da escola pÚblica paranaense 2009 - … · um quadro com três colunas e relacione os interesses...
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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Produção Didático-Pedagógica
Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE
VOLU
ME I
I
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ - FACULDADE
ESTADUAL DE CIÊNCIAS E LETRAS DE CAMPO MOURÃO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL
PROJETO FOLHAS
UBIRATÃ: NOVOS OLHARES, OUTRAS HISTÓRIAS
HISTÓRIA
Núcleo Regional de Educação: Goioerê Colégio Estadual Carlos Gomes Ensino Fundamental - 8ª Séries
Município de Ubiratã
AUTOR: Zilda da Cruz Galindo 1
ORIENTADOR: Frank Antonio Mezzomo 2
1 Professora de História do Colégio Estadual Carlos Gomes – Ensino Fundamental, Médio e Profissionalizante, Núcleo Regional de Goioerê – PR. Integrante do Programa de Desenvolvimento Educacional. 2 Professor do Departamento de Ciências Sociais da Faculdade Estadual de Ciências e Letra de Campo Mourão (FECILCAM).
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Professor PDE: Zilda da Cruz Galindo Área PDE: História NRE: Goioerê Professor Orientador IES: Frank Antonio Mezzomo/FECILCAM IES vinculada: Universidade Estadual de Maringá – UEM Escola de Implementação: Colégio Estadual Carlos Gomes Município de Ubiratã Público objeto da intervenção: Alunos da 8ª Série do Ensino Fundamental Tema de Estudo: Indagando os conhecimentos históricos a partir da história local.
PROJETO FOLHAS
Conteúdo estruturante: Relações de Trabalho, Cultura e Poder.
Conteúdo específico: A colonização de Ubiratã e suas diversidades.
Título: Ubiratã: novos olhares, outras histórias
Relação interdisciplinar 1: Geografia
Relação interdisciplinar 2: Língua Portuguesa
“Todos os lugares possuem uma história. No campo ou na cidade, a
dinâmica da sociedade promove mudanças no espaço, e xpressadas
numa paisagem que é socialmente produzida e marcada pela cultura”.
Marcelo Panis
Você conhece a história da
colonização de Ubiratã? E a
história da formação de suas
comunidades?
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HÁ MAIS DE 100 ANOS ELES VIERAM DOHÁ MAIS DE 100 ANOS ELES VIERAM DOHÁ MAIS DE 100 ANOS ELES VIERAM DOHÁ MAIS DE 100 ANOS ELES VIERAM DO OUTRO LADO DO MUNDO OUTRO LADO DO MUNDO OUTRO LADO DO MUNDO OUTRO LADO DO MUNDO
Figura 1- Kasatu Maru:
Autora: Tatyane Y. Fukuro
Talvez você já tenha ouvido falar que a imigração no Brasil começa a
partir de 1880, e que na manhã de 18 de junho de 1908, o navio Kasato-Maru
completou sua viagem de 51 dias e vinte mil quilômetros do Japão até o porto
de Santos, trazendo às costas brasileiras os primeiros 781 integrantes do que
viria a ser a maior colônia japonesa fora do Japão (LESSER, 2001, p. 59).
Esta data seria a data oficial da chegada dos primeiros imigrantes
japoneses ao Brasil. No entanto, o historiador Richard Gonçalves André,
chama a atenção para uma data bem anterior a esta. Segundo ele, as
representações em torno dos japoneses no Brasil estavam sendo construídas
desde, pelo menos, 1878, (por isso, sua periodização abrange 1878 – 1908).
Disponível em: www.historiaehistoria.com.br
A maior parte destes imigrantes veio trabalhar nas fazendas de café em
busca de enriquecimento rápido. Tal imaginário construído por todos os
imigrantes, dessa maneira, “as canções compostas durante a viagem tinham
como tema o regresso, e a propaganda veiculada pelas empresas de imigração
japonesa levava muitos a acreditarem que o Brasil era tão rico, que em cinco
anos eles voltariam para casa em boa situação financeira” (LESSER, 2001, p.
