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CRIANÇA E BRINQUEDO: CONSTRUINDO OS ESPAÇOS DA INSTITUIÇÃO CRECHE
Christiane Montenegro de Araújo – UFMS Anamaria Santana da Silva - UFMS
INTRODUÇÃO
A instituição creche tem recebido hoje grande atenção e transformações devido às
mudanças ocorridas nas políticas de atendimento à infância, mas, nem sempre foi assim.
O conceito de infância, bem como as primeiras preocupações com o atendimento a
criança, datam a partir do século XVII na Europa, porém, elas surgem com o intuito
assistencialista, onde o cuidado com a criança era o principal objetivo das instituições.
No Brasil essa realidade não foi diferente, conforme Silva (1999/2002, p. 9),
No que se refere ao atendimento à criança pequena, pode-se afirmar que até o início do século XX, as iniciativas de atendimento à criança pobre ficavam a cargo de ações de caráter familiar/particular e religioso, destacando-se o atendimento aos “expostos” nas “Casas da Roda”. Em 1938, com a desativação das “Casas da Roda”, a criança deixa de ser objeto apenas de caridade e passa a ser objeto de políticas de Estado. Inicia-se nesse momento, a elaboração de leis e a criação de órgãos destinados ao atendimento infantil .
Sabe-se que o movimento feminista teve também grande contribuição para que
acontecessem transformações no atendimento à infância, pois com a efetivação das indústrias
no Brasil e a entrada das mulheres no mercado de trabalho, muitas tiveram que procurar
instituições que pudessem “cuidar” de seus filhos durante a sua jornada de trabalho. Assim,
ocorreram muitas manifestações que reivindicavam por creches, ou melhor, um espaço onde
as crianças pequenas pudessem ser deixadas enquanto suas mães trabalhavam fora. Após
muitos protestos, os donos das indústrias concedem alguns benefícios sociais que buscam
controlar os trabalhadores, entre eles, algumas creches e escolas maternais onde as operárias
que tivessem filhos pudessem deixá-los (OLIVEIRA, 1992).
Em Mato Grosso do Sul, as políticas de atendimento à criança de zero a seis anos de
idade, especificamente as creches, foram implementadas pela Secretaria de Desenvolvimento
Social e pelo FASUL – Fundo de Assistência de Mato Grosso do Sul, no início dos anos 80.
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O governo do estado incentiva várias iniciativas, tais como, o PROAPE (Programa de
Atendimento ao Pré-escolar) e o PROEPRE (Programa de Educação Pré-escolar) e mais os
projetos na área de assistência - Creches Domiciliares propostas pela Secretaria de
Desenvolvimento Social e implementadas juntamente com a Organização Mundial para
Educação Pré-escolar – OMEP; AS Creches Casulo, propostas pela Secretaria de Ação Social
e comunitária e mantidas pela Legião Brasileira de Assistência – LBA; e as Creches
Comunitárias do FASUL, mantidas por entidades filantrópicas - (SILVA, 1998). Ações e
projetos que acabavam atendendo a clientela, mas que deixavam o Governo isento das suas
responsabilidades.
Porém, todas essas iniciativas apesar de terem soluções imediatas, acabavam
efetivando ainda mais o assistencialismo, pois a finalidade de cada projeto era o de “cuidar”
das crianças para que suas mães pudessem trabalhar.
Ainda segundo Silva (1998, p. 26),
De acordo com essa concepção de creche, a profissional que
trabalha nesse equipamento não necessita de formação
específica, pois entende-se que o trabalho de “cuidar das
crianças” é uma extensão do trabalho que ela realiza em casa e
que aprendeu no dia-a-dia de mãe ou dona de casa.
Com o processo de municipalização da educação infantil, atualmente, em algumas
cidades do Estado, as creches já estão vinculadas às Secretarias Municipais de Educação,
porém, ainda existem aquelas que permanecem ligadas à Assistência.
No Brasil, a partir da Constituição de 88 o atendimento à criança de 0 a 6 anos passa a
ser garantido, pois nela a educação infantil passa a ser reconhecida como “um direito da
criança, uma opção da família e um dever do Estado”, deixando assim de ser um favor
prestado a sociedade. No entanto, o seu caráter assistencialista ainda permanece por um
tempo, sendo substituído pelo educativo a partir da LDB 9394/96, dessa forma as políticas de
atendimento a creche passam a ter novas preocupações.
Como diz Oliveira (1992, p. 22),
Segundo o projeto de Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, atualmente em discussão no Congresso Nacional a
creche passa a ser vista como responsável, junto com a família,
pela promoção do desenvolvimento das crianças, ampliando
suas experiências e conhecimentos.
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E assim, percebe-se quanta luta teve até o dia atual para que ocorressem as
modificações nas políticas de atendimento à criança de zero a seis anos, que este atendimento
deixasse de ser simplesmente uma substituição da família e passasse a ter importância mesmo,
o simbólico, o cognitivo, o social e o emocional das crianças que nas instituições precisam
passar grande parte do dia. Por isso, os responsáveis pelas crianças nas instituições, passam a
ter que proporcionar às mesmas, momentos significativos, tendo que redirecionar os olhares,
fazer estudos e planejar o dia delas para que seja atraente, ou seja, que faça com que ela
desenvolva os aspectos citados acima, fazendo aquilo que toda criança mais gosta e sabe
fazer, que é o brincar.
Sendo assim, e levando em consideração todo estudo feito nas políticas de
atendimento à infância, esta pesquisa se propôs identificar a disponibilidade e a qualidade dos
brinquedos nas creches; perceber como as crianças os utilizam, o que significa para elas os
brinquedos e conhecer quais as maneiras que os professores utilizam esses brinquedos no dia-
a-dia da creche.
