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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE
VOLU
ME I
A FOTOGRAFIA COMO ESTRATÉGIA DE ENSINO: a construção do olhar no dia a dia do ambiente escolar
Autora: Cassilda Sandri Espada1 Orientadora: Luli Hata2
Resumo
O presente artigo resulta da implementação, no ensino médio, do projeto
desenvolvido como requisito para a conclusão do PDE (Programa de
Desenvolvimento Educacional/Secretaria de Estado da Educação/PR),
apresentando o uso da fotografia na disciplina de arte com o objetivo de favorecer o
despertar para as diversas maneiras de olhar o mundo, especialmente o outro e seu
ambiente, e extrapolar o exercício mecânico de disparar flashes. Conhecendo a
técnica fotográfica, pesquisando fotógrafos brasileiros e identificando suas
características pessoais relacionadas à poética, interesse e linha de pesquisa e,
principalmente, seu posicionamento no mundo, a linguagem fotográfica leva o aluno
a compreendê-la como uma arma, não mais a do caçador de imagens, mas a de
ferramenta de conscientização para a cidadania.
Palavras-chave: Educação do olhar; Fotografia; Poética Pessoal; Luz.
Abstract
The present paper results of a implementation, at school, of the project developed as
requisite for conclusion of PDE (Program of Educational Development/State
Secretary of Education/PR), presenting the use of the photograph in art discipline to
high school students, aiming the target of their awakening to diverse ways to look at
the world, especially the another one and the environment, and to surpass the
mechanical exercise to go off flashes. Knowing the technique photographic,
searching Brazilian photographers and identifying its related personal characteristics,
1 Professora da rede pública de ensino, no Paraná. 2 Mestre em Teoria Literária (IEL-UNICAMP), graduada em Educação Artística (IA/UNICAMP), docente da Universidade Estadual de Londrina para as disciplinas de Mídias Tecnológicas – Hipermídia (nível graduação, Depto. de Arte Visual), Fotografia Digital (nível graduação, Depto. de Design) e Stop Motion – Direção de Fotografia (nível especialização, Depto. de Design).
interest and line of research and, mainly, its positioning in the world the poetical one,
the photographic language takes the pupil to understand it as a weapon, not more of
the hunter of images, but of tool of awareness for the citizenship.
1. Introdução
As novas gerações de alunos estão cada vez mais dependentes e
familiarizados com as mais recentes tecnologias de comunicação. A despeito disso,
a fotografia, a TV e o cinema são responsáveis por boa parte da cultura que nossos
alunos trazem para a sala de aula. Isso se explica pela expressão tão propalada nos
últimos tempos: a convergência das mídias na era digital. Ou seja, veículos de
comunicação já estabelecidos como a TV, o rádio e o telefone estão abandonando a
transmissão analógica, passando para a digital. A fotografia e o cinema já são
produzidos através do sistema digital. Isso permite que os aparelhos sejam
desenvolvidos com a capacidade de receber os diversos meios de comunicação,
como se verifica atualmente com o computador: nele podemos assistir à televisão de
transmissão digital com apenas uma antena que se conecta à entrada USB; ou
ainda temos acesso à transmissão analógica com outra antena, receptora de sinal
digital e analógico, com a mesma conexão USB; a teleconferência em tempo real é
uma ferramenta de uso cotidiano, seja no trabalho, seja na vida social; o computador
permite a interação entre várias pessoas que se encontram em locais diferentes
através de jogos; podemos assistir ao filme em DVD, podemos ouvir estações de
rádio em tempo real e estabelecer comunicação de diversas maneiras. Outro
aparelho que já está no mercado como elemento de convergência de mídias é o
telefone: além da comunicação por voz, acessa-se a internet, ouve-se rádio e
assiste-se televisão.
A tecnologia e a mídia presentes no cotidiano possibilitam que se repense as
metodologias de ensino tradicionais, abrindo caminhos para uma nova forma de
trabalhar em sala de aula. Embora um mundo rico em informações tenha se aberto,
a maioria de nossos jovens estudantes está alheia ao que acontece à sua volta,
sendo premente o resgate de valores para que os alunos não ajam “passando as
vistas” sobre o outro e o mundo, mas que vejam efetivamente, de modo a perceber o
contexto sócio-cultural onde se inserem.
