davi argemiro henrique cardoso de oliveira · relacionados ao tema em questão, cujos fundamentos...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE
CENTRO E SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL
UNIDADE ACADÊMICA DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
DAVI ARGEMIRO HENRIQUE CARDOSO DE OLIVEIRA
HOMINIS PLENUM:
UMA EPISTEMOLOGIA ECOLÓGICA FUNDAMENTADA NA ENCÍCLICA LAUDATO SI
Patos
2016
DAVI ARGEMIRO HENRIQUE CARDOSO DE OLIVEIRA
HOMINIS PLENUM:
UMA EPISTEMOLOGIA ECOLÓGICA FUNDAMENTADA NA ENCÍCLICA LAUDATO SI
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da Universidade Federal de Campina Grande, Campus de Patos/PB, como parte das exigências para a obtenção do grau de Licenciado em Ciências Biológicas.
Orientador: Profº. Drº. VENEZIANO GUEDES DE SOUSA RÊGO
Patos
2016
“Quero eu desprender da real situação que se
encontra o meu intelecto, queria que a filosofia penetrasse na minha epiderme como
um organismo microscópico, e adentrasse no meu sistema sanguíneo e chegasse
ao meu sistema nervoso e renovasse os meus pensamentos para que mim
transformasse em um novo ser”.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiro a ser divino onipotente onisciente que esteve sempre presente
em minha vida “Deus” por me permitir chegar até este momento, pois se não fosse
com a sua proteção não teria conseguido.
À minha família que foi e é a minha base onde todos sempre me apoiaram. Que
sempre estiveram ao meu lado nos momento difíceis e nos momentos de alegrias e
glórias.
Aos meus grandes mestres (Profº. Jair Moisés) que foi um grande incentivador
me fazendo acreditar que eu seria capaz de concluir este trabalho, através da sua
paciência, dedicação e empenho. Ao mestre (Veneziano) que tive a honra de tê-lo
como professor durante a graduação e nesta etapa final do curso como meu
orientador. A (Profª. Fátima Lucena) e (Profº. Pablo Tadeu) por aceitar a fazer parte
deste momento que é único para mim. E por fim, aos verdadeiros amigos que
torceram e torcem por minha vitória.
RESUMO
O presente trabalho propõe discutir a noção de ecologia integral da Carta Encíclica e comparar essa ideia com conceitos de ecologia de livros do ensino superior observando se seus aspectos ecológicos integram os humanísticos. O trabalho está dividido em três partes. A primeira parte, ou primeiro capítulo, consistiu de uma discussão acerca da noção de Ecologia Integral proposta pelo Papa Francisco em sua Encíclica Laudato Si, enquanto o segundo capítulo enfocou conceitos de ecologia de livros didáticos de ensino superior. Seguidamente, a terceira parte, apresentou considerações sobre as ideias confrontadas. Metodologicamente o trabalho teve como base livros e periódicos científicos relacionados ao tema em questão, cujos fundamentos foram os ideais de uma ciência da complexidade e de princípios epistemológicos observando Edgar Morin, e estudiosos atualizados da ecologia em livros de ensino superior, entre esses, Dajos (2005), Townsend e colaboradores (2007), Begon e colaboradores (2007), Ricklefs (2009), Ricklefs ( 2003). Esta discussão, remetendo-nos a uma epistemologia ecológica que busca incentivar o debate teórico-filosófico sobre a cultura humana nas relações ecológicas. Diante disto, a fragmentação dos conceitos de ecologia descritos nos livros de ensino superior distancia o homem da ideia real de natureza. Considera-se que a noção de ecologia integral do Papa Francisco deve ser levada em consideração pois preenche a lacuna deixada pela omissão da participação da cultura humana nas relações ecológicas.
Palavras-chave: Complexidade. Ética ecologia. Humanismo.
This paper aims to discuss the notion of integral ecology of the Encyclical and compare this idea with higher education books ecology concepts observing whether its ecological aspects integrate humanistic. The work is divided into three parts. The first part, or first chapter, consisted of a discussion of the concept of Integral Ecology proposed by Pope Francis in his Encyclical Laudato Si, while the second chapter focused on concepts of ecology textbooks for higher education. Thereafter, the third part, on the considerations presented confronted ideas. Methodologically the work was based on scientific books and periodicals related to the topic in question, whose foundations were the ideals of a science of complexity and epistemological principles watching Edgar Morin, and current students of ecology in higher education books, among these, Dajos ( 2005), Townsend et al (2007), Begon et al (2007), Ricklefs (2009), Ricklefs (2003). This discussion by referring us to an ecological epistemology that seeks to encourage the theoretical-philosophical debate on human culture in ecological relationships. Thus, the fragmentation of ecological concepts described in higher education books distance man from the real idea of nature. It is considered that the concept of integral ecology of Pope Francis should be taken into consideration because it fills the gap left by the failure of the participation of human culture in ecological relationships.
