez algo de admirável. E é nesse evento que encontramos a solução para os nossos pecados.

"Ora, antes da festa da páscoa, sabendo Jesus que era chegada a sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim. Durante a ceia, tendo já o diabo posto no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, que traísse a Jesus, sabendo este que o Pai tudo confiara às suas mãos, e que ele viera de Deus e voltava para Deus, levantou-se da ceia, tirou a ves-timenta de cima e, tomando uma toalha, cingiu-se com ela. Depois deitou água na bacia e passou a lavar os pés aos discípulos e a enxugar-lhos com a toalha com que estava cingido. Aproximou-se, pois, de Simão Pedro, e este lhe disse: Senhor, tu me lavas os pés a mim? Respondeu-lhe Jesus: O que eu faço não o sabes agora, compreendê-lo-ás depois. Disse-lhe Pedro: Nunca me lavarás os pés. Respondeu-lhe Jesus: Se eu não te lavar, não tens parte comigo. Então Pedro lhe pediu: Senhor, não somente os meus pés, mas também as mãos e a cabeça. Declarou-lhe Jesus: Quem já se banhou não necessita de lavar senão os pés; quanto ao mais está todo limpo. Ora, vós estais limpos, mas não todos. Pois ele sabia quem era o traidor. Foi por isso que disse: Nem todos estais limpos.

"Depois de lhes ter lavado os pés, tomou as vestes e, voltando à mesa, perguntou-lhes: Compreendeis o que vos fiz? Vós me cha-mais o Mestre e o Senhor, e dizeis bem; porque eu o sou. Ora, se eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também. Em verdade, em verdade vos digo que o servo não é maior do que seu senhor, nem o enviado maior do que aquele que o enviou. Ora, se sabeis estas cousas, bem-aventurados sois se as praticardes." 0o 13.1-17.)

Reconhecer Nossa Impureza

Nos dias do Novo Testamento, eles costumavam fazer as re-feições em mesas baixas, deitados em divas ou em almofadas no chão. Mas antes de deitar-se, todos eles tiravam os calçados. Ob-

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• mente, se um deles estivesse com os pés sujos, seu

companheiro do lado passava maus momentos. Geralmente os convivas de um banquete tomavam banho antes

de ir para a festa. Mas para chegar lá tinham de caminhar por ruas sujas e poeirentas. A maioria delas estava sempre cheia de gente e de animais, com lixo e estrume por toda a parte. Assim, quando eles chegavam ao seu destino, inevitavelmente estavam com os pés sujos. Então era comum o dono da casa colocar um servo ou escravo à porta para lavar os pés de cada conviva que chegava, e enxugá-los com uma toalha. Era um serviço desagradável, mas tinha de ser feito. Em seguida eles se dirigiam para a sala de jantar, onde saboreavam uma bela refeição, e gozavam alguns momentos de camaradagem com o anfitrião.

Jesus e seus discípulos estavam comemorando a Páscoa, sua última Páscoa, num aposento que pertencia a outra pessoa. E eles não tinham servos, e nenhum dos discípulos se lembrara de que precisariam de uma bacia, toalha e um jarro de água para lavar os pés dos outros. Só Jesus lembrou-se disso, pois ele "não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos" (Mc 10.45).

Tentemos imaginar a cena. Embora Jesus soubesse que se apro-ximava a hora de sua morte, ele executou o serviço de um escravo. O próprio Mestre, o Filho de Deus, o Criador do céu e da terra, ajoelhou-se. Eram os discípulos que deveriam ter lavado os pés de Jesus, mas não. Ele se ajoelhou perto de um deles, lavou-lhe os pés e enxugou-os com uma toalha que amarrara na cintura. Em seguida, ajoelhou-se ao lado de outro discípulo e lavou os pés dele também. E assim fez a um por um até que chegou a vez de Pedro.

Agora a cena focaliza apenas esse apóstolo. Pedro era um dos mais proeminentes discípulos do Senhor. Sempre que Jesus ope-rava uma cura distante das multidões, Pedro se achava presente. Também fora um dos que Jesus convidara para presenciar sua trans-figuração. Então estava entre os que mais se destacavam no grupo, edro era um líder nato, e demonstrava um imenso zelo pelo Se-nhor. Sendo uma espécie de porta-voz do corpo apostólico, foi o primeiro a declarar que cria que Jesus era o Messias, o Cristo, o Filho de Deus. Mas apesar de tudo era falível. Tinha a tendência e ser impulsivo, e por causa de suas declarações impetuosas co-meteu muitos erros.

Quando Jesus se ajoelhou junto a Pedro para lavar os pés dele, discípulo não se conteve.

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90 DIGA "SIM- PARA MUDAR

— O quê? O Senhor lavar meus pés?

Os outros discípulos, ao ver o Mestre assumir a posição de um escravo, tinham ficado imobilizados, apatetados. Mas Pedro, com sua tendência de verbalizar tudo, não queria deixar que Jesus lhe lavasse os pés. A atmosfera do cenáculo deve ter ficado tensa.

Todos que se achavam ali naquele aposento estavam com os pés sujos. Bastava que tivessem caminhado um quilômetro pelas ruas poeirentas de Jerusalém para que os tivessem sujado. Ainda que houvessem tomado banho antes de sair de casa, todos esta-vam com os pés sujos, e portanto precisavam lavá-los.

Da mesma forma, nós também, em nossa caminhada por este mundo, ficamos maculados. Apesar de querermos agradar a Deus em tudo que fazemos e dizemos, ainda assim ouvimos e vemos coisas que não tínhamos intenção de ouvir nem ver. Nós nos su-jamos só de ir ao supermercado.

Muitos crentes trabalham em escritórios ou fábricas ao lado de pessoas cujo linguajar e conversa influenciam sua maneira de pensar. Por mais que leiamos as Escrituras, memorizemos textos bíblicos, oremos, cantemos corinhos ou louvemos a Deus antes de sair para o trabalho, nossa mente fica maculada pelas sujeiras que ouvimos. Todos nós podemos ter colegas de trabalho que ves-tem roupas caras ou insinuantes, ou que dizem inconveniências a clientes ou a colegas. Com pouco tempo de relacionamento com eles, ficamos contaminados.

Se quisermos de fato experimentar um renovamento radical, precisamos ser honestos, admitir esse contágio e dizer ao Senhor:

"Senhor Jesus, caminhando por este mundo perdido, fiquei maculado. Quero sentar-me à mesa da comunhão contigo e com meus irmãos em Cristo. Mas não posso participar dela com os pés sujos, empoeirados."

Esse é o quadro que vejo no cenáculo. Os discípulos chegaram com os pés sujos, e o Senhor Jesus se humilhou e lavou os pés deles. E eles também foram suficientemente humildes para dei-xar que ele o fizesse. Mas, chegando a vez de Pedro, ele revelou uma atitude de orgulho.

Reconhecer a Atitude de Antagonismo

Os pés sujos de Pedro eram símbolo de um problema de raí-zes mais profundas, que ele não se dispunha a reconhecer. A princípio pode até parecer que ele estava sendo humilde. Mas, se analisarmos atentamente suas palavras, veremos que ele

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VIDA PURIFICADA 91

demonstrou certa arrogância e orgulho quando disse: "Nunca me

lavarás os pés". ..._., Que absurdo! Ele não estava falando com um dos discípulos sim, com Jesus Cristo, o Messias, o Salvador, o Rei dos reis e

Senhor dos senhores.

Mas seu antagonismo não pegou Jesus de surpresa. Com muita

calma, amor e paciência, ele submeteu Pedro a um tratamento

de choque. — Está bem, Pedro. Você não quer que eu lhe lave os pes?

ótimo. Mas se eu não lhe lavar os pés, você não pode ter parte

comigo. E o Senhor está dizendo o mesmo para nós. Ele não irá

obrigar-nos a confessar que fomos maculados pelo mundo. Não nos forçará a orar humildemente: "Senhor, lava-me. Preciso urgentemente dessa purificação." E como ele não nos força, nós até começamos a achar que podemos ignorar certos pecados cometidos. Colocamos uma máscara e fingimos que tudo está bem. Mas lá no fundo do coração sabemos que o Senhor está-nos dizendo:

— Você não tem parte comigo. Não temos parte no serviço, nem no culto, nem na comunhão.

Ah, é claro que vamos à igreja, cantamos hinos e levantamos as mãos. Mas o Senhor continua dizendo:

— Se eu não o lavar, você não pode ter parte comigo. E é nesse ponto que muitos crentes hoje estão parados. Há

irmãos e irmãs idosos e até pastores e suas esposas que não pas-saram desse ponto em sua caminhada cristã, porque nunca fo-ram totalmente purificados de seu pecado. Nunca experimenta-ram uma renovação interior efetuada por Deus.

E até difícil acreditar que alguém possa ser filho de Deus e ainda assim ter uma vida frustrada, infeliz. Mas isso acontece porque há pecado oculto no coração. E o Senhor continua dizendo:

— Deixe-me lavar seus pés. Mas o crente se recusa. E então o Senhor responde: — Bom, então você não pode ter parte comigo. Jesus usou de palavras fortes para abater o orgulho de Pedro.

'e o apóstolo não permitisse que o Senhor o purificasse da im-

pureza diária, de tudo que maculava sua mente, coração e alma, que ele acumulara em seu caminhar neste mundo, o discípulo nao poderia ter parte na comunhão com Cristo. E essas palavras

do Senhor são dirigidas também a nós, a mim e a você que me

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92 DICA "SIM" PARA MUDAR

lê — seja você pastor, empresário, profissional liberal, professor, dona de casa, estudante universitário, jovem ou velho. Seja o que for na vida, se é crente, Jesus está-lhe dizendo:

— Deixe-me lavar seus pés. Se não, você não poderá ter parte comigo.

Quando estamos maculados, é impossível fingir que anda-mos na luz com Deus. Quem não se submete regularmente a essa purificação, embora ainda seja filho de Deus, não tem comunhão com ele, nem alegria, nem poder. Fica impossibilitado de servir ao Deus vivo (Hb 9.14). Ele não pode usá-lo:

Assim como as pessoas que viveram nos primeiros séculos tinham de lavar os pés com freqüência, também nós precisamos lavar nossos pés espirituais todos os dias. Se não o fizermos, per-demos a bênção de Deus para nós e nosso ministério. Talvez você seja missionário, ótimo! Tenho grande apreço por todos os mis-sionários. Se hoje meu pai está no céu, devemos isso a missio-nários que pregaram o evangelho para minha família. Mas seus pés estão sendo lavados? Deus me deu o dom de ganhar almas para Cristo. Mas se eu começar a brincar com o pecado, por que ele iria continuar me usando?

A Bíblia diz que aqueles que são mestres vão receber maior juízo (Tg 3.1). Nós, os que dirigimos e servimos aotorpo de Cristo, temos o redobrado dever de viver em santidade. Quanto mais santos formos, melhor Deus poderá usar-nos. Portanto, se alguém quer ser usado por Deus, se quiser ter parte com Jesus, ouça o que ele diz:

— Deixe-me lavar seus pés! Nosso Deus é um Deus de amor. É por isso que está a nossos

pés, pronto a purificar-nos. Mas ele também é justo, e estas duas coisas, a justiça e o amor de Deus, andam sempre juntas. Jamais podemos separá-las. Portanto, é inútil pensar que vamos pecar o quanto quisermos e o "Deus de amor terá de perdoar-nos". Será que achamos que podemos pecar impunemente?

O Novo Testamento ensina claramente que não podemos brincar com Deus. "Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará. Porque o que semeia para a sua própria carne, da carne colherá corrupção; mas o que semeia para o Espírito, do Espírito colherá vida eterna." (Gl 6.7,8.)

Meu irmão, pelo que você sabe, está tudo certo entre você e o Pai celeste? Está tudo acertado entre você e outros? Em outras palavras, seus pés estão limpos?

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PURIFICADA__________________ - _________________ ?5

Enxerguemos Nossa Condição Espiritual

Com aquele tratamento de choque, Pedro afinal enxergou sua ndição espiritual, que era de total desesperança. E então clamou: — Então, Mestre, não lave apenas meus pés, mas também

mi nhas mãos é a cabeça. Derrame muita água em mim, Senhor. Lave

tudo!

Pedro podia ser impulsivo no falar, mas tinha bom coração e uma mente ágil. A idéia de não ter parte com Jesus era-lhe sim-plesmente intolerável. Então o que ele estava dizendo, na verdade, era o seguinte:

— Senhor, por favor, não me ponha de lado. Não me coloque numa prateleira. Não me arquive, Senhor.

A possibilidade de que isso acontecesse apavorava-o. E é ter-rível pensar que o mesmo possa acontecer conosco também. Mas se nos recusarmos a ser purificados diariamente acabaremos sen-tados numa arquibancada para assistir ao jogo, em vez de parti-ciparmos dele. Acabaremos numa estante, como um livro que nunca é lido. Acabaremos arquivados como um documento es-quecido que ninguém nunca mais pega. Que coisa terrível!

E como foi que o Senhor lhe respondeu?

— Espere aí, Pedro. Não vamos exagerar. Olhe aqui, você já tomou um banho espiritual no dia em que creu em mim. E quem já tomou banho precisa lavar só os pés.

Isso se aplica a nós também. No dia em que recebemos a Cristo, nossos pecados foram perdoados. Fomos lavados no sangue de Jesus. Tomamos um banho espiritual que a Bíblia chama de sal-vação. Mas à medida que vamos caminhando neste mundo, nos-sos pés vão ficando sujos. Há vezes até em que assumimos uma atitude de rebeldia, e deliberadamente desobedecemos a Deus, o que resulta em sérios problemas para nós. Sempre que assim for, precisamos sentar-nos humildemente, e deixar que Jesus, ajoelhado diante de nós, nos lave os pés.

O Mestre está aqui, apelando ao seu coração. Está ajoelhado a

seus pés, dizendo: — Tire os sapatos. Você está carregando um pouco da sujeira

deste mundo. Deixe-me purificá-lo.

O Senhor pode purificar-nos porque, quando estava na cruz, levou sobre si toda a nossa impureza e rebeldia. "Carregando ele

mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para

que nos, mortos aos pecados, vivamos para a justiça; por suas

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94 DICA "SIM" PARA MUDAR

chagas fostes sarados." (1 Pe 2.24.) "Àquele que não conheceu pe-cado, ele o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos jus-tiça de Deus." (2 Co 5.21.) 'Pois também Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus." (1 Pe 3.18.)

Meu irmão, está sentindo que perdeu a alegria do Senhor? Per-deu o poder? Perdeu o senso de segurança espiritual? Trate de recuperá-la! Não espere nem mais um dia! Busque o Senhor e lhe diga:

— Mestre, tu viste minha lista de pecados. Sabes tudo que te nho feito. Agora, lava-me, Senhor, purifica-me, limpa-me! Quero amar-te e servir-te de todo o meu coração.

Se fizer isso, poderá reivindicar o cumprimento da seguinte promessa da Palavra de Deus: "Se, porém, andarmos na luz, como ele está na luz, mantemos comunhão uns com os outros, e o san-gue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado" (1 Jo 1.7).

Precisamos fazer um auto-exame. "O que será que posso ter feito contra Deus e contra outros crentes?" Confessemos nossos pecados humildemente diante de Deus e pecamos que ele nos lave. Depois então temos de acertar o que estiver de errado com aqueles a quem magoamos ou ofendemos.

Podemos ser tentados a dizer: — O Mestre já lavou meus pés; não tenho de pedir

perdão a ninguém.

Não faça isso. Quem se sente quebrantado por causa de seus pecados quer logo acertar tudo com outros; quer pagar o que deve, para ficar completamente limpo e livre de culpa.

O que a Bíblia diz? "Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça" (1 Jo 1.9). Ele nos perdoa de toda injustiça, e não me-ramente dos pecados menores. Que gloriosa promessa de perdão podemos reivindicar!

Mas alguém pode estar pensando: "Mas eu cometi um erro terrível, um dos piores. Será que Deus

me purifica desse pecado?"

Purifica, sim, se você o confessar. E o que é confessar? Confessar é simplesmente declarar o erro que cometemos. Se um ladrão ou assassino fosse confessar um crime, ele iria dizer ao juiz ou delegado:

— É verdade; roubei essa mercadoria. É, fui eu mesmo quem puxou o gatilho. Avancei o sinal, e bati no carro daquela senhora. Fiz isso, sim.

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Isso é confissão. Contudo ele pode tentar fazer rodeios. — Bom, eu não tinha intenção de matar ninguém. Estava

mexendo com a arma e ela disparou... Aí ele está procurando se justificar ou então mentindo. A confissão de que fala a Bíblia implica em dizer a Deus os

erros dos quais estamos conscientes, mesmo que os tenhamos cometido mais de uma vez e estejamos morrendo de vergonha de ter de citá-los de novo. Confessar é reconhecer os pecados que cometemos repetidamente bem como nossas atitudes de rebel-dia. Podemos até dizer:

— Senhor, é possível que eu tenha pecados dos quais não estou consciente.

Deus terá prazer em nos purificar completamente, e pouco a pouco irá mostrar-nos esses pecados ocultos também.

Como vimos no capítulo anterior, o primeiro passo para ex-perimentarmos uma radical renovação interior é reconhecer nos-sos pecados. Isso é fazer confissão. Pode ser que a lista que você fez tenha apenas um ou dois pecados; mas pode ser também que ela seja longa.

Vejamos então o segundo passo. Vamos escrever sobre a lista de pecados trechos de três versículos, fazendo uma aplicação pes-soal. O primeiro é 1 João 1.7: "O sangue de Jesus me purifica de todo pecado". No segundo, vamos apropriar-nos da promessa feita em 1 João 1.9: "Deus perdoa meus pecados e me purifica de toda injustiça". E por último vamos aplicar a nós os termos de Hebreus 10.17. Escreva: "De nenhum modo Deus se lembrará de meus pe-cados e das minhas iniqüídades".

Escreveu esses versos sobre a sua lista de pecados? Eu já fiz isso, e espero que você o faça também. Agora convido-o a fazer a seguinte oração de confissão e purificação, se estiver de fato dis-posto a fazer esta confissão.

Senhor, é difícil acreditar que estás a meus pés, mas sei que estás. Lava-me, Senhor. Pela lista que fiz, está claro que cometi mui-tos pecados contra ti. Fiz muitas coisas que não deveria ter feito, edeixei de fazer outras que deveria ter feito. Não mereço teu perdão. Mas agradeço-te pelo teu sangue que me purifica de todo pecado e toda injustiça.

Agora, Senhor, ajuda-me a fazer a reparação dos meus erros, junto àqueles contra quem pequei. Dá-me graça para com aqueles com quem precisarei conversar. Que eles possam acolher meu pedido de perdão. Auxilia-me também a perdoar aqueles que magoaram de algum modo ou que falaram mal de

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96 DIGA "SIM" PARA MUDA Tf

mim. Espírito Santo, ajuda-me a esquecer tais ofensas. Quero ser santo, livre e feliz em ti."

Assim que confessamos nossos pecados a Deus, ele nos lava-somos purificados. "Quanto dista o Oriente do Ocidente, assirrí (Deus) afasta de nós as nossas transgressões." (SI 103.12.) O Senhor 'lançará todos os nossos pecados nas profundezas do mar" (Mq 7.19). Corrie ten Boom costumava dizer:

— O Senhor pega nossos pecados e os atira no fundo do mar. Depois coloca ali uma placa com os dizeres: "É proibido pescar".

Deus não se lembra mais de nossos pecados, e deseja que nós também paremos de remoê-los.

Agora quero pedir ao leitor que examine bem sua lista e veja o que precisa acertar com outras pessoas. Em seguida, faça-o de imediato, se possível, pessoalmente; se não, por telefone ou carta.

Sei que essa parte não é fácil. E o mais difícil, às vezes, é acer-tar com nossos familiares. Lembro-me de uma ocasião, quando meus filhos ainda eram pequenos, em que percebi que havia uma certa tensão entre mim e Keith, um dos meus filhos gêmeos. Então resolvi conversar com ele.

— Keith, fiz alguma coisa que o magoou, meu filho? E ele respondeu prontamente: — Fez. No Natal passado, o senhor prometeu que iria

dar-me uma metralhadora de brinquedo, e não me deu.

Eu me esquecera completamente da promessa feita. E continuei: —Há mais alguma coisa errada que fiz pela qual não lhe pedi

perdão? —Há, replicou ele no mesmo instante. —O quê? —O senhor lembra quando o Stephen nasceu? Claro que me lembrava. Na ocasião morávamos na Cidade do

México. — Quando mamãe falou que estava na hora de ir para o

hospital porque o Stephen ia nascer, o senhor saiu com pressa e nos deixou em casa. Lembra?

Eu me lembrava. — O senhor foi, levou mamãe para o hospital, mas

esqueceu a mala com as coisas dela.

Era incrível como ele se recordava de tantos detalhes. — Então o senhor voltou e estava muito nervoso. Quando

che gou, a maleta estava aberta e tudo espalhado. O senhor me bateu.

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PURIFICAM _________________________________________ 97

Senti um aperto no coração.

__ E não foi você que mexeu nela?

__ Não; não fui eu. Fiquei arrasado. Abracei Keith e pedi-lhe que me perdoasse.

Imediatamente nosso relacionamento melhorou. E aquilo foi tão bom que resolvi conversar com o Kevin, o gê-

meo do Keith. Era possível que o tivesse magoado também. — Meu filho, fiz alguma coisa errada com você da qual

não pedi perdão, ou prometi alguma coisa que não cumpri?

indaguei. E ele nem hesitou: — Fez.

