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DANIEL NO PASSADO E NO PORVIR LUIZ DE MATTOS PARTE I CAPÍTULOS DE 1 a 6

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DANIEL

NO PASSADO E NO PORVIR

LUIZ DE MATTOS

PARTE I

CAPÍTULOS DE 1 a 6

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1

PREFÁCIO DO LIVRO DANIEL NO PASSADO E NO PORVIR

Apresentação

É extremamente honroso apresentar aos estudiosos da

Palavra de Deus este precioso trabalho do Dr. e

Evangelista Luiz de Mattos, que além de médico, é também

um servo de Nosso Senhor Jesus Cristo.

O Livro de Daniel possui uma relevância indiscutível

para toda a humanidade, as expressões “o tempo do fim” e

“últimos tempos”, recebem um enfoque profundo e bem

fundamentado no contexto da Bíblia Sagrada por parte do

autor.

Recomendo a todos os Pastores, Obreiros e irmãos

adquirirem um exemplar desta obra, certo que este livro de

Daniel é o Apocalipse do Velho Testamento.

Trata-se de uma obra didática, de cunho simples e

objetivo, à altura do conhecimento de todo aquele que se

dispuser a compreender os mistérios de Deus.

Tenho certeza que a obra é de consulta obrigatória por

todos aqueles que militam na fé que uma vez foi dada aos

santos.

Enfim, vem a lume um trabalho que preenche uma notória

lacuna na bibliografia que trata sobre as profecias

bíblicas.

A leitura do livro é palpitante e satisfaz o desejo da

alma, a interpretação das profecias neste livro é clara e

objetiva, algumas profecias já foram cumpridas e outras

cumprindo atualmente, na seqüência da complementação de

tudo que Deus mostrou a Daniel.

Cuiabá, 11de Março de l998.

SEBASTIÃO RODRIGUES DE SOUZA-

PASTOR PRESIDENTE DA CONVENÇÃO DOS MINISTROS DAS ASSEMBLÉIAS DE DEUS

NO ESTADO DE MATO GROSSO - CUIABÁ-MT.

PASTOR PRESIDENTE DAS ASSEMBLÉIAS DE DEUS EM CUIABÁ - MT.

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PREFÁCIO DO AUTOR

Esta obra é fruto de muito trabalho e de muito

sofrimento. Este livro foi fruto de mais ou menos três

anos de dedicação, tendo sido terminada a sua escrita no

ano de 1997 quando foi entregue para o pastor Sebastião

ler e prefaciar. Em seguida ele foi guardado ate agora,

quando estamos a editá-lo , pois sinto ser agora o tempo

de Deus.

O Livro de Daniel é um dos mais profundos livros da

Bíblia Sagrada.

Daniel é um profeta do Velho Testamento que profetizou

sobre a ressurreição, sobre os governos mundiais de todos

os tempos.

Daniel é também quem nos legou a profecia das Setenta

Semanas de Daniel, Esta profecia envolve o povo de Israel

e também envolve toda a humanidade envolvendo o tempo do

fim.

Daniel foi o maior homem no aspecto político, tendo

tido mais glória que José, pois este foi o primeiro homem

depois do rei, em todo um reinado universal, sendo este o

mais brilhante e próspero entre todos os demais.

Nabucodonosor foi o rei de maior glória, fora do povo de

Deus.

Daniel é um livro atual, um livro que deve ser estudado

com muito carinho e atenção.

Esta obra vem atender os interesses de todos aqueles

que querem aprender um pouco mais sobre as profecias,

passadas e por virem.

Estou à disposição para eventuais esclarecimentos ou

dar esse livro na forma de seminário para todos quantos o

desejarem, independentemente da denominação.

O Autor

O Autor é:

Dr. Luiz de Mattos

Médico formado pela UNESP, Botucatu, SP.

Professor de Matemática e Física

Formado pela USP

Ministro do Evangelho - CGADB e CONFRADESP

Contatos (019) 34066031.

Email: [email protected]

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AGRADECIMENTOS

Agradeço em primeiro lugar a DEUS, pelo privilégio de

escrever essa obra, pois foi Deus quem me iluminou através

do Espírito Santo.

Em seguida, minha esposa, que participou em todo

instante do meu trabalho e do meu sofrimento, na

realização dessa obra.

Minha esposa, novamente, porque foi ela quem fez o

trabalho de datilografia dos originais, com a colaboração

de minha filha no início do trabalho.

Ao professor Sebastião Ferri, conceituado professor

de Língua Portuguesa que tão carinhosamente leu, revisou,

corrigiu e muito contribuiu para a clareza do conteúdo do

livro.

Em seguida, ao meu Pastor Antônio Munhoz, que entre

tantas coisas e bênçãos, me levou a consagração

Ministerial, e muito me incentivou.

Ao Pastor Abraão de Almeida, que carinhosamente me serviu como exemplo de um escritor de respeitável e

merecido sucesso.

A meus filhos, que tiveram paciência comigo, enquanto me dediquei quase que exclusivamente a esse trabalho.

MUITO OBRIGADO

Dr. Luiz de Mattos

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DEDICAÇÃO

Esse livro é dedicado a minha família:

Iray Barbosa de Mattos - minha esposa

Luiz de Mattos Júnior

Ricardo Barbosa de Mattos

Clery Barbosa de Mattos

Peterson Barbosa de Mattos - filhos

Davi Weslley de Mattos

Jônatas William de Mattos

Josué Wendel de Mattos

Ian Souza Mendonça

Gabriel Lesina de Mattos

Giovana Barbosa Caíres da Silva

Natalia Barbosa Caíres da Silva

Letícia de Mattos - Netos

Americana 2008

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ÍNDICE Apresentação ......................................... 1

Prefácio do Autor .................................... 2

Agradecimentos ....................................... 3

Dedicação ............................................ 4

Introdução ........................................... 6

Invasão e Ataques a Jerusalém ........................ 12

O Porquê do Cativeiro ................................ 14

Daniel na Corte Babilônica .......... Cap.1.1-7 .... 19

O Propósito de Daniel ............... Cap.1.8-21 ... 22

Daniel e o Sonho de Nabucodonosor ... Cap.2.1-13 ... 29

Daniel recorre a Deus ............... Cap.2.14-18 .. 34

O Deus da Revelação ................. Cap.2.19-30 .. 36

A Revelação ......................... Cap.2.31-35 .. 39

A Interpretação ..................... Cap.2.36-45 .. 41

A Recompensa ........................ Cap.2.46-49 .. 46

A Estátua de Nabucodonosor .......... Cap.3 ........ 48

A Imagem de Ouro .................... Cap.3.1-7 .... 48

A Grande recusa ..................... Cap.3.8-18 ... 51

A Fornalha de Fogo .................. Cap.3.19-25 .. 56

A Exaltação ......................... Cap.3.26-30 .. 60

A Árvore Gigante .................... Cap.4.1-3 .... 64

A Visão da Árvore ................... Cap.4.4-18 ... 65

A Interpretação ..................... Cap.4.19-27 .. 71

Deus Cumpre a Profecia .............. Cap.4.27-37 .. 75

A Queda da Babilônia ................ Cap. 5 ....... 81

A Escritura da Parede ............... Cap.5.1-12 ... 82

A Interpretação ..................... Cap.5.13-29 .. 85

Daniel na Cova dos Leões ............ Cap. 6 ....... 92

A Inveja ............................ Cap. 6. 1-15 . 92

Daniel na Cova dos leões ............ Cap.6.16-28 .. 99

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6

DANIEL - INTRODUÇÃO

O Livro de Daniel tem como autor o próprio Daniel,

embora existam correntes que defendam a negação desse fato,

isto é: alegam que o Livro de Daniel foi escrito em data

posterior, por um outro autor.

Foi escrito por volta do século VI antes de Cristo. O

Livro de Daniel é considerado o Livro do Apocalipse do

Velho Testamento.

Foi escrito por Daniel, durante o exílio, durante o

período em que o povo judeu esteve cativo em Babilônia e

abrange um período que vai de 606 a.C. até por volta de 530

a.C. Foi escrito em Babilônia.

O Livro de Daniel foi escrito em parte na língua dos

judeus, o Hebraico, e em parte na língua dos Caldeus, o

Aramaico. O trecho em Aramaico é do capítulo dois, verso

quatro, até o capítulo sete, verso vinte e oito.

Daniel foi um instrumento usado por Deus a fim de

estabelecer de forma profética toda a história de Israel e,

como conseqüência, a história do mundo gentílico,

especialmente as nações gentílicas que possuíam relações

com Israel.

Daniel também foi usado para mostrar a extensão do poder

e da onisciência de Deus em relação ao mundo gentio e que

Deus é o excelso governador do universo; e que os

governantes assim como os governados estão submissos ao seu

ilimitado domínio. Daniel 4.25.

Podemos estabelecer como objetivos contidos no Livro de

Daniel:

1- Revelar o futuro de seu povo.

2- Revelar o futuro deste mundo e de toda a humanidade.

Vide Daniel 2.22

3- Revelar a soberania de Deus sobre todos os reinos e

governos terrestres. Vide Daniel 4.25

4- Revelar que Deus estabelecerá, no final desse

período, um reinado eterno, sem auxílio e sem interferência

de mãos humanas.

5- Lançar, desde então, as bases do Apocalipse, o qual

seria mais detalhado após a ressurreição de Jesus.

6- Estabelecer de forma definitiva a extensão do período

de governo humano, fixando na história porvir, quatro

grandes impérios universais e, como conseqüência,

estabelecer quando e como será o final desse período.

7- Mostrar que Deus castiga o seu povo, mas não o

desampara à mercê de si próprio.

8- Mostrar que Deus é zeloso no cumprimento de suas leis

e profecias.

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Estudando-se o LIVRO DE DANIEL pode-se estabelecer de

maneira exata e inequívoca:

a) A época em que nasceria Jesus.

b) A época de sua morte.

c) O final dessa dispensação.

d) O estabelecimento do reino Milenar e quando isso

ocorrerá.

Na seqüência histórica dos acontecimentos narrados aqui,

temos os relatos de Esdras e Neemias, lembrando que os

acontecimentos relacionados com Ester se localizam

(cronologicamente no tempo) entre os capítulos seis e sete

de Esdras.

O Livro de Daniel é um livro do Velho Testamento, mais

ou menos 600 a.C., mas está ligado ao final dos tempos,

sendo que já se passaram 2.600 anos e ainda não se cumpriu

todo o seu roteiro profético. Daniel foi citado por Jesus,

em seu ministério, e se constitui na base do Livro do

Apocalipse, escrito por João na ilha de Patmos. É também

como o Apocalipse, um livro escrito à base de símbolos. O

livro de Daniel é um livro tão atual quanto o livro do

apocalipse.

Os acontecimentos históricos registrados na história

universal ilustram e demonstram os acontecimentos

proféticos apresentados e esmiuçados aqui nesse livro, no

tocante às profecias já realizadas ou já cumpridas.

Certamente deduzimos que as profecias ainda não

cumpridas, ligadas ao final dos tempos, (por exemplo, a 70ª

semana de Daniel), cumprir-se-ão com a mesma fidelidade e

precisão com que aconteceram as já cumpridas. O Livro do

Apocalipse é, quase na totalidade, a 70ª semana de Daniel,

apresentada com detalhes que Daniel não apresentou. No

final desse período, quando estiver cumprida toda a

profecia de Daniel, não existirá mais governo humano,

encerrar-se-á o governo dos gentios e será estabelecido o

reinado eterno, cujo rei será JESUS.

O Livro de Daniel tem citações no Novo Testamento

referidas por Jesus: Mateus 24.15.

MATEUS 24.15 - Quando, pois, virdes o abominável da

desolação de que falou o profeta Daniel, no lugar santo.

(quem lê entenda).

Com essa citação de Jesus concluímos:

1- Jesus reconhece Daniel como profeta.

2- Jesus conclama a fim de que acreditemos em suas

profecias.

O livro pode ser dividido em duas partes nítidas e

distintas, a saber:

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a) Histórica.

Abrange principalmente o povo judeu.

Podemos observá-la dos capítulos iniciais até o sexto,

com exceção do capítulo dois.

b) Profética.

Estabelece o roteiro do futuro de Israel e paralelamente

mostra também o futuro de toda a humanidade.

O conteúdo profético desse livro sobre os impérios

mundiais permanece atual e ainda se estenderá até o final

dos tempos. (Os dedos da estátua de Nabucodonosor, como

veremos mais adiante).

Para entendermos melhor o Livro de Daniel, vamos nos

dedicar um pouco ao contexto histórico pouco anterior ao

início do cativeiro de Babilônia.

Bem sabemos que Nabucodonosor invadiu Israel e dominou o

reinado de Judá, levando esse povo para o cativeiro de

Babilônia, entre eles Daniel, autor do livro que nos

propomos a estudar.

A história que nos interessa, tem origem na

desobediência do povo de Israel ao Senhor, tendo o povo se

contaminado com a idolatria cujo pico foi no governo do

reinado de Manassés e de Amon, seu filho. Esses reis

fizeram o que foi mal aos olhos do Senhor, introduzindo

pesada idolatria em todo o Israel. Ver 2 Reis 24 versos 1

ao 4, onde fala desses governos. Ver também 2 Crônicas 34.

21 onde o rei Josias declara que seus pais se desviaram dos

caminhos do Senhor.

Ver ainda 2 Crônicas capitulo 33.

Regredindo ainda um pouco mais, em 2 Crônicas capítulo

34, temos o rei Josias iniciando o seu reinado, com oito

anos, reinado que durou trinta e um anos. Antes do rei

Josias a nação de Israel estava totalmente desviada dos

caminhos do Senhor, principalmente sob o reinado de

Manassés e Amon, filhos de lhos de Ezequias, porque fizeram

o que era mal aos olhos do Senhor, e introduziram uma fase

de idolatria e profanação, levando o povo a se distanciarem

mais e mais de Deus.

2 REIS 21.9 - Eles, porém não ouviram; e Manassés de

tal modo os fez errar, que fizeram pior do que as nações,

que o Senhor tinha destruído de diante dos filhos de

Israel.

Devido à obstinação desse povo, Deus determinou que

também Judá seria tirado de sua presença. 2 Reis 21.13-15.

Nesta altura o reino do norte já era cativo dos Assírios.

Quando da morte de Amon, Josias, seu filho, tinha apenas

oito anos, mas não obstante tão tenra idade começou a

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reinar, e o fez de 639 a 609 a.C., 2 Crônicas 34.1 e 2 Reis

22.1

Josias conduziu um governo de reconciliação levando o

povo de volta à presença do Senhor.

Josias fez o que era reto aos olhos do Senhor, purificou

a Judá e livrou-a da idolatria de seus pais (especialmente

Manassés e Amon).

Em 2 Crônicas capítulo 34 versos 1-7 temos a descrição

do seu trabalho. Assim, dessa forma, Josias aplacou a ira

de Deus, que já havia determinado a extradição de Judá, mas

Josias achou graça diante de Deus, a ponto de receber,

através da profetisa Hulda, a promessa de que seus olhos

não veriam o mal que viria sobre Judá. Veja 2 Crônicas

34.27,28. Assim Josias desenvolveu um reinado de paz.

No panorama das demais nações, nessa mesma ocasião,

temos o Egito conquistando extensas áreas de modo a se

constituir num grande império mundial incipiente. A

Assíria já passava por seu apogeu e já se achava em

decadência. O Egito havia conquistado há pouco a capital

dos assírios e havia constituído CARQUEMIS como base

avançada do Egito.

Em Babilônia, nessa época, era rei Nabopolassar, pai de

Nabucodonosor, que era chefe dos exércitos da Babilônia;

jovem valente e audacioso guerreiro.

Nabucodonosor havia conquistado a Carquemis, às margens

do Eufrates, e o rei do Egito, cujo nome era Faraó-Neco,

subia do Egito para livrar Carquemis da mão dos inimigos.

Mas para ir do Egito a Carquemis, é necessário passar pela

Palestina. Ao passar por Megido, que é um local estratégico

na terra dos judeus, eis que o rei Josias, apesar de seu

brilhante comportamento diante do governo em Judá, sai-lhe

ao encontro; no fundo mesmo, para provocá-lo!

Faraó-Neco se achava ali de passagem e seu destino era

Carquemis. Não tinha nenhum interesse contra Judá ou seu

rei. Ver 2 Crônicas 35.20-24. Dessa forma, Josias, fora

da direção de Deus, acabou morrendo ali em Megido, e toda a

Jerusalém chorou e lamentou a sua morte. Josias morreu em

609aC. e Judá teve o seu trono vago e subiu para reinar

Jeoacaz, filho de Josias, quando tinha vinte e três anos e

começou a reinar em Jerusalém. Mas o reinado de Jeoacaz

durou apenas três meses. Veio Faraó-Neco e depôs a Jeoacaz,

tomou o trono e colocou como rei a Eliaquim, cujo nome foi

mudado para Jeoaquim, subjugando agora o povo de Judá ao

Egito. Faraó-Neco obrigou Judá a pagar tributos ao Egito,

e os judeus passaram então a pertencer ao império Egípcio.

Quanto a Jeoacaz, foi levado para o Egito onde morreu.

Veja 2 Reis 23.31-37.

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Esse rei Jeoaquim, que estava submisso ao Egito, foi o

rei em cujo terceiro ano de reinado se deu a invasão de

Nabucodonosor sobre Jerusalém, dando início ao cativeiro de

Babilônia em 606 a.C.

Jeoaquim tinha vinte e cinco anos quando começou a

reinar e seu reinado durou onze anos, tendo feito um mal

governo aos olhos do Senhor.

Devido ao mau procedimento de Jeoaquim, Deus

providenciou a Babilônia para promover o castigo sobre

Judá. Ver 2 Reis 23.37.

No terceiro ano do reinado de Jeoaquim, subiu

Nabucodonosor, rei de Babilônia, e conquistou a Jerusalém

das mãos de Faraó-Neco e subjugou a nação e a Jeoaquim,

deixando-o no trono. (Jeoaquim continuou rei; mas agora

submisso a Babilônia). Ver 2 Reis 24.1 e Daniel 1.1.

Judá ficou três anos sob o domínio do Egito e passou em

seguida para o domínio da Babilônia, sendo essa data o

marco inicial do cativeiro de Judá.

Jeoaquim era inimigo de Jeremias e Jeremias foi o

profeta do cativeiro, tendo permanecido em Judá após a

invasão de Nabucodonosor. Ver Jeremias 26.21; 36.26.

A razão dessa inimizade era o mal governo de Jeoaquim e

as profecias de reprovação de Jeremias contra o seu

procedimento.

O rei Jeoaquim inicialmente aceitou bem a submissão à

Babilônia, mas após certo tempo, se rebelou contra

Babilônia. Nabucodonosor foi o instrumento que Deus usou

para reprimir e reeducar o seu povo. Se lermos 2 Reis 24.2

nós podemos observar:

2 REIS 24.2- Enviou o Senhor contra Jeoaquim bandos de

caldeus, e bandos de síros, e de moabitas e dos filhos de

Amom; enviou-os contra Judá para o destruir, segundo a

palavra que o Senhor falara pelos profetas, seus servos.

Nabucodonosor veio contra Jeoaquim, e encerrou o seu

reinado, colocando rei em seu lugar a Joaquim, que era

filho de Jeoaquim. 2 Reis 24.6.

Assim Joaquim foi rei de Judá sob o domínio de

Nabucodonosor, cujo império já era desde o Eufrates até o

rio do Egito. Joaquim também reinou mal, também não agradou

a Deus, e no oitavo ano de seu reinado, Nabucodonosor e

seus súditos militares cercaram a cidade e levaram o seu

rei preso, assim como sua família e os tesouros do Templo

do Senhor. Ver 2 Reis 24.13.

Foi nessa data que tivemos a segunda leva dos cativos de

Judá para a Babilônia. A primeira leva de cativos se deu em

606 a.C., quando Nabucodonosor conquistou a Jeoaquim no

terceiro ano de seu reinado. Na primeira leva de cativos,

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Daniel e seus companheiros foram levados para a Babilônia.

Falaremos ainda sobre isso.

Nessa segunda leva de cativos de Jerusalém para a

Caldéia, Nabucodonosor levou por volta de dez mil cativos

principalmente os artesãos e os artífices, e aquelas

pessoas que tinham alguma habilitação profissional, como

carpinteiros e ferreiros, e não deixou nenhum, a não ser o

povo da terra, o lavrador. Foi nessa leva de cativos que

foi levado Ezequiel para a Babilônia. Enquanto Jeremias

permaneceu em Jerusalém. Pode-se ler sobre isso em 2 Reis

25.1-22. Ainda voltaremos a falar sobre esse assunto.

Destituído Joaquim do trono de Judá, o rei de Babilônia

colocou em seu lugar a Matanias, cujo nome foi trocado para

Zedequias que se constituiu no último rei de Judá.

Zedequias reinou durante onze anos e também se rebelou

contra Babilônia e mais uma vez, já no undécimo ano de seu

reinado, novamente Nabucodonosor investe contra o rei de

Judá e contra Jerusalém. Desta vez Nabucodonosor cercou a

cidade de Jerusalém por mais ou menos um ano, até que se

esgotaram todos os seus recursos dentro dos seus muros,

obrigando os judeus a se renderem e destruiu totalmente a

cidade de Jerusalém, seus muros, seus palácios e o Templo

Sagrado.

Foi nessa última invasão que se alguém escapou da espada

então foi levado cativo para Babilônia.

Quanto à família do rei Zedequias, foram degolados os

seus filhos, na presença do próprio rei e, quanto ao

próprio, vazaram-lhe os olhos e o levaram vivo para

Babilônia.

Em Jerusalém não ficou nada que não estivesse queimado

ou derrubado. Pode-se ler sobre isso em 2 Reis no capítulo

25 e 2 Crônicas capítulo 36.

Essa última invasão ocorreu no ano de 586 a.C.,

portanto vinte anos depois do início do cativeiro em 606

a.C.. Essa invasão determina o marco inicial dos TEMPOS

DOS GENTIOS de Lucas 21.24. Hoje, já são passados mais de

dois mil e quinhentos anos e Jerusalém ainda continua

pisada pelos gentios.

O local do Templo sagrado, atualmente, está sob o

domínio dos árabes e em seu lugar está construída a

Mesquita de OMAR. Jerusalém constitui hoje a cidade santa

também para os muçulmanos, além dos judeus e dos cristãos.

Não confundir:

a) Tempos dos gentios

b) Plenitude dos gentios.

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a) Tempos dos gentios:

A Bíblia usa essa expressão em:

LUCAS 21.24 -... até que os tempos dos gentios se

completem, Jerusalém será pisada por eles.

Essa expressão foi do próprio Jesus relatada por Lucas,

onde vemos que o tempo dos gentios está relacionado com

Jerusalém e o povo não judeu. É uma expressão que se

refere ao período que iniciou com a invasão de

Nabucodonosor a Jerusalém, quando a destruiu totalmente na

terceira invasão, por volta de 586 a.C. e terminará na

segunda vinda de Jesus, quando Jerusalém retornará ao povo

Judeu.

Tempo dos Gentios corresponde então ao período no qual

os gentios têm domínio sobre Jerusalém; daí a expressão:

será pisada por eles.

O período dos gentios iniciou com uma profanação do

templo e sua destruição e terminará também com uma

profanação, que será desenvolvida pelas bestas do

Apocalipse. Esse período, portanto, não faz nenhuma alusão

à Igreja, nem tem nenhuma relação com ela.

b) Plenitude dos gentios.

Esse período se refere ao espaço de tempo no qual Israel

se acha desviado dos caminhos do Senhor, período no qual

não reconhecem a Jesus como o Messias e corresponde ao

período da existência da Igreja aqui nesta terra. Teve

início no dia do Pentecostes e terminará no dia do

Arrebatamento da Igreja.

Nesse período, Israel não deixou de ser o povo escolhido

e tão pouco deixou de ser a videira plantada pelo Senhor,

usando a melhor semente. Israel continua sendo a nação

santa e escolhida. Mas a Igreja se constitui no povo de

Deus nesse período, tendo sido comprada pelo sangue de

Jesus, no sacrifício vicário da cruz, no Calvário.

Assim sendo terminará no Arrebatamento da Igreja e

corresponde ao período da graça, onde para ser salvo é

necessário aceitar a Jesus como Salvador, inclusive o povo

judeu.

O período chamado plenitude dos gentios coincide com o

intervalo entre a 69ª e 70ª semanas de Daniel, cujo tempo

está parado no relógio de Deus com relação a Israel.

INVASÕES E ATAQUES A JERUSALÉM

Vamos enfocar de forma mais minuciosa os ataques de

Nabucodonosor a Jerusalém. Foram três esses ataques e

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correspondem às três levas de cativos levados de Judá para

a Babilônia.

606 a.C.: INVASÃO INICIAL

Foi nessa data que teve início o cativeiro de Judá,

conseqüência da primeira invasão de Nabucodonosor em

Jerusalém. Nessa época, Jerusalém estava ainda sob o

domínio do Faraó-Neco, e era o terceiro ano de Jeoaquim.

Essa invasão:

Termina com o jugo Egípcio iniciado com a morte de Josias.

Inicia o jugo da Babilônia dando também início ao

cativeiro de Judá que durará por volta de 70 anos.

Nabucodonosor ordena a Aspenás, chefe de seus eunucos, que trouxesse alguns dos filhos de Israel, tanto da

linhagem real como dos nobres, jovens sem nenhum defeito,

de boa aparência, instruídos em toda a sabedoria, doutos em

ciência, versados no conhecimento e que fossem competentes

para assistirem no palácio do rei e lhes ensinasse a

cultura e a língua dos caldeus; escolhendo assim o que há

de melhor em Judá, levando cativo a Daniel e seus

companheiros para a Babilônia, entre outros.

Ver Daniel 1.1-4

597 a.C.: SEGUNDA INVASÃO

A segunda invasão ocorreu em 597 a.C. estando já

Jerusalém sob domínio Babilônico

Foi nessa invasão que Nabucodonosor derrotou a Joaquim e

o levou cativeiro para Babilônia.

Foi nessa invasão que Nabucodonosor levou para a

Babilônia a segunda leva dos cativos. Foi nessa invasão

que:

* Levaram Ezequiel para Babilônia e deixaram Jeremias em

Judá.

2 Crônicas 36.9,10 e 2 Reis 24.10-17.

Levaram por volta de dez mil judeus para o cativeiro, especialmente os profissionais.

Levaram os tesouros do Templo.

586 a.C.: TERCEIRO E ÚLTIMO ATAQUE

Esse foi o último ataque de Nabucodonosor a Jerusalém e

nesse também ocorreu a última leva de judeus para o

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cativeiro. Essa invasão foi contra Zedequias, o último rei

de Judá, e nela:

O cerco de Jerusalém durou mais de um ano.

Ninguém escapou ileso: quem não morreu a espada foi levado cativo.

Ocorreu a destruição total de Jerusalém e do Templo.

Atearam fogo em tudo aquilo que foi possível. Podemos observar então que:

1) Houve três levas de cativos e três invasões da

Babilônia em Jerusalém: 606, 597 e 586 a.C.

2) A terceira invasão foi a mais demorada e a mais

cruel, quando Jerusalém foi sitiada por mais de um ano e

houve a destruição total da cidade e do Templo.

3) Passaram-se vinte anos entre o início do cativeiro e

a destruição do Templo e de Jerusalém.

4) Jeremias foi profeta em Jerusalém durante o

cativeiro.

5) Daniel e seus companheiros foram levados cativos já

na primeira leva.

6) Ezequiel foi levado cativo na segunda invasão.

7) Foi na segunda invasão que foram levados mais de dez

mil judeus para o cativeiro da Babilônia.

8) Ezequias foi levado cativo para Babilônia.

O PORQUÊ DO CATIVEIRO

O povo de Judá iniciou o cativeiro na Babilônia no ano

de 606 a.C.,quando da invasão de Nabucodonosor sobre

Jerusalém, no ano terceiro de Jeoaquim, rei de Judá e

terminou em 536 a.C. no reinado de Ciro, o Persa.

A duração do cativeiro foi de setenta anos, profetizado

por Jeremias em seu Livro, no capítulo 25 verso 11.

Na verdade, Nabucodonosor não venceu o povo de Deus, mas

Deus entregou-o em suas mãos, de modo que a Babilônia foi

um instrumento nas mãos do Senhor, um executor dos planos

corretivos de Deus.

O cativeiro dos setenta anos está muito relacionado:

1º - Aos quatrocentos e noventa anos de uso da terra sem

se respeitar o ano sabático, que seria o ano de descanso da

terra. Para cada sete anos deveria existir um ano de

repouso da terra, mas Israel já tinha vivido quatrocentos e

noventa anos sem cumprir esta determinação de Deus. Nesse

ano sabático, Israel não deveria plantar e nem fazer uso da

terra, pois seria ano de descanso da terra. Eles deveriam

guardar o produto da de modo que no sétimo ano a terra

pudesse descansar. Essa era a orientação de Deus e dos

profetas. 2 Crônicas 36.21.

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Como houve desobediência do povo, então Deus levou o

povo para o cativeiro, de modo a cumprir sua orientação e a

terra ficou os setenta anos descansando, de modo a

descansar um ano para cada sete de desobediência.

Isso é uma demonstração de que Deus vela e zela pela sua

Palavra e suas profecias. Com isso devemos estar atentos a

fim de ouvirmos e atendermos as diretrizes de Deus. No

Livro de Jeremias 25.9-11, Deus revela ao povo, através do

profeta Jeremias que Ele mesmo trará Nabucodonosor, ao qual

o Senhor chama de seu servo, contra o seu povo a fim de

destruí-los como castigo pele desobediência. Deus fala ali,

que fará cessar a alegria e a luz de candeeiro de seu povo.

No verso 11 Deus fala que Israel será escravizado por

setenta anos na Babilônia. Ver Jeremias 25.9 a 11.

O livro de 2 Crônicas, capitulo 36 e versos do 14 ao 21,

fala da terceira invasão da Babilônia e da matança que

houve em Jerusalém. Fala também da destruição dos muros, e

dos objetos preciosos, e ainda do terror sofrido pelo povo.

Ver 2 Crônicas 36.14-21.

2º - Prostituição religiosa e rebeldia contra Deus.

A Bíblia fala em II Crônicas 36.16 e 17 que o povo de

Deus zombava dos seus mensageiros, desprezavam a Palavra de

Deus e desprezavam também aos seus profetas, até que subiu

a ira de Deus contra eles. Leia 2 Crônicas 36.16,17.

CONSEQÜÊNCIAS DO CATIVEIRO

AS conseqüências do cativeiro são aquelas coisas que

aconteceram por terem passado pelo castigo da escravidão na

Babilônia. Algumas dessas conseqüências são:

Foi abolida de uma vez por todas a idolatria entre os judeus.

Os judeus passaram a respeitar a Lei de Moisés com difusão e estudo dessa lei nas reuniões que começaram a

ser periódicas nas Sinagogas.

Surgiram as Sinagogas a partir do cativeiro porque o povo não tinha aonde ir, onde se reunir nem onde adorar ao

seu Deus.

