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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

VOLU

ME I

O CARTEIRO E O POETA: A FORMAÇÃO DO LEITOR NO ENSINO

FUNDAMENTAL A PARTIR DO MÉTODO RECEPCIONAL

Autora: Dirlei Provin Zys1

Orientador: Dr. Daniel de Oliveira Gomes2

Resumo

A presente pesquisa mostra resultados de uma prática pedagógica voltada ao ensino e aprendizagem de leitura, com o intuito de contribuir para uma melhor formação do leitor na 8ª série do Ensino Fundamental. O objetivo foi reconhecer na leitura do romance “O Carteiro e o Poeta” a força expressiva da linguagem metafórica, seus sentidos e significados, com destaque às cartas e poesias como experiência pragmática e literária. Com vistas à reflexão, à produção e criticidade, permitiu-se desenvolver nos alunos o interesse pela leitura literária e por ampliar seus horizontes de expectativas por meio do método recepcional. Ao promover o diálogo entre as ideias do autor e o imaginário do leitor por meio de leituras, slides, vídeo e filme, os alunos tiveram oportunidade de ampliar suas possibilidades em leitura e com a escrita de cartas e poesias reconstruíram suas ideias de forma significativa. Com a mediação docente, os alunos ressignificaram a obra lida em suas vidas por meio da linguagem literária e dos valores sugeridos pela mesma.

Palavras-chave: Leitura literária; Construção de sentidos e significados; Metáfora; Carta; Formação do leitor.

Abstract

This reaserch shows the results of a pedagogical approach aiming at teaching and learning reading, in order to contribute to a better formation of the reader in the 8th grade of Junior High School. The goal was to while reading the novel “The Postman” recognize the expressive power of metaphoric language, as well as its meanings and senses, giving special attention to letters and poems as a pragmatic and literary

1 Pós-Graduação em Alfabetização pela UEPG; Graduação em Letras-Anglo pela Universidade Estadual do

Centro Oeste - UNICENTRO; Professora no Colégio Estadual Rui Barbosa EFMP – Nova Laranjeiras - Paraná. 2 Mestre e Doutor em Literatura pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC; Professor Adjunto A da

cadeira de Teoria Literária na Universidade Estadual do Centro Oeste – UNICENTRO – Paraná.

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experience. By aiming at reflection, production and criticism, it was possible to develop in the students an interest for literary reading and for broadening their horizons of expectations through the recepcional method. By promoting dialogue between the author‟s ideas and the reader‟s imagination through reading, slides, videos and movie, the students had an opportunity to expand their reading possibilities and significantly reconstructed their ideas by writing letters and poems. Which allowed the docent, students resignifying the novel and their lives by means of the literary language and the values suggested by it.

Key words: Literary reading; Construction of meanings and senses; Metaphor; Letter; Formation of the reader.

1. INTRODUÇÃO

Para a elaboração deste Artigo Científico, levaram-se em conta as normas

adotadas pelo PDE (Programa de Desenvolvimento Educacional), do Estado do

Paraná, que, em conjunto com as Escolas Públicas e as Instituições de Ensino

Superior, têm como finalidade estimular e orientar os professores da Educação

Básica na execução de projetos de pesquisa, que revertam em melhoria da

qualidade de ensino nas escolas públicas paranaenses no que se refere às

defasagens escolares.

Durante o Plano de Formação Continuada foram desenvolvidas atividades

de integração teórico-práticas, aprofundamento teórico e didático-pedagógicas com

a utilização de suporte tecnológico. Essas atividades foram propostas pela SEED

(Secretaria de Estado da Educação) e desenvolvidas pela UNICENTRO

(Universidade Estadual do Centro Oeste/PR) em conjunto com a Coordenação do

PDE e com a orientação do Professor Dr. Daniel de Oliveira Gomes.

O tema do Projeto “Ensino e Aprendizagem de Leitura – A Formação do

Leitor” foi idealizado na tentativa de superar as defasagens em leitura e aplicado aos

alunos de 8ª série do Ensino Fundamental do Colégio Estadual Rui Barbosa – EFMP

de Nova Laranjeiras. É fato que fazer com que o aluno adquira interesse pela leitura

com vistas a sua formação leitora é tarefa árdua que requer do professor tempo de

preparo às aulas, dedicação, conhecimento profundo da obra a ser trabalhada e

metodologia adequada e, por parte do aluno, interesse e dedicação.

3

Para melhor atender as necessidades dos alunos, desenvolveu-se uma

Unidade Didática, intitulada “O Carteiro e o Poeta: a Formação do Leitor no Ensino

Fundamental a partir do Método Recepcional”, fundamentada nas Diretrizes

Curriculares Estaduais de Língua Portuguesa, na dialogia proposta por Bakhtin,

Foucault, Morin, outros autores consagrados e nos pressupostos teóricos da Teoria

da Estética da Recepção e Teoria de Efeito de Zilberman (1989), e estruturada e

aplicada no Método Recepcional de Aguiar & Bordini (1993).

Bakhtin/Volochinov (apud DCEs, 2008, p. 46), responsáveis pelo estudo

sociológico da linguagem, nos dizem que “a língua constitui um processo de

evolução ininterrupto que se realiza através da interação verbal social dos locutores”

(idem 1999, p. 127). Assim, buscou-se por meio da leitura uma prática dialógica

capaz de fazer os alunos pensar de forma reflexiva e produtiva por meio da

interação, levando-os a expressar o que sentiram no ato das leituras, respondendo e

posicionando-se diante delas como sujeito social, “numa atitude responsiva” (ibidem.

51). As DCEs compactuam com os ideais bakhtinianos de linguagem uma vez que

esta “é vista como um fenômeno social, pois nasce da necessidade de interação

entre os homens” (p. 49). Para tanto é por meio de uma ação pedagógica e

metodológica eficaz com a língua, não dissociando os textos da realidade social dos

alunos, que a interação acontece.

Um embasamento em Foucault (apud GALLO e VEIGA-NETO, 2007) pode-

se permitir ao sujeito, “objeto-objetivo, de uma teorização” (p. 19), “levá-lo ao

deslocamento de pensamento, que permite a emergência de novas possibilidades”

(p. 21) e por meio da interação com os livros levá-los à busca de novas experiências

(p. 22).

As leituras foucaultianas serviram para lermos a Estética da Recepção,

teoria que visa dar suporte teórico para refletirmos sobre a leitura literária e a

formação do leitor, e com esse intuito, levá-los a essa nova experiência. De acordo

com as DCEs (2008, p. 58):

A Estética da Recepção e a Teoria de Efeito são teorias que buscam formar um leitor capaz de expressar o que sentiu, com condições de reconhecer nas aulas de literatura um envolvimento de subjetividade que se expressam pela tríade autor/obra/leitor, por meio de uma interação que está presente

no ato de ler.

4

Segundo Zilberman (1989) na visão de Iser (Teoria de Efeito) o próprio texto

literário convida o leitor a uma postura ativa, sendo que a atividade de leitura em si

garante a existência do texto através da interação estabelecida entre ambos, ou

seja, produzindo efeito. Na visão de Jauss (Teoria da Estética da Recepção) “o leitor

é condição de vitalidade da literatura enquanto instituição social” (p. 11). E ainda

afirma que “a vida histórica da obra literária não pode ser concebida sem a

participação ativa de seu destinatário” (p. 33).

Assim, entende-se que é no momento da interação, diálogo e participação

nas ideias do texto que o leitor permite a continuidade da existência da obra no

tempo. É nesse momento de interação, que o leitor encontra os sentidos e

significados atribuídos pela obra, permitindo-lhe assim, a aquisição dos

conhecimentos.

Com base nos pressupostos teóricos da Estética da Recepção, Aguiar e

Bordini (1993) elaboraram o Método Recepcional como proposta metodológica para

o trabalho com a literatura de forma compreensiva, reflexiva e crítica.

