cressoni. negatividade e inversão da dialética especulativa de hegel

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caderno cemarx, nº 7 – 2014 99 Negatividade e inversão da Dialética Especulativa de Hegel notas sobre o desenvolvimento teórico de Karl Marx Andre de Góes Cressoni Resumo: Nas tentativas de elaborar uma análise quanto ao desenvolvimento teórico do jovem Marx até suas teses de maturidade, uma dicotomia rompimento/continuidade que, por sua predominância, tem a tendência de enfraquecer as interpretações marxianas. Nesta problemática, o presente artigo busca analisar, sucintamente, o desenvolvimento teórico de Marx como uma unidade de rompimento e continuidade. Para tanto, é necessário remeter-se ao legado hegeliano, sem o qual a dialética de Marx perde a linha que unifica e ao mesmo tempo separa essas duas fases de seu pensamento. Tendo como referências principais os “Manuscritos Econômico-Filosóficos”, a “Ideologia Alemã”, e “O Capital”, defendemos que o ponto nodal deste debate consiste na relação entre o caráter especulativo da dialética hegeliana e o conceito de negatividade tal como aparece no decorrer da obra de Marx, adquirindo, a partir disso, uma reinterpretação da palavra umstülpen (inversão) para compreender no que consiste a inversão que Marx opera na dialética hegeliana. Palavras-chave: Marx, Hegel, Dialética. Abstract: In the aempts to elaborate an analysis on the theoretical development from the young Marx to his maturity thesis there is a rupture/continuity dicotomy, which by its predominance has the tendency to weaken these interpretations. In this maer, this present paper seeks to briefly analyse Marx's theoretical development as a unity of rupture and continuity. For this, it is necessary to refer to the Hegelian legacy without which Marx's dialectics loses the line that unifies and at the same time separates these two phases of his thought. * Doutorando no curso de filosofia da UNICAMP.

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Nas tentativas de elaborar uma análise quanto aodesenvolvimento teórico do jovem Marx até suas teses de maturidade,há uma dicotomia rompimento/continuidade que, por suapredominância, tem a tendência de enfraquecer as interpretaçõesmarxianas. Nesta problemática, o presente artigo busca analisar,sucintamente, o desenvolvimento teórico de Marx como uma unidadede rompimento e continuidade. Para tanto, é necessário remeter-se aolegado hegeliano, sem o qual a dialética de Marx perde a linha que unificae ao mesmo tempo separa essas duas fases de seu pensamento. Tendocomo referências principais os “Manuscritos Econômico-Filosóficos”,a “Ideologia Alemã”, e “O Capital”, defendemos que o ponto nodal destedebate consiste na relação entre o caráter especulativo da dialéticahegeliana e o conceito de negatividade tal como aparece no decorrerda obra de Marx, adquirindo, a partir disso, uma reinterpretação dapalavra umstülpen (inversão) para compreender no que consiste ainversão que Marx opera na dialética hegeliana.

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  • caderno cemarx, n 7 2014 99

    Negatividade e inverso da Dialtica Especulativa de Hegel notas sobre o desenvolvimento terico de Karl Marx

    Andre de Ges Cressoni

    Resumo: Nas tentativas de elaborar uma anlise quanto ao desenvolvimento terico do jovem Marx at suas teses de maturidade, h uma dicotomia rompimento/continuidade que, por sua predominncia, tem a tendncia de enfraquecer as interpretaes marxianas. Nesta problemtica, o presente artigo busca analisar, sucintamente, o desenvolvimento terico de Marx como uma unidade de rompimento e continuidade. Para tanto, necessrio remeter-se ao legado hegeliano, sem o qual a dialtica de Marx perde a linha que unifica e ao mesmo tempo separa essas duas fases de seu pensamento. Tendo como referncias principais os Manuscritos Econmico-Filosficos, a Ideologia Alem, e O Capital, defendemos que o ponto nodal deste debate consiste na relao entre o carter especulativo da dialtica hegeliana e o conceito de negatividade tal como aparece no decorrer da obra de Marx, adquirindo, a partir disso, uma reinterpretao da palavra umstlpen (inverso) para compreender no que consiste a inverso que Marx opera na dialtica hegeliana.Palavras-chave: Marx, Hegel, Dialtica.

    Abstract: In the attempts to elaborate an analysis on the theoretical development from the young Marx to his maturity thesis there is a rupture/continuity dicotomy, which by its predominance has the tendency to weaken these interpretations. In this matter, this present paper seeks to briefly analyse Marx's theoretical development as a unity of rupture and continuity. For this, it is necessary to refer to the Hegelian legacy without which Marx's dialectics loses the line that unifies and at the same time separates these two phases of his thought.

    * Doutorando no curso de filosofia da UNICAMP.

  • 100 Negatividade e inverso da Dialtica Especulativa de Hegel...