— O que foi? — No Natal passado, o senhor prometeu comprar-nos uma

metralhadora de brinquedo e não comprou. Kevin não sabia que eu havia acabado de conversar com o Keith

sobre a mesma coisa. Naquele mesmo dia, fui com meus filhos a uma loja e comprei-lhes a metralhadora. Naturalmente o im-portante aí não era o brinquedo em si, mas a promessa que fizera meio alheadamente. Não devia ter prometido aquilo de forma de-satenta. Mas prometera, e tinha de acertar a questão com meus filhos.

Se você acha que existe alguma coisa que precisa acertar com alguém, coloque o nome dessa pessoa na lista, e vá conversar com ela. Com atitude de humildade, pergunte-lhe se fez alguma coisa que a magoou ou entristeceu. E disponha-se a pedir-lhe perdão e acertar o erro.

Neste ponto, quero dar aqui uma palavra de advertência. É bom conversar com uma pessoa de cada vez. Ao confessar um erro, devemos dizê-lo apenas àquele contra quem o cometemos; nunca a outros. Também não devemos fazer essa confissão in-dividual perante um grupo; tal atitude pode ter um efeito negativo. E melhor falar com o interessado em particular.

Precisamos acertar tudo com todos aqueles a quem possamos

ter ofendido ou magoado, mesmo que leve algum tempo. Mas

uma vez encerrada a lista, rasgue-a, com um cântico de louvor gratidão a Deus. Não largue a folha em qualquer lugar, com o

risco de que volte a lembrar-se dos pecados passados. Eles já estão

Apagados para sempre. Que abençoada sensação de alívio e perdão! Mas o Senhor

ainda

não terminou.

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98 DIGA "SIM" PARAMUDAi,

lavar os Pés uns dos Outros

Lembra-se do que Jesus disse, assim que terminou de lavar os pés dos discípulos? "Ora, se eu, sendo o Senhor e o Mestre vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros' Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também... Ora, se sabeis estas cousas, bem-aventurados sois se as praticardes." (Jo 13.14-17.)

Jesus tinha acabado de lavar os pés de todos. Nenhum deles estava precisando lavá-los de novo, estava? Mas Jesus sabia que iria ser crucificado no dia seguinte. Sabia que iria voltar para o Pai. E sabia ainda que mais tarde eles precisariam de uma nova purificação. Então ordenou aos discípulos (e hoje os discípulos dele somos nós) que lavassem os pés uns dos outros.

E como é que fazemos isso? Obviamente não se trata de per-doar pecados, pois não temos essa autoridade. Mas Deus pode usar-nos para efetuar seu processo de purificação. Como Jesus, podemos ministrar a um irmão em Cristo que se sujou ou se ma-culou no mundo.

Muitas vezes cumprimentamos alguém mecanicamente. —Como vai? —Muito bem, responde ele. Mas sabemos que não é verdade. Contudo, em vez de nos sen-

tarmos com aquela pessoa e, com amor, procurarmos fazer com que ela se abra conosco, mantemos uma conversa superficial ou nos afastamos.

Se estivermos seriamente interessados em lavar os pés uns dos outros, ficaremos mais atentos aos sentimentos deles. Iremos cap-tar seus "pedidos de socorro", sejam eles verbalizados ou não. Ire-mos resistir à tentação de julgar os outros, e sentiremos desejo de perguntar-lhes:

— Há alguma coisa errada? Como está-se sentindo? Quer que eu ore com você?

Lembremos que para lavar os pés de outrem, não ficamos de pé, e, sim, de joelhos. Os dois requisitos básicos para sermos usa-dos por Deus são: humildade e espírito de servo. Não podemos aproximar-nos do irmão com atitude de superioridade, como quem tem resposta para tudo. Temos de chegar de joelhos (se não fi-sicamente, pelo menos em atitude), e dizer:

— Se eu puder ajudá-lo em alguma coisa, se puder fazer al guma coisa por você, é só me falar.

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99

Agindo assim podemos ministrar as bênçãos de Deus aos

Irmãos um dos obreiros de meu grupo — a quem darei o nome de estava para realizar uma campanha evangelística em certa dade

congregando todas as igrejas do lugar. Mas havia ali dois pastores muito importantes, um presbiteriano e um batista, que

tinham

sustentando uma desavença havia já algum tempo. Até incrédulos tinham conhecimento do desentendimento deles. Gree tentou

aconselhá-los a se reconciliarem, mas não conseguiu. Então, pelo bem do evangelho, resolveu reunir os dois, e lavar-lhes os pés. Para isso, convidou a ambos para irem almoçar em sua casa certo dia, sem contudo informar-lhes que o outro também estaria presente.

Combinou com o pastor batista de ele chegar em determinada hora, e com o presbiteriano um pouco mais

tarde. O pastor batista chegou na hora marcada, e Greg ficou a con-

versar com ele enquanto sua esposa terminava de preparar o al-moço. Meia hora depois, chegou o presbiteriano. Assim que eles se viram ficaram tensos. A princípio Greg se sentiu meio nervoso, mas em seguida pediu que se sentassem e foi direto ao assunto.

— Sei que os dois devem estar espantados e até chateados de eu os ter reunido aqui assim, principiou meu colega.

E então abriu o coração para eles. — Tenho a responsabilidade de unir o corpo de Cristo para

a campanha evangelística que vamos realizar, mas não estou con seguindo. E é tudo por causa da briga dos dois. Todos os crentes estão sabendo dela. Há até muitos não-crentes que sabem que os irmãos não se toleram, que têm esse ressentimento um com o outro há muito tempo. Vocês estão prejudicando o corpo de Cristo e o testemunho do evangelho neste lugar. Então acho que não devemos almoçar enquanto os irmãos não pedirem perdão um ao outro. Estou aqui para ajudar no que for preciso. Reconheço que sou jovem, mas não achei ninguém nesta cidade que quisesse fazer isso. Então, meus irmãos, na presença do Senhor, perdoe mas terei de cuidar dessa questão eu mesmo.

Os dois pastores se quebrantaram e confessaram que haviam pecado um contra o outro, que haviam guardado mágoa no coraçao, e prejudicado o testemunho cristão naquela cidade. Então

ajoelharam e pediram a Deus que os perdoasse. E assim a di-vergência entre eles foi resolvida.

O povo logo ficou sabendo que os dois haviam-se reconciliado.

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100 _________________________________ DIGA 'SIM" PARA MUDAR

Pouco depois, o filho do pastor batista se casou. Em vez de re-alizar a cerimônia em sua própria igreja, o pastor transferiu-a para a igreja presbiteriana, e os dois a oficiaram conjuntamente. De-pois disso, as igrejas da cidade se uniram, e tivemos uma aben-çoada cruzada evangelística, com muitas decisões para Cristo. Como resultado, várias outras igrejas foram fundadas. Foi uma cruzada maravilhosa. Mas o que teria ocorrido se aquele irmão não tivesse obedecido à ordenança de Jesus, não tivesse se hu-milhado e, com amor, lavado os pés daqueles dois pastores?

É preciso muito amor para se lavar os pés de alguém. Se não for por causa do amor cristão, que outra razão nos impeliria a exor-tar, repreender ou corrigir outrem, com humildade? O texto de Provérbios 9.8 diz o seguinte: "Repreende o sábio, e ele te amará". Então por que não lavamos os pés uns dos outros com mais fre-qüência? No meu caso, sei que é muito fácil ficar indiferente para com os outros. É que muitas vezes penso:

"Não vou-me intrometer na vida daquela pessoa. Ela pode achar ruim, e ficar com raiva de mim. Vai dizer que estou-me introme-tendo onde não sou chamado."

Agimos muito mal quando notamos que alguém está sofrendo ou angustiado, e não fazemos nada. É claro que aquele irmão está com os pés sujos. Pode até estar abrigando uma atitude de rebel-dia contra Deus. Percebemos que há alguma coisa errada com ele, mas preferimos ignorar o fato. Não queremos criar problemas.

Tenho um amigo que era diácono de sua igreja, excelente pre-gador leigo, e um empresário de sucesso. Certo dia estávamos jantando num restaurante, quando notei que ele olhava de forma insistente para a garçonete. Reconheço que a maioria dos homens olha para uma mulher de boa aparência. Mas existe uma diferença entre um mero olhar e fitar uma jovem insistentemente com de-sejo no coração. Tive a impressão — e outros também tiveram — de que aquele amigo estava lutando com o problema da lascívia. Mas como ele era um crente muito respeitado, que ocupava uma posição de liderança, ninguém falou nada. Em vez de obedecer à ordenança bíblica e, com atitude humilde, lavar os pés dele, cru-zamos os braços.

Hoje, relembrando o que sucedeu, acho que, se tivéssemos "lavado os pés" daquele irmão, ele teria confessado seu pecado. Mas não o fizemos. E quatro anos depois recebi um telefonema de um amigo mútuo que me disse:

— Tenho uma notícia muito desagradável para você. A esposa

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101

Daquele nosso amigo veio à minha casa ontem à noite e, chorando, disse nos que acha que ele está tendo um caso com uma das secretarias do escritório onde ele trabalha. Quase não quis acreditar no que ouvia. Mas alguns dias depois

quando eu me achava no aeroporto onde iria pegar um avião para Los Angeles, alguém esbarrou em mim com duas malas.

Virei-me e dei com aquele irmão. Quando ele me viu, levou um susto, mas fingiu que estava tudo bem e disse:

— Oi Luis! Que bom encontrar você aqui! Como está indo? Ao lado dele estava uma jovem, que não era sua esposa. A

princípio ele tentou distanciar-se dela, mas estava claro que ela o acompanhava. Além disso, a bagagem dele não parecia a de um homem em viagem de negócios. A certa altura disse:

— Ah Luis, deixe-me apresentar-lhe a Susie... Ela é uma das secretárias da firma onde trabalho.

Chorei interiormente. Compreendi que se tivéssemos agido como homens de Deus, teríamos feito alguma coisa quatro anos antes. Eu deveria ter procurado aquele amigo e lhe dito:

— Olhe aqui, irmão, todos nós somos tentados, mas você não deve deixar que a lascívia o domine. Vamos ver o que a Palavra de Deus diz; vamos orar e colocar o problema diante do Senhor.

Mas não. Não quis intrometer-me, e agora era tarde demais. Ele estava cometendo adultério.

Mais tarde aquele amigo sentiu muito remorso do que fizera, e lamentou bastante seu erro. Arrependeu-se diante de Deus, reconciliou-se com a esposa e voltou à comunhão na igreja. Mas permanecem as cicatrizes deixadas pelo erro — a agonia, a sus-peita e todos os outros sofrimentos relacionados com o adultério.

Lemos em Gaiatas 6.1 que "se alguém for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi-o, com o espírito de brandura". E em Mateus 18.15,17, o Senhor Jesus nos dá mais instruções de como a igreja deve agir quando tem de exercitar disciplina. E em suas duas cartas aos coríntios, Paulo ensina a aplicar na prática essas instruções. O objetivo? Levar o irmão ou irmã que errou à restauração de sua comunhão com Deus e com a igreja.

O pecado sempre causa separações. Se virmos alguém afastando-se do Senhor, ou de seu cônjuge ou de outros crentes precisamos fazer alguma coisa. Não podemos fingir que está tudo bem. Vamos buscar o Senhor, e interceder por aquela pessoa. Vamos nos humilhar e reconhecer que também somos tentados a pecar. Em seguida, procuremos esse irmão para dizer-lhe com brandura:

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DIGA "SIM" PARA MUDAR

— Escute, será que posso ajudá-lo de alguma forma? Há al guma coisa errada? Tenho observado que...

Às vezes percebemos que há alguma coisa errada com um amigo e não tomamos nenhuma providência. Certa ocasião eu participava de uma conferência no Centro de Convenções Mount Hermon, como preletor. Entre os presentes, havia um casal de missionários na Ásia — um professor de seminário e sua esposa. Um dia, tive uma breve conversa com aquele homem e notei que ele parecia muito triste. Ouvi o Espírito Santo dizer-me:

— Converse com esse professor. Procure descobrir qual é o pro blema. Tente reanimá-lo.

Mas eu estava por demais ocupado. Tinha de conversar com tanta gente. Seis meses depois vim a saber que a esposa daquele homem o abandonara deixando-lhe um bilhete. Ele estivera dando aula no seminário e quando chegou em casa encontrou a carta, e ela já havia tomado um avião para retornar aos Estados Unidos. No bilhete ela dizia:

"Estou enfastiada desse seu trabalho no seminário e de todo esse lixo que se chama obra missionária. Não me procure. Não quero vê-lo nunca mais."

Não havia mais o que fazer. O casamento deles se desfez. Mais uma vez eu tinha desobedecido ao Espírito Santo. Na ocasião, me parecera ridícula a idéia de que eu precisasse conversar com um professor de seminário. Mas deveria tê-lo feito. Talvez pudesse ter ajudado a solucionar o problema.

Dou graças a Deus porque, no início do meu ministério, ele falou ao meu coração através de outros irmãos que me repreen-deram em amor com relação ao meu orgulho, presunção e agres-sividade. Eram pessoas íntegras, homens de Deus, que já sabiam o que é ser lavado pelo Mestre. Então, embora isso não fosse nada fácil, eles me chamaram de lado e me lavaram os pés.

Todos nós precisamos ser lavados. Precisamos da purificação operada pelo Senhor. E precisamos lavar os pés uns dos outros. Isso é um aspecto importante do renovamento radical.

Mas não é o único. Depois da confissão e purificação vem a consagração.

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Para Meditar

1 O Senhor quer que conheçamos o gozo de ter os pecados

perdoados, a alegria de saber que fomos purificados de todo erro que tudo foi esclarecido com ele e com os outros. Você já ex-perimentou esse gozo e essa alegria? Por que a maioria dos cren-tes não tem essa experiência com mais freqüência?

2. É possível que estejamos com algum pecado a pesar-nos a consciência. A solução é sermos lavados por Jesus. De que forma Jesus é solução para o pecado? O que ele fez? O que nos cabe fazer?

3. Muitas vezes "nós também, em nossa caminhada por este mundo, ficamos maculados. Apesar de querermos agradar a Deus em tudo que fazemos ou dizemos, ainda assim ouvimos e vemos coisas que não tínhamos intenção de ouvir nem ver." Que con-taminações do mundo o atingiram, sem que o quisesse, na se-mana que se passou? Qual foi sua reação? O que fez para purificar-se delas?

4. "Assim como as pessoas que viveram nos primeiros séculos tinham de lavar os pés com freqüência, também nós precisamos lavar nossos pés espirituais todos os dias. Se não o fizermos, per-demos a bênção de Deus para nós e nosso ministério." Você con-corda com isso ou não? Por quê? Procure um exemplo para jus-tificar sua resposta.

5. Jesus "ordenou aos discípulos (e hoje os discípulos dele so-mos nós) que lavassem os pés uns dos outros." Qual era o pen-samento dele ao ordenar isso? Como devemos proceder para la-var os pés uns dos outros?

6. Lavando os pés uns dos outros, "podemos ministrar as bênçãos de Deus aos irmãos." Você já lavou os pés de alguém no sentido espiritual do termo? E alguém já lavou os seus? Como foi?

7. "Às vezes percebemos que há alguma coisa errada com um amigo e não tomamos nenhuma providência." Por que os crentes as vezes têm medo de dizer alguma coisa a um irmão? O que de-veria motivar-nos a fazer alguma coisa? Que atitude deveríamos ter?

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Para Fazer

1. Pegue o caderno e, em espírito de oração, releia a lista "Coi-sas que preciso acertar com Deus", que fez no capítulo 4. Se mais algum pecado lhe vier à mente, escreva-o. Peça a Deus que lhe mostre toda contaminação e atitude de antagonismo.

2. Leia 1 João 1.7 e 9 e depois Hebreus 10.17. Sublinhe esses versículos, e medite neles. Aplique a si mesmo essas promessas e aproprie-se delas. Em seguida escreva os versos diagonalmente sobre a lista.

3. Faça uma oração de confissão e purificação. Peça a Deus que lave seus pés, purificando-o de todo pecado e iniqüidade. Se de-sejar, faça a oração sugerida na página 95.

4. Leia agora o Salmo 103.2 e Miquéias 7.19. Sublinhe esses textos, medite neles, aplique-os a si mesmo e aproprie-se dessas promessas. É bom decorar esses versos para recordá-los todas as vezes que Satanás lhe trouxer à lembrança um pecado que já con-fessou e do qual foi purificado por Cristo.

5. Em seguida, ainda em espírito de oração, reveja a lista "Coi-sas que preciso acertar com outros". Se se lembrar de mais algum erro cometido, acrescente-o à lista. Peça a Deus que lhe dê tato, sabedoria e a determinação para acertar tudo que for necessário.

6. Estabeleça uma hora para ir conversar com cada uma das pessoas que você magoou ou ofendeu. Se alguma delas mora em outra cidade, telefone-lhe ou escreva-lhe ainda esta semana. Se for necessário fazer alguma restituição, tome providências para isso o mais breve possível.

7. Assim que terminar de acertar tudo que registrou em sua lista, rasgue-a com uma atitude de gratidão e louvor a Deus. Jogue-a fora para que ninguém a veja.

8. Leia João 13.14-17. Agradeça a Deus pela sua ordenança de que auxiliemos uns aos outros. Peça a ele que use alguém — um irmão mais experiente — para lavar seus pés esta semana. Peça a Deus que lhe dê amor e gratidão para aceitar a correção e o que ele lhe disser, fruto do interesse dele por você.

9. Peça a Deus que lhe dê sensibilidade para com os sofrimen-tos e sentimentos dos outros crentes. Peça-lhe humildade e sa-bedoria para saber o que dizer aos outros e como deve ajudá-los.

10. Se Deus já lhe trouxe à mente algum irmão que parece es tar lutando com algum problema, interceda por ele. Mantenha-se atento às oportunidades de ter uma conversa de coração aberto

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Com essa pessoa, o mais breve possível. Depois, com brandura e com atitude de servo, pergunte-lhe:

— Será que posso ajudá-lo em alguma coisa? Há alguma coisa errada com você? Tenho percebido que ...

Peça ao Espírito Santo que dirija a conversa e o use, caso seja necessário, para lavar os pés daquele irmão.

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Capítulo 6

Uma Vida Consagrada

Faz alguns anos, dois atletas ingleses, os irmãos Richard e Adrian Crane, correram cerca de 3240 qui-lômetros na encosta das quatorze montanhas mais altas do mundo, na cordilheira do Himalaia. Para realizar tal façanha, fi-zeram subidas num total de 97.000 metros e passaram por ses-senta e quatro desfüadeiros. Essa cordilheira tem um terreno bem acidentado.

Eles completaram o percurso em 101 dias, um tempo recorde, e o fizeram com o objetivo de levantar fundos para uma instituição filantrópica da Inglaterra. No fim, estavam com insolação, desinteria, bolhas nos pés, unhas arrancadas, feridas pelo corpo, os pés sangrando, e ainda ferimentos na cabeça proveniente de uma avalanche de pedras. E tudo isso para levantar $10.700 dólares

ao fim do trajeto. Ganharam menos de dois centavos de

dólar Para cada mil passos que deram. Espero que a organização te-la recebido outros donativos depois disso.

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108 DICA "SIM" PARA MUDAR

Imaginemo-nos tentando executar tal proeza. Seria preciso um esforço tremendo, principalmente se, como aconteceu aos irmãos Richard e Adrian Crane, tivéssemos feito uma preparação de ape-nas duas semanas, correndo pelos arredores de nossa cidade, antes de partir para Darjeeling, na índia, onde iniciaríamos essa aventura.

Os dois irmãos disseram que seu principal treinamento não foi físico, e, sim, mental. Todos conhecemos o conceito: "Quem mete uma idéia na cabeça, quase sempre consegue realizá-la". Embora isso nem sempre aconteça, o fato é que todos nós metemos alguma idéia na cabeça, seja aprender música, ganhar dinheiro, ter poder, praticar esportes, ter respeitabilidade, status social, uma família feliz, uma vida confortável. Todos nós, de uma forma ou de outra, estamos empenhados em atingir alguma meta.

Entretanto, a certa altura de nossa vida — por ocasião de nossa conversão ou posteriormente — todos nós temos de tomar algu-mas decisões importantes. Irei devotar minha vida a Jesus Cristo? Vou viver só para ele, colocando tudo o mais em segundo plano? Vou buscar em primeiro lugar o reino de Deus e sua justiça? Será que para mim "o viver é Cristo"?

O Radical Chamado de Jesus

Muitos crentes acham que já se dedicaram totalmente ao Se-nhor, mas na verdade ainda não abriram mão do direito de con-trolar determinados aspectos de sua vida. Ainda não tomaram uma atitude com relação a certos pecados. Caminharam uma parte da estrada em direção ao Calvário, mas pararam antes de chegar à cruz.

É possível que a melhor ilustração desse fato seja o diálogo de Jesus com o jovem rico. Do ponto de vista humano, aquele moço tinha tudo. Era jovem; herdara uma grande fortuna; ocupava uma alta posição social; e era religioso. Além disso, guardara todos os mandamentos "desde a minha juventude", disse ele a Jesus.

Mas Jesus sabia que ainda lhe faltava alguma coisa, e tocou o dedo exatamente na riqueza do jovem. Disse-lhe: "Só uma coisa te falta: Vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; então vem e segue-me" (Mc 10.21).

