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Conexão Verde Boletim da Secretaria Executiva do Mosaico de Unidades de Conservação da Mata Atlântica Central Fluminense - Ano III - nº 5 - março/2011 Layse Rodrigues Tragédias arrasam a região do Mosaico Páginas 2 e 8 Planejamento Estratégico e a proteção dos atributos ambientais, culturais e sociais Páginas 4 e 5

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Boletim da Secretaria Executiva do Mosaico de Unidades de Conservação da Mata Atlântica Central Fluminense. Edição nº 5. Março/2011.

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Conexão VerdeBoletim da Secretaria Executiva do Mosaico de Unidades de Conservação da Mata Atlântica Central Fluminense - Ano III - nº 5 - março/2011

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Tragédias arrasam a região do MosaicoPáginas 2 e 8

PlanejamentoEstratégico e a proteção dos atributos ambientais, culturais e sociais

Páginas 4 e 5

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2 Conexão Verde Ano III - nº 5 - março/2011

Conexão VerdeBoletim da Secretaria Executiva do Mosaico de Unidades

de Conservação da Mata Atlântica Central Fluminense

Presidente do Conselho do Mosaico: Breno HerreraAssessoria de Comunicação e Jornalista Responsável: Francisco Pontes de Miranda Ferreira, Mtb 18.152Articulação Política: Layse RodriguesFotografias: Equipe e cedidas pelas unidadesFoto da Capa: APA GuapimirimArte gráfica: Camilo Mota/Jornal Poiésis - (22) 9201-3349Impressão: Sumaúma Gráfica e EditoraTiragem: 2000 exemplares

Escritório Técnico: Rua Rotariana, s/n, Parque Nacional da Serra dos Órgãos, Teresópolis-RJ, CEP 25.960-602, Tel. (21) 2512-1119, (21) 9514-3130, (21) 9973-9045.E-mail: [email protected]

www.mosaicocentral.org.br

Breno Herrera

O cenário das áreas afetadas pelas chu-vas que castigaram a região serrana do Rio de Janeiro foi impactante: sobreviventes inconsolados, filhos aflitos pelos pais, pais desesperados pelos filhos, corpos em meio aos escombros, cães ganindo em vão à pro-cura de suas famílias, bairros inteiros soter-rados, paisagens transfiguradas. Tristeza em forma de lama. Nas mãos do ambien-talista, os dedos anseiam em teclar sobre ocupações de áreas de risco e mudanças climáticas. São temas fundamentais, mas nas linhas abaixo se propõe outra aborda-gem.

Associada à lamentação da tragédia, surgiu notável onda de solidariedade. Mui-tos voluntários, das cidades atingidas e de longe, se somaram às equipes oficiais de salvamento. Toneladas de donativos foram empilhadas nos postos de coleta. Afluiram atos e palavras de consolo e compaixão. Agora, passado cerca de um mês desde as chuvas torrenciais, constata-se que aquela euforia inicial foi se dissipando. Para onde foram tamanhas gentileza e fraternidade? Teriam regressado à costumeira inércia imposta pela competitividade e pelo ego-ísmo, valores estes prevalentes ao nosso redor? Em grande medida, sim... Mas não completamente.

Conto um relato da tragédia. Um ca-sal de amigos estava sozinho em um sítio afastado, na madrugada em que vieram as fortes chuvas. Nada perceberam até a manhã seguinte, pois nada haviam sofrido. Ao longo do dia, contudo, notaram gran-des cicatrizes nas florestas que cobrem as montanhas ao redor, marcas dos expressi-vos deslizamentos de terra. Caminharam

Editorial

PARA ALÉM DA TRAGÉDIA“Gentileza gera gentileza”

até os sítios vizinhos e constataram a gra-vidade do que ocorrera. Perceberam que teriam dificuldades em sair da área, dado o comprometimento das pontes e estra-das da região. À tarde, ainda procurando melhor compreender a magnitude da tra-gédia, receberam a visita de um pequeno agricultor vizinho, com o qual nunca haviam falado. “Perdi praticamente tudo”, relatou. “As chuvas e a terra levaram quase toda a lavoura. Mas sobraram ainda algumas ver-duras e legumes muito bons, como estes que venho lhes entregar.” O homem trazia no rosto sorriso e nos braços um cesto com os alimentos. Dentro da perda, encontrara impulso à partilha.

Este é um caso, no meio de mil. Mas ou-tros mil virão. É importante nos acostumar-mos ao fato de que catástrofes ambientais crescerão em quantidade e intensidade. Por ganância, abusou-se demais o plane-ta e cuidou-se de menos a Vida. Descuido acumulado que agora se expõe em tragé-dias. Mais chuva, onde antes garoava. Mais seca, onde antes estiava. Enxurradas, tem-

pestades, furacões, onde antes sequer se previa. E se antes afligiam centenas, agora afetam milhões. Cada cidade atingida nas próximas tragédias ambientais chorará seus mortos. Mas também, dentre seus homens e mulheres acordarão agentes da mudança, despertos do sono egoísta pela consciência compassiva da presença e do cuidado generoso com o outro. Mundo afora, atingidos compartilharão o pouco que lhes sobrar. Vizinhos que nunca se en-contraram estenderão as mãos em conso-lo. Mesmo sendo raros no início, inevitavel-mente se multiplicarão em potência, pois os laços que atarão não se rompem com fa-cilidade. Pequenos gestos de gentileza soa-rão magnificados, pois na carestia o pouco em muito se forma. É este o paradoxo da mudança: se crescerá a tragédia, também crescerá a solidariedade.

Que despertem mais agentes da mu-dança. Fraternidade é fermento da nova sociedade. Da partilha construiremos novo mundo; sobre o qual será mais leve cami-nhar.

