contributos para a história de paços de brandão - carlos varela

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Contributo para a História da Paróquia de São Cipriano de Paços de Brandão CARLOS ALBERTO SEQUEIRA VARELA DEZEMBRO / 2012

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Contributo para a História da Paróquia de São Cipriano de Paços de Brandão

CARLOS ALBERTO SEQUEIRA VARELA DEZEMBRO / 2012

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NOTA EXPLICATIVA

O opúsculo de que vou tratar, não tem o intuito de esclarecer quem quer que

seja, pois tal, para a maioria, tornar-se-ia inútil. Vejo pois aqui antes a

pretensão de resolver um dos grandes problemas, quiçá histórico, que tem

envolvido as origens da nossa Paróquia de São Cipriano de Paços de Brandão.

Foi com paixão, e com um exame desapaixonado, superior às vicissitudes e

aos homens da política de momento desta Vila, que eu venho convidar os

meus concidadãos, a também, livremente se exprimirem, e, dentro da sua

inteligência, dos seus conhecimentos, se associarem e descobrirem as origens

desta povoação. Amanhã, talvez o dedo fatídico da história, nos possa apontar

esta tremenda sentença: «É muito tarde!.»

Os “CONTRIBUTOS PARA A HISTÓRIA DA PARÓQUIA DE PAÇOS DE

BRANDÃO”, não nasceram do ocaso, foram fruto de muita dedicação, amor,

trabalho, também, e são a maneira mais económica e simples, de as levar ao

conhecimento de uma população. Seria mais lógico, julgo eu, que o fizesse na

publicação de um livro, que até está pronto e publicitado, e, que até é do

conhecimento das autoridades desta freguesia. Não o coloco à venda, pois o

seu preço de venda é demasiado elevado, para o comum do cidadão. Julgo

que se as instituições públicas desta freguesia estivessem vocacionadas para

um singelo apoio a esta actividade cultural, tal poder-se-ia efectuar, contudo,

como vai para um ano que espero uma resposta, desisti de tal sonho.

É claro que ninguém está interessado em cultura, quer seja moral, intelectual,

histórica, etc., os sistemas que alimentam a política esquecem-se que, nascem,

crescem e morrem na época própria, determinada. Não são eles que devem

gerir a sociedade, mas o inverso. Pretender impor uma determinada opinião ao

comum do cidadão, é, dizem os livros, uma tirania.

Para terminar, quero deixar aqui expresso os meus sinceros agradecimentos,

primeiro aos Administradores do Blogue “O ENGENHO NO PAPEL”, que nos

últimos três anos têm tido a «paciência» de publicar os meus escritos sobre a

nossa Terra de Paços; em seguida ao “ NOTÍCIAS DE PAÇOS DE

BRANDÃO”, e ao seu corpo redactorial, pela publicação da entrevista que me

efectuaram. Efectivamente foram as únicas entidades que deram cobertura e

um certo apoio moral, para que os objectivos a que me lancei, fossem em parte

alcançados.

Como diz Oliveira Martins: «Esta é a verdade. Exaltar as paixões, acender a

chama negra do ódio nas trevas densas da ignorância geral é uma temeridade,

pode mesmo ser um crime. No revolver tempestuoso da sociedade naufraga a

razão, domina o delírio, e as mais das vezes vence a imoralidade».

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Quanto ao meu trabalho, julgo que procurei fazer «boas coisas»; é que «as

grandes coisas» não se fazem: nascem espontaneamente, aparecem quando

as condições naturais lhe determinam a nascença.

É claro que é muito complicado escrever-se para um público, que não tem ou

ignora, a noção clara do que é HISTÓRIA. De história apelidam-se muitas e

diversas coisas, que levam a uma confusão, por vezes deliberada, ao leitor

menos atento. Procurei, nos meus «escritos históricos», dar a conhecer o que

é História, os métodos de que se serve, enfim destrinça-la de uma certa

literatura de ficção, que hoje é tanto usual. Se tiverem paciência de lerem os

meus “ Contributos Para a História da Paróquia de São Cipriano de Paços de

Brandão”, encontrarão as ideias que tenho sobre as verdades da origem desta

Terra de Paços, expostas face ao rigor que o método da história obriga.

Se eu tivesse, a honra de ser professor de história, diria aos meus alunos,

aquilo que coloquei na elaboração destes “Contributos”, amor pela verdade

histórica, nunca afirmar nada sem ter um suporte documental, e estou certo

que eles haviam de tomar gosto ao exercício, descobrindo o encanto

extraordinário que há no estudo da sociedade humana.

A todos os leitores e críticos, dos meus artigos sobre História Local de Paços

de Brandão, os meus agradecimentos e votos sinceros de os ter por

companheiros nesta caminhada, para que as origens da nossa Terra sejam

melhor compreendidas, e, que os objectivos da sua verdade histórica sejam

alcançados.

Paços de Brandão, Janeiro de 2013

(Carlos Alberto Sequeira Varela)

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CONTRIBUTO PARA A HISTÓRIA DA PARÓQUIA DE

SÃO CIPRIANO DE PAÇOS DE BRANDÃO

HISTÓRIA LOCAL

O que poderá levar ao conhecimento da história de um pequeno espaço, em

que a vida se foi desenvolvendo, em tempos, que quase se perdem na

memória das pessoas?...Primeiro que tudo, tem que haver um certo amor a

essa terra, para que se possa efectuar a sua História Local. Depois, tem que

existir uma certa curiosidade, em conhecer a comunidade em que estamos

inseridos. Não é fácil encontrar soluções que agradem a todos, não é fácil

aplicar os conceitos normais de história, sem ferir, por vezes, certas

concepções previamente estabelecidas, e, muitas vezes descritas de tal

maneira afastadas da realidade. Não é fácil fazer crer às pessoas que outro

motivo, senão o se ter encontrado um passatempo delicioso, nos leva a

pesquisar o passado de uma certa paroquia e contribuir, assim para um melhor

conhecimento do seu passado e principalmente da sua origem.

Por vezes, certas autarquias encomendam uma Monografia da sua terra. A

pessoa encarregada de a fazer, nem sempre o faz com gosto e muitas vezes

afasta-se do critério histórico. Certos acontecimentos são narrados, de tal

maneira enfatizados, e com o objectivo de celebrarem qualquer data, que ao

leitor mais atento, e, conhecedor de história, não passará despercebido, tais

imprecisões históricas.

A História Local, tem que se servir de fontes, o que nem sempre é fácil de

encontrar, mas encontradas elas devem ser publicadas, são as provas do que

se escreveu e poderão servir para novos investigadores. Temos que ter um

cuidado muito especial na análise e crítica de fontes manuscritas, referentes à

localidade que pretendemos retratar, é que alguns autores tentam, de certa

maneira, glorificar a sua terra sem olharem a meios, em História Local, não se

pode «inventar».

Um dos grandes problemas que se encontra, e no que concerne a heráldica e

genealogia, quando se investiga a origem de uma terra, que é referenciada em

documentos na idade média com um nome, por exemplo, «Palatiolo», e, que

em determinada época aparece acrescentado com um nome patronímico,

«Palaciolo Blandom» (século XIII), é determinar o momento e as causas que

levaram a que tal se operasse.

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Por vezes, certos Autores de Monografias escolhem a maneira mais fácil ou

mais conveniente, de retratarem as origens de uma Paróquia. Descrevem-nos

coisas totalmente abstratas e fora da realidade histórica, é notório tais factos se

relacionarem com heráldica e genealogia, lê-se coisas incríveis, como a de no

século XI, estarem relacionadas casas brasonadas a pessoas que lhes dão

certas e determinadas origens, sem contudo nos fornecerem qualquer suporte

documental.

Nunca é demais lembrar o que o Visconde de Sanches de Baena, nos diz em

“Archivo Heraldico – Genealogico” – Lisboa, 1872, acerca de «cartas de

brasão», e do que se passou desde o seu uso em Portugal até ao século

dezanove.

Diz-nos que: «A carta de brasão de armas mais antiga que se encontra hoje

(1872) nas chancelarias dos reis de Portugal é a que foi mandada passar a Gil

Simões por el-rei D. Duarte, trinta dias antes da morte deste monarca: o que

não obsta a que, cinquenta anos antes, o uso legal das armas de família fosse

instituído e determinado por sanção régia».

Com a morte de D. Fernando, e as lutas entre a sua filha a rainha D. Brites,

casada com D. João de Castela, e, o mestre de Aviz e rei D. João I, filho

bastardo de D. Pedro I, grande parte das famílias nobres que seguiram a

opinião de Castela ficaram extintas e acabadas de todo, e algumas que

sustentaram as partes de el-rei D. João I foram de novo levantadas a grande

lugar. Estas não eram antes conhecidas; para se acreditarem com o povo

tomaram em muitas partes os apelidos e armas de outras famílias antigas, que

lhes não pertenciam. E assim diz-se que no dia da batalha de Aljubarrota

estavam as bandeiras dos aventureiros, cheias de várias armas e insígnias,

que a muitos não competiam.

É sem dúvida no reinado de D. João I, e depois da batalha de Aljubarrota, que

teve princípio em Portugal a arte heráldica; a qual era exercida exclusivamente

pelos reis de armas, arautos e passavantes, sob a denominação de oficiais de

armas.

Com os trágicos acontecimentos do 1º de Novembro de 1755, em

consequência dos incêndios que se declararam nos prédios atingidos pelo

terramoto na parte baixa de Lisboa, perderam-se treze valiosíssimos livros do

Cartório da Nobreza, em que estavam registadas cerca de três mil cartas de

brazões de armas; destas apenas cento e cinquenta foram salvas, por se

acharem copiadas em um livro particular que estava fora do cartório, e que

pertencia ao reformador de então, frei Manuel de Santo António.

O Visconde de Sanches de Baena, em página XVII, dos Preliminares ao livro

“Archivo Heraldico – Genealogico”, diz-nos que, «…quão imenso é o numero

de pessoas, que na actualidade (1872) se pavoneiam com brasão de armas, na

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portinhola de suas carruagens, em aneis, e nos diferentes lugares em que eles

se podem colocar, isto em flagrante contravenção de todas as leis antigas e

modernas, e a despeito das penas nelas cominadas.» (Há uma lei que determina

que dentro do prazo de dois meses todas as graças e mercês regias sejam registadas

no Real Arquivo, sob pena de ficarem de nenhum efeito: mas não obstante esta

disposição poucos são os brazões, tanto de mercê nova como de sucessão, que vão

ao registo competente.).

«E note-se que sobre todos são os titulares os que com mais ostentação

incorrem nessas penas!»

Até ao ano de 1856 existiam, não menos, de trezentos e quinze titulares; desde

então para cá tem crescido prodigiosamente o número de titulares. É-nos

referido que desde 1841 se tem passado cento e trinta e quatro cartas de

sucessão, e de mercês novas quarenta e uma (pertencentes dezasseis destas

aos anos decorridos de 1865 a 1872). São mais as mercês novas neste

período que todas as concedidas em todo o tempo anterior da monarquia, a

contar de 1438! Causa espanto e admiração como se têm dado tantas mercês

novas ultimamente a pessoas, que pela maior parte nem ao menos alegaram

haver prestado alguns serviços ao país, quando semelhantes graças só podem

ser conferidas por virtude de relevantíssimos serviços autenticamente

provados. Por um lado impõe o governo, um direito quase proibitivo a quem

quer fazer uso legal de suas armas; pois de cada carta de brasão passada hoje

entram nos cofres públicos 242$000 réis – e por outro concede-as de um modo

pouco decoroso, porque as facilita ao primeiro bem-vindo que pode e quer

pagar as despesas – a até consente, tolera e apoia que todo o mundo as traga

sem pagar nada!... Apoia, dizemos; porque em repartições públicas, tanto

eclesiásticas como civis, há chefes que usam de selos e «signetes» com armas

que ou não são suas, ou se o são não pagaram para as usar os competentes

direitos.

É neste contexto e nesta época que, o padre José da Cruz, reformador do

cartório da Nobreza, que através de «uns títulos conservados entre papéis», e,

sem qualquer outro suporte documental, nos diz que os Brandões são

originários da Normandia, pois dois irmãos, Fernando e Carlos Brandão, de lá

passaram a Portugal com o conde D. Henrique. Cristóvão Alão de Morais, em

“PEDATURA LUSITANA”, dá-lhes como origem a Inglaterra, no entanto abre o

título de Brandões com o Conde D. Pedro, «O Conde D. P.º no seu livro não

faz título particular dos Brandões, e só fala neles por razão de algumas

mulheres com que casarão». Felgueiras Gayo, em “NOBILIÁRIO DE FAMÍLIAS

DE PORTUGAL”, abre o título de “BRANDOENS”, com Gracia Martins

Brandão, casado com D. Mayor Rz de Urro (Brandoins antigos) e em

Brandoens, diz-nos que: «O Primeiro de que temos notícia é de Carelos

Brandão que passou a este Reino no tempo do Conde Henrique e jaz

enterrado no Mosteiro de Grijó: tomou o Apelido de Brandão por assistir no

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Passo de Brandão: era o dignatário Carelos Brandão Fidalgo Inglês.» Não nos

diz com quem casou, mas aponta-lhe um filho: Martin Brandão.

Como acabamos de observar a situação em que se encontrava a Nobiliarquia

Portuguesa nos séculos XVII – XIX era mesmo uma questão deveras

complicada. O problema, já se tinha verificado no tempo do nosso Rei D. João

I, com a Restauração em 1640, veio novamente a sofrer diversas alterações,

pois os nobres partidários dos Filipes, foram «varridos» das suas funções e os

seus títulos de nobreza entregues aos partidários do Rei D. João IV; com o

terramoto de 1º de Novembro de 1755, sucedeu o que atrás ficou relacionado;

com D. Maria I, devido às invasões francesas, tudo se deslocou com a família

real para o Brasil; nas lutas entre D. Miguel I e seu Irmão D. Pedro IV e no

reinado de D. Maria II, sucedeu aquilo que o Visconde de Sanches de Baena

nos descreve; era um pântano cultural e político e como que numa pedrada

nesse charco, surge-nos o Alexandre Herculano, cujos trabalhos históricos são,

ainda hoje, de consulta obrigatória para os nossos historiadores.

Espero que o que acabaram de ler, sirva de reflexão, e de incentivo a uma

procura mais esclarecedora em matéria de história. Em artigo que, em breve,

terão oportunidade de ler, será dedicado, aos BRANDÕES e as suas origens e

procurarei explicar o porquê de dizerem que eles tiveram origem na

Normandia, Inglaterra, França, Irlanda, etc., e não aceitarem a sua origem em

terras do actual Portugal. Procurarei estabelecer a sua relação com a nossa

Paróquia de São Cipriano de Paços de Brandão.

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DO PALATIOLO AO PAÇOO

Em as «VILLAS» do Norte de Portugal encontra-se uma descrição, deveras

interessante, e que nos leva a ter uma melhor percepção, do que era, no tempo

dos Romanos, um «palatium»: - «Com o seu terreno fresco e abundante de

nascentes, era uma pequena propriedade, regulando por 60 hectares,

repartidos agora por quatro casais de lavoura e cinco cabanas. Uma gleba

denominada – campo de paço (palatium), está a revelar a sua organização

romana; nele esteve a villa urbana, a antiga habitação do dominus, do primeiro

proprietário deste prédio».

Foi a vivendas, semelhantes à descrita, que eram térreas, a que o povo

chamou palatium (paço), menos pela aparência grandiosa que não tinham,

mas por estar nela a administração de seu pequeno mundo e aí residir o

dominus, quase o seu soberano.

Uma vez porém que a villa urbana por força havia de ter existido, visto ser um

elemento essencial da ordem no regime romano e visigótico, a sua

denominação própria, aparece-nos fixado na toponímia, encontramos já no ano

de 747, em documentos da Galiza, um nome comum antigo – palatium, cuja

significação se adapta a essa vivenda dominical – Palatio – Palatii – e em

nossos documentos como – villa palatiolo (ano de 922, 924 …) – palatio (ano

de 950). Esta palavra foi de prática seguida e prolongada, sem o que não se

teria gravado no onomástico local, contendo uma noção de autoridade ou de

governo, adoptou-a aqui o povo no tempo romano para exprimir a habitação do

proprietário , pois era este realmente quem governava todos os habitantes da

«villa»; do mesmo modo então ela se chamava também «praetorium», cujo

sentido no fundo é quase idêntico.

Em “OPUSCULOS”, Volume I – FILOLOGIA (Pgs. 546 a 550), de J. Leite de

Vasconcellos, Coimbra 1928 – Imprensa da Universidade, encontramos

elementos para a história da palavra PALATIUM, que em parte vou

transcrever:

«Ás vezes por motivos fonéticos e históricos as palavram experimentam, no decorrer

dos séculos, transmudamentos curiosos, acontecendo que de uma que a princípio

tinha certa forma e significado resulta, após muito tempo, outra ou outras muito

diversas da primeira. Vou dar um exemplo.

Dos sete montes em que Roma fôra edificada, ou Septimontium, um chamava-se,

como é sabido, Palatium, denominação talvez proveniente, como quer o Dºr. Walde,

de palus, «estaca»: do que poderemos concluir que aí teria havido em data

antiquíssima uma «estacada» ou «estacaria», defesa militar, que muitas vezes se

observa em povos de carácter primitivo. No Palatium estabeleceu o Imperador

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Augusto a sua habitação, o que os sucessores continuaram fazendo. Disto veio o dar-

se ao edifício o nome do sítio, e tornar-se palatium nome comum na acepção de

«morada de monarca».

«…Este fenómeno que, aplicado individualmente ao estilo, os retóricos chamam

metonímia, é muito corrente na língua moderna, e basta abrir um dicionário para

encontrar, por exemplo: madeira, em vez de vinho produzido na Ilha da Madeira, etc.

Palatium tinha o adjectivo palatinus, por exemplo, colles platini. Este adjectivo

aplicou-se naturalmente à morada imperial e à côrte: domus palatina ou «palácio

imperial»; palatinus «dignitário do palácio», «cortesão». Este sentido de nobreza

transparece no comes palatinus ou «conde palatino» dos antigos estados

germânicos. Os Italianos, alterando um pouco a ideia, fizeram daqui paladino, no

sentido de «herói cavaleiresco», e a palavra passou a França na forma de paladin,

para a Espanha na de paladin, e para Portugal na de paladino, que tem a par

também paladim.

O latim palatinus seguiu ainda outro caminho, passando à classe de cognome

(romano), que com o andar do tempo veio a ser verdadeiro nome próprio. Nesse

significado temos em documentos nossos do século XI Paladinu, a que correspondem

os patronímicos Paladinici e Paladiniz. De Palatinu, como nome de donos de

propriedades, veio Paadinho, hoje Padinho, que decerto se pronuncia pàdinho,

nome de duas povoações nos concelhos de Fafe e Guimarães. No feminino há o

moderno apelido da família Padinha, que sei se pronuncia padinha. Do genitivo

Paladini, em compostos como villa Paladini, segundo um tipo muito usual na idade

média, veio Paadim, que aparece no século XIII; e por último Pádim ou Pàdim, nome

de seis lugares no Minho. Comparáveis a Palatinus, na qualidade de cognome

romano, temos na nossa língua actual, pelo menos no aspecto externo, os apelidos

Cortesão e Côrte – Real.

Voltemos a palatium, substantivo comum. Palatium designou na Idade Média, como

tradição romana, a habitação do proprietário de um terreno: donde, por intermédio de

paaço, que ainda existia no século XIV, vieram Paço e Paços, como nomes

geográficos muito espalhados por todo o Portugal, com especialidade no Norte e

Centro ou Beira, regiões em que a palavra teve seu berço. A Paço e Paços se ligam

os diminutivos geográficos Pacinho e Pacinhos. Outro diminutivo geográfico é Pàçô,

igualmente muito usado no Norte e no Centro, o qual, por intermédio das formas

medievais (geográficas) Palatiolo, Palaciolo, ou melhor Paacioo, Paaçoo, provém

directamente de palatiolum, à letra, «palácio pequeno», pronunciado no latim vulgar

palatiólu.

Em alguns dos citados exemplos notámos que muitos nomes de povoações provêm

de nomes próprios de indivíduos. Entenda-se que estes eram senhores de quintas,

«villas», etc., que no decurso das idades aumentaram de moradores, e se tornaram

aldeias e maiores povoações. Ás vezes acontece que os mesmos nomes geográficos

passam a significar nomes pessoais: quantos apelidos não há, que soam Paço e

Paços?…É possível que os apelidos que se escrevem Passos, com dois ss,

pertençam, em parte, à classe que estou estudando, embora alguns possam provir de

ideias religiosas, isto é, de Senhor dos Passos, como Ascenção, etc.

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Além da significação de habitação de um senhor ou proprietário, paço, ou o latinismo

palácio, conserva a anterior tradição romana de «habitação de monarca». A todo o

instante falam os nossos textos medievais de palatium Domini Regis, por exemplo

mas Leges, p. 694, de 1260. Paralelamente a paço e palácio real temos paço

episcopal, paços do concelho, e como nome próprio em Lisboa Terreiro do Paço,

por paço de Governo.

Na língua usual chamamos por isso palácio a um edifício grande. Com paço real se

relacionam os adjectivos arcaicos pàceiro e paaceiro (títulos de cargos), e

palaciano, forma restaurada da medieval pação, latim palatinus. É notável que assim

como palatinus se tornou nome próprio, também palatianus. Os documentos

medievais de Portugal têm Paaciano e Paaciana, como nomes geográficos do século

XIII, provenientes de nomes de proprietários: o segundo está ainda hoje

representando em Paçam, por Pàçam, ou Pàçã, nome de um lugar na Beira Alta.

E assim termino, pois me parece que fica justificada a afirmação que comecei por

fazer: que as palavras têm muitas vicissitudes. No caso presente vimos que as

estacas secas que constituíam a primitiva paliçada que foi Roma reverdeceram

pujantemente, dando vergônteas que se tornaram, ora nomes de domicílios

principescos, e símbolos de aventura, ora designações de pessoas e de localidades.

Tão alto pôde subir a ramificação, que por palácio ou paço celeste entendem os

crentes a morada de Deus, e já os pagãos diziam palácio de Jove!»

Em conclusão ao que ficou dito da evolução e história da palavra que começou

por designar uma paliçada e acabou Paço Real, resta-me apresentar as datas

e documentos em que tal se passou, na Idade Média, ao nosso «PAÇOS» .

Data documento denominação

773 (?) Diplomata et Chartae – Doc. I (a) VILLA PALACIOLO

992 Idem - Doc. XXV PALATIOLO

1025 Idem - Doc.CCLVII PALACIOLO

1134 Baio-Ferrado (b) - Doc.206 PALATIOLO

1135 Idem - Doc.209 VILLA PALATIOLO

1137 Idem - Doc.207 PALATIOLO

1141 Idem - Doc.210 VILLA PALATIOLO

1146 Ordre du Temple (c) - Doc.CCCCIII PALATIOLO

1159 Baio-Ferrado - Doc.211 K(arta)PALACIOLO

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(a) – Além da data referente ao ano de 773 levantar algumas dúvidas, também

a referência à «Villa Palaciolo» que lá se encontra, poderá não dizer respeito à

nossa terra de São Cipriano de Paços de Brandão, no entanto é de notar que já

naquela data e, a Sul do Rio Douro, tal denominação já se encontrava

assinalada.

(b) – Le Cartulaire BAIO – FERRADO du Monastère de Grijó - Introduction et

Notes de Robert Durand – Fundação Calouste Gulbenkian (CCP) – Paris 1971.

(c) – Cartulaire Générale de L´Ordre du Temple.

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O CARTULÁRIO BAIO-FERRADO DO MOSTEIRO DE GRIJÓ

Um Cartulário, como se sabe, é um registo de documentos de uma

determinada época, referentes a uma instituição religiosa. No caso presente,

refere-se ao Mosteiro de Grijó, séculos XI – XIII. Não me vou ocupar da

historiografia do Mosteiro, mas sim ocupar-me, de uma maneira muito simples

e resumida, da importância, muito relevante, que o Cartulário de Baio-Ferrado

tem para o conhecimento da História – Local da nossa Paróquia de São

Cipriano de Paços de Brandão. Oportunamente a historiografia do Mosteiro de

São Salvador de Grijó, bem como o de Pedroso, será tema de mais um artigo.

Nem sempre se encontram documentos medievais publicados, em latim, e com

tanto rigor histórico, como aqueles que estão expressos em “LE CARTULAIRE

BAIO-FERRADO DU MONASTÈRE DE GRIJÓ”. Introdution et notes de

ROBERT DURAND – Fundação Calouste Gulbenkian (Centro Cultural

Português), Paris 1971. São, nas palavras de J. Mattoso,«riquezas escondidas,

que Robert Durand põe ao alcance dos historiadores», levam-nos a percorrer o

Mosteiro de Grijó, desde 18 de Dezembro de 922 até ao ano de 1264.

É este o trabalho, de que me vou utilizar, para dar a conhecer todas as

entradas que se referem a Paços de Brandão, não vou transcrever os

documentos, contudo se alguém tiver curiosidade em os conhecer, estou à

disposição para lhes facultar a sua consulta e respectiva leitura. Em nenhum

documento deste Cartulário é referida qualquer personalidade com o apelido

de «Brandão» ou idêntico a tal, em documentos referentes a Paços, o que,

como já foi tratado, por mim, só se encontra no Livro das Campaínhas,

referente aos Fidalgos Naturais deste Mosteiro.

No entanto encontra-se no Doc.216 de 17 de Janeiro de 1126 uma

personagem com o nome de «Tructesindo Brandiaz», referente a uma venda

de Mendo Ramires e sua mulher, Godinha Mendes, a Nuno Soares e sua

mulher, Elvira Gomes, por 50 «módios», as suas propriedades em Vermoim e

quatro salinas.

No Doc. 128, de 1079, 12 de Abril, em que Fernando e Eio Truitiz vendem a

João Ataniz, por dois «bracales» dobrados, a sua propriedade de Tarouquela, é

testemunhado por: «Fernandus, ts; Brandia, ts; Didacus, ts; Pinnoo, ts.

Sesnandus notuit.»

São estes os únicos documentos em que são intervenientes pessoas, que

usam nos seus nomes, Brandiaz (Doc.216 de 1126) e Brandia (Doc. 128 de

1079).

Para um melhor esclarecimento, para aqueles menos familiarizados com estes

assuntos, relaciono documentos em que a Condessa D. Teresa é interveniente

e que vem sustentar as afirmações de que se o Conde D. Henrique, com quem

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era casada, tivesse doado qualquer propriedade situada em Paços, de certeza

que estaria referida neste Cartulário e confirmada pela «regina Tharasia de

Portugale», em representação de seu pai Afonso VI de Leão e Castela.

1112, 15 de Maio – Doc. 34 – A infanta Teresa doua a Mendo Gonçalves e a

sua mulher, Maior Gonçalves, pelos serviços prestados, os bens que possui a

Crasto, (refere-se a casal de Castro em Perosinho, junto da estrada real do

Porto até o lugar de Guimarães). «In Dei nomine. Ego infans Tarasia, boni

regis Alfonsi filia…»

1122, 8 de Março – Doc. 203 – A «Rainha» Teresa doua a Diogo Aires Alvane,

como título de contrato (do qual o montante se eleva a 180 «módios), dos

prédios situados em Casal, Pomar Ermo (?), Covelos e Cardielos. «In Dei

nomine. Ego regina Tarasia, boné indolis regis Adefonsi filia…»

Documentos em que se relacionam bens, transicionados, doados ou

permutados referentes a esta Paróquia de São Cipriano de Paços de Brandão:

DATA – DOC.BAIO-FERRADO DESCRIÇÃO

1134, 27 Junho 206 - Garcia Odoriz e sua mulher, Sancha Pais, trocam

com Nuno Soares e sua mulher, Elvira Gomes, e

os cónegos de São Salvador, as suas terras em

Paços, por 20 «módios» e uma parte de uma terra

situada em Vila Cova. (…in ville Palatiolo…).

1135, 14 Junho . 209 - Telo Alvares e sua mulher, Ouroana Mendes,

trocam com Garcia Odoriz e sua mulher, Sancha

Pais, uma terra situada em Paços por outra em

Lavandeira. (…de hereditare nostra própria quam

habemus in villa Palatiolo et subtus monte

Sagittella, discurrente rivulo Maior….)

1137, 12 Fevereiro 207 - Nodario Cides e sua mulher, Elvira Pais, vendem a

Paio Tructesendes, seu sobrinho, por 80 «módios»

a sua propriedade de Paço. (…cartam venditionis

de hereditate nostra própria quam habemus in

villa de Palatiolo…)

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1138, 29 Janeiro 56 - Boa Pais doa a São Salvador, metade de imediato e

a outra metade, de 1/5 de todos os bens que ela

possue em Paços. (…, quintam scilicet partem de

omni illa quam habeo in villa Palatiolo…)

S.d.-(depois 1138)? 80 Boa Pais e seus filhos bem como Garcia Odoriz e

sua mulher, Sancha Pais, comprometem-se a não

alienar os seus bens sem consentimento de São

Salvador; eles solicitam, em contrapartida, a

protecção do priorado e pedem para aí serem

sepultados.

1140, 6 Junho 94 Ouroana Tructesendes e seu marido, Pedro Pais,

prometem a São Salvador, à sua morte, o 1/5 da

sua propriedade de Paço; eles solicitam aos

cónegos e ao priorado, auxílio e protecção; Ouroana

pede também para ser sepultada no priorado.

(…quam habemus vel habituri sumus in villa de

Palaciolo,…)

1141, Junho 106 Pedro Guterres e sua mulher, Sancha Nunes, de uma

parte, os cónegos de São Salvador, da outra, compro-

metem-se a não alienar a propriedade que eles têm em

coopropriedade em Paço, senão por mútuo acordo.

(…facimus inter nos placitum legitimum de illa

hereditate quam habemus vel deinceps habuerimus

In villa Palatiolo…)

1141, Junho 210 Pedro Godins e sua mulher, Sancha Nunes, trocam com

Elvira Gomes, os seus bens de Lavadorinhos com outro

situado em Paço.(Et accepimus aliam hereditatem a

vobis in villa Palatiolo).

1143, Maio 90 Gonçalo Pais e sua mulher, confirmam o seu testamento

15

em favor de São Salvador; eles pedem, em contrapartida,

auxílio e protecção aos cónegos e aos priores, e que

sejam aí sepultados.

1143, Abril 92 Pedido idêntico ao anterior, efectuado por Paio Moniz e

sua mulher, Boa Soares.

1156, Abril 208 -Maria Mendes e seus filhos, e Paio Moniz vendem aos

Cónegos de São Salvador, por 20 «módios», a sua

propriedade de Paço. (…de hereditare nostra quam

habemus in villa Palatiolo…)

1159 ?, Dezembro 211 -Gonçalo Soares renuncia a reivindicar como seu, uma

parte de uma propriedade situada em Paço e pertencente

aos cónegos de São Salvador. (Ego Gunsalvus Suariz feci

querimoniam refi Ildefonso de hereditate patris mei seu

avorum meorum quam vos, canonici Ecclesiole, in villa

Palatiolo tenebatis.)

16

OS NORMANDOS NA PENÍNSULA HISPÂNICA

A nossa Paróquia de São Cipriano de Paços de Brandão, é

referenciada, por alguns, como tendo sido fundada por um suposto

fidalgo normando, «Fernand Blandon» (?), que teria acompanhado

D. Henrique de Borgonha, quando este casou com D. Teresa, filha

de Afonso VI de Leão e Castela. Intencionalmente ou talvez não, o

que nos contam sobre os Normandos, resume-se quase a nada.

Foi fácil arranjar uma personagem, validada pelo menos por três

personalidades, o sacerdote, o escritor e o político, para ser de tal

maneira enfatizada, que lhe deram o ano de 1095 como entrada

nesta Paróquia de Paços de Brandão, e, nem sequer quiseram ou

souberam, saber da história dos «Normandos» na Idade Média.

Julgo que se tivessem consultado qualquer manual de História

Universal sobre a Idade Média, ou uma crónica que nos diz

directamente respeito, estou, como é óbvio a referir-me à

“CRÓNICA GERAL DE ESPANHA DE 1344”, cuja edição crítica do

texto português, efectuada por Luís Filipe Lindley Cintra; e teriam

mudado de opinião, os «historiadores» e «intelectuais» desta terra

não quereriam ter um antepassado que se identificasse com

aqueles, que, de seguida vou levar ao Vosso conhecimento.

Certamente que encontrariam outro. O que era preciso, presumo

eu, seria encontrar alguém, não importa quem, logo que tivesse no

apelido algo idêntico a «Brandão», para que se festejasse, com

pompa e circunstância, um qualquer aniversário.

Mas não se julgue que é só na Crónica Geral de Espanha que tal se

encontra. Consulte-se, por exemplo, “HISTOIRE – DESCAPÉTIENS

– Rois de France, par M. Le Comte de Ségur – Paris

M.DCCC.XXIV” e verifiquem o que lá se encontra sobre os

Normandos: «Les Rois de France regrettaieent constamment la

perte d´une de leurs plus belles province, conquise sur eux par les

guerriers du Nord; ils regardaient les ducs de Normandie comme

des vassaux infidéles, comme des rivaux et voisins dangereux».

17

Agora, tirem as conclusões e digam-me, se o que vão ler é ou não

um bom contributo para que se estude, com seriedade, a história

desta Paróquia?...

O que vieram fazer os normandos à península?...

Consultando-se a “CRÓNICA GERAL DE ESPANHA DE 1344”,

edição crítica do texto português pelo Académico Correspondente,

Luís Filipe Lindley Cintra – Lisboa – 1954 (Academia Portuguesa de

História), Volume II, pgs.411/412; 422/423 – Volume III, pgs.108 a

110, fica-se a saber o que vou tentar, de uma maneira muito

simples, transcrever, mantendo o texto original, para melhor

compreensão dos interessados por estes assuntos:

VITÓRIA DE RAMIRO I SOBRE OS NORMANDOS

Capítulo CCLVII

Como el rei dom Ramiro venceu os Normaãos e matou todollos os altos homeens que se lhe

alçarom

«Andados quatro ãnos do reynado deste reiy dom Ramiro – e foy esto na era de oitocentos e sateenta e

dous annos e andava o anno da encarnaçon de Nosso Senhor Jhesu Cristo em oitocentos e viinte e

quatro annos e o da Luys, emperador de Roma e rey de França, em quatorze – chegarõ ao faro de

Galiza, con muytos navios, os Normaãos, que era huam gente muy crua, segundo conta a estória. E

aquella gente, que assi era crua, era pagãa, que nunca ainda tanta fora vista em Espanha toda.

Mas, contra Espanha, todallas as gentes do mundo se atrevyã a vur guerrear e entralla e assenhoreala e

fazer hy todo o que quiserom. Pero, aacima todos se acharom mal, ataa que se acabou ennos Godos. E

desi ficou ennos naturaaes, que foron depois guaanhandoa dos outros e espargeron muyto sangue por

ella, morrendo hi muytos altos homeens e de grande guisa e, doutros, muytos a maravilha, destes

enmiigos da fe; ca, do mar de Sancto Andre ataa o mar de Calez, nõ lhes ficou / enton senõ muy pouco.

