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Revista de Administração - RAUSP ISSN: 0080-2107 [email protected] Universidade de São Paulo Brasil Silveira Catauli dos Santos, Matheus; Teixeira Brandão, Luiz Eduardo; Mothé Maia, Vinicius Decisão de escolha de carreira no Brasil: uma abordagem por opções reais Revista de Administração - RAUSP, vol. 50, núm. 2, abril-junio, 2015, pp. 141-152 Universidade de São Paulo São Paulo, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=223439261003 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

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Revista de Administração - RAUSP

ISSN: 0080-2107

[email protected]

Universidade de São Paulo

Brasil

Silveira Catauli dos Santos, Matheus; Teixeira Brandão, Luiz Eduardo; Mothé Maia,

Vinicius

Decisão de escolha de carreira no Brasil: uma abordagem por opções reais

Revista de Administração - RAUSP, vol. 50, núm. 2, abril-junio, 2015, pp. 141-152

Universidade de São Paulo

São Paulo, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=223439261003

Como citar este artigo

Número completo

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Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal

Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

ISSN 0080-2107

R.Adm., São Paulo, v.0, n.2, p.141-152, abr./maio/jun. 2015 141

Recebido em 08/setembro/2014Aprovado em 12/janeiro/2015

Sistema de Avaliação: Double Blind ReviewEditor Cientí co: Nicolau Reinhard

DOI: 10.5700/rausp1190

Decisão de escolha de carreira no Brasil: uma abordagem por opções reais

Matheus Silveira Catauli dos Santos

Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – Rio de Janeiro/RJ, Brasil

Luiz Eduardo Teixeira Brandão

Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – Rio de Janeiro/RJ, Brasil

Vinicius Mothé Maia

Universidade Federal do Rio de Janeiro – Rio de Janeiro/RJ, Brasil

A escolha da carreira é uma decisão importante e em geral é feita em um ambiente repleto de incertezas por pessoas relativamente jovens e inexperientes. Neste estudo, buscou-se analisar a decisão de escolha entre uma carreira em uma empresa privada e outra em um órgão público, considerando que existe exibilidade para migrar do setor privado para o público por meio de concurso. Para tanto, utilizou-se a metodologia das opções reais para modelar essa opção de troca, assumindo-se que os ganhos futuros no setor privado são incertos. Os resultados sugerem que a opção de ingressar na carreira pública pode ter valor signi cativo em relação à privada.

Palavras-chave escolha de carreira, concurso público, opções reais,árvore binomial.

1 IN

A escolha da carreira é uma decisão importante na vida de um indivíduo, dado que mudanças futuras envolvem uma série de custos nanceiros, emocio-nais e de tempo. No Brasil, na última década, observa-se procura crescente dos recém-formados por empregos no setor público, atraídos, principalmente, pelos salários iniciais superiores aos do setor privado, pela percepção de maior estabi-lidade de emprego e pela progressão assegurada na carreira. Em contrapartida, o desenvolvimento de uma carreira pro ssional no setor privado é muito mais incerto, mas, após adquirir experiência e maior quali cação, com o tempo o pro ssional bem-sucedido tem a possibilidade de progredir na carreira e atingir remuneração signi cativamente superior à que poderia obter no serviço público.

Essa decisão, no entanto, é tomada em um ambiente de alta incerteza, com baixo nível de informação e por indivíduos ainda relativamente inexperientes no mercado de trabalho. A impossibilidade de projetar os resultados futuros da decisão de investimento na carreira apresenta semelhanças com o problema do investimento em empresas start up, em projetos de pesquisa e desenvolvimento

RE

SU

MO

Matheus Silveira Catauli dos Santos, Mestre em Administração pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (CEP 22451-900 – Rio de Janeiro/RJ, Brasil), é Servidor Público na Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).E-mail: [email protected]ço:Pontifícia Universidade Católica do Rio de JaneiroRua Marques de São Vicente, 225Gávea22451-900 – Rio de Janeiro – RJ

Luiz Eduardo Teixeira Brandão, Professor Associado do Departamento de Administração da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (CEP 22451-900 – Rio de Janeiro/RJ, Brasil).E-mail: [email protected]

Vinicius Mothé Maia, Doutorando em Administração na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, é Professor da Faculdade de Administração e Ciências Contábeis da Universidade Federal do Rio de Janeiro (CEP 21941-901 – Rio de Janeiro/RJ, Brasil).E-mail: [email protected]

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Matheus Silveira Catauli dos Santos, Luiz Eduardo Teixeira Brandão e Vinicius Mothé Maia

(P&D) e outros, cujo principal valor a ser considerado é o das opções de exibilidade existentes nesses investimentos, ou seja, o valor das oportunidades que esses projetos trazem para o investidor ou para o indivíduo.

Dessa forma, neste estudo busca-se analisar a decisão pro ssional de universitários recém-formados no momento de escolher entre uma carreira na área pública ou na privada, considerando-se o valor da exibilidade da troca futura da car-reira privada pela pública. Assim, tenta-se identi car os fatores que direcionam a escolha da carreira para que o indivíduo, o órgão público e as empresas privadas conheçam os motivadores dessa decisão, além de determinar a regra de decisão ótima que leve alguém a fazer a opção pela carreira pública.

A opção de troca futura de carreira tem semelhanças com uma opção de abandono (put) do mercado nanceiro, consi-derando-se que o indivíduo tem a opção de abandonar uma carreira (ativo base) em prol de outra (preço de exercício). Essa opção tem características de uma opção real por três motivos: os ganhos no setor privado são incertos; existe exibilidade de data do ingresso no setor; a decisão de optar pelo setor público é, em grande parte, irreversível.

A irreversibilidade ao ingressar no serviço público surge do fato de que foi feito um investimento considerável em tempo de estudo e preparação para o ingresso nessa carreira, o que gera um custo de oportunidade no caso de uma saída. Além disso, durante o exercício das funções no setor público, desenvolvem-se conhecimentos e habilidades distintos dos necessários em uma empresa privada, o que faz com que uma possível reversão enfrente barreiras por parte das empresas e do próprio pro ssional ao tomar a decisão.

