desportos de aventura na natureza: uma revisão conceptual · segundo constantino (1997), no final...
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Desportos de Aventura na Natureza:uma revisão conceptual
Pedro Delgado Paiva
Porto, 30 de Maio de 2008
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Desportos de Aventura na Natureza: uma revisão conceptual
Orientador: Professora Doutora Ana Luísa Pereira
Pedro Delgado Paiva
Porto, 30 de Maio de 2008
Monografia realizada no âmbito da disciplina de Seminário do 5º ano da licenciatura em Desporto e Educação Física, na área de Recreação, da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto
À Maria Luís.
Que o Sol resplandeça no teu percurso,
Que o futuro te seja brilhante…
I
Agradecimentos
À Professora Doutora Ana Luísa Pereira, pela disponibilidade que sempre
demonstrou, pelos valorosos conselhos e pareceres, pelo auxílio e apoio, pela
boa-disposição com que sempre me recebeu e, acima de tudo, pela atitude e
dedicação com que encara a sua profissão.
A todos os professores do gabinete de Recreação, pela postura e carinho
para com os seus “protegidos”, com quem estabelecem, a par das óbvias relações
de profissionalismo, ligações de afeição e cordialidade.
À minha família:
Aos meus pais, heróis que amo muito, pelo apoio, carinho e confiança;
À minha avó e tio, por me suportarem, sempre;
A todos, pelo constante incentivo… pelo bem-querer… por tudo.
Aos meus amigos:
Ao Damião, por estar sempre lá;
Aos Manos e Maninha – Pedro, Tiago e Ju – pelo constante estímulo;
A todos – Ari, Zé, Sérgio, Rita, Catas, Nabais, Paty… – pelo apoio;
Aos amigos da Tribo do Lagarto e da Turma F, pela companhia no trajecto;
À Telma, por me carregar até aqui;
Ao meu Raio de Sol, por iluminar o meu caminho;
À Lúcia, pelo carinho… por me fazer sonhar…
III
Índice Geral
Agradecimentos ....................................................................................................... I
Índice Geral ............................................................................................................ III
Resumo...................................................................................................................V
Abstract .................................................................................................................VII
Résumé.................................................................................................................. IX
Lista de Abreviaturas..............................................................................................XI
1. Introdução........................................................................................................ 1
2. Desenvolvimento do Problema ........................................................................ 5
2.1 Objecto de Estudo: do quadro axiológico à legitimação da prática ............ 7
2.1.1 Contexto Social: valores, dinâmica e necessidades ............................ 7
2.1.2 Caracterização: das origens ao público-alvo ..................................... 17
2.1.3 Razões da procura e afirmação......................................................... 27
2.2 Temas de interesse na investigação do objecto de estudo...................... 33
2.2.1 Aventura: sensações e necessidades ............................................... 33
2.2.2 Consumo: sociedade e produto consumível...................................... 43
2.2.3 Problemática Ambiental: do meio e da educação.............................. 55
2.3 Perspectivas de Futuro ............................................................................ 75
3. Conclusões .................................................................................................... 81
4. Referências Bibliográficas ............................................................................. 91
V
Resumo
Vivemos actualmente uma outra sociedade, um período de complexidade e
inquietação onde se avultam valores e necessidades, frutos de uma aparente
radicalização dos princípios do período da Modernidade (Lipovetsky, 1989;
Gervilla, 1993; Giddens, 1994). Associadas à emergência destes novos princípios,
carências e valores, surgem novas actividades de lazer, profundamente
relacionadas com a Aventura e o contacto com a Natureza (Betrán e Betrán,
1995a; Guzmán, 2002; Costa e Correas, 2005). Neste trabalho, baseado numa
exaustiva revisão bibliográfica, procurámos entender estas novas práticas
desportivas, identificando as suas principais características e analisando as suas
dinâmicas com a sociedade actual. Entre as principais conclusões do nosso
trabalho podem ser destacadas: a proposta do conceito de Desportos de Aventura
na Natureza, que nos parece uma alternativa viável para a definição do nosso
objecto de estudo; o enorme potencial destas práticas para fornecer resposta a
todo um leque de necessidades hoje em evidência na nossa sociedade, dos quais
destacamos a carência de emoções, riscos, sensações, ruptura com a
continuidade da vida, divórcio com o espaço e tempo quotidiano e escape para o
ambiente natural; uma tendência profunda à Mercantilização da Aventura que,
associada a uma forte resposta empresarial e a uma produtiva relação com as
novas formas de turismo activo, torna o nosso objecto de estudo em mais um
produto de consumo; o enorme potencial do referido objecto de estudo para a
Educação Ambiental e promoção de novos valores ecológicos de protecção da
Natureza.
Palavras-Chave: Pós-Modernidade; Desportos de Aventura na Natureza;
Mercado da Aventura.
VII
Abstract
Nowadays we experience another society, a complexity and disquiet period
where new values and requirements, seeds of a perceptible radical shift of the
principles of Modernity, breed (Lipovetsky, 1989; Gervilla, 1993; Giddens, 1994).
Related to the surge of these new principles, needs and values, a perceptible
bourgeoning of new leisure activities, deeply associated with the Adventure and
the experience of Nature, is noticed (Betrán e Betrán, 1995a; Guzmán, 2002;
Costa e Correas, 2005). With the conception of this work we attempt, through an
exhaustive and meticulous bibliographic review, to understand the new sport
activities, identifying its key characteristics and analyzing its dynamic relations with
the contemporary society. Amongst our primary conclusions there can be
enlightened: our proposal of the concept “Adventure Sports in the Nature”, which
we believe provide a viable alternative to the nomination and conceptualization of
our subject; the vast potential of these practices to provide answers to an all-
complex set of necessities in evidence nowadays, of which we can stand out the
need of emotions and sensations, the risk-seeking tendency, the requirement of
rupture with the continuity of life itself and the escape from the time and space of
the everyday life towards the natural environment; a deep tendency to the
pronouncement of the adventure market, associated to a strong and ever growing
business reply and a productive relation with the new forms of active tourism,
which establishes our subject as another consumption commodity; the large
potential of our subject to the Environmental Education and the promotion of new
ecological values and nature protection ideals.
Keywords: Postmodernity; Adventure Sports in the Nature, Adventure Market.
IX
Résumé
Actuellement on vivons dans une outre société, un période de complexité et
inquiétude ou se amplifie valeurs et nécessités, conséquence de une apparent
radicalización des débuts de la Modernité (Lipovetsky, 1989; Gervilla, 1993;
Giddens, 1994). Associé à l’émergence de ces nouveaux principes, besoins et
valeurs, se posent de nouvelle activité de loisirs, profondément reporté à
l’Aventure et aux contacte avec la Nature (Betrán e Betrán, 1995a; Guzmán, 2002;
Costa e Correas, 2005). Dans notre travaille, basée à une exhaustif révision
bibliographique, nous cherchons d’attendu cette nouvelle pratiques sportives,
identifié cette principaux caractéristiques et analyser cette dynamique avec la
société actuelle. Parmi les principaux conclusions de notre travaille, on peut mettre
en évidence: la notre propose de le concept de Sport d’Aventure dans la Nature,
que on croyions êtres une alternatif pour la définition e conceptualisation du notre
objecte d’étude; l’énorme potentiel de cette pratique, pour donnée une réponse à
tout un group de nécessités qui nous trouvons aujourd’hui dans notre société, ou
se détache le besoin d’émotion, du risque, de la sensation, de la rupture avec la
continuité de la vie, le divorce avec l’espace et le temps de quotidienne et l’évasion
pour la nature; une profond tendance aux marché de l’Aventure qui, associé a une
fort réponse de l’entreprise et a une productif relation avec le nouvelle forme du
tourisme actif, il prend le notre objecte de l’étude dans un n’outre produit pour
consumé; le grand potentiel du dit objecte d’étude pour le Education Ambiant et la
promotion de nouveaux valeurs écologiques de protection de la nature.
Mots-Clés: Postmodernité; Sport d’Aventure dans la Nature; Marché de
l’Aventure.
XI
Lista de Abreviaturas
AFEN – Actividades Físicas de Exploração da Natureza
AFAN – Actividades Físicas de Aventura na Natureza
AEISAD – Associação Espanhola de Investigação Social Aplicada ao Desporto
CTP – Confederação do Turismo Português
TV – Televisão
PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
CMAD – Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento
CNUMAD – Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento
CECS – Conferência Europeia sobre Cidades Sustentáveis
E.A. – Educação Ambiental
DAN – Desportos de Aventura na Natureza
11.. IINNTTRROODDUUÇÇÃÃOO
Introdução
3
1. Introdução
Segundo Constantino (1997), no final do século passado foi possível assistir
ao aparecimento de novos paradigmas civilizacionais (p.117), que lenta mas
profundamente alteraram os estilos e os modos de vida, as relações sociais, as
expectativas e motivações dos cidadãos (idem). De facto, com uma rápida análise
aos trabalhos de autores como Lipovetsky (1989), Gervilla (1993), Giddens (1994),
Fernandes (1999) ou Beck (2000), podemos entender a emergência de uma outra
sociedade, na qual se estabelecem novos valores e princípios, bem como um
novo leque de necessidades para as quais o indivíduo, enquanto ser situado,
procura resposta ou forma de supressão.
Dada a amplitude do fenómeno desportivo – e atendendo ao facto de, como
afirma Bento (1997), cada época ter o seu desporto e o seu cidadão, ambos
dependentes de mutações sociais, sobretudo nos planos dos valores, direitos e
necessidades –, as alterações do quadro axiológico levaram a que, como afirma
Garcia (1997), mesmo nas revistas sobre educação física e desporto mais
conceituadas internacionalmente, novas palavras, novos conceitos (…) surgissem
para situar, qualificar, explanar ou explicar a sociedade em que vivemos (p. 15).
É neste versátil cenário de mudanças culturais, económicas, ideológicas e
de alterações dos paradigmas, dos conceitos e mentalidades – no qual o
hedonismo e o lazer assumem uma dimensão fundamental (Elias, 1992; Pereira e
Félix, 2002) –, que podemos considerar o surgimento de todo um conjunto de
práticas corporais (Betrán e Betrán, 1995a) desenvolvidas em contacto com a
natureza, cuja experiência envolve risco, emoção, prazer e cujo incremento não
pode ser desvalorizado (Pereira e Félix, 2002; Costa e Correas, 2005).
Actividades Físicas de Exploração da Natureza ou Desportos de Aventura
são apenas exemplos do vasto legado terminológico hoje existente para a
objectivação destas práticas, que ocorre em estudos através dos quais, diversos
os autores dão prossecução a artigos e investigações sob temáticas tão variadas
Introdução
4
como o Turismo (Fernández, 2002; Costa, 2006), a Educação Ambiental (Chao,
2004; Marinho, 2004) ou a dimensão simbólica da Aventura (Feixa, 2002).
Estas novas práticas oferecem, aparentemente, resposta às necessidades
impostas pelas formas de vida hoje aceites e experimentadas (Elias, 1992; Betrán
e Betrán, 1995a; Pereira e Monteiro, 1995), tornando-se um objecto de estudo
capaz de gerar um extenso e complexo espólio bibliográfico, que reúne tópicos de
interesse articuláveis de forma evidente com variadíssimas áreas da nossa
sociedade. Assim, e perante um tão vasto legado de obras e artigos – que focam
os aspectos práticos das actividades em causa, a sua ética, as responsabilidades,
as razões, as preocupações, os contextos, a relevância, a coerência e as
perspectivas das partes envolvidas no fenómeno –, torna-se fundamental procurar
entender de forma mais evidente que relação ou relações se estabelecem entre
estas e os novos valores, princípios e carências dos seres humanos, enquanto
seres sociais.
É nossa intenção, através de uma exaustiva revisão bibliográfica, estudar a
temática das Actividades de Ar Livre, com o intuito de entender as suas
interactividades com os valores e consequências da sociedade actual. Para tal,
dividimos o nosso trabalho em 3 partes fundamentais: Num primeiro capítulo
dedicar-nos-emos ao exame do nosso objecto de estudo na sua relação com o
quadro axiológico, procurando definir plenamente a imagem destas novas práticas
e da sociedade em que as mesmas se estabelecem; Num segundo capítulo
procuraremos descrever e compreender as grandes questões que hoje surgem
associadas ao nosso objecto de estudo, e que hipoteticamente definem os
grandes tópicos de relação com as principais instâncias da sociedade actual; Num
terceiro capítulo procuramos estabelecer um possível cenário de futuro para o
nosso objecto de estudo, admitindo que todos os factores considerados ao longo
da revisão bibliográfica poderão de alguma forma ser intervenientes no seu
delineamento e que a exactidão da prognose, pela vastidão de variáveis
envolvidas, será potencialmente complexa.
22.. DDEESSEENNVVOOLLVVIIMMEENNTTOO DDOO PPRROOBBLLEEMMAA
Desenvolvimento do Problema
7
2.1 Objecto de Estudo: do quadro axiológico à legitimação da prática
2.1.1 Contexto Social: valores, dinâmica e necessidades
En nuestra sociedad pluralista y relativista
todo vale, todo fluye y nada permanece, lo
nuevo rápidamente se hace viejo.
(Gervilla, 1993: 18)
Como referimos na introdução do nosso trabalho, ocorrem transformações
na sociedade actual que são acompanhadas por modificações profundas nas
crenças e atitudes do ser humano, que se verificam também nas novas posturas
face ao fenómeno desportivo. Como afirma Bento (1997), não é estranho que se
procure debater e reformular a temática do desporto, num início de século tão
dinâmico do ponto de vista da mutação de princípios e valores sociais e de tão
evidentes alterações de crenças respeitantes à cidadania.
Para um melhor entendimento do nosso objecto de estudo, será imperativo
conhecer e entender esta mutável sociedade a que nos referimos, procurando
compreender as mudanças axiológicas que lhe são subjacentes.
Vivemos um período de complexidade e inquietação, no qual as sociedades
– de crise permanente, do efémero e do transitório (Gervilla, 1993), numa situação
de vazio, ou, a um nível mais profundo, de transição (Sousa Santos, 2002) –
parecem claramente devedoras do processo e projecto da modernidade (Silva,
2002: 32). Este parece ser o núcleo do problema do novo quadro social
(Lipovestsky, 1983; Gervilla, 1993; Silva, 2002), impossível de definir, por si só, de
modo exacto e consensual, compreensível apenas na relação com o seu anterior
– que se entende de oposição, ruptura, crítica, distanciamento, fracasso, projecto
inacabado (Gervilla, 1993) ou transição com momentos de ruptura e momentos de
continuidade (Sousa Santos, 2002: 92).
Desenvolvimento do Problema
8
Para Lipovetsky (1983), Gervilla (1993), Silva (2002) ou Lyotard (2003),
referimo-nos ao contexto social actual como Pós-Modernidade, mas esta
perspectiva está longe de ser consensual. Segundo Sousa Santos (2002), a
considerar-se a extinção da modernidade, esta seria complexa, definindo-se
parcialmente como um processo de superação – na medida em que são
cumpridas algumas das promessas desse projecto, e até em excesso – e de
obsolescência – pela irremediável incapacidade do cumprimento das restantes.
Mas a extinção não é um termo recorrente e a perspectiva de ordem parece ser
outra. Autores como Giddens, Beck e Lash (2000) negam a entrada na Pós-
Modernidade, defendendo uma modernidade tardia (Giddens, 1994) ou uma
modernização reflexiva (Beck, 2000) – uma ordem nova na qual as consequências
da modernidade se tornam mais radicalizadas e universalizadas (Giddens, 1994:
2). Também Pereira e Félix (2002) referem a radicalização dos princípios
existentes e vividos, afirmando os novos valores como resultantes desse processo
e seguindo uma linha de pensamento mais ou menos consensual. Como afirma
Beck (2000), a modernização reflexiva pode ser vista como uma radicalização da
modernidade, que quebra os contornos da sociedade industrial e origina um
período de autoconfrontação.
Perante as diferentes opiniões relativas à época de crise na qual vivemos,
impõe-se que, para sua melhor compreensão, entendamos o processo evolutivo
que lhe é inerente e que passamos a analisar de forma resumida. Segundo
Gervilla (1993), com o eclodir do Renascimento a ideologia Deus-Homem-Mundo
ganhou posição fundamental na sociedade, tendo mais tarde sido substituída pelo
dogma do Antropocentrismo, que colocava o Homem no centro de tudo. Com o
declínio da Igreja Católica e a revolta contra as instituições estabelecidas, o tempo
da austeridade dos costumes dá lugar a uma certa exuberância da vida (Garcia,
2005:17) e o Homem, através da Ciência, substitui Deus no centro da sociedade –
as explicações científicas tomam o lugar das anteriores explicações divinas e as
crenças religiosas são remetidas para a esfera da vida privada (Touraine, 1994).
Desenvolvimento do Problema
9
Registaram-se séculos de profundas mudanças, que afectaram de forma
evidente vários domínios da sociedade como o conhecimento, tecnologia,
economia, política e religião (Silva, 2002). O sucesso da Ciência, a separação das
doutrinas religiosas e a afirmação da Razão Pura, representam o culminar do
projecto de emancipação e libertação da espécie humana (Gervilla, 1993) e com o
progresso baseado na Ciência e na Razão – factor que fornecerá explicação para
tudo, uma vez que tudo é, à partida, inteligível (Gervilla, 1993) – surge a
sociedade moderna, não em simultâneo por todo o mundo, mas com evidente
prioridade nas sociedades ocidentais (Silva, 2002).
A modernidade não representa a mudança pura, mas a difusão dos
produtos de actividade racional, científica, tecnológica e administrativa (Touraine,
1994, p.21) em sociedades enquadradas por Estados-Nações, marcadas pela
expansão industrial – que reorganizou as classes e originou processos de
urbanização característicos –, pelo forte crescimento demográfico da população e
pelo valorizar o tempo de trabalho (Silva, 2002).
O projecto da modernidade parece ter estado intrinsecamente relacionado
com o capitalismo – expressão do período no plano económico (Touraine, 1994) –
e com a industrialização, baseando-se em dois pilares fundamentais – o da
regulação e o da emancipação (Sousa Santos, 2002) – e revelando como
características de identidade: o domínio racional das coordenadas do espaço e do
tempo; o desenvolvimento de mecanismos e processos de dexcontetualização e
recontextualização dos factos e actos; a apropriação reflexiva do conhecimento –
com a revisão contínua dos objectivos e estratégias de acção; a circulação de
informação e produtos por diferentes contextos sociais; o desenvolvimento dos
sistemas abstractos científicos e técnicos – que garantiam formas de interpretação
e acção cujos fundamentos e legitimidade eram virtualmente universais (Giddens,
1994; Silva, 2002). Terá prevalecido, nesta época, a pluridimensionalidade
institucional, sendo o capitalismo, a vigilância, o poder militar e o desenvolvimento
industrial as dimensões a ponderar (Giddens, 1994).
Desenvolvimento do Problema
10
Para Lipovetsky (1983:11), a sociedade moderna era conquistadora, crente
no futuro, na ciência e na técnica; instituiu-se em ruptura com as hierarquias de
sangue e a soberania sacralizada, com as tradições e os particularismos, em
nome do universal, da razão, da revolução. O autor refere-se a esta época no
pretérito perfeito, sendo ele próprio um dos maiores apoiantes do seu término ou
superação. Como já referimos, o novo quadro social – independentemente da
terminologia pela qual optemos para a sua nomeação – não pode ser visto sem a
compreensão da falência, da superação, da vitória ou da destruição criativa do
processo da modernidade – ou de parte do mesmo.
Vivemos agora numa era onde vigora o descrédito da Razão, a perca do
fundamento, o surgir da fragmentação moral, o esteticismo, a dissolução do
sentido histórico e o pensamento débil (Gervilla, 1993). Uma época de
descontextualização e recontextualização das formas sociais industriais (Beck,
2000). Uma sociedade cosmopolita global cujos contornos ainda mal conseguimos
vislumbrar (Giddens, 2002), na qual se exige uma disciplina emocional global
(Elias, 1992), onde o risco faz parte do quotidiano (Beck, 1992) e em que aparece,
com força crescente, a obsessão pela diferença e especificidade (Touraine, 1994).
A tão objectivada e fundamentada Razão, que imperava e se havia tornado
o princípio e o meio da emancipação – libertação do indivíduo face aos
constrangimentos arbitrários do costume, da tradição ou da dominação (Silva,
2002) –, é posta em causa. O descrédito e desencanto pela Razão, referidos por
Gervilla (1993) e Fernandes (1999), apoiam-se na insegurança, nos enganos e
nas decepções criadas pela tomada de posição do progresso tecnológico, a par
dos acontecimentos históricos desprovidos de sentido racional – como as duas
Grandes Guerras Mundiais, Hiroshima, extermínios étnicos, as guerras do
Vietnam e do Golfo Pérsico, entre outros (Lipovetsky, 1983; Gervilla, 1993).
Somos conduzidos a um relativismo e subjectivismo que afecta todos os âmbitos
do ser, do conhecer e do viver, originando um pluralismo e politeísmo de valores
que torna difícil distinguir os mesmos dos seus antónimos – assim se justifica a
perda de fundamento: deixamos de ter uma razão para conhecermos uma
Desenvolvimento do Problema
11
pluralidade de razões, uma multiplicidade de formas de justificação (Gervilla,
1983). Tudo aquilo que provém do passado e se apresenta como provido de
racionalidade tende a ser reinterpretado, reavaliado ou mesmo abandonado
(Fernandes, 1999).
Nesta época – chamemos-lhe, como muitos, Pós-Modernidade –, o prazer
tende a ditar as regras de desenvolvimento (Lipovetsky, 1989). O hedonismo
estabelece-se como um dos valores mais significativos da sociedade e a busca do
prazer assume um papel fundamental na cultura actual, na qual o indivíduo
adquire um estatuto de centralidade (Pereira e Félix, 2002). Nesta perspectiva,
como explica Heinemann (1994), as investigações sobre a alteração de valores da
nossa sociedade parecem indicar uma diminuição da importância da
competitividade na vida social e a substituição do resultado futuro pelo desfrute do
presente. Mais importante do que o esforço é a busca do máximo de prazer no
que se faz (Pereira e Félix, 2002). O hedonismo reporta-nos aos processos –
segundo Pereira (2004), transformações características da sociedade
contemporânea – de personalização e individualização referidos por Lipovetsky
(1983) numa sociedade que pretende viver livre e sem coacção, escolher sem
restrições o seu modo de existência (p.10), que pretende viver já, aqui e agora
(p.11), no presente e não já em função do passado e do futuro (p.49) e na qual o
indivíduo subsiste como um valor principal, intocável, indiscutível através das suas
múltiplas manifestações (Costa, 2006: 15).
Segundo Lipovetsky (1983), o valor da realização pessoal, do respeito pela
singularidade subjectiva, da personalidade incomparável (p.9) foi promovido e
incarnado pelo processo de personalização, processo visto como o novo modo de
organização e orientação da sociedade, que se pretende com o mínimo possível
de coacção e o máximo possível de opções, com o mínimo de austeridade e o
máximo de desejo, com o mínimo de constrangimento e o máximo de
compreensão (p. 8-9). O indivíduo vira-se para si próprio e passa a estar no centro
da sua acção, onde as questões pessoais se tornam essenciais e a realização
Desenvolvimento do Problema
12
pessoal se destaca como objectivo principal, orientando a actuação pelo princípio
do prazer (Giddens, 1994).
O fenómeno de individualização – o direito de o indivíduo ser
absolutamente ele próprio, de fruir ao máximo a vida (…) inseparável de uma
sociedade que erigiu o indivíduo livre em valor principal (…) transformação dos
estilos de vida associada à revolução do consumo (Lipovetsky, 1983: 9) – é, para
Fernandes (1999), um movimento através do qual, sem perder totalmente os
ligames sociais ou romper com os mesmos, a pessoa se afirma em crescente
autonomia e age com um certo distanciamento do seu meio ambiente. Segundo o
autor, o indivíduo, que surgia dissolvido na colectividade e numa existência
essencialmente comunitária, adquire por este processo a liberdade e
subjectividade, tendo os outros como fonte alimentadora do crescimento e
desenvolvimento pessoal. Segundo Tulloch e Lupton (2003), o processo de
individualização oferece tanto a liberdade de escolha, como a esmagadora
responsabilidade inerente à mesma – esta, passível de fornecer novos riscos, a
associar aos já verificados na sociedade.
Nesta sociedade, também sociedade de risco, os processos industriais e
paradigmas sociais a ele relacionados produzem riscos que – devido aos modelos
de globalização da modernidade tardia – ignoram fronteiras geográficas, sociais e
socioeconómicas (Beck, 1992). A globalização – um fenómeno revolucionário, de
natureza política, tecnológica, cultural e económica, profundamente influenciada
pelo progresso dos sistemas de comunicação – ajuda a definir este importante
período de transição, no qual as mudanças que afectam quase tudo o que
fazemos não estão confinadas a uma única parte do globo (Giddens, 2002). Os
riscos globais verificados na nossa sociedade são resultados, também, embora
não só, das dramáticas mudanças nas estruturas das vidas privadas, que
enfraqueceram as tradições e obrigaram ao processo de individualização (Beck,
1992).
Na opinião de Touraine (1994), o indivíduo é agora um ser activo, centrado
em si próprio e ansioso pela auto-realização, o que uma vez mais nos conduz ao
Desenvolvimento do Problema
13
tema do prazer. O hedonismo, durante muito tempo exclusivo das classes
privilegiadas, foi sendo transformado em comportamento quotidiano pela
sociedade de consumo (Betrán e Betrán, 1995a) e originando, a par do fenómeno
de individualização, as individualidades hedonistas e narcisistas referidas por
Gervilla (1983), Lipovetsky (1983) e Lyotard (2003). Para Lipovetsky (1983), é
claro que o processo de personalização continua a alargar as fronteiras da
sociedade de consumo, cujo fim foi precipitadamente anunciado.
A sociedade de consumo que ainda hoje vivemos – surgida em estreita
ligação com a sociedade moderna, com a produção de massa, com a melhoria
dos rendimentos e bem-estar e com o alargamento dos mercados – não surge
apenas ligada às necessidades de escoamento comercial de produção em série e
às melhorias de rendimentos, mas também à aquisição de certos direitos por parte
dos trabalhadores, traduzidos na redução dos horários de trabalho, no direito ao
descanso semanal e nos períodos de férias remuneradas, que conduzem à
libertação de um tempo individual (Silva, 2002).
Também Garcia (2005) explica que o tempo de trabalho (p.15) tem vindo a
baixar de forma notória, tendo como consequência um aumento do tempo de não
trabalho (idem), tornando os conceitos de recreação, lazer e tempos livres em
expressões quase definidoras da nossa época. Segundo a sua opinião, o lazer,
mobilizando toda a sociedade quer para a sua vivência quer para a sua reflexão
(idem), constitui-se num fenómeno social total, isto é, segundo Durkheim (1987:
39), toda a maneira de fazer, fixada ou não, susceptível de exercer sobre o
indivíduo uma coerção exterior: ou então, que é geral no âmbito de uma dada
sociedade tendo, ao mesmo tempo, uma existência própria, independente das
suas manifestações individuais.
Aliado à redução de tempo de trabalho, ao aumento da esperança média de
vida, ao aumento dos patrimónios familiares, ao maior tempo de escolaridade
obrigatória e tardia inserção no mercado de trabalho, a uma precipitada reforma
das populações, à melhoria dos cuidados médicos que proporcionam uma maior
mobilidade aos indivíduos de idades mais avançadas e à diminuição de
Desenvolvimento do Problema
14
importância dos tradicionais modelos de conduta ditados por factores sociais como
o sexo e a idade entre outros (Heinemann, 1994; Garcia, 2005), surge um caos de
práticas corporais ante o homem pós-industrial (Betrán e Betrán, 1995a). Note-se
que, como afirma Garcia (2005), se é difícil para o homem o trabalho, mais difícil
se torna o divertimento (p.22). Segundo o autor, a organização social sofre pelo
surgimento do ócio – que torna imperioso o aumento e diversificação das ofertas
de lazer, não se esgotando esta premissa na oferta desportiva – e com a
crescente valorização da parcela de tempo a que se podem atribuir sentidos
pessoais diferenciados. A ampla variedade de actividades de lazer existentes
estabelece-se, actualmente – e em resposta a esta e outras necessidades –, como
um dos principais traços de identidade das sociedades do nosso tempo (Elias,
1992).
Por tudo o anteriormente analisado, podemos afirmar que a Pós-
Modernidade optou pelo singular, a sociedade como meio, sempre ao serviço e
subordinação da pessoa, na qual a postura tipo é bem expressa na atitude dos
jovens, desresponsabilizada e despreocupada, posição de quem só tem uma vida
que viver e um presente que gozar (Gervilla, 1993), mais do que uma ética, uma
estética (Betrán e Betrán, 1995a; Pereira e Félix, 2002), ou uma estética sem ética
(Gervilla, 1993), que juntamente com a fragmentação moral gera valores de
afectividade, sentimento, prazer, narcisismo, novidade e aculpabilidade (Pereira e
Félix, 2002). É nesta sociedade – hedonista, pós-industrial, individualista,
narcisista, de múltiplos valores e razões, ainda e cada vez mais de consumo de
massa, que busca o prazer, a realização, o presente e com cada vez mais espaço
para o lazer e ócio – que procuramos entender o nosso objecto de estudo.
Esta sociedade de transição, de novas revoluções tecnológicas, mas com
fundamentalismos religiosos renascidos, de integração económica planetária, mas
de insubsistência alargada a grandes porções da população, de progresso
científico, mas de dúvida imposta pela epistemologia do mesmo avanço (Silva,
2002), de serviços, de computadores e de actividade mental (Betrán e Betrán,
1995a), que, ao legitimar o individualismo hedonista conjugado ao prazer de
Desenvolvimento do Problema
15
consumo, fez com que novas actividades físicas e desportivas surgissem e
adquirissem lugar de destaque (Pereira e Félix, 2002).
As práticas corporais de carácter recreativo afirmam-se então como a
principal forma de utilização do ócio activo nos países economicamente
desenvolvidos do ocidente (Bétran, 1995) e entre elas destacam-se as Actividades
Físicas no Meio Natural, conhecidas popularmente por Desportos de Aventura,
que têm tido uma difusão vertiginosa nos últimos anos e consolidado o seu lugar
com cada vez mais ímpeto na sociedade (Betrán e Betrán 1995b; Miranda, Lacasa
e Muro, 1995).
Entendido o quadro axiológico actual, importa agora focar atenções no
nosso objecto de estudo, atendendo a esta realidade que o enquadra e no qual o
mesmo subsiste. Conhecendo os valores e atitudes da sociedade, torna-se
fundamental entender a forma como os mesmos o influenciam, o fundamentam ou
a ele se opõem. Desta forma, passamos a analisar as suas características,
formas, origens e razões, tendo sempre como pano de fundo – perfeitamente
interactivo – o contexto social contemporâneo.
Desenvolvimento do Problema
17
2.1.2 Caracterização: das origens ao público-alvo
Cada época tem o seu desporto porque
tem o seu cidadão. Um e outro resultantes
de mutações sociais, sobretudo no plano
dos valores, dos direitos, dos interesses,
dos problemas e das necessidades.
(Bento, 1997: 95)
A não sujeição a uma regulamentação fixa, a grande flexibilidade de
horários, formas, intensidades, modos e ritmos de prática – variáveis ao gosto dos
praticantes –, a originalidade e criatividade, a troca do paradigma do esforço pela
perspectiva do prazer sensório-motor e as fortes componentes de aventura e
sensação são, segundo Miranda, Lacasa e Muro (1995), as características
correntes a todo o conjunto de actividades que aqui estudamos, e que têm como
denominador comum a sua prática num ambiente natural, proporcionador de uma
estreita dialéctica com a natureza (Pereira e Monteiro, 1995: 111). O que
procuramos neste capítulo é a breve caracterização do nosso objecto de estudo,
importante para o seu pleno entendimento e para a melhor compreensão das suas
questões e temas de interesse.
São as Actividades de Aventura, as Actividades de Ar Livre ou Desportos
Sliz – o problema da terminologia será abordado um pouco mais à frente – cuja
génese ocorreu, atendendo às ideias de Domingo (1991), Betrán e Betrán (1999)
e Rico (2002), durante a década de 1960, tendo uma forte difusão nas tendências
sociais das décadas de 1970 e 1980. Na opinião dos autores supracitados, as
primeiras modalidades deste âmbito terão surgido na costa oeste dos Estados
Unidos da América – com o nascer de novas práticas na natureza e o reformular
de antigas actividades praticadas no meio natural –, sendo importadas depois para
o resto das sociedades economicamente avançadas.
As suas origens são diversas e dependem de cada modalidade em
concreto. O seu palco são os principais meios físicos conhecidos ao homem –
Desenvolvimento do Problema
18
aéreo, terrestre ou aquático (Betrán e Betrán, 1995b; Guzmán, 2002; Melo, 2003)
– e como modalidades podem ser referidas: Asa Delta, Parapente, Queda-Livre,
Base Jump, Bicicleta Todo-Terreno, Cicloturismo, Street Luge, Ski, Snowboard,
Passeio Pedestre e Equestre, Montanhismo, Trekking, Orientação, Espeleologia,
Escalada, Mergulho, Surf, Body-Board, Wakeboard, Windsurf, Rafting, Canoagem,
Hidrospeed e Canyoning, entre muitas outras (Betrán e Betrán, 1995b; Funollet,
1995; Guzmán, 2002; Melo, 2003).
Para Costa (2006), como seus atributos particulares, são evidenciados: o
risco e a incerteza associadas à aventura, o desenvolvimento articulado com a
expansão das novas tecnologias, a concepção recreativa em oposição à
competição clássica das práticas desportivas tradicionais e a sua relação próxima
com a natureza. Na opinião de Melo (2003), estas podem mesmo definir-se
simplesmente pelo meio em que se praticam – necessariamente um ambiente
natural ou um local de paisagem humanizada mas de forte componente natural –
que ajuda a estabelecer – pela sua imprevisibilidade e características – o risco e
aventura que lhes são inegáveis (Holyfield, 1999; Costa e Correas, 2005).
As forças e condições totalmente imprevisíveis que oferecem, o risco e a
aventura (Krein, 2007), são o motor principal destas práticas, que se baseiam no
aproveitamento das energias livres (Betrán e Betrán, 1995a; Guzmán, 2002) para
proporcionar todo o leque de sensações – mergulho, vertigem, velocidade,
desequilíbrio, quedas, deslize, incerteza, liberdade e adrenalina (Guzmán, 2002;
Marinho, 2004) –, que as tornam tão apelativas e procuradas. Desta forma, a sua
essência é muitas vezes entendida como uma oposição entre o ser humano e o
meio natural – pelo confronto que se origina entre o indivíduo e as forças –,
embora a perspectiva mais sensata deva considerar o praticante em comunhão
com a natureza (Costa e Correas, 2005).
Para alguns autores, a dimensão da aventura a que nos referimos não
deixa de ser imaginária ou simbólica (Feixa, 2002; Marinho, 2004) – esta é uma
temática que mais tarde abordaremos, num capítulo inteiramente dedicado ao seu
Desenvolvimento do Problema
19
estudo – e a relação entre o nosso objecto de estudo e as novas tecnologias é
mais do que evidente (Betrán e Betrán, 1995a).
O que parece ser um facto é que os novos desportos surgem associados
aos paradigmas da realização pessoal, melhoria da qualidade de vida e
hedonismo, deixando para trás as condições fundamentais do rendimento,
esforço, tensão, competição e procura de marcas de maior performance,
características do desporto clássico (Domingo, 1991; Betrán e Betrán, 1995a e
1995b; Miranda et al., 1995). A motivação do desportista está contida no próprio
exercício físico e nas sensações que a sua prática produz, sendo desnecessária
outra justificação para a sua procura, que não a satisfação produzida pela acção
(Guzmán, 2002).
Como foi anteriormente referido, é importante mencionar a existência de
uma infinidade de termos que pretendem designar e caracterizar estas práticas
(Marinho, 2004, p:51). Esta parece ser uma questão premente e que nos
proporciona todo um quadro de problemas, associados à dialéctica dos autores e
investigadores, bem como à etimologia dos termos envolvidos e à multiplicidade
de formas de interpretação que os mesmos comportam em si ao longo dos
tempos.
Marinho (2004) escolheu o conceito “Atividades na Natureza” procurando
esclarecer os equívocos – existentes do seu ponto de vista – manifestados pelo
emprego de termos como desporto – pela falta de institucionalização e
burocratização destas práticas – e radical – explicando que uma caminhada pelo
bosque pode ser meramente tranquila. Na mesma perspectiva, Funollet (1995)
nega os conceitos de Aventura – por considerar que a mesma é uma concepção
muito subjectiva – e de Risco – por considerar que este limita à partida o público-
alvo passível de ser aliciado. Para Guzmán (2002), a aquisição de características
próprias por parte de algumas das actividades, justifica a necessidade de procurar
aglutinar as mesmas em grupos com distintas terminologias – no caso do autor, os
Desportos de Sliz.
Desenvolvimento do Problema
20
Com base nos trabalhos de autores como Betrán e Betrán (1995b), Funollet
(1995), Miranda et al. (1995), Fernández (2002), Guzmán (2002), Marinho (2004),
Costa e Correas (2005) procuramos apresentar uma lista das denominações
propostas ao longo do tempo, bem como esclarecer as suas interpretações ou as
causas que levaram ao seu uso. Desta forma e segundo os autores supracitados,
são ou foram nomenclaturas sugeridas, as seguintes:
- Novos Desportos: conceito proposto numa tentativa de destacar, nestas
novas práticas, um carácter inovador e estruturalmente distinto do verificado na
concepção clássica do Desporto;
- Desportos Californianos: termo proposto numa clara tentativa de
estabelecer a relação com a origem de algumas das actividades em causa;
- Desportos Fun: conceito que estabelece uma clara e objectiva relação
com o divertimento que tais práticas proporcionam;
- Actividades Outdoor, Actividades (Físicas) na Natureza e Desportos na
Natureza: conceitos que procuram claramente enfatizar o local ou meio no qual as
práticas se desenvolvem;
- Actividades Físicas de Aventura, Desportos de Aventura, Desportos de
Risco, Desportos Radicais e Extreme Sports: termos que referenciam e dão
enfoque à incerteza, risco e perigo físico objectivado;
- Desportos Selvagens e Desportos em Liberdade: conceitos que remarcam
o carácter natural, libertador e incerto, característico das práticas alvo, em ruptura
com a estrutura e civilização dos Desportos da modernidade;
Desenvolvimento do Problema
21
- Desportos Tecnológicos e Desportos Tecno-Ecológicos: termos que
procuram estabelecer uma clara referência à simbiose entre tecnologia e o objecto
de estudo;
- Actividades Deslizantes, Desportos Glisse e Desportos de Sliz: termos
que procuram enfatizar o deslizamento como a forma fundamental de
deslocamento nestas actividades, cuja principal energia de propulsão advém das
próprias forças da natureza.
A lista previamente apresentada estaria incompleta sem a inclusão de
outras terminologias que foram surgindo – referenciadas pelos mesmos autores –
e que agrupam em si conceitos anteriormente referidos. São exemplos:
Actividades Físicas de Plena Natureza e Actividades Desportivas no Meio Natural
– ainda no contexto de ênfase ao meio de prática; Actividades de Desafio na
Natureza, Actividades de Aventura no Ar Livre e Actividades Desportivas de
Recreio e Turísticas de Aventura – no contexto da procura de sensações;
Actividades Deslizantes de Aventura e Actividades Deslizantes de Aventura e
Sensação na Natureza – no contexto dos Desportos de Sliz.
A juntar a este extenso reportório, devemos ainda considerar um importante
leque de denominações, mais recentes, abordadas por vários autores e muito bem
evidenciadas por Pereira e Félix (2002), que não servindo directamente para
nomear o nosso objecto de estudo, acabam por a ele se relacionar. Segundo as
autoras, pode ser considerado natural que também as novas formas de turismo
incluam actividades vinculadas à natureza, dando origem a denominações como
Turismo de Natureza, Eco-Turismo ou Turismo Aventura – este tema será
posteriormente desenvolvido no nosso estudo.
Existem duas denominações que, pelo seu frequente uso nos trabalhos
mais recentes, não poderão deixar de ser analisadas. São elas: Actividades
Físicas de Exploração da Natureza (AFEN) e Actividades Físicas de Aventura na
Natureza (AFAN).
Desenvolvimento do Problema
22
O conceito de AFEN é clarificado por Constant (1994, cit. Pereira e
Monteiro, 1995: 111 e Guilherme, 2004: 16), que nos explica que as Actividades
Físicas de Exploração da Natureza caracterizam-se por movimentos realizados
com ou sem engenhos, num meio natural, complexo, variado e por vezes variável,
com controlo de eventuais riscos. Segundo Pereira e Monteiro (1995), no âmbito
das AFEN podemos encontrar um leque variado de actividades, que se estende
da corrida de orientação e passeios pedestres ao surf e escalada. O termo AFEN
é utilizado no Currículo Nacional do Ensino Básico1 e nos Programas Nacionais de
Educação Física2 pelo Ministério da Educação, incluindo nos mesmos e como
conteúdos temáticos: a Canoagem, o Cicloturismo, o Golfe, o
Montanhismo/Escalada, o Tiro com Arco, a Prancha à Vela, a Vela e o
Campismo/Pioneirismo (Jacinto et al., 2001; Maria e Nunes, 2007).
