climatologia e ensino de geografia: o uso de …
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CLIMATOLOGIA E ENSINO DE GEOGRAFIA: O USO DE FERRAMENTAS
PEDAGÓGICAS ALTERNATIVAS COMO SUBSÍDIO À INICIAÇÃO À
DOCÊNCIA EM DELMIRO GOUVEIA/ALAGOAS
Felipe Santos Silva1
Ricardo Santos de Almeida2
GT2 − Educação e Ciências Humanas e Socialmente Aplicáveis
RESUMO
O presente trabalho é uma atividade de pesquisa participativa, voltada ao exercício da docência em
geografia, que versa sobre a percepção de fenômenos climático-geográficos por parte de estudantes
do ensino fundamental junto à Escola Municipal de Ensino Fundamental Dr. José Correia Filho,
Povoado Jardim Cordeiro, município de Delmiro Gouveia, Alto Sertão de Alagoas. Nesse sentido,
pretende-se analisar as ações em um projeto de extensão que discutiu os conceitos de percepção e de
lugar enquanto categorias fundamentais que subsidiam a compreensão de face da realidade
geográfica local, bem como o conhecimento dos aspectos climatológicos gerais no contexto do Sertão
e em específico do Povoado onde a escola se situa.
Palavras-chave: Climatologia. Ensino de Geografia. Ensino. RESUMEN Este trabajo es una actividad de colaboración en la investigación se centró en la práctica de la
enseñanza de la geografía, que se ocupa de la percepción de los fenómenos climáticos y geográficos
por los estudiantes de la escuela primaria de la Escola Municipal de Ensino Fundamental Dr. José
Correia Filho, Povoado Jardim Cordeiro, la ciudad de Delmiro Gouveia, Alto Sertão de Alagoas. En
este sentido, nos proponemos analizar las acciones en un proyecto de extensión que analiza la
percepción de los conceptos y categorías de lugares tan fundamentales que apoyan la comprensión de
la cara de la realidad geográfica local y el conocimiento de la climatología en general en el contexto
de la región del interior y en particular, la ciudad donde está ubicada la escuela.
Palabras clave: Climatología. Enseñanza de la Geografía. Educación.
1 Estudante do curso Geografia Licenciatura da Universidade Federal de Alagoas Campus do Sertão. Foi bolsista
do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID/CAPES), onde desenvolveu projetos
educacionais nas séries iniciais, ligados à Climatologia e Cartografia. Participa como membro ativo do Grupo de
Pesquisa Geoprocessamento e a Cartografia no Ensino de Geografia (GCEG) e Grupo de Estudos e Pesquisa em
Análise Regional (GEPAR). Foi bolsista de Mobilidade Acadêmica na Universidade Federal de Uberlândia,
financiado Santander, em parceria com a ANDIFES, onde estagiou no Laboratório de Geografia Cultural e de
Turismo (LAGECULT). E-mail: <[email protected]>. 2 Mestre em Geografia pela Universidade Federal de Sergipe. Desenvolve atividades de pesquisa vinculadas as
temáticas relacionadas ao agronegócio, território e territorialidades, e processos de ensino-aprendizagem.
Professor Substituto Auxiliar B do curso Geografia Licenciatura presencial da UFAL campus do Sertão/Delmiro
Gouveia. Professor Formador II no curso Geografia Licenciatura EaD na Universidade Federal de
Alagoas/Universidade Aberta do Brasil (UFAL-UAB), membro Grupo de Estudos e Pesquisa em Análise
Regional (GEPAR-UFAL Campus do Sertão) e do Núcleo de Estudos Agrários e Dinâmicas Territoriais
(NUAGRÁRIO-IGDEMA-UFAL). E-mail: <[email protected]>.
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INTRODUÇÃO
Este estudo surge da necessidade de relacionarmos os conteúdos das aulas de
Geografia com a realidade escolar e de vivência dos estudantes, as relacionando às práticas de
iniciação à docência nos propiciando convergir às práticas pedagógicas ao local de ensino.