159).
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Os fazendeiros brasileiros precisavam substituir a mão-de-obra escrava
que, oficialmente, recebeu alforria em 13 de maio de 1888. Neste contexto, os
japoneses chegam ao Brasil. Muitos não se adaptaram e foram para as
cidades, outros procuraram seu próprio pedaço de chão e aos poucos foram se
espalhando por todo o Brasil, chegando ao Norte do Paraná.
Segundo Regina Célia Alegro (2008, p. 224), o processo de (re)
ocupação das terras do Norte do Estado do Paraná foi acelerado nos governos
de Getúlio Vargas e de Juscelino Kubtschek. Nesse período, o discurso “Norte
do Paraná” estruturou-se e ganhou força, associando o café às narrativas de
progresso e riqueza. A (re) ocupação rápida trouxe riqueza e prosperidade para
alguns, mas também a saturação do mercado, queda nos preços no mercado
internacional e a pobreza de muitos.
Em pouco tempo, os japoneses espalharam-se por diversos municípios,
dentre os quais se destacam Assaí, Londrina, Cambé, Rolândia e Apucarana.
Sabemos que fazer de um sonho uma realidade não é tão simples assim
e aos poucos foram descobrindo no país estrangeiro, o seu próprio país.
Alguns anos mais tarde os japoneses, chegaram a Ubiratã, apresentada a eles
como “[...] um Eldorado, onde não há minas de ouro, mas onde se faz ouro de
tudo” (ALEGRO, 2008, p. 5)
PARA SABER MAIS
Os descendentes de japoneses chamam-se nikkei, sendo os filhos nissei, os
netos sansei, os bisnetos yonsei e assim por diante. Os nipo-brasileiros que
foram ao Japão trabalhar a partir do fim dos anos 80 são denominados
dekassegui.
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MUITO GAMBARÊ
Figura 2- O trabalho nas fazendas de café
Autora: Tatyane Y. Fukuro
Deixar para trás o próprio país não deve ser fácil em termos de
emoções. A saudade de parentes e amigos que ficaram e da própria vida no
lugar costuma, vez ou outra, apertar o coração. Mas chegar a uma terra nova é
também uma oportunidade de se abrir ao novo e ter muitas surpresas. É difícil,
mas será que dá para imaginar o que os japoneses sentiram ao trocar seu
pequeno país por um território tão grande como o brasileiro? No mínimo,
acharam tudo muito diferente. Até porque, no início da imigração, os japoneses
foram morar em fazendas muito afastadas, onde quase não havia estradas, e
em lugares em que a luz elétrica ainda não existia.
Adaptar-se a essa nova maneira de viver foi difícil com toda certeza,
assim como foi também um grande problema para os japoneses aprenderem a
se comunicar em português, uma língua da qual não tinham a menor noção. E
ainda havia os desafios do trabalho. Demartini, afirma que os japoneses têm
um lema, “sem esforço nada se consegue” – uma crença que em língua
japonesa se chama gambarê. Por tudo que passavam – e também pela
saudade da terra natal - muitos japoneses que vieram antes da Segunda
Guerra Mundial (1939 – 1945) sonhavam em poder voltar para seu país um dia.
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Queriam, acima de tudo, que sua cultura não se perdesse e que seus filhos
aprendessem a língua japonesa e, também, a história de seu povo
(DEMARTINI, 2008, apud, Ciência Hoje)
A TERRA DA PROMISSÃOA TERRA DA PROMISSÃOA TERRA DA PROMISSÃOA TERRA DA PROMISSÃO
Figura 2- produção cafeeira
Fonte: Sérgio Castanheira Martins 26/06/2010
Em 1954 a Sociedade Imobiliária Noroeste do Paraná, mais tarde
conhecida por SINOP, adquiriu do governo do Estado do Paraná cerca de 350
mil hectares de terras. Segundo Sperança (2008, p. 53), era uma aquisição
legal e legítima. No entanto, nesta região viviam alguns remanescentes
indígenas e os posseiros que já haviam chegado aqui há algum tempo. E aí, o
que fazer com eles? Segundo o relato de uma antiga moradora, sua família
tivera como peões alguns índios, mas, por pouco tempo, pois segundo ela o
serviço era ruim e eles não gostavam de trabalhar. Como podemos entender a
suposta reação dos índios ao trabalho do homem branco? E o que é ser
posseiro?
