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Dadaísmo Definição Ao contrário de outras correntes artísticas, o dadaísmo apresenta-se como um movimento de crítica cultural mais ampla, que interpela não somente as artes, mas modelos culturais, passados e presentes. Trata-se de um movimento radical de contestação de valores que utilizou variados canais de expressão: revistas, manifestos, exposições, entre outros. As manifestações dos grupos dada são intencionalmente desordenadas e pautadas pelo desejo do choque e do escândalo, procedimentos típicos das vanguardas de um modo geral. A criação do Cabaré Voltaire, em Zurique, 1916, inaugura oficialmente o dadaísmo. Fundado pelos escritores alemães H. Balle R. Ruelsenbeck, e pelo pintor e escultor alsaciano Hans Arp (1886-1966), o clube literário - ao mesmo tempo galeria de exposições e sala de teatro - promove encontros dedicados à música,dança, poesia, artes russa e francesa. O termo dada é encontrado "por acaso" numa consulta a um dicionário francês. "Cavalo de brinquedo", sentido original da palavra, não guarda relação direta,nem necessária, com bandeiras ou programas, daí o seu valor: sinaliza uma escolha aleatória (princípio central da criação para os dadaístas), contrariando qualquer sentido de eleição racional. "O termo nada significa", afirmaria o poeta romeno Tristan Tzara (1896-1963), integrante do núcleo primeiro. A geografia do movimento aponta para a formação de diferentes grupos, em diversas cidades, aproximados pelo espírito de questionamento crítico e pelo sentido anárquico das intervenções públicas. O clima mais amplo que abriga as várias manifestações dada pode ser encontrado na desilusão e ceticismo instaurados pela 1ªGuerra Mundial, que alimenta reações extremadas por parte dosartistas e intelectuais em relação à sociedade e ao suposto progresso social. Na Alemanha, nas cidades de Berlim e Colônia, destacam-se os nomes de R. Ruelsenbeck, R.Haussmann, Johannes Baader (1876-1955), John Heartfield (1891-1968), G.Groz e Kurt Schwitters (1887-1948). Em Colônia, Max Ernst (1891-1976) – posteriormente um dos grandes nomes do surrealismo - aparece como um dos principais representantes do dadaísmo. A obra e atuação de Francis Picabia (1879) estabelecem um elo direto entre Europa e Estados Unidos.Catalisador, com Albert Gleizes (1881-1953) e A. Cravan, das expressões dada em Barcelona, onde edita a revista 391, Picabia se associa também ao grupo de Tzara e Arp, em Zurique. Em Nova York, por sua vez, é protagonista do movimento com Marcel Duchamp (1887-1968) e Man Ray (1890-1976). Se o dadaísmo não professa um estilo específico nem defende novos modelos, aliás colocou- se expressamente contra projetos pré-definidos e recusou todas as experiências formais anteriores, é possível localizar formas exemplares da expressão dada. Nas artes visuais, os ready-made de Duchamp constituem manifestação cabal de um certo espírito que caracterizou o dadaísmo. Ao transformar qualquer objeto escolhido ao acaso em obra de arte, Duchamp realiza uma crítica radical ao sistema da arte. Assim, objetos utilitários sem nenhum valor estético em si são retirados de seus contextos originais e elevados à condição de obra de arte ao ganharem uma assinatura e um espaço de exposições, museu ou galeria.Por exemplo, a roda de bicicleta que encaixada num banco vira Roda de bicicleta (1913), ou um mictório que invertido se apresenta como Fonte (1917), ou ainda os bigodes colocados sobre a Gioconda de Leonardo da Vinci (1452-1519) que fazem dela um ready- made retificado, o L.H.O.O.Q. (1919). Os princípios de subversão mobilizados pelos ready- made podem ser também observados nas máquinas antifuncionais de Picabia e nas imagens fotográficas de Man Ray.