Ocorreu o avivamento da promessa Messiânica, porque o povo se voltou para Deus e se voltou para o estudo de sua

Palavra.

Ocorreu o aperfeiçoamento do sentimento de

patriotismo.

Ver Salmo 137.

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UM POUCO SOBRE DANIEL

Daniel é um nome Hebraico que quer dizer “Deus é meu

Juiz”. Ele foi considerado (e ainda o é) um dos gigantes na

fé.

Daniel procedia de uma família que, segundo Flávio

Josefo, era de nobreza real. Foi o maior intérprete de

sonhos e visões entre os homens de Deus. O seu livro foi

escrito na Babilônia e provavelmente foi concluído em 534

a.C., constituindo-se em integrante do cânon hebraico.

Sua profecia sobre as setenta semanas, conhecida como

“as Setenta Semanas de Daniel”, ainda é muito atual e

moderna, apesar dos dois mil e quinhentos anos que já se

passaram. Dessas setenta semanas, sessenta e nove já são

passadas, como veremos oportunamente, mas a última delas

ainda não se cumpriu. A respeito do cumprimento das

sessenta e nove semanas, a profecia se cumpriu detalhe por

detalhe na data profetizada, exatamente, de forma precisa,

e na data profetizada. O cumprimento das sessenta e nove

semanas foi tão fiel que existem incrédulos colocando em

dúvida a autoria do livro, dizendo que foi escrito depois

dos acontecimentos dos fatos.

A refinada Teologia do Livro, no Velho Testamento,

representa um grande avanço profético e doutrinário, onde

temos desde a hierarquia angelical, onde os anjos são

chamados pelos seus nomes, até o ensino sobre a

ressurreição dos mortos. Daniel foi o primeiro a mencionar

a ressurreição dos mortos. Ver Daniel 12.2

Daniel foi levado cativo para Babilônia já na primeira

leva dos cativos em 606 a.C. Nessa época tinha entre quinze

e dezesseis anos; um verdadeiro adolescente. Era um moço

sábio, perfeito, saudável, douto em ciência e no saber; de

refinada competência, a ponto de ser escolhido junto com

outros três, também pertencentes à nobreza, para

permanecerem na corte Babilônica, junto ao rei.

Daniel desenvolveu sua vida no exílio e permaneceu em

Babilônia até por volta de 530 a.C., quando já tinha por

volta de noventa anos.

Na corte, suas primeiras atividades proféticas foram

interpretar sonhos e visões dos outros.

Daniel passou a ter suas próprias visões num estágio

posterior, sendo a profecia das setenta semanas uma das

mais importantes, atual até o dia de hoje. Também ainda é

de relevante importância as profecias dos capítulos dez,

onze, e doze do seu livro, onde apresenta em detalhes

profecias que se referiam ao futuro próximo e distante dos

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seus dias. No Livro de Daniel achamos as bases do Livro de

Apocalipse, escrito por João, mas cujo autor é Jesus.

Daniel ao chegar à corte Babilônica, junto com os seus

três companheiros, foi fazer uma espécie de curso, estágio

ou faculdade, com duração de aproximadamente três anos,

onde deveriam estudar a língua, os hábitos, a cultura e as

tradições do povo caldeu, na companhia de jovens

selecionados em todo o império, oriundos de toda parte do

mundo conhecido.

Foi durante esse estágio que Daniel e seus companheiros

recusaram o manjar e iguarias da mesa do rei, cuja atitude

achou graça e aprovação da parte de Deus. Daniel 1.8-12.

Daniel se manteve sempre numa conduta impecável, reto

diante de Deus e dos homens, de modo a não se achar nele,

nunca, nenhuma falta. Daniel 6.5.

A Bíblia não fala da vida particular de Daniel e por

isso nada se sabe sobre a sua família.

Ezequiel dá testemunho da vida irrepreensível de Daniel.

Vide Ezequiel 14.14-20; 28.3.

Podemos esboçar seu livro em duas partes:

I - Histórica. Daniel capítulos 1 ao 6.

II - Profética. Daniel capítulos 7 ao 12.

I – Histórica

Daniel na corte babilônica: Daniel capítulo 1.

Visão de Nabucodonosor: Daniel capítulo 2.

A fornalha de fogo ardente: Daniel capítulo 3.

A humilhação do grande rei: Daniel capítulo 4.

A queda do império babilônico: Daniel capítulo 5.

Daniel e o império Medo-Persa: Daniel capítulo 6.

II – Profética

A visão dos quatro animais: Daniel capítulo 7.

A visão do carneiro e o bode: Daniel capítulo 8.

As Setenta Semanas de Daniel: Daniel capítulo 9.

A profecia final: Daniel capítulo 11.

Os reis vindouros: Daniel capítulo 12.

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DANIEL

NO PASSADO E NO PORVIR

I PARTE

DANIEL CAPÍTULOS DE 1-6

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CAPÍTULO 1

DANIEL NA CORTE BABILÔNICA

Daniel Capítulo 1.1-7

1 - No ano terceiro do reinado de Jeoaquim, rei de Judá,

veio Nabucodonosor, rei de Babilônia a Jerusalém, e a

sitiou.

2 - O Senhor lhe entregou nas mãos a Jeoaquim, rei de

Judá, e alguns dos utensílios da casa de Deus; a estes os

levou para a terra de Sinear, para a casa do seu deus e os

pôs na casa do tesouro do seu deus.

3 - Disse o rei a Aspenaz, chefe dos seus eunucos, que

trouxesse alguns dos filhos de Israel, assim da linhagem

real como dos nobres,

4 - jovens sem nenhum defeito, de boa aparência,

instruídos em toda a sabedoria, doutos em ciência, e

versados no conhecimento, e que fossem competentes para

assistirem no palácio do rei; e lhes ensinasse a cultura e

a língua dos caldeus.

5 - Determinou-lhes o rei a ração diária, das finas

iguarias da mesa real, e do vinho que ele bebia, e que

assim fossem mantidos por três anos, ao cabo dos quais

assistiriam diante do rei.

6 - Entre eles se achavam, dos filhos de Judá, Daniel,

Hananias, Misael e Azarias.

7 - O chefe dos eunucos lhes pôs outros nomes, a saber:

a Daniel o de Beltessazar; a Hananias o de Sadraque, a

Misael o de Mesaque, e a Azarias o de Abede-Nego.

Daniel aprendera muito, embora fosse tão jovem, a cerca

do Deus de Israel, com o rei Josias e com o profeta

Jeremias, além de outros. Daniel tinha entendimento sobre

a importância da fidelidade a Deus.

O verso um estabelece a época da invasão de

Nabucodonosor em Jerusalém. Isso ocorreu no ano terceiro

do reinado de Jeoaquim, que fizera um mau governo aos olhos

do Senhor.

O Verso dois diz: Deus entregou nas mãos de

Nabucodonosor a Jeoaquim, rei de Judá, e alguns dos

utensílios da casa de Deus. Esses utensílios sagrados

foram levados para a terra dos Caldeus, mais exatamente

para Sinear, onde se achava a casa do deus de Babilônia. O

deus de Babilônia não era outro senão o Baal dos Hebreus em

Israel.

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Essa expressão “entregou em suas mãos” é uma referência

à perseverança de Deus em se opor a tal atitude. Na

verdade, Deus não queria, mas o povo era muito obstinado.

Israel se achava corrompido, desviado e fazia pouco da

palavra do Senhor e por esse motivo foi condenado, devido à

idolatria, prostituição e soberba. Veja 2 Reis 21.1-15 e 2

Crônicas 36.14,15.

Deus havia resistido a tal idéia, e deu uma pausa

durante o reinado de Josias, mas sua tolerância se

esgotara. Apenas poupou a Josias e ainda deu-lhe a sua

palavra de que não veria esse mal, pois obrara o que era

reto diante do Senhor, e reconduzira o povo à presença de

Deus. Pode-se ler sobre isso em 2 Reis 22.16-20.

Mas no período de Jeoaquim, que fez o que era mal diante

dos olhos do Senhor, e ainda perseguiu o profeta Jeremias.

Jeoaquim não deu ouvido à voz de Deus ou aos seus profetas

e suas exortações. O povo estava distante de Deus e por

essa razão, Deus os entregou a Nabucodonosor, instrumento

de sua disciplina.

Deus não entregou somente o povo, mas a cidade santa e

também o templo sagrado e tudo o que nele havia. Não tinha

sentido preservar a santificação dos vasos, dos utensílios

e do Templo Sagrado, com o povo desviado ou no cativeiro.

A santificação é primordial no relacionamento com Deus.

Veja Hebreus 12.14, onde temos que sem a santificação

ninguém verá ao Senhor.

Não havia santificação no Templo, nem poderia haver se o

povo estava desviado. Importante para Deus é o povo, não os

utensílios materiais. Tanto que, hoje, Deus não habita mais

em “construções” humanas, mas em nós. Hoje somos o “templo”

do Espírito Santo. Romanos 8.9,11; 1 Coríntios 3.16;6.19

Essa foi a razão de Deus permitir a destruição do Templo

em Jerusalém, como também da cidade.

Nos versos três e quatro temos as orientações de

Nabucodonosor aos chefes dos Eunucos: Escolher jovens sem

nenhum defeito, de boa aparência, instruídos em toda a

ciência, versados no conhecimento. Corresponde à “nata” da

sociedade. Sobretudo jovens competentes a fim de servirem

na corte Babilônica. Seriam encaminhados inicialmente para

um “estágio” ou curso, com duração de três anos, junto ao

palácio do rei, onde aprenderiam a língua e a cultura dos

caldeus.

Daniel e seus companheiros foram achados satisfazendo

integralmente essas exigências e, portanto, foram

escolhidos para a corte Babilônica.

Como fator de justiça, diante de uma seleção tão

exigente, o rei determinou que esses jovens tivessem o

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privilégio de receberem a porção diária das finas iguarias

da mesa real, incluindo-se o vinho que era servido ao rei.

Isso por todo o período dos três anos, na formação da nova

cultura.

Entendemos que isso seria mesmo um privilégio! Mas

Daniel, em seu estado de santificação, apesar de sua tenra

idade, reconheceu nessa atitude uma artimanha de Satanás,

um ardil astuto, onde se contaminaria com comida

sacrificada aos ídolos.

Daniel entendeu que isso seria um primeiro passo, em

terra estranha, para se distanciar de seus princípios de

fidelidade a Deus e preferiu se abster desse privilégio,

trocando-o por frutas e legumes.

Satanás é muito astuto e quando tenta derrubar os

crentes ele não vem mostrando suas garras, mas vem

disfarçado dentro daquilo que parece natural, mas é

armadilha onde o crente cai se não estiver ligado com Deus.

Precisamos pedir a Deus que nos conceda do Espírito de

discernimento, a fim de percebermos quando se trata dos

ardis de Satanás. Ver Atos 16 a partir do verso 16 e veja o

Espírito de discernimento de Paulo, Espírito esse que

devemos ter também em nós.

Ao chegarem à corte Babilônica havia interesse em que os

expatriados se esquecessem de sua pátria, dos seus hábitos

e costumes. Por esse motivo foram trocados os nomes de

Daniel e de seus companheiros: Hananias, Misael e Azarias.

Essa troca de nomes era estratégica e visava contribuir

para que perdessem a identidade JUDAICA e renunciassem sua

fé; se esquecessem de seu povo, da sua Pátria e de seu Deus

e, com novo nome, iniciassem nova identidade, uma nova

vida, uma nova fé.

Naquela época os nomes implicavam significados

importantes, e às vezes o próprio nome fazia referência ao

caráter da pessoa. Vejamos os significados dos nomes de

Daniel e de seus companheiros.

A mudança do nome de Daniel e seus companheiros foram do

hebraico para o caldeu:

HEBRAICO CALDEU

Daniel Beltessazar

Misael Mesaque

Azarias Abede-Nego

Ananias Sadraque

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O significado dos nomes em hebraico:

Daniel Deus é meu Juiz.

Misael Quem é igual a Deus.

Azarias Deus é meu ajudador.

Ananias Jeová é gracioso.

O significado dos nomes em Caldeu:

Beltessazar (Daniel) Bel te proteja.

Mesaque (Misael) Não se sabe o significado.

Abede-Nego (Azarias) Servo de Nebo.

Sadraque (Ananias) Ordem de AKU.

NOTA: AKU era uma deusa dos Babilônios. Bel e Nebo

também eram deuses Babilônicos.

Mas Daniel, embora tão jovem, e embora tão arriscado

fosse tal comportamento, propôs no seu coração não se

contaminar com as finas iguarias da mesa real.

Isso é um verdadeiro exemplo para nossa mocidade. É uma

lição que nos diz: é possível ser fiel a Deus em todas as

provas da juventude, em casa e fora dela, junto aos pais,

ou distante deles! A fidelidade a Deus não tem faixa

etária. Deus ama a todos os que lhe são fiéis. A Bíblia

recomenda que devemos nos lembrar de nosso Criador nos

dias de nossa mocidade, pois é um período no qual temos

muita energia e muita disposição e podemos servir a Deus no

auge da nossa força. Veja Eclesiastes 12.1. Muitas pessoas

se voltam para Deus em sua velhice por ter medo da morte,

mas Deus se agrada daqueles que dele se aproximam porque o

ama e têm desejo de adorá-lo.

O PROPÓSITO DE DANIEL

Capítulo 1.8-21

8 - Resolveu Daniel firmemente não se contaminar com as

finas iguarias do rei, nem com o vinho que ele bebia; então

pediu ao chefe dos eunucos que lhe permitisse não se

contaminar.

9 - Ora Deus concedeu a Daniel misericórdia e

compreensão da parte do chefe dos eunucos.

10 - Disse o chefe dos eunucos a Daniel: Tenho medo do

meu senhor, o rei, que determinou a vossa comida e a vossa

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bebida; por que, pois, veria ele os vossos rostos mais

abatido que o dos outros jovens da vossa idade? Assim

poríeis em perigo a minha cabeça para com o rei.

11 - Então disse Daniel ao cozinheiro – chefe, a quem o

chefe dos eunucos havia encarregado de cuidar de Daniel,

Hananias, Misael e Azarias:

12 - Experimenta, peço-te, os teus servos dez dias; e

que se nos dêem legumes a comer e água a beber.

13 - Então se veja diante de ti a nossa aparência e a

dos jovens que comem das finas iguarias do rei, e, segundo

vires, age com os teus servos.

14 - Ele atendeu, e os experimentou dez dias.

15 - No fim dos dez dias, as suas aparências eram

melhores; estavam eles mais robustos do que todos os jovens

que comiam das finas iguarias do rei.

16 - Com isto o cozinheiro - chefe tirou deles as finas

iguarias e o vinho que deviam beber e lhes dava legumes.

17 - Ora, a estes quatro jovens Deus deu o conhecimento

e a inteligência em toda cultura e sabedoria; mas a Daniel

deu inteligência de todas as visões e sonhos.

18 - Vencido o tempo determinado pelo rei para que os

trouxessem, o chefe dos eunucos os trouxe à presença de

Nabucodonosor.

19 - Então o rei falou com eles; e entre todos, não

foram achados outros como Daniel, Hananias, Misael e

Azarias; por isso passaram a assistir diante do rei.

20 - Em toda matéria de sabedoria e de inteligência,

sobre que o rei lhes fez perguntas, os achou dez vezes mais

doutos do que todos os magos e encantadores que havia em

todo o seu reino.

21 - Daniel continuou até ao primeiro ano do rei Ciro.

Aqui nós temos Daniel na corte, juntamente com seus

companheiros Hananias, Misael, e Azarias, e ainda outros

jovens escolhidos de outras nações. A situação desses

jovens era realmente privilegiada, embora estivessem em

cativeiro, vejamos:

1- Estavam na corte do rei, sendo esse rei o mais nobre

dos existentes até então em termos de poderio e autoridade.

2- Haviam passado em um “vestibular muito difícil”, cuja

seleção não foi só do conhecimento, mas também físico e

econômico.

3- Estavam cursando uma “faculdade” com duração de três

anos para depois serem aproveitados em destaque no reino.

4- Foram privilegiados com a porção das finas iguarias

da mesa do rei, e até mesmo do vinho que ele bebia.

Ora, sem dúvida alguma, isso era muito honroso e a

posição era privilegiada entre os exilados.

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Admitir um comportamento diferente das propostas

padronizadas ou gerais aqui, era muito perigoso. O rei era

absolutista. Matava a quem queria, sem julgamento nenhum e

promovia a quem desejasse sem dar satisfação a ninguém.

Concentrava em suas mãos todo o poder de forma autoritária

e absoluta.

Daniel e seus companheiros sabiam disso. Tinham plena

consciência de onde estavam e com quem estavam lidando.

Mas em seu coração sábio, e cheio do Espírito Santo,

Daniel entendeu que seria contaminação participar de tal

mesa. Daniel entendeu ser o primeiro passo para quebrar a

fidelidade para com seu Deus, embora fosse atitude

aparentemente inócua, essa de comer da comida da mesa do

rei.

Por entender dessa forma, teve um comportamento humilde

e inteligente, e “pediu” ao chefe dos eunucos que lhe

concedesse não se contaminar. Verso oito.

No verso nove, observamos a mão de Deus trabalhando a

seu favor, quando diz que Daniel encontrou misericórdia e

compreensão por parte do chefe dos eunucos. Essa pretensão

era muito arriscada para todos e no verso 10 vemos a

preocupação e o temor desses homens diante de possíveis

conseqüências desastrosas: poderia até mesmo rolar alguma

cabeça como castigo maior.

Mas Deus estava nesse negócio, e Deus coroou a

fidelidade de Daniel e de seus companheiros. Era

aparentemente mais fácil e muito mais natural comerem da

mesa do rei. Comida boa, altamente selecionada, de bom

tempero; apetite para comer tinha-se de sobra, o natural

seria participar dessa mesa! Eram jovens, em pleno

desenvolvimento, a comida era muito bem-vinda.

Especialmente essa que vinha da mesa do rei. Mas existe uma

diferença entre aqueles que servem a Deus e os que não o

servem (Malaquias 3.8), e os crentes são separados devido

ao seu estado de santificação. Os crentes necessitam ser

diferentes dos demais habitantes do mundo, pois esses:

a) São lavados no sangue de Jesus.

b) Possuem o nome escrito no Livro da Vida.

c) Estão esperando a volta de Jesus.

d) São o templo do Espírito Santo de Deus.

e) Experimentaram o Novo Nascimento.

E aqueles:

a) Não conhecem a Jesus como Salvador.

b) Não possuem o nome no Livro da Vida

c) São escravos de Satanás e vivem presos em seus laços.

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d) São sinagogas de Satanás.

e) Nunca nasceram de novo para entrarem no reino dos

céus.

Ora, então, tem que haver uma diferença!

...“Tenho medo de meu Senhor, o rei, que determinou a

vossa comida e a vossa bebida... Disse o eunuco (Daniel

1.10). Tratava-se de ordens do próprio rei. Não cumpri-las

poderia resultar no abatimento daqueles jovens que,

comparados com outros, poderia denunciar alguma diferença e

acusá-los da mudança no cardápio.

Podemos deduzir daqui que o nosso comportamento pode

atingir a vida das outras pessoas. Podemos entender também

que muitas vezes a segurança e a tranqüilidade dos outros

dependem de nós e de como nos comportamos. Por esse motivo

devemos estar sempre na direção e na orientação de Deus, a

fim de sermos uma bênção onde nos encontrarmos, a fim de

sermos um verdadeiro canal de luz e de bênçãos.

No verso 12 vemos uma demonstração da fé de Daniel, onde

ele faz uma proposta de fé: ...“experimenta, peço-te, os

teus servos durante dez dias, e nos dêem de comer legumes e

a beber água”.

Uma demonstração de fé: se Deus quer que prossigamos

nesse propósito, ele vai atuar e nós teremos sucesso nessa

direção. Quando estamos na direção de Deus, devemos nos

preocupar somente com a nossa parte, porque a parte de

Deus, Ele a proverá. Deus nunca desampara os seus fiéis.

Deus requer que tenhamos o firme propósito da fé. Deus

muitas vezes espera o nosso primeiro passo.

No verso 13 temos a pauta contratual: “Então se veja a

nossa aparência e a aparência dos demais e então poderás

agir conforme os resultados”.

Assim foi estabelecido um acordo que foi desenvolvido

durante certo período conforme verso 14: “Ele atendeu e os

experimentou dez dias”.

E no fim desse período os resultados: Deus operou

maravilhosamente dando aos seus servos conforto, consolo e

desenvolvimento; diz o verso 15: “no fim dos dez dias, suas

aparências eram melhores, estavam mais robustos do que

todos os jovens que comiam das finas iguarias da mesa do

rei”!! É assim mesmo, Deus não desampara aqueles que nEle

confiam, aqueles que nEle esperam. Veja 64.4 do Livro de

Isaías.

A experiência havia dado certo, e o espírito da

tranqüilidade atingiu a todos, e no verso 16 encontramos

registrado o sucesso: “com isso o cozinheiro chefe tirou

deles as finas iguarias e o vinho a eles destinado, e lhes

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servia legumes com água”, consolidando um novo cardápio com

duas dietas diferentes.

Assim prosseguiu Daniel e seus companheiros, ao longo

daquele estágio cuja duração foi de três anos. Deus em tudo

os abençoava. Especialmente a Daniel. O verso 17 refere que

Deus incrementou-lhes o conhecimento, a inteligência em

toda cultura e sabedoria. Mas a Daniel Deus o presenteou

com um dom especial: O dom de interpretar sonhos e visões.

Podemos deduzir daqui e com muita clareza, que é Deus quem

dá a sabedoria, quem dá o conhecimento e a inteligência. A

nós nos cabem “buscar” e “manter” essas dádivas oriundas em

Deus.

A Bíblia não fala em detalhes desse período se não o que

já foi exposto, e assim chegamos ao final desse “estágio”.

Vencido o tempo determinado para que esses jovens fossem

formados em toda ciência e cultura dos caldeus, os jovens

foram submetidos à prova final, e essa não foi na escola!

Não foi aplicada pelos professores do convívio diário, mas

foi aplicada pelo próprio rei. A prova final foi do tipo

oral. As provas orais são as mais difíceis no âmbito da

avaliação de aprendizado.

Quando, em épocas passadas, na época em que eu cursei os

cursos fundamentais, me lembro muito bem, quando eu era

submetido a esta técnica de avaliação. O exame oral era o

pavor dos alunos, e tínhamos que estudar a fim de conhecer

a matéria e sermos desinibidos ao sermos examinados.

Tínhamos que nos expressar bem, não era somente saber a

matéria. Ali, diante do rei, a situação não era diferente,

pelo contrário, era mais complicada, pois se tratava do

próprio rei.

Agora estamos na presença do rei (verso 18).

O verso dezenove nos apresenta os resultados finais:

entre todos os estudantes da mesma época, não foram achados

outros como Daniel e seus companheiros. Eles tinham se

destacado como os melhores de todos. Deus é fiel! A

fidelidade de Deus não é medida pela extensão da nossa,

graças a sua misericórdia e seu infinito amor. Aqui temos a

operação de Deus naquelas vidas.

Esse “todos” inclui não somente os companheiros dos

jovens judeus, oriundos de outras nações, mas também os

sábios, mágicos, astrólogos e toda sorte de “doutor”

naquela época. É só ver o verso vinte onde temos: “Em toda

matéria de sabedoria e de inteligência, sobre que o rei

lhes fez perguntas, os achou dez vezes mais doutos do que

todos os magos e encantadores que havia em todo o seu

reino”.

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Como consequência disso, esses jovens judeus foram

escolhidos, entre todos, para permanecerem na presença do

rei.

Aqui temos outro ensinamento muito importante: Não é

nenhuma humilhação para um “líder” (de qualquer natureza)

agrupar um conjunto de assessores formados por pessoas

inteligentes e sábias, pois elas em muito poderão

contribuir para o seu sucesso. Ninguém é tão sábio que

dispensa o conselho, ninguém é tão sábio de modo a não ter

o que aprender com alguém.

No verso 21 temos que Daniel permaneceu na corte até o

rei Dario. Daniel resistiu durante três grandes reis:

Nabucodonosor, Dario e Ciro. Todos entenderam o quanto

Daniel podia ser útil. Assim Daniel ocupou posição de

grande destaque, posição privilegiada, tendo atingido em

sua vida maior honra do que José, pois este foi governador

apenas do Egito, e Daniel o foi no maior império mundial

existente até os seus dias.

Daquilo que já estudamos até aqui, já podemos deduzir

que:

1- Deus é como um pai, se necessário for, corrige os

seus filhos, embora isso possa lhe causar maior dor. Deus

corrigiu o povo de Israel utilizando-se da Babilônia como

instrumento da correção. Veja o que está escrito em

Apocalipse 3 verso 19.

2- Deus também chama jovens sábios e fortes para o seu

trabalho e espera deles fidelidade e santificação. Os

jovens fazem parte ativa dos exércitos de Deus. Sabemos que

ser fiel a Deus no período da mocidade é muito mais

difícil, mas veja o que diz em Lamentações 3 verso 27:

“Bom é para o homem suportar o jugo na sua mocidade”.

3- O período da mocidade se caracteriza pela força e

pelas falta de experiência; devendo se juntar a isso a

longa expectativa de vida nesse período. Por essa razão

servir a Deus acaba sendo mais difícil nesse período. Mas a

Bíblia tem um estimulo ou uma advertência para os jovens,

em Eclesiastes capitulo 12 e verso 21, onde diz “Lembra-te

do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham

os maus dias, e cheguem os anos dos quais dirás: Não tenho

neles prazer”.

4- Deus honra a fé de seus servos e é fiel em todos os

momentos de nossa vida.

5- Deus está atento ao desejo dos nossos corações quando

nosso desejo é para glória do nome do Senhor. Veja Salmo

37.4.

6- Satanás é muito astuto, inteligente e sutil, sempre

ataca de modo imperceptível e sempre pelo lado mais fraco

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das pessoas. Tudo parece ser natural, não tem nenhuma

aparência de maldade, mas é uma armadilha.

7- Até esse ponto entendemos também que a sabedoria, a

inteligência e o conhecimento são atributos de Deus.

Na verdade, a sabedoria é um dos atributos eterno de

Deus. Veja Provérbios 8.23 em diante e leia sobre a

sabedoria e o verso 26 diz assim: “Ainda ele não tinha

feito a terra, nem os campos, nem sequer o princípio do pó

do mundo”.

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CAPÍTULO 2

DANIEL E O SONHO DE NABUCODONOSOR

O capítulo dois é o único capítulo profético contido

nesta parte histórica do Livro de Daniel. Trata-se da

primeira profecia sobre os quatro reinados mundiais. Esses

reinos mundiais abrangem desde os dias de Daniel e se

estendem até a volta de Jesus. Veremos que após o final

desses reinados, Jesus estabelecerá o seu reino, o qual

além de mundial será eterno e cheio de paz. Esse capítulo 2

é o capítulo mais extenso do livro, tanto no sentido

literal, como no sentido espiritual quando consideramos a

extensão da profecia:

a) Sentido literal - é o maior capítulo do Livro de

Daniel.

b) No sentido espiritual - fala dos quatro reinados

mundiais, desde os dias de Daniel, até a segunda volta de

Jesus em poder e grande glória.

Vamos dividir o capítulo dois em seis partes, a saber:

Tema versículos

a) O sonho do rei 1 a 13

b) Daniel recorre a Deus 14 a 18

c) O Deus da revelação 19 a 30

d) A revelação do sonho 31 a 35

e) A interpretação do sonho 36 a 45

f) A recompensa 46 a 49

a) O SONHO DO REI

Capítulo 2.1 - 13

1 - No segundo ano do reinado de Nabucodonosor teve

este sonho; o seu espírito se perturbou e passou-se-lhe o

sono.

2 - Então o rei mandou chamar os magos, os

encantadores, os feiticeiros, e os caldeus, para que

declarassem ao rei quais lhe foram os sonhos; eles vieram e

se apresentaram diante do rei.

3 - Disse-lhes o rei: Tive um sonho; e para sabê-lo está

perturbado o meu espírito.

4 - Os caldeus disseram ao rei em aramaico: Ó rei, vive

eternamente! Dize o sonho a teus servos, e daremos a

interpretação.

5 - Respondeu o rei, e disse aos caldeus: Uma coisa é

certa: se não me fizerdes saber o sonho e a sua interpretação,

sereis despedaçados, e as vossas casas serão feitas monturo;

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6 - mas se me declarardes o sonho e a sua interpretação,

recebereis de mim dádivas, prêmios e grandes honras; portanto

declarai-me o sonho e a sua interpretação.

7 - Responderam segunda vez, e disseram: Diga o rei o sonho

a seus servos, e lhe daremos a interpretação.

8 - Tornou o rei, e disse: Bem percebo que quereis ganhar

tempo, porque vedes que o que eu disse está resolvido,

9 - isto é: Se não me fazeis saber o sonho, uma só sentença

será vossa; pois combinastes palavras mentirosas e perversas

para as proferirdes na minha presença, até que se mude a

situação; portanto dizei-me o sonho, e saberei que me podeis

dar-lhe a interpretação.

10 - Responderam os caldeus na presença do rei, e disseram:

Não há mortal sobre a terra que possa revelar o que o rei

exige; pois jamais houve rei, por grande e poderoso que tivesse

sido, que exigiu semelhante cousa dalgum mago, encantador ou

caldeu.

11 - A cousa, que o rei exige, é difícil, e ninguém há que

a possa revelar diante do rei, senão os deuses, e estes não

moram com os homens.

12 - Então o rei muito se irou e enfureceu; e ordenou que

matassem a todos os sábios de Babilônia.

13 - Saiu o decreto, segundo o qual deviam ser mortos os

sábios; e buscaram a Daniel e aos seus companheiros, para que

fossem mortos.

Esse capítulo introduz as atividades proféticas de Daniel e

o inicia no exercício de interpretar sonhos e visões. Já

vimos, no verso 17 do capítulo 1, que Deus dotou a Daniel desse

dom especial.

Os quatros judeus não se achavam na sociedade, eles ainda

se encontravam fazendo aquele aperfeiçoamento inicial e não

eram, portanto, reconhecidos como magos ou sábios ou adivinhos,

mas já eram conhecidos pela sabedoria que possuíam a qual era

fora do normal.

A profecia desse capítulo se estende por todo o período do

governo humano, isto é, até o final dos tempos. É, portanto uma

profecia atual. Parte dela já se cumpriu. Ela fala de quatro

impérios mundiais que serão estudados no decorrer do Livro de

Daniel, sendo aqui apenas uma visão panorâmica e global desses

quatro impérios. Desses impérios três já são passados e se

cumpriram com fidelidade absoluta. Trata-se de uma antevisão

panorâmica da história humana.

Inicia com um sonho que foi esquecido, envolvendo o rei de

Babilônia, Nabucodonosor. O grande problema desse monarca era

conhecer o significado do sonho; mas ele tinha se esquecido

sobre o que sonhara e qual era o sonho. (Versos 1,2,3).

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Verso um nos dá a informação da data do sonho: No segundo ano do reinado de Nabucodonosor teve este sonho; a parte final

desse versículo fala da preocupação do rei a seguir do sonho: o seu espírito se perturbou e passou-se-lhe o sono.

