da escola pÚblica paranaense 2009€¦ · há literatura e leitores, porém cabe aos educadores...
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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE
VOLU
ME I
ENSINO E APRENDIZAGEM: o método criativo e a formação de
leitores.
Autora: RODRIGUES, Nislene Mendes Gonçalves1
Orientadora: PIRES, Elmita Simonetti 2
Resumo
De todas as reflexões sobre os investimentos na Educação, a primordial é a Formação de Leitores, porque todo o conhecimento passa pelo crescimento e pelo coração, tornando-nos flexíveis às transformações inovadoras. A arte de ler é o caminho da construção e reconstrução do desenvolvimento sociocultural, político e econômico de toda sociedade, deste modo defende-se a implementação das estratégias da arte de ler para que o leitor-aprendiz sinta o gosto pela leitura e se torne um leitor comprometido com o processo de mudanças em todas as áreas de saberes. Portanto, a leitura é uma atividade essencial a qualquer área do conhecimento e está intimamente ligada ao sucesso do ser que aprende. Permite o homem situar-se com os outros, possibilitando a aquisição de diferentes pontos de vista e alargamento de experiências. O Método Criativo selecionado para o presente projeto permite aos leitores, o desenvolvimento da criatividade, assumindo com liberdade um papel ativo e interativo no processo de ensino-aprendizagem. A atual prática na formação de leitores nas escolas públicas e privadas não viabiliza um processo de democratização do ensino, portanto deve-se partir para uma perspectiva de uma leitura diagnóstica a qual deverá ser assumida como um instrumento de compreensão do estágio de leitura em que se encontra o aluno, tendo em vista a tomada de decisões suficientes e satisfatórias para que possa avançar no seu processo de aluno aprendiz. Obter um conhecimento de nós mesmos através do ato da leitura, é tão importante quanto conhecermos os meios em que vivemos e suas dimensões. Assim a descoberta da identidade e a socialização de conhecimentos vem a ser um dos primeiros passos para uma boa integração social.
Palavras-chave: Metodologia do Ensino de Literatura, Literatura – Leitura.
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e a integração de um mundo mais justo e melhor. A criança desde muito cedo
começa a tomar consciência de si, e é capaz de se colocar no mundo estabelecendo
relações e ampliando seus conhecimentos.
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1.Profª PDE de Língua Portuguesa do Colégio Estadual Enira Moraes Ribeiro E.F.M.P., Paranavaí, Pr.2.Profª Mestre em Estudos Literários pela UEL-2000, docente das disciplinas de Teoria da Literatura e Literatura Infanto-Juvenil da UEM/UNESPAR – Campus Paranavaí, Pr
Considerações Iniciais
Este trabalho tem como objetivo construir uma reflexão, a partir de uma
narrativa de um processo de formação do leitor sobre a questão da leitura na
atualidade, bem como as formas de construir hábitos de leitura em crianças, jovens
e adultos durante os processos de escolarização e para toda a vida.
É comum ouvir dos educadores e pais que crianças, adolescentes e jovens
universitários não gostam de ler.
Saber ler tornou-se, pois, condição indispensável para o acesso às áreas do
conhecimento e mais ainda à própria vida do ser humano, uma vez que a leitura tem
função principal para a aquisição do conhecimento, de cultura, do saber e da
conscientização política face aos desafios do século XXI.
O ato educativo insere-se numa trama constituída por diferentes agentes
educativos com diferentes formações e funções.
Com a escolha de textos literários que envolvam a criança através de uma
linguagem lúdica e criativa, do mundo do possível e do impossível, de situações
reais e fantásticas, as emoções da criança são despertadas, configurando-se aí o
caráter estético da obra literária.
Contar histórias é um meio de dar sentido à realidade, é um costume que
existe entre os povos do mundo todo. É um aspecto fascinante de um programa de
linguagem oral. As crianças ouvem e reproduzem histórias com prazer.
Reproduzindo-as, enriquecem suas experiências, sua linguagem e a organização de
um pensamento. As crianças que ouvem histórias têm modelos para imitação,
passando facilmente à invenção de suas próprias histórias. Dessa forma, as
histórias dão origem às formas distintas de aprendizagem: as crianças reproduzem,
criam, dramatizam, narram suas experiências oralmente e através de desenhos.
Há séculos, aventuras incríveis de dragões, princesas e fadas, bem como as
lendas do nosso folclore, são passadas de pai para filho.
Conhecendo estas histórias, explorando seu misticismo e magia, as crianças
poderão conhecer, valorizar, compreender e saber parte da história dos povos.
Analisando a realidade da escola brasileira no que se refere à questão da
leitura no ensino fundamental, e em especial ao ensino da literatura, consciente no
lugar de destaque que a imaginação deve ter no processo educacional, acredita-se
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que a pesquisa nesta área insere-se num vasto campo de descobertas, e a prática
de novas metodologias de leitura literária, pode contribuir para a revitalização da
escola, em sua proposta de leitores pensantes, conscientes, criativos e reflexivos.
Contar e ouvir histórias é fundamental para despertar nos alunos o gosto
pelos livros. Partindo desse pressuposto; de que forma os profissionais da Educação
têm estimulado a formação de leitores na escola; e de que maneira a literatura
infantil pode despertar o senso crítico e a imaginação das crianças?
No mundo atual, industrializado, globalizado de quebra de valores,
paradigmas e fortemente influenciado pela mídia; indaga-se: Que metodologias a
escola precisa reinventar para formação de leitores criativos?