Para a modelagem do problema, é utilizada a metodologia de opções reais de forma ainda não abordada pela literatura acadêmica, considerando-se a exibilidade da data de ingresso na carreira pública e a opção de um recém-formado empregado em empresa privada, mas engajado em preparar-se para ingres-sar em órgão público por meio de uma prova de concurso que ocorre periodicamente. A presente pesquisa pode ser relevante para um grande número de pro ssionais que fazem sua escolha pro ssional sem considerar ou quanti car os possíveis ganhos em manter a exibilidade de escolha futura, o que poderia levar a uma escolha não ótima.

Os resultados indicam um valor signi cativo da opção de ingressar na carreira pública em relação à carreira privada, o que aumenta a atratividade da carreira privada devido à possi-bilidade de troca futura para a carreira pública.

Sendo assim, do ponto de vista do graduado é mais interes-sante ingressar primeiramente na carreira privada. Caso não se alcance o salário almejado, haveria a possibilidade de exercer a opção de abandono e iniciar a carreira pública.

Essa linha de decisão impacta o setor público na medida em que receberá funcionários em média mais velhos, além de não dispor dos melhores, pois provavelmente permanecerão na iniciativa privada por terem atingindo os altos salários de-

sejados. Por outro lado, a iniciativa privada deve manter sua política salarial, uma vez que ela lhe confere uma vantagem na captação e na manutenção de pro ssionais capacitados.

Este artigo está organizado da seguinte forma: após esta introdução, é apresentada uma revisão da literatura e do refe-rencial teórico adotado; em seguida introduzem-se o modelo proposto e sua metodologia; na seção 4, apresentam-se os resultados e, em seguida, as conclusões.

2 NI I

2.1. Revisão da literatura

Diversos artigos na literatura analisam as escolhas pro ssio-nais sob a abordagem econômico- nanceira, desde a escolha do curso universitário até a decisão entre trabalhar no setor público ou no privado. Gabris e Simo (1995) analisaram a motivação de trabalho no setor público e identi caram fatores como existên-cia de desa os, segurança, autonomia e boa supervisão, além do aspecto da remuneração, como os itens que tornam esse setor mais atraente. Na Itália, Cappellari (2002) realizou um estudo sobre a remuneração nas carreiras públicas e privadas considerando sua dinâmica e incerteza. Ao analisar a taxa de crescimento de salários, o autor encontrou heterogeneidade no setor privado, enquanto as taxas no setor público apresentaram homogeneidade, sugerindo que a segunda teria carreiras mais estáveis, ou seja, apesar de as diferenças iniciais tenderem a persistir, o trabalhador estaria menos sujeito à incerteza.

Saks e Shore (2005) analisaram a relação entre risco e escolha de carreira. Para as carreiras com remuneração futura mais arriscada, um indivíduo exigiria um prêmio. Os autores concluíram que indivíduos mais ricos tendem a escolher car-reiras mais arriscadas, como administração de empresas, por exigirem um prêmio de risco menor. Ao analisar essa relação entre risco e escolha de carreira na Turquia, Caner e Okten (2010) veri caram que a renda das famílias e seu status social têm uma relação signi cativa com a escolha entre carreiras com remuneração futura menos arriscada (como educação e saúde) e mais arriscada (como negócios).

Por outro lado, Berger (1988) analisou a escolha do curso universitário e a relação com o salário futuro esperado. Para características familiares constantes, os dados indicaram que os indivíduos tendem a escolher carreiras com maiores salá-rios no futuro, em vez de escolher as carreiras com maiores salários no momento da escolha. Esses estudos sugerem que, apesar de existirem diversos fatores relacionados à escolha pro ssional, há uma signi cativa relação entre a remuneração e essa decisão, além de considerações a respeito do risco das pro ssões escolhidas.

Dixit e Pindyck (1994) analisaram as decisões de inves-timento da rma em condições de incerteza e exibilidade e suas implicações para equilíbrio da indústria, porém também abordaram a aplicação dessa metodologia, conhecida como

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opções reais, para decisões pessoais de natureza semelhante. O casamento, por exemplo, requer investimento inicial conside-rável na fase de namoro e noivado tanto em termos monetários quanto emocionais, assim como a separação e o divórcio. A felicidade ou a tristeza futura no casamento não pode ser pre-vista no início e tem variação pelo menos parcialmente aleatória no futuro. Assim, os autores concluem que esperar pela pessoa certa tem um valor de opção, que deve ser maior em culturas em que o divórcio é pouco comum e mais oneroso, e menor em culturas em que é fácil divorciar-se.

Um exemplo mais extremo mencionado pelos autores (Dixit & Pindyck, 1994) é relacionado à crítica ao modelo de Hamermesh e Soss (1974), que prediz que um indivíduo co-meterá suicídio quando a expectativa de utilidade do restante da vida atinge o valor zero. Esse modelo é criticado devido ao fato de o suicídio ser um ato irreversível, assim, manter-se vivo tem um valor de opção em função do fato de que, mesmo que o indivíduo esteja numa tendência de queda de utilidade, existe grande incerteza futura, e a mínima probabilidade de que as coisas melhorem já cria um valor de opção que faria a vida valer a pena.

A modelagem econômica do suicídio com o auxílio da teoria de opções reais foi utilizada por Suzuki (2008) para melhor entender a decisão acerca desse ato por homens de meia idade na Austrália. Após mostrar que o público analisado assume, muitas vezes, o papel de provedor da família, o que aumenta o número de suicídios em épocas de crise econômica, o autor analisou dois impactos da incerteza em relação aos ganhos futuros: reduz a utilidade de um indivíduo avesso ao risco; porém, cria um valor de opção de adiar o suicídio, pois a situação poderia melhorar no futuro.

