dificuldades de aprendizagem no … pais até a casa dos 20 e 30 anos. quando trabalham (e muitos...
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DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO NA EJA1
Profº MSc. Júnior César
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Andrea Monteiro Santos 3
RESUMO
O presente trabalho tem como tema apresentar as características e especificidade que interferem no processo de ensino-aprendizagem na Educação de Jovens e Adultos - EJA. A Educação de Jovens e Adultos é uma modalidade específica da educação básica que tem como objetivo atender a um público ao qual foi negado o direito a educação durante a infância e/ou adolescência seja pela oferta irregular de vagas, seja pelas inadequações do sistema de ensino ou pelas condições socioeconômicas desfavoráveis. Também apresentar uma reflexão sobre aspectos relativos às dificuldades de aprendizagem, bem como a importância da Psicopedagogia em estabelecer diretrizes para a resolução dessas dificuldades e a responsabilidade do educador do processo ensino-aprendizagem.
Palavras chaves: Dificuldades de aprendizagem, Psicopedagogia, EJA.
ABSTRAT
This work has the theme with the features and specificity that interfere with the teaching-learning in Education for Youths and Adults - EJA. The Education of Youths and Adults is a specific mode of education that aims to cater to an audience that has been denied the right to education during childhood and / or adolescence is the irregular supply of vacancies, either by inadequacies of the education system or by the unfavorable socioeconomic conditions. Also provide a reflection on aspects relating to learning difficulties as well as the importance of Educational Psychology in establishing guidelines for resolving these difficulties and responsibility of the educator's teaching-learning process.
Keywords: Learning difficulties, Educational Psychology, EJA
1 Artigo cientifico apresentado ao Programa de Pós Graduação em Psicopedagogia Institucional da FIAR – Faculdades Integradas de Ariquemes - FIAR 2 Professor orientador da pesquisa – FIAR – Faculdades Integradas de Ariquemes 3 Pós- graduanda do Curso de Pós-Graduação em Psicopedagogia Institucional da FIAR.
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INTRODUÇÃO
A escolha do assunto deu- se baseado na dificuldade que se encontrou ao
trabalhar a escrita e a leitura com os alunos adultos no curso EJA, especialmente os das
séries iniciais. Depara-se com jovens e adultos que se encontram fora de sala de aula há
vários anos e ainda, com muita incidência, alunos que nunca freqüentaram uma sala de
aula. O Programa de Alfabetização de Jovens e Adultos foi criado com a finalidade de
atender a um público que não pode ou não consegue se matricular nas escolas regulares,
por se sentirem envergonhados e/ou incapacitados de freqüentar a escola, ou por não
disporem de escolas em locais de fácil acesso.
Aprender a ler e escrever para eles é um grande desafio, parece muito difícil. As
dificuldades do processo de aprendizagem da linguagem escrita podem ser grandes,
mesmo para aqueles que apresentam um perfil normal de desenvolvimento cognitivo.
Muitos deles quando na faixa etária certa saíram da escola porque não conseguiam
aprender. Professores e familiares acreditavam que as pessoas que apresentavam
dificuldades sofriam transtornos mentais. A partir de pesquisas de teóricos como Piaget e
Vigotsky, que se dedicaram a observar o processamento do desenvolvimento cognitivo, é
que se torna possível compreender que os indivíduos aprendem de maneiras diferentes e
em tempos diferentes, pois recebem influência do meio e de outros indivíduos. Assim,
passou-se a respeitar as diferenças relacionadas à aprendizagem.
1 LEI QUE REGULARIZA A EJA
A lei de Diretrizes e Bases da Educação atual – LDB 9394/96, na seção V,
determina que a EJA seja destinada aqueles que não tiveram acesso ou continuidade no
Ensino Fundamental e Médio na idade própria.
- Ensino Fundamental: maiores de 15 anos.
- Ensino Médio: maiores de 18 anos.
No discurso, observa-se que a legislação é democrática e valoriza os saberes dos
alunos, propondo ações que valorizem o seu estudo, mas na prática pode-se verificar que
nem sempre é o que acontece nas escolas.
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Os professores diante da falta de sucesso de seus alunos, fazem diagnósticos
precoces e os encaminham para atendimentos especializados. Nesse sentido, tornam-se
desafios à escola, que se sente despreparada e desmotivada para trabalhar com os
mesmos.
Na visão de alguns educadores, a dificuldade está no aluno, na sua família, ou
seja, são fatores externos à escola. Outros educadores acreditam que existem alguns
fatores que são intra-escolares, questionam o sistema escolar e sua organização de
funcionamentos.