Reuniu então, o rei, os mais importantes magos, adivinhos,

feiticeiros, caldeus e ainda os sábios e propôs-lhes que lhe

dissessem qual foi o sonho e qual a sua interpretação. Ver

verso dois.

No verso três temos a exposição do rei: Tive um sonho; e

para sabê-lo está perturbado o meu espírito.

No verso quatro, naturalmente, os magos e seus companheiros

pedem ao rei a descrição do sonho se comprometendo em

interpretá-lo logo a seguir: “... Ó rei, vive eternamente! dize

o sonho a teus servos, e daremos a interpretação.

Mas o grande problema é que o rei se esqueceu do sonho! E o

pior é que o rei quer a descrição do sonho e também a sua

interpretação, sendo que nem mesmo ele se lembra daquilo que

sonhou!!!

Ora, interpretar um sonho conhecendo o seu conteúdo, já não

é tarefa muito fácil, imagine isso sem conhecer o sonho.

Assim, o rei na sua ansiedade de se lembrar o sonho e

conhecer a sua interpretação; propõe no verso cinco, uma

verdadeira recompensa, seguida de uma terrível ameaça. Leia

Diante da solicitação dos magos, para que o rei lhes

descrevesse o sonho, o rei lhes diz a respeito do seu

esquecimento, mas não obstante, ele queria o sonho e a

interpretação. Ë nesse momento que o rei lhes apresenta a

promessa da recompensa ou sobre a ameaça do castigo. Ver Daniel

versos cinco e seis.

“Respondeu o rei, e disse aos caldeus: Uma coisa é certa:

se não me fizerdes saber o sonho e a sua interpretação, sereis

despedaçados, e as vossas casas serão feitas monturo;

Mas, se me declarardes o sonho e a sua interpretação,

recebereis de mim dádivas, prêmios e grandes honras; portanto

declarai-me o sonho e a sua interpretação”.

Nabucodonosor exigia muito, Na verdade, exigia o

impossível!

Lá estava Nabucodonosor sem dormir, agitado e inquieto.

Ele tinha noção de sua exigência e da limitação humana de seus

sábios. A base de tanta preocupação era o receio que o rei

tinha, a respeito de perder o seu trono.

Nabucodonosor associou o sonho com o futuro do seu reinado.

Seu maior desespero era: nem sequer conseguia se lembrar do

próprio sonho, daí a gravidade maior do problema. Esta missão

exigida por Nabucodonosor era extra-humana. Resolver um

problema dessa natureza somente nosso Deus, pois ninguém sabia

siquer qual era o sonho.

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No verso quatro, podemos observar o comportamento natural

daqueles homens, que foram chamados para esclarecer ao rei

sobre tal sonho, mas não tinham a descrição do sonho.

Magos ou sábios aqui é uma referência aos homens que se

dedicavam e entendiam as escritas mais antigas, tendo, portanto

uma capacidade maior de se esclarecer dentro da história e de

entender melhor as vicissitudes da vida. Entre eles alguns

usavam de feitiçarias e mágicas ou truques e eram conhecidos

também como feiticeiros. Tudo era decorrente do contato que

tinham com literaturas especialmente religiosas. Mas Daniel

tinha um dom divino, recebido de Deus, e por isso era capaz de

interpretar sonhos e visões e distingui-los dos sonhos

decorrentes “do bucho cheio”; ou seja, dos sonhos naturais,

decorrentes das ações cerebrais psicológicas, ou até mesmo

pesadelos.

As adivinhações e o poder das feitiçarias, a capacidade

evolutiva deste mundo e até mesmo a sabedoria e poder de

Satanás, é tudo muito limitado. Aqui, nesse caso, se tratava do

futuro da humanidade e por esse motivo somente Deus, o Deus

Onisciente, é que pode discernir e interpretar, sendo essa a

razão de ninguém poder ajudar o rei nessa situação tão

desesperadora.

No verso 6 temos uma promessa de recompensa, até mesmo

gratificante. Mas como alcançar o objetivo do rei sem a

descrição do sonho?

Nabucodonosor propõe: se me declarardes o sonho (verso

seis) e a sua interpretação, recebereis de mim dádivas e

prêmios, grandes honras, mas é necessário que me dêem o sonho

e sua interpretação.

Isso se constituía num problema humanamente impossível,

pois o rei não se lembrava do sonho!

Conhecendo exatamente onde estava a chave da dificuldade,

os magos, feiticeiros e adivinhos disseram ao rei pela segunda

vez:

“Diga o rei, o sonho a seus servos, e lhe daremos a

interpretação!” (verso sete)

Embaraçosa e complicada era a situação daqueles indivíduos,

pois não dispunham do sonho!

Mas o rei não estava para perder tempo. Sua preocupação era

profunda e temia pelo seu trono. Por isso foi colocando um

ponto final, interrompendo o diálogo, dizendo:

“Bem percebo que quereis ganhar tempo,” é como se dissesse:

“bem percebo que estais tentando me enrolar”, por estarem

convencidos a respeito da sentença de morte! (Verso 8).

Todos os magos tinham plena convicção do poder do rei, e

que suas cabeças rolariam com certeza, mas não podiam resolver

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o problema, porque este era extra-humano. Como interpretar um

sonho sem tê-lo?!

Satanás não pôde ajudar os seus servos ali presentes,

porque Satanás não tem onisciência das coisas; não sabe nada

sobre o futuro; porque o futuro está somente em Deus. O

problema era sobre-humano, e sobre-satânico também! Nenhum

demônio poderia ajudar; nenhum mago ou feiticeiro poderia

resolver aquele desafio.

No verso nove há um reforço da ameaça:”se não me fazeis

saber o sonho, uma só sentença será vossa; pois combinastes

palavras mentirosas e perversas para as proferirdes na minha

presença, até que se mude a situação; portanto dizei-me o

sonho, e saberei que me podeis dar-lhe a interpretação.

É como se Nabucodonosor trocasse em miúdos a sentença e o

faz em alta voz e bom tom:

“Se não me fazeis saber o sonho, uma só será a vossa

sentença: a morte.” Nabucodonosor foi taxativo: “Dizei-me o

sonho já, e só assim saberei que são capazes de fazê-lo, e até

posso esperar um pouco pela interpretação” (verso nove).

Mas a situação não dependia dos homens, já que

Nabucodonosor não se lembrava do sonho a fim de facilitar o

problema.

No verso dez, os caldeus expõem a situação ao rei:

“Responderam os caldeus na presença do rei, e disseram: Não há

mortal sobre a terra que possa revelar o que o rei exige; pois

jamais houve rei, por grande e poderoso que tivesse sido, que

exigiu semelhante cousa dalgum mago, encantador ou caldeu.

A cousa que o rei exige é difícil, e ninguém há que a possa

revelar diante do rei, senão os deuses, e estes não moram com

os homens”.

Mas o rei não se sensibilizou, pelo contrário, ficou

enfurecido. Pois exigia não só o sonho, mas também a

interpretação.

O rei se achava no direito de exigir, ainda que fosse o

impossível, porque ele era o maior de todos os reis não havendo

rei que fosse superior a ele, até então na história. Por esse

motivo, ele exigia: quero o sonho e a interpretação, caso

contrário, morrem todos! E logo!!! Veja verso 12:

Então o rei muito se irou e enfureceu; e ordenou que

matassem a todos os sábios de Babilônia.

Mas efetivamente os magos, sábios e caldeus ou feiticeiros

não foram capazes de resolver o problema, e o rei se irou muito

mandando matar a todos. Ver verso 12:

Saiu o decreto, segundo o qual deviam ser mortos os

sábios;...

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Como o rei não estava para perder tempo, já emitiu o

decreto, segundo o qual deviam ser mortos todos os sábios de

Babilônia.

Nabucodonosor pensava assim: ter os magos, sábios e

encantadores para não resolverem nada é melhor não tê-los,

assim já se sabe que não podemos contar com eles. E condenou à

morte todos os sábios da Babilônia. Todos deveriam ser mortos.

Nessa hora se lembraram de Daniel e de seus companheiros.

Veja ainda no verso 13 em sua parte final:...e buscaram a

Daniel e aos seus companheiros, para que fossem mortos.

Daniel e seus companheiros não foram lembrados na hora da

solução daquele problema insolúvel, mas não foram esquecidos na

hora de pagar a conta.

Na verdade aquela foi uma tentativa de Satanás para

destruir a Daniel e seus companheiros.

Vamos ver a atitude de Daniel e de seus companheiros quando

foram procurados para serem mortos, devido ao decreto do rei.

B) DANIEL RECORRE A DEUS

Daniel 2.14-18

14 - Então Daniel falou avisada e prudentemente a Arioque,

chefe da guarda do rei, que tinha saído para matar os sábios de

Babilônia.

15 - E disse a Arioque, encarregado do rei: Por que é tão

severo o mandado do rei? Então Arioque explicou o caso a

Daniel.

16 - Foi Daniel ter com o rei e lhe pediu designasse o

tempo, e ele revelaria ao rei a interpretação.

17 - Então Daniel foi para casa, e fez saber o caso a

Hananias, Misael e Azarias, seus companheiros,

18 - para que pedissem misericórdia ao Deus do céu, sobre

esse mistério, a fim de que Daniel e seus companheiros não

perecessem, com o resto dos sábios de Babilônia.

Tendo então saído o decreto do rei para que fossem mortos

todos os sábios, Arioque, o chefe da guarda do rei, responsável

pela execução do decreto, foi buscar a Daniel e seus

companheiros. (verso quatorze)

Daniel não sabia nada sobre o acontecido. Como já disse,

dele não se lembraram a fim de resolver o problema, mas não se

esqueceram na hora de pagar a conta.

De forma muito prudente, procurou saber o porquê de tanta

agressividade do rei, e pergunta ao chefe dos soldados: “Porque

é tão severo esse decreto do rei?”. Arioque deve ter explicado

a Daniel todo o fato acontecido de forma bem detalhada e

precisa. (verso quinze).

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Daniel, o rei teve um sonho que o deixou muito perturbado,

tendo chegado a ponto de perder a paz e o sono. Ele quer saber

qual a relação entre esse sonho e o trono.

Para se esclarecer e para que tivesse de volta a paz e

tranqüilidade, mandaram chamar a todos os sábios, os magos, os

encantadores, os feiticeiros e os caldeus a fim de que

interpretassem o sonho.

Mas o grande problema é que o rei não se lembra do sonho e,

além da interpretação, ele quer também a revelação do sonho e

isso não foi possível. O rei ficou furioso, muito furioso pela

incompetência total de tantos sábios e mandou matar a todos.

Você não foi convidado para participar, mas você é

considerado um gênio, você e seus companheiros.

Conheço a sua fama e a fama de seus companheiros quando se

tratam de inteligência, conhecimento e sabedoria, portanto

estão acima da média, e quem está acima da média é sábio, logo

tem que morrer também!

Após escutar toda a explicação de Arioque, diz o verso

dezesseis que Daniel foi ter com o rei.

Sem dúvida alguma, aqui nesse ponto, já há a intervenção

das mãos de Deus, pois Daniel não tinha nem sequer o direito de

saber, porque estava condenado à morte. O rei decretou e

pronto! Quem é Daniel, escravo estrangeiro, para fazer

perguntas, pois nem foi convidado para tentar a solução do

problema?

Mas não foi só isso, Daniel foi até a presença do rei, e

isso aconteceu quando os sábios já estavam condenados à morte.

Entretanto o rei estava tão ansioso em saber sobre o sonho,

que não perdeu a última e possível chance de saber sobre o seu

futuro, se estava ou não relacionado com o trono, e assim

Daniel pediu ao rei que lhe desse tempo para resolver o

problema.

Daniel expressou ali um ato de fé: “Dá-me tempo, ó rei, e

te darei a solução. Eu te revelarei o sonho e te darei a

interpretação”. Ver verso 16.

Uma demonstração de fé, um compromisso extraordinariamente

sério, pois não havia mortal que resolvesse tal problema; mas

Daniel tinha o Espírito do Senhor. Certamente conhecia a

expressão de Davi. “Entrega o teu caminho ao Senhor e confia

nele, e ele tudo fará”. Salmo 37.5.

O rei também já não tinha alternativa: saber mesmo sobre o

sonho até esse momento, nada!! Quem sabe esse moço me dá alguma

luz! Se com os sábios vivos, Nabucodonosor não tinha esperança,

com todos mortos a situação seria mais difícil ainda! Assim,

Nabucodonosor não tinha escolha, era pegar ou largar. Afinal,

havia um restinho de esperança. Nabucodonosor permitiu a Daniel

um certo tempo, suspendendo temporariamente sua sentença. Na

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verdade o rei queria era saber sobre o sonho e não matar os

sábios de Babilônia. Assim Daniel foi para casa conforme

esclarece o verso dezessete e saiu da presença do rei confiante

em Deus; confiante que Deus o poderia salvar, não somente a

ele, mas também a todos os sábios da Babilônia. Chegando em

casa, convocou os companheiros a fim de que entrassem em

oração. (Verso dezoito).

Daniel entrou pela porta certa, e recorreu ao endereço

certo: A ORAÇÃO a fim de recorrer à misericórdia do Deus do

céu.

Esse é o caminho pelo qual devemos trilhar, na hora da

angústia, na hora do problema insolúvel, na hora da tribulação.

Deus é o nosso refúgio e a nossa fortaleza e socorro bem

presente na angústia. Salmo 46.2.

Para Deus não há o impossível. Ver Lucas 1.37.

Para Deus não há limitação, suas mãos não estão encolhidas

para que não possa salvar e seus ouvidos agravados para que não

possa ouvir. Isaías 59.1

Nós não sabemos qual foi o tempo dado a Daniel. Sabemos

apenas que antes que se esgotasse esse prazo, o Deus dos seus

antepassados lhe revelou o mistério. Seguramente nesta noite

Daniel e seus companheiros passaram a noite em vigília e

oração.

Podemos deduzir aqui, que existe uma parte que é nossa na

aquisição de uma bênção da parte de Deus para nós. Deus atua em

nossas vidas, mas precisamos tomar parte na bênção de Deus para

nós.

c) O DEUS DA REVELAÇÃO

Daniel 2.19-30

19 - Então foi revelado o mistério a Daniel numa visão de

noite; Daniel bendisse o Deus do céu.

20 - Disse Daniel: Seja bendito o nome de Deus de

eternidade a eternidade, porque dele é a sabedoria e o poder;

21 - é ele quem muda o tempo e as estações, remove reis e

estabelece reis; ele dá sabedoria aos sábios e entendimento aos

entendidos.

22 - Ele revela o profundo e o escondido; conhece o que

está em trevas, e com ele mora a luz.

23 - A ti, ó Deus de meus pais, eu te rendo graças e te

louvo, porque me deste sabedoria e poder; e agora me fizeste

saber o que te pedimos, porque nos fizeste saber este caso do

rei.

24 - Por isso Daniel foi ter com Arioque, ao qual o rei

tinha constituído para exterminar os sábios de Babilônia;

entrou, e lhe disse: Não mates os sábios de Babilônia;

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introduze-me na presença do rei, e revelarei ao rei a

interpretação.

25 - Então Arioque depressa introduziu Daniel na presença

do rei, e lhe disse: Achei um dentre os filhos dos cativos de

Judá, o qual revelará ao rei a interpretação.

26 - Respondeu o rei, e disse a Daniel cujo nome era

Beltessazar: Podes tu fazer-me saber o que vi no sonho e a sua

interpretação?

27 - Respondeu Daniel na presença do rei, e disse: O

mistério que o rei exige, nem encantadores, nem magos, nem

astrólogos o podem revelar ao rei;

28 - mas há um Deus nos céus, o qual revela os mistérios;

pois fez saber ao rei Nabucodonosor o que há de ser nos últimos

dias. O teu sonho e as visões da tua cabeça quando estavas no

teu leito são estas:

29 - Estando tu, ó rei, no teu leito, surgiram-te

pensamentos a respeito do que há de ser depois disto. Aquele,

pois, que revela mistérios te revelou o que há de ser.

30 - E a mim me foi revelado este mistério, não porque haja

em mim mais sabedoria do que em todos os viventes, mas para que

a interpretação se fizesse saber ao rei, e para que entendesses

as cogitações da tua mente.

Daniel e seus companheiros tinham pela frente uma difícil e

delicada missão. Entraram pelo caminho da oração e diz o verso

dezenove que o mistério foi revelado numa visão, à noite.

Seguramente Daniel e seus companheiros não estavam dormindo. A

situação era muito grave para conseguirem dormir. Quero crer

que estavam em oração e Deus visitou a Daniel numa visão à

noite. Ao receber a dádiva da revelação do sonho, Daniel

louvou ao Senhor que honrou a sua fé, e com cânticos, louvou a

Deus (Versos 20-23).

Esse Deus entre outros atributos é o Deus da revelação:

“Ele revela o profundo e o escondido; conhece o que está em

trevas, e com ele mora a luz” (Daniel 2.22).

Agora, mais aliviado, e com um coração tranqüilo, de posse

da solução de um problema insolúvel, dentro das condições

humanas, onde se incluía também o próprio Daniel, cuja

revelação (solução do problema) teve origem divina.

De posse da bênção, Daniel enaltece o nome do Senhor e lhe

rende glórias.

Veja os versos dezenove ao vinte e três onde Daniel bendiz

ao Deus do céu e prossegue nos versos seguintes. No verso vinte

dois, Daniel diz que é Deus quem revela o profundo e o

escondido. No verso vinte e três, Daniel agradece a Deus pele

revelação do sonho do rei. Isto se constitui numa verdadeira

lição para nós. Muitas vezes nós só nos preocupamos em receber

a bênção e, uma vez recebida, nos alegramos tanto que

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esquecemos de agradecer, nós esquecemos de louvar ao Senhor e

bendizer seu santo nome.Devemos, antes de tudo, agradecer a

Deus pelas dádivas, porque não as merecemos da parte de Deus,

mas Deus é fiel e misericordioso para conosco.

Daniel, agora de posse da bênção, procura o chefe da

polícia palaciana, Arioque, o chefe da guarda do rei para

trazer-lhe a boa noticia.

Arioque aguardava apenas esgotar o tempo dado pelo rei a

Daniel. Ele não acreditava que Daniel tivesse condições de

resolver tal problema. Era simplesmente um jovem inexperiente,

apesar de muito letrado e cheio de sabedoria. Arioque já se

achava como que executando as ordens do rei. Mas de repente,

eis que surge Daniel na sua presença, e lhe diz:

...Não mates os sábios de Babilônia; introduze-me na

presença do rei, e revelarei ao rei a interpretação. Daniel

2.24.

Arioque não queria acreditar em Daniel, mas o momento não

era para brincadeiras, o assunto era muito sério e o rei era

muito autoritário. Arioque achou por bem introduzir Daniel na

presença do rei.

Arioque não perdeu a oportunidade de autopromoção, não

perdeu a oportunidade de dizer ao rei que muito fizera por

encontrar alguém capaz de resolver tamanho problema. Mas na

realidade ele nada tinha feito pelos sábios e nem tão pouco por

Daniel ou pelo rei, mas se apresentou dizendo:

DANIEL 2.25 - ...“Achei um dentre os filhos dos cativos de

Judá, o qual revelará ao rei a interpretação.

Comportou-se como se tivesse “procurado muito”. (verso

vinte e cinco).

De qualquer forma temos Daniel, e agora está na presença de

um rei que:

a) Se acha extremamente ansioso, verdadeiramente perturbado

a fim de saber o que sonhou e seu significado.

b) Estava descrente quanto a alguém conseguir alcançar tal

objetivo, pois já se convencera de que era humanamente

impossível e eles não tinham acesso aos deuses.

c) Estava agoniado em saber sobre o futuro de seu trono, de

seu reinado, se estava ou não comprometido.

Por isso sua primeira atitude foi perguntar a Daniel:

“Podes tu fazer-me saber o que vi no sonho e sua

interpretação?”(Verso vinte e seis).

Mas Daniel, ciente do papel de seu Deus, antes de atender a

ansiedade do rei, faz-lhe uma breve apresentação do Senhor,

Deus de seus ancestrais, o Deus revelador de mistérios e disse-

lhe:

“O mistério que o rei exige, nem encantadores, nem magos,

nem antropólogos o podem revelar ao rei; mas há um Deus nos

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céus que revela os mistérios, pois fez saber ao rei, o que há

de ser nos últimos dias”. (Versos 27,28).

E assim Daniel tranqüilizou a Nabucodonosor, e não

aproveitou a oportunidade para autopromoção e nem roubou a

glória de Deus. No verso 30, temos:

DANIEL 2.30 - E a mim me foi revelado este mistério, não

porque haja em mim mais sabedoria do que em todos os

viventes, mas para que a interpretação se fizesse saber ao rei,

...

O crente temente a Deus, não é oportunista, com relação a

benefícios próprios, mas o é para exaltar a Deus, enaltecer o

seu santo nome e render-lhe glórias.

Agora, Daniel se posiciona para:

Primeiro: passar o sonho ao rei.

Segundo: interpretá-lo ali na presença do rei.

d) A REVELAÇÃO DO SONHO

Daniel 2.31-35

31 - Tu, ó rei, estavas vendo, e eis aqui uma grande

estátua; esta, que era imensa e de extraordinário esplendor,

estava em pé diante de ti; e a sua aparência era terrível.

32 - A cabeça era de fino ouro, o peito e os braços de

prata, o ventre e os quadris de bronze;

33 - as pernas de ferro, os pés em parte de ferro, em parte

de barro.

34 - Quando estavas olhando, uma pedra foi cortada sem

auxílio de mãos, feriu a estátua nos pés de ferro e de barro, e

os esmiuçou.

35 - Então foi juntamente esmiuçado o ferro, o barro, o

bronze, a prata e o ouro, os quais se fizeram como a palha das

eiras no estio, e o vento os levou, e deles não se viram mais

vestígios. Mas a pedra, que feriu a estátua, se tornou em

grande montanha que encheu toda a terra.

A visão aqui descrita corresponde ao sonho de

Nabucodonosor, do qual tinha se esquecido. Trata-se de uma

visão dada a um gentio, envolvendo o mundo todo, desde

Nabucodonosor, até a segunda volta de Jesus, ali representados

por Nabucodonosor com seu sonho e Daniel.

Trata-se de uma visão que se estende até o tempo do fim.

Essa expressão “tempo do fim”, se refere ao final da

dispensação da graça. Coincide com os tempos dos gentios,

relatado em Lucas 21.24 pelo próprio Jesus. É uma visão que

resume os quatro grandes impérios mundiais, que abrangeriam

todo o período, até a segunda volta de Jesus.

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Aqui os quatro metais representam os governos nos quatro

impérios universais. Vamos esmiuçar um pouco melhor a estátua

ou a visão de Nabucodonosor.

No verso trinta e um, Daniel informa ao rei que ele se

achava “vendo”. Podemos entender que Nabucodonosor olhava como

quem observa o horizonte, quem sabe admirando a beleza natural

em seu reino, ou imaginando quão extenso era seu domínio;

quando, absolvido pelas suas idéias, vê uma grande imagem de

extraordinário esplendor que estava diante dele.

Essa visão foi decorrente de dois fatos, a saber:

1º - Nabucodonosor estava sem sono em seu leito e refletia

sobre sua soberania e a soberania de seu reino. (ver verso

vinte e nove). Quando teve aquela visão, perturbou-se muito em

seu espírito e sentiu um temor profundo quanto ao futuro do seu

reinado. Essa era a raiz da sua preocupação em relação ao

sonho

2º - Deus tinha uma revelação profética para todo o mundo,

através de Daniel.

Daniel ao revelar o sonho de Nabucodonosor, descreveu uma

visão onde Nabucodonosor via uma estátua com aparência

terrível. Na descrição da estátua, provavelmente Daniel quis

enfatizar a intensidade de seu esplendor, portanto a capacidade

da imagem em impressionar quem a via. A visão era de uma emoção

impressionante. Era difícil descrevê-la. Essa estátua era, como

veremos, um símbolo do poder gentio.

Os versos 32 e 33 descrevem essa imagem:

A cabeça era de ouro fino. O peito e os braços eram de prata. O ventre e os quadris eram de bronze. E as pernas eram de ferro e os pés de ferro e barro. O rei contemplava, como que estupefato, aquele esplendor,

que significa e representa o esplendor, a imponência, a

grandeza dos governos humanos, especialmente os impérios

mundiais.

Mas de repente, não mais que de repente, surgiu como que do

nada, uma pedra, sem auxílio de mãos, que veio e feriu a

estátua nos pés. Atentar para o detalhe; nos pés! Não foi na

cabeça; não foi no coração, não foi no peito, mas nos pés. E

com o choque dessa pedra, que esmiuçou inicialmente os pés,

esmiuçou a seguir toda a estátua: pernas, quadril, ventre, etc.

até a cabeça.

Esmiuçou-a. Isso quer dizer: quebrou-a em pedaços tão

pequeninos de modo que o vento levou. Então a extraordinária

estátua “virou pó”.

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41

A pedra não apresentava violência, mas o impacto do choque

foi de efeito extraordinário. Note que a pedra atingiu a

estátua nos pés, mas esmiuçou toda a estátua, sem sobrar nada,

nem vestígio. Não sobrou nada; não se viu mais nada dela.

Mas a pedra que feriu a estátua começou a crescer, crescer

e ficou muito grande, ao ponto de encher a terra.

Esse é o sonho que Nabucodonosor esquecera e tanto o deixou

perturbado. Essa é a visão que Daniel relatou ao rei, sem que o

rei lhe tivesse dito coisa alguma, mesmo porque houvera se

esquecido do sonho. Nabucodonosor concordou com Daniel. Sem

dúvida era realmente esse o sonho que Nabucodonosor teve

naquela noite e de que havia se esquecido.

Vamos à interpretação porque a revelação do sonho já foi

feita por nosso Deus.

e) A INTERPRETAÇÃO DO SONHO

Daniel 2.36-45

36 - Este é o sonho; e também a sua interpretação diremos

ao rei.

37 - Tu, ó rei, rei de reis, a quem o Deus do céu conferiu

o reino, o poder, a força e a glória;

38 - a cujas mãos foram entregues os filhos dos homens,

onde quer que eles habitem, e os animais do campo e as aves dos

céus, para que dominasses sobre todos eles, tu és a cabeça de

ouro.

39 - Depois de ti se levantará outro reino, inferior ao

teu; e um terceiro reino, de bronze, o qual terá domínio sobre

toda a terra.

40 - O quarto reino será forte como ferro; pois, o ferro a

tudo quebra e esmiuça; como o ferro quebra todas as cousas,

assim ele fará em pedaços e esmiuçará.

41 - Quanto ao que viste dos pés e dos dedos, em parte de

barro de oleiro e em parte de ferro, será isso um reino

dividido; contudo haverá nele alguma cousa da firmeza do ferro,

pois que viste o ferro misturado com barro de lodo.

42 - Como os dedos dos pés eram em parte de ferro e em

parte de barro, assim por uma parte o reino será forte, e por

outra será frágil.

43 - Quanto ao que viste do ferro misturado com barro de

lodo, misturar-se-ão mediante casamento, mas não se ligarão um

ao outro, assim como o ferro não se mistura com o barro.

44 - Mas, nos dias destes reis, o Deus do céu suscitará um

reino que não será jamais destruído; este reino não passará a

outro povo: esmiuçará e consumirá todos estes reinos, mas ele

mesmo subsistirá para sempre,

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45 - como viste que do monte foi cortada uma pedra, sem

auxílio de mãos, e ela esmiuçou o ferro, o bronze, o barro, a

prata e o ouro. O Grande Deus fez saber ao rei o que há de ser

futuramente. Certo é o sonho, e fiel a sua interpretação.

Vemos aqui que aquela estátua (imagem) do sonho de

Nabucodonosor traz a representação de todos os diferentes

governos mundiais, desde Nabucodonosor (no presente) até o

final dos tempos. (futuro num futuro distante).

Por governos mundiais podemos entender um governante cujo

domínio se estenda sobre todos os países que de alguma forma

eram independentes.

Ser submisso a outro país implica em pagar-lhe algum

tributo ou imposto ou algum recolhimento na forma de bem ou

serviço. Então reinado mundial ou império mundial seria um

governo que domina outras grandes potências ou outras nações.

O sonho de Nabucodonosor nos informa, através da

interpretação de Daniel, que haverá quatro desses reinos

incluindo o de Nabucodonosor. Esses quatro reinos seriam

representados:

1- Pela cabeça de ouro fino.

2- Pelo peito e braços de prata.

3- Pelo ventre e quadris de bronze.

4- Pelas pernas de ferro, os pés em parte de ferro,

em parte de barro.

A nobreza decrescente dos metais tem significado em cada

reino. Vamos enfocar cada um desses reinos, os quais também

serão estudados nos capítulos posteriores deste livro.

1- A CABEÇA DE OURO

Cada um desses elementos que compõe esta estátua vai

representar um período da história humana.

No verso 37 nós temos a interpretação de Daniel, que a

cabeça de ouro fino representa o governo de Babilônia. Ali

Daniel diz ao rei Nabucodonosor que ele é o rei de reis, a quem

o Deus do céu conferiu o reino, o poder, a força e a glória; em

cujas mãos foram entregues os filhos dos homens, onde quer que

eles habitassem, e os animais do campo e as aves dos céus, para

que dominasse sobre todos eles, sendo ele mesmo a cabeça de

ouro.

Esse ouro representa a nobreza do rei de Babilônia e a

glória de seu reinado, representado aqui por Nabucodonosor, em

cujas mãos o Deus dos céus entregou o poder, a força e a

glória. Foi esse império que iniciou a contagem do tempo dos

gentios. Nabucodonosor foi o governador mundial de maior poder

e glória em todos os tempos. O fato da decrescente nobreza dos

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metais está relacionado com a diminuição da nobreza e do poder

dos governos sucessivos.

Nabucodonosor era absolutista e tinha em suas mãos:

a) A vida dos filhos dos homens

b) A vida dos animais do campo

c) As aves do céu.

O poder de Nabucodonosor não tinha limites: ele era o rei,

o chefe de estado, o juiz de direito, o delegado, o papa, o

primeiro ministro; Nabucodonosor era dono da família toda desde

os pais até os filhos; ele fazia e desfazia e não pedia nada a

ninguém. Foi por essa razão que ele determinou a morte dos

sábios da Babilônia, o que seria executado se não fosse Daniel

e seu Deus. Foi Deus quem lhe outorgou tanto poder sobre a

humanidade, sobre os animais e sobre as aves do céu. Veja os

versos trinta e sete e trinta e oito. Já os impérios

posteriores: Persa e Grécia, já não teriam tanta glória e

esplendor.

No verso trinta e nove Daniel revela que depois de

Nabucodonosor se levantará outro reino já inferior ao seu.

Esse reino “depois de ti” referido no verso trinta e nove

se refere ao governo persa que teve a duração de mais ou menos

200 anos, que vai ter início com Dario e Ciro.

2- O IMPÉRIO PERSA

O império persa iniciou com a conquista de Babilônia por

Ciro, o persa, quando dominou a Beltessazar naquela noite no

banquete em Babilônia.