E esto he no reynado do muy nobre rey dom Sancho, o quarto, na era de mil e trezentos e viinte e sete

annos.

E, ermpos esto, veerõ cõtra aquella gente dos Normaãos. E, logo que soube el rei dom Ramiro como

elles veherõ, sacou sua hoste muy grãde e foy lidar con aquellas gentes bravas; e prougue a Deus que

tam de ryjo ferio en elles que se vencerõ os Normaãos, pero que eram gente áspera e forte, segundo

conta a estória, e morreron hy muito deles. E assi foi ally beadante el rei dõ Ramiro que os venceu e os

dasbaratou; e mãdoulhes hi logo poer fogo aa frota e queimoulhes hi sateenta naves. E, daqueles

Normaãos, os que poderon scapar daquela queyma fogiron cõ alguans dessas naves pelo mar. E

guaanharon hi, el rey dõ Ramiro e os cristaãos, muytos esbulhos e muytas riquezas.

E, os Normaãos saydos da terra, tornousse el rey dõ Ramiro saão e salvo e com grande presa e muy

alegre, elle e toda sua hoste, pera seu logar. E aquellas naves dos Normaãos, que dalli scaparon, veherõ

come de cabo sobre Sevilha e combaterõna. E, como estava a cidade quebrantada da outra gente que

dissemos antes desto, nõ poderon acordar sobre si tam bem que se defendessem deles. E quebrantarom

18

os Normaãos a villa. E morrerõ hy muitos deles. E levaron ende os Normaãos grãnde prea, segundo

conta a estória, e tornaronsse per mar pera sua terra.

En quanto esto acõteceu, creceu a este rey dom Ramiro muy grãde contenda em sua terra. E foy per esta

guisa: huum cõde, que avia nome Alderado, e outro conde, que chamavam Privyolo, com sete filhos

seus,alçarõsse cõ sobervha e loucura contra este rey dõ Ramiro. E elle prendeuhos e sacou logo os

olhos ao Alderado e mãdou escabeçar a Priviolo e aaquelles sete seus filhos.

E en este anno choveu na terra de Gasconha huan ceveira que semelhava graãos de triigo, se nom

que era mais meudo ja quanto.»

Capítulo CCLXV

Do que fezeron os Normaãos en terra d´Espanha

«Andados nove annos do reynado deste rey dom Ordonho – e foi esto na era de oitocentos e sateenta e

três annos e andava entõ o anno da encarnaçõ de Nosso Senhor Jhesu Cristo em oitocentos e trinta e

seis ãnos – aportarõ em Espanha, em Aljazira, huam frota de gente de Normaãos, em que avia saseenta

naves bem bastecidas e guarnidas de gente e do que avyã mester. E aquella Aljazira he emnas marismas

d´Espanha em terra da Andaluzia. E sairon a terra e matarõ hy muytos mouros e queymarõ toda a terra

pella costeira do mar e levarõ das mesquitas muy grandes algos que hy acharom.

E, feito ally esto, passarom a terra d´Africa e aportarom aa marisma da terra de Mauritãna e filharõ a

cidade que chamava Natoze, que era dessa provencia, e matarom hy muitos mouros. E dalli forom

adeante e correrõ e estragarom todallas ilhas que ham nome Mayorgas e Mynorgas, Eviça e a

Frumeteira.

Depois esto, foronsse pelo mar a Grecia e correron a terra e guaanharon hi muy grande algo. E, dally,

tornaronsse pera / as marismas d´Espanha; e jouveon hy e teveron hy o inverno. E, na entrada do

veraão, foronsse pera sua terra.

Capítulo CCLXVI

Da morte del rei dom Ordonho

«Andados dez anos do reinado del rei dom Ordonho – e foi esto na era de oitocentos e sateenta e quatro

anos – adoeceo dos pees dhuam enfermydade que dizem na física pedraga. E pedraga he palavra

composta destas duas partes que dizem em grego por o que enna linguagem de castella chamam pee e

outra agros, enno grego outrossi, por o que em castellaão dizem contreitura ou contreito, onde pedagra

tanto quere dizer enna linguagem de Castella como enfermidade de contreitura das maãos ou contreitura

dos pees. E desta enfermidade adoeceo el rei dom Ordonho. E morreo em Ovedo e enterrarõno hi muy

honradamente na igreja de Sancta Maria. A sua alma reine com Deus, ca mui boõ rei foi.»

Capítulo CCCLXIII

Como huans gentes dos Normaãos veherom a Espanha e roubarom Galliza; e de como outrosy

morreu Abdenaamer, rey de Cordova.

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«Conta aqui a estorya que, andados dous ãnos do reynado deste rey dom Ramiro de Leom, que

Guderedo, rey dos Normaãos, cõ grande hoste, em frota de muytos navyos, arribarõ em Galiza, que he

em fundo d´Espanha. E sayrõ em terra e entrarõ per ella, estragandoa e danando quanto achava, ca lhes

nõ ficava as poboas meyores nem as villas mayores, que todo nõ tomarõ e destroy / rõ. E fazer grandes

dampnos arredor de Santiago, que nõ acharom quem a eles saysse nem lhes fezesse aetorvo; e matarõ

hy entom dom Sistiando, arcebispo de Sanctiago. E correrõ toda a terra atas o mõte que chamã Zebreyro,

que nõ acharõ estorvo nem huum em essa terra. E esto durou bem huum ãno, assy como conta a

estorya.

E, em esse ãno, morreu Abdenaamer, rey de Cordova, e reynou empos elle seu filho Alahatã treze ãnos e

dous meses. E aquelle Alahatam chamatom per outro nome Alahazubible, que quer tanto dizer em

linguagem de Castella come: «homem que se defende de Deus». E bem semelhava que aquelle rey se

defendya com Deus, ca achou o reyno de Cordova muy bem apostado e toda a terra muy em paz e muy

assessegada e sem todo buliço e mantevea o filho em aquella maneira que a mãteve o padre. E esto lhe

durou, segundo conta a estorya, em todo o tempo que elle reynou. E nem ouve mester de fazer batalhas

nem por que husar de feito d´armas.

E, em este ãno, morreu o papa Estevõ e posserõ em seu logar Martinho, o segundo, e comprironse cõ

este cento e vinte e nove apostolligos.

Mas agora leixaremos estas razões e tornemos ao feito dos Normaãos.»

Capítulo CCCLXIV

Como o conde dom Gonçallo Sanchez de Galiza foy lidar com os Normaãos e os venceu e desfez

todo seu feito, matandoos todos, e queymou as suas naves.

«Conta a estorya que, passadas estas cousas que ditas avemos e andados três ãnos do reynado del rey

dom Ramyro – e foy esto enna era de nocentos e sateenta e sete ãnos e o anno da encarnaçom de

Nosso Senhor Jhesu Cristo em novecentos e dez e nove – aconteceu assi que aquella companha dos

Normaãos, despois / que ouverõ corruda e roubada toda a terra e feito hy sem guysa quanto quiserõ,

querendosse eles já tornar a suas naves cõ muy grandes gaãças e muytos cristãos que levava cativos

pera sua terra, sayu a eles aquelle conde dom Gonçallo Sanchez, a provar se poderya deles aver alguam

vingança de tanto mal como avyam feito enna terra dos cristãos.

E foy a eles muy atrevudamente, chamando o nome de Deus e do apostollo Santiago; e, assy chegou,

avolveo a lide fortemente, ferindoos muy de ryjo, e lidou cõ eles. E, com a mercee de Deus e do apostollo

Santiago, cuja egreja eles quebrantarõ e roubarom, venceuhos e desbaratouhos, de guisa que todos hy

morrerõ com seu rey. Assi que, de muy grande gente que eles eram, nõ ficou quem arma podesse tomar

contra eles nem fazerlhes nem huum dãpno, ca todos erã mortos os demais deles, como dito he; e os

outros que focarõ fotõ cativos e presos e todo seu feito desbaratado e destruydo.

E, feito esto em esta guisa que dito he, aquelle conde dom Gõçallo Sãchez foi logo e queimoulhes

todallas naves onde estava na ribeira do mar..»

Termino este artigo com um adágio popular tão em uso, naquela época, em Terras Galegas,

sem contudo deixar expresso que os Normandos invadiram e saquearam a Galiza, por diversas

vezes, desde os anos de 968 / 970 até 1111 ou 1112, em que Sigurd (1108) invade e saqueia

toda a Galiza e toda a costa ocidental até Lisboa.

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A Galiza foi o último território da Europa que conseguiu sacudir os normandos; só desde o

século XI / XII, que o litoral atlântico se viu livre das incursões dos piratas, todavia, ainda em

1152, a Galiza vira as suas terras pisadas por um número considerável de normandos debaixo

do mando do intrépido Ronald.

Enquanto tal sucedia num Reino ao qual estávamos subordinados, a nossa Paróquia de São

Cipriano de Paços de Brandão, arranjava um «normando» para em 1095 dar nome a esta terra,

segundo, claro, o que vem expresso nos “900 Anos de Paços de Brandão” !!!

«DEL FUROR DE LOS NORMANDOS, LIBRANOS SEÑOR»

«A FURORE NORMANORUM, LIBERA NOS DOMINE».

21

OS BRANDÕES

I

INTRODUÇÃO

Em artigos anteriores dediquei-me a explanar assuntos, que de qualquer

maneira nos ajudam a compreender melhor as origens desta Paróquia de São

Cipriano de Paços de Brandão. Embora no que se relaciona com São Salvador

de Grijó, concretamente no “Livro das Campainhas, e aos Fidalgos Naturais de

Grijó, tivesse abordado os que usavam no seu nome “BRANDÃO”, vou tentar

mais uma vez, deixar transcritas, algumas notas acerca deste apelido ou nome,

já em uso nos séculos X e XI.

Porque na nossa Paróquia o assunto teve um tratamento que muito deixa a

desejar, principalmente se for analisado através dos conceitos a que a História

nos obriga, leva-me, e nunca é demais relembrar, a introduzir este artigo com a

divulgação de documentos da “DIPLOMATA ET CHARTAE”, em que se pode

verificar que o ano de 1095 seria de todo improvável para que o Conde D.

Henrique fizesse qualquer tipo de transacção, a favor de um fidalgo ou de uma,

instituição religiosa, primeiro, sem que tal ficasse registado e avalisado pelo

seu primo Raimundo em representação do sogro de ambos, Afonso; segundo,,

porque desde o ano de 1094 até final de 1096, foi Raimundo e Urraca, que em

representação de Afonso, validavam tais actos. Não obstante, ainda em 1097

aparece só o «Rex Adefonsi», pelo menos em um documento, a validar tais

actos, e só a partir deste ano de 1097 é que se encontra Henrique e Teresa, a

efectuá-lo, ainda em representação de Afonso.

Julgo que a prova documental, que aqui vou apresentar, sirva, de uma vez por

todas, para justificar a razão pela qual tenho procurado, que se altere o que se

tomou por verdadeiro, e, que induz o leitor num tremendo erro histórico, e que

as entidades institucionais, desta Paróquia, resolvam proceder às respectivas

rectificações, para que quando se forem consultar «sites» ou outros meios de

comunicação, em que tal está expresso, o leitor não encontre coisas de tal

maneira inaceitáveis, como o ano de 1095, como vem referido nos “900 Anos

de P.B.”, e saiba da verdade acerca do fidalgo ou fidalgos, que desde pelo

menos o século X, já usavam no seu nome ou apelido,«Brandon», «Brandiaz»,

etc., e que deram origem ao «Brandão».

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II

FERNANDO BRANDÃO

A primeira questão que se coloca é a de se saber a ascendência de um tal

«FERNÃNDUS BRÃDIAZ», que confirma documento do Mosteiro de Lorvão em

1131, que se anexa:

40

Este Fernandus Brandiaz, que o Pde.Correia, em os 900 Anos de P.B. coloca

como 1º donatário desta freguesia de Paços de Brandão, vai ser objecto, neste

artigo, de um tratamento muito especial, passando depois às origens dos

Brandões em terras que se vieram a denominar por Condado Portucalense.

41

Veja-se como se refere «Frei.António Brandão» na «Monarchia Lusitana» aos

Brandões :

42

Passemos, de seguida, ao que nos dizem, sobre o mesmo Fernando Brandão,

os Nobiliários:

43

ARCHIVO HERALDICO-GENEALOGICO - visconde de Sanches de baena

BRANDÃO – Há sido vulgarmente julgada esta família como oriunda de

Inglaterra; porém de uns títulos conservados entre papeis que fora do padre fr.

José da Cruz, reformador do Cartório da Nobreza, consta ser a mesma família

originária da Normandia, de onde passaram a Portugal com o conde D.

Henrique dois irmãos chamados um Charles ou Carlos Brandão, e o segundo

Fernão Brandão, que viveram junto ao mosteiro de Grijó, em umas casas que

depois foram cognominadas com o nome de paço dos Brandões, e jazem os

ditos irmãos sepultados no mesmo mosteiro, tendo na sepultura um letreiro

latino, que vertido em português diz: Aqui jazem os cavaleiros Brandões. Não

consta que o primeiro tivesse descendentes, porém do segundo são tantos,

quantos são os que hoje se apelidam, Brandões em Lisboa, Porto, Évora,

Coimbra, Castelo Branco, Viana, e outras muitas terras onde se estenderam.

As suas armas estão no livro da armaria da Torre do Tombo, e são: em campo

azul cinco brandões acesos de oiro, postos em santor; timbre três dos referidos

brandões atados em roquete, com uma fita azul.»

Ainda se refere aos Brandões de Duarte Brandão, de João Brandão Sanchez,

e, aos de Buarcos, que procedem de Duarte Brandão, contudo só nos vamos

dedicar aos referenciados em primeiro lugar.

PEDATURA LUSITANA – CRISTÓVÃO ALÃO DE MORAIS

TÍTULO DE BRANDÕES

O Conde D. Pedro no seu livro não faz título particular dos Brandões, e só fala

neles por razão de algumas mulheres com quem casaram: e diz que Mayor

Roiz Durão filha de Ruy Diaz Durão e neta de Diogo Gil valente o que morreu

na batalha de Ourique casara com Garcia Miz. Brandão e houveram Pº. Garcia

= João Garcia = Fernão Garcia, e Gil Garcia que todos foram cavaleiros de

uma lança = Diz mais o Conde D. Pedro que D. Enxamea Diaz filha do mesmo

Diogo Gls. Valente casara com Fr.do Gls. Cavaleiro da Terra de Sousa, e

houvera a D. Thereza mulher de Martim Brandão o Velho.

«Querem alguns que os Brandões tenham sua origem de Inglaterra, aonde há

poucos tempos viveu Carlos Brandão Duque de Suffloc, que casou com Maria

filha de Henrique 7º daquela coroa…»

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NOBILIÁRIO DE FAMILIAS DE PORTUGAL – FELGUEIRAS GAYO

Felgueiras Gayo, começa por nos apresentar no título de BRANDOENS, um

primeiro capítulo sobre os Brandoins antigos, como se segue:

Cap. 1º

N. 1 – GRACIA MARTINS BRANDÃO – CASOU COM d. Mayor Rz de urro

filha de Ruy Dias de urro e D. Tereja Fernandes (Conde D. Pedro ttº 44 fls 270)

Filhos:

Pedro Garcia = João Garcia = Fernão Garcia = Gil Garcia (todos

Cavaleiros de uma lança e pouca fazenda).

Cap. 2º

N 1 – MARTIM BRANDÃO (Conde D. Pº. ttº 44 fls 276) que pode ser o que vai

§ 1 N 2 foi chamado o velho casado com D. Tareja Fernandes filha de Fernão

Glz Cavaleiro da terra de Sousa, e sua mulher D. Examea Dias a que «morreo»

a Bespa filha de Diogo Glz no § 32 dos Freitas c. g. ttº de Freitas § 32 N 3.

Cap. 3º

N - MARTIM BRANDÃO (Conde D. Pº ttº 44 fl 270) que igualmente pode ser

o dº § 1 N 2 casou com D. Berengeira Dias filha de Diogo Gil do Avellal no ttº

de Avelares § 1 N------ c.g.

Cap. 4º

N 1 – PEDRO MARTINS BRANDÃO (Conde D. Pº ttº 44 fls 270) casou com D.

Urraca Pires filha de Pedro Bool, e sua mulher Sancha Rz filha de Ruy Gomes

Colmeiro, e sua mulher D. Urraca Fernandes filha de Fernão Glz da Azambuja

ttº de Azambujas § 1.

BRANDOENS

N 1 – o Primeiro de que temos notícia é Carelos Brandão que passou a este

Reino no tempo do Conde Henrique e jaz enterrado no Mosteiro de Grijó:

tomou o Apelido de Brandão por assistir no Passo de Brandão: era o dº

Carelos Brandão Fidalgo Inglês.

Filho:- Martim Brandão

N 2 – MARTIM BRANDÃO, filho de Carelos Brandão N 1.

Filho: Fernão Martins Brandão

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N 3 – FERNÃO MARTINS BRANDÃO, filho de Martim Brandão N 2 foi Sr. Do

castelo de Arronches por mercê do Rei D. Pedro 1º, e Regedor de Évora e Aio

do Rei D. Fernando, parece faltar aqui alguma geração pela muita distância

que vai do Conde Henrique a D. Pº 1º que vão mais de 208 anos: deu o Rei D.

Pedro certas herdades em Montemor-o-Novo e, Morgado a que chamarão a

Silveira.

Filho: Lopo Fernandes Brandão.

RECORDAR – 900 ANOS DE PAÇOS DE BRANDÃO – PADRE

JOAQUIM CORREIA DA ROCHA

Porque se trata da única Monografia publicada sobre Paços de Brandão, não

deixa de ser curioso o que lá se encontra, página 134, diz-nos o seguinte:

«No campo de S. Mamede, não longe do Castelo de Guimarães, a batalha foi

vitoriosa, dada a presença dos cavaleiros da Terra de Sta. Maria. Entre eles, estava o

Nobre Fernando Brandão. O dia I de Portugal, nesse 24 de Junho de 1128, foi

comemorado condignamente, aqui na Torre com fachos luminosos, e, no torreiro

frente ao palácio, com torneio digno de registo. Mas talvez seja oportuno transcrever

as conclusões a que chegou MANSO DE LIMA (Jacinto Leitão).: “Os Brandões vieram

da Normandia, o que se prova por certas semelhanças entre as armas dos Brandons

normandos e dos Brandões”. Isto se lê em Famílias de Portugal, Tomo VII…»

«Os Brandões vieram da Normandia – e não da Inglaterra (os Brandons de Suflok) ou

da Irlanda (os Brendan) – o que se prova por certas semelhanças entre as armas dos

Brandons normandos e dos Brandões.

Fernão Brandão passou a Portugal com seu irmão Carlos Brandão no tempo do

Conde D. Henrique. Em Junho de 1131 aparece como testemunha num documento de

nomeação feita por Paio Gonçalves ao Mosteiro de Lorvão, documento este que é

citado na Monarquia Lusitana.

Carlos Brandão viveu em Rio meão, e Manso de Lima pouco mais acrescenta sobre

ele. Fernão Brandão casou e teve dois filhos: Martims Fernandes Brandão, que foi

Alcaide-Mor de Évora no tempo de D. Sancho I, casou com D. Sancha Pais e teve

descendência; e Pedro Fernandes Brandão.»

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Dictionaire – historique et héraldique – de la noblesse

française - par : d. mailhol –( paris 1896)-Tome second

Em face daquilo que os nossos estudiosos em heráldica e nobiliarquia,

principalmente dos séculos XVIII e XIX, nos dizem sobre as origens dos

Brandões, resolvi consultar uma das melhores obras, de igual período, editadas

em França, para saber se haveria alguma referência a algum nobre, que

usasse no seu apelido ou nome, a denominação de «BLANDON». Tal apelido

ou nome não aparece referenciado, contudo denominações como «Brande»,

«Brandt» ou «Brandin» são descritas na obra consultada. É pois com a

transcrição dessas referências, que vou deixar ao dispor do leitor deste artigo,

para que confronte o que lá se encontra com aquilo que os nossos «cronistas»

nos dizem.

BRANDE – Família nobre de origem belga, residente em França – Século XIX.

«Famille noble d´origine belge, résidente en France..»

«Armes: Ecartelé: aux 1 et 4, d´argent fretté de sable: aux 2 et 3, d´hermine à deux

fasces d´azur.»

«Devise: Spes in Deo»

REPRESENTAN ACTUEL:

«BRANDE (Hector-Marie-Louis ) – reconnu comme noble en France avec les titres de

messire et d´écuyer, par jugement du tribunal de 1er. Instance de Boulogne-sur-Mer du

21 avril 1891; marié á Marguerite-Armande-Hervin-Marie de Meautis, dont unne fille

unique: Mercédès-Yvonne-Marqguetite, née à Boulogne-sur-Mer le 22 Juillet 1881.

Residence: Paris, 14, rue de Thann; Versailles (en été), 1, rue de Solférino.

BRAND – Família originária dos Países Baixos, com existência em França

cerca de 1500.

«BRANDT – Originaire des Pays-Bas.

La fillation de cette famille remonte à Gérard de Brandt, seigneur de la

campe, qui épousa Anna de Vargelot dont il eut postérité; il existait vers 1500.

Au septiéme degré, nous trouvons Alexandre-François-Ignace de Brandt, chevalier,

seigneur de Marconne, Piequenhein, etc. Cornelle reforme du régiment Royal-Cravate,

il fut crée par le pape, comte palatin, patrice romain, et chevalier de l´Eperon d´or, à

cause de l´alliance de son pére avec l´illustre maison de Tolomey, originaire d´Italie; et

crée par lettres patentes du roi du mois de mars 1758, comte de Brandt: il èpousa , por

contrat passé à Arras le 2 septembre 1752, Jeannes-Catherine Mathon, dont il eut

plusieurs enfants.

ARMES: Bazur, à trois flammes d´argent, passees 2 et 1.»

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BRANDIN DE SAINT – LAURENS – Família originária da Normandia e

remonta ao século XV.

«Cette famille est originaire de Normandie et remonte au XVe. siécle.

Elle a donné plusieurs officier, un brigadier des gardes du corps mort en 1754; des

chevalliers de Saint-Louis, deux conseillers à la cour des aides et un conseiller au

parlement de Normandie.

Gustave Brandin de Saint-Laurens, fourrierdes logis du roi accompagna Charles X à

Cherbourg en 1830 et y reçut de lui la croix de Saint-Louis. Il a eu deux fils: Henri-

Aymé et Jean-Gaston. Le seul héritier du nom: Gustave Brandin de Saint-Laurens, fils

de Henri-Aymé, est mort sans avoir été marié.

Armes: Bazur à la flame d´argent accompagnée de trois molettes d´éperon de méme,

2 en chefe t 1 en pointe.

Supports: Deux chevaux.

Devise: Deo regique.»

FOUCHER DE BRANDOIS – Família nobre de Poitou, barões de Brandois, o

nome de Foucher é conhecido desde o século X.

«Famille noble du Poitou, divisée plusieurs branches: celle des seigneurs des

Herbiers, celle des seigneurs de Thénies, enfin celle des barons de Brandois, qui est

devenue l´ainée par l´extinction des autres.

Le nom du Foucher est connu dés le X siécle. Il y eut un Foucher qui partit pour la

primère croisade.

Cette famille a fourni plusieurs officiers des armées du roi, des chevaliers de l´ordre

militaire de Saint-Louis et de Saint-Michael.

Armes: De sable, au lion d´argent.»

Os brandões na Inglaterra (brandon, duke of suffolk)

Consultando-se diversos livros de Nobiliarquia Inglesa / Irlandesa, encontra-se

referenciado um tal Charles Brandon, Duke of Suffolk, que descendia de

Brandon, Duke of Suffolk, tendo esta família na origem William Brandon, no

século XV, desconhecendo-se a data do seu nascimento e origens.

O Charles Brandon, era uma personagem importante na coroa inglesa, basta

o título que ostenta, para se perceber tal. Foi casado com Maria, filha de

Henrique VII e viúva do rei de França, Luís XII.

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Esta família de “BRANDON” é de origem inglesa e não há registos de que

tenha passado à Península Ibérica.

DUARTE BRANDÃO – Segundo o que nos relata Felgueiras Gayo, no seu

“Nobiliário” – Tomo Sétimo, página 61, este Duarte Brandão «que era da

Alhandra como diz uma memória que vi e alguns fazem filho de Ruy Barba e

neto de Fernão Mz Alardo no ttº de barbas § 1 N 4 foi para Inglaterra fugindo a

seu Pai com Henrique Brandão onde dizendo ao Rei que era Hebreu se

baptizou e foi seu padrinho o Rei pelo que se chamou Duarte e tomou o apelido

de Brandão do dº Henrique Brandão que era embaixador da corte de Inglaterra

de que foi criado»,

De Inglaterra passou a Portugal no tempo de D. Afonso V, por quem foi

naturalizado em 1479, confirmado por D. João II em 1485 e por D. Manuel em

1497.

ARMAS: Em campo azul, dois dragões de oiro batalhantes com os pescoços e

rabos repassados armados de sanguinho .

TIMBRE: Os mesmos dragões, há quem diga que é meio cavalo- marinho.

D. João II deu-lhe o senhorio de Buarcos. As suas armas foram assinadas pelo

rei Inglês Duarte V, em memória de um desafio que Duarte Brandão teve e

venceu com um fidalgo Inglês, perante o mesmo rei, e pelos serviços que lhe

fizera na guerra contra França. Duarte Brandão foi cavaleiro da Jarreteira,

capitão das ilhas de Granache, e de tanta estima, que estando na comitiva do

rei de Inglaterra quando este se avistou com o de França, comeu com eles à

mesa.

.

49

III

OS BRANDÕES DE ORIGEM PORTUGUESA

BRANDILUNI – Documento referente à Igreja de Águas sanctas, é

testemunhado entre outros, por «anagildus brandiluni» - Dp.Ch. LVI , ano de

906

.

50

BRANDILIZ – Testamento referente ao «Monastéri Morariae», confirmado

por, Osório Brandiliz, geda brandiliz, odario brandiliz – Dp.Ch. LVI – 946

51

BRANDON – BLANDILA - Documento do Livro Preto da Sé de Coimbra

– Dp.Ch. XCIII – 967 – É a primeira vez em que é mencionado o nome

BRANDON e BLANDILA.

BLANDO – Livro das Doações do Mosteiro de Paço de Sousa. Confirmação

por «Trutesendo testi.Blando». Dp.Ch. CCXXVI – 1015

52

BRANDIA - «Karta de Tarouquela» - Confirmação por «Brandia test»,

referente ao Mosteiro de Grijó (Baio-Ferrado, Doc.128 de 1079, 12 Abril). –

Dp.Ch. DLXVI – 1079.

BRANDIRIGU – Documento referente ao Mosteiro de Arouca, em que nos

aparece como testemunha «Brandirigu test». Dp. Ch. DCCXII – 1088

53

FERNÃO BRANDON (1109 – 1131) – Em 1109, Documentos Medievais

Portugueses, t. III, doc. 324, aparece este «Brandon» referenciado em

Souselas (Coimbra) e em 1131 confirma documento do Mosteiro de Lorvão,

como já foi assinalado no cap.II. Não se encontram documentos que possam

demonstrar a sua origem Francesa, Normanda, Inglesa ou Irlandesa, e,

também se prova a inexistência de qualquer documento de que em 1094 ou

1095, o Conde D. Henrique lhe tivesse doado esta terra de Paços. Pelo

contrário a sua ascendência é bem «portuguesa», de fidalgos oriundos de

«Terras da Maia», como se pode comprovar, (por todos aqueles que se

interessem por estes assuntos), consultando o livro, OS BRANDÕES –

Origens e Varonia (938 – 1663), de M. Antonino Fernandes – Porto –

Novembro de 2007.(1)

(1) – Para os interessados em adquirem o livro, informo que o mesmo se

encontrava à venda na LIVRARIA DO GUARDA – MOR – LISBOA, através do

seu site da internet, Telefone: 213940716 às 3ª feiras, das 14,00 h às 17,00

horas. – FAX: 213940716

54

O LIVRO DAS CAMPAÍNHAS E OS FIDALGOS NATURAIS DO

MOSTEIRO DE GRIJÓ

“O LIVRO DAS CAMPAÍNHAS” – Códice da segunda metade do século

XIV- MOSTEIRO DE SÃO SALVADOR DE GRIJÓ

A primeira questão que se põe é o porquê este Códice, referente ao Mosteiro de São

Salvador de Grijó, ser conhecido por “LIVRO DAS CAMPAÍNHAS”?...As igrejas de que o

Prior e Cónegos de Grijó eram padroeiros, encontram-se assinaladas por pequenos

sinos desenhados nas margens do livro, dando assim origem à designação porque é

conhecido.

Foi Torquato de Sousa Soares que investigou a identidade e paradeiro do Livro das

Campaínhas, tendo-o encontrado no Arquivo Distrital do Porto. A sua transcrição

paleográfica foi efectuada por Jorge de Alarcão, publicada em 1986 pelo Gabinete de

História e Arqueologia de Vila Nova de Gaia.

Qual o contributo deste livro para a história da freguesia de S. Cipriano de Paços de

Brandão?...Antes que mais, convém relembrar que este Códice de Grijó se refere a

bens de que aquele Mosteiro era padroeiro, referente à segunda metade do século

XIV. O livro é uma acta de uma assembleia judiciária, reunida no Mosteiro em 29 de

Junho de 1365. Lá são referidos o rol de propriedades, rendas e foros do Mosteiro

nesta freguesia, bem como à indicação de fidalgos naturais que aqui possuíam bens.

Passemos pois à sua descrição:

Mandamento de Saa e de Paaçoo

Rio Maior

«A pobra e o moinho que traz Joham Dominguez da quatro libras e dous capoes.

Item Lourenço de Paaçoo traz dous cassaes em hum e da deles trigo pella do ieerado

treze quairas e son pella nova onze quaiiras e alqueire e segunda cinquo quairas pella

do eirado e son pella nova quatro quaiiras e da por vinho e por foros seiis libras e dous

soldos.

Item o cassal que traz Stevam Vicente da trigo oito quairas pella do eirado e faz pella

nova seiis quaiiras e dous alqueires e meio e segunda pella nova quatro quairas e por

vinho e por dinheiros de foros cinquo libras e meia e hua galinha.

55

Item o cassal da Portella da duas libras.

Item a cassaria que traz Lourenço da de trigo pella nova huum alqueire e meio.

Item o logar em que mora Domingos Lourenço da cinquo libras.

Item Domingos Antoninho do cassal em que mora da trigo pella do eirado onze

quaiiras e son pella nova oito quaiiras e três alqueires e de segunda pella nova quatro

quaiiras e por vinho e por foros de carnes de três libras e hua galinha.

Item Gonçallo Martinz da do cassal em que mora com huum moinho da trigo pella do

eirado doze quaiiras e son pella nova nove quaiiras e meia e segunda pella nova três

quairas e alqueire e por vinho e foros de carnes e pollo dicto moinho da sete libras e

cinquo soldos.

Item na dicta aldeia jazem huas cassarias hermas.

Item a eigreja de Paaçoo a meatade do padroado he do dicto moesteiro e da colheita

ao priol que he posto por seiis libras.

Soma trigo dous moiios e cinquo quairas. Soma segunda quinze quairas e alqueire.

Soma dinheiros trinta e sete libras e dez e sete soldos. E dous capoes e duas galinhas.»

ESTES SON OS NATURAES FIDALGOS QUE ORA O MOESTEIRO DE IGRIJOO HÁ QUE

ORA SON VYVOS

Joham Brandom e duas filhas.

Fernam Martinz sa irmaa.

Biringuella Diaz sua madre

É de assinalar que é a primeira vez que se encontram assinalados, como fidalgos

naturais de Grijó, personalidades que usam nos seus nomes o apelido de «Brandom»,

quem eram estas personalidades é um assunto que José Augusto P. de Sotto Mayor

Pizarro, em “OS PATRONOS DO MOSTEIRO DE GRIJÓ”, nos explica muito bem, como se

segue:

«JOÃO MARTINS BRANDÃO e FERNÃO MARTINS BRANDÃO eram filhos de Martim Brandão e

de BERENGÁRIA DIAS DO AVELAR. O Conde D. Pedro refere este casal afirmando que tiveram

filhos e filhas, não referindo porém os seus nomes. Quem fosse a mulher de João Martins ou o

nome dos seus filhos, é coisa que ignoramo».

«Dona BERENGÁRIA DIAS DO AVELAR, foi casada com Martim Brandão, e depois de enviuvar

casou com João Afonso de Sanir. O Conde D. Pedro afirma que do primeiro matrimónio houve

56

filhos e filhas, mas nós só conseguimos identificar dois, que são referidos no Livro das

Campaínhas:

João Martins, que segue:

Fernão Martins Brandão que foi alcaide do castelo de Arronches, por carta de 1 de Janeiro de

1363. Em 1369 foi-lhe coutada a herdade de vale da Arca, no termo de Montemor-o-Novo,

morando ele em Évora. É possível que tenha sido aio do Infante D. Fernando.

João Martins Brandão foi alcaide do castelo de Penamacor, por carta de 1362. Estava já

casado em 1351, com Leonor Esteves das Medas que era também natural de Grijó, juntamente

com seus irmãos e que não conseguimos entroncar na família patronal. Leonor esteves aparece

ainda em 1374, quando a 13 de Janeiro fez composição com o mosteiro de Paço de Sousa. Fez

testamento em 1387, acrescebtando-o em 1395 e nos dois favorecendo aquele mosteiro. No

testamento, para além de legados pios e certas obrigações de missas, pede para ser enterrada

junto a seu filho, Rui Brandão, fazendo ainda recomendações a sua filha, para que faça cumprir

as suas vontades. O Livro das Campaínhas omite o casamento referido, afirmando apanas a

naturalidade a João Brandão e duas filhas, para além do irmão e mãe. Do casamento com

Leonor Esteves nasceram:

RUI ANES BRANDÃO, talvez até já falecido em 1365, e que à data do testamento de sua mães,

estava sepultado com seu pai em Paços de Sousa.

BERENGÁRIA DIAS BRANDÃO.

N. (ANES) BRANDÃO.»

Em complemento ao que ficou exposto, devemos recordar o que o Conde D. Pedro, no

“LIVRO DE LINHAGENS”, nos diz sobre os fidalgos naturais de Grijó:

«E dona Moor Rodriguez d’Urróo foy casada com Garçia Martiins de Bramdom, e fez

em ella Pero Garçia, e Joham Garçia, e Fernam Garçia: e estes todos foram caualeiros

de huum escudo e de huma lança e nom de gram fazemda»

Voltando a José Pizarro, verificamos que a influência destes fidalgos, a nível local seria,

porventura, bem maior que a dos ricos-homens, geralmente fixados na corte e tendo

as suas terras administradas por dependentes de confiança. Estes cavaleiros-

escudeiros, os bens que detinham e que, provavelmente, administravam directamente

não deviam ser muito extensos, mas a sua influência a nível local, seria muito

considerável.