Promover a aprendizagem de Jovens e Adultos não é tarefa fácil, pois se sabe que
eles carregam consigo uma série de experiências, de vivências que não são
sistematizadas, mas de um grande valor para enriquecer a sua aprendizagem, os
conhecimentos prévios são fundamentais para estabelecer a aprendizagem dos alunos da
EJA. Visto que a maioria dos alunos procura escola novamente porque a necessidade
social e a demanda do mercado de trabalho obrigam-nos a se atualizar para continuar
exercendo um cargo profissional ou procurar alternativas de vidas diferentes.
A diversidade em sala de aula é outro fator que implica diretamente no ensino-
aprendizagem e é inerente às ações educativas dos alunos. Uma das queixas são a
dificuldades encontradas em algumas disciplinas, para eles, essas aulas são difíceis, pois
já introjetaram uma experiência má dessas disciplinas, por esse motivo o professor deve
ser dinâmico, mostrar que elas são importantes como qualquer outra, ser criativo e
resgatar o que os alunos têm, buscar a sua vivência para trabalhar de forma
contextualizada. São tantos os desafios que essa modalidade de ensino precisa vencer
que não basta apenas teorizar as políticas, é preciso uma intervenção na adequação das
práticas pedagógicas e metodológicas e investir na formação continuada do profissional
da Educação de Jovens e Adultos.
Quando os educadores têm uma reflexão Psicopedagógica é mais fácil analisar o
porquê do seu aluno não aprender e quais os fatores que levam o aluno a ter dificuldades
no processo de aprendizagem. A dificuldade de aprendizagem é um tema que deve ser
estudado levando-se em conta todas as esferas em que o indivíduo participa (família,
escola, sociedade, etc.), sabe-se que nunca há uma causa única para o fracasso escolar
e que também um aluno com dificuldade de aprendizagem não é um aluno que tem
deficiência mental ou distúrbios relativos, na verdade, existem aspectos fundamentais que
precisam ser trabalhados para obter-se um melhor atendimento em todos os níveis de
aprendizagem e conhecimento.
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A aprendizagem está diretamente relacionada à conduta. É aprendendo que
reformulamos nossa maneira de atuar no mundo. (Soares, 2003). É importante ressaltar
toda a contribuição da Psicopedagogia, promovendo uma análise mais aprofundada de
tudo relativo à aprendizagem, proporcionando uma reestruturação e reinterpretação do
verdadeiro fator que leva às dificuldades de aprendizagem, reconhecendo-se que essas
dificuldades fazem parte de um sistema bio-psico-social que envolve os alunos, a família,
a escola e o meio social onde vive.
Como bem define o papel da Psicopedagogia e seus interesses, o Prof. João
Beauclair (2004), diz que: enquanto área de conhecimento multidisciplinar interessa a
Psicopedagogia compreender como ocorrem os processos de aprendizagem e entender
as possíveis dificuldades situadas neste movimento.
2 FATORES QUE INTERVEM NA APRENDIZAGEM
Os fatores que podem levar ao fracasso escolar têm sido examinados por vários
autores que os caracterizam de diferentes maneiras. Pamplona considera que:
Os fatores que podem levar ao fracasso (ou sucesso) escolar podem ser divididos em: psicológicos, pedagógicos, neurológicos, oftalmológicos, audiológicos, culturais, econômicos, fonoaudiológicos, biológicos, e lingüísticos, fatores esses que possibilitam uma visão ampla e total do ser humano, a partir de aspectos individuais, isto é, subjetivos articulados com fatores contextuais, objetivos. (PAMPLONA, 2002, p.64)
Estudos e pesquisas evidenciam que, sob a influência do modelo médico de
conceituação das deficiências e incapacidades, prevalece a crença de que é no terreno
individual, que se localiza as verdadeiras causas do fracasso. Se o aluno não aprende,
ele deve ter limitações decorrentes de alguns problemas pessoais, subjetivos, seja uma
lesão, seja uma disfunção que o incapacita ou outro problema, que exige diagnóstico
clínico.
Do elenco de fatores apresentados por Pamplona, (2002) sob a ótica do
subjetivismo e na unidirecional idade de uma análise que considera o aprendiz como um
ser histórico, poderia estar comprometido os aspectos psicológicos, neurológicos,
oftalmológicos, audiológicos, fonoaudiológicos e biológicos do aprendiz, separada ou
concomitantemente.