Pereira e Monteiro (1995) são peremptórios em referir, como valores
fundamentais das AFEN, as fortes componentes de incerteza, conquista e
liberdade – propícias à emoção e aventura, que criam situações específicas de
aprendizagem, apaixonantes para os jovens. Estas fortes componentes de risco e
aventura são apropriadas de forma muito mais evidente no segundo termo que
aqui analisamos, este aparentemente em voga no vocabulário dos investigadores
e autores da área.
Referimo-nos às AFAN, conceito apresentado pela primeira vez por Betrán
e Betrán em 1994, no Congresso Nacional de AEISAD (Betrán e Betrán, 1995a).
Segundo os autores, as AFAN devem ser entendidas como aquelas
actividades físicas de tempo livre que buscam a aventura imaginária – emoções e
sensações perspectivadas como hedonistas e fundamentalmente individuais –,
numa relação com o ambiente ecológico ou natural, situadas e em comunhão com
os valores da Pós-Modernidade. Com o recurso à expressão Actividade Física, os
autores procuram a ruptura com o termo Desporto – que consideram
1 Ver Currículo Nacional do Ensino Básico – Competências Essenciais 2 Ver Programas de Educação Física estipulados para 1º, 2º e 3º Ciclo do Ensino Básico
Desenvolvimento do Problema
23
regulamentado, institucionalizado, competitivo e profundamente associado aos
valores da modernidade –, surgindo o conceito de Natureza numa referência ao
meio comum de prática das actividades. Este meio é ainda salientado como um
dos factores de grande popularização das práticas, pela necessidade de evasão
do meio urbano e escape do quotidiano habitual, mas fundamentalmente pela
resposta emocional que o praticante sente na sua prática – liberdade, sentimento
ecológico, paz, harmonia ou por vezes desequilíbrio e vertigem.
Feixa (2002), optando igualmente pela terminologia AFAN, procura realçar
a dimensão imaginária ou simbólica da aventura – cenário para a gestão
controlada das emoções, nas quais as acções se subordinam às percepções e os
riscos reais aos imaginários –, exacerbando a opinião de Betrán e Betrán (1995b),
que embora afirmando uma tendência geral para a supressão do conceito de
aventura – uma vez que o público-alvo pode sentir-se intimidado pelo factor risco –
, aplicam o termo na sua nomenclatura, reconhecendo importância à busca de
sensações inerentes à prática de tais actividades.
Independentemente das dificuldades sentidas na escolha de uma
nomenclatura ou denominação geral e universalmente aceite, os trabalhos sobre
as Actividades de Ar Livre – ou qualquer outro conceito que se pretenda usar –
multiplicam-se e confluem para tópicos de interesse.
Embora o espólio terminológico existente seja muito vasto, os trabalhos
mais recentes têm optado pela terminologia de AFAN – como é o caso de Costa
(2006), Cunha (2006), Mota (2006) e Resende (2006) –; conceito bem estruturado
mas obviamente passível de críticas por parte de outros autores e investigadores.
Parece-nos admissível observar que este universo carece de uma terminologia
universal e de concordância, facto que facilitaria a definição do objecto de estudo,
bem como a organização da globalidade dos trabalhos na sua temática.
Apesar da sua nomenclatura ser discutível, parece concreto que o tipo de
actividades que aqui estudamos, surge hoje como oferta plural a um público
diversificado, sendo o aumento do número de praticantes estabelecido como uma
das suas principais características (Rico, 2002). Esta ideia é abordada por
Desenvolvimento do Problema
24
Fernández (2002), que afirma que o Desporto Aventura – há muito praticado
apenas por uns quantos “loucos e aventureiros” – se estende agora a um novo
público-alvo, que busca o risco e prazer da aventura, convertendo-se num objecto
de consumo de massa.
Embora tópicos de interesse, a busca do risco, da aventura e a perspectiva
do consumo estão longe de ser as únicas razões que justificam o aumento do
número de praticantes, sendo este incremento hipoteticamente justificável por um
vasto conjunto de razões que legitimam a prática e que analisaremos no capítulo
subsequente. O que é certo é que, parecemos estar perante o afirmar cada vez
mais seguro da natureza como cenário pretendido para as actividades
desportivas, num espaço que se pretende aberto e cuja variabilidade se contrapõe
à clausura do quotidiano (Pereira e Félix, 2002).
A variedade de contextos no qual a prática é procurada serve, por agora,
para nos permitir entender a vastidão cada vez mais notória do público-alvo
objectivado. Segundo os peritos, os praticantes procuram as Actividades Físicas
na Natureza em três âmbitos distintos: o pedagógico ou educativo, o competitivo e
o turistico-recreativo (Bétran e Bétran, 1999; Rico, 2002). Com campos tão
distintos e aos quais se relacionam objectivos tão díspares, é no mínimo lógico
que se considere o alargar do número e das características dos consumidores
envolvidos como um facto.
Como referimos anteriormente, os conteúdos curriculares do sistema
educativo começam a dar importância às actividades desenvolvidas no meio
natural para o desenvolvimento e formação de valores ambientais. Thomas e
Raymond (1998), esclarecendo que muitas instituições escolares não perdem a
oportunidade de proporcionar aos seus alunos experiências e viagens de estudo
temáticas, referem-se à importante função das actividades ditas de aventura na
educação e formação das crianças, expondo brevemente o seu relevante papel na
aquisição de objectivos como consciência ambiental e a sua potencialidade para o
desenvolvimento social e pessoal. Pereira e Monteiro (1995) e Guilherme (2004)
evidenciam bem a importância da presença de conteúdos deste género nos
Desenvolvimento do Problema
25
programas de Educação Física Escolar e Nichols (2000), que se foca no conceito
de educação aventura, aviva o seu potencial para o crescimento pessoal das
crianças e jovens, esclarecendo a sua possibilidade para a formação de adultos.
Todo o conjunto de indivíduos que procuram o meio natural para participar
em algum tipo de competição ou evento desportivo, pode ser englobado no âmbito
competitivo ou profissional referido por Rico (2002). Aparentemente, também este
grupo parece ter tendência a um crescimento – utilizemos a título de exemplo a
exposição de Silva (2003) sobre o sucesso das Corridas de Aventura em Portugal,
ou a de Leite, Vinha e Almeida (2002) sobre as Corridas de Orientação. Mas como
refere Palmer (2002), o número cada vez maior de praticantes atraídos pelos
Extreme Sports varia entre o dos “adeptos hard-core” – completamente fundidos
com o estilo e conhecimento técnico da sua disciplina preferida – e o dos
“guerreiros de fim-de-semana” – que não praticam e possuem pouco domínio
técnico.
Para além dos paradoxais “atletas profissionais” das actividades de lazer, a
imagem do atleta consumidor – comprador de experiência – é cada vez mais
usual, muito pela crescente oferta de produtos por parte das empresas de
animação turística (Betrán e Betrán, 1999). Já não é apenas uma minoria,
dominadora de técnicas desportivas especializadas, a que procura os espaços
naturais, sendo cada vez mais amplo o extracto de população que acede a estes
meios, sem possuir uma estupenda forma física e domínio técnico prodigioso
(Rico, 2002). Segundo Pereira e Félix (2002), não é estranho que se verifique a
vinculação entre este tipo de actividades e as novas formas de turismo activo e,
como nos expõe Costa (2003), são cada vez mais as entidade turísticas que se
associam às empresas de Desportos Aventura, para satisfazer as necessidades e
desejos dos seus clientes. Segundo a opinião da Confederação de Turismo
Português (CTP, 2005), os “consumidores” do Ecoturismo e do Turismo Aventura
são geralmente indivíduos com mais de 30 anos, aproximadamente na faixa etária
dos 40, ainda que também se encontrem viajantes na faixa dos 40-60 anos de
idade.
Desenvolvimento do Problema
26
Podemos então afirmar que, o espectro do actual público-alvo do nosso
objecto de estudo é vastíssimo. Para Rico (2002), são os jovens e adultos de nível
socioeconómico médio-alto os principais demandantes das Actividades de
Aventura na Natureza, representando as crianças, idosos e populações especiais
fracções menos evidentes desse espectro. No entanto, como tivemos a hipótese
de compreender, aquela que parecia a loucura de uns poucos, converte-se na
dedicação e paixão de muitos, que cada vez mais numerosos constituem um
grupo onde não há tendência a marginalizar raças, sexos, medidas
antropométricas, estados físicos ou idades (Betrán e Betrán, 1999).
O nosso objecto de estudo é complexo. O seu sucesso e afirmação são
inegáveis e o crescente público-alvo que lhe surge vinculado é prova visível desse
facto – quer se entenda como causa, quer como efeito. São muitas as suas
características, variando do meio especificamente distintivo onde ocorrem à
multiplicidade de sensações e sentimentos que podem proporcionar. É uma
miríade de termos a que o pretende nomear ou identificar, circunstância que
dificulta o seu estudo e o escrutínio lógico da sua essência.
Durante esta breve caracterização, algumas das propriedades específicas
das actividades aqui em causa foram abordadas escassamente e de forma subtil,
entenda-se, pela sua coerência com outras partes do nosso trabalho onde lhes é
atribuída evidente importância e reflexão.
Entendendo um pouco melhor o nosso objecto de estudo e a sociedade em
que se engloba, importa agora entender a interacção ou conjunção verificada, que
leva à adesão e eleição deste tipo de actividades por parte da população.
Desenvolvimento do Problema
27
2.1.3 Razões da procura e afirmação
Nuevos tiempos, nuevos costumbres,
nuevos usos, nuevos hábitos, nuevas
demandas y nuevas ofertas (...)
(Betrán e Betrán, 1995a: 17)
Como foi anteriormente analisado, foi a plena identificação das Actividades
Físicas de Aventura na Natureza com os valores e atitudes da Pós-Modernidade,
que permitiu a sua progressiva integração na nossa sociedade de consumo e
serviços (Betrán, 1995). As modificações económicas, sociais e políticas do século
passado – das quais emergem valores como o hedonismo, o consumismo, o
individualismo, o gosto pelo risco, a superação e exaltação, a busca das origens e
subsequentes buscas da natureza e dos valores ecológicos – levaram a uma
crescente procura das actividades de ócio, desportivas e na natureza (Pereira e
Félix, 2002). Os “Novos Desportos” aparecem associados aos paradigmas da
auto-realização, livre expressão, afirmação e melhoria da qualidade de vida
(Domingo, 1991; Betrán e Betrán, 1995a e 1995b; Miranda et al., 1995) e, como
veremos neste capítulo, são várias as razões que conduzem à sua procura e
contribuem para a sua cada vez mais evidente afirmação.
O risco físico e o contacto directo com a natureza, que faziam parte do
quotidiano habitual das sociedades pré-industriais, sendo ritualizados, vividos em
contexto de guerra, de festa ou subsistência, tornavam desnecessária a criação de
cenografias especiais para a gestão controlada das emoções (Feixa, 2002). Hoje
são menos frequentes e mais reprováveis a forte excitação colectiva e individual,
as explosões incontroladas e as suas manifestações públicas, a menos que
expressas num cenário socialmente aceite (Elias, 1992). A vida nestas sociedades
industriais modernas caracteriza-se, entre outros, pelos excessos de
regulamentação e de sentimento de segurança, que originam monotonia e falta de
surpresas, levando assim à perda de emoções e sensações e a uma diminuição
Desenvolvimento do Problema
28
da gratificação e satisfação em respeito à própria conduta (Heinemann, 1994;
Costa e Correas, 2005). Para trás ficou a época em que, para ser digno da sua
própria humanidade, o homem devia aperfeiçoar-se e progredir através do
trabalho – usando o mesmo como forma de aprendizagem ao respeito pela própria
vida, de aquisição de qualidades morais, fortificação da saúde, vontade e
perseverança – e tem agora lugar uma era na qual é necessária a “paixão da
mudança”, o gosto pela iniciativa, pelo risco e pelas experimentações ultra-rápidas
(Lipovetsky, 1994:142). Vivemos um tempo cronometrado, comprado, calculado e
compulsivo, até por vezes nos momentos de lazer (Marinho, 2004). Vivemos numa
cidade de betão – de urbanização desregrada, com zonas marginalizadas, novos
focos de pobreza e exclusão, aumento do tráfego, degradação dos espaços
públicos, elevados índices de poluição e excesso de mecanicismos (Pereira e
Monteiro, 1995; Constantino, 1997) –, vivemos o cansaço, o stress, contaminação
e ruídos que a caracterizam (Fernández, 2002), e vivemos preocupados com a
sua incompatibilidade com o homem no plano ecológico, antropológico e social – a
relação cidade-cidadão é uma afinidade de aperto e constrangimento, com o
desejo de divórcio baseado na fuga para a natureza (Bento, 1997).
A vida ao ar livre – por intermédio das Actividades na Natureza – passa a
ser encarada pelo homem como espaço privilegiado para o aproveitamento do
tempo de lazer, como “válvula de escape” do quotidiano repetitivo e maculado,
como resposta à necessidade de reencontro com a natureza – a “sua natureza” –,
como momento socialmente aceite para a vivência e expressão de excitação, local
para procura de novas sensações, aventuras e emoções, perdidas no meio urbano
e social actuais (Elias, 1992; Pereira e Monteiro, 1995; Rico, 2002; Chao, 2004;
Costa e Correas, 2005). O descobrimento de um novo meio, desconhecido e
misterioso, apenas domesticado, desprovido das comodidades habituais, permite
a fuga da rotina quotidiana e da cidade viciada, a procura da satisfação associada
à estimulação emocional carregada de tensões agradáveis, a superação do tédio
diário (Feixa, 2002; Costa e Correas, 2005) e até a adesão a uma moda ecológica,
que se associa ao consumo da natureza (Chao, 2004).
Desenvolvimento do Problema
29
Muitos praticantes experimentam os desportos de Natureza por mera
curiosidade, ou porque as chamadas “actividades radicais” ou “de aventura” estão
na moda (…) outros encaram a actividade como um desporto como outro
qualquer, desprezando tanto os riscos pessoais e ambientais, como as
potencialidades educativas (Melo, 2003:16). No entanto, para os indivíduos
verdadeiramente interessados em actividades desportivas, a interacção
potenciada pelos Desportos de Aventura entre o ser humano e o mundo natural é
valorosa, pelas experiências excepcionalmente atléticas que proporciona – umas
das principais atracções destas práticas é a oportunidade de ter um oponente tão
extraordinário como uma onda de 10 metros ou um pico de 8000 metros de altura
(Krein, 2007). Para além de tudo isso, as novas actividades que envolvem risco
podem ainda oferecer ao seus praticantes, de forma consciente ou não, um
sentido de identidade pessoal que a sociedade em crise de valores já não lhes
confere (Almeida, 1997), uma hipótese de crescimento e desenvolvimento pessoal
(Costa e Correas, 2005) e de controlo e responsabilidade sobre a própria
existência (Krein, 2007).
Como explicam Miranda et al. (1995), são múltiplos os factores que
justificam os fenómenos de crescimento e consolidação destas práticas físicas e
desportivas no contexto social actual, factores que passamos a analisar tendo
como referência os trabalhos de Betrán (1995), Betrán e Betrán (1995b), Miranda
et al. (1995), Pereira e Monteiro (1995), Feixa (2002), Pereira e Félix (2002) e Rico
(2002):
- A vasta gama de actividades existentes – quase ao gosto e desejo do
consumidor – e a alternativa viável que constituem aos modelos desportivos
tradicionais – ainda mais pela harmonia com os valores da Pós-Modernidade –
levam cada vez mais os cenários naturais a destacar-se como espaços para o
aproveitamento do tempo livre dos indivíduos, libertos das suas obrigações
quotidianas;
Desenvolvimento do Problema
30
- A grande flexibilidade destas actividades permite-lhes chegar até grupos
de consumidores muito diferenciados – entre os quais se destacam,
especialmente, os aderentes à sub-cultura juvenil e os aspirantes a “sempre
jovens” – público-alvo crescente que contribui para o aumento de procura destas
práticas;
- As sensações e emoções que suscitam, o sentimento de liberdade e
prazer que proporcionam, o simbolismo que lhes é inerente, a necessidade
mínima de institucionalização e de regularidade de prática, contribuíram
exacerbadamente para a sua grande popularidade, a qual foi ainda mais
fortalecida pela resposta empresarial que permitiu ao praticante obter um serviço
total com o mínimo de preocupações ou conhecimentos;
- Os avanços tecnológicos – que permitiram optimizar os materiais,
equipamentos e artefactos necessários – tornaram mais simples e seguro o
acesso a estas práticas;
- A crescente adesão às actividades relacionadas com a natureza, seguida
de perto pelos agentes económicos e pelos media que nela encontram mais uma
forma de incremento das relações de consumo, criou uma moda do natural, à qual
não escapa o turismo activo – relação de recíproca publicitação e fortalecimento;
- Este tipo de práticas – que apresentam características muito próprias e
diferenciadas – fazem delas modelos de educação por excelência, contribuindo
para a sua crescente procura no contexto da formação e instrução.
A forte necessidade de sensações e emoções (Pereira e Monteiro, 1995;
Miranda et al., 1995; Feixa, 2002), aparentemente perdidas ou minimizadas numa
urbanização demasiado poluída, regrada e mecanizada (Marinho, 2004; Costa e
Correas, 2005), são, sem dúvida, grandes factores de influência para o
aparecimento e consolidação das actividades realizadas em exploração e contacto
com o meio natural (Costa e Correas, 2005), até porque este divórcio, e
prossecução da vontade e necessidade individual, acabam por ter profunda
relação com as dinâmicas e valores da nossa sociedade.
Desenvolvimento do Problema
31
Entre os vários agentes que contribuem para a sua popularidade,
destacamos: as fortes actividades empresarial e comercial que orbitam em torno
deste fenómeno e o surgimento e afirmação das novas formas de turismo activo,
que acabam por demonstrar estreita ligação com as nossas actividades.
Depois de conhecida a realidade da nossa sociedade, entendido o nosso
objecto de estudo e abordada a dinâmica entre ambos – analisada sob a forma de
razões que incentivam e condicionam a relação – consideramos importante, até
para consolidação da investigação de alguns temas já analisados, estudar as
grandes questões associadas ao nosso objecto de estudo, que representam
plenamente os problemas sociais e a forma como a prática aqui objectivada
oferece interacção com os mesmos.
Desenvolvimento do Problema
33
2.2 Temas de interesse na investigação do objecto de estudo
2.2.1 Aventura: sensações e necessidades
Actualmente, la prática deportiva en el
médio natural se llama de forma genérica
deportes de aventura, y a veces deportes
de riesgo.
(Funollet, 1995: 125)
O nível e tipo de risco presenciais – substancial hipótese de lesão ou
mesmo morte para o praticante – continuam a ser para muitos, características
definitivas ou pelo menos conceitos intimamente associados ao nosso objecto de
estudo (Holyfield, 1999; Palmer, 2002; Varley, 2006; Jirásek, 2007; Krein, 2007) e,
no entanto, ou talvez por causa deste facto, a popularidade dos Desportos de
Aventura aumenta significativamente, fazendo crescer o número de adeptos do
extremo (Palmer, 2002; Jirásek, 2007).
Não deixa de ser verdade que os perigos inerentes a estas práticas
aparecem cada vez mais orientados e conduzidos. Como nos explicam Betrán e
Betrán (1999), a notoriedade da oferta empresarial associada a estas
experiências, tem, paradoxalmente, a sua sustentação na busca e fornecimento
da maior segurança possível nas suas práticas, estabelecendo o risco como uma
dimensão imaginária (Feixa, 2002). Até os atletas e aficionados despendem de
enormes esforços para limitar o risco das suas actividades, recorrendo a materiais
específicos e ao desenvolvimento de conhecimentos e capacidades, com o
objectivo de tornar o ambiente o mais seguro possível (Krein, 2007). Mas, apesar
da retórica que sugere que estas actividades são desportos sem azares ou
perigos, as coisas podem correr e, por vezes, correm mal (Palmer, 2002).
O que procuramos entender neste capítulo são os verdadeiros valores e
dimensões do risco, da emoção e das sensações intrínsecas às Actividades de
Aventura, analisando igualmente as razões que levam à procura da ocupação do
tempo de lazer com práticas, notória ou subjectivamente, perigosas.
Desenvolvimento do Problema
34
Nas sociedades avançadas do nosso tempo, muitas profissões, relações
privadas e actividades dependem do autocontrolo individual, sendo limitado o
campo existente para a demonstração de fortes sentimentos, emoções e impulsos
(Elias, 1992). São sociedades nas quais a vida dos indivíduos se encontra muito
regrada (Costa e Correas, 2005), nas quais não mais existe a necessidade de
esforço físico ou mental – substituídos por uma passividade preponderante que
tornou a vida em algo automático e que não requer a actuação humana (Lewis,
2001). Sociedades nas quais tendemos a considerar as emoções como
expressões do nosso Eu privado e interior (Sharpe, 2005) e onde é exacerbado o
poder sobre a própria vida, que ao ser perfeitamente incontestado acaba por privar
os cidadãos da sua própria percepção de auto-determinação (Møller, 2007). Como
refere Baudrillard (1995), de forma a resolver a contradição entre a moral puritana
e a moral hedonista, importa que a tranquilidade da esfera privada surja como
valor disputado, constantemente ameaçado, rodeado por um destino de
catástrofe. É precisa a violência e a inumanidade do mundo exterior para que a
segurança não só se experimente como tal, com maior profundidade, mas também
para que se sinta justificada em escolher-se a si mesma em cada momento.
Segundo o autor, nesta concepção, é fundamental a acção dos media, que
bombardeiam o “consumidor” com informação e factos, embora – como veremos –
a solução possa também ser proporcionada pela vivência de aventuras.
Paradoxalmente, nesta mesma era, a vida vai ficando mais dura e arriscada
no sentido existencial e temos tendência a influenciar as crianças, jovens e
adultos, a tornarem-se mais suaves, menos tolerantes à dor, a lesões e problemas
de stress (Breivik, 2007). Pode ser verdade que, como já referimos, nunca antes
na história tantas pessoas viveram tão relativamente livres de riscos – em termos
financeiros, na perspectiva da saúde e da segurança militar (Møller, 2007), tal
como nos expõe Lewis (2001), ao exacerbar que até a morte foi transformada em
algo irreal, num evento de puro e extraordinário azar, por oposição a algo
inevitável e universal. No entanto, não deixa de ser verdade que, nas sociedades
contemporâneas ocidentais, o conceito de risco ocupa o quotidiano (Beck, 2000;
Desenvolvimento do Problema
35
Giddens, 2000) e que nos últimos anos se têm vindo a intensificar os discursos
emergentes das diversas áreas do saber (ciências sociais incluídas) sobre a sua
natureza e efeitos na vida da população (Tulloch e Lupton, 2003). Podemos,
assim, afirmar que o clima de segurança de que se desfruta, nunca antes na
história foi observado (Costa e Ferreira, 2000), mas que quando comparamos a
nossa situação com a que se viveu em períodos mais remotos, o conceito de risco
assume uma importância nova e peculiar, não definindo a nossa época como mais
perigosa do que as anteriores, mas como uma na qual o equilíbrio entre estes e os
perigos se alterou (Giddens, 2002).
Neste mundo – controlado, planificado e ao mesmo tempo de risco real –,
no qual a manifestação de emoções espontâneas se vê fortemente limitada por
um conjunto de restrições sociais e culturais (Costa e Correas, 2005), a maioria
das sociedades encontrou, segundo Elias (1992), uma contramedida de oposição
às tensões que elas próprias conceberam – enquanto as rotinas públicas ou
privadas da vida exigem perfeito domínio sobre estados de espírito, impulsos,
afectos e emoções, as ocupações de lazer autorizam-nas a fluir livremente num
quadro especialmente criado. Segundo o mesmo autor, de forma simples ou
complexa, as actividades de lazer proporcionam a erupção de sentimentos
agradáveis, frequentemente ausentes nas rotinas habituais, originando – mais do
que a libertação de tensões – a renovação da tensão necessária à saúde mental:
tensão-excitação.
Frequentemente encontradas no mundo do lazer, as aventuras, que podem
ser consideradas um tipo de situação marginal – caracterizada como um estado
corporal em que acontece a contestação de todas as definições socialmente
objectivadas da realidade e que fornece a hipótese de testemunhar e antecipar a
própria (e a alheia) mortalidade (Lewis, 2001) –, bem como um tipo de resistência
aos constrangimentos da desumanização da modernidade (Holyfield, 1999),
fornecem resposta a muitas das necessidades presentemente em evidência na
nossa sociedade. A paixão pela sua busca é tão velha como a própria espécie.
Romper com o quotidiano, com a norma, com o costume e o estabelecido, é um
Desenvolvimento do Problema
36
desejo inconfesso do mortal na sua busca por algo extraordinário na vida e por
algo que possa ser narrado aos seus pares (Bétran e Bétran, 1999).
Quando discorremos sobre a Aventura, não podemos deixar de analisar as
perspectivas de Simmel (1997), para quem cada segmento da nossa conduta e
experiência carrega um duplo significado, simbolizando quer a imediata
experiência que proporciona, quer uma parte do decurso da nossa vida. Eventos,
embora similares, podem possuir diferentes significados no contexto da vida como
um todo, ou, eventos, com distintos significados intrínsecos, podem representar
papéis similares na continuidade da nossa existência. Segundo o autor, as formas
mais comuns de aventura caracterizam-se pelo fornecimento de quebras com a
continuidade da vida, sendo detentoras de um significado mais profundo, dada a
sua ocorrência além do usual desenlace quotidiano. Colocada fora do contexto
significativo da vida como um todo – como uma memória que é unida à realidade
por menos fios do que os da experiência ordinária –, a aventura pode ser vista
como uma ilha na existência, cujos limites são muito mais evidentes do que os da
experiência vulgar. Para o autor, falamos de aventura, precisamente, quando a
continuidade da vida é desconsiderada em princípio, ou quando nem se verifica a
necessidade dessa desconsideração, pela certeza de lidarmos com algo intocável,
fora do comum e inusual.
Subjectiva e controversa, a experiência da aventura apresenta, também, um
aspecto fundamental na sua relação com a emoção (Sharpe, 2005), sendo
aparentemente criada quando os riscos são combinados com a incerteza dos
participantes de estarem ou não à altura de ultrapassar os obstáculos (Morgan,
Moore e Mansell, 2005). Entre as suas componentes, surgem as fortes
possibilidades de dano e desastre, cuja relação com a morte parece fornecer um
apelativo sorteio para muitos indivíduos modernos (Varley, 2006) – pois como nos
explica Pereira (2005) quando a ordem social se furta ao seu papel, é necessário
experimentar o risco no corpo, uma capacidade íntima de confronto com a morte,
sem fraquejar (p. 319).
Desenvolvimento do Problema
37
Verifica-se, na aventura, toda uma busca de sensações aprazíveis, que
permitam ao ser humano conhecer-se a si mesmo, na mesma medida em que
uma criança experimenta o novo mundo que a rodeia na sua infância – é todo um
processo de adaptação (Miranda et al., 1995). A busca da excitação, ou mais
especificamente das sensações, pode envolver, embora não obrigatoriamente, a
tomada de risco (Breivik, 2007) –, cuja aceitação é um dos requisitos da aventura
(Giddens, 2000).
Parece certo que existe um determinado risco em tudo o que fazemos
(Thomas e Raymond, 1998) – inseparável das ideias de probabilidade e incerteza
(Giddens, 2000) –, que a sociedade tende a associar a resultados negativos
(Nichols, 2000), mas cuja definição “oficial” representa como fenómeno neutro de
consequências potencialmente benéficas ou contraproducentes (Tulloch e Lupton,
2003). A vida moderna encoraja a procura de conforto e segurança, mas
aparentemente o ser humano, que quer essa segurança, controlo e previsibilidade
em muitas das áreas da sua vida, procura também os riscos – previsíveis,
controlados, dominados e com os quais lida através das aptidões e competências
–, de forma relevante e considerada racional em determinadas condições (Varley,
2006; Breivik, 2007). Parecemos ter uma besta interior, que por vezes e em
determinadas circunstâncias nos transforma em thrill seekers, que não só aceita o
risco, como o procura (Breivik, 2007).
A teoria do risco é presumivelmente a concepção mais comum para a
justificação da adesão da população aos Desportos Aventura, em grande parte
porque esta se distingue como a característica mais evidente que as actividades
partilham (Krein, 2007) – a constante incerteza e a inexistência de rotina, tornam
impossível a sua remoção das mesmas (Branco, 2002; Krein, 2007) e este pode
surgir numa de duas componentes: mitigável pelas habilidades e experiência do
praticante, ou inerente à prática e incontrolável (Krein, 2007). Assim, os Desportos
Aventura, que oferecerem – senão a própria morte – um toque com o perigo e o
dano, um vislumbre no abismo e a experiência da mutabilidade do ser humano,
Desenvolvimento do Problema
38
poderão permitir ao mesmo tempo, o uso das habilidades e experiências, por parte
dos praticantes, para reforçar o sentido de controlo que refuta os mundanos e
alienados procedimentos do quotidiano, pela habilidosa negociação no fio da
navalha entre a aventura e a desventura (Varley, 2006). São sensações
aprazíveis, que se alcançam a cada dia e a cada nível de mestria, fruto da
instabilidade e insegurança que, quando vencidas, promovem a satisfação e a
auto-afirmação, convertendo-se em sensações de progresso, melhoria e
aprendizagem (Guzmán, 2002).
As práticas desportivas que envolvem o risco proporcionam, ao indivíduo,
um sentido de identidade pessoal que a sociedade em crise de valores já não lhes
confere (Almeida, 1997), tal como nos expõe Pereira (in press), que, ao referir-se
ao mundo do alpinismo, o caracteriza como um espaço privado que permite a
restauração da sensação de espontaneidade e crença no controlo pessoal.
Embora inseparável de muitas das actividades aqui em foco, a ideia de
arriscar a morte ou a lesão grave não é, segundo Krein (2007), o objectivo último
de adesão à pratica, até porque, como explica o autor, se o que o praticante
procura são os puros ímpetos de adrenalina associados ao perigo, existem muitas
actividades sobremaneira mais convenientes e menos dispendiosas em termos de
esforço e desenvolvimento de competências, capazes de as proporcionar. A
importância dada pelos participantes às condições de segurança e ao ambiente
natural, parece, assim, entrar em conflito com o papel do risco como motivador
para a participação em aventuras (Morgan, et al., 2005), tornando possível
equacionar a existência de uma medida de satisfação directamente relacionada
com a sensação de responsabilidade pela própria segurança e uma recompensa,
pela procura da prática, de fonte interna (prazer, alegria satisfação).
Breivik (2007) refere-se a uma teoria de homeostasia – que ajudaria a
entender a procura de perigos numa sociedade focada na segurança e no controlo
–, segundo a qual tendemos a procurar nas nossas vidas o oposto do que
sentimos – justificando desta forma a busca do risco, pelo excesso de restrições e
pela necessidade de quebras com a continuidade do quotidiano. Existem bases
Desenvolvimento do Problema
39
para acreditar que as Actividades de Aventura fornecem resposta a uma
necessidade fundamental – a necessidade de “estar em controlo” (Møller, 2007) –
e que para os atletas – em constante avaliação das suas habilidades, tentando
ampliá-las e superá-las (Krein, 2007) – o desafio é agora muito mais interno,
sendo o adversário a conquistar, o próprio ser, num acto de constante descoberta
do “eu” (Branco, 2002). A valorização do esforço parece catalisar a superação de
si próprio e a necessidade de ultrapassar obstáculos permitindo,
consequentemente, a realização de si (Pereira, 2005: 316). Esta realização
pessoal e superação individual contribuem para a afirmação pessoal e para a
construção de uma própria identidade – facto que poderia ser visto como uma
forma de transgressão, não fossem a construção e re-construção da própria
narrativa identitária, um dos imperativos da sociedade em que coexistimos
(Pereira, in press).
O ser humano procura, então, a aventura, numa tentativa de mitigar
algumas necessidades às quais a sociedade não oferece resposta. Nesta procura,
o homem encontra nos Desportos de Ar Livre uma forma de saciar algumas das
suas ânsias. No entanto, como nos explica Varley (2006), embora possamos
assumir que todos operamos na mesma concepção garantida do termo, as
diferentes personalidades, experiências e situações, fazem da aventura um
constructo infinitamente variável, maleável, fluido, subjectivo e actualmente
parecemos mesmo esquecer a metamorfose da sua versão “ideal”, para a sua
versão de produto “turístico com sabor a aventura”. De facto, temos de admitir
que, para alguns autores, a aventura inerente ao nosso objecto de estudo é
imaginária (Betrán e Betrán, 1995a), simbólica e fornecedora de emoções –
embora fundamentais na perspectiva do contexto social actual – limitadas,
controladas, de certa forma fictícias (Feixa, 2002: 33). Parece, assim, ser verdade
que o conceito de aventura associado a estas práticas tem realmente uma versão
apenas aromatizada com a autêntica essência do termo, facto que no nosso
entender parece associado à premissa de que a venda da extremidade trouxe
Desenvolvimento do Problema
40
mudanças fundamentais às dimensões sociais e simbólicas das Actividades
Aventura (Palmer, 2002).
A prática massiva das AFAN, bem como a lógica mercantil, tendem a
domesticar o risco, calculando-o, minimizando-o e promovendo-o como controlado
(Betrán e Betrán, 1999); as empresas que as comercializam fornecem a desejada
mistura de risco percebido e de organização, onde quase tudo é planeado ao
pormenor para minimizar os “azares” (Holyfield, 1999); a aventura torna-se um
acto mimético, uma dimensão simbólica ou imaginária, onde tudo está controlado,
previsto e tecnificado (Feixa, 2002) e este parece não ser um problema, pois ao
praticante é oferecida a emoção procurada. O êxito das AFAN é explicado pela
resposta que estas fornecem à necessidade que os indivíduos evidenciam de
deixar o mundo seguro e viver uma experiência de risco, embora com toda a
segurança possível, para sentirem a subida de adrenalina e o imenso prazer de
narrarem a façanha aos seus amigos e família (Betrán e Betrán, 1999). O risco
torna-se num factor mais aparente que real (Betrán, 1995), e é através da forma
como este é percebido que parece fluir a dimensão de perigo associada à
comercialização da Aventura, pois, como explica Hollyfield (1999), nem todos os
participantes procuram e exigem a verdadeira acção fatídica, sendo suficiente, por
vezes, apenas a sua aparência para a obtenção da glória e estatuto.
Numa reflexão do que até agora foi analisado, podemos afirmar que os
Desportos Extremos não se encontram marginalizados na nossa sociedade – não
representam somente uma menor classe das actividades motoras e não são
simplesmente uma questão de moda –; estes gozam do máximo de publicidade,
encontram-se no centro da reflexão do desporto e expressam muito claramente as
características da corrente pós-moderna – a crise das experiências, a frustração
existencial, a falta de sentido reflexivo da própria vida –, oferecendo situações que
nos obrigam a pensar de novo pelo significado que fornecem e que não
conhecemos historicamente (Jirásek, 2007).
Desenvolvimento do Problema
41
Embora há muito tendamos a entender as Actividades Outdoor como uma
profunda realidade, devemos aceitar que a autenticidade a que associamos a
experiência da aventura é um nosso constructo. Se esta é entendida como um
espaço para experimentar o real – as emoções genuínas e a essência do nosso
verdadeiro ser –, convém atender ao facto de que a progressão para a realidade
frequentemente descrita como Pós-Modernidade, tende a obscurecer a sua
própria performance (Sharpe, 2005).
Ansiedade existencial, bem como sentimentos de emoção e divertimento,
são fornecidos pela imprevisibilidade das escolhas inerente às actividades em foco
(Manning, 1999), que permitem o desenvolvimento de competências particulares
inexistente nas vidas demasiado rotinadas (Holyfield, 1999). O praticante, em
relação com o meio, procura, através do risco inerente às actividades físico-
desportivas na natureza, elaborar estratégias cognitivas e motoras que permitam o
seu desenvolvimento de modo “seguro” e fácil (Costa e Correas, 2005). Não é seu
objectivo deixar a sobrevivência ao sabor da fortuna ou jogar com a própria vida –
muito embora ao solicitar simbolicamente a morte, o indivíduo confira legitimidade
à existência (Pereira, 2005) –, mas procurar situações que permitam sentir o
controlo e responsabilidade pela própria vida, dependendo a sua continuidade dos
julgamentos e habilidades – no momento em que esta assumpção é adoptada, a
imagem de thrill seaker é alterada para a de atleta na busca do desenvolvimento
de capacidades para atingir objectivos mais árduos (Krein, 2007).
Na aventura abandonamo-nos ao mundo com menos defesas e reservas do
que em qualquer outra relação com ele estabelecida – deliciados por acidentes e
forças que nos podem destruir –, buscando estimulação emocional, novas
sensações e relações sociais, de forma justificada, lógica e numa quebra com a
rotina, e colocando, quer de forma subjectiva ou indiscutivelmente real, a
integridade corporal em jogo (Pereira e Monteiro, 1995; Simmel, 1997; Costa e
Correas, 2005).
Desenvolvimento do Problema
43
2.2.2 Consumo: sociedade e produto consumível
A indústria de massas requer um
consumo de massas. As sociedades
industriais modernas estruturam-se, ao
mesmo tempo, como sociedades de
consumo.
(Silva, 2002: 124)
À nossa volta, existe hoje uma espécie de evidência fantástica do consumo
e da abundância, criada pela multiplicação dos objectos, dos serviços, dos bens
materiais, originando como que uma categoria de mutação fundamental na
ecologia da espécie humana (Baudrillard, 1995:15). É a sociedade em que
vivemos, que não surge após ou em substituição da sociedade industrial, mas em
estreita ligação com esta, podendo ser empiricamente caracterizada pela elevação
do nível de vida, pela abundância de mercadorias e de serviços, pelo culto dos
objectos e dos lazeres, pela moral hedonista e materialista, e estruturalmente
definida como coisa particular pela generalização do processo de moda
(Lipovetsky; 1989; Silva, 2002).
O consumo é hedonista e regressivo, o seu processo é de absorção de
signos e absorção através de signos, o seu lugar é a vida quotidiana. Na sua era
generalizou-se a lógica da mercadoria, que regula hoje, não só os processos de
trabalho e os produtos materiais, mas a cultura inteira, a sexualidade, as relações
humanas e os próprios fantasmas e pulsões individuais (Baudrillard, 1995). É o
consumo como finalidade de vida, como obrigação incessante, muito pela acção
da publicidade e do processo de moda, que tornam os produtos, bens e serviços
em algo de indispensável (Bachelet, 1995).
A sociedade actual representa a apoteose e extensão do consumo à esfera
privada (Lipovetsky, 1983). O que pretendemos analisar neste capítulo, é
precisamente a versão de produto e serviço consumível do nosso objecto de
estudo, que não passa ao lado desta teoria e tendência tão evidente.
Desenvolvimento do Problema
44
Serviço, satisfação das aspirações, relaxamento, diversão, apresentação do
próprio, aceitação e prestígio são conceitos intimamente associados à ideia de
consumo, cujos produtos se estabelecem, acima de tudo, como objectos
economicamente benéficos, de interesse, comercialmente atractivos e com
capacidade para competir num mercado dinâmico como o actual (Heinemann,
1994). A multiplicação do número daqueles que têm acesso aos bens de
consumo, bem como a diferenciação dos grupos – em função da condição,
posição e estatuto social –, que compõem o mercado crescente e heterogéneo,
reportam-nos ao consumo de massa da nossa sociedade (Silva, 2002) e revelam-
nos toda uma problemática quanto à influência desta tendência na vida da
população.
Segundo Giddens (2002), com a globalização, a produção de massa passa
a desenvolver-se à escala planetária, tornando-se possível encontrar os mesmos
produtos em locais tão distintos como a Europa e a África Central. Neste contexto,
Mota (2006) afirma que parecemos tender para a uniformização dos gostos e
opções mas, segundo Lipovetsky (1983), a fórmula da sociedade de consumo não
é isenta de ambiguidade e o acesso de todos a determinados bens e serviços, que
designa uma uniformização de comportamentos, também acentua as
singularidades e o processo de personalização do indivíduo. Segundo o autor, a
era do consumo inscreve-se, por um lado, como regulação total e microscópica do
social e, por outro, como emancipação do indivíduo – este é obrigado a escolhas
permanentes, a tomadas de iniciativa, a procura de informação e a crítica de
produtos anexados ao processo da moda e da obsolência acelerada.
Na opinião de Shoham e Rose (2000), a probabilidade de consumo tende a
aumentar, perante a perspectiva de resultados potencialmente desejáveis – para o
consumidor – advirem desse acto. Assim, a emergência do consumidor como
figura da economia moderna desencadeou modificações importantes nas
estratégias de circulação mercantil dos produtos e tornou cruciais as técnicas que
se dirigem à sua persuasão e condicionamento – como a prospecção de mercado,
a publicidade e os serviços de pós-venda, entre outros (Silva, 2002). Torna-se
Desenvolvimento do Problema
45
então simples entender a ideia de Lipovetsky (1983), de que o processo geral que
tende a regular o consumo, as organizações, as informações, a educação e os
costumes é o de sedução – uma nova espécie de estratégia que governa a vida
nas sociedades contemporâneas, com a sua profusão luxuriante de produtos,
imagens, serviços e com a sua profunda associação ao hedonismo. De facto, uma
grande parte dos bens que hoje consumimos não são directamente proveitosos na
satisfação das necessidades básicas, e mesmo as necessidades que hoje vemos
como básicas já não têm apenas a ver com a sobrevivência e subsistência (Silva,
2002). O homem pode ser visto como um ser com necessidades, dotado de um
intenso princípio de racionalidade formal que o leva a buscar sem hesitação a
felicidade, dando preferência aos objectos que lhe trarão o máximo de satisfação.