O mundo contemporâneo, com suas diversas tecnologias, tem distanciado os
indivíduos das simples observações da dinâmica natural atmosférica, esses sujeitos rompem
com os laços sensíveis e perceptíveis do mundo e passam a observar os elementos da
dinâmica natural por perspectivas técnicas: pelo viés dos meios comunicacionais como
televisões, rádios e internet, distanciando-se da realidade local e dos meios sensitivos.
A relevância desta pesquisa encontra-se na atenção ao ensino de Geografia e ao
modo como o ensino da climatologia geográfica pode também ser estabelecido por meio da
percepção e da relação de intimidade dos educandos para com o meio ambiente. Nesse
sentido, indagamos: como os alunos do 9º ano percebem a climatologia geográfica no
ambiente em que vivem? E, de que modo o uso de ferramentas pedagógicas alternativas, que
valorizem as capacidades sensitivas dos educandos, podem auxiliar o ensino de climatologia
geográfica? Deste modo, nos subsidiamos na Geografia Humanista, conhecer a realidade local
e se relacionar intimamente com o meio compõe o caminho à luz da Topofilia, que de acordo
Tuan (2012, p. 19), “topofilia é o elo afetivo entre a pessoa e o lugar ou ambiente físico”.
Esse trabalho procura levar os discentes do ensino fundamental do 9º ano ao
contato íntimo com o meio, tendo em vista, aguçar os seus sentidos para com o meio
ambiente, com foco na apreensão do tempo atmosférico. Pensar no ensino do tempo e do
clima separadamente dos sentidos, origina em uma análise superficial do meio. Segundo
Tavares (2011, p. 4),
Acreditamos que o processo educativo deva contemplar o sujeito em sua
complexidade, enfatizando o aprendizado através de suas vivências por meio
dos sentidos e das percepções do próprio corpo. Quando ao indivíduo é
possibilitada uma interação ampla/aberta com as questões que devem ser
apreendidas, não se está apenas projetando uma determinada realidade, fruto
de um contato parcial de vivências, está-se produzindo conhecimento, pois o
sujeito estará atento às suas percepções, sensível aos sinais de seu próprio
corpo em interação com os ambientes externos, assim como com suas ideias
e imagens internas.
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Concordando com autor, as práticas educacionais devem fomentar uma educação
que vise à inter-relação do sujeito (que percebe) com o meio e os ambientes externos devem
proporcionar uma individualidade para cada indivíduo. Frente a esse cenário, acredita-se que
praticar o ensino sem a sua devida cautela acarreta uma formação incompleta, cujo sentido
não se concluiu, causando uma ruptura entre o indivíduo e a intimidade com o meio ambiente.
Nesse sentido, devemos pensar estrategicamente em metodologias de ensino capazes de
envolver o ser em sua complexidade. Para atender essas aspirações devemos relacionar
instrução à percepção do mundo, e devemos considerar o que aponta Tavares (2011, p. 1),
No contexto desta reflexão é que percebemos a necessidade de o sujeito
reencontrar a si mesmo, a fim de encontrar-se com o mundo. Sem o
conhecimento de sua natureza criadora, afetiva, simbólica, instintiva, o ser
humano torna-se impossibilitado de entender o movimento do mundo no
qual deveria sentir-se inserido.
Frente a essas questões, acredita-se que devemos encaminhar as práticas
educacionais ao campo sensitivo humano, segundo Marin (2003, p.616), “a sensibilidade traz,
portanto, a proposta de transposição do enfoque racional na prática educativa e a busca de se
atingir a dimensão emotiva, espiritual da pessoa humana na sua interação com a natureza”.
Analisar o tempo por meio da observação sensível é algo do cotidiano, porém
compreender a dinâmica atmosférica e relacioná-la com a realidade vivida parece um desafio
às sociedades contemporâneas. Nessa perspectiva, é através de dados quantitativos extraídos
das estações meteorológicas que as pessoas têm compreendido a dinâmica atmosférica,
quantificando a temperatura, precipitação, nebulosidade, visibilidade, etc.