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Apesar das críticas que se fazem às teorias que ressaltam os fatores individuais,
porque não consideram as influências dos fatores externos como os pedagógicos,
culturais e lingüísticos, além dos sócio-econômicos, a maioria dos nossos educadores
ainda situa no educando a única responsabilidade das dificuldades de aprendizagem que
manifesta. E, quando educadores ou familiares decidem procurar ajuda, a queixa,
geralmente, vem acompanhada de um pseudodiagnóstico.
Certamente é bem mais cômodo localizar no aluno e apenas nele as dificuldades
manifestas, numa espécie de descompromisso e, como reação de Pilatos, lavando-se as
mãos.
De modo geral, as pessoas com dificuldades de aprendizagem ou com outras
limitações são representadas no imaginário social por suas “marcas”, tomando-se a parte
pelo todo. Valoriza-se a dificuldade e perde-se a pessoa em sua dimensão de
integralidade. Criam-se os preconceitos e os estereótipos que desencadeiam
discriminações, alicerçadas em juízo de valor, geralmente dicotômicos e que inscrevem
as pessoas nas categorias de boas ou más, de melhores ou piores, de contributivos ou
dependentes e assim por diante.
As baixas expectativas em relação às potencialidades desses sujeitos também
refletem o imaginário coletivo, inspirado, erroneamente, na idéia da dificuldade de
aprendizagem como característica definitiva que os colocará, quando adultos, como
cidadãos de segunda classe.
3 ADULTOS JOVENS COM DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM
Segundo Smith (2001, p. 98):
Sair de casa e ingressar no mundo mais amplo da faculdade ou de uma profissão pode ser difícil e estressante para qualquer pessoa jovem, e não nos surpreende que às vezes seja ainda mais difícil para o adulto jovem com dificuldades de aprendizagem realizar com sucesso essa transição. Problemas contínuos com habilidades escolares, organização, adoção de responsabilidade e estabelecimento de uma rede de apoio pessoal podem prejudicar as tentativas do indivíduo para adquirir a independência econômica e emocional.
A fraca auto-imagem, com freqüência, exacerba o problema. Os estudos revelam
que adultos jovens com dificuldades de aprendizagem geralmente têm menores
expectativas para o futuro do que seus companheiros típicos. Eles estão menos
propensos a completar uma faculdade e mais propensos a viverem em casa com seus
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pais até a casa dos 20 e 30 anos. Quando trabalham (e muitos não trabalham os estudos
revelam que apenas 50% dos adultos jovens com dificuldades de aprendizagem estão
empregados de forma fixa) eles estão mais propensos a trabalhar em um turno parcial ou
em empregos de menor status, com salário mínimo. Os indivíduos com sérias deficiências
de linguagem, déficits de atenção e/ou hiperatividade normalmente enfrentam os maiores
riscos para baixas conquistas educacionais e subemprego.
Ainda assim, muitas pessoas jovens com dificuldades de aprendizagem realmente
conseguem ser bem-sucedidas em empregos difíceis e em instituições de aprendizagem
superior. Estudos sobre esses adultos produtivos revelam um número de fatores que
parecem relacionar-se com um desempenho efetivamente bom. Entre os mais
importantes estão:
Autoconsciência. Os estudantes com dificuldades de aprendizagem com maiores
chances de sucesso na universidade são aqueles que reconhecem suas capacidades e
compreendem e aceitam suas fraquezas. Com base nisso, eles estabelecem objetivos
realistas, buscam acomodações nas quais tendem a ter um bom desempenho. A
compreensão realista das deficiências também está ligada ao sucesso ocupacional. Os
adultos que possuem este insight escolhem profissões apropriadas e são criativos na
modificação de tarefas ou no desenvolvimento de outras estratégias de compensação no
emprego.
Uma forte ética profissional. Os adultos de sucesso com dificuldades de aprendizagem
geralmente admitem com sinceridade que tiveram de esforçar-se mais que as outras
pessoas para chegar onde chegou. Essas pessoas são caracteristicamente ambiciosas,
direcionadas ao objetivo, determinadas e criativas em relação à superação de obstáculos.
Elas aceitam a necessidade de empregar mais tempo e esforço para o término de
algumas tarefas que outras pessoas (podem não gostar de ter deficiências, mas superam
o ressentimento e a autocomiseração)
Uma personalidade positiva. As características pessoais de otimismo, adaptabilidade,
curiosidade e tenacidade estão fortemente associadas tanto à conquista escolar quanto
ao sucesso no emprego. As pesquisas revelam que a autoconfiança (definida como a
crença na própria capacidade para causar mudança) também tem um imenso impacto
sobre o desempenho. Os indivíduos com uma forte ética profissional e uma atitude de
“posso fazer isso” prosperam, apesar de graves deficiências e educação limitada. Embora
alguns aspectos da personalidade sejam inatos, a autoconfiança e as atitudes sobre o
trabalho são, com maior freqüência, aprendidas com os pais e com outras pessoas que
servem de modelo.
