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Relatório Científico Final Bolsa de Iniciação Científica PROCESSO FAPESP: 2006/60676-4 Período: 01/03/2007 a 10/02/2008 DETERMINAÇÃO E AVALIAÇÃO DO PARÂMETRO DENSIDADE VIL PARA ALERTA DE TEMPESTADES Douglas Cristino Leal Orientador: Dr. Gerhard Held Co-orientadores: Dr a Ana M. Gomes e Prof. Dr. Jonas T. Nery Fevereiro 2008

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Relatório Científico Final

Bolsa de Iniciação Científica

PROCESSO FAPESP: 2006/60676-4

Período: 01/03/2007 a 10/02/2008

DETERMINAÇÃO E AVALIAÇÃO DO PARÂMETRO DENSIDADE VIL PARA

ALERTA DE TEMPESTADES

Douglas Cristino Leal

Orientador: Dr. Gerhard Held Co-orientadores: Dra Ana M. Gomes e Prof. Dr. Jonas T. Nery

Fevereiro 2008

DETERMINAÇÃO E AVALIAÇÃO DO PARÂMETRO DENSIDADE VIL PARA ALERTA DE TEMPESTADES

SUMÁRIO

Página

1 INTRODUÇÃO .................................................................................... 4

1.1 Resumo do Plano Proposto ............................................................. 4

1.2 Atividades desenvolvidas durante o período de março de 2007

a fevereiro de 2008 ............................................................................ 5

2 REVISÃO DE LITERATURA .............................................................. 9

3 OBJETIVO .......................................................................................... 15

4 METODOLOGIA UTILIZADA ............................................................. 15

4.1 VIL ...................................................................................................... 15

4.2 Topo dos ecos ................................................................................... 17

4.3 Densidade VIL .................................................................................... 17

5 DADOS UTILIZADOS …………………………….................................. 18

6 TITAN - Thunderstorm, Identification, Tracking, Analysis and

Nowcasting ......................................................................................... 20

6.1 Características do sistema TITAN .................................................... 20

6.2 Instalação do TITAN .......................................................................... 21

7 PROCESSAMENTO DE DADOS ....................................................... 22

7.1 Tipos de dados internos processados ........................................... 22

7.2 Volume definido ................................................................................ 24

7.3 Refletividade composta ................................................................... 24

1

8 ANÁLISE DA DINÂMICA CLIMÁTICA DE OUTUBRO A MARÇO

(2000 A 2004) ..................................................................................... 26

8.1 Análise da Dinâmica Climática de outubro (2000 a 2004) ............ 27

8.2 Análise da Dinâmica Climática de novembro (2000 a 2004) ........ 28

8.3 Análise da Dinâmica Climática de dezembro (2000 a 2004) ........ 30

8.4 Análise da Dinâmica Climática de janeiro (2000 a 2004) ............. 32

8.5 Análise da Dinâmica Climática de fevereiro (2000 a 2004) .......... 34

8.6 Análise da Dinâmica Climática de março (2000 a 2004) .............. 35

9 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ................................................... 37

9.1 Climatologia das Distribuições de VIL, Topo dos Ecos e

Densidade VIL ................................................................................... 37

9.1.1 Climatologia para o mês de outubro (2000 a 2004) ....................... 38

9.1.2 Climatologia para o mês de novembro (2000 a 2004) ................... 40

9.1.3 Climatologia para o mês de dezembro (2000 a 2004) .................... 42

9.1.4 Climatologia para o mês de janeiro (2000 a 2004) ......................... 44

9.1.5 Climatologia para o mês de fevereiro (2000 a 2004) ..................... 47

9.1.6 Climatologia para o mês de março (2000 a 2004) ......................... 49

9.2 Resumo da Climatologia para os meses de outubro a dezembro

e de janeiro a março (2000 a 2004) ................................................. 51

9.3 Eventos Severos Registrados no Período de outubro a março

(2000 a 2004) ..................................................................................... 57

10 ANÁLISE DOS EVENTOS SEVEROS SELECIONADOS ................ 60

10.1 Evento dia 26 de março de 2000 .................................................... 60

10.2 Evento de 04 de outubro de 2000 .................................................. 62

10.3 Evento de 08 de fevereiro de 2001 ................................................ 68

2

11 CONCLUSÕES e RECOMENDAÇÕES ........................................... 73

12 TRABALHOS FUTUROS ................................................................. 75

13 AGRADECIMENTOS ........................................................................ 75

14 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................. 76

15 ANEXOS ............................................................................................ 78

ANEXO 1: Tempestades Severas de Inverno e Primavera de 2006

em Ourinhos – SP ............................................................................ 78

ANEXO 2: Determinação do Potencial de Severidade em

Tempestades Usando Informações de Radar Meteorológico ..... 93

ANEXO 3: Tabela I, II e III ................................................................ 107

3

DETERMINAÇÃO E AVALIAÇÃO DO PARÂMETRO DENSIDADE VIL PARA ALERTA DE TEMPESTADES

1 INTRODUÇÃO

1.1 Resumo do Plano Proposto

O software SIGMET/IRIS (Interactive Radar Information System), que

gerencia a aquisição, geração e armazenamento dos dados coletados pelo radar

Doppler de Bauru permite a obtenção de uma grande variedade de produtos

derivados da refletividade e velocidades radiais. Um dos produtos rotineiramente

utilizados pelo setor operacional é o produto Alerta (Warning) que se resume numa

ferramenta auxiliar para a identificação de áreas de possível ocorrência de tempo

severo. Por tempo severo entende-se uma variedade de fenômenos meteorológicos

que provocam danos em superfície resultantes de ventos fortes, precipitação muito

intensa, enchentes súbitas, granizo e raios associados à atividade convectiva (WMO,

2004).

O presente projeto foi o proposto com o objetivo de melhorar os

alertas de tempestades, contribuindo para uma mitigação dos riscos potenciais

decorrentes desses eventos na área central do Estado de São Paulo e regiões

adjacentes, dentro do raio de alcance dos 240Km, a partir do radar de Bauru, através

da determinação e avaliação do parâmetro Densidade VIL (razão entre VIL e o topo

dos ecos), para os meses em que há maior ocorrência de chuvas, ou seja, de

outubro a março. A partir dos resultados obtidos, os mesmos servirão de base para

redefinir limiares para cada um desses meses e posteriormente avaliar o impacto

disso na redução de falso alarme, quando da emissão de alertas de tempo severo.

4

Através da implementação e automação da aquisição do parâmetro Densidade VIL,

em um futuro próximo, será então possível avaliá-lo em tempo real.

1.2 Atividades desenvolvidas durante o período de março de 2007 a fevereiro

de 2008

Durante o período a que se refere o presente relatório foram

realizadas atividades discentes cujos resultados são resumidos pelo histórico

escolar, aqui juntado, bem como foi realizado um curso orientado sobre Aplicações e

Análise das Informações Geradas pelos Radares Doppler, sob a supervisão da

Drª Ana Maria Gomes. Foram definidas ainda as principais etapas para a realização

do projeto proposto que se iniciaram pela configuração e instalação dos vários

módulos que compõem o sistema de software do TITAN (Thunderstorm

Identification, Tracking, Analysis and Nowcasting; DIXON e WIENER, 1993),

necessário para a obtenção dos parâmetros derivados das refletividades do radar

Doppler de Bauru, disponibilizados num computador com plataforma LINUX.

Como sugerido na análise do projeto inicial, o período para o estudo

foi reduzido e selecionou-se uma base de dados do radar de Bauru, cobrindo o

período de 2000 a 2004. Como o acesso a essa base de dados ainda não é direto,

os mesmos foram recuperados para só então serem convertidos para o formato de

leitura do TITAN.

Durante o período também foi submetido e apresentado um trabalho

no Simpósio Brasileiro de Geografia Física e Aplicada, realizado em Natal (RN), de

09 à 13 de julho de 2007, sob o título “Tempestades Severas de Inverno e Primavera

de 2006 em Ourinhos – SP” (ANEXO 1), além de um resumo submetido ao

VI Congresso de Iniciação das Faculdades Integradas de Ourinhos, sob o título

5

“Determinação do Potencial de Severidade em Tempestades Usando Informações

de Radar Meteorológico” (ANEXO 2), realizado em Ourinhos, de 17 à 19 de outubro

de 2007. Durante os três meses iniciais do projeto, toda a base de dados de radar

para os cinco anos, referente aos meses outubro de 2000 a março de 2004 foi

convertida para o formato MDV (Meteorological Data Volume) e a distribuição de

freqüência dos três parâmetros, altura do topo dos ecos, VIL (Vertically Integrated

Liquid) e Densidade VIL, necessários para a análise, foram determinados.

As atividades de revisão bibliográfica e leitura tiveram sua

continuidade, bem como as análises para a identificação e filtragem dos dados

espúrios, na série considerada, através do cotejo dos campos de refletividade e

velocidade radial. A revisão de literatura especializada certamente contribuiu para as

fundamentações das análises, bem como para uma comparação com os resultados

obtidos.

A climatologia para o período selecionado (outubro de 2000 a março

de 2004) foi realizada definindo-se os parâmetros médios para as distribuições de

topo dos ecos, VIL e conseqüente Densidade VIL que serão utilizados na definição

de limiares associados a tempo severo.

Para complementar a análise climatológica um levantamento das

ocorrências de eventos severos foi feito levando em conta o período de outubro a

março, dos anos de 2000 a 2004, cujas observações mostraram que os mesmos

produziram danos em superfície. A utilização da base de dados que reúne o número

de chamadas atendidas por órgãos como a Defesa Civil, por exemplo, é pertinente

para demonstrar a gravidade e a peculiaridade que cada evento severo e o

conseqüente impacto na população em geral.

6

Foi estimada ainda uma relação do número de tempestades severas

considerando, dentro da série analisada, todos os dias que constaram dos registros

de ocorrências feitos pela Defesa Civil e jornais de forma a caracterizar o impacto

dos mesmos em superfície e a determinar a distribuição de freqüência de ocorrência

destes eventos.

A partir da relação do número de dias de eventos severos, foram

selecionados três eventos para uma análise mais detalhada e também simular a

aplicação do parâmetro Densidade VIL em um ambiente operacional. Os eventos

selecionados ocorreram em 26 de março de 2000, 04 de outubro de 2000 e 08 de

fevereiro de 2001.

Como os radares Doppler, do Instituto de Pesquisas Meteorológicas

(IPMet), localizados em Bauru, área central, e Presidente Prudente, Oeste do Estado

de São Paulo, disponibilizam rotineiramente e de forma automática os produtos

gerados, torna-se factível utilizá-los para análise e caracterização, não só da

ocorrência desses eventos, mas também para se determinar a magnitude com que

os mesmos são observados.

Um estudo detalhado sobre a morfologia dessas tempestades é de

grande importância, principalmente aquelas que produzem granizos e ventos

intensos, por possuírem um elevado potencial para causar efeitos devastadores em

superfície.

O granizo, que é uma ocorrência meteorológica associada a

condições de forte instabilidade atmosférica e intensos movimentos ascendentes

(updrafts) responsáveis pela formação e manutenção de nuvens cumulunimbus,

possui grande freqüência nas regiões tropicais (CONTI, 1981). Para o Estado de São

Paulo, os resultados de pesquisas enfocando a distribuição de granizo, mostraram

7

que a freqüência de dias com granizo chega a 66% nos meses de primavera/verão e

a 34%, nos meses de outono/inverno. Outros estudos ainda demonstram a

existência de uma correlação significativa entre urbanização e aumento da queda de

granizo (CHANGNON e SEMONI, 1975).

Visando obter melhores resultados na emissão de alertas de tempo

severo, em operação no IPMet e buscando nas informações utilizadas através de VIL

e topo dos ecos, foi proposto a obtenção do parâmetro Densidade VIL, levando em

conta os valores máximos de VIL e topo dos ecos observados, ou seja, a razão

VIL/topo (AMBURN e WOLF, 1996). Os resultados documentados na literatura

especializada mostram que o parâmetro Densidade VIL é um bom indicador de

tempo severo.

As pesquisas que estão sendo realizadas no IPMet, utilizando

informações de radar, têm permitido responder e satisfazer as necessidades

regionais e locais com a implementação dos resultados e de sua transferência para o

setor produtivo, contribuindo para a melhoria dos principais aspectos sócio-

econômicos no Estado de São Paulo. Exemplos disto são os boletins de alerta de

tempo severo enviado para as Defesas Civis. Vários municípios, dentro da área de

vigilância dos radares, que de certo modo complementam os boletins de "Estado de

Alerta" e "Estado de Emergência", emitidos por centros de previsão numérica e que

certamente contribuem para a salvaguarda de vidas humanas e de propriedades

buscando minimizar o impacto de possíveis tempestades catastróficas. Tais

informações têm aplicação direta na agricultura, na medida em que são repassadas

ao setor sucro-alcooleiro, por exemplo, permitindo um melhor planejamento das

atividades de manejo do cultivo da cana, desde o preparo do solo até a colheita,

aumentado a produtividade e reduzindo as perdas. Pode-se mencionar ainda que os

8

boletins divulgados permitem um melhor planejamento das atividades turísticas,

particularmente as que envolvem certo grau de risco, propiciando uma maior

segurança para seus usuários.

2 REVISÃO DE LITERATURA

A precipitação tropical desempenha um papel importante na

circulação geral da atmosfera levando em conta a importância da distribuição de

fonte de calor de grande escala nas circulações globais. Isso demonstra a grande

importância de estudos que enfocam a precipitação nesta área que, na grande

maioria são caracterizadas por nuvens convectivas de grande desenvolvimento

vertical.

Plank (1969) realizou um estudo considerando populações de nuvem

cumulus da Península da Flórida que foram fotografadas periodicamente e de forma

completa, durante dezenove dias, entre agosto e setembro de 1957. Do conjunto

destas fotografias, nomeado amostras de população, foram selecionados os

exemplos representativos das populações cumulus e sua ocorrência generalizada

dos vários dias e horas, para que fossem analisados visando determinar o tamanho

e a distribuição característica da nuvem cumuli e suas tendências temporais. As

análises revelaram que o número de Densidade da cumuli diminuiu quase

exponencialmente com o aumento da dimensão da nuvem. Observou-se também

que ocorreram no grupo estruturas de populações que começaram a se formar por

volta do período matutino, sendo uma importante característica do desenvolvimento

de convecção de cumulus nessa região.

Características de tempestades, através do ordenamento das

mesmas, assim como volume da tempestade, área e altura, possuem freqüência de

9

distribuição lognormal. A refletividade tem também uma distribuição enviesada de

freqüência com uma prevalência de valores menores de refletividade dentro das

tempestades. Tanto a máxima refletividade da tempestade quanto a altura são

mostradas e correlacionadas com o logaritmo do volume de tempestade (POTTS et

al., 2000).

Para López (1977), a distribuição lognormal descreve o tamanho

horizontal bem como as distribuições de freqüência, da altura e a duração da nuvem

em relação ao eco do radar através de relações de populações de diversas regiões e

situações convectivas. Duas hipóteses são sugeridas para explicar este fenômeno. A

primeira postula um crescimento do processo de nuvem em parcelas, cujo

crescimento linear do ar ambiente ocorre por um processo aleatório que obedece à

lei de efeitos proporcionais. A segunda postula uma formação de um processo de

nuvens, em que as nuvens são formadas pela fusão da camada-limite com os

elementos convectivos.

Nesses elementos convectivos, o granizo ocorre de forma associada

a condições de forte instabilidade atmosférica e intensos movimentos ascendentes

responsáveis pela formação e manutenção de nuvens cumulunimbus, com grande

freqüência nas regiões tropicais (CONTI, 1981).

A determinação de um novo parâmetro, a razão VIL/Topo, utilizando

valores máximos de VIL e de topo dos ecos, denominado Densidade VIL (AMBURN

e WOLF, 1996), é uma importante contribuição para a identificação de tempo severo

e do potencial de granizo.

Dentro da área de cobertura do radar de Bauru, enchentes repentinas

que são responsáveis pelas ruas inundadas e casas invadidas pela água, ocorrem

freqüentemente no município de Bauru, proporcionais ao número de tempestades

10

que atingem o município, sendo que mais da metade dessas tempestades ocorrem

no período de dezembro a fevereiro (HELD e NACHIGALL, 2002).

Nas operações de emissão de alerta de tempo severo,

freqüentemente os previsores se baseiam no produto VIL para se estimar a

severidade de uma tempestade e em particular, se existe potencial para presença de

granizo. Uma vez que os valores de VIL têm grande variabilidade baseado nas

características da massa de ar atuante, normalmente utiliza-se um limiar de VIL para

ser usado em cada tempestade.

Amburn e Wolf (1997) propuseram em seu estudo, uma normalização

do parâmetro VIL em relação ao topo do eco através dos experimentos

caracterizados por eventos causados por diferentes tipos de massas de ar. A partir

daí calcularam um parâmetro chamado de Densidade VIL. Desta forma foi possível

selecionar as tempestades que produziram maior granizo, independente das

características das massas de ar, em um período de nove meses baseado em

produtos originados dos dados do radar KINX WSR-88D de Inola, Oklahoma,

correlacionando os resultados obtidos com as informações dos relatórios que

atestaram a ocorrência do granizo em superfície.

Calcularam, a partir da razão de VIL e o topo de eco, o tamanho do

granizo em relação à refletividade observada do radar e os resultados mostraram

que um valor de Densidade VIL de 3,5g/m3 foi verificado em 90% dos casos graves

de queda de granizo. Estes resultados são semelhantes aos obtidos por Baumgardt

e King (2002) para a região de LaCrosse, Wisconsin. Um valor para o parâmetro

Densidade VIL igual a 3,5g/m3 foi obtido em 90% de seus 70 casos estudados.

(BAUMGARDT e KING, 2002). Troutman e Rose (1997) observaram que o

11

parâmetro Densidade VIL de 3,5g/m3 utilizado identificou em 81% dos casos a

ocorrência de granizo na área de Nashville.

NOAA (2007) destaca em um estudo, utilizando 221 tempestades

observadas na região de Tulsa, Oklahoma, no período de 1994 e 1995, que grande

maioria das tempestades produziu granizo severo e que o parâmetro VIL é

totalmente dependente do tipo de massa de ar e convecção presente, uma vez que

foi observado granizo severo, mesmo com presença de baixos valores de VIL. Por

isso o parâmetro VIL analisado isoladamente não é suficiente para distinguir

tempestades severas, e assim para eliminar alguns problemas inerentes ao se levar

em conta o uso de VIL somente, que há a necessidade do uso de um parâmetro

como o parâmetro Densidade VIL, que é normalizado pelo topo do eco.

Na busca de parâmetros que pudessem melhor identificar eventos

severos Edwards e Thompson (1998) realizaram estudos relacionando este

parâmetro aos mecanismos das correntes descendentes (downdrafts) do topo das

nuvens, Posteriormente os resultados obtidos foram aplicados e confirmados para

região central da Flórida, adotando-se um limiar de 4,0g/m3 como um indicador de

tempestade severa. Utilizando este valor de limiar para o parâmetro Densidade VIL

obteve-se um sucesso na identificação de 83% de todos os casos de tempestades

severas estudadas por eles, incluindo casos de ventos intensos, tornados e queda

de granizo. Tempestades com altos valores de Densidade VIL geralmente podem

resultar em eventos produzindo queda de granizo com danos severos observados

em superfície.

