departamento de taquigrafia, revisÃo e redaÇÃo …€¦ · apreciação do requerimento pautado....

43
CÂMARA DOS DEPUTADOS DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES TEXTO COM REDAÇÃO FINAL COMISSÃO ESPECIAL - PL 203/91 - POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS EVENTO:Audiência pública N°: 001433/01 DATA: 27/11/01 INÍCIO: 14:55 TÉRMINO: 16:50 DURAÇÃO: 01:55 TEMPO DE GRAVAÇÃO: 1:56 PÁGINAS: 42 QUARTOS: 24 REVISORES: CÁSSIA REGINA, GILBERTO, LEINE, MADALENA, ODILON SUPERVISÃO: SEM SUPERVISÃO CONCATENAÇÃO: ZUZU DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO TÉRCIO EGON PAULO KASTENS – Presidente da Federação de Hospitais de Santa Catarina URIEL ZANON – Professor Doutor em Medicina Tropical. Sanitarista pela Escola Nacional de Saúde Pública — FIOCRUZ. JOÃO PAULO MIGNOT – Diretor da Empresa Tecnoambiental S/C Ltda. SUMÁRIO: Discussão sobre coleta, tratamento, transporte e destinação de resíduos de serviços de saúde. OBSERVAÇÕES Não intervenções inaudíveis.

Upload: others

Post on 19-Oct-2020

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • CÂMARA DOS DEPUTADOS

    DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO

    NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES

    TEXTO COM REDAÇÃO FINAL

    COMISSÃO ESPECIAL - PL 203/91 - POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOSEVENTO:Audiência pública N°: 001433/01 DATA: 27/11/01INÍCIO: 14:55 TÉRMINO: 16:50 DURAÇÃO: 01:55TEMPO DE GRAVAÇÃO: 1:56 PÁGINAS: 42 QUARTOS: 24REVISORES: CÁSSIA REGINA, GILBERTO, LEINE, MADALENA, ODILONSUPERVISÃO: SEM SUPERVISÃOCONCATENAÇÃO: ZUZU

    DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃOTÉRCIO EGON PAULO KASTENS – Presidente da Federação de Hospitais de Santa CatarinaURIEL ZANON – Professor Doutor em Medicina Tropical. Sanitarista pela Escola Nacional deSaúde Pública — FIOCRUZ.JOÃO PAULO MIGNOT – Diretor da Empresa Tecnoambiental S/C Ltda.

    SUMÁRIO: Discussão sobre coleta, tratamento, transporte e destinação de resíduos deserviços de saúde.

    OBSERVAÇÕESNão intervenções inaudíveis.

  • CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 203/91 - Política Nacional de ResíduosCE - PL 203/91 - Resíduos de Serviços de SaúdeNúmero: 001433/01 Data: 27/11/01

    1

    O SR. PRESIDENTE (Deputado José Índio) - Declaro abertos os trabalhos da

    presente reunião.

    Informo aos Srs. Parlamentares que foi distribuída cópia da Ata da 17ª

    reunião ordinária desta Comissão Especial, realizada em 20 de dezembro de 2001.

    Indago ao Plenário se há necessidade de sua leitura?

    O SR. DEPUTADO CLOVIS VOLPI - Solicito dispensa da leitura da Ata, Sr.

    Presidente, em função de ela já estar sobre a Mesa, e já termos tido conhecimento

    da mesma.

    O SR. PRESIDENTE (Deputado José Índio) – Está dispensada a leitura.

    Em discussão a Ata. Não havendo quem queira discuti-la, em votação.

    Os Srs. Deputados que a aprovam permaneçam como se encontram.

    (Pausa.)

    Aprovada.

    Ordem do Dia.

    A presente reunião destina-se, em sua primeira parte, a ouvir em audiência

    pública os Srs. Tércio Egon Kastens, Presidente da Federação de Hospitais de

    Santa Catarina, a requerimento do Deputado Vicente Caropreso; Uriel Zanon,

    Professor Doutor em medicina tropical, sanitarista pela Escola Nacional de Saúde

    Pública, FIOCRUZ, em substituição ao Professor Emílio Eigenheer, da Universidade

    Federal Fluminense, requerimento do Deputado Federal Vicente Caropreso; João

    Paulo Mignot, Diretor da Empresa Tecnoambiental S/C Ltda.,

    em substituição ao Sr. Tomás Antonio Cunha Cardoso de Almeida, médico

    sanitarista da mesma empresa, requerimento do Deputado José Índio.

  • CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 203/91 - Política Nacional de ResíduosCE - PL 203/91 - Resíduos de Serviços de SaúdeNúmero: 001433/01 Data: 27/11/01

    2

    Neste momento convido os senhores convidados a comporem a Mesa para

    darmos início à audiência pública.

    Lembro aos Srs. Deputados que logo após a audiência passaremos à

    apreciação do requerimento pautado.

    Para melhor andamento dos trabalhos, esclareço aos Srs. Deputados que

    adotaremos os seguintes critérios: cada convidado disporá de 20 minutos para sua

    exposição inicial, não podendo ser aparteado nessa fase; encerrada a exposição, os

    Deputados interessados em interpelar os convidados deverão fazê-lo estritamente

    sobre o assunto da exposição, pelo prazo de três minutos, tendo cada expositor

    igual tempo para responder; aos Deputados é facultado a réplica e a tréplica pelo

    prazo de três minutos; os Deputados que desejarem participar dos debates deverão

    inscrever-se junto à Secretaria.

    Passaremos a palavra agora ao Sr. Tércio Egon Kastens, Presidente da

    Federação de Hospitais de Santa Catarina.

    O SR. TÉRCIO EGON PAULO KASTENS – Sr. Presidente, Sras. e Srs.

    Deputados, demais presentes, a nossa presença aqui, a convite do Deputado

    Vicente Caropreso, é no sentido de representar as entidades hospitalares e de

    serviços de saúde de todo o Brasil. Como Presidente da Federação dos Hospitais de

    Estabelecimentos de Serviços de Saúde de Santa Catarina, venho aqui hoje no

    sentido de trazer aos senhores uma palavra a respeito daquilo que eu considero

    atualmente uma expressão desapropriada e polêmica, que são aquelas duas

    palavras que compõem o título “lixo hospitalar”.

    Quero apresentar aos senhores alguns quadros a respeito do meu

    entendimento sobre o significado da expressão “resíduo hospitalar” para, com isso,

  • CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 203/91 - Política Nacional de ResíduosCE - PL 203/91 - Resíduos de Serviços de SaúdeNúmero: 001433/01 Data: 27/11/01

    3

    tirarmos algumas conclusões. Depois, estarei a disposição para alguma pergunta

    que se fizer necessária.

    Senhoras e senhores, dando início às minhas observações, hoje as

    resoluções do CONAMA que direcionam a questão dos resíduos sólidos dos

    serviços de saúde estão baseadas em normas da Associação Brasileira de Normas

    Técnicas – ABNT. Este o primeiro questionamento da área hospitalar. Uso essa

    expressão para englobar todos os serviços de saúde — hospitais, clínicas,

    laboratórios, farmácias e demais prestadores de serviços de saúde. Questionamos,

    de início, a forma como a ABNT elaborou essas normas.

    A ABNT classifica os resíduos sólidos em industriais, domiciliares e de

    serviços de saúde — hospitais, clínicas, consultórios, postos de saúde, farmácias,

    drogarias, etc. — e baseia-se na periculosidade do lixo, definida como uma

    característica que, em função de suas propriedades físicas, químicas ou infecto-

    contagiosas, pode apresentar risco à saúde pública e ao meio ambiente. Diante

    disso, a classificação de resíduos sólidos em industrial, domiciliar e hospitalar é

    inconsistente uma vez que a maioria dos componentes desse lixo está tanto no

    domiciliar quanto no hospitalar, mesmo que as concentrações não sejam

    semelhantes.

    Não é possível diferenciar qualitativamente os resíduos gerados nas

    instituições destinadas ao tratamento de doenças daqueles produzidos no domicílio

    humano. Então, por quê a insistência em usar a expressão lixo hospitalar? Essa é

    uma expressão vastamente usada pelo Prof. Uriel Zanon, profissional gabaritado

    que V.Exas. terão oportunidade de ouvir daqui a pouco, com vasto trabalho em

    defesa da desmistificação do que chamamos lixo hospitalar. Não se deve usar essa

  • CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 203/91 - Política Nacional de ResíduosCE - PL 203/91 - Resíduos de Serviços de SaúdeNúmero: 001433/01 Data: 27/11/01

    4

    expressão. Os preconceitos culturais inerentes ao lixo, como repugnância, rejeição e

    afastamento, levam-nos a não nos aproximarmos de lixo, de um lixão ou de um

    aterro sanitário, ou a achar que aquele recipiente de lixo em nosso domicílio é algo

    repugnante. Além disso, essa rejeição associa-se às palavras medo e morte quando

    nos referimos a um hospital. Surge, portanto, uma expressão terrorista que está na

    moda: lixo hospitalar. Isso pode ser usado perigosamente contra nossas já carentes

    instituições hospitalares.

    Os resíduos sólidos apresentam riscos para a saúde e o meio ambiente? Sem

    dúvida alguma; resta saber que tipo de risco, se infeccioso, tóxico ou ambos.

    Valendo-se da teoria da periculosidade ou do perigo da infecção do lixo, até agora

    vigente e na qual a ABNT se baseou, o CONAMA, por sua vez, baixou suas

    resoluções e recomenda: gerenciamento diferenciado do lixo domiciliar e hospitalar;

    sofisticados sistemas de condicionamento, coleta e transporte; taxas diferenciadas

    especiais para o transporte desse lixo. Também valendo-se da mesma teoria do

    perigo infeccioso do lixo, recomenda-se a esterilização do lixo hospitalar mediante

    vários processos: incineração, microondas, radiações eletromagnéticas e

    eletrotérmicas, tratamento químico e outros.

    Em conseqüência desse enfoque, os custos do gerenciamento dos resíduos

    de serviços de saúde — que é a expressão correta, e não lixo hospitalar — nos

    países desenvolvidos têm aumentado significativamente, sem nenhum benefício

    agregado à sociedade e aos serviços de saúde.

    É preciso que os Srs. Deputados saibam que jamais foi comprovado que o

    lixo, tanto o hospitalar, quanto o domiciliar, representa risco de doença infecciosa

    para o público e para o ambiente. Temos comprovações científicas a respeito disso.

  • CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 203/91 - Política Nacional de ResíduosCE - PL 203/91 - Resíduos de Serviços de SaúdeNúmero: 001433/01 Data: 27/11/01

    5

    O Dr. Uriel Zanon fará exposição sobre o assunto. Essa afirmação é sustentada por

    vários autores. Cito aqui muitos deles, inclusive o guru na área de prestação de

    serviços de saúde, que nos tem prestado assistência técnica e científica que nos

    permite afirmar que o lixo hospitalar não oferece perigo para a sociedade de modo

    geral.

    Refiro-me aos trabalhos do Dr. Uriel Zanon, a um paper da Sociedade

    Americana de Epidemiologistas Hospitalares, cuja opinião é muito importante,

    porque uma sociedade desse quilate não apresentaria sua posição dessa forma; à

    contribuição do Dr. Jayme Neves, Prof. da Universidade de Belo Horizonte; de

    Rutala, de Reinhardt, Gordon e Mayol, de Ferreira, que afirmam com comprovações

    científicas que os resíduos sólidos de serviços de saúde não apresentam nenhuma

    diferença dos resíduos domiciliares. Aliás, afirmam categoricamente que a

    quantidade de resíduo domiciliar é muito maior do que a de resíduo sólido.

    Na América Latina, há um levantamento segundo o qual o resíduo sólido

    proveniente dos resíduos dos serviços de saúde baseia-se na quantidade de 600

    toneladas/dia, enquanto o resíduo domiciliar, em 330 mil toneladas/dia. Então,

    V.Exas. vêem a proporção do resíduo domiciliar em relação ao resíduo hospitalar,

    que apresenta os mesmos componentes.

    A legislação baseada na periculosidade infecciosa do lixo não tem suporte

    científico, é inútil, aumenta desnecessariamente os custos do gerenciamento do lixo,

    beneficia as indústrias interessadas e prejudica a saúde pública. Como? O dinheiro,

    as verbas, os financiamentos que seriam destinados ao gerenciamento desse lixo

    poderiam ser muito bem gastos em assistência médica e hospitalar, de que o Brasil

    necessita, como V.Exas. sabem.

  • CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 203/91 - Política Nacional de ResíduosCE - PL 203/91 - Resíduos de Serviços de SaúdeNúmero: 001433/01 Data: 27/11/01

    6

    Ontem mesmo, no avião, lendo a Folha de S.Paulo, deparei com um edital

    de licitação de uma entidade hospitalar de São Paulo para compra de um

    incinerador para lixo hospitalar. A verba destinada seria de 300 mil reais ou 120 mil

    dólares. Com 300 mil reais dá para fazer muito na área de saúde, mesmo numa

    comunidade como a de São Paulo.

    O dano à saúde pública e ao meio ambiente é causado pela poluição do solo

    — isto é importante V.Exas. terem em mente — e da água com produtos químicos

    existentes tanto no lixo hospitalar quanto no doméstico e, acima de tudo, nos

    resíduos industriais. Tivemos há pouco tempo, em São Paulo, o exemplo daquele

    lençol freático todo contaminado. Um condomínio foi construído em cima de uma

    área industrial, onde se depositava o lixo daquela indústria.

    Até poucos anos atrás o lixo domiciliar era considerado como de pequeno

    risco tóxico para o ambiente. Atualmente, consideram-se esses resíduos como

    ameaça tóxica ao meio ambiente e à saúde pública. Nesse lixo encontramos pilhas,

    baterias, óleo de motor, tinta, pesticida, embalagens de solventes e de produtos de

    limpeza, medicamentos, cosméticos, bem como resíduos de pequenas indústrias,

    componentes encontrados tanto nos resíduos domiciliares quanto nos hospitalares.

    Metais pesados como o mercúrio, o cádmio e o chumbo provenientes desses

    resíduos incorporam-se à cadeia biológica, acumulam-se no organismo e causam

    danos importantes à saúde, como saturnismo, distúrbios do sistema nervoso e, no

    caso dos pesticidas, redução da função neural.

    Concluindo minha exposição, a Associação de Hospitais do Estado de Santa

    Catarina, a Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviço de Saúde do

    Estado de Santa Catarina e a Confederação Nacional de Saúde, entidade que estou

  • CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 203/91 - Política Nacional de ResíduosCE - PL 203/91 - Resíduos de Serviços de SaúdeNúmero: 001433/01 Data: 27/11/01

    7

    representando aqui, consideram a teoria da periculosidade do lixo manifestação

    atual da teoria astro-miasmática, do Século XVIII — isto aqui é até uma certa

    provocação —, teoria que atribuía as causas das doenças infecciosas às

    emanações do pântanos e dos lixões. Naquela época os médicos e os que faziam

    assistência à saúde das pessoas das comunidades mandavam disparar tiros de

    canhão para espantar essas emanações. Sinto como se nos estivéssemos

    baseando nessa teoria, de tão ultrapassada que está a idéia que adotamos, porque

    não existe comprovação científica de que é necessário haver diferenciação entre o

    lixo hospitalar e o lixo domiciliar.

    Sabemos muito bem que no lixo domiciliar encontramos resíduos

    perfurocortantes em quantidade infinitamente maior do que no hospitalar. Os

    perfurocortantes dos hospitais e dos serviços de saúde são hoje separados; quando

    há sangue, são esterilizados. Os resíduos resultantes dos laboratórios hospitalares

    ou dos laboratórios ambulatoriais, os meios de cultura, antes de serem descartados,

    são esterilizados; os materiais com sangue, as compressas, os curativos são

    separados, têm destino próprio. Pergunto: de que forma é descartado um

    absorvente higiênico em nossas residências? Nossos perfurocortantes, nossas

    lâmpadas, nossas pilhas estão sendo jogados fora separadamente? Se eu tenho um

    parente com uma doença infecto-contagiosa, como um aidético, morando em minha

    casa, pergunto: jogo fora separadamente os resíduos desse doente que eu trato e

    por quem tenho grande amor? Os resíduos biológicos emanados dessa pessoa são

    tratados separadamente? Existe condição em cada residência para fazer esse

    tratamento diferenciado?

  • CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 203/91 - Política Nacional de ResíduosCE - PL 203/91 - Resíduos de Serviços de SaúdeNúmero: 001433/01 Data: 27/11/01

    8

    Hoje estamos prestes a ter leis que exigem, como já existem Municípios

    exigindo, estações de tratamento nos terrenos dos hospitais. Quanto custa isso para

    o estabelecimento de serviço de saúde? Quanto custa isso para a população, que

    não tem assistência à saúde garantida? A AHESC-FEHOESC e a CNS consideram

    no mínimo curiosa, para não dizer suspeita, a existência de tantos projetos

    baseados nessa teoria ultrapassada. Nossas entidades reivindicam igual tratamento

    para o lixo doméstico e hospitalar porque, conforme será demonstrado, essas duas

    categorias de resíduos se sobrepõem.

    A Associação de Hospitais do Estado de Santa Catarina e a Federação dos

    Hospitais e Estabelecimentos de Saúde do Estado de Santa Catarina e a

    Confederação Nacional de Saúde não concordam com as seguintes propostas que o

    projeto de lei tem inseridas em seu bojo: contratação de profissional de nível

    universitário para gerenciamento do lixo dos hospitais; embalagens diferenciadas

    para o lixo hospitalar; esterilização do lixo por incineração em microondas e energia

    eletrotérmica, tratamentos químicos, etc.; cobrança de taxas de lixo diferenciadas

    para o lixo hospitalar e transporte diferenciado para o lixo hospitalar.

    V.Exas. sabem mais do que nós que aproximadamente 30% dos Municípios

    brasileiros têm aterro sanitário ou têm coleta especializada de resíduos.

    Aproximadamente 70% das cidades no Brasil nem aterro sanitário têm. Temos lixões

    e catadores de lixo. O Dr. Uriel Zanon, em sua exposição, tem um exemplo clássico

    e claro de um catador de lixo que não contraiu doença — é uma pesquisa que ele

    fez no Espírito Santo.

    Diante disso, afirmo que nossas comunidades e nossos estabelecimentos de

    serviços de saúde necessitam desse dinheiro para outros direcionamentos mais

  • CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 203/91 - Política Nacional de ResíduosCE - PL 203/91 - Resíduos de Serviços de SaúdeNúmero: 001433/01 Data: 27/11/01

    9

    interessantes, por meio dos quais poderemos propiciar um serviço mais atuante para

    nossas comunidades. Obrigado.

    O SR. PRESIDENTE (Deputado José Índio) – Hoje, excepcionalmente, vamos

    passar agora a palavra ao Relator e aos demais Srs. Deputados para fazerem seus

    questionamentos, uma vez que o Dr. Tércio precisará retirar-se em razão de um

    compromisso em Brasília.

    Posteriormente passaremos a palavra ao Sr. Uriel Zanon.

    Com a palavra o Sr. Deputado Emerson Kapaz.

    O SR. DEPUTADO EMERSON KAPAZ – Sr. Presidente, Sras. e Srs.

    Deputados, senhores convidados, inicialmente agradeço ao Sr. Tércio a exposição.

    Em nosso relatório preliminar fazemos algumas citações e não usamos a

    expressão lixo hospitalar, mas resíduos de serviços de saúde. No entanto, pelo que

    entendi, pontos como contratação de profissional, embalagem diferenciada,

    esterilização, taxa diferenciada o senhor acha que não deveriam constar do relatório.

    Gostaria de saber se é possível a entidade que o senhor representa

    apresentar sugestões de alteração do relatório que nos auxiliem na obrigação que

    teremos de discutir o assunto em relação à área de serviço de saúde. Mesmo

    entendendo a afirmação do senhor no sentido de que os resíduos de serviço de

    saúde poderiam ser equiparados aos resíduos residenciais, não vejo em nenhuma

    parte do mundo isso acontecer. O resíduo hospitalar sempre deve receber

    tratamento por conta dos problemas que advêm disso.

    Entretanto, pergunto: como, na opinião dessa entidade, deveríamos tratar

    essas questões no relatório ou no substitutivo final, e como os senhores vêem a

  • CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 203/91 - Política Nacional de ResíduosCE - PL 203/91 - Resíduos de Serviços de SaúdeNúmero: 001433/01 Data: 27/11/01

    10

    preocupação que estamos tendo de criar alguns mecanismos facilitadores desse

    processo dentro do relatório preliminar?

    Era basicamente isso que queria dizer.

    O SR. PRESIDENTE (Deputado José Índio) – Pedirei aos demais Deputados

    que façam suas perguntas, às quais o senhor responderá posteriormente.

    Com a palavra o Deputado Clovis Volpi.