Ao ouvir isso, o rapaz ficou completamente arrasado; e os dis-cípulos também. E há muitos crentes hoje em dia que têm difi-

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UMA VIDA CONSAGRADA 109

culdade em aceitar essas palavras de Jesus. "Vai, vende, dá, vem e segue-me." O que ele quis dizer com isso?

O jovem rico nunca ficou sabendo. Afastou-se triste, por causa do que Jesus dissera. Foi uma pena que ele não tivesse esperado mais uns três minutos, pois ouviria o Senhor dizer: "Em verdade vos digo que ninguém há que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou mãe, ou pai, ou filhos, ou campos, por amor de mim e por amor do evangelho, que não receba, já no presente, o cêntuplo de casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições; e no mundo por vir a vida eterna" (Mc 10.29,30).

O rapaz foi embora antes da hora. Se tivesse se demorado mais alguns minutos, teria entendido que o Senhor estava-lhe pedindo o direito de ser dono de tudo, e não exigindo a posse daqueles bens. Acredito que Jesus iria dizer-lhe:

— Dá-me seus bens, mas não se preocupe. Vai receber mais do que isso de volta.

Ele poderia ter perguntado: — Senhor, o que vou fazer se lhe entregar minhas terras? Como

vou viver?

E Jesus teria respondido: — Não se preocupe. Vou dar-lhe cem vezes mais. Só quero

que compreenda que tenho o direito de pedir-lhe tudo isso. Para que Deus quer tudo que possuímos? Ele é dono das

"alimárias aos milhares sobre as montanhas", portanto não é isso que ele está querendo. A questão em jogo aí é algo mais impor-tante; é a consagração pessoal. Estamos dispostos a entregar-lhe nossos direitos a tudo que possuímos ou gostaríamos de possuir? Estamos dispostos a entregar-lhe nossos anseios e sonhos? Essa é a questão básica da consagração.

O ato de consagração, implícito na cruz, requer um imenso sacrifício pessoal. Jesus disse: "Se alguém vem a mim, e não abor-rece a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos e irmãs e ainda a sua própria vida, não pode ser meu discípulo. E qualquer que não tomar a sua cruz, e vier após mim, não pode ser meu discípulo". (Lc 14.26,27.)

Essas palavras são muito sérias. Jesus não está falando de uma decisão frívola e inconseqüente. Está falando, isso sim, de uma consagração radical. Não foi à toa que ele nos advertiu de que teríamos de avaliar os custos antes. Se alguém começar a erguer um arranha-céu e o dinheiro se esgotar antes de concluí-lo, cairá no ridículo. Assim, se é importante fazer a avaliação das despe-

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sas nas questões diárias da vida, quanto mais com relação à con-sagração.

Quando Jesus apela a que lhe consagremos nossa vida, está querendo de nós uma dedicação e amor tão grandes que tudo o mais perca o valor. Diante do nosso amor por ele, todas as outras coisas ou pessoas a quem devotamos lealdade tornam-se in-significantes; e o amor que temos a outros nem parece amor, pa-rece ódio. O Senhor nos pede sacrifício e entrega totais. É o fim do "eu" e de "meus direitos".

A Entrega de Nossos Direitos

Certa vez estive presente em um almoço, onde um conhecido milionário deu seu testemunho. Disse ele:

— Devo tudo ao Senhor. E em seguida revelou o segredo de seu sucesso. — Quando eu era jovem, ouvi um apelo do Senhor para que

lhe entregasse tudo. Era muito pobre, e, apesar de bem moço, consagrei tudo que possuía ao Senhor. Não tinha muito dinheiro, mas pus tudo na mesa, e ao consagrar a ele minhas posses disse: "Cristo, estou-lhe devolvendo tudo". A partir daí, Deus começou a abençoar-me, e hoje sou um homem rico.

Nesse momento, no fundo do salão, alguém gritou: — Eu o desafio a consagrar tudo de novo, agora. Já se perguntou por que são sempre os jovens que atendem ao

apelo para "consagrarem tudo" a Deus? Eles não possuem muita coisa para entregar; talvez três camisetas, duas calças jeans, um par de tênis, e nada mais. Mas quando chegamos à meia-idade e temos uma casa, dois carros, um apartamento na praia, aí a coisa muda de figura.

A entrega pessoal é um aspecto fundamental da consagração, mas a verdade é que hoje não queremos muito ouvir falar disso. É mais importante defender nossos direitos. A idéia de abrir mão dos direitos contraria nossa índole natural. Achamos que ser ser-vido é um direito inalienável que temos.

"Ser submissa a meu marido? Você está brincando! Eu não vou servi-lo; ele é quem tem de servir-me. E acho melhor ele pensar assim também senão largo tudo e vou-me embora."

Certa vez o Dr. James Dobson me fez algumas perguntas sobre essa questão dos direitos pessoais. Estávamos conversando sobre os problemas que poderia haver em minha família pelo fato de eu viajar muito. Expliquei-lhe que havia tomado a decisão

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De que sempre que estivesse em casa, iria passar a maior parte A tempo com meus familiares. Mas tive de reconhecer que não a bem assim que vinha agindo. Na verdade, muitas vezes, quando estava em casa, saía para jogar golfe com meu pastor, ou basquete com uns amigos, ou tênis com uns colegas. Um dia pensei: Isso está errado! Quando estava viajando dizia que não via a hora de chegar em casa. Mas, assim que chegava em casa, saía com amigos.

Obviamente eu poderia argumentar que precisava daqueles momentos de lazer, que precisava algum tempo para minha pró-pria recreação, ou que gozar a companhia dos amigos também era importante. Mas isso não resolvia o problema. Minha família vinha em primeiro lugar. E para obedecer a Cristo, abri mão do direito de me divertir com amigos em minhas horas de folga. Não foi fácil, mas foi importante. Não que eu ache que estava pagando um alto preço, não. Não considero aquilo que fazemos para Cristo como pagar o preço. Jesus pagou o preço; nós não pagamos nada. Ele é o nosso Senhor, e não nós o senhor dele. Mas muitas vezes nos rebelamos contra sua soberania em nossa vida.

Acredito que a coisa mais difícil que o Senhor nos pede é que lhe entreguemos o direito de ter nossos filhos perto de nós. Sem-pre nos alegramos muito quando vemos um jovem ou uma jovem ir à frente numa conferência missionária, consagrando-se para ser missionário num país estrangeiro — a não ser quando aquele jovem é nosso próprio filho.

Alguns anos atrás fui convidado para falar no culto de encer-ramento da conferência missionária da Escola Bíblica Multnomah. Após a reunião, encontrei o Dr. Ted Bradley, um dos fundadores da escola, chorando no saguão. E comentei:

Foi emocionante ver sua filha dedicando a vida para o trabalho missionário, não foi?

— E muito difícil para mim, replicou o Dr. Bradley. Fico muito alegre de vê-la indo para o campo missionário, Luis, e sei que devo ficar feliz. Mas estou sempre pensando: "E se ela morrer na África? isso pode acontecer. E se eu morrer enquanto ela estiver lá?"

E foi isso que aconteceu — ele morreu.

Apresentando Nosso Corpo Como Sacrifício Vivo

Nunca foi fácil abrir mão de nossos direitos, tomar nossa cruz • seguir a Cristo. Em seu exemplar de fevereiro de 1988, a revista

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Decision traz um artigo de Chuck Colson onde ele diz o seguinte-"A idéia de perder a vida por amor a Cristo, como ele disse aos discípulos, não era agradável para o jovem rico, assim como não o é para nós hoje, em nossa sociedade obsessivamente materialista"

A consagração proposta pela Bíblia, por sua própria natureza não é nada popular nem atraente. Requer muito de nós; toca bem de perto em nosso aspecto físico, e põe em jogo nossa vida. Vemos isso na experiência do apóstolo Paulo. Ele se achava numa prisão romana, podendo ser executado a qualquer momento, e mesmo assim disse: "Segundo a minha ardente expectativa e esperança de que em nada serei envergonhado; antes, com toda a ousadia, como sempre, também agora, será Cristo engrandecido no meu corpo, quer pela vida, quer pela morte" (Fp 1.20).

E em seguida afirma: "Porquanto, para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro. Entretanto, se o viver na carne traz fruto para o meu trabalho, já não sei o que hei de escolher. Ora, de um e outro lado estou constrangido, tendo o desejo de partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor. Mas, por vossa causa, é necessário permanecer na carne" (Fp 1.21-24).

Observou como ele fala da sua "carne" (seu corpo) nesse curto texto? Ele sabia que seu coração era reto diante de Deus. Mas aí ele está falando em engrandecer a Cristo no seu "corpo". Na-turalmente ele sabia que poderia ser decapitado, atirado aos leões, ou apedrejado, dependendo dos caprichos de um político corrupto ou conivente. Os romanos dispunham de muitas técnicas para a execução de prisioneiros, todas horrendas.

Mas Paulo diz: — Não sei o que devo preferir: viver ou morrer. O que você preferiria? O apóstolo, com toda sinceridade,

mostra-se indeciso entre aceitar a morte ou orar para que fosse liberto da prisão. Havia consagrado seu corpo a Deus.

Outra passagem em que Paulo fala a respeito do corpo é 1 Coríntios 6. Ele trata da importância de se fugir da impureza se-xual, seja adultério, prostituição ou homossexualismo. Por quê? Porque "qualquer outro pecado que uma pessoa cometer, é fora do corpo; mas aquele que pratica a imoralidade peca contra o próprio corpo" (1 Co 6.18).

E por que ele está tão preocupado com o corpo? O que é que realmente está em jogo aí? Ele dá a resposta em seguida: "Acaso não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de

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Vos mesmos? Porque fostes comprados por preço" (6.19,20a). Esse preço foi o sangue de Jesus Cristo, nosso Salvador. "Agora, pois,

Glorificai a Deus no vosso corpo." (6.20b.) Ele tem em mente a idéia da consagração.

Mas Paulo ainda tem mais o que dizer sobre o corpo. Ele fala sobre ele em Romanos 12.1,2, um texto bastante conhecido, que muitos de nós decoramos. "Rogo-vos, pois, irmãos, pelas mise-ricórdias de Deus que apresenteis os vossos corpos por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus."

Quando Paulo diz: "Rogo-vos", não está apenas sugerindo que o façamos, não. Por intermédio dele, o Espírito Santo apresenta-nos aí um importante apelo. Que apelo é esse? "Que apresenteis os vossos corpos por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional". Nessa passagem, ele relaciona o corpo ao "culto racional". Paulo diz que todos nós temos de tomar essa decisão.

Não podemos dissociar a vida cristã da necessidade de tomar decisões. Alguns psicólogos afirmam que uma das principais cau-sas do colapso emocional é a irresponsabilidade — o fato de não assumirmos responsabilidade por nossos atos. É importante fa-zermos decisões. A maioria das pessoas não gosta muito disso, mas quem quer seguir a Cristo tem de tomar algumas decisões específicas e bem definidas.

Você já apresentou seu corpo a Deus como sacrifício vivo? É um ato muito importante pois nosso corpo simboliza toda a nossa pessoa. É o que temos de mais concreto e tangível para oferecer a Deus. Não podemos enxergar nossa alma nem nosso espírito. Contudo preocupamo nos muito com nosso corpo, e ele é a parte de nosso ser que geralmente mais relutamos em entregar ao Senhor. Mas, se o apresentarmos em sacrifício a Deus, nossa alma e espírito vão juntos.

Uma coisa posso dizer: apresentar nosso corpo a Deus é um ato que nos liberta. Gostaria que todos os crentes dessem esse passo.

Mas alguém pode estar pensando: Por que tanta preocupação com o corpo? Qualquer dia ele

vai

morrer mesmo. Meu corpo é a parte menos importante de meu

ser. A alma e o espírito são bem mais importantes."

-Pensemos nisso alguns instantes. A maioria das pessoas passa

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114 DIGA "SIM" PARA MUDAR

mais tempo olhando-se no espelho, isto é, olhando seu corpo, do que examinando sua alma e espírito no espelho da Palavra de Deus. Nossa sociedade chega quase a adorar o corpo, mas a alma e o espírito parecem tão imponderáveis. Quando nos le-vantamos pela manhã, não queremos que ninguém nos veja an-tes que demos um jeito em nossa aparência. Temos uma enorme necessidade de nos proteger de qualquer olhar depreciativo.

No fundo, o que muita gente pensa, embora ninguém o ex-presse verbalmente, é o seguinte:

"É bom saber que minha alma e espírito vão para o céu de-pois que eu morrer. Mas meu corpo, ah, só vou consagrá-lo a Deus daqui a uns trinta anos. Afinal, só se vive uma vez. Então preciso satisfazer aos clamores dele, pelo menos durante algum tempo. Não vou fazer tudo, claro, mas sabe como é..."

E, Deus sabe, sim. Nosso coração é desesperadamente cor-rupto. Eu próprio sou prova disso. E todo mundo é como eu. Somos diferentes apenas na aparência exterior. Interiormente so-mos todos iguais. Eu me conheço e portanto conheço a você tam-bém. Posso falar com toda franqueza, porque sei o que se passa dentro de todos nós.

Alguém já afirmou que "nosso corpo é a ultima coisa que con-sagramos a Deus". Primeiro, consagramos nosso espírito, dizendo: "Salva-me, Senhor". Depois damos-lhe nossa alma, e pedimos: "Senhor, quero viver feliz, tranqüila e harmoniosamente". Mas o corpo é a última fortaleza que lhe rendemos. E no entanto pre-cisamos lembrar-nos de que Jesus disse: "Quem quiser, pois, sal-var a sua vida, perdê-la-á; e quem perder a vida por causa de mim e do evangelho, salvá-la-á". (Mc 8.35.)

Por que será que somos tão apegados a nosso corpo? No meu caso, acho que era por desconhecer o ensino bíblico, por cegueira espiritual, um entranhado egocentrismo e por duvidar da bon-dade de Deus — tudo isso junto. Na verdade, todas essas razões eram fruto de uma obstinada relutância em render-me ao Senhor e consagrar-lhe todo o meu ser. Como relatei no capítulo 2, foi com base nisso que vivi minha grande crise espiritual.

Acredito que Deus conduz todos os crentes a um momento de crise. Enquanto nos recusarmos a consagrar-nos totalmente ao Senhor, ele irá repetir esses momentos de crise várias vezes. Mas, se insistirmos em seguir nosso próprio caminho, chega o dia em que Deus diz:

— Só o levarei até aqui.

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Não Retenhamos Nada

A consagração é um ato da vontade de tremendas implicações, a experiência pessoal, entre nós e Deus. O Senhor nos diz: —

Quero tudo ou nada! Portanto, enquanto não lhe oferecermos nosso corpo, nada lhe

teremos oferecido. O ato de consagração é sempre seguido de conflito. Lembre-

mos que nos achamos numa batalha espiritual. Nossa entrega pessoal a Deus constitui uma ameaça para o mundo e o controle nue ele exerce sobre nós. E ele não entrega os pontos sem lutar. Assim que dissermos: "Senhor, já que me pedes meu corpo, eu o consagro a ti", automaticamente estamos rejeitando as conversas, o pensamento e as práticas deste mundo.

A decisão de consagrarmos todo o nosso ser a Deus é muito difícil, principalmente se estivermos fascinados pelo mundo. E a ironia em tudo isso é que o mundo não se importa nem um pouco conosco.

Quando eu era jovem, houve um tempo em que vivia tentando agradar ao mundo. Desejava ansiosamente conquistar a admiração dos que me cercavam. Mas, graças a Deus, ele falou ao meu co-ração e me conduziu a um momento decisivo. Era como se ele estivesse me dizendo:

"Luis, se continuar assim mais algumas semanas, você estará liquidado."

Percebi claramente que era o que iria acontecer. Havia já vários anos que vinha-me afastando de Deus. Levara as coisas ao seu limite máximo. Foi então que caí de joelhos perante o Senhor e orei:

— Senhor, tem misericórdia de mim. Quero servir-te e consagrar-te todo o meu ser.

Assim que tomei essa decisão simples, mas importante, minha vida começou a mudar radicalmente.

Meu irmão, se você está cansado de tentar seguir todos os modismos do mundo, de ceder às concupiscências da carne, se acha que chega de tentar agradar ao diabo, dê o passo seguinte, ^ao brinque com Deus. Não deixe escapar as bênçãos que ele tem em depósito para você. Consagre-lhe sua vida hoje. Não perca

nem

mais um minuto. E possível que você já tenha tomado essa decisão há muitos

anos, quando era jovem. Talvez tenha ido à frente em um culto

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especial de consagração. Então passou a experimentar a vida cristã com renovado ânimo. Mas depois algo aconteceu. Você cedeu a uma tentação sexual. Ou casou-se com um(a) jovem não crente. Cometeu algum tipo de desonestidade na escola ou num negó-cio. E está sempre se lembrando do problema. E enquanto não pedir perdão irá continuar se lembrando.

Antes disso, você era feliz com o Senhor. Mas desde que in-correu naquele erro, abriu-se em sua vida um imenso parêntese espiritual. Você não tem obtido vitórias; não tem alegria; não vem crescendo espiritualmente. Se esse é o caso, por que não reconsagra sua vida ao Senhor? Faça esta oração:

— Senhor, coloco minha vida novamente em teu altar. Sou completamente teu. Recebe meu corpo. Vem encher meu coração. Consagro-me a ti agora.

Não me constranjo em insistir com o irmão ou irmã a que consagre a sua vida a Deus, pois no dia em que tomei essa de-cisão foi como se recomeçasse tudo com o Senhor. Deus está fa-lando ao seu coração? Pois meu desejo é que as verdades de sua Palavra, principalmente de Romanos 12.1,2, o levem a fazer essa entrega. Apresente seu corpo por sacrifício vivo, santo e agra-dável a Deus. Tal entrega é um ato de adoração, uma decisão consciente da vontade.

A Consagração é um Ato e um Processo

Esse ato de consagração é o início de um processo que dura o resto de nossa vida, e não uma decisão feita apenas num mo-mento, e em que nunca mais pensamos. Além disso, ela não eli-mina as lutas espirituais. A consagração implica em uma contí-nua e constante atitude de submissão e obediência à vontade de Deus. Implica em estarmos sempre abrindo mão de nossos di-reitos naturais em favor de nosso bem-estar espiritual. Jesus ti-nha o direito de reter sua vida e não morrer, de evitar que zom-bassem dele, que cuspissem nele, que o chicoteassem. E no entanto não exigiu o cumprimento de seus direitos. Deixou que o chicoteassem e crucificassem, objetivando o bem-estar espiri-tual de todos, em obediência à vontade do Pai.

Da mesma forma, todas as vezes que nossa vontade for con-trária à Deus, teremos uma decisão a tomar. Se resolvermos se-guir a vontade dele contrariando a nossa, estamos abrindo mão de nossos direitos. Estamos consagrando-lhe nossa vida.

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É isso que a Bíblia quer dizer quando fala da morte de Jesus, He tomarmos nossa cruz, e do grão de trigo que cai no chão e morre Sempre que optarmos por fazer a vontade de Deus, estamos decretando a morte de nosso ego, de nosso orgulho, de nossos sonhos e anseios pessoais.

Todas as vezes que temos de tomar decisões, estamos diante de oportunidades para render-nos a Deus, e reafirmar sua soberania sobre nosso corpo, alma e espírito. E todas as vezes que resolvermos fazer a vontade de Deus, contrariando a nossa, tornamo-nos mais semelhantes a Cristo. Estamos aprovando sua vontade, provando que ela é boa, perfeita e agradável.

Isso é ter uma vida vitoriosa. De repente não temos mais que tomar certas decisões, como, por exemplo, se nos casamos ou não com um descrente, se vamos ou não cometer desonestidade num relatório de despesas, se vamos ou não nos entregar a namoricos inconseqüentes. Questões que antes envolviam uma luta intensa agora não causam mais problemas, o que é um alívio. A questão já está resolvida. Quando decidimos de bom grado fazer a vontade de Deus, ficamos livres para seguir em frente, com renovada força e vigor. Não estamos mais brincando com Deus. Ainda temos os mesmos inimigos — o mundo, a carne e o diabo. Mas agora somos vitoriosos e temos uma santa ousadia no desempenho de nossa missão de embaixadores de Cristo.

Consagre-lhe Sua Vida Hoje

Nunca é tarde demais para voltar ao Deus vivo e reconsagrar-lhe a vida. Quer dar esse passo agora? Talvez seja bom fazer a seguinte oração de consagração:

"O Deus, em tua presença, solenemente, apresento meu corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a ri. Aceita meu corpo como símbolo de todo o meu ser. É teu. Estou ansioso para ver o que vais fazer em mim e depois por meu intermédio na vida de ou-tros, para a glória de teu nome. Amém."

Este momento pode ser o mais emocionante de sua vida. Agora você passa a viver pela fé, como os olhos e ouvidos bem abertos, na expectativa de saber o que Deus vai operar. É verdade que ainda terá altos e baixos e viverá momentos de trevas também. Mas depois que assumimos esse compromisso sério com Deus, começam a acontecer coisas extraordinárias em nossa vida.

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118 DICA "SIM- PARA MUDAR

Se você fez essa consagração de vida a Deus, acabou de to-mar a segunda grande decisão de sua vida cristã. Mas ainda há outra decisão a ser feita, o último passo em direção a uma re-novação radical. Agora veremos como podemos experimentar o poder da ressurreição de Cristo em nossa vida.

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Para Meditar

\ "O ato de consagração, implícito na cruz, requer um imenso

sacrifício pessoal." O que Jesus está-nos pedindo quando apela

para que consagremos nossa vida? Recusando-nos a atender seu

chamado, o que estamos revelando a nosso respeito? Quais são

as conseqüências de uma resposta negativa?