Key words: Complexity, ecology ethics, humanism
SUMÁRIO
A ESSÊNCIA E O PROTOS 10
CAPITULO 1 12
LAUDATO SI: UM DISCURSO EPISTEMOLÓGICO A CERCA DAS RELAÇÕES ECOLÓGICAS
12
1. Uma consciência religiosa- cientifica e humana 13
2. O sentido humano da ecologia 15
3. Poluição da casa comum 15
4. O Clima da nossa casa comum 16
5. Recursos naturais e biodiversidade da casa comum 17
6. A ecologia da nova aliança 18
7. Ecologia Integral 19
CAPITULO 2 21
A Ecologia Moderna da Separação 21
1. Ecologia em sua essência 22
2. A Ecologia da Biologia Moderna e sua fragmentação 24
3. Ecologia de Sistema 24
4. Ecologia Evolutiva 25
5. Novas ecologias 25
6. Ecologia Humana 26
7. Ecologia Cultural 26
CONSIDERAÇÕES 28
1. Ecologia Integral x Ecologia da Separação 29
BIBLIOGRAFIA 32
10
A ESSÊNCIA E O PROTOS
O espírito deste trabalho foi iluminado pelas Ciências da Complexidade.
Discutiremos a importância de uma “ecologia integral” sob a ótica de uma visão
humanística, social, cultural e espiritual contida na Encíclica Papal Laudato Si do
Papa Francisco. Segundo Almeida (2015, p. 26), este documento Papal é “uma
teologia encarnada no mundo que interconecta as dimensões físicas, biológicas,
ambientais políticas, culturais e espirituais”.
Atualmente a ecologia é um dos temas mais debatidos, em todas as áreas de
conhecimento, tanto nos aspectos filosóficos, biológicos como químicos. Essa nova
concepção de ecologia, sedimentada pelo Papa Francisco, une vários aspectos da
natureza humana como: a cultura, a política e a sociedade a aspectos biológicos e
científicos, desmistificando a ideia de uma crise ecológica baseada em dois
parâmetros chaves, o ambiental e o social, mas sim uma única e complexa crise
socioambiental. Para o Papa Francisco, “os problemas atuais requerem um olhar
que tenha em conta todos os aspectos da crise mundial, proponho que nos
detenhamos agora a refletir sobre os diferentes elementos duma ecologia integral,
que inclua claramente as dimensões humanas e sociais” (p. 43).
Há uma necessidade de uma relação mais sólida entre o homem e o ambiente,
que proporcione uma consciência humanística e um maior empenho da sociedade
frente aos fatores ecológicos.
A ecologia integral de Francisco é, “uma sugestão e uma estratégia para
compreender o mundo e o homem de forma múltipla, diversa e interligada”
(ALMEIDA, 2015).
Não buscamos aqui destruir os conceitos descritos nos livros acadêmicos, mas
sim fortalecer uma ecologia que parece fragilizada com algumas visões distorcidas
sobre si mesma. Buscamos introduzir o homem de forma mais clara nas abordagens
ecológicas, reduzindo o hiato entre os sujeitos e a ecologia.
Para o melhor entendimento, dada a delicadeza do tema, não é pretensão deste
trabalho diminuir quaisquer contribuições da ecologia, mas pelo contrário, propor
elementos para compreensão de relações ecológicas. A ecologia como ciência será
aqui considerada como uma cultura humana, assim como as artes, a política e a
música. Não acreditamos na neutralidade cientifica proposta pelo positivismo-
11
cartesiano-newtoniano, pois os pensamentos dos sujeitos, inclusive o pensamento
cientifico é um somatório das experiências, temores, crenças.
Diante da realidade paradoxal entre as ideias de ambas as vertentes (ecologia
integral versus ecologia dos livros de ensino superior) questionou-se: “a
fragmentação da ecologia estaria distanciando o homem da real noção de
natureza”?
Frente a condição de vida humana, sua complexidade e exemplos cada vez
maiores de desumanidade justificam-se novas pesquisa capazes de discutir nossa
realidade mais imediata.
O objetivo deste trabalho foi discutir a noção de ecologia integral da Carta
Encíclica e comparar essa ideia com conceitos de ecologia de livros do ensino
superior observando se seus aspectos ecológicos integram os humanísticos.
O trabalho está dividido em três partes. A primeira parte, ou primeiro capítulo,
consistiu de uma discussão acerca da noção de Ecologia Integral proposta pelo
Papa Francisco em sua Encíclica Laudato Si, enquanto o segundo capítulo enfocou
conceitos de livros didáticos de ensino superior. Seguidamente, a terceira parte,
apresentou considerações sobre as ideias confrontadas.
Metodologicamente o trabalho teve como base livros e periódicos científicos
relacionados ao tema em questão, cujos fundamentos foram os ideais de uma
ciência da complexidade e de princípios epistemológicos observando Edgar Morin,
bem como observou estudiosos atualizados da ecologia em livros de ensino
superior, entre esses, Dajos (2005), Townsend e colaboradores (2007), Begon e
colaboradores (2007), Ricklefs (2009), Ricklefs ( 2003).
13
Uma consciência religiosa-cientifica e humana
A Encíclica vem colaborar com a sedimentação de um novo conhecimento
ecológico, preconizado pelos pensadores dos movimentos ambientalistas das
ultimas décadas dando origem a um grande debate público, remetendo a sociedade
civil um notável compromisso de dedicação com a natureza.
O pensamento ambientalista, segundo diversos autores (Pepper, Worster,
O´Riordan), não é recente, remontando ao século XVIII, quando uma visão
romântica, arcadiana, idealizava a vida simples e rural [...] (HERCULANO, 1992, p.
3).
