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Colonização por peixes no folhiço submerso: I iiaiiplicações das mudanças ria cobertura florestal sobre a dinâmica I da ictiofauna de igarapés na Amazônia Central 4manda Frederico Mortati I

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Colonização por peixes no folhiço submerso: I iiaiiplicações das mudanças ria cobertura florestal sobre a dinâmica

I da ictiofauna de igarapés na Amazônia Central

4manda Frederico Mortati

I

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INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA - INPA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS - UFAM

t Colonização por peixes no folhiço submerso:

implicações das mudanças na cobertura florestal sobre a dinâmica

da ictiofauna de igarapés na Amazônia Central ,

Amanda Frederico Mortati

Manaus - Amazonas 2004

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INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA - N P A

UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS - UFAM

Colonização por peixes no folhiço submerso:

implicações das mudanças na cobertura florestal sobre a dinâmica

da ictiofauna de igarapés na Amazônia Central

Amanda Frederico Mortati

Orientador: Dr. Eduardo M. Venticinque

Fontes financiadoras: CAPES, PDBFFISI e WWF

Dissertação apresentada ao Programa de p6s-

graduação em Biologia Tropical e Recursos

Naturais, convênio INPA/UFAM, como parte

dos requisitos para obtenção do titulo de

Mestre em Ciências Biológicas, área de

concentração Ecologia.

Manaus - Amazonas 2004

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Agradecimentos

Aos Drs. Eduardo Martins Venticinque e Jansen Zuanon pela orientação, confiança,

paciência, amizade e por me mostrarem a alegria do amor ao trabalho, transformando

nossas discussões em conversas maravilhosas. Vocês alimentaram minha vontade de

ficar na Amazônia.

Aos membros da banca de qualificação, Dra. Cláudia de Deus, Dra.Neuza Harnada e

Dr. George Rebelo pelas sugestões e incentivo para desenvolver o trabalho;

Aos membros da comissão julgadora da dissertação. Ao Dr.Oscar Akio Shibatta, pelas

correções, amizade e incentivo desde minha graduação, sempre um grande exemplo de

ser humano e profissional admiráveis. Ao Dr. Jorge Nessimian pelas sugestões e

discussões mais que agradáveis. Ao Dr. Jean Paul Mestsger por toda contribuição em

mau trabalho, sempre gentil e atencioso. E à Dra. Viginia Uieda pela grande gentileza

em corrigir este trabalho;

A Capes, ao PDBFF e ao WWF pela bolsa de mestrado, apoio logístico e financeiro.

Aos queridos companheiros de campo - fiéis escudeiros sob sol e chuva, Juruna, pela

atenção, carinho e disposição diárias, além da paciência em me ensinar alguns segredos

da mata, e Junior por todo apoio logístico nos momentos mais delicados do irabalho. A

todos os membros do "PDBSS", obrigada pelas ótimas sextas-feiras;

- A toda MALOCA (laboratório de geoprocessamento do PDBFF) pelos mapas, pelo

aprendizado e por toda diversão.

- A Dra. Suzana Ketelhut e Dra. Ana Maria Pes por toda ajuda e prontidão com a

identificação dos invertebrados.

- Às minhas imãs de Manaus Juliana Stropp, Maria Clara Artega e Ana Carolina Surgik

por cada momento que passamos juntas, durante as disciplinas, no mundo hispano-

ablante, nos hospitais, na sala de trabalho, nos e-mails quando longe, nos abraços

quando perto, sempre com muito amor e atenção.

- A Juju, que chegou para me trazer o conforto e a segurança de uma antiga e bela

amizade, nos dando a oportúnidade de dividirmos momentos muito importantes de

nossas vidas. E à Tatá, Caro1 e Ana, sempre presentes e dedicadas a nossa amizade.

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- Aos meus colegas de mestrado, por terem tomado o primeiro semestre de 2002 muito

mais fácil. Vocês estarão sempre em meu coração. E à galera de Londrina que me

remete aos ótimos velhos tempos.

- A Ana Andrade e Rose pela amizade e sinceridade, pelos chás da tarde, duas mulheres

estraordinárias, que têm muito a ensinar.

- A minha vó querida, Mana Frederico, por todo o amor e confiança, sempre pronta pra

dar um abraço ou uma palavra de aconchego.

- Especialmente aos meus queridos pais, José Roberto e Rosa e à minha querida irmã

Carnila, os maiores corações que eu conheço na vida. Que me mostraram a beleza e

sinceridade do amor, através de sua compreensão e dedicação incondicionais fiente A

tamanha distância, não me deixando sentir só em nenhum momento aqui Manaus.

Obrigada por tudo, sempre. Vcs três serão sempre as pessoas mais importantes da

minha vida!

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Ficha Bibliográfica:

Mortati, A. F. 2004

Colonização por peixes no folhiço submerso: implicações das mudanças na cobertura

florestal sobre a dinâmica da ictiofauna de igarapés de terra firme, na Amazônia Central.

Manaus: INPAAJFAM,

2004.

p. 67

Dissertação de Mestrado

1. Colonização 2. Ictiofauna de riachos 3. Folhiço submerso 4. Igarapés de Terra-

firme 5. Mudanças na paisagem 6. Amazônia Central.

CDD

SINOPSE:

Para investigar o impacto das mudanças na paisagem sobre a ictiofauna associada ao

folhiço submerso de igarapés de terra f m e , foi realizado um experimento de colonização

na área do PDBFF, Manaus-AM. As variáveis abióticas medidas nos 22 igarapés

amostrados foram tamanho, vazão, disponibilidade e fragmentação do folhiço submerso e

condições da vegetação de entorno. Para determinar a associação das espécies coletadas

com os bancos de folhiço foi realizado um estudo de dieta.

Palavras-chaves: colonização; ictiofauna de riachos; folhiço submerso; igarapés de Terra-

firme; mudanças na paisagem; Amazônia Central.

Keywords: colonization; stream fishes; leaf litter banks; rainforest terrafirme streams;

landscape changes; Central Amazon.

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Sumário

Lista de figuras ...................................................................................................................... ... Lista de tabelas ................................................................................................................... m

Resumo ............................................................................................................................... iv

Abstract .......................................................................................................................... vi

Introdução ........................................................................................................................... 1

Peixes de iagarapés e o folhiço submerso ......................................................................... 1

............................................................................................... Alterações na paisagem 4

Objetivo geral ....................................................................................................................... 7

Objetivos específicos ........................................................................................................... 7

Hipóteses ............................................................................................................................... 8

1 . Area de estudo ................................................................................................................ 9

2.Desenho experimental .................................................................................................. 11

.......................................................................................................... . 3 Varáveis bióticas 13

....................................................................................... 3.1 Experiente de colonização 13

......................................................................................................... 3.2 Estudo da dieta 15 . . . . 4.Vanaveis abióticas ........................................................................................................ 16

.................................................................................................... 4.1 Cobertura florestal 16

........................................................................................... 4.2 Densidade de sub-bosque 17

.................................................................................................... 4.3 Abertura de dossel 17

................................................................................................................. 4.4 Subsirato 17

................................................................................................ 4.5 Pofundidade e largura 19

..................................................................................................................... 4.6 Vazâo 19

................................................................................................... 4.7 Fragmentação foliar 20

5 . Análise dos dados ........................................................................................................ 21

Resultados .......................................................................................................................... 25

Discussão ............................................................................................................................ 46

A associação da ictiofauna aos bancos de folhiço submerso ........................................... 46

........... A estrutura física dos igarapés e o tempo de fragmentação do folhiço submerso 49

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O impacto das mudanças na paisagem sobre a colonização ............................................ 52

Implicações para a conservação ...................................................................................... 56

Referências bibliográficas ................................................................................................. 60

Anexo .................................................................................................................................. 67

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Lista de Figuras

Figura 1 -Localização da área de estudo do PDBFF (Fazendas Dimona, Porto Alegre e Esteio) .................. 9

Figura 2 - Mapa de distribuição dos pontos de amostragem, indicando a localização dos igarapés na área das

reservas do PDBFF (Projeção UTM, zona 21. Fonte: Laboratório MALOCA - PDBFF). ................... 10

Figura 3 - Esquema da amostragem, ilustrando a disposição dos sacos de colonização e sua retirada.. ....... 13

Figura 4 - Classificação da imagem e construção das áreas de entorno dos igarapés. Detalhe de uma imagem

de satélite LANDSAT TM5 (a) e posterior classificação @) ................................................................. 15

Figura 5 - Esquema da coleta de dados para disponibilidade do folhiço submerso no substrato total

(modificado a partir de Sabino & Zuanon, 1998). ................................................................................. 17

Figura 6 - Medidas da fragmentação foliar. Total de folhas presentes no saco de colonização (a) e um quarto

das folhas a serem medidas @). As linhas pontilhadas representam as três medidas feitas com a ajuda de

................................................................................................. um fio de nylon esticado sobre as folhas) 19

Figura 7 - Fluxograma representando as relaçaes entre microhabitat (MH), tempo, fragmentação foliar (FR)

..................................................................... e colonização (COL) e as análises utilizadas para testá-las 22

Figura 8 - Representação esquemática das relaçaes analisadas entre a probabilidade de colonização e as

variáveis abióticas. DF = disponibilidade de folhiço submerso, DSB = densidade de sub-bosque, FL =

porcentagem de floresta primária, com técnica de regressão linear para cada uma das zonas tampão de

50 a 250m, FR = indice de fragmentação foliar, LM = largura média, ABD = aberiura do dossel, PM =

profundidade média e VZ = vazão média. Regressão Linear Simples (a), Regressão Linear Múltipla @),

Regressão Logistica Simples (c), Regressão Logística Múltipla (d) e Análise de covariância - ANCOVA

(e) .............................................................................................................................................................. 23

Figura 9 - Efeito da fragmentação foliar na probabilidade de colonização, considerando um indice médio

para cada um dos 22 igarapés amostrados ................................................................................................ 25

Figura 10 - Relação entre microhabitat (MH), fragmentação foliar (FR) e colonização (COL). Vias

significativas (I) e não significativas e) ............................................................................................ 26

Figura 11 - Relação entre o tempo e a probabilidade de colonização (a), N=22, e a fragmentaçáo foliar @),

Figura 12- Relações entre o tempo, a fragmentação foliar (FR) e a colonização (COL). As setas indicam as

vias significativas ...................................................................................................................................... 27

Figura 13 - Relação entre (a) o tempo e a colonização (% de sacos colonizados; N=8) e @) a fragmentação

foliar (oito índices por igarapk), N=176, apresentando os microhabitats como covariável ...................... 29

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Figura 14 - Relações propostas entre o tamanho dos igarapés, representado por profundidade (PM) e largura

(LM) médias, vazão (VZ) e a fragmentação foliar (FR) com a probabilidade de colonização do folhiço

......................................................... ........................................................................... por peixes (COL) 32

Figura 15 - Representação dos residuos parciais gerados na análise de regressão linear múltipla entre vazão

...................... média (m3.s- l), (a) profundidade média (m) e @) largura média (m) , para 18 igarapés 34

Figura 16 - Relação entre a fragmentação foliar e a vazão média dos igarapés durante os quatro meses de

coleta, N=80 .............................................................................................................................................. 34

Figura 17 - Relações propostas para tamanho do igarapk (PM=profundidade média e LM=largura média),

vazão (VZ), disponibilidade de folhiço submerso (DF) e probabilidade de colonização (COL) ............. 35

Figura 18 - Resultado dos residuos parciais, obtidos a partir de uma regressão múltipla entre a

disponibilidade de folhiço submerso e o tamanho do igarapé, representado pela profundidade (m) e

largura (m) médias. N=22 ......................................................................................................................... 36

Figura 19 - Relação entre a disponibilidade de folhiço submerso e a vazão média. N=22 .............................. 36

Figura 20 - Relações propostas para cobertura florestal (FL - para as zonas tampão de 50, 100, 150,200 e

250m), abertura do dossel (ABD), densidade de sub-bosque (DSB), disponibilidade de folhiço

submerso (DF) e probabilidade de colonização (COL) ............................................................................ 37

Figura 21 - Relação entre a disponibilidade do folhiço submerso e abertura de dossel (% de pixels - a) e

.............................. densidade de sub-bosque (número de toques - b) da vegetação ripária de 20 igrapés 38

Figura 22 - Relação entre a abertura do dossel (incidência luminosa) e a densidade de sub-bosque (número

.............................. de toques) (a) e a relação de covariância com o tipo de cobertwa vegetal (b). N=19 39

Figura 23 - Relação entre a probabilidade de colonização e (a) abertura do dossel e (b) densidade do sub-

bosque @). N=20 ...................................................................................................................................... 40

Figura 24 - Relação entre a porcentagem de cobertura florestal (% de pixels dentro da zona tampão) e a

probabilidade de colonização nos igarapés para as zonas tampão de 50 (a), 100 @), 150 (c), 200 (d) e

250 m (e) de largura. Diferença de wlonização entre as zonas de 50 e 250 m (f).

