da guerra santa à cruzada
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Nesse texto trabalho como se deu a passagem do ideário de Guerra Santa à Cruzada. A partir de Le Goff.TRANSCRIPT
Da Guerra Santa à Cruzada
p. 305
As relações entre o mundo muçulmano e o mundo cristão não eram
pacíficas tanto no Oriente quanto no Ocidente. Foi a situação do
império bizantino diante dos avanços dos turnos que levou Aleixo à
iniciativa de apelar para guerreiros ocidentais. Um aspecto muito
enfatizado, que contém poucos aspectos de verdade, é o fato de que
a cruzada foi uma escapatória necessária, uma espécie de válvula
de espace para os cavaleiros que foram proibidos de lutar em guerras
privadas pela Paz de Deus e foram desviados a lutar contra os
inimigos. É como se o Ocidente tivesse resolvido seus problemas
internos exportando a violência, mandando seus piores
perturbadores combater longe de suas fronteiras.
Aleixo fez um pedido de recrutamento de mercenários para Bizâncio.
O Papa Urbano II ampliou o pedido incorporando a ajuda militar.
Deus realizaria a liberação da Igreja. O papa (deixando de agir como
vigário de São Pedro, mas em nome de Cristo) atribuiu à expedição
um objetivo moralizador: Jerusalém, Sepulcro de Cristo. A
empreitada bélica é sacralizada (arrancar dos infiéis a herança de
Cristo, berço do cristianismo, coração da cristandade) e ganha uma
nova dimensão ligada à peregrinação, acompanhada de privilégios
espirituais. Por fim, ganhava conotações escatológicas: Jerusalém é
o lugar onde Cristo subiu aos céus e para onde ele voltará no fim dos
tempos. Todos esses fatores faziam da cruzada uma guerra santa
(por excelência).
Projetos de cruzada antes de 1095
Não era a primeira vez que se pensava numa expedição armada para
socorrer Jerusalém e os cristãos do Eriente. Desde a destruição da
igreja do Santo Sepulcro pelo sultão al-Hakim em 1009, a ideia de
uma possível ação militar ocidental no Oriente estava no ar e não
parecia absurda. Os argumentos: Cristo deixou aos cristãos seu
túmulo para que, por meio dele, os penitentes ganhassem o céu; o
Santo Sepulcro acabava de ser destruído (sem nenhuma previsão na
bíblia); o papa anunciou sua intenção pessoal de comandar uma
campanha militar, com todos os cristãos que quisessem segui-lo,
tendo estes o perdão de seus pecados e o acesso ao reino de Deus.
As noções frequentemente vistas são de vingança de Deus, guerra
meritória, operação militar prescrita como remissão dos pecados. O
exemplo de nosso Redentor nos obrigam a pôr nossa vida em perigo
para livrar nossos irmãos. Assim como ele deu a vida por nós, nós
também devemos dar nossa vida por nossos irmãos.
A razão que fazia o papa agir era a busca pela unidade da fé e da
Igreja que era preciso restabelecer a cristandade oriental, para que a
religião cristã não desaparecesse totalmente daquelas regiões.
Gregório VII é precursor por projetar a operação militar que 20 anos
depois Urbano II vai organizar e dirigir. A grande diferença entre
Gregório VII e Urbano II é que aquele falava apenas a seus fideles e
em nome de São Pedro, enquanto este falava a todos os cristãos e
em nome de Cristo.
Urbano II e a mensagem de cruzada
“Deus o quer”, gritava a população em 1095 quando Urbano II lançou
em Clermont sua convocação para a cruzada. O papa empreendeu
uma grande viagem de propaganda.
Quais foram os temas desenvolvidos por Urbano I para incitar os
cavaleiros do Ocidente a participar daquela operação? Deus instituiu
guerras santas para que a ordem dos cavaleiros pudessem encontrar
um novo meio de obter a salvação, mas sem serem obrigados a
abandonar a vida secular, optando pela conversão ou por qualquer
profissão religiosa, o que era de rigor até então; e que assim possam,
obter a graça de Deus no próprio exercício de sua função. Os
cavaleiros saqueadores do castelo de Mezenc prometeram renunciar
a todos os seus maus costumes impostos aos camponeses das
terradas da abadia.
“A quem tomar o caminho de Jerusalém com a intenção de liberar a
Igreja de Deus, desde que por piedade (espírito de renúncia e não
com espírito “mundano”), e não para ganhar honras ou dinheiro, essa
viagem será contada como penitência (portanto, substituindo todas
as outras penitências prescritas por outros motivos)”.