De acordo com o senhor Vilder Bordin, ex funcionário da colonizadora
Sinop, para “tirar” os posseiros, a colonizadora precisou recorrer aos “homens-
segurança”, os chamados jagunços para fazer a proteção do local. Para você o
que é proteger?
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“Limpando a área”, é hora de chamar a atenção para o “tesouro secreto”
(SPERANÇA, 2008, p. 28). Um folheto de propaganda que circulava pela
região Norte e Noroeste do Paraná foi adaptado pela colonizadora SINOP com
vários dizeres, entre eles um falava assim: “A SINOP é uma companhia de
confiança, seus títulos são os mais sólidos que possam desejar. A última
palavra quem deve dizer é a Lei!” (jornal de propaganda da SINOP sem data).
Desta forma percebe-se que a colonizadora, com o interesse de vender
o maior número de lotes de terras possível para colonizar a região e, com isso
poder aumentar seus lucros, usava estratégias bem relevantes. Segundo o
relato do senhor Vilder Bordin (12/12/2009), para incentivar as compras, a
colonizadora doava uma data na cidade para quem adquirisse mais de 10
alqueires de terra, mas, precisava construir no prazo de três meses. Assim a
cidade foi crescendo. Essa política não era estranha ao governo do Estado do
Paraná como podemos conferir na citação a seguir: “Atrair imigrantes, localizá-
los de acordo com suas melhores possibilidades de adaptação, dar-lhes
oportunidade de trabalhar terras férteis e promissoras – esse é, certamente, um
programa de trabalho que consulta e respeita os mais altos interesses públicos”
(MEZZOMO, 2002, p. 36).
Assim, para atrair os compradores, a colonizadora custeava o transporte
que saía sempre de Maringá. Sabendo que nas proximidades do município de
Mamborê as terras não eram tão boas para a cultura do café e com um longo
trecho de vegetação de taquara, logo providenciaram para que os compradores
japoneses não percebessem esta imperfeição, principalmente quando chovia,
pois se formavam grandes poças de lama nesta região. Assim, quando estava
chovendo a viagem era de avião, quando estava de sol saíam de Maringá num
horário planejado para passarem naquele local no período da noite, não
correndo o risco de perder o negócio. Outra estratégia usada pela companhia
para convencer os compradores de que estas terras se tratavam de um
paraíso, foi a divisão das terras em pequenos lotes em forma retangular onde a
estrada principal ficava na parte de cima (cabeceira do lote) e a água ficava
nos fundos de modo que todos os lotes tinham água. No folheto de propagadas
espalhou-se a seguinte notícia:
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Atraídos pelo destaque da fertilidade das terras, títulos de domínios
seguros e a existência de muita água, os compradores foram chegando e aos
poucos o município foi se desenvolvendo. Surgiram várias comunidades e,
dentre elas, uma chama bastante atenção por sua peculiaridade: a colônia
Santo Inácio, situada a 7 km da cidade de Ubiratã. Quer saber mais sobre este
lugar? Siga em frente e descubra.
Figura 3- Bira, mascote do município de Ubiratã
Autor: Jair R. Santos
VAMOS PESQUISAR
Em dupla, faça uma pesquisa e descubra o que é:
1) Uma aquisição legítima?
2) O que é e para que serve um jagunço?
3) O que são posseiros, grileiros e terras devolutas?
4) Em grupo, discuta com seus colegas, depois faça
um quadro com três colunas e relacione os
interesses da colonizadora, dos japoneses e da
Igreja Católica no município de Ubiratã.