O fato de se viver numa civilização imersa em uma experiência cultural
saturada de objetos, imagens e valores, acarreta em uma dispersão que gera um
senso de desinteresse, especialmente entre os mais jovens. Favaretto (2007) aponta
o ensino da arte como um importante aliado na geração de sentidos capazes de
despertar novamente o interesse da juventude.
Diante de um mundo mágico da imagem técnica3, desenvolver nos alunos
uma postura mais interpretativa e consistente, mais crítica e segura em relação ao
seu papel na sociedade torna-se um desafio. O olhar já vem carregado de
referências pessoais e culturais, sendo necessário instigar o aprendiz para um olhar
cada vez mais curioso e sensível às sutilezas. Nutrir esteticamente o olhar é
alimentá-lo com muitas e diferentes imagens, provocando uma percepção mais
ampla da linguagem visual.
O uso da fotografia em sala de aula é uma estratégia que possibilita aguçar
o olhar do aluno. Através dela, o aluno pode ser sensibilizado para construir um
olhar reflexivo, primeiramente sobre o ambiente escolar, tornando-se capaz de
perceber as pessoas e tudo que o cerca, valorizando as relações interpessoais e
sua relação com o meio. O exercício de fotografar ensina a contemplar as coisas do
mundo, a natureza e o contexto social. Ensina a observar as pequenas coisas dentro
de um universo, os detalhes dentro da globalidade. As imagens fotográficas, através
do estímulo do olhar, contribuem com a percepção e o conhecimento do outro em
propostas contextualizadas. Com o propósito de perceber o outro, as relações
interpessoais e sua relação com o meio no ambiente escolar, o projeto desenvolvido
com duas turmas do terceiro ano do ensino médio no IEEL (Instituto de Educação
Estadual de Londrina), estabeleceu uma relação dialógica entre professor, aluno e
ambiente escolar. Uma introdução à técnica e o estudo a respeito da obra de alguns
nomes importantes dentro da história da fotografia favoreceram a transformação
desse sentido da visão.
A metodologia aplicada teve as seguintes etapas: discussão sobre cultura
visual; pesquisa dos alunos sobre a história da linguagem fotográfica, especialmente
dentro do surrealismo e da fotografia moderna no Brasil; história da técnica;
3 Conforme Flusser (1985), “imagem produzida por aparelho”, ou seja, aquela gerada por um aparato técnico ou tecnológico, como a fotografia, o cinema, o vídeo, a impressão, o computador, etc.
pesquisa sobre o trabalho de Cartier Bresson, Sebastião Salgado e Juarez Silva;
aula prática sobre a técnica fotográfica; seminários e apresentações a partir das
pesquisas e, por fim, produção fotográfica dos alunos, articulando a teoria com a
prática. . A avaliação diagnóstica e processual na implementação do projeto se deu
levando em consideração a capacidade individual, o desempenho do aluno e sua
participação nas atividades realizadas, e as propostas foram socializadas em sala.
2. A escola e o aluno
O IEEL está situado na região central de Londrina, com mais de 50 anos de
atividade e, aproximadamente, 2500 alunos, 127 professores e 57 funcionários. As
salas são bastante heterogêneas, os alunos são oriundos de diversas camadas
sócio-econômicas, o que resulta no encontro de formações culturais bastante
diversificadas, mas que sempre enriquecem e desafiam o trabalho do professor. É
consenso a consideração como uma boa escola, no que se refere ao processo
educativo, e sua localização, tradição e história atribuem um status diferenciado,
especialmente em relação a algumas escolas da periferia. Entretanto, a infra-
estrutura apresenta problemas e é comum ouvir reclamações sobre as dificuldades
de investimento quando comparam com outras escolas da rede pública.
3. Implementação do projeto
Na apresentação do projeto, foi feita uma explanação sobre a história da
fotografia, o uso das imagens fotográficas (principalmente na internet) e sobre
direitos autorais. Nesse primeiro momento, foi possível perceber o interesse dos
alunos pelo projeto, com a surpresa, por parte de alguns, sobre a gravidade de se
utilizar uma imagem fotográfica que não seja de sua autoria. Assistiram ao vídeo
Fotografia: o exercício do olhar que é dividido em quatro blocos:
a) História da fotografia brasileira, as técnicas e suportes utilizados desde o seu
surgimento.
b) Técnicas de conservação e restauração com comentários de críticos de
arte/fotografia.
c) Fotografia como linguagem, a crítica de arte e o papel das instituições
culturais.
d) Produção fotográfica brasileira em fotojornalismo e publicidade, fotografia de
casamentos, de esportes, mostrando sua inserção no nosso cotidiano.