Estudaremos esse reinado com mais detalhes nos capítulos

posteriores. É representado pela prata do peito e dos braços na

estátua. Durou na faixa de duzentos anos e deu lugar ao

terceiro reinado.

O verso 39 fala do segundo e do terceiro reinado, associado

à prata e ao bronze. Esse segundo reinado representado pela

prata do peito e dos braços teve inicio com Ciro, o Persa e o

terceiro, representado pelo bronze dos quadris e do ventre teve

inicio com Alexandre, o Grande. Esse terceiro reinado foi o

reinado dos gregos, iniciado com Alexandre. Aqui ainda temos um

metal de pouca nobreza, mas ainda nobre: o bronze. Ver verso

trinta e nove.

Mas a nobreza do bronze é inferior ao ouro, e também é

inferior à prata; isso aponta para uma demonstração de nobreza

decadente ou que vai diminuindo de um reinado para outro. O

terceiro reinado durou por volta de 250 anos e deu lugar ao

quarto e último reinado mundial, que nesta imagem ou nessa

estátua, é representado pelas pernas de ferro e pés de ferro e

barro.

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Trata-se do reinado romano, dentro do qual nasceu Jesus.

Verso 40 - Esse quarto reino será forte como o ferro e a

tudo quebra e esmiúça. Esse reinado teve início em 63 a.C. e

foi o reinado que recebeu o Messias e o crucificou.

A estátua de Nabucodonosor tinha duas pernas de ferro, o

que significa que esse reinado teria dois ramos, o que

realmente ocorreu. Por volta do ano de 476 d.C., ocorreu a

cisão do império romano que se dividiu em dois ramos, um com

sede em Constantinopla e outra com sede em Roma.

Descendo mais para os pés nós temos aí uma mistura de ferro

com barro, e temos dez dedos. Posteriormente estudaremos com

detalhes esse fato, mas no momento vou dizer apenas que esse

“pé com dez dedos” se refere a uma época que ainda não chegou,

ainda é futuro para nós, mas que acontecerá no desenvolver da

Septuagésima Semana de Daniel. Isso implica na existência de um

intervalo na vigência desse império. Após a queda de

Constantinopla em 1453 os romanos perderam a hegemonia e

deixaram de ter autoridade sobre outros países, mas sem dúvida

esse reinado terá de se restabelecer e voltar a atuar como

reino universal, onde teremos os dez reinos que representam os

dedos dos pés da estátua. Esses dez reinos terão uma relação

direta com o Anticristo. Esse assunto é mais bem detalhado no

Livro de Apocalipse, que apresenta mais pormenores dessa época.

Daniel, em nenhum momento, apresentou ou se referiu à

Igreja em suas profecias. Também não houve nenhum profeta que

profetizasse sobre a Igreja. Na verdade a Igreja vive um

período especial, chamado período da graça. Esse período não é

contado, nem considerado nas profecias que falam do futuro,

porque não tem relação com Israel. Nesse período Israel está

desligado da figueira verdadeira e se comporta como desviado do

caminho do Senhor. Os Judeus ainda não aceitaram a Jesus como

Messias, e nem O admitiram como Filho de Deus.

Os versos quarenta e um e quarenta e dois falam sobre esse

reinado, no final, se refere aos dez dedos da estátua do sonho

de Nabucodonosor. Aqui nós temos esclarecimento sobre a mistura

ferro, barro e lodo, que aliás não se misturam de forma real,

apenas permanecem juntos. Lodo é uma mistura insalubre e úmida.

Isso fala da fragilidade desse reino ao mesmo tempo em que será

um reinado forte.

No verso quarenta e três temos uma referência que fala de

mistura e casamento, mas que não resultará em mistura. Aqui nós

temos uma referência profética que será estudada lá no capítulo

onze, quando estudarmos o versículo seis. Este reinado será um

reinado forte, pois tem também o ferro além do barro, mas como

o ferro não se une ao barro, e ainda se tem lodo nessa mistura,

também a união desse governo será frágil e efêmera, devendo

predominar o ferro, que é o governo romano ressurgido.

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DANIEL 2.45 - como viste que do monte foi cortada uma

pedra, sem auxílio de mãos, e ela esmiuçou o ferro, o bronze, o

barro, a prata e o ouro. O Grande Deus fez saber ao rei o que

há de ser futuramente. Certo é o sonho, e fiel a sua

interpretação.

No verso quarenta e quatro temos o final desse período; o

final desse reinado, que será o último. Daniel diz que “nos

dias destes reis, o Deus do céu suscitará um reino que não será

jamais destruído; este reino não passará a outro povo:

esmiuçará e consumirá todos estes reinos, mas ele mesmo

subsistirá para sempre”. Aqui nós temos uma referência nítida a

respeito da volta de Jesus com poder e grande glória. Aqui

entendemos que o Reino Milenar de Cristo será implantado por

Deus e será Ele quem esmiuçará e consumirá todos os reinos.

Também observamos aqui no verso quarenta e quatro que uma vez

iniciado o reinado de Jesus, que aqui na terra será o Rei dos

reis e Senhor dos senhores, Jesus nunca mais deixará de ser

Rei. O reinado eterno de Jesus iniciará no Milênio e se

estenderá para a eternidade sem fim.

Ao final do Milênio Jesus entregará o reinado ao Pai e

Deus será o gerenciador Eterno, já no Estado Eterno. Ver 1

Coríntios 15.24

Jesus não receberá o reino de mãos humanas, pois é Ele quem

dá os reinos e quem os estabelece, mas o seu reinado Ele o

tomará pela força de seu poder. Jesus receberá do Pai a

autoridade de Rei (ver Daniel 7.13,14). Jesus será Rei, e nós,

a Igreja, reinaremos com Ele. Mas ao final do Milênio, após

ser exterminada a existência humana natural, Jesus devolverá o

reino ao Pai.

Aquela pedra, que sem auxílio de mãos humanas fere o pé da

estátua e a destrói toda, é Jesus, manifesto em sua segunda

vinda, que será cheia de poder e grande glória.

Nessa vinda, aniquilará a besta que saiu do mar, a besta

que saiu da terra e o dragão. A Bíblia faz referência a Jesus

como pedra em outras referências: Atos 4.11; 1 Coríntios 10.4;

Mateus 25.31,32; 2 Pedro 2.4-7; Lucas 19.14; Lamentações 4.6

DANIEL 2.45 - como viste que do monte foi cortada uma

pedra, sem auxílio de mãos, e ela esmiuçou o ferro, o bronze, o

barro, a prata e o ouro. O Grande Deus fez saber ao rei o que

há de ser futuramente. Certo é o sonho, e fiel a sua

interpretação.

No verso quarenta e cinco fica claro que a estátua foi

destruída TODA (desde a cabeça até os pés) num só instante pela

pedra, sem auxilio de mãos, que esmiuçou o ferro, o bronze, o

barro, a prata e o ouro. Essa estátua representa o governo

humano neste mundo, desde Nabucodonosor até o final e a pedra

tipifica a Jesus em sua segunda vinda.

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46

Na verdade, Nabucodonosor não entendeu bem a respeito da

interpretação, porque esta é de grande abrangência, mas

entendeu o suficiente para lhe trazer a paz. Aquela visão e a

sua interpretação diz respeito ao futuro próximo de

Nabucodonosor, mas também a um futuro distante, envolvendo a

judeus e gentios, e de tal profundidade que não foi possível

entendê-la em toda sua extensão. Nabucodonosor ficou contente

com a parte que lhe coube. Estava ansioso para saber sobre seu

reino e seu futuro, e agora sabia. Assim Daniel salvou-se a si

mesmo e a seus companheiros e também a todos os sábios,

caldeus, magos e astrólogos, contemporâneos seus, pois, sem o

sonho e sua interpretação,estavam todos condenados.

Assim cumpriu Nabucodonosor suas promessas e reconheceu a

soberania de Deus, chamando-o por “Deus dos deuses” e o “Senhor

dos reis” e ainda revelador dos mistérios, como se lê no verso

quarenta e sete.

Vamos ver, agora, sobre a recompensa nos versos 46-49.

f) A RECOMPENSA

Daniel 2.46-49

46 - Então o rei Nabucodonosor se inclinou e se prostrou

rosto em terra perante Daniel, e ordenou que lhe fizessem

oferta de manjares e suaves perfumes.

47 - Disse o rei a Daniel: Certamente, o vosso Deus é Deus

dos deuses, e o Senhor dos reis, e o revelador de mistérios,

pois pudeste revelar este mistério.

48 - Então o rei engrandeceu a Daniel, e lhe deu muitos e

grandes presentes, e o pôs por governador de toda a província

de Babilônia, como também o fez chefe supremo de todos os

sábios de Babilônia.

49 - A pedido de Daniel, constituiu o rei a Sadraque,

Mesaque e Abede-Nego sobre os negócios da província de

Babilônia; Daniel, porém, permaneceu na corte do rei.

Nabucodonosor, agora de posse da interpretação do seu

sonho, reconhece a participação de Deus nesse processo. No

verso quarenta e seis e quarenta e sete nós vemos, pela

primeira vez, O grande Nabucodonosor se inclinando e prostrando

seu rosto em terra, perante um homem, seu súdito. Nabucodonosor

desce de seu mais alto pedestal e se inclina num gesto de

humildade diante de um novo Deus que ele não conhecia,

reconhecendo que esse Deus é o Deus dos deuses. Essa cena nos

dá a idéia da extensão de sua admiração pela consumação do

fato, mesmo porque sua fatia no bolo não era a pior. Deus lhe

houvera sido longânimo e ele fez honrar a Daniel com oferta de

manjares e suaves perfumes.

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No verso quarenta e sete, Nabucodonosor reconhece o Deus

dos judeus, o Deus para ele desconhecido até então, como

revelador de mistérios, dizendo para Daniel: “Certamente, o

vosso Deus é Deus dos deuses, e o Senhor dos reis, e o

revelador de mistérios, pois pudeste revelar este mistério”.

Verso 48:- Nabucodonosor, numa forma de agradecimento, e

muito mais para tê-lo a seu lado, fez Daniel chefe supremo de

todos os sábios na Babilônia e ainda o colocou como governador

de todas as províncias de seu reino.

Aqui inicia a glória de Daniel, que foi maior que a de

José.

José foi governador do Egito, mas Daniel o foi de todas as

províncias de Babilônia e chefe supremo de toda sabedoria.

Convém salientar também, nesta altura, que Daniel não se

esqueceu de seus companheiros. Na hora da aflição Daniel

lembrou de procurá-los (versos 17,18) a fim de que

intercedessem a Deus em oração. Quando Daniel os procurou foi

prontamente atendido e juntos passaram noites em oração; agora

de posse das bênçãos, Daniel não poderia esquecê-los. Agora

Daniel é glorificado e poderia ter se esquecido de Misael,

Azarias e Ananias, mas não foi assim. Isso é mais que uma lição

para nós.

O verso 48:- diz que: A pedido de Daniel constituiu o rei,

a Sadraque, Mesaque e Abede-Nego sobre os negócios de

Babilônia.

Poucos homens, nesse mundo, tiveram a glória de Daniel,

cuja glória se estendeu até o reinado de Dario e de Ciro.

Assim chegamos ao final do capítulo dois do Livro de

Daniel, como pudemos ver. Um capítulo profético cuja profecia

abrange toda a história humana.

Agora vamos prosseguir na parte histórica desse livro,

estudando o capítulo três.

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48

CAPÍTULO 3

A ESTÁTUA DE NABUCODONOSOR

Esse é o capítulo da colossal estátua de Nabucodonosor,

que não se deve confundir com a estátua do sonho do capítulo

dois. É o capítulo da fornalha de fogo. Podemos dividi-lo em

quatro partes:

A imagem de ouro de Nabucodonosor: Versos 1-7 A grande recusa. Versos 8-18 A fornalha de fogo. Versos 19-25 A exaltação ao Deus de Daniel. Versos 26-29

a) A IMAGEM DE OURO DE NABUCODONOSOR

Daniel 3.1-7

1 - O rei Nabucodonosor fez uma imagem de ouro que tinha

sessenta côvados de alto e seis de largo; levantou-a no campo

de Dura, na província de Babilônia.

2 - Então o rei Nabucodonosor mandou ajuntar os sátrapas,

os prefeitos e governadores, os juizes, os tesoureiros, os

magistrados, os conselheiros e todos os oficiais das

províncias, para que viessem à consagração da imagem que o rei

Nabucodonosor tinha levantado.

3 - Então se ajuntaram os sátrapas, os prefeitos e

governadores, os juízes, os tesoureiros, os magistrados, os

conselheiros e todos os oficiais das províncias, para a

consagração da imagem que o rei Nabucodonosor tinha levantado;

e estavam em pé diante da imagem que Nabucodonosor tinha

levantado.

4 - Nisto, o arauto apregoava em alta voz: Ordena-se a vós

outros, ó povos, nações e homens de todas as línguas:

5 - No momento em que ouvirdes o som de trombeta, do

pífaro, da harpa, da cítara, do saltério, da gaita de foles, e

de toda sorte de música, vos prostrareis, e adorareis a imagem

de ouro que o rei Nabucodonosor levantou.

6 - Qualquer que se não prostrar e não a adorar, será no

mesmo instante lançado na fornalha de fogo ardente.

7 - Portanto, quando todos os povos ouviram o som da

trombeta, do pífaro, da harpa, da cítara, do saltério, e de

toda sorte de música, se prostraram e os povos, nações e homens

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49

de todas as línguas, e adoraram a imagem de ouro que o rei

Nabucodonosor tinha levantado.

Nabucodonosor já se esquecera do Deus revelador dos

mistérios, o Deus que ele havia reconhecido como Deus dos

deuses. Movido em seu egoísmo, embriagado em seu poder, e na

glória de sua majestade, construiu uma imagem que tencionava

instituir como Deus. Era uma colossal imagem, cuja altura era

de sessenta côvados e cuja largura era de seis côvados, e

escolheu a província de Dura como sede de sua mais recente

inovação.

Para se ter uma idéia melhor sobre essas dimensões, elas

equivalem às dimensões da estátua da Liberdade em Nova York e

corresponde a um prédio de dez andares, próximo de trinta

metros de altura e três metros de largura, e tudo de ouro.

Assim podemos avaliar de forma grosseira, de quanto ouro

dispunha o rei. Não se sabe sobre quem a imagem representava:

se Bel, se Nebo ou se o próprio Nabucodonosor, sendo os dois

primeiros, deuses babilônicos. Há quem diga que a imagem era a

figura do rei, mas não há bases para tal afirmação.

Porque será que Nabucodonosor fizera tal proeza? Seria

apenas por vaidade? Seria por que tinha muito ouro e não sabia

o que fazer com ele?

Não, não creio. Embora isso tenha sido fator relevante;

Nabucodonosor tinha um interesse político na coisa.

Nabucodonosor sabia a importância da religião na vida do ser

humano e procurou uma forma de achar um único Deus para todo o

seu reino.

Procurava um Deus que lhe fosse confortável e que pudesse

unir todos os povos ao seu redor. Seria uma religião universal

em seu reino. Criou então uma estátua e apresentou-a como Deus

e determinou pela força de seu poder que seria a divindade

oficial a ser adorada.

Aqui vamos estabelecer um paralelo entre esse primeiro

reinado e o último:

Notemos que o reinado universal humano inicia com uma

grande imagem e também termina com uma grande imagem. Ver

capítulo treze de Apocalipse.

No início foi imposta uma religião universal e quem não adorasse a imagem seria morto; no final temos também a

obrigatoriedade de adoração à imagem e também a condenação aos

que não a adorarem.

Neste início um rei de grande soberba e grande poderio; no final também um governador mundial de grande poder e grande

soberba, ao ponto de ocupar o lugar de Deus.

Mas voltando à imagem de Nabucodonosor, temos no verso dois

todo um dispositivo, toda uma ação desenvolvida a fim da

universalização da nova divindade. Para que esse ato fosse de

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repercussão total e para que tivesse extensão universal,

Nabucodonosor convocou e reuniu a todos os grandes em seu

governo: sátrapas, prefeitos, tesoureiros, governadores,

juízes, magistrados, enfim, todas as autoridades em seu

governo, a fim de que ali estivessem. A finalidade era dupla:

1- Para que tomassem ciência das novas idéias do rei e

adorassem a estátua.

2- Para que exercessem sua autoridade e ajudassem o rei a

conseguir o seu intento.

Verso três, uma vez reunidos, todos na praça pública,

especialmente preparada para o evento, e estando a estátua já

em posição de ser adorada, o culto deveria ter início com ordem

e decência.

O local estava tomado por gente muito importante além do

rei, e através de música convencionou-se organizar o evento.

Haveria um arauto, um anunciador, como se fosse um locutor de

um serviço de auto falantes em nossos dias. Esse seria o

anunciador e organizador das ações ritmadas e ordenadas durante

o processo da consagração da estátua.

O verso quatro apresenta o arauto anunciando as regras e a

quem essas regras são dirigidas: a todos os povos, nações e

homens de todas as línguas. Todos deveriam adorar a estátua ao

som da música dos diversos instrumentos.

No verso seis temos a advertência aos insubordinados à

ordem do rei: Quem não se prostrar, quem não adorar a estátua

do rei; quem recusar a nova divindade, será lançado na fornalha

de fogo ardente.

A fornalha de fogo ardente aqui era o veículo de execução

da pena capital em Babilônia. Quando um indivíduo era condenado

à morte era lançado na fornalha. A Pérsia adotou em sua época

a cova dos leões, que também era usado como veículo da pena

capital. Existiram países que adotaram a cruz, outros a

guilhotina, outros a cadeira elétrica, outros a forca, e assim

a história humana tem variado o instrumento de pena capital, ou

seja, quando da condenação à morte.

Vamos novamente estabelecer um paralelo entre:

Daniel e Apocalipse.

Em Daniel, temos:

a) O primeiro imperador foi absolutista, despótico,

totalitário, e de muito poder.

b) A imposição de uma religião universal pela força

centralizada no imperador.

c) Quem não estiver de acordo é condenado à morte.

Em Apocalipse: 20.4

19.20

24.9-11

13.14,15

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a) O último imperador universal será absolutista,

despótico, totalitário e de muito poder em suas mãos.

b) A imposição de uma religião universal que será imposta

pelo Falso Profeta. Aqui temos a imagem do Anticristo que será

apresentada como Deus, e, portanto deverá ser adorada.

c) Quem recusar a nova filosofia também é condenado.

Assim o período dos gentios iniciou com imposição de deuses

estranhos e terminará da mesma forma, exceto que neste final a

vitória será do Verdadeiro Deus, cujo reinado será universal e

eterno.

Nesse culto, aqui organizado em praça pública e convocado

pelo rei, provavelmente não havia judeus e também Daniel não

estava ali, mas consta que os três companheiros de Daniel

estavam presentes. Não se sabe por que Daniel não se achava

ali, uma vez que era a maior autoridade após a do rei.

Certamente não se encontrava ali no momento, pois não

adoraria a estátua, o que seria registrado para a história.

É pouco provável que estivesse viajando, porque o decreto

do rei exigindo sua presença seria mais forte que qualquer

motivo de viagem. Talvez estivesse doente e impossibilitado de

comparecer, tendo justificado sua falta ao rei. Esta é a

hipótese mais aceitável, uma vez que se encontravam ali todos

os representantes do governo de Babilônia. Quanto aos demais

judeus, embora desviados e afastados do caminho do Senhor, em

pleno exílio, em terra alheia, mantinham viva na memória a

doutrina do monoteísmo e da grandeza de seu Deus. Em se

tratando de adorar aquela imagem, nunca o fariam, por mais

infiéis que fossem. De qualquer forma, a Bíblia só fala dos

companheiros de Daniel.

O texto sagrado fala dos companheiros de Daniel que se

encontravam ali, pois participavam do escalão governamental.

Estes, Ananias, Misael e Azarias, não adoraram a imagem do rei,

se comportaram como verdadeiros crentes e ainda desafiaram a

Nabucodonosor em relação à fidelidade que tinham para com Deus.

Vamos ver essa parte nos versos 8-18.

b) A GRANDE RECUSA

Daniel 3.8-18

8 - Ora, no mesmo instante, se chegaram alguns homens

caldeus, e acusaram os judeus;

9 - disseram ao rei Nabucodonosor: Ó rei, vive eternamente!

10 - Tu, ó rei, baixaste um decreto, pelo qual todo homem

que ouvisse o som da trombeta, do pífaro, da harpa, da cítara,

do saltério, da gaita de foles, e de toda sorte de música, se

prostraria e adoraria a imagem de ouro;

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11 - e, qualquer que não se prostrasse e não adorasse,

seria lançado na fornalha de fogo ardente.

12 - Há, uns homens judeus, que tu constituíste sobre os

negócios da província de Babilônia: Sadraque, Mesaque e Abede-

Nego; estes homens, ó rei, não fizeram caso de ti, a teus

deuses não servem, nem adoram a imagem de ouro que levantaste.

13 - Então Nabucodonosor, irado e furioso, mandou chamar

Sadraque, Mesaque e Abede-Nego. E trouxeram a estes homens,

perante o rei.

14 - Falou Nabucodonosor, e lhes disse: É verdade, ó

Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, que vós não servis a meus

deuses nem adorais a imagem de ouro que levantei?

15 - Agora, pois, estai dispostos e, quando ouvirdes o som

da trombeta, do pífaro, da cítara, da harpa, do saltério, da

gaita de foles, prostrai-vos e adorai a imagem que fiz; porém,

se não a adorardes sereis no mesmo instante lançados na

fornalha de fogo ardente. E quem é o deus lhe vos poderá livrar

das minhas mãos?

16 - Responderam Sadraque, Mesaque e Abede-Nego ao rei: Ó

Nabucodonosor, quanto a isto não necessitamos de te responder.

17 - Se o nosso Deus, a quem servimos, quer livrar-nos, ele

nos livrará da fornalha de fogo ardente, e das tuas mãos, ó

rei.

18 - Se não, fica sabendo, ó rei, que não serviremos a teus

deuses, nem adoraremos a imagem de ouro que levantaste.

Aqui temos, por parte destes jovens judeus, não somente uma

demonstração de coragem:

Enfrentar Nabucodonosor e até mesmo afrontá-lo. Enfrentar a fornalha de fogo ardente, conseqüência

natural da rebeldia; mas também um ato de muita fé, uma

demonstração de fidelidade absoluta a esse Deus.

Judas ao escrever sua carta fala dessa fé no verso três da

referida Epístola: “A fé que uma vez foi dada aos santos”.

No verso oito, podemos observar como o inimigo é ágil,

esperto e astuto: no mesmo instante já acusaram os judeus.

Nessa acusação, do verso dez até o doze, que é uma acusação

verdadeira, que além de acusar já condena, pois cobra ao mesmo

tempo a aplicação da pena. Ver Daniel 10.9 ao 12.

Aqueles acusadores se comportam como se dissessem ao rei:

Oh! Rei, aqueles três jovens que não querem adorar a imagem, é

gente da corte, e daí, oh! rei? Vai ficar por isso mesmo? É

gente que possui obrigação de adorar a imagem, pois exerce

cargo de confiança do rei. Eles não servem a teus deuses e

ainda fizeram pouco de ti! Eles não vão receber o castigo que

prometeram a todos aqueles que não adorassem a sua estátua?

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Veja que não é apenas uma acusação, mas também uma

condenação sumária. Na realidade, queriam ver aqueles judeus

castigados, mortos sem direito à defesa.

Mas nos versos treze e quatorze vemos Nabucodonosor dando

aos judeus uma oportunidade, estava a fim de esclarecer algum

mal entendido, afinal tinham obrigação de agradarem ao rei:

primeiro, para não serem mortos; segundo, exerciam cargo de

confiança do rei.

O verso 13 diz que trouxeram os jovens para bem perto do

rei. Era olho no olho. E Nabucodonosor lhes pergunta:

“É verdade, ó Sadraque, Mesaque e Abede-Nego que vós não

servis a meus deuses nem adorais a imagem de ouro que

levantei”?

O rei entendia que tivesse ocorrido algum mal entendido e

pergunta a seguir, no verso 15: "Agora, pois, estais dispostos

e, quando ouvirdes o som da trombeta, do pífaro, da cítara, da

harpa, do saltério, da gaita de foles, prostrai-vos e adorai a

imagem que fiz”? Ainda no mesmo versículo, o rei complementa

com uma ameaça: se não a adorardes sereis no mesmo instante

lançados na fornalha de fogo ardente.

Após chamar a atenção dos jovens judeus, e fazer a ameaça

que fez; isto é: joga-los dentro da fornalha de fogo ardente,

Nabucodonosor extrapola o uso de sua autoridade dizendo: (ainda

no mesmo verso 15).

“Eu quero ver qual é o deus lhe vos poderá livrar das

minhas mãos”?

Essa expressão foi um verdadeiro desafio ao Deus de

Sadraque, Mesaque e Abede-Nego!

Aqui na seqüência, no verso quinze, nós vemos que

Nabucodonosor já havia se esquecido dos fatos acontecidos no

capítulo dois, no segundo ano de seu reinado, quando reconheceu

o Deus de Daniel como sendo:

Deus dos deuses Senhor dos reis Revelador de mistérios

A partir dessa expressão de Nabucodonosor: E quem é o deus

que vos poderá livrar das minhas mãos? A coisa extrapolou o

âmbito humano e o desafio passou para o Deus dos deuses, o

Senhor Jeová que seria o Deus daqueles jovens.

Nabucodonosor desafiou o Deus dos judeus na presença de

tanta gente, querendo ocupar o lugar de Deus, como quem dizia:

“Eu sou o ser superior aqui, e minhas ordens não há quem possa

revogar.” É como se dissesse: “Eu quero ver se existe um Deus

que seja capaz de livrá-los da minha mão, pois não há maior que

eu nem mesmo entre os deuses”.

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Esse foi o motivo pelo qual Deus permitiu que os três

fossem jogados na fornalha. Mostrar não só a Nabucodonosor, mas

a todos e ao mundo que existe DEUS que tudo pode, e é superior

a todos os seres existentes, pois tudo é obra de suas mãos.

Deus assumiu o comando a partir dali, porque o desafio não é

para aqueles jovens, mas para Deus.

Deus poderia tê-los poupado disso tudo, como poupou a

Daniel. Deus poderia aplacar a ira de Nabucodonosor e através

dele mesmo não permitir que fossem jogados na fornalha, mas não

o fez. Deus poderia intervir na mente de Nabucodonosor de modo

a ficar o dito pele não dito, mas Deus aceitou o desafio e

decidiu mostrar para ele “qual é o Deus que pode livrar aqueles

moços de suas mãos”.

É uma situação semelhante a de Moisés, Arão e os reis do

Egito. Deus poderia tirar de lá o seu povo sem a realização das

dez pragas, mas Deus queria mostrar ao povo quem é esse Deus.

Aqui ele vai mostrar para Nabucodonosor “quem é esse Deus que

poderá livrá-los de sua mão”.

Mas numa demonstração de fé e de muita coragem, aqueles

três homens mostraram que o seu Deus é superior a TUDO e a

TODOS e que, portanto, permanecerão fiéis. Por essa razão,

respondem ao rei: “Ó Nabucodonosor, quanto a isto não

necessitamos de te responder...” (Daniel 3.16).

Aqui eles se referiam à pergunta do rei sobre adorarem a

estátua e servirem a seus deuses no verso 15. É como se a

resposta deles fosse assim:

- Ó rei, tu nos conhece o suficiente para saber sobre

nossas convicções, e tu sabes muito bem que não servimos aos

teus deuses e que jamais adoraremos “algo qualquer” que se nos

imponham a não ser o Deus de nossos pais. Tão pouco adoraremos

essa estátua de ouro que fizestes, verdadeiro desperdício com

tanto ouro. Trata-se de uma imagem que levantaste como deus

para ser adorado. Portanto, quanto a isto não necessitamos de

te responder.

No verso 17 e 18, nós temos uma verdadeira demonstração por

parte dos jovens, a respeito de sua convicção sobre o Deus de

seus pais, quando dizem para o rei: “Se o nosso Deus, a quem

servimos, quiser livrar-nos, ele nos livrará da fornalha de

fogo ardente, e das tuas mãos, ó rei. Se não, fica sabendo, ó

rei, que não serviremos a teus deuses, nem adoraremos a imagem

de ouro que levantaste”.

Aqueles jovens tinham uma intima comunhão com Deus ao ponto

de acharem que Deus os poderia salvar da fornalha, mas se o não

fizesse, eles aceitariam da parte de Deus como sua melhor

escolha. Ë como se pensassem assim:

1- Nosso Deus pode nos livrar da fornalha sem nenhum

problema.

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2- Agora, nos livrar da fornalha, ou nos livrar das mãos do

rei, é da inteira competência dEle mesmo, e é de sua exclusiva

vontade, o que nós respeitamos piamente.

3- Se Ele não nos livrar é porque simplesmente lho aprouve.

4- De qualquer forma, ó rei!, Deus nos livre da fornalha ou

não, fica tu sabendo:

a) Não serviremos a teus deuses.

b) Não adoraremos a tua imagem.

Veja que isso não é só uma prova de fé, mas também uma

demonstração de muita coragem. Devemos nos lembrar que isso

ocorria na presença de todas as autoridades do reino e eles

estavam enfrentando a Nabucodonosor pela frente!

Avaliando as atitudes desses homens, os acharíamos

imprudentes e rebeldes ao seu rei. Entenderíamos como um

comportamento bestial; seria a autocondenação. Mas aqueles

homens tinham um coração fiel a Deus e como Daniel, tinham em

seus corações, não se contaminarem com as prostituições dos

caldeus. E Deus honrou aquela fé, e Deus teve o seu nome

glorificado. E assim temos, então, que esses três homens

atendiam ao rei em tudo, e em tudo lhe eram submissos, fazendo

de tudo para o seu sucesso como servos fiéis, desde que não

afrontassem o seu Deus.

Notemos que aparentemente, não haveria problema algum, se

aqueles homens se ajoelhassem naquele momento, mas com o

coração voltado para Deus. Imagine que eles dedicassem a Deus

tal reverência e apenas se ajoelhassem para não comprar

problema com o rei e seu decreto; pois não há nenhum poder

nesses ídolos e para nós não significam nada. Ajoelhar-se

diante de um tronco natural de árvore ou ajoelhar-se diante

dele depois de ser esculpido como obra de escultura não há

diferença alguma.

Mas aqueles homens entendiam que se procedessem assim,

estariam traindo a fidelidade com seu Deus.

Grandes pecados iniciam com pequenos desvios. O efeito

letal de doses mortíferas de veneno é neutralizado quando

iniciadas por pequenas quantidades. Na verdade é o famoso “um

pouquinho não faz mal que vem disfarçado de inofensivo”.

Os grandes alcoólatras iniciaram com pequenas doses. Os

grandes fumantes iniciaram sem dependência alguma da nicotina.

Paulo nos ensina que devemos fugir da aparência do mal.

Ver 1 TESSALONICENSES 5.22 - “Abstende-vos de toda a

aparência do mal.