Bravura; uma das características marcantes de nosso colega de trabalho e companheiro Marcos Antônio Verly. Em meio à tragédia anunciada na região serrana, em meados de janeiro, fomos surpreendidos pela notícia de sua “des-pedida”.

Com base numa atuação profissional compromissada e pró-ativa, se engaja-va de coração nas ações de fiscalização e autuação. Verly era referência no que se refere à carreira de agente ambien-tal; lutava e agia na prática pela conser-vação dos recursos naturais. Seus atos, sua apresentação e conduta ajudaram a inúmeras operações e apreensões reali-zadas em prol da conservação ambien-tal. Muitas foram às incursões à mata, muitas foram às aberturas de gaiolas e cativeiros. Livres, por suas mãos, muitas cuícas, jaquatiricas, araçaris e saíras, se tornaram livres e puderam retornar ao seu habitat natural.

De fato, como diz a música, você era um “cidadão da mata”, aquele que ama-va a floresta e, entendia que nela não havia preço. Amava o verde, pois tinha certeza que ali viviam outros seres que dependiam daquele habitat. “O verde sincero que me diz que a esperança não é a ultima que morre...”

A você “menininho”, a nossa singela homenagem. Sempre nos lembraremos de ti com respeito e admiração! (Cole-gas do Parque Estadual dos Três Picos – PETP e toda a equipe do Mosaico)

Leandro Goulart

BRAVO VERLYAlessandro Rifan

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Conexão VerdeAno III - nº 5 - março/2011 3

Marcus Machado Gomes*

Enredar-se, aderir-se à rede, entrela-çar-se, comprometer-se. Metáforas de uma atitude que pode se revelar transfor-madora em contextos de fragmentação, isolamento, competição e egoísmo.

A imagem da rede vem se consolidan-do entre os movimentos sociais como a metáfora contemporânea que define es-truturas organizacionais e processos de relacionamento baseados na cooperação, diversidade e horizontalidade.

A partir de uma perspectiva mera-mente formalista, isto é, fundamentada apenas nas formas aparentes, podemos vislumbrar a expressão rede aplicada a organizações bastante diferentes: conglo-merados que se estruturam para a com-petição e para a eliminação do outro, e que se organizam em torno de relações verticais de hierarquia e subordinação, como as redes de televisão ou as redes de supermercados.

Na concepção aqui defendida, tais organismos não podem ser qualificados como redes, já que suas relações são piramidais. Ou seja, há neles um vértice superior que comanda e controla os es-tratos inferiores, que por sua vez, estão verticalmente subordinados entre si, engendrando uma cadeia de comando que se exerce do topo à base. Assim, a imagem de uma rede, onde cada ele-mento pode se ligar aos demais de forma simétrica, mostra-se completamente ina-dequada para o padrão convencional de organização, predominante na moderni-dade capitalista.

Os padrões organizacionais focados no compartilhamento e na solidarie-dade, concebidos no âmbito de alguns movimentos sociais, inspiraram-se forte-mente nos conceitos de rede resultantes de estudos interdisciplinares baseados em abordagens sistêmicas e teorias da complexidade. Da biologia às ciências sociais, passando por matemática, física e cibernética, as investigações acerca do padrão rede contribuem para delinear uma nova compreensão da vida e da so-ciedade, da qual podemos hoje nos va-ler para construir formas libertadoras de ação coletiva.

São muitos os autores que se dedica-

Vamos nos enredar?Educação Ambiental e os princípios da organização em rede

ram à instigante análise das redes, mas vale citar dois deles neste pequeno es-paço: um é o físico austríaco Fritjof Capra que em sua obra “A Teia da Vida” (1996) reúne contribuições de diversas áreas do conhecimento para buscar a compreen-são dos sistemas vivos e afinal identificar que “o padrão da vida, poderíamos dizer, é um padrão de rede capaz de auto-or-ganização.” Outro que vale ser citado é o sociólogo espanhol Manuel Castells que iniciou na década de 1980 seus estudos sobre as novas tecnologias da informa-ção e da comunicação, culminando em “A Sociedade em Rede” (1996) sua análise das mudanças sociais advindas do fluxo vertiginoso de capitais financeiros e in-formações. Para Castells, tais tecnologias proporcionaram uma reconfiguração do capitalismo que estaria dando forma às relações sociais em escala global, fundan-do um sistema aberto, dinâmico e susce-tível a inovações, sem necessariamente desafiar as estruturas de poder.

Por outro lado, pode-se afirmar que se estas novas tecnologias permitiram a desregulação econômica e o frenético flu-xo financeiro global, propiciou também a articulação de inúmeros atores sociais e organizações da sociedade civil em movi-mentos sociais policêntricos e polifônicos, que instauram formas inovadoras de ação coletiva na arena política.

No Brasil, um dos primeiros movimen-tos a acionar um conceito de rede crítico e emancipador, utilizando a expressão rede em sua própria denominação, foi a REBEA – Rede Brasileira de Educação Ambiental, gestada durante o encontro paralelo da sociedade civil na Conferência Rio 92. An-tes mesmo da popularização da internet no país, o que vem reforçar a idéia de que as ações em redes não podem ser confun-didas com seus meios de comunicação, como as difundidas listas de correio ele-trônico. Atualmente, há múltiplas redes atuando segundo diversificados desenhos organizacionais, inspirados pelos princí-pios da rede.

Interessante notar que o campo da Educação Ambiental vem se mostrando bastante fértil para a articulação em redes, muito provavelmente por seus princípios baseados na autonomia, na multilatera-lidade, na complexidade, na cooperação

e na co-evolução. Retomando Capra e Castells, pode-se estabelecer muitas ana-logias entre sistemas vivos e organizações sociais não-hierárquicas. Ambos primam pela natureza cíclica dos processos, pela flexibilidade dos fluxos de energia e infor-mação, pela complexidade das relações, pela diversidade dos pólos irradiadores de iniciativas, pela evolução conjunta de ele-mentos autônomos.