Figura 25 - Relaçfío entre a abertura do dossel (%) e a porcentagem de cobertura florestal para as zonas

tampão de 50 (a), 100 @), 150 (c), 200 (d) e 250 m (e). N=20 ................................................................ 43

Figura 26 - Relação entre a densidade do sub-bosque (número de toques) e a porcentagem de cobertura

florestal para cada zona tampão de 50 (A), 100 (B), 150 (C), 200 @), 250 m (E) de largura ................ 49

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iii

Lista de Tabelas

Tabela 1 - Distribuição dos igarapés conforme o tipo de vegetação ripária. Os número presentes na coluna

................................................................................................. Localidade estão distribuídos na figura 2 1 1

Tabela 2 - Lista de espécies de peixes coletadas durante o experimento de colonizaç30, com suas respectivas

abundâncias ........................................................................................................................................... 24

Tabela 3 - Análise de variância entre fragmentação (número de fragmentos foliaresIl0g de folha),

........................... microhabitat (remanso e corredeira) e os intervalos de tempo (30, 60, 90 e 120 dias). 29

Tabela 4 - Número de espécies, de indíduos e de igarapés colonizados pelo menos uma vez ao longo do

...................................................................... experiemnto, para cada coleta mensal, em cada ambiente. 29

Tabela 5 - Quadro comparativo entre a representatividade de material alóctone e autóctone, com base no

conteúdo alimentar do trato digestório das espécies de peixes coletadas durante o experimento de

colonização.. ............................................................................................................................................ 3 1

Tabela 6 - Análise de variância entre fragmentação foliar (número de fragmentosIl0g de folha), vazão média

(m3.s-') e os intervalos de tempo (30, 60, 90 e 120 dias). ........................................................................ 34

Tabela 7 - Análise de variância entre densididade do sub-bosque (DSB), abertura do dossel (ABD) e o tipo

de cobertura vegetal (mata primária, capoeiras e pastagens) ................................................................... 39

Tabela 8 - Resultados das análises da cobertura florestal com (a) disponibilidade de folhiço submerso (DF),

@) abertura do dossel (ABD), (c) densidade do subbosque @SB) e (d) probabilidade de colonização

(COL), para as cinco zonas-tampão. ....................................................................................................... 41

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RESUMO I

A ictiofauna de igarapés de terra firme na Amazônia Central mantém estreita relação com a

vegetação ripária, pois depende energética e estruturalmente do material orgânico originado

da floresta. Os bancos de folha, formados em remansos ou zonas de maior correnteza, são

colonizados por uma rica fauna que busca nesses locais abrigo ou alimento. Neste sentido,

procurei avaliar se o tamanho dos igarapés e o tipo de cobertura vegetal de suas áreas de

entorno poderiam alterar a disponibilidade dos bancos de folhiço e interferir na dinâmica do

processo de colonização pela ictiofauna associada. Assim, utilizei 22 igarapés distribuídos

em áreas de floresta primária, capoeira e pastagem, localizados 80km ao norte de Manaus.

Nestes locais, desenvolvi um experimento de colonização durante 120 dias, com oito sacos

de folhas por microhabitat (remansos e correntezas). Também coletei dados sobre

profundidade, largura, vazão e substrato dos igarapés, e sobre a fragmentação das folhas

submersas. As porcentagens de mata primária, nas áreas de entorno destes igarapés, foram

obtidas a partir de uma imagem do satélite Landsat TM5 da área de estudo. Os dados

revelaram que a colonização pela comunidade de peixes está relacionada às características

qualitativas dos bancos de folhiço, onde os bancos localizados em remansos foram mais

colonizados e apresentaram menor velocidade de fragmentação das folhas.

Consequentemente, a estrutura tridimencional dos bancos foi mantida por mais tempo em

áreas de remanso e nos igarapés pequenos, onde a vazão é menor. Portanto, o tipo de

microhabitat e a vazão são dois fatores importantes na manutenção da dinâmica do sistema.

A abertura do dossel, a densidade do sub-bosque e as porcentagens de cobertura florestal

foram parâmetros adequados para caracterizar as alteração na vegetação. Houve menor

probabilidade de colonização dos bancos de folhiço submerso pela ictiofauna em áreas com

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retirada da floresta primária no entorno dos igarapés, as quais apresentaram maior abertura

de dossel e densidade do sub-bosque. Os resultados sugerirem que florestas ripárias,

preservadas agem como zonas tampão, protegendo os sistemas aquáticos. Além disso, a

preservação deve ser planejada para toda o ecossistema, para manter os habitats e a fauna

associada, e incrementar a conectividade da paisagem.

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ABSTRACT

The Ichthyofauna of Central Amazonian terra firme forest streams is closely linked to

riparian vegetation because it depends structurally and energenetically on the input of

organic material fiom the forest. Litter banks are formed in pools and in areas of fast

current and they are colonized by a rich fauna, which uses these areas for protection and

forage. For this reason, I evaluated both streams size and the surrounding riparian

vegetation type that may interfere in the availability of litter banks and consequently

changes in the colonization dynamics by associated ichthyofauna. I sampled 22 streams

located in primary forests, secondary forests, and pastures, located 80 km North Manaus,

Brazil. I carried on a colonization experiment during 120 days with eight litter bags per

microhabitat (pools and runs). Also, I collected data on stream depth, width, discharge,

substrate, and on submerged leaves fiagmentation. The percentage of primary forest

surrounding these streams was calculated using Landsat TM5 satellite images of the study

site. Results showed that fish community colonization is related to qualitative

characteristics of the litter banks. Litter banks Iocated in pools showed a slower rate of leaf

fiagmentation and were colonized more fiequently. Consequently, the litter banks

tridimensional structure lasted longer in pools areas and in smaller streams, where there

was a lower discharge. Therefore, both microhabitat type and discharge were important

factors to the system dynarnics. Canopy openness, understory density, and percentage forest

cover were good parameters to characterize the alteration on vegetation. There was a lower

probability of fish colonization on the litter banks in areas where the pristine forest was

removed, wich presented higher cannopy openess and denser understories. These results

suggested that preserved riparian forests act as a buffer zone in which protects the aquatic

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vii

systems. However the preservation must be planned to the whole ecosystem, to maintain

both habitats and associated fauna, increasing hpbitat connectivity over the landscape.

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Peixes de igarapés e o folhiço submerso

Dentre os habitats na Amazônia Central, as florestas de terra firme são áreas

recortadas por pequenos riachos nunca submetidos ao pulso de inundação (Walker, 1995).

Estes riachos, conhecidos localmente como igarapés, são importante componente das

florestas tropicais, criando uma heterogeneidade estrutural característica no ecossistema de

terra firme (Lima & Gascon, 1999). Seus microhabitats e a composição da fama local

associada são fortemente influenciados pela floresta adjacente (Henderson & Walker, 1986;

Nolte, 1988; Walker, 1995; Nessimian et al., 1998). A floresta contribui energética e

estruturalmente com estes igarapés, praticamente heterotróficos, fornecendo troncos,

galhos, folhas e invertebrados terrestres como substrato e alimento para a fauna local

(Hynes, 1970; Post & Cruz, 1977; Angermeier & Karr, 1984; Uieda & Kikuchi, 1995;

Sabino & Zuanon, 1998; Lowe McConnell, 1999).

Acredita-se que a disponibilidade de recursos é um potente agente na seleção de

características da história de vida das espécies (Grether et al., 2001). A disponibilidade de

espaço e o tipo de substrato, por exemplo, podem afetar a sobrevivência de peixes juvenis

em certos ambientes complexos como recifes de coral naturais e artificiais (Jones, 1988;

Nemeth, 1998; Golani & Diamant, 1999). Deste modo, a seleção de um habitat capaz de

proporcionar alimento suficiente para o crescimento e reprodução do indivíduo é

considerada uma estratégia fundamental dos organismos (Andrewartha & Birch, 1954).

Além disso, o padrão de distribuição dos organismos nos ambientes e sua seleção também

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estão relacionados às interações biológicas, que variam conforme a complexidade estrutural

do ambiente, onde se destaca a importância da arquitetura do substrato (Hixon & Beets,

1989; Eklov & Persson, 1996).

A heterogeneidade estrutural e a disponibilidade de microhabitats permitem a

coexistência de um elevado número de espécies nos igarapés, como já reportado em

diferentes áreas de estudo na Amazônia Central (e.g., Sabino & Zuanon, 1998; Mendonça,

2001). Algumas espécies de peixes dessas comunidades podem utilizar o folhiço submerso

como locais para abrigo elou forrageamento (Sabino & Zuanon, 1998), alimentando-se da

fauna de invertebrados associada (Souza, 2002). Peixes como os bagres Helogenes

marmoratus (Siluriformes: Cetopsidae), Nemuroglanis spp. (Siluriformes: Heptapteridae) e

os sarapós Microsternarchus bilineatus e Steatogenys duidae (Gyrnnotiformes:

Hypopomidae) utilizam o folhiço submerso como abrigo diurno, enquanto que pequenos

ciclideos do gênero Apistogramma e doradídeos juvenis usam-no como local de

forrageamento (Sabino & Zuanon, 1998; J. Zuanon, com. pessoal).

Estudos envolvendo colonização de habitats são bastante utilizados para

compreensão de processos ecológicos internos ao sistema aquático, como interações do

tipo predador-presa, partilha de recursos e sobreposição de habitats (Hixon & Beets, 1989;

Uieda & Kikuchi, 1995; Freitas, 1998; Nemeth, 1998). As características fisicas dos

igarapés, como profundidade, largura e vazão, também têm efeito na composição e

distribuição da fauna entre os habitats (Vannote et al., 1980) pois, podem interferir na

disponibilidade e qualidade de substratos. Os bancos de folhiço submerso devem, então,

ficar cada vez mais compactados e restritos às margens do canal à medida que o tamanho

dos igarapés aumenta. E também, mais fragmentados em função do tempo e dos

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microorganismos decompositores (Walker, 1986). Se há disponibilidade do microhabitat,

nas condições requeridas pelos colonizadores, a velocidade e equilíbrio das, taxas de

colonização vão depender, entre outros fatores, da densidade da fauna no ambiente de

origem, das características do ambiente a ser colonizado, da abundância de habitats

vizinhos, da mobilidade da espécie colonizadora e da competição específica (Elouard,

1988). Desse modo, investigações sobre o processo de colonização ao longo do tempo

podem representar uma ótima ferramenta para avaliação do impacto da ação antrópica

sobre a floresta de terra f m e .

Além da competição por microhabitats, outras formas de interações podem interferir

no estabelecimento de populações e na estruturação de assembléias de peixes. A alta

riqueza de espécies nos igarapés (e.g. Kemenes, 2000; Martins, 2000; Mendonça, 2001;

Projeto Ygarapés, 2002) também é resultado das complexas interações ecológicas e da

diversidade de itens alimentares disponíveis nos rios tropicais (Knòppel, 1970; Silva, 1993;

Souza 2002). A observação da dieta dos organismos pode proporcionar evidências diretas

do uso e possível partilha de recursos (Bennemann et al., 2000) e determinar se os

indivíduos são realmente dependentes da vegetação adjacente em sistemas de igarapés de

terra firme. Segundo Ross (1986), o alimento tem sido o principal fator de segregação no

uso de recursos observado para assembléias de peixes, as quais apresentam pronunciada

especialização morfológica para mecanismos tróficos (Silva, 1993; Sabino & Zuanon,

1998).

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Alterações na paisagem

Na Amazônia, o desmatamento esta geralmente relacionado ao estabelecimento de

populações humanas ou à exploração da terra (Fearnside, 2003), sendo esta uma região com

elevadas taxas de deflorestamento - 25.500 krn2 estimados entre 2001 e 2002 (INPE, 2004).

Neste cenário, a floresta encontra-se cada vez mais exposta à fragmentação, com um

número progressivamente maior de áreas de florestas isoladas. A gama de modificações no

meio ambiente, por meio da fragmentação, gera efeitos que vão além da perda do habitat

original e da redução no tamanho dos remanescentes florestais. A criação de bordas e o

surgimento de novas matrizes de habitat, em nível local e da paisagem, são alguns deles

(Gascon et al., 200 1).

A composição de novas matrizes da paisagem dependerá muito da causa do

desmatamento (Fearnside, 1990; Kahn & McDonald, 1997). De modo geral, quando a

floresta é derrubada e a área é submetida ao fogo ou à plantação de capim, as espécies de

fismia spp. (Clusiaceae) dominam a vegetação secundária que se estabelece, enquanto que

em áreas somente cortadas e abandonadas, ocorre dominância por Cecropia spp.