57

O MOSTEIRO DE SÃO SALVADOR DE GRIJÓ

A SUA HISTÓRIA

Na Vila de Grijó, pertencente ao Concelho de Vila Nova de Gaia, que na

Idade Média, pertencia às Terras de Santa Maria – Feira, existe o Mosteiro

de São Salvador de Grijó, cujo vasto território, se estendia,

principalmente, entre os rios Douro e Vouga, verificando-se a maior

concentração de propriedade, num raio de 10 Km.

A história do Mosteiro de Grijó, revela-se de uma importância bastante

acentuada para todos aqueles que se queiram inteirar, do que se escreveu

sobre as Terras de Santa Maria (Feira), e, no que nos toca, a nós

«brandoenses» ou «brandoeiros», habitantes ou naturais desta Terra de

Paços de Brandão, serve para uma melhor compreensão e estudo do

passado, em que as origens de um povo devem ser objecto de um

tratamento muito cuidado e especial, tendo-se em atenção que o que se

possa escrever sobre a história de um povo ou de uma simples localidade,

deve obedecer a muita clareza e rigor histórico.

58

Mosteiro de Grijó

C R O N O L O G I A

912 (?) – A Guterre e Ausindo Soares, é-lhes dado pelo seu irmão Nuno

Soares «O Velho», terreno de uma herdade sua, situada no lugar de

Murraceses, entre o Monte Pedroso e Sagitela, que tinha na Comarca da

Feira, onde fundam uma pequena igreja (Eclesiola).

922 – Os irmãos Guterres, e, porque se lhe juntaram outros Clérigos,

fundam, junto da igreja, um Convento, em que era Prelado, com título de

Abade, Guterre Soares.

1093 – A 3 de Novembro de 1093 (em alguns documentos é mencionada a

data de 3 de Outubro de 1093) o Bispo de Coimbra, D. Crecónio, vem

sagrar esta igreja, que é dedicada ao Salvador do Mundo. No mesmo dia,

Soeiro Fromarigues, perante o Bispo, ratificou publicamente a doação e

testamento de grandioso legado ao convento. Este Soeiro Fromarigues,

era casado com Elvira Nunes, pais dos irmãos Guterres (família Soares).

59

1093-1133 – Soeiro Fromarigues e sua mulher, Elvira Nunes, doam todas

as suas fazendas e o padroado das igrejas de Argoncilhe, Perosinho,

Cerzedo, Travanca da Bemposta, São Miguel de Travassô e Eyrol.

1128 – O Convento é coutado por D. Teresa.

1132 – Aderiu à Regra dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho.

1135 – A reformação realizada em Santa Cruz de Coimbra, por D.

Teotónio, foi seguida pelo Abade D. Paio Soares, do Mosteiro de Grijó,

recebendo como reformadores, D. João Peculiar e seu sobrinho D.Pedro

Rabaldiz, que chegaram em 21 de Novembro de 1135. D. Paio rejeitou o

governo do Mosteiro e o título de Abade, tendo o Bispo de Coimbra,

mandado eleger um prelado com título de prior, sendo o primeiro eleito

canonicamente, o padre D. Trutesindo.

1139 – Por couto de D. Afonso Henriques (11 de Janeiro de 1139), é

doado ao convento a Vila de Brito (S. Félix da Marinha).

1142 – Novamente, por couto de D. Afonso Henriques (13 de Julho de

1142) é doado Tarouquela (Vilar do Paraíso).

1220 – D. Sancho I, faz doação da Ermida de Nª Senhora de Vagos (Vagos-

Aveiro).

1245 – O Infante D. Rodrigo Sanches, filho natural do Rei D. Sancho I (da

relação amorosa que este Rei teve com D. Maria Pais «Ribeirinha»), vindo

mortalmente ferido, de um combate, morre às portas do convento. É

enterrado com todas as honras, em 7 de Julho de 1245.

60

(Pagela informativa do interior da Igreja do Mosteiro de Grijó)

A Morte do Infante D. Rodrigo Sanches

Referente às causas que levaram à morte do Infante D. Rodrigo Sanches,

cujo túmulo se encontra no Claustro do Mosteiro de Grijó, transcrevo o

que vem escrito na História de Portugal, Ed. Monumental, Direcção de

Damião Peres, Vol.II, pags. 243 a 245 :

«Ao infeliz Sancho II, atribuíam muitas das desgraças que assolavam o

Reino, acabaria por ser destituído e o reino entregue a seu irmão D.

Afonso III, “O Bolonhês”. Foi um momento de guerra civil entre partidários

do Rei e os que apoiavam Afonso “Conde de Bolonha”, é pois neste

cenário que se dá a Lide do Porto.

“O Conde de Bolonha” chegara a Lisboa nos últimos dias de 1245 ou nos

primeiros de 1246. É de Fevereiro o foral em que confirma ao concelho de

Lisboa todas as suas cartas e foros, «escritos como não escritos», em paga

do bom acolhimento que lhe tinham feito os munícipes; da sujeição e

obediência que haviam prestado “aos mandados apostólicos” e dele

61

Procurador do Reino, e com que se haviam oposto “aos inimigos da

fidelidade e da injustiça”.

A resistência manifestou-se nas terras do centro e norte do País, e o seu

núcleo principal estava em Coimbra, residência habitual da corte. O

homem mais representativo desse movimento de resistência, pela

audácia, pela turbulência e porque tudo podia na cúria régia, visto ser o

grande amigo, o valido do Rei, foi Martim Gil, o filho de Gil Vasques de

Soverosa e de Maria Aires de Fornelos, que fora amante de Sancho I. A

esse irrequieto rico-homem, e à sua influência perniciosa que ele exercia

no espírito do infeliz Sancho II, atribuíram os contemporâneos muitas

desgraças do reino. Fora ele o protogonista duma batalha que travara,

próximo de Gaia, entre dois bandos de poderosos senhores, e que,

passados anos, os velhos relembravam como um acontecimento que

grandemente impressionara o País – A LIDE DO PORTO . Nela, o bando de

Martim Gil tinha deixado mortos no campo os rico-homens Abril Peres,

senhor de Lumiares e tenente das Terras de Riba-Tâmega, e Rodrigo

Sanches, o bastardo de Sancho I, tio do Rei e tenente de Entre Douto e

Lima.

A Lide do Porto deu-se em 1245, meses antes da chegada do Bolonhês,

quando a conjura ia já certamente adiantada. Seria tal combate uma

daquelas guerras entre nobres, tão vulgares no tempo de Sancho II ? Seria,

como Herculano se inclina a supor, o primeiro acto, “a primeira

manifestação armada” da própria revolução que devia conduzir ao mando

supremo o Conde Bolonhês? Nesse pressuposto, Martim Gil de Soverosa

chefiaria já as forças do Rei, em oposição aos dois tenentes do norte, que

teriam prometido levantar aquelas províncias.

Rodrigo Sanches ficou sepultado no Mosteiro de Grijó, próximo do Porto.

E “é notável – diz Herculano numa nota – a esmola que o Conde de

Bolonha faz depois ao Mosteiro de Grijó por alma de Rodrigo Sanches. É

curioso na verdade que tenha perecido na famosa lide um tio do Rei

Sancho II, e que o chefe do bando que o matou fosse o valido desse Rei, e

continuasse a sê-lo, acompanhando-o depois na defesa desesperada da

coroa.»

62

Túmulo do Infante D. Rodrigo Sanches

1247 – Os cónegos, por acharem que o local era húmido e feio,

transferem o convento, um pouco mais para sul do actual .

1280 – D. Maria Pães, fez doação, do Padroado e mais fazendas, que tinha

na Vila de Maçãs de Dona Maria, Bispado de Coimbra.

1301 – A Infanta D. Constança Sanches, irmã do Infante D. Rodrigo

Sanches, doa ao Mosteiro, uma quinta que tinha em Aveleda, duas léguas

da Cidade do Porto para Norte, junto ao mar; assim como metade dos

direitos reais, que tinha nas Vilas de Sarzedas e Sovereira Fermosa, do

Bispado de Coimbra.

Em 1479, 1482 e 1483 – O Prior D. João Álvares era comendatário ou

administrador perpétuo dos, Mosteiro de Grijó e São Jorge de Coimbra.

1517 – Era Prior de Grijó, D. João, Bispo de Safim, provedor-mór do

Hospital Real de Todos os Santos, reitor da Universidade de Lisboa, e

Desembargo régio.

1536 – 1539 – O Prior D. Bento de Abrantes, a pretexto do local ser

insalubre, resolveu mudar novamente o Mosteiro, transferindo-o para a

Quinta de Quebrantões, em Vila Nova de Gaia. Nem todos os cónegos

63

estiveram de acordo com a mudança o que motivou a intervenção do

Papa Pio V.

1540 – A instituição da Congregação de Santa Cruz de Coimbra,

confirmada por bula do Papa Paulo III, de 26 de Fevereiro de 1540, foi

precedida da reforma do Mosteiro de Santa Cruz, cometida por D. João III

a Frei Brás de Barros, da Ordem de São Jerónimo e a Frei António de

Lisboa, com início a 13 de Outubro de 1527, no dia de São Geraldo

confessor. A esta reforma aderiram os priores de São Vicente de Fora de

Lisboa, e de São Salvador de Grijó.

1542 – 1546 – Processo de mudança do Mosteiro do lugar de Grijó, para

vila Nova de Gaia, para a Serra do Pilar, Mosteiro de Santo Agostinho da

Serra. O descontentamento de alguns cónegos vindos de Grijó, levou-os a

alcançar do Papa Pio V, uma bula de separação entre mosteiros antigo e

novo (Serra do Pilar), passada em 1566. Estabelecida que fossem dois

mosteiros distintos e que se dividissem as rendas.

1572 – O Prior D. Pedro do Salvador decidiu fazer nova igreja, com

largueza adequada. É a subsistente. O projecto para a nova igreja é da

autoria do arquitecto Francisco Velasques. As obras iniciaram-se em 1574.

A partir de 1581, a direcção das obras passa a ser da responsabilidade de

Gonçalo Vaz.

1612 – A conclusão da igreja ainda estava atrasada, mas as dependências

conventuais encontravam-se praticamente concluídas.

1626 – A igreja, concluída e benzida.

1770 – É emitido o breve de Clemente XIV e beneplácito régio de 6 de

Setembro de 1770, de que foi executor o Cardeal Cunha, em que Grijó foi

extinto com mais nove mosteiros da Congregação e seus bens anexados

ao Mosteiro de Mafra, para nele se desenvolverem os estudos.

1770 – Julga-se que foi este o ano em que foi vendido ao Desembargador

João Fernandes de Oliveira.

1792 – A Bula «Expositum nobis» concedida pelo Papa Pio VI, em 3 de

Abril, a instâncias da Rainha D. Maria I, foi executada por três sentenças

64

de D. José Maria de Melo, Bispo do Algarve e Inquisidor Geral, nomeado

Juiz Comissário e Delegado para proceder com todas as faculdades

apostólicas, recebendo também beneplácito régio. A primeira, dada em

Lisboa a 10 de Maio de 1792, mandou remover os Cónegos Regrantes do

Mosteiro de Mafra para outros mosteiros da sua Congregação,

restituindo-os aos religiosos da Província de Santa Maria da Arrábida, e

estabeleceu que a união e distribuição dos mosteiros extintos, cujas

rendas tinham estado unidas a Mafra, se fizesse em benefício dos que

continuassem a existir, restitui-lhes os mosteiros extintos de São Vicente

de Fora, de Grijó e provisionalmente o de Refóios de Lima, e aplicar os

rendimentos dos outros a usos pios.

1794 – Segunda sentença, dada a 1 de Julho; mandou distribuir e aplicar

os bens e rendimentos dos mosteiros extintos, que tinham estado unidos

ao extinto Mosteiro de Mafra, ou aplicados a outros fins.

1794 – A terceira sentença, dada a 24 de Dezembro, estabeleceu os

mosteiros que deviam constituir a Congregação dos Cónegos Regrantes de

Santo Agostinho: Santa Cruz de Coimbra, São Vicente de Fora de Lisboa,

Salvador de Grijó, Santo Agostinho da Serra, Santa Maria de Refóios de

Lima e o Colégio da Sapiência de Coimbra, restituídos “in integrum” ao

estado regular e conventual, com todos os bens, rendimentos, privilégios,

isentos e padroados de que eram possuidores ao tempo da sua extinção.

Estabeleceu o número prefixo de cónegos em cada um, num total de 230,

exceptuando os inválidos, bem como o número de conversos e as sanções

para os priores gerais infractores.

1795 – Execução da 3ª sentença, por ordem da Rainha, carta régia de 1 de

Janeiro e Prior Geral, comunicou-a à Congregação por carta patente

datada de 9 de Fevereiro desse ano.

1832 – Os cónegos D. Diogo da Assunção e D. Luis de Miranda Henriques,

moradores no extinto mosteiro, apresentaram-se, na cidade do Porto, à

chegada do Exército Libertador, onde permaneceram e foram agraciados

pelo Imperador do Brasil e Duque de Bragança.

1833 – A 27 de Agosto, os deputados da Comissão Administrativa dos

bens dos conventos extintos ou Comissão Administrativa dos conventos

65

abandonados, o abade António Manuel Lopes Vieira de Castro e Francisco

da Rocha Soares, na presença de Luís do Patrocínio de Nossa Senhora,

cónego regular de Santo Agostinho, do Juiz imediato do couto de Grijó, e

de outros elementos, procederam à descrição e inventário dos objectos

existentes no mosteiro, que incluía uma hospedaria, sendo escrivão,

Nicolau Joaquim Pereira, escriturário da Comissão.

Em 1833, o inventário do extinto Mosteiro refere três cartórios: o cartório

(cujos documentos transitaram depois, na sua maioria, para o Arquivo da

Torre do Tombo e para o Arquivo Distrital do Porto), o cartório eclesiástico

com documentos da freguesia de Grijó (com livros de visitação do

Mosteiro, registos de testamentos, audiências, e despesas eclesiásticas,

registos de termos de culpados, de ordens, de certidões de baptismo,

registo de baptismo, do crisma, de casamentos, de óbitos), e das

freguesias do Salvador de Perosinho, de São Mamede de Serzedo, de São

Martinho de Argoncilhe, de São Miguel de Travassô, e de Santa Eulália de

Eirol, e ainda o cartório do Juízo privativo do Mosteiro, contendo autos,

sentenças, execuções, penhoras. O inventário menciona ainda o dinheiro,

pratas e objectos, apreendidas nas imediações de Grijó, por pertencerem

ao Mosteiro, acondicionados em sis baús, três caixões e cinco embrulhos,

conduzidos em carros para o depósito geral do extinto Convento dos

Congregados do Porto. O auto de arrombamento foi realizado na igreja da

Congregação do Oratório do Porto, em 28 de Agosto de 1833, na presença

dos membros da Comissão Administrativa dos bens dos conventos

abandonados, em cujo inventário constam livros encadernados, papéis, e

maços contendo pergaminhos.

1834 – Extinção das Ordens e Congregações Religiosas.

1835 – João Monteiro da Fonseca e Manuel Alves Ramos Camelo,

empregado da comissão de extinção, procederam ao inventário do que

tinha ficado no Mosteiro sob a fiscalização do provedor do concelho de

Grijó, mencionando diversos papéis de pouca importância que ainda se

encontravam em gavetas de uma estante do cartório.

66

Mosteiro de Grijó - Claustros

67

Livro Preto de Grijó – Página 1ª (TTonline)

68

Livro Preto de Grijó – Página 2ª. (TTonline)

69

O Mosteiro do Salvador de Grijó, como foi descrito, era masculino,

situava-se na antiga Terra e Comarca da Feira. Aderiu à Ordem de Santo

Agostinho. Esteve sujeito à jurisdição ordinária do Porto. Aderiu à reforma

do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra e foi unido à Congregação do

mesmo nome.

70

Na Revista “O INSTITUTO”da Universidade de Coimbra, incerto nos vols.

XI, XII, XIII e XIV, foi publicado em 1864, sob o título de “Uma Chronica

Inedita”, por M. da C. Pereira Coutinho, referente a um manuscrito do

Mosteiro de S. Salvador de Grijó, que passo a transcrever na íntegra, com

algumas alterações ortográficas, que efectuei para o português actual.

UMA CHRONICA INEDITA

O manuscrito nº 640, conservado entre os muitos da Biblioteca da Universidade de

Coimbra, é um livro de 356 folhas, de marca grande, encadernação forte e antiga, de

boa letra, sempre do princípio até ao fim, da mesma pena. Depois da última folha

numerada (a 356) na volta da qual tem – Finis -, há mais quatro em branco sem

numeração; na quinta, também sem numeração, assim como as seguintes até ao fim,

começa o índex, que aparece não foi concluído, porque não passa além de

confirmações e doações, com o que ocupa seis páginas e mais duas linhas de outra,

continuando ainda algumas folhas em branco. Este livro tem no lombo em letras

douradas – Crónica do Mosteiro de Grijó - ; e dentro no frontespício lê-se o mesmo

título, porém mais desenvolvido, em que se declara que é a Crónica do Mosteiro de S.

Salvador de Grijó, e que é dividida em duas partes ou épocas principais, a primeira

desde a fundação do Mosteiro até à sua reformação; e a segunda é daqui em diante

até ao ano de 1630.

O escrito é anónimo. Não sabemos a causa por que, numa obra, outrora de tanto

merecimento, o autor quis ocultar o seu nome; seria por modéstia?...E este livro, que

parece ter sido propriedade do Convento de Grijó, por que voltas veio ele incorporar-se

com os manuscritos da Biblioteca de Universidade?... Não sabemos. É certo que é obra

de génio, no trabalho insano, e de profunda aplicação. O autor declara que a

empreendeu no ano de 1630; e que foi por obrigações que devia ao Mosteiro,

acrescentando - «que bem é tenha trabalho quem participa da honra, pello direyto

querer que estas duas cousas andem sempre junctas».

O autor revela vasta lição de escritores antigos tanto sagrados como profanos, e

alguma perícia em conhecimentos diplomáticos e paleográficos, predicados

indispensáveis para escrever uma longa história fundada quase exclusivamente em

documentos antiquíssimos.

Se não fora o receio de sermos acusados por abusar da paciência da maior parte dos

leitores, publicaríamos na sua íntegra, neste jornal, a crónica do Mosteiro de Grijó; mas

atendendo a que um estilo demasiadamente difuso, carregado com longas citações,

segundo a moda, nessa época, muito embora se compadecesse com o silencioso

71

descanso claustral, não se acomoda ao gosto de hoje, em que o espírito cubiçoso de

novidades abomina leituras estéreis, daremos apenas um conhecimento sinóptico do

contexto do manuscrito, transcrevendo todavia de teor alguns trechos em que por

ventura se possa encontrar alguma utilidade histórica tanto especial como geral.

Começa o autor por dar uma suscinta notícia do valor que nas datas dos nossos mais

antigos documentos tinham algumas letras do alfabeto para designarem, mil,

quinhentos, cinquenta…, fazendo também alguma explicação sobre o valor do X

cortado e não cortado, etc.

(Fotografia antiga do Portal do Mosteiro de Grijó)

Segue-se logo no verso da primeira folha – Declaração do intento que se pretende ter

nesta curiosidade. O discurso sob esta epígrafe é uma espécie de prólogo, em que o

autor menciona, como já dissemos, a causa da empresa, o agradecimento, e faz a

divisão sistemática e subdivisões da obra.

No verso de fl. 2 há uma breve exposição sobre a era de César, causas que houve para

os «hispanhoes» a adoptarem para a sua cronologia, diferença que há de anos entre

ela, e a do nascimento de Cristo, e quando em Portugal se deixou de contar por ela. É

suposto seja matéria, em que devam achar-se versados todos aqueles, que dedicam

algum tempo aos estudos da nossa arqueologia, não julgamos fora de propósito

oferecer aqui de teor este breve capítulo:

«De algumas antiguidades necessárias para se entender melhor o que nestes livros

se escrever.»

«As antiguidades que aqui nos pareceu declarar hão de ser: Era, Ano. E algumas

figuras, por onde os antigos faziam seus cômputos, mostrando logo que coisa seja Era

72

de Césa, ano de Cristo, da sua Encarnação e da sua Paixão, e quando cada uma de

estas coisas começou e acabou.

Dizemos melhores autores, que escreveram de antiguidade de «Hispanha», que

começaram os espanhóis 38 anos antes da nascença de Cristo, notar, e dar princípio a

suas escrituras, e instrumentos públicos com este nome da Era de César, deixando

desde então as outras contas e anotações de que usavam, e a razão foi (diz Garibay no

compêndio de história de «Hispanha» tom. 1º, liv. 6º, cap. 26; Morales e Fr. Bernardo

de Brito, cronista deste reino na sua Monarchia Lusitana, e outros) por ser este ano de

38 antes da vinda de Cristo, o que os espanhóis tiveram por primeiro e princípio de seu

império; e ser «Hispanha» na divisão do triumvirato imperada por Octaviano César, a

quem como pr+incipe seu quizeram, com isto respeitar e honrar os espanhóis. É

contudo grande dúvida entre os autores até que tempo durou em Espanha este modo

de contar; e deixadas, as várias opiniões que trazem, temos para nós que em Aragão

durou até o tempo de el-rei D. Pedro IV, ano de 1351, como diz Silva bo seu catálogo na

“lei de Hispanha” fl. 172; ou como parece no ano de 1354, e ano de 1358, como afirma

Garibay citado e Estaco nas antiguidades de Portugal, cap. 10, nº 7. Em Castela até o

de el-rei D. João o primeiro, que é o que foi vencido no campo de Aljubarrota,

mandando no ano de 1385, nas cortes que fazia em Segóvia, se usasse de ali por diante

do ano de Cristo, como tem para si Salazar liv. 3º, cap. 18, e Garibay citado. Em

Portugal se fez esta mudança em tempo de D. João I ano de Cristo de 1415, “discat na

lei de Hispanha” fl. 172 de 1422, como aponta a ordenação velha deste reino liv. 4º,

73

tit. 51, a que segue o ilustríssimo D. Rodrigo da Cunha, arcebispo que hoje é de Lisboa,

no catálogo que compôs dos bispos da Sé do Porto, 2ª. P., c.26, e Estaco citado, contra

Genebrardi que querfosse feita esta mudança em Portugal no ano de 1415.

De este modo se usa hoje entre os cristãos, por Cristo ser o que deu princípio à nossa

redenção com seu nascimento, não se usando em Portugal de Era desde o ano de 1422;

se não fosse por erro em que deram escrivães com mais vantagem, e os que

escreveram vizinhos ao mesmo ano. Porém, quando alguns papéis antigos se acharem

escritos com Era de César, saiba-se que é trinta e oito anos primeiro que o ano de

Cristo, como diz Garibay citado no liv. 9º, e 4º, Cunha, Fr. Bernardo de Brito na sua

“Monarchia Luzitana”, Ambrósio de Morales, e a torrente dos historiadores.

Querem alguns que a conta da Encarnação de Cristo começará no ano de 527, e tem

para si Jepes na crónica de S. Bento centúria 1ª, que do ano de 550 começaram alguns

a contar o ano do Nascimento de Cristo, e outros de sua paixão; porém o que deixamos

neste parágrafo assentado parece o mais certo, e conforme a ele se há-de seguir no

computo que fizemos quando nestes livros falámos da era de César.

A fl 4, depois de acabar o parágrafo precedente há outro que o autor expõe os valores

que algumas letras do alfabeto tinham nas datas dos nossos antigos diplomas, tendo

procurado imitar à pena essas letras ou caracteres originais.

A fl 5 há outro parágrafo com a numeração de 3º e com esta epígrafe:

«Dos livros que no archivo do mosteiro de Grijó há, com que se allega no que se

disser adiante.»

§ 3º.

Além dos pergaminhos soltos que há no arquivo do Mosteiro de Grijó, também há

alguns livros antigos e modernos, em que estão escritas muitas doações, privilégios, e

outras coisa, dos quais há um que se chama – Livro Baio-ferrado, que é de meia folha,

de pergaminho, com tábua por fora, que fica sendo um reportório, ou registo de

breves, que os sumos Pontífices passaram a este mosteiro, de cartas de reis, e doações

que muitos fiéis lhe fizeram.

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(Fotografia antiga – Vista Parcial do Mosteiro de Grijó)

Outro livro pequeno também escrito em pergaminho, que se chama Tombo do

Convento, com tábuas por fora, onde estão alguns trslados autênticos de coisas que

neste mosteiro sucederam.

Tem mais um livro de quarto, que é o treslado autêntico de um tombo que el-rei D.

Pedro mandou fazer por Ivo Giraldes procurador da comarca da Beira de todas as

propriedades, foros, rendas e padroados que este mosteiro tinha, no ano de 1565 (Aqui

de certo houve lapso do amanuense; ou o rei que mandou fazer o tombo não foi

D.Pedro, ou se o foi, então o ano deve ser o de 1365); e dos senhores que nele tinham

comedorias.

Há mais um livro grande que se chama Livro Preto, e é registo de algumas doações, e

cartas de reis, passadas a este mosteiro, inquirições, e outras coisas tiradas da Torre do

Tombo, tudo passado em pública forma, com licença do mesmo rei no ano de mil

quatrocentos e cinquenta e dois (Esta data que no original é alfabética, se é a

verdadeira, corresponde ao reinado de D. Afonso V), e tem selo pendente; e é este livro

de grande autoridade.

Além dos acima há três cadernos em que estão alguns treslados autênticos de alguns

privilégios. É um livro grande antigo de pergaminho que se chama – Tombo que

mandou fazer o Prior D. Affonso Estevens – em que está escrita toda a fazenda deste

mosteiro, com o que cada uma pagava; e algumas memórias que deviam ser escritas

pelos cónegos que então viviam.

Estes são os livros donde tirámos o que ao diante dizemos, e com quem alegámos, que

os escrupelosos poderão ver nos lugares qie apontamos; como também nos demais

papéis conforme os assinalámos, sacos e números, que advertiremos. E posto que

neste cartório estejam alguns pergaminhos antigos, em os quais as firmas são todas da

75

mesma letra, nem por isso deixam de ser originais, porque antigamente não punham

seu sinal, os que confirmavam, e eram testemunhas, senão o escrivão que fazia a

escritura assinava por todos, como deixou advertido o grande indagador de

antiguidade o padre Fr. António Brandão na sua Monarchia Lusitana I, cap. 5º, fl. 129.

Estão muitas escrituras antigas escritas em latim, que era o costume daqueles tempos,

que se veio a perder com o uso; e em Castela por lei particular, em que mandou el-rei

D. Affonso décimo de nome, que se chamava o sábio, por de facto o ser, no ano de

1259, que todas as escrituras reais e mais privilégios, que era costume escreverem-se

em latim, se escrevessem de ali por diante em língua castelhana, como deixa advertido

o catálogo real de Hispanha fl. 143.

A fl. 6 começa o 1. 1º, com o título de – Livro 1º. Da Fundação do Mosteiro de Grijó –

segue-se logo um pequeno exórdio, e no verso da folha tem a epígrafe de uma sub-

divisão.

PRIMEIRA PARTE DO PRIMEIRO LIVRO.

DO NOME QUE O MOSTEIRO DE GRIJÓ TEVE E HOJE CONSERVA

Cap. 1º

De aqui até folhas 8 emprega-se o autor na indagação histórica do vocábulo Grijó,

mostrando por documentos originais do respectivo cartório que o primitivo nome do

loca do mosteiro e do mesmo mosteiro era, no latim bárbaro, o de eglesiola,

ecclesiola, e de S. Salvador de Ecclesiola, egrejinha nome que pelo correr dos tempos

se converteu no de egreijó, e de que Grijó, pelo qual era conhecido nos tempos

modernos. Ainda a fl. 8 começa o cap. 2º com a epígrafe de

(Claustros – Fotografia antiga)

QUEM FUNDOU O MOSTEIRO DE GRIJÓ

76

De aqui até fl. 16 trata da matéria indicada nesta epígrafe, e compreende os cap. 2º, 3º

e 4º e principia o escritor este capítulo dizendo – Não é pequena desgraça não se saber

o autor de qualquer obra gloriosa, heróica, e magnífica, para por ela se lhe dar justo

louvor, que é o prémio devido à virtude, e com que espertam outros a se empregarem

em semelhantes empresas como disse o Espírito Santo - «Virtus laudata crescit».

Vai depois disto relatando as opiniões de diversos autores acerca dos fundadores do

mosteiro, e prova contra a opinião de aqueles, à vista de uma carta de doação

existente no arquivo do mosteiro com data da era de 960, que ele tinha sido fundado

(ano de 922) por Guterro Abbade e seu irmão Ausindo.

Conclui o cap. 4º por confessar que Manuel de Severim Faria no disc. 4º e Pennoto na

Hist.dos Coneg. Regul. L. 2º cap. 32, nº 5, são conformes com este documento. Porém

que o mosteiro já se achava fundado quando se fez aquela doação, porque nela

aparecem já frades figurando como testemunhas.

Sendo verdadeiro o diploma da fundação, como acreditamos que é, não obstante

alguns defeitos que encontrámos na cópia, sem sabermos se devemos fazer cargo deles

a inópia de conhecimento paleográfico da parte do cronista, se à ignorância e leveza

do copista, porque dos erros deste abunda o manuscrito, é certo que os dois irmãos

Guterro Abba e Ausindo fundaran uma igreja ou antes capela na sua quinta chamada

Egrejinha «fundabimus Eglesia in villa, quo (sic.) vocitant Eglesiola»; e lhe dotaram

todos os bens que possuíam, quer fossem herdados de seus antepassados, quer de

outros parentes, ou havidos por compra - «de avolenga, sive et parentella, sive et de

comparandella», para sustentação dos irmãos e irmãs, que ali habitarem e

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observarem a vida monacal…«pró tollerantia fratruum et sororum qui in ipso loco

habitantes fuerint, et vitam monasticam tenuerint…»

Também na mesma carta de doação mencionaram algumas alfaias, paramentos, e

outros objectos de serviço divino e eclesiástico; sem esquecer um sino de metal, «et

signo medalis».

É patente deste diploma que os dois irmãos fundadores eram homens ricos; dominados

do espírito de piedade, edificaram em propriedade sua, e á sua custa, uma capela ou

ermida, talvez com estabelecimentos contíguos, acomodados, para habitação das

pessoas, que ali fossem admitidas, para se dedicarem à vida religiosa.

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Assim começaram a maior parte dos mosteiros de Portugal de instituição mais remota.

Associavam-se alguns indivíduos para viverem em comum empregados no serviço de

Deus, oração, pregação e instrução dos povos, sem muitas vezes aparecer nos

documentos declaração alguma de instituto então conhecido, a cuja regra os

associados se obrigassem. Depois de mais desenvolvidos adoptaram os institutos de

algum dos patriarcas das ordens religiosas mais antigas, entre nós S. Bento e S.

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Agostinho, e organisaram as suas instituições especiais, segundo a disciplina de algum

daqueles santos, para se governarem.

Estas pequenas fundações assim irregulares e isoladas, feitas por actos inteiramente

livres dos primeiros fundadores, foram o embrião de algumas casas religiosas, que no

futuro chegaram a ser grandes potentados, como as de Bentos e Cruzios.

Os devotos fundadores do Mosteiro de Grijó, nem dizem que tinham escolhido para si,

nem obrigam os que lhe sucederam, naquele estabelecimento religioso, a obedecer a

instituto algum; apenas declaram que fundaram aquela igreja «in honorem sancti

salvatoris domini nostri Jesu Chrisri»; dando-lhe assim a invocação de S. Salvador; e,

como já dissemos, dotando-lhe todos os bens para os irmãos e irmãs (talvez frades e

freiras) que aí guardassem a vida monástica.

O cronista deve declarar mais adiante, quando os habitantes deste pequeno

estabelecimento professaram a regra de Santo Agostinho, e se fizeram cónegos

regrantes.

Os cap. 5º, 6º e 7º, que decorrem desde fl. 16 a 22 v., são empregados pelo autor numa

enfadonha investigação da genealogia de Sueiro Fromarigues e sua mulher Elvira

Nunes benfeitores do mosteiro, logo depois dos fundadores.

É admirável como o autor (mas era mania de todos os escritores deste género) em

tempos tão obscuros como remotos, pretende, por hipóteses figuradas a seu modo,

80

encontrar fio genealógico para nos dizer que Sueiro Fromarigues e sua mulher eram

pessoas muito fidalgas, e poderosas naquele tempo; levando o seu entusiasmo pela

exaltação destes benfeitores á inépcia de sonhar em o nome de Elvira uma sílaba

ilustre!! Vamos a ver a habilidade que o cronista de Grijó desenvolveu na

decomposição do nome daquela senhora para fazer esta notável e engenhosa

descoberta.

Os espanhóis e os portugueses, diz o cronista, costumam empregar o artigo – El para

indicar grandeza e majestade, por isso dizem – El-rei - , e não o rei como fazem os

franceses.

O nome Elvira vem escrito no documento assim – Gelvira – que é como antigamente se

escrevia; mas tirando-lhe o G, resta o el, que, anteposto a vira, forma Elvira. E assim

(palavras do autor) do nome=vir, que significa homem, derivaram, vira, que quer dizer

mulher: Logo, Elvira era a senhora mais poderosa, instruída, e ilustre do seu tempo !!

Por este modo o nome de Elvira exprimia em breve monograma o preclaro

merecimento desta excelente senhora. Então não é isto um engenhoso sofisma do

talentoso cronista ?!!

As doações que Sueiro, ou Soeiro Fromarigues e Elvira Nines fizeram ao mosteiro,

foram esta na era de 1170 (ano de 1132) de todas as igrejas que tinham entre Douro e

Águeda, de muitos prédios no lugar de Nogueira e um casal junto ao mosteiro, mas

não transcreveu a carta de doação; e aquele na de 1131 (ano de 1093) das porções que

tinha comprado da dita Igreja de Grijó, que eram metade, e uma terça parte de outra

metade com suas adjenciais e passaes, com as alfaias e utensílios sagrados e profanos,

repetidos quase nominalmente como na já referida fundação e doação, que no ano de

922 fizeram os dois irmãos Guterro, e Aizindo; e de todos mais bens que tinha por

outras partes, que vêm apontados, na doação transcrita de teor de fl. 9 vº a 10 vº.

Vê-se desta carta de doação que Sueiro Fromarigues reuniu ao acto de benfeitor do

mosteiro toda a grandeza de uma esplêndida solenidade, porque a convite dele foi o

bispo de Coimbra D. Cresconio fazer a dedicação da igreja, e na presença deeste

prelado, e de grande concurso de pessoas de ambos os sexos, que vieram tomar parte

na festividade, «in magno concilio virorum et mulierum qui ad gaudium dedicationis

convenerunt», publicou a doação e fez mencionar na escritura dela um grosso numero

de testemunhas a última das quais é – Cresconius Episcopus.