2. "Quando Jesus apela a que lhe consagremos nossa vida, está querendo de nós uma dedicação e amor tão grandes que tudo o mais perca o valor. Diante de nosso amor por ele, todas as outras coisas ou pessoas a que devotamos lealdade tornam-se insignificantes; e o amor que temos a outros nem parece amor; parece ódio." Que autoridade Jesus tem para pedir que lhe con-sagremos nossa vida?

3. "A idéia de abrir mão dos direitos contraria nossa índole natural." Do ponto de vista do mundo, que direitos parecem os mais importantes? Os direitos de quem parecem mais importan-tes? Em que aspectos isso diverge da perspectiva divina?

4. A consagração "implica em estarmos sempre abrindo mão de nossos direitos naturais, em favor do nosso bem-estar espi-ritual." Que direitos você considera mais importantes? Desses, quais os que você teria mais dificuldade em render a Cristo? Por quê?

5. "Se apresentarmos nosso corpo em sacrifício a Deus, nossa alma e espírito vão juntos." Por que Deus se interessa tanto pelo corpo? O que nos leva a relutar em consagrar nosso corpo a Deus?

6. "A decisão de consagrarmos todo o nosso ser a Deus é um ato muito difícil, principalmente se estivermos fascinados pelo mundo. E a ironia em tudo isso é que o mundo não se importa nem um pouco conosco." O que faz com que o mundo pareça tão fascinante? O que leva tantos crentes a quererem conquistar os louvores do mundo?

7. Depois que nos consagramos a Deus, "todas as vezes que temos de tomar decisões estamos diante de oportunidades para render-nos a Deus, e reafirmar sua soberania sobre nosso corpo, alma e espírito". Relembre uma decisão que tenha tido de tomar recentemente, na qual teve de escolher entre fazer sua vontade e a de Deus. O que você resolveu fazer e quais foram as conse-qüências?

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120 DIGA "SIM" PARA MUDAR

Para Fazer

1. Se já fez uma consagração pessoal anteriormente, descreva-a num texto de umas dez ou quinze linhas.

2. Leia Lucas 14.25-27 e Mateus 10.37,39. Avalie quanto lhe cus-tará seguir a Cristo. Anote as coisas que Deus está pedindo que abandone para se consagrar inteiramente a ele.

3. Agora veja Romanos 12.1,2. Leia esses versículos diversas vezes. Em seguida, reescreva-os no caderno com suas próprias palavras, como se Deus estivesse falando diretamente com você.

4. A seguir, na presença de Deus, faça uma oração de con-sagração pessoal. Se já fez essa decisão anteriormente, mas de-pois experimentou um "parêntese" espiritual, reconsagre-se ao Senhor. Se desejar, utilize os termos da oração sugerida na pá-gina 117.

5. Faça uma anotação em seu diário ou agenda falando da de-cisão feita. Se não tem um diário, escreva-o em seu caderno. De-pois conte-o a seu pastor ou a um irmão mais experiente. Ha-vendo oportunidade, dê testemunho disso na igreja, relatando publicamente sua nova consagração a Cristo.

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Capítulo 7

A Vida

Centralizada

em Cristo

Quando penso no poder de Deus ope-rando na vida de alguém lembro-me de Gladys Aylward. Com muita razão, ela foi chamada de a mais notável missionária sol-teira do século XX. Existe uma biografia sua publicada. Foi feito um filme narrando a história de sua vida, com a atriz Ingrid Bergman. E a BBC fez, em sua homenagem, um programa do tipo "Esta Foi a Sua Vida".

Quem conheceu Gladys quando jovem, na certa não enten deria a razão de todo esse interesse por ela. A moça era de família pobre, e não se saíra muito bem nos estudos. Aos quatorze anos começara a trabalhar como empregada doméstica. E teria conti nuado a ser empregada, se Deus não tivesse interferido em sua vida. 6

Quando estava com vinte e poucos anos, conheceu a Cristo através do testemunho de uma senhora, uma esposa de pastor

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que tinha paixão pelos perdidos — fossem eles ricos ou pobres Após sua conversão, Gladys começou a sentir vontade de falar a outros sobre seu Salvador. Mas não queria testemunhar apenas no bairro de Londres onde trabalhava. Sentia claramente que Deus a estava chamando para ser missionária na China.

Apresentou-se a uma organização missionária, mas a junta não demonstrou o menor entusiasmo. Isso contudo não a desanimou. Partiu de trem para a China, atravessando a Europa e a Ásia. Foi um milagre que tenha chegado a seu destino. Houve um mo-mento, durante o percurso, em que o trem no qual viajava afastou-se de sua rota, na Sibéria, e esteve a pouco mais de um quilômetro de distância de um local onde os exércitos russo e chinês estavam-se confrontando.

Já na China, Deus permitiu que ela passasse por penosas ex-periências, mas, por seu intermédio, muitos chineses foram sal-vos. Em situações nas quais muitos homens teriam falhado, ela demonstrou notável coragem e resistência física. E isso não era fruto de uma boa formação religiosa, nem de educação primorosa, nem de um adequado treinamento missionário. Se fosse avaliada por esses critérios, ela nunca teria feito nada. Mas tudo se deveu ao fato de que sua vida achava-se centralizada somente em Deus. E por causa disso aprouve ao Senhor revelar seu poder por meio dela.

E ele quer revelar seu poder por nosso intermédio também, sejam quais forem as circunstâncias de nossa vida ou nossa ati-vidade profissional. Qual é o segredo disso? A consagração pes-soal é um importante passo para obtermos um renovamento ra-dical, mas não é tudo. Sabemos de pessoas que dedicaram e rededicaram a vida a Deus, mas ainda não experimentaram uma renovação interior. E ficam a indagar:

"Não vejo Deus operando em minha vida. Por que será que ele não opera em mim?"

Experimentar um renovamento radical significa ser tomado "de toda a plenitude de Deus" (Ef 3.19). Passar por uma renovação interior implica em estar completa e totalmente cheio de Deus. A vida cristã normal deve ser assim.

O potencial do que Cristo pode realizar em nós e no mundo por nosso intermédio é imenso. Mas a maioria dos crentes não tem a menor idéia da medida dele. Não é que não estejamos ten-tando. Há rruita gente se esforçando ao extremo para viver a vida cristã e ser t ^a testemunha de Cristo. E é aí que está o problema.

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V1&A CENTRALIZADA EM CRISTO _________________________________ 123

Devoção a Deus Não é Suficiente

O fato mais extraordinário da História é o de que o Senhor quer viver em nós. Imagine só! O Deus todo-poderoso vive em nós Assim que compreendi isso, minha vida foi revolucionada. Eu já me consagrara a ele dezenas de vezes. E a cada vez que o fazia, sentia-me cheio de fervor e de altas expectativas. Mas daí a pouco caía de volta na realidade. O problema era que eu estava ardorosamente me esforçando

para trabalhar para Deus. Estava sempre tentando ser fiel; sempre tentando vencer as tentações pela força de vontade, consagração pessoal, leitura da Bíblia e oração. Mas era apenas o Luis, junta-mente com seus amigos, esforçando-se e tentando agradar a Deus.

Éramos muito sinceros, e fervorosos de coração. Fazíamos de tudo para ganhar almas para Cristo — folhetos primorosos, pro-gramas de rádio, pregação ao ar livre, etc. Alguns nos escutavam; outros riam de nós. Mas eram muito poucos os que criam em Je-sus Cristo como seu Salvador. Então alguns de meus amigos co-meçaram a afastar-se de Deus. Não o fizeram de vez, claro. Foram esfriando pouco a pouco. Por fim, nossas vigílias das sextas-feiras acabaram também.

Até aquele momento, eu tivera grande autoconfiança e estava todo concentrado em mim mesmo. Pensava:

"Deus, comigo o Senhor está feito. E vou-lhe dizer uma coisa, Senhor, vou-me consagrar a ti até a morte. E se tiver de morrer por amor ao teu reino, morrerei."

Meu pensamento predominante era: "Vou mostrar ao mundo o que um jovem pode fazer para Deus". E era sincero nesse desejo.

Mas a tentativa de viver para Deus com nossas próprias forças não nos leva a nada; só nos deixa exaustos. É um esforço inútil. Nem mesmo o crente mais dedicado, fervoroso e consagrado pode viver para Deus dessa maneira. Podemos até tentar trincar os den-tes, cerrar os punhos com determinação e tomar a firme decisão de orar, ler a Bíblia, estudar muito, testemunhar de Cristo e viver apenas para Deus. Mas depois de algum tempo todos nós, até mesmo o crente mais dedicado, acaba chegando à seguinte con-clusão:

'Ah, de que adianta todo esse esforço? Estou cansado de tentar, tentar e não conseguir nada. Acho que não tenho mesmo a

capacidade necessária para ser um crente de verdade. Desisto." __ Deus não vê a hora de reconhecermos que por nós mesmos

não

conseguiremos viver a vida cristã como ela deve ser vivida.

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124 DIGA -SIM" PARA MUDAR

Por quê? Porque a única pessoa que conseguiu viver dessa forma foi o próprio Jesus. E esta é a realidade: só descobriremos a maior verdade da vida cristã depois que reconhecermos que fomos der-rotados, que estamos vencidos, e nos prostrarmos diante de Deus com o rosto em terra.

É simplesmente inútil tentar agradar a Deus com nossas pró-prias forças. Mas, graças a Deus, ele se agrada de viver em nós O fato que mudou minha vida foi o seguinte: estamos unidos com Cristo e ele quer manifestar sua vida ressurreta por nosso inter-médio.

O apóstolo Paulo disse: "Para o conhecer e o poder da sua res-surreição e a comunhão dos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte" (Fp 3.10). Mas para que o poder da vida ressurreta de Cristo opere por nosso intermédio, primeiro preci-samos ser crucificados com ele.

Mas nós, seres humanos, em geral somos tão renitentes que levamos anos para tomar a decisão de morrer para o ego. Resis-timos o máximo que podemos. Lutamos e nos revoltamos contra essa idéia. E dizemos para Deus:

— Senhor, o que estás fazendo? Estás querendo dizer-me que não tenho a capacidade para viver a vida cristã?

E é exatamente o que ele está querendo dizer-nos. — Você não possui a capacidade necessária para viver para

minha glória. Mas eu possuo, diz ele. E todos os recursos de que disponho acham-se à sua disposição.

Você crê nisso?

O Coração do Novo Testamento

No momento em que recebemos a Cristo, nossa vida foi "in-vadida", embora não tenhamos tido consciência disso no instante de nossa conversão. "Mas aquele que se une ao Senhor é um es-pírito com ele." (1 Co 6.17.) Agora não é mais Deus lá em cima e nós aqui em baixo, não. Não existe mais essa separação. Agora conversamos com Deus de perto, e não de longe. Somos um es-pírito com ele. Ele desceu para morar dentro de nós.

Em Apocalipse, Jesus diz o seguinte: "Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e cearei com ele e ele comigo" (3.20). Embora essas palavras possam ser dirigidas ao pecador, quando lhe apelamos para que creia em Cristo, na verdade, trata-se de uma mensagem para nós, os crentes.

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VIDA CENTRALIZADA EM CRISTO ____________________________ 125

O Senhor está falando sobre nosso coração. Diz que ele possui uma porta que só pode ser aberta pelo lado de dentro. E ele nunca

tenta arrombá-la. Limita-se apenas a bater. Somente nós podemos

abrir a porta para que ele entre. E a questão é: será que abriremos?

Mas talvez alguém pergunte: — Como faço para abrir a porta?

Suponhamos que eu vá-lhe fazer uma visita hoje à noite. Chego à sua casa e toco a campainha. Você espia pelo "olho mágico" e diz:

— Ih! É o Luis Palau! Então terá de tomar uma decisão. — O que vou fazer? Esse sujeito fala demais! Vou recebê-lo ou

não?

Se resolver receber-me, terá apenas de abrir e porta e convidar-me a entrar.

— Entre, Luis! Sente-se! Fique à vontade. A casa é sua! E eu entro. Jesus está dizendo o mesmo para nós. — Estou batendo à sua porta. Você me ouviu bater? indaga

ele. Abra a porta, por favor, para que eu possa entrar e jantar com você, e você comigo.

Em outras palavras, deixando que ele entre experimentaremos a plenitude de sua presença em nossa vida. E como isso é ma-ravilhoso!

Meu irmão, você acredita mesmo que Deus vive em seu co-ração? Está vivenciando essa realidade? Sugiro-lhe que estude esse assunto na Bíblia por si próprio. Procure sublinhar todos os ver-sos que falam de Deus unido conosco. Ficará admirado de ver quantos textos mencionam o fato, principalmente no evangelho de João e nas epístolas. Considero essa questão o centro da men-sagem neotestamentária.

Vejamos um exemplo. Em Mateus 1.23, Jesus é identificado pelo nome de "Emanuel", "Deus conosco". E isso é apenas o começo. Deus está em nós, e quer ocupar todo o nosso ser.

Outro exemplo Paulo diz: "Acaso não sabeis que o vosso corpo e santuário do Espírito Santo que está em vós, o qual tendes da parte de Deus...?" (1 Co 6.19.) Se você é crente, Deus habita em seu corpo, quer seja alto ou baixo, gordo ou magro.

E por isso que a idéia da impureza sexual deveria ser repulsiva para o crente. Quando cremos em Cristo, nosso corpo se torna o templo do Espírito Santo de Deus. Portanto, tudo que entristece a ele deveria entristecer-nos também. É horrível pensar que po-demos macular o templo de Deus. Antes Deus dizia:

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126 DIGA "SIM" PARA MUDAR

"Tira os sapatos pois a terra em que estás é santa."

Hoje ele não nos fala mais isso. Hoje ele diz: "Despoje-se de sua antiga maneira de viver, pois agora você

é santo, assim como eu, que vivo em você, sou santo."

No momento em que entendemos essa maravilhosa verdade, perguntamos:

— Ah, Senhor, por que demorei tanto para compreender que o segredo da vida cristã, a mensagem central do Novo Testamento, é "Cristo em mim"?

Por certo alguns irão argumentar: — Mas a base da mensagem neotestamentária não é a obra

que Jesus Cristo realizou na cruz?

É. Mas por que Cristo teve de morrer na cruz? Porque quer viver em nós, em plenitude. Contudo ele não poderia habitar em nós enquanto não fôssemos purificados do pecado. E isso só po-deria acontecer através de sua morte na cruz. Assim, foi necessário que ele passasse pela cruz, para que Deus pudesse realizar seu objetivo supremo — unir-nos consigo para sempre.

Em Gaiatas 2.19,20, temos a junção dessas duas idéias. "Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que agora tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim."

Observemos as duas verdades paralelas que se encontram nesse texto. A primeira é: "Estou crucificado com Cristo". Do ponto de vista divino, estamos mortos para o pecado. Ele não tem mais nada que ver conosco e nós não temos nada que ver com ele. Do nosso ponto de vista, nós detestamos o pecado. Detestamos nossos pecados e os de outros. Não queremos nada com ele. E quando pecamos, imediatamente o confessamos e voltamos a andar na luz com Deus. Essa é a atitude de quem está crucificado.

A segunda verdade é: "Cristo vive em mim". E isso é o segredo de um renovamento radical. É verdade que existem outros fatos e práticas necessárias. Mas só poderemos de fato experimentar uma renovação divina em nosso interior depois que entendermos e aceitarmos esta verdade: Cristo realmente vive em mim.

Então não basta fazer uma consagração de vida. É até temerário ficarmos voltando ao passado, confiados apenas no ato de entrega pessoal que fizemos, baseados em Romanos 12.1,2. É ver-

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dade que precisamos, sim, saber que houve um dia em que nos colocamos no altar. Mas não é recordando essa experiência e nos regozijando por ela que vamos vencer o pecado.

O Senhor deseja que eu vivencie hoje o fato de que "não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim". A vida ressurreta de Cristo em nós é uma realidade viva, não uma experiência que tivemos no passado.

Muitos crentes ainda não deram esse passo. É por isso que existem tantas pessoas consagradas, mas sem poder. Não há dú-vida de que fizeram uma dedicação de seu ser a Cristo, num culto especial, num acampamento, ou numa série de conferências. E é possível até que tenham a data dessa experiência anotada na primeira página de sua Bíblia. Mas a verdade é que não têm poder, estão sujeitas a depressões e ainda não aprenderam a viver acima das circunstâncias.

Em Filipenses 4.12, Paulo toca nessa questão. "Tanto sei estar humilhado, como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias já tenho experiência, tanto de fartura, como de fome; assim de abundância, como de escassez." As situações adversas nunca o abateram.

Então perguntamos: "Como Paulo aprendeu isso? Como se desenvolve esse tipo de

capacidade?"

A maioria das pessoas não sabe conviver com a pobreza, e, para falar a verdade, nem com a riqueza. Então como foi que Paulo conseguiu isso? A resposta é: "Tudo posso naquele que me for-talece" (4.13). A força de Paulo, em toda e qualquer situação, pro-vinha de Cristo.

Em Colossenses 1.27, o apóstolo fala da "riqueza da glória deste mistério entre os gentios, isto é, Cristo em vós, a esperança da glória". Essa verdade o empolgava tanto que ele se afadigava —' esforçando-me o mais possível, segundo a sua eficácia que opera eficientemente em mim" — para proclamá-la em todo o império romano. Mas não o fazia com suas próprias forças. O segredo de seu poder era "Cristo vive e opera em mim".

E o apóstolo fala disso novamente em Colossenses 2.9,10. Em Cristo, diz ele, "habita corporalmente toda a plenitude da Divin-dade. Também nele estais aperfeiçoados. Ele é o cabeça de todo principado e potestade".

Se Cristo é Deus — e ele o é — e se ele está vivendo em todo o crente — e está — então a plenitude de Deus vive em todos nós.

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Isso se dá não porque sejamos alguma coisa, não; mas porque Aquele que é tudo está em nós.

Será que Paulo falava disso meramente por ser um assunto que ele gostava de abordar ou seria algo que está no coração do próprio Salvador? Vejamos a oração intercessória de Jesus em João 17. Ali ele suplica ardentemente que todos os crentes "sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste. Eu lhes tenho transmitido a glória que me tens dado, para que sejam um, como nós o somos; eu neles e tu em mim, a fim de que sejam aperfei-çoados na unidade, para que o mundo conheça que tu me en-viaste, e os amaste como também amaste a mim" (21-23). Que oração admirável Jesus fez em nosso favor!

Que tentação enfrentamos que Jesus não possa superar pelo seu poder? Que necessidade nos sobrevém que ele não possa su-prir? Seja qual for o tipo de sabedoria que precisarmos, ele pode nos conceder.

Quando deixamos essa verdade penetrar fundo em nosso co-ração, ela revoluciona nossa vida. E no entanto a maioria dos cren-tes que conheço não vive na plenitude de Deus; não sabe o que é ter o gozo, o poder e a vitória de uma vida centralizada em Cristo. Ainda não entenderam que não basta receber a Jesus Cristo (Jo 1.12) e abrir a porta do coração para ele (Ap 3.20).

O Senhor não deseja apenas habitar em nós. E claro que ele vive em todo crente. Mas quer permear todas as fibras do nosso ser. Lembremos o que ele disse: "Eu sou a videira, vós os ramos. Quem permanece em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; por-que sem mim nada podeis fazer" (Jo 15.5).

Você já viu uma videira? Já olhou bem para ela? É quase im-possível dizer onde termina a videira e onde começam os galhos. Eles se acham profundamente interligados. Eles "permanecem" um no outro. E, operando juntos, produzem muito fruto.

Quando a Bíblia fala que Cristo deseja "permanecer" em nós não o faz simbólica ou figurativamente, não. Sendo ramos, achamo-nos perfeitamente unidos à videira verdadeira. Somos um espírito com ele. Nada pode separar-nos dele. Cristo habita em nós e assim podemos tudo por intermédio dele. E Jesus quer que demos muito fruto para a glória de seu Pai. Ele deseja controlar e abençoar tudo que pensamos, fazemos e dizemos.

Precisamos entender o que é permanecer em Cristo e viver isso na prática diariamente. Não se trata de fazer uma decisão do

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tipo: "Tenho de permanecer em Cristo. Tenho de tornar-me um ramo frutífero"; não. Jesus afirmou que nós já somos ramos. Es-tamos unidos a ele, e, sem ele, não podemos fazer nada.

O problema é que muitos crentes não entendem a vida cen-tralizada em Cristo. E os que a entendem, acham difícil crer que ela seja possível. E os que crêem têm dificuldade em compreen-der como é que nos apropriamos do que Jesus tem para nos ofe-recer e como aplicamos isso na prática. Se o compreendessem, a igreja seria uma "estação de força".

Dá para imaginar milhões de crentes crendo de fato que Deus habita neles, e como seria seu viver diário? Como seriam os cren-tes que vivessem numa "consciente e constante comunhão" com Cristo? Teríamos um poder incrível. Apesar de todas as nossas limitações, teríamos um poder incomensurável.

E isso pode tornar-se realidade. Todos os recursos de Jesus Cristo acham-se à nossa disposição. Se Cristo habita em nós, tudo que é dele é nosso. E no entanto nós aproveitamos muito pouco desses recursos infinitos. É por esse motivo que os crentes não têm poder, não produzem fruto, não têm alegria e são derrotados.

