"como os jornais brasileiros dão visibilidade a temas públicos

14
14 PESQUISA EM JORNALISMO ABSTRACT The paper analyzes the subjects selected like headli- nes of five brazilian daily newspapers – Diário dos Campos, Jornal da Manhã, Gazeta do Povo, Folha de São Paulo e o Estado de São Paulo. The objective is to identify what the editors of those newspapers consi- der like the most important news of the day when they emphasizes it in the space of bigger visibility of the newspaper. For that, are analyzed the first pages of the newspapers during three months. The headlines are ranked as for their subject, the public for who they are destined, the use or not of direct quotation of in- terviewed and as for the elements that indicates what can be news in the texts of the newspapers. From the- se points, it intends to verify the differences and the peculiarities existents between the newspapers and examine if the local and regional circulation journals presents significant differences of agenda-setting in the headlines in with relation to national newspapers. KEY WORDS Headline Brazilian daily newspapers First page Como os jornais brasileiros dão visibilidade a temas públicos: uma análise comparativa sobre os assuntos que ocupam as manchetes de periódicos diários de circulação local, regional e nacional RESUMO O texto analisa os assuntos selecionados como man- chetes de cinco jornais diários brasileiros – Diário dos Campos, Jornal da Manhã, Gazeta do Povo, Folha de São Paulo e o Estado de São Paulo. Trata-se de um es- tudo comparativo, com objetivo de identificar o que os editores desses periódicos selecionam como a notí- cia mais importante do dia ao enfatizá-la no espaço de maior visibilidade do jornal. Para tanto, são analisa- das as primeiras páginas dos jornais durante três me- ses. As manchetes estão classificadas quanto ao tema, abrangência, ao uso de citação direta de entrevistados e quanto aos elementos indicadores de valor-notícia nos textos. A partir desses pontos, pretende-se verifi- car as diferenças e peculiaridades existentes entre os periódicos, e examinar se os jornais de circulação local e regional apresentam significativas diferenças de agendamento temático nas manchetes em relação aos de circulação nacional. PALAVRAS-CHAVE Manchete Jornais diários brasileiros Primeira página Emerson Urizzi Cervi Professor do Departamento de Comunicação Social da UEPG e do Departamento de Ciências Sociais da UFPR/PR/BR [email protected] Ana Paula Hedler Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da UFPR/PR/BR [email protected] Revista FAMECOS • Porto Alegre • v. 17 • n. 1 • p. 14-27 • janeiro/abril • 2010

Upload: renato-vieira-filho

Post on 08-Nov-2015

8 views

Category:

Documents


2 download

DESCRIPTION

"Como os jornais brasileiros dão visibilidade a temas públicos: uma análise comparativa sobre os assuntos que ocupam as manchetes de periódicos diários de circulação local, regional e nacional."Emerson Urizzi CerviAna Paula HedlerRevista FAMECOs, Porto Alegre, v.17, n.1, janeiro/abril 2010Manchetes dos jornais Diário de Campos, Jornal da Manhã, Gazeta do Povo, Folha de São Paulo e Estado de São Paulo, são analisadas e comparadas durante 3 meses.

TRANSCRIPT

  • 14

    PESQUISA EM JORNALISMO

    ABSTRACTThe paper analyzes the subjects selected like headli-nes of five brazilian daily newspapers Dirio dosCampos, Jornal da Manh, Gazeta do Povo, Folha deSo Paulo e o Estado de So Paulo. The objective is toidentify what the editors of those newspapers consi-der like the most important news of the day when theyemphasizes it in the space of bigger visibility of thenewspaper. For that, are analyzed the first pages ofthe newspapers during three months. The headlinesare ranked as for their subject, the public for who theyare destined, the use or not of direct quotation of in-terviewed and as for the elements that indicates whatcan be news in the texts of the newspapers. From the-se points, it intends to verify the differences and thepeculiarities existents between the newspapers andexamine if the local and regional circulation journalspresents significant differences of agenda-setting in theheadlines in with relation to national newspapers.

    KEY WORDSHeadlineBrazilian daily newspapersFirst page

    Como os jornais brasileiros do visibilidade a temas pblicos:uma anlise comparativa sobre os assuntos que ocupamas manchetes de peridicos dirios de circulao local,regional e nacional

    RESUMOO texto analisa os assuntos selecionados como man-chetes de cinco jornais dirios brasileiros Dirio dosCampos, Jornal da Manh, Gazeta do Povo, Folha deSo Paulo e o Estado de So Paulo. Trata-se de um es-tudo comparativo, com objetivo de identificar o queos editores desses peridicos selecionam como a not-cia mais importante do dia ao enfatiz-la no espao demaior visibilidade do jornal. Para tanto, so analisa-das as primeiras pginas dos jornais durante trs me-ses. As manchetes esto classificadas quanto ao tema,abrangncia, ao uso de citao direta de entrevistadose quanto aos elementos indicadores de valor-notcianos textos. A partir desses pontos, pretende-se verifi-car as diferenas e peculiaridades existentes entre osperidicos, e examinar se os jornais de circulao locale regional apresentam significativas diferenas deagendamento temtico nas manchetes em relao aosde circulao nacional.

    PALAVRAS-CHAVEMancheteJornais dirios brasileirosPrimeira pgina

    Emerson Urizzi CerviProfessor do Departamento de Comunicao Social da UEPG e doDepartamento de Cincias Sociais da UFPR/PR/[email protected]

    Ana Paula HedlerMestranda do Programa de Ps-Graduao em Cincia Poltica daUFPR/PR/BR [email protected]

    Revista FAMECOS Porto Alegre v. 17 n. 1 p. 14-27 janeiro/abril 2010

  • 15

    Como os jornais brasileiros do visibilidade a temas pblicos

    Os meios de comunicao tm grande importncia nas sociedadescontemporneas, principalmente com o avano das novastecnologias, como por exemplo, a internet. Isso se deveao fato de que as informaes e as notcias chegam aopblico quase sempre ao mesmo tempo em que estoacontecendo. Alm disso, a partir da mdia que gran-de parte da populao se mantm informada e so atra-vs dos meios de comunicao que fatos e pessoas setornam visveis em mbito local, regional, nacional e,por vezes, internacional. Para Luis Felipe Miguel, amdia , nas sociedades contemporneas, o principalinstrumento de difuso das vises de mundo e dosprojetos polticos [...] (Miguel, 2002, p. 6).

    Os espaos dos meios de comunicao so os gran-des responsveis pelos processos de sociabilidade e,em especial, como promotores do debate pblico a res-peito de temas de interesse comum. Como grande aquantidade de assuntos a serem noticiados pelos mei-os de comunicao, torna-se necessrio o uso de crit-rios jornalsticos para selecionar os fatos que sero vei-culados pela imprensa. Logo, os jornalistas e os edito-res fazem uso dos critrios de noticiabilidade, que po-dem ser considerados como um conjunto de normasque ditam o que ser noticiado, como por exemplo, araridade do fato, a exclusividade da notcia, a proxi-midade do fato com o pblico-alvo do jornal e o pr-prio interesse humano pelo acontecimento.