    Having as the main references the Economic-Philosophical Manuscripts, the German Ideology and Capital, we defend that the nodal point of this debate lies on the relation between the specultive character of the Hegelian dialectics and the concept of negativity as it appears on the elapse of Marx's work, and by this aquiring a re-interpretation of the word umstlpen (inversion) to comprehend in what consists the inversion Marx operates on the Hegelian dialectics.Keywords: Marx, Hegel, Dialectics.

    Introduo

    A dialtica de Marx, ainda que muito debatida, est carregada ainda de enigmas quanto sua relao com a dialtica especulativa de Hegel. A viso que se tentar elaborar consiste em analisar como esta relao com Hegel ilumina um dos pontos centrais para a compreenso do desenvolvimento terico que perpassa a obra de Marx, desde seus Manuscritos Econmico-Filosficos de 1844, at, enfim, O Capital.

    Ao contrrio de algumas leituras correntes, no se trata de encontrar uma continuidade ou ruptura absoluta entre as teses do dito jovem Marx e suas teses de maturidade. O que se tentar, ao contrrio, encontrar uma problemtica que sirva de fio condutor e que perpasse seu pensamento: no uma tese positiva, mas uma tentativa contnua de resoluo de um princpio o princpio da dialtica que faz convergir outras questes derivadas do posicionamento deste princpio, e que Marx parece nunca ter abandonado.

    Tendo em vista que uma empreitada deste calibre consistiria em anlises de uma vasta amplitude, trataremos de investigar, em termos gerais, como certas concepes em Marx atravessam e se transformam no decorrer de sua obra, e como estas deixam transparecer uma problemtica que somente em O Capital o autor teria conseguido resolver.

  • caderno cemarx, n 7 2014 101

    A dialtica do trabalho e o ser genrico nos Manuscritos Econmico-Filosficos de 1844

    Na obra intitulada Manuscritos Econmico-Filosficos, Marx elabora o que seria sua compreenso materialista da histria, assim como seu enfrentamento direto com a dialtica de Hegel. Esta empreitada consiste, sobretudo, em desvelar o fundamento concreto do real a partir de uma crtica do idealismo hegeliano que se enraizou entre os intelectuais alemes de esquerda. Dentre eles, Marx tinha por maior estima Feuerbach: Feuerbach o nico que tem para com a dialtica hegeliana um comportamento srio, crtico (MARX, 2004, p. 117). E acrescenta que este teria realizado a fundao do verdadeiro materialismo e da cincia real, j que toma a relao social, a do homem com o homem, como princpio fundamental da teoria (Ibid., p. 118).

    nesse sentido que Marx partir para a teorizao da dialtica do trabalho. O trabalho seria um ponto de mediao entre homem e sociedade, e sociedade e natureza. Marx trata, aqui, do gnero humano, e empreende uma anlise daquilo que ele chamaria de essncia do homem. Segundo esta tese, o gnero e a natureza convergiriam, a natureza como o corpo inorgnico do gnero. Porm, o trabalho seria essa fora mediadora que leva o mesmo a se realizar concretamente. Atravs de uma exteriorizao do gnero na natureza e uma interiorizao da natureza no gnero, o trabalho seria este motor que faz mover a espcie como um todo.

    Decorre disto que, por um lado, a mediao do trabalho tem como resultado a universalizao das relaes humanas para com a natureza, ao aprimorar o prprio trabalho e a criao de novas necessidades; por outro lado, entretanto, a prpria concretizao dessa universalidade s seria possvel na medida em que o aprimoramento do trabalho e a criao de novas necessidades fossem realizadas no individualmente, mas tendo por fundamento o gnero. A mediao do trabalho coincide com a mediao da espcie, como fundamentos da vida humana:

  • 102 Negatividade e inverso da Dialtica Especulativa de Hegel...

    A vida produtiva , porm, a vida genrica (). No modo (Art) da atividade vital encontra-se o carter inteiro de uma species, seu carter genrico (Ibid, p. 84). A relao natural e concreta, fundamento materialista do homem, a prpria relao social concretizada, uma no se separando da outra.

    Precisamente por isso, na elaborao do mundo objetivo [ que] o homem se confirma, em primeiro lugar e efetivamente, como

    ser genrico. Esta produo a sua vida genrica operativa (Ibid., p. 85).

    Seguindo a herana de Feuerbach, Marx confere a toda manifestao do indivduo o carter, direta ou indiretamente, da universalidade da espcie. As experincias pessoais de cada indivduo dizem respeito a um mundo no somente objetivo, mas pressupondo uma intersubjetividade que se realiza na qualidade de objetividade da espcie humana. Esta objetividade se d mediante cada indivduo que representa, na sua prpria singularidade, o gnero humano. Ambas se convertem mutuamente:

    O homem um ser genrico (Gattungswesen), no somente

    quando prtica e teoricamente faz do gnero (...) o seu objeto, mas tambm (...) quando se relaciona consigo mesmo como [com] o gnero vivo, presente, quando se relaciona consigo mesmo como [com] um ser universal, [e] por isso livre (Ibid., p. 84).