Dessa forma e mediante os resultados de interação entre autor/obra/leitor,

apresenta-se, nesse artigo, os avanços e apropriações dos alunos em cada etapa do

método, a considerar as leituras realizadas anteriormente por eles, bem como a

receptividade às novas leituras (slide, cartas, vídeo, romance e filme), os

questionamentos realizados em torno da obra e a transformação dos alunos, por

meio da participação nas leituras, discussão e produção de poesias e cartas

literárias, o que permitiu a ampliação dos horizontes de expectativas.

2. DESENVOLVIMENTO

As abordagens desta Unidade Didática se deram na ordem das etapas do

Método Recepcional (1993, p. 85-86), o qual se desenvolve, seguindo as etapas da

determinação, atendimento, ruptura, questionamento e ampliação dos horizontes de

expectativas, iniciadas com a leitura da apresentação da unidade.

2.1. PRIMEIRA ETAPA: Determinação

5

Para determinar os horizontes de expectativas apresentou-se aos alunos um

slide com o objetivo de comentar sobre a importância da leitura literária na formação

do leitor e um questionário objetivo com vistas a determinar as leituras cujos gêneros

e temas eles gostariam que viessem a ser abordados nas próximas unidades,

prevendo através deste o atendimento, ruptura e transformação desses leitores.

Para isso levou-se em conta os conhecimentos prévios dos alunos e suas

características próprias como maturidade, conhecimentos, vivências e interesses

específicos em leitura. Baseada no fato que nem todos têm como primeiro interesse

a leitura é que se resolveu abordar o romance “O Carteiro e o Poeta”, pois a história

do Carteiro vem ao encontro à realidade leitora de nossos alunos.

Antes de ser carteiro, a personagem Mário tinha pouco interesse pelas

leituras e sendo pescador inculto, semianalfabeto não sentia necessidade para tal,

nem via na leitura alternativa de mudança de vida. Ao conhecer Neruda e descobrir

o encanto pelas palavras e metáforas, torna-se leitor, passa a escrever poesias

metafóricas e adquire maior consciência crítica e política em relação aos problemas

sociais enfrentados pelo seu povo, na Ilha Negra.

O slide teve como título “A leitura literária na formação do leitor”, com

destaque à importância da leitura literária e seus efeitos de significação, a fim de

despertar o interesse dos alunos em relação aos temas:

A leitura literária e o papel da mediação na formação do leitor - os alunos

leram, interagiram mutuamente com o assunto e reconheceram que ao abordar uma

obra literária, faz-se necessária a presença do professor como mediador nos

conhecimentos para melhor compreendê-la. Segundo Marchi (apud NEVES, 1999,

p. 162) “o melhor professor é aquele que gostando da leitura sabe explorar um texto

propondo atividades de promoção da leitura através de estratégias que atendam aos

interesses dos jovens”. As leituras literárias são interessantes, trazem sempre um

assunto novo para se pensar. Nesse caso, os alunos reafirmaram que é o professor

que possui esse saber, aquele que esclarece e tem conhecimento da historicidade

da obra. Assim, fica mais fácil entender certos fatos em torno do enredo da obra.

Ao abordar a interação entre autor/texto/leitor e a construção de sentidos e

significados percebeu-se que, ao lerem a obra, os alunos também estão

compartilhando com as ideias de seu autor e sendo significativas tornam-se

instrumento de aprendizado. Afirma Marchi (apud NEVES, 1999, p. 162) “o melhor

autor é aquele que faz seu público avançar na medida em que propõe novas leituras

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da realidade”. Notou-se que os alunos leram obras literárias em série e continuaram

lendo, pois não se conformaram somente com a primeira, dando a impressão de

vazio, de incompletude, viram a necessidade de buscar sentido na obra

subsequente.

As ideias expressas por essas leituras afloram os pensamentos e

sentimentos dos alunos e consideradas suas experiências de vida podem adquirir

ainda outros sentidos e significados. Ao citar as obras lidas, afirma uma aluna:

“parecem-se com a gente e são interessantes, porque falam aquilo que se sente e

parece que adivinham o que se precisa”.

Segundo Carvalho (2006, p. 140) “o leitor deve perceber o seu horizonte em

leituras, bem como se permitir vivenciar o novo como sujeito ativo na história”.

Juntamente com os alunos foram lembradas as obras e textos lidos pelos alunos em

sala de aula como lendas, contos, crônicas, poesias, sendo que em muitas leituras

sentiram-se um pouco personagens das mesmas e passaram a ler com mais

interesse e atenção, retratavam, naquele momento de leitura, aquilo que realmente

sentiam e necessitavam entender.

Isso se confirma em Iser (apud ZILBERMAN, 1989, p. 15) o qual afirma: “o

texto possui uma estrutura de apelo e por causa desta, o leitor converte-se numa

peça essencial da obra”. Nessa interação entre os pensamentos do autor e o

imaginário do leitor, ambos dialogam e compactuam com as informações,

completando mutuamente suas ideias ou mesmo discordando delas.

A partir dessa análise, observou-se que os alunos nem sempre concordam

com o que está escrito, porém respeitam as ideias implícitas nas obras. Isso ficou

claro na fala de um aluno: “às vezes é preciso ler de tudo para ver que nossas ideias

é que estão certas” e outros ainda complementaram rindo “às vezes é preciso ler de

tudo para ver que nossas ideias é que estão erradas”.

Com o diálogo dos alunos, percebeu-se que eles estão desenvolvendo sua

criticidade em relação aos fatos citados nas leituras, inclusive, discordando, em

certos casos. Assim, a fala dos alunos vem “desconstruir determinadas maneiras

tradicionais de se pensar”, conforme afirma Foucault (apud GALLO e VEIGA-NETO,

2007, p. 18), no sentido de questionarem o seu próprio lugar na absorção de ideias

sobre o que é certo ou errado.

Nesse momento ocorre “o deslocamento e transformação dos parâmetros de

pensamento, a modificação dos valores recebidos e todo o trabalho que se faz para

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pensar de outra maneira, para fazer outra coisa, para tornar-se diferente do que se é

[...]”. Esse conceito de deslocamento e desconstrução é defendido por Foucault

(apud GALLO e VEIGA-NETO, 2007, p. 18).

Ao abordar o sentido das metáforas, relembrou-se de uma frase trabalhada

com eles na 6ª série, como antecipação às metáforas a serem abordadas no

romance “O Carteiro e o Poeta”, disse: “Aquele menino é fogo”! Ao solicitar que

falassem o que significava “fogo” na expressão, sugeriram “rebeldia, safadeza e

atrevimento”. Surpreendeu-me o fato de outro aluno dizer: “quente, professora”! A

turma riu ao perceber o sentido da fala atribuído a sexo.

Tal afirmação vem ao encontro, também, ao que diz Zilberman (1989, p. 38)

que “a literatura é geradora de significados, expectativas, recordações e

antecipações literárias” e que “a literatura é formadora: pré-forma a compreensão de

mundo do leitor, repercutindo em seu comportamento social”. Isso prova que as

metáforas são poderosas. Elas possuem seus sentidos e cada leitor busca nelas

aquilo que lhe convém, o que necessita para viver e o que ele vive, portanto,

materializa o sentido das metáforas em significado.

Com essas observações, notou-se que os alunos reconhecem que para se

desenvolverem como leitores é preciso reservar um tempo para as leituras e se

permitir entendê-las. A cada leitura complexa, os desafios em compreendê-la

aumentam, assim os alunos se emancipam ideologicamente aos poucos,

dependendo de seu esforço e dedicação.