Autonomia e liberdade, vale ressaltar, são conceitos centrais na pedagogia de Paulo Freire, um dos pensadores que mais inspiram o campo da Educação Ambien-tal, nutrindo a idéia de que toda educação crítica, dialógica e transformadora tem necessariamente um viés ambiental e so-cial. Nesse sentido, não há como pensar em conservação do mundo natural sem que haja autonomia de organização dos atores sociais, sobretudo daqueles que estão subalternos na distribuição desigual dos recursos e impactos ambientais.

Aqui em nosso Mosaico Central Flu-minense, está surgindo entre educadoras e educadores que lutam para romper o isolamento a REASO – Rede de Educação Ambiental da Serra dos Órgãos. Em dois encontros realizados por iniciativa do Par-que Nacional da Serra dos Órgãos e dos parceiros participantes de sua Câmara Técnica de Educação Ambiental e Cultura, em 2008 e 2010, atores que desenvolvem ações e projetos neste campo assumiram o desafio político de se organizar segundo os princípios da descentralização, da coo-peração, da autonomia e da interdepen-dência.

Idealismo e criatividade são funda-mentais para se movimentar em um contexto social dominado pelos velhos paradigmas piramidais. Respeito às dife-renças e vontade de eliminar assimetrias de poder são as chaves para transformá-lo. Atuar em rede impõe mudanças nas nossas formas de fazer política e construir relações, o que desemboca no enorme desafio cultural de ampliarmos nosso re-pertório de conceitos e fazeres em busca de um outro mundo possível.

E você, já caiu na rede?

*Biólogo e Sociólogo, Coordenador de Educação Ambiental e Uso Público do Par-que Nacional da Serra dos Órgãos.

Monumento Natural da Pedra

do Colégio: símbolo de Cachoeiras de Macacu

A Pedra do Colégio ficou famosa na década de 80 com os voos de asa delta. Hoje é um Monumento Natu-ral municipal e a mais nova unidade do Mosaico Central Fluminense. Com seus 620m de altitude é uma belíssi-ma formação rochosa de granito e as lendas falam da existência no passado de um colégio jesuíta que funcionava numa gruta que foi coberta. No topo encontramos Mata Atlântica muito bem preservada, importantes fontes de água e lindo panorama de Cacho-eiras de Macacu e do Parque Estadual dos Três Picos que fica bem próximo. A região já foi local de extração de madeiras nobres, mas hoje encontra-mos plantações de banana e aipim e uso para veraneio. Alguns trechos estão muito bem preservados. Entre-tanto, falta um Plano de Manejo com um zoneamento adequado. A visita-ção precisa ser mais bem controlada e organizada e algumas atividades ilegais como o MotoCross e a caça de animais silvestres ainda ocorrem. Com a preservação da área, mamífe-ros de pequeno porte, principalmente primatas, estão chegando de outras regiões. O município de Cachoeiras de Macacu tem como prioridade se tornar referência na área ambiental com a criação de varais Unidades de Conservação e incentivo ao Ecoturis-mo. A criação do Monumento Natu-ral da Pedra do Colégio e sua inclusão no Mosaico são iniciativas essenciais para alcançar esse objetivo.

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Conexão Verde4 Ano III - nº 5 - março/2011

DIRETRIZES ESTRATÉGICAS PARA O MOSAICO CENTRAL FLUMINENSE

Ivana R. Lamas Cláudia M.R. CostaRosan Fernandes

Conforme previsto na legislação, os mosaicos têm como instrumento de gestão o plano de ação, que deve ser revisto a cada dois anos. No entanto, para que o mosaico possa efetivamente influir na prote-ção e no desenvolvimento sustentável do território é necessário que sejam estabelecidas metas de con-servação conjuntas e complementares que garantam a proteção dos atributos ambientais, culturais e so-ciais da região, e estratégias para atingi-las de forma coordenada. Foi isso que motivou a elaboração do planejamento estratégico para o Mosaico da Mata Atlântica Central Fluminense (MCF).

O planejamento estratégico do MCF foi inspirado na experiência semelhante que está sendo conduzi-da para o Mosaico da Amazônia Meridional por um grupo de instituições, a saber: WWF, GTZ, Governo do Amazonas e Escola Latinoamericana de Áreas Pro-tegidas (ELAP). A concepção e a estratégia geral do planejamento seguiram a proposta da ELAP, que se baseia nos princípios do enfoque ecossistêmico. Para os procedimentos operacionais foram agregados ou-tros métodos e experiências. A coordenação do pla-nejamento estratégico do MCF foi feita pela Associa-ção Mico-Leão-Dourado, Valor Natural, Conservação Internacional, Fundação SOS Mata Atlântica, ELAP e Universidad para la Cooperacion Internacional (UCI), com apoio da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica e recursos do Fundo de Parceria para Ecossistemas Críticos (CEPF) e da The Nature Conservancy (TNC).

