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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Produção Didático-Pedagógica Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Produção Didático-Pedagógica

Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE

VOLU

ME I

I

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL/PDE

ELIS REGINA PIFFER VENDRAMIN

CCOONNSSTTRRUUÇÇÃÃOO DDOO PPRROOJJEETTOO PPOOLLÍÍTTIICCOO PPEEDDAAGGÓÓGGIICCOO

CAMBÉ

2010

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ELIS REGINA PIFFER VENDRAMIN

CCOONNSSTTRRUUÇÇÃÃOO DDOO PPRROOJJEETTOO PPOOLLÍÍTTIICCOO PPEEDDAAGGÓÓGGIICCOO

Caderno Temático realizado pela Professora Pedagoga Elis Regina Piffer Vendramin e entregue à SEED-PR, como parte dos quesitos do Programa de Desenvolvimento Educacional – 2009

Orientadora: Profa. Dra. Elsa Maria Mendes Pessoa Pullin

CAMBÉ 2010

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SUMÁRIO

Mensagem ao leitor ............................................................................................................... 4

1. APRESENTAÇÃO ............................................................................................................. 6

2. PROBLEMATIZANDO, UM CONVITE A REFLEXÃO ........................................................ 9

2.1 UNIDADE I FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................... 18

2.2 UNIDADE II DIMENSÕES A SEREM CONSIDERADAS ............................................... 22

2.3 UNIDADE III CONSTRUÇÃO COLETIVA ...................................................................... 24

3. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 30

REFERENCIAS ................................................................................................................... 32

APÊNDICE .......................................................................................................................... 33

LINKS .................................................................................................................................. 34

VÍDEOS ............................................................................................................................... 35

SUGESTÕES PARA OUTRAS LEITURAS .......................................................................... 37

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Mensagem ao leitor

Construir um Projeto Político Pedagógico é tecer na pluralidade e

diálogo de vozes um novo amanhã. Futuro esse que se constitui pelos fazeres

pedagógicos em cada manhã e dia, não apenas dos individuais, mas dos coletivos.

O poeta, João Cabral de Melo Neto, sugere que entendamos como

os cantos entrelaçado dos galos tecem os fios da manhã. Diríamos de um novo dia.

Um galo sozinho não tece uma manhã: ele precisará sempre de outros galos.

De um que apanhe esse grito que ele deu e o lance a outro; de um outro galo

que apanhe o grito de um galo antes e o lance a outro; e de outros galos

que com muitos outros galos se cruzem os fios de sol de seus gritos de galo,

para que a manhã, desde uma teia tênue, se vá tecendo, entre todos os galos.

João Cabral de Melo Neto1

Metaforicamente, no campo da educação, podemos estender e

usar esse poema para compreender os efeitos das práticas pedagógicas escolares

em nossos alunos, quando elas forem pronunciadas por cada um de nós e possam

contribuir para construir um trabalho coletivo com os demais educadores e agentes

educativos. Isso, especialmente, quando esse trabalho coletivo vise alcançar

metas, e para tanto projete espaços e tempos para o cotidiano escolar de sua

escola. Assim o fazem, ou deveriam fazer, professores e agentes educativos

quando refletem criticamente os contextos macro e micro que configuram sua

1 João Cabral de Melo Neto (1920), poeta brasileiro, nasceu em Recife. Sua poesia expressa o

interesse pelas coisas do Brasil, como meio de apreender e transformar a realidade. Suas imagens se despojam do sentimental e do pitoresco, para dar uma idéia clara dos objetos que circundam o ser humano moderno, atual. A influência da poesia ibérica medieval aparece nos versos breves como os de Morte e Vida Severina, auto de natal pernambucano, um de seus trabalhos mais conhecidos. Em obras posteriores, leva ao extremo a intenção de despojar o poema de elementos supérfluos e deslizes sentimentais. Entre suas obras destacam-se: Pedra do sono (1942), Quaderna (1960), Poesias Completas (1968), A escola das facas (1980), Agrestes (1985), Auto do Frade (1986) e Crime na rua Relator (1987).

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unidade escolar para propor e avaliar seu trabalho individual. Escutando e

analisando criticamente os discursos oficiais e os daqueles que compõem o

contexto próximo: professores; agentes educativos locados em escolas; pais;

alunos da escola, entre outros. Após essa escuta poderão, conforme nossa

proposta planejar executar, avaliar e adequar suas atividades tendo por norte o

Projeto Político Pedagógico que elaboraram para a sua unidade escolar.

Concordamos com Hannah Arendt quando instiga cada um de nós,

profissionais da educação, por exemplo, a que pensemos sobre a responsabilidade

de nossas ações junto às gerações mais jovens. Essa autora assim se pronuncia:

A educação é o ponto em que decidimos se amamos o mundo

bastante para assumirmos a responsabilidade por ele e, com tal

gesto salvá-lo da ruína que seria inevitável não fosse a

renovação e a vinda dos novos e dos jovens. A educação é

também onde decidimos se amamos nossas crianças o

bastante para não expulsá-las de nosso mundo e abandoná-las

a seus próprios recursos, e tampam pouco arrancar de suas

mãos a oportunidade de empreender alguma coisa nova e

imprevista para nós, preparando-as em vez disso com

antecedência para a tarefa de renovar um mundo comum.

(ARENDT, 1989, p.247)

Em assim sendo, há que os profissionais da educação planejem

coletivamente seu trabalho educativo e, por suas ações individuais, cooperem para

a execução do Projeto Político Pedagógico que decidirem estabelecer para a

unidade escolar em que exerçam seu ofício.

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1. APRESENTAÇÃO

O objetivo deste Caderno Temático é o de apresentar e discutir

alguns aspectos fundamentais que devem sustentar o processo de elaboração de

um Projeto Político-Pedagógico, como ele pode e deve ser construído de forma

participativa, bem como o de expor algumas sugestões para a sua elaboração,

além de apontar condições necessárias para sua implementação. Não se trata de

um “manual”, mas sim, de uma produção de alguém que por sua experiência e

formação pedagógica avalia como necessária.

Quando passamos a buscar mais conhecimentos e a nos apropriar

dos mesmos verificamos que tais atitudes nos permitem um novo olhar, por

exemplo, sobre o contexto escolar da nossa prática. Percebemos, ainda, que se

pode ir mais além propiciando a outrem caminhos diferenciados que levem cada

um a desenvolver uma visão crítica e construtiva para que se possa assim

promover novas ações de intervenções no processo de ensino.

Por experiência própria, o fato de estudar mais profundamente

acerca do Projeto Político Pedagógico, diferenciou o que sobre ele conhecia e

minhas atitudes. Passo a passo observava que este não é um documento para ser

elaborado às “pressas” para que fosse entregue a um órgão de oficial de ensino em

uma determinada data impreterivelmente. Percebi, acima de tudo, que não era um

projeto pronto e “acabado” para ser engavetado depois de entregue nesse prazo

estipulado.

O Projeto Político Pedagógico tem que ter vida, tem que revelar e

se assentar na identidade de cada escola de acordo com sua realidade. A fonte de

vida desse documento é constituída pela participação de todos os agentes

educativos, que ao propô-lo, faz sentir cada um como autores e protagonistas:

desde sua proposição, execução à da sua contínua avaliação.