Um modelo dinâmico foi criado por Balbinotto e Oliveira (2011), que utilizaram opções reais para avaliar a carreira criminosa. Nesse modelo, os ganhos com a carreira criminosa seguem um processo de difusão estocástica com saltos e são analisados os impactos de diferentes preferências quanto ao risco, à probabilidade e à severidade de punição, e a taxa de desconto intertemporal na decisão de ingressar na carreira criminosa.

Para quantificar o valor de um diploma universitário, Stokes (2012) considerou os ganhos de um indivíduo sem e com o diploma, mais uma opção real de obter um diploma de mestrado ou pós-graduação. O autor conclui que, ao ignorar a possibilidade de obter outras quali cações após o diploma universitário, o valor do diploma será subavaliado. O’Connell (1997) elaborou um modelo de análise econômica para a deci-são de emigração considerando que a evolução do salário tanto no local de origem quanto no local de destino são incertos e seguem um Movimento Geométrico Browniano (MGB). O autor concluiu que a incerteza em relação à evolução do salário em ambos os mercados cria um comportamento de esperar para ver, levando à postergação da decisão de emigrar. Dessa forma, a incerteza futura cria uma opção real com valor de

espera. Nenhum desses estudos, no entanto, aborda o problema da escolha de carreira considerando o valor da exibilidade de troca futura que se veri ca, na prática, no Brasil.

2.2. Teoria das opções reais

A crítica de Dixit e Pindyck (1994) ao uso do uxo de cai-xa descontado (FCD) é a de que existem algumas premissas implícitas que podem não ser corretas para a análise de alguns investimentos. A mais importante é a de que o método do FCD não captura o valor da exibilidade gerencial existente em algumas classes de projetos.

A possibilidade de adiar um investimento irreversível pode afetar signi cativamente a decisão de investir, pois existe uma opção, ou seja, o direito, mas não a obrigação, de realizar esse investimento, que ao ser realizado elimina a exibilidade de investir no futuro. Assim, um projeto que tenha opção de e-xibilidade terá seu valor composto pelo valor presente líquido dos uxos futuros acrescido do valor da opção. A exibilidade inclui ações realizadas durante a execução do projeto que po-dem maximizar resultados ou eliminar perdas, como expandir as operações em condições de mercados favoráveis, abandonar um projeto com fraco desempenho, adiar um investimento no tempo, trocar inputs ou outputs do projeto, reduzir a escala e voltar a operar após uma pausa temporária.

Para que as eventuais exibilidades de um projeto possam ter valor, é necessário que os retornos futuros sejam incertos, pois, do contrário, não haverá incentivo para que ocorram mudanças de estratégia e decisões ao longo da vida útil de um projeto. Uma forma comum de modelar a evolução de uma variável incerta é assumir que essa variável segue um processo de difusão estocástica geométrica browniano (MGB), na forma da equação [1].

[1]

em queS é a variável incerta;μ é a taxa de crescimento;σ é a volatilidade;dt é o intervalo in nitesimal de tempo;dz é o incremento padrão de Wiener, dz = ε√dt, ε ∆ N(0,1).

Nesse modelo, em cada instante de tempo dt, o valor da variável apresenta uma distribuição lognormal, o que é conve-niente para a modelagem de preços de ativos ou salários, que não podem apresentar valores negativos.

Outra forma de modelar um MGB é o modelo de tempo discreto de Cox, Ross e Rubinstein (1979), em que se assume que um ativo com preço inicial S0 pode aumentar para S0u ou reduzir seu valor para S0d, em que u > 1 e 0 < d < 1 em cada período de tempo discreto Δt. Esse modelo também pode ser utilizado para o cálculo do valor de uma opção. Sob a premis-

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sa de não arbitragem, o modelo considera uma ação de preço inicial S0 e uma opção de preço atual f que segue os mesmos parâmetros. Considerando-se um portfolio com uma posição comprada em Δ ações e uma vendida em uma opção de compra S0 ∆ – f, pode-se determinar o valor de Δ que torna o portfolio

livre de risco como . Como o portfolio é livre

de risco, sob condições de não arbitragem, o retorno deve ser necessariamente a taxa livre de risco. Dessa forma, o valor pre-sente do portfolio será (S0u ∆ – fu) e–rT. Então, tem-se S0 ∆ – f = (S0u ∆ – fu) e–rT e, substituindo na equação de e simpli cando,

chega-se às equações f = e–rT [pfu + (1 – p) fd] e , em

que p é a probabilidade de alta da ação e (1-p) é a probabilidade de baixa. Dessa forma, modelando-se o preço de um ativo por meio de uma árvore binomial, uma opção pode ser preci cada utilizando-se as duas equações anteriores e assumindo-se a premissa de que não existem oportunidades de arbitragem. Conforme demonstrado por Hull (2009), os valores de u e dpropostos por Cox et al. (1979) para a árvore binomial são, respectivamente, u = eσ√∆t e d = e–σ√∆t.

I

As opções de ingresso no setor público no Brasil foram classi cadas em duas categorias, com base nos aspectos nan-ceiros mais relevantes de cada uma: carreiras tipo I (agências reguladoras) e carreiras tipo II (subsídio), envolvendo os diversos órgãos federais.

• Carreiras tipo I – Agências reguladoras: Agência Nacio-nal de Água, Agência Nacional de Aviação Civil, Agência Nacional de Energia Elétrica, Agência Nacional de Saúde Suplementar, Agência Nacional de Telecomunicações, Agên-cia Nacional de Transportes Aquaviários, Agência Nacional de Transportes Terrestres, Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Plano Especial de Cargos), Agência Nacional do Cinema e Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis.

• Carreiras tipo II – Subsídio: Banco Central do Brasil, Co-missão de Valores Mobiliários, Instituto de Pesquisa Eco-nômica Aplicada, Superintendência de Seguros Privados e Carreiras de Gestão Governamental (Analista de Comércio Exterior; Analista de Finanças e Controle; Analista de Pla-nejamento e Orçamento; Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental).