Poderá alguém impugnar a existência dos dois documentos acima apontados, as

doações, a 1ª de Guterro Abba, a 2ª de Soeiro Fromarigues, não obstante o cronista

copiá-las integralmente; e com efeito um leve reparo dá lugar à impugnação, ou pelo

menos a conceder que só uma delas fosse verdadeira; pois se os dois irmãos

fundadores, como já dissemos, doaram a sua igreja com todos os bens, que possuíam,

alfaias, utensílios, etc., para o culto religioso e sustentação das pessoas, que aí

81

vivessem empregadas no serviço de Deus, para que havia de vir Soeiro Fromarigues,

depois no ano de 1093, dar a maior parte dos bens, que já estavam dados?

Nós, sem defendermos a existência de aqueles dois documentos, e até mesmo pondo

alguma dúvida na exactidão da sua trasladação para leitura nova, entendemos que a

objecção proposta deve desaparecer logo, que admita, como efectivamente se deve

admitir, que as igrejas e seus bens eram objecto de herança, entravam em partilhas e

constituíam portanto matéria de transacção.

O capítulo 8º, a fl. 22 vº, é destinado a instruir o leitor acerca do que era Rico Homem,

para demonstrar que o benfeitor do convento Soeiro Fromarigues era um fidalgo da

sublime categoria dos Ricos Homens.

Não damos de teor este capítulo por nos parecer, que o cronista nada acrescenta ao

que escritores antigos e modernos têm dito sobre este assunto.

O capítulo 9º, que ocupa as folhas desde 24 a 27 vº, e tem o título de – Dos sítios e

lugares que o Mosteiro de Grijó tem tido desde que se fundou, - transcrevemo-lo

integralmente por conter algumas especialidades históricas, mais sabidas pelos

documentos, do que pelos livros.

Costumam os que pretendem dar a conhecer alguma cidade, lugar, ou mosteiro,

declararem os sítios, que teve, para mostrarem as variedades dos tempos, que de

ordinário costumam dar sabor, ao que pouco de antes o tinham tirado; de aqui pode

ser, nasceria acharmos muitas terras, e cidades deste reino mudadas de um lugar para

outro, entre as quais é a cidade de Coimbra, fundada em seu princípio por Brigo

Terceiro, rei de «Hispanha», como alguns afirmam, em o lugar, que chamam Condeixa-

a-Velha, que quer dizer Coimbra deixada, como advertiu um curioso, só com o nome de

Coimbriga, tomado do próprio rei que a fundou, no qual primeiro lugar a conservaram

os Romanos; porém depois de Ataces, rei dos Alanos, grande tirano e ariano, a

destruiu, mudando-a para onde hoje está junto ao rio Mondego, distante duas léguas

do lugar antigo, como consta de uma carta que Arisberto, segundo bispo do Porto,

escreveu ao bispo das Idanhas, que traz a Mon. Luzit. Tomo 2º, liv. 6º, cap. 3, e

catálogo dos bispos da Sé do porto, 1ª parte, cap. 3, o qual rei a cercou logo fazendo-

lhe os muros, que ainda hoje tem, em cuja obra trazia a trabalhar como tirano que era,

muitos cristãos cativos, dos quais um era o bispo da mesma cidade, Elipando, e o do

Porto, Arisberto, e o sacerdote Esseno, como adverte a história eclesiástica dos

Arcebispos de Braga, 1ª parte, cap. 71.

Quase o mesmo sucedeu à cidade de Viseu, a qual foi fundada afastada do lugar, onde

hoje está, como adverte o foral, que el-rei D. Sancho I lhe deu, do qual as palavras que

o mostram são …«Milites et clerici, qui in veteri civitate de Vizeu casas habuerint

possideant eas…» nas quais distingue o rei, Viseu o velho, de Viseu o novo.

82

Também se sabe que a Sé da cidade da Guarda esteve primeiro nas Idanhas, pátria,

como muitos querem, de el-rei o Bamba, cavaleiro principal da geração gótica, de onde

ainda hoje conserva o nome que lá tinha, por cujo respeito se chama, nestes nossos

tempos, o seu bispo – Episcopus Egitanensis; efeito tudo do tempo, que costuma

desencaixar, volver e resolver tudo com sucessos não esperados, como alguns disseram

ao mesmo propósito.

Com a mesma variedade tratou o tempo ao Mosteiro de Grijó, porque por tradição

muito antiga dos religiosos de ele, tirada de escrituras antigas, se sabe ter seu primeiro

fundamento em o lugar de Muraceses, pouco distante, de onde hoje está, onde devia

estar pelos anos de 1075, e de 1093, que foi o primeiro ano, em que á igreja se pôs o

nome de S. Salvador, por autoridade do bispo D. Cresconio; do qual sítio, por acharem

ser ventoso, se mudou o mosteiro para onde hoje está, ficando as celas para o sul; e

tenho para mim, foi pelos anos de 1241, porque deste ano até o de 1137 sagrou a

igreja deste mosteiro o bispo do porto, chamado D.Pedro do Salvador. Costume antigo

era sagrarem-se as igrejas, o qual se veio a perder; para que ficasse mais fácil o

desenviolarem-se, e caso que se inviolassem (sic) que devia ser por se fazer de novo,

com a mudança do novo mosteiro; e este foi o segundo sítio, que o Mosteiro de Grijó

teve desde a fundação, no qual foi achado pelos anos de 1536, quando os cónegos

reformados de Santa Cruz vieram para ele, porém a claustra estava para a parte do

norte, onde estavam as casas dos priores mores.

Não se contentaram os religiosos reformados do sítio; assim por o terem por pouco

sadio, como também por lhes parecer pouco acomodado para com zelo da salvação do

próximo servirem a Deus; e assim pareceu bem ao Padre Fr. Braz, religioso de S.

Jerónimo, e actualmente reformador desta congregação (que era o que então

mandava em tudo), e ao Cardeal D. Henrique, Infante D. Luiz, e a alguns religiosos

desta congregação fosse a mudança deste mosteiro para junto do Porto, da banda de

àquem do rio Douro, junto a Vila Nova, na serra, em cima para a parte do nascente; a

qual resolução e mudança confirmou o Papa Paulo III, no ano de 1539, a instância do

católico rei D. João III; com que trataram logo na obra do novo mosteiro, comprando o

sítio, que era parte da Quinta de Quebrantões, no ano de 1540 com licença do mesmo

rei; e com tanto fervor se puseram a ela, que quando foi o ano de 1543 já estava capaz

para nele viverem religiosos; em o qual ano se mudaram para ele, ficando o antigo de

Grijó quase desamparado, somente com um cura secular, servindo só de granja ao

mosteiro novo, ao qual tinha unido o velho o Papa Paulo III, no ano de 1540, em 26 de

Fevereiro, ano sexto do seu Pontificado, porque «quod (são palavras da bula) dictum

monasterium sancti Salvatoris in loco húmido, et minus sano esset constitutum»,

pondo o Santo Padre por obrigação, que no mosteiro velho um ou dois religiosos

«morari tenerentur», o que depois confirmou o Papa Júlio III, no ano de 1552, unindo

ao mesmo mosteiro novo as igrejas da jurisdição.

83

O sítio da serra foi o terceiro que o Mosteiro de Grijó teve, no qual continuou vinte e

um anos, chamando-se o Mosteiro de S. Salvador de Grijó, junto ao Porto, no qual

tempo teve sete priores, que foram D. Manuel, D. Clemente, D. Thomé, D. Vicente, D.

Estévão, D. Lourenço, e D. Henrique, onde viviam com tanto ponto, que na sua portaria

servia um sacerdote secular, que tinha por obrigação ministrar os sacramentos aos

familiares e residir sempre na portaria, a quem se dava, além da sustentação, um

certum quid, e esmola pela missa, que todos os dias dizia; e como as coisas

experimentadas são diferentes do que antes parecem, acharam os padres que tanto,

ou mais doentio era o sítio da serra, que o mosteiro antigo de Grijó.

Não assistia o religioso, ou religiosos, que o Santo Padre mandava; com que entrou o

escrúpulo neles, parecendo-lhes não podia estar o mosteiro antigo de Grijó sem

religiosos, em modo de comunidade; e vendo as contínuas queixas, que os moradores e

fregueses de ele faziam aos capítulos gerais do desamparo, em que ficaram, e ficara

toda a terra, e levados de outros pios respeitos, assentaram no capítulo geral

celebrado no ano de 1564, em o 1º de Junho, tornasse ser habitado o mosteiro antigo;

e que para maior argumento desta congregação, ficasse o mosteiro novo da serra

também com religiosos, para cuja sustentação desse o mosteiro antigo parte da renda,

a qual vieram liquidar os capítulos gerais seguintes; a esta resolução deu logo

consentimento no mesmo ano, em 24 do mesmo mês de Junho, o convento do novo

mosteiro da serra, e os religiosos, queentão nele estavam, eram D. Henrique, prior, D.

Simão, D. Isidoro, D. Constâncio, D. Bazilio, D. Urbano, D. Jerónimo…determinando o

mesmo capítulo geral se chamasse o mosteiro novo – Mosteiro do Salvador do Porto, e

o antigo – Mosteiro do Salvador de Grijó. Com o qual nome continuou o mosteiro novo

da serra até ao ano de 1599, em que o capítulo geral mandou, que para maior

distinção destes dois mosteiros se nomeasse de ali por diante, o da serra – Mosteiro de

Santo Agostinho, e o antigo de Grijó – de S. Salvador, que são nomes, que hoje têm.

A mudança que se fez para o mosteiro antigo de Grijó confirmou o Papa Pio V, no ano

de 1566, 12 calend. Novemb. Anno primo sui pontificatus, sendo Bispo do porto D.

Rodrigo Pinheiro. O mesmo tornou a fazer SS. Padre, no 2º ano do seu pontificado, que

foi o de 1567; porém no capítulo geral antecedente, celebrado no ano de 1564, se

apontaram os religiosos, que haviam de vir para o mosteiro velho eleger seu prior logo,

como fizeram, elegendo ao Padre D. Bazilio, que foi o primeiro prior, que este Mosteiro

de Grijó teve depois que se tornou para o antigo sítio, que parece, podemos dizer, foi o

quarto depois da primeira fundação, com que os religiosos de ele não podem ser

notados de inconstantes, senão de escrupulosos, e ainda prudentes, pois diz o Espírito

Santo – Sapientis est mutare judicium.

Postos os religiosos outra vez no mosteiro antigo, trataram de o fazerem acomodado

para nele poderem estar os religiosos reformados; e para isso fizeram algumas celas

sobre a claustra, que estava para a parte do N., achando ali seria melhor vivenda,

84

aproveitando-se juntamente das casas dos priores mores; e porque as celas ficavam

ainda poucas, fizeram um lanço delas por cima do refeitório, no ano de 1568, sendo

prior D. Vicente; no qual sítio viveram até ao ano de 1598, servindo-se da mesma igreja

antiga, que já não era sagrada.

Com o cómodo que os padres reformados fizeram no Grijó, que ainda chamamos velho,

foram vivendo com pensamento de fazerem outro mosteiro mais grandioso, e que

fosse para a parte S., por acharem frio o em que estavam; e com estes pensamentos

foram continuando até ao ano de 1576, em que resolveram lançar-lhe a primeira

pedra, para a torre dos sinos, se deu princípio, sendo prior o Padre D. Gaspar Brandão,

a obra é louvada dos arquitectos, que a vêm, ainda que reprovado o sítio em que está,

a qual hoje tem oito sinos, dos quais cinco são grandes, e todos mui sonorosos. Teve

antiigamente um sino, que se chamava de Jesus, com estes versos:

«Mille, et quingentis annis post funerem Christi

Adde decem atque novem calculus acta docet.

Cum mihi Dulce datum fuerat cognomen Jesus,

Terríficos tonitruos tellaque sedo Jovis,

Artificem nostrum potes, hoc comprehendere

versu.

Ara sumus, Vuaglevens fusa, Simone duo.

Os quais mostram o nome que tinha quem o fez, e o ano, em que fora feito, para

impedir os trovões (!!). Havia também outro do Santo André que tinha estes outros:

«Andreae laudo, Deum verum plebemque voco.

Clerum congrego, defunctos ploro,

Pestem fugo, fasta decoro. Ano de 1458.»

Os quais se quebraram, e em seu lugar se fizeram outros muito formosos. Após a torre

se foi fazendo o mosteiro, que antes dela tinha principiado o prior D. Pedro, com a

sumptuosidade, que hoje se vê; o qual, tanto que esteve para se poder habitar,

mudaram-se alguns religiosos para ele, que foi no ano de 1599, sendo prior D. Nicolau

dos Santos; entrando a primeira vez nele com cruz levantada, e asperção de àgua

benta, ficando ainda alguns religiosos no mosteiro velho, onde viveram até ao ano de

1624, sendo segunda vez prior o Padre D. Lourenço da Piedade. E estando neste

mosteiro novo se serviram alguns anos da igreja velha, enquanto se a nova ia fazendo,

que foi até ao ano de 1626, dia do nosso Padre Santo Agostinho, que foi o primeiro dia,

85

em que nela se disse a primeira missa, a qual foi pontifical, a qual disse o Padre D.

Sebastião da Graça, actualmente geral desta congregação; o qual templo acabado

será um dos melhores deste reino. Este foi pois o quinto e último sítio que o Mosteiro

de Grijó parece teve, desde que foi fundado; onde continuará até o tempo causador de

todas as vaidades lhe não der outra volta, enfadando-se de sua continuação.

Da terra e bispado, em que o Mosteiro de Grijó foi, e está hoje fundado.

Cap. 10.

A terra, em que o Mosteiro de Grijó teve a sua primeira fundação, e está hoje fundado,

chamava-se de Santa Maria, nome que teve antigamente a terra, que começa desde a

foz do Douro para estas partes, como declaram várias doações, que estão no arquivo

deste mosteiro, e o tem ainda hoje a terra circum-vizinha a ele, que chamamos Terra

da Feira; o seu principal castelo, o qual sabemos de escritura autêntica, que está no

arquivo deste mosteiro, se chamava pelos anos de 1093, Castelo de Santa Maria, sendo

neste mesmo ano em três de Outubro Alcaide-Mor dele Flacencio, e diz o catálogo dos

bispos do porto, 1ª p., cap. 1º, fl. 13 e 16, que chamar-se esta terra da invocação de

Santa Maria , fora, porque, quando os gascões entraram na cidade do Porto, depois de

estar avassalada pelos mouros, e nela fizeram assento e se puseram a conquistar toda

a terra da sua comarca, que então estava sujeita ás armas maumetanas, a toda a que

rendiam punham o nome de Terra de Santa Maria, querendo dizer nisto que ao favor

da Virgem Maria, mãe de Deus, deviam suas armas a vitória que alcançavam…

Não reprovamos a razão, antes acrescentamos continuaria a Terra da Feira com o

nome de Terra de Santa Maria, por assim se chamar a sua cidade do Porto, dentro de

cujo bispado está quase toda, a qual cidade se chama de Santa Maria, e como diz a

Monarchia Lusitana, liv. 9, c. 13, e o declara o título, que tem á porta de sua câmara,

que diz – Civitas Beatae Virginis – o qual tomou da sua igreja matriz, que sempre se

chamou Igrejta Maria, como achei em muitas doações, feitas ao Mosteiro de Grijó, e

juntamente o declara o livro dos óbitos de mesmo mosteiro, onde estão escritos muitos

cónegos daquela Sé, que deviam ser do tempo que ela era dos cónegos regulares,

dizendo: Obiit N. Canonicus Sanctae Mariae do Porto; ao que parece aludiu el-rei D.

Afonso II nas cortes que fez em Leiria, pelos anos de 1254, chamando á cidade do Porto

vila da igreja; e ainda, se nos é lícito de uma coisa tirarmos outras, digo que já no ano

de 848 se chamava esta Terra de Santa Maria, reinando em Portugal D. Ramiro I, o

qual fazendo uma doação ao Mosteiro de Lorvão, neste ano de 848 lhe dá nas rendas

de Terra de Santa Maria, quinhentos soldos; são as palavras latinas: Ego pró meae

86

redemptione animae meorumque parentum in terra vobis, de Sanctae Mariae, quod

annis sólidos quingentos. A qual doação traz a Monarchia Luzitana, liv. 7, cap.13. Pelo

mesmo nome a nomeia João, Abade de Lorvão, no ano de 850, como se pode ver na

mesma Monarchia Luzitana, cap. 14. E os gascões entraram no Porto pelos anos de

963, pouco mais ou menos, como diz a Monarchia Luzitana, liv. 7, cap. 23, reinado de

D. Ramiro III, que é muito tempo adiante, pelo que mais antigo é a Terra da Feira

chamar-se Terra de Santa Maria, que a entrada que no Porto fizeram os gascões.

(Castelo da Feira – Torre de Menagem – Fotografia antiga)

E assim entendo se chamava a Terra de Santa Maria, de uma cidade, que dentro de si

tinha, fundada no monte que hoje se chama Sagitella, tendo pela parte do N. o

caminho mourisco, que os mouros descobriram, e pela parte do P. o mar o qual é

vizinho a este Mosteiro de Grijó; e para a parte do S. as confrontações da cidade, que

nele estava fundada, a qual cidade se chamava de Santa Maria, como declaram várias

doações que no arquivo deste mosteiro há. E que aqui estivesse esta cidade o declara a

87

carta de venda feita a 15 das Kalendas de Dezembro, era de 1124, que é a seis de

Dezembro do ano de 1086, a qual, para declarar a terra vendida, diz - … in villa

Nogueira de Ecclesiola ab integro subtus monte Sagitella discurrente fonte de frui

Lacum, in suburbis civitatis Sanctae Mariae. Se a igreja matriz do Porto deu nome à

cidade, chamando-se cidade de Santa Maria, por ser da mesma Senhora a sua igreja,

também o chamar-se hoje principalmente Terra de Santa Maria à da Feira, pode ser

seja em ordem às muitas casas de oração que dentro de si tem da invocação de Nossa

Senhora, todas de muita romagem e veneração, entre as quais é a ermida de Nossa

Senhora do Campo (a mais antiga de quantas há desde o Douro até ao Vouga); como é

tradição em todos os moradores destas partes de que antigamente era a Senhora da

Terra da Feira, sita dentro do isento deste mosteiro, afastado dele para o N. um quarto

de légua, onde acham remédio para maleitas os fiéis cristãos, que dali levam com

devoção uma pouca de terra; a Senhora das Duas Fontes que muito pouco dista do

mesmo mosteiro para a banda do mar, e está dentro do mesmo isento da invocação de

Nossa Senhora da Nascença, em cujo dia tem feira, e há grande concurso de gente;

Nossa Senhora da Alimieira, que está distante deste mosteiro, para o S. duas léguas e

meia, onde há grande irmandade de clérigos e grande feira no seu dia; a Senhora de

Entre as Águas, que está para a mesma parte três léguas, onde há grande romagem, e

acham indulgência plenária os que no seu dia (que é o de Nossa Senhora da Nascença e

oitava do Espírito Santo), desde as vésperas antecedentes a visitam contrictos e

confessados; e Nossa Senhora das Areias (que tem assim o nome por ficar junto ao

mar, entre as areias da Costa Branca), anexa a S. Cristóvão de Ovar. Com tudo chama-

se esta terra, por uma ou por outra razão, Terra de Santa Maria. Entre ela está situado

o Mosteiro de Grijó.

E para que nada falte aos curioso ,chamava-se, no tempo dos romanos, esta Terra da

Feira Lamgobrica, como adverte Frei Luiz dos Anjos, no jardim que compôs das

muralhas virtuosas de Portugal, fl. 3 e 6, o qual nome lhe deu o principal povo, que em

sitem, chamando-lhe Vila da feira, que então se chamava Lamgobrica, como consta do

itenerário que deixou o Imperador Antonino, que servia de roteiro aos romanos para

não errarem as terras, em o qual tinha posto as principais que então havia de Coimbra

até Braga, que eram – Conimbrica, Emineum, Talabrica, Lamgobrica, Cale, Bracara, e

são, como declara Vasconcelos, Coimbra, Águeda, Aveiro, Feira, Porto e Braga. E como

esta Terra da feira não ter mais circuito que dezoito léguas (como consta de uma

sentença, que está no cartório deste mosteiro), contudo tomando-a toda desde o

Douro, começando de Vila Nova, tem oitenta e oito igrejas, sitas dentro do bispado do

Porto, das quais vinte têm o SS. Sacramento e cinco mosteiros, aos quais estão anexas

104 ermidas, que renderam ao menos 13 contos, excepto a igreja de Riomeão com as

suas duas anexas S. Pedro de Macedo, e S. Martinho de Arada, que são Comenda de

Malta, e costumam render 600$000 reis forros para a Comenda (este ano de 1639

estão arrendadas em 530$000 reis).

88

(Igreja de Rio Meão)

É fama constante e imemorial, fundada em muitas razões, que esta igreja de Riomeão

foi dos Templários; tem mais onze igrejas das quais dez pertencem ao bispado de

Coimbra, e uma ao de Viseu. A gente desta Comarca pertencente ao bispado do Porto

passa de 22.800 pessoas de comunhão, e 6.200 menores, tudo advertido pelo catálogo

dos bispos do Porto. A terra que é somente precisa da Feira tem conde; cuja casa e

paços principais é o Castelo da Vila da Feira em que reside, que renderá onze mil

cruzados. Há mais nesta Comarca da Feira, oito Comendas de Cristo, scilicet – Canedo

com duas anexas; Lobão e Louredo que rende 600$000 reis; S. Miguel de Oliveira com

sua anexa, Sanc’Iago de Riba Ul (Santiago de Riba Ul) que rende 300$000 reis; S.

Miguel do Souto que rende 150$000 reis; S. Vicente de Pereira com a sua anexa, S.

Martinho da Gandara que rende 200$000 reis; Sancta Marinha d’Avanca com as

anexas, S. Mamede de Mondoil, S. João do Loureiro e S. Matheus de Brunheiro que

rende 700#000 reis; Sanct’Iago de Beduido com sua anexa Sancta Maria de Mortoza,

que rende 670$000 reis; S. Miguel d’Arcuzelo com sua anexa; S. Paio d’Oleiros que

rende 150$000 reis, cujo padroado é deste Mosteiro de Grijó; S. Pêro Fins com sua

anexa Sancto Estêvão de Guetim, (onde está uma relíquia do Santo Lenho) que rende

200$000 reis; Sancto André de Lever anexa da dos Medos, que está da outra banda do

rio, que rende 120$000 reis. Tem também esta terra dois morgados, a que chamam de

Villar do Paraizo, que come os frutos da igreja com título de capela, ficando obrigado

mandar dizer certas missas, e dar azeite para a lâmpada do Santíssimo que nela está, e

apresenta cura. O morgado de Fermedo, onde tem duas casas, e padroado da mesma

igreja.

89

Entre a freguesia de Vilar do Paraizo, e de Golpelhares se costuma fazer feira de bois

todas as quinta feiras do mês, onde somente os que compram e vendem, que são de

fora do termo, pagam Siza, e nenhuma portagem, fica uma légua deste mosteiro entre

ele e o Porto.

Além da jurisdição, que o Conde da Feira tem na sua terra, há oito coutos particulares,

que são os de Grijó, o de Pedroso, que hoje é do Colégio da Companhia de Coimbra; o

de Avintes que é o Sendim, das freiras de S. Bento do porto; o de Cucujães, que é do

Mosteiro de S. Bento do mesmo nome; o de Crestuma, que é do bispo do Porto; os

quais todos têm seus juízes particulares. Esta pois é a Terra de Santa Maria, e Comarca

da Feira, dentro da qual está situado o Mosteiro de Grijó.

O bispado dentro de cuja diocese está hoje este mosteiro é o da cidade do Porto.

Verdade é que em tempo antigo era no de Coimbra, não porque estivesse então

fundado em diferente lugar do de hoje, senão porque nos primeiros tempos da

expulsão dos mouros destas partes, chegava o bispado de Coimbra até o Douro,

ficando dentro da sua diocese toda a Terra da Feira; e o do porto não passava o Douro;

no que perseverou até o tempo em que foi bispo dele D. João Pedulialis, cónego regular

dos primeiros doze que instituíram o Mosteiro Real de Santa Cruz de Coimbra; do qual

tempo o bispo por diante ficou o bispado do Porto estendendo-se até onde hoje chega,

compreendendo entre si quase toda a Terra da Feira; no qual bispado houve depois da

sua fundação, e restauração do Mosteiro de Grijó, cinquenta e nove bispos até D.

Geraldo do Rego e da Fonseca, natural da cidade da Guarda, que actualmente tem a

mitra desta Sé, e seja nomeado por presidente do Paço (o que diz Silva no seu catálogo

real de Hispanha, fl 112); suas generosas acções o elevaram, onde aos outros conduz

sua deligência, para que se veja que à virtude dos grandes homens sempre se lhe

reservam prémios devidos a seus merecimentos.

Da província em que o Mosteiro de Grijó está e esteve situado

Cap. 11

A província, em que o Mosteiro de Grijó o foi em seus princípios, e está hoje edificado, é

o que antigamente se chamava Lusitânia; porque, como diz Osório, no prólogo da

história de el-rei D. Manuel I; Rezende, nas Antiguidades de Portugal, liv.3º ; Fr. Luiz de

Sousa na vida de D. Fr. Bartolomeu dos Mártires, arcebispo de Braga, liv. 1º, cap. 26;

Mon.Lus, liv. 18, cap. 15; o Padre António de Vasconcelos, na descrição do Porto 3 nº 1;

90

Fr. Bernardo de Brito, na Mon.Lus. Liv. 1º, Cap. 15; Duarte Nunes de Leão, na descrição

de Portugal, cap. 1 , e outros, a Lusitânia chegava até ao rio Douro, chamando-se

Lusitânia toda a terra, que está do rio Douro para o sul, até ao rio Guadiana; de cuja

boca os Romanos o demarcavam pela parte do Ocidente, junto à costa do mar oceano,

até à boca do novo Douro; e assim do mesmo rio Douro começava, nos mesmos

tempos, Galiza, para a parte do norte; do que advertindo Plínio, liv. 4º, hist., cap. 20,

disse, que o rio Douro dividia os lusitanos dos galegos, sem que alguma hora se

chamasse a província de entre Douro e Minho Lusitânia, como acrescenta Floriam do

Campo, liv. 1º, cap. 3, e António de Sousa, nas suas flores de Hispanha, 1ª, p. cap.

1º,escel. 4º. Veio-se, porém, pelo tempo adiante chamar Portugal a província de entre

Douro e Minho, com todo o mais reino, com que ficou perdendo o nome antigo, que

tinha de Galiza, e de galegos, os que de ela eram naturais; e quer Garibay, liv. 34,

cap.1º, no compêndio de história de Hispanha, fosse depois da entrada dos mouros; e

posto que não consta ao certo em que ano; contudo por certo temos se chamava já

Portugal entre Douro e Minho, no ano de 1030, como se pode ver em Estaco, nas

antiguidades c. 92; do que fica certo, como diz António de Vasconcelos na Monarchia

Lusitana, liv. 10, cap. 43, como alguns quiseram não ser Santo Teotónio Santo galego,

se não português; porque ainda que nasceu em o lugar de Guinfães da banda de

aquém de Tui, e do rio Minho, foi pelos anos de 1081, pouco mais ou menos, tempo e

ano em que já se chamava Portugal tudo o que estava desde o rio Minho, até o Douro,

nome que lhe deu a cidade do Porto, como afirma Rezende, citado, a quem seguem

muitos grandes autores antigos; e depois a todo o reino, chamando-se todo ele

Portugal da cidade do Porto (como diz, Monarchia lusit., c. 15, fl. 41), da maneira que o

deu a cidade de Toledo a todo o seu reino; e a de Granada, chamando-se este reino de

Granada, e aquele outro reino de Toledo. E quando isto fosse, não se sabe ao certo;

sabemos contudo que, quando el-rei D. Fernando I, de Castela, se partiu tomar

Portugal, ainda se chamava Lusitânia toda a terra, que está do Douro para o sul; e esta

jornada foi pelos anos de 1030, conforme orçou Beuter, 1ª p., cap. 32, e no ano de

1093, em três de Outubro, já se chamava Portugal, como declara a doação que neste

tempo fez Soeiro Fromarigues a este Mosteiro de Grijó, que fica no cap. 2, onde para

declarar este fidalgo o lugar e terra, em que o Mosteiro de Grijó estava fundado, disse

in território portugalensi, e já tinha este nome no ano de 1075, como declara com as

mesmas palavras a carta de compra, que neste ano fez o mesmo Soeiro Fromarigues

da parte da igreja, livro Baio, fl. 56; com que fica claro não estar o Mosteiro de Grijó,

alguma hora fundado em terra que se chamasse Galiza, senão que de princípio se

chamava Lusitânia (nome que lhe deu Luso, filho de Sio Celio, rei de Portugal, catálogo

real de Hispanha, fl. 5), pouco antes do ano da criação do Mundo 2486 (ano de 1466

antes do nascimento de Cristo), como dis Fr. Bernardo de Brito, na Monarchia Luzit.

tom. 1º, liv. 1º, cap. 15, ser Lusitânia tomado por Lisias filho de Bazo, outro rei que fora

do mesmo Portugal, como quer a Monarchia Luzit. citada, e Fr. Nicolau de Oliveira, no

livro que compôs das grandezas de Lisboa tract. liv. E 1º, e tract. 2º, e 16, que era tanto

91

o amor que já naqueles tempos tinham os portugueses aos seus reis, que até no nome

se queriam parecer com eles, como advertiu Sousa, nas Flores de Hispanha. Bem assim

que não era Lusitânia interior a província em que este mosteiro foi fundado por essa

ser a província do Alentejo ou Algarve, como parece quer dizer Sousa, citado, cap. 3º,

excelência 6ª, se não Lusitânia exterior, que era a terra que estava entre o rio Tejo e

Douro; e depois se chamou Portugal, nome que a pouco e pouco foi tomando este

reino; e posto que várias eram as nações, que nesse tempo chegaram a povoar a

Lusitânia, como se pode ver em Fr. Bernardo de Brito, na Geografia, que compôs, que

anda no princípio do primeiro tomo da sua Monarchia Luzitana; contudo, a nação que

habitou antigamente a Lusitânia exterior era dos antigos Turdelos, morando pela costa

do mar, que está da boca do Tejo até ao Douro; a qual nação constava de gente bem

entendida, que se governava por leis escritas em verso, de tempos antigos, como refere

Strabo, trazido por Fr. Bernardo de Brito, citado; e assim os moradores que

antigamente teve a terra, onde se fundou o Mosteiro de Grijó, eram Turdelos, gente de

bom juízo e razão.

E como este nome de Portugal ficou comum a todo o reino, tratou de se dividir em seis

províncias, para maior distinção, pondo os reis de Portugal em cada uma delas seu

corregedor, a quem pudessem os moradores de elas recorrer com facilidade em seus

negócios: uma era entre Douro e Minho, 2ª Trás-os-Montes, 3ª a beira, 4ª a

Estremadura, 5ª Alentejo, 6ª todo o reino do Algarve, como diz o padre António de

Vasconcelos, na Descrição de Portugal, nº 2; e Duarte Nunes de Leão, na Descrição de

Portugal cap.2º. E querendo o padre Fr. Nicolau no livro das grandezas de Lisboa, tr.1º,

cap. 2º, declarar os limites de cada uma destas províncias, diz que a província de entre

Douro e Minho começa da cidade do porto até Valença do Minho e seu termo; a de

Trás-os-Montes do rio Tâmega (que é de S. Gonçalo de Amarante) até todo o bispado

de Miranda; a da Beira desde Aveiro, Coimbra, Guarda, e terra da ribeira de Côa; a da

Estremadura desde Cascais, pelo mar, até à foz do rio Mondego, e por ele acima até à

ponte de Coimbra, e daí até Abrantes (Ita Monarchia Luz., liv. 1º, cap.34); a do

Alentejo, a que está entre o Tejo e Guadiana; a do Algarve, todo o seu reino; e como

seja certo estar o mosteiro fundado dentro de uma destas províncias, tem obrigação,

quem seguir esta repartição dizer, que não está fundado na do Algarve, nem na do

Alentejo, como está claro, nem também na da Estremadura, por ela não passar o

Mondego, nem na de Trás-os-Montes, que começa de S. Gonçalo de Amarante, nem na

de entre Douro e Minho, que começa da cidade do porto, e assim fica a partium

enumeratione fundado na província da Beira, que antigamente se chamava Beira dos

Berones, que habitavam a Lusitânia em tempo do imperador Tibério, como diz o bispo

Pinheiro, nas Annotações 2ª parte. A qual província com pouca corrupção se veio a

chamar Beira, e seus moradores beirões; e parece favorecer Fr. Bernardo de Brito, no

fim da geografia citada, dizer-se chegou à Beira, onde está este Mosteiro de Grijó,

enquanto afirma ser a comarca da beira antigamente dos Turdelos, os quais moravam

92

desde o rio Tejo até ao rio Douro, como já dissemos, e o diz Plínio, liv. 4º e 2º, e

Pomponio Mella.

Duarte Nunes de Leão, declarando as comarcas e correições, que cada uma destas

seisprovíncias tem no lugar citado, diz: que a província da Estremadura tem seis, que

são – a de Lisboa, de Santarém, de Tomar, de Alenquer, de Leiria e de Setúbal; a

província da Beira outras seis, a saber: a de Coimbra, da Guarda, de Lamego, de Viseu,

de Castelo Branco, e a da Covilhã; a de entre Douro e Minho tem quatro, que são – a do

porto, de Viana da foz do Lima, de Guimarães, e a de Ponte de Lima. E tratando este

mesmo autor das terras, que contam cada uma das comarcas e correições, vindo à

comarca de Aveiro, diz a folhas oito, que da sua correição é a vila de Ovar, e a vila e

Terra da Feira. E assim conforme este autor, parece se há-de dizer, que não está este

Mosteiro de Grijó fundado na província da Beira, por não estar dentro das Terras da

Feira, ainda que seu couto confina com elas, mas que está situado dentro da província

de entre Douro e Minho, por pertencer à correição do Porto a terra em que este

mosteiro está fundado; contudo o que a mim me parece é que, falando em rigor, se há-

de dizer está o Mosteiro de Grijó fundado na Estremadura, porque antigamente as

terras que estavam vizinhas ao Douro chamavam-se Extema.Durii, como notou

Monarch. Luz., tomo 2º, liv. 7, cap. 28, como esta está, e este mosteiro está fundado

junto ao Douro, de onde não dista mais de uma légua, que há dele até Arnelas.

Do estado em que estava este reino, e estas partes, assim no temporal como no

espiritual, quando este mosteiro se fundou, até o (tempo) em que entrou o Conde D.

Henrique.

Cap. 12

Fazendo um pouco o pé mais atrás, brevemente direi, sem averiguar as opiniões por

não ser esse o meu intento, que desde que os Romanos tiveram senhoriado Hispanha,

durou o mando sobre ela até ao ano de 343, tendo o império Honório, o Theodosio 2º

do nome, como disse o Fr. Nicolau de Oliveira, no livro das grandesas de Lisboa, tract.