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Dadaísmo

Definição

Ao contrário de outras correntes artísticas, o dadaísmo apresenta-se como um movimento de crítica cultural mais ampla, que interpela não somente as artes, mas modelos culturais, passados e presentes. Trata-se de um movimento radical de contestação de valores que utilizou variados canais de expressão: revistas, manifestos, exposições, entre outros. As manifestações dos grupos dada são intencionalmente desordenadas e pautadas pelo desejo do choque e do escândalo, procedimentos típicos das vanguardas de um modo geral. A criação do Cabaré Voltaire, em Zurique, 1916, inaugura oficialmente o dadaísmo. Fundado pelos escritores alemães H. Balle R. Ruelsenbeck, e pelo pintor e escultor alsaciano Hans Arp (1886-1966), o clube literário - ao mesmo tempo galeria de exposições e sala de teatro - promove encontros dedicados à música,dança, poesia, artes russa e francesa. O termo dada é encontrado "por acaso" numa consulta a um dicionário francês. "Cavalo de brinquedo", sentido original da palavra, não guarda relação direta,nem necessária, com bandeiras ou programas, daí o seu valor: sinaliza uma escolha aleatória (princípio central da criação para os dadaístas), contrariando qualquer sentido de eleição racional. "O termo nada significa", afirmaria o poeta romeno Tristan Tzara (1896-1963), integrante do núcleo primeiro.

A geografia do movimento aponta para a formação de diferentes grupos, em diversas cidades, aproximados pelo espírito de questionamento crítico e pelo sentido anárquico das intervenções públicas. O clima mais amplo que abriga as várias manifestações dada pode ser encontrado na desilusão e ceticismo instaurados pela 1ªGuerra Mundial, que alimenta reações extremadas por parte dosartistas e intelectuais em relação à sociedade e ao suposto progresso social. Na Alemanha, nas cidades de Berlim e Colônia, destacam-se os nomes de R. Ruelsenbeck, R.Haussmann, Johannes Baader (1876-1955), John Heartfield (1891-1968), G.Groz e Kurt Schwitters (1887-1948). Em Colônia, Max Ernst (1891-1976) – posteriormente um dos grandes nomes do surrealismo - aparece como um dos principais representantes do dadaísmo. A obra e atuação de Francis Picabia (1879) estabelecem um elo direto entre Europa e Estados Unidos.Catalisador, com Albert Gleizes (1881-1953) e A. Cravan, das expressões dada em Barcelona, onde edita a revista 391, Picabia se associa também ao grupo de Tzara e Arp, em Zurique. Em Nova York, por sua vez, é protagonista do movimento com Marcel Duchamp (1887-1968) e Man Ray (1890-1976).

Se o dadaísmo não professa um estilo específico nem defende novos modelos, aliás colocou-se expressamente contra projetos pré-definidos e recusou todas as experiências formais anteriores, é possível localizar formas exemplares da expressão dada. Nas artes visuais, os ready-made de Duchamp constituem manifestação cabal de um certo espírito que caracterizou o dadaísmo. Ao transformar qualquer objeto escolhido ao acaso em obra de arte, Duchamp realiza uma crítica radical ao sistema da arte. Assim, objetos utilitários sem nenhum valor estético em si são retirados de seus contextos originais e elevados à condição de obra de arte ao ganharem uma assinatura e um espaço de exposições, museu ou galeria.Por exemplo, a roda de bicicleta que encaixada num banco vira Roda de bicicleta (1913), ou um mictório que invertido se apresenta como Fonte (1917), ou ainda os bigodes colocados sobre a Gioconda de Leonardo da Vinci (1452-1519) que fazem dela um ready-made retificado, o L.H.O.O.Q. (1919). Os princípios de subversão mobilizados pelos ready-made podem ser também observados nas máquinas antifuncionais de Picabia e nas imagens fotográficas de Man Ray.