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Uma rede de apoio efetiva. O apoio dos familiares e de outras pessoas significativas
(professores, conselheiros, namorado (a), marido/esposa e outros mentores) é em geral,
citado por adultos jovens com dificuldades de aprendizagem como essencial para seu
sucesso. As famílias são muito importantes, no sentido de ajudarem as pessoas jovens a
desenvolver visões de seu futuro, a estabelecer objetivos razoáveis e a fazer planos
específicos para a conquista de tais objetivos. Tanto os familiares quanto os amigos
oferecem conselhos e apoio emocional, quando os adultos encontram obstáculos ou
sentem-se desanimados. Normalmente a disponibilidade desse tipo de apoio separa os
indivíduos que “dão a volta por cima” dos contratempos ou das derrotas daqueles que
desistem.
Uma experiência escolar positiva. As pesquisas demonstram que a satisfação com a
experiência do indivíduo do Ensino Fundamental está relacionada às expectativas para o
futuro e ao entusiasmo com a educação superior. Os estudantes que obtiveram algum
sucesso no Ensino Médio tendem mais a ver a si mesmos como competentes e no
controle de seus próprios destinos. A conquista escolar, as atividades extracurriculares e
as interações sociais contribuem para a satisfação na escola (um aluno que tem um papel
na peça da escola, uma posição no diretório estudantil e muitos amigos, por exemplo,
pode sentir que tem sucesso, apesar das notas sofríveis). Porém, o trabalho árduo pode
transcender as situações escolares desastrosas.
Até mesmo uma olhada superficial nesta lista torna óbvio que as pessoas jovens
com deficiência, mas que crescem em famílias que lhes mostram valores positivos,
apóiam a individualidade e a autonomia infantil e defendem adequadamente seus direitos,
têm uma imensa chance de sucesso. As pesquisas indicam que elas conseguem ter
sucesso mesmo quando as forças destrutivas da pobreza, da discriminação, as más
condições de saúde e as oportunidades educacionais limitadas estão presentes.
Ocasionalmente, os indivíduos sem apoio da família são capazes de encontrar mentores
e modelos em outro local (pessoas jovens com características pessoais de otimismo têm
uma capacidade particularmente boa de atrair pessoas que desejam ajuda-las).
Entretanto, o indivíduo que não se sente amado ou aceito e que não possuem defensores
e conselheiros efetivos, com freqüência, entretanto, continuam enfrentando duras
batalhas em muitos aspectos de sua vida adulta.
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4 DIFICULDADES OU PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM?
Moojen afirma que,
Ao lado do pequeno grupo de pessoas que apresentam transtornos de aprendizagem decorrente de imaturidade do desenvolvimento e/ou disfunção psiconeurológica, existe um grupo muito maior de pessoas que apresenta baixo rendimento escolar em decorrência de fatores isolados ou em interação. As alterações apresentadas por esse contingente maior de alunos poderiam ser designadas como “dificuldades de aprendizagem”. (MOOJEN, 1999, pg. 105)
Participariam dessa conceituação os atrasos no desempenho escolar por falta de
interesse, perturbação emocional, inadequação metodológica ou mudança no padrão de
exigência da escola, ou seja, alterações evolutivas normais que foram consideradas no
passado como alterações patológicas.
Pain (1981, citado por Rubinstein, 1996), considera a dificuldade para aprender
como um sintoma, que cumpre uma função positiva tão integrativa como o aprender, e
que pode ser determinado por:
1. Fatores orgânicos: relacionados com aspectos do funcionamento anatômico como
o funcionamento dos órgãos dos sentidos e do sistema nervoso central.
2. Fatores específicos: relacionados às dificuldades específicas do indivíduo, os quais
não são passiveis de constatação orgânica, mas que se manifestam na área da
linguagem ou na organização espacial e temporal, dentre outros.
3. Fatores psicógenos: é necessário que se faça a distinção entre dificuldades de
aprendizagem decorrentes de um sintoma ou de uma inibição. Quando
relacionados a um sintoma, o não aprender possui um significado do inconsciente;
quando relacionado a uma inibição, trata-se de uma retração intelectual do ego,
ocorrendo uma diminuição das funções cognitivas que caba por acarretar os
problemas para aprender.