    O SR. DEPUTADO CLOVIS VOLPI - Ouvi atentamente o Dr. Tércio e

    discordo da exposição que fez em relação a dar aos resíduos de serviço de saúde o

    mesmo tratamento que recebem os resíduos domésticos.

    É certo que pode não haver nenhuma pesquisa que determine que esses

    resíduos possam transmitir alguma doença. Não conheço nenhuma literatura que

    me tenha dito isso.

    O senhor fez menção de que temos alguns lixões. Estamos realmente

    caminhando para termos aterros sanitários controlados pelos órgãos estaduais que

    coordenam a política ambiental. Até por termos lixões, deveríamos ter no bojo da lei

    uma preocupação com o destino final do resíduo da saúde não nos lixões, não nos

    depósitos ou sacos de lixo doméstico, etc.

    Em contrapartida, acho que a taxação do resíduo na saúde, pelo menos nas

    cidades que conheço, chega a ser perto de oito vezes maior que a do resíduo

    doméstico. Hoje, um incinerador deve estar custando, como o senhor disse, perto

    de 300 mil reais. Outros sistemas, como autoclavagem, por exemplo, tem custo um

    pouco maior, dependo da capacidade de incineração. Portanto, discordo do que

    disse até por causa da precariedade, que o senhor mencionou e sabemos que

  • CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 203/91 - Política Nacional de ResíduosCE - PL 203/91 - Resíduos de Serviços de SaúdeNúmero: 001433/01 Data: 27/11/01

    11

    existe. Todos vivemos em cidades e presenciamos situações diferentes nas cidades

    em que vivemos.

    Quando o senhor diz que os hospitais mantêm alguns serviços preparatórios

    ou posteriores à utilização de alguns objetos ou de algum tipo de trabalho que faz

    com o doente, os senhores já estariam descontaminando esse resíduo, e, portanto,

    ele deveria ir para lugar comum dos aterros. Mas temos de pensar que estamos

    falando de pequenas clínicas que não têm esse cuidado, consultórios odontológicos,

    farmácias etc. Não podemos pensar em Santa Catarina, em São Paulo, no Rio

    Grande do Sul, nos grandes centros. Temos de pensar que temos o Acre, Rondônia,

    Pará, Manaus, ou seja, há grandes diferenças sociais e culturais que terão de ser

    analisadas, e esse projeto deve contemplar, na medida do possível, as diferentes

    regiões.

    Mencionou bem o Relator essas diferenças e os lixões. Vale ressaltar também

    a observação que o senhor fez em relação aos doentes de AIDS que são tratados

    em casa: como se separam os resíduos biológicos provenientes desse paciente.

    Isso é muito delicado, pois quantos milhões de lares vivem essa situação, quantas

    pessoas estão contaminadas? Quer dizer, se disseminamos isso dentro de um

    aterro sanitário, com toneladas e toneladas, evidentemente a probalidade de aquilo

    atingir uma pessoa é ínfima.

    Temos de nos preocupar com o contexto, com o grosso, e o grosso sai das

    farmácias mal controladas, dos hospitais que não têm o mesmo serviço que têm os

    hospitais ligados à associação que o senhor dirige. Peço, portanto, a V.Sa. que

    acompanhe um pouco nosso raciocínio e nossas preocupações.

  • CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 203/91 - Política Nacional de ResíduosCE - PL 203/91 - Resíduos de Serviços de SaúdeNúmero: 001433/01 Data: 27/11/01

    12

    Quando o Relator, o Deputado Emerson Kapaz, disse que não há legislação

    única em nenhum país do mundo, ocorreu-me transferir para V.Sa. a pergunta: em

    qual país há uma legislação única para os resíduos de saúde e os demais? Não

    conheço, por isso estou perguntando. Pode até ser que a Espanha tenha. Estou

    preocupado com país do Primeiro Mundo. Quero realçar que, de fato, não li nada

    sobre isso. Conheço alguns lugares em que os aterros sanitários são diferenciados,

    e o lixo doméstico recebe outro tipo de tratamento em função de diferentes tipos de

    resíduos que outros países têm. Isso não contrariaria todos os estudos feitos até

    agora?

    Fiquei um pouco chocado com a exposição feita por V.Sa. Mas concordo com

    o senhor quando diz que o custo é alto. É preciso haver uma abordagem social do

    problema. Não se deve encarecer o processo; encarecê-lo torna maior o problema.

    De qualquer forma, gostaria que o senhor ilustrasse um pouco mais esse

    tema, para que eu saia desta reunião com a idéia de que existe algo novo de que

    não tive conhecimento e com que não tive contato.

    Obrigado.

    O SR. PRESIDENTE (Deputado José Índio) - Com a palavra o Deputado

    Vicente Caropreso.

    O SR. DEPUTADO VICENTE CAROPRESO - Sr. Presidente, Sr. Relator,

    Sras. e Srs. Deputados, senhores convidados, senhoras e senhores presentes,

    solicitei a presença de um representante dos prestadores de serviço, basicamente

    dos estabelecimentos de saúde, juntamente com outras pessoas que nos pudessem

    demonstrar de maneira científica se existe ou não diferença entre os resíduos da

  • CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 203/91 - Política Nacional de ResíduosCE - PL 203/91 - Resíduos de Serviços de SaúdeNúmero: 001433/01 Data: 27/11/01

    13

    área hospitalar e os resíduos da área domiciliar. Essa é a grande questão que tem

    de ser resolvida.

    Há alguns meses, nesta Comissão, eu disse que achava que se deveriam

    esgotar todas as possibilidades de se chegar a um consenso sobre se há ou não

    periculosidade no lixo hospitalar, já que há anos se propala essa idéia, em que se

    baseia a legislação vigente, a proposta pelas instâncias do meio ambiente e também

    as propostas dentro do Congresso Nacional. O trâmite deste processo começou no

    Senado Federal, com o PL nº 203, de 1991, que tem a mesma abordagem do

    substitutivo elaborado pelo Deputado Carlos Mosconi, Relator do projeto na

    Comissão de Seguridade Social e Família. E mais ou menos a mesma linha de

    pensamento segue o nosso relator, Deputado Emerson Kapaz, com algumas

    modificações e simplificações.

    Sendo assim, baseando-me em um estudo que solicitei à Consultoria e em

    algumas informações que recebi da área técnica, que analisou profundamente a

    questão do lixo hospitalar, elaborei um estudo, que já há alguns meses entreguei ao

    Relator e distribuí entre os participantes.

    A proposta do meu amigo Tércio Egon Kastens pareceu-me uma verdadeira

    revolução. Salvo melhor juízo, essa mesma impressão percebi no semblante do

    nosso Presidente, do nosso Relator e do Deputado Clovis Volpi, nosso colega do

    Partido Verde. Trata-se de uma modificação de 180 graus em termos de proposta a

    ser seguida na matéria legislativa.

    Lerei uma manchete que me chegou. Manchete do jornal O Globo, de 4 de

    novembro de 2001, domingo: “Esgoto Hospitalar Ameaça Praias”. Essa é uma

    matéria fundamentada numa tese do engenheiro sanitarista da Fundação Oswaldo

  • CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 203/91 - Política Nacional de ResíduosCE - PL 203/91 - Resíduos de Serviços de SaúdeNúmero: 001433/01 Data: 27/11/01

    14

    Cruz — FIOCRUZ, infectologista Edmilson Migowski, professor da UFRJ, que diz

    que o tratamento da empresa não é suficiente para matar bactérias, vírus e

    parasitas.

    Há aqui uma série de abordagens a respeito de todo o sistema hospitalar da

    cidade do Rio de Janeiro, do esgoto hospitalar e dos riscos a que esse esgoto

    poderia expor os banhistas e todo o sistema ambiental das águas e também do lixo

    hospitalar. Ele propõe ao Prefeito César Maia grandes penalidades aos prestadores

    de serviço hospitalar que não seguirem a dura legislação que está sendo proposta

    na Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro.

    Se existe preconceito, temos de desmistificá-lo. Temos de esgotar o assunto

    com pessoas com conhecimento científico que possam sensibilizar os legisladores,

    a fim de apresentarmos uma proposta baseada na ciência e não no empirismo.

    Peço aos nobres colegas que depois analisem algumas modificações que

    propus no sentido de restringir a necessidade de os prestadores de serviço, antes do

    acondicionamento final, submeterem os resíduos a um tratamento prévio que

    assegure a esterilização.

    Acho que este artigo contempla muito do que foi solicitado pelos próprios

    prestadores de serviços e também atende em parte à legislação vigente, apenas

    racionalizando os custos de transporte, de acondicionamento final e dos

    incineradores. Ou seja, simplifico e racionalizo a proposta de tratamento do lixo

    hospitalar.

    Com isso, mais do que uma análise de sua apresentação, acho que tem de

    haver aqui um grande debate para que cheguemos a uma conclusão sobre sua

    revolução, se ela é válida, ou se temos apenas de evoluir, incorporando alguns

  • CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 203/91 - Política Nacional de ResíduosCE - PL 203/91 - Resíduos de Serviços de SaúdeNúmero: 001433/01 Data: 27/11/01

    15

    conceitos de sua proposta, para chegarmos a uma legislação mais adequada e

    moderna em relação ao tema.

    Sr. Presidente, seria isso.

    O SR. PRESIDENTE (Deputado José Índio) – Dr. Tércio, quando o senhor

    menciona a coleta do lixo hospitalar, que está em torno de seiscentas toneladas, e

    do lixo domiciliar, que está em torno de trezentas mil toneladas, seu entendimento é

    que o perigo do lixo hospitalar se dilui nessa desproporção que existe, ou ele existe

    e naturalmente só se dilui quando se encontram?

    O SR. TÉRCIO EGON PAULO KASTENS – Sr. Presidente, não é isso. A

    quantidade em si já demonstra maior perigo de contaminação do solo, das águas e

    de transmissão de alguma doença.

    Gostaria de dizer algo a V.Exas. para amenizar um pouco a situação e não

    deixá-los assustados. O que eu gostaria de deixar claro é que não estamos dizendo

    que o lixo hospitalar não ofereça perigo, absolutamente, mas que o lixo domiciliar

    também representa perigo, e igual.

    (Intervenção inaudível.)

    O SR. TÉRCIO EGON PAULO KASTENS – Não, proporções muito menores

    já pela quantidade em si. Por quê? O resíduo perfurocortante do lixo hospitalar,

    aquele que é infeccioso, já recebe tratamento. O Deputado Clovis Volpi citou a

    esterilização por autoclavação. Essa, sim, admitimos como uma forma de

    esterilização desse lixo, mas daquele lixo infeccioso perfurocortante: agulhas,

    bisturis, etc. O Deputado Vicente Caropreso sabe muito bem o que é resíduo de

    centro cirúrgico.

  • CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 203/91 - Política Nacional de ResíduosCE - PL 203/91 - Resíduos de Serviços de SaúdeNúmero: 001433/01 Data: 27/11/01

    16

    Em relação ao exemplo do Rio que o Deputado citou, ao esgoto, reafirmo o

    que estamos apregoando: o lixo hospitalar oferece o mesmo perigo de infecção que

    o lixo domiciliar. Afinal, em certos momentos da nossa vida, se estivermos com

    alguma doença infecto-contagiosa, ela vai para o esgoto comum da cidade.

    Portanto, é o esgoto da cidade que tem de receber tratamento; não é o hospital que

    deve dar um tratamento especial para aquele esgoto, que não é diferente do da

    cidade.

    Em relação a essas questões mais técnicas, acredito que o Dr. Uriel Zanon

    depois poderá fazer uma exposição mais apropriada, tratando da questão

    bacteriana, da virulência, demonstrando isso com mais provas.

    De fato, estou aqui fazendo terrorismo a respeito da questão. Quero

    demonstrar com isso que não precisamos ter gastos adicionais enormes, porque

    temos formas baratíssimas de esterilização consagradas há muito tempo, até há

    mais de um século, como é o caso da autoclavação de resíduos de perfurocortantes,

    de curativos e de outras coisas que podemos esterilizar de forma algo eficiente, sem

    ser pela incineração. Daqui a pouco V.Exas. tomarão conhecimento de que a

    incineração não esteriliza perfeitamente o lixo hospitalar, além de lançar emanações

    na atmosfera.

    O Deputado Clovis Volpi fez uma pergunta sobre a legislação única. Também

    desconheço, Deputado. Não tenho um levantamento a respeito do assunto que me

    permita dizer se existe em outros países uma legislação única. Talvez o Sr. Uriel

    Zanon saiba algo a respeito disso.

    O SR. URIEL ZANON – Não se dá grande importância ao lixo hospitalar.

  • CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 203/91 - Política Nacional de ResíduosCE - PL 203/91 - Resíduos de Serviços de SaúdeNúmero: 001433/01 Data: 27/11/01

    17

    O SR. TÉRCIO EGON PAULO KASTENS – O que se sabe — e

    recentemente isso foi noticiado — é que justamente os Estados Unidos se estão

    voltando muito para a esterilização por autoclavação, porque lá, e na Europa

    também, a incineração está sendo abandonada, como também outros métodos que

    estão onerando demais o sistema hospitalar, mesmo num país desenvolvido, como

    é o caso dos Estados Unidos.

    O SR. DEPUTADO EMERSON KAPAZ – Sr. Presidente, só uma observação

    final, aproveitando que o Dr. Tércio Kastens está presente. Nosso relatório trata com

    muito cuidado dessa questão. O art. 51 estabelece a classificação dos resíduos dos

    serviços de saúde. Diz aqui que os resíduos dos serviços saúde são classificados

    em resíduos sépticos, com a definição; resíduos perigosos, que são aqueles que

    possuem características de toxicidade, corrosividade, reatividade, explosividade e

    inflamabilidade; resíduos radioativos, que também existem nos hospitais. Quer dizer,

    mais um motivo de preocupação ao pensarmos no que resultaria comparar isso com

    resíduo domiciliares. Há ainda os resíduos comuns. Quais são os comuns? São os

    que não se enquadram nas três categorias anteriores. Então vejam: qual é a função

    do serviço de saúde? É ter a responsabilidade pelo gerenciamento completo dos

    seus resíduos, de acordo com as suas peculiaridades: separar, de acordo com as

    classes estabelecidas, acondicionar, identificar e fazer o transporte interno

    adequado, a manutenção diária de operação e a apresentação do resíduo à coleta

    externa de acordo com as normas brasileiras.

    Quer dizer, o que nós estamos fazendo é o que na verdade o Dr. Tércio

    Kastens está dizendo. Não estamos classificando. Mas o que acontece é que,

    depois, no caso por exemplo dos resíduos sépticos provenientes dos serviços de

  • CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 203/91 - Política Nacional de ResíduosCE - PL 203/91 - Resíduos de Serviços de SaúdeNúmero: 001433/01 Data: 27/11/01

    18

    saúde, a disposição final tem de ser feita com tratamento prévio, como está dito no

    art. 53: “…que assegure a eliminação das características de patogenicidade

    existente dentro do resíduo hospitalar”. Aí, realmente, eles voltam a ser resíduos

    comuns.

    O SR. PRESIDENTE (Deputado José Índio) – Mas o hospital não aceita esse

    tratamento prévio.

    O SR. DEPUTADO EMERSON KAPAZ – Não, mas o que está dito é o que

    os hospitais fazem.

    O SR. TÉRCIO EGON PAULO KASTENS – Os perfurocortantes, por

    exemplo, foram utilizados em cirurgias, etc. Esse material, resultante de uma ferida,

    etc., tem um tratamento prévio no próprio hospital. Mas o que nós não queremos, e

    que hoje está sendo imposto inclusive em certos Municípios do País, é coleta

    especial. Vai lá uma caminhonete especialmente para a coleta daquele lixo, com

    uma taxa diferenciada da do lixo comum, embora esse lixo já esteja sendo

    identificado.

    O SR. DEPUTADO EMERSON KAPAZ – Mas aí trata-se de uma negociação

    com o Poder Público. Se esse lixo já está acondicionado, inclusive licenciado, feita

    toda essa diminuição da patogenicidade, não há por que haver problema. Nesse

    caso, depende muito da negociação.

    O SR. TÉRCIO EGON PAULO KASTENS – Não, Deputado, não funciona

    assim. A vigilância sanitária do Município ou do Estado impõe, como polícia, esse

    tipo de coisa. Não posso absolutamente dizer por que, mas nós sabemos que atrás

    disso existe alguma outra coisa.

  • CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 203/91 - Política Nacional de ResíduosCE - PL 203/91 - Resíduos de Serviços de SaúdeNúmero: 001433/01 Data: 27/11/01

    19

    O SR. DEPUTADO CLOVIS VOLPI – Se o senhor me permite, inclusive as

    licitações são feitas em separado. O custo é oito vezes maior. Alguns exageram,

    inclusive.

    Mas eu tenho uma preocupação também. Se abolirmos todo e qualquer tipo

    de diferenciação, vai ser uma grande alegria para quem é dono de aterro sanitário,

    porque ele não vai precisar fazer absolutamente mais nada. E isso entra num

    contexto geral. Alguns aterros terceirizam esses serviço, pois eles não têm

    especialidade, não tem nenhum incinerador e tampouco um sistema de autoclave,

    não tem absolutamente nada. Então, eles terceirizam isso para pequenas empresas

    trabalharem às vezes dentro das suas próprias áreas.

    Então, há uma questão de cultura em relação a isso. Na realidade, às vezes

    as pessoas que administram os setores públicos não têm uma especialidade e se

    assustam.

    Eu, por exemplo, tenho um sentimento de susto, porque enquanto há algumas

    pessoas conscientes fazendo esse tratamento, haverá um número muito grande e

    maior dos inconscientes. Isso é próprio do brasileiro.

    Então, se nós não tivermos nenhuma legislação cercando um pouco, daqui a

    pouco qualquer indústria acha que pode jogar o seu efluente metálico ou não em

    qualquer riacho que estiver próximo, como fazem nas zonas de tratamento de cora.

    Mas concordo com o senhor. O custo operacional disso é que está fora da

    realidade. Ele dá ao hospital, ao ambulatório médico ou ao dentista um tratamento

    caro. Eu sei que isso é caro. Em algumas cidades hoje, Deputado Emerson Kapaz,

    ocorre licitação para empresas pequenas particulares que estão se especializando

    só no recolhimento, para fazer isso. Hoje, isso acontece muito.

  • CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 203/91 - Política Nacional de ResíduosCE - PL 203/91 - Resíduos de Serviços de SaúdeNúmero: 001433/01 Data: 27/11/01

    20

    O SR. TÉRCIO EGON PAULO KASTENS – Existem empresas no Rio de

    Janeiro que são especializadas somente no lixo hospitalar. E cobram uma taxa

    bastante diferenciada. Um saco branco leitoso de lixo tem um preço muito maior. Eu

    não posso dizer aqui exatamente, mas eu estimo um preço mais ou menos dez

    vezes maior do que o preço do saco preto de lixo. No entanto, esse saco plástico

    preto de lixo poderia ser utilizado no hospital com uma identificação, que o próprio

    hospital colocaria colado em cima “Lixo Hospitalar” e não teria problema nenhum.

    Por que toda essa diferenciação, quando esse lixo já tem um tratamento prévio no

    hospital?

    Lixo hospitalar, de acordo com o que vinha sendo feito antes, não de acordo

    com a proposta dos senhores, e até agora como as vigilâncias sanitárias autuam,

    corresponde todo o lixo, tudo que sai. Por exemplo, papel da parte administrativa do

    hospital tem de ser recolhido e conduzido separadamente até um depósito final. Em

    Florianópolis, Santa Catarina, temos uma empresa que criou um aterro sanitário

    somente para coletar lixo hospitalar de todo o Estado. Imaginem quanto sairá isso.

    O SR. DEPUTADO EMERSON KAPAZ – De acordo com esse relatório, não

    vai acontecer, porque o relatório inclui resíduos comuns pertencentes a um hospital.

    Quer dizer, ele tem também resíduos comuns que são coletados de forma normal.

    O SR. TÉRCIO EGON PAULO KASTENS – Deputado, estimo que V.Exas.

    tenham muito poder de convencimento para que esse projeto saia da forma como

    estão legislando. Atualmente, posso afirmar isso com todas a palavras, a vigilância

    sanitária dos Municípios e dos Estados fazem cobrança no sentido de que temos de

    ter tudo separadamente, e certos Municípios, como é o caso do Rio de Janeiro,

    também estão cobrando tratamento especial de seus efluentes.

  • CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 203/91 - Política Nacional de ResíduosCE - PL 203/91 - Resíduos de Serviços de SaúdeNúmero: 001433/01 Data: 27/11/01

    21

    O SR. PRESIDENTE (Deputado José Índio) – Sr. Tércio, como se justifica o

    alto índice de infecção hospitalar na rede nacional, se não através naturalmente dos

    diversos usos dentro dos hospitais?

