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DANÇA CRIATIVA: uma possibilidade de expressão rítmica na

escola

Gislaine de Souza Faria1

Carlos Eduardo da Costa Schneider2

Resumo:

A dança é uma atividade que usada pedagogicamente na escola, tem o poder de despertar o autoconhecimento, propiciar a autocrítica, colaborar para a construção do respeito às diferenças, estimular a criatividade e desenvolver a consciência corporal. Este artigo tem por objetivo apresentar uma reflexão sobre a aplicação de uma proposta pedagógica com o ensino da dança criativa para o terceiro ano do Ensino Médio Noturno do Colégio Estadual Tiradentes, localizado na Borda do Campo, município de São José dos Pinhais. A proposta implementada teve seus processos metodológicos pautados na abordagem qualitativa do tipo pesquisa-ação, com a participação reflexiva dos sujeitos envolvidos durante todo o processo, além de propor atividades interdisciplinares, o que enriqueceu o processo de ensino e aprendizagem, tornando a construção dos novos saberes mais significativas. Os resultados demonstraram que a dança é uma forma de expressão que possibilitou a superação de diversas dificuldades, aumentando a interação entre os educandos e tornando-os melhores preparados para enfrentar os desafios cotidianos. A dança pode ser realizada por todos e merece melhor valorização do seu ensino nas escolas. Palavras-chave: Dança. Dança Criativa. Criatividade. Educação.

1 Introdução

Por muito tempo, a Educação Física como componente curricular nas escolas

brasileiras, seguiu modelos europeus da ginástica com o objetivo de manutenção da

saúde e formação moral dos cidadãos. Com o decorrer dos anos passou por várias

tendências e modificações. Nos dias atuais, se apresenta como uma disciplina

curricular que trabalha a cultura corporal nas diversas dimensões da vida humana.

Os conteúdos de Educação Física estão dispostos nas Diretrizes Curriculares

do Estado do Paraná (2008) e divididos em cinco conteúdos estruturantes, sendo

eles: esporte, jogos e brincadeiras, ginástica, lutas e dança. Todos estes conteúdos

são considerados por este documento como fundamentais para a compreensão da

cultura corporal, são constituídos historicamente e legitimados nas relações sociais.

1 Graduada em Educação Física pela Universidade Tuiuti do Paraná, Pós-graduada em Ciências do

Movimento Humano pela Faculdade Internacional de Curitiba, Professora pela Secretaria de

Educação do Estado do Paraná. ([email protected])

2 Mestre em Recreação e Lazer pela Universidade do Porto – Portugal, Especialista em Magistério

Superior pela Universidade Tuiuti do Paraná, Graduado em Educação Física pela Universidade

Católica do Paraná, Professor de Educação Física e Orientador da Universidade Tecnológica Federal

do Paraná. ([email protected])

No entanto, o que ainda predomina nas aulas é a aplicação de dinâmicas que

priorizam o trabalho com foco no esporte. A consequência desta situação são aulas

que não viabilizam a participação de todos, que estimulam a competição exagerada

e delimitam o potencial criativo e cooperativo dos educandos.

Analisando o movimento como objeto de estudo, podemos perceber a riqueza

de possibilidades de trabalho nas aulas de Educação Física, utilizando os diferentes

conteúdos estruturantes na formação da consciência corporal de nossos alunos.

Para Strazzacappa (2001, p. 1) “o indivíduo age no mundo através do seu corpo,

mais especificamente através do movimento. É o movimento corporal que possibilita

às pessoas se comunicarem, trabalharem, aprenderem, sentirem o mundo e serem

sentidos”. Pensando na importância da consciência corporal para a formação de

sujeitos mais autônomos e seguros, este trabalho apresenta algumas possibilidades

da aplicação de atividades que envolvam as questões rítmicas na escola.

A dança, segundo as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná, “se

constitui como elemento significativo da disciplina de Educação Física no espaço

escolar, pois contribui para desenvolver a criatividade, a sensibilidade, a expressão

corporal, a cooperação, entre outros aspectos” (PARANÁ, 2008, p.72). Também

afirmam Trada et al (2009, p.312), que a dança nos remete ao “desafio de criar,

comunicar, instigar saberes e construir significados através de seus processos”.

O compartilhamento de saberes entre professor e aluno durante as aulas com

dança criativa enriquece o processo de ensino e aprendizagem, oportunizando

novas formas de expressão tendo o corpo como meio de comunicação. Baseados

neste princípio, optamos por desenvolver o projeto com dança criativa com os

alunos do terceiro ano do Ensino Médio noturno, tendo por objetivo contribuir para a

formação da consciência corporal por meio da dança, incentivando a criatividade,

ampliando suas relações sociais e levando-os a respeitar os limites e possibilidades

do próprio corpo e dos colegas.

Neste artigo, faremos uma breve reflexão sobre a dança no contexto escolar e

suas contribuições para a formação de indivíduos que reconheçam suas

necessidades, dificuldades e talentos. Na sequência, apresentaremos um relato

sobre a aplicação de um Caderno Pedagógico, os desafios encontrados e os

resultados obtidos.

2 Fundamentação Teórica

Pela linguagem do corpo, você diz muitas coisas aos outros. E eles têm muitas coisas a dizer para você.

Também nosso corpo é antes de tudo um centro de informações para nós mesmos.

