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• Entrevista • Marcelo Cavalcante, novo diácono • pág. 105 “Quero levar Deus às pessoas” • História • Saul António Gomes • pág. 125 A capela de S. Simão de Leiria DOCUMENTOS • decretos • escritos episcopais • VIDA ECLESIAL • notícias • entrevistas • REFLEXÕES • teologia/pastoral • história • DO • Destaque • 76ª Peregrinação Diocesana a Fátima • pág. 77 “É bela e está viva, esta Igreja!” ANO XV • NÚMERO 43 • JANEIRO / JUNHO • 2007

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Page 1: Destaque • 76ª Peregrinação Diocesana a Fátima • pág. 77 ... · Bento XVI: “Cada menino que nasce traz-nos um sorriso de Deus e convida-nos a reconhecer que a vida é um

• Entrevista • Marcelo Cavalcante, novo diácono • pág. 105

“Quero levar Deus às pessoas”

• História • Saul António Gomes • pág. 125

A capela de S. Simão de Leiria

DOCUMENTOS • decretos • escritos episcopais • VIDA ECLESIAL • notícias • entrevistas • REFLEXÕES • teologia/pastoral • história • DOCUM

• Destaque • 76ª Peregrinação Diocesana a Fátima • pág. 77

“É bela e está viva,esta Igreja!”

ANO XV • NÚMERO 43 • JANEIRO / JUNHO • 2007

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Leiria-FátimaÓrgão Oficial da Diocese

ANO XV • NÚMERO 43 • JANEIRO / JUNHO • 2007

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| Luís Inácio João

| Luís Miguel Ferraz

| Henrique Dias da Silva

| Belmira de Sousa, Jorge Guarda, Luciano Cristino,Manuel Melquíades, Saul Gomes

| Luís Miguel Ferraz

| Diocese Leiria-Fátima / Gabinete de Apoio aos Serviços Pastorais

| Seminário Diocesano de Leiria • 2414-011 LeiriaTel.: 244832760 • Fax: 244821102Correio Elec.: [email protected]

| Semestral

| 330 exemplares

| 6 euros (avulso) • 12 euros (assinatura anual)

| Gráfica de Leiria

| 64587/93

Director

Chefe de Redacção

Administrador

Conselho de Redacção

Capa/Grafismo

Propriedade/Editor

Sede

Periodicidade

Tiragem

Preço

Impressão

Depósito Legal

Ficha Técnica

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ÍndiceNota da redacção 5

. Editorial .Sedimentar as bases 7

Documentos. decretos .

Tribunal Eclesiástico e outros serviços 11Conselho Pastoral Diocesano 11

Corpos sociais da Cáritas Diocesana de Leiria 12Assistente Espiritual da Casa Diocesana do Clero 13

Ecónomo Diocesano 13Pároco de Mira de Aire e Alvados 14

Delegado ao Congresso Eucarístico Internacional 14Conselho Diocesano para os Assuntos Económicos 15Párocos da Serra de Santo António e de São Bento 15

. escritos episcopais .Abertura do ano pastoral • Convocatória para Assembleia Diocesana 16

Homilia no Dia Mundial da Paz, proferida na Catedral • Cultivar a árvore da paz 17Apresentação • Catequeses Vocacionais 21

Texto para uma das catequeses vocacionais • Chamados a servir o Povo de Deus 22Homilia na Vigília da Misericórdia no Santuário de Fátima • Toda a vida pede amor 26

Homilia na “Peregrinação da Vida” em Fátima • Sede sentinelas da dignidade e do futuro da vida 29Mensagem para 54º Dia Mundial do Leproso • Os leprosos pedem amor 33

Homilia do 5º Domingo do Tempo Comum • “Faz-te ao largo”: lança as redes da cultura da vida 34Homilia na Vigília da Misericórdia no Santuário de Fátima • A Misericórdia e o Perdão 36

Nota Episcopal para a Quaresma 2007 • A caminho da alegria da Páscoa 39Convite para a 76º Peregrinação Diocesana a Fátima • Peregrinação sob o signo da vocação 41

Homilia no Centenário da Ir. Lúcia • "Memória Viva" da mensagem no silêncio contemplativo 42Homilia da Missa Crismal - Quinta-Feira Santa • Cristo é tudo para nós, Sacerdotes 45

90º Aniversário das Aparições • Saudação na abertura da peregrinação 50Homilia do dia 25 de Abril, em Fátima • Os sinais da vida nova em Cristo ressuscitado 51

Carta do Bispo às Crianças • Meus caros amiguitos e amiguitas! 54 Jornadas 50 anos da morte do Pe. Formigão • Carisma reparador numa sociedade em mudança 56

Homilia no Congresso da Santíssima Trindade • A Eucaristia, sacramento do amor trinitário 59Mensagem enviada ao Santo Padre 61

Homilia no Dia da Cidade de Leiria • Só o Amor guarda a cidade 62Homilia da Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo • Cristo atravessa a cidade 65

X Assembleia Mundial da CIMFC • O legado de Fátima à Família: Espiritualidade e Sacrifício 67

. diversos .Comunicado do Conselho Presbiteral 68

Actividades do P. Montfort Okanwikpo e “Sociedade dos Dois Corações de Amor de Jesus e Maria” 68Comunicado do Conselho Presbiteral 69

Comunicado do Conselho Pastoral Diocesano 70D. António Marto - Um ano como Bispo de Leiria-Fátima 70

Resumo geral de contas - ano de 2006 • Seminário Diocesano de Leiria 72Ângelo Sodano, legado papal à Peregrinação de Maio ao Santuário de Fátima 74

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Índice

Vida Eclesial. destaque .

Diocese de Leiria-Fátima peregrinou ao Santuário • “É bela e está viva, esta Igreja!” 77Testemunho dos jovens • A cuidar da flor a que Deus nos chama 81

. notícias .Bispo de Leiria-Fátima visitou Hospital de Santo André 83

Vigílias vicariais de oração vocacional 83Clero de Leiria reflecte sobre a vocação cristã 84

Bispo propõe catequeses vocacionais na Quaresma 85Redefinição do Pré-Seminário de Leiria 86

Grupo Vocacional de Santo Agostinho já reúne 86Conselho Pastoral Diocesano identifica “urgências” 87

Reunião com os serviços diocesanos 87Novo padre e novo diácono na Diocese 88

Aniversário da Diocese 88Vigília de Pentecostes celebra diversidade de dons 88

Corpo e Sangue de Cristo em Leiria 89Celebração do Jubileu das Vocações 89

Reestruturação da escola de catequistas 90

. Santuário de Fátima .“Interesse público” da Azinheira da Capelinha 91Comemorações do Centenário da Irmã Lúcia 91

Maio registou a maior enchente dos últimos anos 92Crescente interesse por Fátima 94

Livros 94

. serviços e movimentos .Comissão Diocesana Justiça e Paz • “Diversidade de Culturas: Um desafio” 96

Fátima Jovem 2007: O desafio de renunciarmos a nós mesmos para pegarmos na nossa Cruz 98Peregrinação a Santiago de Compostela 99

Escola de Formação Social de Leiria 100Cinquenta anos de educação social 100

. entrevistas .D. António Marto, Bispo diocesano • “É uma diocese herdeira de um grande património espiritual” 103

Marcelo Cavalcante, novo diácono para a Diocese • “Quero levar Deus às pessoas” 105Ambrósio Santos • “A Cáritas é a resposta activa da Igreja ao mandamento do amor” 109

Reflexões. teologia/pastoral .

90º aniversário das aparições de Fátima • “Maria, rosto materno da misericórdia divina” 115A Ressurreição de Cristo: fonte da esperança cristã • Do porquê ao para quê 117

A propósito de um centenário • Espírito de D. Manuel de Aguiar continua vivo 120

. história .A capela de S. Simão de Leiria 125

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Nota da redacção

Em Janeiro de 2004, com a mudança de direcção e de chefia de redacção da revista “Leiria-Fátima - Órgão Oficial da Diocese”, adoptámos algumas mudanças gráficas e de conteúdos, em ordem a torná-la mais atractiva e útil aos leitores. De acordo com o Conselho de Redacção, os seus objectivos clarificaram-se, em três eixos fundamentais: arquivo documental da Diocese, resumo noticioso de cada qua-drimestre e publicação de textos que se revelem importantes no contexto da pastoral, da teologia e da história desta Igreja particular de Leiria-Fátima. O modelo inicial foi sendo testado, corrigido e melhorado, com a ajuda dos ecos dos leitores que nos fizeram chegar as suas apreciações.

Com a chegada do novo Bispo diocesano, D. António Marto, o Conselho de Redacção escutou as suas orientações e ponderou uma revisão dos critérios de publi-cação. Assim, nesta primeira edição de 2007, surgem algumas novidades.

Em primeiro lugar, a periodicidade passará de quadrimestral a semestral. Para além de se optimizar a sua realização atempada, facilita-se o arquivo de textos, refe-rentes a apenas dois períodos anuais. Deste modo, cada edição será mais volumosa, pelo que se mantém o preço de assinatura em 12 euros, enquanto o custo por exem-plar passa para 6 euros.

Com esta alteração, decidiu-se também criar apenas três grandes directorias – “Documentos”, Vida Eclesial” e “Reflexões” –, de acordo com os objectivos acima descritos, cada uma dividida em subsecções temáticas.

Iremos privilegiar a parte documental da revista. Para além dos decretos de no-meações e outros, publicaremos ainda os escritos episcopais mais relevantes: não só as notas pastorais, mas também algumas homilias, apresentações e reflexões. Se-guem-se os comunicados e outros documentos de conselhos e serviços diocesanos.

A directoria noticiosa, com o nome “Vida Eclesial” e também subdividida em vários capítulos, manterá um tema de destaque, normalmente atribuído ao acon-tecimento mais marcante do semestre, seguindo-se um pequeno resumo de alguns outros acontecimentos especialmente significativos da vida eclesial diocesana e do Santuário de Fátima. Agrupam-se aqui, igualmente, os textos relativos a actividades dos serviços e movimentos, bem como as entrevistas a agentes da pastoral.

No final, surge a secção de “Reflexões”, onde se apresentam os textos de autor, sobre temas pastorais, teológicos, históricos, etc.

Esperamos, com esta reformulação, corresponder mais eficazmente aos objec-tivos delineados, de acordo com a orientação episcopal e no desejo de irmos ao encontro do mais proveitoso para os destinatários.

Luís Miguel FerrazChefe de Redacção

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Editorial

Sedimentar as bases

No cumprimento da sua função, a revista “Leiria-Fátima” vai registando, agora a um ritmo semestral, o dia-a-dia da Diocese, como receptáculo e portador dos do-cumentos maiores que orientam a sua vida pastoral. Seis meses, tempo mínimo na longa duração e ainda pequeno na duração média, estão longe de ser insignificantes, se reportados ao curto período em que se inserem os acontecimentos mais recentes. De Janeiro a Junho, decorreu a parte central do Ano Pastoral iniciado no pretérito Outubro e que terá o seu termo em Setembro. Foi o semestre da plena laboração de um programa, depois do seu lançamento e antes da conclusão.

Competindo-nos dar conta das avaliações, muito mais do que fazê-las, regista-mos com satisfação os bons resultados destes quase dois anos e aplaudimos que, deles, se possa inferir imediatamente uma linha de rumo. O leitor descobrirá isso mesmo. Após o “acolhimento”, tema do ano passado, e em plena aplicação do tema deste ano, a “vocação”, vislumbra-se já que nenhum deles poderá alguma vez ser abandonado. Acolher e ser acolhido, chamar e ser chamado, actos fundadores de toda a pessoa, são também actos constitutivos da Igreja, de carácter permanente e não esporádico. A conclusão é feliz e abona em favor da própria execução do pro-grama, que não seria boa se, pelo menos, não revelasse a verdadeira natureza dos seus conteúdos.

A Diocese tem que felicitar-se por o seu Bispo lhe indicar de forma tão oportuna e atempada a necessidade de um terceiro ano de estruturação e sedimentação. Em vez de nova temática, o acolhimento e a vocação, substrato essencial para novos ru-mos, serão retomados para reflexão e aprofundamento. O desafio é de folgo. Agora, é muito mais claro que não basta aflorar, pois se trata de estruturar com durabilidade estes dois pressupostos essenciais da acção da Igreja. As comunidades terão ainda oportunidade de confirmar a si próprias o balanço destes dois anos quase completos. Nisto saberão se têm andado a construir sobre a rocha, ou sobre a areia, se consegui-ram, ou não, sedimentar bases em ordem ao futuro.

Neste mesmo período, a vida humana esteve no centro das atenções, pelo pior dos motivos. Aviltada ao ponto de ser plebiscitada, ficou mais gravemente ameaçada após o referendo de 11 de Fevereiro, que deu o sim à liberalização legalizada do aborto.

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Editorial

Antes da campanha antecedente, os Bispos portugueses pediram a todos os que partilhavam da sua visão da vida, que se empenhassem no esclarecimento das consciências, “com serenidade, com respeito e com um grande amor à vida” e encorajaram “as pessoas e instituições que já se dedicam generosamente às mães em dificuldade e às próprias crianças que conseguiram nascer”. D. António Marto, por sua vez, dirigiu-se aos crentes e não crentes. Aos primeiros, serviu a palavra de Bento XVI: “Cada menino que nasce traz-nos um sorriso de Deus e convida-nos a reconhecer que a vida é um dom Seu, a acolher com amor e a guardar sempre e em cada momento”. E a todos recordou que “qualquer homem ou mulher de boa vonta-de, mesmo não crente, intui que na vida humana que nasce há um valor sagrado, que inspira respeito e pode ser captado à luz da razão”.

Face aos resultados das urnas, uma Nota da Conferência Episcopal reconhe-cia “uma acentuada mutação cultural”, que “indicia o contexto em que a Igreja é chamada a exercer a sua missão”, e apontou as principais causas desta mutação: “a mediatização globalizada das maneiras de pensar e das correntes de opinião; as lacunas na formação da inteligência, que o sistema educativo não prepara para se interrogar sobre o sentido da vida e as questões primordiais do ser humano; o indivi-dualismo no uso da liberdade e na busca da verdade (…); a relativização dos valores e princípios”. De forma programática, os Bispos afirmaram ainda a necessidade de a acção evangelizadora se direccionar especialmente para os jovens, famílias e novos dinamismos sociais, e dar prova de “criatividade e ousadia, na fidelidade à missão da Igreja e às verdades evangélicas que a norteiam.”

Este desafio lançado à vida não se situa alhures dos temas do acolhimento e da vocação, eleitos pela Igreja diocesana. É, antes, um apelo gritante a contrariar a ten-tação comum de um espiritualismo desenraizado. Somos chamados a acolher Aquele que nos envia e aqueles a quem somos enviados, num cenário civilizacional, comum a todos, sem referências suficientes que façam prevalecer a “cultura da vida” sobre a “cultura da morte”.

A contextualização é um elemento essencial da vocação, não fora ela sempre in-separavelmente pessoal e social. É-se chamado para se ser enviado, paradoxalmente, ao mundo que obstaculiza as vocações, a começar pela vocação primordial de cada homem, chamado à vida e ao diálogo com Deus. Estamos na senda da vocação cris-tã, no seguimento de Jesus Cristo, enviado pelo Pai à humanidade para que “tenham a Vida em abundância”. A audácia coloca-se ao nível da fé: o que o mundo procurou inviabilizar num golpe de morte, Deus viabilizou-o de forma surpreendente, com um gesto de vida entregue para a Vida de todos.

Luís Inácio JoãoDirector

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Documentos. decretos . escritos episcopais . diversos .

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Tribunal Eclesiástico e outros serviçosPor mandato do Bispo de Leiria-Fátima, Senhor D. António Marto, são tornadas

públicas as seguintes nomeações:– O P. Doutor José Donisete Pereira foi nomeado Juíz do Tribunal Eclesiástico da

Diocese de Leiria–Fátima. Este sacerdote, pertence à Diocese de Dourados, no Bra-sil, e encontra-se a prestar serviço no Santuário de Fátima pelo período de 3 anos.

– O P. Adriano Pereira Brites, da Ordem dos Frades Menores (Padres Francisca-nos) foi nomeado Assistente Diocesano do Movimento de Educadores Católicos.

– O P. João Rodrigues foi nomeado Assistente Diocesano do Movimento Espe-rança e Vida e Assistente Diocesano do Centro Voluntários do Sofrimento. Passará a dar colaboração, como capelão, na Paróquia de Santa Catarina da Serra e, como confessor, na Catedral de Leiria.

19.09.2006Vítor Coutinho, Chefe de Gabinete Episcopal

Conselho Pastoral DiocesanoAntónio Augusto dos Santos Marto, Bispo da Diocese de Leiria-Fátima, faz saber

quanto segue:O Bispo da Diocese exerce o ministério da síntese ou da comunhão, não a sín-

tese dos ministérios. Para que a comunhão se viva realmente, de modo orgânico e articulado, deve ter expressão em organismos de participação. O Conselho Pastoral Diocesano procura exprimir e fomentar esta comunhão eclesial.

Em cumprimento do can. 513 § 2 do C.I.C., é necessário constituir de novo o Conselho Pastoral Diocesano, que, de acordo com o Artº 9º dos Estatutos, é compos-to da seguinte forma:

Em função do seu cargo:P. Dr. Jorge Manuel Faria Guarda (Vigário Geral)Cón. Doutor Américo Ferreira (Chanceler da Cúria Diocesana)P. Dr. Manuel Armindo Pereira Janeiro (C. Presbiteral e Seminário Diocesano)Cón. Dr. Luciano Coelho Cristino (Presidente do Cabido) P. Dr. Fernando Clemente Varela (Vigário Judicial)Mons. Cón. Dr. Luciano Gomes Paulo Guerra (Reitor do Santuário de Fátima)

. decretos .

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Membros eleitos:Pe. Rui Manuel Reis MartoIr. Vitória Fonseca AlvesLucinda Lurdes Gonçalves TeixeiraJúlio Delgado RebeloManuel Almeida BaptistaMaria de Fátima dos Santos SismeiroJoaquim Carrasqueiro de SousaMaria Alice Dias CardosoJoaquim Manuel de Magalhães Mexia AlvesFernanda Jesus Ferreira Duarte PedrosaAntónio Manuel Costa do CasalP. José Lopes BaptistaSónia Alexandra da Silva RepolhoDr. Nelson Emanuel Oliveira e SilvaFernando Alcino ValenteMaria da Conceição Espírito Santo Costa DuqueLuís da Encarnação MorouçoAntónio Araújo MonteiroManuel Brás Fragoso do MarJoaquim Oliveira da SilvaDrª Maria Manuela Querido

Membros designados pelo Bispo:Ambrósio Jorge dos SantosBelmira Lourenço de SousaDr. Tomás Oliveira Dias

Leiria, 16 de Janeiro de 2007† António Augusto dos Santos Marto, Bispo de Leiria-Fátima

Corpos sociais da Cáritas Diocesana de LeiriaAntónio Augusto dos Santos Marto, Bispo de Leiria-Fátima, faz saber quanto segue:Sendo necessário constituir novos corpos sociais da Cáritas Diocesana de Leiria

para o triénio 2007-2009, havemos por bem nomear os seguintes elementos:

DirecçãoPresidente: Ambrósio Jorge dos SantosVice-Presidente: Maria Alice Dias CardosoSecretário: João José Pereira da Silva AntunesTesoureiro: José de Jesus Filipe Rodrigues

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Vogais: António Monteiro de Almeida Fernando Patrício da Silva Isabel Pereira Gaio Clemente Joaquim Madaíl Brilhante Pedrosa Maria Luzia da Piedade Cordeiro Paulo Adriano Jorge Santos

Conselho FiscalPresidente: Justino Pereira LopesVogais: Carlos Pereira Mendes Henrique Dias da Silva

Assistente:P. Dr. Luís Inácio João

Leiria, 16 de Janeiro de 2007† António Augusto dos Santos Marto, Bispo de Leiria-Fátima

Assistente Espiritual da Casa Diocesana do Clero António Augusto dos Santos Marto, Bispo da Diocese de Leiria-Fátima, faz saber

quanto segue:Sendo necessário prover ao cuidado espiritual dos residentes na Casa

Diocesana do Clero, havemos por bem nomear o Revº Cónego António das Neves Gameiro Assistente Espiritual da Casa Diocesana do Clero de Lei-ria-Fátima, de acordo com o estabelecido no artigo 28º dos Estatutos e no número 3 do artigo 6º do Regulamento Geral.

Leiria, 7 de Fevereiro de 2007.† António Augusto dos Santos Marto, Bispo de Leiria-Fátima

Ecónomo DiocesanoO Senhor Bispo de Leiria-Fátima nomeou Ecónomo Diocesano o Revº P. Cristia-

no Saraiva. D. António Marto procede a esta nomeação depois de ter aceite o pedido de dispensa de funções do actual ecónomo, P. Adelino Ferreira, e após consulta do colégio de consultores e do conselho para os assuntos económicos. O novo ecónomo entrará em funções no início de Março de 2007.

27 de Fevereiro de 2007Vítor Coutinho, Chefe de Gabinete Episcopal

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Pároco de Mira de Aire e AlvadosPor proposta e solicitação do Revº P. Manuel Peixoto, Pároco de Mira de Aire e

Alvados, o Senhor Bispo de Leiria-Fátima nomeou o Revº P. Amílcar José Alves Ta-vares, Pároco in solidum das mesmas paróquias de Mira de Aire e Alvados. Segundo as normas do Código de Direito Canónico (c. 517), os dois párocos “in solidum” têm responsabilidade e jurisdição igual em relação às paróquias para as quais são nomea-dos. O Rev. P. Manuel Peixoto assume a tarefa de moderador do serviço pastoral.

O P. Amílcar Tavares, de 44 anos de idade, faz parte da Congregação dos Mis-sionários Monfortinos desde 1994 e é padre há 11 anos. É natural de Mação (Beira Baixa), entrou para o Seminário em 1973 e fez a licenciatura em Teologia na Uni-versidade Católica em Lisboa. O seu trabalho tem-se realizado sobretudo no Brasil, onde foi responsável pela formação dos missionários monfortinos e se dedicou à pastoral em diversas paróquias do estado de Minas Gerais.

O P. Amílcar entra em funções no próximo dia 11.9 de Março de 2007

Vítor Coutinho, Chefe de Gabinete Episcopal

Delegado ao Congresso Eucarístico InternacionalEstá agendado para 15-22 de Junho de 2008 o 49º Congresso Eucarístico Inter-

nacional, que se realizará no Quebec, Canadá. Como responsável da participação da Diocese de Leiria-Fátima nesta actividade da Igreja universal, o Senhor Bispo de Leiria-Fátima designou o Revº P. Sérgio Feliciano de Sousa Henriques para Delega-do Diocesano ao 49º Congresso Eucarístico Internacional.

Os Congressos Eucarísticos, que se realizam cada vez em diferentes lugares e continentes, são uma oportunidade para aprofundar o Sacramento da Eucaristia, através do estudo teológico, da meditação e da oração. O primeiro Congresso Eu-carístico Internacional realizou-se no ano de 1881 em Lille (França) dinamizado sobretudo por associações católicas ligadas ao culto eucarístico. A motivação que deu início a estes congressos baseou-se na convicção que o renovamento da vida cristã passa pela Eucaristia. O último Congresso Eucarístico realizou-se em 2004 no México. O próximo Congresso tem como tema geral: “A Eucaristia, dom de Deus para a vida do mundo”.

O Delegado Diocesano tem a missão de dinamizar as comunidades da Diocese a incluir esta temática no seu programa pastoral e coordenar a participação no Con-gresso. O P. Sérgio Henriques passará também a integrar o Secretariado Diocesano de Pastoral Litúrgica.

16 de Março de 2007Vítor Coutinho, Chefe de Gabinete Episcopal

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. decretos .

Conselho Diocesano para os Assuntos EconómicosO Senhor Bispo de Leiria-Fátima, no dia 25 de Maio de 2007, nomeou e deu

posse a um novo Conselho Diocesano para os Assuntos Económicos. O Conselho, nomeado de acordo com as normas do Direito Canónico, fica constituído pelos se-guintes elementos:

• P. Cristiano João Rodrigues Saraiva, Ecónomo diocesano• Dr. P. Jorge Manuel Faria Guarda, Vigário Geral• P. António Lopes de Sousa• Engº António Carlos da Silva Simões• Humberto da Cruz Silva• José Manuel da Cunha• Dr. António Carlos CarvalhoEste Conselho tem um mandato de cinco anos e é presidido pelo Bispo diocesano

ou um legado seu. Trata-se de um órgão consultivo, ainda que os seus pareceres te-nham nalguns casos carácter vinculante. Tem a função de auxiliar o Bispo diocesano na administração do património da Diocese.

25 de Maio de 2007Vítor Coutinho, Chefe de Gabinete Episcopal

Párocos da Serra de Santo António e de São BentoTendo o Revº P. Mário Marques dos Anjos pedido para ser dispensado do serviço

paroquial, por motivos de saúde, o Senhor Bispo de Leiria-Fátima aceitou o pedido de dispensa e nomeou para as paróquias de Serra de Santo António e São Bento, como Párocos “in solidum”, os Padres Manuel Gonçalves Peixoto, Amílcar José Alves Tavares e José Pereira de Sousa, da Congregação dos Padres Monfortinos. Estes padres acumulam esta responsabilidade também com a paroquialidade de Mira de Aire e Alvados.

A tomada de posse será no dia 17 de Junho.Segundo as normas do Código de Direito Canónico (c. 517), os três párocos “in

solidum” têm responsabilidade e jurisdição igual em relação às paróquias para as quais são nomeados. O Rev. P. Manuel Peixoto assume a tarefa de moderador do serviço pastoral.

Esta nomeação é feita no âmbito de um acordo de três anos entre o Bispo dioce-sano e a Congregação dos Padres Monfortinos.

30 de Maio de 2007Vítor Coutinho, Chefe de Gabinete Episcopal

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. escritos episcopais .

Abertura do ano pastoral

Convocatória para Assembleia DiocesanaCaros Diocesanos,Estamos a começar o novo ano pastoral 2006/2007. Como tive oportunidade de dizer

no dia da minha tomada de posse, assumo a concretização do Projecto Pastoral Diocesa-no já traçado. Apelo à vossa colaboração com o máximo empenho, dando o melhor de vós mesmos na realização desta vontade do Senhor para a Igreja de Leiria-Fátima.

No espírito de caminhada comum e na continuidade de idêntica realização no ano passado, venho convocar uma Assembleia Diocesana, que terá lugar na tarde do Domingo, 1 de Outubro, no salão de festas do Colégio da Cruz da Areia – Leiria, com início às 15 horas e termo com a missa, na Sé, às 18.30 horas.

São objectivos desta assembleia: fazer experimentar que, como Igreja diocesana, “somos muitos, mas um só corpo, em Cristo”; apresentar a carta pastoral sobre a pastoral vocacional e o programa do ano; e celebrar o Dia da Igreja Diocesana.

Os destinatários são os principais agentes pastorais da Diocese e outros fiéis empenhados na sua vida e missão, nomeadamente: Bispo e padres, Conselho Pasto-ral Diocesano, membros dos Secretariados e Comissões diocesanos, direcções dos Movimentos, Associações e Obras, superiores ou representantes das comunidades religiosas masculinas e femininas, direcções dos Institutos Seculares e Novas Co-munidades, membros dos conselhos vicariais e paroquiais de pastoral, catequistas, ministros extraordinários da eucaristia e outros fiéis empenhados no apostolado.

Na proximidade da data da Assembleia, será divulgado nos jornais o programa detalhado. Também serão enviados instrumentos para a celebração do Dia da Igreja Diocesana, no mesmo Domingo, 1 de Outubro. Reserve na sua agenda a disponi-bilidade para participar, não marcando qualquer outra actividade no âmbito da sua responsabilidade pastoral; informe e motive os seus mais imediatos colaboradores para o acompanharem.

Para conjugar esforços e possibilitar a participação dos catequistas, o seu habi-tual encontro diocesano realiza-se na manhã desse mesmo dia, conforme as orienta-ções e convocatória do respectivo Secretariado.

Gostaríamos que esta Assembleia contribua para continuarmos a viver o acolhimen-to mútuo, sermos uns para os outros sinal do amor que Deus nos dispensa e ajudarmo-nos a escutar o chamamento divino e a despertar novas vocações na Igreja. Assim rece-beremos em maior abundância a força do Espírito que nos animará na missão eclesial.

Tendo em conta as orientações diocesanas, peço a todos o melhor empenho na programação pastoral para o próximo ano.

11 de Setembro de 2006† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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Homilia no Dia Mundial da Paz, proferida na Catedral

Cultivar a árvore da pazA liturgia de hoje introduz-nos em 2007 com uma bênção de paz: “O Senhor te

abençoe e proteja… O Senhor dirija para ti o olhar do Seu rosto e te conceda a paz” (Num 6, 22s).

Assim, no início do Ano Novo, a Igreja faz memória da bênção que Deus dirigia ao povo de Israel, assegurando-lhe presença, protecção e paz. É uma bênção que atravessou os séculos e que, na plenitude do tempo, se tornou visível e experimentável na pessoa de Jesus, o Filho de Deus, nascido de Maria, feito homem como nós e para nós (cf. Gal 4, 4-7). Ele é a bênção viva e pessoal de Deus à humanidade, com o dom da verdadeira paz.

É para esta “bênção divina, feita carne humana” em Jesus Cristo, que hoje nos voltamos, revivendo a fé e o amor dos pastores que vão ao Seu encontro, O reconhecem como o Salvador e, como tal, O anunciam com alegria e louvor a Deus. O seu louvor é participação e eco do canto natalício dos anjos: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amados”.

É neste contexto que a Igreja dedica o início do novo ano à celebração do Dia Mundial da Paz e o Santo Padre oferece uma Mensagem aos cristãos e a todos os homens de boa vontade: “A pessoa humana, coração da paz”.

Não me é possível, nesta circunstância, resumir o amplo e denso discurso do Papa Bento XVI. Limitar-me-ei a reflectir e concretizar alguns aspectos mais pertinentes ao nosso quotidiano e ao nosso contexto sócio-cultural.

Repensar os fundamentos da casa do homem no mundoOs acontecimentos vividos em 2001 com o ataque terrorista em Nova York e

todos os que se lhe seguiram, sobretudo no Médio Oriente, abalaram os fundamentos da consciência humana e desencadearam recordações de momentos trágicos do recente passado europeu.

Tais factos obrigam a repensar os fundamentos da casa do homem neste mundo. E a perguntar-se com o salmista: “Quando os fundamentos são abalados, que pode e deve fazer o justo?” (Sl 11, 3). Sobre que fundamentos está construída a convivência entre os homens e entre os povos? Sobre o poder técnico, económico e político ou sobre a dignidade e o reconhecimento dos direitos humanos e da justiça? Sobre convicções e concepções fundamentais do homem e da família humana, partilhadas por todos, ou sobre meros consensos precários e provisórios? Qual o eixo e o coração que dão sentido à história dos homens e aos quais esta deve servir?

É neste contexto que ganha actualidade e urgência a mensagem do Papa. Bento XVI não se limita a acentuar os pontos de fricção ou de oposição à paz no nosso

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planeta. Vai mais fundo, às raízes profundas da paz, inscritas na natureza do ser humano.

Todas as estratégias políticas, todos os equilíbrios diplomáticos invocam algo mais e maior: aquela realidade de luz e discernimento que é a pessoa humana. Eis uma concepção da paz que ultrapassa a concepção demasiado redutora e concentrada no tema dos conflitos armados.

Cultivar e fazer crescer a árvore da pazPara nos permitir contemplar a beleza e a amplidão do tema, o Papa usa uma

metáfora muito bela e feliz: “a árvore da paz” cujo cultivo requer uma específica “ecologia da paz”. Com confiança e esperança, faz-nos compreender que é possível cultivar e fazer crescer esta árvore a partir de uma visão correcta e ampla da pessoa humana, frente a outras visões redutoras do seu valor e da sua dignidade.

Assim, a árvore da paz lança as suas raízes na dignidade de cada pessoa humana, criada à imagem de Deus; eleva o seu tronco nos direitos e deveres fundamentais de todos os homens; e adquire diversas ramificações em todos os âmbitos da vida humana em que desabrocham as flores e os frutos mais belos da paz. Mas, para isso, precisa de se alimentar continuamente das raízes.

“O homem e a mulher criados à imagem de Deus” é a afirmação suprema da dignidade transcendente e incondicional de cada ser humano, que nunca foi ultrapassada por qualquer outra no decurso da história e da cultura. Foi esta convicção que levou um dia o cardeal Cardijn a dizer: “A pessoa do trabalhador vale mais que todo o ouro do mundo”! É esta convicção que impede reduzir o ser humano a uma coisa, a um objecto, à mercê da instrumentalização seja de quem for. Pela sua dignidade, a pessoa humana não é algo disponível; quer dizer, não pode estar submetida à lei do mais forte: económica, política ou tecnologicamente.

A dignidade da pessoa humana não se atribui a alguém; reconhece-se. Não é dada; respeita-se. Está inscrita no interior de todo o ser humano. Por isso, o Papa propõe uma nova gramática da paz, uma gramática transcendente, inscrita na própria natureza do ser humano “como o conjunto de regras do agir individual e das relações mútuas entre as pessoas, segundo a justiça e a solidariedade”.

Toda a ofensa à pessoa é uma ameaça à pazQuem não sabe respeitar o outro, nunca saberá o que é a paz. Este respeito

não se improvisa. Nasce do profundo do coração e vive dum exercício contínuo, quotidiano: de um estilo de vida que olha os outros com atenção, que não quer servir-se deles mas antes servi-los, para crescer juntos em relações mais verdadeiras e mais humanas, mais dignas para todos.

A paz no respeito pela pessoa é, pois, um hábito espiritual, uma marca que se traz dentro e irradia em tudo o que fazemos; uma virtude feita de rectidão interior, de honestidade na escolha dos fins e dos meios em ordem à acção, alimentada

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constantemente pela vontade firme de não fazer mal a ninguém, respeitando os direitos de todos, sobretudo dos mais necessitados. “Toda a ofensa à pessoa é uma ameaça à paz; e toda a ameaça à paz é uma ofensa à verdade da pessoa e de Deus”.

Educar para a estima e para o amor universal por toda e cada pessoa humana é, pois, a grande motivação que torna possível, necessário e belo o empenho pela paz.

A ecologia da paz requer o cuidado e a protecçãodo filho em gestação e da mãe

Estamos dispostos a empenharmo-nos por aqueles valores essenciais do ser humano que estão ligados à ecologia da paz?

A ameaça à paz e à convivência civil entre os homens, entre os povos e entre as culturas não está só nos conflitos armados e no terrorismo. Está também, de modo mais subtil mas não menos incisivo, nas “mortes silenciosas provocadas pela fome, pelo aborto, pela experimentação sobre os embriões e pela eutanásia”. Esta é uma das passagens-chave da mensagem de Bento XVI, que interpela particularmente a nossa consciência perante o próximo referendo sobre o aborto. Está em questão o direito à vida como verdadeira pedra angular no caminho do progresso moral da humanidade.

Uma certa cultura emergente experimenta como que uma alergia perante a afirmação da inviolabilidade da vida humana nascente. Mas a ecologia da paz implica uma ecologia da vida do ser humano. Uma elementar coerência com o empenho pela defesa da vida vegetal e animal comporta a exigência de determinados fins e meios que sejam respeitadores e protectores da vida humana já iniciada.

Verificamos com satisfação que aumenta a sensibilidade em relação à protecção das crianças, às condições dignas da maternidade, à igualdade de todos os seres humanos, à defesa e protecção do meio ambiente. Também cresce em todo o mundo a rejeição da pena de morte e da tortura, como ainda agora acabamos de constatar na morte do ex-ditador iraquiano. Mas, paradoxalmente, assistimos à banalização crescente do aborto que provoca a morte silenciosa de um ser humano indefeso e inocente.

Porquê esta desvalorização da vida humana nascente, na escala de valores? Como foi possível à nossa cultura, que se reclama humanista, pôr a liberdade humana contra a vida humana? Porquê esta distinção discriminatória entre os seres humanos nascidos e os nascituros em gestação? Porque não paramos em contemplação e reflexão sobre o momento luminoso do início da vida humana que hoje as novas técnicas põem diante dos nossos olhos? Porque é que as leis humanas parecem interessar-se mais pela protecção de certas espécies vegetais (como o cortar determinada árvore) ou animais (como os ovos de cegonha) do que do ser humano em embrião ou feto?

O fenómeno do aborto como chaga social é sintoma de um mal-estar mais

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profundo de cultura e de civilização, da própria sociedade. Alastra uma visão materialista que reduz o conceito de vida humana a um mero produto ou material biológico; e uma visão pragmático-utilitarista que remete por completo a sensibilidade moral para as fronteiras dos custos, do bem-estar, do conforto etc. E, então, a nossa sociedade torna-se simultaneamente frágil e “dura” em função da lógica utilitarista e competitiva.

Não ignoramos que, muitas vezes, a decisão de abortar é fruto de grandes sofrimentos e angústias (sem excluir as pressões), que é um verdadeiro drama para muitas mulheres. Mas pensamos que a um drama não se responde com outro drama: o de destruir uma vida humana que desabrocha e que é o elo mais fraco em todo este processo. A resposta verdadeiramente humana e humanista a este drama é um projecto solidário e galvanizador de todos os recursos da sociedade civil e do Estado, para oferecer todo o cuidado, acolhimento e protecção de ordem social, económica e psicológica tanto ao filho em gestação como à mãe que o gera. A liberalização do aborto, sob a forma encapotada de despenalização, não é a resposta digna e condigna. É uma fuga em frente, para não atacar o problema nas suas raízes. Não é caminho de progresso e de futuro.

Tudo isto exige um sobressalto das consciências para uma acção solidária. Como diz o poeta latino-americano Óscar Campana:

Se não há caminho que nos leve,Nossas mãos o abrirão;E haverá lugar para as crianças,Para a vida e a verdade,E o lugar será de todosEm justiça e liberdade.Se alguém se anima, avise,Seremos dois para começar!

Que este apelo do poeta desperte, na sociedade e nas comunidades cristãs, o empenho para dar apoio concreto às mulheres em situação dramática e proporcionar acolhimento aos bebés que nascem em situações desfavoráveis.

Feliz Ano de Paz para todos, sob a protecção de Nossa Senhora, Rainha da Paz!1 de Janeiro de 2007

† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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Apresentação

Catequeses VocacionaisNa assembleia diocesana de 1 de Outubro passado, lançámos o programa pasto-

ral 2006/07 com a Carta Pastoral “Descobrir a beleza e a alegria da vocação cristã”, que teve um bom acolhimento.

Nessa altura, tive a oportunidade de dizer que a primeira fase – até ao Natal – da concretização do programa seria dedicada sobretudo à sensibilização das comunida-des e dos fiéis, concretamente através da Carta Pastoral e das vigílias de oração, a nível vicarial, que têm tido grande participação popular.

Uma segunda fase dedica-se mais a um aprofundamento em ordem já à ac-ção. Nesse sentido, pedi ao Secretariado Diocesano da Coordenação Pastoral a elaboração de algumas “catequeses vocacionais” que poderão ser feitas durante a Quaresma, quer a nível de cada paróquia, quer a nível de vigararia ou até de grupos empenhados, que possam atingir o maior número do povo de Deus.

Hoje, tenho o prazer de as apresentar e oferecer à Diocese.São catequeses de tipo mistagógico. Quer dizer, não se trata apenas de lições

teóricas, abstractas. São reflexões que partem de um momento da vida para depois, à luz da Palavra meditada e de testemunhos concretos, nos ajudarem a introduzir no mistério da vocação cristã, a saborear a beleza das várias vocações a que Deus pode chamar e, assim, a viver uma experiência de fé.

Quero deixar aqui expressa uma palavra de profunda gratidão aos membros da equipa que as elaborou.

E faço votos de que estas catequeses possam ajudar a florescer muitas e belas vocações para o serviço da Igreja e do mundo.

12 de Janeiro de 2007† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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Texto para uma das catequeses vocacionais

Chamados a servir o Povo de Deus

1. IntroduçãoDurante muito tempo, a figura do padre fez (e, em muitos lugares, ainda continua

a fazer) parte da paisagem social e cultural do nosso povo. Não vai longe o tempo em que ele era um dos pilares da vida das aldeias e até das cidades. A sua missão era apreciada, mesmo socialmente. Ser padre era, para muitos jovens, uma possibilidade a ter em conta para a realização da sua vocação.

Entretanto, o estatuto social do padre conheceu uma queda acentuada. Hoje en-contramos muita indiferença, mesmo entre os cristãos, em relação a este ministério.

Ainda, recentemente, um grande jornal diário apresentava um inquérito sobre as possíveis vocações e profissões mais procuradas pelos jovens. A vocação sacerdotal nem sequer era mencionada. Também num encontro recente com um grupo numero-so de crismandos, o bispo lançou a interrogação se algum sentia o chamamento para ser padre. E a resposta foi uma troca de olhares e sorrisos entre todos, a manifestar a estranheza pela pergunta. Todavia quando se conversa sobre temas religiosos, a figu-ra do padre ainda se torna objecto de discussão. É então uma questão particularmente sensível e reveste facilmente um carácter passional: ser a favor ou contra os padres. Acontece até que quando uma paróquia não tem pároco, os paroquianos fazem todas as diligências junto do bispo para lhes mandar um padre.

Porque é importante um padre numa paróquia?Quais os aspectos que as pessoas mais criticam nos padres?Quais os que mais apreciam?Porque é que há crise de vocações para o sacerdócio?Qual o segredo que leva um jovem a ser padre?A imagem negativa sobre o padre é, na maior parte dos casos, fruto da má com-

preensão do lugar e da missão do padre dentro da comunidade cristã.

2. O ministério pastoral como dom e missão ao serviço da Igreja

2.1. Os ministérios para a edificação da IgrejaA figura e a missão dos padres e bispos só será bem compreendida, se for situada

no quadro mais vasto da edificação da Igreja de Jesus, da corresponsabilidade de todos os cristãos e da variedade dos dons e ministérios na Igreja.

Neste sentido, S. Paulo compara a Igreja a um corpo com muitos membros. Nem todos desempenham a mesma função. Mas todos são indispensáveis e contribuem

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para o bem do todo, isto é, da comunidade. “Temos dons diferentes conforme a graça que nos foi concedida. Aquele que tem o dom da profecia, exerça-o conforme a fé. Aquele que é chamado ao ministério, dedique-se ao ministério. Se tem o dom de en-sinar que ensine; o dom de exortar, que exorte; aquele que distribui esmolas, faça-o com simplicidade; aquele que preside, presida com zelo; aquele que exerce a miseri-córdia, faça-o com afabilidade” (Rom 12, 6-8; cf. 1 Cor 12, 4-11; 27-28). Todos estes dons são obra de um só e mesmo Espírito para a edificação da Igreja.

Entre os ministérios suscitados pelo Espírito dentro da comunidade, S. Paulo fala de um “ministério de presidência ou governo” (cf. Rom 12, 8; 1 Cor 12, 28). Nós chamamos-lhes o ministério pastoral daqueles que são colocados à frente do Povo de Deus em nome de Jesus, em ordem à santificação deste povo.

O próprio Jesus, durante a Sua missão entre os homens, cuidou de prover a Sua Igreja de pastores, constituindo os Apóstolos, que quer dizer, enviados em Seu nome.

2.2. O ministério dos ApóstolosA instituição dos doze Apóstolos é-nos apresentada dentro de um cenário elo-

quente e significativo (ler Mc 3, 13-19; Lc 6, 12-16). O pano de fundo é uma multi-dão de pessoas, vinda das regiões mais longínquas, que sente uma necessidade e uma ânsia de encontrar Jesus: ânsia e necessidade da sua salvação. É a partir daqui que Marcos introduz a cena da instituição dos “doze”, daqueles que com Jesus hão-de corresponder a esta ânsia de salvação.

Junto ao mar havia algumas colinas. A multidão está acampada nos vales. Jesus porém sobe à montanha. E daí chama pelo nome a alguns: “Chamou os que Ele quis”, isto é, aqueles que escolheu porque correspondiam ao seu desígnio. E esses escolhidos e chamados do meio da multidão foram ter com Ele, para o lado d’Ele. E então formou-se um grupo bem visível a todos: o grupo dos doze Apóstolos com Jesus.

E com que finalidade escolheu e chamou os doze? “Constituiu doze para estarem com Ele e para os enviar a pregar com o poder de expulsar demónios”. A primeira coisa para que foram chamados foi para estarem sempre com Ele. Não apenas para aprenderem uma doutrina e repeti-la aos outros. Eles, agora, devem acompanhar Jesus, viver em intimidade com Ele, ver o que Ele diz e faz, para depois anunciá-Lo e testemunhá-Lo. A sua vida e a sua pregação deve ser um contínuo falar de Jesus: um sinal, humanamente visível, da Sua presença, da Sua Palavra e dos Seus gestos. Daqui deriva a missão: Jesus manda-os a anunciar a Sua Palavra, o mistério do Rei-no de Deus, e a serem portadores da salvação que Ele oferece.

Foi com eles que Jesus celebrou a última ceia e lhes deu o mandato de celebrar a Eucaristia: “Fazei isto em memória de mim”.

Depois da ressurreição, confirmou-lhes a missão especial de anunciar o Evange-lho, fazer discípulos, baptizar (Mt 28, 19-20) e perdoar os pecados (Jo 20, 22-23),

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impondo-lhes as mãos e abençoando-os (Lc 24, 45-50). E para realizarem esta mis-são enriqueceu-os com o dom especial do Espírito Santo que desceu sobre eles (Jo 20, 22-23; Act 1, 8).

E, assim, ao longo do livro dos “Actos dos Apóstolos”, vemo-los não só a fundar comunidades cristãs, mas a trabalhar na sua edificação: anunciando a Palavra, cele-brando o baptismo, comunicando o Espírito, presidindo à Eucaristia, reconciliando os pecadores, promovendo a comunhão fraterna e a unidade, dirigindo a comunida-de.

2.3. A continuação do ministério apostólico na IgrejaA missão dos Apóstolos só teria sentido se pudesse ser transmitida a outros.Já no Novo Testamento verificamos esta preocupação dos Apóstolos em provi-

denciar para que, depois da sua morte, seja continuada a missão pastoral que Cristo lhes confiou. Eles mesmos confiaram-na, por sua vez, a homens seguros, seus cola-boradores, assistidos pelo Espírito, a quem mais tarde se chamou “bispos” (cf Act 20, 25-28; Tit 1, 5; 2 Tim 1, 6: 2-2). Estes, por sua vez, associaram à sua missão outros colaboradores chamados “presbíteros” (padres). Trata-se de um ministério essencial à edificação da comunidade cristã ao longo dos tempos. E os Apóstolos transmitiram este ministério recebido de Jesus, através de um gesto – a imposição das mãos – acompanhado pela oração.

Pelo dom que recebem no sacramento, os bispos e os padres tornam-se sinal visível e eficaz da presença e da presidência de Cristo, Bom Pastor, à Sua Igreja. Tal como os Apóstolos, eles não substituem a Jesus, não estão no lugar de Jesus, mas é Jesus Cristo que se serve deles para pôr à disposição dos Seus discípulos os dons da salvação, para a edificação da Igreja na fé e no amor, para a santificação do Povo de Deus. Pode dizer-se que, através deles, é Cristo que anuncia o Evangelho, baptiza, preside à Eucaristia, perdoa, guia e orienta o Seu povo. Por isso, este ministério só pode ser conferido por Cristo mediante o Seu Espírito. Não basta ser nomeado ou delegado. Todavia é para o povo de Deus. O ministério dos bispos e padres é todo ele um serviço a Cristo e ao Seu povo.

3. A vocação para o sacerdócio: Deus continua a chamar hoje

Na Bíblia encontramos muitas narrações de vocações pessoais. Descrevem-nos, sob várias formas, o que acontece frequentemente no íntimo do ser humano que escuta um apelo ou chamamento de Deus. De facto, em última instância é sempre Deus que chama, como diz o profeta Jeremias: “Seduziste-me Senhor, e eu deixei-me seduzir” (Jer 20, 7).