    O SR. TÉRCIO EGON PAULO KASTENS – Sr. Presidente, eu não poderia

    relacionar a questão da infecção hospitalar com a do resíduo sólido. A questão da

    infecção hospitalar tem uma outra conotação, e a pessoa mais capacitada para falar

    sobre esse assunto seria o Dr. Uriel Zanon. Eu gostaria que o senhor fizesse a

    pergunta ao Dr. Uriel Zanon, porque ela deixa de ser pertinente especificamente à

    questão do resíduo hospitalar.

    O SR. PRESIDENTE (Deputado José Índio) – No entendimento de V.Sa. Eu

    posso a palavra, então, ao Dr. Uriel Zanon. Tanto quanto o Deputado Clovis Volpi,

    eu estou um pouco assustado, mas quem sabe o Dr. Uriel Zanon esclareça melhor o

    assunto.

    O SR. URIEL ZANON – A questão básica é a seguinte: lixo é um risco à

    saúde? Esse risco é infeccioso ou é tóxico? Por uma questão de preconceito e de

    tradição, todos nós admitimos que o risco fosse infeccioso.

    Em 1985, eu pensava exatamente como os senhores. Fui convidado para

    fazer uma palestra na COMLURB sobre lixo hospitalar. Eu disse que não entendia

    nada de lixo. Disseram-me para eu estudar o assunto e fazer uma palestra. E eu,

    que não sabia nada, fui ler. E o primeiro trabalho que eu li foi uma tese de

    doutorado de uma de universidade americana que eu vou citar daqui a pouco, que

    dizia textualmente: “Não há relação causal entre lixo e doenças infecciosas”. Aí, eu

    disse isso naquela palestra e apanhei. Dei a cara para baterem, e todo o mundo

    bateu. Eu fiz a seguinte proposta: “Por que vocês não chamam o autor da tese?” A

  • CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 203/91 - Política Nacional de ResíduosCE - PL 203/91 - Resíduos de Serviços de SaúdeNúmero: 001433/01 Data: 27/11/01

    22

    resposta foi essa: “Se nós chamarmos o autor da tese, nós teremos de chamar

    também os produtores de incineradores.” Eu disse, então, que o assunto era

    diferente.

    Vamos ver a famosa classificação. A Associação Brasileira de Normas

    Técnicas é uma entidade privada que edita normas técnicas denominadas Normas

    Brasileiras Registradas. Nós temos que atentar para o fato seguinte: a NBR não é

    uma lei. Assim, pode ser seguida ou não. Aqui é a classificação proposta pelo

    Comitê Hospitalar da ABNT. Então há lixo domiciliar, comercial, de serviço de saúde

    e industrial.

    Está sobre a mesa um livro muito bom sobre lixo, editado pela Fundação

    Osvaldo Cruz, em que se questiona isso. Sendo o lixo o resíduo da atividade

    humana, cada uma dessas categorias terá a mesma quantidade de uma substância,

    embora não seja nas mesmas concentrações.

    Chegamos, então, aos resíduos de serviço de saúde. As instituições de

    saúde vão produzir o lixo comum, é lógico, o que chamam de lixo infectado,

    infectante, séptico ou contaminado. E citam o sangue como lixo infectante. O

    indivíduo vai ao posto, passa por todos aqueles testes, seu sangue é considerado

    aprovado e vai para a geladeira. Quando ele vence, ele é considerado um infectante.

    E isso é inaceitável. Como é que pode? Depois de ele ter passado por todos aqueles

    testes, ter sido considerado apto para ser aplicado, de repente ele passa a ser

    transmissor de doenças?

    Outra coisa: lixo contaminado dá a entender que existe lixo estéril. Os

    micróbios habitam todos os lugares da terra em que existem seres vivos superiores.

    Habitam também lugares em que nenhum outro tipo de organismo sobrevive. Em

  • CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 203/91 - Política Nacional de ResíduosCE - PL 203/91 - Resíduos de Serviços de SaúdeNúmero: 001433/01 Data: 27/11/01

    23

    poços de petróleo, lá no fundo, encontram-se micróbios. Onde quer que exista vida,

    haverá micróbios.

    Até 1800, predominava a teoria pasteuriana: tem micróbio, tem doença. Mas

    essa teoria caiu porque ela foi incapaz de explicar por que existe micróbio e não

    doença. Qualquer pessoa que apresenta reação positiva ao PPD, tem em seu

    organismo o bacilo da tuberculose vivo e convive muito bem com a doença. Existem

    os portadores sadios de salmonelose, difteria. Essa é a grande confusão. A bactéria

    é condição necessária, porém insuficiente. É preciso mais uma porção de outras

    coisas para que se instale o processo.

    Questionamos: a competência da ABNT, uma instituição privada, para criar

    normas para os serviços de saúde; a legalidade de se transformar em lei normas

    criadas por uma instituição privada; a falta de suporte científico dessas normas;

    quem compõe o comitê da ABNT que fez essa classificação? Depois de muito custo,

    vim saber que o comitê é composto de um engenheiro, dois advogados e uma

    tecnóloga. Que currículo têm essas pessoas? Para se discutir infectuosidade de lixo,

    é preciso ter conhecimento de epidemiologia, infectologia e microbiologia. Isso não

    faz parte do currículo desses profissionais. Então, questionamos ainda a falta de

    suporte científico e os interesses que essas pessoas promovem. Desde que edito

    uma norma, beneficio alguém. Isso pode ser ilegítimo, até ilegal.

    Lixo é perigoso. Isso significa que existem as bactérias das doenças

    transmissíveis, como doenças não transmissíveis. Então, os agentes das doenças

    transmissíveis teriam de estar presentes no cenário da Nação em grande

    quantidade. Muito da legislação sobre lixo era excelente no século XVIII, onde havia

    uma predominância absoluta de doenças infecciosas e parasitárias, as doenças de

  • CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 203/91 - Política Nacional de ResíduosCE - PL 203/91 - Resíduos de Serviços de SaúdeNúmero: 001433/01 Data: 27/11/01

    24

    notificação compulsória causavam grande epidemias. Isso é assim hoje? Vejam o

    que se interna num hospital: gravidez parto puerpério, que não é doença infecciosa.

    A rigor, nem é doença; doenças do aparelho respiratório; doenças do aparelho

    circulatório; doenças do aparelho de digestivo; doenças no aparelho geniturinário; e

    doenças infecciosas e parasitárias. Essas são as que nos interessam. Isso

    representa apenas 7,96%.

    Então, fazendo uma síntese, o cenário epidemiológico brasileiro é constituído

    de 92% de doenças não microbianas que não se transmitem. Está claro isso. De

    4,5% de doenças infecciosas e parasitárias, o que não significa que se transmitam

    de pessoa a pessoa, apenas 3,5% de doenças de notificação compulsória, que

    representa o risco de passar de um paciente para outro. Vamos verificar que para

    cada paciente de doença infecciosa e parasitária internado, tem-se três fora do

    hospital. Em Belém do Pará, onde há grande incidência de malária, para cada

    paciente infectado e internado, tenho quatro fora do hospital. Então, seriam quatro

    pacientes produzindo lixo.

    Lixo hospitalar versus lixo doméstico. Qual é o mais contaminado? Há uma

    série de trabalhos produzidos na Alemanha que passo a mostrar. O primeiro que cito

    é o do Dr. Kalnonski. Os resumos desses trabalhos estão aí para serem

    consultados. Não estou inventando absolutamente nada. Estou acostumado a ouvir

    palestra sobre lixo, onde chutam, mas não citam a fonte. “Os resíduos sólidos dos

    centros cirúrgicos, da UTI e do berçário apresentaram mil vezes menos bactérias do

    que os resíduos domésticos”. Escrevam para o moço e contestem.

    Outro autor afirma a mesma coisa.

  • CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 203/91 - Política Nacional de ResíduosCE - PL 203/91 - Resíduos de Serviços de SaúdeNúmero: 001433/01 Data: 27/11/01

    25

    Se lixo transmitisse doença, minha preocupação seria com o lixo doméstico,

    por ser muito mais contaminado que o lixo hospitalar e produzido em volume muito

    maior. Ora, quantos hospitais há em Brasília? O lixo de todos eles não ultrapassa

    2% do volume de lixo gerado na cidade. Estamos nos preocupando, então, com 2%.

    Para efeito de raciocínio: para o caso do lixo mais perigoso — pergunto aos

    senhores — a preocupação seria com qual? Com o lixo doméstico. É absolutamente

    lógico isso.

    Vamos ver se o lixo transmite doença ou não. Não me atenho a reportagens

    de jornal. Diz o Dr. Hanks, de Ciccinatti, Estados Unidos: “Não foram encontrados

    dados que comprovassem a existência de uma relação causal entre lixo e doença

    infecciosa”. O Dr. Langmuir, ex-Secretário de Saúde de Nova Iorque, diz: “Não

    existe registro de doenças infecciosas transmitidas por aerossóis liberados pelo lixo”.

    Declara o Dr. Mallison: “Quando se tem controle de doenças fecais e orais” — quer

    dizer, tratamento de água e de esgoto —, “remoção sanitária de fezes, tratamento

    de água, o controle de vetores, com o que se faz todo um estardalhaço, é mais uma

    ação estética do que sanitária”. Diz um editorial do Journal Hospital Infections: “A

    maioria dos microorganismos encontrados no lixo são patógenos oportunistas da

    flora da microbiota normal, da flora do nosso corpo. Tudo o que fazemos produz lixo

    e o contaminamos com a flora do nosso corpo. São também encontrados, em

    conseqüência disso, em roupa de uso de cama, panos de prato, chão etc. São

    incapazes, por si só. Eles vivem conosco do momento em que nascemos até o

    momento em que morremos. Diferente dos patógenos primários, que causam as

    doenças transmissíveis ou as doenças de notificação compulsória, esses, por

    viverem conosco, são, por si só, incapazes de produzir infecção. É preciso que

  • CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 203/91 - Política Nacional de ResíduosCE - PL 203/91 - Resíduos de Serviços de SaúdeNúmero: 001433/01 Data: 27/11/01

    26

    diminua a resistência orgânica para que eles possam iniciar um processo

    infeccioso”. Afirma o Center for Disease Control — CDC —, nos Estados Unidos:

    “Não existe prova microbiológica e epidemiológica de que lixo hospitalar seja mais

    infectante do que o domiciliar; de que o lixo seja uma fonte de doenças infecto-

    contagiosas.”

    Como posso admitir, depois de ver todos esses estudos, que lixo transmite

    doença? Isso não passa de preconceito.