(Weil e Tompakow)

2.1 A expressão do corpo através da dança

O corpo, muitas vezes ignorado na escola, é nosso maior meio de apreensão

e transmissão de conhecimentos. Apropriamo-nos de novos conceitos de maneira

muito mais eficaz e significativa quando vivenciamos, experimentamos. Nosso

desenvolvimento depende do conhecimento que temos de nós mesmos, do poder de

administrar nossos próprios sentimentos e das relações que decorrem dos diversos

processos de interação que estabelecemos.

É triste, mas na realidade ainda é preciso enfrentar muitas barreiras para o

trabalho com o corpo, tanto por parte dos professores, alunos e comunidade.

Segundo Marques (2012, p. 24), ainda prevalece “a ideia equivocada de que

trabalhar com o corpo artisticamente significa abrir os porões do inconsciente sem a

menor possibilidade de domínio da consciência”. Devemos encarar o corpo como

sujeito durante todo o processo de escolarização. A expressão corporal está

presente em todas as nossas ações. Para Sborquia (2008, p. 148), “a expressão

corporal é uma linguagem de movimentos do corpo, que é a maneira pela qual as

emoções, os sentimentos, as ideias se extravasam por meio dos movimentos”.

A dança é uma forma de expressão corporal que possibilita a interiorização e

a exteriorização de valores. Trada et al (2009, p. 312) sustentam que “nosso corpo

se expressa e se comunica; dessa forma, a dança se expressa pelo nosso corpo e o

nosso corpo se comunica pela dança”. O corpo que dança abre um leque de

possibilidades para explicitar o que sente e o que quer.

Desde os primórdios da humanidade o homem se expressa dançando.

Laban3, fazendo um paralelo entre a expressão humana através do movimento e a

evolução da dança, afirma que:

3 Rudolf Laban nasceu na Bratislava Hungria, foi bailarino e coreógrafo. Sua obra é fundante para as

discussões sobre dança moderna e criativa. Realizou uma minuciosa análise de movimentos

chamada de coreologia (choreology). As suas propostas educacionais da dança influenciaram o

ensino da dança em todo o mundo.

O estudo da história do comportamento humano sugere um certo paralelo entre o desenvolvimento do sentido do movimento, no transcurso da história de vida do indivíduo, e o progressivo aprimoramento do conhecimento do movimento, no decurso da história da humanidade. O desenvolvimento das primeiras sacudidelas do corpo, característicos da primeira infância, até o domínio estilizado do movimento, usado pelo adolescente, pode ser comparado ao desenvolvimento das danças primitivas até as dos tempos modernos. (LABAN, 1978, p. 210).

O dançar está presente em diversas ocasiões da nossa vida, celebra a

alegria e marca de maneira especial momentos como casamentos, formaturas,

rituais religiosos e outros eventos sociais. Então, por que não dançar na escola?

Apesar de todas as barreiras e preconceitos que ainda existem a cerca deste

conteúdo na escola, acreditamos que os valores educativos que a dança possui são

adaptáveis a qualquer nível de ensino e como área de conhecimento se torna uma

grande aliada na educação do ser social, que tanto almejamos para nossos alunos.

2.2 Criatividade

Antes de tratarmos sobre dança criativa, vamos primeiramente conceituar

criatividade, palavra que se originou no latim, creare. Segundo Ferreira (2001, p.

206), criatividade refere-se a “capacidade de criar, de conceber e realizar coisas

novas, originais, inventivo, criador”. Para Carneiro (2014, p.43) “criatividade é a

capacidade que a pessoa tem de expressar, por diversos meios, ideias novas, que

solucionam, de forma satisfatória, os desafios da vida, em qualquer área”. Já

Sborquia (2008, p.150), coloca que a criatividade é “definida como capacidade de

solucionar problemas de maneira elaborada em diferentes situações”. Analisando

estas definições, podemos concluir que a criatividade é essencial em todos os

contextos das nossas vidas.

Todos nós temos um potencial criativo, dessa maneira, nossas aulas são

ambientes riquíssimos de criatividade. Cada um pode usar suas diferentes

experiências pessoais para solucionar desafios, criando cada qual a sua maneira,

diferentes soluções para um mesmo problema. Sborquia (2008, p. 151) afirma que

“a criatividade é a capacidade de solucionar problemas de forma original.” Para usar

melhor seu potencial criativo, o indivíduo precisa ter informação, quanto maior for o

repertório de vivências e/ou experiências, mais ferramentas o indivíduo terá para

inovar, para criar.

O processo criativo está diretamente ligado aos relacionamentos e à vivência

cultural dos indivíduos. Neste sentido, tal processo se associa “com a formação

simbólica e com os significados presentes em cada cultura, assim como se relaciona

com a capacidade perceptiva do ser humano e com o modo como cada sociedade

estimula os órgãos dos sentidos” (SBORQUIA, 2008, p. 150). Uma educação que

tolhe e oprime baseada apenas em imposições, não possibilita e não estimula a

criatividade.

Segundo Carneiro,

...estudos das últimas décadas sobre o funcionamento do cérebro, quando cientistas observam por aparelhos precisos como pensamos e sentimos, ficou evidente que a criatividade envolve o cérebro todo: no processo de criar algo, primeiro vem o interesse; em seguida, a preparação; depois vem a fase de incubação, que pode levar à iluminação e, por fim, à aplicação (2014, p. 44).

Se pararmos para fazer uma pequena análise, tudo a nossa volta exprime

criatividade. Os objetos que utilizamos para facilitar nossas atividades diárias são

resultado de um processo criativo. Em determinado momento houve a necessidade

de solucionar um problema e alguém foi criativo para inventar algo novo que

suprisse tal necessidade. A criatividade é necessária em todas as áreas, é assim

que surgem, por exemplo, os grandes nomes nas áreas da ciência, da tecnologia e

da educação.

