diário de david brainerd

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  • 7/28/2019 Dirio de David Brainerd

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    PREFCIO

    Por Jonathan Edwards Presidente da Universidade de Princeton - 1758

    Existem duas maneiras para representar e recomendar a verdadeira religioe a virtude ao homem uma mediante a doutrina e o preceito; a outra

    por instncia e exemplo. Ambas so abundantemente usadas nas SagradasEscrituras.

    Deus tambm, na sua providncia, tem-se inclinado a fazer uso de ambosesses mtodos para trazer luz e motivaes humanidade para que elacumpra seus deveres em todas as pocas. Ele tem, de tempos em tempos,levantado mestres eminentes para exibirem e darem testemunho da verdadepela sua doutrina e para se oporem aos erros, s trevas e impiedade domundo. Tambm tem levantado pessoas eminentes que tm deixado brilhantesexemplos daquela religio que ensinada e prescrita na Palavra de Deus;exemplos esses que, no curso da providncia divina, tm sido mostrados aopovo.

    Temos um excelente exemplo desses na excelente pessoa cuja vida publicada nestas pginas. Seu exemplo visto com uma grande variedade decir cunstncias tendentes a prender a ateno do povo religioso. Ele foio instrumento de um mui notvel despertamento, uma maravilhosa epermanente alterao e transformao moral de pessoas que tornam amudana peculiarmente rara e admirvel.

    No relato que se segue, o leitor ter a oportunidade de ver no so mentequais foram as circunstncias externas e notveis desta pessoa, seu

    comportamento e como gastou seu tempo, dia aps dia mas, tambm, o que sepassava em seu prprio corao. Aqui, o leitor ver a maravilhosa mudanaque ele experimentou em sua prpria mente e em sua disposio; ver amaneira como aquela mudana foi operada, como continuou, quais foram suasconsequncias na disposio ntima dele, nos seus pensamentos, afeies eexerccios secretos, atravs de muitas dificuldades e provas por mais deoito anos.

    Estou longe de supor que os exerccios e as experincias internas deBrainerd ou sua conduta externa, estiveram livres de imperfeio. O

    exemplo de Jesus Cristo o nico que j existiu, na natureza humana,totalmente perfeito; o que, portanto, um critrio para testar todos osoutros exemplos. As disposies, as atitudes e as prticas de outrosdevem ser recomendadas e seguidas na medida que foram seguidoras deCristo.

    H uma coisa facilmente discernvel na vida de Brainerd que, por muitos,pode ser considerada uma objeco s evidncias extraordinrias de suareligiosidade e devoo, a saber, que ele era, por sua prpriaconstituio e temperamento natural, muito inclinado para a melancolia e

    desnimo de esprito. H quem pense que a religio algo melanclico e

    que aquilo que se chama de experincia crist pouco mais do quemelancolia, que perturba o crebro e excita imaginaes entusisticas.

    Mas, ainda que o temperamento e a constituio de Brainerd o inclinassemao desalento, no justo supor que sua extraordinria devoo fosse

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    apenas o fruto de uma imaginao calorosa. A despeito dessa inclinaopara o desnimo, claro que ele era um daqueles homens que, usualmente,vivem bem longe de uma imaginao fervilhante, sendo dotado de um gniopenetrante, de pensamento claro, de raciocnio l gico e de julgamentomuito exacto, como era patente para todos que o conheciam. Possuidor degrande discernimento da natureza humana, perscrutador e judicioso emgeral, ele tambm sobressaa em juzo e conhecimento teolgico e,

    sobretudo, na religio experimental.Ele distinguia claramente entre a piedade real, slida, e o meroentusiasmo; entre aquelas afeies que so racionais e bblicas,aliceradas sobre a luz e o bom juzo e aquelas baseadas em presunesexcntricas, com impresses fortes na imaginao e em emoes veementesdos espritos animalescos. Era extremamente sensvel exposio doshomens a estas impresses, a quo extensivamente elas tinham prevalecido,a quantas multides tinham sido enganadas, as suas perniciosas consequn cias e ao temvel prejuzo que elas tm feito no mundo cristo. Brainerdno confiava nesse tipo de religio e tinha farto testemunho contra ele.

    Ele percebia de imediato quando coisas dessa natureza surgiam, ainda emseus estgios primrios, disfaradas da maneira mais plausvel eaparentemente justa. Ele tinha um talento, como nunca vi igual, paradescrever as vrias operaes dessa religio entusistica e imaginria,desmascarando sua falsidade e vaidade e demonstrando a enorme dife renaentre ela e a autntica devoo espiritual.

    Seu esprito judicioso no transparecia somente quando distinguia entreas experincias alheias, mas, tambm entre os vrios exerccios de sua

    prpria mente, em particular ao discernir o qu, em seu prprio ntimo,

    devia ser lanado na conta damelancolia, no que ele excedeu a todas aspessoas melanclicas que conheci. Sem dvida, isso devia-se profundezade seu juzo; pois deveras raro que pessoas, sob a influncia damelancolia, mostrem-se sensveis para com sua prpria fraqueza,reconhecendo que os seus frutos e operaes deveriam ser atribudos mesma.

    Brainerd no adquiriu esse grau de habilidade com rapidez, mas,gradualmente; e isso o leitor poder discernir atravs deste relato desua vida. Na parte inicial de sua carreira religiosa, ele atribua muitodesse tipo de tristeza mental ao afastamento espiritual, ao passo que na

    segunda metade de sua vida reconhecia que era devido doena demelancolia; conforme frequentemente fez meno de modo claro em seudirio, atribuindo seus surtos de tristeza a essa causa. Em suas con versaes, por muitas vezes referiu-se diferena entre a melancolia e atristeza piedosa; entre a verdadeira humilhao e o afastamentoespiritual; e, tambm, sobre o perigo de confundir uma coisa com a outrae sobre a natureza mui prejudicial da melancolia. Discursava com grandediscernimento sobre ela, sem dvida, com muito mais profundidade com basenaquilo que conhecia por experincia prpria.

    Uma outra imperfeio em Brainerd que pode ser observada neste relato desua vida, que ele era excessivo em seus labores, no levando em conta adevida proporo entre a sua prpria fadiga e as suas foras. De fato, osaparentes chamados da Providncia, eram, por muitas vezes, extremamentedifceis, levando-o a labutar acima de suas prprias foras. Sem dvida,

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    as suas circunstncias e actividades como missionrio entre os ndioseram tais que tornavam-se inevitveis grande fadiga fsica edificuldades. No entanto, finalmente deixou-se convencer de que estavaerrando quanto a essa questo e que deveria ter exercido Maior cautela,mostrando-se mais resoluto a resistir tentao para um tal grau detrabalho que lhe prejudicava a sade. Foi em consonncia com isso queadvertiu a seu irmo, que o sucedeu no campo missionrio, a ser cui

    dadoso para evitar esse erro.Alm das imperfeies mencionadas, pode-se admitir prontamente que haviaalgumas imperfeies que lhe marcaram pela vida toda, mis turadas a seusafectos e exerccios religiosos, havendo alguma mistura do que eraespiritual com o que era natural, tal como acontece com os melhoressantos neste mundo. Sem dvida, o temperamento natural tinha algumainfluncia nos exerccios religiosos de Brainerd, como visivel mentetinha em homens devotos como David e os apstolos Pedro, Joo e Paulo.No h dvida que sempre havia alguma mescla de melancolia com verdadeiratristeza piedosa e real humildade crist; alguma mistura do fogo natural

    da juventude com o seu zelo santo por Deus; e tambm alguma influncia deprincpios naturais misturados com a graa divina em vrios outrosaspectos, como sempre foi e ser com os santos, enquanto eles esto nestelado do cu. Talvez ningum se mostrasse mais sensvel para com asimperfeies de Brainerd do que ele mesmo; ou talvez ningum pudessedetect-las melhor, distinguindo o que era natural da quilo que eraespiritual. fcil para o leitor cuidadoso observar que medida que asgraas amadureciam nele, os exerccios religiosos de seu coraotornavam-se mais e mais puros; e quanto mais ele vivia, mais perspicazficava em seu juzo. Ele tinha muito para purificar e ensinar a si mesmoe no falhou em beneficiar-se.

    Apesar de todas essas imperfeies, todo leitor piedoso e cuidadosoreconhecer de pronto que aquilo que aqui expomos uma notveldemonstrao da verdadeira e eminente piedade, no corao e na prtica tendendo grandemente a confirmar a realidade da religio vital e do poderda piedade. Isso mui digno de imitao, em vrios sentidos calculadopara promover o benefcio espiritual de observadores atentos.

    O leitor deve tomar conscincia de que aquilo que Brainerd es creveu emseu dirio, do qual esta narrativa de sua vida foi principalmente tirada,

    foi registado para seu prprio uso, e no a fim de conquistar o aplauso ehonra humanos, nem com o propsito de ser apreciado pelo mundo, nemenquanto vivia nem aps a sua morte. S no foi para seu uso algumaspoucas coisas que escreveu, j quase morte, depois de ter sidopersuadido, com dificuldade, a no suprimir inteiramente todos os seusescritos privados. Ele mostrou-se quase invencivelmente contra apublicao de qualquer poro do seu dirio, depois que morresse. Equando ele pensava que estava morrendo, em Boston, deu as mais estritas edecisivas ordens sobre isto. Mas depois que alguns de seus amigos daliconseguiram convenc-lo, ele retirou essa proibio estrita e absoluta,tendo cedido at ao ponto em que seus papis fossem dei xados em minhasmos, a fim de que eu dispusesse deles conforme eu pensasse "redundarmais para a glria de Deus e para o interesse da religio".

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    NOTA INTRODUTRIA

    Por Jonathan Edwards

    DAVID BRAINERD nasceu a 20 de Abril de 1718, em Haddam, Connecticut. Seupai chamava-se Ezequias Brainerd, um advogado, e sua me, Dorothy Hobart,

    era filha do Pr. Jeremias Hobart.Ele foi o terceiro filho de seus pais, que tiveram cinco filhos e quatrofilhas. O filho mais velho foi um respeitvel cidado de Haddam; osegundo foi o Pr. Neemias Brainerd, um digno ministro em Eastbury,Connecticut; o quarto, o Sr. John Brainerd, que substituiu a seu irmo,David, como missionrio entre os ndios, foi pastor da mesma igreja dosndios crentes de Nova Jersey; e o quinto foi Israel, posteriormenteestudante do Yale College, e que faleceu pouco depois de seu irmo David.A me deles, depois de ter vivido por cerca de cinco anos como viva,morreu quando o personagem central destas memrias tinha cerca de catorzeanos de idade. Assim, em sua juventude, Brainerd ficou rfo de pai eme. A seguir, transcrevo o relato que ele fez de sua prpria pessoa.

    Captulo 1

    Do seu nascimento ao tempo em que comeou a estudar para oministrio 1718-1742

    Desde bem pequeno fui um tanto sbrio, inclinado melancolia; mas no melembro de qualquer convico de pecado, digna de qualquer observao, at

    que eu j estava com cerca de sete ou oito anos de idade. Ento fiqueipreocupado com a minha alma, aterrorizado diante da ideia da morte; fuiimpelido ao cumprimento de deveres religiosos; mas isto pareceu ser umaaco da melancolia que destrua a minha vontade de brincar. Embora,infelizmente, essa preocupao religiosa fosse apenas passageira, algumasvezes me entregava a oraes secretas; e assim vivia "sem Deus no mundo"e sem muito interesse, at ter mais de treze anos de idade.