Entretanto, deve-se considerar aqui que tais limiares podem ser

específicos de uma determinada região (PAXTON e SHEPERD, 1993), portanto

12

requer uma verificação para as condições locais de cada região, conforme proposto

no presente estudo para o Estado de São Paulo.

Em estudos preliminares, Gomes (2002) sugeriu limiares para

emissão de alerta a eventos severos utilizando o parâmetro Densidade VIL. A partir

desses resultados preliminares, Gomes e Held (2004) realizaram um estudo

semelhante determinando o parâmetro Densidade VIL, para um período de dez anos

para o mês de fevereiro. Os resultados obtidos foram utilizados para realizar uma

classificação quanto ao nível de severidade das tempestades durante fevereiro,

indicando que o parâmetro Densidade VIL <1,3g.m-3 está associado a tempestades

que não produzem danos a superfície.

Seus resultados são comparáveis, em magnitude, ao valor sugerido

por Amburn e Wolf (1997), em sua classificação para tempestades não-severas, com

esse parâmetro variando de 1,3g.m-3 a 2,3g.m-3. Para valores de Densidade VIL,

entre 2,3 e 3,3g.m-3, as tempestades já teriam potencial para produzir ventos

intensos e granizo, enquanto para limiares de Densidade VIL >3,3g.m-3 indicaria uma

tempestade extremamente severa, podendo produzir danos em superfície de

grandes proporções.

Tais resultados mostram o potencial de aplicação para o setor

operacional e com isso a necessidade de uma análise cobrindo todo o período

chuvoso.

No presente estudo os resultados obtidos por Gomes e Held (2004)

são ampliados para os demais meses da estação chuvosa no Estado de São Paulo,

no entanto utilizando o sistema de software TITAN (Thunderstorm Identification,

Tracking, Analysis and Nowcasting), que é um sistema especialmente desenvolvido

para o tratamento e as aplicações das informações de radares meteorológicos,

13

permitindo a obtenção dos dois parâmetros, VIL e topo dos ecos de radar associados

às células excedendo a um determinado limiar previamente selecionado (DIXON e

WIENER, 1993).

A implementação deste software no IPMet foi de elevada importância,

tanto para as atividades de monitoramento e alerta de tempo severo, quanto para as

aplicações em pesquisa realizando os estudos necessários a obtenção de uma

climatologia destes eventos.

Um exemplo de aplicação da utilização dos diferentes produtos

disponíveis pelo TITAN é encontrado nas análises realizadas para o vendaval

ocorrido em 29 de março de 2006, que associado à instabilidade baroclínica

presente neste dia, produziu fortes chuvas acompanhadas por ventos intensos, que

atingiram o Estado de São Paulo, causando sérios danos às regiões de Piracicaba e

Campinas (GOMES e HELD, 2006).

Outros exemplos recentes de eventos severos ocorridos dentro da

área de cobertura do radar de Bauru foram os tornados de Palmital e Lençóis

Paulista, observados em 25 de maio de 2004, que provocaram a morte de duas

pessoas e causando ferimentos em cinqüenta e uma que estavam no campo e

buscaram abrigo num ônibus (HELD et al., 2006).

O desenvolvimento de índices derivados das observações de radar e

associados a tempestades severas é muito importante, pois sua utilização num

ambiente operacional contribuirá para minimizar o impacto desses eventos além de

contribuir para a diminuição das taxas de falso alarme existentes em relação aos

eventos severos.

14

3 OBJETIVO

• Estabelecer uma climatologia sobre a distribuição de VIL e topo dos ecos,

relativos às tempestades, utilizando dados coletados com o radar Doppler de

Bauru;

• Determinar o parâmetro Densidade VIL;

• Definir limiares para este parâmetro que serão utilizados para a identificação

de tempo severo.

4 METODOLOGIA UTILIZADA

Em face da implantação do sistema TITAN no modo Arquivo,

dedicado às análises pós-facto das informações dos radares Doppler do IPMet,

optou-se por utilizá-lo para a determinação dos parâmetros VIL e topo dos ecos, para

o período selecionado no presente estudo. O sistema TITAN contém um módulo

dedicado à análise climatológica das informações geradas por radares

meteorológicos.

4.1 VIL

VIL (Vertically Integrated Liquid – conteúdo de água líquida integrado

verticalmente) é uma função não linear derivada dos valores de refletividade e

integrados numa coluna vertical e que converte essas refletividades, em estimativas

do conteúdo de água líquida equivalente baseado em estudos teóricos de

distribuições do tamanho de gotas e estudos empíricos de fator de refletividade e

conteúdo de água líquida (LOUISVILLE, 2004).

Este fator é proporcional ao número total de gotas (alvos) dentro de

um volume medido e seus diâmetros elevados à sexta potência. Assim, VIL aumenta

15

exponencialmente de acordo com a refletividade, portanto grandes valores de VIL

estão geralmente associados à presença de granizo. Como um resultado, VIL é

usado para identificar temporais que provavelmente contêm granizo.

Como a equação de VIL é uma estimativa de água líquida derivada

das informações de radar, baseado em considerações sobre a refletividade ela pode

ser escrita na forma da equação (1).

hxZZxVIL ii Δ⎥⎦⎤

⎢⎣⎡ +

= +−∑74

16

21044.3 (1)

Onde VIL tem unidades de quilogramas por metro quadrado (Kg.m-2);

Zi e Zi+1 são valores de refletividades (mm6m-3) nas porções inferiores e superiores

de uma camada amostrada; h é a espessura da camada, em metros, que varia em

função da distância e elevação.

Δ

O fator de refletividade (Z) é proporcional ao diâmetro (D) do alvo

elevado à sexta potência e o número (n) total de alvos (gotas), medidas num volume

amostrado, e é dado pela equação (2):

(2)

Z ni i= ×∑ 6D

Baseado nas equações 1 e 2, grandes valores de VIL requerem altos

valores de refletividades, implicando na presença de alvos grandes, isto é, granizo

suspenso nas altas camadas de uma tempestade.

Deve ser notado que o fator de refletividade tem uma dependência da

fase do hidrometeoro, como também do tamanho do alvo. Para um mesmo

hidrometeoro esférico do mesmo tamanho no espectro Rayleigh, o gelo terá um fator

de refletividade menor que o da água (RINEHART, 2004).

16

4.2 Topo dos ecos

O produto topo dos ecos é uma imagem da altura da máxima

ocorrência de um limiar de dBZ selecionado e amostrado em quilômetros, é um

excelente indicador de tempo severo e granizo. Por exemplo, o topo de 50dBZ,

localizado a 1Km acima do nível de congelamento, estará certamente relacionado a

uma tempestade convectiva severa.

A maioria dos algoritmos operacionais utilizados para a detecção de

granizo utilizando radares de polarização simples (horizontal) é baseada na análise

dos perfis verticais da refletividade do radar. Tanto no Instituto Meteorológico da

Holanda (KNMI) quanto no Instituto Meteorológico da Bélgica (RMI), a probabilidade

de granizo é derivada da altura do nível de congelamento e da altura do topo dos

ecos do radar para um limiar de 45dBZ (DELLOBBE e HOLLEMAN, 2006). Os

algoritmos usados pelo TITAN na identificação de granizo utilizam metodologia

semelhante.

4.3 Densidade VIL

Estudos enfocando o parâmetro Densidade VIL, demonstraram que

este parâmetro é um bom indicador de granizo severo (BAUMGARDT e KING,

1997). O quociente (VIL/eco) é então multiplicado por 1000, para produzir g.m-3. Este

parâmetro pode ser escrito como:

Densidade VIL= VIL/ topo eco

(3)

Quando o VIL é “normalizado” usando o topo do eco, a Densidade

VIL resultante poderá ser usada para identificar tempestades com altos valores de

17

refletividades relativas à sua altura. Em outras palavras, à medida que a Densidade

VIL aumenta, os núcleos contendo granizo tendem a ser mais profundos e mais

intensos, portanto o tamanho do granizo observado tende a ser maior (PAXTON e

SHEPHERD, 1993).

Desta forma tem-se uma vantagem na utilização do parâmetro

Densidade VIL sobre o VIL, uma vez que o mesmo é uma normalização de VIL pelo

topo dos ecos. Conseqüentemente, as variações da Densidade VIL, devido ao tipo

de massa de ar, são muito menores que as variações em VIL.

Temporais onde se observa altos valores de Densidade VIL,

geralmente podem produzir precipitação de granizo, tornados e ventos intensos

provocando grandes danos em superfície.

5 DADOS UTILIZADOS

Para a análise foram utilizados dados de varreduras volumétricas

obtidas com o radar Doppler de Bauru, visto na Figura 1. Essas varreduras são

compostas por onze elevações, que variam de 0,3 a 34,9°, com uma resolução de 1°

em azimute por 1Km em distância, coletando informações de refletividade,

velocidade radial e largura espectral, com uma freqüência de 15 minutos ou menos,

em um raio de 240Km, a partir do radar de Bauru.

Os dados volumétricos foram recuperados em seu formato

proprietário SIGMET e convertidos para o formato MDV e processados utilizando o

sistema de software TITAN, cujo módulo estatístico fornece os parâmetros médios

relativos à série de dados em análise.

18

Figura 1. Rede de radares Doppler do IPMet (BRU = Bauru; PPR = Presidente Prudente), mostrando os anéis de 240 e 450Km, alcances quantitativos e modo vigilância, respectivamente.

Para obtenção dos parâmetros relativos às células de tempestade,

foram definidos limiares de refletividade >40dBZ e volume >16Km3. Os parâmetros

determinados são: MAX_VIL (kg/m2) e altura do topo dos ecos associados (Km). A

partir desses dois parâmetros foi calculado o parâmetro Densidade VIL e

determinadas as distribuições estatísticas relativas aos três parâmetros para o

período dos cinco anos selecionados.

As estatísticas descritivas e os histogramas foram obtidos utilizando o

aplicativo Excel, for Windows, da Microsoft para a realização dos cálculos dos

parâmetros médios representativos da série analisada. Os dados resultantes foram

trabalhados e os gráficos obtidos e comparados. O sistema de software TITAN

utilizado para a análise é apresentado a seguir.

19

6 TITAN – Thunderstorm, Identification, Tracking, Analysis and Nowcasting

6.1 Características do sistema TITAN

TITAN é um sistema desenvolvido para aplicação em previsão

imediata do deslocamento de tempestades, baseado na metodologia de centróides,

desenvolvido originalmente para aplicação em tempestades observadas, na África do

Sul, tendo suas aplicações expandidas no início da década de 90, por Dixon e

Wiener (1993), do National Center for Atmospheric Research (NCAR), em Boulder,

Estados Unidos.

Este sistema define as tempestades como regiões tridimensionais de

refletividades excedendo um determinado limiar e combinando-as de modo lógico,

entre duas observações consecutivas de radar. O método usa como base as

informações do radar em coordenadas cartesianas.

A componente de rastreamento está baseada na solução otimizada

do problema de “matching” e não na hipótese sobre a velocidade inicial da

tempestade. Fusões e divisões – “merger” e “split” - são identificadas através de

lógica geométrica, considerando as posições e formas das tempestades. As

previsões são baseadas no ajuste linear considerando a história da tempestade em

relação às suas posições e formas. O sistema foi projetado para funcionar em tempo

real, com dados de radar, provendo a análise e a previsão em um tempo aproximado

de 10 segundos, a partir do término de coleta da varredura volumétrica (KOKITSU,

2005).

Entretanto, o TITAN se transformou em uma poderosa ferramenta de

análise, que não somente tem uma aplicação específica para a identificação e

previsão de tempestades, como suporta também a inserção de diversos tipos de

20

dados meteorológicos, realizando processamentos e geração de novos produtos,

com apresentação gráfica de todos os resultados.

Atualmente o TITAN é um sistema que permite realizar tarefas tais

como introdução de dados de vários radares meteorológicos, incluindo outros tipos

de dados como trajetória de aviões, descargas atmosféricas, satélite, modelos

numéricos, estações meteorológicas, permitindo o re-mapeamento de dados de

radar em coordenadas cartesianas, a composição de radares, identificação e

remoção de ecos de terreno e propagação anômala quando presente em dados de

radares. Também realiza tarefas, em tempo real, de rastreamento e previsão de

tempestades, estimativa de precipitação, processamento de índices indicadores de

severidade em tempestades, etc.

Uma variedade de propriedades das tempestades pode ser estimada,

a partir das medidas de refletividade (Z), utilizando a teoria que se aplica a essas

medidas (BATTAN, 1973) e a habilidade do sistema TITAN para a identificação

objetiva das várias tempestades individuais que são observadas na área de alcance

dos radares do IPMet.

6.2 Instalação do TITAN

Os direitos de propriedade intelectual do TITAN pertencem a

University Corporation for Atmospheric Research (UCAR). A página web para

aquisição do software está localizada em www.rap.ucar.edu/projects/titan. O software

TITAN é comumente mais executado no sistema operacional LINUX.

Para execução do projeto foi necessário implementar o sistema

operacional LINUX em um computador, no campus da UNESP de Ourinhos, para

posteriormente efetivar a instalação do software TITAN pelos especialistas do IPMet.

21

A partir daí os dados do radar de Bauru foram convertidos para o formato MDV, para

que pudessem ser processados pelo TITAN e os resultados avaliados.

7 PROCESSAMENTO DE DADOS

7.1 Tipos de dados internos processados

Os tipos de dados internos suportados pelo TITAN são MDV para

dados no formato de grade. Este formato foi desenvolvido no NCAR, no início dos

anos 90. O MDV é um formato capaz de armazenar dados em grade de até três

dimensões. Ele é altamente estruturado e possui habilidade para gerenciar múltiplos

campos de dados em um único arquivo. O MDV requer o espaçamento constante de

dados nos planos x-y para cada campo, ou seja, um único delta-x e delta-y para

todos os dados de um determinado campo. Entretanto, o delta-x e o delta-y podem

variar de campo para campo. Na terceira dimensão, o espaçamento poder ser

variável, aceitando no máximo 122 níveis verticais.

A introdução de dados no sistema TITAN requer a execução de

programas conversores de formato. O processo de conversão de dados brutos de

radar armazenados por feixes (beam-by-beam) para o formato MDV do TITAN é

realizado através de duas etapas.

Na primeira etapa é executado o programa para converter o dado

original para o formato FMQ (File Message Queue). Na segunda etapa um outro

programa é executado para ler o formato FMQ e gerar o dado no formato MDV. Um

esquema básico de introdução de dados do radar SIGMET de Bauru, no sistema

TITAN pode ser observado, na Figura 2.

22

Figura 2: Esquema básico de introdução de dados do radar SIGMET de Bauru, no sistema TITAN, através da conversão dos dados brutos para dados no formato MDV. Fonte: KOKITSU, 2005.

Os dados do TITAN são arquivados, para cada radar, e utiliza uma

resolução de 0,75Km na horizontal e na vertical, sobre um domínio de 480Km x

480Km x 19,5Km, conforme ilustrado pela Figura 3.

Figura 3: Arquivamento dos dados para cada radar (Bauru e Presidente Prudente) usando uma resolução de 0,75Km na horizontal e na vertical, sobre um domínio de 480Km x 480Km x 19,5Km, com 26 níveis na vertical. Fonte: DIXON (2001), modificado por LEAL.

23

7.2 Volume definido

O software TITAN emprega algoritmos sofisticados para identificar e

rastrear tempestades individuais (DIXON e WIENER, 1993). Estas tempestades são

definidas pelo volume de uma região contígua acima de algum limiar.

No presente estudo foi utilizado, para volume de uma tempestade, o

volume definido pelo limiar da Célula do TITAN ou simplesmente célula, ilustrado

pela Figura 4. O limiar estabelecido para selecionar as tempestades severas

ocorridas no período estabelecido foi de 40dBZ, uma vez que o objetivo do estudo é

a caracterização de parâmetros relativos às tempestades com potencial para

produzir danos em superfície.

Uma tempestade completa constitui, portanto um grande volume

composto de regiões incluindo refletividades menores que o valor de limiar.

Figura 4: Esquema ilustrando a diferença entre a célula específica do TITAN. A ilustração acima é o volume encerrado pelo contorno de 45dBZ. Fonte: DIXON (2001), modificado por LEAL.

7.3 Refletividade composta

O TITAN utiliza os dados de refletividade sobre o volume total de

dados. Os dados de cada altitude podem ser vistos separadamente. Entretanto é

24

conveniente visualizar um sumário da configuração de refletividade sem ter que olhar

para cada altitude separadamente.

Foi para tal propósito que o campo de refletividade composto foi

criado. Considera-se a máxima refletividade em cada coluna vertical sobre o domínio

do TITAN que, então, amostra esses valores à superfície, ilustrados na Figura 5. O

campo de refletividade composta é determinado para todo o domínio e não somente

para as células (GOMES e HELD, 2006).

O fator de refletividade pode ser usado para se estimar o conteúdo de

água líquida, M (g/m3), em uma tempestade usando uma relação Z-M específica,

sendo que existem várias dessas relações na literatura. O sistema de análise do

TITAN usa uma relação Z = a Mb, onde a = 20 300, e b = 1,67.

O valor de M é uma estimativa da massa de água por unidade de

volume em uma tempestade, mas refere-se estritamente a partículas de precipitação.

A massa das gotículas de nuvem não está incluída no cálculo, considerando que o

radar banda S não difere gotículas de nuvem.

Figura 5: Esquema de refletividade composta. O máximo valor de cada altitude é projetado na superfície. Fonte: Adaptado de DIXON, 2001.

25

O conteúdo de água (M) pode ser somado na vertical para produzir

uma estimativa do conteúdo de água numa coluna de área unitária (coluna de

integração vertical para o cálculo de VIL), acima do solo, conforme ilustrado na

Figura 6.

Figura 6: Esquema demonstrativo da coluna de integração para o cálculo de VIL. Fonte: Adaptado de DIXON, 2001.

8 ANÁLISE DA DINÂMICA CLIMÁTICA DE OUTUBRO A MARÇO (2000 A 2004)

A presente análise está baseada nos boletins do Centro de Previsão

de Tempo e Clima (CPTEC, 2008), tendo como base os boletins divulgados, on-line,

por este Centro de Pesquisa. Foram analisados os períodos de 2000 a 2004, com

base nos meses de outubro a março. Esse é o período de maior ocorrência de

convecção, na área de estudo. Neste período, observam-se diversas dinâmicas

atuantes nessa área (Bauru e adjacências), tais como: sistemas frontais forçando o

ar úmido e quente da região a ascender, forçantes térmicas devido a aquecimentos

diferenciados, linhas de instabilidades ou Complexos Convectivos de Mesoescala.

26

8.1 Análise da Dinâmica Climática de outubro (2000 a 2004)

Em outubro de 2000, a passagem de sistemas frontais não contribuiu

para o aumento das chuvas na região Sudeste, onde predominaram anomalias

negativas de precipitação. Os desvios foram de -100mm, ocorrendo principalmente

no Centro-Sul de Minas Gerais e no Espírito Santo.

Já em 2001, nos setores Oeste e Leste de Minas Gerais, Norte do

Rio de Janeiro e litoral Norte do Estado de São Paulo, as chuvas ficaram abaixo da

média histórica.