(Cecropiaceae) (Gascon & Bierregaard, 2001). Essas mudanças, onde a floresta com alta

diversidade florística (Ranking-de Merona et al., 1992; Oliveira & Mori, 1999) é

substituída por uma vegetação quase monoespecífica, têm conseqüências negativas

qualitativas e quantitativas sobre a fama regional (Moutinho, 1998; Tocher, 1998; Neckel-

Oliveira, 2002), e provavelmente afetam a dinâmica dos sistemas de igarapés (Projeto

Ygarapés, 2002; Bojsen & Barriga, 2002).

Sistemas de baixa produtividade primária, como os igarapés de terra firme da

Amazônia Central, dependem fundamentalmente do material importado da vegetação

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adjacente para a manutenção da complexidade arquitetônica do sistema e aporte de energia

(Gregory et a]., 1991). Assim, a fragmentação florestal pode gerar alterações na estrutura

de habitats dos sistemas aquáticos (Sizer, 1992), e causar variações na composição do

material alóctone, na disponibilidade de habitats e de itens alimentares. A perda da

cobertura florestal original pela retirada das árvores que formam o dossel sobre o leito dos

igarapés, aliada às alterações nas correntes de água em ambientes sem a vegetação

marginal, dificultam a deposição de folhas e galhos no substrato dos igarapés (Sabater et

al., 2001). A baixa complexidade estrutural resultante pode acarretar no desaparecimento

de microhabitats utilizados por várias espécies, que se tomam mais vulneráveis aos

predadores aéreos e aquáticos (Sabino & Zuanon, 1998). Estas mudanças podem alterar a

riqueza e abundância das espécies (Silva, 1992), modificando a estrutura e função das

comunidades (Nessimian et al., 1998), em determinado local ou em escala regional.

Entretanto, tais recursos podem não desaparecer concomitantemente às alterações

na estrutura da vegetação, como o surgimento de capoeiras e pastagens. Mas, mesmo que

não sejam observados acréscimos ou diminuições imediatos no número de espécies e no

tamanho de suas populações, o desmatamento e a falta de preservação da zona npária

podem vir a causar sérios danos à integridade das comunidades dos riachos tropicais

(Angermeier & Karr, 1984), comprometendo os processos que regulam e mantém a

dinâmica do ecossistema. Assim, a manutenção da conectividade dos remanescentes

florestais é fundamental, e a preservação da vegetação ripária dos igarapés na paisagem,

contribui muito com a manutenção da integridade do mosaico de habitats.

Na área do Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais - PDBFF (ver

descrição na seção área de estudo) vem sendo desenvolvido um projeto desde 2001 que

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busca compreender os processos de manutenção da integridade dos igarapés frente às

mudanças causadas na paisagem pelo desmatamento. Os dados até então obtidos para a

ictiofauna não demonstram efeitos marcantes sobre diversidade, riqueza e abundância das

espécies (J. Zuanon, com. pess.). Assim, faz-se necessária a utilização de outras

abordagens, buscando entender os processos ecológicos dentro dos igarapés, que

teoricamente seriam muito sensíveis às alterações que envolvem perda de habitats. Os

bancos de folhiço submerso são o tipo de ambiente ideal para se fazer a ligação entre

processos internos do sistema, como a colonização e a dinâmica de fragmentaçãb do

material alóctone, com as mudanças na paisagem, como a conversão da vegetação ripária

original. Uma abordagem experimental a respeito do processo de colonização por peixes

nestes bancos mostra-se bastante apropriada, pois lida diretamente com a relação entre a

capacidade intrínseca de uma espécie colonizar determinado ambiente e a disponibilidade

qualitativa e quantitativa do mesmo (Walker, 1986).

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OBJETIVO GERAL:

a

Entender como as alterações da cobertura florestal interferem na disponibilidade de

folhiço submerso, em igarapés de floresta de t e m firme da Amazônia Central, e as

implicações para a ictiofauna associada a este tipo de microhabitat.

1. Quantificar a disponibilidade de folhiço submerso em igarapés com diferentes

níveis de cobertura florestal.

2. Avaliar como a estrutura fisica dos igarapés se relaciona com o acúmulo de

folhiço.

3. Relacionar as taxas de colonização por peixes no folhiço submerso, com os

diferentes níveis de cobertura florestal, abertura do dossel, densidade do sub-bosque,

diponibilidade do folhiço submerso, vazão, tamanho do igarapé e fragmentação folia.

4. Avaliar as relações tróficas existentes nesse microhabitat, a partir do estudo da

dieta das espécies de peixe encontradas no folhiço submerso.

5. Relacionar a colonização do folhiço submerso por peixes com o tempo de

submersão das folhas.

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H, 1: A disponibilidade de folhiço varia em função da estruturada vegetação ripária

dos igarapés (e.g. porcentagem de cobertura florestal, abertura do dossel e densidade de

sub-bosque).

H12: A disponibilidade de folhiço varia com a profundidade, largura e vazão dos

igarapés.

Hi3*: As taxas de colonização variam em função das mudanças na vegetação ripária

dos igarapés (e.g. porcentagem de cobertura florestal, abertura do dossel e densidade de

sub-bosque).

H i 3 ~ : A variação nas taxas de colonização têm relação com a profundidade, largura,

vazão, fragmentação foliar e disponibilidade de folhiço submerso nos igarapés.

H14: As alterações na cobertura vegetal explicam a variação na freqüência dos itens

alimentares consumidos pelos peixes.

Hi5: O processo de colonização varia temporalmente e entre os microhabitats de

corredeira e remanso.

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1. ÁREA DE ESTUDO L

A área das reservas do Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais

(PDBFF), encontra-se 80 krn ao norte de Manaus, e distribui-se em três fazendas: Dimona,

Porto Alegre e Esteio (Fig. 1). Aí estão compreendidas áreas de floresta primária (incluindo

fragmentos de 1, 10 e 100 ha), de capoeira, de pastagem e de solo exposto. A AME (Área

de Relevante Interesse Ecológico) do PDBFF encontra-se em área de terra f m e com densa

malha de drenagem, onde estão localizados os 22 igarapés utilizados neste estudo,

pertencentes a quatro bacias hidrográficas (Rio Cuieiras, Rio Preto da Eva, Rio Urubu e Rio

Tanimã). A escolha dos pontos de coleta foi realizada durante a elaboração do Projeto

Ygarapés. Em 20 desses pontos foram realizadas todas as amostragens do projeto Ygarapés,

que aborda o efeito das mudanças na paisagem sobre a integridade dos igarapés de terra

firme, e provê informações sobre algumas das variáveis abióticas que aqui serão analisadas

(veja www.in~a.nov.brliaaraue). Como pré-requisito, havia a preocupação em distribuir os

pontos entre os diferentes tipos de vegetação encontrados na área de estudo, como mata

primária, capoeira, pastagem e solo exposto, e entre igarapés de diferentes tamanhos. Não

há um número equivalente de igarapés por tipo de vegetação ou por ordem de magnitude,

mas este desequilíbrio amostra1 pôde ser solucionado tratando estas duas variáveis de

maneira contínua. Assim, foram medidas a porcentagem de cobertura florestal, densidade

de sub-bosque e abertura de dossel para as análises pertinentes à vegetação de entorno; e

profundidade, largura e vazão referentes ao tamanho dos igarapés.

Os igarapés de terra firme percorrem áreas onde o pulso de inundação não atua,

tendo suas variações de nível de água marcadas pelas chuvas locais. A amplitude de

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variação no nível da água desses cursos é muito menor que naqueles sob efeito do pulso de

inundação (Junk et al., 1989), mas a freqüência desta variação é muito maior. O sub-bosque

prbximo às margens é composto, principalmente, por herbáceas das famílias Marantaceae e

Rapateaceae. Os igarapés recebem muitos galhos, raízes e folhas da floresta adajancente,

que acabam compondo o substrato junto ao fundo areno-lodoso. A declividade. nesses

cursos de água é baixa, o pH é ácido variando entre 4,5 e 5,4, a condutividade é baixa e

varia de 7,9 a 16,7 us.cm-'. A velocidade da água está entre 1,8 e 46,6 m.s-l, e a vazão

entre 0,3 e 64,8 m3.s-' (ANEXO 1). São águas translúcidas, que vão do cristalino ao

alaranjado, e que apresentam baixíssima produtividade primária.

L e g e n d a

Figura 1. LocWção das áreas de estudo do PDBFF (Fazenda Dimona, Porto Alegre e Esteio).

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2. DESENHO EXPERIMENTAL

Realizei as amostragens em trechos de aproximadamente 300 m, ao longo de cada v

um dos 22 igarapés de Ia, 2" e 3" ordens (ver Tab. 1). Os igarapés foram georeferenciados

utilizando-se o sistema de coordenadas UTM (Datum WGS84), obtidos com GPS à

precisão de 10 m, pela equipe do projeto Ygarapés (Fig. 2). A vegetação de entorno dos

igarapés (vegetação ripária) variou entre mata primária, capoeiras, pastagem e solo exposto

(Tab. 1). Esta classificação será utilizada como ilustração, pois o tipo de vegetação ripária

é tratado com uma variável contínua com dados obtidos a partir de imagens de satélite - ver

cobertura florestal).

Figura 2. Mapa de distribuição dos pontos de arnostragem, indicando a localização dos

igarapés na área das reservas do PDBFF (Projeção UTM, zona 21. Fonte: Laboratório

MALOCA - PDBFF).

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Tabela 1. Distribuição dos igarapés conforme o tipo de vegetação npária e ordem. Os

números presentes na coluna Localidade estão representados na figura 2. s

Tipo da Vegetação Localidade N ' Ordem Floresta primhria (13)

Mata contínua (mc) E 17,18,19 3 1" E20 1 1" E ~ . ~ ~ 2 lae2"

EIS 1 1" D ' 1 1" D2 1 1" P7 1 1" D4 I* 1" EI4 1 1" E2' 1 3a

Fragmentos de 100 ha (m100)

Fragmentos de 10 ha (m10)

Estrada Capoeiras (5) .

Capoeira de Vismia (cv)

Capoeira de Cecropia (cc) Capoeira mista (cm)

Pastagem (3) Pastagem Pastagem

(Pa) EI6 1 1" com vegetação marginal - veredas P8p9 2 1"

Solo exposto (1) Estrada BR1 7422 1 l a

*Todos os pontos representam amostras independentes, ?i exceção de dois pontos em um igarapé na Faz. Dimona, que percorre áreas de mata primária e capoeira. N (número de igarapés) D (fazenda Dimona), E (fazenda Esteio) e P (fazenda Porto Alegre)

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3.1 Experimento de colonização

- Implementação

Conduzi o experimento utilizando armadilhas para colonização em forma de sacos, --

com tamanho padrão de 40 cm de comprimento por 15 cm de diâmetro, compreendendo

aproximadamente 40 g de folhas. Envolvi as folhas secas com redes de nylon (malha 25

rnm) amarradas nas duas extremidades. As folhas que utilizei eram todas de Vismia

japurensis (Familia Clusiaceae) (tipo de folha mais colonizado e menos fragmentado nos

experimentos realizados no projeto Ygarapés), uma vez que o objetivo deste trabalho não

foi avaliar a preferência pelo tipo de material que compõe o substrato.

Instalei 18 sacos de colonização em cada um dos 22 igarapés, com 25-30 m de

distância entre si, alternando entre áreas de remanso e corredeira (Fig. 3), num total de 396

sacos. Dois sacos por igarapé funcionaram como elemento de segurança, para serem

utilizados no lugar daqueles que eventualmente fossem arrastados por uma correnteza

muito forte. Os dois tipos de ambiente são bem característicos nos igarapés e fáceis de

serem distinguidos. Defrni os ambientes de remanso como áreas de meandros onde a água é

praticamente parada, sempre às margens do curso do igarapé, e os de corredeira como as

áreas com velocidade da água maior, originados geralmente pelo desvio do fluxo do igarapé

por galhos e troncos caídos.

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t - 3 00m -1 O A A 0 A - 25-30m o A m A * A m A m A I

b Retirei mensalmente, de cada ponto amostral, um A remanso grupo de quatro sacos de colonização. m corredeira

Figura 3. Esquema da amostragem, ilustrando a disposição dos sacos de colonização e sua

retirada.