Os valores e progressões de carreira são distintos para cada um dos dois tipos, mas dentro de cada tipo todos os ór-gãos públicos têm exatamente a mesma remuneração inicial

e o mesmo plano de carreira. Por exemplo, um servidor que ingressar na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) terá a mesma remuneração do que o servidor da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) (carreiras tipo I); no Banco Central do Brasil (Bacen) e na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) os salários serão também iguais (carreiras tipo II). A carreira tipo II é denominada subsídio devido à sua forma de remuneração, que difere da do tipo I, conforme de nido pela EC 19/98, que alterou o artigo 39 da Constituição Federal (Brasil, 1988, p. 147):

§ 4º O membro de Poder, o detentor de mandato eletivo, os Ministros de Estado e os Secretários Estaduais e Municipais serão remunerados exclusivamente por subsídio xado em parcela única, vedado o acréscimo de qualquer grati cação, adicional, abono, prêmio, verba de representação ou outra espécie remuneratória, obe-decido, em qualquer caso, o disposto no art. 37, X e XI.

Essa forma de remuneração visa evitar que vantagens que poderiam ser acrescidas retirem a transparência da remuneração dos agentes públicos regidos por essa lei. Os vencimentos das carreiras analisadas estão relacionados na Tabela de Remunera-ção dos Servidores Públicos Federais, publicada pela Secretaria de Gestão Pública do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (2013). Além de nessa Tabela, os vencimentos dos servidores públicos federais também estão disponíveis no Portal da Transparência, mantido pela Controladoria-Geral da União (CGU), onde podem ser consultados os dados de remuneração mensal de cada servidor (Governo Federal, 2014).

A remuneração bruta mensal de um servidor de agência re-guladora, com o cargo de analista administrativo, é apresentada na Tabela 1.

Nas carreiras do Governo Federal que recebem remuneração por subsídio, ela ocorre em parcela única, e, para os cargos analisados, seus valores seguem a Tabela 2.

A remuneração no setor privado envolve uma série de variáveis, como cargo ocupado, porte da empresa, experiência e desempenho do pro ssional, desempenho da empresa e seu ramo de atuação. Existe a possibilidade de recebimento de bônus e participação no lucro, que é bastante comum no setor

nanceiro e ocorre também em algumas empresas industriais.A empresa Robert Half, especializada em recrutamento,

publica anualmente, no Brasil e em diversos outros países, um guia salarial com as médias de remuneração para diversos cargos em empresas classi cadas como pequenas, médias e grandes. Na Tabela 3, há alguns exemplos dos dados publicados em 2013 (Robert Half, 2013). Observa-se que no setor privado os salários iniciam-se em um patamar menor do que no setor público, porém podem atingir valores bem superiores para os cargos de alta gerência.

Para as empresas de grande porte (faturamento anual maior do que R$ 500 milhões) do setor de Finance & Accounting, os

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Tabela 1

Remuneração das Agências Reguladoras

Classe Padrão Vencimento Básico(A)

GDATR*(B)

Remuneração(C) = (A+B)

EspecialIII R$ 7.945,00 R$ 6.833,00 R$ 14.778,00II R$ 7.666,25 R$ 6.749,00 R$ 14.415,25I R$ 7.387,50 R$ 6.665,00 R$ 14.052,50

B

V R$ 7.108,75 R$ 6.582,00 R$ 13.690,75IV R$ 6.830,00 R$ 6.498,00 R$ 13.328,00III R$ 6.551,25 R$ 6.415,00 R$ 12.966,25II R$ 6.272,50 R$ 6.331,00 R$ 12.603,50I R$ 5.993,75 R$ 6.247,00 R$ 12.240,75

A

V R$ 5.715,00 R$ 6.164,00 R$ 11.879,00IV R$ 5.436,25 R$ 6.080,00 R$ 11.516,25III R$ 5.157,50 R$ 5.997,00 R$ 11.154,50II R$ 4.878,75 R$ 5.913,00 R$ 10.791,75I R$ 4.600,00 R$ 5.829,00 R$ 10.429,00

Nota: * GDATR = Grati cação de Desempenho de Atividade Técnico-Administrativa em Regulação.Fonte: Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (2013).

Tabela 2

Remuneração por Subsídio

Classe Padrão Subsídio

Especial

IV R$ 18.478,45III R$ 17.965,08II R$ 17.647,43I R$ 17.335,39

CIII R$ 16.668,64II R$ 16.341,81I R$ 16.021,38

BIII R$ 15.707,23II R$ 15.103,11I R$ 14.806,97

AIII R$ 14.516,64II R$ 14.232,00I R$ 12.960,86

Fonte: Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (2013).

dados apresentados não incluem eventuais bônus. Na Tabela 4, exibem-se as médias de remuneração mensal de empresas de outro setor, de Sales & Marketing. Os valores são para empresas consideradas grandes, com exceção do cargo de Gerente-Geral cujos valores só foram divulgados para pequenas e médias empresas.

Analisando-se as Tabelas 3 e 4, pode-se observar a grande variabilidade nas remunerações percebidas no setor privado, que estão relacionadas com as incertezas econômicas e parti-culares mencionadas anteriormente, as quais têm pouco efeito sobre a remuneração do setor público.

Foram projetados os ganhos considerando-se três possi-bilidades de carreiras para um indivíduo, dos 23 anos – idade considerada no estudo como a de conclusão do ensino superior – até os 74 anos de idade, sendo esta a expectativa de vida se-gundo o Instituto Brasileiro de Geogra a e Estatística (IBGE). A exibilidade de optar por uma carreira pública é modelada como uma put norte-americana com dividendos, em que os dividendos são os uxos de caixa recebidos na forma de remu-neração, e a evolução do salário no setor privado é modeladacomo um processo de difusão estocástico (MGB) na forma da equação [1]. Para ambas as carreiras públicas foram adotados os valores determinísticos das Tabelas 1 e 2.

As premissas para cada uma das três carreiras foram as descritas a seguir.