Tudo é terra especial, com água em todos os lotes e madeira de lei que são
dinheiro no bolso. O melhor jeito de saber quanto se pode ganhar na Gleba Rio
Verde é ir ver as terras e conhecer a cidade de Ubiratã. Damos condução,
conforme o caso. Resolva, enquanto é tempo! (jornal de propagandas da SINOP)
Chega de moleza. Vamos lá pessoal!
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OSOSOSOS JAPONESES CHEGARAM ASSIM... JAPONESES CHEGARAM ASSIM... JAPONESES CHEGARAM ASSIM... JAPONESES CHEGARAM ASSIM...
Figura 4- A chegada dos japoneses na colônia Santo Inácio
Fonte: Acervo da biblioteca municipal de Ubiratã
Em Ubiratã os japoneses chegaram em 1956. Segundo relatos de
moradores, a proposta da companhia era vender para os japoneses 3.000
alqueires de terra na Gleba Rio Verde. Com a promessa da colonizadora na
questão religiosa e com grande propaganda da qualidade da terra, os
japoneses vieram a Ubiratã várias vezes para sondagem do solo. Segundo
Sperança, os japoneses recolhiam terra, folhas, cascas de madeira, humos e
tudo que lhes chamavam a atenção para analisar se a terra era mesmo aquilo
que a companhia oferecia. Só depois de verificar vários lugares, decidiram a
compra naquela região. O encantamento pelas terras brasileiras vem desde
muito tempo atrás. Kenichi Nakagawa, que veio para o Brasil da província de
Hyogo, em 1926 aos 24 anos de idade, recorda-se de histórias “maravilhosas”
sobre batatas doces “tão grandes que podiam alimentar crianças por um dia
inteiro” (LESSER, 2001, p.173).
De acordo com os entrevistados, em Arapongas, a colônia Esperança
era bem desenvolvida. Viviam da produção do café, embora as propriedades
fossem bem pequenas. Outros ainda trabalhavam como arrendatários. Quando
souberam que se estava abrindo uma nova região com terras boas e, acima de
tudo, terras baratas, sentiram que era o momento de ampliar sua economia. E
para quem não era proprietário, chegara a hora de ter seu próprio pedacinho
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de chão. O senhor Kiyochi Inácio Makiyama (20/02/2010), um dos primeiros
moradores da colônia Santo Inácio, ao falar dos primeiros anos aqui na nova
terra, ressaltou: “era tudo mato, mas, sinto saudades daquele tempo. Éramos
muito unidos. Quando chegava uma nova família na região, fazíamos mutirão
aos sábados e domingos para construir sua casa. Ficava pronta em pouco
tempo. A união também era grande nas festas, no esporte. Tudo era motivo
para nos reunirmos”. Sendo assim, a colonizadora fazia uso deste processo
para disseminar para os compradores a seguinte propaganda:
Os japoneses vieram para Ubiratã com a intenção de desenvolver aqui o
plantio do café, mas em poucos anos descobriram que os invernos rigorosos e
com muitas geadas, era impossível um desenvolvimento econômico, aliado às
dificuldades de adaptação devido às precárias condições. Muitos voltaram para
Arapongas, outros foram para o Estado de São Paulo. Só ficou aqui em
Ubiratã, quem não tinha recursos para ir embora, conforme relato do senhor
Kiyochi.
Com a desilusão do café ainda nos três primeiros anos de colonização,
partiram para o cultivo da hortelã entre os anos de 1960 a 1970. Uma cultura
rasteira de cheiro forte que se adapta facilmente ao solo novo. A hortelã era
usada na época para usos industriais e farmacêuticos da menta. Diz Omori
que “O processo para extrair o óleo é arrancar as folhagens antes do
florescimento. Faz feixes, joga na pipa e faz a destilação em alambique, como
se fosse pinga, usando serpentinas, e o que sai na bica é apurado,
transformando em menta” (Omori, apud. Sperança, 2008, p. 101).
