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É DE TIRAR O CHAPÉU: UM MOVIMENTO NO ENSINO MÉDIO S OBRE
CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS
Roseane Huber de Souza (EEBPCM) [email protected]
Suy Mey Schumacher Moresco (CE) [email protected]
Este projeto nasceu a partir de um dos encontros do Grupo de Professores de Língua
Portuguesa (GPLP), que é conduzido pela professora Dra. Otilia Heinig. Existente há mais de
dez anos, o grupo se reúne uma vez por mês na cidade de Brusque, tendo integrantes
professores de Língua Portuguesa e Pedagogos com o objetivo de aperfeiçoar conhecimentos,
socializar e gerar ideias de atividades em sala de aula.
Em 2010, a proposta do grupo foi realizar um projeto de leitura. Tal projeto deveria
contemplar a leitura como um processo, mostrar aos alunos que não é simplesmente passar os
olhos por cima do texto ou decodificar palavras. Vai além do ler. Significa compreender,
interpretar, interagir e analisar o que está escrito. Além disso, para que houvesse um maior
incentivo à leitura, os alunos teriam um objetivo claro a ser alcançado, ou seja, ler para
alcançar ou produzir algo.
A ideia de trabalhar com um projeto de letramento gerou muita discussão e ansiedade
por parte dos professores do GPLP e logo esboços de projetos começaram a surgir. A partir
disso, as professoras Suy Mey Schumacher Moresco e Roseane Huber de Souza realizaram
uma parceria para desenvolver o projeto de leitura.
Roseane é professora de Língua Portuguesa. Formou-se em Letras em 2000 pela
Universidade Regional de Blumenau (FURB). Ministra aulas de língua alemã num projeto
particular e no ensino público leciona Língua Portuguesa e Literatura para o Ensino
Fundamental II e Ensino Médio na Escola de Educação Básica Professor Carlos Maffezzolli
no município de Guabiruba, em Santa Catarina. Tem paixão pela Literatura, gosta de planejar
aulas diversificadas, de sair literalmente da sala de aula. Desde 2001 aplica, no Ensino Médio,
um evento intitulado “Sarau Literário”. São apresentações orais nas quais os próprios
discentes produzem o objeto socializado levando a uma aprendizagem mais significativa sem
abandonar a fundamentação. Durante o ano letivo, incorpora, à rotina das aulas, gêneros
textuais, sequências didáticas, projetos, teatros, jograis, declamação de poemas e
principalmente a leitura, que é o alicerce de todo o trabalho.
Suy Mey também é professora de Língua Portuguesa. Graduou-se em Letras em
2001 pela Universidade Regional de Blumenau (FURB) e, atualmente, trabalha com Ensino
Médio em um colégio particular, o Colégio Energia de Brusque, em Santa Catarina. Mesmo já
trabalhando um tempo razoável com a disciplina, a professora ainda é uma criança na arte e
tem muito para aprender. Gosta de estar em contato com novidades e experiências diferentes.
Aprecia compartilhar ideias e estudar. Em sala de aula, procura mostrar aos alunos o mundo
de possibilidades que existe ao se trabalhar com Língua Portuguesa. Pensando assim, durante
esse tempo como professora, teve a oportunidade de desenvolver saraus, coletâneas de poesias
dos alunos, projetos de leitura.
Para que o projeto aqui mencionado tomasse forma, as professoras realizaram dois
encontros na Biblioteca Pública de Brusque. Lá analisaram materiais, discutiram ideias,
planejaram e montaram as etapas do projeto de leitura. Ainda, idealizaram interações entre os
alunos das duas escolas.
