criação de uma metodologia de intervenção nutricional em ... · recurso à recordação do dia...
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Criação de uma metodologia de intervenção nutricional em crianças
portadoras de Paralisia Cerebral e síndromes neurológicos afins na
Associação de Paralisia Cerebral de Guimarães
Creating a nutritional intervention methodology in children with Cerebral
Palsy and other neurologic syndromes in the Cerebral Palsy Association of
Guimarães
Madalena Sofia de Sousa Antunes
Orientado por: Dr.ª Ana Maria Araújo da Costa
Estudo de Caso
1.º Ciclo em Ciências da Nutrição
Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto
Porto, 2015
iii
Resumo em Português
Uma alimentação equilibrada e completa, é essencial para o correto crescimento e
desenvolvimento das crianças e para prevenção de doenças crónicas. Sabe-se
que os hábitos alimentares adquiridos na infância, em muito condicionados pelos
pais, se refletem na idade adulta. É objetivo deste trabalho desenhar uma
metodologia de intervenção destinada a crianças dos 6 aos 15 anos, portadores
de Paralisia Cerebral de grau leve (I e II) e Síndrome de Prader-Willi, tendo por
base sessões de educação alimentar individuais, cuja finalidade é aumentar os
conhecimentos e modificar hábitos e escolhas alimentares.
Participaram neste estudo cinco crianças com competências ao nível da
aprendizagem. Foi recolhida informação sobre os hábitos alimentares através do
questionário das 24h anteriores e efetuou-se a avaliação antropométrica,segundo
os procedimentos recomendados, na primeira e última sessão. Durante o período
de intervenção, as crianças participaram em vinte sessões de educação alimentar
(SEA) individuais e semanais. Após as SEA, verificaram-se algumas alterações
dos hábitos alimentares: aumento do consumo de fruta ao pequeno-almoço e
preferência pelo pão “escuro”. Verificou-se também, um baixo consumo de
produtos açucarados, que se manteve ao longo da intervenção. Após o período
de intervenção verificou-se uma melhoria ao nível dos conhecimentos adquiridos,
traduzindo-se em melhores escolhas. Apesar da metodologia parecer ajustada à
população, o impacto em termos ponderais não foi o desejado. Dessa forma
redesenhar uma metodologia integrando uma intervenção com pais e cuidadores
iv
poderá ser mais eficaz dado que estes têm um papel determinante no
desenvolvimento dos hábitos alimentares dos seus filhos.
Palavras-chave: Obesidade, sessões de educação alimentar individuais,
escolhas alimentares, hábitos alimentares saudáveis, pais.
Abstract
Adequate, balanced and complete diet is essential for proper growth and
development of children and preventing chronic diseases such as obesity. It is now
known that eating habits early acquired, conditioned by parents, are reflected in
adulthood. This study aimed to draw an intervention program to children from 6 to
15 years old with cerebral palsy with grades I and II of motor impairment and
Prader-Willi syndrome, based on the individual nutritional education sessions,
capable of improve nutritional knowledge and modify habits and food choices.
Were invited to participate in this study five children with cerebral palsy with grades
I and II of motor impairment and Prader-Willi syndrome capable of learning. A 24h
recall questionnaire was used to assess dietary habits. Anthropometric measures
were obtained according to reference practices. Data was collected at the first and
last education sessions. During the intervention period, twenty sessions, children
participated in individual and weekly nutrition education sessions (NES). After the
NES, there are some changes in dietary habits, including the improve consumption
of fruit during breakfast and preference for "dark" bread along with an increase in
BMI percentile. There was also a low consumption of sweet products and that was
maintained throughout the intervention period.
During the intervention period there were some changes and improve of nutritional
knowledge, leading to better food choices. This intervention seems to be adjusted
v
to these children but infective to weight lost. Intervention based on parents and
caregivers can be more effective since they have a key role in developing children
habits.