Ao comentar sobre a leitura literária e os recursos tecnológicos, observou-se

na fala dos alunos que no momento em que foi instalada a TV multimídia e vídeos

em sala de aula, tiveram a oportunidade de ver os conteúdos trabalhados na lousa e

nos livros de forma diferente, criativa. Para os alunos, a linguagem dos slides,

vídeos, documentários e filmes é estimulante, desafiadora, acrescenta

conhecimentos às leituras e os leva a pensar mais criticamente o assunto estudado,

em todas as Disciplinas do Currículo.

Quanto ao papel do romance biográfico “O Carteiro e o Poeta”, destacou-se

a escrita de poesias e cartas como gesto comunicativo e literário entre as pessoas,

independente da demora do envio ou recebimento das mesmas. Foi relembrado o

fato de que, antigamente, as cartas eram os únicos meios de comunicação na

família quando as pessoas moravam distantes e que as cartas eram manuscritas e

continham letras com traços perfeitos.

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Com esse diálogo, ressaltou-se a importância dos avanços tecnológicos, os

quais trouxeram por meio dos e-mails, chats, msn e torpedos, uma forma diferente,

útil e ágil, ao se tratar de comunicação por meio de correspondência. Nessa fala,

constatou-se, no entanto, que nem todos os alunos possuem computador e internet

em casa, e alguns, mesmo os tendo, ainda não criaram seu endereço eletrônico,

mas têm consciência de sua importância. Reconhecem que, mesmo com toda essa

tecnologia disponível no mercado, as correspondências ainda persistem por serem

importantes na vida das pessoas.

Na sequência dos trabalhos, aplicou-se aos alunos o questionário, com

vistas a considerar as obras lidas pelos alunos nas séries anteriores e

conhecimentos adquiridos por meio dessas leituras. O questionário mostrou como

resultado que os alunos reconhecem que a leitura é importante para a formação do

leitor e que ao interagir com a obra o aluno interage, também, com seu autor ao

compactuar suas subjetividades por meio de ideias, concepções, valores e histórias

de vida.

A partir dessa análise, percebeu-se a necessidade de se trabalhar com

romance e carta, justificado o fato de que, com a evolução tecnológica diminuiu-se a

escritura de cartas, por isso a necessidade de revê-las na tentativa de não se perder

de vista sua função e utilidade e também de encontrar novas formas de trabalhar o

romance que, por ser uma narrativa longa, os alunos consideram uma atividade

cansativa e estressante. Destacou-se a importância do professor como mediador

nas leituras longas, ao compartilhar as ideias expressas na obra, no ato da leitura.

Isso vem auxiliar aos alunos na concentração, na compreensão dos fatos da história

e na ampliação da visão de mundo dos mesmos.

Observou-se na participação dos alunos que eles reconhecem que o leitor

perpetua a obra no tempo. Zilberman (1989) confirma essa ideia de que o leitor dá

vida às leituras. Sem o leitor, as histórias seriam vazias de sentido e não serviriam

para nada. A literatura traz assuntos polêmicos e diferentes do seu cotidiano. Essas

leituras desafiam a compreensão e os levam a analisar o tema com maior

profundidade, por meio de uma linguagem especial que transforma e emancipa o

leitor.

Entre as leituras realizadas, os alunos leram os gêneros: lendas, contos,

crônicas, romances, charges, história em quadrinhos, poesias e bilhetes, e dos 33

(trinta e três) alunos em sala de aula, somente 1 (um) aluno citou leitura de cartas.

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Fato que comprova o que anteriormente se afirmou que os avanços tecnológicos

trouxeram por meio da linguagem virtual a brevidade da comunicação, o que veio a

diminuir a escrita das cartas no cotidiano das pessoas. Os alunos escreveram cartas

como tarefa escolar, porém não foram enviadas a um destinatário de forma a

efetivar essa correspondência, nem tampouco, poder sentir as emoções contidas na

escritura das mesmas.

Das leituras citadas, a crônica e o romance foram apontadas como leituras

mais complexas. Ao perguntar sobre a possibilidade de terem lido o romance “O

Carteiro e o Poeta” foram unânimes em afirmar que não o leram e apontaram temas

diversos que gostariam que fossem abordados com maior destaque: amor/amizade.

Verificou-se mais uma vez, que os alunos valorizam os temas apresentados

com os recursos tecnológicos. Ao integrar imagem, som e texto, as leituras

tornam-se esclarecedoras e conseguem aprender mais. De acordo com a pesquisa,

todos os alunos desta turma (trinta e três alunos) utilizam o computador e internet no

laboratório de informática da escola, porém somente 39% possuem esses recursos

em casa e 27% fazem uso dos mesmos em cursos de informática.

Para Corrêa & Machado (apud COSTA, 2002, p. 193) “Numa época em que

as inovações tecnológicas estão cada vez mais presentes em nosso cotidiano e,

consequentemente, em sala de aula, é essencial que os professores integrem essas

novas tecnologias em sua prática pedagógica”. Daí a importância de se trabalhar as

leituras com os recursos tecnológicos pelos professores, na escola, o que vem dar

oportunidade a todos de adquirirem conhecimentos de forma compartilhada.

Após concluir sobre os temas abordados, solicitou-se que os alunos

trouxessem de casa, para a sala de aula, poesias e cartas antigas de seus familiares

para leitura, apreciação e análise da linguagem das mesmas.

2.2. SEGUNDA ETAPA: Atendimento

Cartas Familiares

Nessa segunda etapa de atividades, baseados nas discussões e resultados

dos slides e questionário da etapa da determinação, e visando o atendimento dos

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horizontes de expectativas dos alunos, leu-se a apresentação desta etapa com

destaque às cartas familiares, cartas literárias e vídeo.

Na primeira atividade, fez-se análise dos elementos que constituem as

cartas: envelopes e conteúdo das cartas. Somente 40%, ou seja, 13 (treze) alunos

trouxeram as cartas solicitadas. Os demais tentaram encontrá-las com a família,

vizinhos, parentes e amigos próximos, porém sem êxito. De posse das cartas,

iniciou-se a análise dos envelopes com o endereço e em seguida a leitura das

cartas, ressaltando sua linguagem: comum ou literária.

Durante a análise, notou-se que a maioria das cartas dos alunos possuía

linguagem simples e que elas foram o único meio de comunicação e interação entre

os interlocutores daquela época. Em uma das cartas, escrita em 1952, o autor ao

invés da despedida formal utilizou-se de uma estrofe de poesia ao despedir-se de

sua amada.

Segundo Morin (2009, p. 45) “a poesia [...] leva-nos à dimensão poética da

existência humana”. Assim, foi possível sentir na leitura das cartas a linguagem

poética, plena de sentimentos e emoção, retratada por meio da linguagem simples,

porém expressiva. As cartas, na sua simplicidade, expressaram alguns valores como

amizade, saudade, respeito, amor, confissão, perdão e gratidão.

Cartas Literárias

Na sequência, após a leitura e análise das correspondências familiares,

apresentou-se à classe uma carta literária escrita pelo poeta Neruda ao carteiro

Mário, e uma gravação com poesia de Mário em resposta a Neruda, em forma de

texto, ambas literárias, cujo tema retrata a amizade entre ambos. O objetivo foi

proporcionar aos alunos reconhecer a linguagem literária, sentir que através de uma

linguagem especial, conotativa se consegue atribuir outros sentidos ao mesmo texto.

Notou-se que, ao ler a carta de Neruda, os alunos observaram a

expressividade das palavras ao destacar algumas frases e atribuir significados a

elas. No seu entendimento “Querido Mário Jimènez de pés alados” significou (Mário

com asas nos pés, um andante incansável); “Mas me sinto longe dos meus dias de

asas azuis” (saudade dos dias em liberdade); “Uma gaiola que é um passarinho”

(gravador Sony); “E se ouvir o silêncio das estrelas siderais, grave” (silêncio da ilha).

