corpo e midia - andreia camargo

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1 Memória, corpo e mídia na experiência de relançamento do Grupo Pró-Posição Andréia Vieira Abdelnur Camargo Resumo: Este artigo discute como a memória da dança pode se construir em interação com a ação das mídias. Através da experiência de relançamento do grupo de dança Pró-Posição – que, em 2008, ressurgiu nas mídias, 25 anos após seu encerramento — investigaremos o fenômeno da reaparição, a partir de três apontamentos: 1- o fenômeno de relançamento como continuidade e não como recuperação; 2- o ato de relançar como uma emergência a que se atribui um nome do passado; 3- o relançamento como uma nova proposição, cujos mapas relacionais entre corpo, mídia e cultura geram uma cartografia memorial do presente. Para tanto, este estudo traz a Teoria Corpomídia, de Helena Katz e Christine Greiner (2005), como um articulador entre os estudos evolucionistas e cognitivistas de Steven Pinker (2008) e Edwin Hutchins (1996) e a teoria crítica de Boaventura de Souza Santos (2002, 2008). Palavras-chave Comunicação; cultura; memória; corpo; Grupo Pró-Posição. Abstract: This article discusses how the memory of the dance can be constructed in interaction with the media’s action. Through the experience of recent revival of the dance group Pró-Posição - that resurfaced in the media, 25 years after its closure – we are going to investigate the reappearance from three views: 1 - the phenomenon of relaunching like continuity and not as a recuperation; 2 - the revival as an emergency that receives a naming of the past; 3 - relaunching as a new proposition, whose relational maps between body, media and culture generate a present cartography of the memory. Therefore, this study brings the “Corpomídia” Theory, by Helena Katz and Christine Greiner (2005), as an articulation between the cognitive and evolutionary studies of Steven Pinker (2008) and Edwin Hutchins (1996) and critical theory of Boaventura de Souza Santos (2002, 2008). Key-words Communication; culture; memory; body; Pró-Posição Group. Este artigo se insere no campo de construção da memória da dança e suas mediações com a cultura e as mídias. Partimos da recente experiência de relançamento do grupo de dança Pró-Posição (1973-1983), para discutir em que medida um fenômeno artístico ocorrido no passado pode ser reanunciado no presente, configurando traços memoriais constituídos pela ação da mídia e dos corpos na cultura.

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Artigo sobre corpo e mídia

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1 Memria, corpo e mdia na experincia de relanamento do Grupo Pr-Posio Andria Vieira Abdelnur Camargo Resumo: Este artigo discute como a memria da dana pode se construir em interao coma ao das mdias.AtravsdaexperinciaderelanamentodogrupodedanaPr-Posioque,em2008, ressurgiu nas mdias, 25 anos aps seu encerramento investigaremos o fenmeno da reapario, a partirdetrsapontamentos:1-ofenmenoderelanamentocomocontinuidadeenocomo recuperao; 2- o ato de relanar como uma emergncia a que se atribui um nome do passado; 3- o relanamento como uma nova proposio, cujos mapas relacionais entre corpo, mdia e cultura geram uma cartografiamemorial do presente. Para tanto, este estudo traz a Teoria Corpomdia, de Helena Katz e Christine Greiner (2005), como umarticulador entre os estudos evolucionistas e cognitivistas de Steven Pinker (2008) e Edwin Hutchins (1996) e a teoria crtica de Boaventura de Souza Santos (2002, 2008). Palavras-chave Comunicao; cultura; memria; corpo; Grupo Pr-Posio. Abstract:This article discusses how the memory of the dance can be constructed in interaction with the medias action. Through the experience of recent revival of the dance group Pr-Posio- that resurfaced in the media, 25 years after its closure we are going to investigate the reappearance from threeviews:1-thephenomenonofrelaunchinglikecontinuityandnotasarecuperation;2-the revival as an emergency that receives a naming of the past; 3 - relaunching as a new proposition, whose relationalmapsbetweenbody,mediaandculturegenerateapresentcartographyofthememory. Therefore, this study brings the Corpomdia Theory, by Helena Katz and Christine Greiner (2005), as anarticulationbetweenthecognitiveandevolutionarystudiesofStevenPinker(2008)andEdwin Hutchins (1996) and critical theory of Boaventura de Souza Santos (2002, 2008). Key-words