O facto desta se revelar inatingível ou inalcançável, leva a história a repetir-se
continuamente, tornando o discurso acerca do consumo articulável, na sequência
mitológica de um conto (Baudrillard, 1995).
A lógica da diferenciação induz à desvalorização e criação de novos sinais
e práticas, assim que se verifica a vulgarização dos anteriores (Silva, 2002).
Assim, a sociedade centrada na expansão das necessidades é antes de tudo o
que reordena a produção e o consumo de massa sob a lei da obsolência, da
sedução e da diversificação, a que faz verter o económico na órbita da forma
moda (Lipovetsky, 1989:213). A circulação, compra, venda, apropriação de bens e
de objectos diferenciados, são hoje a linguagem e o código por intermédio dos
quais toda a sociedade comunica (Baudrillard, 1995). Isto é afirmar, tal como nos
indica Silva (2002: 133), que consumir é manipular signos, é usar objectos como
significantes que exprimem certos significados, lidos segundo um código de
valores e relações que conota estatutos sociais. Esta explosão da moda, que alicia
ao consumo e pela sua aquiescência leva a uma nova forma de expressão, faz
com que a mesma deixe de ter epicentro e de representar o privilégio de alguns –
todos passam a ser arrastados pela embriaguez da mudança e dos entusiasmos,
todos passam a estar submetidos ao seu reino. A sua mensagem é geral e dirige-
se a uma massa profundamente heterogénea, diferenciada pelas condições de
Desenvolvimento do Problema
46
acesso e utilização dos recursos tanto económicos como sociais e culturais
(Lipovetsky, 1989; Silva, 2002).
Discurso de moda é publicidade, que se alimenta do efeito de choque e das
mini-transgressões ou da teatralidade espectacular (Lipovetsky, 1989) e se define
como poderoso agente de socialização, produtor e difusor de modelos de conduta,
símbolos de identificação e princípios de acção propostos para o nosso mundo
quotidiano (Silva, 2002). Esta produz necessidades estritamente adaptadas à
oferta, permite programar o mercado, armadilhar a liberdade dos consumidores
planificando globalmente a própria procura (Lipovetsky, 1989: 257). Segundo Silva
(2002), a sua vertente mediática torna-se no grande difusor da ideologia
consumista (p.137), cuja importância dos efeitos de socialização não cessa de
crescer, modelando grande parte dos grupos de referência das populações,
sustentando, rentabilizando e recriando a aspiração à realização pessoal, ao estilo
de vida e à expressão própria.
A massificação do consumo não está, como vimos anteriormente, apenas
associada às necessidades do escoamento comercial da produção e às melhorias
dos rendimentos familiares, mas também à diminuição média do tempo de
trabalho e à conquista de um tempo individual e livre de obrigações. Para
Baudrillard (1995), este tende cada vez mais a ser directa ou indirectamente
comprado para ser consumido e assim pode ser visto como o consumo do tempo
improdutivo, que representa mais do que o simples gozo do período livre, que a
satisfação pessoal ou o repouso funcional. Relembremos umas das descrições de
Lipovetsky (1994) anteriormente citadas, para evidenciar que há agora lugar uma
era na qual é necessária a “paixão da mudança”, o gosto pela iniciativa, pelo risco
e pelas experimentações ultra-rápidas (p.142). O fenómeno da experiência, que é
um dos mais enfatizados no período pós-moderno, leva a indústria do lazer a criar
a sua própria identidade e a publicitar os seus produtos em termos de experiência
prometida, autêntica, original, extrema, intensiva e profunda (Jirásek, 2007). Com
efeito, o interesse sobre a experiência do consumo é crescente e tornam-se cada
Desenvolvimento do Problema
47
vez mais frequentes os discursos feitos sobre o consumo da experiência
(Hopkinson e Pujari, 1999).
A reposta à necessidade de experiências, também para usufruto e
ocupação do “tempo livre”, sempre foi em parte mitigada pela oferta desportiva,
cumpridora de uma função importante nesse contexto. Segundo Hopkinson e
Pujari (1999), a participação em actividades desportivas não pode deixar de ser
vista como uma forma de consumo – hedonista – que envolve o mercantilismo de
produtos e sempre ao serviço do consumidor. Neste contexto, será importante
atender à opinião de Heinemann (1994), que nos explica brevemente de que
forma a actividade desportiva se destaca cada vez mais como um objecto
económico atractivo no mercado de bens. Para este autor, são hoje apresentados
como produtos: a própria prática desportiva – cada vez mais associada à venda de
saúde, corpos estetizados e bem-estar; as roupas e os equipamentos desportivos,
que hoje são mais do que simples acessórios de prática, mas instrumentos de
auto-apresentação e distinção; o desporto espectáculo – consumido pelos
espectadores que procuram distracção e ao qual se associam cada vez mais as
marcas e outros serviços; e as infra-estruturas desportivas – às quais se associam
também toda uma outra vasta gama de ofertas comerciais.
Seguindo esta linha de pensamento e extrapolando a sua estruturação para
o nosso objecto de estudo, podemos encontrar evidências semelhantes no que
respeita ao “consumo hedonista das actividades de risco” (Shoham e Rose, 2000).
Os novos desportos crescem dentro da civilização do ócio, sendo
incessantemente incorporados pela sociedade de consumo (Miranda et al., 1995)
e levando autores como Betrán e Betrán (1995a) ou Holyfield (1999), entre outros,
a referir-se frequentemente ao praticante das actividades de Ar Livre como
consumidor – relevância dada à importância crescente da resposta empresarial
aos desejos da população, que permite a “compra e venda de emoções”.
Como nos explica Pires (1990), as necessidades criadas pelas campanhas
que visam o consumo, bem como a necessidade de novas formas de preencher o
tempo livre evidenciada pelo consumidor, resultam na crescente procura das
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AFAN como mais um produto a ser consumido – uma nova forma de consumo da
natureza (Chao, 2004). Para Betrán e Betrán (1999), é uma importante rede
empresarial que gere actualmente as AFAN, dando resposta à crescente demanda
de um grupo de usuários e apostando fortemente na prestação de serviço a esse
vasto leque da população. Segundo os autores, o marketing empresarial desta
indústria em franco crescimento, baseia-se no simples conceito de que quem
estiver disposto a pagar, pode viver de forma imediata uma aventura única, que
proporcionará intensas emoções, sem necessidades de aprendizagens prévias e
com toda a segurança possível: é a aventura como serviço que se situa ao
alcance de quase todos os cidadãos.
Actualmente, basta que passemos alguns minutos on-line, para que com
facilidade encontremos um vasto número de empresas, que oferecem as mais
variadas actividades nesta área do desporto aventura. São os profissionais, para
quem a persecução das actividades em tempos consideradas marginais, se
metamorfoseou em algo que pode ser fornecido a outros, todos os dias, mediante
pagamento (Varley, 2006). Na perspectiva de Shoham e Rose (2000), da
participação nas actividades aqui em foco, podem advir para o consumidor
benefícios como satisfação da curiosidade, excitação e incremento de estatuto
social. A este último ponto, podemos argumentar, associa-se a importância da
imagem do praticante que pode ser profundamente manipulada pelas formas de
publicidade e apresentações via meios de comunicação social.
De facto, segundo Betrán e Betrán (1995a), os meios de comunicação
social fazem eco da popularidade que assumem estas práticas. Estes terão
inclusive, segundo Branco (2002), ganho a batalha da denominação aos teóricos e
estudiosos da sua essência, baptizando-as de “desportos radicais” e dotando-as
de uma carga de profunda irreverência, loucura e adrenalina. Como nos explica
Lipovetsky (1983), nesta sociedade de consumo inseparável da profusão das
informações, consomem-se em altas doses e por flashes, as actualidades, os
mediatismos, as informações, as músicas, os conselhos, as confissões e os
filmes, numa hipertrofia, numa aceleração da mensagem e da comunicação, que
Desenvolvimento do Problema
49
ao mesmo título que a abundância de mercadorias são parte integrante da nossa
sociedade. As comunicações de massa não nos fornecem a realidade, mas a
vertigem da realidade ou uma realidade sem vertigem (Baudrillard, 1995), facto
bem nos evidente Extreme Sports, pois todos vêm TV, reportagens, webpages
que os satisfazem com imagens extremas e “fixes”, com o uso de linguagens
próprias, das roupas certas ou com este ou aquele suplemento, mas nos quais o
verdadeiro chamamento do desafio e a autêntica experiência da actividade não
representam um propriedade de todos (Jirásek, 2007). Assim, o conhecimento
sobre os hábitos do consumo associados ao desporto tem implicações no
marketing dos produtos e serviços a ele associados, bem como no uso da sua
imagem para a promoção de outros produtos (Hopkinson e Pujari, 1999).
Adicionalmente a intensidade de pertencer a uma cultura de extremidade é
repetidamente amplificada pelos media que, ao associar os seus produtos à
imagem dos Extreme Sports, sugerem aos consumidores que os mesmos são
idealizados para quem não conhece o impossível (Palmer, 2002). É um novo estilo
que se legitima: aventureiro, radical, marca de uma geração, de um grupo distinto
de pessoas, que se identificam pela “vestimenta” de uma nova identidade (Chao,
2004).
Na resposta ao crescimento dos adeptos do extremo, foi possível observar
o inevitável desabrochar de uma indústria notável de meios de comunicação,
dedicada à promoção dos importantes equipamentos especializados e parafernália
associada aos desportos aventura (Palmer, 2002). Paralelamente, criaram-se,
sofisticaram-se e aperfeiçoaram-se artefactos e materiais, fruto da avalanche de
novas tecnologias, que permitem a melhoria de performance, bem como a estética
da prática (Bétran e Betrán, 1995a e 1999), sustendo a proliferação de uma “moda
ecológica” (Chao, 2004). São luvas, óculos de sol, capacetes, t-shirts, sandálias,
equipamento de protecção, bicicletas, ou até cera para pranchas de surf, à venda
e ao discernimento do “comprador extremo” (Palmer, 2002). Guzmán (2002) vai
ainda mais longe, ao afirmar que são os fabricantes e vendedores os verdadeiros
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impulsionadores destas modalidades, recorrendo à magnífica visibilidade
publicitária para promover a sua evolução e desenvolvimento.
Embora importante na perspectiva do desenvolvimento e promoção, a
publicitação pode conduzir a desmistificações imprudentes. Segundo Betrán e
Betrán (1999), os acidentes mortais frequentemente postos em foco pelos meios
de comunicação social – que podem pôr em causa a idoneidade destas
actividades e suscitar a eterna discussão sobre a regulação empresarial – são os
fundamentais preços a pagar para garantir o selo de autenticidade imprescindível
ao status das actividades de aventura e risco. Mas, como afirma Palmer (2002),
todo o grande desastre ocorrido no contexto destas práticas poderá, se publicitado
correctamente, ser vendido para lucro, criando produtos que ajudam a embelezar
e construir o discurso da extremidade, pela conversão da luta pela sobrevivência
na imagem do “extreme action hero”, que luta contra os elementos e emerge da
adversidade para se tornar uma classe heróica e à parte.
Segundo Baudrillard (1995), pode agora ser encontrado em toda a parte,
lazer e férias incluídos, o mesmo encarniçamento moral e idealista de realização,
presente na esfera do trabalho. Segundo o autor, tal como o consumo, também o
lazer não é praxis de satisfação, mas só aparentemente assim se manifesta, pois
a obsessão pelo bronzeado, a mobilidade exacerbada, a ginástica da nudez
debaixo do sol obrigatório e o sorriso de viver sem desfalecimento, são
testemunhas da consignação total ao princípio de dever e sacrifício. Como vimos
anteriormente, a par da abundância de produtos e serviços, são características da
nossa sociedade actual a massificação da comunicação e a disponibilização de
informação. Este constante input de informação e bombardeamento dos estímulos
com novas necessidades, fazem com que, segundo Lipovetsky (1989), a realidade
de cada indivíduo se torne insuportável, condenando à necessidade cíclica de
partir – não importa para onde, desde que seja possível sair do lugar onde se está.
Esta ânsia pela novidade – a par do consumo, característica da nossa sociedade –
permite que a partir das práticas aqui em causa, seja possível corresponder à
lógica economicista e à lógica de auto-expressão pelas quais os indivíduos se
Desenvolvimento do Problema
51
parecem guiar, facto que torna, no mínimo, natural, que as novas formas de
turismo se associem também a estas actividades (Pereira e Félix, 2002).
Adicionar o rótulo “aventura” ao termo “férias” parece conferir um brilho
publicitário moderno ao produto (Varley, 2006) e a escolha de destinos, que
praticamente por si só asseguram o seu êxito – nos quais a natureza é o
denominador comum –, torna espontâneo que as novas formas de turismo incluam
actividades vinculadas à natureza e cultura, das quais derivam denominações
como Turismo de Natureza, Turismo Verde, Turismo Rural, Eco-Turismo, Turismo
de Cultura, Turismo de Aventura (Pereira e Félix, 2002; Marinho, 2004).
Na realidade, o turismo assume actualmente, segundo Félix (2002), uma
dimensão mundial de crescente importância, ao potenciar o desenvolvimento
cultural, ao permitir o contacto entre diferentes expressões culturais e ao afirmar-
se como uma das principais actividades económicas. Segundo a Organização
Mundial de Turismo, este é visto como a deslocação, de duração nunca superior a
um ano, de indivíduos a lugares diferentes da sua residência habitual, com o
propósito de férias, negócios ou qualquer outro que não o cumprimento de uma
actividade remunerada no local visitado (CTP, 2005). Convém, no entanto,
destacar que o turista moderno deseja fazer parte da acção, provar, vivênciar e
experimentar (Pereira e Félix, 2002) dando, com esta tendência, procedência à
ideia de Turismo Activo – que deve ser visto como uma peça na engrenagem do
que constitui a oferta turística de determinada região (Martín e Encinas, 2005) –,
conceito associado, também, à relação de desenvolvimento positiva que se
estabelece entre o desporto e as actividades turísticas (Fernández, 2002; Macaya,
2004) –, que origina o conceito de Turismo Desportivo (Standeven e De Knop,
1999; Gibson, 2003), passível de conceder frutos importantes ao beneficiar a
sociedade geral pelo estabelecimento de novos hábitos de prática física (Sallent,
1991).
Aparentemente, afastando-se dos tradicionais destinos seguros, como as
capitais europeias ocidentais, uma nova estirpe de viajantes opta agora pelo
turismo nos centros aventura, pagando a operadores comerciais por experiências,
Desenvolvimento do Problema
52
permitindo às industrias das áreas selvagens entender que os turistas são uma
lucrativa fonte de rendimento e tornando o domínio da viagem de aventura num
fenómeno extraordinário (Palmer, 2002). Este tipo de localizações pode satisfazer
o desejo dos turistas de novidade, assédio ou estimulação, de uma forma
usualmente impossível nas suas rotinas e perto das suas casas (Morgan et al.,
2005), definindo o Turismo Aventura como um mercado potencial – “o creme do
bolo” na montra da pastelaria ou agência de viagens –, que não só funciona como
um produto em si, mas também aumenta o leque de sectores de consumo,
afigurando novas formas do indivíduo gastar o seu dinheiro (Morais, 2003). Os
turistas tendem a ter elevadas expectativas do que devem receber – dado o facto
do acto de partir para longe ser um evento embebido de particular significado – e
assim esperam o extraordinário, sendo potencialmente muito críticos por tudo o
que possa minar a concretização dessa expectativa. Estes serviços
extraordinários não podem, obviamente, ser oferecidos em qualquer local, o que
faz mesmo com que parte do consumido seja a própria localização desse acto
(Urry, 2002). Desta forma, apesar de, ou por causa da relativa inexperiência dos
turistas que participam nestes tipos de actividades – atacados activa e
agressivamente pela indústria como um novo público-alvo –, os seus comerciantes
publicitam-nas inteiramente seguras, mistificando-as como “high thrill, low risk”
(Palmer, 2002) e ao alcance de todos.
Apesar da relativa novidade deste fenómeno, segundo Correia (1997),
evoluímos nos últimos anos de uma situação de escassez de oferta para uma
situação onde o próprio cliente da aventura se define como um recurso escasso,
face à crescente oferta empresarial – o que permite entender o forte
desenvolvimento da indústria. Nesta óptica, considerando o leque de actividades
que a população tem à sua disposição e sabendo que o cliente comprará
unicamente os serviços que forneçam satisfação às suas necessidades e
aspirações, devemos assumir, como explica o autor, que as organizações
encaram os clientes como o seu bem mais precioso – objectivando assim, a oferta
Desenvolvimento do Problema
53
de melhores produtos e serviços do que os providenciados por outras
organizações ou indivíduos.
Segundo Pires (1990), muitas vezes as pessoas aderem,
indiscriminadamente, a práticas desportivas de forma anárquica e anarquizante,
dada essa aquiescência não corresponder a uma necessidade ou desejo adquirido
e cultivado ao longo da vida, mas pela carência de afirmação pessoal e social,
assim suprimidas pela aceitação e pertença a uma moda. A relação que se vai
criando, entre a propagação das AFEN e a sua integração nos serviços de
turismo, é crescente e cada vez mais notória, muito pela evidente e quase perfeita
integração de ambas na nossa sociedade de consumo (Pereira e Félix, 2002). As
actividades físicas no meio natural oferecem respostas lúdicas às necessidades
de experiência da população, por intermédio de agências e empresas (Miranda et
al., 1995), estabelecendo-se assim como uma forma de “compra e venda” de
aventuras, fugas, emoções e sensações (Palmer, 2002). Passar as férias ou os
tempos de lazer em espaços naturais, quanto mais belos e selvagens melhor,
tornou-se, mais do que uma moda, um verdadeiro hábito da nossa sociedade
(Melo, 2003: 13). Negar as regras da vida, recorrer ao espaço físico para negar o
tempo, vivênciar a excepção e poder explicá-la, são o substrato antropológico da
aventura, frequentemente associada à viagem e cujas incerteza do trajecto,
exaltação do desconhecido, implicação corporal com inevitável compromisso
emocional e presença de risco real se tornam elementos imprescindíveis a uma
oferta turística de produtos aventura (Betrán e Betrán, 1999). No entanto, a
aventura desportiva e a prática de desportos em ambientes naturais podem
transformar-se em mais uma das ”taras” da sociedade industrial, que pela loucura
do lucro e do dinheiro pode metamorfoseá-las em novas formas de alienação, por
oposição a formas de realização pessoal (Pires, 1990).
Nesta óptica comercial e mercantil, como referem Pereira e Félix (2002),
torna-se usual que um santuário como a natureza – perspectivada por locais mais
ou menos exuberantes, escolhidos com o objectivo de proporcionar aos clientes
uma atmosfera rica em todos os sentidos – seja invadido por uma série de infra-
Desenvolvimento do Problema
54
estruturas e instalações das quais são exemplos: os espaços destinados a receber
os entusiastas, lojas de objectos promocionais (Holyfield, 1999), as estâncias e
parques aventura (Dougherty, 2007), e aos quais podemos adicionar – já fora do
cenário natural mas também relacionadas com o consumo – as lojas
especializadas em produtos técnicos e algumas arenas desportivas. Assim, pela
loucura do lucro e para a satisfação das nossas necessidades de consumo,
incorremos no risco de transformar a natureza num simples recurso para utilizar
hoje ou no futuro (Mendonça, 1996). Muito embora não seja imprudente afirmar
que alguns praticantes e aficionados procuram a natureza e as suas práticas de
forma independente da rede empresarial que as parece gerir, mesmo estes
acabam por cair na teia da mercantilização, ao dependerem de materiais e
equipamentos comercializados e ao coexistirem com o magnífico desdobramento
publicitário que acompanha as suas disciplinas – factos que levam Guzmán (2002)
a destacar os fabricantes e vendedores como os verdadeiros impulsionadores
destas modalidades.
São actividades e aventuras, férias e viagens, estâncias e parques, lojas
especializadas, objectos, vestuários e equipamentos, modas, empresas e
profissionais, programas televisivos e canais temáticos, revistas, publicações
periódicas e websites que definem as Actividades Aventura – actividades ao
alcance das massas e profundamente rentáveis – como produto de consumo
(Betrán e Betrán, 1995a; Feixa, 2002; Chao, 2004; Varley, 2006; Jirásek, 2007),
naquela que poderá ser considerada a dimensão de Mercantilização da Aventura.
Desenvolvimento do Problema
55
2.2.3 Problemática Ambiental: do meio e da educação
A conservação do ambiente e o respeito
pela natureza, configuram nos nossos
dias uma problemática à escala planetária
(…)
(Pereira e Monteiro, 1995: 115)
Segundo Serres (1990), parece ser verdade que partilhamos com a Terra o
mesmo destino temporal, e que porque a possuímos ela possuir-nos-á novamente
– como outrora, quando submetidos aos constrangimentos naturais –, mas desta
vez de forma global. De facto, podemos afirmar que nas culturas tradicionais e
mesmo na sociedade industrial até ao início desta época, os seres humanos
tinham de se preocupar com riscos originados pela natureza exterior, como
inundações ou pragas, mas que a certa altura, recentemente em termos históricos,
a preocupação passou a ser menos com o que a natureza nos pode fazer e mais
com aquilo que nós fizemos à natureza (Giddens, 2000). Como refere Silva
(2002), a degradação ambiental é no mundo de hoje um problema global – tanto
em amplitude de incidência como de impacto – e, assim, é todo um ecossistema –
mundial – que por ser contínuo e interligado se encontra em risco de destruição.
Nesta mesma sociedade é claramente observável, como anteriormente
analisámos, o aumento da exigência de actividades desportivas no meio natural –
estas vistas por alguns autores como potenciais formas de aceleração da
destruição de habitats ainda preservados (Pereira e Monteiro, 1995; Pires e
Philippi, 2004) –, cuja potencial contribuição para o despertar de uma sensibilidade
e responsabilidade ambiental, colectiva ou individual, não pode ser negada
(Marinho, 2004).
Importa pois entender a dimensão dos problemas ambientais na sociedade
e a sua interacção com o nosso objecto de estudo, analisando a configuração de
uma educação reflectida, que pode contribuir para a intervenção positiva em
ambos: este é propósito do presente capítulo.
Desenvolvimento do Problema
56
Para Beck (2000), as sociedades industriais tardias transitam – como parte
do processo de modernização reflexiva – para sociedades de risco, este cada vez
mais difícil de calcular e controlar, dada a sua capacidade de ultrapassar barreiras
políticas e sócio-económicas por acção do fenómeno de globalização. Para o
autor – que tal como Giddens (2000, 2002) entende os riscos da nossa sociedade
numa perspectiva vasta e estrutural, com tendência para a generalidade abstracta
e esquecendo por vezes o indivíduo concreto –, o conceito de modernização
reflexiva compreende a análise dos resultados da modernidade em termos da sua
produção de riscos – por vezes sinónimos de perigo ou desastre, por vezes
interpretados como constructo socialmente definido e mediado através da lente
dos processos sociais e culturais. Na opinião de Giddens (2000), podemos fazer a
distinção entre dois tipos de riscos presentemente em evidência na sociedade: o
exterior – que nos chega de fora, das imposições da tradição ou da natureza
(p:35) – e o provocado – entendido pelo autor como resultante dos impactos do
desenvolvimento tecnológico sobre o meio ambiente.
Numa construção mais focada no contexto sócio-cultural, e assim
atendendo de forma muito mais evidente ao indivíduo enquanto ser situado,
Douglas e Wildavsky (1982) referem-se à percepção do risco como uma
simulação colectiva que varia consideravelmente ao longo de três formas de
organização social – individualista, hierárquica e igualitária –, o que nos leva a
concluir que a selecção dos riscos a que o público dá atenção, é mais baseada na
voz que processa a informação e no modo como esta é interpretada, do que nas
provas científicas de fortes probabilidades de perigo. Assim, segundo Douglas
(1999), embora longe de ser a primeira civilização a tomar consciência de que o
nosso ambiente se encontra em risco, a percepção e forma como entendemos a
premência da questão é hoje profundamente distinta.
A nossa compreensão dos problemas ambientais é uma construção social,
estabelecida num conceito de ambiente muito fluente, culturalmente baseado e
socialmente contestado (Hannigan, 1995). Assim, somos impelidos a aceitar a
suposição de as formas contemporâneas de degradação serem fruto de
Desenvolvimento do Problema
57
interacções entre as causas demográficas, culturais, políticas e económicas
(Goldblatt, 1996; Silva, 2002), e de se definirem como o problema – de todos os
enfrentados pelo humanidade – mais intrinsecamente transnacional, cujo enfrentar
poderá dar origem a um conflito global ou a uma plataforma de solidariedade
internacional e intergeracional (Sousa Santos, 2002).
Não obstante a degradação ambiental se verificar desde há muito tempo,
só muito recentemente tomou proporções alarmantes – pela urbanização
acelerada, a rápida expansão económica e a utilização irreflectida de novas
técnicas de produção e produtos (Martins, 1990). Segundo Bachelet (1995), o
verdadeiro produto da evolução da humanidade – da qual são factores
constitutivos os poderes científicos e tecnológicos, os modos de vida a eles
associados e as consequências da demografia – é a acumulação dos meios de
destruição pacífica do planeta. Segundo o autor, o homem é um ser poluidor, ou
no mínimo um predador, a tal ponto que a sua própria existência significa poluir e
consumir recursos, fazendo com que, do equilíbrio que tem vindo a ser
assegurado, já nada reste para partilhar, exceptuando aquilo que se adquiriu. Fica
assim exacerbada a dimensão do consumo sob a qual a sociedade se parece
reger, já anteriormente analisada, mas agora entendida sob a perspectiva de
imposição de grandes impactos ambientais. Com efeito, como refere Silva (2002:
54-55), actualmente, o ambiente tanto é ameaçado pela produção industrial
maciça (…), como pelos grandes projectos tecnológicos de colonização da
natureza (…) pela generalização de bens de consumo e hábitos poluidores (…)
pela pressão das populações em crescimento acelerado sobre os bens naturais
disponíveis (…), pelo endividamento brutal dos países pobres e a sua
vulnerabilidade às estratégias de deslocalização e exportação das fábricas
poluidoras. Parece então ser uma verdade que, como afirmam Leite e Caetano
(2004), ao desenvolver actividades baseadas em relações predatórias com a
natureza, o homem criou problemas que ameaçam a própria preservação da
espécie, e seguramente o é que o mundo em que agora vivemos parece – em vez
de a cada passo mais dominado por nós – completamente descontrolado
Desenvolvimento do Problema
58
(Giddens, 2000). Como afirma Serres (1990): à força de a dominar, tornámo-nos
tanto e tão pouco senhores da Terra, que ela ameaça dominar-nos de novo (p:
59).
Entre os problemas ambientais que nos são contemporâneos podemos
destacar e referir: a deterioração da camada de ozono, o efeito estufa e a
crescente poluição atmosférica – frutos das emissões maciças de
clorofluorcarbonetos e dióxido de carbono para a atmosfera –, factos ao qual se
relaciona o aquecimento global e agravados pela desflorestação intensiva,
frequentemente observada pela necessidade alimentar da população em
crescimento exponencial e pela necessidade de exportação de matérias-primas; a
directa poluição dos solos e a sua deterioração pelo usufruto desordenado, que
degradam a terra e assim as condições e possibilidades de cultivo, bem como a
biodiversidade das espécies; a extinção de variadíssimas espécies pela sua caça,
extracção excessiva ou exploração abusiva; a poluição dos oceanos pelo
incontrolado despejo de substâncias nocivas nas águas via efluente industrial,
esgoto urbano e desperdício agrícola – legal, ilegal ou acidental; o abuso de
substâncias como hormonas de crescimento, pesticidas, corantes e químicos na
industrialização da agricultura; os excessos de detritos e desperdícios, lixos
domésticos, hospitalares e industriais, resíduos nucleares e afins; as alterações
climatéricas – hipotéticos frutos dos problemas até agora referidos – que impõem
grandes estragos e fortes limitações no nosso habitat terrestre; entre muitos outros
(Martins, 1990; Figueiredo, 1993; Hannigan, 1995; Giddens, 2000; Silva, 2002;
Sousa Santos, 2002).
Os anteriormente descritos podem ser vistos como as grandes
problemáticas associadas à degradação dos solos e dos oceanos, contaminação
das águas e poluição do ar – necessários imediatos à nossa existência e
sobrevivência no planeta (Leite e Caetano, 2004). No entanto, como refere Silva
(2002), a degradação ambiental não deve ser entendida unicamente na
perspectiva dos problemas e das ameaças ao futuro comum da humanidade,
sendo a mesma representativa de um motivo de agitação, mobilização colectiva e
Desenvolvimento do Problema
59
tema fundamental de debate na sociedade contemporânea. De facto, como nos
refere Hannigan (1995), embora o desenvolvimento do consumismo global tenha
profundas implicações negativas no ambiente e seja, em parte, um produtor ou
facto associado à produção dos riscos aqui em foco, paradoxalmente, acaba por
tornar a protecção da natureza numa actividade de consumo que é culturalmente
formulada. Segundo o autor, o risco e o conhecimento dos problemas que
perturbam o ambiente acabam por ser parte fulcral dos temas da actualidade,
representando tópicos de discussão e preocupação, de certa forma globais. Em
toda esta conjectura, importa atender, no entanto, a uma suposição fundamental.
Como nos lembra Bachelet (1995), o consumo leva à produção – geradora de
poluição e desperdício – baseada em níveis de dispêndio energético que tornam
insustentável, muito pelas supérfluas fontes de despoluição que nos são
conhecidas, a sua perpetuidade. Segundo o autor, por agora tranquilizamo-nos,
segundo a fórmula: isto aguenta (p. 133), e serenamos as multidões com a crença
de que aqueles que sabem estão vigilantes (idem). No entanto, devemos estar
conscientes de que, em algum ponto, o interesse daqueles que sabem poder ser
incompatível com a urgência ambiental – este é um tópico de importância
essencial, que não desenvolveremos de forma mais aprofundada, mas cuja
referência nos pareceu indispensável.
Assim, num momento em que a tomada de consciência dos problemas
relacionados com o meio-ambiente tem aumentado a um ritmo vertiginoso
(Figueiredo, 1993:11), multiplicam-se, por todo o lado, os esforços e discursos
sobre o ambiente, apoiados em movimentos e eventos de massa – factos de
grande impacto social aos quais ninguém fica indiferente, ainda que em termos de
produtividade apresentem resultados muito incipientes. Como exemplos de
acontecimentos com grande impacto, podemos referir o recente evento
“LiveEarth”, com 24 horas de espectáculos musicais, cobertura mundial e ao qual
aderiram 150 dos melhores artistas e bandas da actualidade3, ou o lançamento
3 http://www.liveearth.org
Desenvolvimento do Problema
60
perturbador documentário “Uma Verdade Inconveniente”, que valeu ao
recentemente galardoado Nobel da Paz4, Al Gore, um Óscar da Academia para o
melhor documentário de 2007.
Os problemas mais sérios com que se confronta o sistema mundial – entre
os quais podemos estabelecer a problemática ambiental – são globais, como tal,
exigem soluções globais e estas – urgentes, difíceis de imaginar e
obrigatoriamente desiguais para os diferentes países – terão de ser marcadas pela
solidariedade dos ricos para com os pobres e das gerações presentes para com
as futuras (Sousa Santos, 2002). No entanto, Brodhag (1994) questiona se será
necessária a dramatização da urgência de salvar a Terra, interrogando até que
ponto não poderá esta ser contraproducente face à imensidão da tarefa em causa
– o objectivo a alcançar é representado por um acordo entre povos, capaz de
mediar o término definitivo da perturbação dos equilíbrios dos ecossistemas dos
quais depende a vida no planeta.
Atendendo à dimensão da tarefa torna-se clara, segundo Schmidt (1999), a
necessidade de uma Educação Ambiental – conceito que analisaremos a
posteriori – que deve estender-se de coisas tão elementares como o asseio – dar
a entender como é que, num sistema complexo e global, “porcarias” de tão longe
nos estragam a vida aqui tão perto, tornando a limpeza numa questão de respeito
pelo próximo, que é agora todo o habitante do planeta –, até a assuntos tão vastos
como a compreensão dos circuitos dos problemas económicos e políticos.
Assistimos, então, ao asseverar da “causa verde” (Silva, 2002), num
momento em que, como afirma Pereira (1996), o homem tomou consciência de
que não podia continuar a tomar atitudes destruidoras, e mesmo auto-
destruidoras, e começou a reflectir sobre os problemas que foram surgindo, na
tentativa de salvaguardar o que ainda resta do ambiente natural (p:5). A origem
desta preocupação advém, segundo Raposo (1997), de um processo longínquo,
no qual se verificou a convergência da educação e do ambiente e que deu pelo
4 http://nobelprize.org/nobel_prizes/peace/laureates/2007
Desenvolvimento do Problema
61
nome de Ecologia – este termo terá surgido, em 1866, pela mão do biólogo Ernest
Haeckel (Pereira, 2004) e ter-se-á propagado até à actualidade, embora seja
compreendido com uma essência distinta da que o estabeleceu.
Segundo Bachelet (1995), desde o seu início, os movimentos ecológicos
deram mais a impressão de lutar contra algo, do que a favor de alguma coisa.
Partindo em guerra contra a poluição, e rapidamente descobrindo na economia
vigente a sua origem, estes revoltaram-se contra a economia de mercado, num
ataque confesso aos malefícios da capitalismo predador, esbanjador e hipotecador
de um futuro tão próximo que se confundia com o presente. Segundo o autor, a
ecologia surgiu, então, como uma arma susceptível de impor limites materiais ao
crescimento e de estabelecer novos valores – distintos dos do lucro e consumo –,
conduzindo a novas formas de viver, nas quais reciclagem, recuperação e
redução, passavam a entrar nos vocabulários políticos, economistas e
sociológicos.
Actualmente, tal como nos explica Garcia (1997), a Ecologia não se esgota
no ambiente ou na natureza. Na perspectiva de Bachelet (1995), a ecologia
tornou-se humana, dada a facilidade de estabelecer os saberes sobre os
elementos terrestres, como a base de uma nova ciência social que agrupasse a
quase totalidade dos conhecimentos. A ecologia rapidamente se tornou um
sistema heliocêntrico, ao definir-se como o sol em torno do qual volteia a
totalidade do saber, capaz de impor a sua gravitação a qualquer pensamento
político, social, económico ou cultural. O alargamento do movimento ecológico
trouxe consigo, segundo Martins (1990), desenvolvimentos de grande importância.
As componentes de carácter científico e de protecção da natureza desenvolveram-
se, lado a lado, sob a influência de ecologistas profissionais; começou a
generalizar-se a apreciação pelo ambiente fora das grandes potências mundiais e
a sua concepção tornou-se sobejamente mais vasta. Para o autor, este novo
movimento criou uma concepção mais ampla da relação homem-ambiente,
estabelecendo preocupações, não só com os recursos naturais, como também,
com os valores e tendências do seu uso e gestão por parte da população
Desenvolvimento do Problema
62
Atendendo ao trabalho de Hannigan (1995), a consciencialização sobre a
problemática ambiental parece associada ao “decénio ambiental” de 1970 – época
em que, na opinião de Brodhag (1994), exceptuando alguns visionários, ninguém
levantava o problema da permanência dos equilíbrios ecológicos que regem a
sobrevivência das espécies vivas em geral e da espécie humana em particular (p:
100).
Segundo Lemos (2002), a preocupação dos cientistas com o forte
crescimento populacional, com o aumento dos níveis de poluição e o esgotamento
dos recursos naturais, leva à realização da Conferência das Nações Unidas sobre
o Meio Ambiente Humano – Estocolmo, 1972 –, momento para muitos
considerado como a origem da generalização dos desassossegos com as
questões ambientais. Com base nos trabalhos de Martins (1990), Bachelet (1995),
Hannigan (1995), Lemos (2002) e Resende (2006), passamos a analisar os
principais momentos que deram continuidade a esta inquietação.
A realização da Conferência de Estocolmo introduziu, oficiosamente, a
preocupação sobre as consequências ambientais do, então tradicional, modelo de
crescimento económico, que levaria ao esgotamento dos recursos naturais dos
quais depende a sobrevivência da humanidade. Como resultado desta
conferência, foi criado o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
(PNUMA), agência à qual é imputada a responsabilidade de catalisar a acção
internacional para a protecção do meio-ambiente no contexto do Desenvolvimento
Sustentável – conceito que só mais tarde seria desenvolvido. Estudos em
progresso, que culminam com o lançamento do relatório do Clube de Roma – “Os
Limites do Crescimento” –, exprimem com clareza a premência das questões
ambientais, do crescimento da população, do acréscimo do consumo de recursos
naturais, do aumento dos níveis de poluição e do acentuar das disparidades dos
níveis de riqueza dos países.
Em 1982 – numa Sessão Especial do Conselho de Administração do
PNUMA, em Nairobi, Quénia – uma nova e importante preocupação entra em
cena: a excedência da capacidade de assimilação dos produtos de algumas
Desenvolvimento do Problema
63
actividades humanas, em determinadas zonas, por parte da biosfera. Em
resposta, no ano de 1983, o Conselho de Administração do PNUMA e a
Assembleia Geral das Nações Unidas criam a Comissão Mundial sobre o Meio
Ambiente e Desenvolvimento (CMAD), que termina, em 1987, o seu relatório de
análise – elaborado com o apoio de vários consultores internacionais e com base
na análise de vários aspectos da questão do meio ambiente versus
desenvolvimento – sob o título O Nosso Futuro Comum –, do qual se realça um
tópico particular: o conceito de Desenvolvimento Sustentável – aquele que atende
às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das gerações
futuras atenderem às suas próprias necessidades (Lemos, 2002:13).
Embora sem oferecer planos de actuação, este relatório contribuiu para a
estruturação de linhas orientadoras de acção, no sentido de estabelecer esforços
de cooperação em busca do Desenvolvimento Sustentável, e realçou a
importância da Educação Ambiental em todos os níveis de ensino. Logo após a
sua divulgação, a Organização das Nações Unidas convocou para Junho de 1992
– data à qual eram celebrados os 20 anos da Conferência de Estocolmo – a
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento
(CNUMAD) – que ficou conhecida como Conferência do Rio (Rio de Janeiro) – e
na qual se preparava a discussão das suas conclusões e propostas. Na
Conferência do Rio foram aprovados vários documentos, dos quais convém
destacar a Agenda 21, pela relação evidente com a Agenda 21 Local que será
discutida de forma cuidada a posteriori.
A Agenda 21 – instrumento teórico e prático para a promoção do
Desenvolvimento Sustentável – constitui um plano global de acção, adoptado em
consenso por 182 países, objectivado para as prementes problemáticas
ambientais. Sugerindo formas de preparar o mundo para os desafios futuros –
atendendo ao Desenvolvimento Sustentável e integrando o desenvolvimento
económico e social como medidas de protecção do ambiente e dos recursos
naturais –, a Agenda 21 incentiva ainda à criação de planos locais, adequados a
cada realidade.
Desenvolvimento do Problema
64
No ano de 1994 realizou-se, em Aalborg, a Conferência Europeia sobre
Cidades Sustentáveis (CECS), onde foi aprovada a Carta das Cidades Europeias
para a Sustentabilidade – composta por 3 partes, nomeadamente a Declaração
Comum das Cidades Europeias para a Sustentabilidade, a Campanha das
Cidades Europeias Sustentáveis e a participação local na Agenda 21, das quais
destacamos esta última.
Segundo Schmidt, Nave e Guerra (2006), a Agenda 21 Local: é um
processo participativo e multisectorial à escala autárquica, que traduz um
programa de acção pluridimensional e requer a participação activa dos cidadãos
nas decisões. Potencia, assim, a proximidade dos governantes e dos cidadãos; é
um instrumento que contribui para o usufruto racional dos recursos, cuja
implementação fica obviamente dependente de uma escala local e cujas medidas
objectivam também as necessidades das gerações vindouras; deve ser um
elemento flexível, cooperante, participativo, pedagógico e dinâmico, cujo alcance
temático vá, obrigatoriamente, muito para além do âmbito estritamente ambiental
dos Planos Municipais do Ambiente; deve envolver empresas, serviços públicos,
instituições educativas, religiosas, científicas, associações, sindicatos, grupos de
interesse e cidadãos; almeja a um Plano de Acção – documento dinâmico de
planeamento que integra diagnóstico, objectivos, estratégias e instrumentos de
acção e monitorização.
Terminando esta análise, resta destacar ainda a realização, em 1996 e
2000, das segunda e terceira Conferências Europeias sobre Cidades Sustentáveis
– em Lisboa e Hannover respectivamente; a realização da Cimeira Mundial do
Desenvolvimento Sustentável – Joanesburgo, 2002; e a conferência de título
Inspirando o Futuro – Aalborg + 10, no ano de 2004, pela necessidade de
consolidar os compromissos estabelecidos 10 anos antes, na conferência
realizada no mesmo local.
Parece então possível asseverar o que foi anteriormente afirmado, isto é,
que parece estar em marcha todo um movimento global, que visa e objectiva a
defesa do ambiente, mesmo atendendo ao facto de esta não ter, nem poder vir a
Desenvolvimento do Problema
65
ter, o mesmo valor em toda a parte – a própria noção de Desenvolvimento
Sustentável tenderá a sofrer muitas adaptações em função das culturas e
tradições, elas próprias associadas às capacidades científicas e técnico-
financeiras que regem os diferentes custos ecológicos (Bachelet, 1995).
