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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Produção Didático-Pedagógica Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Produção Didático-Pedagógica

Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE

VOLU

ME I

I

1 APRESENTAÇÃO

A elaboração desta Unidade Didática está relacionada ao tema: “O texto literário e

a formação de leitores no contexto da Educação de Jovens e Adultos”, é direcionada aos

educandos do CEEBJA Ulisses Guimarães, em Colombo, e é fruto de um projeto de

formação docente do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, ofertado pela

Secretaria de Estado da Educação do Paraná.

O objetivo deste trabalho é o de incentivar à leitura do texto literário. Para tanto

propomos inicialmente a revisão bibliográfica, que apresentará o pensamento complexo, a

transdisciplinaridade e o conceito de “ecologia profunda” apresentado por Capra, que

“reconhece a interdependência fundamental de todos os fenômenos, e o fato de que,

enquanto indivíduos e sociedades, estamos todos encaixados nos processos cíclicos da

natureza (e, em última análise, somos dependentes desses processos). CAPRA (1996,

p.25).

Num segundo momento propomos uma “sequência didática” que se inicia com a

integração do grupo por meio de técnicas, que a priori proporcionaram ao sujeito uma

compreensão da “teia” que se constrói através das relações interpessoais, do indivíduo

como fio desta “teia”, e, portanto pertencente e conectado a “sistemas” mais complexos.

Trabalhamos ainda o sujeito e sua história de vida fazendo-o perceber-se como

“personagem principal” deste enredo podendo determinar o rumo de sua história.

A opção de trabalharmos com o texto literário vem da compreensão de que o

mesmo é de fundamental importância para a formação do sujeito, pois além de tratar a

natureza humana sob diversos aspectos tem caráter plurissignificativo e polifônico, o que

facilita a proliferação de idéias, favorece o diálogo e a reflexão. A escolha pelos contos

veio do entendimento de que deveríamos priorizar os textos completos. Selecionamos

contos atuais que podem facilmente ser relacionados com situações reais ou fictícias,

conhecidas ou vivenciadas pelos educandos, possibilitando um diálogo entre o saber

escolar e os saberes adquiridos em suas trajetórias de vida.

Entendemos que a metodologia por projetos, é a que melhor se adapta a esta

proposta, tendo em vista que a leitura dos contos deve ser aprofundada através de

pesquisas (possibilidade de encontro com conhecimentos ditos de “outras disciplinas”),

rompendo a linearidade cartesiana, deixando espaços de liberdade e criação

(autopoiese), permitindo as conexões possíveis diante da complexidade do texto literário

e de suas próprias vidas.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Este projeto tem como tema: O texto literário e a formação de leitores no contexto

da Educação de Jovens e Adultos. Todo o desenvolvimento a aplicação do projeto terá

como base o pensamento complexo e a transdisciplinaridade, entendidos como a

possibilidade de um trabalho contextualizado que leva em conta;

“todos os saberes acumulados, reconhecendo o direito de cada ser humano, qualquer que seja sua verdade, religião, sexo, cultura e raça. De existir e habitar este planeta, convivendo e contribuindo, respeitando e sendo respeitado pelas diferenças individuais e grupais”. (SANTOS, 2005, p.20)

Para Martins o ensino de literatura deve levar em consideração a

transdisciplinaridade e a transversalidade “numa dinâmica que busca vínculos entre os

saberes, aqueles que estão nas disciplinas, bem como entre aqueles que não se

encontram em nenhuma delas”. (MARTINS, 2008, p.3)

O mesmo autor em seu trabalho científico cita o 3º e o 5° artigo da Carta de

Transdisciplinaridade, publicada no 1º Congresso de Transdisciplinaridade em Portugal,

no ano de 1994:

“A transdisciplinaridade é complementar à aproximação disciplinar: faz emergir da confrontação das disciplinas dados que as ar4ticulam entre si: oferece-nos uma nova visão da natureza e da realidade. A transdisciplinaridade não procura o domínio sobre várias outras disciplinas, mas a abertura de todas elas àquilo que as atravessa e as ultrapassa.” “A visão transdisciplinar é resolutamente aberta na medida em que ela ultrapassa o campo das ciências exatas devido ao seu diálogo e sua reconciliação não somente com as ciências humanas, mas também com a arte, a literatura, a poesia e a experiência espiritual”.(CARTA DE TRANSDISCIPLINARIDADE apud MARTINS, 2008,p.3)

Desta forma a fundamentação teórica deste trabalho tratará dos seguintes temas:

Pensamento Complexo, Conhecimento e Linguagem, Aprendizagem por Projetos e

Texto Literário.

2.1 PENSAMENTO COMPLEXO

Nos séculos XVI e XVII, houve uma revolução científica decorrente de novas

descobertas nos campos da física, astronomia e matemática, entre seus precursores

estão Copérnico, Galileu, Descartes, Bacon e Newton. As idéias de Descartes foram

apresentadas em 1637, no livro Discurso do Método, e definem a estrutura do

pensamento para a construção do conhecimento. Para Descartes tudo no universo

funcionava como uma engrenagem, uma máquina.

“A noção de um universo orgânico, vivo e espiritual foi substituído pela noção do mundo como máquina, e a máquina do mundo se transformou na metáfora dominante da era moderna [...] Descartes baseou sua concepção da natureza na divisão fundamental de dois domínios independentes e separados – o da mente e o da matéria”.CAPRA (1996, pg.34)

O pensamento linear-cartesiano consiste no estudo de um fenômeno

complexo a partir de sua fragmentação. Estuda-se cada parte separadamente e a partir

da análise e do estudo das menores partes define-se o comportamento do todo. Desta

perspectiva de divisão é que surgem as disciplinas escolares como as conhecemos hoje é

deste mesmo pensamento que surgem as especializações.