    O estudioso e pesquisador Rogrio dos Santos co-menta que os media atuam como instituies media-doras entre a populao e as instituies responsveispelos processos de deciso pblica (Santos, 2003, p.1). Desse modo, alm de selecionar o fato a ser publici-zado, o editor deve levar em considerao o local dapgina no qual a notcia ser veiculada.

    Isso relevante, pois, cada local das pginas dosjornais tem visibilidade distinta. Logo, s sero notci-as de primeira pgina os fatos que se encaixarem noscritrios de noticiabilidade e que forem consideradosmais importantes pelos editores. Isso porque cada pe-ridico segue sua linha editorial prpria. Deodoro JosMoreira lembra que a hierarquizao das notcias (edi-o) uma forma do jornal apontar o que consideramais importante em determinado dia, em que o tama-nho da letra define a importncia do assunto (Morei-ra, 2004, p. 34). E dessa forma, a primeira pgina podeser considerada a vitrine do jornal e assim, pode sercompreendida como um mapa que conduzir o leitorindicando o caminho da leitura (Bezerra, 2006, p. 14).

    Levando em considerao os aspectos comerciaisque giram em torno da produo dos jornais, cabe lem-brar que a primeira pgina que atrai ou no o leitor.Sua deciso de ler depende do grau de atratividade da

    capa (Moreira, 2004, p.31). E isso acrescenta aos crit-rios de seleo dos jornalistas o elemento do apelocomercial que garante a manuteno dos ndices deleitura e circulao dos veculos impressos.

    Assim sendo, dentre os espaos da capa dos jornais,destacam-se as manchetes das edies dirias. Isso por-que, de um lado elas identificam os temas que vo ga-nhar maior destaque do dia e, por conseqncia, teromaior chance de entrar no debate travado na esferapblica. Por outro, em funo da importncia socialdada s manchetes do dia, elas indicam o uso doscritrios jornalsticos no momento em que so elenca-dos os temas sociais que faro parte da cobertura diriaem espaos com elevado grau de destaque nos jornais.

    Apesar disso, por conta de possveis distines en-tre linhas editoriais, nem sempre jornais de mesmaabrangncia tero manchetes com os mesmos temas.Isso acontece porque para que um assunto ganhe visi-bilidade necessrio que ele seja aceito como detentorde tal importncia, e para tanto necessrio que seleve em conta, tambm, o pblico a que ele se destina.Bezerra explica que para construir uma edio diria preciso fazer escolhas e estas so feitas segundos cri-trios das editorias que certamente, obedecem a crit-rios institudos pelo jornal (Bezerra, 2006, p. 12)1.

    Alm disso, a partir da mdiaque grande parte da

    populao se mantminformada e so atravs dos

    meios de comunicao quefatos e pessoas se tornam

    visveis em mbito local,regional, nacional e, por

    vezes, internacional.

    A anlise comparativa entre manchetes de jornaisdirios brasileiros com distintas reas de circulaopode ajudar a entender se existe mesmo uma lgicaprpria dos veculos de comunicao considerandoo pblico mais imediato ou se h uma relao diretaentre as opes de jornais de circulao local e regio-nal em relao a jornais de circulao nacional.

    Revista FAMECOS Porto Alegre v. 17 n. 1 p. 14-27 janeiro/abril 2010

  • 16

    Emerson Urizzi Cervi

    Este trabalho relaciona as manchetes de dois jor-nais dirios de circulao local (Dirio dos Campos eJornal da Manh), com sede no municpio de PontaGrossa (centro-sul do Paran); um jornal de circulaoregional (Gazeta do Povo), com abrangncia em todoo Estado do Paran; e dois jornais com circulao naci-onal (Folha de So Paulo e Estado de So Paulo). Aoselecionarem os assuntos que ganharo maior desta-que do dia, os meios de comunicao esto colaboran-do para o agendamento dos temas que sero discuti-dos ou no pelo pblico, mesmo que essa no seja ainteno do jornalista.

    O estudioso McCombs explica que no cenrio daagenda pblica, os meios de comunicao influenci-am a salincia ou a proeminncia de um pequeno n-mero de assuntos que chegam a comandar a atenopblica2 (McCombs, 1997, 433, traduo nossa). E,alm disso, na maior parte das sociedades democr-ticas os meios de comunicao no ajustam intencio-nalmente e deliberadamente a agenda3 (McCombs,1997, p. 433, traduo nossa). Mas os jornais determi-nam inadvertidamente a necessidade de escolha detpicos que sero ateno das notcias de cada dia.

    Este tipo de estudo justifica-se pela relevncia daschamadas de primeira pgina e, em especial, das man-chetes para a definio da agenda de debates a respei-to dos temas pblicos. Em pesquisa sobre os efeitosdas notcias nas discusses pblicas, Iyengar e Kinder(1988) constataram que as primeiras notcias dos tele-jornais tinham um poder de agendamento significati-vamente superior s demais notcias. A hiptese deles que aps o primeiro contato com o noticirio aumentaa disperso da ateno do pblico. Com isso, a capaci-dade de assimilao e memria para as temticas tor-na-se reduzida.

    Aqui, partimos do pressuposto de que possveltransportar as afirmaes de Iyengar e Kinder (1988)do telejornal para as edies de jornais dirios, adap-tando os contedos das capas e, nestas, os de maiorvisibilidade, que so as manchetes, ao papel desem-penhado pelas primeiras notcias dos telejornais, ouseja, aquelas que conseguem o maior poder de agen-damento em todo o noticirio.

    Levando em considerao todos os aspectos intrn-secos produo das chamadas de primeira pgina esuas manchetes, cabe perguntar o que resulta em man-chete em jornais dirios brasileiros? Temas de maiorou menor relevncia social predominam nesse impor-tante espao de visibilidade pblica? E quanto reade abrangncia dos jornais, h determinao dela so-bre as escolhas do que ser manchete a cada nova edi-

    o? Na tentativa de responder a esses questionamen-tos, a partir de informaes que integram pesquisasdesenvolvidas pelo grupo de pesquisa Mdia e Polti-ca, vinculado ao Departamento de Comunicao daUniversidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), soanalisadas as manchetes das primeiras pginas, pre-dominantemente a partir da utilizao de mtodosquantitativos de Anlise de Contedo.