    A universalidade da espcie , portanto, formada por dois aspectos que coincidem: o trabalho e o indivduo. A determinao universal compreende todas as particularidades que se consubstancializam no gnero. Em outras palavras, se em toda atividade o indivduo efetiva a espcie, uma vez que ele o ser social, esta efetivao, por sua vez, s pode se realizar concretamente na medida em que no indivduo

  • caderno cemarx, n 7 2014 103

    se encarnam as foras genricas capazes de exteriorizar a espcie na natureza e interiorizar a natureza na espcie. Portanto, o gnero o carter universal e concreto, fundamento, de cada atividade individual humana, e o indivduo o tomo dinmico que d movimento a este corpo social.

    necessrio, entretanto, analisarmos as consequncias destas afirmaes. Em primeiro lugar, Marx no , nesta poca, ignorante da contradio entre capital e trabalho1. No entanto, apesar de levantar a tese sobre a contradio entre capital e trabalho, a conexo entre esta e as teses da alienao do trabalho, do produto do trabalho, sobre a propriedade privada e da conscincia genrica, permanecem soltas, sem apresentar ainda uma unidade terica rigorosa entre elas. Entretanto, veja-se que Marx, nesta poca, tem como tese principal a dialtica do trabalho. Esta tese, por sua vez, coloca o indivduo, todas as relaes sociais e at mesmo a alienao, sob o fundamento do ser genrico (Gattungswesen). Toda a dialtica do trabalho est estruturada sobre este solo comum:

    A essncia humana da natureza est, em primeiro lugar, para o homem social; pois primeiro aqui que ela existe para ele na condio de elo com o homem, na condio de existncia sua para o outro e do outro para ele; primeiro aqui que ela existe como fundamento da sua prpria existncia humana (Ibid., p. 106-107).

    Sustentando uma tese materialista do ser genrico, Marx tem a inteno de destruir o elemento idealista de Hegel: O Si , porm,

    1 Contra as posies defendidas aqui, poderia se objetar que as reflexes de Marx quanto contradio capital-trabalho constituiria o ponto de continuidade de sua obra. Entretanto, apesar de haver alguns pontos levantados em sua juventude que Marx no deixar de incorrer at sua maturidade, acreditamos que estes sofrem mudanas considerveis que s podem ser compreendidas diante da reformulao da dialtica, como ser defendida no prosseguimento deste artigo.

  • 104 Negatividade e inverso da Dialtica Especulativa de Hegel...

    somente o homem abstratamente concebido e gerado por meio da abstrao (Ibid., p. 125). Deste modo, Marx acreditou, seguindo Feuerbach, estabelecer a crtica mais contundente da dialtica idealista de Hegel2.

    Mas bastaria operar uma mera inverso das categorias? Bastaria meramente colocar um fundamento materialista para os conceitos abstratos que Hegel havia estabelecido? Vejamos melhor.

    Com a tese da dialtica do trabalho, Marx elaborava a crtica materialista dos pressupostos abstratos de Hegel que o levaria, em A sagrada famlia e em A Ideologia Alem, a travar uma verdadeira batalha contra os hegelianos ditos de esquerda na Alemanha. Porm, a dialtica do trabalho tinha por fundamento ltimo a unidade do ser genrico como essncia humana. Apesar de apontar as deficincias idealistas, com a tese do ser genrico como unidade que fundamenta todas as contradies do real, Marx no teria conseguido ultrapassar o carter especulativo do pensamento hegeliano. Na filosofia hegeliana a Ideia constitui a unidade ltima do Esprito. Deste modo, Hegel tem em mos o eixo que culmina na sistemtica de sua filosofia: se o pensamento uno consigo mesmo, pode perpetrar-se a unidade fundamental do Esprito mesmo diante de todas as contradies do real.

    Desse modo, o esprito vem a si mesmo, no mais profundo sentido da palavra, porque seu princpio (...) o pensar. Mas nesse empreendimento acontece que o pensar se enreda em contradies; isto , perde-se na rgida no-identidade dos pensamentos: por isso no atinge a si mesmo, [mas] antes fica

    preso em seu contrrio. A necessidade [Bedrfnis] superior vai contra esse resultado do pensar [que ] apenas o entendimento,

    2 interessante notar, porm, como Marx se utiliza do conceito de trabalho hegeliano para superar algumas teses de Feuerbach sobre o materialismo, principalmente no que tange possibilidade lgica de uma histria, colocando, assim, ao contrrio de Feuerbach, novas bases para uma tese materialista com a dialtica do trabalho.

  • caderno cemarx, n 7 2014 105

    e est baseada em que o pensar no se abandona: fica fiel a

    si mesmo nessa sua perda consciente de seu ser-junto-a-si [Beisichseins]. para que ele vena, [e] leve a termo no pensar mesmo a resoluo de suas prprias contradies (HEGEL, 1995, p. 51).