11

Quanto à gravação, observou-se na análise dos alunos, que o carteiro

utiliza-se de linguagem simples em sua fala e linguagem literária ao recitar uma

poesia à Neruda “Ode sobre a Neve em Paris”. Assim: “Suave companheira de

passos discretos [...] Lenço que se despede [...] Por favor, minha pálida bela/Cai

amável sobre Neruda em Paris/Veste-o de gala com teu alvor [...] Traze-o em tua

leve fragata/A este porto onde sentimos tanto sua falta” (Skármeta, 2004, p. 93).

Tanto a carta de Neruda quanto a gravação de Mário vem confirmar o que

nos diz Morin (2009, p. 91): “a metáfora é um indicador de abertura do texto ou do

pensamento a diversas interpretações, para encontrar ressonância com as ideias

pessoais de um interlocutor”. Assim, permitiu-se aos alunos entender que a metáfora

literária permite abertura, possibilidades de interpretação, ao considerar suas

vivências e pensamentos enquanto leitor.

Vídeo

Para ressaltar a importância do trabalho com a leitura literária, aliada aos

recursos tecnológicos, apresentou-se um vídeo, intitulado “O Menino e o Livro” sob o

tema “O cativar de uma amizade”. O objetivo foi mostrar aos alunos a necessidade

de cativarmos e sermos cativados pelas pessoas e leituras ao ressaltar que ler é não

estar só. Ao assisti-lo, percebeu-se, o quanto os vídeos atraem, esclarecem e

auxiliam no aprofundamento dos conhecimentos sem perder a qualidade ao tema.

A fala dos alunos vem ao encontro às ideias de Moran (2009, p. 1) o qual

afirma que “a linguagem da TV e do vídeo são dinâmicas e respondem à

sensibilidade dos jovens [...], devido à fala destes ser mais sensorial-visual que

racional-abstrata e que eles leem o que podem visualizar, precisam ver para

compreender3”. Com isso, notou-se que os alunos reconhecem o valor dos recursos

utilizados como estratégia de ensino e que por meio deles se sensibiliza, se ensina,

se aprende e se constitui leitores assíduos.

Acredita-se que ao analisar os resultados das leituras com cartas, gravação,

poesia e vídeo, consideradas as expectativas dos alunos, o trabalho foi significativo

e veio atender aos seus interesses.

3 Disponível em: http://www.eca.usp.br/prof/moran/videos.htm Entrevista Publicada no Portal do Professor do

MEC em 06/03/2009. Acesso em 08/12/2010.

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2.3. TERCEIRA ETAPA: Ruptura

Após o atendimento do horizonte de expectativa, apresentou-se a terceira

etapa, a da ruptura, por meio da leitura do romance “O Carteiro e o Poeta” e análise

dos elementos da narrativa. Foi o momento de mexer com as estruturas de leitura

dos alunos, exigindo maiores esforços ao interagir com a obra, dialogar com o novo

e permitir que a obra atue sobre suas experiências de vida.

Como afirmaram Aguiar & Bordini (1993, p. 85) “o professor deve oferecer

ao aluno diferentes leituras que por se oporem às experiências anteriores,

problematizam o aluno, incitando-o a refletir e instaurando a mudança através de um

processo contínuo”. O romance biográfico “O Carteiro e o Poeta” com sua linguagem

comum/simples e especial/literária permitiu essa possibilidade de mudança ao

abordar a história de um carteiro que se inspira na linguagem de um poeta para

conquistar a amada e ao demonstrar seus sentimentos é correspondido e

transforma-se em uma grande história de amor.

Essa história confirma o que disse Morin (2009, p. 44) “são o romance e o

filme que põe à mostra as relações do ser humano com o outro, com a sociedade,

com o mundo”. Por isso, a leitura foi realizada de forma oral, coletiva e

compartilhada, num período de seis aulas, o que foi permitido aos alunos fazer

comentários para melhor entenderem a história.

Para os alunos as ações mais significativas da história “O Carteiro e o

Poeta” (Skármeta, 2004) foram4:

Mário fingia ser doente e não gostava de trabalhar. Achava o trabalho de

pescador, monótono. Sai à procura de emprego e encontra como carteiro. Teria

somente um ilustre cliente com o qual faz amizade: Neruda. Com o conhecimento

das cartas, Mário sente encanto pelas metáforas e expõe o desejo em aprender

escrevê-las.

Neruda recita poesia e Mario se sente estranho – manifestação dos sentidos

da poesia na vida dele. Ele se apaixona por Beatriz e o Poeta lhe diz que para

4 A cada capítulo lido, escrevia-se na lousa o enredo da obra, levando os alunos a entender e ampliar as ideias já

adquiridas. O relato exposto foi uma forma de valorizar seu entendimento e linguagem em torno da leitura do

romance. O relato foi ressaltado em itálico para marcar a fala dos alunos.

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paixão tinha remédio. O carteiro não aceita remédio e prefere continuar doente.

Neruda o incentiva a conversar com Beatriz, ser criativo. Ele decide escrever

metáforas para a amada e pede ao poeta que o ajude a conquistá-la.

Neruda recebe carta-convite à Presidência do Chile. Dessa maneira, o

humilde carteiro tem suas primeiras noções sobre ideais políticos. O poeta vai com

ele à estalagem conhecer Beatriz e reconhece o encanto dele pela jovem. Por isso

faz a dedicatória no livro de Mário. Labbé conversa com o carteiro e lhe presenteia

com um livro de seu amado amigo Neruda. Neruda desiste da candidatura à

presidência do Chile em favor de Salvador Allende e concorre ao Prêmio Nobel de

Literatura.

Na estalagem, a mãe de Beatriz desconfia da paixão do carteiro pela filha e

não a deixa trabalhar na estalagem por uma semana. Beatriz conta que está

apaixonada por ele. Interrogada pela mãe, ela diz que Mário disse-lhe metáforas.

Rosa resolve delatar a Neruda a proeza dele e conta que Mario plagiou as poesias

de Neruda, fazendo declaração de amor à filha e que devido às metáforas a filha

vinha se consumindo de amor pelo carteiro.

Rosa vai embora e o carteiro apaixonado sente-se aliviado por saber que a

jovem o ama. Neruda compara-o a um saco de farinha e que encontrou problema

com a mãe da jovem. Mário diz ao poeta que quer casar com Beatriz e pede a ele

para salvá-lo da situação em que se envolveu. Neruda chama a atenção dele pelo

plágio e este se justifica ao dizer que “a poesia é de quem a usa e não de quem a

escreve” (p. 65).

Allende é eleito Presidente no Chile e nomeia Neruda embaixador em Paris.

O carteiro casa-se dois meses depois e o poeta fora testemunha. O poeta se sente

em missão oficial e já no casamento se despede das pessoas da ilha.

Com a saída do futuro embaixador da ilha e o término do período político, a

estalagem dá sinal de fracasso e uma crise se inicia. Começa uma colônia de férias

na ilha e Rosa oferece a responsabilidade da cozinha ao genro. Com os ganhos

fizeram investimento e arranjaram novos fregueses. Com o dinheiro ele queria visitar

o amigo em Paris.

Nesse ínterim, Mário recebe uma carta de Neruda, na qual relata as

saudades e faz um pedido de gravação de ruídos e sons da Ilha. Mário faz as

gravações para o poeta e reduz sua vida no trabalho da estalagem. Situação difícil

no vilarejo, muita fome e carência de mantimentos. Beatriz tem o primeiro filho. O

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seu esposo assiste pela TV - Neruda recebendo em Estocolmo, Suécia, o Prêmio

Nobel de Literatura. Neruda diz: “Nunca perdi a esperança. Por isso cheguei aqui

com minha poesia e minha bandeira” (p. 100).

Algum tempo depois, o poeta fica doente e o amigo de outrora vai visitá-lo.