O grande número de narrações da vocação mostra a importância vital que este assunto tem para o Povo de Deus. Deus continua a chamar sempre alguns para o

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serviço do Seu povo. E chama dos mais variados modos, através dos mais variados meios e nas mais variadas idades. À Igreja compete também lançar este chamamento como fez Jesus.

Habitualmente, a história de uma vocação está sempre inserida numa comunida-de de fé e vive nela. Mas como é que o homem sabe que é chamado? Normalmente, pelo discernimento da fé e da alegria. Se a ideia de ser padre suscita em alguém atracção, alegria e disponibilidade para o serviço, temos razão para aceitar que Deus o chama. O importante é a atitude serena e generosa de quem pergunta honestamen-te: Senhor, que queres que eu faça?

Aquele que descobre em si um chamamento oferece-se então à Igreja. A Igreja, por sua vez, também tem uma palavra de discernimento para ver se alguém é apto. E prepara-o para a missão que Cristo lhe irá confiar. Na celebração do sacramento, o que é chamado por Deus e pela Igreja, dá-se todo a Deus e Deus, com a graça do Seu Espírito, oferece-o à Igreja como um dom, como novo ministro. E a Igreja reco-nhece-o e recebe-o como tal em acção de graças.

† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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Homilia na Vigília da Misericórdia no Santuário de Fátima

Toda a vida pede amor

A parábola do Bom Samaritano que acabamos de escutar é uma página de extra-ordinária beleza e de altíssima espiritualidade, que “lança um feixe de luz sobre o mistério de Cristo”(J.P.II) e o mistério do homem.

O homem à beira do caminho: Ícone das feridas do mundo moderno Antes de mais, na história do homem que desce de Jerusalém para Jericó, assalta-

do, ferido e abandonado entre a vida e a morte, podemos ler a história da humanida-de sofredora: do homem com todas as feridas do corpo e do espírito que desfiguram a sua humanidade; do homem violado nos seus direitos mais elementares; de todo o homem e mulher atingidos pela violência, pelos atentados à vida, pela margina-lização, pelo abandono, pela indiferença, pela solidão. O homem ferido à beira do caminho é um ícone onde podemos contemplar as feridas do mundo moderno, da humanidade contemporânea.

O Bom Samaritano, ícone da Misericórdia revelada em Jesus Com este pano de fundo podemos compreender melhor a parábola do Bom

Samaritano como um momento da revelação de Jesus e da sua missão. A parábola leva-nos a contemplar o mistério do Amor misericordioso de Deus que resplandeceu em Jesus Cristo e nos visitou na nossa terra.

No Seu caminhar entre os homens, em direcção a Jerusalém, cidade da paixão e da ressurreição, o Filho de Deus apresenta-se como o Bom Samaritano, aquele que se moveu de compaixão e se fez próximo do homem ferido.

Antes ainda de descrever os gestos concretos do samaritano, a parábola fala da “compaixão”, isto é, da misericórdia, da ternura divina que encheu o seu coração, a imensa ternura que Deus experimenta por cada homem. Trata-se de uma experiência intensa que lhe faz ver o homem numa luz nova e verdadeira, que lhe faz descobrir o mistério da dignidade divina no homem ferido e abandonado: descobre-o como irmão e faz-se próximo dele. Uma verdadeira paixão que se acendeu no seu coração e o levou a entregar-se ao projecto de amor que Deus tem sobre os homens.

Por isso, inclinou-se sobre o homem ferido e não o abandonou ao seu destino. Dedicou-lhe o seu tempo, a sua atenção, os seus cuidados, o seu dinheiro, a sua so-lidariedade. Cuidou dele, curou as suas feridas, restabeleceu-o na sua vida e na sua dignidade.

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“Vai e faz o mesmo”: toda a vida pede amorO caminho do mestre é também o caminho dos discípulos, de um povo, da Igreja

e da sua missão: “vai e faz o mesmo tu também”.É um convite e um mandato a tornar-se próximo no amor, no cuidado e no ser-

viço a todo o ser humano, em cada idade e situação da sua vida: no início da vida nascente, na infância, na adolescência, na juventude, na adultez e na velhice; na família, na doença, na pobreza, na solidão, no abandono, nas dificuldades de ordem material e espiritual…

“Vai e faz o mesmo”, porque “a glória de Deus é o homem vivo” (santo Ireneu). E toda a vida pede amor!

Pede amor a vida do homem caído,Aquele a quem Tu, ó Cristo, restituis a dignidade esquecida.Pede amor a vida escondida das crianças no seio materno,E aquela vida cheia de alegria, de risos e simplicidadeDe todas as crianças,daqueles pequenitos que Tu acolhes com ternura, Ó Cristo;Pedem amor os jovens, porventura errantes e desorientados, com as suas espe-

ranças, os seus sonhos e as suas inquietações, neste tempo em que é difícil orientar-se e dar um projecto belo à vida;

Pedem amor as famílias, que constroem a sua vida com dificuldades, e que pe-rante o espectro do desemprego clamam por solidariedade e justiça social;

Pedem amor os idosos, os doentes, os portadores de deficiência e os sós, aqueles que vivem uma solidão esquecida por aqueles que os rodeiam;

Pede amor a pobreza envergonhada do nosso tempo…Toda a vida pede amor…Pede amor a nossa vida,A vida de cada um de nós, Para partirmos, como bons samaritanos da vida, ao encontro do nosso irmão.Cada pessoa, cada grupo, cada comunidade deve perguntar-se o que fez e pode

fazer para pôr em marcha alguma iniciativa profética como consoladora mensagem de esperança em favor da vida humana.

Oração pela Vida

“Ó Maria, Aurora do mundo novo, Mãe dos viventes,Confiamo-Vos a causa da vida.Olhai, ó Mãe, para o número sem fimDe crianças a quem é impedido nascer;De pobres para quem se torna difícil viver;De homens e mulheres vítimas de inumana violência;De idosos e doentes assassinados pela indiferença

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Ou por uma suposta compaixão.Fazei com que todos aqueles que crêem no Vosso Filho,Saibam anunciar, com desassombro e amor,O Evangelho da Vida aos homens do nosso tempo.Alcançai-lhes a graça de o acolherem como um dom sempre novo;A alegria de o celebrar, com gratidão,Em toda a sua existência;E a coragem para o testemunharem com laboriosa tenacidade,Para construírem, com todos os homens de boa vontade,A civilização da Verdade e do Amor, Para louvor e glória de Deus Criador”.(Papa João Paulo II, Evangelium Vitae)

12 de Janeiro de 2007† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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Homilia na “Peregrinação da Vida” em Fátima

Sede sentinelas da dignidadee do futuro da vida

Bendita és Tu e bendito o fruto do Teu ventre! O Evangelho de hoje oferece à nossa contemplação o mistério gozoso da Visita-

ção de Nossa Senhora à prima Isabel. É o mistério da comunicação e do acolhimento mútuo entre duas mulheres grávidas e entre três gerações (Isabel mais idosa, Maria mais jovem e os filhos nascituros).

Cada uma destas mulheres traz consigo um segredo difícil de comunicar e, ao mesmo tempo, difícil de conter escondido: o segredo mais íntimo e mais profundo que uma mulher pode experimentar no plano físico-psíquico –a espera de um filho.

Maria dirige-se “apressadamente” ao encontro de Isabel, não só para a ajudar mas também para receber ajuda. Quando as duas mulheres se encontram, dá-se uma explosão de alegria.

Isabel ouve a saudação de Maria e logo o menino saltou no seu seio. A partir dum baixo-relevo da Santa Casa de Loreto, podemos contemplar o afectuoso abra-ço e uma saudação cheia de ternura e de profundo entusiasmo, como que dizendo: “Coragem! Compreendo-te. Não tenhas medo! Também eu estou pronta para ter um filho”.

Isabel sente-se compreendida no mais íntimo e o seu temor transforma-se em alegria. Ao mesmo tempo, compreende o segredo de Maria: “bendita és tu e bendi-to o fruto do teu ventre” ou, de outro modo, “bendita tu e bendito o Senhor que se manifesta no fruto do teu ventre”! Também Maria se sente compreendida, acolhida, reconhecida, amada.

E, das motivações humanas, passam à comunicação da fé que as une e ao louvor pelos dons que Deus realiza nelas e através delas. Contemplam a sua missão de mulheres e de mães e a dos seus filhos à luz do grande desígnio de Deus em favor da humanidade.

Eis pois duas mulheres que se encontram na perspectiva da construção da vida e do serviço à humanidade.

Contemplar a maravilha e o mistério da vida humana nascenteEste quadro da visitação é um convite a contemplar e meditar a maravilha e o

mistério da vida humana nascente. Quem não vê aqui reflectida, de algum modo, aquela experiência singular que os pais vivem quando geram um filho? Desde a

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profunda emoção, quando a mãe se apercebe da gravidez, ao acompanhamento da gestação em que sente o bater do coração e os primeiros movimentos da criança, até ao misto de ansiedade e esperança na proximidade do parto; e por fim, o sentimento de maravilha e deslumbramento quando pegam nele, o contemplam e se confrontam com o seu rosto único, que cresceu escondido no seio materno e agora veio à luz do mundo.

Embora sabendo que é fruto da sua fertilidade e do seu amor, os pais acolhem o filho como um dom que é confiado à sua solicitude, e não como uma coisa ou um objecto de que são proprietários e de que podem dispor arbitrariamente.

Qual o segredo último desta nova vida orientada a desabrochar na flor da cons-ciência e na glória da liberdade? À luz da fé cristã, a geração do ser humano lança raízes no mistério de Deus Criador, fonte de toda a vida. Não é mero produto do acaso irracional e sem sentido da evolução. Traz em si a marca de criatura “à ima-gem de Deus”. “Cada menino que nasce, traz-nos o sorriso de Deus e convida-nos a reconhecer que a vida é dom Seu, a acolher com amor e a guardar sempre e em cada momento” (Bento XVI).

Qualquer homem ou mulher de boa vontade, mesmo não crente, intui que na vida humana que nasce, há um valor sagrado, que inspira respeito e pode ser captado à luz da razão. Um não crente, como Umberto Eco, afirma: “Julgo que o nascimento de uma criança é uma coisa maravilhosa, um milagre natural que devemos aceitar”! E, na mesma lógica, um outro filósofo italiano, Norberto Bobbio, laico e socialista, afirma que a defesa da vida humana, antes e depois de nascer, é “uma causa progres-sista, democrática e reformista”, que não deve ser deixada só aos crentes.

O acolhimento, o cuidado e a protecção do filho em gestaçãoe da mãe que o gera

Verificamos com satisfação que aumenta a sensibilidade em relação à protecção das crianças, às condições dignas da maternidade, à igualdade de todos os seres humanos, à defesa e protecção do meio ambiente. Também cresce em todo o mundo a rejeição da pena de morte e da tortura. Mas, paradoxalmente, assistimos à ba-nalização crescente do aborto que provoca a morte silenciosa de um ser humano silencioso, indefeso e inocente.

Porquê esta desvalorização da vida humana nascente, na escala de valores? Como foi possível à nossa cultura, que tanto se reclama de humanista, pôr a liber-dade humana contra a vida humana? Porquê esta distinção discriminatória entre os seres humanos nascidos e os nascituros em gestação? Porque não paramos em contemplação e reflexão sobre o momento luminoso do início da vida humana que hoje as novas técnicas põem diante dos nossos olhos? Porquê o contraste impres-sionante entre o grande interesse pela ecologia da natureza e o pouco interesse pela ecologia da vida do ser humano em embrião? São interrogações que dão que pensar!

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O fenómeno do aborto como chaga social é sintoma de um mal-estar mais pro-fundo de cultura e de civilização, da própria sociedade. Alastra uma visão materia-lista que reduz o conceito de vida humana a um mero produto ou material biológico; e uma visão pragmático-utilitarista que remete por completo a sensibilidade moral para as fronteiras dos custos, do bem-estar, do conforto etc. E, então, a nossa so-ciedade torna-se simultaneamente frágil (face aos problemas da vida) e “dura” (nas soluções drásticas) em função da lógica utilitarista e competitiva.

Não ignoramos, nem podemos ignorar que, muitas vezes, a decisão de abortar é fruto de grandes sofrimentos e angústias (sem excluir as pressões), que é um verda-deiro drama para muitas mulheres. Mas pensamos que a um drama não se responde com outro drama: o de destruir uma vida humana que desabrocha e que é o elo mais fraco em todo este processo. A resposta verdadeiramente humana e humanista a este drama é um projecto solidário e galvanizador de todos os recursos da sociedade civil e do Estado, para oferecer todo o cuidado, acolhimento e protecção de ordem social, económica e psicológica tanto ao filho em gestação como à mãe que o gera. Não podemos considerar um sem o outro; e muito menos pôr um contra o outro. A liberalização do aborto, embora disfarçada sob a forma jurídica de despenalização, não é a resposta digna e condigna. É uma fuga em frente, para não atacar o problema nas suas raízes. Não é caminho de progresso, de futuro e de liberdade.

Tudo isto exige um sobressalto e uma mobilização das consciências para uma Nova Aliança entre Liberdade, Vida e Amor – indissoluvelmente unidos – e para uma acção solidária. Como diz o poeta latino-americano Óscar Campana:

Se não há caminho que nos leve,Nossas mãos o abrirão;E haverá lugar para as crianças,Para a vida e a verdade,E o lugar será de todosEm justiça e liberdade.Se alguém se anima, avise,Seremos dois para começar!Que este apelo do poeta desperte, na sociedade e nas comunidades cristãs, o

empenho para dar apoio concreto às mulheres em situação dramática e proporcionar acolhimento aos bebés que nascem em situações desfavoráveis.

Com humildade, mas com firmeza, continuaremos a propor o valor imenso da vida humana. A defesa da vida com os meios da paz, com a convicção e o testemu-nho, com os meios duma democracia plural é uma dívida de honra para com o avan-ço da nossa civilização em ordem a um humanismo integral e solidário. A todos vós confio, pois, um mandato: Sede sentinelas da dignidade e do futuro da vida humana em todas as suas fases e circunstâncias, desde o seu primeiro instante até ao seu ocaso! Não tenhais medo nem vergonha de ser paladinos da simpatia, da estima e do amor por toda a vida humana!

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Santa Mãe do Redentor e Mãe espiritual da humanidade: A Ti dirigimos com confiança a nossa oração, para que se desenvolva nas consci-

ências, sobretudo no nosso continente europeu, o sagrado respeito pela vida de cada ser humano, em todas as suas fases, desde o seu primeiro instante até ao seu ocaso.

O Evangelho diz-nos que, à Tua saudação, o menino saltou de alegria no seio de Isabel.

Nós interrogamo-nos diante de Ti: saltam de alegria os meninos da Europa no seio de suas mães?

Saltam todos de alegria com a esperança da vida que vem de um amor que os acolhe, de uma ternura que os recebe? Que recebe inclusive aqueles que poderiam nascer com dificuldade, em situações penosas para a família?

Está presente nos meninos da Europa, que estão no ventre materno, esta espe-rança de que nós estamos a preparar para eles um futuro de amor, de acolhimento, de paz?

É isto o que perturba o nosso ânimo, ó Maria, ao pensarmos nesta Europa que en-velhece, nesta sociedade farta mas desencantada, que tem medo de viver e dar vida.

Faz, ó Mãe, com que este salto de alegria no seio materno seja para todos um salto de esperança e confiança de que existe uma humanidade boa, sã e corajosa; de que existem pais e mães capazes de receber os filhos com amor; de que, onde há uma situação difícil, há também comunidades cristãs e sociedades dispostas a cuidar do futuro daqueles que estão para vir à luz do mundo.

Faz, ó Maria, com que a Europa não olhe só para o passado, não pense só na sobrevivência de um mundo de idosos; mas que dirija os seus olhos, com alegria, confiança e generosidade, para um futuro cheio de novas vidas humanas.

E, por isso, ensina-nos, ó Maria, a viver com serenidade a nossa vida; a fazer com alegria os sacrifícios quotidianos, a aceitar alegremente as pequenas renúncias que temperam o corpo e o espírito e dão sabor à existência; a ser solidários com todos os que sofrem as angústias da vida.

Confiamo-nos a Ti, queremos deixar-nos conduzir por Ti; e o Teu Coração terno e materno, o Teu Imaculado Coração nos inspirará a amar, proteger, defender e servir a vida, a paz e a justiça em toda a humanidade. Ámen!

Santuário de Fátima, 13 de Janeiro de 2007† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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Mensagem para 54º Dia Mundial do Leproso

Os leprosos pedem amorNo próximo domingo, dia 28 de Janeiro, celebra-se, em todos os países, o 54º

Dia Mundial dos Leprosos. Foi instituído pela ONU a pedido de Raul Follereau, um gigante da caridade, que dedicou mais de cinquenta anos da sua vida à causa dos leprosos, “os mais pobres dos pobres”, como ele costumava dizer.

Ainda hoje a doença da lepra afecta 10 milhões de pessoas, dentre as quais 10% são crianças, nos países mais pobres. Como podemos permanecer indiferentes, se toda a vida pede amor? Também os nossos irmãos leprosos pedem amor, partilha, para restabelecerem a sua saúde, saírem do estigma da exclusão e sentirem-se reco-nhecidos na sua dignidade de pessoas.

Neste sentido, no Dia Mundial dos Leprosos haverá várias iniciativas como re-colha de donativos à saída das missas e peditórios nas ruas. Apelo, pois, à melhor generosidade de todos os diocesanos, conscientes de que toda a vida pede amor!

† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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Homilia do 5º Domingo do Tempo Comum

“Faz-te ao largo”:lança as redes da cultura da vida

A página do Evangelho que escutámos é-nos tão familiar que, porventura, já não nos surpreende. E, no entanto, é cheia de surpreendente beleza e actualidade.

A pesca miraculosa e superabundante é símbolo da missão dos apóstolos e da Igreja, ao longo dos tempos, com as suas grandes questões. A própria barca é uma metáfora muito bela não só da nossa condição humana, mas também da Igreja que atravessa o mar imenso da história.

“À Tua Palavra lançarei as redes”Jesus sobe para a barca e quer embarcar connosco ao longo da nossa vida. Toma

o seu lugar e alimenta o povo com a Sua Palavra de vida. Eis a imagem da comuni-dade cristã que vive a sua fé pondo no centro a Palavra de Deus, isto é, Jesus como Palavra de revelação e de salvação. E na força desta Palavra é enviada em missão: “Faz-te ao largo”… “À Tua Palavra lançarei de novo as redes” – responde Pedro.

A Palavra revela-se eficaz, portadora de frutos, de abundância de vida numa pes-ca abundante. É a Palavra de Jesus que enche as redes e que torna eficaz o trabalho apostólico. Com o sopro do Espírito, a Palavra impulsiona as velas da barca da Igreja e dá-lhe força e coragem para olhar em frente e de realizar a missão de “ser pesca-dor de homens”, isto é, de ir ao encontro dos que têm necessidade de ser amados e de ser salvos de morrer afogados no mar da opressão, do egoísmo, da injustiça, do sofrimento, da escuridão, do medo de viver e da morte.

“Faz-te ao largo”: lança as redes da cultura da vida, em profundidade “Faz-te ao largo”: é o convite poderoso que o Senhor nos dirige hoje para en-

frentarmos os desafios da evangelização no terceiro milénio, as grandes responsabi-lidades da hora presente, entre as quais o anúncio renovado do Evangelho da vida.

“Faz-te ao largo” e lança as redes em profundidade: especialmente nas águas profundas da cultura de hoje marcada por um vazio de sentido, onde faltam referên-cias fundamentais para o viver comum, e por visões fragmentárias do ser humano que o deixam fragilizado no amor e na paixão pela vida humana. Uma situação que nos interpela “a abrir o coração aos outros, reconhecendo as feridas provocadas à dignidade do ser humano; a combater qualquer forma de desprezo da vida e de exploração da pessoa; e a aliviar os dramas da solidão e do abandono de tantas pes-soas” (Bento XVI). Toda a vida pede amor!

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“Faz-te ao largo” e lança as redes em profundidade: é o convite a sair da su-perficialidade e a ir ao mais profundo de nós mesmos, do nosso coração e da nossa consciência e a perguntarmo-nos: amo e respeito verdadeiramente a vida humana? O nosso tempo, a nossa cultura, a nossa nação amam verdadeiramente a vida?

Quem ama a vida, de facto, não a tira mas dá-a. Amar a vida significa não negá-la a quem quer que seja, nem sequer ao mais pequeno e indefeso nascituro. Nenhuma vida humana, mesmo no seu primeiro desabrochar, pode ser considerada de menor valor ou disponível como um objecto. É necessária uma decidida viragem cultural para percorrer o caminho virtuoso do amor solidário à vida humana!

Sim, a vida humana é uma aventura para pessoas que amam sem reservas e sem cálculos, sem condições e sem interesses. Mas é, sobretudo, um dom em que reconhecemos o amor do Pai e a alegre responsabilidade pelo seu cuidado e pela sua protecção, particularmente quando é mais frágil e indefesa. Amar a vida é então empenhar-se para que cada homem e cada mulher acolham a vida como dom, a guar-dem com amorosa solicitude e a vivam na partilha e na solidariedade.

“Ó Maria, Mãe de Jesus e Mãe nossa, confiamo-nos a Ti, queremos deixar-nos conduzir por Ti; e o Teu Coração terno e materno, o Teu Imaculado Coração, nos inspirará a amar, proteger, cuidar, defender e servir toda a vida humana. Ámen!”

Santuário de Fátima, 4 de Fevereiro de 2007† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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Homilia na Vigília da Misericórdia no Santuário de Fátima

A Misericórdia e o PerdãoMinhas irmãs e meus irmãos na graça da fé em Jesus Cristo:Se estivestes bem atentos à leitura do Evangelho, hoje somos convidados a con-

templar o mistério da misericórdia de Deus aos pés da Cruz de Cristo, porque só aos pés da Cruz nós compreenderemos bem todo o mistério do amor de Jesus.

Na Cruz encontram-se a miséria humana e a misericórdia divinaO texto começa por dizer: “o povo estava lá a contemplar”. Nós estamos aqui

hoje a contemplar. E que contemplamos nós na Cruz e em Cristo suspenso na Cruz? Que contemplam os nossos olhos humanos?

Na Cruz contemplamos, antes de mais, um concentrado, uma concentração de dor e de horror, de mentira, de injustiça, de violência e de sangue. Encontramo-nos como que diante de uma vertigem, da loucura de toda a maldade e de toda a crueldade de que o mundo é capaz. Na Cruz de Cristo converge todo o mal e todo o pecado do mundo. Por isso, a Cruz é escandalosa e horripilante de um ponto de vista humano.

Mas também pressentimos que está ali presente algo mais do que os nossos olhos humanos contemplam; que ali se oculta e revela um mistério que supera toda a nossa capacidade de entendimento. Quem nos pode abrir a porta para podermos vislumbrar, contemplar e adorar esse mistério que aí se oculta e revela, senão Aquele mesmo que o viveu na sua própria carne e que o exprimiu nas últimas palavras sobre a cruz?

As sete palavras de Cristo na Cruz são como que a expressão de todo o seu mistério, são o seu testamento; são as últimas, por isso, são o seu testamento e no seu testamento deixa-nos os dons mais preciosos. Sete palavras que são sete dons. Hoje encontramos no Evangelho as duas primeiras dessas sete últimas palavras: “Pai perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”; “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso”.

“Pai perdoa-lhes”. Vede, a primeira palavra que sai da boca de Cristo suspenso na Cruz nem é uma acusação, nem um grito de revolta pelo seu sofrimento, nem um apelo de vingança. A primeira palavra que sai do coração de Cristo é: “Pai perdoa-lhes”. “Pai” é a primeira palavra dita pelo Filho suspenso na Cruz. Cristo suspenso na Cruz revela o rosto e o coração do Pai misericordioso que Ele já tinha apresentado na parábola do Filho Pródigo, da ovelha perdida, etc.

“Pai perdoa-lhes”. Esta frase evoca também aquela outra notícia, a notícia mais bela com que Cristo iniciou o seu anúncio: “Deus amou de tal modo o mundo que lhe entregou o Seu Filho para que todo o que n’Ele crer não pereça, mas tenha a vida eterna”. E, agora, realiza-se até ao fim, até ao extremo desta entrega. A entrega

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de Cristo na Cruz é pois a expressão da loucura do amor divino que se entrega até ao fim. Um amor que desce aos infernos do homem, da humanidade e da terra, para aí introduzir o Céu da bondade de Deus, do Seu amor; para aí mostrar a sua força poderosa sobre todas as forças de destruição e do mal no mundo.

Por isso, “crer no crucificado significa ver o Pai, significa crer que o amor está presente no mundo e que este amor é mais poderoso que todo o género do mal em que o homem e o mundo estão envolvidos. Crer neste amor significa crer na miseri-córdia” (Dives in Misericordia, nº 7).

Junto à Cruz de Cristo encontram-se a miséria e a misericórdia, a miséria huma-na, toda a miséria do mundo e a misericórdia divina que a assume para a libertar e para a salvar. Isto era o primeiro momento da meditação.

A misericórdia divina é a flor e o perdão é o frutoComo chega a nós esta misericórdia? “Pai perdoa-lhes”. Chega-nos sob a forma

do perdão. Diríamos que a misericórdia divina é a flor e o perdão é o fruto que nos é dado, que deriva dessa flor.

E há coisas que nos desconcertam. Vede, a vida pública de Jesus começa junto ao rio Jordão, estando na fila dos pecadores que recebiam o baptismo de João Baptista, e termina sobre a Cruz suspenso entre dois malfeitores, entre os pecadores. A primei-ra das últimas palavras é: “Pai perdoa-lhes”; e a primeira palavra de Cristo Ressus-citado, quando reencontra os discípulos, diz respeito, de novo, ao perdão: “recebei o Espírito Santo; àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhe-ão perdoados”. Por-tanto, o dom do testamento que nos deixou na Cruz continua vivo e presente.

Jesus começa e termina a Páscoa - começa na Cruz e termina na Ressurreição - com uma palavra de perdão. Inscreve a sua obra-prima absoluta, que é a Páscoa da morte e Ressurreição, no quadro do perdão e, deste modo, indica-nos quanto há de mais alto e de mais precioso para nós: o perdão.

E quereis ver quem foi o primeiro a compreender esta misericórdia que vem até nós sob a forma de perdão e nos redime e nos renova e nos faz renascer, nos rege-nera? Foi um daqueles que ouviu de perto essa palavra, o chamado Bom Ladrão, tão bom que até conseguiu “roubar o Céu” a Jesus no último momento. Um homem malfeitor ouviu uma palavra que nunca ouvira na vida, de quem nem sequer estava à espera, nem imaginava que fosse possível dizer uma tal palavra num momento e numa situação daquelas: “Pai perdoa-lhes”. E esta palavra tocou-o no mais profundo do coração e pensou consigo: “Ah, há um amor maior do que tudo isto que experi-mentei na vida e vi no mundo e que me é oferecido nesta última hora”.

Por isso, este amor despertou nele esperança e vida, trouxe ao de cima todo o resto de bondade que havia no seu íntimo, no seu coração, e deu-lhe a confiança para exclamar: “Jesus, lembra-te de mim! Lembra-te de mim quando entrares no teu reino!”. Pediu bem pouco – uma recordação - e recebeu muito, uma superabundância desmedida: “hoje estarás comigo no paraíso”.

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Eis a imensidade, a loucura, tudo aquilo que supera todas as medidas, cálculos, imaginação do que a gente poderia pensar. É um mistério tremendo, inimaginável! O nosso coração, a nossa mente, as nossas palavras são poucas e apoucadas para poder traduzir tão grande imensidade e riqueza desta misericórdia que se faz perdão.

O perdão, o maior dom de DeusÉ preciso descobrir então que o perdão é o coroamento do amor dado até ao fim,

até ao extremo, a obra-prima mais bela da graça divina em nós.O perdão possui um poder criador ou recriador como algo de um novo início, é

como criar a partir do nada. Cresce sobre uma planta venenosa, que é o mal, o pe-cado, a culpa, a divisão. É, diríamos, como uma flor de Lótus que cresce na lama; e Deus é o único que pode realizar isso.

Ser perdoado, se entendermos assim esta maravilha, esta imensidade da mise-ricórdia que se faz perdão, dá-nos um sentimento indizível, que não se assemelha a nenhum outro, que é o sentimento de ser amado de um modo único, diferente de qualquer outro. É uma alegria que não se conhece no amor de paixão por alguém que nos atrai, que nos agrada; que não se conhece quando recebemos felicitações por um sucesso na vida e nem sequer no reencontro de um amigo.

O que é que tem então de singular e de particular esse perdão? É que no perdão é-se amado até ao mais íntimo e ao mais fundo de si mesmo onde não se merece ser amado: nos nossos pecados, nas nossas fealdades e nas nossas negações. Quem é que merece ser amado aí? Que há de atraente aí? Não se é aceite por aquilo que temos ou somos, mas precisamente somos aceites por aquilo que não temos nem somos e isso é único. Um tal amor não se compra nem se merece. Na verdade, só Deus é capaz de amar assim, de perdoar: a misericórdia é o seu privilégio. E tudo o que nós podemos fazer é colocar-nos debaixo da sua misericórdia como quando nos colocamos debai-xo da chuva para nos deixar empapar.

Os Evangelhos abundam destas experiências surpreendentes de perdão recebido gratuita e surpreendentemente e a surpresa suscita sempre, em cada caso, uma ex-plosão de alegria. O Evangelho de S. Lucas testemunha precisamente isso: depois do perdão dos pecados, em cada caso, em cada situação, há uma alegria transbordante provocada pela boa-nova que Deus comunica e sabe usar para superar o pecado e para libertar dele. Uma série de situações que passam pela nossa mente como num filme: Pedro, Maria Madalena, Zaqueu, a samaritana, a mulher adúltera e tantos ou-tros. Eis o mistério insondável e inimaginável da misericórdia divina que desce ao coração do homem, o recria e lhe dá uma vida nova.

A misericórdia divina bate à porta do nosso coração para que a deixemos entrar. Bate forte, mas não obriga nem força ninguém. Invoquemo-la humildemente e com confiança: “Dá-nos Senhor, a tua misericórdia; de Ti, a esperamos”. Ámen!

12 de Fevereiro de 2007† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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Nota Episcopal para a Quaresma 2007

A caminho da alegria da Páscoa1. “Quero celebrar a Páscoa em tua casa” (Mt 26, 18)

Na “Quarta-feira de Cinzas”, a Igreja entra em Quaresma. Que significa isto? Para muitos, a palavra Quaresma evoca, de imediato, um conjunto de esforços, sacri-fícios, privações que nos são pedidos para corrigir os nossos desvios, erros e pecados e assim agradar a Deus. É um modo de ver a Quaresma a partir de nós para ir a Deus, em vez de partir de Deus para chegar a nós.

Ora a Quaresma é, antes de mais, um tempo privilegiado para nos abrirmos e dei-xar que a Vida e o Amor de Deus por nós nos transforme e irradie em nós e à nossa volta. É, pois, um convite a voltarmo-nos para a fonte da Vida, do Amor e da Luz: Cristo no mistério da sua Páscoa de morte e ressurreição. Uma palavra do Evange-lho da Paixão segundo S. Mateus pode iluminar este sentido da Quaresma, quando Jesus diz aos discípulos: “Ide à cidade, a casa de um tal, e dizei-lhe: O Mestre manda dizer: o meu tempo está próximo; é em tua casa que quero celebrar a Páscoa” (Mt 26, 18).

Esse “tal”, é cada um de nós. Eis pois o que Jesus nos diz a cada um: “O meu tempo está próximo”: é o tempo da manifestação do meu amor por ti até ao fim, o tempo em que eu desejo “celebrar a minha Páscoa em tua casa”, contigo, na intimi-dade do teu coração, na verdade do teu ser, da tua carne, da tua vida. Páscoa significa passagem. Deixa-me passar em ti, na tua casa. Deixa-me fazer-te passar da morte à vida, através das tuas fraquezas e dos teus fracassos, dos teus sofrimentos e dos teus medos, oferecidos ao meu coração trespassado e entregues nas minhas mãos crucificadas. Queres deixar-me dar à tua vida, à tua história, ao teu quotidiano, o seu sentido pleno e toda a sua medida interior?

Na noite de Páscoa seremos, então, iluminados pela luz de Cristo ressuscitado! Estes 40 dias da Quaresma, a caminho da Páscoa, são um tempo que Deus nos oferece como tempo privilegiado de graça, de verdade, de libertação para reen-contrarmos o gosto de Deus, a alegria de viver, a frescura da nossa fé e do nosso amor. É nesta perspectiva que adquirem profundo significado os tradicionais meios pedagógicos para o caminho quaresmal: o jejum como despojamento do supérfluo, a oração como intimidade e escuta de Deus, a esmola como partilha do amor.

2. A alegria e a beleza da vocação cristãO caminho da Quaresma configura-se para nós à maneira dum retiro espiritual

feito de momentos de escuta da Palavra de Deus, de reflexão e oração, em que vamos conferindo com Jesus a nossa vida.

Dentro da perspectiva do ano pastoral dedicado à vocação e vocações na Igre-

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ja, o próprio Senhor Jesus interroga-nos, particularmente nesta Quaresma, sobre a orientação profunda da nossa vida e põe-nos diante da responsabilidade de lhe dar um sentido. Toda a vida é uma vocação: cada um é chamado a dar à sua vida um projecto de amor.

A Quaresma deste ano de 2007 é pois um tempo propício para descobrir e apro-fundar a graça, a beleza e a alegria da vocação cristã na Igreja e no mundo. Neste sentido, faço um apelo às comunidades e aos párocos para realizar as “catequeses vocacionais” que oferecemos à Diocese.

3. A alegria da partilha: apoio ao projecto missionário na diocese do Sumbe (Angola)

O Santo Padre Bento XVI lembra-nos ainda uma outra dimensão da Quaresma, nos seguintes termos: “A Quaresma seja para cada cristão uma experiência renovada do Amor de Deus que nos foi dado em Cristo, amor que todos os dias devemos, por nossa vez, ‘dar novamente’ ao próximo, sobretudo a quem mais sofre e é necessita-do. Só assim poderemos participar plenamente na alegria da Páscoa”. Não há Qua-resma sem amor partilhado. É este o sentido da “renúncia quaresmal”.

De acordo com a indicação do Conselho Presbiteral, o resultado desta renúncia será destinado a apoiar o projecto missionário de geminação entre a Diocese de Leiria-Fátima e a Diocese do Sumbe, em Angola, onde se encontra um grupo mis-sionário da nossa diocese, composto por dois padres e três jovens leigas. Apelo à melhor generosidade de todos.

Como o Papa, também eu peço que “Maria, a Mãe do Belo Amor, nos guie neste itinerário quaresmal, caminho de conversão autêntica ao amor de Cristo”.

Santa Quaresma, com a bênção de Deus Pai, Filho e Espírito Santo!Quarta-feira de Cinzas, 21 de Fevereiro de 2007

† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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Convite para a 76º Peregrinação Diocesana a Fátima

Peregrinação sob o signo da vocaçãoCaros Diocesanos:Escrevo-vos esta breve mensagem para vos convidar a participar na peregrina-

ção anual da nossa Diocese ao Santuário de Fátima, à casa da Mãe e Padroeira, no próximo dia 25 de Março.Que sentido queremos dar este ano à nossa peregrinação?

Ela insere-se dentro dos objectivos da vivência da Quaresma e do Ano Pastoral, tais como os referi na mensagem quaresmal: “Os 40 dias da Quaresma, a caminho da Páscoa, são um tempo que Deus nos oferece como tempo privilegiado de graça, de verdade, de libertação para reencontrarmos o gosto de Deus, a alegria de viver, a frescura da nossa fé e do nosso amor... É um tempo propício para descobrir e apro-fundar a graça, a beleza e a alegria da nossa vocação cristã na Igreja e no mundo.”

A peregrinação é pois um acontecimento espiritual, uma “grande viagem in-terior” no coração de todos e da Igreja Diocesana no seu conjunto, para renovar a vitalidade da fé e da vocação, juntamente com Maria, Mãe da Igreja.Peregrinar à descoberta do sentido da vocação!

É um momento forte na vida da nossa comunidade, que se inspira no tema da “vocação” cristã. Na peregrinação fazemos a experiência de que há algo que ainda não alcançamos e para o qual caminhamos. No caminhar em oração e recolhimento torna-se clara – e interiorizamos - a meta da nossa vida: “a vocação à qual Deus, lá do alto, nos chama em Jesus Cristo” (Fil. 3,14). E é tonificante para nós termos sempre diante dos nossos olhos esta meta – vocação em todo o nosso agir. Este é um dos apelos da Mensagem de Nossa Senhora em Fátima.

A Nossa Senhora, no dia da Peregrinação, queremos confiar todas as gerações: as crianças, os adolescentes, os jovens e adultos, os que sofrem, todas as vocações que estão a germinar, todos os corações nos quais o Senhor fala silenciosamente chamando ao dom de Si para o serviço de Deus e aos irmãos.

Queremos pedir a Deus, por intercessão de Maria, o dom de novas vocações de especial consagração, sobretudo ao sacerdócio ministerial. E que, no termo da pere-grinação, todos nós sejamos mais capazes de corresponder à vocação própria de cada um, vivendo-a com mais profundidade, alegria e beleza.

Eia, pois, irmãos e irmãs, ponhamo-nos a caminho como peregrinos! A Igreja Diocesana de Leiria-Fátima e o seu Bispo contam convosco no dia 25! A quantos não podem participar fisicamente convido-os a acompanharem a peregrinação com as suas intenções e a sua oração.

Um abraço fraterno do vosso Bispo,† António Marto

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Homilia no Centenário do Nascimento da Irmã Lúcia

"Memória Viva" da mensagemno silêncio contemplativo

Passaram dois anos da morte da Irmã Lúcia. A sua memória ainda está muito viva entre nós. Hoje, no centenário do seu nascimento, queremos fazer memória, grata e cheia de afecto, da sua pessoa e da sua existência, junto do altar do Senhor. Bendito o Senhor que no-la deu e, com ela, nos deu a graça de uma particular mensagem da Sua misericórdia e do seu testemunho de vida! Foi, de facto, um admirável dom de Deus à Igreja e ao mundo. Por isso nos sentimos agraciados e nos mostramos agra-decidos. Com estes sentimentos na alma, quero saudar afectuosamente a todos vós aqui presentes e a todos os que nos acompanham pela televisão.

Hoje, nesta celebração eucarística, queremos unir-nos à Irmã Lúcia na comunhão dos santos em Cristo; unir-nos ao seu face a face com o Senhor, àquele momento no qual se encontrou com a Realidade invisível que agora contempla no profundo do seu coração transformado pela graça. A sua memória transporta-nos para o mistério de Deus e da Sua Palavra que nos ilumina e inspira.

"Memória viva" da Mensagem de Reconciliação e de PazPartimos pois da primeira leitura da Carta aos Coríntios em que S. Paulo, de

modo comovente e apaixonante, nos convida a contemplar, com assombro, o amor sem limites de Deus que joga tudo na morte e ressurreição de Cristo, para reconciliar consigo a humanidade dividida, refazer uma relação ferida ou quebrada, dar perdão e paz aos corações, recriar um coração novo e uma humanidade nova.

Todos somos chamados ao serviço deste mistério da reconciliação no mundo. À Irmã Lúcia coube, de modo particular, receber e transmitir à Igreja e ao mundo uma mensagem impressionante do Altíssimo através de Maria, Mãe de Jesus: uma mensagem de advertência e, ao mesmo tempo, de promessa de reconciliação e de paz. No momento em que as guerras mundiais mergulhavam o século XX no fogo e no sangue, em que povos da Europa se envolviam num processo de aniquilação e de morte jamais visto e imaginado, introduzindo assim o inferno na terra, eis que Deus, através da Mãe do Seu Filho, dá sinais da Sua misericórdia: convida os homens a não se resignarem à banalização do mal e desperta a esperança através de um amplo renascimento espiritual de fervor, oração e conversão profunda dos corações.

Desta Mensagem, a Irmã Lúcia foi receptora, transmissora e "memória viva" ao longo do século XX - como Nossa Senhora lhe dissera -, na verdade, na humildade e na discrição, ajudando ao seu aprofundamento.

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Fazer memória dela hoje é, pois, um convite a reconhecer no tempo presente, carregado de incertezas, temores e atentados à vida humana, o poder imenso do Amor de Deus para nos confiarmos à certeza da Sua misericórdia que salva a huma-nidade.

A Beleza de Deus: o coração pulsante da sua vida O mistério do Amor trinitário de Deus no qual Lúcia foi introduzida pelo Anjo e

depois envolvida, por graça especial, na aparição de 13 de Junho, fascinou-a, arreba-tou-lhe o coração e tornou-se "o coração pulsante" da sua vida: mistério contempla-do, amado e adorado no silêncio contemplativo e orante, desde a infância até à vida de clausura. Eis como ela o exprime no seu último livro "Como vejo a mensagem", à longa distância de 66 dessa primeira experiência:

"Foi então que a celeste Mensageira, abrindo os braços, com um gesto de mater-nal protecção, nos envolveu no reflexo da Luz do imenso Ser de Deus. Foi uma graça que nos marcou para sempre na esfera do sobrenatural.

Oh! Não fosse Ela o refúgio dos pecadores, a Mãe de Misericórdia, o auxílio dos cristãos, que A tenha feito descer até nós, para introduzir-nos, Senhor, no Oceano do Teu amor, do Teu poder, do Teu imenso ser, onde essa chama ardente nos fará viver para sempre, esse mistério do amor dos Três por mim! É com esse amor, que hei-de adorar-Te, agradecer-Te, amar-Te, transformada no cântico do Teu eterno louvor" (p.44). E ainda: "Não desejo mais nada, nada mais anseio, o mistério da Santíssima Trindade é para mim o mais belo recreio" (p.57).

Palavras que valem hoje para nós, actualíssimas no momento em que no ocidente assistimos a uma "crise de Deus", a um eclipse cultural de Deus e em que muitos cristãos perderam ou, porventura, nunca experimentaram o gosto, o sabor de Deus no coração e na vida. "À crise de Deus só se responde com a paixão por Deus"(J. B. Metz).

Eis pois a grande missão confiada à Igreja: fazer resplandecer a beleza do rosto de Deus em Cristo, manso e humilde de coração, num mundo que tanta dificuldade tem em compreendê-lo, e despertar a dimensão mística da fé para lhe dar calor e alegria.

A confiança e o amor a Nossa SenhoraO texto do Evangelho de hoje põe-nos perante uma cena cheia de ternura para

todo o cristão. No momento da Sua doação na cruz, Jesus deixa-nos os melhores dons, a modo de testamento. Um deles é Maria como Mãe: "Eis o teu filho"; "Eis a tua mãe"! Isto indica um amor recíproco. Mas requer o amor do discípulo a Maria tal como Jesus a ama.

Também a Irmã Lúcia, como o discípulo João, recebeu Maria "em sua casa", entre os bens mais preciosos, com especial afecto e devoção. Assim se exprime:

"Ver ali uma Senhora tão linda, que me diz ser do céu, senti uma alegria tão ín-

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tima que me encheu de confiança e amor; parecia-me que já nada me podia separar desta Senhora… Por certo, Ela veio por ordem de Deus, para cumprir mais uma missão, da qual Ele quis encarregá-la, trazer-nos uma Mensagem de fé, de esperança e de amor"(p. 30.31).

Neste sentido, Lúcia compreendeu muito bem a manifestação e a linguagem do Coração Imaculado de Maria para ela, pessoalmente, e para o mundo: "Todos sabe-mos que o coração é o símbolo do amor e da dor, receptáculo da misericórdia e do perdão"(p. 45).

De facto, Maria, a Mãe dos viventes, com o Seu Coração Imaculado sente e ex-prime as dores da humanidade que anseia por erguer-se e lembra aos homens que são solidários não só no mal mas também no bem e que, por isso, cada um pode trabalhar na salvação de todos com os meios visíveis ou invisíveis. Tal é o sentido do pedido da oração e do compromisso de reparação do pecado do mundo, em união com a obra redentora de Cristo.

"Por fim, o meu Coração Imaculado triunfará": esta promessa recorda-nos a vitória da Misericórdia de que o Coração Imaculado é um símbolo humilde, mas também terno, afectuoso e atraente para conduzir o coração humano até Deus.

A alegria e o bom humorNão queria terminar sem uma breve nota sobre o dia a dia da Irmã Lúcia. Comen-

ta a sua então superiora Irmã Maria Celina que conviveu com ela: "Cumpria o seu dever com muita precisão e diligência. Poderia pensar-se que, tendo sido ela agra-ciada por tantas experiências extraordinárias que lhe foram concedidas pelo Céu, vivesse sempre fora desta vida corrente, fora da nossa órbita! … Não!".

A Irmã Lúcia não era um extra-terrestre! Trabalhou em várias tarefas como mu-lher desembaraçada, inteligente, cheia de alegria e bom humor. A santidade cristã não anula a nossa humanidade. Antes embeleza-a e alegra-a!

Queremos pedir ao Senhor, nesta eucaristia, em comunhão com a Irmã Lúcia, que nos conceda servi-Lo com amor e alegria e nos dê a coragem de nos fazermos ao largo nos mares abertos da nossa história, para construirmos a civilização do Amor e da Paz a que a Mensagem de Fátima insistentemente nos chama. E peçamos também a Nossa Senhora, tão amada pela Irmã Lúcia, que nos acompanhe sempre no cami-nho que nos espera. Ámen!

Fátima, 28 de Março de 2007† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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Homilia da Missa Crismal - Quinta-Feira Santa

Cristo é tudo para nós, Sacerdotes“Christus omnia est nobis” (Sto Ambrósio)

1. Saudação“Graça e paz vos sejam dadas por Jesus Cristo, que é a Testemunha fiel, o Primo-

génito dos mortos, o Soberano dos reis da terra!Àquele que nos ama, que pelo Seu sangue nos libertou do pecado e fez de nós um

reino de sacerdotes para o Seu Deus e Seu Pai: a Ele a glória e o poder pelos tempos sem fim” (Ap 1, 5-6).

Com estas palavras do apóstolo João chegue a todos vós a minha fraterna sau-dação pascal e eleve-se ao Senhor o louvor agradecido por este nosso encontro na Missa Crismal. Em todos as catedrais do mundo celebra-se hoje o “dies sacerdotalis” da Igreja, para bendizer o Senhor pelo dom do sacerdócio, para consagrar os óleos santos, para saborear, em particular intimidade, a fraternidade sacerdotal, para fazer memória de um dia inesquecível no qual dissemos “Sim” a Jesus Cristo e à Igreja e que hoje queremos confirmar através da renovação das promessas sacerdotais.

Agradeço ao Senhor a grande alegria espiritual que hoje me concede. É a pri-meira vez que presido à celebração da Missa Crismal como bispo da diocese, para expressar a profunda comunhão sacramental entre o bispo e o seu presbitério. Neste espírito de comunhão saúdo-vos com caloroso afecto. Quero dizer-vos, com toda a sinceridade, que todos vós estais presentes no meu coração de Pastor. Saúdo com particular afecto o Senhor D. Serafim e faço-me intérprete da alegria de todos pela sua presença connosco.

Em nome pessoal e de toda a diocese desejo exprimir a mais viva congratulação aos sacerdotes que ao longo deste ano celebram o jubileu da sua ordenação. Com uma recordação especial lembro os presbíteros doentes ou idosos impossibilitados de marcar a sua presença, mas seguramente unidos em comunhão afectiva. E, com eles, o nosso pensamento vai também para aqueles que foram chamados para a casa eterna do Pai. Não esquecemos, por fim, aqueles que por diversas circunstâncias, já não exercem o seu ministério. Que o Senhor lhes dê a certeza de serem recordados e amados por todos nós.

2. O ministério na complexidade actualNestes nove meses que estou convosco tive a oportunidade de vos encontrar nas

mais diversas circunstâncias. Devo confessar-vos, porém, que foi muito gratificante para mim o encontro pessoal com cada um, em audiência particular, desde o Natal

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até hoje. Tive a oportunidade de reconhecer que, da vossa parte, não falta o testemu-nho de uma fidelidade provada aos compromissos assumidos, de uma grande gene-rosidade na dedicação e no serviço aos fiéis a vós confiados, de uma alegre satisfação apostólica de ser padre.