O Dia em que Cristo Assumiu o Controle

Ninguém consegue viver a vida cristã a não ser o próprio Cristo. Sempre me recordo da expressão de admiração que vi no rosto de um missionário na Colômbia, um senhor de meia-idade, no momento em que ele enxergou claramente essa verdade. No pri-meiro ano que passei no campo missionário, fui" convidado para falar a um grupo de missionários durante uma série de conferên-cias. Falei sobre Cristo em nós, nossa fonte de poder para o serviço.

Após o culto, esse senhor me chamou para fazermos uma ca-minhada. E com lágrimas a escorrer-lhe pelo rosto, disse:

— Luis, já estou no campo há mais de trinta anos. Todo mundo pensa que sou um grande missionário pioneiro. E é verdade que temos fundado muitas igrejas com a pregação do evangelho. Mas nem eu nem minha esposa experimentamos gozo no serviço cristão. Já conversamos sobre isso horas e horas. Por que será que não temos prazer na vida cristã? Por que ela é como um "dever" para nós? Por que parece que estamos sempre lutando? Agora es-tou entendendo. Tenho trabalhado para Deus o máximo que posso, mas não experimento nada a não ser frustração. Acho que até hoje nunca tinha entendido o que é deixar o Cristo ressuscitado viver em mim. Por que ninguém me falou disso antes?

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Tive muita pena daquele homem, um verdadeiro servo de Deus mas cuja vida e ministério davam muito pouco fruto.

Só oito anos depois de haver consagrado minha vida a Deus foi que compreendi que Jesus Cristo vive realmente em mim, Luis Palau, e que ele queria encher-me da plenitude de Deus. Parece que essa maravilhosa verdade não entra facilmente em nossa ca-beça. Felizmente eu a entendi quando ainda estava com vinte e cinco anos. Acho bom ter aprendido isso nessa idade e não com sessenta anos ou mais. É verdade que mesmo antes eu já sabia tudo em teoria. Tinha feito anotações em meus cadernos sobre a vida centralizada em Cristo bem antes dos vinte e cinco. Mas na prática, ela não significava nada para mim.

O elo que faltava me veio quando ouvi o Major Ian Thomas falar na Escola Bíblica de Multnomah. Como relatei no capítulo 2, ele estava falando sobre Moisés e a sarça ardente. Quarenta anos antes, Moisés se considerava um homem culto, estudado e ex-periente. É provável até que tivesse recebido um chamado claro de Deus para libertar seu povo. Mas achara que poderia servir a Deus com suas próprias forças, na energia da carne. Contudo seus planos haviam falhado, e ele acabou tendo de fugir.

Então, após quarenta anos de uma vida inútil, infrutífera, cheia de desesperança, certo dia ele viu uma planta pegando fogo, e aproximou-se para ver do que se tratava. E Deus lhe apareceu no meio daquela sarça em chamas.

E Thomas indagou: "O que o Senhor estava querendo ensinar a Moisés?"

Basicamente o seguinte: "Moisés, eu não preciso de uma bela árvore, nem de uma ár-

vore estudada, nem eloqüente; não. Qualquer uma serve, desde que eu esteja nela".

Senti que Deus falava ao meu coração. "Luis, essa mensagem é para você. Você tem de tomar a decisão."

E a decisão era a seguinte: deixar Cristo, que habitava em meu interior, assumir o controle de tudo. Assim eu iria aprender na prática essa verdade: "Não mais eu, mas Cristo vive em mim".

Essa é a terceira grande decisão que temos de tomar. A Bíblia ensina que, se quisermos produzir muito fruto, se quisermos ven-cer as tentações, e ter poder e autoridade, temos de consegui-lo através de Cristo; nunca por nós mesmos.

Essa decisão revolucionou minha vida. É verdade que ainda tive de ir acertando muitas coisas. Mas minha maior luta espiri-

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tual finalmente terminara. Depois disso, tudo mudou. É verdade nue eu pregava as mesmas mensagens que havia pregado antes, mas a diferença era que agora colhia frutos. Agora havia conversões. Agora eu tinha poder, autoridade; tinha vitória, liberdade, gozo. Finalmente compreendera o que Paulo quisera dizer quando es-crevera: "E assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as cousas antigas já passaram; eis que se fizeram novas" (2 Co 5.17). O Senhor mudou meu modo de pensar, meu modo de ver as pessoas, todo o meu modo de viver.

Muitos crentes vivem anos a fio da maneira como eu vivera. Acreditam que se orarem muito, se lerem muito a Bíblia, se tra-balharem muito serão vitoriosos. Mas isso é obra da carne, a es-sência do ego. Não dá certo. Não podemos conquistar a vitória por esforço próprio, assim como não podemos obter a salvação por esforço pessoal.

Isso pode parecer simples demais. É possível que você não consiga crer que pode descansar no poder do Cristo ressuscitado em vez de exercitar autocontrole, numa luta praticamente insu-portável.

Plenitude ou Esforço Improdutivo

Encaremos a realidade. Grande parte do que está sendo feito no meio evangélico, mesmo nos melhores círculos, é obra morta. O fato é que aprendemos técnicas para levantar dinheiro, fazer publicidade, mobilizar gente, montar shows, fazer vídeos e vender produtos. Mas onde está a realidade espiritual? Se Deus fosse submeter tudo isso a um teste agora, boa parte do que tanto ad-miramos viraria fumaça. Não passa de madeira, feno e palha evan-gélicos. Não resiste a uma prova de fogo.

E o segredo não é fazer cursos teológicos, nem andar bem ves-tido, nem ter boa aparência, nem interligar as igrejas, nem levantar mais dinheiro, nem realizar programas dinâmicos, nem buscar know-how. Essas coisas talvez tenham seu lugar. Mas, se não estivermos confiados no Cristo que habita em nós, é tudo pura perda de tempo.

Por que a sarça que Moisés viu em chamas não se consumiu? Porque o fogo que a queimava era de Deus e não da carne. E o fogo que não é de Deus só serve para consumir as pessoas. É por isso que tantos obreiros crentes se desgastam e abandonam tudo. Nós podemos até ter pena deles, tentar consolá-los e providenciar-lhes um atendimento psicológico. Mas por que eles ficam esgo-

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tados? Porque não estão servindo a Deus com o fogo divino, e, sim, com o fogo da carne, que é imitação do divino.

Estou no ministério cristão há trinta anos, tempo suficiente para saber contar a história de dezenas de pessoas que tinham um grande potencial no evangelho. Já vi homens que eram fabulosos expositores, pregadores, mestres e músicos, e que hoje, espiritual-mente, se acham "no banco de reservas". Alguns cometeram pe-cados grosseiros, outros simplesmente esgotaram suas energias, pois estavam usando os dons de Deus com o fogo da carne.

Lembro-me de um evangelista com quem trabalhamos na Amé-rica do Sul, e que fazia sermões maravilhosos. Ele apresentava a mensagem do evangelho em vinte minutos e o fazia de forma tão atraente que os incrédulos mal podiam aguardar a hora do apelo. Eu gostaria muito de ter realizado uma cruzada evangelística com ele. Mas logo percebemos que ele estava utilizando os dons do Espírito com o combustível da carne. Sua atitude em relação ao dinheiro não era espiritual. Hoje ele está acabado. Sua chama se apagou.

Lembro-me de um pastor da América Central que era um ex-celente expositor da Bíblia. Certa feita, preparou um estudo em 1 Coríntios em nível de igualdade com os grandes expositores de nossos dias, como Ray Stedman e John Stott. Dez anos depois, quando voltei àquele país para realizar uma campanha evangelística, reencontrei-me com aquele homem e a primeira coisa que me disse foi:

— Luis, como é que você consegue continuar sempre com esse entusiasmo por Deus?

Pensei: "Ele deve estar ficando sem combustível". Pouco tempo depois, soube que se divorciara de sua esposa e se casara com uma mulher mais jovem. O que acontecera? Durante todo aquele tempo, ele estivera usando os dons do Espírito na força da carne, e a carne sempre acaba ficando sem combustível.

Se não vivermos pelo poder de Deus, fatalmente ficaremos sem combustível. Num momento estamos "rodando" bem, e daí a pouco perdemos força. Acabamos parando ou nos desviando, se não fizermos coisa pior. Tudo porque atuávamos na energia da carne.

Muitos de nós crescemos ouvindo o seguinte: 'Agora que você é crente, arregace as mangas. Comece a tra-

balhar para Cristo, lute contra o diabo, vença o pecado, viva para Deus, fique firme, e dê um bom testemunho de Cristo no mundo."

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É verdade que devemos estar sempre ativos e produzindo fruto,

mas fazendo-o a partir de uma fonte de energia que não a nossa. E isso não acontece automaticamente. À medida que, conscien-temente, começamos a depender mais de Deus, reconhecendo que é dele que procede toda a nossa força e poder, vamos sendo renovados e revitalizados. E nunca precisamos temer que nos fal-tem energias, pois os recursos de Deus são ilimitados.

Vejamos o exemplo de Robert Murray M'Cheyne, um famoso pregador escocês, um homem de Deus que viveu no século pas-sado. Morreu aos vinte e nove anos de idade. Mas mesmo sendo tão jovem, já era um gigante espiritual. Dizem que assim que ele assumia o púlpito, antes mesmo que iniciasse a pregação, os pre-sentes começavam a chorar. Isso é que é poder de Deus!

Certa ocasião, escrevendo a um amigo, M'Cheyne disse o se-guinte:

"Nosso sucesso é proporcional à medida de nossa santidade... Edwards é um homem santo, e por isso é um poderoso instru-mento nas mãos de Deus."

Será que somos um "poderoso instrumento" nas mãos de Deus? Podemos ser, se deixarmos seu poder operar por nosso intermédio.

Quem está cheio de toda a plenitude de Deus terá poder, ainda que não o perceba. Não quero dizer, porém, que tal crente deva sair por aí todo empinado, dizendo:

— Cuidado, gente. Sou um homem cheio do Espírito Santo. Aqui vai um homem de Deus. Saia todo mundo da minha frente.

Não; claro que não. Ele simplesmente segue sua vida, louvando e obedecendo a Deus, demonstrando o poder divino com auto-ridade. Talvez ele próprio nem note que é diferente, mas outros notarão.

Qual é o segredo? É ter a seguinte atitude: — Senhor, apesar de indigno, sou o templo de Deus. Então,

Senhor, enche completamente este templo, para a tua glória. Lembremos disto: nós somos o templo do próprio Deus! Meu irmão, você quer dizer, pela fé: "Cristo vive em mim"? Vejamos então como isso se aplica no viver diário.

Iniciar o Dia Renovado

Assim que abro os olhos de manhã e ponho os pés no chão, a primeira coisa que faço é orar a Deus dando-lhe graças por tudo. Aconselho todo mundo a fazer o mesmo, até nas manhãs de segunda-feira.

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Mas não é fácil iniciar o dia com uma oração de agradecimento a Deus. Preste atenção ao que você diz ou pensa assim que se levanta. Durante muitos anos, eu me levantei de manhã resmun-gando. Minha oração — quando orava — era mais uma lamúria do que qualquer outra coisa.

"Senhor, mais um dia está começando. Não me sinto com for-ças para fazer tudo que tenho de fazer. Vou enfrentar tantas ten-tações. E não quero perder a calma. Não me deixe decepcionar-te, Senhor, nem te entristecer. E se tiver oportunidade de testemunhar de ti, que eu não desonre o teu nome..."

E por aí ia. Era só resmungação, queixa e lamúria. Súplicas e mais súplicas, era só o que fazia. Lembro-me de que estava sem-pre suplicando:

"Senhor, não me abandone."

Dava a impressão de que o texto de Hebreus 13.5,6 poderia ser lido ao contrário: "Eu te deixarei e te abandonarei. Não conte comigo. Cuidado com o que os outros podem fazer a você!" Aos olhos de Deus minhas orações devem ter sido uma completa in-sensatez.

Certo dia, Fred Renich, que foi diretor de nosso treinamento prático para missionários, falou-nos a respeito disso. Ele obser-vou que "a maioria dos crentes provavelmente começa o dia res-mungando. O conteúdo de nossas orações, a entonação e o sen-tido em que as direcionamos são sempre negativos". E ele tinha razão. Eu não havia percebido o quanto era negativo.

Mas ele deixou claro também que não estava defendendo a idéia de que ter pensamentos positivos era a solução para tudo.

— Estou falando de outra coisa, disse ele. Vamos orar com base nas promessas de Deus e na sua realidade.

Então aconselhou-nos a começar o dia orando assim: "Muito obrigado, Senhor Jesus. Estou começando um novo

dia. É verdade que sou fraco, mas o Senhor é forte e todos os teus recursos se acham ao meu dispor. Nem sempre sei teste-munhar de ti como devo, mas peço-te que me dês as palavras cer-tas. E sei que, quando vierem as tentações, tenho o teu poder tam-bém. Dou-te graças porque tens todo o poder no céu e na terra. Dou-te graças porque vives em mim, porque tua vida ressurreta é uma realidade e porque hoje, mais uma vez, vais provar isso."

Para que começar o dia com uma oração de incredulidade? Por que não com palavras de adoração e louvor? Se entendo corre-tamente Romanos 4.20, parece-me que Abraão se fortaleceu na

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fé quando deu glória a Deus. O Senhor lhe prometera o impos-sível: sua esposa, então com quase noventa anos, iria ter um fi-lho. A tentação de duvidar era muito forte. Mas Abraão creu, "ple-namente convicto de que ele era poderoso para cumprir o que prometera" (4.21).

Você está convicto de que o mesmo poder de Deus opera em você? Então afirme isso no início de cada dia.

Permanecer Renovado no Decorrer do Dia

Alguém pode estar pensando: "Mas, Luis, e o resto do dia? Começar o dia bem é uma coisa.

Mas o que faço quando for tentado?"

O Senhor Jesus vivo tem o poder de que precisamos. O fato de que fomos purificados, nos consagramos a Deus e temos uma vida centralizada em Cristo não significa que não vamos encon-trar provações e tentações.

Sempre vamos encontrar tentações nesta vida. Somos tenta-dos a mentir, a ser desleais, a ser desonestos nos negócios, a pra-ticar atos constrangedores ou até mesmo vergonhosos.

Um crente levanta de manhã, tem seu momento devocional, canta um corinho de louvor ao Senhor, ora, beija a esposa e vai trabalhar. No caminho procura recitar versículos bíblicos, e tudo está indo muito bem, até que, de repente, vê algo que não pre-tendia ver e pensa em algo em que não queria pensar. A tentação o assalta de repente. O que faz ele?

A melhor coisa a fazer é ser sincero. Deus habita em nós e co-nhece todos os nossos pensamentos. Então podemos dizer:

"Senhor Jesus, agradeço-te porque habitas em mim. Estás vendo o que estou vendo. Sabes o que estou sentindo neste momento; sabes que estou sendo tentado a fazer isso e isso. Muito obrigado pelo teu poder que opera em mim. Agradeço-te por me conservares puro e santo, para glorificar teu nome."

Num dos belos hinos que Carlos Wesley compôs, ele diz que Cristo "rompe as cadeias do pecado e liberta o prisioneiro". E a tentação perde a força que exerce sobre nós. "Porque o pecado não terá domínio sobre vós" (Rm 6.14). Por quê? Porque não es-tamos mais debaixo da lei, esforçando-nos ao máximo para agra-dar a Deus. Agora, pela graça de Deus, "Cristo vive em mim".

Nesse processo de renovamento radical não há lugar para o legalismo. Nós não precisamos de uma porção de regulamentos feitos por homens estabelecendo o que podemos e o que não podemos

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fazer. Não precisamos porque somos controlados pela vida de Deus. Ele nos guia e instrui. E por isso que a vida cristã é tão maravilhosa.

O verdadeiro cristianismo é vida. É "a vida de Deus na alma do homem". E esta é a única razão por que Jesus veio ao mundo: para dar-nos vida. Ele deseja que desfrutemos dela em plenitude.

Meu irmão, se Jesus já está no seu coração, o poder dele tam-bém está. E o mesmo poder que ressuscitou a Cristo dentre os mortos pode dar-lhe a vida ressurreta.

Quando esse poder de Deus, o poder de ressuscitar, opera em nós, não precisamos mais lutar nem reunir todas as nossas ener-gias para vivermos da forma mais correta possível. É bem melhor sermos instrumentos nas mãos dele, permitindo que Cristo opere por nosso intermédio. Isso não significa, porém, que nos torna-remos totalmente passivos e preguiçosos. Quem passa por uma renovação interior, talvez se torne mais ativo do que era antes, mas não atua sob pressão, nem com ansiedade. Agora, não so-mos nós quem está no comando da situação; não estamos to-mando as decisões, nem nos esforçando para fazer tudo correta-mente. "Já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim."

Então, nós não fazemos nada para Cristo. Ele é quem faz, por nosso intermédio. É verdade que estamos trabalhando, mas não confiados em nossa capacidade. É claro que desejamos andar na luz, mas só poderemos ser santos se ele nos tornar santos. Assim sendo, confiamos em sua presença em nós para nos santificar e nos dar a transparência espiritual. Por nós mesmos, nunca po-deríamos conseguir isso, assim como Moisés e Paulo também, por si mesmos, nunca o conseguiriam. Mas Deus está conosco, para realizar essa obra em nós.

Então, sempre que nos virmos diante de uma tentação, pode-mos afirmar com toda confiança: "O pecado não terá domínio sobre mim, pois não estou debaixo da lei, e, sim, da graça". E estar debaixo da graça significa que Deus habita em mim. Não sig-nifica que eu seja perfeito, e que nunca mais vá tropeçar, nunca mais vá cometer pecados. É possível que os cometa, sim, prin-cipalmente aqueles que sempre me assediam. Mas eles não terão domínio sobre mim, pois Cristo vive em mim e estou vivendo nessa realidade.

Equilibrado Até o Fim

Muitas vezes penso que o crente que anda no poder do Cristo que nele habita se assemelha a um equilibrista a caminhar numa

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corda bamba. Certa vez, quando era menino, vi uns acrobatas fa-zerem isso na Argentina. Eram artistas alemães. Eles instalaram um comprido cabo de aço na praça principal de nossa cidade, uma ponta presa em um prédio e a outra em outro. Deviam estar a uma altura de uns trinta metros, mas não colocaram rede de segurança embaixo. Então puseram-se a caminhar no cabo, cada um partindo de uma das pontas. E ali ficaram a fazer brincadeiras com a multidão que assistia ao espetáculo. Eles seguravam longas varas para auxiliar-lhes o equilíbrio e caminhavam oscilando para um lado e para outro. Quando passaram um pelo outro, trocaram de vara. Todo mundo pensou que eles, na certa, iriam cair e morrer. E um deles realmente escorregou mas agarrou-se no cabo e em seguida voltou à posição inicial. E afinal atravessaram de um lado para outro perfeitamente a salvo.

\ Viver sob o controle do Senhor Jesus tem certa semelhança

com esse espetáculo. Envolve muita comoção. Os outros olham para nós e dizem:

— Ah, ele não vai conseguir, não. Mas quando caminhamos com Cristo mantemos o equilíbrio. Ele

é a vara que nos mantém de pé a cada passo dessa jornada. O supremo objetivo de Cristo é assumir o controle total de nosso ser e transformar nosso caráter, para que se torne igual ao dele. Agora a situação mudou. Não estou mais me esforçando para ser santo, para ser perfeito, para ser conforme à imagem de Cristo. O que opera a transformação é a presença de Cristo em mim, enchendo meu ser. Isso não significa que assumo uma atitude passiva; não. Estou atuando no poder dele. E todo poder que tenho, na verdade, é dele, já que ele habita em mim. Cristo se tornou nossa "sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção" (1 Co 1.30). E por isso que Paulo diz: "Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor" (1.31).

Então Jesus nos diz: "Assim brilhe a vossa luz diante dos ho-mens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus" (Mt 5.16). Todo o bem que os outros vêem em nós, na verdade, é o brilho de Jesus que em nós habita. Ele e a nossa luz, a fonte da verdadeira vida. E quanto mais o con-templarmos, mais refletiremos "a glória do Senhor", sendo "transformados de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo

Senhor, o Espírito" (2 Co 3.18). Deus está operando incessantemente com o objetivo de

tansformar-nos. Não é intenção dele iniciar essa obra depois que

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chegarmos ao céu, não. Ele já começou boa obra em nós, e "há de completá-la até ao dia de Cristo Jesus" (Fp 1.6). Seu objetivo é que sejamos "conformes à imagem de seu Filho" (Rm 8.29).

E pensar que Deus está operando em nosso interior, enchendo-nos de si mesmo! Que bênção gloriosa! Não sei que outra coisa poderia transformar um ser humano. "O próprio Deus habita em mim." Só esse fato já nos dá uma forte motivação para termos um viver santo e vitorioso, impelindo-nos a indagar:

— Senhor, diga-me o que está em teu coração. Como queres que eu aja, pense e sinta? O que queres fazer por meu intermé-dio, aqui na terra, para a tua glória?

Quem faz essa oração, com toda sinceridade, descobre o grande anseio de Deus: encher-nos de compaixão por um mundo per-dido e sofredor. Quando experimentamos um renovamento ra-dical, vem-nos o desejo de levar o amor de Cristo àqueles que não o conhecem. Você tem esse anseio? Quer que Deus o use para apresentar seu Filho a outros? Então persevere nesse desejo. Ter uma vida controlada por Cristo gera em nós um ardoroso impulso de evangelizar os perdidos.

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A VIDA CENTRALIZADA EM CRISTO 139

Para Meditar

1. "A consagração pessoal é um importante passo para obter-mos um renovamento radical; mas não é tudo. Sabemos de pes-soas que dedicaram e rededicaram a vida a Deus, mas ainda não experimentaram uma renovação interior." Já houve momentos em que desejou um poderoso toque de Deus em sua vida? Já desejou intensamente sentir sua presença operando em seu coração? O que provocou esse desejo?