Nesta linha de raciocínio, elaborei a produção pedagógica

denominada Caderno Temático, abordando alguns temas pertinentes à construção

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de um Projeto Político Pedagógico a fim de refletirmos, analisarmos, dialogarmos e

retratarmos algumas ações efetivas e viáveis no contexto escolar, apresentando

como ferramenta inicial para essa construção um mapa conceitual que nos guiará

por uma linha de raciocínio que nos facilitará identificar vínculos e caminhos que

esse documento exige e possibilita.

O leitor terá condição de constatar, ainda, o problema que nos

instiga, os referenciais que nos sustentam, o por quê, para quê e para quem cada

um de nós, professores e demais agentes educativos de uma unidade escolar

devemos construir esse projeto. Em seu todo, a presente proposição teve sua

origem a realidade da instituição que atuo.

E então, vamos pensar e dialogar juntos?

BOA LEITURA,

QUE ELAS POSSIBILITEM DIÁLOGOS FECUNDOS!!!

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Antes de iniciar a leitura deste caderno, convido cada leitor a visualizar o

Projeto Político Pedagógico pela ferramenta adotada, qual seja sob a modalidade

de um mapa conceitual.2 Observe:

Figura 1: O mapa conceitual de um Projeto Político Pedagógico para a escola Fonte: (BATISTA; OLIVEIRA, 2007)

Disponível: http://pedagogia.pbworks.com/f/1166464430/mapa_ppp_cidinha_helena%20-%20projeto%20pol%C3%ADtico-pedag%C3%B3gico.jpg. Acesso 03 jun. 2010

2 “MC- Mapas Conceituais são representações gráficas semelhantes a diagramas, que indicam

relações entre conceitos ligados por palavras. Representam uma estrutura que vai desde os conceitos mais abrangentes até os menos inclusivos. São utilizados para auxiliar a ordenação e a seqüenciação hierarquizada dos conteúdos de ensino, de forma a oferecer estímulos adequados ao aluno. Esta abordagem dos mapas conceituais está embasada em uma teoria construtivista, entendendo que o indivíduo constrói seu conhecimento e significados a partir da sua predisposição para realizar esta construção. Servem como instrumentos para facilitar o aprendizado do conteúdo sistematizado em conteúdo significativo para o aprendiz. Novak é considerado o criador dos mapas conceituais e refere ter usado este em várias pesquisas, contemplando as diversas áreas do conhecimento”. Fonte: <http://penta2.ufrgs.br/edutools/mapasconceituais/defmapasconceituais.html> Acesso 03 jun. 2010.

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Analise, cuidadosamente, as exigências conceituais para a

construção de um Projeto Político Pedagógico: quais dimensões conceituais devem

ser levadas em conta; em que documento oficial ele tem seu amparo; o que para

sua construção ele supõe; o que ele busca; quais os enfrentamentos que ele exige;

o que ele exige e no que interfere.

Caso precise, retorne ao mapa conceitual e verifique a dinâmica

dos fatores envolvidos. Essa multideterminação para a construção desse

documento é o que lhe dá o sopro de vida que se prolongará em sua execução e

contínua avaliação por parte de todos que efetivamente participem (professores;

alunos; pais; comunidade).

2. PROBLEMATIZANDO, UM CONVITE À REFLEXÃO

O que você entendeu? Como compreendeu as relações de um

quadro com os demais? O Projeto Político Pedagógico de sua escola foi assim

construído em nossa escola?

É dessa forma que gostaríamos de CONSTRUIR o nosso Projeto

Político Pedagógico?

Antes de dar sua opinião, procure responder às questões

formuladas pela Coordenação de Apoio à Direção e Equipe Pedagógica (CADEP),

disponível em: <http://www.smec.salvador.ba.gov.br/site/documentos/espaco-

virtual/espaco-jornada-pedagogica/gestao-escolar/ppp-construcao.pdf>

Que sujeitos queremos formar?

Que saberes queremos discutir?

Que sociedade queremos para viver?

Que escola queremos?

Que educação queremos priorizar?

Que avaliação precisamos construir?

Que cultura queremos valorizar?

Que conhecimento queremos trabalhar?

Que relações de poder queremos manter?

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Ou estamos acostumados a ouvir e a dizer ...

A prática na escola pública está perpassada pelo autoritarismo;

Confunde-se democracia com excesso de liberdade;

Escola pública é organizada por relações verticais, de mando e submissão;

O que temos são problemas de segurança, da falta de professores, de

recursos financeiros, insuficiência de funcionários, etc.;

Há resistência da participação dos pais e da comunidade na escola;

Raramente o Conselho Escolar funciona, seus membros são pouco

representativos, as reuniões são esporádicas...;

Não há participação efetiva do Grêmio Estudantil;

As ações pedagógicas e educativas se perdem na burocracia....

Que outros fatos marcam o perfil de gestão que é realizada em sua escola?

Será que as indagações

acima fazem parte do

cotidiano de sua escola?

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EEEnnntttãããooo,,, rrreeefffllliiitttaaa sssooobbbrrreee ooo qqquuueee NNNaaavvvaaarrrrrrooo pppooonnndddeeerrrooouuu............

Pretendemos ousar fazendo

algo diferente?

Alguma vez, você pensou no Projeto Político Pedagógico como

uma unidade do trabalho escolar?

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O Projeto Político-Pedagógico, como instrumento de planejamento

coletivo, resgata a unidade do trabalho escolar e garante que não

haja uma divisão entre os que planejam e os que executam.

Elaborado, executado e avaliado de forma conjunta, tem uma nova

lógica. Nesse processo, todos os segmentos planejam, garantindo

a visão do todo, e todos executam, mesmo que apenas parte desse

todo. Com isso, de posse do conhecimento de todo o trabalho

escolar, os diversos profissionais e segmentos envolvidos

(gestores, técnicos, funcionários da escola, docentes, discentes,

pais e comunidade local) cumprem seus papéis específicos, sem

torná-los estanques e fragmentados. Todos se tornam partícipes da

prática educativa e, portanto, de alguma forma, educadores.[...]

(NAVARRO, 2007, p. 26. Grifos nossos).

Como está acontecendo o Projeto Político Pedagógico em nossa

escola?

De que forma o Projeto Político Pedagógico pode contribuir para a

qualidade do trabalho escolar?

Quem participa efetivamente da elaboração e do acompanhamento

da execução do Projeto Político?

É comum, o diálogo entre as partes envolvidas na construção de

outros projetos coletivos de ação?

Quais são os meios e as condições necessárias para que

efetivamente possa ocorrer a participação de todos da comunidade escolar na

gestão de nossa escola?

OPS!

Acho que precisamos parar e

trocar algumas idéias..

O que você acha??

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VOCÊ CONHECE A ORIGEM DO TERMO PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO?

Vivemos a época da cultura de projetos em nossa sociedade onde

condutas de antecipação para prever e explorar o futuro fazem parte de nosso

presente. Essa influência do futuro sobre nossos comportamentos cotidianos só faz

sentido se o que almejamos que aconteça nos diferentes espaços que ocupamos,

formal e informalmente, cumpre a função de melhorar as condições de nossa vida

e dos demais, como humanos. Foi, inclusive, a partir desse sentido germinal que

propusemos as reflexões que seguem, com o objetivo de compartilharmos e

compreendermos o significado e o processo do projeto pedagógico.

