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Coleção Primeiro Amor - A Linguagem do Amor

A LINGUAGEM DO AMORKATE EMBURG

Garotas só querem se divertir ...Miguel encarou Leanna com seus olhos escuros amendoados e disse: - Você é muito bonita. Você tem namorado?O coração de Leanna bateu mais rápido. "Não se esqueça de contar a Miguel sobre o Scott, seu namorado, em Fair Oaksl", ela se repreendeu. "Você não tem o direito de se entusiasmar com a voz profunda e os olhos sensuais deste belo estranho. 11Mas Scott, o namorado, estava a centenas de quilômetros.Leanna olhou de lado para Miguel por baixo de seus longos cílios. "Por que não me divertir um pouco neste meu último dia aqui em San Diego?" E, numa piscada de olhos, Scott e sua vida em Fair Oaks transformaram-se numa lembrança distante.

Um- Leanna! Leanna acorda!Leanna Van Haver apertou os olhos fechados e cobriu a cabeça com o travesseiro. Mas não foi suficiente. Os gritos ardidos de seus meio-irmãos – não, meio monstros, se corrigiu – penetravam através do travesseiro ferindo seus tímpanos. Tomás e Juan já eram irritantes sozinhos; e totalmente insuportáveis quando eles a torturavam em estéreo.- Quero ir pra casa -, gemeu Leanna embaixo do travesseiro. Mas o som abafado não deteve os meninos, que com suas mãozinhas começavam a puxar seu braço e lhe fazer cócegas.‘ ‘Se a minha fada-madrinha aparecesse agora’’, pensou Leanna, ‘‘sei exatamente o que eu pediria. Desejar estar em casa em Fair Oaks, na minha cama, dormindo até o meio-dia com a porta trancada, e que Juan e Tomás fossem transformados em Sapos!’’Felizmente, seu desejo se realizaria no dia seguinte. Tudo, menos a parte dos sapos, é claro. Ela voltaria para Fair Oaks, Califórnia – um subúrbio de Sacramento -, onde poderia voltar a dormir em paz, sem ser incomodada por Tomás e Juan.Jogando o travesseiro, Leanna sentou-se na cama. – Escutem, seus diabinhos...Mas ela não conseguiu terminar a frase. O coração de Leanna se derreteu quando viu a cara dos dois menininhos, olhando pra ela com adoração. Tomás , de seis anos, tinha as maçãs do rosto saltadas, a pele morena bronzeada, e era magro e alto para a sua idade. Ele e Leanna se pareciam com seu pai, Carlos Malig. Juan, de quatro anos, era uma copia pequena e gorducha de sua mãe, Dora Malig, madrasta de Leanna. Os dois meninos eram tão engraçadinhos – Tomás, um homenzinho, e Juan, um anjinho de pele morena – que Leanna não teve coragem de ameaçar vendê-los ao circo, ou dar-lhes algum outro castigo horrível que achou que mereciam por acordá-la daquele jeito irritante.- Eles só estão agitados. Nunca tiveram uma irmã mais velha antes -, tinha explicado Dora â Leanna. Até aquele verão, Leanna só conhecia seu pai,

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Carlos, por meio de cartas, telefonemas e das histórias que a mãe contava. A nova esposa e os filhos de Carlos tinham sempre sido apenas rostos estranhos em fotografias. Os Malig tinham morado sempre nas Filipinas, enquanto Leanna, sua mãe e o padrasto viviam no norte da Califórnia. Mas agora Carlos era professor de uma escola em San Diego.Quando Carlos convidou Leanna a passar o verão com ele e sua nova família em San Diego, ela ficou ansiosa em conhecê-los. Ansiosa e nervosa também. Ter irmãos pequenos era uma experiência completamente nova para ela. Em casa, em Fair Oaks, a única irmã de Leanna era sua meia-irmã, Kelli, apenas alguns meses mais velha do que ela. Leanna esticou o braço e afagou o cabelo de Juan. – Então, meninos vocês querem que eu levante não?- Sim – respondeu Tomás. Juan assentiu. – Ma diz que podemos ir ao Festival Filipino quando estivermos todos prontos.

Leanna sorriu. – Ela disse? Mas eu não quero nem saber de levantar tão cedo! Acho que vocês vão ter que me tirar da cama.Gargalhando deliciados, os meninos mergulharam no sofá-cama em que Leanna dormiu durante todo o verão, sacudindo a armação de metal e amassando as cobertas. Leanna jogou um cobertor na cabeça de Juan, depois segurou Tomás com uma mão e com a outra começou a fazer cócegas.- Meninos! Parem! Parem! Deixem sua Irmã em paz!A madrasta de Leanna, Dora apareceu na porta que dava para a sala de estar, com seu filho mais novo, Toby, de dois anos, sentado em seus quadris. As sobrancelhas escuras de Dora estavam franzidas no que Leanna julgou ser uma careta que, longe de amedrontá-la, provocou-lhe uma risadinha. Sua madrasta era jovem e bonita demais para dar uma de brava, especialmente com Toby segurando seus brincos de prata.- Fui eu que pedi para ver se você já estava acordada – , desculpou-se Dora –Lamento que esse pedido tenha se transformado nessa praça de guerra!- Não se preocupe, eu não ligo. Além do mais eu é que estava ganhando, - Leanna abraçou cada um dos seus meio-irmãos com um braço. – Eles não estavam me incomodando, juro.- Eles já sabem. – Com algumas palavras ásperas em tagalo, Dora mandou seus filhos correndo para o quarto deles. Então, sorriu para a enteada e disse: -Magandáng umága. - Uh... bom dia? – adivinhou Leanna. Desde que chegara a San Diego, há dois meses, Carlos e Dora vinham tentando ensiná-la a falar tagalo, uma das línguas mais faladas nas Filipinas. Leanna era meio filipina e meio americana e, depois de dois meses pronunciando errado todas as palavras em tagalo, ela chegava à conclusão que sua língua era parte de sua metade americana.

Dora bateu palmas. –Muito bem! Você vai ver Leanna, logo estará falando tagalo como uma nativa.- Mas eu vou voltar para casa amanhã - lembrou Leanna.

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- Sempre há o ano que vem. Até lá você pode praticar com as fitas que seu pai comprou pra você. Assim, da próxima vez que ele lhe encontrar vai ficar muito orgulhoso com tudo o que você já souber.Leanna não respondeu. Seria grosseiro dizer a Dora que ela achava que aprender uma língua estrangeira como tagalo daria muito trabalho e não teria muita utilidade. Seria ingrato, até cruel, acrescentar que ela nem sabia se queria voltar no ano seguinte. Carlos e seu família haviam feito de tudo pra proporcionar a Leanna umas férias maravilhosas, mas para ela os Malig era apenas parentes distantes.Apesar de Leanna ter recebido sempre cartões de aniversario e fotos de Carlos desde que se conhecia por gente, não tinha nenhuma proximidade com ele. Ela era um bebê quando seus pais se divorciaram ocasião em que Carlos retornou a Manila. E sua mãe se casou de novo antes que ela completasse dois anos.Jason Van Haver, padrasto de Leanna, era o único ‘‘pai’’ que ela realmente conhecia. Era por isso que chamava Carlos pelo nome - e não de ‘‘papai’’ ou ‘‘pai’’. Qualquer outra coisa a fazia sentir-se desleal com sua mãe e seu padrasto. Quanto a passar todos os verões e alguns feriados com os Malig... bom ela temia ferir os sentimentos dos Van Haver. Além de não gostar de ficar longe de toda a programação com os amigos de Fair Oaks.Quando Dora voltou para a cozinha, Leanna se perguntou se não deveria ter dito algo simpático sobre sua estada e sobre aprender tagalo. Leanna não queria chatear Dora . Apenas era difícil interessar-se por uma língua e por uma cultura sobre as quais não sabia nada e não entendia nada.

Carlos e Dora se comportavam como se ainda estivessem nas Filipinas. Comiam comidas estranhas, a maioria de seus amigos era formada por filipinos e, quando alugavam vídeos, era de uma videolocadora de filmes em tagalo. Claro que era interessante conhecer outra cultura, mas Leanna não queria que isso fosse para sempre. Uma mãe e um pai já eram suficientes. Ela não precisava de mais nenhum pai ou mãe e de um novo conjunto de regras. Leanna pulou no sofá-cama, esticou as cobertas e o dobrou o colchão para dentro do sofá. Só mais uma noite dormindo na sala, graças a Deus!Andando silenciosamente até a cozinha com os pés descalços, Leanna viu Dora preparando uma frigideira de tocino, ou bacon filipino. Toby, agarrado à perna de Dora, mastigava um pedaço de abacaxi seco.- Oh Leanna! – Dora se virou, com uma espátula na Mao. – Não vi você entra.-Humm, este tocino está com um cheio delicioso – mentiu Leanna, que não agüentava o cheiro doce, nem o gosto, do bacon filipino. – Posso te dar uma mão? – perguntou.- Obrigada – concordou Dora, olhando para Toby, cujas mãos grudentas estavam agarrando sua perna. – acho que precisa trocá-lo. O pacote de fraldas...-Sei onde está – respondeu Leanna puxando Toby. Ele choramingou reclamando, mas ela o levou para o quarto dos meninos assim mesmo. ‘‘ Quando me ofereci para ajudar estava pensando em pôr a mesa’’,

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resmungou para si mesma. Tinha a impressão de que passara as férias inteiras trocando fraldas. Em vez de conhecer seu pai biológico, tinha ficado familiarizada com um traseiro fedido de um bebê.- Depois de café da manhã, vamos as Balboa Park para assistirão Festival Filipino – gritou-lhe Dora do corredor. – Queríamos te fazer um agrado no seu ultimo dia.

Leanna reclamou alto. Um agrado! Andar pelo Balboa Park sob o sol escaldante, comendo uma comida estranha, e ouvindo as pessoas tagarelando numa língua que ela não entendia! Oba!- Há algo errado? – perguntou Dora, parecendo preocupada de verdade.Por um momento, Leanna pensou em dizer a verdade. Dora – aos vinte e sete anos – era apenas onze anos mais velha que Leanna, parecia mais irmã mais velha do que uma madrasta. Ela se perguntava se Dora poderia entender como ela se sentia. Ela queria gritar: “Sim! Algo está muito errado! Estou com saudades da minha mãe, meu padrasto, da minha meia-irmã e de todos os meus amigos! Sei que Carlos me ama e eu quero amá-lo. Quero amar vocês todos, mas eu mal os conheço. Não sei onde me encaixo!”.Leanna apertou uma fralda limpa em volta da cintura de Toby, pegou o menininho e voltou para a cozinha. Tinha decidido contar para Dora como se sentia. Quando entrou, encontrou Carlos encostado no balcão , vestindo uma camisa comprida bordada, segurando um chapéu de palha de abas largas.- Que tal meu barong Tagalog, Leanna?- disse cumprimentando-a. – é o traje nacional filipino.-Ah, você esta falando da camisa ou do chapéu? – ela perguntou.Carlos deu um sorriso, Dora juntou-se a ele e até o pequeno Toby riu.Leanna ficou envergonhada. Estavam rindo dela. Sentiu-se burra! Estava cansada de não se encaixar, apesar de seus longos cabelos pretos e da sua pele bronzeada.“Sou americana” pensou “Por que os Malig não aceitam quem eu sou e param de me empurrar toda essa cultura filipina goela abaixo?”

Dois

- Desculpe - disse Miguel Sarmiento a sua irmã, Carrie. Você sabe que só vou sair com garotas filipinas daqui por diante.Miguel virou-se para o espelho em cima de sua cômoda, considerando o assunto encerrado. Passou um pente pelo seu cabelo preto, acabando de se arrumar para ir ao Festival Filipino. Havia prometido ajudar a vender camisetas e seu turno começaria emuma hora. Mas sua irmã, Carolina, ou Carrie, como insistia em ser chamada, não pretendia desistir do assunto.- Desde quando? - perguntou, plantada na porta do quarto que Miguel dividia com seu irmão de treze anos, Ramon. – O que há de errado com Tiffany? É minha melhor amiga!- Não há nada de errado com Tiffany. Ela é muito sensual. Avisa que eu vou

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sair com ela - anunciou Ramon, deitado na parte de cima do beliche, antes que Miguel pudesse responder.Ele estava deitado de costas, folheando uma revista de motocicletas.Carrie lançou-lhe um olhar de desprezo. - Desculpe, bobão. A Tiffany não sai com pirralhos. - E voltando-se para Miguel disse: - Tiffany é bonita e você não saiu com ninguém desde que Julie te deu o fora.- Ela não me deu o fora! - disse furioso, deixando cair o pente com barulho em cima da cômoda. - Foi um acordo mútuo.- É - interrompeu Ramon com uma risada maldosa. – Você concordou depois que Julie apareceu no baile dos calouros com outro cara.Miguel respirou fundo, sem ânimo para responder. Era verdade que Julie Bromberg tinha começado a sair com outro cara sem se preocupar em romper com ele antes.

Mas doeu ainda mais quando ele se lembrou como tinha defendido Julie junto aos seus pais, que não gostavam da idéia de ele estar saindo com uma garota americana. Ele achava que Julie se sentia como ele. Mas estava errado.Devia ter escutado seus pais e arrumado uma simpática filipina para sair. Alguém que estivesse mais preocupada em ser leal do que conquistar caras com carrões e muita grana. Mas Miguel não podia contar a Carrie e Ramon como se sentia. Sua irmã, como cabelo curto e seu minivestido justo, e seu irmão, usando um único brinco e o cabelo comprido preso num rabo-de-cavalo, pareciam ter-se esquecido de que até dois anos atrás apenas eles viviam nas Filipinas. Agora estavam nos Estados Unidos e para elesisso era tudo o que importava.Miguel balançou a cabeça. Eles dariam risada de sua cara se Ihes contasse que tinha medo de sair com Tiffany. Ela era bonita, mas muito namoradeira. Iria atrás de qualquer rapaz que olhasse para ela e, depois de conquistá-lo, ficaria cheia e o dispensaria.Miguel sabia que Tiffany era uma jogadora, que só se importava mm ela mesma. Miguel não era assim, por isso não queria uma namorada que agisse dessa forma.Ignorando Ramon e Carrie, Miguel olhou-se no espelho. "Será que era feio? Seu rosto anguloso e moreno era muito magro? Suas sobrancelhas longas eram muito emininas? Talvez devesse deixar crescer um bigode." Algo de errado, alguma falha terrível de devia ter para Julie rejeitá-lo.- O que há com você? - perguntou Carrie. - Não pode passar a vida chorando por causa de Julie. Tiffany está livre e gosta de você.- Ela te acha sexy - acrescentou Ramon com aquele sorriso malicioso que tinha desde que começara a andar com seus novos amigos americanos. - Você devia se aproveitar disso.- É assim que você trata as garotas? - perguntou Miguel.- Aproveitando-se delas?- Fica frio, cara - disse Ramon de forma rude. - Você não sabe mais se divertir.

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- Ramon está certo - disse Carrie a Miguel. - Não ia te fazer nada mal relaxar e sair um pouco.

- Já te disse, não estou interessado. Quando eu me apaixonar, será por alguma menina séria, honesta, que tenha consideração, seja quadrada e respeite a tradição.- Dá um tempo! - disse Carrie interrompendo com uma risada alta. - Você anda escutando a Ma e o Papa de novo.- Não te faria mal fazer o mesmo.Carrie apenas riu. - Só porque você quer! Estou caindo fora.- Eo Festival Filipino? - perguntou Miguel. - Você não vai?Carrie balançou a cabeça, fazendo com que seu cabelo cheio de pontas ficasse em pé como os de um porco-espinho. - Vou para a casa de Tiffany, dar-lhe as más notícias.- Nem eu vou. - Ramon jogou sua revista no chão pulando de cima do beliche. - Vou sair com Chuck e os meninos.Miguel ficou de boca aberta, sem conseguir dizer nada por um momento. Ramon e Carrie não podiam estar pensando seriamente em perder o Festival Filipino! Seus pais já estavam lá, montando o equipamento e preparando a comida no parque. Esperavam que todos os seus sete filhos aparecessem mais tarde, e todos, com exceção de Joy, de cinco anos, deveriam trabalhar voluntariamente nas barracas.- Vocês têm que ir - disse Miguel. - É importante. Não só para a Ma e o Papa, mas para toda a comunidade filipina.Enquanto seu irmão e sua irmã hesitavam, Miguel continuou. - Além disso, Ramon, você não devia andar com Chuck. Ele é muito chato.Os olhos de Ramon se inflamaram. - Não me diga o que fazer. Pelo menos eu tenho amigos americanos. - Enfiando um boné de beisebol sobre seu cabelo longo e despenteado, Ramon se precipitou para fora do quarto, com as mãos enterradas até o fundo dos bolsos das calças muito largas, que ele vestia imitando os rapazes de sua turma da pesada. Miguel virou-se para Carrie. Mas ela lançou-lhe um olhar feroz. - Não espere minha ajuda, irmãozinho. Primeiro, você ofendeu minha amiga, e agora está insultando os de Ramon. Nem todos podem ser perfeitos como você - disse saindo do quarto. Apósalguns minutos, Miguel ouviu a porta da frente bater.

Miguel esfregou a testa. De repente, ficou com uma dor de cabeça de rachar. Como as coisas deram tão errado?"Queria que nunca tivéssemos deixado as Filipinas."Por um momento, Miguel sentiu uma pontada de saudade de casa. Ele sentia saudade de seus avós e de seus amigos que ainda viviam no barrio onde ele crescera. Ele não fizera nenhum amigo ali. E, assim que achou uma namorada - bem, não tinha dadocerto.Miguel se olhou no espelho uma última vez, penteou seus cabelos negros e lisos, colocou seu pente no bolso de trás. Ele podia ser um pouco baixo pelos padrões americanos, mas seus braços bronzeados eram musculosos.

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Talvez ele não fosse o cara mais legal do mundo, mas pelo menos todas as garotas que o vissem hoje saberiam onde estava seu coração. Sua camiseta novinha em folha, que orgulhosamente exibia a bandeira vermelha, branca e azul das Filipinas, garantia isso.Duas horas depois, Miguel havia vendido dezenas de camisetas iguais à sua, mas não havia tido a sorte de encontrar uma linda garota de cabelos negros para ajudá-lo a se esquecer de como se sentia sozinho. Ele vira muitas garotas bonitas passeandopela festa ao ar livre, mas a maioria delas estava de mãos dadas com outros rapazes. As poucas garotas sozinhas que chegavam perto dele pareciam estar comprando camisetas para impressionar seus namorados.Não era justo! Miguel estava cercado por centenas de pessoas, mas se sentia completamente sozinho. Ele desviou o olhar do casal feliz na sua frente ...E se viu encarando a mais linda garota que tinha visto na vida.Ela tinha mais ou menos a sua idade. Seus longos cabelos negros estavam soltos, como uma cortina de pura seda preta, deslizando por seus frágeis ombros, para descansar no meio de suas costas. Seu perfil era o de uma escultura: nariz reto, queixo delicado, cada traço perfeitamente talhado com mão firme.

Ela vestia um terno amarelo vivo, um vestido antiquado com um decote quadrado e mangas que ficavam levantadas como asas de borboleta. Sua saia, na altura dos joelhos, deixava à mostra suas macias pernas morenas. Geralmente, Miguel não reparava muito nas roupas das garotas, mas esta era diferente. Ninguém da sua idade vestia um traje filipino tão tradicional. A maioria das garotas filipinas vestia jeans ou shorts.Mas ela não parecia enxergá-lo. A linda desconhecida passou determinada pela trilha, olhando para a frente, em vez de olhar as barracas que ladeavam a passagem. Miguel nunca vira essa garota antes, mas isso não era incomum. San Diego era uma cidadegrande, e muitas pessoas haviam vindo de fora para se juntar à multidão no festival.Ele estava tão hipnotizado pela garota que, a princípio, não notou o carrinho de bebê que ela empurrava à sua frente. Será que era casada? Não, aquele garotinho gorducho no carrinho devia ser seu irmão.Alguém falou bem alto. - Acorde, garoto! Quanto custa a camiseta?Miguel virou-se e viu um homem de meia-idade encostado no balcão, com uma camiseta branca jogada sobre seu braço forte e moreno.Quando Miguel terminou de atender o freguês, quis olhar para a garota novamente. Mas ela sumira. Rapidamente, ele se virou para a amiga de sua mãe, que era a responsável pela barraca de camisetas. - Senhora Lisondra.- Vai, vai - ela deixou escapar, sorrindo enquanto o enxotava. - Você já ficou aqui mais de duas horas, e nenhum outro menino ficou mais de uma hora. Não há muitos jovens como você, Miguel.- Obrigado, senhora Lisondra.Enquanto tentava localizar a garota angelical, Miguel pensou que, sem saber, a senhora Lisondra havia cutucado sua ferida. Não existiam muitos

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adolescentes como ele, que fizessem tanta questão de preservar o passado.Mas, com um pouco de sorte, ele estava prestes a encontrar mais uma.

Três

- Ako si Miguel. Ano ang pangalan mo?Leanna escutou alguém falando, mas continuou andando, achando que a voz profunda e musical estivesse cumprimentando alguém perto dela. As pessoas se apinhavam a sua volta, mas Leanna se sentia invisível. Ela não conhecia ninguém, com exceçãodos Malig.Finalmente, ela tinha conseguido ficar um pouco longe deles! De todos, menos de Toby, mas, com um pouco de sorte, ele dormiria logo. Tinha sido uma filha obediente durante a manhã inteira, concordando até em usar uma roupa esquisita com mangasestranhas viradas para cima, que Carlos tinha comprado para ela. Depois do almoço, ela se propôs a tomar conta de Toby, enquanto os outros assistiam a uma apresentação de música e dança folclórica filipinas. Tinha duas horas inteiras para ficar sozinha.Como pretendia passá-Ias o mais longe possível do Festival Filipino, Leanna se dirigiu para o outro lado do parque, à procura de um playground, onde pudesse brincar com Toby e encontrar pessoas que falassem inglês.Pelo caminho, Leanna olhava as barracas enfileiradas, até que umas camisas muito coloridas chamaram a sua atenção, e ela desviou o carrinho naquela direção para olhar mais detalhadamente.Kelli adoraria estar aqui, pensou, passando as mãos sobre o tecido macio de uma blusa azul-turquesa com lantejoulas prateadas nas mangas e no decote. Sua irmã Kelli gostava de roupas extravagantes e a cor combinaria perfeitamente com seu cabelo loiro.Ou talvez um daqueles colares de contas da barraca vizinha seria melhor. Nem parecia que ela tinha tanta pressa em ir embora do festival. Na verdade, tinha até coisas interessantes, reconheceu Leanna.- Ako si Miguel - repetiu a voz masculina, desta vez bem perto dela. - Ano ang pangalan mo?"É um cara - e ele está falando comigo!" Leanna ficou chocada ao perceber. "Mas não conheço nenhum rapaz aqui. E, certamente, ninguém com uma voz tão sensual!”

Apertando a alça do carrinho de Toby, Leanna virou-se e começou a dizer a primeira e única frase que sabia pronunciar corretamente em tagalo: Hindf ko maintindihan, que queria dizer "Não entendi".Então, ela deu uma boa olhada no estranho, e as palavras ficaram presas na sua garganta. Por um momento, Leanna não conseguia pensar em nada para dizer nem em inglês, nem em tagalo, nem em espanhol, ou em qualquer outra língua falada ao seu redor.O garoto era muito atraente, magro, talvez um pouco baixo, mas era mais alto do que os seus 1m55. Em Fair Oaks, seu namorado, Scott Carteret, era tão alto que ela tinha que se inclinar para trás para ver o seu rosto. Beijar

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era um grande desafio. "Talvez seja por isso que não nos beijemos muito", pensou Leanna. Olhar diretamente nos olhos de um garoto era uma experiência nova, estranha - mas interessante.O cara tinha provavelmente a idade dela. Seu rosto era de menino, mas seus braços eram musculosos, como se pertencessem ao corpo de um homem. Ele deve levantar muito peso, pensou, enquanto observava como seus bíceps esticavam as mangasde sua camiseta. Por cima das cores vermelho, branco e azul da . bandeira filipina de sua camiseta, estava escrito ORGULHO FILIPINO, em grandes letras negras.Não era fácil tirar os olhos do seu peito forte. Mas, quando Leanna finalmente conseguiu, ela viu cabelos lisos muito negros emoldurando uma face redonda com lábios risonhos e profundos olhos castanhos, que a encaravam maliciosamente.Falando em inglês, e apontando para Toby com a cabeça, perguntou: - Que gracinha de menino. É seu filho? - Não, é meu irmão Toby. "Será que este cara pensa mesmo que pareço velha o suficiente para ter um filho?!" - Quantos anos você acha que tenho? - perguntou Leanna ao belo estranho.Ele encolheu os ombros. Seus músculos faziam coisas interessantes na bandeira da sua camiseta, conforme ele se mexia. Uh, catorze? Quinze?

- Tenho dezesseis! - Acabava ali sua esperança de que estava começando a parecer mais velha. - E não planejo ter filhos antes de me formar na escola - e na faculdade.Ela pretendia colocar o cara em seu lugar, mas ele apenas riu.- Nunca se sabe - ele disse, curvando-se para afagar a cabeça de Toby.- Você poderia ser de uma das Tribos das Montanhas. Aquelas garotas se casam cedo. Aos quinze anos, uma garota Igorot ou lfugao bonita já tem filhos.Leanna encolheu os ombros. Será que Carlos já tinha mencionado alguma vez as Tribos das Montanhas? Se o fez, Leanna não havia prestado atenção. Ela esperava desesperadamente que esse cara maravilhoso não quisesse discutir, nesse momento, os hábitos das Tribos das Montanhas. De alguma forma, ela tinha certeza de que um gatão com uma camiseta onde estava escrito "Orgulho Filipino" não ficaria impressionado com a sua completa ignorância sobre qualquer coisa filipina.Antes que ela pudesse pensar em outro assunto qualquer, que não as Filipinas, o belo estranho se endireitou. Ele colocou uma mão perto da de Leanna, no carrinho, e olhou para ela com seus olhos escuros amendoados e disse: - Você é muito bonita. Vocêtem namorado?O coração de Leanna bateu mais rápido. "Não se esqueça de contar a Miguel sobre o Scott, seu namorado, em Fair Oaks!", ela se repreendeu. Você não tem o direito de se entusiasmar com a voz profunda e os olhos sensuais deste belo estranho."Mas Scott, o namorado, estava a centenas de quilômetros.Ele telefonara algumas vezes durante as férias daquele verão, mas em vez

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de fazê-Ia se sentir melhor, a voz de Scott fazia seu exílio parecer mais doloroso. Ela a lembrava de que Scott, Kelli e todos os seus outros amigos estavam se divertindo em Fair Oaks, enquanto ela estava presa em San Diego, sem ninguém da sua idade. Além disso, as coisas entre eles tinham ficado meio esquisitas desde a última vez que se encontraram. Será que estavam se distanciando?

Leanna olhou de lado para Miguel por baixo de seus longos cílios. "Por que não me divertir um pouco neste meu último dia aqui em San Diego?" - Se eu tenho namorado? Bom, isso depende do que você me perguntou antes em tagalo? Era algo indiscreto?O garoto riu, e seus olhos se dobraram nos cantos. – Perguntei o seu nome e me apresentei. Ako asi Miguel significa "Eu sou Miguel". Tenho dezessete anos, meu último nome é Sarmiento e moro em San Diego, mas nasci nas Filipinas. Agora é a suavez. Quem é você, além da irmã mais velha de Toby?Leanna olhou para baixo, com medo de encontrar seus olhos. Se ela se apresentasse como Leanna Van Haver, Miguel certamente perguntaria por que ela não tinha um nome filipino. Ela teria que explicar que sua mãe era americana - não filipina - e nãoqueria dar detalhes de sua complicada vida familiar no momento. Além disso, por que contar detalhes pessoais de sua vida para um cara que ela acabava de conhecer?- Eu sou ... quero dizer, ako si... Leanna Malig. - O nome pareceu estranho e esquisito para ela.Ela olhou nervosamente para Miguel. Será que ele percebeu que ela tinha dado um nome falso?- Leanna Malig - ele repetiu com firmeza.- Seu nome é Malig e você não fala tagalo? Seus pais deveriam se envergonhar!Leanna deixou escapar um suspiro lento e profundo. – Eu nasci e cresci na Califórnia - explicou. - Acho que meus pais queriam que eu fosse completamente americana.Uma inequívoca expressão de desaprovação cruzou o rosto de Miguel. - Não há nada de errado com os Estados Unidos, mas você não deveria desconsiderar sua herança filipina. - Ele balançou os braços, num gesto abrangente que englobava as bandeirasfilipinas, a multidão em movimento, as faixas brilhantes. - É isso que importa.