O ciclo da hortelã passou rápido e com sua decadência ainda na década
de 1960, passaram a cultivar a lavoura branca (feijão, arroz e o milho),
paralelamente com as culturas em extinção, entre o ano de 1970 a 2005
tivemos um período de destaque na cultura algodoeira, mas o que veio para
A 2ª COLÔNIA ESPERANÇA é em Rio verde. Centenas de membros da famosa colônia japonesa do Paraná estão instalados na Gleba Rio Verde, com os mesmos programas que a fez conhecida em todo o Brasil. (Jornal de propagandas da SINOP s/d)
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ficar a partir de 1970, foi plantio do trigo da soja e do milho safrinha (COAGRU,
pesquisa para a Expobira de 2010). Observando o processo de
desenvolvimento da agricultura do município de Ubiratã, podemos perceber
que não fugiu as regras da expansão do Norte e Nordeste paranaense. Assim
podemos compará-la a afirmação de Tomazi quando diz que “com a política de
diversificação da agricultura e o incentivo para a utilização de implementos e
insumos agrícolas de base industrial (máquinas, adubos e sementes),
expandia-se significamente, o processo de industrialização da agricultura”
(TOMAZI, 1997, P. 234)
COLÔNIA SANTOCOLÔNIA SANTOCOLÔNIA SANTOCOLÔNIA SANTO INÁCIO: Um pouquinho de históriaINÁCIO: Um pouquinho de históriaINÁCIO: Um pouquinho de históriaINÁCIO: Um pouquinho de história
Você sabe o porquê do nome Santo Inácio? Sabe se antes deste, teve
outro nome? Pois bem, esta comunidade japonesa está localizada a sete
quilômetros da cidade de Ubiratã, cujos fundadores foram os japoneses que
viviam na região Norte do Paraná. Em Ubiratã, chegaram em 1956. Muitos
deles tiveram seus pais vindos direto do Japão, chegando primeiro no Estado
de São Paulo, alguns anos mais tarde mudaram-se para cidades do norte
paranaense, entre elas, Rolândia, onde se concentrava na época a maior
colônia de japoneses do Estado do Paraná. Em seguida para o município de
Arapongas, onde fundaram uma colônia chamada colônia Esperança.
De acordo com o senhor Toshihisa Makino (14/12/2009), na colônia
Esperança em Arapongas viviam colonos japoneses que eram médios e
pequenos proprietários de terras. Outros trabalhavam como arrendatários para
parentes e amigos. Ao tomar conhecimento do surgimento de uma nova
colonização no interior do Estado do Paraná e que era uma região de terras
E você já imaginou morar num lugar assim? Vivendo
praticamente dentro de uma floresta, ouvindo barulho de
animais ferozes, convivendo com muita chuva, lama e
uma temperatura baixíssima?
Ufa!
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férteis, tiveram então o interesse de conhecê-las. O que teria causado tanto
interesse? O que fez este povo trocar uma região já bem desenvolvida pela
Gleba Rio Verde (primeiro nome dado de Ubiratã) situada no meio de um
sertão?
Ao chegarem aqui os Japoneses:
Segundo a pedagoga Maria Aparecida dos Santos Araújo, os imigrantes
japoneses haviam recebido a promessa da colonizadora SINOP de lhes
destinarem um padre que pudesse prestar atendimento em língua nipônica.
Para isso, a colonizadora e os jesuítas em esforço conjunto trouxeram o jesuíta
Sebaldo Bruxel, que estava em missão na ilha asiática. Assim cumpriu-se o
compromisso assumido pela empresa. Você sabe o que é ser um jesuíta?
Quando e como surgiu essa ordem religiosa? Por qual motivo?
(...) (foram acolhidos como irmãos, democracia racial), trabalhando duro na terra, ascendido socialmente, migrado para as cidades e incorporados totalmente à sociedade brasileira. Sua trajetória assemelhar-se-ia à do pioneiro (palavra que deriva do pionner norte americano do far west) ou do bandeirante, outra figura cara ao imaginário nacional, que teria aberto caminho em meio ao sertão inculto ANDRÉ, (2009). Disponível em: www.historiaehistoria.com.br/materia.cfm?tb=alunos&ID=222
AGORA É COM VOCÊ
1-Em dupla faça uma pesquisa com japoneses, antigos moradores da
colônia Santo Inácio, a fim de saber:
a) como os japoneses fizeram a aquisição de suas terras em Ubiratã?