4. Fatores ambientais: relacionados às condições objetivas ambientais, que podem
favorecer ou não a aprendizagem do indiviíduo.
No entanto, é difícil encontrar, nos dias de hoje, um defensor de causas
neurológicas que descarte completamente a importância dos diversos determinantes
ambientais, assim como que quem enfatiza a importância dos fatores puramente
acadêmicos não pode ignorar a influencia de certos processos psiconeurológicos e
ambientais.
Nesse sentido, Scoz diz que:
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[...] os problemas de aprendizagem não são restringíveis nem a causas físicas ou psicológicas, nem a análises das conjunturas sociais. É preciso compreendê-los a partir de um enfoque multimensal, que amalgame fatores orgânicos, cognitivos, afetivos, sociais e pedagógicos, percebidos dentro das articulações sociais. Tanto quanto a análise, as ações sobre os problemas de aprendizagem devem inserir-se num movimento mais amplo de luta pela transformação da sociedade. (SCOZ, 1994, p. 22)
As conseqüências dessas dificuldades são conhecidas em termos sociais e
individuais, sendo preocupantes as implicações familiar e escolar. As dificuldades de
aprendizagem podem ter uma repercussão da falta ou carência de oportunidades,
enquanto as desordens de aprendizagem equivalem a problemas mais severos, como as
incapacidades de aprendizagem.
Nas desordens ou incapacidades de aprendizagem, a identificação de disfunções é
clinicamente constatada, porque existem anomalias neurológicas expressivas ou lesões
cerebrais facilmente detectadas pelos processos convencionais.
Nas dificuldades de aprendizagem não surgem sinais severos, apenas sinais
disfuncionais ligeiros com mais implicações exógenas que endógenas.
A criança/adulto com dificuldades de aprendizagem, recebendo intervenções
pedagógicas e enriquecidas quanto ao processo-aprendizagem, adquirem informação e
desbloqueiam suas dificuldades, podendo modificar todo o seu potencial dinâmico de
aprendizagem.
As D.A sugerem um comprometimento no processo de informação, com uma
pequena desordem psiconeurológica que afeta a função cognitiva.
De que modo o cérebro aprende é um dos grandes enigmas da ciência atual, pois
não se sabe precisamente como o faz, existindo apenas inferências.
Sabe-se que para aprender é necessário perceber, compreender, analisar,
armazenar, chamar, elaborar, exprimir informação. Ao mesmo tempo é indispensável
avaliar e observar quais áreas fortes e fracas do individuo nas seguintes funções do
processamento: atenção, percepção, memória, planificação e psicomotricidade.
Com uma avaliação dinâmica dessas funções, ficará mais fácil entender as causas
das dificuldades de aprendizagem, e assim poderão surgir estratégias de intervenção
mais adequadas aos seus estilos cognitivos de aprendizagem.
Os fatores de exclusão, para estabelecer o paradigma das dificuldades de
aprendizagem, são:
deficiências sensoriais – visual e auditiva;
deficiências mentais educáveis, trináveis e dependentes;
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deficiências motoras espásticas, atetósicas e atáxicas; e
deficiências culturais – privações e diferenças socioculturais, situações de pobreza
e miséria.
5 TIPOS DE DIFICULDADES
A identificação e o diagnóstico das dificuldades de aprendizagem são problemas
complexos, visto que devem basear-se em fatores psiconeurológicos e a investigação
deve ser fidedigna.
Vitor da Fonseca, op. cit. p.199, subdivide e compara as dificuldades de
aprendizagem em primárias e secundárias.
Quadro 1 – Tipos de dificuldades de aprendizagem
Dificuldades de Aprendizagem
Primárias
Dificuldades de Aprendizagem
Secundárias
1. Quando não se identifica uma causa
orgânica específica.
1. Quando resultam de condições,
desordens, limitações ou deficiências
devidamente diagnosticadas em
deficiências visual, auditiva, mental,
motora, emocional ou privação motora.
2. Compreendem perturbações nas
aquisições especificamente humanas,
como a linguagem falada (receptiva e
expressiva), a linguagem escrita
(receptiva e expressiva) e a linguagem
quantitativa.
2. Compreendem perturbações nas
aquisições não especificamente
humanas. As dificuldades de
aprendizagem são a conseqüências
secundárias de deficiências nervosas,
sensoriais, psíquicas ou ambientais.
3. O potencial sensorial, intelectual,
motor e social está intacto e é, portanto
norma.
3. O potencial sensorial, intelectual,
motor e social é atípico e desviante.