Conforme a pesquisa até agora efectuada, podemos afirmar que a
protecção ecológica pressupõe que os países preservem os seus rios e
montanhas, que organizem o seu desenvolvimento de forma sustentável, mas
também que, através da educação, preparem as gerações futuras para essa
mesma protecção (Tavares, 2002). Para que todo o esforço dispendido seja
viável, parece ser necessário investir numa educação a todos os níveis, para que
os indivíduos se possam sentir solidários e co-responsáveis nesta grande missão
de evitar a degradação definitiva das condições existências do nosso planeta
(Lemos, 2002). Nesta lógica, surge o conceito de Educação Ambiental (E.A.), que
se relaciona com a necessidade de expansão de consciências e valores, dada a
urgência de “cuidar” do ambiente global (Schmidt, 1999; Pereira e Monteiro, 1995;
Chao, 2004).
Para Giordan e Souchon (1997), a Educação Ambiental é uma forma
educativa que aborda temas relativos aos problemas do ambiente, dizendo
também respeito às dificuldades da utilização e gestão dos recursos. Segundo os
autores, a E.A. esforça-se por despertar a consciência ecológica, económica,
social e política, as aptidões para resolver os problemas e a responsabilidade
individual (p.12), a fim de preparar os estudantes para a acção responsável e para
a tomada de decisões que respeitam aos actuais e futuros problemas do
ambiente. No entanto, no âmbito da E.A., deparamo-nos com uma grave
problemática. Como salienta Fernandes (1997), todas as acções de informação ou
sensibilização sobre a defesa do ambiente e da natureza têm sido apelidadas de
Educação Ambiental, reflectindo, inúmeras vezes, o desconhecimento de quem as
qualifica acerca das verdadeiras metodologias e conceitos da E.A. Segundo o
autor, são a moda, oportunismo ou mesmo a total convicção dos seus autores,
que transformam os projectos em tentativas de “enverdecimento” das
Desenvolvimento do Problema
66
preocupações (…) processos de propaganda (…) ou “bandeiras de qualidade” (p.
3), tornando a história da E.A numa sucessão de êxitos e fracassos, nos quais,
embora predomine a boa-vontade, fica patente a falta de um instrumento
pedagógico capaz de formar e informar os educadores disponíveis e empenhados.
A E.A. não mais se pretende no formato de workshops vazios de conteúdos, que
fuja aos problemas quotidianos; é uma educação que almeja uma melhor
qualidade de vida, num espaço/tempo em que possamos ser críticos, sonhadores
e assumir os direitos e os deveres para com esta luta; é o despertar de uma
sensibilidade e de uma responsabilidade ambiental colectiva, que alerte para a
necessidade de políticas locais e globais (Marinho, 2004).
Chao (2004) leva-nos a crer que esta educação que pretendemos implica
um trabalho interdisciplinar e conjunto de diversas áreas de experiência e,
segundo Raposo (1997) e Giordan e Souchon (1997), o seu processo deve
almejar objectivos como a sensibilização (tomada de consciência), compreensão
(aquisição de conhecimentos), aplicação (aquisição de atitudes e
comportamentos), execução (desenvolvimento de competências) e capacidade de
avaliação (espírito crítico) para a participação, intervenção e acção responsável
em relação às questões ambientais. As iniciativas de E. A. já partem de diversas
fundações, entidades, universidades, autarquias e associações ambientalistas,
que nos últimos anos levaram a cabo projectos, programas e investigações,
estabelecidos na interacção entre as ciências do ambiente, as didácticas e as
questões sociais, mas cuja penetração se mantém globalmente lenta e com
resultados pouco satisfatórios. Os projectos em causa têm em comum a
contribuição activa para a formação, informação e participação do público mais
jovem, que embora sensibilizado para as questões ambientais, demonstra ainda
que a aquisição de modos específicos de raciocínio se encontra ainda numa fase
balbuciante e que o domínio dos principais conceitos – ordenamento, recursos e
desenvolvimento sustentável – não se encontra ainda assegurado (Giordan, 1996;
Raposo, 1997; Schmidt, 1999).
Desenvolvimento do Problema
67
Baseada na profunda nascente de sentimentos culturais, que encorajam
uma acção positiva em relação a questões de protecção, preservação, educação e
celebração do natural, é visível uma nítida aproximação dos indivíduos à natureza
(Hannigan, 1995) – face à qual, segundo Brodhag (1994), são perceptíveis
diferentes atitudes na nossa sociedade. Se, por um lado, a visão antropocêntrica
define a centralidade do ser humano sobre tudo, por outro, a ecologia inverte o
centro gravitacional do sistema, definindo que o Homem gira em torno do mundo
natural. Na opinião do autor, o contemporaneamente desejável seria um novo
humanismo de cooperação, onde a Natureza fosse vista, não como objecto ou
sujeito, mas como condição de existência. No entanto, segundo Giddens (2000), a
nossa sociedade vive para lá do fim da natureza (p:36), o que obviamente procura
referir o facto de agora existirem poucos aspectos do ambiente material que nos
rodeia que não tenham sido afectados pela intervenção humana (idem).
Aparentemente, podemos considerar que, desde que o ser humano começou a
empregar a mais simples das tecnologias, a relação com a natureza se
estabeleceu como – até certo ponto – mediada, sendo até pouco provável que
qualquer local do planeta possa ser mostrado como inteiramente livre da sua
influência (Dougherty, 2007). Aquilo que, em tempos, permanecia imperturbado e
independente das criações da humanidade, é agora visto como completamente
transfigurado pela acção humana (Giddens, 2002). Da perspectiva de Natureza
Divinizada – na qual não se interpunham ainda os véus da vida civilizada – à de
Natureza Reivindicadora – na qual a existência do ser humano é posta em causa
pela submissão à sua brutal vontade –, passando pela ideia de Natureza
Explorada – na qual o homem se investe no papel de conquistador insaciável –, a
hominização criou urgências pelos efeitos nefastos da sua actividade (Bachelet,
1995). No entanto, independentemente da essência do actual conceito de
natureza, podemos afirmar que a vida ao ar livre é hoje uma necessidade do
homem moderno, que lhe propicia o reencontro consigo próprio (Costa e Correas,
2005), que permite a percepção do ambiente numa outra perspectiva e adjuva a
reflexão sobre o próprio viver (Chao, 2004). Assim, entra em cena o nosso objecto
Desenvolvimento do Problema
68
de estudo, quando, aparentemente, na ânsia de procurar o que resta da natureza
– com o intuito de ocupar o tempo livre, procurar novas sensações, escapar à
rotina, reencontrar o tradicional e as emoções perdidas no espaço controlado
urbano – o Homem encontrou nos “novos desportos” uma forma de realização e
reencontro com o ambiente natural (Pereira e Monteiro, 1995; Garcia, 1997; Rico,
2002).
Embora a ideia ecológica de aproximação do Homem à natureza seja algo
ingénua – uma vez que o ser humano sempre se preocupou em se afastar dela,
enquanto algo exterior a si –, a nova relação que com ela se pretende é uma
relação de coexistência pacífica (Garcia, 1997) –, queremos desfrutar da sua
existência e devemos, para tal, respeitá-la, a todo o momento, mesmo quando a
não experimentamos. Esta “reconciliação”, no entanto, nem sempre tem sido a
mais benéfica para o meio ambiente, cujo equilíbrio é, por vezes, extremamente
frágil (Pereira e Monteiro, 1995:115). Queremos, assim, abordar a ideia por muitos
defendida, de que as actividades de aventura – encaradas como um modo
privilegiado de contacto com o mundo natural e meio através do qual muitos
procuram esse re-aproximar à natureza – produzem riscos que podem não ser
exclusivos para a saúde, vida e integridade do praticante, como faz notar Melo
(2003), ao referir o impacto verificado nos espaços naturais onde as mesmas são
levadas a cabo. De facto, a aproximação à natureza através dos “novos
desportos” tem contribuído invariavelmente para o aumento da pressão humana
em locais tidos como “ecologicamente limpos” (Garcia, 1997), o que em distintos
moldes afecta o meio e cujo impacto será cada vez mais negativo à medida que
se vá observando a crescente massificação, já em movimento, do seu consumo
(Castillo, Fajardo e Funollet, 1995).
O acesso em massa ao mundo natural acarreta consigo problemas
incontestáveis, relacionados com a destruição da fauna/flora, poluição sonora,
erosão e compactação dos solos, abandono de detritos, stress sobre as espécies,
descaracterização das paisagens, urbanização da natureza e alteração da
homeostasia do meio (Pereira e Monteiro, 1995; Garcia, 1997; Fernández, 2002;
Desenvolvimento do Problema
69
Otero, 2002; Pires e Philippi, 2004). A imagem do praticante assume, assim,
frequentemente, o esboço de adversário ecológico – que reduz a natureza a
cenário ou pano de fundo – em oposição à de – esperada – amigo da natureza: o
homem visto dentro desta, numa perspectiva de respeito e coexistência (Brunhs,
2002; Leite e Caetano, 2004; Marinho, 2004).
Muito embora não possam, desta forma, aceitar-se de modo positivo as
actividades desportivas nos espaços naturais se não forem tidas em conta
criteriosas regras ecológicas de conduta, protecção e resguardo do ambiente
(Sequerra, 1996), é inegável a sua potencial contribuição para o despertar da
sensibilidade e responsabilidade ambiental, colectiva ou individual (Marinho,
2004), senão por outra razão, pela premissa de que é mais fácil cuidar daquilo que
se conhece (Pires e Philippi, 2004:149). De facto, segundo Melo (2003), os
Desportos de Natureza apresentam um enorme potencial educativo nesta
vertente, uma vez que não se defende o que não se ama (p. 20) e, na sua
perspectiva, a prática de desportos em ambiente natural é uma das melhores
formas de conhecer a Natureza que temos e de fomentar a paixão pela defesa
desse património, que é de todos nós.
As actividades que requerem os ambientes naturais para a sua realização
parecem, realmente, despertar maiores sensibilidades (Marinho e Gáspari, 2003).
O acto de visitar uma área natural e observar a imensa diversidade que a compõe
– formas, cores e individualidades –, bem como o pensar e o sentir a forma como
dela se faz parte, podem representar para o praticante uma boa oportunidade de
resgatar valores e sentidos adormecidos (Mendonça, 1996). Como afirma Pires
(1990), quando bem utilizada, a dimensão fetichista que a prática destas
modalidades desportivas assume, pode ser um instrumento promotor da protecção
e do respeito pela natureza. Desta forma, tal como destacam Pereira e Monteiro
(1995), podemos assumir que as actividades de aventura no ambiente natural
surgem como uma alternativa desportiva, que permite a valorização da relação
afectiva com a natureza e o respeito pela sua biodiversidade. Mas, como nos
esclarece Marinho (2004), para ser manifesto o desenvolvimento de uma
Desenvolvimento do Problema
70
sensibilidade mais profunda do que a simplesmente necessária para as tomadas
de decisão no decurso das práticas, o trabalho com as actividades na natureza vai
exigir mais do que uma elementar familiarização com as questões sócio-
ambientais e com os conceitos sobre o lazer – vai exigir um envolvimento
dinâmico, intenso, inovador e muito responsável. É o “sentido de preservação” o
que se deve incorporar nestas vivências, uma vez que os seres humanos carecem
de preparação, de atitude e de valores que intensifiquem o seu papel diante da
manutenção dos equilíbrios da natureza (Marinho e Schwartz, 2005).
Parece ser verdade que, como afirma Correia (1997), o desporto aventura
permite o acesso a uma verdadeira educação ecológica. Dado que não se acredita
na possibilidade de preservação sem uma colaboração humana – ordenada e
consciente –, o contacto com a natureza revela-se fundamental, na medida em
que permite ao homem reconhecer-se e entender a necessidade de preservar
outras formas de vida que contribuem para o equilíbrio do ambiente (Chao, 2004).
No entanto, segundo Melo (2003), o conhecimento directo da natureza e a
verdadeira potencialidade educativa destas práticas são muitas vezes
desprezados, pela inconsciência da sua existência ou insensibilidade à sua
enorme importância, não havendo, assim, espaço para aprendizagens
consistentes ou sensibilizações notórias.
Assumindo a potencialidade dos Desportos na Natureza como veículo de
formação, é de fundamental importância que os responsáveis pelas actividades
não sejam unicamente multiplicadores da dinâmica de consumo que se infiltra em
todos os segmentos da sociedade, dado o perigo da questão da protecção do
ambiente poder ser esquecida por trás da “moda ecológica” que imputa novas
responsabilidades aos seus promotores (Heinemann, 1994; Burnhs, 2002; Chao,
2004). Segundo Melo (2003), acima de tudo, os organizadores e
comercializadores destas práticas devem ser imbuídos de uma verdadeira ética de
defesa do ambiente, porque deles dependem todo o comportamento do grupo,
bem como as consequências das suas acções. Tal como referem Marinho e
Gáspari (2003), é necessária toda uma pedagogia, a partir da qual, a percepção
Desenvolvimento do Problema
71
do ambiente natural – com relação às condições de vida na Terra – pode vir a ser
altamente estimulada. A vertente do consumo destas práticas está bem patente na
nossa sociedade e, no entanto, como defende Silveira (1996), a sua direcção tem
de ser encarada num rumo distinto ao do turismo de massa, sinalizando sim,
práticas vocacionadas para a cidadania ambiental – logo associadas à educação –
, perspectivando os turistas-desportistas como guardiães e conservadores do
património natural (Macaya, 2004).
O facto de a iniciação desportiva a estas actividades ser, geralmente,
operacionalizada por via de entidades especializadas, em detrimento da via
escolar (Pereira e Monteiro, 1995), reporta-nos ainda ao consumo e à
comercialização dos Desportos Aventura. Mas, como nos esclarecem Marinho e
Schwartz (2005), as aventuras no meio natural parecem estar a encontrar eco,
ainda que tímido, junto ao contexto educativo, tendo como principal condicionante
à sua implementação a pouca importância que ainda lhes é atribuída. Há que
destacar, porém, que a problemática da conservação do ambiente, não sendo um
exclusivo da educação escolar, encontra aí um instrumento essencial para realçar
um futuro melhor, alicerçado no esclarecimento e formação das crianças (Pereira
e Monteiro, 1995: 115-116). Dado o facto de esta se assumir como o único agente
que garante, de forma equitativa e contínua, a educação a todos os indivíduos da
sociedade, a escola deve assumir um papel fundamental na Educação Ambiental
(Monteiro, 1994), que corresponderá, não a mais uma disciplina autónoma do
currículo, mas, à integração de temas, conhecimentos e informações sobre o
ambiente em todas as matérias de ensino (Schmidt, 1999), entre as quais devem
assumir particular destaque os conteúdos relacionados com as vivências corporais
em contacto com a natureza (Monteiro, 1994).
Desta forma, Marinho e Gáspari (2003) alertam para a necessidade de as
actividades de aventura terem laços estreitos com a educação, pois apenas desta
forma, ambas seriam capazes de vencer desafios e conquistar novos espaços,
ainda carentes de reflexão. A intensificação da aproximação qualitativa do ser
humano à natureza pode acelerar o processo de consciencialização, tornando
Desenvolvimento do Problema
72
efectivo o sonho de harmonia, mais ainda quando, nos espaços institucionais
como a escola, esta pode representar uma excelente condição para a reflexão de
valores catalisadores dessa relação (Marinho e Schwartz, 2005).
Os novos programas e orientações acentuam cada vez mais o carácter
integrador e multidisciplinar da E. A., que deve encontrar – especialmente na
Educação Física, enquanto disciplina na qual é privilegiado o contacto entre o
indivíduo e o meio – apoio para a sua estruturação (Pereira e Monteiro, 1995). O
respeito e conservação da natureza só vingarão, se forem levadas a cabo acções
que a utilizem, de forma activa, como é apanágio das AFEN (idem, p. 116) e só
desta forma, interactiva e integrada, é possível que os homens e mulheres do
futuro tenham uma participação positivamente mais activa e responsável na
preservação e conservação da natureza (Monteiro, 1994). Felizmente, a
popularidade das AFEN faz-se já sentir no mundo escolar e a sua prática vai
sendo um dos programas favoritos de crianças e adolescentes, levando mesmo os
professores a abandonar as salas para partirem à aventura com os seus alunos
(Vasconcelos, 2002).
Para que as pessoas possam encontrar um sentido mais profundo para
suas vidas, podendo realmente desfrutar, compartilhar e desejar a conservação do
mundo natural como algo indissociável de sua própria essência, é preciso todo um
processo de preparação e reaprendizagem, criando as bases para uma nova
relação, em que a razão sucede o sentimento (Mendonça, 1996). Segundo Bruhns
(2004), algumas das práticas aqui em foco, tendo como pano de fundo o
ambientalismo, influem um reencantamento pelo mundo, que, na nossa opinião,
permite o entendimento da natureza na sua vertente mais frágil e romântica.
As actividades definidas como nosso objecto de estudo, revelam um forte
potencial como veículos de formação e sensibilização para as questões de
protecção ambiental. Muito embora não podendo, aparentemente, jogar de forma
independente de outras áreas de saber e formação, ao responder à necessidade
do ser humano de contacto com o mundo natural e permitirem o contacto directo
Desenvolvimento do Problema
73
com a natureza, estas podem revestir-se de uma importante conotação no
desenvolvimento de uma Educação Ambiental, promovendo uma cidadania
individual ou colectiva, estabelecendo e impondo códigos de valores e conduta e
fundamentando a sensibilização necessária às urgências ambientais.
Desenvolvimento do Problema
75
2.3 Perspectivas de Futuro
A aventura desportiva será um dos
grandes interesses desportivos da
juventude (…) que preparará um desporto
diferente, para o próximo século.
(Pires, 1990: 66)
Tendo por base toda a revisão levada a cabo para a elaboração deste
documento, procuramos agora inferir algumas tendências quanto ao futuro do
nosso objecto de estudo – meras hipóteses e conjecturas, estruturadas nas
suposições de alguns dos autores até agora citados.
Começamos por abordar o tema anteriormente destacado, relativo à
terminologia adoptada para a conceptualização das práticas aqui em causa. Como
previamente referimos, é notória a falta de consenso quanto à melhor
denominação para classificar o nosso objecto de estudo, facto que torna
sobejamente mais difícil o escrutínio lógico da sua essência. Verificada a
pertinência da questão, vemo-nos tentados a augurar que uma nova denominação
tenderá a surgir e afirmar-se, para permitir uma melhor abordagem às questões
relacionadas com os estudos desta área. Sob a pena de incorrer no mesmo erro
que anteriormente criticámos, propomos uma nova denominação, hipoteticamente
viável para responder à necessidade em evidência.
Em primeiro lugar, assumimos que o nosso objecto de estudo deverá contar
com uma denominação onde sejam destacadas as suas ligações com a Natureza
e com a Aventura – facto anteriormente salientado por autores como Betrán e
Betrán (1995a e 1995b), Funollet (1995), Miranda et al. (1995), Feixa (2002) e
Costa e Correas (2005) – e, pensamos nós, muito bem evidenciado no decurso do
nosso trabalho.
Em segundo lugar, destacamos uma óbvia tendência nas preocupações
dos diversos autores que até hoje estudaram o tema, que tem sido a dualidade
Desporto – Actividade Física.
Desenvolvimento do Problema
76
Segundo Miranda et al., (1995), os novos desportos e actividades físicas
aqui objectivados aparecem associados aos paradigmas de auto-realização e
melhoria de qualidade de vida, que na perspectiva dos autores pretendem
substituir os anteriormente estabelecidos de competição, esforço e tensão.
Também na opinião de Betrán e Betrán (1995a e 1995b), os novos valores da
sociedade pós-moderna – que encontram eco nas AFAN – surgem em oposição à
cultura corporal fundamentada no esforço, colectividade, superação e rendimento
– característicos da época moderna e dos quais o desporto é o paradigma
máximo. Estes autores justificam a opção pelo conceito de “Actividades Físicas”
na denominação que eles próprios criaram, com a explicação de que o constructo
de Desporto – embora relacionado com actividade física, jogo, recreação – se
entende como actividade regulamentada, institucionalizada e competitiva, na qual
dominam os valores de esforço, superação, produção, competitividade, sacrifício e
treino, com os quais as novas actividades procuram romper (Betrán e Betrán,
1995b). Embora optando pela denominação Novos Desportos, Domingo (1991)
salienta igualmente uma mudança de lógica social no fundamento das actividades
aqui em estudo. Na sua opinião, da concepção clássica que estabelece a meta do
desportista na competição e no atingir de marcas sempre superiores, progredimos
hoje para uma situação onde são o exercício físico e as sensações por si
produzidas que se destacam como principal motivação para a prática. Já para
Funollet (1995), o conceito de desporto reconhece os constructos de actividade
física, competitiva, recreativa, expressiva, regrada, lúdica, técnica e táctica,
tornando admissível que uma actividade física, não competitiva e isenta de regras,
possa ser considerada como desporto, facto que o leva a escolher um constructo
focado na ideia de actividades desportivas.
Numa tentativa de encontrar resposta para esta questão, consultámos a
definição proposta pelo Conselho da Europa, em 1992, segundo a qual se
entendem por Desporto, todas as formas de actividades físicas que, através de
uma participação organizada ou não, têm por objectivo a expressão ou o
Desenvolvimento do Problema
77
melhoramento da condição física e psíquica, o desenvolvimento das relações
sociais ou a obtenção de resultados na competição a todos os níveis5.
Parece-nos aceitável admitir que as práticas associadas ao nosso objecto
de estudo possam ser definidas como Desportos. É inegável que estas surgem
associadas aos novos paradigmas da realização pessoal, hedonismo e satisfação,
muito embora não lhes possam ser vedadas características associadas ao
Desporto clássico ou formal. Quando falamos de esforço, superação, competição,
sacrifício e rendimento, não podemos esquecer as exposições de autores como
Branco (2002), Pereira (2005), Møller (2007) e Krein (2007), entre outros, que nos
relembram que a competição nestas actividades existe, sendo de índole muito
mais interna, onde a superação do próprio e o atingir de melhores performances
num constante acto de superação, se definem como circunstâncias da prática. Na
prossecução desta ideia, podemos afirmar que estas permitem o desenvolvimento
da condição psíquica dos seus praticantes, pela indução da auto-afirmação e pela
constante aprendizagem que proporcionam (Guzmán, 2002), corroborando ainda
a definição da Carta Europeia do Desporto, onde é referida a competição a todos
os níveis. Nunca esquecendo que estas actividades propiciam a expressão da
condição física dos seus praticantes e que, como afirmam Miranda et al. (1995),
parecem promover a participação social e as relações com os pares, parece-nos
indicado afirmar que o nosso objecto de estudo pode ser entendido como uma
forma de prática desportiva.
Atendendo à tendência, cada vez mais acentuada na bibliografia
respeitante à temática, para destacar as características anteriormente referidas,
podemos propor para uma denominação futura, que seguramente vai ao encontro
das perspectivas dos estudos da área, o conceito de Desportos de Aventura na
Natureza (DAN).
5 Artigo 2.º da Carta Europeia do Desporto do Conselho da Europa (1992)
Desenvolvimento do Problema
78
Por causa da relativa novidade que representam, do auge social em que se
encontram e do dinamismo do ramo que as comercializa, estas práticas deparam-
se com um processo interno de crise que, uma vez solucionado, dará origem a um
sector muito mais fortalecido, com uma selecção natural das actividades
envolvidas, as mais sólidas ofertas e um equilíbrio empresarial racional, capaz de
responder qualitativamente à emergente demanda social (Betrán, 1995). No
entanto, segundo Bachelet (1995), basta ser inventivo na criação e logo, ao expô-
la, se exaltam a moda e a publicidade – nas vozes dos que as criam e geram –
seduzindo pela mentira (p. 132) o potencial comprador e fazendo do consumo, a
qualquer custo, a finalidade da vida. Este encanto pela inovação também se faz
sentir na esfera dos DAN dado que, como refere Correia (1997), o Desporto
Aventura não é alheio ao fenómeno da moda. Assim, na opinião do autor, para
permanecer na vanguarda do negócio, tornam-se indispensáveis a adopção de
novas actividades, a alteração das existentes e o investimento em novos
equipamentos baseados em recentes inovações tecnológicas, até porque os
próprios clientes se começam a definir como um recurso escasso e é certo que
estes consumirão unicamente o produto que melhor atender às suas
necessidades e aspirações.
Atendendo à sua apelatividade e nunca esquecendo a óptica do consumo,
estas práticas tornam-se, segundo Sallent (1991), num campo pleno de futuras
possibilidades para os licenciados em Educação Física, tanto em empresas
públicas como privadas, quer em âmbitos de animação quer de docência, não se
esgotando a sua potencialidade nesta hipótese. Segundo Funolet (1989),
Fernández (2002) e Otero (2002), o turismo e o desporto na natureza – se
impulsionados de forma correcta, conveniente e equilibrada – podem jogar um
papel de extrema relevância no favorecimento do desenvolvimento económico e
na participação social nas sociedades pós-modernas, definindo-se mesmo como
alternativas viáveis para o desenvolvimento das áreas rurais e deprimidas.
Desenvolvimento do Problema
79
Para Urry (2002), que se refere a uma tendência de mutação dos padrões
de consumo da sociedade – da sua forma de massa para modelos mais
individualizados – é claro que também no turismo – que segundo Sallent (1991) se
converterá na próxima primeira indústria mundial, enquanto o desporto se
consolida como a principal actividade recreativa da população – se sentirão as
influências destas tendências. Atendendo às ideias de Fernández (2002), turismo
e desporto estão, sem dúvida, destinados a entender-se, permitindo pressagiar um
excelente porvir na aliança entre ambos, em especial num espaço tão completo e
atractivo como é o meio natural.
A Carta Europeia do Desporto lança-nos um outro desafio, cuja análise nos
parece muito adequada a este capítulo das perspectivas futuras, quando no seu
Artigo 10.º nos destaca o princípio do Desporto Sustentável – tema analisado por
autores como DaCosta (1997) e Lenskyj (1998) –, referindo que as actividades
físicas devem ser adaptadas aos recursos limitados do planeta e conduzidas em
harmonia com os princípios de um desenvolvimento sustentável e de uma gestão
equilibrada do meio ambiente.
O conceito de Desporto Sustentável é relativamente novo, quer nos círculos
do Desporto, quer nos do ambiente (Lenskyj, 1998), mas como refere Fernández
(2002), é um facto que as possibilidades e recursos que a natureza nos oferece
não podem ser desaproveitadas, nem tão pouco pervertidas, tornando
fundamental a criação de critérios racionais de utilização e protecção.
Naturalmente, o potencial do ecoturismo e do desporto de Natureza só poderá ser
explorado a prazo se garantirmos a salvaguarda dos espaços que os suportam, e
que, em muitos casos, estão a sofrer enormes pressões (Melo, 2003: 21). Esta
ideia foi anteriormente abordada segundo as opiniões de Sequerra (1996) e
Marinho (2004), destacando esta última a necessidade do desenvolvimento de
uma sensibilidade mais profunda, que permita, a par da ética necessária ao
momento de prática, uma consciencialização generalizada para a preservação do
ambiente e assim um melhor desenvolvimento em direcção ao conceito de
sustentabilidade.
Desenvolvimento do Problema
80
Segundo Costa (2006), parece haver já alguma preocupação e
sensibilização para as questões ambientais e da preservação do ambiente durante
a prática – por parte dos seus promotores e organizadores –, muito embora não
acompanhadas de medidas permanentes, pensadas com um fim de preservação
inteiramente implícito. Assim, como referem Marinho e Gáspari (2003), as
transformações pretendidas para o século XXI passam fundamentalmente por
mudanças axiológicas referentes à formação dos profissionais, os quais terão um
papel decisivo na manutenção ou alteração do contexto sócio-cultural, muito pela
influência sobre os clientes, praticantes e formandos que vivem, experimentam ou
recorrem aos DAN como veículos de formação. Teremos de nos preparar para
que, como afirma Pires (1990), a aventura possa ser, em termos futuros, além de
tudo o resto, um elemento de formação, educação e cultura ao serviço do homem.
Os Desportos de Aventura na Natureza – conceito pelo qual optamos,
encarando a possibilidade da sua viabilidade para futuros trabalhos – poderão, se
bem impulsionados, originar um sector comercial muito rentável e lucrativo, que
encerra em si potencialidades que não devem ser desprezadas. Para que a sua
potencialidade possa ser aproveitada, estes terão primeiro de garantir o seu
sucesso, baseando-se em renovações e inovações, atendendo sempre à
perspectiva da preservação ambiental que garantirá a sua sustentabilidade.
Ultrapassar estes obstáculos exigirá formações e sensibilizações – factos que
podem também vir a ser frutos da afirmação destas práticas – que encaminharão
os DAN para o sucesso. Da asseveração destas práticas poderão advir resultados
proveitosos para os profissionais da área do Desporto, para os promotores do
turismo e para as instâncias e populações das áreas rurais deprimidas, bem como
para a humanidade em geral, pelo desenvolver e imbuir de novos valores face às
problemáticas ambientais.
33.. CCOONNCCLLUUSSÕÕEESS
Conclusões
83
3. Conclusões
Da revisão bibliográfica realizada e das análises efectuadas no decurso do
nosso trabalho, surge o presente documento, no qual se podem destacar, como
principais conclusões, as seguintes constatações:
Actualmente vivemos numa sociedade, chamemos-lhe, como muitos, Pós-
Moderna ou Pós-Industrial, profundamente caracterizada pela radicalização dos
princípios existentes e vividos na época da Modernidade. É uma sociedade global,
onde se destacam e ganham cada vez mais relevância: a passividade aparente do
quotidiano, com modos e formas de vida cada dia mais regrados e controlados,
sem espaço para emoções e descontrolos mas nos quais o risco é uma presença
constante; a saturação com esse mesmo quotidiano, com a norma, a rotina e
espaço que o caracterizam; as problemáticas ambientais e a super-exploração dos
recursos, frutos da exaltação do consumo e produção de massa, alimentados
pelos fenómenos da moda, da publicidade e demografia acentuadas; os grandes
desequilíbrios económicos entre Estados e entre diferentes regiões do planeta,
frutos de um capitalismo e industrialismo de diferentes expressões e incidência.
Por causa das suas características, ou por vezes em resposta às
necessidades que estas estabelecem, nestas mesmas sociedades assistimos ao
afirmar de novos valores e princípios – uma pluralidade deles –, segundo os quais
tendemos a regrar a nossa vida e dos quais podemos destacar: o hedonismo, o
individualismo e obsessão pela diferença, o narcisismo, o esteticismo, o
subjectivismo e a personalização; bem expressos na constante busca de prazer,
necessidade de auto-realização e afirmação pessoal, procura de usufruto do
presente, demanda por ócio e melhores condições de vida.
Na afinidade criada entre os novos valores sociais, o aumento da parcela
de tempo livre de obrigações e o aumento da esperança média de vida de que
Conclusões
84
hoje desfrutamos, encontramos cada vez mais espaço para o lazer nesta nossa
sociedade, que exalta a necessidade de novas formas de ocupação dos tempos
livres – períodos aos quais cada um pode atribuir significados diferenciados –,
tornando-o numa expressão distintiva da nossa época.
Na resposta às necessidades de novas formas de lazer, de consumo do
“tempo livre”, de emoções, de momentos de descontrolo e ruptura com a
continuidade existencial, de contacto ou reencontro com a natureza, surgem os
Desporto de Aventura na Natureza, profundamente associados aos paradigmas da
realização pessoal, do hedonismo e da melhoria da qualidade de vida.
Os Desportos de Aventura na Natureza são todo um conjunto de
actividades – cuja génese ocorreu durante a década de 1960 e que rapidamente
se propagaram à generalidade das sociedades economicamente avançadas – nas
quais podemos referir, como principais características: o(s) meio(s) que as
fundamenta(m) – a Natureza, por excelência e os meios aquático, terrestre ou
aéreo onde as suas práticas decorrem; as emoções que proporcionam – risco,
incerteza e sensações associadas à experiência da Aventura; o público
diversificado, crescente e cada vez mais vasto, a que se destinam; a sua forte
popularidade – para a qual contribuem a forte actividade empresarial e comercial,
bem como a sua relação com as formas de turismo activo; e a grande flexibilidade
no que respeita a regulamentações, horários, formas e modos de prática.
No conjunto destas actividades, que optamos por denominar de Desportos
de Aventura na Natureza, podemos incluir práticas como: Asa Delta, Parapente,
Queda-Livre, Base Jump, Bicicleta Todo-Terreno, Cicloturismo, Street Luge, Ski,
Snowboard, Passeio Pedestre e Equestre, Montanhismo, Trekking, Orientação,
Espeleologia, Escalada, Mergulho, Surf, Body-Board, Wakeboard, Windsurf,
Rafting, Canoagem, Hidrospeed e Canyoning, entre muitas outras.
Conclusões
85
No contexto da sua prática, pode ser discutida a oposição entre o ser
humano e a natureza, pelo antagonismo que opõe o Homem às forças do meio –
mais ainda quando, numa tendência consumista, a própria Natureza é reduzida a
um cenário para a prática, por antítese à imagem de parte integrante da
experiência que deveria ser assumida.
Os Desportos de Aventura na Natureza parecem oferecer resposta a
algumas necessidades básicas da vida dos indivíduos, factos que ajudam a
entender a sua enorme viabilidade e destaque na actualidade. Baseados nesta
perspectiva procurámos abordar, no decurso do nosso trabalho, aqueles que
seriam os temas mais significativos no que concerne à sua investigação e estudo,
unicamente para nos apercebermos que os vários tópicos destacados acabam por
criar um enorme âmbito de pesquisa e análise, dada a forma como
intrinsecamente se relacionam e associam entre si.
Convém então destacar, em primeiro lugar, o Mercado da Aventura. Os
DAN surgem profundamente relacionados com as tendências de consumo – que
associado ao hedonismo se destaca hoje, senão como obrigação, certamente
como tendência, muito pela acção da moda e da publicidade. Serviço, satisfação,
diversão e prestígio são conceitos que lhe surgem intimamente associados e é
certo que a probabilidade da sua ocorrência aumenta com a perspectiva deste
acto fornecer resposta às necessidades – reais ou estabelecidas – do ser humano.
A vertente da Mercantilização da Aventura fornece resposta a algumas das
necessidades existenciais agora sentidas – mesmo que estas sejam fruto da
imposição da moda natural e ecológica –, definindo-se como mais um produto a
ser consumido, mais uma forma de consumo de experiência ou de usufruto do
tempo livre. A moda faz eco da popularidade destas práticas e da sua imagem,
apreciada e comercializada, destaca-se um novo estilo desportivo, fortemente
Conclusões
86
apoiado nos espaços privilegiados para consumo, nos equipamentos, materiais,
objectos, vestiários, serviços e experiências.
A crescente resposta empresarial, que permite a compra e venda de
emoções e da (ou na) Natureza, associa-se igualmente às novas formas de
Turismo Activo, permitindo a comercialização de viagens e cenários do fantástico,
abrindo portas a um mercado potencial com novos sectores e formas de consumo.
Para satisfazer as nossas necessidades de consumo, tendemos a
transformar a Natureza num mero recurso ou simples cenário, facto que de si
pode ser problemático, mais ainda considerando que o acesso em massa ao
mundo natural provocará, obrigatoriamente, impactos negativos no meio,
contribuindo para a pressão e degradação dos habitats e cenários ainda
preservados.
Independentemente da essência da Natureza que hoje possamos
experimentar, é inegável uma tendência de aproximação do homem aos espaços
naturais, definindo-se a vida ao ar livre como uma necessidade estipulada pelo
desejo de regresso e pela necessidade de quebra com o quotidiano e fuga do
meio viciado em que este tende a decorrer.
Dentro das características da sociedade actual podem ser exacerbadas a
degradação ambiental global – entendida agora como objecto de preocupação
generalizada, pela consciencialização da sua ingerência enquanto factor imediato
da nossa sobrevivência – e a aparente tomada de consciência quanto à sua
ocorrência – motivo de agitação e mobilização colectiva, que tem aumentado a um
ritmo vertiginoso, mesmo que não de forma equitativa em toda a parte do planeta.
Os DAN podem cumprir um papel fundamental e inegável enquanto
veículos de sensibilização para as temáticas da natureza, permitindo o
Conclusões
87
desenvolvimento de uma consciência ambiental e responsabilidade individual ou
colectiva. Ao permitirem o acesso ao que resta deste meio, estas práticas podem
contribuir de forma notória para a Educação Ambiental e para o desenvolvimento
de valores ou princípios de respeito pelo mundo natural – pela própria
necessidade de subsistência – podendo o seu papel ser muito proveitoso e
profundamente produtivo no meio da formação e do ensino – focamos a sua
interdisciplinaridade mas principalmente a viável associação com a Educação
Física.
Para ser válida a vertente de consciencialização, serão no entanto
necessárias ponderações basilares na criação de regras de conduta e protecção
ambiental do espaço utilizado para a prática dos DAN, assim como,
sensibilizações particulares que permitam explorar a capacidade de intervenção e
mediação dos organizadores sobre os praticantes. É assim fundamental que os
DAN não se percam na lógica de consumo pela qual se rege a sociedade, que
tende frequentemente a desvalorizar os produtos no surgimento de novas formas
de consumo, e a explorar os recursos necessários à sua venda sob qualquer
condição.
A prática massiva dos DAN, bem como a venda de actividades extremas,
tendem a domesticar o risco e a proporcionar a aventura inerente às suas práticas
de forma mimética e simbólica que, muito embora perca assim a sua verdadeira
característica, serve ao consumidor o produto desejado, através do conceito de
risco percebido e da manipulação da subjectividade da sua percepção.
A busca de estimulação emocional e sensorial, as novas sensações, a
quebra com a rotina e a continuidade da vida, são assim servidas por intermédio
da Aventura, quer de forma subjectiva, quer de forma indiscutivelmente real –
dependendo do contexto de prática –, oferecendo resposta a uma miríade de
necessidades, impostas aos seres humanos pelas características da sociedade.
Conclusões
88
O autocontrolo, a limitação na demonstração de sentimentos e emoções, o
excesso de regras e mecanicismos, a retractação dos impulsos e a passividade
preponderante da vida, que negam ao ser humano a sua percepção de
determinação, tornam abstracto o conceito de mortalidade e criam tensões
negativas associadas à falta de excitações, são então suprimidos pela situação
marginal da Aventura, que permite a quebra com a continuidade da vida, com o
costume e o estabelecido, oferecendo a possibilidade de dano, desastre, morte,
perigo, vislumbre no abismo, bem como todo um leque de sensações aprazíveis,
fruto da instabilidade e insegurança, que quando vencidas proporcionam
satisfação, auto-afirmação e progresso.
A necessidade de estar em controlo e o sentimento de domínio sobre a
própria existência voltam assim à vida, mesmo que momentaneamente, de forma
real ou imaginária, permitindo a superação, a conquista do próprio ser, a
afirmação pessoal e a construção da identidade, necessárias à sanidade e
equilíbrio de cada indivíduo.
Para manterem a sua viabilidade e garantir a sua continuidade, os DAN
necessitarão de se basear no conceito de Desporto Sustentável, estando a sua
prosperidade e sequência obviamente dependentes do respeito pelo meio e
cenários onde as práticas são levadas a cabo, do desenvolvimento de novas
tecnologias que objectivem a segurança dos praticantes, da inovação e renovação
das práticas e actividades na perspectiva mercantilista, de uma melhor e mais
eficaz gestão e legislação das entidades que as promovem e da formação de
todos os envolvidos, quer no que consta a matérias de segurança, quer no que diz
respeito à consciência ambiental, quer para usufruto individual como para a
influência de terceiros.
Os DAN não se encontram marginalizados, tendo um lugar de destaque
cada vez mais evidente e alcançando, a cada passo, leques mais vastos da
Conclusões
89
população. O seu entendimento, bem como a aceitação do seu potencial, poderão
trazer frutos altamente produtivos, oferecendo resposta a muitas das
necessidades actualmente em evidência na nossa sociedade. Estes podem ainda
destacar-se como elementos de importância na formação e educação, devendo,
como tal, ser difundidos e utilizados, mas tendo sempre em conta os conceitos de
segurança e respeito ambiental que lhes devem ser, podem ser e são inerentes.
O nosso estudo permitiu-nos compreender os Desportos de Aventura na
Natureza nas suas relações com o quadro axiológico actual, na sua potencialidade
de resposta às necessidades vigentes da nossa sociedade e na relação com os
imperativos valores que nela se destacam. A revisão efectuada, pela variedade de
conhecimentos que nos permitiu adquirir, agrupar e expor, revelou-se muito
proveitosa, fornecendo todo um espectro de dados relativos a estas importantes
actividades. Podemos assim afirmar, embora com algumas reservas, que o
principal objectivo do nosso trabalho foi atingido, sendo que reunimos todo um
conjunto de informações pertinentes sobre o nosso objecto de estudo, que com
alguma facilidade podiam ser encontradas dispersas pelos textos e obras de
diversas áreas do saber e do conhecer. Admitindo, no entanto, que do seu início
até ao seu término, muitos foram os factos que, a cada passo, surgiram,
complicando e embaraçando a teia de informações exploradas com outros dados,
será possível questionar se todas as instâncias da sociedade, que de alguma
forma têm intervenção sobre os DAN, foram aqui reflectidas, ou se alguma relação
ficou por analisar.
Seria possivelmente produtiva, tendo como base a constatação das
informações aqui reunidas, a reestruturação do documento aqui apresentado,
numa tentativa de encontrar novas relações de pertinência com os valores e
princípios da sociedade. Esta é uma sugestão que deixamos para trabalhos
futuros, a elaborar nesta área de conhecimento.