Não foi fácil chegar à casa dele, pois os soldados militares a haviam cercado. Só era

permitida a entrada do médico. A ditadura voltara e as correspondências estavam

novamente proibidas. Mário decorava as cartas e telegramas para poder contar a

Neruda e depois as escondia debaixo das pedras. Neruda fica feliz com a visita do

amigo e pede sobre tudo e todos da ilha.

Ele conta um telegrama recebido da Suécia: “Dor e indignação morte

presidente Allende” (p. 119). Suécia oferece asilo ao poeta Neruda. México também.

Com a notícia da morte de Allende, o poeta fica triste. Neruda recita para ele sua

última poesia. Fraco sente-se mal nos braços de Mário e os amigos abraçam-se pela

última vez. A ambulância chega e leva Neruda ao hospital. Triste Mário vai embora.

Neruda morre em 23 de setembro de 1973 na Clínica Santa Maria em Santiago. Foi

velado entre os escombros de sua casa, pois esta havia sido saqueada. Mário fica

sabendo da morte do amigo pela TV. Esposa e a sogra deixam-no chorar sozinho.

Logo na madrugada, soldados vieram buscá-lo para uma diligência, pois sabiam que

ele fora amigo de Neruda e também escrevia. Mário fora preso.

Apesar da leitura do romance ter sido extensa, houve compreensão por

parte dos alunos. Ao relembrar as ações dos personagens em cada capítulo, fez

com que os alunos se revestissem da história, rindo com as agruras do carteiro que,

com sua linguagem cômica, enaltecia ainda mais os sentidos dos dizeres. Ao

participarem com suas ideias, sentiram-se um pouco personagens naquela ilha.

Segundo Morin (2009, p. 44) “o milagre de um grande romance, como de um

grande filme, é revelar a universalidade da condição humana, ao mergulhar na

singularidade de destinos individuais localizados no tempo e no espaço”. A leitura do

romance levou aos alunos compreenderem os sentidos do texto por meio da

linguagem metafórica empregada, àquilo que o texto não disse, porém sugeriu, e

permitiu que os alunos participassem da história com suas fantasias, vivências e

experiências de mundo.

Para Zilberman (1989, p. 16) “a leitura é o ato resultante da troca de

experiência estética”. Assim, um aluno ao referir-se às metáforas e demonstrar todo

seu encanto pela linguagem do romance afirmou que “se todo amor fosse através de

15

metáforas eles não iriam por água abaixo”. Morin (2009, p. 49) afirma que “é o

romance que expande o domínio do dizível à infinita complexidade de nossa vida

subjetiva”. Com sua afirmação, percebe-se que o aluno compreendeu o verdadeiro

sentido das metáforas, sugerindo, inclusive, aquilo que o texto não disse, mas que

permitiu a ele entender dessa forma.

Isso também nos remete à importância do professor como mediador, que por

meio de um trabalho direcionado, objetivo, seguro, com metodologia adequada, as

leituras extensas também surtem resultados positivos. Segundo Rolla (1999, p. 164)

“o professor de literatura é um privilegiado, pois tem como objeto de sua área um

universo rico de significados”. Assim, o que os alunos mais necessitam é a

proximidade do professor que com suas experiências em leitura e acompanhamento,

os levam a entender melhor os fatos lidos. Ao mencionar certos aspectos históricos

da obra, relacionados com a ditadura militar chilena, fez com que eles se

interessassem ainda mais pela leitura.

Após a leitura, fez-se análise dos elementos da narrativa como

aprofundamento da obra. Ao reconhecer os personagens (principais, secundários e

terciários), tempo (cronológico e psicológico), espaço (lugar dos acontecimentos),

enredo (sequência de ações), clímax (parte importante da história) e narrador

(observador) os alunos se situaram ainda mais na história e puderam compreender

melhor os fatos e temas abordados: amor e amizade e a poesia política.

Com as leituras e análises, os alunos expressaram suas ideias em relação à

obra e ao colocarem-se no lugar dos personagens escreveram a história, como

narrador-personagem, sendo o carteiro ou o poeta, posicionando-se diante dos fatos

narrados.

Marchi (apud NEVES, 1999, p. 161) afirma que “a leitura é uma experiência

profundamente pessoal e resulta da permanente confrontação entre a narrativa do

autor e as histórias de vida do leitor”. Ao reviver a história como personagem, o

texto fez com que os alunos aprendessem a ver os fatos e o mundo dos

personagens sob outros aspectos, inclusive políticos, com maior reflexão e

criticidade, especialmente no que se refere à linguagem literária. As produções

foram lidas para a turma, ampliando ainda mais a própria visão da história.

2.4. QUARTA ETAPA: Questionamento

16

A etapa do questionamento decorreu segundo os encaminhamentos e

resultado das duas etapas anteriores, atendimento - leitura e análise das cartas e

vídeo, e ruptura - leitura do romance e estudo dos elementos narrativos na obra.

Nessa etapa, as atividades foram: filme “O Carteiro e o Poeta”, leitura sobre

os elementos constitutivos do romance e análise literária. O objetivo em se trabalhar

o filme foi enaltecer a leitura realizada, provocar questionamentos e desafiar os

alunos a demonstrarem novos conhecimentos. Segundo MORAN (2004, p. 5)

“quando os alunos têm contato com filmes, poesias, romances, [...] estes alimentam

os pontos de vista formados, abrindo novas perspectivas de interpretação, de olhar,

de perceber e sentir o tema com mais profundidade5”.

Nesse sentido, o filme veio esclarecer com maior profundidade a obra lida. A

cada cena assistida remetia às ações lidas no romance. Isso fez com que os alunos

valorizassem ainda mais a história, rindo do estilo simples, cômico e particular do

carteiro e refletissem sobre a construção das metáforas. Entre as novidades,

comentou-se sobre a importância das imagens no filme, ao retratar o cenário da ilha

com sua beleza simples, porém exuberante.

Após comentários sobre o filme, e para um maior aprofundamento das

ideias, foram analisados os elementos constitutivos do romance, ao levar os alunos

a questionar sua construção. Segundo (Zilberman, 1989), a proposta da Estética da

Recepção é fazer um estudo da obra de arte ao analisar a época na qual foi

publicada e como o leitor a recebe. Nesse sentido, os elementos estudados foram:

- Biografia do autor Antonio Skármeta: ao enfatizar seu nascimento,

residência, descendência, profissão, exílio, produção escrita e cinematográfica “O

Carteiro e o Poeta”, obtendo cinco indicações ao Oscar.

- Contexto histórico da obra: ao destacar a produção do romance na

Alemanha em 1985, durante o exílio de Skármeta, suas atividades de político e

escritor. As poesias do personagem Neruda, que denunciavam as injustiças sociais

e a ditadura militar, a qual impedia qualquer forma de manifestação falada ou escrita

que fosse contrária ao governo.

- Intenções do autor ao escrever o romance: Antonio Skármeta fora jornalista

e redator cultural de um jornal. Possuía ilusões em ser escritor. Incumbido pelo

Diretor do Jornal realizou entrevista com Pablo Neruda. A entrevista sai frustrada,

5 Disponível em http://filmes.seed.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=32 Portal Dia-a-Dia

Educação. Acesso em 08/12/2010.

17

porém, nesse ínterim, nasce a ideia do “O Carteiro e o Poeta”. Levou quatorze anos

para escrevê-lo.

- Análise do título “O Carteiro e o Poeta”: Carteiro: homem simples,

semianalfabeto, solitário e apaixonado. Poeta: homem esclarecido, escritor, político

e querido pelas mulheres. O carteiro inspira-se no poeta e, persistindo em seus

objetivos, consegue superar suas limitações e surpreender todos os leitores com sua

simplicidade e capacidade de expressar seu amor por Beatriz, sua amada.

- Análise do tema da obra: o amor e a amizade: retratados através da

linguagem poética e literária (no romance, nas cartas e nas poesias), constituída de

metáforas rebuscadas e impregnadas de sentidos e significados e a poesia política,

retratando a luta de classes e a falta de justiça social.

