depressÃo como fator de risco para Úlceras em...
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UNICAMP
CAMILA RIBEIRO COELHO
DEPRESSÃO COMO FATOR DE RISCO PARA ÚLCERAS EM PORTADORES DE PÉ
DIABÉTICO
Campinas
2014
iii
UNICAMP
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
Faculdade de Ciências Médicas
CAMILA RIBEIRO COELHO
DEPRESSÃO COMO FATOR DE RISCO PARA ÚLCERAS
EM PORTADORES DE PÉ DIABÉTICO
Tese apresentada à Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para obtenção do título de Doutora em Clínica Médica, na área de concentração Clínica Médica.
Orientador: Prof.ª Dr.ª Maria Cândida Ribeiro Parisi
Co-orientador: Prof.ª Dr.ª Denise Engelbrecht Zantut Wittmann
Campinas
2014
ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA TESE DEFENDIDA PELO ALUNO CAMILA RIBEIRO COELHO E ORIENTADA PELO PROF.ªDR.ª MARIA CÂNDIDA RIBEIRO PARISI
__________________________
Assinatura do (a) Orientador(a)
Ficha catalográficaUniversidade Estadual de Campinas
Biblioteca da Faculdade de Ciências MédicasMaristella Soares dos Santos - CRB 8/8402
Coelho, Camila Ribeiro, 1981- C65d CoeDepressão como fator de risco para úlceras em portadores de pé diabético /
Camila Ribeiro Coelho. – Campinas, SP : [s.n.], 2014.
CoeOrientador: Maria Cândida Ribeiro Parisi. CoeCoorientador: Denise Engelbrecht Zantut-Wittmann. CoeTese (doutorado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de
Ciências Médicas.
Coe1. Diabetes mellitus tipo 2. 2. Depressão. 3. Autocuidado. 4. Pé diabético. 5.
Úlceras. I. Parisi, Maria Cândida Ribeiro. II. Zantut-Wittmann, DeniseEngelbrecht,1959-. III. Universidade Estadual de Campinas. Faculdade deCiências Médicas. IV. Título.
Informações para Biblioteca Digital
Título em outro idioma: Depression as a risk factor for diabetic foot ulcersPalavras-chave em inglês:Type 2 diabetes mellitusDepressionself-careDiabetic footUlcersÁrea de concentração: Clínica MédicaTitulação: Doutora em Clínica MédicaBanca examinadora:Maria Cândida Ribeiro Parisi [Orientador]Márcia Silva QueirozAna Emília PaceElizatebeth João PavinHeraldo Mendes GarmesData de defesa: 24-04-2014Programa de Pós-Graduação: Clínica Médica
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iv
ix
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, Iracy e Orlando, pelo grande incentivo, amor e investimento na minha
educação.
À toda a minha família: avós, tios, tias, primos e primas. Em especial à minha irmã Talita
pelo apoio e escuta, à minha prima Marina pela disponibilidade e ajuda com as traduções e
ao meu tio Raimundo, com quem aprendi a conhecer e admirar o mundo acadêmico.
À Prof. Dra Maria Cândida Ribeiro Parisi, minha orientadora, por ter me acolhido e
acreditado na minha capacidade, pelos ensinamentos em pé diabético e por me incentivar,
exigindo de mim cada vez mais.
À Prof. Dra Denise Engelbrecht Zantut- Wittmann, pela coorientação sempre presente, pela
disponibilidade e imprescindíveis correções e sugestões. Pelo carinho e serenidade nos
momentos mais difíceis.
À vocês, minhas queridas orientadoras, duas mulheres tão diferentes e ao mesmo tempo tão
essenciais para a conclusão deste trabalho. Agradeço por todo apoio, estímulo e
conhecimento transmitido durante esses anos, ao exemplo tanto de pessoa quanto de
profissional, que conseguiriam aliar o rigor acadêmico à imensa capacidade de
compreensão e generosidade.
x
Ao Alex, pela paciência, estímulo e compreensão nos diferentes momentos deste trabalho.
À Frida por me proporcionar momentos de descontração e carinho incondicional.
Aos participantes da pesquisa. Aos professores, profissionais e residentes de
Endocrinologia da Unicamp.
Enfim, a todos que contribuíram para a realização desta pesquisa e estiveram comigo
durante todo este caminho.
xi
RESUMO
A depressão vem sendo reconhecida como um fator de risco para ulceração em
pacientes portadores de diabetes mellitus. Usando amostra de conveniência, este estudo
transversal foi conduzido com o objetivo de comparar sintomas depressivos e
comportamentos de autocuidado em população de portadores de pé diabético com úlcera e
portadores de pé de risco. Foram estudados 100 portadores de diabetes mellitus tipo 2,
classificados em 2 grupos: pacientes com pé de risco para ulceração e pacientes com úlcera.
Avaliamos o comportamento de autocuidado com os pés (Questionário de Avaliação de
Autocuidado com os pés), sintomas de depressão (Inventário Beck de Depressão), além
das variáveis sócio-demográficas e clínicas. Pacientes com úlcera obtiveram resultados
evidenciando escores maiores, indicativos de depressão (20.37), que os pacientes que não
haviam desenvolvido úlceras em pés (15.70) (p=0.030). Em relação aos comportamentos de
autocuidado, não encontramos diferença significativa entre os dois grupos (p=0.219). As
seguintes variáveis mostraram-se significativas para o desenvolvimento de úlceras em pé
diabético: sexo masculino (p<0.001, OR =14.87, IC 95% 3.83 – 57.82) e depressão grave
(p=0.049, OR= 6.56 95% IC 1.01-42.58). A despeito da presença de comportamentos
adequados de autocuidado com os pés, pacientes com úlcera apresentaram mais sintomas
de depressão em comparação aos pacientes com risco para o desenvolvimento de úlceras.
São necessárias futuras pesquisas que estabeleçam a relação causal entre as variáveis e o
potencial papel de intervenções para a depressão. Estes resultados, assim como os de outros
xii
estudos, apontam para a importância da avaliação da depressão em pacientes portadores de
úlceras de pé diabético.
Palavras-chave: diabetes mellitus tipo 2, depressão, autocuidado, pé diabético, úlceras.
xiii
ABSTRACT
Depression has been recognized as a risk factor for foot ulceration in persons with diabetes
mellitus. The purpose of this study was to evaluate symptoms of depression and self-care
behaviors in patients with diabetic foot ulcer and with foot at risk and compare them. Using
convenience sampling methods, a cross-sectional study was conducted among persons with
type 2. One hundred patients with type 2 diabetes were studied and divided into two
groups: patients with foot at risk for ulceration and patients with ulcer. Symptoms of
depression (Beck Depression Inventory- BDI) and foot self-care behavior were assessed.
Patients with ulcer obtained higher BDI score results indicative of depression (20.37) than
the patients that had not developed foot ulcers (15.70) (p=0.030). Regarding self-care
behaviors, we did not find a significant difference between the two groups (p=0.219). The
following variables were significant for the development of diabetic foot ulcers: male
gender (p<0.001, OR =14.87, IC 95% 3.83 – 57.82) and severe depression (p=0.049, OR=
6.56 95% IC 1.01-42.58). Despite reported adequate self-care behaviors, patients with an
ulcer had more symptoms of depression than patients who were at risk for developing a
foot ulcer. Studies examining cause-and-effect relationships between these observations
and the potential role of depression interventions are needed. The results of this and other
studies suggest depression screening is important in patients with diabetes mellitus and foot
ulcers.
Keywords: type 2 diabetes mellitus, depression, self-care, diabetic foot, ulcers.
xv
“O mais importante na vida não é a situação em que estamos,
mas a direção na qual nos movemos."
Oliver Wendell Holmes
17
LISTA DE ABREVIATURAS
American Diabetes Association ADA
American Association of Diabetes Educators AADE
Center for Epidemiologic Studies Depression Scale CES-D
Conselho Federal de Psicologia CFP
Diabetes Mellitus DM
Diabetes Mellitus Tipo 2 DM 2
Doença Vascular Periférica DVP
Hipertensão Arterial Sistêmica HAS
Inventário Beck de Depressão BDI
International Working Group on the Diabetic Foot IWGDF
Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos mentais DSM-IV
Organização Mundial de Saúde OMS
18
Sociedade Brasileira de Diabetes SBD
Statistical Package for Social Sciences SPSS
Structured Clinical Interview for DSM- IV SCID-P
Teoria Cognitivo-Comportamental TCC
19
LISTA DE QUADROS E TABELAS
Quadro 1: Classificação de risco para desenvolvimento de úlceras – pag. 27
Tabela 1: Principais sintomas presentes na depressão - pag. 29
Quadro 2: Pontos de corte do BDI para amostra médico-clínica - pag. 33
Tabela 2: Cuidados de prevenção com os pés – pag.47
Tabela 3. Características sociodemográficas dos pacientes com úlcera e com pé de risco
pag. 70
Tabela 4. Características clínicas dos pacientes com e sem úlceras – pag. 72
Tabela 5. Comparação do escore total médio do Inventário Beck de Depressão (BDI) para o
grupo com úlcera e pé de risco – pag.73
Tabela 6: Comparação dos níveis de depressão encontrados nos grupos com úlcera e com
pé de risco – pag. 74
Tabela 7: Análise dos sintomas de depressão entre os grupos com úlcera e com pé de risco,
ajustados para sexo e idade – pag.75
Tabela 8: Análise dos itens do Inventário Beck de Depressão (BDI) significativamente
diferentes entre os grupos com úlcera e com pé de risco, ajustados para sexo e idade –
pag.76
Tabela 9: Classificação quanto a avaliação do comportamento de autocuidado com os pés
nos grupos com úlcera e com pé de risco – pag.77
Tabela 10. Resultados da análise de regressão logística multivariada relativa à presença de
úlcera (n=100) – pag. 78
21
SUMÁRIO
DEDICATÓRIA vii
AGRADECIMENTOS ix
RESUMO xi
ABSTRACT xiii
EPÍGRAFE xv
LISTA DE ABREVIATURAS 17
LISTA DE QUADROS E TABELAS 19
SUMÁRIO 21
INTRODUÇÃO 23
1 O PÉ DIABÉTICO 23
2 DEPRESSÃO 28
2.1 DEPRESSÃO E DIABETES 35
2.2 DEPRESSÃO E PÉ DIABÉTICO 38
3 COMPORTAMENTO DE AUTOCUIDADO 41
3.1 AUTOCUIDADO E DIABETES 43
3.2 AUTOCUIDADO E PÉ DIABÉTICO 46
JUSTIFICATIVA 55
22
OBJETIVOS 57
GERAL 57
ESPECÍFICO 57
METODOLOGIA 59
DELINEAMENTO DO ESTUDO 59
PACIENTES 59
LOCAL DE COLETA DE DADOS 60
CLASSIFICAÇÃO DO PÉ DIABÉTICO 62
COLETA DE DADOS 64
INSTRUMENTOS 64
APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA 67
CÁLCULO AMOSTRAL 67
ANÁLISE ESTATÍSTICA 68
RESULTADOS 69
DISCUSSÃO 79
CONCLUSÃO 93
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 95
ANEXOS 121
ARTIGO 129
23
INTRODUÇÃO
1. O Pé Diabético
O Diabetes Mellitus (DM) é uma doença crônica resultante da falta absoluta ou
relativa de insulina, caracterizada por distúrbios do metabolismo de carboidratos, gorduras
e proteínas, com consequências bioquímicas e estruturais em todo o organismo (Boulton,
Gries e Jervel, 1998; Brasileiro et al, 2005; ADA, 2014). O DM é considerado um sério
problema de saúde pública, devido à elevada prevalência, altos índices de morbidade e
mortalidade, além das repercussões econômicas e sociais decorrentes do impacto de
complicações clínicas que levam a incapacitações e redução significativa da sobrevida e
qualidade de vida dos pacientes, acarretando com isso aumento dos custos no controle da
doença (Oliveira, 2004, Fajardo, 2006).
O pé diabético, por sua vez, é uma das complicações do DM que tem contribuído
significativamente para situações incapacitantes ou que cursam com diversas limitações no
dia a dia do seu portador. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), denomina-se
“pé diabético um estado de infecção, ulceração ou destruição dos tecidos profundos dos
pés, associadas a anormalidades neurológicas e a vários graus de doença vascular periférica
nos membros inferiores” (Apelqvist et al, 2000).
24
Estima-se que 15% dos indivíduos portadores de DM desenvolverão úlceras de pé
diabético em algum momento de suas vidas (SBD, 2007). Entretanto, baseando-se na
incidência anual populacional que varia de 1% a 4%, e de prevalência entre 4% e 10%, essa
incidência atinge 25% (Lavery et al, 2003; Bona et al, 2010).
Na fisiopatologia do pé diabético, a neuropatia periférica sensitivo motora é
responsável pela perda progressiva da sensibilidade protetora e presença de sintomas como
pés insensíveis, desvios de postura e marcha. Adicionalmente, a doença vascular periférica
provoca o acometimento das artérias nos ramos de distribuição em diversas partes do corpo,
ocasionando claudicação intermitente e dor isquêmica em repouso (Parisi, 2009)
Outro fator associado à ocorrência de úlceras nos pés insensíveis é a pressão plantar
aumentada em alguns pontos específicos da planta do pé, que está relacionada a mobilidade
articular limitada e deformidades nos pés (Sanders, 1994; Zimny, Schatz & Pfohl,
2004), além de traumas, em geral repetitivos que, na maior parte das vezes, estão
relacionados a atividades como simplesmente caminhar. Estudo relevante das principais
causas de úlceras nos pés analisou 669 portadores de diabetes com úlceras nos pés e
mostrou que 21% foram atribuídos à fricção devido ao uso de calçados, 11% estavam
relacionados a lesões decorrentes de quedas, 4% a celulite como complicação de tinea
pedis, e 4% a traumas causados pelo próprio paciente (por exemplo, cortar as unhas dos
pés) (Macfarlane & Jeffcoate, 1997).
A úlcera é considerada a mais importante e freqüente complicação do pé diabético,
sendo constantemente associada a infecções e amputações (Reiber, 1998; Parisi, 2010).
Geralmente estas úlceras acontecem em consequência de traumas não percebidos pelos
25
pacientes, apresentam falhas no processo de cicatrização e, frequentemente, evoluem com
infecção que pode resultar em amputação do membro acometido (Bild et al, 1989). Estima-
se que de 14% a 20% dos pacientes com diabetes evoluem com úlceras nos pés, ao mesmo
tempo em que 85% das amputações são precedidas de úlceras (Boulton & Pedrosa, 2006;
Brem et al., 2006).
Cerca de 50% das amputações não traumáticas de membros inferiores são atribuídas
ao diabetes (Bild et al, 1989; Pecoraro, Reiber & Burgués, 1990). Reiber (1996) ressalta
que 15% dos indivíduos com diabetes, desenvolverão uma lesão no pé ao longo da vida. O
mesmo autor estima que, três anos após a amputação de um membro inferior, a
porcentagem de sobrevida do indivíduo é de 50%, e no prazo de cinco anos e a taxa de
mortalidade varia de 39% a 68%.
Estudo recente realizado no Brasil por Santos et al (2013) buscou determinar a
prevalência de amputações por pé diabético, além de identificar os fatores associados à
amputação segundo características do paciente e da atenção básica em saúde. Trata-se de
estudo epidemiológico de corte transversal que contou com 214 pacientes portadores de pé
diabético. Os resultados apontaram a prevalência de 50% de amputações e como fatores
associados à amputação: baixa escolaridade, duas ou mais pessoas residentes no domicílio,
renda inferior a um salário mínimo, não ter os pé examinados, não adesão medicamentosa,
controle inadequado da glicemia, além da falta de orientação quanto cuidados necessários
com os pés.
Muitos são os prejuízos causados pelo pé diabético. No caso das amputações, as
seqüelas físicas e limitações funcionais repercutirão na independência e autonomia do
26
paciente, além da possibilidade de seqüelas psicológicas advindas da vivência de mutilação,
luto pela perda do membro, depressão, baixa autoestima, limitações sociais, afastamento da
vida produtiva e sobrecarga familiar (Najjar, 2011). Somados a isso, os altos custos com o
tratamento e a reabilitação são fatores que contribuem para o aumento do impacto
socioeconômico desta doença, comprometendo, tanto a economia em geral, que deixa de
contar com estes trabalhadores, quanto o sistema de saúde, que poderia empregar gastos
muito menores com medidas preventivas (Apelqvist et al, 2000; Lopes, 2003; Najjar,
2011).
