colÉgio estadual do paranÁ professor: leonardo … · colÉgio estadual do paranÁ professor:...
TRANSCRIPT
COLÉGIO ESTADUAL DO PARANÁ
PROFESSOR: LEONARDO DISCIPLINA: FILOSOFIA
CONTEÚDO: ÉTICA - PLATÃO
GÓRGIAS – É melhor sofrer uma injustiça que praticá-la
Essa tese, defendida por Sócrates, é recorrente no diálogo.
Aparece inicialmente no debate com Polo e é retomada na
discussão com Cálicles. Sócrates procura mostrar que o
indivíduo que comete injustiças e causa danos a outro será
visto como injusto e perverso. Isso será negativo para sua
reputação e convívio na sociedade, e, portanto, acabará
causando-lhe dano. Não se pode ser feliz fazendo o Mal, por
isso é preferível sofrer uma injustiça a praticá-la. Aquele que
faz o Mal, ao ser punido, expia sua culpa, fica quite com a
sociedade e consegue voltar a ser feliz. É a posição defendida
por Sócrates nas passagens citadas. O exercício do poder sobre
qualquer pessoa supõe que aquele que o exerce seja capaz, em
primeiro lugar, de controlar a si mesmo para assim agir de
modo justo e equilibrado.
[469b-c] Sócrates: … Porque o maior dos males consiste em
praticar uma injustiça.
Polo: Esse é o maior? Não é o maior sofrer uma injustiça?
S: Absolutamente não.
P: Preferirias então sofrer uma injustiça a praticá-la?
S: Não preferiria uma coisa nem outra; mas se fosse inevitável
sofrer ou praticar uma injustiça, preferiria sofrê-la.
[478d-e] Sócrates: … Considerando-se dois doentes, seja do
corpo ou da alma, qual o mais infeliz: o que se trata e obtém a
cura, ou aquele que não se trata e permanece doente?
Polo: Evidentemente, aquele que não se trata.
S: E não é verdade que pagar pelos próprios crimes seria a
libertação de um mal maior?
P: É claro que sim.
S: Isso porque a justiça é uma cura moral que nos disciplina e
nos torna mais justos?
P: Sim.
S: O mais feliz, porém, é aquele que não tem maldade na
alma, pois ficou provado que esse é o maior dos males.
P: É claro.
S: Em segundo lugar vem aquele que dessa maldade foi
libertado.
P: Naturalmente.
[479c-e] Sócrates: Conclui-se então que o maior mal consiste
em praticar uma injustiça.
Polo: Sim, é o que parece.
S: No entanto, ficou claro que pagar por seus crimes leva à
libertação do mal.
P: É possível que sim.
S: E não pagar por eles é permanecer no Mal.
P: Sim.
S: Cometer uma injustiça é então o segundo dos males, sendo
o primeiro, e maior, não pagar pelos crimes cometidos.
P: Sim, ao que parece.
S: Mas, meu amigo, não era disso que discordávamos? Tu
consideravas feliz Arquelau por praticar os maiores crimes
sem sofrer nenhuma punição; a meu ver, é o oposto. Arquelau,
ou qualquer outro que não pague pelos crimes que comete,
deve ser mais infeliz do que todos. Será sempre mais infeliz o
autor da injustiça do que a vítima, e mais ainda aquele que
permanece impune e não paga pelos seus crimes. Não era iso
que eu dizia?
P: Sim.
[508e-509d] Sócrates: … Afirmo, Cálicles, que o maior mal
não é ser golpeado na face sem motivo, ou ser ferido, ou
roubado. Bater-me e ferir a mim e aos meus, escravizar-me,
assaltar minha casa, ou, em suma, causar a mim e aos meus
algum dano é pior e mais desonroso para quem o faz do que
para mim, que sofro esses males. Essas conclusões que chego
forma provadas ao longo de nossa discussão e, para usar uma
imagem forte, firmemente estabelecidas por uma cadeia de
argumentos rígida como um ferro, tanto quanto posso julgar
até esse momento. E a menso que tu, ou alguém mais radical,
rompa esta cadeia, ninguém que afirme algo diferente pode
estar certo. De minha parte, sigo meu princípio invariável. Não
sei se isso é verdade, mas de todas as pessoas que encontrei até
agora nenhuma foi capaz de afirmar o contrário sem cair no
ridículo. Assumo, portanto, que esta seja a verdade. E se estou
correto, e fazer o Mal é o pior que pode ocorrer para aquele
que o pratica, e maior mal ainda, se possível, é não ser punido
com isto, que tipo de proteção seria ridículo um homem não
poder prover para si próprio? Deveria ser, com certeza, a
contra o que nos causa o maior mal.
A REPÚBLICA – Alegoria da Caverna
O texto mais célebre da República é sem dúvida a
Alegoria da Caverna, em que Platão, utilizando-se da
linguagem alegórica, discute o processo pelo qual o ser
humano pode passar da visão habitual que tem das coisas, “a
visão das coisas”, unidirecional, condicionada pelos hábitos e
preconceitos que adquire ao longo de sua vida, até a visão do
Sol, que representa a possibilidade de alcançar o conhecimento
da realidade em seu sentido mais elevado e compreendê-la em
sua totalidade. A visão do Sol representa não só o alcance da
Verdade e, portanto, do conhecimento em sua acepção mais
completa, já que o Sol é “a causa de tudo”, mas também, como
diz Sócrates na conclusão dessa passagem: “Nos últimos
limites do mundo inteligível aparece-me a ideia de Bem, que
se percebe com dificuldade, mas que não se pode ver sem se
concluir que ela é a causa de tudo o que há de reto e de belo.
… Acrescento que é preciso vê-la se se quer comportar-se com
sabedoria, seja na vida privada, seja na vida pública.”
De acordo com este texto, a possibilidade de um
indivíduo tornar-se justo e virtuoso depende de um processo
de transformação pelo qual deve passar. Assim, afasta-se das
aparências, rompe com as cadeias de preconceitos e
condicionamentos e adquire o verdadeiro conhecimento. Tal
processo culmina com a visão da forma do Bem, representada
pela metáfora do Sol. O sábio é aquele que atinge essa
percepção. Para Platão, conhecer o Bem significa tornar-se
virtuoso. Aquele que conhece a justiça não pode deixar de agir
de modo justo.
REFERÊNCIA MARCONDES, Danilo. Textos básicos de ética: de Platão a
Foucault. Rio de Janeiro: Zahar, 2007. Páginas 21 a 35.
Questões para discussão
1. Como é caracterizado no Górgias o indivíduo injusto?
2. Sócrates afirma ser melhor sofrer uma injustiça do
que cometê-la. Por que? Você concorda?
3. Segundo Platão, qual a importância do conhecimento
do Bem para a conduta ética?