44.. RREEFFEERRÊÊNNCCIIAASS BBIIBBLLIIOOGGRRÁÁFFIICCAASS
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Desportos de Aventura na Natureza:uma revisão conceptual
Pedro Delgado Paiva
Porto, 30 de Maio de 2008
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Desportos de Aventura na Natureza: uma revisão conceptual
Orientador: Professora Doutora Ana Luísa Pereira
Pedro Delgado Paiva
Porto, 30 de Maio de 2008
Monografia realizada no âmbito da disciplina de Seminário do 5º ano da licenciatura em Desporto e Educação Física, na área de Recreação, da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto
À Maria Luís.
Que o Sol resplandeça no teu percurso,
Que o futuro te seja brilhante…
I
Agradecimentos
À Professora Doutora Ana Luísa Pereira, pela disponibilidade que sempre
demonstrou, pelos valorosos conselhos e pareceres, pelo auxílio e apoio, pela
boa-disposição com que sempre me recebeu e, acima de tudo, pela atitude e
dedicação com que encara a sua profissão.
A todos os professores do gabinete de Recreação, pela postura e carinho
para com os seus “protegidos”, com quem estabelecem, a par das óbvias relações
de profissionalismo, ligações de afeição e cordialidade.
À minha família:
Aos meus pais, heróis que amo muito, pelo apoio, carinho e confiança;
À minha avó e tio, por me suportarem, sempre;
A todos, pelo constante incentivo… pelo bem-querer… por tudo.
Aos meus amigos:
Ao Damião, por estar sempre lá;
Aos Manos e Maninha – Pedro, Tiago e Ju – pelo constante estímulo;
A todos – Ari, Zé, Sérgio, Rita, Catas, Nabais, Paty… – pelo apoio;
Aos amigos da Tribo do Lagarto e da Turma F, pela companhia no trajecto;
À Telma, por me carregar até aqui;
Ao meu Raio de Sol, por iluminar o meu caminho;
À Lúcia, pelo carinho… por me fazer sonhar…
III
Índice Geral
Agradecimentos ....................................................................................................... I
Índice Geral ............................................................................................................ III
Resumo...................................................................................................................V
Abstract .................................................................................................................VII
Résumé.................................................................................................................. IX
Lista de Abreviaturas..............................................................................................XI
1. Introdução........................................................................................................ 1
2. Desenvolvimento do Problema ........................................................................ 5
2.1 Objecto de Estudo: do quadro axiológico à legitimação da prática ............ 7
2.1.1 Contexto Social: valores, dinâmica e necessidades ............................ 7
2.1.2 Caracterização: das origens ao público-alvo ..................................... 17
2.1.3 Razões da procura e afirmação......................................................... 27
2.2 Temas de interesse na investigação do objecto de estudo...................... 33
2.2.1 Aventura: sensações e necessidades ............................................... 33
2.2.2 Consumo: sociedade e produto consumível...................................... 43
2.2.3 Problemática Ambiental: do meio e da educação.............................. 55
2.3 Perspectivas de Futuro ............................................................................ 75
3. Conclusões .................................................................................................... 81
4. Referências Bibliográficas ............................................................................. 91
V
Resumo
Vivemos actualmente uma outra sociedade, um período de complexidade e
inquietação onde se avultam valores e necessidades, frutos de uma aparente
radicalização dos princípios do período da Modernidade (Lipovetsky, 1989;
Gervilla, 1993; Giddens, 1994). Associadas à emergência destes novos princípios,
carências e valores, surgem novas actividades de lazer, profundamente
relacionadas com a Aventura e o contacto com a Natureza (Betrán e Betrán,
1995a; Guzmán, 2002; Costa e Correas, 2005). Neste trabalho, baseado numa
exaustiva revisão bibliográfica, procurámos entender estas novas práticas
desportivas, identificando as suas principais características e analisando as suas
dinâmicas com a sociedade actual. Entre as principais conclusões do nosso
trabalho podem ser destacadas: a proposta do conceito de Desportos de Aventura
na Natureza, que nos parece uma alternativa viável para a definição do nosso
objecto de estudo; o enorme potencial destas práticas para fornecer resposta a
todo um leque de necessidades hoje em evidência na nossa sociedade, dos quais
destacamos a carência de emoções, riscos, sensações, ruptura com a
continuidade da vida, divórcio com o espaço e tempo quotidiano e escape para o
ambiente natural; uma tendência profunda à Mercantilização da Aventura que,
associada a uma forte resposta empresarial e a uma produtiva relação com as
novas formas de turismo activo, torna o nosso objecto de estudo em mais um
produto de consumo; o enorme potencial do referido objecto de estudo para a
Educação Ambiental e promoção de novos valores ecológicos de protecção da
Natureza.
Palavras-Chave: Pós-Modernidade; Desportos de Aventura na Natureza;
Mercado da Aventura.
VII
Abstract
Nowadays we experience another society, a complexity and disquiet period
where new values and requirements, seeds of a perceptible radical shift of the
principles of Modernity, breed (Lipovetsky, 1989; Gervilla, 1993; Giddens, 1994).
Related to the surge of these new principles, needs and values, a perceptible
bourgeoning of new leisure activities, deeply associated with the Adventure and
the experience of Nature, is noticed (Betrán e Betrán, 1995a; Guzmán, 2002;
Costa e Correas, 2005). With the conception of this work we attempt, through an
exhaustive and meticulous bibliographic review, to understand the new sport
activities, identifying its key characteristics and analyzing its dynamic relations with
the contemporary society. Amongst our primary conclusions there can be
enlightened: our proposal of the concept “Adventure Sports in the Nature”, which
we believe provide a viable alternative to the nomination and conceptualization of
our subject; the vast potential of these practices to provide answers to an all-
complex set of necessities in evidence nowadays, of which we can stand out the
need of emotions and sensations, the risk-seeking tendency, the requirement of
rupture with the continuity of life itself and the escape from the time and space of
the everyday life towards the natural environment; a deep tendency to the
pronouncement of the adventure market, associated to a strong and ever growing
business reply and a productive relation with the new forms of active tourism,
which establishes our subject as another consumption commodity; the large
potential of our subject to the Environmental Education and the promotion of new
ecological values and nature protection ideals.
Keywords: Postmodernity; Adventure Sports in the Nature, Adventure Market.
IX
Résumé
Actuellement on vivons dans une outre société, un période de complexité et
inquiétude ou se amplifie valeurs et nécessités, conséquence de une apparent
radicalización des débuts de la Modernité (Lipovetsky, 1989; Gervilla, 1993;
Giddens, 1994). Associé à l’émergence de ces nouveaux principes, besoins et
valeurs, se posent de nouvelle activité de loisirs, profondément reporté à
l’Aventure et aux contacte avec la Nature (Betrán e Betrán, 1995a; Guzmán, 2002;
Costa e Correas, 2005). Dans notre travaille, basée à une exhaustif révision
bibliographique, nous cherchons d’attendu cette nouvelle pratiques sportives,
identifié cette principaux caractéristiques et analyser cette dynamique avec la
société actuelle. Parmi les principaux conclusions de notre travaille, on peut mettre
en évidence: la notre propose de le concept de Sport d’Aventure dans la Nature,
que on croyions êtres une alternatif pour la définition e conceptualisation du notre
objecte d’étude; l’énorme potentiel de cette pratique, pour donnée une réponse à
tout un group de nécessités qui nous trouvons aujourd’hui dans notre société, ou
se détache le besoin d’émotion, du risque, de la sensation, de la rupture avec la
continuité de la vie, le divorce avec l’espace et le temps de quotidienne et l’évasion
pour la nature; une profond tendance aux marché de l’Aventure qui, associé a une
fort réponse de l’entreprise et a une productif relation avec le nouvelle forme du
tourisme actif, il prend le notre objecte de l’étude dans un n’outre produit pour
consumé; le grand potentiel du dit objecte d’étude pour le Education Ambiant et la
promotion de nouveaux valeurs écologiques de protection de la nature.
Mots-Clés: Postmodernité; Sport d’Aventure dans la Nature; Marché de
l’Aventure.
XI
Lista de Abreviaturas
AFEN – Actividades Físicas de Exploração da Natureza
AFAN – Actividades Físicas de Aventura na Natureza
AEISAD – Associação Espanhola de Investigação Social Aplicada ao Desporto
CTP – Confederação do Turismo Português
TV – Televisão
PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
CMAD – Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento
CNUMAD – Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento
CECS – Conferência Europeia sobre Cidades Sustentáveis
E.A. – Educação Ambiental
DAN – Desportos de Aventura na Natureza
11.. IINNTTRROODDUUÇÇÃÃOO
Introdução
3
1. Introdução
Segundo Constantino (1997), no final do século passado foi possível assistir
ao aparecimento de novos paradigmas civilizacionais (p.117), que lenta mas
profundamente alteraram os estilos e os modos de vida, as relações sociais, as
expectativas e motivações dos cidadãos (idem). De facto, com uma rápida análise
aos trabalhos de autores como Lipovetsky (1989), Gervilla (1993), Giddens (1994),
Fernandes (1999) ou Beck (2000), podemos entender a emergência de uma outra
sociedade, na qual se estabelecem novos valores e princípios, bem como um
novo leque de necessidades para as quais o indivíduo, enquanto ser situado,
procura resposta ou forma de supressão.
Dada a amplitude do fenómeno desportivo – e atendendo ao facto de, como
afirma Bento (1997), cada época ter o seu desporto e o seu cidadão, ambos
dependentes de mutações sociais, sobretudo nos planos dos valores, direitos e
necessidades –, as alterações do quadro axiológico levaram a que, como afirma
Garcia (1997), mesmo nas revistas sobre educação física e desporto mais
conceituadas internacionalmente, novas palavras, novos conceitos (…) surgissem
para situar, qualificar, explanar ou explicar a sociedade em que vivemos (p. 15).
É neste versátil cenário de mudanças culturais, económicas, ideológicas e
de alterações dos paradigmas, dos conceitos e mentalidades – no qual o
hedonismo e o lazer assumem uma dimensão fundamental (Elias, 1992; Pereira e
Félix, 2002) –, que podemos considerar o surgimento de todo um conjunto de
práticas corporais (Betrán e Betrán, 1995a) desenvolvidas em contacto com a
natureza, cuja experiência envolve risco, emoção, prazer e cujo incremento não
pode ser desvalorizado (Pereira e Félix, 2002; Costa e Correas, 2005).
Actividades Físicas de Exploração da Natureza ou Desportos de Aventura
são apenas exemplos do vasto legado terminológico hoje existente para a
objectivação destas práticas, que ocorre em estudos através dos quais, diversos
os autores dão prossecução a artigos e investigações sob temáticas tão variadas
Introdução
4
como o Turismo (Fernández, 2002; Costa, 2006), a Educação Ambiental (Chao,
2004; Marinho, 2004) ou a dimensão simbólica da Aventura (Feixa, 2002).
Estas novas práticas oferecem, aparentemente, resposta às necessidades
impostas pelas formas de vida hoje aceites e experimentadas (Elias, 1992; Betrán
e Betrán, 1995a; Pereira e Monteiro, 1995), tornando-se um objecto de estudo
capaz de gerar um extenso e complexo espólio bibliográfico, que reúne tópicos de
interesse articuláveis de forma evidente com variadíssimas áreas da nossa
sociedade. Assim, e perante um tão vasto legado de obras e artigos – que focam
os aspectos práticos das actividades em causa, a sua ética, as responsabilidades,
as razões, as preocupações, os contextos, a relevância, a coerência e as
perspectivas das partes envolvidas no fenómeno –, torna-se fundamental procurar
entender de forma mais evidente que relação ou relações se estabelecem entre
estas e os novos valores, princípios e carências dos seres humanos, enquanto
seres sociais.
É nossa intenção, através de uma exaustiva revisão bibliográfica, estudar a
temática das Actividades de Ar Livre, com o intuito de entender as suas
interactividades com os valores e consequências da sociedade actual. Para tal,
dividimos o nosso trabalho em 3 partes fundamentais: Num primeiro capítulo
dedicar-nos-emos ao exame do nosso objecto de estudo na sua relação com o
quadro axiológico, procurando definir plenamente a imagem destas novas práticas
e da sociedade em que as mesmas se estabelecem; Num segundo capítulo
procuraremos descrever e compreender as grandes questões que hoje surgem
associadas ao nosso objecto de estudo, e que hipoteticamente definem os
grandes tópicos de relação com as principais instâncias da sociedade actual; Num
terceiro capítulo procuramos estabelecer um possível cenário de futuro para o
nosso objecto de estudo, admitindo que todos os factores considerados ao longo
da revisão bibliográfica poderão de alguma forma ser intervenientes no seu
delineamento e que a exactidão da prognose, pela vastidão de variáveis
envolvidas, será potencialmente complexa.
22.. DDEESSEENNVVOOLLVVIIMMEENNTTOO DDOO PPRROOBBLLEEMMAA
Desenvolvimento do Problema
7
2.1 Objecto de Estudo: do quadro axiológico à legitimação da prática
2.1.1 Contexto Social: valores, dinâmica e necessidades
En nuestra sociedad pluralista y relativista
todo vale, todo fluye y nada permanece, lo
nuevo rápidamente se hace viejo.
(Gervilla, 1993: 18)
Como referimos na introdução do nosso trabalho, ocorrem transformações
na sociedade actual que são acompanhadas por modificações profundas nas
crenças e atitudes do ser humano, que se verificam também nas novas posturas
face ao fenómeno desportivo. Como afirma Bento (1997), não é estranho que se
procure debater e reformular a temática do desporto, num início de século tão
dinâmico do ponto de vista da mutação de princípios e valores sociais e de tão
evidentes alterações de crenças respeitantes à cidadania.
Para um melhor entendimento do nosso objecto de estudo, será imperativo
conhecer e entender esta mutável sociedade a que nos referimos, procurando
compreender as mudanças axiológicas que lhe são subjacentes.
Vivemos um período de complexidade e inquietação, no qual as sociedades
– de crise permanente, do efémero e do transitório (Gervilla, 1993), numa situação
de vazio, ou, a um nível mais profundo, de transição (Sousa Santos, 2002) –
parecem claramente devedoras do processo e projecto da modernidade (Silva,
2002: 32). Este parece ser o núcleo do problema do novo quadro social
(Lipovestsky, 1983; Gervilla, 1993; Silva, 2002), impossível de definir, por si só, de
modo exacto e consensual, compreensível apenas na relação com o seu anterior
– que se entende de oposição, ruptura, crítica, distanciamento, fracasso, projecto
inacabado (Gervilla, 1993) ou transição com momentos de ruptura e momentos de
continuidade (Sousa Santos, 2002: 92).
Desenvolvimento do Problema
8
Para Lipovetsky (1983), Gervilla (1993), Silva (2002) ou Lyotard (2003),
referimo-nos ao contexto social actual como Pós-Modernidade, mas esta
perspectiva está longe de ser consensual. Segundo Sousa Santos (2002), a
considerar-se a extinção da modernidade, esta seria complexa, definindo-se
parcialmente como um processo de superação – na medida em que são
cumpridas algumas das promessas desse projecto, e até em excesso – e de
obsolescência – pela irremediável incapacidade do cumprimento das restantes.
Mas a extinção não é um termo recorrente e a perspectiva de ordem parece ser
outra. Autores como Giddens, Beck e Lash (2000) negam a entrada na Pós-
Modernidade, defendendo uma modernidade tardia (Giddens, 1994) ou uma
modernização reflexiva (Beck, 2000) – uma ordem nova na qual as consequências
da modernidade se tornam mais radicalizadas e universalizadas (Giddens, 1994:
2). Também Pereira e Félix (2002) referem a radicalização dos princípios
existentes e vividos, afirmando os novos valores como resultantes desse processo
e seguindo uma linha de pensamento mais ou menos consensual. Como afirma
Beck (2000), a modernização reflexiva pode ser vista como uma radicalização da
modernidade, que quebra os contornos da sociedade industrial e origina um
período de autoconfrontação.
Perante as diferentes opiniões relativas à época de crise na qual vivemos,
impõe-se que, para sua melhor compreensão, entendamos o processo evolutivo
que lhe é inerente e que passamos a analisar de forma resumida. Segundo
Gervilla (1993), com o eclodir do Renascimento a ideologia Deus-Homem-Mundo
ganhou posição fundamental na sociedade, tendo mais tarde sido substituída pelo
dogma do Antropocentrismo, que colocava o Homem no centro de tudo. Com o
declínio da Igreja Católica e a revolta contra as instituições estabelecidas, o tempo
da austeridade dos costumes dá lugar a uma certa exuberância da vida (Garcia,
2005:17) e o Homem, através da Ciência, substitui Deus no centro da sociedade –
as explicações científicas tomam o lugar das anteriores explicações divinas e as
crenças religiosas são remetidas para a esfera da vida privada (Touraine, 1994).
Desenvolvimento do Problema
9
Registaram-se séculos de profundas mudanças, que afectaram de forma
evidente vários domínios da sociedade como o conhecimento, tecnologia,
economia, política e religião (Silva, 2002). O sucesso da Ciência, a separação das
doutrinas religiosas e a afirmação da Razão Pura, representam o culminar do
projecto de emancipação e libertação da espécie humana (Gervilla, 1993) e com o
progresso baseado na Ciência e na Razão – factor que fornecerá explicação para
tudo, uma vez que tudo é, à partida, inteligível (Gervilla, 1993) – surge a
sociedade moderna, não em simultâneo por todo o mundo, mas com evidente
prioridade nas sociedades ocidentais (Silva, 2002).
A modernidade não representa a mudança pura, mas a difusão dos
produtos de actividade racional, científica, tecnológica e administrativa (Touraine,
1994, p.21) em sociedades enquadradas por Estados-Nações, marcadas pela
expansão industrial – que reorganizou as classes e originou processos de
urbanização característicos –, pelo forte crescimento demográfico da população e
pelo valorizar o tempo de trabalho (Silva, 2002).
O projecto da modernidade parece ter estado intrinsecamente relacionado
com o capitalismo – expressão do período no plano económico (Touraine, 1994) –
e com a industrialização, baseando-se em dois pilares fundamentais – o da
regulação e o da emancipação (Sousa Santos, 2002) – e revelando como
características de identidade: o domínio racional das coordenadas do espaço e do
tempo; o desenvolvimento de mecanismos e processos de dexcontetualização e
recontextualização dos factos e actos; a apropriação reflexiva do conhecimento –
com a revisão contínua dos objectivos e estratégias de acção; a circulação de
informação e produtos por diferentes contextos sociais; o desenvolvimento dos
sistemas abstractos científicos e técnicos – que garantiam formas de interpretação
e acção cujos fundamentos e legitimidade eram virtualmente universais (Giddens,
1994; Silva, 2002). Terá prevalecido, nesta época, a pluridimensionalidade
institucional, sendo o capitalismo, a vigilância, o poder militar e o desenvolvimento
industrial as dimensões a ponderar (Giddens, 1994).
Desenvolvimento do Problema
10
Para Lipovetsky (1983:11), a sociedade moderna era conquistadora, crente
no futuro, na ciência e na técnica; instituiu-se em ruptura com as hierarquias de
sangue e a soberania sacralizada, com as tradições e os particularismos, em
nome do universal, da razão, da revolução. O autor refere-se a esta época no
pretérito perfeito, sendo ele próprio um dos maiores apoiantes do seu término ou
superação. Como já referimos, o novo quadro social – independentemente da
terminologia pela qual optemos para a sua nomeação – não pode ser visto sem a
compreensão da falência, da superação, da vitória ou da destruição criativa do
processo da modernidade – ou de parte do mesmo.
Vivemos agora numa era onde vigora o descrédito da Razão, a perca do
fundamento, o surgir da fragmentação moral, o esteticismo, a dissolução do
sentido histórico e o pensamento débil (Gervilla, 1993). Uma época de
descontextualização e recontextualização das formas sociais industriais (Beck,
2000). Uma sociedade cosmopolita global cujos contornos ainda mal conseguimos
vislumbrar (Giddens, 2002), na qual se exige uma disciplina emocional global
(Elias, 1992), onde o risco faz parte do quotidiano (Beck, 1992) e em que aparece,
com força crescente, a obsessão pela diferença e especificidade (Touraine, 1994).
A tão objectivada e fundamentada Razão, que imperava e se havia tornado
o princípio e o meio da emancipação – libertação do indivíduo face aos
constrangimentos arbitrários do costume, da tradição ou da dominação (Silva,
2002) –, é posta em causa. O descrédito e desencanto pela Razão, referidos por
Gervilla (1993) e Fernandes (1999), apoiam-se na insegurança, nos enganos e
nas decepções criadas pela tomada de posição do progresso tecnológico, a par
dos acontecimentos históricos desprovidos de sentido racional – como as duas
Grandes Guerras Mundiais, Hiroshima, extermínios étnicos, as guerras do
Vietnam e do Golfo Pérsico, entre outros (Lipovetsky, 1983; Gervilla, 1993).
Somos conduzidos a um relativismo e subjectivismo que afecta todos os âmbitos
do ser, do conhecer e do viver, originando um pluralismo e politeísmo de valores
que torna difícil distinguir os mesmos dos seus antónimos – assim se justifica a
perda de fundamento: deixamos de ter uma razão para conhecermos uma
Desenvolvimento do Problema
11
pluralidade de razões, uma multiplicidade de formas de justificação (Gervilla,
1983). Tudo aquilo que provém do passado e se apresenta como provido de
racionalidade tende a ser reinterpretado, reavaliado ou mesmo abandonado
(Fernandes, 1999).
Nesta época – chamemos-lhe, como muitos, Pós-Modernidade –, o prazer
tende a ditar as regras de desenvolvimento (Lipovetsky, 1989). O hedonismo
estabelece-se como um dos valores mais significativos da sociedade e a busca do
prazer assume um papel fundamental na cultura actual, na qual o indivíduo
adquire um estatuto de centralidade (Pereira e Félix, 2002). Nesta perspectiva,
como explica Heinemann (1994), as investigações sobre a alteração de valores da
nossa sociedade parecem indicar uma diminuição da importância da
competitividade na vida social e a substituição do resultado futuro pelo desfrute do
presente. Mais importante do que o esforço é a busca do máximo de prazer no
que se faz (Pereira e Félix, 2002). O hedonismo reporta-nos aos processos –
segundo Pereira (2004), transformações características da sociedade
contemporânea – de personalização e individualização referidos por Lipovetsky
(1983) numa sociedade que pretende viver livre e sem coacção, escolher sem
restrições o seu modo de existência (p.10), que pretende viver já, aqui e agora
(p.11), no presente e não já em função do passado e do futuro (p.49) e na qual o
indivíduo subsiste como um valor principal, intocável, indiscutível através das suas
múltiplas manifestações (Costa, 2006: 15).
Segundo Lipovetsky (1983), o valor da realização pessoal, do respeito pela
singularidade subjectiva, da personalidade incomparável (p.9) foi promovido e
incarnado pelo processo de personalização, processo visto como o novo modo de
organização e orientação da sociedade, que se pretende com o mínimo possível
de coacção e o máximo possível de opções, com o mínimo de austeridade e o
máximo de desejo, com o mínimo de constrangimento e o máximo de
compreensão (p. 8-9). O indivíduo vira-se para si próprio e passa a estar no centro
da sua acção, onde as questões pessoais se tornam essenciais e a realização
Desenvolvimento do Problema
12
pessoal se destaca como objectivo principal, orientando a actuação pelo princípio
do prazer (Giddens, 1994).
O fenómeno de individualização – o direito de o indivíduo ser
absolutamente ele próprio, de fruir ao máximo a vida (…) inseparável de uma
sociedade que erigiu o indivíduo livre em valor principal (…) transformação dos
estilos de vida associada à revolução do consumo (Lipovetsky, 1983: 9) – é, para
Fernandes (1999), um movimento através do qual, sem perder totalmente os
ligames sociais ou romper com os mesmos, a pessoa se afirma em crescente
autonomia e age com um certo distanciamento do seu meio ambiente. Segundo o
autor, o indivíduo, que surgia dissolvido na colectividade e numa existência
essencialmente comunitária, adquire por este processo a liberdade e
subjectividade, tendo os outros como fonte alimentadora do crescimento e
desenvolvimento pessoal. Segundo Tulloch e Lupton (2003), o processo de
individualização oferece tanto a liberdade de escolha, como a esmagadora
responsabilidade inerente à mesma – esta, passível de fornecer novos riscos, a
associar aos já verificados na sociedade.
Nesta sociedade, também sociedade de risco, os processos industriais e
paradigmas sociais a ele relacionados produzem riscos que – devido aos modelos
de globalização da modernidade tardia – ignoram fronteiras geográficas, sociais e
socioeconómicas (Beck, 1992). A globalização – um fenómeno revolucionário, de
natureza política, tecnológica, cultural e económica, profundamente influenciada
pelo progresso dos sistemas de comunicação – ajuda a definir este importante
período de transição, no qual as mudanças que afectam quase tudo o que
fazemos não estão confinadas a uma única parte do globo (Giddens, 2002). Os
riscos globais verificados na nossa sociedade são resultados, também, embora
não só, das dramáticas mudanças nas estruturas das vidas privadas, que
enfraqueceram as tradições e obrigaram ao processo de individualização (Beck,
1992).
Na opinião de Touraine (1994), o indivíduo é agora um ser activo, centrado
em si próprio e ansioso pela auto-realização, o que uma vez mais nos conduz ao
Desenvolvimento do Problema
13
tema do prazer. O hedonismo, durante muito tempo exclusivo das classes
privilegiadas, foi sendo transformado em comportamento quotidiano pela
sociedade de consumo (Betrán e Betrán, 1995a) e originando, a par do fenómeno
de individualização, as individualidades hedonistas e narcisistas referidas por
Gervilla (1983), Lipovetsky (1983) e Lyotard (2003). Para Lipovetsky (1983), é
claro que o processo de personalização continua a alargar as fronteiras da
sociedade de consumo, cujo fim foi precipitadamente anunciado.
A sociedade de consumo que ainda hoje vivemos – surgida em estreita
ligação com a sociedade moderna, com a produção de massa, com a melhoria
dos rendimentos e bem-estar e com o alargamento dos mercados – não surge
apenas ligada às necessidades de escoamento comercial de produção em série e
às melhorias de rendimentos, mas também à aquisição de certos direitos por parte
dos trabalhadores, traduzidos na redução dos horários de trabalho, no direito ao
descanso semanal e nos períodos de férias remuneradas, que conduzem à
libertação de um tempo individual (Silva, 2002).
Também Garcia (2005) explica que o tempo de trabalho (p.15) tem vindo a
baixar de forma notória, tendo como consequência um aumento do tempo de não
trabalho (idem), tornando os conceitos de recreação, lazer e tempos livres em
expressões quase definidoras da nossa época. Segundo a sua opinião, o lazer,
mobilizando toda a sociedade quer para a sua vivência quer para a sua reflexão
(idem), constitui-se num fenómeno social total, isto é, segundo Durkheim (1987:
39), toda a maneira de fazer, fixada ou não, susceptível de exercer sobre o
indivíduo uma coerção exterior: ou então, que é geral no âmbito de uma dada
sociedade tendo, ao mesmo tempo, uma existência própria, independente das
suas manifestações individuais.
Aliado à redução de tempo de trabalho, ao aumento da esperança média de
vida, ao aumento dos patrimónios familiares, ao maior tempo de escolaridade
obrigatória e tardia inserção no mercado de trabalho, a uma precipitada reforma
das populações, à melhoria dos cuidados médicos que proporcionam uma maior
mobilidade aos indivíduos de idades mais avançadas e à diminuição de
Desenvolvimento do Problema
14
importância dos tradicionais modelos de conduta ditados por factores sociais como
o sexo e a idade entre outros (Heinemann, 1994; Garcia, 2005), surge um caos de
práticas corporais ante o homem pós-industrial (Betrán e Betrán, 1995a). Note-se
que, como afirma Garcia (2005), se é difícil para o homem o trabalho, mais difícil
se torna o divertimento (p.22). Segundo o autor, a organização social sofre pelo
surgimento do ócio – que torna imperioso o aumento e diversificação das ofertas
de lazer, não se esgotando esta premissa na oferta desportiva – e com a
crescente valorização da parcela de tempo a que se podem atribuir sentidos
pessoais diferenciados. A ampla variedade de actividades de lazer existentes
estabelece-se, actualmente – e em resposta a esta e outras necessidades –, como
um dos principais traços de identidade das sociedades do nosso tempo (Elias,
1992).
Por tudo o anteriormente analisado, podemos afirmar que a Pós-
Modernidade optou pelo singular, a sociedade como meio, sempre ao serviço e
subordinação da pessoa, na qual a postura tipo é bem expressa na atitude dos
jovens, desresponsabilizada e despreocupada, posição de quem só tem uma vida
que viver e um presente que gozar (Gervilla, 1993), mais do que uma ética, uma
estética (Betrán e Betrán, 1995a; Pereira e Félix, 2002), ou uma estética sem ética
(Gervilla, 1993), que juntamente com a fragmentação moral gera valores de
afectividade, sentimento, prazer, narcisismo, novidade e aculpabilidade (Pereira e
Félix, 2002). É nesta sociedade – hedonista, pós-industrial, individualista,
narcisista, de múltiplos valores e razões, ainda e cada vez mais de consumo de
massa, que busca o prazer, a realização, o presente e com cada vez mais espaço
para o lazer e ócio – que procuramos entender o nosso objecto de estudo.
Esta sociedade de transição, de novas revoluções tecnológicas, mas com
fundamentalismos religiosos renascidos, de integração económica planetária, mas
de insubsistência alargada a grandes porções da população, de progresso
científico, mas de dúvida imposta pela epistemologia do mesmo avanço (Silva,
2002), de serviços, de computadores e de actividade mental (Betrán e Betrán,
1995a), que, ao legitimar o individualismo hedonista conjugado ao prazer de
Desenvolvimento do Problema
15
consumo, fez com que novas actividades físicas e desportivas surgissem e
adquirissem lugar de destaque (Pereira e Félix, 2002).
As práticas corporais de carácter recreativo afirmam-se então como a
principal forma de utilização do ócio activo nos países economicamente
desenvolvidos do ocidente (Bétran, 1995) e entre elas destacam-se as Actividades
Físicas no Meio Natural, conhecidas popularmente por Desportos de Aventura,
que têm tido uma difusão vertiginosa nos últimos anos e consolidado o seu lugar
com cada vez mais ímpeto na sociedade (Betrán e Betrán 1995b; Miranda, Lacasa
e Muro, 1995).
Entendido o quadro axiológico actual, importa agora focar atenções no
nosso objecto de estudo, atendendo a esta realidade que o enquadra e no qual o
mesmo subsiste. Conhecendo os valores e atitudes da sociedade, torna-se
fundamental entender a forma como os mesmos o influenciam, o fundamentam ou
a ele se opõem. Desta forma, passamos a analisar as suas características,
formas, origens e razões, tendo sempre como pano de fundo – perfeitamente
interactivo – o contexto social contemporâneo.
Desenvolvimento do Problema
17
2.1.2 Caracterização: das origens ao público-alvo
Cada época tem o seu desporto porque
tem o seu cidadão. Um e outro resultantes
de mutações sociais, sobretudo no plano
dos valores, dos direitos, dos interesses,
dos problemas e das necessidades.
(Bento, 1997: 95)
A não sujeição a uma regulamentação fixa, a grande flexibilidade de
horários, formas, intensidades, modos e ritmos de prática – variáveis ao gosto dos
praticantes –, a originalidade e criatividade, a troca do paradigma do esforço pela
perspectiva do prazer sensório-motor e as fortes componentes de aventura e
sensação são, segundo Miranda, Lacasa e Muro (1995), as características
correntes a todo o conjunto de actividades que aqui estudamos, e que têm como
denominador comum a sua prática num ambiente natural, proporcionador de uma
estreita dialéctica com a natureza (Pereira e Monteiro, 1995: 111). O que
procuramos neste capítulo é a breve caracterização do nosso objecto de estudo,
importante para o seu pleno entendimento e para a melhor compreensão das suas
questões e temas de interesse.
São as Actividades de Aventura, as Actividades de Ar Livre ou Desportos
Sliz – o problema da terminologia será abordado um pouco mais à frente – cuja
génese ocorreu, atendendo às ideias de Domingo (1991), Betrán e Betrán (1999)
e Rico (2002), durante a década de 1960, tendo uma forte difusão nas tendências
sociais das décadas de 1970 e 1980. Na opinião dos autores supracitados, as
primeiras modalidades deste âmbito terão surgido na costa oeste dos Estados
Unidos da América – com o nascer de novas práticas na natureza e o reformular
de antigas actividades praticadas no meio natural –, sendo importadas depois para
o resto das sociedades economicamente avançadas.
As suas origens são diversas e dependem de cada modalidade em
concreto. O seu palco são os principais meios físicos conhecidos ao homem –
Desenvolvimento do Problema
18
aéreo, terrestre ou aquático (Betrán e Betrán, 1995b; Guzmán, 2002; Melo, 2003)
– e como modalidades podem ser referidas: Asa Delta, Parapente, Queda-Livre,
Base Jump, Bicicleta Todo-Terreno, Cicloturismo, Street Luge, Ski, Snowboard,
Passeio Pedestre e Equestre, Montanhismo, Trekking, Orientação, Espeleologia,
Escalada, Mergulho, Surf, Body-Board, Wakeboard, Windsurf, Rafting, Canoagem,
Hidrospeed e Canyoning, entre muitas outras (Betrán e Betrán, 1995b; Funollet,
1995; Guzmán, 2002; Melo, 2003).
Para Costa (2006), como seus atributos particulares, são evidenciados: o
risco e a incerteza associadas à aventura, o desenvolvimento articulado com a
expansão das novas tecnologias, a concepção recreativa em oposição à
competição clássica das práticas desportivas tradicionais e a sua relação próxima
com a natureza. Na opinião de Melo (2003), estas podem mesmo definir-se
simplesmente pelo meio em que se praticam – necessariamente um ambiente
natural ou um local de paisagem humanizada mas de forte componente natural –
que ajuda a estabelecer – pela sua imprevisibilidade e características – o risco e
aventura que lhes são inegáveis (Holyfield, 1999; Costa e Correas, 2005).
As forças e condições totalmente imprevisíveis que oferecem, o risco e a
aventura (Krein, 2007), são o motor principal destas práticas, que se baseiam no
aproveitamento das energias livres (Betrán e Betrán, 1995a; Guzmán, 2002) para
proporcionar todo o leque de sensações – mergulho, vertigem, velocidade,
desequilíbrio, quedas, deslize, incerteza, liberdade e adrenalina (Guzmán, 2002;
Marinho, 2004) –, que as tornam tão apelativas e procuradas. Desta forma, a sua
essência é muitas vezes entendida como uma oposição entre o ser humano e o
meio natural – pelo confronto que se origina entre o indivíduo e as forças –,
embora a perspectiva mais sensata deva considerar o praticante em comunhão
com a natureza (Costa e Correas, 2005).
Para alguns autores, a dimensão da aventura a que nos referimos não
deixa de ser imaginária ou simbólica (Feixa, 2002; Marinho, 2004) – esta é uma
temática que mais tarde abordaremos, num capítulo inteiramente dedicado ao seu
Desenvolvimento do Problema
19
estudo – e a relação entre o nosso objecto de estudo e as novas tecnologias é
mais do que evidente (Betrán e Betrán, 1995a).
O que parece ser um facto é que os novos desportos surgem associados
aos paradigmas da realização pessoal, melhoria da qualidade de vida e
hedonismo, deixando para trás as condições fundamentais do rendimento,
esforço, tensão, competição e procura de marcas de maior performance,
características do desporto clássico (Domingo, 1991; Betrán e Betrán, 1995a e
1995b; Miranda et al., 1995). A motivação do desportista está contida no próprio
exercício físico e nas sensações que a sua prática produz, sendo desnecessária
outra justificação para a sua procura, que não a satisfação produzida pela acção
(Guzmán, 2002).
Como foi anteriormente referido, é importante mencionar a existência de
uma infinidade de termos que pretendem designar e caracterizar estas práticas
(Marinho, 2004, p:51). Esta parece ser uma questão premente e que nos
proporciona todo um quadro de problemas, associados à dialéctica dos autores e
investigadores, bem como à etimologia dos termos envolvidos e à multiplicidade
de formas de interpretação que os mesmos comportam em si ao longo dos
tempos.
Marinho (2004) escolheu o conceito “Atividades na Natureza” procurando
esclarecer os equívocos – existentes do seu ponto de vista – manifestados pelo
emprego de termos como desporto – pela falta de institucionalização e
burocratização destas práticas – e radical – explicando que uma caminhada pelo
bosque pode ser meramente tranquila. Na mesma perspectiva, Funollet (1995)
nega os conceitos de Aventura – por considerar que a mesma é uma concepção
muito subjectiva – e de Risco – por considerar que este limita à partida o público-
alvo passível de ser aliciado. Para Guzmán (2002), a aquisição de características
próprias por parte de algumas das actividades, justifica a necessidade de procurar
aglutinar as mesmas em grupos com distintas terminologias – no caso do autor, os
Desportos de Sliz.
Desenvolvimento do Problema
20
Com base nos trabalhos de autores como Betrán e Betrán (1995b), Funollet
(1995), Miranda et al. (1995), Fernández (2002), Guzmán (2002), Marinho (2004),
Costa e Correas (2005) procuramos apresentar uma lista das denominações
propostas ao longo do tempo, bem como esclarecer as suas interpretações ou as
causas que levaram ao seu uso. Desta forma e segundo os autores supracitados,
são ou foram nomenclaturas sugeridas, as seguintes:
- Novos Desportos: conceito proposto numa tentativa de destacar, nestas
novas práticas, um carácter inovador e estruturalmente distinto do verificado na
concepção clássica do Desporto;
- Desportos Californianos: termo proposto numa clara tentativa de
estabelecer a relação com a origem de algumas das actividades em causa;
- Desportos Fun: conceito que estabelece uma clara e objectiva relação
com o divertimento que tais práticas proporcionam;
- Actividades Outdoor, Actividades (Físicas) na Natureza e Desportos na
Natureza: conceitos que procuram claramente enfatizar o local ou meio no qual as
práticas se desenvolvem;
- Actividades Físicas de Aventura, Desportos de Aventura, Desportos de
Risco, Desportos Radicais e Extreme Sports: termos que referenciam e dão
enfoque à incerteza, risco e perigo físico objectivado;
- Desportos Selvagens e Desportos em Liberdade: conceitos que remarcam
o carácter natural, libertador e incerto, característico das práticas alvo, em ruptura
com a estrutura e civilização dos Desportos da modernidade;
Desenvolvimento do Problema
21
- Desportos Tecnológicos e Desportos Tecno-Ecológicos: termos que
procuram estabelecer uma clara referência à simbiose entre tecnologia e o objecto
de estudo;
- Actividades Deslizantes, Desportos Glisse e Desportos de Sliz: termos
que procuram enfatizar o deslizamento como a forma fundamental de
deslocamento nestas actividades, cuja principal energia de propulsão advém das
próprias forças da natureza.
A lista previamente apresentada estaria incompleta sem a inclusão de
outras terminologias que foram surgindo – referenciadas pelos mesmos autores –
e que agrupam em si conceitos anteriormente referidos. São exemplos:
Actividades Físicas de Plena Natureza e Actividades Desportivas no Meio Natural
– ainda no contexto de ênfase ao meio de prática; Actividades de Desafio na
Natureza, Actividades de Aventura no Ar Livre e Actividades Desportivas de
Recreio e Turísticas de Aventura – no contexto da procura de sensações;
Actividades Deslizantes de Aventura e Actividades Deslizantes de Aventura e
Sensação na Natureza – no contexto dos Desportos de Sliz.
A juntar a este extenso reportório, devemos ainda considerar um importante
leque de denominações, mais recentes, abordadas por vários autores e muito bem
evidenciadas por Pereira e Félix (2002), que não servindo directamente para
nomear o nosso objecto de estudo, acabam por a ele se relacionar. Segundo as
autoras, pode ser considerado natural que também as novas formas de turismo
incluam actividades vinculadas à natureza, dando origem a denominações como
Turismo de Natureza, Eco-Turismo ou Turismo Aventura – este tema será
posteriormente desenvolvido no nosso estudo.
Existem duas denominações que, pelo seu frequente uso nos trabalhos
mais recentes, não poderão deixar de ser analisadas. São elas: Actividades
Físicas de Exploração da Natureza (AFEN) e Actividades Físicas de Aventura na
Natureza (AFAN).
Desenvolvimento do Problema
22
O conceito de AFEN é clarificado por Constant (1994, cit. Pereira e
Monteiro, 1995: 111 e Guilherme, 2004: 16), que nos explica que as Actividades
Físicas de Exploração da Natureza caracterizam-se por movimentos realizados
com ou sem engenhos, num meio natural, complexo, variado e por vezes variável,
com controlo de eventuais riscos. Segundo Pereira e Monteiro (1995), no âmbito
das AFEN podemos encontrar um leque variado de actividades, que se estende
da corrida de orientação e passeios pedestres ao surf e escalada. O termo AFEN
é utilizado no Currículo Nacional do Ensino Básico1 e nos Programas Nacionais de
Educação Física2 pelo Ministério da Educação, incluindo nos mesmos e como
conteúdos temáticos: a Canoagem, o Cicloturismo, o Golfe, o
Montanhismo/Escalada, o Tiro com Arco, a Prancha à Vela, a Vela e o
Campismo/Pioneirismo (Jacinto et al., 2001; Maria e Nunes, 2007).