    Este é um trabalho da Associação Americana de Epidemiologistas

    Hospitalares. Acharam seringas numa praia e fizeram um estardalhaço. Disseram

    que a praia estava contaminada com lixo hospitalar, como se seringa existisse

    apenas em lixo hospitalar. Essa associação fez este documento, também

    apresentado a V.Exas., que diz o seguinte: “Não há evidência de que lixo seja uma

    fonte infecciosa. Apenas os resíduos perfurocortantes merecem cuidado.” É claro,

    porque eles cortam, mas há muito mais perfurocortantes no lixo doméstico. “O risco

    potencial de contaminação pelo HIV por picada de agulha perdida no lixo varia de 1

    para 1 milhão a 1 para 380 milhões.” É mais fácil cair fulminado por um raio agora do

    que um indivíduo adquirir AIDS pisando em agulha. “O lixo hospitalar não oferece

    risco para o público.”

    Aqui temos um depoimento. Lixo é um grande negócio. Coletar lixo no Brasil,

    assim como no resto do mundo, é um grande negócio. Em Belém do Pará,

    modificou-se a lei em uma semana para permitir coleta de lixo por determinadas

    empresas. Em Nova Iorque, nos Estados Unidos, houve movimento semelhante

    querendo atribuir a infecciosidade ao lixo hospitalar. E houve esse depoimento ao

    Congresso dos Estados Unidos, entidade extremamente séria — ninguém ousa

  • CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 203/91 - Política Nacional de ResíduosCE - PL 203/91 - Resíduos de Serviços de SaúdeNúmero: 001433/01 Data: 27/11/01

    27

    mentir ao Congresso dos Estados Unidos porque vai para a cadeia :”Não existe risco

    de infecção pelo contato com resíduos hospitalares não cortantes.”

    Portanto, racionalmente, não podemos aceitar isso. Até que alguém prove o

    contrário, diga que tudo está errado e ganhe o Prêmio Nobel de Medicina, tenho de

    ficar com a idéia de que lixo não transmite doença. Se isso fosse verdade, o que

    aconteceria com o lixeiro? Ele seria o primeiro sujeito a ficar doente. E isto não

    ocorre. A freqüência de doenças infecciosas e parasitárias entre os empregados da

    limpeza urbana não é maior do que na comunidade. Que problemas lixeiro tem?

    Alcoolismo, hipertensão, problemas de coluna. Não tem mais doença infecciosa do

    que o resto da comunidade.

    Fizemos pesquisa em Vitória sobre o estado de saúde dos catadores de lixo.

    Chegamos à conclusão de que eles não são mais doentes do que outros

    profissionais na mesma condição social. Eu próprio encontrei o caso desta senhora

    de 35 anos, mãe de dois filhos, catadora desde 1986, que sofreu um transplante

    renal em 1988. Continuou catadora sob controle médico, tomando

    imunossupressores. Estava muito bem, obrigado. O prontuário está à disposição de

    V.Exas.

    Se lixo não causa doença — e está mais do que claro isso —, não precisa

    ser esterilizado. Se ele não causa doença, por que esterilizá-lo? Mas com base na

    Teoria da Periculosidade do Lixo, vende-se incinerador e todos os processos de

    incineração do lixo. O que estamos acostumados a ouvir? Que o ideal seria incinerar

    o lixo hospitalar; que a incineração é a melhor destinação final para o lixo, porque é

    capaz de destruir os patógenos do lixo. Isso será verdade? Não. Olha o que diz

    Blackman e colaboradores da Universidade de Londres: “Entre 800 mil graus

  • CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 203/91 - Política Nacional de ResíduosCE - PL 203/91 - Resíduos de Serviços de SaúdeNúmero: 001433/01 Data: 27/11/01

    28

    centígrados sobreviveram bacilos, estafilococos, pseudomonas. A incineração não

    oferece segurança absoluta de esterilização do lixo, porque o teor de umidade é

    muito variável e os incineradores hospitalares não têm controle de umidade. A

    massa de lixo é submetida rapidamente a uma temperatura muito alta. É como se

    fosse um pernil : tosta-se ele por fora, e ele fica cru por dentro.

    Por outro lado, há o risco da incineração. Além de não esterilizar, ela nos

    envenena. Estamos envenenando nossa água devido à falta de preocupação com a

    toxicidade do lixo. Estamos, equivocadamente, preocupados com a infecciosidade

    do lixo e não estamos dando nenhuma bola para sua toxicidade. A incineração libera

    dioxina, gás desfolhante usado no Vietnã.

    Senhores, por que discutir a incineração do lixo hospitalar se ele não é uma

    fonte de doenças? Peguem as culturas do laboratório, submetam-nas à autoclave e

    pronto. Sempre foi assim.

    Toda essa legislação leva a isto: tenho de admitir um técnico de nível

    universitário para gerenciar o lixo. Vou pagar taxa especial para recolher o lixo, taxa

    de água, esgoto e lixo mais caro, porque ele vem do hospital. Com base em quê?

    Tem-se de botar o lixo, porque não se pode diferenciá-lo dos outros, em saco que o

    diferencie. Por que, se ele não produz doença? Vende-se transporte diferenciado e

    todos os sistemas sofisticados de esterilização de lixo. É um negócio da China, só

    que os hospitais não podem pagar!

    Os problemas reais do lixo são falta de solução para os resíduos industriais —

    tabu que ninguém gosta de discutir —; resíduos radioativos — a ampola de césio

    que causou o célebre acidente de Goiânia não estava no lixo hospitalar, mas num

    terreno baldio, era lixo domiciliar —; contaminação com mercúrio de pilhas, baterias

  • CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 203/91 - Política Nacional de ResíduosCE - PL 203/91 - Resíduos de Serviços de SaúdeNúmero: 001433/01 Data: 27/11/01

    29

    — só em São Paulo 30 milhões de lâmpadas fluorescentes jogam mercúrio na água

    que vamos beber — e 30% dos Municípios não contam com coleta de lixo. E

    existem 72 projetos sobre lixo hospitalar — e há uma fantasia —, que corresponde

    apenas, no máximo, a 2% do total de resíduos. V.Exas. me perdoem, mas há algo

    errado nisso. A lógica não bate.

    Este é o perigo: tintas, solventes, pigmentos, vernizes, pesticidas, inseticidas,

    herbicidas, óleos lubrificantes, fluidos de freio, etc. Quando mostrei isso em Belém,

    no Pará, um geólogo me disse que eu tinha toda a razão, que a água daquela

    cidade estava sendo contaminada, e a Texaco não o deixava abrir a boca.

    Achamos que deve existir uma única categoria — lixo —, que deve ser tratada

    com todas as medidas possíveis e necessárias, tendo em vista sua toxicidade, para

    que não envenene a água ou os alimentos que bebemos e comemos. É preciso que

    essas medidas tenham comprovação científica. Não posso aceitar falta de

    comprovação científica. Medida baseada em falta de comprovação científica é

    negócio.

    Eu disse que ia ser muito pior do que Tércio Egon Kastens — V.Exas. me

    perdoem —, mas estou sendo absolutamente franco. Não existe risco de infecção

    pelo contato com resíduos hospitalares não cortantes. Se existisse, os lixeiros, os

    pobres dos transplantados, as pessoas que ficam no lixão de Brasília e de qualquer

    outra cidade teriam contraído mais doenças. V.Exas. já viram o que aquele pessoal

    faz andando debaixo de sol escaldante? Eles têm mais saúde do que qualquer um

    de nós! Então, isso é fantasia e preconceito.

    Por outro lado, até 1992, havia praticamente um compromisso implícito. A

    indústria promovia os profissionais de saúde — mandava participar de congresso,

  • CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 203/91 - Política Nacional de ResíduosCE - PL 203/91 - Resíduos de Serviços de SaúdeNúmero: 001433/01 Data: 27/11/01

    30

    pagava a viagem, etc. — e estes vendiam seus produtos no hospital. Dessa época

    para cá, principalmente depois da normatização dos planos de saúde, tanto o Poder

    Público quanto o privado estão absolutamente seguros da necessidade de não

    desperdiçar dinheiro. E tudo o que se propõe sem base científica é desperdício

    intolerável!

    Até 1992, os custos com a saúde, em função desse sistema, chegaram a

    proporções altíssimas. Nos Estados Unidos chegaram a 14% do Produto Nacional

    Bruto. Os americanos gastam com a sua defesa. No Brasil, o setor saúde

    movimentava em torno de duas vezes mais dinheiro que o setor siderúrgico. Não

    podia continuar assim. Então, tem de cortar. Falta dinheiro para a saúde? Sim, falta;

    mas o dinheiro para a saúde é dilapidado numa série de medidas que não têm base

    científica.

    Muito obrigado.

    O SR. PRESIDENTE (Deputado José Índio) – Vamos manter a sistemática.

    Antes de conceder a palavra ao Sr. João Paulo Mignot, Diretor da

    Tecnoambiental, para considerações finais, devolvo a palavra ao Dr. Uriel Zanon,

    que está com passagem marcada.

    O SR. URIEL ZANON – O fato de expor algumas posições claras não

    significa que eu seja contrário a este ou aquele projeto. A minha intenção foi alertar

    os Srs. Deputados para muita coisa que não vem à tona porque não é discutida.

    Eu teria muito prazer em responder às perguntas, mas agora não disponho de

    tempo. Continuo à inteira disposição de V.Exas. Podem me procurar a qualquer hora

    em meu endereço. Toda a literatura que foi mostrada está em mão.

  • CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 203/91 - Política Nacional de ResíduosCE - PL 203/91 - Resíduos de Serviços de SaúdeNúmero: 001433/01 Data: 27/11/01

    31

    Pela experiência administrativa, jurídica e legislativa, V.Exas. certamente

    farão um bom projeto.

    Muito obrigado.

    O SR. PRESIDENTE (Deputado José Índio) – Nós é que lhe agradecemos,

    Sr. Uriel Zanon.

    Concedo a palavra ao Sr. João Paulo Mignot.

    O SR. JOÃO PAULO MIGNOT – Sr. Presidente, Sr. Relator, Sras. e Srs.

    Deputados, fiquei um pouco aterrorizado porque vim falar sobre o Plano de

    Gerenciamento de Resíduos Sólidos de Saúde.

    Nos Estados Unidos, temos feito segregação dentro do próprio hospital. É

    feita a separação de resíduos do escritório, do centro de cirurgia, do centro

    infectante, do centro tóxico.

    Há mais ou menos seis anos, começamos a trabalhar com o Hospital Johns

    Hopkins, com o Center for Desease Control — CDC —, nos Estados Unidos, com o

    World Health Organization — WHO. Tudo a ver com o infectante saindo do hospital.

    Nos Estados Unidos, os grandes geradores já tratam os resíduos hospitalares no

    próprio local há muitos anos. Em outras palavras, lixo infectante ou resíduo

    hospitalar não sai dos hospitais sem tratamento.

