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MÓDULO 2- Deficiências visuais “O olho, pelo qual a beleza do universo é revelada à nossa contemplação, é de tal excelência que todo aquele que se resignasse à sua perda privar-se-ia de conhecer todas as obras da natureza, cuja vista faz a alma ficar na prisão do corpo graças aos olhos que lhe representam a infinita variedade de criação” René Descartes – séc. XVII LILI - “... a idiota da ledora que estava comigo no concurso público, que eu estava respondendo no DOSVOX, me disse assim: - Você tem mesmo é que largar essa coisa de computador, e dar mais importância ao Braille e ao Sorobã, que são coisas do mundo de vocês.” STAR - “Ela é maluca”. Magda, estudante cega do interior do Paraná num batepapo por Internet através do programa Papovox com seu namorado Bernard, também cego, no CAEC/UFRJ – Rio de Janeiro, em 25/05/2005. 2.1 – Compreendendo o sistema de visão Não é possível falar genericamente em "deficiente visual" sem correr o risco de colocar sob a mesma classificação pessoas com características e demandas totalmente diferentes. Começaremos assim mostrando um pouco sobre o sistema da visão e os principais problemas que nele ocorrem, com o intuito de que você possa claramente diferenciar os principais tipos de deficiência visual e classificar uma certa pessoa da maneira mais adequada, e conseguindo também vislumbrar as estratégias e soluções que seriam mais adequadas para ela. Começaremos mostrando como funciona fisicamente um olho. Depois mostraremos alguns dos principais problemas podem existir, mencionando quando possível, sua causa, diagnóstico e orientações específicas. 2.1.1- Noções de anatomia e fisiologia do sistema da visão

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MÓDULO 2- Deficiências visuais

“O olho, pelo qual a beleza do universo é revelada à nossa contemplação, é de tal excelência que todo aquele que se resignasse à sua perda privar-se-ia de conhecer todas as obras da natureza, cuja vista faz a alma ficar na prisão do corpo graças aos olhos que lhe representam a infinita variedade de criação”

René Descartes – séc. XVII

LILI - “... a idiota da ledora que estava comigo no concurso público, que eu estava respondendo no DOSVOX, me disse assim: - Você tem mesmo é que largar essa coisa de computador, e dar mais importância ao Braille e ao Sorobã, que são coisas do mundo de vocês.”STAR - “Ela é maluca”.

Magda, estudante cega do interior do Paraná num batepapo por Internet através do programa Papovox com seu namorado Bernard, também cego, no CAEC/UFRJ – Rio de Janeiro, em 25/05/2005.

2.1 – Compreendendo o sistema de visão

Não é possível falar genericamente em "deficiente visual" sem correr o risco de colocar sob a mesma classificação pessoas com características e demandas totalmente diferentes. Começaremos assim mostrando um pouco sobre o sistema da visão e os principais problemas que nele ocorrem, com o intuito de que você possa claramente diferenciar os principais tipos de deficiência visual e classificar uma certa pessoa da maneira mais adequada, e conseguindo também vislumbrar as estratégias e soluções que seriam mais adequadas para ela.

Começaremos mostrando como funciona fisicamente um olho. Depois mostraremos alguns dos principais problemas podem existir, mencionando quando possível, sua causa, diagnóstico e orientações específicas.

2.1.1- Noções de anatomia e fisiologia do sistema da visão

O olho humano funciona como uma máquina fotográfica. Os raios de luz que o atingem são convergidos por duas lentes para serem focados na retina (área nervosa no fundo do olho, responsável pela captação das imagens).

Essas duas lentes são a córnea, estrutura transparente localizada na parte mais anterior dos olhos com poder aproximado de 40 dioptrias (graus) e a outra é o cristalino, localizado no interior dos olhos com poder aproximado de 20 dioptrias.

As duas juntas levam a formação da imagem sobre a retina. O cristalino pode, através da mudança de sua curvatura, modificar o ponto de foco para longe e perto, fenômeno denominado de acomodação. As imagens que chegam na retina são captadas por receptores de cores e formas chamados cones e bastonetes e enviadas ao cérebro através do nervo óptico, onde serão codificadas e interpretadas. A íris é a estrutura responsável pela cor dos olhos e através de seu fechamento ou abertura (semelhante ao diafragma da máquina fotográfica), regula a intensidade de luz que entra.

Fonte: www.portaldaoftalmologia.com.br

2.1.2 – problemas visuais

Apesar de não serem muitos os elementos do olho, basta que um deles não funcione para que seja caracterizada um problema visual. Por exemplo, as lentes podem ser levemente deformadas (o que produz o que chamamos de astigmatismo, em que a imagem se apresenta desigual), ou de curvatura exagerada para fora ou para dentro, fazendo com que a imagem não seja formada exatamente sobre a retina, mas à frente ou atrás dela (o que chamamos miopia ou hipermetropia). Pode ocorrer também um desalinhamento dos eixos dos dois olhos (o que chamamos de estrabismo).

Felizmente, na atualidade, muitos problemas podem ser corrigidos através do uso de sistemas de lentes externas ao olho (óculos ou lente de contato), ou mesmo técnicas alternativas como ginásticas oculares. Mas há muitos problemas que não

são solucionáveis tão facilmente: são esses os casos que conhecemos como "deficiências visuais".

Problemas visuais mais comuns

É fundamental que o professor se sinta capaz de detectar os problemas visuais mais comuns, encaminhando-o o aluno a um médico. Um aluno com problemas visuais será geralmente um aluno com baixo rendimento escolar.

O professor deve ter total consciência de que, com muito mais freqüência que se imagina, o problema visual passa despercebido até mesmo pela família. Desta forma, ele deve fazer testes simples que permitem avaliar situações críticas, com todos os alunos e independentemente do grau escolar. Os testes mais simples consistem fundamentalmente em pedir para cada aluno descrever: um objeto distante; um desenho minúsculo ou um texto com letras bem pequenas; dar nome às cores de objetos verdes e vermelhos.

As principais situações encontradas são:

Conjuntivite – é a inflamação da conjuntiva, que pode ser causada por muitas situaçoes, em especial

alergias

contaminação por água infectada por bactérias ou vírus, principalmente em praias e piscinas públicas

infecções oculares, o contágio ocorre por manipulação de material contaminado (como roupa ou secreções) proveniente de outras pessoas

quando corpos estranhos, como ciscos, entram nos olhos.

Nota: O movimento das pálpebras e as lágrimas geralmente conduzem o cisco para o canto do olho, onde ele pode ser facilmente retirado, mas quando isso não acontece, só um médico deve removê-lo.

Miopia - é um defeito da visão no qual a convergência final dos raios de luz que penetram pela córnea acaba ocorrendo num ponto à frente da retina. A pessoa míope tem dificuldade para ver de longe, mas enxerga bem de perto.

Hipermetropia – é um defeito da visão no qual a convergência final dos raios de luz que penetram pela

córnea acaba ocorrendo num ponto atrás de retina. O resultado é o oposto da miopia: a pessoa enxerga mal de perto, e bem de longe

Presbiopia – É como chamamos a diminuição da capacidade do olho de focalizar de perto em função da idade. Se inicia, na maioria das pessoas, a partir dos 40 anos.

Astigmatismo – é determinado por uma diferença entre a curvatura da porção vertical e a curvatura da porção horizontal da superfície anterior do olho, ou seja, da córnea. Às vezes, porém, as alterações na curvatura do olho características do astigmatismo são provocadas por acidentes ou doenças.

Nistagmo – Oscilações repetidas e involuntárias rítmicas de um ou ambos os olhos em algumas ou todas as posições de mirada, podendo ser originarias de labirintites, maculopatias ou catarata congênita, albinismo, e causas neurológicas entre outras.

Estrabismo – O estrabismo corresponde à perda do paralelismo entre os olhos, para dentro (convergente), para fora (divergente) ou verticalmente. Como compensação à visão dupla, provocada pela falta de alinhamento, um mecanismo cerebral produz uma "cegueira funcional" num dos olhos.

Daltonismo é uma deficiência da visão das cores. Consiste na cegueira para algumas cores, principalmente para o vermelho e para o verde. Os daltônicos vêem o mundo em tonalidades de amarelo, cinza-azulado e azul.

2.2 – Deficiências visuais

a) cegueira e visão subnormal.

A caracterização mais abrangente, distingue as deficiências visuais entre Cegueira e Visão Subnormal (também chamada de Baixa Visão), que são conceitos amplamente utilizados na educação especial, e que devem ser compreendidos perfeitamente por todos.

Cegueira

É considerado cego aquele que apresenta desde ausência de distinguir objetos através da visão, o que pode incluir ou não a perda da percepção luminosa. Sua aprendizagem se dará através da integração dos sentidos remanescentes preservados. Terá como principal meio de leitura e escrita o sistema Braille e os sistemas de computação com interface adaptativa, como o DOSVOX.

Visão Subnormal ou Baixa Visão

É considerado portador de baixa visão aquele que apresenta desde a capacidade de perceber luminosidade até o grau em que a deficiência visual interfira ou limite seu desempenho. Sua aprendizagem se dará através dos meios visuais, mesmo que sejam necessários recursos especiais, ou pelo uso do computador com interfaces adaptativas, incluindo especialmente sistemas de ampliação de tela e de síntese de voz. Deverá, no entanto, ser incentivado a usar seu resíduo visual nas atividades de vida diária sempre que possível, e e também aprender a usar o sistema Braille.

Na foto vemos duas alunas 3º ano do ensino médio com baixa visão, ambas iniciadas no BRAILLE e no DosVox, durante uma oficina de vivência na E.M. Altivo César. Elas são capazes de caminhar pela escola sem grande dificuldade, embora uma delas distingüa melhor as portas e obstáculos físicos do que a outra. Ambas são incapazes de ler letras com corpo menor que 48. Elas preferem usar o computador nas suas tarefas escolares especialmente pela facilidade de interação com os professores e colegas. Mas a escola não disponibilizou

computadores para elas durante esta oficina, e elas tiveram que usar um gravador e a escrita Braille para suas anotações.