Para sua realização foi necessária a contagem e a relação dos brinquedos disponíveis
no ambiente, desde os brinquedos que estão nas salas de aula, no parquinho, até os que ficam
guardados na sala dos professores, brinquedoteca ou depósitos. Este trabalho tem a
importância de contribuir para estudos referentes às crianças que ficam grande parte do seu
dia na creche, mostrando assim a relevância e a necessidade dos brinquedos, do ponto de vista
da qualidade e da quantidade para essas crianças.
Como diz Oliveira (2002), a creche é um dos contextos de desenvolvimento da
criança. Além de prestar cuidados físicos, ela cria condições para o seu desenvolvimento
cognitivo, simbólico, social e emocional. Portanto, é um local rico para o desenvolvimento da
criança.
Segundo Kishimoto (1997), o brinquedo tem uma grande importância no
desenvolvimento, pois cria novas relações entre situações no pensamento e situações reais.
Porém, para que ocorra esse desenvolvimento vários pontos precisam ser levados em
consideração, como por exemplo, a concepção e a forma de trabalhar do educador e a
importância que ele dá para os brinquedos e brincadeiras.
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Alguns pontos foram relevantes para nortear as observações, tais como: qual o grau de
autonomia das crianças nas brincadeiras? De quem é a iniciativa, das crianças ou professora?
Os brinquedos estão ao alcance das crianças? Como é resolvida a questão da disputa por certo
brinquedo? Qual o espaço utilizado e tempo disponível para as brincadeiras? Qual a relação
da criança com o brinquedo? Como é a interação das crianças nas brincadeiras? Existe divisão
de gênero? As brincadeiras são espontâneas ou dirigidas? Estas questões nortearam as
observações e contribuíram para que fossem alcançados os objetivos traçados na proposta da
pesquisa.
METODOLOGIA
Na finalidade de identificar a disponibilidade dos brinquedos, e como as crianças e
professores utilizam os mesmos, a proposta desta pesquisa iniciou-se com estudos teóricos
para fundamentar o trabalho sobre os temas: educação infantil, o papel do brinquedo, as
teorias do brincar e a interação criança-criança. Além disso, contamos com reuniões
periódicas com a orientadora para debater esses temas.
Após a primeira etapa, o trabalho de campo foi iniciado, com visitas às instituições
buscando o consentimento para a realização da pesquisa, e, prontamente já era iniciada a
contagem e a elaboração da relação dos brinquedos existentes na creche, bem como a
avaliação das condições de conservação dos mesmos. Ao mesmo tempo, iniciávamos as
observações das crianças e professores com esses brinquedos.
No momento em que a visita era feita para pedir autorização para a realização da
pesquisa, imediatamente combinava-se os horários que seriam realizadas as observações, pois,
embora todas as creches municipais tenham os mesmos horários para a entrada e saída das
crianças e professores, elas têm rotinas diferenciadas umas das outras.
Sendo assim, ficou estabelecido que a pesquisa seria feita nas 8 creches existentes no
município de Corumbá, ou seja, a presente pesquisa abrange a totalidade das instituições,
quais sejam: Creche Municipal Inocência Cambará, Creche Municipal Maria Candelária
Pereira, Creche Santa Rosa, Creche Ana Gonçalves do Nascimento, Creche CAIC, Creche
Municipal Valódia Serra, Creche Rosa Josetti e Creche Municipal Maria Bem-Vinda Rabello.
A faixa etária das crianças que freqüentam as respectivas creches é de 0 a 3 anos; o período de
funcionamento é das 07:00 às 17:00 hs. Optamos para melhor observação em delimitar nosso
campo empírico, então observamos duas salas de nível I, três salas de nível II e três salas de
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nível III, dentre as oito creches. Cada sala visitada possui uma professora e uma assistente,
com exceção de uma creche que possui uma professora e duas assistentes.
Nossas idas foram realizadas diariamente a cada creche, no período matutino e
vespertino, e esses dois períodos ainda foram sub-divididos em dois horários ficando assim:
das 08:00 às 09:30, das 09:30 às 11:00, das 14:00 às 15:30 e das 15:00 às 17:00 hs.
No primeiro dia de visita era feita a relação dos brinquedos, e nos três dias seguintes,
foram feitas as observações, a fim de presenciarmos os diversos momentos e situações vividas
pelos profissionais na rotina da creche.
Embora o objetivo da pesquisa fosse o de verificar como os brinquedos são utilizados
pelas crianças e professores, após o aprofundamento teórico, foi levado em consideração, o
fato de que a criança é um ser ativo e que brinca até nos momentos que não são designados
para isso, como o da refeição e o do banho. Por isso, as observações também ocorreram
nesses momentos.
As visitas ao campo foram permeadas pela observação e consequentemente o seu
registro no diário de campo. Neste relatório usamos nomes fictícios, para a preservação da
identidade das crianças. Realizamos conversas informais com as professoras e as assistentes o
que nos possibilitou conhecer um pouco mais da rotina das crianças e professores, fato que
favoreceu um maior enriquecimento da pesquisa.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os brinquedos
Em primeiro lugar, apresentaremos a relação dos brinquedos encontrados nas oito
creches municipais de Corumbá, a quantidade, a qualidade e seu estado de conservação, bem
como os locais onde os mesmos são guardados. Essa lista foi elaborada em cada creche
visitada e os brinquedos foram contados e avaliados em cada um dos espaços onde se
encontravam, porém foram todos colocados em uma mesma tabela.