2, cap. 22; ou, como parece melhor, pelos anos de 400, em que governa Arcádio e

Honório, filhos do grande Imperador Theodosio, como refere a história eclesiástica dos

arcebispos de Braga, 1ª p, cap. 9; e novamente Silva, no seu catálogo dos reis de

Hispanha, folhas 10; havendo já rei godo em Hispanha no ano de Cristo de … que se

chamava Ateulfo, que pôs sua corte em Barcelona, como diz Silva, citado fl. 12; e assim

93

fica claro estar Portugal debaixo do império dos romanos ao tempo que nele se

promulgou a fé católica em as partes de entre Douto e Minho, com a entrada que nela

fez a primeira vez o Apóstolo Sanct’Iago, no ano de 40, ou 41, pelas praias de

Matosinhos, pouco distante da cidade do Porto, sendo esta terra a primeira, onde se

ensinou a fé de Cristo fora da Samaria, e seus naturais e moradores os primeiros

cristãos de Hispanha, e ainda do mundo, excepto Judeia, que não é pequeno bem, para

Deus os conservar em sua santa fé.

Aos Romanos sucederem as bárbaras nações, que saindo das três províncias do norte

(Scocia, sic, Suécia e Noruega) a conquistar o mundo, entraram em Itália e França, e

passando a Hispanha a renderam e sujeitaram toda a suas armas, com que se fizeram

senhores de toda ela, matando uns, e cativando outros; e como esta gente era uma

mistura de toda a maldade, a saber, uns cristãos infeccionados com a heresia de Arrio,

e outros gentios e outros idolatras, punham toda a sua felicidade em perseguir aos

verdadeiros cristãos, matando uns, e cativando outros, destruindo suas igrejas e

templos, aplicando a seu serviço tudo o que estava deputado para o ministério de eles;

e assim vindo no ano de 526 Childeberto, rei de França, à Hispanha, com mão armada,

para tomar vingança de Amaberico, seu cunhado, rei dos godos, grande arriano, pelos

agravos que fazia a sua mulher, por ser cristã, depois de o matar, entrou em seu

tesouro, no qual achou sessenta cálices, quinze patenas todas de ouro e de pedras

preciosas, e juntamente achou outros vasos riquíssimos ordenados ao culto divino,

como adverte a história de Braga citada, 1º p., cap. 67, nº 6, as relíquias e corpos dos

santos queimados e lhe faziam muitos agravos, que foi ocasião para os bispos, que se

achavam no concílio celebrado em Braga, ano de 410, determinarem que cada um em

seu bispado escondesse em lugares subterrâneos as santas relíquias com rotolos de

declarassem os nomes delas, fazendo de isso cada um dos bispos rol, o qual mandasse

ao arcebispo de Braga, que então era Pancracio, o qual concílio trás a história referida

cap. 9. Eram estes tiranos una alanos, outros godos, e também suevos, sendo

igualmente honrados os godos e suevos, como notou António de Sousa, nas Flores de

Hispanha, cap. 7, Excel. 3ª, os quais todos depois que tiveram senhoreada toda a

Hispanha, repartiram-na entre si, ficando cada um com seu próprio reino; na qual

repartição ficaram os godos com a Bética, os alanos com a Lusitânia, a Cartaginense, e

os suevos com Galiza, em que entrava todo o entre Douro e Minho, como se pode ver

no catálogo dos bispos do Porto, 1ª p., cap. 1º, folhas 12.

Não se perseverou muito esta repartição por ser muito comum entrar na cobiça, onde

há maior poder; e assim como os godos ficaram mais poderosos, tratou o seu rei de ter

o mando sobre todos, o que foi ocasião para com o poder de suas armas encorporar o

reino dos suevos com o seu, com o que se acabou o reino dos suevos, e quer Baronio

tom. 3, ano 583, Fr. Bernardo de Brito na sua Monarchia Lus. Liv. 6, cap. 19, e a história

eclesiástica dos arcebispos de Braga 1 p. cap. 75 mº 6 e cap 77 in fine fosse pelos anos

de 683 ainda que a outros parece fosse esta incorporação do reino dos suevos com o

94

dos godos no ano de 584, como traz Estacio nas antiguidades de Portugal cap. 68 nº 3,

e alguns fosse no ano de 585, como refere Mon. Lusit. Liv. 20 c. 6 por este ano ser no

que Leovigildo quando tirano, rei dos godos e pai do santo mártir Erminigildo,

conquistou Portugal, como diz o catálogo dos bispos do Porto 1 p. cap. 5, e Silva no

catálogo real de Hespanha fol. 25, onde diz concordam todos os autores não durou o

governo dos suevos mais que 174 anos, e como os trabalhos nunca costumam vir

desacompanhados permitiu Deus por seus altos juízos que no tempo que a cristandade

de Hespanha estava tão oprimida nascesse no ano de 597 o perverso Mafamede, que

se começou a chamar profeta no ano de 622, semeando sua falsa e abominada

doutrina com tal espírito diabólico, que com morrer no ano de 627, nesse mesmo

começou sua falsa e perversa seita, como conta Bellarmino Liv. 3 de Pontif. Ro,. Cap. 4:

catálogo dos bispos do Porto 1 p. c. 7… in fiae, e posto que muitos reis que nestes anos

governaram a Hespanha foram hereges da seita Ariana, alguns houve católicos, e pelo

decurso do tempo vieram a ser cristãos começando de el-rei Recaredo, o qual,

deixando a seita Ariana movido dos conselhos e doutrina de seus tios os santos S.

Leandro e S. Fulgêncio, ficou grande católico. Com o governo de Hispanha

perseveraram os godos 344 anos, como quer Vasco tom. 1, onde trata dos godos, ou

380 pouco mais, como afirma o padre mestre André de Rezende L. 3 das Antiguidades

Lusitanas, ficando tendo cento e vinte e nove anos o governo de Portugal; e querem

alguns historiadores fosse pelo decurso de todo este tempo 36 os reis godos que

governaram toda a Hespanha, começando de Athanarico até D. Rodrigo, que foi o

último, bem assim que o catálogo real de Hespanha não faz menção mais do que de

trinta e três, que deve ser o mais certo.

Aos godos sucederam os Mouros pelo anos de 713 conforme ao computo de Baronio, e

parecer de Fr. Nicolau de Oliveira nas Grandezas de Lisboa trat. 2 cap. 22, que foi o ano

em que começou a conquistar o reino de Hispanha, Ulit monarca da babilónia e grão

califa dos Árabes, tendo por capitães Muça e Tarif, ajudados do conde D. Julião,

cunhado que fora de el-rei, e de Opos ou Orps, arcebispo de Sevilha, e intruso de

Toledo, irmão do mesmo rei, os quais capitães, continuando com sua conquista no ano

de 714, depois de vários encontros que tiveram com el-rei D. Rodrigo, vieram

desbaratá-lo nas margens do rio Guadelete, junto da cidade de Xeres e Medina-Sidonia

num domingo 9 de Fevereiro, como admitiu a história dos arcebispos de Braga 1 p. cap.

6 nº 1 e cap. 10 nº 4, o catálogo dos bispos do Porto 1 p. cap. 11, Estacio nas

Antiguidades de Portugal, cap. 34 e o catálogo real de Hespanha fol. 36. Bem assim

que diz Illascos na história pontif., tomo 1 fol. 237 fora esta disjunctura no ano de 719,

que não tenho por tão certo como o primeiro, o rei D. Rodrigo se acolher a Portugal,

onde morrera na cidade de Viseu, onde se achou a sua sepultura na igreja de S. Miguel

duzentos anos depois da sua perda. Entrados os árabes em Hispanha a avassalaram, e

se fizeram senhores dela em espaço de oito meses destruindo as melhores cidades de

Portugal, entre as quais foram as do Porto e Braga, que deixaram feitas um monte de

pedras, e chegando a Galiza se tornaram para a Estremadura por verem suas terras de

95

mais abundância onde se deixaram estar, e com se perder a Hespanha em tão breve

tempo, gastaram-se quase oitocentos anos em se recuperar, em que se deram três mil

setecentas e nove batalhas, como refere o catálogo real de Hespanha fol. 37.

Tiveram os mouros outros capitães, grandes flagelos da cristandade, entre eles houve

um que se chamava Abderamen e entrou nestes reinos pelos anos de 760, como diz

Estacio nas Antiguidades Lusitanas cap. 34 nº 1, o qual mouro foi tão grande tirano,

que mandava queimar os corpos dos santos, o que vendo os cristãos, tomavam-nos e

as demais relíquias, que nas igrejas achavam e escondiam-nas com as que podiam

trazer consigo, fugiam para terras menos cursadas deste inimigo, onde as escondiam

pondo-lhes letreiros e sinais, com que pudessem contar aos vindouros dos tesouros que

ali deixavam, remetendo à provodência divina a manifestação delas, como adverte Fr.

António Brandão, cronista deste reino, liv. 11 da Mon. Lusit. Cap. 23, Estacio citado.

Depois pelos anos de 920 chegou a estas partes de Portugal outro Abderamen, rei de

Córdova, com grande poder, e pondo cerco à cidade do Porto (que então estava

assentada da bande de àquem onde hoje é gaia) a defendeu valorosamente o conde D.

Erminigildo, até que foi socorrido de el-rei D. Ordonho II que desbaratou o tirano, e o

fez voltar para onde viera com grande perda do exército e riquezas que deixou.

Outro capitão de el-rei de Córdova, chamado Albiazar Iben Albucadan, entrou também

por estes reinos no ano de 936 pouco mais ou menos, sendo rei deles D. Ramiro II de

nome. O qual árabe rendeu a cidade do Porto e outras, em cujo castelo (que era o de

Gaia, de que ainda hoje há alguns sinais), ficou vivendo, até que el-rei Ramiro II com os

seus o mataram na ocasião em que vinha tirar de seu poder a rainha sua mulher, como

refere Fr. Bernardo de Brito no liv. 7 da Mon. Lus. Cap. 21, e no ano de 975 entrou por

Portugal o mouro Ahuraxis rei de Sevilha até Compostela, com tão grande poder que

tudo assolou e acabou de destruir o que ficara em Portugal dos demais trabalhos,

como conta Vasco tom. 1, Mon. Lus. Liv. 7 cap. 23, Estaco cap. 5 nº 2, ficando desta vez

o vale de Arouca de tal maneira desbaratado, que por mais de 26 anos se não tornou a

povoar da maneira que dantes estava, como diz Monarchia Lusitana citada, e não

duvido passasse a mesma desventura em o Mosteiro de Grijó, que já estava fundado,

visto estar pouco distante um do outro. Mais pelos anos de 982 entrou na Lusitânia um

mouro por nome de Almançor, que quer dizer nunca vencido por respeito das muitas

vitórias que alcançou, como adverte o padre Fr. Luiz dos Anjos no jardim das mulheres

virtuosas de Portugal, grande tirano e capitão de Córdova, o qual vindo com o conde D.

Vella fez muitos estragos em muitas cidades de Portugal, que a este tempo estavam

fora do jugo mahometano, entre as quais foi a cidade de Coimbra, ficando debaixo do

poder do bárbaro até à última vez que el-rei D. Fernando lha tirou no ano de 1064,

donde o tirano se passou à cidade do Porto e de aí à de Braga deixando-as um monte

de pedras, e tornando-se a recolher pelas partes da Beira, deixando feito notáveis

extorsões, e os portugueses que viviam desde o rio Douro até ao Algarve sujeitos ao

poder dos mouros, como afirma Mon. Lus.Liv.7 cap. 25, tornando depois no ano de 997

96

este mesmo tirano a Portugal, onde se rebelaram algumas terras das que deixara

sujeitas às suas armas, destruiu as que lhe fizeram resistência, nas quais entrou

Coimbra que desbaratou com tão pouca piedade em 29 de Junho, que se não habitou

de aí a sete anos, o mesmo fez a Montemor-o-Velho, Viseu, Lamego, Porto e Braga,

não deixando em todas elas pedra sobre pedra, e passando a Galiza entrou no sagrado

templo do Apóstolo S. Thiago que roubou, mas não foi sem grande castigo seu, porque

tornando-se foi tão grande a doença que lhe deu no exército, que lhe morreram muitos

soldados junto destas partes do Douro, de que tomou ocasião o valoroso capitão conde

Frojas Vermois, tronco da nobilíssima geração dos Pereira (de quem este conde

procede reconta o catálogo real de Hespanha fol. 42, brevemente) para lhe sair ao

encontro com os Portugueses que pode ajuntar, e dando nos bárbaros antes de subir a

serra de Manhouce os desbaratou, ficando muitos mortos, com o que foi forçado ao

capitão Almançor deixar o caminho que levava, e tornar por Cambra a tomar o

caminho de Coimbra, mas o conde Frojas Vermois lhe tornou a sair ao vale que está

junto ao rio Cambra, onde fez tanta matança nos bárbaros, que chamando-se dantes o

Valle de Osse se ficou chamando Ossella (nome que hoje conserva, e pelo que ali está

fundado tomando o nome dos muitos ossos de mouros de que ficou semeado como

notou Monarchia Lus. L. 7 cap. 25, com que ficou o conde muito rico) por respeito dos

muitos e grandes despojos que os bárbaros deixaram, que tinham tomado nas cidades,

igrejas e mosteiros, e juntamente com grande nome, por destruir um tirano tão

poderoso e tão insolente com tantas vitórias, o que não é pequeno louvor para a casa

da Feira, que dele procede em razão de Frojas. E com estas tiranias sabe-se de certo

ficou em pé e com religiosos o Mosteiro de Lorvão, que está junto de Coimbra; e o do S.

Frutuoso, que é vizinho de Braga, e nos tempos antigos se chamava de S. Salvador,

ambos estão de monges de S. Bento; e ainda dizem que a igreja que tem hoje este

mosteiro é a que fez S. Frutuoso, como adverte a história eclesiástica dos arcebispos de

Braga t. 1 cap. 42 nº 4, que é muito por santo a fundar no ano de 659, como afirma

Gonzaga 3. P. fol. 947 (também o de Vacarissa, Monarchia Lusitana L. 11 cap. 2 ).

Avassalada Hispanha dos Árabes deu Deus espírito ao infante D. Pelaio primo de el-rei

D. Rodrigo, e da nação dos Godos, para que das Astúrias onde estava, desse princípio à

restauração destes reinos, a quem seguiram seus descendentes, dos quais seu genro D.

Afonso, que ficou sendo o primeiro do nome, se opôs com tão grande peito ao inimigo

comum de Cristo, que em poucos anos o deitou de entre Douro e Minho, tomando-lhe

Braga, Porto novo e velho, e a vila de Águeda e Viseu, que foi antes do ano de 757 por

ser este em que este rei morreu, com que mereceu o nome de católico. Bem assim que

tornaram pelos tempos adiante algumas destas terras ao poder dos mouros, porque

sabe-se que no ano de 840 estava por senhor de Gaia Mahamed Cid.Atauf, de Águeda

Amolei Achim, de Viseu Tarif Iben Boges; e de Coimbra Alhamor; aos quais depois el-rei

Ramiro, primeiro do nome, avassalou; e como os cristãos eram ainda poucos, deixou

ficar o rei a estes mouros nas mesmas terras, mas por vassalos seus o que durou até ao

ano de 877 em que el-rei D. Affonso o Magno tirou a Coimbra do governo dos mouros,

97

e outras terras com que ficaram os cristãos que viviam em Coimbra, Terra da Feira,

Porto e na maior parte de entre o Douro e Minho, qietos, na qual quietação duraram

por alguns anos, e assim em 5 de Maio ano de 900 era conde do Porto Erminigildo de

Águeda, seu filho, Árias, como se pode ver numa doação que traz Fr. Bernardo de Brito

na Mon. Lus. Liv. 7 cap. 16 feita por el-rei D. Affonso o Magno: o qual D. Erminigildo

ainda era conde desta cidade no ano de 920 em que defendeu o cerco que el-rei de

Córdova Abderramen lhe pôs, até que foi socorrido por el-rei D. Ordonho II como já

dissemos, e posto que o reino de Portugal foi tão ocupado dos mouros, contudo muitos

dos cristãos se ficaram em suas terras vivendo com eles na lei de Cristo, consentindo-

lhes os mouros ter igrejas e fazer nelas suas cerimónias eclesiásticas, dando-lhes um

cristão dos principais, que os governasse em casos que não fosse de morte, a que

chamavam conde dos cristãos, e pelos anos de 770 havia em Coimbra este governo,

que tinha um fidalgo descendente dos reis Godos, que se chamava Theodo, como

refere Fr. Bernardo de Brito Mon. Lus. Liv. 7 cap. 8, o que consentiram os mouros em

ordem aos tributos que os cristãos lhe pagavam, os quais se chamam muçarabes nome

corrupto do latino: mextiarabes, como advertiu Fr. António Brandão Mon. Lus. Liv. 10

cap. 23. Em Lisboa também permaneceram os cristãos, e foram eles grande ajuda a el-

rei D. Afonso Henriques, quando a tomou, como notou Mon. Lus. Liv. 11 cap. 29.

Quando a Terra da Feira e a que estava desde o rio Minho até ao Mondego da

quietação que ficou, … tendo com a expulsão do mouro Abdrramen, e o governo dos

seus condes Erminigildo e Árias, e do rei D. Ordenço II que entrou no governo de

Portugal no ano de 923. Como afirma a melhor opinião que segue o catálogo real de

Hespanha fol. 51 fundaram este Mosteiro de Grijó os dois irmãos Gustierres e Ausindo,

que devia ser pouo antes do ano de 922, como deixámos assentado no cap. 4 desta

curiosidade, sendo ainda rei Ordenço II e a rainha sua segunda mulher D. Aragonte,

que tinha recebido no ano de 921 o qual rei morreu no ano de 923, como quer Silva no

seu catálogo real fol. 51, ou, como dizem outros, no de 924, a que sucedeu seu irmão D.

Truella, que morreu logo, e assim já no ano de 924 ou 925 era D. Afonso Monge rei, no

qual ano governava as terras de entre Douro e Minho, porto e as da Feira, que já então

se chamavam Terras de S. Maria (Monarchia Lusitana, liv. 7 cap. 18 o conde D.

Gutierres e Árias filho do conde D. Erminigildo que já era morto neste ano de 925)

casado com D. Allara, e o conde Aufoufes casado com D. Thereja, Viseu com as terras

ao redor, renunciou el-rei D. Afonso o Monge estes reinos no ano de 927 em seu irmão

D. Ramiro, II do nome, cujo governo não foi bem recebido dos Portugueses, e assim não

conservou este reino na quietação com que lhe foi entregue, porque em seu tempo

pelos anos de 932 tinha já o governo do porto e castelo de gaia o mouro Alboazar, com

que tornou esta Terra da Feira ao jugo e governo dos Árabes, ainda que depois foi este

mouro morto no mesmo castelo de Gaia, e o próprio castelo arrasado, e a vila

destruída pelos soldados deste Ramiro, na ocasião que vinha tirar do poder do mouro

sua primeira mulher a rainha D. Urraca, como conta Fr. Bernardo de Brito, Monarch.

Lus., liv. 7 cap. 21, com que tornou esta terra ao governo cristão, continuou com o

98

governo de Portugal el-rei Ramiro até ao ano de 950. Repetindo as palavras de Job:

«nu nascido ventre de minha mãe, e nu tornarei à terra» como adverte o catálogo real

fol. 55. Sucedendo-lhe seu filho D. Ordenço, III do nome, cuja morte se antecipou de

maneira que não reinou mais que cinco anos e sete meses, e lhe sucedeu no ano de 955

seu irmão D. Sancho, que por ser doente foi excluído do reino, e levantado pelo rei D.

Ordenço o mau filho de D. Afonso o Monge, mas depois tornou a entrar no reino D.

Sancho o excluído, por já andar são, em cujo tempo entrou por estas partes o mouro

Aluxaris no ano de 975, nas quais fez grandes perdas, como já dissemos, as quais se a

cidade do porto as não sentiu, foi por já não ter neste tempo em que as experimentar.

A cidade estava toda destruída, o castelo de Gaia todo posto por terras; morreu el-rei

D. Sancho no ano de 967, e entrou seu filho D. Ramiro, III do nome, no qual tempo

estava o governo desde o rio Minho até ao Mondego em poder dos senhores cristãos,

dos quais havia neste reino um fidalgo muito ilustre por nome D. Gonçalo Moniz, que

governava as terras de Portugal, e no ano de 972 tinha o governo de Braga e Terras de

S. Maria, e outro, que se chamava Gudesto Moniz, as de Arouca, e posto que em

Coimbra neste tempo havia muitos mouros, contudo não lhe faziam vexação alguma;

tratavam e vendiam uns aos outros, e o governo era dos cristãos. Porém pouco

continuou esta cidade de Coimbra com esta liberdade, porque no ano de 982

assenhoriou o mouro Almançor, quando entrou neste reino com o conde D. Villa, como

já dissemos; com que ficou outra vez debaixo do governo dos Mouros (Mon. Lus. Liv.7

cap. 25) e estas Terras da Feira e todas as que estavam desde o rio Douro até ao

Algarve.

Porém como nas maiores pressas Deus costuma acudir, pouco depois deste trabalho,

no ano de 983 (como quer Fr. Bernardo de Brito na Mon. Lus. Liv. 7, cap. 23 e o conde

D. Pedro, título 36, ou, como parece no catálogo dos bispos do porto 1ª parte cap. 15

entre os anos de 982-985) entraram os Gascões pela foz do rio Douro com uma

poderosa armada, cujo capitão era D. Moninho Viegas, que vinham com zelo da fé

destruir os mouros, e como achassem o castelo de Gaia destruído, e a cidade do Porto

feita um monte de pedras, fizeram novos muros onde hoje está a cidade do Porto, e aí

se fortaleceram, donde faziam guerra aos mouros, que estavam de uma e outra parte

do Douro, com que os cónegos que então habitassem o Mosteiro de Grijó (quando

tempos tão calamitosos os consentissem ter) tomariam alentos por tornarem ver livres

os seus vizinhos do poder dos mouros. Governava o reino de Portugal no ano que estes

novos conquistadores entraram no Porto el-rei D. Ramiro III, que morreu no ano de 982

como parece bem a Silva no seu catálogo, ou como outros querem no ano de 985; e

como não tivesse filho herdeiro de seus reinos, sucedeu-lhe D. Bermudo que morreu no

ano de 999, em cujo tempo tornou esta Terra da Feira a sentir a braveza e tirania do

mesmo tirano Almançor, quando tornou a entrar em todo Portugal no ano de 997,

como reconta Silva no seu catálogo, deixando Coimbra assolada, como já acima

tocámos. Morto D. Bermudo entrou por rei destes reinos seu filho D. Afonso V do nome,

que, opondo-se aos mouros, fez tornar a habitar as terras de Arouca vizinhas deste

99

mosteiro, e tirou outras do poder dos bárbaros, até que estando vercando Viseu foi

morto no ano de 1027, como quer a Mon. Lus. ou de 1028, como diz Silva, em cinco de

Maio, de uma setada que lhe atirou um mouro, que depois o pagou bem. Entrou por rei

seu filho D. Bermudo III, que morreu no ano de 1037 numa batalha que teve com seu

cunhado D. Fernando, infante de Navarra, que veio a ser rei de Castela, o qual se

levantou por rei destes reinos de Portugal, e como por estes anos estavam os mouros

com o governo de Coimbra, era esta Terra da Feira a fronteira dos mouros. Foi

venturoso este reino com el-rei D. Fernando por ele ser o que libertou muitas terras e

cidades de Portugal do poder dos mouros, como foram as vilas de Ceia e Gouveia. Ele

tomou à força de armas no ano de 1038 a 28 de Junho a cidade de Viseu, a de Lamego

a 22 de Junho do mesmo ano e a de Coimbra no ano de 1064, depois de um porfiado e

largo cerco, deixando primeiro destruída a Terra de santa Maria, como refere uma

doação, que o próprio rei fez ao Mosteiro de Lorvão, depois de ganhada Coimbra, que

traz a Monarchia Lusitana liv. 7, cap. 28. Em a qual cidade deixou o rei por governador

o conde D. Sisnando e de outras terras que tinha tomado aos mouros, fazendo-o senhor

de Coimbra, Viseu e Lamego, e das mais terras que estão entre o Douro e o Mondego,

começando pelo Douro abaixo até ao mar, como se pode ver em Frei António Brandão

na Mon. Lus. tom. 3, liv. 8, cap. 4º, o qual rei D. Fernando morreu no ano de 1067, dia

de S. João Evangelista, e na repartição que fez de seus reinos deixou o de Portugal a

seu filho D. Garcia, que depois de o ter governado quatro anos foi vencido pelo irmão

D. Sancho II do nome (que por ser mais velho queria todos os reinos contra o que tinha

prometido e jurado a seu pai) em batalha dada junto de Santarém no fim do ano de

1071. Com que ficou D. Sancho rei destes reinos, e Portugal incorporado com o de

Castela, porém logo no ano seguinte do 1072, como uns querem, ou no ano de 1073,

como parece a Silva fol. 70, foi morto atravessado el-rei D. Sancho, e sucedeu em todos

os reinos de seu pai seu irmão segundo, D. Afonso, VI do nome, de Leão, e primeiro de

Castela, que se chamou o da mão funda em razão de sua grande liberalidade, e não

pelo que se conta do chumbo, como alguns fabulosamente querem dizer. Ao qual foi

posto o nome de imperador, e foi avô de el.rei D. Afonso Henriques. Continuava D.

Sisnando com o governo que dantes tinha destas terras, que deixamos nomeadas, por

lhe ter confirmado el-rei D. Afonso tudo o que seu pai D. Fernando lhe tinha dado, e

assim tem para si Frei António Brandão citado, que a este fidalgo estavam sujeitos

outros que tinham o governo de algumas terras e cidades e castelos que estavam entre

o Mondego e o Douro, e para que conste quais fidalgos fossem, é certo que no ano de

1074 governava a cidade do Porto, Moninho Henriques, as Terras de Arouca, Mem

Moniz, e as Terras de Santa Maria, Egas Moniz, como se pode ver numa doação que

traz Frei Bernardo de Brito, Mon.Lus. Liv. 7, cap. 30, no ano de 1092 (em que consta ser

ainda vivo o conde D. Sisnando) o mesmo governo tinham das terras de Arouca, Monio

Viegas, Odorio Telles e Álvaro Telles, os quais estão assinalados numa doação, feita ao

Mosteiro de Arouca por Frei Adffonso Confesso, que traz a Mon.Lus. liv. 7, cap. 30, e liv.

8, cap. 5.

100

Sucedeu por morte de D. Sisnando no governo de Coimbra o conde Martim Moniz seu

genro, casado com sua filha D. Elvira Sisnandes, o qual governo tinha em 30 de

Dezembro de 1092 e em 27 de Fevereiro do ano de 1093. Este governo se mudou neste

mesmo ano de 1093, e devia ser com a vinda que el-rei D. Afonso VI fez a estas partes;

o qual estava na cidade de Coimbra em 22 de Abril deste mesmo ano de 1093, como

consta do foral, que à mesma cidade então deu, na qual cidade deixou por governador

dela seu genro D. Raymundo, casado com D. Urraca sua filha legítima. Em a qual

cidade o achamos no fim deste mesmo ano de 1093, que se intitulava conde e senhor

de toda a Galiza, de cuja mão devia estar posto o Alcaide-Mor do castelo da Feita, que

em 3 de Outubro deste ano de 1093 se chamava Flauncio, que foi o próprio dia e ano

que este mosteiro se dedicou ao Salvador do mundo, e lhe fez o ilustre cavaleiro Soeiro

Fromarigues uma grande doação, o qual era um dos fidalgos que seguiam a corte do

conde D. Raymundo, com outros do mesmo tempo que tinha na mesma cidade de

Coimbra, os quais estão assinalados numa doação feita em 12 de Novembro de 1094 à

Sé da mesma cidade de Coimbra do Mosteiro da Vacariça, que se podem ver na Mon.

Lus. liv. 8, cap. 5. No qual ano, em 10 de Agosto, tinha o governo das terras de Arouca,

Martim Moniz, do qual lhe devia ter feito mercê el-rei D. Afonso, tanto que deu a seu

genro D. Raymundo o governo de Coimbra, que teve com o governo deste reino de

Portugal antes de nele entrar o conde D. Henrique, pai de el-rei D. Afonso Henriques,

como adverte Frei Luiz dos Anjos, no Jardim das Sanctas Mulheres de Porugal nº 58. O

qual conde D. Henrique tomou posse deste reino no ano de 1090, como quer Silva no

seu catálogo real de Hispanha fol. 73, verso, ou no ano de 1094, cuja memória se acha

em 18 de Dezembro deste ano, sem que até este tempo tivesse governo algum neste

reino de Portugal, como evidentemente mostra Fr. António Brandão, cronista-mór

deste reino, na Mon. Lus . , que compôs com tanta curiosidade, tom.3, liv.8, cap. 8, e

este foi o ano em que este reino se desmembrou dos outros reinos de Hispanha, como

diz Mon. Lus. Liv. 10, cap.6. Com tantas revoltas de guerra, tantas mudanças de

governo e tantas entradas de mouros e destruição de terras, cidades e povoações,

mosteiros e igrejas, como sucederam desde o ano de 922, com que tenho para mim foi

este mosteiro edificado por estas partes comarca, província e terras, que estão entre o

rio Douro e o Mondego, até à entrada que neste reino fez o ilustre conde D. Henrique

no ano de 1094, não é muito faltartem memórias do que neste mosteiro de Grijó

sucedeu por estes anos, máximo até ao de 1093, e posto que duvido haves por estes

anos sempre religiosos neste mosteiro, tenho por certo não padecer naufrágio a igreja

e mosteiro, por constar de uma carta de compra, que no seu arquivo está, a ter

comprado Soeiro Fromarugues, ou a maior parte dela no ano de 1075 em 30 de

Janeiro, como dissemos no cap. 2º, e da doação que este mesmo fidalgo fez no ano de

1093 aos religiosos, ter junto de si muito boas casas para viverem. Teria este mosteiro

e a igreja outro nome antes do ano de 1093, no qual, em três de Outubro, se lhe pôs o

de S. Salvador, como a outros mosteiros sabemos se fez; o que hoje se chama de S.

Frutuoso, em seu princípio se chamava de S. Salvador, e o mosteiro desta congregação,

101

que está junto a Vila Nova do Porto, com se chamar do seu princípio de S. Salvador, o

nome com que hoje se conserva é o de Santo Agostinho; quanto mais bem podia este

mosteiro ter dantes este nome e agora se tornar a dedicar com solenidade ao mesmo

Salvador do mundo por não haver implicação alguma nisso. E assim temos visto os

vários governos temporaes, que passaram pelos arredores da terra, em que o Mosteiro

de Grijó se fundpu, até ao ano de 1090 ou de 1094. Entrou o conde D. Henrique, pai de

el-rei D. Afonso Henriques, no governo destes reinos de Portugal, e de mais fica sabido

que era rei da Galiza e Leão e destas partes D. Ordonho II quando este mosteiro se

fundou, se a sua fundação foi no ano de 922, ou pouco dantes como temos por mais

certo; e sendo sua fundação no ano de 950, como outros disseram, era rei de Leão e

Galiza, D. Ramiro II, e não D. Ordonho II, como disse erradamente o catálogo dos

bispos do Porto no lugar que fica referido no cap. 2, por ser morto D. Ramiro no ano de

923 ou 924. E quando este mosteiro fosse fundado no ano de 1093, era rei de Galiza,

Leão e Castela, el-rei D. Afonso, o sexto de Leão e primeiro de Castela, e governava

Coimbra e estas partes, D. Raymundo seu genro, casado com sua filha Elvira, quando o

conde D. Henrique não tivesse romado posse deste reino já no ano de 1090, como

alguns disseram. Era bispo de Coimbra D. Cresconio, que tinha entrado neste bispado

no ano de 1092, como afirma o cronista-mór deste reino, Fr. António Brandão, na sua

Monarchia Lusitana liv. 8, cap. 7, e assim fica sendo erro manifesto dizer o catálogo

dos bispos do porto 2ª p. cap. 44, fol. 382, que este bispo de Coimbra D. Cresconio

assistira à fundação que deste mosteiro se fizera no ano de 950, não havendo então tal

bispo, e pode ser que nem ainda fosse nascido. Bem assim que assistiu este bispo neste

mosteiro no ano de 1093 em três de Outubro, em o dia em que lhe fez o ilustre e

magnânimo Soeiro Fromarigues (um dos grandes deste reino) uma grandiosa doação,

que no cap. 2º fica referida.

102

(Igreja do Mosteiro de Grijó – Interior)

103

Como o Mosteiro de Grijó sempre foi de cónegos regulares e em seu princípio de

cónegos e cónegas:

Cap. 13

Sempre o Mosteiro de Grijó (e ainda a sua igreja) foi de cónegos regulares de Santo

Agostinho, sem haver fama em contrário nem memória, por pequena que seja, que o

negue. Antes por coisa certíssima o supõem as doações, que pelo decurso do tempo lhe

foram feitas, chamando aos religiosos, que neste mosteiro habitavam, cónegos de

Grijó; bem assim que em algumas achei nomeados com este nome de «monachos», o

que não era porqie de facto o fossem os religiosos, que no Mosteiro de Grijó viviam,

senão por assim o querer nomear a rudeza daqueles séculos, com o qual noma

achamos pelos mesmos anos nomeados os cónegos de Sé do Porto, no catálogo dos

seus bispos, e ainda topamos com algumas escrituras, que estão no arquivo deste

mosteiro, que assim os nomeiam. E se em algumas ocasiões foram chamados os

religiosos do Mosteiro de Grijó com este nome de fradas (como foram na primeira

doação), que se acha feita a este mosteiro por Guterres e Ausindo no ano de 922, que

fica no cap.3, e noutras que pelo tempo adiante se lhe fizeram, era por assim serem

nomeados naqueles primeiros tempos sem distinção de cónegos e frades, com o qual

nome são tembém nomeados os cónegos de Santa Cruz numa carta de venda, feita no

ano de 1164, da qual as palavras que nos servem são: Hace est carta venditionis, et

firmitudinis, quam jussimis facere, Egas Godini, et uxor meã, Maria Pelagii, vobis

donno Joanni Sanctae Crucis priori, et caeteris fratibus, ibi in perpetuum

commemorantibus de illa nostra domo, etc. no qual erro hoje vemos cair muitos

escrivãos, e ainda pessoas de consideração, que querendo nomear os religiosos deste

mosteiro lhe chamamfrades de Grijó. Nem encontra a verdade que temos assentado

chamarem os dois irmãos Guterres e Ausindo, ao prelado deste mosteiro, abade na

doação que fica no cap. 3, dizendo : Inde sibi elegerint abbate, porque muitos prelados

de mosteiro de cónegos se chamam abades, como refere Lanoto, insigne historiador

dos cónegos regulares, que foi ocasião para também se chamar abade o superior que o

Mosteiro de Grijó teve em seus princípios, em que logo foi de cónegos regulares, e com

que sempre continuou.

