devassando o invisível2

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Devassando o Invisvel (psicografia Yvonne A. Pereira - esprito Charles) Este livro foi composto na ortografia usada pela Editora, ou seja, a de 1943, com algumas das modificaes propostas pela de 1915. Yvonne A. Pereira Devassando o Invisvel (Estudo sobre fenmeno e fatos transcendentes devassados pela mediunidade, sob a orientao dos Espritos-Guias da mdium) 2 edio Do 6 ao 15 milhar FEDERAO ESPIRITA BRASILEIRA (Departamento Editorial) Rua Souza Valente, 17 Composto e impresso nas oficinas da - FEDERAO - 1963 ndice Pg. Introduo 7 Cap. 1 - Nada de novo 9 Cap. II - Como se trajam os Espritos 39 Cap. III - Frederico Chopin, na Espiritualidade 61. Cap. IV - Nas Regies Inferiores 84 Cap. V - Mistificadores Obsesses 103 Cap. VI - Romances medinicos 116 Cap. VII O amigo beletrista 145 Cap. VIII Sutilezas da Mediunidade 174 Cap. IX - As virtudes do Consolador 198 Cap. X Os grandes segredos do Alm 215 Introduo Apresentando estas pginas ao pblico, nada mais fazemos que obedecer s instrues da entidade espiritual Charles, amigo desvelado que h sido o anjo bom de nossa vida. Nenhum sentimento de vaidade animou o nosso lpis, quando travamos fatos ocorridos com nossa prpria mediunidade, pois de longa data framos informada de que, se eles assim se desenrolaram, isso no significava privilgio nossa pessoa, mas porque nossa faculdade a tanto se presta, por predisposies particulares, no desdobrar natural de suas foras; e, ademais, para que vissem a pblico testemunhar, ainda uma vez, o que outros adeptos do Espiritismo testemunharam tambm, visto ser de interesse geral que se patenteiem sempre, por mltiplos sinais, os fatos que o AlmTmulo, desde tempos remotos, tem concedido aos homens. Quanto escrevemos aqui, existe nos cdigos doutrinrios espritas. No se trata, pois, de obra pessoal, mesmo porque o personalismo, se se infiltrar na Doutrina Esprita, acarretar a sua corrupo, como sucedeu ao prprio Cristianismo. No apresentamos, tampouco, frutos da nossa escolha, porquanto as observaes que aqui vm anotadas foram selecionadas pelos instrutores espirituais, e nem sequer tivemos desejo de organizar o presente volume. Cumprimos ordem do Alm, apenas, como instrumentao que fomos das intuies positivas de amigos espirituais como Charles, Bezerra de Menezes, Lon Denis, Incio Bittencourt e Leo Tolstoi, que nos assistiam durante a tarefa, levando-nos a compilar recordaes de ocorrncias passadas, que jaziam adormecidas, e indicando at mesmo os trechos das obras de Allan Kardec a citar, tese, no cabealho de cada captulo. No entanto, se algo arrogamos para ns prpria, o direito de afirmar os fatos positivos apreciados no Invisvel, aqui citados. Afirmamo-los, pois, com todas as nossas

foras e convices, porque os vimos, apresentados por nossos mentores espirituais, examinmo-los, aprecimo-los. E de to longa data esses acontecimentos de AlmTmulo se sucedem em nossa vida; e to habituada nos achamos, no presente, sua realidade, que o Alm-Tmulo para ns, deixou de ser uma sensao, para se tornar sequncia diria da nossa vida.., a tal ponto que, s vezes, confundimos os dois mundos, no lembrando, de momento, se tal ou qual acontecimento foi ocorrido aqui, na Terra, ou alm, no Invisvel; e muitas vezes acontece, outrossim, que amigos nossos, do invisvel, costumam ser confundidos, de imediato, com outros tantos da Terra... Possam estas pginas despertar, no corao do leitor, o amor ao estudo, to necessrio, da Revelao Esprita; e que a observao e a anlise Se sucedam, de sua parte, ao ponto final das lies ventiladas. Quanto a ns, continuaremos a fazer coro a um dos maiores devassadores do Invisvel que a Terra conheceu - William Crookes -, quando afirmou: "No digo que isto possvel; digo: isto real!" Rio de Janeiro, 15 de Dezembro de 1962.

YVONNE A. PEREIRA

CAPTULO 1 Nada de novo..."O vcuo absoluto existe em alguma parte no Espao universal?" "No, no h vcuo, O que te parece vazio est ocupado por matria que te escapa aos sentidos e aos instrumentos." (ALLAN KARDEC - O Livro dos Espritos", Pergunta 36,)

Adeptos h da Doutrina Esprita que rejeitam, at hoje, a verso intimamente muito ventilada pelos Espritos desencarnados, atravs de obras ditadas psicograficamente, de um mundo material, invisvel aos olhos carnais, mundo esse vibrtil e intenso, onde existir, em estado aperfeioado, ampliado at vertigem, muito do que na Terra existe. Respeitamos, certamente, a opinio dos refratrios a essa revelao, visto que, se dever de qualquer cidado respeitar opinies alheias, ao esprita, com muito maior razo, assistir o dever de considerao opinio do prximo, ainda quando antagnica ao seu modo de ver e pensar. No seria, porm, ocioso raciocinarmos sobre ensinamentos particulares aos domnios da Doutrina Esprita, raciocnios que, se nenhum proveito trouxerem instruo que nos cumpre dilatar diariamente, ao menos nos auxiliaro no aprendizado da meditao, exercitando-nos o pensamento para voos mais arrojados. Estas pginas, como as demais que compem o presente volume, no so frutos do nosso raciocnio pessoal, como o no so de nossas concepes doutrinrias, visto que temos o cuidado de jamais estabelecer concepes pessoais em assuntos de Espiritismo. Certa da nossa fragilidade, renuncimos bem cedo vaidade das opinies prprias, para nos achegarmos aos mestres e grandes vultos da Doutrina e junto deles buscar o ensinamento seguro, aceitando igualmente o que o Invisvel espontaneamente nos revela, quando concorde com os ensinamentos bsicos, revelaes que, algumas vezes, tm contrariado mesmo as ideias que havamos feito sobre mais de um assunto. Temos sido, portanto, to somente um veculo transmissor das ideias e do noticirio do Espao, e, a merc de Deus, empenhamo-nos esforadamente em ser passiva aos dedicados amigos invisveis, ao se valerem da nossa faculdade. E, por isso mesmo, o que aqui se afigura escrito por nossa pena mais no ser do que o murmrio das vozes de amigos espirituais que nos dirigem o crebro e impulsionam o lpis, depois de haverem arrebatado o nosso Esprito a giros instrutivos pelo Mundo Invisvel, as mais das vezes. * ** Desde o advento da Doutrina Esprita, os nobres habitantes do mundo espiritual que se tm comunicado com os homens, atravs de grande variedade de mdiuns, afirmam ser a Terra um plido reflexo do Espao. O Livro dos Mdiuns", de Allan Kardec, no belo captulo VIII - "Do Laboratrio do Mundo Invisvel" - fecundo em explicaes que oferecem base para estudos e concluses muito profundas quanto vertiginosa intensidade do plano invisvel, a possibilidade de realizaes, ali, por assim dizer, "materiais", que as entidades desencarnadas sempre afirmaram e que nos ltimos tempos vm confirmando com insistncia e pormenores dignos de ateno. E no precioso compndio "A Gnese", tambm de Allan Kardec, lemos o seguinte, no captulo XIV, sob o ttulo - Ao dos Espritos sobre os fluidos - Criaes fludicas - Fotografias do pensamento: "Os fluidos espirituais, que constituem um dos estados do fluido csmico universal, so, a bem dizer, a atmosfera dos seres espirituais; o elemento donde eles tiram os materiais sobre que operam; o meio onde ocorrem os fenmenos especiais, perceptveis viso e audio do Esprito, mas que escapam aos sentidos carnais, impressionveis somente matria tangvel; o meio onde se forma a luz peculiar ao mundo espiritual, diferente, pela causa e pelos efeitos, da luz ordinria; finalmente, o veculo do pensamento, como o ar o do som.

"Os Espritos atuam sobre os fluidos espirituais, no manipulando-os como os homens manipulam os gases, mas empregando o pensamento e a vontade. (O grifo nosso.) Para os Espritos, o pensamento e a vontade so o que a mo para o homem. Pelo pensamento, eles imprimem queles fluidos tal ou qual direo, os aglomeram, combinam ou dispersam, organizam com eles conjuntos que apresentam uma aparncia, uma forma, uma colorao determinadas; mudam-lhes as propriedades, como um qumico muda a dos gases ou de outros corpos combinando-os segundo certas leis. a grande oficina ou laboratrio da vida espiritual. " (Pargrafos 13 e 14.) E, no pargrafo 3, desse mesmo captulo, encontraremos: "No estado de eterizao, o fluido csmico no uniforme: sem deixar de ser etreo, sofre modificaes to variadas em gnero e mais numerosas talvez do que no estado de matria tangvel. Essas modificaes constituem fluidos distintos que, embora procedentes do mesmo princpio, so dotados de propriedades especiais e do lugar aos fenmenos peculiares ao mundo invisvel. Dentro da relatividade de tudo, esses fluidos tm para os Espritos, que tambm so fludicos, uma aparncia to material, quanto a dos objetos tangveis para os encarnados, e so, para eles, o que so para ns as substncias do mundo terrestre. Eles os elaboram e combinam para produzirem determinados efeitos, como fazem os homens com os seus materiais, ainda que por processos diferentes." Os prprios Espritos ditos sofredores, at mesmo os criminosos, que se costumam apresentar em bem dirigidas sesses prticas, narram acontecimentos reais, positivos, que no Invisvel se sucedem, um modo de viver e de agir, no Espao, muito distanciado daquele estado vago, indefinvel, inexpressivo, que muitos entendem seja o nico verdadeiro, quando a Revelao propala, desde o incio, um mundo de vida intensa, mundo real e de realidades, onde o trabalho se desdobra ao infinito e as realizaes no conhecem ocasos. Nas entrelinhas de grandes e conceituadas obras doutrinrias, existem claras aluses a sociedades, ou "colnias", organizadas no Alm-Tmulo, onde avultam cidades, casas, palcios, jardins, etc., etc. Na erudita e encantadora obra "Depois da Morte", do eminente colaborador de Allan Kardec, Lon Denis, o qual, como sabemos, alm de primoroso escritor foi um grande inspirado pelos Espritos de escol, pgina 235 da 7 edio (FEB), Cap. XXXV, a exposio dessa tese no somente fecunda e expressiva, como tambm mesclada de grande beleza, como tudo o que passou por aquele crebro e aquela pena. Diz Lon Denis, na citada obra: "O Esprito, pelo poder da sua vontade, opera sobre os fluidos do Espao, combina-os e os dispe a seu gosto, d-lhes as cores e as formas que convm ao seu fim. por meio desses fluidos que se executam obras que desafiam toda comparao e toda anlise. Construes areas, de cores brilhantes, de zimbrios resplandecentes: circos imensos onde se renem em conselho os delegados do Universo; templos de vastas propores, donde se elevam acordes de uma harmonia divina; quadros variados, luminosos: reprodues de vidas humanas, vidas de f e de sacrifcio, apostolados dolorosos, dramas do Infinito (1). Como descrever magnificncias que os prprios Espritos se declaram impotentes para exprimir no vocabulrio humano? nessas moradas fludicas que se ostentam as pompas das festas espirituais. Os Espritos puros, ofuscantes de luz, se agrupam em famlias. Seu brilho e as cores variadas de seus invlucros permitem medir a sua elevao, determinar os seus atributos. " (Os grifos so nossos.) E ainda outros trechos desse belo volume trazem informaes a respeito do assunto, bastando que o leiamos com a devida ateno, bem assim vrios captulos de outra obra sua - "O Problema do Ser, do Destino e da Dor". Em outro magnfico livro do grande Denis - "No Invisvel" -, pgina 470, no cap. XXVI, da 3 edio (FEB), h tambm este pequeno trecho, profundo complexo, sugestivo, descortinando afirmaes grandiosas: "Dante Alighieri mdium incomparvel. Sua "Divina Comdia" uma peregrinao atravs dos mundos invisveis. Ozan, o principal autor catlico que j analisou essa obra genial, reconhece que o seu plano calcado nas grandes linhas da iniciao nos mistrios antigos, cujo princpio, como sabido, era a comunho com o oculto." (Os grifos so nossos.) Assim se expressa o grande inspirado Lon Denis,