Mariotti (2009, pg. 5), explica que o pensamento linear-cartesiano foi

influenciado pela lógica do terceiro excluído, apresentada por Aristóteles. “Essa lógica

levou à idéia de que se B vem depois de A com alguma freqüência, B é sempre o efeito e

A é sempre causa, [...] o que gerou a crença errônea de que entre causa e efeito existe

sempre uma contigüidade ou uma proximidade muito estreita”. Continua explicando “ Por

esse modelo A só pode ser igual a A. Tudo o que não se ajustar fica excluído. É a lógica

do ou/ou, que praticamente exclui a complementaridade e a diversidade”. Acrescenta que

este modelo mental é necessário para lidar com problemas mecânicos, mas não da conta

dos problemas humanos em que participam a emoção e os sentimentos.

O movimento romântico que ocorreu no final do século XVIII e no século XIX

principalmente na arte, literatura e filosofia fez oposição ao paradigma cartesiano. Goethe

apud Capra (1997, pg. 36) pode ser considerado precursor do pensamento sistêmico. “Ele

admirava a “ordem móvel” da natureza e concebia a forma como um padrão de relações

dentro de um todo organizado [...] “Cada criatura”, escreveu Goeth, “é apenas uma

gradação padronizada de um grande todo harmonioso”.

De acordo com Kant, o conhecimento científico só podia oferecer

explicações mecânicas e que precisava ser suplantado para que houvesse a

compreensão da vida. Kant apud Capra (1997, pg.36) nos diz: “Devemos pensar em cada

parte como um órgão que produz as outras partes (de modo que cada uma

reciprocamente, produz a outra)... Devido a isso, [o organismo] será tanto um ser

organizado como auto-organizador”. Capra comenta que Kant foi o primeiro a utilizar o

termo “auto-regulação” para definir a natureza dos organismos vivos de forma semelhante

a algumas concepções contemporâneas.

O pensamento sistêmico tem suas idéias anunciadas pelos biólogos

organísmicos da primeira metade do século XIX que constataram, através das

descobertas da química que o estudo dos organismos vivos não se encaixava no modelo

mecânico cartesiano principalmente sobre o funcionamento dos sistemas digestivos,

circulatórios e respiratórios “Antoine Lavosier, “o pai da química moderna”, demonstrou

que a respiração é uma forma especial de oxidação e, deste modo, confirmou a

relevância dos processos químicos para o funcionamento dos organismos vivos”. Nesta

fase surgem as idéias de conexidade, relação e contexto. Capra explica que “Embora

possamos discernir partes individuais em qualquer sistema, essas partes não são

isoladas, e a natureza do todo é sempre diferente da mera soma de suas partes”. CAPRA

(1997, p.40)

Os estudiosos da Física Quântica chegaram à compreensão de que os

sistemas,

“são totalidades integradas que não podem ser entendidas pela análise [...] que os objetos materiais da física clássica se dissolvem no nível subatômico, em padrões de propriedades semelhantes a ondas [...] as partículas subatômicas não tem significado enquanto entidades isoladas [...] em outras palavras as partículas subatômicas não são “coisas” mas interconexões entre coisas, e estas, por sua vez, são interconexões entre outras coisas”. CAPRA (1997, pg.41)

Os psicólogos alemães contribuíram com o diálogo que se estabeleceu entre

os biólogos sobre o Gestalproblem (forma orgânica) “o filósofo Christian Von Ehrenfels

caracterizou uma Gestalt afirmando que o todo é mais do que a soma de suas partes.

Foram os psicólogos alemães que reconheceram

“a existência de totalidades irredutíveis como o aspecto chave da percepção. Os organismos vivos, afirmaram eles, percebem coisas não em termos de elementos isolados, mas como padrões perceptuais integrados – totalidades significativamente organizadas que exibem qualidades que são ausentes em suas partes”. CAPRA (1997, p.41)

Estes conhecimentos contribuíram para os avanços na psicologia

especialmente nos estudos da aprendizagem e da natureza das associações, ficou

conhecida como terapia da Gestalt, que enfatiza a integração de experiências pessoais

em totalidades significativas.

Capra apresenta dentro do pensamento sistêmico a Ecologia, que parte da

escola organsímitica de biologia e passa a estudar as comunidades de organismos. Foi

definida por Ernest Haeckel, apud Capra (1997), como “a ciência das relações entre o

organismo e o mundo externo circunvizinho”. Para Capra, os organismos não são apenas

membros de comunidades ecológicas e sim complexos ecossistemas contendo uma

multidão de organismos menores. Para ele

“existem três tipos de sistemas vivos – organismos, partes de organismos e comunidades de organismos – sendo todos eles totalidades integradas cujas propriedades essenciais surgem das interações e da interdependência de suas partes”.(1997 pg. 44)

A partir de 1942, intelectuais americanos das diversas áreas do

conhecimento, que se reuniam com regularidade, criaram a cibernética. A palavra vem do

grego e quer dize navegador ou piloto relaciona-se com a expressão latina gubernator

traduzida para o inglês governor e para o português govegador. Mariotti define cibernética

a partir de seu conceito atual

“cibernética é a arte da comunicação e do controle dos seres humanos, máquinas e animais. Pode ser definida como a ciência dos sistemas de controle [...] O conceito fundamental da cibernética é a circularidade (feedback), isto é, a retroação sistêmica ou retorno do efeito sobre a causa com a realimentação desta [...] a retroalimentação permite que eles se auto-regulem e auto organizem num nível mais evoluído de complexidade.” (MARIOTTI, 2007, pg.85)”.

A cibernética fala de dois tipos de feedback, a auto-regulação na qual uma

tendência é equilibrada por seu contrário e o auto-reforço, no qual as partes de um

sistema se fortalecem mutuamente para obter um resultado comum.

Enquanto o modelo linear-cartesiano baseia-se no estudo dos componentes

separados e em sua identificação, o modelo sistêmico baseia-se no estudo dos conjuntos,

padrões e totalidades. O pensamento complexo que descreveremos a seguir não exclui

nenhum destes modos de pensar, mas integra-os aspirando um pensamento

multidimensional.