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Ainda que o ano de 1922 apareça como o do fim do dadaísmo, fortes ressonâncias do movimento podem ser notadas em perspectivas artísticas posteriores. Na França, muitos de seus protagonistas integraram o surrealismo subsequente. Nos Estados Unidos, por sua vez, na década de 50, artistas como Robert Rauschenberg (1925), Jasper Johns (1930) e Louise Nevelson (1899-1988) retomam certas orientações do movimento no chamado neodada. Difícil localizar influências diretas dodadaísmo na produção brasileira, mas talvez seja possível pensar que ecos do movimento dada chegaram até nós através da leitura que dele fizeram os surrealistas, herdeiros legítimos do dadaísmo em solo francês. Por exemplo, em obras variadas como as de Ismael Nery (1900-1934) e Cícero Dias (1907-2003); nas fotomontagens de Jorge de Lima (1893-1953), que podem ser aproximadas de trabalhos correlatos de Max Ernst; na produção de Flávio de Carvalho (1899-1973). Deste último, podemos lembrar as performances, tão ao gosto das vanguardas - por exemplo, a relatada no livro Experiência nº 2 - e também o seu projeto para a Fazenda Capuava, edificada em 1938, cujas motivações de aproximação arte e vida lembram, segundo algumas leituras, o Merzbau de Schwitters.

Enciclopédia Itaú Cultural de Artes Visuais

Resumo

O movimento Dadá (Dada) ou Dadaísmo foi uma vanguarda moderna fundada em Zurique (1916) por um grupo de escritores e artistas plásticos, dois deles desertores do serviço militar alemão.

Para Argan, o dadaísmo "propõe uma ação perturbadora, com o fito de colocar o sistema em crise, voltando contra a sociedade seus próprios procedimentos ou utilizando de maneira absurda as coisas a que ela atribuía valor. Renunciando às técnicas especificamente artísticas, os dadaístas não hesitam em utilizar materiais e técnicas da produção industrial".

Apresenta-se como um movimento de crítica cultural mais ampla, que interpela não somente as artes, mas modelos culturais, passados e presentes.

Utilizou variados canais de expressão: revistas, manifestos, exposições, entre outros.

As manifestações dos grupos dada são intencionalmente desordenadas e pautadas pelo desejo do choque e do escândalo, procedimentos típicos das vanguardas de um modo geral.

O Dadaísmo é caracterizado pela oposição a qualquer tipo de equilíbrio, pela combinação de pessimismo irônico e ingenuidade radical, pelo ceticismo absoluto e improvisação.

Enfatizou o ilógico e o absurdo, possuindo um caráter plenamente anárquico.

A princípio, o movimento não envolveu uma estética específica, mas talvez as formas principais da expressão dadá tenham sido o poema aleatório e o ready-made.

Sua tendência extravagante e baseada no acaso serviu de base para o surgimento de inúmeros outros movimentos artísticos do século XX, entre eles o Surrealismo, a Arte Conceitual, a Pop Art e o Expressionismo Abstrato.

Principais integrantes: Tristan Tzara, Marcel Duchamp, Hans Arp, Francis Picabia, Max Ernst, Man Ray.

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O termo dadá é encontrado "por acaso" numa consulta a um dicionário francês. "Cavalo de brinquedo", sentido original da palavra, não guarda relação direta, nem necessária com crenças ou doutrinas, daí o seu valor: sinaliza uma escolha aleatória (princípio central da criação para os dadaístas), contrariando qualquer sentido de opção racional.

Tristan Tzara, pseudônimo de Sami Rosenstock, (Moineşti, 16 de abril de 1896 — Paris, 24 de dezembro de 1963) poeta romeno redicalizado na França, tornando um escritor francês. Um dos principais representantes do movimento.

Seu pseudônimo significaria numa tradução livre "triste terra", tendo sido escolhido para protestar o tratamento dos judeus na Romênia. Abaixo um poema do escritor Franco-romeno.

Pegue um jornal. Pegue a tesoura. Escolha no jornal um artigo do tamanho que você deseja dar a seu poema. Recorte o artigo. Recorte em seguida com atenção algumas palavras que formam esse artigo e meta-as num saco. Agite suavemente. Tire em seguida cada pedaço um após o outro. Copie conscienciosamente na ordem em que elas são tiradas do saco. O poema se parecerá com você. E ei-lo um escritor infinitamente original e de uma sensibilidade graciosa, ainda que incompreendido do público.