(1) So essas reprodues de vidas humanas que os Instrutores Espirituais do a ver aos mdiuns, no Espao, durante o sono letrgico, ou desdobramento, e dos quais se originam os romances medinicos, sempre to atraentes. Vide capitulo VI.

em suas obras, e, se mais no transcrevemos aqui, ser por economia de espao, que precisaremos atender. Do exposto, no entanto, deduziremos que a "Divina Comdia" no apresenta to somente fantasias, como imaginaram os prprios eruditos, mas ocorrncias reais do Alm-Tmulo, que o poeta visionrio mesclou de divagaes, talvez propositadamente, numa poca de incompreenses e preconceitos ainda mais intransigentes que os verificados em nossos dias (2). Os preciosos volumes escritos pelo sbio psiquista italiano Ernesto Bozzano, produto de severa anlise cientfica, so frteis em apontar esses mesmos locais do Invisvel, revelados por Espritos desencarnados de adiantamento moral-espiritual normal, cujas comunicaes, psicografadas por vrios mdiuns desconhecidos uns dos outros, alguns at completamente alheios ao Espiritismo, foram examinadas e cientificamente analisadas por aquele ilustre autor. Ser-nos- impossvel transcrever, aqui, muitos trechos de Bozzano a respeito, visto que em suas obras encontramos fartas observaes em torno da tese em apreo. Limitar-nos-emos a citar alguns trechos do interessante livro "A Crise da Morte", onde substancioso noticirio encontraremos sobre o assunto, alm de alguns "detalhes fundamentais" da sua anlise sobre comunicaes com Espritos desencarnados. Assim que, no "Dcimoquarto caso", analisando uma das comunicaes inseridas no mesmo volume, Bozzano observa que - a paisagem "astral" se compe de duas sries de(2) Dante Alighieri -Ilustre poeta e pensador italiano, nascido em 1265 e falecido em 1321, autor do poema pico "Divina Comdia", considerado "uma das mais altas concepes do esprito humano". Esse poema contm as ideias e a filosofia da Idade Mdia e se divide em trs pontos: o Inferno, o Purgatrio e o Paraso, e figura uma viagem do poeta ao Mundo Invisvel. Pode-se acrescentar que essa obra imortal criou a poesia e a linguagem italianas.

objetivaes do pensamento, bem distinta uma da outra. A primeira permanente e imutvel, por ser a objetivao do pensamento e da vontade de entidades espirituais muito elevadas, prepostas ao governo das esferas espirituais inferiores; a outra , ao contrrio, transitria e muito mutvel; seria a objetivao do pensamento e da vontade de cada entidade desencarnada, criadora do seu prprio meio imediato. " (3) (Os grifos so nossos.) pgina 153 da referida obra, nas "Concluses" relativas ao ltimo caso, leremos o seguinte, no "detalhe fundamental" n 6: "Terem-se achado (os Espritos recm-desencarnados) num meio espiritual radioso e maravilhoso (no caso de mortos moralmente normais), e num meio tenebroso e opressivo (no caso de mortos moralmente depravados)." No "detalhe" n 7:(3) Certa vez, durante um transporte em corpo astral, tivemos ocasio de visitar, no Espao, conduzida pelo Esprito de nossa me, uma tia falecida havia trs anos, Sra. Ernestina Ferraz, de quem framos muito amiga e de quem recebramos, sempre, muitas provas de dedicao e ternura maternal, sobre a Terra. Recebeu-nos em "um meio imediato", segundo as expresses de Bozzano, criado por ela prpria, pois havia um salo de visitas idntico ao de sua antiga residncia terrena, com o velho piano de carvalho que fora seu (ou a sua reproduo fludica), e que, presentemente, se encontra em nosso poder. Aberto, com a partitura no local devido, o piano fludico era dedilhado por sua irm caula, Lusa, tambm j falecida, a qual ela prpria educara, inclusive ensinando-lhe msica. Tal a realidade da criao que, talvez perturbada com a situao frisante, exclammos, algo vexada: - Oh, titia! O seu piano est necessitado de um reparo.., est desafinado.., mas prometo que o mandarei consertar. E ela, prontamente:

- No te incomodes, minha filha, com este meu piano... Presentemente, o piano, devidamente conservado, mantido como recordao da boa amiga que tanto nos serviu.

"Terem reconhecido que o meio espiritual era um novo mundo objetivo, substancial, real, anlogo ao meio terrestre espiritualizado. No "detalhe" n 8: "Haverem aprendido que isso era devido ao fato de que, no mundo espiritual, o pensamento constitui uma fora criadora, por meio da qual todo Esprito existente no mundo astral pode reproduzir em torno de si o meio de suas recordaes." No "detalhe" n 12: "Terem aprendido que os Espritos dos mortos gravitam fatalmente e automaticamente para a esfera espiritual que lhes convm, por virtude da lei de afinidades." (Os grifos so nossos.) E ponderamos ns: Se os Espritos dos mortos fatalmente e automaticamente gravitam para a esfera espiritual que lhes convm, que tais esferas existiam mesmo antes de eles para l gravitarem, criadas, certamente, por outros Espritos, com os quais passaro a colaborar, na medida das prprias foras. Com efeito. No "detalhe secundrio" n 4, do mesmo caso, Bozzano analisa: "Acham-se de acordo (as almas dos mortos) em afirmar que, embora os Espritos tenham a faculdade de criar mais ou menos bem, pela fora do pensamento, o que lhes seja necessrio, todavia, quando se trata de obras complexas e importantes, a tarefa confiada a grupos de Espritos que nisso se especializaram. Dentre as comunicaes analisadas por Bozzano, ressaltaremos as concedidas pelo Esprito do inesquecvel artista cinematogrfico Rodolfo Valentino, falecido em Agosto de 1926, sua esposa Natacha Rambowa, nas sesses realizadas em Nice, na Frana, e consideradas cientificamente muito importantes, nas quais so citados pormenores desse mundo espiritual, e que muito edificam os estudiosos. No nos furtaremos ao prazer de oferecer ao leitor um substancioso trecho das mesmas comunicaes. Assim se expressa o Esprito do clebre "astro", atravs da psicografia do mdium norte-americano, Jorge Benjamim Wehner, dirigindo-se sua esposa: - "Aqui, tudo o que existe parece constitudo em virtude das diferentes modalidades pelas quais se manifesta a fora do pensamento. Afirmam-me que a substncia sobre que se exerce a fora do pensamento , na realidade, mais slida e mais durvel do que as pedras e os metais no meio terrestre. Muitas dificuldades encontrais, naturalmente, para conceber semelhante coisa, que, parece, no se concilia com a ideia que se pode formar das modalidades em que devera manifestar-se a fora do pensamento. Eu, por minha parte, imaginava tratar-se de criaes formadas de uma matria vaporosa; elas, porm, so, ao contrrio, mais slidas e revestidas de cores mais vivas, do que o so os objetos slidos e coloridos do meio terrestre... As habitaes so construdas por Espritos que se especializaram em modelar, pela fora do pensamento, essa matria espiritual. Eles as constroem sempre tais como as desejam os Espritos, pois que tomam s subconscincias destes ltimos os gabaritos mentais de seus desejos. " (Os grifos so nossos.) Um livro ainda mais antigo do que as obras de Bozzano - "A Vida Alm do Vu" obtido tambm mediunicamente pelo pastor protestante Rev. G. Vale Owen, tornou-se clebre no assunto, pois que o Esprito da genitora do prprio mdium narra ao filho, em comunicaes peridicas, as mesmas construes fludicas do mundo espiritual, isto , jardins, estradas pitorescas, habitaes, cidades, etc. semelhante mdium , certamente, insuspeito, visto que, como protestante, seriam bem outras as ideias que alimentaria quanto vida espiritual. Tais comunicaes, em sua maioria, datam do ano de 1913. Convm deliciarmos, ainda, as nossas almas com alguns pequenos trechos de to interessante livro: - "Pode agora fazer-me o favor de descrever sua casa, paisagens, etc. ? pergunta o Rev. Vale Owen ao Esprito de sua me. E este responde:

- "E' a Terra aperfeioada. Certo, o que chamais quarta dimenso, at certo ponto existe aqui, mas no podemos descrev-la claramente. Ns temos montes, rios, belas florestas, e muitas casas; tudo foi preparado pelos que nos precederam. Trabalhamos, atualmente, por nossa vez, construindo e regulando tudo para os que, ainda durante algum tempo, tm que continuar a sua luta na Terra. Quando eles vierem, encontraro tudo pronto e preparado para receb-los. " - "O tecido e a cor do nosso vesturio tomam a sua qualidade do estado espiritual e do carter de quem o usa. (O grifo nosso.) O nosso ambiente parte de ns mesmos e a luz um importante componente do nosso ambiente. Entretanto, de poderosa aplicao, debaixo de certas condies, como poderemos ver naqueles sales -"No teriam de ser demolidas (as edificaes), para aproveitar-se depois o material em nova construo. Seria ele aproveitado com o prdio em p. O tempo no tem ao de espcie alguma sobre as nossas edificaes. Elas no se desfazem nem se arrunam. Sua durabilidade depende apenas da vontade dos donos, e, enquanto eles quiserem, o edifcio ficar de p, podendo ser alterado ou modificado consoante seus desejos. - "...porque estas esferas so espirituais e no materiais." (Grifo nosso.) E o livro todo assim prossegue, em revelaes belas e simples, lgicas e edificantes, o que confirma o noticirio de muitos mdiuns, que tambm chegam a verificar tais realidades do mundo invisvel durante seus desdobramentos em esprito. Mas no s. Um livro encantador, "No Limiar do Etreo", publicado em 1931, de autoria do ilustre Dr. J. Arthur Findlay, pesquisador dos fenmenos espritas na erudita Inglaterra, que tantos excelentes investigadores do Psiquismo concedeu ao mundo, conta, no captulo X - Noites de Instruo" -, o dilogo mantido, durante uma sesso ntima com o clebre mdium Sloan, com um Esprito que lhe respondia atravs do fenmeno da voz direta e do qual destacamos os seguintes trechos: - "Poder dizer-me algo com relao ao vosso mundo? - Todos os que esto num mesmo plano podem, como j disse, ver e tocar as mesmas coisas. Se olhamos para um campo, um campo o que todos vemos. Cada coisa a mesma para os que se acham nas mesmas condies de desenvolvimento mental. No um sonho. Tudo real para ns outros. Podemos sentar-nos juntos e gozar da companhia uns dos outros, precisamente como fazeis na Terra. Temos livros e podemos l-los. Temos as mesmas sensaes que vs. Podemos dar longos passeios por uma regio e encontrar um amigo a quem no vamos desde muito tempo. Das flores e dos campos aspiramos os aromas, como vs a. Apanhamos flores, como o fazeis. Tudo tangvel, porm num grau mais alto de beleza do que tudo na Terra. - Assemelha-se nossa a vossa vegetao? - De certo modo, mas muito mais linda.- Como so as vossas casas? - So quais as queremos. As vossas a so primeiro concebidas em mente, depois do que se junta a matria fsica para constru-las de acordo com o que imaginastes. Aqui, temos o poder de moldar a substncia etrea, conforme pensamos. Assim, tambm as nossas casas so produtos das nossas mentes. Pensamos e construmos. E' uma questo de vibrao do pensamento e, enquanto mantivermos essas vibraes, conservaremos o objeto que, durante todo esse tempo, objetivo para os nossos sentidos. " To explicativo esse X captulo de "No Limiar do Etreo", que temos pesar de no ser possvel transcrever mais alguns trechos para as nossas pginas, os quais, acreditamos, edificariam os leitores, se se tornassem conhecidos. Tambm os livros recebidos pela mdium Zilda Gama, ditados pelo Esprito de Vtor Hugo, num total de cinco boas obras, referem os mesmos noticirios, no obstante o fazerem mui discretamente, destacando-se, dentre todos, um que j se tornou clebre, porque editado em Esperanto pela FEB (traduo do Prof. Porto Carreiro Neto) e correndo o mundo inteiro: "Na Sombra e na Luz". No relataremos aqui, por muito conhecidas dos leitores, as obras ditadas pela entidade desencarnada Andr Luiz, e tampouco "Memrias de um Suicida", onde o assunto pormenorizado com as maiores franquezas. Fica ao leitor o cuidado de estudar, portanto, as obras bsicas, em geral, e as comunicaes isoladas, mesmo as provenientes de entidades sofredoras, com ateno e amor, meditando e refletindo