    O sistema que temos utilizado nos Estados Unidos é o processo de vapor e

    água. Ou seja, não usamos químicos, incineração e nenhum tóxico para tratar o

    resíduo. Isso é o que vem sendo usado em todo o mundo. O autoclave é aceitável. A

    única diferença entre esse processo e a pressão é que o resíduo hospitalar ainda

    está infectante quando é submetido ao autoclave, não foi descontaminado. O correto

    é trabalhar com o autoclave depois que se descontaminou o lixo, para esterilizá-lo.

  • CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 203/91 - Política Nacional de ResíduosCE - PL 203/91 - Resíduos de Serviços de SaúdeNúmero: 001433/01 Data: 27/11/01

    32

    Basicamente, trabalhar com vapor e água é processo semelhante ao autoclave, mas

    com baixa pressão. Quer dizer, não há escape para o meio ambiente de nenhuma

    maneira.

    O meu propósito não é o de falar de equipamento, mas do Plano de

    Gerenciamento de Resíduos Sólidos. Uma vez que os grandes geradores de

    material comecem a tratar seus resíduos sólidos dentro do hospital, não haverá mais

    transporte de elemento infectante. Ao contrário do que se disse, existem vários

    problemas com o lixo infectante, tanto nos Estados Unidos como na Europa. Temos

    fatos suficientes, basta verificá-los na biblioteca do Congresso Nacional, no CDC,

    nos RUs e no órgão americano EPA.

    Então, o tratamento do Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos

    determina que, quando os resíduos saírem do hospital, deverá haver um relatório.

    Com isso, vai-se saber que os resíduos foram totalmente esterilizados. Não é

    possível avaliar se foram desinfectados, porque há o problema dos

    microorganismos, que podem causar danos tanto ao lençol freático como ao meio

    ambiente em si, em virtude do espaço aéreo.

    Do relatório, pelas normas americanas, tem de constar a data, o seu número,

    o número da série, o tempo utilizado para a esterilização, o tempo real acumulado, a

    temperatura usada e os minutos equivalentes. Esse em si é o processo utilizado no

    Brasil.

    Então, com relação à esse tipo de procedimento, devem ser processados,

    objetos perfurantes, ou seja, agulhas, seringas, lâminas de bisturi — desculpem-me,

    porque faz muito tempo que estou fora do Brasil e não sei falar as palavras

    corretamente —, capazes de causar ruptura ou corte. Em outras palavras, já se

  • CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 203/91 - Política Nacional de ResíduosCE - PL 203/91 - Resíduos de Serviços de SaúdeNúmero: 001433/01 Data: 27/11/01

    33

    consegue desinfectar e esterilizar qualquer coisa que saia de sala de operação num

    único processo.

    Vestimentas, campos cirúrgicos, toalhas, instrumentos cirúrgicos, materiais

    contaminados com sangue, sangue e secreções corporais, caixas corrugadas e

    pequenos animais de laboratórios — esses são os tipos de processamento com que

    lidamos hoje. Quer dizer, quando se fala do PGRSS, que está sendo implementado,

    segrega-se tudo isso. Essa atividade permite que a desinfecção e a esterilização

    sejam feitas de uma só vez. Quando o resíduo sai do hospital, não tem nenhuma

    forma de ser cortante ou infectante.

    Essa imagem é a do clássico lixo hospitalar antes de ser tratado. Retiramos

    tudo. O que V.Exas. vêem em vermelho é o nosso porta-cortante. Atiramos dentro

    dele agulhas e bisturis. V.Exas. estão vendo um sistema de prior vac, que é o

    sistema de vacuum. Seringas, luvas, cânulas, todo material utilizado numa sala de

    operação. O resultado disso aí é o produto final. Pela lei global, ao tratar o lixo, tem-

    se de descatalisar. Agulhas e seringas, uma vez retiradas do papel, são infectantes.

    Não que sejam infectantes em si, mas podem ser usadas por outras pessoas para

    injetar drogas e passar de mão em mão. Essa é a razão de serem chamadas de

    infectantes, não por serem, em si, infectadas por sangue, mas podem ser usadas e

    reutilizadas.

    Existem ainda vários custos. Hoje já temos esses cálculos. O sistema de

    incineração tem um custo muito alto, tanto operacional como de transporte, e tudo

    que necessite de manutenção de temperatura.

    Quanto à diferença de se instalar um equipamento desses num hospital,

    afirmo que quem adquire hoje um incinerador num hospital tem contra si toda a

  • CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 203/91 - Política Nacional de ResíduosCE - PL 203/91 - Resíduos de Serviços de SaúdeNúmero: 001433/01 Data: 27/11/01

    34

    comunidade, porque joga transgênicos no ar. Se for instalado um equipamento que

    trata o lixo hospitalar a baixa pressão, o lixo não conterá nada que contamine a

    água, o solo ou o ar.

    Esse equipamento que estamos expondo é de esterilização garantida. O

    volume do lixo será reduzido em 80%, porque hoje, com o mecanismo controlado ou

    o séptico, a redução chega a 100%. Com esse aqui, vai-se reduzir 80% do volume.

    O resíduo processado ficará irreconhecível, conforme a norma global.

    Gostaria de falar mais sobre o Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos

    — PGRSS, mas passo a palavra a V.Exas., porque saí do meu objetivo. Se V.Exas.

    quiserem fazer perguntas, coloco-me à disposição.

    Muito obrigado.

    O SR. PRESIDENTE (Deputado José Índio) – Passo a palavra ao Relator,

    Deputado Emerson Kapaz.

    S.Exa. não deseja fazer perguntas.

    Deputado Clovis Volpi, V.Exa. tem alguma indagação a fazer?

    O SR. DEPUTADO CLOVIS VOLPI – O equipamento que estamos vendo é o

    digestor...

    O SR. JOÃO PAULO MIGNOT – Não, trata-se de um equipamento um pouco

    diferente. Vou lhe passar as normas, mas o princípio é o mesmo: trabalha com vapor

    e água quente, sem químicos.

    O SR. DEPUTADO CLOVIS VOLPI – É o mesmo processo do tratamento de

    resíduos hospitalares?

    O SR. JOÃO PAULO MIGNOT – Exatamente.

  • CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 203/91 - Política Nacional de ResíduosCE - PL 203/91 - Resíduos de Serviços de SaúdeNúmero: 001433/01 Data: 27/11/01

    35

    O SR. DEPUTADO CLOVIS VOLPI - Para ser aprovado, todo equipamento

    importado passa pelo crivo dos organismos ambientais do Estado, não é?

    O SR. JOÃO PAULO MIGNOT – Exatamente.

    O SR. DEPUTADO CLOVIS VOLPI – Esse equipamento já está aprovado em

    algum Estado, como, por exemplo, São Paulo, um dos mais rigorosos atualmente?

    O SR. JOÃO PAULO MIGNOT – A CETESB já tem todo o estudo. Só

    estamos esperando que passe pelo DAIA, da CETESB. O meu entendimento já está

    firmado. Então, teremos a licença CETESB. Em relação ao equipamento, também

    estamos realizando os testes no Instituto de Pesquisas Tecnológicas — IPT, na

    FIOCRUZ e no Instituto Adolpho Lutz, a fim de verificar a capacidade de

    esterilização dos equipamentos.

    O SR. DEPUTADO CLOVIS VOLPI – Esses testes estão em andamento?

    O SR. JOÃO PAULO MIGNOT – Sim, por duas semanas.

    O SR. DEPUTADO CLOVIS VOLPI – O custo desse equipamento,

    atualmente, é calculado pelo volume em que ele opera ou é dimensionado num

    único módulo? Vou refazer a pergunta. Como se opera: V.Sas. vendem serviços ou

    o equipamento?

    O SR. JOÃO PAULO MIGNOT – Nosso equipamento foi feito com o intuito de

    trabalhar dentro do gerador. Então, para pequenos geradores, não é ideal ter

    equipamento para processar 700 quilos a 1,5 tonelada/dia ou até 2,5 toneladas.

    Então, Há vários módulos. O custeio é alto. Usando esse tipo de

    equipamento, se eles não quiserem investir, faríamos o investimento e eles

    pagariam o custeio.

    O SR. DEPUTADO CLOVIS VOLPI – Serviço.

  • CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 203/91 - Política Nacional de ResíduosCE - PL 203/91 - Resíduos de Serviços de SaúdeNúmero: 001433/01 Data: 27/11/01

    36

    O SR. JOÃO PAULO MIGNOT – Seria muito menos do que pagam hoje.

    O SR. DEPUTADO CLOVIS VOLPI – O serviço.

    O SR. JOÃO PAULO MIGNOT – Exatamente.

    O SR. DEPUTADO CLOVIS VOLPI – A Tecnoambiental só trabalha na área

    de equipamentos para tratamentos de resíduos do setor da saúde ou também na de

    desenvolvimento de tratamento de efluentes metálicos e resíduos industriais?

    O SR. JOÃO PAULO MIGNOT – A Tecnoambiental tem um laboratório em

    Boston que trata apenas de resíduos, tanto tóxicos como industriais e hospitalares.

    Estou aqui para promover a instalação da parte hospitalar e de zoonoses. Além

    disso, há a intenção de estabelecermos um processo um passo a passo, porque

    pretendemos instalar um centro no Brasil, a fim de baixar os nossos custos.

    O SR. DEPUTADO CLOVIS VOLPI – A título de curiosidade, li em um

    periódico que São Paulo estava se preparando para aprovar um projeto sobre o

    tema.

    Por isso perguntei sobre as carcaças de animais. Não temos idéia, mas, em

    São Paulo, morrem por dia quarenta animais aproximadamente. Não há como

    coletar esses corpos na cidade.

    O SR. JOÃO PAULO MIGNOT – São mais de quatrocentos e cinqüenta

    animais.

    O SR. DEPUTADO CLOVIS VOLPI – São quatrocentos e cinqüenta animais

    por dia. Trata- se de um problema sério, que deve ser considerado nesta discussão.

    Estava em estudo a aprovação de um equipamento para pulverizar os corpos

    desses animais, porque não há local disponível para jogá-los. É uma pena que os

    outros participantes não estejam presentes para responderem às seguintes

  • CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 203/91 - Política Nacional de ResíduosCE - PL 203/91 - Resíduos de Serviços de SaúdeNúmero: 001433/01 Data: 27/11/01

    37

    indagações: Cavalos atropelados vão para lixo comum? Como é que se processa

    isso? Poderíamos ter perguntado isso ao cientista da FIOCRUZ, que estava

    presente nesta reunião. O que acontece com os cachorros mortos? É essa a

    empresa que está sendo habilitada, em São Paulo, para realizar esse tipo de

    trabalho? Estou interessado nessa questão, porque li um pouco sobre o assunto.