(por favor, descaracterizar através de edição gráfica, o rosto das pessoas).

Tanto a cegueira total quanto a visão subnormal podem afetar a pessoa em qualquer idade. Bebês podem nascer sem visão e outras pessoas podem tornar-se deficientes visuais em qualquer fase da vida. A perda de visão pode ocorrer repentinamente de um acidente ou doença súbita, ou tão gradativamente que a pessoa atingida demore a tomar consciência do que está acontecendo.

A deficiência visual também ocorre independentemente de sexo, religião, crenças, grupo étnico, raça, ancestrais, educação, cultura, saúde, posição social, condições de residência ou qualquer outra condição específica. A situação de pobreza, entretanto agrava imensamente as situações que poderiam ser minimizadas com atividades de prevenção, tratamento médico e acesso a informação.

b) causas mais frequentes das deficiências visuais

Passe o mouse no nome das deficiências para conhecer mais sobre a terminologia.

CAUSAS CONGÊNITAS

- Retinopatia da prematuridade;- Catarata congênita;- Corioretinite por toxoplasmose na gestação;- Glaucoma congênito (hereditário ou por infecções);- Retinose pigmentar

CAUSAS ADQUIRIDAS

- Diabetes - Deslocamento na retina - Glaucoma - Catarata - Traumas oculares- Degeneração senil - Acidentes- Situações causadas por violência ou pelo uso de armas.- Doenças da córnea

Retinopatia - É o termo usado para designar as doenças degenerativas não inflamatórias da retina. No recém-nascido prematuro pode ocorrer a retinopatia da prematuridade, produzida pelo uso de oxigênio na incubadora que pode afetar o olho.As retinopatias mais freqüentes no adulto são: serosa central, por diabetes e por hipertensão arterial.

Catarata – È o termo que se dá ao cristalino que se opacifica, e assim impede total ou parcialmente os raios de luz de chegarem à retina, prejudicando imensamente a visão. A catarata pode ser provocada por distúrbios senis mas existem formas congênitas, provocadas pela rubéola, infecções na gestação ou por fatores hereditários.

Corioretinite – inflamação da retina, membrana que é responsável pela captação da luz para transmissão ao nervo ótico.

Retinose pigmentar – A retinose pigmentar é uma degeneração progressiva dos fotorreceptores retinianos, que são as células sensíveis à luz. É mais comum na idade adulta. O paciente irá perceber alterações do seu campo visual, dificuldade de adaptação ao escuro (cegueira noturna) e diminuição da visão. É comum que a perda da visão ocorra de fora para dentro no campo visual, e a pessoa permaneça com visão central que vai diminuindo com o progresso da doença.

Glaucoma - O glaucoma é uma alteração em que a pressão do líquido que preenche o globo ocular está anormalmente aumentada, além do que o olho pode tolerar. Quando essa pressão, chamada tensão intra-ocular, é maior do que o normal, aumenta consideravelmente o risco de que ocasione danos aos olhos. O glaucoma irá ocasionar lesão ao olho se não for tratado, pois a pressão intra-ocular aumentada comprometerá os vasos sangüíneos que nutrem as sensíveis estruturas visuais do fundo do olho e devido à falta de irrigação sangüínea adequada, as células da retina irão morrendo, provocando uma perda progressiva da visão e estreitamento do campo visual. Se o processo não for controlado, poderá levar à cegueira.

Diabetes – o diabetes é caracterizado pelo mau funcionamento do pâncreas, órgão que produz a insulina que é responsável pelo metabolismo da glicose, das gorduras e das proteínas. A presença excessiva de açúcar no sangue, gera inúmeros danos a todo organismo, em especial à retina, provocando cegueira ao longo do tempo. Nos dias atuais a incidência de diabetes se constitui em grave problema de saúde pública no Brasil, dado o imenso número de pessoas que apresentam esta doença.

c) Prognóstico, prevenção e tratamento das deficiências visuais

A deficiência visual interfere em habilidades e capacidades e afeta não somente a vida da pessoa que perdeu a visão, mas também dos membros da família, amigos, colegas, professores, empregadores e outros. Entretanto, com tratamento precoce, atendimento educacional adequado, programas e serviços especializados, a perda da visão não significará o fim da vida independente e não ameaçará a vida plena e produtiva.A cegueira na infância é particularmente importante, seja pelos índices com que se apresenta nos países em desenvolvimento, seja por representar no futuro um encargo sócio-econômico muito grave.

As principais formas de prevenção são as seguintes:

Vacinação da mulher contra rubéola; Cuidado com animais domésticos (cães, gatos, galinhas); Detecção precoce das alterações visuais; Triagem em berçário, creches e pré-escolas.

Observação de sinais, sintomas, posturas e condutas. Aconselhamento genético; Políticas públicas;

2.3 - O professor e a identificação da situação visual.

Este não é um texto médico. As informações aqui contidas servem apenas como um alerta para o professor que, por estar em contato próximo com o aluno, pode detectar alguma situação que deve ser corretamente analisada por um profissional da área de saúde. A maior parte dos problemas visuais não é uma deficiência visual, e muito menos definitiva, e pode com freqüência ser percebida por não especialistas.

2.3.1 sintomas típicos e sinais das deficiências visuais

O aluno está sujeito a distúrbios visuais que interferem no seu rendimento e que, futuramente, poderão trazer limitações a sua vida profissional e social. A escola, instituição que consegue aglutinar grande número de crianças, permite uma ação programada e maciça de cunho preventivo, no que se refere à promoção da saúde ocular ou no diagnóstico precoce e pronto tratamento dos casos identificados.

Tendo em vista a importância da identificação precoce dos distúrbios oculares, deve ser considerado prioritário o grupo populacional dos escolares mais jovens, ou seja, de pré-escola e de 1.ª série do 1.° grau.

Entende-se que toda criança deveria ser submetida a exame oftalmológico em tenra idade, e muito antes de seu ingresso na escola. É facil supor, entretanto, que fatores sócio-econômicos e culturais são os maiores impecilhos para que isso ocorra, daí a importância da realização de programas de triagem da acuidade visual e detecção de problemas visuais na escola.

O reconhecimento dos sinais pode ser realizado de duas formas:

1) Observando os sinais visuais apresentados pelos aluno. São sintomas comumente encontrados:

Olhos avermelhados e/ou lacrimejantes; Estrabismo; Nistagmo (olho que fica constantemente em movimento); Aluno que reporta visão dupla ou embaçada. Apertar e esfregar os olhos; Pálpebras com bordas avermelhadas e inchadas, purgações e terçóis; Aluno que pisca excessivamente; Franzimento constante da testa; Sensibilidade à luz;

2) Analisando o comportamento do aluno, durante a realização de atividades em sala de aula, por exemplo:

Aproximação excessiva do objeto investigado; Dificuldade para leitura e escrita; Postura inadequada; Inquietação e irritabilidade; Cautela excessiva ao andar; Desatenção e desinteresse; Tropeço e quedas freqüentes.

Fadiga ao esforço visual; Tonturas; Náuseas; Dor de cabeça;

Se o professor perceber alguns desses sinais por meio da observação das atividades escolares ou na aparência do aluno, esta percepção deve ser completada por meio de perguntas ao aluno a respeito desses sintomas e de outros menos perceptíveis (cefaléia, fotofobia), pois nem sempre este tipo de evidência é percebida. Daí a importância do preparo do professor para realizar "diagnóstico educativo" podendo, assim, auxiliar na prevenção de distúrbios ou agravos oftalmológicos e seu devido encaminhamento.

Discussão a ser promovido entre os alunos /fórum

Que ações eu, professor, poderia realizar como rotina ao iniciar uma nova turma visando detectar precocemente os casos de deficiência visual em meus alunos?Será isso somente importante em turmas de crianças pequenas ?

2.4 - Estratégias educacionais para deficientes visuais

2.4.1 - Estimulação Precoce

A estimulação precoce tem por objetivo facilitar o desenvolvimento da criança cega e portadora de visão subnormal, prevenindo problemas adicionais à deficiência visual por falta de ambiente facilitador e que estimule seu contato com o "mundo". Esta atividade se deve dar num ambiente agradável (Espaço Lúdico) por meio de brincadeiras com brinquedos sonoros, coloridos e agradáveis ao tato. Nesta estimulação é realizado também o treinamento de visão subnormal, garantindo a estas crianças melhor uso e eficiência visual.

As áreas básicas que desenvolvidas através da Estimulação Precoce são:

I - Estabelecimento de laços afectivos;II - Desenvolvimento Perceptivo-motor;III - Aquisição da linguagem;IV - Conceito do Eu e noção de objeto.

O bebê deficiente visual e sua família

O comportamento do bebê é determinado não só por fatores biológicos e neurológicos, mas também afetivo-culturais. Estes dois aspectos são interligados e influenciam-se mutuamente. Por isso, o que se passou com a criança e a mãe durante o tempo de gestação, o que se passou no momento do parto, são

circunstâncias fundamentais para o futuro da criança, que contaram na sua história e no seu comportamento.

Quando numa família nasce um bebê cego, o efeito da surpresa, provoca um choque de tal modo grave, que conduz, regra geral, a uma fase crítica de profunda depressão.Muitas vezes até a forma como o fato é comunicado aos pais, agrava o acontecimento. Concretizando esta afirmação, apresentamos depoimentos de quatro mães que nos contam de que modo tiveram conhecimento ou se aperceberam da deficiência dos seus filhos.

CASO A - “... quando perguntei pela minha filha, diziam que estava bem, mas não ma traziam. Quando a vi disseram-me que tinha os olhos inchados, mas que depois passava. Chamaram o meu marido e eu desconfiei ... Em poucos dias tive certeza: minha filha tinha glaucoma...”