Communication; culture; memory; body; Pr-Posio Group. Esteartigoseinserenocampodeconstruodamemriadadanaesuas mediaescomaculturaeasmdias.Partimosdarecenteexperinciade relanamentodogrupodedanaPr-Posio(1973-1983),paradiscutiremque medida um fenmeno artstico ocorrido no passado pode ser reanunciado no presente, configurandotraosmemoriaisconstitudospelaaodamdiaedoscorposna cultura.2 Fundado em 1973, por J anice Vieira1 e Denilto Gomes2 Ao olharmos para uma experincia que relana algo na cultura, devemos partir de algumas questes que problematizam esta ao: o que configura um relanamento? Quais especificidades habitam um nome para que ele possa ser reproposto, aps anos de desuso? De que maneira a forma atual, a que se relanou, convive com as formas passadas? , o grupo Pr-Posio foiumaimportanteocorrnciaparaadanamodernapaulistadosanos70e80. Sediado em Sorocaba, interior do estado de So Paulo, atuou ininterruptamente at 1983, quando foi desativado. Na dcada de 1990, o agrupamento temporrio de ex-integrantesmarcouapariesdescontnuase,em2008,ogrupoanunciouseu relanamento oficial, batizando-se com seu antigo nome: Pr-Posio.Na trilha armada por essas perguntas, este estudo apresenta trs proposies que no pretendem dar respostas, mas abrir o campo de discusses que surgem diante do fenmeno de relanamento. A primeira contrape duas lgicas que circundam as tentativasderelaocomopassado:adarecuperaoeadacontinuidade, argumentando em favor da ltima. A segunda defende que o relanamento do Pr-Posioseapresentanacondiodeumaemergncianomeada,isto,um acontecimento do presente a que se d um nome j existente e repleto de significados passados. A partir da noo de emergncia, trazida por Boaventura de Souza Santos (2002;2008),trataremosorelanamentocomoumeventonascidodaspossveis combinaespermitidaspeloatualcontextodogrupo,eminteraocoma necessidade de nome-lo luz de sua existncia no passado. E a terceira proposio afirmaque,paraexistirnoagora,esserelanamentonecessitadeumnovo mapeamento,diferentedoquetinhanopassado,aquechamaremosaquideuma novacartadenavegaoexpressometafricacorrelatasasseresdo antroplogo Edwin Hutchins (1996), acerca das relaes entre cognio e cultura.

1 Janice Vieira, bailarina e coregrafa nascida em 1940, estudou comMaria Olenewa e, mais tarde, comMariaDuschenes.FundadoradaprimeiraescoladedanadeSorocaba,Vieiratevedestaque nacionalpelotrabalhoquedesenvolvia,cujosprincpiosbaseavam-senomtodoLaban,aprendido coma mestra Maria Duschenes (SantAna, 2007: 28-65). 2 Denilto Gomes(1953-1994) nasceu em Sorocaba,interior de So Paulo einiciou seus estudos em dana comJ anice Vieira, em1972, tornando-se seu parceiro no Grupo Pr-Posio. Ao longo de sua carreira, trabalhou comdiversos diretores como Maria Duschenes, Jos Possi Neto, Lia Robato, Emilie Chamie, Jorge Takla, e participou do Grupo Experimental (1982-1984), durante a gesto de Klauss Vianna junto ao Bal da Cidade de So Paulo. Foi o principal intrprete de Takao Kusuno, coregrafo e diretor japons radicado no Brasil. No entanto, foi como bailarino solista que Denilto Gomes marcou sua trajetria. Emvias de desenvolver uma linguagemsbria e autnoma na dana, Gomes teve sua carreira interrompida pela morte precoce, aos 41 anos (CAMARGO, 2008: 5-9). 3 Continuidade x recuperao Ao se pensar numa ao que relana algo do domnio do passado, logo surgem jargesfincadosembinmioscomovelhoenovo,recuperaoecontinuidade. Atadosadiscursoscomprometidoscomformasdesepensarasrelaesde temporalidade,taisparesbinomiaispoderiamguiarumaargumentaocalcadaem registros, comparaes factuais e resgate do que se perdeu outrora. Sob esse vis, as relaesentrepassadoepresenteseriamextremidadesdeumamesmalinha,com comeo e fim conhecidos. Logo, o agora nada mais seria do que uma consequncia geradaporumacausaidentificvel,qualsepoderiaretornar.Esseseriao fundamento da lgica da recuperao. No entanto, o que se deixa no passado pode sim emergir no presente, porm, isso no implica que haver uma restaurao para total identificao entre a forma atual e a forma original. Inclusive porque no h forma original, mas somente estados anteriores, de estados anteriores, de estados anteriores e assim por diante. Ao adentrarmos a lgica da recuperao, partimos de um ponto zero, de onde tudo se origina e segue em trajetria linear. Por outro lado, um fenmeno que envolve as frices entre corpo e cultura, envolto em parmetros processuais e relacionais de existncianotempocomoo casodadananopoderia admitiraideia de