Diante desse panorama, a prevenção mostra-se como a chave do sucesso terapêutico
na abordagem ao pé diabético, devendo tornar-se prática constante na rotina de todo e
qualquer profissional que atenda portadores de diabetes (Parisi, 2010).
Na prevenção das úlceras plantares e das suas complicações, o exame criterioso dos
pés de portadores de diabetes é indispensável, pois permite a avaliação do risco para o
desenvolvimento de úlceras. Esta avaliação consiste no exame clínico dos pés, onde se
verifica a presença de: neuropatia, doença vascular periférica, úlceras, deformidades ósseas,
calosidades plantares, antecedentes pessoais de amputação ou úlcera, além da redução de
mobilidade articular. A partir da avaliação dos itens mencionados, classifica-se o pé de
risco de acordo com o quadro a seguir:
27
Quadro 1: Classificação de risco para desenvolvimento de úlceras
Risco Perfil Frequência Recomendações
0 Neuropatia ausente 1 vez ao ano -------
1 Neuropatia Cada 6 meses Educação
Calçado adequado
2 Neuropatia, DVP, Deformidades
e/ou proeminências ósseas
Cada 3 meses Educação
Calçados especiais
3 Úlcera
Amputação prévia
Cada 1- 3 meses Educação
Calçados especiais
Fonte: Apelqvist, Bakker, Houtum & Schaper, 2007
Esta classificação permite realizarmos o diagnóstico precoce do risco de ocorrência
de úlcera e desenvolvermos, junto ao paciente e seus familiares, medidas que visam obter a
maior adesão aos cuidados necessários e exigidos pelas manifestações clínicas destes
pacientes (Jeffcoate & Harding, 2003).
Estudos recentes têm investigado a existência de outros importantes aspectos
relacionados à ocorrência de úlceras, como os fatores psicológicos e comportamentais, que
poderiam estar envolvidos no desenvolvimento de complicações nos pés (Boulton, et al,
2005; Vileikyte, et al, 2004), destacando-se a presença de depressão (Vileikyte et al, 2009;
Vileikyte et al, 2005, Gonzalez et al 2010; de Groot et al, 2001; Williams et al, 2010; Ismail
et al, 2007).
28
2. Depressão
A prevalência dos transtornos depressivos na população em geral, situa-se entre 3%
a 5%. Em pacientes com alguma doença clínica, a prevalência de depressão varia entre 5%
a 10% nos pacientes ambulatoriais e 9% a 16% nos internados (Katon, 2003).
Apesar da alta prevalência do transtorno, especialmente entre a população com
doença clínica, a depressão costuma ser sub-diagnosticada e sub-tratada. Em torno de 50%
a 60% dos casos de depressão não são detectados pelo médico clínico, o que dificulta o
acesso destes pacientes a tratamentos adequados e específicos (McQuaid et al, 1999).
Nas últimas décadas surgiram manuais e protocolos para que profissionais da área
de saúde mental procedessem avaliação e o diagnóstico adequado de transtornos mentais. A
Associação Americana de Psiquiatria (APA) publicou o Manual Diagnóstico e Estatístico
de Transtornos mentais (DSM-IV, 2002) e a Organização Mundial de Saúde (OMS)
divulgou a Classificação Internacional de Doença (CID-10), ambos instrumentos que
estabelecem critérios diagnósticos para a depressão.
De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos mentais (DSM-
IV, 2002), a depressão é classificada dentre os transtornos de humor. Este diagnóstico é
caracterizado pela presença dos sintomas descritos na tabela a seguir:
29
Tabela 1: Principais sintomas presentes na depressão
Humor deprimido na maior parte do tempo;
Acentuada diminuição do interesse ou prazer nas atividades;
Perda ou ganho significativo de peso sem estar de dieta, ou diminuição
ou aumento do apetite;
Insônia ou hipersonia;
Agitação ou retardo psicomotor;
Fadiga ou perda de energia;
Sentimento de inutilidade ou culpa excessiva ou inadequada;
Capacidade diminuída de pensar ou concentrar-se, ou indecisão;
Pensamentos recorrentes de morte ou ideação suicida.
Fonte: DSM-IV, 2002
Seguindo os critérios diagnósticos estabelecidos pelo DSM – IV (2002) é necessário
a presença de no mínimo cinco dos nove sintomas mencionados no quadro acima, com a
permanência dos sintomas por um período mínimo de duas semanas, nas quais predomine o
humor deprimido ou a perda de interesse por quase todas as atividades. São sintomas que
produzem impacto significativo, trazendo prejuízos para o desempenho social e
ocupacional do individuo.
A depressão pode ser dividida quanto à intensidade de seus sintomas e predomínio
dos tipos de sintomas, de acordo com a CID-10:
30
1. Predomínio dos tipos de sintomas: distimia, depressão psicótica, transtorno afetivo
bipolar
2. Intensidade dos sintomas: leve, moderada ou grave.
A classificação quanto à intensidade dos sintomas permite quantificar a gravidade
da doença. O que determina se ela é leve, moderada ou grave não é apenas o número de
sintomas presentes, mas principalmente o quanto estes sintomas comprometem a vida do
paciente (Reche, 2004).
Segundo as autoras Souza, Fontana e Pinto (2005), a classificação quanto à
intensidade dos sintomas de depressão pode ser compreendida da seguinte forma:
• Leve: Os sintomas não atrapalham a rotina do indivíduo, que percebe que as atividades
exercidas já não trazem o prazer e a satisfação obtidos anteriormente, mas que com esforço
poderá manter de forma razoável suas atividades habituais.
• Moderada: Iniciam-se dificuldades na vida diária do paciente, existe a necessidade de maior
empenho na execução das atividades. O indivíduo deixa de sentir-se bem e passa a ter
pouca satisfação com eventos que antes eram prazerosos.
• Grave: A intensidade dos sintomas é elevada, acarretando limitações e incapacitação,
podendo apresentar comportamento suicida.
Tanto o DSM –IV (2002) quanto a CID-10 (1993) não visam estabelecer a etiologia
dos transtornos, mas sim, definir os critérios diagnósticos. Por este motivo não há o
comprometimento com nenhum pressuposto teórico e existe a pretensão de que seja uma
classificação universal de doenças mentais.
31
A depressão pode ser compreendida e explicada de formas distintas, a depender das
diversas teorias psicológicas existentes, como: psicanálise, humanismo, behaviorismo,
gestalt, entre outras. Como modelo referencial para este estudo utilizamos a teoria
cognitivo-comportamental (TCC) que abrange conceitos e técnicas advindos das
abordagens cognitiva e comportamental. A TCC tem mostrado resultados significativos no
tratamento da depressão, tanto na redução dos sintomas quanto na prevenção do
reaparecimento do problema, quando comparada com outras intervenções breves ou
tratamentos medicamentosos (Teasdale et al., 2000, Hollon et al., 2005, Cardoso, 2011 )
À luz do modelo cognitivo, as pessoas deprimidas apresentam distorções no
processamento de informações, que resultam em uma visão negativa persistente de si
mesmo, do futuro e do mundo (Beck et al, 1997). Consequentemente, esta forma de
interpretar os eventos e as expectativas, influenciam a expressão comportamental do
indivíduo deprimido, levando-o a se engajar em comportamentos depressivos (Powell et al,
2008, Shinohara, 1998). Sobre o olhar do modelo comportamental, a depressão é resultante
de redução no reforço positivo e/ou excesso de experiências aversivas, ocasionando um
círculo vicioso de retraimento gradual do paciente diante de atividades positivas e a perda
exponencial do reforçamento (Shinohara,1998; Powell et al, 2008). Portanto, a TCC une
dois princípios centrais: as cognições tem influência controladora sobre as emoções e
comportamentos e por sua vez, a forma de agir e se comportar pode afetar profundamente
padrões de comportamento e emoções (Wright, Basco & Thase, 2008).
A etiologia da depressão é multifatorial. De acordo com Meleiro (2005), a
vulnerabilidade para a depressão está associada a uma série de fatores, dentre eles: aspectos
32
genéticos, ambientais, suporte social, traumas, adaptações ao desenvolvimento e variações
hormonais.
A depressão tem sido considerada uma condição psiquiátrica comum, que apresenta
um curso crônico e recorrente. Frequentemente se associa à incapacitação funcional e
comprometimento da saúde física do indivíduo. Em geral, pacientes deprimidos exibem
limitação da sua atividade diária e bem-estar, além da necessidade de maior utilização dos
serviços de saúde (Flecka et al, 2003).
Sabe-se que a prevalência de depressão distribui-se de forma desigual na população,
sendo mais comum o diagnóstico entre: mulheres, baixo nível sócio econômico e
indivíduos que vivem sozinhos (Everson et al, 2002; Van de Velde S, Bracke P, Levecque
K, 2010). Além disso, indivíduos com depressão podem apresentar alterações biológicas
com potencial para desenvolver ou desencadear doenças crônicas, e estas por sua vez, em
virtude das limitações impostas pela doença também podem aumentar as chances de
ocorrência de depressão (Katon WJ, 2011; Boing et al, 2012 ).
Estudo recente elaborado por Boing et al (2012) buscou identificar a associação
entre depressão e doenças crônicas em 1720 adultos de 20 a 59 anos na cidade de
Florianópolis, SC. Dentre os resultados verificou-se a prevalência de 16,2% de depressão,
mostrando-se superior entre: mulheres, idosos, viúvos ou separados, baixo nível
socioeconômico, além de maior prevalência de depressão entre os indivíduos que
reportaram doenças crônicas.
Escalas foram desenvolvidas para a avaliação da depressão, visando a identificação
e quantificação dos sintomas depressivos de modo mais objetivo e reprodutível. Uma das
33
escalas mais utilizadas tanto na prática quanto na pesquisa clínica é o Inventário de
Depressão de Beck, ou em inglês Beck Depression Inventory (BDI), originalmente criada
por Beck e cols. em 1961 (Cunha, 2001).
Foram descritos diferentes pontos de corte e, segundo Beck, Steer e Brow (1996), a
decisão de adotar diferentes pontos de corte pode ser baseada unicamente nas
características de amostra.
Com o intuito de elevar a possibilidade da detecção de sintomas depressivos em
população apresentando condição de doença clínica concomitante, utiliza-se um ponto de
corte direcionado para amostra médico-clínica (Gorenstein & Andrade, 2000; Cunha, 2001)
que estabelece os seguintes critérios (Quadro 2)
Quadro 2: Pontos de corte do BDI para amostra médico-clínica*
Nível Escores
Mínimo 0-9
Leve 10-15
Moderado 16-29
Grave 30-63
(*Amostra médico-clínica: composta por indivíduos portadores de doenças clínicas)
34
A depressão pode manifestar-se isoladamente ou associada a uma doença. No
contexto médico não psiquiátrico, comumente encontram-se pessoas com quadros
depressivos, que podem existir antes do adoecer ou ter sido gerados pela própria doença e
seu tratamento (Furlanetto, 2000).
Não é fácil fazer essa associação entre doenças físicas e surgimento da depressão
(Furlanetto e Brasil, 2006; Furlanetto et al, 2006). Os autores relatam três estudos
longitudinais que mostraram essa associação em pacientes com câncer, doença pulmonar
obstrutiva crônica, artrite reumatóide, infarto agudo do miocárdio, insuficiência cardíaca
congestiva, lesão em extremidades por quedas e obesidade (Roberts et al., 2003; Polsky et
al., 2005; de Jonge et al., 2006). Indivíduos que apresentam sintomas depressivos poderiam
desenvolver mais facilmente doenças como diabetes (Golden et al, 2004), hipertensão
arterial sistêmica (Everson et al, 2000) e acidente vascular encefálico (Larson et al, 2001)
No entanto, a literatura sobre o assunto aponta resultados controversos, o que demonstra a
dificuldade em estabelecer uma associação linear entre depressão e o aparecimento de
comorbidades clínicas.
35
Depressão e Diabetes
Em relação ao diabetes, é comum que exista dificuldade na avaliação adequada dos
sintomas depressivos, pois fatores como perda de peso e de apetite, hipersonia, diminuição
da libido e lentidão psicomotora podem decorrer da própria condição clínica,
independentemente da presença de depressão. No entanto, a prática tem mostrado que o
diagnóstico da depressão em pacientes portadores de diabetes não é tão controverso como
em outras condições médicas como, por exemplo, o câncer (Fráguas et al, 2009).
Uma estratégia recomendada para o diagnóstico da depressão no diabetes baseia-se
na investigação de outros sintomas depressivos possivelmente não decorrentes do diabetes,
além da avaliação criteriosa da intensidade dos sintomas depressivos, análise da relação
temporal entre o início dos sintomas depressivos e da doença (Lustman, Griffith & Clouse,
1997; Teng, Humes, Demetrio, 2005; Fráguas et al, 2009).
Uma revisão sistemática de literatura realizada por Moreira et al (2003) identificou
que a prevalência de depressão em pacientes diabéticos variou entre 0 e 60,5%. Os fatores
relacionados à dispersão dos resultados foram decorrentes de diferentes metodologias e
instrumentos de avaliação dos sintomas depressivos, estando entre os mais utilizados o BDI
(Inventário de Depressão de Beck), o CES-D (Center for Epidemiologic Studies Depression
Scale) e o SCID-P (Structured Clinical Interview for DSM- IV).
Estudos prévios mostraram clara associação entre DM e depressão (Anderson et al,
2001; De Groot, 2001; Everson et al, 2002; Katon et al, 2004) . Os resultados de uma meta-
36
análise que incluiu 39 estudos mostrou que a prevalência de depressão entre pacientes
diabéticos foi significativamente superior entre as mulheres em comparação aos homens. A
presença do diagnóstico de DM praticamente duplica o risco de depressão e ainda, um em
cada três diabéticos tem depressão (Anderson et al, 2001).
Outros estudos, por sua vez, identificaram importantes fatores de risco sócio-
demográficos que estariam associados à presença de depressão entre os pacientes
diabéticos, que incluem indivíduos mais jovens, com nível sócio-econômico inferior, pouca
escolaridade, solteiros, sem suporte social e mulheres (Everson et al, 2002; Katon et al,
2004).
Lustman et al. (1997) demonstraram que a depressão associada ao diabetes tende a
recorrer ao longo dos anos. Após cinco anos da realização de um ensaio terapêutico, 25
pacientes com diabetes e depressão foram avaliados quanto à presença de sintomas
depressivos. Os resultados mostraram persistência ou recorrência da depressão em 92% dos
pacientes, com média de 4,8 episódios depressivos durante o período de cinco anos. No
primeiro ano após o tratamento 58,3% dos pacientes que apresentaram remissão ficaram
novamente deprimidos. No momento da avaliação, 64% apresentavam depressão e, nesses,
a hemoglobina glicada estava significativamente mais elevada.
Existem duas principais hipóteses que explicariam a presença de sintomas
depressivos entre pacientes diabéticos: a primeira refere-se às alterações bioquímicas, como
a hiperglicemia, e a segunda, enfatiza as exigências psicossociais e psicológicas
relacionadas à doença ou ao seu tratamento, como alterações na dieta, uso constante de
medicações, entre outras (Talbort & Nouewn, 2000; De Groot, 2001). Mais
37
especificamente, sintomas depressivos poderiam prejudicar a adesão ao tratamento, piorar o
controle metabólico e aumentar o risco de complicações do DM (De Groot, 2001).
Com a finalidade de avaliar estas duas hipóteses envolvidas na inter-relação DM e
depressão, Talbot e Nouwen (2000) conduziram uma revisão de literatura nas bases de
dados eletrônicas Medline, Psychlit, Current Contents, SciSearch, e Social SciSearch. Os
resultados mostraram que a depressão em indivíduos diabéticos representa um fenômeno
multideterminado, decorrente da interação entre fatores biológicos e psicossociais.
Sabe-se que a presença de depressão entre pacientes diabéticos associa-se a maior
frequência e gravidade dos sintomas do diabetes e suas complicações (Black, Markides,
Ray, 2003 & Katon et al, 2005). Uma meta-análise publicada por Groot et al. (2001)
incluindo 27 estudos, demonstrou relação clinicamente significativa entre depressão e
complicações do diabetes, como retinopatia, nefropatia, neuropatia, disfunção sexual e
complicações macrovasculares.
38
Depressão e Pé diabético:
A neuropatia está entre as complicações microvasculares do DM frequentemente
relacionadas aos sintomas depressivos.