Quando foi apresentada a ideia de se trabalhar um projeto de leitura, ficou-se
imaginando o que poderia ser tratado e o que os alunos deveriam alcançar. Como, algum
tempo antes, havia sido discutida a importância de histórias para as crianças e técnicas de
contação de histórias, além do interesse e gosto que as professoras Suy Mey e Roseane têm
pela contação de histórias, decidiu-se que seria trabalhada a leitura de textos para poderem ser
contados. Faltava, então, o que seria trabalhado. No mesmo dia em que a professora Otilia
propôs o trabalho do projeto, ela apresentou livros variados que pudessem ajudar. Em um
desses livros havia uma história que remetia ao conto Alice no País das Maravilhas. Bom,
Alice é uma história infantil e nos remete à ideia de alguém lendo ou contando a história para
uma criança para entretê-la ou para a hora de dormir. Além disso, estava em alta porque havia
estreado um filme baseado em Alice no País das Maravilhas. Aí estava o material que ia ser
trabalhado. O esqueleto do projeto estava criado. Assim, tendo como ponto de partida o texto
“O Chapeleiro”, de Flavio de Souza1, e a história Alice no País das Maravilhas, que havia sido
relembrada com o lançamento do filme de mesmo nome no início de 2010, surgiu o nome do
projeto: “É de Tirar o Chapéu”. O objetivo final era a contação de histórias.
A seguir é possível entender como o projeto foi montado e desenvolvido e os
resultados alcançados.
1 SOUZA, Flávio de. Que História é Essa? 3. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2009.
Flávio de Souza escreveu três livros com o título “Que História é Essa?” e nesses livros ele conta histórias de personagens secundários de contos famosos e questiona o leitor sobre a história a qual eles pertencem.
1. Participantes de tirar o chapéu
O projeto foi desenvolvido com os alunos de 1ª série do Ensino Médio do Colégio
Energia do município de Brusque e da EEB Prof. Carlos Maffezzolli do município de
Guabiruba.
Os alunos da 1ª série do Colégio Energia (1 turma com 34 alunos) vieram de
diferentes escolas e também de cidades diferentes (Brusque, São João Batista e Nova Trento).
Realidades diferentes de vida que se cruzaram na sala de aula. Alguns alunos já haviam
estudado juntos durante algum tempo, tanto em Brusque como em Nova Trento ou São João,
e se conheciam bem, mas outros eram completamente novos na turma. Havia alunos um
pouco inseguros, envergonhados, tentando encontrar seu lugar na escola e, consequentemente,
firmar-se entre os colegas, fazer novas amizades. Adolescentes que tiveram que mudar seu
modo de pensar, de agir ao entrar no ensino médio e se adequar às novas regras da escola.
Estudavam no período matutino e possuíam aulas de assistência, de laboratório e de educação
física à tarde.
Já os alunos da Escola Carlos Maffezzolli residiam nos arredores onde a escola se
situa, no Bairro São Pedro, em Guabiruba. Eram estudantes do turno noturno, a grande
maioria se conhecia desde a Pré-Escola. O projeto foi desenvolvido com duas turmas de 1ª
série num total de 55 alunos curiosos, ativos e interessados em pesquisar, ler e apresentar o
projeto para a comunidade escolar.
Além dos alunos, envolveram-se no projeto dois contadores de histórias. Lieza Neves
e Emiliano Daniel de Souza contaram para os estudantes das duas escolas algumas histórias.
Lieza Neves, natural de Brusque, é contadora de histórias e também atriz, professora,
jornalista e escritora. Dirige e atua em espetáculos de contação de histórias. Também
representa a Câmara Temática de Literatura de Brusque. Divide alguns trabalhos com
Emiliano Daniel de Souza, natural de Guabiruba, contador de histórias e professor de línguas.
Emiliano aprecia literatura de qualidade, desenvolve pesquisa e ministra formações na área da
contação de histórias. Tem carinho especial por música e poesia infantil.
2. Ambientes que se transformaram
Por ter sido desenvolvido através de uma parceria entre as professoras de diferentes
escolas e, ainda, de diferentes cidades, o projeto envolveu dois municípios: Brusque e
Guabiruba.
Brusque é uma cidade localizada no leste de Santa Catarina, no Vale do Itajaí Mirim.
Situa-se próxima a cidades como Blumenau, Itajaí, Nova Trento. Cidade vizinha de
Guabiruba. Está a aproximadamente 1h e 30min da capital Florianópolis. Possui em torno de
110.000 habitantes.
A cidade foi colonizada por alemães, italianos e poloneses, os quais desenvolveram a
produção de tecidos e fizeram do município um dos maiores polos têxteis do estado. Devido a
isso, Brusque é conhecida como “Berço da Fiação Catarinense” e “Cidade dos Tecidos”.