Sempre posicionei os sacos de colonização junto ao fundo e o mais próximo da

margem direita dos igarapés, com o auxílio de estacas de madeira presas às extremidades e

com uma corda de nylon presa em raízes ou caules próximos a margem. Implementei o

experimento na porção do canal onde geralmente os bancos de folhiço se formam, e

consequentemente onde a ictiofauna associada está presente, provocando o mínimo de

perturbação possível. Distribui os sacos dentro de trechos de 300 m porque igarapés de

pequena ordem geralmente não percorrem distâncias muito maiores que esta, então

padronizei-a em função dos menores igarapés.

- Retirada dos sacos de colonização

Retirei os sacos de colonização com um cano coletor de PVC, contendo uma das

extremidades fechada por uma rede de malha fina. Para cada igarapé, sorteei dois sacos em

remanso e dois em corredeira, para retirá-los em cada intervalo de 30, 60, 90 e 120 dias

após a implementação Pig. 3). Assim, desenvolvi o experimento de colonização ao longo

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de cinco meses, de 27 de janeiro a 28 de junho de 2003. Fiz as coletas sempre durante o dia

(07:OOh - 17:00h), permitindo a captyra tanto dos peixes de hábito noturno, escondidos nos

bancos de folhiço, quanto diurno, alimentando-se nos mesmos.

- Triagem e armazenamento

Abri cada saco retirado dos igarapés, separando as folhas dos peixes. Primeiramente

armazenei-os em formo1 10 %, para melhor conservação dos tratos digestórios, e em

seguida depositei-os no acervo ictiológico do INPA em solução alcoólica a 70 %.

3.2 Estudo de dieta

Analisei o trato digestório de todos os peixes coletados. Para a análise da dieta, não

levei em consideração os intervalos de tempo como proposto, devido ao baixo número de

indivíduos por espécie. Pelo mesmo motivo, apresentarei urna descrição da dieta das

espécies coletadas, com a determinação de categorias tróficas pouco específicas.

Identifiquei os itens alimentares usando chaves de identificação (Menit & Curnmins, 1996;

Thorp & Covich, 1991) e a ajuda de especialistas. Posteriormente, determinei o volume

relativo de cada item alimentar (volume do item em relação ao volume total de alimento no

trato digestório - %), por indivíduo (Hynes, 1950). Finahente, classifiquei as espécies em

categorias tróficas, definidas a partir dos itens com participação relativa igual ou superior a

60 % (Hynes, 1950).

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4.1 Cobertura florestal

As caracterfsticas da cobertura florestal de cada trecho foram obtidas, pela equipe

do projeto Ygarapés, com base em imagem LANDSAT TM 5 da área de estudo. A imagem

foi classificada em floresta, capoeira, pastagem e solo exposto com o programa IDRISI 3.2

(Moreira, 2003) (Fig. 4). Com a digitalização dos igarapés na imagem, foram construídas

áreas de entorno de 50,100,150,200 e 250 m de largura, ao longo de trechos de 150 m nos

igarapés. Cada área desta é constituída por um determinado número de pixels (unidade das

imagens de satélite), que equivale à 100 % da área de entorno. Portanto, uma área com 100

% de cobertura florestal refere-se à 100 % de pixels na classe floresta primária.

a b

as -_o a . l - - -.

Fiorestaprhnártn I ~restaprfmsuia

I Capoeirr H Capo&a

Pastegem H Pastagem

Figura 4. Classificação da imagem e construção das áreas de entorno dos igarapés (A, B e

C). Detalhe de uma imagem de satélite LANDSAT TM 5 (a) e posterior classifcação @).

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4.2 Densidade de sub-bosque

A equige do projeto Ygarapés, através de um método pontual, amostrou a densidade

do sub-bosque, do solo até dois metros de altura. Ao longo de urna linha de 30 m, paralela

ao leito do igarapé, tomaram uma medida a cada metro. Para isto, usaram um bastão de 2

m, graduado em centímetros e com diâmetro de 3 cm. Assim, anotavam a altura cada vez

que um ramo ou folha encostava no bastão. Com estes dados puderam calcular o número de

toques por ponto, e uma média representando a densidade do sub-bosque para cada um dos

20 igarapés amostrados pela equipe.

4.3 Abertura do dossel

A equipe do projeto Ygarapés tirou três fotos do dossel acima de cada igarapé,

utilizando uma máquina fotográfica automática com lente de 31 mm. As fotos foram

válidas quando nenhuma folha interceptou o campo de visão até o dossel da mata. As fotos

coloridas, escaneadas, foram convertidas em arquivos bitmap (preto: onde havia algum tipo

de vegetação; branco: presença de luz livre de vegetação). Assim, calcularam a abertura de

dossel média, utilizando a porcentagem de pixels brancos (utilizando o programa ArcView

3.2) das três fotos, para os 20 igarapés amostrados pela equipe.

4.4 Substrato

Para determinar a disponibilidade do folhiço submerso no substrato total dos

igarapés, fiz censos em cinco transectos transversais ao eixo de cada igarapé, equidistantes

60m. Anotei o tipo de substrato e sua altura a cada 10 cm de deslocamento de um bastão

graduado, sobre a linha de transecção transversal (Fig. 5). Para analisar os dados, criei um

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índice médio de disponibilidade do folhiço no substrato total de cada igarapé, onde os

maiores valores do índice representam maior disponibilidade, sendo ,

C"1i indice t = do f0lhiço e fndice =A. Desse modo, o índice t (It) é a quantidade de

n. total de toques n = 5

folhiço no transecto, n. total de toques é o número de vezes que o bastão toca o substrato

naquele transecto, o qual dependerá da largura do mesmo, e n é o número de transectos por

igarapé. Para os resultados, serão utilizados os valores médios com desvio padrão, valores

máximos e mínimos (X* dp, mínimo-máximo).

Figura 5. Esquema da coleta de dados para disponibilidade do folhiço submerso no

substrato total (modificado a partir de Sabino & Zuanon, 1998).

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4.5 Profundidade e Largura

Realizei 16 medidas de largura e profundidade, nos locais de cada saco de

colonização retirado, para cada igarapé. Com estes dados calculei a profundidade e largura

médias (em metros) para cada um deles. Serão utilizados nos resultados os valores médios

com desvio padrão, valores máximos e mínimos (X* dp, mínimo-máximo).

4.6 Vazão

Utilizei os dados de vazão já disponíveis no projeto Ygarapés. A equipe fez três

medidas por igarapé arnostrado, durante o mês de março. Assim, a vazão representativa de

cada igarapé é igual a média dos três valores de vazão para cada trecho, sendo representada

na seguinte fórmula:

Vazão (m3. s-') = ~ r e a tvanseccional (m2) * Velocidade da água (m . s-')

Para medir a vazão nos três pontos de cada um dos 20 igarapés, foi utilizado um

fluímetro analógico (GENERAL OCEANICS - R2). Para os igarapés muito rasos e com a

água muito parada, a vazão foi obtida a partir da velocidade da lâmina de água. Esta

veIocidade foi determinada pelo tempo gasto por um disco de espuma de poliuretano para

percorrer uma distância pré-determinada. Serão utilizados nos resultados os valores médios

com desvio padrão, valores máximos e mínimos (X* dp, mínimo-máximo).

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4.7 Fragmentação foliar

A fragmentação dos bancos de folhiço submersos é um processo de decomposição

de folhas ao longo do tempo. Os responsáveis pela fragmentação ou particulação das folhas

são principalmente os microorganismos decompositores (Walker, 1986) e a vazão dos

igarapés, atuando com uma força fisica no processo (Vannote et al., 1980). Juntos, este dois

fatores, deixam as folhas reduzidas a pedaços cada vez menores. Para estimar o grau de

fragmentação foliar das folhas utilizadas no experimento de colonização, despejei um

quarto das folhas retiradas de cada saco em uma bandeja. Com a ajuda de um fio de nylon

esticado, contei o número de vezes que a margem dos fragmentos de folha o interceptava

(Fig. 6). Depois de três medidas por saco, calculei a média para cada um, utilizando-a para

o cálculo dos índices de fragmentação foliar (ver Análise dos dados), que será expresso em

número de fragmentos por transecção (representada pelo fio esticado). Serão utilizados nos

resultados os valores médios com desvio padrão e valores máximos e mínimos (X& dp,

mínimo-máximo).

a

Figura 6. Medidas da fragmentação foliar. Total de folhas presentes no saco de colonização

(a) e um quarto das folhas a serem medidas (b). As linhas pontilhadas representam as três

medidas feitas com a ajuda de um fio de nylon esticado sobre as folhas).

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5. ANALISE DOS DADOS

Para as análises kopostas, utilizei o pacote estatístico SYSTAT 9.0 (Wilkinson,

1998) e avaliei as hipóteses em duas etapas. Na primeira etapa testei as relações entre a

colonização e a fragmentação foliar com relação ao tempo e ao michohabitat - H5 - por

meio de testes paramétricos e não-paramétricos (Fig. 7). Na segunda testei as relações entre

a colonização e as variáveis abióticas - H1 a H3 - também por meio de testes paramétricos

e não-paramétricos (Fig. 8). Nos fluxogramas, utilizados nas figuras 7 e 8 para exemplificar

as análises, as caixas representam as variáveis coletadas, as setas indicam as relações

testadas e o sentido das setas representa o caráter da variável (independente - de onde

partem as setas - e dependentes - onde chegam as setas).

A colonização representa o número total de espécies e de indivíduos coletados nos

sacos em cada igarapé. Apesar disto, tratei-a como urna variável categórica porque o

número de espécies e de indivíduos coletados em cada igarapé teve baixa amplitude de

freqüência, variando de O a 3 e de O a 5, respectivamente. Assim, defini uma condição

binária para esta variável, onde 1 (um) representa presença e O (zero) ausência do evento de

colonização no igarapé durante todo o experimento.

Os índices de fragmentação foliar diferem entre as análises do tempo, microhabitat e

probabilidade de colonização, representando diferentes médias dos sacos de colonização. A

partir da média dos valores dos quatro sacos de colonização retirados mensalmente, calculei

quatro índices (referentes a cada mês) por igarapé para a análise do tempo. A partir da

média dos valores dos oito sacos de colonização no remanso e dos oito na corredeira,

durante todo o experimento, gerei dois índices (um para cada ambiente) por igarapé, para a

análise do microhabitat. Na análise de covariância, analisei o efeito do tempo e do tipo de

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ambiente sobre a fragmentação foliar a partir de oito índices por igarapé (dois microhabitats

- remanso e corredeira - e quatro coletas - 30,60,90 e 120 dias).

Utilizei Testes G para investigar a relação da probabilidade de colonização com o

microambiente. Para a relação da fragmentação com estas duas últimas variáveis, utilizei

Teste t pareado e Regressão Linear Simples, respectivamente. Analisei a relação entre a

fragmentação foliar e a probabilidade de colonização por meio de Regressão Logística

Simples. Finalmente, para testar a relação do tempo e do tipo de habitat com a colonização

e com a fragmentação foliar, utilizei uma análise de covariância (ANCOVA) (Fig. 7).

Também usei técnicas de Regressão Linear Simples para testar as seguintes relações: vazão

média dos igarapés com a disponibilidade de folhiço submerso, disponibilidade do folhiço

com a densidade do sub-bosque e com a cobertura florestal, coberhira florestal com a

densidade do sub-bosque e com a abertura do dossel, e entre estas duas Últimas variáveis.

Por meio de Regressões Lineares Múltiplas investiguei a relação da profundidade e largura

médias com a vazão média dos igarapés e com a disponibilidade de folhiço submerso.

Testei as relações da probabilidade de colonização dos bancos de folhiço submerso pelos

peixes com a fragmentação foliar, vazão, cobertura florestal, disponibilidade de folhiço

submerso, densidade do sub-bosque e abertura do dossel, utilizando Regressões Logísticas

Simples, e profundidade e largura médias do igarapb, utilizando Regressão Logística

Múltipla. Finalmente, para avaliar a relação entre vazão média dos igarapés e a - fragmentação foliar utilizei uma análise de covariância (ANCOVA), sendo o tempo a

covariável (Fig. 8).

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Teste t pareado Regressão

Regressão Linear r n Regressão

Logistica

Figura 7. Fluxograma representando as relações entre microhabitat (MH.), tempo,

fragmentação foliar (FR) e colonização (COL) e as análises utilizadas para testá-las.

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Figura 8. Representação esquemática das relações analisadas entre a probabilidade de

colonização e as variáveis abióticas. DF = disponibilidade de folhiço submerso, DSB =

densidade de sub-bosque, FL = porcentagem de floresta primária, com técnica de regressão

linear para cada uma das zonas tampão de 50 a 250 m, FR = índice de fragmentação foliar,

LM = largura média, ABD = abertura do dossel, PM = profundidade média e VZ = vazão

média. Regressão Linear Simples (a), Regressão Linear Múltipla @), Regressão Logística

Simples (c), Regressão Logistica Múltipla (d) e Análise de covariância - ANCOVA (e).