Key Words: Obesity, individual nutritional education sessions, food choices,
healthy eating habits, parents.
vi
Índice
Resumo em Português .......................................................................................... iii
Abstract .................................................................................................................iv
Key Words ............................................................................................................. v
Lista de Abreviaturas ............................................................................................ vii
Introdução ............................................................................................................. 1
Objetivos ............................................................................................................... 4
Material e Métodos ................................................................................................ 5
Resultados............................................................................................................. 8
Discussão de Resultados .................................................................................... 10
Conclusão ........................................................................................................... 13
Agradecimentos ................................................................................................... 15
Referências Bibliográficas ................................................................................... 16
Anexo .................................................................................................................. 20
vii
Lista de Abreviaturas
APCG: Associação de Paralisia Cerebral de Guimarães
CDC: Center for Disease Control and Prevention
EA: Educação Alimentar
IMC: Índice de Massa Corporal
OMS: Organização Mundial de Saúde
PC: Paralisia Cerebral
QR24: Questionário Alimentar 24h precedentes
SEA: Sessões de Educação Alimentar
SPW: Síndrome Prader- Willi
1
Introdução
A Paralisia Cerebral (PC) foi descrita em 1843 por William Little, como
um contexto clínico relacionado com a prematuridade e complicações no
parto.(1) Este conceito foi evoluindo, sendo que atualmente, se define como um
termo abrangente para designar um grupo de condições clínicas, permanentes
e não inalteráveis que originam uma perturbação do movimento e/ou da
postura e da função motora e são devidos a uma alteração, lesão ou anomalia
não progressiva do cérebro imaturo e em desenvolvimento.(2)
As causas são múltiplas, sendo difícil determinar a sua etiologia
específica. A asfixia neonatal representa, cerca de 6% dos pacientes com PC
congénita, o nascimento pré-termo e o baixo peso ao nascer, são também,
fatores de risco.(3-6)
A caracterização clínica faz-se de acordo com o tipo de alteração de
movimento, as deformidades e a presença ou não de movimentos involuntários
e as partes do corpo afetadas.(3-6) O estado funcional pode ser categorizado,
usando os níveis de classificação do Gross Motor Function Classification
System que descreve cinco níveis de função motora (capacidade de sentar, pôr
de pé, andar e subir escadas): do nível 1 (mais apto) ao nível 5 (mais
comprometido).(7)
A desnutrição e o défice no crescimento são frequentes em crianças
portadoras de PC(8-10), contudo, há um aumento da descrição de casos de
obesidade, nas crianças com menor comprometimento motor, que praticam
pouca ou nenhuma atividade física.(11)
2
A Síndrome Prader Willi (SPW), relatada pela primeira vez em 1956, por
Andrea Prader, Alexis Labhart e Heinrich Willi. É definida, como sendo, uma
desordem de origem genética causada pela perda de genes ativos de origem
paterna no cromossoma 15.(12-14) É caracterizada por baixa estatura, hipotonia
na infância, atraso mental e obesidade, muito devido a alterações dos níveis de
neuropéptidos e hormonas, envolvidas no comportamento alimentar.(12, 14, 15) É
considerada a causa mais comum de obesidade crónica de origem genética em
humanos.(12, 13)
A obesidade é uma doença crónica com prevalência crescente nas
últimas duas décadas, com grande impacto na infância, tornando o seu
tratamento e prevenção num dos mais exigentes problemas de saúde pública
dos nossos tempos.(16)
A obesidade infantil apresenta carácter epidémico e prevalência
crescente sendo esta superior nos países em desenvolvimento(17), com
prevalência acentuada em Portugal, em que uma a cada três crianças já sofre
de obesidade.(18)
A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera a obesidade como
uma doença evitável e promotora de uma diminuição da esperança média de