As fotografias usadas nas matérias jornalísticas têm um teor informativo,
mas não são meras captações da realidade. São recortes do real, ou fragmentos
que dependem do ponto de vista do repórter fotográfico. Além disso, passam por um
processo de seleção e edição relacionado ao texto da matéria e, finalmente, com as
legendas, um sentido é atribuído. Com o embasamento no teor do vídeo acima
citado, discutiu-se, em sala de aula, a dualidade realidade e construção na
fotografia.
O fotógrafo Cartier Bresson foi considerado o pai do fotojornalismo,
utilizando exclusivamente filmes branco e preto. Uma das características da obra
fotográfica de Cartier Bresson é a extrema variedade de locais e situações que ele
registrou, inclusive cenas do cotidiano, que é objeto de estudo do projeto. O seu
trabalho mantém uma unidade básica, em que o rigor da composição e a emoção
estão presentes em cada imagem captada. Na exposição do trabalho do fotógrafo
em sala de aula, foi analisada, primordialmente, a composição fotográfica
Outro fotógrafo estudado e também um dos mais respeitados foto jornalistas
da atualidade, nascido em Minas Gerais, foi o fotógrafo Sebastião Salgado, que se
dedicou a fazer crônicas sobre a vida das pessoas excluídas. É também fotógrafo do
preto e branco, com muitas imagens explorando a contraluz. Visitando mais de 40
países e registrando o processo de reorganização populacional pelo que passa
grande parte da humanidade, retratou o ser humano com respeito e dignidade.
Sebastião Salgado diz:
Espero que a pessoa que entre nas minhas exposições não seja a mesma ao sair. (...) Acredito que uma pessoa comum pode ajudar muito, não apenas doando bens materiais, mas participando, sendo parte das trocas de idéias, estando realmente preocupada sobre o que está acontecendo no mundo (SALGADO, apud WIKIPÉDIA, s.d.).
Os alunos assistiram ao vídeo Sebastião Salgado: cidadão do mundo (2006)
e, em seguida, responderam a duas questões relacionadas ao documentário:
O que o documentário provoca em você?
Quais os aspectos do trabalho de Sebastião Salgado que mais
chamam sua atenção?
Entre as respostas, uma aluna revelou e constatou:
Desperta o desejo de conhecer mais e melhor as pessoas de todo o mundo. Conhecer a si mesmo e as dificuldades do mundo. Dá vontade de trabalhar fotografia, registrar os momentos importantes da minha vida e da vida dos outros.
Que o trabalho dele é voltado para as dificuldades da população mais pobre
No depoimento acima, constata-se que Salgado provocou no aluno
justamente o que pretendia: transformar a consciência social. Daí a necessidade de
“conhecer mais e melhor as pessoas do mundo”. Como se não bastasse, e o que
seria de se esperar de um indivíduo amadurecido, o desejo de conhecer-se a si
mesmo para compreender o mundo. Outro aluno diz:
Provoca uma sensação de pena do que as pessoas sofrem em seu dia-a-dia. Mas também causa um grande orgulho de nosso país, por ter um fotógrafo no nível mundial, igual a Sebastião Salgado.
O aspecto que me chama mais atenção são as fotos que são em preto e branco, me dá uma sensação de que a verdade da foto fica cada vez mais real. Por serem fotos instantâneas que mostrava as pessoas em algum momento repentino de seu dia
A empatia por Sebastião Salgado foi geral. Os alunos entenderam a
proposta do fotógrafo e a importância do seu trabalho para a humanidade. Ficaram
encantados com o vídeo, foram sensibilizados e admiraram as fotos em preto e
branco. Curiosamente, na colocação da aluna, a fotografia em preto e branco causa
a sensação de que “a verdade fica cada vez mais real”. Analisando friamente, chega
a ser um contrassenso, pois “não pode haver, no mundo lá fora, cenas em preto e
branco” (FLUSSER, 1985, p. 44). Segundo Flusser, a fotografia em preto e branco,
além de ser resultado de um dado momento da pesquisa ótica e química, cujos
avanços levaram à fotografia colorida, a preferência por ela reside no “verdadeiro
significado dos símbolos fotográficos: o universo dos conceitos”, transformados em
cenas:
[As fotografias em preto e branco] transcodificam determinadas teorias (em primeiro lugar, teorias da ótica) em imagem. Ao fazê-lo, magicizam tais teorias. Transformam seus conceitos em cenas. As fotografias em preto e branco são a magia do pensamento teórico, conceitual, e é precisamente nisto que reside o seu fascínio. Revelam a beleza do pensamento conceitual abstrato. Muitos fotógrafos preferem fotografar em preto e branco porque tais fotografias mostram o verdadeiro significado dos símbolos fotográficos: o universo dos conceitos (FLUSSER, 1985, p. 45, grifo do autor).