O turismo na cidade é focado, basicamente, no comércio de roupas e tecidos,
destacando-se as lojas FIP 1 (Feira Industrial Permanente) e FIP 2, Stop Shop, All Shop e
Havan. Porém, além do comércio, a cidade também apresenta um Parque Zoobotânico com
Orquidário e Bromeliário, Observatório Astronômico Tadeu Cristóvam Mikowski e o
Santuário de Azambuja. No mês de outubro acontece a Fenarreco, festa típica da cultura
alemã, que traz o marreco como prato principal.
Guabiruba, terra de belíssimas riquezas naturais, elevou-se à categoria de município
em 10 de junho de 1962, quando até então se integrava ao território de Brusque. Foi
colonizada por imigrantes alemães a partir de 1862 e, posteriormente, em menor escala, por
imigrantes italianos e poloneses. Possui 18.430 habitantes segundo o IBGE Cidades de 2010.
A sustentação econômica do município se dá através do Comércio, Indústria Têxtil,
Metalúrgica, Malharia e, ainda, na Agricultura de Subsistência.
Nessas duas cidades, encontramos as escolas onde o projeto se desenvolveu. Em
Brusque, o Colégio Energia e, em Guabiruba, a Escola de Educação Básica Professor Carlos
Maffezzolli.
No Colégio Energia, a sala de aula foi o local onde aconteceu a maior parte das
interações e trocas. Foi na sala de aula que o projeto foi apresentado aos alunos, onde, em
grupos, discutiram sobre o que pesquisariam e como organizariam suas apresentações. Foi lá
que apresentaram as informações pesquisadas sobre os variados tipos de chapéus e também
onde receberam a visita dos dois contadores de histórias. O pátio da escola também foi
utilizado a fim de fazer uma exposição dos materiais produzidos.
Nesse mesmo ano, aconteceu, durante o mês de outubro, a Feira do Livro. O evento,
antes realizado no pavilhão da Fenarreco, foi transferido para a praça recém-inaugurada na
cidade, a praça Sesquicentenário. Foram erguidas tendas e, no espaço, havia exposição de
livros, espaço para a leitura e um mini auditório para apresentações de contação de histórias e
palestras. O autor Moacyr Scliar foi presença especial na Feira do Livro de 2010 que
conversou com os presentes sobre suas vivências. Foi nessa feira que os alunos do Colégio
Energia apresentaram suas contações de histórias.
Para os alunos da Carlos Maffezzolli, o ambiente também foi além da sala de aula.
Os estudantes utilizaram a sala informatizada para suas pesquisas. O pátio da escola foi usado
para socializarem, com os demais colegas da Unidade Escolar, a produção de chapéus
malucos e as leituras dos textos informativos sobre diferentes tipos de chapéus e suas
utilidades e, por fim, o auditório da escola, com o palco, sendo utilizado para a produção final
do projeto, a contação de histórias sobre chapéus.
Feira do Livro de Brusque 2010
3. Artefatos envolvidos no projeto
A história “O Chapeleiro”, do livro “Que História É Essa? 3”, de Flavio de Souza,
foi o primeiro texto utilizado no projeto. A pesquisa se estendeu com o uso de computadores
para buscar textos informativos sobre chapéus típicos, como o chapéu mexicano, o alemão,
chinês; chapéus de personagens famosos tanto na música, cinema e TV (Michael Jackson,
Indiana Jones, Charles Chaplin, Willy Wonka, Chapeleiro Maluco) como na literatura
(Chapeuzinho Vermelho, Pinóquio, Peter Pan, Robin Hood); chapéus usados na religião;
história do chapéu em Brusque/Guabiruba e região; chapéu como status; chapéus alegóricos
(aniversário, carnaval).
No Colégio Energia, os alunos, depois de pesquisarem os textos informativos sobre
chapéus, organizaram uma apresentação para a sala do conteúdo apreendido. Utilizaram
cartazes, apresentações em power point, vídeos para demonstrar atuação de artistas como
Michael Jackson e Carmem Miranda e até mesmo modelos de alguns chapéus sobre os quais
falavam (chapéu de bruxa, chapéu de aniversário).