Mesmo o processo de ensino e aprendizagem tendo passado por um

significativo processo evolutivo, ainda em muitas ocasiões, podemos perceber nas

escolas o uso de metodologias que direcionam os alunos apenas a receber ordens e

cumprir tarefas. Carneiro (2014, p. 43), nos coloca que “a educação e a visão

unilateral, focadas apenas para um tipo de inteligência, levam-nos a acreditar que

não temos criatividade”. Usar a criatividade sugere experimentar, testar diferentes

possibilidades. Só conseguimos incentivar a criatividade na sala de aula quando

colocamos os alunos frente a novos desafios, pois quando somos desafiados,

precisamos procurar saber o que já foi feito para resolver determinado problema, se

vamos conseguir utilizar o mesmo caminho, se vamos precisar realizar adaptações

ou se realmente precisamos criar algo novo. Isto tudo nos coloca em situações de

desconforto, de enfrentamento do novo, do inesperado. Quando isto acontece, o

caminho para a criatividade está traçado. Apoderar-se das decisões, procurar vencer

o desafio, provar para os outros ou para nós mesmos, que somos capazes, nos

torna seres criativos.

Mergulhados em nossas rotinas burocráticas de planejamento e elaboração

de materiais, essenciais claro, mas que muitas vezes são realizadas apenas para

cumprir protocolos, não nos preparamos para trabalhar com o inesperado e

considerar as contribuições trazidas pelos alunos para as aulas. Sobre este assunto

direcionado à área da dança, Marques (2011, p.61) esclarece que:

Em suma, esta “necessidade pedagógica” de determinação a priori de objetivos, conteúdos, procedimentos e avaliação acaba por criar técnicas e procedimentos de ensino que são aplicáveis a “qualquer” indivíduo de “qualquer” escola de “qualquer” cidade ou país. Estas técnicas aplicadas ao ensino da dança universalizam e tentam garantir a unidade de pensamento, de corpos, de ação.

Ou seja, somente o uso de técnicas de cópia e reprodução não valoriza e não

estimula a criatividade dos alunos.

Muito ouvimos falar em cursos de formação continuada, palestras ou

reportagens direcionadas aos professores, do jovem inovador, sedento por novos

conhecimentos. Porém, quando nos deparamos frente a uma sala de aula, o que

encontramos na maioria das vezes, são alunos que esperam conteúdos transmitidos

de maneira “esmiuçada”, “mastigadinha”, querem receber “tudo prontinho” do

professor. É a geração Ctrl C – Ctrl V de que tanto se comenta nas escolas. Não

vamos realizar neste momento, mas cabe-nos refletir sobre uma divisão de culpa

para termos chegado a esta situação.

Para mudarmos este panorama, além de revermos nossas metodologias,

temos que cobrar dos alunos atitudes mais autônomas, conscientizá-los sobre a

importância da busca e da conquista na construção de novos conhecimentos, para

que estes sejam de fato significativos. Esta construção significativa de

conhecimentos acontece quando estimulamos a criatividade. Sobre este assunto

são esclarecedoras as palavras de Arce (2014, p.5), a autora acrescenta:

...que através da atividade criativa, os seres humanos alcançam uma consciência sobre suas potencialidades, desvendam a condição genuína de sua liberdade pessoal e edificam sua autonomia, uma vez que através da criatividade, o homem existe e evolui, se expressa e, modela parcelas de realidade do universo das infinitas possibilidades humanas.

O processo criativo na dança se faz necessário à medida que na realização

dos processos coreográficos e nas trocas/relações realizadas, os alunos se utilizam

da imaginação de forma lúdica, e ao passar por esta experiência, vivenciam

momentos importantes na formação de suas identidades.

Por fim, a criatividade está associada às particularidades dos indivíduos, ao

meio em que estão inseridos e nas relações que são construídas com os que vivem

a sua volta. Então, a criatividade deve estar presente na sala de aula, tanto por parte

do professor que deve estar reinventando suas metodologias constantemente,

quanto por parte do aluno, na efetiva participação crítica e reflexiva no processo de

construção do conhecimento.

2.3 Dança Criativa: o despertar rítmico da expressão corporal

Sobre dança criativa, Strazzacappa (2010) nos convida a refletir sobre o

porquê do uso desta expressão, a autora ainda nos questiona se há uma dança que

não seja criativa. A pesquisadora parte do princípio que

...todas as danças são criativas, porque a preocupação em adjetivar desta forma uma determinada maneira de se produzir/ensinar dança? [...] Mais do que qualificar a dança, temos uma estrutura de linguagem utilizada para delimitar estilos, diferenciar linhas, escolas e metodologias de se fazer/ensinar dança (STRAZZACAPPA, 2010, p. 41).

Neste mesmo contexto, Marques (2012) considera que dança criativa, dança

educativa e dança-educação são expressões similares usadas no mundo ocidental

para a dança no contexto escolar. Segundo a autora, “no Brasil, essa modalidade foi

também batizada de ‘expressão corporal’, ‘dança expressiva’, ‘Laban’ ou até mesmo

‘método Laban’” (MARQUES, 2012, p. 146).