Pereira e Monteiro (1995) são peremptórios em referir, como valores
fundamentais das AFEN, as fortes componentes de incerteza, conquista e
liberdade – propícias à emoção e aventura, que criam situações específicas de
aprendizagem, apaixonantes para os jovens. Estas fortes componentes de risco e
aventura são apropriadas de forma muito mais evidente no segundo termo que
aqui analisamos, este aparentemente em voga no vocabulário dos investigadores
e autores da área.
Referimo-nos às AFAN, conceito apresentado pela primeira vez por Betrán
e Betrán em 1994, no Congresso Nacional de AEISAD (Betrán e Betrán, 1995a).
Segundo os autores, as AFAN devem ser entendidas como aquelas
actividades físicas de tempo livre que buscam a aventura imaginária – emoções e
sensações perspectivadas como hedonistas e fundamentalmente individuais –,
numa relação com o ambiente ecológico ou natural, situadas e em comunhão com
os valores da Pós-Modernidade. Com o recurso à expressão Actividade Física, os
autores procuram a ruptura com o termo Desporto – que consideram
1 Ver Currículo Nacional do Ensino Básico – Competências Essenciais 2 Ver Programas de Educação Física estipulados para 1º, 2º e 3º Ciclo do Ensino Básico
Desenvolvimento do Problema
23
regulamentado, institucionalizado, competitivo e profundamente associado aos
valores da modernidade –, surgindo o conceito de Natureza numa referência ao
meio comum de prática das actividades. Este meio é ainda salientado como um
dos factores de grande popularização das práticas, pela necessidade de evasão
do meio urbano e escape do quotidiano habitual, mas fundamentalmente pela
resposta emocional que o praticante sente na sua prática – liberdade, sentimento
ecológico, paz, harmonia ou por vezes desequilíbrio e vertigem.
Feixa (2002), optando igualmente pela terminologia AFAN, procura realçar
a dimensão imaginária ou simbólica da aventura – cenário para a gestão
controlada das emoções, nas quais as acções se subordinam às percepções e os
riscos reais aos imaginários –, exacerbando a opinião de Betrán e Betrán (1995b),
que embora afirmando uma tendência geral para a supressão do conceito de
aventura – uma vez que o público-alvo pode sentir-se intimidado pelo factor risco –
, aplicam o termo na sua nomenclatura, reconhecendo importância à busca de
sensações inerentes à prática de tais actividades.
Independentemente das dificuldades sentidas na escolha de uma
nomenclatura ou denominação geral e universalmente aceite, os trabalhos sobre
as Actividades de Ar Livre – ou qualquer outro conceito que se pretenda usar –
multiplicam-se e confluem para tópicos de interesse.
Embora o espólio terminológico existente seja muito vasto, os trabalhos
mais recentes têm optado pela terminologia de AFAN – como é o caso de Costa
(2006), Cunha (2006), Mota (2006) e Resende (2006) –; conceito bem estruturado
mas obviamente passível de críticas por parte de outros autores e investigadores.
Parece-nos admissível observar que este universo carece de uma terminologia
universal e de concordância, facto que facilitaria a definição do objecto de estudo,
bem como a organização da globalidade dos trabalhos na sua temática.
Apesar da sua nomenclatura ser discutível, parece concreto que o tipo de
actividades que aqui estudamos, surge hoje como oferta plural a um público
diversificado, sendo o aumento do número de praticantes estabelecido como uma
das suas principais características (Rico, 2002). Esta ideia é abordada por
Desenvolvimento do Problema
24
Fernández (2002), que afirma que o Desporto Aventura – há muito praticado
apenas por uns quantos “loucos e aventureiros” – se estende agora a um novo
público-alvo, que busca o risco e prazer da aventura, convertendo-se num objecto
de consumo de massa.
Embora tópicos de interesse, a busca do risco, da aventura e a perspectiva
do consumo estão longe de ser as únicas razões que justificam o aumento do
número de praticantes, sendo este incremento hipoteticamente justificável por um
vasto conjunto de razões que legitimam a prática e que analisaremos no capítulo
subsequente. O que é certo é que, parecemos estar perante o afirmar cada vez
mais seguro da natureza como cenário pretendido para as actividades
desportivas, num espaço que se pretende aberto e cuja variabilidade se contrapõe
à clausura do quotidiano (Pereira e Félix, 2002).
A variedade de contextos no qual a prática é procurada serve, por agora,
para nos permitir entender a vastidão cada vez mais notória do público-alvo
objectivado. Segundo os peritos, os praticantes procuram as Actividades Físicas
na Natureza em três âmbitos distintos: o pedagógico ou educativo, o competitivo e
o turistico-recreativo (Bétran e Bétran, 1999; Rico, 2002). Com campos tão
distintos e aos quais se relacionam objectivos tão díspares, é no mínimo lógico
que se considere o alargar do número e das características dos consumidores
envolvidos como um facto.
Como referimos anteriormente, os conteúdos curriculares do sistema
educativo começam a dar importância às actividades desenvolvidas no meio
natural para o desenvolvimento e formação de valores ambientais. Thomas e
Raymond (1998), esclarecendo que muitas instituições escolares não perdem a
oportunidade de proporcionar aos seus alunos experiências e viagens de estudo
temáticas, referem-se à importante função das actividades ditas de aventura na
educação e formação das crianças, expondo brevemente o seu relevante papel na
aquisição de objectivos como consciência ambiental e a sua potencialidade para o
desenvolvimento social e pessoal. Pereira e Monteiro (1995) e Guilherme (2004)
evidenciam bem a importância da presença de conteúdos deste género nos
Desenvolvimento do Problema
25
programas de Educação Física Escolar e Nichols (2000), que se foca no conceito
de educação aventura, aviva o seu potencial para o crescimento pessoal das
crianças e jovens, esclarecendo a sua possibilidade para a formação de adultos.
Todo o conjunto de indivíduos que procuram o meio natural para participar
em algum tipo de competição ou evento desportivo, pode ser englobado no âmbito
competitivo ou profissional referido por Rico (2002). Aparentemente, também este
grupo parece ter tendência a um crescimento – utilizemos a título de exemplo a
exposição de Silva (2003) sobre o sucesso das Corridas de Aventura em Portugal,
ou a de Leite, Vinha e Almeida (2002) sobre as Corridas de Orientação. Mas como
refere Palmer (2002), o número cada vez maior de praticantes atraídos pelos
Extreme Sports varia entre o dos “adeptos hard-core” – completamente fundidos
com o estilo e conhecimento técnico da sua disciplina preferida – e o dos
“guerreiros de fim-de-semana” – que não praticam e possuem pouco domínio
técnico.
Para além dos paradoxais “atletas profissionais” das actividades de lazer, a
imagem do atleta consumidor – comprador de experiência – é cada vez mais
usual, muito pela crescente oferta de produtos por parte das empresas de
animação turística (Betrán e Betrán, 1999). Já não é apenas uma minoria,
dominadora de técnicas desportivas especializadas, a que procura os espaços
naturais, sendo cada vez mais amplo o extracto de população que acede a estes
meios, sem possuir uma estupenda forma física e domínio técnico prodigioso
(Rico, 2002). Segundo Pereira e Félix (2002), não é estranho que se verifique a
vinculação entre este tipo de actividades e as novas formas de turismo activo e,
como nos expõe Costa (2003), são cada vez mais as entidade turísticas que se
associam às empresas de Desportos Aventura, para satisfazer as necessidades e
desejos dos seus clientes. Segundo a opinião da Confederação de Turismo
Português (CTP, 2005), os “consumidores” do Ecoturismo e do Turismo Aventura
são geralmente indivíduos com mais de 30 anos, aproximadamente na faixa etária
dos 40, ainda que também se encontrem viajantes na faixa dos 40-60 anos de
idade.
Desenvolvimento do Problema
26
Podemos então afirmar que, o espectro do actual público-alvo do nosso
objecto de estudo é vastíssimo. Para Rico (2002), são os jovens e adultos de nível
socioeconómico médio-alto os principais demandantes das Actividades de
Aventura na Natureza, representando as crianças, idosos e populações especiais
fracções menos evidentes desse espectro. No entanto, como tivemos a hipótese
de compreender, aquela que parecia a loucura de uns poucos, converte-se na
dedicação e paixão de muitos, que cada vez mais numerosos constituem um
grupo onde não há tendência a marginalizar raças, sexos, medidas
antropométricas, estados físicos ou idades (Betrán e Betrán, 1999).
O nosso objecto de estudo é complexo. O seu sucesso e afirmação são
inegáveis e o crescente público-alvo que lhe surge vinculado é prova visível desse
facto – quer se entenda como causa, quer como efeito. São muitas as suas
características, variando do meio especificamente distintivo onde ocorrem à
multiplicidade de sensações e sentimentos que podem proporcionar. É uma
miríade de termos a que o pretende nomear ou identificar, circunstância que
dificulta o seu estudo e o escrutínio lógico da sua essência.
Durante esta breve caracterização, algumas das propriedades específicas
das actividades aqui em causa foram abordadas escassamente e de forma subtil,
entenda-se, pela sua coerência com outras partes do nosso trabalho onde lhes é
atribuída evidente importância e reflexão.
Entendendo um pouco melhor o nosso objecto de estudo e a sociedade em
que se engloba, importa agora entender a interacção ou conjunção verificada, que
leva à adesão e eleição deste tipo de actividades por parte da população.
Desenvolvimento do Problema
27
2.1.3 Razões da procura e afirmação
Nuevos tiempos, nuevos costumbres,
nuevos usos, nuevos hábitos, nuevas
demandas y nuevas ofertas (...)
(Betrán e Betrán, 1995a: 17)
Como foi anteriormente analisado, foi a plena identificação das Actividades
Físicas de Aventura na Natureza com os valores e atitudes da Pós-Modernidade,
que permitiu a sua progressiva integração na nossa sociedade de consumo e
serviços (Betrán, 1995). As modificações económicas, sociais e políticas do século
passado – das quais emergem valores como o hedonismo, o consumismo, o
individualismo, o gosto pelo risco, a superação e exaltação, a busca das origens e
subsequentes buscas da natureza e dos valores ecológicos – levaram a uma
crescente procura das actividades de ócio, desportivas e na natureza (Pereira e
Félix, 2002). Os “Novos Desportos” aparecem associados aos paradigmas da
auto-realização, livre expressão, afirmação e melhoria da qualidade de vida
(Domingo, 1991; Betrán e Betrán, 1995a e 1995b; Miranda et al., 1995) e, como
veremos neste capítulo, são várias as razões que conduzem à sua procura e
contribuem para a sua cada vez mais evidente afirmação.
O risco físico e o contacto directo com a natureza, que faziam parte do
quotidiano habitual das sociedades pré-industriais, sendo ritualizados, vividos em
contexto de guerra, de festa ou subsistência, tornavam desnecessária a criação de
cenografias especiais para a gestão controlada das emoções (Feixa, 2002). Hoje
são menos frequentes e mais reprováveis a forte excitação colectiva e individual,
as explosões incontroladas e as suas manifestações públicas, a menos que
expressas num cenário socialmente aceite (Elias, 1992). A vida nestas sociedades
industriais modernas caracteriza-se, entre outros, pelos excessos de
regulamentação e de sentimento de segurança, que originam monotonia e falta de
surpresas, levando assim à perda de emoções e sensações e a uma diminuição
Desenvolvimento do Problema
28
da gratificação e satisfação em respeito à própria conduta (Heinemann, 1994;
Costa e Correas, 2005). Para trás ficou a época em que, para ser digno da sua
própria humanidade, o homem devia aperfeiçoar-se e progredir através do
trabalho – usando o mesmo como forma de aprendizagem ao respeito pela própria
vida, de aquisição de qualidades morais, fortificação da saúde, vontade e
perseverança – e tem agora lugar uma era na qual é necessária a “paixão da
mudança”, o gosto pela iniciativa, pelo risco e pelas experimentações ultra-rápidas
(Lipovetsky, 1994:142). Vivemos um tempo cronometrado, comprado, calculado e
compulsivo, até por vezes nos momentos de lazer (Marinho, 2004). Vivemos numa
cidade de betão – de urbanização desregrada, com zonas marginalizadas, novos
focos de pobreza e exclusão, aumento do tráfego, degradação dos espaços
públicos, elevados índices de poluição e excesso de mecanicismos (Pereira e
Monteiro, 1995; Constantino, 1997) –, vivemos o cansaço, o stress, contaminação
e ruídos que a caracterizam (Fernández, 2002), e vivemos preocupados com a
sua incompatibilidade com o homem no plano ecológico, antropológico e social – a
relação cidade-cidadão é uma afinidade de aperto e constrangimento, com o
desejo de divórcio baseado na fuga para a natureza (Bento, 1997).
A vida ao ar livre – por intermédio das Actividades na Natureza – passa a
ser encarada pelo homem como espaço privilegiado para o aproveitamento do
tempo de lazer, como “válvula de escape” do quotidiano repetitivo e maculado,
como resposta à necessidade de reencontro com a natureza – a “sua natureza” –,
como momento socialmente aceite para a vivência e expressão de excitação, local
para procura de novas sensações, aventuras e emoções, perdidas no meio urbano
e social actuais (Elias, 1992; Pereira e Monteiro, 1995; Rico, 2002; Chao, 2004;
Costa e Correas, 2005). O descobrimento de um novo meio, desconhecido e
misterioso, apenas domesticado, desprovido das comodidades habituais, permite
a fuga da rotina quotidiana e da cidade viciada, a procura da satisfação associada
à estimulação emocional carregada de tensões agradáveis, a superação do tédio
diário (Feixa, 2002; Costa e Correas, 2005) e até a adesão a uma moda ecológica,
que se associa ao consumo da natureza (Chao, 2004).
Desenvolvimento do Problema
29
Muitos praticantes experimentam os desportos de Natureza por mera
curiosidade, ou porque as chamadas “actividades radicais” ou “de aventura” estão
na moda (…) outros encaram a actividade como um desporto como outro
qualquer, desprezando tanto os riscos pessoais e ambientais, como as
potencialidades educativas (Melo, 2003:16). No entanto, para os indivíduos
verdadeiramente interessados em actividades desportivas, a interacção
potenciada pelos Desportos de Aventura entre o ser humano e o mundo natural é
valorosa, pelas experiências excepcionalmente atléticas que proporciona – umas
das principais atracções destas práticas é a oportunidade de ter um oponente tão
extraordinário como uma onda de 10 metros ou um pico de 8000 metros de altura
(Krein, 2007). Para além de tudo isso, as novas actividades que envolvem risco
podem ainda oferecer ao seus praticantes, de forma consciente ou não, um
sentido de identidade pessoal que a sociedade em crise de valores já não lhes
confere (Almeida, 1997), uma hipótese de crescimento e desenvolvimento pessoal
(Costa e Correas, 2005) e de controlo e responsabilidade sobre a própria
existência (Krein, 2007).
Como explicam Miranda et al. (1995), são múltiplos os factores que
justificam os fenómenos de crescimento e consolidação destas práticas físicas e
desportivas no contexto social actual, factores que passamos a analisar tendo
como referência os trabalhos de Betrán (1995), Betrán e Betrán (1995b), Miranda
et al. (1995), Pereira e Monteiro (1995), Feixa (2002), Pereira e Félix (2002) e Rico
(2002):
- A vasta gama de actividades existentes – quase ao gosto e desejo do
consumidor – e a alternativa viável que constituem aos modelos desportivos
tradicionais – ainda mais pela harmonia com os valores da Pós-Modernidade –
levam cada vez mais os cenários naturais a destacar-se como espaços para o
aproveitamento do tempo livre dos indivíduos, libertos das suas obrigações
quotidianas;
Desenvolvimento do Problema
30
- A grande flexibilidade destas actividades permite-lhes chegar até grupos
de consumidores muito diferenciados – entre os quais se destacam,
especialmente, os aderentes à sub-cultura juvenil e os aspirantes a “sempre
jovens” – público-alvo crescente que contribui para o aumento de procura destas
práticas;
- As sensações e emoções que suscitam, o sentimento de liberdade e
prazer que proporcionam, o simbolismo que lhes é inerente, a necessidade
mínima de institucionalização e de regularidade de prática, contribuíram
exacerbadamente para a sua grande popularidade, a qual foi ainda mais
fortalecida pela resposta empresarial que permitiu ao praticante obter um serviço
total com o mínimo de preocupações ou conhecimentos;
- Os avanços tecnológicos – que permitiram optimizar os materiais,
equipamentos e artefactos necessários – tornaram mais simples e seguro o
acesso a estas práticas;
- A crescente adesão às actividades relacionadas com a natureza, seguida
de perto pelos agentes económicos e pelos media que nela encontram mais uma
forma de incremento das relações de consumo, criou uma moda do natural, à qual
não escapa o turismo activo – relação de recíproca publicitação e fortalecimento;
- Este tipo de práticas – que apresentam características muito próprias e
diferenciadas – fazem delas modelos de educação por excelência, contribuindo
para a sua crescente procura no contexto da formação e instrução.
A forte necessidade de sensações e emoções (Pereira e Monteiro, 1995;
Miranda et al., 1995; Feixa, 2002), aparentemente perdidas ou minimizadas numa
urbanização demasiado poluída, regrada e mecanizada (Marinho, 2004; Costa e
Correas, 2005), são, sem dúvida, grandes factores de influência para o
aparecimento e consolidação das actividades realizadas em exploração e contacto
com o meio natural (Costa e Correas, 2005), até porque este divórcio, e
prossecução da vontade e necessidade individual, acabam por ter profunda
relação com as dinâmicas e valores da nossa sociedade.
Desenvolvimento do Problema
31
Entre os vários agentes que contribuem para a sua popularidade,
destacamos: as fortes actividades empresarial e comercial que orbitam em torno
deste fenómeno e o surgimento e afirmação das novas formas de turismo activo,
que acabam por demonstrar estreita ligação com as nossas actividades.
Depois de conhecida a realidade da nossa sociedade, entendido o nosso
objecto de estudo e abordada a dinâmica entre ambos – analisada sob a forma de
razões que incentivam e condicionam a relação – consideramos importante, até
para consolidação da investigação de alguns temas já analisados, estudar as
grandes questões associadas ao nosso objecto de estudo, que representam
plenamente os problemas sociais e a forma como a prática aqui objectivada
oferece interacção com os mesmos.
Desenvolvimento do Problema
33
2.2 Temas de interesse na investigação do objecto de estudo
2.2.1 Aventura: sensações e necessidades
Actualmente, la prática deportiva en el
médio natural se llama de forma genérica
deportes de aventura, y a veces deportes
de riesgo.
(Funollet, 1995: 125)
O nível e tipo de risco presenciais – substancial hipótese de lesão ou
mesmo morte para o praticante – continuam a ser para muitos, características
definitivas ou pelo menos conceitos intimamente associados ao nosso objecto de
estudo (Holyfield, 1999; Palmer, 2002; Varley, 2006; Jirásek, 2007; Krein, 2007) e,
no entanto, ou talvez por causa deste facto, a popularidade dos Desportos de
Aventura aumenta significativamente, fazendo crescer o número de adeptos do
extremo (Palmer, 2002; Jirásek, 2007).
Não deixa de ser verdade que os perigos inerentes a estas práticas
aparecem cada vez mais orientados e conduzidos. Como nos explicam Betrán e
Betrán (1999), a notoriedade da oferta empresarial associada a estas
experiências, tem, paradoxalmente, a sua sustentação na busca e fornecimento
da maior segurança possível nas suas práticas, estabelecendo o risco como uma
dimensão imaginária (Feixa, 2002). Até os atletas e aficionados despendem de
enormes esforços para limitar o risco das suas actividades, recorrendo a materiais
específicos e ao desenvolvimento de conhecimentos e capacidades, com o
objectivo de tornar o ambiente o mais seguro possível (Krein, 2007). Mas, apesar
da retórica que sugere que estas actividades são desportos sem azares ou
perigos, as coisas podem correr e, por vezes, correm mal (Palmer, 2002).
O que procuramos entender neste capítulo são os verdadeiros valores e
dimensões do risco, da emoção e das sensações intrínsecas às Actividades de
Aventura, analisando igualmente as razões que levam à procura da ocupação do
tempo de lazer com práticas, notória ou subjectivamente, perigosas.
Desenvolvimento do Problema
34
Nas sociedades avançadas do nosso tempo, muitas profissões, relações
privadas e actividades dependem do autocontrolo individual, sendo limitado o
campo existente para a demonstração de fortes sentimentos, emoções e impulsos
(Elias, 1992). São sociedades nas quais a vida dos indivíduos se encontra muito
regrada (Costa e Correas, 2005), nas quais não mais existe a necessidade de
esforço físico ou mental – substituídos por uma passividade preponderante que
tornou a vida em algo automático e que não requer a actuação humana (Lewis,
2001). Sociedades nas quais tendemos a considerar as emoções como
expressões do nosso Eu privado e interior (Sharpe, 2005) e onde é exacerbado o
poder sobre a própria vida, que ao ser perfeitamente incontestado acaba por privar
os cidadãos da sua própria percepção de auto-determinação (Møller, 2007). Como
refere Baudrillard (1995), de forma a resolver a contradição entre a moral puritana
e a moral hedonista, importa que a tranquilidade da esfera privada surja como
valor disputado, constantemente ameaçado, rodeado por um destino de
catástrofe. É precisa a violência e a inumanidade do mundo exterior para que a
segurança não só se experimente como tal, com maior profundidade, mas também
para que se sinta justificada em escolher-se a si mesma em cada momento.
Segundo o autor, nesta concepção, é fundamental a acção dos media, que
bombardeiam o “consumidor” com informação e factos, embora – como veremos –
a solução possa também ser proporcionada pela vivência de aventuras.
Paradoxalmente, nesta mesma era, a vida vai ficando mais dura e arriscada
no sentido existencial e temos tendência a influenciar as crianças, jovens e
adultos, a tornarem-se mais suaves, menos tolerantes à dor, a lesões e problemas
de stress (Breivik, 2007). Pode ser verdade que, como já referimos, nunca antes
na história tantas pessoas viveram tão relativamente livres de riscos – em termos
financeiros, na perspectiva da saúde e da segurança militar (Møller, 2007), tal
como nos expõe Lewis (2001), ao exacerbar que até a morte foi transformada em
algo irreal, num evento de puro e extraordinário azar, por oposição a algo
inevitável e universal. No entanto, não deixa de ser verdade que, nas sociedades
contemporâneas ocidentais, o conceito de risco ocupa o quotidiano (Beck, 2000;
Desenvolvimento do Problema
35
Giddens, 2000) e que nos últimos anos se têm vindo a intensificar os discursos
emergentes das diversas áreas do saber (ciências sociais incluídas) sobre a sua
natureza e efeitos na vida da população (Tulloch e Lupton, 2003). Podemos,
assim, afirmar que o clima de segurança de que se desfruta, nunca antes na
história foi observado (Costa e Ferreira, 2000), mas que quando comparamos a
nossa situação com a que se viveu em períodos mais remotos, o conceito de risco
assume uma importância nova e peculiar, não definindo a nossa época como mais
perigosa do que as anteriores, mas como uma na qual o equilíbrio entre estes e os
perigos se alterou (Giddens, 2002).
Neste mundo – controlado, planificado e ao mesmo tempo de risco real –,
no qual a manifestação de emoções espontâneas se vê fortemente limitada por
um conjunto de restrições sociais e culturais (Costa e Correas, 2005), a maioria
das sociedades encontrou, segundo Elias (1992), uma contramedida de oposição
às tensões que elas próprias conceberam – enquanto as rotinas públicas ou
privadas da vida exigem perfeito domínio sobre estados de espírito, impulsos,
afectos e emoções, as ocupações de lazer autorizam-nas a fluir livremente num
quadro especialmente criado. Segundo o mesmo autor, de forma simples ou
complexa, as actividades de lazer proporcionam a erupção de sentimentos
agradáveis, frequentemente ausentes nas rotinas habituais, originando – mais do
que a libertação de tensões – a renovação da tensão necessária à saúde mental:
tensão-excitação.
Frequentemente encontradas no mundo do lazer, as aventuras, que podem
ser consideradas um tipo de situação marginal – caracterizada como um estado
corporal em que acontece a contestação de todas as definições socialmente
objectivadas da realidade e que fornece a hipótese de testemunhar e antecipar a
própria (e a alheia) mortalidade (Lewis, 2001) –, bem como um tipo de resistência
aos constrangimentos da desumanização da modernidade (Holyfield, 1999),
fornecem resposta a muitas das necessidades presentemente em evidência na
nossa sociedade. A paixão pela sua busca é tão velha como a própria espécie.
Romper com o quotidiano, com a norma, com o costume e o estabelecido, é um
Desenvolvimento do Problema
36
desejo inconfesso do mortal na sua busca por algo extraordinário na vida e por
algo que possa ser narrado aos seus pares (Bétran e Bétran, 1999).
Quando discorremos sobre a Aventura, não podemos deixar de analisar as
perspectivas de Simmel (1997), para quem cada segmento da nossa conduta e
experiência carrega um duplo significado, simbolizando quer a imediata
experiência que proporciona, quer uma parte do decurso da nossa vida. Eventos,
embora similares, podem possuir diferentes significados no contexto da vida como
um todo, ou, eventos, com distintos significados intrínsecos, podem representar
papéis similares na continuidade da nossa existência. Segundo o autor, as formas
mais comuns de aventura caracterizam-se pelo fornecimento de quebras com a
continuidade da vida, sendo detentoras de um significado mais profundo, dada a
sua ocorrência além do usual desenlace quotidiano. Colocada fora do contexto
significativo da vida como um todo – como uma memória que é unida à realidade
por menos fios do que os da experiência ordinária –, a aventura pode ser vista
como uma ilha na existência, cujos limites são muito mais evidentes do que os da
experiência vulgar. Para o autor, falamos de aventura, precisamente, quando a
continuidade da vida é desconsiderada em princípio, ou quando nem se verifica a
necessidade dessa desconsideração, pela certeza de lidarmos com algo intocável,
fora do comum e inusual.
Subjectiva e controversa, a experiência da aventura apresenta, também, um
aspecto fundamental na sua relação com a emoção (Sharpe, 2005), sendo
aparentemente criada quando os riscos são combinados com a incerteza dos
participantes de estarem ou não à altura de ultrapassar os obstáculos (Morgan,
Moore e Mansell, 2005). Entre as suas componentes, surgem as fortes
possibilidades de dano e desastre, cuja relação com a morte parece fornecer um
apelativo sorteio para muitos indivíduos modernos (Varley, 2006) – pois como nos
explica Pereira (2005) quando a ordem social se furta ao seu papel, é necessário
experimentar o risco no corpo, uma capacidade íntima de confronto com a morte,
sem fraquejar (p. 319).
Desenvolvimento do Problema
37
Verifica-se, na aventura, toda uma busca de sensações aprazíveis, que
permitam ao ser humano conhecer-se a si mesmo, na mesma medida em que
uma criança experimenta o novo mundo que a rodeia na sua infância – é todo um
processo de adaptação (Miranda et al., 1995). A busca da excitação, ou mais
especificamente das sensações, pode envolver, embora não obrigatoriamente, a
tomada de risco (Breivik, 2007) –, cuja aceitação é um dos requisitos da aventura
(Giddens, 2000).
Parece certo que existe um determinado risco em tudo o que fazemos
(Thomas e Raymond, 1998) – inseparável das ideias de probabilidade e incerteza
(Giddens, 2000) –, que a sociedade tende a associar a resultados negativos
(Nichols, 2000), mas cuja definição “oficial” representa como fenómeno neutro de
consequências potencialmente benéficas ou contraproducentes (Tulloch e Lupton,
2003). A vida moderna encoraja a procura de conforto e segurança, mas
aparentemente o ser humano, que quer essa segurança, controlo e previsibilidade
em muitas das áreas da sua vida, procura também os riscos – previsíveis,
controlados, dominados e com os quais lida através das aptidões e competências
–, de forma relevante e considerada racional em determinadas condições (Varley,
2006; Breivik, 2007). Parecemos ter uma besta interior, que por vezes e em
determinadas circunstâncias nos transforma em thrill seekers, que não só aceita o
risco, como o procura (Breivik, 2007).
A teoria do risco é presumivelmente a concepção mais comum para a
justificação da adesão da população aos Desportos Aventura, em grande parte
porque esta se distingue como a característica mais evidente que as actividades
partilham (Krein, 2007) – a constante incerteza e a inexistência de rotina, tornam
impossível a sua remoção das mesmas (Branco, 2002; Krein, 2007) e este pode
surgir numa de duas componentes: mitigável pelas habilidades e experiência do
praticante, ou inerente à prática e incontrolável (Krein, 2007). Assim, os Desportos
Aventura, que oferecerem – senão a própria morte – um toque com o perigo e o
dano, um vislumbre no abismo e a experiência da mutabilidade do ser humano,
Desenvolvimento do Problema
38
poderão permitir ao mesmo tempo, o uso das habilidades e experiências, por parte
dos praticantes, para reforçar o sentido de controlo que refuta os mundanos e
alienados procedimentos do quotidiano, pela habilidosa negociação no fio da
navalha entre a aventura e a desventura (Varley, 2006). São sensações
aprazíveis, que se alcançam a cada dia e a cada nível de mestria, fruto da
instabilidade e insegurança que, quando vencidas, promovem a satisfação e a
auto-afirmação, convertendo-se em sensações de progresso, melhoria e
aprendizagem (Guzmán, 2002).
As práticas desportivas que envolvem o risco proporcionam, ao indivíduo,
um sentido de identidade pessoal que a sociedade em crise de valores já não lhes
confere (Almeida, 1997), tal como nos expõe Pereira (in press), que, ao referir-se
ao mundo do alpinismo, o caracteriza como um espaço privado que permite a
restauração da sensação de espontaneidade e crença no controlo pessoal.
Embora inseparável de muitas das actividades aqui em foco, a ideia de
arriscar a morte ou a lesão grave não é, segundo Krein (2007), o objectivo último
de adesão à pratica, até porque, como explica o autor, se o que o praticante
procura são os puros ímpetos de adrenalina associados ao perigo, existem muitas
actividades sobremaneira mais convenientes e menos dispendiosas em termos de
esforço e desenvolvimento de competências, capazes de as proporcionar. A
importância dada pelos participantes às condições de segurança e ao ambiente
natural, parece, assim, entrar em conflito com o papel do risco como motivador
para a participação em aventuras (Morgan, et al., 2005), tornando possível
equacionar a existência de uma medida de satisfação directamente relacionada
com a sensação de responsabilidade pela própria segurança e uma recompensa,
pela procura da prática, de fonte interna (prazer, alegria satisfação).
Breivik (2007) refere-se a uma teoria de homeostasia – que ajudaria a
entender a procura de perigos numa sociedade focada na segurança e no controlo
–, segundo a qual tendemos a procurar nas nossas vidas o oposto do que
sentimos – justificando desta forma a busca do risco, pelo excesso de restrições e
pela necessidade de quebras com a continuidade do quotidiano. Existem bases
Desenvolvimento do Problema
39
para acreditar que as Actividades de Aventura fornecem resposta a uma
necessidade fundamental – a necessidade de “estar em controlo” (Møller, 2007) –
e que para os atletas – em constante avaliação das suas habilidades, tentando
ampliá-las e superá-las (Krein, 2007) – o desafio é agora muito mais interno,
sendo o adversário a conquistar, o próprio ser, num acto de constante descoberta
do “eu” (Branco, 2002). A valorização do esforço parece catalisar a superação de
si próprio e a necessidade de ultrapassar obstáculos permitindo,
consequentemente, a realização de si (Pereira, 2005: 316). Esta realização
pessoal e superação individual contribuem para a afirmação pessoal e para a
construção de uma própria identidade – facto que poderia ser visto como uma
forma de transgressão, não fossem a construção e re-construção da própria
narrativa identitária, um dos imperativos da sociedade em que coexistimos
(Pereira, in press).
O ser humano procura, então, a aventura, numa tentativa de mitigar
algumas necessidades às quais a sociedade não oferece resposta. Nesta procura,
o homem encontra nos Desportos de Ar Livre uma forma de saciar algumas das
suas ânsias. No entanto, como nos explica Varley (2006), embora possamos
assumir que todos operamos na mesma concepção garantida do termo, as
diferentes personalidades, experiências e situações, fazem da aventura um
constructo infinitamente variável, maleável, fluido, subjectivo e actualmente
parecemos mesmo esquecer a metamorfose da sua versão “ideal”, para a sua
versão de produto “turístico com sabor a aventura”. De facto, temos de admitir
que, para alguns autores, a aventura inerente ao nosso objecto de estudo é
imaginária (Betrán e Betrán, 1995a), simbólica e fornecedora de emoções –
embora fundamentais na perspectiva do contexto social actual – limitadas,
controladas, de certa forma fictícias (Feixa, 2002: 33). Parece, assim, ser verdade
que o conceito de aventura associado a estas práticas tem realmente uma versão
apenas aromatizada com a autêntica essência do termo, facto que no nosso
entender parece associado à premissa de que a venda da extremidade trouxe
Desenvolvimento do Problema
40
mudanças fundamentais às dimensões sociais e simbólicas das Actividades
Aventura (Palmer, 2002).
A prática massiva das AFAN, bem como a lógica mercantil, tendem a
domesticar o risco, calculando-o, minimizando-o e promovendo-o como controlado
(Betrán e Betrán, 1999); as empresas que as comercializam fornecem a desejada
mistura de risco percebido e de organização, onde quase tudo é planeado ao
pormenor para minimizar os “azares” (Holyfield, 1999); a aventura torna-se um
acto mimético, uma dimensão simbólica ou imaginária, onde tudo está controlado,
previsto e tecnificado (Feixa, 2002) e este parece não ser um problema, pois ao
praticante é oferecida a emoção procurada. O êxito das AFAN é explicado pela
resposta que estas fornecem à necessidade que os indivíduos evidenciam de
deixar o mundo seguro e viver uma experiência de risco, embora com toda a
segurança possível, para sentirem a subida de adrenalina e o imenso prazer de
narrarem a façanha aos seus amigos e família (Betrán e Betrán, 1999). O risco
torna-se num factor mais aparente que real (Betrán, 1995), e é através da forma
como este é percebido que parece fluir a dimensão de perigo associada à
comercialização da Aventura, pois, como explica Hollyfield (1999), nem todos os
participantes procuram e exigem a verdadeira acção fatídica, sendo suficiente, por
vezes, apenas a sua aparência para a obtenção da glória e estatuto.
Numa reflexão do que até agora foi analisado, podemos afirmar que os
Desportos Extremos não se encontram marginalizados na nossa sociedade – não
representam somente uma menor classe das actividades motoras e não são
simplesmente uma questão de moda –; estes gozam do máximo de publicidade,
encontram-se no centro da reflexão do desporto e expressam muito claramente as
características da corrente pós-moderna – a crise das experiências, a frustração
existencial, a falta de sentido reflexivo da própria vida –, oferecendo situações que
nos obrigam a pensar de novo pelo significado que fornecem e que não
conhecemos historicamente (Jirásek, 2007).
Desenvolvimento do Problema
41
Embora há muito tendamos a entender as Actividades Outdoor como uma
profunda realidade, devemos aceitar que a autenticidade a que associamos a
experiência da aventura é um nosso constructo. Se esta é entendida como um
espaço para experimentar o real – as emoções genuínas e a essência do nosso
verdadeiro ser –, convém atender ao facto de que a progressão para a realidade
frequentemente descrita como Pós-Modernidade, tende a obscurecer a sua
própria performance (Sharpe, 2005).
Ansiedade existencial, bem como sentimentos de emoção e divertimento,
são fornecidos pela imprevisibilidade das escolhas inerente às actividades em foco
(Manning, 1999), que permitem o desenvolvimento de competências particulares
inexistente nas vidas demasiado rotinadas (Holyfield, 1999). O praticante, em
relação com o meio, procura, através do risco inerente às actividades físico-
desportivas na natureza, elaborar estratégias cognitivas e motoras que permitam o
seu desenvolvimento de modo “seguro” e fácil (Costa e Correas, 2005). Não é seu
objectivo deixar a sobrevivência ao sabor da fortuna ou jogar com a própria vida –
muito embora ao solicitar simbolicamente a morte, o indivíduo confira legitimidade
à existência (Pereira, 2005) –, mas procurar situações que permitam sentir o
controlo e responsabilidade pela própria vida, dependendo a sua continuidade dos
julgamentos e habilidades – no momento em que esta assumpção é adoptada, a
imagem de thrill seaker é alterada para a de atleta na busca do desenvolvimento
de capacidades para atingir objectivos mais árduos (Krein, 2007).
Na aventura abandonamo-nos ao mundo com menos defesas e reservas do
que em qualquer outra relação com ele estabelecida – deliciados por acidentes e
forças que nos podem destruir –, buscando estimulação emocional, novas
sensações e relações sociais, de forma justificada, lógica e numa quebra com a
rotina, e colocando, quer de forma subjectiva ou indiscutivelmente real, a
integridade corporal em jogo (Pereira e Monteiro, 1995; Simmel, 1997; Costa e
Correas, 2005).
Desenvolvimento do Problema
43
2.2.2 Consumo: sociedade e produto consumível
A indústria de massas requer um
consumo de massas. As sociedades
industriais modernas estruturam-se, ao
mesmo tempo, como sociedades de
consumo.
(Silva, 2002: 124)
À nossa volta, existe hoje uma espécie de evidência fantástica do consumo
e da abundância, criada pela multiplicação dos objectos, dos serviços, dos bens
materiais, originando como que uma categoria de mutação fundamental na
ecologia da espécie humana (Baudrillard, 1995:15). É a sociedade em que
vivemos, que não surge após ou em substituição da sociedade industrial, mas em
estreita ligação com esta, podendo ser empiricamente caracterizada pela elevação
do nível de vida, pela abundância de mercadorias e de serviços, pelo culto dos
objectos e dos lazeres, pela moral hedonista e materialista, e estruturalmente
definida como coisa particular pela generalização do processo de moda
(Lipovetsky; 1989; Silva, 2002).
O consumo é hedonista e regressivo, o seu processo é de absorção de
signos e absorção através de signos, o seu lugar é a vida quotidiana. Na sua era
generalizou-se a lógica da mercadoria, que regula hoje, não só os processos de
trabalho e os produtos materiais, mas a cultura inteira, a sexualidade, as relações
humanas e os próprios fantasmas e pulsões individuais (Baudrillard, 1995). É o
consumo como finalidade de vida, como obrigação incessante, muito pela acção
da publicidade e do processo de moda, que tornam os produtos, bens e serviços
em algo de indispensável (Bachelet, 1995).
A sociedade actual representa a apoteose e extensão do consumo à esfera
privada (Lipovetsky, 1983). O que pretendemos analisar neste capítulo, é
precisamente a versão de produto e serviço consumível do nosso objecto de
estudo, que não passa ao lado desta teoria e tendência tão evidente.
Desenvolvimento do Problema
44
Serviço, satisfação das aspirações, relaxamento, diversão, apresentação do
próprio, aceitação e prestígio são conceitos intimamente associados à ideia de
consumo, cujos produtos se estabelecem, acima de tudo, como objectos
economicamente benéficos, de interesse, comercialmente atractivos e com
capacidade para competir num mercado dinâmico como o actual (Heinemann,
1994). A multiplicação do número daqueles que têm acesso aos bens de
consumo, bem como a diferenciação dos grupos – em função da condição,
posição e estatuto social –, que compõem o mercado crescente e heterogéneo,
reportam-nos ao consumo de massa da nossa sociedade (Silva, 2002) e revelam-
nos toda uma problemática quanto à influência desta tendência na vida da
população.
Segundo Giddens (2002), com a globalização, a produção de massa passa
a desenvolver-se à escala planetária, tornando-se possível encontrar os mesmos
produtos em locais tão distintos como a Europa e a África Central. Neste contexto,
Mota (2006) afirma que parecemos tender para a uniformização dos gostos e
opções mas, segundo Lipovetsky (1983), a fórmula da sociedade de consumo não
é isenta de ambiguidade e o acesso de todos a determinados bens e serviços, que
designa uma uniformização de comportamentos, também acentua as
singularidades e o processo de personalização do indivíduo. Segundo o autor, a
era do consumo inscreve-se, por um lado, como regulação total e microscópica do
social e, por outro, como emancipação do indivíduo – este é obrigado a escolhas
permanentes, a tomadas de iniciativa, a procura de informação e a crítica de
produtos anexados ao processo da moda e da obsolência acelerada.
Na opinião de Shoham e Rose (2000), a probabilidade de consumo tende a
aumentar, perante a perspectiva de resultados potencialmente desejáveis – para o
consumidor – advirem desse acto. Assim, a emergência do consumidor como
figura da economia moderna desencadeou modificações importantes nas
estratégias de circulação mercantil dos produtos e tornou cruciais as técnicas que
se dirigem à sua persuasão e condicionamento – como a prospecção de mercado,
a publicidade e os serviços de pós-venda, entre outros (Silva, 2002). Torna-se
Desenvolvimento do Problema
45
então simples entender a ideia de Lipovetsky (1983), de que o processo geral que
tende a regular o consumo, as organizações, as informações, a educação e os
costumes é o de sedução – uma nova espécie de estratégia que governa a vida
nas sociedades contemporâneas, com a sua profusão luxuriante de produtos,
imagens, serviços e com a sua profunda associação ao hedonismo. De facto, uma
grande parte dos bens que hoje consumimos não são directamente proveitosos na
satisfação das necessidades básicas, e mesmo as necessidades que hoje vemos
como básicas já não têm apenas a ver com a sobrevivência e subsistência (Silva,
2002). O homem pode ser visto como um ser com necessidades, dotado de um
intenso princípio de racionalidade formal que o leva a buscar sem hesitação a
felicidade, dando preferência aos objectos que lhe trarão o máximo de satisfação.