Os alunos da Carlos Maffezzolli, depois de pesquisarem as informações pedidas
sobre chapéus, utilizaram vários artefatos, como papel, papelão, canetinhas e outros utensílios
para confeccionarem um chapéu alegórico, usando a criatividade na explicação de sua
utilidade. Alguns usaram a televisão para ver alguns trechos do quadro “Para quem você tira o
chapéu?” do Programa Raul Gil. Para socializarem os textos informativos pesquisados,
utilizaram cartazes e computadores e no fechamento do projeto organizaram o cenário e o
figurino das personagens de cada história criada.
Por fim, todos os alunos se apropriaram de contos que, de alguma maneira,
envolviam o tema chapéu.
4. Atividades que mudaram a rotina
O projeto de leitura foi dividido em três partes pelas professoras Roseane e Suy Mey.
Entretanto, essas etapas se desenvolveram de formas distintas nas duas escolas.
Os estudantes do Colégio Energia iniciaram com a leitura da história “O Chapeleiro”,
personagem de Alice no País das Maravilhas, do livro “Que História É Essa? 3”. Com a
história, eles deveriam adivinhar quem era o personagem e de que história infantil ele
participava. Logo em seguida foi discutida a característica marcante do personagem e como
um chapéu pode caracterizar alguém. A partir daí foram levantados exemplos de outros
personagens famosos na literatura e pessoas famosas que possuem o chapéu como
característica marcante, além de discutir um pouco sobre como o chapéu pode ser um
elemento de destaque, de status. Findada a discussão, os alunos, divididos em sete grupos,
deveriam pesquisar textos informativos sobre o uso do chapéu, sua evolução, tipos, chapéus
como marca de status e também sobre personagens do cinema e música que tinham o chapéu
como marca característica. As informações deveriam ser resumidas e apresentadas para a
turma. A apresentação contaria com a criatividade de cada grupo. Depois dessa troca de
informações, os materiais confeccionados pelos grupos foram expostos no pátio da escola,
junto com a explicação sobre o trabalho realizado.
Em uma segunda etapa, os alunos tiveram que pesquisar histórias que tivessem o
chapéu como tema central para que, depois de lidas, fossem contadas. Para isso eles
receberam, em dois dias distintos, a visita de dois contadores de histórias, Emiliano e Lieza,
que, além de contar histórias, responderam perguntas dos alunos sobre essa arte e fizeram
indicações de autores. Foi um momento bastante rico, prazeroso e proveitoso para todos. Ao
final das contações, anteriormente combinado com a turma e também com o profissional, foi
Exposição Colégio Energia
“passado o chapéu” e os alunos contribuíram com moedas, imitando uma prática usual de
apresentações artísticas de rua e fazendo ligação com o tema do projeto. A importância
recolhida foi um valor simbólico para ajudar com a despesa de deslocamento dos contadores.
Finalmente, escolhidas suas histórias/contos que envolviam o tema chapéu, os textos
lidos e ensaiados para a contação, veio a terceira parte do projeto: o momento da apresentação
de suas contações ao grande público. Primeiramente a ideia era fazer a apresentação no
auditório da escola, porém, a professora Lieza, uma das organizadoras da Feira do Livro de
Brusque, convidou a turma para fazer a apresentação do projeto na feira. Com a aceitação dos
alunos, o projeto passou a fazer parte da programação da Feira do Livro de 2010 e foi
apresentado à noite, no dia 26 de outubro.
Usando criatividade e as dicas dadas pelos contadores de história que visitaram os
alunos, cada grupo organizou sua contação. Houve grupo que fez a contação somente usando
voz e expressão corporal, houve grupo que fez cenário e foi fazendo a contação através dele,
houve grupo que se dividiu e um ou dois alunos faziam a contação enquanto os outros
estudantes faziam teatro do que ia sendo contado. Apresentaram histórias de humor (O
Pássaro Lapão, O País dos Chapéus), Conto Chinês, história reflexiva (Chapeuzinho Verde),
histórias de mistério (O Chapéu, A Boca do Chapéu) e história fantástica (A Menina do
Chapéu). Apesar do nervosismo presente, todos fizeram uma boa apresentação e passaram
pela aprendizagem de falar em público, desenvolver a oralidade e utilizar um ambiente fora de
sala de aula. Superaram medos e conquistaram novas habilidades. Além dos alunos e seus
familiares, também estavam presentes, no evento, pessoas da comunidade.