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Matheus Silveira Catauli dos Santos, Luiz Eduardo Teixeira Brandão e Vinicius Mothé Maia

• Tipo I (agências reguladoras) – Supõem-se dois anos de es-tudos, com a remuneração sendo recebida a partir do terceiro ano conforme o plano de carreira do governo até o trigésimo quinto ano de trabalho, quando o servidor se aposenta e recebe a aposentadoria até os 74 anos.

• Tipo II (subsídio) – Supõem-se três anos de estudos, com a remuneração sendo recebida a partir do quarto ano conforme o plano de carreira do governo até o trigésimo quinto ano de trabalho, quando o servidor se aposenta e recebe a aposen-tadoria até os 74 anos.

• Privada – A remuneração já se inicia no ano imediatamente subsequente à formatura, tendo seu salário inicial de nido por meio de pesquisa de mercado (Robert Half, 2013), e evolução seguindo um MGB com parâmetros de volatilidade e crescimento de nidos. Para esses parâmetros, foram feitas análises de sensibilidade com diversos valores.

O indivíduo pode decidir trabalhar para o setor público a qualquer momento dos 23 aos 47 ou 48 anos, porém sem pos-sibilidade de retorno ao setor privado. A opção expira aos 47 anos para a carreira denominada subsídio, pois, para ela, são previstos três anos de estudos. Assim, no último ano da opção, o indivíduo ingressaria aos 50 anos na carreira, tendo exatos os dez anos de exercício necessários para a aposentadoria aos 60 anos. Para a carreira em agência reguladora, o raciocínio é o mesmo, porém com dois anos de estudos.

Neste trabalho não se pretende comparar as carreiras pú-blicas entre si, e sim as duas carreiras públicas com a opção privada. Esse foco ocorre, principalmente, por existirem fatores adicionais que levariam à escolha entre as carreiras públicas propostas, como, por exemplo, no caso de um economista que pre ra trabalhar no Banco Central do Brasil, e de um cineasta que opte pela Agência Nacional de Cinema. Assim sendo, pretende-se identi car os seguintes valores que ajudarão a compreender a escolha de carreira pela teoria de opções reais:

Tabela 3

Remuneração do Setor Privado em Empresas Grandes Finance & Accounting

Empresas Grandes (inance ccountin) Experiência no Cargo (R$)

Cargo 0-2 anos 3-5 anos 6-9 anos >10 anosDiretor Financeiro 22.000 - 30.000 25.000 - 40.000 30.000 - 50.000 40.000 - 80.000Controller 13.000 - 20.000 15.000 - 25.000 18.000 - 30.000 22.000 - 35.000Gerente Financeiro 10.000 - 13.500 12.000 - 17.000 14.000 - 20.000 16.000 - 24.000Coordenador Financeiro 7.000 - 9.000 8.000 - 10.000 9.000 - 11.000 10.000 - 12.000Analista Financeiro 3.000 - 4.500 3.500 - 6.000 4.000 - 7.500 5.000 - 8.500

Fonte: Robert Half (2013).

Tabela 4

Remuneração do Setor Privado Sales & Marketing

Empresas (Sales Maretin) Experiência no Cargo (R$)

Cargo 0-2 anos 3-5 anos 6-9 anos >10 anosGerente-Geral 24.000 - 30.000 27.000 - 35.000 30.000 - 47.000 35.000 - 70.000Diretor Comercial 21.000 - 28.000 25.000 - 33.000 30.000 - 40.000 35.000 - 55.000Gerente de Marketing 10.000 - 16.000 12.000 - 18.000 14.000 - 20.000 12.000 - 20.000Coordenador de Marketing 5.000 - 7.000 6.000 - 8.000 7.000 - 11.000 9.000 - 12.000Analista de Marketing 2.500 - 5.000 4.000 - 6.500 5.500 - 7.500 6.500 - 8.500

Fonte: Robert Half (2013).

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ECS E ESCL E CE BSL M BEM ES ES

consequência, considerou-se que os salários nos setores público e privado seriam reajustados ao longo do tempo de forma a não perder seu poder de compra. Tal premissa sustenta-se na atual estabilidade econômica alcançada e na política governamental de manutenção do poder de compra do salário dos servidores públicos no longo prazo.

Uma taxa de desconto temporal alta seria aplicável para indivíduos que valorizam menos os ganhos no futuro, assim como uma taxa de desconto mais baixa daria maior importân-cia aos uxos de caixa nos períodos intermediários e nais da carreira. Além disso, essa taxa tem uma relação com o custo de oportunidade de investimento na economia, pois uxos recebidos previamente podem ser aplicados e gerar dividendos.

Para o MGB, diversos fatores poderiam in uenciar a taxa de crescimento dos salários, representados pela taxa drift. É intuitivo pensar que, nos primeiros anos da carreira, um traba-lhador pode ter um crescimento percentual maior do que em outras fases da carreira, por ser um período de aquisição de experiência e os salários iniciais no setor privado serem mais baixos, entretanto, para ns de simpli cação dos cálculos, considerou-se uma taxa de crescimento constante.

A partir do valor esperado do MGB, é possível calcular o salário futuro esperado no setor privado. Na Tabela 5, é possível visualizar esses valores para um salário inicial de R$ 3.500,00, com drifts variando entre 6% e 8%, para diferentes anos.

Os valores encontrados são compatíveis com as pesquisas salariais da Robert Half (2013); assim, serão empregados driftsnesse patamar como base para de nir o valor da opção e a análise de sensibilidade.

A volatilidade do MGB re ete os riscos da iniciativa priva-da, em que o trabalhador pode ser demitido e ter de aceitar um salário menor, permanecer determinado tempo sem progressão na carreira nem promoções, não receber bônus durante o ano, etc. De niu-se a volatilidade como sendo constante ao longo do tempo.

3.2. Valor presente dos uxos do setor público

Para a carreira do tipo I, de agência reguladora, a escolha envolve dois anos sem receber e sem pagar valor algum, e a partir do terceiro ano o recebimento dos uxos de caixa corres-

valor esperado das carreiras pública e privada, e valor da opção de abandonar a carreira privada por uma carreira pública.

