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Expresso, 16 de novembro de 2019 ECONOMIA 14 Futuro Incentivar o empreendedorismo através da promoção do talento tecnológico, como nos prémios AIIA, é um dos passos fundamentais para que Portugal atraia mais investimento e se posicione como um país virado para a inovação A caminho de um ecossistema inovador PROJETO EXPRESSO Textos Fátima Ferrão Fotos João Girão H á pouco mais de uma semana, durante a Web Summit, Luís Valente, Paula Sam- paio e Joana Paiva, cofundadores da ILoF, startup que nasceu no Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) da Univer- sidade do Porto, conseguiram uma ronda de financiamento de €2 mi- lhões ao serem premiados pelo Wild Card — programa de aceleração que apoia projetos de resposta aos princi- pais desafios da saúde — do EIT He- alth, para financiar o seu projeto que visa desenvolver uma nova geração de tratamentos personalizados para doenças neurodegenerativas através de tecnologias como o Big Data e a Inteligência Artificial (IA). Esta semana voltaram a ser reconhe- cidos pela sua ideia inovadora ao vencer a 3ª Edição dos Altice International Innovation Awards (AIIA), na catego- ria Startup. Os três empreendedores juntam assim mais €50 mil para apoiar o projeto, a que somam ainda os 5 mil euros da distinção “Born from Know- ledge”, atribuída pela Agência Nacional da Inovação (ANI). No palco do cinete- atro Capitólio, em Lisboa, Joana Paiva explicou à plateia que assistia à entrega dos prémios AIIA que os investigadores da ILoF criaram um “sistema portátil” que serve de arquivo a “impressões digitais” de várias doenças neurode- generativas e permite “testes rápidos e pouco invasivos” em doenças como o Parkinson ou tumores cerebrais. A startup está agora em conversações com várias empresas da indústria far- macêutica com o objetivo de comercia- lizar a solução. A Ilof destacou-se entre 90 candidatos ao chamar a atenção do júri multidisciplinar, composto por representantes do meio empresarial, da academia e investidores. “Nesta edição tivemos projetos muito interessantes, muito profissionais e estruturados”, disse Alexandre Fonseca, presidente da Altice Portugal. O outro vencedor da edição 2019, na categoria Academia, foi o projeto Neural Motor Behaviour in Extreme Driving, nascido no seio da Univer- sidade do Minho pelas mãos de Inês Rito Lima. Durante vários meses, a investigadora avaliou o comportamen- to de um piloto profissional ao volante de um automóvel em condições ex- tremas, com o objetivo de criar um algoritmo que reforce a segurança nos carros autónomos. “Esta é uma revo- lução em curso a que não podemos escapar”, disse ao receber o prémio de €25 mil, mostrando-se convicta de que a sua ideia poderá contribuir para um futuro mais seguro. Portugal está mais empreendedor Segundo Alcino Lavrador, diretor da Altice Labs, esta edição dos AIIA foi a mais participada de sempre, o que não será de admirar numa altura em que pode dizer-se que Lisboa é a capital Tech do momento. Grandes eventos como a Web Summit estão a chamar a atenção do país fora de portas e a ajudar a mudar a imagem que Portugal tem a nível internacional. O número de startups que nasce em terras lusas está a aumentar, depois de uma ligeira que- bra verificada durante os anos da crise. Segundo a Startup Portugal, associação responsável pela criação e implemen- tação da estratégia nacional para o em- preendedorismo, as startups nacionais já representam 1,1% do Produto Interno Bruto (PIB), o que significa que as suas vendas e serviços chegaram, em 2018, aos €2,2 mil milhões. O investimento nestes novos proje- tos, muitos deles saídos diretamen- te das universidades, também está a aumentar. Só a Portugal Ventures, empresa pública de capital de risco, apostou em 14 startups durante o pri- meiro semestre deste ano, num inves- timento global de €9 milhões (alguns em parceria com outros investidores), nas mais diversas áreas, desde as mais tecnológicas às mais tradicionais. Con- tudo, o investimento nacional ainda é pouco representativo no universo das startups. De acordo com os dados do relatório Portugal Startup Outlook 2019, que faz um retrato do