4. Se há perturbações, elas dependem
de alterações mínimas, tão mínimas que
não são detectadas pelos exames
médicos (neurológicos, psiquiátricos
etc.) tradicionalmente mais utilizados,
4. Se há perturbações, elas dependem
secundariamente de deficiências
sensoriais, neurológicas, psíquicas ou
envolvimentais ou ambientais, como por
exemplo, privação cultural, desvantagem
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porque são insuficientes para identificar
distúrbios simbólicos e problemas no
processo de informação intra e
interneuro-sensorial.
socioeconômica, fatores ecológicos, má
nutrição, envolvimento afetivo,
facilidades de estimulação precoce,
expectativas, etc.
5. As aquisições da linguagem falada, da
linguagem escrita e da linguagem
quantitativas estão primariamente
perturbadas.
5. As aquisições da linguagem falada, da
linguagem escrita e da linguagem
quantitativa estão secundariamente
perturbadas.
As dificuldades primárias não estão relacionadas com fatores médicos, pelo que
suas causas são desconhecidas, exigindo um diagnóstico mais aprofundado.
Já as dificuldades secundárias estão mais relacionadas com fatores médicos,
sendo as causas bem conhecidas.
A concepção da aprendizagem (entendida como um processo de obtenção de
conhecimento) inerente à psicologia genética supõe, necessariamente, que existam
processos de aprendizagem do sujeito que não dependem dos métodos (processos que,
poderíamos dizer, passam “através” dos métodos). O método (enquanto ação específica
do meio) pode ajudar ou frear, facilitar ou dificultar; porém não pode criar aprendizagem.
A obtenção do conhecimento é um resultado da própria atividade do sujeito. Um sujeito
ativo é aquele que compara, exclui, ordena, categoriza, reformula, comprova, formula
hipóteses, reorganiza etc. em ação interiorizada (pensamento) ou em ação efetiva
(segundo seu nível de desenvolvimento).
A escola se dirige a quem já sabe, admitindo de maneira implícita que o método
está pensado para aqueles que já percorreram, sozinhos, um longo e prévio caminho. O
êxito da aprendizagem depende, então, das condições que encontre o indivíduo no
momento de receber o ensino.
Os que se encontra em momentos bem avançados de conceitualização são os
únicos que podem tirar proveito do ensino tradicional e são aqueles que aprendem o que
os professores se propõem a ensinar-lhes. O resto são aqueles que fracassam, os quais a
escola acusa de incapacidade de aprendizagem ou de “dificuldade de aprendizagem”
segundo uma terminologia já clássica (talvez houvesse que precisar a definição em
termos de dificuldades para aprender o que o professor se propõe a ensinar, nas
condições em que ensina). Porém, atribuir as deficiências do método à incapacidade da
criança/adulto é negar que toda a aprendizagem supõe um processo, é ver déficit ali onde
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somente existem diferenças em relação ao momento de desenvolvimento conceitual em
que se situam. Isso porque nenhum sujeito parte de zero ao ingressar na escola.
6 RELAÇÕES INTERPESSOAIS: ALUNO-PROFESSOR
Se o enfoque for na dificuldade em aprender, outro direcionamento tem que ser
dado a esse aluno, por exemplo, ajuda da Psicopedagogia ou Psicologia. Se a dificuldade
for na assimilação dos conteúdos pode ser que o método de ensino utilizado em sala de
aula, não esteja sendo adequado para aquela turma, e então, é o professor quem precisa
de ajuda da escola (professores, pedagogos, outros educadores). A forma de ensinar é
uma maneira pessoal de cada um demonstrar o que é como aprender (resultado) e a
forma de apreender conhecimentos também.
Atualmente a forma de ensinar e de aprender não é mais a mesma que outrora,
tudo é realizado de forma muito rápida, pois “não se pode perder tempo”... Com isso, o
saber fica limitado, pois tem que ser rapidamente processado e nem todas as pessoas
conseguem absorver os conteúdos da maneira como previsto pela escola, sendo taxadas
de “lerdas e burras”. Segundo Pinto (2003, p.82) “O educador tem que considerar o
educando não como um ser marginalizado, um caso de anomalia social, mas ao contrário,
como um produto normal da sociedade em que vive”, principalmente, pelo fato do aluno
da Educação de Jovens e Adultos ser uma pessoa que começou a estudar tarde ou ficou
ausente da escola a médio ou a longo prazo. É alguém, que pode ser desestimulado
facilmente, por isso é importante e conveniente, que os educadores não o depreciem
(autoestima), valorizando o seu conhecimento empírico, de modo a não ocasionar evasão
escolar, uma vez que o alto índice de insucesso escolar, cuja ocorrência pode ter a ver
com este fato (preconceito/discriminação). A percepção do valor do discente fica bem
esclarecida no pensamento do autor, que diz:
O educador tem que considerar o educando como um ser pensante. È um portador de ideias, dotado frequentemente de alta capacidade intelectual, que se revela espontaneamente em sua conversação, em sua crítica aos fatos, em sua literatura oral. O menosprezo pela educação dos adultos, a atitude de condená-los definitivamente ao analfabetismo (de parte de sua profunda imoralidade) incide no erro sociológico de supor que o adulto é culpado de sua própria ignorância. Não reconhece que o adulto não é voluntariamente analfabeto, não se faz analfabeto, senão que é feito como tal pela sociedade com fundamente nas condições de sua existência. (PINTO, 2003, p. 83).