Tabela 1 Relação dos brinquedos encontrados nas salas do nível I,II e III; sala dos professores; sala da diretora; brinquedoteca; sala de aula desativada; corredor; depósito
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Brinquedos Quantidade Qualidade (1)1 Estado de conservação 2
Ábaco 5 (SN)5 Açucareiro de plástico 1 (S)1 Agogô (Inst. Musical) 6 (SN)6 Alfabeto (madeira) 4 (SN)4 Alinhavo (madeira) 248 (SN)248 Aparelho de DVD 2 (N)2 Aparelho de som 1 (SN)1 Aparelho telefônico 3 (S)3 Argola de encaixe 95 (S)95 Argola de borracha 1 (N)1 Arvore grande de cartolina (confeccionado pela profª.)
1 (SN)1
Avião pequeno de ferro (corda) 3 (SN)1 (S)2 Avião pequeno de plástico 6 (SN)2 (S)4 Barraca do homem aranha (tecido) 2 (N)2 Balde para areia 28 (N)13 (SN)12 (S)3 Bambolê 148 (N)55 (SN)76
(S)17 Barco grande de papelão (confeccionado pela profª.)
1 (N)1
Barco plástico 27 (N)13 (SN)11 (S)3 Batedeira (plástico) 11 (N)6 (SN)5 Bexiga 2 Bichinho de borracha 335 (N)9 (SN)302
(S)24 Bichinho de plástico 172 (N)20 (SN)115
(S)37 Bicho de pano 1 (SN)1 Bicho de pelúcia (pequenos e médios) 119 (SN)82 (S)37 Bicho de pelúcia (grande) 21 (SN)16 (S)5 Bicicleta (p/ criança) 1 (SN)1 Bloco lógico de madeira 4 (SN)4 Bóia 2 (S)2 Bola de borracha (média) 51 (N)17 (SN)26 (S)8 Bola de borracha (pequena) 78 (N)12 (SN)66 Bola de couro 5 (SN)4 (S)1 Bola de encaixe (plástico) 2 (S)2 Bola de jornal 23 (S)23 Bola de meia 16 (SN)16 Bola de parque 4 (SN)3 (S)1 Bola de plástico 38 (SN)26 (S)12 Bola de plástico (boliche) 12 (SN)12 Bola de vôlei 1 (S)1 Boliche (somente as garrafas) 13 (SN)8 (S)5 Boliche (kit com 6 garrafas e uma bola)
50 (N)18 (SN)32
1 Em todas as creches pesquisadas a maioria dos brinquedos não é de boa qualidade, os mesmos se estragam e deterioram com muita facilidade, exceto os brinquedos de madeiras. 2 Novo (N), semi-novo (SN), sucateado (S)
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Bolsas de crochê 2 (S)2 Bolsa (adulto) 2 (S)2 Bolsas de plástico 1 (S)1 Boneca (bebê) 6 (SN)6 Boneca de pano 16 (SN)13 (S)3 Boneca de plástico (grande) 33 (SN)25 (S)8 Boneca de plástico (média) 79 (N)23 (SN)45
(S)11 Boneca de plástico (pequena) 60 (N)18 (SN)27
(S)15 Boneco de plástico 8 (SN)8 Boneco de pano 29 (SN)11 (S)18 Boneco feito com caixa de leite 3 (S)3 Bote (plástico) 1 (S)1 Brinquedos de garrafa peti (carrinho, helicóptero, bimbokê)
41 (S)41
Brinquedos de lata (amassa terra, pé de lata)
6 (S)6
Bule 5 (SN)5
Bumbo 10 (SN)8 (S)2 Bumbo (Inst. Musical) 1 (SN)1 Cachorro de pano 2 (S)2 Cadeira de madeira para criança 6 (SN)6 Cadeira de plástico para boneca 1 (SN)1 Cadeira de plástico para criança 18 (SN)15 (S)3 Caixa de leite (pintadas com carinhas) 8 (S)8 Caixa de ovos pintadas 9 (S)9 Caixa surpresa (madeira) 5 (SN)4 (S)1 Caminhão bombeiro 1 (SN)1 Caminhão grande de plástico 57 (N)24 (SN)19
(S)14 Caminhão médio de plástico 35 (N)17 (SN)12 (S)6 Caminhão pequeno de plástico 29 (N)5 (SN)18 (S)6 Caminhão pequeno (kit trânsito) 69 (N)33 (SN)28 (S)8 Caminhão pequeno (kit boaiadeiro) 13 (N)5 (SN)7 (S)1 Caminhão miniatura 9 (SN)7 (S)2 Carrinho com argolas para encaixar 5 (SN)2 (S)3 Carrinho com peças de encaixe 12 (SN)9 (S)3 Carrinho de boneca (plástico) 45 (N)28 (SN)15 (S)2 Carrinho de compras (plástico) 40 (N)17 (SN)23 Carrinho de corda 3 (S)3 Carrinho de fórmula 1 (miniatura) 5 (SN)5 Carrinho de madeira (formato de bichinho)
2 (SN)2
Carrinho de plástico (puxar formato de bichinhos)
76 (N)2 (SN)68 (S)6
Carro grande de plástico 10 (SN)3 (S)7 Carteira (adulto) 3 (S)3 Casinha de isopor para criança 1 (SN)1 Casinha de madeira para criança 2 (SN)2 Casinha de montar de plástico 6 (N)2 (SN)4 Casinha de papelão para crianças 3 (SN)3
8
Casinha de tecido 1 (N)1 Cavalinho de corda 1 (S)1 Cavalinho de pau 73 (SN)39 (S)34 Celular (plástico) 1 (S)1 Cesta para boneca 2 (S)2 Chocalho (Inst. Musical) 11 (SN)11 Chocalho plástico 58 (N)15 (SN)37 (S)6 Chupeta (boneca) 1 (S)1 Colher para areia 2 (SN)2 Copo plástico 8 (S)8 Corda 59 (SN)54 (S)5 Dado de espuma 1 (SN)1 Dado de papelão (cores, figuras geométricas, vogais, números)
17 (SN)17
Dominó (madeira) 3 (SN)3 Dominó (plástico) 3 (N)2 (SN)1 Elefante inflável 2 (S)2 Embalagens (creme, desodorante, óleo p/ bebê, condicionador)
106 (S)106