2. "A única pessoa que conseguiu viver a vida cristã foi o pró-prio Jesus." O que acontece quando tentamos viver para Deus com nossas próprias forças? Isso já lhe aconteceu?

3. "Foi necessário que Cristo passasse pela cruz, para que Deus pudesse realizar seu objetivo supremo — unir-nos consigo para sempre." Na sua opinião, por que Deus quer encher-nos de seu Espírito? Como seremos assim que ele encerrar sua obra em nós?

4. "Só poderemos de fato experimentar uma renovação divina em nosso interior depois que entendermos e aceitarmos esta ver-dade: Cristo realmente vive em nós!" Por que apenas uma con-sagração pessoal não é suficiente? Qual a diferença que ocorre numa vida centralizada em Cristo?

5. "A maioria dos crentes não vive na plenitude de Deus; não sabe o que é ter o gozo, o poder e a vitória de uma vida centra-lizada em Cristo." Em sua opinião, por que isso acontece? O que impede que a maioria dos crentes goze dessa maravilhosa bênção?

6. "A Bíblia ensina que, se quisermos produzir muito fruto, se quisermos vencer as tentações, e ter poder e autoridade, temos de consegui-lo através de Cristo; nunca por nós mesmos." Você já experimentou o revolucionário impacto de uma vida centrali-zada em Cristo? Se já, quais as mudanças que isso operou em você, em seu ministério e seu relacionamento com outros?

7. "A medida que, conscientemente, começamos a depender mais de Deus, reconhecendo que é dele que procede toda a nossa força e poder, vamos sendo renovados e revitalizados. E nunca precisamos temer que nos faltem energias, pois os recursos de Deus são ilimitados." Se esse fato já é realidade em nossa vida, como devemos iniciar cada dia? Como podemos permanecer re-novados durante o dia todo? Qual é o segredo para nos mantermos em equilíbrio até o fim?

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140 DIGA "SIM" PARA MUDAR

Para Fazer

1. Leia Efésios 3.14-19, se possível em voz alta. Em seguida, sublinhe a última frase dessa oração: "para que sejais tomados de toda a plenitude de Deus". Peça a Deus que torne isso reali-dade em sua vida.

2. Procure os seguintes versículos do Novo Testamento, prin-cipalmente no evangelho de João e nas epístolas, que falam de Deus enchendo-nos de si mesmo e vá sublinhando-os. João 15.5; 17.21-23; 1 Coríntios 6.17; Gaiatas 2.19,20; Efésios 5.18; Füipenses 4.12; Colossenses 1.27 e 2.9,10. E daqui para a frente, todas as vezes que encontrar um texto que fale disso, sublinhe-o.

3. Abra a Bíblia em Êxodo 3, e releia a história de Moisés e a sarça ardente. Procure imaginar a planta em chamas pela presença de Deus. Depois imagine aquele fogo se apagando, e ficando ape-nas a árvore. Por último, imagine-a sendo consumida pelo fogo natural, até virar cinzas. Qual dessas figuras simboliza melhor a sua vida?

4. Depois de haver confessado todos os seus pecados e con-sagrado a Deus todas as áreas de sua vida, peça-lhe para permear todas as fibras de seu ser. E lembre-se de agradecer-lhe por essa plenitude, diversas vezes no decorrer do dia.

5. Agora procure formar o hábito de iniciar o dia sempre com uma oração de agradecimento a Deus. Relembre as promessas de Deus, e aproprie-se delas a cada manhã. Dê graças a Deus principalmente pela sua presença e realidade em sua vida.

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Capítulo 8

Paixão Pelos Perdidos

Às vezes, por trás de aparências as mais singulares, podem estar crentes cheios da plenitude de Deus. Certa vez eu estava para realizar uma cruzada evangelística num país da América Latina, e demos um curso de uma semana de duração para preparar conselheiros para conversar com os deci-didos. Uma das pessoas que freqüentaram o curso era um senhor muito pobre, mal vestido e descalço.

De modo geral, os crentes que se interessam por esse tipo de treinamento são os obreiros leigos das igrejas, pessoas cultas, es-piritualmente maduras, e de certa posição social. Então achamos meio estranho ver um irmão mais pobre participar dos estudos, principalmente pelo fato de ser ele analfabeto. E embora ele ti-vesse assistido a todas as aulas, achávamos que não iria conse-guir muito sucesso no aconselhamento. Não fazíamos idéia do quanto ele havia aprendido.

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Alguns dias depois, durante a cruzada, houve um momento em que todos os conselheiros estavam ocupados, menos aquele irmão analfabeto. Exatamente naquele instante chegou ali um mé-dico, pedindo para falar com alguém. Na América Latina, os mé-dicos, em geral, são pessoas muito finas e sofisticadas, e aquele homem não era exceção. Então o irmão mal vestido se levantou, e, antes que alguém o interceptasse, convidou o médico para acompanhá-lo a uma saleta. Quando o diretor da cruzada soube disso ficou bastante preocupado. E assim que o médico saiu da saleta, dirigiu-se a ele e perguntou-lhe se queria que o ajudasse. Mas o médico replicou:

— Não, muito obrigado. Esse amigo aqui me ajudou muito. No dia seguinte, aquele médico voltou com dois colegas. O

diretor da cruzada queria fazer o aconselhamento deles pessoal-mente, mas o homem recusou. Pediu que o irmão analfabeto e descalço conversasse com eles. Ao final da semana, aquele anal-fabeto tinha ganhado para Cristo quatro médicos e suas esposas. Que extraordinário servo de Jesus Cristo! Não sabia ler nem es-crever, mas tinha uma vida vitoriosa!

Muitas vezes, quando avaliamos a espiritualidade de alguém, nós o julgamos pelo aspecto exterior. Mas o que conta, na ver-dade, é o poder do Cristo vivo em seu interior. Esse é o segredo de um renovamento radical, como vimos no capítulo anterior. E a partir da renovação interior experimentamos uma transbordante, profunda, sincera e crescente paixão por tudo que se relaciona com Deus.

Quando temos a plenitude de Deus, nosso coração fica intei-ramente tomado pelos interesses que estão no coração dele. E o que é que está no coração de Deus? Primeiramente, seu principal interesse é reconciliar os homens consigo mesmo. Ele não quer que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento (2 Pe 3.9). Como é que podemos passar a ter essa mesma paixão pelos não salvos?

Por natureza, nós não temos nenhum interesse pelos perdi-dos. Basicamente somos todos egoístas. Se tivermos aquilo que desejamos, estamos felizes. Mas assim que experimentamos a ple-nitude de Deus, isso muda. E pouco depois estamos pedindo a Deus:

"Senhor, dá-me um grande desejo de ver outros te conhecendo. Tu tens me abençoado tanto. Quero que todo mundo experimente tua salvação e a tua operação na vida deles."

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Se um crente recebe a plenitude de Deus, ninguém precisa insistir com ele para que evangelize. Isso ocorre sobrenaturalmente; é subproduto de sua renovação interior. Por outro lado, se alguém não tem paixão pelos perdidos, não adianta tentar forçá-lo a tes-temunhar de Cristo. Quando pregamos o evangelho por dever, sem fazê-lo de todo o coração, o resultado geralmente é um de-sastre. Pode até acontecer de as pessoas a quem pregamos per-derem o interesse por Jesus Cristo, em vez de crer nele como seu Salvador.

Mas a paixão pelos perdidos não é algo que se aprende num seminário, curso de evangelismo, etc, não. É verdade que pode-mos incentivar os crentes a fazer evangelismo e treiná-los para o serviço. Aliás, um objetivo de minha associação evangelística é "incentivar, revitalizar e mobilizar a igreja para que desempe-nhe um evangelismo eficiente, um melhor trabalho de discipulado, e assim promova a expansão do reino". Milhares de crentes vêm fazendo nosso curso especial de treinamento para o evangelismo, que oferecemos antes de nossas cruzadas. E muitos deles conse-guem levar alguém ao conhecimento de Jesus Cristo. Mas esse treinamento, por si só, não gera no coração de ninguém um pro-fundo interesse pela condição dos perdidos.

Assim que somos cheios do Espírito Santo, imediatamente co-meçamos a testemunhar do evangelho a outros. Jesus disse a seus discípulos: "Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas..." (At 1.8). E foi exatamente o que aconteceu. Aqueles galileus, que antes eram temerosos, tornaram-se testemunhas santas, corajosas, anunciando o nome de Jesus. O mesmo pode acontecer conosco.

Meu sogro é um homem de temperamento calado, e imagino que não consiga dizer mais que uma ou duas sentenças quando fala de Jesus para outros, mesmo para seus antigos colegas de faculdade, por quem sente um grande peso. Mas sempre que vou pregar em sua cidade, leva um ou mais deles às reuniões. He nunca poderia ser um pregador, e não pretende sê-lo. Mas a paixão pe-los perdidos não consiste só em pregar.

Algumas pessoas me dizem: — Luis, eu não tenho o dom de evangelizar. Não sei pregar

o evangelho como você prega. E nem precisa. Todos podem ter um coração cheio de com-

paixão pelos perdidos. E para tanto não é necessário que fiquem se esforçando para obter um dom que Deus não pretende dar-

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lhes. O segredo é viver e testemunhar pelo poder do Senhor que em nós habita. Isso se aplica a todos os crentes, desde um pro-fessor de escola dominical que tem um profundo interesse por um aluno que ainda não é salvo, até a um músico talentoso que dedica esse seu dom para a glória de Deus.

A Bíblia diz: "Quem é fiel no pouco, também é fiel no muito" (Lc 16.10). Seja fiel naquilo que você faz no momento, e Deus co-meçará a abrir-lhe outras portas. Quando nosso testemunho trans-borda de um coração cheio do Espírito de Deus, os outros co-meçam a sentir nosso amor e interesse por eles.

A Era do Crente "Acomodado"

Infelizmente, hoje em dia raramente vemos alguém com uma ardorosa paixão pelas almas. Vivemos na era do crente "acomo-dado". Certa vez um homem que pregou em minha igreja disse o seguinte:

— Quando eu era jovem, trabalhava com a missão Cruzada Estudantil e Profissional para Cristo. Pregava o evangelho para todo mundo. Falava de Cristo a qualquer um que aparecesse na minha frente. Pregava até para os postes de rua.

Naturalmente ele estava querendo ser engraçado e dando a entender que agora já amadurecera e não fazia mais isso. Mas estou aqui nos Estados Unidos há trinta anos, e nunca nenhum crente pregou para mim. E como eu gostaria que alguém o fi-zesse! Billy Graham contou que, na época do movimento dos "Meninos de Deus", certo dia ele caminhou três quarteirões numa rua de Hollywood, e só naquele trecho três pessoas ten-taram pregar o evangelho para ele. E ele disse que chorou. Eu também choraria.

Gostaria que os crentes estivessem testemunhando de Cristo mais ativamente. Por que será que alguns deles até zombam des-sas coisas? Porque acham que olhando a coisa sarcasticamente eximem-se de sua responsabilidade. Mas como podemos ter tal atitude quando aqueles que nos cercam estão indo para o inferno?

A única vez que alguém tentou-me falar do evangelho foi em Londres. Eu estava ali para realizar uma cruzada. Certo dia ca-minhava pela cidade com um dos membros de nosso comitê or-ganizador, quando, em dado momento, chegamos a uma feira-livre, onde havia milhares de pessoas. Imediatamente comentei:

— Devíamos mandar alguém aqui distribuir convites para nossa campanha.

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Mal havia acabado de falar, um rapaz me entregou um convite para a cruzada. Então lhe disse:

— Olá, irmão! Que bom que está fazendo isso; muito obrigado. Sou o Luis Palau.

A não ser por essa ocasião, ninguém nunca tentou testemu-nhar de Jesus para mim, depois de minha época de estudante.

Por que será que a maior parte dos crentes não tem o menor interesse pelos perdidos? Porque nunca experimentaram uma ra-dical renovação divina. Jesus disse a seus discípulos: "Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens" (Mt 4.19). Nós só pas-samos a ter essa paixão pelos perdidos depois que seguimos a Cristo de todo coração.

Um Coração Compassivo

Como é que nós, que seguimos a Cristo, podemos cultivar um coração compassivo para com aqueles que estão "aflitos e exaus-tos como ovelhas que não têm pastor" (Mt 9.36)?

Primeiramente, podemos orar. "A seara na verdade é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara" (Mt 9.37,38). Podemos orar a Deus pelos obreiros que já estão ativamente envolvidos no trabalho de evangelismo e de missões transculturais, e também pedir-lhe que envie mais trabalhadores.

E podemos orar também pelos amigos e conhecidos que ainda não conhecem a Jesus Cristo. É bom fazer uma lista de familiares, amigos, vizinhos, colegas de trabalho ou de escola, que ainda não são salvos. Isso feito, vamos orar diariamente, de joelhos, citando cada pessoa pelo nome. Mas temos de persistir em oração. Pre-cisamos pensar em termos de longo prazo. Para Deus, o tempo que investimos em oração por outrem nunca é demais.

Eu e minha esposa conhecemos uma senhora idosa que orou durante sessenta e oito anos pela conversão de seu irmão. E quando esse homem estava com oitenta anos, pouco antes de morrer, ele creu em Cristo como seu Salvador. Alguém talvez diga:

— Foi salvo por um triz! E verdade, mas ele não foi o único beneficiado. Pense na bênção

que aquela irmã recebeu como resultado de sessenta e oito anos de fiel intercessão.

Mas há casos também em que Deus atende nossa oração pron-tamente. Certa vez desafiei um amigo meu a orar por cinco em-presários conhecidos dele, citando-os pelo nome. Algumas se-

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manas depois tivemos oportunidade de almoçar juntos e ele me contou que já pudera falar de Jesus para um deles, e ele entregara a vida a Cristo. Imagine como meu amigo estava feliz. Sentia-se fortemente incentivado a orar pelos outros quatro.

Certa vez, em conversa com uma jovem na Escócia, fiz-lhe um desafio semelhante: orar por dez colegas de escola, citando o nome deles. Um ano depois, todos os dez já tinham recebido Jesus Cristo como seu Salvador. A moça estava vibrando. E muitos outros têm-me narrado testemunhos semelhantes.

Em segundo lugar, podemos estudar o que a Bíblia ensina sobre a eternidade. Vamos ler todos os textos do Novo Testamento que falam sobre a condenação eterna dos não-salvos. Veremos que a Bíblia ensina que aqueles que rejeitam a Cristo e persistem nisso até o dia de sua morte vão para o inferno, para o "lago de fogo".

Lembremos que Cristo disse o seguinte: "Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo" (Mt 10.28).

Jesus falou várias vezes que alguém pode estar "sujeito ao in-ferno de fogo", ou ser "lançado no inferno". Depois, referindo-se à igreja, disse: "As portas do inferno não prevalecerão contra ela" (Mt 16.18).

As palavras mais duras que o Senhor proferiu foram dirigidas aos hipócritas líderes religiosos de seus dias e aos discípulos de-les. Disse que eles eram "filho(s) do inferno" (Mt 23.15), e perguntou-lhes: "Como escapareis da condenação do inferno?" (23.33.)

Em terceiro lugar, precisamos crer irrestritamente no ensino bíblico de que o incrédulo está perdido por toda a eternidade. Procuremos ab-sorver bem o que o Senhor nos diz sobre a agonia e desesperança dos perdidos. Ele ensina que no inferno "haverá choro e ranger de dentes".

Algumas pessoas tentam interpretar de forma diferente a re-velação bíblica acerca do inferno. Dizem elas:

— Será que aqueles que rejeitam a Cristo vão mesmo ficar perdidos para sempre?

Vão. Mas nós demoramos muito a crer nisso. A maioria pre-fere acreditar que, no fim da história, depois que eles tiverem pas-sado uns mil anos no inferno, Deus irá dizer:

— Está bem, vamos proceder a uma anistia geral. Vamos trazer aqueles coitados para o paraíso.

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Não é isso que a Bíblia ensina, mas é o que muitas pessoas, até mesmo evangélicos, preferem pensar. É por essa razão que muitos crentes não têm paixão pelas almas. Recusamo-nos a crer que, se alguém rejeitar a Cristo, e assim permanecer até o dia de sua morte, estará perdido para sempre, e não haverá mais espe-ranças para ele.

Se crêssemos irrestritamente na Bíblia, nossa maneira de pen-sar sofreria uma mudança drástica. Em vez de termos apenas um leve desejo de que um amigo ou parente incrédulo se salve, te-remos um profundo interesse, pois temeremos por ele.

"Se ele sofrer um acidente amanhã e morrer, irá passar a eter-nidade no inferno", pensamos.

Quando nos conscientizamos plenamente desse fato, passa-mos a ter maior preocupação com aquela pessoa, e desejamos a todo custo ganhá-la para Cristo.

Se nós crermos realmente no que a Bíblia revela sobre os per-didos, iremos querer passar mais tempo em oração, e suplicar:

— Senhor, dá-me compaixão por aqueles que ainda não te co-nhecem. Revela-me o valor de uma alma!

Fiz essa oração há trinta e cinco anos, e desde então nunca mais consegui ficar "acomodado". Como vou ficar em casa, tran-qüilo e confortável, sabendo que aqueles que morrem sem Cristo vão para o inferno? Como permanecer parado, sem fazer nada?

Viver Ganhando Almas Para Cristo

A Bíblia diz que "O fruto do justo é árvore de vida, e o que ganha almas é sábio" (Pv 11.30). Sei que esse versículo é muito citado por aí, como se não tivesse nada que ver com a paixão pe-los perdidos. Mas vamos examiná-lo melhor e ver exatamente o que ele diz.

Primeiramente, se formos justos e estivermos andando com Deus na luz de sua presença, seremos uma árvore de vida. E que melhor fruto uma pessoa pode produzir do que transmitir a men-sagem de vida eterna a seus entes queridos? É possível que mui-tos de nossos amigos e parentes que ainda não conhecem o Se-nhor mostrem certa resistência ao evangelho. Parece-nos não haver esperança de que se convertam. Mas não esmoreçamos, nem per-camos o interesse por eles. Continuemos a viver retamente pois o fruto do justo é árvore de vida". Essa árvore dá fruto na estação própria.

Em segundo lugar, Deus diz: "O que ganha almas é sábio".

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Já ouvi pessoas dizerem que essa frase está ultrapassada. Mas ela ainda está na Bíblia e eu gosto dela. As Escrituras revelam que Deus criou o homem, soprou nele o fôlego e ele se tornou "alma vivente" (Gn 2.7). Todos nós somos alma vivente. Vai chegar o dia em que nosso corpo se desintegrará. E por mais que tomemos remédios e vitaminas ou façamos exercícios físicos, não podere-mos evitá-lo. Mas nossa alma nunca morrerá; viverá eternamente. É por isso que a Bíblia afirma que quem ganha almas é sábio. Não existe prazer maior do que dizer:

— Vê aquele jovem ali, aquele homem, aquela senhora? Deus me usou para ganhá-los para Cristo.

Já fiz a sugestão de elaborarmos uma lista de amigos e conhe-cidos que desejamos sejam salvos. Quem passa por uma radical renovação interior logo verá que Deus começa a usá-lo para ga-nhar alguns deles para Cristo. É uma alegria extraordinária!

Há muitos momentos maravilhosos na vida: a formatura do curso superior, o casamento, o nascimento do primeiro filho. Mas a maior alegria que um ser humano pode experimentar é a de ganhar uma alma para Cristo. Os melhores prazeres que o mundo pode oferecer-nos nada são se comparados com a satisfação de conhecer a Cristo e levar outros a conhecê-lo.

Lembro-me da atriz inglesa Fiona Hendley-Jones, que se tor-nou famosa quando trabalhou no seriado de tevê Widows (Viúvas), e depois estrelou juntamente com Paul Jones as peças teatrais The Beggar's Opera (A ópera do mendigo), e Guys and Dolls (Rapazes e moças).

O cantor Cliff Richard, que é crente, convidou Fiona e Paul para irem a uma das reuniões de nossa cruzada evangelística re-alizada em Londres, alguns anos atrás. Eles creram em Jesus Cristo e pouco depois se casaram. A carreira teatral deles continuou em ascensão. Passaram a freqüentar uma boa igreja evangélica e desde então vêm dando testemunho público a respeito de sua nova vida em Cristo.

Certa vez, dando uma entrevista a um jornalista, Fiona disse o seguinte:

— Muitas pessoas recorrem à igreja, quando passam por pro blemas sérios. Mas comigo não foi assim; eu estava muito feliz.

Em seguida contou-lhe que sua vida "se transformou inteira-mente quando me tornei crente, quando experimentei o novo nas-cimento". O testemunho dela tem influenciado muitas pessoas a crerem em Cristo.

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Deus quer usar todos nós, famosos ou não, para comunicar a outros as boas-novas. O seu testemunho de conversão pode não ter lances dramáticos; o meu não tem. Mas isso não importa. Como Jesus disse aos seus discípulos, vamos simplesmente regozijar-nos de que nosso nome está escrito no livro da vida, e em seguida mostrar a outros como é que eles também podem receber a vida eterna.