Marcel Duchamp, nascido em Blainville-Crevon no dia 28 de julho de 1887 e falecido em Neuilly-sur-Seine no dia 2 de outubro de 1968, foi um pintor e escultor franco-americano, inventor do ready-made.

                                 Nu descendo a escada (1912 )                                            Roda de Bicicleta (1913)

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Hans Peter Wilhem Arp (Estrasburgo, 16 de Setembro de 1886 — 7 de Junho de 1966) foi um pintor, escultor e poeta alemão, naturalizado francês.

         

                  Head and Shell (1933) Overturned Blue Shoe with Two Heels Under a Black Vault (1925)

 

 

Francis-Marie Martinez Picabia (Paris, 28 de janeiro de 1879 - id., 30 de novembro de 1953) pintor francês. Recebeu uma forte influência do impressionismo e do fauvismo, em especial de la obra de Picasso e Sisley.

 

                  Machine Turn Quickly (1916‐1918)                                                         Hera (1929)

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Man Ray - Emanuel Rabinovitch (Filadélfia, 27 de Agosto de 1890 - Paris, 18 de Novembro de 1976) foi um fotógrafo e pintor norte-americano, responsável por inovações artísticas na fotografia.

                  

Female Nude (1920) Self-Portrait Assemblage (1916)

                    

Max Ernst (2 de abril de 1891, Brühl, Alemanha — 1 de abril de 1976, Paris) foi um pintor alemão, aprendeu a pintar sozinho enquanto estudava Filosofia e Psiquiatria na Universidade de Bonn entre 1909 a 1914.

      

Untitled (1920) Célèbes or Elephant Célèbes (1921)

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Surrealismo

Definição

O termo, cunhado por André Breton (1896-1966) a partir da idéia de 'estado de fantasia supernaturalista' de Guillaume Apollinaire (1880-1918), traz consigo um sentido de afastamento da realidade ordinária que o movimento surrealista celebra desde o primeiro manifesto, de 1924. Nos termos de Breton, autor do manifesto, trata-se de 'resolver a contradição até agora vigente entre sonho e realidade pela criação de uma realidade absoluta, uma supra-realidade'. A importância do mundo onírico, do irracional e do inconsciente, anunciada já no texto inaugural, se relaciona diretamente ao uso livre que os artistas fazem da obra de Sigmund Freud (1856-1939) e da psicanálise, permitindo-lhes explorar nas artes o imaginário e os impulsos ocultos da mente. O caráter anti-racionalista do surrealismo coloca-o nas antípodas das tendências construtivas e formalistas na arte que florescem na Europa após a 1ª Guerra Mundial, assim como das tendências ligada são chamado retorno à ordem. Como vertente crítica de origem francesa, o surrealismo aparece como alternativa ao cubismo, alimentado pela retomada das matrizes românticas francesa e alemã,do simbolismo, da pintura metafísica italiana - Giorgio de Chirico (1888-1978), sobretudo - e do caráter irreverente e dessacralizador do dadaísmo, de onde vieram parte dos surrealistas. Como o movimento dada, o surrealismo apresenta-se como crítica cultural mais ampla, que interpela não somente as artes mas modelos culturais, passados e presentes. Na contestação radical de valores que empreende, faz uso de variados canais de expressão - revistas, manifestos, exposições etc. - mobilizando diferentes modalidades artísticas: escultura, literatura, pintura, fotografia, artes gráficas e cinema.