O educador preocupado com a formação do leitor é aquele que busca
constantemente conhecimentos de forma contextualizada. Um processo complexo
elaborado a partir de um mergulho em experiências alheias e convívio com o outro,
utilizando mecanismos próprios das mais diferentes linguagens e literaturas. Textos
que contribuam para o desenvolvimento e descoberta de valores morais, sociais,
éticos e religiosos. Nossos educadores têm essa preocupação e consciência ao
elaborar suas práticas para a sala de aula?
Torna-se imprescindível, criar no ambiente pedagógico um clima favorável a
leitura, marcado por interações abertas e democráticas. Interações que vão permitir
muitas leituras de um mesmo texto, por sujeitos que têm histórias, competências,
interesses, valores e crenças diferentes. Cabe ao professor, reconstruir com seus
alunos a trajetória interpretativa de cada um, buscando compreender a construção
de cada sentido apontado.
A escola deve apropriar-se das múltiplas possibilidades de leitura, e que
esta seja explorada, utilizando o conhecimento e a criatividade dos educadores e
educandos na tarefa tão importante de formar leitores críticos e criativos. Dessa
forma a valorização do trabalho em equipe deverá iniciar precocemente no seio da
família através de pais, avós... e que tenha continuidade na escola, com a
participação efetiva e ativa de todos os envolvidos no processo educacional, de
forma espontânea e prazerosa para que se estenda por toda a existência.
A leitura é uma atividade de assimilação de conhecimentos, de
interiorização, de reflexão. Deve ocupar um espaço de real importância na vida das
crianças, merecendo assim um tratamento especial em sala de aula.De tudo que a
escola pode oferecer aos alunos, sem dúvida, é a leitura, a grande herança da
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Educação.
Há literatura e leitores, porém cabe aos educadores através de uma
metodologia interacionista, propor aos alunos escolhas literárias nas quais fazem
suas descobertas, ampliam seus horizontes e saciam a sede da alma. A respeito
disso Regina Zilberman e Ezequiel Theodoro da Silva comentam:
Considerando que não existe ensino neutro e/ou não-diretivo, para onde então deve o professor dirigir o ensino da literatura na escola?Para o beletrismo burguês? Não!Para a eloquência a retórica? Não!Para o ócio descompromissado? Não!Para a perenização de modelos? Não!Para a fuga do cotidiano? Não!Para passar no vestibular? Não!Para reprodução das estruturas que aí estão?Não!Sim: dizer não! Desobediência. Coragem. Conflito. E devanear. E divagar. E despojar-se dos preconceitos, chamando assim a imaginação criadora, inventando novos encaminhamentos para a educação literária das crianças...(Zilberman e Silva, 1990, p.56).
O direito de formar não somente leitores, mas antes de tudo, cidadãos mais
humanizados, sensíveis, inteligentes e questionadores, prontos para a ventura do
saber.
Acreditando nisto, propomos no desenvolvimento deste trabalho possibilitar
ao público - leitor formas para conhecer e aprofundar seu Eu e o Eu do mundo,
estimulando a criatividade, criticidade, curiosidade e outras competências, através
da arte de ler, bem como o desenvolvimento de habilidades relacionadas à
comunicação sobre as diferentes formas de arte que contribuam para formação de
cidadãos éticos, livres e críticos. Oportunizando-lhes a leitura de obras literárias que
estimulem a imaginação, a expressão oral e a importância de resgate dos valores
culturais visando sua formação social, através da multiplicação e disseminação de
metodologias dinâmicas na formação do leitor.
Cremos assim, que ressaltará seu conhecimento do cotidiano, fazendo a
interação com o texto literário para o enriquecimento pessoal e coletivo, além de
auxiliar na formação de professores comprometidos com o ensino de literatura, com
um olhar especial para as séries iniciais.
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Fundamentação Teórica e Metodológica
Compreende-se a leitura como um ato dialógico, interlocutivo, que envolve
demandas sociais, históricas, políticas, econômicas, pedagógicas e ideológicas de
determinado momento. Ao ler, o individuo busca suas experiências, seus
conhecimentos prévios, a sua formação familiar, religiosa, cultural, enfim as várias
vozes que o constituem.
Praticar a leitura em diferentes contextos requer que se compreendam as
esferas discursivas em que os textos são produzidos e circulam, bem como se
reconheçam as intenções e o interlocutor do discurso.
É nessa dimensão dialógica, discursiva que a leitura deve ser experienciada,
desde a alfabetização.
Nas diretrizes Curriculares da Educação Básica, comenta-se que a leitura
como produção humana está intrinsecamente ligada a vida social. O entendimento
do que seja o produto literário está sujeito a modificações históricas, portanto, não
pode ser apreensível somente em sua constituição, mas em suas relações
dialógicas com outros textos e sua articulação com outros campos: O contexto de
produção, a crítica literária,a linguagem,a cultura, a história,a economia,entre outros.
Difícil encontrar alguém que não pare para ouvir uma boa história. Quando a
criança ouve histórias, descobre que o mundo dos livros é interessantíssimo.
Luta-se muito para que as escolas passem a dar valor à leitura prazerosa e
não a obrigá-la como meio para promoção ou reprovação, como tem acontecido
e,infelizmente ainda acontece em muitas escolas.
Para que esta leitura possa ser realmente uma forma de dar prazer e
imaginação às crianças, os educadores e demais profissionais da educação devem
compreendê-la e ver o que é ou não aconselhável trabalhar com seus alunos.
Quando se permite à criança que ela explore a história, ela se torna capaz
de analisá-la criticamente e identificar em seu conteúdo, valores,ensinamentos,que
na maioria das vezes incorporam em sua vida,pois para ela esse universo é real.