CASO B - “ ... aos três meses notamos que o bebê não fixava e pensamos que fosse estrabismo. A pediatra não deu por isso. Fomos ao oftalmologista, que lhe fez um exame e de uma maneira muito brusca disse: Confirma-se o diagnóstico de cegueira, ele é cego e não há nada a fazer. O choque para mim foi tão grande, e a forma com que ele me disse isso foi tão brutal, que nunca mais pude voltar lá. Andei por outros médicos, mas o diagnóstico foi sempre confirmado e não me deram nenhum encaminhamento. Até que um dia um colega do meu marido lhe falou no Instituto de Cegos em que...”

É necessário pois, reduzir este período em que os pais sentindo ruir todos os seus sonhos, se confrontam com a realidade de um bebê deficiente visual, tão diverso daquele que preencheu o seu imaginário durante nove meses.

Este primeiro momento é geralmente caracterizado por uma total ausência de esperança, agravada pela angústia de uma culpabilidade que começa a emergir. A deficiência do filho ameaça o sentimento de amor próprio e a competência dos pais. O sentimento é tão insuportável que eles procuram em si mesmos e nos outros, um sinal que lhes mostre que não têm culpa da deficiência do filho.

2.4.2 - Ensino do Braille

O Braille é um código tátil usado para permitir a escrita e a leitura por deficientes visuais. O alfabeto convencional é representado com pontos em relevo, numa organização engenhosa, que pode ser diferenciada com o tato.

O método foi inventado pelo cego francês Louis Braille em meados do século XIX e vem sendo usado praticamente sem mudanças até hoje.

Cada letra representada em Braille é composta por 6 pontos, que são agrupados em duas filas verticais com três pontos em cada fila (cela Braille). A combinação desses pontos forma 63 configurações (mais a cela vazia que representa o espaço), que são usadas para representar as letras do alfabeto convencional e suas variações como os acentos, a pontuação, os números, os símbolos matemáticos e químicos e até as notas musicais.

Assim como a escrita convencional abriu um novo mundo para o homem comum, o Braille fez o mesmo para os deficientes visuais. Através dele as pessoas cegas tiveram a primeira chance real de resgatar sua cidadania, pois alfabetizando-se elas teriam condições de estudar, e estudando tem mais chances de conseguir emprego – o que em última análise significaria estar socialmente incluído e a possibilidade de ser independente.

Diversas instituições foram criadas (como a Fundação Dorina Nowill, de São Paulo), para dar suporte à transcrição de textos para Braille, produzindo material Braille para uso em escolas e também para lazer.

Infelizmente o uso de um código de escrita e leitura diferente do convencional trouxe restrições no intercâmbio cultural com as pessoas normais. Como a maior parte das pessoas que enxergam não sabe ler nem escrever em Braille, um texto gerado em Braille deve ser traduzido para letras em tinta para poder ser lido convencionalmente, e vice-versa. O código Braille também é muito extenso: uma página em tinta corresponde a aproximadamente de 3 a 5 páginas em Braille, e o papel usado na impressão é de maior gramatura, portanto muito caro, o que desestimula a produção industrial deste tipo de material pelas editoras.

Independente destes fatos, que provocaram um declínio recente do uso do Braille, frente às tecnologias de gravação portátil e de computação sonora, o Braille é fundamental, pois há inúmeras coisas para as quais será muito mais caro o uso de outras soluções – qualquer tipo de rotulagem, por exemplo. Além disso, falando do ponto de vista educacional, o uso do Braille permite um contato mais íntimo do deficiente visual com as questões de ortografia e em especial estabelecendo relações semióticas muito particulares do deficiente visual com o texto representado neste código.

Veja um filme com um jovem solfejando uma partitura escrita em Braille musical.

Como se produz Braille

A reglete e o punção foram os primeiros instrumentos utilizados para escrever em braile. A reglete é um pequeno artefato articulado com orifícios na parte superior e reentrâncias na parte inferior. O punção é um arame duro num suporte, que permite marcar (quase perfurar) os pontos em uma folha de papel.

Um dispositivo muito usado é a máquina de escrever em braile. Semelhante a uma máquina de escrever, as máquinas braile têm um teclado com apenas seis teclas e uma barra de espaço. As máquinas braile produzem células braile em relevo sobre o papel.

A partir da década de 1980, foram desenvolvido softwares de computador para transcrição de braille. A impressão é feita em impressoras que produzem as marcas em papel ou em equipamenetos capazes de imprimir alumínio (clichê), este último para reprodução em larga escala em gráficas especializadas. No Brasil o programa mais usado é o Braille Fácil.

Aprenda o Braille básico em 10 minutos.É muito rápido aprender os códigos básicos.

Primeiramente vamos nomear os pontos braille de 1 a 6, 1, 2, 3 na primeira vertical, 4, 5, 6 na segunda vertical.

1 o o 42 o o 53 o o 6

As letras de a até j são criadas com códigos de 4 pontos (2 x 2, ou seja na cela braille, deixando os pontos 3 e 6 vazios).

Nota aos transcritores da PUC: use fonte BrailleKiama

a b c d e f g h i j

Pegue um papel e decore estes símbolos.

Os outros alfabéticos são muito parecidos, vêm em seqüência adicionando pontos embaixo (pontos 3 e 6). A única exceção é o w que não segue este princípio.

k l m n o p q r s t

u v x y z w

Exercício: Traduza o que está escrito abaixo

Detalhes:

Para fazer maiúsculas, coloque antes da palavra os pontos 4 e 6

Para fazer caixa alta, coloque antes da palavra os pontos 4 e 6 duas vezes;

Para escrever números use o símbolo # (pontos 3456) e transforme o 1 em a, 2 em b, 3 em c, e assim por diante.

Exemplo: Brasil 2007

Para quem quer saber mais:

Um certo cuidado é necessário ao ler com o tato, os pontos 4,6 se confundem com 1,3, o que não chega a atrapalhar, pois em português não há palavras começadas por k. Mas em inglês, a codificação de maiúscula é outra. Em outras palavras, a codificação Braille varia um pouquinho de país para país, exceto nas letras alfabéticas.

Neste sentido, recentemente foi unificada a escrita Braille entre Brasil e Portugal, à semelhança de ação ocorrida na escrita em tinta há alguns anos atrás.

O código completo adotado nos dois países está mostrado no site

http://www.todosnos.unicamp.br/Diferencas/Conceitos/braile_html

Extensões do código Braille podem ser também usadas para codificar música, matemática, química, etc. Mas neste caso há um conjunto imenso de normas que devem ser seguidas. Essas normas também variam de país para país, embora sutilmente, mas o suficiente para, por exemplo, tornar incompatíveis textos matemáticos criados em Braille nos Estados Unidos e no Brasil.

2.4.3 - Ensino de matemática: o Sorobã

O Sorobã é um aparelho de cálculo usado já há muitos anos no Japão pelas escolas, casas comerciais e engenheiros, como máquina de calcular de grande rapidez, de maneira simples. Se recomenda o sistema sorobã como método ideal de cálculo para deficientes visuais. Com alguma habilidade o deficiente visual pode escrever números no sorobã com a mesma velocidade ou até mesmo mais rápido que um vidente escreve a lápis no caderno.

Cada vareta vertical representa uma casa decimal. Em cálculos simples, sem uso de casas decimais, a vareta da direita corresponde às unidades, a segunda da direita para a esquerda, corresponde à casa das dezenas, a próxima à das centenas, etc. As bolinhas isoladas representam o dígito 5.

Por exemplo. Representação do número 31537

É muito fácil fazer contas. Basta mover as bolinhas para cima para somar e para baixo para subtrair. Quando não é possível mover mais bolinhas, zera-se a coluna

(move-se tudo para baixo) e move-se a bolinha isolado daquela casa ou da vizinha, dependendo da operação que está sendo realizada.

Você pode brincar um pouco num sorobã virtual. Entre no site

http://www.sorobanbrasil.com.br/

e faça o download do programa. Represente o número 21397.Você é inteligente? Então faça uma pequena soma: 32 + 21.É mais inteligente ainda? Então faça a soma 34 + 78.

2.4.4 – Recursos ópticos

Recursos ópticos são dispositivos prescritos por um especialista (oftalmologista). São compostos de uma ou mais lentes para aumentar ou ajustar a imagem visual.

Óculos com prescrições especiais Óculos bifocais, prismas, lentes de contato ou outras combinações de

lentes podem ser prescritos para uma criança com limitações visuais, a serem usados à toda hora ou durante atividades específicas.

Lentes ligeiramente tingidas ou escuras podem ser usadas pela criança sensível à luz, em lugares fechados e ao ar livre.

Lentes de aumento manuais ou lentes de amplificaçãoSão usadas para aumentar o tamanho da imagem e melhoram o funcionamento

visual de crianças com quase todos os distúrbios visuais. Esses ampliadores podem ser usados para tarefas como ler, escrever e estudo de arte. Essas lentes existem também na forma eletrônica (Lupa Eletrônica), na qual é possível exibir a imagem ampliada numa TV.

Telelupas (mini-telescópios) Seguros na mão ou em armações de óculos são usados por crianças para ver

objetos distantes, como quadros negros e demonstrações de sala de aula, ou para identificar ônibus, sinais de rua, e assim por diante. Quando uma criança está usando um telescópio para ler o quadro negro, ela pode achar útil sentar-se na coluna central de carteiras, na distância que lhe for mais adequada.

2.4.5 - Recursos não ópticos

Os dispositivos não-ópticos não envolvem lentes, e podem ou não ser especificamente projetados para pessoas deficientes da visão. Entre os recursos mais usados podemos citar réguas com marcações, material dourado Montessoriano, painéis táteis e auto-colantes além de sistemas para reprodução tátil em folhas plásticas (equipamentos denominados Thermoform) e papel micro-encapsulado (capazes de produzir relevos a partir de desenhos gerados numa impressora comum).

Para saber mais sobre o material dourado Montessorianohttp://educar.sc.usp.br/matematica/m2l2.htm

Nos países desenvolvidos existem muitas empresas que vendem tais recursos prontos para uso. No Brasil, entretanto, é quase impossível conseguir isso, pois há pouquíssimas empresas que se dedicam a este tipo de comércio, e cobram caríssimo, pois o material que vendem é quase todo importado.