Ambas as autoras concordam que o uso da expressão dança criativa se deve

ao fato de Rudolf Laban, ter utilizado este termo para difundir seu trabalho em

meados do século XX. A coreologia de Laban foi base para a dança educativa. Sem

esta ênfase, “tanto a dança educativa quanto algumas correntes do movimento

moderno [...] não teriam se desenvolvido” (MARQUES, 2011, p. 81). Para

Strazzacappa (2010, p.44-45) “a expressão ‘dança criativa’ já é reconhecida pelo

meio artístico e educativo nacional [...], já se tornou referência sobre uma maneira

específica de se fazer e ensinar dança”. Outro argumento defendido pela autora e de

fato relevante, é que “a dança em si já é educativa, expressiva e criativa,

dispensando adjetivos. Se não é constituída desses três fatores, então,

simplesmente não é dança” (STRAZZACAPPA, 2009 apud STRAZZACAPPA, 2010,

p. 41).

Porém, quando propomos na escola um trabalho com o conteúdo dança, os

alunos ainda em sua grande maioria ficam temerosos, alguns rapidamente se

posicionam dizendo que não dançarão em pares, que não irão fazer apresentações,

que não irão rebolar e assim por diante. Tendo observado na prática e partindo

desse pressuposto de que o termo “dança” ainda causa receio quando proposto na

escola, optamos neste trabalho por usar a expressão “dança criativa” como

estratégia para instigar e despertar maior interesse nos alunos, e posteriormente

evidenciamos a “dança” como área de conhecimento.

Em seus estudos, Marques (2011) diz ter observado que no mundo da dança,

profissional ou escolar, são os conceitos que os coreógrafos ou professores

possuem sobre arte/dança que direcionarão os processos criativos ou educativos.

Coloca ainda que o que mais se encontra é a escolha pelo conceito dança

espetáculo.

Visto que o conteúdo dança está previsto e normatizado nas escolas tanto

nos Parâmetros Curriculares Nacionais da disciplina de Educação Física como da

disciplina de Arte, então seu espaço como conteúdo já está reconhecido. Porém,

ainda encontramos muitas barreiras e desencontros na sua efetiva aplicação nas

escolas.

Sobre estes desencontros, outras considerações são feitas por Marques

(2010), onde demonstra que as aulas de dança nos remetem a duas experiências,

de contatos ou relações, dependendo do modo/metodologia utilizada para ensinar. A

primeira, que oportuniza apenas contatos pode ser representada pelas aulas

pautadas em meras reproduções, em técnicas codificadas de aprimoramento

corporal e em ensaios para apresentações de datas comemorativas. Estas aulas são

funcionais, não transformam. A segunda que oportuniza relações, segundo a autora

acontece quando a dança é aplicada relacionando-se às questões e desafios

contemporâneos. Estas aulas dificilmente não transformam. “Os contatos são

reflexos, enquanto que as relações são reflexivas” (MARQUES, 2010, P.27).

Conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio, a dança se

revela na cultura corporal que se caracteriza pela expressão com gestos e estímulos

sonoros. Os autores colocam como paradoxal a negação das atividades rítmicas nas

escolas, já que o Brasil é um país rico em ritmos e danças (BRASIL, 2000).

Os meios de comunicação e a indústria cultural nos impõem determinados

padrões estéticos corporais e incentivam a reprodução de práticas alienantes. Para

Roman (2009, p.7), a dança na Educação Física “deve ser um momento de

expressão e de criação e não só de reprodução dos modelos que a mídia propõe,

possibilitando a exploração da criatividade através de diferentes ritmos e de

inúmeras formas de expressar os movimentos”. A dança criativa não propõe

movimentos pré-fixados, portanto sua prática não segue padrões midiáticos.

Também, não se pauta somente em expressão livre e momentânea, a dança criativa

se utiliza de todas as outras práticas de movimentos já vivenciadas pelo indivíduo

para servir como referencial para novas descobertas.

Sobre a importância do movimento, Laban (1978, p. 232) já o enfatizou como

sendo “um processo pelo qual um ser vivo se capacita a satisfazer uma gama

imensa de necessidades interiores e exteriores”. Portanto, o movimento deve ser

tratado de forma muito especial na escola. Passamos grande parte de nossas vidas

estudando, além dos conteúdos cognitivos sistematizados que aprendemos, muito

levamos de bagagem para nossas vidas, das experiências corporais que

vivenciamos no espaço escolar, sejam elas positivas ou traumáticas. Segundo

Marques (2011, p.101 e 102) “a percepção/olhar compartilhado em sala de aula faz

com que nossas próprias sensações e experiências sejam iluminadas de uma outra

maneira, gerando, por sua vez, outro tipo de relações internas com nosso próprio

corpo/movimento”.

Ao propor um trabalho com dança criativa, tivemos a intenção de possibilitar a

participação de todos numa educação rítmica, privilegiando a exploração de novas

formas de movimentação corporal, respeitando as individualidades e considerando o

contexto no qual os alunos estão inseridos. Para Marques (2011, p. 99), ao trabalhar

a dança na escola devemos considerar o que ela chama de contexto ampliado dos

alunos, ou seja, a ligação “entre o vivido, o percebido e o imaginado” por eles. A

mesma autora sabiamente complementa que “a escolha do contexto dos alunos não

se baseia somente na motivação e no interesse daqueles, mas principalmente nos

múltiplos significados e significações que esse contexto traz consigo para os alunos

e para a sociedade” (MARQUES, 2011, p.103). Ou seja, o processo de ensino e

aprendizagem que acontece na escola deve ser formatado para constantemente

relacionar-se com o processo de ensino e aprendizagem que ocorre em nossas

vidas fora do ambiente escolar. Esta relação torna possível uma análise e

reelaboração dos sentidos e significados de todas as experiências que vivenciamos

no dia a dia.