    Durante o inverno de 1732, fui despertado desse senso de segu ranacarnal, nem sei dizer direito por quais meios; mas fiquei deveraspreocupado diante da prevalncia de certa enfermidade mortal em Had dam.Tornei-me frequente, constante e fervoroso em orao e tambm deleitava-me na leitura, sobretudo do livro do Sr. Janeway, Tokenfor Children [umlivro para crianas]. Algumas vezes sentia-me muito enternecido diantedos deveres religiosos, apreciando a realizao deles, e algumas vezesesperava que tivesse me convertido, ou, pelo menos, que estivesse num bome esperanoso caminho para o cu e para a felicidade, sem saber o que eraa converso. Nesta poca, o Esprito de Deus trabalhou muito em mim. Euestava notavelmente morto para o mundo; meus pensamentos volviam-se quaseinteiramente para as preocupaes da minha alma e posso realmente dizer

    que estava "quase persuadido a tornar-me cristo". Fiquei extremamenteaflito e melanclico com a morte de minha me, em maro de 1732. Depoisdisso, porm, meu interesse religioso comeou a declinar e pouco a poucoretornei a um considervel grau de segurana prpria, embora continuassefazendo oraes secretas.

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    Em cerca de 15 de Abril de 1733, mudei-me da casa de meu pai para EastHaddam, onde permaneci por quatro anos. Continuava "sem Deus no mundo",embora, com certa frequncia, me entregasse a oraes secretas. Nuncagostei muito da companhia e das diverses da juventude; mas sei quequando me punha em tal companhia, nunca voltava com to boa conscinciacomo quando ia. Isso sempre me adicionava uma nova culpa, fazendo-metemeroso de aproximar-me do trono da graa, e prejudicava aquelas boas

    disposies que eu tanto, apreciava. Mas, infelizmente, todas as minhasboas disposies eram apenas justia prpria, no aliceradas sobre umdesejo pela glria de Deus.

    Perto do fim de Abril de 1737, tendo completado dezanove anos de idade,mudei-me para Durham, a fim de trabalhar em meu stio, onde fiquei porcerca de um ano; frequentemente anelava por uma educao acadmica.Quando estava com cerca de vinte anos, apliquei-me aos estudos; e, poresse tempo, estava mais do que nunca engajado em meus deveres religiosos.Tornei-me um homem muito rigoroso e vigilante com os meus pensamentos,palavras e aces; conclu que tinha de ser realmente sbrio, porquanto

    tinha resolvido consagrar-me ao ministrio; e imaginei que eu me haviadedicado ao Senhor.

    Em Abril de 1738, fui residir com o Pastor Fiske, de Haddam, com quemcontinuei morando enquanto viveu. Lembro-me de que ele aconselhou-me aabandonar de vez a companhia dos jovens e a associar-me a pessoas srias,mais idosas, conselho esse que segui. Minha maneira de viver, ento, foiinteiramente rotineira, cheia de religiosidade. Li a minha Bblia pormais de duas vezes em menos de um ano, e passava muito tempo, cada dia,em orao e outros deveres secretos, dando grande ateno palavra

    pregada, esforando-me ao mximo por ret-la. To preocupado estava comos assuntos religiosos que concordei, com al gumas pessoas jovens, emreunirmo-nos aos sbados, para exerccios religiosos, e julgava-mesincero nestes deveres. Terminadas as reunies, eu costumava repetir paramim os discursos ouvidos naquele dia, relembrando-os o quanto me fossepossvel, embora algumas vezes at tarde da noite. Ocasionalmente, nassegundas-feiras relembrei-me dos sermes de domingo; sentia prazer nosexerccios religiosos e pensava seriamente em tornar-me membro de algumaigreja. Em suma, eu tinha uma boa aparncia exterior e descansavatotalmente no cumprimento dos meus deveres, embora no tivesse

    conscincia disso.Depois do falecimento do Pastor Fiske, continuei os estudos com meuirmo. Continuava na prtica constante dos deveres religiosos e admirava-me da leviandade dos que professavam-se cristos, lamentando o descuidodeles nos assuntos religiosos. Assim prossegui muito tempo sobre essabase de justia prpria; e ter-me-ia perdido e condenado inteiramente,no fora a misericrdia de Deus que impediu isso.

    Em algum tempo, no comeo do inverno de 1738, agradou a Deus, em umsbado pela manh, quando eu partia para cumprir meus deveres secretos,

    dar-me, de repente, um tal senso de meu perigo e da sua ira que fiqueiadmirado, e logo desapareceram minhas confortveis dispo siesanteriores. Diante da viso que tive de meu pecado e vileza, fiquei muitoaflito durante todo aquele dia, temendo que a vingana de Deus em breveme alcanaria. Senti-me muito abatido, mantendo-me solit rio; cheguei a

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    invejar a felicidade das aves e dos quadrpedes, pois no estavamsujeitos quela misria eterna, como evidentemente eu via que estavasujeito. E assim ia vivendo dia a dia, frequentemente em grande aflio.As vezes parecia que montanhas obstruam minhas esperanas demisericrdia e a obra de converso parecia to grande que pensei quenunca seria o objecto dela. No entanto, costumava orar, clamar a Deus erealizar outros deveres com grande ardor; assim esperava, por alguns

    meios, melhorar a minha situao.Por centenas de vezes renunciei a todas as pretenses de qualquer valorem meus deveres, ao mesmo tempo em que os realizava; e com frequnciaconfessei a Deus que eu nada merecia pelos melhores deles, a no ser acondenao eterna; ainda assim tinha uma esperana secreta de recomendar-

    me a Deus mediante os meus deveres religiosos. Quando orava emotivamentee meu corao, em alguma medida, parecia enternecer-se, esperava que, porcausa disso, Deus teria piedade de mim. Nessas ocasies, havia algumaaparncia de bondade em minhas oraes, e eu parecia estar lamentandopelo pecado. Em alguma medida aventurava-me na misericrdia de Deus em

    Cristo, como eu pensava, ainda que o pensamento preponderante, o alicercede minha esperana, era alguma imaginao de bondade em meuenternecimento de corao, no calor de meus afectos e na extraordinriadilatao de minhas oraes.

    Havia momentos em que a porta me parecia to estreita que eu via comoimpossvel entrar; mas noutras ocasies lisonjeava-me, dizendo que noera assim to difcil, e esperava que, por meio da diligncia e davigilncia, acabaria conseguindo. Algumas vezes, depois de muito tempo emdevoes e em forte emoo, achava que tinha dado um bom passo na

    direco do cu e imaginava que Deus fora afectado assim como eu, eouviria tais sinceros clamores, como eu os chamava. E assim, por vriasvezes, quando me retirava para orao secreta, em grande aflio, euvoltava confortado; e desta forma procurava curar a mim mesmo com meusdeveres.

    Certa ocasio, em fevereiro de 1739, separei um dia para jejum e oraosecretos, e passei aquele dia em clamores quase incessantes a Deus,pedindo misericrdia, para que Ele me abrisse os olhos para a malignidadedo pecado e para o caminho da vida, por meio de Jesus Cristo. Naqueledia, Deus agradou-se em fazer, para mim, notveis descobertas em meu

    corao. No entanto, continuei confiando na prtica dos meus deveres,embora no tivessem nenhuma virtude em si, no havendo neles qualquerrelao com a glria de Deus, nem tal princpio em meu corao. Contudo,aprouve a Deus, naquele dia, fazer de meus esforos um meio para mostrar-me, em alguma medida, minha debilidade.

    Algumas vezes eu era grandemente encorajado e imaginava que Deus me amavae se agradava de mim, e pensava que em breve estaria completamentereconciliado com Deus. Mas tudo isto estava fundamen tado em merapresuno, surgindo da ampliao nos meus deveres, ou do calor das

    afeies, ou de alguma boa resoluo, ou coisas similares. E quando, svezes, grande aflio comeava a surgir baseada na viso da minha vilezae incapacidade de livrar a mim mesmo de um Deus soberano, ento costumavaadiar a descoberta como algo que no podia suportar. Lembro-me que, certavez, fui tomado por uma terrvel dor de aflio de alma; a ideia de

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    renunciar a mim mesmo, permanecendo nu diante de Deus, despido de todabondade, foi to temvel para mim que estive pronto a dizer, como Flixdisse a Paulo: "Por agora podes retirar-te" (Atos 24.25).

    Assim, embora diariamente anelasse por uma Maior convico de pecado,supondo que tinha de perceber mais do meu temvel estado para que pudesseremedi-lo, quando as descobertas do meu mpio corao foram feitas, aviso era to aterradora, e mostrava-me to cristalina mente minha

    exposio condenao, que no podia suport-la. Eu constantementeesforava-me por obter quaisquer qualificaes que imaginava que outrosobtiveram antes de receberem a Cristo, a fim de recomendar-me ao seufavor. De outras vezes, sentia o poder de um corao empedernido esupunha que o mesmo tinha de ser amolecido antes que Cristo me aceitasse;e quando sentia quaisquer enternecimentos de corao, ento esperava quedaquela vez a obra estivesse quase feita. E, portanto, quando a minhaaflio permanecia, eu costumava murmurar contra a maneira como Deuslidava comigo, e pensava que quando outros sentiam seus coraesfavoravelmente amolecidos, Deus mostrava-lhes sua misericrdia para com

    eles; mas a minha aflio ainda permanecia.

    s vezes ficava desleixado e preguioso, sem quaisquer grandes convicesde pecado, e isso por considervel perodo de tempo; mas depois de talperodo, algumas vezes as convices me assediavam mais violentamente.Lembro-me de certa noite em particular, quando cami nhava solitariamente,que delineou-se diante de mim uma tal viso de meu pecado, que temi que osolo se abrisse debaixo de meus ps e se tornasse a minha sepultura,mandando minha alma rapidamente ao inferno, antes que eu pudesse chegarem casa. Forado a recolher-me ao leito para que outras pessoas no

    viessem a descobrir minha aflio de alma, o que eu muito temia, noousei dormir, pois pensava que seria uma grande maravilha se eu noamanhecesse no inferno. Embora minha aflio s vezes fosse to grande,todavia eu temia muito a perda de convices, e de retroceder a um estadode segurana carnal e minha anterior insensibilidade da ira iminente.Isto fazia-me extremamente rigoroso em meu comportamento, temendoentravar a actuao do Santo Esprito de Deus.

    Quando, a qualquer momento, eu examinava minhas prprias convices,julgando-as consideravelmente fortes, acostumei-me a con fiar nelas. Masessa confiana, bem como a esperana de em breve fazer alguns avanos

    notveis na direco do meu livramento, tranquilizava minha mente e logotornava-me insensvel e remisso. Mas de novo, quando notava que as minhasconvices estavam fenecendo, julgando que estavam prestes a abandonar-me, imediatamente me alarmava e afligia. Algumas vezes esperava dar umalarga passada, avanando muito na direco da converso, por meio dealguma oportunidade ou meio particular que tinha em vista.

    Os muitos desapontamentos, as grandes aflies e perplexidades queexperimentei deixavam-me em uma horrenda disposio de conflito com oTodo-Poderoso; e com veemncia e hostilidade interiores achava falhas em

    suas maneiras de tratar com a humanidade. Meu corao inquo por muitasvezes desejava algum outro caminho de salvao que no fosse por JesusCristo. Tal como um mar tempestuoso, com meus pensamentos confusos, eucostumava planejar maneiras de escapar da ira de Deus por alguns outrosmeios. Eu traava projectos estranhos, repletos de atesmo, planejando

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    desapontar os desgnios e decretos divinos a meu respeito ou de escaparde sua ateno e ocultar-me dEle.