    O sistema especulativo consiste em mostrar que as contradies so resolvidas, em ltima instncia, na unidade da razo como a verdade do real. por isso que toda a histria no passaria seno de um processo de autoconhecimento de si e por si mesmo do Esprito. Afirma Hegel na Fenomenologia do Esprito:

    O que no esprito nela se prepara o elemento do saber. Agora se expandem nesse elemento os momentos do esprito na forma da simplicidade, que sabe seu objeto como a si mesma. Esses momentos j no incidem na oposio entre o ser e o saber, separadamente; mas ficam na simplicidade do saber so o

    verdadeiro na forma do verdadeiro, e sua diversidade s diversidade de contedo. Seu movimento, que nesse elemento

    se organiza em um todo, a Lgica ou Filosofia Especulativa

    (HEGEL, 2005, p. 47).

    A forma da simplicidade, a unidade simples do Esprito consigo mesmo, que se diferencia no seu contedo, mas que no abandona a unidade lgica, o que nesse elemento se organiza em um todo. necessrio atentar para a diferenciao que h em Hegel entre o Conceito e a Ideia. De um lado, o Conceito consiste na lgica do prprio real, em-si racional, e, de outro lado, a Ideia consiste no reconhecimento desta unidade do pensar com aquela do objeto pelo Esprito, e por isso para-si: atinge-se, portanto, a unidade do em-si-para-si, o real que a razo reconhece-se em si mesmo como razo, e por isso a Ideia Absoluta.

  • 106 Negatividade e inverso da Dialtica Especulativa de Hegel...

    Hegel se utiliza de dois termos que servem de traduo para necessidade: Notwendigkeit e Bedrfnis3. Ambos expressam a necessidade lgica do percurso dialtico. Assim, a necessidade (Notwendigkeit) do Conceito, da lgica objetiva do mundo, se realiza de maneira a revelar a necessidade (Bedrfnis) da Ideia em reconhecer na lgica do mundo a unidade do pensar a si mesmo do Esprito, resolvendo, derradeiramente, as contradies. Assim alude Hegel, ao criticar a maneira do entendimento de fazer cincia, rebatendo-a com o modo verdadeiramente cientfico, isto , o dialtico-especulativo.

    Na maneira, acima aludida, de [fazer] cincia, por um lado o universal que nele est contido o gnero etc. , enquanto por si indeterminado, no est, por si, ligado ao particular; mas ambos so um para o outro exteriores e contingentes; como tambm as particularidades unidas so, para si, reciprocamente, exteriores e contingentes (...) Nos dois [casos] no se d satisfao forma da necessidade ( Notwendigkeit). O refletir, na medida em que

    visa a proporcionar a satisfao a esta necessidade (Bedrfnis) o pensamento propriamente filosfico, o pensamento

    especulativo (HEGEL, 1995, p. 49).

    V-se como Hegel postula a unidade entre a necessidade interna ao objeto e a necessidade do prprio pensar, reconhecendo no objeto seu elemento comum: a razo.

    Ora, as teses de Marx nos Manuscritos de 1844 no diferem a ponto de colocar em xeque a forma lgica deste elemento especulativo. Afirma Marx:

    3 Bedrfnis pode ser entendido como carecimento, que apontaria, no caso hegeliano, para o carecer do Esprito de reconhecer-se como razo da histria, sintetizando na conscincia-de-si a unidade com a necessidade (Notwendigkeit) do desenvolvimento lgico do real.

  • caderno cemarx, n 7 2014 107

    O homem, no qual a sua efetivao prpria existe como necessidade (Notwendigkeit) interior, como falta (Not). (...) Ela

    o elo passivo que deixa sentir ao homem a maior riqueza, o outro homem como necessidade (Bedrfnis) (MARX, 2004, p. 113).

    O que vemos se desenrolar na tese da dialtica do trabalho de Marx consiste em que o autor reconstri a unidade lgica especulativa da dialtica hegeliana, pois coloca a necessidade (Bedrfnis) de reconhecer no outro homem uma necessidade (Notwendigkeit) interna ao prprio gnero. Retoma-se, assim, no interior do prprio materialismo, aquela especulatividade hegeliana onde todas as contradies do real se resolvem.

    Deste modo, Marx teria criticado o carter idealista de Hegel ao postular a realidade in abstracto. Porm, retoma a forma lgica do elemento especulativo hegeliano para dar fundamento dialtica do trabalho. Em Hegel, porm, no h divergncia entre o carter idealista e especulativo. O que importa para ns, entretanto, que todas as figuras do Esprito em suas contradies se resolvem nesta unidade ontolgica do Esprito consigo mesmo. neste sentido que, apesar de no buscar uma realidade somente no mbito do pensamento, Marx postula que todas as contradies do real se resolvem na unidade ontolgica do ser genrico.

    Novos horizontes para o Materialismo Histrico: os anos de 1845 a 1848

    No ano seguinte, 1845, Marx elabora uma obra em conjunto com Engels, A Ideologia Alem. Ali suas teses parecem ganhar outro tom:

    ento tambm natural que todas as relaes dos homens podem ser deduzidas do conceito de homem, do homem representado,

  • 108 Negatividade e inverso da Dialtica Especulativa de Hegel...

    da essncia do homem, do homem. Assim procedeu a filosofia

    especulativa (MARX, 1987, p. 76)4.