E os jesuítas?
b) o que a Igreja Católica e um padre que falava a língua nipônica
significava para os colonos japoneses no início da colonização, já que
a maioria deles não falava o português? Anote as respostas para
comparar com as outras respostas coletadas pelos colegas.
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A história da Igreja Católica no município de Ubiratã começou junto com
a colonização, em 1956. Segundo Pe. Aegídio (Histórico da Paróquia de
Ubiratã, 2002), os primeiros atendimentos aos moradores dessa região eram
feitos pelos padres jesuítas ainda em Maringá. Depois de algum tempo, foi
enviado um padre para Ubiratã para fazer atendimento principalmente aos
colonos da colônia japonesa que era a “menina dos olhos” da colonizadora
que, com o interesse de vender o maior número de terras possível, colonizar a
região e com isso aumentar seus lucros, encontrou na fé católica uma parceira
bem consistente.
Sabe-se, pois, que a existência de um padre na região e uma igreja no
município, ajudaria ainda mais a impulsionar as vendas de lotes, afinal, à
presença da Igreja Católica sempre foi um instrumento notável no mundo
inteiro, pois além da promoção da pessoa humana, transmite valores morais e
éticos necessários a uma população carente de recursos materiais e
espirituais. Assim, “vai-se paulatinamente constituindo um imaginário que não
deixa de lançar mão de elementos religiosos como a ideia da existência da
Terra Prometida, terra onde “corre leite e mel”, da Nova pátria e, por
conseguinte, da terra abençoada por Deus” (MEZZOMO, 2002, p. 21).
Sendo assim, em 1959 chegou aqui, vindo do Japão, o Pe. Sebaldo
Bruxel, cumprindo-se a promessa da Colonizadora. Não havendo outro
sacerdote, o Pe. Bruxel foi nomeado o primeiro vigário de Ubiratã (histórico da
Paróquia, Pe. Aegídio).
Figura 5- Pe. Sebaldo no centro, no fundo, a antiga igreja.
Fonte: Acervo da biblioteca pública municipal de Ubiratã
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Conforme registros, a comunidade católica se mobilizou e construiu a
primeira igreja em 1956. Vale lembrar que a primeira missa celebrada em
Ubiratã, foi na colônia Santo Inácio, há sete quilômetros da cidade de Ubiratã,
aos pés de um cruzeiro erguido pela companhia para impressionar os
japoneses que aqui chegavam. De acordo como senhor Vilder Bordin, neste dia
também, 19 de fevereiro de 1956, houve uma festa para comemorar a
fundação de Ubiratã. Vieram para Ubiratã muitos japoneses que tinham
interesse em comprar terras nessa região.
Aproveitando o momento, a colonizadora preparou uma chegada
triunfante para os japoneses, fincou-se uma cruz, símbolo do catolicismo,
mostrando que se cumprira a promessa. Também foi feito um arco com a
saudação “2ª colônia Esperança”. Tudo isso para impressionar os nikkeis e
nisseis. Segundo o senhor Vilder Bordin, neste dia a companhia SINOP vendeu
mais de 50 lotes de terra para os japoneses. Nesta linha de pensamento
podemos observar que: “desde a chegada das primeiras famílias japonesas ao
Brasil, comemora-se a vinda dos primeiros imigrantes ao país, o que suscita
uma série de festividades e publicações”. (ANDRÉ, 2009.)