    Mas ao reflectir vi que estes projectos eram vos e no me serviriam, eque eu nada poderia criar para meu prprio alvio; isso jogava minhamente na mais horrenda atitude, desejando que Deus no existisse, oudesejando que houvesse algum outro deus que pudesse control-Lo. Taispensamentos e desejos eram as inclinaes secretas do meu corao, por

    muitas vezes actuando antes que pudesse dar-me conta delas. Infeliz mente, porm, elas eram minhas, embora ficasse aterrorizado quandomeditava a respeito delas. E quando reflectia, afligia-me pensar que meucorao estivesse to cheio de inimizade contra Deus; e estremecia,temendo que sua vingana subitamente casse sobre mim.

    Antes costumava imaginar que meu corao no era to mau quanto asEscrituras e alguns outros livros o descreviam. Algumas vezes, esforava-me dolorosamente para moldar uma boa disposio, uma disposio humilde esubmissa; e esperava que houvesse alguma bondade em mim. Mas, de sbito,a ideia da rigidez da lei ou da soberania de Deus irritava tanto acorrupo do meu corao, o qual eu tanto vigiara e esperava ter trazido uma boa disposio, que tal corrupo rompia todas as ataduras eexplodia por todos os lados, como dilvios de guas quando desmoronam umarepresa.

    Sensvel necessidade de profunda humilhao a fim de ter umaaproximao salvadora, empenhava-me por produzir em meu prprio coraoas convices exigidas por tal humilhao, como, por exemplo, a convicode que Deus seria justo se me rejeitasse para sempre, e que se Eleconcedesse misericrdia a mim, seria pura graa, embora primeiro eu

    tivesse de estar aflito por muitos anos e muito atarefado em meu dever, eque Deus de modo algum estava obrigado a ter piedade de mim, por todas asminhas obras, clamores e lgrimas passadas.

    Eu me esforava ao mximo para trazer-me a uma firme crena nessas coisase a um assentimento delas de todo o corao. E esperava que agora euestaria livre demim mesmo, verdadeiramente humilhado, e prostrado dianteda soberania divina. Estava inclinado a dizer a Deus, em minhas oraes,que agora tinha exactamente essas disposies de alma que Ele requeria,com base nas quais Ele mostrara misericrdia para com outros, e

    alicerado nisto implorar e pleitear misericrdia para mim. Porm, quandono achava alvio e continuava oprimido pelo pecado e pelos temores daira, minha alma entrava em tumulto, e meu corao rebelava-se contraDeus, como se Ele estivesse me tratando duramente.

    Mas ento minha conscincia insurgia-se, fazendo-me lembrar de minhaltima confisso a Deus de que Ele era justo ao me condenar. E isso,dando-me uma boa viso da maldade de meu corao, jogava--me novamente emaflio; desejava ter vigiado mais de perto meu corao, impedindo-o derebelar-se contra a maneira como Deus estava me tratando. E at mesmochegava a desejar no ter pedido misericrdia com base em minha

    humilhao, porque, desse modo, perdera toda a minha aparente bondade.Assim, por muitas vezes inutilmente imaginava que estava humilhado epreparado para a misericrdia salvadora. E enquanto achava-me nesseestado mental aflito, confuso e em tumulto, a corrupo do meu coraomostrava-se especialmente irritada com as seguintes coisas.

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    1. A rigidez da lei divina. Descobri que me era impossvel, apesar demeus extremos sofrimentos, atender s exigncias dela. Com frequn ciatomava novas resolues e, com a mesma frequncia, as quebrava. Euimputava tudo falta de cuidado e necessidade de ser mais vigilante;costumava chamar-me de tolo por minha negligncia. Mas quando, com umaforte resoluo e com Maiores esforos, e com muita aplicao ao jejum e orao, descobria que todas as minhas tentativas falhavam, ficava

    contendendo com a lei de Deus como se fosse estupidamente rgida. Pensavaque se ela se estendesse somente aos meus actos e meu comportamentoexternos, ento poderia aguent-la; mas descobri que ela me condenava pormeus maus pensamentos e pelos pecados do meu corao, os quais eu nopodia impedir.

    Sentia-me extremamente relutante em admitir a minha total im potncianesta questo. Aps repetidos desapontamentos, pensava que antes deperecer eu poderia fazer um esforo ainda um pouco Maior, sobretudo seestas ou aquelas circunstncias acompanhassem meus esfor os etentativas. Eu esperava poder esforar-me mais ardentemente do que nunca,se a questo chegasse a tornar-se extrema, embora nunca pudesse achar otempo para fazer o meu mximo, da maneira como tencionava fazer. Essaesperana de circunstncias futuras mais favorveis, e de fazer algogrande dali por diante, guardava-me de um extremo desespero em ver-mecado nas mos de um Deus soberano, dependendo exclusiva mente de suagraa gratuita e ilimitada.

    2. Um outro ponto que me irritava era que somente a f era a condioda salvao, que Deus no baixaria jamais as suas condies, e que Eleno prometia vida e salvao baseado em minhas oraes e esforos

    sinceros, feitos de todo o corao. Aquela declarao de Marcos 16.16:"Quem, porm, no crer ser condenado", aniquilava todas as minhasesperanas ali mesmo. Descobri que a f um dom soberano de Deus, que euno poderia obt-la por mim mesmo, e que no poderia obrigar Deus aoutorg-la a mim, em troca de quaisquer das minhas realizaes (Efsios2.1-8). Eu estava pronto a dizer: "Duro este discurso, quem o podeouvir?" (Joo 6.60). No podia suportar que tudo quanto eu tinha feitopermanecia como nada, porquanto havia sido muito escrupuloso em meusdeveres de forma bem consciente; tinha sido muito religioso durante tantotempo, e, conforme eu pensava, feito muito mais do que muitos outros que

    j haviam obtido misericrdia.

    Eu confessava, de fato, a vileza de meus deveres; mas ento o que osfazia parecerem vis na ocasio era mais os meus pensamentos errantes doque o fato de estar eu todo contaminado como um demnio, sendo corrupta afonte de onde eles fluam, de tal maneira que me era impossvel fazerqualquer coisa de bom. Por isso, eu denominava o que fazia de honestosesforos fiis e no podia tolerar que Deus no tivesse feito qualquerpromessa de salvao com base neles.

    3. Uma outra coisa era que eu no podia descobrir o que era f, ou o

    que era crer em Cristo e vir a Ele. Eu lia os convites de Cristo aoscansados e sobrecarregados; mas no conseguia descobrir nenhum caminho aoqual Ele os direccionava a vir. Pensava que viria alegremente a Cristo,se soubesse como, pois pensava que a vereda do dever nunca fora todifcil. Li o livro de Stoddard, "Guia a Cristo" (que, conforme penso,

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    verdade, no procura vir a ela, porquanto a luz reprova os seus actos, erevela-lhe os seus justos merecimentos (Joo 3.20).

    Algum tempo antes, eu tivera muito empenho, conforme pensava, parasubmeter-me soberania de Deus. No entanto, entendi mal e no imaginavaque ver e ser experimentalmente sensvel a esta verdade, a qual agoraminha alma muito temia, e tremia, era exactamente a atitude de alma queeu to ardentemente havia desejado. Sempre havia esperado que, quando eu

    atingisse aquela humilhao que supunha ser necessrio para preceder af, no seria justo que Deus, ento, me rejeitasse. Mas agora eu via quereconhecer-me espiritualmente morto e destitudo de toda bondade, estavamuito distante de qualquer bondade que houvesse em mim, e que, aocontrrio, minha boca seria para sempre fechada pela minha verdadeiracondio; pois parecia-me espantoso ver a mim mesmo e a meurelacionamento com Deus eu como um pecador e criminoso, Ele como ogrande Juiz e Soberano como seria para uma pobre e trmula criaturaarriscar-se a descer por algum profundo precipcio.

    Assim sendo, adiava aventurar-me s mos de Deus e buscava melhorescircunstncias para faz-lo, tais como: se eu ler uma ou duas passagensbblicas, ou orar primeiro, ou fizer algo dessa natureza; ou ento adiarminha submisso a Deus com uma objeco, dizendo que no sabia comosubmeter-me a Ele. Mas a verdade era que no percebia qualquer seguranaem atirar-me nas mos de um Deus soberano, nem podia reivindicar qualquercoisa melhor do que a condenao.

    Aps um tempo considervel, passado em exerccios e aflies similares,certa manh, enquanto caminhava num local solitrio, de repente vi quetodas as minhas artimanhas e projectos para efectuar ou procurar

    livramento e salvao por mim mesmo eram coisas inteiramente inteis; efui trazido a uma posio em que me achava totalmente perdido. Muitasvezes antes havia pensado que as dificuldades em meu caminho eram muitograndes; mas agora percebia, sob outra e mui diferente luz, que parasempre me seria impossvel fazer qualquer coisa que me ajudasse oulibertasse. Ento pensei em acusar a mim mesmo, no sentido que no fizeramais, no me engajara mais, enquanto tivera oportunidade pois agoraparecia-me como se a oportunidade de fazer algo tivesse terminado e idopara sempre mas de pronto percebi que ter feito mais do que eu jfizera, em nada teria me ajudado; pois fizera todos os apelos possveis

    que poderia ter feito por toda a eternidade, e todos foram vos. Otumulto que antes tinha estado em minha mente, agora se aquietara; esenti-me um tanto aliviado daquela aflio que sentira quando lutavacontra a viso de mim mesmo e da soberania divina. Eu tinha a Maiorcerteza de que, por mais que eu fizesse, o meu estado de alma continuariamiservel para sempre, e admirei-me que nunca tivesse percebido issoantes.

    Enquanto permaneci nesse estado, minhas noes sobre os meus deveres erambem diferentes daquilo que nutrira em tempos passados. Antes, quanto mais

    cumpria meus deveres, mais difcil achava que seria para Deus rejeitar-me, ainda que, ao mesmo tempo, eu confessasse e pensasse que percebia nohaver qualquer bondade ou mrito em meus deveres. Agora, porm, quantomais orava ou fazia qualquer dever, mais via que estava endividado comDeus, por Ele permitir-me pedir por misericrdia; pois notava que o

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    egocentrismo tinha me levado a orar, e que nunca tinha orado uma vezsequer, motivado por qualquer respeito para com a glria de Deus. Agorapercebia que no havia qualquer conexo necessria entre as minhasoraes e a concesso da miseri crdia divina; que elas no colocavamsobre Deus a mnima obrigao de conferir-me a sua graa; e que no haviamais virtude ou bondade nelas do que em tentar remar com as mos (acomparao que naquele momento tinha em mente); e isso porque no eram

    feitas motivadas por qualquer amor ou considerao para com Deus. Percebique vinha acumulando as minhas devoes diante de Deus, jejuando, orando,etc., fingindo, ou algumas vezes realmente pensando, que visava a glriade Deus, quando de fato eu no a buscava, mas somente a minha prpriafelicidade.

    Vi que, como nunca havia feito qualquer coisa por Deus, no tinhareivindicao alguma em qualquer coisa dEle, a no ser a perdio porconta da minha hipocrisia e escrnio. Oh, quo diferentes pareciam agoraos meus deveres do que costumavam parecer! Costumava atribuir-lhes pecadoe imperfeio; mas isto acontecia somente por causa dos pensamentos vagos

    e vos que os acompanhavam, e no por causa da falta de considerao porDeus, pois isto eu achava que tinha. Mas quando vi claramente que nadaconsiderava a no ser meus prprios interesses, ento meus deverespareceram-me um vil escrnio de Deus, uma auto-adorao, e um caminhorecoberto de mentiras. Notei que algo pior do que meras distraces tinhaacompanhado os meus deveres; pois tudo no passava de auto-adorao, e umhorrendo abuso de Deus.