origemcomosinnimodepretrito.nessesentidoquealgicadarecuperao, calcada em princpios de originalidade e linearidade, entra em atrito com os atributos relacionais e processuais presentes na noo de continuidade. Arelaolinearentrepassado,presenteefuturofazcomquepensemoso tempocomoumoperadordecausalidade,atribuindoaopassadoopoderde determinaropresente.Estaseria,segundoBoaventuradeSouzaSantos(2008),a monocultura do tempo linear, em que a histria se concebe por meio de sentido e direo nicos e conhecidos. Para Santos, a ideia de que h somente um sentido e uma direo,gerenciandotodasastemporalidades,vemsendopromulgadanosltimos duzentos anos, atravs das formulaes que defendem o progresso, a modernizao, o desenvolvimento, o crescimento, a revoluo e a globalizao (Santos, 2008: 103). Poroficializarascausaseasconsequnciasdeumtempoqueseguenumanica trilha,algicadamonoculturadotempolinearseriatambmresponsvelpela produo de no-existncia: Esta lgica produz no-existncia declarando atrasado 4 tudo o que, segundo a norma temporal, assimtrico em relao ao que declarado avanado(Santos,2008:203).nestacondiodeno-existnciaquesurgeo discurso da recuperao, calcado na possibilidade de resgate do que est perdido num temporemoto,isto,doqueestausentedacontemporaneidadee,portanto, inexistente. Em detrimento da ideia de recuperao, proporemos a anlise do relanamento apartirdeumaperspectivacoevolutivaquenosformulaanoodecontinuidade. Coporqueestabeleceaconjunoecombinaodefatoresnumprocesso multidirecional, e evolutiva porque se ope a um trajeto linear e progressivo3 .As relaes entre o corpo e o ambiente se do por processos co-evolutivos queproduzem umarededepr-disposiesperceptuais,motoras,de aprendizado e emocionais. Embora corpo e ambiente estejam envolvidos emfluxospermanentesdeinformao,humataxadepreservaoque garante a unidade e a sobrevivncia dos organismos e de cada ser vivo em meio transformao constante que caracteriza os sistemas vivos (Greiner; Katz, 2005: 130). Enquanto o conceito de progresso remonta a uma linearidade que segue de um ponto de origem a um pice final, obedecendo a uma direo verticalizada que vai sempre do inferior ao superior em busca de um ideal de melhora , a evoluo se d por meio de processos irreversveis e no lineares, que no implicam melhora, mas adaptao, organizao e complexidade de relaes. Dessa forma, o tempo deixa de ser pensado como uma linha reversvel, em que se pode retornar a um ponto original. Segundo Ilya Prigogine: Anaturezaapresenta-nosaomesmotempoprocessosirreversveise processosreversveis,masosprimeirossoaregra,eossegundos,a exceo.Osprocessosmacroscpicos,comoreaesqumicase fenmenos de transporte, so irreversveis. A radiao solar o resultado

3comumsepensaremprogressocomosinnimodeevoluo,pormoqueseafirmaaqui justamente a aplicao de ambos como antnimos. A falsa analogia entre evoluo e progresso tem origem como advento das sociedades modernas. Sobretudo nos sculos XIX e XX, a ideia de evoluo lanada pela Teoria da Seleo Natural, de Charles Darwin (1859), teve seu fundamento distorcido a fimdelegitimaraburguesiaindustrial,odarwinismosocialeaperfectibilidadedassociedades avanadas,comocauocientficaparaumaorganizaonoigualitriadesociedade.luzde interessesqueregiamumobjetivopoltico,ateoriadaseleonaturalacabouporratificarum entendimento de histria como progresso de fatos acontecidos e, desde ento, instalou-se a confuso que trata evoluo e progresso como sinnimos (Mattelart, 1994: 105-106). Somente aps a segunda metade do sculo XX, as teorias de progresso linear e vertical passaram a ser repensadas. Em1977, IlyaPrigogine,qumicorussoresponsvelpelaformulaogeraldatermodinmicadosprocessos irreversveis, mostrou o contraste entre a ideia de evoluo e a natureza muito simplificada das teorias de progresso, permeadas pelamecnica racional de tempo reversvele simtrico (Prigogine,1976: 93-133). 