Tudo isto não pode deixar de me encher de admiração e de me levar a dar graças por vós, a Deus, cujo Espírito nunca cessa de rejuvenescer e santificar a nossa Igreja de Leiria-Fátima. Com que alegria ouvi alguns de vós dizer: “Sinto-me feliz! Se tivesse de recomeçar hoje, tomaria a mesma opção!”

Ao mesmo tempo, não posso esconder que, nos vossos colóquios comigo, aflo-rou também um outro rosto do vosso ministério: aquilo que o torna pesado, as difi-culdades que são causa quotidiana de não pouco mal estar, de certo sofrimento e de alguma desilusão. Limito-me a evocar as dificuldades mais sentidas. Antes de mais, a sobrecarga dos compromissos pastorais aliada à crescente diminuição do número e das forças dos padres; a penúria de vocações; a mutação cultural reflectida num ambiente de secularização e indiferença que torna muitas pessoas, mesmo dentro das nossas comunidades, insensíveis aos valores espirituais e indiferentes a uma proposta verdadeiramente evangélica; as incompreensões e resistências à novidade de opções e iniciativas pastorais mesmo por parte de não poucos cristãos que são praticantes e até colaboradores próximos; o individualismo de muitos que os leva à perda do sentido de pertença afectiva à Igreja e à recusa de colaborar nos serviços da comunidade (catequese, conselho económico...). Tudo isto, sem esquecer o desmo-ronar progressivo da “memória cristã” elementar, que leva a que muitos cristãos já não reconheçam a sua “língua materna”.

E, enfim, a nossa própria fragilidade que facilmente cede ao desânimo, ao de-sencorajamento face à situação actual, sobretudo quando advertimos a desproporção entre tantas energias que consumimos e os poucos resultados que obtemos.

Daqui as interrogações que por vezes nos atormentam: para que serve toda a minha jornada, a minha fadiga pelos outros, a minha dedicação se não há vocações, se não encontro colaboradores? Para quê tantos anos de sacrifício, se agora estou cansado, idoso, doente, se não sinto o fervor e a alegria de outrora?

3. Cada tempo é um tempo de provação e de graçaTodos estes sentimentos encontram eco no coração do bispo a quem o Se-

nhor confia o ministério do encorajamento como a Pedro: “Confirma os teus irmãos” (Lc 22,32). Com Jesus, o bispo diz a cada um de vós: “Vós sois os que perseverastes comigo nas minhas provações” (Lc 22,28). Por isso, hoje, quero oferecer-vos uma mensagem de conforto sob o título “Cristo é tudo para nós sacerdotes”.

Como padres, vivemos tempos difíceis. Também os pais e educadores vivem este tempo com dificuldades. Mas cada tempo é sempre um tempo de provação e de graça.

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É certo que cada vez menos podemos apoiar-nos na tradicional “cultura cristã” que vemos desmoronar-se. Já não podemos viver das “glórias” do passado. Hoje, vi-vemos numa “diáspora espiritual”, num ambiente pluricultural e plurireligioso onde se oferecem os mais diversos modelos e projectos de vida. Mas foi precisamente esse o contexto em que nasceu e se desenvolveu o cristianismo.

Por isso, o nosso tempo difícil pode tornar-se tempo abençoado de graça e es-perança. O sofrimento da nossa época e que nos atinge pode transformar-se num convite da parte de Deus a ser mais cristão e mais padre.

A própria complexidade do novo contexto do ministério faz nascer em nós a necessidade de reencontrar o que é verdadeiramente essencial na nossa actividade pastoral; a urgência de redescobrir o segredo do nosso ser padres; o fascínio de vi-ver o nosso serviço na simplicidade que é típica do discípulo do Senhor. Só assim podemos assegurar e testemunhar a beleza e a alegria da nossa vocação e missão de presbíteros de Cristo e da sua Igreja.

Como é possível? Por onde começar? A meu ver, voltando às fontes da nossa vocação, à Fonte viva e pessoal que é o próprio Cristo.

Quer dizer que a primeira e principal solução para o nosso desânimo e para o nosso relançamento pastoral é de ordem interior. Está mais no nosso interior do que no nosso plano de trabalho. É preciso dar um salto de qualidade. Todo o encoraja-mento verdadeiro começa pelo trabalho no coração do padre.

Racionalização e reestruturação, redistribuição de tarefas e responsabilidades, planos pastorais bem programados e implementados são seguramente indispensá-veis. Ninguém o põe em dúvida. Mas a verdadeira reconstrução começará na nossa conversão interior e resultará dela, com nova pujança, sem prejuízo de reflectirmos, em próximas ocasiões, sobre as dificuldades já mencionadas.

Na origem da nossa vocação não está um grande ideal humanista nem o desejo de uma boa realização profissional. Está o encontro vivo e pessoal com Jesus Cristo e a participação do Seu amor de compaixão pela gente (Cf. Mt 9, 36).

A nossa fé, a nossa esperança e o nosso ânimo não se fundam numa palavra, num texto ou num livro. Fundam-se numa pessoa viva e contemporânea a nós: Jesus Cristo ressuscitado! É sobre Ele que somos chamados a construir, a partir de novo, com novo fôlego.

4. Eu sou o Alfa e o Ómega: Cristo é tudo para nósEis a razão porque me proponho reflectir sobre o que pode significar para nós,

padres, a palavra de Santo Ambrósio “Cristo é tudo para nós”. É a palavra que está presente, embora de outra forma, na leitura do Apocalipse: “Eu sou o Alfa e o Óme-ga, Aquele que é, que era e que há-de vir, o Senhor do universo” (1,8).

O livro do Apocalipse é um livro de consolação que quer infundir grande confor-to, coragem e confiança à Igreja perseguida e aos cristãos tentados pelo paganismo e pelas seitas. É pois um texto escrito com o sangue da história e, ao mesmo tempo,

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uma obra de grande contemplação mística. Convida, antes de mais, a contemplar Cristo e a tomar consciência de quem Ele é para nós e a rever a nossa relação com Ele. Para isso traça um ícone grandioso e fascinante de Cristo, que é, simultanea-mente, uma profissão de fé, um canto pascal de confiança e uma revelação de vida e de esperança.

Ele é a Testemunha fiel do amor eterno e santo de Deus até à sua paixão na cruz; o Primogénito dos mortos, o Vivente que, solidarizando-se connosco na morte, nos faz participantes da sua vida divina; o Soberano dos reis da terra, o Vitorioso sobre as forças destruidoras do mal, da morte e do pecado. Por isso pode apresentar-se “Eu sou o Alfa e o Ómega”, isto é, Eu sou tudo para vós.

A esta revelação responde uma explosão de louvor e gratidão “Àquele que nos ama” por parte da assembleia que se sente envolvida e segura pelo Amor presente, activo e incessante de Cristo: “Sim, Sim! Ámen!” – é uma resposta cheia de afecto e devoção, como que a confirmar: “Sim, Tu és Tudo para nós. Em ti pomos a nossa confiança.”

Cristo fascina e perturba. Há determinados momentos em que Ele entra na vida de cada um e são momentos inesquecíveis. Mas é, sobretudo, o Cristo de cada dia, de todos os dias, que a Igreja precisa de sentir perto de si. Ele conservará a sua mão protectora sobre ela, tornar-se-á Ele próprio a garantia, a mensagem de confiança, encorajamento e comunhão. Despertará vocações para lhes confiar uma missão em favor da Igreja.

Nós, sua Igreja, temos apenas que nos abandonar a Ele com todo o amor, confian-ça e empenho que Ele merece e inspira.

5. Como testemunhar que Cristo é tudo para nós sacerdotes?Creio que posso sintetizar tudo numa atitude que a tradição cristã chama “devo-

ção”. O que é a devoção?É a atitude de entrega ao Senhor que leva a exclamar: “Totus tuus ego sum et

omnia mea tua sunt”. Sou todo teu e tudo o que é meu é teu!É o fogo do amor que arde por dentro e leva a superar as fronteiras do que é de-

vido por justiça ou obediência; o espírito de gratuidade que não calcula quanto vai ganhar ou perder; a alegria do Evangelho que enche todos os momentos da nossa jornada; a criatividade luminosa que investe a oração e a acção pastoral e nos leva a viver e trabalhar em comunhão. Sem este fogo interior, a vida do padre reduz-se a uma série de prestações obrigatórias, fatigantes, sem impulso e alegria. Tudo se esfria e as iniciativas são realizadas como obrigação e fardo pesado. O próprio mi-nistério degenera em puro funcionalismo.

O entusiasmo, o encorajamento e o apoio mútuos crescem no terreno da paixão por Cristo; e esta leva-nos a exercer o ministério com “devoção”, a sair da resigna-ção e do pessimismo e a abrirmo-nos à esperança da hora presente.

Não devemos nós padres aprender a ver com olhos de esperança o que germina

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e cresce nas nossas comunidades e nas comunidades à nossa volta? Há na Igreja uma grande quantidade de pequenos gérmenes, de pequeninas plantas e flores, por-ventura frágeis e quase invisíveis, mas que crescem em silêncio e de que não nos apercebemos:

Crescem nas asperezas do caminhoPequenas flores brancas de esperançaNão podem os espinhos afogá-lasPois foi o amor quem as chamou à vida! (Hino de vésperas da Quaresma)

Cristo é tudo para nós, sacerdotes! – Despertar a fé viva em Cristo vivo e torná-lo inesquecível é a missão primeira e mais sagrada de um bispo e de um padre. As pessoas anseiam que lhes falemos mais da beleza e da ternura do rosto de Cristo do que da fealdade e do terror do diabo!...

Meus caros padres, tende fé no vosso sacerdócio! Não tenhais medo! Tende co-ragem! Vós sois as sentinelas de uma primavera espiritual para o povo de Deus, para este nosso tempo.

Para terminar, quero deixar a todos vós o meu testemunho de sincera estima e de viva e profunda gratidão. “Vós perseverastes comigo nas minhas provações”, disse Jesus aos apóstolos na véspera da paixão. Também vo-lo digo, nesta hora, com reco-nhecimento por permanecerdes fiéis colaboradores do bispo nestes tempos difíceis.

Obrigado pelo vosso testemunho! Obrigado pela vossa amizade, pela vossa sim-patia, pela colaboração e fadiga do vosso ministério! Abraço-vos a todos e a cada um com grande afecto! Invoquemos a Virgem Mãe:

Ó Virgem Maria,Tu que pronunciaste o teu “sim” na AnunciaçãoE o repetiste nos dias da provação e paixão do teu Filho;Tu que meditaste no silêncio do coração as palavras e as maravilhas de Deus:Faz, nós to pedimos, que o bispo e os padres da nossa dioceseTestemunhem que Cristo é tudo para eles como o foi para ti.Torna-os participantes do teu afecto por Jesus,Dá-lhes o fogo ardente, apaixonado, aquele fogoQue nos permite experimentar a alegria da vida e do ministério.Pede a Jesus, ó Mãe, que em todos os pensamentos, sentimentosE obras dos sacerdotes resplandeça a luz de Cristo;Que contemplem Cristo, que falem de Cristo de tal modoQue sejam eles mesmos reflexos da beleza do Seu rosto! Ámen! Aleluia!

5 de Abril de 2007† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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90º Aniversário das Aparições

Saudação na abertura da peregrinação“Louvado seja Jesus Cristo!Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, eu Vos adoro profundamente!”1. Foi com esta oração de adoração a Deus no Seu Mistério de Amor Trinitário

que, há vinte e cinco anos, nesta capelinha das aparições, o amado Papa João Paulo II iniciou a inesquecível peregrinação que o trouxe aqui para agradecer à Virgem Maria o dom da conservação miraculosa da sua vida.

É também com esta mesma fórmula e atitude de adoração que hoje queremos abrir esta peregrinação internacional, comemorativa dos noventa anos das aparições de Nossa Senhora na Cova da Iria para “transmitir o auxílio divino e a promessa certa de paz” à humanidade que ansiava erguer-se do abismo. E com o salmista cantamos este extraordinário sinal da misericórdia de Deus: “Cantarei eternamente as misericórdias do Senhor”

2. Com estes sentimentos de exultação saúdo cordialmente e dou as boas vindas a Vossa Eminência, Senhor Cardeal Ângelo Sodano, como Legado de Sua Santidade, o Papa Bento XVI, que assim quis manifestar-nos o seu particular afecto e a sua presença espiritual connosco. Na pessoa de Vossa Eminência saúdo afectuosamente o Santo Pa-dre e agradeço-lhe esta distinção em nome pessoal e de todo este povo peregrino, com a certeza de que o acompanhamos com a nossa oração na sua viagem pastoral ao Brasil.

É para nós motivo de particular satisfação a presença de Vossa Eminência para presidir a esta peregrinação aniversária, conhecendo a sua especial ligação a este santuário. Seja-me permitido evocar a sua presença aqui em 1992 como Legado Pontifício para a celebração dos 75 anos das aparições e, sobretudo, no ano 2000, na companhia do Papa João Paulo II, que incumbiu Vossa Eminência de anunciar publicamente a chamada terceira parte do “segredo” de Fátima.

3. Saúdo, com todo o afecto e no amor de Jesus Cristo, todos os peregrinos, par-ticularmente os doentes, que dos vários ângulos do país e do mundo aqui acorreram para participar nesta especial peregrinação. Nela queremos, de modo particular, agradecer ao Senhor a manifestação da Sua misericórdia para com a humanidade através de Maria, Mãe de Deus, Mãe da Igreja e Mãe nossa; queremos também invocar, por sua intercessão, o dom da paz para o mundo; com Ela celebrar juntos a beleza e a alegria da fé e da vocação cristã; e confiar ao Seu amparo as nossas pes-soas e as de todos os que nos são queridos, as intenções do Santo Padre e a Igreja do terceiro milénio.

À vossa protecção nos acolhemos, Santa Mãe de Deus. Não desprezeis as nos-sas súplicas em nossas necessidades; mas livrai-nos de todos os perigos, ó Virgem gloriosa e bendita!

Santuário de Fátima, 12 de Maio de 2007† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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Homilia da Missa do dia 25 de Abril no Santuário de Fátima

Os sinais da vida nova em Cristo ressuscitadoMeus caros irmãos na graça do sacerdócio ministerial, minhas irmãs e meus

irmãos na graça da fé e do baptismo em Cristo Senhor,Saúdo-vos a todos, a cada um e cada uma em particular, muito afectuosamente,

com as palavras do Apóstolo S. Pedro na sua primeira carta que acabámos de ou-vir: “Paz a todos vós que estais em Cristo”! Saúdo com particular afecto os nossos irmãos e irmãs doentes, aqueles que estão aqui presentes e aqueles que nos acompa-nham através da televisão da Canção Nova. Uma saudação carinhosa para os meus amiguitos e amiguitas, os mais pequenitos, que vi na procissão de entrada e vejo agora, aqui do alto, espalhados pela assembleia. Quero dizer-vos que o bispo vos quer muito bem, é muito vosso amigo e, por isso, daqui de cima, abraço-vos e aben-çoo-vos a todos no nome de Jesus.

Jesus está vivo e actua em nósE depois desta breve saudação, quero fazer convosco uma meditação, deixando-

nos iluminar e inspirar pela Palavra de Deus que acabámos de ouvir.Hoje celebramos a festa de S. Marcos evangelista, que nos deixou, por escrito,

o Evangelho de Jesus, com a preocupação particular de levar aqueles que o lêem e meditam a interrogar-se: Quem é Jesus? Quem é Jesus para mim? Quem é Jesus para a igreja? Quem é Jesus para o mundo?

Hoje ouvimos o texto final com que S. Marcos encerra o seu Evangelho. É como que um pequeno catecismo, isto é, uma síntese da mensagem da ressurreição tão própria para este tempo pascal que ainda estamos a viver. Por isso nos convida a con-templar Jesus ressuscitado e a descobrir quem é Jesus ressuscitado para nós, quem somos nós para Ele, qual é a nossa missão de discípulos de Jesus ressuscitado hoje.

Então, a primeira mensagem que São Marcos nos quer transmitir ao apresentar Jesus ressuscitado, que se manifesta aos onze apóstolos, é que Jesus não é uma figura do passado, que disse e fez coisas boas e belas, que nos deixou uma doutrina e um exemplo maravilhosos, que nos deixou, porventura, regras de bom comportamento e nada mais. A primeira mensagem é: Jesus está vivo, vive connosco, caminha connos-co, actua em nós. Exactamente a última frase do Evangelho: “o Senhor colaborava com os discípulos e confirmava a sua palavra com as maravilhas da graça, os sinais da graça”. Por isso, leva-nos a contemplar o Senhor Jesus ressuscitado e, como que faz brotar do nosso coração uma breve oração: “Senhor Jesus ressuscitado, Tu não só estás comigo mas actuas em mim. Eu actuo contigo, mas Tu és sempre o primeiro a trabalhar em mim, comigo e através de mim”. Esta é a grande palavra de fé que nos sustenta, que nos dá animo e apoio com a sua força.

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Gritai a boa notícia da ressurreição!Em segundo lugar, quem faz esta experiência de Jesus vivo e presente na sua

vida e na sua Igreja é convidado pelo Senhor a irradiar, a contagiar, com a palavra e o testemunho da vida, esta boa notícia. Por isso o Senhor diz: “Ide por todo o mundo e proclamai o Evangelho a toda a criatura”, a toda a criação. É interessante que a palavra original no texto de S Marcos quando diz “proclamai” podíamos traduzi-la: “gritai” o Evangelho da ressurreição, gritai a boa notícia da ressurreição. Não se trata de gritar uma fórmula, mas sim o poder salvífico de Cristo sobre a minha vida e sobre o mundo de hoje. Gritai, testemunhai a força que Jesus tem de transformar o meu coração, a minha vida, o mundo inteiro.

Os cinco sinais da vida nova em Cristo ressuscitadoE depois, o Evangelho mostra-nos como se expressa esta força salvífica de Jesus

ressuscitado naqueles e através daqueles que o acolhem, que nele crêem. Através de cinco sinais que vós ouvistes e eu também ouvi. Queria dizer-vos que, quando era jovem estudante no seminário e ouvia estes sinais que acompanham a missão dos que crêem em Jesus, ficava sempre perplexo e pensava comigo mesmo: “se calhar eu não tenho fé porque eu não faço, nem sou capaz de fazer, estes sinais: expulsar demónios, falar línguas novas, pegar em serpentes, tomar veneno e não morrer, impor as mãos sobre os doentes e curá-los… Que quer dizer isto?” Só compreendi mais tarde, passada a juventude, mas encontro aqui toda a beleza da vida que Cristo ressuscitado nos oferece. Eis o que significam estes cinco sinais:

- Aqueles que acreditarem em Cristo expulsarão demónios, quer dizer, serão capazes de libertar-se e libertar do poder do mal, que escraviza os corações e as consciências quando essa força do mal se aninha neles.

- Falarão línguas novas: quem acolhe o Evangelho no seu coração e na sua vida falará uma linguagem nova e universal que todos compreenderão: a linguagem do amor, a linguagem da comunhão, a linguagem da mansidão, quer dizer da não-vio-lência, a linguagem da paz.

- Pegarão em serpentes: o Senhor dar-lhes-á a força e a capacidade de enfrentar situações adversas: a hostilidade ou a indiferença do ambiente social e cultural em relação à fé, enfrentar estas situações sem medo, sem complexo de inferioridade, com a certeza de que o Senhor ressuscitado está sempre connosco e é a nossa força.

- Não ficarão envenenados: significa a força espiritual que nos dá Cristo ressus-citado para não nos deixarmos contaminar, isto é, envenenar pelo veneno do mal, do pecado, da corrupção moral, da corrupção social; significa a força que o Senhor nos dá de suportar dificuldades, críticas, porventura troça e desprezo com coragem, com serenidade e com paz.

- Depois disso, finalmente, o quinto sinal: curarão os enfermos sobre quem im-puserem as mãos. Sim! O Evangelho de Cristo, a palavra de Cristo, os sacramentos da Sua graça, têm um poder terapêutico, curativo, quer dizer, de curar as feridas dos

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corações e das almas, de reconciliar as divisões, de consolar, de infundir ânimo onde se instala tristeza, o desânimo e a solidão.

Esta é, meus irmãos e irmãs, a vida nova em Cristo ressuscitado, a vida que traz as marcas da ressurreição de Cristo, os sinais onde se torna visível e palpável o poder salvífico de Cristo ressuscitado. Este é o testemunho de que Jesus é verdadeiramente o Senhor dos nossos corações, das nossas vidas e da nossa história. Esta é a vida e é o testemunho dos que confiam na força do amor, do perdão, da misericórdia, da compaixão de Deus por cada pessoa, da mansidão evangélica e da paz. Esta é a beleza de Cristo ressuscitado. Esta é a beleza da fé dos que acreditam e acolhem Cristo ressuscitado. Bem gostaria que saísseis daqui, hoje, com esta beleza e com esta alegria a inundar o vosso coração.

O Evangelho não nos diz nada sobre Maria na sua relação com Cristo ressuscita-do, mas a tradição cristã ama, gosta de a apresentar no encontro cheio de alegria com o Filho ressuscitado, que primeiro recebera no seu regaço quando descera da cruz; e nós podemos, sem dúvida, dar largas à nossa imaginação para de algum modo com-preender a alegria da mãe no encontro com o Filho ressuscitado. Que ela, hoje, nos ajude a descobrir, a saborear esta alegria e esta beleza da fé em Cristo ressuscitado. Levai-a convosco! Levai esta beleza do amor que salva. Levai-a no vosso coração, nos vossos olhos, nos vossos lábios, nos vossos gestos. Levai-a para vossa casa, para a vossa família. Levai-a para as vossas comunidades e para as vossas paróquias. Levai-a para o mundo onde viveis, onde conviveis e onde trabalhais. E então, com Maria, a cantora e a solista do Magnificat, poderemos também nós cantar, com o coração, com a alma e com a vida o refrão do salmo de hoje: “Senhor, cantarei para sempre a Tua bondade!” Ámen! Aleluia!

† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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Carta do Bispo às Crianças

Meus caros amiguitos e amiguitas!

Uma saudação carinhosaOlá! Chamo-me António Marto. Sou o novo Bispo desta diocese de Leiria-Fá-

tima. Sabem o que é ser Bispo? Eu explico-vos através de uma comparação muito simples e bela. O Bispo é como o Pai de uma grande família formada pelos amigos de Jesus; ou como o bom Pastor que cuida de um rebanho de cordeiros e ovelhas para que tenham bom alimento e nenhum se perca. Compreendem então que o Bispo é aquele que, em nome de Jesus, guia esta grande família, o povo de Deus, nos ca-minhos da fé e do amor a Jesus e a todos os irmãos.

Eis porque venho saudar-vos com muito afecto e carinho. Quero dizer-vos, antes de mais, que o Bispo é muito vosso amigo, vos quer muito bem; e que vocês têm um lugar especial no coração do Bispo, como o têm no coração de Jesus.

Porque vos escrevo?Eu gostava de poder estar com cada um de vocês. Nas minhas visitas às paró-

quias já encontrei muitas crianças. Com o tempo encontrarei muitas mais. Mas até lá resolvi escrever-vos esta carta, sobretudo aos que estão a começar os primeiros anos de catequese.

Escrevo-vos a recordar-me quando também eu, há muitos anos, era criança como vocês. Quero falar-vos sobre duas coisas importantes: a catequese e a primeira co-munhão.

A história mais bela do mundoTambém eu andei na catequese. E aí aprendi a conhecer e a escutar Jesus. Não

só na catequese: também em casa, com a minha família; na escola com os meus professores e amigos; e na Igreja com o povo de Deus. Hoje estou muito agradecido aos meus pais pelo encanto com que me comunicaram a amizade de Jesus e a Jesus. E como percebi o quanto Jesus me ama, procurei – e procuro todos os dias – respon-der-lhe o melhor possível.

Meus amiguitos e amiguitas, na catequese aprendemos a conhecer a história mais bela do mundo: a história de Jesus, o Filho de Deus feito homem; é a história de Deus que vive e caminha connosco. Conhecer, amar, escutar, responder e seguir a Jesus faz-nos ter uma vida boa, alegre e feliz. Quem é, verdadeiramente, amigo íntimo de Jesus será feliz para toda a vida.

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Um dia belo da minha vidaRecordo também a minha primeira comunhão como um encontro inesquecível

com Jesus. Foi um dos dias mais belos da minha vida, como também hoje é o dia da vossa primeira comunhão. Sabem que é um dia grande de festa para cada um, para a família e para a paróquia. O mais importante desse dia não são os vestidos nem os presentes. Mas é Jesus, que quer fazer festa em nós e connosco.

Um dia perguntei a um menino de oito anos que se preparava para a primeira comunhão: “O que é para ti comungar?” E ele deu-me esta resposta tão simples e tão bela: “É Jesus ressuscitado e vivo que vem ao meu coração com todo o Seu Amor”. É de facto uma maravilha, um mistério admirável de Jesus ressuscitado querer ficar assim connosco. Ele está realmente presente na hóstia consagrada, no sinal do pão; e dá-se como alimento e força da nossa vida e do nosso amor. É o “Jesus escondido” como tão bem lhe chamava o pequeno Francisco, o pastorinho de Fátima a quem Nossa Senhora apareceu. E quando O comungamos, Ele é hóspede do nosso cora-ção.

Quando vou visitar as paróquias, fico encantado ao ver as crianças, com as suas caritas alegres e puras, a comungar durante a celebração da Santa Missa. Mas fico triste quando me dizem que, para alguns, a primeira comunhão é também a última, porque nunca mais vão à Santa Missa. Meus amiguitos e amiguitas, peço-vos que não deixem de ir à Missa do Domingo e comunguem frequentemente para permane-cerem na amizade íntima com Jesus. Ele ajuda-vos a crescer, a ser bons e a descobrir a beleza da vida com Deus.

Faço-vos um conviteA este propósito, quero fazer-vos um convite para a Celebração das Crianças

no dia 10 de Junho (feriado), no Santuário de Nossa Senhora em Fátima. Será uma grande festa das crianças de Portugal inteiro com Jesus, com Maria, Sua Mãe, e entre todas as crianças que forem a esta celebração.

Esta carta já vai longa. Abri-vos o meu coração de amigo e bispo. Talvez qui-sessem saber mais acerca de mim. Alguns perguntarão: então, tu, bispo, não tinhas defeitos quando eras pequeno como nós? Pois tinha: era muito traquina, irritava-me facilmente, zangava-me, batia nos outros… mas Jesus foi-me ajudando a ultrapassar estes defeitos. Outros de vós gostariam de saber a história da minha vocação e per-guntar-me: como foste para padre? Isso fica para uma próxima carta, está bem?

Quero terminar dizendo-vos que todos os dias rezo a Jesus por vocês. Espero que façam o mesmo por mim.

Envio uma saudação muito amiga para os vossos pais, irmãos, avós e catequis-tas.

Abraço-vos e abençoo-vos a todos com muita amizade, no nome de Jesus.O vosso muito amigo bispo,

† António Marto

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Sessão de abertura das Jornadas deComemoração dos 50 anos da morte do Padre Formigão

Carisma reparadornuma sociedade em mudança

A minha presença aqui como Bispo da diocese de Leiria-Fátima é para me asso-ciar a este jubileu da ordenação do Pe. Formigão e da sua passagem para a casa do Pai, numa atitude de gratidão e acção de graças para com esta pessoa, e esta figura de sacerdote que a Providência pôs dentro da grande história da Mensagem de Fátima.

Em primeiro lugar, o meu reconhecimento pelo papel que desempenhou nos acontecimentos de Fátima para verificar a autenticidade do testemunho dos videntes sem a qual seria muito difícil a credibilidade da Mensagem. O Pe. Formigão foi o instrumento que Deus misteriosamente escolheu para nos conservar a autenticidade deste testemunho.

Em segundo lugar, também para testemunhar um reconhecimento de gratidão pelo carisma que ele captou na mensagem de Fátima, em particular no colóquio pessoal e íntimo com a pequena Jacinta - a espiritualidade reparadora. E como ele a soube entender numa profundidade, num alcance, numa vastidão invulgar, verdadei-ramente admirável para o tempo, porque como sabem, ao longo da história, sempre existiram e existem ainda hoje, ideias erradas sobre a compreensão da verdadeira reparação.

S. Gregório de Nanzianzo já então detectou estas ideias erradas no do séc. IV. Quando se pergunta a quem é que o Filho ofereceu o sangue: ao Pai? Ele responde: O Pai não queria o sangue do Filho. O Pai não é cruel para lhe exigir o sangue. Quem é que quis o sangue do Filho? Quem o exigiu? Foi a história, a história dos homens, o mal acumulado da história dos homens que Ele carregou sobre si, ao qual não fugiu e por ele entregou o seu sangue, quer dizer, entregou-se a si mesmo até ao fim.

Ora, o Pe. Formigão captou exactamente este pólo iluminante do que é hoje a reparação. Quer dizer, convida-nos a ir ao fundo e ao profundo deste mistério, che-gando ao próprio Senhor Jesus Cristo como o único Reparador. E, reparação é uma maneira, uma outra maneira de dizer redenção. Como, por exemplo, o Papa João Paulo II para traduzir o mistério da redenção para o mundo de hoje, duma maneira mais compreensível, aproximada e afectiva até, usou mais o termo “misericórdia”. Porque redenção é mistério de misericórdia. É dentro deste grande mistério de amor redentor que se entende a reparação neste sentido do confronto entre o amor infinito de Deus em Cristo e o peso tremendo do pecado do mundo e da história. Cristo é reparador do pecado do mundo. Depois na linguagem infantil dos pastorinhos de

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Fátima, era aplicado aos ultrajes, aos sacrilégios, às indiferenças, mas engloba todo o pecado do mundo. E contra este grande peso do pecado ou do mal, o Senhor põe um outro peso maior, o peso do amor infinito que entra neste mundo. O contrapeso de valor absoluto desse amor infinito de tal maneira que na balança do mundo, se põe um contrapeso para que se equilibre ou reequilibre o peso do pecado com o peso do bem e da graça. Portanto, é aqui que aparece o verdadeiro sentido da reparação.

Podia alongar-me mais, mas no contexto da Mensagem como ela é comunicada naturalmente, numa linguagem acessível às crianças e duma compreensão infantil cheia de encanto, quando se diz que os pastorinhos ficavam tristes, sobretudo o Fran-cisco, por ver que Deus estava triste, é uma maneira antropomórfica de falar, mas que tem já as suas raízes na longa tradição da história da salvação, e que faz lembrar os impropérios da Semana Santa: “Povo meu, que mal te fiz eu, que mal te causei, que mais eu poderia ter feito por ti e não fiz? Diz-me!” É a queixa da amargura de Deus diante do mal do mundo e dos homens, da sua indiferença e da sua ingratidão. Foi assim que eles apreenderam, do ponto de vista da tristeza de Deus e que como crianças, compreenderam num registo afectivo! “vamos consolar a Deus”. Consolar a Deus, quer dizer, corresponder ao Seu amor, não manifestando a indiferença pe-rante Ele.

É neste sentido então que o Senhor diz à humanidade: “Eu fiz tudo – satisfiz. Enviei o Filho para satisfazer”. Satisfazer no sentido mais profundo – fazer todo o possível até ao fim, até ao extremo para reparar o mundo, reparar o pecado do mundo, quer dizer, renovar o coração do homem, refazer a comunhão dos homens com Deus, reconciliar os homens com Deus e entre si, recriar este equilíbrio entre o peso do pecado, o peso do mal e o peso do bem e da graça. É aqui que tem com-preensão o sentido da reparação como muito bem captou o Pe. Formigão quando diz acerca da reparação: Cristo é o único reparador; a reparação é a adesão plena à vontade de Deus”. Ainda usa um outro termo muito lindo. Chama-lhe “suplemento de caridade”, para dizer, o “Plus de Amor”, aquela mais valia do amor em relação ao pecado. Portanto este Plus de Amor, esta mais valia, este suplemento de caridade, é um chamamento do Senhor a pôr-nos da sua parte, a entrar nesse Plus, nesse mais de amor e a torná-lo presente no mundo. E o Senhor quer-nos associar então a este dina-mismo do amor que repara o pecado do mundo. E por isso o Pe. Formigão estende a reparação a toda a existência cristã, toda, e diz às suas irmãs da Congregação que ele fundou, que a reparação não está só no sacrifício, está na oração, na penitência, no sacrifício, e está por excelência na Eucaristia, onde se actualiza sempre esse infinito mistério de amor que ficou eternizado na Ressurreição e que nos é oferecido de novo em cada dia, para a gente beber dele e o tornar depois presente no mundo. Está em toda a obra da evangelização. Querem mais e melhor do que isto? Isto é uma beleza, de facto, é um encanto.

Agora, não nos debrucemos só no aspecto dos sacrifícios, reduzamos só aos sa-crifícios. É tudo, ou então, se quisermos, é o sacrifício no melhor sentido do termo.

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O sacrifício não está na privação de uma coisa, propriamente dita, está na plenitude do amor, da oblação de amor. Então sim, neste sentido, sim. Vejam a beleza e a validade deste pensamento teológico que para mim é maravilhoso, sobretudo num tempo em que a teologia não estava assim aberta a esta compreensão.

Eu tenho de expressar aqui uma palavra de gratidão, ao meu caro amigo Sr. Doutor Lúcio Craveiro, porque foi através da leitura do seu artigo em «Caminho Espiritual do Pe. Manuel Nunes Formigão», que eu apreendi o pensamento e a espi-ritualidade do Pe. Formigão. Desculpe, Pe. Craveiro, conheço bem a sua humildade, não leve a mal. Mas é uma questão de justiça. O que disse não é da minha autoria, quer dizer, fui lá investigar e depois enquadrei dentro do meu saber. E li-o com en-canto, quer pela beleza literária com que escreve, quer pela beleza do pensamento apresentado sobre o Pe. Formigão.

São horas de terminar. Foi com muita alegria que vim aqui à sessão de abertura. Desejo umas frutuosas jornadas sobre esta espiritualidade, e que ela viva, cresça e floresça, para o bem da Igreja e do mundo.

Fátima, 28 de Abril de 2007† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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Homilia na abertura do Congresso da Santíssima Trindade

A Eucaristia,sacramento do amor trinitário

Depois de uma tarde cheia de reflexão compreendeis que agora seja sóbrio e, por conseguinte, vos ofereça uma breve meditação só para ajudar a celebrar com gosto e com gozo, com alegria e entusiasmo este dom da Eucaristia, como dom do Amor Trinitário.

Se estivestes atentos à proclamação do Evangelho, estas palavras de Jesus per-tencem ao discurso da despedida, do adeus aos seus discípulos, à convivência ter-restre com eles. É natural pois, que dentro do coração dos discípulos tenha surgido uma perturbação, uma interrogação: e agora que vai ser de nós? Ficamos sós, aban-donados, dispersos, cada um entregue a si mesmo? Todo este mistério que vivemos contigo acaba?

No discurso de despedida, tudo aquilo que Jesus diz tem sabor a testamento. E quando é no testamento, partilha-se, deixa-se aquilo que há de mais precioso e de mais essencial. Por isso é num colóquio íntimo de despedida, que Jesus fala com os seus discípulos, de coração a coração, e lhes abre o mistério da sua intimidade, toda a sua razão de ser, de estar com os homens, da sua própria missão; falha-lhes exac-tamente do mistério que O habita e que Ele veio partilhar com eles e hoje connosco. “Tudo o que eu possuo vem do Pai”: Tudo o que sou, tudo o que disse, tudo o que fiz é a comunicação do mistério da intimidade do Pai; d’Ele o recebi, mas vós continu-areis a gozar de tudo isto, porque vou enviar o Espírito Santo, e ele vos comunicará de tudo o que é meu e que também recebe do Pai.

Portanto, é o mistério do Amor eterno e santo de Deus, do Pai que segundo a expressão de Santo Ireneu, nos vem abraçar com os seus dois braços, do Filho Je-sus Cristo e do Espírito Santo. Abraçar-nos no seu amor quer dizer mergulhar-nos, envolver-nos em todo este mistério do seu amor eterno e santo, que está na nossa origem, que nos acompanha, nos habita, nos purifica, nos santifica, que dá vida nova e que nos espera nos seus braços para o encontro final.

E então, podemos ler nesta perspectiva do amor trinitário, a 1ª leitura do livro dos Provérbios que é um hino cheio de beleza e de solenidade à sabedoria criadora de Deus. Sim, no mistério das origens, no mistério do nosso ser e da nossa origem, não está um acaso; está um mistério de amor pessoal, esse mistério de amor pessoal que revelou o seu rosto trinitário no rosto de Jesus. Por isso, não somos produto do acaso, nem andamos nesta vida ao acaso, nem por acaso, nem a queremos confiar ao acaso, que seria a maior tristeza para a vida de um homem. É esse amor que é cantado para

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nós, agora com um rosto trinitário, nessa primeira leitura do livro dos Provérbios. Dele se diz que a sua delícia é estar no meio dos filhos dos homens, habitar (no tex-to original: dançar) no meio dos filhos dos homens. Quer dizer que já à partida da criação, como criaturas de Deus, somos convidados a descobrir esta maravilha de uma relação graciosa, gratuita, grácil, com graciosidade, com beleza, com alegria, cuja maravilha, cujo gozo e entusiasmo é expresso no termo dançar. Sim, quando nos enche a comunhão, quando nos enche a vida, a relação de amor com os outros, a gente sente vontade de dançar a vida.

Deus “dança” connosco; dançar o mistério, compreendei bem o que significa a exultação, é a alegria que transborda. Este mistério que depois teve a sua expressão suprema na cruz como Trindade de compaixão, de misericórdia, de piedade, trans-borda para nós, continua a transbordar para nós, no pão e no vinho da Eucaristia.

No Corpo dado e no Sangue derramado está o mistério admirável da nossa fé: é verdadeiramente admirável, maravilhoso porque é um mistério de amor trinitário, do qual somos chamados a participar, a comungar e a celebrá-lo por graça, por amor gratuito, e connosco toda a criação. A criação inteira é chamada a participar e a dei-xar-se transformar por este amor.

Por isso, a Eucaristia é o sacramento do amor trinitário de Deus na história dos homens. É Deus que faz uma história do seu amor trinitário connosco. Assim desco-brimos também toda a vocação a que o mundo e a criação são chamados.

A Eucaristia significa aquilo em que o mundo e a humanidade se devem tornar: uma oferta e um hino de louvor ao Pai criador, uma comunhão universal no Corpo de Cristo, um reino de justiça, de amor e de paz no Espírito Santo. Ámen!

Fátima, 9 de Maio de 2007† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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Mensagem enviada ao Santo PadreSua Santidade Papa Bento XVIAo celebrarmos o nonagésimo aniversário das Aparições de Nossa Senhora em

Fátima, neste dia 13 de Maio, sob a presidência do Legado de Vossa Santidade, Sua Eminência o Senhor Cardeal Ângelo Sodano, queremos dizer-lhe, Santo Padre, que o acompanhamos com a nossa oração na sua Visita Pastoral ao Brasil, e também expressar-lhe o nosso reconhecido agradecimento.

Muito obrigado, Santo Padre, por nos ter enviado um Legado Pontifício como sinal da sua peculiar benevolência.

Muito obrigado pela sua presença espiritual connosco. Muito obrigado pela Bênção Apostólica que nos enviou. Da nossa parte posso assegurar-lhe a profunda comunhão e o sincero amor pes-

soal e de todo o nosso povo, juntamente com os seus pastores, pela sua pessoa e pelo seu ministério. Conte com a nossa oração e o nosso afecto. Que o Senhor, por inter-cessão da Virgem Maria, lhe dê força, fecundidade apostólica e longa vida!

Fátima, 13 de Maio de 2007† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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Homilia no Dia da Cidade de Leiria*

Só o Amor guarda a cidade

É para mim motivo de grande e íntima alegria estar aqui convosco a presidir à Eucaristia, neste dia comemorativo da fundação da Igreja diocesana e da cidade de Leiria (462 anos ab urbe condita, como diriam os romanos). Com esta alegria saúdo a todos muito fraternalmente.

Celebramos esta data no contexto do Ano Europeu para a igualdade de opor-tunidades para todos, no respeito da dignidade de cada pessoa humana para além das suas diferenças. Saúdo também cordialmente os representantes das associações empenhadas nesta nobre causa.

Este é um momento de reflexão que nos convida a meditar com um olhar novo, um olhar espiritual, quer a Igreja quer a cidade, à luz da palavra de Deus que acaba-mos de escutar.

1. A Igreja "casa e escola de Amor" na cidade dos homensO evangelho de hoje pertence ao colóquio íntimo de Jesus com os discípulos na

hora da despedida antes da paixão, e por isso com sabor a testamento. Jesus responde à preocupação dos discípulos que ficam no mundo: que vai ser de nós? Qual o nosso futuro?

O texto do evangelho revela o que constitui o núcleo mais profundo da existência cristã e da Igreja no mundo, na cidade dos homens: "Pai Santo, guarda-os no Teu nome, o nome que me deste, para que sejam um comos Nós… Eu dei-lhes a glória (o esplendor do amor) que Tu me deste para que sejam um como Nós somos um".

O Nome de Deus é Amor. O sentido das palavras de Jesus é pois: "guarda-os no mistério íntimo do Teu amor, na comunhão e na imensidade do Teu amor eterno e santo para que vivam unidos nele e por ele".

A Igreja dos discípulos é convidada a olhar-se a partir do mistério da sua origem como comunidade do amor, "casa e escola do amor": daquele amor do Pai que quer fazer da humanidade uma única família, unida por um vínculo que vai para além dos laços da carne e do sangue e dos interesses individuais ou de parte.

Toda a actividade da Igreja é manifestação dum Amor de origem divina que procura o bem integral do homem: através do anúncio do evangelho e através da promoção da pessoa nos vários âmbitos da vida e da actividade humana, para uma vida digna e condigna de cada homem e mulher, criados à imagem de Deus.

Numa sociedade ferida e chagada por tantas formas de egoísmo, individualismo, indiferença, exclusão, invejas, divisões, violências e conflitos, a única revolução plenamente legítima e absolutamente necessária é a revolução do amor: a que trans-

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forma as relações entre as pessoas e as vivifica no amor. Nada pode mudar tanto o mundo como a renovação das relações entre as pessoas no amor.

Eis a razão do segundo ponto da nossa meditação: "só o amor guarda a cidade".

2. Só o Amor guarda a cidade Num tempo de espalhada indiferença e de cultivada apatia e desafeição para com

os problemas da cidade, por parte de muitos cidadãos, fruto do individualismo rei-nante, o amor de Cristo urge-nos, impele-nos a amar cada vez mais a nossa cidade. Porque "uma cidade é muito mais que um território, uma área económica produtiva, uma realidade política. É, sobretudo, uma comunidade de pessoas e, em particular, de famílias com os seus filhos e os seus problemas humanos. É uma experiência hu-mana viva, historicamente enraizada e culturalmente distinta" (João Paulo II).

É por isso que afirmamos: só o Amor guarda a cidade! Este amor não é algo de superficial e simplesmente emotivo, fruto porventura de um bairrismo provinciano. É algo de profundo e verdadeiramente empenhativo. É um sentir íntimo do coração que se manifesta e concretiza no pensar com inteligência, no agir com determinação e dedicação e mesmo no rezar com paixão e compaixão pelo bem comum da cida-de.

Nesta perspectiva o amor à cidade é o segredo e a própria alma da nossa respon-sabilidade para com ela; é a raiz viva que inspira a coragem da participação de todos no seu desenvolvimento, que não se reduz ao mero crescimento económico.

Naturalmente, para que sejam respeitados os direitos e cumpridos os deveres dos cidadãos (membros da cidade) são necessárias as leis e é indispensável a justiça. Mas quer as leis quer a justiça não bastam; pedem um suplemento de alma que só o amor pode assegurar.

Se no desenvolvimento da cidade está o bem comum (de todos e cada um), só o amor – que por natureza se abre indistintamente a todos - pode tornar-se serviço desinteressado e generoso (acima dos interesses de parte) por toda a comunidade citadina, em particular pelos mais necessitados, esquecidos, marginalizados, aban-donados à sua sorte, que não conseguem fazer ouvir a sua voz nem alcançar a sua vez.

O que vale para cada família, vale também para a grande família da cidade: o amor é fonte de comunhão, energia de colaboração, força geradora e motriz duma cultura de solidariedade – realidades que são essenciais para uma convivência fra-terna, construtiva e inclusiva.

O amor é fonte de sabedoria, que vê mais fundo e mais longe, e de coragem incansável, elementos fundamentais para pensar, programar e realizar o futuro cada vez mais humano da cidade.

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3. A bênção do Senhor para a cidadeComo Jesus amou Jerusalém, a sua cidade – até chorar por ela – assim por in-

tercessão de Nossa Senhora da Encarnação, padroeira da cidade de Leiria, seja-nos concedido amar sempre mais a nossa cidade e prestar-lhe o nosso melhor contributo para o seu desenvolvimento integral e para o seu amanhã mais belo e solidário.

Para nós cristãos, o caminho para uma cidade mais bela, isto é, mais unida, mais verdadeira, mais fraterna e solidária, passa por Jesus Cristo e o seu evangelho, como fonte perene de vida verdadeira e de um novo humanismo. Como diz o salmista: "Se o Senhor não guarda a cidade, em vão vigiam as sentinelas"(Sl 127,1).

Uma palavra particular para os autarcas, mas também extensiva a todos os que têm responsabilidades na cidade: considerai o vosso mandato como uma oportuni-dade preciosa para fazer o bem e melhorar realmente o mundo em que vivemos e nos foi confiado. Fazei bem o bem que fazeis! Que o Senhor vos ilumine e apoie os vossos esforços!

Sobre todos vós e as vossas iniciativas a favor de uma cidade mais humana, como também sobre as vossas famílias e os vossos colaboradores, sobre toda a cida-de invoco as mais abundantes bênçãos de Deus. Ámen!

22 de Maio de 2007† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

* Missa celebrada na Sé, no âmbito das comemorações oficiais do Dia da Cidade de Leiria, que coincidem com a data da criação da Diocese de Leiria, com a participação das entidades autárquicas e outros responsáveis das instituições civis do Concelho.

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Homilia da Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo

Cristo atravessa a cidadeÉ belo celebrar hoje, no coração da cidade, a festa do Corpo e Sangue do Senhor,

como um grande povo aqui congregado por Ele dos quatro cantos da diocese, unido e reunido no Seu amor. Na comunhão deste único amor dou as boas vindas e saúdo fraternalmente a todos vós do fundo do coração.

Em cada domingo celebramos, na verdade, o mistério do Corpo e Sangue do Senhor. E todavia a Igreja dedica dois dias especiais a este mistério da fé, ao longo do ano litúrgico: a quinta-feira santa e, no fim do tempo pascal, esta quinta-feira da festa do Corpo de Deus.

Na quinta-feira santa meditamos o mistério da Eucaristia mais na intimidade do cenáculo, como o dom por excelência do testamento de Jesus, o sacramento do amor da Sua paixão, morte e ressurreição.

Na solenidade do Corpo e Sangue do Senhor, o mesmo mistério é celebrado mais na sua dimensão eclesial e cósmica: como mistério que alimenta e constrói a comunidade dos fiéis, como mistério que está no coração do mundo. Por isso, esta festa é caracterizada pela grande procissão citadina que realizaremos esta tarde para reafirmar os laços entre a eucaristia e a humanidade, entre a eucaristia e a cidade.

Pão partido para a vida do mundoA passagem do Evangelho que escutámos é extremamente iluminadora e inspira-

dora. Ao cair da tarde daquele primeiro dia da semana, os dois discípulos de Emaús sentiram-se surpreendidos e confortados na sua tristeza por um Viajante misterioso, que se fez seu companheiro de viagem e cujas palavras lhes faziam arder o coração. E da boca dos discípulos saiu aquela tão espontânea quão simples e esplêndida invo-cação: “Fica connosco, porque se faz tarde”. Depois, sentados ao redor da mesa para a ceia, abriram-se-lhes os olhos e reconheceram-no “ao partir do pão”. Era realmente o Senhor ressuscitado! Que emoção, que comoção, que alegria inimaginável deve ter invadido os seus corações! É Ele! Ali presente, à mesa!