De repente, apesar da multidão rindo ao seu redor, Leanna sentiu-se completamente sozinha. Em casa, na Bayside Academy;15 vezes tinha a mesma sensação de isolamento. Lá ela estava cercada por crianças cujos pais vieram do Vietnã, Coréia, México, França... crianças de todos os tipos, formas e cores... mas ninguém exatamente como ela. Ninguém que fosse meio filipino, meio americano.- Não posso mudar o que meus pais fizeram. - Leanna tenlou falar devagar e com calma, pois estava tremendo por dentro. Kelli sempre a acusava de ser

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muito sensível aos seus antepassados. Kelli sempre dizia que muitas crianças descendiam de duasraças e outras - incluindo a própria Kelli - tinham pais divorciados.Como que adivinhando seus pensamentos, Miguel pôs para trás uma mecha de seu longo cabelo negro. - Ei, Leanna, Sori po. Desculpe. Eu não queria criticar sua família.- Tudo bem - Leanna disse.A mão de Miguel descansava de novo no carrinho, mas Leanna ainda podia sentir o roçar sedoso de seus dedos em seu rosto.- Então você não se interessa pela língua filipina? E pela comida filipina? - perguntou Miguel.- Alguns pratos são uma delícia - respondeu Leanna honestamente.- Eu gosto de adobo. - Mas não acrescentou que os outros pratos que Dora servia, especialmente os que tinham língua ou rabo de boi, lhe davam enjôo.- O que você acha de lumpia? - perguntou Miguel. – Vou te comprar algumas, e para seu irmão também. Ou vocês são muito americanos para isso?- Não, adoramos lumpia! - exclamou Leanna. Dora fazia sempre lumpia. Eram rolinhos compridos de ovos, recheados com carne de vaca ou de porco. Leanna tinha comido várias no almoço, menos de meia hora antes de encontrar Miguel, mas não ia dizernada. Comeria lumpia até estourar, se isso significasse passar mais tempo com esse cara bonito.- Deixa te ajudar - disse Miguel, pegando na alça do carrinho.Toby resmungou e Leanna rezou para que não fosse em tagalo. Ela nunca encontraria uma desculpa para explicar como seu irmão de dois anos sabia a língua melhor que ela!

Leanna pegou uma das fatias de papaia que Dora lhe dera para o caso de Toby ficar irritado e a deu para seu meio-irmão. Toby, colocando uma das pontas na boca, começou a morder satisfeito. Leanna esperava que aquela papaia durasse muito tempo.Eles passaram por várias barracas de comida, mas Miguel parecia estar procurando uma em especial.- Então ... me conte sobre a sua vida nas Filipinas – disse Leanna, tentando romper o breve silêncio.Miguel continuou andando. - Vivíamos em um vilarejo agrícola em Luzon, a maior ilha filipina. Meus pais cultivavam arroz e todos nós ajudávamos na colheita. Tínhamos um carabao chamado Poni, que eu até montava para ir à escola às vezes.- Vocês não tinham carro? - perguntou Leanna com curiosidade.- Ah, tínhamos um jipe. E vivíamos numa casa com eletricidade e encanamento, se era isso que você ia perguntar em seguida.- Puxa, que alívio - Leanna murmurou. Por um minuto, pensou que Miguel estivesse preso em alguma estranha armadilha do tempo.- Apesar de que - Miguel continuou ponderadamente - acho que seria incrível viver numa cabana de bambu na selva.

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Imagine só, tomar banho no rio, dormir no chão e catar cocos da árvore. Seria tão legal... como acampar o tempo todo. Você gosta de acampar, Leanna?- Claro - Leanna sorriu de leve. Os Van Haver tinham ido acampar algumas vezes, mas como o pai e Kelli eram alérgicos a quase tudo, eles haviam ficado numa grande motor-home, com camas confortáveis e um sistema de filtragem de ar.- Você sabia que ainda há alguns pigmeus em áreas remotas da floresta tropical? - continuou Miguel. Seus olhos brilhavam e um sorriso iluminava o seu rosto. - Vou fazer minha especialidade da faculdade em antropologia, aí vou voltar às Filipinas e viver de verdade numa aldeia nativa. Vou comer a comida deles, me juntar a seus rituais, fazer tudo o que eles fazem. Vai ser tão legal!

- Parece... interessante. - Leanna conseguia imaginar passar férias numa ilha tropical num belo hotel com ar-condicionado. Mas viver na floresta ... de jeito nenhum!Antropólogos eram pessoas sobre as quais se lia nas aulas de estudos sociais. Velhos. Ninguém que ela conhecia na escola queria ser antropólogo. A própria Leanna não sabia ainda o que faria depois da faculdade, mas seria algo fascinante e estimulante. Não envolveria beber água de rios ou contrair alguma doença tropical rara.Talvez ela continuasse a trabalhar como modelo. Ela e Kelli já haviam aparecido em catálogos e desfiles de moda por todo o norte da Califórnia. Mesmo que sua baixa estatura a deixasse limitada a trabalhar sempre como modelo de roupas para pré-adolescentes.Será que deveria contar a Miguel sobre seu trabalho como modelo? Os namorados de Kelli sempre achavam legal.Claro, sem dúvida! Até parece que um futuro antropólogo ia se impressionar com uma modelo adolescente! Ele a acharia uma grande fútil, isso sim!Miguel quebrou o silêncio com uma risada. - Desculpe. Eu não quis dar uma aula. Nem todo mundo gosta de cultura antiga, como meu irmão vive me lembrando.- Tudo bem. Eu acho legal - afirmou Leanna, enquanto o seguia pelo meio da multidão, admirando seus ombros largos. Leanna pensou que, de alguma forma, lá no fundo, Miguel e ela eram iguais. Quando Miguel falou que sentia falta das Filipinas, Leanna deixou escapar que ela também estava com saudades de sua família em Fair Oaks. Mas isso era loucura. Miguel era completamente filipino, por dentro e por fora. Ele nunca aceitaria sua família americana.Ela não poderia se apaixonar por Miguel Sarmiento, resolveu Leanna. Eles viviam em mundos completamente diferentes.

Quatro

- Chegamos - avisou Miguel, parando em frente a uma barraca com um toldo listrado vermelho e branco. - A melhor lumpia do festival.- Como você sabe que é a melhor? - perguntou Leanna, examinando a

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mulher com um avental branco atrás do balcão. Ela era mais baixa que Leanna e seu cabelo escuro tinha mechas brancas.A mulher riu. - Todo rapaz acha que a comida de sua mãe é a melhor.- Mas, no meu caso, quase todos em San Diego concordam comigo. Mamãe é a chef do Luzon Gardens Restaurant – explicou Miguel. - Ma, esta é Leanna Malig e seu irmão Toby.- Kumustá ka? - a senhora Sarmiento deu um largo sorriso e estendeu a mão para Leanna. Leanna a apertou com cuidado, como se estivesse na dúvida sobre o que fazer.- Ma, fale inglês - Miguel sussurrou para a mãe. – Leanna não entende tagalo.A mãe de Miguel encolheu os ombros, parecendo meio decepcionada.Então cumprimentou Leanna em inglês e olhou para Toby, que estava dormindo no carrinho, segurando um pedaço grudento de papaia. - Que anjinho!- Não quando está acordado. - Leanna sorriu. Apontando para os rolinhos escuros crocantes na panela, perguntou: - Estas lumpias são de carne de vaca ou de porco, senhora Sarmiento?- Fiz das duas. Tenho algumas de cada. – A mãe de Miguel pegou uma concha de arroz fumegante, colocou num prato de papel, e então completou com as lumpias quentes. Enquanto dava o prato a Leanna, perguntou: - Você já esteve nas Filipinas?- Não - admitiu Leanna, parecendo desconfortável de novo. - Mas gostaria de visitá-Ia algum dia.Miguel sentiu pena dela. Era diferente de criticar seu irmão, que tinha virado as costas para a sua herança. Enquanto Ramon escolhera copiar o pior da moda e do comportamento americanos, os pais de Leanna não tinham lhe dado escolha.- Leanna gosta da Califórnia, Ma. Sempre yiveu aqui – ajudou Miguel.

- Vocês adolescentes querem todos ser americanos. - O rosto redondo de sua mãe pareceu triste e Miguel se perguntou se ela estava pensando em Ramon e Carrie, que não haviam aparecido no festival. - Os Estados Unidos são um ótimo país, mas vocêsnão deveriam esquecer os costumes das Filipinas.- É por isso que estou aqui - disse Leanna. - Quero aprender.- Vocês deviam ir à barraca dos livros. Minhas filhas, Sita e Marta, estão trabalhando lá agora. Peçam uma indicação de algum livro bom de história e de algumas fitas em filipino.- Isso está parecendo muito a escola, Ma – interrompeu Miguel, lembrando-se da expressão no rosto de Leanna quando ele se empolgou com sua conversa antropológica. Não queria que ela achasse que era um completo bolha, que não fazia nada, além de estudar!- Ei, vamos assistir à dança da vara - sugeriu Miguel. Meu irmão Noriel e sua esposa vão dançar.Leanna pareceu surpresa. - Quantos filhos a senhora tem? - Sete - respondeu a senhora Sarmiento. - Noriel, Sita e Marta já têm suas próprias famílias, então os únicos em casa são Miguel, Carolina, Ramon e Joy. Eu era

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a mais velha de treze filhos e ajudei minha mãe a cuidar dos menores. Fico feliz em ver que você também ajuda sua mãe, Leanna. Quantos irmãos você tem, além de você e Toby?- Bom, eu... eu tenho mais dois irmãos - disse Leanna hesitante.- Tomás e ]uan. Os dois mais novos do que eu.- Você não tem irmãs? - perguntou a mãe de Miguel.- Ah, não, nenhuma. - Leanna deu uma mordida rápida na lumpia. - Humm, isto está uma delícia!Miguel não compreendia por que Leanna parecia tão nervosa, ele só tinha presentado a sua mãe, que estava lhe perguntando sobre a sua família ... Claro. Era isso. Ela provavelmente achava que ainda era muito cedo para conhecer a mãe dele. Não era à toa que ela parecia tão envergonhada. Ela deveria estar achando que ele estava indo rápido demais.- Obrigado pela lumpia, Ma - disse Miguel, antes que sua mãe pudesse fazer mais perguntas a Leanna. - Vou mostrar mais do festival para Leanna.

- Tchau para você também - disse sua mãe, dando-lhe um beijo rápido no rosto. Ela cumprimentou Leanna com a cabeça. - Foi um prazer conhecer você e Toby.Miguel segurou a alça do carrinho de Toby, empurrando-o de volta em direção à saída. - Desculpe-me por Ma e pelas suas perguntas - disse a Leanna. - Às vezes ela é muito curiosa.- Tudo bem. - Leanna suspirou. - Você e sua mãe não fizeram nada de errado. Sou eu. Na verdade, é minha família. Eles não são ... não são como a sua.Miguel parou o carrinho no meio de duas cadeiras de dobrar vazias. Quando ele e Leanna se sentaram, perguntou: - O que você quer dizer, por que sua família não é como a minha? Leanna enrolou uma mecha de seu longo cabelo negro. Bem, sua família é tão certinha e tradicional. Todos esses irmãos e irmãs ... vocês devem ser muito próximos.- Acho que sim. - Miguel arrancou um fio solto de seu jeans na altura do joelho. Se Leanna achava que sua família era tradicional, ela teria um choque quando visse o penteado de Ramon, raspado dos dois lados da cabeça e comprido atrás!- Não sou muito chegada no meu pai - admitiu Leanna. - Minha mãe é legal, mas ela não entende como é difícil para mim. Sou a única na família que não é...- Que não é o quê? - perguntou Miguel delicadamente.Leanna fez uma pausa, com um olhar de incerteza no rosto.- Que não é completamente americanizada. - Leanna jogou o cabelo para trás. - Por exemplo, eles nunca me falaram sobre a dança da vara - Leanna prosseguiu. - O que é isso?- É uma antiga cerimônia realizada em casamentos nas aldeias. Você está vendo aquelas longas varas de bambu sobre o palco?- Ah, as varas de limbo. - Leanna assentiu. - Dancei limbo numa festa uma vez. Foi divertido.Miguel escondeu uma risada. Ela realmente não sabia nada sobre danças

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filipinas!- Essas varas são colocadas muito mais perto do chão - explicou. - A noiva e o noivo dançam sobre e entre elas, enquanto as pessoas que as seguram pelas pontas tentam agarrá-los pelos tornozelos e fazê-los tropeçar.

- Nossa, que chato! - exclamou Leanna, ruborizada.Miguel pensou que ela era uma graça.- E o que você acha de jogar bolo na cara da noiva nos casamentos americanos? - perguntou Miguel. - Isso também não é muito simpático.- A noiva e o noivo têm que oferecer bolo um para o outro, - corrigiu Leanna. - É tão doce e romântico. Só um idiota esfregaria o bolo na cara da sua esposa.- E jogar o buquê? - retrucou Miguel. - Diga que isso não é sádico. As damas de honra malucas se chutando e se socando entre si por causa de um maço de flores.- Não são apenas flores. Quem pegar o buquê é a próxima a se casar.- Você acredita nessa superstição? - perguntou Miguel.- Bom, eu peguei o buquê no casamento da minha prima há três anos, e ninguém mais que estava naquele casamento se casou até hoje - respondeu Leanna pensativamente. - Não sou supersticiosa, mas acredito em romance.Por um momento, seus olhos escuros pareceram sonhadores e distantes. Uma leve brisa desmanchou seu cabelo e delicadas mechas caíram em volta de seu rosto delicado.Quase sem pensar, Miguel esticou a mão e colocou uma mecha sedosa de cabelo atrás da orelha de Leanna. Seus dedos fortes se demoraram na curva do rosto dela.- Também acredito em romance - sussurrou, debruçando-se e aproximando-se mais de Leanna, quando ...- Fiz xixi! Fiz xixi! - gritou Toby. Seus calcanhares chutavam ruidosamente o carrinho.Miguel gemeu. - Boa hora, garoto. Você não podia ter esperado mais um minuto?

Leanna ajoelhou-se ao lado do carrinho, com o cabelo caindo-lhe sobre o rosto, enquanto se abaixava para pegar o pacote de fraldas. Pela primeira vez, estava contente de ter que trocar Toby. Se o seu meio-irmão não tivesse começado a gritar, ela poderia ter beijado Miguel! Ela deveria estar envergonhada, pensando em beijar um estranho quando já tinha um namorado. Mas não estava. Ela se sentia como se pertencesse a Miguel. Não apenas ela quase o beijara, mas também quase contara a ele sobre seus pais divorciados, e sobre como ela se sentia estranha e desconfortável sendo a única pessoa de pele morena numa família de americanos loiros.Leanna acabou de trocar Toby exatamente quando a encenação da cerimônia de casamento começava no palco. Toby era geralmente tímido com estranhos, mas, quando Miguel esticou os braços, o menino subiu para seu colo e aninhou-se com um sorriso.Leanna descobriu que estava pensando em como seria se fosse ela quem estivesse nos braços de Miguel. Diferente do alto Scott, Miguel tinha a altura

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perfeita. Se ele abrisse os braços, ela poderia confortavelmente se instalar entre eles. Seus lábios estariam namesma altura. Ela não teria que ficar na ponta dos pés, e Miguel não teria que se curvar apenas para beijá-Ia - como ela e Scott tinham que fazer. Eles podiam apenas se inclinar para a frente até que seus lábios se encontrassem.Leanna olhou de lado para Miguel. Sua cabeça estava curvada, enquanto ele falava delicadamente com Toby. Deste ângulo, Leanna reparou que os cílios de Miguel eram longos e grossOS, como veludo negro. "Se eu tivesse cílios assim, nunca mais teria queusar rímel!”

Conforme o casamento prosseguia no palco, Leanna mergulhou numa fantasia de seu próprio futuro. Como seria se ela e Miguel se casassem? Eles teriam um lindo casamento, como aquele, com música de flauta e elegantes túnicas bordadas. Eles iriam morar ... onde iriam morar? Não em Fair Oaks, Califórnia. Não havia pigmeus para serem estudados. Também não nas Filipinas. Ela não moraria numa cabana de bambu de jeito nenhum.No palco, quatro homens, vestindo o que pareciam saias curtas listradas, seguraram as pontas de dois pares de longas varas de bambu. Eles abriam e fechavam rapidamente as varas, enquanto os músicos tocavam flautas, violões e uqueleles. Os noivos descalços pulavam entre e em volta das quatro varas, dançando agilmentefora de alcance, enquanto os homens de saias faziam as varas baterem com um estalo. As varas eram finas, mas, quando os homens as batiam umas contra as outras, o estalo era mais alto que a música de fundo.- Uau, a dança da vara parece perigosa - disse Leanna.- Aposto que não é difícil quebrar o tornozelo ficando-se preso entre duas dessas varas.Se havia algo que Leanna não podia suportar era ser pega ... numa fantasia romântica sem futuro. Melhor desistir de Miguel, e dos Malig, antes que eles se tornassem uma ameaça à felicidade dela em Fair Oaks. Criar laços significava se colocar numa posiçãode sofrimento que doeria muito mais que um golpe no tornozelo.

Cinco

- Só mais uma hora- implorou Leanna, entregando Toby para Dora e olhando rapidamente para trás. Ótimo, Miguel não a tinha seguido. Ele a esperava na barraca de refrescos, comprando a bebida gelada que ela tinha pedido.Carlos deu um largo sorriso. Ele parecia tão feliz, Leanna sentiu uma pontada de culpa.- Você está gostando do festival? – perguntou.- Oh, sim! – exclamou Leanna. – É fascinante.Carlos, ainda vestindo a camisa longa e bordada que parecia um vestido, pôs os braços ao redor do ombro de Leanna. Ela tentou não se encolher, mas ainda se sentia estranha perto dele. Apesar de Carlos ser seu pai biológico, ele era praticamente um estranho para ela. Um estranho com um vestido! Seu padrasto nunca sairia assim em público.

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E a roupa de Dora! Ela estava linda em sua túnica azul vívido que ia até o joelho e uma blusa de renda por cima. Tinha orquídeas brancas no cabelo e muitas jóias de prata. Ninguém se vestia assim em Fair Oaks.Dora esboçou um sorriso de provocação. – Do que você gostou mais, Leanna? Da comida, da música ou daquele garoto bonito com quem eu vi você conversando?- De tudo – murmurou Leanna, enrubescendo.- Venha, Leanna, quero te mostrar a exposição sobre a fundação de Cebu- disse Carlos, com os olhos brilhando por baixo das largas abas de seu chapéu de palha.- Obrigada, mas prefiro andar sozinha. – Leanna olhou através de Carlos para lançar um olhar de pedido para sua madrasta.- Deixe-a ir, Carlos. – Dora sorriu para Leanna, e acrescentou algumas palavras em tagalo para o marido.- Encontre-nos ao lado do palco em uma hora – disse Carlos.- Obrigada. – Tentando ignorar as linhas profundas de preocupação que haviam substituído o sorriso no rosto do pai, Leanna correu de volta para a barraca de refrescos onde deixara Miguel. Seu coração deu um sobressalto quando o viu sentado com as pernas cruzadas sobre a grama, segurando dois copos de papel.

- Temos mais uma hora. – disse Leanna, esticando a mão para pegar um copo. Ela deu uma olhada para dentro e depois olhou rapidamente para longe do repugnante emaranhado de pedaços de cantapulo boiando na superfície. – Humm, ponche de cantapulo. Parece gostoso! – mentiu.- Você não pode ficar mais tempo? – perguntou Miguel, tomando um longo gole do seu ponche.Leanna balançou a cabeça. Ela tinha de pegar um vôo no dia seguinte cedo e nem havia começado a fazer as malas.- E se eu prometer te levar para casa? - ofereceu-se Miguel.Tentando ganhar tempo, Leanna tomou um golinho de ponche. Ela estava tentada a ficar, mas tinha que fazer as malas. Além disso, uma coisa era ficar com Miguel à tarde, outra era sair à noite, era muito mais sério.- Obrigada, mas meus pais não vão me deixar ir para casa de carro com alguém que não conhecem. São muito rigorosos.- Talvez, se eles me conhecerem, te deixem ficar para os fogos de artifício. Pede a eles- insistiu Miguel.Leanna balançou a cabeça. Apresentar Miguel aos Malig seria suicídio. Ela perceberia imediatamente que Dora era muito jovem para ser mãe dela, e então descobriria que tudo o que ela tinha contado era mentira.- Não posso. Já te disse, meu pai é rigoroso. Não vai me deixar voltar para casa de carro com um garoto que ele não conhece. Ele não me deixa sequer sair com meninos. – Leanna fez uma pausa, sentindo uma pontada de culpa. Ela não deveria dizer coisas assim sobre o tranqüilo Carlos. Se ela tivesse conhecido algum rapaz legal naquele verão, Carlos teria deixado que saísse com ele. Mas, por outro lado, Carlos não havia lhe dado nenhuma chance de encontrar alguém. Até agora, ela passara cada minuto com a família Malig inteira.

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Ela olhou de esguelha para Miguel, com medo de ter ido longe de mais. O que um cara com pais perfeitos pensaria de uma garota que reclamava do pai? Ela esperava que ele se levantasse e fosse embora.Mas Miguel não foi. Debruçando-se sobre a faixa de grama que os separava, ele colocou um dedo dobre o queixo dela, levantando seu rosto gentilmente.- Sinto muito sobre seu pai. – ele disse. – Mas talvez ele mude de opinião quando souber que eu sou realmente um cara legal.Perto, uma flauta de bambu tocava, mas Leanna quase não podia ouvir os acordes suaves por causa das batidas de seu coração. De repente, o rosto de Miguel, os lábios de Miguel, estavam muito perto dos seus, e ela mergulhava em seus doces olhos escuros.Leanna sussurou: - Antes de convencer meu pai, você terá de me convencer.Ela fechou os olhos, enquanto os dedos firmes, mas delicados de Miguel, se enrolavam nos cabelos dela, puxando-a em sua direção. Seu beijo foi um toque levíssimo de seus lábios nos dela.Ela abriu os olhos. Miguel estava sentado com as pernas esticadas na sua frente.Quando Leanna começou a se aproximar dele, desdobrou as pernas e acidentalmente derrubou seu copo de ponche de cantalupo.- Oh! Desculpe! – ela exclamou. A bebida derramada passara perto de seu novo vestido amarelo e caíra direto nas calças de Miguel. Do joelho para baixo, suas calças jeans estavam manchadas com o espesso líquido laranja.- Tudo bem – disse Miguel, olhando a sujeira. – Volto já! – Leanna observou enquanto ele se dirigiu à barraca de refrescos para pegar alguns guardanapos.O encanto se quebrara.

Uma hora depois, Leanna e Miguel estavam sentados em cadeiras dobráveis perto do palco, mascando balas de tamarindo e ouvindo música. De repente, os Malig apareceram na frente deles. Leanna levantou imediatamente da cadeira, precisava se afastar antes que Miguel os conhecesse.- Lá está a minha família! – Leanna apontava vagamente na direção deles. – Obrigada por tudo, Miguel – disse sorrindo – É melhor eu ir.

Miguel pegou sua mão e a segurou. – Hanggang sa multi – murmurou, olhando nos seus olhos.- O que significa isso? – perguntou, sentindo o calor de sua mão, a proximidade do seu corpo. Uma parte dela queria se soltar e fugir, outra queria ficar ali para sempre.Miguel sorriu gentilmente. – Se você conseguir repetir, te conto.“Agora sei como Cinderela se sentiu”, pensou Leanna, dando uma olhada para sua família, que se aproximava rapidamente. “Precisando ir embora rapidamente, mas querendo muito ficar...”.Ela tentou repetir a frase, tropeçado sobre as sílabas desconhecidas. Miguel deu uma risadinha. Ela tentou novamente, mais devagar.- Melhor. – disse Miguel. – Quase perfeito.

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- Agora me diga o que significa – insistiu ela.- De certa forma, significa adeus – explicou Miguel. – Mas, como não quero te dizer adeus, usei uma frase que significa literalmente “Até que nos encontremos de novo”.Mas ela sabia que nunca se encontrariam de novo. Era muito tarde para contar a verdade a Miguel. Mesmo que ele não se importasse dela morar a centenas de quilômetros, Leanna não queria um romance à distância. Não se podia andar de mãos dadas com uma carta. Não se podia levar um telefone sem fio ao baile.E Scott? O pobre Scott estava em casa, com saudade dela, esperando por ela. Até agora ela não fora realmente desleal, Leanna disse a si mesma. Não havia nada de errado em olhar para outros garotos, conversar com eles, ou até sonhar com eles. Quanto ao beijo... bem, ela o havia interrompido ao espirrar o ponche de cantapulo sobre Miguel. Tudo que ela fizera fora perfeitamente inocente. Mas, se escrevesse para Miguel ou ligasse para ele, então estaria enganando Scott de fato. E isso não seria justo com ninguém.

Leanna soltou a mão de Miguel. – Realmente tenho que ir – murmurou.Miguel enfiou a mão no bolso, tirou um toco de lápis e rabiscou algo num guardanapo de papel. – Aqui está meu telefone, Leanna. Me dá o seu?“Oh, beleza!” Que desculpa ela daria agora? Se ela lhe desse o telefone dos Malig em San Diego, eles lhe contariam que ela morava em Fair Oaks. Se ela lhe desse seu telefone de Fair Oaks – ou os Malig o fizessem – ele poderia ligar, mas ela teria que lhe explicar. E qual é a vantagem de ouvir a voz dele se ela não podia ver o seu rosto?- Meus pais não me deixam dar nosso telefone. – mentiu Leanna. – Eles mal me deixam usá-lo.- Não acredito que eles sejam tão ruins assim – disse Miguel irritado. – Por que você não me deixa falar com eles?- Não! – Leanna gritou. – Quero dizer, esta não é uma boa hora. Meu pai está com pressa de voltar para casa. Seu programa favorito de televisão vai começar e ele fica muito chateado de perdê-lo.- Ele não pode esperar cinco minutos?- Você não conhece o meu pai – disse Leanna. Seu rosto corou com as mentiras que estava dizendo, mas não havia outro jeito. – Ele tem um gênio muito difícil. Ele também guarda ressentimento. Se você o fizer perder seu programa de TV favorito, ele nunca mais vai deixar eu lhe ver.Essa era a mais ultrajante mentira que Leanna já contara. Carlos nunca levantara a voz na sua frente e muito menos ficara bravo. Ainda assim, parecia estar funcionando. Miguel olhou para Carlos Malig como se ele tivesse chifres e rabo.- Não quero incomodá-lo – disse Miguel com cuidado.- Boa escolha – concordou Leanna, rindo nervosa por dentro. Abaixou a cabeça, deixando uma cortina de cabelo esconder seu rosto. – Quando meu pai explode, dá medo. – Sem dizer mais nada, virou-se e saiu correndo, seu longo cabelo deslizando atrás dela.- Leanna! – gritou Miguel. – Telefone, ta?

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Ela olhou para trás. Por um momento, vendo Miguel parado contra um cenário de palmeiras e bandeiras Filipinas, ela teve vontade de se jogar nos seus braços fortes e confessar tudo.Não, era melhor esquecer Miguel. E se convencer de que tinha sido só uma história romântica para compartilhar com Kelli quando chegasse em casa.- Eu ligo – mentiu ela, Então, correu em direção aos Malig sem olhar de novo para Miguel.Ela só queria que seu conto de fadas pudesse continuar... e que pudesse terminar com um “felizes para sempre” – em vez de um adeus.

Seis

- Por favor, apertem os seus cintos de segurança. Nosso piloto está começando o procedimento de descida. Vamos aterrissar em Sacramento em aproximadamente quinze minutos.A voz do comissário de bordo continuou falando sobre números de portões e vôos de conexão, mas Leanna não escutava. Já ouvira a parte mais importante. Logo estaria em casa!Leanna fechou a revista de bordo e a colocou atrás do assento a sua frente. Depois de apertar o cinto, olhou pela janela. Não se via nada, além de nuvens e partes da asa do avião, mas ela sabia o que estava lá embaixo. Sua família. Sua mãe, seu padrasto e Kelli, esperando pelo seu avião.Scott poderia estar no aeroporto também. A menos que tivesse que trabalhar. Assim como Leanna e Kelli, Scott freqüentava a Bayside Academy, uma escola particular de teatro para crianças. Scott, alto e sociável, queria ser diretor de cinema. Ele quase sempre tinha uma câmera ou camcorder nas mãos. No seu tempo livre, ganhava dinheiro extra filmando os desfiles de moda da escola.Fechando os olhos, Leanna pensou em Scott. Alguns dos garotos de Bayside – os esnobes- o achavam estranho, mas Leanna achava Scott diferente, ele era mesmo legal.Uma vez, eles foram a uma loja supertransada de roupas para comprar fantasias para uma peça da escola e Scott comprou mais roupas para ele que para a peça. Às vezes, ele vestia calças listradas de algum terno antigo com um colete xadrez de outro. Não importava o quão estranha era a combinação, ficava bem em seu corpo longo e magro. Seu cabelo loiro liso geralmente caía sobre seus olhos azuis pálidos, escondidos atrás dos óculos com aro de metal. Às vezes, ela o pegava olhando para o espaço, como se sua mente estivesse em alguma cena distante, que ele esperava capturar em filme.