    Apesar de haver em grande parte reflexes que so o eco das ideias presentes nos Manuscritos de 1844, veja-se como o autor aponta, aqui, uma crtica quanto representao do homem como essncia. Em outras passagens Marx insiste nesta crtica.

    Esta soma de foras de produo, de capitais, de formas sociais de intercmbio, que cada indivduo e cada gerao encontram como algo dado, o fundamento real daquilo que os filsofos

    representaram como substncia e essncia do homem (Ibid., p. 56).

    Estes apontamentos se inserem no contexto de uma tese que j est sendo deixada para trs. Marx colocara a essncia do homem como fundamento de toda dialtica do trabalho. Deste modo, a histria consistia no processo de autoformao do gnero, conservando as caractersticas lgicas do Esprito hegeliano. Suas novas indagaes, porm, ao que tudo indica, constitui uma problemtica nica que est em desenvolvimento: a forma da dialtica. Assim, Marx no aceita mais as teses de Feuerbach, e contrape tese sobre o homem a nova tese dos homens histricos reais:

    A concepo feuerbachiana do mundo sensvel limita-se, de um lado, simples contemplao deste ltimo e, de outro lado,

    ao simples sentimento; ele diz o homem ao invs de dizer os homens histricos reais (Ibid., p. 66).

    4 importante deixar claro que a crtica a Hegel sempre se deu atravs do uso dos termos idealistas e especulativos desde os Manuscritos de 1844 quando se atacava as teses de Hegel, no ocorrendo mudana, neste sentido, entre este em A Ideologia Alem.

  • caderno cemarx, n 7 2014 109

    E insiste mais adiante:

    Se considerarmos filosoficamente este desenvolvimento dos

    indivduos nas condies comuns de existncia dos estamentos e das classes, que se sucedem historicamente, e nas representaes gerais que lhe foram impostas, certamente muito fcil imaginar que nestes indivduos desenvolveu-se o gnero ou o homem, ou que eles desenvolveram o homem uma imaginao atravs da qual so dados alguns fortes bofetes na histria (Ibid., p. 118).

    Marx, portanto, no parece mais satisfeito com uma tese pautada na mera inverso das categorias hegelianas. Sugere-se um novo horizonte, ainda no muito definido, mas que seria a continuidade quanto forma dialtica que as teses de 1844 haviam deixado insatisfeita. Aponta Marx, criticando os hegelianos de esquerda, como Bruno Bauer, Max Stirner e mesmo Feuerbach:

    Inicialmente, tomam-se categorias hegelianas puras, isentas de falsificao, tais como as de substncia e autoconscincia; depois,

    profanam-se as categorias com nomes mais mundanos, tais como os de Gnero, nico, o Homem, etc. (Ibid., p. 24).

    Veja-se como Marx parece indicar as prprias categorias de que se utilizou h pouco tempo antes de escrever estas linhas. Estaria Marx revirando suas prprias concepes, e planejando uma destruio daquelas categorias que consistiam meramente numa profanao da dialtica hegeliana? De fato, assim parece indicar o texto. E ainda, afirma Marx, no Prefcio em Para a Crtica da Economia Poltica, ao tratar do manuscrito de A Ideologia Alem:

  • 110 Negatividade e inverso da Dialtica Especulativa de Hegel...

    O manuscrito (...) j havia chegado h muito tempo editoria em Westflia quando formos informados de que a impresso fora impedida por circunstncias adversas. Abandonamos o manuscrito crtica roedora dos ratos, tanto mais a gosto quando j havamos atingido o fim principal: a compreenso de si mesmo

    (MARX, 1978, p. 131).

    Retrata que, ao encontrar-se com Engels em Bruxelas, no exlio, dirigiram-se a elaborar em comum nossa oposio contra o que h de ideolgico na filosofia alem, e acrescenta sintomaticamente que tratava-se, de fato, de acertar as contas com a nossa antiga conscincia filosfica (Ibid., p. 130-131). Ao mesmo tempo, assume Marx que quando ainda era redator da Gazeta Renana, tendo de lidar com as filosofias francesas sobre o socialismo e comunismo, confessei francamente que os meus estudos feitos at ento no me permitiam ousar qualquer julgamento sobre o contedo das correntes francesas, e que O primeiro trabalho que empreendi para resolver a dvida que me assediava foi uma reviso crtica da filosofia do direito de Hegel, resultando na Introduo Crtica da Filosofia do Direito de Hegel.

    nesta poca, em 1845, que Marx expulso da Frana e muda-se para Bruxelas. Ali escreve, entre outros, A Ideologia Alem. No por acaso, tambm, que justamente nesta poca se aprofundava seu contato com as lutas proletrias e seu estudo sobre a filosofia socialista e comunista francesa. Em 1846 Marx e Engels organizam, em Bruxelas, o primeiro Comit de Correspondncia da Liga dos Justos, e em 1847 filiam-se diretamente a esta Liga, sendo em seguida nomeada de Liga dos Comunistas. Neste ano, tambm, realiza-se o primeiro congresso da associao em Londres, donde se encomenda da parte de Marx e Engels a composio do Manifesto do Partido Comunista, que seria entregue em 1848. Assim, nesse nterim de trs anos (1845 a 1848) de estudos do conceito de sociedade civil, do socialismo e comunismo francs, e de sua aproximao definitiva da luta proletria, que Marx teria elaborado novas teses, contrariando, em seu ncleo, aquelas dos