A neuropatia diabética engloba uma série de manifestações clínicas que podem
incluir dor constante, redução da sensibilidade nos pés, instabilidade postural, além de ser o
principal fator de risco para ulcerações e amputações (Pecoraro, Reiber & Burgess, 1990;
Reiber et al, 1999). Considerada uma doença crônica e potencialmente incapacitante,
exerce impacto negativo no funcionamento físico e psicossocial, assim como na qualidade
de vida dos pacientes (Boulton et al, 2004; Vileikyte et al, 2003).
Evidências sugerem que há relação entre a neuropatia diabética e existência de
sintomas depressivos (Vileikyte et al, 2005; de Groot, 2001). Estudo transversal realizado
por Vileikyte et al (2005) avaliou a ligação entre a gravidade dos sintomas da neuropatia
diabética e sintomas depressivos. Participaram deste estudo 494 pacientes com neuropatia
diabética grave, selecionados através de testes de avaliação neurológica (escala de
comprometimento neurológico) . Os resultados mostraram que a neuropatia diabética
associou-se significativamente à presença de sintomas depressivos. Sintomas neuropáticos
(dor, instabilidade articular e redução da sensibilidade dos pés) se associaram de modo
independente com sintomas depressivos, sendo que, juntos, representaram a relação entre a
gravidade da neuropatia e sintomas depressivos.
39
O mesmo autor, acima citado, em 2009 estudou se a neuropatia seria um fator de
risco para os sintomas depressivos, assim como examina os mecanismos envolvidos nessa
relação. Tratou-se de um estudo longitudinal com 338 pacientes portadores de neuropatia
diabética, que foram avaliados segundo a gravidade dos sintomas da doença, as
consequências psicossociais da neuropatia e níveis de depressão. Os resultados
confirmaram que estados de maior gravidade de neuropatia estavam associados à presença
de quadros depressivos de proporções maiores.
Já em 2010, o estudo conduzido por Gonzalez et al verificou a relação entre os
sintomas de depressão e desenvolvimento de úlceras de pé diabético. Neste trabalho
participaram 333 pacientes (71% do sexo masculino, com idade média de 62 anos; 73%
com DM2) com neuropatia diabética periférica. Durante o seguimento de 18 meses, 63
pacientes desenvolveram úlceras nos pés. Os resultados mostraram que a depressão
relacionou-se significativamente ao aparecimento da primeira úlcera, mas não das
recorrentes. Os dados sugerem que a depressão está associada com maior risco de
aparecimento da primeira úlcera, sendo que esta relação apresentou-se independentemente
de fatores de risco de caráter biológico ou do comportamento de autocuidado.
Prosseguindo nesta linha de pesquisa, robusto é o estudo de base populacional de
coorte prospectivo realizado por Williams et al (2010), que avaliou se a depressão estava
associada a maior risco de aparecimento de úlceras de pé diabético. A análise incluiu 3.474
adultos com DM2 e sem úlceras ou amputações prévias. O seguimento médio foi de 4,1
anos. Os resultados indicaram que em comparação aos pacientes sem depressão, os
40
pacientes com depressão apresentaram risco duas vezes maior para a incidência de pé
diabético.
Desdobrando o tema, Winkley et al (2012) avaliaram se o transtorno depressivo
estaria associado ao aumento da mortalidade em diabéticos que apresentaram a sua
primeira úlcera no pé durante período de 5 anos de seguimento, em um estudo de coorte
que incluiu 253 pacientes. A prevalência do transtorno depressivo no início do estudo foi
de 32,2% (n = 82), sendo identificados 92 (36,4%) óbitos durante os cinco anos de
seguimento. Com isso, os autores concluiram que o transtorno depressivo esteve
significativamente associado ao risco duas vezes maior de mortalidade em comparação com
os pacientes que não estavam deprimidos.
Neste contexto, o trabalho de Monani et al (2008), parte então para as possíveis
relações entre cicatrização e depressão em estudo de coorte observacional com seis meses
de seguimento em 80 pacientes com pé diabético e úlcera. Os resultados mostraram que
pacientes que atingiram a cicatrização da úlcera obtiveram escores significativamente mais
baixos na escala de depressão, e os pacientes com escores maiores de depressão
apresentaram risco significativamente maior de não cicatrização.
41
3. Comportamento de Autocuidado
Observa-se na literatura questionamentos a respeito do modo em que se deveria
proceder à investigação sobre adesão ao tratamento, baseando-se em um construto geral ou
por meio de um grupo de comportamentos distintos de autocuidado (La Greca, 1990).
O termo adesão é muitas vezes confundido e utilizado para definir um traço ou uma
característica inata do sujeito. Trata-se de um conceito que foca na obediência às instruções
médicas e consequentemente dá ao paciente uma conotação de passividade diante do
tratamento. Por sua vez, o termo “comportamentos de autocuidado” assume que existem
uma série de fatores que contribuem para a ocorrência ou não do comportamento de
autocuidado. Trata-se de um paciente que assume responsabilidades, ou seja, é um paciente
ativo diante do seu tratamento (Gaslow, Wilson e Maccaul, 1985 e Cox &Gonder-
Frederick, 1992).
A adoção do termo “comportamentos de autocuidado” em detrimento ao uso da
terminologia “adesão” pretende demonstrar que o tratamento do diabetes e
consequentemente do pé diabético refere-se a um processo contínuo e complexo, que
ultrapassa os limites da mera ingestão de medicamentos e reflete a decisão necessariamente
compartilhada entre o paciente portador de DM e a equipe de saúde (Anderson, 1996).
Implica o paciente assumir a responsabilidades obre o seu tratamento, tornando-se um
participante ativo dentro de um processo que torna possível modular os estados biológicos
por meio do comportamento humano (Delamater, 2006)
42
Os procedimentos que tornam possível a avaliação dos comportamentos de
autocuidado são de naturezas distintas. Enquanto alguns utilizam as medidas quantitativas e
diretas como os indicadores biológicos dos quais os exames laboratoriais são considerados
os mais representativos, outros empregam indicadores comportamentais como, por
exemplo, o registro direto de comportamentos por meio de métodos observacionais, ou de
medidas descritivas e qualitativas como os auto-relatos, inventários e questionários
(Malerbi, 2000; Vermeire et al, 2001, Silva, Ribeiro & Cardoso, 2006).
Cada método possui vantagens e desvantagens. A utilização dos indicadores
biológicos, tais como: o nível de glicemia, o índice de massa corporal, a pressão arterial e
os níveis de colesterol, por exemplo, exercem papel como parâmetros auxiliares na análise
da evolução da doença e consequentemente da adesão ao tratamento. Entretanto, Malerbi
(2000) ressalta como desvantagem, que os resultados podem ser afetados por fatores, como
a adequação do tratamento, a presença de doenças concomitantes entre outros.
Dentre os indicadores comportamentais, os métodos observacionais, ou seja, a
observação direta do comportamento de adesão ao tratamento é utilizada como uma medida
de avaliação altamente específica e independente dos exames laboratoriais. Entretanto, tal
procedimento mostra-se altamente trabalhoso, uma vez que requer treinamento sistemático
dos observadores para uma codificação fidedigna do comportamento de adesão, além da
possibilidade do paciente alterar o seu comportamento em decorrência da situação de
observação (Malerbi, 2000).
43
A avaliação da adesão realiza-se principalmente por meio de relato verbal do
paciente, entretanto essa medida é considerada com algumas reservas. Há dúvidas sobre a
confiabilidade do relato, uma vez que este pode omitir lapsos no tratamento como forma de
se esquivar da punição por parte do médico, ou ainda, pode exagerar na qualidade de sua
adesão para agradar ao médico. Desse modo, existe grande possibilidade dos pacientes não
revelarem os seus comportamentos, seja por se tratar de temas que são considerados tabus,
assuntos sujeitos a punições sociais ou devido às limitações do paciente em termos de
memória e acessibilidade (De Rose, 1997, Malerbi, 2000). No entanto, essas limitações
podem ser minimizadas através da delimitação dos relatos a comportamentos bem
específicos e a intervalos de tempo recentes (Ferreira, 2001)
Autocuidado e Diabetes:
O diabetes é uma doença de manejo complexo, pois sua abordagem terapêutica
envolve além de medicamentos, uma série de mudanças de estilos e hábitos de vida dos
pacientes (Assunção, Santos & Costa, 2002).
Segundo Wagner, Schonoll e Gipson (1998) o tratamento do paciente diabético
contempla todos os aspectos que tornam mais difícil a adesão ao tratamento. Geralmente, a
baixa adesão ocorre em doenças que não apresentam desconforto imediato ou risco
44
evidente, característico de doenças crônicas. E, por outro lado, outros aspectos interferem
negativamente na adesão como a solicitação de mudanças no estilo de vida, complexidade
do tratamento, dificuldade de supervisionar diretamente os comportamentos solicitados pela
equipe de saúde uma vez que a meta do tratamento é a prevenção ou controle dos sintomas
e não a cura da doença.
A American Association of Diabetes Educators (AADE) preconiza que, para
melhores condições de saúde e maior qualidade de vida, faz-se necessária a implementação
mudanças comportamentais. Existem sete comportamentos de autocuidado essenciais para
o sucesso e efetividade ao manejo diabetes: alimentação saudável, ser ativo, monitorização,
tomar medicamentos, resolução de problemas, enfrentamento saudável e redução de riscos
(AADE, 2008).
Desta forma, os portadores de diabetes necessitam executar um complexo plano de
ações comportamentais de cuidados ao longo do dia, durante toda a sua vida. Estas atitudes
envolvem mudanças do estilo de vida, uso de medicações (insulina ou anti-diabéticos
orais), monitorização dos níveis de glicemia, resposta aos sintomas de hipoglicemia e
hiperglicemia, cuidados com os pés, entre outros. Trata-se, portanto de um esquema
terapêutico que exige a responsabilidade do paciente em integrar e seqüenciar todas estas
tarefas no seu dia a dia (Mcnabb, 1997).
Torres, Fernandes e Cruz (2007) realizaram revisão da literatura sobre a adesão ao
tratamento em pacientes diabéticos. Os resultados mostraram que o diabetes, por ser uma
doença crônica, tem como parte essencial do tratamento a prevenção e controle de
45
complicações. A adesão a este tratamento é de suma importância, porém é um processo
complexo que está relacionado a diversos fatores, como: longo período assintomático,
possibilidade de evoluir para complicações, necessidade de tratamento por toda a vida e
exigência de modificações no estilo de vida.
Alguns estudos mostraram que pacientes portadores de DM dificilmente seguem o
tratamento proposto pelos profissionais de saúde, sendo que as taxas de não adesão
costumam variar de 40% a 90% (Gonder- Freederick, Julian, Cox, Clarke & Cartes, 1988).
Por sua vez, comparando prescrição de medicação e estilo de vida Anderson, Fritzgerald e
Oh (1993) mostraram maior adesão às medicações prescritas do que às mudanças do estilo
de vida.
A baixa adesão aos comportamentos de autocuidado do diabetes parece resultar da
combinação de uma série de características tanto da doença, quanto do seu tratamento,
conforme citam Vásquez e Ring, 1993; Wagner et al, 1998; Warren e Hizenbaung, 1998,
pois primeiramente trata-se de uma doença crônica sem desconforto imediato ou risco
evidente, enquanto que o seu tratamento implica em mudanças no estilo de vida (muitas
vezes, de hábitos de vida bem consolidados e apontados pelo doente como gratificantes). O
tratamento é complexo, intrusivo e inconveniente, além de não haver supervisão direta dos
comportamentos apresentados pelos pacientes.
Freqüentemente, as conseqüências imediatas da adesão ao tratamento podem ser
consideradas mais aversivas e punitivas do que as do não cumprimento das orientações
médicas (Vásquez e Ring, 1993).
46
Estudo transversal e exploratório teve como objetivo identificar e analisar variáveis
demográficas e clínicas associadas à comportamentos de autocuidados em diabetes. Foram
analisados 316 indivíduos com diabetes, em uma amostra de conveniência. Os resultados
apontaram que a presença de sequelas crônicas e uma maior duração da doença estão
associadas a maior execução de comportamentos de autocuidado em diabetes (Silva, Pais-
Ribeiro & Cardoso, 2006).
Autocuidado e Pé Diabético:
O comportamento de autocuidado com os pés é definido como uma ação preventiva
por parte dos pacientes com a finalidade de minimizar os riscos de lesão nos pés e membros
inferiores e que podem cursar com infecção e possibilidade de amputação. Tais ações
preventivas teriam mais chances de serem adotadas entre indivíduos que reconhecem sua
responsabilidade nesse processo (Scollan-Koliopoulos, Walker & Bleich, 2010)
A avaliação dos pés é considerada como uma ação determinante para a redução do
risco de ulceração e amputação de membros inferiores, além de melhorar a qualidade de
vida dos pacientes (Fritschi, 2001; Boulton & Pedrosa, 2006; ADA, 2009). Ensinar os
pacientes com diabetes os princípios do autoexame e cuidados com os pés é uma tese há
47
muito tempo defendida como essencial nas estratégias de prevenção, além de serem
amplamente utilizadas na prática clínica (Edmonds & Foster, 2006).
Bakler, Apelqvist & Schaper (2011) publicaram um guia prático, definindo itens
que devem ser abordados na instrução de cuidados em pacientes com pé de risco. No
quadro abaixo citamos alguns deles (Tabela 2).
Tabela 2: Cuidados de prevenção com os pés
Inspeção diária dos pés, incluindo as áreas entre os dedos
A existência de outra pessoa com habilidade para inspecionar os pés, caso o
paciente com DM não seja capaz de fazê-lo
Lavagem regular dos pés com secagem cuidadosa, especialmente
entre os dedos
A temperatura da água deve ser sempre inferior a 37 °C
Não ficar com os pés descalços dentro de casa ou ao ar livre e evitar o uso
de sapatos sem meias
Não usar remédio para os calos e nem removê-los, que devem ser tratados
por um profissional de saúde
48
As altas taxas de ulceração e amputação em portadores de pé diabético sugerem que
as complicações relacionados aos pés muitas vezes ocorrem em consequência de falha na
efetividade do autocuidado e no envolvimento com atividades de risco, como por exemplo,
uso de materiais abrasivos, ausência de calçado adequado, retirada de cutículas e calos,
entre outros (Perrin & Swerissen, 2008).
Uma série de estudos envolvendo pacientes diabéticos demonstraram que 23% a
63% raramente examinam os seus pés ou nunca o fizeram (De Bernardis et al, 2004; Bell
et al, 2005; Litzelman et al, 1993). E outros, por sua vez, reforçam a falta de compreensão
dos pacientes acerca da gravidade do diabetes e a necessidade de medidas preventivas em
relação às complicações do pé, como por exemplo, o uso do calçado adequado (Johnson,
Newton & Goyder, 2006; Johnson, Newton, Jiwa, Goyder, 2005).
Inspecionar o interior dos sapatos diariamente
Não utilizar sapatos apertados ou sapatos com arestas e costuras irregulares
Utilizar óleos lubrificantes ou cremes para hidratar a pele seca
Cortar as unhas em linha reta
Exame regular dos pés realizado por um profissional de saúde
Buscar um serviço de saúde quando houver bolhas, cortes, arranhões ou
feridas
49
Pacientes portadores de úlcera nos pés são, muitas vezes, avaliados como indivíduos
de pouca adesão às orientações prescritas, além de serem caracterizados como pessoas que
demonstram atitude negativa em relação ao cuidado com os pés. É comum, no portador de
úlcera nos pés a ocorrência de limitações em atividades de rotina diárias, lazer, ou trabalho.
O comportamento que o paciente vai ter frente ao diagnóstico de pé diabético tende a variar
entre homens e mulheres, diferenças de etnia e circunstâncias sócio-econômicas (Brod,
1998; Vileikyte, 2001; Hjelm, Nyberg, Apelqvist, 2003; Vileikyte, Rubin & Leventhal,
2004; Nabuurs-Franssen et al, 2005). Pessoas com diabetes que acreditam que a dor é um
sintoma confiável de ulceração do pé são menos propensos a procurar cuidados com os
pés ou seguir orientações (Apelqvist, 2008).
Neste sentido, Houtum (2012) identificou que a principal barreira para o
impedimento do autocuidado com os pés é a presença de neuropatia. A ausência de dor e de
sensibilidade faz com que os pacientes não sintam os próprios pés, negando-lhes a
capacidade de agir apropriadamente frente a qualquer ameaça ou situação de risco.
Segundo o mesmo autor, a presença da retinopatia também é apresentada como uma
barreira importante para o autocuidado, pois dificulta a visualização dos pés, calos, feridas
e ulcerações.