Desenvolvido de janeiro a dezembro de 2010, o planejamento contou com um grupo de coordena-ção composto por representantes do conselho e das instituições coordenadoras, e pelos consultores Ma-rília Martins, para SIG, Victor da Gama, para socio-economia, e Maria Auxiliadora Drumond, como or-ganizadora e moderadora das oficinas. O objetivo da formação desse grupo foi otimizar tempo e recurso e facilitar as discussões e a tomada de decisão, que posteriormente eram discutidas com os conselheiros do Mosaico. O planejamento estratégico envolveu duas oficinas com todo o conselho do Mosaico e vá-rias reuniões presenciais e virtuais do grupo de coor-denação. Para todo o processo tivemos a orientação do Dr. Stanley Arguedas Mora, da ELAP,

A partir de informações biológicas, físicas, sociais, econômicas e culturais existentes sobre o território, compiladas e organizadas, o conselho teve oportuni-dade de refletir sobre o território do Mosaico e sobre o que se espera alcançar com a gestão integrada das áreas protegidas. Os principais produtos resultantes do planejamento foram a definição da missão, da vi-

são, dos limites do território reconhecido e do terri-tório de influência, a elaboração do mapa de atores, a análise do cenário de desenvolvimento do território do Mosaico, a proposição do zoneamento socioam-biental, e o estabelecimento dos objetivos e resulta-dos que se espera obter.

Embora os resultados listados acima sejam parte integrante do processo de planejamento estratégico, cada um deles representa uma importante ferramen-ta para a gestão integrada e individual das unidades de conservação (UCs) abrangidas por esse território, e pode desdobrar-se em novas estratégias de ação e gestão para o Mosaico.

A definição dos limites geográficos do Mosaico foi um dos primeiros temas discutidos. Estrategicamente foram considerados dois limites que definem territó-rios diferentes para o Mosaico: i) o território reconhe-cido, que corresponde à área abrangida por todas as unidades de conservação que compõem o Mosaico, cobre 295.723 ha e abrange 14 municípios; ii) o terri-tório de influência, analisado e proposto como aque-le capaz de influir para a manutenção do ecossistema, de acordo com as premissas do enfoque ecossistêmi-co. No MCF, o território de influência abrange outros 12 municípios além do território reconhecido.

Mosaico Central Fluminense e as UCs que o compõem

Uma vez definida a área foco da análise, foi identi-ficada a missão do Mosaico, que nada mais é do que sua razão de ser. A missão do Mosaico definida pelo conselho foi “Integrar esforços para promover a sus-tentabilidade e a conservação da diversidade nos am-bientes de Mata Atlântica, desde os manguezais até os campos de altitude na Serra do Mar Fluminense, minimizando os efeitos negativos da expansão me-tropolitana e industrial”.

A partir dessa missão, traçou-se sua visão de futu-ro para um prazo de 10 anos: “Mosaico como referên-cia de gestão integrada, transparente e participativa, com sustentabilidade política e financeira, UCs es-truturadas, instrumentos de gestão implementados (planos de manejo e conselho gestor), equipamentos,

pessoal capacitado, e atuando como pólo de geração de conhecimento, educação, sensibilização ambien-tal, com o conceito do mosaico incorporado pelas populações locais. Mosaico considerado em planeja-mentos regionais, com empreendimentos adequados e redução significativa dos ilícitos ambientais. Práti-cas sustentáveis, como o uso de energias alternativas, produção orgânica e agroflorestal, indústria criativa, ecoturismo e destinação adequada de resíduos con-solidados e multiplicados. Áreas degradadas recupe-radas com aumento da cobertura vegetal e da conec-tividade interna e com outros mosaicos”.

A análise das tendências de pressão antrópica con-siderou a ocupação atual do território e os planos e projetos de desenvolvimento previstos para a região que influenciarão a expansão urbana e industrial e que afetarão as condições bióticas e socioeconômi-cas do Mosaico. A análise de cenários e tendências de desenvolvimento teve como objetivo antever os principais focos de pressão e oportunidades sobre os fragmentos florestais e sobre as unidades de conser-vação, em médio e longo prazos. Ao predizer essas tendências é possível planejar ações para minimizar os impactos e garantir a proteção das áreas mais con-servadas do Mosaico, bem como vislumbrar quais se-rão as áreas estratégicas para se conservar no futuro e onde devem ser concentrados os esforços, de forma a alcançar o que foi projetado na visão de futuro. Entre os itens avaliados ressaltam-se os investimentos re-cebidos pelo estado do Rio de Janeiro, especialmente para indústria e logística, devido ao potencial de pro-vocarem alterações no território. Embora parte dos investimentos não seja destinada ao território do Mo-saico, sua situação geográfica e a força das transfor-mações provocarão uma reestruturação que definirá novos centros e papéis na divisão regional da produ-ção e dos eixos de circulação de mercadorias, capitais e pessoas. Os investimentos com maior potencial de trazer pressões para o Mosaico são os da Petrobrás, capitaneado pelo Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), seguido pelo Plano de Antecipa-ção da Produção de Gás (Plangas), a ampliação da re-finaria de Duque de Caxias, a implantação de dutos e instalações de apoio nos terminais da Ilha Comprida (TAIC) e da Ilha Redonda (TAIR) e a construção de um Terminal de Gás Natural (GNL). Viabilizando os inves-timentos está a construção do Arco Metropolitano do Rio de Janeiro (AMRJ), que permitirá o escoamento da produção do Comperj até o Porto de Itaguaí.

A organização do Mosaico em zonas teve por obje-tivo estabelecer a situação desejada para cada região, com vistas a garantir sua proteção, organização do uso, recuperação, etc. Para a delimitação das zonas do MCF foi adotado o princípio do zoneamento por condição, que tem como premissa assegurar que os

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Conexão Verde 5Ano III - nº 5 - março/2011

recursos naturais, históricos e culturais protegidos al-cancem as condições desejadas, definidas com base em critérios de integridade dos ecossistemas. Foram propostas 31 zonas para o Mosaico, sendo 7 de Baixa Intervenção, 10 de Moderada Intervenção, 3 de Alta Intervenção, 5 de Recuperação e 6 de Conflito. Foi também proposta uma Zona de Amortecimento, que abrange o limite do território de influência do Mo-saico.