A evangelista holandesa Corrie ten Boom tinha um profundo desejo, vindo de Deus, de ganhar outros para Cristo. Gosto muito de um poema que ela escreveu, dizendo o seguinte:

Quando eu chegar à bela cidade

E todos os salvos estiverem ao meu redor, Espero que alguém venha dizer-me: — Quem me chamou para vir aqui foi você. Já imaginou? Chegar no céu e uma pessoa se aproximar e nos

dar um grande abraço dizendo: — Oi, irmão! Estou aqui porque você me convidou. Nada no mundo pode comparar-se a essa alegria!

Como Iniciar

Mas alguém pode estar pensando: "Como será que se começa?"

Inicie pelos colegas e atividades que lhe interessam. Quem gosta de jogar futebol, por exemplo, pode buscar contato com aqueles que jogam, na escola, no bairro e começar a testemunhar para eles. Comece a orar pelas crianças (e seus pais) que utilizam o mesmo transporte escolar que seus filhos. Quem participa de alguma atividade em sua comunidade, seja ela qual for, fale aos conhecidos também presentes nela. Se vai a uma reunião (de pais de alunos, de condomínio, etc.) ore a Deus:

"Senhor, mostra-me a quem devo falar sobre o teu reino!"

Quem gosta de pescar, pode convidar um vizinho para uma pescaria e orar a Deus pedindo-lhe uma oportunidade de falar de Jesus com ele. Oremos também para que ele nos use para ganhar os amigos e conhecidos de nosso clube, nossos vizinhos, aqueles com quem conversamos num ônibus, numa fila ou sala de espera, etc. Se você recebe uma visita em sua casa, tem uma excelente oportunidade para testemunhar-lhe de Cristo. Em nosso emprego provavelmente haja dezenas de pessoas que ainda não conhecem a Cristo. O mesmo acontece com quem estuda; tem dezenas de colegas não crentes. Ore por aqueles que você conhece,

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citando seus nomes. Não tenha pressa em falar de Cristo ao pri-meiro que encontrar. Ore e o Espírito Santo tocará em seu coração e lhe dará oportunidade de testemunhar do amor de Cristo a pes-soas específicas.

Talvez conheçamos um casal que está-se separando. Se eles mencionarem o problema, será bom oferecer-nos para orar por eles. Talvez não estejam querendo receber a Cristo imediatamente. Mas continuemos orando por eles, e perceberão que os amamos. A partir daí, estejamos atentos a uma oportunidade de apresentar-lhes a salvação em Cristo.

Quem vive em espírito de oração, bem atento às oportunida-des, logo percebe que há inúmeras pessoas ao seu redor que pre-cisam de Cristo. Lembro-me de Martha, uma senhora da Califór-nia, que nos escreveu pedindo que orássemos por Dan e Annette, seus novos vizinhos. Antes de se mudarem para aquela rua, esse casal nunca tinha ouvido falar do evangelho nem lido a Bíblia. Mas Martha logo fez amizade com eles, e pediu aos amigos que orassem por eles. Depois convidou Annette para ir a um estudo bíblico evangelístico que realizava uma vez por semana em sua casa.

Recentemente recebemos outra carta de Martha. Disse que a amiga recebeu Jesus Cristo como seu Salvador. E diz mais: "Agora o Senhor está operando no coração do marido dela. Nos três úl-timos domingos, Dan foi à igreja e está desejoso de conhecer a Cristo como seu Salvador pessoal". Glória a Deus! E você, meu irmão, pode ter essa mesma alegria.

Como Alguém Pode Permanecer Indiferente?

Se Deus habita em nosso coração, se ele tem-nos abençoado, como podemos permanecer indiferentes ao destino de nossos vi-zinhos, parentes e amigos que estão perdidos? Será que não nos importamos com sua condição atual? É ingenuidade pensar que os perdidos estão felizes "na vida que levam". Eles estão sofrendo, sentem-se sós, desejam desesperadamente ser amados e ter uma razão para viver.

Alguns anos atrás, um jovem de nome Steve, que mora em Toronto, no Canadá, aeu em Cristo. Recentemente voltamos àquela cidade e um dos membros de minha equipe evangelística conver-sou com ele e lhe indagou sobre sua conversão. Ele respondeu:

— Lembro-me muito bem daquele dia, 15 de janeiro. Eu es-tava amargurado com a vida, com meus familiares, e com ten-

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dências suicidas. Não me importava com nada. Então, quando o Luis fez o apelo para ir à frente, não hesitei. E desde aquele dia venho dando testemunho na escola. Tenho experimentado uma imensa alegria. E muitas pessoas estão-se convertendo. O que acontece é que a gente fala de Jesus com um conhecido, ele se converte, e depois fala com outro. E assim os milagres vão-se sucedendo.

Naquela mesma noite, mais três colegas dele receberam a Cristo em uma reunião da Mocidade Para Cristo, onde preguei. Foi uma alegria para mim ouvir o testemunho dele e ver como Deus o está abençoando com tantos frutos.

Contudo, em nossos dias, muitos crentes não tentam mais ga-nhar outros para serem discípulos de Cristo. Agem assim porque receiam parecer ridículos; querem estar dentro do espírito da época. Em nossos dias, existe um pensamento não expresso se-gundo o qual é deselegante e até grosseiro ficar dizendo aos ou-tros que eles devem fazer isso ou aquilo. E como nós não quere-mos ofender ninguém, nem passar por ridículos, nem perder o status social, submetemo-nos a tal imposição, e não fazemos nada.

Eu mesmo já cometi esse erro. Quando morávamos na Cidade do México, tínhamos um vizinho do lado que trabalhava na te-levisão, sendo muito conhecido na cidade. Vez por outra, conver-sávamos ligeiramente, e ele chegou a mencionar que, de quando em quando, ouvia nosso programa de rádio. Mas não lhe falei do evangelho. Pensava comigo: Ele parece completamente imune aos problemas da vida.

Mas algum tempo depois sua situação mudou. Parecia que ha-via perdido a alegria. Ele e a esposa passaram a ir para o trabalho separados, cada um em seu próprio carro. Percebia-se que o ca-samento deles estava-se desfazendo. Senti que precisava conver-sar com ele. Mas não queria intrometer-me em sua vida. Conti-nuei a cuidar de meus interesses e viajei para fazer uma cruzada evangelística no Peru. Afinal, essa era a atitude mais educada.

Quando regressei da viagem fiquei sabendo que esse meu vi-zinho se suicidara. Fiquei abaladíssimo. Sabia que deveria ter ido conversar com ele para tentar convencê-lo a arrepender-se e se-guir a Cristo. Mas não o fizera por causa de uma falsa cortesia, porque me submetera a uma norma social.

Nós gostamos de arranjar desculpas para não tentarmos per-suadir outros a seguirem a Cristo. Dizemos que não desejamos ser inconvenientes, nem ofendê-los. Achamos que não podemos

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testemunhar a uma pessoa ou outra porque ela ficará aborrecida conosco. Mas muitas vezes o que acontece é justamente o contrário.

Lembro-me de uma experiência de minha nora, Michelle, quando estudava na faculdade. Ela se encontrou com uma jovem que morava no mesmo conjunto habitacional e sentiu vontade de convidá-la para ir assistir a um dos cultos de nossa cruzada evangelística. A moça aceitou imediatamente. Michelle não pre-cisou insistir com ela, nem ficar implorando, nem conversando longamente para tentar convencê-la. A jovem foi, sentou-se e ou-viu com atenção a pregação do evangelho.

Quando encerrei a mensagem e fiz o apelo com base no texto de Apocalipse 3.20, a amiga de Michelle se levantou e foi à frente quase correndo, para receber o Senhor. Mais tarde comentou:

— Havia muito tempo eu estava sentindo alguém bater à porta de meu coração, mas não sabia quem era.

Embora fosse uma típica jovem americana nunca tinha ouvido a mensagem do evangelho. É assim que a ouviu aceitou-a de todo coração.

Jesus está desejoso de atrair a si homens e mulheres. O que está-nos impedindo de falar dele a outros?

As Pessoas Acolhem Bem a Mensagem do Evangelho

Uma coisa que aprendi nesses anos de ministério é que mui-tas das pessoas que eu achava fariam resistência ao evangelho, na verdade, foram as mais abertas a ele. Exteriormente, talvez re-velem certo receio, mas no coração o acolhem bem.

Vi isso acontecer na União Soviética, alguns meses antes de o comunismo começar a desmoronar-se na Europa Oriental. Na União Soviética, como em outros países comunistas, os crentes tinham sido perseguidos durante várias décadas. Mas, de repente, as restrições ao evangelismo foram abolidas. Então, quando lá che-guei, encontrei uma situação incrível. Já viajei pelo mundo todo, mas nunca vi, em nenhum lugar, uma fome tão intensa do evan-gelho. E no entanto muitos dos crentes da região demoraram um pouco para se conscientizarem de que "os campos... já branquejam para a ceifa".

Pouco antes do término de nossa campanha evangelística, um pastor batista levou a uma das reuniões de Moscou um conhe-cido seu. Tratava-se de um importante cientista, chefe de um de-partamento da universidade, mas ele ouviu com atenção a pre-gação do evangelho. Para espanto daquele pastor, seu amigo fez

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a oração final para receber a Cristo como Salvador. E depois, em lágrimas, foi à frente para confessar a Cristo publicamente.

O pastor ficou admirado com a receptividade do amigo. E mais surpreso ainda se sentiu quando ele ligou para sua casa às 7:15 da manhã no dia seguinte, e lhe disse:

—Quero agradecer-lhe muito por ter-me convidado para re-ceber o Senhor Jesus Cristo. Não preguei os olhos a noite toda; fiquei orando. Perguntei a Deus se ele tinha me aceitado e me perdoado.

—E você crê que ele o perdoou? indagou o pastor. —Creio, replicou o amigo. Tenho certeza absoluta de que Deus

me recebeu como seu filho pródigo. Mais tarde o pastor comentou comigo: — Nunca pensei que um cientista pudesse aceitar o Senhor

Jesus como Salvador. Mas agora vi com meus próprios olhos. Que experiência gloriosa!

Por que Não Levamos Outros a Cristo?

É maravilhoso ajudar um amigo ou conhecido a crer no Se-nhor Jesus Cristo. E mais empolgante ainda é orar com alguém no momento em que faz essa decisão. Entretanto tenho visto crentes entrarem em pânico quando estão aconselhando uma pessoa que se acha no limiar dessa decisão, pronta para crer em Cristo.

Certa vez quando eu estava num avião* voando de Budapeste para Londres, ouvi uma senhora falar de Jesus a outra, uma em-presária húngara. Elas estavam sentadas à nossa frente, e nós, no banco de trás, conversávamos sobre o culto evangelístico que havíamos realizado em Budapeste na noite anterior.

A certa altura, aquela irmã se levantou e disse: — Com licença, os senhores estavam conversando sobre o

culto de ontem com o Luis Palau e Cliff Richard?

Respondi que sim. — Onde está o irmão Palau?

Disse-lhe que eu era Palau, e ela explicou: — Estive conversando com esta senhora húngara e acho

que ela está querendo entregar-se a Jesus. Mas não sei o que faço agora.

Repliquei-lhe: — Eu estava ouvindo sua conversa com ela, e acho que está

indo muito bem. Mas a irmã tinha receio de cometer algum erro ao orientar uma

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pessoa na hora de receber a Cristo. Então concordei em conversar com a outra por uns instantes.

— A senhora entendeu bem o que ela lhe disse? indaguei. — Entendi, retrucou a mulher. — Está desejosa de abrir a porta de sua vida para Cristo? — Estou. Voltei-me para a senhora crente e disse-lhe que ensinasse a

outra a fazer a oração de decisão. Gostaria de tê-lo feito eu mesmo. Teria sido ótimo. Contudo preferi voltar ao meu lugar e deixar que aquela irmã o fizesse. A princípio ela hesitou, mas por fim pas-sou o braço pelo ombro da húngara e, pela primeira vez na vida, levou uma pessoa a Cristo.

Meu irmão, faça você agora esta oração: "Senhor, quero viver essa experiência. Quero ter o prazer de

levar alguém a encontrar-se com Jesus Cristo."

Ah, que maravilha é ter paixão pelos perdidos! Por que ter ver-gonha do evangelho? Ele "é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê" (Rm 1.16). Ele transforma vidas aqui, no pre-sente, e por toda a eternidade. Seja qual for nossa posição no corpo de Cristo, vamos unir esforços, na oração e no serviço, e convidar outros para entrarem no reino de Deus.

Nunca foi intenção de Deus que estivéssemos isolados em nossa vida e testemunho cristãos. Como é que nós, em oração, pode-mos promover um renovamento radical e uma grande paixão pe-los não-salvos em nossas igrejas, por todo o país? Esse é o desafio que temos diante de nós.

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Para Meditar

1. "Quando temos a plenitude de Deus, nosso coração fica in-teiramente tomado pelos interesses que estão no coração dele." Quais são os interesses de Deus? Você também sente essa com-paixão?

2. "Assim que somos cheios do Espírito Santo, imediatamente começamos a testemunhar do evangelho a outros." Jesus falou sobre isso em Atos 1.8. Você saberia citar exemplos desse fato nar-rados posteriormente no livro de Atos? Que lição isso nos ensina para os dias de hoje?

3. "Vivemos na era do crente "acomodado." Por que será que os crentes por vezes ridicularizam o trabalho de evangelismo? Por que a maioria demonstra desinteresse pelos perdidos? Por que as pessoas são tão indiferentes?

4. "Se alguém rejeitar a Cristo e assim permanecer até o dia de sua morte, estará perdido para sempre, e não haverá mais es-peranças para ele." Você crê nisso? Por quê? Por que não?

5. "Como vou ficar em casa, tranqüilo e confortável, sabendo que aqueles que morrem sem Cristo vão para o inferno? Como permanecer parado sem fazer nada?" Qual tem sido sua atitude até aqui? Qual é seu desejo agora?

6. "Há muitos momentos maravilhosos na vida: a formatura do curso superior, o casamento, o nascimento do primeiro filho. Mas a maior alegria que um ser humano pode experimentar é a de ganhar uma alma para Cristo." Você já passou por essa ex-periência? Já aconteceu de você falar de Cristo a uma pessoa e ela rejeitar a oferta de salvação? Na sua opinião, as pessoas em geral recebem bem a mensagem de salvação, ou resistem a ela?

7. Uma vida renovada, cheia da bênção de Deus, é um po-deroso testemunho para o mundo que nos observa. Em que as-pectos da vida Deus deseja abençoar-nos? Isso significa que es-tamos isentos de provações e tentações? Qual a diferença entre o crente que experimentou o renovamento interior e o que não o provou? Como essa diferença fica patente quando falamos com pessoas que não conhecem a Deus?

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Para Fazer

1. Faça em seu caderno uma lista de pessoas que conhece e que trabalham com evangelismo ou são missionários. Cite adiante do nome o país ou lugar onde esses irmãos trabalham ou grupo humano com que trabalham. Agora comece a orar diariamente por elas, para que produzam muito fruto. Peça a Deus também "que mande trabalhadores para sua seara" (Mt 9.38).

2. Em seguida, faça uma lista de pessoas que conhece e que ainda não crêem em Cristo. Comece a orar fervorosamente por seus familiares, amigos, vizinhos, colegas de escola ou de traba-lho, que ainda não são salvos. Peça a outros que também orem pela salvação deles.

3. Leia e estude textos bíblicos que ensinam que os perdidos estão condenados por toda a eternidade, e anote no caderno o que aprendeu nesses versículos. Comece com as passagens se-guintes.

• No Velho Testamento: Dt 32.21,22; Já 10.20-22; Dn 12.2. • No Evangelho de Mateus: 5.22,29,30; 7.22,23; 8.12; 10.28; 11.23;

13.41,42,49,50; 16.18; 18.9; 23.15,33; 25.31-33,41-46. • Nos demais evangelhos: Mc 8.36; 9.43-47; Lc 9.25; 10.15; 12.5;

16.23; Jo 3.17,18,36; 5.28,29. • Nas epístolas: Rm 2.5; Fp 3.19; 2 Ts 1.7-9; Hb 6.2; 10.39; Tg

3.6; 2 Pe 2.4,7; 3.9; Jd 6,7,13. • No livro de Apocalipse: 1.18; 2.11; 9.2,11; 19.20; 20.6,10,13-15;

21.8.

4. Agora ore e diga a Deus o que você aprendeu sobre o in-ferno. Peça-lhe que lhe dê um profundo interesse por aqueles que ainda não conhecem a Cristo, que lhe revele o valor de uma alma. Peça a Deus também que lhe conceda a oportunidade de, nos pró-ximos trinta dias, apresentar a mensagem do evangelho para al-guém, com muito tato e sabedoria.

5. Em espírito de oração, procure oportunidades de falar a ou-tros a respeito de Cristo. Anote no caderno pelo menos três es-tratégias que pode utilizar para falar aos vizinhos, aos colegas de escola ou de trabalho, bem como em outras circunstâncias na sua comunidade. Utilize uma delas nos próximos sete dias. Peça a Deus que o abençoe e lhe permita ganhar alguém para ele.

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Capítulo 9

O Desafio

que Temos

Diante de Nós

Deus deseja operar uma radical reno-vação interior em mim e em você. Depois que experimentamos esse renovamento passamos a ter um intenso amor por tudo que é de Deus.

Em primeiro lugar, o Senhor nos dá uma grande paixão pelos perdidos. E o que acontece é que não podemos mais continuar indiferentes; sentimos um forte impulso de falar a outros sobre as bênçãos divinas. Estamos sempre buscando oportunidades de ser usados por Deus para ganhar os incrédulos para ele.

Mas, em segundo lugar, ele nos dá também um grande amor por sua igreja. O plano de Deus não se restringe apenas à sal-vação de indivíduos, não; é bem mais amplo. De certa forma é mais amplo do que o amor dele pelo mundo. É, ele deseja chagar a si todos os homens, mulheres e jovens. Por quê? Porque tenciona edificar sua igreja e abençoá-la.

Mas o que a igreja tem de tão especial? Do ponto de vista

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de Deus, tem muita coisa. É possível que, olhando a pequena amostragem da igreja que conhecemos, vejamos apenas suas im-perfeições, máculas e rugas, e nos ponhamos a criticá-la.

Deus, porém, vê a igreja toda, em todo o mundo, em todas as eras e até à eternidade. Ele não nos vê apenas como sua obra-prima, suas criaturas especiais, mas também como sua família. Sua meta máxima é aperfeiçoar a igreja e levar-nos a todos (inclusive os santos do Velho Testamento) para o céu, para passarmos a eternidade com ele.

O ponto alto da vida no céu não serão suas ruas de ouro, mas, sim, o fato de que Deus habitará conosco para sempre (Ap 21.3). Ele não se contenta apenas em habitar em nós e encher nosso coração enquanto estamos aqui na terra, não. Quer que vivamos com ele "face a face" (1 Co 13.12). "Seremos semelhantes a ele, porque havemos de vê-lo como ele é" (1 Jo 3.2).

Concordo em que nós, os crentes, ainda não somos como de-veríamos ser, nem como seremos quando estivermos com o Se-nhor na glória. Mas isso não anula o fato de que ele está ope-rando uma obra em nosso interior. O objetivo de Deus é renovar tanto os crentes individualmente, como as igrejas.

Deus Quer Renovar Sua Igreja

Como seria uma igreja que experimentou o renovamento? Va-mos especificar. Como seria a Igreja de Crest View, da qual fa-lamos no início deste livro, assim que passasse por uma mudança radical? Uma igreja renovada é aquela em que a maioria dos que a compõem entende os princípios de um renovamento radical, e pautam a vida por eles.

Muitas vezes a operação de Deus numa igreja é de deixar-nos perplexos. É verdade que sempre há alguns de coração mais duro que resistem a ela. Mas acredito que a maioria dos crentes daria o que fosse preciso para estar numa igreja radicalmente renovada. Não há nada mais maravilhoso do que ser parte de uma igreja que está crescendo e se desenvolvendo, uma igreja onde Deus está operando.

Se quisermos de fato ver nossa igreja mudada, se quisermos ver Deus transformar as igrejas de nosso país, primeiramente temos de permitir que ele opere em nossa vida. Como podemos proclamar uma experiência que nós mesmos ainda não conhe-cemos? Como podemos falar a outros de algo que ainda não temos?

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Embora eu às vezes me dirija ao leitor em particular, este livro é para todo o corpo de Cristo. Tem sido uma bênção para mim escrever estes capítulos, pois várias vezes tenho parado e per-guntado:

"Senhor, será que estou vivendo essa mensagem? Sei que já experimentei uma vida centralizada em Cristo. Já vi o Senhor renovar maravilhosamente a sua igreja em vários lugares. Mas será que estou vivendo nesse plano espiritual hoje? Será que es-tou aprofundando minha comunhão contigo?"

Caro leitor, espero que Deus use este livro para operar em sua vida também. Mas não se contente em praticar, apenas você mesmo, os princípios de uma radical renovação interior. É claro que qualquer um pode viver a vida cristã independente, parti-cular e secretamente, mas seu crescimento é muito lento. Procure apresentar esses princípios aos círculos que freqüenta, falando deles a seus familiares, amigos, irmãos da igreja, etc. Você vai ficar surpreso com o que Deus irá operar.

Deus Sempre Começa com Poucos

Todos os movimentos de avivamento ou renovamento espi-ritual de que tenho conhecimento começaram com um pequeno grupo de crentes que se quebrantaram, confessaram seus peca-dos, foram purificados e passaram a gozar de uma nova comu-nhão com o Cristo que neles habita. Tem de haver um ponto de partida. Por que não pedimos a Deus que- comece conosco?