Leanna sorriu, pensando em como tinha visto Scott na última vez. Ele tirava fotos, enquanto ela embarcava no avião para San Diego, em julho. Mas então sua figura tinha ficado apagada, como quando a lente da câmera fica fora de foco. Leanna apertou as pálpebras mais forte, tentando focar a imagem. Mas, quando a imagem emergiu, o garoto no seu olho da mente não era Scott.Era Miguel. Leanna lembrava de seus olhos escuros, seu sorriso fácil, o

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breve e suave toque de seus lábios que prometiam muito mais.Seus olhos se abriram de repente. “Tenho que para de pensar em Miguel”.Enquanto o avião pousava no aeroporto de Sacramento, Leanna pegou sua mochila do compartimento de bagagem e foi uma das primeiras passageiras a sair do avião procurando sua família na multidão.Não era difícil achá-los. Kelli, que era alta, pulava. Sua camisa rosa-choque e shorts da mesma cor eram tão chamativos que ela se destacaria, quer acenasse os braços ou não.Leanna não pôde deixar de sorrir. Se pudesse descrever sua irmã com uma palavra, esta seria “borbulhante”. Kelli daria uma grande líder de torcida. Hoje, ela tinha seu longo cabelo loiro platinado preso num rabo, que pulava para cima e para baixo, enquanto tentava chamar a atenção de Leanna.- Estou te vendo, Kelli! – gritou Leanna. – Calma!Passando a mochila para o outro ombro, Leanna moveu-se na multidão na direção de sua família. Antes que pudesse dizer oi, Kelli envolveu Leanna num abraço apertado.- Estou tão feliz por você estar em casa! Parecia que você estava muito longe há anos!- Também senti sua falta – disse Leanna, retribuindo o abraço de Kelli. – Tenho tanta coisa para te contar!- Eu também! – exclamou Kelli. – Sabe aquele concurso de beleza no qual me inscrevi? Bom...- Kelli querida, espere chegarmos no carro – interrompeu gentilmente Alison Van Haver. – Deixe eu e seu pai abraçarmos Leanna.

Kelli se afastou e Leanna abraçou sua mãe pela primeira vez em dois longos meses. A senhora Van Haver era alta e tinha cabelo loiro-claro comprido. Ela vestia calças simples de algodão e uma camiseta lisa que combinava com seus olhos azuis acinzentados.- Você parece que cresceu – disse a senhora Van Haver, abraçando Leanna com força. – Quase não reconheci minha garotinha.Leanna estranhou o jeito emocionado de sua mãe. Afinal, ela só tinha ficado longe dois meses! Dando um passo para trás, Leanna levantou o queixo e endireitou os ombros. – Você acha mesmo que cresci? – perguntou esperançosa.O padrasto de Leanna riu. – Não, querida, você ainda é a mesma anãzinha.- Papai! – gritou Leanna indignada. Ele não a chamava por aquele apelido vergonhoso há anos!O senhor Van Haver abaixou-se para beijar o rosto de Leanna, depois colocou sua mochila sobre seu ombro.- Cuidado, está pesada. – avisou Leanna.Seu padrasto era alto e magro. Entre seu trabalho como bibliotecário e suas fortes alergias, ele não saía muito para se axercitar.- Cadê Scott? – perguntou Leanna a Kelli, enquanto subiam as escadas rolantes para pegar a bagagem. O senhor e a senhora Van Haver estavam alguns degraus atrás das meninas.Kelli encolheu os ombros. – Você conhece Scott. Estava pronto para vir, quando seu amigo – aquele cara bem velho, qual é o nome dele?

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- Senhor Mancuso? – perguntou Leanna. Aos noventa e três anos, o senhor Mancuso era o único amigo de Scott que se qualificava como “realmente velho”. Havia sido cameraman nos primeiros anos de Hollywood e Scott estava fazendo um documentário sobre sua vida.- É, Mancuso. Bom, ele se lembrou de algo e quis contar a Scott. Então, Scott correu para gravar antes que o senhor Mancuso esquecesse de novo- explicou Kelli. – Scott pediu para te pedir desculpas e disse que liga à noite.

Leanna suspirou. – Não me surpreende. Quando Scott está filmando algo, ele mal se lembra de comer. Então, imagino que esperar sua namorada chegar ao aeroporto é querer muito.- Você está maluca? – perguntou Kelli, enquanto elas desciam a escada rolante.- Não, não totalmente – disse Leanna.

Durante os quarenta e cinco minutos de carro para Fair Oaks, Leanna contou à sua família sobre Carlos e os meninos, a comida de Dora, e a viagem deles para a Disneylândia. A única coisa que ela não mencionou foi Miguel. Ela mal podia esperar para estar sozinha com Kelli e contar-lhe todos os detalhes picantes.A oportunidade de Leanna chegou depois do almoço, quando subiu para seu quarto para desfazer as malas. Kelli a seguiu, oferecendo-se para ajudar. Leanna apenas assentiu com a cabeça. Ela já vira a maneira como Kelli “arrumava as malas” depois das férias. Geralmente enfiava tudo dentro da gaveta mais próxima e o que não coubesse era jogado no chão do guarda-roupas.Kelli foi até seu quarto e voltou com um vidrinho de esmalte rosa-choque. Ela chutou as sandálias para longe e pulou na cama de Leanna.- Ok, já ouvimos a versão livre, agora me conte a parte boa. – Kelli abriu o vidrinho de esmalte e tirou o pincel. – Você conheceu caras interessantes em San Diego?- Só um, realmente especial. – Leanna abriu o zíper de sua mochila e começou a guardas as coisas nas gavetas. – Ele é tão bonito...- Você tirou uma foto? – perguntou Kelli, pintando o dedão esquerdo de rosa-choque.Leanna balançou a cabeça. – Não. Conheci ele ontem e já não tinha mais filmes, acabei com todos na Disneylândia. Carlos e Dora me levaram ao Festival Filipino. – Leanna virou os olhos.- Esperavam que fosse uma grande surpresa, me ensinar coisas sobre as Filipinas. Como se Carlos não estivesse me enfiando isso goela a baixo durante todo o verão!Kelli assentiu. – Recebi sua carta. Toda aquela comida horrível que eles te faziam comer! Como você agüentou?

- Não era totalmente ruim – disse Leanna. Ela escrevera a Kelli depois que Dora servira algo chamado dinuguan, parecia chocolate, mas era refogado com sangue de porco. Ela comeu umas colheradas antes que Carlos lhe explicasse o que era. Ela estava brava com os Malig e sua carta para Kelli fizera o dinuguan parece muito pior do que era na verdade.

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- Bom, de qualquer forma, acabei gostando do festival. Olha o que Carlos me deu. – Leanna abriu o zíper da sua sacola de roupas e tirou de dentro seu vestido amarelo.- Nossa, é maravilhoso. Olhe que mangas lindas! – Kelli sentiu o tecido de uma das mangas entre seus dedos. – Que material é esse? Não parece algodão.- Fibra de abacaxi – disse Leanna. – Legal, né?- É, sim – concordou Kelli. – Mas tem uma mancha embaixo.Leanna levantou a saia do vestido e viu uma mancha verde na parte de trás.- Oh, não. Espero que saia quando lavar – disse. – Deve ter acontecido quando eu e Miguel sentamos na grama.- Ha! Ele é o cara bonito que você conheceu? – perguntou Kelli.Leanna assentiu. – Sim. Miguel e eu passeamos juntos pelo festival. Até assistimos a encenação de um casamento filipino.- Soa romântico. – Kelli recostou-se sobre o travesseiro de Leanna, fechou o vidrinho de esmalte e o balançou com sua mão direita. – Foi por isso que você rolou na grama com ele?- Nós não ficamos rolando! Só estávamos sentados. – O calor subiu pelo rosto de Leanna quando ela se lembrou que Miguel havia feito mais do que sentar. – Ok, ele me beijou – ela deixou escapar, apesar de Kelli não ter dito mais nenhuma palavra.- Parece sério. – Kelli assoprou suas unhas úmidas. – Então... você vai vê-lo de novo?- Como? – perguntou Leanna. Ela enfiou algumas camisetas numa gaveta e a bateu com força. – Miguel não vai esperar até o Dia de Ação de Graças ou até o Natal ou até quando eu vá visitar Carlos de novo. Apesar de que, se eu vivesse lá o tempo inteiro...- De jeito nenhum! – gritou Kelli. – Você não pode fazer isso!

- Não estou planejando fazer isso. – Leanna voltou-se surpresa para Kelli. – Eu só disse que se eu morasse em San Diego. Miguel é tão atraente. Mas eu moro aqui, e não posso esquecer que o Scott existe! – explicou.- Isso é verdade! E pense em tudo o que você perderia se se mudasse para a casa do seu pai – disse Kelli. – Você já perdeu o Concurso Miss Cocoa-Tropic Tan. Eu perdi o primeiro lugar, mas você poderia ter ganhado. Ter um bronzeado que dura o ano inteiro é uma grande vantagem sobre aquelas concorrentes com bronzeamento artificial.- Oh, eu tinha esquecido completamente esse concurso. – Leanna não conseguia se ver como rainha de um concurso de beleza, mas também nunca imaginava ser modelo até Kelli convencê-la a matricular-se na Bayside em vez de numa escola pública. Participar do concurso com Kelli teria sido divertido, mas visitar Carlos tinha atrapalhado esse programa.- Você tinha que ter visto a menina que ganhou. – Kelli prosseguiu. – Ela estava com um vestido dourado agarrado com tiras de diamantes falsos. Você sabe aquele vestido de tafetá branco que eu comprei? Grande erro! Eu deveria ter vestido alguma coisa com lantejoulas. Eu juro, aqueles juízes só escolheram o vestido mais elegante, sem nem prestar atenção a quem

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estava dentro dele. Muitas outras concorrentes também acharam a mesma coisa. Você quer ver a fita? Tenho uma cópia lá embaixo.- Mas eu nem acabei de arrumar as coisas – reclamou Leanna, curiosa em saber por que Kelli estava tão interessada no concurso de repente. Não era o hábito de Kelli começar a falar dela mesma quando estavam falando de algum gato.- Eu te ajudo a arrumar as coisas mais tarde. – Kelli pulou da cama, com cuidado para não borrar suas unhas úmidas. – Você tem que ver o filme: não vai acreditar em alguns dos maiôs.Leanna deixou Kelli arrastá-la para fora do quarto, ainda falando sobre as roupas e os penteados das outras concorrentes.

Kelli ligou o videocassete da sala de estar e elas se instalaram no sofá para assistir ao filme. Ali estava Kelli entrando na passarela, seu cabelo loiro arranjado sobre a cabeça em elaborados cachos. Leanna reconheceu suas amigas, Wendy e DeShaun. Ela quase não reconheceu Sara. Em junho, Sara tinha cabelo castanho e comprido.- Quando Sara virou ruiva? – perguntou Leanna, olhando para os cachos curtos de sua amiga.- Logo que você viajou – respondeu Kelli. – Você perdeu muitas coisas nesse verão.- Então perdi o novo penteado da Sara. Posso vê-lo amanhã.- Não, não pode – disse Kelli. – Na semana passada, ela raspou a cabeça.Leanna encarou a tela. Não é que o cabelo de Sara fosse muito importante, nem mesmo o concurso de beleza. É que a vida em Fair Oaks tinha continuado sem ela.O tempo também não pararia para Miguel. Daqui a meses, se ele se lembrasse dela, ela seria a garota que mentira para ele, que prometera telefonar e nunca o fizera.Se ela pelo menos pudesse estar em dois lugares ao mesmo tempo! Mas ela tinha que escolher. Só havia lugar para um rapaz de cada vez no coração de Leanna.- Leanna! – a voz de Kelli interrompeu seus pensamentos. – Eu perguntei se posso pegar sua blusa regata vermelha emprestada amanhã!Leanna piscou. – Claro. Posso ver o resto do filme mais tarde?- Aonde você vai? – perguntou Kelli, enquanto Leanna levantava do sofá.- Vou ligar para o Scott – disse Leanna.Fazia muito tempo que não falava com seu namorado. Leanna esperava que a voz familiar de Scott a ajudasse a esquecer a outra voz delicada que repetia, em sua cabeça, em tagalo, “até que nos encontremos de novo”.

Sete

- Claro que quero te ver de novo. - Leanna encostou na parede da cozinha, enrolando o fio branco do telefone em volta do braço. - Mas, Carlos ...- Leanna - interrompeu-a delicadamente seu pai. – Não quero ser chato, mas significaria muito para mim se você me chamasse de Pa. Ou Papa. Chamar os pais pelo nome é desrespeitoso. Não é...

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- Eu sei, eu sei - interrompeu Leanna. - Não é o costume filipino. - Leanna sabia que os filhos nas Filipinas chamavam os pais de "Ma” e "Pa”, mas ela não podia fazer isso, era muito caipira. "Papa" então era ainda pior. Tão infantil!- Então ... você vem nos visitar no Dia de Ação de Graças? - perguntou Carlos.Kelli apareceu na porta da cozinha, usando um vestido de lã preto de mangas compridas e botas pretas de camurça. Suas roupas eram muito pesadas para meados de outono, mas Leanna sabia que Kelli vestiria até um casaco de peles se ela achasse que isso agradaria o rapaz com quem ia sair, Glenn Garrick.- O Dia de Ação de Graças não é uma boa época – disse Leanna. - A vovó Van Haver vai dar uma festa. Toda a família tem que ir, querendo ou não.Da porta, Kelli gesticulava freneticamente para Leanna desligar.Leanna pôs a mão sobre o fone. - Cinco minutos - disse a Kelli.- Glenn disse que vamos chegar atrasados para o filme - Kelli zombou.- Cinco minutos - repetiu Leanna, levantando os cinco dedos de sua mão esquerda.Kelli saiu, e Leanna se concentrou no que Carlos dizia.- Entendo que os Van Haver sejam importantes. – Carlos parecia meio triste. - Mas sou o seu pai. Gostaria de ser parte de sua vida também.- Eu gostaria de ir - disse Leanna. - Mas não posso decepcionar a vovó.- Eque tal outro fim de semana? Não precisa ser um feriado.- Tenho que perguntar para a mamãe - disse Leanna. Não que sua mãe fosse se opor, mas Carlos não precisava saber disso. Usar a mãe como desculpa era mais fácil do que explicar como ela se sentia dividida entre suas duas famílias.

- O.k., me ligue depois que falar com ela - disse Carlos.- Os meninos sentem muito a sua falta. Você tem praticado tagalo?As fitas de tagalo que Carlos lhe dera estavam em seu quarto, mas ela nem se lembrava onde. Ela não as escutara nem uma vez sequer.- Tenho que desligar, Carlos - disse Leanna. - Meus amigos estão esperando.- Entendo - respondeu Carlos.Desligando o telefone, Leanna pegou sua bolsa pendurada numa cadeira e se dirigiu para a sala de estar. Scott estava lá, esperando com Kelli e Glenn.Quando Leanna atravessou a porta, Glenn estava falando de seu assunto predileto: ele mesmo.- Eu devia ter estado naquele comercial de jeans – disse Glenn a Kelli, que estava sentada ao lado dele no sofá de dois lugares. Ela o olhava com adoração, como um bichinho de estimação.- Mas eu nem consegui fazer o teste. Aposto que meu agente deve estar se lamentando. Ele mandou Eddie Alvarez no meu lugar! Ele errou as falas não sei quantas vezes e acabou escutando o famoso "não nos ligue, nós ligamos para você". Se aquele agente tivesse um pouco de miolo, teria me indicado."E, se tem alguma coisa em que Glenn é um especialista, é em querer parecer sempre o melhor", pensou Leanna. Ele era a estrela masculina de modelos da Bayside Academy e tratava as garotas

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da Bayside como se fossem seu harém pessoal.Naquela noite, Glenn vestia uma camiseta verde oliva e uma jaqueta cáqui do exército. Suas calças de camuflagem estavam enfiadas dentro de coturnos. Em qualquer outro, a roupa pareceria informal. Mas as botas de Glenn estavam tão engraxadas a ponto de brilharem e suas roupas estavam superbem passadas. Glenn se gabava de que não fazia nenhum trabalho de casa. Sua mãe fazia tudo para ele. Leanna se perguntou se ela também penteava as duas ondas impecáveis do cabelo castanho claro de Glenn.

- Oi, Leanna. - Glenn interrompeu sua história para dar um sorriso que teria derretido a maioria das garotas de Bayside. Leanna até poderia admirar o sorriso de Glenn também, se ele nãotivesse contado a todo o mundo repetidamente quanto dinheiro seus pais haviam gastado com seu tratamento ortodôntico.- Você está bonita - continuou Glenn. Seus olhos percorreram as leggings pretas e a blusa com uma estampa tropical colorida de Leanna. - Mas gosto de minhas mulheres de saia.- Que bom que não sou sua mulher - retrucou Leanna, jálamentando esse programa antes mesmo de ter saído de casa!Kelli, não escondendo um certo nervosismo, olhou de Glenn para Leanna e disse: - Vamos, senão perderemos o filme.Ao som da palavra "filme", Scott levantou rápido a cabeça. Pela primeira vez, parecia perceber que não estava sozinho na sala.- Ei, é mesmo, é melhor irmos andando. - Scott se levantou, suas longas pernas se desdobrando como uma escada. Ele vestia uma de suas roupas transadas, calças largas pretas pregueadascom uma camisa de seda cinza e um colete com broches. As roupas em si eram mais elegantes que as de Glenn, mas estavam informalmente amassadas, com as mangas puxadas acima dos cotovelos de Scott.Enquanto Kelli e Glenn se dirigiram para a van de Glenn, Leanna pegou o braço de Scott e o segurou para trás. Em voz baixa, ela perguntou: - Você ouviu o que aquele bolha me disse?Scott piscou. - Claro que não. Nunca presto atenção no Glenn.- Ele disse que gosta que suas mulheres vistam saias! – Leanna disse. - E olhou para mim como se esperasse que eu corresse para me trocar!- Por que fazer tanto carnaval por isso? - perguntou Scott suavemente. - Glenn é inofensivo. Nem dê bola.Leanna encolheu os ombros e seguiu Scott para a van de Glenn. Scott tinha razão. Não fazia sentido começar uma discussão por causa desse comentário idiota de Glenn.

Quando chegaram ao Cinedome, Glenn insistiu em rodar dentro do estacionamento para encontrar o local mais seguro para estacionar sua van personalizada. Quando finalmente chegaram à bilheteria, não havia mais ingressos.- É tudo sua culpa, Leanna - disse Glenn, - você ficou muito tempo no telefone.- Bem, me desculpe, Sua Majestade! - respondeu Leanna cansada daqueles

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comentários. - Não fui eu que fiquei rodando no estacionamento a noite inteira.- Fiquem frios, vocês dois - disse Scott, se colocando entre Glenn e Leanna. - Há outros cinemas aqui. Vamos escolher outro filme.Glenn lançou um rápido olhar para os anúncios dos filmes. - Você deve estar brincando. São todos filmes para babacas, exceto Hard Justíce.- De jeito nenhum! - explodiu Leanna. - Não vou assistir a um machão idiota explodindo prédios por duas horas.Scott apertou-lhe a mão. Não porque a amasse, mas porque queria que se calasse.- Tenho certeza de que podemos achar algo de que todos gostemos - disse Scott calmamente. - Que tal Fallíng for You? É uma comédia romântica, estreando.- Esses filmes piegas são para garotas - interrompeu Glenn. - Ou assistimos Hard Justíce ou vou embora.Kelli aproximando-se de Leanna cochichou: - Tenta entrar num acordo com Glenn. Por favor. - Numa voz mais alta, ela acrescentou: - Hard Justíce parece ótimo, Glenn.Scott tentou segurar a mão de Leanna, enquanto eles atravessavam o saguão, mas ela a puxou, brava. Leanna estava brava com todos: Scott, Glenn, Kelli, e até com ela mesma. Agora teria que assistir a um filme barulhento e violento sem vontade. Ela e Scott deveriam ter comprado ingressos para Fallíng for You, e ter deixado Glenn e Kelli assistirem a Hard Justíce. Mas agora era tarde demais.

Após passarem pelo porteiro que cortou os ingressos, Glenn e Kelli foram direto ao bar. Ao sentir o cheiro de pipoca amanteigada, o humor de Leanna melhorou um pouco. Talvez a noite não fosse um desastre total. Um pouco de pipoca amanteigada, uma limonada gelada e um saquinho de Gummy Bears poderiam melhorar seu astral.- Você quer pipoca? - perguntou Scott como se tivesse lido seus pensamentos.Leanna ia aceitar, mas ficou sem fala quando viu o rapaz atrás da máquina de pipoca. Um cabelo negro liso emoldurava uma face de menino com olhos escuros amendoados. Assim como os outros funcionários do cinema, ele vestia um colete vermelho sem graça e uma gravata-borboleta boba com calças compridas brancas de poliéster bem feias. Mas, até de uniforme, Leanna observou seus incríveis braços musculosos, suas mãos fortes e seu peito largo.Leanna enxugou as palmas úmidas de suas mãos em suas leggings escuras. Ela ouvia seu coração bater tão forte que tinha certeza de que todos podiam escutar.“Miguel!" pensou. “Tem que ser ele!" Mas como? Miguel mora em San Diego. Como pode estar trabalhando num cinema a centenas de quilômetros de casa?- Acho que fiz uma pergunta idiota - disse Scott, rindo. Claro que você quer pipoca.Ele se virou para seguir Kelli e Glenn até o balcão, mas Leanna apertou-lhe

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o braço. - Não, obrigada! Não quero nada.Scott parecia preocupado. - Por quê? Você está doente? Você nunca assiste a um filme sem comer uma tonelada de bobagens.- É ruim para a minha pele. Tenho um desfile de moda logo - disse Leanna rapidamente, escondendo-se atrás de Scott. Ela estava aliviada de poder se esconder atrás dos seus ombros. Pela primeira vez, estava feliz por ser baixinha. Se o rapaz das pipocas fosse realmente Miguel, ela não queria que ele a visse com Scott!- Mas você nunca tem espinhas - disse Scott.

Leanna fingiu uma risada. - Sempre há uma primeira vez. Por que arriscar? - Sentindo que estava chamando muito a atenção com sua camisa florida, Leanna escondeu-se ainda mais atrás de Scott.- o que está acontecendo de verdade, Leanna? – Scott perguntou com a voz mais baixa.Ela tinha que sair dali - rápido! Antes que seus joelhos se dobrassem ou que seu coração pulasse para fora do peito. Antes que fizesse uma loucura, como correr até o rapaz das pipocas e abraçá-lo. Ver Miguel de novo - se é que era realmente Miguel - trouxe de volta toda a excitação que ela sentira durante o primeiro tímido beijo deles. Mas e se Miguel descobrisse tudo sobre as mentiras dela ... sobre Scott?Ela morreria!- Só não estou com fome - respondeu. - Não é nada. Vamos, vamos entrar antes que todos os bons lugares sejam ocupados.- Mas eu achei que você não dava a mínima para Hard Justice. - Aparentemente confuso, Scott deixou Leanna arrastá-lo para a sala escura.- Se tenho que assistir a um filme ruim, não quero ficar sentada atrás de alguém enorme na minha frente - respondeu Leanna. Ela andou rápido pela sala de cinema, contente por estar suficientemente escuro para esconder o rubor em sua face. Se estivesse vermelha como sentia, ela devia estar parecendo um carro de bombeiros.Ela sabia que estava sendo boba. Primeiro, não podia ser Miguel. E, se por algum milagre, fosse, a estas alturas ele já deveria tê-la esquecido."Só tenho que descobrir se é ele", pensou Leanna, enquanto ela e Scott se sentavam no fundo da sala.Scott tocou sua mão e ela quase gritou. - O que há com você hoje? - perguntou. - Primeiro você fica muito quieta, depois pula três metros. O que está havendo?A preocupação de Scott fez Leanna sentir-se ainda pior. Como ela podia até pensar em outro cara, se Scott era tão doce?- Estou bem - disse.

Scott começou a dizer algo, mas então Glenn e Kelli apareceram com um enorme pacote de pipocas. Leanna, que estava sentada ao lado do corredor, levantou-se para deixá-los passar. A pipoca cheirava tão bem que a boca de Leanna encheu-se de saliva.- Quer um pouco? - perguntou Kelli, oferecendo o pacote a Leanna.- Não, obrigada. - Leanna não podia aceitar, depois de fazer tanta história para recusar-se a comprar pipoca.

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Glenn sentou-se ao lado de Scott e começou a falar num tom suficientemente alto para que Leanna pudesse ouvir. – Leanna não quer pipoca? Posso te emprestar dinheiro se você não tiver,cara.Leanna não conseguiu ouvir a resposta de Scott, mas então Glenn falou de novo, mais alto ainda. - De jeito nenhum. Escuta, sei como fazer uma garota feliz, sempre dou o que elas querem.Leanna olhou Glenn com repulsa. Não podia acreditar no que estava ouvindo. E então, para completar, Glenn ousou piscar para ela, enquanto as luzes se apagavam e a sala ficava escura.Glenn a estava paquerando!Um momento depois, uma confusão barulhenta de soldados, tanques e jatos de sangue explodiu na tela. Quando Leanna estava começando a se acostumar com o barulho, um atrasado passou correndo pelo corredor e se sentou no assento bem na frente dela.Uma mulher alta e loira, com um penteado de quase um metro de altura.Leanna gemeu. Ótimo. O cabelo de algodão-doce na frente dela impedia-lhe de ver a parte mais baixa da tela.A moça deu uma olhada para Scott. Filmes violentos de ação não eram os seus favoritos, mas ele estava prestando muita atenção, como fazia com qualquer filme a que assistia. Gostava de estudar os efeitos especiais e os ângulos da câmera. Leanna sabia que só um terremoto poderia chamar a sua atenção antes dos créditos finais.

"Eu devia ir dar um passeio no saguão", pensou Leanna. Não estaria fazendo nada errado só de olhar o rapaz da pipoca. Ela não teria nem que falar com ele. Só uma olhada rápida para se certificar de que não era Miguel. Então poderia relaxar e aproveitar o resto da noite.Curvando-se, Leanna cochichou no ouvido de Scott:- Vou ao banheiro. Volto logo.- Humm-humm - murmurou Scott. Seus olhos estavam grudados na tela, enquanto um homem sem camisa com muitas tatuagens mirava um lança-chamas de dentro de um jipe.Leanna apressou-se pelo corredor. Enquanto o filme continuasse, Scott não perceberia se ela sumisse por cinco minutos ou meia hora.Demoraria só um segundo para ir até o bar e confirmar se era ou não Miguel.Leanna fechou os olhos e respirou fundo algumas vezes, do jeito que sua professora de passarela a ensinara para relaxar. Quando reabriu os olhos, sentiu-se um pouco mais calma.Mas, ao aproximar-se do bar, mal pôde respirar. Entretanto, ninguém parecia reparar nisso. Os três funcionários de coletes vermelhos estavam ocupados. Um rapaz loiro gorducho estava registrando um pedido no caixa. Uma garota ruiva estava entregando um sorvete para um menininho. E um terceiro funcionário estava curvado sobre o balcão. Seu cabelo negro brilhante e seus braços musculosos eram os de Miguel, sem sombra de dúvida. Ele não olhou para cima. Com as sobrancelhas franzidas, esfregava o balcão

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sujo com uma esponja."Corra", pensou Leanna. "Corra rápido para dentro, antes que ele a veja!"- Oi, Miguel.A cabeça de Miguel voltou-se rapidamente ao som de uma voz feminina estranhamente familiar. Ele derrubou a esponja no chão ao ver a delicada garota com o negro cabelo sedoso solto parada perto do balcão.Leanna! Ela continuava tão bonita quanto naquele dia de agosto no Festival Filipino ... e nas outras muitas vezes, nos seus sonhos.

Leanna Malig. Ele nunca esquecera o seu nome. E, agora, lá estava ela, parada no balcão, como um anjo saído do nada. Naquele segundo, ele lembrou o beijo mágico deles. O toque dos lábiosdela enviando uma onda morna por todo o seu corpo. Miguel pensara em Leanna com freqüência, mas quando sua família se mudara para Sacramento ele assumira que nunca mais a veria denovo.-Leanna!- Você... você derrubou a sua esponja. - Leanna agachou se para pegá-la e entregou-a a Miguel.Quando suas mãos se tocaram, Miguel sentiu uma faísca de eletricidade entre eles. Era Leanna realmente quem estava ali. Não era um sonho. - O que você está fazendo aqui? - ele perguntou.Leanna não soltou a esponja. - Estou ... estou assistindo a um filme. E você?- Estou limpando o balcão - respondeu Miguel, sorrindo amarelo. Ele tirou a esponja da mão dela e a apertou de novo. Era muito melhor sem a esponja molhada entre eles. - Não possoacreditar que você está aqui. Tanta coisa aconteceu desde que te vi no festival. Quando te dei meu telefone, não tinha a menor idéia de que iria me mudar, e ...- Miguel - uma voz áspera vinda de trás o interrompeu esta garota vai comprar alguma coisa?Miguel não precisou se virar. Ele sabia exatamente quem estava falando assim e podia ver o olhar pretensioso de seu rosto. Sua colega Danette não gostava dele e sempre tentava colocar Miguel em dificuldades.Ele rapidamente soltou a mão de Leanna. - Eu estava justamente perguntando - ele disse. - Senhorita, posso fazer o seu pedido?- Eu atendo - disse Danette. - Você vai passar um pano naquele líquido derramado na sala de trás.Miguel engoliu sua resposta. O gerente do cinema, o senhor EsquiveI, tinha deixado Danette como encarregada naquela noite. - Estou indo - disse Miguel com seu tom mais educado e voltando-se para Leanna. Disse: - Não posso conversar agora.

- Vamos logo! - gritou Danette. - Conversar com amigos na hora do trabalho é contra o regulamento.- O.k., o.k. - Miguel curvou-se na direção de Leanna e sussurrou: - Eu saio do trabalho à meia-noite. Você pode me encontrar lá fora?Leanna pareceu hesitar e Miguel segurou a respiração. Finalmente, ela disse: - Claro. Estarei aqui.