Zoneamento do Mosaico Central Fluminense

Para que o planejamento possa ser implementado é necessário conhecer bem os atores e suas relações com o território e com o Mosaico. Para isso foi cons-truído um mapa de atores, partindo-se de listagens de instituições existentes no MCF. Cada instituição foi avaliada com relação ao seu poder de influência so-bre o Mosaico e à sua participação. Esse instrumento permitiu identificar aquelas instituições que, embo-ra tenham forte poder de influência, ainda têm uma participação tímida ou não participam efetivamente das questões do Mosaico. Ele abre a oportunidade para que o conselho envide esforços para envolver os atores estratégicos mais ativamente.

Os objetivos e resultados esperados com a imple-mentação do MCF foram definidos com base nos temas referenciados na missão e na visão. Foram propostos cinco objetivos estratégicos: 1. Sustent-abilidade política e financeira e articulação; 2. Imple-mentação de unidades de conservação; 3. Pesquisa, educação, comunicação e práticas sustentáveis; 4. Recuperação; 5. Proteção e fiscalização. Para cada um desses objetivos foram propostos os resultados alme-jados e as ações gerais que possibilitarão o alcance desses resultados. A lista ao lado mostra os resulta-dos propostos para cada objetivo estratégico.

O detalhamento de todo o planejamento estra-tégico e a íntegra dos resultados estão apresenta-dos no relatório final disponível no site do Mosaico www.mosaicocentral.org.br. Esse foi o primeiro ex-ercício de planejamento que fizemos para um mo-saico de áreas protegidas. Apesar das dificuldades para seu desenvolvimento, julgamos que os resulta-dos foram muito valiosos. A riqueza de informações e as análises resultantes serão fundamentais para a construção de planos de ação focados na missão e visão de futuro do mosaico e para sua consequente implementação efetiva. Um resultado não mensu-

rado, mas não menos importante que os demais, foi a oportunidade dos conselheiros refletirem sobre o mosaico, analisarem como o vêm e o que projetam para o futuro. Certamente o aprendizado desse pro-cesso e o amadurecimento alcançado levarão a novas

reflexões que podem indicar escolhas diferentes em outros momentos. Essa é uma riqueza do planeja-mento e explicita a importância do monitoramento constante para que se possa reafirmar ou corrigir os rumos continuamente.

Critérios adotados para a elaboração da proposta de zoneamento do Mosaico Central Fluminense

Zonas por Condição Objetivos das zonas Critérios para definição das Zonas do MCF

Zonas de Baixa Intervenção Conservar o ambiente natural, sem remoção da cobertura vegetal, onde se permitem ape-nas atividades de baixo impacto.

UCs de proteção integral.Manguezais.Conjunto de fragmentos significativos e/ou pouco representados nas UCs de proteção integral.

Zonas de Moderada Intervenção Garantir a conservação da natureza com o uso sustentável dos recursos naturais e/ou boas práticas de produção.

UCs de uso sustentável.Áreas de uso sustentável dos recursos naturais (recursos faunísticos, pesqueiros ou de extra-tivismo).Áreas de assentamentos e/ou agricultura familiar.Patrimônio histórico/corredores históricos.Presença de fragmentos que justifiquem ações de conservação. Pastagens com baixa produtividade.Áreas potenciais para sistemas agroflorestais.

Zonas de Alta Intervenção Diferenciar zonas de intensa atividade antrópi-ca, onde ações para conservação são mínimas.

Cidades, vilas e povoados.Áreas industriais/agroindústria.Monoculturas/horticultura.Áreas muito degradadas.Parcelamento do solo.

Zonas de Recuperação Deter a degradação dos recursos e recuperar a área.

Áreas estratégicas para formação de corredo-res, promoção de conectividade. Áreas com déficit de APP.Áreas degradadas.Áreas pré-definidas para reflorestamento.

Zonas de Conflito Diferenciar zonas cujas atividades atuais ou planejadas são incompatíveis com a condição que se propõe ou que apresentem interesses de uso muito divergentes.

Futura área de captação de água para o Comperj.Entorno imediato do Comperj.Área de expansão de atividades antrópicas sobre fragmento florestal importante.Área definida pelo DNIT como “buffer” e duplicações.Pavimentação de estradas secundárias.

Zona de Amortecimento Minimizar os impactos negativos das atividades humanas sobre o território do mosaico.

Limite de influência do mosaico.Importância para o território do mosaico.

Objetivo estratégico Resultados

1. Sustentabilidade política, financeira e articulação do Mosaico Sustentabilidade econômica, Fortalecimento político

2. Implementação de Unidades de Conservação Instrumentos de gestão (planos de manejo e conselhos implemen-tados); Estruturação inicial de UCs: sede, equipamentos, pessoal (mínimo), veículos, maquinários; Regularização fundiária das UCs; Reestruturação: melhorias; avaliação da estruturação; UCs estrutu-radas; Estruturação inicial de UCs: equipe, estrutura de proteção, utilização e monitoramento; sustentabilidade financeira; novas aquisições

3. Pesquisa, educação e práticas sustentáveis Práticas sustentáveis, como o uso de energias alternativas, produ-ção orgânica e agroflorestal, indústria criativa, ecoturismo, e desti-nação adequada de resíduos consolidadas e multiplicadas; Conceito do Mosaico incorporado pelas populações locais; Mosaico atuando como pólo de geração de conhecimento, educação e sensibilização ambiental

4. Recuperação Áreas degradadas com aumento da cobertura vegetal e da conecti-vidade interna e com outros mosaicos

5. Proteção e Fiscalização Planos de manejo das UCs com programas de proteção e fiscaliza-ção implementados; Adequação legal das propriedades rurais (Re-serva Legal averbada, recuperação); Equipe suficiente e qualificada para fiscalização - Guarda-parques e monitores ambientais nas UCs; Prevenção e combate a incêndios; Redução de ilícitos ambientais; Novas RPPNs criadas