O professor de literatura deve direcionar seu trabalho de forma que as
histórias venham resgatar valores, incentivar a expressão oral,desenvolver a
imaginação e inserir os educandos no universo da leitura, proporcionando a ele, a
capacidade de ver a importância dos outros e da natureza para sua própria vida e
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adquirindo assim,maior sensibilidade,sentimento tão necessário ao início de um
século com tantos problemas.
As histórias estabelecem uma ponte entre o real e o imaginário, auxiliando
de maneira prazerosa e até mesmo lúdica, que a criança desenvolva sua autonomia
e construa sua identidade, é o que Poslaniec chama de “pequenos saberes”.
Maria da Glória Bordini e Vera Aguiar (1993, p.13) em seu livro que trata da
formação do leitor afirmam: “Uma das necessidades fundamentais do homem é dar
sentido ao mundo e a si mesmo e o livro, seja informativo ou ficcional, permanecer
como veículo primordial para esse diálogo”.
O livro é uma das principais fontes de conhecimento do mundo,todos eles
proporcionam a descoberta de sentidos.
Essencialmente todo conhecimento gerado pelo homem deve ser
direcionado ao entendimento de fenômenos, à solução de problemas, descobertas
benéficas ao aprimoramento das relações; enfim ao bem. No entanto,é a literatura
que torna o homem um leitor fascinante.
Através do livro, o homem pode registrar seus feitos e descobertas, relatar
histórias reais e imaginárias, cantar através da poesia, a beleza e as emoções do
mundo, retratar paisagens e semblantes e sobretudo, deixar nos livros as marcas de
sua trajetória sobre a Terra.
As descobertas começam no momento em que a criança nasce e segue ao
longo de toda vida: nos primeiros meses há muitas novidades! As vozes, as mãos,
os pés, os brinquedos, a família e a partir daí surgem os amigos, a escola, a
sociedade, a natureza, a música e assim a criança se envolve em uma caminhada
infinita, entrando no mundo da imaginação dos textos, das letras... e onde descobriu
tudo isso?
É na escola, espaço que está ajudando os educandos a descobrirem o
mundo e as descobertas continuam e vão muito mais além dela.
Zilberman e Silva (Zilberman e Silva, 1990) falam da crise que levou os
estudiosos do ensino da literatura a se indagar sobre seu sentido e finalidade. De
certo modo a literatura precisa descobrir as novas circunstâncias em que consiste
sua natureza educativa.
Segundo esses autores sobre a literatura compete hoje ao ensino da
literatura: não mais a transmissão de um patrimônio já constituído e consagrado,mas
a responsabilidade pela formação do leitor.
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Zilberman e Silva, ainda acrescentam:
Raramente a escola se preocupa com a formação do leitor. Seu objetivo principal consiste na assimilação, pelo aluno, da tradição literária, patrimônio que ele recebe pronto e cujas realidades e importância precisa aceitar e repetir. Supõem-se que,atingida essa meta,o estudante transforme num apreciador da literatura e saiba escolher com segurança os melhores livros Mas não se admite que ele traga consigo um universo de leituras portanto,que já venha formado (Zilberman e Silva, 1990, p. 49).
Vivemos numa sociedade cada vez mais globalizada, onde as informações
são cada vez mais instantâneas, e por isso mesmo, merecem uma separação maior
do que realmente podem oferecer créditos.
A cada dia, nossos educandos são sobressaltados com um mundo diferente,
onde muitas vezes, os valores prescritos na família,deixam de ser essenciais,pois a
mídia retrata exatamente o que a sociedade busca,ou seja informação pela
informação, não pelo questionamento,pela interpretação das entrelinhas da mesma.
Hoje a mídia tem diversos usos, está presente na maior parte de nossas
atividades do cotidiano e dela lançamos mão para dar conta de grande parte de
nossas ações. Tem os mais diferentes caracteres: pequenos, grandes, coloridos,
com as mais diferentes funções.
Compreender o sentido das mensagens orais e escritas de que é
destinatário direto ou indireto, desenvolvendo sensibilidade para reconhecer a
intencionalidade e conteúdos discriminatórios ou persuasivos.
Como educadores, não podemos desmerecer o uso dos meios de
comunicação como ferramentas no ensino/aprendizagem, porém, cabe a nós
interagir para que o uso de tais artifícios sejam adequados a aquilo que
necessitamos.
Acontece que, em meio a tantas formas de comunicação pelas quais somos
bombardeados hoje em dia, torna-se necessário adequar estratégias de ensino para
conquistar centímetro a centímetro, a capacidade do aluno ler, traduzir, reler,se
posicionar, criticar, mergulhar no texto.
O exercício da leitura do texto literário em sala de aula, pode preencher
esses objetivos; e confere a literatura outro sentido educativo,talvez não o que
responde as intenções de alguns grupos,mas o que auxilia o estudante a ter mais
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segurança relativamente às suas próprias experiências.
O uso da literatura no cotidiano escolar pode representar uma grande probabilidade de êxito do professor na sua missão de “formador” de leitores. Ao se referir à literatura, Maria Alice Faria afirma: O professor, para elaborar seu trabalho com a leitura de livros para crianças, precisa ler primeiro essas obras como leitor comum, deixando-se levar espontaneamente pelo texto sem pensar ainda na sua utilização em sala de aula. Em seguida, virá a leitura analítica, reflexiva, avaliativa, pois, como afirma o especialista francês Christian Poslaniec, “um livro não se resume ao seu estilo” e tanto o tema como a linguagem do livro lido podem ser tratados de modo estereotipado ou criativo. Poslaniec propõe uma noção de “riqueza” na hora de selecionar os melhores livros a serem levados à sala se aula: são aqueles que “utilizam de maneira criativa várias instâncias, oferecendo ao leitor várias ocasiões de penetrar na estrutura profunda da obra” (Faria, 2006, p. 14).