Em 2002, choveu pouco no centro-norte da região, durante a primeira

quinzena do mês. Em grande parte de São Paulo, as chuvas apresentaram valores

entre 50mm e 100mm. Predominaram desvios negativos em toda a região.

As chuvas ocorreram abaixo da climatologia em praticamente toda a

região em 2003. As exceções ocorreram no Vale do Paraíba, em São Paulo e no Rio

de Janeiro, onde os totais mensais, entre 150mm e 200mm, excederam a

climatologia em até 25mm.

Já em outubro de 2004, a atuação de frentes frias ocorreu com maior

intensidade no sul da região, em particular no Sudoeste de São Paulo, onde os totais

acumulados superaram a média histórica em até 100mm. No norte da região, choveu

apenas no final do mês, com destaque para a ocorrência de chuvas intensas no

Espírito Santo.

No Centro e Sul do Brasil, a convecção foi mais freqüente a partir da

segunda semana do mês e esteve associada à passagem de sistemas frontais e ao

desenvolvimento de Complexos Convectivos de Mesoescala (CCM). Ao norte da

região Sudeste e no sul e sudoeste da região Nordeste, a atividade convectiva foi

27

mais fraca e ocorreu apenas na primeira e na última semana, devido à passagem

das frentes frias.

8.2 Análise da Dinâmica Climática de novembro (2000 a 2004)

Para o mês de novembro de 2000, tem-se na região Sudeste o

registro de totais acumulados de precipitação acima de 300mm, na região central de

Minas Gerais e no litoral central de São Paulo. Com este comportamento, foram

registradas anomalias positivas, superiores a 100mm, nestas mesmas regiões. Em

praticamente todo o Estado de São Paulo, predominaram desvios positivos de

precipitação. O campo de temperatura média do ar à superfície, no Estado de São

Paulo apresentou temperatura entre 22 e 24ºC.

Já em 2001 (novembro) as chuvas excederam os 300mm no Leste de

Minas Gerais e no Espírito Santo, associadas ao episódio de ZCAS. No Espírito

Santo houve perda de vidas humanas e materiais e seis municípios decretaram

estado de emergência. No Estado de São Paulo houve chuvas acima da média, no

setor oeste e chuvas, abaixo da média, no setor leste.

Neste mês de novembro, foram observados os primeiros episódios de

ZCAS, do ano, entre os dias 01 e 06 e entre os dias 16 a 21. A região preferencial de

atuação da banda de nebulosidade foi semelhante nos dois casos, isto é, sul da

região Norte, centro-norte das regiões Centro-Oeste e Sudeste, como observado no

campo médio de radiação de onda longa emergente.

Em altos níveis é verificada a presença da Alta da Bolívia e do

cavado próximo ao nordeste, bem como a região de vorticidade anti-ciclônica sobre a

banda de nebulosidade, fatores estes concordantes com o modelo conceitual de

ZCAS. Salienta-se que, no segundo episódio, foi verificado um prolongamento da

28

circulação da Alta da Bolívia ao longo de todo o Brasil Central, estendendo-se para o

oceano e afetando o posicionamento do cavado próximo ao Nordeste.

No mês de novembro de 2002, ocorreram chuvas entre 150mm e

250mm em grande parte do Estado de São Paulo, com anomalias positivas maiores

que 50mm, chegando a 100mm em algumas áreas. Estas chuvas estiveram

associadas à passagem de frentes frias, que se organizaram sobre a região entre os

dias 10 e 18. Ocorreram eventos extremos, com vários pontos de alagamento e

sérios prejuízos em alguns centros urbanos de São Paulo e Rio de Janeiro. Durante

este mês, notou-se a persistência de maior atividade convectiva sobre o Brasil

Central. Destacaram-se as passagens de sistemas frontais, que determinaram um

excesso de chuvas no Estado de São Paulo.

Em 2003, os totais de chuvas ocorreram entre 100mm e 150mm em

grande parte da região, com predominância de desvios negativos de até 100mm, em

Minas Gerais e no Espírito Santo. Valores acima da média histórica foram

observados apenas no Centro e Sul de São Paulo, no Sudeste e Noroeste do Rio de

Janeiro e em áreas isoladas no Sul de Minas Gerais.

A atividade convectiva, no mês de novembro esteve associada ao

avanço dos sistemas frontais. Neste mês observou-se uma faixa orientada no

sentido noroeste-sudeste e posicionada preferencialmente sobre o Brasil Central.

Nas duas primeiras semanas um sistema frontal deslocou-se rápidamente pelas

regiões Sul e Sudeste, aumentando a atividade convectiva no semi-árido nordestino.

No final deste mês, notou-se redução da atividade convectiva na região Nordeste e

aumento no Sul do Brasil, Uruguai, Nordeste da Argentina e Paraguai, onde o

desenvolvimento de complexos convectivos proporcionou a ocorrência de chuvas

intensas e ventos fortes em várias localidades.

29

Já em novembro de 2004 os sistemas frontais foram os principais

responsáveis pela ocorrência de chuva, porém os totais acumulados não excederam

os 200mm. Choveu acima da média principalmente nos Estados de São Paulo e Rio

de Janeiro, os quais, além das frentes frias, apresentaram episódios localizados de

chuvas e ventos fortes.

Neste mesmo mês, verificou-se o primeiro episódio da ZCAS dentro

do período chuvoso 2004/2005. A configuração deste episódio ocorreu entre os dias

20 e 25, quando um sistema frontal permaneceu estacionário, favorecendo o

aumento da atividade convectiva principalmente sobre o Centro-Sul da Bahia.

Destaca-se que a maior atividade deste episódio de ZCAS foi notada sobre o

Oceano Atlântico, como mostram os campos médios de escoamento em 850hPa e

500hPa. A configuração do vórtice ciclônico em altos níveis, que ocorre muitas vezes

simultaneamente aos episódios de ZCAS, foi observado sobre o Atlântico, com

posicionamento médio em torno de 20ºW.

Nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e no sul da região Nordeste, a

convecção esteve associada à passagem dos sistemas frontais. No Sul e Sudoeste

do Brasil, a atuação dos Complexos Convectivos de Mesoescala (CCM) e a

formação de ciclogênese foram os principais fatores responsáveis pela ocorrência de

chuvas.

8.3 Análise da Dinâmica Climática de dezembro (2000 a 2004)

Em dezembro de 2000, verificaram-se valores de chuva superiores a

300mm, no extremo Norte e Centro de Minas Gerais, Norte do Espírito Santo e no

litoral Norte de São Paulo. Valores inferiores a 200mm foram registrados no Sul de

Minas Gerais, no Sul de São Paulo e em praticamente todo o Rio de Janeiro.

30

A atuação de dois episódios de ZCAS contribuiu para os desvios

positivos de precipitação, superiores a 50mm, observados principalmente no norte da

região Sudeste. Sobre todo o Estado de São Paulo foi observado aumento da

temperatura média do ar.

Já em 2001, os desvios foram positivos no Centro-Sul de Minas

Gerais e em grande parte do Estado de São Paulo. As chuvas também foram

decorrentes da formação da ZCAS sobre a região e estiveram até 100mm acima da

média histórica.

Em 2002, as chuvas continuaram intensas, em relação a novembro,

com sérios prejuízos em cidades localizadas nos Estados de São Paulo, Rio de

Janeiro e Minas Gerais. Os maiores totais variaram entre 250mm e 400mm nos

Estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo. As frentes frias que

atuaram durante a segunda quinzena do mês proporcionaram a formação da ZCAS,

com chuvas acima da média em até 200mm no Norte de Minas Gerais. Os totais

mensais, contudo ficaram abaixo da média em grande parte da região.

Neste mês de dezembro de 2002, foram observados dois episódios

de ZCAS: o primeiro no período de 10 a 16, e o segundo de 27 a 07 de janeiro de

2003. A região preferencial de atuação da banda de nebulosidade associada à ZCAS

foi semelhante nos dois casos e atingiram o sul da região Norte, grande parte da

região Centro-Oeste e o Sudeste, estendendo-se para o oceano na altura do litoral

dos Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo. Salienta-se a intensa convecção

observada durante o primeiro episódio, no centro da região Sudeste.

A formação da banda de nebulosidade, no início do segundo

episódio, foi verificada a partir de incursões de cavados em baixos níveis, após a

penetração de um sistema frontal. Em altos níveis, destacou-se a presença da Alta

31

da Bolívia e do cavado próximo ao nordeste, bem como a região de divergência na

área da banda de nebulosidade, fatores estes concordantes com o modelo

conceitual de ZCAS.

No mês de dezembro de 2003, predominaram chuvas abaixo da

média histórica em Minas Gerais, no Rio de Janeiro e em São Paulo. A atividade

convectiva esteve associada ao avanço dos sistemas frontais. Ocorreu uma faixa de

nebulosidade orientada no sentido noroeste-sudeste, ao longo de todo este mês.

Em 2004, a atuação da Zona de Convergência do Atlântico Sul, em

dois episódios ao longo do mês, proporcionou aumento das chuvas em Minas

Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro e em áreas no litoral do Estado de São Paulo.

Nestas áreas, as chuvas ficaram acima da média histórica. Neste mês, a ZCAS

configurou-se em dois episódios: o primeiro entre os dias 09 e 14 e o segundo entre

os dias 21 e 25. Em ambos os episódios, a banda de nebulosidade associada esteve

centrada preferencialmente sobre as regiões Sudeste e Centro-Oeste do Brasil.

8.4 Análise da Dinâmica Climática de janeiro (2000 a 2004)

No mês de janeiro de 2000, os cinco primeiros dias deste mês, foram

marcados por fortes chuvas, que atingiram a região do Vale do Paraíba (SP e Sul do

RJ), o Sul de MG e o Norte de SP. Esta precipitação, que atingiu valores em torno de

436mm, em Campos do Jordão, representou 150mm acima da média, ou seja, 50%

acima da climatologia. Esta mesma anomalia positiva ocorreu em todo o Sul de MG

e no Norte de SP. Assim, em praticamente cinco dias, estas áreas receberam mais

chuvas do que durante todo o mês. Anomalias negativas de precipitação, menores

que 50mm em relação à média, foram registradas no Sudoeste e Oeste de SP, no

32

RJ, no ES e no Noroeste de MG. No Sudoeste e Oeste de SP, choveu menos que

100mm.

Durante o mês de janeiro foram observados dois casos de ZCAS,

cujo período foi de 01 a 08 e de 21 a 24 de janeiro. No primeiro caso, a banda de

nebulosidade atuou, principalmente, nos Estados do Mato Grosso, Goiás e Minas

Gerais, prolongando-se para o Oceano Atlântico pelo litoral do Rio Janeiro e São

Paulo. Durante este caso foi registrada intensa precipitação nas regiões entre os

Estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio Janeiro. Em Campos do Jordão (SP)

foram registrados 439mm, em Itajubá (MG), 374mm e em Resende (RJ), 287mm.

Em janeiro de 2001, a Alta Subtropical do Atlântico Sul atuou sobre o

continente e inibiu a ocorrência das chuvas em toda a região, principalmente sobre o

Estado de Minas Gerais, onde a redução pluviométrica foi superior a 100mm. No

início do mês, a atuação de um caso de Zona de Convergência do Atlântico Sul de

fraca intensidade foi insuficiente para normalizar as chuvas na região.

Em médios níveis, observa-se um cavado sobre o Estado de São

Paulo que coopera para a intensificação das ZCAS. Em altos níveis, observa-se que

a Alta da Bolívia, com núcleo ao Norte do Paraguai e o Vórtice do Nordeste, com

núcleo entre os Estados de Pernambuco e Paraíba, induziram uma faixa de

vorticidade anticiclônica que indica forte atividade convectiva, típico de casos de

ZCAS.

Este episódio foi muito importante na distribuição de chuvas nas

regiões Centro-Oeste e Sudeste do Brasil, uma vez que, após sua ocorrência, foi

observado um longo período de estiagem.

Em 2003, chuvas intensas foram observadas associadas aos

episódios de ZCAS que se configuraram ao longo do mês, sobre os Estados de São

33

Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, onde em particular ocorreram totais de chuva

entre 250mm e 500mm.

No mês de janeiro de 2004, a atuação dos sistemas frontais, a

configuração de três episódios de ZCAS e o desenvolvimento de áreas de

instabilidade, favoreceu as chuvas em praticamente toda a região Sudeste. As

chuvas intensas no Espírito Santo, no Centro e Norte de Minas Gerais e em São

Paulo superaram a média do mês. Trovoadas intensas afetaram a capital, onde

foram registrados vários alagamentos na região metropolitana, com totais de

precipitação que excederam a média em até 200mm, além de várias cidades do

Estado de São Paulo.

8.5 Análise da Dinâmica Climática de fevereiro (2000 a 2004)

No mês de fevereiro de 2000, no campo de precipitação acumulada,

verifica-se que os maiores valores estiveram localizados no Oeste de Minas Gerais e

extremo Norte de São Paulo. Associados a este padrão foram registrados desvios

positivos de até 100mm. No campo de temperatura média e de anomalia, observam-

se temperaturas acima da média histórica em quase todo o Estado de São Paulo.

Já em 2001, com exceção do setor Sudoeste de São Paulo e área

isolada no Leste de Minas Gerais, ocorreram chuvas abaixo da média climatológica,

em mais que 100mm, em quase toda a região. As frentes frias apresentaram um

deslocamento pelo litoral e organizaram pouca nebulosidade e convecção no interior

da região.

Em fevereiro de 2002, a ZCAS também favoreceu a ocorrência de

chuvas no Norte de São Paulo e Centro-Sul de Minas Gerais, onde os totais

excederam os 350mm. Apenas o Centro-Sul de São Paulo e o Rio de Janeiro

34

apresentaram déficit pluviométrico superior a 100mm em algumas áreas.

Configuraram-se dois episódios de ZCAS, o primeiro entre os dias 4 e 7 e o segundo

entre 16 e 24.

Em 2003, os maiores totais de precipitação, superiores a 150mm,

ocorreram em São Paulo. Nas demais áreas da região, a atuação de vórtices

ciclônicos em altos níveis, associada ao aumento da pressão à superfície, impediu o

avanço das frentes frias, o que foi desfavorável à ocorrência de chuvas.

Considerando os desvios em relação à média histórica, com exceção de áreas

isoladas, desvios negativos predominaram em toda a região Sudeste.

Em 2004, o avanço das frentes frias e a configuração dos dois

episódios de ZCAS colaboraram para a ocorrência de chuvas neste mês. No Norte

de São Paulo e em grande parte de Minas Gerais, os totais acumulados superaram

os 300mm. Com exceção de pequena área no triângulo mineiro e no Sudoeste de

São Paulo, os valores acumulados estiveram acima da média histórica em quase

toda a região. Houve intensa precipitação de granizo na cidade de São Paulo, no dia

12, e em Juiz de Fora - MG, no dia 29, deixando extensas áreas cobertas por pedras

de gelo. Apesar da ocorrência de chuvas nos últimos dois meses ter melhorado a

situação dos reservatórios de água da região, persistiu certa preocupação com o

abastecimento de água na grande São Paulo.

8.6 Análise da Dinâmica Climática de março (2000 a 2004)

No mês de março de 2000, foram observadas anomalias positivas de

precipitação no extremo Oeste e Norte de São Paulo. Desvios negativos foram

observados na faixa Leste de São Paulo. Em relação a temperatura ocorreu variação

35

de normal a acima da média climatológica em todo o Estado de São Paulo, Rio de

Janeiro e Centro Sul do Estado de Minas Gerais.

Em 2001, a atuação das frentes frias, em associação com os Vórtices

Ciclônicos em altos níveis, favoreceu o moderado aumento das chuvas

principalmente em algumas áreas de Minas Gerais, onde os desvios de precipitação

ficaram positivos em mais que 50mm. À Leste dos Estados de São Paulo e Rio de

Janeiro, as anomalias continuaram negativas em mais que 50mm.

Em 2002, as chuvas ficaram, em geral, abaixo da média

climatológica, devido à fraca atuação das frentes frias. Apenas no Sul e Sudoeste do

Estado de São Paulo, as chuvas ficaram acima da média climatológica.

Já em março de 2003, a atuação de vórtices ciclônicos em altos

níveis sobre a região Sudeste e o aumento da pressão atmosférica à superfície

impediram o avanço das frentes frias, o que foi desfavorável à ocorrência de chuvas

no Norte de Minas Gerais, no Espírito Santo e no Rio de Janeiro. Os maiores totais

de precipitação, entre 100mm e 200mm, ocorreram em São Paulo e no Centro-Sul

de Minas Gerais, com desvios positivos em áreas isoladas.

Em 2004, as frentes frias que avançaram até o norte da região

Sudeste favoreceram a ocorrência de chuvas acima da média histórica no Espírito

Santo, no Norte de Minas Gerais e no Norte do Rio de Janeiro. Núcleos com

anomalias positivas de chuva foram observados no Sul de Minas Gerais e no

sudoeste e litoral do Estado de São Paulo. Nas demais áreas, a predominância de

totais de chuva inferiores a 150mm resultou em desvios negativos de até 100mm no

triângulo mineiro na divisa com São Paulo, na região do Vale do Paraíba-SP e no Sul

do Rio de Janeiro.

36

Em síntese, a análise de macroescala, realizada pelo CPTEC, não

configurou as dinâmicas mais regionais, principalmente no Estado de São Paulo,

onde as convecções produzidas por aquecimentos diferenciados provocaram linhas

de instabilidades e tempestades isoladas, que produziram chuvas significativas na

região de atuação do radar de Bauru, como por exemplo, no dia 04/10/2000, às

16:22 UT onde ocorreram chuvas fortes, com vendavais e queda de granizo, o que

não se configurou nas análises da dinâmica, realizada pelo CPTEC.

9 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

9.1 Climatologia das Distribuições de VIL, Topo dos Ecos e Densidade VIL

A caracterização das tempestades sob o aspecto climatológico para a

área central do Estado de São Paulo, utilizando os dados do radar Doppler de Bauru

foi realizada através da obtenção das estatísticas para o topo dos ecos e VIL, cujos

parâmetros foram determinados com o software TITAN, desenvolvido no NCAR e

implementado nos computadores do IPMet.

Essas estatísticas foram determinadas considerando o período de

2000 a 2004, durante os meses de outubro a março. Estes meses foram

selecionados por serem associados ao período chuvoso no Estado de São Paulo e

que contribui com cerca de 80% do total da chuva anual.

A partir da distribuição dos máximos de topo dos ecos e VIL, foi

calculado o parâmetro Densidade VIL (g/m3) para todo o período considerado em

que o limiar de refletividade excedeu a 40dBZ (seleção das tempestades

potencialmente severas), dentro da área de 240Km de alcance do radar Doppler de

Bauru, cujos resultados são apresentados e discutidos nos próximos tópicos.

37

As figuras mostradas apresentam os resultados mais significativos,

excluídos os valores considerados extremos nas séries analisadas. A distribuição de

freqüência observada para cada um dos parâmetros é mostrada nas Tabelas I, II e III

incluídas no ANEXO 3.

Dessas figuras, observa-se que as referidas distribuições de

freqüência seguem o modelo da distribuição lognormal, observados para os

parâmetros como altura e duração da tempestade, por exemplo, em relação ao eco

do radar, que são observadas nas várias situações convectivas, como evidenciado

em Potts et al. (2000) e López (1977).