O salário mensal do setor privado (Sm) é observado no ano zero como referência para o MGB, embora não sendo recebido de fato, pois, caso opte pela carreira privada, o recebimento ocorrerá ao longo do ano 1, quando o indivíduo completa 24 anos. Assim, considerando no caso-base um Sm de R$3.500,00, obtém-se um salário anual de R$ 49.140,00 (3.500*13*1,08 – sendo o fator 1,08 referente ao Fundo de Garantia por Tempo de Serviço [FGTS]). No primeiro ano, com 24 anos, o indivíduo que optar pela carreira privada receberá um uxo de caixa de acordo com o valor base de S, que seguirá um modelo discreto do MGB [2]:

[2]

em queS é o salário do pro ssional na iniciativa privada;μ é a taxa de crescimento anual do salário;σ é a volatilidade;∆t é o período de um ano;∆z é o incremento padrão de Wiener, dz = ε√∆t, ε ∆ N(0,1).

3.1. Fluxos de caixa

Considerando-se as diferenças entre as formas de remunera-ção das carreiras analisadas, foram feitos os devidos ajustes nos

uxos de caixa recebidos. Para a contribuição previdenciária, nos setores privado e público, foram desconsiderados os descontos até o teto do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), pois, até esse teto, o valor descontado seria o mesmo nas carreiras. Após esse valor, foi aplicado o desconto de 11% apenas para a carreira pública, pois o trabalhador celetista não realiza essa contribui-ção. O FGTS foi considerado, na carreira privada, como parte da remuneração, e somado no valor de 8% ao salário mensal.

O imposto de renda foi desconsiderado nas análises em virtude de as alíquotas serem as mesmas para ambas as car-reiras. Foram considerados os 13 salários anuais, visto que o salário extra no ano é direito de ambos os tipos de funcionários e, além disso, partiu-se da premissa que, ao escolher a carreira pública, o indivíduo se dedica em tempo integral à preparação para a prova de seleção, não contando com a possibilidade de jornada dupla com trabalho e estudos. Nessa perspectiva, o candidato tem condições de preparar-se adequadamente, não prejudicando o desempenho no estudo ou no trabalho, como poderia acontecer com a jornada dupla.

Os uxos de caixa nos anos de estudos para as carreiras são iguais a zero, ou seja, não foram considerados os eventuais gas-tos com cursos preparatórios, livros e apostilas que o candidato à carreira pública eventualmente tenha, por considerar-se que esses gastos são baixos em relação aos valores totais, podendo assim ser desprezados. Foram desconsiderados os efeitos da in ação, optando-se por trabalhar com valores reais. Como

Tabela 5

Evolução do MGB

μ t 5 15 256% Sm R$ 4.725 R$ 8.609 R$ 15.6867% Sm R$ 4.967 R$ 10.002 R$ 20.1418% Sm R$ 5.221 R$ 11.620 R$ 25.862

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pondentes à carreira. Assim, para um salário inicial mensal de R$ 9.263, o uxo anual será de 13 vezes esse valor, menos o desconto de 11% de previdência sobre o valor que ultrapassar o teto do INSS, à época deste estudo de R$ 3.916,20, resultando no valor de R$ 112.773. Esse valor aumenta conforme a pro-gressão da carreira até o ano 37, no qual o indivíduo completa 35 anos de trabalho e 60 de idade, aposentando-se e passando a receber o valor determinado na tabela da carreira.

Nessa carreira não existe paridade entre os servidores ativos e os aposentados, por ser parte da remuneração via grati cação de desempenho, que não é recebida na parte individual pelos aposentados. Assim, é possível calcular o valor presente dos

uxos de caixa descontados pela taxa de juros para cada ano até o vigésimo quinto, quando o indivíduo completa 48 anos e, com os dois anos de estudos, completaria 50 anos no ingresso na carreira pública. Como são necessários dez anos de traba-lho, esse seria o último ano para conseguir a aposentadoria na carreira pública com 60 anos de idade.

Para a carreira do tipo II, de subsídio, a forma de cálculo é a mesma, considerando-se 13 salários e abatendo-se a previdência acima do teto do INSS. O valor presente, que será o valor do abandono, também é calculado até o ano 25, último ano para tomada de decisão, aos 48 anos de idade.

Não se considerou qualquer valor referente a cargos em comissão, pois esses são de livre provimento e exoneração, sendo de caráter provisório, destinados a funções de assesso-ramento e che as. Ao receber um cargo desses, o servidor tem seu salário aumentado, porém, como a distribuição tem viés altamente político, não se averbou essa possibilidade.

3.3. Cálculo do valor da opção

Utilizando-se o modelo binomial de Cox et al. (1979) em cada período, o salário irá variar e, em cada nó da árvore, o indivíduo tem a opção de abandonar a carreira privada e optar pela carreira pública, o que, assume-se, ocorrerá sempre que o valor presente esperado dos salários futuros da carreira pública for maior do que o da carreira privada.

Assumindo-se uma volatilidade σ = 15% para o caso-base e uma taxa de crescimento μ = 7%, pode-se modelar o processo estocástico dos uxos recebidos pelo indivíduo.

Esses uxos continuarão até o trigésimo quinto ano, quan-do ocorre a aposentadoria. A partir do trigésimo sexto ano, os

uxos igualam-se ao teto de aposentadoria do INSS que, no ano de 2012, equivalia a 13 salários de R$ 3.916,2, ou seja, R$ 50.910,60 ao ano. Esses valores são recebidos até o ano 51, pois, como no ano zero, ele tem 23 anos, aqui ele chegaria aos 74 anos, expectativa de vida média do brasileiro segundo o IBGE.

O valor presente esperado para o setor privado pode, então, ser calculado descontando-se os uxos de caixa do tempo nal até o tempo inicial, ponderados pelas probabilidades p e 1-pcalculadas, e utilizando-se taxa de juros que represente o valor do dinheiro no tempo, sendo ela 5% no caso-base.