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- Promete? - A palavra escapou e Miguel queria poder apagá-la, não queria que Leanna achasse que ele estava desesperado.Mas os lábios perfeitos de Leanna se curvaram num sorriso. Então, ela murmurou: - Prometo.Danette empurrou um esfregão para Miguel. - Vai trabalhar namorador! "Miguel assobiava enquanto se dirigia lepidamente para o depósito na sala de trás. Ele mal percebeu a risada maldosa de Tom e o olhar duro de Danette. Pela segunda vez, contra todas as probabilidades,o destino lhe mandara a garota dos seus sonhos. E, desta vez, ele não iria deixá-la escapar.

Oito

- Não acredito que você vai sair escondida. - Kelli se colocou na frente da porta do quarto de Leanna e cruzou os braços. Ela até poderia parecer brava, se não estivesse vestindo um babydoll com desenhos de ursinhos.- Fique quieta! Você vai acordar a mamãe e o papai. – Leanna sentou pesadamente em sua cama e olhou o relógio. Tinha que sair em cinco minutos, se quisesse cumprir sua promessa.Kelli se encostou na porta fechada. - Você sabe que não podemos sair depois da meia-noite. E, se o papai descobrir que você pegou o carro sem permissão, vai ficar proibida de sair .até ser muito velha para namorar.- Ele não vai descobrir. Eu já volto. - Leanna olhou suplicantemente para a meia-irmã. - Eu acordaria o papai e pediria permissão, mas estou com muita pressa.- Claro, você sabe que ele diria não - retrucou Kelli. – Você já teve um encontro hoje. Duvido que o papai te deixasse ter outro.- Isso não é um encontro - respondeu rápido Leanna. - Só vou conversar com ele.- E como você acha que vai se sentir o Scott quando souber que você foi falar com esse cara? - inquiriu Kelli.- Desde quando você tem problemas em sair com dois rapazes ao mesmo tempo?O rosto de Kelli ficou vermelho. - Não estamos falando de mim - disse, jogando para trás seu cabelo loiro prateado. - E, de qualquer forma, nenhum desses caras significou alguma coisa para mim.- Nem mesmo o Glenn? - perguntou Leanna delicadamente.- Glenn se revelou o pior bolha de todos. - Kelli sentou-se, ainda mantendo a porta fechada. - Eu o vi te paquerando. Que nojento!Kelli fungou. Leanna pegou uma caixa de lenços de papel da cômoda e deu para ela.- Obrigada. - Kelli enxugou o nariz e respirou profundamente. - Escute, Leanna, você não sabe como tem sorte de ter alguém como o Scott. Ele é o único garoto de Bayside que não pensa só nele. Ele realmente liga para você. Por que você arriscaria isso por um cara que mal conhece?

- Talvez você esteja certa - disse Leanna devagar, e se sentou no chão perto da meia-irmã. Scott era legal e ela não queria magoá-lo. Mas ela não sentia

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o mesmo frio no estômago quando via Scott que sentia quando estava com Miguel.- Você disse que Miguel é das Filipinas - Kelli continuou.- Você não está se metendo num grande problema? Pense só na mamãe e no Carlos. Ou papai e Leslie.Leslie era a mãe biológica de Kelli. Como sempre, quando Kelli dizia "Leslie", ela crispava os lábios como se dissesse "monstro” - ou "bruxa má". Diferentemente de Carlos Malig, Leslie Van Haver não telefonava nem escrevia para sua filha. Leslie deixara Kelli aos cinco meses sozinha com o pai. E esta fora a última vez que Kelli a vira.- Se a mamãe e o papai tivessem se casado logo depois de terminar o colégio, em vez de irem para faculdades diferentes! Kelli suspirou. Ela jogou o lenço de papel usado na lata de lixo. - Teria sido tão perfeito! Papai não teria encontrado Leslie, e mamãe não teria encontrado Carlos.- E nenhuma de nós teria nascido - Leanna salientou.- É verdade, mas imagine o quanto mais felizes teriam sido mamãe e papai. Você sabe por que os primeiros casamentos deles não deram certo! - Kelli a relembrou. - As diferenças entre eleseram mais fortes do que o amor.- Mas nós não somos nossos pais - disse Leanna, enrolando uma mecha de cabelo num dedo.(1 - Certo! - Kelli levantou-se de um pulo, acenando os braços com excitação. - Não temos que repetir os erros de nossos pais. Sei que Miguel parece excitante e diferente, mas ele é diferentedemais. Você vai se dar melhor com alguém como Scott.Leanna acabou rindo. - Acalme-se, Kelli! Eu só vou ver Miguel, não me casar com ele.Kelli descruzou as pernas e levantou-se do chão. - Sim, mas por que você vai encontrá-lo? - Kelli apertou os olhos. - Você vai contar a Miguel sobre Scott?

- Não sei. - Leanna suspirou.Kelli saiu de frente da porta. - Você pode dizer a ele que aquele beijo em San Diego foi só uma coisa de férias de verão.- Vou pensar a respeito - prometeu Leanna. A verdade era que ela não tinha a menor idéia do que diria a Miguel. Só sabia que tinha que vê-lo de novo.- Bom, não demore - pediu Kelli enquanto Leanna abria a porta do quarto. - E tenha cuidado com o carro do papai.Leanna desceu as escadas escuras nas pontas dos pés e entrou na cozinha. Sem acender a luz, pegou as chaves do carro do pai no gancho perto do telefone. A mãe sempre mantinha suaschaves na bolsa, mas o pai deixava as suas onde qualquer um pudesse pegá-las. Às vezes ele também deixava dinheiro em qualquer lugar. Tinha a teoria de que se se mostrasse aos filhos que se tinha confiança neles, eles viveriam de acordo com as suas expectativas.Leanna odiava trair sua confiança, mas não havia outro jeito. Como Kelli lembrara, pedir para usar o carro estava fora de questão. O pai certamente não deixaria e provavelmente acrescentaria que, se Miguel quisesse vê-Ia,

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deveria vir à casa durante o dia e encontrar com ele e com a mãe.Leanna até podia explicar: - Bem, papai, Miguel pensa que Carlos e Dora são meus pais, o que o pai certamente interpretaria de forma errada.Silenciosamente, Leanna passou pela porta da garagem e acendeu a luz. Olhou para o relógio e sufocou um gemido. Ótimo! Ela teria que encontrar todos os faróis verdes para conseguirchegar ao Cinedome antes que-Miguel saísse. Ela não queria que ele pensasse que ela lhe dêIa um cano."Isto não é um encontro", Leanna se lembrou enquanto destrancava a porta do Volvo branco do padrasto e escorregava para trás do volante.Leanna apertou o botão que abria a porta automática da garagem e a porta de alumínio abriu-se lentamente. O barulho, que Leanna mal escutava durante o dia, parecia como o de cem fantasmas balançando suas correntes. Fora da garagem, nada se via além da escuridão total.

Por um segundo, pensou em fechar a porta da garagem, voltar para o quarto e esquecer a idéia de encontrar Miguel.Mas tinha prometido. Ela devia isso a ele, tinha que ir, mesmo que fosse só para dizer que seus dois mundos nunca se encontrariam. Leanna virou a chave na ignição. O motor roncou vivo eos faróis penetraram a escuridão como as luzes de busca de um helicóptero da polícia.Quase em pânico, Leanna apertou o acelerador e saiu antes que perdesse a coragem.Miguel mudou de posição no banco de pedra do lado de fora da entrada do Cinedome. Dali, tinha uma boa visão do estacionamento vazio. Olhou de novo para o relógio. Era 00 hl5."Ela virá", disse a si mesmo. Mas e se seus pais não a tivessem deixado sair? Estava tão acostumado a sair do trabalho à meia noite que às vezes esquecia como era tarde, especialmente para alguém com padrões rigorosos.Miguel franziu a testa, checando de novo seu relógio. Por que não lhe ocorreu que os pais de Leanna não a deixariam encontrar um desconhecido depois da meia-noite? Ele não estavapensando certo mesmo."Eu deveria ter conhecido os pais dela", disse a si mesmo."Ter passado algum tempo com a família dela, antes de encontrá-la sozinha."Miguel tinha decidido ir embora, quando um Volvo branco parou com uma forte brecada em frente ao prédio. Leanna saiu e encaminhou-se para o cinema, olhando da esquerda para a direita enquanto atravessava a rua. Sob a luz da rua, Miguel viu que ela vestia a mesma blusa com flores vermelhas e a legging preta, mas agora estava com uma jaqueta jeans nos ombros.Ele levantou para que ela pudesse vê-lo. - Leanna, aqui.Leanna viu Miguel perto da entrada do cinema. Ele ainda vestia o ridículo colete vermelho, a camisa e as calças brancas. Quando chegou mais perto, viu que as calças dele estavam manchadas de chocolate, ou Coca-Cola.

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Ao se aproximar, Leanna não sabia se estava contente ou se se lamentava de não ter desistido e ficado em casa. Ainda não tinha idéia do que lhe diria.- Desculpe, estou atrasada - começou.- Tudo bem. - Miguel sorriu para ela e por um momento, mesmo que o pai a castigasse para o resto da vida por ter pegado o carro, tinha valido a pena para ver o sorriso de Miguel de novo.- Vamos para algum lugar conversar - disse Miguel. – Tem um restaurante que fica aberto a noite inteira mais par,a cima.- Não posso. - Se ela fosse jantar com Miguel, definitivamente seria um encontro. Leanna não queria sair com Miguel até que tivesse tido a chance de terminar com Scott. Além disso, tinhaque levar o carro de volta antes que o pai percebesse que o carro - e ela - tinha sumido.- Não tenho muito tempo. Tenho que voltar para casa logo.- Leanna sentou-se num banco próximo. - Podemos conversar aqui mesmo.- O.k. - Miguel sentou ao seu lado.Leanna sentiu o calor da pele dele através de sua jaqueta jeans, enquanto seus ombros se tocavam no banco estreito. Ela sentiu o cheiro agradável da sua loção após barba forte, misturado ao fraco, mas inconfundível, cheiro de pipocas amanteigadas.- Então ... o que você está fazendo em Sacramento? – perguntou Leanna. - Além de vender pipocas, quero dizer.- Moro aqui agora - disse. - Tudo aconteceu muito rápido. Sei que te contei que meus pais trabalhavam no Luzon Gardens Restaurant.Leanna assentiu. - Lembro da lumpia da sua mãe. Era a melhor!- Bom, muita gente também achava isso. Um tal de senhor Nufiez que estava no festival - explicou Miguel. - Estava pronto para inaugurar seu restaurante aqui, quando o seu cheffoi embora.Ele foi ao festival em busca de alguém para substituí-lo e ofereceu o trabalho a meus pais. Eles já vinham pensando em se mudar para cá mesmo - o irmão do meu pai mora aqui. Acabamos de nos mudar há algumas semanas.- Que bom para os seus pais! - exclamou Leanna. – Mas você deve ter ficado chateado. Mudar de escola, deixar todos os seus amigos...

- Eu tinha acabado de te conhecer, por isso não estava com nenhuma pressa de mudar - Miguel encolheu os ombros. – Achei que nunca ia te ver de novo se mudasse para cá. Mas tinha que vir com meus pais.Leanna lembrou de Carlos lhe dizendo que as três coisas mais importantes na cultura filipina eram a família, a religião e a educação. Andar com os amigos não fazia parte nem das dez mais.- Então, quando posso conhecer a sua família? – perguntou Miguel, chegando ainda mais perto dela. - Mal posso esperar para ver seu irmão Toby de novo. E quero ter uma longa conversa com o seu pai. Depois que me conhecer, sei que vai me deixar sair com você.- Não! - deixou escapar Leanna.Miguel se encolheu, parecendo magoado. - Achei que havia algo de especial entre nós no festival. Mas, se você não quer sair comigo, bom ...

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- Não é isso. Quero sair com você! - gritou Leanna, segurando o braço dele. Ela olhou para baixo, para sua mão que envolvia o braço moreno de Miguel. Ela viera para dizer adeus a Miguel, e aqui estava praticamente implorando para ficar!Soltando o braço dele, Leanna nervosamente enfiou os dedos pelos longos cabelos. - Quero sair com você, mas você não pode pedir isso aos meus pais. Eles não estão aqui.- O que você quer dizer? - perguntou Miguel. - Eles estão bem? Espero que nada tenha lhes acontecido!Leanna o encarou. Então respirou fundo e rezou para que sua voz não tremesse. - Meus pais estão bem - disse. - Ainda estão em San Diego. Estou aqui porque ganhei uma bolsa para uma escola particular realmente boa em Fair Oaks. Fica a apenas alguns quilômetros daqui.- Você deve sentir muito a falta de seus pais - disse Miguel - Que terrível para você.

- Não é tão ruim. Quero dizer, tenho saudade deles – disse apressadamente -, mas Bayside é uma boa escola. E é realmente difícil conseguir entrar. Todas as classes estavam lotadas para o semestre do outono, mas houve um cancelamento na última hora, então consegui a vaga.Miguel concordou. - Quando meu irmão Noriel ia entrar na faculdade, veio para os Estados Unidos. Todos sentimos a sua falta, mas queríamos que tivesse uma boa educação. Então entendo como é.O seu plano estava funcionando!- Meu pai fez a faculdade na Califórnia - contou a Miguel.- Então voltou para as Filipinas. Agora é professor do curso secundário em San Diego.- Pensei que você tivesse dito que nunca esteve nas Filipinas - disse Miguel, levantando as sobrancelhas.- E não estive! Meu pa voltou para lá por pouco tempo. Duas semanas - disse Leanna. - Para visitar os seus pais. O resto da família ficou em casa.Miguel perguntou. - Então, você tem outros parentes na Califórnia?- Não. Nenhum. - Leanna ficou quieta, esperando que Miguel não fizesse mais perguntas sobre a sua família.- Então, onde você está morando?- Em ... em Fair Oaks. - O coração de Leanna começou a bater rápido de novo. O que ela diria agora? Não podia dizer que tinha seu próprio apartamento: era muito jovem para isso.De repente, ela se lembrou de Hiroko Yamasaki, um estudante de intercâmbio que tinha morado com a família de sua amiga Wendy no ano anterior. Hiroko era de uma família japonesa conservadora e superprotetora. E eles não se importaram em saber que ela morava com - como Wendy dizia - uma família postiça.- Moro com o senhor e a senhora Van Haver e a filha deles, Kelli. São minha família postiça - explicou Leanna. - Eles cuidam de mim e tudo, mas não sou parente deles.- Então acho que terei que falar com o senhor Van Haver - disse Miguel,

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como se tudo estivesse resolvido. - Ele vai estar em casa amanhã? Eu poderia passar lá à tarde, antes do trabalho.

- Sim, acho que ele estará lá - disse Leanna. Na verdade, seus pais iriam a uma exposição de antigüidades na noite seguinte.Quando Miguel aparecesse, ela poderia lhe dizer o quanto lamentava que ele não tivesse encontrado os Van Haver, mas que, antes de sair, eles tinham autorizado que ela fosse até o shopping ou a qualquer outro lugar onde Miguel quisesse ir. Poderia funcionar!- Aqui estão meu endereço e telefone - disse, enquanto procurava na jaqueta jeans por uma caneta e papel.- Ótimo. Vou aparecer amanhã por volta da uma hora.Perfeito! A essa hora, os Van Haver estariam, seguramente, na exposição de antigüidades.- Te vejo amanhã - disse Miguel, acompanhando-a até o carro. Enquanto Leanna abria a porta do passageiro, ele se curvou e roçou-lhe um rápido beijo na testa. - Mahal kita, Leanna.- O que quer dizer isso? - perguntou Leanna.Miguel riu. Seus olhos brilhavam como diamantes negros sob a luz da lua. - Talvez algum dia eu te diga.Leanna cantava uma canção romântica que tocava no rádio enquanto dirigia para casa tarde naquela noite. Quando ela saíra de casa, não tinha idéia de como explicaria os Van Haver para Miguel. Mas tudo dera perfeitamente certo. Com um pouco de sorte, Miguel nunca ficaria frente a frente com seus pais; e mesmo se ficasse, Leanna poderia facilmente resolver qualquer probleminha que surgisse. podia até dizer que seus pais postiços preferiam que ela os chamasse de "papai" e "mamãe".Leanna ficou satisfeita com sua esperteza. Agora, tudo o que tinha que fazer era colocar o carro do pai de volta na garagem e correr para cima sem acordar a família.Ao chegar na entrada da casa, Leanna percebeu que sua sorte tinha acabado. Várias janelas estavam iluminadas na casa, incluindo a da cozinha e a do quarto dos pais.

Por um momento, Leanna pensou em engatar a marcha à ré e fugir. Em vez disso, apertou o botão para abrir a porta da garagem e entrou devagar.Leanna pôs o câmbio na posição de estacionar. Antes que pudesse desligar o motor, a porta da casa se escancarou. Seus pais estavam parados lá, com seus robes de banho azuis-marinhos combinados, com a aparência de que iam estrangulá-la.

Nove

- Kelli, você tem que me ajudar – Leanna implorou assim que seus pais saíram de casa na manhã seguinte. – Miguel estará aqui em uma hora.- De jeito nenhum! – disse Kelli, pegando uma diet soda da geladeira. – Você já não está encrencada o suficiente por ter saído escondida ontem à noite? Você ouviu o que o papai e a mamãe disseram. Você está de castigo em casa a semana inteira. Isto definitivamente significa nenhum rapaz em casa.

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- Mas você me deve – disse Leanna, empurrando o seu sanduíche de atum meio comido no prato. – Você poderia ter me protegido na noite passada.Kelli colocou a lata de soda na mesa da cozinha. – Oh, claro. Como? Quando o papai começou a gritar que alguém havia roubado o Volvo, eu devia tê-lo deixado chamar a polícia? Então você poderia ter sido pega pelos policiais ao invés do papai.- Ok... Acho que não teve escolha – admitiu Leanna.Kelli sentou-se à mesa em frente a Leanna. – Você vai terminar seu almoço? Estou com muita fome.Leanna deu mais uma mordida e então empurrou o sanduíche. – Não tenho tempo. Tenho que tirar todas aquelas fotos de nossa família do corredor.- Por que? – perguntou Kelli, pegando uma batatinha frita.- Porque eu estou em todas elas! Miguel pensa que Carlos e Dora são meus pais. Você são supostamente a minha família postiça aqui em Fair Oaks – explicou Leanna. – Ele acha que conheci vocês apenas no mês passado. Como posso explicar todas aquelas fotos antigas de nós quatro?Sem esperar resposta, Leanna correu para o corredor que ligava a cozinha e a sala de estar. As paredes estavam cobertas com fotos emolduradas, algumas de muitos anos antes. Havia várias de Leanna sozinha com sua mãe e seu pai. Leanna pegou estas antes. Era possível que Miguel não reconhecesse Leanna pequena, mas certamente se perguntaria o que os Van Haver, tão loiros, faziam com uma criança de pele tão morena.

Leanna estava carregando um montão de fotos quando Kelli veio da cozinha. – Não acredito no que você está fazendo. – disse.A moça colocou uma última foto debaixo do seu braço e foi em direção da escada. – Vou colocá-las de volta quando Miguel for embora.Kelli seguiu-a escada acima. – Oh, então não somos tão bons para Miguel.Leanna abriu a porta de seu quarto com um chute e jogou as fotos emolduradas sobre a cama. – Nunca disse isso. Quero que você conheça Miguel e, depois, ele também vai conhecer mamãe e papai.- Então porque você está fingindo que somos sua família postiça? – perguntou Kelli. – Achei que você ia lhe contar a verdade.- Eu vou. Só que mais tarde. – Leanna desceu as escadas para tirar o resto das fotos das paredes. Kelli a seguiu, ainda tentando convencê-la a contar a verdade a Miguel.- Kelli, Miguel ainda não pode desconfiar da verdade. – Leanna tinha pensado muito sobre isso durante a noite, especialmente depois dos sermões dos pais sobre confiança e responsabilidade. – A família dele é supertradicional. Seus pais são casados há um tempão. Você devia ter visto a cara dele quando disse que estava vivendo aqui longe da minha mãe e do meu pai. Ele até pensou que tinham morrido ou algo assim. Acho que, na cabeça dele, esta é a única boa desculpa para não morar com os pais.Leanna tirou mais uma foto da parede e a colocou nas mãos de Kelli. – Miguel está procurando uma filipina autêntica. Ele acha que sou 100% filipina.- Então por que você acha Miguel tão maravilhoso? – perguntou Kelli. – Ele parece ser muito preconceituoso.

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- Bom... – respondeu Leanna, enquanto subiam as escadas, carregando o resto das fotos da família. – E se você encontrasse um cara realmente interessante e ele dissesse: “Oi, meu nome é Jake, acabei de sair da cadeia depois de cinco anos, por roubar uma loja de bebidas”. Você sairia com ele?

- Que pergunta mais idiota. – Kelli balançou a cabeça desconfortável. – Talvez eu tenha tido alguns namorados desprezíveis, mas não saio com bandidos.- Ok – Leanna colocou as fotos sobre a cama, junto com as outras. – Então digamos que você encontre esse cara que é inteligente, lindo, maravilhoso em tudo. Você sai com ele durante alguns meses e está totalmente apaixonada. Seus joelhos tremem a cada vez que você está com ele. Ele acha que você é a garota mais legal e mais linda que já conheceu. Você confia nele completamente...- Me apresenta – interrompeu Kelli. – Ele parece perfeito!Leanna concordou. – Ele seria, se... Depois de vocês estarem se encontrando há algum tempo, ele te conta que foi preso uma vez por roubar uma loja. Ele e seu bando de amigos da escola fizeram uma aposta e ele foi pego. Você daria o fora nele?- Acho que não – disse Kelli. – Principalmente se tivesse sido apenas uma aposta inocente que tivesse dado errado... E, além disso, já estou loucamente apaixonada por ele.- Viu? – interrompeu Leanna. – Agora você pode entender o motivo pelo qual não posso ainda dizer a verdade a Miguel. Se eu lhe contar a verdade sobre a mamãe e o papai, ele não vai querer sair comigo nunca mais. Mas, se ele me conhecer e à minha suposta família postiça primeiro, ele vai gostar tanto de nós que, quando eu lhe contar a verdade, ele vai aceitar e me perdoar. Ele entenderá que tive de mentir como única forma de ficarmos juntos.Kelli balançou a cabeça. – Você está louca de achar que vou te ajudar nessa encenação mirabolante. Eu vou sair. Tenho que me preparar para uma foto e você tem que cortar a grama esta tarde.- Kelli, por favor! Você só vai demorar alguns minutos. – Leanna gesticulava na direção das fotos da família sobre a sua cama. – Me ajuda a colocar algumas outras fotos nestas molduras e a pendurá-las de volta na parede? Não quero que Miguel perceba aquele monte de pregos nas paredes.- Onde vou conseguir quinze fotos 25 por 20? – perguntou Kelli. – E por que você não faz isso sozinha?

- Tenho que cortar a grama. – Leanna puxou o cabelo por cima do ombro direito e começou a trançá-lo. – Se eu me apressar, posso terminar antes de o Miguel chegar. Se a grama estiver cortada, mamãe e papai não vão suspeitar de nada.Leanna prendeu a trança com um elástico e voltou-se para Kelli, que estava olhando para uma das fotos da família com uma expressão de dúvida.- Por favor!- implorou Leanna. – Eu já te ajudei a impressionar garotos. Lembra daquele cara na quinta série com a coleção de minhocas? Eu cavouquei toda a horta da mamãe para que você também tivesse a sua

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colação de minhocas.- Ok, ok, eu vou ajudar – disse Kelli. – Só não fale de novo do nojento Gene Quigley e de seus vermes! E outra coisa: se mamãe e papai pegarem Miguel aqui, não tive nada a ver com isso!- Obrigada, Kelli. – Leanna deu um rápido abraço na meia-irmã. Ela estava nervosa por desobedecer seus pais de novo, mas desta vez seu plano era seguro. A exposição de antiguidades à qual seus pais haviam ido terminava às cinco e eles adoravam olhar móveis antigos. Com certeza não voltariam antes do fim da exposição. Ela tinha a tarde inteira pela frente!

Miguel desceu a rua dirigindo sua velha caminhonete, checando os números de cada caixa de correio. Brecou ao lado de uma casa ladeada com arbustos floridos e debruçou-se para fora da janela para ver a caixa de correio escondida entre eles. Sim, este era o endereço de Leanna, na caixa de correio havia uma placa onde estava escrito Van Haver.Miguel se dirigiu para a entrada da casa. Não havia nenhum carro parado, então ele estacionou em frente à porta fechada da garagem. Enquanto saltava do feio carro marrom, Miguel olhava o sobrado que Leanna dividia com os Van Haver. Era parecido com o que sua família alugara. O gramado de tamanho médio acabara de ser cortado, e o zumbido que vinha de trás da cerca de sequóia desgastada lhe dizia que alguém estava cortando a grama do quintal.

Apertando o buquê de rosas amarelas que havia comprado para Leanna, Miguel se aproximou da porta da frente. Um grande gato amarelo e branco estava estatelado ao lado dela, bloqueando a passagem. Ele não tinha a maior parte da orelha esquerda. O gato bocejou e Miguel reparou que lhe faltavam muitos dentes também.- Oi, amigo – disse Miguel, abaixando-se para coçar atrás da única orelha do gato, que fechou os olhos e esfregou a cabeça contra a palma da mão de Miguel ronronando suavemente.- Até mais. – Miguel fez uma última carícia no gato e pulou por cima dele para tocar a campainha.Vários segundos se passaram sem que ninguém viesse abrir a porta. Miguel apertou a campainha de novo. Se ninguém viesse desta vez, ele iria até a cerca falar com quem estivesse cortando a grama.De repente, a porta se abriu. – Você deve ser Miguel. – disse uma voz forte de garota. – Sou Kelli Van Haver. Entre.Miguel não conseguiu disfarçar seu espanto quando viu uma garota muito mais alta que ele, com umas sandálias pretas de salto que aumentavam sua altura uns sete centímetros; um cabelo longo, loiro platinado preso no alto da cabeça num penteado com tranças e cachos; usando um vestido tomara-que-caia branco e preto e um par de brincos imitando brilhantes, exageradamente maquiada até para aquelas roupas.Por um momento, Miguel não teve certeza se Kelli Van Haver era bonita ou não. Ela era fascinante... mas de uma forma exagerada. Se era assim que ela se vestia para ficar em casa sábado à tarde, o que ela pensaria de seus shorts jeans e de sua camiseta?

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Enquanto Miguel hesitava na porta de entrada, o gato roçou-lhe as pernas, saltando rapidamente para dentro da casa.Kelli deixou escapar um grito agudo. – Tumbleweed! Saia daqui sua grande e feia bola de pêlos!Miguel não podia acreditar que uma garota falasse assim com seu próprio gato.- Ótimo. Ele fugiu – murmurou Kelli. – Espere até eu colocar minhas mãos nesse gato. Vou estrangulá-lo.Miguel entrou sem jeito no hall. – Leanna está?

- Ela está terminando de fazer algumas coisas – disse Kelli, olhando para o buquê na mão de Miguel. – Você pode esperar aqui, mas as flores vão ter que ficar lá fora.- Por quê? São para Leanna – disse Miguel sem entender. Queria dar uma boa impressão para a família postiça de Leanna, e não compreendia por que Kelli olhava para as rosas perfumadas como se fosse um maço de ervas venenosas.- Bom, acho que não tem problema entrar com as flores – Kelli balbucoiu. – Entra.Kelli virou-se com agilidade sobre seus saltos, parecendo flutuar pelo corredor. Miguel a seguiu, perguntando-se como ela conseguia andar tão graciosamente com sapatos tão absurdamente altos.Enquanto andava pelo corredor, Miguel viu as fotos penduradas nas paredes. Não era incomum pendurar fotos da família, sua mãe tinha algumas na sala de estar. Mas as fotos na casa dos Van Haver eram muito estranhas.Eram todas de Kelli, algumas coloridas, outras em preto-e-branco, mas todas eram closes de Kelli da cintura para cima ou do rosto. Em algumas ela estava com o cabelo penteado com laquê, parecendo uma peruca. E todas as roupas de Kelli pareciam fantasias: casacos de pele, jaquetas de couro pretas, boas de penas brancas.Kelli o levou até uma pequena cozinha. – Pode sentar. Quer que coloque as flores na água?- Não, obrigado. Gostaria de dá-las a Leanna. – Miguel segurou o maço com cuidado, enquanto se sentava à mesa da cozinha.- Leanna está cortando a grama- explicou Kelli. - Quer beber alguma coisa? Chá gelado, Coca-Cola, cerveja sem álcool?- Um pouco de chá gelado. – Miguel observou Kelli pegar um jarro de chá gelado da geladeira.Parecia que Kelli estava tentando parecer simpática, mas Miguel não se sentia confortável perto dela. Depois de servir o chá, ela se sentou no canto da cadeira e o observou enquanto ele bebia, sem dizer nada, o que fez com que Miguel se sentisse como uma espécie de animal exótico no zoológico.

Miguel queria que Kelli fosse embora, mas, em vez disso, ela abriu uma lata de diet soda e começou a beber. – Então, Miguel – ela perguntou - , o que está achando de Sacramento?- Legal – Na verdade, tinha sido bastante sem graça até encontrar Leanna.