9.1.1 Climatologia para o mês de outubro (2000 a 2004)

Para a distribuição de freqüência dos topos dos ecos observados no

mês de outubro, dentro do período dos cinco anos considerados, verificou-se que

87,9% das tempestades atingiram topo entre 6 e 10Km enquanto 10,3% ultrapassam

os 10Km atingindo máximos de 14Km de altura, conforme mostrado na Figura 7. Em

relação à distribuição de freqüência dos valores de VIL observa-se que 87,8% das

tempestades possuem valores de VIL entre 4 e 26kg/m2 e que em 11% dessas

tempestades o limiar de 26kg/m2 é excedido, o que pode ser visto através da

Figura 8.

A razão entre esses dois parâmetros fornece o valor do parâmetro

Densidade VIL proposto para ser utilizado na identificação de tempestades severas.

A distribuição de freqüência desse parâmetro mostra que 74% dos valores

observados são menores que 2g/m3, sendo que em 26% dos casos os valores

excedem a 2g/m3, Figura 9. Os valores médios calculados para o período foram

7,8Km, 14,6kg/m2 e 1,7g/m3, respectivamente, para os parâmetros VIL, topo dos

ecos e Densidade VIL.

38

Distribuição dos Topos dos Ecos - 40 dBZ (Outubro 2000 - 2004)

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

45%

4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14

Intervalos de Altura (km)

Freq

üênc

ia re

lativ

a de

oco

rrên

cia

(%)

Figura 7: Distribuição da freqüência do topo dos ecos (40dBZ) para o mês de outubro de 2000 a 2004, gerados por dados do radar de Bauru.

Distribuição de VIL em tempestades (Outubro 2000 - 2004)

0%

5%

10%

15%

20%

25%

2 8 14 20 26 32 38 44 50 56 62 68 74 80 86 92 98 104

11011

6

Intervalos de VIL (kg/m2)

Freq

üênc

ia re

lativ

a de

oco

rrên

cia

(%)

Figura 8: Distribuição da freqüência de ocorrência de VIL para o mês de outubro no período de 2000 a 2004, através de dados do radar de Bauru.

39

Distribuição de Densidade VIL em tempestades (Outubro 2000 - 2004)

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5 5,5 6 6,5 7 7,5 8 8,5 9 9,5 10

Intervalos de Densidade VIL (g/m3)

Freq

üênc

ia re

lativ

a de

oco

rrên

cia

(%)

Figura 9: Distribuição da freqüência de ocorrência do parâmetro Densidade VIL, para o mês de outubro, no período de 2000 a 2004, calculado para todas as tempestades, através de dados do radar de Bauru. 9.1.2 Climatologia para o mês de novembro (2000 a 2004)

Foi observado nos meses de novembro que as tempestades

atingiram topo entre 6 e 10Km, cujos valores correspondem a uma freqüência de

91,2%, sendo que as tempestades que ultrapassaram 10Km tiveram uma freqüência

de 6,8%, Figura 10. A distribuição de freqüência para os valores de VIL demonstra

que 92% das tempestades ocorrem com valores de VIL entre 4 e 26kg/m2 e que

6,4% ultrapassam esse valor, Figura 11. Valores calculados para o parâmetro

Densidade VIL demonstram que valores entre 1 e 2g/m3 constituem 82,8% das

ocorrências e que 17,1% constituem os valores excedentes (Figura 12). Assim o mês

de novembro apresentou freqüência menor de ocorrência de tempestades com

valores de Densidade VIL excedendo a 2g/m3, se comparadas com o mês de

outubro. A média para topo dos ecos, VIL e Densidade VIL foi respectivamente

7,6Km, 11,8kg/m2 e 1,5g/m3.

40

Distribuição dos Topos dos Ecos - 40 dBZ (Novembro 2000 - 2004)

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

45%

4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14

Intervalos de Altura (km)

Freq

üênc

ia re

lativ

a de

oco

rrên

cia

(%)

Figura 10: Distribuição da freqüência do topo dos ecos (40dBZ) para o mês de novembro de 2000 a 2004, gerados por dados do radar de Bauru.

Distribuição de VIL em tempestades (Novembro 2000 - 2004)

0%

5%

10%

15%

20%

25%

2 8 14 20 26 32 38 44 50 56 62 68 74 80 86 92 98 104

110

116

Intervalos de VIL (kg/m2)

Freq

üênc

ia re

lativ

a de

oco

rrên

cia

(%)

Figura 11: Distribuição da freqüência de ocorrência de VIL para o mês de novembro no período de 2000 a 2004, através de dados do radar de Bauru.

41

Distribuição de Densidade VIL em tempestades (Novembro 2000 - 2004)

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5 5,5 6 6,5 7 7,5 8 8,5 9 9,5 10

Intervalos de Densidade VIL (g/m3)

Freq

üênc

ia re

lativ

a de

oco

rrên

cia

(%)

Figura 12: Distribuição da freqüência de ocorrência do parâmetro Densidade VIL, para o mês de novembro, no período de 2000 a 2004, calculados para todas tempestades através de dados do radar de Bauru.

9.1.3 Climatologia para o mês de dezembro (2000 a 2004)

Resultados do mês de dezembro apresentaram topo dos ecos entre

06 e 10Km tiveram uma freqüência de ocorrência de 92,5%. Os topos dos ecos que

excederam a 10Km tiveram freqüência de 7,2%, conforme pode se observar na

Figura 13. A freqüência de ocorrência de VIL considerando os valores entre 4 e

26kg/m2, foi de 94,6%. A que excedeu 26kg/m2, foi de 5,2%, conforme visto na

Figura 14. Em relação ao parâmetro Densidade VIL observou-se que em 85% das

tempestades a magnitude ficou no intervalo de 1 a 2g/m3. As tempestades que

excederam a 2g/m3 apresentaram uma freqüência de 14,1%, que pode ser

constatada através da Figura 15. Para este mês a média do topo dos ecos foi 7,7Km,

de VIL 11,4kg/m2 e Densidade VIL 1,4g/m3.

42

Distribuição dos Topos dos Ecos - 40 dBZ (Dezembro 2000 - 2004)

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

45%

4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14

Intervalos de Altura (km)

Freq

üênc

ia re

lativ

a de

oco

rrên

cia

(%)

Figura 13: Distribuição da freqüência do topo dos ecos (40dBZ) para o mês de dezembro de 2000 a 2004, gerados por dados do radar de Bauru.

Distribuição de VIL em tempestades (Dezembro 2000 - 2004)

0%

5%

10%

15%

20%

25%

2 8 14 20 26 32 38 44 50 56 62 68 74 80 86 92 98 104

110

116

Intervalos de VIL (kg/m2)

Freq

üênc

ia re

lativ

a de

oco

rrên

cia

(%)

Figura 14: Distribuição da freqüência de ocorrência de VIL para o mês de dezembro no período de 2000 a 2004, através de dados do radar de Bauru.

43

Distribuição de Densidade VIL em tempestades (Dezembro 2000 - 2004)

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5 5,5 6 6,5 7 7,5 8 8,5 9 9,5 10

Intervalos de Densidade VIL (g/m3)

Freq

üênc

ia re

lativ

a de

oco

rrên

cia

(%)

Figura 15: Distribuição da freqüência de ocorrência do parâmetro Densidade VIL, para o mês de dezembro, no período de 2000 a 2004, calculado para todas as tempestades através de dados do radar de Bauru.

Este mês apresentou, no entanto, topo dos ecos relativamente

maiores do que os observados no mês de outubro e novembro, enquanto que

tempestades com valores de topo acima de 10Km, VIL excedendo a 26kg/m2 e

conseqüente Densidade VIL ultrapassando o valor de 2g/m3, tiveram maior

freqüência observada indicando que tempestades potencialmente severas tiveram

maior freqüência neste mês do que nos meses de outubro e novembro.

9.1.4 Climatologia para o mês de janeiro (2000 a 2004)

A Figura 16 mostra a distribuição de freqüência para o topo dos ecos,

observados durante os cinco anos, nos meses de janeiro.

44

Distribuição dos Topos dos Ecos - 40 dBZ (Janeiro 2000 - 2004)

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

45%

4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14

Intervalos de Altura (km)

Freq

üênc

ia re

lativ

a de

oco

rrên

cia

(%)

Figura 16: Distribuição da freqüência do topo dos ecos (40dBZ) para o mês de janeiro de 2000 a 2004, gerados por dados do radar de Bauru.

Distribuição de VIL em tempestades (Janeiro 2000 - 2004)

0%

5%

10%

15%

20%

25%

2 8 14 20 26 32 38 44 50 56 62 68 74 80 86 92 98 104

110

116

Intervalos de VIL (kg/m2)

Freq

üênc

ia re

lativ

a de

oco

rrên

cia

(%)

Figura 17: Distribuição da freqüência de ocorrência de VIL para o mês de janeiro no período de 2000 a 2004, através de dados do radar de Bauru.

45

Observa-se que a atividade convectiva deste mês é intensa, sendo

que 91,9% das tempestades atingem topo entre 06 e 10Km e mais de 7,5%

ultrapassam os 10Km. A média obtida é, respectivamente, 7,7Km, 11,3kg/m2 e

1,4g/m3, para o topo dos ecos, VIL e Densidade VIL.

Na distribuição de freqüência para os valores de VIL, Figura 17, se

observa que 94,3% das tempestades tem valores de VIL entre 04 e 26kg/m2 e 5,5%

dessas tempestades ocorrem com valores que excedem o limiar de 26kg/m2.

No gráfico da Figura 18 observa-se que 84,8% das tempestades

apresentam valores de Densidade VIL entre 1 e 2g/m3. Valores superiores a 2g/m3

têm a ocorrência de 14,4%.

Distribuição de Densidade VIL em tempestades (Janeiro 2000 - 2004)

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5 5,5 6 6,5 7 7,5 8 8,5 9 9,5 10

Intervalos de Densidade VIL (g/m3)

Freq

üênc

ia re

lativ

a de

oco

rrên

cia

(%)

Figura 18: Distribuição da freqüência de ocorrência do parâmetro Densidade VIL, para o mês de janeiro, no período de 2000 a 2004, calculado para todas as tempestades através de dados do radar de Bauru.

46

9.1.5 Climatologia para o mês de fevereiro (2000 a 2004)

O mês de fevereiro apresentou maior freqüência de tempestades

intensas. A ocorrência de topo de nuvens entre 6 e 10Km foi de 91,0%, sendo que

8,2% excederam os 10Km, conforme Figura 19. Em relação ao VIL, a freqüência de

ocorrência para os valores observados entre 4 e 26kg/m2 foi de 93,7%, conforme

visto na Figura 20. Em relação à Densidade VIL, 83,7% das tempestades ocorreram

com valores observados entre 1 e 2g/m3, sendo que em 15,3% dos casos esses

valores excederam a 2g/m3, conforme ilustrado na Figura 21.

A média do mês de fevereiro para o topo dos ecos ficou em 7,7Km,

VIL em 11,7kg/m2 e Densidade VIL em 1,42g/m3. Foi selecionado, para uma análise

mais detalhada, o mês de fevereiro de 2001 uma vez que durante este mês

tempestades, relativamente isoladas e quase-estacionárias, se desenvolveram em

células extremamente intensas, acumulando vastas quantidades de precipitação e

granizo, conforme informações da Defesa Civil para estes dias.

Distribuição dos Topos dos Ecos - 40 dBZ (Fevereiro 2000 - 2004)

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

45%

4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14

Intervalos de Altura (km)

Freq

üênc

ia re

lativ

a de

oco

rrên

cia

(%)

Figura 19: Distribuição da freqüência do topo dos ecos (40dBZ) para o mês de fevereiro de 2000 a 2004, gerados por dados do radar de Bauru.

47

Distribuição de VIL em tempestades (Fevereiro 2000 - 2004)

0%

5%

10%

15%

20%

25%

2 8 14 20 26 32 38 44 50 56 62 68 74 80 86 92 98 104

110

116

Intervalos de VIL (kg/m2)

Freq

üênc

ia re

lativ

a de

oco

rrên

cia

(%)

Figura 20: Distribuição da freqüência de ocorrência de VIL para o mês de fevereiro no período de 2000 a 2004, através de dados do radar de Bauru.

Distribuição de Densidade VIL em tempestades (Fevereiro 2000 - 2004)

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5 5,5 6 6,5 7 7,5 8 8,5 9 9,5 10

Intervalos de Densidade VIL (g/m3)

Freq

üênc

ia re

lativ

a de

oco

rrên

cia

(%)

Figura 21: Distribuição da freqüência de ocorrência do parâmetro Densidade VIL, para o mês de fevereiro, no período de 2000 a 2004, calculado para todas as tempestades através de dados do radar de Bauru.

48

9.1.6 Climatologia para o mês de março (2000 a 2004)

A distribuição de freqüência para o topo dos ecos durante o mês de

março apresentou 93,3% das tempestades com topo observado entre 6 a 10Km

sendo que 6,4% desses excederam os 10Km, como mostrado na Figura 22. Para os

valores de VIL entre 4 e 26kg/m2 obteve-se freqüência de 95,3% e o que ultrapassou

26kg/m2, a freqüência obtida foi de 4,5%, Figura 23.

Em relação aos valores de Densidade VIL o resultado obtido para a

distribuição de freqüência mostrou que 86,3% das tempestades possuem valores

entre 1 e 2g/m3 e que 12,8% possuem valores que ultrapassam 2g/m3, como

ilustrado pela Figura 24. A média das freqüências das tempestades para os

parâmetros topo dos ecos, VIL e Densidade VIL foi, respectivamente, 7,6Km,

10,9kg/m2 e 1,4g/m3. Para o mês de março foi constatada maior freqüência de

tempestades, no período, porém com topo de nuvens entre 6 e 10Km, valores de VIL

com maior ocorrência de 4 e 26kg/m2 e Densidade VIL de até 2g/m3.

Distribuição dos Topos dos Ecos - 40 dBZ (Março 2000 - 2004)

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

45%

4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14

Intervalos de Altura (km)

Freq

üênc

ia re

lativ

a de

oco

rrên

cia

(%)

Figura 22: Distribuição da freqüência do topo dos ecos (40dBZ) para o mês de março de 2000 a 2004, gerados por dados do radar de Bauru.

49

Distribuição de VIL em tempestades (Março 2000 - 2004)

0%

5%

10%

15%

20%

25%

2 8 14 20 26 32 38 44 50 56 62 68 74 80 86 92 98 104

110

116

Intervalos de VIL (kg/m2)

Freq

üênc

ia re

lativ

a de

oco

rrên

cia

(%)

Figura 23: Distribuição da freqüência de ocorrência de VIL para o mês de março no período de 2000 a 2004, através de dados do radar de Bauru.

Distribuição de Densidade VIL em tempestades (Março 2000 - 2004)

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5 5,5 6 6,5 7 7,5 8 8,5 9 9,5 10

Intervalos de Densidade VIL (g/m3)

Freq

üênc

ia re

lativ

a de

oco

rrên

cia

(%)

Figura 24: Distribuição da freqüência de ocorrência do parâmetro Densidade VIL, para o mês de março, no período de 2000 a 2004, calculado para todas as tempestades através de dados do radar de Bauru.

50

9.2 Resumo da Climatologia para os meses de outubro a dezembro e de janeiro a março (2000 a 2004)

Para uma melhor comparação entre os meses analisados, os

resultados para as distribuições de freqüência serão agrupados em dois trimestres, a

saber, de outubro a dezembro e o outro de janeiro a março, para os parâmetros: topo

dos ecos, VIL e Densidade VIL, mostrados nas Figuras 25, 26 e 27, respectivamente.

Ao analisar as figuras resultantes, é possível observar que a “cauda” do gráfico

representa a ocorrência de tormentas severas que podem causar danos à vida e a

propriedade.

Na distribuição do topo dos ecos, relativa aos meses de outubro a

dezembro, observa-se que em 87,9%, 91,2% e 82,1%, respectivamente, o topo dos

ecos é observado entre 6 e 10Km, conforme Figura 25. Uma distribuição similar é

observada para o outro trimestre reunindo os meses de janeiro a março, como pode

se observar na Figura 26, cujas freqüências relativas são 91,9%, 91% e 93,3%,

respectivamente, para topos no intervalo de 6 a 10Km.

Os valores médios obtidos para o topo dos ecos variaram para os

dois trimestres entre 7,6 e 7,8Km de altura, com valores médios para VIL entre 11 e

14kg/m2. O parâmetro Densidade VIL médio calculado para os dois trimestres ficou

entre 1,4 e 1,7g/m3.

Para os valores de VIL (kg/m2) essas freqüências são

respectivamente de, 87,8%, 82,1% e 94,6%, observadas no intervalo de 4 a 26kg/m2,

sendo que em torno de 5 a 11% desses valores são excedidos, durante o trimestre

que inclui os meses de outubro a dezembro, conforme Figura 27. Pode ser

destacado o valor da freqüência relativa para intervalos de VIL >50kg/m2. O mês de

outubro apresenta, desta forma, um valor de freqüência de ocorrência maior quando

comparado com outros meses, devido essencialmente a tempestades mais intensas

51

que ocorreram neste período. No estudo de casos apresentado, onde se propõe

estabelecer uma comparação entre os limiares obtidos a partir da climatologia e os

valores observados durante os eventos severos documentados, foi selecionado um

evento ocorrido em 04 de outubro de 2000, que associado a uma tempestade severa

produziu de granizo em superfície.

Os valores de VIL relativos às tempestades severas deste mês de

outubro resultaram no valor de freqüência relativa maior que os dos outros dois

meses observados no extremo do gráfico. Para o mês de outubro, a freqüência

relativa para os valores de VIL maiores que 50kg/m2 foi de 2,9%, sendo que para o

mês de novembro obteve-se 1,2% e para o mês de novembro 0,9%. Os valores

médios obtidos para o parâmetro VIL ficaram entre 11 e 14kg/m2.

52

Distribuição dos Topos dos Ecos - 40 dBZ(Outubro a Dezembro de 2000 - 2004)

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

45%

4--5

5--6

6--7

7--8

8--9

9--1

0

10--1

1

11--1

2

12--1

3

13--1

4

14--1

5

> 15

Intervalos de Altura (Km)

Freq

üênc

ia re

lativ

a (%

)

Outubro Novembro Dezembro

Figura 25: Distribuição da freqüência de ocorrência do topo dos ecos, para os meses de outubro a dezembro no período de 2000 a 2004, calculados para as tempestades usando dados do radar de Bauru.

Distribuição dos Topos dos Ecos - 40 dBZ(Janeiro a Março de 2000 - 2004)

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

45%

4--5

5--6

6--7

7--8

8--9

9--1

0

10--1

1

11--1

2

12--1

3

13--1

4

14--1

5

> 15

Intervalos de Altura (Km)

Freq

üênc

ia re

lativ

a (%

)

Janeiro Fevereiro Março

Figura 26: Distribuição da freqüência de ocorrência do topo dos ecos, para os meses de janeiro a março no período de 2000 a 2004, calculados para as tempestades usando dados do radar de Bauru.