Encaixe de madeira 1 (SN)1 Escala (madeira e colorido) 4 (SN)4 Espada (plástico) 2 (S)2 Estante (miniatura de plástico) 1 (S)1 Fantoche 41 (N)7 (SN)28 (S)6 Ferramentas (plástico) 16 (SN)6 (S)10 Flores (garrafa peti) 2 (S)2 Fogãozinho com três panelas (plástico) 54 (N)23 (SN)31 Funil 1 (S)1 Garrafa peti vazia 30 (S)30 Garrafa (lancheira) 2 (S)2 Garrafa pequenas com água colorida 35 (S)35 Garrafas peti com areia 31 (S)31 Garrafas peti com água e bonecas 9 (S)9 Garrafas peti (com figuras de animais ) 3 (S)3 Girafa de plástico 1 (S)1 Gol de plástico pequeno 1 (N)1 Gravador (plástico) 1 (SN)1 Guitarra (plástico) 9 (SN)4 (S)5 Jarra plástico 1 (S)1 Jogo casa do ratinho (feito de sucata) 1 (S)1 Jogo de dama de papelão 3 (N)3 Jogo de numerais de madeira 3 (N)3 Jogo de palavras (papelão) 5 (N)5 Jogos de trânsito (papelão) 2 (N)2 Jogos em EVA (dama, ludo, jogo da velha)
9 (SN)9
Jogo seqüência lógica (papelão) 3 (N)3 kit de encaixe tipo lego com 170 peças pequenas
25 (SN)5 (S)20
Kit gesso (criação no gesso) 4 (N)4 Kit quebra-cuca 6 (SN)6 Laço 1 (S)1 Lanterna (adulto) 1 (S)1
9
Letras e números para areia 13 (SN)13 Linha do movimento 3 (SN)3 Liquidificador 9 (N)3 (SN)4 (S)2 Livro (banho) 4 (S)4 Lousa 11 (SN)11 Maleta com quadro e peças para montar
1 (N)1
Mamadeira (boneca) 1 (S)1 Máquina fotográfica (plástico) 5 (SN)2 (S)3 Máquina de mimeografar (plástico) 1 (S)1 Máscara para parede (papelão) 25 (SN)25 Máscara para teatro (espuma) 2 (SN)2 Máscara para teatro (papelão) 19 (SN)19 Mesa (p/ criança) 3 (SN)3 Microssystem 13 (SN)13 Minhocão 6 (SN)4 (S)2 Móbiles 8 (SN)5 (S)3 Mordedor (borracha) 1 (SN)1 Moto (plástico) 2 (SN)2 Moto (criança) 7 (SN)7 Navio musical 1 (S)1 Pá para areia 3 (SN)3 Palhaço de encaixe 38 (SN)7 (S)31 Palhaço de pano 1 (S)1 Palito de picolé 5 (S)5 Pandeiro (Inst. Musical) 12 (SN)12 Panelinha (kit com 5 peças) 44 (N)13 (SN)31 Peças de encaixe para montar bichinhos
16 (SN)3 (SN)13
Peças de encaixe para montar trenzinho 2 (S)2 Peças de encaixe (avulsas/pequenas) 394 (SN)332 (S)62 Peças de encaixe (Kit peças médias) 9 (SN)2 (S)7 Peças de plástico variadas (cabeça de boneca, urso, cabeça de palhaço, frutas, bichos, homenzinhos, régua, avião etc.)
1262 (N)89 (SN)934 (S)239
Peças para leitura de gravuras para matemática
39 (SN)39
Peneira para areia 6 (SN)4 (S)2 Piano 2 (S)2 Pilão (artesanato/miniatura) 1 (SN)1 Pintinho de corda e de plástico 1 (S)1 Pires (plástico) 5 (S)5 Pneu decorado 1 (S)1 Prato (cozinha) 12 (SN)10 (S)2 Prato (Inst. Musical) 4 (SN)4 Quebra-cabeça 11 (N)4 (SN)5 (S)2 Quebra-cabeça (madeira) 6 (SN)6 Rádio (plástico) 1 (S)1 Raquetes (plástico) 2 (S)2 Regador 9 (SN)6 (S)3 Relógio educativo 58 (N)24 (SN)32 (S)2 Revistas (avon, natura, luzon) 24 (S)24 Revólver para atirar água 1 (S)1
10
Robô (plástico) 1 (S)1 Saleiro de plástico 1 (SN)1 Serrote 2 (SN)2 Short (boneco) 1 (S)1 Sofá (criança) 1 (SN)1 Surdo (Inst. Musical) 2 (SN)2 Talheres de plástico 4 (SN)3 (S)1 Tambor (Inst. Musical) 5 (SN)5 Tambor (plástico) 3 (SN)2 (S)1 Tangran 7 (SN)7 Tapete pedagógico (Kit grande e pequeno)
6 (N)1 (SN)2 (S)3
Tapete pedagógico (peça avulsa) 39 (SN)24 (S)15 Tapete pedagógico pequeno (peças avulsas)
8 (S)8
Teatro de fantoche 5 (SN)5 Teclado (criança) 1 (S)1 Teclado de computador 1 (SN)1 Telefone 1 (S)1 Telefone celular (plástico) 3 (S)3 Telefone de plástico 2 (S)2 Tesoura (plástico) 1 (S)1 Tiara com enfeite (p/ representação) 4 (SN)4 Trator (grande) 1 (S)1 Travesseiro para boneca 1 (S)1 Travesseiro para criança (formato bichinho)
1 (S)1
Travesseiro para criança (formato de livro)
1 (S)1
Trenzinho de encaixe 6 (S)6 Triângulo (Inst. Musical) 4 (SN)4 Tubarão de plástico 2 (S)2 TV pedagógica de papelão 7 (SN)7 Urso (plástico) 1 (S)1 TV 14 polegadas 3 (SN)3 Vassoura (p/ criança) 1 (S)1 Violão (plástico) 4 (SN)1 (S)3 Vídeo cassete 6 (SN)5 (S)1 Xícara 15 (SN)7 (S)8
Tabela 2 Brinquedos da Parte externa / Parque
Brinquedos Quantidade Qualidade Estado de conservação
Balanço 35 Bom Semi-novo Balanço comunitário 1 Bom Semi-novo Caminho com as mãos 6 Bom Semi-novo Circuito 4 Bom Semi-novo Escorregador 9 Bom Semi-novo Gangorra 18 Bom Semi-nova Labirinto 1 Bom Semi-novo Manilha 2 Bom Semi-nova
11
Piscina 1 Bom Semi-nova Roda 1 Bom Semi-novo
Tabela 3 Brinquedos Parte Externa/pátio
Brinquedos Quantidade Qualidade (1) Estado de conservação