[3]

O regime contratual celetista não permite a redução do salário, porém, no processo estocástico utilizado para modelar a remuneração no setor privado, a possibilidade de queda tem relação com a não estabilidade do trabalhador, que pode perder o emprego e ter de aceitar remuneração inferior à anterior, ou mesmo o não recebimento de bônus por um executivo que tenha parte de sua remuneração variável. A volatilidade desse processo está relacionada com as incertezas econômicas e, também, com o setor de atuação escolhido.

Para o caso da carreira pública, calcula-se o valor presente em cada ano, ou seja, o valor a ser recebido na carreira, caso se opte por ela no primeiro ano, segundo ano e assim por diante, até o vigésimo quinto ano.

[4]

Com os valores de Vt e Wt, é possível calcular o valor da opção norte-americana, obtido por meio da árvore binomial pela opção de maximização do valor presente dos salários futuros. Na maturidade, ou seja, no vigésimo quinto ano, o indivíduo só tem duas escolhas: seguir na carreira privada ou optar pela carreira pública. Assim, no vencimento, t = 25, o valor da opção é de nido por uma função max {Wt – Vt, 0}, em que Wt representa o valor presente dos uxos na carreira pública no ano 25 e Vt o valor presente esperado dos uxos na carreira privada também nesse ano. Caso o valor esperado no setor privado seja maior do que no público, a opção não será exercida e terá valor zero. Caso contrário, o valor da opção será o ganho adicional proporcionado pela carreira pública em relação à carreira privada, naquele nó de decisão da árvore.

No vigésimo quarto ano, e nos outros anos anteriores à maturidade, é feita uma comparação entre:• exercer a opção, que terá o valor Wt – Vt no ano de exercício;• esperar mais um ano e, assim, o valor da opção será o valor

esperado da opção no ano seguinte, ponderado pelas proba-bilidades p e 1-p, trazido a valor presente.

De tal modo, contabiliza-se o maior valor, ou seja, a escolha ótima entre exercer e esperar, processo repetido até o ano zero, alcançando assim o prêmio da opção.

SS NIS SNSIII

Para os recebimentos no setor público foram calculados os valores presentes da formatura aos 23 anos até a expectativa média do IBGE, de 74 anos, conforme as premissas do modelo. Os valores encontrados estão resumidos na Tabela 6.

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Na Tabela 6, a opção vale R$ 176.735,67 no caso da carreira na agência reguladora, valor equivalente a 6,9% do valor da carreira privada. Assim, o valor presente da carreira privada que no início era ligeiramente inferior ao da carreira pública, é, na verdade, superior quando se contabiliza a possibilidade de adiar o ingresso na carreira pública. Esse resultado indica que a decisão nanceira ótima para um recém-formado seria ingressar na carreira privada e, nos anos posteriores, avaliar novamente se é vantajoso ingressar na carreira pública, con-forme sua evolução salarial.

No caso do indivíduo que almeja a carreira pública do tipo II, subsídio, o valor da opção será de R$ 507.448,71 que, so-mado ao valor presente da carreira privada, resulta num valor inferior ao da carreira pública. Assim, com esses parâmetros, a decisão nanceira seria optar pela carreira do tipo II, porém percebe-se que o valor da opção torna a decisão bem mais equilibrada, já que, antes, a carreira pública estava num patamar consideravelmente superior.

Esses resultados vão ao encontro das suposições de Dixit e Pyndick (1994) de que, ao optar-se por uma carreira que tenha algum grau de irreversibilidade e que reduza as possibilidades de seguir outros caminhos, essa carreira deve ofertar expecta-tivas de ganhos substancialmente maiores do que outra com

exibilidade e deixar em aberto as opções.

4.1. Sensibilidade em relação à volatilidade

Na literatura de opções, a volatilidade tem relação positiva com o prêmio da opção de venda e de compra. A volatilidade do processo estocástico usado foi arbitrária e, di cilmente, se conseguiria observar uma volatilidade histórica para dados de remuneração nesse caso; mesmo com dados como esses, sempre existiria a limitação da volatilidade histórica que não será a mesma que a volatilidade futura. Sendo assim, optou-se por realizar os cálculos com diferentes volatilidades e anali-sar seu impacto sobre a decisão pela carreira pública ou priva-da. A Tabela 7 mostra o valor da opção com diferentes vola-tilidades.

Pode-se veri car que o aumento da volatilidade acarretou um aumento de 5%, como era esperado, no valor da opção, e o fenômeno oposto, no caso de sua redução. Observa-se que, para a carreira subsídio, o valor da opção somado ao valor da carreira privada chega a ultrapassar o valor presente da carreira pública (R$ 3.196.664,83 contra R$ 3.165.221,28), indicando que, caso o indivíduo preveja uma volatilidade maior na remu-neração, deveria escolher a carreira privada.

Esse resultado pode parecer contraintuitivo à primeira vista, sabendo-se que existe a aversão ao risco, porém, ao analisar-se uma maior volatilidade na remuneração privada, o indivíduo poderá alcançar salários maiores ou menores, e o efeito dos salários menores é eliminado parcialmente porque, na situação adversa, a opção pela carreira pública seria exercida, restando o efeito positivo da possibilidade de salários maiores.

No grá co da Figura 1 evidencia-se o efeito do aumento da volatilidade no valor da opção.

4.2. Sensibilidade em relação ao salário inicial no setor privado

O salário no mercado privado no ano zero tem relação oposta com o prêmio da opção, pois é o valor equivalente ao preço inicial da ação no modelo proposto (Hull, 2009).

Analisando-se valores inferiores e superiores aos R$ 3.500,00 usados no caso-base, obtêm-se os resultados mos-trados na Tabela 8.

Para um Sm de R$ 3.000,00, o setor privado somado à opção torna-se inferior às carreiras tipo I e tipo II, enquanto, para um valor de R$ 4.000,00, a carreira privada somada à opção passa a ter valor superior em ambos os casos.

No grá co da Figura 2 é possível visualizar os valores da opção para os diferentes níveis salariais iniciais.