Desde então, aquele Viajante misterioso ficou sempre com os homens, fez-se companheiro do seu caminho ao longo da história para confortá-los e guiá-los, para corrigi-los e desfazer a dureza dos seus corações. Multiplicaram-se as casas dos discípulos e, em cada uma delas, Jesus continua a tomar o pão e a parti-lo para to-dos. Aquele pão partido tornou-se alimento e sustento para o caminho dos crentes, tornou-se Pão para a vida do mundo que é o próprio Cristo em pessoa, como Corpo dado e Sangue derramado em todo o Seu infinito amor.

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Cristo atravessa a cidadeNa tradição deste dia da Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo, a eucaristia atra-

vessa as ruas e as praças das cidades e aldeias, adornadas de flores. É justo fazer festa à passagem do Senhor e é oportuno e significativo que se faça publicamente. Não só cada um de nós em particular tem necessidade do Senhor na sua intimidade. Também a nossa sociedade, as nossas cidades e toda a vida associada tem necessidade de um ho-mem como Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem. Temos necessidade de que o Senhor continue a caminhar pelas nossas ruas como fazia nos anos da sua vida terrena.

Ele é o único capaz de falar ao nosso coração por vezes triste e desanimado como o coração dos dois discípulos de Emaús; O Único em condições de acompanhar os nossos passos no difícil caminho da vida; O Único que sabe comover-se pelas multi-dões deste mundo tantas vezes abandonadas ao seu destino triste; O Único que sabe cuidar de nós e curar os nossos sofrimentos e as nossas feridas íntimas; O Único capaz de dar luz, conforto, alegria e paz; O Único capaz de corrigir com paciência o nosso modo de viver mesquinho, egoísta e avaro; O Único capaz de nos atrair, de nos aproximar uns dos outros, de nos reconciliar e unir para além das diferenças e divisões e abrir caminhos de paz e de concórdia.

Aquele que se faz “pão partido” não tem necessidade de multiplicar as palavras. Fala por si. Fazendo-se alimento para todos, mostra-nos até onde chega o infinito amor de Deus. Atravessa as ruas das nossas cidades e aldeias, não propriamente para receber um tributo exterior de homenagem, mas para atravessar os caminhos do nosso coração, das nossas relações, dos nossos encontros e desencontros e tor-nar-nos mais semelhantes a Ele, para que tenhamos os mesmos sentimentos do Seu coração. E assim descobre-nos a grandeza e a beleza da nossa vocação de cristãos no mundo. Por isso lhe dirigimos a nossa oração com as palavras do Papa João Paulo II, de santa memória:

Jesus crucificado e ressuscitado, fica connosco!Fica connosco, amigo fiel e apoio seguro da humanidadePeregrina pelos caminhos do tempo!Tu, Palavra viva do Pai, infunde confiança e esperançaA quantos buscam o verdadeiro sentido da sua existência.Tu, Pão de Vida eterna, alimenta o homemFaminto de verdade, de liberdade, de justiça e de paz.Também nós, homens e mulheres do terceiro milénio,Temos necessidade de Ti, Senhor ressuscitado!Fica connosco agora e até ao fim dos tempos.Ajuda-nos, nós Te pedimos, no nosso caminho.Nós acreditamos em Ti, em Ti esperamos,Porque só Tu tens palavras de vida eterna.Fica connosco, Senhor! Aleluia!

7 de Junho de 2007† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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Mensagem à X Assembleia Mundial da Confederação Internacional dos Movimentos Familiares Cristãos

O legado de Fátima à Família: Espiritualidade e Sacrifício

Em Fátima, Maria manifestou-se como “nuvem de misericórdia que carrega sobre si as angústias e as esperanças de todo o mundo”. À Humanidade ameaçada e ferida pelo desprezo do homem e de Deus, Ela convida à conversão do coração ao Evangelho da Misericórdia, único capaz de curar as suas feridas.

O que hoje mais nos ameaça no início do milénio não é o “burn out syndrom”, isto é, o esgotamento por um vazio interior.

Colocando a família sob a protecção de Maria, faz-se experiência do poder da sua oração e da conversão das famílias ao Primado da Graça e da Santidade. Na oração que recomendou em Fátima, Maria traz-nos os 20 segredos da felicidade em Família: os 20 mistérios do Rosário, gozosos, luminosos, dolorosos e gloriosos.

Por tudo isto, abençoo do coração a X Assembleia Mundial da CIMFC [25 a 29 de Julho de 2007] com o programa “O legado de Fátima à Família: Espiritualidade e Sacrifício”.

† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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ComunicadoConselho Presbiteral

O Conselho Presbiteral da diocese de Leiria - Fátima, sob a presidência de D. An-tónio Marto, reuniu-se na manhã do dia 27 de Fevereiro, no Seminário Diocesano, para discussão e aprovação do projecto de obras do edifício do Seminário Diocesano e avaliação da execução do programa pastoral em curso.

Depois do canto dos salmos, o presidente saudou os presentes e introduziu os trabalhos. Para que os conselheiros melhor se pudessem pronunciar sobre as obras de remodelação do edifício do Seminário, os técnicos (arquitecta e o engenheiro) responsáveis pelo mesmo vieram ao Conselho fazer os necessários esclarecimen-tos. Depois de reflectir sobre a complexidade e implicações financeiras da obra, o Conselho, reconhecendo a sua necessidade para a vida do Seminário e da Diocese, aprovou por unanimidade o projecto e recomendou rigor e envolvimento de todos os dinamismos diocesanos no processo.

Depois do intervalo, o Bispo diocesano auscultou o Conselho sobre o andamento do presente ano pastoral e perspectivas para o próximo. Os conselheiros afirmaram a necessidade de consolidar a etapa percorrida, centrada no acolhimento da vocação pessoal como dom e missão. Para o efeito, e para melhorar os caminhos da acção pastoral nos próximos anos, foi decidido promover a avaliação dos dois primeiros anos do Projecto Pastoral em todos os níveis da vida da Diocese: paroquial, vicarial, diocesano sectorial e geral.

27 de Fevereiro de 2007O Secretariado

ComunicadoActividades do P. Montfort Okanwikpo e da “Sociedade dos Dois Corações de Amor de Jesus e Maria”

Na sequência de diversos pedidos de informações sobre as actividades da “Socie-dade Católica dos Dois Corações de Amor de Jesus e Maria”, e para esclarecimento de todos os interessados, torna-se público o seguinte.

Desde meados do ano 2006 tem desenvolvido algumas actividades nesta Dio-cese de Leiria-Fátima o Padre Montfort Okanwikpo, também conhecido por “Padre Okaa”. Apresenta-se com um grupo de “irmãs”, como associação privada de fiéis,

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sob o nome “Sociedade Católica dos Dois Corações de Amor de Jesus e Maria”, ou “Congregação das Irmãs dos Dois Corações”. Também se apresentam com a desig-nação em língua inglesa: “Catholic Society of the Two Hearts of Love of Jesus and Mary”, ou “The Two Hearts of Love Sisters”. Veio junto do Bispo diocesano pedir o reconhecimento canónico e autorização para abrir uma casa para a comunidade.

Após ter obtido informações junto de diversas entidades eclesiais sobre as activi-dades do Padre Montfort e da “Sociedade dos Dois Corações”, e depois de cuidada ponderação, o Senhor Bispo de Leiria-Fátima decidiu não reconhecer canonicamen-te a referida comunidade, não autorizar as suas actividades públicas nesta Diocese e nem conceder licença para abrir casa religiosa.

23 de Março de 2007Vítor Coutinho, Chefe de Gabinete Episcopal

ComunicadoConselho Presbiteral

O Conselho Presbiteral da diocese de Leiria-Fátima, sob a presidência de D. António Marto, reuniu-se na manhã do dia 12 de Junho, no Seminário Diocesano, para a avaliar o primeiro biénio do Projecto Pastoral Diocesano, perspectivar o pró-ximo ano pastoral e se pronunciar sobre uma proposta de reestruturação da Cúria Diocesana.

Depois do canto dos salmos, os Conselheiros reflectiram sobre o primeiro biénio do Projecto Pastoral: sublinharam a grande diversidade de iniciativas e reconhece-ram a necessidade de trabalhar na renovação das mentalidades para que a criativi-dade demonstrada não se esgote em acções pontuais; apresentaram sugestões para melhorar a execução do Projecto Pastoral e solicitaram especial atenção às gerações mais novas (jovens e adolescentes) bem como às potencialidades oferecidas pelas novas formas de comunicação.

Depois do intervalo, o Bispo diocesano apresentou as linhas programáticas do próximo ano pastoral, intitulado “Saboreai e vede”. Será um ano de síntese e de aprofundamento do biénio dedicado à “Vocação, como dom e missão”. Na sua co-municação, D. António Marto perspectivou o acolhimento como desafio à cultura actual e à acção evangelizadora da Igreja, que disse ser sua «casa e escola».

Por último, o Conselho pronunciou-se sobre uma proposta de reestruturação da Cúria Diocesana, composta pelos organismos que colaboram com o Bispo no go-verno da Diocese. Foi saudada pela sua novidade e oportunidade, não se registando objecções substanciais.

O Secretariado

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ComunicadoConselho Pastoral Diocesano

Na manhã do dia 16 de Junho, sob a presidência de D. António Marto, reuniu-se, no Seminário de Leiria, o Conselho Pastoral Diocesano.

Após um momento de oração, fez-se a avaliação do primeiro biénio do Projecto Diocesano de Pastoral, de onde sobressaiu o seguinte: quer o tema do acolhimento, quer o das vocações, deram origem a uma grande diversidade de iniciativas/acções, tanto nas comunidades cristãs, como nos vários serviços diocesanos, que procuraram atingir todas as faixas etárias da população.

Alertou-se, no entanto, para o risco de poder ficar-se em acções pontuais, pas-sando de um tema ao outro, quando o objectivo é a verdadeira renovação das men-talidades e das atitudes: viver o acolhimento, na vida pessoal e comunitária, como atitude fundamental e permanente, baseada no mandamento do amor; viver a alegria e a beleza da vocação cristã como dom e missão.

Num segundo tempo, o nosso Bispo apresentou as linhas do próximo ano pas-toral, que será um ano de aprofundamento e consolidação dos temas do biénio e assentará na frase “Saboreai e vede”. Disse ainda, reflectindo sobre o acolhimento na vida da Igreja, que este deve ser vivido na dinâmica do sopro do Espírito, de forma a afirmar a importância da qualidade das relações humanas sobre as estruturas, pois o acolhimento é o primeiro passo de toda a evangelização.

Por último, o padre Jorge Guarda, vigário-geral da Diocese, apresentou uma proposta de reestruturação da Cúria Diocesana, composta pelo organigrama dos serviços chamados a colaborar com o Bispo no governo da Diocese. O documento assenta numa estrutura de “departamentos ou equivalentes”, correspondendo a cada um destes um serviço, que pode integrar diversas subunidades.

Não tendo havido tempo para os conselheiros se pronunciarem, ficou aberta a possibilidade de cada um apresentar, posteriormente, as suas sugestões ou parece-res.

O Secretariado

D. António MartoUm ano como Bispo de Leiria-Fátima

No primeiro ano como Bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto dedicou-se em grande parte a conhecer a realidade da Diocese. A prioridade foi assumidamente para o contacto com as estruturas e os agentes da Igreja diocesana. Privilegiando os contactos pessoais, não deixou de dar o tempo necessário aos encontros com insti-tuições, grupos, organismos, movimentos e comunidades.

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Visitou as diversas instituições diocesanas, esteve em todas as paróquias, en-controu-se com a quase totalidade dos movimentos eclesiais existentes na Diocese, reuniu-se com cada um dos organismos diocesanos, encontrou-se pessoalmente com cada padre da Diocese, na agenda das audiências deu clara preferência às entidades diocesanas, visitou uma parte das comunidades religiosas, procurou conhecer as múltiplas iniciativas e projectos existentes na Diocese.

Na coordenação pastoral da Diocese, D. António Marto fez questão de dar conti-nuidade ao Plano Pastoral já em curso. Publicou uma carta pastoral sobre a Vocação Cristã, que foi objecto de amplo estudo e alimentou o trabalho de muitos grupos em toda a Diocese. Foram editados e vendidos 8.000 exemplares.

Para além desta acção dirigida essencialmente à vida da Diocese, uma boa parte dos compromissos do Bispo de Leiria-Fátima estão directa ou indirectamente rela-cionados com o Santuário de Fátima. Não apenas ao nível de celebrações e de pre-sença em actividades ligadas a Fátima, mas também na atenção às inúmeras solicita-ções relacionadas com Fátima, que quase diariamente chegam ao Bispo diocesano, tanto de Portugal como do estrangeiro.

Para sublinhar esta intenção de se dedicar ao conhecimento da realidade dioce-sana, D. António Marto não aceitou ao longo deste ano nenhum dos convites para se deslocar ao estrangeiro.

Alguns dos números deste primeiro ano:– concedeu 407 audiências a pessoas individuais ou grupos;– presidiu a 171 celebrações litúrgicas oficiais;– realizou 103 visitas a instituições eclesiais e entidades civis;– teve encontros privados com 130 padres;– elaborou cerca de 50 textos para conferências, meditações ou artigos diversos; – teve reuniões de trabalho com os 30 organismos diocesanos; – encontrou-se com os cerca de 40 movimentos presentes na Diocese;– fez 31 nomeações para cargos eclesiásticos.Uma preocupação transpareceu ao longo deste primeiro ano de actividade de

D. António Marto como Bispo de Leiria-Fátima: ser eco da vitalidade espiritual e do dinamismo pastoral que foi encontrando e conhecendo nos seus encontros e ac-tividades. Neste sentido, procurou com a sua presença motivar e animar, contagiar optimismo e incentivar a caminhar.

25 de Junho de 2007Vitor Coutinho, Chefe de Gabinete Episcopal

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RECEITASMENSALIDADESMensalidades tempo PropedêuticoPropinas Tempo Propedêutico

total

19,378.7414,617.0833,995.82

RENDIMENTOSRendimentos de Prédios UrbanosJuros Obtidos de depósitos à Ordem e a Prazo

total

33,442.7248,555.7681,978.48

EVENTUALReembolso despesas de alimentaçãoContributo Serviços DiocesanosRestituição de despesas

total

20,700.189,460.282,454.00

32,614.46SECTOR AGRÍCOLAVenda de Choupos

total24,200.0024,200.00

DONATIVOSOfertório DiocesanoBenfeitoresLegadosOfertórios das Missas

total

42,862.9612,433.47

104,641.644,163.84

164,101.91RECEITA INTERNAReceitas de SecretariaTelefone, água, Energia,etc…

total

667.202,608.273,275.47

TOTAL DA RECEITA 340,186.14

DESPESASREMUNERAÇÕESProfessoresEmpregadosServiço Eventual -SeminárioServiço Eventual QuintasDeslocações e Estadias

total

13,187.50123,732.6513,688.2413,163.214,232.51

168,004.11SEGURANÇA SOCIALSegurança Social

total19,307.7119,307.71

SEGUROSSeguros Acidentes de TrabalhoOutros seguros

total

2,780.221,423.204,203.42

RESUMO GERAL DE CONTAS - Ano de 2006

SEMINÁRIO DIOCESANO DE LEIRIA

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IMPOSTOSImp. RodoviáriosTaxasIRC

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93.77300.00

1,675.482,069.25

FORNECIMENTOS E SERVIÇOS EXTERNOSElectricidade SeminárioElectricidade QuintasCombustíveisGásOutros FluidosÁguaFerramentas e UtensíliosOutros FornecimentosLivros, Revistas, JornaisMaterial expedienteTelefonesMaterial de Higiene e limpezaConservação e ReparaçãoQuotizações

total

11,416.61581.62

3,073.475,925.684,715.545,004.674,745.895,902.534,284.791,209.423,118.515,050.20

35,737.18240.00

91,006.11SEMINÁRIO MAIOR / ISETMensalidadesPropinas do ISET

total

1,600.0017,632.0019,232.00

INVESTIMENTOSÁrvores - QuintasJuros e encargosHonorários a Arquitectos e Engenheiros

total

15,439.50531.64

40,369.3056,340.44

CULTOCulto

total136.81136.81

FORMAÇÃODespesas com Retiros

total2,525.932,525.93

BENS DIVERSOSGéneros alimentícios

total27,375.9227,375.92

TOTAL DA DESPESA 390,207.70

RESUMOReceita

DespesaSaldo

340,186.14390,207.70- 50,021.56

Leiria, 31 de Dezembro de 2006O Ecónomo, Pe. Pedro Miguel Ferreira Viva

O T.O.C, Vitor Manuel Joaquim

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Ao Nosso Venerável Irmão

Ângelo Sodano, Cardeal da Santa Igreja Romana,

Decano do Colégio dos Cardeais

Há noventa anos, a celeste Rainha da Paz, para transmitir o auxílio divino e a promessa de uma esperança certa de paz, apareceu em Fátima a três pasto-rinhos, cheios de espanto, enquanto guardavam o seu rebanho. Ao seu amparo têm recorrido muitos fiéis que nos vários perigos se valem da sua protecção.

A pedido, portanto, do Venerável Irmão António Augusto dos Santos Marto, Bispo de Leiria-Fátima, juntamente com a Conferência Episcopal Portuguesa, de boa vontade, passados noventa anos após o início das aparições da Beatís-sima Virgem Maria, enviamos um Legado Nosso; função que te confiamos, a ti, Nosso Venerável Irmão, Prelado fiel e meritório no serviço da Igreja e filho devoto da Imaculada Virgem Maria. Substituir-Nos-ás aí, presidirás às solenes celebrações, comunicarás aos presentes a Nossa saudação, e manifestarás a nossa peculiar benevolência e presença em espírito.

Lembramo-nos bem da especial piedade e gratidão que teve para com a Mãe de Deus, João Paulo II, Nosso Predecessor de veneranda memória, que há vinte e cinco anos aí agradeceu o dom da conservação miraculosa da sua vida à Vir-gem Maria e exortou todos os fiéis a seguir as suas advertências e pedidos.

Por isso Nós, que já visitámos esse santuário e, como Prefeito da Congrega-ção da Doutrina da Fé, estudámos a mensagem confiada pela Bem-aventurada Virgem Maria aos pastores, desejamos que proponhas novamente aos fiéis o valor da oração do santo rosário, bem como esta mensagem, para que se consi-gam os favores e graças que a própria Mãe do Redentor prometeu aos devotos do seu Imaculado Coração.

Enquanto acompanhamos a tua legação com a oração e, juntamente com os crentes de todo o mundo, imploramos especialmente da Rainha celeste a paz que só Cristo pode dar, te damos, em primeiro lugar a ti, Nosso Venerável Irmão, a Nossa Bênção Apostólica, penhor da graça divina e testemunha da Nossa especial solicitude, que transmitirás ao Pastor da amada Igreja de Lei-ria-Fátima, e também aos outros bispos presentes, aos presbíteros, homens e mulheres piedosos e todos os que participarem nas celebrações sagradas.

Vaticano, 13 de Abril, do ano de 2007, segundo do Nosso Pontificado.Bento XVI, Papa

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Vida Eclesial. destaque . notícias . Santuário de Fátima .

. serviços e movimentos . entrevistas .

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Diocese de Leiria-Fátima peregrinou ao Santuário

“É bela e está viva, esta Igreja!”Por Luís Miguel Ferraz

“Ao ver esta multidão peregrina, na diversidade das suas comunidades, pessoas e vocações, não posso deixar de dizer: Como é bela a minha Igreja de Leiria-Fáti-ma”! Foi com estas palavras que o Bispo diocesano, D. António Marto, iniciou a sua homilia, na Eucaristia que marcou o ponto central da 76ª peregrinação ao santuário mariano da Cova da Iria, no passado dia 25 de Março.

Foi a primeira vez que D. António Marto presidiu a esta celebração anual, como Bispo de Leiria-Fátima, razão que terá contribuído para o emocionado “obrigado por terem aceitado o convite”, dirigido aos mais de 50 mil peregrinos que marcaram pre-sença no recinto, e para concluir: “A Igreja está viva! Vemo-lo nesta peregrinação”.

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Dia especialA peregrinação a Fátima é um momento que entrou em definitivo nas agendas

anuais das comunidades paroquiais, dos serviços e dos movimentos diocesanos. Muitas comunidades fizeram na semana anterior a celebração preparatória proposta no guião; algumas promoveram celebrações penitenciais e muitos peregrinos opta-ram por se abeirarem do sacramento do Perdão já em Fátima; os que vieram a pé tiveram oportunidade de efectuar a via-sacra vocacional. O jovens tiveram também actividades específicas, iniciadas na tarde da véspera (ver texto a seguir).

No dia 25 de Março, pouco passava das 09h00 quando a maior parte dos dio-cesanos, congregados em quatro pontos de Fátima, começaram a convergir para o Santuário, entoando cânticos processionais, onde tomou lugar de destaque o hino deste dia tão especial: “Não fostes vós que Me escolhestes, diz o Senhor, fui Eu que vos escolhi e vos destinei para que deis fruto e o vosso fruto permaneça” (Jo 15, 16). Palavras que inspiraram o tema deste ano, “Descobrir a beleza e a alegria da vocação cristã”, lançado com a carta pastoral de D. António.

Mensagem vocacionalNa Capelinha das Aparições, o Bispo saudou Nossa Senhora, em nome de todos

os presentes, confiando “à Mãe o dom e os frutos desta caminhada”, e acolheu de-pois os diocesanos que ali se juntaram para a oração do rosário. Um cumprimento que foi dirigido, de forma especial, às crianças, convidadas a rezar a primeira Avé-

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Maria com o Pastor, e às quais este deu uma boa notícia: “Acabei de vos escrever uma carta, que será publicada entretanto, onde vos falo da beleza e da alegria da vocação”. O tema do ano foi, depois, rezado durante os cinco mistérios do rosário, com a participação de irmãs contemplativas e de vida activa, um seminarista, uma família e dois membros de um movimento missionário.

Em sinal da comunhão diocesana na “Grande Oração pelas Vocações”, foi trazi-da ao Santuário a “candeia vocacional”, que está a percorrer todas as comunidades da Diocese e que neste mês se encontra na vigararia de Porto de Mós. Foi acesa no início do rosário e colocada diante do altar durante a celebração eucarística.

Na Missa, centro desta jornada, o Bispo diocesano partiu da Palavra de Deus nas três leituras do dia para “pintar” três quadros, que intitulou “Um canto de vida e de esperança”, “Cristo é tudo para nós” e “A vida nova em Cristo”.

No primeiro quadro, o povo desespera no deserto e Deus envia-lhe Isaías com a promessa de que não o abandonará. E o prelado concretizou: “Também hoje, Deus faz novas todas as coisas, mesmo no deserto que atravessamos da crise actual do nosso mundo, deserto de pobreza, fome, sede, solidão, indiferença, obscurecimento do sentido de Deus na vida humana, perda de referências morais e espirituais. Tam-bém hoje, Deus não abandonou este nosso mundo e continua a querer conduzir o Seu povo para o futuro. Este é um tempo de esperança, que deve ser entendido como uma ‘chance’ nova para redescobrir a novidade, o encanto e a alegria da nossa fé, para descobrir o gosto de Deus na nossa vida”.

No segundo quadro, S. Paulo afirma que na sua vida Cristo é tudo e tudo o resto perde o valor. “Quem se deixa seduzir por Cristo não perde nada, mas ganha tudo. E este é um desafio, uma vocação, que é de todos, a todos feita no Baptismo: viver em Cristo e pelo caminho de Cristo”, afirmou D. António.

O terceiro quadro resumiu esta sequência. Quem descobre a presença constante de Deus na sua vida e se deixa encaminhar para esta “vida nova em Cristo”, encontra o beleza e a alegria da realização plena. “São vários os caminhos, cada um com a sua beleza própria, desde o matrimónio de amor verdadeiro, tão maltratado pelos nossos meios de comunicação social, à vocação ao serviço de todos, de Deus e da Igreja, no sacerdócio e na consagração, de que tanta necessidade temos nos nossos dias”.

Terminando como começara, D. António Marto afirmou que esta peregrinação era um sinal de que “é bela e está viva esta Igreja, na sua diversidade de comuni-dades e vocações”, sinal visível nos quase cem sacerdotes que concelebraram e na numerosa participação de consagrados e fiéis leigos, crianças, jovens e adultos. A todos o Pastor exortou a fazerem da sua vida uma “fonte e escola de vocações, à vida, ao amor, à comunhão fraterna, à missão”. Mesmo os que atravessam especial dificuldade, como é o caso dos doentes, que, como é habitual, tiveram uma partici-pação activa na celebração e fizeram, diante do Santíssimo exposto, a sua profissão de fé e entrega de vida nas mãos de Deus.

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Enviados em missãoCom a bênção final e a procissão para a Capelinha das Aparições, deu-se o pri-

meiro passo de um envio de regresso ao quotidiano, com um renovado sentido de vivência do compromisso cristão e de resposta alegre e confiante aos apelos de Deus na vida de cada um.

Vários grupos aproveitaram, depois, para almoçar nos parques do Santuário, em ambiente de confraternização. E ao início da tarde, cerca de mil peregrinos assis-tiram ainda à habitual festa-mensagem integrada no programa. Este ano, coube ao Colégio de S. Miguel, de Fátima, a apresentação do tema da peregrinação em forma festiva. No espectáculo “Histórias do Sim”, revelaram as diversidades e pontos co-muns das várias respostas vocacionais, levando ao palco do Centro Pastoral Paulo VI várias formas de arte, como a música, a dança e a representação.

Foi uma forma diferente de mostrar a mesma mensagem, mais visual e colorida, mas com a mesma intensidade e provocação: Deus chama cada um de nós, e depen-de da resposta positiva de cada um o segredo para uma vida alegre, bela e feliz. É apenas essa a missão que a todos confia.

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Testemunho dos jovens

A cuidar da flor a que Deus nos chamaPor Marco Silva

Cerca de 200 jovens participaram, no passado sábado, dia 24 de Março, em mais uma Peregrinação Jovem da Diocese de Leiria-Fátima, organizada pelo Secretariado Diocesano da Pastoral Juvenil.

Criar canteirosO Albergue do Peregrino tornou-se pequeno para receber todos estes grupos

vindos dos mais diversos pontos da Diocese. Para começar bem, nada melhor do que aprender o “Apelo” que viria a animar toda esta peregrinação, com letra e música de Diogo Alves. De seguida, uma pequena apresentação permitiu-nos descobrir a diversidade de origem de tantos grupos de jovens e de catequese que naquele dia de-cidiram caminhar até Fátima: Leiria, Carvide, Fonte Cova, Bajouca, Caranguejeira, Leiria, Barreira, Espite… E como um encontro destes não teria o mesmo sentido se não nos conhecessemos mais de perto, o Secretariado decidiu, como já vem sendo hábito, dar uma ajudinha.

Uma simples mola com a imagem de uma flor foi o suficiente para nos misturar e nos levar a conviver com elementos de outros movimentos presentes. Formado por pessoas que horas antes não se conheciam, cada grupo passou a ter uma tarefa que haveria de nos ocupar a tarde e a noite.

Construir floresConstituídos estes grupos surpresa, começámos um percurso pelos cinco pontos

estratégicos do Santuário onde nos esperavam exemplos das mais variadas formas de vocação existentes. E já que o tema da peregrinação era precisamente a vocação, todos nós éramos convidados a parar um pouco entre cada ponto para reflectirmos em conjunto sobre cada uma destas formas de vocação, apresentadas através dos textos e questões. A cada reflexão era-nos entregue uma pétala de flor.

Recolhidas as cinco pétalas correspondentes às formas de vocação apresentadas, tínhamos completado a flor do grupo, que haveríamos de colorir, quanod regressados ao ponto de partida.

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Diz que é uma espécie de vocaçãoComo nem só de espírito vive o homem, seguiu-se um jantar partilhado, que

permitiu recuperar forças para o que ainda havia de vir.E chegou a hora do “Diz que é uma espécie de vocação”, programa de entreteni-

mento da responsabilidade do SDPJ, que teria tido todas as condições de vir a ser de grande audiência, não foram os quatro humoristas conhecidos do nosso panorama nacional, que tiveram a ideia de se antecipar criando um outro programa com título ligeiramente diferente. Neste “Diz que é uma espécie de vocação”, os vários grupos criados durante a tarde, tiveram a oportunidade de apresentar vários “sketchs” im-provisados, a partir de uma leitura bíblica previamente distribuída. Foi assim que, no meio de muito humor e divertimento, pudemos ver mais uma vez as várias formas de vocação.

Oferecer a flor que somosDepois deste grande momento de humor e animação, chegou a altura de nos jun-

tarmos na Basílica para uma agradável Vigília com o nosso Bispo D. António Marto. Em ambiente muito mais sereno, fomos desafiados a ser semente que dá fruto, dizen-do o nosso “sim” a Deus que nos chama. Cada grupo que o acaso de uma mola havia juntado foi então colocar a flor construída num belo “jardim”, junto ao altar da Ba-sílica, e apresentar a oração preparada durante a tarde. E, para nos lançar na missão que nos espera, o nosso Bispo não podia deixar-nos sair sem antes entregar a cada um uma recordação: uma folha com uma oração e um pequeno saco de sementes.

Chá e camaPorque o frio apertava, antes do termo e já no Albergue do Peregrino, fomos to-

dos convidados para um chá quentinho, acompanhado de umas bolachas “Belgas”.Foram ainda muitos os jovens que, pernoitando em Fátima, se juntaram, no dia

seguinte, às cerimónias da Peregrinação Diocesana.E se por acaso não participaste nesta Peregrinação, e depois de leres este teste-

munho ficaste com pena, digo-te que para o ano há mais. Lá te esperamos.

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Bispo de Leiria-Fátima visitou Hospital de Santo AndréNos dias 16 e 17 de Janeiro, D. António Marto fez uma visita pastoral ao Hospital

de Santo André, em Leiria, para conhecer esta instituição e contactar com as pessoas que lá trabalham e alguns dos utentes. O capelão, padre João Trindade, organizou um programa que permitiu a visita aos diversos serviços de internamento, que foi acompanhada pelo Director Clínico e pela Enfermeira Directora. No primeiro dia, D. António Marto visitou os serviços de pediatria, ginecologia, obstetrícia, cardio-logia, pneumologia e psiquiatria, e no segundo dia passou pela ortopedia, cirurgia e medicina. Nesta visita pastoral, o Bispo diocesano destacou o “encontro com todas as realidades”, desde o lado mais lindo da vida, junto aos bebés acabados de nascer e suas mães, até ao sofrimento de tantos em seus leitos. “Com muita emoção e ter-nura”, D. António quis deixar, a cada doente e aos funcionários que encontrou, um abraço e uma palavra amiga.

Vigílias vicariais de oração vocacionalContinua a realizar-se, mensalmente, em cada uma das vigararias da Diocese, a

Vigília de Oração Vocacional, o momento mais visível da vivência do tema do ano pastoral.

No passado dia 19 de Janeiro, a igreja de S. Eufémia acolheu os cerca de 500 fiéis da vigararia dos Milagres. O Bispo diocesano, D. António Marto, desafiou os presentes, em especial os jovens, a “pensarem a vida em grande”. Referindo-se à variedade das vocações específicas e à sua complementaridade, sublinhou que “é da articulação desses dois factores que nasce a beleza da vida”. Alertou ainda para a necessidade de “estar atento aos sinais vocacionais que Deus vai enviando”. No final, cada uma das paróquias da vigararia levou uma réplica da candeia que percorre as vigararias.

A candeia vocacional seguiu depois para Leiria, cuja vigília decorreu no dia 23 de Fevereiro. Cerca de 600 pessoas encheram por completo a Sé, vindas das várias paróquias da vigararia. Também aqui, D. António salientou: “Deus tem um projecto sobre cada um, conhece-te pelo teu nome, pensa em ti, ama-te, quer fazer parte da tua vida e quer que colabores com Ele. Somos chamados por um amor que quer iluminar as nossas vidas. Deus chama-nos a pensar a vida em grande, sem cálculos e interesses mesquinhos, mas com projectos grandes e belos, projectos de doação e de amor”. O prelado prosseguiu ainda insistindo que esta é uma vocação comum, mas são diversas as respostas, seja na vocação ao matrimónio, “que exige características próprias em ambiente próprio, contra o descrédito em que a sociedade actual lança

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as famílias”, seja na vocação ao sacerdócio, “que mostra o carinho e amor com que Deus rege a Sua Igreja, dando-lhe pastores para a orientarem espiritualmente”, seja na vocação de especial consagração, na vida religiosa ou no compromisso missioná-rio, “que suscita gente capaz de entregar a sua vida de forma gratuita em favor dos mais necessitados”. Desta forma, concluiu, “a Igreja assemelha-se a um jardim, onde há uma variedade bela de flores e cores”. E o apelo final foi feito “a todos os irmãos e irmãs, para que se deixem entusiasmar e criem uma verdadeira onda de entusiasmo para o florescimento das vocações”.

A vigaria da Marinha Grande recebeu o testemunho desta “estafeta” de oração e realizou a sua vigília a 3 de Março, na igreja da cidade vidreira. Mais de meia centena de fiéis disseram “sim” e vieram reflectir e rezar pelas vocações. Uma vez mais, D. António referiu-se à vocação cristã no seu todo e às vocações particulares, deixando bem presente a necessidade de “pensar a vida em grande”.

Também as vigararias de Porto de Mós, a 27 de Abril, de Colmeias, a 18 de Maio, e de Fátima, a 15 de Junho, realizaram as suas vigílias vocacionais, sempre presidi-das por D. António Marto e com a participação de centenas de fiéis das respectivas paróquias. Cumpriu-se, assim, um dos objectivos deste ano pastoral, dedicado ao tema “Não fostes vós, fui Eu que vos escolhi”. A Diocese mobilizou-se e uniu-se nesta grande oração vocacional, como era desejo do seu Bispo, e eu mais um passo na “descoberta da beleza e da alegria da vocação cristã”.

Clero de Leiria reflecte sobre a vocação cristãA diocese de Leiria-Fátima promoveu, como tem feito todos anos, um tempo de

formação para o clero, em dois turnos, de 22 a 26 de Janeiro e de 29 a 2 de Feverei-ro, nos quais participaram 74 padres. Decorreu na Casa Diocesana de Albergaria-a-velha, em ambiente familiar de convívio e de partilha. A reflexão, que versou o dinamismo da vocação cristã e o seu amadurecimento, inseriu-se no tema do ano – “Não fostes vós…fui Eu que vos escolhi” –, com especial atenção à Carta Pastoral “Descobrir a beleza e a alegria da vocação cristã”, de D. António Marto, Bispo da Diocese, que acompanhou os trabalhos.

As acções de formação foram dirigidas pelo Bispo diocesano, com as conferên-cias “Sacerdócio comum e sacerdócio ministerial em comunhão” e “Que diz o Espí-rito à Igreja hoje?”, pelo Bispo D. Manuel Madureira, que apresentou “Dinamismo e condições de amadurecimento da vocação cristã”, e pelo padre do Porto João Ribeiro, com a palestra “Itinerários e meios de crescimento e de formação da vocação cristã”. Os secretariados diocesanos da Catequese, da Pastoral Familiar, da Juventude e da Liturgia e Música Sacra testemunharem o que têm feito e apresentaram projectos de futuro. Uma partilha mais alargada proporcionou ainda um maior interconhecimento das preocupações e iniciativas das pessoas, movimentos e comunidades.

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No final, o prelado resumiu as conclusões dos trabalhos em nove desafios:1 - Precisamos de passar, de uma pastoral de vocação ao ministério, para uma

pastoral de todas as vocações. Toda a vida deve ser entendida como vocação;2 - Implantar nas paróquias, ou vigararias, da diocese grupos de animadores vo-

cacionais e grupos de oração pelas vocações;3 - Procurar fazer uma articulação entre os itinerários da vocação e os itinerários

da fé e da celebração sacramental. De modo especial, apostar na valorização da idade do Crisma;

4 - Valorizar os momentos de oração já existentes na Diocese (Shemá), como espaços privilegiados;

5 - Fazer o possível para que se desenvolvam catequeses vocacionais, segundo o esquema já apresentado pela Diocese;

6 - Atenção especial ao recém-formado “Grupo Vocacional Santo Agostinho”;7 - Apoiar e acarinhar solicitamente o Pré-Seminário;8 - Iniciar projectos de formação que conduzam a um amadurecido discernimen-

to vocacional;9 - Fomentar a articulação entre os diversos serviços diocesanos, repensar os

métodos de trabalho e constituir grupos ou equipas de trabalho.

Bispo propõe catequeses vocacionais na QuaresmaUma das propostas de D. António Marto para o corrente ano pastoral, indicada

na sua carta “Descobrir a beleza e a alegria da vocação cristã”, é a de um itinerário de formação cristã e de oração ao longo da Quaresma, tanto nas paróquias, como nas vigararias e noutro tipo de comunidades. Para isso, foi elaborado um conjunto de seis catequeses, que foram apresentadas e distribuídas pelos párocos, a primeira e a última sobre características fundamentais, comuns a qualquer vocação, e as restantes sobre as formas específicas da vocação cristã de cada baptizado.

O principal objectivo foi “levar os fiéis cristãos a tomarem consciência da beleza de todas as vocações na Igreja, e cada um a apreciar aquela que recebeu de Deus, ajudando cada um a apreciar e a viver com profundidade e alegria a própria vocação e a contribuir para que os outros vivam fiel e alegremente a sua”. Por outro lado, pre-tendeu-se “consciencializar e motivar os membros da Igreja para o empenho activo na pastoral vocacional na própria comunidade e na Diocese”.

Os textos deste caderno permitiam um uso variado, consoante a criatividade dos animadores, mas foram especialmente preparados para a catequese em assem-bleias de fiéis, ou para os grupos de reflexão constituídos nas comunidades. Inde-pendentemente da opção, sugeria-se que não fossem “lições ou reflexões somente teóricas”, mas se aproveitassem como “momento de escuta de Deus, de meditação e de experiência da fé, podendo mesmo revestir a forma de celebrações comunitá-

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rias, enriquecidas com cânticos, orações e gestos”. Em suma, referia-se ainda, estas catequeses deveriam “alimentar a fé, ajudar a viver melhor a relação pessoal com Deus na oração e conduzir ao compromisso de vida cristã e de ajuda aos outros na descoberta da sua vocação”.

Era desejo do Bispo chegar “ao povo de Deus em larga escala, mesmo às pessoas que frequentam pouco as igrejas e até aos não praticantes”. Mas os destinatários preferenciais eram os cristãos, sobretudo os jovens e adultos que participam na vida da Igreja, inseridos ou não em grupos, movimentos ou associações. Ao todo, foram distribuídos pela Diocese cerca de 3000 exemplares.

Redefinição do Pré-Seminário de LeiriaAo longo deste ano pastoral, a equipa formadora do Seminário de Leiria reestru-

turou o Pré-Seminário, com o objectivo de criar um grupo estável de jovens, que vão pensando de forma séria na sua vocação. De Novembro de 2006 a Março de 2007, passaram pelos encontros mensais do Pré-Seminário 67 adolescentes, em reflexão, convívio e oração, envolvidos na dinâmica do Seminário, de descoberta dos desafios que a vocação sacerdotal lança a cada um. Para o próximo ano, espera-se a constitui-ção de um novo grupo de caminhada mais regular e profunda, composto por aqueles que queiram pensar a vocação sacerdotal a curto prazo, tendo em vista a futura rea-bertura do Seminário Menor, para alunos do 10º ao 12º ano. O Pré-Seminário, como refere o seu responsável, padre Armindo Janeiro, é um serviço “à descoberta da vocação para o ministério ordenado”, que poderá consolidar-se “pela oração pessoal e comunitária e pelo testemunho feliz”.

Grupo Vocacional de Santo Agostinho já reúneCasamento? Celibato? Vida religiosa? Sacerdócio? Que curso tirar? Estas são

algumas das questões que surgem no caminho para a vida adulta, e que podem resu-mir-se em apenas uma: qual a minha vocação?

Criado a pensar especialmente nos jovens dos 16 aos 25 anos, o Grupo Vocacio-nal de Santo Agostinho tem agendados encontros mensais, de Janeiro a Junho deste ano. O padre Filipe Lopes, responsável pelo grupo, confessou-se surpreendido com o facto de a maioria dos 16 participantes terem mais de 25 anos. O principal objecti-vo é “oferecer aos jovens a possibilidade de um discernimento vocacional, em todos os sentidos”, referiu. D. António Marto, principal responsável pela iniciativa, quis acompanhar de perto o decorrer dos encontros, recheados de animação, convívio, ac-ções de formação e oração. No final, os participantes fizeram um retiro de três dias, após o qual assumiram um compromisso concreto na paróquia a que pertencem.

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Conselho Pastoral Diocesano identifica “urgências”Cuidar das vocações, planear recursos humanos, rever a catequese da adolescên-

cia e a pastoral familiar, e adequar as estruturas pastorais à realidade actual, foram as principais urgências detectadas pelo Conselho Pastoral Diocesano, na sua primeira sessão após a reconstituição pelo Bispo diocesano, no passado dia 17 de Março.

Na sua comunicação inicial, D. António Marto pôs em destaque a comunhão e a co-responsabilidade entre todos os membros da Igreja na diversidade das vocações, sublinhou a importância da vivência da espiritualidade de comunhão por parte de to-dos os fiéis, e apontou o Conselho Pastoral como órgão em que se actua a comunhão e a colaboração co-responsável em ordem ao dinamismo da Igreja diocesana.

Numa avaliação do ano pastoral em curso, foram apontadas como acções posi-tivas e marcantes as vigílias de oração em cada vigararia, as catequeses vocacionais que se fizeram em algumas paróquias com dezenas de grupos de vizinhos ou de lugar, e a adesão ao Pré-Seminário e ao grupo vocacional Santo Agostinho. Há, no entanto, muito caminho a percorrer, no que toca à continuidade na oração vo-cacional, ao desenvolvimento de uma pastoral capilar que cuide do chamamento e acompanhamento dos chamados, e à constituição dos grupos de animadores que lhes dêem corpo em cada paróquia e vigararia.

Reunião com os serviços diocesanosNo passado dia 20 de Abril, o Bispo da Diocese reuniu os directores dos dife-

rentes secretariados e comissões diocesanas, para com eles estudar alguns temas de relevância para a pastoral diocesana.

Depois de decidido que o próximo ano pastoral será de consolidação do primeiro biénio de execução do Projecto Pastoral, D. António Marto fez a sua própria avalia-ção do decorrer deste projecto e quis ouvir os testemunhos e propostas dos directores dos serviços diocesanos.

Em agenda esteve, ainda, a discussão sobre a reorganização dos diferentes servi-ços, com o objectivo de melhorar a sua coordenação e eficácia.

Finalmente, o Pastor manifestou a vontade de constituir um secretariado diocesa-no para a pastoral, com funções abrangentes e distintas das cometidas ao SECOPA, que continuará a acompanhar a execução do Projecto Pastoral.

Foi também constituída uma equipa para estudar os objectivos e trabalhos dos actuais serviços diocesanos, a fim de propor uma reorganização mais expressiva da comunhão eclesial. Esta remodelação da Cúria deverá ser apresentada no início do mês de Julho.

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Novo padre e novo diácono na DioceseNo dia 29 de Abril, Dia Mundial de Oração pelas Vocações, a diocese de Leiria-

Fátima ficou mais enriquecida, com as ordenações de um diácono e de um presbíte-ro. O novo diácono é Marcelo Cavalcante Moraes, que trabalha actualmente na pa-róquia Albergaria dos Doze (ver entrevista nesta edição da revista). O novo padre é Marco Paulo da Silva Brites, à data a trabalhar na paróquia de Regueira de Pontes.

“Os padres são homens felizes”, exclamou D. António Marto, valendo-se de uma recente estatística feita nos EUA, onde o sacerdócio aparece como a profissão na qual se regista maior índice de felicidade (85%). Durante a homilia, diante de uma assembleia que encheu por completo a Catedral, o prelado falou com entusiasmo do sacerdócio e incentivou os novos ordinandos a vivê-lo “segundo o amor e o plano de Jesus Cristo”. Consciente de que o sacerdócio é um dom de Deus, toda a diocese rezou, em acção de graças, com o seu Bispo.

Aniversário da DioceseD. António Marto convidou os sacerdotes e os fiéis, especialmente os mais com-

prometidos na vida da Igreja diocesana, a participarem na Eucaristia na Sé, a 22 de Maio, aniversário da Diocese, criada em 1545, e dia da Cidade. De facto, no seu pedido ao Papa Paulo III para que criasse a diocese, D. João III refere que Leiria “é uma das notáveis vilas deste reino e de muita clerezia e povo”, argumentando que “convém muito ao serviço de Deus, para bom governo do clero e povo de Leiria, que tivesse um prelado que residisse na vila e a regesse e governasse”. Após a anuência do Papa a este pedido e a nomeação do seu primeiro bispo, D. Brás de Barros, o rei elevou-a a cidade.

Vigília de Pentecostes celebra diversidade de donsNo dia 26 de Maio, celebrou-se, na Sé de Leiria, a Vigília de Pentecostes, presi-

dida por D. António Marto e organizada pelos vários movimentos e associações da Diocese. Foi o terceiro ano consecutivo desta celebração, especialmente destinada aos fiéis mais comprometidos na vida das comunidades cristãs e vários âmbitos da Igreja.

O tema foi “a beleza de Cristo nos variados dons e vocações”, inspirado na carta pastoral do nosso Bispo. Simbolizando o congregar dos fiéis e das comunidades dispersas, a vigília começou com a entrada por quatro portas diferentes e incluiu mo-mentos simbólicos, cânticos, escuta e meditação da palavra de Deus, testemunhos

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vocacionais e adoração ao Santíssimo Sacramento. Foi uma ocasião de especial co-munhão da Igreja diocesana, valorização dos diversos dons ou carismas do Espírito e experiência de que, na sua diversidade, constituímos todos uma mesma e única família de Deus e somos chamados a colaborar na missão comum confiada à Igreja para a salvação dos homens. Nesse sentido, D. António Marto apelou a que “os mo-vimentos, novas comunidades e associações de fiéis contribuam para um renovado vigor da vida cristã dos baptizados e se integrem de modo cooperante e frutuoso na pastoral da paróquia”.

No termo da celebração, a cruz revestida com mais de três centenas de flores de papel de várias cores, imagem da diversidade de dons e vocações na Igreja, foi levada até ao adro da Sé. Aí, o Bispo e os sacerdotes distribuíram as flores pelos fiéis presentes, para que as levassem como “sinal e apelo a reconhecer, viver e promover a beleza da vocação cristã na sua multiformidade”.

Corpo e Sangue de Cristo em LeiriaA solenidade do Corpo e Sangue de Cristo é uma das celebrações mais tradi-

cionais e concorridas de Leiria, desde há séculos. Anualmente, é uma ocasião de especial significado para a união desta Igreja particular, atraindo uma massa de fiéis de todas as suas paróquias. Este ano, no dia 7 de Junho, a Eucaristia foi celebrada no jardim de Santo Agostinho, junto à igreja do padroeiro da Diocese, e seguiu-se-lhe a procissão do Santíssimo, em direcção ao adro da Sé.

D. António Marto presidiu às celebrações, concelebradas por largas dezenas de sacerdotes diocesanos e participadas por alguns milhares de fiéis. A homilia que proferiu nesta ocasião vem publicada nesta edição da revista, na secção de docu-mentos.

Celebração do Jubileu das VocaçõesAos casais, religiosos, religiosas e sacerdotes que este ano celebram 25, 50 ou

60 anos do seu compromisso vocacional e participavam numa celebração jubilar no Santuário de Fátima, no dia 2 de Junho, D. António Marto fez o apelo a serem testemunhas vivas da beleza e da alegria da vocação cristã. Comentando as palavras de Maria nas Bodas de Caná, o Bispo de Leiria-Fátima exortou: “Servi aos irmãos o vinho do amor e da alegria à mesa da humanidade”.

Inserida no ano pastoral dedicado pela Diocese à causa das vocações, a iniciativa reuniu, pela primeira vez, numa mesma celebração jubilar, cerca de 40 casais, quinze religiosas e três sacerdotes, um religioso e dois diocesanos.

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Antes da missa, houve um encontro de apresentação e testemunho. Representan-tes das diferentes vocações falaram das suas experiências de vida, alegrias e dificul-dades, todos eles manifestando gratidão a Deus pelo dom da vocação recebida.