5 de processos nucleares irreversveis. Nenhuma descrio da ecosfera seria possvel sem os inmeros processos irreversveis que nela se desenrolam (Prigogine, 1996: 25). Semretornoaotempoesemumaorigemdada,asrelaesacercade fenmenos que se referem ao passado no podem recuperar o que l foi deixado, j quenadafoideixado,massim,postoemcontinuidadenumtempoqueavana, irreversivelmente. Em contraposio lgica da recuperao, calcada em princpios reversveis, prope-se aqui a lgica da continuidade, em que o relanamento faz-se atravs do fluxo e no do retorno ao que ficou congelado. A partir desse olhar sobre o relanamento, entende-se que se trata, ento, de umfenmenoqueolhaparaopassado,masquecaminhanopresente,em continuidade, anunciando o seu futuro. A emergncia nomeada e o perigo do relanamento O grupo Pr-Posio foi fundado em 1973 e despontou como uma das nicas ocorrncias de dana moderna no interior do estado de So Paulo, naquela poca. Ao longo de sua histria, apesar de permanecer em Sorocaba, projetou-se nacionalmente, com apresentaes em So Paulo (TV Cultura, ECA-USP, Teatro Galpo e TBC), Rio de J aneiro (Sala Funarte, TV Globo, Teatro Theresa Raquel e Teatro Cacilda Becker) e Bahia (Oficina Nacional de Dana Contempornea - Teatro Castro Alves). Entreosprincipaistrabalhosdogrupoesto:Boiao(1976),Silnciodos Pssaros(1978),Sacrrio(1978),PrantoporIgncioSanchezMejia(1979)e Como Si Acontecer (1980). Inserido numa poca emque a dana paulista trilhava novos rumos, o Pr-Posiointegrouumageraodeartistasquevinhamcom novas propostasestticasepolticasparaadana.Lanadoeacolhidopelo movimentodoTeatroGalpoepeloFestivalNacionaldeDana ContemporneadaBahia,quedepoistrocoudenomeparaOficina NacionaldeDanaContempornea,ogrupoobtevereconhecimento, dentrodeumespaoconstantedetrocaeefervescnciacultural,que marcou a poca (CAMARGO, 2008: 52-53). 6 Em 1983, aps a estreia dos espetculos Po Nosso e Rabigalos, dirigidos por J aniceVieiraeCarlosRobertoMantovani4,ogrupointerrompeudezanosde atividadescontnuas,voltandocenanadcadade1990,emalgumasprodues ocasionais, como Por Um Instante de Brilho (1992)5, Paixo segundo So Mateus (1998)6 e Miguilim, a luz dos olhos(1999)7Essasapariespontuaisforamagrupamentostemporriosdeartistas independentes, que no levaram a assinatura do grupo, nem tampouco retomaram suas atividadescorrentes.Noentanto,adireoeacoreografiadessesespetculosse mantinhamsobatuteladeJaniceVieira,eoelencooraformadosomentepor antigosintegrantes,oraporumamisturadenovatoseveteranostraziaa continuidade de uma lgica artstica que comeara em 1973. . Eventuaisedescontnuas,essasobrasmarcamocarterevolutivodos processos na dana e, numa esfera mais ampla de anlise, na cultura. O que ata e d coerncia a tais aparies e que nos permite dizer que so partes emergenciais de ummesmosistema8A ideia de emergncia, que se aplica a este estudo, remonta noo defendida por Boaventura de Souza Santos a respeito de uma sociologia das emergncias. Para Santos, as emergncias trazem ao presente as possibilidades futuras que ele comporta. Dessemodo,asemergnciastrabalhamtantocompossibilidadesquantocom capacidades, abrindo espao para um Ainda-No, que dotado de sentido, mas no ,aquitratadocomoGrupoPr-Posiosopropriedades partilhadas que se manifestam e continuam demarcando um tipo de singularidade que se mostra resistente ao tempo. O modo de lidar com o corpo e com o movimento lanaumcampogeracionaldesentidosqueremeteaomodusoperandidoPr-Posio da dcada de 1970.

4Nascido em Laranjal Paulista, em 1950 e falecido emSorocaba, em2003, Carlos Roberto Mantovani foi dramaturgo, ator, diretor de teatro, artista plstico, bailarino, animador cultural e poeta. Seu nome, emhomenagens pstumas, foi dado ao Espao Cultural do Sindicato dos Metalrgicos e ao Teatro de Arena, anexo ao Teatro Municipal de Sorocaba.5EspetculocriadoedanadoporJaniceVieiraeMaiaJnior(1958-2010),ambosintegrantes veteranos do Pr-Posio. 6CoreografiacriadaporJaniceVieira,danadaporAndriaNhureMaiaJnior,emhomenagem pstumaao bailarino Denilto Gomes. 7 Trabalho coreografado e concebido por Janice Vieira, comum elenco que reunia antigos integrantes a novos artistas. 8 Para Jorge Albuquerque Vieira (2006), a noo de sistema uma escolha ontolgica que pode ser aplicada a contextos diversos. Umsistema pode ser definido segundo as asseres de Edgar Morin (1986)comoumaunidadegeral,internamenteorganizadaeconectadaporelementos,aesou indivduos. Tambm pode ser pensado, de acordo como russo Avanir Uyemov, como umconjunto de elementos que se relacionam e partilhampropriedades (Vieira, 2006: 41- 88).7 de direo, ou seja, que carrega em sua possibilidade a improbabilidade de ocorrncia (Santos, 2002: 256). Asociologiadasemergnciasconsisteem procederaumaampliao simblica dos saberes, prticase agentes demodo aidentificarneles as tendncias de futuro (o Ainda-No) sobre as quais possvel actuar [sic] para maximizar a probabilidade de esperana em relao probabilidade da frustrao (Santos, 2008: 118). Sob esse aspecto, emergncia aquilo que desponta num conjunto de coisas que esto e que carregam possibilidades ainda no testadas. As condies