Na comunidade japonesa, Pe. Sebaldo ficou por apenas alguns anos,
ainda na década de 1960, o mesmo deixou a comunidade para assumir a
direção do seminário construído na cidade de Ubiratã, durante algum tempo a
colônia dos japoneses teve como pároco, o Pe. José A. Furusato, e por fim o
Pe. Avelino Tem Cate que assumiu a comunidade e lá ficou por mais de 15
anos, após sua saída os moradores desta comunidade passaram a freqüentar
a Igreja Matriz Santo Antonio na cidade de Ubiratã.
Como todos os japoneses, os que vieram para cá também valorizavam
muito a educação, preocupavam-se com a formação de seus filhos, e mesmo
tendo sido combinado a construção de uma escola com a colonizadora,
somente dez anos depois, em 1966, foi fundada a Escola Isolada Santo Inácio,
a princípio funcionava na casa paroquial com o Jardim da Infância sob a
direção da Ir. Lucia Domingos Romaneli (Ir. Izabel), irmãs da Congregação
Missionárias do Santo nome de Maria, também com sede em Maringá.
Para construir a escola os japoneses enfrentaram alguns desafios de
acordo com o relato de antigos moradores. O jesuíta Avelino Tem Catem, que
dava assistência na época, não permitiu a construção da escola nas terras
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onde morava e trabalhava, alegando que seria melhor construí-la em outro
lugar. Por isso a construção foi erguida nas terras de um morador vizinho que
fez a doação do terreno. Convém destacar que estas terras foram doadas aos
japoneses pela colonizadora Sinop, e estes as cederam gentilmente para o Pe.
Sebaldo, primeiro jesuíta da colônia Santo Inácio, para que o mesmo pudesse
tirar dali seu sustento, já que o padre fazia parte da comunidade ajudando nas
atividades e dando apoio espiritual. Segundo a pedagoga Maria Aparecida
Araújo (11/10/2009), Pe. Sebaldo desenvolvia nesta colônia um trabalho bem
significativo. Além da assistência religiosa, muitas vezes cuidava das crianças
para os pais poderem trabalhar e preparar a terra para o plantio.
TROCANDO IDÉIAS 1- Em sua opinião, a presença de uma igreja numa região é importante? Justifique sua resposta. 2- Forme grupos com quatro a cinco membros para desenvolver a seguinte atividade: Cada grupo deverá escolher um dos temas a seguir e buscar informações sobre o mesmo: A) A fundação da paróquia na cidade e na colônia Santo Inácio; B) A participação e colaboração do Pe. Sebaldo Bruxel na comunidade Santo Inácio e a formação da congregação jesuítica na Europa. 3- O grupo deve anotar as respostas para comparar com as outras respostas coletadas pelos colegas dos outros grupos.
Vamos Pesquisar mais sobre o tema?
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MMMMAPA DE RELAÇÕES CONCEITUAISAPA DE RELAÇÕES CONCEITUAISAPA DE RELAÇÕES CONCEITUAISAPA DE RELAÇÕES CONCEITUAIS
JAPONESES COLONIZADORA
IGREJA CATÓLICA
Interesse em vender o maior número de terras possível
Títulos seguros
Oferecia terras férteis
Estabelece parceria com a Igreja Católica
Zelo pela disseminação da
fé católica
Assegura o controle do lugar
O Sonho do progresso e do lucro
Encantamento pelo solo da região
Sonho de educação para os filhos Presença
religiosa
Conheciam a cultura do café
Sempre exerceram influência na sociedade
Relações de trabalho
Relações culturais
Relações de poder
VOCÊ SABIA...
Que a colônia Santo Inácio, era conhecido também como
Cruzeiro devido a cruz fincada na região em 1956 para atrair os
colonos japoneses que vinham comprar terras em Ubiratã?
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PARA SABER MAISPARA SABER MAISPARA SABER MAISPARA SABER MAIS
A presença nipônica está nos esportes, na comida, nas religiões e em diversos outros segmentos, atraindo tanto os brasileiros como os japoneses e seus descendentes que aqui vivem. Há, ainda, marcas da cultura japonesa bastante fortes no que diz respeito ao trabalho na agricultura, nos serviços, nas indústrias, nos exemplos que dão como o esforço – no estudo e no trabalho – assim como no respeito aos mais velhos, seus ancestrais.