sector das startups tecnológicas nacionais, grande parte do financiamento chega dos Estados Unidos da América (67%). Esta aposta revela a confiança dos in- vestidores do outro lado do Atlântico, que acreditam que o país desempe- nhará um papel muito importante no panorama empreendedor europeu. Convicção partilhada por Pedro Siza Vieira, ministro da Economia e da tran- sição digital, que, durante a cerimónia de entrega dos Altice Awards, revelou que, segundo o European Scorecard, realizado pela União Europeia, Por- tugal foi o país que mais cresceu em inovação. “As regiões norte, centro e Lisboa foram nomeadas zonas de ino- vação fortes, destacando-se do resto do país, que é considerado moderado.” O ministro da Economia disse ainda que, no que se refere à despesa em I&D em percentagem do PIB, Portugal revela um nível de inovação elevado. Um cami- nho que deve continuar a ser trilhado, pois “só se pode crescer em rentabilida- de se se investir em inovação”. [email protected] APRESENTAÇÃO FINAL À TARDE, ENTREGA DE PRÉMIOS À NOITE Na foto pequena, Luís Valente, cofundador da ILoF, faz o último pitch perante o júri do AIIA na tarde de quarta no showroom da Altice, em Lisboa. O seu projeto venceria na categoria Startup. Na foto grande, o momento em que Inês Rito Lima sobe ao palco do Capitólio para receber o prémio da categoria Academia das mãos de Alcino Lavrador, diretor da Altice Labs PRÉMIO INOVAÇÃO Expresso associa-se à 3ª edição dos Altice International Innovation Awards, o maior prémio pecuniário atribuído em Portugal na área da inovação: €75 mil para o melhor projeto startup e de origem académica TRÊS PERGUNTAS A Ana Costa Freitas Reitora da Universidade de Évora P Qual o papel da academia no mundo da inovação? R É enorme. Há imensa inovação na academia, mas o que falta muitas vezes é o modelo de negócio. Todas as universidades têm gabinetes de transferência de tecnologia, fazem-se semanas de inovação e do empreendedorismo, e muitas outras iniciativas que promovem e dinamizam a inovação. No entanto, é pena haver ainda muita inovação que não é transferida. O papel da academia é também ao nível da formação dos alunos. É preciso prepará-los para esta nova modalidade, para esta nova fase da vida, a vida real, o que por vezes é difícil para os professores que, de forma geral, vêm de outra realidade, de outro tempo. Há imensos miúdos com imaginação e capacidade de criar o seu próprio negócio. E é este mindset que têm que ter já na universidade, mais do que competências técnicas, que isso já têm. P O financiamento é uma dificuldade? R Esse é um problema grande. Falta financiamento para a inovação pedagógica. Temos financiamento para investigação, que roda nos seus próprios carris, temos muitas ligações europeias e há muito desenvolvimento. Mas falta inovação pedagógica dentro das universidades. O mundo mudou e ainda temos os mesmos laboratórios, os mesmos métodos de ensino. Devia haver para os bons projetos uma linha de investigação, financiamento competitivo, o que faz muita falta porque estamos num ponto de viragem grande. Se não atrairmos os alunos com uma boa oferta pedagógica vamos perder talentos que irão, por conta própria, criar os seus negócios. P Quais os grandes desafios para os próximos anos? R São os dados. A quantidade de dados que estamos a recolher é inimaginável. É preciso retirar informação útil e garantir que se retira essa informação sem esquecer a privacidade. Há informação nossa, que circula por aí, e que não sabemos onde está nem como será utilizada. Como os tratamos e com que confidencialidade é um grande desafio. OS VENCEDORES DE 2019 Prémio Startup ^ ILoF Inteligência Artificial e Big Data são as tecnologias que sustentam o projeto da ILoF, empresa que venceu na categoria Startup e recebeu também a distinção ‘Born from Knowledge’, atribuída pela ANI. A ideia visa acelerar o estudo e os ensaios clínicos em doenças como Parkinson ou Alzheimer. Prémio Academia ^ Neural Motor Behaviour in Extreme Driving É este o nome do projeto que venceu na categoria Academia. O objetivo é estudar a atividade cerebral durante a condução em condições extremas para melhorar a segurança na condução autónoma.