Aqueles homens eram fiéis ao seu rei, mas eram mais fiéis

ao seu Deus. Eles dariam a vida para agrado e defesa do rei,

pois eram fiéis súditos da Babilônia, mas acima de tudo Deus.

Jesus trouxe ensinamento semelhante, veja Mateus 22.36.

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Aqueles homens entenderam que o desafio era para Deus e não

para eles e ficaram em seus lugares na dispensação do Senhor.

Com esse cenário, Nabucodonosor se enfureceu muito, e no

seu orgulho ferido desenvolve a condenação. Vamos à fornalha de

fogo.

c) A FORNALHA DE FOGO Daniel 3.19-25

19 - Então Nabucodonosor se encheu de fúria, e,

transtornado o aspecto do seu rosto contra Sadraque, Mesaque e

Abede-Nego, ordenou que se acendesse a fornalha sete vezes mais

do que se costumava.

20 - Ordenou aos homens mais poderosos que estavam no seu

exército, que atassem a Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, e os

lançassem na fornalha de fogo ardente.

21 - Então estes homens foram atados com os seus mantos,

suas túnicas e chapéus, e suas outras roupas, e foram lançados

na fornalha sobremaneira acesa.

22 - Porque a palavra do rei era urgente e a fornalha

estava sobremaneira acesa, as chamas do fogo mataram os homens

que lançaram de cima para dentro a Sadraque, Mesaque e Abede-

Nego.

23 - Estes três homens, Sadraque, Mesaque e Abede-Nego,

caíram atados dentro da fornalha sobremaneira acesa.

24 - Então o rei Nabucodonosor, se espantou, e se levantou

depressa e disse aos seus conselheiros: Não lançamos nós três

homens atados dentro do fogo? Responderam ao rei: É verdade, ó

rei.

25 - Tornou ele e disse: Eu, porém, vejo quatro homens

soltos, que andam passeando dentro do fogo, sem nenhum dano; e

o aspecto do quarto é semelhante a um filho dos deuses.

Temos vários aspectos a serem considerados nos versículos

19 ao 25:

1- Um homem enfurecido perde a razão, perde a visão, perde

a capacidade de raciocínio e age pela intuição animalesca. Por

causa disso pode não alcançar seu objetivo e muitas vezes

complicar mais uma situação que poderia ser evitada se houvesse

calma.

2- O livramento dos companheiros de Daniel não foi somente

das chamas do fogo, pois precisamos lembrar e entender que eles

CAÍRAM dentro da fornalha, provavelmente com as mãos amarradas

ao corpo e por isso poderiam ter se machucado muito na queda.

3- Após o evento da fornalha, a glória de Deus se

manifestou em todo o reino.

4- A visão do quarto homem foi dirigida exclusivamente a

Nabucodonosor por ter sido ele quem desafiou a Deus.

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5- Deus fez uso da fidelidade e da fé daqueles homens para

glorificar seu nome e para manifestação de seu poder.

Analisemos o primeiro tópico, onde vemos um homem

enfurecido. Diz o verso 19 que Nabucodonosor:

a) Encheu-se de fúria

b) Ficou com o rosto transformado

Isto quer dizer que o ódio de Nabucodonosor era tanto que

transpareceu no seu semblante. Tinha as características de um

furor incontrolável. Ora, um homem quando quer alcançar algum

objetivo, deve manter a calma, pois carreira não é pressa e

quem tem pressa pode se dar mal.

Vejamos quais foram as atitudes de Nabucodonosor,

decorrentes de seu ódio e que sem dúvida surtiram o efeito

contrário àquele que desejava ao dar as ordens, decorrentes de

seu estado de ira:

I - Mandou que se aquecesse a fornalha sete vezes mais.

Isso nem sempre é possível, e a ordem dele pode não ter sido

cumprida, pois existe um limite para a temperatura natural,

limite esse adequado a cada estrutura, cada forma e cada

ambiente.

Não sabemos a morfologia daquela fornalha, mas tenho

certeza que aquecê-la sete vezes mais não foi possível, sendo

possível fornecer sete vezes mais combustível e comburente, o

que não implica em aquecê-la sete vezes.

II - Quando o rei mandou aquecê-la sete vezes, o que ele

pensou foi em aumentar o sofrimento daqueles jovens sete vezes

mais. Isso na verdade não ocorre, pois as queimaduras seriam

mais intensas e isto proporcionaria uma morte mais rápida e o

sofrimento não aumentaria proporcional ao aquecimento.

Queimaduras superficiais doem mais do que aquelas mais

profundas porque essas destroem os terminais nervosos

periféricos e diminui a transmissão da dor.

III - Em sua ira, Nabucodonosor desafiou a autoridade e o

poder de Deus, quando seu problema era apenas com os jovens, e

não com o Deus deles. Não passou por sua mente em nenhum

instante que algum Deus os pudesse salvar e por isso a aqueceu

sete vezes.

IV - Arregimentou os homens mais fortes de seu exército,

sem nenhuma necessidade, apenas fruto de seu furor. Era uma

garantia para si mesmo, a fim de satisfazer a ira de seu furor.

Com isso, aqueles homens morreram e o rei perdeu os melhores

homens do seu exército. Se não fosse a sua ira, esses homens

teriam sido poupados para bem de seu exército.

Certamente Sadraque, Mesaque e Abede-Nego não opuseram e

nem oporiam resistência aos seus algozes, uma vez que a ordem

veio do rei,portanto não havendo necessidade nenhuma de uma

ordem como essa.

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V - Analisando esse comportamento na visão do ângulo que

enfoca a glória de Deus, isso só serviu para glorificar ainda

mais o nome do Senhor e envergonhar ainda mais ao homem furioso

e irado, sedento de vingança e pleno ódio. Toda a sua força,

todo o seu poderio, toda a sua glória, foram por terra, porque

só o nosso Deus é Rei e Senhor, e não há Deus fora dEle.

VI - Nabucodonosor não necessitava de aquecer a fornalha

sete vezes, pois em condições habituais servia para matar sem

piedade e sem misericórdia, e não havia quem pudesse se livrar

dela, mesmo em condições normais de aquecimento. A vida humana

é incompatível com temperaturas superiores a 70ºC; nem tão

pouco necessitava de homens fortes, bastava a sua ordem e

qualquer homem, até mesmo o mais fraquinho, o mais franzino de

todos, desenvolveria o cumprimento de sua ordem, uma vez que

Sadraque, Mesaque e Abede-Nego já haviam aceitado ir para a

fornalha, quer Deus os livrasse ou não.

VII - Como sétima conseqüência de tanta ira, mandou que

lançassem na fornalha não só os homens, mas também todos os

seus pertences: os mantos, os chapéus, as roupas, as túnicas,

etc.

Ora nós vamos observar que nada do que era Hebreu sofreu

danos e tudo o que era Babilônico foi destruído. Com isso

aumentou ainda mais a glória de Deus. Queimou-se apenas as

ataduras, a única coisa que dizia respeito aos babilônicos.

VIII - A urgência da execução, porque a palavra do rei era

urgente (verso 22) só contribuiu para o pior resultado, levando

os homens a não terem o cuidado e a vigilância necessários para

se aproximar da boca da fornalha. O vácuo causado pelo calor,

levou-os à perda do controle e do equilíbrio, derrubando-os

dentro da fornalha com os condenados. A pressa é inimiga da

perfeição! A calma, o raciocínio e a reflexão antes de nossas

atitudes podem preservar nossas vidas e nossa condição

financeira também.

Falemos agora sobre o livramento de Deus na fornalha de

fogo ardente.

Foram lançados na fornalha:

a) Os três condenados foram lançados com as mãos atadas.

Isso, certamente, fez com que eles não pudessem utilizar as

mãos e os braços para protegerem-se da queda dentro da

fornalha. Não sabemos as condições nem as dimensões da

fornalha, mas o verso 22 deixa bem claro que existia uma

altura: “... que lançaram de cima para dentro”. Assim sendo,

aqueles homens amarrados ao caírem no fundo poderiam sofrer o

trauma da queda, podendo quebrar um braço, uma perna, a cabeça,

etc. O verso 23 diz: “Esses homens caíram atados dentro da

fornalha” o que reforça a idéia de uma altura da qual “caíram”

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e reforça o fato de não poderem amenizar o impacto da queda,

pois estavam “atados”. Mas a Bíblia diz que eles não tiveram

problema nenhum com a queda!

b) Foram lançados diversos utensílios, especialmente de uso

pessoal, que pudessem trazer ao rei, recordações dessa

desventura, tais como chapéu, túnica, roupas, etc. Mas ao que

parece nada se queimou!

c) Os homens do exército caldeu, quando caíram dentro da

fornalha, também o fizeram com diversos aparatos usados, tais

como, fardamento ou equipamento bélico, pois eram homens de seu

exército!

Mas nosso Deus cuida do essencial e não se descuida dos

detalhes.

Dos hebreus, o fogo queimou apenas as ataduras e nada mais! Nem se chamuscaram os seus cabelos e não se queimaram

seus pertences.

Dos caldeus, o fogo foi tão voraz, que os matou só de entrarem na área de sua ação, e os consumiu com tudo que lhes

pertencia, como roupas e armas, exatamente o oposto dos

hebreus.

Aos hebreus, Deus não poupou somente do fogo, mas de um possível traumatismo no fundo da fornalha, pois eles andavam,

como que passeando, dentro da fornalha como se não tivessem

nenhum ferimento. Verso 25: “Eu, porém, vejo quatro homens

soltos que andam passeando dentro do fogo.” Eles começaram a

andar dentro da fornalha para mostrarem que Deus não os livrara

somente do fogo, mas também de qualquer traumatismo devido à

queda, dentro daquela fornalha.

Assim, o aquecimento da fornalha em sete vezes glorificou o

nome do Senhor ainda mais, pois Deus mostrou a Nabucodonosor

que Ele não livrou a Sadraque, Mesaque e Abede-Nego do fogo,

ainda que aquecido sete vezes, mas também os livrou da sua mão

sanguinária e despótica. Lembrar que ele perguntou: (Verso 15).

“E quem é o Deus que vos poderá livrar das minhas mãos”? Está

aí, seu Nabucodonosor: O Deus daqueles jovens pôde livrá-los

das suas mãos!

Deus não só os livrou de suas mãos, como também do fogo e

ainda os colocou a passear dentro da fornalha!!! (isso é que é

Deus!)

Foi uma lição para Nabucodonosor que se viu obrigado, de

forma incontestável, a reconhecer mais uma vez o Deus de

Israel.

Finalmente falemos da manifestação da glória de Deus.

“Então Nabucodonosor se espantou e se levantou depressa e

disse aos seus conselheiros: Não lançamos nós três homens

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atados dentro da fornalha? Sim, responderam eles. Mas o rei

voltou a dizer: pois eu vejo quatro homens soltos, passeando

dentro do fogo e o quarto deles tem aparência dos deuses”.

Era a grande lição de Deus para Nabucodonosor que se achava

o maior do mundo inteiro. Na verdade quero crer, aquela

multidão que se encontrava ali, viu apenas os três soltos na

fornalha, mas Nabucodonosor tinha que ter uma revelação mais

profunda, mais chocante,mais contundente e Deus lhe permitiu

ver a Jesus, pré-figurado, como o quarto homem da fornalha.

Nabucodonosor ASSUSTOU-SE, não tanto pelo milagre, que em

si só era motivo para tanto, mas assustou-se por ver DEUS na

exibição de sua majestade: o quarto homem que tinha aparência

de filho dos deuses. Era a revelação não só do poder de Deus,

mas a representação física de sua própria pessoa, junto com

seus servos fiéis, ali na fornalha de fogo. Nabucodonosor ao

ver tanta glória levantou-se depressa e estupefato; mas era a

verdade incontestável: “Deus não só os livrou, mas estava lá

com eles.”

Assim Deus glorificou o seu nome na manifestação de seu

poder. Deus não salvou a Sadraque, Mesaque e Abede-Nego do fogo

e das mãos de Nabucodonosor, apenas para repreender a

Nabucodonosor no seu orgulho e majestade, mas para mostrar ao

mundo inteiro, e a todas as gerações posteriores, inclusive a

nossa, que Ele é Deus que não desampara, opera maravilhas e faz

tudo o que lhe aprouver. Assim seu nome é glorificado até hoje.

Deus não livrou a Sadraque, a Mesaque e a Abede-Nego da

fornalha, mas salvou-os na fornalha onde esteve presente com

eles.

Deus às vezes não nos livra do vale da sombra da morte, mas

não devemos temer mal algum porque a sua vara e seu cajado nos

protegem e nos consolam.

Vamos agora para a grande exaltação do nome do Senhor:

d) A EXALTAÇÃO DO NOME DO SENHOR

Daniel 3.26-30

26 - Então se chegou Nabucodonosor à porta da fornalha

sobremaneira acesa, falou, e disse: Sadraque, Mesaque e Abede-

Nego, servos do Deus Altíssimo, sai e vinde! Então Sadraque,

Mesaque e Abede-Nego saíram do meio do fogo.

27 - Ajuntaram-se os sátrapas, os prefeitos, os

governadores e conselheiros do rei, e viram que o fogo não teve

poder algum sobre os corpos destes homens; nem foram

chamuscados os cabelos da sua cabeça, nem os seus mantos se

mudaram, nem cheiro de fogo passara sobre eles.

28 - Falou Nabucodonosor, e disse: Bendito seja o Deus de

Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, que enviou o seu anjo, e livrou

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os seus servos, que confiaram nele, pois não quiseram cumprir a

palavra do rei, preferindo entregar os seus corpos, a servirem

e adorarem a qualquer outro deus, senão ao seu Deus.

29 - Portanto faço um decreto, pelo qual todo o povo, nação

e língua que disser blasfêmia contra o Deus de Sadraque,

Mesaque e Abede-Nego, seja despedaçado, e as suas casas sejam

feitas em monturo; porque não há outro Deus que possa livrar

como este.

30 - Então o rei fez prosperar a Sadraque, Mesaque e Abede-

Nego, na província de Babilônia.

Vemos aqui Nabucodonosor (verso vinte e seis) ainda

estupefato, sem acreditar no cenário que presenciava.

Aproximou-se da fornalha ardente e vê os jovens lá dentro da

fornalha andando, num cenário inacreditável. Nabucodonosor

relutou em acreditar naquilo que via, mas era a realidade:

havia quatro pessoas dentro da fornalha, que andavam com muita

tranqüilidade. Mantida a visão daquele cenário, ele chama a

Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, agora já os classificando como

servos do Deus Altíssimo. Um Deus do qual ele tinha se

esquecido, pois já era conhecedor de uma amostra da extensão de

suas maravilhas.

Um Deus que ele desafiara há pouco, quando falara com

aqueles jovens. A sua ira foi substituída pelo espanto e

atônito aguardava aqueles jovens saírem de dentro daquela

fornalha. Nabucodonosor reconhece a sua derrota, pois com nosso

Deus ninguém sai vencedor. Ele só conhece a vitória e para Ele

não há adversário.

Nabucodonosor reconhece a soberania de Deus: Está aí, ó rei

Nabucodonosor, o Deus capaz de livrar esses rapazes das tuas

mãos!!

No verso vinte e sete, vemos todos os governantes se

aproximarem dos rapazes, agora já fora da fornalha, pois

Nabucodonosor os chamara para fora. (Saí e vinde! Verso vinte e

seis).

Quero crer que essa lição não foi só para Nabucodonosor,

mas a todos os babilônicos, todos os povos cativos, e também

para ser escrita no Cânon sagrado para nosso ensino e

edificação. Isso foi escrito para edificação de nossa fé, para

nos despertarmos para crer de fato nesse Deus Todo-Poderoso, o

qual jamais abandona quem nEle confia. Ver Salmo 40.1.

A respeito do quarto homem, que tinha um aspecto diferente:

Esse quarto homem apareceu de forma física, a ser vista por

Nabucodonosor, deixando muito claro para ele, Nabucodonosor,

que se tratava de um ser sobredivino. Isto certamente ocorreu

para que não houvesse nenhuma possibilidade de dúvidas a

respeito do quarto homem. Quero crer, embora a Bíblia não

esclareça esse item, que somente Nabucodonosor viu o quarto

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homem. Da expressão: “Eu, porém, vejo um quarto homem com

aparência do filho dos deuses”, deixa margens sólidas para essa

interpretação; caso contrário ele teria dito: Mas “nós” estamos

vendo um quarto homem, ou “existe” um quarto homem dentro da

fornalha.

Essa visão, acrescida do “pormenor” que somente ele viu o

quarto homem, contribuiu, e muito, para o seu espanto e para

sua conversão a respeito de Deus. Aquele quarto homem

simplesmente desapareceu quando os rapazes saíram da fornalha,

e também não foi visto pelos três rapazes. Daniel certamente

não estava ali e, portanto também não O viu.

Esse episódio maravilhoso seria suficiente para converter

todo o reinado babilônico, e para o povo de Israel solidificar

em muito a sua fé. Mas os corações não se transformam pelo medo

nem pelas leis e decretos e sim por um novo nascimento que

brota de dentro para fora.

No verso vinte e sete temos a equipe técnica analisando os

jovens que saíram da fornalha e constataram, de forma

inequívoca e incontestável QUE: “o fogo não teve poder algum

sobre os corpos destes homens; nem foram chamuscados os cabelos

da sua cabeça, nem os seus mantos se mudaram, nem cheiro de

fogo passara sobre eles”.

No verso vinte e oito, Nabucodonosor glorifica ao Deus que

ele desafiou; exatamente o Deus de Sadraque, Mesaque e Abede-

Nego, que enviou o seu anjo, e livrou os seus servos das sua

mãos. Deus não envergonha aqueles que nele confia.

Assim Nabucodonosor reconheceu a soberania de Deus e nos

versos vinte e nove e trinta o vemos fazendo, determinando e

publicando decretos com respeito à sociedade de seu reino e o

Deus dos judeus.

- “Todo povo, nação, e língua que dissesse blasfêmia contra

o Deus de Sadraque, Mesaque e Abede-Nego seja despedaçado e

suas casas feita em monturo porque não há outro deus que possa

livrar como aquele”.

Nabucodonosor sempre no uso de seu poder autoritário e

despótico, querendo legislar em toda área e em todos os setores

da vida. Daí ele ser a cabeça de ouro na estátua do capítulo

dois. Veja bem: além de ser “cabeça” ainda é de ouro.

Acredito que fora de ISRAEL, cuja maior glória existiu em

Salomão, o reinado de maior glória foi esse de Nabucodonosor,

tendo sido sem dúvida maior que a de Salomão.

E os jovens não poderiam deixar de ser recompensados por

esse ato de fé, de coragem, de heroísmo e de fidelidade aos

seus princípios básicos: prosperaram ainda mais na província de

Babilônia.

Deus não precisava fazê-los prosperar na vida material, já

era de grande monta suas ocupações anteriores, mesmo se fossem

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mantidas sem progresso nenhum. Mas Deus não só os livrou, de

forma miraculosa na fornalha, como também lhe trouxe mais

prosperidade ainda! Porque Deus sempre recompensa o

comportamento de quem é fiel.

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CAPÍTULO 4

A ÁRVORE GIGANTE

Aqui no capítulo quatro prosseguem as profecias, onde temos

novamente Nabucodonosor tendo outra visão, desta vez não

esquecida por ele, e novamente se vê às voltas com a

interpretação da mesma. Trata-se de uma profecia dada

diretamente a Nabucodonosor, interpretada por Daniel.

Os versos um, dois e três são mais relacionados com os

capítulos anteriores e até deveriam fazer parte do capítulo

três, onde Nabucodonosor ainda reconhece a soberania de Deus e

dá testemunho de sua grandeza e de seu poder. Veja os versos de

1-3.

DANIEL 4.1 - O rei Nabucodonosor a todos os povos, nações e

homens de todas as línguas, que habitam em toda a terra: Paz

vos seja multiplicada!

2 - Pareceu-me bem fazer conhecidos os sinais e maravilhas

que Deus, o Altíssimo, tem feito para comigo.

3 - Quão grandes são os seus sinais, e quão poderosas as

suas maravilhas! O seu reino é reino sempiterno, e o seu

domínio de geração em geração.

Nesses versículos podemos ver, pelo menos de forma

aparente, que Nabucodonosor estava verdadeiramente convertido!

Presenciara com seus próprios olhos um cenário capaz de

converter o mais incrédulo dos ateus. Não se esquecer que

Nabucodonosor não só presenciou a cena da fornalha de fogo,

como teve o privilégio de ver a Jesus, pré-encarnado, ali na

fornalha como sendo o quarto homem. Ver Daniel 3.25.

Uma experiência como aquela, a visão da fornalha e dos

homens andando em seu interior, num cenário como o do contexto

um apreço, seria o suficiente para converter todos os

presentes, sem exceção. Nabucodonosor estava maravilhado

conforme se expressa nos versos dois e três, da introdução

deste capítulo.

DANIEL 42.3 - “Pareceu-me bem fazer conhecidos os sinais e

maravilhas que Deus, o Altíssimo, tem feito para comigo. Quão

grandes são os seus sinais, e quão poderosas as suas

maravilhas.

Vamos dividir este capítulo quatro, a partir do verso

quatro, em três partes:

A visão da árvore gigante. Versos 4-18 A interpretação da visão. Versos 19-27 Deus cumpre suas profecias. Versos 28-37

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a) A VISÃO DA ÁRVORE GIGANTE

Daniel 4.4-18

4 - Eu, Nabucodonosor, estava tranqüilo em minha casa, e

feliz no meu palácio.

5 - Tive um sonho, que me espantou; e, quando estava no meu

leito, os pensamentos e as visões da minha cabeça me turbaram.

6 - Por isso expedi um decreto, pelo qual fossem

introduzidos à minha presença todos os sábios de Babilônia,

para que me fizessem saber a interpretação do sonho.

7 - Então entraram os magos, os encantadores, os caldeus e

os feiticeiros, e lhes contei o sonho; mas não me fizeram saber

a sua interpretação.

8 - Por fim se me apresentou Daniel, cujo nome é

Beltessazar, segundo o nome do meu deus, e no qual há o

espírito dos deuses santos; e eu lhe contei o sonho, dizendo:

9 - Beltessazar, chefe dos magos, eu sei que há em ti o

espírito dos deuses santos, e nenhum mistério te é difícil; eis

as visões do sonho que eu tive, dize-me a sua interpretação.

10 - Eram assim as visões da minha cabeça quando eu estava

no meu leito: eu estava olhando, e vi uma árvore no meio da

terra, cuja altura era grande;

11 - crescia a árvore, e se tornava forte, de maneira que a

sua altura chegava até ao céu; e era vista até aos confins da

terra.

12 - A sua folhagem era formosa, e o seu fruto abundante, e

havia nela sustento para todos; debaixo dela os animais do

campo achavam sombra, e as aves do céu faziam morada nos seus

ramos, e todos os seres viventes se mantinham dela.

13 - No meu sonho quando eu estava no meu leito, vi um

vigilante, um santo, que descia do céu,

14 - clamando, fortemente, e dizendo: Derrubai a árvore,

cortai-lhe os ramos, derriçai-lhe as folhas, espalhai o seu

fruto; afugentem-se os animais de debaixo dela, e as aves dos

seus ramos.

15 - Mas a cepa com as raízes deixai na terra, atada com

cadeias de ferro e de bronze, na erva do campo. Seja ele

molhado do orvalho do céu, e a sua porção seja, com os animais,

a erva da terra.

16 - Mude-se-lhe o coração, para que não seja mais coração

de homem, e lhe seja dado coração de animal; e passem sobre ele

sete tempos.

17 - Esta sentença é por decreto dos vigilantes, e esta

ordem por mandado dos santos; a fim de que conheçam os viventes

que o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens; e o dá a

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quem quer, e até ao mais humilde dos homens constitui sobre

eles.

18 - Isto vi eu, rei Nabucodonosor, em sonhos. Tu, pois, ó

Beltessazar, dize a interpretação, porquanto todos os sábios do

meu reino não me puderam fazer saber a interpretação, mas tu

podes; pois há em ti o espírito dos deuses santos.

O capítulo quatro inicia com Nabucodonosor tranqüilo e

feliz. Ao que parece, já devia ter se esquecido novamente de

sua experiência com Deus. Algum tempo se passara e ele tem um

novo sonho, como é referido no versículo 5.

Lendo-se esse conjunto de versos sem uma análise mais

pormenorizada, pode-se ficar confuso sobre o caso; afinal, foi

sonho ou visão que teve Nabucodonosor? Essa dúvida pode surgir

da leitura dos versos quatro e cinco, que dizem:

Verso quatro:- “Eu estava tranqüilo na minha casa e feliz

no meu palácio.”

Isso nos dá a idéia de que estava acordado!

Verso cinco:- “Tive um sonho, que me espantou e quando

estava no meu leito, os pensamentos e as visões da minha cabeça

me perturbaram”.

Aqui ele inicia dizendo que teve um “sonho”, mas adiante

fala nas “visões” que o perturbaram.

Verso dez:- “Eram assim as visões da minha cabeça quando

estava no meu leito” Aqui fala que foi uma visão. E aí eu

pergunto: foi sonho ou visão?!

Na realidade não há confusão, pois Nabucodonosor teve um

sonho. Isso fica claro nos versos: seis, sete, oito e treze.

Na hora do sonho, Nabucodonosor estava dormindo, sem dúvida.

Sonho é um estado de ativação da consciência do indivíduo

no “centro dos sonhos”, região que fica localizada no cérebro e

que estando o indivíduo dormindo, ele tem a nítida sensação de

estar acordado e no pleno desempenho das atividades

desenvolvidas no sonho. Por ser sonho, é tudo irreal, mas no

sonho é tudo como se fosse realidade!

Nabucodonosor quis dizer no verso quatro que a rotina da

vida na casa e no palácio estava bem e feliz. Ele,

Nabucodonosor, não tinha nenhuma preocupação ou problema. No

verso cinco ele se refere a uma ocasião na qual o sonho já era

ocorrido. Agora, deitado em seu leito, acordado, os pensamentos

sobre o sonho o perturbavam intensamente, de modo a “ver” as

visões do sonho em sua mente. É como se visse as imagens do

sonho passando pela sua mente, enquanto estava deitado e

pensativo. É como se o verso quatro e cinco fossem assim:

“Estava tudo bem comigo, em casa e no palácio, quando numa

noite,deitado em meu leito, tive um sonho que me deixou

espantado, e comecei a ficar preocupado, imaginando sobre o

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sonho em minha cama, e parecia ver em minha mente, o sonho

novamente!”.

Nabucodonosor não conseguia mais a tranqüilidade e as

atividades reais se achavam comprometidas, devido a uma

alteração em seu estado de humor, resultante do sonho.

Nabucodonosor foi tomado pelo pânico, pela insegurança, e esta

preocupação o afligia, perturbando-lhe a paz.

Os seus pensamentos lhe tiravam a tranqüilidade. A causa

desse transtorno era fundamentalmente a preocupação com sua

coroa, a preocupação com o futuro de seu reinado. Queria saber

se sua mordomia, sua glória, sua realeza estava ou não

ameaçada, comprometida!

Nabucodonosor faz um decreto (verso seis) pelo qual fossem

introduzidos em sua presença todos os sábios de Babilônia, para

que o fizessem saber a interpretação do sonho. (Verso7) Então

entraram os magos, os encantadores, os caldeus e os

feiticeiros, e lhes foi contado o sonho.

Mas, novamente a dificuldade da interpretação, pois as

coisas de Deus não é para qualquer um.

Nabucodonosor já tinha alguma experiência a respeito de

Deus, entretanto novamente chamou os sábios, magos, astrólogos

e feiticeiros, caldeus e adivinhos a fim de que esses lhe

dessem a interpretação do sonho.

Tudo indica que novamente recorre a seus súditos e se

esquece de Daniel. Nessa época, Daniel já era o chefe dos

sábios e dos magos, mas não sei por que, se estava tão ansioso,

não procurou Daniel já de imediato. Veja o que está escrito no

verso 8 “Por fim se me apresentou Daniel, cujo nome é

Beltessazar”. Isso me dá a nítida impressão que Daniel foi

novamente o último, quando deveria ser o primeiro.

Esse fato está muito relacionado com os grandes talentos

que são esquecidos em sua própria sociedade. O mesmo fato

ocorre na Igreja, que às vezes possui homens verdadeiramente

valorosos, mas que dão frutos em seara alheia. Cantores que

possuem valor em outros campos, porque “o santo em sua casa não

faz milagres”.

Às vezes a “prata da casa” é rica, brilhante, mas não tem

valor.

O SONHO DO CAPÍTULO DOIS E O SONHO DO CAPÍTULO

QUATRO

Existem semelhanças e diferenças entre o sonho do capítulo

dois e do quatro:

Ambos envolveram o rei.

Ambos foram interpretados por Daniel.

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Ambos deixaram Nabucodonosor sem a paz. Em ambos os magos nada puderam fazer por se tratar de

profecia de Deus.

Mas:

O primeiro extrapola o reinado de Nabucodonosor, e

abrange até o Estado Eterno.

O segundo se refere somente a Nabucodonosor

O primeiro foi esquecido, sumiu da mente do sonhador.

O segundo, o sonhador o relatou com detalhes.

O primeiro os magos não puderam interpretar porque não tinham o sonho.

O segundo, não puderam interpretar mesmo tendo o sonho,

porque a revelação estava em Deus e não nos homens ou com

Satanás.

O sonho do capítulo dois se encerra com a derrota do

governo humano.

O sonho do capítulo quatro se encerra com o governo de Nabucodonosor.

Daquilo que está escrito nos versos 4.8 e 4.18 podemos

deduzir que Nabucodonosor tinha certeza, a respeito de Daniel,

que ele desvendaria o sonho. Então, por que será que não o

chamou já em primeiro lugar? Por que passou primeiro por todos

os magos e sábios de seu reino antes de recorrer a Daniel?

Talvez Nabucodonosor quisesse reforçar, diante de si e de

todos, a habilidade de Daniel em comparação com seus magos,

sábios, astrólogos, feiticeiros, etc. Nabucodonosor confiava em

Daniel plenamente!Leia o verso 18: “Tu, pois, ó Beltessazar,

diz a interpretação, porquanto todos os sábios do meu reino não

me puderam fazer saber a interpretação, MAS TU PODES; pois há

em ti o Espírito dos deuses santos”. Dá-nos a entender que

Nabucodonosor queria firmar a superioridade de Daniel em

relação aos demais.

Aqui podemos tirar uma lição para nós: Nossos problemas e

nossas aflições têm que ser levadas para a pessoa certa, sem o

que apenas tornaremos público os nossos problemas e não teremos

deles a solução. Não adianta ficar lastimando, nem tão pouco

murmurando, nem ainda discutindo com a pessoa inadequada.

Corroboram esse pensamento as atitudes da viúva de Zarefat que,

tendo o filho morto, foi procurar o homem de Deus, Elias, em

Samaria. Quando outros a interpelaram pelo caminho, respondia

“tudo vai bem”, e apenas ao homem de Deus foi apresentar o seu

problema e o seu lamento. 2 Reis 4.25.

Enfim, Nabucodonosor tem agora diante de si o homem de

Deus, o único capaz de revelar a interpretação.