    No prximo tpico ser apresentada a metodologiade pesquisa utilizada, seguida pelos principais resulta-dos comparativos, seja em termos de temtica aborda-da pelos peridicos, ou ainda, em relao rea deabrangncia dos jornais, se local, estadual ou nacional.Em seguida so feitas breves consideraes a respeitodo tema, aplicadas aos jornais tratados aqui. No se pre-tende, com isso, defender que as concluses sirvam di-retamente para inferncias a outros veculos, mas esti-mular outras pesquisas que possam verificar regulari-dades e alteraes nos padres encontrados aqui.

    Anlise das caractersticas das manchetesPartindo da relevncia das manchetes como ele-

    mento identificador de processos de seleo jornalsti-ca, o grupo de pesquisa em Mdia e Poltica, da Uni-versidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), tem co-letado informaes a respeito das primeiras pginasde cinco jornais dirios brasileiros. Os peridicos ana-lisados tm abrangncias diferentes. Para este traba-lho, esto sendo consideradas todas as edies dos cin-co jornais dirios entre 1 de agosto e 31 de outubro de2007 esse perodo delimitado em funo de umapesquisa mais ampla que visa comparar as primeiraspginas em perodos eleitorais e no-eleitorais.

    A metodologia de pesquisa adotada aqui de An-lise de Contedo. Wilson Corra da Fonseca Jniorrelata que a anlise de contedo (AC), em concepoampla, se refere a um mtodo das cincias humanas esociais destinado investigao de fenmenos simb-licos por meio de vrias tcnicas de pesquisa (Fonse-ca Jnior, 2005, p. 280). Ela leva em considerao a co-leta quantitativa de dados ao mesmo tempo em quepermite a anlise qualitativa e, dessa forma, MartinBauer explica que no divisor quantidade/qualidadedas cincias sociais, a anlise de contedo uma tc-nica hbrida (Bauer, 2002, p. 190).

    Atualmente, embora seja considerada uma tc-nica hbrida por fazer a ponte entre o formalis-mo estatstico e a anlise qualitativa de mate-riais (Bauer, 2002), a anlise de contedo osci-la entre esses dois plos, ora valorizando o as-pecto quantitativo, ora o qualitativo, depen-

    Revista FAMECOS Porto Alegre v. 17 n. 1 p. 14-27 janeiro/abril 2010

  • 17

    Como os jornais brasileiros do visibilidade a temas pblicos

    dendo da ideologia e dos interesses do pesqui-sador (Fonseca Jnior, 2005, p. 285).

    A anlise de contedo foi aplicada s principaischamadas (manchete de cada edio) do jornal Diriodos Campos e Jornal da Manh, de circulao local,por serem os de maior veiculao na cidade de PontaGrossa. Alm disso, o Dirio dos Campos o impres-so mais antigo do municpio e o Jornal da Manh pas-sou por uma restaurao de sua linha editorial duran-te o perodo de anlise. Ambos tm circulao diria(exceto s segundas-feiras)4.

    O jornal Gazeta do Povo um veculo de abran-gncia regional, com circulao diria, sediado emCuritiba, e o peridico com maior circulao na capi-tal paranaense, alm de importante penetrao no in-terior do Estado. O jornal O Estado de So Paulo e aFolha de So Paulo foram escolhidos por serem de cir-culao nacional e veiculao diria. O primeiro exis-te desde 1875, o que o torna o jornal mais antigo aindaem circulao. J o segundo, passou a ser o jornal maisvendido do pas desde o incio dos anos 90.

    As variveis analisadas foram divididas em identi-ficadores das caractersticas fsicas, topogrficas e decontedo. Quanto s caractersticas fsicas e topogrfi-cas, encontram-se a localizao na pgina (que no casode manchete ser sempre na primeira dobra), o espaoocupado em centmetros quadrados, alm do fato damanchete apresentar ou no fotografia ou ilustrao. Emrelao ao contedo das manchetes, verificado se otexto apresenta expressamente a citao de alguma fonteexterna ao jornal. Nos casos de presena de fonte, elasso classificadas em relao ao tipo (Habermas, 2006) equanto a origem (Molotch; Lester, 1993)5.

    Outra varivel analisada em relao ao contedodiz respeito rea de abrangncia a que o tema man-chetado diz respeito. So quatro possibilidades: Abran-gncia Local, quando o tema tratado fica restrito aomunicpio de origem do jornal; Abrangncia Regional,quando o tema relaciona-se ao estado ou outro muni-cpio que no a sede do peridico; Abrangncia Naci-onal, para temas que digam respeito a assuntos comimpacto difuso em todo o Pas; e Abrangncia Inter-nacional, para temas em que aparece algum tipo derelao entre Brasil e outros pases ou exclusivamenteocorrncias em outros pases. Com essa varivel espe-ra-se medir o grau de correlao entre a rea de abran-gncia dos jornais e a abrangncia dos temas que ga-nham as manchetes desses peridicos.

    A ltima caracterstica em relao ao contedo dasmanchetes analisadas aqui o tema principal a queelas se referem. Para tanto, foram classificados 13 te-

    mas: Partidos polticos e pr-campanha eleitoral (j queo perodo analisado coincidiu com o fim do prazo paramudanas partidrias para os polticos que pretendi-am disputar as eleies municipais de 2008); PolticoInstitucional, quando o tema dizia respeito a rgospblicos da esfera federal, estadual ou municipal, dospoderes Legislativo, Executivo e Judicirio, assim comoda relao destes rgos com a sociedade organizada;Economia, manchetes sobre movimento da bolsa devalores, expectativa geral da economia agrcola, indus-trial, prestao de servios, comrcio, salrios, empre-go ou desemprego.

    A pesquisa considerou apresena de apenas uma

    manchete por edio. Sendoassim, o nmero de manchetesanalisadas por jornal equivale

    ao nmero de ediespublicadas no perodo.

    Outro tema determinado foi Sade, onde foramescolhidas manchetes com casos que envolviam o sis-tema pblico ou privado de sade, tais como falta deatendimento, filas ou melhorias nas condies de aten-dimento, etc. Outros assuntos: Educao, quando en-volve assuntos relacionados direta ou indiretamenteao sistema de educao pblico ou privado, em todosos nveis; Atendimento a carentes ou minorias, quetratam sobre polticas sociais, bolsas, auxlios oficiais,distribuio de renda, polticas especficas para gru-pos tnicos, culturais, de opo sexual, etc; Infra-es-trutura urbana, quando trata de obras de desenvolvi-mento urbano, crescimento industrial, sistema de trans-porte pblico, moradia, vias urbanas, etc.