    Prossegui nesse estado mental desde sexta-feira pela manh at noite dosbado (12 de Julho de 1739), quando eu novamente caminhava naquele mesmo

    lugar solitrio onde fui levado a ver-me como perdido e desamparado. Ali,num lamentoso estado melanclico, estava tentando orar, mas descobri quemeu corao no queria envolver-se em orao ou cumprir qualquer outrodever. Agora havia sumido minha preocupao anterior, meus exerccios eafectos religiosos. Pensei que o Esprito de Deus havia me deixadototalmente. Porm, eu no me sentia angustiado; mas sentia-medesconsolado, como se nada, no cu e na terra, me pudesse fazer feliz.

    Tendo assim estado me esforando a orar por quase meia hora, embora, comopensei, isso fosse muito estpido e insensato; ento, quando caminhavanum bosque espesso e escuro, uma glria indizvel pareceu-me ter aberto

    os olhos e a compreenso de minha alma. No estou falando de qualqueresplendor externo, porquanto no vi tal coisa; e nem quero referir-me aqualquer imaginrio corpo de luz, em algum lugar no terceiro cu, ou aqualquer coisa desta natureza. Foi uma nova compreenso ou viso interiorque tive de Deus, tal como nunca tivera antes, nem ainda qualquer coisaque tivesse a mnima aparncia desta compreenso.

    Permaneci quieto, admirado e maravilhado! Eu sabia que nunca antespercebera qualquer coisa comparvel com aquilo, em excelncia e beleza;foi algo totalmente diferente de todas as noes que tivera sobre Deus ou

    das coisas divinas. No recebi compreenso particular de qualquer daspessoas da Trindade, quer o Pai, o Filho ou o Esprito Santo; masparecia-me estar contemplando a glria divina. Minha alma rejubilou-secom uma alegria indizvel, por contemplar tal Deus, um tal divino eglorioso Ser; e interiormente sentia-me deleitado e satisfeito, pelo fato

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    de que Ele seria Deus sobre tudo e para todo sempre. Minha alma estavato cativada e deleitada com a excelncia, a amabilidade, a grandeza eoutras perfeies de Deus, e estava to absorvida nEle, que eu nopensava, conforme lembro, acerca de minha prpria salvao, e malreflectia que existia tal criatura como eu.

    Foi assim que Deus, eu creio, trouxe-me uma disposio, de todo ocorao, de exalt-Lo, de entroniz-Lo e de, suprema e final mente, visar

    sua honra e glria como Rei do universo. Continuei nesse estado dealegria, paz e admirao at quase escurecer, sem qualquer sensvelabatimento. Ento comecei a pensar e a examinar o que eu tinha percebido;senti-me docemente sereno por toda a noite que se seguiu. Sentia-me em ummundo novo e tudo ao meu redor aparecia com um aspecto diferente do queaparecera antes.

    Foi nesse tempo que abriu-se para mim o caminho da salvao, com talsabedoria, convenincia e excelncia infinitas, que cheguei a admirar-mede ter pensado de qualquer outra maneira a respeito da salvao; eadmirei-me que no tivesse desistido mais cedo de minhas prpriasastcias e acedido a esse amorvel, bendito e excelente ca minho. Se eutivesse sido salvo atravs de meus prprios deveres, ou por qualqueroutro meio que tivesse inventado antes, agora toda a minha alma teriarejeitado tais meios. Admirei-me que o mundo inteiro no percebia e nemacedia ao verdadeiro caminho da salvao, total mente baseado najustiade Cristo.

    A doce satisfao do que eu ento senti, prosseguiu comigo por diversosdias, quase constantemente, em Maior ou menor intensidade. Eu no podiaseno regozijar-me docemente em Deus, quando me deitava ou me levantava.

    No domingo seguinte senti algo do mesmo tipo, embora no to poderosoquanto antes. Mas no muito depois, fui novamente envolvido por trevas egrande agonia; contudo, no no mesmo deses pero que sentia quando sobconvico. Eu era culpado, estava temeroso e envergonhado para vir aDeus, e muitssimo pressionado por um forte senso de culpa; mas, nodemorou muito para que sentisse verdadeiro arrependimento e gozo em Deus.

    No incio de Setembro fui para a universidade [Yale College em New Haven,hoje Yale University] e me inscrevi ali; mas com algum grau derelutncia, temendo que ali no seria capaz de levar uma vida

    estritamente piedosa, em meio a tantas tentaes. Depois disto, antes quecomeasse as aulas, agradou a Deus visitar-me com mais clarasmanifestaes de Si mesmo e de sua graa. Estava passando algum tempo emorao e auto-exame, quando o Senhor, por sua graa, res plandeceu de talmaneira em meu corao que desfrutei da plena certeza do seu favor. Minhaalma foi indizivelmente refrigerada pelos divinos e celestiais prazeres.Foi especialmente nesta ocasio, assim como em algumas outras, quediversas passagens da Palavra de Deus abriram-se para minha alma comclareza, poder e doura divinos, ao ponto de me parecerem notavelmentepreciosas, com clara e certa evidncia de serem elas a palavra de Deus.

    Desfrutei de considervel dulor na religio, durante todo o inverno quese seguiu.

    Em Janeiro de 1740 houve um grande surto de sarampo na uni versidade; eeu, que apanhei a doena, voltei para casa, em Haddam. Mas alguns diasantes de ter ficado doente, sentia-me muito desamparado e minha alma

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    lamentava deveras a ausncia do Consolador. Parecia-me que todo consolose fora para sempre. Orava e clamava a Deus, mas no achava consolo ealvio. Mas atravs da benignidade divina, uma noite ou duas antes decair doente, enquanto caminhava sozinho por um lugar bem retirado,ocupado em meditao e orao, desfrutei de uma doce e refrescantevisita, vinda do alto, de tal modo que minha alma foi soerguida bem acimados temores da morte. De fato, eu mais desejei a morte do que a temi. Oh,

    quo refrescante foi aquele perodo, mais do que todos os prazeres edelcias que a terra pode oferecer.

    Um ou dois dias depois de ter sido tomado pelo sarampo, estive muidoente, de tal modo que quase desesperei da vida, mas no tive temoresangustiosos da morte. Mediante a bondade divina logo me recuperei;todavia, devido ao rduo estudo e a estar muito exposto a interrupescomo aluno do primeiro ano do curso, tinha pouco tempo para os meusdeveres espirituais, e minha alma com frequncia chorava, por necessidadede mais tempo e oportunidade para estar a ss com Deus. Na primavera e,no vero seguinte, tive melhores opor tunidades de descanso e gozei mais

    consolo na religio, embora minha ambio em meus estudos prejudicassebastante o vigor e as actividades de minha vida espiritual. Entretanto,usualmente ocorria comigo que "na multido de meus pensamentos ntimos, oconforto de Deus deleitava principalmente a minha alma". Estas eramminhas Maiores consolaes dia a dia.

    Certo dia, penso que foi em Junho de 1740, caminhei at uma considerveldistncia da universidade, ficando sozinho nos campos e, em orao,encontrei to indizvel doura e deleite em Deus que pensei que setivesse de continuar neste mundo maligno, eu gostaria de estar sempre

    ali, para contemplar a glria de Deus. Minha alma amava terna mente ahumanidade inteira, e anelava extraordinariamente que todos desfrutassemdo que eu desfrutava. Parecia ser uma pequena semelhana do cu.

    Em Agosto fiquei com a sade to abalada, por muita aplicao aosestudos, que fui aconselhado por meu professor a voltar para casa,desprendendo a minha mente dos estudos tanto quanto pudesse, pois haviame tornado to dbil que comecei a cuspir sangue. Aceitei o conselho delee esforcei-me para pr de lado os meus estudos. Pelo fato de estar em umpssimo estado de sade, contemplei a morte face a face. Ao Senhoragradou dar-me renovadamente um doce prazer e senso das coisas divinas.

    Particularmente a 13 de Outubro, fui divina mente consolado e ajudado nospreciosos deveres da orao secreta e do auto-exame, e minha almadeleitou-se no Deus bendito e da mesma forma a 17 de Outubro.

    18 de Outubro. Durante minhas devoes matutinas, minha alma sentiu-seextremamente terna e lamentei amargamente minha grandepecaminosidade evileza. Nunca antes havia tido um senso to pungente e profundo danatureza odiosa do pecado, como nesta ocasio. Minha alma foinotavelmente envolvida pelo amor a Deus, e tive um vvido senso do amorde Deus por mim. Este amor e esperana, nesta ocasio, lanaram fora o

    temor.Dia do Senhor, 19 de Outubro. Pela manh, senti minha alma faminta esedenta de justia. Enquanto contemplava os elementos da Ceia do Senhor emeditava que Jesus Cristo agora era "revelado diante de mim comocrucificado", minha alma encheu-se de luz e amor, de tal modo que quase

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    estive num xtase, enquanto meu corpo estava to fraco que quase nopodia ficar em p. E, ao mesmo tempo, senti uma extrema ternura e o maisardente amor para com toda a humanidade, de maneira tal que minha alma etodas as minhas energias, por assim dizer, pareciam derreter-se emternura e doura.

    21 de Outubro. Tive experincia da bondade de Deus, em "der ramar de seuamor em meu corao", dando-me deleite e consolo em meus deveres

    religiosos; e durante todo o resto da semana minha alma parecia atarefadanas coisas divinas. Agora eu tanto ansiava por Deus e por ser liberto dopecado que, quando senti que estava me recuperando e pensei que deveriavoltar universidade, a qual tinha se mostrado to prejudicial aos meusinteresses espirituais no ano anterior, no pude seno ficar preocupado,e preferiria morrer, pois afligia-me pensar em afastar-me de Deus. Masantes de voltar, desfrutei de vrias outras ocasies, doces e preciosas,de comunho com Deus (particularmente a 30 de Outubro e 4 de Novembro),nas quais minha alma gozou de indizvel consolo.

    Voltei universidade em cerca de 6 de Novembro, e, pela bondade de Deus,senti o poder da religio quase diariamente, pelo espao de seis semanas.

    28 de Novembro. Na minha devoo nocturna, apreciei preciosas descobertassobre Deus e fui indizivelmente confortado pela passagem de Hebreus12.22-24. Minha alma desejava alar vo at ao paraso de Deus; aneleiconformar-me com Deus em todas as coisas. Um dia ou dois depois, muito mealegrei com a luz da face de Deus, na Maior parte daquele dia; e minhaalma descansou em Deus.

    9 de Dezembro. Senti-me em um confortvel estado de esprito a Maiorparte do dia, mas sobretudo durante minhas devoes vespertinas, quando aDeus agradou assistir-me e fortalecer-me maravilhosamente, de tal modoque pensei que coisa alguma jamais me afastaria do amor de Deus em CristoJesus, meu Senhor. Oh! uma hora com Deus ultrapassa infinitamente todosos prazeres e deleites deste mundo terreno.

    Aproximando-se a parte final de janeiro de 1741, fiquei mais frio eembotado na religio por causa de minha velha tentao, a ambio nosmeus estudos. Mas, devido vontade divina, um grande e gene ralizadodespertamento propagou-se pela universidade, j nos fins de Fevereiro,pelo qual fui muito estimulado, e engajei-me mais abundante mente na

    religio.

    O MOTIVO PELO QUAL BRAINERD FOI EXPULSO

    DA UNIVERSIDADE

    Explicao de Jonathan Edwards

    Esse despertamento ocorreu no comeo daquele notvel movimento religiosoque ento prevaleceu pelo pas inteiro, do qual o Yale Collegecompartilhou largamente. Durante treze meses, a partir desse tempo,

    Brainerd manteve um dirio constante, com um relato minucioso do queaconteceu, dia aps dia, perfazendo dois volumes de manuscritos. Masquando jazia em seu leito de morte, deu ordens (que eu desconhecia atdepois de sua morte) para que esses dois volumes fossem destrudos,inserindo uma nota, no comeo dos manuscritos seguintes, dizendo que um

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    exemplar de sua maneira de viver durante todo aquele perodo se acharianas primeiras trinta pginas seguintes (terminando a 15 de Junho de1742), exceto que agora ele seria mais "refinado de algumas im prudnciase fervores intolerveis" do que antes.