sobre tudo, sem esprito de preveno, porque nas suas entrelinhas e nos seus detalhes encontrar referncias positivas sobre o interessante assunto. E vale, ainda, declarar que no deveremos julgar sejam tais revelaes realidades existentes em outros planetas. No! Os termos dos Espritos so categricos: trata-se de esferas fludicas do mundo invisvel. Ao contrrio, aos mdiuns inclinados a acreditarem que aquelas descries traduziriam a vida em diferentes planetas, os prprios Espritos instrutores advertiram, chamando-lhes a ateno para o fato de que no se tratava de planetas materiais e sim do Mundo Espiritual, a verdadeira ptria do Esprito. Costumam alegar, os contraditores, que as obras ditadas mediunicamente, contendo tais conceitos, seriam mistificaes (o eterno recurso, ou o escudo de que se servem aqueles que se sentem contrariados, sempre que assuntos novos e, sobretudo, inditos, so apresentados), ou "fantasias do crebro de mdiuns ignorantes", como se expressam alguns, em oratrias entusiastas. Lembraremos, porm, que as obras de Lon Denis esto recheadas dessas informaes, e Lon Denis, o grande continuador de Kardec, foi um filsofo, um escritor grande- mente inspirado pelas foras superiores do Alto, e no um ignorante; que Ernesto Bozzano afirmou, cientificamente, a mesma coisa, aps suas admirveis anlises, e Bozzano era um sbio, dos mais ilustres psiquistas do sculo XX; que o Rev. Vale Owen, obtendo do Esprito de sua veneranda me as mesmas revelaes, no poderia ser um "mdium ignorante", cujo crebro criasse extravagncias, porque, como pastor protestante ingls, teria curso brilhante de algum seminrio e nem seria esprita; que o Sr. J. Arthur Findlay era um crebro vigilante, eminente e idneo perquiridor do Psiquismo experimental, escritor e intelectual de renome, no podendo, portanto, ser tachado de ignorante; que Zilda Gama, em cujas obras encontramos as mesmas revelaes, conquanto mais discretas, uma professora assaz culta e no um "mdium ignorante" que Francisco Cndido Xavier no douto, mas tem dado a pblico livros de valor incontestvel, que honrariam a memria de muitos doutos, se estes pudessem escrever coisas semelhantes; e os dois Espritos - Emmanuel e Andr Luiz - que a esse mdium ditam as obras, tm dado testemunhos de muita lucidez e sabedoria, abordando teses variadas, sempre analisadas por pessoas cultas e muito capazes, para serem tachados de mistificadores. . . E que os prprios livros de Allan Kardec, oferecendo, farta, base para todas essas revelaes e noticirios, conforme citamos linhas atrs, jamais foram considerados frutos de mistificaes. De outro modo, se um mdium que ama a Doutrina Esprita e por ela se sacrifica, sem outro interesse seno o de servi-la; que a tudo no mundo renuncia, a fim de conservar sua independncia, para melhor se dedicar aos deveres que ela impe, at mesmo as mais santas aspiraes do corao; se um mdium que moralmente se renova para Deus, atravs das mais duras provaes e humilhaes dirias, sofrendo ataques de adversrios at no seio da prpria Doutrina e padecendo, no raro, perseguies e vituprios dentro do prprio lar; se um mdium, que morreu para si mesmo, a fim de melhor ressurgir para Deus e tornar-se digno de se comunicar com os Espritos iluminados, no intuito de bem servir ao prximo e Causa, no obtiver do seu Mestre Jesus-Cristo e dos bons Espritos, a quem procurou honrar, seno mistificaes de tal vulto, ser melhor a todos os adeptos do Espiritismo fechar os cdigos da Doutrina e cuidar de vida nova! Atribuir as revelaes sobre a realidades do mundo invisvel a mistificaes de entidades inferiores desconhecer que, presidindo ao movimento do Consolador neste mundo - como to bem esclareceu Allan Kardec - h um Esprito Celeste, a quem o Criador outorgou direitos sacrossantos sobre a Terra, o qual no seria capaz de consentir, certamente, que essa Humanidade, pela qual ele prprio se imolou em suplcio numa cruz, fosse to grosseiramente iludida por tanta gente, deste e do outro mundo... quando, afinal de contas, o Consolador, em si mesmo, fruto to s da mediunidade. Prosseguiremos, portanto, visto que o tema profundo, prestando-se a desdobramentos. * **

Quem, dentre ns, j assistiu aos ltimos momentos de um moribundo poder, muitas vezes, observar os fatos aqui ventilados. O decesso de uma criatura que retorna verdadeira ptria - a espiritual -, tais sejam as circunstncias, oferece lies to elucidativas quanto comoventes e belas. Durante o nosso longo trabalho de assistncia a enfermos e moribundos, tivemos ocasio para as mais edificantes observaes. Os tuberculosos, principalmente, que comumente expiram em plena conscincia dos seus ltimos momentos sobre a Terra, apresentam vasto cabedal para estudo. Durante o perodo da agonia, eles como que desmaiam. Ser o chamado estado de coma. Um tnue fio fludico os prende, ainda, ao fardo material que vai ser abandonado. Foge-lhes a pulsao mantenedora da vida orgnica. Palidez impressionante recobre suas feies, que descaem e se enrijecem. As plpebras cerradas encobrem os olhos, que as nuanas da morte j velaram de um embaciamento significativo, mas suores abundantes e fugitivo pulsar do corao avisam que no foi ainda de todo libertada a pobre alma cativa naquele corpo. Ali esto, porm, beira do leito morturio, a me angustiada, o pai acabrunhado, a esposa lacrimosa, o filho inconsolvel... Um choro violento, um brado de dor pungente, a grita atormentada dos que ficam, sem poderem reter o ser amado que se vai, quebra o silncio augusto que deve presidir cena pattica de uma alma que entrou em trabalho de libertao para a verdadeira vida. Ento, o agonizante, a custo, descerra as plpebras. Volta-lhe a pulsao, volta-lhe at mesmo a palavra. Um impulso de vontade e apego aos que lhe foram caros ao corao f-lo reviver, por instantes, num corpo que se achava quase definitivamente abandonado. Com voz sussurrante, dbil, balbucia: - Oh! Porque me chamaram?... Eu estava to bem.., num lugar to belo!... Foram as frases que pronunciou, certa vez, uma jovem agonizante de dezoito primaveras, a cuja cabeceira nos postvamos em prece, quando sua me, inconsolvel, e as irms se debulhavam em pranto desesperado... Ouvindo-a, perguntmos-lhe, baixinho, enquanto rogvamos a assistncia dos seus tutelares, para que a ajudassem a desprender-se dos pesados liames carnais: (4) - Em que lugar te encontravas, minha filha?... Como era esse local? Ela respondeu naturalmente, como se no fora uma agonizante: - Ah! Mas era um jardim delicioso e fresco... Cheio de flores lindas e perfumosas... como nunca havia visto iguais... Um luar azul coloria-o todo... - Viste algum? - Sim... Umas sombras vaporosas me rodeavam... - Quem eram? - No pude reconhec-las.., eu dormitava.., estou com tanto sono... - Estavas sentada, caminhavas? - No, estava deitada, assim.., sobre a relva dos canteiros... E' um jardim to lindo.., estou to cansada... Cerrou novamente os olhos e silenciou. Alguns minutos depois, expirava, serena e docemente, sob nossas preces, sem que ningum mais da famlia se animasse a perturb-la na sua consoladora paz. Na dcada de 1930, as revelaes sobre as realidades do mundo espiritual j eram conhecidas dos adeptos(4) Srta. Aldacira Figueiras, falecida na cidade de Barra do Pirai, Estado do Rio de Janeiro, no ano de 1942, filha do Sr. Sebastio Figueiras, antigo Comandante da Fora Pblica local, tambm j falecido.

mais estudiosos da Doutrina Esprita, visto que elas foram concedidas aos homens, como vimos, desde muito. Andr Luiz, porm, a eminente entidade espiritual que to substanciosos esclarecimentos nos vem ministrando atravs da mediunidade de Francisco Cndido Xavier, no aparecera ainda com as minudncias explicativas da vida em Alm-Tmulo. Guardvamos, pois, desencorajada de apresent-las a pblico, trs das nossas obras j hoje editadas (5), e isso em virtude de, na poca em que foram as mesmas psicografadas, conhecermos poucos livros doutrinrios, no tendo

ainda meditado satisfatoriamente nem mesmo sobre as obras de Allan Kardec, como posteriormente os prprios instrutores espirituais nos levaram a fazer. Recevamos que as revelaes nelas contidas fossem fruto de lamentvel engano, e nos detnhamos, conservando as ditas obras no esquecimento, mas desencorajada de destru-las. Tambm ns acreditvamos a vida espiritual abstrata, indefinvel, e quando nosso Esprito era arrebatado, constatando a vida intensa dos planos espirituais, e suas belezas ambientes, supnhamos haver gravitado para um planeta melhor, um mundo material, tais como Saturno, Jpiter ou outro qualquer, ignorando, pela poca, quo difcil isso, tanto para um encarnado como para um desencarnado, no obstante as suposies em contrrio. Nossos amigos espirituais, porm, corrigiam nosso entusiasmo interplanetrio, se assim nos podemos expressar, e diziam, sem serem por ns acatados em tais asseres durante muito tempo: - No se trata de ambientes planetrios... So realizaes fludicas do prprio Espao. . . No saste dos ambientes terrenos. . Procura aprender. . . Estuda, estuda...(5) 'Nas Telas do Infinito", "Memrias de um Suicida" e "Amor e dio".