Vocês, leitores ou alunos, devem saber muitas outras coisas sobre a imigração japonesa, além das relatadas aqui. Procurem pensar sobre elas e sobre como os japoneses passaram a fazer parte da nossa história há um século. Vale a pena pesquisar sobre o assunto. Então até logo! Ou em bom japonês: Dyá, sayonara! (DEMARTINI, Ciência Hoje, 2008. p. 7.)
Depois desta aventura, Depois desta aventura, Depois desta aventura, Depois desta aventura, tenho certeza que você tenho certeza que você tenho certeza que você tenho certeza que você vai querer pesquisar mais vai querer pesquisar mais vai querer pesquisar mais vai querer pesquisar mais sobre a história de sobre a história de sobre a história de sobre a história de Ubiratã, afinal, é o Ubiratã, afinal, é o Ubiratã, afinal, é o Ubiratã, afinal, é o
nosso Eldorado não é?nosso Eldorado não é?nosso Eldorado não é?nosso Eldorado não é?
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REFERÊNCIAS
ANDRÉ, Richard Gonçalves; A Imigração Japonesa no Brasil . História e Memória, fronteiras e interpretações: 009. Disponível www.historiaehistoria.com.br/materia.cfm?tb=alunos&ID=222 Acesso dia 20/12/2009. ALEGRO, Regina Célia; et al. Temas e Questões: Para o Ensino de História do Paraná; Londrina, EDUEL, 2008. ATAÍDE, Vicente et al. Construtores do Brasil . COAGRU. Curitiba: HDV, 1988. BRASIL/MEC. Parâmetros Curriculares Nacionais – Ensino Médio. 1999 DEMARTINI, Zélia de Brito Fabri; Revista de Divulgação Científica para Crianças : ciência Hoje, Ano 21 / nº 192, julho de 2008 KÖRBS, Aegidio: História da Paróquia de Ubiratã ; Igreja Santo Antonio sem data LESSER, Jeffrey; A negociação da Identidade Nacional ; Imigrantes minorias e a luta pela etnicidade no Brasil, Tradução: Patrícia de Queiroz Carvalho Zimbres, 2001, UNESP MEZZOMO, Frank Antonio; Religião, nomos e eu-topia: práxis do catolicismo no oeste do Paraná ; Cascavel, EDUNIOESTE, 2002. PANIS, Marcelo; apud, Mundo Jovem, 2009 p. 10. PARANÁ. Diretrizes Curriculares para o Ensino de História n a Educação Básica. Secretaria de Estado da Educação, SEED-2009. SINOP. Sociedade Imobiliária Noroeste do Paraná Ltda. Folheto de propaganda. sem data. SPERANÇA, Alceu, SPERANÇA, Regina; Carvalho, Selene C. R. História e Memória : Ubiratã: CDD Edição do autor, 2008. TOMAZI, Nelson D. Norte do Paraná: história e fantasmagorias. (Tese de Doutorado) Curitiba: URPR. 1997
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DIREITOS AUTORAIS DE IMAGENS
Acervo da Biblioteca Pública Municipal de Ubiratã, pesquisa dia 12/03/2010
SANTOS, Jair Reinaldo; BIRA, mascote do município de Ubiratã
FUKURO, Tatyane Y; Desenhos
FONTES ORAIS
ARAÚJO, Maria Aparecida dos Santos. Entrevista . Ubiratã, 11 de outubro de 2009 BORDIN, Vilder. Entrevista . Ubiratã, 12 de dezembro de 2009 FUKURO, Margarida K. K. Entrevista. Ubiratã, 20 de fevereiro de 2010 MAKIYAMA , Kiyochi Inácio. Entrevista. Ubiratã, 20 de fevereiro de 2010 MAKINO, Toshihisa. Entrevista. Ubiratã 10 de fevereiro de 2010 SEKINE, Minako Maki. Entrevista . Ubiratã, 16 de dezembro de 2009
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