“Jamais pude eliminar a contradição interna. Sempre senti que verdades profundas e antagônicas umas às outras, eram para mim complementares, sem deixarem de ser antagônicas. Jamais quis reduzir à força a incerteza e a ambiguidade”. MORIN (2006, pg. 7)

O pensamento de Edgar Morin e “associados” representa a visão

“humanista” e “filosófico-continental” da Escola Latina do Pensamento Complexo (com

ramificações na Itália, Espanha, México e Brasil), que objetiva a religação dos saberes

dispersos em disciplinas, especialidades e subespecialidades, estabelecendo pontes

entre as ciências exatas e humanas.

“A complexidade só pode ser adequadamente entendida por um sistema de pensamento aberto, integrador, pluralista e flexível: o pensamento complexo. Ele aceita e procura entender as mudanças constantes do mundo real e não tem a pretensão de negar ou ocultar a contradição, a diversidade e a incerteza, mas procura compreende-las e aprender a conviver com elas”. MARIOTTI (2007, pg. 107)

Mariotti apresenta ainda o que chamou de “operadores cognitivos” ou “operadores

de religação”, estes foram desenvolvidos ao longo do tempo por diversos autores de

várias disciplinas e constituem ferramentas para aplicação do pensamento complexo, são

eles: “ (1) a circularidade; (2) a autoprodução e a auto-organização; (3) a dialógica (o

operador dialógico); (4) o operador holográfico; (5) a integração sujeito-objeto; (6) a

ecologia da ação”.

A circularidade “Os efeitos retroagem sobre as causas e as realimentam.” É

diferente de pensar do ponto de vista linear-binário, a relação de causa e efeito que se

resume em dois momentos, princípio e fim. Não existe fenômeno de causa única no

mundo natural nem no cultural. Onde houver seres vivos as relações serão sempre

circulares, pois os efeitos sempre retroagem sobre as causa e as retroalimentam. Abaixo

exemplo apresentado por Mariotti.

“O funcionamento do cérebro faz emergir os processos mentais. Por meio da linguagem e de outras formas de comunicação, tais processos chegam à sociedade sob a forma de idéias e de ações e lá interagem com os processos de outras mentes. Desse modo constrói-se a mente social, que por sua vez retroage sobre as mentes individuais. Estabelece-se uma recursividade, por meio da qual é produzida a cultura. As sociedades, os indivíduos e as culturas são fenômenos que emergem desta circularidade. Mudanças nos indivíduos mudam a sociedade e mudam a cultura.” (2007, pg. 142)

A autoprodução e a auto-organização “ Os seres vivos produzem, eles próprios, os

elementos que os constituem e se auto-organizam por meio desse processo.” Vemos esta

ocorrência na renovação celular, na cicatrização de ferimentos e fraturas. Este enunciado

vale tanto para os sers vivos e seus ambientes como para grupos, organizações e

instituições humanas.

“A convivência dos indivíduos constitui a sociedade. A convivência das empresas compõe o mercado. Por sua vez, a sociedade e o mercado proporcionam aos indivíduos e às empresas uma série de condições que lhes possibilitam viver e produzir. Mas ao mesmo tempo impõem-lhes restrições, regras e regulamentos, que se traduzem na legislação, na cobrança de impostos e assim por diante.” (2007, pg. 146)

O operador dialógico, “Há contradições que não podem ser resolvidas. Isso

significa que existem opostos que são ao mesmo tempo antagônicos e complementares.”

Existe uma diferença fundamental entre dialética e dialógica. A dialética, que significa

conversação entre posições contrárias. Do embate das duas surge a síntese que é a

resolução da contradição. No processo dialógico, reconhece-se as diferenças, admite-se

que as mesmas não se resolvem, que precisam conviver. Para Morim “tais casos fazem

parte da complexidade natural do mundo e de seus fenômenos”. Para Mariotti,

“Como se sabe, nos grupos, organizações e instituições humanas, a diversidade, em especial a de opiniões, costuma produzir um certo grau de conflituosidade. [...] O entrechoque de idéias, opiniões e comportamentos é uma das principais fontes de inspiração para a criatividade e a resolução de problemas de convivência.” (2007, pg.151)

O operador hologramático, “As partes estão no todo e o todo também está nas

partes.” Morin conceitua a relação entre o todo e as partes por meio de quatro princípios:

A) o da emergência, o todo é superior à soma das partes. Exemplo: A sabedoria de um

grupo é maior do que a soma das sabedorias de seus componentes. B) o princípio da

imposição, diz que o todo é inferior a soma de suas partes. Isso significa que as

qualidades das partes se diluem no sistema. O exemplo dado por Morin é o das vozes de

um coral. Por mais destacadas que sejam as qualidades da voz de um ou de vários de

seus participantes, eles precisam restringi-las ao que a totalidade do coral exige. Esse

fenômeno ocorre em toda relação organizacional. C) o princípio da complexidade dos

sistemas reconhece que os dois princípios anteriores são simultaneamente antagônicos e

complementares. Por isso, ele estabelece que o todo é ao mesmo tempo maior e menor

que a soma de suas partes, pois a relação entre estas e ele é circular e não linear. D) o

princípio da distinção mas, não separação entre o objeto e seu ambiente diz que o

conhecimento de qualquer organização física exige o conhecimento das interações dessa

organização com o seu meio ambiente.

A interação sujeito-objeto, nela “O observador faz parte daquilo que observa.” A

realidade é aquilo que percebemos objetiva e subjetivamente. È o que observamos e

também o que sentimos e pensamos em relação ao que observamos. O exemplo citado

por Mariotti nos ajuda a entender o conceito

“O fato de nos julgarmos separados daquilo que observamos, traz pelo menos duas consequências problemáticas: A) temos mais dificuldade de avaliar as repercursões do que dizemos ou fazemos ou, inversamente, do que não dizemos ou deixamos de fazer; B) temos mais dificuldade de responsabilizar-nos pelo que diz emos ou fazemos ou, inversamente, do que não dizemos ou deixamos de fazer. Ao dificultar a assunção de responsabilidades, a idéia de separação sujeito-objeto nos leva a buscar a causa de nossos problemas apenas em fatores externos, o que pode significar que no fundo não queremos ou não podemos resolver determinados problemas.” (2007, pg.160)

A ecologia da ação, “As ações frequentemente escapam ao controle de seus

autores e produzem efeitos inesperados e às vezes até opostos aos esperados”. Para

Morin apud Mariotti, “uma vez desencadeadas, nossas ações e idéias passam a fazer

parte da instabilidade, da incerteza, e da imprevisibilidade do ambiente natural e cultural”.