As diretrizes internacionais para a abordagem do pé diabético visam traçar
estratégias de prevenção às úlceras nos pés, reforçando a necessidade do
controle metabólico, identificação e seleção de pessoas com alto risco para ulceração, ao
mesmo tempo em que insistem na necessidade da educação do paciente para o autocuidado
dos pés (Frykberg et al, 2006; ADA, 2007).
50
Ensinar os pacientes com diabetes os princípios do autoexame e cuidado dos pés é
considerado uma estratégia essencial para a prevenção (Edmonds & Foster, 2006). Houtum
(2012) identificou que além da presença de neuropatia e retinopatia, a falta de compreensão
do DM e de suas possíveis complicações é frequentemente identificada como uma barreira
à promoção do autocuidado. É necessário que os pacientes saibam o que fazer e quando
fazê-lo. Portanto, a educação é fundamental e deve ser fornecida aos pacientes de forma
simples, consistente e regular.
Para que haja diminuição das taxas de ulceração, Apelqvist & Larsson, (2000)
identificam a necessidade do direcionamento aos cuidados com os pés, o que inclui o
reconhecimento precoce dos pacientes com risco e a educação do paciente para a promoção
das práticas de autocuidado recomendadas.
O objetivo da educação em saúde é propiciar combinações de experiências bem-
sucedidas de aprendizagem, destinadas a facilitar a adoção voluntária de comportamentos
que visam o aprimoramento da saúde e melhor qualidade de vida. Assim, o processo de
educação para a prevenção do pé diabético deve dirigir-se ao desenvolvimento pessoal que
propicie as mudanças de comportamento em relação aos cuidados com os membros
inferiores, sendo necessário promover condições favoráveis para a manutenção e
valorização do comportamento esperado. Entende-se por comportamento esperado aquele
em que o paciente diabético se envolve de modo comprometido, tornando-se parte
integrante do processo educacional (Rocha, Zanetti, & Santos, 2008).
51
As consequências de um cuidado inadequado com os pés podem ser extremamente
graves, por este motivo é importante que a comunicação acerca da saúde dos pés seja
informada nos estágios iniciais. A educação para o cuidado dos pés é parte integrante do
pacote de informações sobre diabetes, mas precisa ser realizado de forma gradual,
sistemática e contínua, analisando a capacidade do paciente de absorver novas informações
e como enfrentar o seu diagnóstico (Gale et al, 2008; Mclnnes et al, 2011).
Segundo Pollock, Unwin & Connolly (2004), pacientes diabéticos que recebem a
educação para o cuidado com os pés estão mais propensos a praticar os comportamentos de
autocuidado necessários. É importante ressaltar que a educação só poderá aprimorar os
resultados desde que promova alterações de comportamento. Conhecimento é necessário,
mas não o suficiente para modificar atitudes (Knight, Dornan & Bundy, 2006).
Vários estudos têm demonstrado que um programa de educação intensivo ou
sessões individuais realizadas após o diagnóstico do diabetes pode atingir melhorias no
autocuidado em curto prazo, mas que estas não seriam mantidas por um longo período
(Barth et al, 1991; Johnson, Newton, Jiwa & Goyder, 2005; Searle et al, 2005). A revisão
sistemática realizada por Valk, Kriegsman & Assendelft (2002) concluiu que, após um
intervalo de seis meses a um ano da aplicação do programa, intervenções educativas breves
reduzem a incidência de úlceras e melhoram os cuidados com os pés. Para Mclness et al
(2011), a manutenção dessas melhorias a longo prazo vai depender do reforço das
orientações fornecidas e da oportunidade do paciente participar das consultas, esclarecendo
dúvidas.
52
A importância da educação do paciente tem sido descrita por vários autores
(Boulton, 1995; Armstrong & Harkless, 1998; Dorresteijn, Kriegsman & Valk, 2010). Em
revisão sistemática sobre o tema, realizada por Dorresteijn, Kriegsman, Assendelft &Valk
(2010) para avaliar os efeitos da educação do paciente com DM sobre a prevenção
de úlceras nos pés 11 estudos clínicos randomizados permitiram concluir que existem
poucas evidências consistentes de que programas de educação aplicados de forma isolada
conseguem obter resultados efetivos na redução da ocorrência de úlcera e amputação.
Entretanto, os autores salientam que esses achados devem ser interpretados mais como uma
falta de evidências que uma falta de eficácia.
No Brasil, Rocha, Zanetti & Santos (2009) buscaram identificar o conhecimento e
comportamento de indivíduos diabéticos em relação aos cuidados com os pés, e
entrevistaram 55 pacientes diabéticos, utilizando dois questionários elaborados pelos
pesquisadores, com base no Consenso Internacional do Pé Diabético. Aplicou-se
primeiramente o questionário de comportamento, onde foi solicitado que os pacientes
respondessem as questões levando em consideração os cuidados com os pés realizados no
domicílio. Em seguida foi realizado o exame físico dos pés e na sequência aplicou-se o
questionário de conhecimento. Os resultados mostraram que os pacientes não reconheciam
a real dimensão do risco com relação aos pés e que o conhecimento referido nem sempre se
traduziu na adoção de comportamentos de autocuidado.
Outro estudo desenvolvido por Cosson, Ney-Oliveira & Adan (2005) buscou
analisar e comparar o conhecimento sobre medidas preventivas do pé diabético em
portadores de DM2 em instituição de saúde pública antes e após programa educativo.
53
Avaliaram 109 pacientes quanto à história clínico-epidemiológica, dados demográficos,
atitudes de controle do DM e cuidados preventivos do pé. Em seus resultados encontraram
melhora significativa do conhecimento sobre cuidados preventivos do pé diabético após o
programa, assim como de atitudes de controle do DM. Concluiu-se que a população
avaliada desconhecia as medidas preventivas do pé diabético e do controle glicêmico. A
utilização de programas de educação, facilmente reprodutíveis nos centros de saúde,
poderia colaborar na redução das taxas de amputação de membros inferiores em pacientes
com DM.
Anselmo, Nery & Parisi (2010) avaliaram o comportamento de prevenção e auto-
inspeção de indivíduos diabéticos com risco para ulceração, que
receberam calçados adequados conforme prescrição ao mesmo tempo e que participaram
das visitas de rotina e educação padronizada fornecidos pelo serviço. Para a avaliação das
práticas de autocuidado com os pés foi utilizado um questionário que avaliou a presença de
10 comportamentos relacionados a rotina de cuidados com os pés. Os resultados mostraram
que: 90% apresentaram comportamento de autocuidado adequados, 8,7%
usavam regularmente o calçado fornecido; 65% realizavam a autoinspeção dos pés,
28,3% com inspeção familiar adicional; 77% lavavam e secavam os pés adequadamente,
88% cortavam as unhas de forma correta, 83%, não retiravam a cutícula , 77% realizavam a
rotina de inspeção dos sapatos, 70%, não utilizavam materiais abrasivos e 95%
não andavam descalços. Os resultados permitiram inferir que a abordagem educacional,
planejada e multidisciplinar pode contribuir na adesão aos cuidados necessários para a
prevenção de úlcera em pacientes diabéticos com risco de complicações.
54
Com base na observação clínica dos pacientes e nesta breve revisão de literatura
sugere-se que o desenvolvimento de úlceras nos pés pode estar relacionado a estas duas
variáveis: depressão e autocuidado com os pés. O presente estudo pretende então, investigar
a ocorrência de sintomas depressivos e comportamentos de autocuidado como fatores de
risco para a ulceração em membros inferiores de pacientes diabéticos, comparando-se
portadores de pé diabético com úlcera e portadores de pé de risco.
55
JUSTIFICATIVA
O pé diabético é considerado uma das complicações mais graves do DM (Parisi,
2010). Permanece realidade a informação de que a cada vinte segundos (Armstrong et al,
2013) ocorre uma amputação de membros inferiores decorrente de complicação relacionada
ao DM. Ao mesmo tempo, sabe-se que a grande maioria destas amputações é precedida por
úlcera nos pés (Apelqvist et al.,1993, 2000, 2008, Boulton, 2008; Parisi, 2009).
O pé diabético constitui-se uma das principais causas de morbidade e incapacidade
em pacientes portadores de diabetes, devido às repercussões biológicas, psicológicas e
sociais (Muñoz, Juan & Marín, 2004). Além disso, os custos requeridos para o tratamento e
reabilitação desta complicação são imensos, e, adicionalmente, a elevadíssima mortalidade
pós-amputação é bastante significativa para o portador da úlcera, uma vez que 70% dos
pacientes amputados evoluem para óbito após cinco anos. (Pecoraro et al., 1990, Apelqvist
et al.,1993, Reiber et al., 1998, Boulton et al., 2005 ).
O impacto psicossocial das amputações e úlceras nos pés tem sido amplamente
investigado. Frequentemente encontramos resultados que apontam para diminuição da
freqüência de atividades relacionadas à vida social, perda da capacidade laboral
dependência de terceiros para execução de atividades pessoais rotineiras e depressão
(Kinmond et al, 2003; Vileikyte, 2005; Gale et al, 2008; Salomé et al, 2011)
Segundo Apelquist (2008) existem múltiplos fatores que contribuem para o
aparecimento de úlceras entre portadores de diabetes. A avaliação e o reconhecimento
56
desses fatores, bem como o uso de uma abordagem global destes pacientes, são de extrema
importância para a prevenção e o gerenciamento bem sucedido dos casos.
Até o momento, os estudos que investigaram a ocorrência de sintomas depressivos e
comportamentos de autocuidado como fatores de risco para a ulceração mostram que este
assunto ainda demanda maiores avaliações. Baseados na observação da rotina clínica e na
revisão de literatura, avaliamos variáveis sócio-demográficas, clínicas e comportamentais
associadas à presença de úlceras em pé diabético, com a hipótese de que pacientes com
histórico de úlceras apresentariam índices maiores de depressão e cumpririam menos
práticas adequadas de autocuidado com os pés. Para testar tal hipótese, investigamos a
presença de sintomas de depressão e comportamentos de autocuidado entre pacientes
diabéticos com e sem histórico prévio de úlceras em membros inferiores.
57
OBJETIVOS
GERAL
Comparar sintomas depressivos e comportamentos de autocuidado com os pés em
população de portadores de pé diabético com úlcera e portadores de pé de risco.
ESPECÍFICOS
• Avaliar a presença de sintomas depressivos e de comportamentos de autocuidado com os
pés;
• Identificar os fatores associados à presença de úlcera;
• Correlacionar os achados com as características sociodemográficas e clínicas dos pacientes
estudados.
59
METODOLOGIA
DELINEAMENTO DO ESTUDO
Trata-se de estudo do tipo transversal comparativo e com amostra de conveniência,
realizado em pacientes portadores de DM2, acompanhados no Ambulatório de Pé Diabético
do Hospital de Clínicas da UNICAMP no período de fevereiro/2010 a dezembro/2011.
Após consulta médica, os pacientes passaram por triagem com a pesquisadora, onde foram
convidados a participar do estudo. Todos os pacientes que concordaram com a participação
assinaram termo de consentimento livre esclarecido. Inicialmente, preencheu-se o roteiro de
entrevista, e, em seguida foram aplicados os instrumentos de avaliação dos sintomas de
depressão e comportamentos de autocuidado.
PACIENTES
Foram convidados e aceitaram participar deste estudo 100 pacientes portadores de
DM2, atendidos no Ambulatório de Pé Diabético do Hospital de Clínicas da UNICAMP.
60
Critérios de inclusão:
• ter idade maior que 18 anos;
• ambos os sexos;
• portadores de DM 2;
• portadores de pé de risco para úlcera ou de pé diabético com úlcera ativa;
• participação voluntária, após a leitura e assinatura do Termo de Consentimento Livre
Esclarecido. ANEXO 1
Critérios de exclusão:
• presença de alterações neurológicas e/ou psiquiátricas graves, deficiência mental, quadros
demenciais, déficit de audição ou de linguagem. Tais variáveis foram avaliadas a partir da
análise do prontuário médico e da percepção do pesquisador no contato com o paciente.
LOCAL DE COLETA DE DADOS
O ambulatório de Pé Diabético/HC Unicamp visa prestar assistência ao portador de
pé diabético. O serviço está vinculado à disciplina de Endocrinologia da Faculdade de
Ciências Médicas da Unicamp.
61
A assistência aos pacientes é realizada por equipe multiprofissional constituída por
endocrinologista, médico residente em endocrinologia, ortopedista, profissional de
enfermagem, cirurgião vascular e técnico em órteses e próteses. O atendimento ocorre
semanalmente sob supervisão e coordenação de endocrinologista especialista em pé
diabético.
A avaliação do pé de risco é realizada pelos médicos residentes em Endocrinologia
e constou de inspeção e exame dos pés, buscando identificar quaisquer anormalidades na
estrutura dos pés, tais como deformidades (pés cavos, hálux valgo, calosidades, etc), além
da obtenção do histórico de úlceras e/ou amputações prévias. O ponto crucial desta
avaliação foi identificar pacientes com pé de risco, utilizando como principais métodos a
pesquisa da sensibilidade protetora com o monofilamento de Semmes-Weinstein de 10g e a
da sensibilidade vibratória com o diapasão de 128 Hz.
Feito o diagnóstico, foi estabelecido o tratamento e encaminhamento para os
diferentes profissionais, quando necessário. Os pacientes com úlcera ativa ou amputação
recente eram encaminhados a sala de feridas, onde profissional médico e profissional de
enfermagem realizavam a abordagem adequada até que ocorresse a cicatrização da ferida.
A regularidade e o seguimento dos pacientes no Ambulatório ocorre de acordo com
classificação do pé de risco ou da gravidade da úlcera. Segue-se a recomendação
preconizada por Apeqvist et al 2008.
A abordagem aos pacientes, independentemente da presença de úlcera ou não,
pressupõe o acompanhamento contínuo e sistemático a fim de assegurar as práticas de
62
autocuidado com os pés, além de orientação a familiares. Ensina-se como reconhecer o
problema nos pés e quais ações devem ser adotadas. As informações são transmitidas de
forma simples, consistentes e repetidas, proporcionando conhecimento e habilidade para o
cuidado com os pés.
CLASSIFICAÇÃO DO PÉ DIABÉTICO
Os princípios básicos de diagnóstico, prevenção e tratamento do pé de diabético em
nosso serviço seguem o International Consensus on the Diabetic Foot (Consenso
Internacional de Pé Diabético), atualizado pelo International Working Group on the
Diabetic Foot- IWGDF (Grupo Internacional de Trabalho em Pé Diabético, Apelqvist et al,
2012). Um dos elementos principais para o manejo do pé diabético foi a identificação do pé
de risco. Para isso, esta avaliação verificou (Apelqvist et al, 2012):
- presença de neuropatia, em particular perda de sensibilidade protetora, pesquisando-se
alterações através do exame com monofilamento de Semmes- Weistein e sensibilidade
vibratória com diapasão de 128hz
- presença de doença vascular periférica (DVP) por meio da pesquisa dos pulsos podálicos
tibial posterior e pedioso
- presença de úlcera
-presença de deformidades com ou sem proeminências ósseas
63
- presença de calosidades plantares
- redução de mobilidade articular
- histórico de amputação ou úlcera
Considerou-se como pé de risco para ocorrência de úlceras se algum dos itens acima
esteve presente (Apelqvist et al, 2007), sendo:
Risco 0 - sem alteração
Risco 1 - alteração de sensibilidade
Risco 2 - alteração de sensibilidade e/ou deformidade ou proeminências ósseas e/ou sinais
de doença vascular periférica
Risco 3 - episódio de amputação ou úlcera prévias.
64
COLETA DE DADOS
Os participantes do estudo foram primeiramente selecionados pela análise de
prontuários no dia da consulta agendada no Ambulatório de Pé Diabético. Os pacientes
foram previamente selecionados de acordo com os critérios de inclusão, pela pesquisadora
antes das consultas médicas e ao final destas foram convidados a participarem da pesquisa,
ou seja, foram incluídos no estudo à medida que se apresentavam ao serviço.
Após a pesquisa em prontuário médico para confirmação dos dados clínicos
referentes ao diagnóstico, os pacientes foram entrevistados em relação aos aspectos
sociodemográficos.
Para avaliar a presença de sintomas de depressão aplicamos o Inventário Beck de
Depressão e o questionário de avaliação de autocuidado com os pés - Anexos 3 e 4.
INSTRUMENTOS
• Roteiro de Entrevista Estruturada:
Elaborado pelas pesquisadoras, com a finalidade de obter informações sobre dados
demográficos e socioeconômicos, tais como: idade, sexo, estado civil, escolaridade, renda
65
média mensal, atividade profissional, procedência, tabagismo e uso de bebidas alcoólicas.