O facto desta se revelar inatingível ou inalcançável, leva a história a repetir-se
continuamente, tornando o discurso acerca do consumo articulável, na sequência
mitológica de um conto (Baudrillard, 1995).
A lógica da diferenciação induz à desvalorização e criação de novos sinais
e práticas, assim que se verifica a vulgarização dos anteriores (Silva, 2002).
Assim, a sociedade centrada na expansão das necessidades é antes de tudo o
que reordena a produção e o consumo de massa sob a lei da obsolência, da
sedução e da diversificação, a que faz verter o económico na órbita da forma
moda (Lipovetsky, 1989:213). A circulação, compra, venda, apropriação de bens e
de objectos diferenciados, são hoje a linguagem e o código por intermédio dos
quais toda a sociedade comunica (Baudrillard, 1995). Isto é afirmar, tal como nos
indica Silva (2002: 133), que consumir é manipular signos, é usar objectos como
significantes que exprimem certos significados, lidos segundo um código de
valores e relações que conota estatutos sociais. Esta explosão da moda, que alicia
ao consumo e pela sua aquiescência leva a uma nova forma de expressão, faz
com que a mesma deixe de ter epicentro e de representar o privilégio de alguns –
todos passam a ser arrastados pela embriaguez da mudança e dos entusiasmos,
todos passam a estar submetidos ao seu reino. A sua mensagem é geral e dirige-
se a uma massa profundamente heterogénea, diferenciada pelas condições de
Desenvolvimento do Problema
46
acesso e utilização dos recursos tanto económicos como sociais e culturais
(Lipovetsky, 1989; Silva, 2002).
Discurso de moda é publicidade, que se alimenta do efeito de choque e das
mini-transgressões ou da teatralidade espectacular (Lipovetsky, 1989) e se define
como poderoso agente de socialização, produtor e difusor de modelos de conduta,
símbolos de identificação e princípios de acção propostos para o nosso mundo
quotidiano (Silva, 2002). Esta produz necessidades estritamente adaptadas à
oferta, permite programar o mercado, armadilhar a liberdade dos consumidores
planificando globalmente a própria procura (Lipovetsky, 1989: 257). Segundo Silva
(2002), a sua vertente mediática torna-se no grande difusor da ideologia
consumista (p.137), cuja importância dos efeitos de socialização não cessa de
crescer, modelando grande parte dos grupos de referência das populações,
sustentando, rentabilizando e recriando a aspiração à realização pessoal, ao estilo
de vida e à expressão própria.
A massificação do consumo não está, como vimos anteriormente, apenas
associada às necessidades do escoamento comercial da produção e às melhorias
dos rendimentos familiares, mas também à diminuição média do tempo de
trabalho e à conquista de um tempo individual e livre de obrigações. Para
Baudrillard (1995), este tende cada vez mais a ser directa ou indirectamente
comprado para ser consumido e assim pode ser visto como o consumo do tempo
improdutivo, que representa mais do que o simples gozo do período livre, que a
satisfação pessoal ou o repouso funcional. Relembremos umas das descrições de
Lipovetsky (1994) anteriormente citadas, para evidenciar que há agora lugar uma
era na qual é necessária a “paixão da mudança”, o gosto pela iniciativa, pelo risco
e pelas experimentações ultra-rápidas (p.142). O fenómeno da experiência, que é
um dos mais enfatizados no período pós-moderno, leva a indústria do lazer a criar
a sua própria identidade e a publicitar os seus produtos em termos de experiência
prometida, autêntica, original, extrema, intensiva e profunda (Jirásek, 2007). Com
efeito, o interesse sobre a experiência do consumo é crescente e tornam-se cada
Desenvolvimento do Problema
47
vez mais frequentes os discursos feitos sobre o consumo da experiência
(Hopkinson e Pujari, 1999).
A reposta à necessidade de experiências, também para usufruto e
ocupação do “tempo livre”, sempre foi em parte mitigada pela oferta desportiva,
cumpridora de uma função importante nesse contexto. Segundo Hopkinson e
Pujari (1999), a participação em actividades desportivas não pode deixar de ser
vista como uma forma de consumo – hedonista – que envolve o mercantilismo de
produtos e sempre ao serviço do consumidor. Neste contexto, será importante
atender à opinião de Heinemann (1994), que nos explica brevemente de que
forma a actividade desportiva se destaca cada vez mais como um objecto
económico atractivo no mercado de bens. Para este autor, são hoje apresentados
como produtos: a própria prática desportiva – cada vez mais associada à venda de
saúde, corpos estetizados e bem-estar; as roupas e os equipamentos desportivos,
que hoje são mais do que simples acessórios de prática, mas instrumentos de
auto-apresentação e distinção; o desporto espectáculo – consumido pelos
espectadores que procuram distracção e ao qual se associam cada vez mais as
marcas e outros serviços; e as infra-estruturas desportivas – às quais se associam
também toda uma outra vasta gama de ofertas comerciais.
Seguindo esta linha de pensamento e extrapolando a sua estruturação para
o nosso objecto de estudo, podemos encontrar evidências semelhantes no que
respeita ao “consumo hedonista das actividades de risco” (Shoham e Rose, 2000).
Os novos desportos crescem dentro da civilização do ócio, sendo
incessantemente incorporados pela sociedade de consumo (Miranda et al., 1995)
e levando autores como Betrán e Betrán (1995a) ou Holyfield (1999), entre outros,
a referir-se frequentemente ao praticante das actividades de Ar Livre como
consumidor – relevância dada à importância crescente da resposta empresarial
aos desejos da população, que permite a “compra e venda de emoções”.
Como nos explica Pires (1990), as necessidades criadas pelas campanhas
que visam o consumo, bem como a necessidade de novas formas de preencher o
tempo livre evidenciada pelo consumidor, resultam na crescente procura das
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AFAN como mais um produto a ser consumido – uma nova forma de consumo da
natureza (Chao, 2004). Para Betrán e Betrán (1999), é uma importante rede
empresarial que gere actualmente as AFAN, dando resposta à crescente demanda
de um grupo de usuários e apostando fortemente na prestação de serviço a esse
vasto leque da população. Segundo os autores, o marketing empresarial desta
indústria em franco crescimento, baseia-se no simples conceito de que quem
estiver disposto a pagar, pode viver de forma imediata uma aventura única, que
proporcionará intensas emoções, sem necessidades de aprendizagens prévias e
com toda a segurança possível: é a aventura como serviço que se situa ao
alcance de quase todos os cidadãos.
Actualmente, basta que passemos alguns minutos on-line, para que com
facilidade encontremos um vasto número de empresas, que oferecem as mais
variadas actividades nesta área do desporto aventura. São os profissionais, para
quem a persecução das actividades em tempos consideradas marginais, se
metamorfoseou em algo que pode ser fornecido a outros, todos os dias, mediante
pagamento (Varley, 2006). Na perspectiva de Shoham e Rose (2000), da
participação nas actividades aqui em foco, podem advir para o consumidor
benefícios como satisfação da curiosidade, excitação e incremento de estatuto
social. A este último ponto, podemos argumentar, associa-se a importância da
imagem do praticante que pode ser profundamente manipulada pelas formas de
publicidade e apresentações via meios de comunicação social.
De facto, segundo Betrán e Betrán (1995a), os meios de comunicação
social fazem eco da popularidade que assumem estas práticas. Estes terão
inclusive, segundo Branco (2002), ganho a batalha da denominação aos teóricos e
estudiosos da sua essência, baptizando-as de “desportos radicais” e dotando-as
de uma carga de profunda irreverência, loucura e adrenalina. Como nos explica
Lipovetsky (1983), nesta sociedade de consumo inseparável da profusão das
informações, consomem-se em altas doses e por flashes, as actualidades, os
mediatismos, as informações, as músicas, os conselhos, as confissões e os
filmes, numa hipertrofia, numa aceleração da mensagem e da comunicação, que
Desenvolvimento do Problema
49
ao mesmo título que a abundância de mercadorias são parte integrante da nossa
sociedade. As comunicações de massa não nos fornecem a realidade, mas a
vertigem da realidade ou uma realidade sem vertigem (Baudrillard, 1995), facto
bem nos evidente Extreme Sports, pois todos vêm TV, reportagens, webpages
que os satisfazem com imagens extremas e “fixes”, com o uso de linguagens
próprias, das roupas certas ou com este ou aquele suplemento, mas nos quais o
verdadeiro chamamento do desafio e a autêntica experiência da actividade não
representam um propriedade de todos (Jirásek, 2007). Assim, o conhecimento
sobre os hábitos do consumo associados ao desporto tem implicações no
marketing dos produtos e serviços a ele associados, bem como no uso da sua
imagem para a promoção de outros produtos (Hopkinson e Pujari, 1999).
Adicionalmente a intensidade de pertencer a uma cultura de extremidade é
repetidamente amplificada pelos media que, ao associar os seus produtos à
imagem dos Extreme Sports, sugerem aos consumidores que os mesmos são
idealizados para quem não conhece o impossível (Palmer, 2002). É um novo estilo
que se legitima: aventureiro, radical, marca de uma geração, de um grupo distinto
de pessoas, que se identificam pela “vestimenta” de uma nova identidade (Chao,
2004).
Na resposta ao crescimento dos adeptos do extremo, foi possível observar
o inevitável desabrochar de uma indústria notável de meios de comunicação,
dedicada à promoção dos importantes equipamentos especializados e parafernália
associada aos desportos aventura (Palmer, 2002). Paralelamente, criaram-se,
sofisticaram-se e aperfeiçoaram-se artefactos e materiais, fruto da avalanche de
novas tecnologias, que permitem a melhoria de performance, bem como a estética
da prática (Bétran e Betrán, 1995a e 1999), sustendo a proliferação de uma “moda
ecológica” (Chao, 2004). São luvas, óculos de sol, capacetes, t-shirts, sandálias,
equipamento de protecção, bicicletas, ou até cera para pranchas de surf, à venda
e ao discernimento do “comprador extremo” (Palmer, 2002). Guzmán (2002) vai
ainda mais longe, ao afirmar que são os fabricantes e vendedores os verdadeiros
Desenvolvimento do Problema
50
impulsionadores destas modalidades, recorrendo à magnífica visibilidade
publicitária para promover a sua evolução e desenvolvimento.
Embora importante na perspectiva do desenvolvimento e promoção, a
publicitação pode conduzir a desmistificações imprudentes. Segundo Betrán e
Betrán (1999), os acidentes mortais frequentemente postos em foco pelos meios
de comunicação social – que podem pôr em causa a idoneidade destas
actividades e suscitar a eterna discussão sobre a regulação empresarial – são os
fundamentais preços a pagar para garantir o selo de autenticidade imprescindível
ao status das actividades de aventura e risco. Mas, como afirma Palmer (2002),
todo o grande desastre ocorrido no contexto destas práticas poderá, se publicitado
correctamente, ser vendido para lucro, criando produtos que ajudam a embelezar
e construir o discurso da extremidade, pela conversão da luta pela sobrevivência
na imagem do “extreme action hero”, que luta contra os elementos e emerge da
adversidade para se tornar uma classe heróica e à parte.
Segundo Baudrillard (1995), pode agora ser encontrado em toda a parte,
lazer e férias incluídos, o mesmo encarniçamento moral e idealista de realização,
presente na esfera do trabalho. Segundo o autor, tal como o consumo, também o
lazer não é praxis de satisfação, mas só aparentemente assim se manifesta, pois
a obsessão pelo bronzeado, a mobilidade exacerbada, a ginástica da nudez
debaixo do sol obrigatório e o sorriso de viver sem desfalecimento, são
testemunhas da consignação total ao princípio de dever e sacrifício. Como vimos
anteriormente, a par da abundância de produtos e serviços, são características da
nossa sociedade actual a massificação da comunicação e a disponibilização de
informação. Este constante input de informação e bombardeamento dos estímulos
com novas necessidades, fazem com que, segundo Lipovetsky (1989), a realidade
de cada indivíduo se torne insuportável, condenando à necessidade cíclica de
partir – não importa para onde, desde que seja possível sair do lugar onde se está.
Esta ânsia pela novidade – a par do consumo, característica da nossa sociedade –
permite que a partir das práticas aqui em causa, seja possível corresponder à
lógica economicista e à lógica de auto-expressão pelas quais os indivíduos se
Desenvolvimento do Problema
51
parecem guiar, facto que torna, no mínimo, natural, que as novas formas de
turismo se associem também a estas actividades (Pereira e Félix, 2002).
Adicionar o rótulo “aventura” ao termo “férias” parece conferir um brilho
publicitário moderno ao produto (Varley, 2006) e a escolha de destinos, que
praticamente por si só asseguram o seu êxito – nos quais a natureza é o
denominador comum –, torna espontâneo que as novas formas de turismo incluam
actividades vinculadas à natureza e cultura, das quais derivam denominações
como Turismo de Natureza, Turismo Verde, Turismo Rural, Eco-Turismo, Turismo
de Cultura, Turismo de Aventura (Pereira e Félix, 2002; Marinho, 2004).
Na realidade, o turismo assume actualmente, segundo Félix (2002), uma
dimensão mundial de crescente importância, ao potenciar o desenvolvimento
cultural, ao permitir o contacto entre diferentes expressões culturais e ao afirmar-
se como uma das principais actividades económicas. Segundo a Organização
Mundial de Turismo, este é visto como a deslocação, de duração nunca superior a
um ano, de indivíduos a lugares diferentes da sua residência habitual, com o
propósito de férias, negócios ou qualquer outro que não o cumprimento de uma
actividade remunerada no local visitado (CTP, 2005). Convém, no entanto,
destacar que o turista moderno deseja fazer parte da acção, provar, vivênciar e
experimentar (Pereira e Félix, 2002) dando, com esta tendência, procedência à
ideia de Turismo Activo – que deve ser visto como uma peça na engrenagem do
que constitui a oferta turística de determinada região (Martín e Encinas, 2005) –,
conceito associado, também, à relação de desenvolvimento positiva que se
estabelece entre o desporto e as actividades turísticas (Fernández, 2002; Macaya,
2004) –, que origina o conceito de Turismo Desportivo (Standeven e De Knop,
1999; Gibson, 2003), passível de conceder frutos importantes ao beneficiar a
sociedade geral pelo estabelecimento de novos hábitos de prática física (Sallent,
1991).
Aparentemente, afastando-se dos tradicionais destinos seguros, como as
capitais europeias ocidentais, uma nova estirpe de viajantes opta agora pelo
turismo nos centros aventura, pagando a operadores comerciais por experiências,
Desenvolvimento do Problema
52
permitindo às industrias das áreas selvagens entender que os turistas são uma
lucrativa fonte de rendimento e tornando o domínio da viagem de aventura num
fenómeno extraordinário (Palmer, 2002). Este tipo de localizações pode satisfazer
o desejo dos turistas de novidade, assédio ou estimulação, de uma forma
usualmente impossível nas suas rotinas e perto das suas casas (Morgan et al.,
2005), definindo o Turismo Aventura como um mercado potencial – “o creme do
bolo” na montra da pastelaria ou agência de viagens –, que não só funciona como
um produto em si, mas também aumenta o leque de sectores de consumo,
afigurando novas formas do indivíduo gastar o seu dinheiro (Morais, 2003). Os
turistas tendem a ter elevadas expectativas do que devem receber – dado o facto
do acto de partir para longe ser um evento embebido de particular significado – e
assim esperam o extraordinário, sendo potencialmente muito críticos por tudo o
que possa minar a concretização dessa expectativa. Estes serviços
extraordinários não podem, obviamente, ser oferecidos em qualquer local, o que
faz mesmo com que parte do consumido seja a própria localização desse acto
(Urry, 2002). Desta forma, apesar de, ou por causa da relativa inexperiência dos
turistas que participam nestes tipos de actividades – atacados activa e
agressivamente pela indústria como um novo público-alvo –, os seus comerciantes
publicitam-nas inteiramente seguras, mistificando-as como “high thrill, low risk”
(Palmer, 2002) e ao alcance de todos.
Apesar da relativa novidade deste fenómeno, segundo Correia (1997),
evoluímos nos últimos anos de uma situação de escassez de oferta para uma
situação onde o próprio cliente da aventura se define como um recurso escasso,
face à crescente oferta empresarial – o que permite entender o forte
desenvolvimento da indústria. Nesta óptica, considerando o leque de actividades
que a população tem à sua disposição e sabendo que o cliente comprará
unicamente os serviços que forneçam satisfação às suas necessidades e
aspirações, devemos assumir, como explica o autor, que as organizações
encaram os clientes como o seu bem mais precioso – objectivando assim, a oferta
Desenvolvimento do Problema
53
de melhores produtos e serviços do que os providenciados por outras
organizações ou indivíduos.
Segundo Pires (1990), muitas vezes as pessoas aderem,
indiscriminadamente, a práticas desportivas de forma anárquica e anarquizante,
dada essa aquiescência não corresponder a uma necessidade ou desejo adquirido
e cultivado ao longo da vida, mas pela carência de afirmação pessoal e social,
assim suprimidas pela aceitação e pertença a uma moda. A relação que se vai
criando, entre a propagação das AFEN e a sua integração nos serviços de
turismo, é crescente e cada vez mais notória, muito pela evidente e quase perfeita
integração de ambas na nossa sociedade de consumo (Pereira e Félix, 2002). As
actividades físicas no meio natural oferecem respostas lúdicas às necessidades
de experiência da população, por intermédio de agências e empresas (Miranda et
al., 1995), estabelecendo-se assim como uma forma de “compra e venda” de
aventuras, fugas, emoções e sensações (Palmer, 2002). Passar as férias ou os
tempos de lazer em espaços naturais, quanto mais belos e selvagens melhor,
tornou-se, mais do que uma moda, um verdadeiro hábito da nossa sociedade
(Melo, 2003: 13). Negar as regras da vida, recorrer ao espaço físico para negar o
tempo, vivênciar a excepção e poder explicá-la, são o substrato antropológico da
aventura, frequentemente associada à viagem e cujas incerteza do trajecto,
exaltação do desconhecido, implicação corporal com inevitável compromisso
emocional e presença de risco real se tornam elementos imprescindíveis a uma
oferta turística de produtos aventura (Betrán e Betrán, 1999). No entanto, a
aventura desportiva e a prática de desportos em ambientes naturais podem
transformar-se em mais uma das ”taras” da sociedade industrial, que pela loucura
do lucro e do dinheiro pode metamorfoseá-las em novas formas de alienação, por
oposição a formas de realização pessoal (Pires, 1990).
Nesta óptica comercial e mercantil, como referem Pereira e Félix (2002),
torna-se usual que um santuário como a natureza – perspectivada por locais mais
ou menos exuberantes, escolhidos com o objectivo de proporcionar aos clientes
uma atmosfera rica em todos os sentidos – seja invadido por uma série de infra-
Desenvolvimento do Problema
54
estruturas e instalações das quais são exemplos: os espaços destinados a receber
os entusiastas, lojas de objectos promocionais (Holyfield, 1999), as estâncias e
parques aventura (Dougherty, 2007), e aos quais podemos adicionar – já fora do
cenário natural mas também relacionadas com o consumo – as lojas
especializadas em produtos técnicos e algumas arenas desportivas. Assim, pela
loucura do lucro e para a satisfação das nossas necessidades de consumo,
incorremos no risco de transformar a natureza num simples recurso para utilizar
hoje ou no futuro (Mendonça, 1996). Muito embora não seja imprudente afirmar
que alguns praticantes e aficionados procuram a natureza e as suas práticas de
forma independente da rede empresarial que as parece gerir, mesmo estes
acabam por cair na teia da mercantilização, ao dependerem de materiais e
equipamentos comercializados e ao coexistirem com o magnífico desdobramento
publicitário que acompanha as suas disciplinas – factos que levam Guzmán (2002)
a destacar os fabricantes e vendedores como os verdadeiros impulsionadores
destas modalidades.
São actividades e aventuras, férias e viagens, estâncias e parques, lojas
especializadas, objectos, vestuários e equipamentos, modas, empresas e
profissionais, programas televisivos e canais temáticos, revistas, publicações
periódicas e websites que definem as Actividades Aventura – actividades ao
alcance das massas e profundamente rentáveis – como produto de consumo
(Betrán e Betrán, 1995a; Feixa, 2002; Chao, 2004; Varley, 2006; Jirásek, 2007),
naquela que poderá ser considerada a dimensão de Mercantilização da Aventura.
Desenvolvimento do Problema
55
2.2.3 Problemática Ambiental: do meio e da educação
A conservação do ambiente e o respeito
pela natureza, configuram nos nossos
dias uma problemática à escala planetária
(…)
(Pereira e Monteiro, 1995: 115)
Segundo Serres (1990), parece ser verdade que partilhamos com a Terra o
mesmo destino temporal, e que porque a possuímos ela possuir-nos-á novamente
– como outrora, quando submetidos aos constrangimentos naturais –, mas desta
vez de forma global. De facto, podemos afirmar que nas culturas tradicionais e
mesmo na sociedade industrial até ao início desta época, os seres humanos
tinham de se preocupar com riscos originados pela natureza exterior, como
inundações ou pragas, mas que a certa altura, recentemente em termos históricos,
a preocupação passou a ser menos com o que a natureza nos pode fazer e mais
com aquilo que nós fizemos à natureza (Giddens, 2000). Como refere Silva
(2002), a degradação ambiental é no mundo de hoje um problema global – tanto
em amplitude de incidência como de impacto – e, assim, é todo um ecossistema –
mundial – que por ser contínuo e interligado se encontra em risco de destruição.
Nesta mesma sociedade é claramente observável, como anteriormente
analisámos, o aumento da exigência de actividades desportivas no meio natural –
estas vistas por alguns autores como potenciais formas de aceleração da
destruição de habitats ainda preservados (Pereira e Monteiro, 1995; Pires e
Philippi, 2004) –, cuja potencial contribuição para o despertar de uma sensibilidade
e responsabilidade ambiental, colectiva ou individual, não pode ser negada
(Marinho, 2004).
Importa pois entender a dimensão dos problemas ambientais na sociedade
e a sua interacção com o nosso objecto de estudo, analisando a configuração de
uma educação reflectida, que pode contribuir para a intervenção positiva em
ambos: este é propósito do presente capítulo.
Desenvolvimento do Problema
56
Para Beck (2000), as sociedades industriais tardias transitam – como parte
do processo de modernização reflexiva – para sociedades de risco, este cada vez
mais difícil de calcular e controlar, dada a sua capacidade de ultrapassar barreiras
políticas e sócio-económicas por acção do fenómeno de globalização. Para o
autor – que tal como Giddens (2000, 2002) entende os riscos da nossa sociedade
numa perspectiva vasta e estrutural, com tendência para a generalidade abstracta
e esquecendo por vezes o indivíduo concreto –, o conceito de modernização
reflexiva compreende a análise dos resultados da modernidade em termos da sua
produção de riscos – por vezes sinónimos de perigo ou desastre, por vezes
interpretados como constructo socialmente definido e mediado através da lente
dos processos sociais e culturais. Na opinião de Giddens (2000), podemos fazer a
distinção entre dois tipos de riscos presentemente em evidência na sociedade: o
exterior – que nos chega de fora, das imposições da tradição ou da natureza
(p:35) – e o provocado – entendido pelo autor como resultante dos impactos do
desenvolvimento tecnológico sobre o meio ambiente.
Numa construção mais focada no contexto sócio-cultural, e assim
atendendo de forma muito mais evidente ao indivíduo enquanto ser situado,
Douglas e Wildavsky (1982) referem-se à percepção do risco como uma
simulação colectiva que varia consideravelmente ao longo de três formas de
organização social – individualista, hierárquica e igualitária –, o que nos leva a
concluir que a selecção dos riscos a que o público dá atenção, é mais baseada na
voz que processa a informação e no modo como esta é interpretada, do que nas
provas científicas de fortes probabilidades de perigo. Assim, segundo Douglas
(1999), embora longe de ser a primeira civilização a tomar consciência de que o
nosso ambiente se encontra em risco, a percepção e forma como entendemos a
premência da questão é hoje profundamente distinta.
A nossa compreensão dos problemas ambientais é uma construção social,
estabelecida num conceito de ambiente muito fluente, culturalmente baseado e
socialmente contestado (Hannigan, 1995). Assim, somos impelidos a aceitar a
suposição de as formas contemporâneas de degradação serem fruto de
Desenvolvimento do Problema
57
interacções entre as causas demográficas, culturais, políticas e económicas
(Goldblatt, 1996; Silva, 2002), e de se definirem como o problema – de todos os
enfrentados pelo humanidade – mais intrinsecamente transnacional, cujo enfrentar
poderá dar origem a um conflito global ou a uma plataforma de solidariedade
internacional e intergeracional (Sousa Santos, 2002).
Não obstante a degradação ambiental se verificar desde há muito tempo,
só muito recentemente tomou proporções alarmantes – pela urbanização
acelerada, a rápida expansão económica e a utilização irreflectida de novas
técnicas de produção e produtos (Martins, 1990). Segundo Bachelet (1995), o
verdadeiro produto da evolução da humanidade – da qual são factores
constitutivos os poderes científicos e tecnológicos, os modos de vida a eles
associados e as consequências da demografia – é a acumulação dos meios de
destruição pacífica do planeta. Segundo o autor, o homem é um ser poluidor, ou
no mínimo um predador, a tal ponto que a sua própria existência significa poluir e
consumir recursos, fazendo com que, do equilíbrio que tem vindo a ser
assegurado, já nada reste para partilhar, exceptuando aquilo que se adquiriu. Fica
assim exacerbada a dimensão do consumo sob a qual a sociedade se parece
reger, já anteriormente analisada, mas agora entendida sob a perspectiva de
imposição de grandes impactos ambientais. Com efeito, como refere Silva (2002:
54-55), actualmente, o ambiente tanto é ameaçado pela produção industrial
maciça (…), como pelos grandes projectos tecnológicos de colonização da
natureza (…) pela generalização de bens de consumo e hábitos poluidores (…)
pela pressão das populações em crescimento acelerado sobre os bens naturais
disponíveis (…), pelo endividamento brutal dos países pobres e a sua
vulnerabilidade às estratégias de deslocalização e exportação das fábricas
poluidoras. Parece então ser uma verdade que, como afirmam Leite e Caetano
(2004), ao desenvolver actividades baseadas em relações predatórias com a
natureza, o homem criou problemas que ameaçam a própria preservação da
espécie, e seguramente o é que o mundo em que agora vivemos parece – em vez
de a cada passo mais dominado por nós – completamente descontrolado
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(Giddens, 2000). Como afirma Serres (1990): à força de a dominar, tornámo-nos
tanto e tão pouco senhores da Terra, que ela ameaça dominar-nos de novo (p:
59).
Entre os problemas ambientais que nos são contemporâneos podemos
destacar e referir: a deterioração da camada de ozono, o efeito estufa e a
crescente poluição atmosférica – frutos das emissões maciças de
clorofluorcarbonetos e dióxido de carbono para a atmosfera –, factos ao qual se
relaciona o aquecimento global e agravados pela desflorestação intensiva,
frequentemente observada pela necessidade alimentar da população em
crescimento exponencial e pela necessidade de exportação de matérias-primas; a
directa poluição dos solos e a sua deterioração pelo usufruto desordenado, que
degradam a terra e assim as condições e possibilidades de cultivo, bem como a
biodiversidade das espécies; a extinção de variadíssimas espécies pela sua caça,
extracção excessiva ou exploração abusiva; a poluição dos oceanos pelo
incontrolado despejo de substâncias nocivas nas águas via efluente industrial,
esgoto urbano e desperdício agrícola – legal, ilegal ou acidental; o abuso de
substâncias como hormonas de crescimento, pesticidas, corantes e químicos na
industrialização da agricultura; os excessos de detritos e desperdícios, lixos
domésticos, hospitalares e industriais, resíduos nucleares e afins; as alterações
climatéricas – hipotéticos frutos dos problemas até agora referidos – que impõem
grandes estragos e fortes limitações no nosso habitat terrestre; entre muitos outros
(Martins, 1990; Figueiredo, 1993; Hannigan, 1995; Giddens, 2000; Silva, 2002;
Sousa Santos, 2002).
Os anteriormente descritos podem ser vistos como as grandes
problemáticas associadas à degradação dos solos e dos oceanos, contaminação
das águas e poluição do ar – necessários imediatos à nossa existência e
sobrevivência no planeta (Leite e Caetano, 2004). No entanto, como refere Silva
(2002), a degradação ambiental não deve ser entendida unicamente na
perspectiva dos problemas e das ameaças ao futuro comum da humanidade,
sendo a mesma representativa de um motivo de agitação, mobilização colectiva e
Desenvolvimento do Problema
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tema fundamental de debate na sociedade contemporânea. De facto, como nos
refere Hannigan (1995), embora o desenvolvimento do consumismo global tenha
profundas implicações negativas no ambiente e seja, em parte, um produtor ou
facto associado à produção dos riscos aqui em foco, paradoxalmente, acaba por
tornar a protecção da natureza numa actividade de consumo que é culturalmente
formulada. Segundo o autor, o risco e o conhecimento dos problemas que
perturbam o ambiente acabam por ser parte fulcral dos temas da actualidade,
representando tópicos de discussão e preocupação, de certa forma globais. Em
toda esta conjectura, importa atender, no entanto, a uma suposição fundamental.
Como nos lembra Bachelet (1995), o consumo leva à produção – geradora de
poluição e desperdício – baseada em níveis de dispêndio energético que tornam
insustentável, muito pelas supérfluas fontes de despoluição que nos são
conhecidas, a sua perpetuidade. Segundo o autor, por agora tranquilizamo-nos,
segundo a fórmula: isto aguenta (p. 133), e serenamos as multidões com a crença
de que aqueles que sabem estão vigilantes (idem). No entanto, devemos estar
conscientes de que, em algum ponto, o interesse daqueles que sabem poder ser
incompatível com a urgência ambiental – este é um tópico de importância
essencial, que não desenvolveremos de forma mais aprofundada, mas cuja
referência nos pareceu indispensável.
Assim, num momento em que a tomada de consciência dos problemas
relacionados com o meio-ambiente tem aumentado a um ritmo vertiginoso
(Figueiredo, 1993:11), multiplicam-se, por todo o lado, os esforços e discursos
sobre o ambiente, apoiados em movimentos e eventos de massa – factos de
grande impacto social aos quais ninguém fica indiferente, ainda que em termos de
produtividade apresentem resultados muito incipientes. Como exemplos de
acontecimentos com grande impacto, podemos referir o recente evento
“LiveEarth”, com 24 horas de espectáculos musicais, cobertura mundial e ao qual
aderiram 150 dos melhores artistas e bandas da actualidade3, ou o lançamento
3 http://www.liveearth.org
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perturbador documentário “Uma Verdade Inconveniente”, que valeu ao
recentemente galardoado Nobel da Paz4, Al Gore, um Óscar da Academia para o
melhor documentário de 2007.
Os problemas mais sérios com que se confronta o sistema mundial – entre
os quais podemos estabelecer a problemática ambiental – são globais, como tal,
exigem soluções globais e estas – urgentes, difíceis de imaginar e
obrigatoriamente desiguais para os diferentes países – terão de ser marcadas pela
solidariedade dos ricos para com os pobres e das gerações presentes para com
as futuras (Sousa Santos, 2002). No entanto, Brodhag (1994) questiona se será
necessária a dramatização da urgência de salvar a Terra, interrogando até que
ponto não poderá esta ser contraproducente face à imensidão da tarefa em causa
– o objectivo a alcançar é representado por um acordo entre povos, capaz de
mediar o término definitivo da perturbação dos equilíbrios dos ecossistemas dos
quais depende a vida no planeta.
Atendendo à dimensão da tarefa torna-se clara, segundo Schmidt (1999), a
necessidade de uma Educação Ambiental – conceito que analisaremos a
posteriori – que deve estender-se de coisas tão elementares como o asseio – dar
a entender como é que, num sistema complexo e global, “porcarias” de tão longe
nos estragam a vida aqui tão perto, tornando a limpeza numa questão de respeito
pelo próximo, que é agora todo o habitante do planeta –, até a assuntos tão vastos
como a compreensão dos circuitos dos problemas económicos e políticos.
Assistimos, então, ao asseverar da “causa verde” (Silva, 2002), num
momento em que, como afirma Pereira (1996), o homem tomou consciência de
que não podia continuar a tomar atitudes destruidoras, e mesmo auto-
destruidoras, e começou a reflectir sobre os problemas que foram surgindo, na
tentativa de salvaguardar o que ainda resta do ambiente natural (p:5). A origem
desta preocupação advém, segundo Raposo (1997), de um processo longínquo,
no qual se verificou a convergência da educação e do ambiente e que deu pelo
4 http://nobelprize.org/nobel_prizes/peace/laureates/2007
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nome de Ecologia – este termo terá surgido, em 1866, pela mão do biólogo Ernest
Haeckel (Pereira, 2004) e ter-se-á propagado até à actualidade, embora seja
compreendido com uma essência distinta da que o estabeleceu.
Segundo Bachelet (1995), desde o seu início, os movimentos ecológicos
deram mais a impressão de lutar contra algo, do que a favor de alguma coisa.
Partindo em guerra contra a poluição, e rapidamente descobrindo na economia
vigente a sua origem, estes revoltaram-se contra a economia de mercado, num
ataque confesso aos malefícios da capitalismo predador, esbanjador e hipotecador
de um futuro tão próximo que se confundia com o presente. Segundo o autor, a
ecologia surgiu, então, como uma arma susceptível de impor limites materiais ao
crescimento e de estabelecer novos valores – distintos dos do lucro e consumo –,
conduzindo a novas formas de viver, nas quais reciclagem, recuperação e
redução, passavam a entrar nos vocabulários políticos, economistas e
sociológicos.
Actualmente, tal como nos explica Garcia (1997), a Ecologia não se esgota
no ambiente ou na natureza. Na perspectiva de Bachelet (1995), a ecologia
tornou-se humana, dada a facilidade de estabelecer os saberes sobre os
elementos terrestres, como a base de uma nova ciência social que agrupasse a
quase totalidade dos conhecimentos. A ecologia rapidamente se tornou um
sistema heliocêntrico, ao definir-se como o sol em torno do qual volteia a
totalidade do saber, capaz de impor a sua gravitação a qualquer pensamento
político, social, económico ou cultural. O alargamento do movimento ecológico
trouxe consigo, segundo Martins (1990), desenvolvimentos de grande importância.
As componentes de carácter científico e de protecção da natureza desenvolveram-
se, lado a lado, sob a influência de ecologistas profissionais; começou a
generalizar-se a apreciação pelo ambiente fora das grandes potências mundiais e
a sua concepção tornou-se sobejamente mais vasta. Para o autor, este novo
movimento criou uma concepção mais ampla da relação homem-ambiente,
estabelecendo preocupações, não só com os recursos naturais, como também,
com os valores e tendências do seu uso e gestão por parte da população
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Atendendo ao trabalho de Hannigan (1995), a consciencialização sobre a
problemática ambiental parece associada ao “decénio ambiental” de 1970 – época
em que, na opinião de Brodhag (1994), exceptuando alguns visionários, ninguém
levantava o problema da permanência dos equilíbrios ecológicos que regem a
sobrevivência das espécies vivas em geral e da espécie humana em particular (p:
100).
Segundo Lemos (2002), a preocupação dos cientistas com o forte
crescimento populacional, com o aumento dos níveis de poluição e o esgotamento
dos recursos naturais, leva à realização da Conferência das Nações Unidas sobre
o Meio Ambiente Humano – Estocolmo, 1972 –, momento para muitos
considerado como a origem da generalização dos desassossegos com as
questões ambientais. Com base nos trabalhos de Martins (1990), Bachelet (1995),
Hannigan (1995), Lemos (2002) e Resende (2006), passamos a analisar os
principais momentos que deram continuidade a esta inquietação.
A realização da Conferência de Estocolmo introduziu, oficiosamente, a
preocupação sobre as consequências ambientais do, então tradicional, modelo de
crescimento económico, que levaria ao esgotamento dos recursos naturais dos
quais depende a sobrevivência da humanidade. Como resultado desta
conferência, foi criado o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
(PNUMA), agência à qual é imputada a responsabilidade de catalisar a acção
internacional para a protecção do meio-ambiente no contexto do Desenvolvimento
Sustentável – conceito que só mais tarde seria desenvolvido. Estudos em
progresso, que culminam com o lançamento do relatório do Clube de Roma – “Os
Limites do Crescimento” –, exprimem com clareza a premência das questões
ambientais, do crescimento da população, do acréscimo do consumo de recursos
naturais, do aumento dos níveis de poluição e do acentuar das disparidades dos
níveis de riqueza dos países.
Em 1982 – numa Sessão Especial do Conselho de Administração do
PNUMA, em Nairobi, Quénia – uma nova e importante preocupação entra em
cena: a excedência da capacidade de assimilação dos produtos de algumas
Desenvolvimento do Problema
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actividades humanas, em determinadas zonas, por parte da biosfera. Em
resposta, no ano de 1983, o Conselho de Administração do PNUMA e a
Assembleia Geral das Nações Unidas criam a Comissão Mundial sobre o Meio
Ambiente e Desenvolvimento (CMAD), que termina, em 1987, o seu relatório de
análise – elaborado com o apoio de vários consultores internacionais e com base
na análise de vários aspectos da questão do meio ambiente versus
desenvolvimento – sob o título O Nosso Futuro Comum –, do qual se realça um
tópico particular: o conceito de Desenvolvimento Sustentável – aquele que atende
às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das gerações
futuras atenderem às suas próprias necessidades (Lemos, 2002:13).
Embora sem oferecer planos de actuação, este relatório contribuiu para a
estruturação de linhas orientadoras de acção, no sentido de estabelecer esforços
de cooperação em busca do Desenvolvimento Sustentável, e realçou a
importância da Educação Ambiental em todos os níveis de ensino. Logo após a
sua divulgação, a Organização das Nações Unidas convocou para Junho de 1992
– data à qual eram celebrados os 20 anos da Conferência de Estocolmo – a
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento
(CNUMAD) – que ficou conhecida como Conferência do Rio (Rio de Janeiro) – e
na qual se preparava a discussão das suas conclusões e propostas. Na
Conferência do Rio foram aprovados vários documentos, dos quais convém
destacar a Agenda 21, pela relação evidente com a Agenda 21 Local que será
discutida de forma cuidada a posteriori.
A Agenda 21 – instrumento teórico e prático para a promoção do
Desenvolvimento Sustentável – constitui um plano global de acção, adoptado em
consenso por 182 países, objectivado para as prementes problemáticas
ambientais. Sugerindo formas de preparar o mundo para os desafios futuros –
atendendo ao Desenvolvimento Sustentável e integrando o desenvolvimento
económico e social como medidas de protecção do ambiente e dos recursos
naturais –, a Agenda 21 incentiva ainda à criação de planos locais, adequados a
cada realidade.
Desenvolvimento do Problema
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No ano de 1994 realizou-se, em Aalborg, a Conferência Europeia sobre
Cidades Sustentáveis (CECS), onde foi aprovada a Carta das Cidades Europeias
para a Sustentabilidade – composta por 3 partes, nomeadamente a Declaração
Comum das Cidades Europeias para a Sustentabilidade, a Campanha das
Cidades Europeias Sustentáveis e a participação local na Agenda 21, das quais
destacamos esta última.
Segundo Schmidt, Nave e Guerra (2006), a Agenda 21 Local: é um
processo participativo e multisectorial à escala autárquica, que traduz um
programa de acção pluridimensional e requer a participação activa dos cidadãos
nas decisões. Potencia, assim, a proximidade dos governantes e dos cidadãos; é
um instrumento que contribui para o usufruto racional dos recursos, cuja
implementação fica obviamente dependente de uma escala local e cujas medidas
objectivam também as necessidades das gerações vindouras; deve ser um
elemento flexível, cooperante, participativo, pedagógico e dinâmico, cujo alcance
temático vá, obrigatoriamente, muito para além do âmbito estritamente ambiental
dos Planos Municipais do Ambiente; deve envolver empresas, serviços públicos,
instituições educativas, religiosas, científicas, associações, sindicatos, grupos de
interesse e cidadãos; almeja a um Plano de Acção – documento dinâmico de
planeamento que integra diagnóstico, objectivos, estratégias e instrumentos de
acção e monitorização.
Terminando esta análise, resta destacar ainda a realização, em 1996 e
2000, das segunda e terceira Conferências Europeias sobre Cidades Sustentáveis
– em Lisboa e Hannover respectivamente; a realização da Cimeira Mundial do
Desenvolvimento Sustentável – Joanesburgo, 2002; e a conferência de título
Inspirando o Futuro – Aalborg + 10, no ano de 2004, pela necessidade de
consolidar os compromissos estabelecidos 10 anos antes, na conferência
realizada no mesmo local.
Parece então possível asseverar o que foi anteriormente afirmado, isto é,
que parece estar em marcha todo um movimento global, que visa e objectiva a
defesa do ambiente, mesmo atendendo ao facto de esta não ter, nem poder vir a
Desenvolvimento do Problema
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ter, o mesmo valor em toda a parte – a própria noção de Desenvolvimento
Sustentável tenderá a sofrer muitas adaptações em função das culturas e
tradições, elas próprias associadas às capacidades científicas e técnico-
financeiras que regem os diferentes custos ecológicos (Bachelet, 1995).