    Tambm entraram na pauta Meio-ambiente, paramanchetes sobre manuteno, preservao ou devas-tao ambiental, assim como descobertas a respeito doimpacto do homem sobre o meio-ambiente; Violnciae segurana, a respeito de ndices de violncia, casosisolados, mortes, sistema carcerrio, investimentos emsegurana e combate ao crime; tico-moral, para te-mas que envolvem principalmente valores como cor-rupo, igualdade de direitos, comportamento social-

    Revista FAMECOS Porto Alegre v. 17 n. 1 p. 14-27 janeiro/abril 2010

  • 18

    mente esperado, etc; Internacional, engloba assuntosrelatados pelos jornais e que aconteceram em outrospases; Variedades/Cultura, em casos de manchetessobre temas que envolvem estrelas do entretenimen-to, dos meios de comunicao de massa ou relaciona-da a produes culturais; Esportes, quando relaciona-do a esportistas, competies ou entidades do mundodo esporte; e Outro, quando o tema da manchete nose enquadra em nenhum dos anteriores.

    Principais resultadosA pesquisa considerou a presena de apenas uma

    manchete por edio. Sendo assim, o nmero de man-chetes analisadas por jornal equivale ao nmero deedies publicadas no perodo. Os jornais Gazeta doPovo, Folha de So Paulo e Estado de So Paulo tive-

    ram 92 edies entre 1 de agosto e 31 de outubro de2007. J no Dirio dos Campos, que no circula nassegundas-feiras e feriados, foram 75 manchetes publi-cadas no mesmo perodo. Enquanto que o Jornal daManh, reformulado e relanado a partir de setembrode 2007, teve 48 edies entre 1 de setembro e 31 deoutubro do mesmo ano nesse caso no foi considera-do o ms de agosto.

    O total de manchetes analisadas de 399, sendo queem todas elas os textos apresentados so de cunho in-formativo, o que mostra que a opinio do jornalista oude fontes com grande visibilidade pblica no ganhaeste espao nos jornais. Em relao aos espaos ocupa-dos pelas manchetes, a tabela 1 apresenta a mdia e to-tal em cm e percentual do total da pgina por edio.

    Emerson Urizzi Cervi

    Tabela 1 Espaos ocupados pelas manchetes nos jornais analisados

    Indicadores Dirio dos Jornal da Gazeta do Folha de Estado deCampos Manh Povo So Paulo So Paulo

    Mdia cm2 da manchete/edio 251,5 273,2 260,6 237,1 258,9

    Total cm2 das manchetes 18.866,80 13.116 23.980,70 21.819,80 23.819,10

    % de cm2 ocupado pelas manchetes 23,5 23 23,9 23,7 25

    N de edies no perodo 75 48 92 92 92

    Fonte: Grupo de Pesquisa em Mdia e Poltica (UEPG)

    fias das que no tm imagens, percebe-se que o maiorpercentual fica em manchetes sem fotos em todos osdirios. O jornal que mais utilizou o recurso fotogrfi-co em suas manchetes foi o peridico ponta-grossenseJornal da Manh, com 43,75%. O jornal Dirio dosCampos no se diferencia muito de seu concorrentelocal quanto ao uso de imagens nas manchetes (42%).

    J a Gazeta do Povo o jornal que apresenta o me-nor percentual de manchetes com foto (23,9%), enquan-to os dois peridicos de circulao nacional ficam en-tre 31% e 32% de foto nas manchetes. A partir dessespercentuais possvel estabelecer um padro. Os doisjornais de circulao local (Jornal da Manh e Diriodos Campos) apresentam os maiores ndices de man-chete com foto, com mais de 40% do total; seguidosdos dois peridicos de circulao nacional (Folha deSo Paulo e Estado de So Paulo), pouco acima de 30%.Por ltimo, fica o jornal de circulao regional, commenos de 24% de manchetes com fotos.

    A tabela acima demonstra uma relativa equivaln-cia a respeito dos espaos ocupados pelas manchetesnos jornais. Em quatro deles, o percentual ocupado pelamanchete gira em torno de 23% do total de espao in-formativo de cada capa. No Estado de So Paulo o per-centual ocupado pelas manchetes fica em 25%. Consi-derando que em mdia, uma edio de jornal dirioapresenta entre 10 e 20 chamadas em sua primeirapgina, se uma nica delas, no caso a manchete do dia,ocupa cerca de um quarto do total noticioso, esta ga-nha relativo destaque, no apenas quanto a visibilida-de, mas tambm em relao aos demais temas noticia-dos na primeira pgina. Logo, percebe-se a importn-cia e destaque que as manchetes tm na primeira p-gina dos jornais, visto que ela sozinha ocupa aproxi-madamente 25% da pgina6.

    Tambm possvel observar, atravs da anlise queem todos os jornais, o uso de fotografias nas manche-tes no foi preponderante (ver tabela 2). Ao separar asmanchetes entre aquelas acompanhadas por fotogra-

    Revista FAMECOS Porto Alegre v. 17 n. 1 p. 14-27 janeiro/abril 2010

  • 19

    Tabela 2 Formato das manchetes por jornal

    Tipo de manchete Dirio dos Jornal da Gazeta do Folha de Estado deCampos Manh Povo So Paulo So Paulo

    Manchete com foto 31 (41,33) 21 (43,75) 22 (23,91) 30 (32,60) 29 (31,52)

    Manchete sem foto 44 (58,66) 27 (56,25) 70 (76,08) 62 (67,39) 63 (68,47)

    Total 75 (100) 48 (100) 92 (100) 92 (100) 92 (100)

    Fonte: Grupo de Pesquisa em Mdia e Poltica (UEPG)

    Para facilitar a interpretao dos resultados, os 13 te-mas relatados na seo anterior foram agrupados emquatro grandes grupos. O primeiro chamado de Te-mas Sociais e inclui assuntos relacionados economia,sade, educao, atendimento a carentes e minorias,infra-estrutura urbana, meio ambiente, violncia e se-gurana pblica. O segundo Institucional, reunindoassuntos relacionados pr-campanha eleitoral, pol-tica partidria, poltica institucional, e temas vincula-dos ao comportamento tico e moral. O terceiro, cha-mado de Internacional, agrupa as manchetes a respei-to de outros pases. Existe ainda o grupo de Entreteni-mento, que rene assuntos sobre variedades, cultura eesportes. Por fim, esto os Outros temas, que no pu-deram ser enquadrados em nenhum dos anteriores.

    Como os jornais brasileiros do visibilidade a temas pblicos

    O uso ou no de fotografias e imagens nas man-chetes pode dever-se ao fato de que a manchete dia-gramada de forma que sua tipologia e posicionamen-to na pgina j chamem a ateno do leitor e, dessemodo, o recurso fotogrfico passa a ser utilizado paradestacar outra notcia, com um apelo imagtico maisforte, funcionando como uma espcie de segunda man-chete do dia. possvel inferir que os temas manche-tados nos jornais dirios no esto, necessariamente,relacionados a uma boa imagem. A utilizao da se-gunda manchete (com foto) deixa os editores um pou-co mais livres de interesses vinculados diretamenteao mercado para definir o tema da manchete.

    A seguir, passando a abordar os contedos dasmanchetes, so apresentados resultados por temas.