Mariotti completa dizendo: “o fato de uma ação ou idéia poder passar por tantas

modificações e desvios faz com que ela possa voltar-se contra o seu autor. Há muito a

sabedoria popular já havia detectado esse fato: “O feitiço virou contra o feiticeiro.” (2007,

P.161)

“... uma ação pode produzir sinergias; as sinergias produzem outras sinergias, e assim o número de variáveis se torna tão grande que leva a imprevisibilidade. Essa é uma das muitas manifestações da complexidade. Os efeitos retroagem sobre as causas e as modificam” (MARIOTTI, 2007, p.162)

Para Morin, a complexidade é o tecido dos acontecimentos, ações, interações,

retroações, determinações, acasos, que constituem nosso mundo fenomenal, se

apresenta com traços inquietantes da confusão, do inextricável, da desordem, da

ambigüidade da incerteza. “A proposta da complexidade é a abordagem transdisciplinar

dos fenômenos, e a mudança de paradigma, abandonando o reducionismo que tem

pautado a investigação científica em todos os campos, e dando lugar à criatividade e ao

caos.” (MORIN, 2006, p.13)

( informo que esta parte do projeto ainda esta sendo revisada pela orientadora da

Universidade Federal do Paraná e assim que estiver liberada será postada - obrigada)

2.2 CONHECIMENTO E LINGUAGEM

Os filósofos e biólogos chilenos, Francisco Varela e Humberto Maturana, criaram, a

partir do estudo das redes neurais, a Teoria de Santiago que define a cognição

(conhecimento) como sendo resultado do processo autopoiético. (capacidade dos

sistemas vivos de se autoproduzirem, autoregularem e.auto-organizarem) Para os

autores “a cognição é o próprio processo da vida”.

A cognição é parte integrante da maneira como um organismo vivo interage com seu meio ambiente. Ele não reage aos estímulos ambientais por meio de uma cadeia linear de causa e efeito, mas responde com mudanças estruturais em sua rede autopoiética não linear. [...] a interação cognitiva do organismo com seu meio ambiente é interação inteligente. [...] A gama de interações que um sistema pode ter com seu meio ambiente define seu “domínio cognitivo”. (CAPRA, 1996 p.211)

Para os autores o conhecimento não é uma forma de ver e compreender um

mundo posto, mas, é sim a criação ou construção deste mundo através das interações do

indivíduo com o meio ambiente, segundo sua estrutura bio-psico-social.

“O que é criado por um determinado organismo no processo de viver não é o mundo mais sim um mundo, um mundo que é sempre dependente da estrutura do organismo. [...] Além disso, nós, seres humanos, partilhamos um mundo abstrato de linguagem e de pensamento por meio do qual criamos junto nosso mundo [...] só podemos entender a consciência humana por meio da linguagem e de todo o contexto social na qual ela está encaixada [...] Esse mundo humano inclui fundamentalmente o nosso mundo interior de pensamentos abstratos, de conceitos, de símbolos, de representações mentais e de autopercepção. Ser humano é ser dotado de consciência reflexiva: Na medida que sabemos como sabemos, criamos a nós mesmos”. (CAPRA, 1996, p. 227)

Nos estudos sobre os Manuscritos de Vigotsky, Góes salienta que:

“A palavra tem o poder de regular e de conferir um caráter mediador na relação entre as pessoas. [...] a construção social do indivíduo é uma história de relações com os outros, através da linguagem, e de transformações do funcionamento psicológico construídas pelas interações face-a-face e por relações sociais mais amplas” (GÓES, 2000, p.118)

Nessa perspectiva citamos Bakhtin, para quem “a língua não é constituída por um

sistema abstrato de formas linguísticas [...] mas pelo fenômeno social da interação

verbal”, para o autor o ato da fala é de natureza social e está carregada de conteúdo

ideológico e as palavras “são tecidas a partir de uma multidão de fios ideológicos e

servem de trama a todas as relações sociais em todos os domínios”.

(BAKHTIN/VOLOCHINOV, apud PARANÁ, 2008 p.50)

2.3 APRENDIZAGEM POR PROJETOS

Pelo que estudamos até agora percebemos que a fragmentação do conhecimento

em disciplinas e especializações distância o ser humano da sua essência complexa. Para

Morin,

“O ser humano é a um só tempo físico, biológico, psíquico, cultural, social, histórico. Esta unidade complexa da natureza é totalmente desintegrada na educação por meio das disciplinas, tendo-se tornado impossível aprender o que significa humano. É preciso restaurá-la, de modo que cada um, onde quer que se encontre, tome conhecimento e consciência, ao mesmo tempo, de sua identidade complexa e de sua identidade comum a todos os outros humanos”. (MORIN, 2000, p.15)

Numa proposta de trabalho transdisciplinar, o que conta são as pessoas. Toda a

instituição escolar deveria estar voltada para o projeto de vida das pessoas, para a

construção da cidadania e para tanto é preciso ir além das disciplinas. Para Machado, “Na escola básica, nenhum conhecimento deveria justificar-se como um fim em si mesmo [...] a finalidade precípua da Educação é a construção da cidadania, entendida como a construção de uma articulação permanente e consistente entre projetos individuais e coletivos”. (MACHADO, 2009 p.43)

“É preciso repensar a própria concepção de conhecimento, incrementando-se a importância da imagem do mesmo como uma rede de significações [...] a construção dos significados constitui-se por meio do aproveitamento e da incorporação de relações vivenciadas e valorizadas no contexto em que se originam, na trama de relações em que a realidade é tecida”. (MACHADO, 2009, p.47)

Juntamos ao pensamento desses teóricos a proposta de Delors que estabelece os

quatro pilares para a educação contemporânea: aprender a ser, a viver juntos, a fazer e a

conhecer, reforçando a proposição de Morin, por uma educação que leve em

consideração a totalidade do ser humano.