Ora, no ms de Julho de 1935, esposando ns ainda a mesma ideia, de que visitvamos outros planetas durante o fenmeno do desdobramento espiritual, tivemos a mo subitamente acionada pelo Esprito daquele que fora o nosso pai terreno, antigo mdium de boas faculdades curadoras, mas cuja instruo doutrinria no passara da leitura de "O Livro dos Espritos" e do Evangelho segundo o Espiritismo", ambos de Allan Kardec. Havia ele falecido a 25 de Janeiro do mesmo ano, e era a primeira vez que se comunicava mais demoradamente, tudo indicando que assim fazia no intuito de esclarecer justamente aquilo em que nos reconhecia equivocada.. Dizia ele, psicograficamente, descrevendo as impresse5 vividas durante a rpida agonia que teve, e depois as estranhezas no Alm-Tmulo: - ". . . Acabei por perder mesmo os sentidos ou adormecer, no sei ao certo... e no pude ver mais nada... Quando despertei, j no me encontrava deitado em meu leito, o que me surpreendeu, pois no me lembrava de t-lo abandonado antes. Fui despertando com lentido. Eu ouvia e percebia muita coisa, mas confusamente, e no me podia mexer nem abrir os olhos, e sentia frio. Parecia antes um entorpecimento, que se desfizesse ao poucos, em vez do despertar de um sono, o estado em que me encontrava. Sentia-me sentado numa cadeira de balano e compreendia que fora transportado para local muito aprazvel, fresco, ameno. O dia estava lindssimo, com um cu muito claro, sol faiscante, e suave brisa baloiava uns galhos de flores trepadeiras, que eu vaga- mente percebia junto de mim, os quais cheiravam muito agradavelmente, pois me encontrava numa espcie de varanda orlada de trepadeiras floridas, em uma casa igualmente aprazvel, mas desconhecida para mim. Fazia muito silncio e eu me encontrava s. O nico rumor partia do orquestrar longnquo de uns pssaros, verdadeira melodia que ressoava aos meus ouvidos com delicadeza e ternura (6). A princpio, imaginei encontrar-me em casa de minha cunhada Ernestina, onde havia tambm uma varanda e pssaros cantadores presos em gaiolas. Posteriormente, porm, verifiquei tratar-se de uma residncia fludica de AlmTmulo, onde morava minha me e onde eu prprio iria residir como desencarnado..." Mais adiante, continuava a narrativa, recordando as primeiras impresses de recm-liberto: - "No compreendia bem o que se passava. Espreguicei-me muito, pois sentia os rgos (do perspirito) meio entorpecidos. Bocejei e tossi com estrondo, como habitualmente fazia, e fumei um cigarro (7). O dia era to lindo, com a atmosfera mesclada de azul, que me levantei, reanimado, e debrucei-me varanda, a fira de apreciar a paisagem. Sentia-me bem de sade, nenhum mal-estar fsico me importunava. Procurei ver os pssaros, que continuavam a cantar, mas no consegui avist-los. Aspirei os perfumes das flores trepadeiras e pus-me a assoviar minhas melodias preferidas. Sentia-me satisfeito e no pensava absolutamente nada. Dir-se-ia que minha mente repousava. Li, depois, um jornal, ali mesmo, na varanda, e tomei uma xcara de caf, como de hbito. Penso que me encontrava assaz abstrado, pois

no percebi quem me servira o caf e me obsequiara com o jornal... Resolvi, ento, fazer um passeio, o que havia muito no me era permitido. Mas, subitamente, lembreime de que no deveria faz-lo, porque me encontrava debilitado, doente... Pus-me a relembrar de tudo o que se passara comigo mesmo, nos ltimos tempos, e a confuso estabeleceu-se.., e terminei desconfiando que algo irremedivel, mas muito importante, adviera em mi(6) A entidade comunicante amava os pssaros e costumava deter-se longo tempo a ouvir o cntico dos canrios que possua, quando encarnada. (7) Vide "O Livro dos Mdiuns", Cap. VIII - "Laboratrio do Mundo Invisvel".

nha vida... A morte to simples, to pouco diferente da vida, que opera essa confuso... Em geral se espera encontrar, depois da morte, coisas fantsticas, imaginrias, impossveis e pouco lgicas, ao passo que, em verdade, o Alm-Tmulo nada mais que a continuao da vida que deixmos... Pelo menos, assim o foi para mim. O senso da responsabilidade, o exame angustioso dos de- mritos, assim como o reconforto do dever que se observou, somente advm mais tarde. . . " Alongam-se os detalhes, narrando a presena de entidades amigas, que de incio no reconheceu, e conclui: - "Ento, surpreendido, vi mame aproximar-se de mim, caminhando ao longo da varanda. Trajava longo vestido branco e achei-a bonita e rejuvenescida, tal como na poca em que enviuvara, isto , nos seus vinte e cinco anos de idade. Curvou-se afetadamente diante de mim, para cumprimentar, como se desejasse brincar, e exclamou, risonha: - "Louvado seja Deus, meu filho! Que boa surpresa, voc poder vir para junto de sua me!... Somente ento, caindo em mim, recebi um como choque de espanto, como quem despertasse de um marasmo metal, e compreendi o que se passava. Em rpido rememorar, deslizou minha imaginao tudo quanto ocorrera, tal se uma faixa luminosa reproduzisse diante dos meus olhos as cenas que eu necessitava ver para meu esclarecimento: meu corpo inerte dentro de um caixo morturio, vocs chorando por mim, meu enterro, humilde e pobre, e minha sepultura coberta de flores ainda frescas. Havia trs dias que se dera o decesso. Ento, eu chorei tambm, comovido e amedrontado... O lugar onde vivo uma pequena "cidade", pobre, mas pitoresca. Muito aprazvel, sossegada, indicada para a convalescena daqueles que, como eu, atravessaram uma existncia de penrias e provaes, e convidativa para a meditao e a reorganizao das ideias para as futuras tentativas espirituais e terrenas. H, aqui, jardins, lagos e rios muito belos e muito azuis, como refletindo o cu, tal como os da. Tenho observado, no entanto, que nem os rios nem os lagos sero propriamente formados pela gua, como a. Dir-se-ia tratar-se de gases singulares, de lquidos fluidificados que imitariam ou equivaleriam s guas terrenas. Silncio constante, s quebrado pelo cntico de mil pssaros, que no se deixam ver. Como ainda no trabalho, pois sou convalescente de uma existncia de sofrimentos e amarguras intensas, fao passeios e admiro as belezas do ambiente, o qual, no obstante modesto, a que de mais agradvel eu poderia aspirar. E' uma coisa to linda e singular que me faltam palavras para descrev-la... No pensei, quando "vivo", pudesse algum residir em local assim, depois de desencarnado, e ainda no compreendi bem como pode ser tudo isso... Mas o Dr. Carlos (8) diz que farei um estudo sobre todos esses assuntos e os compreenderei integralmente, muito breve, porquanto este ambiente em que vivo espiritual e no planetrio..." Presentemente, esse Esprito, que em 1935 assim se expressava, encontra-se internado em um "Reformatrio" do Invisvel, para fazer um curso, ou aprendizado, de cuja natureza no fomos informada, mas tendo em vista uma prxima encarnao, em que grandes responsabilidades lhe cabero. Um raciocnio sereno, ponderado, isento de prevenes, levar-nos- a concluir, por tudo isso, que o Mundo Invisvel no poderia, mesmo, ser uma abstrao, o vcuo onde nada existisse, pois semelhante hiptese seria a negao do prprio Poder Divino, seria quase o "nada" dos negativistas, depois da morte. A prpria qualificao "Mundo Invisvel" est a indicar que algo

(8) A entidade espiritual Charles, Esprito-guia da famlia.

existe, sim, mas que os olhos carnais do homem so impotentes para contemplar. De outro modo, declarando os Espritos esclarecidos, como sempre o fizeram, que a vida de Alm-Tmulo intensssima, real; que l as entidades desencarnadas (e at as encarnadas, com especialidade as almas aplicadas a um desejo de progresso mais rpido ou a um ideal a favor da Humanidade) fazem aprendizados, estudos variados, realizam tarefas e misses em torno de causas nobres e a bem do prximo; que existem regies no Espao (esferas) (9) interditadas a entidades inferiores, pontos onde se aglomeram Espritos de sbios, e ainda outros onde se renem artistas, etc., necessariamente estaro afirmando, em essncia, que na vida espiritual existir tudo o que necessitaremos para a realizao dos mesmos aprendizados, estudos, tarefas e misses. E se tudo isso existe, porque no existiro as demais realidades que vm sendo reveladas desde sempre?... Ao demais, todos os Espritos que se referem vida do Alm asseveram no encontrar palavras bastante expressivas para descreverem no s a intensidade, como a harmonia e a beleza do mundo espiritual. Suas palavras, as descries que fazem desses locais, ou criaes do Invisvel, e que do a ver aos mdiuns, estes s podero transmitir empalidecidas pelo constrangimento da palavra humana, to pobre e imperfeita que at mesmo as regies mais simples do plano astral no so descritas a contento. Para transmitirem o que at hoje h sido trazido s criaturas pelos Guias Espirituais, -lhes necessrio criar imagens para os mdiuns, imagens estas subordinadas ao grau de concepo e poder assimilativo dos mesmos, o que obrigar prpria faculdade medinica uma operao mental, um jogo de traduo, se de tal expresso nos poderemos servir, que nem sempre reproduzir com(9) "O Livro dos Espritos" - Perguntas 87 e 402.

fidedignidade as informaes e os esclarecimentos que o Esprito comunicante pretende prestar. Ainda assim, para que tais coisas se faam, verdadeiras torturas sero necessrias ao mdium e ao seu Instrutor Espiritual. Em primeiro lugar, o mdium dever redobrar esforos no sentido de renovar-se, moral e mentalmente, durante o perodo de adestramento das faculdades, a fim de, na poca oportuna, conseguir fcil intercmbio com a Espiritualidade mais alta, comunho que ter de ser constante, permanente, atravs dos atos cotidianos e no somente s horas de trabalho objetivo, de modo a que a permuta de vibraes o prepare satisfatoriamente para o melindroso ministrio e o conserve unido a seus dedicados mentores espirituais. Tal como esclarecem os cdigos da Doutrina Esprita e a prtica da mediunidade confirma, suas vibraes, suas faculdades em geral, no momento do intercmbio medinico, tero de ser potenciadas ao mximo que sua natureza fsica, psquica e mental suportarem, o que para ele equivaler a uma operao transcendental algo torturante, enquanto a entidade instrutora comunicante dever rebaixar suas prprias vibraes e demais faculdades, at equipar-las, ou harmoniz-las, com as do mdium, o que, igualmente, para aquela entidade, ser como tortura e uma abnegao dignas do nosso respeito e da nossa venerao. Em tais ocasies, o mdium poder entrever o mundo invisvel. Frequentemente ele o percebe.., e o que a enxerga ou apreende no consegue explicar integralmente, porquanto no dispe o crebro humano dos necessrios recursos para uma transmisso perfeita. Durante suas fugas em corpo astral, pelo Espao em fora, o que ele v e presencia, com seus Guias, no , de forma alguma, um aglomerado de sombras, o vcuo ou o invisvel inexpressivo (10). , sim, uma(10) Em muitas reunies de experimentao, frequente o mdium que obtm a comunicao, ou

outros que a elas assistem, distinguirem o panorama ou os ambientes mentais que circundam o Esprito comunicante. Recentemente, em certa sesso para cura de obsesses, realizada num

Centro Esprita do Mier, E. da Guanabara, durante a manifestao do Esprito de um infeliz brio, que atuava sobre um pobre homem, chefe de numerosa famlia, impelindo-o embriaguez, foram vistos, pelos mdiuns presentes, um barril de aguardente e um cenrio como de taverna, enquanto forte cheiro de lcool, percebido por todos os presentes, se derramava pela sala. Na cidade de Pedro Leopoldo, em uma sesso do Grupo "Meimei", na qual tomava parte o conceituado mdium Francisco Cndido Xavier, em Maro de 1956, comunicavase, por um dos mdiuns presentes (Geraldo Rocha), o Esprito de um bispo catlico. Essa entidade no s se deixou ver, por vrias das pessoas presentes, envergando trajes sacerdotais, como tambm o ambiente em que vivia como desencarnado: um belssimo recanto de Catedral, com os vitrais fluindo luzes multicores de grande efeito.