Objetivos e Resultados

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Conexão Verde6 Ano III - nº 5 - março/2011

APA Suruí: enorme potencial para o Turismo ecológico, histórico e ruralFrancisco Pontes de Miranda Ferreira

A APA Suruí fica localizada em Magé e possui importantes remanescentes de Mata Atlântica e de Manguezais bem preservados. A região também é extremamente rica em monumentos históricos que, infelizmente, necessi-tam ser restaurados e melhor adequa-dos para a visitação, incrementando o potencial turístico em locais muito pró-ximos da capital. A APA Suruí foi criada em 2007 e possui mais de 14 mil hecta-res. Dentro da APA temos algumas con-centrações urbanas tradicionais, mas ainda predominam as extensas áreas rurais e muita mata e mangue.

Monumentos Históricos

Alguns dos monumentos históricos da APA Suruí de extrema importância para a história do Brasil são:

•Engenho da Cachoeira Grande – foi um dos engenhos mais produtivos

Francisco P. M. Ferreira

do Brasil colonial e foi de onde Barão de Langsdorff e os naturalistas parti-ram para explorar o interior do Brasil

•Guia de Pacobaíba – de 1854 – o píer foi a primeira grande obra de en-genharia moderna do Brasil, realizada

pelos ingleses com financiamento do Barão de Mauá e a estação foi a primei-ra do país. A primeira ferrovia do Brasil está passando por uma luta pela sua revitalização

•Fábrica de Tecido de Santo Aleixo – foi a primeira fábrica da América Latina

•Igrejas – na APA encontramos vá-rias igrejas importantes como a de São Nicolau (1710) e de Nossa Senhora de Guia de Pacobaíba (1640)

Muitas cachoeiras merecem des-taque na divisa da APA com o Parque Nacional da Serra dos Órgãos como a Véu da Noiva e a Monjolo. Temos que ressaltar também a presença do Colé-gio Estadual Agrícola de Magé em Con-ceição do Suruí. A instituição de ensino é exemplo em agroecologia e em pro-jetos ambientais com uso de energia solar e biossistemas. O colégio assinou convênio importante com a UFF e pro-move várias atividades ligadas à pro-dução agrícola, recuperação florestal, piscicultura e alimentação.

A Importância do Patrimônio Cultural nas Unidades de ConservaçãoIrineusa de Oliveira Santos*

O expressivo patrimônio cultural existente nas Unidades de Conser-vação é dotado de grande relevân-cia, visto se constituir na identidade histórico,artístico e cultural de um povo e de uma época. É uma herança do “Modus Vivendi” de gerações pas-sadas (maneira de ser, sentir, ver) que preservadas serão transmitidas para gerações que se sucedem no constan-te vir-a-ser de nosso povo. Os bens culturais existentes nas Unidades de Conservação são vários , ou no seu en-torno, com uma arquitetura de com-posição plástica simples, leve e muita história. Dado seu valor artístico/cul-tural e seu estado de degradação, me-rece maior atenção das autoridades e entidades que são responsáveis pela sua preservação.

Vale frisar o estado de degradação provocado pela ação do tempo e do homem que sem consciência dos da-nos culturais/ambientais, que pode provocar contribui decisivamente para seu desgaste. Este patrimônio precisa ser protegido também para ser con-

templado, pois é de grande interesse turístico e cultural, devido ao impulso nato do homem querer conhecer cul-turas passadas, por motivos educati-vos ou simplesmente de lazer ligados à natureza, visto essas edificações esta-rem inseridas em áreas de preservação ambiental. O turista hoje quer aumen-tar seus conhecimentos e aproveitar para usufruir os efeitos ambientais benéficos para seu bem estar. É notó-ria a repetição desses interesses e de-

mandas em ecoturismo, tendo como complemento aspectos inerentes a edificações e conjuntos culturais, além de folclore, artesanato e gastronomia.

Os principais monumentos e con-juntos que compõem o patrimônio cultural nos parques e outras unidades de conservação no Mosaico Central na região da baía de Guanabara e Parque Nacional da Serra dos Órgãos estão re-gistrados a seguir:

- IGREJA DE N S DO SOBERBO-PAR-

NASO-PARQUE NACIONAL DA SERRA DOS ORGÃOS

- CAPELA N S DO BONFIM-MAGÉ- IGREJA N S DA PIEDADE DE INHO-

MIRIM-PIABETÁ- IGREJA N S DA PIEDADE-MAGÉ- IGREJA DE S NICOLAU-SURUÍ - RUINAS DO ENGENHO DO RIO DA

CACHOEIRA GRANDE-MAGÉ - IGREJA N S DA GUIA DE PACOBAÍ-

BA-MAUÁ- RUINAS DA CAPELA DE N S DA ES-

TRELA DOS MARES-MAGÉ- POÇO BENTO-MAGÉVale ressaltar que a maioria desses

bens culturais se encontra degradados são várias as entidades voltadas para proteger e preservar esse acervo de grande valor, entre elas: IPHAN-INS-TITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL,que é o órgão nacional que pode e deve tomar me-didas protecionistas eficazes para pre-servação desse acervo que traduz uma memória de uma época que faz parte da história do país.