Aprender a ser e a conviver envolvem as dimensões: pessoal e interpessoal. A

dimensão pessoal implica em conhecer e compreender a si mesmo, tomando consciência

da sua espiritualidade, dos sentimentos, das emoções, de seu contexto, etc... A dimensão

interpessoal implica as relações sociais, a convivência com o próximo, e para que estas

relações sejam no futuro, melhores do que as que vemos hoje se faz necessário superar

as atitudes de egoísmo consumismo, competitividade e superficialidade, aprendendo os

caminhos da humanidade, da solidariedade, da justiça e da participação.

Aprender a conhecer e a fazer, envolve o processo de cidadania, que precisa da,

“...interconexão de aprendizagens, na busca da formação do ser humano e do profissional, o que pressupõe educar para o trabalho no sentido de contemplar a visão global da pessoa como ser crítico diante das desigualdades e comprometido com a transformação social e econômica, para uma sociedade em que não só garanta o direito ao trabalho, porém na qual este se ache em função do desenvolvimento das pessoas, e não dos interesses do capital” (ZABALLA apud BEHRENS, 2006, p. 28)

Os processos de ensino e de aprendizagem devem estar voltados para a formação

na dimensão humana, profissional, emocional e social.

“As escolas precisam formar cidadãos para agir com responsabilidade social e intervir na comunidade com responsabilidade [...] Para tanto, os processos de ensino aprendizagem convergem para o preparo da comunidade acadêmica no sentido de refletir, analisar e buscar construir projetos pedagógicos críticos, reflexivos e transformadores que levem à formação do ser humano, com uma visão de mundo mais igualitária, solidária, justa e fraterna”. (BEHRENS, 2006, p.29)

A opção por uma aprendizagem por projeto leva em consideração o exposto acima

e ainda a necessidade de romper com a linearidade cartesiana, deixando um espaço de

liberdade e criação, para permitir as muitas conexões possíveis através da arte, neste

caso, do texto literário.

Viktor Frank apud Mariotti (2006, p.9), define liberdade “como o intervalo entre o

estímulo e a resposta, isto é, o espaço entre as questões que o mundo nos propõe e as

respostas que lhe damos”. Para Rollo May apud Mariotti, a liberdade é,

“...a possibilidade que uma pessoa tem de estabelecer uma pausa entre o estímulo e a resposta e depois orientar-se para uma atitude escolhida entre várias outras. É este intervalo, esse pequeno interstício, que convida as pessoas a serem livres”.(ROLLO apud MARIOTTI, 2002, p.10)

Buscamos esta compreensão porque sabemos das interações verbais possíveis

entre os educandos, nos trabalhos com os grupos e entre eles e a educadora no processo

de construção do conhecimento. Sobre apenas este aspecto do trabalho, o da

conversação, George Johson, enfatiza.

Quando lemos algo ou conversamos com alguém, essa experiência produz modificações físicas em nosso cérebro, que se manifesta pela formação de novos circuitos neurais e mobilizações de memória, que por sua vez levam a dinâmicas diferenciadas. Logo, a multiplicação destas conexões e sua organização em forma de rede constituem o ponto central de qualquer processo importante de transformação. (GEORGE JOHSON apud MARIOTTI, 2002, p.10)

Mariotti, (2006) fala sobre a importância da conversação “A conversação constitui

uma oportunidade para que as emoções de cada interlocutor se organizem”, que

comunga com as idéias de Maturana apud Mariotti, (2006).

“...a conversação promove o entrelaçamento do emocional com o racional. Daí a importância dos pequenos grupos. Os pequenos grupos representam a ampliação dos espaços de liberdade individual possibilitando a diversidade de opiniões [...], eles precisam ficar sempre abertos e permeáveis, pois, constituem um espaço de troca e enriquecimento”. (MATURANA apud MARIOTTI, 2006, p.11)

“Já sabemos, com Maturana, que a linguagem promove modificações estruturais porque coordena (organiza, sintetiza) o nosso comportamento e, ao relatá-los, contribui para que eles se modifiquem”. (MARIOTTI, 2006, p. 11)

Dentro da perspectiva transdisciplinar, o trabalho com projetos será delimitado por

um conjunto de previsões, que busca, apesar de tudo, predizer um futuro almejado, mas

terá como essência a abertura a flexibilidade e a possibilidade de contemplar múltiplas

visões. “A carga de ambigüidade pode abrir outras perspectivas como conviver com as

dualidades a serem superadas: sujeito/objeto, exterior/interior, forma/conteúdo,

individual/coletivo, entre outras”. (BEHRENS, 2006, p.35)

2.4TEXTO LITERÁRIO

O texto literário foi trabalhado durante anos, pela escola, de forma a privilegiar o

estudo da historiografia literária ou ainda procurando “moldar o educando a uma realidade

ideal encontrada nos clássicos da literatura”. (FREDERICO & WATANABE apud PARANÀ,

2008).

A escola não dá conta de formar um aluno leitor e em muitos casos essa ocorrência

advém do fato de termos poucos professores leitores. Os programas de leitura dos

Governos Nacional e Estadual, pouco modificam este panorama. Para Boberg

“...a precária formação de leitores é um problema nacional, de gravidade sem par na história do país, e de consequências inevitáveis para a educação, a cultura, a economia, o mercado e mais que tudo, à própria condição humana e ao desejável exercício desta humanidade”. (BOBERG, 2009, p.1)

Para Candido apud Boberg (2009, p.2), a literatura nos torna mais humanos, mais

compreensivos para a natureza, a sociedade, o semelhante.