    Tabela 3 Tipo de tema nas manchetes dos jornais

    Tipo de tema Dirio dos Jornal da Gazeta do Folha de Estado deCampos Manh Povo So Paulo So Paulo

    Social 51 (68) 31 (64,5) 54 (58,7) 49 (53,3) 55 (59,8)

    Institucional 21 (28) 10 (20,8) 33 (36) 36 (39,1) 35 (38)

    Internacional 0 0 1 (1,1) 2 (2,2) 2 (2,2)

    Entretenimento 3 (4) 2 (4,2) 1 (1,1) 4 (4,3) 0

    Outro 0 5 (10,5) 3 (3,1) 1 (1,1) 0

    Total 75 (100) 48 (100) 92 (100) 92 (100) 92 (100)

    Fonte: Grupo de Pesquisa em Mdia e Poltica (UEPG)

    A tabela 3 acima mostra uma tendncia de repro-duo das mesmas escolhas temticas nos jornais ana-lisados. Em todos predomina o tema social como man-chete em mdia 60,88% , embora na Folha de SoPaulo percentual tenha ficado muito prximo da me-tade (53%). Outra caracterstica importante a simila-ridade entre os peridicos locais. So eles que apre-

    sentam os maiores ndices de temas sociais nas man-chetes. Dentre os temas que integram o conjunto So-cial, no Dirio a maior presena ficou por conta deassuntos relacionados infra-estrutura urbana (22,7%)e violncia e segurana (10,7%). O Jornal da Manhseguiu a mesma lgica que seu concorrente, mas coma ordem de importncia dos assuntos trocada, sendo

    Revista FAMECOS Porto Alegre v. 17 n. 1 p. 14-27 janeiro/abril 2010

  • 20

    as notcias sobre violncia e segurana 22,9% e as so-bre infra-estrutura urbana com 14,6% do total dasmanchetes sociais. Na Gazeta do Povo, o tema socialque mais apareceu em manchete foi economia com17,4% e infra-estrutura 14,5%.

    A predominncia de economia como tema socialmais presente nas manchetes tambm se d nos doisjornais de circulao nacional, com o mesmo percen-tual para Folha de So Paulo e Estado de So Paulo(34,8% do total). A tabela 4 a seguir mostra as relaespercentuais entre grupos de temas sociais por rea deabrangncia do jornal e dia da semana, separando odomingo dos demais dias. Em todos os cinco impres-sos, o segundo grupo de temas que mais aparece nasmanchetes Institucional, variando de 20% a 35% dototal.

    O jornal que mais trouxe temas relacionados po-ltica foi a Folha de So Paulo, com aproximadamente40% do total das manchetes. Desse total, a Folha deSo Paulo divulgou 20,7% de manchetes relacionadas poltica institucional e 18,5% ligadas ao tema tico-moral, que diz respeito corrupo e igualdade dedireitos. O jornal Estado de So Paulo seguiu a mesmalgica e publicou 38% das manchetes sobre poltica,

    sendo que 21,7% so sobre poltica institucional e 16,3%sobre tico-moral. Aqui, novamente, os jornais locaisapresentam critrios semelhantes de seleo de temaspara as manchetes, o mesmo acontecendo com aque-les que tm circulao nacional, porm, no h relaodireta entre peridicos de diferentes reas de circula-o.

    J grupos de temas Internacional, Entretenimentoe Outro apresentaram percentuais pouco significati-vos, variando de nenhuma apario em manchetes coma presena em apenas cinco delas. Quanto abrangn-cia do tema, possvel perceber que todos os jornaisanalisados destinam as manchetes predominantemen-te ao pblico alvo de sua rea de circulao. Jornais decirculao local, por exemplo, noticiaram manchetescom assuntos de abrangncia local em mais da meta-de de suas edies (ver tabela 4).

    Para medir a fora da correlao entre as duas vari-veis foi aplicado um teste de correlao de Spearman,para variveis categricas, entre rea de circulao dosjornais e abrangncia das manchetes. O resultado foium coeficiente de correlao de 52,7%, com nvel designificncia de 0,000, demonstrando uma consistentecorrelao entre elas.

    Emerson Urizzi Cervi

    Tabela 4 Abrangncia das manchetes

    Abrangncia das manchetes Dirio dos Jornal da Gazeta do Folha de Estado deCampos Manh Povo So Paulo So Paulo

    Local 55 (73) 26 (54,2) 14 (15,2) 3 (3,3) 2 (2,2)

    Regional 17 (23) 15 (31,3) 51 (55,4) 2 (2,2) 4 (4,3)

    Nacional 3 (4) 4 (8,3) 26 (28,3) 72 (78,3) 70 (76,1)

    Internacional 0 3 (6,3) 1 (1,1) 15 (16,3) 16 (17,4)

    Total 75 (100) 48 (100) 92 (100) 92 (100) 92 (100)

    Fonte: Grupo de Pesquisa em Mdia e Poltica (UEPG)

    chetes com abrangncia nacional e o Estado de SoPaulo o fez em 76% das vezes.

    A tabela a seguir relaciona as duas variveis j ana-lisadas, rea de circulao do jornal com grupo de te-mas, acrescentando uma terceira varivel, que o fatoda manchete ter sido publicada em uma edio de do-mingo ou em outro dia da semana.

    Ainda em relao abrangncia das manchetes, oDirio dos Campos teve 73% de suas manchetes rela-cionadas aos temas do municpio. J o Jornal da Ma-nh contou com 54,2% . Da mesma forma, a Gazeta doPovo, de circulao estadual, apresentou manchetesde abrangncia regional na ordem de 55,4% do total.Os impressos nacionais seguiram a mesma linha, sen-do que a Folha de So Paulo publicou 78,3% de man-

    Revista FAMECOS Porto Alegre v. 17 n. 1 p. 14-27 janeiro/abril 2010

  • 21

    Tabela 5 Temas das manchetes por abrangncia do jornal e dia da semana

    Circulao do jornal Dia da semana Total

    Outro dia Domingo

    Local Tema Social 66 (64,1) 16 (80) 82 (66,7)Institucional 29 (28,2) 2 (10) 31(25,1)Entretenimento 4 (3,9) 1 (5) 5 (4,1)Outro 4 (3,9) 1 (5) 5 (4,1)

    Total 103 (100) 20 (100) 123 (100)

    Regional Tema Social 103 (65,2) 12 (46,2) 115 (62,5)Institucional 40 (25,3) 12 (46,2) 52 (28,3)Internacional 0 1 (3,8) 1 (0,5)Entretenimento 1 (0,6) 0 1 (0,5)Outro 14 (8,9) 1 (3,8) 15 (8,2)

    Total 158 (100) 26 (100) 184 (100)

    Nacional Tema Social 85 (53,8) 19 (73,1) 104 (56,5)Institucional 65 (41,1) 6 (23,1) 71 (38,6)Internacional 4 (2,5) 0 4 (2,2)Entretenimento 4 (2,5) 0 4 (2,2)Outro 0 1 (3,8) 1 (0,5)

    Total 158 (100) 26 (100) 184 (100)

    Fonte: Grupo de Pesquisa em Mdia e Poltica (UEPG)

    na por abrangncia do tema da chamada, dividido porcirculao dos jornais.