A dança criativa possibilita um compartilhamento de novas descobertas.

Quando o aluno é desafiado a dançar, incentivado a criar e recriar diferentes formas

de manifestações da linguagem corporal, ele tem a possibilidade de ampliar seus

saberes, melhorar suas relações sociais, respeitar as diferenças, entender seus

limites, procurar superá-los e por fim, saber valorizar suas potencialidades.

Para Marques (2011, p.20), “dançar na escola não é somente preciso, é

também possível”. Não devemos procurar receitas prontas quando se pretende

realizar um trabalho significativo com dança na escola. Dançar no ambiente escolar

é prazeroso, a ousadia e a prática é que nos levam a quebrar os paradigmas que

ainda existem em relação a sua aplicabilidade.

3 Metodologia

O desenvolvimento deste estudo se deu por meio do Programa de

Desenvolvimento Educacional – PDE, oferecido pela Secretaria de Estado da

Educação aos professores do Estado do Paraná. No primeiro ano do programa foi

produzido um Projeto de Intervenção Pedagógica a fim de solucionar uma

problemática levantada na realidade escolar onde questionamos como a dança

criativa poderia contribuir para tornar as aulas de Educação Física mais atrativas,

propiciar o desenvolvimento da criatividade e estimular a formação da consciência

corporal. Para auxiliar na aplicação deste projeto, foi construída uma Produção

Didático-Pedagógica, onde optamos pelo formato de um caderno pedagógico. As

aulas ofertadas na universidade neste período, no caso a Universidade Tecnológica

Federal do Paraná – UTFPR, foram de grande importância para analisarmos nossas

práticas pedagógicas e auxiliar na elaboração destes materiais. Voltar às cadeiras

acadêmicas com uma bagagem de vivências em sala de aula e ter a oportunidade

de compartilhar experiências com colegas que atuam em diferentes realidades foi

muito construtivo.

Após muitas pesquisas para embasar teoricamente a importância da dança

no ambiente escolar, optamos por seguir em nosso trabalho uma abordagem

qualitativa do tipo pesquisa-ação. A pesquisa-ação

possibilita a participação dos membros da comunidade estudada, ao longo da pesquisa, na análise e interpretação dos dados, de modo que os resultados possam influenciar a comunidade e cause resultados como propostas de soluções para os problemas detectados (CORDEIRO, 1999 apud MOTTA-ROTH; HENDGES, 2010, p. 114).

No primeiro semestre do segundo ano do programa, após a apresentação do

Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola para o Conselho Escolar e equipe

diretiva para apreciação da relevância do estudo, ocorreu à implementação do

projeto, no período de fevereiro a agosto de 2017. Em consonância a esta ação

aconteceu o Grupo de Trabalho em Rede – GTR, onde as produções foram

apresentadas e discutidas com professores da rede no formato de um curso à

distância.

O presente estudo foi desenvolvido no Colégio Estadual Tiradentes,

localizado no bairro Borda do Campo no município de São José dos Pinhais - PR. O

colégio atende aproximadamente 1.625 alunos divididos em três períodos, ofertando

o Ensino Fundamental séries finais e o Ensino Médio. A referida instituição atende

uma clientela bastante diversificada, com diferentes realidades sociais, econômicas

e culturais.

O conteúdo dança foi aplicado aos terceiros anos do Ensino Médio noturno,

turmas C e D, num total de 66 alunos. Optar por esta série deveu-se ao fato de

considerarmos maior maturidade por parte dos alunos para uma discussão e

reflexão coletiva na busca de analisar e ampliar os conhecimentos sobre a dança na

escola.

A apresentação do projeto para os alunos aconteceu já no primeiro contato no

início do ano letivo, o que de imediato causou uma mistura de curiosidade,

desconfiança e euforia. A participação e as contribuições do público-alvo foram de

grande valia para o sucesso dos resultados.

3.1 Descrição Metodológica e Análise dos Resultados

A implantação da proposta pedagógica delineada ocorreu através do caderno

pedagógico, este material foi organizado em cinco unidades. A Unidade 1, composta

por 2 aulas e denominada Explorando o ambiente, buscou diagnosticar os

conhecimentos e habilidades prévias dos alunos sobre a dança através da aplicação

de um questionário com questões abertas. Após análise dos questionários, verificou-

se que para os alunos a palavra dança de imediato os levou a pensar em ritmo,

diversão, alegria, expressão, movimento e liberdade. Quando questionados se

costumavam dançar, apenas 5 alunos responderam negativamente, os outros

relataram dançar em casa ou em festas. Também foi verificado que os alunos

conheciam uma variedade de estilos de danças e que apenas 3 alunos nunca

tiveram a experiência de dançar na escola. Relataram já ter dançado nas aulas de

Educação Física, nas aulas de Arte, em gincanas e festivais no colégio. Em relação

às dificuldades com a dança na escola, os alunos citaram como principais

obstáculos a timidez, vergonha, falta de ritmo, de coordenação motora e falta de

sincronismo para dançar em grupos.