    Uma circunstncia na vida de Brainerd, que muito ofendeu aos diretores dauniversidade e ocasionou sua expulso, necessrio que seja narradaaqui. Durante o despertamento na universidade houve vrios estudantes

    religiosos que se associaram para dilogo e assistncia mtua em questesespirituais. Os participantes costumavam abrir o corao livremente umpara o outro, como amigos especiais e ntimos; e Brainerd fazia parte dogrupo. Sucedeu certa vez que ele e mais dois ou trs desses amigosntimos estavam juntos no salo, depois que o Sr. Whittelsey, um dosprofessores, tinha orado na presena dos alunos e nenhuma outra pessoapermanecia agora no salo, exceto Brainerd e seus companheiros. Tendo oSr. Whittelsey se mostrado incomumente pattico em sua orao, um dosamigos de Brainerd, na ocasio, perguntou-lhe o que pensava do Sr.Whittelsey. E Brainerd respondeu: "Ele no tem mais graa do que esta

    cadeira". Um dos primeiranistas, que no momento estava perto do salo(embora no no interior do mesmo), ouviu por acaso estas palavras.

    Ainda que esta pessoa no tivesse ouvido qualquer nome men cionado, e nosoubesse quem fora assim censurado, informou a certa mulher na cidade,sem dizer-lhe ser sua prpria suspeita, que Brainerd dissera aquiloacerca de um dos diretores da universidade. Ela ento contou ao reitor, eeste mandou chamar o primeiranista e fez-lhe in dagaes. O aluno disseao reitor as palavras que ouvira Brainerd proferir e informou-o quemestivera no salo com Brainerd naquela ocasio. Com base nisto o reitor

    mandou cham-los. Eles foram muito relutantes em prestar informaescontra seu amigo acerca daquilo que conside ravam como uma conversaparticular, mormente porque ningum, seno eles, tinha ouvido ou sabiaacerca de quem Brainerd havia dito aquelas palavras. Contudo, o reitorcompeliu-os a declarar o que ele dissera e acerca de quem falara.

    Brainerd considerou-se muito maltratado na administrao da questo;achou que ela fora injuriosamente extorquida dos seus amigos e, ento,injustamente lhe foi requerido como se fosse culpado de algum crimeaberto e notrio fazer uma confisso pblica e humilhar-se diante detoda a universidade, por aquilo que dissera apenas em conversa

    particular. No concordando com esta exigncia e tendo ido a uma reunioem New Haven, embora proibido disso pelo reitor, e tambm tendo sidoacusado por uma pessoa de haver dito acerca do reitor que "admirava-seque o reitor no esperasse cair morto por haver multado os estudantes queseguiram o Sr. Tennent at Milford", embora no houvesse qualquer provadisso (e Brainerd sempre disse que no se lembrava de jamais ter faladoqualquer coisa com aquele propsito), por causa dessas coisas, Brainerdfoi expulso da universidade.

    At onde as circunstncias e exigncias daquele dia poderiam justificar

    to grande severidade por parte dos directores da universidade, notentarei determinar; pois o meu alvo no trazer oprbrio sobre asautoridades da universidade, mas apenas fazer justia memria de umapessoa que foi, eu acho, eminentemente um daqueles cuja memria abenoada. O leitor perceber, na sequncia (particularmente sob as

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    datas de 14 e 15 de Setembro de 1743), quo crist foi a maneira queBrainerd conduziu-se no tocante a essa questo. Ainda que ele sempre,enquanto viveu, julgou-se maltratado na administrao desta questo,tendo sofrido por isso. Sua expulso deu-se no inverno de 1742, estandoele no terceiro ano da universidade.

    Captulo 2

    Do tempo em que comeou a estudar teologia, at ser licenciado parapregar

    Abril - Julho de 1742

    Na primavera de 1742, Brainerd foi residir com o Pastor Mills, de Ripton,a fim de continuar seus estudos com ele, para a obra do ministrio. Alipassou a Maior parte do seu tempo, at que foi licen ciado para pregar;com frequncia ia a cavalo visitar os ministros da vizinhana, sobretudoo Pastor Cooke, de Stratford, o Pastor Graham, de Southbury, e o PastorBellamy, de Bethlehem. Enquanto estava com o Pastor Mills, comeou aescrever o terceiro livro de seu dirio, do qual apresentamos osseguintes textos. - Jonathan Edwards

    1o de Abril de 1742. Parece que estou em declnio no tocante minha vidae ao fervor quanto s coisas divinas. No tenho tido muito livre acesso aDeus em orao como costumava. Oh! Que Deus me humilhasse profundamenteao p, perante Ele! Mereo o inferno a cada dia, por no amar mais ao meuSenhor, o qual, como creio, "me amou e a si mesmo se entregou por mim"(Glatas 2.20). Cada vez que sou capacitado, renovadamente, a exercerqualquer graa, fico mais endi vidado com o Deus de toda a graa por sua

    assistncia especial. "Onde, pois, a jactncia?" Por certo, "foi de todoexcluda" (Romanos 3.27), quando pensamos sobre quo dependentes somos deDeus pela nossa existncia e por todo ato de sua graa. Oh! Se algum diaeu chegar ao cu, assim ser porque agrada a Deus e nada mais; pois demim mesmo nunca fiz qualquer coisa, seno afastar-me dEle! Minha almaficar embevecida diante das insondveis riquezas da graa divina, quandoeu chegar nas manses que o bendito Senhor foi preparar-nos.

    2 de Abril. Em orao secreta, tarde, senti-me muito resignado, calmo esereno. Que so todas as tempestades deste mundo terreno se Jesus, por

    seu Esprito, vem caminhando por sobre as guas! Algum tempo atrs tivemuito prazer diante da perspectiva dos ndios serem conduzidos a Cristo,e desejei que o Senhor me usasse nessa tarefa; mas agora, com Maiorfrequncia, minha alma deseja morrer para estar com Cristo. Oh, que minhaalma fosse envolvida pelo amor divino, que meus anelantes desejos porDeus se intensificassem! noitinha fui refrigerado pela orao, nasesperanas do avano do reino de Cristo no mundo. Dia do Senhor, 4 deAbril. Meu corao estava vagueante e sem vida. noite, Deus deu-me fem orao, fazendo minha alma enternecer-se em parte, e deu-me a provaruma doura divina. Oh, meu Deus bendito! Deixe-me subir para bem perto

    dEle, e am-Lo, e anelar por Ele, pleitear, lutar, e expandir-me at Ele,para libertao do corpo do pecado e da morte. Ai de mim! Minha almalamenta ao pensar que pode perder de vista novamente o seu Amado. ''Amm. Vem, Senhor Jesus.''

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    noitinha do dia seguinte, ele queixava-se que parecia estar vazio detodo o deleite das coisas divinas, sentia muito da prevalncia dacorrupo, e via em si mesmo uma disposio para todo o gnero de pecado.Isso trouxe uma mui grande tristeza sua mente e lanou-o nasprofundezas da melancolia, ao ponto de falar de si mesmo como pasmado,no tendo conforto, mas cheio de horror, no vendo consolo algum na terraou no cu. - J.E.

    6 de Abril. Fiz um passeio nesta manh; tive um comovente senso de minhaprpria maldade; e clamei a Deus para limpar-me, para conceder-mearrependimento e perdo. Ento comecei a achar doce o orar. Pude pensarsobre suportar, prazerosamente, os Maiores sofri mentos na causa deCristo; pude achar-me disposto, se Deus assim o ordenasse, a sofrerbanimento de minha terra nativa e estar entre os pagos, para que pudessefazer algo pela salvao deles, em aflies e morte de qualquer tipo.Ento Deus permitiu-me lutar com fervor por outras pessoas, pelo reino deCristo no mundo, e por queridos amigos crentes.

    8 de Abril. Surgiram esperanas acerca dos pagos. Oh, que Deus tragagrandes nmeros deles a Jesus Cristo! No posso seno esperar que vereiesse dia glorioso. Neste mundo, tudo me parece excessivamente vil einferior; e assim pareo ser a mim mesmo. Hoje, tive uma pequena aurorade conforto em orao; e especialmente noite, acho que tive alguma f e

    poder de intercesso com Deus. Fui capacitado a pleitear pelo crescimentoda graa em mim mesmo; e ento muitos dos queridos filhos de Deus caramcom peso sobre meu corao? Bendito seja o Senhor! bom lutar pelasbnos divinas.

    10 de Abril. A Maior parte do meu tempo, em minhas devoes matinais, foi

    gasto sem sensvel doura; contudo, tive uma deleitosa esperana dechegar ao mundo celeste. Estou mais admirado do queantes diante de taispensamentos; pois vejo a mim mesmo como infinita mente vil e indigno.Nenhuma criatura to carente da graa divina quanto eu, e ningum temabusado tanto dela quanto eu, e ainda assim o fao.

    Dia do Senhor, 11 de Abril. Pela manh parecia-me que tinha pouca vida;mas, de algum modo, meu corao dilatou-se em agradeci mento a Deus porsua admirvel graa e condescendncia para comigo, nas influncias eassistncias do seu Esprito. Mais tarde, senti alguma doura nos

    pensamentos de chegar ao mundo celeste. Oh, quando chegar aquele diafeliz? Aps o culto pblico, Deus deu-me uma ajuda especial em orao;lutei com meu querido Senhor, e a intercesso tornou-se-me uma actividadedeleitosa. noitinha, quando olhava a aurora boreal, deleitei-me nacontemplao da gloriosa manh da ressurreio.

    12 de Abril. Nesta manh, o Senhor agradou-se em levantar a luz do seurosto sobre mim, em orao secreta, e fez aquele momento muito preciosopara a minha alma. Embora tenha me sentido to deprimido antigamente,acerca de minhas esperanas de servio futuro na causa de Deus, contudo,hoje fiquei muito encorajado. Fui especialmente ajudado a interceder e

    pleitear pelas pobres almas, e pela ampliao do reino de Cristo nomundo, e por uma graa especial para mim mesmo, a fim de preparar-me paraservios especiais. Minha f elevou-me acima do mundo e removeu todasaquelas montanhas por cima das quais, no pas sado, eu no podia olhar.No quis o favor dos homens para apoiar-me, pois sabia que o favor de

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    Cristo infinitamente melhor, e que a questo no quando, nem paraonde, e nem como Cristo me enviar, nem com quais provaes Ele ainda meexercitar, se eu tiver de ser pre parado para seu trabalho de acordo coma sua vontade.

    14 de Abril. Minha alma ansiava por comunho com Cristo, bem como pelamortificao da corrupo interior, especialmente o orgulho espiritual.Oh, um doce dia se aproxima, no qual "repousam os can sados!" (J 3.17).

    Minha alma tem gozado de muita satisfao, hoje, na esperana da rpidachegada daquele dia.

    15 de Abril. Sentindo meus desejos centrados em Deus, tive grandeatrao de alma por Ele, em vrios momentos do dia. Sei que anelo porDeus e pela conformidade com a sua vontade, pela pureza e santidadeinteriores, dez mil vezes mais do que por qualquer coisa terrena.