Casinha de madeira dentro havia os brinquedos abaixo relacionados
1 Bom Semi-nova
Barraca de feira 1 Bom Semi-nova Carrinho para boneca 2 Bom Semi-novo Fogão com armário 1 Bom Semi-novo Moto para criança 1 Bom Semi-novo Penteadeira 1 Bom Semi-novo
Tabela 4 Brinquedos encontrados no Refeitório
Brinquedos Quantidade Qualidade (1) Estado de conservação (2)
Aparelho de TV 14 polegadas
5 Bom Semi-nova
Aparelho de som 2 Bom Semi-novo Aparelho de vídeo cassete
4 Bom Semi-novo
A organização do tempo e do espaço para os brinquedos e brincadeiras nas creches
A partir dos dados levantados no decorrer da pesquisa procuraremos descrever e
discutir de que maneira as crianças e professores utilizam os brinquedos e qual o significado
destes para as crianças.
O tempo das brincadeiras
As creches dividem o dia da criança em horários específicos para tudo que terão a
fazer, e para as brincadeiras isso não é diferente. Durante as observações constatamos que
todas as creches disponibilizam horários para as brincadeiras, sejam dirigidas ou livres, tanto
na parte da manhã quanto à tarde, e nesse tempo as crianças se envolvem tanto com os
brinquedos quanto com seus colegas.
12
Segundo Froebel, brincar é a fase mais importante da infância – do desenvolvimento
humano neste período – por ser a auto-ativa representação do interno – a representação de
necessidades e impulsos internos (Apud, KISHIMOTO,1998), sendo assim, baseado nesta
afirmação, constatamos na grande parte do tempo que estivemos observando que, para a
criança o seu dia gira em torno das brincadeiras sejam elas direcionadas ou livres com horário
ou não.
Em uma das nossas observações:
“a professora levou todas as crianças para o refeitório, pois estava na hora da
janta, ficaram separadas por níveis, em mesinhas, e no nível que estávamos
acompanhando duas crianças sentaram em uma mesa separada devido à falta
de espaço na outra onde estava o seu grupo, enquanto elas esperavam o
lanche brincavam o tempo todo de “bicho” como eles mesmos caracterizaram,
tampava o rosto com a camiseta, mostravam um para o outro e ainda
chamavam a colega que estava em outra mesa para participar da brincadeira,
mas nesse momento chegou o lanche, que era um pedaço de bolo e refresco,
então um dos meninos que estavam separados ao invés de comer o bolo
começou a passar na mesa imitando um carrinho, inclusive fazia o som do
carro com a boca e mostrava para seu colega.”(Diário de campo, Nível III,
16:00 horas, dia 28/04/2006).
Em uma outra situação as crianças estão em horário de lanche:
“Júlio pega as canecas das outras crianças que já terminaram de tomar o
suco para fazer uma pilha de canecas, tentando encaixa-las.” (Diário de
campo, Nível III, 16:05 horas, dia 28/04/2006 ).
As crianças brincam até nos momentos que para os adultos é considerado um
momento sério, onde elas tentam fazer com eles não brinquem, mas que nem sempre
conseguem controlar.
Nem sempre as brincadeiras são livres, muitas professoras utilizam o momento da
brincadeira para direcionar a mesma, ou seja, coloca um determinado objetivo para essa, e o
que constatamos é que nesse momento as crianças nem sempre estão dispostas a atenderem ao
pedido da professora, em algumas observações vimos que as crianças queriam fazer outras
coisas ou se cansavam muito rápido daquilo que era esperado por elas. Como nesse caso:
13
“As professoras decidem levar as crianças para o lado de fora da sala, tentam
fazer uma roda para brincar de ciranda, mas como a turma é grande, pois
havia dois níveis em uma sala só, as professoras decidem separar a turma,
então cada professora tenta brincar com a sua turma. Só conseguiram cantar
uma música, pois em alguns segundos as rodas se desfizeram, e as professoras
decidiram caminhar com as crianças pelo pátio, dizendo que iam passear na
floresta. Porém, esse passeio na floresta também só durou uma volta no pátio,
às crianças logo se dispersaram.”(Diário de campo, Nível II, 08 horas e 25
minutos, 20/02/2006).
Porém, nem sempre as brincadeiras dirigidas não alcançam seus objetivos, não há uma
regra, e a prova disso é esse próximo relato, onde fizemos uma observação em uma
determinada creche no período da manhã e a professora utilizou esse momento para fazer
atividades que foram programadas por ela.