    Os percentuais reafirmam a tendncia j apontadaanteriormente sobre a importncia dada pelos jornaisde circulao local para manchetes com abordagenslocais e peridicos de circulao nacional com aborda-gens nacionais. Na menor esfera de circulao dos jor-nais, a local, 75% das manchetes de edies de domin-gos foram de tema com abrangncia local, superior aopercentual dos demais dias da semana (64,1%) para amesma abrangncia. Da mesma forma, nos jornais decirculao nacional, 80% das manchetes de ediesdominicais foram de temas com abordagem nacional.

    J no peridico de circulao regional, a relaoentre abrangncia da manchete de domingo e rea nofoi to significativa. As manchetes dominicais comabrangncia regional, neste caso, ficaram em 34,6% dototal, um pouco abaixo das manchetes de domingosobre temas com abrangncia nacional (38,5%).

    Como os jornais brasileiros do visibilidade a temas pblicos

    O objetivo da identificao de ocorrncias nas edi-es de domingo justifica-se pelo fato dos jornais di-rios apresentarem uma tiragem muito superior aosdemais dias da semana. A Tabela 5 acima mostra quenos jornais de abrangncia local e nacional h umapredominncia de chamadas do grupo tema Social nodomingo, maior que no jornal de circulao regional.Nos jornais locais, 80% das manchetes de edies do-minicais so de temas sociais, contra 73,1% nos peri-dicos de abrangncia nacional e, apenas, 46,2% do di-rio regional.

    Na outra ponta, jornais de circulao local no ti-veram nenhuma manchete com tema Internacional enos jornais com abrangncia nacional no tiveram ne-nhuma edio de domingo com manchete de tema In-ternacional e Entretenimento. Para identificar a rela-o entre abrangncia da chamada e rea de circula-o do jornal, a tabela 6 a seguir mostra os cruzamen-tos entre manchete no domingo ou outro dia da sema-

    Revista FAMECOS Porto Alegre v. 17 n. 1 p. 14-27 janeiro/abril 2010

  • 22

    Tabela 6 Circulao do jornal, abrangncia da chamada por dia de publicao

    Circulao do jornal Dia da semana Total

    Outro dia Domingo

    Local Abrangncia Local 66 (64,1) 15 (75) 81 (65,9)da chamada Regional 28 (27,2) 4 (20) 32 (26)

    Nacional 6 (5,8) 1 (5) 7 (5,7)Internacional 3 (2,9) 0 3 (2,4)

    Total 103 (100) 20 (100) 123 (100)

    Regional Abrangncia Local 30 (19) 6 (23,1) 36 (19,6)da chamada Regional 68 (43) 9 (34,6) 77 (41,8)

    Nacional 59 (37,3) 10 (38,5) 69 (37,5)Internacional 1 (0,6) 1 (3,8) 2 (1,1)

    Total 158 (100) 26 (100) 184 (100)

    Nacional Abrangncia Local 3 (1,9) 2 (7,7) 5 (2,7)da chamada Regional 4 (2,5) 2 (7,7) 6 (3,3)

    Nacional 121 (76,6) 21 (80,8) 142 (77,2)Internacional 30 (19) 1 (3,8) 31 (16,8)

    Total 158 (100) 26 (100) 184 (100)

    Fonte: Grupo de Pesquisa em Mdia e Poltica (UEPG)

    Em ambos os casos o nvel de significncia de0,000, acima de 99% de intervalo de confiana. Emoutros termos, isso significa que quando os jornais lo-cais esto tratando de temas sociais como infra-estru-tura ou violncia em suas manchetes, isso se d emrelao a acontecimentos restritos rea de circulaodeles. Esses dados apontam para uma estreita relaoentre deciso dos jornalistas a respeito das manchetesdas edies e consideraes a respeito das demandase expectativas do pblico a que se destinam essas pu-blicaes.

    Alm da relao direta entre rea de circulao eabrangncia do tema, testes estatsticos de Anlise deCorrespondncia mostram uma relao altamente sig-nificativa entre a abrangncia dos grupos de temassociais e institucionais (que predominam nas manche-tes) e a rea de circulao dos jornais, como represen-tado nos grficos de correspondncia a seguir. A rela-o entre abrangncia dos temas sociais das manche-tes e rea de circulao do jornal resulta em um coefi-ciente de qui-quadrado de Pearson de 1.212,660, en-quanto que para os temas institucionais o coeficientefica em 564,496.

    Revista FAMECOS Porto Alegre v. 17 n. 1 p. 14-27 janeiro/abril 2010

    Emerson Urizzi Cervi

  • 23

    Grfico 1 Anlise de Correspondncia entre Abrangncia da Chamada e Circulao dos jornais para Grupo de Temas Sociais e TemaInstitucional

    Revista FAMECOS Porto Alegre v. 17 n. 1 p. 14-27 janeiro/abril 2010

    Como os jornais brasileiros do visibilidade a temas pblicos

  • 24

    Outra caracterstica observada diz respeito s cita-es diretas de fontes nas manchetes. O objetivo iden-tificar se os jornais dividem com outros atores soci-ais a responsabilidade pelas informaes contidas nasmanchetes dirias ou se nos espaos de maior visibili-dade h uma exclusividade da fala do peridico. Emtodos eles predominam a ausncia de fontes nas man-chetes. Em todos os momentos da produo jornalsti-ca, as fontes de informao servem para reforar o queo jornalista diz em seu texto. Segundo Gaye Tuchman ouso das citaes serve para evitar a presena do jorna-lista no relato e se estende at ao uso de aspas comoum dispositivo que assinala certos aspectos do texto(Tuchman, 1999, p. 7). Mas isso no se mostra relevan-

    te nas chamadas de primeira pgina, que parece serum espao destinado produo de sentidos da pr-pria comunidade de jornalistas, sem o recurso do apoiodas fontes.

    Em quatro dos cinco jornais pesquisados, a no uti-lizao de citao dos entrevistados foi uma constan-te, variando de 73% a 97% (ver tabela 7). Quem utili-zou citaes de entrevistados nas manchetes foi o Jor-nal da Manh (97%). Ele citou apenas uma vez umafonte classificada como lobista, durante os dois mesesde anlise. J o impresso que mais citou falas de entre-vistados nas manchetes foi O Estado de So Paulo, como uso de fontes em 57,6% das manchetes.