  • caderno cemarx, n 7 2014 111

    Manuscritos de 1844. No por acaso que, aps os estudos das correntes francesas, Marx afirma no Manifesto do Partido Comunista:

    Nas condies alems, a literatura francesa perdeu todo significado prtico imediato e assumiu um carter puramente

    literrio. (...) Do mesmo modo, para os filsofos alemes do

    sculo XVIII, as reivindicaes da primeira revoluo francesa no foram mais do que reivindicaes da razo prtica. (...) Escreveram seus absurdos filosficos por detrs do original

    francs. Por exemplo, por detrs da crtica francesa das relaes monetrias escreveram alienao da essncia humana; por detrs da crtica francesa do Estado burgus escreveram superao do domnio do universal abstrato; e assim por diante (MARX, 2005, p. 91-92).

    O acerto de contas de Marx em relao s correntes idealistas alems percorreu as correntes francesas. Teria sido nestas investigaes que ele vislumbrou novos horizontes, onde vira na luta proletria a anttese que levaria s suas teses de O Capital, mas que ainda se apresentavam em rompimento e elaborao. Na continuidade do texto, o autor deixa mais claro suas posies em relao ao pensamento alemo:

    Assim, a literatura socialista-comunista francesa foi completamente castrada. E como nas mos dos alemes ela tinha deixado de ser a expresso da luta de uma classe contra outra, o alemo convenceu-se de ter superado a unilateralidade francesa e de ter defendido no verdadeiras necessidades, mas a necessidade verdadeira, no os interesses do proletariado, mas os interesses do ser humano, do homem em geral, do homem que no pertence

  • 112 Negatividade e inverso da Dialtica Especulativa de Hegel...

    a classe nenhuma, que no pertence a nenhuma realidade, e que apenas existe no cu nebuloso da fantasia filosfica (Ibid., p. 92).

    No seria, neste sentido, o prprio Marx das teses de 1844 que concebia os interesses do ser humano, teorizando sobre o homem em geral, e que no pertence a classe nenhuma? A tentativa de construir um materialismo que se opusesse s abstraes hegelianas parecem ter levado Marx a uma encruzilhada entre os anos de 1845 e 1848.

    A destruio do elemento especulativo e a problemtica do negativo a arquitetnica de O Capital

    Na inviabilidade de adentrar outros escritos de Marx, passemos aos anos de 1857 a 1867, anos de elaborao de O Capital. de se ressaltar, entretanto, que at este perodo intensificou-se a atividade de Marx na luta operria e o aprofundamento nos estudos de economia.

    de grande conhecimento a inteno do materialismo histrico de inverter a dialtica hegeliana, de faz-la deixar de caminhar com a cabea para caminhar com os ps. neste sentido que Marx afirma, no Prefcio da segunda edio de O Capital: Em Hegel, a dialtica est de cabea para baixo. necessrio p-la de cabea para cima, a fim de descobrir a substncia racional dentro do invlucro mstico (MARX, 1998, p. 29). Assim, vemos que, se Marx abandonou algumas perspectivas ligadas ao ser genrico, no abandonou, de maneira alguma, os problemas que a dialtica hegeliana lhe impunha.

    Porm, se j nos Manuscritos de 1844 Marx elaborava a crtica do carter abstrato de Hegel, o que restaria neste momento para se inverter? Vejamos.

    Marx teria, ao nosso ver, levado cada vez mais longe a tese dos homens histricos reais presente em A Ideologia Alem, a tal ponto que culminaria, no Manifesto, a compreender que a igualdade entre os homens se d somente na medida em que as relaes sociais permitem.