O movimento ambientalista brasileiro surgiu do processo cognitivo de vários
agentes vindos de diferentes ambientes sociais e econômicos (COSTA, 2016, P. 2),
inicialmente foi impresso na história do homem pelos teólogos e filósofos, cujo
pensamento se baseava em colocar foco sobre Deus e a natureza (PORTAL
EDUCAÇÃO, 2013 apud MIRAMEZ; MAIA, 1997). Um dos objetivos da manifestação
ambientalista é a recuperação de espaços degradados (BEHRENDS, 2011, p. 22).
O movimento ecológico mundial tem se fortalecido com o apoio de muitas
organizações da sociedade civil, buscando combater os grandes problemas
ambientais ocorridos no nosso Planeta através de acordos internacionais tais como:
cimeira discutida no Rio de Janeiro de 1992 que remeteu a Declaração de
Estocolmo (1972); a Convenção de Brasília; a Convenção de Viena e A Conferência
das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, chamada Rio+20, que
ocorreu em 2012 no Rio de janeiro/Brasil..
Qual é a verdadeira visão que temos do planeta em que vivemos? Quais são os
aspectos presentes nesta vida planetária que nos interessa? Podemos nos
considerar conscientes das atrocidades que cometemos sobre o nosso planeta, aqui
denominado de “casa comum”?
Percepções distorcidas sobre a “casa comum”, habita o ideário humano. O Papa
Francisco, em sua carta papal Laudato Si, considera que a nossa casa comum, se
“comparar ora a uma irmã, com quem partilhamos a existência, ora a uma boa mãe,
que nos acolhe nos seus braços” (FRANCISCO, 2015, p.1).
Para Morin (2010) em seu livro “o paradigma perdido: a natureza humana”, “não
foi um delírio romântico considerar a natureza como um organismo global, como um
14
ser matricial, se tiver o cuidado de recordar que esta mãe é criada pelos próprios
filhos”. Com palavras diferentes do contexto cientifico, mas com igual sentido,
Francisco afirma que essa mãe (o planeta TERRA) tão dedicada que nos sustenta e
nos governa, geme de dor devido às agressões sofridas pelos referidos filhos que
tanto ela preza, devido ao uso indiscriminado dos recursos naturais, onde o ser
humano se vê como proprietário e dominador, autorizado a saqueá-la.
O Papa nos incita a uma reflexão sobre uma ecologia sustentável integral, nos
trazendo uma nova consciência ecológica. Ressalta Almeida (2015) que, “trata-se de
uma concepção que recoloca o homem no lugar de „artífice e coadjuvante da criação
do mundo e recriação da humanidade”. É necessário que tenhamos uma visão mais
global da ecologia, onde essa ecologia envolva o aspecto socioambiental que
interligue o homem com a natureza, fazendo assim uma ponte entre a religião e
ciência. Segundo Francisco (2015), quando falamos de “meio ambiente”, fazemos
referência a particular relação: a relação entre a natureza e a sociedade que a
habita. Isto nos impede de considerar a natureza como alguma coisa separada de
nós ou como uma mera moldura da nossa vida. Estamos incluídos nela, somos parte
desta natureza e compenetremos-na (FRACISCO, 2015, p. 44).
Todas as atitudes e ações dos seres humanos estão ligadas com a real situação
que se encontra nossa “casa comum”, devastado pela ação e descompromisso da
humanidade, não percebendo que cuidar do ambiente é fator social, e esquecendo-
se, da mesma forma, que a desigualdade social, é um dos fatores que fragiliza ainda
mais nossa “mãe-terra”. São os fatores dessa desigualdade que nos traz as
consequências de uma pobreza devastadora, fazendo com que os mais pobres
sofram o reflexo de uma intensa degradação imposta sobre nosso planeta.
O Papa Francisco em sua carta papal, a chama o planeta terra de “a casa
comum”, uma forma mais complexa de conceber a vida, nos mostrando que todos
os fatores que levam a crise ecológica, estão interligados tanto aos fatores químico-
físicos-biológicos como a fatores sociais, culturais, éticos e morais. Nos mostra o
referido autor, que o homem está ligado diretamente a natureza, onde ele participa
efetivamente de todos os fatores negativos ou positivos impostos sobre o ambiente
planetário.
O homem esquece-se que não é criador de si próprio, nem donos de “si”, pois ele
é formado de espirito e matéria, mesmos elementos que forma a natureza, e que de
15
certa forma, fazemos parte desta natureza que nos envolve como filhos de um ser
celeste que a tudo e a todos deu origem.
O homem com sua visão errônea, dotado de egoísmo e superioridade, começa a
se marginalizar tornando-se um dos principais agressores de uma riqueza, onde seu
comprometimento é o de cuidar e não o de destruir. Porém, a sua consciência está
distante do ser supremo de amor e bondade que é “Deus”, onde ele não o
compreende como celeste, se tornando assim um degradador e devastador de um
tanto tão precioso. A degradação da natureza está estreitamente ligada à cultura
que molda a convivência humana (FRANCISCO, 2015). Assim, até quando vamos
negar as nossas raízes, e aceitar que somos partes desta natureza tão sublime e
real, que só nos trazem o bem estar e o conforto da vida?