Segundo Tuan (2012, p. 139) “na vida moderna, o contato físico com o próprio
meio ambiente natural é cada vez mais indireto e limitado a ocasiões especiais”. Em virtude
de tais acontecimentos, relacionados ao modo de vivência atual, este projeto permitirá que os
educandos do 9º ano da Escola Municipal Doutor José Correia Filho percebam, por meio das
observações sensíveis, o tempo.
A Geografia no ensino fundamental é realizada de forma fragmentada, distanciada
do cotidiano dos alunos, conforme as práticas de ensino tradicionais, enciclopedistas, onde “a
memorização e a descrição são apreciadas” (MAIA, 2012, p. 1). Segundo Tuan (2012, p.
337), “a maioria das pessoas, durante sua vida, faz pouco uso de seus poderes perceptivos”.
Sem levar em consideração a percepção, o ensino de geografia pode distanciar-se da realidade
e tornar-se pouco relevante. Decorar fragmentos textuais ou colecionar informações
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superficiais sobre um determinado conceito ou espaço sem relaciona-los com a realidade
vivida e percebida é não tornar o assunto importante para vida.
É com o aporte da Geografia da Percepção que podemos tornar o ensino mais
íntimo do indivíduo, pois a segundo Rocha (2007, p. 21), “a Geografia Humanista é definida
por bases teóricas nas quais são ressaltadas e valorizadas as experiências, os sentimentos, a
intuição, a intersubjetividade e a compreensão das pessoas sobre o meio que habitam”.
LEITURA TEÓRICO-CONCEITUAL SOBRE PERCEPÇÃO, LUGAR E PROCESSO
DE ENSINO-APRENDIZAGEM EM GEOGRAFIA
Pensando a Geografia atual, percebemos um olhar atento dos cientistas com as
questões pertinentes ao ensino desta ciência em sala de aula, nos ensino fundamental e médio,
principalmente na tentativa de aliar a prática de ensino com o lúdico e a empiria. Inúmeras são
as possibilidades para a consolidação do projeto de ensino de Geografia com possibilidades
dinâmicas, atreladas a diversas metodologias. A grande preocupação que nos leva a discorrer
sobre essa temática está na forma com que o ensino de geografia é realizado, segundo Maia:
A Geografia no Ensino Médio, bem como no Ensino Fundamental é
realizada, na maioria das vezes, de forma fragmentada, enciclopédica e
dissociada do cotidiano dos alunos. Essa falta de articulação dos conteúdos
abordados reflete uma prática tradicional, em que a memorização e a
descrição são extremamente valorizadas. A prática escolar enfatiza o estudo
do mundo com um aglomerado de assuntos divididos em tópicos que, assim
apresentados não se articulam. (2012, p. 1-2).
A falta de articulação entre teoria e o cotidiano dos alunos acarreta uma prática
pedagógica fragmentada e distante da realidade dos educandos. É com base na Geografia
Humanística ou cultural que essas questões ganham força e espaço para discussão, pois suas
bases encontram-se apoiadas na relação entre o homem e o mundo em que vive. Para Rocha
(2007, p. 21)
A Geografia Humanista é definida por bases teóricas nas quais são
ressaltadas e valorizadas as experiências, os sentimentos, a intuição, a
intersubjetividade e a compreensão das pessoas sobre o meio ambiente que
habitam, buscando compreender e valorizar esses aspectos.
É no arcabouço teórico da Geografia Humanista ou cultural, que preocupada com
a capacidade sensitiva dos sujeitos que permearemos este estudo apontando outros
pressupostos para o novo pensar Geografia, galgados na experiência do cotidiano, nos
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sentimentos (emocional dos sujeitos), na intuição (inteligência/percepção, aquilo que os
indivíduos compreendem sobre o meio), na análise das pessoas sobre o meio em que habitam
(o lugar de vivência e experiências) e intersubjetividade (inter-relação entre os sujeitos), nessa
perspectiva busca-se encontrar uma Geografia que investigue e compreenda os fenômenos a
parir da subjetividade humana.