Após a leitura dos elementos constitutivos do romance, foi feita a análise da

linguagem poética utilizada por Neruda ao recitar um poema a Mário. Assim:

Aqui na Ilha, o mar, e quanto mar. Sai de si mesmo a cada momento. Diz que sim, que não, que não. Diz que sim, em azul, em espuma, em galope. Diz que não, que não. Não pode sossegar. Chamo-me mar, repete, batendo numa pedra, sem convencê-la [...]. (Skármeta, 2004, p. 22).

Nesse momento, acontece o “estranhamento”, instante em que o carteiro

sente nele os efeitos da poesia. Zilberman (1989, p. 19) explica que “essa noção de

“estranhamento” é concebida como efeito provocado pela arte, quando esta possui

qualidade”. Assim, percebeu-se na interpretação dos alunos que, ao ouvir o poema,

Mário se sente “estranho”, quando é envolvido pela poesia, e ao se deixar embalar

pelas palavras, sente nelas, o próprio movimento do mar. Aqui, o sentido das

metáforas é materializado no íntimo do carteiro, a ponto de se sentir estranho,

diferente, mudado. Sente-se como um barco a flutuar, indo de um lado para outro.

Morin (2009, p. 45) nos diz que “a poesia faz parte da literatura e, ao mesmo tempo,

é mais que a literatura, leva-nos à dimensão poética da linguagem, a poesia nos põe

em comunicação com o mistério, que está além do dizível”. Concluiu-se, portanto,

que os sentidos atribuídos pela poesia, tornaram-se significativos na vida do carteiro.

Quanto à linguagem comparativa e metafórica, os alunos observaram que o

poema foi empregado com sentido conotativo. Reconheceram no conceito de Pablo

18

que metáforas “são modos de dizer uma coisa comparando a outra” (p. 20). Citaram

a frase “O céu está chorando” (p. 20) como exemplo de metáfora. Isso vem reforçar

a tese de Morin, (2009, p. 92) ao citar Machado dizendo “uma ideia não tem mais

valor que uma metáfora; em geral, tem menos”.

Na fala em que o Carteiro indaga ao Poeta, se ele achava que “todo o

mundo”, ou seja, “todo o mundo” (p. 23) poderia ser metáfora de alguma coisa, no

entendimento dos alunos “todo o mundo” referiu-se às pessoas e “todo o mundo”, às

coisas do universo (mundo, o vento, os mares, as estrelas, astros, nuvens),

comparativamente. Ao construir frases metafóricas, comparando “todo o mundo” e

“todo o mundo” escreveram: “Nós somos a luz que brilha no espaço” e “O amor foi

um vento que passou na minha vida”.

Comentou-se sobre o fato de que a linguagem metafórica produz um

significado maior na vida das pessoas. Segundo alguns alunos, isso acontece

quando6:

“usamos palavras com sentidos diferentes”; “quando você vai dizer algo que

deixa para o outro refletir”; “quando comparamos, as palavras perdem seu único

significado, passando a ter mais de um e com isso transformando coisas simples

com múltiplos significados, o que não significa que a mesma frase tenha o mesmo

sentido para duas pessoas”.

Para outro aluno, as metáforas “são parecidas com a comparação e são

grandes ilusões da vida”. Isso vem afirmar o que nos disse Morin (2009) no sentido

de que a metáfora é mais do que uma simples ideia, expressão essa que vem

reforçar o caráter polissêmico de linguagem.

Além desses conceitos, houve uma pesquisa, no texto, pelos alunos, onde

citaram como exemplo de comparação a frase “Você fica aí parado como um poste”

e como exemplo de metáfora “Eu ia como um barco tremendo em suas palavras”.

Ao refletir sobre a influência de Neruda na vida de Mário, observou-se na

conclusão dos alunos que o poeta influenciou positivamente, na sua formação

leitora, ao levá-lo a entender o sentido das metáforas, a constituir-se leitor e poeta e

ao despertar para os ideais políticos. O que determinou aprendizado e mudança de

comportamento no carteiro foi a convivência e amizade com o escritor no momento

6 Interpretação de alguns alunos sobre o momento em que as metáforas produzem maior significação na

linguagem. Os dizeres foram ressaltados em itálico para marcar a fala dos alunos.

19

da entrega de cartas. Se por um lado o carteiro é cativado pelo poeta e pela

linguagem, ele também o cativa com sua dedicação e insistência em compreender

essa linguagem e conquistar sua amada.

O tema “amizade” nos remete ao vídeo “O Menino e o Livro”, assistido na

segunda etapa das atividades. Nele, o menino indaga ao livro para que o cative, pois

sente a necessidade de uma amizade verdadeira e duradoura. Não só as pessoas

“se cativam”, mas as leituras também cativam as pessoas. Por meio da amizade,

compartilham-se sonhos, ideais, esperanças, sentimentos, conquistas e até ilusões.

O Carteiro, no romance lido, soube muito bem compartilhar essas sensações com o

Poeta. Comentou-se que os vídeos e livros se tornam grandes amigos quando

encantam os leitores com novas ideias e quando a mensagem permite ao leitor

identificar-se com a mesma.

Ao finalizar as atividades desta etapa, os alunos reescreveram a história do

carteiro e o poeta em forma de poesia e se utilizaram de metáforas como expressão

da sua subjetividade ao demonstrar sua poética particular.

Morin (2009, p. 49) nos esclarece que “é, pois, na literatura que o ensino

sobre a condição humana pode adquirir forma vívida e ativa, para esclarecer cada

um sobre sua própria vida”. Assim, cada aluno compreende e interpreta as leituras

de acordo com sua forma de pensar e ver o mundo. Considera suas vivências no

passado e analisa a sua existência no enredo da obra e tira proveitos dela de acordo

com suas necessidades.

A leitura do filme ainda teve como objetivo mostrar aos alunos que, assim

como o carteiro, com interesse nos objetivos a que se propõem, todos têm

condições de ampliar seus horizontes de expectativas, respeitados os limites de

suas individualidades.

Ao compararmos as diferenças na leitura do romance e na leitura do filme,

percebeu-se na fala dos alunos que a leitura do romance é completa, detalhada,

quando se referem às ações dos personagens e aos fatos políticos ligados à

Neruda, poeta do povo, aquele que pregava os ideais de liberdade e justiça chilena.

Quanto ao filme, viram por meio das imagens o que a leitura mostrou, porém de

forma detalhada. Retrataram o cenário da Ilha Negra com sua natureza exuberante:

os barcos, os pescadores, a pobreza, a miséria, a rotina, o som estridente do mar,

os rochedos, as gaivotas, enfim, a vida simples e bela daquele lugar.

O relato dos alunos afirma o que disseram Aguiar e Bordini (1993) que:

20

Quanto mais leituras [...], maior a propensão para a modificação de seus horizontes, porque a excessiva confirmação de suas expectativas produz monotonia, que a obra „difícil‟ pode quebrar (p. 85). E que o texto pode confirmar ou perturbar esse horizonte de expectativas, ampliando-os (p. 87).

Durante as leituras do romance e do filme “O Carteiro e o Poeta” e seus

questionamentos, os alunos se manifestaram e perceberam a complexidade da

obra. Quanto mais curiosidades e conhecimentos novos ela abordava, acresciam-se

os comentários, a satisfação e a admiração expressada por eles.

2.5. QUINTA ETAPA: Ampliação

Nessa 5ª etapa, foi o momento da ampliação dos horizontes de expectativas,

momento de produção de cartas e poesias literárias. O exercício “Carta aos Alunos

Leitores” através do “Correio Literário” foi uma estratégia de ação pautada na

retomada da poética da correspondência, ao reconhecer a utilidade das cartas como

forma de comunicação entre as pessoas, pois retratam uma perspectiva mais íntima

e particular de forma a resgatar e revelar o lado humano, histórico e social da

literatura, presente na vida das pessoas e nas obras lidas.