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Page 1: Clipping Imprensa Nacional - Altice · 2019-11-26 · panorama empreendedor europeu. Convicção partilhada por Pedro Siza Vieira, ministro da Economia e da tran-sição digital,

Expresso, 16 de novembro de 2019ECONOMIA14

Futuro Incentivar o empreendedorismo através da promoção do talento tecnológico, como nos prémios AIIA, é um dos passos fundamentais para que Portugal atraia mais investimento e se posicione como um país virado para a inovação

A caminho de um ecossistema inovador

PROJETO EXPRESSO

Textos Fátima Ferrão Fotos João Girão

Há pouco mais de uma semana, durante a Web Summit, Luís Valente, Paula Sam-paio e Joana Paiva, cofundadores da ILoF, startup que nasceu no Instituto de Investigação e

Inovação em Saúde (i3S) da Univer-sidade do Porto, conseguiram uma ronda de financiamento de €2 mi-lhões ao serem premiados pelo Wild Card — programa de aceleração que apoia projetos de resposta aos princi-pais desafios da saúde — do EIT He-alth, para financiar o seu projeto que visa desenvolver uma nova geração de tratamentos personalizados para doenças neurodegenerativas através de tecnologias como o Big Data e a Inteligência Artificial (IA).

Esta semana voltaram a ser reconhe-cidos pela sua ideia inovadora ao vencer a 3ª Edição dos Altice International Innovation Awards (AIIA), na catego-ria Startup. Os três empreendedores juntam assim mais €50 mil para apoiar o projeto, a que somam ainda os 5 mil euros da distinção “Born from Know-ledge”, atribuída pela Agência Nacional da Inovação (ANI). No palco do cinete-atro Capitólio, em Lisboa, Joana Paiva explicou à plateia que assistia à entrega dos prémios AIIA que os investigadores da ILoF criaram um “sistema portátil” que serve de arquivo a “impressões digitais” de várias doenças neurode-generativas e permite “testes rápidos e pouco invasivos” em doenças como o Parkinson ou tumores cerebrais. A startup está agora em conversações com várias empresas da indústria far-macêutica com o objetivo de comercia-lizar a solução. A Ilof destacou-se entre 90 candidatos ao chamar a atenção do júri multidisciplinar, composto por representantes do meio empresarial, da academia e investidores. “Nesta edição

tivemos projetos muito interessantes, muito profissionais e estruturados”, disse Alexandre Fonseca, presidente da Altice Portugal.

O outro vencedor da edição 2019, na categoria Academia, foi o projeto Neural Motor Behaviour in Extreme Driving, nascido no seio da Univer-

sidade do Minho pelas mãos de Inês Rito Lima. Durante vários meses, a investigadora avaliou o comportamen-to de um piloto profissional ao volante de um automóvel em condições ex-tremas, com o objetivo de criar um algoritmo que reforce a segurança nos carros autónomos. “Esta é uma revo-lução em curso a que não podemos escapar”, disse ao receber o prémio de €25 mil, mostrando-se convicta de que a sua ideia poderá contribuir para um futuro mais seguro.

Portugal está mais empreendedor

Segundo Alcino Lavrador, diretor da Altice Labs, esta edição dos AIIA foi a mais participada de sempre, o que não será de admirar numa altura em que pode dizer-se que Lisboa é a capital Tech do momento. Grandes eventos como a Web Summit estão a chamar a atenção do país fora de portas e a ajudar a mudar a imagem que Portugal tem a nível internacional. O número de startups que nasce em terras lusas está

a aumentar, depois de uma ligeira que-bra verificada durante os anos da crise. Segundo a Startup Portugal, associação responsável pela criação e implemen-tação da estratégia nacional para o em-preendedorismo, as startups nacionais já representam 1,1% do Produto Interno Bruto (PIB), o que significa que as suas vendas e serviços chegaram, em 2018, aos €2,2 mil milhões.

O investimento nestes novos proje-tos, muitos deles saídos diretamen-te das universidades, também está a aumentar. Só a Portugal Ventures, empresa pública de capital de risco, apostou em 14 startups durante o pri-meiro semestre deste ano, num inves-timento global de €9 milhões (alguns em parceria com outros investidores), nas mais diversas áreas, desde as mais tecnológicas às mais tradicionais. Con-tudo, o investimento nacional ainda é pouco representativo no universo das startups. De acordo com os dados do relatório Portugal Startup Outlook 2019, que faz um retrato do sector das startups tecnológicas nacionais, grande parte do financiamento chega dos Estados Unidos da América (67%). Esta aposta revela a confiança dos in-vestidores do outro lado do Atlântico, que acreditam que o país desempe-nhará um papel muito importante no panorama empreendedor europeu.