Como sugere Gadotti (2001), a palavra projeto vem do verbo

projetar, lançar-se para frente, imprimindo o sentido de movimento, e,

ocasionalmente, de mudança. A sua origem etimológica, como explica Veiga (2001,

p. 12), confirma essa forma de entender o termo projeto que "vem do latim projectu,

particípio passado do verbo projecere, que significa lançar para diante" (destaques

da autora).

Para Alvaréz (1998, apud BAFFI, 2002), o projeto representa o laço

entre o presente e o futuro, uma marca da passagem que se propõe do presente

para o futuro. Para Fagundes (1999), o projeto é uma atividade natural e

intencional que o ser humano utiliza para procurar solucionar problemas e construir

conhecimentos. Alvaréz (1998, apud BAFFI, 2002), ainda, reitera que o projeto é a

mola do dinamismo no mundo contemporâneo, e um instrumento indispensável

para a ação e a transformação.

Boutinet (2002), no estudo histórico-antropológico que empreendeu

sobre projetos, explica que o termo projeto teve seu reconhecimento no final XVII, e

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a primeira tentativa de uma formalização foi proposta para uma criação

arquitetônica. Nesta, se reconhece um sentido semelhante ao de hoje, apesar dos

efeitos da marca do pensamento medieval naquela proposição. Como disse a

respeito essa autora: "[... o projeto pretendia] ser a reatualização de um passado

considerado como jamais decorrido." (BOUTINET, 2002, p. 34).

Em parte, pode-se dizer que a palavra projeto se relaciona a algo

que está por vir, a um projetar, a um lançar para, a uma ação intencional e

sistemática, onde têm guarita: a utopia concreta/confiança, a ruptura/continuidade e

o instituinte/instituído. Segundo Gadotti (2000, apud VEIGA, 2001, p. 18):

“Todo projeto supõe ruptura com o presente e promessas para o futuro. Projetar significa tentar quebrar um estado confortável para arriscar-se, atravessar um período de instabilidade e buscar uma estabilidade em função de promessa que cada projeto contém de estado melhor do que o presente. Um projeto educativo pode ser tomado como promessa frente determinadas rupturas. As promessas tornam visíveis os campos de ação possível, comprometendo seus atores e autores”.

E um projeto que tenha agregada a si a qualificação de

pedagógico, que significado(s) passa a ter? Convém lembrar para nos situarmos:

só em meados dos anos 90 do século XX, a idéia de projeto pedagógico foi

tomando corpo no discurso oficial e em quase todas as instituições de ensino,

espalhadas pelo país.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9394/96),

em seu Artigo 12, inciso I, estipula que "os estabelecimentos de ensino,

respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, têm a incumbência

de elaborar e executar sua proposta pedagógica". Essa norma reguladora de

abrangência nacional aponta para uma proposta pedagógica elaborada por escola,

e que respeite os discursos oficiais. Assinala, ainda, para o fato da escola não

poder prescindir da reflexão sobre sua intencionalidade educativa. Em assim

sendo, desde então, o projeto pedagógico passou a se constituir em objeto

prioritário de reflexões teóricas e empíricas, permeadas pelas vozes da experiência

cotidiana de professores, pedagogos, entre outros.

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Para André (2001), o projeto pedagógico não se resume a uma

carta de intenções, nem ao atendimento de uma exigência de ordem administrativa,

visto que ele deve:

expressar a reflexão e o trabalho realizado em conjunto por todos os profissionais da escola, no sentido de atender às diretrizes do sistema nacional de Educação, bem como às necessidades locais e específicas da clientela da escola.[...ele é] a concretização da identidade da escola e do oferecimento de garantias para um ensino de qualidade. (ANDRÉ, 2001, p. 188)

Para Libâneo (2001, p. 125), o projeto pedagógico "deve ser

compreendido como instrumento e processo de organização da escola", tendo em

conta as características do instituído e do instituinte. Para Vasconcellos (1995 p.

143), o projeto pedagógico, por ser um instrumento teórico-metodológico, visa:

[...] ajudar a enfrentar os desafios do cotidiano da escola, só que de uma forma refletida, consciente, sistematizada, orgânica e, o que é essencial, participativa. E uma metodologia de trabalho que possibilita resignificar a ação de todos os agentes da instituição.

Veiga (1998), esclarece que o projeto pedagógico não é nem um

conjunto de planos e projetos de professores, nem um documento que trata das

diretrizes pedagógicas da instituição educativa. É, isso sim, uma produção

específica que reflete a realidade de uma escola, na qual se reconhece que está

situada em um contexto mais amplo que a influencia e que pode, também, ser por

ela influenciado.

Parece, então, que podemos concluir que o Projeto Pedagógico

pode ser considerado como um instrumento que permite clarificar a ação educativa

da instituição educacional em sua totalidade, desde que tenha em seu propósito a

explicitação dos fundamentos teóricos-metodológicos, dos objetivos, do tipo de

organização e das formas de implementação e de avaliação institucional.

O projeto pedagógico não se caracteriza como um modismo no

campo da educação, nem como um documento para ficar engavetado em uma

mesa na sala de direção da escola e dela só sair para demonstrar o cumprimento a

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uma exigência burocrática. Ele transcende o simples agrupamento de planos de

ensino e atividades diversificadas, pois deve ser entendido como um instrumento

fabricado por todos e que regule o trabalho de cada um, na medida em que na sua

proposição tenham sido indicados a meta e a direção e construído com a

participação de todos os profissionais da instituição.

O projeto pedagógico tem duas dimensões, como explicam André

(2001) e Veiga (1998): a política e a pedagógica. Ele "é político no sentido de

compromisso com a formação do cidadão para um tipo de sociedade" (ANDRÉ,

2001, p. 189), e é pedagógico porque possibilita a efetivação da intencionalidade

da escola, que é a formação do cidadão participativo, responsável,

compromissado, crítico e criativo". Essa última é a dimensão que trata de definir as

ações educativas da escola, visando a efetivação de seus propósitos e sua

intencionalidade (VEIGA, 1998, p. 12).

Assim sendo, a "dimensão política se cumpre na medida em que

em que ela se realiza enquanto prática especificamente pedagógica" (SAVIANI,

2001, apud VEIGA, 2001, p. 13).

Para Veiga (2001, p. 11), a construção de um projeto pedagógico

deve apresentar características tais como:

a) ser um processo participativo de decisões;

b) os participantes da construção desse documento devem-se preocupar em:

em instaurar uma forma de organização de trabalho pedagógico que desvele

os conflitos e as contradições;

explicitar princípios baseados na autonomia da escola, na solidariedade

entre os agentes educativos e no estímulo à participação de todos no projeto

comum e coletivo;

informar opções explícitas na direção de superar problemas no decorrer do

trabalho educativo voltado para uma realidade especifica;

explicitar o compromisso com a formação do cidadão.

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O projeto e a execução de um projeto pedagógico de qualidade

deve, segundo essa autora:

a) nascer da própria realidade, tendo como suporte a explicitação das causas dos

problemas e das situações nas quais tais problemas aparecem;

b) ser exeqüível e prever as condições necessárias ao desenvolvimento e à

avaliação;

c) ser uma ação articulada de todos os envolvidos com a realidade da escola,

d) ser construído continuamente, pois com produto, é também processo.

Falar da construção do projeto pedagógico é falar de planejamento

no contexto de um processo participativo, onde o passo inicial é a elaboração do

marco referencial, sendo este a luz que deverá iluminar o fazer das demais etapas.