Resta então ao professor produzir seu material a partir dos recursos a que tiver acesso, incluindo materiais criativos e reciclados, além de isopor, madeira, rotex, feltro, cortiça etc. Como exemplo de adaptações:

Canetas tipo pincel atômico para produzir marcas grossas visíveis por pessoas com visão reduzida.

Acetato – Normalmente preferido em amarelo ao ser colocado sobre a página impressa escurecerá a impressão, assim como também intensificará o contraste da impressão com o papel de fundo.

Livros com letras ampliadas, gerados a partir de impressão escalada na máquina xerox.

Papel com pautas em negrito, obtido com xerox ou mimeógrafo. Marcadores de página e molduras de papelão (janelas de leitura) – especialmente

úteis a crianças que têm dificuldade para focar uma palavra ou localizar uma linha de impressão.

Viseiras de sol e outras proteções Instrumentos de medida comuns (réguas, esquadros) ao qual se

adiciona rotex braille (fita autocolante com texto).

2.4.7 – O uso de tecnologia mudando a vida dos deficientes visuais

Filme DOSVOX – depoimentos (1 minuto)

Mais adiante falaremos mais sobre tecnologia. Por hora vamos apenas mencionar que há hoje um imenso arsenal de dispositivos que podem ser usados. Os dispositivos mais usados incluem:

Computadores. Hoje estão sendo largamente usados, tanto nas escolas como no trabalho.

Sintetizadores de voz. Um sintetizador de voz permite ao aluno deficiente visual ouvir o que aparece na tela de computador por um alto-falante ou um fone de ouvido.

Linhas Braille – Uma linha Braille é um dispositivo composto por uma fila de células braille eletrônicas, que podem reproduzir dinamicamente o texto enviado por um computador, permitindo a leitura em Braille sem usar papel.

Impressão aumentada gerada por hardware. Um processador de tela com um monitor de computador grande permite ao aluno de visão subnormal controlar tamanho, contraste e brilho do programa apresentado na tela. O aluno pode dispor a página automaticamente em determinada velocidade ou apagar partes da tela que possam perturbar a leitura.

Impressoras Braille. São impressoras especiais de computadores pessoais comuns que produzem material em Braille. É possível imprimir em Braille praticamente qualquer arquivo, mesmo contendo figuras (que são transcritas para a forma de desenhos táteis).

Impressão aumentada gerada por software. Alguns softwares permitem ao usuário produzir impressão ampliada em impressoras comuns (a laser, a jato de tinta e semelhantes).

Gravação de textos com indexação e sincronismo – Novas tecnologias de gravação permitem que sejam introduzidas marcas no texto gravado, que serve de índice para acesso direto a partes do textos, além de sincronização visando visualização de trechos em letras ampliadas e impressão Braille.

2.4.8 – Adaptação curricular

Todo esse arsenal de recursos, infelizmente, é insuficiente para promover uma ponte entre as necessidades inerentes ao currículo que é usado para as pessoas normais e pessoas com deficiência visual. Imagine, por exemplo, uma cartilha, em que praticamente todas as páginas contém imagens e nas quais o formato das letras que estão sendo ensinadas imita o formato da figura. Como transcrever isso para um código puramente textual, como Braille? Descrevendo as figuras? Neste caso, a razão maior da existência das figuras perde totalmente o sentido. Já para uma criança com visão reduzida, a ampliação em xerox será suficiente? Talvez sim, talvez não. Pode ser que o desenho ampliado fique tão grande que a criança com visão lateral não consiga ter a noção do seu todo.

Então é necessário adaptar. A adaptação pode ser muito simples como uma descrição em palavras, ou um completo redesenho na estratégia usada para passar o conceito. As adaptações deverão ser efetuadas evidenciando a descrição textual e tátil do aspecto visual do mundo, e de tudo que puder traduzir o mundo na perspectiva de sua aparência exterior.

Quem faz essa adaptação? Pode ser o próprio professor, o material pode já vir adaptado de um centro de transcrição (por exemplo, o Instituto Benjamin Constant tem uma equipe de adaptação de materiais didáticos, que transcreve muitos dos livros didáticos aprovados pelo MEC para uso nas escolas públicas).

É importante frisar: uma adaptação completa não é uma tarefa simples, e será muito demorada quando se desejar que seja bem realizada. Desta forma, é fundamental que numa classe inclusiva, a maior quantidade possível material didático, em especial os livros e apostilas que serão usados pelo aluno deficiente visual, devem ser entregue previamente com todas as adaptações ao professor, pois este não terá tempo hábil para produzi-las.

Exercício:Mande por email para seu tutor a resposta detalhada para a questão abaixo.

Em sua sala de aula (primeiro grau) será colocado no próximo período um aluno com visão subnormal, que apenas consegue ler letras enormes, de tamanho 30, a uma distância de 5 cm do papel. Sua escola é muito pobre, mas tem acesso amplo à compra de material (barato) para uso por deficientes visuais. Cite 3 recursos você criaria para ensinar-lhe conceitos básicos de topografia dos rios brasileiros. Lembre-se também de sugerir à direção da escola alguma adaptação do livro texto que contém 50 páginas sobre este conteúdo e cerca de 20 mapas coloridos, de complexidade variada.

OBS: ANTONIO, VEJA SE SERIA INTERESSANTE APROVEITAR ESSAS FIGURAS COM PROBLEMAS DE VISÃO ? TALVEZ MAIS UM ITEM...

2.5 – Tecnologias assistivas para deficientes visuais

Tenho 56 anos. Nasci quase cega e o Braille foi, até meus 50 anos, meu contato principal com leitura e escrita, o que me permitiu construir uma fida profissional como professora de Literatura. Eu comecei a escrever poesia com a idade de 13 anos. Muito cedo eu desisti. Escrever sempre foi fácil para mim, mas mostrar o que eu tinha escrito para outros era muito complicado. Poucas pessoas conhecem o Braille. Com 50 anos eu conheci o sistema DOSVOX e minha vida mudou completamente.

Eu pude publicar e divulgar meus poemas e hoje, com 4 livros publicados, alguns prêmios em concursos literários, meus textos ganharam um portfólio mágico na internet, próximo aos meus tapetes e pinturas. Eu larguei meus antigos hábitos, ganhei novos amigos, um público diferente, muito maior que eu jamais sonhara. As listas de discussão enriqueceram meu mundo, o correio eletrônico me aproximou de amigos e da família, de forma que o tempo e a distância se transformaram em doces memórias.

Cada dia, mais e mais pessoas conhecem meu trabalho e o trabalho de outras pessoas cegas em minha homepage (www.virginiavendramini.com.br).

Que o acesso a itens de tecnologia pelos deficientes é fundamental para uma vida confortável, é coisa de que ninguém duvida. Num universo atual em que a maioria das coisas importantes está registrada na forma escrita, imagine um idoso lendo sem óculos! Quase todos vamos precisar de óculos um dia (a menos que a tecnologia médica promova a substituição deste artefato por alguma outra “coisa” tecnológica, como uma operação do cristalino a laser). Pode parecer uma observação irrelevante, mas a inexistência dos óculos alijaria todos os velhos, ou seja, 30% da população do mundo, do acesso às manifestações culturais em forma escrita!

No caso dos cegos, entretanto, desde o surgimento do Braille nos anos 1.850, pouquíssimos aparatos tecnológicos (invenções) foram introduzidos até os anos 1.970, em que uma explosão de artefatos surgiu numa rapidez espantosa, a reboque do desenvolvimento da tecnologia de eletrônica, computação e comunicações

É quase impossível listar todos os artefatos tecnológicos que foram criados para deficientes visuais, e podemos dizer, sem sombra de dúvida, que foi o tipo de deficiência que recebeu maior número de contribuições da tecnologia. A maior parte dos desenvolvimentos para deficientes foi criada, na verdade, como uma evolução ou adaptação e combinação tecnológica de itens pré-existentes em outras áreas. Neste sentido, por exemplo, um scanner, gerado em princípio para transformar imagens impressas para a forma digital, é acoplado a um software de reconhecimento ótico de caracteres e a um sintetizador de voz, tornando-se uma máquina de leitura de livros em voz! Com isso em mente, o contínuo avanço tecnológico provoca o surgimento de novos artefatos.

Podemos caracterizar de forma genérica os desenvolvimentos nas seguintes categorias:

a) sistemas com exibição sonoraNestes sistemas a informação desejada é produzida na forma de sons, em particular em voz gravada ou síntese de fala.

b) sistemas com exibição tátil dinâmicaNestes sistemas a informação é movida para algum tipo de painel que pode ser tateado, e no qual a informação é mostrada numa forma conveniente (gráfico, braille e diversos outros).

c) sistemas de ampliação de imagemNestes sistemas parte da imagem (ou toda ela) é ampliada permitindo o acesso de pessoas com visão reduzida.

d) Sistemas de transcrição de textoNestes sistemas um texto escrito ou impresso é transformado para alguma forma digital para depois ser exibido usando algum dispositivo de saída sonora, visual (provavelmente ampliada) ou tátil.

e) dispositivos de telecomunicaçõesA internet e outros meios de comunicações são intensamente usados por todos os deficientes visuais, na medida em que aproximam pessoas sem necessidade de deslocamento físico.

Foi de particular importância a disseminação do uso de computadores pessoais, que vieram a embutir ou controlar diversos destes artefatos, o que tornou a leitura e escrita compatíveis entre os deficientes visuais e as pessoas com visão normal. O resultado deste uso amplo foi uma verdadeira revolução cultural, com a integração de muitos estudantes em classes convencionais (em particular em universidades) e acesso a muito maior quantidade de materiais didáticos e permitindo também que a produção cultural dos cegos pudesse ser disseminada.