  • caderno cemarx, n 7 2014 113

    preciso, portanto, reinterpretar aquela inverso da dialtica hegeliana operada por Marx. Com a nova elaborao, d-se um sentido novo ao termo alemo umstlpen, que pode servir tanto como inverter quanto virar ao avesso. Como aponta H. Fulda, citado por Grespan (2002, p. 27), o termo umstlpen pode significar virar para baixo um vasilhame, derramando o que contm nele, virando de cabea para baixo, como se interpreta correntemente. Porm, pode-se interpret-lo diante de sua derivao do substantivo Stulpe, que designa a manga de uma camisa ou a boca de uma cala, o verbo umstlpen significando, neste contexto, arregaar a manga da camiseta, a boca da cala, ou mesmo a boca de uma bota ou uma luva. No caso de Marx, ele veria o mtodo dialtico de Hegel como um mtodo j invertido, mistificado, sendo necessrio invert-lo novamente, desvir-lo. Como aponta Grespan, no se trata, por isso, somente de passar de um princpio idealista para um princpio materialista, pois, nesta tica, o que se 'inverte' apenas a ordem do real sobre o qual opera a dialtica (GRESPAN, 2002, p. 29), como se faz com uma ampulheta para se reiniciar a contagem do tempo. necessrio, se no quisermos ser levados a concluir que Marx foi ingnuo quanto relao de forma e contedo, virar ao avesso a dialtica hegeliana, salvaguardando o ncleo, ou o caroo (Kern) racional de seu envoltrio (Hlle) mstico: necessrio que a unidade especulativa, que enreda a contradio e a resolve harmoniosamente, d lugar contradio, e a sim tratarmos Marx como autor de uma dialtica de fato revolucionria5 o que Marx vinha buscando desde sua juventude. Deste modo, o contraditrio deixar de ser um momento na elaborao da unidade especulativa da ideia lgica, para constituir-se, de fato, enquanto fundamento que pe e, por isso, enreda a unidade lgica almejada do capital. No mais se busca uma unidade

    5 Uma vez que nosso objetivo abordar algumas questes que avaliamos como pertinentes somente em relao ao desenvolvimento terico de Marx, no trataremos aqui em pormenores as implicaes em O Capital. Para uma investigao mais detalhada da relao entre forma e contedo em O Capital diante desta interpretao do termo umstlpen, ver o genial artigo de Jorge Grespan citado na bibliografia.

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    dialtica conciliadora, como acarretava o mtodo hegeliano. O que se busca agora inverter as determinaes da reflexo de Hegel, a diferena e a identidade. Se para o idealismo hegeliano a identidade o termo maior e total, preponderando sobre a diferena e resolvendo-a, em Marx, inversamente, a diferena no ser mais redutvel uma identidade conciliadora e total.

    Ou seja, retomando a metfora da luva desvirada do avesso: em Hegel a diferena estaria do lado de fora e a identidade no de dentro; enquanto em Marx, ao contrrio, a identidade que aparece no lado de fora, determinada por uma diferena no lado de dentro (GRESPAN, 2002, p. 31).

    No que diz respeito ao nosso presente objetivo, Marx teria visto que, ainda mais fundo do que a unidade e idealidade do ser genrico, h uma contradio que fundamenta todas as relaes sociais, ou seja, toda a estrutura do real, acarretando em consequncias drsticas na estrutura lgica de sua dialtica materialista enquanto mtodo. As reflexes presentes em A Ideologia Alem s se completariam sob esta nova formulao.

    Em O Capital a dialtica compreendida como a maneira de proceder do pensamento capaz de espelhar no pensamento a vida da matria, e no como uma construo de uma unidade a priori de carter profundamente ontolgico. No bastava, portanto, profanar as categorias de Hegel, como os hegelianos de esquerda, invertendo superficialmente a dialtica. Era acima de tudo necessrio dissolver a unidade ontolgica do real, encontrar ali o negativo no interior de sua identidade da o sentido de virar ao avesso. Estava Marx, deste modo, em posse dos instrumentos que abririam as portas para encontrar no conceito de negatividade a superao definitiva da dialtica de Hegel.

    Marx, por isso, no incorre mais em uma unidade ltima que se esconde por detrs das contradies como formas de aparecimento desta unidade. Ao contrrio, mostra-se que h uma aparncia de

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    unidade escondendo por detrs das contradies de um sistema social dominante. Como afirma Mller:

    No basta inverter, uma segunda vez, aquilo que a especulao j inverteu, com a inteno de fazer a dialtica hegeliana andar com os prprios ps, para que ela revele um potencial de racionalidade que a projete alm de seus limites idealistas. preciso, alm de invert-la, vir-la ao avesso, como exige a outra significao presente na

    palavra alem umstlpen, mostrando que as contradies presentes nos fenmenos no so a aparncia de uma unidade essencial, mas a essncia verdadeira de uma objetividade alienada (e no da objetividade enquanto tal), e que a sua resoluo especulativa na unidade do conceito que representa o lado aparente, mistificador, de uma realidade contraditria

    (MLLER, 1982, p. 26).

    Se nos Manuscritos de 1844 Marx no representava o real em conceitos do mero pensamento, por outro lado, no conseguiu quebrar com esta representao de uma unidade lgica e, em ltima instncia, ontolgica. Agora, elaborando em O Capital aquelas inquietaes que surgiram entre os anos de 1845 e 1848, Marx constri uma arquitetnica que dissolve a aparncia de uma unidade do real para mostrar uma negatividade que fundamenta toda realidade social.