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Mas Kelli não precisava saber disso. – Seu pai está em casa? – perguntou Miguel. – Gostaria de conhecê-lo.- Não, não tem ninguém em casa – disse Kelli, tomando um gole de soda.Miguel deu um sorriso forçado. – Tudo bem se eu for até o jardim ajudar Leanna a acabar de cortar a grama?- Ótima idéia – disse Kelli, parecendo aliviada. – Tenho que retocar minha maquiagem, meu batom borrou um pouco bebendo soda.“Pode acreditar que ainda sobrou muito”, pensou Miguel, ainda sorrindo enquanto Kelli abriu uma cortina atrás da qual apareceu uma porta de vidro de correr. Através do vidro, Miguel viu um enorme quintal. Leanna, que vestia shorts verdes e uma camiseta verde e branca combinando, empurrava um pesado cortador de grama.Colocando suas flores sobre a mesa, Miguel abriu a porta. A visão da pequena Leanna lutando com o pesado cortador de grama era demais para ele.Ao mesmo tempo que Miguel abria a porta, Kelli espirrou algo atrás dele – Pelo amor de Deus, feche esta porta! – gritou Kelli. Antes que ele pudesse obedecer, a própria Kelli fechou a porta de vidro com tanta força que Miguel estranhou que ela não tivesse lhe dado um empurrão.Ele pôs as mãos em concha e gritou mais alto que o barulho do cortador de grama. – Oi, Leanna! Você precisa de ajuda?Leanna desligou o cortador de grama e foi ao seu encontro. Seu cabelo, numa única trança que chegava até quase a bainha de seu short, brilhava, e suas bochechas estavam vermelhas do calor. Apesar de estar quase desmaiando de cansaço, sorria.Não chegue muito perto – ela disse, parando a alguns metros dele. – Estou muito suada.- Não ligo, se você não ligar.

Ela andou até ele, que a abraçou bem apertado. O coração dela, batendo contra o seu peito, parecia fazer parte do mesmo corpo. – Não ligo que você esteja suada, prefiro abraçar você do que alguém como Kelli, toda perfumada, cheia de brilho e nada mais.Leanna riu. – Isso é meigo. Estranho, mas meigo.Relutantemente, ele a soltou. – Vamos acabar com este gramado, assim poderemos sair daqui.Enquanto Miguel acabava de cortar a grama, Leanna empilhava com um ancinho a grama cortava. Quando ele acabou de cortar começou a ajudá-la a recolher a grama cortada em sacos de lixo.- Ei, Miguel – gritou Leanna.Ele se virou e algo macio bateu-lhe no peito. Leanna riu e abaixou-se para pegar outro punhado de grama.- Ei! – ele gritou.Tirando a grama do cabelo, Miguel disse – Ok, se é uma guerra o que você quer, você a terá.- Não se eu te pegar primeiro!Pegando um punhado de grama cortada, Miguel correu atrás dela até chegar perto de uma árvore. Leanna escapou do arremesso e correu de

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volta para pegar mais munição.- Não é justo! – gritou Miguel vendo Leanna pegar um saco cheio de grama. – O que você acha que vai fazer com isso?- Olhe!Sorrindo maldosamente, Leanna andou até ele com o saco. Miguel esperou que ela estivesse bem próxima e, então, enquanto ela virava o saco na cabeça dele, ele pegou o lado oposto e o empurrou na direção dela.Leanna o empurrou e perdeu o equilíbrio. Miguel segurou-a pela cintura, mas escorregou no saco de lixo plástico. Gargalhando, caíram juntos no chão. Pedaços de grama faziam-lhe cócegas no pescoço e se emaranhavam nos seus cabelos e roupas.- Não sabia que você era uma mulher tão selvagem. – E levantando-se Miguel puxou Leanna. – Não acredito que vamos ter de recolher tudo de novo.

- Não me importo – disse Leanna, colocando os braços em torno do pescoço dele. – Você parecia tão sério. Eu tinha que fazer alguma coisa para te fazer sorrir.

Miguel encostou a testa na dela. Ele gostava do fato de que tinham quase a mesma altura. Sem nenhum esforço, podia olhá-la bem nos olhos. E, se inclinasse a cabeça um pouco, seus lábios se tocariam.- Leanna – disse com voz rouca. – Sei de uma maneira melhor de você me fazer sorrir.- Ah, é? – Os olhos escuros de Leanna cintilaram provocadores. – É algum costume filipino que não conheço?Os braços de Miguel enlaçaram sua cintura. – Juro que vai ficar conhecendo.Devagar, como que atraídos por alguma força magnética, os lábios de Miguel encontraram os dela. Os olhos dele se fecharam e, de repente, pareciam que as últimas semanas nunca tinham acontecido. Ele e Leanna estavam de volta ao Festival Filipino em San Diego, mas o beijo deles desta vez não era tímido ou exitante, mas profundo e cheio de promessas. Leanna estava em seus braços e nada mais importava.Quando Miguel finalmente abriu seus olhos, Leanna sorria para ele. Seu rosto esta corado e a grama pontilhava seu cabelo com reflexos verdes. E, quando sua mão macia moveu-se na direção de seu rosto, ela o fez se sentir o cara mais importante do mundo.Ele a beijou de novo. Os lábios dela eram mornos e tinham um pouco do gosto de grama recém-cortada. O tempo pareceu parar enquanto eles se abraçavam.- Oh, não – disse Leanna, soltando-se dele.- O que há de errado? – Miguel perguntou, magoado e confuso. Mas, então, ele viu Leanna olhando em direção à porta.- Estou na maior encrenca – gemeu Leanna.

Dez

Leanna nunca tinha sentido tanta vergonha na vida. Num minuto, ela estava beijando Miguel, esquecendo-se de que eles não eram as duas únicas

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pessoas no planeta. E, no seguinte, seus pais a estavam vendo beijar Miguel.- Deus, eles parecem prontos para explodir - disse Miguel. - Você não lhes disse que eu vinha?- Ah... sim - Leanna gaguejou, com os joelhos tremendo.O braço forte de Miguel em volta de sua cintura era a única coisa segura que a firmava. Uma boa filipina nunca sairia escondida dos pais, ou pais postiços, com um rapaz!- É a grama - disse Leanna. - Prometi cortá-la antes que eles voltassem para casa.- Vou dizer que foi culpa minha - disse Miguel. Leanna balançou a cabeça. - Não, cuidarei disto. – Estava orgulhosa com a atitude de Miguel de querer protegê-la. Mas, quanto menos ele falasse com os pais dela, melhor. Talvez ela ainda pudesse dar um jeito. A senhora Van Haver abriu a porta de vidro. - Leanna - gritou -, você poderia vir aqui, por favor.A voz de sua mãe parecia calma e controlada, mas Leanna conhecia bem a sua mãe. A senhora Van Haver sempre dava a impressão de estar muito calma quando aplicava os piores castigos.- Já volto - disse Leanna a Miguel, caminhando devagar até a porta de vidro.Sua mãe estava parada na porta aberta. Seu pai ainda estava do outro lado da sala, onde era seguro. Ele e Kelli eram extremamente alérgicos a grama recém-cortada.- Aqui. - A senhora Van Haver pegou algo de trás dela e, para a surpresa de Leanna, deu-lhe um maravilhoso buquê de rosas amarelas.- São lindas - disse Leanna perplexa, pegando o buquê de sua mãe. Por que ela estava lhe dando o buquê, em vez de lhe dar uma bronca? - mas papai é alérgico a rosas.- Sem brincadeiras - a senhora Van Haver disse de dentro da casa. Leanna olhou atrás de sua mãe e viu que os olhos do padrasto estavam começando a lacrimejar. - Concluo que foi aquele garoto que as trouxe - disse a mãe de Leanna. - Vá lá fora e agradeça a ele, avise que seu pai é alérgico e então mande-o ir para casa.- Mas ele me trouxe flores - disse Leanna admirada. – Não posso simplesmente devolver as rosas e mandá-lo embora! Seria uma grosseria.A expressão de sua mãe não se abrandou nem um pouco. Você liga para ele depois. Aliás, quem é ele? Nunca o vi antes.- Seu nome é Miguel Sarmiento. Eu o conheci em San Diego. Acabou de se mudar para cá e não conhece ninguém. Sei que não posso sair - Leanna continuou - mas vocês não poderiam, por favor, fazer esta única exceção?- Ele parece um bom rapaz - admitiu a senhora Van Haver, enquanto olhava para fora.Leanna seguiu o olhar da mãe e viu Miguel recolhendo a grama espalhada. Por um momento, achou que a mãe poderia fraquejar, mas seu coração ficou pesado quando viu sua mãe cruzaros braços.- Além de você sair escondida na noite passada, você recebe a visita de um amigo enquanto está de castigo - disse a senhora Van Haver, balançando a cabeça. - Sinto muito, mas Miguelvai ter que ir embora.- Pode dizer que o receberemos de braços abertos quando não estiver todo coberto de grama - acrescentou o senhor Van Haver assoando o nariz ruidosamente. - Leve-o pelo portão, não

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por dentro da casa. Anão ser que você não se incomode em passar a noite toda acordada, ouvindo Kelli e eu espirrando.A senhora Van Haver acabou com a conversa fechando a porta de vidro, mas Leanna teve a sensação de que a discussão não tinha terminado. Ela caminhou até Miguel, que ainda estava ocupado com o ancinho. Seu rosto murchou quando ela lhe entregou as flores.- O senhor Van Haver é alérgico a flores - explicou Leanna. - Sinto muito, mas tenho que pedir para você ir embora.Miguel deixou cair o ancinho. - Só porque eu te trouxe flores? - Ele balançou a cabeça, parecendo decepcionado. - Leanna, talvez não seja da minha conta, mas essa sua família postiçaparece muito estranha.- Vem, vamos falar sobre isso lá na frente. - Leanna deu uma olhada nervosa para a porta de correr. Sua mãe ainda estava parada, olhando para se certificar de que ela obedeceria. O pai tinha ido embora, provavelmente para tomar um de seus comprimidos para alergia.Enquanto atravessavam o portão e passavam pelo lado da casa, Leanna tentava chamar a atenção de Miguel. Mas ele só olhava para o chão. Seus lábios estavam apertados e ele de novo balançava a cabeça.Uma caminhonete muito feia estava parada na frente da casa. Era supervelha e toda marrom, com exceção de uma porta azul. Miguel caminhou até ela, abriu a porta azul e jogou as rosas amarelas no banco da frente.Leanna limpou a garganta. - Miguel, por favor não fique bravo. Não queria que você fosse embora, mas tenho que obedecer os Van Haver. Neste momento, isso significa acabar de limparo quintal sozinha e não te ver durante uma semana. É como ontem à noite, quando você estava trabalhando. Você queria falar comigo, mas tinha que enxugar o chão.- Não é a mesma coisa. - Os braços de Miguel a seguraram pelos ombros. - Não vivo com a minha chefe e não é ela quem diz com quem posso ou não sair! O que os teus pais acham do jeito como os Van Haver te tratam?- Eles... Bem, eles não acham ruim - balbuciou Leanna.- Quero dizer, tenho que retribuir de alguma forma o meu quarto e a comida.- Mas você não é empregada deles! O senhor Van Haver não pode cortar o gramado?- Ele também é alérgico a grama - disse Leanna.

De repente, a porta da frente da casa se escancarou. Kelli, usando seu elegante vestido preto-e-branco, saiu, segurando o gato do vizinho pelo pescoço.- Cai fora! - gritou, jogando o gato no gramado. – E fique longe!- Você viu isso? - disse Miguel crispando a boca de desagrado. - Ela está maltratando um animal inocente.- O gato não é dela. Tumbleweed é dos vizinhos e pensa que esta casa é uma lata de lixo gigante. Ele sempre entra escondido e faz sujeira. Além disso, pa ..., bem ..., o senhor Van Haver e Kelli são alérgicos a pêlo de gato.- Existe alguma coisa a que eles não sejam alérgicos? – perguntou Miguel ceticamente.- Olha, você não está entendendo, se Kelli ficar perto de algum gato, ela fica inteirinha cheia de brotoejas vermelhas horríveis - explicou Leanna. - Isto seria uma completa tragédia porque ...Miguel não deixou Leanna acabar de explicar. - É, com certeza seria uma verdadeira tragédia se Kelli tivesse umas bolinhas - interrompeu

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sarcasticamente. - O que ela é, alguma princesa? Seus pais forram a casa com fotos dela e você fica toda chateada porque ela pode ter brotoejas. Não é à toa que ela é tão convencida.- Gosto muito de Kelli - disse Leanna brava. - Como você pode falar dela, sem sequer conhecê-la?- E nem quero conhecê-Ia! - explodiu Miguel. - Ela é uma esnobe egoísta. Não tem nada na cabeça, só pensa em penteados, comprar roupas novas e em se maquiar. Garotas assim me dãoenjôo.- Ótimo! - gritou Leanna. - Se é assim que você se sente, acho melhor ir embora! Não preciso ouvir isso sobre a minha família!Miguel deu um passo para trás. Parecia tão surpreso como se tivesse levado um tapa. - Por que você os defende? Os Van Haver não são sua família. Não deixe que fiquem entre nós dois.Leanna segurou a maçaneta da porta do carro para impedir que suas mãos tremessem. Por pouco ela quase não estragara tudo! Precisava tomar mais cuidado.- Quero dizer minha família postiça - disse Leanna, com voz trêmula. – Eu gosto dos Van Haver, Miguel. Você não entende?- Você está certa. Não entendo. – A voz de Miguel estava calma, mas muito fria. - Não entendo por que você deixa que eles te dominem. Achei que você era o tipo de garota que se cuidavasozinha. - Depois disso, Miguel entrou no seu carro e foi embora, sem lhe dar um beijo e nem dizer "te ligo". Só deu ré para sair da entrada da casa e da vida de Leanna.Leanna acabou de limpar o gramado e subiu para tomar um banho. Depois, enrolou uma toalha no cabelo molhado e colocou seu robe felpudo rosa. Quando voltou para o seu quarto, encontroua sua mãe sentada em sua cama.- Olha, mamãe - começou Leanna, antes que sua mãe pudesse começar com o sermão. - Sinto ter quebrado as regras. Me deixe sem sair até o fim do mês e pronto.- Vamos manter uma semana - disse a senhora Van Haver cruzando as pernas e se ajeitando no travesseiro de Leanna. – Mas precisamos conversar.- Prefiro ficar sem sair - disse Leanna.Do modo como sua mãe estava se ajeitando na cama parecia que ia ficar lá por muito tempo.- O papai e eu não gostamos de te castigar - disse a senhora Van Haver. - Mas nos preocupamos quando você faz algo perigoso, como sair sozinha à noite com um garoto que não conhecemos.Então, hoje, quando voltamos para pegar meu cartão de crédito e vimos um carro estranho parado na entrada, quase chamamos a polícia. Aquele traste parecia algo em que só uma pessoade rua moraria.- Mamãe! - gritou Leanna, sentando-se na cama ao lado da mãe e cobrindo o rosto com as mãos. Ela achava que já tinha sido humilhada o suficiente naquele dia, mas acabava de ser ainda mais. Por pouco sua mãe não fez com que Miguel fosse preso!- O que eu deveria pensar? - perguntou-lhe sua mãe. Você não tinha permissão para receber amigos.- Eu disse que sinto muito! - gritou Leanna.

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A senhora Van Haver colocou a mão gentilmente no ombro de Leanna. - Querida, por que você acha que tem que sair escondida com Miguel? O papai e eu nunca a impediríamos de sair comninguém que você quisesse. Há algum motivo para você não nos ter contado sobre Miguel? Você tem vergonha dele?Leanna levantou a cabeça rapidamente. - Não! Miguel é um ótimo rapaz!- Ele é filipino, não?- E daí? - indagou Leanna. - Isso não é nada para se envergonhar. - Ela puxou a manga de seu robe de banho e colocou seu braço moreno perto do braço branco da mãe. - Eu sou filipina,mamãe. Ou você nunca percebeu?A mãe de Leanna ignorou o comentário. - Seu pai telefonou enquanto você estava no banho - disse ela, ainda com uma voz calma e gentil. - Parece que ele acha que não quero que vocêo visite. Acusou-me de ser a responsável por impedir que você conheça sua herança filipina. Você sabe de onde ele tirou esta idéia errada, Leanna?- Não - balbuciou Leanna, inclinando a cabeça e esfregando a toalha vigorosamente no cabelo molhado.- Leanna, olhe para mim quando falo com você.Leanna estudou o rosto da mãe, procurando alguma conexão entre elas. Não via nada de si mesma nos olhos redondos azul acinzentados, na pele clara e no longo cabelo loiro. Alison VanHaver parecia mais a mãe de Kelli do que de Leanna.- Espero nunca ter dito nada que lhe desse uma impressão ruim de seu pai, ou de ser filipina - disse a senhora Van Haver, torcendo as mãos. - Quero que tenha orgulho de sua ascendência.- Tenho, mamãe. - Leanna tirou a toalha da cabeça e passou os dedos pelo cabelo longo e molhado.A senhora Van Haver pegou um pente da cômoda e o entregou para a filha. - Podemos conhecer Miguel na semana que vem?- Acho que não - disse, lembrando das coisas ruins que Miguel havia dito sobre os Van Haver. Leanna achava pouco provável vê-lo de novo. Engoliu um soluço parado na garganta e disse: - Miguel é de família filipina tradicional. Fala tagalo e tudo. Acha que sou muito americana para ele.- Você poderia começar a estudar sobre as Filipinas – sugeriu a mãe. - Fale com seu pai. Ele não te deu alguns livros e fitas?- Sim. - Leanna passava o pente pelo cabelo. - Mas e se não der certo? Miguel procura uma filipina tradicional. Tenho medo de nunca estar à altura.A senhora Van Haver franziu a testa. - Leanna, você não deveria conhecer as Filipinas só para agradar a Miguel, nem ao seu pai. Isso é algo que você deveria fazer por você mesma. Só vocêpode decidir o quanto quer aprender e o que é importante para você. Não mude o seu modo de ser para se adequar à idéia de garota perfeita de algum rapaz. Faça Miguel ver a verdadeira Leanna e então deixe que ele decida se acha que vale a pena conhecê-la melhor.Leanna se lembrou do que Miguel dissera sobre Kelli. – Mas e se ele me achar egoísta e esnobe?- Então é ele que não vale a pena conhecer. - A senhora Van Haver se inclinou para abraçar a filha. - Sei que é difícil para você acreditar nisto agora, mas vão haver outros rapazes na suavida. E por falar em outros rapazes, querida ..., você pensou no Scott?"Não ultimamente", Leanna teve vontade de dizer. Era estranho, mas, quando Miguel estava por perto, ela se esquecia completamente que Scott existia.

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- Bom... ainda estou tentando pensar no que fazer com ele - admitiu Leanna.- Tenho certeza de que você vai tomar a decisão certa – disse a senhora Van Haver, levantando da cama de Leanna. – Só mais uma pergunta. Quem colocou as fotos do portfólio de modelo deKelli no hall?- "Devem ter sido as únicas fotos 20 por 2S que Kelli conseguiu encontrar" - pensou Leanna. Não é de se admirar que Miguel tenha achado Kellimuito cheia de si!- Foi idéia minha - confessou Leanna. - Vou colocar as nossas fotos de volta.Abraçando um travesseiro contra o peito, Leanna viu a mãe sair do quarto. Podia dizer, pelos passos vigorosos da mãe, que ela achava que os problemas da filha estavam resolvidos. O que apenas mostrava a Leanna o quanto sua mãe estava por fora."Deixe Miguel ver a Leanna real." Sim, claro. Miguel deixara muito claro que não queria a Leanna real. Ou, pelo menos, não a sua metade americana.Leanna rolou para fora da cama e olhou embaixo dela. Colocou o braço na escuridão empoeirada e puxou tudo o que encontrou. Uma meia cor-de-rosa, um chinelo azul, a caneta queperdera ... e uma fita cassete selada de Tagalo para conversação.Leanna rasgou o papel celofane e colocou a fita no seu toca fitas. - Como vai? - perguntava uma voz de homem. – Kumustá ka?- Kumustá ka? - repetiu Leanna. "Miguel pode não voltar", pensou, "mas se voltar, estarei pronta para ele!"

Onze- Aonde você está indo? Saan ka pupunta? - perguntou o narrador da fita de tagalo. Esta era fácil. - Saan ka pupunta – repetiu Leanna. Ela tinha ficado acordada até tarde no sábado à noite, escutando as fitas e estudando os livros que Carlos lhe dera. Era domingo à tarde e ela estava praticando tagalo de novo.- Vou às compras - disse a fita. - Magsha-shaping.- Eu poderia estar shaping no shopping neste exato minuto, se não estivesse de castigo sem poder sair. - Kelli e duas amigas tinham ido shaping esta tarde.- Posso ir com você? Pwede ba aking sumama sa iyo? - Pwede - pwede - você deve estar brincando! – exclamou Leanna. Algumas expressões em tagalo eram bem fáceis, mas outras tinham letras demais. Ela esticou o braço e parou a fita. Aliás, quem é que inventou esta língua?Ela ouviu uma batida na porta de seu quarto. - Leanna, posso entrar? - perguntou seu padrasto.- Tuloy ka! - gritou Leanna. Esta era uma boa expressão em tagalo: fácil de pronunciar, fácil de lembrar e com um som muito melhor do que" entre".- O quê? - perguntou o pai.Leanna abriu a porta. - Falei "entre" em tagalo.O senhor Van Haver entrou no quarto de Leanna. - Querida, você ... o que é isto? - ele perguntou, olhando para um pôster de uma filipina com sapatilhas de balé e uma saia de bailarina branca, pendurado em cima da cama de Leanna. Na véspera, havia um pôster do Brad Pitt pendurado ali.- Esta é Lisa Macuja. Era uma bailarina famosa do Balé da Rússia. - Leanna abriu a porta de seu armário onde um pôster de outra jovem filipina estava colado do lado de dentro. - E esta éLea Salonga. Você sabia que era dela a voz da princesa Jasmim no filme da Disney Aladim?

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- Não, não sabia - admitiu o senhor Van Haver, sorrindo. - Onde você conseguiu esses cartazes?- Carlos me deu há muito tempo. Ele achou que me serviriam de inspiração ou algo assim - explicou Leanna. - Estou tentando aprender tagalo e achei que eles me colocariam no espíritoda coisa - disse, olhando ansiosa para o rosto do padrasto.- É uma grande idéia. Uma segunda língua é sempre uma vantagem no mundo de hoje.- Mas não tenho muita certeza se estas fitas são de fato muito úteis - reclamou Leanna. - Elas têm todos os tipos de expressões para turistas, como "Onde é o hotel?" e "Onde é o aeroporto?".Mas não há muitas palavras de uso diário.- Posso checar a seção de línguas na biblioteca - se ofereceu o pai -, trarei tudo o que achar sobre as Filipinas. - O senhor Van Haver trabalhava numa grande divisão da bibliotecacentral de Sacramento. -Você não precisa fazer isso - disse Leanna fechando a porta do armário.- Mas quero fazer. Estive pensando que talvez tivéssemos que ir todos às Filipinas nas férias - disse o senhor Van Haver. - Você gostaria?- Seria ótimo - disse Leanna baixinho, mal podendo acreditar. Ela tinha ficado com medo de que ele se sentisse magoado ou ameaçado se ela demonstrasse muito interesse pelas Filipinas, mas, em vez disso, ele estava se desdobrando, tentando ajudar.- Oh, quase esqueci por que vim até aqui - disse o pai, parando na porta. - Scott está lá embaixo. Disse a ele que você está de castigo, mas ele disse que era importante. Você pode vê-lo por alguns minutos. Ele está na sala de estar.Encarar Scott era a última coisa que Leanna queria fazer naquele momento. Na noite anterior, ela decidira que o mais justo seria parar de sair com Scott. Mas ainda não era o momento.No entanto ele estava lá. Leanna parou na entrada da sala de estar, observando Scott olhar as fitas dos Van Haver. Como de hábito, Scott estava supertransado, jeans desbotados e uma camisa havaiana florida. Também como de hábito ele não percebeu sua presença até que ela pigarreou.- Oh, oi - disse Scott, se afastando das prateleiras de vídeos. - Humm, seu pai disse que você está de castigo, então só vou ficar um minuto.Scott sentou sem jeito na ponta do sofá. Leanna sentou-se perto dele, mas não conseguia encará-lo. "Sei por que estou tão nervosa", pensou, "mas por que Scott está tão inquieto?".Scott pigarreou. - Escuta, sobre sexta-feira à noite, Glenn foi totalmente insuportável e eu lamento.- Tudo bem - interrompeu Leanna.Scott balançou a cabeça. - Não, não está tudo bem. Sair com Glenn e Kellinão era minha idéia de uma noite divertida, mas como você quis ir, deveria pelo menos ter tentado ficar numa boacom ele. A noite foi um completo desastre e você só piorou tudo.Leanna encarou Scott. - Você quer que eu me desculpe com você? - perguntou com indignação. Não podia acreditar no que estava ouvindo. Sua simpatia por Scott evaporou-se rapidamente. - Você deve estar brincando.- Escuta, Leanna ... - começou Scott, batendo com as pontas dos dedos na mesa de centro. - Na realidade, eu vim porque acho que temos que conversar sobre nós dois.

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Leanna respirou profundamente. - As coisas não têm andado muito bem ultimamente, não é?- Eu gosto de você. - disse Scott esticando o braço e pegando na mão dela. - Mas, desde que você voltou de San Diego, sinto que está a quilômetros de distância. Como se houvesse algo nocaminho. Você está ... está saindo com alguém?- Não realmente - disse Leanna. Eera verdade. Desde o desastre de ontem, ela achava que jamais tornaria a ver Miguel novamente. Ela apertou a mão de Scott e então retirou a sua. – Mas isso não importa. O que importa é que acho que estamos nos afastando. Talvez a gente ainda saia porque nos sentimos bem um com o outro, mas já não é mais emocionante.- Sei o que você quer dizer. Então ... isso quer dizer que estamos desmanchando? - perguntou Scott gentilmente.Leanna engoliu em seco. - É, é isso o que você quer?- Quero que sejamos amigos - disse Scott. – Concordo com você. As coisas não andam bem entre nós.Leanna sentiu seus olhos se encherem de lágrimas. "Isto é completamente idiota!", pensou. "Quero romper com Scott. Então por que estou chorando?”Enquanto enxugava os olhos impacientemente, um pensamento horrível lhe ocorreu. Talvez ela quisesse romper com Scott, mas não queria que Scott rompesse com ela! Ela não se importava em dar o fora em um cara, mas não suportava que fizessem isso com ela. Como era egoísta! Tanto quanto ... quanto Glenn Garrick!Scott foi embora alguns minutos depois e Leanna subiu para seu quarto e se jogou na cama. Não queria chorar, mas não conseguia segurar as lágrimas."Mas eu não amo Scott”, pensou Leanna, sentando e enxugando o rosto. Scott tinha razão: ele e Leanna haviam se afastado. Ela e Scott simplesmente não haviam sido feitos para ficarem juntos.- Miguel! - Leanna exclamou ao atender o telefone mais tarde. Seu coração deu um pulo enquanto ela afundava numa cadeira na cozinha.- Estou no trabalho, então não posso falar muito – disse Miguel. Leanna o escutou respirar profundamente. - Eu, bem ... quero me desculpar por ontem. O que tua família postiça faz nãoé da minha conta. Eu estava completamente errado.- Desculpas aceitas - disse Leanna.- Legal - disse Miguel. Seguiu-se um longo silêncio.- Miguel? Você ainda está aí?- Sim. Eu ... eu estava pensando ... Você gostaria de sair comigo? Num encontro de verdade? - perguntou Miguel.- Mas é que estou de castigo - lembrou Leanna, sorrindo; há algumas horas a sua vida era um desastre, e de repente tudo parecia estar se ajeitando.- É no próximo sábado - disse Miguel. - Minha prima Rosália vai fazer uma festa de aniversário de dezoito anos. Ela mora em São Francisco. Você quer ir comigo?- Claro. Parece divertido - disse Leanna, com uma pontada de decepção na voz.Miguel falava como se a festa de aniversário de sua prima fosse um grande acontecimento. É claro que Leanna gostaria de vê-lo em qualquer circunstância, mas ele não poderia ter pensado em algo mais íntimo ... mais romântico para o primeiro encontro deles de verdade?- Ótimo! - disse Miguel. A felicidade dele era óbvia.Leanna sentiu uma onda de calor descer até os pés.

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- Vou te buscar às quatro - disse Miguel. - Sei que você vai gostar da Rosália e vai adorar a festa. Se você está com saudade de uma verdadeira comemoração filipina, esta será a oportunidade.Leanna desligou o telefone, sentindo-se ao mesmo tempo eufórica e confusa. Tinha um encontro com Miguel! Mas por que ele chamara a festa da prima de "comemoração filipina”? Até onde sabia, os filipinos não comemoravam seus aniversários de forma diferente dos americanos. Carlos lhe mandava cartões de aniversário e presentes normais todos os anos.Talvez Miguel quisesse dizer que serviriam comida filipina na festa ou que todos os convidados seriam filipinos.Por precaução, ela telefonaria para Carlos para perguntar se havia algo especial que devesse saber sobre festas filipinas. "Esta é a minha grande chance” pensou Leanna. "Não posso estragar tudo desta vez!”