Durante a Eucaristia, os jubilários renovaram os compromissos assumidos e de-ram graças a Deus “pelo serviço prestado ao vosso povo”, disseram os sacerdotes; “pelos bens que em nós destes ao vosso povo”, declararam os consagrados; e “por nos chamardes a sermos sinal do vosso amor e a participarmos da vossa paternidade divina, gerando e educando os filhos que nos concedestes”, reconheceram os casais. A numerosa assembleia de familiares, amigos e muitos peregrinos uniu-se em júbilo e alegria, não esquecendo de aplaudir os jubilários.

No almoço de confraternização, a alegria e a satisfação continuaram bem paten-tes no rosto de todos por esta celebração comum, promovida pela pastoral familiar, a fraternidade sacerdotal e a confederação dos institutos religiosos da Diocese.

As palavras escritas por D. António Marto no convite vieram a ter plena realiza-ção: foi, na verdade, “um momento alto para reviver e reavivar o encanto e a frescura do primeiro ‘sim’, para celebrar o caminho percorrido e correspondido ao longo da vida, para agradecer a Deus os frutos que, através destas vocações, suscitou ao servi-ço da vida e do amor, e para renovar os compromissos vocacionais”. Manifestou-se, de facto, “a beleza das várias vocações que adornam a Igreja de Jesus e fazem dela um jardim florido com o esplendor dos mais variados dons e vocações”.

Reestruturação da escola de catequistas“Para uma formação integral, adequada e permanente, que ilumine e estimule a

acção”, o Centro de Formação e Cultura, o Secretariado Diocesano da Catequese, o Secretariado Diocesano da Liturgia, o Secretariado Diocesano da Pastoral Juvenil, a Escola de Cursos de Cristandade e o Centro de Apoio ao Ensino Superior juntaram-se para a criação da Escola Diocesana Razões da Esperança, que surge a partir da antiga escola de catequistas. A partir de Outubro de 2007, esta nova escola oferecerá um curso com matérias comuns aos vários participantes e algumas disciplinas es-pecíficas para catequistas, cursistas, agentes litúrgicos, etc. O curso completo terá a duração de três anos e um ritmo quinzenal, às terças-feiras, das 21h00 às 21h50, para as matérias comuns, e das 22h00 às 23h00, para a formação específica.

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“Interesse público” da Azinheira da CapelinhaNo Aviso n.º 1/2007 da Direcção-Geral dos Recursos Florestais, com data de 2

de Janeiro, pode ler-se: “É classificada de interesse público uma árvore da espécie Quercus rotundifolia Lamb., vulgarmente conhecida por azinheira, existente no recinto do Santuário de Fátima, junto da Capelinha das Aparições”. O “bilhete de identidade” da árvore, emitido por esta direcção-geral, sublinha o interesse histórico e paisagístico da azinheira da seguinte forma: “Exemplar de grande simbolismo e devoção. Está tradicionalmente associada às aparições de Nossa Senhora de Fátima. Vem citada em muitos documentos primitivos referentes às aparições com o nome de ‘Azinheira Grande’. Os videntes e os peregrinos abrigavam-se à sua sombra para a recitação do rosário, antes das aparições”. O mesmo documento regista alguns pormenores descritivos deste exemplar com mais de um século de vida e ainda “boa” aparência: “Circunferência base - 4 metros; diâmetro base - 1,23 metros; diâmetro médio da copa - 17,90 metros; altura total - 13,50 metros”. Nos termos desta classifi-cação, a azinheira beneficia de uma área de protecção de 50 metros de raio, a contar da sua base.

Segundo o reitor do Santuário de Fátima, “a ideia da classificação é uma decisão interessante. Esta árvore, não tendo sido, em si mesma, lugar de aparições, razão pela qual não se considera uma árvore sagrada, tem o valor de testemunha das aparições de 1917. De facto, nesta data os Pastorinhos já lhe chamavam ‘azinheira grande’, à sombra da qual eles e os primeiros peregrinos se abrigavam a rezar o Terço, enquanto esperavam pelas aparições que tiveram lugar numa outra azinheira mais pequena.

Comemorações do Centenário da Irmã LúciaO Santuário de Fátima comemorou o centenário do nascimento da Irmã Lúcia,

no passado dia 28 de Março, com uma sessão sobre a vida da Vidente, pelo cónego Luciano Cristino, director do Serviço de Estudos e Difusão do Santuário, a celebra-ção da Eucaristia, presidida pelo Bispo de Leiria-Fátima, e a recitação do rosário, na Capelinha das Aparições.

Lúcia nasceu no lugar de Aljustrel, próximo de Fátima, sendo a última de sete ir-mãos, seis meninas e um rapaz. Tinha dez anos, quando disse ter visto, pela primeira vez, Nossa Senhora na Cova da Iria, juntamente com os primos Jacinta e Francisco Marto, a 13 de Maio de 1917. Lúcia foi a única dos três primos que alegava ter ouvi-do as palavras da Virgem e, como tal, era a portadora dos segredos de Fátima.

Na vida de contemplação que decidiu seguir, para devotar toda a sua vida ao Coração Imaculado de Maria e fugir ao protagonismo e ao contacto com o público,

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a Irmã Lúcia sempre foi uma mulher simples, humilde e de personalidade íntegra, apesar das experiências místicas que viveu.

Em 17 de Junho de 1921, entrou no colégio das Irmãs Doroteias, em Vilar, Porto. Professou como doroteia, em 1928, em Tuy (Espanha), onde viveu alguns anos. Em 1946, regressou a Portugal e, dois anos depois, entrou para o Carmelo de Santa Tere-sa, em Coimbra, onde professou, como carmelita, a 31 de Maio de 1949.

Ao longo dos anos, escreveu dois volumes com as suas “Memórias” e ainda os “Apelos da Mensagem de Fátima”. O objectivo principal destes escritos era revelar a vida heróica dos dois falecidos Pastorinhos, as Aparições do Anjo e de Nossa Se-nhora e, finalmente, a vida dos seus pais.

A irmã Lúcia faleceu no dia 13 de Fevereiro de 2005, com 97 anos, no Carmelo de Santa Teresa, em Coimbra. Na sua longa existência terrena, interpelou discreta e profundamente a humanidade, recordando, com o seu testemunho de vida, que o Reino de Deus pertence aos pobres e simples, aos mansos e puros de coração, aos que têm em vista os interesses de Deus e não os dos homens.

Maio registou a maior enchente dos últimos anosMais de meio milhão de pessoas deslocaram-se a Fátima, para a Peregrinação

Internacional de Maio, que marcou o 90º aniversário da primeira aparição de Nossa Senhora na Cova da Iria. Uma enchente apenas comparável às que este Santuário re-gistou aquando das visitas papais. Grande parte dos peregrinos veio a pé, das várias zonas do País, e muitos em veículos automóveis, sendo de registar, igualmente, os milhares de estrangeiros, de 33 países de todo o mundo.

Para presidir a estas celebrações, o Santo Padre enviou, como Legado Pontifício, o Cardeal Ângelo Sodano, ex-secretário de Estado do Vaticano. Na conferência de imprensa do dia 12 de Maio, este Cardeal revelou que o Papa Bento XVI “tem o desejo de visitar Fátima”, mas não adiantou mais sobre a possível data ou realização de tal visita, afirmando que “não há ainda um programa concreto”.

Na sua homilia do dia 12 de Maio, o cardeal Ângelo Sodano afirmou a certeza da presença espiritual do Papa neste Santuário, que considerou “uma espécie de íman poderoso” a atrair multidões de peregrinos todos os anos. Após recordar as visitas papais de anos anteriores e a sua própria presença neste local, remeteu para a liturgia do tempo pascal que “nos leva a olhar para o alto”, para a Jerusalém celeste, cuja porta é Maria. Também para o dom da paz, “que devemos guardar zelosamente porque é uma realidade frágil, exposta a mil perigos”, devemos pedir a Maria que proteja esta “nossa pobre e desorientada humanidade”. “Com esta visão de espe-rança, é possível olhar, serenos, para o futuro”, afirmou o Cardeal, convicto de que “a solução que temos ao nosso alcance é renovar o acto de entrega da humanidade inteira a Maria”, como fez João Paulo II “precisamente aqui no dia 13 de Maio de 1991”. “E Maria certamente se revelará a nós na plenitude da sua maternidade, se a

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soubermos invocar sempre com amor de filhos”, concluiu.Já na celebração eucarística do dia 13, centro de toda a peregrinação, D. Sodano

partiu da citação do Cardeal Cerejeira – “Não foi a Igreja que impôs Fátima, mas Fátima que se impôs à Igreja” – para lembrar o caminho da Igreja na aceitação das aparições, a colocação de uma coroa de ouro na imagem da Virgem, a mando de Pio XII, e a primeira consagração do mundo feita por este Papa, a 13 de Outubro de 1942, a visita de Paulo VI, a 13 de Maio de 1967, bem como as diversas consagra-ções do mundo a Nossa Senhora e “a profunda devoção do saudoso Papa João Paulo II”, momento imediatamente aplaudido pela multidão de peregrinos.

Um novo aplauso brotou quando o Cardeal afirmou: “Hoje está presente aqui o Papa Bento XVI, que quis enviar-me para o representar nesta solene ocorrência. Ele encontra-se agora no Brasil, no grande Santuário de Nossa Senhora Aparecida, e une-se ao nosso canto das glórias de Maria. As nossas aclamações se elevam hoje, como um arco sobre as praias opostas do Atlântico que nos une aos nossos irmãos no Brasil, todos irmanados no mesmo desejo de nos entregarmos ao Coração Imaculado de Maria acolhendo-nos à sua materna intercessão”.

Ângelo Sodano centrou, depois, a sua homilia no tema do “amor duma mãe” e da sua “amorosa preferência pelos pequeninos, os pobres e os doentes”. Renovou, por isso, o pedido a Maria: “Que mostre uma vez mais toda a sua solicitude materna pelos homens e mulheres do nosso tempo, às vezes tentados a esquecerem Deus para se prostrarem diante do ‘vitelo de ouro’ das fatuidades da terra”. Afirmou que “os nossos dias deixam-nos a impressão de que muitos se afastam da casa do Pai” e considerou mesmo que a Europa está “tentada a esquecer aquela fé que fez a sua força no decorrer dos séculos”, numa “apostasia sub-reptícia, que não pode deixar-nos indiferentes”. “Ao Imaculado Coração de Maria, entregamos hoje os destinos dos homens e dos povos do nosso Continente, enquanto nos comprometemos a colocar novamente no coração da nossa sociedade aquele fermento do Evangelho que permeara a sua história ao longo dos séculos”, concluiu o Cardeal, apelando aos peregrinos: “Com a nossa oração, o nosso trabalho e o nosso testemunho cristão, ha-vemos de corresponder ao apelo de Maria e assim favorecer a difusão do Evangelho de Cristo no mundo actual.

No final da celebração, D. António Marto, bispo de Leiria-Fátima, agradeceu a presença do Cardeal Ângelo Sodano e “a bela mensagem de esperança deixada”. Lançando o grito que lhe é peculiar – “Como é bela a nossa Igreja!” –, o prelado despediu-se dos milhares de peregrinos com a leitura da mensagem a enviar a Bento XVI após a celebração.

O manto branco dos lenços acenados à virgem foi o cenário de despedida desta grandiosa peregrinação, um quadro emocionante e, ao mesmo tempo, significativo da fé e do amor à Mãe celeste que une tantos milhares de fiéis de todo o mundo.

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Crescente interesse por FátimaSegundo os dados publicados pelo Serviço de Peregrinos do Santuário de Fáti-

ma (SEPE), no ano de 2006, participaram 4,2 milhões de peregrinos nas missas ali celebradas. Este número revela um grande crescimento em relação a 2005, revelou o padre Virgílio Antunes, director do SEPE: “Sente-se que há um crescente interesse por Fátima, particularmente nos países do Leste Europeu, que agradecem a Nossa Senhora a libertação do regime materialista e ateu que os dominou nas últimas dé-cadas do século XX”.

Em conferência de imprensa, os responsáveis do Santuário mostraram-se con-tentes com este aumento de peregrinos e esperam que seja contínuo. “Fátima poderá tornar-se um destino muito mais apetecido durante os meses de Inverno, com a nova igreja da Santíssima Trindade a ser um forte impulso nesse sentido”, declarou Vir-gílio Antunes.

Livros“Fátima no coração da história”

Na abertura da exposição “Fátima no Coração da História”, organizada pelo Centro Cultural Pedro Hispano, foi apresentado o livro de actas das jornadas nacio-nais sobre o acolhimento – “O Santuário, iniciativa Divina em favor dos Homens” – que marcaram o início das celebrações dos 90 Anos das Aparições, em Fevereiro de 2006. A obra integra todas as conferências proferidas nas jornadas, tem uma nota de abertura do Reitor do Santuário de Fátima e uma palavra de introdução do padre Armindo Janeiro, coordenador do programa celebrativo dos 90 Anos das Aparições. No final, foi acrescentado um anexo, com o discurso do Papa João Paulo II aos co-laboradores do Santuário de Fátima, proferido aquando da visita papal em Maio de 1982. A obra encontra-se à venda nas livrarias do Santuário.

“A Beleza do Rosto Trinitário de Deus na Mensagem Fátima”A Diocese de Leiria-Fátima publicou recentemente um texto de D. António Mar-

to, com o título “A Beleza do Rosto Trinitário de Deus na Mensagem Fátima”, uma reflexão teológica sobre o mistério trinitário de Deus a partir dos acontecimentos de Fátima. Ao longo do livro, o autor procura assumir o desafio de abordar Fátima como “um lugar místico e mistagógico, onde resplandeça a beleza do rosto trinitário de Deus e se desperte e ofereça a dimensão contemplativa e mística da fé para lhe dar calor e alegria”.

“Espiritualidade, Turismo e Território - Estudo geográfico de Fátima”O livro “Espiritualidade, Turismo e Território - Estudo geográfico de Fátima”,

de Maria da Graça Poças Santos, uma edição Principia, foi apresentado, em Fátima,

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no passado dia 4 de Junho. Situando Fátima sob os pontos de vista físico, urbano, demográfico, turístico e religioso, o livro apresenta uma investigação alargada e dá a conhecer novas perspectivas sobre a atracção exercida pelo santuário, verdadeiro centro de uma rede religiosa global.

Enciclopédia de FátimaFoi lançada no passado 11 de Maio a Enciclopédia de Fátima, com 127 artigos

de 58 autores especialistas nas dimensões de História, Teologia, História da Arte, Cinema, Música, Botânica, Liturgia, entre outras. Com 650 páginas, a publicação é coordenada pelo Bispo auxiliar de Lisboa, D. Carlos Azevedo, e pelo director de Serviço de Estudos e Difusão do Santuário de Fátima, cónego Luciano Cristino. Esta enciclopédia pretende ser, segundo D. Carlos Azevedo, “uma colaboração objectiva que se quer dar, como visão de conjunto nas várias vertentes e dando uma ideia glo-bal do fenómeno de Fátima”.

“Documentação crítica de Fátima” – Volume IV - Tomo IIFoi apresentado, no passado dia 31 de Março, no Santuário de Fátima, o segundo

tomo do quarto volume da Documentação Crítica de Fátima (DCF), que abrange o período de 13 de Outubro de 1922 a 12 de Outubro de 1924. Na ocasião, o Bis-po de Leiria-Fátima, D. António Marto, descreveu este período como “uma etapa significativa do ‘processo de recepção’ do acontecimento de Fátima, na Igreja, na sociedade e na cultura em Portugal. Trata-se de um processo turbulento que oscila entre o acolhimento entusiasta por parte dos fiéis e a rejeição agressiva por parte da ideologia jacobina e anti-clerical, o que tornou Fátima num “caso político”. E no meio deste confronto sobressai a prudência serena da hierarquia da Igreja”.

Neste tomo, são publicados 26 documentos de carácter oficial, 140 cartas, dez notas ou apontamentos, quatro testemunhos, um livro e 96 artigos ou correspon-dências em publicações periódicas. Zília Osório Sampaio, que integra a comissão científica da DCF, revela que, através deste material, se verifica que “as aparições suscitaram maioritariamente discursos de apoio ou de rejeição”. Por parte da hierar-quia eclesiástica, “prudência seria a palavra de ordem, o que não significava desinte-resse, desatenção, ou afastamento”. Por outro lado, salienta o papel fundamental da imprensa na divulgação das celebrações realizadas.

Por seu turno, D. Carlos Azevedo, Bispo auxiliar de Lisboa e presidente da co-missão científica da DCF, vincou a perseguição “feroz e agressiva” da época, que politizou o caso “Fátima” e o levou à Câmara dos Deputados, em Maio de 1923, como documenta esta publicação. Mas acabou, também, por motivar o desejo de conhecer Fátima: “Ao dar conta da polémica da época, quem fez propaganda contra Fátima foi quem divulgou Fátima, pois as previsões catastróficas e negativas acaba-ram por ser contrariadas pela realidade e a verdade dos simples e a fé profunda do povo são muito mais duradouras do que os que as querem destruir”.

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Comissão Diocesana Justiça e Paz

“Diversidade de Culturas: Um desafio”

No passado dia 26 de Abril, a Comissão Diocesana Justiça e Paz (CDJP) promo-veu, no Seminário de Leiria, um colóquio sobre o tema “Diversidade de Culturas: Um desafio”, presidido por D. António Marto, Bispo de Leiria-Fátima. Os convi-dados ao debate, num quadro inter-confessional, foram Adriano Moreira, professor emérito da Universidade Técnica de Lisboa e católico, Narana Coissoró, presidente do Instituto do Oriente e de religião hindu, e Samuel Pinto, da comunidade evangé-lica de Leiria, com a especial missão de analisarem problemas como a intolerância que tem vindo a suscitar exagerados nacionalismos e a reavivar diferenças étnicas e religiosas, levando milhões ao refúgio e à perda do “direito a ter direitos”.

Cerca de uma centena de pessoas vieram participar neste debate, apesar de se apontarem questões que nem são um quadro muito próximo da realidade sócio-cultural dos leirienses. Ainda assim, Tomás Oliveira Dias, presidente da CDJP, justifica esta abordagem na linha da “atenção aos problemas que gravitam em torno da Justiça e da Paz”, mesmo que sobre um choque cultural que não tem especial relevo em Leiria, “pois não podemos virar costas a um problema que está numa fase inquietante, e que, no fundo, a todos envolve”. Oliveira Dias afirma a sua convicção de que “a diversidade cultural estará relacionada com o problema da paz, porque é também uma diversidade religiosa, como confirma a História, pelos muitos conflitos armados devidos a problemas de ordem religiosa”. A este propósito, o presidente da CDJP esclarece que os fenómenos de violência que ocorrem no mundo “são da responsabilidade de pequenos grupos, e as grandes religiões, inclusivamente a reli-gião muçulmana e os seus seguidores, não desejam conflitos armados”, pelo que “é importante que os países cristãos e os muçulmanos procurem pontos convergentes e não de afastamento”. “Este encontro não teve grande eco, pois não ultrapassou as fronteiras da Diocese, mas se fosse possível multiplicar este espírito por todo o mundo, evitar-se-ía um conflito de civilizações, pela via do diálogo, construindo uma comunidade de paz”, assegura.

Na sua intervenção, Adriano Moreira fez uma retrospectiva das experiências da sua vida e procurou demonstrar que a “diversidade de culturas não impede a paz, mas deve antes haver um esforço em redor dos textos fundamentais das religiões que estão emanados de questões sobre a paz”. A provar esse facto, o professor lembrou a existência, durante o tempo em que esteve nas Nações Unidas, de uma capela que

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funcionava como uma casa de oração de diversas religiões. “Apenas existe uma so-lução para a paz, que é o desarmamento global”, concluiu Adriano Moreira.

Narana Coissoró centrou-se na análise sobre a diversidade cultural em Portugal, assumindo a experiência da comunidade indiana que veio para Portugal, aquando da descolonização, grande parte da qual estava radicada em Moçambique. Quanto à situação de comunidades étnicas e religiosas em Portugal, considerou que “de momento, não há grandes problemas, mas estas comunidades não estão integradas na vida portuguesa, antes aprofundam os laços e as tradições entre os seus membros e tendem a criar guetos dentro da sociedade”. Com o evoluir dos tempos e “se não houver a integração destes povos, com o respeito pela diversidade, podemos vir a ter problemas no futuro”, alertou o presidente do Instituto do Oriente.

A Comissão Justiça e Paz de Leiria-Fátima pretende prosseguir estes diálogos, sobre temas variados. Depois do problema dos imigrantes e da exclusão social, ou-tros assuntos, “orientados pelos ideais da justiça social, da paz, do cristianismo e dos princípios da Doutrina Social da Igreja” poderão ser alvo de debate, de “aberta e transparente”, anunciou o Oliveira Dias.

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Secretariado Diocesano da Pastoral Juvenil

Fátima Jovem 2007:O desafio de renunciarmos a nós mesmos para pegarmos na nossa Cruz

Decorreu, no passado fim-de-semana de 5 e 6 de Maio 2007, mais uma edição do Fátima Jovem, ao qual se juntaram, como tem sido hábito, milhares de jovens de todo o País – entre eles, cerca de cinquenta da diocese de Leiria-Fátima – para descobrirem o desafio de “renunciarem a si mesmos e pegarem na sua cruz”.

Uma hora antes do início, eram já muitos os que se concentravam às portas do Centro Paulo VI, aguardando a abertura. De todos os cantos, gritavam-se cada vez mais alto os nomes das dioceses de origem. Apesar de poucos, também nós – jovens de Carvide e de Monte Redondo – fizemos soar bem alto o nome de Leiria-Fátima. Assim, rapidamente, criou-se um clima muito saudável, de união e fraternidade entre os presentes, que se intensificou dentro do auditório, a rebentar pelas costuras.

Neste ambiente festivo, todos saudámos Maria, entre cânticos, oração e medita-ção, e fomos sendo convidados a renunciar ao que nos separa de Deus e a seguir o seu Filho, tomando a nossa cruz. E porque a Cruz era o grande símbolo de todo o encontro, um dos pontos altos foi a entrada da Cruz Ecuménica, que vem desafiar todos os cristãos a viverem, unidos, a sua fé.

Depois de um bom jantar e de um momento de convívio, voltámos ao Santuário, para a oração do Rosário e a procissão das velas, preparando em espírito a vigília que nos esperava. Apesar da hora já tardia, o auditório voltou a encher para a oração, e tivemos a oportunidade de aprofundar o valor e a riqueza do ecumenismo. Em ambiente sereno, não menos festivo, com cânticos, representações e interpelações, fomos conhecendo melhor o que, no passado, levou à separação dos cristãos e a que vivessem de costas voltadas. Hoje, o desafio é voltarmos a viver numa união cada vez mais forte, em torno de Jesus Cristo. Ao som do hino deste Fátima Jovem – “Toma a tua Cruz e segue-Me” – saímos do Paulo VI com esse compromisso. Vi-vendo a nossa fé, queremos ainda cativar outros que não conhecem Jesus, para que se juntem a nós.

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Para finalizar a nossa peregrinação da melhor maneira, no domingo, juntámo-nos à multidão dos peregrinos na Eucaristia, presidida por D. Ilídio Pinto Leandro, bispo de Viseu. No “altar do mundo”, voltámos a ser desafiados a renunciar a tudo o que nos afasta de Deus e a tomarmos, de vez, a nossa cruz. Éramos muitos os jovens que enchíamos as escadarias do recinto e que, com ânimo, acolhemos as palavras de encorajamento de D. Ilídio, mostrando a todos que a nossa fé está viva e que estamos prontos a agarrar e assumir as nossas responsabilidades. No momento da Acção de Graças, colocámos as bandeiras das nossas dioceses em frente do altar, enchendo-o de cor. Em sinal do compromisso para com Deus e para com os irmãos, demos um nó nos nossos lenços brancos. Alguns, atando o seu ao do vizinho, formaram uma cor-rente que simboliza bem o espírito de união com que todos saímos deste encontro. As bandeiras acompanharam, depois, a imagem de Nossa Senhora, no cortejo final de regresso à Capelinha das Aparições.

O Fátima Jovem voltou a mostrar uma juventude activa e viva, em Igreja. Marco Silva, Grupo de Jovens Íris – Paróquia de Carvide

Peregrinação a Santiago de CompostelaO Secretariado Diocesano da Pastoral Juvenil (SDPJ) de Leiria-Fátima

está a preparar uma peregrinação a Santiago de Compostela, de 28 de Agosto a 2 de Setembro. “Sendo uma proposta diferente das habituais, pretende-se, através de um maior sentido de exigência, já que a peregrinação é feita a pé no tradicional caminho de Santiago, oferecer uma oportunidade de reflexão aos jovens”, salienta a organização, acrescentando que “uma caminhada pode ser um momento forte de espiritualidade”. Para esse efeito, haverá encontros de preparação espiritual, o primeiro dos quais decorreu no dia 22 de Junho.

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Escola de Formação Social de Leiria

Cinquenta anos de educação social

A Escola de Formação Social de Leiria (EFSL) celebra, ao longo deste ano, o seu cinquentenário como estabelecimento de ensino particular e cooperativo, de inspi-ração católica, situado na Quinta do Amparo, em Marrazes, fundado por monsenhor José Galamba de Oliveira. Com um diferenciado e animado programa já em execu-ção, as comemorações atingiram o auge no passado dia 23 de Junho.

Na sua longa existência de meio século, a escola possui uma vasta e eficaz tradi-ção na formação de educadores sociais. O estabelecimento nasceu em 1956, como resposta à necessidade, sentida na época, de formar profissionais habilitadas para, no meio rural, desenvolverem acções de promoção da mulher e garantirem a melho-ria das condições de vida, da maternidade e da vida doméstica, através de diversos meios e estratégias: ensinando noções básicas de higiene, enfermagem, culinária, puericultura, gestão e economia domésticas, criando e animando centros de activi-dades de tempos livres, promovendo a formação de jovens, etc.

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Numa altura em que a FAO se preocupava com o nível de desenvolvimento do meio rural português, a determinação e empenho de monsenhor José Galamba de Oliveira fizeram com que se criasse o curso de Agentes de Educação Familiar Rural, cujo enquadramento jurídico se obteve através de decreto governamental publicado em 12 de Julho de 1956.

Em 1962, o Ministério da Educação concedeu ao estabelecimento o alvará n.º 1679. Com a Portaria 1017/81, de 25 de Novembro, é criado o Curso de Educador Social, a funcionar nesta escola e na sua congénere de Lamego, com plano de estu-dos e cargas horárias próprios, que se manteve durante quinze anos.

Com a organização geral da reestruturação curricular do ensino secundário, aprovada pelo Decreto-Lei 286/89, de 29 de Agosto, reformulou-se o plano de es-tudos do referido curso, o qual consta do anexo ao Despacho 64/SEEI/96, de 31 de Dezembro, normativo legal que orienta a sua actuação. O curso até agora em fun-cionamento na EFSL confere um diploma de qualificação profissional de nível III, conforme decisão do Conselho das Comunidades Europeias, para efeitos de ingresso no mundo do trabalho.

Por ocasião da nova revisão curricular do ensino secundário, aprovada pelo Decreto-Lei n.º 74/2004, de 26 de Março, a escola propôs ao Ministério da Educa-ção a criação do Curso Tecnológico de Educação Social, com planos próprios, cuja estrutura ficou aprovada através da Portaria n.º 240/2005, de 7 de Março. Para além das disciplinas e respectivas cargas horárias, o actual curso prevê a realização de estágios de uma semana, três semanas e cerca de três meses, respectivamente, nos 10º, 11º e 12.º anos, este último com a particularidade de ser integrado no decurso do ano lectivo. Tal como qualquer curso tecnológico, está abrangido pela legislação constante na Portaria n.º 550-A/2004, de 21 de Maio, em termos de avaliação, certi-ficação e conclusão do nível secundário de educação.

Dado que é facultada aos alunos a possibilidade de realizarem um estágio de ini-ciação à vida activa, até ao ano lectivo 2005/06, com a duração de seis meses, todos têm conseguido colocação, sobretudo em instituições de solidariedade social. Outros enveredam pelo ensino superior, nomeadamente, nas áreas de Serviço Social, Edu-cação Social, Psicologia, Sociologia, etc. O número de alunas por turma tem sido variável ao longo dos anos. Habitualmente, iniciam o 10º ano cerca de 25 alunas, e terminam, cada ano, cerca de 20 finalistas.

Integradas no currículo, há, além das disciplinas comuns a outras áreas do ensino secundário, as disciplinas específicas deste curso: Psicopedagogia, Comunidade e Intervenção Social, Expressão Dramática, Expressão Plástica, Música e Canto, In-trodução à Informática e Legislação Social.

A formação é ainda enriquecida com artes decorativas, dança, conferências, de-bates, visitas de estudo, acções de formação de carácter religioso nas épocas mais significativas do calendário litúrgico católico, estágios intermédios de inserção no mundo do trabalho e o estágio final de seis meses.

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Valores educativosA acção educativa desta escola desenvolve-se no contexto dos seguintes valores

fundamentais: • Valores pessoais – tomada de consciência de si próprio como obra-prima de

toda a criação; desenvolvimento harmonioso de todas as capacidades e aptidões, designadamente: conhecer; querer; optar; imaginar; criar; admirar; trabalhar; amar; respeitar; perdoar; colaborar; comunicar; confiar; partilhar; ser livre e responsável.

• Valores Sociais – desenvolvimento da vida em grupo, onde cada um tem o seu papel a desempenhar; Incentivo da comunicação, escuta, diálogo, intercâmbio; pro-moção individual e colectiva em termos de solidariedade e justiça e não em termos de competição, domínio, selecção ou segregação.

• Valores Culturais – ensino de qualidade; valores específicos de cada matéria do currículo escolar; valores universais que constituem património da Nação e da Humanidade.

• Valores Cristãos – visão cristã do homem e do mundo; procura da síntese entre a fé e a cultura e entre a fé e a vida; confronto dos nossos critérios e atitudes com os critérios e atitudes de Cristo; descoberta do novo sentido que adquirem todos os saberes quando integrados no plano da criação e da redenção.

O fundador1903 - Monsenhor José Galamba de Oliveira nasceu a 4 de Fevereiro, no lugar de

Aldeia Nova, freguesia do Olival, concelho de Ourém. 1914 - Entrou no Seminário Patriarcal de Santarém. 1919 - Ingressou na Universidade Gregoriana de Roma, onde concluiu o bacha-

relato em Teologia e o doutoramento em Filosofia. 1926 - Foi ordenado presbítero, na Sé de Leiria, em 11 de Julho, e celebrou a

Missa Nova dois dias depois, no Santuário de Fátima. Foi nomeado prefeito do Se-minário de Leiria e assumiu também funções como professor em escolas da cidade e dinamizador da Acção Católica, do escutismo e da imprensa regional.

1933 - Em 19 de Março, fundou o semanário diocesano A Voz do Domingo. 1943 – Foi nomeado cónego da Sé de Leiria.1956 - Fundou a Escola de Formação Social e Rural de Leiria. 1983 - Foi nomeado monsenhor. 1984 - Faleceu a 25 de Setembro, em Leiria.

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Entrevista a D. António Marto*

“É uma diocese herdeirade um grande património espiritual”

D. António Marto entrou oficialmente na diocese de Leiria-Fátima no dia 25 de Junho de 2006. Um ano após ter tomado esta responsabilidade como Pastor, apresentamos nestas páginas uma revista sobre os prin-cipais passos que deu e a linha de acção que orientou as suas decisões pastorais.

Quisemos também saber como ele próprio analisa o decorrer deste ano e o que tem a dizer à Diocese, na perspectiva do futuro.

Um ano depois de ter assumido as funções de Bispo residencial de Leiria-Fáti-ma, as expectativas que tinha inicialmente estão a concretizar-se?

Com a experiência que trazia das dioceses por onde passei, o realismo da vida ensinou-me que a primeira prioridade para um bispo que chega a uma diocese é pro-curar conhecê-la, de perto e ao vivo, e tecer relações: conhecer a alma de um povo, o território na sua geografia e na sua história; e a comunidade eclesial em todas as suas componentes e os seus dinamismos e necessidades. Este propósito fui-o reali-zando ao longo do ano, de modo concreto através das audiências (407), de visitas a paróquias, comunidades e instituições (103), das celebrações a que presidi (171) e de uma série de reuniões com os serviços diocesanos. Assim foi possível criar, pouco a pouco, uma elação de empatia e de afecto com o povo de Deus e uma comunhão de intenções pastorais.

Quais as acções da vida da Igreja diocesana que mais o marcaram?Permito-me destacar as seguintes: o primeiro encontro com o clero que me aco-

lheu fraternalmente; o lançamento do Ano Pastoral na Assembleia Diocesana com 800 pessoas vivas e interessadas; o bom acolhimento da Carta Pastoral e da Carta às

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Crianças, em duas edições de 8000 exemplares, que se esgotaram rapidamente; as vigílias de oração pelas vocações, em cada vigararia, com grande correspondência do povo; um grupo de 150 jovens que reúne uma vez por mês para meditar e orar; a impressionante peregrinação do último 13 de Maio, com meio milhão de pessoas e os Congressos de alta qualidade sobre a Mensagem de Fátima. São sinais ricos de vitalidade e de esperança.Na entrevista que nos concedeu, um dia depois da entrada na Diocese, dizia que não queria ser o Bispo de Fátima a residir em Leiria. Como tem coordenado o trabalho entre Fátima e a Diocese?

Em boa verdade, devo confessar que dei prioridade à implementação do plano pastoral na diocese, sem contudo descurar o Santuário que já tinha um programa próprio para celebrar o 90º aniversário das Aparições. Também durante este ano me pude aperceber como, de facto, o Santuário funciona como “um pulmão espiritual” do País. Em Fátima, conto com a óptima colaboração de três bispos eméritos que lá residem e me têm ajudado muito.

O primeiro ano normalmente é de prospecção e de conhecimento da realidade. Foi também com esse espírito que entrou na Diocese. Neste momento consegue já delinear algumas das características e necessidades principais da Diocese?

Numa primeira impressão, direi que é uma diocese herdeira de um grande pa-trimónio espiritual, enraizada numa tradição cristã secular, mas que é atravessada por mutações culturais profundas e sacudida pelos ventos da secularização e da indiferença religiosa, sobretudo na camada jovem, como aliás está a acontecer em todo o Portugal. É necessário despertar a beleza e a alegria da fé, vencer um certo “complexo de vergonha” de ser cristão, e uma formação sólida na fé para resistir às tempestades culturais.

O problema mais urgente é a escassez de vocações sacerdotais numa diocese que foi um autêntico viveiro de vocações.

Quais as prioridades que pretende assumir para o próximo ano pastoral?O próximo Ano Pastoral será dedicado, como foi decidido no Conselho Presbite-

ral, à consolidação das propostas concretas que foram feitas nos dois anos anteriores dedicados ao acolhimento como primeira condição e primeiro passo da Evangeliza-ção e à beleza e alegria da vocação cristã. Também procedemos a uma reestruturação dos serviços diocesanos em ordem a uma melhor coordenação e operacionalidade da actividade pastoral. Em Janeiro de 2008, iniciarei a visita pastoral às paróquias, na qual porei todo o empenho para despertar uma onda de entusiasmo da fé e de comunhão eclesial.

* Publicada no jornal O Mensageiro, edição 4662, de 28 de Junho de 2007.

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Marcelo Cavalcante, novo diácono para a Diocese

“Quero levar Deus às pessoas”Entrevista de Joaquim Santos

Marcelo Cavalcante de Moraes tem 32 anos, é natural da cidade de Pindamo-nhangaba, Estado de São Paulo (Brasil), e foi um jovem como todos os outros, portador de sonhos e projectos. O desa-fio que mais lhe tocou o coração foi o de servir a Deus, entregando-se a uma causa, levando o Evangelho e a palavra do Senhor aos seus irmãos. Por isso, dei-xou de parte outras programações e fi-delizou-se ao motivo que mais o realiza: Deus. No dia 29 de Abril, pelas 16h00, na Sé de Leiria, o seu sonho começa a tomar contornos mais definidos, com a ordenação de diácono.

Como e quando surgiu o chamamento a uma vida dedicada a Deus?Fiz os estudos secundários no Brasil. Depois da catequese e do Crisma, aos 13

anos, não mais apareci na Igreja. Posso dizer que só tive a minha primeira experiên-cia de relação com Deus aos 18 anos, numa altura em que me senti particularmente sensibilizado para conhecer melhor o Senhor.

Qual foi o sinal que sentiste? O que despertou esse desejo?Com 18 anos, sentia um vazio enorme dentro de mim e, num retiro de jovens, a

que acedi, despertei para Deus. Vi que existia algo com mais sentido do que toda a vida que tinha levado até aquele momento. Percebi que era possível caminhar e ser de Deus, apesar de ter vivido experiências como as de todos os outros jovens. Gosta-va de música, teatro, namorava uma rapariga de quem gostava muito e tinha muitos “sonhos”… Mas o cenário de caminhar na Igreja ganhou força no meu ser.

Quais foram os primeiros passos nesse sentido?Juntei-me a uma equipa de liturgia da minha cidade e inseri-me no “Renovamento

Carismático Católico de Pindamonhangaba”, onde aprofundei o meu conhecimento de Jesus Cristo pelo Espírito Santo. Depois, foram aparecendo outras comunidades

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de renovação carismática e tudo se foi transformando no meu dia-a-dia. Acredito que se consiga servir Deus por outros caminhos, mas enveredar pelo sacerdócio é algo que não tem paralelo. Por uns tempos, senti-me dividido, porque queria servir a Deus, mas também pensava construir a minha vida conjugal. Mas o valor de Deus na minha existência “falou” mais alto.

O que decidiste então?Liguei-me à Comunidade Canção Nova e, em 1999, fui enviado para Portugal

como missionário. Neste país fiz o discernimento da minha vocação ao sacerdócio. Cheguei com o objectivo de perceber se esse chamamento seria inserido ou não den-tro da Canção Nova. Após a experiência de dois anos ao serviço desta comunidade, em Portugal, em 2000 decidi voltar para o Brasil e desligar-me dela. No ano de 2001, voltei para Portugal e entrei na comunidade “Luz e Vida”, fundada pelo pároco de Albergaria dos Doze, o padre Filipe Lopes.

Este regresso era já para assumir o caminho definitivo do sacerdócio?Sim. Tive uma conversa com D. Serafim Ferreira e Silva, que me autorizou a

efectuar os estudos sem a necessidade de residir no Seminário e continuei a minha missão, abraçando o projecto da comunidade “Luz e Vida”, desenvolvendo igual-mente alguns serviços na paróquia de Albergaria dos Doze e sabendo que iria ser padre da diocese de Leiria-Fátima. Durante cinco anos, todos os dias ia a Coimbra e regressava a Albergaria dos Doze. Neste último ano, entrei no Seminário, para a vi-vência decisiva, e sou acompanhado por D. António Marto, o novo Bispo diocesano, no propósito de vir a ser padre desta diocese.

Qual é o sentimento de quem vê aproximar-se a ordenação de diácono?Sinto uma motivação forte e uma felicidade enorme neste encontro especial com

Deus, com a Sua misericórdia e com o Seu amor. Hoje sei que Deus não é alguém, lá em cima, de braços cruzados à espera que a gente se “desenrasque” cá em baixo. Está permanentemente na nossa vida. Pretendo continuar a olhar para os jovens afas-tados de Deus e que não valorizam ou desconhecem esta importante relação com Deus. Quero levar Deus às pessoas.

Atendendo à tão falada “crises de vocações”, acha que a Igreja Católica deveria ajustar-se de alguma forma à sociedade actual, para cativar mais jovens para este ideal?

Sinceramente, acho que não. O que o Vaticano II trouxe, na sua renovação para a Igreja, é suficiente para o mundo actual. O problema é que muitas pessoas não conseguem fazer essa leitura, perceber que a Igreja já está renovada e adaptada a estes tempos. A dificuldade prende-se, essencialmente, com as constantes mudanças na sociedade, mas, no meu ponto de vista, a Igreja não deverá ir a reboque de tantos

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factos que desajustam a verdadeira vivência do indivíduo. A verdadeira mudança deve residir nas pessoas. Não podemos pensar na transformação da Igreja, pensando que o ser humano irá mudar. Cada um de nós deve alterar a sua maneira de pensar. A Igreja tem a sua base no Evangelho e cabe a cada um de nós corresponder a esse ide-al, independentemente da tradição ou de outros princípios. Por isso, se formos bons obreiros, a Igreja estará melhor. Cada mudança pessoal, cada característica humana, fazem com que a Igreja seja melhor.

Como futuro diácono de Leiria-Fátima, qual a sua opinião sobre a Diocese?Acho que a Diocese deve olhar hoje para o seu Bispo e ver nele um sinal de

Deus. D. António Marto trouxe-lhe um novo vigor. Sinto que ela está em cresci-mento e quer estar presente em todos os níveis da sociedade, missão que D. António desenvolve com um jeito acolhedor, com a sua maneira de falar e com a forma como anuncia o Evangelho.

Pindamonhangaba – A cidade de Marcelo CavalcanteData do final do século XVI a ocupação da área onde hoje se situa Pindamonhan-

gaba. No local, passou a existir uma “paragem”, com ranchos.Não se sabe exactamente quando é que a localidade passou a chamar-se Pin-

damonhangaba, nome indígena que significa “lugar onde se fazem anzóis”. Com terras excelentes, um clima ameno e uma posição geográfica invejável, tornou-se passagem obrigatória dos muitos viajantes que se deslocam do Vale do Paraíba para Minas Gerais.

Por volta de 1680, Pindamonhangaba já era um povoado, vinculado ao Termo (Município) de Taubaté. Foi nessa época que se desenrolou a construção do primeiro templo, a capela de São José, erigida por António Bicudo Leme e o seu irmão, Braz Esteves Leme. Em 10 de Julho de 1705, aquele povoado recebeu foros de vila e ficou politicamente emancipado.

Durante o século XVIII, desenvolveu-se em Pindamonhangaba uma actividade agropastoril, com predominância para a produção de açúcar e aguardente, em en-genhos. Durante o período do café, no Brasil, a cidade viveu a sua fase de maior brilho, destacada no cenário nacional. A partir de 1820, Pindamonhangaba tornou-se um grande centro cafeeiro, apoiado nas suas terras férteis e na mão-de-obra escrava. Nessa época foram construídos vários palacetes, como o “10 de Julho”, o “Visconde da Palmeira”, o “Tiradentes”, a Igreja São José e a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Bom Sucesso, ainda hoje marcos da riqueza produzida pelo café.

Pindamonhangaba foi elevada a cidade a 3 de Abril de 1849 e ganhou do cronista e poeta Emílio Zaluar o título de “Princesa do Norte”.

O ciclo do café extinguiu-se no final da década de 1920, não resistindo aos golpes da exaustão das terras, da libertação dos escravos e da crise económica mundial. A

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partir daí, Pindamonhangaba passou a apoiar-se na constituição de uma importante bacia leiteira, em extensas culturas de arroz e na produção de “hortigranjeiros”. Foi uma época de pequeno crescimento económico, até que, em finais de 1950, o Muni-cípio entrou no ciclo pré-industrial e, depois, de 1970 a 1985, conheceu uma fase de crescimento industrial acelerado, que o mudou profundamente até aos dias de hoje.

Experiências em comunidades “Canção Nova”

A Comunidade Canção Nova foi fundada pelo padre Jonas Abib, em 1978, na li-nha da Renovação Carismática. Tem o seu “embrião” na cidade de Lorena (São Pau-lo), mas actualmente tem sede na cidade de Cachoeira Paulista e dispõe de sistemas de rádio e televisão de longo alcance, que a estendem a outros países, como Portugal e França. Promove eventos, retiros, encontros, acampamentos de oração, e tem uma linha de produtos diversificada: livros, CD, vídeos, roupas, bonés, entre outros pro-dutos de promoção religiosa. Ajudar na missão evangelizadora é um dos principais objectivos. Hoje, a Canção Nova conta com um espaço (Rincão) para acolhimento, com capacidade para 70 mil pessoas sentadas, o maior vão livre da América Latina.

“Luz e Vida”É uma comunidade do Movimento Carismático Católico, nascida em 2001. A

Comunidade Luz e Vida tem sede em Albergaria dos Doze, na diocese de Leiria-Fátima, e quer “dar luz e vida a todos aqueles que quiserem apostar numa evange-lização renovada”, como refere o padre Filipe Lopes, seu fundador e dinamizador. A ideia desta comunidade começou a surgir “há muito tempo” no seu coração e no coração de outras pessoas. Pároco de Albergaria dos Doze, este sacerdote acredita que este milénio será religioso, mas “porventura não será cristão”. A comunidade Luz e Vida pretende ser um espaço para todos e, em especial, para os jovens. “Nós, cristãos, muitas vezes não estamos evangelizados e temos de ser evangelizados, não nos termos arcaicos, porque a sociedade mudou”, afirma o padre Filipe Lopes. Para tal, esta comunidade aposta na evangelização através da música, de encenações, de evangelização de rua, por entre a azáfama diária. Chegam a divulgar o evangelho ao lado dos artistas de rua e com acções que chegam até às praias.

A Comunidade está dividida em dois planos: os que vivem na comunidade, pre-dispostos para o trabalho de evangelização; e aqueles que vivem nas suas próprias casas, mas partilham dos mesmos ideais.

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Ambrósio Santos, presidente da Cáritas Diocesana

“A Cáritas é a resposta activa da Igrejaao mandamento do amor”

A Semana Nacional da Cári-tas decorreu de 4 a 11 de Março, marcada por inúmeras acções – desde dádivas de sangue a gestos de partilha – um pouco por todo o País, incluindo a nos-sa diocese. É uma ocasião anual de especial consciencialização e de convite à solidariedade, este ano sob o lema “Pela dignidade, igual oportunidade”.

Uma nota emitida pela ins-tituição para este dia recordava que “dois milhões de portu-gueses continuam a viver ainda abaixo do limiar da pobreza; uma pobreza que passa por muitos factores e tem mui-tas expressões: a falta de meios básicos de sustentação, os limites no acesso à educa-ção, os desequilíbrios salariais, a desigualdade nas pensões de reforma, o abandono de pessoas atingidas pela solidão, pela doença ou pela idade”. A mesma nota alertava para que “a construção duma sociedade mais solidária é uma interpelação que toca a todos, crentes ou não, e é o único caminho para um mundo onde valha a pena viver”, salientando que esta semana seria mais um convite “a passar das palavras aos actos”, sobretudo para os cristãos, pois “o essencial da sua fé passa pelo amor generoso, concreto, criador de vida humana digna”.

Na diocese de Leiria-Fátima, as acções de sensibilização passaram pela entrega de mais algumas casas às vítimas dos incêndios dos últimos dois anos, uma recolha de sangue, o tradicional peditório de rua e a realização do X Encontro da Família Cáritas de Leiria, um encontro de formação e convívio que junta, anualmente, os colaboradores mais próximos e amigos desta instituição.

Aproveitando a ocorrência desta semana temática, fomos entrevistar Ambrósio Santos, recentemente reconduzido no cargo de presidente da Cáritas Diocesana de Leiria.

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Foi reconduzido como presidente da Cáritas Diocesana. Que razões o levaram a aceitar esta responsabilidade?

A análise das condições, tanto externas como pessoais, em que me foi pedido este serviço à Igreja, levou-me a aceitar o cargo. Confio que, em tempo razoável, a Diocese encontrará soluções para um renovamento saudável e necessário.

Sabemos que nunca deixou de se preocupar com as questões sociais. Encara isso como uma vocação?

Acho que é, sobretudo, uma questão de sensibilidade, mais do que uma vocação. Uma sensibilidade que vem da observação das realidades à nossa volta e, também, da leitura dessas realidades à luz da fé.

No mundo extremamente desigual que todos os dias nos entra pela casa dentro, feito da opulência e esbanjamento de poucos e da extrema miséria de tantos, mesmo à nossa volta, o que tem de surpreender é a indiferença e acomodação. Não há-de preocupar o fazer parte dos 25% de privilegiados da terra? E hão-de viver pacificados e tranquilos os que se reconhecem como discípulos de Jesus e fazem do mandamento do amor o valor maior a determinar as suas vidas e critérios de agir? Antes de serem da Cáritas, entendo que estas preocupações têm de ser de toda a Igreja. Com todo o apreço pelo muito que se faz, a nível individual, ou pelo conjunto muito alargado de organizações que procuram responder às necessidades dos mais pobres, gostaria que o empenhamento dos cristãos na atenção aos que mais sofrem tivesse expressão mais consistente e persistente nas diferentes expressões da vida cristã.