*Irineusa de Oliveira Santos é Ar-quiteta/Urbanista-PARNASO

Arquivo Parnaso

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Conexão Verde 7Ano III - nº 5 - março/2011

VISITAÇÃO EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO: RELAÇÃO ENVOLVENTE DE APRENDIZADO E PARTICIPAÇÃO

Alessandro Rifan*

A procura por ambientes naturais para prática de atividades recreativas é muito antiga, ficando evidente a partir do início do séc. XIX. A própria noção de conservação ambiental, por meio da criação de áreas protegidas, surge associada à ideia de contemplação e la-zer. É a partir da valorização estética da paisagem, do aumento do tempo livre, de um maior deslocamento de pessoas entre regiões e, do desejo de estar em contato com a natureza; que se estabe-lece a demanda maior pelas atividades recreativas, esportivas e turísticas em áreas naturais.

Por apresentarem alto índice de biodiversidade e significativos atrati-vos, os Parques e demais áreas prote-gidas tornaram-se espaços propícios à implementação e desenvolvimento de práticas voltadas à visitação pública. Uma das justificativas para a criação de áreas protegidas cuja categoria prevê o Uso Público é possibilitar e favorecer o acesso do visitante às áreas naturais. O Visitante é o público alvo do Uso Públi-co. Considerado usuário, se apresenta a partir de um grupo específico e/ou de forma espontânea. Pode ser um pesqui-sador, estudante, professor, ecoturista, voluntário e/ou público de maneira ge-ral.

A prática e o manejo do Uso Público dependem diretamente da qualidade do ambiente visitado e do posiciona-mento do visitante. As práticas de Uso Público são desenvolvidas por meio de técnicas recreativas, educativas e/ou de interpretação. Neste processo de recep-ção e condução são necessários espaços e estruturas físicas, tais como: Centro de Visitantes, devidamente equipado com exposição, roteiro interpretativo, sina-lização, folheteria, sanitários e estacio-namentos e; um sistema de trilhas. Os percursos interpretativos devem ser re-alizados em trilhas do tipo auto-guiadas e/ou guiadas, por meio de monitores e/ou condutores.

Informações simples, aliadas a mé-todos sócio-educativos e com base em regras de conduta, fazem a ponte de comunicação entre os visitantes e os recursos, influenciando-os no apren-

dizado, satisfação, proporcionando-os novos entendimentos, ideias, entusias-mos, interesses e mudança de atitudes. A visitação deve atender a um roteiro que combine: informação, educação e experiência in situ. Com o objetivo de aproximar e conscientizar o visitante, este roteiro deve ser promovido de for-ma democrática, possibilitando o acesso de todos os segmentos sociais. Respei-tando esses princípios, a visitação pode oferecer resultados benéficos. Diferen-temente do ecoturismo, apropriado como segmento de mercado com forte apelo no entretenimento; o “Uso Públi-co” se posiciona como usufruto público

e indutor de novas formas de sociabi-lidade por meio do habitat, desempe-nhando um papel de formador de cons-ciência, a partir do estabelecimento de uma relação envolvente de aprendizado e participação.

Características vocacionais do lugar, particularidades biológicas, geográfi-cas, históricas e/ou culturais, perfil do público-visitante, entre outros aspectos, são considerados valores associados à conservação e influenciam na definição quanto à categoria, a oferta dos tipos de uso e atividades. Os Usos podem ser: Recreativo (Lazer); Educacional (Apren-dizados e conscientizações); Científico

(Pesquisas); Comercial (Concessão de Usos e serviços para atendimento ao vi-sitante) e; Voltado ao Desenvolvimento inter-pessoal (Vivências, processos te-rapeuticos, artísticos e espirituais). Já as atividades mais praticadas em UC´s são: o excursionismo; o lazer e recreação; a observação de flora e fauna; o safári fotográfico; a interpretação de trilhas e; as modalidades esportivas de aventura, como rapel, trekking, raffiting, canoa-gem, ciclismo, entre outras.

Para o estabelecimento do Uso Pú-blico em Unidades de Conservação, torna-se necessário à implementação de estratégias de planejamento, orde-namento e gestão. É preciso que haja o envolvimento coletivo e responsável durante o processo de construção dos instrumentos de gestão, procurando-se prever as ações, determinar a constru-ção de equipamentos, sua operaciona-lidade, demonstrando indicar quais os resultados esperados com a sua imple-mentação.

Referências Bibliográficas:

Ferreira, L. F.; Coutinho, M. C. B. Eco-turismo: visitar para conservar e desen-volver a Amazônia. Brasília: MMA/SCA/Proecotur, 2002;

MMA. Ministério do Meio Ambiente. Secretaria de Biodiversidade e Flores-tas. Diretoria de Áreas Protegidas. Di-retrizes para visitação em Unidades de Conservação. Brasília: MMA, 2006;

Ruschmann, D. Turismo e Planejamen-to sustentável: a proteção do meio am-biente. Campinas: Papirus, 2000.

Seabra, G.F. Ecos do Turismo: O tu-rismo ecológico em áreas protegidas. Campinas: Papirus, 2001.

TAKAHASHI, L. Caracterização dos visi-tantes, suas preferências e percepções e avaliação dos impactos da visitação pública em duas unidades de conserva-ção do estado do Paraná. Tese de dou-torado em Ciências florestais. Curitiba: universidade Federal do Paraná, 1998.

Wearing,S. ; Neil, J. Ecoturismo: Im-pactos, potencialidades e possibilida-des. Barueri: Manole, 2001.

*Alessandro Rifan é Coordenador de Uso Público do PETP - INEA

Visitação no Parque Estadual dos Três Picos – Região dos Frades/Bonsucesso - Teresópolis/RJ.

Marcello Medeiros

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Conexão Verde8 Ano III - nº 5 - março/2011

Tragédia esperada na região do Mosaico Central FluminenseChuvas excepcionalmente fortes, ocupações irregulares, destruição de florestas e desprepa-ro provocam tragédia com centenas de mortos e milhares de desabrigados em quatro muni-cípios do Mosaico Central Fluminense: Nova Friburgo, Teresópolis, Petrópolis e São José do Vale do Rio Preto.