53

Distribuição de VIL - 40 dBZ(Outubro a Dezembro de 2000 - 2004)

0%

5%

10%

15%

20%

25%2-

-44-

-66-

-88-

-10

10--1

212

--14

14--1

616

--18

18--2

020

--22

22--2

424

--26

26--2

828

--30

30--3

232

--34

34--3

636

--38

38--4

040

--42

42--4

444

--46

46--4

848

--50

> 50

Intervalos de VIL (kg/m2)

Freq

üênc

ia re

lativ

a (%

)

Outubro Novembro Dezembro

Figura 27: Distribuição da freqüência de ocorrência de VIL, para os meses de outubro a dezembro no período de 2000 a 2004, calculados para as tempestades usando dados do radar de Bauru.

Distribuição de VIL - 40 dBZ(Janeiro a Março de 2000 - 2004)

0%

5%

10%

15%

20%

25%

2--4

4--6

6--8

8--1

01 0

--12

12--1

41 4

--16

1 6--1

81 8

--20

2 0--2

222

--24

2 4--2

626

--28

2 8--3

03 0

--32

32--3

43 4

--36

36--3

83 8

--40

40--4

242

--44

4 4--4

646

--48

4 8--5

0>

50

Intervalos de VIL (kg/m2)

Freq

üênc

ia re

lativ

a (%

)

Janeiro fevereiro Março

Figura 28: Distribuição da freqüência de ocorrência de VIL, para os meses de janeiro a março no período de 2000 a 2004, calculados para as tempestades usando dados do radar de Bauru.

54

A Figura 28 mostra a distribuição de freqüência para os valores de

VIL durante os meses de janeiro a março do período estudado. É possível perceber

que a freqüência de ocorrência dos valores de VIL >50kg/m2 para os meses acima

mencionados não sofrem variações acentuadas e são inferiores quando comparadas

com as referentes ao mês de outubro. Isso significa que as tempestades de janeiro,

fevereiro e março, cujos valores de VIL que superaram 50kg/m2 resultaram em 1,1%,

1,3% e 0,8%, respectivamente, não foram tão intensas quanto às tempestades

ocorridas durante o mês de outubro, que apresenta um valor de freqüência

relativamente maior.

Em relação ao parâmetro Densidade VIL, os valores são

corroborados com valores de topo dos ecos e de VIL, uma vez que este parâmetro

“normaliza” o VIL usando o topo do eco. O parâmetro Densidade VIL médio

calculado para os dois trimestres ficou entre 1,4 e 1,7g/m3.

Considerando os valores representativos da cauda desta distribuição

de freqüência, tem-se a freqüência relativa para o parâmetro Densidade

VIL >6,5g/m3, dos meses de outubro, novembro e dezembro, respectivamente 1,1%,

0,5% e 0,4%, conforme Figura 29. Isso significa que grande parte das tempestades

mais intensas possui relativamente maior incidência no mês de outubro, período de

transição de estação. Na Figura 30 nota-se uma menor freqüência de tempestades

com valor de Densidade VIL >6,5g/m3, para os meses de janeiro a março.

55

Distribuição de Densidade VIL - 40 dBZ(Outubro a Dezembro de 2000 - 2004)

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

0,5 1

1,5 2

2,5 3

3,5 4

4,5 5

5,5 6

> 6,

5

Intervalos de Densidade VIL (g/m3)

Freq

üênc

ia re

lativ

a (%

)

Outubro Novembro Dezembro

Figura 29: Distribuição da freqüência de ocorrência de Densidade VIL, para os meses de outubro a dezembro no período de 2000 a 2004, calculados para as tempestades usando dados do radar de Bauru.

Distribuição de Densidade VIL - 40 dBZ(Janeiro a Março de 2000 - 2004)

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

0,5 1

1,5 2

2,5 3

3,5 4

4,5 5

5,5 6

> 6,

5

Intervalos de Densidade VIL (g/m3)

Freq

üênc

ia re

lativ

a (%

)

Janeiro Fevereiro Março

Figura 30: Distribuição da freqüência de ocorrência de Densidade VIL, para os meses de janeiro a março no período de 2000 a 2004, calculados para as tempestades usando dados do radar de Bauru.

56

A freqüência dos valores de Densidade VIL >6,5g/m3 é,

respectivamente, para os meses de janeiro, fevereiro e março de 0,4%, 0,5%, 0,4%.

Ainda pela análise da Figura 30 nota-se uma menor freqüência de tempestades com

valor de Densidade VIL superior a 6,5g/m3, isso porque estes meses representam o

ápice do verão onde o gradiente de temperatura provavelmente possui menor

variabilidade, e os eventos considerados severos podem produzir basicamente

chuvas torrenciais sem ocorrência de granizo, produzindo enchentes repentinas.

Os resultados obtidos para a climatologia caracterizam as magnitudes

médias associadas às tempestades potencialmente severas, definindo os valores de

ocorrência mais freqüentes relativos às alturas do topo dessas tempestades bem

como o valor de VIL associado. É proposta ainda a caracterização climatológica dos

eventos severos registrados através de levantamento dos danos em superfície. Tais

eventos foram selecionados através de uma base de informações compiladas no

IPMet a partir das informações sobre a ocorrência de eventos severos mantidas pela

Defesa Civil e de outras fontes que incluem os relatos de jornais da região central do

Estado de São Paulo.

9.3 Eventos Severos Registrados no Período de outubro a março (2000 a 2004)

O levantamento realizado das tempestades ocorridas no período de

estudo, bem como sua análise e o levantamento de número de chamadas atendidas

por órgãos como a Defesa Civil, Corpo de Bombeiros, por exemplo, é um dado

importante para se demonstrar o impacto que tais eventos têm para a sociedade.

A partir desses dados compilados para os eventos severos ocorridos

durante o período selecionado para a análise realizou-se uma seleção dos casos

57

mais significativos relativos ao período de outubro a março, concentrando-se na

região de Bauru.

Na Tabela 1, apresenta-se a lista dos eventos compilados utilizando

as informações fornecidas pela Defesa Civil e Jornal da Cidade (JCNet), levando em

conta o período referente aos meses chuvosos dos anos de 2000 a 2004. Pela

tabela tem-se a informação do ano, mês e dia das ocorrências dos eventos, incluindo

o tipo de fenômeno associado a cada evento e os tipos de danos produzidos em

superfície, identificados por códigos numéricos alocados a cada tipo e associados na

tabela. Foram observados durante o período de 2000 a 2004, quinze dias onde

houve registros, pela Defesa Civil, de ocorrência de eventos severos. Esses eventos

produziram em sua maioria, ventos intensos acompanhados de descargas elétricas.

Durante o período somente um evento produziu granizo e constatou-se que este

evento provou sérios danos na região de Bauru.

Considerando que a precipitação média anual em Bauru é de 1149mm, dos quais

80% ocorrem de outubro a março, sabe-se que mais da metade (49%) dessa

precipitação ocorre no período de dezembro a fevereiro (HELD e

NACHTIGALL, 2002). Em relação ao número mensal médio de chamadas atendidas

pelo Corpo de Bombeiros, devido às chuvas de verão, sabe-se que o mesmo está

diretamente relacionado à intensidade com que essas tempestades atingem o

município de Bauru. Assim sendo, a maioria dos pedidos por socorro acontece

dentro do período de janeiro a março (59% de todos os chamados), indicando que os

sistemas que produzem as enchentes repentinas são mais freqüentes durante o

esses meses do ano, que correspondem ao período de outubro a dezembro,

significando 20% de todos os chamados (GOMES e HELD, 2004).

58

Tabela 1: Eventos registrados referentes aos meses chuvosos no período de 2000 a 2004 em Bauru.

ANO MÊS DIA FENÔMENO OCORRÊNCIAS / DANOS FONTE janeiro - - - -

fevereiro - - - -

março 26 3, 4 23(2) Defesa Civil e JCnet

outubro 4 1, 2, 3 20, 25(9), 36, 40, 44 JCnet novembro - - - -

2000

dezembro 12 2, 3 25, 35 JCNet

6 3 25, 28, 30, 35, 36, 37, 46 JCNet janeiro 28 3, 4 20, 21, 26, 28, 33, 34, 39, 46, 48 JCNet

fevereiro 8 3 23(6), 25, 26, 27, 28, 30, 33, 34, 35, 37, 39, 40

Defesa Civil e JCNet

março - - - - outubro - - - -

novembro - - - -

2001

dezembro 11 2, 3 25, 28, 30, 34, 35 JCNet

janeiro - - - - fevereiro - - - - março - - - -

outubro - - - - novembro - - - -

2002

dezembro 16 3, 7 30, 35, 39, 48 JCNet

janeiro 24 3, 7 20,21,26,28,32,35,39,45 JCNet fevereiro 17 2, 3, 4, 7 21, 22(1), 26, 28, 30, 33, 35, 39, 45, 46 JCNet março - - - -

outubro 9 2, 3, 4, 7 20, 25, 33, 36, 37, 51 JCNet novembro - - - -

2003

dezembro - - - -

janeiro 25 3 28, 30 JCNet

fevereiro 6 3 26, 28, 30, 32, 33 Defesa Civil

março - - - -

10 2, 3, 4 22(2), 25, 37, 40, 51 Defesa Civil outubro

17 2, 3 25, 37 JCNet novembro - - - -

2004

dezembro - - - -

Fonte: IPMet – Base de dados relativos a eventos severos (2007).

59

Análises detalhadas de três eventos severos ocorridos durante o

período selecionado considerando os meses de janeiro a março, atingindo a região

de Bauru estão apresentadas e discutidas no próximo item. É demonstrada também

a aplicação do parâmetro Densidade VIL determinado a partir da climatologia obtida

para o período estudado.

10 ANÁLISE DOS EVENTOS SEVEROS SELECIONADOS

Todos os horários das imagens do radar seguem o horário Universal

Time (UT) que no Horário Local (HL) equivale a UT – 3 horas.

10.1 Evento dia 26 de março de 2000

O evento de 26 de março de 2000 produziu chuvas intensas sobre a

região de Bauru, de acordo com dados obtidos pela Defesa Civil (Tabela 1). O

evento foi acompanhado por descargas elétricas e teve um tempo de duração de

aproximadamente uma hora, resultando em duas vítimas fatais.

A Figura 31 mostra os campos de refletividade e velocidades radiais

associados a este evento no horário das 21:37 UT. Da análise da imagem do radar é

importante destacar a extensa área de precipitação estratiforme precedendo as

regiões contendo as células convectivas à frente dessa linha de precipitação.

60

Figura 31: Campo de refletividade do radar de Bauru para o evento de 26 de março de 2000, às 21:37 UT (esquerda) e de velocidade radial (direita). A letra R indica a localização do radar de Bauru. As setas em vermelho indicam vento radial em direção ao radar e as setas em azul indicam vento radial em sentido para fora do radar, identificando a região de convergência.

O campo de velocidades radiais, relativo ao campo de refletividades,

mostra uma grande área de convergência, visto através de regiões onde as

velocidades radiais mostram movimentos que se opõem, indicadas pelas setas azuis

e vermelhas. Este evento caracterizou-se por chuvas fortes e ventos intensos. A

evolução temporal da célula que produziu essas chuvas sobre a região de Bauru

neste dia é mostrada através de uma seqüência para os campos de refletividade,

ilustrado pela Figura 32. Os primeiros ecos relativos a esta célula foram observados

às 21:07 UT sendo que às 21:37 UT a tempestade já exibia refletividades excedendo

a 60dBZ, resultando em valores calculados de VIL de 20,4kg/m2, decaindo nos

próximos 30 minutos, conforme pode ser visto na Figura 32, considerando o horário

das 22:07 UT.

É importante ressaltar que este evento, não foi tão severo em relação

aos próximos que serão analisados, entretanto o mesmo resultou em duas mortes

(JCNet; Tabela 1) que não estiveram diretamente relacionados à tempestade, mas

sim a atividade elétrica produzida pela mesma.

61

Figura 32: Campo de refletividade do radar de Bauru para o evento de 26 de março de 2000, que mostra a evolução temporal da célula convectiva que atingiu Bauru desde a sua formação às 21:07 UT até sua fase de decaimento às 22:07 UT.

10.2 Evento de 04 de outubro de 2000

O evento de 04 de outubro de 2000 foi mais intenso em relação ao

anterior, pois resultou em muitos estragos e transtornos para a região de Bauru. As

células convectivas deste dia causaram maiores prejuízos principalmente por virem

acompanhadas de fortes ventos e pela queda de granizo, provocando queda de

árvores, desabrigados, destelhamentos, queda de postes e acidente com veículo

(Tabela 1).

A imagem do radar de Bauru para este dia, apresentada na

Figura 33, mostra o inicio da atividade convectiva na região centro-oeste do Estado

de São Paulo onde se nota a presença de células isoladas pela área, observadas no

horário das 16:45 UT. Tempestades similares foram observadas através de toda a

região central do Estado de São Paulo para esse dia.

62

Figura 33: Imagem dos dados gerados pelo TITAN correspondente ao dia 04 de outubro de 2000, às 16:45 UT para o alcance dos 240Km do radar de Bauru.

O primeiro eco associado à tempestade que provocou granizo e os

ventos fortes que assolaram a região de Bauru foi detectado pelo radar de Bauru às

16:22 UT, localizado a 30Km Noroeste do radar. A Figura 34 mostra o deslocamento

desta tempestade (polígonos em verde) sobre a região, obtido com o software

TITAN, a partir das 16:37 UT, quando a célula com refletividade maior que 40dBZ foi

identificada pela primeira vez.

63

Figura 34: Imagem do radar de Bauru obtido com o TITAN para o dia 04 de outubro de 2000, às 16:37 UT, mostrando a previsão do deslocamento da célula contendo granizo. Os anéis são mostrados a cada 5Km a partir do radar.

Os valores máximos de refletividade (aproximadamente 71dBZ) foram

observados entre os horários de 17:07 e 17:15 UT (entre 14:07 e 14:15 HL). O

máximo VIL foi de 148,4kg/m2 ocorrido às 17:07 UT com o topo dos ecos de 40dBZ

em 9,9Km, resultando num valor de 15,0g/m3 para o parâmetro Densidade VIL, que

caracteriza um evento de extrema severidade. A Figura 35 mostra a tempestade

apresentando dois núcleos de máxima refletividade às 16:45 UT (esquerda) cuja

fusão é observada já na próxima varredura do radar.

64

Sua estrutura vertical mostra a acumulação das gotas presentes na

célula ainda em estágio de crescimento (direita), representada pelas altas

refletividades presente nos altos níveis entre 06 e 08Km. Os valores de VIL

calculados foram de 60,2 e 88,1kg/m2, respectivamente, resultando em valores de

6,6 e 8,3g/m3 para o parâmetro Densidade VIL, para o horário das 16:45 UT (às

13:45 HL).

Figura 35: Imagem do radar de Bauru mostrando o campo de refletividade para o evento do dia 04 de outubro de 2000 às 16:45 UT e a linha de base (esquerda) usada para o corte vertical (direita). Anéis são mostrados a cada 5Km a partir do radar.

A evolução temporal da máxima refletividade observada para a célula que

ocasionou granizo e ventos intensos é mostrada na Figura 36, onde se destaca o

colapso do núcleo registrado às 16:45 UT, representado pela queda repentina da

área definida pelo limar de 66dBZ, que é observado próximo à superfície, entre o

horário das 16:53 e 17:02 UT. As observações de temperatura registradas na

estação meteorológica do IPMet mostraram uma brusca queda na temperatura, em

torno de 10ºC, próximo ao horário das 14:30 HL, confirmando as observações do

radar de fortes chuvas acompanhadas de granizo para este evento.

65

Figura 36: Evolução temporal da estrutura vertical para a refletividade máxima observada pelo radar de Bauru durante o evento do dia 04 de outubro de 2000 no período das 16:45 às 17:02 UT .

Análise semelhante é feita considerando a evolução temporal dos

valores de VIL e topo dos ecos, vistos na Figura 37. As magnitudes dos valores de

VIL variam entre 60,2kg/m2, observada às 16:45 UT, atingindo valores de

148,4kg/m2, próximo ao horário que antecedeu o granizo. A partir daí observa-se

uma diminuição brusca nos valores de VIL, seguido pela diminuição nos valores

observados para o topo, conforme pode ser visto na Figura 38. Os valores obtidos

para o parâmetro Densidade VIL, Figura 39, entre 8,3 e 15,5g/m3, caracterizam um

evento de natureza extremamente severa, confirmado pelos danos observados em

superfície.

66

Evolução temporal da estrutura vertical para o topo dos ecos (Evento do dia 4 de outubro de 2000 - 16:45 às 17:37 UT)

0

2

4

6

8

10

12

16:37 16:45 16:52 17:00 17:07 17:07 17:15 17:22

Horário (UT)

Km

Figura 37: Evolução temporal da estrutura vertical para VIL observada pelo radar de Bauru durante o evento do dia 04 de outubro de 2000 no período das 16:45 às 17:37 UT.

Evolução temporal da estrutura vertical para VIL(Evento do dia 4 de outubro de 2000 - 16:45 às 17:37 UT)

0

20

40

60

80

100

120

140

160

16:37 16:45 16:52 17:00 17:07 17:07 17:15 17:22

Horário (UT)

kg/m

2

Figura 38: Evolução temporal da estrutura vertical para topo dos ecos observada pelo radar de Bauru durante o evento do dia 04 de outubro de 2000 no período das 16:45 às 17:37 UT.

67

Evolução Temporal do Parâmetro Densidade VIL(Evento do dia 4 de outubro de 2000 - 16:45 às 17:37 UT)

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

16:37 16:45 16:52 17:00 17:07 17:07 17:15 17:22

Horário (UT)

g/m

3

Figura 39: Evolução temporal da estrutura vertical para Densidade VIL observada pelo radar de Bauru durante o evento do dia 04 de outubro de 2000 no período das 16:45 às 17:37 UT.

10.3 Evento de 08 de fevereiro de 2001

Este dia foi caracterizado como um evento severo dentro da série

analisada neste relatório e já foi estudado em detalhes por Held e Nachtigall (2002).

No presente relatório o mesmo evento será re-analisado em face da disponibilidade

de novas ferramentas pelo TITAN.

O dia 08 de fevereiro foi caracterizado por tempestades que atingiram

a região central do Estado de São Paulo e mantiveram-se semi-estacionárias sobre a

área. Considerando que o município de Bauru tem a maior parte da sua área

pavimentada observa-se que o sistema de drenagem urbana não é suficiente para

conter as chuvas intensas no período de verão.

Além disso, durante a segunda metade da estação chuvosa, as

bacias hidrográficas já estão geralmente saturadas podendo facilmente levar a

enchentes e inundações repentinas nos pequenos rios que atravessam a cidade,

68

podendo ter como agente uma pequena tempestade isolada produzindo uma chuva

intensa causando inundação, que por sua vez traz grandes prejuízos para o

município (HELD e NACHTIGALL, 2002; Tabela 1).

As estatísticas referentes a este evento seguem o mesmo padrão

obtido para as séries dos meses de fevereiro, sendo que o máximo observado para o

topo dos ecos foi de 16Km, o VIL de 120kg/m2 e a Densidade VIL de 8g/m3,

conforme ilustrado pelas Figuras 40 e 41, que mostram as distribuições espaciais

dos parâmetros topo e VIL, superpostos ao campo de refletividade, às 21:37 UT,

representativo do período em que a tempestade atingiu seus valores máximos

observados pelas células convectivas intensas sobre a região de Bauru.