“Primeiro, verifiquei que a literatura corresponde a uma necessidade universal que deve ser satisfeita sob pena de mutilar a personalidade, porque pelo fato de dar forma aos sentimentos e à visão do mundo ela nos organiza, nos liberta do caos e portanto nos humaniza. [...] Negar a fruição da literatura é mutilar a nossa humanidade. Em segundo lugar, a literatura pode ser um instrumento consciente de desmascaramento, pelo fato de focalizar as situações de restrição dos direitos, ou de negação deles, como a moséria, a servidão, a mutilação espiritual. Tanto num nível quanto no outro ela tem muito as ver com a luta pelos direitos humanos. (CANDIDO apud BOBERG, 2009, p.3)

Para Morin, a literatura seria superior a história e a sociologia pois contextualiza os

personagens e trata do singular e do concreto das individualidades.

“É o romance, no filme, no poema, que a existência revela sua miséria e sua grandeza trágica, com o risco de fracasso, de erro, de loucura. É na morte de nossos heróis que temos nossas primeiras experiências de morte. É pois,na literatura que o ensino sobre a condição humana pode adquirir forma vívida e ativa, para esclarecer cada um sobre sua própria vida”. (MORIN apud BOERG, 2009, p.3)

Para Mariotti,

“As imagens e os símbolos veiculados pela linguagem tendem a quebrar a linearidade do nosso pensamento. Nesse sentido, os mitos são indispensáveis à facilitação das conversações e, em conseqüência, à formação de consensos. A experiência mostra que ao compartilhar histórias, lendas e narrativas, as pessoas vêem abrandando o seu ânimo competitivo e litigante”. (MARIOTTI, 2002, p.2)

Para Boerg, dado o texto literário, poesia, conto, a partir da realidade que os alunos

conhecem, o professor deve estimulá-los a tecer comentários, falar sobre suas

percepções estabelecendo vínculos com o texto. “Eles percebem que suas ponderações

são valorizadas e discutidas em conjunto, donde resultam outras considerações mais

enriquecidas”. (BOERG, 2009, p.7)

“Cada um desses “fios” puxados em direção à experiência de leitura da classe, à semelhança dos links que conduzem a mergulhos paralelos ao (hiper)texto inicial, promove incursões do leitor pelo mundo da cultura e do conhecimento, permitindo associações de saberes, entrecruzamento de informações, e novas reflexões sobre tudo isso, mesmo que de forma aparentemente anárquica, garantindo assim a ampliação do horizonte de expectativas”. (BOERG, 2009, p.7)

Desta forma o texto literário pode ser visto como uma grande raiz (rizoma), ou rede,

ou ainda como um hipertexto

“cada nova ligação promovida por um insight pode provocar iterconexões imediatas, à semelhança da dinâmica das sinapses cerebrais [...] pode desencadear novas e surpreendentes sequências de aprendizagens, mas que permanecem conectadas entre si, como uma grande rede de significados” (BOERG, 2009, p.7)

Deleuze apud Cunha & Alano (2007) nos diz: “indivíduos e grupos todos somos

feitos de linhas, e tais linhas são de natureza bem diversa”, a diversidade das linhas se dá

pela formação individual de cada educando, e leva em consideração suas experiências

pessoais e o contexto socio-político-cultural em que está inserido. O entrelaçamento

destas linhas diversas compõe o rizoma que se transforma em um emaranhado

complexo,

“tais linhas congregam forças plurais e não unívocas e através delas pode-se aferir um contorno mínimo da forma mutante dessa estrutura. [...] A linha dos movimentos autônomos não abandona as outras, mas as toma pelo meio e esta no meio delas e pode, no seu movimento, gerar algo individual ou grupal como subproduto do coletivo [...] mostra que o conhecimento imerso pode, no recorte do real, virar outra coisa, um desconhecimento que precisa aclarar”. (CUNHA & Alano, 2007, p.5 e 7)

Para a SEED,

“o desenvolvimento da capacidade criativa dos alunos, inerente à dimensão artística, tem uma direta relação com a produção de conhecimento nas diversas disciplinas [...] a dimensão artística pode contribuir significativamente para a humanização dos sentidos, ou seja, para a superação da condição de alienação e repressão à qual os sentidos humanos foram submetidos. (PARANÁ, 2008, p.23)

Retomamos os objetivos desta produção de material didático que tem como base

teórica a complexidade, a transdisciplinaridade, apresentadas exaustivamente no decorrer

desta revisão de literatura, para então justificarmos o trabalho de aprendizagem por

projetos, para que a partir de uma metodologia significativa possamos sensibilizar os

alunos jovens, adultos ou idosos, que por motivos muitos, voltaram para os bancos

escolares, a leitura literária, na perspectiva que a partir dela eles possam realmente

(re)significar suas próprias vidas.

3. MATERIAL DIDÁTICO 3.1 TÉCNICA “TEIA DA VIDA”

Consiste numa técnica de apresentação onde os integrantes do grupo (os

educandos) se posicionam em forma circular (formando uma roda). O mediador, em

posse de um novelo de barbante, dá as seguintes orientações: o novelo será jogado a um

dos componentes do grupo e fazendo isto a pessoa que detiver o novelo diz para o grupo

o seu nome, sua idade, seu estado civil, se tem filhos ou não, podendo ainda ser

acrescentado pelo grupo mais uma ou duas informações que acreditem necessárias ou

interessantes. Quando todos tiverem se apresentado, no centro do circulo, se formará

uma grande teia, com diversos pontos de conexão. O mediador então poderá agradecer o

grupo pelo trabalho executado até o momento e passará a fazer relação entre as

conexões da teia e as redes de relacionamento que se formam entre as pessoas durante

a trajetória de suas vidas; pode ainda aprofundar o tema relacionando a teia, às diversas

interrelações existentes entre o ser humano e o mundo que o cerca, fazendo com que os

integrantes do grupo se percebam como seres cósmicos, habitantes deste planeta, com o

qual devem manter uma relação de responsabilidade buscando uma convivência

harmônica com seus semelhantes e com o ecossistema. Pode ainda o mediador explicitar

como se dá o conhecimento, com base na explicação sobre as redes neurais. Como

sugestão o grupo pode encontrar um espaço e um meio de deixar a teia esticada no

ambiente em que o projeto for desenvolvido ou então no saguão do colégio para que

possam estar relembrando o que foi apreendido e ou explicando aos colegas de outras

turmas como se construiu e do que se constitui, ou ainda o que simboliza esta teia.