Anna Cláudia Ramos (Ramos, 2006), em seu livro Nos bastidores do
imaginário, enfatiza a importância do imaginário na criação artística e a
recriação do real. Segundo a autora a criança diferencia realidade e brincadeira e
sabe que as regras são válidas apenas nas brincadeiras. O dono da brincadeira
inventa, as regras do brincar permite a entrada das crianças. A percepção, sonhos,
fantasias, devaneios, memória e imaginação estão na criação do artista. Pais,
professores e adultos enxergam a criança com um vir-a-ser adulto, ela é um ser
inteiro no seu modo de ser, pensar, agir, sentir, fantasiar e ver a realidade.
Deste modo o papel da escola na orientação da leitura deveria estar voltada
na formação do leitor que possa ter contato com qualquer tema: morte, perdas,
alegrias, abandono, amores, nascimento, separação.
Não se trata, contudo de levar os alunos da escola fundamental adquirir
noções de teoria da literatura, mas de organizar os conhecimentos que as crianças
já possuem em seu contato diário com todo tipo de histórias que acontecem à sua
volta. Dos relatos de acontecimentos familiares aos vistos na TV,que incluem não
apenas os programas infantis e os desenhos animados,mas também os fatos de
noticiário e reportagens dos jornais televisivos, cujos elementos básicos são
geralmente organizados com a estrutura de narrativas.
Trata-se, pois, a partir dessas vivências da narrativa, para organizarem
esses saberes em sistema coerente e ampliá-los, respeitando-se as competências já
trazidas pelas crianças antes da alfabetização e as que adquirem na escolarização.
A grande importância do professor ter uma formação literária para saber
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analisar os livros infantis, selecionar o que pode interessar às crianças num
momento dado e decidir sobre os elementos literários que sejam úteis para ampliar o
conhecimento espontâneo que a criança traz de sua pequena experiência de vida.
As escolhas tanto do livro como o que e como trabalhar esse instrumental
literário são da maior importância. Na leitura efetiva e espontânea como vimos,o
leitor é envolvido pela história que o toca de diferentes maneiras
(emoção,medo,identificação,rejeições diversas...)
Comentando sobre a importância das histórias na formação do ser humano,
Fanny Abramovich comenta:
É através duma história que se podem descobrir outros lugares, outros tempos,outros jeitos de agir e de ser,outra ética,outra ótica...É ficar sabendo História, Geografia, Filosofia, Política, Sociologia, sem precisar saber o nome disso tudo e muito menos achar que tem cara de aula...Porque,se tiver,deixa de ser literatura,deixa de ser prazer e passa a ser Didática,que é outro departamento (Abramovich, 2005, p. 17).
Daniel Pennac em seu ensaio Como um Romance, faz a seguinte indagação
sobre o ato de ler:
O tempo para ler, como o tempo para amar, dilata o tempo para viver. Se tivéssemos que olhar o amor do ponto de vista de nosso tempo disponível, quem se arriscaria? Quem é que tem tempo para se enamorar? E no entanto, alguém já viu um enamorado que não tenha tempo para amar? A leitura não depende da organização do tempo social, ela é, como o amor, uma maneira de ser (Pennac, 1993, p. 119).
A leitura está presente nas mais diversas situações da vida do ser humano e
cada vez mais se faz necessário explorá-la em sala de aula utilizando mecanismos
que estimulem todo o conhecimento e desperte o senso criativo da arte literária, e
que deixe de ser encarnada como uma atividade sem significado para os educandos
e por boa parte dos nossos educadores.
Dessa forma, uma leitura verdadeiramente significativa é a formação do
leitor crítico, sensibilizado da sua liberdade criadora diante do ato de ler e da
realização de uma leitura compreensiva, mais criteriosa na formação do cidadão
para agir e interagir em seu meio social, entende-se que o valor da leitura é
primordial, principalmente diante dos números cada vez mais crescentes que
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mostram uma realidade dura em que a compreensão do que é lido nem sempre
acompanha o que está sendo lido. A leitura está intimamente relacionada com as
questões sociais, culturais e econômicas nas quais o leitor até então passivo, torna-
se um agente ativo do processo em construção.
O mundo dos leitores vê soluções para pequenos e grandes problemas que
afligem a humanidade.
O desenvolvimento desse projeto dar-se-á através do Método Criativo
proposto por Bordini e Aguiar, método centrado na produção textual de caráter
literário por parte dos alunos. O caminho proposto pelo Método Criativo é a
ocorrência do insight, que será então expresso em textos através de técnicas
literárias aprimoradas durante as aulas de Cursos de Literatura. Este método
permite aos leitores que se expressem e que o façam com bastante liberdade, leva
os alunos a assumirem um papel ativo de ensino-aprendizagem, já que não há
espaço para que eles se comportem como meros receptores e reprodutores de
informação. O Método Criativo, apresenta a vantagem de ver o aluno como ser
humano, individual e social, sem atrofiar sua sensibilidade, nem supervalorizar sua
capacidade de raciocínio lógico. Sugere o exercício da intuição como forma imediata
de conhecimento do mundo, bem como as atividades de analisar, comparar,
combinar, classificar e ordenar, efetuar inferências e, essencialmente,
extrapolações, vinculando essas operações intelectuais à ação física e à prática
social nos produtos criados.