vida, uma vez que, a ela estão associadas várias co-morbilidades.(19) Esta
resulta de um desequilíbrio entre o input e o gasto energético(20), que tem como
consequências: doenças cardiovasculares, problemas ortopédicos, diabetes
mellitus, dislipidemia, hipertensão arterial, apneia do sono, gota, inúmeros tipos
de doenças oncológicas, problemas psíquicos, nomeadamente diminuição da
auto-estima, depressão e problemas sociais.(21-24)
3
A instalação de um desequilíbrio energético na infância, sobretudo em
períodos críticos como o primeiro ano de vida, idade escolar e o início da
adolescência em que ocorrem alterações ao nível dos adipócitos, torna
exponencial o ganho ponderal até a idade adulta.(25, 26)
Hábitos de vida sedentários e consumo de alimentos processados ricos
em açúcar, gordura e sal, baixo consumo de hortofrutícolas, contribuem de
forma positiva para o aumento de peso, alguns dados sugerem que uma
alimentação rica em frutas e vegetais e pobre em alimentos altamente
energéticos atuam de forma protetora na prevenção diversas doenças,
incluindo as doenças cardiovasculares e algumas tipos de cancros.(27)
Assim, deve considerar-se que, os hábitos disfuncionais instituídos na
infância, dificilmente serão alterados, dessa forma pressupõe-se que o
processo de aprendizagem e de modelação de comportamentos saudáveis se
inicie nos primeiros anos de vida.(22, 28)
Atualmente, postulam-se diversas intervenções ao nível da terapêutica
nutricional da obesidade, alguns autores descrevem intervenções vocacionadas
para a família, dado que a infância é um período em que as escolhas e os
hábitos intervenção centrada na educação e promoção de hábitos
alimentares.(27)
A educação alimentar (EA), definida como o conjunto de aprendizagens
delineadas para facilitar a adoção de comportamentos alimentares
saudáveis,(29) tem sido descrita como um método fiável/credível/elegível na
correção dos hábitos menos saudáveis, pois responsabiliza o indivíduo pela
sua própria saúde e fomenta a confiança na capacidade de cada um para
adotar comportamentos saudáveis.(30-32) Esta, permite o uso de ferramentas
4
como a Nova Roda dos Alimentos e o Semáforo Nutricional,(33) de forma
sequenciada e coerente, com uma duração suficiente e devidamente
programada, e adaptada ao desenvolvimento cognitivo da criança.(30) O
interesse e sensibilização da criança devem ser estimulados com intervenções
ativas e lúdicas em torno da alimentação saudável.(31, 34, 35)
A intervenção envolve uma abordagem multidisciplinar a longo prazo,
sendo o tipo e o seu início precoce, os fatores mais importantes para o seu
sucesso.(36-39)
Objetivos
Objetivo Geral: Desenhar uma metodologia de intervenção destinada a
crianças entre os 6 e os 15 anos portadores de paralisia cerebral de grau leve
(I e II) e síndrome de Prader Willi, tendo por base, as sessões de educação
alimentar individuais, com a finalidade de aumentar os conhecimentos e
modificar hábitos e escolhas alimentares.
Objetivos Específicos:
• Avaliar antropometricamente crianças portadoras de PC de grau I e II e
SPW, com competências ao nível da aprendizagem;
• Caraterizar os hábitos alimentares das crianças portadoras de PC e
SPW na primeira e última sessão de educação alimentar individual;
• Perceber a qualidade das escolhas alimentares;
• Avaliar o impacto das sessões de educação alimentar na melhoria da
qualidade alimentar/escolhas alimentares.
5
Material e Métodos
Participantes
Foram convidados a participar neste estudo 5 crianças portadoras de PC
com graus I e II de comprometimento motor e SPW, com competências ao nível
da aprendizagem, nas quais não se havia verificado em consulta de nutrição,
decorridas de 2008 a 2014, uma perda ponderal significativa. Com idades
compreendidas entre os 6 e os 15 anos.
Desenho do estudo
Este estudo observacional transversal, decorreu no período de fevereiro
a julho de 2015. Durante o período de intervenção, 20 sessões de educação
alimentar, consideram-se dois momentos: 0 – primeira sessão e 1- última
sessão.
Foi inicialmente enviado um pedido de autorização à direção da
Associação de Paralisia Cerebral de Guimarães (APCG), que contemplava
informação sobre o objetivo e os procedimentos do trabalho. Depois de
concedida autorização, foi explicado aos pais os procedimentos do trabalho,
bem como, facultado uma declaração de consentimento assinado. Todos os
pais convidados aceitaram participar no estudo.
Numa fase seguinte, procedeu-se à recolha das informações relativas à
ingestão alimentar e dados antropométricos do momento 0 (primeira sessão). E
iniciou-se a intervenção com o total de vinte sessões, semanais e individuais
com duração de 60 minutos.