    Dia do Senhor, 18 de Abril. Cedo pela manh, retirei-me ao bosque paraorao; tive a assistncia do Esprito de Deus, e minha f foiexercitada; fui capacitado a pleitear fervorosamente pelo avano do reino

    de Cristo no mundo, e a interceder em favor de queridos amigos ausentes.Ao meio-dia, Deus permitiu-me lutar com Ele e sentir, como creio, o poderdo amor divino em orao. noite, vi-me infinitamente devedor a Deus etive percepo de minhas falhas em meus deveres. Pareceu-me como se eunada tivesse feito por Deus, e que tinha vivido para Ele apenas algumashoras durante toda a minha vida.

    19 de Abril. Dediquei este dia ao jejum e orao a Deus, pedindo a suagraa, especialmente para preparar-me para a obra do ministrio, paradar-me ajuda e orientao divinas e, no tempo por Ele escolhido,enviar-me sua seara. De acordo com isso, pela manh esforcei-mepor pleitear pela presena divina para o dia, e isso com certamanifestao de vida. Ainda pela manh, senti o poder da intercessopelas almas imortais e preciosas, pelo avano do reino de meu queridoSenhor e Salvador no mundo, e tambm senti a mais doce resignao, atmesmo consolo e alegria diante da ideia de sofrer dificuldades, afliese a prpria morte, na promoo do reino; senti minha alma expandir-se aorogar pela iluminao e converso dos pobres pagos.

    tarde, Deus esteve comigo de verdade. Oh, realmente foi uma benditacompanhia! Deus capacitou-me para agonizar em orao, ao ponto de eu

    ficar molhado de suor, embora estivesse na sombra e a brisa fosse fresca.Minha alma foi muito dilatada em favor do mundo; eu ansiava pormultidesde almas. Penso que me preocupei mais pelos pecadores do que pelos filhosde Deus, embora sentisse que poderia passar a minha vida clamando porambos. Tive grande gozo em comunho com meu querido Salvador. Penso quenunca em minha vida senti tal desapego total deste mundo, e to resignadoa Deus em todas as coisas. Oh, que eu sempre viva para, e na dependnciado meu Deus bendito! Amm, amm.

    20 de Abril. Estou completando hoje vinte e quatro anos de idade. Oh,quanta misericrdia recebi no ano passado! Com quanta frequncia Deus tem"feito a sua bondade passar diante de mim". E quo pobre mente tenhorespondido aos votos feitos um ano atrs, para ser totalmente do Senhor,para ser dedicado para sempre ao seu servio! Que, no futuro, o Senhor meajude a viver mais para a sua glria. Hoje tem sido um dia doce e feliz

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    para mim; bendito seja Deus. Penso que minha alma nunca foi to dilatadana intercesso por outros como sucedeu-me esta noite. Tive uma lutafervorosa com o Senhor em favor de meus inimigos; e dificilmente tantodesejei antes viver para Deus, dedicar-me totalmente a Ele; queria gastarminha vida em seu servio e para a sua glria.

    21 de Abril. Senti muita calma e resignao; e Deus, uma vez mais,capacitou-me a lutar por muitas almas, e deu-me fervor no doce dever da

    intercesso. De algum tempo para c tenho podido desfrutar mais da dourada intercesso pelo prximo do que de qualquer outro aspecto da orao.Meu bendito Senhor deveras tem-me permitido chegar mais perto dEle, a fimde fazer-Lhe minhas peties.

    Dia do Senhor, 25 de Abril. Hoje pela manh passei cerca de duas horas emdeveres secretos, e fui capacitado, mais do que nunca, a agonizar pelasalmas imortais. noite eu estava muito enternecido com o amor divino epude sentir algo da bem-aventurana do mundo superior. As palavras doSalmo 84.7 arrebataram-me com muita doura divina: "Vo indo de fora emfora; cada um deles aparece diante de Deus em Sio". Como Deus, vez poroutra, nos concede um acesso at bem perto dEle, em nossos apelos a Ele!Isso bem pode ser designado de "aparecer diante de Deus". De fato, assimsucede, em um verdadeiro sentido espiritual e no mais aprazvel sentido.Penso que nestes vrios meses no tenho tido tal poder de intercesso,tanto pelos filhos de Deus quanto pelos pecadores mortos, como tive nestanoite. Desejei e ansiei pela vinda de meu querido Senhor; desejei juntar-me s hostes de anjos em louvores, totalmente livre da imperfeio. Oh, obendito momento se aproxima! Tudo quanto quero ser mais santo, maisparecido com meu querido Senhor. Oh, quero muito a santificao! Minha

    prpria alma anela pela completa restaurao da bendita imagem de meuSalvador, a fim de que eu esteja pronto para os benditos aprazimentos eactividades no mundo celeste.

    "Adeus, mundo vo; minha alma pode dar-te adeus.

    MEU SALVADOR ensinou-me a abandonar-te.

    Teus encantos podem satisfazer a uma mente sensual;

    Mas no podem alegrar uma alma destinada a DEUS.

    Reprime tua atraco; cessa de chamar a minha alma;

    Est fixado pela graa: meu Deus ser meu TUDO.Enquanto Ele assim me permitir ver as glrias celestes,

    Tuas belezas murcham, no h lugar para ti no meu corao."

    O Senhor refrigerou-me a alma com muitos doces trechos de sua Palavra.Oh, a Nova Jerusalm! Minha alma deseja-a muito. Oh, o cntico de Moisse do Cordeiro! E aquele cntico bendito que ningum pode aprender, excetoos que foram "remidos da terra!"

    "Senhor, sou aqui um estranho solitrio;

    A terra nenhum consolo verdadeiro pode oferecer;

    Embora ausente de meu mais Querido,

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    Minha alma compraz-se em clamar: Meu Senhor!

    Jesus, meu Senhor, meu nico amor,

    Possui minha alma e dali no te apartes,

    Concede-me amveis visitas, Pomba celestial:

    Meu Deus ter ento todo o meu corao."

    27 de Abril. Levantei-me e retirei-me cedo para minhas devoes secretas;

    e, em orao, Deus agradou-se em derramar to inefveis consolos em minhaalma que, por algum tempo, eu nada pude fazer seno dizer, por repetidasvezes: Oh, meu doce Salvador! a "quem mais tenho eu no cu? No h outroem quem eu me compraza na terra" (Salmo 73.25). Se tivesse mil vidas,minha alma jubilosamente as teria oferecido todas de uma vez, para estarcom Cristo. Minha alma nunca antes gozou tanto do cu; foi o maisrefinado e o mais espiritual perodo de comunho com Deus que jexperimentei.

    28 de Abril. Dirigi-me ao meu lugar usual de retiro, em grande paz e

    tranquilidade, gastei duas horas em deveres secretos, e experimenteitanto quanto ontem pela manh, apenas mais fraco e mais submisso. Euparecia depender totalmente de meu querido Senhor, desvinculado de todasas outras dependncias. No sabia o que dizer ao meu Deus, mas somentereclinar em seu peito, por assim dizer, e exprimir os meus desejos poruma perfeita conformidade com Ele, em todas as coisas. Minha alma foipossuda por desejos sedentos de uma perfeita santidade e por anelosinsaciveis. Deus tornou-se to precioso para mim que o mundo, com todosos seus prazeres, tornou-se infinitamente vil. No tive mais consideraopelo favor dos homens do que teria pelas pedrinhas. O Senhor era meu

    Tudo, e saber que Ele governa tudo muito me deleitou. Penso que minha fe dependncia dEle jamais se elevaram tanto. Eu O vi como uma tal fontede bondade que pareceu-me impossvel que pudesse desconfiar dEle de novo,ou a estar de algum modo preocupado com qualquer coisa que pudesse mesuceder.

    Agora tenho grande satisfao ao orar por amigos ausentes e pelapropagao do reino de Cristo no mundo. Muito do poder desses divinosaprazimentos permaneceu comigo durante o dia. A noitinha, meu coraoparecia desfazer-se e creio que realmente fui humilhado por causa dacorrupo interior, e "lamentei-me como uma pomba". Percebi que toda aminha infelicidade vem do fato que sou umpecador. Com resignao poderiadar boas-vindas a todas as outras provaes; mas o pecado pende duramentesobre mim, pois Deus desvendou-me a corrupo de meu corao. Fui deitar-me com o corao pesado,por ser eu um pecador, posto que de modo algumtenha duvidado do amor de Deus. Oh, que Deus me "expurgasse de toda aminha escria e tirasse o meu metal impuro", fazendo-me dez vezesrefinado!

    1o de Maio. Pude clamar a Deus com grande fervor, por quali ficaesministeriais, rogando-Lhe que se manifeste para o avano de seu reino e

    que Ele atraia os pagos. Fui muito ajudado em meus estudos. Para mim,esta tem sido uma semana proveitosa; e tenho desfrutado de muitascomunicaes do bendito Esprito em minha alma.

    13 de Maio (em Wethersfield). Percebi tanto da iniquidade do meu corao

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    que desejei fugir de mim mesmo. Nunca antes pensei que houvesse tantoorgulho espiritual em minha alma. Senti-me quase pres sionado a morrer coma minha prpria maldade.

    14 de Junho. Senti algo da doura da comunho com Deus, bem como a foraconstrangedora de seu amor; quo notavelmente esse amor cativa a alma, efaz com que todos os desejos e afectos centralizem-se em Deus! Separeieste dia para jejum e orao secretos, para rogar a Deus dirigir-me e

    abenoar-me no tocante grande obra que tenho em vista, pregar oevangelho e para que o Senhor volte para mim e, individualmente,"mostre-me a luz de seu rosto".

    Tive pouca vida e poder pela manh; pela metade da tarde Deus capacitou-me a lutar ardorosamente em intercesso por amigos ausentes; mas foisomente noite que o Senhor me visitou maravilhosamente em orao. Pensoque minha alma nunca esteve antes em tal agonia. No senti empecilhos,pois os tesouros da graa divina foram abertos para mim. Lutei em favorde amigos ausentes, pela colheita de almas, por multides de pobresalmas, e por muitos que julgo serem filhos de Deus, em muitos lugaresdistantes. Estive em tal agonia de alma, de meia hora antes do pr-do-solat quase chegarem as trevas da noite, que fiquei todo molhado de suor.No entanto, pareceu-me que tinha desperdiado o dia e que nada fizera.Oh, o meu querido Salvador suou sangue pelas pobres almas! Muito desejeiter mais compaixo pelas almas. Senti-me ainda em uma atitude meiga,debaixo de um senso do amor e da graa divinos; e recolhi-me ao leito comessa atitude, com o corao posto em Deus.

    15 de Junho. Tive os mais ardentes anelos por Deus. Ao meio-dia, em meuretiro secreto, nada pude fazer seno dizer a meu querido Senhor, em doce

    calma, que Ele sabia que eu nada desejava a no ser Ele mesmo, nada senosantidade; que Ele mesmo me concedera esses desejos, e somente Elepoderia dar-me o que eu desejava. Eu nunca parecera estar to desprendidode mim mesmo e estar to completamente consagrado a Deus. Meu coraoestava totalmente absorvido em Deus durante a Maior parte do dia. noitinha tive uma viso de minha alma, como que sendo expandida paraconter mais santidade, de modo que parecia pronta a separar-se de meucorpo. Em seguida, lutei em agonia pelas bnos divinas; tive meucorao dilatado em orao por alguns amigos crentes, alm do que jtivera antes. Sentia-me diferente do que quando sob quaisquer gozos

    anteriores; mais empenhado a viver para Deus para sempre, e menoscontente com minhas prprias disposies. No estou satisfeito com minhasdisposies, nem me sinto de qualquer modo mais vontade depois dessaslutas do que antes, pois parece-me que tudo quanto fao pouco demais.Quem me dera que sempre fosse assim. Oh, quo aqum eu fico da minhaobrigao em meus mais doces momentos!