Flusser afirma que as imagens, inicialmente, tinham a característica mágica
de traduzir “eventos em situações, processos em cenas” (Ibidem, p. 14), criando
uma relação entre os diferentes elementos da imagem, no tempo próprio
determinado pelo olhar sobre a imagem. Era a mediação entre o homem e o mundo.
O autor defende que a conceituação é fruto da capacidade de explicação do mundo
através de textos, desenvolvida a partir da constatação de uma cegueira causada
pela idolatria. Porém, o próprio texto e a conseqüente necessidade de compreensão
linear criaram outro bloqueio, por ele denominado “textolatria”. A fotografia é a
resposta encontrada para essa situação, uma imagem que parece explicar o texto.
Para o autor, a fotografia é derivada de um aparelho em que se concentram
conceitos de determinadas teorias, principalmente da ótica. Assim, a imagem
fotográfica seria aquela com a função de restaurar a magia, contudo, em novo
contexto: a do pensamento teórico, conceitual.
O preto e o banco não existem no mundo, o que é grande pena. Caso existissem, se o mundo lá fora pudesse ser captado em preto e branco, tudo passaria a ser logicamente explicável. Tudo no mundo seria então ou preto ou branco, ou o intermediário entre os dois extremos. O desagradável é que tal intermediário não seria em cores, mas cinzento... (FLUSSER, 1985, p. 44).
Essa passagem explica o que Flusser afirma como a “beleza do pensamento
conceitual abstrato”. A produção de uma fotografia preta e branca envolve etapas
além do momento da captação. A escolha do aparato técnico e da sensibilidade do
filme antes da captação e, no laboratório, a sensibilidade do papel e suas
características químico-físicas, bem como tempo de exposição de determinadas
áreas influenciam no resultado da imagem. É muito comum a preocupação com o
contraste – ou seja, a relação entre os extremos: preto e branco, escuridão e luz ou
maniqueísmo fotográfico, conceituação de valores opostos que, em suma é
abstração.
O autor explica que mesmo as fotografias coloridas são abstrações, pois
elas precisam ser reconstituídas, o que é possível graças à teoria química. E, quanto
mais fiéis se tornarem, mais “mentirosas” se tornam. Em função disso, as imagens
em preto e branco se tornam mais “verdadeiras”
Contrapondo às imagens de Bresson e Salgado, foi apresentada a
macrofotografia, através do trabalho de Juarez Silva (2006). O olhar do fotógrafo
revela a beleza escondida em pequenos seres ou as pequeníssimas coisas que se
movem ao nosso redor. Depois de assistir ao vídeo, conversamos sobre o seu
trabalho e, em seguida, todos seguiram para o pátio da escola, para fotografar as
coisas pequenas e interessantes que encontraram.
Embora a macrofotografia seja realizada com equipamento específico4, os
alunos utilizaram suas câmeras compactas para tentar obter o resultado de uma
fotografia macro, acionando o recurso que esse tipo de equipamento oferece.
Em grupos os alunos fizeram pesquisas, seminários e apresentações Sobre:
a) História da linguagem fotográfica dentro do Surrealismo.
b) História da Fotografia Moderna no Brasil.
c) História da Técnica.
d) O trabalho de Cartier Bresson.
e) O fotógrafo Sebastião Salgado.
f) O fotógrafo Juarez Silva
As apresentações foram feitas com bastante interesse e envolvimento, e
outros vídeos relacionados à pesquisa foram trazidos pelos alunos, enriquecendo
4 Macrofotografia: Fotografia produzida com equipamento apropriado - lentes macro, foles ou tubos de extensão - de modo a captar detalhes muito pequenos do tema escolhido, registrando-os no filme numa escala igual ou superior à real. Esta técnica, muito empregada na fotografia de natureza - mormente de insetos e outras pequenas criaturas, bem como de espécimens vegetais - teve no fotógrafo alemão, radicado no Brasil, Claus Meyer (1944-1996), um de seus mais destacados praticantes, tendo indiscutivelmente no cientista sueco Lennart Nilson (1922), seu mais importante adepto. Valendo citar ainda o importante precedente de utilização da macrofotografia com finalidades estéticas do fotoclubista carioca José Oiticica Filho (1906-1964) (ITAÚ CULTURAL, s.d.).
muito as exposições. Nesse momento os grupos foram avaliados pela apresentação
da pesquisa.