Para favorecer a participação dos alunos, foi pedido a eles que contribuíssem

com a indicação de músicas para serem utilizadas durante as atividades, colocando

que as escolhas deveriam ser pertinentes com o ambiente escolar. Por indicação

dos alunos, foi formado um grupo no aplicativo WattsApp para serem postadas as

suas contribuições, recados, textos e vídeos referentes ao projeto. Como uma das

intenções era estimular o uso de recursos tecnológicos, o ponta pé inicial foi dado

com sucesso. Esse novo relacionamento do homem e a tecnologia vêm

transformando “nossas habilidades, desejos, formas de pensamento, estruturas

cognitivas, temporalidade e localização espacial” (BRASIL, 2013, p.25). Não é difícil

percebermos que os nossos alunos do ensino médio pautam seus comportamentos

nas relações com os grupos virtuais a que pertencem.

Com tantos atrativos tecnológicos a disposição de nossos jovens, precisamos

repensar nossas tradicionais práticas pedagógicas e apresentar aulas mais

dinâmicas e diversificadas, não se esquecendo de analisar e respeitar as diferentes

realidades e contextos em que trabalhamos. Usar ferramentas tecnológicas em aula

requer disposição e planejamento. Segundo os cadernos do Pacto Nacional pelo

Fortalecimento do Ensino Médio,

...mídias eletrônicas, podem e devem ser utilizadas como ferramentas que facilitem a interlocução e o diálogo entre os jovens, profissionais da educação e a escola, contribuindo assim para o desenvolvimento de práticas pedagógicas inovadoras (BRASIL, 2013, p.27).

Também nesta unidade, os alunos receberam o “diário das sensações”,

material que serviu para os registros das experiências vivenciadas durante a

implementação do projeto. Cada aluno ficou livre para fazer suas anotações em

forma de desenhos, frases, textos ou palavras.

A Unidade 2, composta por 14 aulas e denominada Meu corpo - meu ritmo,

teve como objetivo reconhecer e valorizar o corpo como sujeito e explorar o

potencial rítmico dos alunos. Para isto, foram propostas atividades de leitura, vídeos,

análises de figuras e dinâmicas corporais que levaram os alunos a analisarem e

refletirem sobre seus corpos. Verificou-se que a exploração do próprio corpo causou

certo desconforto para alguns, muitos comentaram nunca ter parado para perceber o

próprio corpo, que as atividades foram interessantes.

A professora de Língua Portuguesa colaborou realizando estudos de textos,

produção de poemas, poesias, acrósticos e frases com o tema corpo. A professora

de Arte realizou com os alunos em suas aulas representações do corpo através de

desenhos, pinturas e esculturas. Com mais disciplinas falando do mesmo assunto,

os debates promovidos foram muito produtivos, abordaram questões de valores,

crenças religiosas, machismo, estética, mídia, diferenças culturais etc. Os alunos

demonstraram muito respeito com os colegas, mesmo o tema gerando muitas

divergências de opiniões, foi um exercício de tolerância, onde puderam aumentar a

capacidade de argumentação.

Vale também ressaltar, como coloca Strazzacappa (2001, p. 10) que a

educação corporal não é de exclusiva responsabilidade da disciplina de Educação

Física, constantemente nosso corpo aprende e desenvolve. Segundo ela:

Possibilitar ou impedir o movimento da criança e do adolescente na escola; oferecer ou não oportunidades de exploração e criação com o corpo; despertar ou reprimir o interesse pela dança no espaço escolar, servir ou não de modelo... de uma forma ou de outra, estamos educando corpos. Nós somos nosso corpo. Toda educação é educação do corpo. A ausência de uma atividade corporal também é uma forma de educação: a educação para o não-movimento – educação para a repressão. Em ambas as situações, a educação do corpo está acontecendo. O que diferencia uma atitude da outra é o tipo de indivíduo que estaremos formando.

Trabalhar com o corpo é realmente algo que deixa marcas, isto ficou

constatado nos relatos feitos pelos alunos(as):

“Posso com meu corpo tudo aquilo que eu me capacito e treino para fazer.” “Foram sensações ótimas de felicidade, risadas, brincadeiras. Tudo fica divertido com os amigos. Vimos que com nosso corpo podemos criar diversas formas.”

“Participar das atividades foi curioso, pois descobri mais coisas sobre meu corpo.” “Eu acredito que existem muitas pessoas que se comunicam melhor com o corpo do que com as palavras.” “As atividades ampliaram minha visão, tanto sobre o corpo, como nos detalhes ao redor.” “Foram formas de nos divertirmos, de conhecer o ‘diferente’, de curtir o momento.” “Meu corpo é composto de sensações.” “Não foram apenas trabalhos para a escola e sim algo para conhecer minha capacidade criativa, me aproximar do grupo.” “O que é que me compõe? Ah! Sou composta por muita alegria, amor pela família e amigos, pela vida. Sou composta por sonhos, desejos e um extenso histórico de realizações (...) não pelas imperfeições que há em mim.”

Após perfazer um caminho que buscou a reflexão sobre o corpo, começamos

a desvendar o potencial rítmico do corpo, com a aplicação de diferentes atividades e

utilizando as músicas escolhidas por eles. As atividades atingiram positivamente até

aqueles alunos menos participativos. Foi possível reconhecer que o ritmo despertou

mais afetividade entre os alunos, o convívio harmonioso durante as aulas também

prova que a dança é instrumento para a melhora da socialização e da sensibilidade.