    Tabela 7 Tipo de Fonte nas manchetes dos jornais

    Tipo de fonte Dirio dos Jornal da Gazeta do Folha de Estado deCampos Manh Povo So Paulo So Paulo

    Lobista 2 (2,7) 1 (2,1) 3 (3,3) 5 (5,4) 9 (9,8)

    Especialista 4 (5,3) 0 4 (4,3) 0 15 (16,3)

    Defensor de Interesse Pblico 4 (5,3) 0 2 (2,2) 6 (6,5) 5 (5,4)

    Porta-voz de temas marginais 0 0 0 0 1 (1,1)

    Intelectual 0 0 0 0 0

    Outro 5 (6,7) 0 5 (5,4) 13 (14,1) 23 (25)

    No utilizou fonte 60 (80) 47 (97) 78 (84,8) 68 (73,9) 39 (42,4)

    Total 75 (100) 48 (100) 92 (100) 92 (100) 92 (100)

    Fonte: Grupo de Pesquisa em Mdia e Poltica (UEPG)

    Um critrio adicional que a pesquisa levou em con-siderao foi a origem das citaes. Elas esto classifica-das em oficial/habitual, disruptiva social e outra, base-adas nos estudos de Molotch e Lester (1993). Como sepercebe na tabela 8 a seguir, todos os jornais utilizarammais vezes fontes oficiais do que disruptivas ou as clas-sificadas como outro, exceto pelo Jornal da Manh quena nica vez em que usou citao foi como disruptiva.O jornal que mais usou fontes oficiais na manchete foiO Estado de So Paulo, em cerca de 50% do total. Asfontes disruptivas e outro praticamente no aparecemnas manchetes. O menor percentual entre os dois tiposde fontes ficou por conta da Gazeta do Povo, que apre-sentou 13% de fontes oficiais em relao ao total demanchetes e 2,2% de fontes disruptivas. Ainda assim,como se v, uma diferena significativa.

    No caso do Dirio dos Campos, as fontes mais ci-tadas em acordo com a classificao de Habermas(2000) se divide entre Especialista e Defensor do In-teresse Pblico. Na Gazeta do Povo houve predom-nio de Especialista como fonte. Na Folha de So Pau-lo houve uma citao a mais de Defensor do Interes-se Pblico; j no O Estado de So Paulo, jornal quemais citou fontes em suas manchetes, houve predo-mnio de Especialista. preciso ressaltar que em to-dos os jornais o maior nmero de citaes foi enqua-drada como outro, o que indica a necessidade demelhorar as categorias utilizadas aqui. Uma caracte-rstica comum aos cinco jornais que nenhum delesusou falas de intelectuais como fontes de informaesnas manchetes (ver tabela 7).

    Revista FAMECOS Porto Alegre v. 17 n. 1 p. 14-27 janeiro/abril 2010

    Emerson Urizzi Cervi

  • 25

    Tabela 8 Origem das fontes citadas em manchetes dos jornais

    Origem das fontes Dirio dos Jornal da Gazeta do Folha de Estado deCampos Manh Povo So Paulo So Paulo

    Oficial 14 (18,7) 0 12 (13) 17 (18,5) 44 (47,8)

    Disruptiva 0 1 (2,1) 2 (2,2) 3 (3,3) 4 (4,3)

    Outro 1 (1,3) 0 0 4 (4,3) 5 (5,4)

    No utilizou 60 (80) 47 (97) 78 (84,8) 68 (73,9) 39 (42,4)

    Total 75 (100) 48 (100) 92 (100) 92 (100) 92 (100)

    Fonte: Grupo de Pesquisa em Mdia e Poltica (UEPG)

    leitor por outros aspectos como: a posio privilegia-da que ela ocupa na pgina que est sempre na pri-meira dobra da pgina e no canto superior da mesma.Considerando que na primeira pgina cabem, em m-dia, de dez a vinte chamadas de textos informativos,percebe-se que apesar dos avanos tecnolgicos e ade-quaes grficas dos veculos impressos, as manche-tes continuam tendo importncia na composio dascapas dos jornais.

    Os temas com maiorvisibilidade so os mais

    prximos do cotidiano dopblico que procura cada

    um dos jornais.No que diz respeito abrangncia dos temas das

    manchetes, nota-se uma forte correlao com a reade circulao dos jornais, indicando uma relao dire-ta entre temas de maior proximidade do pblico e gran-de visibilidade na primeira pgina. Em todos os jor-nais, a maioria das manchetes recebe um tratamento,independente do tema, em que predomina uma abor-dagem adequada sua rea de circulao e, por con-seqncia, ao seu pblico alvo. Da mesma forma, aedio de maior circulao da semana, no domingo,tende a apresentar manchetes majoritariamente rela-cionadas com a sua rea de circulao.

    J em relao aos temas escolhidos como manche-tes das edies, possvel perceber diferenas entrereas de circulao, porm, similaridades muito fortesentre jornais que so concorrentes diretos. Em todos

    Portanto, no que diz respeito presena das fontesno espao de maior visibilidade dos jornais, o que jera pouco significativo quando ao tipo, tornou-se me-nos plural ao identificarmos a origem delas. Esse pa-dro transforma em um reforo da viso oficialista arespeito dos fatos sociais, em especial dos temas soci-ais que predominam nas manchetes. Isso ganha con-tornos ainda mais evidentes no Estado de So Paulo,que cita fontes oficiais em 44 das 92 manchetes anali-sadas.

    Consideraes finaisConsiderando todas as informaes apresentadas

    at aqui possvel perceber que os jornais dirios emanlise tendem a seguir, no que diz respeito s esco-lhas inerentes s manchetes das edies, uma linhaeditorial que apresenta coerncia com a rea de abran-gncia de cada jornal. Ou seja, h uma relao entretema mais destacado e proximidade com o pblico aque se destina o jornal. Por outro lado, a maior simila-ridade entre todos os veculos, independente da reade circulao, foi o espao ocupado pelas manchetesnas capas. Em mdia, cada manchete ocupa em tornode um quarto do total de espao noticioso das primei-ras pginas dos jornais.

    Tambm h uma prevalncia de manchetes semfotos, indicando uma possvel distino entre o temade importncia para ocupar o principal espao da capado jornal e o tema com a melhor imagem, ou ilustra-o mais vendvel, para concorrer no livre mercadopela preferncia do pblico.

    Das 399 manchetes analisadas, 266 delas abrirammo do recurso grfico da imagem, o que significa maisde 66%, distribudos igualitariamente entre todos osjornais. Uma possvel explicao para isso talvez sejao fato de que a manchete j chama mais ateno do

    Revista FAMECOS Porto Alegre v. 17 n. 1 p. 14-27 janeiro/abril 2010

    Como os jornais brasileiros do visibilidade a temas pblicos

  • 26

    os peridicos, os temas que predominaram nas man-chetes foram Sociais, seguidos de Institucionais. Jun-tos, eles somam mais de 80% do total de manchetes doperodo analisado. Porm, nos jornais de circulaolocal, as manchetes sobre temas sociais so em nme-ro trs vezes superior ao tema Institucional. J nos jor-nais de circulao regional e nacional, essa relao ficaabaixo de dois para um, entre Social e Institucional.