Jerusalém e os lugares santos
Ir para Jerusalém tinha características de reconquista e
peregrinação. Jerusalém outrora conquistada pelo povo de Deus,
agora invadida pelos pagãos que destruíam, profanavam e
transformavam os templos em estábulos.
A cruzada era uma operação militar destinada a reconquistar para a
cristandade, com a ajuda das forças do imperador, os territórios
outrora cristãos.
Jerusalém, meta da peregrinação ou objetivo militar?
Uns tendem a enfatizar a noção de peregrinação em detrimento de
uma guerra de reconquista dos territórios orientais em primeiro lugar.
Na mente de Urbano II, assim como na de Gregório VII, a ideia
fundamental era realmente uma operação militar. Portanto, essas
duas dimensões estavam necessariamente ligadas em caso de
sucesso: a reconquista cristã de Jerusalém na esteira da guerra
santa e a peregrinação àqueles mesmos lugares santos. Foi essa
conjunção perfeitamente idealizada que garantiu o incomparável
sucesso da pregação de Urbano II, superior a todos os projetos
anteriores de guerra santa.
Cruzada, paz de Deus e motivações materiais
Outros temas recorrentes: socorrer os cristãos oprimidos (pelos
muçulmanos que foram demonizados. O papa divulgava cartas com
descrições dos malfeitos por eles cometidos para provocar a
indignação) e libertar as igrejas do Oriente da “tirania dos pagãos”.
Em relação a paz de Deus: intimar os cavaleiros a se colocarem a
serviço da igreja. O papa desviaria essa força incontrolável para o
Oriente.
As motivações dos cavaleiros teriam sido principalmente profanas:
desejo de glória, expectativa de ganhos materiais.
Nenhuma guerra santa jamais excluiu a presença de outras
motivações, inclusive materiais. Uma alusão a recompensas mais
terrenas.
Indulgência, penitência e remissão dos pecados
Nem todos os cruzados seriam penitentes, muitas outra razões ou
expectativas levaram os guerreiros a participar de tal expedição. As
esperanças escatológicas são exemplo disso. Indulgência: remissão
dos pecados, substituição das penas que deveriam ser cumpridas
depois da morte, como resgate dos pecados antigos que não
tivessem sido totalmente expiados na terra. Pro remissione
peccatorum: a expedição era frequentemente prescrita como
remissão dos pecados em ligação direta com a guerra santa, onde
mostrava-se o homem de partida como alguém que tomara
consciência de suas faltas, fora tocado pelo graça da conversão e
estava desejoso e ir a Jerusalém. Alguns cruzados empreenderam a
viagem a título de penitência, mas seria errôneo generalizar.
Existiram outras motivações, materiais, por exemplo. Nem todos
estavam arrependidos e queriam a remissão dos seus pecados.
Esses viam em sua decisão de ir combater por Deus em Jerusalém
uma espécie de “contradoação”, um ato de amor correspondente ao
de Cristo. Ás vezes, as duas noções, associavam-se nos motivs da
partida.
Milites Christi e guerra santa
Agora milites Christi, amigos do Senhor; antes bandidos que
combatiam contra seus irmãos e seus pais, inimigos do Senhor. (A
paz de Deus contribuiu para forjar a concepção de que duas formas
de ação guerreira estavam e oposição. A guerra deles deixava de ser
delituosa e tornava-se meritória. Urbano II teria transformado uma
ação guerreira destinada a matar os sarracenos inimigos em ato de
amor pelos irmãos cristãos do Oriente)
Há guerras e guerras. Existem aquelas guerras que tem sede de
riqueza e buscam o lucro. Essas são combates funestos para as
almas. Havia também guerras justas, onde as armas são usadas
para a defesa da liberdade do Estado ou da Santa Igreja. Por fim,
havia as guerras santas
Outras características da guerra santa
Além da remissão dos pecados, os cruzados teriam uma gloriosa e
inefável recompensa no céu. Nem todos os cruzados se sentiam
penitentes, mas todos se consideravam milites Christi, obedecendo
assim a motivações mais espirituais do que propriamente religiosas
(combater mais por Cristo do que por São Pedro ou pelo papado).
Palmas do martírio: Aqueles que deram a vida em defesa da fé,
venceram as ameaças contra a fé e o seu grande amor ao Salvador
e sua Igreja. Cruzados, santos e mártires: Os cruzados estavam
sustentados pelas legiões celestes naquele combate de Deus. Na
Cruzada os santos se revelavam aos cruzados e os ajudavam. Os
cruzados mortos também logo se tornaram santos e foram socorrer
seus antigos companheiros.