69

Figura 40: Campo de refletividade do radar, raio de alcance de 240Km, para o evento do dia 08 de fevereiro de 2001, às 21:37 UT. A imagem mostra valores de topo para limiar de refletividade 40dBZ. Identificado pelo TITAN uma linha de precipitação intensa que causou grandes prejuízos na cidade de Bauru. A letra R indica o radar de Bauru. As refletividades ao longo do azimute 255° - 260°, observados nas figuras 40, 41 e 42, são causadas pelos raios do sol poente.

Sobre a região de Bauru, especificamente, uma grande quantidade

de precipitação continuou a ser acumulada acima da base da nuvem até por volta

das 22:01 UT. O colapso do núcleo que resultou na chuva extremamente intensa

começou a cair em torno das 22:16 UT, à montante da área de captação da bacia,

com taxas de precipitação de até 200mm.h-1 durante pelo menos 15 minutos,

provocando inundações nos rios tributários, bem como nos principais rios, o que

resultou na perda de cinco vidas por afogamento e três vidas devido a deslizamentos

70

e colapso das estruturas, com danos materiais estimados em cerca de 1,5 milhões

de dólares.

Figura 41: Campo de refletividade do radar, raio de alcance de 240Km, para o evento de 08 de fevereiro de 2001, às 21:37 UT. A imagem mostra os valores de VIL sobrepostos ao campo de refletividade do radar em dBZ. Altos valores de VIL comprovam juntamente com altos valores de topo dos ecos a severidade da tempestade.

A chuva cessou nas áreas já inundadas entre 23:16 UT e 23:31 UT.

No entanto, outras áreas do município de Bauru ainda receberam chuva moderada

até bem depois das 24:00 UT, Figura 42, enquanto a tempestade complexa se

deslocava lentamente para sudeste (HELD e NACHTIGALL, 2003).

71

21:07 UT 21:22 UT

21:37 UT

21:52 UT

72

22:07 UT 22:22 UT

22:37 UT

22:52 UT

Figura 42: Evolução da tempestade no dia 8 de fevereiro de 2001, com os respectivos horários.

11 CONCLUSÕES e RECOMENDAÇÕES

A recuperação dos volumes de dados do radar Doppler de Bauru no

formato original, ou seja, no formato SIGMET e a conversão dos mesmos, para o

formato MDV do TITAN, formaram a base de informações para o presente estudo

que considera um período de cinco anos para a análise.

73

Os valores obtidos para o parâmetro Densidade VIL, para os meses

de outubro a março no período de 2000 a 2004, mostraram ser um indicador

potencial de severidade numa tempestade, independente de massas de ar atuantes,

como é o caso na utilização somente do parâmetro VIL.

Utilizando um limiar de refletividade maior que 40dBZ para selecionar

tempestades com potencial para severidade, foram obtidas as distribuições de

freqüência das alturas do topo dos ecos e VIL e do parâmetro Densidade VIL, além

dos valores médios das magnitudes com que esses eventos aconteceram.

A identificação dos eventos severos dentro do período analisado,

propiciou uma comparação entre os valores estatísticos obtidos e os observados

durante o período comparando-os com os de tempestades que comprovadamente

causaram danos em superfície.

As tempestades que ocorrem durante o período de outubro a março

são responsáveis pela produção dos eventos de enchente repentina, seguidos por

eventos de ventos intensos e com menor incidência os eventos que produzem

granizo. Considerando o período de dezembro a fevereiro, verifica-se para a região

de Bauru que nesse período mais da metade do número mensal médio de chamadas

atendidas pelo corpo de bombeiros é devido a inundações.

A utilização desses limiares, a serem testados posteriormente com

amostras independentes, contribuem para o desenvolvimento de técnicas de

“nowcasting” auxiliando na emissão de alerta para eventos potencialmente severos,

que possam vir a ocorrer na área de vigilância dos radares operados pelo IPMet.

Ao se obter as estimativas médias associadas a eventos severos que

ocorrem na área de alcance do radar de Bauru, o presente estudo vem

complementar os anteriores ao estender sua análise para todos os meses chuvosos

74

da região central do Estado de São Paulo, que é de outubro a março. Como uma

classificação para o nível de severidade de uma tempestade, é proposto que o

parâmetro Densidade VIL <2,0g/m3 seja associado a tempestades não-severas. Para

valores de Densidade VIL, entre 2,0 a 4,0g/m3, o mesmo seja associado a

tempestades severas com potencial para produzir ventos intensos e / ou granizo,

enquanto que para um valor de Densidade VIL >4,0g/m3 a tempestades

extremamente severas, podendo provocar danos a vida e a propriedade em grandes

proporções.

12 TRABALHOS FUTUROS

• Utilizar os limiares definidos pelos resultados obtidos aqui para vários verões,

considerando períodos independentes, para proceder à validação;

• Dar continuidade ao trabalho, obtendo estatística semelhante para o período

de inverno;

• Implementar os índices, uma vez validados, para utilização em ambiente

operacional;

• Proceder a análise para se determinar a destreza desses índices no alerta de

tempo severo.

13 AGRADECIMENTOS

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, pela

concessão de bolsa de Iniciação Científica, que propiciou o desenvolvimento deste

projeto. Ao técnico Hermes A. G. França pela assistência na recuperação dos dados

e na geração de produtos do radar de Bauru, a Geórgia J. Pellegrina pelo

levantamento dos dados sobre eventos severos, a analista Jaqueline M. Kokitsu pela

75

instalação dos programas que compõem o sistema TITAN nos computadores do

Departamento de Geografia, da UNESP em Ourinhos.

14 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMBURN, S. A. e WOLF, P. L. VIL Density as a Hail Indicator, Weather and Forecasting, v. 12, p. 473 - 478, 1997. BATTAN, L. J. Radar Observation of the Atmosphere. University of Chicago Press, Chicago, 324 p., 1973. BAUMGARDT, D. A. e KING, K. W. Verification of the WSR-88D build 9.0 hail algorithms over the upper Midwest. NOAA’s National Weather Service Weather Forecast Office, La Crosse, Wisconsin. Disponível em: <www.crl.noaa.gov/arx/hailstudy.php>. Acesso em: 25 de julho de 2007. CHAGNON, S. A. e SEMONI, R. G. Acidentalmente o homem muda o clima da Terra. Folha de São Paulo, Seção Atualidade Científica, 19/01/1975. CONTI, J. B. A ocorrência de granizo no Estado de São Paulo. Inter-Facies Escritos e Documentos, Nº. 51, São José do Rio Preto, UNESP, p. 1 – 26, 1981. CPTEC. Climanálise: Boletim de Monitoramento e Análise Climática. Disponível em: <www6.cptec.inpe.br/revclima/boletim>. Acesso em: 20 de janeiro de 2008. DELOBBE, L. e HOLLEMAN, I. Uncertainties in radar echo top heights used for hail detection. Meteorol. Appl., v. 13, p. 361–374, 2006. DIXON, M. e WIENER, G. TITAN: Thunderstorm Identification, Tracking, Analysis and Nowcasting - A radar-based methodology. J. Atmos. Ocean. Technol., N°. 10, p. 785-797, 1993. DIXON, M. TITAN Training Mendoza Province. WMI Technology Transfer and Research, 2001 (Disponível na biblioteca do IPMet – em inglês).

EDWARDS, R. e THOMPSON, R. L. Nationwide Comparisons of Hail Size with WSR-88D Vertically Integrated Liquid Water and Derived Thermodynamic Sounding Data. Disponível em: <www.spc.noaa.gov/publications/edwards/elvil.htm>. Acesso em: 15 de dezembro de 2007. GOMES, A. M. e HELD, G. Determinação do Parâmetro Densidade VIL para Alerta de Tempestades. Anais XIII Congresso Brasileiro de Meteorologia, (CD ROM), SBMET, Fortaleza, 12 p., 2004. GOMES, A. M. Utilização do parâmetro Densidade VIL no alerta de tempestades severas na área central do Estado de São Paulo. Anais XII Congresso Brasileiro de Meteorologia (CD ROM), Foz do Iguaçu, SBMET, p. 3149 – 3154, 2002.

76

HELD, G. e NACHTIGALL, L. F. Flood-producing storms in Bauru during February 2001. Anais XII Congresso Brasileiro de Meteorologia (CD ROM), Foz do Iguaçu, SBMET, p. 3155 – 3164, 2002. HELD, G.; GOMES, A. M.; NACCARATO, K. P.; PINTO, Jr. O. e NASCIMENTO, E. The Structure of Three Tornado-Generating Storms Based on Doppler Radar and Lightning Observations in the State of São Paulo, Brazil. Proceedings, 8th International Conference on Southern Hemisphere Meteorology and Oceanography, Foz do Iguaçu, p. 1787-1797, 2006. IPMet. Aplicação de Filtro em imagens de radar Meteorológico. Disponível em: <www.ipmet.unesp.br/index2.php?menu_esq1=4&abre=ipmet_html/saibamais/radar.htm>. Acesso em: 29 de junho de 2007. KOKITSU, J. M. Transferência de Tecnologias para Aplicação direta ao Monitoramento e Nowcasting Usando os Radares Meteorológicos Doppler do IPMet-UNESP. Relatório Técnico (Bolsa de Participação em Curso ou Estagio Técnico no Exterior), FAPESP Processo Nº. 05/54944-3, 55 p., 2005. LÓPEZ, R. O. The lognormal distribution in cumulus cloud populations. Monthly Weather Review, v. 105, p. 865 – 872, American Meteorological Society, 1977.

NOAA. VIL Density as a hail indicator. Science and Technology. NOAA's National Weather Service Weather Forecast Office, Louisville, K.Y. Disponível em <www.crh.noaa.gov/lmk/soo/docu/vil_density.php>, Acesso em 25 de julho de 2007. PAXTON, C. H. e SHEPHERD, J. M. Radar diagnostic parameters as indicators of severe weather in central Florida. NOAA Tech. Memo. NWS SR – 149, 12 p., 1993. PLANK, V. G. The Size Distribution of Cumulus Clouds in Representative Florida Populations. J. Appl. Meteor., American Meteorological Society, v. 8, p. 46 – 67, 1969. POTTS, R. J.; KEENAN, T. D. e MAY, P. T. Radar Characteristics of Storms in the Sydney Area. Monthly Weather Review, American Meteorological Society, v. 128, p. 3308 – 3319, 2000. RINEHART, R. E. Radar for Meteorologists. Rinehart Publications, Columbia, MO, EUA, 4ª Edition, 482 p, 2004. WMO. A Definition of Severe Weather. Workshop on Severe and Extreme Events Forecasting. Toulouse, 2004. Disponível em: <http://www.wmo.ch/web//DPS/Meetings/Wshop-SEEF_Toulouse2004>.Acesso em: 5 de junho de 2007. (Em 2008 disponível em: <http://www.wmo.ch/pages/prog/www/DSP/Meetings/ICT-DPFS_Geneva2004/Doc3-1(1).doc>).

77

ANEXO 1

78

TEMPESTADES SEVERAS DE INVERNO E PRIMAVERA DE 2006 EM OURINHOS – SP

Douglas Cristino Leal1, Jonas Teixeira Nery2

(1) Aluno do curso de Geografia da UNESP, campus de Ourinhos, Grupo Clima, [email protected] (2) Professor e orientador, UNESP, campus de Ourinhos, Grupo Clima, [email protected] Resumo: O objetivo deste trabalho foi analisar freqüências de tormentas que ocorreram no município de Ourinhos, Estado de São Paulo. Para tanto se analisaram três eventos de tempestades severas, que ocorreram no segundo semestre de 2006, na estação de inverno e primavera. Foram realizadas análises de cartas sinóticas, imagens de satélite e imagens dos radares Doppler, de Bauru e Presidente Prudente, no período correspondente aos eventos. As tempestades ocorreram nos dias 26 de agosto, 23 de setembro e 6 de novembro de 2006. Os horários em que as intensidades máximas atingiram o município de Ourinhos foram, respectivamente, às 18h50min, 14h31min e 16h20min. Os eventos mencionados estão associados aos sistemas de atividades convectivas, causados por passagens de frentes frias, no Estado de São Paulo, que acarretaram estragos e prejuízos no município de Ourinhos. Palavras-chaves: Tempestades severas, radar Doppler, análise sinótica.

1 INTRODUÇÃO

No segundo semestre de 2006 houve uma freqüência considerável de

tempestades no município de Ourinhos (SP) e região. As intensidades e a natureza

das precipitações pluviais, no Estado de São Paulo, acopladas com condições

específicas observadas em superfície, levam a ocorrência de eventos

meteorológicos que podem ameaçar a vida animal e a propriedade.

O presente trabalho tem o objetivo de apresentar a análise de três

tempestades severas que ocorreram no município de Ourinhos, localizado no Sul do

Estado de São Paulo (Figura 1), na estação de inverno e primavera de 2006, bem

como os prejuízos e estragos provocados. A primeira tormenta ocorreu no dia 26 de

agosto, a segunda no dia 23 de setembro e a terceira no dia 06 de novembro de

2006.

Como os radares Doppler, do Instituto de Pesquisas Meteorológicas (IPMet)

de Bauru, localizados na área central e oeste do Estado de São Paulo,

disponibilizam, rotineiramente e de forma automática, os produtos gerados, foi

possível proceder à análise que caracterizassem, não só a ocorrência desses

eventos, mas também a magnitude dos mesmos, que foram observados.

79

Figura 1: Localização geográfica de Ourinhos no Estado de São Paulo, regional administrativa de Marília, região de governo de Ourinhos e representação do acesso ao município de Ourinhos. Fonte: Prefeitura municipal de Ourinhos. 2 METODOLOGIA

Para uma melhor compreensão dos acontecimentos atuais, quanto aos

fenômenos meteorológicos, levou-se em consideração a função do radar: um

equipamento que obteve um grande destaque nos últimos anos, principalmente pelo

avanço da tecnologia, bem como seus produtos gerados. Com o radar, uma possível

localização de perturbações meteorológicas de pequena escala podem ser

detectados, através de quantidade de água líquida integrada verticalmente -

Vertically Integrated Liquid (VIL).

O radar, baseado no princípio de que ondas eletromagnéticas podem se

propagar, através da atmosfera, é uma ferramenta importante no monitoramento e

na previsão de tempestades, em sua área de alcance. Os radares a ser utilizado,

neste trabalho, estão instalados no município de Bauru e Presidente Prudente, no

Estado de São Paulo, sendo operado e mantido pelo IPMet, da UNESP de Bauru.

80

Este radar é um sistema com capacidade Doppler, permitindo não só a

determinação das intensidades de precipitação pluvial, mas também indicando a

velocidade dos movimentos das partículas de precipitação ao longo das radiais, isto

é, se as partículas estão se movendo em direção ao radar ou se afastando do

mesmo, significando movimentos para fora do radar. Desta forma o processamento

Doppler (ou processamento coerente) tem desempenhado um importante papel na

Meteorologia (GOMES, 1993, p.3).

O software IRIS (Interactive Radar Information System), que gerencia a

coleta, geração e armazenamento dos dados coletados pelo radar Doppler, de

Bauru, permite a obtenção de uma grande variedade de produtos derivados da

refletividade e velocidades radiais. O produto Alerta (Warning) é uma ferramenta

auxiliar na identificação de áreas de possível ocorrência de tempo severo. Por tempo

severo, entende-se uma variedade de fenômenos meteorológicos. Estes fenômenos

provocam danos em superfície, resultantes de ventos fortes, chuvas intensas,

enchentes súbitas, granizos e descargas elétricas (raios), associados à atividade

convectiva1.

Este produto Alerta sintetiza outros três produtos indicadores de atividade

convectiva intensa: VIL, Topo de Ecos (Echo Top) e Limiar de Refletividade (valor

escolhido associado a uma taxa de precipitação, por exemplo, 1mm.h-1).

Portanto o produto VIL é utilizado nas operações de emissão de alerta de

tempo severo para estimar a severidade de uma tempestade e, em particular, se

existe potencial para presença de granizo. Já o produto Topo dos Ecos é uma

imagem da altura da máxima ocorrência de um limiar de refletividade, em dBZ

(índice de refletividade), selecionado e amostrado em quilômetros.

A unidade de refletividade é milímetro à sexta potencia por metro cúbico

( / ). Valores típicos de tempestades variam de - . É

conveniente expressar os números e, portanto, a refletividade em decibéis, que é

dez vezes o algoritmo na base 10. Desta forma, uma refletividade de se

torna 50 dBZ (GOMES 1993, p.10).

6mm 3m 210 366 .10 −mmm

365 .10 −mmm

Os dados de radar de refletividade e vento radial foram do Constant Altitude

Plan Position Indicator (CAPPI) de altura 3,5Km, com alcance de 240Km, Plan

Position Indicator (PPI) 0,3º de elevação, somente refletividades, com raio de

1WORLD METEOROLOGICAL ORGANIZATION, 2004.

81

alcance de 450Km. Foram utilizados também produtos como chuva acumulada,

dada em milímetros, de 24 horas e 1 hora, tanto do radar de Bauru, quanto do radar

de Presidente Prudente.

Também foi de extrema importância a análise das cartas sinóticas, através

das isóbaras e das imagens de satélites que evidenciam a entrada das frentes frias,

no Estado de São Paulo, que influenciaram esses fenômenos analisados.

As observações dos dados dos sistemas de radar Doppler, de Bauru e

Presidente Prudente, bem como das cartas sinóticas e as imagens de satélites, para

a análise apresentada, se restringiram ao período que compreendem a permanência

das tempestades ocorridas. Foi utilizada também uma tabela de transformação de

dBZ para mm/h.

Tabela I - dBZ para transformação em mm/h

dBZ mm/h

60 205.0055 100.0050 49.0045 24.0040 12.0035 5.8030 2.8025 1.3520 0.62515 0.32010 0.156 5 0.078 0 0.038

Fonte: Instituto de Pesquisas Meteorológicas.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES 3.1 SITUAÇÃO METEOROLÓGICA DE 26 DE AGOSTO DE 2006 3.1.1 Análise de imagens de satélite

No sábado (dia 26/08/2006) a presença de um centro de baixa pressão sobre

o Sul do país, provocou chuva em toda a região e também atingiu o Estado do Mato

Grosso do Sul, Sul e Oeste do Estado de São Paulo. A chuva foi intensa, em

algumas localidades, acompanhada de trovoadas e de rajadas de vento.

Pode-se observar nas imagens de satélite do Instituto Nacional de Pesquisas

Espaciais (INPE) - Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC),

nos horários que abrangem das 16:00 às 20:30UTC (Figura 2), que é possível notar

o avanço da frente fria caracterizada, conforme suas próprias particularidades, em

82

uma banda de nuvens estratiformes e cumuliformes, com nuvens cirriformes nos

topos bem definidas, com uma curvatura ciclônica de Oeste para Leste

(FIGUEIREDO, 2005), passando sobre o município de Ourinhos, contribuindo,

significativamente, para a tempestade severa ocorrida.

Figura 2: Imagem de satélite (INPE/CPTEC, G – 12, CH4) retratando a evolução da frente fria que atuava no dia 26 de agosto de 2006. Os números de cada quadro representam respectivamente: 1 – 16:00 UTC, 2 – 16:30 UTC, 3 – 17:30 UTC, 4 - 8:00 UTC, 5 – 19:30 UTC e 6 - 20:30 UTC. Fonte: Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos.