Costume muito antigo foi, introduzido no tempo da primitiva igreja (século em que

havia mais singeleza e menos escândalo, que no destes tempos) haver mosteiros em

que juntamente havia frades e freiras, dividisos entre si com claustros e paredes,

usando da mesma igreja, de tal maneira que não pudesse perigar a honestidade, e os

mosteiros, que assim eram edificados, chamavam-se dobrados, como adverte a

história eclesiástica dos arcebispos de Braga, 1ª p., cap. 20, Estacio nas antiguidades

de Portugal, cap. 2 , Fr. António Brandão na Mon. Lus. liv. 10, cap. 44. Desta sorte foi

neste reino de Portugal o mosteiro da vila de Tomar, fundado pelos anos de 651 por S.

104

Frutuoso arcebispo de Braga, do qual mosteiro dizem fora freira Santa Erena, ou Eria,

como refere a história de Braga citada.

Foi-o também a igreja colegiada da insigne vila de Guimarães, pátria do grande rei D.

Afonso Henriques, como mostra Estacio no lugar apontado. Da mesma qualidade foi o

mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, cabeça hoje dos cónegos regulares de Portugal,

onde viviam cónegos e cónegas, como declara uma carta de venda, que já fica referida

neste capítulo, na qual indo mostrando os vendedores por onde partia a fazenda que

vendiam diz: In oriente domus sororum Sanctae Crucis, in ocidente via publica, in

aquilone rivulus de Balneis. In vero parte Africa via sororum etc. E acaba a carta :

facta carta era MCCXII.

E é muito certo, no arquivo do mosteiro de Santa Cruz, ter em si cónegas, e ainda não

faltam nele memórias que afirmam perseveraram as cónegas de Santa Cruz até ao

tempo de el-rei D. João III do nome, em que aquele insigne mosteiro se

reformou.Indícios há que fora dos mosteiros dobrados o de Arouca, que hoje é de

Freiras de S. Bernardo, como adverte a Mon. Lus. liv.15, cap. 2. Fora deste reino de

Portugal houve muitos mosteiros desta mesma sorte, e assim diz o cardeal Jacob de

Vitriaco (que floresceu pelos anos de 1220) que havia em seu tempo em Brabante e

Flanonnia muitos mosteiros de cónegas; que estavam juntos dos mosteiros de cónegos,

com os quais se achavam no coro em os dias solenes, e nas procissões fazendo coro

cada um da sua parte.

Por muito provável tenho ser o Mosteiro de Grijó, em seu princípio de cónegos e

cónegas, fundado na doação que Guterres e Ausindo fizeram a este mosteiro no ano de

922, na qual para declararem a quem deixam a sua fazenda dizem o fazem : pró

tolerantia fratrum et sororum, qui in ipso loco habitantes fuerint. E já bem pode ser

estas cónegas sejam as de que faz menção o livro de óbitos deste Mosteiro de Grijó, as

quais chama sorores de Grijó, que é o nome com que a carta de venda, referida neste

capítulo, nomeia as cónegas de Santa Cruz que dizia: In oriente domus sororum

Sanctae Crucis. E as que o livro dos óbitos de Grijó traz são: Pridie nonas martii, Troja,

decimo quarto Kalendas junii, Tareja Soares, quarto idus junii, Maria, pridie nonas

julii, Elvira, decimo septimo Kalendas Setembris, Ermesenda e Eldera, pridie kalendas

setembris, Elvira; decimo septimo Kalendas decembris, Gudinha, quinto Kalendas

decembris, Maria, nos quais lugares se chama cada uma, soror ecelesiolae. E como os

nomes com que se nomeavam sejam dos que antigamentese costumavam, fico mais

crendo serão as cónegas, que este Mosteiro de Grijó teve, as quais entendo já não

havia no ano de 1093 em três de Outubro, ano e dia em que o ilustre D. Soeyro

Fromarigues fez a este mosteiro a doação de que já fizemos muitas vezes menção, que,

a have-las ainda, horvera-se nela de fazer menção das cónegas. E seria porque já S.

Gregório, papa, tinha estranhado haver estes mosteiros dobrados, como diz Santo

António, história, 2ª p. tom. 12, cap. 3, § 14, e o concílio Niceno II, can. 20, e tinha

105

proibido, ainda que tarde se emendou este costume em Hispanha, como advertiu

Estacio nas antiguidades de Portugal, cap. 3º., donde vendo o papa Pascoal II que em

Galiza continuava escreveu ao bispo de Sancto Iago, D. Gelmires, extinguisse de todo

estes mosteiros de freiras, e foi a carta escrita em S. João Lateranense no ano de 1103,

como se pode ver em Marianna liv. 10 cap. 11, que devia ser o fundamento por onde as

cónegas do Mosteiro de Gtijó se extinguiram, e ficou de cónegos regulares, com que

hoje continua com grande louvor de Deus e edificação dos seculares por respeito da

grande observância que nele têm.

Da variedade e numero de religiosos que o Mosteiro de Grijó teve até ser reformado.

Cap. 14

Três géneros e castas de religiosos acho houve no Mosteiro de Grijó pelo decurso do

tempo, até ser reformado. Alguns chamam cónegos obedienciais, os que professavam

muitas vezes com breves Apostólicos, que mandavam ps admitissem, e o modo da sua

profissão era serem recebidos pelo convento, nem fazerem novociado, tomar o Ptior-

Mór as mãos de tal professo entre as suas, dizendo-lhe prometia obediência e pobreza

conforme a sua regra de Santo Agostinho, e dizendo que sim: dizia – In nomine Patris,

er Filii, et Spiritu Sancti, Amen. O prior lhe deitava desta sorte a bênção, estando o que

professava de joelhos; e ficava professo, e depois iam morar onde queriam, ainda que

fosse fora do reino, levando licença do prior, que lhe passava uma carta em que dizia:

Damos licença a N. cónego obediencial deste Mosteiro de Grijó para poder estar tantos

anos em tal terra; desta maneira professou um ano de 1516 em 14 de Outubro, e assim

sei de memórias do Arquivo deste Mosteiro de Grijó, que a um desta casta de cónegos

se deu licença para estar quatro anos na ilha de Angra, onde cuido morreu. O Prior-

Mór D. João Sotil deu licença a outro chamado Pêro Dias, que professou com letras

Apostólicas, para andar fora do mosteiro por onde lhe parecesse, a qual licença depois

da morte deste prior lhe ratificou o padre Fr. Braz, reformando actualmente este

Mosteiro de Grijó.

Outra espécie de religiosos teve o Mosteiro de Grijó, que eram cónegos professos, que

serviam no coro e ministério de altar, dos quais alguns foram estudar a diferentes

universidades, com licença dos Prelados, e convento, fazendo tão grandes progressos

nas letras, que mereceram alguns o título de mestres, como foram o mestre Estêvão

que morreu indécimo Kalendas Martii; o mestre Miguel morto sexto nonas Martii; o

mestre Martinho falecido tertio Kalendas Iulii, e o mestre Fernando, que morreu

decimo quinto Kalendas Novembris; o mestre Martinus diácono, que morreu septimo

kalendas Julii, o mestre Affonsus Colimb, que morreu duodécimo kalendas August, o

metre Didacus, que morreu tertio idus Novembris, consta do livro dos óbitos da Santa

Cruz, e haveria outros muitos cuja notícia nos tirou o descuido e pouca curiosidade dos

106

cónegos, que após eles vieram, dando nota somente dos que nomeamos no livro dos

óbitos deste Mosteiro de Grijó, sem no-la dar do ano em que morreram. E o título de

mestres que tinham, seria ou por lerem nas tais universidades, ou neste mosteiro aos

religiosos dele. Também nos dá notícia o mesmo livro de um cónego chamado

Martinho presbítero, que diz era abade, e morreu quatro kalendas Setembris, o qual

devia ser abade antes de tomar hábito e com ele entrar abadia.

Destes cónegos professos teve este mosteiro alguns ilustres, e pessoas bem aceites dos

reis, e assim achei que na era de 1080 (que monta tanto como ano de 1142) havia

neste mosteiro três religiosos, que se chamam Pedro filho do Conde Afonso, e Pedro

Tissam e Soeyro, aos quais tinha tomado muito à sua conta El-Rei D. Afonso Henriques,

doando-lhe o couto, de Tarouquella para sua sustentação em quanto vivessem e por

sua morte ficasse ao mosteiro para sempre, encomendando-os juntamente muito ao

Prior que então era. O que tudo declara a doação que o rei fez, da qual as palavras que

nos servem são: Trium monachorum Petri seilicet comitis Alffonsi filii, Petri quoque

Ticionis et Suerii, qui vivit in solitudine, quae est in ripa fluminis arde comorantium,

curam agendam devote suscipio, illorumque necessitati obviaredelibero, sed quia

tantia in rebus regalis distenditur cura ut plerumque, quae studiosius agere

deliberat, necessitudine et oblivione coacta posponat salubriori usus consílio

monasterio sancti Salvatoris de Ecclesiola, de hereditate meã testamentum facio;

praedictosque dei pauperes tibi Tretisindo ejusdem loci priori, tuis que sociis, cum

summa animi benevolentica ommendo, quatenus de His hereditates redidit vestro

monasterio victum, ac vestitum competenter habeant, et post corum obitum cadem

haereditas in vestri monasterii júri perpetim testata permaneat etc. Teve também

este mosteiro um Cónego mui valido com el-rei D. Sancho primeiro de nome, chamado

Martim Pais, a quem el-rei queria tanto, que, para mostrar o amor, que lhe tinha, fez a

este mosteiro graça da ermida de Vagos com tudo a que a ela pertencia, que naqueles

tempos ara coisa grandiosa, o que declara o rei na doação que passou, onde para

declarar a razão que o movia fazer esta mercê ao mosteiro diz o fizera: Pro remissione

peccatorum meorum et pró amore Martini Petri, fratis mi, qui me multoties pró hac

largitate suppliciter rogavit; e conclue a carta: Apud Colimbriam XV calendas

stembris era MCC..XII.

Ordenou o covento deste mosteiro que destes cónegos professos estivesse em cada

igreja das que tinha à sua conta um cónego, qual o convento nomeasse, que tivesse o

cuidado de lá ministrasse os sacramentos aos fregueses, a que depois vieram dar outro

cónego por companheiro para melhor observância; com o qual modo de governo acho

este mosteiro na era de 1414, que é o ano de 1366.

Houve também neste mosteiro outra casta de religiosos chamados conversos; estes

eram leigos, e serviam de ajudar à missa e de estar nas quintas e ter o cuidado das

oficinas, e foram tantos os que este moteiro teve, que cuido que só ele teve mais de

107

todos os outros mosteiros, que em Portugal houve de cónegos regulares até à

reformação, porque só no livro de óbitos deste mosteiro se acham 74 filhos seus, e

pode ser tivera mais se não sucedera com eles o que sucedeu, e foi que, costumando

ter eles ter as suas celas no dormitório onde estavam as dos cónegos, parece tiveram

algumas queixa deles, que foi ocasião para os tirarem fora do dormitório e mandar

dormir com os nossos serventes, o que os conversos tomaram tão mal, que fazendo

queixa ao papa Alexandre lhe narraram na súplica que lhe fizeram, em que era

costume terem umas celas no dormitório com os demais cónegos, e agora os tiraram

dele, mandando-os morar com os familiares do mosteiro, o que era ocasião para não

acudirem com tanta pontualidade às missas, e aos demais ofícios, e querendo o Santo

Padre prover no que lhe pediam passou-lhes um breve no segundo ano do seu

pontificado em que cometeu o conhecimento dele ao prior do Mosteiro de S.

Domingos, e ao Guardião de S. Francisco da cidade do Porto, e achando era assim

como diziam, os proveu sem apelação nem agravo, e posto que não tenho notícia do

que os juízes apostólicos fizeram, deviam contudo de fazer com que os cónegos os

tornassem a repor no dormitório para cessar a queixa. E os cónegos deviam também

cessar de tomar mais conversos de novo. E divulgou-se isto tanto depois pelos padres

reformados, que com haver – passante de cem anos que este mosteiro é reformado,

não acho terem tomado mais que seis, dos quais excluíram do hábito dois; que eram

Silvestre da Cruz e Fr. Agostinho por seus deméritos. Entre os conversos antigos se acha

um que se chama D. Godinho, falecido quinto idus Januarii; e outro D. Sugerio que

morreu decimo quinto calendas Februarii; e um João Diácono morto idus octobris, que

parece era diácono antes de o tomarem; e os primeiros tinham o nome de D. por sua

nobreza.

Do número de religiosos que este mosteiro teve de toda esta casta não tenho certeza,

porém em sua primeira instituição poucos deviam ser, e poucos eram pelos anos de

1100, donde as rendas começaram a crescer com a devoção dos fiéis até aos anos de

mil e duzentos, e já acho pelos anos de 1366 haver estatuto feito pelo cconvento deste

mosteiro, que mandava ser necessário para o serviço do mosteiro 22 religiosos de

missa, porém, depois que os priores-mores foram leigos, tiveram as principais rendas, e

os cónegos vieram ser mais poucos, e assim só se acharem nele onze pelos anos de

1536, que foram os que deram posse do mosteiro aos cónegos reformados.

Dos nomes com que se nomeavam os religiosos do Mosteiro de Grijó.

Cap. 15

Antes da reformação cap. 15. Para maior clareza do que no capítulo antecedente fica

dito, me parece propor o presente, onde é de saber que o nome, comum e geral a todos

os religiosos, que neste Mosteiro de Grijó viveram, nos princípios da sua fundação até

108

os anos de 1093, eram frades, desta maneira os nomeiam os dois primeiros fundadores

deste Mosteiro de Grijó, Guterres, ou Gutierre, e Ausindo na doação que lhe fizeram no

ano de 922. Depois do ano de 1093 os chamavam uns, cónegos de S. Salvador de

Eccleziola: outros, cónegos ecclesionenses; e muitos os chamavam, monachos de Grijó;

assim os achamos nomeados em várias escrituras, e outros papéis antigos, que estão

no arquivo deste mosteiro.

Os nomes próprios, e patronímicos de cada um dos religiosos, que neste mosteiro

viveram, eram os que no mundo tinham, no que continuaram até ao ani de 1536, em

que o mosteiro foi reformado. No qual ano os cónegos, que o habitavam eram

Fernandianes prior, Castreiro Rodrigues, G.ar Fernando Rodrigues Pedoroza, Sebastião

Pires, João Pinto, Manoel Rebello, Sebastião Lopes, António Pinto, Francisco Corrêa,

Antonio deAllmeida. E assim nenhum cónego particular tinha dom, como hoje se

costuma, senão somente o que era prelado e superior; verdade é que alguns cónegos

achei nomeados com dom. A saber: D. Julião que morreu septimo idus octobris, que

era sacristão do mosteiro na era de 1305, decimo octavo calendas may, consta de um

prazo em que está assinado (que vem a ser no ano de 1267 em 14 de Abril) D.

Fernando, morto sexto kalendas octobris; D. Guterres, que faleceu duodécimo Kalendas

Februarii; D. Martinho, prior claustral, morto duodécimo Kalendas nobembri, dos quais

nos dá notícia o livro dos óbitos deste Mosteiro de Grijó, e deviam-se chamar assim por

terem o dom de sua geração, e antes que entrassem no mosteiro, que foi a razão por

que alguns conversos se chamaram com dom, como já fica advertido no capítulo

próximo. A razão de que hoje direi adiante, quando tratar dele depois de reformado.

Das Regras Leis e Clausura, que guardavam os Religiosos do Mosteiro de Grijó

Cap. 16

A regra que guardarão os Religiosos, que moraram no Mosteiro de Grijó desde sua

fundação, foi a go grande Patriarca Santo Agostinho, por ela ser própria dos cónegos

regulares, promigénitos e únicos filhos seus, como mostrarei na primeira ocasião que

se oferecer, os quais foram os que sempre habitaram este mosteiro, como já disse no

cap. 13º. Tiveram também os religiosos antigos leis, por onde se governaram, das quais

umas fazia o prior-mór com o convento, pelo decurso do tempo conforme as ocasiões,

que se ofereciam, com as quais topei em várias partes do arquivo deste mosteiro,

outras lhe deixava o visitador que os visitava, e a estas todas chamavam preceitos.

Com outras encontre chamadas estatutos, feitos na era de 1330 (que é o ano de 1292)

em 10 de Outubro, estando o mosteiro «sé vacante», que era o mesmo que estar sem

prior-mór, pelo prior claustral e mais convento; outras mais teriam, mas até agora não

as achei. Ainda que os religiosos antigos deste mosteiro não guardavam clausura por

particular preceito, como guardam os que hoje moram nele, contudo em seus

109

princípios eram recolhidos, não saindo fora senão muitas poucas vezes, isso com tanto

aperto, que não bastava só licença do prelado para saírem fora, mas também era

necessária licença do convento, por assim o mandar em particular lei do Papa Lúcio II,

em 2 de Maio, primeiro ano do seu pontificado (livro baio fol. 2) e no de Cristo 1144. E

o Papa Eugénio III, ano de 1148, em 8 de Setembro, quarto ano de seu pontificado,

dizendo; «Prohibemus quoque, ut nulli fratrum, prefacta professione, absque prioris

totius que cengregationis permissione liceat ex eodem claustro discedere.»

Com que davam os cónegos deste mosteiro tanto exemplo de si em seus princípios, que

una os tinham por homens de Deus, que assim os nomeia Suario Soares na doação, que

lhes fez na era de 1112 (livro baio fol. 11) sexto idus junii (que é ano de 1074, quando a

era esteja certa, do que duvido, em 8 de Junho), e ainda Soares na que lhes fez na era

de 1161, que vem a ser ano de 1123, ambos filhos de Sueiro Fromarigues e irmãos de

Nuno Soares, os quais indo falando a quem faziam doações dizem: Ut possideant illam

homines Dei. E outra feita por Toda Soares na era de 1255 (livro baio fol. 15), e outra

feita por Martim Fromarigues de uma fazenda em Sendim, que era de 1161 (livro baio

fol. 21), e o mesmo diz outra feita na era de 1173, que monta tanto como ano de 1135,

e outras que neste cartório estão. Outras pessoas os chamavam santos nas doações,

que lhes faziam como fez Maior Soares, dizendo deixando tal fazenda «sanctis

hominibus in loco praefacto morantibus.»

Também os nomeiam por homens fiéis; assim chamou Paio Soares numa doação que

lhe fez de muita fazenda, na era de 1117, 12 kalendas maii, que é ano de 1079 em 20

de Abril, dizendo «habeant ipsas haereditates homines iideles» (livro baio fol. 21). E

muitas pessoas os chegaram a nomear com este nome de seniores, como fez Sueiro

Pretario com sua mulhes Ermissinda na era de 1182, que é ano de 1144, numa doação,

na qual diz «nulli liceat nisi Ecclesiolae seniorubus» (livro baio fol. 23). O mesmo nome

lhes deu Garcia Gonçalves na era de 1201, que é ano de 1163, dizendo: «Facio cartam

testamenti monasterio. Ecclesiolae, et senioribus ibi commemorantibus», e mais

abaixo «et ipsis senioribus et corum successoribus», (livro baio, fol 22). O mesmo

nome lhes dá Mendo Affonso numa doação, que lhes faz de certa fazenda, na era de

1176 (livro baio fol.25), que parece viam aos cónegos deste mosteiro proceder com

tanta prudência e virtude, que não se diferençavam uns dos outros, mostrando-se em

tudo velhos demais, como na Escritura Sagrada, por este nome seniores populi, são

entendidos os de maiores prendas, juízo, prudência, conselho, e demais virtude, (Ita

Machado, F. 1, cap. 12, cap. 14 – Act. Cap. 4 e 6). Parece que em os dotadores darem o

nome de seniores aos cónegos deste mosteiro era por neles verem todas estas virtudes,

que era ocasião para os fiéis cristãos lhe fazerem grandes mercês, chegando muitos a

dar-lhe quanto tinham, contentando-se com que o mosteiro os sustentasse enquanto

vivessem, como achará o que ler o arquivo deste mosteiro. E os reis deste reino lhe

deram muitos privilégios, e fizeram outras mercês, que iremos vendo em seus lugares,

na qual perfeição continuaram muitos centos de anos, e ainda se tratavam com

110

respeito os cónegos deste mosteiro no tempo de El-Rei D. Afonso V, não saindo fora

senão a cavalo com aparelhos de sela e freio, e assim posto que pelos anos de 1450

não pudesse religioso algum andar em besta muar selada, por lei particular que o

proibia, contudo El-Rei D. Aonso V, que então reinava passou a 2 de Agosto do mesmo

ano uma carta, estando em Lisboa, por modo de alvará a este mosteiro que tem em

seu arquivo, em que diz: «Fazendo saber que nós, querendo fazer mercê a D. João,

Prior do nosso Mosteiro de Grijó, temos por bem e queremos d’aqui em diante elle e

dous religiosos, que comsigo tomar, e a algumas partes mandar por seu proveito,

possam andar em bestas muares de sellas e freio, sem embargo de quaesquer leis

etc. E assim mando ás justiças as não coutem.»

Qual fosse o breviário por que rezavam os cónegos deste mosteiro não tenho até agora

nptícia certa; porém parece-me seria o que era naqueles primeiros tempos comum em

toda a hespanha, para o que é bem se saiba de como no quarto Concílio Toletano,

celebrado no ano de 633, ou 634, sendo rei de Hespanha Sisenando, se encomendou a

Santo Isidoro, bispo de Sevelha, presidente do mesmo concílio, fizesse um missal e um

breviário, que corresse em tofa a Hespanha, o que de facto fez o santo arcebispo, e foi

breviário de tanta satisfação, que o aprovou por vezes a Sé Apostólica, e assim se usou

dele por muitos anos em toda a Hespanha, pelo qual ainda se reza numa capela da Sé

de Toledo, como adverte o Catálogo dos Bispos da Sé do Porto, 1ª p., cap. 6, a qual

capela chamam dos mossarabes, e ao ofício, ofício mossarabe, ou mixtarabe, sendo a

razão por ser este ofício o que rezavam os cristãos que viviam entre os árabes, que

conquistaram Hespanha, porque, ainda que os mouros entraram em toda a Hespanha,

e possuíram quase todas as terras do nosso Portugal, estiveram pouco tempo em

algumas, e noutras consentitam houvesse cristãos, pagando-lhes por isso certo tributo,

como deixamos assentado no cap. 12, e assim por este respeito persevaria o breviário

de Santo Isidoro nestes reinos, pelo qual rezariam em seus princípios os cónegos deste

mosteiro de Grijó; e tenho para mim perseveriam com esta reza até ao ano de 1137,

pouco mais ou menos, que foi o tempo em que D. João Peculiar esteve eleito em bispo

da Sé do Porto, estando actualmente reformado este mosteiro, na qual reforma é

muito possível mandasse rezar o breviário com que rezassem os cónegos do Mosteiro

de Santa Cruz de Coimbra, donde ele era cónego, e dos primeiros que houve naquele

mosteiro, visto serem todos da mesma profissão, e o breviário por que rezavam então

os monges de Santa Cruz era o por que rezavam os cónegos de S. Rufo, sito em

Avinhão, aonde o mandaram buscar e juntamente as constituições que tinham, a saber

das cerimónias, que guardavam, por terem ao mosteiro de S. Rufo em grande

observância, na qual queriam pôr também o Mosteiro de santa Cruz, pelo que deste

ano de 1137 em diante deviam os cónegos do Mosteiro de Grijó rezar pelo breviário

com que rezavam os cónegos do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. E já bem pode ser

que também se governariam pelas mesmas instituições, porque se governavam os

cónegos de Santa Cruz, e fariam as cerimónias que nele se faziam, para que en tudo se

parecessem filhos de S. Agostinho e irmãos da mesma regra e hábito; e pelo tempo

111

adiante iriam acrescentando a estas, ou diminuindo delas o que o tempo trouxesse;

porém, como de isto não tenho a certeza, não o deixo dito acima. Era tão em estima

um breviári, que consta de uma doação, que neste cartório está feita, na era de 1178,

na qual Pedro Paedis, abade da Igreja de Avançada a este mosteiro o seu breviário

(luvro baio, fl.29).

A quem estavam sujeiros os religiosos deste mosteiro, assim no temporal como no

espiritual.

Cap. 17

Diz Gabriel Pannoto na Historia Geral dos Cónegos regulares, liv. 2, cap. 61 in fine, que

o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra no princípio da sua fundação excrevisse in

congregatione multorum collegiorum, no que parece supõe este autor eram

antigamente os mosteiro de Cónegos Regulares de Portugal postos em congregação,

que me não parece houve em algum tempo, antes entendo que sempre cada um dos

mosreiros de Cónegos Regulares se governou por si, sem dependência de outro, de

sorte que ainda hoje se governam muitos mosteiros de Cónegos Regulares, que estão

no estado de Polónia, bem assim que os cónegos de uns mosteiros iam morar a outros,

como sucedeu a Santo António de Pádua, que, sendo filho e cónego do mosteiro de S.

Vicente de Fora, de Lisboa, veio morar ao de Santa Cruz de Coimbra; ainda iam ser

priores a um mosteiro os que eram cónegos de outro, como temos notícia de um D.

Pedro Soares, ou D. Soares, que, com ser cónego de Santa Cruz, veio ser prior deste

Mosteiro de Grijó, de que me deu notícia o livro de óbitos deste mosteiro, onde se diz

sexto Kal. Decembrio obiit D. Soerius Canonicus Dancta Crucis, et quimtus Prior Sancti

Salvatoris Ecclesiolae, de que determino tratar em capítulo particular, deixando neste

assentado não fora alguma hora o Mosteiro de Grijó posto em congregação, nem

nenhum dos mais de Portugal, porque a haver tal congregação houvera de constar-nos

de algum geral que houvesse, assim como nos consta dos priores que cada mosteiro

teve, e assim cada mosteiro se governava por si, sem subordinação a outro, da maneira

que hoje vemos governarem-se neste reino de Portugal os mosteiros de freiras.

Contudo, assim como o corpo natural é necessário tenha cabeça que o governe, da

mesma sorte o corpo místico (que é qualquer comunidade) tem necessidade de cabeça,

e quando esta é somente então o governo é melhor, como notam os que desta matéria

escrevem, e provando por melhor o governo «monarchico», fundado no dito comum –

Omnis gubernatio est a bono. Esta cabeça não faltou ao Mosteiro de Grijó, porque

sempre teve prelado que a governou por todo o discurso do tempo, assim no espiritual

como no temporal, e quais e quantos prelados fossem diremos adiante; por ora fique

certo teve sempre prelados, a quem os cónegos deste mosteiro obedeciam, e por ele

recebiam os castigos que lhes dava, e assim se algum fugia do mosteiro o mandavam

112

buscar por justiça, e como algumas vezes sucedia irem-se meter em casas de pessoas

poderosas os que algumas vezes saiam furtivamente do mosteiro, de onde o prior os

não podia tirar, deu conta a el-rei o prior, o qual lhes passou uma carta, (que este

mosteiro conserva em seu arquivo) em que o rei manda às justiças os vão prender,

onde quer que estiverem, e os tragam ao mosteiro, e assim o prior deste mosteiro era o

que castigava os cónegos dele, que via faltos e defeituosos em alguma das leis,

costumes e observância do mosteiro, pelo que para que não pudesse outro superior

castigá-los concedeu el-rei D. Afonso V na era de 1393, ano de 1355 que as querelas ou

denunciações, que se fizessem em algum tribunal deste reino de algum cónego deste

mosteiro fossem remetidas ao seu superior, a qual carta está no cartório deste

mosteiro. Reservava o prelado alguns casos assim de que só ele os podia absolver, pelo

que quando dava licença a algum cónego para ir fora por espaço de tempo, na carta,

que lhe passava, declarava se poderia absolver dos casos que assim tinha reservados,

como achamos em alguns, passados a certos cónegos.

Verdade é certa que, além das repreensões ordinárias, que o prelado dava aos cónegos

deste mosteiro, vinha em cada ano visitá-lo tam in capita quam in membris um

visitador, que sempre era apostólico, e tenho notícia se chamou um destes visitadores

apostólicos D. Guilhelmo Pallato, que visitou este mosteiro pouco antes do ano de

1365, deixando-lhe leis particulares em prol do mosteiro, a quem dava este um certum

quid (tombo do mosteiro, fol. 35) quando o vinha visitar, e sei que no ano de 1366

importava dezanove libras e meia, com que os cónegos andavam mais avistados com

as leis de sua obrigação.

113

ORDEM DOS HOSPITALEIROS OU CAVALEIROS DE S. JOÃO

DE JERUSALÉM – ORDEM DE MALTA

Após a tomada de Jerusalém, pelos Cristãos, nos fins do século XI, cerca

do ano de 1046, um grupo de mercadores da zona italiana de Amalfi,

fundou ali uma pequena casa religiosa, inspirada na Regra de S. Bento e

destinada a receber peregrinos, a dar-lhes asilo, a tratá-los nas suas

doenças. Chamavam-lhe «Casa dos Pobres do Hospital de Jerusalém» ou

«Hospital de S. João» - 1099.

Esta instituição foi confirmada em 1113 pelo Papa Pascoal II, Bula (Piae

postulatio), como Congregação de S. João, que deu origem à Ordem dos

Hospitaleiros ou Cavaleiros de S. João de Jerusalém. Bem depressa viria

esta Ordem a estabelecer-se em Portugal.

O antigo Mosteiro de Leça estava ligado ao da Vacariça, foi doado à

Ordem do Hospital no segundo quartel do século XII.

Em 1118 começou a vigorar a bula de Pascoal II, possivelmente terá sido

por esta bula que foi feita a doação de «Lessa» ou Leça à Ordem do

Hospital.

.

114

Mosteiro de Leça do Balio

A Casa de Jerusalém, devido às epidemias que afligiram os Cruzados e

peregrinos, chegados ao Oriente, em breve se converteu numa vasta

enfermaria. Com a fomentação das Ordens Militares, Papa Urbano II,

Concílio de Clermont (1095) e a exemplo dos Cavaleiros do Templo, que

combatiam os infiéis e defendiam o Sepulcro de Cristo, propunha-se a

defender iguais propósitos, convertendo-se em Ordem Militar. Contudo,

conservou o carácter beneficiente, mantendo, nas suas casas, os serviços

de assistência (agasalho e enfermagem) dos peregrinos. Foi em 1120 que

o francês Raimundo du Puy, nomeado Grão-Mestre, acrescentou ao

cuidado com os doentes o serviço militar.

No ano de 1122, era de 1160, a Ordem já está dotada, com legados, e está

possuindo ou ocupando o Mosteiro de Leça (distante pouco mais de uma

légua da Cidade do Porto, junto do Rio Leça, de que tomou o nome) com

muitas herdades, coutos e pertenças. No mesmo ano de 1122, 28 de

115

Julho, existe uma Escritura de Contrato e Composição, que fez o Bispo D.

Hugo com Martinho, Prior do Mosteiro de Leça, aparecendo este com

toda a regularidade conventual de Prelado e súbditos, remitindo-lhe por si

e seus sucessores a obrigação do jantar (colheita ou contribuições, a que

sempre ficarão obrigadas as referidas Ordens) em que só pelo referido

Mosteiro lhe era obrigado: doação pelo Prior da Ordem ao Bispo do Porto

de diversos bens.

É difícil fixar ao certo, quem concedeu a primeira doação à Ordem do

Hospital; se o Conde D. Henrique com sua mulher D. Thereza; se esta

juntamente com o seu filho, ou finalmente se este só, naquela parte das

conquistas de seu Pai em a Província do Minho e Galliza, de que somente

tinha ficado mais liberto Senhor, continuando a sua Corte em Guimarães?

Pode-se conjecturar que D. Afonso Henriques, imediatamente que ficou

de posse pacífica de todo o Reino em 1128, se lembraria muito

naturalmente de confirmar a Doação, ou fazê-la como de novo, a uns

Cavaleiros e Donatários, de que cada vez iria recebendo mais serviços.

Em 1130 o Papa Innocencio II dá enorme distinção à Ordem, pelo

empenho na defesa da Terra Santa. É desta época, em que todos os

Príncipes, Senhores, e Poderosos, repartem de suas rendas (com mão

mais larga) a favor da Ordem do Hospital, que adquire possessões, Igrejas,

Terras, por esmola e doações, às quais chamou Comendas, entre as sete

Nações e Províncias do Ocidente, que são: Inglaterra, Provença, Alvernia,

França, Itália, Hespanha (antes da sua divisão) e Alemanha.

A Ordem foi introduzida em Portugal quase ao mesmo tempo que foi a

dos Templários. Segundo D. Armindo Lopes Coelho, Bispo do Porto, na

Homilia, da celebração de encerramento das Comemorações do Milénio

da História do Mosteiro de Leça do Balio, 14 de Março de 2004, «foi na

aproximação do Rio Leça, no lugar de Recarei, que houve um modesto

cenóbio, de carácter familiar, documentado desde 1003. Sucedeu-lhe, em

continuidade, uma construção românica do século XII, a qual terá recebido

os primeiros Hospitalários portugueses. São pouco consistentes as datas e

vagas as circunstâncias da sua chegada e implantação. Fala-se da

interferência do Conde D. Henrique, insiste-se mais na doação de D.

116

Teresa, por ventura em 1112 (para outros, um pouco mais tarde). Admite-

se porém, e pacificamente, que no tempo de D. Afonso Henriques, os

Hospitalários se integravam na vida do Reino».

Efectivamente, em 1123, D. Afonso Henriques concede carta de couto,

separado da cidade do Porto e dá privilégios. Leça do Balio foi pois a

primeira sede e casa – mãe do Grão-Priorado em Portugal da Ordem

Militar dos Hospitalários, que muito contribuiu para o desenvolvimento

daquelas Terras da Maia (hoje integradas em Matosinhos).

Em 1157, D. Afonso Henriques e D. Mafalda fizeram doação do couto do

mosteiro ao procurador D. Raimundo e ao prior de Portugal e Galiza D.

Ayres, da ordem de Jerusalém. Este couto foi confirmado em 1166 (Couto

de Santa Maria de Leça do Balio).

O convento de Leça foi reedificado por D. Gualdim Paes de Marecos, em

1180 e dedicado a Santa Maria. No ano de 1192, D. Sancho I outorgou a

Rodrigo Paes, prior da Ordem do Hospital a carta de confirmação do foro

que seu pai dera a D. Raimundo, senhorio real nos seus coutos. O MESMO

d. Sancho I reformou e ampliou a Igreja e casa de Santa Maria de Leça do

Balio em 1212.

No ano de 1330, Estêvão Vasques Pimentel, investido na qualidade de

Bailio de Leça, realizou importantes obras com o intuito de ampliar o

secular mosteiro dos beneditinos em substituição da primeira igreja,

arruinada e sem grandeza. O admirável templo que ainda hoje, depois de

ter resistido longamente às injúrias do tempo e dos homens, merece o

nosso respeito e o nosso orgulho como padrão de uma época enobrecida

poe altos heroicos ideais.

Aquele inabalável gigante de pedra, que foi talvez a albarrã das antigas

fortificações conventuais, devia possuir alicerces muito mais antigos; a sua

fundação data provavelmente do tempo em que o mosteiro passou dos

pacíficos beneditinos, que a princípio o ocuparam, para os monges

guerreiros de S. João de Jerusalém.