ANEXO 2
• Pesquisa em prontuário médico:
Obtenção de dados clínicos referentes ao diagnóstico de pé diabético e úlcera, classificação
de risco, tempo de DM, co-morbidades, uso de insulina, índice de hemoglobina glicada.
• Inventário Beck de Depressão:
O Inventário Beck de Depressão (BDI) elaborado por Beck & Ward (1961) é um dos
dispositivos psicométricos de auto-avaliação de depressão amplamente utilizado em várias
populações e estudos (Gorenstein & Andrade, 2000). Os itens do inventário foram criados a
partir da observação clínica de pacientes deprimidos em psicoterapia, e posteriormente
foram selecionados os sintomas específicos da depressão, segundo critérios diagnósticos do
DSM (Beck et al, 1961). Foi traduzido para vários idiomas e validado em diversos países,
inclusive no Brasil (Gorenstein & Andrade, 2000).
O BDI é um teste psicológico, caracterizado como instrumento de avaliação e mensuração
de características psicológicas, constituindo-se como técnica de uso privativo do psicólogo,
segundo resolução regulamentada pelo Conselho Federal de Psicologia- CFP (2003).
A escala é composta de 21 itens, cada um com 4 alternativas, que incluem sintomas e
atitudes, cuja intensidade varia de 0 a 3. Tais itens referem-se à sintomatologia depressiva:
tristeza, pessimismo, sentimento de fracasso, insatisfação, culpa, punição, autoaversão,
66
autoacusações, idéias suicidas, choro, irritabilidade, retraimento social, indecisão, mudança
na autoimagem, dificuldade para trabalhar, insônia, fatigabilidade, perda de apetite, perda
de peso, preocupações somáticas e perda da libido (Cunha, 2001). Optou-se pela adoção do
ponto de corte referente à amostra médico-clínica e os critérios de classificação: (0-9)
mínimo, (10-16) leve, (17-29) moderado, (30-63) grave. A escala BDI foi dividida em dois
subgrupos: os primeiros 13 itens refletem sintomas cognitivo-afetivos, enquanto que os
últimos 8 referem-se a queixas somáticas e de desempenho (Beck, et al, 1961). ANEXO 3
• Questionário de Avaliação de Autocuidado com os pés:
Este questionário é composto por 10 itens que avaliam práticas cotidianas de auto cuidado
com os pés e que foi publicado em Alselmo et al, 2010. Nele o paciente é questionado
quanto à realização dos seguintes cuidados: autoexame dos pés, inspeção adicional por um
membro da família, lavar e enxugar adequadamente os pés, passar hidratante, cortar as
unhas de forma reta, não retirar as cutículas, utilização do calçado adequado, inspeção
dentro dos sapatos antes de calçar, não utilizar materiais abrasivos e não andar descalço. As
respostas, conforme descrito no artigo original são pontuadas por 0 (zero) que corresponde
ao procedimento correto ou 1 (hum) quando for inadequado. Cada questionário, no final da
sua aplicação permite realizar uma pontuação que varia de 0 a 10, onde quanto maiores os
resultados, menor o cuidado em relação aos pés. Com este resultado, a avaliação de
autocuidado com os pés foi definida da seguinte maneira: 0 - excelente, 01-05 - satisfatória
e ≥ 6 inadequada (Anselmo et al, 2010). ANEXO 4
67
APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA EM SERES
HUMANOS
O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres
Humanos da Faculdade de Ciências Médicas, sob nº. 675/2008.
Após essa aprovação iniciou-se a coleta de dados. Todos os participantes tiveram
conhecimento prévio do estudo e assinaram o termo de consentimento livre esclarecido
(Anexo 1)
CÁLCULO AMOSTRAL
Realizamos um estudo piloto, incluindo 10 pacientes de cada grupo para determinar
o tamanho da amostra mínima capaz de detectar diferenças entre os grupos. Utilizamos 8
pontos para o BDI e 1 ponto para o auto-cuidado, com base em um poder estatístico de
80%. estimou-se o número mínimo de 46 pacientes para o BDI e 48 para o questionário de
autocuidado.
68
ANÁLISE ESTATÍSTICA
Os resultados foram analisados pelo programa SPSS (Statistical Package for Social
Sciences), versão 16.0 for Windows. Análises descritivas e de frequência foram calculadas
através da média, mediana, desvio padrão, mínimo, máximo e percentuais. Associação
entre as variáveis categóricas foi analisada com os testes de Qui-Quadrado ou exato de
Fisher. O teste de Mann-Whitney foi utilizado para comparar as variáveis numéricas entre
dois grupos.
Para comparar as variáveis numéricas entre os dois grupos, ajustando-se para idade
e sexo foram utilizados a análise de covariância (ANCOVA), seguida do teste post-hoc de
Tukey-Kramer, com as variáveis transformadas em postos (ranks), devido à ausência de
distribuição normal. Para comparar as variáveis categóricas entre os grupos com úlcera e
com pé de risco, ajustando-se para idade e sexo, foi utilizada a análise de regressão
logística múltipla.
O nível de significância adotado para os testes estatísticos foi de 5%, (P < 0.05).
69
RESULTADOS
Fatores sociodemográficos
Estudamos 100 pacientes portadores de DM2, sendo 50 portadores de pé diabético
com úlcera e 50 portadores de pé de risco para úlcera. As características sociodemográficas
da amostra estão descritas na Tabela 3.
70
Tabela 3. Características sociodemográficas dos pacientes com úlcera e com pé de risco.
CARACTERÍSTICAS PÉ DE RISCO ÚLCERA TOTAL
Pacientes (n) 50 50 100
Idade (média) (desvio-padrão) 64.00 (9.77) 59.50 (8.33) 62.00 (9.15)
Masculino
18
41
59
Sexo (n) Feminino 32 09 41
Casado 40 30 70 Divorciado 02 09 11
Solteiro 05 07 12
Estado Civil (n)
Viúvo 03 04 07
Não alfabetizado
05
09
14
Fundamental incompl. 36 32 68
Fundamental compl. 03 03 06
Ensino médio incompl. 03 05 08
Escolaridade (n)
Ensino médio compl. 03 01 04
Aposentado
38
24
62
Com vínculo 06 05 11
Ocupação (n)
Sem vínculo 06 21 27
Campinas
16
22
38
Até 100Km Campinas 24 20 44
Procedência (n)
> 100 Km de Campinas 10 08 18
Até 1 Salário Mínimo *
21
36
57
De 1 a 2 SM 22 12 34
Renda Mensal (n)
Mais de 3 SM 07 02 09
* O salário mínimo considerado foi de 510 reais, vigente para o Estado de São Paulo no ano de 2010
71
Na amostra estudada (n = 100), 41% dos pacientes eram do sexo feminino e 59% do
sexo masculino.
A idade variou de 38 a 83 anos, mediana de 62 anos. Quanto ao estado civil, 70%
eram casados, 12% solteiros, 11% divorciados e 7% viúvos. Ao analisarmos a escolaridade
verificamos que a maioria (68%) possuía o ensino fundamental incompleto.
Quanto à procedência, 44% são de regiões distantes até 100 km de Campinas, 38%
residem em Campinas e 18% procedem de municípios próximos a Campinas.
No que se refere à ocupação, 62% são aposentados, 27% possuem vínculo
empregatício e 11% não possuem vínculo de trabalho. Quanto à renda familiar, 57% deles
possuem renda familiar de até 1 salário mínimo.
Os dois grupos compunham-se com diferenças para sexo (p=<0.001) e idade
(p=0.109), o que foi devidamente ajustado na análise estatística. Quanto aos demais
fatores, não foi encontrada diferença significativa entre os dois grupos.
Características clínicas
As características clínicas da amostra estão descritas a seguir, na Tabela 4.
72
Tabela 4. Características clínicas dos pacientes com úlcera e com pé de risco para úlcera
CARACTERÍSTICAS PÉ DE
RISCO
ÚLCERA TOTAL
Tempo Diagnóstico DM (anos)
(desvio-padrão)
15 (8.45)
17 (9.18)
15.00 (8.80)
HbA1c (%) (desvio-padrão)
8. 25 (1.89)
8.65 (2.12)
8.45 (2.02)
Uso de Insulina (n)
42
45
85
Hipertensão
Arterial sistêmica
45
37
82
Dislipidemia 28 34 62
Obesidade 15 8 23
Cardiopatia
isquêmica
11 11 22
Tabagismo 10 05 15
Comorbidades
(n)
Hipotireoidismo 05 09 14
73
O tempo de diagnóstico do diabetes variou de 03 a 40 anos, mediana de 15 anos.
Quanto à terapêutica, 85% faziam uso de insulina. Em relação à hemoglobina glicada, os
índices variaram de 5,9% a 14,5%, mediana de 8,4% e não foi encontrada diferença
significativa entre os dois grupos (p=0.134).
Em relação às doenças associadas, observaram-se predominância dos diagnósticos
de: Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) (82%), dislipidemia (62%), obesidade (23%),
cardiopatia isquêmica (22%), tabagismo (15%) e hipotireoidismo (14%).
Sintomas de depressão
O escore total médio do BDI está descritos na tabela 5.
Tabela 5. Comparação do escore total médio do Inventário Beck de Depressão (BDI) para o
grupo com úlcera e pé de risco
BDI PÉ DE RISCO ÚLCERA Valor –P
Escore total
15. 70
20.37
P=0.030
74
Pacientes com úlcera obtiveram escores maiores ao BDI, indicativos de depressão,
(20.37) do que os pacientes que não haviam ulcerado (15.70), (p=0.030).
Os níveis de depressão, avaliados pelo BDI estão descritos na Tabela 6.
Tabela 6: Comparação dos níveis de depressão encontrados nos grupos com úlcera e com
pé de risco
NÍVEIS DE DEPRESSÃO PÉ DE RISCO ÚLCERA TOTAL
Mínimo (%) 20% 26% 23%
Leve (%) 54% 26% 40%
Moderado (%) 18% 28% 23%
Grave (%) 8% 20% 14%
Total (%) 100% 100% 100%
Considerando a classificação quanto aos níveis de depressão, verificamos que 54%
dos pacientes com pé de risco apresentaram depressão leve, enquanto que entre os pacientes
com úlcera as freqüências dos os níveis foram de distribuição mais homogênea: 28% com
depressão moderada, 26% depressão mínima, 26% depressão leve.
Os níveis de depressão moderado e grave estiveram presentes em 48% dos pacientes
com úlcera e em 26% dos pacientes sem úlcera.
A tabela 7, a seguir, mostra a análise dos itens do BDI.
75
Tabela 7: Análise dos sintomas de depressão entre os grupos com úlcera e com pé de risco
*Valor-P referente à análise de covariância (ANCOVA) para comparação das variáveis numéricas entre os 2 grupos,
ajustado para sexo e idade.
ANÁLISE DOS ITENS - BDI Valor- P*
BDI 1- tristeza p=0.433
BDI 2- pessimismo p= 0.018
BDI 3- sentimento de fracasso p= 0.171
BDI 4- insatisfação p=0.219
BDI 5- culpa p=0.058
BDI 6- punição p=0.006
BDI 7- autoaversão p=0.317
BDI 8- autoacusação p= 0.002
BDI 9- ideias suicidas p=0.366
BDI 10- choro p=0.262
BDI 11- irritabilidade p=0.118
BDI 12- isolamento social p= 0.007
BDI 13- indecisão p=0.973
BDI 14- mudança na autoimagem p=0.332
BDI 15- dificuldade para trabalhar p=0.304
BDI 16- insônia p=0.469
BDI 17- fatigabilidade p=0.626
BDI 18- perda de apetite p=0.007
BDI 19- perda de peso p=0.046
BDI 20- preocupações somáticas p=0.089
BDI 21- perda da libido p=0.662
76
A avaliação dos itens: tristeza, sentimento de fracasso, insatisfação, sentimento de
culpa, autodepreciação, desejo de autopunição, crises de choro, irritabilidade, indecisão,
distorção da imagem corporal, inibição para o trabalho, distúrbios do sono, fatigabilidade,
preocupação somática, perda da libido, não apontou diferenças significativas entre os dois
grupos.
A tabela a seguir mostra a comparação dos sintomas de depressão estatisticamente
significativos entre os grupos com úlcera e com pé de risco.
Tabela 8: Análise dos itens do Inventário Beck de Depressão (BDI) significativamente
diferentes entre os grupos com úlcera e com pé de risco, ajustados para sexo e idade.
* Valor-P referente à análise de covariância (ANCOVA) para comparação das variáveis numéricas entre os 2 grupos, ajustado para sexo e idade. Variáveis transformadas em postos/ranks devido à ausência de distribuição normal. Para variáveis categóricas foi utilizada a análise de regressão logística múltipla.
ESCORES (MÉDIA) ITENS DO BDI
PÉ DE RISCO ÚLCERA
VALOR- P*
BDI 2- Pessimismo 0.37 0.94 P=0.018
BDI 6- Punição 0.48 1.20 P=0.006
BDI 8 – Autoacusação 0.80 1.25 P=0.002
BDI 12- Isolamento social 0.32 0.85 P=0.007
BDI 18- Perda de Apetite 0.17 0.69 P=0.007
BDI 19- Perda de Peso 0.18 0.54 P=0.046
77
A análise dos itens que compõem o BDI mostrou que os pacientes com úlceras
apresentaram índices significativamente mais elevados de: pessimismo (p=0.018),
sentimento de punição (p=0.006), autoacusação (p=0.002), isolamento social (p=0.007),
perda de apetite (p=0.007) e perda de peso (p=0.046) em relação aos pacientes sem úlcera.
Comportamentos de autocuidado com os pés
A avaliação e comparação dos comportamentos de autocuidado entre os grupos com
úlcera e com pé de risco mostrou que não houve diferença significativa quanto ao escore
total (p=0.219).
A tabela a seguir mostra a classificação da avaliação sobre o comportamento de
autocuidado com os pés.
Tabela 9: Classificação quanto a avaliação do comportamento de autocuidado com os pés
nos grupos com úlcera e com pé de risco.
AUTOCUIDADO PÉ DE RISCO ÚLCERA TOTAL
Excelente (%) 2% 2% 2%
Satisfatório (%) 88% 86% 87%
Inadequado (%) 10% 12% 11%
78
A avaliação e comparação do comportamento de auto-cuidado entre os dois grupos,
mostrou que ambos apresentaram práticas satisfatórias de autocuidado com os pés,
totalizando 87%.
Fatores associados à presença de úlceras Tabela 10. Resultados da análise de regressão logística multivariada relativa à presença de
úlcera (n=100).
VARIÁVEIS CATEGORIAS VALOR- P OR IC 95% O.R.*
Sexo Feminino (ref.)
Masculino
----
<0.001
1.00
14.87
-----
3.83 – 57.82
BDI
Classificação
1+2 (mínimo+ leve)
4 (grave)
----
0.049
1.00
6.56
-----
1.01-42.58
* OR (Odds Ratio) = Razão de risco para úlcera; (n=50 com úlcera e n=50 sem úlcera). IC 95% OR = Intervalo de 95% de confiança para a razão de risco. Critério Stepwise de seleção de variáveis.
Através da análise de regressão logística multivariada identificaram-se os fatores
associados à presença de úlcera: sexo masculino (p<0.001, OR =14.87, IC 95% 3.83 –
57.82), níveis de depressão grave (p=0.049, OR= 6.56 95% IC 1.01-42.58).
79
DISCUSSÃO
Identificamos até o presente momento, a existência de poucos estudos que
investigaram concomitantemente sintomas de depressão e comportamentos de autocuidado
em pacientes diabéticos com complicações em membros inferiores. Esta constatação nos
estimulou a realizar este estudo, onde comparamos pacientes com úlcera e pacientes com
risco para ulceração quanto a presença de sintomas depressivos e comportamentos de
autocuidado com os pés.
A revisão de literatura apontou a existência de estudos que tiveram o objetivo de
verificar a influência de variáveis psicossocias em pacientes portadores de: DM2 (Gale et
al, 2008, Gonzalez et al, 2008; Lin et al 2010; Scollan- Koliopoulos et al, 2010), neuropatia
diabética (Vileikyte et al, 2004; Vileikyte et al, 2005; Vileikyte et al, 2009; Gonzalez et al,
2010, Vedhara et al, 2010), pé ulcerado (Kinmond et al, 2003; Monani et al, 2008; Salomé
et al, 2011;Yekta et al, 2011) e primeira úlcera (Ismail et al, 2007; Winkley et al, 2007;
Winkley et al, 2012). Embora a depressão tenha sido uma variável constantemente
estudada, não encontramos evidências de estudos prévios que tenham avaliado e comparado
pacientes com úlcera e pacientes com pé de risco, quanto a presença de depressão e
comportamento de autocuidado, o que nos estimulou a realizar esta pesquisa e abranger não
apenas pacientes com úlcera, mas também aqueles com risco para ulceração.