Nos dois desafios lançados para melhor exploração rítmica do corpo, Desafio

Barbatuques e Desafio Stomp, ficou claro que propiciar momentos e ambientes

criativos na sala de aula faz toda a diferença na construção significativa do

conhecimento. Com estes desafios os alunos perceberam que todo corpo é capaz

de dançar e que não existe um tipo físico ideal para a dança, é preciso encarar a

diversidade de corpos de maneira positiva. Alguns relatos dos alunos(as):

“Foi interessante descobrir do que somos capazes de fazer com nossos corpos.” “Quando vi todas as apresentações eu percebi que não temos limites, basta querer.” “Muito interessante, não havia acontecido na minha vida nada parecido, usamos a criatividade e realizamos um trabalho bem legal.” “No início foi muito frustrante, pois não achava um som legal, depois as ideias vieram e o resultado foi bom.” “Criamos sons incríveis com o corpo.” “Batidas se tornaram barulhos surpreendentes e músicas bem legais”. “Mesmo com muitos conflitos, no final deu tudo certo.” “Foi muito engraçado, pois fez a gente rir, se soltar e fugir um pouco dos conteúdos ‘rígidos’ do dia a dia.” “Muito louco fazer música com instrumentos limitados ou usando só o corpo”. “O grupo estava desordenado no começo, mas depois o pessoal aprendeu a se comunicar, rendeu uma boa experiência.” “Foi legal pensar na relação do corpo com o espaço, ter que usar nossa criatividade.”

“Usando nosso corpo podemos criar um ritmo, som, etc. É como se fosse uma descoberta.” “Desenvolvemos ainda mais o aspecto do trabalho em grupo, criando um som harmonioso usando a percussão corporal de cada integrante.” “Foi demais! Finalmente soltei a voz nessa dinâmica, fiquei orgulhosa de mim, pois sou muito tímida.” “Foi ótimo explorar minha percussão, tocar no nosso próprio corpo.”

Por questões técnicas de calendário apertado, a mostra com o tema CORPO

proposta no início da unidade 2 no caderno pedagógico, acabou sendo realizada

apenas no final, porém podemos dizer que foi a atividade culminante da unidade.

Todo o material produzido nas aulas de Educação Física (fotos e cartazes), Língua

Portuguesa (textos, acrósticos e poemas) e Arte (desenhos e esculturas) foram

expostos de maneira muito organizada pelos alunos. A mostra promoveu um contato

mais próximo da comunidade escolar com o trabalho desenvolvido, o entusiasmo

dos alunos em explicar o conteúdo foi recompensador, uma ótima oportunidade para

desenvolver a expressão corporal e a autoestima.

A Unidade 3, intitulada O mundo dança e encanta, objetivou perceber as

manifestações presentes nas danças em diferentes contextos históricos e valorizar a

dança como patrimônio cultural da humanidade. A princípio planejou-se utilizar 8

aulas para esta unidade e realizar um seminário sobre a presença histórica da dança

no mundo, porém, em conversa com os professores da disciplina de História e

Sociologia, decidimos promover o seminário interdisciplinarmente. Em uma semana

os alunos fizeram suas apresentações nas três disciplinas e finalizamos com uma

roda de conversa onde os alunos constataram que através das danças foi possível

perceber o contexto social e as relações entre os homens nos diferentes períodos

estudados, que as danças sempre representam algo, que quem dança apresenta

intenções e que mesmo vivendo em espaços e realidades diferentes, é possível que

as pessoas se compreendam através da dança.

Continuando o percurso, convidamos uma ex-aluna para dar depoimento

sobre a sua vivência com dança na escola. No final ela realizou uma dinâmica com

os alunos para provar que o corpo pode representar e sensibilizar, que cada um

pode e deve produzir a sua dança, a sua expressão. Os alunos foram surpreendidos

com uma apresentação que os deixou estarrecidos. Tiveram a oportunidade de

analisar e reconhecer muitos dos conhecimentos adquiridos até o momento no

projeto.

Em seguida, na Unidade 4, Conhecendo, improvisando e criando com os

elementos da dança, com 14 aulas, os alunos desenvolveram atividades nas quais

puderam de fato entender as diferentes possibilidades de expressão de seus corpos,

a partir deste momento, já explorando a dança. As atividades iniciais visavam à

vivência de diferentes dinâmicas para a compreensão dos elementos estruturais da

dança. Através do estudo do sistema effort/shape (esforço/forma) de Rudolf Laban,

com o uso de mapas conceituais mais simplificados criados especificamente para

este projeto PDE, os alunos tiveram a oportunidade de entender e vivenciar as

bases deste sistema, a corêutica e a eukinética. Nesta fase do projeto destacamos a

participação da disciplina de Matemática que através de pesquisas reforçou os

conceitos estudados em Educação Física, levando os alunos a entenderem melhor a

corêutica (a forma do movimento, sua configuração no espaço) e a eukinétika (o

esforço empenhado no movimento, sua qualidade). Para os colegas do GTR, a

participação de outras disciplinas provou que tudo aquilo que se planeja pode mudar

de acordo com a necessidade, a interdisciplinaridade é possível entre todas às

disciplinas, mesmo entre aquelas que parecem tão distintas, basta boa vontade,

planejamento e/ou replanejamento como neste caso.

Com a realização das atividades desta unidade, os alunos foram capazes de

perceber que fazem uso de muitos elementos estruturais da dança em diversas

situações cotidianas. Para Marques (2011, p. 92), “Laban trouxe para o mundo da

educação referenciais corporais que instrumentalizaram/instrumentalizam um

processo de criação menos espontaneísta e potencialmente mais consciente”.