A importância de Leça no dealbar do século XVI justifica-se quando em 4

de Junho de 1519, o Rei D. Manuel lhe atribuía uma carta de foral. Mais do

117

que isso ainda no primeiro quartel desse século, e para fins

administrativos, Leça seria mesmo constituída em município com julgado

próprio. Por falecimento do Prior D. Frei Estêvão Vasques Pimentel ou

pouco tempo depois, erigiu-se o Crato em Grão – Priorado, e Leça ficou

sendo Comenda até 15 de Outubro de 1571, data em que foi erecta em

Baliado e seu primeiro Balio foi D. Pedro de Mesquita.

Na sequência do triunfo liberal, Leça do Balio assiste à extinção das ordens

religiosas, e logo dos privilégios e direitos que a ordem do Hospital ainda

possuía. O convento é extinto em 1834.

A freguesia em 1835 é integrada no concelho de Bouças.

ORDEM DE MALTA

Em 1194, D. Sancho I doou à Ordem dos Hospitalários, a terra Guidintesta,

junto ao rio Tejo, para aí construírem um castelo, aí o monarca, no acto da

doação pôs o nome de Castelo de Belver, que foi a segunda casa em

Portugal, que chegara a possuir treze vilas, e entre elas, Proença, Gavião.

Em 8 de Dezembro de 1231, no reinado de D. Sancho II, era prior da

Ordem em Portugal, Mem Gonçalves, foi dado foral à Vila do Crato, mas

supõe-se que conquanto a Ordem fosse senhora do Crato, ainda não havia

sido elevada a sede da Ordem.

Crato, doado por D. Sancho II à que mais tarde, talvez em 1340, veio a ser

a nova sede. O superior português era denominado de Prior do Hospital, e

a partir de D. Afonso IV por Prior do Crato, sendo com este título D. Álvaro

Gonçalves Pereira. Em 1350 passou por ser sede dos Cavaleiros de Malta,

os mais privilegiados de Portugal. A Congregação ganhou fama na Europa

e perpetuou-se com a designação de ORDEM DE MALTA, a partir de 1530,

quando se estabeleceram na Ilha do mesmo nome.

No século XIII (cerca dos anos 60) e princípios do seguinte, no oriente, a

Ordem do Hospital, perde as últimas praças que aí possuía, também no

seio da igreja existiam enormes perturbações, provocadas pelo cisma do

ocidente, o que veio a levar a diversas correções normativas, que foram

efectuadas ao longo do século XV na Ordem de Malta, contudo as

perturbações causadas à Ordem não acabaram aqui. A capitulação de

118

Rodes e a defesa desta ilha em 1522, constituíram uma preocupação do

Grão Mestre, que o leva a tomar medidas excepcionais, para a defesa da

Ilha. A Instalação da Ordem de Malta não coincidiu com o fim das

hostilidades, bem evidentes na defesa desta Ilha em 1565, o que mais

uma vez irá estar na base da resposta dada pelos freires, que saiem do seu

Priorado em defesa destes locais distantes.

O conjunto de normas e respectivas penas, aplicáveis sempre que se

verificassem certos desvios, traduzem uma crescente complexidade da

organização da Ordem do Hospital durante a época medieval e uma maior

insegurança nos órgãos conventuais, compatível com um incremento das

brigas entre freires e o seu envolvimento com a comunidade civil, fruto do

desenvolvimento da sua actuação na vida laica. Paralelamente, a evolução

das cláusulas normativas apresenta momentos fundamentais, reflectindo

as diversas conjunturas históricas, marcadas ora pela organização do

convento, pela definição dos órgãos centrais de governo e pela definição

das obrigações de cada unidade territorial, ora por dificuldades

económicas resultantes da perda de domínios na Terra Santa, ora pelo

Cisma da Igreja, ora por convulsões militares relacionadas com o avanço

dos infiéis no Mediterrâneo.

Os Grãos-Priores (num total de 35), eram providos por dez anos

prorrogáveis e gozavam no reino de honras de conde quando não eram

superiores.

A Rainha D. Maria I, por carta de 31 de Janeiro de 1790, confirmou o Breve

Apostólico do Papa Pio VI, ordenou que a administração do Grão-Priorado

do Crato ficasse unida à Casa do Infantado, que seria extinta em 1843,

assim como a Ordem dos Hospitaleiros.

O Priorado do Crato, tinha em 1834, cinco baliados: Leça, Sertã, Crato, Rio

Meão e Rossos e Fossos (Rossos junto a Arouca, e Fossos em Faia,

Cabeceira de Basto); com a extinção ficaram incorporados no Patriarcado.

No Mosteiro de Leça do Balio, casaram o Rei D. Fernando com D. Leonor

de Teles. Na Capela-Mor do Mosteiro, encontra-se uma campa rasa

brasonada (armas dos Almeidas e Vasconcelos) e, em arossólio adossado a

parede direita, a arca tumular de Fei Cristóvão de Cernache (1569). Na

119

parede fronteira situam-se os nichos que guardam os túmulos de Frei

Lopo Pereira de Lima (1684) e de Frei Diogo de Melo Pereira (1666). No

absidíolo do lado do Evangelho, encontra-se o túmulo de Frei João Coelho,

com estátua jazente. Na capela de ferro, ao lado da Epístola, está a campa

rasa do fundador, Frei Estêvão Vasques (1336), encimada por uma placa

de bronze contendo o epitáfio do defunto em caracteres leoneses.

Igreja de Rio Meão

120

AFONSO DE PORTUGAL, GRÃO-MESTRE DA ORDEM DE S. JOÃO DO

HOSPITAL

121

Afonso de Portugal (1135-1207), era filho natural de D. Afonso Henriques,

que pertenceu à Ordem de S. João do Hospital e permaneceu largo tempo

na Palestina. Foi eleito, em 1196, Grão-Mestre, embora fosse considerado

como um homem cheio de valor e de piedade, disciplinado, tanto no

aspecto militar como na sua vida regular, escrupulosamente observador

dos estatutos da Ordem, altivo e arrogante, em breve desmereceu a

confiança dos cavaleiros por se ter dado aos prazeres do mundo. Forçado

a abdicar, regressou a Portugal.

No capítulo VII, (A reacção muçulmana, pelo Prof. Ângelo Ribeiro) páginas

107 e 108, volume II, da História de Portugal, dirigida pelo Professor

Damião Peres, vem expresso que: «Afonso de Portugal renunciando ao

mestrado, voltou a Portugal. Formou-se a lenda (Crónica de Malta) de que

viera com a intenção de suceder no trono a seu irmão Sancho, pelo que

este o mandara matar «com peçonha». Brandão acentuou o nenhum

crédito que merece «a calúnia». A inscrição do seu túmulo na igreja de S.

João de Alporão, em Santarém, dá-o como falecido em 1207.»

122

O epitáfio da pedra diz: «Quem quer que sejas tu, sujeito à morte, lê e

chora. Sou o que tu serás, já fui o que tu és. Peço-te que rezes por mim.»

123

O MOSTEIRO DE SÃO PEDRO DE PEDROSO

O Mosteiro de São Pedro de Pedroso, fica situado na freguesia e Vila de

Pedroso, interior Sul do Concelho de Vila Nova de Gaia, que tem o seu

nome com origem no Castro do Monte Murado / Castrus Petrosos, ano de

7 D.C., hoje denominado Senhora da Saúde. Era um povoado castrejo

habitado pelos Trudelos Velhos, e era servido pela Via Romana, que ligava

Olissipo a Bracara Augusta.

A fundação do Mosteiro é de difícil atribuição, contudo, parece que foi

doado por D. Gondezindo e fundado, segundo Frei Luis de S. Tomaz, no

ano de 897. Era um mosteiro masculino, e pertencia à Ordem de São

Bento. A primeira menção documentada, data de 1406. Eferonio Alvites,

segundo as observâncias monásticas peninsulares, atribui o início do

século XI, como data provável da sua fundação. Cerca de 1115 – 1120,

adoptou a Regra de São Bento e das observâncias de Cluny.

124

Pedroso foi Couto e teve foral, concedido por D. Afonso, por carta de 3 de

Agosto de 1128. A influência do Mosteiro, estendia-se por vasta área (37

freguesias), desde Vila Nova de gais, Santa Maria da Feira, termo de

Aveiro, Vouga, Concelho de Lafões, Santa Eulália de Vila Maior, (Concelho

de Pereira Jusã). Possuía ainda direito de representação em 11 igrejas. Em

1547, o mosteiro tinha um terço do padroado da igreja de Milheirós de

Poiares, no termo de Vila da Feira.

Desde os princípios do séc. XV até 1560, foi governado por abades

comendatários, sendo o último o Cardeal D. Henrique, que anexou as

rendas ao Colégio de Jesus de Coimbra. A comunidade beneditina

manteve-se até à morte do último monge, ocorrida em vida de Frei Leão

de São Tomás, segundo testemunho próprio.

Até 1773, o Colégio de Jesus de Coimbra manteve religiosos no mosteiro

encarregados da administração das rendas e do serviço paroquial até à

125

sua extinção nesse ano. Os bens foram entregues à Fazenda da

Universidade de Coimbra.

O MOSTEIRO DE SÃO PEDRO DE PEDROSO – EM – “BENEDICTINA

LUSITANA – TRATADO I.” – Por: Frei Leão de São Tomás

CAPITVLO VIII

Do Mosteyro de S. Pedro de Pedroso do Bispado do Porto

De Soalhães caminhemos atê a Cidade do Porto, & passemos o Douro, hum dos

mayores rios de Hespanha, que abaixo da dita Cidade huma vé morrer no Mar Oceano,

depois de ter caminhado 120 legoas da fonte, em que nasce em o pico de huma serra

chamada Orbico, nos confins quasi de Castella, & Aragão pêra a parte de Soria, & 5

legoas acima de Garray, aonde se vê ainda ruínas de antigua, & famosa Cidade de

Numãtia terror, & eí pato da soberba Romana, pois 14 annos, ou mais se defendeo de 6

Cõsules desbaratãdo seus exércitos poderosos, & por fim de rezões quãdo os

Numatinos virão que morrião à fome, elles próprios se matarão huns soa outros, &

puzerão fogo à Cidade, & não teue Scipião Africano hum só viuo de que podesse

trumphar. Durius amnis (disse Plinio) e ex maximis Hispaniae ortus in Pelendonibus, &

iuxta Numantium &c.

Passando pois o rio Douro, & caminhado pella estrada real, que vai do porto pêra

Coimbra, têdo andado 2 legoas, acharemos á vista della pêra a parte do nascente o

Mosteyro de S. Pedro de Pedroso, do qual diz o Catalogo dos Bispos do Porto pag. 380.

O Mosteyro de S. Pedro de Pedroso foy dos Padres de S. Bento, fundação de D. Mininha

Froias, filha do Cõde D. Froias Vermoiz, bisneta do Cõde D. Monido, o I dos Pereiras: jaz

ahi enterradada, como escreue o Conde Dom Pedro tit. 7 cap.3,§ 2. O Conde D. Pedro

no dito lugar diz que o Conde Dom Froyas Vermois foy casado com D. Sanmcha, & que

della teve D. Rodrigo Froias de Trastamara (que foy casado com D. Moninha Gonçalves,

filha de D. Gonçalo Mendes da Maya o lidador,) & entre outros filhos teue também

duas filhas, das quais huma ouue nome D. Iusninha Froias, que fés o Mosteyro de

Pedroso, & outra se chamou D. Guixneya, que fez o Mosteyro de S. Martinho Iunca, &

jas a hi.

Mas ainda que concedamos, que aquela Senhora Irmã de D. Rodrigo Froias, chamada

Mininha, ou Iusninha edificou algum Mosteyro chamado Pedroso, não se segue que

fosse este nosso de Portugal; porque podia ser outro fundado em Castella, ou Galliza,

ou por ventura sete nosso reedificado, mas não fundado a primeira vez de nouo. A

rezão, que a isto me mous he, que os filhos do Conde D. Froias Vermoiz, como forão

Dom Rodrigo, Dom Pedro, Dona Mininha, & outros, o mais sedo que podião começar a

126

florecer seria em tempo de el Rey Dom Fernando o Magno, que começou a reynar no

anno de mil & vinta noue, ou de 32 pouco mais ou menos, & em tempo de seu filho D.

Gracia Rey de Galliza, & Portugal, cujo vassalo foy o famoso D. Rodrigo Froias, que

morreu junto a Santarem na baralha, que teue al Rey D. Gracia com seu irmão D.

Sancho Rey de Castella, pellos annos de Christo mil & setenta & hum. E por este mês no

tempo deuião de viuer as Irmãs do mesmo D. Rodrigo, que o Conde Dom Pedro faz

fundadoras dos Mosteyros sobreditos.

Daqui se colhe que o nosso Mosteyro de Pedroso fundado duas legoas do Porto não

podia ser edificado por Dona Mininha irmã de Dom Rodrigo Froias, pois temos escritura

muyto mais antiga, cuja data he na era de 935 que vem a ser anno de Christo 897, na

qual se faz menção do Mosteyro, poronde já naquelle tempo estaua fundado. A

escritura, que digo deuemos ao nosso Padre Fr. Bernardo de Braga, que fielmente a

tresladou do seu original, que se conserua no dito Mosteyro, & por via de hum Padre da

Companhia de ISEV morador no Collegio de Coimbra, de quem hoje he o dito Mosteyro,

tiue o mesmo tralado (am da que com o Latim bárbaro daquelle tempo).

Nota:

Optou-se por se publicar apenas a “Explicação da Escritura de Dom Gonsesindo”, uma

vez que a transcrição da referida “Escrutura” em «latim bárbaro», como refere Frei

Leão de São Tomás, se torna desnecessária, para os assuntos versados nestes

“Apontamentos”.

§ I

Explicação da Escritura de Dom Gondesindo

Este era o latim daquelles tempos antigos. A substantia delle em nosso Portuguez vem

a dizer que Dom Gondesindo filho, que foy de Heronio auo materno do nosso S.

Rosendo, & de Adosinda sua mulher, foy casado com huma senhora chamada

Enderquina, por sobrenome Palla filha do Duque, ou Capitão Mendo Guetterres, & de

sua molher Dona Ermisenda, aqul Enderquina era irmã inreyra da Rainha Dona Eluira,

ou Eruila molher del Rey de Leam, Portugal, & Galiza D. Ordonho segundo deste nome,

& mãy do Principe Dom Ramiro, que depois foy Rey segundo entre os Ramiros. De

maneyra que o Duque D. Mendo Gutterres era sogro del Rey Dom Ordonho, & Dom

Gondesindo cunhado da Rainha Dona Eluira. Estes senhores tão illustres tiuerão hum

filho chamado Suario, & três filhas cujos nomes forão Ermisenda, Adosinda, & Froyla, a

qual Froyla nasceu com algum aleyjão corporal, ou como outros querem, não teue seu

juízo perfeyto, exp’licando assim aquellas palauras (Et illa Froyla fuit: cum infirmitate

nata in nostropeccato, quia non est pró integrato sedere, &c.). E desta imperfeyção,

com que a filha nasceu, tomarão estes senhores motiuo pêra offerecer a Deos o quinto

de sua fazenda, & fazerem alguns Mosteyros nas terras, que possuião entre os rios

Douro, & Bouga, & entre o Douro, & Tamega. O primeyro, que nomeão he hum de S.

127

Miguel o Anjo fundado no lugar de Azevedo de entre o Douro, & Bouga, outro no lugar

de Sanganhedo dedicado a São Christouão, no qual lugar dizem que estava edificado a

Igreja de S. Eulalia de tempos mais antigos. E fizerão doação ao Mosteyro de S. Miguel

de Azevedo de ametade da Villa de Focinos, & de toda a Villa inteyra de Azevedo,

aondeo Mosteyro de S. Miguel estaua fundado.

Derão mais ao Mosteyro de S. Pedro de Pedroso a mesma Villa de Sanguedo inteyrapor

seus ter minosantigos, & a Villa de Adreriz, aqual ouuerão de hum Mouro Abdelga.

Estes foram os Mosteyros, que edificarão entre os rios Douro, & Bouga. Outros

fnjdàrão entre o Douro, & Tamega, hum delles se chamou de S. Pedro no

lugarchamado Dide, ao qual derão o mesmo lugar inteyro, & outro chamado Salzeto; &

outros que vay nomeando, de que não temos memoria alguma. Todos estes Mosteyros

diz que entregarão ao Abbade Dom Desterigo, & á Abbadeça Dona Giluira, debayxo de

cujo emparo auia de fiquarsua filha Dona Froyla, pêra cujo seriuçolhe deyxou cem

seruos, entre homens, & molheres, pêra a seruirem em quanto fosse viua, & que depois

de sua morte fiquassem liures, & forros.

E dspois disto acrescenta Dom Gondesindo, que morreu sua companheyra Dona

Enderquina, & que fez partilhas com suas filhas, Ermesenda, Adosinda, & Froyla,

declarando que Adosinda casara com Ansur sem sua licença. A família dos Ansures

daquelles tempos era das mais illustres, por ser muy chegada ao sangue Real, de Leão.

Morreu Ansur, & ficou Adosinda viuua, & sem filhos, que delle tiuesse, & fez um

Mosteyro no lugar chamado S. Marinha, do qual lhe fez doação; & outras herdades,

que couberão à sua parte, fez também doação dellas ao Mosteyro de Sanhuedo por

nome D. Pedro de Pedroso, & ao de S. Eulalia, que no mesmo lugar estaua fundado, &

ainda hoje S. Eulalia de Sanguedo he Abbadia secular, que rende cento & vinte mil reis,

como diz o Cathalago dos Bispos do Porto pag. 380. Deu mais a dita Adosinda ao

Mosteyro de Pedroso a quarta parte do lugar de Quiayos junto á Villa de Buarcos, &

ametade da Igreja de S. Mamede fundada nas ribeyras do rio Bougaços lugares de

Seueril, Esmoriz, & Bigas.

Conclue Gondesindo seu testamento, dizendo que deyxa ao Mosteyro de Pedroso o

Mosteyro da Labra, aonde estauão Reliquias de Martyres, com o Sagrado Lenho da

Cruz de Christo, & outras Igrejas, como são a de S. Eulalia de Gonderiz, a Igreja de S.

Martinho de Vallongo, & outra Igreja de S. Pedro de Kaufo, Igrejas quevierão à parte de

sua filha Froyla, & de tudo faziáo doação ao Moateyro de S. Pedro de Pedroso, & aos

Religiosos & Religiosas, que ahi habitauão, & que Deos pello tempo adiante trouxesse

ao mesmo Mosteyro, & perseucrassem em vida santa, & que tudo isto entregaua ao

dito Abbade Dom Desterigo, pêra que gouernasse todos aquelles Mosteyros, como

curador de sua filha Dona Froyla, que auia de estar em poder d’Abbadeça Dona Eluira,

encommendandolhe que tiuessem os ditos Mosteyros bem reparados, & que seus

sucessores não podessem vender, dar, nem testar alguma cousa das sobreditas, de que

128

lhe fazia doação sobpena de serem excomungados, & malditos, condemnados cõ Iudas

traidor, &c. Foy feyto este testamento, ou doação a vinte & sinquo de Feuereyo da era

935 que vinha a ser anno de Christo 897. Este D. Godesindo foy tio do nosso S. Rosendo

irmão de sua mãy Ilduara, & quando Gonsesindo fez esta doação ainda o santo não era

nascido, porque nasceo no anno 907, por onde não he o Rosendo Diacono que asina a

doação.

§

Della se colhe primeyramente, que o Mosteyro de S. Pedro de Pedroso não foy fundado

por aquella senhora Dona Mininha irmã de Dom Rodrigo Froias, pois nesta doação

feyta tantos annos d’antes, que a dita Dona Mininha florecese, se acha feyta menção

do Mosteyro de S. Pedro de Pedroso. E do Capitulo seguinte constara, que foy Pedroso

dotado por D. Tello Gutterres trinta annos antes que D. Gondesindo lhe fizesse à

sobredita sua doação, sinal he logo, que já antes della, o Mosteyro de Pedroso existia.

Mais era huma escritura do tempo del Rey D. Ioão o I, que faz a el Rey D. Affonso

Henriques fundador de Pedroso. Verdade he que o encoutou por 700 liuras, que o

Mosteyro lhe deu (como diz huma escritura feyra na era de 1166 que he anno de

Christo 1128 aqual mecommunicou hum Religioso da Companhia de ISEV com outra

que logo faremos menção).

Colhese em segundo lugar, que este Mosteyro de Pedroso foy duplex (como mstrão

aquellas palauras, ad Frates, & Sorores, quae ibi sunt habitantes, &c.). E confirmasse

com huma escritura da era de 1340, que he anno de Christo 1302 na qual se diz que

duas Freyras do Mosteyro de Semide sito no Bispado de Coimbra, se sairão do dito

Mosteyro com authoridade do Papa (que deuia ser Bonifacio VIII) & vierão viuer

debayxo da obediência do Abbade de Pedroso, que lhe constituhio reçoens, & ellas

derão ao Mosteyro certos casaes na terra da Feyra, que oje pertencem ao Mosteyto de

Villa Coua, do qual trataremos logo no Capitulo X. Dõde alguns conjecturão que às

Freyras de Pedroso, se passarão ao Mosteyrode Villa Coua.

Da religião deste insigne Mosteyro de Pedroso, & da Obseruancia da S. Regra não

temos outra proua mais que aquella, que nos mostra o liuro das Collaçoens, ou

praticas, que os Abbades delle fasráo a seus Monges, porque dellas se colhe

claramente, a santidade, & Religião, que no dito Mosteyro florecia. Podese ver a que

apontamos no primeyro tomo, tratando do Mosteyro de S. Maria de Miranda, & a que

fez o Abbade Dom Pelayo na era de 994 que he vndecima entre as mais; diz assim,

Fulcite vos floribus, stipate vos malis, respiciet enim Deus, & Sanctissimus Pater

noster Benedictus super domum istam suam, qua ab initio antiquitús fiorens cuns

tota Ecclesia Regni huius reflorere c.epit. Querem dizer em nossa lingoagem.

Ornayuos hirmãos de flores, cercayuos de pomos (de virtude entende, & graças) porque

Deos, & o nosso Sanctissimo Patriarcha S. Bento porá os olhos nesta sua casa, que

129

florecendo antigamente desde seu principio em santidade, & Religião, começou a

reflorecer com toda a Igreja deste Reyno.

Donde o nosso Padre Fr. Ioãp do Apocalypse tomou motiuo pêra cõjecturar que este

Mosteyro de Pedroso foy edificado a primeyra vês antes da destruição de Hespanha.

Porque do tempo, em que Dom Gondesindo fez a sobredita doação á Pedroso atê o

tempo, em que o Abbade Dom Pelayo fez a sua collação a seu Mõges, não ouue mais

que sincoenta & noue annos, porque foy feyta na era de 994 & Dom Gindesindo faz

menção do Mosteyro de Pedroso na era de 935. E parece que sincoenta, & tantos

annos não he espaço de tempo bastante pêra se dizer que florecendo a casa de

Pedroso antigamente desde seu pricipio começaua a reflorecer com as Igrejas do

Reyno, & pêra se verificar aquella clausula, qae ab initio antiquitus florens tota

Ecclesia Regni huius reflorere c.epit. E accrescento eu, que nesta escritura de Dom

Gondesindo, ainda que se faz menção do muyto, que doou ao Mosteyro de Pedroso,

não se diz expressamente, que elle o fundasse. Mas isto sirua só de conjectura, & não

de proua bastante.

Perseurou este Mosteyro de Pedroso pello menos seiscentos, & tantos annos na

Religião do Patriarchà S. Bento de bayxo de sua S. Regra. Com o fauor do Cardeal Dom

Henrique, irmão del Rey Dom Ioão terceyro, & Administrador ou Commendatario deste

Mosteyro se extinguiu, & deu à Sagrada Religião da Companhia de IESVS, vnindo hoje

ao seu Collegio de Coimbra. Em nosos tempos vuia o vltimo Monge deste Mosteyro,

chamado Fr. Aleyxo; E o Mosteyro próprio, (ainda que nos braços da Companhia) se

tem por só, vendosesem seus Monges anrigos, como diz o disthico seguinte.

En Petrus Monachis sociatus tempore longo

Quomodo nùne solus, cum socialis, adeftè.

130

Í N D I C E

Assunto Página Nº.

História Local …………………………… 4

Do Palatiolo ao Paçoo …………….…… 8

O Cartulário Baio-Ferrado …………..... 12

Os Normandos na Península Hispânica 16

OS BRANDÕES:

I – Introdução ………………… 21

II – Fernando Brandão ………. 39

III – Os Brandões de Origem

Portuguesa ……………….. 49

O Livro das Campaínhas ……………... 54

O Mosteiro de S.Salvador de Grijó ….. 57

Ordem dos Hospitaleiros..Malta …….. 113

O Mosteiro de São Pedro de Pedroso. 123

1

CARLOS ALBERTO SEQUEIRA VARELA

UMA CRÍTICA DE HISTÓRIA LOCAL

AS ORIGENS (MEDIEVAIS) DA PARÓQUIA DE S. CIPRIANO DE PAÇOS DE BRANDÃO

Paços de Brandão

01-06-2012

2

INTRODUÇÃO

O saber é o desejo de qualquer pessoa; todos, quer sejamos sábios ou ignorantes,

queremos conhecer a verdade e evitar o erro. Santo Agostinho dizia: «Omnes homines

gaudent de veritate; multos expertus sum qui vellent fallere: qui autem falli,

neminem.» (Todos os homens se regozijam com a verdade; conheci muitos que

quisessem enganar; nenhum que quisesse ser enganado.)

O desejo de saber tem que ser desinteressado; devemos amar a verdade por si

mesma, independentemente das vantagens que nos pode acarretar. Buscá-la deve ser

a lei de quem a procura; contemplá-la, a sua satisfação. Devemos conhecer as coisas

pelas suas causas, não basta saber que existe uma coisa, que se deu um facto; «o quod

sit, aquilo que é» como diz Aristóteles, não o satisfaz; quer saber o como, o porquê;

numa palavra, quer compreender, dar a razão das coisas; é um animal inquieto em

busca das causas.

A história, seja de um qualquer País, Região, Localidade, ou de uma qualquer

personalidade, quer seja nobre ou de um simples cidadão, terá como primeiro dos

objectivos, o de conhecer, na medida do possível, a verdade dos acontecimentos

históricos, das suas relações de tempo e de espaço, das correlações e implicações

causais que entre si mantêm. Será uma narração verídica de factos pelos quais passou

a humanidade. Heródoto, o Pai da História, quer que compreendamos, as acções do

homem não se deixem apagar pelo tempo. Um facto histórico tem de ter repercussão

social, isto é, ter implicações causais sobre um determinado meio, numa determinada

época .Sem documentos não se pode fazer história. Eles precisam de ser iluminados

pela crítica e terão que obedecer ao MÉTODO DA HISTÓRIA, que é o caminho a seguir

para se atingir o conhecimento exacto de um determinado facto.

É pois compreensível e determinante, que a HISTÓRIA LOCAL, tenha que obedecer aos

mesmos princípios dos conceitos que se apontam para a História em geral. Autores há

que, embora afirmando que a história era a certidão da verdade e que só diriam a

verdade. Se deixaram inconscientemente levar por certos condicionalismos, por vezes

tão anacrónicos como fabulosos, que essa «verdade» ou é apresentada muito

enfatuada ou pura e simplesmente se afasta do que deveria ser uma verdade

histórica.

Escrever sobre as origens de uma qualquer paróquia, é de uma complexidade tal, que

se é obrigado a confrontar documentos, críticas históricas, por vezes contraditórias, e,

opiniões sobre certos factos, sem qualquer prova documental, que um leitor, mais

atento e conhecedor de história, irá decerto refletir sobre, o que leu, obedece ou não

ao rigor do «Método da História».

3

PARÓQUIA DE S. CIPRIANO DE PAÇOS DE BRANDÃO

ORIGENS

As origens da nossa Paróquia de S. Cipriano de Paços de Brandão, devem ser tratadas

com muito cuidado, uma vez que só recorrendo a documentos escritos, é que se pode

tratar da sua «História», e isto porque aquilo que está narrado na única Monografia

desta localidade, descreve as suas origens com uma falta bastante notória de realidade

e verdade histórica, bem como de investigação e crítica histórica.

Esta parte da Península Ibérica, onde está inserida esta Paróquia de Paços de Brandão,

foi habitada, antes dos Romanos, por povos primitivos (Túrdelos, Pésures), que

levavam uma vida errante e que se vieram a agrupar em tribos, passando a viver em

casas dispersas, em redor de um núcleo, uma espécie de praça- forte (oppidum), que

lhes servia de abrigo, a que os Romanos vieram a chamar «civitas» ou «populi», de que

se encontram muitos vestígios entre os rios Douro e Vouga.

Na nossa freguesia de Paços de Brandão não é visível qualquer espécie de ruína, quer

de citânias, castros ou crastos, embora bem perto desta vila, no lugar do Monte, na

freguesia de Paramos – Espinho, se encontrem as ruínas de um castro (Castro de Ovil),

e que em seu redor e no da lagoa (Lagoa de Paramos) se tenha conhecimento de

terem existido «vilas rústicas», Paramos, Lagoa, Silvalde, Esmoriz, Cortegaça, Oleiros.

O Dr. David Simões Rodrigues, em “RIO MEÃO – A TERRA E O POVO NA HISTÓRIA”, diz-

-nos terem existido vestígios da cultura pré-histórica, nomeadamente de «mamoas»,

em Rio Meão, bem como nas freguesias limítrofes. Na Mata, «as Petras Penas» as

«Petras Petraes»; nos limites de Paços – Rio Meão – Lamas, a «Mamoa Cavaleira»

(pág.11 – 1º vol.). Também no Livro das Campaínhas, no «Mandamento de Saa e de

Paaçoo», no que se refere à aldeia de Saa, encontramos referência ao «cassal da

mamoa».

DO «PALACIOLO» ATÉ AO «PALACIOO BLÃDO»

Vejamos a evolução da denominação desta Paróquia de S. Cipriano de Paços de

Brandão, pelos séculos X ao XIV, e os documentos em que esta povoação é

referenciada:

DIPLOMATA ER CHARTAE

Ano de 773 (?) – Palaciolo (Doc. nº I) ; Ano de 922 – Palatiolo (Doc.nº XXV);

Ano de 1025 – Palaciolo (Doc.nº CCLVII); Ano de 1082 – Ecclesiola (Doc.nº DCVII)

CARTULAIRE GÉNÉRALE DE L’ORDRE DU TEMPLE

Ano de 1146 – Palatiolo (Doc.nº CCCCIII)

4

CARTULÁRIO BAIO-FERRADO (MOSTEIRO DE SÃO SALVADOR DE GRIJÓ)

PALATIOLO – Ano de 1134, 27 Junho (Doc.nº 206); 12 Fevereiro (Doc.nº 207)

VILLA PALATIOLO - Ano de 1135, 14 Junho (Doc.nº 209); Ano de 1141, Junho (Doc.nº

210)

K(arta) de PALACIOLO – ano de 1159 ?, Dezembro (Doc.nº 211)

HISTÓRIA DA ORDEM DO HOSPITAL / MALTA

COMENDA DE RIO MEÃO – Actas do Ano de 1220 - «PALACIOO BLÃDO».

LIVRO DAS CAMPAÍNHAS (Códice da segunda metade do século XIV) – Mosteiro de

São Salvador de Grijó

É feita referência ao “MANDAMENTO DE SAA E DE PAAÇOO”; «eigreja de Paaçoo»;

«Aldeia de Paaços»; «reguengo de Paaçoo de Brandon» e aos Fidalgos Naturais do

Mosteiro (Joham Brandon e duas filhas; Fernam Martinz (Brandon) sa irmaa;

Biringuell Diaz sua madre).

O S B R A N D Õ E S

A origem dos «BRANDÕES», bem como a de outras famílias medievais portuguesas,

tem apresentado um elevado grau de dificuldade para os nossos historiadores. Talvez

o primeiro a referir-se a esta família medieval, tenha sido Frei António Brandão (1584-

1627), deu-lhe como origem a Inglaterra; outros houve, como Alão de Moraes, Sousa e

Silva Gayo, que seguem a opinião de Frei António Brandão; outros, como Manso de

Lima, consideraram a sua origem na Normandia e ainda há aqueles que lhes indicam

como origem a Irlanda.

O certo é que nem no “Livro de linhagens do Conde D. Pedro”, nos aparece registada a

origem desta família, como também nenhum dos historiadores, nos deu a conhecer

tal. Como diz D. Pedro, no seu Nobiliário, «foram caualeiros de hum escudo e de huma

lança e nom de gran fazenda», eles só são referidos por parte das mulheres com

quem casaram.

Encontrar as origens da personalidade, que deu origem a que esta Paróquia de

Palaciolo se viesse a denominar «frigisia d’Palácio blãdo» , é o assunto que de seguida

vou tratar, sem antes, contudo, me referir a Afonso VI de Leão e Castela e aos

Borguinhões.

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AFONSO VI DE LEÃO E CASTELA

Afonso Vi, rei de Leão e Castela, era casado com Constança de Borgonha. Quando foi

vencido em Zéleca pelos Almorávides em 1086, procurou fortificar-se por intermédio

de alianças; ele casou a sua filha Urraca com Raimundo de Borgonha e a sua outra

filha, Teresa com Henrique de Besançon. Os Borguinhões que vieram então para a

Península Hispânica combateram mais que uma vez o infiel em companhia de «Ruy

Diaz de Bivar», «Le Cid», que foi imortalizado na tragédia de Corneille.

Os laços de Afonso VI com o reino ou ducado da Borgonha, eram por demais

evidentes, que a afirmação de que ele pediu reforços a Filipe 1º de Francia, não tem

qualquer sentido histórico, uma vez que a Borgonha senão tinha Rei, possuía uma

personalidade semelhante, o Duque, que tinha poderes feudais e que só por alianças

conjugais é que o rei de Francia os considerava como seus aliados. O Duque da

Borgonha, no seu território, procedia como muito bem entendia em aspectos de

auxílio a outros reis católicos em lutas que travassem contra os Mouros.

A afirmação de que, com os Cavaleiros da Borgonha (Raimundo e Henrique) vieram

fidalgos da Normandia, que se distinguiram nas hostes de Henrique, é feita sem

qualquer fundamento histórico, quem o afirmou revela um total desconhecimento da

História da Normandia e da Borgonha, deste período da Idade Média, contemporânea

dos “DESCAPÉTIENS – Rois de France”. Diziam eles a respeito dos Normandos: «Les

Rois de France regrettaieent constamment la perte d’une de leurs plus belles provinces,

conquise sur eux par les guerriers du Nord; ils regardaient les ducs de Normandie

comme des vassaux infidéles, comme des rivaux et voisins dangereux». (Histoire –

DESCAPÉTIENS – Rois de France, par M. Le Comte de Ségur – Paris M.DCCC.XXIV).

FERNAND BLANDON

FERNÃO BRANDON (1109-1131) – É referido como sendo «cavaleiro Normando» que

terá acompanhado Henrique de Borgonha, quando este casou com a condessa D.