A crítica à racionalidade burguesa em favor do 'maravilhoso', do fantástico e dos sonhos, reúne artistas de feições muito variadas sob o mesmo rótulo. Na literatura, além de Breton, Louis Aragon (1897-1982), Philippe Soupault (1897-1990), Georges Bataille (1987-1962), Michel Leiris (1901-1990), Max Jacob (1876-1944) etc. Nas artes plásticas, René Magritte (1898-1967), André Masson (1896-1987), Joán Miro (1893-1983), Max Ernst(1891-1976), Salvador Dali (1904-1989), entre outros. Na fotografia, Man Ray (1890-1976), Dora Maar (1907-1997), Brasaï (1899-1984). No cinema, Luis Buñuel (1900-1983). Certos temas e imagens foramobsessivamente tratados por eles, ainda que a partir de soluções distintas, como por exemplo, o sexo e o erotismo; o corpo, suas mutilações e metamorfoses; o manequim e a boneca; a violência, a dor e a loucura; as civilizações primitivas e o mundo da máquina. Esse amplo repertório de temas e imagens encontra-se traduzido nas obras por meio de procedimentos e métodos pensados como capazes de driblaros controles conscientes do artista e, portanto, responsáveis pela liberação de imagens e impulsos primitivos. A escrita e a pintura automáticas, fartamente utilizados, seriam formas de transcrição automática do inconsciente, pela expressão do 'funcionamento real do pensamento' (por exemplo, os desenhos produzidos coletivamente entre1926 e 1927 por Man Ray, Yves Tanguy (1900-1955), Miró e Max Morise (1903-1973), sob o título O cadáver requintado). A frottage [fricção] desenvolvida por M. Ernst faz parte das técnicas automáticas de produção. Trata-se de esfregar lápis ou crayon sobre uma superfície áspera ou texturizada para 'provocar' imagens,resultados aleatórios do processo (por exemplo, a série de desenhos História natural, realizada entre 1924 e 1927).

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As colagens e assemblages constituem mais uma expressão caraterística da lógica de produção surrealista, ancorada na idéia de acaso e de escolha aleatória, princípio central de criação já para os dadaístas. A célebre frase de Lautrémont é tomada como inspiração forte: 'belo como o encontro casual entre uma máquina de costura e um guarda-chuva numa mesa de dissecção'. A sugestão do escritor se faz notar na justaposição de objetos desconexos e nas associações à primeira vista impossíveis que particularizam as colagens e objetos surrealistas. Que dizer de um ferro de passar cheio de pregos, de uma xícara de chá coberta de peles ou de uma bola suspensa por corda de violino? Dalí radicaliza a idéia de libertação dos instintos e impulsos contra qualquer controle racional pela defesa do método da 'paranóia crítica', forma de tornar o delírio um mecanismo produtivo, criador. A crítica cultural empreendida pelos surrealistas, baseada nas articulações arte/inconsciente e arte/política, deixa entrever sua ambição revolucionária e subversiva, amparada na psicanálise - contra a repressão dos instintos - e na idéia de revolução oriunda do marxismo (contra a dominação burguesa). As relações controversas do grupo com a política aparecem na adesão de alguns ao trotskismo (Breton, por exemplo) e nas posições reacionárias de outros, como Dalí.

A difusão do surrealismo pela Europa e Estados Unidos faz-se rapidamente. É possível rastreá-la em esculturas de artistas díspares como Alberto Giacometti (1901-1966), Alexander Calder (1898-1976), Hans Arp (1886-1966) e Henry Spencer Moore (1898-1986). Na Bélgica, Romênia e Alemanha ecos surrealistas vibram em obras de Paul Delvaux (1897-1994), Victor Brauner (1903-1966) e Hans Bellmer (1902-1975), respectivamente. Em solo americano, o chileno Roberto Matta (1911) e o cubano Wifredo Lam (1902-1982) devem ser lembrados como afinados com o movimento. Nos Estados Unidos, o surrealismo é fonte de inspiração para o expressionismo abstrato e para a arte pop. No Brasil especificamente o surrealismo reverbera em obras variadas como as de Ismael Nery (1900-1934), Cícero Dias (1907-2003) e Octávio Ferreira de Araújo (1926 - ) assim como nas fotomontagens de Jorge de Lima (1893-1953). Nos nossos dias vários artistas continuam a tirar proveito das lições surrealistas.

Enciclopédia Itaú Cultural de Artes Visuais

ARGAN, Giulio Carlo. Arte moderna. Tradução DeniseBottmann e Federico Carotti. Prefácio Rodrigo Naves. São Paulo: Cia. das Letras, 1993. 709 p. il p&b. color.