Em outro momento, foi programada uma palestra com a professora
orientadora do projeto, Luli Hata, que falou sobre os aspectos técnicos envolvendo a
câmera fotográfica, mostrando as diferentes objetivas e propiciando a experiência de
ver através delas, de modo que os alunos percebessem as diferenças.
Complementou com as possibilidades de uso da câmera digital compacta,
explicando as inúmeras funções, possibilidades e limitações. Logo depois, o
laboratório foi apresentado pelo técnico responsável, José Neto, que mostrou as
etapas de revelação do filme e ampliação da imagem em cópia. Os alunos ficaram
encantados, pois nem imaginavam como era um laboratório; fotografaram bastante e
manifestaram interesse em montar um laboratório na escola.
Ao final do projeto, os alunos realizaram suas produções fotográficas,
percorrendo por toda escola, tendo em mente a temática proposta: o dia a dia no
ambiente escolar. Um dado que constata a boa repercussão da atividade foi o
envolvimento de toda escola: alunos, equipe pedagógica, professores e direção.
A proposta inicial do projeto culminaria com uma exposição fotográfica, mas
ela se mostrou inviável por uma questão financeira dos alunos. Desse modo,
pensou-se na produção de um blog, que acabou encontrando percalços em função
das atividades extracurriculares dos alunos, justamente nas datas da disciplina de
artes. De toda forma, os resultados foram compartilhados em sala de aula.
4. Resultados obtidos
Fotografia da natureza
Figura 1
Figura 2
As imagens captadas foram fortemente influenciadas por Juarez Silva.
Mesmo em um ambiente arquitetônico que é o da escola, muitas com pouco espaço
para um jardim e plantas, os alunos foram capazes de destacar elementos da
natureza. Até mesmo situações de contraluz, vistas em imagens de Sebastião
Salgado, foram exploradas (Figura 1). A maioria das câmeras digitais compactas têm
uma função macro, cuja captação se dá pela aproximação da câmera com a lente
em “wide” (grande angular). Em outras, simplesmente fixa-se o zoom no limite
máximo e seleciona-se o modo macro no menu de modos de cena. Estas, porém,
representam recursos que não correspondem, efetivamente, às características
técnicas da macrofotografia ou apresentam limitações. Entretanto, podem ser muito
úteis em algumas situações.
Figura 4
Figura 3
Figura 5
Na Figura 3, é possível perceber a limitação da câmera, que não conseguiu
focar o primeiro plano. Na Figura 4, a câmera realizou uma imagem à maneira de
macro, ao manter nítido o primeiro plano e desfocar os demais. Esse resultado é
obtido em objetivas macro, tubos ou foles de extensão – o primeiro plano é focado e
perde-se profundidade de campo, com igual perda na perspectiva, que podemos
notar na imagem citada, embora desfocada.
O olhar fotográfico não apenas influenciou a captação de imagens, mas
permitiu outras conexões. A aluna comenta que devemos ser fortes e resistir a tudo,
afirmando que a flor mostra a persistência para atingir nossos objetivos,
independente das contrariedades que encontramos pelo caminho. A fotografia revela
outro dado: a aluna já tinha uma sensibilidade cujo registro era necessário e, até
então, era a escrita o seu recurso. A técnica ampliou a possibilidade de registro de
sua sensibilidade: a fotografia, assim, alimenta e é alimentada pelos textos e pelo
seu posicionamento no mundo.
Figura 6
Figura 7
Figura 8
Figura 9 As Figura 5, Figura 6 e Figura 7, possivelmente, retratam aquela flor solitária
registrada pela aluna Elouise. Nestas imagens, porém, houve uma preocupação com
a composição e exploração de diferentes tomadas, especialmente inclinando a
câmera, assim como se vê nas Figura 8 e Figura 9.
Escola
As Figura 10 e Figura 11 retratam dois momentos: a saída para a execução da
proposta e o intervalo. Na Figura 11, embora, tenham realizado fotografia
convencional, é possível observar como foi explorado o ângulo e a luz em diagonal
na composição fotográfica.