    Em O Capital Marx parte da aparncia da unidade da mercadoria e mostra que nela se esconde uma contradio entre valor-de-uso e valor-de-troca. Ademais, demonstra que a categoria dinheiro, aparente unidade monetria, carrega em seu ncleo o desenvolvimento da contradio interna da mercadoria externalizada na relao de troca. Neste nterim, mostra como na circulao simples os agentes sociais so tomados como iguais entre si, e como s se trocam valores equivalentes, etc., leis estas que logo se apresentam como sendo seus opostos. no final do captulo IV Como o dinheiro se transforma em capital que

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    Marx sintetiza as desmistificaes daquelas unidades aparentes que se promovia na esfera da circulao: liberdade, igualdade, propriedade e Bentham. Porm, adverte Marx:

    Ao deixar a esfera da circulao simples ou da troca de mercadorias (...) parece-nos que algo se transforma na fisionomia

    dos personagens do nosso drama. O antigo dono do dinheiro agora frente, como capitalista; segue-o o proprietrio da fora de trabalho, como seu trabalhador. O primeiro, com um ar importante, sorriso velhaco e vido de negcios; o segundo, tmido, contrafeito, como algum que vendeu sua prpria pele e apenas espera ser esfolado (MARX, 1998, p. 206).

    Adentrando nas contradies do real, demonstra que a mais-valia consiste numa regio negativa entre o processo de circulao e o processo de produo. As contradies vo se ampliando e se aprofundando, com a mais-valia absoluta e relativa, o capital constante e varivel, at o ponto culminante no qual se atinge a contradio fundamental, aquela da luta de classes. O conjunto das relaes sociais, o real, constituir-se-ia em uma regio antittica produzida pela luta de classes. Se, porm, por um lado, Marx busca elaborar em O Capital o conceito de capital como aquele que englobaria em si todas as relaes sociais de uma determinada poca, levando, assim, a uma unidade do capital consigo mesmo, por outro lado, demonstra que a pretenso de dominao total do capital falha, destituindo sua unidade consigo mesmo.

    desta maneira que, ao nosso ver, o conceito de negatividade consiste em um dos pontos centrais para a discusso do verdadeiro acerto de contas com a dialtica de Hegel. nesse sentido que vemos, no desenvolvimento terico de Marx, sua incessante combatividade, que ele encontrou no encontro do negativo no mtodo dialtico:

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    A dialtica mistificada tornou-se moda na Alemanha, porque

    parecia sublimar a situao existente. Mas, na sua forma racional, causa escndalo e horror burguesia e aos porta-vozes de sua doutrina, porque sua concepo do existente, afirmando-o,

    encerra, ao mesmo tempo, o reconhecimento da negao e da necessria destruio dele; porque apreende, de acordo com seu carter transitrio, as formas em que se configura o devir;

    porque, enfim, por nada se deixa impor; e , na sua essncia,

    crtica e revolucionria (Ibid., p. 29).

    Enfim, conclumos que sua obra se desenvolve no com uma tese nica e sem mudanas, mas com uma problemtica nica, aquela de como expressar terica e metodologicamente a prpria combatividade histrica de classes rumo destruio do sistema capitalista. Essa expresso terica s poderia surgir, porm, com a resoluo da forma da dialtica, com a precisa determinao da negatividade. Entretanto, Marx vira que esta crtica e revoluo s poderiam ser expressas, terica e metodologicamente, com a dialtica. Portanto, se h um desenvolvimento terico na obra de Marx, este sempre se consistiu na pergunta que parece t-lo assombrado a vida toda, feita ainda nos Manuscritos de 1844; uma pergunta, como ele prprio diz, aparentemente formal, mas efetivamente essencial, a saber: o que fazer diante da dialtica hegeliana? (MARX, 2004, p. 115).

    Bibliografia

    FULDA, H. F. These zur Dialektik als Darstellungsmethode (im Kapital von Marx), In: Hegel Jahrbuch, Kln, Pahl-Rugenstein, Verlag, 1974.

    GRESPAN, Jorge. A dialtica do avesso. Crtica Marxista, So Paulo, n. 14, 2002.

  • 118 Negatividade e inverso da Dialtica Especulativa de Hegel...

    HEGEL, Georg W. F. Enciclopdia das cincias filosficas, I A Cincia da Lgica. Trad. Paulo Meneses. So Paulo: Loyola, 1995.

    ______. Fenomenologia do Esprito. Trad. Paulo Meneses. Petrpolis, RJ: Vozes; Bragana Paulista: Editora Universitria So Francisco, 2005.

    MARX, Karl. Manuscritos Econmico-Filosficos. Trad. Jesus Ranieri. So Paulo: Boitempo, 2004.

    ______. Para a crtica da economia poltica. Trad. Jos Arthur Giannotti e Edgar Malagodi. So Paulo: Abril Cultural, 1978. (Coleo Os Pensadores).

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    MARX, Karl; ENGEL, Friedrich. A Ideologia Alem. Trad. Jos Carlos Bruni e Marco Aurlio Nogueira. So Paulo: Hucitec, 1987.

    ______. Manifesto do Partido Comunista. Trad. Marco Aurlio Nogueira e Leandro Konder. Bragana Paulista: Ed. Universitria So Francisco, 2005.

    MLLER, Marcos. Exposio e Mtodo Dialtico em O Capital. Boletim Seaf, Minas Gerais, n. 02, 1982.