para um fenmeno emergencial acontecer esto sempre dadas no contexto em que ele habita, mas a emergncia s poder ocorrer de acordo com as interaes com o ambiente. QuandooPr-Posioencerrouseunome,em1983,deixourastros informacionais de sua existncia que apesar de no terem mais visualidade, j que a mdia parou de noticiar o grupo aps seu encerramento criaram campos relacionais que continuaram agindo no tempo. Por mais que o agrupamento tenha se dissipado, quemfezpartedesuasatividadescarregouecontaminououtrossistemascomos modos de fazer que ali se utilizavam. Os tipos de gramtica construdas na cena do Pr-Posiodosanos70e80tambmdeixaramumcampoautogeracionale relacionalquerestounoregistrofotogrfico,videogrfico,jornalstico, historiogrfico, bem como nos corpos de quem danou e elaborou tais gramticas.Mais do que rastros que restaram, tais campos, correlacionados em seus ambientes de ao,provavelmenteseguiramemprocessoemovimento,transformando-se,sem ficarem estticos como registros de um passado imvel. extremamente importante deixar claro que no se defende aqui a ideia de uma essncia que se mantm. J foi pleiteada a necessidade de se trabalhar o conceito de continuidade em termos evolutivos e no de progresso, o que implica trabalhar no em termos de separao de elementos, de onde se elegeria uma essncia, mas sim, em investirnapropostadequealgosednacolaboraoeconjunodemateriais. Assim, o que se sustenta aqui a possibilidade de um trao continuar existindo na cultura,mesmoquenomanifestonasmdias,demodoquesuaemergnciaseja passvel de ocorrer a qualquer momento. Em2008,otrabalhoOcisne,minhameeeu,criado,coreografadoe danadoporJ aniceVieiraeAndriaNhur,configurou-secomooqueaquise descreve com o conceito de emergncia, relanando o nome do Grupo Pr-Posio no 8 panoramadadanabrasileira.E,destavez,aassinaturaPr-Posioindicavaa existnciadogrupo,aprimeiraapslongosanosdeesparsasapariesporvias indiretas.9Ofatodeserelanarogruponosistemaculturalcomumnomequej constituiu uma histria e um campo delimitado no tempo, imputa-nos a questionar por quetalexperincianofoisimplesmenteumlanamento,emvezdeum relanamento. Por que se nomear Pr-Posio? Por que no escolher um outro nome a uma experincia que se pretende nova? Tal discusso nos leva a pensar no que h por trs de um nome e que relaes polticaseculturaisestoimplicadasnestaaodenomear.Aprpriapalavra relanamento, ao carregar o prefixo re, carrega a carga conceitual de outros termos familiares, como recuperao, retomada, resgate, releitura e remontagem.Steven Pinker (2008) em Do que feito o pensamento, diz que a nomeao de algo no uma descrio ou uma definio, mas uma indicao. Por mais que os significados de uma palavra se modifiquem, ela pode permanecer, j que sua funo apenas a de indicar alguma coisa no mundo (Pinker, 2008: 329). Os referentes originais sempre recebem permisso para ficar. Se isso no acontecesse,cientistasdepocasdiferentes(oucientistascom teorias diferentes na mesma poca) jamais poderiam falar da mesma coisa como objetivo de discutir suas divergncias (Pinker, 2008: 329). Assim, h uma lgica articulada entre o que o nome pode carregar e o que ele indica,poissuarefernciaindexicaltambmestatadaauma cadeiaformadaem torno do que a fez surgir. claro que alguma parte do significado da palavra tem de estar na cabea das pessoas (Pinker, 2008: 332). A maneira como um referente se ligaaocontextoqueogerounumadeterminada poca,deveseconectar aomodo como esse referente utilizado em outras pocas: emocionanteeestranhopensarquetodavezquenosreferimosa Aristteles estamos ligados, por uma compridssima cadeia de falantes, ao homemempessoa.E,todavezqueutilizamosumapalavraparanos referirmos a uma coisa, nos ligamos ponta de uma corrente sinuosa no

9 As produes que marcaram a dcada de 1990, como Poruminstantedebrilho(1992), Paixo segundo So Mateus (1998) e Miguilim, a luz dos olhos (1999) no carregarama assinatura do Pr-Posio, apesar de reunir a mesma equipe de trabalho que configurou a formao do grupo, nos anos 70 e 80. Por isso, trataremos tais aparies como indiretas, j que traziama memria do grupo, sem explicitar oficialmente seu nome. 9 espao-tempoquenosconectaprimeirapessoaqueolhouparaaquela estrela, ou para aquela criatura, ou para aquela substncia, e decidiu que ela precisava de umnome (Pinker, 2008: 333). sobre esta ligao entre o nome do Pr-Posio no passado e o nome do Pr-Posio no presente, que as construes artsticas e as aes culturais desse grupo se