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2.1 UNIDADE I FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O PPP é um instrumento que descreve e revela a escola, para

além de suas intenções e concepções gerais. É um documento que informa a

opção particular dos que nela trabalham e convivem de organizar o trabalho

pedagógico da escola.

A responsabilidade da construção desse projeto de sociedade e de

educação é de toda a comunidade escolar, visto que sua origem deve se assentar

em um

processo democrático de decisões, preocupa-se em ministrar uma forma de organização do trabalho pedagógico que supere os conflitos, buscando eliminar as relações competitivas, corporativas e autoritárias, rompendo com a rotina do mundo impessoal e racionalizado da burocracia que permeia as relações no interior da escola (...) (Veiga, 1995, apud Taques et al, 2009, p.13).

O projeto político-pedagógico dá o norte, o rumo, a direção; “Ele

possibilita que as potencialidades sejam equacionadas, deslegitimando as formas

instituídas” (Veiga, 2000, p. 192).

Sob essa ótica, o projeto político-pedagógico apresenta algumas

características fundamentais:

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a) É um movimento de luta em prol da democratização da escola que não

esconde as dificuldades e os pessimismos da realidade educacional, mas

não se deixa levar por esta, procurando enfrentar o futuro com esperança

em busca de novas possibilidades e novos compromissos. É um movimento

constante para orientar a reflexão e ação da escola.

b) Está voltado para a inclusão a fim de atender a diversidade de alunos,

sejam quais forem sua procedência social, necessidades e expectativas

educacionais (Carbonell, 2002); projeta-se em uma utopia cheia de

incertezas ao comprometer-se com os desafios do tratamento das

desigualdades educacionais e do êxito e fracasso escolar.

c) Por ser coletivo e integrador, o projeto, quando elaborado, executado e

avaliado, requer o desenvolvimento de um clima de confiança que favoreça

o diálogo, a cooperação, a negociação e o direito das pessoas de intervirem

na tomada de decisões que afetam a vida da instituição educativa e de

comprometerem-se com a ação.

O projeto não é apenas perpassado por sentimentos, emoções e

valores. Um processo de construção coletiva fundada no princípio da gestão

democrática reúne diferentes vozes, dando margem para a construção da

hegemonia da vontade comum. Uma gestão democrática não se confunde com a

proposta burocrática de um dos agentes educativos, fragmentada e excludente. Ao

contrário, a construção coletiva do projeto político-pedagógico inovador procura

ultrapassar as práticas sociais alicerçadas na exclusão, na discriminação, que

inviabilizam a construção histórico-social dos sujeitos.

d) Há um vínculo muito estreito entre autonomia e projeto político-

pedagógico. A autonomia possui o sentido sociopolítico e está voltada para o

delineamento da identidade institucional.

A identidade representa a substância de uma nova organização do trabalho

pedagógico. A autonomia anula a dependência e assegura a definição de critérios

para a vida escolar e acadêmica. Autonomia e gestão democrática fazem parte da

especificidade do processo pedagógico.

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e) A legitimidade de um projeto político-pedagógico está estreitamente ligada

ao grau e ao tipo de participação de todos os envolvidos com o processo

educativo, o que requer continuidade de ações.

f) Configura unicidade e coerência ao processo educativo, deixa claro que a

preocupação com o trabalho pedagógico enfatiza não só a especificidade

metodológica e técnica, mas volta-se também para as questões mais

amplas, ou seja, a das relações da instituição educativa com o contexto

social.

Construir o projeto político-pedagógico para a instituição educativa

significa enfrentar o desafio da inovação emancipatória ou edificante, tanto na

forma de organizar o processo de trabalho pedagógico como na gestão que é

exercida pelos interessados, o que implica o repensar da estrutura de poder.

A instituição educativa não é apenas uma instituição que reproduz

relações sociais e valores dominantes, mas é também uma instituição de confronto,

de resistência e proposição de inovações. A inovação educativa deve produzir

rupturas e, sob essa ótica, ela procura romper com a clássica cisão entre

concepção e execução, uma divisão própria da organização do trabalho

fragmentado.

PEDAGÓGICO POR QUÊ?

Porque diz respeito à reflexão sistemática sobre as práticas educativas, da sentido

e rumo a essa práticas.

POLÍTICO POR QUÊ?

Político porque diz respeito à arte e à ciência de governar. É político no sentido do

compromisso com a formação do sujeito para um tipo de sociedade.

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PENSE.... Que processos envolvem a elaboração de um Projeto

Político Pedagógico?

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2.2 UNIDADE II DIMENSÕES A SEREM CONSIDERADAS

AGORA VOCÊ SABE O QUE É UM PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO?

PORÉM... é preciso pensar o que vamos precisar para CONSTRUIR este

documento

PRECISAMOS PENSAR NO SEU PROCESSO, E PARA ISSO TEMOS TRÊS

DIMENSÕES CONSIDERADAS FUNDAMENTAIS...

DIMENSÕES A SEREM RESPEITADAS PARA A CONSTRUÇÃO DE UM

PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO

3 Como? Ação propriamente

dita

1 O que é?

Situação Real

2 Para quê?

Utopia Social

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1. Dimensão Situacional: quais questões devemos responder?

Como compreendemos a sociedade atual? Como se caracteriza o contexto social

onde a escola atua? Qual o papel da escola? A quem ela serve? De modo geral,

que experiências essa escola propicia aos alunos?

2. Dimensão Conceitual

Em face da realidade identificada, descrita e analisada, que concepções de

educação, escola, gestão, currículo, ensino, aprendizagem e avaliação se fazem

necessárias para atingir o que pretendemos?

3. Dimensão Operacional

- quais precisam ser as decisões gerais para a operacionalização do Projeto?

- como redimensionar a organização do trabalho pedagógico, face às decisões

inscritas no Projeto, construído coletivamente?

- que tipo de gestão será mais efetiva?

O Projeto de Escola deve considerar as reais necessidades da

comunidade na qual está inserida, em particular as necessidades educativas de

seus alunos.

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2.3 UNIDADE III CONSTRUÇÃO COLETIVA

Na sua escola o Projeto Político Pedagógico é acompanhado e avaliado?

Aborda princípios que deverão nortear a escola democrática, pública e

gratuita?

O texto Projeto Político pedagógico: uma construção coletiva, de Simone

Raquel Pagel Longhi e Karla Lucia Bento, disponível na Revista Técnico de

Divulgação Científica, Blumenau, v. 3, n. 9, jul – dez. 2006, pode nos auxiliar a

refletir para respondermos a parte dessas questões. Nele as autoras destacam a

importância da participação de todos os segmentos da escola para a construção do

projeto político pedagógico.

... abaixo segue o texto. Vamos ler, para nos inteirar e aprofundar?!

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PROJETO POLÍTICO-

PEDAGÓGICO Uma

construção coletiva

Simone Raquel Pagel Longhi

Karla Lucia Bentoo

Este artigo discute a importância da construção coletiva

do Projeto Político-Pedagógico na escola como um

documento que reflete a realidade escolar, sendo que a

escola tem autonomia para elaborá-lo, relacionando-o

diretamente à identidade da instituição. Tendo em vista

que a escola é constituída de diferentes segmentos, o

Projeto Político-Pedagógico cumprirá o seu papel se for

uma construção coletiva com o objetivo de melhorar a

prática educativa. Procuramos ressaltar que a busca da

participação da comunidade escolar é fundamental nesse

processo, cujo caminho pode estar cheio de dificuldades,

mas que pode, também, ser um momento propício para

visualizar novas possibilidades e transformação da

realidade. Palavras-chave: Projeto Político-Pedagógico. Participação. Viabilidade.