Aqui no verso oito vemos que Nabucodonosor tem plena

consciência sobre a inoperância de seus deuses, e quando ele

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diz: “Mas por fim, entrou na minha presença Daniel, cujo nome e

Beltessazar, segundo o nome do meu deus e no qual há o espírito

dos deuses santos”; podemos deduzir que reconhecia que seus

deuses não tinham santidade, seus deuses não tinham vida, seus

deuses não passavam de mitos e folclore, não possuíam espírito

nem vida, e que Daniel tinha um Deus que sobre tudo é santo. O

deus de Daniel tinha vida, operava maravilhas e ainda revelava

o escondido.

No verso nove, Nabucodonosor diz: “Beltessazar, príncipe

dos magos, eu sei que há em ti o espírito dos deuses santos e

nenhum segredo te é difícil”, como se dissesse: “Tens um Deus

operante, vivo, sábio, cuja sabedoria não há limites!” e assim

Daniel ouve da parte do rei, o seu sonho.

Daniel ouviu atentamente a narração do grande monarca, cuja

descrição está nos versos dez a dezessete. Trata-se de:

a) Uma grande árvore, localizada no centro da terra, cuja

altura era muito imensa. Verso dez.

b) A árvore tinha um crescimento ilimitado, no TAMANHO, no

ASPECTO e na força. Verso onze. Podia ser vista até os confins

da Terra.

c) A árvore cresceu tanto, sua folhagem era vistosa,

exuberante, de raro esplendor, de modo que servia de abrigo

para as aves do campo e sua sombra, de abrigo para os animais.

Verso doze.

d) Seus frutos eram viçosos, além de abundantes, de modo a

sustentar toda a carne. Verso doze. Sua fonte alimentar era

inesgotável, sustinha: os animais do campo, as aves do céu e

todos os homens da Terra; (toda a carne diz o verso doze).

Nabucodonosor observava com admiração aquele cenário e,

como que absorvido por ele, pois era uma visão indescritível,

quando se rompe a harmonia da visão e Nabucodonosor vê um

mensageiro vindo do céu, referido por ele como “um santo que

descia do céu” Verso 13, que gritava em alta voz: “Derrubai a

árvore e cortai-lhe os ramos, sacudi as suas folhas e espalhai

o seu fruto; e afugentem-se os animais de debaixo dela e as

aves dos seus ramos.” Verso 14.

Nos versos 15,16 e 17 prossegue o discurso do ser

celestial, do mensageiro do céu, que não se contenta em somente

cortar-lhe os ramos e afugentar os animais, como destruir seus

galhos e suas folhas, eliminando a sombra e os frutos, o abrigo

das aves e o alimento dos animais que dela dependiam.

No verso 15 há uma ordem para se deixar o tronco com suas

raízes sem serem alterados, mas temos também a determinação do

mensageiro: (V.15,16).

a) Seja ele preso à erva do campo com prisão de alta

segurança.

b) Seja regado pelo orvalho do campo.

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c) Sua alimentação seja a erva da terra.

d) Sua companhia sejam os animais.

e) Mude-se-lhe o coração de modo a ser animal.

f) Esta determinação terá a duração de sete estações.

Era a sentença dos “vigiadores” para aquela árvore tão

frondosa: destruição apenas do seu esplendor, da sua aparência,

da utilidade, mas não da sua essência, pois o tronco devia ser

mantido com suas raízes intactas. Com isso se manteria sua

essência, podendo brotar novamente e vir a ser uma árvore tão

frondosa e bela como antes.

Nós sabemos que o tronco e as raízes representam toda a

essência da árvore, pois são as raízes que extraem os

nutrientes de toda a árvore, e o tronco é o intermediário

através do qual há sustentação de todas as estruturas que

compõem toda a árvore.

Neste caso observamos Deus mantendo, desta árvore, o que

lhe é de essencial: o tronco vivo, ligado à fonte de

alimentação de modo a permanecer vivo.

As determinações que lemos nos versos quinze e dezesseis,

apresentadas nos itens a, b, c, d, e, f são relativas a esse

tronco que foi deixado; este deveria ser regado pelo orvalho,

alimentar-se da erva do campo, ter como companhia os animais,

ter o coração mudado, numa sentença com sete anos de duração.

Vemos aqui que essa árvore tem como tronco “algo” que não

pode ser vegetal, pois:

a) Um vegetal se nutre dos elementos retirados da terra

através de suas raízes; mas este aqui vai se nutrir da erva da

terra.

b) Habitualmente um tronco de árvore não tem companhia, mas

esse tem como companhia os animais.

c) Um vegetal não tem coração, mas esse aqui O TEM, pois

diz o verso 16 que ele SERÁ MUDADO para coração de animal, o

que quer dizer que ele tinha um coração que não era de animal.

Veremos adiante que esse tronco de árvore é o próprio

Nabucodonosor, conforme a interpretação de Daniel.

O verso dezessete nos mostra o fundamento deste sonho

profético, que não é outro se não mostrar:

Primeiro: que Deus é soberano sobre todos os soberanos.

Segundo: que é Deus quem dá ou permite o reinado dos

homens.

Terceiro: Deus dá o governo humano a quem quer e tira

daquele que o tem para o dar a quem de sua escolha, até mesmo

ao mais baixo ou mais simples, ou ainda o mais humilde entre os

homens.

Quarto: O verdadeiro domínio de todas as coisas pertence ao

Deus do povo de Judá.

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O verso dezoito deixa patente que se trata de um sonho,

podendo ser redigido assim: “Isso em sonho, eu, rei

Nabucodonosor vi” ou “isso eu vi em meu sonho enquanto dormia”.

Assim temos a narração do sonho por Nabucodonosor a Daniel,

e diante de Daniel, Nabucodonosor anseia pela interpretação e

diz: “este é o sonho que ninguém pôde interpretar, mas que tu o

podes, pois em ti há o Espírito dos deuses santos.”

b) A INTERPRETAÇÃO DO SONHO

Daniel 4.19-27

19 - Então Daniel, cujo nome era Beltessazar, esteve

atônito por algum tempo, e os seus pensamentos o turbavam.

Então lhe falou o rei, e disse: Beltessazar , não te perturbe

o sonho, nem a sua interpretação. Respondeu Beltessazar, e

disse. Senhor meu, o sonho seja contra os que te têm ódio, e

a sua interpretação para os teus inimigos.

20 - A árvore que viste, que cresceu, e se tornou forte,

cuja altura chegou até ao céu, e que foi vista por toda a

terra;

21 - cuja folhagem era formosa, e o seu fruto abundante, e

em que para todos havia sustento, debaixo da qual os animais do

campo achavam sombra, e em cujos ramos as aves dos céus faziam

morada,

22 - és tu, ó rei, que cresceste, e vieste a ser forte; a

tua grandeza cresceu, e chega até ao céu, e o teu domínio até à

extremidade da terra.

23 - Quanto ao que viu o rei, um vigilante, um santo, que

descia do céu, e que dizia: Cortai a árvore, destruí-a, mas a

cepa com as raízes deixai na terra, atada com cadeias de ferro

e de bronze, na erva do campo; seja ele molhado do orvalho do

céu e a sua porção seja com os animais do campo, até que

passem sobre ele sete tempos.

24 - Esta é a interpretação, ó rei; e este é o decreto do

Altíssimo, que virá contra o rei, meu senhor:

25 - serás expulso de entre os homens, e a tua morada será

com os animais do campo, e dar-te-ão a comer ervas como aos

bois, e serás molhado do orvalho do céu; e passar-se-ão sete

tempos por cima de ti, até que conheças que o Altíssimo tem

domínio sobre o reino dos homens, e o dá a quem quer.

26 - Quanto ao que foi dito, que se deixasse a cepa da

árvore com as suas raízes, o teu reino tornará a ser teu,

depois que tiveres conhecido que o céu domina.

27 - Portanto, ó rei, aceita o meu conselho, e põe termo em

teus pecados pela justiça, e às tuas iniqüidades usando de

misericórdia para com os pobres; e talvez se prolongue a tua

tranqüilidade.

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No verso dezenove vemos Daniel “ATÔNITO” por algum tempo.

Existem versões bíblicas que neste verso traduzem esse “algum

tempo” por “quase uma hora”, (Ver Young’s Literal Translation

1998, Almeida Revista e corrigida 1995, por exemplo) e nesse

espaço de tempo, seus pensamentos perturbavam o seu semblante,

de modo que o rei percebeu a mudança exterior de seu aspecto.

Daniel se apresentava “espantado”, estava mudo, não falava

nada, estava pálida, vítima de uma vaso-constrição periférica

percutânea, de origem neurogênica, que foi causada pelo

entendimento da narração que acabara de ouvir. Daniel já sabia

que a interpretação era totalmente desfavorável ao rei.

Daniel, súdito fiel, tinha por seu rei, verdadeiro apreço, e o

bem-estar do seu rei fazia parte de seus propósitos. Ele nunca

desejaria mal ao rei e vendo o mal rodeando o seu senhor,

estava envolvido numa terrível emoção desagradável.

Vendo o rei o estado de Daniel, disse-lhe: Beltessazar, não

te perturbe o sonho, nem a sua interpretação. Daniel 4.19. Mas

Daniel estava assustado e como maior prova de consideração e

apreço para com o rei, responde: Senhor meu, o sonho seja

contra os que te têm ódio, e a sua interpretação para os teus

inimigos.

Nabucodonosor deixou Daniel à vontade para interpretar o

sonho, tranqüilizando-o qualquer que fosse o sentido da

interpretação.

Profetizar contra o rei poderia significar a morte;

profetizar contra o rei poderia significar as conseqüências

mais desastrosas, mas a preocupação de Daniel não foi dessa

natureza. Ele se preocupava realmente com o rei, com o seu

bem-estar.

Assim Daniel se põe a interpretar o sonho do rei, chamando-

o de “Senhor meu”. (Verso dezenove)

Para os que te tem ódio, pois boa coisa não é, e não se trata de boas notícias.

A interpretação seja para os teus inimigos, para que esse mal se volte conta eles.

Mas a Nabucodonosor cabia apenas ouvir a interpretação

profética e a Daniel, a interpretação fiel.

Assim ao longo dos versos seguintes temos a explicação do

sonho para Nabucodonosor.

A árvore:

* aquela árvore tão frondosa, tão grande, tão útil não só

para as aves, mas para todo animal, cuja folhagem era formosa e

cujos frutos abundantes;

* aquela árvore que crescera tanto a ponto de atingir o céu

e a extremidade da terra;

* aquela árvore que fornecia o conforto para os animais e

para as aves do céu;

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Era Nabucodonosor no gozo de sua glória e no domínio de seu

poder que se estendeu até aos extremos da terra conhecida até

então. Verso 20 e 21. Ver verso 22: ”aquela árvore és tu, ó

rei, que cresceste, e vieste a ser forte; a tua grandeza

cresceu, e chega até ao céu, e o teu domínio até à extremidade

da terra”.

Aquela árvore representava a pessoa do rei, pois dele saíam

os recursos para todos e o abrigo às aves e animais. Seu

reinado e poderio se estenderam de tal forma que sua influência

foi representada no sonho por aquela árvore, cujo crescimento

atingiu o céu, e cuja visão atingia o extremo da terra. (Verso

22). Mas no verso vinte e três temos uma quebra nesse cenário

paisagístico tão agradável, de esplêndida admiração, através de

um mensageiro; um santo que desceu do céu e dizia, emitindo uma

ordem sem definição do endereço, sem definir a quem era aquela

ordem:

Cortai a árvore e destruí-a, mas deixai o tronco e não danifiquem em nada suas raízes. E aquele ser prossegue em seu

imperativo discurso:

Mas o tronco, que não deve sofrer danos, seja fixado à terra com prisões seguras, em meio à erva do campo;

Esse tronco deverá ser molhado pelo orvalho do céu que atinge tudo o aquilo que não tem abrigo.

Sua porção alimentar seja junto com os animais do campo, à sua semelhança.

Isso deverá ser mantido até que passe sete tempos. Verso 23.

No verso vinte e quatro, Daniel suspira, inspira um pouco

mais profundo que o habitual e diz ao rei: Esta é a

interpretação, ó rei; e este é o decreto do Altíssimo que virá

sobre o rei, meu senhor.

Nesta altura dos acontecimentos Nabucodonosor não havia

entendido a extensão e o propósito da profecia e olhava para

Daniel como quem queria entendê-lo melhor!

Então Daniel prossegue, esmiuçando a mensagem profética,

numa linguagem mais trivial e ilustrativa:

(Ó rei Nabucodonosor) serás tirado de entre os homens,

perderás o teu trono e também o teu leito, perderás também a

tua família e o teu lar; a tua morada será junto aos animais do

campo, e tu sofrerás uma mudança no modo de comer e passarás a

comer como os bois; passarás a dormir no campo e não mais no

teu leito real, onde gozas a proteção contra as intempéries

naturais; por essa razão o teu corpo será molhado pelo orvalho

do céu, pois dormirás a céu aberto como os bois e os outros

animais. Isso acontecerá sobre ti, até que se passe sete anos a

fim de que reconheças que Deus é muito superior a ti, e que foi

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ele que te deu esse reinado, que tu não tens nada, que és pobre

e estás nu. Tudo o que tens veio desse Deus a quem não

reconheces como teu Senhor, embora, já tenha visto suas

maravilhas, e já tenhas conhecido do seu poder!

Esse Deus é um Deus que dá e que também tira, e quando dá,

o faz a quem quer, imperando apenas a sua vontade que é

absoluta e suprema. Uma vez reconhecido que a Deus pertence a

verdadeira glória, então voltarás a ter o teu trono, eis o

porquê do tronco ser mantido, inalterado, junto com as suas

raízes, o qual voltará a brotar e formará uma nova árvore.

Deus tirará o teu reino, o dará para outros e depois o

devolverá a ti, e isso acontecerá durante sete anos.

Na verdade, com respeito aos “sete tempos” referidos por

Daniel, não sabemos exatamente o que ele quis dizer; pois os

Babilônios tinham duas estações que correspondem ao verão e ao

inverno e não sabemos se as sete estações seriam diretas, o que

daria três anos e meio, ou se sete verões, ou sete invernos de

modo que seriam sete anos.

Aquele rei necessitava se converter em sua grandeza. Ele se

comportava como um deus absoluto e necessitava reconhecer que

Deus é o Senhor, o Deus de Judá, o Deus de Daniel. Mas Deus lhe

deu uma oportunidade, embora na Sua presciência já sabia que

ele não ouviria o conselho de Daniel, apresentado no verso 27:

- Portanto, ó rei, aceita o meu conselho e desfaça-te dos

teus pecados e das tuas iniqüidades e passe a usar de

misericórdia para com os pobres e talvez se prolongue a tua

tranqüilidade.

É como se dissesse ao rei: Ó rei, você comete muita

injustiça. Por exemplo: mandou aquecer a fornalha de fogo sete

vezes para nela jogar meus companheiros que sempre lhe foram

fiéis; e isso só para satisfazer o seu ego. Você ocupa um lugar

mais alto do que aquele que Deus o colocou. Você não tem

misericórdia com os pobres e não respeita a ninguém. Arrependa-

te, pois, aceite esse meu conselho e terá sua tranqüilidade

prolongada, caso contrário está aí a profecia a teu respeito.

Agora ó rei, já tens a interpretação e a orientação que

desejavas. A profecia desta vez é contra ti e a vítima serás

tu, ó rei.

Deus ainda deu para Nabucodonosor, tempo para que se

arrependesse e ouvisse os conselhos de Daniel. Foi somente após

ter passado um período próximo de um ano, quando o rei já tinha

se esquecido totalmente da profecia e da visão, além dos

conselhos de Daniel, é que veio a se cumprir essa visão

profética.

Veremos a seguir que Deus cumpre a sua palavra, e todas

essas coisas sobrevieram sobre Nabucodonosor.

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c) DEUS CUMPRE A PROFECIA

Daniel 4.28-37

28 - Todas estas cousas sobrevieram ao rei Nabucodonosor.

29 - Ao cabo de doze meses, passeando sobre o palácio real

de Babilônia,

30 - falou o rei, e disse: Não é esta a grande Babilônia

que eu edifiquei para a casa real, com o meu grandioso poder, e

para glória da minha majestade?

31 - Falava ainda o rei quando desceu uma voz do céu: A ti

se diz, ó rei Nabucodonosor: Já passou de ti o reino.

32 - Serás expulso de entre os homens, e a tua morada será

com os animais do campo; e far-te-ão comer ervas como os bois,

e passar-se-ão sete tempos por cima de ti, até que aprendas que

o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens, e o dá a quem

quer.

33 - No mesmo instante se cumpriu a palavra sobre

Nabucodonosor, e foi expulso de entre os homens, e passou a

comer erva como os bois, o seu corpo foi molhado do orvalho do

céu, até que lhe cresceram os cabelos como as penas da águia, e

as suas unhas como as das aves.

34 - Mas ao fim daqueles dias eu, Nabucodonosor, levantei

os olhos ao céu, tornou-me a vir o entendimento, e eu bendisse

o Altíssimo, e louvei e glorificarei ao que vive para sempre,

cujo domínio é sempiterno, e cujo reino é de geração em

geração.

O verso de número vinte e oito fala sobre o cumprimento

dessa profecia, quando diz que todas estas coisas sobrevieram

sobre o rei.

Conforme o verso vinte e nove nós vemos que Deus esperou

por um período razoável e um ano depois, sobrevieram sobre ele

todas essas coisas.

Após a profecia, Nabucodonosor não ouviu o conselho de

Daniel e se manteve na rotina anterior, talvez um pouco pior,

pois o período do auge das conquistas já se havia passado.

Nabucodonosor agora é rei de todo o mundo civilizado de então.

Já havia construído o palácio de Babilônia, já havia feito da

cidade de Babilônia um marco iluminado neste mundo, cidade

luxuosa e extravagante para a sua época. A cidade de Babilônia

era sem rival na história universal. Jeremias fala de Babilônia

em Jeremias 51. 41 e Isaías 13.19 e a elevam à categoria de

cidade, jóia dos reinos, glória de toda a terra. Isto quer

dizer que Babilônia extrapola a glória dos caldeus.

Babilônia era uma cidade fechada com muros, na faixa de cem

quilômetros, com noventa metros de altura e aproximadamente

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vinte e cinco metros de largura (espessura); uma verdadeira

fortaleza e que possuía cem portas de cobre.

Convém lembrar aqui que se fôssemos construir hoje, apesar

de todo o avanço da tecnologia, um muro como esse, qual não

seria o seu custo, qual não seria o trabalho, qual não seria o

tempo empregado?

Não sabemos como foi feito naquela época. De qualquer forma

uma verdadeira proeza, pois não dispunham da tecnologia que

conhecemos.

O rio Eufrates passava no seu interior. Era realmente uma

cidade espantosa. A cidade tinha os chamados jardins suspensos,

que por sua beleza e raridade se constituiu numa das sete

maravilhas do mundo antigo.

Ao final de um ano, (verso 29) já esquecido da profecia e

também já esquecido de Deus e já esquecido também de Daniel e

do sonho, lá está Nabucodonosor alimentando sua vaidade, dando

asas à imaginação de seu ego, passeando pelo palácio, quando

começa a regurgitar seu super ego e começa a falar de sua

própria glória: (O verso trinta narra que o rei falou e disse

seguramente em voz alta, provavelmente para si mesmo).

a) Sobre a sua divindade pessoal.

b) Sobre seu poderio religioso, judiciário, concentrado em

suas mãos.

c) Sobre a glória de ser o maior rei e o maior reino até

então.

“Não é esta a grande Babilônia que eu edifiquei para a casa

real, com o meu grandioso poder, e para glória da minha

majestade”? Daniel 4.30.

É como se dissesse: “Não é essa a magnífica obra de minhas

mãos sem a ajuda de Deus, sem a interferência de ninguém, mesmo

porque eu sou o maior, e na minha frente não há ninguém”?

Mas diz o verso trinta e um que ainda estavam na boca do

rei as últimas palavras quando ele ouviu uma voz do céu:“A ti

se diz, ó rei Nabucodonosor: Já passou de ti o reino. Serás

expulso de entre os homens, e a tua morada será com os animais

do campo; e far-te-ão comer ervas como os bois, e passar-se-ão

sete tempos por cima de ti, até que aprendas que o Altíssimo

tem domínio sobre o reino dos homens, e o dá a quem

quer”.Daniel 4.31 e 32.

No verso trinta e três temos a informação de que na mesma

hora se cumpriu a determinação do céu sobre Nabucodonosor.

“No mesmo instante se cumpriu a palavra sobre

Nabucodonosor, e foi expulso de entre os homens, e passou a

comer erva como os bois, o seu corpo foi molhado do orvalho do

céu, até que lhe cresceram os cabelos como as penas da águia, e

as suas unhas como as das aves”.Daniel 4.33.

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Nabucodonosor sem dúvida ouviu aquela voz e tomou ciência

daquela sentença. Ele já houvera sido prevenido, mas não dera

ouvido, até mesmo se esqueceu, mas agora se esgotou o tempo e

na mesma hora ele foi tirado de entre os homens.

Nabucodonosor foi acometido de uma loucura, que é uma

doença mental chamada de ZOANTROPIA. Trata-se de uma doença na

qual a pessoa se acha um animal e se comporta como tal.

Acredito que a doença de Nabucodonosor foi a mais grave

manifestação dessa doença, sendo registrada na Bíblia para

ensino nosso.

Assim o rei Nabucodonosor:

1 - Foi deposto de seu trono numa prova inefável de que:

Deus é realmente soberano, e se há alguém realmente cheio de soberania esse alguém é Deus.

Deus exalta os humildes e reprime os soberbos. Deus entrona e destrona os monarcas da terra conforme

seus beneplácitos, e conduz os governantes por sua (de Deus)

soberania.

2 - Foi humilhado ao extremo, chegando a conviver com os

animais do campo e a viver com eles.

3 - Retornou ao seu trono, não por seus próprios méritos,

mas numa verdadeira prova da misericórdia de Deus. Isso se fez

como prova de que:

Deus vela e cumpre sua palavra. Sua misericórdia é infinita. Deus efetivamente é o Senhor dos Senhores, é o Rei dos

reis e é quem efetivamente reina. É nEle que se concentra todo

o poder.

E assim o sonho profético de Nabucodonosor se cumpriu e o

rei passou sete tempos com os animais, vivendo, comendo e

dormindo como eles, resultado da doença mental que o acometeu.

Nabucodonosor teve a sua mente transformada e acometida de uma

doença que o transformou em um animal. Isto quer dizer que

através da doença Deus lhe tirou a razão, o coração de

sentimentos humanos, os pensamentos associados à linguagem

humana. Em sua mente tratava-se realmente de um animal e se

comportava como tal.

Assim:

Nabucodonosor comeu da erva do campo. Seu corpo foi molhado pelo orvalho, isto é, passou a

dormir exposto às intempéries naturais.

Cresceram-lhes as unhas como a das aves, onde não se

podem desenvolver mais os hábitos da higiene compatíveis com a

sua realeza.

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Cresceu-lhe também o pêlo (isto é, os cabelos de todo o corpo) tornando a sua aparência monstruosa e horripilante,

associada à falta da higiene, pois vivia no campo, como se vê e

se observa ao lermos o verso trinta e três.

Cumprido o tempo determinado por Deus, vemos no verso

trinta e quatro que Nabucodonosor “levantou os olhos para

cima”.

Não há outra saída! A Igreja em Laodicéia foi convidada a

usar colírio comprado do Senhor, porque não se pode usar

colírio sem voltar os olhos para cima.

Moisés levantou a serpente no deserto a fim de que o povo

voltasse o seu olhar para cima.

Com Nabucodonosor não foi diferente. Foi necessário olhar

para cima, numa prova irrefutável e indiscutível de que a sua

posição é lá embaixo!

Diz o verso trinta e quatro que, ao olhar para cima,

voltou-lhe o entendimento. Isso é narrado pelo próprio

Nabucodonosor. Veja Daniel 4.34

“Mas ao fim daqueles dias eu, Nabucodonosor, levantei os

olhos ao céu, tornou-me a vir o entendimento, e eu bendisse o

Altíssimo, e louvei e glorifiquei ao que vive para sempre, cujo

domínio é sempiterno, e cujo reino é de geração em geração”.

Nem todas as doenças são decorrentes de castigo de Deus em

nossa vida. Em virtude de estarmos sujeitos às leis naturais

desta vida, temos todos os problemas decorrentes do simples

fato de vivê-la. Assim não estamos livres dos acidentes

naturais, nem das catástrofes naturais, nem dos problemas

decorrentes das intempéries naturais e podemos adoecer

simplesmente por sermos humanos e que um dia haveremos de

morrer; (exceção apenas aos que forem arrebatados na volta de

Jesus). Mas sem dúvida existem doenças que são castigos de Deus

em nossa vida, como esse caso aqui em apreço.

Nabucodonosor precisava se converter de seus pecados e

ouvir os conselhos de Daniel (verso 27).

Quero crer que, sem dúvida alguma, se Nabucodonosor se

convertesse de seus pecados, praticasse a justiça e usasse de

misericórdia, Deus o teria poupado dessa humilhação.

Muitas vezes sofremos muito devido nosso próprio

comportamento e depois ficamos a pensar que Deus está nos

provando! Ora nós temos que pagar pelos nossos erros; temos

que pagar pela nossa língua quando ela for grande de modo a não

caber em nossa boca. Temos que pagar por não sermos humildes,

pois a arrogância é fator anti-social, e o sofrimento

decorrente disso não é prova de Deus em nossa vida coisa

nenhuma! Trata-se realmente de uma correção de Deus.

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Jó, sim, foi provado por Deus, tanto que ele invocou a Deus

e o convidou a “pesá-lo em balança fiel” (Jó 31.6) a fim de que

Deus visse a sua sinceridade e retidão.

Verso 34, Ao levantar os seus olhos para cima, voltou-lhe

(a Nabucodonosor) o entendimento e Deus o curou daquela doença

tão grave, felizmente rara entre nós.

Na minha experiência pessoal já vi manifestação de doença

psiquiátrica dessa natureza: um jovem achava que era “Jesus” e

um outro achava que era o “Roberto Carlos” e não havia quem os

convencesse do contrário. Essa doença tem pouco resultado

quando em tratamento médico, mas há casos de boa evolução com a

terapêutica adequada.

Nabucodonosor foi então acometido de um mal, fim de uma

lição. Não havia ninguém que pudesse discipliná-lo a não ser

Deus. No verso 34, ao fim daqueles dias, Deus permite a cura

daquele mal e Nabucodonosor levanta seus olhos para cima, única

direção que lhe poderia proporcionar a solução de seu problema;

pois o verdadeiro socorro vem de Cima. Salmo 121.1,2. Assim,

Nabucodonosor:

Nabucodonosor imediatamente reconheceu a soberania de

Deus bendizeu ao Senhor e exaltou o seu glorioso nome.

Glorificou ao Altíssimo que vive para sempre. Reconheceu que seu domínio é ilimitado e seu reino é

eterno.

Nos versos trinta e cinco ao trinta e sete Nabucodonosor,

após reconhecer a soberania de Deus, enaltece o Deus de Daniel:

DANIEL 4.35 - Todos os moradores da terra são por ele

reputados em nada; e segundo a sua vontade ele opera com o

exército do céu e os moradores da terra; não há quem lhe possa

deter a mão, nem lhe dizer: Que fazes?

36 - Tão logo me tornou a vir o entendimento, também para a

dignidade do meu reino tornou-me a vir a minha majestade e o

meu resplendor; buscaram-me os meus conselheiros e os meus

grandes; fui restabelecido no meu reino, e a mim se me ajuntou

extraordinária grandeza.

37 - Agora, pois, eu, Nabucodonosor, louvo, exalto e

glorifico ao Rei do céu; porque todas as suas obras são

verdadeiras, e os seus caminhos justos, e pode humilhar aos que

andam na soberba.

Aqui no verso trinta e cinco vemos Nabucodonosor

reconhecendo a grandeza de Deus.

Assim Nabucodonosor voltou a reinar, (verso 36) acredito

eu, convertido pela força e pela violência. Nabucodonosor viveu

depois disso uma vida diferente como se pode deduzir do verso

37, onde passa a exaltar e a glorificar ao Rei de céu, e passa

a reconhecer que todas as suas obras são verdadeiras, e os seus

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80

caminhos justos, e pode humilhar aos que andam na soberba. Dn

4.37.

Nabucodonosor reinou por volta de quarenta e cinco anos,

aproximadamente entre 609 a 562 a.C. Nós não sabemos exatamente

como morreu, mas ao que parece morreu com a dignidade de rei e

foi a cabeça de ouro da estátua gigantesca do capítulo dois e

se constituiu no primeiro dos reis, nos quatro reinados

universais da história humana posterior.

Daniel não tinha o intuito de ser historiador e por esse

motivo a sua história é cheia de lacunas e assim temos um

grande espaço de tempo entre o capítulo quatro e o capítulo

cinco, talvez perto de trinta anos, onde nada sabemos sobre a

Babilônia ou sobre Nabucodonosor.

Seguramente não houve nenhum fato importante que merecesse

ser narrado por Daniel em todo esse período.

Em todo esse período Daniel permaneceu como homem de

confiança do rei, não somente Daniel, como também seus

companheiros. Veremos que Daniel ultrapassou todo o reinado de

Babilônia, sempre se destacando como homem de Deus fiel em seus

princípios, de caráter moral irrepreensível.

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81

CAPÍTULO 5

A QUEDA DE BABILÔNIA

Aqui no capítulo cinco temos a narração do final do império

babilônico, tendo a Belsazar em exercício do trono A Babilônia

foi conquistada por Ciro, o persa, e por Dario, o medo, dando

início ao segundo império mundial chamado Medo-Persa.

Nessa época Daniel já era um ancião com idade próxima aos

oitenta anos e lendo o capítulo cinco dá para entender que

Daniel se achava como que aposentado ou estava exercendo alguma

atividade fora da corte. Podemos deduzir isso no verso onze

onde diz: “Há no teu reino um homem” que reforça esse

pensamento.

Daniel era um homem muito conhecido naquele reinado, assim

como suas histórias também eram conhecidas em todo o reino.

Tendo morrido Nabucodonosor, a Babilônia entrou em ritmo de

decadência e subiu ao trono um sujeito de nome EVIL MERODAQUE

que reinou por volta de dois anos, e foi assassinado. 2 Reis

25.27-30.

Em seu lugar subiu, para reinar, seu cunhado, NERY GLASSAR,

por um reinado também muito curto (reinou por volta de quatro

anos), foi substituído por LABOCHI MARDUCK, filho de Nery

Glassar, que também foi deposto pelo partido sacerdotal e foi

substituído por NABONIDO, que foi o último rei de Babilônia,

tendo reinado até a queda de Babilônia em 539 a.C.(reinou por

volta de dezessete anos).

Daniel não faz menção de Nabonido, mas refere que Belsazar

lhe ofereceu o terceiro lugar no reino. Ver verso 16: “E serás

o terceiro em meu reino”.