Quais são as carências da Cáritas de Leiria-Fátima?As carências têm de se apontar depois de entendida a missão da Cáritas. Penso

que a mais importante é a animação da pastoral social na Diocese. Animação no sen-tido de suscitar, desenvolver, fazer crescer nas comunidades cristãs a consciência de que cuidar, com amor, dos que mais sofrem faz parte integrante da sua relação com Deus e de que, por isso, a paróquia, primeiro núcleo da organização da Igreja, deve também estar preparada para o exercício desta missão essencial.

Mas a Cáritas (e a Igreja) não pode ficar só pelo discurso. Dela se espera que participe na procura de soluções para os problemas humanos, sobretudo dos mais pobres. Tem de se reconhecer que o coração e o amadorismo podem muito; mas a complexidade dos problemas exige também competências específicas. Se acrescen-tarmos as competências que requerem a preparação, animação e acompanhamento presencial contínuo de uma colónia de férias para crianças, sobretudo nos nossos dias, compreenderemos a notória falta de recursos humanos para responder a desa-fios essenciais.

Outras necessidades a requerer solução urgente, como o gritante problema das instalações da Cáritas em Leiria, terá de reconhecer-se que são de outra natureza.

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Diz-se que a legislação torna a Cáritas demasiada burocratizada, e que isso é prejudicial à sua missão. É verdade ou é desculpa?

O processo de decisão da Cáritas é bastante agilizado e não padece de bu-rocracia. Mas admito que a pergunta esteja a referir-se a um programa da União Europeia que visa proporcionar um conjunto de bens alimentares às famílias mais pobres. A Cáritas aceitou ser mediadora desse programa, apenas para o concelho de Leiria, o que tem permitido a numerosas famílias e instituições beneficiarem desses produtos. As normas a que obedece aquele programa não são da Cáritas, mas da União Europeia. Não tenho dificuldade em reconhecer o excesso de procedimentos administrativos exigidos, e compreendo que alguns grupos paroquiais entendam não reunir condições para aderir. O papel da Cáritas, neste caso, é proporcionar a todas as famílias mais pobres a mesma oportunidade. Para tanto, cumpre-lhe procurar em cada comunidade uma entidade religiosa ou civil que proceda à distribuição final dos produtos e aos respectivos procedimentos administrativos.

Conhece certamente outras Cáritas diocesanas. Que áreas de ajuda são contem-pladas em outras Dioceses e não na nossa? E por que razões?

As organizações, da Igreja ou da sociedade civil, reflectem, em cada tempo, o valor acumulado do investimento feito em pessoas e meios materiais ao longo do tempo, bem como as diferentes sensibilidades, dinamismos e espírito de iniciativa dos diversos agentes, também das opções tomadas por cada Igreja local, à luz de re-alidades naturalmente distintas. Por esse motivo, as Cáritas diocesanas têm hoje uma configuração distinta em cada diocese. Comunidades terapêuticas, serviços de apoio domiciliário, valências de creche, jardins-de-infância, formação profissional, apoio aos sem-abrigo, são apenas alguns dos diferentes caminhos trilhados. As que se or-ganizaram nesta linha firmaram protocolos com o Estado, beneficiando dos apoios para cada uma das valências. Neste domínio, a Cáritas de Leiria é herdeira de uma configuração singular, que a engrandece, mas não deixa de condicionar o seu desen-volvimento. A sua casa na Praia do Pedrógão é um equipamento de inquestionável valia social, tanto para os mais novos, como para os mais velhos. As actividades ali desenvolvidas, todavia, por serem de carácter periódico e sazonal, não se enquadram nas valências tipificadas, não sendo, por isso, comparticipadas. Assim, tudo o que a Cáritas de Leiria é e faz tem as marcas da gratuidade e do voluntariado, e está de-pendente, exclusivamente, dos recursos variáveis que os cristãos e outras pessoas de boa vontade lhe confiam, por ocasião dos chamados “peditórios” na Semana Cáritas. Não custa, assim, compreender que os recursos afectos ao funcionamento e conser-vação de um importante equipamento social condicionam apostas noutras áreas.

Se pudesse falar sobre a Cáritas, a cada pessoa da Diocese, o que diria?Não seria preciso começar, nem pelo Catecismo da Igreja, nem pela Carta dos

Direitos do Homem. Está hoje inscrita na consciência dos homens e, em particular,

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dos crentes a dignidade comum de cada pessoa humana e a solidariedade fundamen-tal que une todas as pessoas e povos da terra. Diria que a Cáritas é, em cada canto do mundo, uma escola que forma e educa para estes valores, em que assenta a har-monia, a segurança e paz; desperta cada pessoa para a consciência da sua dignidade, ajudando-a a retomar os caminhos da autonomia e da realização pessoal; e desperta para iniciativas de entreajuda capazes de reparar a dignidade ferida e consolidar os laços da nossa fraternidade comum. Diria que a Cáritas é a resposta activa e organi-zada da Igreja ao mandamento do amor: espaço de partilha e de comunicação cristã de bens. Onde uns dão o tempo e capacidades, outros são convidados a confiar-lhe também bens materiais, do que lhes sobra, ou mesmo faz falta, para que a outros não falte tanto.

Acrescentaria ainda um sentido obrigado pelos sinais de compreensão e de apoio com que muitos amigos têm distinguido a Cáritas.

Albergaria dos Doze 390.26 €Alburitel 136.88 €Alcaria 56.00 €Aljubarrota 262.48 €Alpedriz 0.00 €Alqueidão da Serra 460.00 €Alvados 85.00 €Amor 375.00 €Arrabal 312.50 €Arrimal 179.45 €Atouguia 185.19 €Azoia 0.00 €Bajouca 615.28 €Barosa 0.00 €Barreira 262.00 €Batalha 504.50 €Bidoeira 447.75 €Boa Vista 83.85 €Calvaria 150.00 €Caranguejeira 591.53 €Carvide 0.00 €Carnide 0.00 €Casal dos Bernardos 421.05 €Caxarias 0.00 €Cercal 113.92 €Coimbrão 433.45 €

Colmeias 175.19 €Cortes 105.00 €Cruz da Areia 360.00 €Espite 388.09 €Fátima 3,061.68 €Santuário de Fátima 8,705.08 €Formigais 82.50 €Freixianda 435.00 €Gondemaria 89.05 €Juncal 255.89 €Leiria 1,360.86 €Maceira 909.34 €Marinha Grande 665.56 €Marrazes 565.00 €Matas 221.00 €Meirinhas 152.50 €Memória 277.00 €Mendiga 46.95 €Milagres 365.00 €Minde 380.00 €Mira de Aire 258.15 €Monte Real 327.21 €Monte Redondo 533.00 €Olival 0.00 €Ortigosa 194.44 €Ourém (Misericórdias) 386.26 €

Ourém (Piedade) 646.75 €Parceiros 418.97 €Pataias 331.39 €Pedreiras 265.00 €Porto de Mós 483.49 €Pousos 211.11 €Regueira de Pontes 347.95 €Reguengo Fetal 249.44 €Ribeira do Fárrio 240.90 €Rio de Couros 261.50 €Sta Catarina da Serra 620.92 €Sta Eufémia 362.00 €S. Bento 22.10 €S. Mamede 686.00 €S. Simão de Litém 495.16 €Seiça 251.27 €Serra S.to António 36.00 €Serro Ventoso 55.74 €Souto da Carpalhosa 0.00 €Urqueira 472.84 €Vermoil 283.00 €Vieira de Leiria 300.00 €

Total das paróquias 33,407.37 €

Peditório de rua 22,874.51 €

Total geral 56,281.88 €

Ofertório diocesano para a Cáritas - 2006

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A propósito do 90º aniversário das aparições de Fátima

“Maria, rosto maternoda misericórdia divina”Padre Armindo Janeiro

Com a realização do congresso internacional Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo..., sobre o mistério trinitário de Deus, damos início à terceira parte do programa celebrativo do nonagésimo aniversário das aparições de Fátima, evo-cando as aparições de Nossa Senhora. Uma leitura mais atenta do programa não terá dificuldade em descobrir que a sua principal fonte de inspiração são as aparições do Anjo... Uma tal opção justifica-se pela redescoberta do mistério central da fé cristã nas últimas décadas, exemplarmente testemunhada na preparação e celebração do Grande Jubileu do Ano 2000, que nos permite compreender melhor o alcance da Sua presença na mensagem de Fátima. Neste contexto, não admira que o Santuário de Fátima Lhe tenha dedicado a nova igreja, em fase final de construção.

Olhando para as duas primeiras partes do programa, elas centraram-se nas três aparições do Anjo (da Primavera ao Outono de 2006) e na meditação dos “desígnios de misericórdia” do Altíssimo (de Novembro de 2006 a Abril de 2007), anunciados pelo Anjo aos três Pastorinhos. De facto, olhar o fenómeno de Fátima à luz do amor misericordioso de Deus Pai permite-nos não só uma leitura mais ampla do Evento, como também o acesso àquele contínuo profundo da história da Salvação, onde Deus, mistério de Amor em Si mesmo, Se revelou para nós como misericórdia até à loucura da Cruz.

Ao nosso tempo, enclausurado na sua autonomia, importa anunciar a liberdade maior do amor de Deus que não conhece limites quando se trata de libertar o ho-mem de todas as suas amarras. Em nome dessa escandalosa liberdade divina, dom incondicional de Si mesmo pela vida dos homens, impõe-se um desafio à cultura europeia: que ouse reconhecer a bondade da acção de Deus, não como vontade de poder, mas como vida entregue por amor, suspensa entre o céu e a terra, à espera do nosso acolhimento!

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À Modernidade, na verdade, falta um último passo para que se possa cumprir coerentemente: depois de ter reivindicado para o homem a liberdade de se decidir, precisa agora de reconhecer esse mesmo direito ao amor misericordioso de Deus. Não porque o Pai precise desse reconhecimento para agir, mas porque dele necessi-tamos nós para compreender o que Deus fez e faz por nós, e que é sempre a nosso favor, para nosso bem! Sem este reconhecimento, a cultura ocidental esvazia-se da sua originalidade e fundamento, e os seus valores tornar-se-ão tão inconsistentes e irrelevantes quanto as opiniões dos seus defensores.

Em Fátima, há lugar para as duas liberdades: a da iniciativa amorosa de Deus e a da resposta do homem, testemunhadas na vida dos Pastorinhos. Ali, recuperado e respeitado na sua dignidade pelo amor misericordioso de Deus Pai, o homem é restituído à sua liberdade de filho; ali, Deus revela-Se não como inimigo, mas como amigo e confidente!

Aos discípulos do Senhor pede-se hoje a ousadia de anunciar, no diálogo com todos os homens e mulheres, a beleza do mistério trinitário de Deus, como o especí-fico da fé cristã. Enquanto mistério de comunhão, absolutamente necessário para a renovação eclesial e para a construção de uma sociedade mais livre, justa e fraterna, ele permite-nos uma mais ampla compreensão das realidades humanas e ajuda-nos a superar a fractura entre cultura ocidental e cristianismo.

Para a realização deste objectivo também Fátima poderá ajudar, pois ali o misté-rio da Santíssima Trindade, em íntima relação com o mistério Eucarístico, rompeu o seu secular isolamento e deu-se a conhecer a três crianças, em ternas e sublimes experiências, como que a convidar toda a Igreja, pela mão dos mais pequeninos, a redescobrir o coração do mistério cristão e a inscrevê-lo no centro das nossas vidas e da vida das nossas comunidades cristãs para que possa resplandecer no mundo...

No que diz respeito à terceira parte do programa celebrativo, para além das pere-grinações aniversárias e outras iniciativas agendadas mensalmente, ele concentra-se sobretudo na primeira e última aparições de Nossa Senhora.

Em Maio, acompanham o Congresso Internacional sobre o Mistério Trinitário de Deus, uma exposição pedagógica sobre iconografia trinitária, uma peça de teatro sobre a vida familiar dos pastorinhos e a apresentação, pelos seus coordenadores, da Enciclopédia de Fátima.

Em Outubro, para evocar a última aparição na Cova de Iria e encerrar as celebra-ções, será inaugurada a nova igreja da Santíssima Trindade e realizado o congresso internacional “Fátima para o Século XXI”, relendo a história do Evento e projec-tando-o para o futuro. Serão também organizadas duas exposições: uma de Arte Sacra intitulada “Salve Rainha, Mãe de Misericórdia” e outra de fotografia sobre a presença de “Fátima no Mundo”; será ainda apresentada a tradução da obra de Santo Agostinho “De Trinitate” e estreada a oratória: “Fátima, sinal de Esperança para a Humanidade”.

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A Ressurreição de Cristo: fonte da esperança cristã

Do porquê ao para quêPadre Pedro Viva

Apesar do homem dos tempos pós-modernos já não a-creditar somente na razão e na ciência como única fonte de resposta para os seus problemas e, mais ainda, para as questões que perguntam pelo sentido último da existência, na verdade, muitos ainda não se abriram ao sobrenatural, à fé em Deus que daria esse sentido último. Talvez porque ainda não lhes chegou a Boa Notícia que Deus quer fazer chegar a to-dos os homens. Porque introduzidos num credo, seja ele qual for, o que aprenderam foram coisas de Deus, mais do que estabelecer uma relação com o Deus das coisas. Porque na maioria daqueles que se dizem crentes, viram pessoas tão ou mais angus-tiadas do que aquelas que dizem não ter crença alguma.

Num contexto assim, marcado pelo vazio e pelo sem sentido, a solução, para muitos, passa pela distracção, pelo aproveitar a vida, por reger a sua conduta por valores que cada um tece à sua medida e lhe dão mais jeito e, em relação ao sentido de eternidade que grita dentro de cada um de nós e que não conseguimos calar, co-locados diante da morte que não nos deixa mais ser como somos, atabalhoadamente alguns afirmam que depois da morte se sobrevive, no tempo, nos descendentes ou na fama que cada um procurou construir de si mesmo. Mas quer uma quer outra hipótese fracassam redondamente: “o que fica não é o próprio eu, mas apenas um seu eco, uma sombra. Assim se chega, finalmente, à conclusão de que a imortalida-de auto-suficiente nada mais é do que um Hades, um sheol: é mais não-ser do que ser”1. Porque o outro não me perpetua a mim, mas um eco de mim, e, também ele, não tendo subsistência por si, acabará por se desvanecer no tempo e se perder na memória. Estará o homem irremediavelmente perdido no sem sentido, condenado à morte desde que vive?

A profissão de fé na ressurreição de Jesus Cristo é, para o cristão, no dizer do Papa Bento XVI, “a expressão da certeza de que aquela frase que parece ser apenas um belo sonho corresponde mesmo à verdade: «O amor é forte como a morte» (Cant 8,6).”2 Só Deus nos pode amparar, pois Ele é antes de tudo e para lá de tudo, Ele é ser por excelência: “Eu sou aquele que sou” (Ex 3,14), porque os outros não são. Aquele que é em si e por si. Que me sonhou e ama. Fonte da minha e da tua existência, hori-zonte último da minha realidade, garante da minha ontologia. O amor de Jesus pelos homens, levado ao extremo, pois Ele deu a vida na Cruz, por sua vez é um amor correspondido por Deus Pai, que não o deixa cair no silêncio do sepulcro, mas o sustenta porque o faz ressuscitar. E se Cristo ressuscitou, os que amam como Cristo amou e confiam N’Ele, serão resgatados para sempre das garras da morte, pois “se

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nós temos esperança em Cristo, apenas para esta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens. Mas não! Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram” (1ª Cor 15, 19-21). S. Paulo vivia esta certeza: “já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim”. Por isso chega a zombar com aquela realidade que, a nós humanos, nos mete mais medo: “Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?” (1ª Cor 15, 55).

A fé cristã assenta arraiais diante do Mistério Pascal de Cristo: da Sua passagem desta vida para o Pai. Cristo, assumindo incarnar no tempo, pelo nascimento, sai do tempo, pela morte. A eternidade faz-se tempo, para que o tempo se faça eternidade, isto é, Jesus fez-se homem, para resgatar o homem para Deus. E o modo como o fez foi amando o homem até ao extremo. A Sua morte foi a coroa do que foi a sua vida. E porque Jesus Cristo morreu como viveu, morreu amando, morreu rezando, Deus Pai o ressuscitou (Act. 2,24). À pergunta: “porquê a ressurreição de Jesus?” responde-mos: porque Jesus, o Cristo, é Deus, aquele que é e não deixará nunca de ser e os que acreditam n’Ele viverão. Deus criou-nos para que vivêssemos para sempre. Todo aquele que morre, ressuscita. “os que tiverem praticado o bem, para uma ressurrei-ção de vida; e os que tiverem praticado o mal, para uma ressurreição de condenação” (Jo 5,29). Cristo morreu e desceu à mansão dos mortos, como todos os que morrem. Mas a sua morte foi diferente. Porquê? Aqui acrescentamos o para quê da morte e ressurreição de Cristo, porque o Mistério Pascal é um só, formam um todo a paixão, morte e ressurreição. Morreu por quê ou por quem e para quê? Morreu por nós, por amor, para nos dar a vida e por isso destruiu a morte para sempre, compreendida como o não ser. No dizer de Hans Von Balthasar “morreu por puro amor, por amor divino-humano: a sua morte foi o maior feito desse amor, e o amor é a coisa mais viva que existe. Por isso, também o seu estar realmente morto – e isto quer dizer a perda de qualquer contacto com Deus e com os outros seres humanos – é um acto do amor mais vivo. Aqui, no máximo grau de solidão, esse amor será pregado aos mortos, e mesmo mais: é partilhado com eles”.3 Em Cristo, a morte ganha um novo significado para nós: purificação. Ocasião de nos oferecermos generosamente nas mãos de Deus Pai, como Jesus se ofereceu ao Pai. È Jesus que abre um caminho da perdição eterna até ao céu. As trevas, para Deus, não têm obscuridade. Na morte de Cristo, que assumiu as nossas culpas, o justo pelos injustos, diz-nos Von Balthasar “o nosso morrer miserável é assumido neste «morrer para» que é o mais vivo que há, de tal forma que tudo o que é humano, o seu ser gestado, o seu viver e o seu morrer se encontre envolvido e abrigado numa vida que já não conhece limites”.4

Ao abandono do Pai, sentido na cruz, responde o Filho abandonando-se confia-damente nas mãos do Pai, oferece-lhe o Espírito. Esta experiência de dor e sofrimen-to é feita em comunhão com todos os crucificados da terra em oblação confiante ao Pai por amor do mundo. Mas não é apenas o Filho que se oferece: é toda a Trindade. No dizer de Bruno Forte, “ao sofrimento do Filho, corresponde pois um sofrimento do Pai: Deus sofre sobre a cruz como Filho que se oferece, como Pai que O oferece,

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como Espírito, que é amor que promana do Seu amor sofredor. A cruz é a história do amor trinitário pelo mundo: um amor que não se sujeita ao sofrimento, mas que o escolhe.”5 É um sofrimento escolhido e aperfeiçoado no amor porque o resgata, porque “o vive como dom e oferta de que jorra a vida nova do mundo”6. A partir do Mistério Pascal de Jesus, não só temos razões para a esperança feliz na ressurreição, mas desde já podemos viver os sofrimentos presentes numa atitude oblativa, como o Senhor. Um sofrimento não procurado, mas acolhido como oblação, oferecido por nós ao Pai.

Na Eucaristia, antecipação do sacrifício da Cruz, Jesus ensina-nos que é dando a vida que a recebemos. A Eucaristia será, pois, para nós, o alimento de cada dia que não nos deixa des-animar. A Eucaristia sem cruz, seria um gesto sem sentido. A Cruz sem Eucaristia ficaria sem contexto. O que lhes dá o sentido pleno? A Ressurreição. Por isso Bento XVI, na Quaresma de 1983, nos exercícios espirituais à Cúria, afir-mava: “A Ceia sem a Cruz, a Cruz sem a Ceia pareceriam vazias; mas as duas sem a Ressurreição seriam uma esperança naufragada. A imagem do lado trespassado, fonte de água e sangue, é também uma imagem da Ressurreição, do amor mais forte do que a morte. Na Eucaristia recebemos este amor – recebemos o remédio da imor-talidade (…). Só nos encontraremos no caminho da vida se seguirmos Jesus pelo caminho da sua Cruz”7.

Porquê a Ressurreição de Jesus? Porque a morte não podia vencer a vida, porque Deus não podia ficar calado diante dum silêncio vazio e absurdo. A força da Ressur-reição transformará o nosso próprio corpo mortal, dando-lhe a vida que já não tem fim. De Deus só podemos esperar fidelidade. Do homem espera-se responsabilidade para acolher este amor de Deus capaz de fazer do homem, um ser para a morte, um ser para a vida. Nas palavras do Santo Padre “em definitivo, a fé na Ressurreição diz respeito ao poder real de Deus e ao alcance da responsabilidade humana. Eis o conteúdo libertador da revelação pascal: o poder de Deus é esperança e alegria. Na Páscoa, Deus revela-se a si próprio, revela a sua força – que é superior às forças da morte -, a força do amor trinitário. Assim, a revelação pascal dá-nos o direito de cantar «Aleluia» num mundo sobre o qual paira a nuvem da morte”8. Que a luz da Ressurreição do Senhor ilumine os passos da nossa caminhada, rumo à casa do Pai.

Notas1 Cr. JOSEPH RATZINGER, Introdução ao Cristianismo, Principia, Cascais, 2005, 220.2 IBIDEM, 221.3 Cf. HANS URS VON BALTHASAR, Credo, Meditações sobre o símbolo dos apóstolos,

Gráfica de Coimbra, Coimbra, 1997, 55.4 IBIDEM, 61.5 Cf. BRUNO FORTE, Breve introdução á fé, Ed. S. Paulo, Águeda, 1993, 59.6 Cf. IBIDEM, 597 Cf. JOSEPH RATZINGER, O Caminho Pascal, Lucerna, Cascais, 2006, 112.8 Cf. Ibidem, 120.

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A propósito de um centenário

Espírito de D. Manuel de Aguiar continua vivoPadre João Trindade

Em recente visita ao hospital D. Manuel de Aguiar (“hospital velho”), pouco depois de transpor o átrio, dei-me com uma lápide em pedra amarela, bem visível e artisticamente trabalhada, na qual se encontra gravada a seguinte inscrição: “À me-mória de D. Manuel d’Aguiar, o virtuoso Bispo e fundador d’este Hospital – Leiria, em testemunho de gratidão, 22 de Abril de 1907”.

Nesta altura, em que se ultimam as obras de restauro deste edifício, pareceu-me oportuno dar a conhecer algumas notas acerca do homem que a referida lápide evoca e do espírito que ele viveu e tanto desejou transmitir aos que seguiriam os seus pas-sos na recta orientação da instituição por ele iniciada.

Como nasceu o hospitalQuando D. Manuel de Aguiar che-

gou a Leiria, depressa se deu conta das muitas tarefas que tinha pela fren-te e dos desafios que a Diocese lhe lançava. A vida cristã dos diocesanos, a formação do clero secular e regular, bem como as instituições de ensino e assistência aos pobres, depressa se harmonizaram dentro do programa pastoral que trazia na mente e no co-ração, e que já havia dado frutos por onde passara. Os doentes e pobres, porção eleita das suas preocupações na abadia de Santa Cruz-do-Douro e, depois, na prelazia de S. Martinho de Soalhães, tiveram razões para chorar a saída do seu abade, chamado a assu-mir novas tarefas.

As condições em que os doentes da cidade de Leiria eram acolhidos e cuidados, nas dependências e águas-furtadas do hospital anexo à igreja da Misericórdia, transferidos dos

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hospícios e gafarias disseminados pela cidade, não eram minimamente aceitáveis. Anuindo ao convite da Mesa Administrativa da Misericórdia para o cargo de prove-dor, impunha-se, à sua consciência encontrar solução mais digna e estável.

Abandonada a alternativa da margem esquerda do Lis, por causa dos assorea-mentos frequentes que provocavam enormes prejuízos a residentes e comerciantes, D. Manuel de Aguiar escolhe, para a implantação do novo hospital, o local onde se encontrava a capela de Nossa Senhora dos Anjos, na margem direita. Com o bene-plácito da Rainha D. Maria I, procedeu à trasladação das ossadas ali existentes, para o cemitério contíguo à Sé, onde, mais tarde, também os seus restos mortais viriam a ser sepultados.

Entretanto, confiada a elaboração do projecto a Joaquim de Oliveira, mandou abrir os alicerces onde foram encontradas mais ossadas, respeitosamente recolhidas e levadas para o cemitério da Sé.

O entusiasmo do Bispo contagiou os mais cépticos. Guilherme Stefens, fundador da Fábrica de Vidros da Marinha Grande, ao visitar o local para o projectado hospital e ao tomar conhecimento da sua grandiosidade, a avaliar pela área edificanda, já de-marcada, ter-se-á voltado para o Bispo, exclamando: “Tem Vossa Excelência, aqui, obra para dez anos”. Ao que o prelado terá respondido: “Veremos”.

Com a fé e empenho do Bispo e a ajuda das pessoas de boa vontade, a obra estava concluída em fins de Maio de 1800. A 8 de Junho do mesmo ano, festa da Santíssima Trindade, os doentes internados nas precárias instalações contíguas à igreja da Mise-ricórdia eram transportados para o novo hospital. O Bispo, colaborou no transporte dos doentes com a sua própria carruagem, e serviu-os, à mesa, na primeira refeição.

Quando tudo parecia correr de feição, surgiram, de súbito, as primeiras e grandes dificuldades, originadas pela crise política que o País atravessava, e que Napoleão, levado por ambições imperiais, não quis desperdiçar. De Novembro de 1807 a Ou-tubro de 1810, deram-se as devastadoras Invasões Francesas, que arruinaram o País com incêndios, pilhagens e carnificinas. A diocese de Leiria foi das zonas que mais sofreram. Na primeira invasão, o Bispo teve de se refugiar, no convento de Santo António, na Figueira da Foz, e, na última, por imposição do Governo, retirou-se para Lisboa. Muitas casas, de particulares e de instituições, foram incendiadas. O invasor levava tudo no que tinha valor e quantos se lhe opunham eram feridos ou mortos.

Quando, de uma e outra vez, D. Manuel de Aguiar regressou à Diocese, logo pro-curou inteirar-se do que se havia passado e do estado da Catedral, do Seminário, da residência episcopal e do seu querido hospital, onde acorreu a visitar tantos feridos e doentes, socorrendo-os nas primeiras necessidades. Era o pastor zeloso e solícito com os mais frágeis do seu rebanho.

O espírito de caridade do Bispo fez nascer em Leiria muitas obras orientadas para os mais pobres, como o fizera nas paróquias de que fora abade nos verdes anos do seu ministério paroquial, e teve a magia de contagiar outros, que, embora não comungando da sua fé, lhe deram todo o apoio e continuaram as obras por ele iniciadas.

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Primeira homenagem A Misericórdia de Leiria e o Hospital não tiveram vida fácil nos anos que se

seguiram. Nas convulsões políticas, esta e outras instituições da Igreja sofrem sem-pre difíceis embates. A extinção da Diocese de Leiria, em 1882, e a implantação da República, em 1910, comprovam-no à saciedade.

Há um século, o clero da extinta Diocese procurava aproveitar todas as oportu-nidades para reafirmar que o espírito diocesano estava vivo nas gentes de Leiria. De entre os actos públicos promovidos por esta altura, destacamos a trasladação dos restos mortais dos bispos D. Pedro Vieira da Silva, D. Manuel de Aguiar e D. João da Fonseca Manso, tumulados no antigo cemitério contíguo à catedral, que já se encontrava desactivado e, por isso, muito abandonado. Os padres José Maria Dias, professor de Filosofia no Seminário, José Fernandes Maia, pároco de Leiria, e José Lira de Oliveira, pároco de Colmeias, pessoas benquistas entre o clero e respeitadas mesmo pelos liberais mais aguerridos, promoveram as necessárias diligências e prepararam, cuidadosamente, o programa da trasladação dos prelados que tão zelo-samente serviram a diocese.

A referida comissão formulava os convites às entidades oficiais, sensibilizava o clero e dava conhecimento aos bispos portugueses do seu propósito de honrar e dar sepultura condigna a quem tanto trabalhara pelo engrandecimento de Leiria. Outros encarregavam-se da burocracia junto das autoridades administrativas e sanitárias ou da parte litúrgica. Outros, ainda, preparavam, com Ernesto Korrodi, as inscrições tumulares, redigidas por pessoa culta, para serem esculpidas em pedra amarela, da pedreira da Opeia. Os párocos, sobretudo do arciprestado, iam sensibilizando os seus paroquianos.

Para ninguém se sentir excluído, o convite chegava aos habitantes da cidade, por anúncio no jornal republicano “Leiria Ilustrada”: “Para que se dignem assistir à cerimónia da trasladação das venerandas cinzas dos bispos de Leiria,... e às exéquias solemnes, que hão de ter logar na egreja da extincta Sé, d’esta cidade, no dia 22 d’Abril pelas 9 horas da manhã”.

As forças vivas da cidade e o clero, nomeadamente do arciprestado, responderam à chamada. 22 de Abril de 1907 foi de homenagem digna aos Bispos evocados, com destaque para D. Manuel de Aguiar, e de grande impacto para a causa da restauração diocesana. Os políticos liberais da cidade, nada interessados na Diocese, aproveita-ram para se destacar. Após a tumulação na extinta Sé, às três horas da tarde, com a anuência do padre Belarmino Ferreira, mordomo da instituição, seria prestada ho-menagem pública, no átrio do hospital, ao virtuoso fundador. Foi então descerrada a lápide de gratidão a que nos referimos no início deste apontamento.

Nem os mesários da Santa Casa da Misericórdia de Leiria, já confrontados com os tumultos que precederam o regicídio contra D. Carlos e o príncipe Luís Filipe, ficaram indiferentes. Pressentindo os intentos dos corifeus da República, em torno do poder, tornaram bem patente, para o tempo e para os vindouros, a sua gratidão

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ao virtuoso, inteligente e dinâmico Bispo, pelo hospital doado à Cidade e à Diocese que, nesta altura, lutava pela sua restauração.

Por vontade de uns e de outros, ali se encontra, há um século, gravada em pedra, a expressão da gratidão de todos os leirienses, crentes e agnósticos, a testemunhar que o espírito do Bispo Aguiar continua presente, desde aquela hora difícil, na be-nemérita instituição.

Ao cumprirem-se cem anos, a 22 de Abril, sobre a colocação deste documento na parede frontal do patamar da ampla escadaria do hospital, creio não vir a despro-pósito lembrar estes elementos importantes que historiadores leirienses nos legaram sobre o fundador do Hospital de Leiria e, por que não, algumas das muitas vicissitu-des desta instituição, ao longo de dois séculos de existência.

Mais perto de nós, podemos recordar outras datas e acontecimentos ainda não totalmente inventariados, que muito perturbaram as instituições ligadas às Miseri-córdias.

Vicissitudes deste tempoA revolução de 25 de Abril de 1974 abalou profundamente a actividade do Hos-

pital de Leiria. Quem não recorda as manifestações de rua a pedir o saneamento de pessoas que asseguravam, por vezes em situações muito difíceis, o seu normal fun-cionamento? Com um simples decreto de um Governo Provisório os hospitais das Misericórdias foram integrados no regime nascido da revolução. E quanto atropelo e oportunismo, bastando a inscrição num partido para açambarcar funções para as quais não se tinha a mínima preparação!

Quando, concluídas as obras do novo hospital, o velho edifício, desactivado, foi devolvido à Misericórdia, eram bem visíveis os sinais de vandalismo. Muito do seu recheio havia sido transferido para as novas instalações, muitas outras coisas foram objecto de pilhagens sucessivas. Livros antigos, com quase dois séculos, pertencen-tes à instituição, objectos relacionados com a prática da medicina e da enfermagem, quadros evocativos, quanto não desapareceu na voragem de sucessivos saques!

O refazer do sonhoNo tempo que se seguiu à devolução do edifício à Misericórdia, pensou-se muito,

executaram-se estudos e fizeram-se diligências para se dar um destino digno a um dos mais nobres imóveis da cidade.

A Mesa Administrativa da Santa Casa da Misericórdia de Leiria, saída das eleições de Novembro do ano 2000, presidida por Fernando Alberto Lopes dos Santos, havia-se apresentado ao eleitorado com um ambicioso programa, inspirado nas palavras de João Paulo II, em audiência aos representantes das Misericórdias: “Sede promotores da civilização do amor e testemunhas infatigáveis da cultura da caridade”. Entre os vários projectos do programa desta lista, alguns já concretizados,

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encontrava-se a recuperação do histórico edifício para a área da saúde.Não admira que este provedor tenha abraçado com entusiasmo e paixão o em-

preendimento. Durante os longos anos em que exerceu as exigentes e complexas funções de director, dotou o hospital de importantes melhoramentos.

Na sua grandiosidade, o edifício aí está, restaurado e com todos os requisitos para bem servir a comunidade. O provedor da Santa Casa e os mesários que o acompa-nharam no longo e difícil percurso, são credores da gratidão, dos irmãos e de toda a comunidade que é beneficiária. Esta foi, sem dúvida, a melhor forma de afirmar que o espírito de D. Manuel de Aguiar continua bem vivo na Misericórdia de Leiria.

Nem tudo está feito. Os irmãos desta instituição, toda a comunidade e os poderes públicos terão de secundar tão ingente esforço e colaborar, com os meios necessá-rios, para que o Hospital D. Manuel de Aguiar, restituído à sua genuína finalidade, possa prosseguir a sua história bissecular.

Biografia breveManuel de Aguiar, filho de Pedro de Aguiar e de Mariana Nunes Dourada, nasceu

em Évora, a 8 de Dezembro de 1751.Fez os primeiros estudos na sua cidade natal e contactou, de muito perto, com

Cartuxos e Carmelitas das ordens ali existentes. Em 1772, matriculou-se na Faculda-de de Teologia da Universidade de Coimbra. Por influência do reitor, decidiu-se pela carreira eclesiástica e veio a receber Ordens Menores, a 23 de Março de 1776. Con-cluiu com louvor as provas de doutoramento em Teologia, a 13 de Julho de 1778.

Em 1779, foi apresentado à abadia de Santa Cruz-do-Douro pelo patrono desta instituição, D. Tomás Xavier de Lima, Marquês de Ponte de Lima. Ali exerceu o seu ministério de forma exemplar.

Em 1786, em reconhecimento dos bons serviços prestados e zelo pastoral, é transferido, com o título de prelado, para a abadia de S. Martinho de Soalhães, cir-cunscrição eclesiástica de maiores responsabilidades e rendimentos. Onde exerceu o seu ministério, os seus dotes pastorais foram visíveis e os seus conhecimentos teológicos notórios entre os melhores mestres da Faculdade. Informada de tais pre-dicados, a Rainha D. Maria I não tardou a propô-lo para Bispo de Leiria, cuja sede havia vagado, por morte de D. Lourenço de Lencastre. A confirmação, por parte da Igreja, ocorreu a 21 de Junho de 1790. Sagrado a 15 de Agosto, entrou solenemente na diocese, a 31 do mesmo mês.

A sua morte ocorreu a 19 de Março de 1815.

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A capela de S. Simão de LeiriaSaul António Gomes1

Desde os seus princípios que o castelo de Leiria serviu de residência aos sobe-ranos de Portugal. D. Afonso Henriques, que o fundou em 1135, habitou-o algumas temporadas, como, depois, o fizeram de forma mais ou menos conjuntural todos os seus sucessores. Nos primeiros tempos da Leiria medieval, contudo, os cómodos reais devem ter-se atido à envolvência mais imediata do sítio militar da penha ou do último reduto, onde hoje se ergue a altiva torre de menagem, obra refeita pelo rei D. Dinis já nos finais do seu proveitoso reinado.

A dignidade da Família Real, contudo, cedo obrigou a novas opções em matéria habitacional. Sabemos que, em 1152, a vila primitiva estava toda amuralhada e que, por esses anos, sensivelmente, já a bela igreja românica de S. Pedro se ergueria. O local desta revelava-se mais acomodado e desafogado para a edificação de uns paços régios à altura das exigências palatinas, sem qualquer prejuízo de segurança para os nobres residentes, porquanto as muralhas da vila, a que se acedia apenas pelas portas fortificadas do Norte ou do Sul (mais tarde também chamadas vulgarmente de Coimbra/Castelinhos e, no lado oposto, do Sol). A vila e o castelo amuralhados eram suficientemente fortes para que reis e rainhas, em tempos medievos, naturalmente, aqui guardassem parte do tesouro real.

Sabemos, sem qualquer dúvida, que os primeiros paços régios, verdadeiramente à altura dessa função, foram edificados a par da igreja de S. Pedro. Existiriam já nos alvores de 1200, conquanto as notícias documentais mais claras que os referenciam pertençam ao primeiro lustro do governo de D. Afonso III. Neles e na sua conjuga-ção arquitectónico-urbana com a igreja matriz de S. Pedro, reuniu D. Afonso III as suas famosas Cortes de 1254, nas quais, comprovadamente, o braço popular teve voz e representação oficial reconhecida.

D. Dinis deve ter ampliado e reformado esse palácio real, no qual, ele e sua mulher, a futura Rainha Santa Isabel, habitaram frequentes temporadas2. Mais tarde, aí viveram, também, o nosso rei D. Fernando I e sua esposa, D. Leonor Teles. Este monarca, aliás, reuniu aqui Cortes por duas vezes, em 1372 e em 1376, sendo bem conhecidas as suas itinerâncias cinegéticas pelos campos leirienses, em especial por alturas de Regueira de Pontes e por Monte Real.

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Pertencem a D. João I os Paços Novos, aqueles que, restaurados no século XX, hoje dão mote de ex libris inconfundível à gótica cidade de Leiria. Neles viveram longas temporadas os reis D. Duarte, o Regente D. Pedro e D. Afonso V, governantes que tiveram por Leiria, em cujo termo erguiam o majestoso Mosteiro de Santa Maria da Vitória, cujas obras gostavam de acompanhar e admirar, indisfarçável predilec-ção.

A construção destes Paços Novos ou de D. João I, impôs que se começasse a chamar aos paços de a par de S. Pedro ou, simplesmente, de S. Pedro, “Paços Ve-lhos”. Eram estes, segundo cartas do Século XV, espaçosos e com boa horta, pomar e jardim do lado nascente. D. Afonso V, por exemplo, reserva-os para si, posto que tenha cedido ao Conde de Vila Real, em 1475, os Paços Novos, o que nos parece dever ter algum significado em termos de abonação da qualidade residencial que o velho palácio real ofereceria ainda então.

Tinham estes Paços Velhos, decerto deste muito cedo, e inegavelmente já com D. Dinis, capela palatina incorporada, a Capela de S. Simão. Esse plano construti-vo-arquitectónico, de habitação real e capela palatina integrada ou associada à aula principesca, atesta-se já para palácios como o que D. Afonso Henriques tinha em Coimbra, sede por excelência da Monarquia portuguesa desses tempos fundacionais da nacionalidade. Os paços reais de Lisboa ou de Sintra conheceram igual funciona-lidade. Nos Paços Novos ou de D. João I, ainda hoje se observa a ligação física do edificado à igreja de Santa Maria da Pena, elevada a estatuto de capela palatina por esse facto3.

Tiveram as capelas reais portuguesas intitulações várias. Inicialmente, houve clara preferência pelo orago de S. Miguel, posto que a Casa Real de Portugal conte, entre os seus santos de eleição, outros titulares, nomeadamente, S. Vicente. Os pró-prios reis tinham devoções particulares, como D. Dinis a S. Dinis e D. Pedro I, por exemplo, a S. Bartolomeu. A devoção ao Apóstolo S. Simão teve, por terras de Leiria medieval, alguma relevância. Uma das principais paróquias rurais do Priorado era, precisamente, a de S. Simão de Litém. A Capela dos Paços Velhos, como vemos, era-lhe igualmente dedicada, comemorando-se o respectivo aniversário ferial em 28 de Outubro. Conhece-se pouco da vida deste apóstolo. Trata-se de Simão, o Cananeu ou o Zelota, tendo sido um dos Doze Apóstolos de Cristo. Terá pregado o Evangelho no Egipto e na Pérsia, juntamente com S. Judas Tadeu, este de mais larga popularidade, como é bem conhecido, em espaço de colonização portuguesa como seja o Brasil, tido por advogado das causas impossíveis.

A associação de S. Simão à evangelização do Médio Oriente poderá indiciar que a devoção ao mesmo tenha sido incentivada pelo fervor religioso que se vivia numa Europa cristã que, desde o Século XI, alimentava movimentos cruzadísticos e incentivava grandes fluxos de peregrinação à Terra Santa. Quer seja, quer não, o caso leiriense demonstra que também no seio da Realeza portuguesa, ao menos ao tempo de Santa Isabel, tal orago mereceu atenção e compromisso.

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Não há qualquer dúvida quanto ao reconhecimento da existência da Capela de S. Simão nos paços régios de Leiria no reinado de D. Dinis, em geral, e no senhorio que sobre o Concelho teve D. Isabel de Aragão, sua esposa. Foi no altar dessa ca-pela palatina que, em Maio de 1322, D. Dinis jurou pazes com seu revolto filho, D. Afonso IV, encontrando-se este em Pombal, assim conhecendo termo a Guerra Civil de 1319-1322, na qual, cumpre lembrá-lo, muitas famílias leirienses perderam bens e entes queridos.

D. Isabel, em 26 de Junho de 1326, comprometeu-se a entregar ao Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra bens e propriedades que atingissem uma renda anual de 200 libras. Em troca, os Crúzios cediam à Rainha o direito útil sobre duas fontes, situa-das em Coimbra, num local chamado Pombal, que passariam para o património do Mosteiro de Santa Clara, e comprometiam-se a sustentar um cónego, da “Casa de Leiria”, isto é, da comunidade clerical cujo centro colegial estava em Santa Maria da Pena, que rezasse perpetuamente, na capela de S. Simão de Leiria, todos os dias, as horas canónicas e uma missa por intenção de D. Isabel:

“E de maes lhes quer dar a sa capella de Sam Symon de Leirea. (…) Item pede a dicta Senhora Rainha e roga os dictos prioll e convento do dicto Moesteiro de Sancta Cruz que continuadamente tenham em Leirea huum seu coneguo que aja raçam na Casa de Leirea como cada huum dos outros que hi vivem estremadamente pera dizer na dicta Capella de Sam Symão pela alma da dicta Rainha cada dia as oras canonicas e hûa missa, e se acontecesse per caymento da dicta capella ou per outra qualquer razom que o dicto coneguo e capellam nom podesse na dicta capella dizer as oras e a missa sobredictas então seja theudo de as dizer alhur e loguo que el puder torne a dizer as dictas oras e misa na dicta capella como dicto he, ao qual coneguo e capellam proveram os dictos prioll e convento cada anno de cinquoenta livras das dictas duzentas livras e as outras cento e cinquoenta livras ou maes ou meos como acontecer por cada anno fiquem aos dictos prioll e convento dos coni-gos tanto do dicto Moesteiro de Sancta Cruz os quaes partam antre sy de guisa que huum nom aja mais que ho outro salvo que o dicto priol aja duas reções como a da vistiaria.”4

O acordo em causa foi cumprido e a capelania fundada, tendo-lhe sido associado, como se viu, o pagamento de 50 libras anuais ao capelão nomeado para servir em S. Simão de Leiria. Previa o clausulado do contrato, curiosamente, a possibilidade da capela ruir e de o cónego ou capelão ter de celebrar os ofícios fora dela, cautela que parece indiciar o reconhecimento de que o edifício da capela não seria propriamente construção nova ao tempo da piedosa Rainha.

Ao que conseguimos apurar, os bens adquiridos, em boa parte provenientes de terras até então pertencentes a D. Sancha Mendes5, e que vieram a dotar a capelania de S. Simão, dispersavam-se pelo termo de Leiria, muito em especial na área do ac-

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tual Concelho da Batalha, afirmando-se, entre eles o Casal da Cela (nas imediações de Brancas e Alqueidão da Serra). Outros bens, situados junto a Leiria, constavam igualmente desse património associado ao sustento dos gastos desta capelania de fundação isabelina.

Sabe-se que, a 2 de Dezembro de 1326, João Eanes, clérigo da Rainha, e Martim Rodrigues, seu almoxarife em Leiria, entregavam a D. João Durães, prior de Leiria, e a Rodrigo Álvares, cónego de Santa Cruz, “todo o Casal com sas vynhas que ffoy de Sancha Meendes”, avaliado o seu rendimento anual em 71,5 libras. A 2 de Junho de 1330, D. Isabel solveria aos Crúzios o que ainda restava da dívida contraída em 1326, entregando-lhes uma nova propriedade, adquirida a Lourenço Eanes Mealha-da e a sua mulher, situada no “termho de Leyrena en logo que chamam a Olhalva”, avaliada em 53,5 libras de renda, “per razom da agua do Poonbal que estes Priol e convento a mym deram e por razom dos anyverssayros que my an de fazer e da Capela de San Simhom de Leyrena que my an de mãoteer”6.

Narra o Autor de O Couseiro, redigido por finais da década de 1650, mas fonte segura nesta matéria, que a “Egreja de S. Simão” — sublinhemos que a classifica significativamente como igreja e não capela — fora mandada fazer por D. Dinis, di-zendo que ela: “não tinha capella, mas somente o corpo da egreja, e n’elle um altar, com guarda-pó por cima, armado sobre quatro columnas de pau; tinha a egreja de comprido cincoenta palmos, e de largo vinte e cinco e d’alto, do frechal a baixo, trinta palmos.”

Alude o prestimoso autor da historiografia leirenense, de seguida, à visitação que o Licenciado Gonçalo Aires de Sá fizera, episcopando Leiria D. António Pinheiro, à igreja, encontrando-a em mau estado: “na qual [visitação] mandou reformar o telhado, e para isso mandou se embargasse a dicta renda, na mão de Simão Fernan-des Cordeiro, que a cobrava.”7

Era, como vemos, edifício sem abside, capela rectangular com aproximadamente 10m de comprimento por 5m de largo e 6m de alto. Um frechal, decerto gótico, per-mitia a iluminação do templo. Como vemos, D. Isabel de Aragão preocupou-se com esta capela palatina por 1326. Senhora de Leiria, a ela se deve, segunda a tradição colhida ainda no livro O Couseiro, um programa de enriquecimento do tesouro da igreja de Santa Maria da Pena ou de Leiria, cumulando-a de relíquias sagradas, em ordem a promover, de algum modo, nessa matriz do Priorado leiriense, uma função centralizadora de igreja-santuário digna da visita e da peregrinação espiritual dos fiéis cristãos8.

Depois da criação do Bispado de Leiria, em 1545, os bens da Capela de S. Simão mantiveram-se na posse do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, não tendo, pois, transitado para a Mitra ou para o Cabido da Sé leiriense. Esta realidade, contudo, não foi isenta de perturbação, chegando o bispo D. Brás de Barros a agir como se a Capela de S. Simão pertencesse de facto à Mitra.

Os documentos que aqui publicamos, elucidando o estado e a administração eco-

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nómica desta capelania, sobretudo ao longo de Quinhentos, deixam entrever que, por 1530, a administração do património da mesma andava descuidada. Sabemos que naquele ano, por exemplo, a vinha e canavial do Rolhão andavam mal explorados, tendo o então vigário crúzio de Leiria, D. Diogo Dias, procedido ao seu empraza-mento, sem contrato escrito formulado, a um João Peres, tecelão, pelo foro de um quarto de tudo o que ali se produzisse em cada ano9.

A capelania era avocada, em 1552, por um Manuel de Palme, que reclamava para si as rendas da mesma, com o argumento de que essa capelania ter sido integrada no património comendatário do Cardeal João Riccio ou de Montepulciano, que lho cedera a ele10. Este poderoso e influente eclesiástico da Cúria romana, fora elevado à púrpura cardinalícia por Júlio III, vindo a falecer, com a provecta idade de mais de 80 anos, em 157411.