Avaliação da qualidade da alimentação
Esta foi realizada em duas fases:
1) Primeira SEA
6
2) Última SEA
Para recolher informação sobre os hábitos alimentares das crianças,
recorreu-se ao questionário alimentar das 24h precedentes (QR24h), com
recurso à recordação do dia alimentar anterior, com apoio do manual de
quantificação alimentar.(40) Uma vez que, as crianças em sessão não
distinguiam alguns tipos de alimentos e conseguiam com dificuldade estimar
quantidades, a informação recolhida foi organizada numa tabela. O
agrupamento de alimentos considerados foi elaborado, tendo em conta, a
informação disponível no relato alimentar.
Sessões de educação alimentar
Para a realização das sessões foi criado um manual de atividades, que
foi utilizado no decorrer das mesmas (Anexo A), que teve como objetivo
organizar os diversos conhecimentos a transmitir.
Este foi organizado com atividades iniciais tendo por base os
conhecimentos simples da alimentação saudável nomeadamente: “Roda dos
Alimentos”, a proporção dos alimentos no prato, importância de cada grupo da
Roda na alimentação, macro e micronutrientes e atividades mais específicas
sobre conteúdo de açúcar e gordura presentes nos alimentos que as crianças
tinham por hábito consumir, rótulos das embalagens, estratégias para práticas
de uma alimentação saudável (jogo do semáforo: verde, os produtos que se
podem consumir todos os dias; amarelo, os produtos que se podem consumir
às vezes e vermelho, os produtos que podem ser consumidos em dias de
festa).
Cada atividade demorou cerca de 3 sessões a ser terminada e houve
necessidade de adaptar usando cores, computador e materiais adaptados
7
(tamanho de letra, materiais com velcros, cartazes) para que todas as crianças
as pudessem realizar. No período intermédio foi aplicada, às crianças com
competências na escrita, uma ficha de conhecimentos. Os materiais foram
elaborados em cartão e plástico passível de ser manipulado por esta
população, com aplicações em velcro que lhes permitisse fazer as associações
entre jogos.
Avaliação Antropométrica
Para a avaliação antropométrica foram aferidas altura e peso, usando
procedimentos internacionalmente recomendados, com a criança vestida com
roupas leves (5 a 6 peças de roupa no total) e sem sapatos. A altura foi medida
usando um estadiómetro, Seca®, com a cabeça orientada de acordo com o
plano de Frankfort. A cabeça, costas, nádegas e pernas a tocar a craveira, as
pernas direitas, ombros relaxados, e os calcanhares próximos, a altura foi
aferida até ao 0,1 centímetro. O peso foi medido com o indivíduo colocado no
centro da balança Seca ® 685, com o corpo posicionado na vertical, os braços
pendentes ao longo do corpo e a cabeça orientada de acordo com o plano de
Frankfort.(41) Posteriormente, procedeu-se ao cálculo do IMC segundo a
fórmula: IMC= Peso (kg)/ Estatura2 (m).(42)
Para determinar o estado ponderal foram usadas as Curvas de
Crescimento Específicas para a PC, que tem por bases as curvas dos Center
for Disease Control and Prevention (CDC), divididas por grau de
comprometimento motor(7, 43), e os pontos de cortes descritos pelo CDC: “baixo
peso” para valores inferiores ao percentil 5; “peso normal” com valores entre os
percentis 5 e 85; “excesso de peso” (>85 até ≤ 95) e “obesidade” (> percentil
95).(44)
8
Resultados
Na amostra em estudo, verificou-se um aumento de peso e estatura para a
idade e sexo, não resultando numa mudança de classe de IMC e percentil.
Tabela1: Peso, Altura, IMC e Percentil IMC
As refeições eram realizadas preferencialmente na escola (merenda da
manhã, almoço e merenda da tarde), local onde se constatou que as escolhas
eram mais equilibradas (sopa, inclusão de legumes no prato e fruta à sobremesa),
em casa (pequeno-almoço e jantar). Embora, haja uma criança que refira como
local de refeição, o café (pequeno-almoço) e ainda uma outra que faz as refeições
todas em casa.