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RESULTADOS

Durante os quatro meses do experimento de colonização, coletei 41 peixes,

compreendendo 11 espécies, nove famílias e cinco ordens, entre ambientes de remanso e de

corredeira. As três espécies com maior número de indivíduos foram Helogenes

marmoratus, Crenuchus spilurus e Apistogramma aff. steindachneri (Tab. 2).

Tabela 2. Lista de espécies de peixes coletadas durante o experimento de colonização, com

suas respectivas abundâncias.

Ordem EspCcie N

Família Siluriformes

Cetopsidae Helogenes marrnoratus Giinther, 1863 8 Heptapteridae Myoglanis sp. 1

Nemuroglanis cf. lanceolatus 3 Trichomyctendae Ituglanis amazonicus 3

Gymnotiformes Gyrnnotidae Hypopomidae

Synbranchiformes Synbranchidae

Characiformes Crenuchidae Lebiasinidae

Gyrnnotus anguillaris 2 Hypopygus lepturus Hoedeman, 1962 1

Synbranchus sp.

Crenuchus spilurus Glinther, 1863 Pyrrhulina brevis Steindachner, 1875

Perciformes Cichlidae Apistogramma aff. steindachneri Regan, 1908 6

Crenicichla aff. alta 1

Total 11 36 *

* Cinco exemplares adicionais não puderam ser identificados atC o nível de esptcie, sendo três

Characiformes, um Gymnohrs e um Apistogramma, em função de problemas de preservação do material.

N (número de indivíduos).

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Influéncia do Microhabitat e do Tempo na colonização de igarapés

Os ambientes de remanso foram os mais colonizados. Das 11 espécies que coletei,

dez (90,9 %) estavam em remanso e seis (54,5 %) em corredeira. Nos remansos capturei 29

(70,7 %) dentre 41 indivíduos, e 12 (29,3 %) nas corredeiras. Dos 22 igarapés amostrados,

14 foram colonizados. Os ambientes de remanso foram mais colonizados (100 %) que os de

corredeira 8 (57,l %) (G=4,54; p=0,03; gl=l). Também detectei diferença entre

microhabitats para a fragmentação foliar de cada igarapé, sendo os índices de corredeira

(19,7 f 3,6; 13,2-26,9) maiores que os de remanso (16,2 '. 3,2; 10,3-23,7) (t pareado=4,9;

p<0,00 1; gl=2 1). Além disso, a fragmentação interfere negativamente na probabilidade de

colonização (G=9,0; p=0,003; gl=l, Fig. 9). Esses resultados indicam a influência direta e

indireta do microhabitat no processo de colonização do folhiço submerso por peixes (Fig.

10).

Figura 9. Efeito da fragmentação foIiar (número de fiagmentos/transecção) na

probabilidade de colonização, considerando um índice médio para cada um dos 22 igarapés

amostrados.

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Figura 10. Relação entre microhabitat (MH), fiagmentação foliar (FR) e colonização

(COL). As setas indicam vias significativas.

O tempo também agiu na colonização e na fragmentação foliar. Capturei oito (72,7

%) espécies e 13 (3 1,7 %) indivíduos no primeiro mês de coleta, dez (90,9 %) espécies e 18

(43,9 %) indivíduos no segundo mês, cinco (45,4 %) espécies e dez (24,4 %) indivíduos no

terceiro mês e nenhum indivíduo foi capturado no quarto mês de coleta. Dentre os 14

igarapés colonizados, nove (64,3 %) já haviam sido colonizados após os primeiros 30 dias

de experimento, dez (71,4 %) após 60 dias e sete (50 %) após 90 dias, demostrando como a

probabilidade de colonização reage negativamente ao tempo (G= 10,27; p=0,00 1 ; gl=l). O

tempo tem efeito inverso na fragmentação, que apresenta-se com índices cada vez maiores

(F=137,3; p<0,001; 3=0,61; N=88). Observando estes dois resultados (Fig. 1 I), notamos

que a colonização depende do quão fragmentado o folhiço se toma ao longo do tempo.

Novamente confirmam-se os efeitos direto e indireto, mas agora entre fragmentação foliar,

colonização e o tempo (Fig. 12).

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O 40 80 120 Tcmpo (dias)

O 50 100 I50 Tempo (dias)

Figura 1 1 . ReLçio entre o tempo e a probabilidade de coloriimção (a). N-22. e a fra~nentaqão

foliar (b), N=88.

Figiira 12. Relações entre o tempo, a fragmentaç80 foliar (FR) e a colonizaç50 (COL). As setas

indicam RS vias significativas.

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A porcentagem de armadilhas colonizadas em ambientes de corredeira foi sempre

menor que nos remansos lao longo do experimento, exceto pelo quarto mês, onde a

colonização foi ausente para ambos microhabitats (Fig. 13a). Mas, o comportamento da

colonização no tempo, enquanto número de armadilhas colonizadas, não difere entre os

microhabitats (G=1,32; p=0,72; gl=3). Já a fragmentação foliar covariou com o tempo e

com os rnicrohabitats (Tab. 3; Fig. 13b). Ainda, vale ressaltar que os resultados de

colonização para o segundo mês de coleta representam os maiores valores, sendo seguidos

por queda abrupta após os 90 dias (Tab. 4). Em síntese, estes resultados indicam que, para

um mesmo intervalo de tempo, encontramos maior chance de colonização e menor

fragmentação foliar em ambientes de remanso que nos de corredeira (Fig. 13).

Tabela 3. Análise de covariância entre fragmentação (número de fragmentos foliaresIl0 g

de folha), microhabitat (remanso e corredeira) e os intervalos de tempo (30, 60, 90 e 120

dias).

Análise de Covariância

Fator Soma dos quadrados gl Média dos quadrados F P Tempo 556,6 1 556,6 14,3 <O,OO 1 Microhabitat 6485,6 1 6585,6 167,l <O,OO 1 Erro 6714,8 173 38,8

Variável dependente: fragmentação N: 176 ~ ~ m ú l t i ~ l o : 0,5 1

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20 40 60 80 100 120 Tempo (dias)

O 50 100 150 Tempo (dias)

Figura 13. Relação entre (a) o tempo e a colonização (% dt: sacos colonizados), N=8) e (b) n

fragmeiltação foliar (oito índices por igarapé), N=176, apresentando os microhabitats como

covariávei.

Tabela 4. Numero de espécies, de indivídiios e de igarapés colonizados pelo menos um vez

ao longo do experimento, para cada coleta mensal, em cada ambiente.

- -

N Remanso Corredeira Espécies 1 1 I O 6

Ti T2 T3 T4

Individuos TI T2 T3 T4

TI (30 dias), T2 (60 dias), T3 (90 dins) e T4 (120 dias); N (número de es$cies e indivíduos coletedas e de ignrpés colonizados)

- -

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A importância dos invertebrados na alimentação dos peixes de igarapés

Analisei 29 tratos digestórios dos peixes coletados, classificando-os em duas

categorias tróficas: invertívoros alóctones e invertívoros autóctones. Considerei

invertebrados autóctones os Cladocera, Bryozoa, Chironomidae, Decapoda,

Ephemeroptera, Trichoptera, Heteroptera (Hemiptera), Acari e Coleoptera aquáticos,

Diptera e Odonata em fase larval. Os invertebrados alóctones incluíram os Hymenoptera

(Formicidae), Dermaptera, Homoptera, Coleoptera terrestres e Diptera adultos. Os itens

mais freqüentes dentre os invertebrados autóctones foram Ephemeroptera, aparecendo em

15 indivíduos (51,72 %), Chironomidae em 14 (48,27 %), Acari em seis (20,70 %),

Trichoptera e Coleoptera em cinco (17,24 %) e Odonata em três (10,34 %).

A única espécie que classifiquei como invertívoro alóctone foi Helogenes

marmoratus (Tab. 5). De todos os indivíduos que coletei, os dois que apresentam 100 e 60

% de material autóctone estavam presentes em igarapés de fragmento de 10 ha e em

capoeira conectada à um fragmento de 100 ha, respectivamente. Encontrei um indivíduo

com 60 % de material alóctone também em fragmento de 10 ha, mas os três exemplares

restantes, com 95 a 100 % de material alóctone estavam em igarapés de fragmentos de 100

ha e de mata contínua.

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Tabela 5. Quadro comparativo entre a representatividade de materia1 alóctone e autóctone,

com base no conteúdo alimentar do trato digestbrio das espécies de peixes coletadas

durante o experimento de colonização.

Espécies coletadas (MH) Tipo de ambiente Número Representatividade (cobertura vegetal) de peixes do material (%)

analisados AUT ALO NI Siluriformes

Cetopsidae Helogenes mannoratus (2r16c) mctfl 1001fl 101cap* 6 28 66 6 Heptapteridae Myoganis sp (1 c) Mc 1 - 1 O0

Nemuroglanis cf. lanceolatus (lr12c) mclcp. 3 1 O0 Trichomycteridae Ituglanis arnazonicus (2rl2c) mclcp 3 1 O0

Gymnotiformes Gymnotidae Gymnotus anguillaris (1 r11 c) mc 2 1 O0 Hypopomidae Hypopygus lepturus (1 r) CP 1 I00

Synbranchifomes Synbranchidae s)lnbranchus sp (2r)

Characifomes Crenuchidae Crenuchus spilurus (3r) mclfl 1001 2 1 O0 Lebiasinidae Pyrrhulina brevis (2rll c) mclfl 1001 3 43 12 45

Perciformes Cichlidae Apistogramma aff steindachneri (6r) mc/fl 100 6 1 O0

Crenicichla aff. alta (Ir) mc 1 1 O@ Total 11 29

MH (microhabitat, memanso e c=corredeira); AUT (material aut6ctone = invertebrados aquáticos e fases larvais de invertebrados terrestres); ALO (material alóctone = invertebrados terrestres, de solo e arborícolas) e NI (não identificado); mc (mata primiiria continua, **corredor de mata); fl 10 (fragmento de 10 ha); fl 100 (fragmento de 100 ha); cp (capoeira, * ao lado do fragmento de 100 ha).

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As varáveis abióticas e a probabilidade de colonização do folhiço nos igarapés

Apresentarei os resultados usando fluxogramas que antecedem e informam as

relações abordadas para cada etapa de investigação entre a colonização do folhiço

submerso e as variáveis abióticas medidas.

Figura 14. Relações analisadas entre o tamanho dos igarapés, representado por

profundidade (PM) e largura (LM) médias, vazão (VZ) e a fragmentação foliar (FR)

com a probabilidade de colonização do folhiço por peixes (COL). Vias significativas

( ) e não significativas (- ).

A probabilidade de colonização não teve relação com o tamanho dos igarapés

(G=0,67; p=0,71; gl=2), representado por profundidades (0,26 I O,11; 0,08-0,55 m) e

larguras (2,07 1,12; 0,96-6,11 m) . A probabilidade de colonização também não teve

relação com a vazão dos igarapés (8 -+ 16,6; 0,3-64,8 m3.s-') (G=0,89; p=0,35; gl=l). A

análise de regressão múltipla revelou que a vazão variou em função do tamanho dos

igarapCs (?=0,74; F=21,7; p<0,001; gl=2; N=18), sendo o efeito explicado pela

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profundidade (t=4,2; p=0,001) , mas não pela largura (t=0,2; p=0,8). Ou seja, quanto

mais profundo for um igarapé maior será sua vazão (Fig. 15). Não houve relação entre a

vazão e a fragmentação foliar, mas ocorreu efeito do tempo (Tab. 6), sob o qual as taxas

de fragmentação foliar aumentam (Fig. 16; ver ANEXO para valores por igarapé).

Definem-se aqui apenas os efeitos diretos da profundidade na vazão dos igarapés, e da

fragmentação na probabilidade de colonização (Fig. 9 e Fig. 14).

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Profundidade (m) Largura (m)

Figura 15. Representação dos residuos parciais gerados na analise de regressiio linear iiiiiltipla

entre vazão (mf.s") c o tamanho do igarapé, represciitado por profundidades (a) c largiiras (b)

medias, N=l8.

Tabela 6. Analise de varib~uicia entre fragrilentação foliar (número de tiilgiilei~tos/IOg de

foiiui), vazão inédia (m3.s") e os intervalos de tenipo (30,60, 90 c 120 dias).

Adlise de Varihcia Fator Soina dos quadrados gl Média dos quadrados F P Vaz 50 31,4 1 31,4 14 0,2 Tempo 3569,9 3 1 189,9 53,9 <O,OO 1 Erro 1656,l 75 22,l VariAvel dependenie: frn@ienta@o N:80 ~~rnúlliplo: 0.68

Tempo

1 .o 10.0 Log da VnzZio média (m'.s ')

Figura 16. Relação entre a fragmentação foliar (número de fragmentosftransecção) e a

vazdo média dos igarapés durante os quatro meses de coleta, N=80.