vida intensa, real, ativa, superior, espiritualizada, onde o que existe superlativamente melhor e mais belo do que o existente na Terra, referncia feita aos planos felizes do mesmo Invisvel. Est acima de tudo quanto o seu crebro pudesse inventar, pois no percamos de vista o fato de que, geralmente, os mdiuns no tm cultura intelectual to slida para poderem criar, por si mesmos, assuntos dos quais, s vezes, jamais ouviram falar, seno vasto cabedal psquico armazenado, em sua subconscincia, desde passadas existncias, fceis de seus Guias-Instrutores acionarem, a fim de poderem transmitir, ou compreender, o que veem. De tudo quanto a respeito observamos, e do que a Revelao Esprita nos participa, chegaremos, pois, s concluses seguintes, as quais, para a maioria dos adeptos do Espiritismo, no sero, certamente, surpreendentes novidades: As construes do meio invisvel so edificadas com as essncias disseminadas pelo Universo infinito, para a realizao dos desgnios da Providncia a nosso respeito, isto , para a criao de quanto seja til, necessrio e agradvel ao nosso Esprito, quer se encontre este sobre a Terra, reencarnado, ou fruindo os gozos da Ptria Espiritual; trata-se do fluido csmico universal, ou de certas modificaes deste, de que se origina o fluido espiritual; do ter fecundado, fonte geradora de tudo quanto h dentro da Criao, inclusive os prprios planetas materiais e o nosso perspirito. Daremos a essas realizaes espirituais o nome que quisermos, ou que a pobreza da nossa linguagem puder interpretar. O certo que tais essncias, tais fluidos, so to reais, to concretos para os desencarnados como os elementos do mundo em que vivemos o so para ns. Unicamente, os desencarnados construiro, no mundo espiritual, de maneira bem diversa daquela que empregamos na Terra. No Espao, como, alis, na Terra, a vontade soberana, o pensamento motor, produtor, criador. Rene-se, por exemplo, um grupo, uma falange de Espritos evoludos, que resolvem criar uma comunidade social no Espao, destinada a acelerar seus trabalhos e iniciativas em prol do progresso e do bem comum. So espiritualmente homogneos, dotados de elevadas capacidades morais, intelectuais e artsticas, alm de serem tcnicos no assunto. Seus pensamentos vibram unssonos, do que resultam irradiaes e movimentaes poderosas, coordenadoras, intensas at ao deslumbramento e ao incompreensvel para ns outros, os mortais inferiores. Eles j teriam programado o que desejavam produzir: uma escola para a reeducao geral de Espritos frgeis que delinquiram nas experincias terrenas; um asilo ou reformatrio, um hospital para o reajustamento mental ou vibratrio de pobres sofredores que partiram da Terra envoltos em complexos deplorveis; um palcio para reunies solenes, uma cidade. A fora motora dos seus pensamentos poderosamente associados e disciplinados, irradiando energias cuja natureza o homem ainda no poder conceber, agir sobre aqueles fluidos e essncias e edificar o que antes fora delineado e desejado. Comumente, esse trabalho lento e requer perseverana para o seu aperfeioamento. Ser tanto mais rpido quanto maiores forem as potncias mentais criadoras reunidas. Essas criaes, tais como forem - belas, artsticas, verdadeiros trabalhos de ourivesaria fludica, deslumbrantes, mesmo, por vezes obedecero, no entanto, s recordaes ou gosto esttico dos opera- dores, razo por que se parecem com as da Terra, sem que as da Terra se paream com elas, como afirmou algures a ilustre entidade espiritual Andr Luiz, pois que muito mais perfeitas so elas do que os homens julgam. No obstante, somos levada a julgar, graas s mesmas observaes a que nos conduz a Revelao, que essas edificaes no sero permanentes nem fixas numa

determinada regio. Sero antes mveis, transplantando-se para onde se faa necessria a presena da falange que as criou. Sero passveis de se dissolverem sob o desejo dos seus criadores, ou de se modificarem segundo as convenincias. Se essa falange receber em seu seio discpulos e pupilos, estes podero tornar-se cooperadores, exercitando os prprios poderes mentais na criao de detalhes, sujeitos ao veredicto dos mestres, e assim progrediro em saber, desenvolvendo foras latentes, evoluindo e se engrandecendo, pois tudo isso caminhar para a perfeio. Tratando-se de entidades inferiores, d-se idntico fenmeno de criao mental, no obstante a diferena impressionante na direo criadora, uma vez que estes operadores ignoram sejam os ambientes que os rodeiam criaes de suas prprias mentes, pois que o feito tambm se poder operar revelia da vontade premeditada e intencional, sob o choque emocional da mente exacerbada, bastando apenas que seus pensamentos trabalhem ou se impressionem com imagens fortes, como acontece com os suicidas, que vivem rodeados de cenas macabras de suicdio. Certamente que, deseducadas, criminosas, muitas vezes dadas ao mal, com suas irradiaes mentais contaminadas pelo vrus de mil prejuzos, essas entidades se cercaro, no AlmTmulo, de criaes grosseiras, dramticas, mesmo trgicas, que a elas mesmas horrorizam, pois que eivadas de todas as artimanhas e ciladas oriundas dos pensamentos inferiores. E, reunidos tais Espritos em grupos e falanges, em virtude da lei de similitude, que os leva a se atrarem uns aos outros, tero criado, ento, seus prprios infernos, suas prprias prises, seus antros ignbeis, a que nada sobre a Terra poder assemelhar-se. E os criam servindo-se das mesmas foras motoras do pensamento, agindo sobre as mesmas essncias, os mesmos fluidos, as mesmas ondas vibratrias do ter. Tais, porm, sejam as necessidades de interesse geral, essas regies, e com elas os Espritos inferiores seus criadores, sero localizadas num ponto ermo do Invisvel ou da Terra mesma, temporariamente, a fim de que eles se no imiscuam com os homens e vislumbrem, na forja dos sofrimentos, o imperativo de regenerao e progresso. E' a isso que os instrutores espirituais denominam "Invisvel Inferior", porque ns outros precisaremos de alguma expresso, de um vocbulo para nos apossar dos ensinamentos fornecidos pelo Espao. Ns mesmas, as criaturas encarnadas, estaremos dentro de "regies" criadas pelo nosso pensamento, alm de permanecermos na crosta do planeta. Nossos pensamentos estaro estereotipados, concretizados pelo poder motor das nossas energias mentais atuando sobre os fluidos sublimes em que mergulha o Universo criado pelo Todo-Poderoso, embora no se trate de movimento to intenso nem to real como os de um desencarnado. Mas, ainda assim, devido a isso que os desencarnados surpreendero o que pensamos, o que so o nosso carter e o nosso sentimento, as nossas intenes e tendncias, pela natureza das "edificaes" mentais que nos acompanham. "O reino de Deus est dentro de vs, asseverou o Cristo. E ns outros certamente poderemos acrescentar: "E tambm o nosso inferno! Eis porque nossos Guias Espirituais, tal como a advertncia invarivel das filosofias religiosas, nos aconselham a educar nossas mentes, impelindo-as para as nobres e elevadas expresses da alma. E' que visam a guiar-nos para um estado vibratrio futuro, no Alm-Tmulo, que nos abrigue de desditas e vexames. A tese, como bem se percebe, complexa, intensa at vertigem... pois tudo o de que tratamos aqui se desdobra em modalidades e matizes infinitos, e no ser em uma crnica ligeira que a poderemos desenvolver perfeitamente, muito embora o faamos sob orientao dos mentores espirituais. Ora, foi-nos dito pelo Divino Mestre que ramos deuses... Sim, somos deuses! Possumos, sim, em modesta dinamizao, mas passvel de se desenvolver, pela ao do progresso, o grmen de todos os atributos que o Ser Todo-Poderoso possui em grau supremo e infinito. A est um desses atributos - o poder mental criador - que h passado despercebido a muitos de ns! Nosso pensamento , pois, criador, porque centelha do Pensamento Supremo; por conseguinte, cria, em torno de ns mesmos, pequenos universos e mundos para nossa ventura, necessidade ou desdita, enquanto no aprendermos a utilizar as energias superiores para fins sublimes. Nas prprias aes e realizaes meramente terrenas, no o pensamento o primeiro a tudo planejar mentalmente, para em seguida edificar

objetivamente?... Porventura, quando um grupo de homens resolve construir um palcio ou uma cidade, ou ainda qualquer empreendimento grandioso, no foi a sua mente que primeiro agiu e esboou a obra, sob a ao da prpria vontade? Quando a lavoura do linho ou dos cereais triunfa, dando-nos seus primorosos produtos, sustentando a vida do homem, no se serviu este, primordialmente, da sua mente, para conseguir a grande vitria? E quando, no Alm-Tmulo, falanges de Espritos elevados se renem para criar, com as foras mentais, essas "colnias", que fazem?. Estudam, habilitam-se, exercitam-se em aprendiza- dos sublimes, atravs dos tempos... At que, um dia, Espritos imortais, j glorificados pelo domnio de excelsas virtudes, sejam capazes de criar tambm um planeta, uma habitao para as experincias redentoras de uma Humanidade em marcha para o progresso - tal como Jesus em relao Terra, no princpio das coisas deste mundo, dentro das leis e da orientao da Criao Suprema. Tais estudos, todavia, pertencentes iniciao superior do Esprito, - e apenas vislumbrados, no momento terreno, pelas almas fortes -, sero de preferncia realizados na vida invisvel, onde muito se dilatam as capacidades de compreenso da criatura. Mas, dia vir em que, na prpria Terra, tais conhecimentos sero banais, como banal o estudo da Geografia... pois, efetivamente, no passa de um estudo geogrfico mais vasto... ampliado at quarta dimenso... ou ao estado fludico transcendental... * ** De posse de to importantes cabedais, fornecidos pela Nova Revelao, que o Espiritismo, o que temos a fazer no acoimar de ignorantes, intrujes e mistificadores os mdiuns que os tm recebido do Mundo Espiritual, mas procurar estudar, investigar e devassar, a fim de que a Verdade se patenteie, para proveito de todos, imitando os verdadeiros sbios e psiquistas, como Allan Kardec, Willia.m Crookes, Frederico Myers, Lon Denis, Ernesto Bozzano, Roberto Dale Owen, J. Arthur Findlay, Csar Lombroso, Alexandre Aksakof e tantos outros luminares de corao simples, aos quais o orgulho no cegou...