Tabela 2: Número de crianças por refeição/ Local onde realizam as refeições
Nos dados referentes à qualidade da alimentação, constatou-se que, o
consumo de leite e derivados acontece em todas as crianças e ao longo do
período de intervenção, contudo, na refeição da merenda da manhã é
disponibilizado às crianças o leite escolar. O pão é, no grupo de crianças em
estudo, o alimento preferido em detrimento de cereais de pequeno-almoço,
Nº Crianças 1 2 3 4 5
Momentos 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 Peso 68,2 69,8 20,2 20,5 45 47 72,5 73,8 42 43 Altura 145,6 146,7 105,5 105,8 143,5 143,6 1,51 1,52 1,33 1,34 IMC 32,17 32,43 18,15 18,31 21,85 22,79 31,79 31,94 23,74 23,95
Percentil >95 >95 50-75 50-75 75-90 75-90 >95 >95 90-95 90-95
Momento/nº crianças 0 1
Local da refeição casa escola café casa escola café
Pequeno-Almoço 4 0 1 4 0 1
MM 1 4 0 1 3 1
Almoço 1 4 0 2 3 0
MT 1 4 0 2 3 0
Jantar 5 0 0 5 0 0
9
bolachas ou outros, sobretudo na refeição do pequeno-almoço, e as bolachas tipo
Maria na merenda da manhã. Contudo, as crianças referem um consumo superior
de pão branco e cereais de pequeno-almoço com açúcar na primeira sessão, e
superior de pão “escuro” na última sessão, preferencialmente com manteiga.
Refeições Pequeno-almoço Merenda da manhã Merenda da tarde
Momentos/nº crianças/alimentos 0 1 0 1 0 1
Leite MG, iogurtes sólidos e
líquidos, queijo 5 5 3 2 5 5
Leite escolar 0 0 2 2 0 0
Pão (mistura, centeio, integral e
cereais) 0 5 1 1 1 2
Pão branco, Cereais tipo integral
não açucarado, tosta, bolachas
Maria e água e sal
3 0 4 4 4 3
Cereais de pequeno-almoço
c/açúcar 2 0 0 0 0 0
Fruta exceto enlatada 1 4 2 3 0 0
Bolos, tartes e outros produtos
açucarados 0 0 0 0 0 0
Manteiga 3 5 1 1 2 3
Fiambre 0 0 1 0 0 0
Tabela 3: Consumo Alimentar por número de crianças/refeição nos momentos 0_primeira sessão e 1_última sessão
O grupo de crianças em estudo refere ingestão, nos dias recolhidos, entre
2-3 peças de fruta por dia, tendo havido uma alteração na sessão final, tendo
passado a incluir fruta ao pequeno-almoço, diminuindo o consumo ao jantar sem
prejuízo do total de peças de fruta por dia.
A sopa, a inclusão de legumes e leguminosas no prato acontece sobretudo
ao almoço, fato que não foi alterado no decorrer das sessões. A água é, em todas
as crianças a bebida de eleição, contudo algumas referem o consumo de bebidas
açucaradas (refrigerantes ao jantar) facto que, aumentou no decorrer das
sessões.
Na totalidade dos dias recolhidos, nenhuma criança do estudo referiu o
consumo de sobremesas doces, bolos, tartes e outros produtos açucarados.
10
Em relação aos produtos de charcutaria, apenas uma criança referiu ter
consumido na primeira e última sessão, pelo que piorou as suas escolhas
alimentares.
Tabela 4: Consumo Alimentar por número de crianças/refeição nos momentos 0_primeira sessão e 1_última sessão
Discussão de Resultados
Após o período de intervenção não se verificou alteração do percentil de
IMC, nem perda ponderal. Utilizou-se o percentil de IMC como método de rastreio
de obesidade, uma vez que, é referido como o mais apropriado, em idade
pediátrica. (45)
A escolha de alimentos, em muito afetada pela disponibilidade dos
mesmos parece estar relacionada com o local onde se realizam as refeições,
neste estudo verificamos que as melhores escolhas alimentares aconteciam em
ambiente escolar. As escolas são imprescindíveis na prevenção da obesidade
infantil, uma vez que, são o local onde as crianças passam a maior parte do seu
tempo (46, 47), constituem excelentes veículos de informação, formação e são na
visão dos cuidadores o modelo e a referência.