Teresa, filha de Afonso VI de Leão e Castela, e, a quem lhe teria sido doada esta

povoação de Paços em 1095. Esta data de 1095 é por diversas vezes referida na

monografia de Paços ( “OS 900 ANOS DE PAÇOS DE BRANDÃO” – 1995- Junta de

Freguesia, autor, o Sr. Padre Correia), como sendo a data em que tal personalidade

tomou posse desta terra.

Consultando-se diversos compêndios sobre história medieval, fica-se a saber que:

«Até 1096 o território português, desde o rio Minho ao Mondego, estava sob a tutela

de Raimundo da Borgonha e, é possível que estivesse unido à Galiza, só a partir

daquela data (1096) é que foi entregue a Henrique de Borgonha e á condessa D.

Teresa. Como poderá, em 1095, o conde Henrique e a condessa D. Teresa efectuar

6

uma doação de uma qualquer parte de um território que só lhe foi entregue para

administração e governo no ano de 1096?

Ao se procurar a referência do apelido «Blandon» no Dicionário histórico e heráldico

de França (Dictionnaire – Historique et Héraldique – de la Noblesse Française – par D.

de Mailhol – Tome Second – Paris 1896) tal apelido não aparece referenciado, passo

pois a descrever as denominações que lá se encontram, e, que em português, podem

dar origem a denominações idênticas a «Brandão».

BRANDE – Família nobre de origem belga, residente em França – Século XIX.

BRANDT – Família originária dos Países Baixos, com existência em França cerca de

1500.

BRANDIN DE SAINT-LAURENS – Família originária da Normandia e remonta ao século

XV.

FOUCHER DE BRANDOIS – Família Nobre de Potou, barões de Brandois, o nome de

Foucher é conhecido desde o século X.

Pelas consultas efectuadas não se chega à confirmação de que o «Blandon» é

Normando e muito menos Francês, pelos documentos existentes desde o século X.

Uma vez que apelidos idênticos a «Blandon» e que devido à sua evolução deram

origem a «Brandão» são referenciados em documentos portugueses, desde o século X,

só me resta afirmar que a origem do «Blandon» é bem portuguesa, senão vejamos:

BRANDILUNI – Documento referente à igreja de Águas Sanctas, é testemunhado, entre

outros, por «anagildus brandiluni». )DP. Chartae nº XIII) . Ano de 906.

BRANDILIZ – Testamento referente ao «Monastéri Morariae), confirmado por: Osório

brandiliz; geda brandiliz; odario brandiliz. /DP.CH.nº LVI – Ano de 946)

BRANDON – BLANDILA – Documento do Livro Preto da Sé de Coimbra (DP.CH.nº XCIII

– Ano de 967. (É a primeira vez em que é mencionado o nome, BRANDON e

BLANDILA).

BLANDO – Livro das Doações do Mosteiro de Paço de Sousa. Confirmação por

«Trutesendo testi.Blando». (DP.CH.nº CCXXVI – Ano de 1015).

BRANDIA - «Karta de Tarouquela» - Confirmação por «Brandia test», referente ao

Mosteiro de Grijó (Baio-Ferrado, Doc. 128 de 1079, 12 Abril; DP.CH.nº DLXVI – Ano de

1079)

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FERNÃO BRANDON (1109-1131) – Em 1109, Documentos Medievais Portugueses, T.III,

doc.324, aparece este «Brandon» referenciados em Souselas (Coimbra) e em 1131

confirma documentos do Mosteiro de Lorvão (Fernandus Brand)

Este Fernandus Brand, é descendente de Trutesendo Venandiz (1075-1084), fidalgo

oriundo da «Terra da Maia».

OS DETENTORES DE PROPRIEDADES EM PAÇOS DE BRANDÃO (IDADE

MÉDIA)

GODINHA ABOMAR – Vem identificada numa venda de metade de “uilla que vocitant

Palaciolo” sita “sutus mons Sagitella”, “inter Palaciolo et uilla Nugaria”, “qui fuit de

Avorna Didaz”, feita por seu irmão SENDINO e por ela (Doc.de Dp.CH. nº 257 de

1025); sabendo-se que por este documento de 1025 e por outros de 972 (DP.CH. nº

76) e de 1027 (DP. CH. Nº 262) que esta «villa», chamada “Palaciolo” (Paçô),

pertenceu a Avorna ou Abomar Dias e que os netos do Mestre Evenando vieram a ter

assento aqui e a chamar-se BRANDÕES, só pode ter sido por esta Godinha ter casado

com o dito Mestre Evenendo e ficado herdeira da outra parte de herdade de Paçô.

TRUTESENDO VENANDIZ, INVEANDIZ (1075-1084) e talvez só INVEANDRO ou INVRANDO,

em 1092 e 1099, possivelmente também chamado TRUTESENDO ABOMAR, como aparece

em 1080, notário do Mosteiro de Grijó em 1075 (Baio-Ferrado, Doc. 147, de 1075, 31

Janeiro), vende terra em Corveiros (Grijó), que tomara de “gaancia”. Devia ter herdado

Paçô e aí vivido.

Não consta com quem casasse, mas teve os seguintes filhos:

1 - Diogo Trutesendes (BLANDON)

2 – Fernão Brandon (1109-1131), já referenciado nestes apontamentos.

3 – Paio Trutesendes (BRANDON)

4 – Godinho Trutesendes (Proprietário das “vilas” Casal, em Rio Meão, e Brantães, em

Semonde).

5 – Mendo Trutesendes.

DIOGO TRUTESENDES (BLANDON) – patrono da “villa Palacios” e de parte do

mosteiro de Vilar de Andorinho, cujos bens menciona em 1136 e, com seus filhos e

netos, faz doação da 5ª parte deles ao Mosteiro de Pedroso (Dissertações

Chronologicas, t.I, doc. XXXIX).

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PEDRO DIAS (BRANDÃO) – mencionado por seu pai, Diogo Trutesendes (Blandon), em

doc. de 1136. Casou com ERMESENDA VIEGAS, que, em Agosto do ano de 1146

(Cartulaire Générale de l’Ordre du Temple, acta CCCCCIII), com seu filho Gonçalo, doou

à Ordem do Templo seus bens em “território Sancte Marie civitatis, scilicet Palatiolo”.

GONÇALO PIRES BLANDON (1136-1224), filho de Pedro Dias (Brandão) e de

Ermesenda Viegas, casado com D.OUROANA PERES, ama da Rainha D. Mafalda, em

1220, Dezembro, comprou uma herdade “in terra da Sancta Maria in loco qui dicitur

Palaciolo et extra Palatiolum et ubicumque fuerit” (Mosteiro de Arouca, doc. 226,

pg.357 – Maria Helena da Cruz Coelho).

PAIO TRUTESENDES (BRANDON) , filho de Trutesendo Venandiz (Abomar), comprou

em 1137 (Baio-Ferrado, doc. 207) uma herdade a Nodário Cides e a sua mulher, Elvira

Pais, “in villa de Palatiolo”,cuja herdade e outros bens legou uma parte em 1146 à

Ordem do Templo (Cartulaire Gánárale de l’Ordre du Temple, acta CCCXIV), e a outra

parte ao Mosteiro de Grijó, em 1151 e 1154 (Baio-Ferrado, docs.nºs. 50, 98 e 181).

PATRONOS DE GRIJÓ

No Livro das Campaínhas (Códice da segunda metade do século XIV), encontramos a

lista dos fidalgos naturais do Mosteiro de Grijó. No que se refere a «outros cavalleiros

e escudeiros gerados (?)», encontramos entre outros:

- Joham Brandon e duas filhas;

- Fernam Martinz (Brandom) sa irmaa;

- Beringuella Diaz sua madre.

Consultando-se Felgueiras Gayo, «Nobiliário de Famílias de Portugal»; Cristóvão Alão

de Morais, «Pedatura Lusitana»; M. Antonino Fernandes, «Os Brndões – Origem e

Varonia (938-1663)»; entre outros autores, ficamos a saber que Biringuella Diaz (do

Avelal), era casada com Martim (Pires) Brandom e que tiveram os seguintes filhos,

que estão assinalados no Livro das Campaínhas como fidalgos naturais do Mosteiro de

S. Salvador de Grijó. (Não nos devemos esquecer da importância da transmissão dos

direitos de padroado, que no caso acima referido, é transmitido por via feminina).

1 – Dona maria Brandoa, que casou com Vasco Esteves das Medas ou Medãs, patrono

do Mosteiro de Pedroso, em 1363, e filho de Estévão Martins de Medãs.

2 – João Martins Brandão, que D. Pedro I nomeou Alcaide-mor de Penamacor em

1362 e, segundo a lista dos Patronos de Grijó de 1365, tinha duas filhas, que não são

nomeadas, com ração neste mosteiro; em 1387, sua mulher fez testamento,

acrescentado em 1395, a favor do Mosteiro de Paço de Sousa, pedindo para ser

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sepultada neste mosteiro, junto a seu marido e filho Rui. Casou com Dona Leonor

Esteves das Medãs, sua cunhada; c.g.extinta.

3 – Fernão Martins Brandam, Alcaide-mor de Arronches, em 1363 por D. Pedro I,

Regedor de Évora (1391), Aio de D. Fernando (1373), pelo rei D. Pedro foi Monteiro-

mor do Coutado de Vale de Arca (Montemor-o-Novo) em 1369. Casou em Évora com

D. maria de Brito, filha de Afonso de Brito, Alcaide de Beja, (tinha ração no Mosteiro de

Grijó, com sua mãe e irmãos em 1365), de quem houve um filho: Lopo Fernandes

Brandão.

Quem eram Martim (Pires Brandom) e Biringuella Diaz (do Avelal) ?

Cristóvão Alão de Morais, na «Pedatura Lusitana» (Nobiliário de Famílias de Portugal),

bem como Felgueiras Gayo, no seu «Nobiliário», dizem-nos que: «O Conde D. Pedro no

seu livro não faz título particular dos Brandões, e só fala neles por razão de algumas

mulheres com quem casaram; diz-nos que Mayor Rioz Durão,filha de Ruy Diaz Durão e

neta de Diogo Gil, fidalgo valente que morreu na batalha de Ourique, casara com

Garcia Martins Brandão e tiveram os seguintes filhos: Pedro Garcia, João Garcia e Gil

Garcia, que todos foram cavaleiros de uma lança e pouca fazenda».

Diz mais o mesmo Conde D. Pedro que D. Euxamea Diaz de Urrô (A Bespa), por ter

sido ferrada por uma vespa nas partes íntimas, de que sofreu muito, tendo deixado a

todos os seus descendentes a obrigação de matar vespas onde quer que as

encontrassem, filha de Diogo Gil Valente, e de sua mulher Urraca Mendes de

Bragança, irmã de Rui Dias de Urrô e de João Dias de Freitas, casara com Fernão

Gonçalves de Sousa (1118-1175) cavaleiro da Terra de Sousa, de que houvera D.

Theresa Fernandes, casada com Martim Brandão (O Velho).

Martim (Pais) Brandom (O Velho) é o primeiro com o apelido de «Brandão» a figurar

no Livro de Linhagens de D. Pedro. É também mencionado como padroeiro do

Mosteiro de Lordelo. Era filho de Paio Trutesendes (Brandon) e de Unisco (Dias) (2º

casamento). Este Paio Trutesendes, comprou uma propriedade na «Villa de Palatiolo»

a Nodário Cides e sua mulher, Elvira Pais, em 12 de Fevereiro de 1137 (Baio-Ferrado nº

207). Como já está assinalado, casou com D. Thereza Fernandes, de que tiveram os

seguintes filhos: Pero Martins Brandom; Garcia Martins Brandom e Egas Martins

Brandom.

Pero Martins Brandom, assim mencionado no Livro de Linhagens do Conde D. Pedro, é

suposto ter vivido na Terra da Feira em 1248 com seus irmãos, era patrono do

Mosteiro de Lordelo, onde possuía 5 casais e dois em Redemoinhos (Inq. Afonsinas,

Manuel de Sousa e Silva, Os Brandões); casou com Dona Orraca Pires, filha de Pêro

Bool e mulher Dona Sancha Rodrigues, de Azambuja. Filhos:

1 – Martim (Pires) Brandom (O Novo).

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2 – Garcia Pires de Frazom ou Farezom, assim chamado por ter vivido na honra de

Frazão (Paços de Ferreira).

Martim (Pires) Brandom (O Novo) casou com Dona Berengária Dias de Avelal, patrona

do dito Mosteiro de Grijó. Segundo as Inquirições de D. Dinis, honrava o casal de

Travaços, em Luzim, e 6 casais na freguesia de Rio de Moinhos; faleceu em 1336 e no

seu testamento deixou bens ao Mosteiro de Grijó para a celebração de uma missa

perpétua.

Dona Berengária Dias de Avelar (1314-1374), casou 2ª vez com João Afonso de Sanir.

Era filha de Diogo Gil de Avelal (1261-1388), que em 1333 vivia na Terra da Feira e

casara com Maria Anes de Cambra.

Os filhos de Martim (Pires) Brandom e de Berengária Dias do Avelal, Dona Maria

Brandoa, João Martins Brandão e Fernão Martins Brandão, como já foi assinalado,

aparecem na lista dos Patronos de Grijó, (Livro das Campaínhas).

“OS PATRONOS DO MOSTEIRO DE GRIJÓ” (Evolução e Estrutura da

Família Nobre – Séculos XI a XIV) – Dr. José Augusto P. de Sotto Mayor

Pizarro (páginas 417 e sgs.) - Diz-nos que: «O grupo das famílias que é

representado pelos ricos-homens naturais de Grijó, identifica-se, na sua quase

totalidade, com a alta nobreza da época. A casa de Barcelos destaca-se de todas as

outras quer pelo seu prestígio e influência “palatiana” quer pelos seus bens que,

encabeçados pela minhota vila que dá o nome ao condado, se estendem por várias

zonas do território nacional .As honras e os coutos possuídos pelos condes e seus

parentes permitem-lhes o exercício de vários poderes, que os monarcas confirmam,

numa clara demonstração de apreço pela família mas, também, de autoridade régia

afirmada que, agora, é a verdadeira detentora e distribuidora do poder.»

«A progressiva ocupação de zonas a sul do Mondego e do Tejo por parte da alta

nobreza marca também, a partir de meados do século XIV, o final da identificação do

Entre-Douro-e-Minho com o local privilegiado para a fiação patrimonial daquela.»

«Os ricos-homens de Grijó representavam, assim, no seu conjunto, um poder territorial

e senhorial considerável, a que acrescentavam o seu relacionamento com a corte, onde

muitos deles, desempenhavam importantes funções.»

«As famílias de infanções, que pelo seu número seria fastidioso enumer, parecem

concentrar os seus bens a norte do Douro, quer até às margens do rio Mimho quer em

algumas zonas transmontanas, e a sul daquele rio, em regiões situadas nos vales do

Vouga e do Paiva. São poucas as que representam as zonas centro (Cunhas-Tábua e

Goes) e sul (Cogominhos) do país.»

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«Os seus representantes em Grijó são os componentes preferenciais das clientelas

vassálicas dos infans e monarcas. A sua importância na corte, porém, era secundária,

ocupando postos de segundo plano. O seu peso em termos senhoriais era também

reduzido, a ver pelo pequeno número de honras e coutos que detinha.»

«A sua influência, ou mesmo pressão, a nível local seria, porventura, bem maior que a

dos ricos-homens, geralmente fixados na corte e tendo as suas terras administradas

por dependentes de confiança.»

«Finalmente os cavaleiros-escudeiros. Os bens das famílias que conseguimos

identificar, situavam-se também no Entre-Douro-e-Minho, muito embora se verifique

uma importância considerável da Terra de Santa Maria, provavelmente,

administravam diretamente, não deviam ser muito extensos. Considerável seria a sua

influência a nível local marcada, por certo, pela presença constante.»

«Alguns deles serviam como vassalos de casas senhoriais ou alimentavam os

contingentes das ordens militares.»

«Quase todos seriam, em suma, e pelas sempre certeiras palavras do Conde D. Pedro,

“cavaleiros de um escudo e uma lança”, a atestar a pouca riqueza material que

possuíam. Para eles, mais duramente até, o século XIV, com as suas alterações sociais e

económicas, deve ter representado um momento bem difícil e que terá mesmo, em

alguns casos, ditado o final de algumas famílias.»

PALATIUM – ELEMENTOS PARA A HISTÓRIA DESTA PALAVRA

Uma transcrição dos elementos para a história desta palavra, é , forçosamente de toda

a utilidade para o conhecimento da sua evolução até chegar à palavra de Paço e Paços.

Em “OPUSCULOS”, volume I – FILOLOGIA (Parte I) – COIMBRA – Imprensa de

Universidade – 1928, de J. LEITE DE VASCONCELOS, páginas 546 a 550, refª. 51 –

PALATIUM, e com a indicação de: «Do Homenaje a Menéndez Pidal, t.I, págs. 612-614»

, encontrei este interessante artigo, que passo a transcrever, para que se fique a

conhecer a origem do nosso «Palatiolo»:

«Ás vezes por motivos fonéticos e históricos as palavras experimentam, no decorrer dos

séculos, transmudamentos curiosos, acontecendo que de uma que a princípio tinha

certa forma e significação resulta, após muito tempo, outra ou outras muito diversas

da primeira. Vou dar um exemplo.

Dos sete montes em que Roma fora edificada, ou Sepitmontium, um chamava-se,

como é sabido, Palatium, denominação talvez proveniente, como quer o Dr. Walde, de

palus, «estaca» (1): do que poderemos concluir que aí teria havido em data

antiquíssima uma «estacada» ou «estacaria», defesa militar, que muitas vezes se

observa em povos de carácter primitivo. No Palatium estabeleceu o Imperador Augusto

12

a sua habitação, o que os sucessores continuaram fazendo. Disto veio o dar-se ao

edifício o nome do sítio, e tornar-se palatium nome comum na acepção de «morada de

monarca». Também do nome de Moneta, ou templo da deusa Iuno Moneta, que servia

de casa da moeda em Roma, veio a chamar-se moneta ou nummus ali fabricado; e

moneta tornou-se depois na nossa língua mõeda e moéda, ou moêda, como diz o

povo. Este fenómeno que, aplicado individualmente ao estilo, os retóricos chamam

metonímia, é muito corrente na língua moderna, e basta abrir um dicionário para

encontrar, por exemplo: madeira, em vez de «vinho produzido na Ilha da Madeira»;

marialva, na acepção de «pessoa afadistada», porque um Marquês de Marialva

formulou certos preceitos de bem cavalgar.

Palatium tinha o adjectivo palatinus,por exemplo, colles palatini. Este adjectivo

aplicou-se naturalmente à morada imperial e à côrte: domus palatina ou «palácio

imperial»; palatinus «dignitário do palácio», «cortesão». Este sentido de nobreza

transparece no comes palatinus ou «conde palatino» dos antigos estados germânicos.

Os Italianos, alterando um pouco a ideia, fizeram daqui paladino, no sentido de «herói

cavaleiresco», e a palavra passou para a França na forma de paladin, para a Espanha

na de paladín, e para Portugal na de paladino, que tem a par também paladim.

O latim palatinus seguiu ainda outro caminho, passando à classe de cognome

(romano), que com o andar do tempo veio a ser verdadeiro nome próprio. Nesse

significado temos em documentos nossos do século XI Paladinu-,a que correspondem

os patronímicos Paladinici e Paladiniz (2). De Palatinu-, como nome de donos de

propriedades, veio Paadinho, hoje Padinho,que decerto se pronuncia pàdinho, nome

de duas povoações nos concelhos de Fafe e Guimarães . No feminino há o moderno

apelido de família Padinha, que sei se pronuncia pàdinha. Do genetivo Paladini, em

compostos como villa Paladini, segundo um tipo muito usual na idade-média, veio

Paadim, que aparece no século XIII (3); e por último Padim ou Pàdim, nome de seis

lugares no Minho. Comparáveis a Palatinus, na qualidade de cognome romano, temos

na nossa língua actual, pelo menos no aspecto externo, os apelidos Cortesão e Côrte

Real.

Voltemos a palatium, substantivo comum. Palatium dewsgnou na idade média, como

tradição romana, a habitação do proprietário de um terreno (4): donde, por intermédio

de paaço, que ainda existia no século XIV (5), vieram Paço e Paços, como nomes

geográficos muito espalhados por todo o Portugal, com especialidade no Norte e

Centro da beira, regiões em que a palavra teve o seu berço. A Paço e Paços se ligam os

diminutivos Paçinho e Pacinhos. Outro diminutivo geográfico é Pàçô, igualmente

muito usado no Norte e no Centro, o qual, por intermédio das formas medievais

(geográficas) Palatiolo, Palaciolo, ou melhor Paacioo, Paaçoo, provém directamente

de palatiolum, à letra, «palácio pequeno», pronunciado no latim vulgar palatiólu-.

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Em alguns dos citados exemplos notámos que muitos nomes de povoações provêm de

nomes próprios de indivíduos. Entenda-se que estes eram senhores de quintas, «vilas»,

etc., que no decurso das idades aumentaram de moradores, e se tornaram aldeias e

maiores povoações. Ás avessas acontece que os mesmos nomes geográficos passam a

significar nomes pessoais: quantos apelidos não há, que soam Paço e Paços? Eu já tive

um aluno apelidado de Paço, e todos em Portugal conhecem o nobre Conde de Paçô-

Vieira, que por abreviatura chamamos «o Paçô-Vieira». É possível que os apelidos que

se escrevem Passos, com dois ss, pertençam, em parte, à classe que estou estudando,

embora alguns possam provir de ideias religiosas, isto é, de Senhor dos Passos, como

Ascenção, etc.

Além da significação de habitação de um senhor ou proprietário, paço, ou o latinismo

palácio, conserva a anterior tradição romana de «habitação de monarca». A todo o

instante falam os nossos textos medievais de palatium Domini Regis, por exemplo nas

Leges, p. 604, de 1260. Paralelamente a paço e palácio real temos paço episcopal,

paços do concelho, e como nome próprio em Lisboa: Terreiro do Paço, por paço do

Governo. Na língua usual chamamos por isso palácio a um edifício grande. Com paço

real se relacionam os adjectivos arcaicos pàceiro e paaceiro (títulos de cargos), e

palaciano, forma restaurada da medieval paação, latim palatianus. É notável que

assim como palatinus se tornou nome próprio, também, palatianus. Os documentos

medievais de Portugal têm Paaciano e Paaciana, como nomes geográficos do século

XIII (6), provenientes de nomes de proprietários: o segundo está ainda hoje

representado em Paçam, por Pàçam, ou Pàçã, nome de um lugar na Beira-Alta.

E assim termino, pois me parece que fica justificada a afirmação que comecei por fazer:

que as palavras têm muitas vicissitudes. No caso presente vimos que as estacas secas

que constituíam a primitiva paliçada que foi Roma reverdeceram pujantemente, dando

vergônteas que se tornaram, ora nomes de domicílios principescos, e símbolos de

aventura, ora designações de pessoas e de localidades. Tão alto pôde subir a

ramificação, que por palácio ou paço celeste entendem os crentes a morada de Deus, e

já os pagãos diziam palácio de Jove ! »

Anotações a este numero:

(1) – Latein. Etym. Wb., sub voce.

(2) – Vid. Os textosão, Onomastico, 251.

(3) – Inquisitiones, I, 698, col. 2ª

(4) – Sampaio, «Villas» do Norte, págs.. 57-58.

(5) – Por exemplo, nos Inéditos fa Academia, IV, 595.

(6) – Cortesão, Onomástico, pág.249.

(Do Homenaje a Menéndez Pidal, t. I, págs. 612-614).

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CONCLUSÃO

O primeiro documento em que se faz referência a «villa palatiolo», é-lhe atribuído a data de 773 ?, no entanto a de 922 em que se relacionam bens, em «Palatiolo», poderá ser o documento mais fiável em que tal tenha acontecido. Desde estas datas, aparecem diversas trocas, vendas e doações de bens na terra de «Paçoo», sendo que no ano de 1220, na Comenda de Rio Meão, aparece a denominação como hoje esta freguesia é conhecida, «frigisia d’Palacioo blãdo», é decerto a primeira vez, que num documento oficial, tal aparece.

Quanto à data da fundação da primeira igreja, não é fiável, apontar-se uma data, o certo é que já no ano de 1146 encontramos uma doação efectuada à Ordem do Templo de bens em “Palaciolo” , efectuada por Ermesinda Viegas (Cartulaire Générale de l’Ordre du Temple, por Marquis d’Albon, Paris, Acta nº CCCCIII). O mesmo acontecendo no mesmo ano de 1146 (Acta nº CCCXIV do mesmoCartulaire Générale), da doação, por Paio Trutesendes (Brandon), de uma parte dos seus bens à Ordem do Templo, e, em 1151 e 1154 da outra parte ao Mosteiro de S. Salvador de Grijó, o que vem provar o que se afirma na Comenda de Rio Meão, de que os bens da Igreja de Paços, estavam divididos, quase em parte iguais, entre Grijó e Rio Meão.

Também em 1270 (Er. 1270, 11 K. Januari), nas Dissertações Cronológicas, Diss.XIX, pág.49, nos é indicado a «Transacção do Bispo do Porto, D. Pedro Salvador, com os Frates de S. João de Jerusalém, recebendo Elle huma procuração annua pelas Igrejas de Riomeam, Mazaneda, e Hereda, e unindo a de Paços de Brandão à de Riomeam, exercendo nella todos os direitos Episcopaes».

Porque se especula muito quanto ao significado da palavra «palatiolo», «palaciolo», etc., com que esta «villa» aparece descrita em documentos medievais, foi em “OPUSCULOS” de J. Leite de Vasconcellos, que encontrei a melhor maneira de conhecer a evolução, e, o significado da palavra latina «PALATIUM», de onde vieram o nosso «Palatiolo»; «Palaciolo», «Paaço»; «Paços»; e que traduzidos, à letra, significava «palácio pequeno» (palatiolum), o que me levou a transcrever, na íntegra, o referido artigo que tem o nº. 51 dos referidos “OPUSCULOS”.

UM MAU EXEMPLO DE HISTÓRIA LOCAL

Nem sempre o que vem exposto numa «Monografia», de qualquer Paróquia, obedece aos critérios de História Local. O caso da monografia desta «Paróquia de S. Cipriano de Paços de Brandão», e, no que diz respeito ao período da Idade Média, é «Um Mau Exemplo de História Local»; vamos pois analisar aquilo que “RECORDAR 900 ANOS DE PAÇOS DE BRANDÃO”, do Sr. Padre Joaquim Correia da Rocha, de 1995, nos diz de assuntos tratados, com tamanha irrealidade histórica, que são dignos de merecerem os seguntes reparos:

Página 15 - «…a alma deste TERRITÓRIO, por algum motivo chamado, desde os finais do século XI, PAÇOS DE BRANDÃO»

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Que se saiba, nesta época, pertencíamos ao TERRITÓRIO DE SANCTA MARIAE, Paços de Brandão seria certamente , a habitação do proprietário de um terreno, e, verificando as formas medievais de Palatiolo, Palaciolo ou Paaçioo, Paaçoo, que

provém directamente de Palatiolum, à letra, «palácio pequeno». Uma questão se

deve levantar: «Onde está o documento dos finais do século XI que levou o autor de “9OO Anos de Paços de Brandão” a fazer tal afirmação?»

Página 52 - «… Mais um acontecimento invulgaríssimo ocorreu, quase do termo do séc.XI, ou seja no ano de 1095.»

«Um cavaleiro oriundo das nórdicas terras de França (nessa data 1066 sob a bandeira anglo-normanda) desceu á Espanha, com espírito de Cruzada, e em 1095, aqui entrou para levantar o seu Palácio e iluminá-lo com os 5 Brandões da sua estirpe nobre.»

Quanto ao ano de 1095, e, ao conteúdo da página 52, é notória a falta de rigor histórico do que vem lá exposto. Será que o «nosso Brandão» era um fidalgo de uma estirpe muito avançada?...Esta questão é sugerida, uma vez que em 1095, decerto que ainda não era comum, na Europa, especialmente na França e na Península Ibérica, existirem cartas de armas, brasões, etc., assuntos relacionados com”Heráldica”; então como explicar o que nos é dito, como se de uma verdade, se tratasse, nesta página de ao “9OO Anos de P.B.”!...É espantosa esta afirmação: «O nobre Fernão Brandão recebia, no seu Solar, as visitas de cortesia que o Conde Ermígio Moniz (mano do aio régio Egas Moniz) lhe fazia, porquanto gozava da impar situação de Tenens Terrae do Castelo da Feira.»…É caso para perguntar, em que documentos estão descritos tais acontecimentos?...

Como já deixei expresso, nesta crítica, no que se refere ao Henrique de Borgonha e à Condessa D. Teresa, em 1095, eles não eram donatários do que se veio a denominar “Condado Portucalense”, seria, decerto, um acto fora do normal, tais personalidades efectuarem qualquer doação, de uma qualquer parte de terreno, que não lhe pertencesse. Vamos pois recordar:

“Afonso VI, em 1093, entregava os condados de Portucale e Coimbra, a Raimundo da Borgonha, que já dominava na Galiza. Este território, veio a ser desmembrado em 1096, tendo Afonso VI designado Henrique de Borgonha, primo de Raimundo, para ficar à frente dos Condados de Portucale e de Coimbra. Pelo documento V de “O Mosteiro de Arouca”, e, transcrito no livro de “O MOSTEIRO DE AROUCA – Do século X ao século XIII”, por Maria Helena da Cruz Coelho, página 192, cuja cópia se anexa, verifica-se que em «1094 depois de Agosto, 10 – 1096», o Raimundo, genro de Afonso VI, ainda intervém, como representante do referido Rei, em Arouca, o que confirma o que atrás se afirma.

Quanto a Henrique e D. Teresa, o primeiro documento em que intervém D. Teresa, no Mosteiro de Grijó, encontramo-lo em Baio-Ferrado, nº 34, página 45 de “Le Cartulaire Baio-Ferrado du Monastére de Grijó” – Robert Durand, de que se anexa uma cópia, é referente ao ano de 1112, de Maio, doação a Mendo Gonçalves e a sua mulher, Maior Soares, pelos serviços prestados, de bens em Castro à entrada de Guimarães (Casal de Castro em Perosinho junto à estrada real do Porto até ao lugar de Guimarães).”

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Sobre Heráldica, convém recordar o que “Armando de Matos”, no seu Manual de Heráldica Portuguesa, nos diz: «A heráldica surgiu em Portugal no século XII, sendo que o primeiro documento heráldico português, é o selo de D. Sancho I, de 1189, no mesmo ano em que sua irmã, a condessa de Flandres, também teria organizado o seu, com similar arranjo simbólico.» Sabe-se que as armas mais antigas de que há memória na Europa são as de Rui de Beaumont de 1087-1110.

O Marquês de Abrantes, em “Introdução ao Estudo da Heráldica diz que, «a origem da Heráldica Europeia é do séculos XI-XII, e, as grandes linhagens dominantes portuguesas eram num número reduzido». Quanto à concessão de uma Carta de Brasão de Armas, é do reinado de D. Fernando que dizem ter escrito a mais antiga; contudo as Cartas de Armas ou Cartas de Brasão, só no reinado de D. Duarte se tem conhecimento de dois diplomas, no entanto a mais antiga Carta de Armas, que chegou até aos nossos dias , é datada de 1492 pelo Rei D. João II.

Até ao tempo das Cruzadas, o carácter dos escudos, estandartes, etc., que os cavaleiros usavam, não tinha qualquer regra própria, e, esses sinais não eram hereditários, normalmente eles morriam com a pessoa que os usava. Foi só sob o reino de «Louis-le-Gros», em França, e sob «Frédéric Barberousse», em Itália, que «les armoires desinnent héréditaires dans les familles». Quanto às regras precisas da arte heráldica, o monumento mais antigo e mais autêntico que se conhece, são as armas do Papa Pascoal, que datam do ano de 1100. Elas são realmente compostas segundo as regras que regem o brasão dos nossos dias, e encontra-se pela primeirta vez uma «des sept piéces honorables, les chevrons». (Conforme vem exposto na “Chancellerie Héraldique et Historique De La Noblesse Européenne”, págs. 13 e 14).

Pelo exposto, verifica-se que os “900 Anos P.B.”, na página 52, dão-nos a conhecer factos, que se forem confirmados, por documentos autênticos, e levados ao conhecimentos dos nossos historiadores, bem como da comunidade internacional, decerto que os levará a reverem tudo o que têm escrito sobre heráldica e nobiliarquia”…

Página 103 – MAPA

Mais um reparo, veja-se o Mapa publicado na pág.103 do “900 Anos P.B.”; não será isto mais uma mau exemplo de como se pretende retratar qualquer facto histórico?...Tal mapa foi fotocopiado de “Le Cartulaire de Baio-Ferrado du Monastére de Grijó”, de Robert Durand. O que diria este autor, se tivesse acesso ao livro dos “900 Anos de P.B.” e se consultasse o referido mapa?... Em História é inadmissível o que o autor de os “900 Anos de P.B.” efectuou. Apresentando o original de um Mapa adulterado com acrescentos de nomes ( Paços de Brandão e Rio Maior), tal só pode ser classificado, por um advérbio, que coloca em total descrédito, a obra, em que tal foi efectuado.

Página 206 –Fernando «Blandon»

É certo que o Fernando Blandon existiu, mas a sua origem é «bem portuguesa» e no que se refere a esta figura, o autor de os “900 Anos de P. B.”, trata o assunto de uma maneira muito enfatuada e sem apresentar qualquer documento que justifique as afirmações que faz. Veja-se o que esta Crónica nos diz sobre este assunto.

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A

N

E

X

O

S

18

Dictionnaire – Historique et Héraldique – de la Noblesse Française – par D. de

Mailhol – Tome Second – Paris 1896 (Pesquisa do apelido «Blandon»)

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23

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DIPLOMATE ET CHARTAE – Documento em que vem referenciado «villa palatiolo»

25

(Documento referente à Igreja de Águas Sanctas – É testemunhado, entre outros, por

«ANAGILDUS BRANDILUNI».

26

Documento referente ao «Monastéri Morariae», confirmam o testamento, «OSÓRIO

BRANDILIZ», «GEDA BRANDILIZ», «ODARIO BRANDILIZ»

27

Documento do Livro Preto da Sé de Coimbra, em que é mencionado, pela primeira

vez, o nome de «BRANDON» e «BLANDILA»

28

Livro de Doações do Mosteiro de Paço de Sousa, confirmação por «TRUTESENDO

TESTI. BLANDO»

KARTA DE TARAUQUELA – Confirmação por «BRANDIA TEST»

29

Documento referente ao Mosteiro de Arouca – REFERÊNCIA AO IMPERADOR

AFONSO E AO CONDE RAIMUNDO

30

NOBILIÁRIO DO CONDE D. PEDRO, TÍTULO XLIII, PÁGS. 343 A 346

31

CÓPIA DO MAPA PUBLICADO NO “LE CARTULAIRE BAIO-FERRADO” de Robert Durand

32

O mesmo Mapa, publicado em “900 ANOS DE PAÇOS DE BRANDÃO”, com os

acrescentos de Rio Maior e Paços de Brandão