Conforme a pesquisa até agora efectuada, podemos afirmar que a
protecção ecológica pressupõe que os países preservem os seus rios e
montanhas, que organizem o seu desenvolvimento de forma sustentável, mas
também que, através da educação, preparem as gerações futuras para essa
mesma protecção (Tavares, 2002). Para que todo o esforço dispendido seja
viável, parece ser necessário investir numa educação a todos os níveis, para que
os indivíduos se possam sentir solidários e co-responsáveis nesta grande missão
de evitar a degradação definitiva das condições existências do nosso planeta
(Lemos, 2002). Nesta lógica, surge o conceito de Educação Ambiental (E.A.), que
se relaciona com a necessidade de expansão de consciências e valores, dada a
urgência de “cuidar” do ambiente global (Schmidt, 1999; Pereira e Monteiro, 1995;
Chao, 2004).
Para Giordan e Souchon (1997), a Educação Ambiental é uma forma
educativa que aborda temas relativos aos problemas do ambiente, dizendo
também respeito às dificuldades da utilização e gestão dos recursos. Segundo os
autores, a E.A. esforça-se por despertar a consciência ecológica, económica,
social e política, as aptidões para resolver os problemas e a responsabilidade
individual (p.12), a fim de preparar os estudantes para a acção responsável e para
a tomada de decisões que respeitam aos actuais e futuros problemas do
ambiente. No entanto, no âmbito da E.A., deparamo-nos com uma grave
problemática. Como salienta Fernandes (1997), todas as acções de informação ou
sensibilização sobre a defesa do ambiente e da natureza têm sido apelidadas de
Educação Ambiental, reflectindo, inúmeras vezes, o desconhecimento de quem as
qualifica acerca das verdadeiras metodologias e conceitos da E.A. Segundo o
autor, são a moda, oportunismo ou mesmo a total convicção dos seus autores,
que transformam os projectos em tentativas de “enverdecimento” das
Desenvolvimento do Problema
66
preocupações (…) processos de propaganda (…) ou “bandeiras de qualidade” (p.
3), tornando a história da E.A numa sucessão de êxitos e fracassos, nos quais,
embora predomine a boa-vontade, fica patente a falta de um instrumento
pedagógico capaz de formar e informar os educadores disponíveis e empenhados.
A E.A. não mais se pretende no formato de workshops vazios de conteúdos, que
fuja aos problemas quotidianos; é uma educação que almeja uma melhor
qualidade de vida, num espaço/tempo em que possamos ser críticos, sonhadores
e assumir os direitos e os deveres para com esta luta; é o despertar de uma
sensibilidade e de uma responsabilidade ambiental colectiva, que alerte para a
necessidade de políticas locais e globais (Marinho, 2004).
Chao (2004) leva-nos a crer que esta educação que pretendemos implica
um trabalho interdisciplinar e conjunto de diversas áreas de experiência e,
segundo Raposo (1997) e Giordan e Souchon (1997), o seu processo deve
almejar objectivos como a sensibilização (tomada de consciência), compreensão
(aquisição de conhecimentos), aplicação (aquisição de atitudes e
comportamentos), execução (desenvolvimento de competências) e capacidade de
avaliação (espírito crítico) para a participação, intervenção e acção responsável
em relação às questões ambientais. As iniciativas de E. A. já partem de diversas
fundações, entidades, universidades, autarquias e associações ambientalistas,
que nos últimos anos levaram a cabo projectos, programas e investigações,
estabelecidos na interacção entre as ciências do ambiente, as didácticas e as
questões sociais, mas cuja penetração se mantém globalmente lenta e com
resultados pouco satisfatórios. Os projectos em causa têm em comum a
contribuição activa para a formação, informação e participação do público mais
jovem, que embora sensibilizado para as questões ambientais, demonstra ainda
que a aquisição de modos específicos de raciocínio se encontra ainda numa fase
balbuciante e que o domínio dos principais conceitos – ordenamento, recursos e
desenvolvimento sustentável – não se encontra ainda assegurado (Giordan, 1996;
Raposo, 1997; Schmidt, 1999).
Desenvolvimento do Problema
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Baseada na profunda nascente de sentimentos culturais, que encorajam
uma acção positiva em relação a questões de protecção, preservação, educação e
celebração do natural, é visível uma nítida aproximação dos indivíduos à natureza
(Hannigan, 1995) – face à qual, segundo Brodhag (1994), são perceptíveis
diferentes atitudes na nossa sociedade. Se, por um lado, a visão antropocêntrica
define a centralidade do ser humano sobre tudo, por outro, a ecologia inverte o
centro gravitacional do sistema, definindo que o Homem gira em torno do mundo
natural. Na opinião do autor, o contemporaneamente desejável seria um novo
humanismo de cooperação, onde a Natureza fosse vista, não como objecto ou
sujeito, mas como condição de existência. No entanto, segundo Giddens (2000), a
nossa sociedade vive para lá do fim da natureza (p:36), o que obviamente procura
referir o facto de agora existirem poucos aspectos do ambiente material que nos
rodeia que não tenham sido afectados pela intervenção humana (idem).
Aparentemente, podemos considerar que, desde que o ser humano começou a
empregar a mais simples das tecnologias, a relação com a natureza se
estabeleceu como – até certo ponto – mediada, sendo até pouco provável que
qualquer local do planeta possa ser mostrado como inteiramente livre da sua
influência (Dougherty, 2007). Aquilo que, em tempos, permanecia imperturbado e
independente das criações da humanidade, é agora visto como completamente
transfigurado pela acção humana (Giddens, 2002). Da perspectiva de Natureza
Divinizada – na qual não se interpunham ainda os véus da vida civilizada – à de
Natureza Reivindicadora – na qual a existência do ser humano é posta em causa
pela submissão à sua brutal vontade –, passando pela ideia de Natureza
Explorada – na qual o homem se investe no papel de conquistador insaciável –, a
hominização criou urgências pelos efeitos nefastos da sua actividade (Bachelet,
1995). No entanto, independentemente da essência do actual conceito de
natureza, podemos afirmar que a vida ao ar livre é hoje uma necessidade do
homem moderno, que lhe propicia o reencontro consigo próprio (Costa e Correas,
2005), que permite a percepção do ambiente numa outra perspectiva e adjuva a
reflexão sobre o próprio viver (Chao, 2004). Assim, entra em cena o nosso objecto
Desenvolvimento do Problema
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de estudo, quando, aparentemente, na ânsia de procurar o que resta da natureza
– com o intuito de ocupar o tempo livre, procurar novas sensações, escapar à
rotina, reencontrar o tradicional e as emoções perdidas no espaço controlado
urbano – o Homem encontrou nos “novos desportos” uma forma de realização e
reencontro com o ambiente natural (Pereira e Monteiro, 1995; Garcia, 1997; Rico,
2002).
Embora a ideia ecológica de aproximação do Homem à natureza seja algo
ingénua – uma vez que o ser humano sempre se preocupou em se afastar dela,
enquanto algo exterior a si –, a nova relação que com ela se pretende é uma
relação de coexistência pacífica (Garcia, 1997) –, queremos desfrutar da sua
existência e devemos, para tal, respeitá-la, a todo o momento, mesmo quando a
não experimentamos. Esta “reconciliação”, no entanto, nem sempre tem sido a
mais benéfica para o meio ambiente, cujo equilíbrio é, por vezes, extremamente
frágil (Pereira e Monteiro, 1995:115). Queremos, assim, abordar a ideia por muitos
defendida, de que as actividades de aventura – encaradas como um modo
privilegiado de contacto com o mundo natural e meio através do qual muitos
procuram esse re-aproximar à natureza – produzem riscos que podem não ser
exclusivos para a saúde, vida e integridade do praticante, como faz notar Melo
(2003), ao referir o impacto verificado nos espaços naturais onde as mesmas são
levadas a cabo. De facto, a aproximação à natureza através dos “novos
desportos” tem contribuído invariavelmente para o aumento da pressão humana
em locais tidos como “ecologicamente limpos” (Garcia, 1997), o que em distintos
moldes afecta o meio e cujo impacto será cada vez mais negativo à medida que
se vá observando a crescente massificação, já em movimento, do seu consumo
(Castillo, Fajardo e Funollet, 1995).
O acesso em massa ao mundo natural acarreta consigo problemas
incontestáveis, relacionados com a destruição da fauna/flora, poluição sonora,
erosão e compactação dos solos, abandono de detritos, stress sobre as espécies,
descaracterização das paisagens, urbanização da natureza e alteração da
homeostasia do meio (Pereira e Monteiro, 1995; Garcia, 1997; Fernández, 2002;
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Otero, 2002; Pires e Philippi, 2004). A imagem do praticante assume, assim,
frequentemente, o esboço de adversário ecológico – que reduz a natureza a
cenário ou pano de fundo – em oposição à de – esperada – amigo da natureza: o
homem visto dentro desta, numa perspectiva de respeito e coexistência (Brunhs,
2002; Leite e Caetano, 2004; Marinho, 2004).
Muito embora não possam, desta forma, aceitar-se de modo positivo as
actividades desportivas nos espaços naturais se não forem tidas em conta
criteriosas regras ecológicas de conduta, protecção e resguardo do ambiente
(Sequerra, 1996), é inegável a sua potencial contribuição para o despertar da
sensibilidade e responsabilidade ambiental, colectiva ou individual (Marinho,
2004), senão por outra razão, pela premissa de que é mais fácil cuidar daquilo que
se conhece (Pires e Philippi, 2004:149). De facto, segundo Melo (2003), os
Desportos de Natureza apresentam um enorme potencial educativo nesta
vertente, uma vez que não se defende o que não se ama (p. 20) e, na sua
perspectiva, a prática de desportos em ambiente natural é uma das melhores
formas de conhecer a Natureza que temos e de fomentar a paixão pela defesa
desse património, que é de todos nós.
As actividades que requerem os ambientes naturais para a sua realização
parecem, realmente, despertar maiores sensibilidades (Marinho e Gáspari, 2003).
O acto de visitar uma área natural e observar a imensa diversidade que a compõe
– formas, cores e individualidades –, bem como o pensar e o sentir a forma como
dela se faz parte, podem representar para o praticante uma boa oportunidade de
resgatar valores e sentidos adormecidos (Mendonça, 1996). Como afirma Pires
(1990), quando bem utilizada, a dimensão fetichista que a prática destas
modalidades desportivas assume, pode ser um instrumento promotor da protecção
e do respeito pela natureza. Desta forma, tal como destacam Pereira e Monteiro
(1995), podemos assumir que as actividades de aventura no ambiente natural
surgem como uma alternativa desportiva, que permite a valorização da relação
afectiva com a natureza e o respeito pela sua biodiversidade. Mas, como nos
esclarece Marinho (2004), para ser manifesto o desenvolvimento de uma
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sensibilidade mais profunda do que a simplesmente necessária para as tomadas
de decisão no decurso das práticas, o trabalho com as actividades na natureza vai
exigir mais do que uma elementar familiarização com as questões sócio-
ambientais e com os conceitos sobre o lazer – vai exigir um envolvimento
dinâmico, intenso, inovador e muito responsável. É o “sentido de preservação” o
que se deve incorporar nestas vivências, uma vez que os seres humanos carecem
de preparação, de atitude e de valores que intensifiquem o seu papel diante da
manutenção dos equilíbrios da natureza (Marinho e Schwartz, 2005).
Parece ser verdade que, como afirma Correia (1997), o desporto aventura
permite o acesso a uma verdadeira educação ecológica. Dado que não se acredita
na possibilidade de preservação sem uma colaboração humana – ordenada e
consciente –, o contacto com a natureza revela-se fundamental, na medida em
que permite ao homem reconhecer-se e entender a necessidade de preservar
outras formas de vida que contribuem para o equilíbrio do ambiente (Chao, 2004).
No entanto, segundo Melo (2003), o conhecimento directo da natureza e a
verdadeira potencialidade educativa destas práticas são muitas vezes
desprezados, pela inconsciência da sua existência ou insensibilidade à sua
enorme importância, não havendo, assim, espaço para aprendizagens
consistentes ou sensibilizações notórias.
Assumindo a potencialidade dos Desportos na Natureza como veículo de
formação, é de fundamental importância que os responsáveis pelas actividades
não sejam unicamente multiplicadores da dinâmica de consumo que se infiltra em
todos os segmentos da sociedade, dado o perigo da questão da protecção do
ambiente poder ser esquecida por trás da “moda ecológica” que imputa novas
responsabilidades aos seus promotores (Heinemann, 1994; Burnhs, 2002; Chao,
2004). Segundo Melo (2003), acima de tudo, os organizadores e
comercializadores destas práticas devem ser imbuídos de uma verdadeira ética de
defesa do ambiente, porque deles dependem todo o comportamento do grupo,
bem como as consequências das suas acções. Tal como referem Marinho e
Gáspari (2003), é necessária toda uma pedagogia, a partir da qual, a percepção
Desenvolvimento do Problema
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do ambiente natural – com relação às condições de vida na Terra – pode vir a ser
altamente estimulada. A vertente do consumo destas práticas está bem patente na
nossa sociedade e, no entanto, como defende Silveira (1996), a sua direcção tem
de ser encarada num rumo distinto ao do turismo de massa, sinalizando sim,
práticas vocacionadas para a cidadania ambiental – logo associadas à educação –
, perspectivando os turistas-desportistas como guardiães e conservadores do
património natural (Macaya, 2004).
O facto de a iniciação desportiva a estas actividades ser, geralmente,
operacionalizada por via de entidades especializadas, em detrimento da via
escolar (Pereira e Monteiro, 1995), reporta-nos ainda ao consumo e à
comercialização dos Desportos Aventura. Mas, como nos esclarecem Marinho e
Schwartz (2005), as aventuras no meio natural parecem estar a encontrar eco,
ainda que tímido, junto ao contexto educativo, tendo como principal condicionante
à sua implementação a pouca importância que ainda lhes é atribuída. Há que
destacar, porém, que a problemática da conservação do ambiente, não sendo um
exclusivo da educação escolar, encontra aí um instrumento essencial para realçar
um futuro melhor, alicerçado no esclarecimento e formação das crianças (Pereira
e Monteiro, 1995: 115-116). Dado o facto de esta se assumir como o único agente
que garante, de forma equitativa e contínua, a educação a todos os indivíduos da
sociedade, a escola deve assumir um papel fundamental na Educação Ambiental
(Monteiro, 1994), que corresponderá, não a mais uma disciplina autónoma do
currículo, mas, à integração de temas, conhecimentos e informações sobre o
ambiente em todas as matérias de ensino (Schmidt, 1999), entre as quais devem
assumir particular destaque os conteúdos relacionados com as vivências corporais
em contacto com a natureza (Monteiro, 1994).
Desta forma, Marinho e Gáspari (2003) alertam para a necessidade de as
actividades de aventura terem laços estreitos com a educação, pois apenas desta
forma, ambas seriam capazes de vencer desafios e conquistar novos espaços,
ainda carentes de reflexão. A intensificação da aproximação qualitativa do ser
humano à natureza pode acelerar o processo de consciencialização, tornando
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efectivo o sonho de harmonia, mais ainda quando, nos espaços institucionais
como a escola, esta pode representar uma excelente condição para a reflexão de
valores catalisadores dessa relação (Marinho e Schwartz, 2005).
Os novos programas e orientações acentuam cada vez mais o carácter
integrador e multidisciplinar da E. A., que deve encontrar – especialmente na
Educação Física, enquanto disciplina na qual é privilegiado o contacto entre o
indivíduo e o meio – apoio para a sua estruturação (Pereira e Monteiro, 1995). O
respeito e conservação da natureza só vingarão, se forem levadas a cabo acções
que a utilizem, de forma activa, como é apanágio das AFEN (idem, p. 116) e só
desta forma, interactiva e integrada, é possível que os homens e mulheres do
futuro tenham uma participação positivamente mais activa e responsável na
preservação e conservação da natureza (Monteiro, 1994). Felizmente, a
popularidade das AFEN faz-se já sentir no mundo escolar e a sua prática vai
sendo um dos programas favoritos de crianças e adolescentes, levando mesmo os
professores a abandonar as salas para partirem à aventura com os seus alunos
(Vasconcelos, 2002).
Para que as pessoas possam encontrar um sentido mais profundo para
suas vidas, podendo realmente desfrutar, compartilhar e desejar a conservação do
mundo natural como algo indissociável de sua própria essência, é preciso todo um
processo de preparação e reaprendizagem, criando as bases para uma nova
relação, em que a razão sucede o sentimento (Mendonça, 1996). Segundo Bruhns
(2004), algumas das práticas aqui em foco, tendo como pano de fundo o
ambientalismo, influem um reencantamento pelo mundo, que, na nossa opinião,
permite o entendimento da natureza na sua vertente mais frágil e romântica.
As actividades definidas como nosso objecto de estudo, revelam um forte
potencial como veículos de formação e sensibilização para as questões de
protecção ambiental. Muito embora não podendo, aparentemente, jogar de forma
independente de outras áreas de saber e formação, ao responder à necessidade
do ser humano de contacto com o mundo natural e permitirem o contacto directo
Desenvolvimento do Problema
73
com a natureza, estas podem revestir-se de uma importante conotação no
desenvolvimento de uma Educação Ambiental, promovendo uma cidadania
individual ou colectiva, estabelecendo e impondo códigos de valores e conduta e
fundamentando a sensibilização necessária às urgências ambientais.
Desenvolvimento do Problema
75
2.3 Perspectivas de Futuro
A aventura desportiva será um dos
grandes interesses desportivos da
juventude (…) que preparará um desporto
diferente, para o próximo século.
(Pires, 1990: 66)
Tendo por base toda a revisão levada a cabo para a elaboração deste
documento, procuramos agora inferir algumas tendências quanto ao futuro do
nosso objecto de estudo – meras hipóteses e conjecturas, estruturadas nas
suposições de alguns dos autores até agora citados.
Começamos por abordar o tema anteriormente destacado, relativo à
terminologia adoptada para a conceptualização das práticas aqui em causa. Como
previamente referimos, é notória a falta de consenso quanto à melhor
denominação para classificar o nosso objecto de estudo, facto que torna
sobejamente mais difícil o escrutínio lógico da sua essência. Verificada a
pertinência da questão, vemo-nos tentados a augurar que uma nova denominação
tenderá a surgir e afirmar-se, para permitir uma melhor abordagem às questões
relacionadas com os estudos desta área. Sob a pena de incorrer no mesmo erro
que anteriormente criticámos, propomos uma nova denominação, hipoteticamente
viável para responder à necessidade em evidência.
Em primeiro lugar, assumimos que o nosso objecto de estudo deverá contar
com uma denominação onde sejam destacadas as suas ligações com a Natureza
e com a Aventura – facto anteriormente salientado por autores como Betrán e
Betrán (1995a e 1995b), Funollet (1995), Miranda et al. (1995), Feixa (2002) e
Costa e Correas (2005) – e, pensamos nós, muito bem evidenciado no decurso do
nosso trabalho.
Em segundo lugar, destacamos uma óbvia tendência nas preocupações
dos diversos autores que até hoje estudaram o tema, que tem sido a dualidade
Desporto – Actividade Física.
Desenvolvimento do Problema
76
Segundo Miranda et al., (1995), os novos desportos e actividades físicas
aqui objectivados aparecem associados aos paradigmas de auto-realização e
melhoria de qualidade de vida, que na perspectiva dos autores pretendem
substituir os anteriormente estabelecidos de competição, esforço e tensão.
Também na opinião de Betrán e Betrán (1995a e 1995b), os novos valores da
sociedade pós-moderna – que encontram eco nas AFAN – surgem em oposição à
cultura corporal fundamentada no esforço, colectividade, superação e rendimento
– característicos da época moderna e dos quais o desporto é o paradigma
máximo. Estes autores justificam a opção pelo conceito de “Actividades Físicas”
na denominação que eles próprios criaram, com a explicação de que o constructo
de Desporto – embora relacionado com actividade física, jogo, recreação – se
entende como actividade regulamentada, institucionalizada e competitiva, na qual
dominam os valores de esforço, superação, produção, competitividade, sacrifício e
treino, com os quais as novas actividades procuram romper (Betrán e Betrán,
1995b). Embora optando pela denominação Novos Desportos, Domingo (1991)
salienta igualmente uma mudança de lógica social no fundamento das actividades
aqui em estudo. Na sua opinião, da concepção clássica que estabelece a meta do
desportista na competição e no atingir de marcas sempre superiores, progredimos
hoje para uma situação onde são o exercício físico e as sensações por si
produzidas que se destacam como principal motivação para a prática. Já para
Funollet (1995), o conceito de desporto reconhece os constructos de actividade
física, competitiva, recreativa, expressiva, regrada, lúdica, técnica e táctica,
tornando admissível que uma actividade física, não competitiva e isenta de regras,
possa ser considerada como desporto, facto que o leva a escolher um constructo
focado na ideia de actividades desportivas.
Numa tentativa de encontrar resposta para esta questão, consultámos a
definição proposta pelo Conselho da Europa, em 1992, segundo a qual se
entendem por Desporto, todas as formas de actividades físicas que, através de
uma participação organizada ou não, têm por objectivo a expressão ou o
Desenvolvimento do Problema
77
melhoramento da condição física e psíquica, o desenvolvimento das relações
sociais ou a obtenção de resultados na competição a todos os níveis5.
Parece-nos aceitável admitir que as práticas associadas ao nosso objecto
de estudo possam ser definidas como Desportos. É inegável que estas surgem
associadas aos novos paradigmas da realização pessoal, hedonismo e satisfação,
muito embora não lhes possam ser vedadas características associadas ao
Desporto clássico ou formal. Quando falamos de esforço, superação, competição,
sacrifício e rendimento, não podemos esquecer as exposições de autores como
Branco (2002), Pereira (2005), Møller (2007) e Krein (2007), entre outros, que nos
relembram que a competição nestas actividades existe, sendo de índole muito
mais interna, onde a superação do próprio e o atingir de melhores performances
num constante acto de superação, se definem como circunstâncias da prática. Na
prossecução desta ideia, podemos afirmar que estas permitem o desenvolvimento
da condição psíquica dos seus praticantes, pela indução da auto-afirmação e pela
constante aprendizagem que proporcionam (Guzmán, 2002), corroborando ainda
a definição da Carta Europeia do Desporto, onde é referida a competição a todos
os níveis. Nunca esquecendo que estas actividades propiciam a expressão da
condição física dos seus praticantes e que, como afirmam Miranda et al. (1995),
parecem promover a participação social e as relações com os pares, parece-nos
indicado afirmar que o nosso objecto de estudo pode ser entendido como uma
forma de prática desportiva.
Atendendo à tendência, cada vez mais acentuada na bibliografia
respeitante à temática, para destacar as características anteriormente referidas,
podemos propor para uma denominação futura, que seguramente vai ao encontro
das perspectivas dos estudos da área, o conceito de Desportos de Aventura na
Natureza (DAN).
5 Artigo 2.º da Carta Europeia do Desporto do Conselho da Europa (1992)
Desenvolvimento do Problema
78
Por causa da relativa novidade que representam, do auge social em que se
encontram e do dinamismo do ramo que as comercializa, estas práticas deparam-
se com um processo interno de crise que, uma vez solucionado, dará origem a um
sector muito mais fortalecido, com uma selecção natural das actividades
envolvidas, as mais sólidas ofertas e um equilíbrio empresarial racional, capaz de
responder qualitativamente à emergente demanda social (Betrán, 1995). No
entanto, segundo Bachelet (1995), basta ser inventivo na criação e logo, ao expô-
la, se exaltam a moda e a publicidade – nas vozes dos que as criam e geram –
seduzindo pela mentira (p. 132) o potencial comprador e fazendo do consumo, a
qualquer custo, a finalidade da vida. Este encanto pela inovação também se faz
sentir na esfera dos DAN dado que, como refere Correia (1997), o Desporto
Aventura não é alheio ao fenómeno da moda. Assim, na opinião do autor, para
permanecer na vanguarda do negócio, tornam-se indispensáveis a adopção de
novas actividades, a alteração das existentes e o investimento em novos
equipamentos baseados em recentes inovações tecnológicas, até porque os
próprios clientes se começam a definir como um recurso escasso e é certo que
estes consumirão unicamente o produto que melhor atender às suas
necessidades e aspirações.
Atendendo à sua apelatividade e nunca esquecendo a óptica do consumo,
estas práticas tornam-se, segundo Sallent (1991), num campo pleno de futuras
possibilidades para os licenciados em Educação Física, tanto em empresas
públicas como privadas, quer em âmbitos de animação quer de docência, não se
esgotando a sua potencialidade nesta hipótese. Segundo Funolet (1989),
Fernández (2002) e Otero (2002), o turismo e o desporto na natureza – se
impulsionados de forma correcta, conveniente e equilibrada – podem jogar um
papel de extrema relevância no favorecimento do desenvolvimento económico e
na participação social nas sociedades pós-modernas, definindo-se mesmo como
alternativas viáveis para o desenvolvimento das áreas rurais e deprimidas.
Desenvolvimento do Problema
79
Para Urry (2002), que se refere a uma tendência de mutação dos padrões
de consumo da sociedade – da sua forma de massa para modelos mais
individualizados – é claro que também no turismo – que segundo Sallent (1991) se
converterá na próxima primeira indústria mundial, enquanto o desporto se
consolida como a principal actividade recreativa da população – se sentirão as
influências destas tendências. Atendendo às ideias de Fernández (2002), turismo
e desporto estão, sem dúvida, destinados a entender-se, permitindo pressagiar um
excelente porvir na aliança entre ambos, em especial num espaço tão completo e
atractivo como é o meio natural.
A Carta Europeia do Desporto lança-nos um outro desafio, cuja análise nos
parece muito adequada a este capítulo das perspectivas futuras, quando no seu
Artigo 10.º nos destaca o princípio do Desporto Sustentável – tema analisado por
autores como DaCosta (1997) e Lenskyj (1998) –, referindo que as actividades
físicas devem ser adaptadas aos recursos limitados do planeta e conduzidas em
harmonia com os princípios de um desenvolvimento sustentável e de uma gestão
equilibrada do meio ambiente.
O conceito de Desporto Sustentável é relativamente novo, quer nos círculos
do Desporto, quer nos do ambiente (Lenskyj, 1998), mas como refere Fernández
(2002), é um facto que as possibilidades e recursos que a natureza nos oferece
não podem ser desaproveitadas, nem tão pouco pervertidas, tornando
fundamental a criação de critérios racionais de utilização e protecção.
Naturalmente, o potencial do ecoturismo e do desporto de Natureza só poderá ser
explorado a prazo se garantirmos a salvaguarda dos espaços que os suportam, e
que, em muitos casos, estão a sofrer enormes pressões (Melo, 2003: 21). Esta
ideia foi anteriormente abordada segundo as opiniões de Sequerra (1996) e
Marinho (2004), destacando esta última a necessidade do desenvolvimento de
uma sensibilidade mais profunda, que permita, a par da ética necessária ao
momento de prática, uma consciencialização generalizada para a preservação do
ambiente e assim um melhor desenvolvimento em direcção ao conceito de
sustentabilidade.
Desenvolvimento do Problema
80
Segundo Costa (2006), parece haver já alguma preocupação e
sensibilização para as questões ambientais e da preservação do ambiente durante
a prática – por parte dos seus promotores e organizadores –, muito embora não
acompanhadas de medidas permanentes, pensadas com um fim de preservação
inteiramente implícito. Assim, como referem Marinho e Gáspari (2003), as
transformações pretendidas para o século XXI passam fundamentalmente por
mudanças axiológicas referentes à formação dos profissionais, os quais terão um
papel decisivo na manutenção ou alteração do contexto sócio-cultural, muito pela
influência sobre os clientes, praticantes e formandos que vivem, experimentam ou
recorrem aos DAN como veículos de formação. Teremos de nos preparar para
que, como afirma Pires (1990), a aventura possa ser, em termos futuros, além de
tudo o resto, um elemento de formação, educação e cultura ao serviço do homem.
Os Desportos de Aventura na Natureza – conceito pelo qual optamos,
encarando a possibilidade da sua viabilidade para futuros trabalhos – poderão, se
bem impulsionados, originar um sector comercial muito rentável e lucrativo, que
encerra em si potencialidades que não devem ser desprezadas. Para que a sua
potencialidade possa ser aproveitada, estes terão primeiro de garantir o seu
sucesso, baseando-se em renovações e inovações, atendendo sempre à
perspectiva da preservação ambiental que garantirá a sua sustentabilidade.
Ultrapassar estes obstáculos exigirá formações e sensibilizações – factos que
podem também vir a ser frutos da afirmação destas práticas – que encaminharão
os DAN para o sucesso. Da asseveração destas práticas poderão advir resultados
proveitosos para os profissionais da área do Desporto, para os promotores do
turismo e para as instâncias e populações das áreas rurais deprimidas, bem como
para a humanidade em geral, pelo desenvolver e imbuir de novos valores face às
problemáticas ambientais.
33.. CCOONNCCLLUUSSÕÕEESS
Conclusões
83
3. Conclusões
Da revisão bibliográfica realizada e das análises efectuadas no decurso do
nosso trabalho, surge o presente documento, no qual se podem destacar, como
principais conclusões, as seguintes constatações:
Actualmente vivemos numa sociedade, chamemos-lhe, como muitos, Pós-
Moderna ou Pós-Industrial, profundamente caracterizada pela radicalização dos
princípios existentes e vividos na época da Modernidade. É uma sociedade global,
onde se destacam e ganham cada vez mais relevância: a passividade aparente do
quotidiano, com modos e formas de vida cada dia mais regrados e controlados,
sem espaço para emoções e descontrolos mas nos quais o risco é uma presença
constante; a saturação com esse mesmo quotidiano, com a norma, a rotina e
espaço que o caracterizam; as problemáticas ambientais e a super-exploração dos
recursos, frutos da exaltação do consumo e produção de massa, alimentados
pelos fenómenos da moda, da publicidade e demografia acentuadas; os grandes
desequilíbrios económicos entre Estados e entre diferentes regiões do planeta,
frutos de um capitalismo e industrialismo de diferentes expressões e incidência.
Por causa das suas características, ou por vezes em resposta às
necessidades que estas estabelecem, nestas mesmas sociedades assistimos ao
afirmar de novos valores e princípios – uma pluralidade deles –, segundo os quais
tendemos a regrar a nossa vida e dos quais podemos destacar: o hedonismo, o
individualismo e obsessão pela diferença, o narcisismo, o esteticismo, o
subjectivismo e a personalização; bem expressos na constante busca de prazer,
necessidade de auto-realização e afirmação pessoal, procura de usufruto do
presente, demanda por ócio e melhores condições de vida.
Na afinidade criada entre os novos valores sociais, o aumento da parcela
de tempo livre de obrigações e o aumento da esperança média de vida de que
Conclusões
84
hoje desfrutamos, encontramos cada vez mais espaço para o lazer nesta nossa
sociedade, que exalta a necessidade de novas formas de ocupação dos tempos
livres – períodos aos quais cada um pode atribuir significados diferenciados –,
tornando-o numa expressão distintiva da nossa época.
Na resposta às necessidades de novas formas de lazer, de consumo do
“tempo livre”, de emoções, de momentos de descontrolo e ruptura com a
continuidade existencial, de contacto ou reencontro com a natureza, surgem os
Desporto de Aventura na Natureza, profundamente associados aos paradigmas da
realização pessoal, do hedonismo e da melhoria da qualidade de vida.
Os Desportos de Aventura na Natureza são todo um conjunto de
actividades – cuja génese ocorreu durante a década de 1960 e que rapidamente
se propagaram à generalidade das sociedades economicamente avançadas – nas
quais podemos referir, como principais características: o(s) meio(s) que as
fundamenta(m) – a Natureza, por excelência e os meios aquático, terrestre ou
aéreo onde as suas práticas decorrem; as emoções que proporcionam – risco,
incerteza e sensações associadas à experiência da Aventura; o público
diversificado, crescente e cada vez mais vasto, a que se destinam; a sua forte
popularidade – para a qual contribuem a forte actividade empresarial e comercial,
bem como a sua relação com as formas de turismo activo; e a grande flexibilidade
no que respeita a regulamentações, horários, formas e modos de prática.
No conjunto destas actividades, que optamos por denominar de Desportos
de Aventura na Natureza, podemos incluir práticas como: Asa Delta, Parapente,
Queda-Livre, Base Jump, Bicicleta Todo-Terreno, Cicloturismo, Street Luge, Ski,
Snowboard, Passeio Pedestre e Equestre, Montanhismo, Trekking, Orientação,
Espeleologia, Escalada, Mergulho, Surf, Body-Board, Wakeboard, Windsurf,
Rafting, Canoagem, Hidrospeed e Canyoning, entre muitas outras.
Conclusões
85
No contexto da sua prática, pode ser discutida a oposição entre o ser
humano e a natureza, pelo antagonismo que opõe o Homem às forças do meio –
mais ainda quando, numa tendência consumista, a própria Natureza é reduzida a
um cenário para a prática, por antítese à imagem de parte integrante da
experiência que deveria ser assumida.
Os Desportos de Aventura na Natureza parecem oferecer resposta a
algumas necessidades básicas da vida dos indivíduos, factos que ajudam a
entender a sua enorme viabilidade e destaque na actualidade. Baseados nesta
perspectiva procurámos abordar, no decurso do nosso trabalho, aqueles que
seriam os temas mais significativos no que concerne à sua investigação e estudo,
unicamente para nos apercebermos que os vários tópicos destacados acabam por
criar um enorme âmbito de pesquisa e análise, dada a forma como
intrinsecamente se relacionam e associam entre si.
Convém então destacar, em primeiro lugar, o Mercado da Aventura. Os
DAN surgem profundamente relacionados com as tendências de consumo – que
associado ao hedonismo se destaca hoje, senão como obrigação, certamente
como tendência, muito pela acção da moda e da publicidade. Serviço, satisfação,
diversão e prestígio são conceitos que lhe surgem intimamente associados e é
certo que a probabilidade da sua ocorrência aumenta com a perspectiva deste
acto fornecer resposta às necessidades – reais ou estabelecidas – do ser humano.
A vertente da Mercantilização da Aventura fornece resposta a algumas das
necessidades existenciais agora sentidas – mesmo que estas sejam fruto da
imposição da moda natural e ecológica –, definindo-se como mais um produto a
ser consumido, mais uma forma de consumo de experiência ou de usufruto do
tempo livre. A moda faz eco da popularidade destas práticas e da sua imagem,
apreciada e comercializada, destaca-se um novo estilo desportivo, fortemente
Conclusões
86
apoiado nos espaços privilegiados para consumo, nos equipamentos, materiais,
objectos, vestiários, serviços e experiências.
A crescente resposta empresarial, que permite a compra e venda de
emoções e da (ou na) Natureza, associa-se igualmente às novas formas de
Turismo Activo, permitindo a comercialização de viagens e cenários do fantástico,
abrindo portas a um mercado potencial com novos sectores e formas de consumo.
Para satisfazer as nossas necessidades de consumo, tendemos a
transformar a Natureza num mero recurso ou simples cenário, facto que de si
pode ser problemático, mais ainda considerando que o acesso em massa ao
mundo natural provocará, obrigatoriamente, impactos negativos no meio,
contribuindo para a pressão e degradação dos habitats e cenários ainda
preservados.
Independentemente da essência da Natureza que hoje possamos
experimentar, é inegável uma tendência de aproximação do homem aos espaços
naturais, definindo-se a vida ao ar livre como uma necessidade estipulada pelo
desejo de regresso e pela necessidade de quebra com o quotidiano e fuga do
meio viciado em que este tende a decorrer.
Dentro das características da sociedade actual podem ser exacerbadas a
degradação ambiental global – entendida agora como objecto de preocupação
generalizada, pela consciencialização da sua ingerência enquanto factor imediato
da nossa sobrevivência – e a aparente tomada de consciência quanto à sua
ocorrência – motivo de agitação e mobilização colectiva, que tem aumentado a um
ritmo vertiginoso, mesmo que não de forma equitativa em toda a parte do planeta.
Os DAN podem cumprir um papel fundamental e inegável enquanto
veículos de sensibilização para as temáticas da natureza, permitindo o
Conclusões
87
desenvolvimento de uma consciência ambiental e responsabilidade individual ou
colectiva. Ao permitirem o acesso ao que resta deste meio, estas práticas podem
contribuir de forma notória para a Educação Ambiental e para o desenvolvimento
de valores ou princípios de respeito pelo mundo natural – pela própria
necessidade de subsistência – podendo o seu papel ser muito proveitoso e
profundamente produtivo no meio da formação e do ensino – focamos a sua
interdisciplinaridade mas principalmente a viável associação com a Educação
Física.
Para ser válida a vertente de consciencialização, serão no entanto
necessárias ponderações basilares na criação de regras de conduta e protecção
ambiental do espaço utilizado para a prática dos DAN, assim como,
sensibilizações particulares que permitam explorar a capacidade de intervenção e
mediação dos organizadores sobre os praticantes. É assim fundamental que os
DAN não se percam na lógica de consumo pela qual se rege a sociedade, que
tende frequentemente a desvalorizar os produtos no surgimento de novas formas
de consumo, e a explorar os recursos necessários à sua venda sob qualquer
condição.
A prática massiva dos DAN, bem como a venda de actividades extremas,
tendem a domesticar o risco e a proporcionar a aventura inerente às suas práticas
de forma mimética e simbólica que, muito embora perca assim a sua verdadeira
característica, serve ao consumidor o produto desejado, através do conceito de
risco percebido e da manipulação da subjectividade da sua percepção.
A busca de estimulação emocional e sensorial, as novas sensações, a
quebra com a rotina e a continuidade da vida, são assim servidas por intermédio
da Aventura, quer de forma subjectiva, quer de forma indiscutivelmente real –
dependendo do contexto de prática –, oferecendo resposta a uma miríade de
necessidades, impostas aos seres humanos pelas características da sociedade.
Conclusões
88
O autocontrolo, a limitação na demonstração de sentimentos e emoções, o
excesso de regras e mecanicismos, a retractação dos impulsos e a passividade
preponderante da vida, que negam ao ser humano a sua percepção de
determinação, tornam abstracto o conceito de mortalidade e criam tensões
negativas associadas à falta de excitações, são então suprimidos pela situação
marginal da Aventura, que permite a quebra com a continuidade da vida, com o
costume e o estabelecido, oferecendo a possibilidade de dano, desastre, morte,
perigo, vislumbre no abismo, bem como todo um leque de sensações aprazíveis,
fruto da instabilidade e insegurança, que quando vencidas proporcionam
satisfação, auto-afirmação e progresso.
A necessidade de estar em controlo e o sentimento de domínio sobre a
própria existência voltam assim à vida, mesmo que momentaneamente, de forma
real ou imaginária, permitindo a superação, a conquista do próprio ser, a
afirmação pessoal e a construção da identidade, necessárias à sanidade e
equilíbrio de cada indivíduo.
Para manterem a sua viabilidade e garantir a sua continuidade, os DAN
necessitarão de se basear no conceito de Desporto Sustentável, estando a sua
prosperidade e sequência obviamente dependentes do respeito pelo meio e
cenários onde as práticas são levadas a cabo, do desenvolvimento de novas
tecnologias que objectivem a segurança dos praticantes, da inovação e renovação
das práticas e actividades na perspectiva mercantilista, de uma melhor e mais
eficaz gestão e legislação das entidades que as promovem e da formação de
todos os envolvidos, quer no que consta a matérias de segurança, quer no que diz
respeito à consciência ambiental, quer para usufruto individual como para a
influência de terceiros.
Os DAN não se encontram marginalizados, tendo um lugar de destaque
cada vez mais evidente e alcançando, a cada passo, leques mais vastos da
Conclusões
89
população. O seu entendimento, bem como a aceitação do seu potencial, poderão
trazer frutos altamente produtivos, oferecendo resposta a muitas das
necessidades actualmente em evidência na nossa sociedade. Estes podem ainda
destacar-se como elementos de importância na formação e educação, devendo,
como tal, ser difundidos e utilizados, mas tendo sempre em conta os conceitos de
segurança e respeito ambiental que lhes devem ser, podem ser e são inerentes.
O nosso estudo permitiu-nos compreender os Desportos de Aventura na
Natureza nas suas relações com o quadro axiológico actual, na sua potencialidade
de resposta às necessidades vigentes da nossa sociedade e na relação com os
imperativos valores que nela se destacam. A revisão efectuada, pela variedade de
conhecimentos que nos permitiu adquirir, agrupar e expor, revelou-se muito
proveitosa, fornecendo todo um espectro de dados relativos a estas importantes
actividades. Podemos assim afirmar, embora com algumas reservas, que o
principal objectivo do nosso trabalho foi atingido, sendo que reunimos todo um
conjunto de informações pertinentes sobre o nosso objecto de estudo, que com
alguma facilidade podiam ser encontradas dispersas pelos textos e obras de
diversas áreas do saber e do conhecer. Admitindo, no entanto, que do seu início
até ao seu término, muitos foram os factos que, a cada passo, surgiram,
complicando e embaraçando a teia de informações exploradas com outros dados,
será possível questionar se todas as instâncias da sociedade, que de alguma
forma têm intervenção sobre os DAN, foram aqui reflectidas, ou se alguma relação
ficou por analisar.
Seria possivelmente produtiva, tendo como base a constatação das
informações aqui reunidas, a reestruturação do documento aqui apresentado,
numa tentativa de encontrar novas relações de pertinência com os valores e
princípios da sociedade. Esta é uma sugestão que deixamos para trabalhos
futuros, a elaborar nesta área de conhecimento.
44.. RREEFFEERRÊÊNNCCIIAASS BBIIBBLLIIOOGGRRÁÁFFIICCAASS
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