confluemparagerarorelanamento.Oqueonomeindica,carregaumninho informacional correlato que se atualiza medida que o nome utilizado novamente. Se a emergncia soasse solitria, sem nomeao, estaramos falando apenas de um evento. No entanto, quando esse grupo de artistas decidiu retomar um referente e anunciarumnome,oeventopassouaserumfenmenoquerecobravisibilidade. Dessaforma,orelanamentodoGrupoPr-Posionopoderiasersomenteuma emergncia alada num complexo de combinaes fluidas, mas sim uma emergncia aquesedumnomenessecaso,umnomejexistenteejcarregadode significados.Chamar de relanamento o fenmeno e nomear o grupo como Pr-Posio, 25 anos aps seu encerramento, travar um comprometimento com o que tais nomes carregam em seus contextos e relaes.Numa instncia hegemnica de leitura, o re incorreria no perigo de condicionar o fenmeno lgica da recuperao, em que o queseperdeunopassadopodeserresgatado10Nocasoaquidescrito,tratamosdeumfenmenoculturalcujolugarde ocorrncia o corpo e esse no pode ser visto como um lugar-recipiente, mas como um agente vivo nas relaes com o ambiente. No cabe, portanto, falar em termos de passividade e recuperao. paraopresente.Assimsoas propostas de restaurao, em que simplesmente se resgata algo do passado, para se postarnopresente,comoumamatriamortapassveldedeslocamentosem modificao, sem ao. [...]ocorponoumrecipiente,massimaquiloqueseaprontanesse processoco-evolutivodetrocascomoambiente.Ecomoofluxono estanca, o corpo vive no estado do sempre-presente, o que impede a noo do corpo recipiente (Greiner; Katz, 2005: 130).

10 O verbo resgatar umexemplo claro do que prope a lgica da recuperao. Comumente utilizado para referenciar,metaforicamente, ocorrncias no tempo, a ideia de resgate sugere o salvamento de algoqueestperdidoeinutilizado,precisandodesocorro.Logo,acondioderesgatarnos apresenta o passado como umlugar, umdepsito de onde se pode retirar ofenmeno quelfoi soterrado. 10 Dessa forma, tratar como relanamento uma apario que se anuncia aps um aparente desaparecimento correr o risco de operar um termo sabotado, logo na raiz,pela carga de significaes que carrega. Porm, diante da escassez de expresses que abarquem a lgica da continuidade nas relaes temporais, o relanar parece ser, paradoxalmente, o melhor termo na tarefa de acolher, mesmo que com problemas, um fenmeno que no pode ser medido pela lgica da recuperao. Se o prefixo re perigoso quanto nuvem de atributos que constri quando se aplica a qualquer termo, poroutrolado,tambmtilparadiferenciaranaturezadefenmenos temporalmente distintos. No caso do nome Pr-Posio, os problemas semnticos ligados s instncias espao-temporais que o nome anuncia, ao ser reutilizado, devem ser analisados luz dos contextos em que o fenmeno se lana, ou por mais inadequado que parea se relana. Uma nova carta para navegar Em 1973, o Pr-Posio j anunciava o tipo de insero que o faria figurar nos cadernos culturais da poca: Inseridonocontextogeral,olemaexperinciaepesquisamantm-se firme em nosso trabalho. O grupo estar, emprimeiro lugar, disposto a descobrirnovasfacesdomovimento,imagticaedinamicamente libertando expresses vivas. No s danam braos e pernas, mas olhos, boca, o corpo total. A dana no ingnua, mas fizeram dela uma pobre ingnua.Adanacansou-sedoromantismosaudosista,explodiu.Hoje existetodaumavanguardaartsticalutandoemproldeumadana verdadeira que comungue comnosso dia a dia, nossa vida urbana. Eis a o grupo Pr-Posio Ballet Teatro.11 Durantedezanos,crticas,reportagens,entrevistas,espetculos,cursos, aparieseapresentaesgeraramumcaldodeinformaesreentrantesque determinavam um perfil de classificao para o grupo.Adjetivos como inovador eousado juntaram-se ao exotismo de se encontrar tamanha raridade numa cidade do interior.Propostasqueeramdefinidascomodevanguardaencabeavamum movimentoquerestarianotempocomumrtuloremanescentedesseconjuntode atribuies:

11 Declarao de Denilto Gomes, para a reportagemPro-Posio Ballet Teatro: uma nova criao de Janice Vieira, do jornal sorocabano Cruzeiro do Sul, no dia 01 de fevereiro de 1974.11 Este grupo umararidade, ou antes, pelo quesabemos, umcaso nico.Vemestudandoepraticandodanahvriosanos,tendo como sede uma cidade do interior: Sorocaba (Dias, 1976). Dentro de um panorama de dana dominado quase exclusivamente pelo Corpo de Baile Municipal e pelo Bal Stagium, a criao de J aniceVieiraeDeniltoGomesseapresentacomoumacriao ousada e inovadora (Vallim,1978). Nas aparies da dcada de 1990, a ousadia e a inovao eram substitudas pelanecessidadedesealarumagramticacorporalrecorrentequeogrupo utilizava nos anos 70 e 80. O modo de mover, aliado ao fato de continuar residindo no interior, construa campos de comunicao entre essas fases. Em 2008, com o relanamento, os processos cnicos utilizados em Ocisne, minhameeeucartografaramumdesdobramentodistintodasingularidade procedente dos anos 70, 80 e 90. Em 2009, essa nova lgica de criao produziu o espetculo LinhaGens criado, coreografado e danado por J anice Vieira e Andria Nhur. Com Linhagens, o relanamento deixou de ser uma atuao pontual e trouxe umcarimbodevalidadeestendida,atravsdeestratgiasmiditicasquederam reforo sua existncia. Desde ento, ao traar aes paralelas, tais como criao de um site, realizao de oficinas e circulao de espetculos, o grupo tem oficializado sua apario, apoiando-se em todas as instncias miditicas (considerando-se o corpo como a central, dentre elas) que podem validar suas empreitadas. O Pr-Posio de hoje se funda como forma de existir no agora. Para isso, colapsa o seu antigo perfil, composto do caldo de informaes que delineavam o Pr-Posio das dcadas de 70, 80 e 90, com o novo Pr-Posio, ainda por fazer-se.Na aparente lacuna entre o antigo Pr-Posio e o que agora se anuncia, surge umvocontextualquenecessitade entendimento.Oqueseconstriagora,soba tutela do nome Pr-Posio, s pode configurar uma conversa entre geraes distintas se houver uma lgica que explicite uma continuidade entre uma poca e outra. Nesse ponto, surge a necessidade de mapeamento de um presente que s existe em relao ao seu passado j que configura algo que se anuncia novamente.As obras que compem a carreira do grupo, a partir de 2008, constituem, em sua prpria forma de organizar a cena, um carter documental. Ao trazer, para suas obras,restosdedocumentosescritos,fotos,trechosdevdeosemovimentosque 12 ambientavam a gramtica do Pr-Posio das dcadas de 1970 e 80, o Pr-Posio de agora abre um espao de discusso que autorreferente e contnuo, em relao ao seu passado.Anecessidadedelidar,cenicamente,comodocumento,trazumtipode discurso que est, o tempo todo, avaliando as trilhas que o constituram at o ponto presente. Nesse sentido, o que se apresenta quase uma gramtica que se alimenta do relanamento. Sefizssemosumaradiografiadofenmeno,veramosumPr-Posio demarcado por trilhas de visitao ao seu prprio passado, o que nos parece com um mapa dentro de outro mapa. Assim, o mapeamento atual do Pr-Posio evidencia-se pela autorreferncia s suas formas anteriores, como um desdobramento que se volta para a dobra anterior. Sobre essa estrutura, comea-se a construir uma nova carta de navegao que caracteriza o Pr-Posio nos anos 2000. Diferente do que foi nos anos 70 e 80, bemcomodasincursesnadcadade1990,ogrupomantmtraosdemapas anteriores, como num palimpsesto que se atualizaao falar de suas prprias camadas. Apartirdametforadanavegao,propostapeloantroplogodacultura EdwinHutchins(1996),aideiadecartadenavegaoapareceaquicomouma cartografia dos resduos por onde o novo Pr-Posio poder navegar. Hutchinspartiudossistemasdenavegaoemalto-mar,emque interaes complexasentrehumanoseno-humanosassemelham-seproduoedifusode conhecimentos. O compartilhamento entre corpo, redes de comunicao, mquinas, programas de computador, declara a relao de mo dupla entre o domnio da cultura e os processos cognitivos. Os mesmos processos que constituema conduta da atividade e produzem mudanasnospraticantesindividuaisdanavegaotambmproduzem mudanasnos aspectos conceituais,materiaise sociais do sistema[...] A micrognese dos elementos culturais que criam o sistema de navegao visvel nos detalhes da prtica corrente (Hutchins, 1996: 374). DeacordocomHutchins(1996)aculturaumprocessocognitivoea cognio, um processo cultural.Cultura no nenhuma coleo de coisas, mesmo queconcretaouabstrata.Emvezdisso,umprocesso.umprocessohumano