Figura 10
Figura 11
A foto ao lado é a
captação de um instante, uma
conversa entre amigas no pátio
da escola e esse momento foi
congelado em um ângulo
diferenciado, testando as
questões relativas ao
enquadramento.
Figura 13
Figura 14
Na Figura 14, as alunas fizeram uma fotomontagem, a partir de um dos
fotógrafos estudados, Man Ray.
Figura 12
Figura 15
A aluna aproveita as grades de
um portão (notavelmente aberto) para
dramatizar um sentimento que pode
acometer até mesmo os educadores, em
função do tempo e, principalmente, das
normas. Mais do que revolta, a imagem
retrata alguém com suas possibilidades
tolhidas.
Galgar degraus é uma expressão
comum, associada à possibilidade de
ascensão sócio-econômica ou evolução
espiritual. Na legenda, a aluna aponta para
determinadas dificuldades, superáveis, pois se
tratam de “tropeços”. Possivelmente, trata-se
de uma reflexão sobre o que passaram na
escola em relação à aprendizagem, os
relacionamentos com os alunos e com os
professores, as afinidades com os colegas e
por tudo que passou em sua vida escolar
Figura 16
Figura 17
Na imagem da escada a aluna vai escrevendo em cada degrau uma etapa
da vida escolar desde a pré-escola até PHD, conforme nós construímos o nosso
conhecimento. Muitos alunos ingressaram na escola desde a pré-escola.
Figura 18
O aluno fotografou a rampa como
elemento arquitetônico e demonstrou os
seus sentimentos em relação a este lugar,
que em certos momentos serviu de refúgio.
Figura 21
Figura 19
Figura 20
Neste ensaio fotográfico
o aluno explorou a composição,
usando os próprios materiais
escolares. O fotógrafo Juarez
Silva, ao realizar seu registro
fotográfico da flora e fauna,
também trabalha com a
composição, tanto na natureza
quanto no seu ateliê.
Figura 23
Ao lado, o mesmo aluno
encontrou a composição nas
vassouras deixadas de maneira
aleatória.
Figura 22
Figura 24
Embora a frase afirme que não
é preciso chegar perto, nota-se que o
aluno abaixou-se para realizar a
tomada, ou seja, aproximou-se de onde
se depositava o lixo. Mas afirma ao
espectador que ele não precisa fazer o
mesmo – bastaria olhar para baixo para
perceber a sujeira.
Do ponto de vista da tomada,
ele destaca a sujeira e, por causa da
perspectiva e da canaleta de
escoamento de água, o sentido que
passa é a da possibilidade de sermos
atropelados por ela, de sermos
engolidos pela própria sujeira que
produzimos.
Figura 25
Figura 26
As pombas fotografadas pelos alunos fazem parte do dia a dia da nossa
escola, elas estão sempre no pátio, como também na sala de aula.
Figura 27
Figura 28
Estas últimas imagens remetem à fotografia moderna no Brasil. Durante a
implementação do projeto, os alunos pesquisaram e apresentaram seminário sobre
fotografia moderna no Brasil, onde conheceram o trabalho dos fotógrafos German Lorca,
Geraldo de Barros, José Oiticica Filho e Thomas Farkas.
5. Considerações finais
A participação no Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE)
propiciou oportunidade única para a realização de pesquisa sobre a fotografia como
estratégia de ensino, com a temática “a construção do olhar no dia a dia do
ambiente escolar”. Os resultados obtidos com a implementação da produção
didático-pedagógico foram muito gratificantes, pois foi plenamente possível aplicar
as atividades propostas e os alunos demonstraram entusiasmo e interesse na
construção do conhecimento. O projeto veio ao encontro com a realidade escolar,
em que parte das informações com as quais os alunos constroem seu conhecimento
baseia-se na mídia. Além disso, os alunos estão cada vez mais familiarizados e
dependentes das novas tecnologias de comunicação. Diante da cultura
contemporânea, devemos nos posicionar de forma investigativa e crítica. Em todas
as etapas foi perceptível o envolvimento dos alunos; as apresentações de DVDs o
interesse foi grande, assim como nos seminários e, principalmente na aula prática
que foi a visita ao laboratório. Para os alunos o projeto representou uma fonte de
conhecimento fascinante, favorecendo o seu posicionamento no mundo. Na etapa
final da produção fotográfica dos alunos, a escola estava toda envolvida e os
resultados foram compartilhados em sala.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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