O sentido humano da ecologia
É urgente, o desafio de proteger a nossa “casa comum”, e buscar unir toda a
família humana para que haja um desenvolvimento sustentável e integral
(FRANCISCO, 2015). A ação humana age de maneira voraz, em um ritmo rápido
onde a lenta e natural evolução biológica não acompanha. Tais ações degradadoras
da “casa comum” provocam mudanças no planeta, paradoxalmente necessárias,
mas preocupante quando prejudica a manutenção da vida planetária.
Poluição da casa comum
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2016), 92% de todas as
pessoas do planeta vivem em lugares onde a qualidade do ar está fora dos padrões
mínimos propostos pelas agências reguladoras mundiais. A poluição que afeta
diariamente as pessoas, causa problemas de saúde principalmente aos pobres, em
cuja população ocorre o maior índice de mortes prematuras.
As doenças ocorrem devido aos fatores presentes: em fumaça produzidas pelos
combustíveis utilizados para cozinhar, aquecer-se, locomover-se, ou ainda, pelas
indústrias, descargas de substâncias no solo e na água. Fertilizantes, inseticidas,
fungicidas, pesticidas e agrotóxicos em geral que ocasionam a acidificação do solo
são fatores causadores de doenças.
16
Em 2012, cerca de 12% de todas as mortes no mundo foram por causa da
poluição dentro e fora de casa. Em geral desencadeadas por infartos, AVCs, câncer
de pulmão e outras doenças respiratórias (OMS, 2016). Para Francisco (2015), tais
produtos não são biodegradáveis e o nosso planeta TERRA assemelha-se, cada dia
que passa, a uma grande lixeira. A cultura do descarte é o fator primordial para este
problema, afetando efetivamente a vida da humanidade, excluída como as coisas
que se convertem rapidamente em lixo. Em contra partida o funcionamento dos
ecossistemas naturais é exemplar: as plantas sintetizam substâncias nutritivas que
alimentam os herbívoros; estes, por sua vez, alimentam os carnívoros que fornecem
significativas quantidades de resíduos orgânicos, que dão origem a uma nova
geração de vegetais.
O Clima da nossa casa comum
O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, 2007), atribui
responsabilidade pelo aquecimento global à humanidade. O clima é um bem comum
para a vida humana e um fator complexo que um simples sistema, tem a ver com
muitas condições essenciais à vida humana, afirmou Francisco (2015).
Estudos tem mostrado um grande aumento nos indicativos de aquecimento do
sistema climático. Outros fatores, tais como o vulcanismo, as variações da órbita e
do eixo terrestre e o ciclo solar contribuem para esse panorama. Porém, numerosos
estudos científicos indicam que a maior parte do aquecimento global das últimas
décadas é devida à alta concentração de gases causadores de efeito estufa (dióxido
de carbono, metano, óxido de azoto entre outros) emitidos sobre tudo por causa da
atividade humana.
As mudanças climáticas não são apenas implicações ambientais, mas sociais,
econômicas, distributivas e políticas, sendo um dos principais desafios para a
humanidade (FRANCISCO, 2015).
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Recursos naturais e biodiversidade da casa comum
A situação dos recursos naturais é preocupante, pois, devido ao grande
desperdício provocado pelos países mais desenvolvidos e os setores mais ricos da
sociedade, a exploração desses recursos tem atingindo níveis preocupantes. A
realidade da qualidade da água potável só piora nos remetendo rumores sobre um
assunto que traz um grande prejuízo para a sociedade que é a privatização dos
órgãos responsáveis pelo tratamento e distribuição deste liquido precioso. Segundo
o Papa Francisco, “o acesso à água potável e segura é um direito humano
essencial, fundamental e universal, porque determina a sobrevivência das pessoas
e, portanto, é condição para o exercício dos outros direitos humanos” (FRANCISCO,
2015, p. 10).
Como se pode resolver a questão da pobreza no planeta se a humanidade
consome descontroladamente todos os recursos existentes no nosso planeta terra?
Consequentemente, a “casa comum” sofre uma grande perda de biodiversidade
devido às atitudes imediatistas da humanidade. Há uma grande devastação de
nossas florestas e bosques, causando perca de espécies que talvez no futuro possa
ser extremamente importante, não só para questão de alimentação, como no
controle de doenças ou até mesmo a cura.
O crescimento populacional descontrolado de muitas cidades está se tornando o
ambiente insalubre para se viver. Com esse crescimento desmedido não é só o
problema da poluição que se torna um índice desfavorável para a humanidade, mas,
os problemas de transportes, poluição e acústica.
Diante disso, a escassez de recursos naturais e a diminuição da biodiversidade
não deve ser compreendida, apenas, com uma questão ambiental, mas igualmente
no seu aspecto social, política e cultural. As relações entre os humanos interligam-
se, de forma complexa, ao todo das relações biológicas. Uma ecologia apenas
ambiental, que exclui a cultura humana é incompleta e inconsistente para entender
os problemas ambientais.
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A ecologia da nova aliança
Na mesma proporção que degradamos o ambiente natural, degradamos ainda o
ambiente humano, pois temos que entender primeiramente a degradação humana e
social, para podermos compreender de que maneira podemos combater os
problemas da degradação ambiental de nosso planeta. Temos que compreender
intimamente os nossos conflitos morais éticos e espirituais, cujas consequências
atingem em especial os mais frágeis (FRANCISCO, 2015).