O Método Criativo transforma a sala de aula em um atelier de efervescência
e trabalho, onde as necessidades pessoais e coletivas emergem e buscam formas
concretas de satisfação. A tarefa do Método Criativo é de estimular a transformação
de forma que o aluno sinta-se solicitado, aposta-se criticamente ante a realidade e a
movimentar recursos próprios e alheios para readaptá-la a si e à sociedade que ele
sonha.
A proposta de trabalhar com o Método Criativo é um meio de apropriação e
transformação da realidade, gerando prazer e conhecimento, de forma inclusiva e
contemplar todo fazer humano, utilizando-se das mais expressivas artes.
O caminho das artes é a grande estratégia, no processo de ensino-
aprendizagem, fazer pelo querer, fazer pelo prazer, é abrir o leque da imaginação na
construção permanente dos saberes.
Para propor, é preciso conhecer o interesse, as dificuldades e os sonhos.
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De acordo com Bordini e Aguiar em seu livro Literatura: A formação do leitor:
alternativas metodológicas. (Bordini e Aguiar, 1993), um método criativo para o
ensino da leitura precisa atender a três fatores constituintes: a) o sujeito criador, com
seu aparato cognitivo, afetivo e motor; b) o processo de criação, resumido à
captação de alguma carência ainda inexprimida; c) o contexto cultural e histórico,
onde o criador assim como o objeto em criação estão situados, e que predetermina
comportamentos, modos de fazer e até de perceber.
Num processo de criação e contexto cultural e histórico, deveriam orientar
uma metodologia criativa para a literatura; que tenha como foco o aluno por meios
dos seguintes objetivos: 1. Estabelecer relações significativas entre componentes do
eu do mundo, em especial da cultura literária; 2. Perceber potencialidades
expressivas da Literatura e de outros meios de comunicação em relação ao eu e ao
mundo; 3. Organizar as relações estabelecidas, valendo-se de códigos culturais, em
especial do código linguístico; 4. Materializar tais relações em linguagens diversas,
com ênfase no verbal, produzindo textos bem formados.
Por meio desses objetivos o aluno pode expressar suas necessidades
individualizadas bem como permitem o progressivo amadurecimento de uma postura
crítica e transformadora ante a realidade, sem forçar a criança e o jovem além de
seus limites naturais. Seu ritmo pessoal, suas aspirações, gostos, angústias e
convicções são respeitados e sua atividade de aprendizagem adquire a qualidade de
vivência espontânea, buscada para satisfazer a uma necessidade real, não gerada
pela instituição escolar.
A avaliação dentro do método criativo, é efetuada em dois níveis. O primeiro
é o processo de criação do aluno. O segundo nível está na produção do texto pelo
aluno, que pode ser qualquer atividade ou conjunto articulado de frases no que se
refere à carência inicial: a)eficácia expressiva, entendida como forma que
comunique sentidos, verbalizáveis ou não, mas identificáveis pelo receptor do objeto
pelo menos com as suas carências pessoais; b) domínio técnico, revelado pela
pesquisa e práticas de técnicas funcionais em relação ao material escolhido, e do
projeto elegido; c) inovação formal, ou seja, um acréscimo em relação do já
conhecido pelo aluno, mas derivado do próprio processo de criação e da
familiaridade com o material utilizado e técnicas adotadas.
O planejamento de uma unidade de ensino, dentro do método criativo, se
dará a partir das seguintes etapas:
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Constatação de uma carência, individual ou coletiva, entre os alunos.
Quando se trata de uma carência, é algo que não deve ser imposta pela escola, pois
é uma necessidade. O professor deve deixá-los à vontade para que expressem
seus desejos, suas emoções e problemas, lançar questionamentos livres a fim de
que escolham a que mais atende as suas carências.
Detectado a carência, o professor os incentiva, tenta resolvê-las por meio da
criação de uma solução, oferecendo condições para que os alunos entrem em
contato com os elementos da realidade que tem relação com a falta percebida pelos
mesmos. Esta é a etapa de coleta desordenada de dados, porque os alunos
observam o que realmente é significativo, sem seqüência, roteiros pré-
estabelecidos, não quer dizer que o material de observação não seja registrado ou
coletado sem previsão. O que importa é que sempre será possível a defrontação
com algo inesperado e cheio de sentido. Os registros podem aparecer como : listas,
fichas livres, comentários soltos, observações pessoais fixadas em redações,
desenhos, pinturas e outras formas, coleções, etc.
Para solucionar a carência podem ser aplicados diversas atividades, entre
elas, se incluam os textos literários.
O professor deve oferecer aos alunos atividades diferenciadas de modo que
vá ao encontro de suas ansiedades, deverá oferecer caminhos, buscando respostas
a suas carências iniciais, o aluno só absorve aqueles elementos da realidade que
tem sentido pra ele, mesmo sem saber muito bem ordená-los.
À medida em que esse material proveniente de fora da consciência passa a
ser significativo para o sujeito, está ocorrendo a elaboração interna dos dados.
Nessa etapa deve haver a preocupação de não se pressionar demais o aluno
durante essa fase, para evitar angústias que possam tolher sua criatividade.
É aqui que o reencontro com o texto literário pode proporcionar ao sujeito
um esquema da imbricação possível dos dados. Nessa etapa em que os dados
submergem na consciência das crianças e em que elas amadurecem à busca de
meios de ligá-los uns com os outros, novas leituras podem auxiliar essa busca. O
modo como uma história infantil enfoca e resolve um conflito social pode fornecer os
indicadores para que o leitor trabalhe com os seus próprios dados no mesmo
sentido.