1. INTRODUÇÃO

Este artigo tem por objetivo refletir sobre a construção do

Projeto Político-Pedagógico na escola como um processo coletivo, envolvendo os diversos agentes que fazem parte

da realidade escolar. Justificamos a pertinência do tema por compreendermos

que a escola possui uma identidade própria, que se constitui sob a influência da sua realidade local e das

diretrizes/teorias gerais da educação. Essa identidade nem sempre é explícita ou, mesmo, reconhecida na própria

escola, que acaba por reduzir sua função ao repasse de conteúdos prontos e acabados, sem relacioná-los com o

público ao qual atende. A construção coletiva do Projeto Político-Pedagógico é, justamente, uma possibilidade

de reconhecimento dessa identidade e de reflexão e mudança da prática pedagógica.

Desenvolvemos a reflexão aqui apresentada com base em

levantamento bibliográfico, sendo Veiga (2004), Vasconcelos (2004a e 2004 b) e Padilha (2003) alguns

dos autores que fundamentaram as discussões, possibilitando a construção deste texto. Sob a ótica desses

autores, o Projeto Político-Pedagógico deve ser um instrumento de diagnóstico e transformação da realidade

escolar, construído coletivamente. Além dos teóricos mencionados, a legislação pertinente, tanto no âmbito

federal quanto municipal, também subsidiou as reflexões. A introdução inicia a organização do texto. Na seqüência,

procuramos discutir sobre o conceito de Projeto

Político- Pedagógico, refletindo sobre seu

significado e função e apontando os agentes responsáveis pela sua elaboração. Discutir as ações

desses agentes necessárias à efetivação do processo de construção permanente é a proposta seguinte.

Apontamos como principais agentes os profissionais da escola, os alunos e os pais.

Depois de refletirmos sobre os papéis e formas de participação desses sujeitos na construção coletiva do

projeto, procuramos ressaltar a necessidade de mantê-lo como um documento vivo, parte integrante da

realidade escolar e, portanto, em constante transformação. Por último, nas considerações finais, retomamos o objetivo

inicial do artigo, reafirmando a construção do projeto político-pedagógico como algo necessário e possível.

2 CONCEITO E FUNÇÃO DE UM PROJETO

POLÍTICO-PEDAGÓGICO

Pesquisando o conceito de Projeto Político-Pedagógico, encontramos em Vasconcelos (2004a, p.169)

a seguinte explicação:

É um plano global da instituição. Pode ser entendido como a

sistematização, nunca definitiva, de um processo de P lanejament o

Part icipativo, que se aperfeiçoa e se concretiza na caminhada,

que define claramente o tipo de ação educativa que se quer

realizar. É um instrumento teórico-metodológico para a intervenção

e mudança da realidade. É um elemento de organização e integração

da a tividade prática da instituição neste processo de

transformação.

O Projeto Político-Pedagógico é, portanto, um

documento que facilita e organiza as atividades, sendo mediador de decisões, da condução das ações e da

análise dos seus resultados e impactos. Ainda se constitui num retrato da memória histórica construída,

num registro que permite à escola rever a sua intencionalidade e sua história.

Neste sentido, podemos entender que o projeto

norteia o trabalho da escola por encaminhar ações para o futuro com base na sua realidade atual e sua história. É

um planejamento que prevê ações a curto, médio e longo prazo, intervindo diretamente na prática pedagógica

diária. As ações refletidas no projeto procuram incluir desde os conteúdos, avaliação e funções até as relações

que se estabelecem dentro da escola e entre a escola e a comunidade. A ideologia em relação ao tipo de sujeitos

que a escola pretende formar dá o tom político ao projeto. Por meio dessa explicitação ideológica e de

objetivos articulados com as ações, é possível distinguir entre uma prática que se preocupa com a formação de

cidadãos críticos, participativos, responsáveis e sujeitos de sua própria história e outra de repasse e repetição de

conteúdo sem estar atenta ao desenvolvimento humano. A própria metodologia de construção do projeto –

centrada em algumas pessoas que detêm o poder de comando da escola ou coletivo de forma que todos se

sintam partícipes e responsáveis pelas decisões tomadas – é indício de posição político-ideológica. De acordo com a

forma como procuramos conceituar a importância e relevância de um Projeto Político-Pedagógico, não caberia

uma construção autoritária e hierárquica. Isso porque compreendemos a escola não como lugar somente

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de transmissão de conhecimento, e sim como lugar

privilegiado para realizar um trabalho pedagógico muito mais amplo visando à formação integral dos cidadãos e

buscando o exercício da cidadania por meio da participação e reflexão da realidade da comunidade escolar.

A importância de a escola construir este documento é reconhecida pela legislação. Assim, o Projeto Político-

Pedagógico, em âmbito federal, é citado pela Lei de Diretrizes e Bases, Lei 9396/98 (BRASIL, 1998), e, no

município de Blumenau, SC, é exigência do Conselho Municipal de Educação, Resolução nº 004/00, para todas

as escolas públicas e privadas ligadas ao sistema municipal de ensino que atuam na educação básica

(BLUMENAU, 2001). Segundo Sousa e Corrêa (apud DAVIS, 2002, p.49), é preciso

pensar “o projeto pedagógico como um direito e um dever da escola e como um dos desafios para o avanço na

organização do trabalho pedagógico”. Para o Projeto Político-Pedagógico realmente ser um direito e

um dever, todos os envolvidos nesse processo precisam estar cientes de que fazem parte dele, acreditando na sua

importância, para não ser somente um documento, e sim ser utilizado como norteador para um trabalho

pedagógico desenvolvido coerentemente entre teoria e prática.

De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases 9.394/96, a instituição escolar tem autonomia para que o Projeto

Político- Pedagógico aconteça. Isto é assegurado no art. 15, Título IV: “Os sistemas de ensino assegurarão às

unidades escolares públicas de educação básica que os

integram progressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira, observadas as normas

gerais de direito financeiro público.” (BRASIL, 1996). Em relação à autonomia, é preciso perceber que existem três

eixos que estão interligados – administrativo, financeiro e pedagógico – e que delineiam a identidade da

escola. Autores que discutem a questão da autonomia reconhecem a limitação da escola em relação a esses eixos,

sendo, portanto, uma autonomia relativa. Segundo Veiga (2004, p. 14),

A principal possibilidade de construção do projeto político- pedagógico

passa pela relativa autonomia da escola, de sua capacidade de delinear sua própria identidade. Isto significa resgatar a escola como espaço

público, lugar de debate, do diálogo, fundado na reflexão coletiva.

Quanto mais ampla for a participação de diferentes agentes no processo de construção do projeto, mais ampla pode se

tornar essa autonomia. Segundo Vasconcelos (2004a, p.47), “não compete à equipe diretiva assumir o papel de

guardiã do projeto, e em especial do cumprimento da programação. Isto é tarefa de todos”.