Para Francisco (2015), a nossa terra clama por ajuda assim como os pobres,
uma coisa liga a outra, é como se houvesse uma ligação entre os fatores humano
social e o ambiental. Não podemos mais enxergar esses problemas de maneira
fragmentada, pois o uno e o múltiplo se unem, os antagônicos não se excluem, mas
se completam.
Como um carrasco fiel ao seu dono, o ser humano dotado de egoísmo e cobiça,
provoca situações de gemido na irmã terra, não sendo um ferimento superficial, mas
profundo que além de ferir, fere os abandonados do mundo onde eles gemem juntos
de dor (FRANCISCO, 2015, p. 1). Nos últimos dois séculos ferimos intensamente a
nossa “casa comum”, agindo como criaturas irracionais, sem pensar no futuro
daqueles que estão por vir.
O problema ambiental é bem maior do que pensamos. Devemos nos dedicar de
corpo e alma ao combate contra a degradação ambiental e fazer um alerta
planetário sobre a real situação da nossa casa comum (FRANCISCO, 2015).
“Quando falamos de «meio ambiente», fazemos referência também a uma particular
relação: a relação entre a natureza e a sociedade que a habita” (FRANCISCO, p.
44).
Para Francisco, temos que compreender a complexidade da crise ecológica e
suas múltiplas causas e entender que o caminho para solução não é único, pois:
É necessário recorrer também às diversas riquezas culturais dos povos, à arte e à poesia, à vida interior e à espiritualidade. Se quisermos, de verdade, construir uma ecologia que nos permita reparar tudo o que temos destruído, então nenhum ramo das ciências e nenhuma forma de sabedoria pode ser transcurada, nem sequer a sabedoria religiosa com a sua linguagem própria (Francisco, 2015, p. 20).
19
A cultura participa efetivamente dos preceitos ecológicos, todos os aspectos de
uma comunidade ou população afeta indireta ou diretamente sobre os fatores
ecológicos do ambiente. Não podemos desconsiderar que os termos sociais
fortalece ainda mais estes preceitos humanos.
Ecologia Integral
A Encíclica em questão, remete a um maior empenho da humanidade em
combater as chagas presentes em nosso planeta, que afetam diretamente a
natureza e degrada a “casa comum”. Para Francisco, a humanidade encontra-se
escrava do modo capitalista que visa apenas imediatismo e egoísmo, causando
assim um desarranjo social e econômico.
Francisco nos remete a uma nova ideia de ecologia apoiada na ética ecológica
preconizada pelos pensadores do movimento ambientalista das décadas de 60,70,
80 e 90, a qual é descrita como ecologia integral. Para esse autor, o urgente desafio
de proteger a nossa casa comum inclui a preocupação de unir toda a família
humana na busca de um desenvolvimento sustentável e integral, em várias
dimensões. A ecologia integral:
(...) é inseparável da noção de bem comum, princípio este que desempenha um papel central e unificador na ética social. É o conjunto das condições da vida social que permitem, tanto aos grupos como a cada membro, alcançar mais plena e facilmente a própria perfeição (Francisco, 2015, p.49).
Essa nova ecologia nos remete a uma visão mais aguçada, interligando assim as
dimensões humanas e sociais ao meio ambiente. Para Francisco (2015, p. 43),
devemos “refletir sobre os diferentes elementos duma ecologia integral, que inclua
claramente as dimensões humanas e sociais”. É preciso demonstrar que todos os
fatores existenciais estão interligados como uma teia, como se fosse uma Orquestra
de sinfonia, onde a falta de um componente causaria um colapso na execução de
uma nota musical, que essa nota musical possa ser chamada aqui de “vida”.
Para Edgar Morin (1975) a concepção ecológica discutida por Francisco,
desenvolve uma concepção contrária à ideia vigente, de que não há separação
fundamental entre homem e natureza. Sendo assim, “é fundamental buscar soluções
integrais que considerem as interações dos sistemas naturais entre si e com os
20
sistemas sociais” (FRANCISCO, 2015, p. 44) e trazer o ser humano às suas origens,
mostrando a humanidade que sua essência é a própria natureza1.
1 Papa Francisco. “A natureza nada mais é do que a razão de certa arte – concretamente a arte divina
– inscrita nas coisas, pela qual as próprias coisas se movem para um fim determinado”. Francisco, 2015. p. 26. LENOBLE.“... ao mesmo tempo que se aplica ao conjunto das coisas ...designa também. ... um princípio considerado produtor do desenvolvimento de um ser e que realiza nela um certo tipo de ação”. Dulley, 2004. p. 2.
22
Ecologia em sua essência
A ecologia é um dos temas mais discutidos no mundo. Para podermos falar da
ecologia há uma necessidade de se entender as relações existenciais entre os
organismos vivos e o ambiente.