3.1.2 Análise dos produtos gerados pelos radares Doppler

Através de dados do radar do IPMet UNESP/Bauru, a tempestade severa

chegou a 50 dBZ (decibéis: dado pelo índice de refletividade do radar), equivalente a

49 – 100mm/h, considerada forte. Com base no radar de Presidente Prudente,

controlado pelo IPMet, sua maior intensidade ocorreu por volta das 18h50min

(Figura 3) e perdurou por, aproximadamente, 25 minutos.

Às 15h53min a intensidade de chuva detectada pelo radar Doppler, de

Presidente Prudente estava concentrada no Estado de São Paulo, nas proximidades

do município de Dracena. Às 17h46min, a máxima intensidade de chuva encontrava-

83

se em Rancharia e às 18h16min, em Assis para, posteriormente, avançar e passar

sobre Ourinhos.

A média de chuva acumulada em Ourinhos foi de, aproximadamente, 5 a

8mm, duas horas após a tempestade ocorrida. Os ventos registrados da estação

automática da UNESP, Campus de Ourinhos, foram de, aproximadamente, 80Km/h.

Na Figura 2 pode-se observar a evolução de um sistema frontal ativo, sobre a

região de ocorrência desse evento analisado. Essa tormenta possivelmente ocorreu

devido a essa frente associada à presença de ar quente e úmido na região, que teve

uma ascensão brusca. Essa forçante frontal acabou, desta forma, gerando nuvens

cumulunimbus, que são geradoras de intensas chuvas em curto espaço de tempo,

podendo, inclusive, provocar precipitação de granizo e ventos intensos.

Figura 3: Imagem de radar de Presidente Prudente, do IPMet – Bauru-SP, com raio de alcance de 450 Km, (PPI, 0,3º elevação), para a tempestade severa que ocorreu no dia 26 de agosto de 2006 às 18h45min atingindo Ourinhos-SP e região, com maior intensidade às 18h50min. O índice de refletividade chegou a 50 dBZ. O sinal de + indica os radares de Bauru (centro do Estado de São Paulo) e de Presidente Prudente (oeste do Estado de São Paulo). Fonte: Instituto de Pesquisas Meteorológicas.

84

3.2 SITUAÇÃO METEOROLÓGICA DE 23 DE SETEMBRO DE 2006 3.2.1 Análise sinótica e das imagens de satélite

Conforme a previsão do tempo, do INPE/CPTEC, neste dia ocorreu o

deslocamento de uma área de baixa pressão que deixou o céu nublado com

pancadas de chuva. Já pela manhã no Oeste de Santa Catarina, do Paraná e no

Norte do Rio Grande do Sul, também se evidenciou essa instabilidade. Uma massa

de ar frontal causou pancadas de chuva nas demais áreas do Rio Grande do Sul, de

Santa Catarina e do Paraná, o decorrer do dia. Em Mato Grosso do Sul, São Paulo,

Rio de Janeiro e Sul de Minas Gerais o deslocamento destes dois sistemas causou

pancadas de chuva, principalmente à tarde.

Este evento que ocorreu dia 23 de setembro, aproximadamente, um mês

após a primeira tormenta do segundo semestre de 2006, teve sua maior intensidade

por volta das 14h30min. Conforme a previsão do tempo, ocorreram temporais entre

o Norte do Rio Grande do Sul, Centro – Oeste de Santa Catarina e do Paraná, em

Mato Grosso do Sul e Centro - Oeste de SP, onde se localiza o município de

Ourinhos, com temperaturas máximas em elevação no período vespertino.

Com base nos dados da rede sinótica de superfície da América do Sul,

INPE/CPTEC no horário da 00:00UTC e das 12:00UTC (Figura 4), foram levantadas

as posições sucessivas da frente fria, que atuou nas regiões Sul e Sudeste do Brasil.

Figura 4: Cartas sinóticas, do INPE/CPTEC (GPT), com as isóbaras explicitando, além das zonas de baixa e alta pressão, entre outras, a entrada da frente fria pelo sul do Brasil. À esquerda, a carta sinótica das 00:00 UTC que retrata a frente fria na América do Sul e à direita, a carta sinótica das 12:00 UTC que retrata a entrada da massa de ar fria no Brasil. Fonte: Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos.

85

As imagens de satélites (GOES – 12 IR, Laboratório Master DCA/IAG/USP)

evidenciaram a presença da frente fria nas regiões Sul e Sudeste do Brasil (Figura

5), confirmando a presença de vapor de água na região de Ourinhos, resultado do

transporte efetuado pelos ventos.

Figura 5: Imagens de satélite (GOES – 12 IR, Laboratório Master DCA/IAG/USP) evidenciando a passagem da frente fria na região Sul e Sudeste do Brasil. À esquerda, a imagem de satélite das 17:45 UTC e um círculo vermelho, em destaque, mostra a presença de vapor de água na região de Ourinhos. À esquerda, imagem de satélite da América do Sul, das 18h, em que a frente fria encontra-se em grande parte da região Sudeste do Brasil. Fonte: Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos.

3.2.2 Análise dos produtos gerados pelos radares Doppler

Esta tempestade severa foi mais localizada e com um período menor de

tempo, aproximadamente, 20 minutos, mas que foi suficiente para causar danos à

população: parte da estrutura da Festa das Nações, das Faculdades Integradas de

Ourinhos (FIO) foi destruída, inviabilizando o evento (muitas árvores desgalhadas e

até mesmo arrancadas, casas destelhadas, destruição de estruturas metálicas,

outdoors, antenas parabólicas, entre outros).

Os dados obtidos do radar de Bauru foram os CAPPI’s de 3,5Km. Foi

observado que o maior índice de refletividade máximo, ao passar por Ourinhos, foi

de 50 dBZ, equivalente a 49 mm/h, às 14h31min, conforme as imagens da Figura 6:

86

Figura 6: Imagens de radar do IPMet – Bauru-SP, com raio de alcance de 240 Km, (CAPPI, 3,5 Km), para a tempestade severa que ocorreu no dia 23 de Setembro de 2006 com intensidade máxima em Ourinhos às 14h31min. A imagem 3 identifica o município de Ourinhos, com um círculo em destaque, e o momento em que a tempestade o atinge. O índice de refletividade chegou a 55 dBZ. Fonte: Instituto de Pesquisas Meteorológicas.

Foi, muito comentado, tanto pela população quanto pela mídia, a passagem

de um tornado, onde se localiza a FIO (Latitude Sul 22º 55’ 28.9” e longitude Oeste

49º 54’ 19.1”, com elevação de 450m em relação ao nível do mar e de azimute

342ºt), o que não foi verificado. Não houve vórtices ciclônicos, ou seja, redemoinhos

causados por diferença de pressão neste caso, uma vez que, para a formação de

um tornado é necessário condições para a alimentação do mesmo.

A partir das análises dos produtos gerados pelos radares Doppler, de

refletividade e velocidade radial, não foi reconhecido formação de eco de gancho

(HELD, et. al, 2006, p. 2) na célula de precipitação que se deslocava para Ourinhos.

As velocidades radiais indicavam valores apenas negativos, significando que a

tempestade se deslocava em direção ao radar de Bauru.

87

Figura 7 e 8: À esquerda, danos causados na estrutura da Festa das Nações das FIO. À direita, árvore derrubada no cemitério municipal de Ourinhos, ambos em decorrência da tempestade severa de 23 de setembro de 2006. Fonte: Jornal da Divisa.

3.3 SITUAÇÃO METEOROLÓGICA DE 06 DE NOVEMBRO DE 2006

3.3.1 Análise sinótica e das imagens de satélite A previsão realizada pelo Sistema Meteorológico do Paraná (SIMEPAR), para

esta data era do deslocamento rápido de uma frente fria pelo Sul do Brasil que

aumentaria significativamente a instabilidade no Paraná. Pancadas de chuva fortes,

acompanhadas de trovoadas e de rajadas de vento, foram previstas para todas

regiões do estado. As temperaturas permaneceriam altas desde o começo do dia,

precedendo o ingresso da nova frente fria, o que também poderia contribuir para o

desenvolvimento de áreas de instabilidade ao longo do dia.

A frente fria que avançou rapidamente pelo Sul do Brasil, associada a um

ciclone extratropical que ganhou força sobre o Uruguai, chegou ao Paraná logo na

manhã desta segunda-feira. No extremo Oeste do estado (áreas de Foz do Iguaçu,

Medianeira e cidades do sudoeste próximas a divisa com Santa Catarina) o tempo já

amanheceu encoberto e posteriormente houve chuva forte. Essas chuvas foram

acompanhadas de rajadas de vento e alta incidência de descargas elétricas.

Essa frente fria que, posteriormente avançou ao Estado de São Paulo, pode

ser bem evidenciada através das análises das imagens de satélite e das cartas

sinóticas que comprovam sua chegada. Às 06:39UTC (satélite GOES 12, IR4) a

frente fria já encobria boa parte do Estado do Paraná. Às 20:45UTC (satélite GOES–

12, IR, Laboratório Master DCA/IAG/USP), a frente fria já encobria todo o Estado de

São Paulo (Figura 9).

88

Figura 9: No canto superior esquerdo, imagem de satélite das 06:39 UTC (SIMEPAR, GOES 12, IR4) a frente fria já encobria boa parte do Estado do Paraná. Abaixo, imagem de satélite das 20:45 UTC (GOES –12, IR, Lab. Máster DCA/IAG/USP) a frente fria já encobria todo o Estado de São Paulo. À direita, carta sinótica das 12:00 UTC (INPE-CPTC-GPT) evidenciando através das isóbaras o avanço da frente fria pelo Sul e Sudeste do Brasil. Fonte: Sistema Meteorológico do Paraná e Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos. 3.3.2 Análise dos produtos gerados pelos radares Doppler

A análise realizada dos produtos gerados pelos radares Doppler, neste caso,

reconhece que foi uma tempestade severa de menos intensidade comparada com

as anteriores, já que as intensidades máximas de refletividade, quando atinge o

município de Ourinhos, chega a 40 dBZ (Figura 10).

O tempo de duração também foi menor, sendo em torno de 15 minutos. A

quantidade de chuva acumulada foi no período de, aproximadamente, de uma hora,

de 0,5 a 0,8mm, em média, e sua intensidade máxima atingiu em Ourinhos às

16h20min.

89

Figura 10: Imagens setorizadas de radar do IPMet – Bauru-SP, com raio de alcance de 240 Km, (CAPPI, 3,5 Km). A imagem da esquerda mostra refletividade do radar em dBZ. A imagem da direita mostra a quantidade em milímetros de chuva acumulada das 18h. A letra R indica o radar de Bauru e, em linha reta, sua respectiva distancia. Fonte: Instituto de Pesquisas Meteorológicas.

3.4 Dados do Corpo de Bombeiros de Ourinhos O número mensal médio de chamadas atendidas pelo Corpo de Bombeiros,

devido às tormentas do segundo semestre de 2006, é obviamente proporcional à

intensidade das tempestades que atingiram o município de Ourinhos e é ilustrado

pela Figura 11.

REGISTROS DO CORPO DE BOMBEIROS DE OURINHOS(Agosto, Setembro e Novembro de 2006)

01234567

Agosto Setembro NovembroMESES

MER

O M

ÉDIO

DE

CH

AM

AD

AS

Figura 11: Número de chamadas registradas pelo Corpo de Bombeiros de Bauru devido à ocorrência das tempestades severas.

Na tempestade do dia 26 de agosto de 2006 houve um total de seis

ocorrências registradas no Corpo de Bombeiros, em relação às tempestades, sendo

90

um de destelhamento, duas de queda de árvore em via pública, duas de queda de

árvore sobre edificações e uma diversa.

Quanto à tempestade do dia 23 de setembro de 2006 houve um total de cinco

ocorrências. Foi registrada uma queda de raio, uma queda de árvore sobre veículo,

uma queda de árvore sobre edificações e uma queda de árvore em via pública.

Já a tempestade do dia 06 de novembro de 2006 foi registrada apenas uma

vistoria em sinistro que pode a queda de uma parte da casa. Isto porque a

intensidade desta tempestade foi menor e caracterizada por rajadas de ventos com

pouca precipitação pluvial.

4 CONCLUSÃO

As informações disponibilizadas pelos radares meteorológicos Doppler

permitiram um levantamento detalhado sobre as tormentas ocorridas no inverno e na

primavera de 2006.

Todos os eventos analisados foram de tempestades locais severas, devido a

forte gradiente térmico vertical instável, através do grande desenvolvimento de uma

cumulonimbus, associada à presença de ar quente, úmido e instável, como resultado

de um aquecimento diurno intenso, que atinge maiores proporções à tarde.

Quando associadas a formações frontais as tempestades não possuem

horários preferenciais e, embora sejam locais, seguem o sentido do deslocamento

das frentes.

No evento do dia 23 de setembro de 2006 não foi comprovada a passagem

de um tornado, uma vez que não houve vórtices ciclônicos. No produto refletividade

radial, não houve o reconhecimento da formação de eco de gancho na célula de

precipitação, que se deslocava para Ourinhos e nem constatado velocidade radial

que indicassem valores negativos e positivos.

Os registros das intensidades máximas de refletividade dos eventos ocorridos

foram entre 40 a 50 dBZ caracterizando, desta forma, as tormentas como

tempestades severas. No último caso analisado, quase não houve precipitação

pluvial, o que contribuiu para que não houvesse maiores danos e,

conseqüentemente, maiores prejuízos para a população em geral.

As tempestades estudadas, juntamente com condições específicas

observadas em superfície, acarretaram prejuízos nas propriedades. Os dados

registrados no Corpo de Bombeiros de Ourinhos e a quantidade de registro de

91

chamadas atendidas, são proporcionais às intensidades das tempestades. Isso

reflete, conseqüentemente, nos problemas gerados, comprovando as intensidades

das tormentas ao atingirem o município de Ourinhos e região.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CENTRO DE PREVISÃO DE TEMPO E ESTUDOS CLIMÁTICOS. Disponível em: <http://www.cptec.inpe.br>. Acesso em: 26 de Agosto de 2006. FIGUEIREDO, José Carlos. Curso Básico de Interpretação de Imagens. Nota Técnica IPMet, 2005. GOMES, A. M. Tópicos em Meteorologia com Radar. Nota Técnica IPMet, 1993. HELD G, GOMES AM, NACCARATO KP and PINTO O Jr. Analysis of severe thunderstorms in the State of São Paulo, Brazil, using “TITAN” to identify the position of positive and negative ground strokes relative to radar echoes. Proceedings, International Conference on Grounding and Earthing (GROUND’2006) & 2nd International Conference on Lightning Physics and Effects (2nd LPE), Maceió, AL, 26-29 de novembro de 2006, 535-540. JORNAL DA DIVISA. Disponível em <http://www.expressaonet.com>. Acesso em: 24 de setembro de 2006. PREFEITURA MUNICIPAL DE OURINHOS. Disponível em <http://www.ourinhos.sp.gov.br/a_cidade/mapa1.gif>. Acesso em 08 de Janeiro de 2007. SISTEMA METEOROLÓGICO DO PARANÁ. Disponível em <http://www.simepar.br>. Acesso em: 26 de agosto de 2006. WORLD METEOROLOGICAL ORGANIZATION. Disponível em <http://www.wmo.ch/>. Acesso em: 11 de outubro de 2006.

92

ANEXO 2

93

DETERMINAÇÃO DO POTENCIAL DE SEVERIDADE EM TEMPESTADES USANDO INFORMAÇÕES DE RADAR

METEOROLÓGICO

Douglas Cristino Leal2Gerhard Held3

Ana Maria Gomes4

RESUMO O objetivo deste trabalho é caracterizar as tempestades, quanto ao seu aspecto potencial para causar danos em superfície, bem como caracterizar a climatologia dessas tempestades determinando o seu número de ocorrência sobre a área central do Estado de São Paulo, durante o mês de janeiro de 2000. Foi selecionado este mês para análise por ser o mês de maior ocorrência de tempestades produzindo precipitações intensas na sua maioria de origem convectiva, definidas aqui pelo limiar de refletividade do radar ≥ 40 dBZ. Tais eventos são resultantes do maior aquecimento solar que se dá, principalmente, nos trópicos, podendo acarretar em sérios prejuízos à população devido à intensa atividade convectiva presente no período produzindo chuvas intensas, por vezes acompanhadas de granizo e/ou ventos fortes. A análise realizou-se usando produtos gerados a partir dos dados volumétricos coletados pelo radar Doppler de Bauru, disponibilizados pelo Instituto de Pesquisas Meteorológicas (IPMet), da Universidade Estadual Paulista (UNESP) de Bauru. Foi realizada uma estatística descritiva para avaliar as intensidades das chuvas produzidas pelas tempestades observadas pelo radar Doppler através de três parâmetros, o topo dos ecos, VIL – conteúdo de água líquida integrada na vertical, e um parâmetro derivado dos dois primeiros, chamado Densidade VIL, que é a razão entre os valores observados de VIL e o topo. Os resultados obtidos mostram que 87% das tempestades atingem topos entre 7 e 11Km e, mais de 3%, ultrapassam os 11Km, sendo o intervalo de freqüência maior entre 6 e 9 Km. O parâmetro VIL tem maior freqüência nos intervalos de 4 a 26 Kg/m2. Já o parâmetro Densidade VIL possui os maiores valores nos intervalos de 0,5 a 2,5g/m3, caracterizando precipitação intensa. Também identificou-se propagação anômala nesse período estudado, sendo retirado os dados espúrios com certo rigor, após uma análise minuciosa. Dessa forma constata-se a grande eficiência na identificação, no rastreamento e na previsão de tempestades severas na área central do Estado de São Paulo pelo radar Doppler do IPMet de Bauru. Palavras-chave: Tempestades, radar Doppler, VIL, Densidade VIL.

1 INTRODUÇÃO

Durante a Segunda Guerra Mundial, nos anos 40, foi que o radar teve

seu principal desenvolvimento, para a indicação e o monitoramento de navios e

aviões de guerra. A partir de então, esta ferramenta foi utilizada também para a

caracterização e o monitoramento de tempestades em estudos de meteorologia.

O radar meteorológico Doppler mede a refletividade equivalente e em

adição tem a capacidade de medir a velocidade dos alvos. Outra variável medida

2 Aluno do curso de Geografia da UNESP, Campus de Ourinhos-SP ([email protected]) 3 Pesquisador do IPMet, da UNESP, Bauru-SP ([email protected]) 4 Pesquisadora do IPMet, da UNESP, Bauru-SP ([email protected])

94

também é a variabilidade da velocidade radial num volume iluminado do radar.

Sendo assim, a refletividade equivalente, a velocidade radial e a largura espectral

são a base de dados gerados pelos radares Doppler.

Uma das grandes vantagens do uso do radar é a possibilidade de

mapear a precipitação com maior eficiência, em espaço e tempo, do que qualquer

rede de estações pluviométricas em superfície. Uma varredura em 360 graus feita

pelo radar meteorológico é equivalente a cobrir grandes quantidades de

pluviômetros. A varredura mapeia uma extensão areal de diferentes intensidades de

precipitação dentro de uma região5.