Francisco Pontes de Miranda Ferreira

Sofremos em janeiro na Região Serrana a maior tragé-dia da história do Brasil. Os municípios de Nova Friburgo, Teresópolis, Petrópolis e São José do Vale do Rio Preto, Areal, Sumidouro, Carmo e Sapucaia foram muito atingi-dos com centenas de mortos e feridos, milhares de desa-brigados e muita destruição. A quantidade de mortos ain-da não está definida e as buscas por corpos continuam. Até o fechamento deste boletim havia sido confirmado mais de 800 mortes e de acordo com a Defesa Civil do Estado mais de 21.500 pessoas ficaram desalojadas. O perfil das vítimas é assustador. Segundo reportagem de O Globo de 23 de janeiro, 32% dos mortos tinham menos de 18 anos, sendo 21% com menos de 12 anos. A com-pensação foi o exemplo de solidariedade que assistimos na região. Logo nos primeiros momentos da tragédia sur-giram milhares de voluntários trabalhando em todos os setores como resgate, coleta e distribuição de alimentos e roupas, enterro de vítimas. As doações de sangue, de acordo com o HemoRio, bateram recorde nacional e se-gundo a Cruz Vermelha as doações de alimentos, roupas e água também foram inéditas. Os necessitados receberam mais de 250 mil litros de água – produto mais importan-te depois de uma tragédia. As prefeituras de Teresópolis, Petrópolis e Nova Friburgo em conjunto vão precisar de cerca de R$ 2 bilhões para recuperação e construção de novas habitações que esperamos agora serem colocadas em locais seguros.

As tragédias jamais serão esquecidas. Principalmente nos bairros mais pobres. Não há dúvida que as chuvas de janeiro de 2011 foram um processo climático radical. Mas, também precisamos ressaltar que processos climáticos mais intensos devem ocorrer com mais frequência e in-tensidade com o fenômeno do aquecimento global e pre-cisamos nos adaptar. O mais importante é enfatizar, que a caótica ocupação urbana da região, o desmatamento das encostas e da planície e a falta de planejamento são de grande influência - intensificando o sistema natural de erosão, transporte e deposição característicos da Mata Atlântica. É necessário realizar um levantamento comple-to, não só dos aspectos físicos naturais das bacias hidro-gráficas da região (geologia, geomorfologia, topografia e precipitação), como também das transformações recen-tes na paisagem urbana, que provocaram mudanças no fluxo hidrológico e aumento no escoamento superficial. Houve, sem dúvida, uma enorme redução da capacidade de infiltração do solo e um crescimento do escoamento superficial. A Mata Atlântica, que ocupava toda a região, foi derrubada para plantações e ocupações urbanas. Polí-ticas públicas agora devem se preocupar com a remoção das pessoas das áreas de risco nas encostas e margens de canais fluviais assim como promover a recuperação

de florestas e matas ciliares. “Pretendemos incluir alguns bairros que foram destruídos em Unidades de Conser-vação já existentes. Temos que pensar numa verticaliza-ção e na busca de novas áreas para a ocupação urbana” afirmou o secretário de meio ambiente e defesa civil de Teresópolis, Flávio de Castro Jesus. O secretário contou que um diagnóstico completo e sério está sendo realiza-do para evitar novas tragédias. “O Instituto Estadual do Ambiente (INEA) está realizando um estudo hidrológico da região e o Departamento de Recursos Minerais (DRM) está fazendo um mapeamento geológico. Vamos cruzar as informações e definir as áreas que nunca mais poderão ser ocupadas”, ressaltou Flávio. O secretário e chefe da defesa civil do município garantiu que não vai deixar as pessoas que moram em áreas de risco voltar para suas casas. “Estamos trabalhando junto com o Ministério Pú-blico Estadual para evitar o retorno para as áreas de ris-co. Após a tragédia localizamos novas áreas de risco que agora vão ter que ser interditadas. Estamos planejando a construção de conjuntos habitacionais em áreas seguras. O próprio INEA está levantando as áreas possíveis e isso vai facilitar o licenciamento”, enfatizou Flávio. Ele contou que o já existente Plano Municipal de Redução de Risco está tendo que ser aperfeiçoado e adaptado à nova re-

alidade. Disse que mais de 90 áreas serão interditadas e que mais de 1500 casas serão removidas. Segundo dados apresentados pelo secretário, Teresópolis apresenta qua-se 400 mortos, sendo cerca de 60 não identificados ainda e mais de 200 desaparecidos que devem estar mortos. “Essa tragédia tem que nos ensinar. Temos agora que es-tudar muito bem todos os aspectos do evento e tomar as ações com muito cuidado”, defendeu o médico José Carlos Lemgruber Porto que participou do socorro às víti-mas e vem acompanhando acidentes deste tipo na região há muitos anos. Paulo Souza Leite da secretaria de meio ambiente e desenvolvimento sustentável de Petrópolis lamentou a falta de planos de emergência e ficou impres-sionado com o tamanho da tragédia. “O que foi visto nos dá a visão que a chuva foi a maior dos últimos séculos”, afirmou Paulo. Ele também chamou a atenção para o as-pecto mais importante: “os danos e o número de vítimas teria sido extremamente menor se as Áreas de Proteção Ambiental tivessem sido respeitadas”, concluiu Paulo. Tudo isso ressalta a importância do atual Código Florestal, principalmente para a região do Mosaico Central Flumi-nense, onde as características geomorfológicas da Mata Atlântica exigem maior cuidado com a preservação dos topos de morros, encostas íngremes e planícies fluviais.

Arte sobre foto de David Peixoto