Doze

- Não, não há nada diferente nos aniversários filipinos - disse Carlos. Era segunda-feira, depois da escola. - Nossas festas são como a dos americanos.- Obrigada, Carlos. Vou a uma festa de aniversário com um ... um amigo filipino no sábado - disse Leanna. - E não quero dar nenhum fora.- Estou contente por você conhecer outros filipinos e nossos hábitos - disse Carlos. - Ei, já te falei sobre a tribo Bontoc? As mulheres são conhecidas pelos seus tecidos. Algumas tribos até acreditam que elas tecem de forma mágica e que todos os poderes serão perdidos se um pedaço do tecido for cortado.- Legal - disse Leanna. Era óbvio que Carlos estava outra vez dando aula, mas, por algum motivo, não lhe pareceu como das outras vezes. Agora era ela que queria saber tudo sobre as Filipinas.- Posso te mandar meu cobertor Bontoc - ofereceu Carlos. - Minha tia-avó o fez há muitos anos. É amarelo-limão e azul escuro. Muito bonito.- Obrigada - disse Leanna. - Eu adoraria. - Mal podia acreditar que seu pai estava lhe dando um legado de família tão precioso. Ele poderia guardá-lo para um dos meninos ... mas o havia oferecido a ela.- Posso mandá-lo pelo correio amanhã - disse Carlos gentilmente. - Mas acho que prefiro dar o cobertor pessoalmente. Você já decidiu quando vem?- No mês que vem, acho - disse Leanna sem muita certeza. Não podia ir a San Diego agora e deixar Miguel. - Te ligo quando tiver certeza - acrescentou Leanna. Ela desligou, sentindo-se mal. Sua conversa com Carlos estava indo tão bem. Por que ele tinha que estragar tudo pressionando-a a vê-lo?* * *- É Miguel! - gritou Leanna quando a campainha tocou na tarde do sábado seguinte. Ela levantou-se rápido da mesa da cozinha, onde estava sentada com seus pais e com Kelli. - Vocês ficam. Não saiam daí!- Estamos aqui esperando há dez minutos - disse a senhora Van Haver sorrindo, enquanto fechava sua revista. – Prometemos não nos mexer.- Estamos ansiosos para conhecer Miguel - acrescentou o senhor Van Haver, fechando um livro sobre as Filipinas que estava lendo.Leanna correu pelo corredor, pegando algumas das fotos penduradas pelo caminho. Como seus pais estavam em casa, ela não tinha podido substituí-las por outras, nem escondê-las. O melhor que podia fazer era livrar-se das reveladoras fotografias da família no último momento.

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Escancarando o armário do hall, Leanna jogou um monte de fotos no chão. Então, voltou para o corredor e tirou o resto das fotografias que também jogou no armário. Fechando a porta, Leanna rapidamente ajeitou seu suéter de algodão cor-de-rosa, passou os dedos pelo cabelo e abriu a porta da frente.- Oi, Miguel- disse Leanna, torcendo para que ele não notasse que ela estava quase sem ar depois da corrida pelo corredor. - Entre.Leanna não pôde deixar de olhar para Miguel enquanto ele entrava na casa. Seu cabelo negro, geralmente solto em mechas lisas, estava penteado para trás. Ele usava sapatos sociais pretos, uma camisa social branca e um smoking cinza pérola com uma gravata- borboleta e um cinto pretos. Estava lindo. Mas por que estava de smoking para ir ao aniversário da prima? - Você ainda não está pronta? - perguntou Miguel franzindo a testa e olhando para o jeans preto e a blusa cor-de-rosa de Leanna.- É porque você chegou cedo! - disse Leanna sem saber o que dizer. - Você disse que viria às quatro e meia.- Tenho certeza de que disse quatro horas. - As sobrancelhas de Miguel se juntaram e ele se movia inquieto, parecendo desconfortável.- Oh ... então acho que entendi mal. É minha culpa – disse Leanna tentando rir sem graça. - Tudo bem, estarei pronta em cinco minutos.- Posso conhecer seus pais postiços? - perguntou Miguel.- Claro. - Leanna levou Miguel pelo corredor até a cozinha. Não tinha certeza se queria beíjá-Io ou estrangulá-lo. Por que ele não tinha avisado que a festa era formal? Ele agira como se ela fosse obrigada a saber, o que não fazia sentido, a menos que todas as festas filipinas fossem assim. E, se eram, por que Carlos não tinha avisado?A família de Leanna olhou Miguel de cima abaixo quando entrou na cozinha. Seus pais e Kelli ficaram tão surpresos quanto ela quando viram Miguel vestido daquele jeito. Felizmente, eram muito educados para dizer qualquer coisa.- Este é Miguel Sarmiento - disse Leanna. - Miguel, você já conhece Kelli. - Leanna olhou de forma penetrante para Kelli, esperando que a meia-irmã se lembrasse da deixa.- ai, Miguel - Kelli gaguejou. - Estes são meus pais, o senhor e a senhora Van Haver.- Como estão? - perguntou Miguel, apertando primeiro a mão da senhora Van Haver, depois a de seu marido. Ele não desconfiou do fato de Kelli ter feito as apresentações e Leanna.suspírou aliviada.- Belo smoking, filho - disse o senhor Van Haver, enquanto apertava a mão de Miguel e olhava confuso para o suéter e o jeans de Leanna.- Bom, é melhor eu subir e me trocar - disse Leanna. - Você pode vir me ajudar, Kelli?Kelli levantou-se rapidamente. - Sim, claro.- Sente-se, Miguel- convidou a senhora Van Haver. – Vamos conversar um pouco.Leanna tremeu. Era justamente esse o seu temor: que eles conversassem! E se Miguel tocasse no assunto da "família postiça" - ou se a senhora Van Haver chamasse Leanna de "minha filha"? Mesmo assim, Leanna não tinha escolha. Ela tinha que se vestir o mais rápido possível e esperar que nada horrível acontecesse enquanto ela estivesse longe.Fora da cozinha, Leanna sentiu Kelli pegar-lhe o braço. - Que roupa é essa de Miguel? - zombou Kelli. - Seus namorados têm um senso de moda muito

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estranho. Primeiro Scott com suas roupas de lojas de segunda mão e agora Miguel com um smoking! Por que ele está tão elegante?- Não me pergunte. - Leanna correu, subindo dois degraus de cada vez. - Ele disse que iríamos a uma festa de aniversário. Achei que era na casa da garota.- Se for, ela deve morar num palácio - disse Kelli, seguindo Leanna escada acima. - Que roupa você vai usar?- Queria usar alguma roupa sua, só tenho este vestido longo. - Leanna entrou no seu quarto e escancarou a porta do armário.Rapidamente, Leanna arrancou o jeans e o suéter e colocou seu vestido longo. A saia de baixo era de tafetá duro cor-de-rosa e o corpete e saia de cima eram feitos de renda branca.- Estou parecendo uma dama de honra - reclamou Leanna. Era difícil andar com aquela saia rodada enorme. Ela tinha comprado o vestido para o concurso Miss Cocoa-Tropíc Tan – antes de aceitar o convite de passar o verão com a família de Carlos. Se o tivesse usado no palco, teria se sentido uma princesa, mas naquela ocasião, no seu pequeno quarto, com os cabelos soltos, se sentia uma boba.- Senta - disse Kelli. - Vou arrumar teu cabelo, enquanto você se maquia.Leanna sentou-se em frente ao espelho. - Por que Miguel não me avisou que precisava ir de longo à festa? Ou ele é muito complicado ou está tentando me envergonhar de propósito.- Voto pelos dois - disse Kelli, puxando o cabelo de Leanna para cima e prendendo-o com grampos.- Eu não quero saber mais nada de nenhum garoto. Você acredita que Glenn Garrick me convidou para sair de novo? Bom, eu disse que de jeito nenhum. Até que apareça alguém decente, vou sair com minhas amigas.- Melhor para você - disse Leanna, esticando o braço para pegar um pincel de maquiagem. - Sei que há muitos bolhas por aí... Só espero que Miguel não seja um deles.- A festa começa às seis e termina às nove, trarei Leanna para casa mais ou menos às onze - disse Miguel aos Van Haver. - Vamos jantar no Regency Hotel e aí haverá um baile com música ao vivo.- Parece maravilhoso - disse a senhora Van Haver, enchendo de novo o copo de Miguel com chá gelado. - Quando Leanna disse que iria a uma festa de aniversário, imaginei um bando de adolescentes comendo bolo e ouvindo CDs no porão da casa da sua prima.- Mas Leanna não avisou que é a festa de dezoito anos de Rosália? - perguntou Miguel tomando um gole de chá.Os Van Haver trocaram olhares. A senhora Van Haver encolheu os ombros. - O que há de tão diferente num aniversário de dezoito anos?- Para os garotos nada - explicou Miguel. Obviamente, os Van Haver não conheciam nada sobre a cultura filipina, mas ele não se importava de explicar. Eles pareciam interessados, especialmente o senhor Van Haver. Miguel percebeu que ele estava lendo um livro chamado As crônicas filipinas.- Quando uma garota faz dezoito anos, seu pai faz uma festa formal no melhor hotel da cidade - Miguel prosseguiu. - Originalmente, a idéia era apresentá-la aos homens solteiros da comunidade e esperava-se que ela se casasse num ano. Não conheço muitas filipinas que sigam essa regra na atualidade, nem minhaprima. Mas mesmo assim os debuts são sempre uma grande festa. Acho que elas não querem perder essa oportunidade nem a tonelada de presentes.

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- Você diria que é uma importante tradição filipina? – perguntou o senhor Van Haver, escolhendo um pedaço de doce da tigela sobre a mesa.- Claro. Todas as garotas filipinas, assim como qualquer garota americana, espera ansiosamente por seu debut. Minha irmã Carolina tem quinze anos - começou a contar Miguel. - Ela é mais americana do que se tivesse cabelos loiros e sardas, mas até ela já está falando sobre onde fará sua festa de debutante.- Você acha que Leanna gostaria de uma festa de debutante? - perguntou o senhor Van Haver, parecendo preocupado. - Gostaria que ela a tivesse se for parte da sua tradição. Mas não tenho certeza de que saberíamos fazer tudo direito.- Oh, não se preocupem com isso - disse Miguel em tom tranqüilizador aos Van Haver. - O pai de Leanna vai cuidar de tudo. Até lá, ela estará morando com ele, não?- O quê? - perguntou a senhora Van Haver. Miguel não entendeu por que ela tinha ficado tão pálida de repente.O senhor Van Haver colocou o braço ao redor dos ombros da esposa e perguntou a Miguel: - Leanna falou sobre ir morar com o pai dela?Miguel não entendia o que estava acontecendo. Num primeiro momento, os Van Haver pareciam pessoas normais e simpáticas, um instante depois, estavam abraçados e parecia que a senhora Van Haver ia chorar.Antes que Miguel pudesse responder, Leanna entrou na cozinha junto com Kelli. O vestido de Leanna flutuava ao redor dela como uma nuvem cor-de-rosa. O cabelo estava preso no alto da cabeça com pentes com pedras imitando brilhantes. Ela estava maravilhosa.Miguel se levantou da cadeira e quase fez uma reverência para Leanna que parecia uma princesa. - Belo vestido - disse. - Mas você não sabe que não pode estar mais bonita que a própria debutante?- Debutante? - repetiu Leanna, franzindo a testa.- Minha prima Rosália. - Miguel não estranhou o fato de Leanna ter-se esquecido do nome de sua prima. Com todos os seus irmãos e irmãs e agora sua prima, eram muitos nomes para lembrar.- Leanna, Miguel, esperem aqui. Vou pegar a câmera. – O senhor Van Haver deu um tapinha no ombro da esposa como para tranqüilizá-la. Miguel ainda não conseguia entender o porquê de a senhora Van Haver ter ficado tão chateada.Enquanto posava para algumas fotos com Leanna, Miguel pensava sobre os Van Haver. Eram uma família peculiar, tudo bem.Pareciam ligados a Leanna, mas um pouco demais. Como se não quisessem que ela voltasse para sua família de verdade, os Malig.Enquanto Leanna se despedia dos Van Haver, Miguel decidiu esquecer a família postiça superprotetora, não queria estragar a grande noite mágica que tinham pela frente.

Treze- Ainda não posso acreditar que o manobrista colocou o seu carro no estacionamento - disse Leanna, enquanto ela e Miguel entravam no luxuoso saguão do Regency Hotel em São Francisco. Era de longe o lugar mais chique que ela tinha visto. Todos os elevadores eram de vidro e pedras brilhantes, que pareciam diamantes, pendiam dos lustres. Leanna não se sentia mais desconfortável na sua roupa de concurso. Só desejava ter longas luvas brancas e uma coroa para combinar.Miguel riu. - Meu carro foi provavelmente uma grande decepção depois de todos aqueles BMWs na nossa frente.

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Leanna riu também. O olhar do manobrista era impagável. Por alguns segundos, ela teve certeza de que o homem ia pedir a Miguel para estacionar o seu velho carro todo batido.- Olha, ali está minha irmã Carrie - disse Miguel, apontando para uma bonita garota morena. - Vem, vou te apresentar a ela. Talvez ela saiba em que salão é a festa.Eles andaram até a garota magra parada entre duas portas douradas. Ela vestia um longo de seda preta e seu cabelo era muito curto, com exceção da frente, onde era espetado para cima."Esta é a irmã de Miguel?", Leanna estava surpresa como alguém que pertencia a uma família ultraconservadora como a de Miguel podia usar um corte de cabelo tão ousado.- Ei, Carrie - disse Miguel. - Esta é Leanna Malig.- Prazer em conhecê-Ia, Leanna. - Carrie esticou o braço para apertar-lhe a mão. Suas unhas estavam pintadas de um roxo escuro, quase preto. - Eu te apresentaria o meu acompanhante, mas ele está no banheiro.Naquele momento, uma das portas douradas se abriu e um rapaz muito bonito saiu, como que deslizando. Deslizando era a palavra certa, pensou Leanna; seu andar gracioso e elegante era tão familiar para Leanna quanto seu cabelo na altura dos ombros e seu único brinco prateado. Ela os via diariamente na escola."O que Eddie Alvarez está fazendo aqui?" Eddie não fazia parte da turma de Leanna na Bayside Acaderny, mas ela o conhecia. Rapidamente, Leanna virou-se de costas, esperando que Eddiepassasse por ela sem a reconhecer.- Eddie! - chamou Carrie. - Venha cá e conheça meu irmão e sua acompanhante.Leanna queria que um buraco se abrisse para desaparecer. "Carrie estava com Eddie?" Eddie tinha participado de vários desfiles com Leanna, sabia o nome dela. Talvez ela devesse correr para o banheiro feminino e ficar lá até Carrie e Eddie irem embora. Mas era tarde demais, Eddie estava parado ao lado de Carrie e, pelo jeito que sorria para Leanna, ela sabia que estava perdida.- Eddie Alvarez, este é meu irmão Miguel- disse Carrie. Os rapazes trocaram um aperto de mãos. - E esta é...- Eu te conheço - disse Eddie. - Você freqüenta Baysíde, certo? Seu nome é Leanna ... Leanna ... Leanna sentiu que suas pernas fraquejavam. "Não fale meu nome", rezou. "Não diga Leanna Van Haver!"Eddie sorriu em tom de desculpas. - Desculpe, não me lembro de seu sobrenome.- Leanna Malig - Leanna quase sussurrou. Esta foi por pouco!Mas Leanna ainda não estava fora de perigo. Agora Carrie a olhava com uma expressão de fascínio.- Você freqüenta Bayside? - perguntou Carrie. - O que você é, atriz? Cantora? Você já apareceu na TV?- Por que Leanna teria aparecido na TV? - interrompeu Miguel, olhando de Leanna para Carrie com uma expressão confusa.- Estou faminta! - exclamou Leanna, tentando mudar de assunto. - Vamos procurar a festa, o jantar não vai ser servido às seis?- Sim. Acho que é por aqui - disse Miguel seguindo um longo corredor acarpetado, mas ainda parecendo confuso. Inclinando-se para mais perto de Leanna, perguntou: - Que história é essa de você aparecer na TV?- Eu não. - Leanna riu nervosamente. - Alguns dos garotos que freqüentam Bayside querem ser atores, mas não é meu caso.

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- Não, Leanna faz parte da divisão de modelos, junto comigo - interrompeu Eddie. Ele e Carrie haviam seguido Miguel e Leanna pelo corredor. - Bayside é como uma faculdade, sabe? Pode-se ter aula sobre diferentes assuntos - cinema, teatro, dança - mas você escolhe uma área de concentração, um tipo de especialização. Escolhi modelo porque não sou muito bom em memorizar textos.- Modelo e dança. É bem legal - disse Miguel numa voz agradável. - Não sei por que pensei que Bayside era uma escola tradicional rigorosa. - Os olhos de Miguel estavam frios quando encarou Leanna.- Eu disse que era difícil entrar em Bayside, e é! – Leanna disse bruscamente, com os olhos faiscando. - Você tem que ter notas altas e talento! Nossas aulas de artes teatrais são adicionais às aulas regulares, como as de matemática e ciências. Passamos o dobro do tempo na escola e trabalhamos o dobro também.Miguel parecia espantado.- Isto é muito legal, Leanna! - elogiou Carrie. - Meu irmão acha que antropologia é a única carreira respeitável no mundo.Carrie continuou falando, contando a Leanna que ela queria ter uma loja de roupas. Mas Leanna não prestava atenção, continuava observando Miguel, enquanto ele andava devagar, olhando para a frente.Na entrada da festa, um homem mais velho com um terno preto pegou os convites deles e checou uma longa lista. – Mesa vinte - disse, apontando-lhes a porta.Miguel segurou a porta aberta para Leanna e eles entraram num grandioso salão de baile. Metade do piso era de madeira polida. No fundo do salão, numa plataforma elevada, uma orquestra tocava música suave. Leanna nunca tinha estado em uma festa de aniversário como aquela antes. Uma vez, Glenn Garrick tentou impressionar a todos contratando um conjunto para sua festa, mas era um conjunto de quatro garotos com violões e um teclado. Esta orquestra tinha violinos, um piano e um violoncelo!No outro lado do salão, sobre um luxuoso tapete azul escuro, havia dezenas de mesas redondas cobertas com toalhas brancas de linho, copos de cristal e talheres de prata reluzentes. Sentadas às mesas, conversando e rindo, enquanto os garçons enchiam seus copos, havia pessoas de todas as idades, quase todas filipinas."Tudo é tão lindo. Mas não faço parte disto. Sou uma impostora ..."- Não, Eddie - riu Carrie, distraindo Leanna de suas preocupações.- Temos que entrar na fila de cumprimentos primeiro.Eddie levantou-se da cadeira. - Você tem que me desculpar - disse. - Não sei nada sobre o cerimonial dos aniversários de dezoito anos.- Parece muito com o que você me contou sobre as festas de quinze anos no México - disse Carrie, pegando no braço de Eddie. Ela olhou para Leanna. - Você sabia que se fôssemos mexicanas não teríamos que esperar até os dezoito anos para ter uma festança como esta? Aliás, como sou americana agora, talvez possa convencer meus pais a fazer uma festa de dezesseis anos em vez de um debut como este.Miguel ofereceu o braço a Leanna, ignorando a voz da irmã.- Vamos, Leanna. Vamos cumprimentar a aniversariante.Leanna ficou entre Miguel e Carrie, enquanto se aproximavam de uma fila de pessoas vestidas elegantemente. Convidados passavam e cumprimentavam. "Isto parece um casamento" pensou Leanna. Ela queria que Miguellhe dissesse o que deveria fazer; mas claro que ele achou que ela já sabia.

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- Apenas cumprimente Rosálía, o irmão dela e seus pais com um aperto de mão - Leanna ouviu Carrie dizer a Eddie. - Mas, quando você cumprimentar os avós e bisavós dela, faça isto – disse Carrie pegando a mão direita de Eddie e encostando-a na sua testa. - Colocar a mão de uma pessoa mais velha em sua cabeça mostra respeito.Eddie apertou a mão de Rosália. Ela usava um vestido longo branco e luvas compridas até os cotovelos. Então, Leanna o observou apertar a mão de uma pequena senhora de cabelos grisalhos e gentilmente encostá-Ia em sua testa. O rosto da pequena mulher abriu-se num sorriso radiante.Leanna sentiu-se uma boba. Bem, se Eddie podia fazer aquilo, ela também poderia. Ela trocou apertos de mão com os membros mais jovens da família de Rosália e depois fez a mão da velha senhora tocar-lhe a testa. Foi recompensada com um generoso sorriso. A velha senhora disse algo em tagalo a Miguel que pareceu fazê-lo corar.- O que ela disse? - perguntou Leanna, enquanto eles se sentavam à mesa.- Nada - respondeu Miguel tomando um rápido gole de água e ficando ainda mais corado.- Escutei o que ela disse. - Carrie desdobrou seu guardanapo de pano, colocou-o no colo e sorriu provocativamente para o irmão. - A bisavó disse que você era uma garota simpática e que Miguel deveria se casar com você.- Que história é essa de meu primo mais novo se casar? - perguntou com uma voz provocadora de mulher. - De jeito nenhum! Não, a menos que eu me case antes!Uma filipina de cabelos negros lisos, na altura dos ombros, sentou-se na cadeira vazia ao lado de Miguel. Usava um lindo vestido de renda azul brilhante.- Esta é minha prima Christina. Ela está no segundo ano da faculdade na Universidade da Califórnia em Berkeley – acrescentou Miguel. - Faz especialização em História.- Leanna Malig e Eddie Alvarez - disse Miguel a Christina. - São modelos.- Que legal! Nunca conheci nenhum modelo antes. Como é estar sempre na frente de uma câmera?O queixo de Miguel caiu e Leanna não conseguiu conter o riso. Ela sabia que ele esperava que sua prima mais velha pensasse que ser modelo era tão frívolo quanto ele achava.Depois que Leanna acabou de contar para Christina como era divertido ser modelo, todos começaram a comer. Foi servido um aperitivo frio de camarão e depois uma salada verde. Mas Miguel não tocou em nenhum dos dois.- o próximo prato é léchon - anunciou Carrie, cutucando Miguel nas costas. - Acho que Eddie deveria se servir primeiro, você não acha, Miguel?Léchon é um prato servido sempre em comemorações fílipinas. Dora tinha feito um na primeira noite de Leanna em San Díego. Leanna sorriu, lembrando-se de como ficara confusa quando Dora a convidou a se servir primeiro.- Não sei se estou pronto para isso - disse Eddie desconfiado. Ele olhou em volta da mesa. Todos riam. - Aliás, o que é léchon?Carrie começou - É...- Acho que Leanna deveria explicar o que é léchon – disse Miguel alto, cortando a resposta de sua irmã.Aquilo deixou Leanna brava, pois estava na cara que Miguel estava tentando pegá-la numa armadilha. Provavelmente estava desconfiado de que era uma impostora. Bom, Miguel Sarmiento ia ter uma surpresa.

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Leanna sorriu gentilmente, enquanto começou a explicar: - Lechón é um porco assado inteiro que é servido em todas as festas filipinas. Numa festa grande como esta, provavelmente haverá um lechón para cada mesa. É uma tradição convidar o dayo - ou estrangeiro - para servir-se primeiro. É uma grande honra.- Legal. Adoro porco assado - disse Eddie, parecendo aliviado.Leanna olhou firme para Miguel, que por um instante sustentou o olhar. Leanna sentiu-se exultante. Ela sabia que não devia dizer a Eddie como tinha que servir-se primeiro. Esta era a brincadeira, o motivo pelo qual todos estavam rindo ao oferecer-lhe a primeira porção.Dois garçons se aproximaram da mesa deles. Um carregava uma mesa dobrável e o outro, uma grande bandeja com uma tampa de prata. Eles colocaram a bandeja na mesa dobrável e levantaram a tampa. Um porco assado inteiro com a pele dourada crocante sorria para eles com uma brilhante maçã vermelha enfiada na boca.- Vá em frente, Eddie - apressou-se em dizer Carrie. - Sirva- se primeiro.Eddie pegou um garfo e uma faca e se levantou.- Não, não - disse Leanna, olhando de esguelha para Miguel. - Você não pode usar talheres.Miguel ficou surpreso. Leanna sorriu satisfeita, acabara de provar a Miguel que sabia o que estava fazendo. Não era uma dayo nesta festa!Eddie levantou as sobrancelhas. - Como posso cortá-lo sem nada?- Adivinhe - disse Christina rindo.Eddie olhou o porco, sua pele dourada e macia. - O que tenho que fazer? - perguntou. - Vamos, Carrie, me ajude.Leanna resolveu ajudá-lo. - É fácil- disse. - Se você tirartoda a pele, o garçom corta a carne.- Obrigado. - Eddie tentou puxar a pele perto do ombro do porco, mas nada aconteceu.- A pele está muito grudada! - exclamou Eddie. Os primos de Miguel caíram na risada.- Puxe a orelha - disse Miguel, com um sorriso maroto. O corajoso Eddie puxou a orelha e conseguiu tirar a pele. Todos aplaudiram e Eddie sentou-se triunfantemente, enquanto os garçons entravam em ação.Leanna não conhecia Eddie muito bem, mas estava gostando dele. Cada vez que algo diferente acontecia, Carrie explicava cuidadosamente o que tinha que ser feito a Eddie. Leanna prestava muita atenção, evitando assim maiores embaraços.Depois do jantar, começou o baile. Quando a orquestra começou a tocar uma música lenta e romântica, Miguel ofereceu a mão a Leanna. Ela o seguiu até a pista de dança e colocou os braços ao redor de seu pescoço. Leanna fechou os olhos, movendo-se ao som da música suave e romântica.- Então, você é modelo - Miguel sussurrou em seu ouvido.Os olhos de Leanna se abriram. - Você tem algum problema com isto? - perguntou na defensiva, afastando-se dele.- Leanna, escute - a voz de Miguel era tão delicada e gentil que ela relaxou novamente em seus braços. - Não me importo se você quer ser modelo. Só quero que seja feliz. Fiquei chateado porque achei que você tinha mentido sobre sua escola. Então comecei a pensar sobre o que mais você teria mentido.- Nunca menti sobre Bayside - disse Leanna. - Falei que era uma escola particular e diferente e é. Nunca disse que não era uma escola de artes teatrais.

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- Eu sei - disse Miguel, puxando-a para mais perto. - É só que eu ... eu fiquei muito magoado com uma garota que mentiu para mim no passado ... É difícil para mim aprender a confiar de novo - disse Miguel respirando profundamente. - Você me desculpa?- Sim - sussurrou Leanna, um frio percorrendo de novo seu estômago. "Mas será que você vai me perdoar quando souber a verdade?", ela se perguntou.- Nunca mentirei para você - prometeu Miguel perto do cabelo dela.O coração de Leanna ficou apertado. Esta não era uma boa hora para contar-lhe a verdade sobre os Van Haver. Se Miguel tinha ficado maluco só de pensar que ela pudesse ter mentido, o que faria quando soubesse que de fato ela mentira?

Catorze- Oh, era a festa de dezoito anos de uma garota - Carlos se desculpou ao telefone na manhã seguinte. - Não sabia que você ia a um baile de debutante. Queria que você me tivesse dito. Eu poderia ter te explicado tudo.- Então todos os filipinos fazem isto? - perguntou Leanna, mudando o fone para o outro ouvido e esticando o braço até um armário mais alto para pegar sucrílhos. - Por que você não falou disso antes?- Não achei que você estivesse interessada - respondeu Carlos.- Você nunca ligou para nenhum costume filipino antes.- Bom ..., esse é diferente - disse Leanna, despejando um pouco de cereal numa tigela. - Que garota da minha idade não ficaria excitada com a oportunidade de se vestir como uma princesa e ter uma grande festa? Posso ser moderna, mas não sou burra.Ela ouviu a risada gostosa do pai. - Acho que não sei muito sobre garotas adolescentes - ele admitiu. - Estou mais acostumado com meninos pequenos. Mas agora que estamos morando mais perto, espero que isso mude. - A voz de Carlos tornou-se mais séria. - Sinta-se à vontade para vir nos visitar a qualquerhora, Leanna. São só duas horas de vôo. Você nem precisa passar a noite aqui se não quiser.Enquanto seu pai falava, Leanna pensava no convite. Conhecer os parentes de Miguel na noite anterior e ver como eram ligados fez com que Leanna percebesse a falta que sentia de Carlos e dos meninos. Visitar os Malig também seria uma boa oportunidade para praticar seu tagalo e para aprender coisas sobre as Filipinas que não eram encontradas nos livros.- Bom, estou ocupada nos próximos dois fins de semana - disse Leanna, olhando o calendário de parede perto do telefone. - Depois é Halloween.- Oh, os garotos adorariam passar Halloween com você. Não comemoramos nas Filipinas, será a primeira vez que eles brincarão de doces e travessuras. Eles poderiam ter alguém lhes ensinandocomo fazer.Leanna ficou tentada. Seria divertido ver seus pequenos meio irmãos fantasiados. - De que eles vão se fantasiar? - perguntou.- Não tenho certeza. Dora quer que eles se vistam de piratas ou de fantasmas, mas os meninos querem ser - como eles chamaram aquilo? Teenage Troll Troopers.[uan quer ser Jimmy, o Trooper Azul, e Tomás quer ser Kirby, o Trooper Roxo.- Teenage Troll Troopers é um desenho animado. Todas as crianças assistem - explicou Leanna.