Lembro-me de um pequeno grupo que conheci na Inglaterra. Aqueles irmãos desejavam ver as igrejas da Grã-Bretanha aviva-das. Reconheciam que elas não passavam por um despertamento desde 1954, quando Billy Graham realizara ali uma campanha evangelística. Na ocasião, haviam experimentado um verdadeiro mover do Espírito de Deus, mas isso fora há quase vinte e seis anos. Agora muitas igrejas viviam num estado de mortal estag-nação.

Foi então que um grupo de jovens, muitos deles na faixa dos vinte anos, passaram a reunir-se para buscar a face de Deus. Pla-nejaram uma concentração evangélica no dia 4 de janeiro de 1980, no Royal Aibert Hall em Londres. A intenção deles era anunciar uma década de evangelismo. E um deles me disse:

— Antes de iniciarmos o trabalho de evangelismo, precisa-mos do mover de Deus.

Naquela noite, o Royal Albeit Mal! ficou lotado, o que foi até

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bom demais, pois em Londres há poucas igrejas grandes. Mui-tas delas têm apenas vinte e cinco, trinta ou quarenta membros, na maioria pessoas idosas.

Eu iria falar apenas meia hora, e o tema foi "Nosso Deus Reina". Como eu tivera de apresentar a mensagem apressadamente, para ficar dentro dos trinta minutos de que dispunha, achei-a meio fria, sem emoção. Mas a reação dos ouvintes foi extraordinária. Muitos foram à frente consagrando a vida a Cristo, e dentre os primeiros a dar esse passo estavam alguns pastores que o fize-ram com lágrimas nos olhos.

Naquele dia, Deus começou uma obra de renovamento em muitos crentes. E depois vimos o mesmo se repetir em mais nove cidades da Grã-Bretanha. Em decorrência disso, Deus permitiu que voltássemos a Londres várias vezes nos quatro anos seguin-tes, realizando ao todo quatorze cruzadas evangelísticas. E Billy Graham também realizou seis campanhas em outras cidades. An-teriormente ele me dissera que se achava meio desanimado com relação a futuras cruzadas evangelísticas na Grã-Bretanha. Mas agora vimos dezenas de milhares de pessoas consagrar a vida a Jesus Cristo. E tudo começara com o mover de Deus no meio de alguns de seus filhos.

Um Plano Para o Crescimento da Igreja

Você já imaginou o que Deus quer realizar, por seu intermé-dio, em sua igreja e em sua cidade? Estou certo de que Deus quer usá-lo, meu irmão. Se você estiver experimentando uma reno-vação pessoal, pense na possibilidade de apresentar este ensino a outros em seu grupo de estudo bíblico, em sua classe de escola dominical e na igreja, e ore a esse respeito.

O ideal é que apresentemos os princípios do renovamento radical como parte de um plano geral para o crescimento da igreja. O plano que sugiro é o seguinte.

Primeiro, apresentar nossa necessidade de uma renovação radical. Isso pode ser feito durante uma semana especial de estudos ou durante vários domingos seguidos. Iniciaremos apresentando o enorme potencial da vida cristã (capítulo 3). Em seguida, vamos analisar as razões por que não aproveitamos todo esse potencial (capítulo 4). Depois, vejamos os princípios de purificação (capí-tulo 5) e de consagração (capítulo 6). Mas não fiquemos só nisso. A seguir, falemos sobre o segredo de um renovamento radical: Cristo vivendo em nós e alcançando outros por nosso intermé-

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dio (capítulo 7). Por último, veremos como isso resulta em paixão pelos perdidos (capítulo 8).

Em segundo lugar, assim que percebermos as evidências de que está ocorrendo um renovamento, comecemos a apresentar a mensagem do evangelho. Vamos reunir os crentes que estão sendo renovados por Deus para planejar trabalhos de evangelização para crianças, jovens, casais, famílias, pessoas sós (solteiros, divorciados, etc.) e para idosos. É bom também descobrir maneiras de atingir cer-tos grupos profissionais, como atletas e artistas. Tendo reuniões para grupos específicos (de faixa etária, profissional ou de ati-vidades afins), fica mais fácil para os membros da igreja convi-darem seus conhecidos não crentes. Outra boa medida é realizar a reunião em locais neutros, como ginásios esportivos e outros ambientes sem conotação religiosa, para remover um pouco a sensação de ameaça que uma igreja talvez possa representar para o incrédulo.

Terceiro, assim que começarmos a ver conversões, e que pessoas fo-rem crendo em Jesus Cristo como seu Salvador, será preciso edificá-las nessa nova fé. Será bom criar pequenos grupos de consolidação, constituídos de alguns crentes novos e outros mais experientes, que se reúnam semanalmente. Nessas reuniões deverão conver-sar sobre oração, métodos de leitura e estudo da Bíblia, sobre como se dá testemunho de Cristo, sobre participação na igreja. É bom abordar todas essas práticas básicas como se eles nunca tivessem ouvido falar na Bíblia, nem em oração, em comunhão com outros crentes ou em testemunho da fé.

Para a maioria das pessoas, seguir a Cristo é semelhante a uma experiência transcultural. No dia em que alguém recebe a Jesus como seu Salvador, passa por uma transformação espiri-tual. Mas a mudança social e intelectual não é imediata, e o recém-convertido tem a sensação de que está vivendo num país estrangeiro. Se não tivermos certos cuidados, ele pode até sofrer um choque cultural.

Entretanto, ao fazermos a orientação de recém-convertidos, não devemos esperar muito para apresentar-lhes os princípios de confissão, purificação, consagração e da vida centralizada em Cristo. Não há necessidade de que fiquem lutando anos e anos com o pecado, sem desfrutar plenamente de sua experiência cristã. Não é preciso que cometam os mesmos erros de milhões de cren-tes não renovados.

Os princípios bíblicos que apresentamos neste livro são pro-

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fundos, porém muito simples. São profundos a ponto de cons-tituírem um desafio para nós pelo resto da vida; mas também são simples, de modo que qualquer um pode entendê-los e pô-los em prática imediatamente. E eles se aplicam a todo crente, em qualquer lugar do mundo.

0 Renovamento de Uma Igreja

Lembro-me da primeira vez em que fui convidado para pôr à prova esse plano em uma igreja, com vistas a um contínuo pro-cesso de renovação interior dos crentes, seguido de evangelização. Nessa ocasião, Deus já havia transformado radicalmente a mi-nha vida, dando-me uma intensa paixão pelas almas perdidas. Estava convencido de que ele poderia renovar a igreja por meio de grandes campanhas evangelísticas por toda a cidade. Mas eu tinha trinta e poucos anos e ainda não sabia ao certo se o Senhor iria usar-me para pregar a grandes platéias. Sabia, porém, que, para que desse certo em larga escala, tinha de dar certo, primeiro, numa igreja pequena. E foi na Igreja Presbiteriana de La Floresta, em Cali, na Colômbia, que realizei meu primeiro teste.

O pastor da igreja de La Floresta, que era um missionário ame-ricano, convidara-me para fazer uma série de pregações em sua igreja, que tinha cerca de sessenta membros. Junto comigo es-tava Libny, missionário colombiano; um jovem muito consagrado, que era responsável pelo louvor. Ele já me auxiliara nos cultos de ar livre que havíamos realizado na cidade, e eu percebera que era um crente dedicado, cheio de entusiasmo, e um homem de oração.

Nós dois oramos muito pela campanha, e afinal nos conven-cemos de que Deus estava para operar uma obra de renovamento naquela igreja. Sabíamos que a melhor maneira de inspirar os crentes a fazer evangelismo era levá-los a purificar o coração e viver no poder do Espírito.

O crente que não está vivendo em comunhão com Deus pode até convidar outros para um culto de evangelismo e cooperar com os trabalhos. Mas o fará por um sentimento de dever ou por te-mer que os outros o considerem um crente relapso se não o fizer. E se tiver de sair e fazer evangelismo pessoal, é bem provável que morra de vergonha, em vez de morrer com Cristo.

Meu plano era, e ainda é, pôr em prática o que acabei de expor. Naturalmente, no primeiro dia, procurei conquistar o interesse

dos crentes de La Floresta, mostrando-lhes todo o potencial da

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vida cristã. No segundo, demonstrei por que muitos crentes dei-xam de desfrutar de todo esse potencial. Concordo com a tática utilizada pelo pessoal de Keswick*: se aplicarmos uma sacudidela espiritual em alguém, poderemos levá-lo a uma experiência com Deus. Queria que os crentes saíssem daquele culto tão envergonhados e arrependidos de sua carnalidade, que se quebrantassem e experimentassem uma profunda renovação de alma, e assim pudéssemos continuar a série de conferências.

Mas as coisas não aconteceram como eu esperava. Aliás, por pouco quase não passávamos do segundo dia.

Avívamento em La Floresta

A igreja estava lotada naquela noite; havia umas duzentas pes-soas presentes. Comecei a mensagem lendo Mateus 5.23,24, que ensina que temos de acertar um desentendimento com um irmão antes de entregarmos nossa oferta no altar. Em seguida falei acerca de alguns pecados menores para depois citar os pecados maio-res, que destroem lares e famílias. Mas, de repente, um homem levantou e começou a gritar:

— Espere aí! Já chega! Libny estava sentado atrás de mim, na plataforma, e imedia-

tamente começou a orar. Como eu, ele pressentia que ou tería-mos um escândalo ou um avivamento. E o homem continuou:

— Sou presbítero desta igreja, mas minha família está cheia de problemas, e eu sou uma vergonha para esses irmãos. Tenho de confessar meus pecados agora. Eu e minha esposa estamos tendo conflitos, e meus filhos são rebeldes. Olhe só! Estou sen tado aqui, minha esposa está lá do outro lado, e meus filhos estão por aí, lá atrás. Mulher, venha sentar aqui comigo. Meus filhos, venham para cá!

E no momento em que aquela família se juntava, seus membros chorando quebrantados, outras pessoas naquele pequeno salão ca-lorento e lotado começaram a levantar-se e a confessar pecados. Fiquei meio assustado, sem saber o que dizer. Eu queria avivamento, mas não desse jeito. Aquilo fugia à tradição a que estava acostumado. Mandei que se fechassem as janelas e que permanecessem ali apenas os crentes. E as confissões continuaram.

A certa altura um homem se levantou e disse:

* Keswick — cidade da Inglaterra onde anualmente se realizam conferências de avivamento. (N. da T.)

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164 DICA "SIM" PARA MUDAR

— Agora é minha vez! Estão vendo aquele moço ali? indagou ele apontando para Libny. Eu provoquei a morte do pai dele. Ele morreu de ataque cardíaco. Mas a culpa foi minha, pois éramos ambos presbíteros e tivemos um violento desentendimento. Sei que não posso fazer mais nada, mas...

E ao dizer isso, começou a chorar. Afinal continuou: — Quero pedir ao Libny, aqui de público, que me perdoe,

em nome de seu pai. Virei-me para o rapaz e indaguei: — Libny, você vai perdoar esse irmão?

O jovem desceu da plataforma, caminhou em direção ao ho-mem e o abraçou.

As confissões públicas continuaram por quase duas horas, e aqueles irmãos acertaram a vida com Deus. Acontecera aquilo que eu tanto desejara e por que tanto orara.

Dias depois, fizemos um apelo para que eles apresentassem o corpo em sacrifício vivo a Deus, e quase todos os presentes foram à frente. No final da semana, depois que os crentes todos estavam renovados e se sentiam ansiosos para passar ao traba-lho de evangelismo, fizemos cultos ao ar livre, num largo pró-ximo, onde apresentamos a mensagem do evangelho, com grande poder, para a comunidade local.

Muitas pessoas daquele setor de Cali foram assistir às pre-gações. No fim, mais de cento e vinte e cinco fizeram uma de-cisão ao lado de Jesus Cristo, e cerca de oitenta delas entraram para a igreja.

Eu e Libny quase não dormimos naquelas duas semanas. Fi-cávamos caminhando pelas ruas da cidade à noite, orando e fa-zendo muitos planos para o futuro.

A Igreja Presbiteriana de La Floresta experimentou, durante vários meses, um avivamento contínuo, caracterizado por grande alegria e um espontâneo surto evangelístico. Se Deus podia ope-rar uma obra tão maravilhosa numa igreja pequena, o que ele não poderia realizar em outras? Mal sabia eu que, pouco mais de um ano depois daquela semana de conferências em La Flo-resta, a missão a que eu pertencia (Overseas Crusades) iria dar-me permissão para formar minha própria equipe evangelística.

Avivamento em Outros Lugares

De lá para cá tenho me convencido mais e mais de que Deus quer renovar sua igreja em nosso país e no mundo todo. Já vi

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O DESAFIO QUE TEMOS DIANTE DE NÓS 165

o mesmo acontecer em países da América Latina, em algumas partes da Europa, na Ásia, e estou começando a vê-lo aqui nos Estados Unidos também.

Mais ou menos um ano atrás, conheci um pastor luterano que me disse que em sua igreja, quase todos os domingos, pessoas estão sendo salvas. Mas ele mesmo confessou que durante os primeiros onze anos de seu ministério, só havia ganhado uma alma para Jesus Cristo, e assim mesmo não tinha muita certeza da salvação dela.

Mas quando estávamos fazendo o trabalho preparatório para realizar uma campanha evangelística em sua cidade, Deus deu a esse pastor uma experiência de renovação. Ele ouviu-me falar sobre os princípios que apresento neste livro, e fez o curso de treinamento para o evangelismo, aconselhamento e discipulado, dado pela nossa associação. E depois trabalhou nos cultos do estádio como conselheiro e assessor pastoral, tendo ajudado mui-tos dos convertidos a expressar publicamente seu compromisso com o Senhor.

Durante a campanha, ele foi-se dando conta de um fato. — Eu estava pregando evangelismo, mas não o praticava. Uma semana depois, porém, a situação mudou. Certo dia

quando dava orientação pré-nupcial a um casal, perguntou aos noivos se eles já tinham a vida eterna. Responderam que não. Então em vez de limitar-se a dizer-lhes que precisavam crer em Jesus Cristo, sugeriu-lhes que fizessem aquela decisão ali mesmo, em seu gabinete. E nos seis meses seguintes, ganhou mais vinte pessoas para Cristo.

O renovamento que teve início naquele pastor acabou conta-giando gloriosamente toda a sua igreja. E Deus tem-lhe dado oportunidades de ajudar outras igrejas a experimentar esse mesmo progresso espiritual e numérico. E ele comentou:

— Acho que ainda estou meio nas nuvens. Isso é o início de um avivamento para nossa congregação.

Essa bênção foi fruto da renovação divina em uma vida que passou a transbordar de amor pelas coisas de Deus. Agora ima-ginemos o que o Senhor pode fazer em nossas igrejas, para a sua glória, nos próximos meses! Contudo, se ignorarmos os prin-cípios básicos de um renovamento radical ou os guardarmos só para nós mesmos, nunca veremos essa bênção.

Quando Deus nos renova, sentimos maior amor pela nossa igreja, e oramos mais por ela, e pelos crentes em todo o mundo.

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Perdemos todo o sentimento de sectarismo. Ou, se nos restar algum traço dele, aprendemos a crucificá-lo. Quando experimen-tamos o renovamento espiritual, logo procuramos obedecer aos mandamentos de Deus. E um dos seus principais mandamentos — que aliás é mencionado oito vezes no Novo Testamento — é "amai-vos uns aos outros". Isso quer dizer que temos de amar a todos os crentes, quer concordemos ou não com eles em todos os pontos de doutrina e prática.

Quando eu era mais jovem, costumava discutir por causa de certas questões doutrinárias que na verdade são secundárias. Hoje sinto-me até meio envergonhado de tê-lo feito, pois, após muita oração e estudo bíblico, mudei de idéia com relação a elas. Mi-nhas convicções a respeito delas pareciam corretas, mas depois percebi que não se baseavam numa interpretação equilibrada da Bíblia e da Pessoa de Deus. Então amadureci, o que foi muito bom. Vamos esperar que os outros amadureçam também.

Precisamos buscar a unidade do corpo de Cristo. Amemos nossos irmãos em Cristo, oremos por eles e os respeitemos como ordena a Palavra de Deus. É verdade que nunca teremos exata-mente as mesmas idéias a respeito de tudo. Mas mesmo assim podemos estar unidos, pois fomos comprados pelo sangue do Salvador, somos cheios do seu Espírito e pregamos sua Palavra. Esse é o nosso denominador comum, a base para chegarmos a uma união com todos os que são chamados pelo seu nome.

Meu desejo é que Deus faça deste livro uma bênção para toda a igreja, tanto aqui na América do Norte como em outras partes do mundo. Que ele possa renovar-nos a todos, e encher-nos de coragem em nossa missão de embaixadores de seu Filho, Jesus Cristo.

Prezado irmão, quer assumir esse alvo juntamente comigo?

P. S.: Se você terminou de ler Diga Sim Para Mudar, meus pa-rabéns! Mas antes que o feche, peço-lhe que volte à página 15, e releia o trecho que tem como título "Sugestões Para a Leitura Deste Livro".

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Para Meditar

1. "O objetivo de Deus é renovar tanto os crentes individual-mente como as igrejas." O que seria a renovação de uma igreja? Sua igreja já passou por um renovamento? Ele foi profundo ou superficial?

2. "Todos os movimentos de avivamento ou renovamento es-piritual de que tenho conhecimento começaram com um pequeno grupo de crentes que se quebrantaram, confessaram seus peca-dos, foram purificados e passaram a gozar de uma rtova comu-nhão com o Cristo que neles habita." Pense em alguns irmãos de sua igreja que poderiam constituir um grupo assim. Já estão-se reunindo para orar? Se não, seria bom que começassem a buscar a Deus, pedindo-lhe um mover do seu Espírito em sua igreja.

3. "O ideal é que apresentemos os princípios do renovamento radical como parte de um plano geral para o crescimento da igreja." Como esses princípios podem ser apresentados em sua igreja? De que modo eles poderiam ser utilizados como um trampolim para uma intensificação do trabalho de evangelismo e de discipulado?

4. "Os princípios bíblicos que apresentamos neste livro são profundos, porém muito simples. São profundos a ponto de cons-tituírem um desafio para nós pelo resto da vida; mas também são simples, de modo que qualquer um pode entendê-los e pô-los em prática imediatamente." Quais os princípios que, na sua opinião, seriam de mais difícil aplicação? Quais deles tiveram um impacto maior em sua alma?

5. "Se aplicarmos uma sacudidela espiritual em alguém, po-deremos levá-lo a uma experiência com Deus. Você já levou uma sacudidela espiritual? Como foi? De que modo Deus usou essa crise para levá-lo a buscar mais ao Senhor? Ele usou este livro para falar ao seu coração?

6. "Deus quer renovar sua igreja em nosso país e no mundo todo." O que Deus precisa fazer em sua igreja? Em sua cidade? em seu país? O que será preciso para que tudo isso ocorra?

7. "Quando Deus nos renova (...) perdemos todo o sentimento de sectarismo. Ou, se nos restar algum traço dele, aprendemos a crucificá-lo." O que o Novo Testamento ensina sobre a unidade do corpo de Cristo? Qual é a base dessa unidade?

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Para Fazer

1. Comece a pensar no que Deus pode operar em sua igreja. Escreva no caderno algumas idéias sobre os assuntos "renova-mento", "evangelismo" e "discipulado", principalmente sobre a orientação a ser dada aos novos convertidos.

2. Com base no que sugerimos nas páginas 160 a 162, prepare um plano geral para um renovamento, seguido de uma obra de evangelização e discipulado em sua igreja. Faça um rascunho desse plano no caderno, depois corrija, bata à máquina e tire cópias para dar a outros, para que leiam e discutam o assunto.

3. Se você é pastor, professor de escola dominical, faz parte da liderança de sua igreja ou dirige um grupo de estudo bíblico, pense na possibilidade de apresentar os princípios de uma ra-dical renovação interior para outros, e de quando poderá fazê-lo. Se você não ocupa posição de liderança, sugira ao pastor, diáconos e outros líderes que leiam o plano, e depois peça-lhes que apresentem esses princípios a toda a igreja.

4. Além disso, comece a orar por aqueles que se acham na liderança de sua igreja, citando cada um pelo nome. Peça a Deus que opere uma obra no coração deles, e que toda a igreja passe por um renovamento espiritual. Peça-lhe, acima de tudo, que dê a todos mais amor uns pelos outros.

5. Ore por outras igrejas de sua cidade. Promova reuniões de oração com membros de outras igrejas para buscarem um avivamento na cidade. Se possível, planeje um pacto de oração, uma reunião de oração para todos os crentes de todas as denominações evangélicas do lugar. Mas não fique só nisso. Ore para que Deus renove a igreja de Cristo no país inteiro e no mundo, para sua honra, glória e louvor.

Page 156: Diga sim para mudar

Bibliografia Recomendada

Se deseja fortalecer mais sua vida espiritual, procure ler os livros seguintes. Se não os encontrar em sua livraria evangélica, peça-os à Editora Betânia, Caixa Postal 5010, Cep 31611-970, Venda Nova, Minas Gerais.

A Dinâmica da Vida Autêntica, de Ray C. Stedman, publicado pelo Cresça — Sepal.

Crentes que Precisam de Salvação, de Paris Reidhead e Por que Tarda o Pleno Avivamento, de Leonard Ravenhill, publicados pela Editora Betânia.

Além desses, é interessante procurar também livros mais an-tigos, mesmo que já sejam usados. Alguns não são mais publi-cados, mas talvez valesse a pena procurar com alguém que os tenha.

Paixão Pelas Almas e O Avivamento de que Precisamos, ambos de Oswald J. Smith.