Atualmente as escolas disponibilizam alguns alimentos com a preocupação
do aumento de casos de obesidade, nomeadamente a fruta escolar e o leite que
Refeições Almoço Jantar
Momentos/nº crianças 0 1 0 1
Sopa de legumes 5 5 2 3
Legumes no prato 5 5 5 1
Fruta (fresca/congelada) 5 5 5 1
Carne/peixe/ovo no prato 5 5 5 5
Massa/Arroz/batata no prato 5 5 5 5
Leguminosas no prato 2 5 1 3
Sobremesa doce 0 0 0 0
Produtos de charcutaria 0 0 1 1
Refrigerantes/sumos de fruta com
adição de açúcar 0 0 2 3
Água 5 5 3 2
11
apresenta 21,5% de redução de açúcar, comparativamente ao leite com chocolate
tradicional.
A Roda dos Alimentos, recomenda 3 porções diárias de leite e seus
derivados.(48) Tal como verificado na amostra, também outros estudos realizados
indicam que o leite e o iogurte são dos principais alimentos consumidos entre
crianças em idade escolar, atingindo sem dificuldades o valor das recomendações
diárias.(48,49)
A WHO recomenda um consumo diário de pelo menos 400g de frutas e
hortícolas(50), o correspondente a um consumo diário de cinco ou mais porções de
hortofrutícolas. Fato que poderá estar comprometido na amostra em estudo pela
não inclusão destes, sobretudo na refeição do jantar.
A sopa é referida como um alimento essencial no controlo da ingestão
alimentar, sobretudo, pelo seu papel na saciedade, além do seu elevado valor
nutricional (51), no grupo em estudo, o seu consumo é feito preferencialmente ao
almoço (ambiente escolar). Alguns estudos relacionam, uma diminuição do
consumo de hortícolas e fruta, com o aumento do consumo de alimentos ricos em
açúcar longe das escolhas alimentares mais saudáveis. (49, 51, 52)
Apesar do consumo de água referido por algumas crianças, os
refrigerantes fazem parte da rotina de três crianças, este facto é preocupante,
uma vez que, o consumo de bebidas açucaradas, tem sido apontado por vários
autores como um dos responsáveis pelo aumento do risco de excesso de peso e
obesidade. (53-57)
Após as SEA, verificou-se algumas alterações dos hábitos alimentares,
nomeadamente, o aumento do consumo de fruta no pequeno-almoço mas sem
aumento do total de peças de fruta diário, e a preferência pelo pão “escuro”.
12
Verificou-se, também, um baixo consumo de alimentos considerados
obesogénicos, tais como, produtos açucarados, embora, após a intervenção
tenha aumentado o consumo de refrigerantes. A elevada ingestão dos alimentos
referidos, pode dever-se a vários fatores, de onde se destacam o acesso por
parte das crianças a estes alimentos, o consumo por parte dos pares e/ou da
família.(58)
Recomendações na mudança dos estilos de vida no sentido de tornar a
ingestão equilibrada, reduzir atividades sedentárias e aumentar a atividade física
espontânea e organizada deve ser a primeira prioridade na abordagem
terapêutica.(50)
Para que as modificações dos hábitos alimentares sejam realmente
efetivas e duradouras, os programas de educação alimentar devem ser
extensivos a todas as pessoas envolvidas na educação da criança,
nomeadamente encarregados de educação, professores, manipuladores de
alimentos e outros funcionários escolares.(59)
A atuação quando é exclusiva às crianças, parece ser ineficiente, visto já
ter sido demonstrado em vários estudos, que os conhecimentos sobre
alimentação saudável das crianças com peso normal são semelhantes aos das
crianças obesas.(59)
A alimentação das crianças em idade escolar deve ter como objetivos
principais: fornecer energia adequada de forma a promover o crescimento e
desenvolvimento ótimos, sem contribuir para o ganho excessivo de peso;
aumentar a capacidade de resposta imune para reduzir a suscetibilidade a
doenças infeciosas; beneficiar a capacidade mental; favorecer a atenção;
13
contribuir para melhorar as aptidões escolares e educar para uma alimentação
saudável ao longo da vida.(60)
Também, o meio escolar onde a criança está inserida, deve ser