A elaboração interna dos dados evolui até que o sujeito encontra o modo de
combiná-los entre si para suprir a sua carência. Essa descoberta independe do
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professor e ocorre no interior da consciência de cada um. A psicologia chama-lhe
insight, ou seja, o momento em que os dados coletados e elaborados
inconscientemente, em grande parte, combinam-se numa forma que surge a
consciência já acabada e com força de presença que não pode mais ser ignorada
pelo aluno. Essa forma, que está estruturalmente organizada com os dados já
percebidos, configura o esquema básico daquilo que o sujeito pode criar.
A partir do insight, o sujeito está consciente da solução que deseja atingir e
pode planejar os passos a serem tomados para sua consecução. Trata-se da
constituição do projeto criador, essa etapa prevê os esforços a serem desenvolvidos
para a supressão final da carência, através de uma ação criadora. O aluno deve
selecionar, dos dados obtidos, os recursos matérias necessários à execução do
trabalho a que se propõe, efetuar um roteiro de execução, levantar as técnicas de
que terá de se valer, estabelecer um cronograma e antecipar eventuais dificuldades.
Esse planejamento discriminado, incluindo todos os passos prováveis, deverá
orientar o trabalho subseqüente do aluno, desde que não impeça a adoção de
soluções não previstas, mas sentidas como mais adequadas.
O projeto servirá de suporte para a elaboração material, que consiste em dar
substância física ao insight, realizando as operações previstas,nessa etapa o
professor deve preparar-se para atender às exigências de cada projeto,
pesquisando, com antecedência à execução às técnicas de trabalho a elas
pertinentes.
O momento seguinte será o da execução propriamente dita, que se fará por
tentativa e servirá, de modo a encontrar a melhor solução para a forma instituída. O
trabalho criador dar-se-á por acabado no momento em que o aluno perceba que
nenhum dos elementos pode ser deslocado ou substituído sem alterar todo o
trabalho, e que nada poderá ser acrescentado ou retirado sem prejudicar o
resultado final.
O resultado do projeto criativo que virá solucionar o sentido, poderá ou não
ser um texto literário. O mais importante é que a literatura apareça como campo de
observação, modelo formal e temático do mundo. Se a carência for suprimida por
uma ação social, por exemplo, essa ação terá suas raízes na experiência do sujeito
com a literatura enquanto interpretação da realidade, mesmo que a produção final
não seja literária.
Na conclusão do processo, o resultado deve ser conhecido pela comunidade
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próxima do aluno, seja ela a sala de aula, a escola, outras turmas, a família ou a
vizinhança. A divulgação do trabalho é a prestação de contas que o criador faz a
sociedade que o abriga sendo assim, o resultado do seu esforço deixa de ter caráter
individual, satisfazendo unicamente ao sujeito criador, por converter-se num bem
comum a ser dividido com todos.
O método criativo, portanto, apresenta a vantagem de encarar o aluno como
indivíduo e ser social simultaneamente, sem atrofiar sua sensibilidade nem
supervalorizar sua capacidade de raciocínio lógico, proporcionando o exercício da
intuição como forma imediata de conhecimento do mundo, bem como as habilidades
de analisar, comparar, combinar, classificar e ordenar, efetuar inferências e,
principalmente extrapolações, vinculando essas operações intelectuais à ação física
e à prática social, nos produtos criados.
O sucesso efetivo do ensino da Literatura na escola está inteiramente
relacionado à adoção de um método pelo professor, que possa ir de encontro com
as necessidades internas de seus alunos.
Esta unidade didática pretende apresentar e desenvolver uma proposta de
incentivo à leitura da Literatura que visa ao contato profundo que o texto literário
pede. Embasa-se por meio de Método Criativo de Bordini e Aguiar que concebe o
Ensino da Literatura como um processo de interação entre o leitor e o texto
fundamentando-se na leitura literária, formação e desenvolvimento da compreensão.
Esse método enfatiza a leitura como liberdade criativa, promovendo a
contínua reformulação das exigências do leitor no que se refere à Literatura e aos
valores que orientam suas experiências do mundo.
A idéia de Projeto Criativo acarreta, para a ação educacional, a tarefa de
incitar à transformação, de modo que o aluno se veja sempre solicitado a postar-se
criticamente ante à realidade e a movimentar recursos próprios e alheios para
ajustá-la a si e a sociedade que ele sonha.
Propõe-se através deste projeto a elaboração de um questionamento para
os educadores, educandos e família, abordando questões claras, para que a partir
do diagnóstico apresentado por eles, sejam repensadas metodologias inovadoras,
na formação de leitores.
Conhecendo a realidade, que é a mudança dos alunos na 5ª série, será feita
uma entrevista para descobrir o interesse, e o tipo de literatura que desperte neles o
desejo de viajar, de conhecer, de interagir.
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A liberdade de escolher é fundamental na seleção dos tipos de literatura
apresentados na entrevista com os educandos, práticas que estimulem e
enriqueçam seus interesses e consequentemente o gosto pela leitura serão o foco
do trabalho.
Sabendo-se da necessidade e responsabilidade da família no processo de
educação para a vida, contaremos com seus importantes depoimentos que
enriquecerão nossa prática na formação de leitores.
Implementação pedagógica na escola: alguns resultados
Este trabalho foi desenvolvido no Colégio Estadual Enira Moraes Ribeiro
E.F.M.P., com alunos da 5ª série do Ensino Fundamental, no período matutino. A
implementação da proposta dá ênfase ao caráter investigativo abordando o Método
Criativo, que busca nos diversos instrumentos de leitura, uma alternativa para a
melhoria da qualidade de ensino.