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- Bom, vamos ter um Halloween americano e, no dia seguinte, vamos comemorar a Festa de Todos os Santos - explicou Carlos -, um dos mais importantes feriados nas Filipinas.Leanna procurou novembro no calendário. Primeiro de novembro, um dia depois de Halloween, uma segunda-feira! Se aceitasse o convite de Carlos, poderia participar de uma festa filipina e faltar um dia na escola!Ela perderia a festa de Halloween de sua amiga Sara, quando tinha planejado apresentar Miguel a todos os seus amigos."Mas sou filipina", lembrou-se Leanna. "E a família é mais importante que os amigos."- Adoraria ir - disse Leanna sentindo que de fato era verdade.No dia seguinte, Leanna usou seu terno na escola e colocou uma flor vermelha de seda no cabelo solto. Ela tinha levado seu livro de tagalo para estudar durante o almoço e esperava que o fato de estar vestida a caráter a ajudasse a aprender mais depressa.Quando Leanna colocou sua bandeja ao lado da de Kelli, as outras garotas na mesa de almoço olharam para ela e sorriram.Wendy, DeShaun e Sara eram amigas de Leanna e de Kelli desde o primeiro ano.- Então, como foi seu grande encontro com Miguel? – perguntou DeShaun, mordendo uma cenoura.- Foi fantástico! - disse Leanna desembrulhando um canudinho e colocando-o dentro da caixinha de leite. - O hotel parecia um palácio e a música era ótima.- Quem era o conjunto? - perguntou Sara. Desde que raspara a cabeça, Sara só se interessava por música punk e heavy metal dos anos 70.- Era uma orquestra, boba - respondeu Leanna. - E dançar com Miguel foi o melhor de tudo. Foi tão romântico!Wendy enrolou um pouco de espaguete num garfo plástico. - Você realmente gosta desse cara, não? Então ... quando vamos conhecer o Senhor Perfeito?Antes que Leanna pudesse responder, Kelli pôs sua lata de soda na mesa com um estrondo. - Conheci Miguel e ele está longe de ser perfeito. Você não disse que ele morava num barraco de grama nas Filipinas e caçava búfalos na água?- Ele caça búfalos? - perguntou DeShaun acusadoramente. Ela era vegetariana e muito preocupada com os direitos dos animais. - Talvez você deva pensar duas vezes sobre esse rapaz, Leanna.- Miguel não caça búfalos! - disse Leanna lançando um olhar furioso para a meia-irmã. Qual era o problema de Kelli?- A família de Miguel tinha um búfalo. Era um bicho de estimação.- Desculpe - disse Kelli com voz fingida. - Devo ter entendido mal.O sangue de Leanna ferveu. Ela tomou um rápido gole de leite para evitar brigar com Kelli. Leanna não queria discutir com ela na frente de todo mundo na lanchonete.Sara olhou impacientemente para Kelli e Leanna. - Bem, acho que teremos que decidir sozinhas se Miguel é um cara ótimo ou um idiota. Você vai Ievá-lo a minha festa de Halloween, não?Leanna quase engasgou com seu leite. - Na verdade, preciso falar com você sobre isto - disse. - Sara, eu ...- Leanna não comemora mais festas americanas como Halloween - interrompeu Kelli. - Ela foi convidada para uma festa filipina no mesmo fim de semana. Ela vai te dar o cano, Sara.

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Leanna estava chocada demais com as palavras de Kelli para perceber a reação de Sara. Se Sara tivesse ficado magoada ou brava, Leanna poderia se desculpar mais tarde. Nesse momento, ela tinha que descobrir o que estava havendo com Kelli.- Posso falar com você em particular? - perguntou Leanna com os dentes cerrados. Sem dar a Kelli chance de responder, pegou-a pelo braço e praticamente a arrastou para fora da lanchonete.- Por que você está me provocando? - perguntou Leanna, quando ela e Kelli estavam sozinhas num banheiro próximo. - Você está fazendo Miguel parecer um grande idiota. Você não sabe nada sobre ele ou sobre as Filipinas!- E você sabe? - Kelli jogou para trás seu longo cabelo loiro.- Eu achava que você fosse feliz sendo americana até que seu suposto pai se intrometeu. Aí você correu para San Diego e, quando voltou, tinha um namorado filipino e agora acha que também é filipino.- Filipina, não filipino. - Leanna encostou-se numa pia. - Homens são filipinos. Mulheres são filipinas. E eu sou uma filipina ... meio.- Vê o que estou dizendo? Você acha que é especialista nas Filipinas. - O rosto de Kelli estava vermelho de raiva. - Você não liga para mais ninguém, a não ser para os Malig e para Miguel. Está deixando de lado todos os que se importam com você. Scott, Sara, mamãe, papai, eu ...- Calma, relaxe - disse Leanna, entendendo de repente porque Kelli estava chateada. Ela esticou o braço até o outro lado da pia e pegou na mão de Kelli. - Não vou deixar vocês - disse Leanna delicadamente. - Só vou visitar os Malig. Você está exagerando.- Não sou a única - disse Kelli com voz trêmula. – Mamãe também está muito chateada porque você tirou todas as nossas fotos de família nas duas vezes em que Miguel veio em casa. Ela pensa que você tem vergonha de nós. Você não notou o interesse súbito de papai com as Filipinas? Ele acha que se acompanhar essa ... essa súbita obsessão sua, você não nos deixará!***Kelli de repente pegou um punhado de toalhas de papel do toalheiro. Enterrou seu rosto nelas e apoiou-se na parede chorando.- Vamos, Kelli. Você sabe que você, mamãe e papai serão sempre parte da minha vida. Mas sou filipina também e não posso mais ignorar os Malig.Leanna parou de falar quando a porta do banheiro se abriu. Wendy entrou, lançando um rápido olhar para Kelli, que ainda estava curvada contra a parede. Wendy voltou-se para Leanna.- O que está acontecendo? - cochichou Wendy. - Por que Kelli está chorando?- Não estou chorando - disse Kelli com um tom de voz gelado.- Meus olhos estão lacrimejando. Acho que minhas alergias estão se manifestando. - Kelli endireitou os ombros e jogou o bolo de papel na cesta de lixo. - Vou à enfermaria. Estou me sentindo mal.Leanna queria poder dizer ou fazer algo para que Kelli se sentisse melhor. - Conversaremos mais em casa - disse Leanna, enquanto se afastava para o lado para dar passagem a Kelli.Kelli parou na porta. - Apenas responda isto, Leanna. Miguel ama você ou a filipino - desculpe, filipina - que você está fingindo ser? A menos que você pretenda dar as costas à sua família americana, você vai ter que contar a ele a verdade sobre nós. Se ele realmente te ama, aceitará tudo sobre você. Ele não vai querer um relacionamento baseado numa mentira.

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Enquanto a porta se fechava atrás de Kelli, Wendy batia nas costas de Leanna. - Não se preocupe com a Kelli. Ela só está com ciúmes porque não tem namorado e você tem.Leanna concordou. - Pode ser - ela disse. Mas sabia que esse não era o problema. Leanna detestava ter que admitir, mas Kelli estava certa. Ao mentir para Miguel, Leanna estava rejeitando sua família americana e o valor filipino dela de honestidade. Tinha que achar um jeito de contar a verdade para Miguel.* * *Leanna não viu Miguel de novo até a noite de sábado. Ele estava ocupado trabalhando no cinema e, apesar de ter ligado para ela algumas vezes, não teve muito tempo para vê-la."Vou contar para ele pessoalmente", pensou Leanna.Naquela noite, Miguel a levou ao Café Manila, onde os pais dele trabalhavam. Leanna vestiu o terno amarelo de novo, soltou o cabelo e colocou a flor vermelha de seda atrás da orelha.- Você está linda - disse Miguel ao abrir a porta do carro para ela. - Não era este o vestido que você estava usando no dia em que nos conhecemos?Leanna sentou-se no banco da frente. - Não achei que você se lembraria.Miguel entrou no carro e colocou o cinto de segurança. - Sabe o que pensei na primeira vez em que te vi? Tenho que conhecer esta linda filipina.- Legal - ela disse baixinho. Ela tinha vestido o terno porque sabia que Miguel tinha gostado. Acreditava que se estivesse bonita ele não ficaria maluco quando ela lhe contasse a verdade sobre sua família.- Deve ser tão difícil morar com os Van Haver. Não dá para ser mais americano do que eles. Você deve sentir muita falta das coisas filipinas. - Miguel tirou uma das mãos do volante e gentilmente pegou a mão dela. - Aposto que você sente muito a falta de seus pais. Quando você vai para casa?- No fim de semana de Halloween - disse Leanna. - Isto é uma das coisas sobre as quais queria conversar com você. Os Malig são ...- Talvez eu possa ir com você! - Miguel gritou excitado.- Não! - interrompeu Leanna. - Quero dizer, é só família.- Entendo - disse Miguel, entrelaçando seus dedos aos dela. - Além disso, seu pai é tão rigoroso, provavelmente não aprovaria que você levasse um rapaz para casa.Leanna tremeu. Por que Miguel se lembrava de tudo o que ela tinha dito? Isso tornava mais difícil fazer o discurso que ela tinha ensaiado.- Miguel - começou -, nem todos que parecem filipinos seguem todas as tradições e costumes.- Eu sei. - Ele virou o volante, dobrando uma esquina. – Às vezes fico tão bravo com meus irmãos mais novos. Os cortes de cabelo, as roupas deles ... Não acho que tenham personalidade própria. Parece que só fazem o que seus amigos americanos acham legal.- Bom, é divertido fazer coisas com os amigos - disse Leanna, esquecendo de seu discurso. - Adoro desfilar, porque eu e Kelli desfilamos juntas.Miguel deu uma risada curta. - Não me surpreende que Kelli seja modelo.- O que isso significa? - perguntou Leanna, soltando sua mão da de Miguel.- Tudo o que eu quis dizer é que Kelli é alta e bonita, então é de esperar que ela goste de ser modelo. Mas você simplesmente não faz o tipo.- Que tipo é esse? - disse Leanna indignada. - Baixinha e feia?- Você sabe que não é baixinha e feia. - Miguelligou o rádio que começou a tocar música country. - Que tal um pouco de música?- Detesto esta estação!

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Miguel desligou o rádio. - Qual é o problema, Leanna? Por que você está procurando briga? - ele perguntou confuso. – O que fiz para te chatear?- Se ligasse para mim, aceitaria tudo sobre mim ... até ser modelo e meus amigos.- E eu aceito. - Os olhos de Miguel estavam na rua. Sua mandíbula pareceu contrair-se. - Só não entendo.- Escuta, tem um desfile de moda no shopping sábado que vem. - Leanna respirou fundo. - Eu e Kelli vamos participar, junto com alguns de nossos amigos de Bayside. Eu gostaria que você viesse e assistisse.- Talvez tenha que trabalhar. - Miguel entrou num estacionamento cheio. - Chegamos. Café Manila. Me ajude a procurar uma vaga boa.Sentindo-se desapontada, Leanna percebeu que Miguel não tinha dito se ia ou não ao desfile. "Bom, estamos quites. Também não contei a ele sobre a minha família.""O desfile de modas será o teste", decidiu Leanna. "Se Miguel aparecer, prometo contar-lhe sobre os Van Haver depois do desfile. E não vou fraquejar, não importa o que acontecer!"Enquanto atravessavam as portas duplas para entrar no restaurante onde os pais dele trabalhavam, Leanna sentiu-se melhor, mais relaxada. Ela ia contar a verdade a Miguel, só não seria hoje.- Este lugar está lotado - ela disse.Miguel foi até o começo da fila. - Nós não teremos que esperar por uma mesa. Meus pais estão nos aguardando. Miguel deu o seu nome para a hostess filipina. Ela os levou para uma mesinha no centro do salão, perto de um buffet em forma de U.- Mabúhay! Bem-vindos ao Café Manila - disse uma garçonete ruiva. - Temos uma Fiesta Buffet especial hoje, ou vocês preferem ver o cardápio?- Vou querer o buffet - decidiu Leanna.- Eu também - concordou Miguel. - É a melhor maneira de experimentar um monte de pratos diferentes, e podemos repetir.- Ótimo! - Leanna foi para a ponta do buffet e pegou um prato vazio. - Gutom na ako.- Também estou com fome. Ei, você andou treinando tagalo! - disse Miguel orgulhoso, enquanto se servia de uma colherada de arroz fumegante.Enquanto dirigia em direção à casa dos Van Haver depois do jantar, Miguel ficou quieto. Estacionou o carro e virou-se para Leanna. Sob a luz fraca da garagem dos Van Haver, seu rosto eram linhas e sombras escuras.- Leanna - ele começou -, preciso te dizer uma coisa.Leanna gelou, tremendo por dentro. Miguel parecia tão sério. E se quisesse romper com ela? E se ele já tivesse pensado sobre o desfile de modas e tivesse decidido que não estava interessado? - Não vou mentir para você, Leanna.Ela abaixou o olhar. Poderia alguma vez dizer o mesmo a ele? - O fato de você ser modelo não me incomoda. Mas Kelli Van Haver me incomoda. - Miguel balançou a cabeça. – Não gosto de garotas artificiais e superficiais como ela. E não entendo como você gosta dela. Mas estou disposto a tentar. - Ele tirou uma mecha de cabelo da testa dela e acrescentou. - Talvez possamos todos sair juntos depois do desfile, para nos conhecermos melhor.O coração de Leanna deu um salto. Ela se inclinou para beijá-lo, mas o cinto de segurança a deteve. Miguel deu uma risadinha e se moveu para soltá-lo. Então, estavam nos braços um do outro.- Mahal kita - Miguel sussurrou, pouco antes que seus lábios encontrassem os dela.

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"Tenho que lembrar de perguntar ao Carlos o que isto significa", pensou Leanna. Fechando os olhos, ela desejou que o beijo de boa noite deles pudesse durar para sempre.

QuinzeNa tarde do sábado seguinte, Miguel se dirigia desconfortavelmente para o espaço central do shopping center.O Arden Fair MaU era um monstro de aço e de vidro. Dentro dele, não era possível saber em que ano se estava, em que país ou até em qual estação do ano. Grandes flocos de neve prateados pendiam do teto e uma faixa sobre o palco central anunciava Desfile da Coleção de Inverno, apesar de ainda ser uma semana antes de Halloween e a temperatura externa ser de quase 27 graus.As cadeiras dobráveis perto do palco estavam sendo rapidamente ocupadas por garotas adolescentes. Algumas estavam com as mães e avós. Os únicos homens na audiência eram um punhado de pais, avós e irmãos caçulas. Miguel se sentiu como uma verruga gigante no rosto de alguém.Essa não era a sua idéia de diversão. Mas a sua presença no desfile parecia ser muito importante para Leanna. Por isso ele queria apoiá-la e saudá-la."E ser legal com Kelli Van Haver depois. Não se esqueça dessa parte." Miguel fez uma careta. Planejava dar uma chance a Kelli, mas será que ela lhe daria uma também? Na única vez em que ele passara mais do que cinco minutos com Kelli, ela deu a impressão de gostar dele. Miguel temia que Kelli fizesse Leanna voltar-se contra ele e contra tudo que fosse filipino, como os amigos de sua irmã haviam feito com ela.Miguel achou uma cadeira no fundo, perto do fim da passarela coberta por um tapete vermelho, que saía do palco central. Ele se acomodou desconfortavelmente na ponta da cadeira. À sua esquerda, duas garotas muito jovens falavam alto de seus batons favoritos. Miguel levantou os olhos. Daria qualquer coisa para ver um rosto conhecido agora. De preferência, um rapaz com quem pudesse falar de qualquer coisa, menos de maquiagem e roupas.Como que em resposta ao seu passado, um rapaz alto e magro, mais ou menos da idade de Miguel, saiu de trás da cortina dourada brilhante. Estava todo de preto, exceto pelo colete listrado cinza e a gravata vermelho vivo. Carregou uma câmera de vídeo e um tripé para o fim da passarela e começou a montá-los.Os cabelos loiros e os óculos de aro metálico do cameraman lhe pareceram familiares, mas Miguel não conseguia se lembrar de onde.Depois de montar a câmera, o rapaz loiro olhou para o público. - Ei, cara - disse dirigindo-se a Miguel -, você pode dar uma olhada no meu equipamento por um minuto? - Claro - Miguel concordou alegremente. "Uau, algo para fazer."O loiro alto atravessou rapidamente a passarela e desapareceu atrás da cortina. Um momento depois, ele reapareceu, carregando uma grande caixa de papelão branca e um spot.- Obrigado, cara - disse a Miguel enquanto punha a caixa no chão e começava a arrumar a lâmpada. - Vou filmar o desfile, assim as garotas podem assistir depois e ver o que fizeram bem e o que precisam melhorar.Miguel se levantou e apoiou o cotovelo na passarela, que ficava na altura de seu queixo. - Você é fotógrafo profissional?- perguntou. - Você parece meio jovem para ter um emprego em tempo integral.- Isso é só enquanto estou no colégio. - O cameraman acabou de ajustar sua lâmpada e sentou-se no tapete vermelho. - Não tenho certeza se quero ser

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diretor ou cameraman, mas vou trabalhar atrás das câmeras. Você também se interessa por cinema? - Adoro assistir a filmes - respondeu Miguel - mas nunca pensei em fazê-los. Trabalho no Cinedome, então consigo ver todos os filmes novos assim que são lançados.O rapaz estalou os dedos. - Eu bem que te achei familiar! Você não estava lá ontem à noite? Te vi esfregando o chão.- Sim, era eu - admitiu Miguel. - Mas não pretendo passar a vida inteira esfregando o chão e vendendo pipocas. Na verdade, quero estudar antropologia.- Tipo desenterrar ossos antigos e coisas assim?- Talvez, mas também me interesso por povos modernos que ainda vivem há milhares de anos. Nas Filipinas, onde nasci, há muitas tribos que ainda vivem desse jeito. Os Mangyans, os Ati, os Tasaday ...- Ouvi falar nos Tasaday. Daria tudo para estar na equipe que pela primeira vez filmasse uma tribo desconhecida. – Seus olhos azuis brilharam por trás das lentes dos óculos. - Talvez possamos trabalhar juntos algum dia.- Talvez. - Miguel sorriu e dirigiu-se de volta para sua cadeira.- Não, estou falando sério. - O garoto loiro reclinou-se e esticou a mão. - Meu nome é Scott. Scott Carteret.- Miguel Sarmiento. - Miguel apertou a mão de seu novo amigo.- Por que você não me dá seu telefone? Podemos sair juntos e vou lhe mostrar alguns dos meus filmes ... se você estiver interessado. São na maioria documentários - disse Scott, soando acanhado. - Viagens, história, entrevistas ... você provavelmente ache estranho.- Não. Parece legal - respondeu Miguel.Scott escreveu o número de telefone de Miguel numa cadernetinha dentro de sua carteira. - Talvez possamos fazer um documentário sobre a experiência dos filípinos nos Estados Unidos - disse ele entusiasmado. - Tem uma garota no desfile de hoje que seria perfeita para isso. Ela é realmente fotogênica, veja você mesmo. - Scott abriu sua carteira e a entregou a Miguel.Miguel olhou a fotografia de escola - e sentiu como se todo o ar lhe fosse tirado por um golpe forte e rápido. Ele segurou na ponta da passarela para apoiar-se. O que a foto de Leanna fazia na carteira de outro cara?- Esta é... Leanna! - ele falou com a voz entre cortada, apontando para a carteira de Scott.- Você a conhece? - perguntou Scott, parecendo totalmente alheio à angústia de Miguel.- Eu... eu achava que sim - disse Miguel baixinho. Tem que haver algum mal-entendido! Esta é a mesma Leanna que mora com os Van Haver?- Mora com os Van Haver? - repetiu Scott. - Ela é uma Van Haver! Leanna só é meio filipina. A senhora e o senhor Van Haver são sua mãe e seu padrasto. O verdadeiro pai de Leanna mora em San Diego. - Scott colocou a carteira de volta no bolso e riu - Você não deve conhecer Leanna muito bem.- Não ... mal a conheço - disse Miguellentamente. Scott, por outro lado, parecia conhecer Leanna muito bem. Scott tinha todas as informações sobre a família dela."E ele tinha a fotografia dela na carteira!"- Onde você conheceu Leanna? - o sorriso de Scott ainda era simpático e sua voz, informal. Não parecia estar com ciúmes ou desconfiado.- Não importa - Miguel murmurou. Um redemoinho de emoções varriam-lhe a mente. Queria odiar Scott, mas ele parecia ser um cara muito legal. Talvez

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Scott não soubesse que Leanna estava saindo com outro. Tentou odiar Leanna, mas sua raiva foi superada por uma explosão de profunda dor. A única pessoa que Miguel realmente odiava era ele mesmo. Como pôde ter sido tão burro a ponto de confiar em Leanna, quando ela mentira para ele desde o minuto em que se conheceram?- Algo errado? - perguntou Scott, franzindo a testa. Mas, nesse momento, foi interrompido por uma explosão de música. - O desfile vai começar! Te vejo depois - disse Scott, levantando-se rápido. Ele ligou a câmera, enquanto uma mulher alta, de cabelos negros, com um vestido de noite, saiu detrás das cortinase deu as boas-vindas à platéia do Desfile de Moda de Inverno. Balançando a cabeça em desagrado, Miguel se afastou do palco e se dirigiu à saída mais próxima. Não tinha mais nenhum motivo para ficar ali.- Como estou? - perguntou Leanna nervosamente.Kelli olhou Leanna, que usava calças justas vermelho vivo, saia preta e branca e um volumoso suéter vermelho com cachorrinhos enfeitando o decote. - Como se estivesse pronta para seu primeiro dia no jardim de infância.Leanna tirou um fiapo de seu suéter. - Pelo menos posso me sentar se quiser.- Me conte como é isso - gemeu Kelli. Ela vestia um suéter de pura lã angorá branca e haviam lhe dito para não se sentar ou se encostar em nada, enquanto aguardava a sua hora de entrar.- Você acha que Miguel está lá fora? - perguntou Leanna. As garotas estavam no camarim há uma hora e não tinham tido a oportunidade de olhar a platéia.- Ele disse que viria, não? - perguntou Kelli, soando irritada. - Pelo que você me contou, Miguel mantém suas promessas. Não é como alguns dos idiotas com quem já saí.- Garotas! Hora de entrar em fila! - Uma mulher com uma prancheta andava rapidamente pelo camarim, conduzindo as doze garotas para a porta.Kelli virou-se para segui-las, mas Leanna pegou-lhe o braço, arriscando sujar o suéter de angorá branco.- Aos seus lugares! Aos seus lugares! - gritava a diretora de cena, sacudindo sua prancheta freneticamente. Kelli e Leanna correram para os bastidores com as outras. Kelli entrou em seu lugar perto do fim da fila e Leanna, que era a mais baixa, foi para a frente. - ... Orgulhosamente apresentamos nossa coleção de roupas informais, perfeitas para a sala de aula e para esquiar.Essa era a deixa para Leanna. De cabeça erguida, ela saiu dos bastidores com passos firmes e vigorosos.- Leanna está vestindo um conjunto clássico de saia e suéter da Cool Clothes - anunciou a mestre-de-cerimônias.Leanna parou um momento em frente à cortina dourada brilhante. Então, enquanto a mulher com o micrófone continuou a falar sobre a roupa, Leanna desfilou pela passarela, dando voltinhas para mostrar sua curta saia rodada.Enquanto virava e sorria, seus olhos procuravam na platéia. Ela não tinha visto Miguel, mas seus olhos não conseguiram ver direito nenhuma das fileiras. Ela tinha que continuar andando e girando. Em segundos, sua apresentação tinha acabado e ela correu de volta ao camarim para colocar a próxima roupa - um quente conjunto de esqui rosa. .

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Leanna estava fechando o zíper da jaqueta quando Kelli entrou correndo no camarim, alguns minutos depois. - Não vi Miguel na platéia - disse Leanna ansiosamente. - você o viu?Kelli tirou o suéter branco pela cabeça. - Nao, mas voce estava tão concentrada na sua apresentação lá fora que provavelmente também não viu Scott.- Scott está aqui? - perguntou Leanna, enfiando o cabelo num gorro de tricô cor-de-rosa. Ela não pensara em ninguém a não ser em Miguel.Kelli riu. - Viu o que estou dizendo? Ele estava bem na passarela , filmando, e você nem o viu.Na próxima vez em que Leanna entrou no palco, viu a sombra da figura de Scott atrás da câmera. Mas estava mui.to ocupada se concentrando em sua apresentação para prestar muíta atenção. Enquanto estava na passarela, tornou-se uma feliz e ativa garotinha numa viagem de esqui. Era sua função convencer todos na platéia de que, se comprassem aquela roupa, também ficariam lindos e felizes.Só quando o desfile terminou e Leanna estava tirando o suéter tricotado à mão e as leggings verde-escuras com que desfilara por último é que teve tempo de se preocupar com Miguel novamente. - Ainda não o vi, Kelli. E se não estiver aqui?- Tenho certeza de que ele está lá fora. - Kelli pegou um punhado de lenços de papel e limpou a forte maquiagem do rosto. - E, se não conseguiu vir, tenho certeza de que foi por um bom motivo. Aquele carro horrível dele deve ter quebrado.- Espero que não. - Leanna colocou seu próprio moletom pela cabeça. - Ou ele pode ter tido um acidente - continuou Kelli, jogando os lenços de papel no cesto de lixo.Leanna estremeceu. - Você pensa no pior! Talvez ele só tenha decidido me dar o fora.- Não é provável. - Kelli escovou o cabelo de Leanna e então começou a fazer-lhe uma trança. - Os garotos me dão o fora. Não dão o fora em você. Você sempre tem namorados doces e leais.Leanna virou a cabeça para olhar surpresa para Kelli. – Como você sabe? Miguel é apenas o segundo cara com quem eu saio.- Vire-se! Está desmanchando seu penteado - ordenou Kelli. Leanna obedeceu e os dedos de Kelli se moveram rapidamente, arrumando o cabelo negro sedoso de Leanna numa trança bemfeita. - Você não saiu com nenhum outro cara que apareceu - explicou Kelli. - Eu tinha tanto medo de ficar sozinha que disse sim a todos os que me convidaram para sair. Mas você esperou pelos bons. Caras como Scott, que eu nunca poderia ter nem em um milhão de anos.- Você gosta do Seott? - perguntou Leanna. - Então por que não sai com ele?- Ele nunca me convidou. - Kelli parecia irritada, como se qualquer idiota devesse saber a resposta. - Eu não ficaria surpresa se Scott estivesse arrependido por ter terminado com você. Ele provavelmente está esperando uma chance para te beijar e fazer as pazes.- Eu não acho. Eu e Scott éramos mais amigos que gostavam de sair juntos. Não havia conflitos entre nós - admitiu Leanna. Ela pegou sua bolsa do encosto de uma cadeira dobrável. - De qualquer forma... Miguel deve estar morrendo de fome. Bom, pelo menos eu estou. Vamos!Leanna saiu apressada para o shopping center, achando que Miguel a estivesse esperando. Mas todas as cadeiras em volta do palco estavam vazias. Isto é... todas, exceto uma.

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Scott levantou-se de um salto e dirigiu-se para Leanna, com um grande sorriso no rosto ... e um buquê de cravos cor-de-rosa nas mãos.