CAPITULO II Como se trajam os Espritos... "Os fluidos espirituais, que constituem um dos estados do fluido csmico universal, so, a bem dizer, a atmosfera dos seres espirituais; o elemento donde eles tiram os materiais sobre que operam; o meio onde ocorrem os fenmenos especiais, perceptveis viso e audio do Esprito, mas que escapam aos sentidos carnais, impressionveis somente matria tangvel; o meio onde se forma a luz peculiar ao mundo espiritual, diferente, pela causa e pelos efeitos, a luz ordinria; finalmente, o veculo do pensamento como o ar o do som. Os Espritos atuam sobre os fluidos espirituais, no os manipulando como os homens manipulam os gases, mas empregando o pensamento e a vontade. Para os Espritos, o pensamento e a vontade so o que a mo para o homem. Pelo pensamento, eles imprimem queles fluidos tal ou qual direo, os aglomeram, combinam ou dispersam, organizam com eles conjuntos que apresentam uma aparncia, uma forma, uma colorao determinadas; mudam-lhes as propriedades, como um qumico muda a dos gases ou de outros corpos, combinando-os segundo certas leis. E' a grande oficina ou laboratrio da vida espiritual." (ALLAN KRDEC - Gnese, Cap. XIV, Os Fluidos. Pargrafos 13 e 14.) Quando Joana d'Arc, a donzela de Orlees, era submetida a um daqueles terrveis interrogatrios que a Histria registou, no curso do processo da sua condenao, movida pela chamada Santa Inquisio, na Frana, um dos seus mais encarniados verdugos, ou juzes, justamente o Bispo de Beauvais, fez-lhe esta pergunta ardilosa, tentando confundi-la: - "So Miguel te aparece desnudo?.. ." pois sabe-se que um dos Espritos que a assistiam era por ela mesma considerado como sendo aquele santo da Igreja Catlica, uma das imagens que ela se habituara, desde a infncia, a ver e a venerar na pequena igreja da aldeia de Domremy, seu bero natal. Prontamente respondeu a donzela com outra interrogao, mas to profunda, to sutil e complexa que no a poderia ter compreendido a crueldade do estreito crebro dos seus algozes, mas que a posteridade, nos dias atuais, devidamente compreende e explica luz dos estudos transcendentais feitos pela Terceira Revelao, ou Espiritismo: - "Pensas que Deus no tem com que vesti-lo?..."- respondeu Joana. Sim! Deus, o Criador Onipotente, o Artista inimitvel, Senhor da Beleza Suprema, possui, espalhados pela sua criao infinita, at dentro das prprias possibilidades psquicas-vibratrias-mentais de seus filhos, os elementos e as energias que lhes permitem ataviar-se, uma vez desencarnados, consoante os seus prprios gostos artsticos ou simplesmente prticos, tais quais os encarnados. A Revelao Esprita fornece as bases necessrias compreenso do atraente fato, pois tanto nas obras de Allan Kardec como nas do seu eminente colaborador Lon Denis encontraremos fartos esclarecimentos quanto possibilidade da confeco espiritual de um traje, deste ou daquele "figurino", usado pelos habitantes do mundo invisvel. Citaremos alguns desses trechos esclarecedores, apenas, visto ser impossvel citar todos eles, dada a variedade do que poderemos a respeito encontrar. Alm dos pargrafos de "A Gnese", citados acima, leremos, ainda, no 3 do mesmo captulo: "No estado de eterizao, o fluido csmico no uniforme; sem deixar de ser etreo, sofre modificaes to variadas em gnero e mais numerosas talvez do que no estado de matria tangvel. Essas modificaes constituem fluidos distintos que, embora procedentes do mesmo princpio, so dotados de propriedades especiais e do lugar aos fenmenos peculiares ao mundo invisvel. Dentro da relatividade de tudo, esses fluidos tm para os Espritos, que tambm so fludicos, uma aparncia to material quanto a dos objetos tangveis para os encarnados, e so, para eles, o que so para ns as substncias do mundo terrestre. Eles os elaboram e combinam para produzirem determinados efeitos, como o fazem os homens com os seus materiais, ainda que por processos diferentes. No Cap. VIII de "O Livro dos Mdiuns" (Do Laboratrio do Mundo Invisvel), existe

longa e substanciosa revelao da fora criadora dos Espritos desencarnados, os quais, utilizando-se da matria prpria do Invisvel, ou seja, do fluido csmico que enche os espaos sem fim, a este manejam de sorte a construrem o que bem desejarem, com o poder que o pensamento e a vontade lhes concedem. O assunto das citadas revelaes se refere a uma apario masculina, que trazia nas mos uma caixa de rap. Dentre a copiosa contribuio, que servir de base para a nossa exposio, destacaremos os trechos seguintes, das perguntas feitas por Allan Kardec e das respostas fornecidas pelo Esprito de So Lus, um dos iluminados reveladores dos cdigos do Espiritismo: - "Dizes que era uma aparncia - pergunta Allan Kardec -; mas, uma aparncia nada tem de real, como uma iluso de ptica. Desejaramos saber se aquela caixa de rap era apenas uma imagem sem realidade, ou se nela havia alguma coisa de material?" Resposta de So Lus: - "Certamente. E' com o auxlio deste princpio material que o perisprito toma a aparncia de vesturios semelhantes aos que o Esprito usava quando vivo." (O grifo nosso.) Segue-se o comentrio de Allan Kardec, elucidativo e oportuno, para o qual remetemos o leitor, e depois encontraremos o prosseguimento da lio, com nova pergunta do Codificador: - "Dar-se- que a matria inerte se desdobre? Ou que haja no mundo invisvel uma matria essencial, capaz de tomar a forma dos objetos que vemos? Numa palavra, tero estes um duplo etreo no mundo invisvel, como os homens so nele representados pelos Espritos?" Resposta: - "No assim que as coisas se passam. Sobre os elementos materiais disseminados por todos os pontos do espao, na vossa atmosfera, tm os Espritos um poder que estais longe de suspeitar. Podem, pois, eles concentrar sua vontade esses elementos e dar-lhes a forma aparente que corresponda dos objetos materiais." (Grifo nosso.) - "Formulo novamente a questo, de modo categrico, a fim de evitar todo e qualquer equvoco: So alguma coisa as vestes de que os Espritos se cobrem?" - "Parece-me que a minha resposta precedente resolve a questo. No sabes que o prprio perspirito alguma coisa?" - "Resulta, desta explicao, que os Espritos fazem passar a matria etrea pelas transformaes que queiram e que, portanto, com relao caixa de rap, o Esprito no a encontrou completamente feita, f-la ele prprio, no momento em que teve necessidade dela, por ato de sua vontade. E, do mesmo modo que a fz, pde desfaz-la. Outro tanto naturalmente se d com todos os demais objetos, como vesturios, joias, etc. Ser assim?" (Grifo nosso.) - "Mas, evidentemente. " - "A caixa de rap se tornou to visvel para a senhora de que se trata, que lhe produziu a iluso de uma tabaqueira material. Teria o Esprito podido torn-la tangvel para a mesma senhora?" - "Teria. " - "T-la-ia a senhora podido tomar nas mos, crente de estar segurando uma caixa de rap verdadeira ?" - "Sim." - "Se a abrisse, teria achado rap? E, se aspirasse esse rap, ele a faria espirrar?" - "Sem dvida." - "Pode ento o Esprito dar a um objeto, no s a forma, mas tambm propriedades especiais?" (11)(11) Muitos Espritos, antes de se deixarem ver pelos mdiuns, ou de se comunicarem, revelam sua presena atravs do perfume que lhes mais grato, ou que o foi quando encarnados. As entidades espirituais Charles e Frederico Chonpin se revelam pelo perfume de violeta, com

certo detalhe que torna inconfundvel um perfume do outro, ou seja, a presena de um desses Espritos da presena do outro, tal se se tratasse, antes, de particularidades de vibraes. O Esprito "Scheilla", ex-enfermeira alem, morta em uni bombardeio areo, durante a guerra mundial, e que se comunica com o mdium Francisco Cndido Xavier, revela-se por um forte e muito materializado cheiro de ter, lembrando a sua profisso, em cujo exerccio desencarnou. Espritos sofredores e inferiores costumam fazer-se notados pelo cheiro de bebidas alcolicas, de fumo, de podrido e at de decomposio cadavrica. E aqueles vitimados em desastres, e que vm a morrer durante a estada nos hospitais, costumam desprender o cheiro do iodofrmio, do iodo, do formol, etc. E no muito raro um Esprito amigo, familiar, dar ao seu mdium o perfume que sabe este aprecia, o que representa uma das muitas formas de afetividade e carinho com que to bondosos amigos brindam seus aparelhos medinicos.

- "Se o quiser. Baseado neste princpio foi que respondi afirmativamente s perguntas anteriores. Tereis provas da poderosa ao que os Espritos exercem sobre a matria, ao que estais longe de suspeitar, como eu disse h pouco." (Grifo nosso.) E assim prossegue a lio, num encadeamento atraente, que conviria o leitor apreciar. Ainda no volume "A Gnese", tambm no Cap. XIV, pargrafo 14, veremos o seguinte: "Algumas vezes essas transformaes (dos fluidos espirituais) resultam de uma inteno; doutra, so produto de um pensamento inconsciente. Basta que o Esprito pense numa coisa, para que esta se produza, como basta que modele uma ria, para que esta repercuta na atmosfera. E' assim, por exemplo, que um Esprito se faz visvel a um encarnado que possua a vista psquica, sob as aparncias que tinha quando vivo na poca em que o segundo o conheceu, embora haja ele tido, depois dessa poca, muitas encarnaes. Apresentam-se com o vesturio, os sinais exteriores enfermidades, cicatrizes, membros amputados, etc. - que tinham ento." (O grifo nosso.) Nas obras de Lon Denis vamos encontrar o precioso argumento a cada passo, confirmando tudo quanto os videntes tm revelado sobre o vesturio dos Espritos. No captulo XX de "No Invisvel" - "Aparies e materializaes de Espritos" - farto e encantador o noticirio a respeito, desenvolvendo explicaes sobre o modo por que operam as entidades desencarnadas, ao desejarem criar algo, e dos elementos, ou matrias sutis, de que se servem para tanto. Citaremos pequenos trechos, convidando o leitor a uma consulta a todo o belo captulo: "As prprias nebulosidades, agregados de matria csmica condensada, germens de mundos, que na profundeza dos espaos nos mostram os telescpios, vo reaparecer na primeira fase das materializaes dos Espritos. E' assim que a experimentao esprita conduz s mais vastas consequncias. A ao do Esprito sobre a matria nos pode fazer compreender de que modo se elaboram os astros e se consuma a obra gigantesca do Cosmos. " Mais adiante, destacaremos: "Numa sesso, o Esprito de Llia forma com um sopro, aos olhos dos assistentes, um tecido levo de gaze branca, que se estende pouco a pouco e termina por cobrir todas as pessoas presentes. E' um exemplo de criao pela vontade, que vem confirmar o que dizamos no comeo deste captulo. " E mais alm ainda: "Recordamos tambm o caso de Emma Hardinge, assinalado pelo Sr. Colvilie: apareceu ela com o vestido de rainha das fadas, que trouxera muito tempo antes, em sua mocidade. Nesse caso, como em alguns outros, a apario parece no ser mais que simples imagem mental exteriorizada pelo Esprito, e que adquire bastante consistncia para ser percebida pelos sentidos." (O grifo nosso.) "No somente o Esprito domina os elementos sutis da matria, de modo a impressionar a placa sensvel e os rgos dos videntes, mas nas aparies visveis para todos pode ainda reproduzir, pela ao da vontade, as formas que revestiu e os trajes que usou na Terra e que lhe permitem fazer-se reconhecer. Esse , com efeito, o objetivo essencial de tais manifestaes. Da as roupagens, vestes, armas e acessrios com que se apresentam as aparies."