Como definimos ecologia? De acordo com Townsend et al (2010), a ecologia
(originalmente em alemão: Ökologie) foi definida pela primeira vez em 1866 por
Ernst Haeckel, considerado o pai da ecologia, que foi um entusiasta e influente
discípulo de Charles Darwin. A palavra é derivada do grego oikos, que significa
“casa” (TOWNSEND et al 2007). Em 1870, o próprio Ernst Haeckel deu à palavra
ecologia um significado mais abrangente:
Por ecologia, queremos dizer o corpo de conhecimento referente à economia da natureza – a investigação das relações totais dos animais tanto com o seu ambiente orgânico quanto com seu ambiente inorgânico; incluindo, acima de tudo, suas relações amigáveis e não amigáveis com aqueles animais e plantas com os quais vêm direta ou indiretamente a entrar em contato – numa palavra, ecologia é o estudo de todas as inter – relações complexas denominadas por Darwin como as condições da luta pela existência (RICKLEFS, 2009, p. 2).
Ela possui sutileza e complexidade particulares em parte porque distingue-se por ser peculiarmente defrontada com “singularidades”: milhões de espécies diferentes, incontáveis bilhões de indivíduos geneticamente distintos, todos vivos e interagindo em um mundo variado e sempre em transformação (TOWNSEND et al 2010, p. 19).
Para Haeckel, a ecologia é uma ciência que surgiu para estudar as relações
entre os organismos e o ambiente em que eles vivem. Para Pianka (1983), a
ecologia é definida como o estudo das interrelações dos organismos com o
ambiente. Krebs (1972), “a ecologia é o estudo cientifico das interações que
determinam a distribuição e a abundancia dos organismos”. De acordo com Ricklefs
(2009, p. 2) no livro intitulado “a economia da natureza (...), a ecologia é a ciência
pela qual estudamos como os organismos (animais, plantas e micróbios) integram
entre si e com o mundo natural”.
Os autores estudados neste trabalho definem a ecologia de uma forma mais
clara. Para eles a ecologia é “o estudo cientifico da distribuição e abundância de
organismos e das interações que determinam a distribuição e abundância”
(TOWNSEND et al, 2010, p. 16). De acordo com Dajoz (2005), no livro “Princípios da
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ecologia”, a ecologia é uma ciência mais vasta, cujos limites, muitas vezes, é difícil
identificar (DAJOZ, 2005, p. 5).
Atualmente, a ecologia é um assunto que desperta atenção da população
mundial, mesmo quando não se conhece o significado exato do termo. Antes de
falar na importância da ecologia, busquemos compreender e responder os
questionamento feitos por Townsend et al (2010, p. 17), no seu livro “Fundamentos
em ecologia” as seguintes perguntas: “o que faz os ecólogos?”. “Em que os
ecólogos estão interessados?” e “Onde a ecologia emerge em primeiro lugar?”.
Nessa perspectiva imposta pelos ecólogos podemos novamente nos questionar:
“Qual a real visão que o ser humano tem da ecologia?”
A ecologia fala de um estudo da distribuição e abundância de organismos, bem
como das interações que determinam a distribuição e abundancia destes
organismos. Que ecologia é esta? Que só se preocupa com as interações,
distribuição e abundancia dos referidos organismos. Será que a cultura humana não
é parte integrante dessa ecologia? Krebs (1972, apud TOWNSEND et al, 2010, p.
16):
Lamenta que o papel central das “relações” tenha sido perdido, modificando-o para “o estudo científico das interações que determinam a distribuição e abundancia de organismo”, esclarecendo que a ecologia estava preocupada com questões como “onde os organismos são encontrados, quantos ocorrem em determinado local e por quê”.
Possamos indagar e impor nossos questionamentos sobre estas visões, da
seguinte maneira: como controlar, entender e intervir na ação devastadora causada
pela humanidade ao nosso planeta sem considerar as práticas culturais dos
sujeitos? Do que realmente fala a ecologia?
A ecologia é uma ciência que surge para estudar as relações entre os organismos e o ambiente em que eles vivem. Todavia, como Haeckel formulou este conceito quando ainda atuava no ramo da Biologia clássica, a ecologia já nasce circunscrita a aspectos biofísicos e ambientais puramente, sem levar em consideração, na sua gênese, as questões relativas aos binômios sociedade-ambiente, homem-natureza. É bem verdade também que, já nessa época, é pensado por outros autores, majoritariamente fora das ciências naturais, que a ecologia apresentava-se como uma nova ciência e que representaria tanto uma nova perspectiva de análise quanto um foro de discussão para ser garantida uma satisfatória qualidade de vida para a sociedade, devido aos primeiros abalos e problemas advindos da nova sociedade industrial. Trata-se ainda de uma disputa epistemológica de conceitos presente atualmente (MOTA, 2009, p.28).
24
Alguns autores consideram a ecologia como uma das ciências mais antigas. A
ecologia já era de grande importância para os homens primitivos, que buscavam
nela uma base para cultivar suas fontes de alimentos e compreender onde e quando
os alimentos e os seus inimigos não humanos se localizavam. Eles eram chamados
de ecólogos aplicados, procurando entender a distribuição e a abundância de
organismos, a fim de aplicar esse conhecimento para o próprio benefício coletivo
(TOWNSEND et al 2010).
Nas Ciências Biológicas, a atenção dos pesquisadores dirige-se a níveis de
organização excessivamente diferente. Dobzhansky (BEGON et al 2007, Prefácio),
defende que “em biologia nada tem sentido, exceto à luz da evolução”, então,
igualmente, na evolução e, portanto, na biologia como um todo, poucas coisas têm
sentido, exceto à luz da ecologia. Não se pode desconsiderar a importância que a
ecologia tem na biologia, mostrando de forma sucinta e clara que há uma conexão
entre todos os fatores e sistemas existente no nosso planeta, fortalecendo a ideia de
que tudo está interligado.