Bakhtin (1999, p. 113) nos esclarece que:

[...] Toda palavra comporta duas faces. Ela é determinada tanto pelo fato de que procede de alguém, como pelo fato de que se dirige a alguém. Ela constitui justamente o produto da interação do locutor e do ouvinte. Toda palavra serve de expressão a um em relação ao outro. [...] A palavra é território comum do locutor e do interlocutor.

Sendo assim, após as leituras do romance e do filme, os alunos recebem de

um remetente fictício7 (Professora proponente deste PDE), uma carta literária, com

envio autêntico pelo Correio, com o objetivo de corresponderem-se de forma efetiva.

7 Utilizou-se de um nome fictício, visando produzir maiores expectativas no envio e recebimento das cartas entre

o remetente e os alunos.

21

Nesta primeira (1ª) carta, o remetente interroga-os a respeito da leitura do romance

e solicita aos mesmos que se correspondam com ele.

Ao responder a carta, os alunos fazem um breve relato do enredo da obra,

comentam sobre as construções de metáforas que aprenderam com as leituras,

citam uma pessoa especial em sua vida, descrevem-na e descrevem-se. Falam de

sentimentos, algo esquecido pelas pessoas, mas que é possível demonstrá-los por

meio da escrita de cartas. Finalizam-na com ensinamentos que a obra lhes

transmitiu: interesse, dedicação, amizade, emotividade, persistência, consciência

crítica e política.

O remetente (participaram, neste momento, os professores do Curso “Grupo

de Apoio à Implementação do Projeto na Escola”) recebe as correspondências dos

alunos e as lê. Em seguida, escreve a segunda (2ª) carta para eles. Ao respondê-

las, destaca da carta de cada aluno trechos importantes, ao se referirem à

construção de metáforas, seus sentidos e significados, incentivando-os a

corresponderem-se ainda mais por meio de cartas.

O envio dessa segunda (2ª) carta foi por e-mail. O remetente solicita à

professora que repasse aos alunos as correspondências, como mediadora neste

diálogo. Nesta carta, lembra aos alunos que, com a evolução tecnológica, não só é

possível escrever cartas e poesias com a intenção de serem enviadas pelos

correios, como também é possível escrever mensagens por meio dos recursos

tecnológicos disponíveis: e-mail, msn, chat, na internet e torpedos, nos celulares.

Assim, solicita aos alunos que pesquisem na Internet da escola algo sobre

torpedos, chat, msn e e-mail. Sugere um aprofundamento nas ideias quanto à

evolução na comunicação, considerando as cartas e os msn, suas vantagens e

desvantagens. Esclarece que, tanto nas cartas quanto no msn, é possível que se

utilize a linguagem simples e a literária. Nada impede que o leitor, criativo como é,

escreva com palavras abreviadas ou formalmente corretas. O sentido das palavras é

que permite ao leitor tornar essa linguagem significativa em sua vida. Porém, é

lembrado aos alunos que a linguagem formal é rica de significados e nos enobrece

culturalmente. Conclui a carta ao dizer que a leitura se torna útil na vida quando ela

leva o sujeito a reconstruir o pensamento e permite a ele compreender o mundo a

partir de sua realidade.

Segundo Foucault (1996, p. 44) “todo sistema de educação é uma maneira

política de manter ou de modificar a apropriação dos discursos, com os saberes e

22

poderes que eles trazem consigo”. Sendo assim, cabe ao professor valorizar as

potencialidades dos sujeitos, considerar suas apropriações, instigá-los às pesquisas,

levando-os a novas experiências.

A pesquisa ocorreu no laboratório de informática sobre o tema solicitado e

na carta os alunos informaram os resultados da pesquisa e do encanto em se

corresponderem com alguém. Em síntese, afirmaram que as cartas possuem

vantagens – ao trabalhar os sentimentos, emoções, saudade, o lado humano,

utilizando linguagem correta; e desvantagens – demora da carta chegar ao destino,

tem um custo. Os msn possuem vantagens - linguagem virtual, rápida, em tempo

real, não tem um custo; e desvantagens - linguagem fria, diária, maquiniza o

homem, torna-o mecânico, robotizado, abreviam-se palavras, empobrecendo-as.

Ao corresponder-se pela terceira (3ª) e última vez com os alunos, o

remetente (professores envolvidos) afirma estar satisfeito com os resultados da

pesquisa. Faz o comentário aos alunos que, ao observar as cartas que Neruda

recebia, Mário compreendeu o valor da correspondência entre as pessoas. E com as

poesias escritas por Neruda, aprendeu construir metáforas - linguagem sedutora -

que encanta todo leitor que tem o desejo de expressar seus sentimentos em relação

ao seu universo e ao mundo. As leituras produziram efeitos de sentido para o

Carteiro e um significado ainda maior em sua vida.

A atitude do carteiro ratifica o que nos fala Gallo e Veiga-Neto, (2007, p. 19)

embasados em Foucault de que o sujeito é como “dobradiça” capaz de fazer a

conexão entre o pensamento perene, consagrado e, de certa forma, imposto pela

sociedade com o pensamento novo, livre de imposições e por isso, pleno de

liberdade. Isso veio confirmar, ainda mais, nas cartas escritas pelos alunos, ao

articular seu pensamento entre o tema proposto na obra “O Carteiro e o Poeta” e a

realidade sobre a escritura das cartas e as correspondências virtuais na atualidade.

Gallo e Veiga-Neto (2007, p. 25) afirmam que Foucault coloca a atitude do

professor como um “adestrar-se a si mesmo” e em Rancière como “emancipar-se”,

ao fazer com que o aluno chegue à liberdade de pensamento, “educando-se a si

mesmo”. Oportunidade oferecida aos alunos, nesta implementação, ao objetivar um

espaço possível de liberdade de pensamentos.

A exemplo de Mário, o remetente compartilha com os alunos, ideias

produzidas por eles, na primeira (1ª) carta, que tratam da leitura do romance e sua

23

linguagem. Esse compartilhamento acontece, tendo em vista a participação de todos

e, como valorização de suas falas, destacam-se as seguintes8:

“Se todo amor fosse através de metáforas, muitos amores não iriam por

água abaixo”; “senti leveza ao ler o romance”; “a leitura me trouxe uma história nova,

esta refletiu em minha vida, com isso aprendi a ver a vida com outros olhos”; “vou

sugerir a leitura do “Carteiro e o Poeta” para alguém especial para ver se a torno

melhor”; “as metáforas são lindas e para fazê-las temos que pensar com o coração”;

“aprendi novas palavras e metáforas, vindo a navegar nas palavras do autor”;

“quanto mais se lê mais se aprende”; “as metáforas comparam e dão sentido à vida”;

“o romance lido ensina muito para a vida e essa história foi a mais interessante que

já li, as outras foram leituras passageiras”; “ler é sempre aprender algo novo, a

leitura é importante na vida e o livro é um grande amigo”; “quando fazemos

metáfora, acabamos sendo as próprias palavras”; “ler é um passo para o

aprendizado, ao ler essa história me senti bem”; “ler é crescer, é se envolver com a

história como se fôssemos personagens da obra”; “todos nós somos capazes de

sermos um pouco poetas e poetizas”; “ao ler essa história foi como se fizesse parte

dela”; “as metáforas dão sentido à vida”; “a leitura traz novos conhecimentos e

conhecer outras leituras é conhecer-se a si próprio”; “estou fascinada com a leitura,

porque ela fala de amor e amizade, coisas que se vive”; “metáfora é um dos sentidos

da vida e espero, um dia, poder me utilizar de metáforas para conquistar alguém

especial, vindo ser ela o sol da minha vida”; “a leitura do romance foi de forma

compartilhada com os colegas e isso foi muito produtivo”; “obra literária de grande

valor, a qual nos leva a refletir sobre os valores da vida: o amor e a amizade”;

“aprendi a gostar de ler e vivenciar a leitura, sentindo-me personagem da obra”; “O

Carteiro e o Poeta é um romance antigo, mas também é atual”; “tenho esperanças

em retomar um amor antigo, por meio de metáforas”; “espero, um dia, poder me

apaixonar de verdade assim como na história do carteiro”; “gostei muito da leitura,

porém nunca me apaixonei”; “estou apaixonado pela leitura e por uma jovem”;

“compreendi que para ser leitor é preciso se envolver-se com a leitura e estou me

surpreendendo com as metáforas”; “coloco minhas esperanças nas metáforas para

poder um dia conquistar minha amada”; “entendi o sentido da obra, as metáforas

8 Falas/expressividade poética e literária dos alunos, em relação à linguagem metafórica e seus efeitos de

sentidos e significados na vida prática, escritas na primeira carta ao remetente. Os dizeres foram ressaltados em

itálico para marcar a fala dos alunos.