Sendo resultado da reflexão coletiva, implica compromisso coletivo que orienta a prática pedagógica da instituição,

cria estratégias e condições para um planejamento geral, aponta os ideais dos envolvidos com a questão educacional

e a adequação à realidade social. Não é um processo simples, pois exige de seus agentes o compromisso de ressignificar a

própria prática. Segundo Gadotti (1994 apud VEIGA, 2004, p. 12),

Todo projeto supõe rupturas com o presente e promessas com o

futuro. Projetar significa tentar quebrar um estado confortável para

arriscar-se, atravessar um período de instabilidade e buscar uma nova

estabilidade em função da promessa que cada projeto contém de

estado melhor que o presente. Um projeto educativo pode ser

tomado como promessa frente a determinadas rupturas. As

promessas tornam visívei s os campos de ação possível ,

comprometendo seus atores e autores.

A exigência legal tem mobilizado escolas, tanto na

construção como na atualização do Projeto Político-Pedagógico. Por meio desse movimento de reflexão sobre

a própria realidade e retomada periódica do documento, tem-se procurado assegurar seu caráter de intervenção e

mudança, não apenas como cumprimento de exigência legal, mas, justamente, como reconhecimento de que a

realidade muda e de que a mudança traz novas exigências, novas posturas, diferentes práticas e relações. No

município de Blumenau, especificamente, esse movimento pode ser observado por meio das orientações

do Conselho Municipal de Educação em relação à construção e reformulação periódica do documento.

A instituição que se propõe seguir com seriedade e compromisso a construção coletiva do Projeto

Político- Pedagógico demonstra estar disposta a discutir, a se expor e a reorganizar-se de acordo com a

necessidade e possibilidade de seus educandos, familiares e comunidade. Nessa escolha, fica explícito

ser indispensável a participação desses agentes: funcionários da escola (administrativo, financeiro,

pedagógico), alunos, familiares e comunidade. A articulação e a viabilização do processo participat ivo

desses sujeitos passam pelo reconhecimento da identidade, função e influência de cada um dos agentes

na realidade da escola. Esta questão, pela sua

importância, é a discussão da próxima parte deste artigo.

3 PARTICIPAÇÃO COLETIVA:

QUEM,PORQUEECOMOVIABILIZAR?

3.1 QUEM SÃO OS AGENTES E POR QUE DEVEM PARTICIPAR

3.1.1 A liderança do processo

Como já vínhamos discutindo, na forma como

compreendemos o Projeto Político Pedagógico (PPP), ele não pode ser imposto, mas construído coletivamente,

por se tratar de um documento que expressa a identidade de uma comunidade (escolar) e não de um grupo ou

equipe técnica, sendo uma necessidade, e não apenas

uma obrigação. Essa construção será possível por meio das discussões

e reuniões que envolvem toda a comunidade escolar, ou seja, entre equipe administrativa, financeira e pedagógica,

alunos, familiares e comunidade, focando sempre a melhoria da prática educativa e transformando idéias e

concepções em movimentos de ação importantes e fundamentais para o processo de construção

Todo processo requer um articulador que, no caso da construção do Projeto Político-Pedagógico, pode

ser o(a) diretor(a) da escola, o(a) supervisor(a), o(a) coordenador(a) ou outra liderança expressiva na

realidade escolar. Conforme o tamanho da escola – espaço físico e número de funcionários/ alunos –

poderá existir uma equipe articuladora. A essa equipe caberá conhecer e refletir sobre as metodologias

possíveis de construção coletiva do Projeto Político-

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Pedagógico e planejar as formas de participação e

sensibilização dos demais sujeitos durante o processo de construção. Por reconhecermos que existem

diferentes realidades escolares, optamos por denominar, neste artigo, de articulador ou equipe articuladora a quem

assume a liderança desse processo. A idéia da equipe se pauta, também, na motivação do próprio

articular que, se estiver sozinho, poderá se abater por dificuldades possíveis e prováveis que encontrará na

caminhada. Sendo parte de uma equipe, sempre há a possibilidade de ajuda mútua, de troca, do

estabelecimento de uma rede de apoio da qual devem fazer parte, também, os teóricos que escrevem a respeito do tema.

Essa rede de apoio pode, inclusive, estabelecer ligações com outras escolas que já tenham caminhado mais adiante

em relação a esse processo, promovendo, assim, troca de experiências entre diferentes realidades.

O papel da equipe de apoio é fundamental na viabilização do processo, pois é dela a função de planejar ações para

sensibilizar os envolvidos, buscando conscientizar (e estar consciente e convencida) da importância desse

documento para promover melhor qualidade nas práticas da escola e, conseqüentemente, da educação.

3.1.2 Administrativo, financeiro e pedagógico: o envolvimento dos funcionários da escola

A existência de uma escola requer o trabalho de muitas pessoas que interferem diretamente no seu cotidiano. Neste

sentido, é preciso envolver todos os seus funcionários – da secretaria, limpeza, cozinha, biblioteca, entre outros –

na elaboração do Projeto Político-Pedagógico para que este possa retratar a realidade global da comunidade

escolar. Os funcionários devem ser sensibilizados a participar da

elaboração do Projeto Político-Pedagógico, o que poderá acontecer de diversas formas: acreditando que

este processo pode melhorar a educação; buscando as questões que influenciam o trabalho desenvolvido na

escola; relatando, por meio de questionários e entrevistas, sua prática e o que acreditam ser necessário

mudar para ter um ensino de qualidade; e procurando trazer

soluções para as questões-problema da escola. A participação dos mais diferentes segmentos faz com que, na

sua individualidade, o funcionário da escola perceba a importância da sua função na organização e

funcionamento da escola. Esta conscientização terá reflexos na coletividade já que cada um poderá passar a

exercer seu papel compreendendo a influência que exerce sobre a função do outro.

Cabe ressaltar a importância de os professores aderirem à elaboração do Projeto Político-Pedagógico e com ele

se comprometerem, trazendo para as discussões sua visão de educação e ações possíveis de serem executadas

e que possam melhorar a qualidade da educação na escola. Neste sentido, professores são agentes essenciais

para elaborarem a redação técnica e buscarem o referencial teórico para fundamentar os ideais e opiniões

expostos nas reuniões. Esta redação poderá ter o apoio de outros agentes envolvidos na construção, sendo que alguns

cuidados para evitar o desânimo e a descrença são muito importantes. Segundo Vasconcelos (2004b, p.44),

Para resgatar a credibilidade dos educadores nos processos de

planejamento, é decisivo que possam vivenciar:

• Algo que não demore muito na elaboração; é muito desgastante

quando a escola fica anos elaborando seu proje to. • Algo que

efetivamente aconteça, que na Realização

Interativa revele a pertinência e a viabilidade de concretização.

Partindo do pressuposto de que professores e demais funcionários da escola tenham um

comprometimento profissional e ético em relação à qualidade da educação, a sensibilização, o

convencimento destes precede o envolvimento dos alunos e familiares. Tanto os alunos quanto seus

familiares precisarão encontrar motivação na equipe de funcionários da escola para acreditarem na

importância desta construção. Além dessa motivação, os próprios professores deverão estar

convencidos da necessidade dessa participação já que “a escola não pode ser propriedade dos professores, ela

deve incluir toda comunidade educativa no planejamento de suas metas de melhoria”.

(HERNÁNDEZ, 2003, p.25).