“Ela chamou todos para sentarem bem perto dela, para eles visualizarem as
figuras do livro que ela iria contar uma história, à medida que ela ia contando
ia também mostrando as figuras que eram feitas de cartolina e fixadas em
palitos de picolé, eles além de prestarem atenção faziam perguntas sobre o
bicho e pediam para repetir a história. Após essa atividade que durou uns 5
minutos, a professora preparou o ambiente para eles jogarem basquete, eles
tinham que acertar a bola de borracha na caixa que estava em cima de uma
cadeira, ela foi chamando um por um, alguns não quiseram, e ela nos disse
que eles estavam inibidos com a nossa presença. Logo após mais uns 5
minutos a professora colocou a caixa deitada no chão de modo que parecesse
um gol, para que eles chutassem a bola lá dentro, o processo se deu da mesma
maneira que o anterior. Depois de todos participarem ela recolheu esses
objetos, pegou vários brinquedos (que estavam guardados em uma sala
separada) e colocou tudo no chão, eles foram pegando conforme a sua
vontade.” (Diário de campo, Nível II, 08 horas e 15 minutos, 17/03/2006).
Durante o momento disponibilizado para as brincadeiras as crianças interagem o
tempo todo, elas aproveitam o tempo e os brinquedos como que prevendo que tudo aquilo tem
tempo certo para acabar, portanto elas brincam juntas ou sozinhas, dividem ou não os
brinquedos que escolhem, e quando isso acontece surgem as brigas. Nessa observação as
14
crianças ainda estavam sob a responsabilidade da atendente, e essa colocou vários brinquedos
espalhados pelo chão, dentre eles haviam utensílios domésticos e peças de encaixe. As
crianças logo que viram se interessaram pelos brinquedos, porém houve a divisão de alguns
grupos, e nesse momento houve também brigas devido à disputa por certos brinquedos.
Quatro crianças estavam brincando embaixo da mesinha e uma menina diz:
“ Dá pra mim mamãe! Olhando para colega que estava ao seu lado.
E esta responde:
- Cala boca, cala boca. Olhando para o lado como se pedisse ajuda para seu
outro colega.
Os outros dois olham para a menina que pediu e continuam:
- Cala boca, cala boca.
E então ela fica irritada com a gritaria e ataca o rosto da colega, dando
vários beliscões.
Nesse momento foram logo interrompidos pela atendente que desfez o
grupinho.”(Diário de campo, Nível II, 08 horas e 30 minutos, dia 05/12/2005).
As atendentes e professores durante as observações estavam sempre separando as
brigas ocorridas, e se a briga fosse por um brinquedo, este ficava na maioria das vezes com a
criança que estava primeiro com o brinquedo.
As brigas durante as brincadeiras de criança, ocorreram tanto em brincadeiras dirigidas
quanto em brincadeiras livres, apesar deles parecerem mais inquietos quando as brincadeiras
eram dirigidas, pois para aqueles que não estavam na vez da brincadeira, permaneciam muito
tempo parados, sem poderem ao menos levantar do lugar. Como nessa ocasião onde havia
dois níveis juntos fazendo uma mesma atividade:
“... às 14 horas e trinta minutos as professoras param de brincar com o
circuito e levaram todos para jogar boliche, uma delas arrumou as garrafas
para eles jogarem, todos tiveram a oportunidade de jogar, cada um que
jogava voltava para o lugar, eles até tentavam levantar, mas as atendentes
estavam sempre mandando eles sentarem. Às 14 horas e 40 minutos terminou
essa brincadeira e eles foram brincar com o dado (grande) que tem 1 figura
em cada lado, cada hora 1 deles jogava e a figura que caísse para cima eles
cantavam a música. Entre jogada e outra Pedro e Miguel começaram a se
bater, mas a atendente logo separou os dois. Às 14 horas e 55 minutos
terminou a brincadeira e só então as professoras disseram que elas poderiam
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levantar para brincar com alguns brinquedos que elas colocaram pelo chão
para que as crianças pegassem.” (Diário de campo, Nível II e III, às 14 horas
e 30 minutos, dia 05/04/06.)
No nível I a rotina é bem parecida com dos outros níveis, exceto o tempo para as
brincadeiras que são maiores, pois nos dias que fomos observar percebemos que as crianças
que neles estão, passam os períodos revezando entre brincar, comer, dormir e tomar banho.
Mesmo quando uns vão tomar banho ou mamar os brinquedos ficam pelo chão.
Nos dois níveis I que estivemos não houve brincadeiras dirigidas, a professora de uma
das creches interagiu mais com as crianças do que da outra, além de disponibilizar vários
brinquedos para as crianças. Nessa creche onde houve maior contato das crianças com os
brinquedos as crianças trocavam de brinquedo muito rápido.
“Mesmo com todos os brinquedos espalhados pelo chão, só 3 crianças se
interessaram pó eles, uma delas foi a Tassiana que pegou a peneira e um
garfo (que são peças do baldinho), ela ficou passando esse garfo na peneira
por um tempinho, haviam mais 2 crianças perto dela, mas elas não brincavam
juntas. Tassiana largou os objetos para ir pegar outros brinquedos que
estavam sobre uma mesinha, ficou lá ao lado da Gláucia que também brincava
com uma boneca, mas em poucos minutos largou a boneca e sentou-se no chão
sem brincar com nada. A Tassiana também já havia largado os brinquedos da
mesinha e já tinha voltado para manusear o baldinho e o garfo que estavam
no mesmo lugar que ela deixou.” (Diário de campo, Nível I, 14 horas e 40
minutos, 07/03/2006).
“Graziela é um bebê, bem novinha, mas muito esperta, ela não veio na creche
nessa semana toda que estou fazendo a observação, por isso eu só a conheci
hoje. Todos os brinquedos chamam a sua atenção, mas nenhum recebe
atenção especial, ela troca de brinquedo o tempo todo, mas não fica um
segundo sem nada na mão.”(Diário de campo, Nível I, 09:00 horas, dia
09/03/2006).