Assim, têm-se as bases sólidas pautadas nessa Geografia, que defende a
capacidade dos sujeitos em tentar compreender o meio em que estão inseridos a partir de suas
percepções e emoções. Rocha (2007, p. 21) considera a percepção como sendo uma atividade
da mente que inter-relaciona o indivíduo com o meio ambiente por meio de mecanismos
perceptivo e cognitivo.
Segundo Tuan (apud ROCHA, 2007, p. 21), “a Geografia Humanista procura um
entendimento do mundo humano através do estudo das relações das pessoas com a natureza,
do seu comportamento geográfico, bem como dos seus sentimentos e ideias a respeito do
espaço e do lugar”. Essa perspectiva da Geografia corrobora uma afirmação do
relacionamento dos homens com a natureza e da sua relação comportamental no espaço, em
específico, com o lugar. Esse lugar, para o autor, possui um sentido distinto, onde os
indivíduos imprimem seus sentimentos e constroem ideias sobre o mesmo.
Para Tuan (2012, p. 136), “a topofilia não é a emoção humana mais forte”.
Quando é irresistível podemos estar certo de que o lugar ou meio ambiente é o vínculo de
acontecimentos emocionalmente fortes ou é percebido como um símbolo. Em Tuan, por
topofilia entende-se “os laços afetivos dos seres humanos para com o meio ambiente material”
(TUAN, 2012, p. 135-136). Nesse sentido, constata-se que para haver laços fortes entre o
sujeito e o meio ambiente é necessário que este “meio” ganhe o nome de “lugar”, pois só o
lugar é emocionalmente forte – enquanto meio ambiente –, pois ele é o locus onde há
significados afetivos.
Com base nesse cenário, tendo o lugar como categoria principal e o sujeito
enquanto agente que percebe e possui ideias sobre o lugar, Rocha (2007, p. 21) afirma que,
“sob esse prisma de estudos da Geografia, tem-se como premissa que cada indivíduo possui
uma percepção do mundo que se expressa diretamente por meio de valores e atitudes para
com o meio ambiente”.
Para o desenvolvimento da ação de extensão que relacionou o aporte teórico
debatido, nos debruçamos sobre o plano de ação elencado nos quadros 1 e 2, abaixo.
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Quadro 1 – Plano de ação do projeto
OBJETIVOS (conceituais, procedimentais e atitudinais): Propormos atividades aos
alunos do 9º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental Dr. José Correia Filho
(construção de uma mini estação meteorológica) e aplicar metodologia de ensino de
climatologia geográfica (com base em Filaho (2007), pautada na observação sensível,
numa tentativa de melhorar o processo de ensino-aprendizagem em geografia.
PROCEDIMENTOS DIDÁTICOS:
1º ENCONTRO
AULA 1 – Exposição conceitual / principais conceitos
CONTEÚDOS – Tempo, clima, climatologia, percepção e lugar.
DURAÇÃO – 2 horas.
FOCO – Nos conceitos de lugar e percepção, em paralelo com a vivência na
comunidade e como eles percebem os fenômenos alí presentes.
AVALIAÇÃO – Questionário sobre os conceitos abordados em sala (questões
objetivas).
2º ENCONTRO
AULA 2 – Exposição de conceitos elementares / fatores, elementos do clima e
fenômenos atmosféricos.
CONTEÚDOS – Fatores do clima, elementos do clima, aparelhos de medição dos
elementos do clima (termômetro, pluviômetro, pluviógrafo, barômetro, higrômetro,
anemômetro e biruta) e fenômenos atmosféricos (nuvens, chuvas, temperatura,
nebulosidade, direção dos ventos, arco-íris, relâmpagos, trovões, ventos: intensidade,
direção e pluviosidade).
DURAÇÃO – 2 horas.