3.1.3 Envolvimento dos alunos, das famílias e da

comunidade

Quando o Projeto Político-Pedagógico é elaborado,

é necessário conhecer a realidade em que vivem os alunos da escola, a sua história de vida e os seus sonhos para o

futuro e refletir sobre eles. Neste sentido, a equipe articuladora precisa buscar alternativas que possam

abranger todos os alunos nesta elaboração, observar, dialogar e entender a importância da escola para a vida

deles. É relevante lembrarmos que a escola existe em função do aluno e que é ele quem vive mais

diretamente o processo pedagógico, a realidade escolar. Conteúdos, avaliação, relações sociais e valores vão

constituindo, diariamente, a história de vida de cada criança e, possivelmente, cada criança terá algo a dizer

sobre esses assuntos que vivencia. Durante a elaboração, os alunos devem ser ouvidos para

que possa ser entendida a visão que os mesmos têm da escola onde estudam. As formas como as crianças

expressam o que pensam são muito diversas das formas que os adultos utilizam. Adultos falam e escrevem,

basicamente. Crianças exteriorizam por meio das notas,

do empenho, da alegria (ou não) de estarem na sala, da preferência pelo recreio e não pela sala de aula, do

número de faltas, da evasão, da reprovação, da violência e da depredação contra pessoas e estrutura física da

escola. Promover a participação dos alunos significa atestar para

eles sua importância, bem como mostrar que a escola se preocupa com eles e deseja assumir a responsabilidade de

buscar caminhos que possibilitem transformar a realidade em que vivem.

A participação da família nas discussões possibilita à escola compreender e reconhecer mais profundamente a

realidade de seus alunos. A escola é uma parceira na educação das crianças, é uma das instâncias responsáveis

pela formação humana, não a única. A família é, geralmente, a primeira que estabelece uma relação

entre a criança e o mundo. Concepções, valores, comportamentos que a criança desenvolve estão

relacionados com essa experiência ou com a falta dela.

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Ouvir os pais significa abrir a escola para quem, mesmo não

estando presente diretamente na escola, está envolvido com ela, tendo interesse em tudo o que ocorre nos tempos e

espaços da instituição. A contribuição dos pais pode não ter base teórica, mas,

certamente, trará angústias, desejos e medos que eles sentem em relação à vida escolar de seus filhos. Trará sentimentos

que, se até aquele momento não influenciavam diretamente a organização da escola por não estarem nela envolvidos,

exerciam influência sobre a motivação com que mandavam as crianças para a escola e as matriculavam. Além desse

aspecto, é possível que os pais ressignifiquem o olhar que a escola, principalmente por meio do professor, possui em

relação à prática pedagógica e à organização. O olhar que vem de fora proporciona a observação de pontos que já se

acomodaram aos olhos daquele que convive diariamente naquele espaço.

Pelos motivos expostos é que, no processo de construção do Projeto Político-Pedagógico, é muito importante a escola

conhecer a realidade que a cerca: que tipo de comércio existe, qual a cultura de sua comunidade, que tipo de

atividades acontece nas proximidades e de que forma são utilizados os tempos e espaços existentes fora dos portões

da escola. Nesse sentido, a equipe articuladora deve afirmar a escola como um espaço comunitário. Estudar esse

espaço mais amplo significa buscar compreender que expectativas a comunidade em geral têm em relação à escola

e reconhecer que os agentes dessa comunidade podem contribuir para melhorar a prática educacional ali existente.

Finalizando a discussão relacionada à necessidade da

elaboração e participação coletiva, Vasconcelos (2004a, p.41) ainda esclarece que, “Não havendo adesão do coletivo,

um projeto pode ser elaborado pela equipe de direção, tanto para cumprir uma exigência, quanto para ter alguns

elementos de referência para o próprio trabalho, mas entendendo que não é o da escola como um todo.”

3.2 A VIABILIZAÇÃO DO PROCESSO: ALGUMAS POSSIBILIDADES

Por mais significativa que seja a função do Projeto Político-

Pedagógico, a sua viabilização não é um caminho fácil.

Chegar a um consenso não é fácil, pois são muitas idéias e concepções. A equipe articuladora deve estar atenta a essas

discussões, refletir sobre cada item com o grupo e pesquisar junto com a equipe redatora a fundamentação

para esclarecer as dúvidas aos agentes envolvidos. Neste sentido, Vasconcelos (2004a, p. 30) lembra:

A apreensão que os diferentes membros da comunidade educativa farão da realidade escolar poderá ser bastante divergente. Vai ser preciso muita

interação, muito diálogo para se chegar às necessidades e às

possibilidades de forma rigorosa (não-alienada) e coletiva.

Para tornar possível a realização do Projeto Político-

Pedagógico, é preciso, de acordo com Padilha (2003), pensar em estratégias, em uma metodologia de trabalho que

reconheça esse momento como uma festa da escola cidadã, ou seja, como um momento que permite uma leitura de

mundo no sentido de conhecer a realidade local e intervir de forma democrática e participativa. Para

efetivação desse processo, Padilha (2003, p.25) sugere os seguintes passos:

1. Discutir com a comunidade escolar o significado dessa festa.

2. Constituir uma comissão que organize e coordene esse processo na

escola, em sintonia com os outros colegiados escolares.

3. Criar espaços para que toda a comunidade escolar possa decidir

sobre como será a festa em todas as suas dimensões.

4. Definir responsabilidades, atribuições, cronograma das ações e

oferecer formação aos membros da Comissão da Festa para

melhor qualificar a sua atuação na mesma. 5. Socializar a experiência na própria escola com outras escolas

e ampliar essa troca em relação ao nível interescolar, municipal,

etc.

6. Amplia r a comunicação na escola e dar retorno permanente à

comunidade escolar sobre o resultado dos trabalhos e das

atividades desenvolvidos, inserindo-a na avaliação dialógica desse

processo.

7. Analisar e interpretar permanentemente os resultados parciais da

leitura do mundo, especialmente nas suas dimensões social,

política, ambiental, econômica, enfim, cultural, realizando a

transposição do resultado desse trabalho para o marco referencial

do PPP da escola, no qual se registram a visão de mundo da

comunidade escolar, suas utopias e seus sonhos de uma escola

melhor.

8. Atualizar o direcionamento do olhar em relação a determinados

enfoques e dimensões que se deseja pesquisar e/ou aprofundar, tornando a festa um evento permanentemente a tualizad o em

sua s l inguagens e atividades.

Além dos passos mencionados, existem outras formas

de conduzir e construir o Projeto Político-Pedagógico da escola. Cada instituição tem autonomia para

escolher a maneira mais adequada à sua realidade e que

viabilize a construção do mesmo. Porém, ressaltamos que a leitura de mundo que Padilha (2003) menciona é

fundamental para a construção do Projeto Político- Pedagógico, pois, assim, a escola estará definindo a sua

política educacional por meio de metas e objetivos importantes para aquele momento e local, ou seja, por

meio da leitura de mundo, é possível articular as necessidades e as possibilidades que estarão presentes nas

discussões, sem tomar o caminho do impossível. Para que essas discussões aconteçam, é essencial sensibilizar

os agentes envolvidos no processo sobre a importância que essa leitura de mundo terá na história da escola.

De acordo com Vasconcelos (2004a), depois de formada uma equipe articuladora, a primeira ação a ser

desencadeada junto aos sujeitos que participarão da elaboração do Projeto Político- Pedagógico é a

sensibilização dos mesmos de forma a reconhecerem a relevância do processo do qual

participarão: “O período que precede a elaboração pede muita dedicação e cuidado, um verdadeiro trabalho de

sensibilização para a necessidade de se fazer o Projeto e, em particular, ao momento da decisão de se fazer (e de

como fazer)”. (VASCONCELOS, 2004a, p. 38). A equipe articuladora deve estar atenta a essa etapa

para sensibilizar o grupo sobre a importância de todos os seus integrantes participarem e serem co-

autores do projeto.