The very same processes that constitute the conduct of the activity and that produce changes in the social, material, and conceptual aspects of the setting[...]The microgenesis of the cultural elements that make up the navigation setting is visible in the details of the ongoing practice. 13 cognitivo que emerge tanto dentro, quanto fora da mente da pessoa (Hutchins, 1996: 354). luz da metfora da navegao, Hutchins descreve a ancoragem material da cognio atravs da relao de mo dupla entre o corpo e outros meios (mdias): A conduo da atividade procede pela operao de sistemas funcionais que trazem os meios representacionais em coordenao uns com os outros (Hutchins, 1996: 372) . Como num sistema de navegao, a atividade individual gera meios representacionais dentroeforadocorpo,demodoquecadameiointeragecomumambiente operacional constitudo por outro meio (Hutchins, 1996: 373)Nessa ponte entre cognio e cultura, trabalhadas dentro de uma mesma esfera depertencimento,mltiplossistemasformaisemergem,gerandocodificaesem fluxo. Entre corpo e ambiente, mapas esto sendo criados, de modo que as estruturas simblicasnosofixaselineares,masdependemdeumaarquitetura comunicacional que est, o tempo todo, em movimento. Esse trnsito configura um mapeamentoentrecorpoeculturaquetramitapelotempo,compondoumcircuito complexo. As trilhas invisveis das relaes que o corpo vai construindo na cultura compem o que, metaforicamente, estamos chamando aqui de carta de navegao. . importante salientar que esse mapeamento no quantitativo, assim como a cultura no dada por um conjunto de atributos. No se trata de relatar uma coleo de coisas que configuram um fenmeno, mas sim de tentar iluminar o mosaico de trilhas infindveis e contnuas que o compem. Cultura um processo, e as coisas que aparecem na lista de definies doqueculturasoresduosdoprocesso.Culturaumprocesso adaptativoqueacumulasoluesparciaisaproblemasfrequentemente encontrados (Hutchins, 1996: 354). OmododeoperardoPr-Posionopassado,certamente,deixouresduos para que se construam novos parmetros de ao do grupo no presente. A carta de

Culture is not any collection of things, whether tangible or abstract. Rather, it is a process. It is a human cognitive process that takes place both inside and outside the minds of people. The conduct of the activity proceeds by the operation of functional systems that bring representational media into coordination with one another. Each mediumis put to use in an operational environment constitued by other media. Culture is a process, and the things that appear on list-like definitions of culture are residua of the process.Cultureisanadaptiveprocessthatacumulatespartialsolutionstofrequentlyencountered problems. 14 navegao do Pr-Posio, nos anos 2000, depende da articulao entre a carta de navegao do passado e o que hoje se apronta nos corpos de quem atua no grupo, nas questes trazidas pelas obras atuais, nos desdobramentos das aes e nas relaes com as mdias que do visibilidade sua existncia no sistema cultural. Orelevodopassado,emcomunicaoconstantecomopresentequese atualiza, cria o marear por onde a nova proposio deve transitar. Andria Vieira Abdelnur Camargo bailarina,atriz e doutoranda pelo Programa de Estudos Ps-GraduadosemComunicao e Semitica da PUC-SP. Email: [email protected] Referncias Bibliogrficas CAMARGO,A.V.A.Procura-seDeniltoGomes:umcasodedesaparecimentono jornalismocultural.168p.SoPaulo:PUC-SP,2008(dissertaodemestradoem Comunicao e Semitica). DIAS,Lineu. No bal deSorocaba, o filo humanstico da danahoje. OEstadodeSo Paulo, So Paulo, 12 dez. 1976. GREINER,Christine;KATZ,Helena.OCorpo:pistaparaestudosindisciplinares.So Paulo: Annablume, 2005. HUTCHINS, Edwin. Cognition in the wild. Massachusetts: The MIT Press, 1996. IMAGENS e Idias atravs da dana. Folha deSo Paulo. So Paulo, 10 mar. 1978. Folha Ilustrada. MATTELART,Armand.Ainvenodacomunicao.Trad.DeMariaCarvalho. Lisboa:Instituto Piaget, 1994. PINKER,Steven.Doquefeitoopensamento:alnguacomojanelaparaanatureza humana. Trad. De Fernanda Ravagnani. So Paulo: Companhia das Letras, 2008. PRIGOGINE,Ilya.OrderthroughFluctuation:Self-OrganizationandSocialSystems.In: J ANTSCH, E. E WADDINGTON, C.(14d.). Evolution and Consciousness: Human Systems in Transition.1976. _______________. O fim das certezas: tempo, caos e as leis da natureza.So Paulo:Editora da Universidade Estadual Paulista,1996. PRO-POSIO Ballet Teatro: uma nova criao de J anice Vieira. Jornal Cruzeirodo Sul. Sorocaba, SP, 1 fev. 1974. SANTOS, Boaventura de Souza. A gramtica do tempo: para uma nova cultura poltica 2. 14d. So Paulo: Cortez, 2008.15 _______________.Porumasociologiadasausnciaseumasociologiadasemergncias. Revista Crtica de Cincias Sociais. Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e Centro de Estudos Sociais, 63, 237-280, 2002. VALLIM, Accio Ribeiro. Um espetculo ousado e inovador. OEstado deSo Paulo. So Paulo, 23 mar.1978. VIEIRA, J orge Albuquerque. Teoriadoconhecimentoearte: formas de conhecimento arte e cincia uma viso a partir da complexidade. Fortaleza: Expresso Grfica e Editora: 2006.