2.5.1 – Síntese de voz

A chave do desenvolvimento de artefatos tecnológicos para deficientes visuais em larga escala foi a disponibilidade de sistemas de síntese de voz. Em particular, no Brasil, o primeiro sintetizador de uso amplo para português foi criado para o sistema DOSVOX, em 1993. Mesmo com qualidade precária, tendo sido criado para um hardware "plug in" de custo irrisório, numa época em que placas de som de computadores eram muito raras, este sintetizador original permitiu o acesso de milhares de deficientes visuais ao mundo da informática, a partir desta época. Muitos outros sistemas foram criados depois dele, cada qual com qualidade superior até chegarmos hoje a uma síntese que é praticamente indistingüível da voz humana natural.

Importante:Os sistemas sintetizadores são na verdade programas especiais que podem ser acoplados a outros programas – aplicativos de acessibilidade, por exemplo. Esse acoplamento se faz segundo diversos modelos de interface de conexão. No caso de computadores usando Windows, o modelo mais usado é o SAPI – speech application programming interface (versão 4 – média qualidade e versão 5 – alta qualidade, incompatíveis entre si). Quando se vai utilizar um programa que faça uso de síntese de voz, é importante saber qual o modelo usado, para definir exatamente qual o produto de síntese compatível.

Abaixo você poderá escutar diversos exemplos de sínteses de fala dos principais sistemas usados para síntese de voz em língua portuguesa.

Clique para escutarDOSVOX Sintetizador original NCE/UFRJSapi 4 Voz Juliana Lernout & Houspie

Voz Marcelo - Delta Talk II MicropowerVoz Pedro Elan InformatiqueVoz João Eloquence (IBM)

Sapi 5 Voz Gabriela LoquendoVoz Raquel ScanSoft

2.5.2 – Um panorama sobre os sistemas computacionais baseados em gravação de som e síntese de voz usados no Brasil

Existem inúmeros produtos de informática no mercado mundial que fazem uso de síntese de voz, mas a maior parte deles não é encontrada no Brasil. Os principais programas usados no Brasil são o DOSVOX, o Virtual Vision, o Jaws,.o Magic e o Talks.

DOSVOX é mais antigo e mais simples de usar e aprender, sendo hoje distribuído gratuitamente para qualquer uso. Ele se apresenta como uma interface completamente adaptada para a pessoa cega, e é especialmente indicado para atividades educacionais.

As principais ferramentas do DOSVOX incluem: Editor, leitor e impressor / formatador de textos; Impressor / formatador para braille; Programas de uso geral para o cego Programas sonoros para acesso à Internet, como correio eletrônico, acesso a

homepages, batepapo e transferência remota de arquivos. Programas para ajuda à educação de crianças com deficiência visual; Jogos de caráter didático e lúdico; Leitor simplificado de telas para Windows

A essência do DOSVOX é apresentar um computador muito amigável para um deficiente visual, com interação simples, baseada num sistema de menus acionados por teclas e com feedback em síntese de voz. A curva de aprendizado do sistema é muito rápida, e o sistema pode ser usado por uma gama imensa de pessoas, desde analfabetos digitais até pessoas com grande experiência em computação, com bastante eficiência.

Apesar de sua adequação para uso com qualquer tipo de deficiente visual, muitas pessoas com visão subnormal tendem a rechaçar seu uso por se sentirem psicologicamente incomodados de usar um sistema "diferente", criado para uso por cegos, algo que eles realmente (ainda) não são.

Para conhecer mais sobre o DOSVOX acesse

http://intervox.nce.ufrj.br/dosvox

Virtual Vision é um sistema de leitura de telas, capazes de sintetizar em voz as informações apresentadas no Windows (não existem até o momento versões para Linux). É indicados para atividades profissionais e para acesso amplo a todos os programas específicos do Windows.

O Virtual Vision é uma iniciativa da Fundação Bradesco, implementado pela empresa Micropower Software. Ele foi criado inicialmente para viabilizar o acesso de deficientes visuais à Internet. Em princípio, um cego não faz uso do Mouse, e o controle do Windows é feito unicamente pelo teclado, sendo o feedback apresentado é apenas a leitura dos textos e das mensagens exibidas na tela, através de um sistema muito sofisticado de processamento das informações visuais textuais. Este programa é distribuído gratuitamente para correntistas deficientes visuais do Banco Bradesco e do Banco Real, mas não é grátis quando aplicado a empresas.

O Virtual Vision é muito bem aceito por pessoas com visão subnormal, mas é bem mais difícil de ser usado por pessoas com cegueira total (em particular aquelas com baixa cultura computacional), especialmente porque é necessário se ter um conhecimento bem razoável das teclas de atalho (que substituem o mouse) e da organização das informações (bidimensionais) na tela para poder usar um leitor de telas.

Fato interessante: Por suas qualidades técnicas e pela filosofia humanista que gerou o produto, o Virtual Vision foi reconhecido pela Microsoft Corporation que o recomendou para disputar o Smithsonian Institute Award, como uma importante contribuição ao desenvolvimento da humanidade.

Para conhecer mais sobre o Virtual Vision acesse

http://www.micropower.com.br/v3/pt/acessibilidade/index.asp

Jaws é também um leitor de telas, como o Virtual Vision, e portanto não é para ser usado por pessoas iniciantes. O Jaws é um produto tipicamente de uso profissional.

Entre o Virtual Vision e o Jaws a diferença conceitual é pequena, sendo os detalhes operacionais dos dois programas pouco relevantes na maioria das vezes. Com relação ao uso de certos utilitários, como o Internet Explorer e do pacote Office (Word, Excel e Access), sua acessibilidade é considerada a mais perfeita, mas bem próxima à do Virtual Vision. Sendo o Jaws um programa importado, e produzido por uma companhia bastante forte, a incorporação de acessibilidade a novos aplicativos do Windows tende a ser mais rápida. O preço, por outro lado

é muito mais alto (cerca de 4000 reais do Jaws contra 2000 reais do Virtual Vision).

Para saber mais sobre o Jaws leia

http://www.tiflotecnia.com/produtos/software/jaws.html

Magic é um sistema de ampliação de telas, que permite que a imagem exibida no monitor seja ampliada e/ou sintetizada em voz.

O MAGIC combina as funções de ampliação com as de leitura de telas para baixa-visão. Permite escolher qual a informação que quer ler, enquanto trabalha com as aplicações. O MAGIC é fácil de utilizar, com voz e ampliação de caracteres, interface de utilizador com novas cores e combinação de teclas que evitam conflitos com o Windows e as aplicações mais populares. O software permite diversos ajustes como ampliação de 1 até 16 Vezes, diversos tipos de cursores, modificações nas cores de exibição e síntese de voz.

Talks é um sistema que dá acessibilidade em síntese de voz aos menus de certos telefones celulares.

O Talks é um leitor de telas voltado para uso em telefones celulares que usam o sistema operacional Symbian. Este sistema sonoriza todos os menus do celular, além dos nomes, números e textos ali armazenados. Infelizmente só os celulares mais caros suportam o Talks, e o custo do telefone mais o software não sai por menos de 2000 reais, o que limita muito o uso deste sistema.

Nota: Outro produto bastante conhecido é o OpenBook, utilitário destinado a escaneamento de textos e leitura confortável. É muito comum também, no Brasil, ouvir-se falar do produto Window Eyes, que é o leitor de telas mais vendido em Portugal, mas este produto não é comercializado no Brasil.

Este é um curso muito reduzido, e seria impossível um contato com todos esses produtos. Optamos assim por mostrar a essência, deixando todos os detalhes para que algum dos alunos realize, provavelmente, em seu trabalho de final de curso. Mostraremos a seguir:

Um tutorial sobre o uso básico do DOSVOX Um pequeno tutorial sobre os conceitos envolvidos no uso de um leitor de telas; Apresentaremos o ampliador de telas LentePro, uma alternativa gratuita ao Magic. Falaremos finalmente dos ajustes que é possível realizar no Windows para

acrescentar-lhe acessibilidade para deficientes visuais.

Outros detalhes sobre produtos de informática para deficientes visuais podem ser encontrados em

http://www.2020brasil.com.br/publisher/preview.php?edicao=1204&id_mat=999

Para quem quer ter opinião mais bem formada sobre tecnologia e deficientes visuais

Leia o texto técnico "Novos horizontes para os deficientes visuais", que é uma das melhores referências sobre a filosofia que permeia o DOSVOX. Baseado em textos publicados por Antonio Borges, esta resenha é uma chamada à nossa consciência social: a realidade realmente mudou, e para continuar mudando nós somos os personagens principais da história.

http://intervox.nce.ufrj.br/dosvox/horizonte.htm

2.6 – Conhecendo e usando o DOSVOX

Para conhecer realmente o DOSVOX é preciso usá-lo. Então faça já a instalação do DOSVOX em seu computador (se é que ele já não está instalado).O download do DOSVOX pode ser feito a partir de

http://intervox.nce.ufrj.br/dosvox/download.htm

Se tiver pressa, pode pegar a versão reduzida, que para estes exercícios será suficiente.

Importante:A instalação do sistema DOSVOX exige privilégios de administrador,

especialmente instalação da síntese de voz. Se você não tiver tais privilégios, o DOSVOX ainda funcionará, mas precariamente, usando uma síntese de voz com baixa qualidade, e não aceitará nenhuma configuração. Outro detalhe importante é que para se obter uma leitura de textos com a mesma qualidade do filme de demonstração exibido no site DOSVOX é necessário adquirir numa boa loja de informática (ou através da Internet) um dos produtos de síntese de voz mostrados anteriormente.

2.6.1 Começando a usar o DOSVOX

Acione o DOSVOX apertando simultaneamente control-alt e sem soltar, apertar a letra d. Uma vez que o DOSVOX seja ativado, aperte F1 para obter uma ajuda preliminar.

Espere a mensagem central do sistema

DOSVOX, O QUE VOCÊ DESEJA?