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Figura 17. Relações analisadas para tamanho do igarapé (PM=profundidade média e

LM=largura média), vazão (VZ), disponibilidade de folhiço submerso (DF) e

probabilidade de colonização (COL). Vias significativas (- ) e não significativas

(- 1.

A disponibilidade do folhiço submerso não teve relação com o tamanho do

igarapé (?=0,13; F=1,5, gl=2, N=22), não variando em função da profundidade (e

-0,02; p=0,9) e largura (t=-0,8; p=0,4) dos igarapés. Podemos observar grande variação

na disponibilidade de folhiço entre os igarapés (Fig. 18), que na grande maioria não

distinguem-se muito com relação ao tamanho. Isto significa que dois igarapés com

tamanhos semelhantes podem ter disponibilidade de folhiço completamente distintas. O

mesmo não acontece para vazão e disponibilidade de folhiço submerso, que diminui

gradualmente com o aumento no volume da água do igarapé (?=0,23; F=4,76; p=0,04;

gl=l; Fig. 19). Apresento a vazão em logarítimo na base 10 porque 77,30 % dos

igarapés amostrados tiveram vazões entre 0,3 e 3,3 m.s-' de vazão. A disponibilidade do

folhiço submerso também não teve relação com a probabilidade de colonização dos

igarapés (G=1,77; p=0,18; gl=l). Assim, as relações propostas entre vazão,

disponibilidade de fohiço submerso e probabilidade de colonização não se

confirmaram (Fig. 17).

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Profundidade (m)

Figura 18. Resultado dos resíduos parciais, obtidos apartir de uma regressão múltipla

entre a disponibilidade de folhiço submerso e o tamanho do igarapé, representado por

profundidades (a) e larguras @) médias. N=22.

I 1 1 1 1 * 1 1

1 ,o 10,o

Log da Vazão mMia (1nJ.s')

Figura 19. Relação entre a disponibilidade de folhiço submerso e a vazão média. N=22.

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Figura 20. Relações analisadas para cobertura florestal (FL - para as zonas tampão de

50, 100, 150,200 e 250 m), abertura do dossel (ABD), densidade de sub-bosque (DSB),

disponibilidade de folhiço submerso (DF) e probabilidade de colonização (COL). Vias

significativas (- ) e não significativas ( - ).

A disponibilidade de folhiço submerso não foi explicada pela variação na

abertura do dossel (?=O; F=0,001; p=0,97; N=20; gl=l) e densidade de sub-bosque

(número de toques) (?=O; F=0,008; p=0,93; N=20; gl=l). A variação na disponibilidade

do folhiço foi tão grande que igarapés expostos a intensidades luminosas semelhantes

apresentaram resultados completamente divergentes (Fig. 21). De qualquer maneira, as

variações na densidade do sub-bosque da vegetação ripária são decorrentes da varição

na abertura do dossel, ou seja, igarapés expostos a maior incidência de luz apresentaram

sub-bosque mais denso (?=0,55; F=20,98; p<0,001; N=19; gl=l; Fig. 22a). Retirei um

dos igarapés da fazenda Esteio das análises que investigaram a relação entre densidade

de sub-bosque e abertura do dossel e o tipo de cobertura florestal, pois este foi

detectado como ouilier. Este igarapé localiza-se muito próximo a um acampamento, o

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que provavelemnte aumentou a abertura de dossel nas adjacências do curso d'água. O

tipo de cobertura vegetal agrupou os igarapés (Tab. 7), onde aqueles que percorrem

áreas de mata primária têm abertura de dossel e densidade de sub-bosque menores que

- os de áreas de capoeira e de pastagens (Fig. 22b).

o ! , , 1 1 , 1 , i O 25 50

Abertura do Dossel Densidade do Sub-bosque

Figura 21. Relação entre a disponibilidade do folhiço submerso e abertura de dossel (%

de pixels - a) e densidade de sub-bosque (número de toques - b) da vegetação ripária de

20 igarapés.

Tabela 7. Análise de covariância entre densidade do sub-bosque (DSB), abertura do

dossel (ABD) e o tipo de cobebrtura vegetal (mata primária, capoeiras e pastagens).

Análise de Covariância

Fator Soma dos quadrados gl Média dos quadrados F P ABD 184,9 1 184,9 1,1 0,3 Cobertura 4907,9 2 2453,9 15,2 <0,001 Erro 2423,s 15 161,6

Variável dependente: DSB N:19 múltiplo: 0,8

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Figura 22. Relação entre a abertura do dossel (incidência luminosa) e a densidade de

sub-bosque (número de toques) (a) e a relação de covariância com o tipo de cobertura

vegetal (b). N=19.

A probabilidade de colonização é afetada tanto pela abertura do dossel (G=10,1;

p=0,002; N =20; g 1=1), quanto p ela d ensidade d o s ub-bosque (G=4,7; p =0,03; N=20;

gl=l), sendo que, a probabilidade de colonização começa a cair acentuadamente a partir

de 18% abertura de dossel e de 80 de densidade de sub-bosque (Fig. 23). Isso indica que

estes dois fatores devem estar fortemente relacionados com a porcentagem de cobertura

de floresta, e esta, por sua vez, com a probabilidade de colonização nos igarapés (Fig.

20).

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Abertura do Dossel Densidade do sub-bosque

Figura 23. Relação entre a probabilidade de colonização e (a) abertura do dossel e (b)

densidade do sub-bosque. N=20.

Posteriormente, investiguei a relação entre disponibilidade de folhiço submerso

e cobertura florestal da vegetação ripária, mas esta não foi estabelecida para nenhuma

das cinco zonas (Tab. 8a). Este resultado indica que, para um igarapé em uma área de

capoeira, pastagem ou mata primária, a disponibilidade o folhiço submerso no substrato

total pode ser semelhante. Já maiores porcentagens de cobertura florestal causam um

acréscimo direto na colonização, para as cinco zonas pré-determinadas (Tab. 8d e Fig.

24). Além disso, a probabilidade de colonização foi diferentemente afetada pelo grau de

integridade da floresta para todas as classes de área de entomo consideradas. A

extensão na alteração da paisagem foi determinada como fator relavante para o processo

de colonização (Fig. 24f). A probabilidade de colonização aumentou com o acréscimo

da porcentagem de cobertura florestal para as cinco áreas analisadas. No entanto, por

meio de inspeção gráfica, podemos notar que a porcentagem de coebrhira florestal tem

uma influência maior sobre a colonização quando consideramos uma área de entorno

maior, e ainda que, há uma inversão nas curvas próxima ao valor de 40% de cobertura

florestal. A porcentagem de cobertura florestal também tem efeito na abertura do dossel

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(Tab. 8b e Fig. 25) e na densidade de sub-bosque (Tab. 8c e Fig. 26), que dimuem com

o aumento da representatividade da floresta primária na vegetção de entorno dos

igarapés (ver ANEXO para valores por igarapé).

Tabela 8. Resultados das análises da cobertura florestal com (a) disponibilidade de

folhiço submerso (DF), (b) abertura do dossel (ABD), (c) densidade do subbosque

(DSB) e (d) probabilidade de colonização (COL), para as cinco zonas-tampão.

Zonas-tampão

(a> DF

@> ABD

(c) DSB

(d) COL

50 m 100 m 150 rn 200 m 250 m 2 0,Ol 0,03 0,03 0,02 0,02

F 0,20 0,63 0,52 0,04 0 31

P 0,66 0,44 0,48 0,s 0,52 N 22 22 22 22 22

rZ 0,47 0,51 0,s 0,44 0,4 F 15,71 18.65 I7,75 14,4 I2,25 P 0,001 <0.001 0,001 0,001 0,003

N 20 20 20 20 20

r2 0,42 0,43 0,s 0,s 0,49 F 13 13,64 17,7 19,l 17,54 P 0,002 0,002 0,001 <0,001 0,001

N 20 20 20 20 20

G 7,65 8,82 9,96 9,7 9,03 P 0,006 0,003 0,002 0,002 0,003

N 22 22 22 22 22

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Cobertura Florestal (%) Cobertura Florestal (%)

Figura 24. Relação entre a porcentagem de cobertura florestal (% de pixels dentro da zona

tampão) e a probabilidade de colonização nos igarapb para as zonas tampão de 50 (a), 100

@), 150 (c), 200 (d) e 250m (e) de largura. Diferença de colonização entre as zonas de 50 e

250m (f), (N=22).

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Cobertura Florestal (%)

Figura 25. Relação entre a abertura do dussel(%) e a porcentagem de cobertura florestal

para as zon~s tnmpá de 50 (a), 100 (b). 150 (c), 200 (d) e 250m (c), (N=20).

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O 20 40 60 80 100 Cobertura Florestal (%)

Figura 26. Relaçáo entre a deiisidadc do sub-bosque (núrnero do toques) e a porcentagem de

cobertura florestal para cada zona tampiio de 50 (a), 100 (b), I50 (c), 200 (d), 25011-1 (e) de

largura, (N=20).

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A associação da ictiofauna aos bancos de folhiço submerso

Hábitats particulares podem comportar comunidades específicas da fauna

funcionalmente estruturadas pelo substrato (Walker & Henserson, 1996; Nessimian et al.

1998). Os bancos de folhiço submerso dos igarapés foram utilizados como local de

forrageamento e abrigo por uma diversa ictiofauna. Esta fauna já vem sendo estudada em

sistemas de igarapés na Amazônia Central, demonstrando que peixes como Apistogramma

aff. regani (Cichlidae) e Hypopygus lepturus (Hypopomidae), e invertebrados como

Ephemeroptera, Trichoptera, Chironomidae, Odonata, Collembola, Microcrustáceos, entre

outros, comumente associam-se a este tipo de substrato (Henderson & Walker, 1986;

Walker, 1986; Nessimian et al., 1998). Durante o experimento de colonização, realizei

coletas totalmente passivas, pois os sacos permitiam que os peixes entrassem e saíssem de

dentro dos conjuntos de folhas. Assim, esperava que somente seriam capturados aqueles

peixes que realmente estivessem associados ao bancos de folhiço submerso nos igarapés.

Partindo desta premissa, considero o número de espécies capturadas representativo para

este compartimento específico do sistema. Ainda, poderia se pensar que, em função do

método de coleta passivo, muitos indivíduos conseguiriam escapar antes que o saco fosse

totalmente retirado da água para dentro do tubo coletor.

Contudo, nos mesmos pontos onde trabalhei, um levantamento anterior realizado

pela equipe do projeto Ygarapés, revelou que várias das espécies aqui registradas não são

abundantes, independente do método de coleta utilizado (ver resultados Tab. 3). As

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exceções são Pyrrhulina brevis e Apistogramma aff. steindachneri, ambas espécies

abundantes e amplamente distribuídas ao longo dos igarapés de águas claras e pretas na

Amazônia Central (Sabino & Zuanon, 1998, Kemenes, 2000; Projeto Ygarapés, 2003).

Talvez, estas espécies tenham tal distribuição por serem capazes de alterar o hábito

alimentar em função do tipo de hábitat (Zaret & Rand, 1971; J. Zuanon, com. pess.). A alta

diversidade de peixes observada nestes igarapés de terra firme está intimamente relacionada

com a alta diversidade de substratos (e.g. Bussing & López S., 1977; Kemenes, 2000).

Levantamentos realizando coletas exaustivas (e.g., Mendonça, 2001; Projeto Ygarapés,

2003) já contabilizaram aproximadamente 50 espécies para igarapés de terra firme na

Amazônia Central, distribuídas entre os vários habitats encontrados no sistema, tais como,

troncos, raizes, coluna d'água e areia (Silva, 1993; Sabino & Zuanon, 1998; Kemenes,

2000; Araújo-Lima et. al., 2000).

A distribuição de peixes e conseqüente formação das assemblkias em riachos

tropicais são principalmente afetadas por características fisicas do ambiente e pela

heterogeneidade do substrato (e.g. Power, 1984; Charamashi, 1986; Power et al., 1989;

Williarns 1980; Williams & Smith, 1996; Buhrnheim & Cox Fernandes, 2003), que

sustentam as variações na estrutura trófica dessas assembléia; (Vannote et al., 1980;

Cararnashi, 1986; Curnrnins et al., 1989; Hixon & Beets, 1989). Da mesma forma, as

interações bióticas são um importante fator estniturando esta fama (e.g. Power et al., 1989;

Flecker, 1992; Gilliam et al. , 1993; Walker, 1994; Peckarsky et al., 1997). A distribuição,

ao menos durante o dia, das espécies registradas foi determinada pela localização dos

bancos, como reportado anteriormente por Zaret & Rand (1971) e Sabino & Zuanon

(1998). Estas espécies, ao longo do dia, ficaram próximas às margens do canal, onde os

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bancos de folhiço submerso vão sendo acumulados, em meandros - com menor fluxo de

água (remansos) - ou junto aos troncos, galhos e raízes, modificando localmente o fluxo do

igarapé (zonas de maior correnteza).