O projeto de leitura da Escola Carlos Maffezzolli foi dividido nas seguintes partes:
“Antes, durante e depois” das leituras. O “Antes” foi o momento de ouvir, no qual os alunos
se deliciaram com as histórias contadas por Emiliano e Lieza. Emiliano apresentou o conto “O
homem que enxergava a morte” do livro “Contos de enganar a morte”, que são narrativas
populares, recolhidas e recontadas por Ricardo Azevedo. Lieza contou “Chapeuzinho
Amarelo” de Chico Buarque. Aqui também foi passado o chapéu a fim de recolher algumas
moedas na ajuda de custo para os contadores de histórias. Foi um momento importante para
os estudantes, pois o saber ouvir é uma aprendizagem de linguagem atualmente pouco
desenvolvida nas escolas. Na conversa que tiveram em seguida com os contadores, os alunos
aprenderam algumas técnicas de contação. Postura corporal, entonação de voz, maneiras
diversas para decorar um texto, foram assuntos discutidos entre a plateia ouvinte e atenta.
Nas aulas posteriores, denominadas “durante a leitura”, os envolvidos no projeto
passaram para a teoria da leitura e pesquisaram textos informativos sobre o tema chapéu. Em
Contação de Histórias dos alunos do Colégio Energia de Brusque
livros e na internet, os discentes tiraram o chapéu para o Pinóquio, Peter Pan, Chapeuzinho
Vermelho e as bruxas dos contos de fadas. Descobriram a cartola, o chapéu chinês, o chapéu
Panamá e os típicos alemães. Emocionaram-se com o chapéu do Indiana Jones, do Willy
Wonka, Charlie Chaplin e Chapeleiro Maluco. Chegaram perto do chapéu usado na
Oktoberfest de Blumenau, da formatura, aquele usado pelo avô na roça e até o gorro do Papai
Noel. Aprenderam que há pessoas que usam chapéus para se proteger do sol, da chuva ou do
frio, há os que usam chapéus como alegoria (carnaval, aniversário), outros como status (na
religião, no casamento). Questionaram o porquê de tirar o chapéu, ou o boné quando se está
na igreja ou sala de aula, o respeito que se tem ao tirar o chapéu no cantar de um Hino, enfim,
em duplas, os pesquisadores fizeram descobertas até então desconhecidas para eles. O ouvir e
ler foram de relevante contribuição, pois ajudaram na reflexão e aprofundamento da leitura.
Toda essa busca de leituras e pesquisas, além da discussão do filme “Alice no país
das maravilhas” dirigido por Tim Burton, com destaque para o Chapeleiro Maluco, resultou
na socialização de textos informativos referentes ao tema e, com apoio da disciplina de Artes,
os alunos confeccionaram um “chapéu maluco”. As turmas montaram uma minifeira e
levaram ao conhecimento dos demais alunos do Ensino Médio suas descobertas. Havia
chapéus típicos de um determinado local como, mexicanos, chineses; chapéus de personagens
famosos na literatura e no cinema, como Chapeuzinho Vermelho, bruxa, Robin Hood;
chapéus usados em diversas religiões; chapéus alegóricos, usados no carnaval, em
aniversários; chapéus usados para proteção do sol, em guerras ou somente para ornamentação.
Foi uma verdadeira festa de chapéus, vindos de todas as partes do mundo e de épocas
diferentes. Realizou-se também uma pesquisa entre os alunos: para quem você tiraria o
chapéu e para quem não tiraria? Essas atividades de leitura valorizaram o trabalho dos
estudantes que se sentiram úteis ao socializar o projeto.