Dezesseis- Vai em frente, magoe Scott de novo, se tiver coragem. Vou esperar você no carro. - Kelli deu um empurrão em Leanna e saiu correndo.Leanna endireitou os ombros e andou devagar em direção a Scott. Planejava deixar perfeitamente claro que era sua amiga e nada além disso.- Aonde Kelli está indo? - perguntou Scott, vendo ela se dirigir para a saída.- Ela vai me esperar lá fora. - Leanna sentou-se numa cadeira vazia. - Tenho que conversar com você a sós.Scott afundou numa cadeira próxima, colocando o buquê numa cadeira vazia entre eles. - O.k., o que há?Leanna suspirou profundamente. - Scott, já passamos por isso antes. Só não acho que damos certo como namorados. Não posso aceitar estas flores - disse Leanna passando a mão no buquê cor-de-rosa.- Isso é bom, porque elas não são para você. - O rosto de Scott ficou rosa da cor das flores. - Kelli não é alérgica a cravos, é?- Não que eu saiba - respondeu Leanna distraída. Quando entendeu o significado das palavras de Scott seus olhos se arregalaram. - Você gosta de Kelli?O rosto de Scott ficou vermelho até as pontas de suas orelhas. - Bom ... sim - ele disse. - Gosto de Kelli há muito tempo. Mas ela sempre sai com uns caras populares, como Glenn Garrick, então achei que nunca se interessaria por mim.- Então durante todo o tempo em que saímos, você só estava me usando? - Leanna bateu de brincadeira no braço de Scott. - Não posso acreditar!Scott brincava com os botões de seu velho colete. - Eu não diria isso - murmurou. - Até sair com você, eu achava que era um fracassado com as garotas. Eu nem pensava em convidar Kelli para sair. Seria como ... como convidar uma estrela de cinema ou algo assim. Aí você apareceu. Uma garota bonita e popular, queera legal comigo. Serei sempre grato a você por me dar autoconfiança.Porém, Scott não parecia confiante. Parecia até muito infeliz, pensou Leanna.- Kelli e eu ... oh, é provavelmente impossível- ele murmurou, levantando os óculos. - Mas tenho que tentar.Leanna pôs a mão no ombro dele. - Não é tão impossível quanto você pensa.- O que você quer dizer? - perguntou Scott levantando a cabeça rápido, com os olhos brilhando intensamente, cheios de esperança. - Kelli gosta de mim?Leanna riu. - Acho que você mesmo deveria perguntar a ela. O rosto magro de Scott se iluminou de alegria. - Obrigado, Leanna! Obrigado por tudo!De repente, ele se jogou e deu um abraço de irmão desajeitado em Leanna, que não conseguiu conter o riso amassando as flores. Ela deu umas batidinhas no ombro de Scott ...e então a risada murchou de repente, Miguel estava sentado várias fileiras atrás deles, com os braços cruzados sobre o peito. Ele os observava com ódio no olhar.- Scott! - disse Leanna com a voz entre cortada, lutando para sair de seus braços. - Miguel...- Oh, um cara chamado Miguel esteve aqui cedo. Ele acha que você é um tipo de estudante de intercâmbio ou algo parecido, mas eu lhe expliquei

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tudo. - Scott viu Miguel se dirigindo para a saída. - Ei, lá está ele! - Scott chamou e acenou. - Ei, amigo, aqui!Miguel virou-se para encará-los com um olhar de puro desprezo. Leanna se sentiu como se um dardo envenenado tivesse atravessado o peito. Sem uma palavra, Miguel virou-se de novo e caminhou para a saída do shopping.- Qual é o problema? - perguntou Scott.- Miguel, espere! - gritou Leanna, levantando-se de um pulo e correndo atrás dele. - Não vá embora! Posso explicar!Ela alcançou Miguel quando ele estava quase na porta.Com os braços cruzados, Miguel encostou-se na parede. - Isto vai ser engraçado - ele disse. Seus lábios estavam crispados de raiva. - Que parte você quer explicar primeiro, Leanna? O fato de você ser uma Van Haver ou o de estar saindo com Scott?- Não estou saindo com Scott. - Leanna se colocou na frente de Miguel. - Nós terminamos há semanas. Somos apenas amigos.- Certo. - zombou Miguel. - Você abraça todos os seus amigos daquele jeito?- Vá perguntar ao Scott. Ele lhe dirá a mesma coisa.Os lábios de Miguel se moldaram num sorriso amargo. – Isso não é suficiente. Você já fez com que amigos - e parentes mentissem por você antes.- Você tem razão - admitiu Leanna. Estava na hora de ser honesta. - Te contei muitas mentiras, Miguel, mas estou te pedindo para me perdoar. Eu te amo, e esta é a verdade.Por um momento, as duras linhas no rosto dele pareceram se suavizar. Mas então ele falou bruscamente: - Amor! O que você sabe sobre amor?Os olhos de Leanna se encheram de lágrimas. Ela as conteve e continuou sem pensar muito. - Sei que você me ama. Descobri o que significa mahal kita. E você não diria eu te amo se não fosse verdade. Por favor, me dê outra chance.- Você deve estar brincando. Como pode me pedir para confiar em você? - gritou Miguel, com os olhos faiscando de raiva. - Você mentiu para mim. Virou as costas para a sua própria família para conseguir o que queria. Você é tão centrada em você mesma que nem percebe o que fez.Ele começou a afastar-se, mas Leanna agarrou-lhe o braço. - Posso explicar - ela começou.- Não toque em mim - exclamou Miguel. Sua voz estava tão fria que Leanna rapidamente deu um passo atrás. Olhando através de Leanna, como se ela não estivesse, Miguel empurrou a porta de saída do shopping e saiu com violência.Leanna respirou profundamente, tremendo, tentando não chorar. Era estranho, mas de repente só havia um buraco enorme e vazio no seu peito, como se metade de seu coração tivesse sido arrancado. O resto de seu corpo parecia frio e adormecido.- Ei, Leanna, você está bem? - Scott se aproximou, com uma expressão preocupada no rosto. - O que aconteceu?- Só um mal-entendido - disse Leanna, erguendo o queixo em desafio. - Eu e Miguel íamos sair para comer uma pizza, mas parece que ele mudou de idéia. Isso é uma boa notícia para você, Scott. Kelli ia conosco, mas agora está completamente livre. Espere aqui... vou chamá-la!Leanna correu para fora, meio que esperando ver Miguel e sua caminhonete toda batida. Mas o estacionamento era enorme e tantas pessoas iam e vinham na calçada que Miguel já tinha sumidoentre a multidão.

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"Miguel voltará", pensou Leanna. Ele telefonaria depois que tivesse um tempo para se acalmar. Ou não?Leanna passou o resto da tarde em casa, estudando seu dicionário de inglês-tagalo. Ouvir as fitas era mais fácil, mas Leanna não queria usar fones de ouvido, com medo de não escutar o telefone tocar, caso Miguel ligasse.Mas o telefone não tocou. Finalmente, Leanna fechou o livro. "Vou ligar para ele", decidiu. O pior que ele podia fazer era desligar.Leanna pegou o fone. O telefone tocou três, quatro, cinco vezes. "Ele não está em casa", pensou, meio decepcionada e meio aliviada. Mas, quando ia desligar, escutou uma voz de homem na linha.- Alô? Quem é?"Ele não parece bravo", pensou Leanna, sentindo uma onda de esperança. Antes de perder a coragem, Leanna respirou profundamente e começou a falar rápido - Miguel, oi. É Leanna. Eu realmente sinto muito. Não queria ...- Espere um pouco - interrompeu a voz. - Sou Ramon. Meu irmão está no trabalho. Quer deixar recado?- Não, obrigada. - Leanna desligou com um nó na garganta. Ramon tinha a voz tão parecida com a de Miguel!Não podia esperar até que Miguel saísse do trabalho. Tinha que fazer alguma coisa já. Foi até a salinha de estudos, onde o padrasto estava jogando no computador.- Oi, pai. Posso pegar seu carro emprestado? Quero ir ao shopping comprar um batom novo. - Leanna pediu com doçura.- Claro, querida. Dirija com cuidado - disse o pai distraído. Os olhos dele estavam fixos na tela, onde um homem musculoso animado atravessava um rio a nado, enquanto lagartos voadores desciam para atacá-lo.Leanna estava quase saindo quando seu pai a chamou: - Espere! E o jantar? Kelli e sua mãe devem estar em casa em uma hora. Achei que seria divertido tentar uma receita daquele livro de cozinha filipina que eu trouxe para casa ontem.- Não vou demorar - prometeu Leanna. Ela encontraria Miguel no trabalho e ele teria que escutá-la. Não poderia desligar, nem ir embora.Miguel estava no trabalho há menos de uma hora e já estava pensando que teria sido melhor ligar e dizer que estava doente. Não podia tirar Leanna da cabeça. Era difícil acreditar em como as coisas tinham mudado tão rápido. Num minuto, ele achava que Leanna era a melhor coisa que já tinha lhe acontecido. No minuto seguinte, havia visto a foto dela na carteira de outro cara e descoberto que ela tinha mentido para ele desde o momento em que se conheceram.Sair com dois caras ao mesmo tempo já era bastante ruim, mas fingir ser alguém que ela não era era imperdoável. Ao mentir sobre sua herança filipina, Leanna estava passando por cima de tudo que era importante para Miguel. Ele não queria vê-la de novo.- Ei! - gritou um garoto adolescente do balcão. - Eu pedi uma cherry cola. Isto é uma diet normal.- Desculpe - disse Míguel, substituindo rapidamente a bebida. O garoto a pegou e entrou no Cinema Três. Miguel esvaziou a garrafa diet na pia. Quando se virou, escutou seus dois colegas sufocando o riso.- Parece que você não consegue se concentrar no trabalho hoje - disse Tom, esticando o braço para pegar um punhado de pipoca da máquina e colocar tudo na boca.- É melhor ter cuidado - avisou Danette. - Trocar os pedidos pode ser motivo para ser mandado embora.

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- Você ia gostar disso, não? - Miguel respondeu furioso à garota ruiva. - Você está sempre no meu pé! Me deixa em paz uma vez.Danette se encolheu na direção de Tom, com olhos arregalados, fingindo que estava com medo. - Tom, me salve! Ele perdeu a cabeça!Miguel virou-se, balançando a cabeça em desaprovação. Conhecendo Danette, ele sabia que ela provavelmente ia contar ao gerente alguma história exagerada sobre como ele a tinha" atacado".Era bem o que ele precisava. O final perfeito para um dia infeliz.E ainda não havia acabado. Um grupo de fregueses chegou à lanchonete e por alguns minutos Miguel ficou tão distraído atendendo os pedidos que, além de esquecer Leanna e suas mentiras, acabou queimando seu dedão numa tigela de nachos quentes. Quando correu até a pia e pôs o dedo debaixo da torneira de água fria, Miguel não acreditou no quanto doía. A pele já estava se levantando numa bolha.- Miguel! Freguês no caixa!Ele teve vontade de mandar Danette atender. Mas quando se virou viu que, dessa vez, Tom e Danette estavam tão ocupados quanto ele. Tom estava servindo bebidas e Danette enchia vários sacos de pipocas.Suspirando, Miguel enxugou seu dedão latejante e se aproximou do caixa. - Posso ajudar ... O que você está fazendo aqui?Leanna Malig - não, Leanna Van Haver - estava parada perto do caixa no balcão. Ela enrolava a ponta de sua trança, mordia o lábio e não o olhava nos olhos. - O que você quer? - perguntou Miguel bruscamente.- Quero ... quero falar com você - Leanna gaguejou. Ela se encolheu um pouco.- Não temos nada para conversar - disse Miguel friamente. - O que você quer? Quer pipoca?- Não. Já tive que comprar um ingresso só para poder entrar e te ver - disse Leanna. - Não posso parar de pensar em você. Você não pode me dar outra chance?De repente, Danette estava ao lado dele. - Miguel - ela disse severamente -, já te disse para deixar sua vida pessoal em casa. O trabalho não é lugar para conversar com a sua namorada.- Ela não é minha namorada! - falou Miguel rispidamente.- Miguel, realmente temos que conversar – continuou Leanna.Será que ela não estava percebendo que estava criando dificuldades? Provavelmente não, pensou Miguel. Como de hábito, Leanna só estava pensando nela mesma.- Já te disse antes, não tenho nada para te dizer - disse Miguel asperamente.-Mas ...- Não! - explodiu Miguel. - Você entende a palavra não? Ou é só outra palavra - como amor e confiança - que você não entende?Leanna ficou vermelha. - Ótimo! - gritou. - Se é assim que você se sente, vou embora. Você não é o único cara no mundo.Enquanto Leanna saía sem olhar para trás, Miguel percebeu que tinha ido longe demais. Sabia que não veria Leanna de novo."Ótimo", pensou Miguel. "Era exatamente assim que eu queria."

Dezessete- Não - disse Miguel ao telefone. - De jeito nenhum. Não mesmo.Era sábado de manhã, duas semanas depois que ele descobrira as mentiras de Leanna. Miguel esperava nunca mais ver Leanna ou alguém ligado a ela de novo. Mal podia acreditar que Scott havia telefonado. Mais inacreditável

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ainda era que aquele mesmo Scott tinha tido a coragem de lhe pedir um favor.- Olha, eu não pediria se houvesse qualquer outro jeito - disse Scott. - Mas meu carro não quer pegar. Meus pais estão viajando e todo o mundo que conheço ou não está em casa ou já está no desfile. Estão contando comigo, cara. Se eu não aparecer, não vai ter ninguém para filmar o desfile. - Você não pode pegar um táxi? - perguntou Miguel. Ele sabia que estava sendo antipático, mas o que Scott esperava? Ocara tinha muita cara-de-pau de pedir-lhe uma carona!- Meu equipamento não cabe num táxi e você poderia me ajudar a carregá-lo. Além disso, estou duro - disse Scott. - Se você me der uma mão, divido o dinheiro que vou ganhar com esse trabalho. Sei que nunca saímos juntos, mas você me pareceu legal. Vamos, cara, me faz esse favor e vou ficar te devendo um grande.- Não sei - disse Miguel que poderia usar esse dinheiro extra para comprar novos estofamentos para seu carro. Mas desfiles de moda não estavam na lista das suas atividades mais importantes, além do que definitivamente ele não queria topar com Leanna.Lendo seus pensamentos, Scott disse: - Se é por causa de Leanna, você não deve se preocupar. Eu e Leanna terminamos há muito tempo. Na verdade, estou saindo com Kelli.Miguel levantou as sobrancelhas. Não entendia o gosto de Scott para garotas. As garotas Van Haver eram uma fria.- Obrigado por me contar - disse Miguel, sentindo-se um pouco melhor, sabendo que Leanna e Scott não estavam se encontrando, mas isso não eliminava as outras mentiras dela. - Não estou mais interessado em Leanna. Mas vê-la no desfile pode ser meio ... estranho, sabe o que quero dizer?- Não se preocupe com isso. É um desfile de modas masculino. São todos homens - explicou Scott. - Leanna não vai participar e nem estará lá. Kelli tem uma sessão de fotos importante hoje em São Francisco e Leanna foi com ela para ajudá-la com a maquiagem.Por um momento, Miguel se perguntou se esse era algum tipo de armação. Talvez Leanna tivesse pedido a Scott para telefonar e convencer Miguel a ir a esse suposto desfile de moda masculino, onde Leanna estaria esperando. Esse tipo de plano desonesto era bem do estilo de Leanna."Não pense nisso", pensou Miguel. Rapazes não prestam esse tipo de favores à suas ex-namoradas. Ele estava realmente enganado de pensar que Leanna pudesse estar por trás disso. Scott parecia desesperado por uma carona e Leanna com certeza não se importava com ele a ponto de fazer manobras tão complicadas.- O.k., vou com você. - Miguel suspirou. Enquanto explicava como chegar a sua casa, Miguel pensava se não estaria cometendo um grande erro.- Eu, Leanna. - A voz de Glenn Garrick ao telefone era superconfiante, como sempre. - Se você não estiver ocupada hoje, o que acha de ir comigo ao desfile no Memorial Auditorium? E em troca, se você me ajudar a arrumar o meu cabelo, depois te levo ao melhor restaurante da cidade.Leanna não acreditava no que estava ouvindo. Glenn achava que todas as garotas do mundo morriam de vontade de sair com ele. E não importava quantas vezes dissesse "Não", que Glenn não se mancava.- Oh, Glenn, isso parece maravilhoso - respondeu Leanna ironicamente. - Mas por que a honra de pentear o seu cabelo? Sua mãe está viajando?- Na verdade, ela está em Los Angeles, mostrando meu portfólio para um agente - disse Glenn elevando a voz, com excitação, como sempre acontecia quando falava sobre si mesmo. - Mamãe acha que estou

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desperdiçando meu potencial em Bayside. Acha que devo tentar Hollywood. No ano que vem, você vai me ver na telona!Enquanto Glenn continuava falando de sua chance de estrelato, Leanna cobriu o bocal do telefone. - Glenn Garrick – disse a Kelli, a DeShaun e a Sara, que estavam embrulhando uns lanches para a viagem até São Francisco. - Ele está me convidando ou para sair ou para ser sua cabeleireira, não tenho muita certeza ...- Vá! - disse Sara. - Glenn é tão bonito, tão sexy...- Tão tonto, tão convencido - continuou DeShaun. – Achei que você ia com a gente para São Francisco.- Então, posso ir te buscar em uma hora? – perguntou Glenn.- Espere só um segundo - lhe disse Leanna.- Bom, tá. - Glenn parecia irritado, como se não pudesse entender como alguém tinha que pensar duas vezes para aceitar um convite dele.Leanna pôs a mão sobre o bocal de novo. A imagem dela gritando para Miguel"Você não é o único cara no mundo!" passou-lhe pela cabeça. Ela tinha ficado tão brava que prometera sair com o primeiro cara que a convidasse. Mas será que estava tão desesperada a ponto de sair com Glenn?- O que você acha? - ela perguntou a Kelli.- Glenn é divertido, desde que você não se apaixone por ele - disse Kelli pondo outra maçã dentro de sua mochila. – Talvez se você sair com Glenn pare de chorar por causa de Miguel.- Isso é verdade - bufou DeShaun. Ela bateu a porta da geladeira. - Acredite em mim, Glenn não vai te deixar pensar em ninguém a não ser em Glenn, Glenn, Glenn. Até você voltar para casa, não lembrará nem de seu próprio nome, quanto mais do de Miguel.Leanna riu com amargor. - É exatamente disso que preciso. - Ela descobriu o bocal e disse: - O.k., Glenn. Me pegue em uma hora.***- Miguel, você poderia pôr aquela lâmpada na tomada?- pediu Scott. Miguel o estava ajudando a montar a câmera de filmagem e o equipamento de iluminação no palco do Memorial Auditorium no centro de Sacramento.Miguel pegou o fio e se dirigiu para a tomada mais próxima. – O fio não alcança - disse a Scott. - Posso mover a lâmpada uns quinze centímetros para a esquerda?- Não é boa idéia - respondeu Scott começando a desdobrar um tripé. - A lâmpada tem que ficar exatamente onde está ou vamos ter muito brilho no rosto dos modelos. Trouxemos uma extensão?Miguel olhou rapidamente na confusão do equipamento. - Não estou vendo nenhuma.- Como posso ter sido tão burro? - gemeu Scott, passando os dedos pelos cabelos loiros. - O.k., veja se consegue encontrar o zelador nos bastidores. Talvez ele tenha uma extensão.Miguel empurrou as pesadas cortinas vermelhas de veludo e se enfiou entre elas. A área dos bastidores era um caos. Havia uma tonelada de rapazes passando por lá ... todos maquiados. Miguel nunca entenderia essa coisa de modelo.Ele parou um homem alto que carregava uma prancheta. - Me desculpe, você sabe quem é o zelador?O homem olhou para Miguel através de óculos redondos coloridos. - Não, mas quem é você? É um dos modelos?- Estou ajudando Scott Carteret - disse Miguel rapidamente. - Estou procurando uma extensão.

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- Cheque o armário do depósito no fim do corredor. – O rapaz apontou com sua prancheta. - Mas espere! Você já trabalhou como modelo? Comerciais de TV?- Não - disse Miguel. E começou a se afastar.O rapaz com a prancheta o seguiu. - Você tem uma ótima aparência! Já pensou em ser modelo?Miguel balançou negativamente a cabeça. - Na verdade, tudo o que eu gostaria é de achar uma extensão.- O.k., mas se mudar de idéia, me ligue.o homem colocou um cartão na mão de Miguel, que olhou para as letras em destaque. TYRONE ASHBY,AGENTE DETALENTOS.Miguel balançou novamente a cabeça. Era muito estranho. O senhor Ashby começou a organizar os modelos em fila e Miguel procurou um cesto de lixo. Não achou nenhum, então enfiou o cartão no bolso e dirigiu-se para o fim do corredor.Passou por alguns camarins cheios de rapazes, que ajeitavam as gravatas ou passavam um pente pelos cabelos. As três portas seguintes estavam fechadas. A primeira era claramente um banheiro, mas uma das outras duas poderia ser a do depósito.Miguel bateu numa das portas. Como ninguém respondeu, ele virou a maçaneta, abriu a porta e entrou.Imediatamente percebeu que tinha entrado em outro camarim. O rapaz que estava dentro, em pé do outro lado da sala de costas para a porta, aparentemente não ouvira a batida de Miguel porque falava em voz alta. - Então vou para Hollywood, assim que mamãe decidir qual é o melhor agente. Todos me querem, você sabe, é só questão de quem oferece o melhor contrato. Vou acabar o colegial com um professor particular e depois ... bom, quem precisa de colegial quando se é uma estrela?Miguel sabia que devia sair imediatamente da sala, mas não conseguiu deixar de olhar para o rapaz. Ele parecia estar falando consigo mesmo. Não fizera uma pausa para respirar e ninguém na sala respondia. Mas havia alguém lá. Uma garota estava escondida atrás das costas largas do interlocutor. De vez em quando, Míguel via um relance de pequenas mãos se esticando e ajeitando a parte da frente do cabelo castanho claro do rapaz. - Glenn, fique parado! - A voz da garota de repente interrompeu o monólogo do rapaz. - Se você não parar de se mexer, posso te queimar com este ferro de cachear cabelos!O sangue de Miguel transformou-se em ácido fumegante. Leanna! Ela não perdia tempo para arrumar um novo namorado. Miguel tinha que ver como era a cara desse bolha.- Desculpe-me - disse Miguel, andando em direção ao casal. - Vocês podem me ajudar a encontrar o armário de depósito?Glenn virou-se. Ele realmente parecia um ator.- Aqui não é o armário de depósito - disse Glenn com arrogância. - Cai fora.- Mas já estou fora - disse Miguel alegremente. Ele ignorava Glenn e olhava Leanna em busca de alguma reação. O rosto dela estava totalmente sem cor e seus olhos amendoados estavam tão arregalados que pareciam redondos.Ela parecia abismada, um pouco embaraçada, pensou Miguel com satisfação."E absolutamente linda."- O que você está fazendo aqui? - Leanna balbuciou.

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- Procurando uma extensão - respondeu Miguel. Ele apontou para um fio branco, que ligava o ferro de cachear na tomada. - Que tal essa?- Não! Esse é meu - disse Glenn indignado. - Leanna, você só fez uma onda no meu cabelo. Eu pedi duas.- Ei, Leanna, você nunca arrumou o meu cabelo quando saíamos juntos - disse Miguel que se encostou na parede, perto do rosto de Leanna, mexendo na franja. - O que você acha? Preciso de condicionador?Miguel não sabia ao certo o que estava tentando provar. Só sabia que teve uma necessidade súbita e irresistível de ser o mais irritante possível. Não agüentava ver Leanna tão perto de Glenn, mexendo no seu cabelo. Se conseguisse tirar Leanna do sério, esperava poder odiá-la de novo, em vez de querê-la de volta.Seu plano parecia estar funcionando.- Saia daqui - disse Leanna friamente, começando a fazer uma segunda onda no cabelo de Glenn.- Você saía com este porteiro? - perguntou Glenn a Leanna. Ele agia como se Miguel nem existisse.- Não sou um porteiro - disse Miguel. - Estou ajudando Scott com as luzes.- É? - o cabelo de Glenn estava pronto e ele se virou para Miguel. - Certifique-se de manter aquela luz sobre mim, garoto. Sou a estrela deste show.- Você pode ser a estrela - disse Miguel em voz baixa -, mas não sou seu" garoto".- Posso dizer o que eu quiser - Glenn retrucou. – Meus pais pagam impostos, mas vocês imigrantes entram neste país ilegalmente e tiram empregos dos americanos. Quer que eu chame a Imigração?Miguel não podia acreditar na arrogância de Glenn e estava tentando resolver se brigava ou ria de Glenn, quando Leanna, que até então tinha ficado em silêncio, de repente se colocou entre eles.- Não posso acreditar no que você está dizendo, Glenn. - Leanna estava de costas para Miguel, mas pela posição de seus ombros e pelo tom de sua voz, Miguel podia imaginar o olhar bravo em seu rosto. - Miguel não é um "imigrante". A família dele veio das Filipinas e...As narinas de Glenn tremiam. - Esses estrangeiros estão conquistando o país. Me dá enjôo!- Sou filipina e tenho orgulho disto! - gritou Leanna, com as mãos na cintura. - Também te dou enjôo, Glenn?- Claro que não! - Glenn parecia realmente chocado. - Claro que não. Estou falando de gente que vem de outros países. A maioria deles recebe pensão do governo, destrói os bairros e comete crimes. Por que devem ter direitos iguais aos dos cidadãos americanos?- Porque somos seres humanos - disse Leanna.Miguel percebeu que Leanna se colocou na mesma posição - e não havia como não considerar sua sinceridade. Ela não estava tentando impressioná-lo. Ela estava sendo sincera.- Não é de onde você vem que importa - Leanna disse a Glenn. - É que tipo de pessoa você é por dentro. Miguel é honesto e trabalha duro, mas você é um idiota convencido!- O que está acontecendo aqui? - perguntou alguém que acabava de entrar. O agente, Tyrone Ashby, apareceu na porta. - Cinco minutos para a hora de entrar! Glenn, saia daí!- Estou saindo, tudo bem - disse Glenn. Ele pegou uma mochila do chão e começou a colocar escovas e maquiagens dentro dela. - Vocês podem continuar o seu espetáculo de mau gosto sem mim!

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Tyrone correu para Glenn, implorando-lhe que não deixasse seus problemas pessoais interferirem no trabalho.Miguel mal notou Glenn e o agente. Toda a sua atenção estava voltada para Leanna. Ela se virou para ele, com lágrimas nos olhos.- Miguel, sinto ter mentido para você - disse. - Sei que você nunca vai me perdoar. Mas eu queria te agradecer. Por sua causa, aprendi a amar minha herança filipina. Espero que algum dia possamos ser amigos.Miguel sentiu um aperto na garganta e, de repente, sabia que amizade nunca seria suficiente. - Leanna - ele começou. Mas, então, sentiu seu corpo bater na parede, enquanto Glenn passava de qualquer jeito para chegar até a porta. Miguel mal recobrara a respiração, quando Tyrone pegou-lhe no braço.- Você vai ter que assumir o lugar de Glenn! - gritou Tyrone. - Você tem o corpo certo, os mesmos ombros - podemos fazer a barra das calças com fita adesiva.- Miguel odeia desfiles - disse Leanna. - Ele não vai fazer isso ... vai, Miguel?De repente, Miguel sabia que faria qualquer coisa que fizesse Leanna sorrir. Além disso, era em parte por sua culpa que Glenn tinha indo embora do desfile. Se Miguel se recusasse a substituí-lo, muitas pessoas ficariam desapontadas.- O.k., - ele disse. - Mas sem maquiagem.- Não há tempo para maquiagem. - Tyrone arrastou Miguel para um cabide com roupas. - Leanna, vá dizer a eles para atrasarem o começo.- Leanna! - chamou Miguel. - Espere um segundo.- O quê? - ela perguntou com esperanças.- Você pode falar com ela depois! - Tyrone quase gritou. - Vista este terno!Miguel apontou para o ferro de cachear cabelo que Glenn esquecera. - O fio de extensão. Scott está precisando!- O.k. - Leanna falou baixinho. Por causa de sua expressão decepcionada, Miguel percebeu que ela esperava que ele dissesse outra coisa.* * *"Miguel parece ótimo lá em cima", pensou Leanna. Ele caminhava com graça e seus ombros largos e quadris estreitos eram perfeitos para desfilar os ternos do estilista que ele estava usando. Claro que seus tênis brancos ficavam um pouco esquisitos com os ternos, mas ela esperava que ninguém mais na platéia tivesse notado. Na primeira vez em que Miguel atravessou a passarela ele parecia nervoso. Mas, a cada nova entrada, parecia relaxar, até que seu sorriso amarelo se tornou um sorriso de verdade."Será que estou vendo coisas?", perguntou-se Leanna. Parecia que Miguel estava se divertindo! Na última vez em que desfilou, parecia estar se gabando! Não só isso, mas enquanto se movia em compasso com a música, seus olhos nunca perderam os de Leanna. Parecia que ele estava fazendo isso só para ela.Quando o desfile terminou, Leanna correu para os bastidores. Ela encontrou Miguel parado na porta de seu camarim, falando com Tyrone. Leanna sentiu os joelhos fraquejarem.Mas então Miguel olhou diretamente para ela. "Me salve", os olhos dele pareciam dizer.Leanna caminhou até ele.- Aqui está você! - disse Miguel. - Desculpe-nos, Tyrone. Estamos atrasados para uma coisa.- O que era aquilo? - Leanna perguntou, enquanto seguia Miguel pelo corredor.

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- Tyrone diz que tenho "visual", seja lá o que for. Ele quer me matricular em Bayside, com especialização em modelo. Mas isso não é importante agora. - Miguel abriu a primeira porta que viu pela frente e entrou. - Vem aqui, preciso falar com você. - Num armário de vassouras? - perguntou Leanna, entrando numa salinha cheia de esfregões, vassouras e estantes com artigos de limpeza.- Acho que não é o lugar mais romântico - disse Miguel. - Mas, também, não é o pior erro que eu já cometi. Meu pior erro foi terminar com você.Leanna segurou a respiração. Ela se encostou nas prateleiras. - Você me perdoa?- Eu também estava errado, Leanna. - Miguel engoliu em seco. - Quando você disse aquelas coisas ao Glenn, eu percebi que era tão preconceituoso quanto ele. Queria que você fosse parte do meu mundo, mas não estava pronto para aceitar o seu. Eu não respeitei as coisas que eram importantes para você.- Eu não te dei a chance de saber o que era importante para mim, exceto, claro, ser modelo.O rosto de Miguel ficou vermelho. - Me senti muito bem naquela passarela - admitiu. - Entendo por que você gosta disso. Não que eu esteja pronto para me matricular em Bayside.- Mas você tem "visual" - provocou Leanna. Ela deu um passo para a frente. Não pôde conter a mão, que tremia enquanto ela penteava para trás a franja de Miguel. - Você só precisa de uns cachos aqui... e aqui.Leanna sentiu os braços de Miguel se apertarem ao redor de sua cintura. Ela desceu um dedo através de sua bochecha macia, demorando-se no seu queixo forte.- Leanna - começou Miguel-, podemos tentar de novo? Estou pronto para fazer uns acordos. Por exemplo, podemos sair um dia para comer hambúrguer e batata frita, desde que no dia seguinte a gente coma ensopado de rabo de boi.- Eu topo se você topar - disse Leanna. - Sou filipina, mas sou americana também. Gostaria que explorássemos as duas culturas. Juntos. - Leanna respirou fundo e esperava pronunciar direito.- Mahal kita, Miguel.Surpresa e prazer iluminaram os olhos escuros de Miguel. - Também te amo - ele disse. E selou a frase com um beijo.

FIM

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