Os bancos de folhiço submerso podem comportar assembléias bem marcadas, uma

vez que as espécies de peixes podem exibir características tróficas, comportamentais e

morfológicas especializadas (e.g. Sabino & Zuanon, 1998; Silva, 1993). A matéria orgânica

contida neste substrato é extremamente importante em termos energéticos, pois o dossel

fechado da vegetação ripária dos igarapés de cabeceiras limita a entrada de luz e

praticamente impede a 'produção primária no ambiente aquático (Walker, 1995; Power,

1984). Com base nos itens alimentares presentes nos estômagos, registrei espécies de

peixes, distribuídas entre cinco ordens, alimentando-se nos bancos de folhiço submerso

(Tab. 2). Além disso, invertebrados como Chironoimidae, Ephemeroptera, Trichoptera,

Plechoptera, Odonata e camarões, frequentemente encontrados em bancos de folhiço,

também foram itens frequentes nos tratos digestórios das espécies analisadas. Esta fauna dá

suporte ao estabelecimento de uma complexa rede alimentar, que é afetada tanto por

processos internos aos igarapés, como por efeitos diretos e indiretos da floresta ripária

(Henderson & Walker, 1986). Independentemente do número de indivíduos analisados por

espécie ter sido baixo, pelo menos um exemplar de cada espécie capturada teve o conteúdo

estomacal elou intestinal analisado, o que permitiu caracterizar o grupo de espécies como

um componente da ictiofauna de igarapés associada ao folhiço submerso. Entretanto,

espécies como Apistogramma aff. steindachneri, Crenuchus spilurus e Pyrrhulina brevis,

de maior mobilidade e capacidade exploratória do ambiente (Sabino & Zuanon, 1998),

podem apresentar dieta onívora e explorar outros habitats.

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A estruturaflsica dos igarapés e o tempo defiagmentação do folhiço submerso

O tipo de microhabitat comportou-se como um fator importante no processo de

colonização. Talvez, os ambientes de correnteza tenham demorado mais à atingir o pico de

colonização em função de diferenças nos processos de decomposição foliar (Fig. 13a). Os

fungos consomem parte do material orgânico das folhas, disponibilizando energia para o

início da cadeia alimentar que será estabelecida (Walker, 1986; Cargnin-Ferreira, 1998). A

alta velocidade da água que passa pelos bancos de folhiço pode retardar este processo,

através da maior velocidade de fragmentação foliar, como observado para os ambientes de

correnteza. As características estruturais do microhabitat também podem ter interferido no

processo de colonização a longo prazo. As menores taxas de colonização, nos ambientes de

maior correnteza, estiveram relacionadas à maior velocidade de fragmentação foliar durante

todo o experimento, mostrando como a dinâmica dos processos ecológicos pode variar em

função do tipo de ambiente no qual a fauna se estabelecerá. Pensando no Conceito do Rio

Contínuo, proposto por Vannote et a1.(1980), o qual trata da dependência energética dos

trechos a jusante em relação àqueles a montante (nascentes), podemos imaginar como a

conectividade e a estrutura física dos corpos de água e dos microhabitats neles presentes

são importantes para a manutenção do sistema de drenagem.

Além dos microhabitats, o tamanho dos cursos de água foi fator importante na

disponibilidade de substrato. Canais maiores, como o igarapé do km 21 na fazenda Esteio

que apresenta profundidade média de 0,55 m, têm maior vazão, arrastando as folhas rio

abaixo com maior facilidade; nesses casos, o tempo de permanência das folhas C menor e

sua distribuição restringe-se às margens do canal. Já nos igarapés menores, que apresentam

profundidades médias em torno de 0,20 m, as folhas mantém-se espalhadas, cobrindo

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praticamente todo o leito do igarapé. Isto mostra como a profundidade e a vazão dos

igarapés influenciam na disponibilidade do folhiço submerso, como proposto pelo Conceito

do Rio Continuo (Vannote et al., 1980) e registrado por Kemenes (2000), em igarapés de

cabeceira no Parque Nacional do Jaú.

Talvez a largura dos igarapés não tenha se relacionado com a vazão em função de

processos iniciais de assoreamento das áreas alteradas. Observei, nestes locais onde a

vegetação ripária era dominada por capins, pteridófitas ou capoeiras jovens, um aumento na

área de alagamento do igarapé em relação à área do baixio. Assim, esses igarapés

apresentam larguras maiores, mas estas não estão realmente relacionadas ao tamanho

original do canal. Segundo Williams & Smith (1996), a colonização de invertebrados

bentônicos responde a mudanças não catastróficas que ocorrem nos riachos quase

diariamente, em- pequenas seções do leito do rio, como conseqüência de pequenas

alterações na correnteza, no rearranjo do substrato, e no acúmulo local de detritos. Estes

fatores também devem afetar a ictiofauna associada por interferir na qualidade do folhiço

disponibilizado. Esta intima associação entre a fauna de riachos e as características do leito,

mostra a importância da heterogeneidade espacial em escala de microhabitat (Williams,

1980).

Além disso, o tempo é fator de extrema importância para entender a dinâmica do

sistema, pois age de forma distinta nos igarapés, onde maior vazão acelera a necessidade de

reposição da matéria orgânica. Nos igarapés com maior vazão, os peixes têm que se adaptar

a um ambiente mais dinâmico, onde as taxas de reposição de folhiço são mais aceleradas.

Apesar da disponibilidade de recurso ser fator importante no estabelecimento e distribuição

da ictiofauna (e.g. Zaret & Rand, 1971; Henserson & Walker, 1986; Walker, 1986), a -

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disponibilidade de folhiço não foi fator limitante para a colonização. Assim, a diminuição

na qualidade dos bancos de fplhiço, decorrente do processo de fragmentação foliar (como já

observado por Henderson & Walker, 1986), carateriza-se como um dos fatores

responsáveis pela limitação do processo de colonização nos bancos de folhiço submerso

pelos peixes.

Ao contrário do esperado pelo Conceito do Rio Contínuo (Vannote et al., 1980), a

fragmentação foliar não variou conforme a vazão dos igarapés, talvez porque a amplitude

de variação dos índices (lOmês: 7,7-15,3; 2" mês: 7,0-23,8; 3' mês: 13,3-31,s; 4' mês:

14,5-40,5) seja muito grande para ser explicada pela baixa variação observada entre as

médias de vazão dos igarapés. Ou pelo fato da largura do igarapé não representar realmente

suas reais proporções de tamanho. Deste modo, o velocidade da água, agindo em função do

tempo, parece ser mais adequada para a compreensão do comportamento da fragmentação

do folhiço submerso. Contudo, as variações na fragmentação foram suficientes para afetar

consideravelmente a colonização, agindo de maneira distinta conforme o microambiente.

Os remansos mantém os bancos viáveis para colonização pela ictiofauna por mais tempo, e

as corredeiras acabam sendo mais sensíveis e dependentes da vegetação ripária, tanto pelo

aporte de troncos e galhos que geram a estrutura de deposição das folhas, como pela alta

velocidade de reposição deste material proveniente da floresta adjacente (Sabater et al.,

2001).

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O impacto das mudanças na paisagem sobre a colonização

*A alteração da vegetação de entorno dos igarapés pode interferir diretamente na

formação dos bancos de folhiço, senão quantitativamente, mas qualitativamente. A

composição das espécies e a estrutura da vegetação muda entre os tipos de floresta, como

de secundárias (ou capoeiras) para primárias (Nepstad et al., 1998), e em situações mais

drásticas, pode interferir no aporte de energia da bacia de drenagem como um todo. Além

disso, o tipo de folhas submersas determina o padrão microbiológico de sua própria

decomposição (Walker, 1986). As folhas constituídas por células com paredes mais

espessas demoram meses para serem decompostas (Junk & Howard-Williarns, 1984).

Assim, um experimento anterior do projeto Ygarapés, realizado nos mesmos pontos de

coleta aqui apresentados, utilizou três tratamentos: folhas de Vismia japurensis, de

Cecropia spp e de liteira da floresta primária. O primeiro representou o tratamento mais

resistente à decomposição, seguido por Cecropia e finalmente pelas folhas de liteira da

vegetação de entorno, durante 19 dias.

Vismia japurensis (Clusiaceae) é uma espécie pioneira, típica dos primeiros passos

da sucessão vegetal, agressiva e com compostos secundários nas folhas, desenvolvendo-se

muito bem em áreas submetidas ao fogo (Ribeiro e2 al., 1999; Gascon et al., 2001). A

preocupação de manutenção de um experimento de maior duração e a inviabilidade

logística de implementação do experimento utilizando-se os três tratamentos, aliadas aos

resultados do experimento anterior, somaram boas razões para a utilização deste tipo de

substrato. Apesar das folhas serem determinantes na composição da comunidade de

microorganismos, e talvez na de invertebrados, não acredito que esta relação se estenda

para os peixes. Mesmo tendo analisado o conteúdo estomacal de poucos espécimens e de

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ter identificado os itens alimentares ao nível de família, não acredito que os peixes sejam

tão específicos em sua dieta a ponto de detectarmos mudanças na compos&ão da

comunidade. Ainda, os invertebrados detectados nos conteúdos estomacais são os mesmos

grupos descritos anteriormente como colonizadores de folhiço submerso em condições

naturais (Henderson & Walker, 1986). Apesar disto, não ignoro possíveis modificações em

termos de dinâmica do processo de colonização em função do tipo de substrato utilizado,

mas temos aqui uma boa avaliação do processo e dos fatores que o regulam, inserida num

contexto de alterações da paisagem. Portanto, a velocidade do processo de decomposição

das folhas possibilita avaliar a influência da zona ripária no sistema aquático, juntamente

com informações sobre o aporte de material vegetal e o tempo de retenção do mesmo

(Cummins, 1988). Acredito que o processo de fragmentação do folhiço submerso natural

dos igarapés, que percorrem áreas de floresta primária, seja ainda mais rápido que o

observado no experimento e, portanto, mais sensível ainda às alterações da paisagem.

O bagre Helogenes marmoratus, que sai dos bancos de folha durante a noite para se

alimentar dos animais que caem na água (J. Zuanon, com. pess.), teve a dieta composta

principalmente por insetos terrestres, como formigas arborícolas e de solo (Hymenoptera:

Formicidae: Camponotus, Dolichoederus, Crematogaster, Cephalotes, Pheidole,

Anochetus, Hypoponera e Odontomachus), Dermaptera, Homoptera (Fulgoridae: sugadores

de seiva), e insetos voadores como Diptera e Hymenoptera (vespas). Esta situação ilustra

como a ictiofauna pode depender diretamente da floresta, levantando atenção para uma

possível sensibilidade das espécies às alterações na vegetação adjacente. A maioria dos

igarapés amostrados neste trabalho estão em boas condições de conservação, nascem em

áreas de floresta primária ou próximo a remanescentes florestais, não sendo detectadas

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diferenças na abundância e riqueza de sua ictiofauna (Projeto Ygarapés, 2003). Apesar

disto, pude que os igarapés que sofrem redução na tridimewionalidade de seus habitats,

com uma aparente ampliação da área de encharcamento, estão localizados em áreas de

capoeiras ou pastagens. Estes riachos apresentaram remansos mais rasos e corredeiras mais

discretas, com troncos e raízes, que determinam a estrutura dos bancos de folha, mais finos

e rentes ao fundo do igarapé (e.g., Sabater et al., 2001). Este conjunto de fatores contribui

com a compactação do folhiço submerso, que por sua vez pode gerar depleção nos níveis de

oxigênio dissolvido neste compartimento dos igarapés, caracterizando ambientes inviáveis

para o estabelecimento e desenvolvimento de espécies de peixes e de invertebrados que

seriam mais sensíveis a este parâmetro.