DICIONÁRIO OXFORD DE ARTE. Tradução MarceloBrandão Cipolla. São Paulo: Martins Fontes, 2001, 2a edição

FER, Briony et alii. Realismo, racionalismo, surrealismo. A arte no entre-guerras. São Paulo: Cosac & Naify,1998, 345 p. il. p&b. color. (Arte Moderna: práticas e debates)

LA NUOVA ENCICLOPEDIA DELL'ARTE GARZANTI. Milano: Garzanti Editore, 1986, 1112 p. il. p&b. Color.

MORAES, Eliane R. O corpo impossível. São Paulo: Iluminuras/ Fapesp, 2002, 237 p. il. p&b.

NADEAU, Maurice. História do surrealismo. São Paulo: Perspectiva, 1985, 190 p.

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Resumo

O Surrealismo foi um movimento artístico e literário surgido em Paris dos anos 20, inserido no contexto das vanguardas que viriam a definir o modernismo e posteriormente expandido para outros países.

Reuniu artistas anteriormente ligados ao Dadaísmo.

Os surrealistas buscaram parte de seus valores éticos e morais, no Marquês de Sade, escritor do século XVIII.

Fortemente influenciado pelas teorias psicanalíticas de Sigmund Freud, enfatiza deste modo o papel do inconsciente na atividade criativa.

O principal teórico e líder do movimento é o poeta, escritor, crítico e psiquiatra francês André Breton (1896-1966), que em 1924 publica o primeiro Manifesto Surrealista.

As raízes do Surrealismo nas artes visuais absorvem características tanto do Dadá, do Cubismo, assim como da abstração de Wassily Kadinsky, do Expressionismo, e também do Pós-Impressionismo.

Seus representantes mais conhecidos são Max Ernst, René Magritte, Juan Miró e Salvador Dalí no campo das artes plásticas, André Breton na literatura e o cineasta espanhol Luis Buñuel.

André Breton definiu: "Surrealismo é automatismo psíquico puro por meio do qual nos propomos exprimir tanto verbalmente quanto por escrito ou de outras formas o funcionamento real do pensamento, é o ditado do pensamento com a ausência de todo controle exercido pela razão, além de toda e qualquer preocupação estética e moral".

Algumas citações do primeiro manifesto surrealista:

“A atitude realista é fruto da mediocridade, do ódio, e da presunção rasteira. É dela que nascem os livros que insultam a inteligência.”

“A mania incurável de reduzir o desconhecido ao conhecido, ao classificável, só serve para entorpecer cérebros.”

“A mente que mergulha no surrealismo revive, com exaltação, a melhor parte de sua infância.”

Bibliografia

BATTISTONI FILHO, Duílio. Pequena História da Arte. 16 ed. Campinas, 2007

WALTON, Paul H. Dali/Miró. New York, Tudor, 1967

DE LIAÑO, Ignácio Gómez. Dali. Barcelona, Polígrafa, 1982.

Disponível em: <http://en.wikipedia.org/wiki/ > Acesso em 04 out 2007.

Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/ > Acesso em 04 out 2007.

Disponível em: http://www.areliquia.com.br/artigos%20anteriores/reliquia_julho_2005/ vanguardas.htm> Acesso em 05 out 2007.

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René François Ghislain Magritte (Lessines, 21 de Novembro de 1898 - Bruxelas, 15 de Agosto de 1967) foi um dos principais artistas surrealistas belgas.

 Personal Values (1952)

Joan Miró i Ferrà (Barcelona, 20 de abril de 1893 — Palma de Maiorca, 25 de dezembro de 1983) foi um importante escultor e pintor surrealista catalão.

 Carnaval dos Arlequins (1924-1925)

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Salvador Dalí (Figueres, 11 de Maio de 1904 — Figueres, 23 de Janeiro de 1989) foi um importante pintor catalão, conhecido pelo seu trabalho que chama a atenção pela incrível combinação de imagens bizarras, com excelente qualidade plástica.

 A Desintegração da Persistência da Memória (1952 1954)