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6 REFERÊNCIAS

BLUMENAU (município). Resolução nº 004/00, 17 de outubro de 2000. Estabelece diretrizes para a elaboração do Projeto Político- Pedagógico das Unidades de Ensino pertencentes ao Sistema Municipal de Ensino. Legislação,

Conselho Municipal de Educação, Blumenau, dez. 2001. p. 34.

BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Disponível em: < http:// www.presidencia.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm>. Acesso em: 25 out. 2005.

DAVIS, Cláudia. et al. Gestão da Escola: desafios a enfrentar. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.

HERNÁNDEZ, Fernando. O Projeto Político-Pedagógico vinculado à melhoria das escolas. Pátio, Porto Alegre:

Artmed, n.25, p. 08-11, fev. 2003.

PADILHA, Paulo Roberto. Caminho para uma escola cidadã mais bela prazerosa e aprendente. Pátio, Porto Alegre: Artmed, n.25, p. 12-15, fev. 2003.

VASCONCELOS, Celso do Santos. Coordenação do trabalho pedagógico: do projeto político-pedagógico ao cotidiano da sala de aula. São Paulo: Libertad, 2004a.

. Planejamento: projeto de ensino-aprendizagem e projeto político-pedagógico – elementos metodológicos para elaboração e realização. 7. ed. São Paulo: Libertad, 2004b.

VEIGA, Ilma Passos A. (Org). Projeto político-pedagógico: uma construção possível. 17. ed. Campinas: Papirus, 2004.

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3. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este material trata-se de um Caderno Temático cuja proposta é

analisar o processo de Construção do Projeto Político Pedagógico enfatizando os

itens contidos no documento. Tem como ponto de partida, a conscientização, a

relevância e a necessidade de se dar “vida” à organização do Trabalho Pedagógico.

Ao estudarmos determinado Tema nos apropriamos de elementos

que permitem um novo olhar sobre a nossa prática. Analisando essa compreensão

teórica e crítica, nos possibilita ter uma ação de intervenção que avance na direção

de uma escola democrática.

Mesmo com tantos desafios, foi possível observar que os

professores estão comprometidos com esse processo, mas nem sempre possuem

um espaço ou oportunidade para exteriorizar suas idéias ou manifestar suas

insatisfações

Assim, esse trabalho procurou sanar essas dúvidas e anseios

através das seguintes ações:

- reunir professores durante a formação continuada e reformular um Plano Político

Pedagógico para o ano de 2011 de forma a envolver aqueles que já conheciam a

instituição e informar àqueles que estavam chegando através de concurso ou PSS;

- apoio da área pedagógica que orientaria a reformulação desse instrumento de

forma coletiva ao mesmo tempo que possibilita alcançar e atender as exigências e

peculiaridade dos alunos e da escola.

Dispondo dessas informações, certamente, o professor terá mais

estratégias de ação perante os problemas que podem ocorrer durante o ano letivo. A

proposta, do Pedagogo-Multiplicador, está voltada para uma ação coletiva e é

fundamentada nos princípios de igualdade e acesso às informações, a fim de tornar

todos na escola agentes participativos e solidários para o alcance dos objetivos

definidos no PPP de sua unidade.

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Para garantir o sucesso, deve-se ter em mente que esse documento

aplica-se a todos os membros da escola, é um instrumento particular da instituição e

todos podem participar e colaborar com suas propostas.

Fazer uso do Plano Político Pedagógico no dia-a-dia escolar, como

um dos instrumentos que fundamente e qualifique as ações educativas dos

professores e demais agentes educativos junto aos alunos e à comunidade externa,

deve ser expresso por ações intencionais que tenham tido seu rumo direcionado

pelo resultado de um trabalho coletivo.

Tais ações devem, ainda, traduzir a vontade de todos em mudar, em

refletir sobre o que se tem de concreto, bem como dirigir a avaliação sobre o que foi

feito e, quando for o caso, fundamentar a projeção das mudanças.

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REFERENCIAS

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APÊNDICES

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LINKS

Neste link, professora Ilma Passos de Alencastro Veiga fala da construção do

projeto político-pedagógico. Ela defende que, sem a participação de alunos,

professores, pais e comunidade, nenhuma reformulação do projeto político-

pedagógico está completa.

http://www.educacional.com.br/entrevistas/entrevista0029.asp.

Em 2003, essa professora publicou um artigo no qual discute o significado de

inovação e projeto político-pedagógico sob duas perspectivas: como uma ação

regulatória ou técnica e como uma ação emancipatória ou edificante. Você pode ter

acesso ao mesmo no link abaixo:

<http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v23n61/a02v2361.pdf>

Cristina Quina, em uma série fé slides aborda o despreparo da escola brasileira

frente a diversidade, como proceder, o caminho a percorrer diante esta situação.

Também apresenta e leva-nos a reflexões sobre as dimensões de um Projeto

Político Pedagógico. Verifique o link:

<http://www.slideshare.net/piedadeteodoro/projeto-poltico-pedaggico-2490582>

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VÍDEOS

Bloco 1

O programa "Nós da Educação" com a professora Ilma Passos Alencastro Veiga,

Pós-doutora em Educação pela Universidade Estadual de Campinas, aborda a

construção do Projeto Político Pedagógico da escola com qualidade e sua

importância para a comunidade escolar. Verifique em:

<http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/modules/debaser/singlefile.php?id=10466>.

Duração: 00:11:59.

Bloco 2

No vídeo disponível em:

http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/modules/debaser/singlefile.php?id=10466

a professora Ilma Passos Alencastro Veiga ressalta a relação do projeto com a

gestão democrática e como ele vem sendo pensado pelas políticas públicas, quando

aborda a construção do Projeto Político Pedagógico da escola. Duração: 00:12:32.

Bloco 3

http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/modules/debaser/singlefile.php?id=10466

Neste vídeo, a professora Ilma Passos Alencastro Veiga aborda a elaboração do

Projeto Político Pedagógico e a participação da comunidade neste processo.

Duração: 00:11:59.

Um outro vídeo apresenta alguns conceitos de um Projeto Político Pedagógico, seus

passos, sua metodologia e citações de alguns autores. Verifique

em:<http://www.youtube.com/watch?v=QN-ZfbKdYU0>. Duração: 9:30.

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Este outro vídeo apresenta imagens com algumas mensagens sobre a construção

do Projeto Político Pedagógico e algumas dimensões que são abordadas. Acesse

<http://www.youtube.com/watch?v=o5YKLcvFCvg&feature=related>. Duração: 1:43.

Acesse <http://midiaseducacao-videos.blogspot.com/2007/12/projeto-poltico-

pedaggico-iii.html>. Neste vídeo é ressaltada a importância da elaboração de um

projeto político pedagógico e da compreensão dos conceitos e significados

envolvidos, a partir da apresentação de experiências em algumas escolas do país.

Duração: 25:48.

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SUGESTÕES PARA OUTRAS LEITURAS

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Educação & Sociedade, Campinas, v.24, n.85, p.1319 – 1340, 2003.

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DIOGO, F.. Por um projecto educativo de rede. 2a ed. Lisboa: Asa, 1998.

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GADOTTI, M. e ROMÃO, J. E. (orgs.). Autonomia da educação: princípios e propostas.

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