A dinâmica original é também de apresentação e denomina-se “Apresentação na

Linha”. É apresentada por Marcellino no livro Repertório de Atividades de Recreação e

Lazer, p. 28, Editora PAPIRUS.,

3.2 TÉCNICA DO “TRIÂNGULO EQUILÁTERO”

Nesta técnica se objetiva que os participantes compreendam a importância

de seus movimentos (ações) no contexto familiar, social, escolar, profissional, com os

ecosistemas etc. Podemos tomar como base teoria da ecologia da ação; “As ações

frequentemente escapam ao controle de seus autores e produzem efeitos inesperados e

às vezes até opostos aos esperados”. Para Morin apud Mariotti, “uma vez

desencadeadas, nossas ações e idéias estas passam a fazer parte da instabilidade, da

incerteza, e da imprevisibilidade do ambiente natural e cultural”. Mariotti completa

dizendo: “o fato de uma ação ou idéia poder passar por tantas modificações e desvios faz

com que ela possa voltar-se contra o seu autor. Há muito a sabedoria popular já havia

detectado esse fato: “O feitiço virou contra o feiticeiro.” (MARIOTTI, 2007, pg.161)

Nesta técnica, o mediador solicita que o grupo, disperso em um espaço

amplo, escolha entre os pares, em segredo, duas pessoas com as quais tentará formar,

no âmbito espacial, um triângulo equilátero (todos os lados iguais). Na busca incessante

de cada um buscar a forma perfeita, secretamente, ocorrerá que todos passarão a se

mover, no início mais rapidamente e com o tempo mais lentamente, até que todos

percebam que não existe uma forma de o exercício acabar pois, o movimento de um

levará ao movimento do grupo todo na intenção de ajustar os lados do triângulo.

Poderíamos relacionar o exercício com o já conhecido “Efeito Borboleta”: “o bater de asas

de uma borboleta que, hoje, agita o ar em Pequim pode causar, daqui a um mês, uma

tempestade em Nova York” CAPRA (1996, p. 115); ainda com a música do Lulu Santos

“Tudo Muda o Tempo Todo no Mundo”, ou ainda mostrar que até o não movimento tem

influência no ciclo da vida. (autor desconhecido)

3.3 TÉCNICA “O LIVRO DA VIDA”

O objetivo desta técnica é fazer o resgate da história de vida dos

participantes, possibilitando algumas compreensões, entre elas a de poderem se perceber

como personagens principais de suas histórias, analisando e compartilhando com o grupo

as experiências mais significativas, percebendo que embora as histórias sejam diferentes

tem pontos em comum entre si e entre os diversos personagens, reais ou fictícios, criados

por escritores, roteiristas de filmes, escritores de novelas. Etc...

De acordo com o dicionário dos símbolos o número sete tem múltiplos

significados, dependendo da convicção religiosa ou filosófica assume significados mais

complexos. Sete são os dias da semana, as cores do arco-íris, os pecados capitais, as

maravilhas do mundo, os ciclos lunares. Para os egípcios era símbolo de vida eterna.

Simboliza também, um ciclo completo, uma perfeição dinâmica, indica o sentido de uma

mudança depois de um ciclo concluído e de uma renovação positiva, a totalidade do

espaço e a totalidade do tempo, a totalidade do universo em movimento, entre outros.

(CHEVALIER, 2006, p.826,827)

Para Rudolf Steiner, idealizador da pedagogia Waldorf, a vida humana não decore

de forma linear, mas em ciclos de aproximadamente sete anos. Em cada um destes

ciclos, um membro da entidade humana se desenvolve de maneira mais pronunciada.

Segundo o autor, no primeiro setênio acontece o processo de amadurecimento físico e

termina por volta dos sete anos com a expulsão dos dentes de leite. No segundo ciclo há

o amadurecimento da personalidade; o pensar e o sentir dirigem-se, sempre permeados

de sentimentos, para o mundo; a memória se desenvolve e permite a assimilação de uma

quantidade fabulosa de conhecimentos. Durante o terceiro setênio, o indivíduo mais

interiorizado e retraído, entra em choque com o mundo exterior e nada escapa ao seu

espírito critico e ao seu raciocínio até chegar à maturidade intelectual e moral ao redor

dos vinte e um anos. (LANZ, 1998, p.38,39)

As considerações acima não fazem parte da dinâmica diretamente, mas,

servem de embasamento para o encaminhamento da mesma. Pede-se ao grupo que se

posicione em forma de círculo, faz-se uma breve explanação sobre a simbologia do

número sete, solicita-se que cada um divida por sete a sua idade, entrega-se uma

cartolina para cada participante, coloca-se a disposição de todos: lápis de cor, giz de cera,

canetas hidrográficas de diversas cores e pede-se que dividam a cartolina pelo número

resultante da divisão anterior (exemplo: se a pessoa tem 21 anos, divididos por sete,

resultado 3, divide-se a cartolina em três partes, se a divisão não for exata pede-se que

seja dividida pelo resultado inteiro ou ainda que se considere o setênio que já teve início.

Se o participante tiver 27 anos divide a cartolina em 4, três setênios completos e outra

divisão para compreender os 6 anos do setênio incompleto.)

Feita a divisão pede-se silêncio e encaminha-se para que cada um busque

em sua memória (subconsciente) lembranças destes períodos e que façam a

representação dos mesmos em formas de desenhos ou símbolos, nas respectivas

divisões já feitas na cartolina.

Depois deste trabalho concluído pede-se que se formem grupos menores e

que as histórias de vida sejam relatadas de forma sucinta a fim de que cada um possa

contar sua história. Com a aceitação de todos pode-se levar ao conhecimento do grande

grupo as histórias relatadas ou não.