Agora entre no site

http://intervox.nce.ufrj.br/dosvox/ferramentas.htm

Ali você tem figuras que demonstram o uso básico do sistema. Tente reproduzir a operação das seguintes funções:

Teste de teclado (opção T)

O teste de teclado é de suma importância , principalmente para o usuário iniciante em microcomputadores. Seu objetivo maior é proporcionar ao usuário o reconhecimento da posição das teclas alfanuméricas e teclas com funções especiais, facilitando o aprendizado quanto aos demais aplicativos do sistema. Pressionando a tecla ESC o teste termina, e soa novamente a pergunta "DOSVOX - O que você deseja? ".

Se por alguma razão em alguma hora o DOSVOX parar de falar (o que pode ocorrer no teste de teclado se alguma tecla especial for acionada), basta reativá-lo novamente com control-alt-d.

Ativação e término de funções (setas, Enter e tecla ESC)

A maior parte das opções pode ser ativada usando as setas e depois Enter, ou opcionalmente teclando-se sua inicial. Todas as funções no DOSVOX são terminadas com a tecla ESC.

Leitura de texto

A leitura de textos é feita na opção L após a pergunta "Dosvox, o que você deseja". Pode-se usar as setas para escolher um arquivo que está armazenado no diretório (pasta) atual e apertar enter para iniciar a leitura.

Importante: a leitura é feita usando-se o sintetizador de voz que estiver selecionado ou instalado. Pode-se mudar o sintetizador usando-se a função M S do Dosvox. Obviamente só são disponibilizados os sintetizadores previamente instalados no computador. Junto com o DOSVOX vêm apenas sintetizadores gratuitos de baixa qualidade.

Arquivamento (opção A) e posterior obtenção de dados sobre um arquivo (subopção D, ou aperte F1 para ajuda).

Esta opção permite a manipulação de arquivos. Pode-se mudar o subdiretório ou o disco de trabalho usando-se o comando D (aperte F1 para ajuda). Para selecionar um disquete, por exemplo, usa-se o comando DT A:\

Jogo da forca (opção J, subopção F)

Este é um dos jogos mais interessantes e conhecidos do DOSVOX. As palavras dele podem ser mudadas para atender a objetivos didáticos, alterando-se o arquivo forcavox.pal que está na pasta c:\winvox\som\forcavox

Utilitário calculadora (opção U, subopção C).

A calculadora não serve apenas para fazer contas. Ela é muito importante para motivar os novos usuários para que se sintam confiantes no uso do teclado.

Uma vez concluída esta fase inicial é muito importante dar uma passeada no site DOSVOX e saber mais sobre o sistema, assistindo a um dos muitos filmes ali armazenados, contendo não só detalhes sobre o sistema ou sua história, mas também inúmeros depoimentos.

Nota:Um filme de interesse muito particular é o que fala sobre a alfabetização de crianças não cegas com o DOSVOX.

2.6.2 – Editando um texto com o DOSVOX

Seu próximo e mais importante desafio será editar um texto e imprimi-lo. Mas antes de fazer isso, nós sugerimos que você leia superficialmente o manual do editor de textos, que pode ser encontrado no arquivo c:\winvox\manual\edivox.txt.

Para ler o manual pode usar um bloco de notas do Windows ou mesmo o utilitário de leitura do DOSVOX, digitando como nome de arquivo

c:\winvox\manual\edivox.txt

Você descobrirá que o EDIVOX é quase igual ao Bloco de Notas do Windows (mas não é igual em alguns aspectos para dar maior segurança ao deficiente visual na sua digitação).

Importante: Todos os manuais do DOSVOX podem ser encontrados no diretório c:\winvox\manual verifique!

Seu trabalho é simples:

Ative o Editor de textos Edivox usando a função E do DOSVOX. Informe o nome do arquivo: a1.txt Digite três linhas pequenas, ao fim de cada linha tecle Enter. Cometa

propositalmente alguns erros na sua digitação. Use as setas para cima e para baixo para ler o que escreveu. Use as setas para a direita e esquerda para soletrar. Depois apague o monitor e se guie apenas pelo som. Use as setas para corrigir estes erros. Ligue o monitor e veja se os erros foram realmente corrigidos sem problemas.

Teste agora, lendo o manual, as seguintes operações.

Ligue o dicionário (F11) e digite agora algumas palavras com erros e veja a indicação sonora que é exibida. Peça sugestão para uma palavra com erro, teclando control-w.

Remova uma linha (usar control-y). Junte duas linhas (usar control-q ao fim da linha) Quebre uma linha em duas (usar control-q no meio da linha). Marque um bloco e ordene (isso é um pouco mais difícil, e assim você terá que ler

o manual para saber como fazer. Uma dica, use control-b para tratar comandos de bloco).

Guarde o arquivo e finalmente o imprima, usando o próprio DOSVOX ou mesmo um outro editor de textos. Note que o texto gerado pelo DOSVOX, ao ser lido pelo Word apresenta letras pequenas: você terá que aumentar a fonte.

Nota: existe uma função no EDIVOX para exportar ou imprimir diretamente através do Word. Não precisa enviar para seu tutor. Mas é muito importante que você esteja seguro, e que use o forum para tirar suas dúvidas. É quase certo que logo você vai ter que ensinar DOSVOX a alguém em sua escola.

Pense também que o uso do DOSVOX está se tornando também muito comum na alfabetização de crianças não cegas possivelmente integradas com outras crianças cegas, pelo potencial que a síntese de voz traz para incremento do processo de aprendizado básico das letras e sua junção, em que os programa LETRAVOX (opção J L) e LETRIX (opção J X) terão papel preponderante.

2.6.3 – Entendendo com funciona um leitor de telas

Usando o DOSVOX você percebeu que todo diálogo produzido visava dar um apoio firme ao uso do computador, com feedback adequado. As funções que o DOSVOX tem foram escolhidas para que 90 por cento dos usos normais de um deficiente visual estivessem contemplados (quase 100 por cento se for uma criança).

Entretanto, o conforto do ambiente DOSVOX, mesmo tendo hoje mais de 80 funções, não dará acesso a todas as possibilidades que o computador pode oferecer, pois muitos deles são processos complexos que são praticamente impossíveis (ou desinteressantes) de suportar de forma especial. Desta forma, haverá necessidade em algumas vezes de acessar os programas na forma nativa do Windows.

É importante notar também que muitas pessoas têm visão reduzida, mas não são realmente cegos. Para estas pessoas um suporte sonoro significa um apoio adicional apenas, e grande parte do acesso pode ser feito usando letras grandes configuradas no computador, talvez com fundo branco substituído por escuro para não ofuscar os olhos com problemas visuais.

Surge portanto a necessidade de acessar o computador na sua forma nativa, usando provavelmente o mouse (ou simulando sua movimentação) e usando algum

tipo de combinação de teclas para ativar os menus e funções especiais que cada programa (ou o próprio Windows) disponibiliza.

2.6.3.1 – Aprendendo teclas de atalho

Vamos agora ensinar você a usar algumas das funções mais importantes do Windows sem usar o mouse. Isso pode parecer estranho para você, mas uma vez que se acostume, notará um aumento significativo na sua operação do computador. Naturalmente, estamos visando que você possa usar o computador da mesma forma que um cego (ou um deficiente visual) provavelmente fará. Comece colocando o mouse bem longe de sua mão, para que você não fique tentado a pegá-lo na primeira dificuldade.

1. Para começar, ative o programa Bloco de Notas, a partir do menu Iniciar.O menu iniciar é aberto com a tecla "Windows" que fica do lado direito da

control (tem um desenho do logotipo do Windows nela). Use as setas, vá até programas, depois Acessórios (pode estar escondido atrás do símbolo >>). Ache o programa Bloco de Notas e aperte Enter ao chegar a ele.

2. Use F10 para abrir o menu do bloco de notas. Use as setas para acionar "arquivo/abrir". No diálogo que se abrirá, escolha algum arquivo existente. Use a tecla TAB se precisar pular entre os campos do formulário, ALT-TAB para retornar para campo anterior.

3. Troque o tamanho da fonte, novamente usando o F10 e depois editar, selecionar fonte, etc.

4. Termine o programa, usando a seguinte forma alternativa (você poderia ir também pelo F10, mas faça dessa nova maneira). Aperte ALT e sem soltar aperte F4.

Você já aprendeu diversas teclas. Uma lista mais completa de funções de teclado está mostrado a seguir. Você não precisa decorá-las, obviamente, mas um deficiente visual que queira adquirir proficiência no uso do computador terá que fazer uso intensivo de boa parte delas.

Área de Trabalho

CTRL+A - Selecionar tudoCTRL+ESC - Exibir o menu IniciarCTRL ao arrastar um item - Copiar um item selecionadoCTRL+SHIFT ao arrastar um item - Criar um atalho para um item selecionadoCTRL + ALT + F1 - Ver informações do sistemaALT+ENTER - Exibir as propriedades do item selecionadoALT+F4 - Fechar o item ativo ou sair do programa ativoALT+TAB - Alternar entre janelas abertasALT+ESC - Percorrer itens na ordem em que foram abertosF2 - Renomear um item selecionadoF3 - Procurar um arquivo ou uma pastaF4 - Abrir lista da barra de endereços – pasta abertaF5 - Atualizar a janela ativaSHIFT+F10 - Equivale ao botão direito do mouseSHIFT ao inserir um CD - Evitar que o CD seja executado automaticamenteSHIFT+DEL - Excluir sem colocar na LixeiraPrint Screen - Captura tela, para colar em programas como o PaintAlt + Print Screen - Captura somente janela ativaWinkey (tecla com logo do Windows) - Exibir ou ocultar o menu IniciarWinkey + BREAK - Exibir a caixa de diálogo Propriedades do sistemaWinkey + D - Mostrar a área de trabalhoWinkey + M - Minimizar todas as janelasWinkey + Shift + M - Restaurar as janelas minimizadasWinkey + E - Abrir Meu ComputadorWinkey + F - Procurar um arquivo ou uma pastaCTRL + Winkey + F - Procurar computadoresWinkey + F1 - Exibir a Ajuda do WindowsWinkey + R - Abrir a caixa de diálogo ExecutarBotão Editar - Equivale ao botão direito do mouseWinkey + U - Abrir o Gerenciador de utilitários

Atalhos de teclado para Acessibilidade

SHIFT direita por oito segundos - Ativar e desativar as teclas de filtragemALT esq. + SHIFT esq. + PRINT SCREEN - Ativar e desativar o Alto contrasteALT esq. + SHIFT esq. + NUM LOCK - Ativar e desativar as teclas para mouseSHIFT cinco vezes - Ativar e desativar as teclas de aderênciaNUM LOCK por cinco segundos - Ativar e desativar as teclas de alternância

Alguns atalhos do Internet Explorer

Alt + direita - avança para página seguinteAlt + esquerda - Volta para página anteriorAlt + Home - Abre página inicial do Internet ExplorerCtrl + B - Abre janela para organizar FavoritosCtrl + D - Adiciona página à pasta FavoritosCtrl + F - Localiza palavra na páginaCtrl + H - Ativa barra com histórico na lateral da janelaCtrl + I - Ativa barra com sites favoritos na lateral da janelaCtrl + N - Abre nova janela do navegadorCtrl + O ou L - Abre campo para digitar e ir a nova página da rede ou abrir arquivoCtrl + Enter - Adiciona http://www. antes e .com depois de palavra digitada na barra de endereços..