A Ecologia da Biologia Moderna e sua fragmentação
A ecologia da biologia moderna nos remete a várias ecologias, ocorrendo assim
uma especificidade de cada uma delas. Essas ecologias são divididas em áreas,
justificadas por terem objetivos distintos, quando na realidade são a mesma
ecologia. Os livros didáticos assumem essa postura fragmentária e implicam sobre
os alunos a ideia de várias ecologias, passando a esses uma visão desintegrada do
ambiente. Para a ciência da ecologia as mesmas são assim divididas nas seguintes
áreas:
Ecologia de Sistemas
Segundo Begossi (1993), a teoria de sistemas originou-se de áreas como
cibernética, engenharia, teoria da organização industrial, epidemiologia e psicologia
Gestalt. A aplicação de procedimentos de análise de sistemas em ecologia ficou
conhecida como "ecologia de sistemas". (ODUM, 1972 apud BEGOSSI, 1993, p. 5).
25
Buscando estudar o aspecto funcional do ecossistema, bem como o fluxo de energia
presente neste sistema do micro ao macro.
Segundo Begossi (1993), na linha de ecologia humana de sistemas destaca-se o
estudo clássico de Odum (1971). De acordo com este autor, a natureza, em sua
estrutura e função, consiste de animais, plantas, microorganismos e sociedades
humanas (ODUM, 1971 apud BEGOSSI, 1993, p. 5).
Ecologia Evolutiva
A ecologia é definida por Pianka (1983) como o estudo das interrelações dos
organismos com o ambiente, a soma total dos fatores físicos (abióticos) e biológicos
(bióticos).
A ecologia evolutiva visa compreender as relações dos indivíduos/populações
com ambiente a sua volta. O conceito de fitness (adaptabilidade) é um dos pilares da
ecologia evolutiva (BEGOSSI, 1993). Então se pode definir fitness como a
capacidade de se manter no ambiente em que se vive por mais tempo, analisando
assim o seu sucesso reprodutivo. Fortalecendo ainda mais a hipótese de seleção
natural. Nesse sentido, a seleção natural, a genética e a ecologia de populações são
o cerne da ecologia evolutiva (BEGOSSI, 1993). De acordo com Pianka (1983 apud
BEGOSSI, 1993, p. 6), a seleção natural é o único conceito em ecologia que pode
ser considerado como uma lei.
Novas ecologias
A forma de pensar a natureza como um sistema é um dos novos paradigmas da
ciência, surgidos mais expressivamente em meados do século XX. A ecologia de
tradição positivista-cartesiana começa a sofrer, timidamente, influências dessa forma
de pensar. Duas novas ecologias surgem com base nesse paradigma: a ecologia
humana e a ecologia cultural. Embora apresentadas como mais duas ecologias e
contribuindo para a fragmentação existente, já é um bom começo para admitir que
novas relações existem na interação entre os seres vivos. Em seguida
apresentamos uma breve discussão as mesmas.
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Ecologia Humana
A ecologia humana busca compreender a relação homem/ambiente, fazendo
com que haja uma maior relação saudável, baseando-se em conceitos oriundos da
ecologia da biologia moderna. Para Begossi (1993) estudar a "relação do homem
com o ambiente" inclui tantos outros fatores (como econômicos, sociais,
psicológicos) que a ecologia humana transcende a ecologia. Ela passa pelo
momento de transição ocorrendo assim uma necessidade no fortalecimento de
algumas ideias e questionamentos que a em volva.
Neste século, a ecologia humana percorreu caminhos diferentes, dependendo de
sua origem disciplinar (BEGOSSI, 1993). Ressalta Peric et. al., (2015, p. 1716), que:
Na busca da compreensão da natureza humana, o caminho mais sólido a ser percorrido parece estar, de alguma forma, na interlocução dessas diferentes áreas de conhecimento; ou seja, numa abordagem interdisciplinar, o que em certa medida é possibilitado pela teoria darwinista, na qual o debate acerca da evolução do comportamento humano é também conduzido por antropólogos e psicólogos.
De acordo com Marques (2016), a “Ecologia Humana é quando você fala com a
Natureza e escuta o Eco dela, a voz dela”. Somos todos seres vivos compartilhamos
dos mesmos recursos, não importa se a descrição de gênero, família, espécie de tal
organismo, mas o que nos interessa é a interação respeitosa entre cada sistema
vivo do nosso planeta.
Ecologia Cultural
Da interação da ecologia (evolutiva e de sistemas) com a antropologia, surge a
ecologia cultural ou antropologia ecológica. A ecologia cultural ou antropologia
ecológica nasceu nos Estados Unidos, em meados deste século, com Julian
Steward e Leslie White. Tanto Steward como White foram seguidores de Boas
(escola do particularismo histórico ou historicismo cultural) (BEGOSSI, 1993).
Segundo Begossi (1993), evolucionistas do século passado, como Tylor (1871),
Morgan (1871) e Engels (1884) influenciaram os ecólogos culturais. Ele ressalta
ainda que Orlove (1980) definiu três etapas da antropologia ecológica: a primeira,
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que inclui os trabalhos de Steward e White; a segunda, com o neoevolucionismo e
neofuncionalismo e a terceira chamada de antropologia ecológica processual.