Socialização das leituras descobertas sobre o tema e exposição de vários modelos de chapéus na Minifeira realizada na E.E.B. Prof. Carlos Maffezzolli
O produto final do projeto dos alunos da Escola Carlos Maffezzolli foi realizar
apresentações de histórias a partir de todas as leituras feitas, tanto informativas quanto
literárias no auditório da escola. Como este projeto iniciou em meados do segundo semestre
de 2010, não houve tempo hábil para terminá-lo. A proposta então foi apresentar no evento do
Sarau Literário do ano seguinte. No início de 2011, as duas turmas, já no 2º ano, divididas em
nove grupos, apresentaram no XI Sarau Literário, no formato de contação de histórias, suas
criações. As apresentações mesclaram contos de fadas, histórias de colonos, portugueses,
alemães e italianos com seus respectivos chapéus, a história do roubo de uma cartola do Slash,
ex-guitarrista do Guns N’ Roses, e uma sátira do antigo programa “Para quem você tira o
chapéu?” do Raul Gil, da televisão brasileira.
Com certeza as apresentações realizadas pelos alunos revelaram o grande potencial
que trazem consigo, externando o mesmo em oportunidades como este projeto.
Alunos contando uma história de colonizadores com seus respectivos chapéus no Sarau da Escola de Ed. Básica Professor Carlos Maffezzolli
Considerações Finais: Refletir para aprender sempre
Trabalhar com um projeto em sala de aula diversifica conteúdos e formas de se
atingir um objetivo, além disso, deixa a aula mais dinâmica, pois o projeto por si só já tem a
proposta de dar vida nova ao aprendizado. Os alunos deixam de ser meros expectadores e
receptores de conteúdos para serem produtores de conhecimento, responsáveis pelo que estão
aprendendo. Interagem mais entre si e com o professor e, consequentemente, demonstram
mais interesse e aproveitam mais as aulas.
Todos esses aspectos foram observados nas aulas e nos alunos dos dois colégios. As
professoras não eram as detentoras do saber, os alunos sentiram que tinham importância e que
o trabalho que desenvolveriam seria de grande valor. Foi muito recompensador ver os alunos
pesquisando, lendo e, muito mais, estudando os textos com os quais trabalharam e depois
trocando ideias entre si e também com as professoras. Os alunos tornaram as aulas
interessantes e se esforçaram para mostrar um bom resultado. Não se contentavam em
apresentar um trabalho pela metade, queriam mostrar que eram capazes, usaram criatividade.
Aprenderam que ler pode ser divertido e que é muito importante para poder expressar o
conhecimento que adquirem.
Composição do cenário da contação de histórias do XI Sarau Literário da Escola Carlos Maffezzolli
A professora Roseane considera projetos deste âmbito muito positivos. Quem se
envolve, tanto professor quanto aluno, além de instigar a leitura e pesquisa, desenvolve
capacidades de comunicação e oportuniza novas vivências, experiências e aprendizagens. A
criatividade dos alunos foi um elemento que muito esteve em evidência, entre outros valores
que um projeto desta envergadura demanda. A escola passou a respirar outros ares, ganhando
vida. A rotina foi quebrada e o novo foi permitido proporcionando a esperança nos indivíduos
envolvidos. Compete aos profissionais inseridos na escola produzir novas relações e práticas
pedagógicas. O projeto “É de tirar o chapéu” foi uma experiência singular.
Para a professora Suy Mey, o projeto também foi positivo e importante, porque
mostrou que há possibilidade de se estudar diferentes conhecimentos e de se desenvolver
diferentes habilidades de uma forma menos tradicional e mais significativa tanto para alunos
como para o professor. Ainda, ensinou que, por ser dinâmico, o projeto nem sempre acontece
exatamente como planejado, ele pode ir se modificando ao longo do caminho devido às
necessidades e/ou limitações que vão se apresentando (para este projeto de leitura, por
exemplo, teve-se a ideia de fazer uma interação entre os alunos das duas escolas com um café
ou chá como o que acontece na história Alice no País das Maravilhas, porém não foi possível
a sua realização), mas o importante é alcançar os objetivos. Outro ponto é que o projeto pode
ser aplicado novamente e, assim, pode-se procurar contemplar o que não foi conseguido da
primeira vez. Também, ao aplicá-lo novamente, o projeto pode ser revisado, reescrito,
melhorado.
Indiscutivelmente, o envolvimento, a dedicação de todos os participantes, desde a
ideia do projeto, as leituras, as produções, bem como as socializações, merecem destaque,
pois houve um engajamento positivo que só agregou esforços. Pode-se dizer que foi um
projeto de tirar o chapéu.