sensibilizado de modo a perceber alterações do comportamento, a necessidade
de limitar o acesso à comida e as dificuldades com que estas lidam na prática de
atividade física. (38,61- 63)
Este estudo que pretendeu traçar uma metodologia de intervenção para
crianças portadoras de PC e SPW, apresenta algumas limitações. Importa referir,
o reduzido tamanho da amostra, que não nos permite inferir para a população
geral. Para a recolha da ingestão alimentar usou-se o inquérito de recordação das
24h anteriores, que tem sido amplamente usado em estudos com crianças, e que
apresenta por si só limitações nomeadamente o recurso à memória; o dia que
está a ser relatado, não corresponder à ingestão habitual e o viés inerente ao
próprio relato para o que é socialmente aceite ou desejado. Tendo em conta, o
comprometimento intelectual e dado que as crianças compareciam sozinhas às
sessões, não foi possível estimar com precisão a quantidade alimentar, bem
como, identificar alguns alimentos, nomeadamente, tipos de carne/peixe, gordura
do leite e/ou queijo. Também, os próprios conhecimentos adquiridos pelas
crianças depois das SEA, podem ter influenciado as suas respostas, direcionando
as respostas para o que achavam ser mais saudável.
Conclusão
A metodologia usada, após o período de intervenção, pareceu ajustada à
população alvo bem como a alguns dos objetivos traçados, nomeadamente o
aumento dos conhecimentos adquiridos. Contudo mostrou-se pouco eficaz dado
14
que a melhoria ao nível das escolhas alimentares nem sempre foi visível ao nível
do consumo, o que em termos ponderais não foi o desejado. O grupo em estudo
aumentou o peso sem alteração do percentil de IMC.
Desta forma desenhar uma metodologia com base na intervenção em pais
e cuidadores poderá ser mais eficaz dado que estes têm um papel determinante
no desenvolvimento dos hábitos alimentares dos seus filhos.
A intervenção nutricional em idade pediátrica deve munir a família de
estratégias, conceitos e conhecimentos no sentido de melhorar as escolhas e
consequentemente a oferta alimentar mas também, e sempre que possível,
promover a participação da criança.
O aumento dos conhecimentos na criança pode proporcionar benefícios
para a vida futura, pela alteração dos comportamentos existentes. (64) Contudo
quer a prevenção, quer o tratamento, só são possíveis com a participação ativa
da criança, familiares e escola.(65,66)
Apesar dos resultados não terem traduzido grandes alterações ao nível da
escolha alimentar, podemos inferir que é fundamental a aplicação de sessões de
educação alimentar de forma a promover a adoção de uma alimentação saudável,
tendo a família como a unidade fulcral de intervenção, de forma a envolver para
além das crianças, os seus pais, para que toda a família possa ter oportunidade
de melhorar os seus hábitos alimentares.
É importante que em futuras intervenções, seja considerado o
envolvimento dos pais, e que seja dada mais importância aos alimentos
disponibilizados na escola.
15
Agradecimentos
À Direção da Associação de Paralisia Cerebral de Guimarães por me ter
aberto as suas portas para a concretização deste estudo.
Aos pais, cuidadores e utentes, um agradecimento muito especial por
terem aceitado participar neste estudo.
À Dra. Ana Araújo, agradeço a disponibilidade, a sabedoria e o ensino
constante em todo o processo de orientação científica desta dissertação. Foi um
privilégio ter sido sua orientanda.
À minha família, pelo apoio incondicional, compreensão nos momentos de
maior indisponibilidade minha, e por estarem sempre presentes.
Aos amigos e colegas pelo apoio.
O meu profundo e sentido agradecimento a todas as pessoas que direta ou
indiretamente contribuíram para a concretização deste estudo, estimulando-me
intelectual e emocionalmente.
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Referências Bibliográficas
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