Convicção partilhada por Pedro Siza Vieira, ministro da Economia e da tran-sição digital, que, durante a cerimónia de entrega dos Altice Awards, revelou que, segundo o European Scorecard, realizado pela União Europeia, Por-tugal foi o país que mais cresceu em inovação. “As regiões norte, centro e Lisboa foram nomeadas zonas de ino-vação fortes, destacando-se do resto do país, que é considerado moderado.” O ministro da Economia disse ainda que, no que se refere à despesa em I&D em percentagem do PIB, Portugal revela um nível de inovação elevado. Um cami-nho que deve continuar a ser trilhado, pois “só se pode crescer em rentabilida-de se se investir em inovação”.

[email protected]

APRESENTAÇÃO FINAL À TARDE, ENTREGA DE PRÉMIOS À NOITENa foto pequena, Luís Valente, cofundador da ILoF, faz o último pitch perante o júri do AIIA na tarde de quarta no showroom da Altice, em Lisboa. O seu projeto venceria na categoria Startup. Na foto grande, o momento em que Inês Rito Lima sobe ao palco do Capitólio para receber o prémio da categoria Academia das mãos de Alcino Lavrador, diretor da Altice Labs

PRÉMIO INOVAÇÃOExpresso associa-se à 3ª edição dos Altice International Innovation Awards, o maior prémio pecuniário atribuído em Portugal na área da inovação: €75 mil para o melhor projeto startup e de origem académica

TRÊS PERGUNTAS A

Ana Costa FreitasReitora da Universidade de Évora

P Qual o papel da academia no mundo da inovação? R É enorme. Há imensa inovação

na academia, mas o que falta muitas vezes é o modelo de negócio. Todas as universidades têm gabinetes de transferência de tecnologia, fazem-se semanas de inovação e do empreendedorismo, e muitas outras iniciativas que promovem e dinamizam a inovação. No entanto, é pena haver ainda muita inovação que não é transferida. O papel da academia é também ao nível da formação dos alunos. É preciso prepará-los para esta nova modalidade, para esta nova fase da vida, a vida real, o que por vezes é difícil para os professores que, de forma geral, vêm de outra realidade, de outro tempo. Há imensos miúdos com imaginação e capacidade de criar o seu próprio negócio. E é este mindset que têm que ter já na universidade, mais do que competências técnicas, que isso já têm.

P O financiamento é uma dificuldade? R Esse é um problema grande.

Falta financiamento para a inovação pedagógica. Temos financiamento para investigação, que roda nos seus próprios carris, temos muitas ligações europeias e há muito desenvolvimento. Mas falta inovação pedagógica dentro das universidades. O mundo mudou e ainda temos os mesmos laboratórios, os mesmos métodos de ensino. Devia haver para os bons projetos uma linha de investigação, financiamento competitivo, o que faz muita falta porque estamos num ponto de viragem grande. Se não atrairmos os alunos com uma boa oferta pedagógica vamos perder talentos que irão, por conta própria, criar os seus negócios.

P Quais os grandes desafios para os próximos anos? R São os dados. A quantidade de dados

que estamos a recolher é inimaginável. É preciso retirar informação útil e garantir que se retira essa informação sem esquecer a privacidade. Há informação nossa, que circula por aí, e que não sabemos onde está nem como será utilizada. Como os tratamos e com que confidencialidade é um grande desafio.

OS VENCEDORES DE 2019

Prémio Startup ^ ILoF Inteligência Artificial

e Big Data são as tecnologias que sustentam o projeto da ILoF, empresa que venceu na categoria Startup e recebeu também a distinção ‘Born from Knowledge’, atribuída pela ANI. A ideia visa acelerar o estudo e os ensaios clínicos em doenças como Parkinson ou Alzheimer.

Prémio Academia ^ Neural Motor Behaviour in

Extreme Driving É este o nome do projeto que venceu na categoria Academia. O objetivo é estudar a atividade cerebral durante a condução em condições extremas para melhorar a segurança na condução autónoma.

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Expresso, 9 de novembro de 2019 31 PRIMEIRO CADERNO

5000 Mais de cinco mil pessoas conseguiram passar e fugir quer por cima quer por baixo do Muro

Daniel Ribeiro

Correspondente em Paris

O clima de tensão social regres-sa a França, com os “coletes amarelos” a anunciarem a pre-paração de ações “especiais em grande” — dizem dois dos seus líderes ao Expresso — para as-sinalar o primeiro aniversário do início do movimento, a 17 de novembro de 2018.