24

são um caminho para a leitura, são como o universo infinito”; “aprendi a ver com

outros olhos onde moro e o mundo”; “aprender fazer metáforas é muito simples, tão

simples quanto o soar dos sinos” e “a leitura amplia nossos pensamentos”.

Ao lerem as cartas, num clima de suspense, os alunos perceberam que

havia alguém interessado em seu aprendizado, incentivando-os à leitura e, diga-se

de passagem, estavam ansiosos por conhecê-lo, tanto que houve declaração

emocionada de uma aluna ao dizer que foi a primeira vez que recebeu uma carta de

alguém que falou diretamente ao seu coração. Ao final das correspondências

revelou-se aos alunos a verdadeira identidade do remetente. Ficou nítida a

admiração dos alunos com a criatividade dos professores e afirmam esperar que as

correspondências venham continuar a ter a mesma conotação positiva em relação

às novas e próximas leituras.

Na afirmação de uma aluna quando diz: “aprendi a ver com outros olhos

onde moro e o mundo”, sintetiza a profundidade de significados dessas leituras em

sua vida, ao promover liberdade de pensamentos e mudança de comportamento.

Carvalho (2006, p. 127-8), embasado em Jauss, nos afirma que:

O resultado dessa interlocução é a constituição do horizonte de expectativas do leitor onde a obra propõe desestabilização e ao mesmo tempo responde às indagações do leitor. Isso amplia o horizonte de expectativas do aluno, obriga-o a repensar sua condição sócio-histórica, fazendo mudar sua postura diante da sociedade (cf. 1994).

Ler este romance e assistir ao filme foi viajar num universo de ação, emoção

e encantamento pela linguagem literária. A descoberta da sensibilidade existente no

leitor é realmente algo mágico e por meio da leitura podemos senti-la. Que bom

sentir que a turma pode experimentar essa sensação maravilhosa no envolvimento

com o romance e vir a compreendê-lo.

Foi o momento de consciência sobre a importância da leitura na vida prática,

de refletir sobre os sentidos das palavras e das metáforas e vivenciar o que

aprenderam por meio da leitura e escrita de cartas. Foi o momento de reviver a obra

em suas vidas e de ressignificá-la por meio dos valores sugeridos pela mesma.

25

3. CONCLUSÃO

Com o advento do PDE e com o suporte das Universidades Estaduais os

professores concretizam a oportunidade de, juntamente com a escola: alunos,

professores, equipe pedagógica e direção, pesquisarem sobre as reais

necessidades de cada turma, visando o desenvolvimento de sua prática pedagógica

com o intuito de oferecer ao aluno condições para que ele construa o seu

aprendizado por meio de uma leitura de qualidade.

A presente Unidade Didática intitulada “O Carteiro e o Poeta: a Formação do

Leitor no Ensino Fundamental” foi apresentada no método recepcional com

estratégias de ação que possibilitaram, em cada etapa do método, a compreensão e

aquisição de conhecimentos. Aguiar e Bordini (1993) afirmaram que “o sucesso do

método recepcional no ensino de literatura é assegurado na medida em que forem

sendo alcançados os objetivos com relação ao aluno” (p. 85-6). Na medida em que

iam sendo alcançados os objetivos, ia se concretizando a eficácia do método no

trabalho com a leitura literária.

Pode-se afirmar que as leituras realizadas em torno de “O Carteiro e o

Poeta” permitiram aos alunos recepcionar os sentidos didáticos atribuídos pela obra,

possibilitando transformá-los numa significação maior ao participarem ativamente no

diálogo com os fatos e ideais presentes na história. A participação coletiva nas

leituras tornou a leitura da obra interessante por abordar temas como o amor, a

amizade e o despertar para a consciência crítica e política.

Para isso, levou-se em conta as relações dialógicas entre autor/obra/leitor,

considerando os questionamentos em torno da linguagem literária, slides, cartas,

vídeo, leitura, filme, produção de poesias metafóricas e cartas literárias. No

momento das leituras, especialmente a do romance, os alunos dialogaram,

interpretaram e refletiram sobre os fatos ocorridos em seu enredo, o que permitiu um

mergulho num mundo de ficção e realidade ao identificar-se com o mesmo.

Por assim ser, foi no momento da interação, diálogo e participação nas

ideias em torno do romance e na escritura de cartas que os alunos afirmaram que a

leitura da obra foi importante e permanecerá em suas memórias. A atuação do leitor

nas leituras é fundamental para a subsistência da literatura e, comprovadamente, ao

participar do processo de interação, os alunos atribuíram sentidos e significados à

26

obra, conferindo-lhe assim, a transformação, ou seja, ampliação de seus modos de

verem e interagirem com a realidade.

Os recursos tecnológicos disponíveis em sala de aula possibilitaram melhor

compreensão dos temas e das leituras: TV multimídia, DVD e pendrive. Com a

integração das leituras com essas tecnologias possibilitou-se à turma o acesso a

uma produção com qualidade. Ao abordar o romance literário “O Carteiro e o Poeta”

buscou-se fazer com que as leituras viessem somar às expectativas dos alunos de

forma direcionada e responsável. As leituras aconteceram na íntegra, de forma oral

e compartilhada.

Os alunos entenderam que a linguagem literária possui seus sentidos e que

se torna significativa na forma dos dizeres e no momento da expressão da

subjetividade. A descoberta dos sentidos e significados nas leituras são habilidades

indispensáveis à vida dos alunos. A leitura se torna importante quando eleva o

pensamento do leitor, quando permite a compreensão e interpretação do mundo a

partir da realidade na qual vive.

Ao trabalhar temas relacionados aos interesses e apropriados a sua idade e

série, os alunos tiveram condições de internalizar essas leituras, despertar o seu

interesse pelas mesmas e, consequentemente, produzir novos conceitos em relação

ao tema proposto e em relação ao seu conhecimento de mundo.

Com as atividades de leitura e escrita de cartas os alunos refletiram sobre a

importância da correspondência entre as pessoas e do resgate de valores humanos.

Por meio dos resultados obtidos, acredita-se ter desenvolvido nos alunos o interesse

pela leitura literária, ao torná-los leitores críticos e reflexivos e levá-los a construir o

seu próprio conhecimento. Assim, acredita-se ter alcançado os objetivos propostos,

ao proporcionar a eles formação leitora a partir da leitura literária.

Este trabalho com o romance, cartas e poesias literárias não se encerra

aqui, continuará sendo objeto de novos estudos, tanto para a proponente deste

PDE, quanto para os professores que se interessarem em produzir algo semelhante

e/ou norteados por esta pesquisa.

A literatura nos proporcionou, nesta experiência, uma dimensão de liberdade

e de percepção do entorno imediato contemporâneo, nos processos de

comunicação do aluno e do professor.

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REFERÊNCIAS

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