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Ecologia Integral x Ecologia da Separação
Poderíamos nos debruçar sobre o tema ecologia e entrarmos mais
profundamente nos seus conceitos, fazendo inédito no meio científico. Ir além da
nossa imaginação, da nossa capacidade e interligar a ciência com outros saberes.
Poderíamos fugir das ideias amorfas que os livros e os autores nos remetem em
relação à definição ecológica. Por que não trazer essa ecologia para a vida, dando o
verdadeiro respeito que ela merece? Podemos debater sobre as duas ecologias
citadas anteriormente para que possamos ter uma visão mais real sobre esse
referente assunto tão discutido principalmente entre cientistas, filósofos,
ambientalistas, governantes.
A ecologia sedimentada pelo Papa Francisco nos remete a uma ecologia integral
que interliga a humanidade ao ambiente de forma mais complexa, com relação aos
fatores sociais, morais, éticos e espirituais, nos remetendo há uma epistemologia
ecológica; complementando a ecologia da biologia moderna, vista de forma
fragmentada, separando o homem da natureza. Para Buttel (1992, p. 70) “o ser
humano também é uma espécie entre muitas, e é uma parte integral da biosfera”.
Edgar Morin (2010), com uma visão mais integradora do homem na natureza
considera essa nova ecologia como:
(...) uma ciência que nasce, mas já constitui uma contribuição capital para a teoria da auto-organização do vivo, e, no que diz respeito a antropologia, reabilita a noção de natureza, na qual enraíza o homem. A natureza não é desordem, passividade, meio amorfo: é uma totalidade complexa. O homem não é uma entidade isolada em relação a essa totalidade complexa: é um sistema aberto, com relação de autonomia / dependência organizadora no seio de um ecossistema (p. 27).
As noções de ordem e desordem levantam exatamente a questão de pensar a
complexidade da realidade física, biológica e humana (MORIN, 1998). O referido
autor ainda nos remete que, “essa nova ordem desfaz a antiga concepção que
afirma: só há ciência do geral. Enfim, hoje, a ordem está ligada à ideia de interações
(MORIN, 1998).
A ecologia moderna, aqui definida como, o estudo da interação entre os
organismos vivos e o meio ambiente onde eles se desenvolvem, difere da noção de
ecologia integral, proposta pelo papa Francisco. Para Edgar Morin (2010, p. 10), “a
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nova consciência ecológica deve modificar a ideia de natureza, tanto nas ciências
biológicas, como nas ciências humanas”.
Para as ciências biológicas, a natureza era apenas a seleção dos sistemas vivos,
e não o ecossistema integrador desses sistemas. Paras as ciências humanas, as
concepções são ainda mais infundadas, pois a natureza é vista de forma “amorfa e
desordenada”. Para Edgar Morin (2010, p. 11), “a natureza não é desordem,
passividade, meio amorfo: é uma totalidade complexa”.
De acordo com Carvalho (2012, p. 65 - 66), são necessários como ponto de
partida, três princípios ou bases para o diálogo de uma ecologia integral que
precisam ser fortalecidos, conforme o esquema abaixo:
Segundo Carvalho (2012), essas são ideias – guias cuja função é impregnar o
cenário planetário, superar o sentimento de impotência, deflagrar uma ecologia da
ação voltada para a regeneração biocultural (CARVALHO, 2012, p. 66).
Finalizamos essa discussão, remetendo-nos a uma epistemologia ecológica que
busca incentivar o debate teórico-filosófico sobre a cultura humana nas relações
ecológicas. Por que não, nos libertar das amarras que separam os pensamentos
fragmentários da ciência e considerar a ideia de uma ecologia integral, preconizada
pelos pensadores do movimento ambiental? De que não há separação fundamental
entre aquilo que nos torna humanos e a natureza (MORIN, 1975, p. 227).
Sustentabilidade
Responsabilidade
Esperança
Ecologia Integral
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Lembremos de que a natureza é um grande organismo vivo, possuidor de espirito
e matéria ao qual o ser humano faz parte. Steil e Carvalho (2014, p. 163), considera
a epistemologia ecológica integral como uma “imaginação ecológica que atravessa a
vida social como uma potência criativa, redefinindo a paisagem que habitamos e as
nossas relações com os outros organismos e objetos, formam o mesmo mundo no
qual existimos”. Quebrando assim os paradigmas da dualidade moderna (natureza e
cultura/ sujeito e sociedade/ corpo e mente/ artifício e natureza/ sujeito e objeto) e
demonstrando que não há uma separação entre estes pontos, que eles fazem parte
do conjunto da obra da qual estão integrados como as partes no todo e o todo nas
partes.
A fragmentação da ecologia trazida pelos os livros de ensino superior ocasiona
um distanciamento entre homem e a natureza, causando uma perca da concepção
do que seja natureza para a humanidade, levando-a agir como ser cruel,
degradando e devastando o bem mais precioso da vida que é a “Natureza”.
A Encíclica Papal remete uma ecologia complexa, ou seja, não fragmentada,
interligando todos os fatores, científico/filosófico. Aproximando o homem da natureza
dando a ele o seu real sentido de vida, pois preenche a lacuna deixada pela omissão
da participação da cultura humana nas relações ecológicas.
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