FOCO – Percepção dos alunos sobre fatores e elementos do clima e na relação entre os
fenômenos atmosféricos e a dinâmica da comunidade.
AVALIAÇÃO – Questões objetivas sobre os conceitos abordados em sala.
3º ENCONTRO – Sexta feira (dia de visita da estação meteorológica – 4 horas)
ATIVIDADE DE CAMPO – Visita a estação meteorológica de água branca.
CONTEÚDOS – Aparelhos de medição dos elementos do clima (termômetro,
pluviômetro, pluviógrafo, barômetro, higrômetro, anemômetro e biruta).
DURAÇÃO – 4 HORAS.
FOCO – Fazer com que os alunos compreendam o funcionamento de uma estação e
preparar os alunos para atividade posterior.
AVALIAÇÃO – Pesquisa sobre: como fazer uma miniestação meteorológica com
materiais reciclados em casa (dividir turma em 4 equipes, cada uma ficará com um
aparelho para confeccionar).
Fonte: Dados da Pesquisa (2016).
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Quadro 2 – Plano de ação do projeto (continuação)
4º ENCONTRO – Sábado (pois a atividade requer muito tempo)
ATIVIDADE LÚDICA – Construção de uma pequena estação meteorológica com
materiais reciclados.
CONTEÚDOS – Curto feedback da aula anterior e demonstração de como elabora-se
os instrumentos da miniestação, para a catalogação dos fenômenos hora estudados.
DURAÇÃO – 4 horas.
FOCO – Na diferenciação entre o perceber o meio por meio das observações sensíveis
e o catalogar.
AVALIAÇÃO – 1 questão aberta com a seguinte indagação: qual a importância de
coletar dados na estação meteorológica e perceber atentamente os fenômenos que nos
cerca?
5° ENCONTRO
TRABALHO DE OBSERVAÇÃO – Análise e descrição dos fenômenos observados
pelos alunos, no contexto da comunidade, que pretende ser realizada em 7 dias.
CONTEÚDOS - apresentação e explicação da proposta metodológica de observação
sensível sugerida por Júnior (2010), para aplicação desta nas casas dos aprendizes.
DURAÇÃO – 2 horas.
FOCO – a percepção dos estudantes na observação do tempo em um lugar chamado
jardim cordeiro, Delmiro Gouveia/AL.
6º ENCONTRO
AVALIAÇÃO – Observação do quadro do tempo preenchido pelos alunos sobre a
observação sensível e justapor uma pergunta sobre: como os elementos do clima e
fenômenos atmosféricos dialogam com a comunidade com o lugar e o que é lugar para
eles?
Fonte: Dados da Pesquisa (2016).
Analisando as capacidades individuais, tem-se em cada indivíduo um organismo
distinto de sentimentos, emoções, experiências, intuições e compreensão do meio à luz da
topofilia, que segundo Tuan (2012, p. 19) “é o elo afetivo entre pessoa e o lugar ou ambiente
físico”.
Deste modo devemos considerar as particularidades individuais na construção do
saber, pois a percepção está aliada a algo maior, ao saber do humano, como afirma ROCHA
(2007, p. 21), a “geografia Humanista busca a compreensão do contexto pelo qual a pessoa
valoriza e organiza o seu espaço e o seu mundo, e nele se relaciona”.
Nesse cenário, a escola é um lugar onde os indivíduos devem conhecer o mundo,
a escola precisa proporcionar uma aprendizagem significativa à realidade do alunado. Com
isso, o ensino de Geografia, pode proporcionar rompimentos com os modos tradicionais de
ensino, tendo em vista mostrar a verdadeira cor que compõe o mundo (livre de ideologias
dominantes), e só com criticidade isso pode ser proporcionado (ver figura 1).
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Figura 1 – Aula expositiva sobre os conceitos ligados a climatologia
Fonte: Dados da pesquisa (2016).