Antes de qualquer atividade prática, ou outro tipo de atividade, apresentou-
se proposta de trabalho, primeiramente à Direção e Equipe Pedagógica do Colégio,
bem como aos professores, que puderam acompanhar e avaliar o desenvolvimento
da proposta de implementação.
A seguir divulgou-se o trabalho para os alunos da 5ª série e os interessados
foram inscritos no grupo de estudos do referido trabalho, com duração de trinta e
duas horas dividido em oito encontros de quatro horas.
O presente projeto foi desenvolvido inicialmente com o livro “1 é 5, 3 é 10!”,
de Santuza Abras (Abras, 1988) obra que apresenta sensibilidade, singeleza e
lirismo. Poema composto de dez quadras (estrofes de quatro versos) de caráter
popular e de fácil memorização.
Foi apresentado o livro “1 é 5, 3 é 10!” e o texto digitado para os alunos e
lhes foi solicitado uma leitura silenciosa. Em seguida foram exploradas as
ilustrações com o livro aberto, de modo que as crianças vissem as duas páginas
contíguas. A cada dois quadros, foi solicitado que as crianças comentassem o que
ouviram e o que viram. Por exemplo, com relação às páginas 2 e 3, foi questionado:
O que acontece na ilustração?; O que o menino faz na esquina?; O que ele tem nas
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mãos?; Onde mora o menino?; Você conhece crianças que vivem como o menino da
história, em nossa cidade?; O que mais há nela?; Você acha correto o trabalho
infantil?; Qual é o sonho do menino da história?; E você, sonha?; Quais são seus
sonhos?
Ao explorar o livro “1 é 5; 3 é 10!”, os alunos sentiram-se atores da história,
porque conseguiram perceber a realidade em que vivem e conseguiam fazer a ponte
com o texto trabalhado. A dinâmica desenvolvida nesta atividade despertou neles a
vontade de sonhar e a concretização de seus sonhos, e mais, que são nossos
pequenos gestos, nossas pequenas atitudes que nos dão a certeza de melhorar a
nossa vida.
Percebeu-se nesta primeira fase que o interesse pela Literatura tem como
foco os problemas sociais, porque tornaram-se atores da narrativa.
Enquanto aplicadora desse projeto, senti que planejar, transportando o
conteúdo para o cotidiano é uma metodologia que proporciona aos alunos e
educadores a vontade contínua na busca de conhecimentos.
Depois de verificadas as semelhanças e diferenças entre o imaginário e a
realidade social, foi dividida a sala em três grupos e solicitado que fizessem uma
leitura em voz alta. Cada grupo leu uma estrofe e assim sucessivamente até o final
do poema. Para finalizar, em equipe, os alunos criaram e ilustraram o texto que foi
transformado em um livro.
No próximo encontro, foi apresentado o livro, “Cena de Rua”, de Ângela
Lago (Lago 1994).
“Cena de Rua”, apresenta uma narrativa por imagens, composta de onze
pranchas emolduradas que enchem duas páginas cada prancha. Foi solicitado aos
alunos que se aproximassem para melhor visualizar as imagens e então sentiram-
se motivados a efetuarem a leitura dessa narrativa atentando para cada detalhe,
traços fisionômicos e cores que se apresentavam.
Assim como no poema narrativo ”1 é 5, 3 é 10!”, de Santuza Abras, “ Cena
de Rua “ também é obra de denúncia social.
Em “Cena de Rua”, narrativa e técnica se unem para mostrar de modo
contundente, uma face cruel do nosso tempo, a realidade sofrida dos meninos de
rua.
A imagem da capa nos remete às claquetes de início de filmagem, sugerindo
caráter documental que o texto imagístico pretende. Os traços da obra são rudes,
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tons fortes, escuros, sombrios, imagens emolduradas por tarja preta.
O clima é de violência e medo, as figuras humanas são destituídas de
sentimentos, com exceção feita à figura da mãe com seu filho. Imagens caricaturais
de homens e mulheres bestializados, assemelhando-se a cães raivosos, com seus
dentes, queixos e narizes pontiagudos, com expressões agressivas ou de medo. A
máquina domina tudo de modo caótico (ausência da natureza).
Ao trabalhar o livro “Cena de rua”, os alunos sofreram um impacto e
compararam com as cenas presenciadas no dia a dia pela maioria deles e muitas
vezes vivenciadas dentro de casa, sentiram a importância da figura da mãe, bem
como a falta dela em muitos lares. Em contra partida, perceberam que dentro de
cada um existe o poder e a vontade para transformar as trevas em luz e que todos
nós, seja no lar, na escola ou outras comunidades, sempre há anjos no nosso
caminho nos auxiliando para que tenhamos discernimento e clareza para que a
violência e o medo se transformem em determinação e luz em nossas vidas.
Após a leitura oral das imagens pelos alunos, em equipes foi sugerida a
produção de um livro de imagens retratando cenas do cotidiano da rua, flagrantes do
espaço onde vivem os alunos. Em um outro momento, foi retomada a leitura de “1 é
5, 3 é 10!” e “Cena de Rua”. Na sequência foi solicitado aos alunos que produzissem
um texto destacando as semelhanças entre as duas obras. Foi pedido também que
estabelecessem a relação da imagem literária e a vida social.
O texto imagístico produzido individualmente, superou a expectativa porque
foram fiéis e criativos ao elaborar o livro. Surpreendentemente, em cada criação foi
apresentado, através de imagens e pintura muito bonitas, o surgimento de nova
vida.