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Em países como o Brasil, marcados por grandes desníveis sociais, pela situação
de pobreza de uma grande parcela da população e por uma tradição politica pouco
democrática, baixos níveis de escolarização estão fortemente associados a outras formas
de exclusão econômica e politica. Famílias que vivem em situação econômica precária
enfrentam grandes dificuldades em manter as crianças na escola, seus esforços nesse
sentido são também mal recompensados, já que as escolas que tem acesso são pobres
de recursos e normalmente não oferecem condições de aprendizagem adequadas.
A abordagem mantida até o momento, construída sobre as diferenças, é uma
tentativa de se fazer uma análise em relação à Educação de Jovens e Adultos. O assunto
é polêmico. Após analisar as diferenças de uma forma geral, conclui-se que assim como
as funções biológicas do organismo, que apesar de diferentes, têm um só objetivo que é
de manter o indivíduo vivo e saudável, a Educação de Jovens e Adultos deve aprender
com as diferenças, para que um ambiente harmonioso e criativo se estabeleça na escola,
através da valorização do modo de ser e de aprender de cada discente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Intentou-se desenvolver um trabalho em vista de mudanças qualitativas da
condição humana dos participantes, a partir de uma apropriação mais significativa do
saber pelos mesmos. Para tanto, as atividades desenvolvidas na alfabetização deveriam
ultrapassar o domínio da forma mecânica da leitura, da escrita, para atingir o
alfabetizando como um todo e inscrito na sua realidade.
Um fato também muito importante na EJA é a diferença de idade, sendo que a
EJA, tem sido alvo da escola regular. Um dos assuntos abordados no fórum da Educação
em maio/2010, foi sobre essa diferença. Quem é considerado jovem (faixa etária). O
jovem não é adulto? Se não, quando passa a ser? Os mais jovens não tem muita
responsabilidade, brincam durante as aulas, não levam os estudos a sério, enquanto os
mais idosos se queixam do barulho e sabem a falta que faz os estudos.
Todo aluno que não desenvolve suas capacidades de aprendizado é empurrado de
forma indireta para a EJA. Diante do assunto exposto, este aluno sofre pressão
psicológica ao deparar com a realidade de não conseguir acompanhar na sala de aula as
atividades propostas. O educador procura fazer um trabalho diferenciado de modo que
desperte o desempenho de suas habilidades. Contudo na maioria dos casos não se
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obtém sucesso, devido este aluno conhecer o processo de uma sala de aula que não
consegue despertar nele o interesse pela escola. Portanto, quando o mesmo chega na
EJA, encontra-se cansado, massacrado, desmotivado, convencido de que não consegue
mais aprender, Isto porque o aluno já teve conhecimento de uma escola do passado,
onde o ensino era totalmente tradicional e hoje ele confronta com uma escola nova, com
desafios a vencer.
Essa nova atitude da vida implica uma revisão de tomadas de posição frente a
soluções já estereotipadas, faz-se necessário analisar minuciosamente os alunos que
freqüentam essas aulas, pois jovens e adultos possuem uma história devido a qual os
levaram para fora da escola e agora os trouxeram de volta.
Nesse caso, o educador sabendo das expectativas do educando adulto deve
ampliar seus interesses mostrando que uma verdadeira aprendizagem exige muito mais
que atenção às exposições feitas pelo professor e atividades mecanizadas de
memorização.
Uma das principais razões para o fracasso escolar está na baixa auto-estima.
Deve-se estimular nossos alunos a desenvolverem sua autoconfiança. Se o aluno gosta
de si mesmo e acredita, vencerá todos os desafios.