Propus inicialmente que os maiores índices de disponibilidade de folhiço submerso

seriam registrados naqueles igarapés que percorrem áreas de floresta primária, com dossel

bem fechado e alto, em função das maiores porcentagens de cobertura florestal da

vegetação ripária. Contudo, essa relação não foi estabelecida, como também observado para

riachos na Amazônia equatoriana (Bojsen & Barriga, 2002). Talvez, o rápido crescimento

de espécies pioneiras proporcione a perda de folhas em taxas capazes de gerar

disponibilidades semelhantes de folhiço submerso para igarapés de mata primária e de

capoeiras. Estas diferenças de cobertura vegetal devem resultar também em diferenças na

composição dos bancos de folhas, sendo este mais um provável fator responsável pelas

variações observadas na colonização. O fato da probabilidade de colonização diminuir com

o tempo reforça esta idéia; os peixes e os invertebrados (e.g., Henderson & Walker, 1986)

aquáticos preferem os bancos de folhiço submerso não compactados e com fragmentos

grandes ou folhas inteiras, próximos às margens. O fato de encontrar bancos achatados em

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sistema aquático causadas pela remoção da vegetação ripária. A abertura do dossel, quando

diferente da dinâpica natural de clareiras de uma floresta de terra firme ,(Clark, 1990),

também pode acarretar em diminuição do aporte de material vegetal alóctone (Uieda &

Kukushi, 1995), e do tamanho dos galhos e troncos, facilitando sua remoção ou

deslocamento por eventos climáticos episódicos (Sabater et al., 2001). Além disso, a maior

incidência de luz pode aumentar a cobertura por algas no substrato (Grether et al., 2001),

diminuir a heterogeneidade da fauna com o acréscimo na abundância de espécies

naturalmente raras (Bojsen & Barriga, 2002) ou simplesmente favorecer espécies algívoras

como as da família Loricariidae (Power, 1984), desestruturando o arranjo natural da

comunidade.

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Implicações para a conservação

O sucesso limitado dos esforços para conservação de muitos rios, segundo Ward et

al. (2002), deve-se A falta de compreensão do papel crítico das perturbações, processos

sucessionais e interações dos elementos da paisagem, sustentando a integridade ecológica

desses ecossistemas aquáticos. Se observarmos as curvas das probabilidades de colonização

(Fig. 24), notaremos uma acentuação do efeito da cobertura sobre a probabilidade de

colonização, persistindo até os 250 metros de distância. Isto nos mostra a importância da

conservação destas áreas para a manutenção dos processos ecológicos dos igarapés de terra

firme. Além da fauna aquática, a terrestre também depende da vegetação ripária. Lima &

Gascon (1999) compararam comunidades de anf'íbios de liteira e pequenos mamíferos em

remanescentes florestais em faixas de até 140 a 190 m de largura no entorno de igarapés e

em áreas de mata contínua adjacentes, nas reservas do PDBFF. Nenhuma diferença

significativa foi observada, e indivíduos reproduzindo também foram registrados nos

remanescentes. Consequentemente, este tipo de remanescente florestal linear, no entorno

dos igarapés sendo utilizados como habitat pela fauna terrestre, contribui com a

conectividade da paisagem.

Levar em conta os gradientes naturais do ambiente, como realizado neste trabalho,

possibilitou a obtenção de resultados que mostram a utilização da paisagem como unidade

de planejamento e manejo mais adequada que a delimitação de tamanhos de fragmentos, no

caso dos sistemas aquáticos em áreas de floresta de terra firme. Isso se toma muito evidente

devido a grande escassez de igarapés que atravessam pequenos fragmentos, geralmente

mantidos em áreas de platôs e não próximos aos cursos d'água. Além disso, as capoeiras

maduras possuem um grande valor de conservação na paisagem, amenizando o efeito da

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descontinuidade do ecossistema causada pelo desmatamento. O processo de sucessão

secundária e o amadurecimento desse tipo de vegetação contribuem para a manutenção dos

processos ecológicos nos igarapés das áreas alteradas. A utilização do SIG (sistema de

informação geográfica) foi fundamental em várias etapas deste trabalho, desde o

planejamento dos locais de coleta, à determinação da situação da vegetação nas áreas de

entomo dos igarapés. O SIG ainda pode ser extremamente útil na definição, implementação

e fiscalização das áreas de florestas ripárias destinadas à conservação. Para áreas nativas

com grande potencial de ocupação, devemos levar em conta essas informações para

planejar melhor seu uso. Alterações na estrutura de comunidades (número de indivíduos, de

espécies, e grau de estabilidade ambiental), queda na concentração de oxigênio dissolvido,

diminuição na diversidade de hábitats (Silva, 1995), aparecimento de tumores e

contaminação dos peixes por metais pesados (Silva, 1992), são alguns dos impactos

causados pela falta de planejamento na ocupação urbana, que cresce desordenadamente,

degradando o sistema de drenagem. Estratégias de ocupação devem ser delineadas e

aplicadas, além da criação de áreas de proteção integral para nascentes das bacias de

drenagem, nas zonas com maior probabilidade de alteração por impactos antrópicos.

Em linhas gerais, o processo de colonização foi afetado fortemente pela degradação

da floresta adjacente aos igarapés. A inspeção gráfica (Fig. 240 realizada entre a

probabilidade de colonização para 50 e 250 m de área de entomo revela o quão importante

é a configuração da paisagem para a compreensão de modificações nos processos

ecológicos. Para áreas mais alteradas, com porcentagem inferior a 40 % de cobertura de

floresta primária, geralmente dominadas por capoeiras ou pastagens, a probabilidade de

colonização foi maior na faixa de 50 m. A chance de termos 40 % de mata concentrados no

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entorno do igarapé é maior para uma faixa de 50 m que para uma de 250 m. Isto corrobora

a idéia de alta dependência da floresta adjacente poy parte do sistema aquático, reforçando a

importância do cumprimento da legislação ambiental, que prevê áreas de proteção da

vegetação em faixas de 30 m de largura às margens de riachos. Quando a porcentagem de

cobertura florestal era maior que 40 %, a probabilidade de colonização era mais alta para

250 m que para 50 m de largura da área de entorno, indicando que a preservação do sistema

de terra firme é muito importante para a manutenção da integridade dos processos internos

aos igarapés. Independente da largura da faixa, as probabilidades de colonização dos

igarapés localizados em áreas alteradas foram muito inferiores àquelas dos igarapés

localizados na mata primária. Portanto, a preservação do sistema de terra firme como um

todo é tão importante quanto a preservação das zonas tampão, devendo-se levar em conta

como as manchas de floresta primária ficariam distribuídas, para minimizannos os efeitos

erosivos e assoreadores que acabam reduzindo drasticamente a complexidade e

heterogeneidade do ambiente.

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ANEXO

1. Valores médios e desvio padrão de profundidade, largura, disponibilidade de folhiço,

fragmentação foliar compiladas no presente trabalho, e médias de pH, condutividade,

velocidade da água e vazão, disponibilizadas pelo projeto Ygarapés, para cada igarapé

amostrado.

Profundidade Largura Disponib. de FragmentaçBo Condutividade Velocidade Vazão

Igarapk (m) (m) Folhiço (aflntt) (nr) PH (p~.cm") (m.s*') (m3.s-I)

1 0.4W. 13 3.04M.69 0.83M.76 17.2556.71 4,75 10,l 23,6 12.80 2 O. 1 W.08 0.98M.33 4.0011.56 17.31i8.51 4,72 10,4 18,8 1 .O4 3 0.220.12 1.5 1fl.43 2.2851.14 16.38i6.04 5,03 7,9 61 0.87 4 0.17M.09 1.29M.47 1.41M.56 19.44*10.17 5,05 8,3 11,8 1.11 5 0.2510.07 1.80M.46 4.1011.93 17.0~11.14 5,12 8,9 1,s 0.44 6 0.52M. 13 3.55M.63 0.64M.27 18.38i7.90 4,92 9,3 46,6 44.90 7 0.22iO.11 1.7433.54 2.1&1.99 23.88910.89 4,85 10,s 27,9 2.95 8 0.27M. 12 1.49M.27 4.15i2.62 14.56i7.00 5,07 92 28,6 2.59 9 0.24M.10 1.72H.80 1.25jz1.37 14.44*6.40 5,14 8,9 18,5 1.78 10 0.35M.12 2.0590.64 0.3350.35 18.19i10.60 4,74 11,7 30,l 7.94 11 0.3134.1 1 2.47I0.73 2.2451.60 20.73k11.37 4,49 16,7 33,6 7.29 12 0.21M.09 1.67I0.61 3.41I1.65 20.31515.19 4,69 12,4 13,2 2.48 13 0.3m. 1 o 3.0M.99 1.37I1.61 20.3 1i11.27 5,04 8,6 4,O 3.16 14 0.18M.07 3.65I0.61 1.8551.34 21.38i12.86 5,36 7,1 11,4 0.3 1 15 0.2443.08 1.76M.46 3.2W.42 19.81i10.70 4,74 14 64 0.39 16 0.2 139.09 o.geo.38 o 14.1396.09 5,3 9,2 17 0.1790.05 1.40.43 3.8014.40 2 1.63*8.78 4,74 1018 29,O 0.66 18 0.24i0.09 2.53I0.81 2.4211.76 18.2551 1.85 4,94 7,8 18,3 1.85 19 O. 16M.07 2.1 11.3 1 1.62I1.72 15.0e4.37 4,83 82 15,O 1.39 20 0.1 8M.07 1.56M.58 1.25M.80 20.7596.57 5,32 7,3 13,9 0.8 I 21 0.55M.37 6.1 1M.83 0.3490.39 14.53I10.01 4,6 13,3 37,4 64.78 22 0.08M.02 1.27H.51 O. 19I0.28 12.75I4.36

dp = desvio padrão af = altura do folhiço ntt = número total de toques no substrato total nf = número de fragmentos em 10 g de folha

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2. Valores médios de abertura de dossel (ABD), densidade de sub-bosque @SB) e

porcentagem de floresta (FL).

Igarapt! ABD (%pixesl) DSB (n0toques) FL50 (%) FL100 (%) FL150 (%) FL200 (%) FL250 (%)

1 20.92 69 1 O0 91 80 76 71 2 8.17 59 1 O0 96 84 74 69 3 . 20.56 134 3 22 36 44 54 4 8.42 69 1 O0 98 84 65 ' 52 5 44.85 116 13 24 25 28 29 6 38.25 96 40 38 45 45 45 7 10.5 1 68 94 96 95 92 87 8 34.63 116 20 30 28 23 19 9 38.26 134 32 3 1 27 22 20 1 O 30.14 124 70 65 6 1 58 59 11 13.74 58 1 O0 1 O0 1 O0 99 99 12 22.1 1 64 1 O0 95 97 97 98 13 27.55 120 47 43 36 32 30 14 8.71 86 34 32 27 24 25 15 20.76 159 97 94 79 68 61 16 O O 5 6 12 17 12.19 57 1 O0 1 O0 1 O0 1 O0 1 O0 18 8.97 54 1 O0 99 99 1 O0 99 19 11.64 40 1 O0 1 O0 1 O0 1 O0 1 O0 20 11.66 82 97 99 99 96 94 21 17.26 66 77 74 76 78 82

FL50=área de entorno de 50 metros FL 100=hrea de entorno de 100 metros FL150= área de entorno de 150 metros FL200= área de entorno de 200 metros FL250= área de entorno de 250 metros

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3. Listagem de espécies capturadas e respectivas abundâncias por local de coleta, seguida

da localização geográfica.

Coordenadas Igarapé Espécies Abundância latitude longitude

1 Nemuruglanis sp I 02 21 O0 60 05 49 Myoglanis sp 1

2 Crenuchus spilurus 3 02 20 45 60 05 34 Pyrrhulina brevis 1 Helogenes marmoratus 1

3 Synbranchus sp 1 02 20 59 60 05 29 Helogenes marmoratus 1 Ituglanis amazonicus 2

4 Crenuchus spilurus 1 02 20 11 60 06 47 Helogenes rnarmoratus 2

5 02 20 22 60 05 49 6 Hypopygus lepturus I 021940 600437

Nemuruglanis sp 2 7 Helogenes marmoratus 3 022144 595816

Apistogramma aff. steindachnen 1 8 02 21 07 59 59 03 9 0221 33 595913 10 022415 595331 11 02 24 05 59 54 09 12 Pyrrhulina brevis I 02 24 26 59 54 28

Gymnotus anguillans 1 Apistogramma aff. steindachnen I

13 02 23 33 59 52 25 14 Synbranchus sp 1 02 24 21 59 52 02 15 Crenuchus spilurus 1 02 23 40 59 51 20

Apistogramma aff. steindachnen' 1 16 022502 595215 17 Crenuchus spilurus 1 022614 594625

Apistograrnma aff. steindachnen 1 18 Apistogramma aff. steindachneri 1 02 26 26 59 46 29

Gymnotus anguillaris 1 Helogenes marmoratus 1

1 9 Pyrrhulina brevis 1 02 26 59 59 46 17 20 Apistogramma aff steindachnen I 02 26 02 59 51 20

Crenicichla a ff. alta 1 Ituglanis amazonicus 1

21 022603 595416 22 02 35 37 60 02 08