Já passadas as etapas de instrumentalização, foi proposta a realização de um

Festival de Dança. O intuito foi estimular composições coreográficas que

carregassem um pouco da história de cada aluno, valorizando o potencial criativo de

cada um. A dedicação dos alunos no festival foi excelente, cuidaram de todos os

detalhes, envolveram os professores de outras disciplinas nos ensaios, pois

mostraram seriedade com o trabalho, contagiaram toda a escola e encantaram em

suas apresentações que foram assistidas pelas outras turmas do noturno. Suas

escolhas de cenário, figurino e criações coreográficas deixaram claro que tiveram

muita atenção e dedicação em cada etapa do processo. Foi uma noite memorável

para todos os envolvidos.

Em discussão no fórum do GTR, percebeu-se que a dança ainda é pouco

trabalhada nas escolas. Essa realidade precisa ser mudada, pois os professores que

relataram já trabalhar a dança e todo seu processo criativo perceberam que seus

alunos ficam mais confiantes, desenvolvem a autoestima e se mostram menos

preconceituosos.

Por fim, na Unidade 5, intitulada Avaliando o processo, com 2 aulas de

duração, foram retomadas as ações do projeto e os alunos foram questionados se

consideravam a dança uma atividade escolar importante. Apenas 3 alunos

responderam negativamente justificando que não gostam de se expor, mas

reconheceram que foi bom conhecer mais sobre o assunto. Destes, apenas 1 não

se apresentou no festival. Os outros 63 alunos responderam que a dança é uma

atividade escolar importante, justificando que a participação no projeto foi uma

experiência que permitiu o autoconhecimento e proporcionou superações. Muitos

relataram nunca se imaginar apresentando uma dança num palco.

Os relatos na roda de conversa e as anotações no diário das sensações

deixaram claro que o trabalho desenvolvido ampliou os conhecimentos dos alunos

com relação à dança e que a experiência foi marcante.

“A dança é algo mágico, algo que em pequenos passos é possível demonstrar sentimentos, contar histórias, dar sentido...” “A dança exige muito do corpo e o corpo fala a todo o momento. É possível sim comunicar e compreender através da dança.” “Posso estar falando besteira, mas depois de todos os trabalhos, cheguei a conclusão que pela dança podemos transmitir sentimentos pelos passos de uma coreografia.” “A dança, sendo uma forma de expressão usando o corpo, dá a possibilidade de comunicar com outras pessoas usando movimentos, não importa o quão diferente seja a realidade ou o espaço de ambos.” “É uma linguagem universal, podemos expressar o que estamos passando naquele momento.” “Dançando podemos falar com o corpo, é uma linguagem. A dança une pensamentos, ideias e sentimentos.” “A dança é muito mais que passos, é uma forma de se expressar, de fazer o corpo falar através de movimentos.” “A linguagem da dança gera uma energia que é universal. Todos são capazes de sentir e interagir.” “A dança é para todos e significa tudo.” “Ajudou a desenvolver a minha criatividade e explorar mais os limites do meu corpo.” “É possível compreender a dança buscando a percepção de cada momento representado e para isso não precisa gostar, e sim ter a sensibilidade de interpretá-los.” “Confesso que para mim foi um ato de liberdade, pois sou muito presa, dificilmente exploro meu corpo.” “A vida é uma dança, então dance!”

Constatou-se, na aplicação deste projeto, que a dança na escola pode

constituir-se num importante caminho de desenvolvimento da consciência corporal

quando trabalhada de forma planejada, com objetivos claros e oportunizando

momentos de reflexão durante todo o processo. Também vale ressaltar que

oportunizar ambientes criativos e desafiadores durante as aulas, bem como o

trabalho interdisciplinar, desperta maior interesse e participação dos alunos, tendo

como consequência melhores resultados.

4 Considerações Finais

A busca de alternativas pedagógicas que atendam as demandas cotidianas

do trabalho com dança na escola deve ser constante. Entende-se que o resultado

deste projeto foi muito relevante, considerando que trabalhar a dança em sala de

aula com uma enorme diversidade entre os alunos é desafiador.

No decorrer da implantação da proposta, foi possível verificar que o aumento

da autoestima e a valorização do próprio corpo como sujeito foram primordiais na

busca da consciência corporal dos alunos. Pudemos constatar que as atividades em

grupos oportunizaram resoluções de conflitos que resultaram em respeito aos limites

e possibilidades do próprio corpo e dos colegas.

Foram superadas as expectativas no trabalho interdisciplinar, pois de início

apenas a participação das disciplinas de Língua Portuguesa e Arte estavam

previstas, e no decorrer do processo, as disciplinas de História, Sociologia e

Matemática enriqueceram nossas ações pedagógicas, motivando ainda mais o

envolvimento e empenho dos alunos. As abordagens e debates promovidos pelas

diferentes disciplinas tornaram a aprendizagem mais significativa.

A escolha do percurso, traçado por um caminho reflexivo que se iniciou com o

estudo do corpo, passando pela análise do ritmo, seguida pelo estudo da presença

histórica da dança no mundo, capacitou os alunos na melhor compreensão dos

elementos estruturais da dança e no uso da criatividade para a realização das suas

danças, nas quais ficou perceptível o prazer dos alunos enquanto realizavam suas

apresentações.

Consideramos que as experiências vivenciadas com dança no ambiente

escolar, sempre se tornam valiosas para os alunos, pois sem sombra de dúvidas, é

uma das mais belas linguagens usada pela humanidade na expressão de diferentes

manifestações culturais.

5 Referências

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