Esc - Interrompe a transmissão de uma página quando está sendo carregada ou a música de fundo quando existe e a página já está carregadaF4 - Exibe histórico da barra de endereçosF5 - Atualiza página recarregando-aF6 - Alterna entre frames de uma página e barra de endereçosF11 - Alterna entre visualização normal e tela cheia

Alguns atalhos do Outlook Express

Ctrl + D - Apaga mensagemCtrl + E - Localiza pessoa no catálogo de endereçosCtrl + F - Encaminha mensagemCtrl + J - Vai à próxima pasta com mensagens não lidasCtrl + M - Enviar e receber mensagensCtrl + N - Nova mensagemCtrl + Q - Marca mensagem como lidaCtrl + R - Responde ao autorCtrl + S - Salva mensagemCtrl + Enter - Quando conectado e com destinatário definido, envia mensagemCtrl + F3 - Exibe código-fonte da mensagemCtrl + Shift + A - Marca todas mensagens de uma pasta como lidasCtrl + Shift + B - Abre catálogo de endereçosCtrl + Shift + E - Abre janela para criar nova pastaCtrl + Shift + F - Localiza mensagemCtrl + Shift + N - Cria nova entrada no catálogo de endereçosCtrl + Shift + O - Abre opções do Outlook ExpressCtrl + Shift + R - Responder a todosEsc - Fecha mensagem

Atalhos para editores de texto

Menu ArquivoCTRL + O - NovoCTRL + A - AbrirCTRL + B - SalvarCTRL + P - Imprimir

Menu EditarCTRL + Z - DesfazerCTRL + R - Repetir CTRL + X - RecortarCTRL + C - CopiarCTRL + V - ColarCTRL + T - Selecionar todo o textoCTRL + L - LocalizarCTRL + U - Substituir CTRL + Y - Ir para

Outros

CTRL+direita - Mover o cursor para o início da próxima palavraCTRL+esquerda - Mover o cursor para o início da palavra anteriorCTRL+baixo - Mover o cursor para o início do próximo parágrafoCTRL+cima - Mover o cursor para o início do parágrafo anteriorCTRL+ F4 - Fechar documento ativo/janela de programa

Teclas para formatação de caracteres e parágrafos

CTRL + SHIFT + > - Aumenta o tamanho da letra

CTRL + SHIFT + < - Diminui o tamanho da letraCTRL + SHIFT + A - MaiúsculasCTRL + SHIFT + W - Sublinhado mas só em palavrasCTRL + SHIFT + D - Duplo sublinhadoCTRL + SHIFT + K - Maiúsculas pequenasCTRL + SHIFT + * - Visualiza caracteres não imprimíveisCTRL + SHIFT + C - Copia formatosCTRL + SHIFT + V - Cola formatosCTRL + ] - Aumenta o tamanho da letra um pontoCTRL + [ - Diminui o tamanho da letra um pontoCTRL + D - Formatação de fontesCTRL + N - NegritoCTRL + S - SublinhadoCTRL + I - ItálicoCTRL + BARRA ESPAÇO - Remove formatação manualCTRL + Q - Parágrafo simples abaixoCTRL + 1 - Define espaçamento simples entre linhasCTRL + 2 - Define espaçamento duplo entre linhasCTRL + 5 - Define espaçamento entre linhas de 1,5CTRL + zero - Remove um espaço entre linhas que antecede um parágrafoCTRL + J - Justifica um parágrafoCTRL + E - Centraliza ParágrafoCTRL + G - Parágrafo à direitaCTRL + M - Avança um parágrafo a partir da esquerdaCTRL + SHIFT + M - Remove um avanço de parágrafo à esquerdaCTRL + SHIFT + J - Cria um avanço pendenteCTRL + SHIFT + T - Reduz um avanço pendenteCTRL + SHIFT + S - Aplica sublinhadoCTRL + SHIFT + N - Aplica um estilo normalCTRL + SHIFT + L - Aplica o estilo "Lista"ALT + CTRL + K - Inicia formatação automáticaALT + CTRL + 1 - Aplica o estilo "Título 1"ALT + CTRL + 2 - Aplica o estilo "Título 2"ALT + CTRL + 3 - Aplica o estilo "Titulo 3"Alt + Ctrl + F - Insere nota de rodapéAlt + Ctrl + I, O, P ou N - Muda estilo de visualização da páginaAlt + Ctrl + Y - Vai para início da página seguinteAlt + Ctrl + M - Insere comentárioCtrl + = - Aplica subscritoCtrl + Shift + + - Aplica sobrescritoCtrl + End - Vai para fim do documentoCtrl + Del - Apaga palavra seguinteSHIFT + F1 - Remove formatação de textoShift + F3 - Aplica letras maiúsculas em todo o texto selecionado

Teclas de funções

F1 - Ajuda; Ajuda "On line"; Assistente do OfficeF4 - Repetir a última açãoF5 - Comando "ir para" (menu Editar)F7 - Ortografia e gramática (menu Ferramentas)F12 - Salvar comoSHIFT + F1 - Ativa interrogação da ajudaSHIFT + F3 - Altera as letras maiúsculas minúsculasSHIFT + F4 - Repete uma ação de localizar e/ou "ir para"SHIFT + F5 - Desloca-se para uma revisão anteriorSHIFT + F7 - Dicionário de sinônimos (menu Ferramentas)SHIFT + F10 - Visualiza o menu de atalhos/botão direito do mouseCTRL + F2 - Vai para a tela visualizaçãoCTRL + F9 - Insere um campo vazio para digitação

CTRL + F10 - Minimiza a janela do documentoCTRL + F12 - Abrir (menu arquivo)ALT + F5 - Restaura o tamanho da janela do programaALT + F7 - Localiza o erro ortográfico seguinteALT + F10 - Maximiza a janela do programa

2.6.3.2 – Adicionando feedback sonoro

Existem muitos programas capazes de adicionar feedback sonoro às operações realizadas: são os leitores de tela. Os bons leitores de tela conseguem dar feedback sonoro convincente em praticamente todas as situações em que o computador é acionado pelo teclado ou pelo mouse.

Nós mostraremos brevemente um leitor de telas muito simples que acompanha o sistema DOSVOX chamado MONIT32. Ele funciona bem em muitos casos, embora para um uso intensivo e completo, nós realmente devemos sugerir um leitor de telas mais poderoso.

O monit32 pode ser ativado pelo menu iniciar, no atalho dos programas do DOSVOX, ou então com as teclas CTRL-ALT-M. Após o acionamento ele sintetizará: "Monitorando". Repita os testes realizados no item anterior (exercício do bloco de notas) agora com feedback sonoro. É muito simples.

O monit32 ficará eternamente lendo, invisível na tela. Você pode pedir para que ele apareça (por exemplo para apertar ESC a fim de terminá-lo ou configurá-lo) apertando CTRL-ALT-barra de espaços.

O monit32 tem diversos comandos para ler campos específicos, para ler à medida que o mouse se movimenta (o que é útil, por exemplo, para que um analfabeto não cega, ou uma pessoa disléxica possa ler os textos da tela apontados pelo mouse), ler a área de transferência, mover o cursor do mouse com as setas, etc. Todos estes detalhes podem ser achados no manual

C:\winvox\manual\monitvox.txt

É importante reafirmar: um bom leitor de telas tem centenas de opções, mantendo a simplicidade e o automatismo para funções mais simples. O monit32 é um programa muito útil, e adequado para uso educacional, mas é limitado quando se trata de situações profissionais. Em particular, nós sugerimos que você procure uma agência do Banco Bradesco ou do Banco Real, e solicite uma cópia gratuita do programa Virtual Vision para uso com seus alunos deficientes visuais, especialmente aqueles que tiverem visão subnormal.

2.7 – Ampliadores de imagem

Os ampliadores de imagem são dispositivos que permitem que certa informação seja mostrada ampliada numa tela. Existem basicamente dois tipos de ampliadores:

a) ampliadores eletrônicosSão dispositivos que acoplam uma câmera de televisão conectada a um monitor (em circuito fechado – closed circuit, daí o nome usual, CCTV). O foco da lente desta câmera é pré-ajustado para capturar a imagem de objetos pequenos, em particular letras de um livro, ou para leitura à distância.

Na primeira foto, vemos um modelo sofisticado de CCTV em que o monitor usual (um aparelho de TV) está substituído por pequenos monitores, colocados próximos aos olhos da pessoa. A câmera de vídeo é o objeto que a pessoa está segurando sobre o papel.

Na segunda foto, a câmera é acoplada a um computador, onde a imagem de um objeto distante é exibido no monitor. É possível alterar a distância e a ampliação, e o programa permite também mudanças nas cores exibidas para aumentar o contraste.

