diego dos anjos - morfologia urbana e desenho da cidade
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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
DEPARTAMENTO DE EVOLUÇÃO DA ARQUITETURA
HISTÓRIA DA ARQUITETURA E DO URBANISMO II
PROF.ª MARCIA SANT’ANNA
FICHAMENTO – 2ª UNIDADE
DIEGO SILVA MOREIRA DOS ANJOS
LAMAS, José M. R. Garcia. “Capítulo 3.5: desenho e formas urbanas no século XIX”. In: ______. Morfologia urbana e desenho da cidade. 2. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian e Fundação para a Ciência e a Tecnologia, 2000. p. 203-226.
O Dr. José Manuel Ressano Garcia Lamas atualmente é professor associado da
Faculdade de Arquitetura da Universidade Técnica de Lisboa. A obra em questão foi baseada
no trabalho realizado para dissertação de Doutoramento em Planejamento Urbanístico
apresentado em 1989 na faculdade supracitada.
Em linhas gerais, o capítulo diz respeito às transformações urbanas ocorridas ao longo
do século XIX, e se desenvolve à partir da ideia de que as modificações ocorridas nas cidades
durante o referido período, apesar de preservarem os vários elementos morfológicos do
desenho urbano( como o traçado, o lote, o quarteirão, o logradouro e a praça), foram
substanciais, ora criando novos tipos urbanos, ora aperfeiçoando tipos já consolidados, como
a cidade clássica e a barroca.
Para demonstrar a sua ideia, Lamas expõe em seis tópicos os diversos fatores e vetores
modificadores do espaço urbano e do pensamento urbanístico da época, além de analisar três
exemplos concretos – A Paris de Haussmann, a Barcelona de Cerdá e a Lisboa de Ressano
Garcia.
Uma das vertentes do urbanismo oitocentista procurou continuar com a morfologia da
cidade barroca, à exemplo dos desenhos de John Nash na Inglaterra e de Napoleão I na
França. Elementos como o traçado regular e a perspectiva, a fim de, entre outras finalidades,
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evidenciar os monumentos, foram largamente utilizados e adaptados às necessidades e
inovações da época.
Os limites da cidade também são modificados, na medida em que as novas tecnologias
e estratégias militares tornam as muralhas obsoletas. Dessa forma, a cidade antes delimitada
perde a precisão dos seus limites, e fatores como o aumento demográfico e as necessidades de
consumo do solo causam uma expansão para além das antigas fronteiras. As muralhas são
substituídas por boulevards que formam anéis viários, como no ring de Viena.
Com a expansão urbana, há concomitantemente um desenvolvimento do subúrbio e da
periferia. O subúrbio torna-se uma alternativa à concentração urbana, de modo que os novos
meios de transporte propiciam a ligação dos centros urbanos e locais de emprego. Entre as
características do subúrbio, estão: a rua como um mero percurso, a praça se transformando em
largo por falta de utilização, os edifícios no meio do lote, uma relação diferenciada com a
vegetação, e a separação do edifício, que antes era pela fachada, sendo agora feita pelo muro.
Outro fator modificador abordado por Lamas é a especulação fundiária, que para ele
“é desde logo incompatível com o desenho urbano” (LAMAS, 2000, p. 208). Isso se deu,
sobretudo, pela sobreposição dos interesses econômicos sobre o desenho urbano, e é nesse
período que surgem as ilhas e vilas, ambientes monótonos, altamente densificados e
desprovidos de intencionalidade estética.
Os utopistas sociais são abordados no capítulo. Charles Fourier e Robert Owen, apesar
de terem fracassado em suas experiências do falanstério e Familistério, não deixaram de
constituir um elemento de ruptura da cidade industrial e burguesa, apesar do cunho
predominantemente socioeconômico.
Bairros e cidades especializados também são criados na segunda metade do século
XIX, tanto para lazer/recreio quanto para os trabalhadores, com morfologia próxima à do
subúrbio.
Nos três exemplos dados por Lamas, a Paris de Haussmann é o que mais se destaca,
tanto por ter tido os melhores resultados quanto por sua influência. Apesar de não ter plano
prévio, o traçado haussmanniano continua as tradições barrocas, agregando as inovações
tecnológicas e uma visão voltada para o futuro. O ensanche (plano de expansão) da
Barcelona de Cerdá também foi de extrema importância, e se destacou pela quebra de regras
de composição clássico-barrocas, e pela liberdade e independência adquiridos pelos elementos
morfológicos urbanos. O último exemplo, por fim, foram as avenidas de Lisboa projetadas
por Ressano Garcia, claramente influenciadas por Haussmann e também com o traçado
barroco.