4.3. Sensibilidade em relação à taxa de crescimento dos salários

O parâmetro μ do MGB é o que de ne o crescimento sa-larial esperado para a carreira privada, e pequenas variações provocam grandes diferenças remuneratórias ao longo prazo. Na Tabela 9, preci cou-se a opção para taxas de crescimento acima e abaixo do caso-base.

Tabela 6

Valor da Opção no Caso-Base

Caso-Base AgênciaReguladora Subsídio

VP Público R$ 2.563.258 R$ 3.165.221VP Privado R$ 2.559.607 R$ 2.559.607Valor Opção (P) R$ 176.735 R$ 507.448VP Privado + Opção R$ 2.736.343 R$ 3.067.056Opção / VP Privado 6,90% 19,83%

Tabela 7

Análise de Sensibilidade em Relação à Volatilidade

Sensibilidade – Volatilidade

Agência Reguladora Subsídio

Valor Opção (P) – σ = 10% R$ 67.202,98 R$ 437.535,59Valor Opção (P) – σ = 20% R$ 297.550,33 R$ 637.057,37

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Figura 1: Valor da Opção para as Duas Carreiras e Diferentes Volatilidades

Figura 2: Valor da Opção para as Duas Carreiras e Diferentes Salários

Uma taxa de crescimento menor dos salários futuros, de 6%, torna a carreira pública mais interessante e, portanto, também mais valiosa a opção de aderir a ela. Por outro lado, um crescimento de 8% torna a carreira privada a escolha óti-ma, e os valores com as opções superiores aos da carreira pública.

Na Figura 3, visualizam-se os valores da opção para as diferentes taxas de crescimento do salário na iniciativa privada.

NS

A carreira pública tem sido uma escolha para milhões de brasileiros que fazem cursinhos preparatórios e realizam provas

de concursos todos os anos, sendo a remuneração um fator importante nessa escolha.

Ao se modelarem as incertezas do setor privado, a irre-versibilidade e a possibilidade de adiar a decisão pela carreira pública para um período futuro após uma experiência no setor privado, observa-se que essa exibilidade possui características de opções pro ssionais semelhantes às utilizadas no mercado

nanceiro. Dessa forma, esse problema foi analisado por meio da teoria das opções reais, modelando-se a opção de troca entre uma carreira privada com remuneração baseada em pesquisas de mercado e dois tipos de carreiras públicas.

Os resultados indicam que a opção de ingressar na carreira pública pode ter valor signi cativo em relação à carreira pri-

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Tabela 8

Análise de Sensibilidade em Relação ao Salário Inicial no Setor Privado

Sm = R$ 3000 Agência Reguladora Subsídio

VP Privado R$ 2.208.239,00 R$ 2.208.239,00Valor Opção (P) R$ 327.123,33 R$ 788.904,05Privado + Opção R$ 2.535.362,33 R$ 2.997.143,05Opção / VP Privado 14,81% 35,73%

Sm = R$ 4000 Agência Reguladora Subsídio

VP Privado R$ 2.910.975,92 R$ 2.910.975,92Valor Opção (P) R$ 102.897,63 R$ 327.786,65Privado + Opção R$ 3.013.873,55 R$ 3.238.762,57Opção / VP Privado 3,53% 11,26%

Tabela 9

Análise de Sensibilidade em Relação à Taxa de Crescimento dos Salários

μ = 6% Agência Reguladora Subsídio

VP Privado R$ 2.149.252 R$ 2.149.252Valor Opção (P) R$ 373.460 R$ 847.890Privado + Opção R$ 2.522.713 R$ 2.997.143Opção / VP Privado 17,38% 39,45%

μ = 8% Agência Reguladora Subsídio

VP Privado R$ 3.072.792 R$ 3.072.792Valor Opção (P) R$ 69.764 R$ 246.691Privado + Opção R$ 3.142.557 R$ 3.319.483Opção / VP Privado 2,27% 8,03%

Figura 3: Valor da Opção para as Duas Carreiras e Drifts

vada, o que tende a aumentar a atratividade da carreira privada para o recém-formado. Dependendo dos parâmetros utilizados e da carreira pública escolhida, foram obtidos valores de opção de 2,27% até 39,45%, que representam o sobrepreço existente sobre o valor da carreira privada devido à possibilidade de troca futura para a carreira pública.

Esses resultados podem ser úteis para jovens que buscam de nir os rumos futuros em sua vida pro ssional, pois a

exibilidade existente na carreira privada agrega um valor signi cativo a essa opção de carreira, direcionando-os, assim, para o setor privado.

Essa maior atratividade do setor privado sugere ao setor público uma reformulação dos salários e benefícios pagos, nas carreiras estudadas, visando aumentar sua atratividade e assim captar os melhores pro ssionais. Caso contrário, o setor privado tenderá a reter os pro ssionais mais capacitados.

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Career choice is an important decision and is usually made in an environment full of uncertainties for relatively young and inexperienced people. In this study, we aimed to analyze the decision to choose between a career in a private company and another in a public agency, considering that there is exibility to migrate from the private to the public sector, through a civil service exam. Therefore, we used the methodology of real options to model this exchange option, assuming that future gains in the private sector are uncertain. The results suggest that the option of joining the public career may have signi cant value in relation to the private one.

Keywords career choice, civil service exam, real options, binomial tree.

La elección de la carrera profesional es una decisión importante en la vida del joven que normalmente ocurre en un momento de incertidumbres debido a su relativa inexperiencia. En este estudio se analiza la decisión de elegir entre una carrera en una empresa privada y otra en el sector público, teniendo en cuenta que hay exibilidad para migrar del sector privado al público por medio de concursos públicos. Para ello, se utilizó la metodología de opciones reales con el n de con gurar esta opción de cambio, asimismo se considera que las futuras ganancias en el sector privado son inciertas. Los resultados sugieren que la opción por la carrera pública puede tener un valor signi cativo con relación a la carrera privada.

Palabras clave elección de carrera profesional, concurso público, opciones reales, árbol binomial.

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