Essa atividade foi sem dúvida a mais envolvente porque todos os alunos
produziram o texto, pediram para que seus textos fossem divulgados. Mais uma vez
foi feito um trabalho em equipe, os textos foram reestruturados, escolheram o melhor
texto por equipe, todos apresentaram seu texto em sala , textos coerentes e cada
um com significado singular.
Em outro encontro, foi distribuída a letra da música “ Pivete”, de Chico
Buarque (Holanda, 1994).
“Pivete” é uma música que descreve um dos maiores problemas a serem
resolvidos em nosso país que é o investimento no capital social, um trabalho que os
poderes públicos não vêem, porque a demagogia e os programas assistencialistas
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existem para fazer a campanha política, que continua a mesma desde o
colonialismo, onde o voto de curral se faz presente na sociedade pluralista e
democrática em que vivemos.
O assistencialismo e a massificação dos meios de comunicação mostram
que o ter está acima do ser. A educação como sempre não é prioridade e a família
cada vez mais desestruturada, deixa sua missão que é a formação contínua dos
filhos. Como conseqüência os índices de violência e a exclusão social aumentam
assustadoramente e a maioria da população diz que tudo vai bem.
Ao ser analisada a letra da música “Pivete”, podemos perceber que é o
reflexo da crise econômica, e a instabilidade familiar marginalizada.
É necessário um maior investimento da sociedade civil organizada na
promoção da educação e do bem estar social, portanto faz-se necessário uma
reflexão sobre a questão político-social tomando iniciativas que venham contribuir a
partir de pequenos gestos e atitudes concretas fazendo com que essa população
que vive excluída seja resgatada e viva com dignidade que é a base do ser humano.
Dando prosseguimento à aula, inicialmente os alunos fizeram uma leitura
silenciosa e logo após, cada aluno leu um trecho em voz alta; em seguida foi
realizada uma leitura coletiva. Os alunos tiveram a oportunidade de comentar o
momento da música que mais os impressionou; depois ouviram o CD e cantaram em
voz alta.
Todo aprendizado passa por diferentes formas de comunicação e a música
tem um diferencial muito importante que é a expressão corporal. Ouvir é pouco
principalmente pela fase que se encontram, em questão de minutos todos estavam
dançando, cada um do seu jeito traduzindo a letra em expressões corporais.
Foram retomados os textos sugeridos nesta unidade e o professor fez as
seguintes indagações:
Após a leitura do poema “1 é 5, 3 é 10!” e da música “Pivete”, foi pedido aos
alunos que estabelecessem a diferença entre os dois gêneros; relessem a música
“Pivete” e apontassem soluções práticas de mudanças em relação à condição social
em que vive a personagem; quais eram as semelhanças entre o poema “1 é 5, 3 é
10!” e o texto imagístico “Cena de Rua”? e reescrevessem a música “Pivete” com
um desfecho feliz , em seguida, usassem sua imaginação e ilustrando-a através de
desenhos.
A divulgação do projeto aconteceu na escola, onde foram apresentados e
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expostos todos os trabalhos da turma à toda comunidade escolar.
Houve o envolvimento e a participação de todos. Os alunos do projeto
sentiram-se motivados pela aceitação principalmente pelos aplausos que receberam
durante a exposição das atividades desenvolvidas.
O mais gratificante foi o entrosamento, o comprometimento da equipe que
construiu durante a aplicabilidade do projeto e da continuidade de se tornarem
leitores cada vez mais inseridos na construção do saber. E como todo trabalho
gratificante tem seus méritos, fizemos uma confraternização ímpar de leitores que
sabem selecionar textos que o fazem crescer e uma festa para comemorar esse
marco em nossa história.
Considerações finais
A aplicação do projeto superou as expectativas, e mais, comprovou as
teorias de autores renomados citados aqui neste artigo.
Conhecendo a clientela, selecionamos os textos mais próximos da realidade
social para que juntos pudéssemos desenvolver as atividades de forma prazerosa.
Percebeu-se o envolvimento da maioria da turma em todas as fases da
aplicação do projeto.
O resultado final deste trabalho foi divulgado, apresentando os resultados
obtidos como sugestões aos educadores e educandos na busca de seus sonhos
cujo caminho é a formação de leitores.
Todo método é importante na formação de leitores, no entanto, selecionou-
se o Método Criativo por entender que ele é abrangente e leva o leitor a descobrir o
novo todas as vezes que ele reler o texto, e, de um modo particular, faz com que o
aluno sinta-se um ator da própria narrativa. Ler, então, se torna prazer.
O envolvimento e a apropriação dos conteúdos foram acontecendo
gradativamente em cada etapa realizada, todos foram incluídos no processo
melhorando assim as relações sociais.
Isso foi comprovado em cada texto explorado, porque houve o envolvimento
dos alunos e eu me senti realmente uma mediadora de conhecimentos, porque o
aprendizado foi mútuo e a nossa comunicação contínua.
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Para concluir acredita-se que todas as pessoas são capazes de aprender a
ler. A motivação da família, escola, professores e sociedade é de suma importância
para que o leitor aprendiz se torne um leitor autônomo e competente.
Acredita-se também que a leitura é uma atividade capaz de mudar o
indivíduo e suas relações com o mundo, favorecendo a possibilidade de
transformações coletivas. Contudo, nessa proposta de formar leitores, faz-se
necessário uma conscientização de todos em relação à leitura. E para que haja uma
revolução na formação de leitores, faz-se necessário também uma mudança de
concepção por parte de todos os envolvidos partindo de uma reflexão sobre o
conhecimento produzido a respeito dos processos envolvidos neste aprendizado.
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