    Alm disso, nos jornais de circulao local, os te-mas sociais que predominam so violncia, seguranae infra-estrutura urbana. J nos peridicos regionais enacionais, o tema social predominante Economia. Poroutro lado, o que permanece inalterado nas manche-tes analisadas a baixa pluralidade de vozes nostextos. Com a exceo do Estado de So Paulo, na imen-sa maioria das manchetes no h citao de fontes ex-ternas aos meios de comunicao, o que demonstra umpredomnio da viso de mundo do jornalista nas ca-pas dos jornais. Mas, quando as citaes dos entrevis-tados aparecem, inclusive no jornal Estado de So Pau-lo, elas so predominantemente oficiais e, portanto,reforam a viso institucionalizada da realidade.

    Esse uso de citaes oficiais no o problema cen-tral, pois os jornalistas precisam recorrer a elas paraconseguir informaes de dados oficiais, a questo estem no equilibrar as fontes com a viso de mundo docidado civil e daqueles que discutem e geram algumtipo de confronto social, ao mesmo tempo em que soinfluenciados pelos fatos manchetados. O problemacentral est em no dar espao para a democratizaodas abordagens nas manchetes dos jornais. Em suma,pode-se afirmar a partir destes resultados que os cincodirios analisados nesta pesquisa destacam a realida-de social de seu pblico-alvo e temas polticos que afe-tam direta e indiretamente a vida dos leitores, princi-palmente.

    Os temas com maior visibilidade so os mais pr-ximos do cotidiano do pblico que procura cada umdos jornais. Percebe-se isso porque as manchetes tra-zem notcias que esto ligadas principalmente regiode distribuio do dirio FAMECOS

    REFERNCIAS

    AMARAL, Lus. Jornalismo: matria de primeira pgina.2 ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro; Braslia, INL,1978.

    BAUER, Martin; GASKELL, George. (Orgs.). PesquisaQualitativa com texto: imagem e som: um manual pr-tico. Traduo de Pedrinho A. Guareschi. Rio de Ja-neiro: Vozes, 2002.

    BEZERRA, Heloisa Dias. Adversarismo Poltico e Luga-res Narrativos: proposta de um modelo analtico. Trabalhoapresentado no 2 Congresso da Alacip: Campinas,2006.

    FONSECA JNIOR, Wilson Corra. Anlise de con-tedo, p. 280-304. (Org.) DUARTE, Jorge; BARROS,Antonio. Mtodos e Tcnicas de pesquisa em comunicao.So Paulo: Atlas, 2005.

    IYENGAR, Shanto; KINDER, Donald R. News ThatMatters. University of Chicago Press: Chicago-EUA,1988.

    McCOMBS, Maxwell. Building Consensus: The newsmedias agenda-setting roles. University of Texas at Aus-tin. Political Communication, 1997, p. 433-443.

    MIGUEL, Luis Felipe. Os meios de comunicao e aprtica poltica. Lua Nova Revista de Cultura e Poltica,So Paulo, n. 55-56, 2002.

    MOREIRA, Deodoro Jos. 11 de setembro de 2001:Construo de uma catstrofe nas primeiras pginas de jor-nais impressos. (Dissertao) Mestrado. Disponvel em:h t t p : / / w w w . b o c c . u b i . p t / _ e s p /autor.php?codautor=825, acesso em 06 de maro de2008, s 20h40. 2004.

    SANTOS, Rogrio. Teorias da Comunicao: Leituras eprticas em torno da Comunicao. 2003. Disponvel em:. Acesso em: 20 set. 2007.

    NOTAS

    1 Ela refere-se s manchetes como um dos cinco luga-res narrativos do jornal, que so definidos por espa-os nos quais encontram-se fragmentos da realidadeselecionados e publicados nas pginas dos jornais quepossuem um sentido de todo para os atores e espec-tadores daquele evento. As manchetes promovemum jogo de esconde-esconde porque ao colocar emdestaques com letras grandes e no alto da primeirapgina algum assunto, o jornal est hierarquizandoas notcias. Assim, as manchetes so entendidascomo as chaves mestras que abrem a pgina do jor-nal (Bezerra, 2006, p.15).

    2 In setting the public agenda, the news media influ-ence the salience or prominence of that small num-ber of issues that como to command public attenti-on. (McCombs, 1997, p. 433).

    3 For the most part, news media in democratic socie-ties do not consciously and deliberately set the agen-da. (McCombs, 1997, p. 433).

    Revista FAMECOS Porto Alegre v. 17 n. 1 p. 14-27 janeiro/abril 2010

    Emerson Urizzi Cervi

  • 27

    4 Como em 2007 o Jornal da Manh passou por uma pro-funda reformulao grfica e de linha editorial que sterminou no incio de setembro, para este jornal o per-odo de coleta foi restrito aos meses de setembro e outu-bro, diferenciando-se dos demais, que comeam a seranalisados desde as edies de agosto daquele ano.

    5 Em relao ao tipo, utiliza-se uma adaptao da clas-sificao apresentada por Habermas, dividido em cin-co categorias: a) lobista: quando defende grupos ouinteresses especficos, ligados ao setor privado oupblico; b) especialista/intelectual: ouvido por terconhecimento cientfico ou profissional em determi-nada rea; c) defensor de interesse pblico: defendeinteresses gerais da sociedade, ainda que no seja umespecialista na rea em questo; d) Porta-voz de te-mas marginais: expressam opinio sobre temas ne-gligenciados e no abordados no debate pblico; e)outro: todas as demais fontes que no se enquadram

    nas definies anteriores. Quanto a origem, utilizou-se a classificao apresentada por Molotch e Lester,que : a) Oficial/habitual: originariamente represen-tantes de instituies pblicas ou privadas e que nofalam apenas em seu prprio nome, mas institucio-nalmente; b) disruptiva social: fontes ouvidas por fa-zerem parte de eventos ou crises sociais que geramalgum tipo de confronto ou instabilidade social; c)cidado individualizado: todas as demais fontes queno se originam em representaes de instituiespblicas ou privadas e que no estejam envolvidasem nenhum confronto ou instabilidade social.

    6 As diferenas nos totais de cm2 por capa de jornal sedeve ao fato de que nesta pesquisa foram considera-dos apenas os espaos noticiosos, desprezando osespaos institucionais e comerciais das primeiras p-ginas.

    Revista FAMECOS Porto Alegre v. 17 n. 1 p. 14-27 janeiro/abril 2010

    Como os jornais brasileiros do visibilidade a temas pblicos