Na excelente obra "O Problema do Ser, do Destino e da Dor", captulo XX - "A Vontade" - tambm de Lon Denis, encontraremos este pequeno trecho, alm de outros favorveis nossa tese e que seria fastidioso citar: "Em todos os domnios da observao achamos a prova de que a vontade impressiona a matria e pode submet-la a seus desgnios. Esta lei manifesta-se com mais intensidade ainda no campo da vida invisvel. E' em virtude das mesmas regras que os Espritos criam as formas e os atributos que nos permitem reconhec-los nas sesses de materializao. Ora, assim sendo, sentindo-nos vontade sobre to slidas bases para descrever o que desejamos, no recorreremos aqui a Ernesto Bozzano, nem a William Crookes ou a Aksakof, embora certa de que tambm em suas obras encontraramos elementos que confirmariam o que conosco se tem passado no decurso de nossas atividades medinicas... * ** Durante as numerosas ocasies em que, como vidente, temos observado entidades desencarnadas, quer em nosso estado normal, quer quando nos h sido possvel penetrar o mundo invisvel, levada em corpo espiritual (perspirito) pelos Guias e Instrutores que nos deferem essa honra, grande nmero de Espritos temos visto, e at com eles convivido, se deste modo nos podemos expressar, de variada gradao moral e intelectual, e apenas uma vez nos recordamos de ter percebido um inteiramente desnudo. Contrariamente, o que temos presenciado nos confere o direito de categoricamente afirmar que - sim! - os Espritos se trajam e modificam a aparncia das vestes que usam conforme lhes apraz, excluso feita de alguns muito inferiores e criminosos, geralmente obsessores da mais nfima espcie, cuja mente no possui vibraes altura de efetuar a admirvel "operao plstica" requerida. Por isso mesmo, a aparncia destes ltimos costuma ser chocante para o vidente, pela fealdade, ou simplesmente pela misria, pois se apresentam cobertos de andrajos e farrapos, como que empapados de lama, ou embuados em longos sudrios negros, com mantos ou capas que lhes envolvem os ombros e a cabea e, no raro, mascarados por um saco negro enfiado na cabea, com duas aberturas altura dos olhos, tais os antigos verdugos da Inquisio, uniformizados para operaes nas salas de suplcios, de que nos do conhecimento as gravuras antigas. Longos chapus costumam trazer tambm, assim como botas de canos altos, conquanto muito difcil seja ao mdium distinguir-lhes os ps. Tais Espritos procuram, frequentemente, esconder o rosto e insultam rudemente o mdium, se este os surpreende com a viso. Certamente que o instrumento medinico, diante de uma apario dessa categoria, precisar estar de posse de toda a tranquilidade fornecida pela f e pela confiana adquiridas atravs do exerccio medinico, a fim de se no deixar envolver pelas faixas daninhas expelidas pela entidade, cuja presena, se se tornar constante, poder produzir, a um mdium pouco experimentado, desequilbrios graves e at mesmo a obsesso. A prece ser sempre a melhor defesa contra essa espcie de habitantes do mundo invisvel. Se a prece for feita com a necessria confiana, levando o mdium a se harmonizar com as vibraes superiores do Alm, geralmente tais entidades se afastam com rapidez, apavoradas e contrafeitas. Tais aparies, no entanto, no so frequentes, parecendo-nos mesmo que as que temos surpreendido somente nos foram permitidas sob a direo dos nossos Instrutores Espirituais, para a necessria observao e estudo. Raramente aceitam elas uma conversao doutrinria. Cremos que somente a reencarnao, num trabalho de educao pela dor dos aprendizados pungentes, ter eficincia no seu soerguimento moral. Ainda que tal revelao - a do vesturio dos Espritos - desagrade a alguns estudiosos, que no admitem tal possibilidade, e que tm os Espritos como seres diferentes dos homens, abstratos, vagos, no poderemos afirmar seno que, pelo menos os que se conservam chegados Terra, pelas lembranas de terem sido homens muitas vezes, so eles to simples e naturais que nos do a impresso de homens apenas algo mais frgeis na sua estrutura, mais belos alguns, porque

lucilantes e delicadssimos na sua feio perispiritual, mas hediondos e repulsivos outros, porque de aparncia inferior ao comum dos mortais terrenos, mais desagradveis vista. Muitas vezes, durante nossas oraes dirias, nos vemos rodeada de entidades sofredoras, que, ao que parece, at ns so encaminhadas pelos Guias Espirituais a fim de participarem no somente das preces consolativas que fazemos, mas tambm da leitura doutrinria que sistematicamente realizamos todas as noites, leitura que parece instru-las, norte-las, consol-las de suas dvidas e infortnios e dos desapontamentos prprios do mundo invisvel, pois, quando lemos, as vibraes da nossa mente repercutem no entendimento dessas entidades como a palavra enunciada e somos ouvidos e compreendidos por elas tal se falssemos em voz alta. Da porque dever o mdium, principalmente, se conservar sempre vigilante com as leituras que fizer, as quais podero torn-lo um polo de atraes afins, ao sabor da sua mesma natureza. Nessas ocasies, isto , quando oramos ou estudamos, somos visitada por suicidas chorosos e desolados, por pobres criaturas surpreendidas pela desencarnao em desastres, etc. Mostram, ento, chorando, braos esmagados, pernas amputadas, ferimentos variados, de onde corre o sangue, trazendo eles prprios vestes ensanguentadas. Suicidas se apresentam contorcendo-se em dores ocasionadas pelo envenenamento, ou asfixiados pelo enforcamento, e um mundo extenso de dores e desolaes se delineia nossa viso. Muitos desses se tm reanimado com as pginas do captulo VI de O Evangelho segundo o Espiritismo", de Allan Kardec (O Cristo Consolador), pois a esses de dispensar, antes de mais nada, as consolaes do amor do Cristo, as esperanas no amparo e na misericrdia do Eterno. As explicaes da Cincia e as elucidaes da Filosofia, to somente, no faro eco sobre suas desgraas. Sero necessrios o Evangelho e a prece para fortalec-los e seren-los na confiana de um socorro celeste, para, depois, ento, adquirirem a compreenso da Filosofia e a provas irrefutveis da Cincia. Certa vez, o Esprito de um jovem, que aparentava 18 ou 20 anos de idade, apresentou-se nossa viso, todo envolvido em ataduras de gaze, da cabea aos joelhos, braos, mos, rosto. Chorava; e um cheiro forte de iodofrmio anunciou sua presena antes mesmo da materializao. Compreendemos que seu trespasse se efetivara por uma exploso e que falecera no hospital; pois o panorama dos acontecimentos relacionados com a desencarnao da entidade comunicante, ou mesmo passagens de seu drama ntimo, so revelados ao mdium atravs das suas prprias irradiaes (ou de sua aura), o que produz intuies quase instantneas, espcie de conversao teleptica, ou vibratria, que desvenda as cenas e enseja esclarecimentos para o que se h-de tentar, a fim de minorar a sua aflio. Como sempre, em presena desse Esprito, procurmos fazer leitura amena e esclarecedora, convidando-o a ouvi-la, o que fez com grande respeito e ateno. Ormos juntos e conversmos depois, embora ligeiramente. E tivemos a satisfao de v-lo sorrir e agradecer, ao se afastar. Nenhuma conquista humana, nenhum prazer ou alegria deste mundo se poder comparar felicidade de um mdium que j se viu envolvido em tarefa desse gnero. O consolo que ele prprio recebe, se sofre, a doura inefvel de que se sente invadir, ao verificar que conseguiu auxiliar um desses pequeninos a quem Jesus ama e recomenda, ultrapassa todas as venturas e triunfos terrenos. E' como se ele prprio, o instrumento medinico, houvesse mergulhado em vibraes celestes, atravs das lgrimas do sofredor do Invisvel, as quais procurou enxugar. Evidentemente que um servio dessa natureza, realizado por um mdium desacompanhado de colaboradores, nem ser de fcil realizao nem dever ser encetado levianamente. Ser antes espontneo, provocado e dirigido to somente pelos Instrutores Espirituais, assim mesmo quando acharem o mdium em condies vibratrias adequadas para o feito. Parece que o mdium, ento, imunizado de perigos por processos que escapam nossa compreenso, o que indica no dever ele jamais desejar ou provocar semelhantes experincias. Ao demais, antes que tais labores sejam confiados responsabilidade de um aparelho medinico, ser necessrio que ele se tenha preparado longamente atravs de um tirocnio ininterrupto, que se tenha desprendido, muitas vezes, do mundo e de si mesmo, atravs de renncias e dolorosos

testemunhos, de forma a que o corao, ferido por dores inconsolveis na Terra, esteja preparado para a compreenso exata das lides do invisvel. Muitas dessas entidades, porm, se debruam sobre o nosso ombro e leem conosco, interessadas, naquilo que estudamos, o que testemunha ser a vida espiritual sim- pies como a nossa prpria vida, a continuao desta, to somente. Temos observado que algumas de tais entidades colocam os culos a que estavam habituadas, quando encarnadas, para lerem melhor, conosco... Geralmente so, como ficou dito, leituras escolhidas as que fazemos, ou do Evangelho, que projetem com vigor a personalidade e os feitos do Cristo, ou de obras espritas que melhor toquem o corao. Assim sendo, esses pequeninos e sofredores se afeioam ao mdium que os ajudou nos dias difceis e se tornam amigos fervorosos para todo o sempre, estabelecendo-se, ento, indissolveis elos de fraternidade. H cerca de um ano, pela madrugada, estando ns ainda desperta, apresentouse nossa viso um Esprito cujo decesso carnal se teria dado entre os seus trinta e oito ou quarenta anos de idade. Trajava-se pobremente, com terno azul-marinho, j usado, camisa branca tambm bastante usada, gravata preta, atada com certo desleixo. Esqulido e abatido, infinitamente triste, mas j resignado prpria condio, colocou a mo sobre a nossa, num gesto fraterno, e disse: - Venho agradecer-lhe os votos feitos, em minha inteno, bondade de Deus... Suas preces me auxiliaram tanto que at minha famlia, que deixei na Terra, foi beneficiada... Chamo-me Joaquim... e meu nome est no registo do seu caderno de apontamentos... Constatmos, ento, que esse visitante fora suicida... e, materializado, pudemos observar que havia terra em sua indumentria, isto , impresses da poro de terra em que fora sepultado, assim como sua mente permanecia afeita ao vesturio que habitualmente usava quando vivo, e com o qual fora tambm para a sepultura. Como, efetivamente, possumos um caderno onde registamos nomes de suicidas e pessoas falecidas em geral, conhecidos ou colhidos dos noticirios dos jornais, procurmos verificar se realmente existia nos ditos apontamentos aquele singelo nome. E encontrmos, de fato, entre os suicidas, um Joaquim Pires; tratava-se, portanto, de um dos destacados dos noticirios dos jornais, recomendado para as preces e as leituras dirias. E estamos certa de que ser um bom amigo, cuja afeio nos acompanhar pelo futuro afora... * ** At o momento presente, os Espritos mais bem "trajados e mais belos que tivemos ocasio de observar atravs de materializaes, durante a viglia e tambm no mundo invisvel, por ocasio do desdobramento do corpo astral, foram os que passamos a citar. A entidade que se denomina Charles, martirizado por amor ao Evangelho, no sculo XVI, na Frana, durante a clebre matana de So Bartolomeu, comumente se deixa ver em trajes de iniciado hindu, tendo-se mostrado, uma nica vez, em trajes de prncipe indiano, visto que no sculo XVII foi soberano na ndia. Frederico Chopin, que j variou a indumentria quatro vezes em suas aparies, deixando-se perceber, em duas delas, apuradamente trajado moda da sua poca (reinado de Lus Filipe, na Frana), mas todo envolto num como luar azul translcido, como neblina. Vtor Hugo, a quem s pudemos distinguir o busto, tambm envolto em neblinas lucilantes, argnteas, com reflexos azuis pronunciados, sem que pudssemos destacar o "feitio" dos trajes. A falange de iniciados hindus, de que somos pupila espiritual, com todos os seus integrantes esforando-se por serem contemplados em seu "uniforme" caracterstico, as gemas do anel e do turbante inclusive, envoltos em neblinas lucilantes, com reflexos azuis. Lzaro Zamenhof, o criador do Esperanto, vaporoso mas muito humanizado em seu terno do sculo XX, circundado de um halo como que formado de ondas concntricas, que indicaria o elevado trabalho intelectual (detalhe tambm observado em Vtor Hugo), e esbatida a sua configurao perispiritual por um jacto de luz radiosa, verde-claro, igualmente de forma concntrica. E, finalmente, um vulto muito nobre, observado no ano de 1930, cuja identidade ignoramos, mas a quem denominmos Anjo Guerreiro, pelas particularidades do