Nossos resultados apontaram que pacientes diabéticos com úlceras apresentaram
maiores evidências de depressão quando comparados aos pacientes com pé de risco. Este
achado mostra-se em concordância com estudos que identificaram maior prevalência de
80
depressão entre pacientes com úlceras nos pés (Ismail et al, 2007; Monani et al, 2008;
Williams et al, 2010).
A revisão sistemática conduzida por Moreira et al (2003) mostrou que alguns fatores
aparentemente estão correlacionados com a depressão entre indivíduos diabéticos, entre
eles, a dificuldade de aceitação e adaptação à doença, assim como a capacidade em lidar
com as alterações que a doença impõe sobre alguns aspectos da vida cotidiana.
A lesão nos pés em pacientes portadores de DM pode influenciar seu cotidiano de
maneira significativa, acarretando consequências que incluem distúrbios psicossociais,
como a depressão, além de impacto negativo e significativo na qualidade de vida
(Vileikyte, 2001; Gonzalez et al, 2008; Vedhara et al, 2010; Salomé et al, 2011).
Estudo transversal (Meijer et al, 2001) com 14 pacientes com pé diabético e grupo
controle identificou impacto sobre a função física e capacidade de mobilidade entre os
pacientes com úlcera. Estudo qualitativo (Kinmond,et al, 2003) contou com a narrativa de
47 pacientes com pé diabético e mostrou a presença de quatro condições psicológicas: vida
restritiva, isolamento social, descrença quanto a si mesmo, além do fato de se considerarem
um fardo para a família.
Apesar de evidências na literatura sugerirem relação entre depressão e complicações
do diabetes (Peyrot & Rubin, 1997; de Groot et al, 2001), existem ainda controvérsias
quanto a associação entre sintomas de depressão e lesões de pé diabético. Altenburg et al
(2011) pretenderam identificar os fatores biopsicossociais associados ao desenvolvimento
de úlceras de pé diabético. Constatou-se entre os pacientes com úlcera, a presença de baixo
81
comportamento saudável, maior consumo de álcool, menor utilização dos serviços de saúde
e baixa ansiedade; a depressão não mostrou-se como fator associado à ulceração. O estudo
de Simson et al (2008) realizado com 111 pacientes com pé diabético constatou que a
intensidade da depressão não esteve associada a gravidade dos sintomas físicos.
Alguns autores demonstraram que em pacientes portadores de diabetes, a depressão
está associada à maior ocorrência, recorrência e não cicatrização de úlceras (Ismail et al,
2007; Monani et al, 2008, Williams et al, 2010).
Estudo prospectivo (Ismail et al, 2007) realizado com 253 pacientes portadores de
primeira úlcera de pé diabético conclui que um terço destes pacientes apresentavam
depressão significativa. Monani et al (2008) em estudo prospectivo com 80 pacientes com
DM2 e úlceras de pé diabético demonstrou que os pacientes que atingiram a cicatrização da
úlcera obtiveram escores significativamente mais baixos na escala de depressão, e os
pacientes com escores maiores de depressão apresentaram risco significativamente maior
de não cicatrização. E o estudo prospectivo de base populacional realizado por Williams et
al (2010) com 3.474 adultos com DM2 e sem úlceras ou amputações prévias, concluiu que
os pacientes com depressão apresentaram risco duas vezes maior para a incidência de pé
diabético em comparação aos pacientes sem depressão.
O estudo realizado por Winkley et al (2012) foi mais além, e avaliou se a depressão
estaria associada ao aumento da mortalidade em pacientes diabéticos com úlceras. Durante
cinco anos, acompanharam 253 pacientes com o diagnóstico de primeira úlcera em pé
diabético. Os resultados mostraram que a depressão associou-se a um risco duas vezes
maior de mortalidade na população analisada.
82
No presente estudo, a avaliação dos sintomas de depressão realizada através do BDI
identificou escores mais altos, indicando graus maiores de depressão, entre os pacientes
com úlcera em comparação aos pacientes com pé de risco.
O delineamento do estudo não permitiu verificar se o transtorno depressivo agravou
a condição física do paciente, contribuindo para a ocorrência de ulceração ou se a ulceração
de pé diabético desencadeou ou exacerbou o quadro depressivo.
Partindo da primeira premissa, a depressão em pacientes portadores de diabetes
pode ter afetado negativamente comportamentos que interferem diretamente no controle e
manejo da doença, com possíveis repercussões no autocuidado com os pés que acarretariam
o aparecimento de úlceras. Ou de acordo com a segunda hipótese, a ulceração poderia ter
causado um impacto significativo na ocorrência de depressão entre a população estudada,
devido a conseqüências mais danosas e prejudiciais no que se refere a presença de sérias
restrições de mobilidade, inaptidão para o exercício profissional, dificuldade para execução
de atividades do dia a dia, sensação de isolamento social e elevada dependência de terceiros
(Kinmond et al, 2003; Vileikyte, 2001).
Contudo, nossos dados possibilitaram identificar que a associação entre depressão e
ulceração existe, mas para estabelecer uma relação de causa e efeito e verificar os
determinantes desta associação, seriam necessários estudos de delineamentos prospectivos
ou longitudinais.
A análise dos itens do BDI nos permitiu refletir sobre o significado clínico de
nossos resultados, fornecendo maior conhecimento e compreensão dos sintomas associados
83
à depressão em nossa casuística. Desta forma, identificamos que pessimismo, sentimento de
punição, autoacusação, isolamento social, perda de apetite e perda de peso foram os
sintomas de maior prevalência entre os portadores de úlceras nos pés, evidenciando tanto a
importância de sintomas cognitivos quanto de somáticos.
Estudo transversal (Salomé, Blanes & Ferreira, 2011) com 50 pacientes com
diabetes e úlceras nos pés verificou a presença de sintomas depressivos moderados em 64%
dos pacientes, com a predominância dos seguintes sintomas: tristeza, mudança da
autoimagem, autodepreciação, diminuição da libido e isolamento social.
Evidências sugerem que diante da associação entre depressão e comorbidades
clínicas, os sintomas cognitivos da depressão são melhores preditores de depressão do que
os sintomas somáticos (Everson et al., 1996; Barefoot et al.,2000), os quais podem ser
confundidos com características próprias da doença (Furlanetto & Brasil, 2006). Lustman
et al (1997) verificaram que nenhum dos sintomas cognitivos é reconhecido como uma
característica clínica comum ao diabetes, entretanto, muitos dos sintomas somáticos, por
exemplo: fadiga, perda de interesse por sexo, alterações de apetite ou sono, ocorrem tanto
nos quadros de depressão quanto no de diabetes.
Nossos achados mostraram que entre os pacientes portadores de úlcera houve maior
prevalência da presença de sintomas cognitivos (pessimismo, sentimento de punição,
autoacusação e isolamento social) em detrimento dos sintomas somáticos (perda de apetite
e perda de peso). O pessimismo foi apontado pelo BDI como um dos fatores mais
prevalentes entre os pacientes com úlcera. Pesquisas têm relacionado sintomas cognitivos,
84
como o pessimismo, ao aumento do risco de contrair doenças infecciosas, saúde frágil e
mortalidade (Kamen & Seligman, 1987, Peterson & Seligman, 1987).
Os estudos de Seligman e colaboradores abordam a questão do
otimismo/pessimismo enquanto um modelo explicativo para cada indivíduo, ou seja, refere-
se à forma única e particular com que cada sujeito explica a causa dos eventos agradáveis e
desagradáveis que ocorrem em suas vidas (Buchanan & Seligman, 1995). Para os
indivíduos considerados pessimistas, os eventos positivos são vistos como temporários e
externos, ou seja, a pessoa acredita que o episódio positivo não foi fruto do seu próprio
esforço, por sua vez, os eventos desagradáveis são encarados como permanentes e internos,
aonde predomina o sentimento de culpa. Esta maneira de pensar e agir será determinante na
forma com que o indivíduo responderá a diferentes situações; enquanto expectativas
favoráveis promovem os esforços para a busca de objetivos, as expectativas negativas
reduzirão tais esforços, ao ponto de provocarem a desistência (Lin & Peterson, 1990;
Sampaio, 2008)
Estudo transversal (Silva, Pais –Ribeiro & Cardoso, 2004) conduzido com 316
pacientes com diabetes levantou a hipótese de que indivíduos diabéticos considerados
pessimistas possuem uma postura de desesperança diante do futuro, e que principalmente
quando confrontados com alguma adversidade, desistam da busca por seus objetivos,
negligenciando assim o tratamento da doença e favorecendo o agravamento de sequelas do
diabetes .
85
Indivíduos pessimistas acreditam que os seus problemas vão durar para sempre,
deixam de fazer novas tentativas e desistem de novas oportunidades, tornando-os passivos,
e configurando-se como um passo rumo à depressão (Peterson & Park, 1998). Para
Jacobson (1996) as atitudes pessimistas normalmente acompanham o quadro de depressão,
podendo limitar a vontade do paciente ou a sua capacidade de engajamento no tratamento
do diabetes.
Similarmente, a análise dos itens do BDI mostrou alta prevalência do sentimento de
punição e de autoacusação entre os pacientes com úlcera. O sentimento de punição pode
associar-se à perda de reforçadores, ou seja, muitas vezes o paciente portador de úlcera
necessita abandonar algumas atividades que para ele são consideradas prazerosas, ao
mesmo tempo em que será orientado a implementar atividades potencialmente vistas pelo
paciente como desagradáveis ou aversivas. Um exemplo seria o caso de paciente portador
de pé diabético com úlcera que é afastado do trabalho ou que apresenta restrições para
atividades da vida diária e lazer. São situações que podem ser percebidas pelos pacientes
como um prejuízo, perda ou castigo. Além disso, haverá a necessidade de engajamento em
uma rotina criteriosa de cuidados com a saúde, em especial a dos pés, e esta modificação de
comportamento requerida pelo tratamento também pode ser vista como punição por alguns
pacientes.
A maior ocorrência do sentimento de autoacusação entre os pacientes com úlcera
pode emergir neste mesmo contexto, uma vez que, em algum momento, a falha na prática
dos cuidados com os pés poderia ter favorecido a produção de uma consequência negativa
como ulceração ou amputação,
86
O BDI também revelou o isolamento social como outro fator mais prevalente entre
os pacientes com úlceras. As úlceras frequentemente estão associadas a dor, restrição de
mobilidade, diminuição da independência do paciente, além da presença de aparência e
odor desagradáveis, que podem contribuir para que o paciente se esquive de atividades
sociais (Kinmond et al, 2003; Salomé et al, 2011).
Brod (1998) e Vileikyte (2001) afirmam que grande parte dos pacientes acredita que
a dificuldade de mobilidade afeta imensamente a capacidade para manter uma rotina de
vida normal, com a presença de atividades simples como fazer compras ou tomar banho.
Percebe-se que a presença de úlceras impõe uma rotina diária restritiva, com a ausência de
atividades de lazer (hobbies e férias), principalmente devido a dois fatores: problemas de
mobilidade e a prática de cuidados intensivos que fazem parte do tratamento.
O estudo de Silva et al (2003) buscou analisar os efeitos do apoio social na
qualidade de vida, controle glicêmico e complicações crônicas em indivíduos com diabetes.
No que tange às complicações da doença, os autores verificaram que nestes pacientes havia
menor satisfação com as amizades. Dentre as diversas hipóteses levantadas para explicar
este resultado, foi apresentada como a mais plausível a que considera que as limitações
físicas e os tratamentos prolongados e intrusivos associados à presença de complicações
poderiam resultar em maior afastamento do indivíduo das fontes de apoio, como os amigos.
Ao se isolar socialmente, este indivíduo tem menos oportunidades para produzir
reforçadores positivos, ou seja, atenção, aprovação, manifestações de afeto e carinho,
empobrecendo assim seus repertórios de relacionamentos interpessoais e profissionais,
87
entre outros (Cordova & Scott, 2001). Este conceito é bastante discutido por Apelqvist
(2008), que acrescenta que o risco de amputação aumenta quando pacientes diabéticos se
isolam socialmente.
E por fim, o BDI constatou a prevalência dos sintomas de perda de apetite e perda
de peso entre os pacientes com úlcera. Trata-se da presença de sintomas somáticos da
depressão, e que até poderiam ser atribuídos à doença de base, ao uso de medicamentos,
tratamento ou complicações advindas do diabetes, mas que não foram observados nesta
magnitude nos pacientes diabéticos com risco para úlcera.
Entre os fatores de risco para ulceração, verificamos que os pacientes com
depressão grave tiveram risco seis vezes maior de ocorrência de úlceras em comparação aos
pacientes com escores mínimos e leves de depressão, indicando associação entre depressão
e ulceração, como observado em outros estudos (Ismail et al, 2007; Monani, et al,2008;
Gonzalez et al, 2010 e Williams et al, 2010).
Williams et al (6) demonstrou que pacientes com DM2 e depressão apresentavam
risco 2 vezes maior para desenvolver pé diabético, em comparação aos pacientes sem
depressão. Winkley et al (2012) apontaram que o transtorno depressivo esteve associado a
um risco duas vezes maior de mortalidade em pacientes com úlcera de pé diabético em
comparação aos pacientes que não estavam deprimidos.
Nosso estudo demonstrou que a intensidade da depressão variou nos dois grupos.
Entre os pacientes com pé de risco, a maioria (54%) apresentou depressão leve, enquanto
que no grupo de pacientes com úlcera a distribuição dos escores foi mais homogênea: 26%
88
com nível mínimo, 26% com nível leve e 28% com nível moderado e 20% com nível grave,
mostrando uma possível associação entre a gravidade dos sintomas depressivos e a
ocorrência de ulceração.
Além da severidade da depressão, o sexo foi igualmente identificado como fator de
risco para ulceração, confirmando os achados de vários estudos que indicaram maior
prevalência de complicações nos membros inferiores, tais como neuropatia diabética e
lesões nos pés em pacientes diabéticos do sexo masculino. Estudo prospectivo de base
populacional contou com 279 diabéticos e 577 controles e identificou a associação entre
neuropatia diabética e sexo masculino (Franklin et al, 1990). Benotmane et al (2000) em
estudo prospectivo com 132 pacientes diabéticos demonstrou que a prevalência de lesões
nos pés foi mais importante entre homens. Outro estudo prospectivo (Sorensen et al, 2002)
com 2610 diabéticos tipo 2, identificou maior presença de neuropatia diabética em
pacientes do sexo masculino. E recentemente, estudo realizado por Moura Neto et al
(2012) identificou em população brasileira, o sexo masculino como um fator preditor
significativo para ulceração em pacientes com pé diabético. Podemos pressupor que o
maior risco de ulceração encontra-se entre os homens, uma vez que culturalmente as
mulheres tenderiam a apresentar mais cuidados com os pés, o que facilitaria o engajamento
mais efetivo na realização dos comportamentos necessários para prevenção de úlceras.
Apesar da suposição de que as altas taxas de ulceração e amputação em portadores
de pé diabético ocorrem frequentemente por falha na efetividade do autocuidado e no
envolvimento com atividades de risco, como por exemplo, o uso de materiais abrasivos,
ausência de calçado adequado, retirada de cutículas e calos, entre outros (Perrin &
89
Swerissen, 2008), não evidenciamos associação entre ulceração e inadequação do
autocuidado com os pés, o que corrobora resultados encontrados em outros estudos (Lin et
al, 2004; Jonston et al, 2006; Ismail et al, 2007).
Nossa hipótese em relação a alta prevalência de comportamentos adequados de
autocuidado encontrada neste estudo (88% de praticas satisfatórias entre os pacientes com
pé de risco e 86% entre os pacientes com úlcera) baseia-se no fato que esta população foi
composta por indivíduos que recebiam sistematicamente orientações da equipe que atende
a estes pacientes, permitindo que os pacientes com pé de risco e com úlceras se tornassem
capazes de adotar práticas educativas e de autocuidado satisfatórias. Bell et al (2005)
mostraram que os pacientes com diabetes que receberam educação para cuidados com os
pés encontram-se mais encorajados a praticar o comportamento de autocuidado necessário.