Além disso, espera-se que a cada dia o ensino seja prensado e repensado, e que a
educação proporcione momentos prazerosos capazes de ativar os sentidos e os sentimentos
dos aprendizes, assim, espera-se que o ensino vá além do esperado e cause uma dinâmica que
tenda ao cotidiano, fazendo com que o ensino chegue à realidade de cada particularidade
individual e toque a sensibilidade da cada sujeito para com o entendimento da sua realidade.
Segundo Maia (2012, p. 2),
A vivência da sala de aula corrobora a necessidade de transformação da
Geografia apresentada em uma matéria que possa dialogar com o cotidiano.
A escola contemporânea necessita refletir sobre sua inserção no mundo
globalizado e informatizado. Os alunos apresentam uma vivência cercada de
novas tecnologias, para qual a informatização está próxima de suas “mãos”
através dos celulares, redes sociais e meias de comunicação de massa, como
rádio, jornais, revistas e televisão. Cabe a nós, professores, questionar o uso
e a compreensão dessas informações, para renovarmos as práticas
pedagógicas, estimulando, assim o desenvolvimento de novas práticas
pedagógicas que promovam o Ensino de Geografia.
As teorias que tratam a questão da tecnologia no ensino e o impacto desta no cotidiano
são divergentes na Geografia, a questão encontra-se mais positiva do que negativa, visto que,
o desenvolvimento tecnológico proporcionou a criação de diversificados meios de análise dos
fenômenos naturais e um avanço expressivo na cartografia geográfica para o ordenamento dos
espaços, entre outros. Porém o uso inadequado desses aportes tecnológicos torna o ensino
frágil, a exemplo temos os dados estatísticos, que: sem a relação entre a realidade percebida e
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o entendimento por trás daquelas representações numéricas ou visuais, não tem serventia
alguma, pois não contribui para sanar problemas de ordem social e ambiental (ver figura 2).
Figura 2 – Trabalho de campo sobre observação sensível do clima e do tempo com
estudantes da escola
Fonte: Dados da pesquisa (2016).
A inserção no mundo globalizado apresenta um suporte a ferramentas diferenciadas de
ensino, mas esses instrumentos não devem ser a fonte única da educação. Perante esse novo
panorama, devemos entender que a percepção do ambiente físico continua sendo questão
norteadora para o ensino de Geografia. Segundo Maia (2012, p. 7), “a inserção no mundo
globalizado possibilita o acesso às informações dos mais diversos lugares, porém, às vezes,
não salienta a importância de entendermos e analisarmos o ambiente local”.
A percepção é um meio de análise do ambiente, fortemente capaz de sanar a
problemática da mecânica no contexto do lugar, para as averiguações dos fenômenos que
circundam o ambiente local. Para Tuan (2012, p. 30),
A percepção é uma atividade, um estender-se para o mundo. Os órgãos dos
sentidos são pouco eficazes quando não são usados. Nosso sentido tátil é
muito delicado, mas para diferenciar a textura ou dureza das superfícies não
é suficiente colocar um dedo sobre elas; o dedo tem que se movimentar
sobre elas. É possível ter olhos e não ver; ouvidos e não ouvir.
No que se refere ao ensino de Geografia, a percepção acarreta em uma prática onde
permite ao aprendiz um olhar diferenciado do mundo, fazendo com que estes colecionem
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elementos do ambiente ao seu mundo particular, a partir do que Tuan denomina como um
“estender-se para o mundo”.
De acordo com Junior (2010, p. 11), “o ser humano através de suas sensações
corpóreas, de sua capacidade de observação e de registrar na memória estas impressões, vai
colecionando dados e fatos relativos à dinâmica atmosférica sobre o lugar onde vive ou
visita”.
Figura 3 – Questionários respondidos por alunos(as) X e Y
Fonte: Dados da pesquisa (2016).