O litígio movido por Manuel Palme ao Bispado de Leiria não tinha fundamen-to, porquanto a Capelania não perdera o seu estatuto realengo, cumprindo ao Rei, a sua reparação e reforma, enquanto Santa Cruz de Coimbra continuava a deter a administração e as obrigações religiosas estabelecidas sobre a mesma em 1326. O incidente, contudo, interessou, logo em 1552, D. Fr. Brás de Barros, o qual, tomando como positiva a contenda, chegou a exercer actos administrativos sobre o património da capelania, sob reserva de que, vindo a comprovar-se o efectivo direito do Santa Cruz sobre tais bens, os actos estabelecidos transitariam em favor desse Mosteiro crúzio12.

A 24 de Setembro de 1555, Domingos Dias, do lugar do Alqueidão da Serra, termo de Leiria, contratou-se com o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra para ama-nhar as terras da Capela de S. Simão, sitas justamente no dito lugar do Alqueidão13. Em 25 de Maio de 1557, Belchior Dias, de Leiria, arrendará do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, por quatro anos, as terras e bens da Capela de S. Simão de Leiria, mediante o pagamento de 16 mil reais anuais14. A 15 de Fevereiro de 1580, Mateus da Azambuja estabeleceu um outro prazo, em vida, do Casal da “Sella”15. Pouco depois, a 24 de Abril de 1581, o já mencionado Domingos Dias estabeleceu novo acordo sobre as terras da Capela de S. Simão situadas no Alqueidão da Serra, prazo sobre o qual viria a recair o pagamento da ração do terço das colheitas e mais cinco queijos por ano.

Um prazo datado de 7 de Maio de 1620, concedia os direitos de exploração a António Vieira, morador no Alqueidão [da Serra], em três vidas, pelo foro de 40 alqueires de trigo, duas galinhas, à razão de terrádigo de um para dez, das terras das Celas, citamos:

“(…) em como no lugar das Cellas está hum casal que pertence a Capella de Sam Simão da cidade de Leiria de que o dito Mosteiro era direito senhorio, e era prazo de vidas o qual casal andava ermo e desaproveitado avia muitos annos sem ter quem o fabricasse e em tal estado que as casas estavam por terra e algûas olivei-

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ras he carvalhos e outras arvores que tinha tudo cortado como cousa sem dono e as terras e vinhas muitas delas em pousio e mato, de sorte que se não reduziria o dito casal abentestado sem muito gasto (…) ”16.

Este prazo viria a ser renovado a Francisco Vieira, do mesmo lugar do Alqueidão, a 8 de Outubro de 1674, sendo trazido, em 1833, pelo Padre Francisco Amado, daquele lugar17. A 5 de Agosto de 1673, regista-se novo contrato de prazo sobre as propriedades de S. Simão no lugar da “Sella”, então termo de Leiria, desta feita com Jorge Dias, morador nas Brancas18. Referir-se-á, também, ao património desta Capela de S. Simão, o contrato de prazo em vidas, celebrado por Manuel da Silva, do lugar do Carquejal (Porto de Mós), com os Cónegos Crúzios, em 18 de Março de 1738, sobre o chamado “Prazo da Cella”19. Finalmente, anotemos que se situavam na “Sella de Cima”, as terras da antiga Capela de S. Simão, emprazadas no dia 12 de Maio de 1825, a Francisco da Silva, morador no Carquejal (Porto de Mós)20.

Mau grado o apuramento dos direitos de senhorio e administração eclesiástica sobre a Capela, que eram efectivamente crúzios, em 1589, ela foi alvo de visitação diocesana, verificando-se o estado de arruinamento em que se encontrava, pelo que se determinou a sua imediata reforma e arranjo, determinação a que o rendeiro dos bens da capelania deu efectivo andamento, ali gastando 16 mil reais. Neste momen-to, contudo, os Cónegos crúzios reagiram denunciando a arbitrariedade das autorida-des diocesanas leirienses e a invasão do seu privilégio sobre S. Simão de Leiria21.

A Capela de S. Simão interessava, seguramente, aos Bispos de Leiria, porquanto foi junto a ela que se estabeleceu, ainda em meados de Quinhentos, o primeiro paço episcopal da cidade. Era edifício bem posicionado, do qual, em 1594, por ocasião de uma breve visita que Gianbattista Confalonieri fez a Leiria, se tomavam vistas agradáveis sobre a cidade de Rodrigues Lobo. Escreveu esse ilustre eclesiástico, referindo-se ao paço episcopal, que: “As casas do bispo estão longe da igreja [cate-dral], e são cómodas, e em particular a varanda nobre.”22

Governando o Bispado D. Fr. António de Santa Maria, entre 1616 e 1623 — neto del-rei D. João II, prelado que fora da Ordem dos Eremitas de Santo Agostinho, em cujo Convento de Leiria, pela sua morte, viria a ser tumulado — foi a capela de S. Simão de Leiria arrasada, abrindo caminho para uma, certamente desejada, reforma arquitectónica do Paço Episcopal, instalado justamente no sítio dos antigos Paços Velhos del Rei23.

O orago não terá sido esquecido, (não o foi, pelo menos, na memória arquivística relativa à questão)24, sobrevivendo, contudo, a “Capela”, enquanto espaço construí-do, nos Paços Seiscentistas que hoje constituem um dos mais notáveis exemplos da arquitectura solarenga leiriense do Século XVII. Nessa Capela, e em quatro outros compartimentos do nobre edifício, se chegou a instalar, entre 1918 e 1927, o acervo do Museu Regional de Leiria, no qual se destacavam as peças artísticas que haviam pertencido justamente à casa episcopal leiriense25.

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Da antiga Capela de S. Simão, como vemos, resta, hoje em dia, uma memória escrita, a das fontes arquivísticas que a iluminam, e uma memória patrimonial, a do edifício dos Paços Episcopais seiscentistas, nobre edifício onde, no passado mais recente, se localizou o Quartel de Artilharia Nº 4 e que, em 2007, continua a ser sede da Polícia de Segurança Pública do Comando de Leiria.

Aspecto das salas do Museu Regional de Leiria por 1961, quando instalado no edifício capitular da Sé, cujo acervo permanecera, em parte, entre 1918 e 1927, na antiga capela do velho Paço Episcopal.

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Documentos

Doc. 11326 JUNHO, 26, Coimbra — Contrato estabelecido entre a Rainha D. Isabel e

o Prior e Convento do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, cedendo estes as duas fontes da Quintã do Pombal, para abastecimento de água do Mosteiro de Santa Clara de Coimbra, contra a entrega de bens, em Leiria e no Bispado de Coimbra, que valessem a renda anual de 200 libras. Estipula-se que os Cónegos de Santa Cruz celebrariam um aniversário por alma da Rainha, saindo sobre o seu túmulo, para além de, na Capela de S. Simão de Leiria, ficarem obrigados a trazer um ca-pelão que ali rezasse quotidianamente as horas canónicas e uma missa pela mesma intenção.

B) TT — Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, Livro 7, fls. 19vº-22.C) — TT— Santa Clara de Coimbra, Caixa 1 de Documentos do Século XIV,

pública-forma de 3 de Janeiro de 1619, Coimbra.

Contracto feyto antre a raynha Dona Ysabel molher del rey Dom Denis e o prior e convento do Moesteiro de Sancta Cruz per o qual o dito prior e convento deram aa dicta Rainha per o seu Moesteiro de Sancta Clara duas fontes da Quintãa do Pombal e a dicta Rainha lhe deu beens em termo de Leirea que rendem setenta livras e obri-gou se a lhe dar outros beens que rendessem cento e trinta livras pera comprimento de ijc que lhe prometeu e o prior e convento sam obrigados a yrem cada anno fazer lhe saymento solemne sobre sua sepultura e lhe dizerem hûa missa cantada e asy a cantarem a Capella de Sam Symão de Leyria cotidiana e asy lhe ham de hiir dizer outra missa por dia de Todolos Sanctos solemnemente e sairem sobre a sua sepultura e nom se acha que comprissem com cem as Cxxx livras.

xxxviijº.Em nome de Deus amen. Saibham quantos este pubrico stormento virem como

na Era de mil e trezentos e sasenta e quatro annos vinte e seis dias de Junho perante as testemunhas que adiante sam scriptas, scilicet, Mestre Marcolo doctor de Degre-do, Pero Stevez sobrejuiz, Afonso Martinz thesoureiro da Rainha adiante scriptos no Moesteiro de Sancta Cruz de Coinbra no cabiido desse Moesteiro no luguar hu som usados o priol e os coneguos do dito Moesteiro a yr e a fazer os cabiidos no qual luguar Dom Frrancisco priol e convento desse Moesteiro de Sancta Cruz eram asumados e ajuntados como diserom stremadamente pera estas cousas que adiante som dytas. Os ditos priol e convento dizendo e protestando que elles todos eram asu-mados emsembra em esse luguar como cabiidoo que fazem compridamente per cam-pãa tamjuda como he de seu custume convento e cabiido. E que outro coniguo nem outra pessoa nom erã presemte na villa nem alhur que ouvesse voz ou devesse a ser

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chamado ou podesse viinr convenhavelmente a esso luguar pera fazer e emderençar estas cousas que adiante sam scriptas. E demais disserom e protestaram que muitas vezes convierom e ouveram trautado e falla em esse lugar pera goardar e escolher o bem e o prol desse Moesteiro sobre aquello que a mui alta e mui nobre senhora Dona Isabel pella graça de Deus rainha de Portugal e do Alguarve pidia e quiria fazer ao dicto Moesteiro de Sancta Cruz convem a saber que lhe queria dar livremente pera sempre tantos beens e tantas possisões e tantas herdades como segumdo comunal estimaçam possam valer convinhavelmente duzentas livras de Portugal. E quanto menguar a paga das dictas terras e possisões que agora lhes dava ataa as duzentas livras que lhes dara entregua em dinheiros por dia de Natal cada anno ataa que lhes perfaça terras tantas e possisões que valham a contia das dictas duzentas livras com estas sobredictas terras e possisões que agora lhes daa. E de mais lhis quer dar a sa Capella de Sam Symon de Leirea. E pede a dicta Senhora e Rainha aos dictos prioll e convento que lhes dem por razom do seu Moesteiro de Santa Clara dalem da Ponte de Coinbra // [Fl. 20] o quall ella fundou e edificou e fez acrecentar como padroeira desse Moesteiro de Sancta Clara da agoa a qual nace na terra do dicto Moesteiro de Sancta Cruz no logar que chamam o Pombal sobre o dicto Moesteiro de Sancta Clara contra ho meyodia. Da qual agoa pede a dicta Senhora Rainha duas fontes tam so-lamente pera ho dito seu Moesteiro de Sancta Clara as quaes fontes som cheguadas hûa com outra e nacem aa costeira sobre o dicto Pombal e som ora mais acheguadas ao dicto Moesteiro de Sancta Clara ca as outras fontes que som mais contra ho meyo-dia e cheguadas a dicta costa as quães ficam ao dicto Moesteiro de Sancta Cruz.

Item pede a dicta Senhora Rainha a terra hu nacem estas duas fontes e perque se possa levar esa agoa livremente ao dicto seu Moesteiro de Sancta Clara e hûa bra-çada de terra ao redor das ditas fontes e dentro pello cano pello qual ha d’hir a dicta agoa ao dicto Moesteiro de Sancta Clara hum covado de terra de cada parte d’arredor e juncado com ho dicto cano com todollos seus direitos per que se possa servir e adu-bar. E de mais se cumprir hir e viinr e estar com huum carro mas nom ajam poder de chantar nem de samear de fruitos nhuun mais per mandado da dicta Senhora Rainha e de seu Moesteiro de Sancta Clara e nom doutra pessoa sem sa lecença se possa hir viinr estar aas dictas fontes e cano como dicto he e per bem teverem nem se es-tendam mais do que dicto he. E que ho dicto priol e convento do dicto Moesteiro de Sancta Cruz nom façam nem leixem fazer carcova nem outra cousa per que a dicta agoa mengue ao dicto Moesteiro de Sancta Clara. E se acontecer em alguum tempo per trimimento de terra ou per alguum outro caso fortuito ou per qualquer razom que a dicta agoa ou parte della se colhese aas outras fontes do dicto Moesteiro de Sancta Cruz ou se spargesse pella terra do dicto Moesteiro de Sancta Cruz que a dicta Se-nhora Rainha e o dicto Moesteiro de Sancta Clara fazendo saber ao dicto priol de Sancta Cruz ou ao seu convento possam tirar e filhar e apanhar a dicta agoa quamdo e como mester for livremente sem outro embarguo dos dictos prioll e convento do dicto Moesteiro de Sancta Cruz goardando se sempre quanto poder de fazer mali-

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ciosamente dampno ao dicto Mosteiro de Sancta Cruz e desto seja contempta a dicta Senhora Rainha. E sy mais pedir ou filhar pera o dicto Moesteiro de Sancta Clara da dicta agoa que percam porem as dictas fontes e as outras coussas sobredictas.

Item pede a dicta Senhora Rainha e roga os dictos prioll e convento do dicto Moesteiro de Sancta Cruz que continuadamente tenham em Leirea huum seu co-neguo que aja raçam na Casa de Leirea como cada huum dos outros que hi vivem estremadamente pera dizer na dicta Capella de Sam Symão pela alma da dicta Rai-nha cada dia as oras canonicas e hûa missa, e se acontecesse per caymento da dicta capella ou per outra qualquer razom que o dicto coneguo e capellam nom podesse na dicta capella dizer as oras e a missa sobredictas então seja theudo de as dizer alhur e loguo que el puder torne a dizer as dictas oras e misa na dicta capella como dicto he, ao qual coniguo e capellam proveram os dictos prioll e convento cada anno de // [Fl. 20vº] cinquoenta livras das dictas duzentas livras e as outras cento e cinquoenta livras ou maes ou meos como acontecer por cada anno fiquem aos dictos prioll e convento dos conigos tanto do dicto Moesteiro de Sancta Cruz os quaes partam an-tre sy de guisa que huum nom aja mais que ho outro salvo que o dicto priol aja duas reções como a da vistiaria.

Item pede a dicta Senhora Rainha que ho dicto convento de Sancta Cruz seja theudo em cada huum anno ho dia de seu anniversairo de sair sobrela sa sepultura ao dicto seu Moesteiro de Sancta Clara hu entende de se fazer soterrar e de celebrar hi solemniter hûa missa por sa alma sobre a dicta sopultura. Outrosy cad’anno no dia de mortuorum seja theudo o dicto convento de se ir sobre a dicta sepultura a dizer solemnemente hûa missa pella alma da dicta Rainha. E se acertase ho dicto anni-versairo no dicto dia de mortuorum façam ho dicto hoficio de anniversairo em esse dia e no outro dia primeiro façam esse mesmo oficio por a sa alma no dicto luguar. E se acontecesse qu’a nom podesem por alguum embarguo nos dictos <tempos> sair sobre a dicta sepultura a cellebrar as dictas misas por rezam da dicta ponte que quebrase ou por outro caso fortuito ou qualquer outro embarguo ou rezam elles nom saissem como dicto he devem em estes comeyos a cellebrar duas misas calladas por a alma da dicta Rainha cada domaa no dicto seu Moesteiro de Sancta Cruz ataa que sayam como dicto he sobre a dicta sepultura e cellebrem as dictas duas misas solem-nemente como dicto he.

Item disserom os dictos priol e convento que conssiramdo e veemdo muito bem e muita merce que a dicta Senhora Rainha ante a morte e depois a morte do mui alto e mui nobre senhor Dom Denis seu marido a que Deus perdõe pella graça de Deus rey de Portugal e do Alguarve fez e faz e pode fazer ao dicto Moesteiro de Sancta Cruz. Item consiramdo e veendo segundo a prol e a contia do valimento da dicta agoa e da dicta terra que pede a dicta Senhora Rainha e o que da a dicta Senhora Rainha e pede ao dicto Moesteiro de Sancta Cruz. Item consirando e veendo que se o dicto priol e convento do Moesteiro de Sancta Cruz sem outra pitiçam fezesse ou dissese a dicta Senhora Rainha o dicto oficio eclesiastico que fariam bem e em reconhecimento dos

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dictos beens e dos outros que receberom dos outros Reis e das Rainhas de Portugual que dotaram e acrecentaram esse Moesteiro de Sancta Cruz. Item consirando e ve-endo os dictos beens que a dicta Senhora Rainha lhes quer dar por a dicta maneira e via e que magnifestamente eram proll do dicto Moesteiro de Sancta Cruz a fazer e acrecentar por a sobredicta maneira as cousas sobredictas. E que elles bem viam e eram certos que Deus e a dicta Senhora Rainha em esto lhes fazia gram bem e grande merce que asy ho quiriam fazer e roguavam a honrrada pessoa Stevam Dade chantre de Viseu presente procurador da dicta Senhora Rainha que perante autoridade e po-der dhûa procuraçam da dicta Senhora Rainha fecta per mão de Bertholameu Perez tabeliam e seellada do verdadeiro seello da dicta Senhora Rainha da qual procura-çom o teor em cima deste comtracto se segue quisese fazer e fezese sem detardança as dictas cousas e o contracto dellas e emtom ho dicto procurador per spicial man-dado da dicta Senhora Rainha e per autoridade da dicta procuraçam deu livremente pera sempre aos dictos priol e convento // [Fl. 21] do dicto Moesteiro de Sancta Cruz em nome desse Moesteiro os beens e as possisões que foram de Sancha Me-endez que som no dicto loguo de Leirea os quaes rendem cada anno comunalmente setenta e hûa livras e meã de Portugal, segundo disseram os dictos priol e convento que acharam per seus enqueredores e prometeo ho dicto procurador per obrigaçam da dicta Senhora Rainha de dar cada anno ao dicto prior e e [sic] convento do dicto Moesteiro de Sancta Cruz per dia de Natal em dinheiros quanto minguar destas duzentas livras com que a dicta Rainha ou outrem por ella aja dado compridamente ao dicto Moesteiro de Sancta Cruz tamtas possisões e tantas herdades em que se emtreguem as dictas duzentas livras. Entam os dictos priol e convento em seu nome e em nome do dicto seu Moesteiro disseram e outorgaram e louvaram que bem era de se fazer as cousas sobredictas e recebemdo o em nome e da maneira sobredictas [sic] as dictas cousas loguo ao dicto procurador da dicta Senhora Rainha recebendo em nome da dicta Senhora Rainha deram livremente pera sempre as duas fontes sobredictas e a terra hu nacem e per hu s’a de levar a agua ao dicto Moesteiro de Sancta Clara e as braçadas e os covados da terra sobredictos em todos seus direitos e condições sobrescriptas em tal maneira que daqui em diante façam delles livremente pera sempre como por bem teverem. E quanto he do oficio eclesiastico sobredicto disseram e prometeram os dictos priol e convento ao dicto procurador recevendo em nome da dicta Senhora Rainha que ho faziam e mandariam fazer compridamente come sobrescripto he. E logo ho dicto priol por si e pollos seus sucessores deu livre licença ao convento de sairem sem outra licença aos dictos tempos sobre a dicta sopultura a fazer ho dicto oficio e de poder hûa parte a outra d’entrar em posse dos dictos beens como seus proprios convem a saber os dictos prior e convento aa dicta Senhora Rainha das dictas duas fontes e com as braçadas e canos e covados da terra sobredicta. E a dicta Senhora Rainha polo dicto seu procurador aos dictos priol e convento das dictas possisões e herdades que agora lhes daa e daquellas que lhe dara como dicto he. E prometeam as dictas partes hûa a outra de defender hûa

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parte a outra de qualquer pessoa os dictos beens segundo como hûa parte ha dado a outra. E qual das dictas partes vier contra as cousas sobredictas ou contra cada hûa dellas perca todallos beens os quaes receber per razam deste contracto e a outra parte guanhe esses beens e tenha os por seus pera sempre e possa emtrar na posse delles e tee llos per sa autoridade e prometeram as dictas partes hûa aa outra a boa fee de guoardar e de comprir pera todo sempre todallas cousas sobredictas e cada hûa dellas querendo e outorgando expressamente de certa sciencia que el Rey de Portugual que he e vier per os tempos deva a goardar e fazer goardar este contracto em todo e per todo como he de susoscripto e comunalmente ambas as partes a despessa da dicta Senhora Rainha mandem pedir ao papa por merce que confirme ou mande confirmar este contracto, o qual por maior avondamento em testemunho das cousas sobredictas mandaram as dictas partes seellar dos seus sellos convem a saber a dicta Senhora Rainha do seu sello e o dicto priol do seu seello e o dicto convento do seu sello. // [Fl. 21vº] E demais mandaram as dictas partes a Bertholameu Perez tabeliam del Rey em em [sic] Coimbra que das cousas sobredictas fezese muitos stromentos de huum mesmo theor se podesse aver licença del Rey sem a qual o dicto tabeliam dizia que nom queria fazer tal stromento e se o dicto tabeliam nom podesse aver a dicta licença del Rey fique este contracto firme e estavel pera todo sempre <e fazer sempre> plu-bica suficiente e comprida fe e prova do theor sobreescripto e das dictas cousas e de cada hûa dellas por os seellos sobrescriptos verdadeiros publicos e autenticos.

E o theor da procuraçam de que em este contracto faz mençam tal he:

Em nome de Deus amen. Saibam quantos esta presente procuraçam virem que em presença de mim Bertholameu Perez pubrico tabeliam del Rey em Coimbra e das testemunhas que adiante sam scriptas, a mui alta e mui nobre Senhora Dona Isabel pella graça de Deus rainha de Portugual e do Alguarve disse que querendo servir a Deus e fazer prol da s’alma ouve muitas vezes falla e trautado per si e per outros seus mesejeiros com ho priol e com o convento de Sancta Cruz de Coimbra por razam dacrecentar ha seu Moesteiro de Sancta Clara daalem da Ponte de Coimbra, ho qual ella fundou e dotou e edificou e fez acrecentar como padroeira desse Moesteiro e pera fazer merce ao dicto Moesteiro de Sancta Cruz asy que pera sempre razoavelmente seja encomendada nas orações que se faram em esses Moesteiros. E porende faz seu procurador lidimo a honrrada pessoa Stevam Dade chantre de Viseu e seu chanceler a fazer comprida e livre doaçam pera sempre de tantos beens e de tantas possissões e tantas herdades na villa de Leirea e no seu termo no bispado de Coimbra que valham em cada anno segundo comunal extimaçam e possam valer comunalmente duzentas livras de Portugal, e se agora nom desse tantas terras e possissões e herdades que va-lesem como dicto he as dictas duzentas livras a prometer e a obliguar a dicta Senhora Rainha que quanto menguar agora das dictas terras e possisões e herdades que agora dizia que lhes dara ataa as dictas duzentas livras que lhes entregue em dinheiros Por-

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tugueses por dia de Natal cad’anno ataa que lhes perfaça tantas terras e possisões que valham a contia das dictas duzentas livras com estas sobredictas terras e possissões e herdades que agora lhes dava. E demais a dar e a doar livremente e compridamente pera sempre como dicto he a sa Capella de Sam Symão que ha dicta Senhora Rainha ha em Leiria. E a pedir e a receber com solempnidade qual cumpre em nome da dicta Senhora Rainha aos dictos priol e convento do Moesteiro de Sancta Cruz da agoa a qual nace na terra do do [sic] dicto Moesteiro de Sancta Cruz no loguar que chamam Pombal sobre ho dicto Moesteiro de Sancta Clara contra ho meyodia convem a saber duas fontes tam solamente pera ho dicto seu Moesteiro de Sancta Clara, as quaes fontes sam cheguadas hûa com outra que nacem a costeira sobre ho dicto Pomball e som oura (?) mais cheguadas ao dicto Moesteiro de Sancta Clara ca as outras fontes que som mais contra ho meyodia e cheguadas a dita costa que am de ficar ao dicto Moesteiro de Sancta Cruz. E outrosy a pedir e a receber como dicto he em nome da dicta Senhora Rainha a tera // [Fl. 22] hu nacem estas duas fontes e per que se possa levar esta agoa ao dicto seu Moesteiro de Sancta Clara e hûa braçada de terra arredor das dictas fontes e demtro pello cano qual ha dhir a dicta agoa ao dicto Moesteiro de Sancta Clara huum covado de terra de cada parte d’arredor e juntada com ho dicto cano com todos seus dereitos e per que se possa servir e adubar e de mais se comprir hir viinr estar com huum carro. E a prometer de nom chantar nem de semear hi frui-tos nhuuns nem se estender mais adeante como dicto he. E a receber sobllenemente obligaçam dos dictos priol e convento do Moesteiro de Sancta Cruz per mandado da dicta Senhora Rainha e desse Moesteiro de Sancta Clara e nom doutra pessoa sem sa lecença se posam hir viinr estar aas dictas fontes e cano como dicto he e per bem teverem. E que ho dicto priol e convento do dicto Moesteiro de Sancta Cruz nom faça nem leix’a fazer carcova nem outra cousa per que a dicta agoa mengue ao dicto Moesteiro de Sancta Clara. E se acontecer em alguum tempo per trimimento de terra ou per alguum outro causo furtuito ou per qualquer rezam que a dicta agoa ou parte della se colhesse aas outras fontes do dicto Moesteiro de Sancta Cruz ou se spergesse por a terra do dicto Moesteiro de Sancta Cruz que a dicta Senhor Rainha e ho dicto Moesteiro de Sancta Clara fazendo o saber ao dicto priol de Sancta Cruz ou ao seu convento possam tirar filhar e apanhar a dicta agoa como mester for livremente sem outro embargo dos dictos prior e convento do dicto Moesteiro de Sancta Cruz e a prometer de goardar sempre quanto poder de fazer maleciosamente dampno ao dicto Moesteiro de Sancta Cruz e que desto seja contenta a dicta Senhora Rainha. E se mais pedir ou filhar da dicta agoa pera o dicto Moesteiro de Sancta Clara que perca porem as dictas fontes. Outrosi a pedir e a receber solenemente em nome da dicta Senhor Rainha permissom e obrigaçom dos dictos priol e convento do dicto Moes-teiro de Sancta Cruz que continuadamente tenham em Leirea huum seu coniguo que aja reçam na Casa de Leirea como cada huum dos outros que hi viverem stremada-mente pera dizer na dicta Capella de Sam Simão pella alma da dicta Rainha cada dia as oras canonicas e hûa missa. E se contecese per caimento da dicta capella ou per

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outra qualquer rezam que ho dicto coniguo e capellam nom podese na dicta capella dizer as oras e a missa sobredictas entom seja theudo de as dizer alhur. E loguo que el poder torne a dizer as dictas oras e missa na dicta Capella como dicto he. Ao qual coniguo e capellam proveam os dictos priol e convento cad’anno de cinquoenta li-vras das dictas duzentas livras e as outras cento e cinquoenta livras ou mais ou meõs come acontecer cad’anno fiquem aos dictos priol e convento dos conigos tanto do dicto Moesteiro de Sancta Cruz as quaes partem antre si de guisa que huum nom aja mais que o outro salvo que ho dicto priol aja duas rações como ha da vestiaria.

Item a pedir e a receber solempnemente em nome da dicta Senhor Rainha de sair sobrela sa sepultura ao dicto Moesteiro de Sancta Clara hu entende de se fazer soter-rar e de celebrarem sobllenemente hûa misa por sua alma sobre a dicta sepultura. E outrosy a pidir que cada anno no dia de mortuorum seja thehudo ho dicto convento de sair sobrela dicta sepultura a dizer solenemente hûa missa polla alma da dicta Rainha e se se acontecesse ho dicto anniversairo no dicto dia de mortuorum fazer outro dito oficio de anniversairo em esse dia. E em outro dia primeiro façam esse // [Fl. 22] mesmo oficio por a s’alma no dicto luguar. E se acontecesse que nom podes-sem por alguum embarguo nos dictos tempos sair sobre a dicta sepultura a cellebrar as dictas missas por razom da dicta pomte que quebrasse ou por outro caso fortuito ou qualquer outro embarguo ou rezam elles nom saissem como dicto he devem em estes comeyos cellebrar duas missas cada dia pella alma da dicta Rainha cada domaa no dicto seu Moesteiro de Sancta Cruz ataa que sayam como dicto he sobre a dicta sepultura e cellebrem as dictas duas missas solenemente como dicto he.

Item a dar e a receber poder d’entrar em posse dos dictos beens como seus pro-prios e de fazer e receber premissom e obliguaçom de defender os dictos beens de qualquer pessoa os quaes dara hûa parte a outra se qualquer das <dictas> partes vier contra as cousas sobredictas ou contra cada hûa dellas perca todollos beens os quaes recebera per razom deste contracto e a outra parte guanhe os dictos beens e tenha os por seus pera sempre e possa emtrar na posse delles e tee llos per sa autoridade e de prometer e receber premissom e obliguar de goardar as dictas cousas e cada hûa dellas pera todo sempre. E a fazer e a dizer e receber soblenpne obrigaçam e premissam e qualquer outra cousa que cumpra ao dicto contracto prometendo a dicta Senhora Rainha sob obrigaçam dos seus beens a mim tabeliam sobredicto receben-do o em nome [do] dicto Moesteiro de Sancta Cruz e doutra qualquer pessoa a que pertençam de goardar todas aquellas cousas e cad’hûa dellas per que ho dicto pro-curador no dicto contracto for fecto e procurado. E mandou a dicta Senhora Rainha per moor avondamento poer o seu seello em esta procuraçam. E que em testemunho destas cousas eu sobredicto tabeliam fezesse hûa e muitas poblicas procurações dhuum mesmo theor.

Esto foy feito em Coimbra nos paaços del Rey, cinquo dias de Junho, Era de mill e trezentos e sesenta e quatro annos. Testemunhas que presentes foram: Mar-tim Afonso sobrejuiz da dicta Senhora Rainha no grao segundo e Pero Stevez seu

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sobrejuiz no grao primeiro e Martim Afonso tabeliam de Coimbra e outras muitas testemunhas. E eu Bertholameu Perez tabeliam sobredicto que a roguo da dicta Rai-nha esta procuraçam com minha mão propria screpvi e em ella meu signal pugi que tal he em testemunho das dictas cousas.

Doc. 21530 JUNHO, 27, Coimbra (Mosteiro de Santa Cruz) — D. Dionísio, prior cras-

teiro de Santa Cruz de Coimbra, pelo Prior Comendatário e Convento do Mosteiro, estabelece prazo, em três vidas, com João Peres, tecelão, de uma vinha e canavial, situados no sítio chamado Rolhão, junto a Leiria, pertencentes à Capela de S. Simão desta vila, os quais o contratante trazia havia oito anos, por decisão de D. Diogo Dias, vigário de Leiria, atendendo a jazerem desaproveitados e em mortório. Como foro, estabelece-se o pagamento anual de um quarto dos frutos mais o dízimo.

A) TT — Santa Cruz de Coimbra, 2ª incorporação, Mº 18, Documento com a cota antiga: “Alm. 34, Nº 1, Mº 3º”; A’) TT — Santa Cruz de Coimbra, 2ª incorpora-ção, Mº 18, com a cota antiga: “Alm. 34, Nº 2, Mº 3º”;

† Saybham quantos este estrumento d’emprazamento deste dia pera todo sempre virem como aos vymte e sete dias do mes de Junho do anno do nascymento de Nosso Senhor Jhesu Christo de mill e quinhemtos e trimta, em a cidade de Coimbra, demtro no Mosteiro de Samta Cruz na casa do comselho delle lugar acustumado homde os semelhantes autos se soem fazer, estamdo ahy presemtes e jumtos em cabido e cabi-do fazemdo como he de seu custume chamados per campam tangyda especiallmente pera o auto de que abaixo fara mençam, scilicet, hos moito homrrados rellegiosos he vertuosos Padre Dom Dionisyo prioll crasteiro e vigairo no dito Moesteiro pello Muito Emxellemte Primcepe e Senhor Bispo Senhor Ifamte Dom Amrrique comen-datario em perpetuum do dito Moesteiro e os outros coneguos e convento delle. E tambem estamdo hy Joam Periz tecelam morador em a villa de Leiria pelo qual foy ditõ em presemça de mym esprivam provico e das testemunhas que ao diamte vam nomeadas que amdamdo hûa vinha que pertemce a capela de Sam Symam da dita villa de foguo morto e tornada mortorio por se de todo nom perder, Dioguo Diaz vi-gairo da dita villa lha dera pera que haproveitase e lhe dese os adubios necesarios de maneira que se nom perdese de todo a dita vinha, ho que elle sopricamte aceyptara e avia oyto annos que gramjeava a dita vinha que jaz homde chamam Rolham e parte de huum cabo com 27 as terras do Lecemciado e doutro com cham do Allemam e com outras confromtações com que de dirreito deve partyr e a tynha muy bem renovada e della pagava ao dito Vigairo e Capella de Sam Symam reçam de quatro huum e mais ho dizymo. E bem asy trazya do mesmo partido huum cham pequeno que teve canaviall pera empar a dita vinha com has canas delle.

E porque das ditas propiedades nam tynha tytulo, pidia por merce aos ditos prioll

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e convemto que da dita vinha e cham lhe mandasem fazer titulo d’emprazamento em tres vidas, scilicet, pera elle e sua molher Maria Periz 28 e pera huum filho ou filha damtre ambos quall ho derradeiro delles nomear ante hora de sua morte e que nom avendo hy fylho nem fylha pera hûa pesoa que ho derradeiro nomear, pello dito modo e que elle aproveytaria as ditas propiedades muy bem em cada huum anno e paguaria delas ao dito Moesteiro o quarto e ho dizimo das novidades dellas, etc.

E visto pelos ditos Pryoll e Convento seu dizer e pidir e bem asy hûa certidam do dito Viguairo pera elle feita e asynada per que dizya que ha ditã vinha amdava de foguo morto e por se nam perder elle a dera ao dito Joam Piriz que ha renovara e trazia muy bem aproveytada e pagava della ho dizimo e reçam e que era syrviço do Moesteiro fazer-lhe das ditas propriedades titulo em forma, elles diseram jumtamen-te que por ho syntirem asy por muito proveito do dito Moesteiro e sua Capella de Sam Symam que pertemce em sollido a sua mesa capitolar elles emprazavam como de feito loguo emprazaram a dita vinha e cham de canaveall por suas confrontações asy e tam imteiramente como elles pertemcem ao dito Moesteiro e milhor se o elles com direito milhor poderem aver ao dito Joam Periz pera em tres vidas da maneira que por elle foy pidido. E esto com tall condiçam que elle e a pessoa que apos elle e sua molher vier cavem, podem, emxertem e amergulhem a dita vinha em cada huum anno e o cham e canaveall escavem, tapem e amontem e tudo traguam pera sempre bem aproveytado, melhorado e nam pejorado e que nam posam vemder, dar nem doar nem em outra nhua maneira emalhear as ditas propriedades nem parte dellas sem espresa licemça e consemtimento do dito Moesteiro nem outrosy consemtimen-to do dito Moesteiro nem outrosy as partiram mas pera sempre amdara tudo conjunto em hûa pesoa e que por todallas cousas a este tocantes sejam obriguados a responder peramte ho ouvidor das terras do dito Moesteiro sem poderem declinar seu foro e juizo. E que de todo o vinho e fruito que lhes Deus der nas ditas propiedades dem de reçam e midiçam ao dito Moesteiro ou ao dito Vigairo de quatro huum e de mais ho dizimo e que nam tirem o vinho do laguar nem as outras novidades da terra amtes delle ser partido por parte do dito Moesteiro ou do dito Vigairo sob penna de lhe ser todo levado por perdido e que fimdas e acabadas as ditas tres vidas as ditas propieda-des com suas bemfeitorias fiquem loguo livres e desembarguadas ao dito Moesteiro sem nhûa contemda etc.

E o dito Joam Periz que asy presente estava dise que elle por sy e por a dita sua molher e pessoa recebia e aceitava em sy este emprazamento com todas as cllau-sollas condições pennas e obriguações acima decllaradas e se hobrigava por sy e todos seus beens movis e de raiz avidos e por aver e da ditã sua molher e pesoa a todo asy comprirem e manterem e paguarem a dita reçam e dizimo como dito hee. E os ditos Prioll e Convemto hobriguaram suas rendas a lhe fazerem este prazo duramte as tres vidas bom e de pãz de quem quer que lho embarguar quiser comprimdo elles foreiros as condições deste contrauto.

E em testemunho de verdade mandaram fazer hûua nota da quall pedyram senhos

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estrumentos e os que lhe comprirem. Testemunhas que foram presemtes: Joam de Lafaya e Diogo Fernamdez, padeiro, moradores na dita cidade e outros. E eu Anrri-que de Parada por autoridade del Rey noso senhor publico esprivam das esprituras, prazos, contrautos e cousas tocamtes ao ditõ Moesteiro 29 que este estrumento da dita nota fiz tirar pera os ditos foreyros e com ella fyellmente o <comcertey> e sobespre-vy por vertude da provissom que pera ello tenho de Sua Alteza e por certeza dello asyney aqui de meu publico synall que tall he (sinal do notário).

Pagou deste e doutro tall pera o Moesteiro com a nota e caminho Cto Lta reais.

Doc. 31552 JUNHO, 13, Leiria — Carta acerca da contenda que Manuel de Palme

trazia sobre a Capela de S. Simão de Leiria, cuja jurisdição é avocada ao Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, razão pela qual cumpriria somente a este Instituto dar seguimento à lide que, sobre a mesma, corria.

TT — Santa Cruz de Coimbra, 2ª incorporação, Mº 18, Documento com a cota antiga: “Alm. 34, Nº 10, Mº 3”. Obs.: É possível que esta missiva seja da autoria de D. Fr. Brás de Barros, bispo de Leiria, ao tempo, ainda que não haja elementos absolutamente explícitos que o comprovem. De qualquer modo, o autor da carta não pode deixar de ser alguém ligado à esfera de decisão e administração dos bens do novel Bispado.

† Saude em Nosso Senhor Jhesu Christo.Os dias passados lhe emcomendamos hum <preito30> que aviamos com hum

Manoell de Palme, sobre a capella de Sam Simão que pemdia nessa curya e depois recebemos hûa31 <de Vossa Mercê> com hûas compulsorias que dizia serem nec-esarias a caussa. Atee o presemte não lhe mandamos reposta, nem compusemos os autos e papeis que nos mandou pedir, por se achar que esta capella pertincia <ao Convento> ao Moesteiro de Sancta Cruz de Coinbra e que há de ser camtada e administrada por hum relligiosso coneguo do dito Moesteiro, <por a qual razom o prior> e o convemto 32 por sua parte manda requerer na caussa sua justiça e se manda opoer a ella pelo dereito que nella pretemde ter. E portamto lhe teremos em caridade tanto que esta nossa lhe fora dada, desistir <da demanda da dita capela em favor do Convento e Moesteiro de Santa †>. E quanto pelos padres e procurações que laa tem nossas e 33 não sigua mais <a dita demanda> em nosso nome. E isto <fara> como elle vir que hé milhor e mais necesairo, e com tal cautella que se 34 não possa obriguar a paguar custas algûas e do que no casso fizer e passar nos escreva e avisse, como nós confiamos delle, porque nos siguiamos esta demanda ate ora por termos que nela tinhamos justiça e que fora mal ympetrada. Mas tamto que soubemos que nos não pertincia <a admenestraçam da dita capela> nom queremos seguir coussa em que nosa consciencia não estê muito segura. E prazerá a Deus nosso senhor que lhe

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satisfaremos seus trabalhos e vomtade no que de nós lhe comprir. E cedo esperamos lhe cometer e emcomendar outra coussa de mais sustancia em que esperamos que elle dará tam boa comta, como de todo o mais que lhe hé emcarreguado.

Nosso Senhor o acrecemte sempre como deseja. E lembre se que tem em mim, neste Reino, hum 35 <grande amiguo> pera o que lhe conprir. Em suas orações nos emcomendamos.

Scrita em Leiria, em os treze de Junho de 1552 annos.In ami. (?)

[No verso] Traslado da carta pera Roma sobre a Capella de Sam Symão.

Doc. 41552 JUNHO, 14, Leiria — D. Brás de Barros, bispo de Leiria, estabelece, com

João de Miranda, contrato de arrendamento dos bens da Capela de S. Simão de Leiria, pelo valor de 15 mil reais por ano, com a condição de que, vindo a provar-se ser a Capela em causa do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, o dinheiro dever ser pago a esse Instituto.

TT — Santa Cruz de Coimbra, 2ª incorporação, Mº 18, Documento com a cota antiga: “Alm. 34, Nº 11, Mº 3”.

† Saibam quamtos este estormemto d’arremdamemto por hum ano virem que no ano do nascimemto de Noso Senhor Jhesu Christo de mill e quinhemtos e cimcoemta e dous anos, aos quatorze dias do mes de Junho, em a cidade de Leiria nas casas do Muito Reverendisymo e Catoliquo Senhor, o Senhor Dom Bras de Barros, byspo da dita cidade, estamdo Sua Senhoria ahi presemte e bem asy Joam de Miramda, morador na cita cidade, e loguo por o dito Sennhor Bispo foi dito que ele arrendara ao dito Joam de Miranda como de feito lhe loguo arremdou a remda que pertemse a Capela de Sam Symão, setuada nos Paços Velhos del Rei noso sennhor, desta cidade de Leiria, asy e da maneira que ha soya trazer o Vigairo, que Deus tem, e ora a trazia o Arcediaguo da Sé desta cidade de Leiria, e esto por este ano que se começara por dia de Sam Joam Bautista primeiro vimdouro e se acabara por outra tall dia do anno // [Fl. 1vº] de mil e quinhemtos e cimcoemta e tres anos, em preço e comtia de qui-mze mill reais, os quães quimze mill reais lhe dara e paguara a elle dito Senhor Bispo ou a quem ele mandar cada he quamdo Sua Senhoria lhos mamdar pedir loguo todos jumtamemte e per imteiro sem quebra nem falta algûa. E o dito Joam de Miramda aceitou o dito arremdamemto e se hobriguou a dar e pagar os ditos quimze mil reais ao dito Senhor Bispo logo tamto que lhos mamdar pedir sob penna de pagar todas as muitas perdas e danos que por elo fizer e receber pera o que obrigou todos seus beens movees e de raiz presemtes e vimdouros e pera o comprir arrenumciou juizes de seu foro e de quallquer privilegio e liberdade que aleguar posa que nada quer que neste

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caso lhe valha soomemte em todo comprir este arrendamento e paguar da maneira que dito hé pera o que se hobrigou a responder presemte o Vigairo deste Bispado e per suas // [Fl. 2] semtemças e cemsuras ser em pecado ate com efeito pagar primci-pall e custas. E porque asy delo aprouve ao dito Sennhor e ao dito Joam de Miranda o outorgaram e mandarão ser feito este arrendamemto. Testemunhas que presentes forão: o Lecenceado Symão Barbosa e Belchior Mendez, meirinho dos cleriguos e morador na dita cidade.

E decrarou Sua Senhoria que porquanto sabe à dita remda e capela se hopoem ora o Mosteiro e Comvemto de Samta Cruz de Coymbra, dizendo que ha dita capela e remda dela lhe pertence, que sendo caso que hé do dito Mosteiro e lhe pertemse, que em tall caso ho dito Joam de Miramda pagara os ditos quimze mill reais ao dito Mosteiro asy como avia de fazer a ele Sennhor Bispo. O quall pagamento posto que diga que fara cada vez que lhe for pedido, o fara por dia de Sam Joam Bautista de mill e quinhemtos e cimcoenta e tres anos // [Fl. 2vº] e o dito Joam de Miranda se hobrigou outrosy a ello da maneira que dito é. Testemunhas, os sobreditos e eu Joam Nunez pubriquo tabeliam das notas e judicial por el rei noso senhor na dita cidade de Leiria e seus termos que ho escryvy e aqui meu publico synall fiz que tall he.

Pagou com nota oitenta reais (sinal do notário).

Doc. 51552 DEZEMBRO, 22, Lisboa (Mosteiro de S. Vicente de Fora) — Manuel de

Palme, capelão do Cardeal de Montepulciano, residente em Roma, concorda-se, por seus procuradores, com o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, desistindo dos seus interesses e direitos sobre a Capela de S. Simão de Leiria, contra o pagamento de 30 cruzados de ouro pelas despesas que tivera na lide que o opusera, sobre esta questão, ao dito Mosteiro. Em traslado de 24 de Maio de 1554, Lisboa.

TT — Santa Cruz de Coimbra, 2ª incorporação, Mº 18, Documento com a cota antiga: “Alm. 34, Nº 9, Mº 3”.

Estromento de concordia.† In nomine Domini. Amen. Saibam os que este publico instrumemto de comcor-

dia e obriguação virem que em os vimte dias do mes de Dezembro do anno de Nosso Senhor Jhesu Christo de mil e quinhentos e cimquoemta e dous em a cidade de Li-xboa demtro em o Moesteiro de Sam Vicemte que he da Comgreguação de Sancta Cruz de Coimbra ad sedem apostolicam nulo medio pertinentis, estando hi presen-tes, scilicet, o Muito Reverendo Padre Dom Jorge prior do dito Mosteiro e o Padre Dom Manoell coneguo do dito Moesteiro, em nome e como procuradores do dito Moesteiro de Sancta Crux de Coymbra de hûa parte, e da outra os Senhores Domin-gos Martinz coneguo da See de Sillves e Lourenço de Pallme moço da camara dell Rey nosso senhor, em nome e como procuradores de Manoell de Pallme, cappellão

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do Reverendissimo Cardeal de Momte Policiano, estamte em Roma, e loguo per el-les foi dito em presemça de mim notairo e das testimunhas ao diamte nomeadas, que o dito Manoell de Pallme estamdo em este Regno impetrara hûua cappella que se chama de Sam Simão, sita na cidade de Leiria, que se chama da Rainha Sancta Dona Ysabell molher que foi dell Rey Dom Dinis; e sobre ella o dito Manoell de Pallme movera lite ao Senhor Bispo de Leiria; a quall pemdemdo em curia de Roma, o prior e comvemto do dito Moesteiro de Sancta Cruz se oposeram a ella por a dita capella lhe pertencer e ser sua e a proseguião. E pemdemdo ora asi esta lite elles partes por evitarem lites e demandas e guastos e por saberem que a dita cappella nom era de callidade que se podesse impetrar por ser coussa e propiedade do dito Moesteiro de Sancta Cruz, portamto os ditos Dominguos Martinz e Lourenço de Pallme em nome do dito Manoell de Pallme se comcordaram e comcertaram com os ditos padres procuradores do Moesteiro de Sancta Cruz em a maneira seguinte, scilicet, que elles ditos Dominguos Martinz e Lourenço de Pallme ambos jumtamemte em nome do dito Manoell de Pallme querem denunciar e de feito denunciam, cedem e extinguem a dita lite e caussa em favor do dito Moesteiro de Sancta Cruz; e se obriguam, que o dito Manoel de Pallme per si pessoallmemte denuncie // [Fl. 1vº] e ceda omni iuri lite et cause que tem ou podesse ter na dita cappella, leixamdo a livre e paciffica ao dito Moesteiro de Sancta Cruz cuja hé e que expediria sobre isto suplicação e esto com consensu e beneplacito de Sua Santidade; e esto com tall comdição que o dito Moesteiro de Sancta Cruz dê e pague ao dito Manoell de Pallme ou a seu sufficie-mte procurador trimta cruzados d’ouro de camara, por as despesas que tem feitas em a dita lite et pro bone pacis; e esto aprazemdo dello a Sua Sanctidade; e os ditos Padres Dom Jorge prior e Dom Manoell se obriguarão em nome do dito Moesteiro de Sancta Cruz que tamto que o dito Manoel de Pallme in curia ceder e denunciar a dita lite em favor do dito Moesteyro, lhe fazerem dar e paguar em Roma trimta cruzados d’ouro de camara, por as despesas que tem feito em a dita demanda et pro bone pacis, esto prazemdo dello a Sua Santidade; e diserom per este instromemto pediam ao Senhor Doutor Amtonio Lopez procurador do dito Moesteiro de Sancta Cruz, estamte em Roma, que recebemdo aa su[a] mão o estromento da dita renuncia-ção em favor do dito Moesteiro e asi a supli[ca]çam per que Sua Sanctidade ouver por bem e comceder todo o sobredito, dê e pague os ditos trimta cruzados ao dito Manoel de Pallme segumdo per suas cartas ho avisavão. E prometeram elles ditas partes todo o sobredito comprirem e fazerem comprir a seus constituimtes, sob pena de dozemtos cruzados d’ouro per a parte que per este instromemto istiver; e por certeza dello mandaram ser feito esta minha nota em que asinaram e della dar hum e muitos instromentos que necesairos lhe forem. Testemunhas que foram presemtes: Francisco de Sam Miguel, veador do Senhor Bispo e Amtonio Bras, seu famelliar e eu Afonso Camello naturall da cidade de Miramda do Douro clericus im minoribus eiusdem diocesis notario apostolico apostolica auctoritate que a tudo com as ditas testemunhas presemte fui e o screvi, dia, mes e anno ut supra.