Estes dispositivos sofisticados, infelizmente, são muito caros e de difícil aquisição no Brasil.

b) programas de ampliaçãoEstes programas são usados para ampliar na tela do computador um dos seguintes elementos:

arquivo de imagem digitalizada um conteúdo capturado de uma fonte de digitalização (por exemplo, um scanner ou

uma câmera de vídeo) conteúdo da própria tela

Por razões óbvia, estes sistemas só podem ser utilizados por pessoas que sejam capazer de ler, pelo menos, letras com tamanho de 5 cm de altura.

São comuns dois tipos de sistemas de ampliação de tela: aquelas em que toda a tela do computador age como uma lente de aumento e aqueles em que uma janela (uma porção retangular da tela) é usada como lente. Embora muito parecidos, conceitualmente falando, a forma de operação é bastante distinta. No primeiro caso a visão de conjunto da tela desaparece, pois a tela contém apenas um pedaço desta; no segundo, pelo fato de que a lente ocupa uma parte da tela, este espaço utilizado pode atrapalhar as operações com elementos que estejam sobrepostos a esta parte, como mostrado na figuras 1 a 3.

Figura 1 - Tela original do Windows, mostrando um editor de textos e uma calculadora.

Figura 2 - Tela vista num ampliador de janela total

Figura 3 - Tela vista num sistema de ampliação em janela

A tecnologia de ampliação se baseia no fato de que a imagem que aparece na tela é produzida pelos diversos programas do computador, que escrevem o resultado a ver numa matriz de células de memória. Cada uma dessas células é responsável pela pintura de um pontinho na tela (também chamado pixel). Uma tela típica contém 800 pontos na horizontal e 600 na vertical. Existe um mecanismo eletrônico que fica continuamente movendo para o monitor de vídeo o conteúdo registrado nestas células.

Assim, os programas de ampliação consultam esta matriz de memória, e produzem o efeito de lente, replicando os pontos para uma outra matriz (ou em alguns casos, para uma outra posição na mesma matriz). Alguns ampliadores oferecem também a possibilidade de embelezar a imagem produzida, melhorando o desenho dos quadrados vazios formados nas linhas inclinadas ou cantos (anti-aliasing), além de mudar a cor ou o contraste da imagem. Hoje em dia é também comum que seja exibida em síntese de voz a descrição do objeto que se encontra apontado pelo cursor do mouse.

É importante notar que é necessário um treinamento especial para usar seja qual for o tipo de ampliador, e o professor não deve absolutamente supor que a adaptação de um aluno a este tipo de dispositivo ou software seja trivial. Nossa vivência mostra que há imensa resistência das pessoas durante este período de adaptação e o índice de pessoas que desistem é imenso, ao contrário do que se poderia supor.

2.7.1. Uma alternativa gratuita: o programa LentePro

Há hoje uma imensa quantidade de programas para ampliação de telas. O próprio sistema Windows, em suas opções de acessibilidade, já traz uma lente de aumento simples. Entretanto, para uma aplicação de longa duração, é necessário ter acesso a um programa profissional de ampliação de telas, como o programa Magic, anteriormente mencionado. O maior problema é que todos os programas de ampliação de tela tem preço bastante alto, numa faixa de 300 a 600 dólares, e são de difícil aquisição no Brasil, o que limita enormemente o seu potencial de utilização em larga escala.

O programa LentePro foi criado pelo projeto DOSVOX, para ajudar o usuário Windows com visão subnormal do Brasil, que não tem recursos suficientes para comprar um programa mais sofisticado e caro no exterior. Através desse programa, o que aparece na tela é ampliado numa janela, permitindo assim que todos os detalhes sejam percebidos mesmo por aqueles com grau muito baixo de acuidade visual. O programa é simples de ser utilizado e cabe num disquete ou pen-drive, o que permite que um deficiente visual possa trazer este programa no bolso para utilizá-lo em qualquer computador.

O programa tem um conjunto grande de alternativas de configuração. Ele pode ser configurado, opcionalmente, através do teclado, diminuindo desta forma a necessidade de olhar para configurar.

O programa LentePro é um programa comum, e assim, aceita os controles convencionais de todo programa Windows. Por exemplo, aceita as formas de término de programa usuais: clicar duas vezes no botão de controle da barra superior, ou pedir para fechar a janela usando o controle do menu superior, ou clicar sobre a lente e depois apertar ALT-F4. É possível também minimizá-lo através do botão superior de sua barra, e assim inibir temporariamente a apresentação da lente.

Exercício:

Obtenha e instale o programa LentePro a partir do sitehttp://intervox.nce.ufrj.br/lentepro

e faça alguns testes de ampliação de tela. Use a tecla F1 para obter as informações de reconfiguração (selecione primeiro a janela do LentePro antes de apertar F1).

Compare as funções do LentePro com o programa de Lente de Aumento que acompanha o Windows XP, nas opções de acessibilidade.

Mencione 5 destas diferenças num e-mail e envie sua resposta para seu tutor.

2.8 – A Internet e as dificuldades de acesso para os deficientes visuais

A Internet representa para a pessoa deficiente visual uma porta aberta para o mundo, por meio da qual ele pode ter acesso a informações, pode publicar suas próprias idéias, conectar-se a redes sociais, enviar e receber correspondência, enfim, fazer o mesmo uso que qualquer pessoa faz da Internet. As principais funções de Internet usadas pelos deficientes visuais incluem o acesso às homepages, o correio eletrônico, o bate papo, a transferência remota de arquivos e a comunicação de Voz sobre IP (telefonia por Internet).

Hoje em dia um bom número de ferramentas dá acesso à Internet - tanto o Dosvox, que dá acesso através de ferramentas especializadas, diferentes das convencionais, como os sistemas de leitura de tela, que provêm feedback sonoro ou tátil para os programas convencionais de acesso. Todos os sistemas produzem um

mapeamento entre os diferentes elementos apresentados a sons para que produzam no deficiente visual uma imagem mental equivalente ao que está sendo acessado.

Infelizmente a Internet apresenta com freqüência diversos aspectos que dificultam o acesso da pessoa com deficiência visual e a ação dos sistemas de acessibilidade. Entre os principais problemas que certos sites apresentam podemos citar:

Falta de legendas nas figuras das homepages Impossibilidade de navegação sem mouse Uso de elementos no seu projeto que dificultem a ação dos sistemas de

acessibilidade Arrumação dos elementos da homepage de forma não linear, o que dificulta o

percurso natural usando o som.

Essas diferentes situações e características precisam ser levadas em conta pelos criadores de conteúdo durante a concepção de uma página ou utilitário específico. Para ser realmente potencializador da acessibilidade, cada projeto deve proporcionar respostas simultâneas a vários grupos de incapacidade ou deficiência e, por extensão, ao universo de usuários.

Há hoje uma lei que obriga que todos os sites do governo obedeçam a normas rígidas, preconizadas por um organismo internacional (W3C), que garantem a acessibilidade. Infelizmente nem todos os sites são realmente acessíveis.

Para saber mais sobre acessibilidade na WEB, consultewww.acessobrasil.org.br

2.9 – impressão Braille computadorizada

A impressão Braille em escala hoje é possível através de programas de impressão que fazem uso de impressoras Braille. Tais programas selguem automaticamente as regras específicas desta codificação, tornando muito simples a impressão, mesmo para quem não sabe Braille.

Infelizmente o custo das impressoras ainda muito proibitivo: uma impressora muito simples pode custar 5000 reais, e uma boa impressora, algo como 20000 reais, o que limita seu uso a escolas e entidades assistenciais.

Os principais programas usados no Brasil são o Braille Fácil (gratuito) e o Duxbury (comercial).

Uma cópia do Braille Fácil pode ser obtida emhttp://intervox.nce.ufrj.br/brfacil

2.10 – Livros falados e o sistema Daisy

Historicamente a gravação de livros em fita cassete por voluntários (ledores) foi um dos grandes avanços que a tecnologia trouxe, nos anos 70, para os deficientes visuais. Diversas bibliotecas especializadas se formaram, e ainda hoje o uso deste tipo de transcrição ainda é muito comum (em particular o cassete foi substituído pelo CD ou DVD, por questões econômicas).

A leitura para estudo, entretanto, se torna complexa, na medida em que se deseje acessar a pontos específicos da gravação, com rapidez. A fita cassete não tem um índice nem permite o acesso rápido a um ponto específico, pois é um elemento tipicamente de acesso seqüencial.

Visando resolver o problema da indexação, foi criado um consórcio, denominado DAISY - Digital Accessible Information System - que visava definir normas para:

Criar livros digitais falados, com acesso direto ao conteúdo específico Permitir a identificação de elementos dos livros impressos para permitir a

navegação dentro de um livro. Assegurar interoperabilidade entre as tecnologias assistivas e as fontes de

informação, por exemplo, poder imprimir em Braille o conteúdo de um livro falado, pela inclusão de arquivo texto sincronizado com o som.

O formato Daisy foi adotado em vários países, e deve ser adotado em breve também no Brasil. Já existe um bom número de softwares e equipamentos de leitura e gravação que dão acesso a textos neste formato. A figura mostra um leitor de CD para formato Daisy, com teclas de avanço de capítulo, parágrafo, página, e outras funções específicas de navegação.

2.11 – Outras tecnologias úteis para deficientes visuais

Concluindo este capítulo, o arsenal de ferramentas é imenso. Como exemplos de novas aplicações, que provavelmente serão comuns nos próximos anos, podemos citar:

• Bibliotecas digitais sonoras • Localização no ambiente através de satélite GPS (Global Positioning System)• Sonorização das funções dos palmtops• Óculos com leitor OCR que permite a descrição do objeto que está sendo mirado.

Em tecnologia, o céu é o limite.

Exercício:

Escolha uma das tecnologias mostradas neste capítulo – ou mesmo alguma tecnologia que não foi aqui mencionada – e produza um texto descritivo, com duas páginas, colando-o no mural. Fale inclusive sobre preços, disponibilidade, treinamento, etc.