A prática de ensino atrelada a empiria (experiências, sensações e sentimentos no
lugar), fomenta um ensino-aprendizagem diferenciado em sua forma e proporciona um saber
para toda a vida. Nossa tentativa de discutir a questão da percepção ambiental a partir do
lugar, quando, segundo ele:
Tem-se evidenciado o fato de que cada visão de mundo é única, pois cada
pessoa habita, escolhe e reage ao meio de diferentes maneiras, influenciadas
pelos seus sentimentos, visões particulares, e, sobretudo, contemplando as
paisagens com suas imagens particulares, o que Tuan (1980) cita como um
estender-se para o mundo. (ROCHA, 2007, p. 24)
Em virtude de tais apreciações, consideramos importante o legado da Geografia
Humanista e Cultural, e as contribuições de Yi-Fu Tuan, pois trazem novas possibilidades
para pensarmos o ensino de Geografia, visto que, é a parir deste espólio que as sensibilidades
individuais relacionadas ao lugar de vivência tomam impulso.
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No que versa as particularidades individuais, no que tange as sensibilidades, os seres
humanos possuem inteligências particulares, formadas a partir das experiências vividas no
lugar, que são produtos da atividade de perceber e saber conviver com o ambiente, com a
mais diversa dinâmica. Deste modo, cabe averiguamos novas possibilidades didático-
pedagógicas ao ensino de Geografia, em específico da Climatologia Geográfica.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em virtude de tais apreciações, consideramos importante o legado da Geografia
Humanista e Cultural, e as contribuições de Yi-Fu Tuan, pois trazem novas possibilidades
para pensarmos o ensino de Geografia, visto que, é a parir deste espólio que as sensibilidades
individuais relacionadas ao lugar de vivência tomam impulso. No que versa as
particularidades individuais, no que tange as sensibilidades, os seres humanos possuem
inteligências particulares, formadas a partir das experiências vividas no lugar, que são
produtos da atividade de perceber e saber conviver com o ambiente, com a mais diversa
dinâmica. Deste modo, cabe averiguamos novas possibilidades didático-pedagógicas ao
ensino de Geografia, em específico da Climatologia Geográfica.
Para a realização desse projeto, foram realizadas diversas discussões sobre ensino
de geografia, percepção, lugar, processo de ensino e aprendizagem em Geografia, Geografia
Humanística ou Cultural e análise crítica sobre os Parâmetros Curriculares Nacionais para o
Ensino de Geografia. Essas atividades foram desenvolvidas nas dependências da
UFAL/Campus do Sertão e na Escola Municipal Doutor José Correia Filho, visando
aproximar as discussões à realidade do público alvo, os alunos da escola.
Após as discussões teóricas e conceituais, foram realizadas aulas expositivas na
escola, visando trabalhar com estudantes os conceitos e teorias estruturantes, do referido
projeto de extensão. Bem como, aplicado questionários para avaliação da aprendizagem dos
alunos, além de trabalho de campo no entorno da escola visando aproximar os estudantes aos
conteúdos trabalhados em sala de aula.
O trabalho de campo subsidiou certo amadurecimento pessoal no bojo da
discussão sobre os conceitos ligados a climatologia e percepção ambiental, pois, muitas vezes,
os estudantes não conseguem compreender os conteúdos pelo distanciamento da realidade. A
interação existente entre teoria e prática possibilita maior aprendizado em qualquer área do
conhecimento, principalmente em Geografia, que os conceitos muitas vezes parecem ser
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muito abstratos. Segundo Serpa (1949, p. 09-10), “o trabalho de campo deve se basear na
totalidade do espaço, sem esquecer os arranjos específicos que tornam cada lugar, cidade,
bairro ou região uma articulação particular de fatores físicos e humanos em um mundo
fragmentado, porém (cada vez mais) articulado. O trabalho de campo em Geografia deve
perseguir, portanto, a ideia de particularidade na totalidade, abandonando de modo enfático a
ideia de singularidade de lugares, cidades, bairros ou regiões”.
Acreditamos que o trabalho de campo tenha nos rendido bons frutos, contribuindo
positivamente tanto para o aprendizado dos alunos da escola, quanto para a formação
acadêmica em Licenciatura Geografia.
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