Para concluirmos esta atividade dizemos ao grupo que podemos programar

nosso futuro e assim aqueles que estão iniciando um setênio podem, no verso da

cartolina, fazer o desenho daquilo que desejam realizar nos próximos sete anos. Para

aqueles que estão na metade de um setênio pode-se pedir que programem o final deste

setênio e também façam o desenho no verso da folha. Pode-se terminar esta técnica com

um exercício de relaxamento, se assim o condutor se sentir preparado.

Os textos orais podem ser redigidos e colocados em exposição se assim for

decidido pelo do grupo, podendo ainda ser criado um blog que pode ser construído e

monitorado pelo grupo.

A técnica foi criada por Alda Maria Colombo Braga, e é utilizada em

vivenciais de Programação Neuro Lingüística.

3.4 APRESENTAÇÃO DE UM CONTO.

Selecionamos para esta etapa a apresentação do conto de Marina

Colassanti intitulado “A Moça Tecelã”. Iniciamos com a apresentação da autora trazendo

alguns fatos sobre seu trabalho como jornalista, depois sobre sua obra e em seguida

passamos à leitura do conto, para em seguida proceder a análise, socializando os

comentários entre o grupo, traçamos elos que ligam o conto a nossa realidade, podendo

ainda retomar a última técnica apresentada aproximando o “programar” ao “tecer” nossas

próprias vidas.

http://www.releituras.com/mcolasanti_menu.asp.com.br

3.5 TRABALHO COM OS CONTOS

Apresentação aos educandos dos contos selecionados entre eles: Aquário Negro,

Tango e Promessa de Campanha, do livro de contos “Aquário Negro”, escrito pelo Frei

Beto, publicado pela editora AGIR, 2009; A Cartomante

http://www.releituras.com/machadodeassis_cartomante.asp.com.br e Apólogo ,

http://www.releituras.com/machadodeassis_apologo.asp.com.br de Machado de Assis,

Felicidade Clandestina e Uma Amizade Sincera, de Clarice Lispector, publicados no livro

Felicidade Clandestina, pela editora Rocco em 1971; Almofadinha de Ouro, de Lourença

Maria da Conceição. São José de Mipibu, Rio Grande do Norte e O príncipe Lagartão de

Francisco Ildefonso. Natal. R. Grande do Norte que se encontram no livro Contos

Tradicionais do Brasil, reunidos por Luís da Câmara Cascudo, editora Global 12ª edição

em 2003.

Esta proposta de trabalho tem como objetivo incentivar a leitura do texto literário,

proporcionando oportunidade de uma análise crítica da realidade, de interação, da

percepção dos diversos olhares e da possibilidade das várias leituras possíveis na obra

literária.

Pesquisa sobre a história de vida do autor e sua obra;

Divisão da turma em grupos;

Apresentação dos contos aos grupos;

Leitura dos contos;

Seleção do conto a ser trabalhado pelo grupo;

O estudo dos contos abordará: enredo, gênero, personagens perfil

psicológico, tempo, espaço, momento histórico-político-social, associações

entre o texto e o contexto real ou ficcional dos alunos; (pesquisa)

Reescrita do conto a partir dos novos conhecimentos;

Utilização do conto original ou do conto reescrito para manifestação artística

a ser definida pelos grupos de trabalho; filme, peça de teatro, contação de

história, desenho de painéis, paródia, poesia, entre outras formas de

expressão que forem sugeridas;

Apresentação para a comunidade escolar;

As aulas serão na medida do possível, fotografadas e ou filmadas para

posterior organização do material.

REFERÊNCIAS

ALANO, Elsi do Rocio Cardoso; CUNHA, Claudia Madruga; HAMERMULLER, Douglas Ortiz. Versão Interiorizada e Gestão Democrática do Ensino Superior: O Desafio de Novas Perspectivas. VII Colóquio Internacional Sobre Gestion Universitária Em América Del Sul. Dezembro de 2007. ALMEIDA, M.C.X. Educação Como Aprendizagem de Vida. UFPR, 2008. BETTO, Frei. Aquário Negro – Contos. Rio de Janeiro: Agir, 2009. CAPRA, Fritjof. A teia da Vida. São Paulo: Cultrix, 1996. CASCUDO, Luis da Câmara. Contos Tradicionais do Brasil. 12ª ed. São Paulo: Global, 2003. CHEVALIER, Jean; GHEERBRANT Alain. Dicionário dos Símbolos. 20ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio,2006 GÓES, Maria Cecília Rafael de. A Formação do Indivíduo nas Relações Sociais, Contribuições teóricas de Lev Vigotsky e Pierre Janet. Educ. Soc., Jul 2000, vl.21 LANZ, Rudolf. A Pedagogia Waldorf – Caminho para um ensino mais humano. 6ª ed. SãoPaulo: Antroposófica, 1998. LISPECTOR, Clarice. Felicidade Clandestina. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. MARCELLINO, Nelson Carvalho. Repertório de Atividades de Recreação e Lazer. 4ª ed. Campinas, SP: Papirus, 2007. MARIOTTI, Humberto. Pensamento Complexo. Atlas, 2007. MARTINS, Jarbas Rafael Buzaneli. A Dinâmica Transdisciplinar e Rizomática e a Fuição da Leitura Literária. Universidade Estadual do Norte do Paraná – Campus Jacarezinho – Comunicação MORIN, Edgar. Introdução ao Pensamento Complexo. Sulina, 2006. MORIN, Edgar. Os Sete Saberes necessários à Educação do Futuro. Cortez, 2000. NEVES, Saraiva Neves. SILVA, Flavio Mesquita. Abordagem Transdisciplinar e Cultura de Desing na Construção de uma Educação Amorosa e Solidária. WWW.cetrans.com.br./artigos/edison_saraiva_Neveseflavio_mesquita_da_silva.pdf, acesso em 10 jan. 2010. PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares da Educação Básica – Língua Portuguesa. Curitiba, 2008. SANTOS, Akiko. O que é Transdisciplinaridade. Universidade Rural Federal do Rio de Janeiro, 2005. Periódico Rural Semanal na semana de 22/28.

YUNES, Eliana (org.) Pensar a leitura: complexidade. Rio de Janeiro. Loyola, 2002.

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