Se Belsazar fosse “rei” efetivo da Babilônia ele teria

oferecido o segundo lugar a Daniel; o que não poderia fazer

porque ele ocupava esse lugar e reinava em Babilônia em

substituição a Nabonido, que era rei efetivo.

Nabonido passou a última parte de seu reinado provavelmente

na Arábia e Belsazar reinava em seu lugar, quando ausente.

Nessa época a população de Babilônia, dentro dos muros, atingia

por volta de um milhão de pessoas. Na noite da derrota,

Belsazar se achava em festa dentro dos muros da cidade, e

confiava na invencibilidade daquela fortaleza e, reunido com

mais de mil pessoas, bebiam e folgavam, quando o inesperado

incrível aconteceu. Vamos ver isso aqui nesse capítulo.

O capítulo cinco pode ser dividido em:

A escritura na parede. Versos 1-12

A interpretação da escritura Versos 13 - 28

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O cumprimento da escritura.

a) A ESCRITURA NA PAREDE

Daniel 5.1-12

1 - O rei Belsazar deu um grande banquete a mil dos seus

grandes, e bebeu vinho na presença dos mil.

2 - Enquanto Belsazar bebia, e apreciava o vinho, mandou

trazer os utensílios de ouro e de prata, que Nabucodonosor, seu

pai, tirara do templo que estava em Jerusalém, para que neles

bebessem o rei, e os seus grandes, as suas mulheres e

concubinas.

3 - Então trouxeram os utensílios de ouro, que foram

tirados do templo da casa de Deus, que estava em Jerusalém, e

beberam neles o rei, os seus grandes, as suas mulheres e

concubinas.

4 - Beberam o vinho, e deram louvores, aos deuses de ouro,

de prata, de bronze, de ferro, de madeira, e de pedra.

5 - No mesmo instante apareceram uns dedos de mão de homem,

e escreviam, defronte do candeeiro, na caiadura da parede do

palácio real; e o rei via os dedos que estavam escrevendo.

6 - Então se mudou o semblante do rei, e os seus

pensamentos o turbaram; as juntas dos seus lombos se relaxaram,

e os seus joelhos batiam um no outro.

7 - O rei ordenou em voz alta que se introduzissem os

encantadores, os caldeus e os feiticeiros; falou o rei, e disse

aos sábios de Babilônia: Qualquer que ler esta escritura, e me

declarar a sua interpretação, será vestido de púrpura, trará

uma cadeia de ouro ao pescoço, e será o terceiro no meu reino.

8 - Então entraram todos os sábios do rei; mas não puderam

ler a escritura, nem fazer saber ao rei a sua interpretação.

9 - Com isto se perturbou muito o rei Belsazar, mudou-se-

lhe o semblante; e os seus grandes estavam sobressaltados.

10 - A rainha-mãe, por causa do que havia acontecido ao rei

e aos seus grandes, entrou na casa do banquete, e disse: Ó rei,

vive para sempre! Não te turbem os teus pensamentos, nem se

mude o teu semblante.

11 - Há no teu reino um homem, que tem o espírito dos

deuses santos; nos dias de teu pai se achou nele luz e

inteligência, e sabedoria como a sabedoria dos deuses; teu pai,

o rei Nabucodonosor, sim, teu pai ó rei, o constituiu chefe dos

magos, dos encantadores, dos caldeus e dos feiticeiros,

12 - porquanto espírito excelente, conhecimento e

inteligência, interpretação de sonhos, declaração de enigmas e

solução de casos difíceis, se acharam neste Daniel, a quem o

rei pusera o nome de Beltessazar; chame-se, pois, a Daniel, e

ele dará a interpretação.

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83

O cenário é de uma grande festa. Essa festa era para

importantes convidados, e não poucos; na presença dos quais

Belsazar bebia vinho. Estimulado pela ação da bebida e na

presença dos maiorais lembrou-se dos vasos sagrados que vieram

de Jerusalém.

No verso dois vemos Belsazar mandando trazer os utensílios

sagrados para que eles todos bebessem neles.

No mundo há um ditado:

“Não se mexe com aquilo que está quieto”. Enquanto Belsazar e seu bando não se envolveram com as

coisas sagradas de Deus, houve tolerância da parte de Deus para

com eles, embora cultuassem seus ídolos e se prostituíssem

naquela grande festa.

Os utensílios sagrados foram trazidos na presença do rei,

como se pode deduzir do verso três, e começaram a beber neles;

o rei, seus maiorais, suas mulheres e concubinas e, como se não

bastasse, com os utensílios sagrados em suas mãos, passaram a

entoar hinos de louvores aos seus ídolos. Verso quatro.

Deus não se deixa escarnecer. Sua paciência tem limites.

Entendeu Deus que aquele povo já ultrapassava seus limites,

pois agora afrontavam ao verdadeiro Deus e provocaram sobre si

a sua ira.

Nessa altura do cenário festivo, quando tudo era festa,

orgia, alegria e bebedeiras, diz-nos o verso cinco:

- “NA MESMA HORA” apareceram uns dedos de mão de homem que

escreviam, defronte do castiçal, (onde havia luz) na parte

estucada da parede (em local propício para a escrita) e o rei

via a parte da mão que ia escrevendo. Verso 5.

Ao ver essa cena, Belsazar perdeu a cor, ficou assustado,

não dava para acreditar, mas era a realidade. Verso 6.

Diante de seus olhos havia, de forma suspensa, uns dedos de

mão de homem escrevendo na parede. Belsazar estava apavorado.

Leia Daniel 5.6.

“Então se mudou o semblante do rei, e os seus pensamentos o

turbaram; as juntas dos seus lombos se relaxaram, e os seus

joelhos batiam um no outro”.

Belsazar estava tremendo, estava assustado, pálido, porque

não dizer atônito! O rei estava tremendo. Mas não era apenas o

rei. Veja o que diz o verso nove:

“... e os seus grandes estavam sobressaltados”.

Também os seus grandes. Todos afrontaram ao Deus dos judeus

e profanaram os utensílios sagrados do templo do Senhor em

Jerusalém.

O escrito da parede era na língua dos caldeus, mas não

entendiam a mensagem, e isto piorou ainda mais a situação de

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angústia, de desespero, de medo e veio a necessidade de se

saber de que se tratava, qual o significado daquela mensagem.

Tratava-se de palavras conhecidas, sem dúvida, mas eram

palavras que se achavam soltas, isoladas e não faziam sentido.

Mas tinham que ter algum sentido, pois sem dúvida não foram

mãos humanas que as escreveram e se tratava de uma mensagem

para o rei.

Por ordem expressa do rei, foram chamados os magos, os

entendidos, a fim de que ajudassem o rei, a fim de que

interpretassem aquele escrito na parede. Mas se tratava de uma

mensagem de Deus, e mensagem de Deus é necessário se ter do seu

Espírito para entendimento. Mas em vão chamaram os sábios, os

encantadores, os feiticeiros, os caldeus e todos os que

poderiam supostamente ajudar.

Lá está o escrito, os dedos que escreveram a mensagem já se

foram, o que resta agora é desespero. Acabou-se a festa, um ou

outro ainda encontra ânimo para beber o vinho. Na verdade,

tanto o rei quanto seus grandes estão preocupados.

O problema extrapolou a sala do banquete e já estava por

toda a corte. Quero acreditar que era noite quando foi feito o

escrito, pois este foi feito “defronte ao castiçal” a fim de

aproveitar a sua luz.

Mas ao final, tudo em vão. No verso oito temos que não

puderam, apesar da sabedoria, da experiência, dos esforços,

fazer saber ao rei a sua interpretação e como conseqüência

aumentou ainda mais a perturbação do rei. Ver versos 8 e 9.

Dá a entender do verso dez que a rainha mãe não participava

da festa. A rainha mãe, certamente informada sobre os

acontecimentos na casa do banquete e sabendo que o rei se

achava perturbado, e que o clima festivo acabara, dando lugar

ao temor e apreensão; veio entrou na sala do banquete.

Ao entrar na sala, procurou o rei e lhe disse: Há no teu

reino um homem, que tem o espírito dos deuses santos; nos dias

de teu pai se achou nele luz e inteligência, e sabedoria como a

sabedoria dos deuses; teu pai ó rei, Nabucodonosor, sim teu pai

ó rei, o constituiu chefe dos magos, dos encantadores, dos

caldeus e dos feiticeiros. Porquanto espírito excelente,

conhecimento e inteligência, interpretação de sonhos,

declaração de enigmas e solução de casos difíceis, se acharam

neste Daniel, a quem o rei pusera o nome de Beltessazar; chame-

se, pois, a Daniel, e ele dará a interpretação. Verso 11 e 12.

Podemos deduzir, da forma de expressão da rainha, que

Daniel não estava freqüentando a corte, de modo assíduo, pois

me parece que Belsazar não o conhecia pessoalmente. Certamente

Daniel se achava na região da Babilônia, pois foi chamado e, ao

que tudo indica, não demorou muito a chegar. Lembrar que os

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muros da Babilônia tinham mais ou menos cem quilômetros de

extensão, o que delimita uma grande área.

Aqui temos novamente uma grande lição. Quando houve um

grave e grande problema na corte, lembraram-se do homem de

Deus, sem dúvida pelo seu bom testemunho crente que gerou

confiança ao ponto da rainha afirmar:

... chame-se, pois, a Daniel, e ele dará a interpretação.

Daniel 5.12

Nós precisamos inspirar, na sociedade onde vivemos, o mesmo

espírito de luz. Precisamos exalar o perfume da Rosa de Saron e

inspirar nas pessoas que nos rodeiam, a confiança nas atitudes

de nossa fé. Tem crentes que se forem lembrados em alguma

circunstância, logo são desabonados: “Esquece esse crente,

porque é muito problemático, é tribuloso e a situação é ruim

sem ele, ficará mais difícil ainda com ele”.

Fruto de mal testemunho, fruto de comportamento leviano,

adeptos do não faz mal. Mas Daniel não era assim, ainda

veremos sobre a integridade de seu caráter, mas sobre a sua fé,

não deixava nenhuma dúvida:

- Há no teu reino um homem que tem o espírito dos deuses

santos.

Oxalá possamos ter uma vida no altar e possamos ser uma

verdadeira luz, úteis na sociedade onde vivemos e nunca,

jamais, servirmos de tropeço para alguém.

Devemos nos lembrar que a nossa recompensa vem de Deus.

Mas voltando ao cenário da festa interrompida, agora surge

uma nova esperança e com ela a certeza da solução. O rei

determinou que Daniel fosse introduzido em sua presença.

Não foi difícil achar o representante do Senhor. Lá estava

ele, talvez como que aposentado em suas funções políticas, mas

no pleno exercício de sua fé. Assim veremos, a seguir, Daniel

na presença do rei.

b)A INTERPRETAÇÃO DA ESCRITURA

Daniel 5.13-29.

13 - Então Daniel foi introduzido à presença do rei. Falou

o rei, e disse a Daniel: És tu aquele Daniel, dos cativos de

Judá, que o rei, meu pai, trouxe de Judá?

14 - Tenho ouvido dizer a teu respeito que o espírito dos

deuses está em ti, e que em ti se acham luz, inteligência e

excelente sabedoria.

15 - Acabam de ser introduzidos à minha presença os sábios

e os encantadores, para lerem esta escritura e me fazerem saber

a sua interpretação; mas não puderam dar a interpretação destas

palavras.

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16 - Eu, porém, tenho ouvido dizer de ti que podes dar

interpretações e solucionar casos difíceis; agora, se puderes

ler esta escritura, e fazer-me saber a sua interpretação, serás

vestido de púrpura, terás cadeia de ouro ao pescoço, e serás o

terceiro no meu reino.

17 - Então respondeu Daniel, e disse na presença do rei: Os

teus presentes fiquem contigo, e dá os teus prêmios a outrem;

todavia lerei ao rei a escritura, e lhe farei saber a

interpretação.

18 - Ó rei! Deus, o Altíssimo, deu a Nabucodonosor, teu

pai, o reino, e grandeza, glória e majestade.

19 - Por causa da grandeza, que lhe deu, povos, nações e

homens de todas as línguas tremiam e temiam diante dele; matava

a quem queria, e a quem queria deixava com vida; a quem queria

exaltava, e a quem queria abatia.

20 - Quando, porém, o seu coração se elevou, e o seu

espírito se tornou soberbo e arrogante, foi derribado do seu

trono real, e passou dele a sua glória.

21 - Foi expulso dentre os filhos dos homens, o seu coração

foi feito semelhante ao dos animais, e a sua morada foi com os

jumentos monteses; deram-lhe a comer erva como aos bois, e do

orvalho do céu foi molhado o seu corpo, até que conheceu que

Deus, o Altíssimo, tem domínio sobre o reino dos homens, e a

quem quer constituí sobre ele.

22 - Tu, Belsazar, que és seu filho, não humilhaste o teu

coração, ainda que sabias tudo isto.

23 - E te levantaste contra o Senhor do céu, pois foram

trazidos os utensílios da casa dele perante ti, e tu, os teus

grandes, as tuas mulheres e as tuas concubinas, bebestes vinho

neles; além disto, deste louvores aos deuses de prata, de ouro,

de bronze, de ferro, de madeira e de pedra, que não vêem, não

ouvem, nem sabem; mas a Deus em cuja mão está a tua vida, e

todos os teus caminhos, a ele não glorificaste.

24 - Então da parte dele foi enviada aquela mão que traçou

esta escritura.

25 - Esta, pois, é a escritura que se traçou: MENE, MENE,

TEQUEL, e PARSIM.

26 - Esta é a interpretação daquilo: MENE; Contou Deus o

teu reino, e deu cabo dele.

27 - TEQUEL: Pesado foste na balança, e achado em falta.

28 - PERES: Dividido foi o teu reino, e dado aos medos e

aos persas.

29 - Então mandou Belsazar que vestissem Daniel de púrpura,

e lhe pusessem cadeia de ouro ao pescoço, e proclamassem que

passaria a ser o terceiro no governo do seu reino.

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Foram então em busca de Daniel, agora a única esperança, e

o encontraram.

Então Daniel foi introduzido à presença do rei. Daniel

seguramente não se encontrava muito longe, pois não nos parece

ter esperado o rei por uma longa viagem de buscar a Daniel. O

rei ao ver a Daniel, pessoa que seguramente não conhecia,

perguntou:

“És tu aquele Daniel, dos cativos de Judá, que o rei meu

pai, trouxe de Judá?”

Belsazar conhecia bem a história de Daniel, pois este era

conhecido em todo o reino. Isso reforça aquela idéia de que

Daniel não estava freqüentando o palácio do rei nesse período

final. Talvez com a morte de Nabucodonosor, devido seu reino

entrar em declínio, na presença de uma instabilidade que

debilitou o reino com uma onda de revoluções e homicídios,

Daniel tenha se afastado de suas funções na corte e fosse viver

alguns anos como se fosse aposentado.

Mas agora, Daniel se vê, novamente, solicitado no palácio e

o rei Belsazar dá testemunho de Daniel através da história de

sua vida:

Tenho ouvido dizer a teu respeito, que o espírito dos

deuses está em ti e que a luz e o entendimento, e a excelente

sabedoria se acham em ti. Verso quatorze.

Belsazar tinha a ficha completa de Daniel, embora pareça

não tê-lo mais na chefia dos sábios e dos entendidos.

Belsazar apresenta para Daniel o motivo de ser trazido à

presença do rei:

“- Acabam de ser introduzidos à minha presença os sábios e

astrólogos, para lerem esta escritura e me fazerem saber a

interpretação, mas não puderam dar à interpretação destas

palavras. (Verso dezesseis).

Eu, porém tenho ouvido sobre ti, agora se puderes ler essa

escritura e fazer-me saber a interpretação, então:

a) Serás vestido de púrpura

b) Terás cadeia de ouro ao pescoço

c) Serás o terceiro no meu reino. (Verso dezesseis).

Mas Daniel era homem de Deus, e o homem de Deus não se

vende, não se deixa levar por elogios, não se embala em canções

de ninar. Daniel o exortou com toda a naturalidade de um homem

cheio do Espírito Santo:

- Teus presentes fiquem contigo e dá os teus prêmios a

outrem, mas quanto ao teu problema eu vou resolver, e a

interpretação da escritura eu ta darei de graça e não tenho

nenhum interesse em suas recompensas. (Verso dezessete).

Mas Daniel não foi direto ao assunto que deveras afetava o

espírito do rei, mas foi mexer no ponto central da coisa,

realmente a causa de tudo aquilo.

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Daniel fez lembrar ao rei um pouco da história de sua

própria família e lembrou-o de Nabucodonosor, seu avô, e seu

relacionamento com Deus. Foram experiências de um grande

monarca que ele bem conhecia, mas não deu valor algum, nem

extraiu para si aprendizado.

Então Daniel recorda a Belsazar que Deus, o Altíssimo, o

Deus dos judeus, ele sim é que tem domínio sobre os reinos da

terra. Daniel lembrou a Belsazar a humilhante situação de seu

avô, que trocou o reino pelo campo, o palácio real pelo céu

aberto, o conforto do lar pela companhia dos animais, as fartas

iguarias de sua mesa pela erva do campo e como animal viveu no

meio deles, até reconhecer que Deus é Senhor. (Versos 18 ao 21)

Mas Belsazar não havia parado um minuto sequer para avaliar

a experiência de seu avô com relação ao Deus dos judeus, e

Daniel se volta para Belsazar e lhe diz:

E, tu, Belsazar, membro íntimo dessa mesma família, não te

humilhaste mesmo sabendo de tudo isto. (Verso vinte e dois) E

pior ainda, prossegue Daniel: Levantaste-te contra o Senhor do

céu, pois ordenaste trazer os utensílios sagrados que eram da

casa dEle lá em Jerusalém, a fim de profaná-los, tu, teus

grandes, tuas mulheres e concubinas, numa verdadeira afronta ao

nosso Deus. Não só profanaste os utensílios sagrados, mas os

desonraste na presença de teus deuses inertes e pagãos,

entoaste hinos de louvores aos deuses mortos e não glorificaste

ao Deus vivo, por isso ó rei, prossegue Daniel, da parte dEle

te foi enviada aquela mão para escrever um recado para ti.

(Verso 23 e 24)

24 - Então da parte dele foi enviada aquela mão que traçou

esta escritura.

25 - Esta, pois, é a escritura que se traçou: MENE, MENE,

TEQUEL, e PARSIM.

26 - Esta é a interpretação daquilo: MENE; Contou Deus o

teu reino, e deu cabo dele.

27 - TEQUEL: Pesado foste na balança, e achado em falta.

28 - PERES: Dividido foi o teu reino, e dado aos medos e

aos persas.

29 - Então mandou Belsazar que vestissem Daniel de púrpura,

e lhe pusessem cadeia de ouro ao pescoço, e proclamassem que

passaria a ser o terceiro no governo do seu reino.

A mensagem de Deus para ti, o’rei, a qual permanece

escrita na parede, eu a interpretarei:

MENE MENE TEQUEL PARSIM (ARA ou ARC 1995)

MENE MENE TEQUEL UFARSIM (ARC 1969)

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NOTA: Temos expressões diferentes a respeito daquilo que

foi escrito na parede na dependência da fonte que traduziu o

texto e da edição considerada. Na edição de Almeida Revista e

Corrigida de 1969, temos a tradução UFARSIN, e na mesma

tradução editada em 1995, já temos a tradução PARSIM

A tradução literal seria:

CONTADO - CONTADO - PESADO - DIVIDIDO

Tratava-se de palavras conhecidas, mas que isoladas não

formava nenhuma mensagem; não formavam sentido em si mesmas.

Vamos ver a interpretação de Daniel:

Verso 26: MENE: contou Deus o teu reino e o acabou

Verso 27: TEQUEL: Pesado fostes na balança e achado em

falta.

Verso 28: PARSIM: dividido foi o teu reino e se o deu aos

medos e persas.

Vamos dividir o comentário aqui em duas partes, a saber:

1- A respeito das palavras

2- A interpretação de Daniel

1 - A respeito das palavras

Nas diferentes versões da Bíblia temos três apresentações

diferentes com uma mesma tradução.

UFARSIM PERES PARSIM

PARSIM é uma palavra plural de PERES, sendo que FARSIM é

uma variante de PARSIM e a letra U antecedendo a palavra

corresponde ao nosso e, conjunção aditiva. Assim teremos que

UFARSIM também é plural de PERES que significa dividido.

É por esse motivo que no verso 25 aparece Parsim e no verso

28 temos a sua substituição por Peres.

PARSIM (plural)

PERES singular

UFARSIM (plural)

(Ufarsim é uma variação de Parsim)

PERES é uma palavra que significa: Dividido

MENE é uma palavra de sentido duplo que significa: NUMERADO

ou PROVADO.

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TEQUEL é uma palavra que traz a idéia de DEFEITUOSO ou de

má qualidade.

2-Sobre a interpretação de Daniel:

Daniel, então, interpreta a escritura: MENE MENE TEQUEL E

PARSIM dessa forma:

Deus provou o teu reino, avaliou-o e achou-o em falta e

por esse motivo, Belsazar, foste pesado na balança de Deus e

foste achado com defeito grave segundo os padrões dos

parâmetros de Deus. Por essa razão, Deus passou de ti o teu

reino e o deu aos medos e persas.

Acredito que Belsazar não entendeu a extensão da gravidade

envolvida na interpretação da escritura, pois se tivesse

entendido, seria aumentado em muito o seu pavor, a sua

preocupação, pois estava ali a palavra profética do seu fim.

Daniel foi claro: O TEU REINO ACABOU! Daniel não lhe disse:

está acabando! Ou acabará num futuro próximo! Mas disse: O TEU

REINO ACABOU!

A maior prova de que Belsazar nada entendeu bem aquela

exposição de Daniel, foi a atitude subseqüente que vemos no

verso 29: “Então mandou Belsazar que vestissem Daniel de

púrpura, e lhe pusessem cadeia de ouro ao pescoço, e

proclamassem que passaria a ser o terceiro no governo do seu

reino”.

Qual reino? O reino dos medos e persas? E quem era ele para

interferir no reino de seus sucessores? Na verdade não

entendera a extensão da interpretação da escritura, cujo

cumprimento seria imediato.

O CUMPRIMENTO DA ESCRITURA

Daniel terminara a interpretação que era totalmente

desfavorável ao rei, e o rei, cumpridor de sua palavra, se pôs

a cumprir sua promessa: Vestir a Daniel com roupas de púrpura.

Acredito que Daniel se retirara da presença do rei e este

ficou perdido nos seus pensamentos.

Logo a seguir, naquela mesma noite, ocorreu a invasão da

Babilônia por Ciro, o Persa o qual se apoderou do reino e o rei

Belsazar foi morto, como podemos ver no verso trinta e trinta e

um do capitulo cinco de Daniel; cumprindo-se assim a

interpretação dada por Daniel que disse ao rei: O TEU REINO

ACABOU!

Era noite, como podemos deduzir do verso trinta. O palácio

do rei é invadido pelas tropas inimigas e naquela mesma noite

Belsazar recebeu o castigo de Deus. Seu trono foi entregue a

Dario, que foi nomeado por Ciro como governador de Babilônia.

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A queda de Babilônia se deu em 539 a.C. sob o comando de

Ciro, o Persa.

Temos bases em escritos tanto Babilônicos como Persas para

deduzir que não houve nenhuma batalha nesta conquista. Parece

que os últimos reis (Nabonido e Belsazar) eram sim tiranos, e

quando o exército inimigo se dispôs a entrar em Babilônia

tiveram o apoio do povo que lhes permitiu a entrada, aclamando-

os como libertadores daqueles tiranos, abrindo-lhes os portões

e facilitando a conquista.

O governo de Dario foi curto. Não se sabe exatamente a sua

extensão, mas sabe-se que era subordinado a Ciro, quem na

realidade o constituiu rei em Babilônia, enquanto prosseguia

nas batalhas em suas conquistas.

Veremos oportunamente, quando estudarmos o capítulo 8, que

Dario é o chifre pequeno do carneiro, enquanto Ciro é o chifre

maior.

Este Ciro é o que foi citado em profecia por Isaías em

Isaías 44.28 e 45.4, há mais de um século antes de seu

nascimento. É também esse Ciro que vai permitir o retorno dos

judeus.

Nessa época Daniel tinha por volta de oitenta e dois anos

de idade e o cativeiro sessenta e oito anos.

Assim terminou o primeiro império mundial, representado

pela cabeça de ouro na estátua profética do capítulo dois e se

instalou a seguir o segundo, que é o representado pela prata.

Os medos e os persas formaram uma coalizão para unirem as

suas forças durante as conquistas onde Dario é representante

dos Medos e Ciro o representante dos Persas.

Cerca de dois anos antes desse evento, Ciro havia atacado a

Belsazar que o enfrentou com seus exércitos de Babilônia. Foi

travada uma batalha na qual os Persas fizeram os Babilônios

recuarem e foram rechaçados para o interior dos muros.

A partir daí Ciro sitiou a cidade, e não mais permitiu aos

Babilônios, liberdade fora dos muros. Mas havia ali estrutura

para resistirem e se manterem ainda por alguns anos. Ciro nesse

tempo desviou o curso do rio Eufrates e entrou na cidade pelo

leito seco do rio, encontrando apoio na população da Babilônia

e talvez até dos seus generais de exército.

Uma vez dada a sentença de Deus, não há fortaleza, e não há

Babilônia que possa resistir. A Palavra de Deus é fiel e

verdadeira de modo a passar o céu e a terra, mas sua Palavra

persiste para todo o sempre.

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CAPÍTULO 6

DANIEL NA COVA DOS LEÕES

Este é o último capítulo do Livro de Daniel que fala do

aspecto histórico de sua vida e de seu livro. Os demais

capítulos estão voltados para a profecia e narram fatos que

ocorreram no período de desenvolvimento dos seis capítulos

anteriores e narram fatos vindouros que se estendem até o

arrebatamento da igreja e o período da tribulação’.

Nesta época, Daniel já está por volta de oitenta e cinco

anos, e nessa idade mantinha-se fiel a Deus e ao trono. Servia

seu rei da melhor forma que podia e não media esforços para a

tranqüilidade do reino.

O reinado de Babilônia já se fora. É lembrança de um

passado não muito distante. Reinava o império Persa, o peito de

prata da estátua de Nabucodonosor, no capítulo dois. Já estamos

no segundo reinado universal, o Medo-Persa. Daniel ainda gozava

de muito prestígio e era amigo íntimo do rei Dario, que reinava

em Babilônia, pois fora Dario constituído rei sobre a Babilônia

por Ciro, o Persa.

A corte estava serena e reinava uma aparente paz. Daniel

invocava o seu Deus todos os dias e se mantinha fiel também ao

rei, a quem tinha verdadeira consideração. O rei tinha Daniel

por grande dentro de seu reino, até que Satanás arma um plano

diabólico para destruir Daniel, o braço direito do rei Dario.

Mas Daniel, agora um “jovem idoso”, era ainda o mesmo jovem

de outrora e se mantinha no mesmo propósito, agora enriquecido

nas experiências da vida.

Esse capítulo pode ser dividido em:

A inveja condena Daniel versos 1 a 15

Daniel na cova dos leões versos 16 a 28

a) A INVEJA

Daniel 6.1 a 15

1 - Pareceu bem a Dario constituir sobre o reino a cento e

vinte sátrapas, que estivessem por todo o reino;

2 - e sobre eles três presidentes, dos quais Daniel era um,

aos quais estes sátrapas dessem conta, para que o rei não

sofresse dano.

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3 - Então o mesmo Daniel se distinguiu destes presidentes e

sátrapas, porque nele havia um espírito excelente; e o rei

pensava em estabelecê-lo sobre todo o reino.

4 - Então os presidentes e os sátrapas procuravam ocasião

para acusar a Daniel a respeito do reino; mas não puderam achá-

la, nem culpa alguma; porque ele era fiel, e não se achava nele

nenhum erro nem culpa.

5 - Disseram, pois, estes homens: Nunca acharemos ocasião

alguma para acusar a este Daniel, se não a procurarmos contra

ele na lei do seu Deus.

6 - Então estes presidentes e sátrapas foram juntos ao rei,

e lhe disseram: Ó rei Dario, vive para sempre!

7 - Todos os presidentes do reino, os prefeitos e sátrapas,

conselheiros e governadores, concordaram em que o rei

estabeleça um decreto e faça firme o interdito que todo homem

que, por espaço de trinta dias, fizer petição a qualquer deus,

ou a qualquer homem, e não a ti, ó rei, seja lançado na cova

dos leões.

8 - Agora, pois, ó rei, sanciona o interdito, e assina a

escritura, para que não seja mudada, segundo a lei dos medos e

dos persas, que se não pode revogar.

9 - Por esta causa o rei Dario assinou a escritura e o

interdito.

10 - Daniel, pois, quando soube que a escritura estava

assinada, entrou em sua casa, e, em cima, no seu quarto, onde

havia janelas abertas da banda de Jerusalém, três vezes no dia

se punha de joelhos, e orava, e dava graças, diante do seu

Deus, como costumava fazer.

11 - Então aqueles homens foram juntos, e, tendo achado a

Daniel a orar e a suplicar, diante do seu Deus,

12 - se apresentaram ao rei e, a respeito do interdito

real, lhe disseram: Não assinaste um interdito, que por espaço

de trinta dias, todo homem que fizesse petição a qualquer deus,

ou a qualquer homem, e não a ti, ó rei, fosse lançado na cova

dos leões? Respondeu o rei, e disse: Esta palavra é certa,

segundo a lei dos medos e dos persas, que se não pode revogar.

13 - Então responderam, e disseram ao rei: Esse Daniel, que

é dos exilados de Judá, não faz caso de ti, ó rei, nem do

interdito que assinaste, antes três vezes por dia faz a sua

oração.

14 - Tendo o rei ouvido estas cousas, ficou muito

penalizado, e determinou consigo mesmo livrar a Daniel; e até

ao por do sol se empenhou por salvá-lo.

15 - Então aqueles homens foram juntos ao rei, e lhe

disseram: Sabe, ó rei, que é lei dos medos e dos persas que

nenhum interdito ou decreto, que o rei sancione, se pode mudar.

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94

O Governo do rei Dario se caracterizou por uma organização

na qual o governo foi dividido em faixas ou zonas de atuação as

quais foram chamadas de:

A COROA

PRESIDENTES

SÁTRAPAS

GOVERNADORES

PREFEITOS

CONSELHEIROS

Governadores, prefeitos e conselheiros eram as autoridades

locais que participavam ativamente do governo.

Os sátrapas: eram do terceiro escalão. Constituíam-se

daqueles que representavam a coroa e tinham o contato direto

com o povo. O governo foi dividido entre 120 Sátrapas colocados

sobre 120 províncias. Sua função era garantir a estabilidade do

reino.

Os presidentes: eram homens colocados entre os sátrapas e o

rei. Eram apenas três. Eram eles quem recebia os problemas

trazidos pelos sátrapas e os expunham ao rei. Era uma espécie

de primeiro ministro, a quem todo o reino prestava contas. Sua

função era zelar pela segurança, de modo que o rei não sofresse

dano. Daniel foi nomeado como um deles. (verso 1,2)

A coroa: era representada na pessoa do rei que, do trono,

no palácio real, governava a todos.