    18 de Junho. Considerando minha grande inaptido para a obra doministrio, minha presente falta de aco, e minha total inabilidade parafazer qualquer coisa para a glria de Deus naquela direco e sentindo-me

    muito desamparado, e muito incerto sobre o que o Senhor quer que eu faa,separei este dia para orar a Deus e passei a Maior parte dele nessedever; mas fiquei admiravelmente desamparado durante grande parte dotempo. Contudo, achei Deus graciosamente prximo, particular mente emcerto momento. Enquanto rogava por mais compaixo pelas almas imortais,

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    meu corao pareceu abrir-se imediatamente e fui ca paz de clamar comgrande veemncia por alguns minutos. Oh, fiquei angustiado ao pensar queestava oferecendo um culto to frio e morto ao Deus vivo! Minha almaparecia aspirar por santidade, uma vida de devoo permanente ao Senhor.Mas algumas vezes sinto-me quase perdido na busca dessa bno, pronto aafundar-me, pois constante mente fico aqum, e perco de vista meu desejo.Oh, que o Senhor me ajude a aguentar, ao menos um pouco mais, at que

    chegue a hora feliz do livramento!30 de Junho. Passei o dia sozinho no bosque, em jejum e orao;experimentei os mais temveis conflitos de alma. Percebi-me to vil queestava pronto a dizer: "Venha eu a perecer nas mos de Saul" (1 Sa muel27.1). Pensei que no tinha foras para defender a causa de Deus, e quasetinha medo do sacudir de uma folha. Passei quase todo o dia em orao.No podia tolerar a ideia dos crentes mostrarem respeito para comigo.Quase desesperei de fazer qualquer servio no mundo: no pude sentirqualquer esperana de consolo no tocante aos pagos, o que costumava dar-me algum refrigrio nestas horas mais negras. Passei o dia em amargor de

    alma. Perto da noite, senti-me um tanto melhor; e mais tarde desfrutei dealguma tranquilidade em orao secreta.

    1o de Julho. Nesta manh tive algum prazer em minhas oraes; e muitomais do que o usual, noite, nada desejando to ardentemente como o queDeus fizesse comigo como melhor Lhe agradasse.

    2 de Julho. Senti-me tranquilo em orao secreta, pela manh. Meusdesejos ascenderam a Deus neste dia, enquanto eu viajava; senti-meconfortvel noitinha. Bendito seja o Deus de todas as minhasconsolaes.

    3 de Julho. Meu corao parecia ter afundado de novo. A vergonha qualfui submetido na universidade pareceu amortecer-me o bom nimo; pois elaabre as bocas dos opositores. No encontrei refgio seno em Deus.Bendito seja o seu nome, porquanto posso apelar a Ele e achar nEle um"socorro bem presente" (Salmo 46.1).

    Dia do Senhor, 4 de Julho. Tive considervel ajuda. Retirei-me noitinhae desfrutei de um feliz momento em orao secreta. Deus agradou-se emconceder-me o exerccio da f, e atravs dela trouxe o mundo eterno einvisvel at bem perto de minha alma, o que me pareceu dulcssimo. Tive

    esperana que minha cansativa peregrinao no mundo seria curta e que nodemoraria muito at que eu fosse conduzido minha casa celeste e casado Pai. Resignei-me a aceitar a vontade de Deus, a esperar pelo tempodEle, a fazer o seu trabalho e a sofrer segundo a sua vontade. Sentigratido a Deus por todas as minhasprovaes opressivas de ultimamente;pois estou persuadido que elas tm sido um meio de fazer-me mais humildee muito mais resignado. Senti-me satisfeito por ser pequeno, por sernada, por jazer no p. Desfrutei da vida e do consolo ao rogar pelosqueridos filhos de Deus e pelo reino de Cristo no mundo. E minha almaanelou fortemente por santidade e por prazer em Deus. Oh, Senhor Jesus,

    volta em breve.

    29 de Julho. Prestei exames diante da Associao, reunida em Danbury,quanto aos meus conhecimentos e s minhas experincias no camporeligioso, e recebi licena para pregar o evangelho de Cristo. Depois

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    disso, senti-me muito consagrado a Deus; num local conveniente, uni-me emorao a um dos ministros, meu peculiar amigo, e acabei recolhendo-me aoleito resolvido a viver para Deus por todos os meus dias.

    Captulo 3

    Do tempo de sua licena para pregar at ser indicado como missionrio aos

    ndiosJulho - Novembro de 1742

    30 de Julho de 1742. Cavalguei de Danbury a Southbury, e preguei ali, combase em 1 Pedro 4.8, "Acima de tudo, porm, tende amor intenso". Sentimuito a presena consoladora de Deus nessa prtica. Parecia-me ter opoder de Deus na orao, bem como o poder de segurar a ateno dosouvintes na pregao.

    12 de Agosto (perto de Kent). Nesta manh e na noite passada, fui

    exercitado com amargas provaes interiores: no tinha poder para orar eparecia estar excludo, longe de Deus. Tive perdidas, em grande medida,minhas esperanas de ser enviado por Ele aos distantes pagos, e de v-los achegando-se a Cristo. Percebi muito de minha maldade, chegando aadmirar-me que Deus me permitisse continuar vivendo, ou que o povo no meapedrejasse, ou que chegassem ao ponto de ouvir minha pregao. Senticomo se nunca mais pudesse pregar; mas cerca das nove ou dez horas, opovo comeou a chegar e fui forado a pregar; e, bendito seja Deus, Eleme concedeu sua presena e seu Esprito na orao e na pregao, de talmodo que me senti muito amparado, tendo falado com poder, com base em J

    14.14. "Morrendo o homem, por ventura tornar a viver?" Alguns ndios, aliresidentes, clamaram em grande aflio, e todos pareceram muitopreocupados. Depois de ter mos orado e de exort-los a buscarem ao Senhorde forma constante, contratamos uma mulher inglesa para manter umaespcie de escola entre eles, e ento voltamos a Danbury.

    17 de Agosto. Extremamente deprimido no esprito, confrange-me e fere-meo corao pensar quanta auto-exaltao, orgulho espiritual e ardor detemperamento eu mesclara anteriormente com meus esforos para promover aobra de Deus. Algumas vezes tenho anelado por cair aos ps dos opositores

    e confessar que pobre e imperfeita criatura tenho sido e ainda sou. Que oSenhor me perdoe e, para o futuro, torne-me "prudente como as serpentes esmplice como as pombas" (Mateus 10.16). Depois, desfrutei deconsidervel consolo e deleite de alma.

    19 de Agosto. Hoje, quando estava prestes a sair da casa do PastorBellamy, em Bethlehem, onde havia residido com ele por algum tempo, oreicom ele e dois ou trs outros amigos crentes. Dedicamo-nos a Deus de todoo corao para sermos dEle para sempre; e, enquanto eu orava, pareceu-meque a eternidade estava bem prxima. Se nunca mais visse aqueles crentesneste mundo, pareceu-me por alguns momentos que logo eu haveria deencontr-los no outro mundo.

    23 de Agosto. Tive um doce perodo de orao: o Senhor chegou bem pertode minha alma e encheu-me com paz e consolao divinas. Oh, minha almasaboreou da doura celeste, e foi impelida a orar em favor do mundo para

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    que ele viesse a Cristo! Muito fui consolado nos pensamentos e esperanassobre a colheita dos pagos, e muito fui ajudado em intercesso poramigos crentes.

    1o de Setembro. Fui a Judeia para a ordenao do Pastor Judd. O PastorBellamy pregou baseado em Mateus 24.46: "Bem-aventurado aquele servo aquem seu senhor, quando vier, achar fazendo assim". Senti a solenidade domomento; meus pensamentos giraram sobre a ocasio do retomo de nosso

    Senhor, o que muito refrigerou a minha alma, embora eu tenha temido noser achado fiel, em face da vileza de meu corao. Meus pensamentosdemoraram-se na eternidade, onde anelo habitar. Bendito seja Deus poraquele solene momento. Cavalguei esta noite com o Pastor Bellamy,conversei com amigos at altas horas da noite, e ento retirei-me paradescansar com uma tranquila atitude mental.

    4 de Setembro. Tenho gozado de pouca sade, sentindo-me ex tremamentedeprimido em minha alma, a uma incrvel distncia de Deus. J perto danoite, por algum tempo fiquei meditando de modo mui pro veitoso sobre

    Romanos 8.2, "Porque a lei do Esprito da vida..." Em seguida, passei umperodo muito deleitoso em orao. Deus permitiu-me lutar ardentementepelo avano do reino do Redentor; e roguei intensa mente por meu prprioirmo, John [o qual, afinal, tornou-se sucessor de Brainerd comomissionrio entre os ndios], pedindo que Deus o tornasse mais umperegrino e estrangeiro na terra, preparando-o para um servio cristosingular no mundo; e meu corao exultou docemente no Senhor, aoreflectir sobre quaisquer aflies que sobreviessem a ele ou a mim, noprogresso do reino de Cristo. Foi uma hora aprazvel e consoladora para aminha alma, enquanto entregava-me livremente s peties, no s por mim

    mesmo, mas tambm por muitas outras almas.16 de Setembro. A noite, desfrutei da presena de Deus em orao secreta;senti resignao notvel para ser e fazer o que melhor agradasse aoSenhor. Alguns dias atrs, fiquei muito abatido por causa de minhaconduta passada. Minha amargura e minha falta de amor e gentilezacristos tm sido muito angustiante minha alma. Que o Senhor perdoeminha mornido no-crist e essa falta de esprito humilde!

    22 de Outubro. Senti-me estranhamente desligado do mundo neste dia; minhaalma deleitou-se em ser um' 'peregrino e forasteiro na terra''. Senti uma

    disposio em mim de nunca ter qualquer coisa a ver com este mundo. Ocarcter atribudo a alguns dos antigos filhos de Deus, em Hebreus 11.13,pareceu-me muito digno de apreciao: "...confessando que eramestrangeiros e peregrinos sobre a terra'', e isso em sua prtica diria.Que assim eu sempre pudesse viver! Passei algum tempo em um bosqueaprazvel, em orao e meditao. Oh, quo bom ser assim desligado deamigos e de mim mesmo, morto para o mundo presente, para que assim eupossa viver totalmente para, e dependendo do Deus bendito! Vi-me comoalgum pequeno, baixo e vil, como sou em mim mesmo.

    tarde preguei em Bethlehem, baseado em Deuteronmio 8.2. "Recordar-te-

    s de todo o caminho, pelo qual o Senhor teu Deus te guiou..." Deusajudou-me a falar aos coraes daqueles queridos crentes. Bendito seja oSenhor por esta oportunidade; confio que eles e eu nos regozijaremos, porcausa disso, por toda a eternidade. O querido Pastor Bellamy chegou (de

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    volta de uma viagem) enquanto eu fazia minha primeira orao, e, aps nosencontrarmos, samos juntos, passando o anoitecer em um gostoso dilogosobre as coisas divinas, orando com terno amor cristo mtuo, e ento nosretiramos para dormir, com nossos coraes em um solene estado deesprito.