Ressaltamos que a população deste estudo é oriunda de um serviço especializado ao
atendimento de pacientes diabéticos com complicações nos pés, de caráter multidisciplinar.
Esse tipo de atendimento municia o paciente, sobretudo ao que desenvolveu úlcera, quanto
aos ensinamentos de cuidados, seja durante as consultas médicas, seja nas sessões de
curativos e procedimentos, tentando fazer destes sujeitos e dos seus cuidadores os mais
aptos possíveis para cuidarem adequadamente dos pés.
Julgamos que o achado local reflete que portadores de pé de risco e portadores de
úlceras nos pés são capazes de adotar práticas de educação e de autocuidado, se estas forem
sistematicamente orientadas e monitoradas por profissionais da saúde, e que o
conhecimento a respeito dos cuidados necessários com os pés pode constituir-se como um
pré-requisito para a emissão de comportamentos de autocuidado.
90
Corroborando nossos dados, um recente estudo brasileiro conduzido por Anselmo et
al (2010) avaliou o comportamento de prevenção e auto-inspeção de indivíduos com pé
diabético em risco para o desenvolvimento de úlcera. Os dados mostraram que 90% dos
pacientes apresentaram práticas adequadas de cuidado com os pés. Assim como observado
em outros estudos, pacientes diabéticos que recebessem educação para o cuidado com os
pés apresentariam maior disposição a praticar os comportamentos de autocuidado
necessários (Bell et al, 2005). Entretanto, este tema ainda oferece muitas controvérsias,
dados recentes da literatura indicam que existem evidências insuficientes que comprovem a
eficácia de ações educativas isoladas para a redução da incidência de ulceração e
amputação em pé diabético (Valk & Dorresteijn, 2012).
Por outro lado, o comportamento de autocuidado inadequado é freqüentemente
associado à presença de depressão. O estudo prospectivo conduzido por Park et al (2004)
avaliou a ocorrência de sintomas depressivos e autocuidado em 168 pacientes com DM2 e
verificou que níveis elevados de depressão se associaram a fraca participação em
programas de educação, dieta inadequada e baixa adesão medicamentosa. O estudo de
Gonzalez et al (2008) contou com 208 pacientes com DM2 e identificou a influência
negativa da depressão sobre aspectos do autocuidado, tais como: dieta, exercício físico e
cuidados com os pés.
Em nossos dados, não encontramos esta associação. Nossos pacientes com úlcera,
apesar da presença de sintomas depressivos, apresentaram também comportamentos de
autocuidado adequados. Gonzalez et al (2008) publicaram inicialmente que sintomas
depressivos predizem a não adesão ao autocuidado. No entanto mais tarde, o mesmo grupo
91
em outro estudo (Gonzalez et al, 2010) demonstrou que a associação entre depressão e
ulceração era independente da ocorrência de autocuidado, o que reforça como esse assunto
ainda é controverso.
Um dos pontos fortes do nosso estudo refere-se à comparação de duas variáveis
pouco estudadas (depressão e autocuidado) entre pacientes portadores de diabetes com pé
de risco e com úlcera, o que nos possibilitou investigar fatores de risco para a ulceração em
pé diabético. Pudemos comparar duas populações que foram afetadas por complicações nos
membros inferiores causadas pelo DM, sendo uma com a presença de úlcera e a outra com
risco para o aparecimento de úlceras (apresentavam alterações de sensibilidade protetora,
calos e deformidades nos pés).
As limitações do estudo incluem a avaliação do comportamento através do
autorelato, sendo possível que a mensuração realizada tenha superestimado a presença de
adequados de autocuidado com os pés. Nesse sentido uma abordagem complementar
poderia analisar esta relação. Futuras pesquisas, utilizando concomitantemente, o relato de
um familiar ou a avaliação clínica do médico, poderiam minimizar tal deficiência.
Outra limitação do estudo se refere ao fato que a avaliação da depressão foi
realizada em um único momento. Porém, autores como Lustman et al (1997) e Lin et al
(2010) afirmam que a depressão entre pacientes diabéticos apresenta um curso crônico ou
recorrente, e que aproximadamente 75% dos pacientes diabéticos com depressão,
apresentam um histórico crônico da doença com duração superior a 2 anos. O que faz com
que a realização de apenas uma mensuração da depressão seja considerada válida e eficaz.
92
O desenho transversal do estudo não possibilitou investigar se a presença de
sintomas depressivos estariam presentes antes do diagnóstico de pé diabético com úlcera ou
se houve uma alteração de transtorno de humor em decorrência do impacto da doença.
O delineamento deste estudo também não permitiu o acesso aos fatores
desencadeadores da depressão ou do comportamento de autocuidado. Tal abordagem
priorizaria a identificação dos eventos ambientais que atuam nas causas, no controle e na
manutenção das variáveis estudadas (depressão e autocuidado) através da análise
individual. Por outro lado, este estudo permitiu o acesso à presença e a intensidade dos
sintomas depressivos e a ocorrência do comportamento de autocuidado, configurando-se
como um importante ponto de partida para desvendar as variáveis que influenciam a
ocorrência de problemas de comportamento entre pacientes portadores de pé diabético e
úlcera.
A alta prevalência de depressão nos portadores de úlcera reforçou a necessidade de
que esta população seja cuidadosamente monitorada, a fim de se avaliar os diferentes níveis
de depressão e realizar a abordagem adequada a fim de maximizar a probabilidade de
sucesso na prevenção de complicações.
93
CONCLUSÕES
O nosso estudo confirmou que a depressão é mais comum entre pacientes com
diabetes mellitus e pé ulcerado. O comportamento inadequado de autocuidado com os pés
não foi encontrado, mesmo na presença de depressão.
Os resultados deste estudo reforçam a necessidade de avaliar a presença de sintomas
depressivos em pacientes diabéticos portadores de úlceras nos pés.
Há a necessidade de futuras pesquisas analisarem a relação de causa e efeito entre a
depressão e ulceração, bem como o efeito de intervenções para o tratamento da depressão,
antes e após a ocorrência de ulceração.
Também merece atenção a investigação sobre o papel do tratamento da depressão na
prevenção de úlceras nos pés e /ou complicações advindas do pé diabético.
95
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121
ANEXO 1
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Dados sobre a pesquisa científica/ pesquisador: Título do projeto: Depressão e Autocuidado associados a úlceras em pé diabético Pesquisador: Camila Ribeiro Coelho Registro no Conselho Regional de Psicologia: CRP 06-73793 Pesquisador Orientador: Dra. Maria Cândida Ribeiro Parisi Pesquisador Co-orientador: Dra. Denise Engelbrecht Zantut Wittmann
TERMO:
Senhor (a)_____________________________________________________________
Estamos lhe convidando para participar de uma pesquisa sobre depressão e autocuidado em pé diabético, que tem como objetivo avaliar os sintomas depressivos e os comportamentos de autocuidado com os pés. Caso concorde em participar o (a) senhor (a) deverá responder ao questionário que avaliará os comportamentos de cuidado com os pés, um instrumento que mediará os possíveis sintomas de depressão, além de um roteiro de entrevista que abordará os dados de identificação pessoal e informações referentes ao diabetes e ao pé diabético, provenientes do prontuário médico. A pesquisa será desenvolvida em um único momento, após sua consulta no Ambulatório de Pé Diabético.
A sua participação poderá ser interrompida no momento em que o (a) senhor (a) achar necessário, sem lhe causar prejuízos. Diante de qualquer dúvida, o (a) senhor (a) poderá solicitar informações sobre os procedimentos ou outros assuntos relacionados a este estudo. Os dados coletados nessa pesquisa serão publicados em revistas e eventos científicos, mantendo o compromisso de total sigilo da sua identidade.
Eu, ____________________________________________________portador (a) do RG __________________________declaro que, após ter sido esclarecido pelo pesquisador, concordo em participar espontaneamente como voluntário da pesquisa em questão. Este termo possui 2 vias, sendo uma do participante e a outra do pesquisador. Campinas,_____/_______/_____. ____________________ Assinatura do participante ______________________ Assinatura do Pesquisador Camila Ribeiro Coelho Tel. Comitê de Ética (19) 35218936
123
ANEXO 2
ROTEIRO DE ENTREVISTA
Nº de Participante na pesquisa: __________ Data: ______/_______/_________.
Registro Hospitalar: ____________________
1. Dados de Identificação e sócio-demográficos:
Nome_________________________________________________ Idade _________
Sexo: ( ) F ( ) M Data de Nascimento: _____/_______/______
Procedência: __________________________
Nível de escolaridade: ( ) não alfabetizado ( ) fundamental incompleto
( ) fundamental completo ( ) ensino médio incompleto ( ) ensino médio
completo ( ) superior incompleto ( ) superior completo
Profissão/ Ocupação atual: _____________________________________________
Estado civil: ( ) casado ( ) solteiro ( )viúvo ( ) divorciado ( ) amasiado
Filhos: ( ) sim ( ) não Nº. de filhos: ____________
Renda familiar mensal: R$_______________
2. Dados de Avaliação Clínica:
Tempo de diagnóstico de DM2: __________________
Hemoglobina glicada: __________________________
Presença de comorbidades: _______________________________________________
Insulina: ( ) Sim ( ) Não Se sim, qual: _______________________________
Tabagismo:
a) ( ) Nunca Fumou
b) ( ) Fumou no passado Por quanto tempo? ____________
Há quanto tempo parou? __________
c) ( ) Fuma atualmente Há quanto tempo? __________
Quantos cigarros por dia? ___________
124
Consumo de álcool:
a) ( ) Nunca consumiu
b) ( ) Consumiu no passado Por quanto tempo? ____________
Há quanto tempo parou? __________
c) ( ) Consome atualmente Há quanto tempo? ____________
Frequência semanal: ___________
3. Dados relacionados ao pé diabético:
a) Diagnóstico: ( ) Pé de risco 1
( ) Pé de risco 2
( ) Pé de risco 3 (úlcera)
b) Amputação: ( ) Sim ( ) Maior ( ) Menor
( ) MID ( ) MIE ( ) Ambos
( ) Não
125
ANEXO 3
Cópia do manual da versão em português das Escalas Beck para o Inventário de
Depressão de Beck (Beck Depression Inventory – BDI). O instrumento não foi
reproduzido, respeitando os critérios éticos do Conselho Federal de Psicologia (CFP),
Art.18 do Código de Ética Profissional, o qual proíbe a divulgação de instrumentos e
técnicas psicológicas a leigos, que permitem ou facilitem o exercício ilegal da profissão e
respeitando os direitos autorais da editora responsável pela publicação do instrumento.
127
ANEXO 4
QUESTIONÁRIO DE AVALIAÇÃO DE AUTOCUIDADO COM OS PÉS
1. Você realiza o autoexame dos pés? a. sim b. não 2. Alguém (familiar ou amigo) examina os pés para você? a. sim b. não 3. Você passa hidratante nos pés todos os dias? a. sim b. não 4. Você lava os pés adequadamente e enxuga entre os dedos toda a vez que os seus pés ficam molhados? a. sim b. não 5. Você retira as cutículas? a. sim b. não 6. Como você corta as unhas? a. arredondadas b. retas 7. Você lixa os pés ou utiliza algum tipo de material abrasivo? a. sim b. não 8. Tem o hábito de andar descalço? a. sim b. não 9. Você usa calçado aberto? a. sim b. não 10. Você verifica o sapato por dentro antes de usá-lo? a. sim b. não (Anselmo et al, 2010)
129
ARTIGO
A Cross-sectional Study of Depression and Self-Care in Patients With Type 2
Diabetes With and Without Foot Ulcers
Camila Ribeiro Coelho, MS; Denise Engelbrecht Zantut-Wittmann, MD PhD; and Maria
Cândida Ribeiro Parisi, MD PhD
Running title: Diabetic foot ulcers and depression
Keypoints:
- Using a convenience sampling method, the authors of this study evaluated depression scale
scores and foot self-care behaviors in patients with diabetes mellitus (DM).
- Patients who were at risk for developing a foot ulcer had significantly better depression
scores than patients who had a foot ulcer.
- Self-reported foot care behaviors were similar between the groups.
- The results of this and other studies suggest that patients with DM who are at risk for or
have a foot ulcer might benefit from depression screening.
Ms. Coelho is a psychologist and Ms. Zantut-Wittman is a Professor of Endocrinology, Department
of Clinical Medicine, Faculty of Medical Sciences-Unicamp, University of Campinas, Sao Paulo,
Brazil. Ms. Parisi is a member of the Division of Endocrinology, Department of Clinical Medicine,
Faculty of Medical Sciences-Unicamp, University of Campinas; and a member of the Division of
Endocrinology, Department of Clinical Medicine, Faculty of Medicine, University of Sao Paulo,
Sao Paulo, Brazil. Please address correspondence to: Camila Ribeiro Coelho, MS, Disciplina de
Endocrinologia, Departmento de Clinica Medica, Faculdade de Ciencias Medicas, Universidade
Estadual de Campinas, Rua Tesalia Vieira de Camargo, 126, Barao Geraldo, 13084-971,
Campinas, Sao Paulo, Brazil; email: [email protected].
130
Abstract
Depression has been recognized as a risk factor for foot ulceration in persons with diabetes
mellitus. Using convenience sampling methods, a cross-sectional study was conducted
among persons with type 2 diabetes treated in a diabetic foot clinic in Sao Paulo, Brazil
between February 2010 and December 2011. One hundred (100) patients (average age 62
years, range 38 to 83 years), 50 with a foot ulcer and 50 at risk for developing a foot ulcer,
participated. Symptoms of depression were assessed using the Beck Depression Inventory
(BDI), where scores increase with severity; and patients were interviewed about foot self-
care behaviors. Average BDI scores among patients with an ulcer were higher (mean 20.37;
range 1 to 42) than those of patients that had not developed a foot ulcer (mean 15.70; range
2 to 49) (P = 0.030). Self-care behavior was not significantly different between the two
groups. Severe depression (P = 0.049, OR= 6.56 95% CI 1.01–42.58) and male gender (P
<0.001, OR=14.87 95% CI 3.83–57.82) were associated with the presence of a foot ulcer.
Despite reported adequate self-care behaviors, patients with an ulcer had more symptoms of
depression than patients who were at risk for developing a foot ulcer. Studies examining
cause-and-effect relationships between these observations and the potential role of
depression interventions are needed. The results of this and other studies suggest depression
screening is important in patients with diabetes mellitus and foot ulcers.
Keywords: depression, self-care, diabetic foot ulcer, type 2 diabetes mellitus
Index: Ostomy Wound Management 2014;60(2):46–51
Potential Conflicts of Interest: none disclosed
131
The risk for ulcer development in the feet of patients diagnosed with diabetes
mellitus (DM) is estimated to be 15%1; in turn, diabetic foot ulceration is an important risk
factor for lower extremity amputation.2 In patients with diabetes, foot ulcers are caused by a
combination of risk factors, such as diabetic neuropathy, peripheral vascular disease,
deformity, and trauma, all associated with the chronic complications of diabetes.1,2
A few years ago, the diagnosis of depression was added as another risk factor. A
prospective cohort study3 of 253 patients showed among adults with their first diabetic foot
ulcer, one third had depression and a mortality risk three times greater in comparison to
patients who were not depressed. In a prospective study of elderly patients (N = 80) with
type 2 diabetes, Monami et al4 demonstrated the association between depressive symptoms
and the occurrence of foot ulcers and their rate of healing. A prospective study Gonzalez et
al5 among 333 patients with diabetic neuropathy found depression was associated with the
first (but not subsequent) ulcer. Results of a prospective study by Williams et al6 showed
the risk of having a foot ulcer in patients with type 2 diabetes with no previous ulcer (N =
3,474) was two times greater among depressed patients when compared to the patients
without depression. Thus, the literature shows that in patients with diabetes, depression is
associated with higher occurrence, recurrence, and nonhealing of ulcers.
A systematic review7 addressing complications of diabetic foot, behavior, and
psychology revealed the incidence of amputation is high, possibly related to the severity of
the disease and/or the absence of foot self-care behaviors in patients with diabetic
neuropathy.
132
A descriptive cross-sectional study8 conducted via questionnaires mailed to patients
with diabetes (N = 45) that defined foot self-care behavior as the preventive action
implemented by the patients themselves aiming to minimize the risks of foot lesions that
can result in infection and amputation showed such behavior is more frequently adopted by
individuals who recognize their responsibility in the health process. Also using
questionnaires, a cross-sectional study by Anselmo et al9 evaluated 60 patients with
diabetes at risk for ulceration. Foot self-care techniques were found adequate in 90% of the
patients, which is different from results of a prospective study10 conducted among 668
patients with type 2 diabetes in which 23% of the patients did not
examine their feet.