quadro em que se deixou contemplar. Acreditamos, porm, tratar-se de algum integrante da legio protetora do Brasil, ou do movimento esprita no Brasil. O certo era que trajava uma tnica grega, curta, atada por um cinto dourado; um diadema discreto, um simples friso de ouro, cabea, e guiando uma biga romana como que construda de alabastro. Com a destra, empunhava as rdeas, sem que, todavia, aparecessem os cavalos, e, com a sinistra, uma flmula de grandes dimenses, alvinitente, onde se lia - Salve, Brasil imortal!" Estampava-se visivelmente, nessa entidade, assim materializada, o tipo oriental, o rabe, evocando tambm o tipo brasileiro muito conhecido no Estado de Gois. Era jovem, belo e sorridente, e um luzeiro cor-de-rosa envolvia-o, espraiando-se em torno e se estendendo longamente sobre uma multido que cantava hosanas e empunhava pequenas flmulas, multido que seguia em cortejo atrs da biga. No nos estenderemos em particularidades quanto a essa viso, por no julg-la interessante para estas pginas. No entanto, jamais fomos informada da identidade de to formoso Esprito. Acrescentaremos, apenas, que sua apario assinalou etapa definitiva em nossa vida e em nossos labores espritas. * ** Comumente, os Espritos se nos apresentam trajados conforme o fizeram durante a existncia carnal: os homens, com o terno que habitualmente usavam, acentuando este ou aquele detalhe que melhor os identifique; as mulheres, com os vestidos que, igualmente, de preferncia usavam. Mais raramente, alguns se deixam ver com a indumentria com que foram sepultados, e ainda outros com os trajes que desejariam possuir, mas que no chegaram a usar. Dois meses aps o falecimento de nossa me, ns e mais trs pessoas da famlia vimo-la, assistindo a uma reunio de preces em sua inteno, trajando um costume de gabardine azul-marinho, com um "cachecol" de seda quadriculada branca e preta, vestes por ela preferidas para as viagens que fazia em visita aos filhos, nos ltimos meses que viveu. Uma tia nossa, a Sra. C. A. S., falecida no interior do Estado de So Paulo, em 1950, cerca de vinte dias aps o trespasse apresenta-se nossa viso, no Rio de Janeiro, dizendo ter vindo visitar-nos, pois se sentia saudosa. Vestia um costume preto, e um vu de rendas negras cobria-lhe inteiramente o corpo, partindo da cabea e atingindo os ps. Sua configurao perispiritual, como vemos, era chocante, O vu incomodava-a horrivelmente e ela se debatia, aflita e irritada, tentando em vo retir-lo de si. Agradecemos-lhe a visita e o interesse pela solido em que vivamos, pois, na ocasio, asseverou-nos encontrar-se penalizada ante as provaes com que nos debatamos, e convidamo-la a orar, a fim de se poder libertar daquele incomodativo manto, sem que, no entanto, nos fosse possvel compreender o que poderia causar semelhante fenmeno. Cerca de um ms mais tarde, porm, soubemos, por pessoa da famlia presente ao seu funeral, que nossa tia fora sepultada com um costume azulmarinho escuro e um vu de rendas negras cobrindo-lhe o rosto e o corpo, exatamente a mantilha, tipo espanhol, que usava ao assistir a missas e tomar a comunho, como boa catlica que fora. Uma filha do espiritista Sr. Antnio Augusto dos Santos, residente em Belo Horizonte, trs dias aps a morte de sua irm Elizabeth, menina de catorze anos de idade, viu-a, pela madrugada, no seu prprio quarto de dormir, pairando no ar e trajando um suntuoso vestido de baile, tipo "Imperatriz Eugnia". To ferica a luz que a circundava que, clareando todo o aposento, permitiu vidente observar detalhes, tais como o desenho das rendas que ornavam o vestido, babados, fitas, flores, etc., Assevera a jovem vidente que o vestido era salpicado de pequenas prolas, corno gotas de orvalho, detalhe por ns tambm observado em duas das quatro indumentrias perispirituais apresentadas pela entidade Frederico Chopin. Porque seja inspirada e futurosa pintora, a filha do Sr. Antnio dos Santos, no dia seguinte, desenhou, com mincias, a viso que tivera pela madrugada, dando a ver os detalhes do vestido que a menina morta absolutamente no possura quando viva. Semelhante materializao, espontnea e inesperada, teve o dom de reanimar e consolar os desolados pais da jovem falecida, que se mantinham sucumbidos ante a

acerba provao. Referir-nos-emos ainda ao mesmo fato, em captulo posterior. De outro modo, Espritos plenamente espiritualizados, como Adolfo Bezerra de Menezes e Bittencourt Sampaio, foram por ns distinguidos envergando longa tnica vaporosa, nvea, cintilante, levemente esbatida de azul, O primeiro costuma deixar-se ver, tambm, trajando avental de mdico, com barrete, ao passo que o segundo, isto , Bittencourt, a quem uma nica vez vimos, em dia de grande provao, h muitos anos, talvez pela sua qualidade de "poeta do Evangelho", trazia uma coroa de louros, ou de mirto ou carvalho, como os antigos intelectuais gregos e latinos. * ** Alguns adeptos do Espiritismo, talvez demasiadamente ortodoxos, talvez pouco observadores, dogmatizando um ensino que, sabemos, ainda no foi completamente revelado, pois o prprio Codificador afirmou seria evolutivo, alguns adeptos, dizemos, combatem tais relatrios medinicos, afirmando que assim no dever ser, porque Espritos no precisam vestir-se. Ora, se os prprios Espritos afirmaram a Allan Kardec que o perspirito semimaterial, que a forma, o modelo onde se esboa o corpo carnal, e, portanto, um corpo, seria o caso de relembrarmos a impertinncia astuciosa do Senhor de Beauvais para com a donzela de Orlees: - "So Miguel te aparece desnudo?. . . - ou seja: Eles, os Espritos, com os seus perspiritos semimateriais, como so, e, portanto, tratando-se de um corpo, aparecero desnudos aos mdiuns?. Teramos que responder, visto que o dever de um mdium revelar com sinceridade, com a conscincia voltada para Deus, o realismo do mundo invisvel. - Sim, h Espritos desencarnados, aqueles que foram homens ou mulheres de baixa condio moral, que se arrastaram em existncias consagradas aos excessos carnais, devassido dos costumes, que podem, com efeito, aparecer desnudos aos mdiuns, revelando mesmo, em cenas degradantes, que lhes foram habituais no estado humano, a degradao mental em que ainda permanecem. E o vidente, cujo compromisso exatamente esse, de se tornar intermedirio entre os dois planos da Vida, h-de contemplar e revelar, embora estarrecido e contrafeito, o realismo que seus instrutores espirituais lhe permitem surpreender no Alm-Tmulo, para satisfazer queles que desejarem informaes sobre o palpitante assunto. Todavia, o comum se apresentarem os desencarnados sob as aparncias que mais lhes agradem. Os fatos mais antigos a esto, espalhados pelos sculos, atestando que, seja de fluido csmico universal, de ter sublimado ou de fluido espiritual, de matrias quintessenciadas, de gases ou de vaporizaes, ou simplesmente como decorrncia de fora mental projetada sobre as fibras supersensveis do perisprito, o certo que a maioria dos habitantes do Alm se deixa ver com roupagens que variam do belo esplendoroso ao miservel e ao horrvel. Tambm os mdiuns espritas supunham que os desencarnados no se vestissem. Mas, diante do que a sua prpria viso constata, que devero eles afirmar seno o que lhes do a ver do mundo invisvel? Isto , que veem os Espritos "trajados" de vrios modelos, e que isso o comum no plano espiritual? E, por vezes, at muito artstica e suntuosamente trajados? Lembremo-nos, ento, da admirvel resposta de Joana d'Are aos seus juzes, tratando de So Miguel, compreendendo que ela, h cinco sculos, no ignorava o que hoje a Doutrina Esprita expe: - "Pensas que Deus no tem com que vesti-lo?. . . " Ou seja: - Sim! Os Espritos podem vestir-se, servindo-se dos ricos elementos esparsos pelo Universo, aos quais acionam voluntria ou insensivelmente, valendo-se das foras do pensamento e da prpria vontade! Ora, de tudo o que acabmos de observar, e atentos ao que expem Allan Kardec, Lon Denis, Ernesto Bozzano, William Crookes, e outros, bem ao que os prprios desencarnados so incansveis em confirmar, extrairemos as seguintes dedues: 1- Que a mente do Esprito desencarnado cria para a sua configurao

individual a indumentria que deseja, valendo-se da prpria vontade, segundo o prprio gosto artstico, a necessidade, a singeleza dos hbitos, a humildade do carter e o grau de elevao moral-mental-espiritual, pois o Esprito possui liberdade e aptides naturais para assim se conduzir. 2 - Que a mente do desencarnado tambm poder evocar os hbitos e usos passados, conservar as imagens dos trajes que preferiu, mesmo em existncia remota, e imprimi-las na sensibilidade plstica do perisprito, e assim se apresentar aos seus iguais de Alm-Tmulo, como aos mdiuns, em materializaes espontneas e individuais, ou provocadas para viso coletiva. 3 - Que o Esprito do recm-desencarnado poder padecer o fenmeno de repercusso vibratria dos acontecimentos verificados no corpo carnal, durante a crise do lento desligamento das energias fludicas que o prendiam quele, por ocasio do desenlace, sobressaindo no dito fenmeno o detalhe assaz impressionante da natureza da indumentria com a qual o sepultaram, fenmeno este, no entanto, geralmente ocorrido com as entidades muito arraigadas matria. 4 - Que o perisprito, cujas essncias e propriedades so impressionveis e, portanto, amoldveis ao plstica do pensamento, com uma sutileza indescritvel; sendo expansvel e contrtil; e exercendo a energia mental, sobre as mesmas propriedades, uma ascendncia irresistvel, d-lhe aquela forma que desejar ou que puder, mesmo inconscientemente, mesmo sua revelia, pois que esse poder mental natural no ser psquico, um atributo do Esprito, ainda que este o ignore, tal como a inspirao e a expirao so atributos irresistveis e quase imperceptveis da organizao fsico-material. 5 - Que, possuindo propriedades plsticas to sutis e melindrosas, e sendo o Esprito arraigado matria, no obstante j desencarnado, repercutiro, por isso mesmo, em sua mente, ou no seu perisprito, as impresses mais fortes, ou acontecimentos, que afetem o prprio cadver, dado que poderosas, transcendentes atraes magnticas ligam ao corpo carnal o ser espiritual, para a boa marcha da encarnao terrestre, e que, em muitos casos, tais afinidades se prolongam por algum tempo ainda aps a morte do envoltrio carnal, e at mesmo aps a sua total decomposio. 6 - Finalmente, que, a par de tal fenomenologia da mente e da vontade, existem no mundo espiritual elementos, fluidos, essncias, gases, energias, matrias mui transcendentais, desconhecidas dos homens e das entidades inferiores e medocres, as quais, acionadas pela vontade do desencarnado de elevada categoria moral-intelectual, se podero transfundir em formosas aparncias de indumentrias variadas, que ao vidente pareceriam muito concretas (como realmente o so para o mundo espiritual), estruturadas em raios luminosos ou em vaporizaes cintilantes. Os homens, por sua vez, no se trajam, igualmente, com os produtos da prpria mente? Porventura a lavoura do linho e do algodo, como a produo da seda; a maquinaria das fbricas que tecem os seus fios, transformando-os em vistosos brocados e rendas custosas, no foram antes criaes mentais para, em seguida, se concretizarem em vesturios ricos e suntuosos? Qua