Desde que não exista lesão cerebral, toda dificuldade de aprendizagem é
superável. Basta que se crie no adulto a expectativa de sucesso, compreensão, se
desenvolva sua alto-estima e principalmente se aprenda com ele – é preciso descobrir de
que maneira ele pode aprender e depois ajudá-lo para que construa seu conhecimento.
Dados mostram que a evasão escolar, a repetência e vários problemas estão
relacionados sempre com algum tipo de aprendizagem, e é verdadeiro afirmar que,
resolvendo o problema das dificuldades, pode-se resolver vários problemas sociais.
É preciso estimular a investigação Psicopedagógica e apoiar projetos de formação
que permitam conhecimentos específicos, para fornecer aos educadores a condição de
detectar previamente os problemas de aprendizagem.
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REFERÊNCIAS
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Médicas, 1987. FONSECA, Vitor da. Introdução às Dificuldades de Aprendizagem. 2ª ed. Porto Alegre, Artes Médicas, 1995. PINTO, Álvaro Vieira. Sete lições sobre a Educação. São Paulo. Cortez, 2003.
SOARES, Dulce Consuelo R. Os Vínculos como passaporte da Aprendizagem. Rio de
Janeiro, Caravansarai, 2003. MOOJEN, S. Dificuldades ou transtornos de aprendizagem? In. Rubinstein, E. (Org). Psicopedagogia: uma prática, diferentes estilos. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1999. SCOZ, B. Psicopedagia e realidade escolar, o problema escolar e de aprendizagem.
Petrópolis: Vozes, 1994.
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ANEXOS I
Questionário/Pesquisa
Curso de Pós-graduação em Psicopedagogia Institucional/FIAR – Machadinho D’Oeste -
RO.
1 – Na série em que você trabalha existem adultos com transtorno de aprendizagem?
2 – Que tipo de dificuldades de aprendizagem você observou nesses adultos?
3 – Como você classifica essas dificuldades de aprendizagem?
4 – Quais soluções você buscou ao detectar essas dificuldades?
5 – Essas dificuldades foram resolvidas dentro da escola?
6 – Quais as conseqüências das dificuldades não resolvidas?
7 – Qual o tratamento dado a esses adultos e suas dificuldades?
8 – Nos adultos que apresentaram dificuldades de aprendizagem, foi observada pela
escola sua condição familiar?
9 – Se foi observada, especifique qual a condição.
10 – Você tem algo a acrescentar sobre o assunto?
Nome: ______________________________________________________________
Cargo: ______________________________________________________________
Nome da Escola: _____________________________________________________
Cidade: _____________________________________ Data: _____/______/______
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ANEXO II
Ficha de Identificação de Dificuldades de Aprendizagem para o
professor do Ensino Fundamental - EJA
Nome do Aluno: ______________________________________ Data: ___/____/___
Série: _____ Idade: _____ Professor (a)
LEITURA
Lê palavra por palavra Leitura inferior ao nível da classe Pronuncia mal as palavras Dificuldade na produção de vogais Confunde associação som/símbolo Não rima palavras Não recorda palavras Troca palavras na leitura Escreve o que leu ESCRITA
Não copia do quadro para o papel Copia as letras numa orientação errada Espaços impróprios entre letras Mantém o caderno numa posição incorreta enquanto escreve Esquece a formação das letras Dificuldade em escrever nas linhas Troca letras enquanto escreve CÁLCULO Não conhece as horas/minutos Não recorda números até 10 Não recorda números até 20 Aritmética inferior ao nível da classe Usa dedos ou objetos para contar DITADO
Confunde os sons das sílabas Coloca as letras fora de ordem quando ditadas Esquece rapidamente palavras ditadas Escreve palavras de duas maneiras diferentes no mesmo texto Ortografia inferior ao nível da classe Tem problemas de linguagem (pronúncia, articulação, substituição) TOTAL DE PONTOS
1. Adaptado. Victor da Fonseca, op.
cit. p. 233.
Nunca Ás vezes Freqüente Sempre
1 2 3 4
18
Turma do 1º ano – CEEJA/PAULO FREIRE – Machadinho D’ Oeste – RO da Professora Janete Gaeski.
Turma do 1º ano – CEEJA/PAULO FREIRE – Machadinho D’ Oeste – RO da Professora Janete Gaeski.
19
Turma do 1º ano – CEEJA/PAULO FREIRE – Machadinho D’ Oeste – RO da Professora Janete Gaeski.
Turma de Alfabetização – CEEJA/PAULO FREIRE – Machadinho D’ Oeste – RO da Professora Zaíra Sandes Siqueira.