    26 de Outubro (em West Suffield). Estive em grande agonia sob um senso deminha prpria indignidade. Pareceu-me mais que merecia ser expulso do

    lugar, e no que algum me tratasse com gentileza e viesse ouvir-mepregar. De fato, estava de nimo to deprimido, naquelas horas (e emvrias outras ocasies), que me parecia impossvel que pu desse trataralmas imortais com fidelidade. Sentia-me to infinitamente vil em mimmesmo que pensei que no poderia trat-las com fidelidade e intimidade.Oh, no passo de p e cinzas, para pensar em pregar o evangelho aosoutros! De fato, nunca poderei ser fiel por um momento sequer, mascertamente ficarei apenas "caiando paredes", no dizer de Ezequiel 13.10,se Deus no me outorgar ajuda especial. noite fui casa de orao, epareceu-me quase to fcil para um morto levantar-se do sepulcro e

    pregar, como o foi para mim. Entretanto, Deus deu-me vida e poder, tantona orao quanto no sermo. O Senhor agradou-se em enlevar-me, mostrandoque podia capacitar-me a pregar. Oh, a ma ravilhosa bondade de Deus paracom um pecador to vil! Voltei aos meus aposentos e desfrutei do dulorda orao a ss, e lamentei que no pudesse viver mais para Deus.

    4 de Novembro (em Lebanon). tarde, recebi o senso da doura de umadevoo estrita, ntima e constante a Deus, e minha alma foi confortadacom as suas consolaes. Minha alma sentiu uma preocupao agradvel, masdolorosa, temendo que passaria momentos sem Deus. Que eu possa sempre

    viver para Deus. noite alguns amigos me vi sitaram, e passamos o tempoem orao e conversas que tendiam para a nossa edificao mtua. Forammomentos de consolo para minha alma; senti um intenso desejo de passarcom Deus cada momento de minha vida. Deus indescritivelmente graciosopara comigo, continuamente. No passado, Ele concedeu-me uma inexprimveldoura no cumprimento de meus deveres. Com frequncia, minha alma temdesfrutado inten samente de Deus, sentindo-se pronta a dizer: "Senhor, bom estar aqui", abandonando-se ao prazer, enquanto executo minhastarefas. Ultima mente, porm, Deus tem-se agradado em manter minha alma

    faminta; e, por isso, tenho sido tomado por uma espcie de dor agradvel.

    Quando, realmente, desfruto de Deus, sinto que meu anelo por Ele torna-seainda mais insacivel e minha sede por santidade ainda maisinextinguvel; e que o Senhor no me permite sentir como se estivesseplenamente suprido e satisfeito, mas mantm-me avanando. Sinto-meestril e vazio, como se no pudesse viver sem mais de Deus, e sinto-meenvergonhado e culpado diante dEle. Vejo que "a lei espiritual, mas eu,todavia, sou carnal" (Romanos 7.14). No vivo e nem posso viver paraDeus. Oh, anelo por santidade! Oh, anelo por mais de Deus em minha alma!Oh, essa dor agradvel! Ela faz minha alma seguir em busca de Deus. Alinguagem dela : "...quando acordar, eu me satisfarei com a tua

    semelhana" (Salmo 17.15), mas nunca, nunca antes disso. E, assim,"prossigo para o alvo" (Filipenses 3.14), dia a dia. Quem me dera podersentir esta fome contnua, sem qualquer retardo, mas antes, sempreanimado, por todo cacho colhido em Cana, a avanar na ve reda estreita,

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    para o pleno aprazimento e possesso da herana celeste!

    19 de Novembro (em New Haven). Recebi uma carta do Pastor Pemberton, deNova York, convidando-me a ir at l o mais breve possvel, paraconsultas acerca da evangelizao dos ndios naquela regio do pas, eentrar em contacto com certos cavalheiros encarregados dessa actividade.Minha mente foi de imediato invadida por interesse pela questo; eretirei-me, com dois ou trs amigos crentes, e pus-me a orar. Foram doces

    momentos para mim. Pude deixar com o Senhor tanto a mim mesmo como atodas as minhas preocupaes; e, despedindo-me daqueles amigos, cavalgueiat Ripton. Na oportunidade, fui consolado por ver e conversar com oquerido Pastor Mills.

    24 de Novembro. Cheguei a Nova York; continuo me sentindo muitopreocupado quanto importncia das negociaes. Fiz muitas petiesfervorosas a Deus, pedindo sua ajuda e orientao. Senti-me confusodiante do rudo e do tumulto da cidade, e pude gozar apenas de poucotempo a ss com Deus, mas minha alma anelou muito por Ele.

    25 de Novembro. Passei muito tempo em orao e splica. Fui submetido aexames acerca de minha experincia crist, minha familia ridade com ateologia, e tambm acerca de outros estudos e minhas qualificaes para a

    importante obra da evangelizao dos pagos,1 sensibilizando-me em facede minha profunda ignorncia e incapacidade para o ministrio pblico.Fui assaltado pelos mais aviltantes pensamentos sobre mim mesmo,sentindo-me o pior miservel que j viveu na terra. Meu corao doaquando algum demonstrava algum respeito por mim. Infelizmente, quotristemente tais pessoas estavam enganadas acerca de mim! Quodesgraadamente desapontadas ficariam se me conhecessem por dentro! Oh,

    meu corao! E assim, nessa condio deprimida, fui forado a ir pregar auma considervel assembleia, na presena de alguns importantes e eruditosministros; e o fiz sentindo a forte presso do senso de minha vileza edespreparo para aparecer em pblico, ao ponto de quase me deixar dominarpor tal senso. Minha alma entristecia-se pela congregao, por estaremali para ouvir pregar um co morto como eu. Sentia-me infinitamenteendividado para com o povo, e ansiei que Deus os recompensasse com asrecompensas de sua graa. E passei sozinho grande parte da noitinha.

    CAPTULO 4

    Do tempo de seu exame e indicao at sua chegada entre os ndios deKaunaumeek

    1742 1743

    27 de Novembro. Entreguei minha alma aos cuidados de Deus, sentindo algumconsolo nisso. Parti de Nova York cerca de nove horas da manh, aindaperturbado com minha indizvel falta de dignidade. Por certo posso amar atodos os meus irmos, pois nenhum deles to vil quanto eu; sejam quaisforem os seus acdtos, parece-me que ningum experimenta tanto senso deculpa diante de Deus. Oh, minhas ms ten dncias, minha esterilidade,

    minha carnalidade, meu antigo amargor de esprito, minha falta devirtudes prprias do evangelho! Essas coisas me oprimem a alma. Cavalgueide Nova York at White Plains, uma distncia de quarenta e oitoquilmetros; e por quase todo o percurso continuei elevando meu corao aDeus, rogando-lhe misericrdia e graa purificadora. Passei a noite muito

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    abatido de esprito.

    10 de Dezembro. Minha alma aspira por Deus, em doces desejos e anelosespirituais de conformao com Ele, sendo levada a descansar em sua ricagraa. Assim fui fortalecido e encorajado para enfrentar ou sofrerqualquer coisa que a providncia divina permita atingir-me. Ca valguei porcerca de trinta e dois quilmetros, de Stratfield at Newtown.

    11 de Dezembro. Conversei com um amigo querido, ao qual eu tencionavaproporcionar uma educao acadmica, encarregando-me dela de modo a

    prepar-lo para o ministrio do evangelho.1 Assim, familiarizei-o com asminhas ideias sobre o assunto, e deixei-o a consider-lo, at que nospudssemos ver de novo. Ento cavalguei at Bethlehem e cheguei moradiado Pastor Bellamy; pernoitei com ele; conversamos e oramosagradavelmente. Entregamos a Deus a preocu pao de enviar meu amigo paraestudar na universidade. Bendito seja o Senhor por essa oportunidade deconversarmos naquela noite.

    Dia do Senhor, 12 de Dezembro. Pela manh, senti como se tivesse pouco ou

    nenhum poder para orar ou pregar; e senti uma aflitiva necessidade daajuda divina. Fui reunio tremendo por dentro; mas agradou a Deusajudar-me na orao eno sermo. Penso que raramente minha alma penetraratanto no mundo imaterial, em qualquer orao que j tenha feito, e quenem minhas devoes jamais estiveram to isentas de grosseiros conceitose imaginaes, com base na contemplao de objectos materiais. Preguei,com alguma satisfao, alicerado sobre Mateus 6.33: "Buscai, pois, emprimeiro lugar, o seu reino e a sua justia, e todas estas coisas vossero acrescentadas". tarde preguei sobre Romanos 15.30: "Rogo-vos,pois, irmos, por nosso Senhor Jesus Cristo e tambm pelo amor doEsprito, que luteis juntamente comigo nas oraes a Deus a meu favor".Entre os ouvintes houve uma excelente reaco. Foi um agradvel domingopara mim; e, bendito seja Deus, tenho razo em pensar que minha religiotornou-se mais espiritual por causa de meus recentes conflitosespirituais. Amm. Que eu sempre me disponha a permitir que Deus usecomigo os seus prprios mtodos!

    14 de Dezembro. Minha mente ficou envolta por certa perple xidade; nanoite anterior, e tambm hoje pela manh, fiquei preocupado pelosinteresses de Sio, especialmente por causa das falsas aparncias de

    religiosidade, que mais servem para criar confuso, principalmente emalguns lugares. Clamei a Deus pedindo-Lhe ajuda e que me capacitasse adar testemunho contra aquelas coisas que, ao invs de promoverem, impedemo progresso da piedade vital. tarde, cavalguei at Southbury,conversando de novo com meu amigo sobre o importante assunto de seguirele na obra ministerial; ele me pareceu favoravelmente inclinado aconsagrar-se obra, contanto que Deus o qualificasse para poder obtersucesso nesse grandioso mister. noite, preguei com base em 1Tessalonicenses 4.8, esforando-me para solapar, embora com ternura, afalsa religiosidade. E o Senhor prestou-me alguma assistncia nisso.

    15 de Dezembro. Pude manter algum dilogo confortante e refres cante paraminha alma, com amigos queridos, quando nos despedamos uns dos outros, echegamos a pensar na possibilidade de nunca mais nos vermos, seno quando

    chegssemos ao mundo eterno.2 No duvido que, pela graa, alguns de ns

  • 7/28/2019 Dirio de David Brainerd

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    em breve nos reuniremos l. Bendito seja Deus por esse encontro, bem comopor vrios outros. Amm.

    18 de Dezembro. Passei muito tempo orando na floresta prxima, sentindo-me como se tivesse sido erguido acima do nvel das coisas deste mundo.Minha alma fortaleceu-se no Senhor dos Exrcitos, mas tambm tomeiconscincia de minha lamentvel esterilidade.

    27 de Dezembro. Tive um perodo realmente precioso; meu corao muito se

    enterneceu diante das coisas divinas, diante da pura espiritualidade dareligio de Cristo Jesus. noite, preguei com base em Mateus 6.33, esenti muita liberdade, poder e vigor: a presena de Deus foi fortementesentida em nossa reunio. Oh, que doura e ternura senti em minha alma!Se nunca eu sentira a disposio mental de Cristo, penso que agora aexperimentei. Bendito seja o meu Deus, raramente tenho desfrutado de umdia de Maior consolo eproveito do que hoje. Oh, se pudesse passar todo omeu tempo a servio de Deus!

    14 de Janeiro de 1743. Meus conflitos espirituais, hoje, foram

    indizivelmente temveis, mais pesados do que as montanhas e os dilviosinundantes. Fui privado de todo senso da presena de Deus, e at do serde Deus; enisso consistiu a minha misria. Os tormentos dos condenados,estou certo, consistiro em muito na privao de Deus, e, em conse -quncia, na ausncia de todo bem. Isso ensinou-me a absoluta dependnciade toda criatura a Deus, o Criador, quanto a cada migalha de felicidadede que ela goza. Oh, sinto que, se Deus no existisse, eu teria de viveraqui para sempre, gozando no somente deste mundo, mas at de todos osoutros, eseria dez mil vezes mais miservel do que um rptil.

    Dia do Senhor, 23 de Janeiro. Penso que dificilmente j me sentira antesto indigno de existir como agora. Percebi no ser digno de ocupar lugarentre os ndios, para o meio dos quais estou me dirigindo, se Deuspermitir, pensando qu