    O SR. JOÃO PAULO MIGNOT – O problema de São Paulo está nos seus

    arredores. Os números variam. Só as zoonoses representam três toneladas/dia.

    O SR. DEPUTADO CLOVIS VOLPI – Há três toneladas?

    O SR. JOÃO PAULO MIGNOT – Dia. Só de cachorros e gatos.

    O SR. DEPUTADO CLOVIS VOLPI – Só de cachorros que ficam no canis

    para...

    O SR. JOÃO PAULO MIGNOT – Esses são os cachorros estão com raiva e

    não podem ser enterrados.

    O SR. DEPUTADO CLOVIS VOLPI – Não podem ser enterrados.

    O SR. JOÃO PAULO MIGNOT – Além disso, há cavalos que morrem por

    razões indeterminadas, como os do Jockey Clube, os da brigada militar, e assim por

    diante.

    O próximo arquivo foi inserido no material indevidamente pela minha

    secretária.

    Ontem, estivemos com profissionais da zoonose falando sobre esse sistema,

    porque, quando os animais são serrados, existe o problema de o resíduo ser 75%

    líquido. Temos de trabalhar com uma temperatura muito mais alta e o custo é

    elevado. Também há o fato de que, hoje em dia, não existe incinerador que

    comporte um animal de grande tamanho. Isso significa que precisamos cortar o

  • CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 203/91 - Política Nacional de ResíduosCE - PL 203/91 - Resíduos de Serviços de SaúdeNúmero: 001433/01 Data: 27/11/01

    38

    animal para colocá-lo lá dentro. Dessa forma, é possível introduzir cinco a sete

    cavalos dentro do incinerador. Já pusemos hipopótamos, elefantes e baleias nessa

    máquina.

    Temos capacidade de fazer isso. Estamos mantendo contato com pessoas da

    zoonose e também da LIMPURB, no Rio de Janeiro e em São Paulo.

    O SR. DEPUTADO CLOVIS VOLPI – Falei do assunto por causa da minha

    curiosidade pessoal, porque, no relatório, não tratamos da incineração e do

    tratamento de animais, que é um tema novo.

    Seria muito importante que houvesse um capítulo específico para isso. Na

    realidade, é um número muito grande, porque diariamente quatrocentos e cinqüenta

    animais morrem por dia em São Paulo. A maior parte é vítima de atropelamento. Sei

    disso, porque moro em uma chácara e já enterrei lá uns cinqüenta cachorros que

    estavam morrendo. Não há um lugar próprio para incinerar esses animais e eles não

    podem ser jogados em qualquer local. Daí a preocupação de se reservar um terreno

    próprio para fazer isso. Trata-se de um problema extremamente sério.

    Deputado Emerson Kapaz, V.Exa. não estava presente no momento em que

    fiz a indagação, mas gostaria de lembrar que deveríamos realizar mais debates

    sobre essa questão d o lixo hospitalar, com o objetivo de desmistificar a teoria em

    que acreditamos. Talvez pudéssemos selecionar os participantes, a fim de convocar

    alguém que pudesse incentivar a discussão.

    Não fiquei contente com o debate de hoje. Estou preocupado e gostaria de

    rever o assunto.

    O SR. DEPUTADO EMERSON KAPAZ – Sr. Presidente, na semana

    passada, iniciamos uma discussão que não caminhou sobre o fato de trazermos

  • CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 203/91 - Política Nacional de ResíduosCE - PL 203/91 - Resíduos de Serviços de SaúdeNúmero: 001433/01 Data: 27/11/01

    39

    para a Comissão opiniões dos Deputado sobre tudo o que foi feito até agora e se é

    necessário ou não nos aprofundarmos em alguns temas.

    Sugiro a realização de audiências públicas até o final deste ano. Salvo

    engano, há mais duas terças-feiras em que poderíamos nos reunir. Na volta do

    recesso, em fevereiro, iniciaríamos as discussões, a partir de uma versão finalizada

    do relatório preliminar, a fim de, posteriormente, discutir o substitutivo final.

    O Deputado Luciano Zica reclamou do debate interno. Com que objetivo? A

    hora que começarmos a discutir o relatório vamos avaliar se os capítulos, por

    exemplo, de resíduos de serviço de saúde são mais consistentes, coerentes ou se

    restam muitas dúvidas. Podemos chegar à seguinte conclusão: “Bom, há muitas

    dúvidas, porque metade dos Deputados está defendendo uma coisa, a outra metade

    está defendendo outra. Vamos fazer uma audiência pública com especialistas para

    aprofundar o debate, por que não há material suficiente.”

    Deputado, o problema vai surgir na hora em que a Comissão começar a

    debater os itens do relatório.

    O SR. PRESIDENTE (Deputado José Inácio) – Surgiu agora, inclusive.

    O SR. DEPUTADO EMERSON KAPAZ – Está começando a surgir.

    O SR. PRESIDENTE (Deputado José Índio) – É alguma coisa nova que,

    inclusive, não existia nem para dar uma assistência dentro do relatório preliminar.

    O SR. DEPUTADO EMERSON KAPAZ – Infelizmente, é difícil falarmos

    sobre o assunto, porque os participantes não estão presentes, mas considero que

    eles exageraram na classificação geral do regime hospitalar como regime comum.

    Constatamos que em nenhum lugar do mundo existe isso. É fato que parte dos

    resíduos dos hospitais são comuns. No entanto, não é possível, a partir do registro

  • CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 203/91 - Política Nacional de ResíduosCE - PL 203/91 - Resíduos de Serviços de SaúdeNúmero: 001433/01 Data: 27/11/01

    40

    hospitalar, afirmar que o tratamento não é necessário, porque são só 600

    toneladas.” Quase disse para eles o seguinte: também há 14 artigos em 170 que

    tratam do serviço de saúde. Então, são 6%. Não dá para classificar 600 toneladas

    em 300 mil. E se nas 600 toneladas houver algum problema de contaminação da

    população por um motivo qualquer?

    Houve um exagero e não podemos nos pautar por isso. Devemos fazer uma

    avaliação mais criteriosa.

    O SR. DEPUTADO CLOVIS VOLPI - Sr. Presidente, proponho que os

    Deputados mais interessados no programa realizem uma reunião para verificar a

    lista dos futuros convidados, para que alguns assuntos não sejam repetidos.

    Sugiro a convocação de dois ou três convidados relacionados à área de

    alternativas para a transformação de lixo. Gostaria que pudéssemos fechar a

    questão. Já me considero satisfeito com a discussão de muitos assuntos. Considero

    uma bobagem repetirmos o debate. Julgo não ser necessário aprovar mais nenhum

    requerimento. Hoje, se houver a votação, voto contrariamente às novas chamadas,

    até que seja eliminada a lista de convidados.

    Sinto-me contemplado com a presença dos convidados. Gostaria de conhecer

    esse equipamento sobre o qual falou o Sr. João Paulo Mignot. Ele está instalado em

    algum lugar ou não?

    O SR. JOÃO PAULO MIGNOT – O equipamento está sendo, como disse,

    aprovado. Hoje, é utilizado nos Estados Unidos e na Europa.

    O SR. DEPUTADO CLOVIS VOLPI – No Brasil não?

    O SR. JOÃO PAULO MIGNOT – No Brasil, ainda não. Estamos preparando

    o seu licenciamento, para sua posterior instalação.

  • CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 203/91 - Política Nacional de ResíduosCE - PL 203/91 - Resíduos de Serviços de SaúdeNúmero: 001433/01 Data: 27/11/01

    41

    O SR. DEPUTADO CLOVIS VOLPI - Agradeço ao Sr. João Paulo Mignot a

    deferência em participar desta reunião como representante da Tecnoambiental,

    assim como aos outros participantes que já se ausentaram e contribuíram para os

    debates da reunião de hoje.

    O SR. PRESIDENTE (Deputado José Índio) – Vim preparado para falar sobre

    o PGRSS.

    O SR. PRESIDENTE (Deputado José Índio) – De acordo com o que foi

    abordado pelo Sr. Relator, nas próximas duas terças-feiras, realizaremos audiências

    públicas. Depois, naturalmente, teremos uma reunião somente com os Deputados.

    De qualquer forma, os Srs. Deputados devem apreciar os requerimentos

    apresentados.

    Hoje, apesar de não haver quorum físico, podemos analisar a possibilidade

    de votação. Como via de regra os procedimentos são feitos simbolicamente, trago à

    votação o Requerimento nº 412-01, do Sr. Deputado Gervásio Silva, que solicita a

    presença do Sr. Luiz Pereira, Presidente da Federação Nacional de Comércio de

    Combustíveis e Lubrificantes, no sentido de prestar esclarecimentos sobre os sérios

    problemas para o comércio de combustíveis que o Projeto de Lei nº 203, de 1991,

    acarretará.

    Concordo com o Deputado Clovis Volpi quanto ao teor do requerimento,

    porque ele praticamente recebemos um tapa, mas devemos ouvir o Sr. Luiz Pereira,

    apesar de...

    O SR. DEPUTADO EMERSON KAPAZ – Se for possível, sugiro que esse

    seja o último requerimento aprovado, para que possamos fazer nas duas próximas

    terças-feiras um apanhado, em consonância com o que o Deputado Clovis Volpi

  • CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 203/91 - Política Nacional de ResíduosCE - PL 203/91 - Resíduos de Serviços de SaúdeNúmero: 001433/01 Data: 27/11/01

    42

    disse, das pessoas que têm requerimentos de convocação aprovados, para fechar o

    ano, e, em fevereiro, discutir o relatório.

    O SR. PRESIDENTE (Deputado José Índio) – Tudo bem.

    O SR. DEPUTADO CLOVIS VOLPI – Eu, pessoalmente, voto contra.

    O SR. PRESIDENTE (Deputado José Índio) – Em discussão o requerimento

    do Deputado Gervásio Silva.

    Aqueles que não concordam permaneçam como se encontram. (Pausa.)

    (Intervenção inaudível.)

    Em votação.

    Aqueles que concordam permaneçam como se encontram. (Pausa.)

    Está aprovado o requerimento.

    Agradeço aos convidados e aos Parlamentares a presença.

    Nada mais havendo a tratar, declaro encerrados os trabalhos desta audiência

    pública e convoco a próxima reunião para o dia 4 de dezembro, às 14h30min.

    Está encerrada a reunião.