A agitação vai começar já este fim de semana, devendo agra-var-se a meio do mês e crescer até 5 de dezembro, dia em que a crise social poderá ganhar contornos bastante mais vas-tos. A partir dessa data pode-rá ser mais complicado para o Governo francês. Algumas das principais centrais sindicais anunciaram manifestações e greves “ilimitadas” a partir da primeira semana de dezembro, designadamente nos transpor-tes públicos, contra a revisão do sistema específico das re-formas no sector. Nessas ações deverão participar os “coletes amarelos”.

Jérôme Rodrigues e Priscilla Ludosky, dirigentes dos “Cole-tes”, confirmam ao Expresso que o movimento estará pre-sente nas manifestações sin-dicais. “Não estamos com os sindicatos, mas com as pessoas, vamos participar porque tudo piora e o povo vive com dificul-dades cada vez maiores”, ex-

Inverno anuncia-se quente nas ruas

FRANÇA

“Coletes amarelos” e sindicatos preparam manifestações e greves. Governo receia novos tumultosplica o ativista português, que perdeu um olho, em janeiro, numa manifestação na praça da Bastilha, em Paris.

Além da reforma do sistema das pensões — com que o Go-verno pretende avançar para um regime único e universal que acabe com nichos especi-ais, por exemplo nos caminhos de ferro —, outros diplomas estão a ser contestados. É o caso da nova proposta gover-namental sobre desemprego, que reduz os direitos dos de-sempregados aos subsídios.

O Presidente Emmanuel Ma-cron, que há menos de um ano tentou travar a “revolta ama-rela” com cedências de mais de dez mil milhões de euros, pretende, com estas medidas, reequilibrar o défice do Estado para cumprir os tratados da União Europeia.

“Não somos selvagens!”

Os líderes dos “coletes” e os sindicalistas dizem que estas duas medidas reforçam a ideia de que “este é um poder que só pensa nos ricos”. “O direito ao subsídio de desemprego faz parte das nossas reivindica-ções”, explicam Jérôme e Pris-cilla. “Mas não somos apenas um bando de desempregados, somos algo muito mais vasto que transformou em profundi-dade toda a sociedade francesa, nomeadamente no domínio da

solidariedade”, acrescenta o português.

A grave violência que de-flagrou recentemente nas periferias de grandes cidades francesas — com vandalismo, incêndio de instalações públi-cas e ataques a forças polici-ais, designadamente na região de Paris — poderá ter que ver com a reforma do sistema de desemprego, que atinge com maior dureza a juventude dos subúrbios.

Priscilla, Jérôme e dois ou-tros líderes dos “coletes” es-creveram há dias uma carta a Macron, propondo-lhe uma re-união para discutir as reivindi-cações do movimento, que, des-de há alguns meses, esteve em “modo pausa”, como explicou ao Expresso o advogado e escri-tor luso-francês Juan Branco, que apoia os militantes.

“Não somos um bando de selvagens!”, explica Jérôme, adiantando que listas dos “co-

Protesto dos “Coletes Amarelos” perto do Arco do Triunfo, em Paris

letes” poderão concorrer às eleições municipais francesas do próximo ano. “Escrevemos e enviámos a carta ao Presidente e à comunicação social, mas ele não respondeu.” Organizaram assembleias por todo o país e, garante Priscilla, os “coletes” estão de novo preparados para “comemorar dignamente o ani-versário” e regressar às ruas. Jérôme confirma.

Na carta endereçada ao Eli-seu, pedem respostas para as

desigualdades sociais e fiscais, a discriminação e a transição ecológica, e ainda para a re-pressão policial e a “discutível” imparcialidade da Justiça neste domínio.

Como ir a Fátima

Jérôme pede a condenação da polícia e indemnizações para ele e para outros — “por vezes apenas pessoas que estavam a ver as manifestações”, diz — que perderam olhos, mãos, dedos ou ficaram gravemente feridos na cara ou no corpo, durante os tumultos.

O luso-francês ficou sem um olho, mas não perdeu a ener-gia combativa. “No que me diz respeito, vai-se andando, mas por vezes é complicado, a mi-nha família inquieta-se, a mi-nha filha de 14 anos também, todos têm medo pelo que me pode acontecer e há uma forte pressão do Estado sobre eles”, afirma.

Jérôme assegura que a luta dos “coletes amarelos” vai ser relançada e conclui com uma afirmação algo mística: “Ganho força no contacto com a malta, é como quando vais a Fátima (já lá fui três vezes), tocas numa pessoa e ela transmite-te algo de importante, é uma coisa impressionante, há qualquer coisa e muita humanidade no nosso movimento”.

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