A tendência de uma criança muito pequena é satisfazer seus desejos imediatamente;
normalmente, o intervalo entre um desejo e a sua satisfação é extremamente curto
(VYGOTSKY, 1991, p. 106).
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Todas as creches possuem parquinhos, sejam eles apropriados ou não para as crianças
brincarem, pois alguns estão na direção do sol, outros estão com o mato muito alto e outros
ficam na terra, e quando chove fica impossível para as crianças brincarem, mas ainda assim
durante as observações tivemos a oportunidade de acompanhar em uma creche as crianças do
nível III que foram para o parque junto às crianças do nível II.
“Nessa ocasião ficaram com as crianças 3 professoras e 3 atendentes. A
professora do nível II que estávamos acompanhando, levou para eles 6
bambolês e 2 jogos de boliche algumas crianças não se interessaram pelos
brinquedos do parque e acabaram preferindo o bambolê, como foi o caso da
Camila, do Vinicius, do Talles, do Jorge, do Mauro e do Ricardo, que
pegaram o bambolê e começaram a interagir juntos, até tentaram girar o
bambolê na cintura, mas como houve uma certa dificuldade Talles resolveu
empurrar no chão, como se estivesse girando um pneu, e todos eles logo
passaram a fazer os mesmos gestos.”
(Diário de campo, Nível III, 14:30 horas, 28/04/06).
Nesse mesmo momento muitas crianças balançavam ou giravam na roda, auxiliadas
pelas professoras, nessa observação em particular não houve momentos de brigas ou muita
interação entre as crianças que estavam nos brinquedos, elas pareciam estar imersas em seus
momentos individuais.
Os Espaços
Na maioria das creches que foi realizada a pesquisa, os brinquedos não estavam
disponíveis para que as crianças brincassem na hora que tivessem vontade, nestas, os
brinquedos não ficavam na sua própria sala e sim em locais como: sala da diretora, sala dos
professores, sala de aula desativada, brinquedoteca, corredores e depósitos. Alguns dos
brinquedos que ficam nessas salas são brinquedos novos ainda embalados, os brinquedos que
já estão disponíveis para as crianças brincarem são levados para as salas no momento das
brincadeiras, que acontecem em horários disponibilizados pela professora da sala; nesse
momento a mesma pega os brinquedos e dispõem todos no chão, a partir disso as crianças
escolhem com o que deseja brincar e muitos formam grupinhos para suas brincadeiras.
Nas creches que possuíam alguns brinquedos na própria sala de aula (que é a minoria)
estes ficam em caixas ou sacos, no canto da sala ou em cima do armário. Mas mesmo nestas,
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as crianças possuem horários para utilizarem os brinquedos para as suas brincadeiras,
portanto, só pegam os mesmos com a permissão da professora.
Ao término das brincadeiras, os brinquedos são recolhidos pela professora com a ajuda
das crianças e são guardados de volta em seus devidos lugares. Elas estão tão acostumadas
com essa rotina que guardam os brinquedos sem se queixarem.
Na hora do banho, em todas as creches, as crianças vão acompanhadas pelas
atendentes, divididas, seja por gênero ou por quantidade, então para as que ficam esperando,
umas professoras colocam os brinquedos pelo chão e outras colocam fita VHS ou DVD. No
período da manhã ao chegarmos para uma observação vimos que as crianças estavam
brincando pelo chão, mas logo a atendente pegou algumas crianças (entre meninos e
meninas),
“as poucas crianças que estão para fora do banheiro brincam sozinhas, cada
uma com um pouco de peças do relógio educativo, não interagem entre si.”
(Diário de campo, Nível II, 09:00 horas, dia 21/02/2006).
Durante as observações percebemos também que, além dos brinquedos não estarem à
disposição das crianças para elas brincarem quando sentirem vontade, também, o espaço
utilizado para as brincadeiras varia de acordo com o desejo da professora; algumas levam em
consideração o clima que faz no momento, ou seja, pela região ter um clima muito quente, e
algumas salas ficarem na direção do sol às vezes pela manhã ou à tarde, elas levam as
crianças e os brinquedos para um local adequado para que a atividade seja livre e confortável.
Em algumas creches, as professoras utilizam à parte externa da creche, seja na
varanda ou embaixo de uma árvore. Como observamos em uma creche no período matutino
um momento de brincadeiras entre as crianças e professor.
“O professor amarrou uma corda em dois pilares e todos eles sem exceção
brincavam de se pendurar na corda. Porém, as maiorias das brincadeiras
acontecem num curto período de tempo, e logo eles saíram dessa atividade e
foram pegar um capim, davam para o professor dizendo que era flor, até que o
professor os proibiu de ir ao mato, então uma das meninas que estava
participando dessa brincadeira pegou o capim e começou a passar pelos
pilares dizendo que estava pintando, chamou um menino e os dois juntos
faziam de conta que estavam fazendo desenhos nos pilares.” (Diário de
campo, Nível II, 09:00 horas, dia 06/12/2005).
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No brinquedo, os objetos perdem sua força determinadora, a criança vê um objeto,
mas age de maneira diferente em relação àquilo que vê. Assim é alcançada uma condição em
que a criança começa a agir independentemente daquilo que ela vê (VYGOTSKY, 1991, p.
110).