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O qual instrumento eu notairo bem e fielmemte trelladei de minha nota por me ser requerido por parte dos procuradores do Moesteiro de Sancta Cruz, scilicet, os Reverendos Padres Dom Manoel e Dom Vicente estantes neste Moesteiro de Sam Vicente de Lixboa e aqui sinei de meu sinal publico que tal he. Roguado e requerido em os xxij dias do mes de Mayo de 1554.

(Assinatura)Alfonsus Camelo notarius appostolicus.

Doc. 61557 Maio 25, Coimbra (Mosteiro de Santa Cruz) — Belchior Dias, de Leiria,

arrenda do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, por quatro anos, as terras e bens da Capela de S. Simão de Leiria, mediante o pagamento de 16 mil reais anuais.

Arquivo da Universidade de Coimbra, Tomo 19 de Notas de Santa Cruz de Coimbra (Livros 56 e 57), III-1ªD-10-2-20, fls. 32-33vº.

Arrendamento da Cappela de São Symão de Leiria por iiijº annos.Saybão quantos este estormento d’arrendamento e obrygação vyrem como aos

vinte e cynco dias do mes de Maio do anno do nacymento de Nosso Senhor Jhesu Christo de mil e quinhentos cyncoenta e sete annos na cydade de Coymbra dentro do Moesteyro de Santa Cruz na cassa do conselho delle lugar honde os semelhantes autos se custumão fazer estando hy presentes e juntos em cabydo fazendo cabydo chamados per som de campãa tangida como he de seu custume especyalmente pera esto auto seguynte, scilicet, o muyto Reverendo Padre o Padre Dom Francisco prior do dito Moesteyro e geral de toda sua Congreguação e os seys coneguos consyl-yaryos ordenados pera em nome de todo o Convento semelhantes cousas poderem fazer. E outrosy estando hy Belchior Diaz morador em a cydade de Leirya logo hy // [Fl. 32vº] pellos padres prior e consylyaryos foy dito em presença de mym esprivão publico e testemunhas deste ao diante nomeados que por o elles asy sentyrem por proveyto do dito Moesteyro e sua mesa conventual a que em solydo pertence ar-rendavão e de feyto logo arrendarão a renda de São Symão digo a renda da sua Capela de São Cymão com suas terras dizimos e reção que tem em a dita cydade de Leyria asy como de direito pertence ao dito Moesteyro e os rendeyros pasados a recolherão e mylhor se com direito a milhor poder aver a elle dito Belchior Diaz e isto por quatro annos que se hão de começar per dia de São João bautista que vem no presente anno de j- bc L e sete e se hão de acabar per outro tal dia de São João que vem no anno de mil e quinhentos e sesenta e huum anos. E isto por preço e contia de dezaseys mil reais paguos em duas paguas iguoães metade por dia de São João e a outra metade por dia de Nosa Senhora de Setembro começando a prymeyra pagua do primeyro anno por o São João do anno que vem de j— bc L e oito, e a outra metade por dia de Nosa Senhora de Setembro do mesmo ano. E desta maneyra com

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rezão os paguamentos dos annos vyndouros. E com condição que por cada dia que mais pasar alem do dia da pagua que pague de penna cyncoenta reais, a qual penna levada ou não todavya esto se cumpra como se em elle conthem, e que por todo o que dever e não paguar seja penhorado e executado por os porteyros e officiães do dito Moesteyro conforme a seus privylegyos e lhe pague todas as custas e despesas. E o dito Belchior Diãz recebeo e aceytou em sy a ditã renda por os ditos quatro annos e se obryguou de paguar ao dito Moesteyro e seus recebedor dentro em esta cydade de Coymbra em paaz e em salvo cada huum dos ditos quatro annos os ditos dezaseys mil reais, has paguas como dito he // [Fl. 33] renuncyando todas esterelydades e ca-sos fortuytos e acustumados e desacustumados e todas leis e hordenações e privile-gios e que de nada querya usar contra o efeyto deste arrendamento mas querya todo compryr e manter e paguar da maneyra que dito hee.

E pera mor segurança dos paguamentos da dita renda obriguou toda sua fazenda qualquer que seja e em especyal nomeou e hypotecou hûua çarrada de vinha que tem em Laguar del Rei junto da dita cydade de Leirya que dise valya trymta mil reais.

Item dous olivães na Carvalha que dise valyão quinze mil reais.Item hûua vynha em São Romão que dise valya quatro mil reais.Item hûua almoynha nas Olhalvas que dise valya tres mil reais.A qual fazenda dise que dava por lyvre e desembarguada ha dita renda e pagua-

mentos della por todos os dytos quatro annos e que de huum fique obriguado pera o outro ate realmente e com efeyto o dito Convento aver paguamento de sessenta e quatro mil reais que montão em todos os quatro annos deste arrendamento, e obrygu-ou se a responder por tudo que tocar a elle, ante o recebedor do dito Moesteyro ou ante o juiz ou corregedor desta cydade de Coymbra ou qualquer outro ante quem o Convento mais o quiser demandar sem poder deslyvar seu foro e juizo e com as mais condições penas e obryguações aquy declaradas. E os padres prior e consylyaryos obryguarão as rendas do dito Convento a lhe fazerem boa a dita renda de quem lhe em ela alghuuns embarguos poser durante o tempo deste arrendamento e compryndo elle dito rendeiro as condições deste. O que todo elles partes louvarão e outorguarão e o aceytarão cada huum pela parte que lhe cabya e em fé e testemunho de verdade mandarão ser feyto este e esta nota em que asynarão de que pedyrão dous estormen-tos hûa pera o Convento e seu recebedor e outra pera elle rendeiro. // [Fl. 33vº] Tes-temunhas que forão presentes: Dominguos Guomez natural da vila d’Aveiro, cryado do dito Moesteyro, e Diogo Coutynho <de Montemor o Velho> cryado de mym Symão de Figueyro pubryco esprivão do dito Moesteyro que ho esprevy.

36 E eu sobredito Symão de Figueiro per autorydade del rey noso senhor publico esprivam dos tombos, prazos, esprituras e contratos tocantes ao dito Moesteyro que este pera elle fiz sprever. E o sobsprevy e concertey per licença que de Sua Alteza pera esto tenho e meu publico synall fiz que tal he.

Non duvyde honde diz per antrelynha, de Montemor o Velho. Symão de Fygueiro ho sprevy. (Sinal do notário).

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Doc. 71579 NOVEMBRO 14, Leiria — Relação e vedoria, feitas pelo Licenciado Luís

Gonçalves, mestre-escola da Sé de Leiria, e por António Bravo, cidadão da mesma cidade, dos bens do Casal da Cela, propriedade da Capela de S. Simão de Leiria.

TT — Santa Cruz de Coimbra, 2ª Incorporação, Mº 18, Documento com a cota antiga: “Alm. 34, Nº 17, Mº 3”.

Rol das propriedades do Casal da Cella que hé da Capella de S. Symão, fecto no Bispado de Leiria, que pertence ao Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra.

1 Item Hûas casas no lugar da Cella com seu portal lavrado de pedra branca e tem somente as paredes ate o telhado sem telhado nem repartimento algum, partem do norte com herdeiros de Domingos Carreira dahi e com Lourenço Carreira, e do sul com Isabel Periz molher que foi d’Alvaro Fernandez.

2 Item outras casas que tem somente as paredes ate o telhado no mesmo lugar da Cella que servem pera palheiros que parte com Lourenço Carreira do norte e do sul com Catarina Fernandez molher solteira.

3 Item outras casas da mesma maneira pera palheiro que tem somente as paredes ate o telhado e parte com a dita Catarina Fernandez e entesta na Rua do Concelho.

4 Item Hum chão que foi já casa e hé bem pera curral que parte com Catarina Fernandez e com o recio de hereos.

5 Item outro chão da mesma maneira bem tambem pera curral que parte com Antonio Jorge e com o mesmo recio.

6 Item a terra da Mouta abaixo da Cella onde chamão a Mouta que levara de semeadura nove alqueires de trigo que parte do poente com Antão Boitaca de Evora e do soão com Gaspar Alvariz, tem dez carvalhos e sovereiros.

7 Item hûa terra junto da Cella onde chamão os Carvalhos Grandes, que parte do soão com Antão Boitaca e do vendaval com caminho do Concelho e entesta do norte com Gaspar Alvarez da Faniqueira que levara dez alqueires de semeadura, tem tambem carvalhos e sovereiros. // [Fl. 1vº]

8 Item hûa terra que chamam a Terra da Eira que está junto da Cella e parte do norte com Antão Boitaca e do sul com o recio e do soão e poente com o mesmo Antão Boitaca que levara cinco alqueires de semeadura e levara seis se lhe nam tomaram hum pedaço pera congostas. Esta terra tem hûa oliveira e hum azambugeiro e hum carvalho que hé muito cortado e antes disso dizem que dava hum moio de boleta.

9 Item hûa terra abaixo da Cella onde chamam as Carvalheiras que anda sonega-da e a traz hum Pero Fernandez que lavara tres alqueires e meio de semeadura e tem carvalhos e sovereiros parte do soão com Antão Boitaca e do norte com Alvaro Gil.

10 Item hûa terra a Fonte que <tem hum zambugeiro e> parte do poente com o Ribeiro da Agoa e do soão e norte com Jorge Gil do Outeiro. E ahi mesmo da outra banda da Fonte está hum çarrado todo tapado sobre si que tem hûas figueiras. E asi

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hûa terra por detras deste cerrado que tudo levara dez alqueires de semeadura37.11 Item hum talho de terra onde chamão A dos Falaios junto das Brancas com

seus sovereiros e carvalhos e tres oliveiras que levara tres alqueires de semeadura que parte do norte com Antonio Diaz mercador da Batalha e do sul com Lourenço Carreira.

12 Item a terra da Sovereira que está a Fonte da Cella com duas oliveiras e hum carvalho que levara doze alqueires de semeadura, parte do poente com os herdeiros de Diogo Moreno e do soão com terras do Casal e do norte com o Ribeiro. Entre esta terra da Sovereira e da Lagoa entra hum talho dos herdeiros de Antonio de Freitas da Batalha agoas vertentes com o Ribeiro38.

13 Item a terra da Lagoa que está junto de Alcanada que levara vinte alqueires de semeadura, parte do soão com a Gafaria e do poente com terra do Casal e do norte com Antão Boitaca. // [Fl. 2]

14 Item a terra da Espinheira que está junto da Cella da banda de cima caminho de Alcanada que parte do norte com estrada do Concelho e do soão com Antão Boitaca e do sul com Lourenço Carreira que levara cinco alqueires de semeadura.

15 Item a terra do Azambugeiro do Hermitão que está acima da Cella tem tres oliveiras e levara oito alqueires de semeadura, parte do poente com herdeiros de Diogo Gil e do soão <e do norte> com Lourenço Carreira.

16 Item a terra do Barro que está junto da casa de Gil Gonçalvez o Gato, que levara tres alqueires de semeadura, parte do norte com Lourenço Carreira e do sul com Francisco Pinheiro das Brancas39.

17 Item a terra do Quinchouso que traz Pero Fernandez e dizem ser sonegada que parte do norte com Catarina Fernandez Morena, morador na Cella, e do poente com herdeiros de Diogo Gil e do soão entesta em caminho do Concelho, levara tres alqueires e meio de semeadura.

18 Item a terra da Pena do Canal que entesta no Rio Velho junto das Sentas, parte do norte com o Mosteiro da Batalha e do sul com herdeiros de Diogo Moreno e entesta na Pena do Poente, tem nove oliveira[s] e quatro azambugeiros, levara dez alqueires de semeadura.

19 Item a terra do Azambugal40 que está na Varzea da Pena que parte do norte com Symão Alvariz, escrivão da Batalha e do sul com Justa Lopez da Batalha, levara nove alqueires de semeadura e no cabo está hum pedaço de olival que tem dezaseis oliveiras e dous azambugeiros. Esta terra e oliveiras não estão no prazo que se fez a Eitor Gil e se ha de por agora de novos(?) tem 16 oliveiras e dous azambugeiros parte do norte com Francisco Perez da Carrasqueira e do sul com Pero João dos Mouratos41. // [Fl. 2vº]

20 Item a terra do Porto da Cella ao Porto da Cella que entesta no rio da parte do soão e do norte parte com Diogo Coelho dos Palmeiros e do sul parte com o Moste-iro da Batalha, levara tres alqueires de semeadura.

21 Item hum talho de terra pegado com o Rio ao Porto da Cella que parte do

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norte com Antonio Taca da Batalha e do sul com Justa Lopez dahi mesmo, levara de semeadura tres quartos.

22 Item hûa vinha à Ponte do Couto abaixo da Cella com hum pedaço de mato tudo cerrado sobre si com azambugeiros e outras arvores que parte do soão com vinha de Domingos Fernandez o Riquo, do Reguengo, e do Poente com herdeiros de Diogo Gil da Cella < e com estrada publica>. A vinha e levara cinco homens de cava e o mato pode levar quatro42.

23 Item hum mato defronte desta vinha e somente atravessa a estrada per antre elle e a vinha, todo cerrado sobre si de vallos43 e corre agoas vertentes. Ha vinha que levara nove alqueires de semeadura, hé terra muito bõa pera hûa vinha e deste mato pera o nascente está hûa terra feita que levara seis alqueires de semeadura e desta terra feita corre outro pedaço de mato ate outra pequena de terra feita que entesta no cerradinho do Casal e o mato levara quatro ou cinco alqueires de semeadura e o pequeno de terra feita levara hum alqueire. Este pedaço de mato pode ficar pera estrumes do Casal44.

24 E tudo isto está em hûa courella direita que parte do soão com Gil Fernandez do Reguengo e com Lourenço Correa e do Poente com herdeiros de Diogo Gil da Cella e vai entestar nos pumares da Bouça. // [Fl. 3]

25 Item hum cerradinho no cabo desta courella da banda do nascente tapado sobre si, tem dentro carvalhos e arvores de fruita, levara hum alqueire de semea-dura45.

26 Item a terra Baforeira ha Ponte do Couto e entesta no Ribeiro da parte do vendaval e do norte parte com herdeiros de Pero Joam da Cella e do soão parte com terra do Mosteiro da Batalha, tem nove oliveiras que corre dereito acima ate hum mato do Casal que corre na mesma courela ate outra terra feita que está no cabo pera a parte do nascente, e as terras feitas levaram dez alqueires de semeadura ou mais. E o mato levara cinco ou seis46.

27 Item hum talho de terra as Eiras da Cella que do soão parte com Antonio Taca da Batalha e do sul com Amadis Alvariz da Cella e do norte com herdeiros de Diogo Moreno, levara tres alqueires de semeadura.

28 Item a terra do Casal do Comprido caminho do Reguengo que parte do norte com Pero Joam de Alcanada e do sul com Jorge Lopez dahi e do soão com Andre Anes dahi que levara seis alqueires de semeadura. // [Fl. 3vº]

† Vedoria.Dizem nos o Licenciado Luis Gonçalvez, mestre schola da See da cidade de Lei-

ria, e Antonio Bravo, cidadão da dita cidade, que fomos ao Casal da Cella, que está no termo da dita cidade e vimos as propriedades dello, peça e peça, como estam de-claradas no item atras e as apegamos todas e parece nos em Deus e nossas conscien-cias que aforando <Vossas Reverencias> este Casal em tres vidas ao suplicante Ma-teus d’Azambuja, deve o dito inquil[in]o refazer as casas do Casal e palheiros e fazer

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no cerradinho que está a Fonte do Concelho perto das casas hum pumar. E o mato que está dentro da çarrada da vinha por em vinha e asi o outro defronte do caminho a riba por estar todo tapado de per si e ser pera iso muito bom; e o cerradinho que está no cabo da courella onde está este mato porá tambem em pumar por estar mistico com outros. E que vá rompendo os matos e plantando os de norças que tudo será proveito do Casal, do qual deve pagar de foro em cada hum anno oitenta alqueires de trigo polla medida nova de resoura e seis galinhas e a çafra dous alqueires d’azeite. E isto visto as bemfeitorias que ha de fazer no Casal a que o devem obrigar. E por isto nos parecer em nossas consciencias ser justo fazemos e assinamos este termo de vedoria, o qual eu sobredito Luis Gonçalvez escrivi, oje quatorze dias do mes de Novembro de 1579 annos.

(Assinaturas)Antonio Bravo.Luis Gonçalvez. // [Fl. 4]

As medições conteudas no titulo sam as seguyntes:Item as casas do Casall tem de comprydo sete varas e hûa meia de vara e de

longuo quatro varas e meia.Item hum pardieyro hé de comprido oyto varas e meia e de larguo cinquo.Item outro pardieyro do mesmo Casall tem de comprido quatro varas terça de

vara e de larguo seis varas e terça.Item hûa terra junto das casas tem de comprido cento e doze varas e de largo

cento e duas.Item outra terra honde chamam a Terra da Erva tem de comprido cento e qua-

renta e quatro varas e de largo cento e duas.Item hum talho de terra honde chamam o Campo das Tubaras tem de comprido

Lxxb varas e de longuo Liij..Item hum talho de terra que está ahonde chamam A dos Falcoyes tem de com-

prido cento e oytenta varas e de larguo sete e meia.Item outro talho honde chamam os Carvalhos tem 47 de larguo xxj varas e de

comprido noventa varas. E em cima tem de larguo polo caminho xxxbij varas.Item hum talho de mato na testada da dita terra, tem de comprido xx varas e de

largo outras xx.Item hûa terra no dito loguo, tem de comprido quorenta varas e de longuo vinte.Item a terra da Espinheira tem de comprido cento xx varas e de larguo Lb.Item hûa terra a caza do jenrro do Irmytam, tem de comprido cento R varas e de

longuo Lxxx.Item a terra de barro tem de comprido Lxx varas e de longuo vynte e nove.Item a terra d’allmoinha tem de comprido ijc varas e de larguo vinte varas e de

largo a par do Casall dezoito varas. // [Fl. 4vº]Item a terra honde chamam a Laguoa tem de 48 comprido dozentas e vinte varas

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e de longuo cento e cinquo.Item a terra que está honde chamam o Poço de Maria Lopez tem de larguo do

aguyam oytenta varas e de comprido dozentas e sete.Item hûa almoinha junto da Fonte tem de comprido quorenta varas e de largo

xxb.Item honde chamão a Poça tem hûa terra que estaa ao pee da Poça e ha de larguo

per o Ryo quorenta e sete varas e de comprido ate cima a Poça dozentas e trinta e cinquo e de largo de cima Liiij49.

Item outro talho de terra que está na Varzea ha de comprido cento xiiij varas e de larguo xxiij varas no fumdo.

Item outro talho de terra na dita Varzea ha de larguo no fundo pera a parte do rio trinta e nove varas e de comprido Lbj.

Item hum pasto honde chamam a Ribeira da Baforeira 50 ha de largo correndo pelo Ribeiro cinquoenta e cinquo varas e de comprido do Ribeiro te honde entesta com os herdeiros de Fernam Perez da Cella sam trezentas e oitenta e quatro varas e de largo em cyma Liiij.

Item outra terra hunde chamão Avença tem de comprido dozentas e quorenta varas e [de] largo Rij.

Item hûa courella de mato que entesta nesta terra tem de comprido CRbiij varas e de largo xb.

Item hum talho de terra aas Eiras da Cella tem de comprido des contra a Cela cento e trinta e oito varas e de longuo em cima de marco a marco escontra a entrada arrife xix varas e meia e de comprido da parte da travesia Lbj varas porque faz hy huum cham.

Item outra terra alem d’Alcanada honde se chama ao Casall [tem] de comprido cento e cinquo varas e de larguo Lxbiij, scilicet, xxbj de terra feita e o maes em mato.

Doc. 8[1561, Santa Cruz de Coimbra] — Registo de índice relativo a assuntos sobre a

Capela de S. Simão de Leiria e dos vinhos desta cidades pertencentes à mesa con-ventual do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra.

TT — Santa Cruz de Coimbra, Pasta 18, Documento com a cota antiga: “Alm. 13, Mº 3, Nº 2”. Obs.: A data do documento retira-se da informação, que se transcre-ve, de ser texto redigido 247 anos depois de 1314.

[Fl. 14vº] † Capela de São Simão da cidade de Leiria.Item folhas 75 versso ate 91 — em que se contem que a rainha Dona Isabel

molher que foi del Rey Dom Diniz deu ao Moesteiro de Santa Cruz por lhe fazerem

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anniversarios esta capella na Era de 1360 que he anno de 1322. E folhas 76 diz que se repartão os rendimentos per o Convento.

(…)[Fl. 15]† Os vinhos de Leiria são da mesa conventual dados pera anniversarios e ves-

tiaria.Item Dom Estevão prior mor do Moesteiro os deu na Era de 1352 que he do

Nacimento 1314 que há hora 247 annos consta, folhas 64 cum seguente.(…).

Doc. 91579 OUTUBRO, 16 - 1580 JANEIRO, 13, Coimbra — O Mosteiro de Santa

Cruz de Coimbra acolhe favoravelmente a petição apresentada por Mateus da Azambuja para que lhe fosse feito novo emprazamento do Casal da Cela (Batalha), afecto à Capela de S. Simão de Leiria, o qual um seu irmão, Gil Fernandes, trouxera e deixara muito danificado.

TT — Santa Cruz de Coimbra, 2ª incorporação, Mº 18, Documento com a cota antiga: “Alm. 34, Nº 19, Mº 3”.

† Muito Reverendo Padre Geral he Convento.Diz Mateus d’Azambuja morador na Sella termo da cidade de Leiria que hum

Gill Fernandez seu irmão trazia no dito lugar hum casal que pertence a este Mosteiro que foi de Eitor Gill seu pãe de ambos, ho qual Gill Fernandez se ausentou da terra ha muitos annos he se afirma ser morto, he antes que se fose ho danifigou [sic] muito he lhe derubou as casas he vendeo ha telha he madeira he quisera vender as propie-dades dele se elle suplicante lhe não fora a mão 51 mas lhe coitou oliveiras he outras muitas arvores, he ho não lavra nem aproveita he está fogo morto sem dono, de maneira que quem quer deitar mão dele, he não dá proveito algum ao Mosteiro antes de todo se perde. Pede a Vossas Reverencias lho queirão aforar he ell ho conjuntara todo he fara benfeitorias de maneira que ande melhorado he ho Mosteiro receba dele muito proveito he esto com ho foro [que] lhe parecer, por ho dito casal ser do dito seu pai he avoes, no que receberá justiça e merce.

52Muitos Reverendos Padres Prior e Convento.O suplicante Mateus d’Azambuja satisfazendo ao despacho de Vossas Rev-

erencias offerece com esta a certidão do juiz dos orfãos de Leiria per que consta ser falecido Gil Fernandez, seu irmão, e pede ajão por bem de lhe fazer o titulo d’aforamento pera acodir ao dicto casal que esta muito destruido e damnificado e se paguam delle 74 alqueires de trigo e quatro galinhas cad’anno a este Mosteiro e a seu rendeiro da Capella de Sam Simão de Leiria // [Fl. 1vº] e elle supplicante à sua pro-

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pria custa tirara e demandara as terras e propriedades que deste casal andam alien-adas, e de que outras pessoas injustamente se apossam e as fazem doutros senhorios, e por isto e por o dito Gil Fernandez não nomear, e o trazer asy damnificado o perdeu para este Mosteiro o poder afforar a quem o aproveite como elle suplicante fará, e a menina que lhe ficou hé de tres annos e sua mãy muito pobre que não tem possybili-dade algûa, e em caso que ella ou outro algum coherdeiro pretenda niso direito, elle suplicante fara e seguira a demanda à sua custa com a aução do Mosteiro que nisto recebera muito proveito e o dito casal sera muito melhorado e acrescentado por ter elle suplicante pera isso posse e receberá merce e Catarina Lopes sua molher.

Recebi quinhentos La, fazer este titollo, a xiij de Janeiro de 1580.

Praz ao Prior e Convento innovar ao supplicante este casall, e pagara setenta e quatro allqueires de trigo cada anno e seis galinhas e dous allqueires de azeite a çafra e ho dizimo em cada huum anno a Capella de Sam Symão que hé do Mosteiro. A treze de Fevereiro de 1580.

Ha de pagar 74 allqueires de trigo como dantes pagava e duas galinhas d’acrecentamento e dous allqueires d’azeite a çaffra. Em 15 de Fevereiro de 1580, Maria Lopez sua molher.

Apraz ao Padre Prior e Convento conceder ao suplicante este prazo em tres vidas com tal condiçam que se em isto ouver algûa pessoa que 53 tenha direito em este prazo que a satisfaça 54 e com juntamente lhe ser feito veadoria primeiro. Em 16 de Outubro de 1579.

(Assinatura) Dom Cypriano.

Doc. 101583 JANEIRO, 28-31, Leiria — Pública-forma e processo de protesto lavrado

pelo Licenciado Luís Gonçalves, mestre-escola da Sé de Leiria e procurador do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, acerca da visitação que fora feita, pelo visi-tador diocesano, à Capela de S. Simão, situada nos Paços Velhos del Rei, da qual resultara o mandado de ser reformado o telhado desta, com despesa e agravamento para o Mosteiro, o qual alegava competir tal encargo ao Rei.

TT — Santa Cruz de Coimbra, 2ª incorporação, Mº 18, Documento com a cota antiga: “Alm. 34, Nº 18, Mº 3”.

† Saibam quamtos este estromento dado em pubriqua forma por mandado e autoridade de justiça com ho de hûa pitiçam e procuraçam e protesto de que tudo ao diamte fara mençam virem como no anno do Nacimento de Noso Senhor Jhesu Christo de mill e quinhentos e oitemta e tres annos aos vimte e oito dias do mes de Janeiro do dito ano nesta sidade de Leiria em as pousadas do Licenciado Amtonio

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Coelho d’Aguiar juiz de fora com alçada por el Rey noso senhor em a dita sidade e termo ct., hy perante ell juiz pareceo o Senhor Licenciado Luis Gonçallvez mestre escola da Sé desta cidade pelo quall foy dito ao dito juiz que ele era procurador do Convento de Samta Cruz da Ordem do bem aventurado Samto Agostinho pela pro-curaçam que loguo peramte o dito juiz apresentou // [Fl. 1vº] do Muito Reverendo Senhor Dom Pedro, prior do dito Mosteiro, pelo quall foy dito que elle como procu-rador que [hé] do dito Mosteiro em nome do dito Mosteiro vinha peramte elle juiz e em seu juizo apresemtava hûa pitiçam do dito prior e padres do dito Mosteiro de Santa Cruz, a quall pitiçam e procuraçam ho juiz vyo e esta mamdou que se autoase que tudo hé o seguinte.

Bras Lopez tabeliam que o escrevi.

Senhor Juiz.Dyzem o prior e padres do Mosteiro de Samta Cruz da Ordem do bem avemtura-

do Samto Agostinho da sidade de Coimbra que a elles foy dito que o visitador deste Bispado de Leiria mandara, visitando a Capela de Sam Simão que está sita demtro dos Paços Velhos55 del Rey nesta cidade, que // [Fl. 2] elles sopricamtes a mandasem consertar e redeffiquar de algûas cousas de que tinha necesidade, parecendo lhe que elles tinham a iso obrigaçam nam a temdo, amtes sera obrigaçam del Rey noso senhor cuya a dita Capela hé. E pera elles saberem ho que era e ho que se mandava, mandaram ao seu prebendeiro Dioguo Gomez a esta sidade a se emfformar, ho quall por lhe ser dito qua que eles sopricamtes tinham a tall obrigaçam sem mais licemça sua deles nem mamdado falou com officiaes pera fazerem o tall concerto e a hum remdeiro seu que pagase e se fez a dita obra em que se gastou a custa das remdas do dito Mosteiro huns dezaseis mill e tamtos reais, os quaes elles sopricamtes por reverencia do Sam // [Fl. 2vº] to ham por bem gastados mas pera que iso lhe nam posa em tempo algum prejudicar por nam serem obrigados a concerto algum da dita Capela nem della serem admenistradores nem dela terem remda algûa amtes as of-fertas serem dos senhores do Cabido da Sé desta sidade, nem nela de mais de cemto e duzentos annos a esta parte poseram prebendeiro56 [nem] visytaçam nem tem ella cousa algûa e esta é ha verdade. E o dito prebemdeiro ora e asy ho rendeiro inoramte-mente e sem consentimento nem mandado deles sopricamtes fizeram e pagaram o tall comcerto o que lhes nam pode nem deve prejudicar pelo que por esta protesta-çam iure scritis e reclamaçam protestam diamte Vossa Merce e // [Fl. 3] neste seu juizo reclamão a tall visitaçam porque se mandou fazer e asim a obra que com seu dinheiro e custa se fez porque a ela nam consemtiram nem comsente[m] amtes ho comtradizem e protestam nam lhes prejudicar em tempo algum nem por esta vez fiquar direito aquerido aos visytadores do Bispado nem haa dita Capela e obra della pera os obrigarem a mais fazer comcertar e por nam passar decemte a reveremcia que se deve a tall Samto, de cuya invocaçam hé ha dita Capela, nom requerem suas acheguas e guastos que niso fizeram porque por ora por sua livre vomtade e nam por

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obrigaçam que pera iso tevesem nem tenham ham por bem gastado ho dito dinheiro. E pedem a Vosa Merce que esta sua protestação // [Fl. 3vº] e reclamaçam mande autoar per hum tabeliam damte sy e do dito lhe mande pasar hûa certidam com ho treslado de tudo em modo que faça fé pera comcervaçam de seu direito e em todo tempo que necesario lhe for se poderem ajudar dela. E que della tambem se façam noteffiqaçam ao ordinario ecclesiastiquo e se faça termo diso que em tempo algum se nam posa aleguar inorancia a se nam estar pera firmeza dela e em tudo receberam justiça e merce.

Dom Pedro, gerall, Dom Isidro, Dom Simão, Dom Vylano, Dom Mateus.

Procuraçam.E jumto como dito hé se acostou a procuraçam segimte:

¶ Dom Pedro prior de Samta Cruz de Coimbra e gerall de toda a sua Comgrega-çam por esta procuraçam por mim feita e asinada faço em meu // [Fl. 4] nome e do dito Mosteiro procurador ao senhor Licenciado Luis Gonçallvez, mestre escola da Sée da sidade de Leiria, pera que posa apresentar e apresente hûa pitiçam de protesto ao senhor juiz da dita sidade sobre hum capitolo de visitaçãm que se fez na Capela de Sam Simão pelo visitador ou vigairo da dita sidade por mandar em ela fazer alguas cousas ha que ho Mosteiro nam hé obriguado e do sobredito requeira e faça amtre quaes juizes e pesoas a que esto pertencer como eu faria se presemte fose e todo ho que por elle neste caso feito prometeo de estar e comprir com obrigaçam dos bens do dito Mosteiro. E se per el feito desta procuraçam hé necesario fazer e ver por esta mençam de algum pomto ou clasula de direito ey cytado aquy por expre // [Fl. 4vº] so. Feita no dito Mosteiro a dez de Janeiro de quinhemtos e oitemta e tres. Dom Pedro prior e gerall.

Certeffiquo eu Dioguo Coutinho tabeliam pubriquo e de notas por Sua Magest-ade nesta sidade de Coinbra que esta letra e sinal hé do Muito Reverendo Padre Dom Pedro pryor do Mosteiro de Samta Cruz dela e gerall de toda sua Comgreguação e conheço bem sua publica letra e synal em cuya fé pasey esta que asinei em pubriquo. A dez de Janeiro de mill e quinhemtos e oitemta e tres. Gratis.

E jumto como dito hé pelo dito Licenciado Luis Gonçallvez precurador do dito Mosteiro de Samta Cruz foi dito ao juiz que ell em nome do dito Mosteiro e como seu precurador que era ao juizo dell juiz e em sua presemça fazia a reclamação // [Fl. 5] comteuda em a pitiçam atras asim e da maneira e pelas mesmas palavras e clasulas nela declaradas e da dita reclaçam57 e protesto que em seu juizo fazia requeria a elle juiz mandase fazer auto e a tall reclamação mandase notiffiquar ao ordinario e da noteffiquaçam mandase fazer termo e de tudo pasar hum estromento em maneira que fizese fé pera guarda e concervaçam da justiça do dito Mosteiro. E o juiz mandou a esto ho requerimemto do dito licenciado precurador que eu tabeliam fose fazer a

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notefiquaçam que se requeria ao Ordinairo e feita lhe fose pasado seu estromento que pedia com ho teor dos autos.

Bras Lopez o stprevy.

E despois desto aos trimta e hum dias do mes de Janeiro do anno de mill e quin-hemtos e oitemta e tres annos // [Fl. 5vº] nesta sidade de Leiria ha porta da sancrestia da Sée desta sidade omde estava o Licenciado Amtonio Fernandez Colaço coniguo aprebemdado na dita Sée e vigairo gerall na dita sidade e Bispado a Sé vagamte, hy eu tabeliam lhe ly e pubryquei a requerimento do precurador do Mosteiro de Samta Cruz a pitiçam de protesto e reclamação atras e por elle Vigairo foy dito que havia por notefficada e fezese eu tabeliam termo da dita noteffiquaçam porque elle nam tinha mais que respomder a tall noteffiquaçam. Testemunhas: Amtonio Fernandez sobtisoureiro da dicta Sée e nesta sidade morador e eu Bras Lopez tabeliam que o stprevi.

E feita asim a dita noteffiquaçam como dito hé pelo dito senhor Licenciado Luis Gonçallvez mestre escola e procurador do dito Mosteiro foy requerido a mim tabe-liam lhe pasase seu estromento com ho teor destes autos pera guarda e comcervaçam da justiça do dito Mosteiro. Bras Lopez tabeliam o escrevi. // [Fl. 6]

O quall estromento eu Bras Lopez tabeliam do judiciall por el Rey noso senhor nesta cidade de Leiria e seu termo tresladei dos proprios autos que fiquam em meu poder bem e fiellmente e em a verdade e este comcertei com hos propios autos e com o tabeliam abaixo asinado e vai escrito em seis folhas de proceso com esta em que me asinei.

Em Leiria em os trimta e hum dias do mes de Janeiro, anno do nacymemto de Noso Senhor Jhesu Christo de mill e quinhemtos e oitemta e tres anos. E o asinei de meu pubriquo sinall que tall hé. Em fé e testemunho de verdade (sinal do notário).

Pagou deste propio com contas Cto Lbij reais.

(Assinaturas)Concertado – Joham Nunez.E per mim tabeliam Bras Lopez.

Doc. 111631 NOVEMBRO, 15, Coimbra (Mosteiro de Santa Cruz) — Maria de Figuei-

redo, viúva de Jerónimo Rodrigues, morador que fora em Lisboa, sendo terceira vida no prazo do Casal da Cela, junto à Batalha, com o foro anual de 74 alqueires de trigo e quatro galinhas, pede ao Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, senhorio, a esmola do abatimento do dito foro, alegando serem terras muito danificadas e que

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davam prejuízo. O Mosteiro nega a pretensão da requerente, alegando que era ela a culpada do estado de abandono a que tinham chegado essas terras.

TT — Santa Cruz de Coimbra, 2ª incorporação, Mº 18, Documento com a cota antiga: “Alm. 34, Nº 3, Mº 3”.

Notas1 Do Instituto de Paleografia e Diplomática da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.

Membro do Centro de História da Sociedade e da Cultura da Universidade de Coimbra e cola-borador do Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa.

2 Seja-me lícito remeter para o que, sobre o tema, deixei escrito na obra Introdução à História do Castelo de Leiria, 2ª edição, Leiria, Câmara Municipal de Leiria, 2004, pp. 115-125, bem como para o estudo de Luciano Coelho Cristino, “A Vila de Leiria em 1385”, in Jornadas sobre Portugal medieval. Leiria / 1983, Leiria, Câmara Municipal de Leiria, 1986, pp. 171-220: 187-190.

3 Sobre este assunto, consulte-se José Custódio Vieira da Silva, Paços Medievais Portugueses, Lisboa, IPPAR, 1996.

4 Instituto dos Arquivos Nacionais / Torre do Tombo (doravante citado por TT) — Santa Cruz de Coimbra, Livro 7, fls. 19-22. (Vd. Doc. 1).

5 Tinha esta D. Sancha Mendes casa abastada em Leiria, a qual foi adquirida pelo Rei. Um documento de 16 de Janeiro de 1342, refere-a como sendo: “casa del Rey que ffoy de Sancha Mendez hu sse colhe o pam dos moynhos del Rey”, pelo que se pode presumir ser prédio grande e espaçoso, talvez dentro das muralhas da vila antiga. Vd. S. A. Gomes, Introdução à História do Castelo de Leiria, p. 284 (Doc. 120).

6 Documentos originais que pertenceram à colecção particular de António Vasconcelos, os quais vêm publicados na sua obra Dona Isabel de Aragão (A Rainha Santa), Coimbra, Arquivo da Universidade de Coimbra, (Reprodução fac-similada da edição de 1891-1894; prefácio e introdução de Manuel Augusto Rodrigues), Vol. I, 1993, pp. 112-19. Vd., também, Frederico Francisco de la Figanière, Memorias das Rainhas de Portugal. D. Theresa – Santa Isabel, Lisboa, 1859, p. 195-196.

7 O Couseiro ou Memórias do Bispado de Leiria, Leiria, Impressão de O Mensageiro, 1980, capº 57, pp. 87-88.

8 “Não ha noticia certa de quem deu ou trouxe as dictas reliquias a esta egreja; somente uma tradição antiga, que a rainha Santa Izabel e el-rei D. Diniz, seu marido, as trouxeram; e por se não acabar de todo esta tradição, mandou ou bispo D. Diniz de Mello fazer um instrumento de testemunhas, antigas e fidedignas, no anno de 1629, no qual mandou fazer inventario das dictas reliquias, e se fez e está no cartorio do cabido d’esta cidade, aonde elle o mandou pôr, e o summario no da meza episcopal; a dicta tradição tem grande fundamento, porque os dictos reis D. Diniz e Santa Izabel folgavam muito de viver n’esta cidade (sendo ella então villa), e assim a enobreceram muito com sua presença, e mandaram fazer uns paços no sitio juncto aos episcopaes, e outros por baixo da Rigueira de Pontes, e outros na povoa de Monte-Real (…).” (O Couseiro…, capº 10º, p. 21).

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9 Vd. Doc. 2.10 Vd. Doc. 5.11 Conradus Eubel, Hierarchia Catholica Medii et Recentioris Aevi sive Summorum Pontificum,

S. R. E. Cardinalium, Ecclesiarum Antistitum Series, Vol. 3, Saeculum XVI ab anno 1503 complectens, Pádua, 1923, pp. 32 e 249.

12 Vd. Doc. 4.13 Arquivo da Universidade de Coimbra (doravante indicado por AUC) — Tomo 13 de Notas

de Santa Cruz de Coimbra, Livro 33, fl. 5vº.14 Vd. Doc. 5. É muito possível que este rendeiro Belchior Dias seja antepassado de um outro

Belchior Dias Preto, que, em 8 de Março de 1618, contratou com Santa Cruz de Coimbra, durante quatro anos, as rendas que o Mosteiro tinha em Leiria, pelo valor anual de 148 mil réis mais dois alqueires de pinhão mondado. Nessa renda incluíam-se os proventos da Capela de S. Simão. (Arquivo da Universidade de Coimbra — Tomo 19 de Notas de Santa Cruz de Coimbra, Livro 56, fls. 100-102vº). De notar que foi do seio desta família leiriense dos “Preto” que surgiu D. Pedro Vieira da Silva, conhecido bispo de Leiria e fundador do primeiro Seminário que a Diocese conheceu.

15 AUC — Tomo 16 de Notas de Santa Cruz de Coimbra, Livro 47 fl. 41.16 AUC — Tomo 20 de Notas de Santa Cruz de Coimbra, Livro 58, fls. 118-124.17 AUC — Tomo 16 de Notas de Santa Cruz de Coimbra, Livro 47, fl. 87, e Índice dos Livros

de Notas de Santa Cruz de Coimbra (III-1ª D-10-3-14), fl. 389.18 AUC — Tomo 26 de Notas de Santa Cruz de Coimbra, Livro 83, fl. 67.19 AUC — Tomo 39 de Notas de Santa Cruz de Coimbra, Livro 138, fl. 140vº.20 AUC — Tomo 50 de Notas de Santa Cruz de Coimbra, Livro 172, fl. 158.21 Vd. Doc. 10.22 Referindo-se a Leiria e à sua, então, novíssima catedral, registou Confalonieri: “Leiria é

cidade pequena de 900 casas; tem dois rios, o Lena e o Lis: o primeiro passa ao lado da cidade, a qual está na parte plana, onde fica quase toda, não sendo rodeada de muralhas, senão no alto onde há um nobre castelo. A catedral é nova e grande, construída de pedra, com três naves, as suas abóbadas e cruz feitas de cordões; o altar-mor não está terminado. Tem o capítulo pobre, que os cónegos são de 300 escudos e são 10; as dignidades, cinco de quinhentos e seiscentos escudos, meios cónegos, sete, e porcionários 12 ou 15. A construção da igreja tem mil e quinhentos escudos de renda, e o bispo quinze mil. Não tem órgão nem coro nem campanário. O claustro está atrás da igreja. As casas do bispo estão longe da igreja, e são cómodas, e em particular a varanda nobre. Há devoção de Nossa Senhora da Conceição em cima de um monte próximo da cidade, que se constrói de novo com esmolas; e fazem-se milagres. Está aqui a mulher do Sr. D. Pedro de Médicis.” (Por terras de Portugal no século XVI. Bartolomé de Villalba y Estaña, Gianbatista Confalonieri, Lisboa, Comissão Nacional para as Comemorações dos descobrimentos Portugueses, 2002, p. 278).

23 O Couseiro, capº 57, pp. 87-88.24 Não disponho de informação, neste momento, acerca do orago dessa Capela (agora privativa

dos Bispos), que, construídos os novos Paços Episcopais, na primeira metade de Seiscentos, sobre o sítio do antigo solar do tempo de D. Dinis, continuou a existir incorporada no edifício e que é, na verdade, a herdeira da velha Capela de S. Simão.

25 Em 1961, o Director do Museu Regional de Leiria, Dr. Agostinho Tinoco, diante do Dr.

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João Couto e outras autoridades, saudava a inauguração do Museu leiriense e referia, a dado passo, que este: “Organizado inicialmente com grande parte do recheio do antigo Paço Episcopal — ao qual vieram juntar-se mais tarde várias peças provenientes dos Conventos de Sant’Anna, S. Francisco e S. Bernardino (este de Peniche), do Seminário Diocesano e Recolhimento de Santo Estêvão — ficou o referido Museu instalado, por volta de 1918, em cinco compartimentos do referido Paço. Contavam-se entre eles uma Capela de reduzidas dimensões e uma vasta quadra reservada à arrecadação dos objectos que, dado o seu mau estado de conservação, ou carência de valor artístico, não haviam sido considerados dignos de figurar nas outras dependências. (…) Concedidas em 1927, ao Regimento de Artilharia e à Guarda Nacional Republicana, as salas em que pobremente se havia instalado o Museu — e ainda as Bibliotecas e Arquivo, com o qual viviam paredes meias — houve que transferir a existência destes últimos para algumas dependências da velha casa em que nos encontra-mos. Quanto ao Museu, fora encarcerada toda a sua existência na aludida capela do Paço Episcopal, com vista à sua arrecadação e defesa. Sobre este passo da atribulada vida do Museu de Leiria, dizia Tito Larcher, anos depois, que o seu recheio ficara espalhado pelo pavimento frio e húmido da capela, e de tal modo amontoado, que se tornara impossível qualquer espécie de limpeza (…).” (Agostinho Tinoco, Discurso proferido pelo Director do Museu Regional de Leiria no dia da sua solene inauguração, Leiria, 1961, p. 10).

26 Como normas gerais de transcrição dos documentos seguimos as seguintes: 1) Desdobramento das abreviaturas sem assinalar as letras introduzidas e uniformização de maiúsculas e de minúsculas consoante se tratasse de nomes próprios ou comuns; 2) actualização da pontuação dos documentos, normalizando o uso de pontos finais e de parágrafos; 3) normalização orto-gráfica pelo respectivo valor fonético, latino e português, dos “RR” maiúsculos (equivalendo a duplos “rr”) e dos “jj”, “ii”, “vv” e “uu”, com redução de consoantes duplas, no inícios de palavras, a uma única; na dificuldade de colocar o til sobre a vogal “u”, substituímo-lo pela forma “û”; 4) não alteração da forma de referência dos numerais nas datas e noutras situações; 5) Dúvidas vão assinaladas por (?); reconstituições por [ ]. Quanto à edição, cada documento é antecedido de sumário (data e resumo) e referência da cota arquivística da lição seguida pelo editor. No caso de documentos extraídos de outras edições, mantemos as respectivas lições.

27 Riscou: “huum”28 Repete-se a palavra “Periz”.29 Repete a palavra “#Moesteiro”.30 Emendado a partir de “causa”.31 Corrigido de “sua”.32 Segue-se, riscado, “do qual”.33 Riscado: “a”.34 Riscado: “os”.35 Segue-se, riscado, “servidor”.36 Desde aqui, mudam a mão e a pena.37 Na margem foi escrito: “Este cerrado se ha de por em pumar.”38 À margem lê-se a anotação: “Ela não está no prazo por esta tera Antonio Fernandes o rendou

da mão dos rendeiros, parte do Poente com o dito Antonio Fernandez e do Nascente com o Ribeiro e de Soam com terras do Casal.”

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39 Riscado. “que levara tres alqueires de semeadura.” À margem, foi anotado: “Não está no rol de Eitor Gil da mão dos rendeiros correm ou a hum genrro de Diogo Rodriguez da Cella, parte com Antonio Fernandez, o rendeiro, do norte e do sul com Diogo Rodriguez da Cella e Francisco Fernandez do Reguengo.”

40 Sic; entenda-se Azambujal.41 Anotado, junto a este item, por mão diferente: “Esta terra não anda no prazo de Eitor Gil, hé

terra que a mais della está de pousio e o que faltar na medida ou semeadura se descambou de Maria Gil da Batalha per outra a Fonte da Cella, parte do sul com Mosteiro da Batalha e do norte com Diogo Francisco do Tojal. Faz hûa chave por baixo pera a banda do Sul.”

42 Na margem: “Este pedaço de mato lhe mandem logo por em vinha.”43 Nas margens direita e esquerda: “Antonio Vieira.”; “Mandem-lho por em vinha”.44 Na margem: “Este mato pode ficar pera estrume.”45 Na margem: “Este lhe mandem fazer pumar.” “Este trás Domingos Carreira de Cella que

meteo dentro no seu eira e tapume e o amospeo (?) e foi vinha como está.”46 Na margem: “E por estar tudo [em] hûa courela parte pellas confrontações acima, e esta

courela está junta da outra atras somente se mete no meo hûa courela da Batalha.”47 Riscado: “de comprido noventa varas.”48 Letras riscadas.49 Nesta zona, aparece a impressão de um selo de chapa.50 Segue-se riscado: “tem”.51 Riscou a letra “h”.52 Este e os demais registos que lhe seguem foram escritos por mãos diferentes. 53 Riscou: “queixa ou”.54 Riscou: “primeiro”.55 Repete a palavra “Velhos”.56 A abreviatura, nesta palavra, é “por”, podendo transliterar-se também por “procurador” ou

“prior”, se bem que o contexto textual nos indique dever preferir-se, antes, a solução que fica nesta transcrição.

57 Sic; entenda-se “reclamaçam”.

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