Daniel já era pessoa de fama muito conhecida e Dario,

apesar de tão pouco tempo de governo, aprendeu a confiar em

Daniel e por ele tinha especial apreço.

Diz-nos o verso três que Daniel se distinguiu, e muito, em

relação aos outros, pois o rei o constituíra um dos

presidentes.

Diante de um desempenho brilhante e de refinada eficiência,

o rei Dario pensava em fazer mais uma modificação na estrutura

de seu governo e colocar a Daniel em um nível superior, de modo

que os presidentes não tivessem mais acesso ao rei, mas sim a

Daniel, que passaria a ser a primeira pessoa após a autoridade

do rei como se fosse chefe de gabinete ou primeiro ministro.

Daniel foi muito honrado por Dario devido a sua fidelidade

e devido a sua eficiência. Era homem sábio e diz-nos a Sagrada

Escritura que ele tinha “um espírito excelente”.

Dario o conhecia, através dos comentários constantes a

respeito de seus feitos, e como político tinha o nome em

evidência em todo lugar. Tendo constatado o valor desse homem

para seu governo, pretendia colocá-lo sobre todo o seu reino.

(verso três). Dario pretendia fazê-lo governador em todo o

reino.

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Essa situação privilegiada de Daniel trouxe sobre si muitos

problemas. Imediatamente os sátrapas e seus comandados

desenvolveram uma inveja mortal sobre Daniel. (verso 4)

Sem dúvida foi convocada uma reunião entre as lideranças,

sem uma comunicação ao rei, para a qual seguramente Daniel não

fora convocado.

O objetivo daquela reunião era encontrar uma estratégia que

pudesse condenar a Daniel. Mas Daniel era integro em seu

caráter. Daniel era de uma fidelidade incontestável. Sua vida

era tão impecável que a Bíblia declara: não se achava nele

culpa ou erro algum. Leia o verso 4.

Um plano para ofuscar a luz de Daniel, um plano para tirar

a Daniel do seu caminho; um plano diabólico a fim de impedir

que o rei pusesse a Daniel sobre todos eles. O prestígio de

Daniel, sua capacidade de trabalho e o seu perfeito desempenho,

foram reconhecidos por todos e sem dúvida ofuscava a visão do

rei em relação aos demais governantes.

A INVEJA

A inveja:

É um mal que não tem cura, se não pelo sangue de Jesus. 1

João 1.7.

É a podridão dos ossos. (Provérbios 14. 30) É um mal de grande força e violência (Provérbios 27.4) Já causou tantos males e continua causando. Mateus 27.18.

Levou José a ser escravo no Egito. Gênesis 37.36 Levou Hamã para a forca. Ester 7.9,10. Levou Daniel para a cova dos leões. Daniel capitulo 6.

Levou Jesus para a cruz. Marcos 15.10, Mateus 27.18.

Onde há inveja há toda espécie de coisa ruim. Mateus

27.18.

A Bíblia aconselha a todos que não tenham inveja. Salmo 37.1. Provérbios 23.17.

Mas... Não puderam achar em Daniel uma mácula sequer!

Nenhuma culpa! Nenhum erro!

O homem era perfeito, honesto e fiel. Pessoa cuidadosa, de

extremo zelo no desempenho da função que lhe foi confiada.

Sobretudo Daniel se mantinha também na presença de Deus em

constante consagração.

Aqueles homens invejosos reconheciam a sua inteligência, a

sua capacidade, a sua fidelidade ao rei e confessaram entre si

que reconheciam não encontrarem em Daniel uma falha sequer! Não

havia possibilidade de acusá-lo devido sua integridade

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indelével. Veja o verso 5: “...Nunca acharemos ocasião

alguma para acusar a este Daniel...”.

Isso é um verdadeiro testemunho. Tomemos para nós esse

exemplo de modo que possam reconhecer em nós a fidelidade para

com nosso Deus.

Até hoje a história ainda não mudou. O trabalho produtivo

do crente incomoda a programação do inimigo e ofusca o percurso

de suas ações de modo a ser tornar alvo de suas investidas.

Quando produzimos, em outrem, sentimento de inveja, é porque

estamos dando frutos. Árvore que não tem fruto, não recebe

pedradas e não se chuta cachorro morto. Mas Deus zela por

nossas almas e por nossas vidas e nos livra da perseguição e do

mal.

Jesus ensinou em Mateus 5.11, que somos bem-aventurados

quando, injustamente, nos injuriarem. Quando não devemos, não

temos com o que nos preocupar. Nosso acerto é com Deus e Ele

sabe de todas as coisas.

Assim crentes com as qualidades de Daniel incomodam, e

podem ser acusados na presença do rei. (ou do pastor, do chefe

no nosso trabalho, do nosso pai ou mãe, etc.). Leiamos Mateus

5.11, 12.

Mas aqueles governantes eram astutos e inteligentes, tanto

que foram escolhidos para participarem do governo, e

arquitetaram um plano envolvendo a vaidade pessoal do rei.

Do verso seis até o verso oito podemos observar os dardos

inflamados:

Da inveja, por parte daqueles governantes. Do rei, por conta da sua vaidade. Aqueles homens arquitetaram um plano diabólico cujo

objetivo era matar a Daniel. Foram até ao rei e lhe disseram:

”Ó rei Dario, vive para sempre! Todos os presidentes do reino,

os prefeitos e sátrapas, conselheiros e governadores,

concordaram em que o rei estabeleça um decreto e faça firme o

interdito que todo homem que, por espaço de trinta dias, fizer

petição a qualquer deus, ou a qualquer homem, e não a ti, ó

rei, seja lançado na cova dos leões. Agora, pois, ó rei,

sanciona o interdito, e assina a escritura, para que não seja

mudada, segundo a lei dos medos e dos persas, que se não pode

revogar”. Versos 6 ao 8.

Usaram de mentira e de má fé quando disseram que todos

estavam de acordo quando a conspiração foi particularmente

deles e muitos dos Sátrapas, governadores e prefeitos e mesmo

Daniel não sabiam dessa tramóia.

Eles chegaram ao rei jogando elogios falsos. É como se

dissessem: Nós temos participação na responsabilidade pela

glória de seu governo e sucesso de seu reinado. Nós, seus

assessores mais diretos, decidimos promover um período de

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glória e de honra especial ao rei e elevá-lo à categoria dos

deuses! No espaço de trinta dias, ó rei, tu serás o mais

importante dos deuses e não se poderá fazer nenhuma petição em

teu reino que não seja a ti. Tu serás maior até mesmo que o

Deus dos exilados de Judá, a quem também não se pedirá nada,

exceto a ti”.

O rei embriagado por seu orgulho, pela vaidade, não se

apercebeu do transtorno que isso poderia causar, pois não se

poderia fazer nenhuma petição nem a homens nem a os deuses

senão ao rei; isso num período de 30 dias. Mesmo não sendo em

todo o reino, e até mesmo sendo apenas onde se achava Daniel, o

transtorno na vida do rei seria um inferno. Quantos milhares de

pedidos não receberiam o rei, nesse caso, e como atender a

todos?! Na verdade, o objetivo daqueles invejosos era tão

somente pegar a Daniel, mas o rei não percebeu a tramóia.

Essa idéia traria um transtorno insuportável para o rei,

pois perderia o sossego em todo esse período; pois várias e

muitas seriam tais petições, e o rei não daria conta de tal

atendimento, mas ele não se apercebeu dessas coisas porque

estava embriagado em sua vaidade.

Assim, se utilizaram da vaidade do rei e, mascarados de

anjos bons, apresentaram um plano absurdo e até mesmo

diabólico.

Mas Dario estava cego, não refletiu e como lhe trouxeram já

pronto o interdito, provavelmente nem o leu e de forma

inconseqüente o assinou. Verso 9.

Mas esse decreto, esse plano, tinha endereço certo. Tinha a

pessoa muito bem definida como alvo. Tratava-se de uma

armadilha para pegar Daniel, e acusá-lo de alguma coisa.

Era um plano voltado contra Daniel que tinha um hábito

maravilhoso, muito raro nos nossos dias: Orar três vezes ao

dia, em seu quarto, cuja janela era voltada para Jerusalém.

Daniel costumava orar com a janela aberta, e era muito

comum e natural vê-lo em oração e isso ele fazia 3 vezes no

dia. Leia o verso 10.

Daniel tomou ciência do decreto do rei, mas achou que o rei

não tinha o direito de mudar o seu relacionamento com Deus.

Assim como ele costumava fazer, não mudou o seu hábito e

continuou na presença de seu Deus, e dava graças, como

observamos no verso 10.

Convém salientar aqui que era hábito dos judeus orarem três

vezes no dia. Geralmente às nove horas, às doze horas, e às

quinze horas do nosso horário.

Isso pode ser deduzido da leitura do Salmo 55.17 onde Davi

se expressa assim: “À tarde, pela manhã e ao meio dia, farei as

minhas queixas e lamentarei; e ele ouvirá a minha voz”. Ou de

Atos 3.1.

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Mas, no caso de Daniel, a oração era:

a) Habitual = Daniel costumava fazê-las todos os dias.

(final do verso dez)

b) Pessoal = Era uma oração individual, sozinho em seu

quarto. (Verso dez).

c) De Humildade= era uma oração de joelhos. Não se esqueça

que ele era o homem mais importante do reino. Mas, estava ali

de joelhos na presença de Deus.

d) De gratidão = Daniel dava graças a Deus. (verso dez)

e) Endereçada ao destinatário certo: a Deus, o Deus de seus

ancestrais, e não ao rei.

Todos conheciam a Daniel, todos conheciam o seu hábito e

sabiam de suas qualidades morais, intelectuais e religiosas.

Aqueles homens, certamente, munidos de testemunhas, foram no

horário certo à casa de Daniel e constataram: Daniel está

orando ao seu Deus. Verso onze.

Não sabemos nada sobre as súplicas de Daniel e nem tão

pouco se aqueles homens ouviram alguma coisa. Afinal não é

claro, no verso onze, se Daniel orava em voz alta ou não. De

qualquer forma encontraram Daniel orando, e isso era contra o

interdito do rei. Na verdade no verso treze eles acusam Daniel

de estar orando e não de fazer alguma petição, mas o objetivo

era exatamente este: acusar a Daniel. Acontece que Daniel tinha

muita consideração com o rei, e tinha perfeita noção do perigo

envolvido em sua atitude. Daniel sabia das intenções

traiçoeiras daqueles homens; mas Daniel tinha acima de todas as

coisas o Deus de seus pais. Ele já vivia os ensinamentos de

Jesus, em Lucas 10.27.

Aqueles acusadores viram e ouviram e documentaram a “falha”

de Daniel que desafiava o decreto do rei (que era deles e não

do rei). Na verdade a fidelidade de Daniel para com Deus e para

com seus princípios religiosos é um grande exemplo para os

crentes de hoje.

Devemos ser fiéis mesmo em tempos tempestuosos. Nossas

convicções doutrinárias devem nortear a nossa vida em todas as

nossas decisões.

No verso doze nos vemos aqueles acusadores, munidos das

provas, se apresentando ao rei, a respeito do interdito e lhe

disseram: Não assinaste um interdito, que por espaço de trinta

dias, todo homem que fizesse petição a qualquer deus, ou a

qualquer homem, e não a ti, ó rei, fosse lançado na cova dos

leões? Sim, respondeu o rei; e permanece em vigor o que foi

dito, pois pela lei dos medos e dos persas não se pode revogar.

Assim usaram não só da má fé, como foram astutos no preparo

de uma armadilha, tanto para o rei como para Daniel.

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Em seguida, logo após aquela afirmativa do rei, acusaram a

Daniel de forma criminosa: Pois então ó rei, esse Daniel, dos

exilados de Judá, não fez caso de ti, e nem de teu decreto!

Aí, nessa altura dos acontecimentos, Dario caiu em si e

entendeu a trama daqueles homens. O rei foi tomado como que de

surpresa, mas esses homens estavam alicerçados na lei e tinham

a confirmação da palavra do rei.

O rei Dario perturbou-se de forma profunda e alimentou um

firme propósito de salvar a Daniel. Dario muito desejou salvar

a Daniel da cova dos leões. Ele sabia que seu primeiro ministro

era vítima de um complô de invejosos, que usaram a sua vaidade

e o envolveram na trama contra um de seus súditos mais fiéis.

Verso quatorze.

Mas veremos que Dario não conseguiu. Isso se traduz numa

limitação do poderio, que nesse reinado não foi tão absolutista

como foi o de Nabucodonosor. Afinal Nabucodonosor foi a cabeça

de ouro e Dario já era o peito de prata, na estatua de

Nabucodonosor.

Aqui temos uma nítida limitação onde o rei não poderia

voltar atrás.

Nabucodonosor tinha tudo e todos em suas mãos, tirava a

vida de quem quisesse e deixaria viver quem desejasse. (Veja

capítulo 5.19). A quem queria exaltava e a quem queria

humilhava. Todos os povos, línguas e nações temiam e tremiam

diante dele. É por isso que ele foi a cabeça de ouro e esse

reinado aqui já é representado pela prata, elemento de menor

nobreza.

No verso quinze, vemos uma pressão maciça daqueles homens

invejosos sobre o rei, pois não podiam permitir que o rei

deixasse vivo a Daniel. Na verdade não houve outro caminho,

apesar de todos os esforços do rei. Aquele homem, Daniel, o

exilado da tribo de Judá, ele mesmo, o preferido do rei, estava

condenado à morte. Ele seria jogado na cova dos leões e nada se

poderia fazer para salvá-lo!

DANIEL NA COVA DOS LEÕES

Daniel 6.16-28

16 - Então o rei ordenou que trouxessem a Daniel, e o

lançassem na cova dos leões. Disse o rei a Daniel: O teu Deus,

a quem tu continuamente serves, que ele te livre.

17 - Foi trazida uma pedra e posta sobre a boca da cova;

selou-a o rei com o seu próprio anel, e com o dos seus grandes,

para que nada se mudasse a respeito de Daniel.

18 - Então o rei se dirigiu para o seu palácio, passou a

noite em jejum, e não deixou trazer à sua presença instrumentos

de música; e fugiu dele o sono.

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19 - Pela manhã, ao romper do dia, levantou-se o rei e foi

com pressa à cova dos leões.

20 - Chegando-se ele à cova, chamou por Daniel com voz

triste; disse o rei a Daniel: Daniel, servo do Deus vivo, dar-

se-ia o caso que o teu Deus, a quem tu continuamente serves,

tenha podido livrar-te dos leões?

21 - Então Daniel falou ao rei: Ó rei, vive para sempre!

22 - O meu Deus enviou o seu anjo, e fechou a boca aos

leões, para que não me fizessem dano, porque foi achada em mim

inocência diante dele; também contra ti, ó rei, não cometi

delito algum.

23 - Então o rei se alegrou sobremaneira e mandou tirar a

Daniel da cova; assim foi tirado Daniel da cova, e nenhum dano

se achou nele, porque crera no seu Deus.

24 - Ordenou o rei, e foram trazidos aqueles homens que

tinham acusado a Daniel, e foram lançados na cova dos leões,

eles, seus filhos e suas mulheres; e ainda não tinham chegado

ao fundo da cova e já os leões se apoderaram deles, e lhes

esmigalharam todos os ossos.

25 - Então o rei Dario escreveu aos povos, nações e homens

de todas as línguas, que habitam em toda a terra: Paz vos seja

multiplicada!

26 - Faço um decreto, pelo qual em todo o domínio do meu

reino os homens tremam e temam perante o Deus de Daniel; porque

ele é o Deus vivo e que permanece para sempre; o seu reino não

será destruído, e o seu domínio não terá fim.

27 - Ele livra e salva, e faz sinais e maravilhas no céu e

na terra; foi ele quem livrou Daniel do poder dos leões.

28 - Daniel, pois, prosperou no reinado de Dario, e no

reinado de Ciro, o persa.

Não sabemos em qual das orações do dia, aqueles homens

flagraram a Daniel e foram acusá-lo junto ao rei; mas quero

crer que foi a primeira. Vimos no verso quatorze que Dario

tudo fez para livrá-lo e isto foi até o pôr-do-sol, isto é: o

entardecer. O dia estava terminando, e o rei não conseguira

livrar a Daniel.

Não tinha alternativa. Ao anoitecer o rei manda chamar a

Daniel, como vemos no verso dezesseis a fim de ser lançado na

cova dos leões. Verso 16.

Mas antes de ser jogado na cova dos leões, o rei se

aproximou de Daniel, no meio de todo aquele povo que certamente

ali estava a fim de se certificar da execução do réu, e disse

para Daniel:

- Daniel, eu tudo fiz para livrar-te da boca dos leões, mas

apesar dos meus esforços, e apesar de eu ser o rei, não pude

fazê-lo. Mas confie no teu Deus, pois eu creio que Ele te

livrará.

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Não sabemos se Daniel estava ou não de mãos amarradas,

provavelmente não. Certamente, ele estava totalmente livre mas

não ofereceu nenhuma resistência. Aceitou de bom grado aquela

injustiça, pois o mal que fizera era ter orado ao seu Deus e a

ele dado graças.

Assim se cumpriu o interdito do rei e Daniel foi lançado na

cova dos leões. Agora Daniel já está na companhia dos leões. A

porta é fechada, e para se garantir o cumprimento da execução,

foi trazida uma pedra e colocada junto à boca da cova, de modo

que nada podia entrar ou sair sem remover a pedra. Para

garantir a imobilidade da pedra, esta foi selada em seu lugar

com o selo do anel do rei e também o selo do anel de seus

algozes. Verso 17

Daniel não poderá sair de lá e ninguém externamente pode

remover a pedra, nem o rei!

Dario ficou angustiado. Ele cria que o Deus de Daniel o

poderia livra da fúria dos leões, mas a sua fé era muito

mesquinha. Ele cria, mas não exerceu a fé e por isso passou a

noite toda em vigília, e fugiu-lhe o sono. (verso 18). O rei

perdera o apetite e estava em jejum, nada lhe apetecia, nem a

música, seu “hobby” preferido. Não! Nem música! Estava entregue

à ansiedade. Não era para menos, pois:

a) Tinha se comportado como um idiota tinha sido levado por

sua vaidade; agora sua consciência o acusava.

b) Tinha sido enganado por sua cúpula administrativa,

teoricamente homens de sua confiança.

c) Lá estava na cova dos leões um homem, não só inocente,

mas sobre tudo admirável e de extraordinário valor e, acima de

tudo, amigo do rei.

Os pensamentos o atormentavam: Será que Daniel ainda está

vivo?

Foi o preço a pagar por sua imprudência.

Às vezes nós nos enroscamos nas armadilhas criadas por nós

mesmos. Se não vigiarmos todo o tempo, podemos nos enlaçar e

nos envolver em problemas sérios, criados por nós mesmos.

Vigiemos, pois nossas atitudes e nossa língua ao falarmos.

Jesus ensina a esse respeito quando diz: VIGIAI E ORAI. Vigiar

é até mesmo mais importante do que orar, pois Jesus o colocou

em primeiro lugar. Se vigiarmos, estaremos atentos para

percebermos as artimanhas dos nossos inimigos contra nós. No

mínimo não cairemos em buracos ao longo do caminho e vamos nos

desviando dos obstáculos dessa vida. Às vezes nos enroscamos em

nossas próprias linhas. Muita gente está sofrendo e fica

achando que é provação de Deus, mas não é não! É conseqüência

de seu comportamento imprudente. Semeou mal, comportou-se mal,

só poderá colher resultados ruins. Vigie! Cuidado! E assim não

culpará a Deus daquilo que Ele não fez.

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102

E assim passou Daniel a noite na cova dos leões e o rei

acordado e ansioso nos aposentos reais de seu palácio.

(V.19) No dia seguinte o rei, que confiava em Deus, o Deus

de Daniel, o qual poderia tê-lo salvo naquela noite, foi com

muito nervosismo e apreensão até à cova dos leões. Seguramente

foi o primeiro a fazê-lo logo ao amanhecer. Seu coração queria

acreditar que Deus o houvera salvado, mas a sua fé não era

tanto assim, e no fundo ele achava que Deus poderia falhar e

neste caso não teria salvado a Daniel. Passava-lhe pela mente:

será que sobrou pelo menos a roupa de Daniel? Será que sobrou

algum osso inteiro do meu querido amigo?

E nessa ansiedade angustiada e triste, Dario chegou à cova

dos leões. Lá estava a pedra selada. Não havia saído do lugar.

Os selos estavam intactos. No verso vinte, vemos Dario com uma

voz sofrida e triste, um tanto esperançosa e trêmula, baixa,

como se quisesse esconder-se em caso de insucesso (afinal Deus

poderia não tê-lo salvo e Daniel nesse caso estaria morto):

“... Daniel, servo do Deus vivo, dar-se-ia o caso que o teu

Deus, a quem tu continuamente serves, tenha podido livrar-te

dos leões”?

Será que esse Deus é um Deus leal mesmo e se dispôs a

salvá-lo?

O rei era um sujeito que cria, mas na verdade não

acreditava; sabia que Deus tinha poder para salvá-lo, mas será

que chegava a tanto?

Era um sujeito em que o coração esperava, mas a razão

rejeitava essa esperança. Afinal ninguém escapa da cova dos

leões.

Era a mesma situação de um crente que até crê, mas não tem

experiência suficiente para solidificar essa crença.

“Dar-se-ia que seu Deus tenha podido salvá-lo?” Pensamento

que revela a dúvida! Essa desconfiança é que gerava a tristeza,

aquela preocupação toda, pois no fundo ele não esperava nenhuma

resposta. Em seus pensamentos, na realidade, os leões haviam

comido a Daniel.

Após emitir a pergunta do verso vinte, seus ouvidos nunca

estiveram tão atentos para ouvir uma resposta.

Mas, lá no fundo da cova, Daniel escutou aquela voz apagada

e reconheceu-a como sendo do seu rei, e com uma voz oposta a do

rei, como quem tem muita vida, gritou lá de dentro: Ó rei, vive

eternamente! (Vs. Vinte e um) e prosseguiu: Rei Dario, o meu

Deus enviou o seu anjo, e fechou a boca aos leões, para que não

me fizessem dano, porque foi achada em mim inocência diante

dele; também contra ti, ó rei, não cometi delito algum. (Daniel

6.22)

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103

O Deus de Daniel tem tanto poder que não precisou nem de

vir até aqui, mandou apenas um representante, O ANJO! Isso é

que é Deus, Aleluia!

Assim Daniel foi salvo na cova dos leões, tendo passado

toda a noite com eles. Certamente Daniel estava com Isaías

41.10, onde está escrito: não temas, porque eu sou contigo; não

te assombres, porque eu sou o teu Deus...

Agora o rei não podia conter a alegria que na realidade era

dupla.

1- Daniel estava vivo e agora é livre da cova dos leões

2- Deus realmente opera maravilhas

Assim, tudo o que o rei não pôde fazer para Daniel, Deus

fez para os dois, sendo também o rei recompensado na sua

fidelidade para com Daniel.

Ordenou-se que Daniel saísse e o rei, cheio de

contentamento, pôde contemplar as provas de sua vitória e do

verdadeiro milagre, ali presenciado por todos.

Verso 23 - O rei se alegrou sobre maneira e mandou tirar a

Daniel da cova dos leões.

Porque os leões não comeram a Daniel? (Veremos a resposta

oportunamente).

Segundo Flávio Josefo, Dario chamou os acusadores de Daniel

sem a intenção de matá-los. Dario queria externar a sua

alegria e mostrar a todos que Daniel fora salvo da boca dos

leões. Dario queria que esses homens verificassem a

concretização do seu insucesso, da vitória de Daniel e da

alegria de seu rei.O rei Dario queria apenas que aqueles

acusadores traiçoeiros vissem o livramento de Deus para com

Daniel.

Mas aqueles homens não se deram por vencidos. Não

reconheceram a mão de Deus nesse negócio, e de maneira ousada e

irônica, disseram ao rei: “Também, ó rei, tu deste excesso de

comida para os leões, com o intuito de que estivessem fartos e

não comessem a Daniel”.

Isso foi dito por que o rei realmente tinha dado aos leões

a ração diária. Mas o rei entendia que foi Deus o autor do

milagre e não a alimentação que foi dada aos leões.

Revoltado e ofendido com tal insinuação, o rei mandou que

se desse comida farta aos leões e disse aos acusadores de

Daniel: Se vocês estão certos, então eu vou dar excesso de

comida aos leões, exatamente como vocês me acusam de eu ter

feito ontem, e depois vou jogar vocês lá dentro; e não só a

vocês mas também seus filhos e suas mulheres, e já que os leões

por estarem fartos, não comeram a Daniel, então muito menos

comerão a vocês todos, suas mulheres e seus filhos. E assim

teremos confirmado essa vossa teoria, e se vocês estiverem

certos, não precisam se preocupar!

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104

E aí vemos a atividade do verso 24 quando Ordenou o rei, e

foram trazidos aqueles homens que tinham acusado a Daniel, e

foram lançados na cova dos leões, eles, seus filhos e suas

mulheres...

Deus não se deixa escarnecer.

Dessa vez, aqueles leões estavam fartos, mas o verso 24

termina dizendo: ... “e ainda não tinham chegado ao fundo da

cova e já os leões se apoderaram deles, e lhes esmigalharam

todos os ossos”.

Aqueles leões se comportaram como os leões mais esfomeados

do mundo, embora estivessem fartos de alimentação!

Isso aconteceu porque esses leões foram instrumentos de

Deus para aplicação de sua justiça, a fim de castigar aqueles

caluniadores na presença de todo povo.

Deus não os perdoara porque mesmo sabendo e vendo tão

maravilhoso livramento, e observando a alegria do rei por esse

acontecimento, se puseram a desafiar a Deus e ao rei, dizendo

que o rei errara em dar excesso de comida aos leões quando isso

não havia ocorrido.

A ira do rei passou para os leões que se tornaram

instrumentos do juízo de Deus. Nisso Deus praticou justiça e

glorificou o seu nome em toda a província da Média e da Pérsia

e também da Babilônia.

Vejamos aqui uma grande lição: Nossos filhos e nosso

cônjuge sem dúvida participam de nossas bênçãos. Eles desfrutam

conosco da prosperidade resultante da nossa santificação e fé.

Haja vista que os filhos inocentes serão arrebatados com seus

pais no Arrebatamento da Igreja, pois são santificados em seus

pais e constituem a sua herança.

Mas o inverso também é verdadeiro. Eles também pagam pelos

nossos erros e também choram devido nossas dores.

Precisamos ter em mente, nós que somos chefes em nossos

lares, e que todos gozam ou pagam pelos resultados de nossa

atitude.

Agora temos Daniel livre dos leões e Dario livre dos

invejosos e acusadores, podendo colocar a Daniel como maior de

seus presidentes.

Depois disso Dario glorificou a Deus, exaltou ao Senhor

Deus de Daniel, reconhecendo-o como Deus vivo, cujo reino não

será destruído, cujo domínio não terá fim, cuja existência é de

eternidade em eternidade.

“Temam e tremam perante o Deus de Daniel” era o decreto do

rei.

Dario foi então um pregador dessa nova e um defensor desse

Deus Todo-poderoso e elevou a Daniel a tão grande honra que

ninguém pôde duvidar que Daniel era em seu reino a pessoa que o

rei mais estimava.

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105

Assim Daniel prosseguiu o seu trajeto, nas mãos de Deus,

sendo um instrumento que Deus ainda usaria para revelar o

futuro da história de Israel e do mundo. Mesmo após Dario,

Daniel continuou durante todo o reinado de Ciro, entre os

maiores no palácio do rei.

Aqui termina a parte histórica desse livro. Os demais

capítulos são essencialmente proféticos e, cronologicamente,

estão dispersos ao longo dessa história narrada até aqui.

As profecias do Capítulo sete ocorreram no primeiro ano de

Belsazar, portanto antes da ocorrência estudada no capítulo

seis, a cova dos leões.

O capitulo sete é um aprimoramento da visão do capítulo

dois, confirmando e alertando sobre as profecias do capítulo

dois, que foram dadas por Deus usando-se a pessoa de

Nabucodonosor.

O capítulo oito também ocorreu antes dos fatos ocorridos no

capítulo seis, pois essa visão foi no terceiro ano de Belsazar.

O capítulo nove trata das Setenta Semanas de Daniel, que se

constitui na mais importante, completa e extensa profecia

contida no Velho Testamento. Essa revelação já ocorreu no ano

primeiro de Dario, quando Daniel entendera, lendo os livros,

que findara o período do cativeiro que, segundo Jeremias, era

de setenta anos.

A profecia das Setenta Semanas de Daniel do capitulo 9

ocorreu após o evento da cova dos leões, embora na Bíblia não

tenhamos dados muito claros a esse respeito.

Se estiver certo nessa afirmação, podemos entender melhor a

respeito do livramento de Daniel na cova dos leões.

Sem dúvida alguma, Deus livrou a Daniel da boca dos leões:

1) Porque Daniel era fiel e não cometera delito algum

contra Deus e nem tão pouco contra o rei.

2) Porque Daniel confiava em Deus, e este não decepcionou a

sua fé.

3) Para glorificar o seu nome em todo o reino e ganhar para

si almas que se converteram através desse milagre.

Mas não quero aceitar isso como uma causa básica.

Muitos dos fiéis no princípio da Igreja tinham a fé de

Daniel; tinham a fidelidade de Daniel; não fizeram mal algum,

como Daniel e, entretanto, Deus não fechou a boca dos leões.

Então tem que existir um motivo mais íntimo para Deus ter

livrado a Daniel, e este não foi a fé do rei Dario.

Acontece que Daniel era “homem mui amado” conforme vemos em

Daniel capítulo dez e versículo onze, e Deus tinha um

propósito. Deus tinha para Daniel uma missão que ele não havia

totalmente cumprido. Daniel ainda tinha que receber a profecia

que revelaria os fatos da História Universal, que revelaria

todo o futuro de Israel, até a consumação dos séculos; como

Page 107: DANIEL -   · PDF fileO Livro de Daniel possui uma relevância indiscutível ... desolação de que falou o profeta Daniel, no lugar santo. ... Ver ainda 2 Crônicas capitulo 33

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observamos nos capítulos nove, dez, onze e doze. Nessa segunda

parte do livro, a parte das profecias de Daniel, é onde se

inclui a profecia das Setenta Semanas de Daniel.

Assim quero crer que os leões não comeram a Daniel porque

se o fizessem Deus teria que levantar outro Daniel. Como os

propósitos humanos não mudam os desígnios de Deus, ele enviou o

seu anjo e não permitiu mudança na trajetória da vida de

Daniel, que ainda foi guardado por um bom tempo. Daniel foi o

instrumento de Deus para revelar a profecia das Setenta

Semanas, profecia essa ainda não cumprida em toda a sua

totalidade.

Aqui terminamos essa primeira parte dessa obra, a qual se

refere mais ao período histórico desse Livro. Vamos iniciar

nessa segunda parte desse compêndio, a parte profética desse

Livro, a qual se encontra nos capítulos seguintes, do sete ao

doze.