Nas brincadeiras livres observamos que as crianças não se dividem por gênero,
tamanho, idade ou coisas parecidas, elas se agrupam mesmo por afinidade, mesmo nas
creches que observamos no inicio do ano e as crianças ainda não tinham grande convívio, a
maioria delas já formavam grupinhos, e esses variavam entre meninos e meninas. Nesse tipo
de brincadeira as professoras não costumam interferir, as crianças escolhem com quem
querem brincar e de que querem brincar desde que, seja com os brinquedos que as professoras
disponibilizaram. As crianças também não selecionam o brinquedo que pegam, elas não
discriminam se tal objeto é de menina ou menino, elas se envolvem com os brinquedos não
levando em consideração as regras que geralmente são colocadas pelos adultos, e isso
acontece tanto com as crianças menores, do nível I, quanto com as maiores, nível II e III).
A ação regida por regras começa a ser determinada pelas idéias e não pelos objetos
(VYGOTSKY, 1991).
Esse trecho foi tirado do diário de campo feito no nível I,
“João estava sentado brincando com uma boneca, ele ficou com essa boneca
durante uns 15 minutos, nesse tempo ele brincou sempre sozinho, esfregava a
cabeça da boneca no chão, sacudia ela para ficar olhando o cabelo dela
balançar, mas quando ele ouviu o barulho do telefone que a assistente estava
mexendo, largou a boneca e foi sentar perto dela para poder pegar no
telefone.” (Diário de campo, 08 horas e 20 minutos, dia 09/03/2006).
Aqui nos mostra como a indiferença em relação ao tipo de brinquedo para a maioria
das crianças que observamos não importou:
“Patricia brincava sozinha com peças de encaixe, desviei meu olhar para dar
uma olhada no geral e vi que o Murilo brincava com o carro de compras e
com uma boneca grande, ele tentava colocar a boneca no carro para
empurrar, Patrick e Júnior colocaram o carrinho com formato de bichinho de
cabeça para baixo e brincavam de rodar a roda, Mikaela brincava com um
baldinho, colocava alguns bichinhos dentro, Breno estava sentado
empurrando um caminhão, Felipe e Luan interagiam juntos com três
caminhões, Marcos também puxava 2 caminhões de uma só vez, amarrou a
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corda de um deles no outro e ficou puxando pela sala.” (Diário de campo,
Nível II, 08 horas e 50 minutos, 17/03/2006).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No decorrer da pesquisa, observamos que os brinquedos estão divididos entre
sucateados, semi-novos e novos. Ao começarmos nossas observações, no mês de novembro
de 2005, percebemos que os brinquedos eram todos sucateados e que ficavam guardados nas
próprias salas das crianças, mesmo que essas não pudessem pegar a hora que desejassem,
porém, após o recesso de fim de ano, retornamos as observações e vimos que não só na
primeira creche, como em todas as outras os brinquedos estavam novos, ainda guardados em
suas caixas ou plásticos e muitos deles ficavam em salas que não eram as salas das crianças.
Foi-nos dito por todos os responsáveis pelas creches que tem esses brinquedos ainda
guardados, que estes vão sendo disponibilizados à medida que surgem as necessidades.
Verificamos que alguns desses brinquedos ainda novos são de qualidades ruins,
objetos de plásticos frágeis ou rodas que descolam com facilidade. Porém, são os brinquedos
distribuídos pela Prefeitura para todas as creches, por isso nos habituamos a ver os mesmos
tipos de brinquedos em todas as creches que passamos.
Na rotina da creche, o momento do brincar é muito mais importante para as crianças,
do que para os adultos, pois elas brincam o tempo todo, seja na hora da refeição ou no
momento disponibilizado pelo professor para simplesmente brincarem.
A criança não separa esses momentos no seu dia, ela brinca até quando não tem
objetos próprios para isso, ela cria, imagina situações e faz disso a sua experiência. Para ela, a
qualidade dos brinquedos não tem significado, pois várias vezes vimos crianças brincando
com um carro sem rodinha, ou uma boneca sem braço, se o brinquedo é novo ou sucata para a
criança não importa, esses são aspectos não relevantes para ela.
A criança interage com certo objeto de acordo com as suas necessidades, nem sempre
o brinquedo que ela brinca está relacionado com o que está em suas mãos, porém, isso para
ela não é motivo para não brincar, ela aproveita todos os objetos e todos os momentos para
brincar, seja sozinha ou acompanhada.
Os professores não costumam interagir com as crianças em brincadeiras que não sejam
dirigidas, e também não costumam dar significados para os objetos que não sejam os seus
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próprios, quem geralmente faz isso é a própria criança. Por isso, vimos bem poucas vezes, as
crianças procurando um professor ou atendente para brincar.
Para alguns dos professores que tivemos contato durante a pesquisa, a prática do
cuidar ainda se faz mais presente do que o momento do brincar, e quando esse último se faz
presente o professor acaba deixando que ele tenha finalidade em si próprio, não interferindo e
canalizando esse momento para o desenvolvimento da criança em todos os aspectos que ela
desenvolve nessa fase da sua vida como vimos em leituras, onde se espera que a Educação
Infantil seja um espaço em que a criança brinque e desenvolva capacidades como a atenção, a
imitação, a memória, a imaginação e mais a sua identidade e autonomia.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
KISHIMOTO M. Tizuko, (Org.). O brincar e suas teorias. São Paulo: Pioneira, 1998. ______ (Org.). Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. 2ª edição. São Paulo: Cortez, 1997. OLIVEIRA, M. Zilma (Org). Creches: crianças, faz de conta & cia. 11ª edição, Petrópolis: Editora Vozes, 1992. ______. Creches e pré-escolas em Mato Grosso do Sul. Revista RECRIAÇÃO, Campo Grande, V. 3, p. 20-27, 1998. ______. Estado, política social e atendimento à infância no Brasil. Revista RECRIAÇÃO, Campo Grande, V. 5, p. 7-18, 1999/2002. VYGOTSKY S. Lev,. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 4ª edição, São Paulo: Martins Fontes, 1991.