Bakker et al11 published practical guidelines on foot care and prevention of foot
ulcers that included healthcare practices for patients at risk for foot ulcers such as daily feet
inspection, regular washing of feet, careful drying of feet, the need for another person
skilled in foot inspection, avoiding walking barefoot indoors or outdoors, removing corns
and calluses, using lubricating oils or creams for dry skin, cutting nails straight across, and
daily inspection and palpation of the inside of the shoes.
Until now, few studies have simultaneously investigated the role of depression
symptoms and self-care behaviors in patients with diabetes and lower limb complications.
This realization encouraged the authors to evaluate depression and self-care in patients with
and at risk for foot ulcers. The objective of this descriptive study was to evaluate and
compare the levels of depression between patients with type 2 diabetes who practice foot
self-care and have an ulcer to their counterparts with feet at risk for ulceration.
133
Methods
Sample size. A pilot study was conducted to determine the size of the representative
sample to be studied. Ten (10) patients from each group, foot at risk for ulceration and
active foot ulcer, were included to determine the minimum sample size able to detect
differences using two research tools — the Beck Depression Inventory (BDI) and a self-
care questionnaire — based on a statistical power of 80%. The minimum number was
estimated to be 46 patients for BDI and 48 for foot self-care.
Design and study population. This cross-sectional study with a convenience
sample was approved by the Local Ethics Committee under the number 675/2008. The
study was conducted between February 2010 and December 2011. Patients were recruited
consecutively as they sought care until researchers achieved 50 patients in each group for a
total of 100 adult patients.
Inclusion and exclusion criteria. The inclusion criteria were: adult patients, both
genders, with type 2 diabetes mellitus under follow-up in the Diabetic Foot Clinic at the
University Hospital, University of Campinas. Patients who were unable to complete the
questionnaire were excluded. Study participation was voluntary.
Instruments.
BDI. The BDI, validated in the Portuguese language,12,13 was used to evaluate
depression. This scale is composed of 21 items, all of which evaluate symptoms and
attitudes. Responses vary in score from 0 to 3. The depression classification criteria were:
0–9 (minimal), 10–16 (mild), 17–29 (moderate), 30–63 (severe). At the same time, the BDI
scale can be divided into two subgroups: the first 13 items address cognitive-affective
134
symptoms, the remaining eight address somatic complaints and performance.14 The trust
estimates of BDI based on Cronbach’s coefficient α revealed
values ranging from 0.77 to 0.92 and α = 0.85 in a medical clinical sample of individuals
with diabetes mellitus type 2, which can be interpreted as satisfactory.13 This instrument
was selected for use based on this validation and adaptation to the Portuguese language and
because it is a psychological test broadly used in clinical and academic contexts. The
participants completed the questionnaires on their own in the presence of a psychologist
who could provide test-taking instructions and address concerns.
Self-care assessment. Self-care behavior regarding regular foot care was evaluated
using a 10-item, yes/no questionnaire as follows: adequate washing and drying of the feet,
moisturizing, straight line nail-cutting, cuticle removal, wearing adequate shoes, before-
wear shoe inspection, not using abrasive materials, and not walking barefoot. This is not a
validated instrument; the questions were developed in a recent study published by Anselmo
et al.9 The patients were asked about the presence or absence of foot self-care behavior —
eg, “Do you perform self-examination on your feet?” Questions were scored 0 (adequate)
or 1 (inadequate). Therefore, on the example listed, if the patient answered “yes”, this item
would receive a 0, because it represents an adequate behavior of foot care, and if the answer
is “no”, 1 point is given, representing inadequate foot care. The final scores ranged from 0
to 10 (10 equals worst care) and were classified 0 = excellent, 1–5 = satisfactory, and ≥6 =
inadequate.9
Interview. A structured interview was conducted in addition to examining medical
records to assess general information regarding gender, age, schooling, remedies, and
135
medical diagnosis, as well as clinical data such as time since the diagnosis of diabetes,
diabetic foot assessment, and HbA1c levels. The structured interview was conducted by the
main researcher, who solicited and documented the participant’s answers. All data were
noted in an interview guide using paper and pen. The research protocols and the
instruments used were stored and kept confidential, guaranteeing privacy and respect
toward confidentiality.
Statistical analysis. Data were entered and analyzed using SPSS, version 16.0
(SPSS, Chicago, IL) for Windows. Descriptive and frequency analyses were performed
using mean, median, standard deviation, minimal and maximal values, and percentages.
The association between categorical variables was analyzed using the chi-square or Fisher’s
exact test. The Mann-Whitney test was used to compare numerical variables between the
two groups.
To compare numerical variables between groups, adjusting for age and gender,
analysis of covariance (ANCOVA) was used, followed by Tukey-Krammer post-hoc test
with variables transformed into ranks due to the absence of a normal distribution. Multiple
logistic regression analysis was used to compare categorical variables between two groups.
The significance level adopted was 5% for all tests (P <0.05)
136
Results
Demographics. Fifty (50) participants with and 50 without an ulcer participated in
the study. In the total study population (N = 100), 58% of participants were male, and
median age was 62 years (range 38 to 83 years); differences for age and gender were
statistically adjusted because the patients were selected via convenience sampling. Median
time since diabetes diagnosis was 15 years (range 3 to 40 years), 85% of participants were
using insulin, and median HbA1c level was 8.4% (range 5.9% to 14.5%). No statistically
significant differences were noted with respect to these variables between the two groups
(P = 0.134).
In the total sample, 82 participants were diagnosed as having hypertension, 62 had
dyslipidemia, 23 were obese, 22 had ischemic heart disease, 14 had hypothyroidism, and 15
were smokers.
Demographic and clinical characteristics are summarized in Table 1.
137
Table 1. Study participants’ clinical and demographic variables.
Characteristics Foot at risk Foot with ulcer Total
Patients, n Age (SD) (years) Male (n) Time since diagnosis (SD) (years) HbA1c (SD) Insulin requirement (n) Primary Hypothyroidism (n) Arterial Hypertension (n) Ischemic heart disease (n) Dyslipidemia (n) Smokers (n)
50 64.00 (9.77) 18 17 (9.18) 8.65 (2.12) 43 9 37 11 34 5
50
59.50 (8.33)
41
15 (8.45)
8.25 (1.89)
42
5
45
11
28
10
100
62.00 (9.15)
59
15.00 (8.80)
8.45 (2.02)
85
14
82
22
62
15
BDI. Patients with ulcers had higher BDI scores (mean 20.37; range 1 to 42), indicative of
depression, than patients with feet at risk (mean 15.7; range 2 to 49), (P = 0.030). The
patients with scores classified as severe were 6.56 times more likely to have an ulcer as
patients with scores in the mild category (8% foot at risk and 20% foot with ulcer) (P =
0.049).
138
The analysis of items that comprise the BDI showed patients with ulcers had higher
mean scores for pessimism (foot at risk 0.37, foot with ulcer 0.94; P = 0.018), feelings of
punishment (foot at risk 0.48, foot with ulcer 1.20; P = 0.006), self-accusation (foot at risk
0.80, foot with ulcer 1.25; P = 0.002), social isolation (foot at risk 0.32, foot with ulcer
0.85; P = 0.007), loss of appetite (foot at risk 0.71, foot with ulcer 0.69; P = 0.007), and
weight loss (foot at risk 0.18, foot with ulcer 0.54; P = 0.046), when compared to patients
without ulcers (see Table 2). No significant differences were noted in evaluation of the
items sadness, feeling of failure, dissatisfaction, self-depreciation, feelings of guilt, self-
punishment, crying, irritability, indecision distortion of self-image, inhibition to work, sleep
disturbances, fatigability, somatic preoccupation, and loss of libido.
The majority of participants in both groups reported adequate self foot care
behaviors (see Table 2)
139
Table 2. Overall and select individual BDI scores of participants with and without ulcers,
adjusted for age and gender.
Score (Mean) Beck Depression Inventory
Foot at risk Foot with ulcer
P value*
Total BDI score
BDI2 -Pessimism
BDI6- Punishment feeling
BDI8- Self-accusation
BDI12- Social isolation
BDI18 – Appetite loss
BDI19- Weight loss
15.70
0.37
0.48
0.80
0.32
0.17
0.18
20.37
0.94
1.20
1.25
0.85
0.69
0.54
0.030
0.018
0.006
0.002
0.007
0.007
0.046
* P value refers to the analysis of covariance (ANCOVA) and logistic regression
comparing the numerical and categorical variables between the groups with and without
ulcer, adjusted for age and gender
Multiple logistic regression analysis of the variables age, gender, occupation, social
condition, marital status, number of children, duration of diabetes, HbA1c, hypertension,
dyslipidemia, obesity, ischemic heart disease, hypothyroidism, and smoking behavior
showed factors associated with the presence of a foot ulcer were male gender (P <0.001;
OR = 14.87; 95% CI = 3.83–57.82) and severe depression (P = 0.049; OR = 6.56; 95% CI
= 1.01–42.58) (see Table 3).
140
Table 3. Reported foot self-care scores
Foot self care score Participant with
foot at risk
Participants
with foot ulcer
0 (%) 2% 2%
1-5 (%) 88% 86%
≥ 6 (%) 10% 12%
(0 = excellent, 1–5 = satisfactory, and ≥6 = inadequate.9)
Discussion
In this study, the overall depression risk score, as well as several individual
subscores, were higher among participants with diabetes and an ulcer than among
participants with diabetes and a foot at risk for ulceration. The severity of the symptoms of
depression increased the chance of presence of ulceration by a factor of six, indicating an
association between depression and ulceration, as observed in previous studies.3-6
Additionally, gender was identified as a risk factor for ulceration. Several studies
indicate a higher prevalence of lower limb complications in male patients. A prospective
population- based study15 involving 279 persons with diabetes and 577 controls identified
an association between diabetic neuropathy and male gender. A prospective study16 with
132 patients with diabetes showed the prevalence of foot lesions was higher in men. In a
prospective study17 conducted among 2,610 patients with type 2 diabetes, researchers
documented a higher rate of diabetic neuropathy in male patients. A recent retrospective
141
study4 among 496 patients also showed that male gender was a significant predictor for
ulceration.
Williams et al6 demonstrated patients with type 2 diabetes and depression present a
risk two times higher for having a foot ulcer than persons with diabetes who are not
depressed. Winkley et al18 showed depressive disorder in patients with their first diabetic
foot ulcer was associated with a mortality risk two times higher than in patients who were
not depressed. Contrary to previously published research,6-18 the current study showed a
significant difference in depression scores between patients with diabetes and an ulcer
when compared to patients with foot at risk.
A systematic review19 showed some factors seem to be correlated to depression in
patients with diabetes: difficulty of acceptance and adaptation to the disease and dealing
with the changes imposed on routines of daily life. The functional limitations and other
effects of foot problems in persons with diabetes would result in even more lifestyle
changes. The occurrence of ulcers in the diabetic foot can have a considerable
psychological impact on these patients’ lives. A cross-sectional study20 involving 14
patients with diabetic foot versus a control group with 24 diabetic patients without any foot
problems identified a large impact on physical role, physical functioning, and mobility
scores among patients with an ulcer. A qualitative study21 of 47 patients with a diabetic foot
showed the presence of four psychological conditions: living a restricted life, existing in
social isolation, experiencing discredited definitions of self, and becoming a burden. In the
current study, analysis of the BDI items also provides some
understanding about the symptoms associated with depression in these patients.
142
Depressive symptoms in patients with clinical comorbidity, such as diabetes
mellitus, are common. In a recent systematic review of 31 studies,22 depression was
associated with chronic diseases such as diabetes, congestive heart failure, coronary artery
disease, osteoarthritis, arthritis rheumatoid, asthma, and chronic obstructive pulmonary
disease. At times, somatic symptoms are confused with those of the disease itself, making it
useful to differentiate the symptomatic pattern of depression from the characteristics of the
disease causing the depression.13,23,24 In this study, somatic complaints such as appetite loss
and weight loss were more common in patients with foot ulcers and can be attributed to the
underlying disease, medication use, treatment, or complications from diabetes.
Some cognitive-affective symptoms noted in the BDI scale were relevant to the
group of patients with an ulcer, such as social isolation, punishment feelings, self-
accusation, and pessimism. Because ulcers frequently are associated with pain, mobility
restrictions, and decreased independence, along with unpleasant appearance and odor that
can contribute to refraining from social interaction, social isolation is a risk. In a cross-
sectional study25 of 50 patients with diabetes and foot ulcers, 64% had symptoms of
moderate depression — predominantly, sadness, distorted body image, self-depreciation,
decreased libido, and social isolation. Cordova and Scott26 presented a conceptualization of
intimacy as a behavioral phenomenon from a theoretical study; they noted that by
constantly avoiding social contexts, an individual will have fewer chances to experience
positive reinforcement (attention, approval, manifestations of fondness and tenderness),
further diminishing his repertoire of social skills.
143
The current study results suggest some aspects deserve special attention. The feeling
of punishment can surface due to the loss of positive reinforcement that occurs when the
patient with an ulcer has to abandon activities considered enjoyable at the same time he/she
is told to implement activities potentially seen as disagreeable or unpleasant. These
situations can be perceived by the patients as damage, loss, or punishment. The feeling of
self-accusation also can emerge in this context because in any given moment, the failure to
practice foot self-care behavior can trigger a negative consequence such as ulceration
and/or amputation.
A cross-sectional study27 of 316 patients with diabetes yielded the hypothesis that
individuals with the disease could be more pessimistic than their counterparts without
diabetes mellitus, leading to feelings of hopelessness toward the future, including their own
health. This lack of confidence, associated with the difficulty in confronting adverse
situations, contributes to these individuals’ renouncing the pursuit of their objectives,
overlooking treatment, and consequently fostering the potential development of the
complications of diabetes.
The current study found patients with severe depression were six times more likely
to present with an ulcer as patients with minimal scores of depression in accordance with
the findings of Williams et al,6 who described depression as a risk factor that increased the
chance of ulceration.
The rates of ulceration and amputation in patients with diabetic foot suggest the
complications frequently occur because of lack of self-care effectiveness and of
involvement in highrisk activities.7 However, this lack of self-care was not noted in the
144
current study, because patients, whether at risk for or who already had a foot ulcer, reported
adequate foot self-care.
The high rate of adequate self-care behavior documented in this study may be
specific to this study population, because all receive on-going education about self-care
practices. Bell et al10 showed patients with diabetes who received education for foot care
are more encouraged to practice the necessary self-care behaviors.
Inadequate self-care is frequently associated with the presence of depression. A
prospective study28 evaluated depression symptoms and healthcare in 168 patients with
type 2 diabetes and found elevated levels of depression were associated with poor
participation in education programs, inadequate diet, and poor medication. A prospective
study29 of 208 patients with type 2 diabetes showed the negative influence of depression
over self-care practices such as diet, physical exercise, and foot care. The current study
found no evidence of this association; patients with an ulcer, despite evidence of depressive
symptoms, performed adequate self-care.
Gonzalez et al29 first published that depressive symptoms predicted nonadherence to
self-care among patients with type 2 diabetes, but subsequently found the association
between depression and ulceration was independent of the occurrence of self-care,5
underscoring the controversial nature of this issue. On the other hand, such findings
strengthen the need for diabetic foot ulcer management within a context that takes into
consideration not only physiopathological, but also psychosocial and behavioral aspects.
One of the strong points of the current study is the comparison of depression and
self-care between patients at risk for and patients who already had a foot ulcer. Both groups
145
were affected by the lower extremity complications of diabetes, such as alterations in
protective sensibility and associated plantar callus and foot deformities such as hammertoes
and claw toes.
Limitations The main limitation of this study is the self-reporting of foot care. Because patients
were asked about self-care behavior and the responses were not anonymous, it is likely
more appropriate foot care behaviors were reported than actually performed, thus
underestimating the impact of foot self-care behavior on the risk of ulceration.
Additionally, the evaluation of depression was assessed in a single moment, and the study
design also did not consider other factors for the development of depression.
Conclusion This study confirmed that depression is common among patients with diabetes
mellitus and foot ulcers. Poor self-care behaviors were not reported, even in the presence of
depression.
The results of this study reinforce the need for assessing depression among persons
with foot ulcers. Future research should examine the cause-and-effect relationship between
depression and ulceration as well as interventions related to depression before and after the
occurrence of ulceration. In addition, the role of depression treatment in the prevention of
foot ulcers and/or foot ulcer complications should be examined.
146
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