O objetivo deste trabalho é caracterizar as tempestades, quanto ao

seu aspecto potencial para causar danos em superfície, bem como caracterizar a

climatologia dessas tempestades determinando o seu número de ocorrência sobre a

área central do Estado de São Paulo, durante o mês de janeiro de 2000.

Esse período foi selecionado devido ao número relativamente alto de

ocorrências de tempestades, evidenciando a potencialidade do radar Doopler do

Instituto de Pesquisas Meteorológicas (IPMet) da Universidade Estadual Paulista

(UNESP) de Bauru-SP, na identificação, no rastreamento e na previsão de

tempestades severas na área central do Estado de São Paulo.

2 METODOLOGIA

2.1 Dados

Os dados utilizados foram a partir das varreduras volumétricas do

radar Doppler de Bauru, relativos ao mês de janeiro de 2000. Essas varreduras são

compostas por onze elevações, que variam de 0,3 a 34,9 graus, com uma resolução

5 GOMES, A. M, 1993.

95

de 1 grau em azimute por 1Km em distância, coletando informações de refletividade,

velocidade radial e largura espectral, com uma freqüência de 15 minutos ou menos,

num raio de 240Km a partir do radar de Bauru.

Os dados volumétricos foram recuperados em seu formato

proprietário SIGMET e convertidos para o formato MDV (Meteorological Data

Volume) e processados utilizando o sistema de software TITAN (Thunderstorm

Identification, Tracking, Analysis and Nowcasting6).

Este sistema define as tempestades como regiões tridimensionais de

refletividades excedendo um determinado limiar e combinando-as de modo lógico,

entre duas observações consecutivas de radar. O método usa como base as

informações do radar em coordenadas cartesianas.

Este software TITAN trás consigo variedades de propriedades das

tempestades quem podem ser estimadas, a partir das medidas de refletividade (Z),

utilizando a teoria que se aplica a essas medidas7 e a habilidade do TITAN de

identificar objetivamente tempestades individuais.

Também é possível identificar possibilidades de dados espúrios

através do TITAN, ou seja, identificação de possível existência de uma

contaminação nos dados de radar devido à propagação de microondas que estando

sujeita às condições atmosféricas podem, em determinadas situações, causar o

curvamento do feixe de microondas emitido pela antena do radar, ocasionando a

reflexão do solo em distâncias que variam até próximo ao alcance máximo de

varredura8.

É possível, no entanto, identificar a super-refração através de uma

análise minuciosa e, com certo rigor, retirar a série em que contém estes dados 6 DIXON and WIENER, 1993. 7 BATTAN, 1973. 8 http://www.ipmet.unesp.br

96

espúrios para que os mesmos não comprometam a análise do todo e isso está

sendo realizado neste estudo e a análise se estenderá por todo o período

selecionado.

2.2 Parâmetros

Foram obtidos os parâmetros relativos às células de tempestade

definidas pelo limiar de refletividade ≥ 40 dBZ e volume > 16Km3, ou seja, foi

determinado este limiar para selecionar apenas tempestades severas.

Os parâmetros determinados são: VIL (kg/m2) e altura do Topo dos

ecos associados (Km). A partir desses dois parâmetros foi calculado o parâmetro

Densidade VIL (g/m3).

2.2.1 VIL

VIL é uma função não linear derivada dos valores de refletividade e

integrados numa coluna vertical e que converte essas refletividades, em estimativas

do conteúdo de água líquida equivalente, baseado em estudos teóricos de

distribuições do tamanho de gotas e estudos empíricos de fator refletividade e

conteúdo de água líquida9, e é escrita conforme a equação (1).

hxZZxVIL ii Δ⎥⎦⎤

⎢⎣⎡ +

= +−∑74

16

21044.3 (1)

Onde VIL tem unidades de quilogramas por metro quadrado (Kg.m-2);

Zi e Zi+1 são valores de refletividades (mm6m-3) nas porções inferiores e superiores

9 LOUISVILLE, 2004.

97

de uma camada amostrada; h é a espessura da camada, em metros, que varia em

função da distância e elevação.

Δ

2.2.2 Topo dos ecos

Quanto ao Topo dos ecos, é um produto que disponibiliza a altura da

máxima ocorrência de um limiar de dBZ selecionado e amostrado em Km. Esse

campo mostra a profundidade dos sistemas e é obtido após a varredura completa do

radar em todas as elevações da antena em um perfil vertical. Através do

rastreamento, as informações contidas em cada uma das elevações em PPI, são

possíveis o conhecimento da distância e altura do mesmo em relação ao radar.

Desta forma, é um bom indicador de tempo severo e granizo.

2.2.3 Densidade VIL

A partir destes dois parâmetros, VIL e Topo dos ecos, foi

determinado o parâmetro Densidade VIL, determinado pela razão de VIL (Kg.m-2)

por Topo do eco (m). Multiplica-se o quociente por 1000 para gerar g.m3, conforme a

equação (2).

Densidade VIL= VIL/ Topo Eco

(2)

A vantagem na utilização do parâmetro Densidade VIL sobre é o VIL

é a potencialidade de identificar precipitação de granizo, tornados e ventos intensos

que podem provocar grandes danos em superfície, quando com altos valores, uma

vez que é a normalização do VIL pelo Topo dos ecos.

98

Para este trabalho também foram determinadas, distribuições

estatísticas relativas aos três parâmetros, bem como estatísticas descritivas e

histogramas, realizadas através do Software Microsoft Excel, for Windows, eficaz

para os cálculos.

3 DESENVOLVIMENTO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

3.1 Distribuições de VIL, Topo dos ecos e Densidade VIL de Janeiro de 2000

O mês de janeiro representa grande parte dos dados processados,

uma vez que, na sua maioria, são caracterizados pela grande intensidade de

precipitações.

A partir da distribuição dos máximos Topos dos Ecos e VIL, para os

mês de Janeiro de 2000, calculou-se o parâmetro Densidade VIL (g/m3) para todo o

período considerado em que os limiares foram excedidos a 40 dBZ (seleção das

tempestades severas) dentro da área de 240Km de alcance do radar Doppler de

Bauru.

Na Figura 1 tem-se a distribuição, no gráfico, dos máximos do Topo

dos ecos relativo ao mês de janeiro de 2000. Observa-se que a atividade convectiva

deste mês é bastante intensa, sendo que 87% das tempestades atingem topos entre

7 e 11Km e, mais de 3%, ultrapassam os 11Km.

99

Distribuição dos Topos dos Ecos - 40 dBZ (jan. 2000)

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17

Intervalos de altura (km)

Freq

üênc

ia re

lativ

a de

oco

rrên

cia

(%)

Figura 1: Distribuição da freqüência dos Topos dos Ecos (40 dBZ) referente ao mês de Janeiro de 2000, através dos dados de radar Doppler de Bauru.

Isso se comprova na distribuição dos valores de VIL, Figura 2, onde

se observa que 89% das tempestades têm valores de VIL entre 4 e 21 kg/m2 e 9%

possui valores que excedem o limiar de 21 kg/m2.

100

Distribuição de VIL em tempestades (jan. 2000)

0%

2%

4%

6%

8%

10%

12%

1 6 11 16 21 26 31 36 41 46 51 56 61 66 71 76 81 86 91 96 101

106

Intervalos de VIL (kg/m2)

Freq

üênc

ia R

elat

iva

(%)

Figura 2: Distribuição da freqüência de ocorrência de VIL para o mês de Janeiro de 2000, através dos dados de radar Doppler de Bauru.

No gráfico da Figura 3 observa-se que 97% das tempestades

apresentam valores de Densidade VIL entre 1,0 e 3,5 g/m3. Valores superiores a 4

g/m3 têm a ocorrência de 2%.

101

Distribuição de Densidade VIL em tempestades (jan. 2000)

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,5 1,5 2,5 3,5 4,5 5,5 6,5 7,5 8,5 9,5 10,5

11,5

12,5

Intervalos de Densidade VIL (g/m3)

Freq

üênc

ia re

lativ

a de

oc

orrê

ncia

s (%

)

Figura 3: Distribuição da freqüência de ocorrência do parâmetro Densidade VIL, para o mês de Janeiro de 2000, calculado através de VIL e Topo dos Ecos, na função CAPPI, dos radares Doppler de Bauru.

Esses resultados caracterizam as magnitudes associadas às

tempestades ocorridas no mês de janeiro de 2000 dos valores mais freqüentes das

alturas dos Topos dos ecos das tempestades, bem como o valor de VIL associado.

3.2 Propagação Anômala

Foram detectadas, através de uma análise minuciosa, algumas séries

de dados que continham propagação anômala. Isso ocorreu devido às condições da

atmosfera que propiciou o curvamento do feixe de microondas emitido pela antena

do radar ocasionando a reflexão do solo em distâncias que variam até próximo ao

102

alcance máximo de varredura10. Esses dados foram retirados das séries, com certo

rigor, para o não comprometimento da análise do mês estudado.

Alguns altos valores de VIL, no período estudado, que poderiam ser

tempestades intensas, após uma análise minuciosa, eram dados espúrios.

Verificados no TITAN, a identificação dos ecos espúrios e dos campos de

refletividade em conjunto com o campo das velocidades Doppler se mostrou um filtro

eficaz para a eliminação dos períodos com observações “contaminadas” dentro da

série analisada.

Como exemplo de propagação anômala identificada através do radar

Doppler de Bauru, pelo TITAN, tem-se na Figura 4 a demonstração do ocorrido.

Nesta figura a letra R, ao centro do Estado de São Paulo, indica o radar Doppler de

Bauru e a área identificada está situada no quarto quadrante, numa distancia de

aproximadamente 230Km do radar e destacada por um círculo vermelho, indicando

os altos valores de VIL, cujas células foram identificadas como regiões de convecção

intensa.

10 http://www.ipmet.unesp.br

103

Figura 4: Imagem dos dados gerados pelo TITAN, uma super-refração ocorrida no dia 24 de Janeiro de 2000, às 6:22’11’’Z. em que índices de refletividade de VIL chegaram a 102 kg/m2. A letra R, ao centro do Estado de São Paulo, indica o radar Doppler de Bauru e a área selecionada, situada no quarto quadrante, numa distancia de aproximadamente 230Km do radar e destacada por um círculo vermelho, indicando os grandes valores de VIL (propagação anômala).

Esta série de dados espúrios tem início às 05:52’24’’Z, cujo VIL

máximo é 141 kg/m2, estendendo-se até às 11:33’47’’Z com VIL máximo que chega

a 121 kg/m2.

104

4 CONCLUSÕES

Conclui-se, então, que essas tempestades são caracterizadas por

precipitações intensas e, na sua maioria, de origem convectiva.

Tais eventos são resultantes do maior aquecimento solar que se dá,

principalmente, nos trópicos, podendo acarretar em sérios prejuízos à população.

Esses eventos, devido à intensa atividade convectiva, presente no período, podem

produzir chuvas intensas, acompanhadas de granizo e ventos fortes.

No entanto, através dos dados do radar Doppler de Bauru do IPMet e

dos produtos detectados, bem como o software TITAN, utilizado para análise da

Climatologia do mês de janeiro de 2000, foi possível detectar e rastrear tais eventos

caracterizados por intensas precipitações.

Através das análises e de estatística descritiva, bem como

histogramas, notou-se que 87% das tempestades atingem topos entre 7 e 11Km e,

mais de 3%, ultrapassam os 11Km. Detectou-se que 89% das tempestades têm

valores de VIL entre 4 e 21 kg/m2 e 9% possui valores que excedem o limiar de 21

kg/m2. Também observou-se que 97% das tempestades apresentam valores de

Densidade VIL entre 1,0 e 3,5 g/m3. Valores superiores a 4 g/m3 têm a ocorrência de

2%, resultados associadas à precipitações intensas.

Altos valores do Topo dos ecos, VIL e Densidade VIL foram motivos

para uma análise minuciosa, com algumas séries de dados, pois tanto poderiam ser

tempestades intensas como propagação anômala. As séries que continham

propagação anômala foram retiradas, com certo rigor, para o não comprometimento

da análise do todo.

Portanto, através do radar Doppler do IPMet de Bauru e de seus

parâmetros avaliados pela estatística descritiva, histograma e pelo software TITAN,

105

foi possível constatar a grande eficiência na identificação, no rastreamento e na

previsão de tempestades severas na área central do Estado de São Paulo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BATTAN, L. J. Radar Observation of the Atmosphere. University of Chicago Press, Chicago, Ill., 1973, 111 p. DIXON, M. and WIENER, G., 1993: TITAN: Thunderstorm Identification, Tracking, Analysis and Nowcasting - A radar-based methodology. J. Atmos. Ocean. Technol., n°10, p. 785-797. GOMES, A. M. Tópicos em Meteorologia com Radar. Nota Técnica IPMet, 1993. IPMET. Aplicação de Filtro em imagens de radar Meteorológico. Disponível em: <www.ipmet.unesp.br>. Acesso em: 29 de junho de 2007. LOUISVILLE, K.Y. VIL Density as a hail indicator. Science and Technology. NOAA's National Weather Service Weather Forecast Office, Friday, August 3, 2004.

106

ANEXO 3

107

DISTRIBUIÇÃO DE FREQÜÊNCIA PARA OS VALORES DOS PARÂMETROS: TOPO, VIL E DENSIDADE VIL

Tabela I. Topo dos ecos

Topo dos ecos (Km) Outubro Novembro Dezembro Janeiro Fevereiro Março

4 0,79% 0,81% 0,15% 0,19% 0,25% 0,14%5 1,00% 1,28% 0,46% 0,46% 0,53% 0,30%6 6,49% 6,73% 5,57% 5,01% 5,63% 5,07%7 36,76% 38,97% 39,34% 40,03% 38,59% 41,40%8 16,41% 17,67% 18,69% 18,68% 18,12% 19,10%9 12,56% 13,23% 13,71% 13,54% 13,69% 13,50%

10 15,70% 14,55% 14,84% 14,60% 14,95% 14,06%11 4,31% 3,51% 3,52% 3,46% 3,83% 3,24%12 2,75% 1,74% 1,80% 1,90% 2,15% 1,58%13 2,35% 1,19% 1,47% 1,65% 1,60% 1,22%14 0,46% 0,20% 0,26% 0,25% 0,38% 0,23%15 0,25% 0,07% 0,12% 0,13% 0,17% 0,10%16 0,16% 0,04% 0,06% 0,09% 0,08% 0,05%17 0,01% 0,00% 0,01% 0,00% 0,02% 0,00%

Tabela II. VIL

VIL (Kg/m2) Outubro Novembro Dezembro Janeiro Fevereiro Março

2 0,61% 0,69% 0,16% 0,20% 0,28% 0,12%4 5,40% 6,37% 4,99% 4,83% 5,49% 4,48%6 13,24% 16,62% 17,46% 18,27% 17,25% 17,80%8 16,78% 19,04% 20,59% 20,58% 19,78% 21,41%10 13,27% 14,89% 15,59% 15,58% 15,00% 16,41%12 10,17% 10,19% 11,01% 10,87% 11,00% 11,35%14 7,68% 7,50% 7,89% 7,42% 7,70% 7,74%16 6,00% 5,58% 5,65% 5,27% 5,25% 5,41%18 4,51% 4,20% 3,84% 3,88% 4,08% 3,53%20 3,62% 3,03% 2,90% 2,85% 2,76% 2,87%22 2,86% 2,34% 2,07% 1,90% 2,31% 1,83%24 2,42% 1,73% 1,45% 1,65% 1,80% 1,35%26 1,84% 1,37% 1,16% 1,24% 1,24% 1,18%28 1,48% 0,98% 0,90% 0,96% 0,99% 0,89%30 1,32% 1,02% 0,75% 0,77% 0,74% 0,60%32 1,05% 0,74% 0,57% 0,60% 0,61% 0,44%34 0,93% 0,55% 0,52% 0,46% 0,54% 0,41%

108

36 0,76% 0,45% 0,38% 0,40% 0,46% 0,36%38 0,66% 0,34% 0,36% 0,31% 0,32% 0,25%40 0,53% 0,34% 0,26% 0,26% 0,31% 0,27%42 0,51% 0,20% 0,20% 0,22% 0,28% 0,21%44 0,38% 0,18% 0,14% 0,16% 0,21% 0,12%46 0,36% 0,22% 0,13% 0,11% 0,19% 0,12%48 0,42% 0,17% 0,10% 0,15% 0,14% 0,10%

50 - 59 1,25% 0,54% 0,38% 0,46% 0,53% 0,41%60 - 69 0,66% 0,26% 0,20% 0,25% 0,30% 0,14%70 - 79 0,45% 0,15% 0,13% 0,14% 0,14% 0,09%80 - 89 0,23% 0,10% 0,06% 0,08% 0,09% 0,03%90 - 99 0,13% 0,03% 0,01% 0,05% 0,08% 0,03%

100 - 119 0,18% 0,03% 0,01% 0,05% 0,06% 0,04%120 - 139 0,08% 0,04% 0,00% 0,00% 0,03% 0,02%140 - 159 0,03% 0,03% 0,01% 0,01% 0,01% 0,01%160 - 179 0,04% 0,00% 0,01% 0,00% 0,00% 0,01%180 - 199 0,01% 0,01% 0,00% 0,00% 0,01% 0,00%200 - 219 0,00% 0,00% 0,00% 0,01% 0,00% 0,00%220 - 239 0,00% 0,01% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00%240 - 259 0,01% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00%260 - 279 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00%280 - 299 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00%300 - 319 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00%320 - 339 0,01% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00%

109

Tabela III. Densidade VIL

Densidade VIL (g/m3) Outubro Novembro Dezembro Janeiro Fevereiro Março

0,5 1,21% 1,34% 0,86% 0,76% 0,99% 0,83%1 26,30% 33,15% 34,18% 35,28% 34,17% 34,22%

1,5 30,61% 32,85% 35,09% 34,54% 34,21% 36,17%2 17,09% 15,48% 15,70% 15,00% 15,33% 15,94%

2,5 9,28% 7,62% 6,78% 6,95% 6,94% 6,32%3 5,31% 3,88% 3,22% 3,18% 3,36% 3,02%

3,5 3,14% 2,08% 1,60% 1,73% 1,95% 1,37%4 2,09% 1,29% 0,90% 0,81% 1,06% 0,68%

4,5 1,25% 0,72% 0,53% 0,57% 0,66% 0,45%5 1,00% 0,46% 0,29% 0,36% 0,37% 0,29%

5,5 0,70% 0,32% 0,22% 0,20% 0,26% 0,20%6 0,46% 0,16% 0,12% 0,16% 0,21% 0,13%

6,5 0,32% 0,17% 0,12% 0,12% 0,13% 0,07%7 - 9,9 0,78% 0,35% 0,25% 0,26% 0,27% 0,25%

10 - 12,9 0,20% 0,09% 0,05% 0,04% 0,04% 0,04%13 - 15,9 0,09% 0,00% 0,01% 0,00% 0,03% 0,03%16 - 18,9 0,07% 0,01% 0,00% 0,00% 0,01% 0,01%19 - 21,9 0,02% 0,00% 0,01% 0,00% 0,01% 0,00%22 - 24,9 0,01% 0,00% 0,01% 0,00% 0,00% 0,00%25 - 27,9 0,01% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00%28 - 30,9 0,01% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00%

Dr Gerhard Held – Orientador Douglas Cristino Leal – Aluno

110